A Praxis Educativa Entre Direcao e Base No Partido Revolucionario - Jeff Vasques - Artigo

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1 A IMPORTÂNCIA DA PRÁXIS EDUCATIVA ENTRE DIREÇÃO E BASE NO PARTIDO REVOLUCIONÁRIO Jefferson Vasques Rodrigues [email protected] http://www.camaracom.com.br Dialética das gêneses, crises e renascimentos I Por ti evitamos colocar o Partido nos altares. Porque nos ensinastes que o Partido é um organismo que existe no cambiante mundo do real e que sua enfermidade é semelhante a uma bancarrota. Por ti sabemos, Lênin, que o melhor berço do Partido é o fogo. II Por ti compreendemos que o Partido pode aceitar qualquer clandestinidade menos a clandestinidade moral. Por ti sabemos que o Partido se constrói à imagem e semelhança dos homens e quando não é à imagem e semelhança dos melhores homens é necessário voltar a começar. (Roque Dalton em “Um libro rojo para Lenin”, tradução própria)

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artigo resumo da dissertação de mestrado de jefferson vasques rodrigues que leva o mesmo titulo.

Transcript of A Praxis Educativa Entre Direcao e Base No Partido Revolucionario - Jeff Vasques - Artigo

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    A IMPORTNCIA DA PRXIS EDUCATIVA ENTRE DIREO E BASE NO

    PARTIDO REVOLUCIONRIO

    Jefferson Vasques Rodrigues [email protected]

    http://www.camaracom.com.br

    Dialtica das gneses, crises e renascimentos

    I Por ti evitamos colocar o Partido nos altares.

    Porque nos ensinastes que o Partido

    um organismo que existe no cambiante mundo do real e que sua enfermidade semelhante a uma bancarrota.

    Por ti sabemos, Lnin,

    que o melhor bero do Partido o fogo.

    II Por ti compreendemos que o Partido pode aceitar qualquer clandestinidade

    menos a clandestinidade moral.

    Por ti sabemos que o Partido se constri imagem e semelhana dos homens

    e quando no imagem e semelhana dos melhores homens necessrio voltar a comear.

    (Roque Dalton em Um libro rojo para Lenin, traduo prpria)

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    1. INTRODUO

    Desde o fim do chamado socialismo real, na extinta Unio Sovitica, a teoria

    marxiana enfrenta cada vez mais intensos questionamentos. O argumento extensivamente

    explorado de que o fracasso da primeira experincia socialista da humanidade invalidaria as

    teorias de Marx influenciou grande parte da sociedade e, em especial, da intelectualidade, o

    que se verifica pelo refluxo de pesquisas relacionadas a esse campo (ANDERSON, 1992).

    Ainda mais atacado que Marx, Lnin entraria para a histria oficial dos

    vencedores associado violncia irracional e ao autoritarismo, deturpao que

    influenciaria no s as massas desinformadas como parcelas da prpria esquerda. O

    pensamento leniniano e o partido leninista, equivocadamente associados ao stalinismo,

    passavam assim a serem vistos preconceituosamente por uma gerao de novos ativistas,

    sendo, em geral, tomados por ultrapassados na Academia.

    Tal ideologia conservadora reforada pelo atual desceno das lutas populares e

    socialistas em que os partidos comunistas se apresentam, ora corrompidos pela disputa

    institucional do Estado (tornando-se a exemplo dos partidos burgueses meras legendas

    partidrias), ora com pequena influncia real sobre a vida de importantes setores da classe

    trabalhadora devido sua extrema fragmentao e incapacidade de unidade.

    Essa conjuntura contra-revolucionria esfacelou a influncia comunista junto aos

    trabalhadores, abrindo espao para que uma nova hegemonia se estabelecesse junto aos

    militantes, promovida por uma Nova Esquerda1 em que novos movimentos sociais, um

    novo sindicalismo e novos partidos superariam a herana do marxismo e leninismo

    ortodoxos com sua pluralidade e novas formas democrticas de atuao. Essa nova

    hegemonia, que tem incio na dcada de 60, estende sua influncia at os dias de hoje com

    um discurso e que-fazer polticos adaptados para nosso momento. Ouvimos com freqncia

    1 A Nova Esquerda (New Left, em ingls) um termo utilizado para se referir aos movimentos polticos de esquerda surgidos em vrios pases a partir da dcada de 1960. Eles se diferenciam dos movimentos de esquerda anteriores que haviam sido mais orientados para um ativismo trabalhista, e adotam uma definio de ativismo poltico mais ampla, comumente chamada de ativismo social. Surge como tentativa de superar as formas "tradicionais" de organizao poltica, valorizando novas pautas de reivindicaes como dos grupos oprimidos (negros, mulheres, homossexuais, etc). O texto clssico de crtica da Nova Esquerda foi escrito por Marcuse, aps o Maio de 68: MARCUSE, H. Contra-revoluo e Revolta. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.

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    novos termos para antigas propostas, como: esquerda light2, socialismo democrtico3 e

    revoluo cidad.

    O partido leninista, distorcido em seu sentido radical pela burguesia e estigmatizado

    pela Nova Esquerda, passaria a ser rechaado por toda uma nova gerao de ativistas. Na

    base dessa negao se encontra a crtica a toda proposta organizativa que estabelea

    relaes verticais ou seja, baseadas na separao entre lderes e liderados, dirigentes e

    dirigidos -, e qualquer espcie de centralismo. Acompanhando esse questionamento da

    vanguarda, encontra-se a defesa da horizontalidade nas organizaes revolucionrias, do

    espontanesmo, assim como a supervalorizao do saber popular. No toa que a negao

    do partido acompanhada em sentido inverso pela coroao quase incondicional - dos

    novos movimentos sociais como os postos mais avanados da luta revolucionria. Essas

    posies apontam para uma retomada dentre os lutadores de esquerda, ainda que parcial e

    fragmentada, do iderio prprio do movimento anarquista4 e de uma prxis educativa

    libertria (de tendncia no-diretiva)5 nas organizaes de esquerda.

    fato que a esquerda revolucionria mundial vive um perodo de reorganizao

    terica e prtica buscando compreender os problemas dos processos revolucionrios - em

    especial do processo russo - e a nova realidade capitalista baseada na reestruturao

    produtiva e no avano neoliberal (ANTUNES, 1999). No entanto, mesmo que o

    2 Expresso cunhada para indicar uma nova esquerda, no-ortodoxa, aberta ao dilogo com seus inimigos e ao pacto social. No Brasil, o PT (Partido dos Trabalhadores) um exemplo claro (IASI, 2006). 3 Tarso Genro, intelectual do Partido dos Trabalhadores, nos ajuda a compreender o socialismo democrtico: Uma estratgia poltica socialista, conduzida por um partido de esquerda nos dias de hoje, deve recuperar os valores tradicionais da social-democracia pr-bolchevique e do socialismo democrtico europeu e latino-americano repblica, igualdade e afirmao de direitos atualiz-los e vincul-los aos interesses concretos e s demandas polticas dos grupos e classes sociais, para as quais o crescimento econmico e a distribuio renda so uma necessidade ou uma exigncia. (GENRO, Tarso; WU, Vinicius, 2009, p. 3). E tambm: Trata-se, pois, de militar para promover uma verdadeira modernizao democrtica Republicana do Brasil. (Ibidem, p. 12). 4 O Anarquismo (do grego: "sem governantes") uma filosofia poltica que engloba teorias, mtodos e aes que objetivam a eliminao total de todas as formas de governo compulsrio. De um modo geral, anarquistas so contra qualquer tipo de ordem hierrquica e, assim, preconizam as organizaes libertrias. O anarquismo no busca disputar o poder poltico. Tem por princpio o antiautoritarismo e a ao direta, com grande nfase na liberdade e na espontaneidade. Na tica anarquista, a revoluo social consistiria na quebra drstica, rpida e efetiva do Estado e de todas suas estruturas, materiais e no-materiais. (WOODCOCK, 2002). 5 A autogesto na Pedagogia Libertria tanto pode ser assimilada numa perspectiva no-diretiva quando diretiva. Segundo GALLO (1996): O que diferencia as duas perspectivas de aplicao da autogesto pedaggica no contexto libertrio que enquanto a primeira toma a autogesto como um meio, a segunda a toma por um fim; em outras palavras, na tendncia no-diretiva a autogesto tomada como metodologia de ensino, enquanto que na tendncia mainstream [diretiva] ela assumida como o objetivo da ao pedaggica. Ou, ainda: educa-se pela liberdade ou para a liberdade..

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    desenvolvimento do capitalismo mundial, hoje, encontre-se em um patamar diferente

    daquele vivido por Marx, acreditamos que, em sua essncia, a realidade da explorao do

    homem pelo prprio homem a partir da diviso social em classes engendrada pela

    centralidade da contradio entre capital e trabalho se mantm (ANTUNES, 1995). No

    mesmo sentido, apesar da grande quantidade de crticas desferidas contra o pensamento do

    lder bolchevique, este continua at os dias de hoje referncia fundamental para a

    organizao partidria marxista6 mesmo quando se busca super-lo7.

    motivado por esse contexto em que se faz necessrio um balano da crtica feita

    pela burguesia, pela Nova Esquerda e pelo Anarquismo teoria revolucionria marxista-

    leninista- que nasce a presente pesquisa. As reflexes de Antonio Gramsci um dos

    maiores expoentes do pensamento revolucionrio - tornam-se ponto de partida

    fundamental para se fazer esse balano e pensar a revoluo nos dias de hoje.

    Gramsci absorve as bases do pensamento marxiano e leniniano e as renova ao

    aplic-las de forma criadora sua prpria poca. Reafirma a necessidade da revoluo e do

    partido revolucionrio, repensando a estratgia revolucionria para uma sociedade mais

    complexa do que a conhecida por Marx e Lnin. No s por isso Gramsci um pensador

    fundamental para nosso tempo, mas tambm por debater ao longo de toda sua obra, de

    forma direta ou indireta, a prxis educativa revolucionria, enfrentando um conjunto de

    temas que ainda hoje causam polmica, como: a relao entre dirigentes e dirigidos,

    coero e consenso, direo e espontaneidade, o papel dos intelectuais e a produo do

    conhecimento.

    Partindo da compreenso de que, por determinaes materiais e histricas, a direo

    partidria se apresenta como plo terico-histrico no papel de educador-dirigente e a base

    partidria, como plo poltico-prtico no papel de educando-agente, buscamos analisar

    atravs do pensamento de Antonio Gramsci a estrutura organizativa do partido

    revolucionrio proposto originalmente por Lnin -, avaliando a potencialidade e os riscos

    de deformao da prxis educativa estabelecida entre direo e base.

    6 Essas posies diversas [sobre as diferentes avaliaes atuais da teoria leninista do partido] coincidem, no obstante suas divergncias, no reconhecimento da vigncia em seus aspectos fundamentais do modelo organizativo de Lnin. e, ainda, Ningum ofereceu, alm de crticas e retoques, uma teoria que possa se confrontar seriamente com ela [teoria leninista de partido]. (VSQUEZ, 2007, p. 324). 7 O PT (Partido dos Trabalhadores) e, mais recentemente, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), no Brasil, exemplificam essa postura.

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    2. A PRXIS EDUCATIVA NO PROCESSO REVOLUCIONRIO

    A revoluo comunista8 nasce da conjuno de fatores objetivos e subjetivos. Logo,

    no basta vontade revolucionria para realizar uma revoluo. Um perodo revolucionrio

    apenas se apresenta quando a contradio entre o desenvolvimento das foras produtivas e

    as estratificadas relaes sociais de produo atinge tenso mxima, momento em que as

    classes dominadas no suportam mais viver nas condies miserveis em que se encontram

    e as classes dominantes no conseguem governar (MARX, 2007, p. 45-46).

    No entanto, essa dependncia de certas condies objetivas no faz da revoluo

    comunista um processo mecnico, que se desenvolve por si mesmo inevitavelmente.

    fundamental a construo de condies subjetivas que permitam ao proletariado, ou parte

    dele, a tomada de conscincia revolucionria, ou seja, a passagem: 1) de uma conscincia

    econmico-corporativa, ou reivindicatria, presa s necessidades de seu grupo para 2) a

    conscincia de classe (momento em que a classe se faz partido e estabelece um programa

    de reivindicaes no s econmicas, mas polticas), at 3) a conscincia revolucionria,

    em que se trava a luta pela superao do sistema capitalista9.

    , portanto, a prxis educativa revolucionria fator essencial na construo das

    condies subjetivas da revoluo10, formando - a partir de mtodo, teoria e prticas

    8 1) a revoluo no necessariamente proletria e comunista quando se prope e consegue derrubar o governo poltico do Estado burgus; 2) no proletria e comunista nem mesmo quando prope e consegue aniquilar as instituies representativas e a mquina administrativa atravs das quais o governo central exerce o poder poltico da burguesia; 3) tampouco proletria e comunista quando a vaga da insurreio popular pe o poder nas mos de pessoas que se digam (e sejam sinceramente) comunistas. A revoluo proletria e comunista somente quando ela liberao das foras produtivas proletrias e comunistas que se vinham elaborando no prprio seio da sociedade dominada pela classe capitalista; s proletria e comunista na medida em que consegue favorecer e promover a expanso e a organizao de foras proletrias e comunistas capazes de iniciar o trabalho paciente e metdico, necessrio para construir uma nova ordem nas relaes de produo e de distribuio, uma ordem na qual se torne impossvel a existncia da sociedade dividida em classes e cujo desenvolvimento sistemtico, por isso, tenda a coincidir com um processo de esgotamento do poder de Estado, de dissoluo sistemtica da organizao poltica de defesa da classe proletria, que se dissolve como classe para se tornar humanidade. LOrdine Nuovo - 03/07/1920 (GRAMSCI, 2004b, pp. 377-378). 9 Esse processo de conscincia no linear, havendo continuidades e descontinuidades de um momento a outro do desenvolvimento da conscincia. 10 Deixamos claro, desde j, que ao afirmarmos a prxis educativa revolucionria como fator estruturante do processo revolucionrio no estamos reafirmando, como mito, a concepo idealista de que a educao por si s transforma o mundo. Tampouco negamos a inevitvel violncia, prpria de um processo que busca negar todos os privilgios da classe dominante. Certamente, h violncia no processo revolucionrio, mas esta no o motor da luta revolucionria, nem seu elemento fundamental.

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    revolucionrias - os sujeitos revolucionrios que agiro sobre as condies objetivas para

    dar incio e levar a cabo a revoluo.

    Marx e Engels desenvolveram um mtodo revolucionrio, o materialismo histrico

    dialtico, que permite a anlise cientfica do desenvolvimento histrico da humanidade e do

    sistema capitalista, indicando a necessidade da revoluo comunista atravs de seu sujeito

    revolucionrio, o proletariado. Mas, entre o sujeito revolucionrio e a teoria revolucionria

    h um dilema eminentemente pedaggico e organizativo no solucionado, mas apenas

    esboado na obra marxiana. Marx e Engels no explicitaram ao longo de sua pesquisa qual

    tipo de relao deveria se estabelecer entre os dirigentes, a base militante, o partido

    comunista e o povo em geral, nem como ocorreria a tomada de conscincia revolucionria

    e, conseqentemente, como se efetivaria concretamente o processo revolucionrio11.

    Coube a Lnin, no incio do sculo XX, apropriando-se das observaes esparsas de

    Marx e Engels sobre o assunto12, a elaborao terico-prtica de um partido de novo tipo

    (LNIN, 1975), sintetizando os traos gerais da teoria da revoluo e do partido

    revolucionrio, desenvolvendo uma pedagogia histrica (MANDEL, 1979) que busca

    solucionar o problema da transformao da conscincia de classe potencial, sindical, em

    conscincia de classe real, poltica e revolucionria.

    Gramsci, por sua vez, apropria-se da pedagogia histria de Lnin atravs de uma

    relao produtiva e criadora, que jamais se esgotar na simples aplicao (...) do

    leninismo, mas sim na traduo e desenvolvimento do leninismo. (BUCI-

    GLUCKSMANN, 1980, p. 27).

    Para melhor compreenso da teorizao de Gramsci acerca prxis educativa no

    processo revolucionrio, a decompomos em quatro aspectos: 1) a prxis educativa em seu

    momento terico, ou seja, como formao poltica que possibilita a compreenso crtica da

    sociedade e de si, conduzindo assuno consciente de uma viso de mundo coerente e

    revolucionria; 2) a prxis educativa em seu momento prtico, ou seja, como processo de

    11 No que diz respeito organizao poltica, Marx e Engels sempre mostraram sua necessidade para poder impulsionar a prxis revolucionria. (...) No entanto, no obstante as referncias que podemos encontrar nesse ponto ao longo da obra de Marx, no se pode dizer que exista nela uma teoria do partido, e menos ainda do partido nico da classe operria. Isso se explica, em primeiro lugar, por que o decisivo para ele a classe como protagonista revolucionrio fundamental e, em segundo lugar, por que os partidos operrios assim, no plural apenas expressam diversos nveis de conscincia e ao da prpria classe. Marx no se preocupou, em conseqncia, em elaborar princpios organizativos com validade universal (VSQUEZ, 2007, p. 318). 12 Essas referncias esto em Crtica ao Programa de Gota, de Marx, e em Anti-Dring, de Engels.

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    formao de conscincia a partir da ao coletiva em que novas prticas, valores, uma nova

    cultura e tica so introjetadas e compartilhadas; 3) a prxis educativa revolucionria, ou

    seja, a prxis educativa em sua unidade terico-prtica exercida atravs de um ser coletivo

    (partido revolucionrio), promovendo uma nova cognoscibilidade que gera novo

    conhecimento e novas prticas; 4) a prxis educativa como processo de construo da

    hegemonia13 proletria, ou seja, a prxis educativa revolucionria guiada por um projeto

    global de auto-educao emancipatria das massas.

    Importante frisar que a prxis educativa em Gramsci no pode ser resumida ao

    mbito da educao escolar formal, j que:

    esta relao existe em toda a sociedade no seu conjunto e em todo o indivduo com relao aos outros indivduos, bem como entre camadas intelectuais, entre governantes e governados, entre elites e seguidores, entre dirigentes e dirigidos, entre vanguarda e corpos do exrcito. (GRAMSCI, 2004a, CC 10, 44, pp. 399-400)

    Para compreender a tenso existente na prxis educativa entre esses sujeitos

    (intelectuais e simples, direo e base, governantes e governados), parece-nos fundamental

    entender a concepo de Gramsci acerca da tenso entre coero e consenso,

    espontaneidade e direo, que constituem, conforme Manacorda (2008, p. 76), um dos

    eixos da reflexo pedaggica de Gramsci.

    Para Gramsci, o espontanesmo, em termos pedaggicos, uma involuo. A

    educao no o desenvolvimento natural de algo que j se encontra nos indivduos. Ao

    contrrio, trata-se de uma luta contra os instintos, uma luta contra a natureza a fim de

    domin-la e criar o homem atual com relao sua poca. (GRAMSCI, 2006, CC 1,

    123, p. 62). A pura espontaneidade apenas permitiria que o educando reproduzisse o que

    j apreendeu em seu convvio social, coincidiria com a mecanicidade pura (GRAMSCI,

    2002, CC 3, 48, p. 194), ou seja, com a reproduo de seus condicionamentos. Algum

    13 Entendemos que hegemonia a capacidade de direo intelectual e moral que um grupo social tem sobre outros grupos sociais, mas que, se analisado molecularmente, apresenta-se como prxis educativa entre indivduos ou entre organismos coletivos e indivduos. Toda relao de hegemonia , para Gramsci, necessariamente uma relao pedaggica (GRUPPI, 2000, p. 78; BROCOLLI, 1977, p. 103), ou como preferimos dizer uma prxis educativa que pode ocorrer em diversos nveis (entre indivduos intelectuais e simples; entre dirigentes e dirigidos; entre partido e ambiente; entre partido e massas) e que coloca agentes dominantes e dominados (individuais ou coletivos), num contexto de recproca assimilao.

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    que se afirme livre por agir espontaneamente estar, pelo olhar de Gramsci, expressando

    sua condio histrica, no mais que isso.

    Isso no significa que Gramsci renegue a espontaneidade, elemento fundamental na

    prxis educativa revolucionria. O que Gramsci nega a exclusividade ou centralidade

    desse fator, como analisa Broccolli (1977, p. 101): A concepo educativa gramsciana

    vista em seu desenvolvimento no exclui a espontaneidade; mas aponta sobretudo para

    destruir o mito do espontanesmo, que a falta de compromisso moral e pedaggico.. A

    espontaneidade no desprezada, mas educada, tornando-se historicamente eficiente: Essa

    unidade da 'espontaneidade' com a 'direo consciente' (ou seja da 'disciplina') justamente

    a ao poltica real das classes subalternas. (GRAMSCI apud MANACORDA, 2008, p.

    225).

    Espontaneidade e direo, coero e consenso devem ser compreendidos, portanto,

    no como termos antagnicos: Dialeticamente, Gramsci considera que necessrio partir

    da espontaneidade, ou seja, do senso comum14, mas por meio de uma interveno

    hegemnica que no se apia no consenso, como j se viu, mas na direo

    (MACIOCCHI, 1977, p. 184-185).

    Para Gramsci, essa interveno hegemnica junto aos trabalhadores s possvel

    atravs de um organismo coletivo, o partido revolucionrio: forma histrica do processo

    de libertao interior pela qual o operrio passa de executor a iniciador, deixa de ser massa

    para se tornar lder e guia, deixa de ser brao para se tornar crebro e vontade.. LOrdine

    Nuovo em 04/08/1920 (GRAMSCI, 2004b, vol. 2, p. 419).

    14 O senso comum a filosofia dos no filsofos, isto , a concepo do mundo absorvida acriticamente pelos vrios ambientes sociais e culturais nos quais se desenvolve a individualidade moral do homem mdio. [...] Seu trao fundamental e mais caracterstico o de ser uma concepo (inclusive nos crebros individuais) desagregada, incoerente, inconseqente, adequada posio social e cultural das multides, das quais ela a filosofia (GRAMSCI, 2004a, CC 11, 13, p. 114). a partir do questionamento de senso comum, do conjunto de idias desagregadas que constituem o conformismo do qual se faz parte, que se elabora um inventrio em que se pode identificar os ncleos sadios do senso comum, ou seja, o bom senso, para construo de uma verdadeira filosofia (Ibidem, 12, p. 98).

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    3. O PARTIDO REVOLUCIONRIO COMO EDUCADOR COLETIVO

    Concordamos com Lukcs (1987, p. 80) quando afirma ser o problema da

    organizao revolucionria o mais profundo problema intelectual do desenvolvimento

    revolucionrio e, ao mesmo tempo, uma das questes tericas menos estudadas,

    constituindo verdadeiro ponto cego dentro do corpo da teoria revolucionria marxista. A

    temtica da organizao, especialmente a da organizao revolucionria, a que mais

    tempo se manteve numa espcie de penumbra utpica (Ibidem, p. 39).

    Lnin foi o primeiro pensador marxista a devotar enorme ateno s questes

    organizativas15. Em seu discurso proferido no dia 18 de maro de 1919 em memria de

    Iakob Mijailovich, secretrio-geral do partido bolchevique, Lnin aponta a violncia

    revolucionria como necessria, mas pontual, j que s em determinados momentos do

    processo revolucionrio sua utilizao legtima. Muito mais importante e de carter

    permanente a organizao dos trabalhadores, constituindo-se como (...) o atributo mais

    essencial na revoluo, bem como pressuposto de sua vitria... (LNIN, 2006, p. 203).

    Gramsci, a exemplo de Lukcs e Lnin, tambm concentra sua ateno na questo

    organizativa: parte da necessidade de absoro da cultura burguesa e chega possibilidade

    de elaborao de uma cultura proletria expressa em estruturas organizativas novas.

    (BROCOLLI, 1977, p. 53). Segundo o filsofo italiano, a massa humana no se torna

    independente para si sem organizar-se. Toda organizao poltica representa um

    momento de conscincia, seja de um grupo que se une para reivindicar a instalao de luz

    eltrica em sua rua, seja um movimento que se organiza em plano nacional para lutar pelo

    direito a terra, ou uma organizao partidria que se prope tarefas de ao e reflexo

    prprias da abrangncia do Estado.

    15 Apesar da teoria da organizao partidria de Lnin ter sido desenvolvida sob condies histricas muito especficas, certo que ele prprio reconhece em seu corpo terico princpios elementares de qualquer organizao de partido que se possa imaginar (LNIN, 1959, p. 479). Segundo Vsquez (2007), o modelo leninista de partido se caracteriza pelos seguintes traos: 1) um destacamento consciente da classe que, ao mesmo tempo em que encarna sua conscincia de classe, distingue-se organicamente dela; 2) possui um corpo de revolucionrios profissionais que se consagram por inteiro revoluo; 3) apresenta o mximo de organizao, j que esta sua nica arma; 4) regido, em seu funcionamento interno, pelo princpio do centralismo democrtico e pela disciplina, consciente e rigorosa; 5) cataliza a conscincia de classe nas massas e as dirige na sua luta, mas, diferena do blanquismo, s pode cumprir seus objetivos em relao com as massas e sem pretender substitu-las. Portanto, o partido leninista age como educador, organizador e dirigente da classe proletria.

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    Ao se organizar, um grupo de indivduos destaca-se da massa por, justamente, tomar

    conscincia de algo, de interesses que o resto da massa no possui ou sobre os quais ainda

    no tomou conscincia. Em outros termos, para que se constitua uma organizao

    necessrio que o plo terico (consciente) da prxis educativa tenha se especializado e

    autonomizado, ou seja, que um certo grupo/classe tenha conseguido emanar uma camada de

    intelectuais que, como organizadores e dirigentes, atuem com e sobre seu grupo/classe de

    origem, de forma orgnica. Esse processo de autoconscincia histrica da classe

    trabalhadora a constituio do prprio partido revolucionrio (GRAMSCI, 2004a, CC 11,

    12, p. 104). Gramsci acredita no princpio leninista no qual a organizao se cria de

    cima, no sentido de que tem prioridade o momento da conscincia, da racionalidade, da

    direo. (COUTINHO, 1999, p. 141). E, quanto mais amplas e complexas so as

    organizaes, maior a demanda pela especializao de um corpo intelectual, maior a

    demanda pela especializao da teoria.

    Atualizando a discusso de Maquiavel acerca do poder poltico, Gramsci ir afirmar

    que o moderno prncipe16 no pode ser um indivduo singular, mas sim um organismo

    agente da vontade coletiva, j que as transformaes histricas necessrias para a superao

    do capitalismo s podem ser realizadas por um ser-coletivo, aglutinador das vontades

    dispersas e fragmentrias. Esse organismo social coletivo j est dado pelo

    desenvolvimento histrico e o partido poltico, a primeira clula na qual se sintetizam

    germes de vontade coletiva que tendem a se tornar universais e totais. (GRAMSCI, 2002,

    CC 13, 1, p. 16).

    O partido revolucionrio, dentre todas organizaes polticas, o destacamento de

    mais ampla conscincia pois luta por superar a mais complexa e profunda contradio da

    sociedade capitalista: a contradio entre capital e trabalho. O partido um proto-Estado,

    germe da nova forma de organizao social: desenvolve na sociedade civil a mesma funo

    que o Estado17 na sociedade poltica, de organizador da hegemonia. (GRAMSCI, 2006, CC

    12, 1, p. 24).

    16 Prncipe moderno como Gramsci nomeava o partido revolucionrio, atualizando a funo do prncipe desenvolvida por Maquiavel. 17 O Estado, segundo Gramsci, cumpre a (...) tarefa educativa e formativa (...) cujo fim sempre o de criar novos e mais elevados tipos de civilizao, de adequar a civilizao e a moralidade das mais amplas massas populares s necessidades do contnuo desenvolvimento do aparelho econmico de produo. (GRAMSCI, 2002, CC 13, 7, p. 23).

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    Para Gramsci (2004a, CC 10, 12, p. 320), o partido de Lnin um aparelho

    hegemnico e, por isso, afirma o princpio terico-prtico da hegemonia. Atravs do

    partido revolucionrio pode-se construir um bloco hegemnico (unidade entre teoria e

    prtica, partido e classe, direo e base) que permita a tomada de conscincia dos conflitos

    da estrutura no terreno das ideologias, catalisando a vontade coletiva segundo uma nova

    tica e cultura proposta.

    Gramsci entende a vontade coletiva como a "conscincia operosa da necessidade

    histrica", ou melhor, a conscincia das necessidades histricas que se coloca em ao de

    transformao (GRAMSCI, 2002, CC 13, 1, p. 16). As necessidades histricas so

    captadas e formuladas pela classe dirigente de intelectuais do partido a partir da unidade

    entre a teoria revolucionria acumulada e as contradies vividas pela base partidria

    (constituda pelo mais amplo espectro de setores da classe). Essa anlise concreta das

    necessidades concretas converte-se em programa, estratgia e ttica que guiam a ao do

    partido sobre o ambiente.

    fundamental, portanto, que o partido possa realizar uma sntese entre os

    problemas reais da base, as lutas espontneas da classe, e a capacidade dirigente e

    intelectual da direo, para realizar a justa anlise do real, funcionando como um mediador

    entre a subjetividade-militante e a objetividade-das-massas, entre o conjuntural e o

    histrico, entre o econmico e o tico-poltico. Portanto, o moderno prncipe o

    anunciador e o organizador de uma reforma intelectual e moral, o que significa de resto

    criar um terreno para um novo desenvolvimento da vontade coletiva nacional-popular no

    sentido da realizao de uma forma superior e total de civilizao moderna, o comunismo.

    (GRAMSCI, 2002, CC 13, 1, p. 18).

    4. A PRXIS EDUCATIVA ENTRE DIREO E BASE

    Concordamos com Coutinho (1999, p. 80) quando afirma que Gramsci estabelece a

    relao entre governantes e governados, entre dirigente e dirigidos, como o primeiro

    elemento, a clula da poltica. a partir desse primeiro elemento que Gramsci

    desenvolver toda sua teoria pedaggica, desdobrando-se: na relao necessria e

  • 12

    dialtica entre coero e consenso; em sua teoria acerca do papel do intelectual e do partido

    poltico; em sua viso do Estado como sociedade poltica e sociedade civil; e, em seu

    conceito de hegemonia: "Primeiro elemento que existem efetivamente governados e

    governantes, dirigentes e dirigidos. Toda a cincia e a arte polticas baseiam-se neste fato

    primordial, irredutvel (em certas condies gerais). (GRAMSCI, 2002, CC 13, 4, p.

    324).

    Gramsci parte, portanto, da existncia de governantes e governados, dirigentes e

    dirigidos, como um fato primordial dado historicamente. Essa separao no se d apenas

    pela diviso em classes (o que explicaria a dominao de dirigentes de uma classe

    dominante sobre dirigidos de uma classe subalterna), mas ocorre tambm dentro de um

    mesmo grupo, classe ou organizao de classe, provavelmente em decorrncia da diviso

    social do trabalho, prpria do modo de produo capitalista (GRAMSCI, CC 13, 4, pp.

    324-325).

    Dado que a diviso entre dirigentes e dirigidos fato materializado pelo

    desenvolvimento histrico, a questo mais importante para Gramsci torna-se compreender

    qual a melhor forma de se dirigir, ou seja, como formar dirigentes e como desenvolver

    formas racionais de relao com os dirigidos, promovendo a unidade entre a teoria e a

    prtica, produzindo novo conhecimento. (GRAMSCI, 2002, CC 13, 4, p. 324).

    A unidade entre teoria e prtica, ou seja, o desaparecimento das relaes verticais

    entre o dirigente (plo terico) e base dirigida (plo prtico), deve ser equacionada como

    um devir histrico, que s pode se completar com transformaes estruturais que superem a

    forma capitalista de produo. Logo, a existncia da separao entre dirigentes e dirigidos

    , para Gramsci, uma situao, no representa de forma alguma uma soluo e, portanto,

    deve ser combatida (MACIOCCHI, 1977, p. 264-265).

    Saviani (1997) faz uma interessante anlise da dinmica das relaes educativas

    entre educador e educando no contexto escolar que pode nos ajudar a compreender a

    dinmica das relaes educativas entre direo e base no contexto partidrio. A direo

    partidria, enquanto educador ou sujeito terico18, possui uma sntese precria do real;

    j, a base militante, enquanto educando e sujeito prtico, possui uma compreenso de

    18 Sujeito terico indica que a direo cumpre a funo de plo terico na organizao partidria. De forma algum queremos afirmar que os dirigentes no possuem qualquer tipo de prtica. O mesmo, em sentido inverso, pode-se dizer quanto ao sujeito prtico.

  • 13

    carter sincrtico. Faz-se necessrio, portanto, o desenvolvimento de uma pedagogia

    revolucionria, em que os educandos (base partidria) ascendam ao nvel sinttico do

    educador (direo partidria), e este, conseqentemente, reduza a precariedade de sua

    sntese, j que sua compreenso torna-se mais orgnica em contato com a realidade da base.

    Atravs dessa prxis educativa revolucionria, o partido pode formar intelectuais

    orgnicos classe trabalhadora, aglutinando a vontade coletiva transformadora e

    funcionando como intelectual coletivo que constri a hegemonia proletria visando

    revolucionarizao das relaes sociais. A prxis gramsciana parte, portanto, da

    necessidade de uma permanente renovao da teoria e da prtica do partido dos

    trabalhadores, em consonncia com a renovao do prprio real e como condio para

    desempenhar adequadamente a funo para a qual foi criado. (GRAMSCI apud

    COUTINHO, 1989, p. 110).

    Segundo Macciocchi (1977, p. 287), essa contraposio dialtica entre intelectuais

    e simples19, dirigentes e dirigidos, educador e educando, enfim, entre teoria e prtica, que

    permite, no pensamento de Gramsci, a reconduo unidade do real. Essa reconduo

    essencialmente um problema pedaggico que o filsofo italiano enfrenta com os

    instrumentais analticos prprios da filosofia da prxis20. s atravs desta relao de

    contraposio dialtica que a filosofia pode se tornar histria, ou seja, fora concreta na

    construo da autonomia histrica da classe trabalhadora em sua luta por superar a

    diviso em classes. Nesse movimento, nessa prxis educativa revolucionria, a filosofia

    depura-se dos elementos intelectualistas de natureza individual e se transforma em vida."

    (GRAMSCI, 2004a, CC 11, 12, p. 100).

    Gramsci entende que os simples, ou ainda, a base partidria, como plo da ao,

    da prtica e, tambm, como plo do sentimento acerca das contradies da realidade. Logo,

    o elemento popular sente, mas nem sempre compreende ou sabe. (GRAMSCI, 2004a,

    CC 11, 67, p. 221). J as camadas intelectuais (direo partidria) configuram-se como

    plo terico, plo da razo acerca dessas mesmas contradies. Portanto, o elemento

    19 Simples como Gramsci denomina todos aqueles que no so intelectuais e que, portanto, no possuem uma filosofia coerente e unitria, pensando a partir do senso comum. 20 Gramsci utiliza o termo filosofia da prxis no crcere para se referir ao marxismo. Mais do que um recurso para burlar a censura, Gruppi (2000, pp. 71-71) defende que Gramsci utilizava o termo para enfatizar sua defesa do marxismo originrio como prxis transformadora, que confirma na prxis suas teorias, sublinhando a unidade de teoria e de ao, de sujeito e objeto.

  • 14

    intelectual sabe, mas nem sempre compreende e, menos ainda, sente. (Ibidem, p.221).

    Para Gramsci, na verdade, impossvel verdadeiramente saber sem compreender e,

    principalmente, sem sentir e estar apaixonado (no s pelo saber em si, mas tambm pelo

    objeto do saber) (Ibidem, p.221). Este consiste no maior erro dos intelectuais que no se

    colocam organicamente vinculados a um grupo ou classe: acreditar que se possa ser um

    intelectual mesmo que desvinculado das paixes elementares do povo. preciso, atravs

    do contato orgnico, que o intelectual compreenda os sentimentos populares e, assim,

    explique-os, justifique-os como elementos de um processo histrico. Gramsci chega a

    afirmar que no se faz poltica-histrica sem essa paixo, sem essa conexo sentimental

    entre intelectuais e o povo-nao (Ibidem, p.221). Na ausncia desse sentimento, as

    relaes entre intelectuais e simples, entre direo e base, entre partido e classe,

    burocratizam-se, havendo um enorme risco de que os intelectuais/direo/partido se

    autonomizem exageradamente e se transformem em uma casta ou um sacerdcio

    (Ibidem, p.221).

    5. As deformaes na prxis educativa entre direo e base Em certa trecho dos Cadernos do Crcere, Gramsci (2004a, CC 15, 74, p. 266)

    questiona-se acerca da possibilidade de criar um conformismo21, um ser coletivo, sem

    fanatismos, sem deformaes, em suma, de modo crtico, como conscincia da

    necessidade livremente aceita porque praticamente reconhecida como tal, atravs de um

    clculo de meios e fins a adequar? (Ibidem, p. 266).

    Gramsci desenvolve todos seus estudos afirmando essa possibilidade, mas sabe a

    dificuldade de realiz-la. H um grande risco de deformao na prxis educativa

    21 Para Gramsci, conformismo no nada mais que socialidade (GRAMSCI apud RAGAZZINI, 2005), ou seja, todos somos conformistas de algum conformismo, pois todos somos seres sociais envolvidos numa teia de relaes que constituem a sociedade atual. Sob o capitalismo, o conformismo imposto, logo, as relaes estabelecidas pela classe dominante se reproduzem automaticamente. Por isso, Gramsci identificou o conformismo imposto tambm por conformismo mecnico (GRAMSCI, 2002, CC 9, 23, p. 289). Porm, possvel estabelecer uma prxis educativa revolucionria com as massas, em que o conformismo no mais imposto, mas proposto. Isso no implica que no se lance mo da coero. Mas, diferentemente do conformismo mecnico (Ibidem, p. 289), este dinmico, pois se constri em dilogo real com a classe, reformulando-se medida que a prxis educativa avana. O conformismo dinmico busca promover a autonomia e a capacidade autogestionria dos educandos, para que todos possam se auto-educar em conjunto (Ibidem, p. 289).

  • 15

    revolucionria, principalmente quando a teoria ou a prtica passa a ser vista como

    acessrio. Essa desvinculao dialtica, segundo Gramsci, demonstra que se passa por

    uma fase primitiva em que ainda no se conseguiu amalgamar na superestrutura as

    vontades heterogneas, em que no se conseguiu ainda fundar o momento cultural de

    unidade. (GRAMSCI, 2004a, CC 11, 12, p. 105).

    O partido revolucionrio no est isolado das relaes burguesas. Lnin e Gramsci

    sabiam disso: os militantes que constituem o corpo do partido revolucionrio so

    indivduos formados na sociedade capitalista e por ela corrompidos. Isso no implica

    aceitar essa educao e os vcios prprios das relaes burguesas. Lnin sabia da

    necessidade de se criar dispositivos e garantias organizativas prprias para contrariar as

    conseqncias corruptoras dessa situao, para corrigir imediatamente o seu inevitvel

    aparecimento e eliminar as excrescncias assim originadas. (LUKCS, 1987, p. 77).

    Portanto, as relaes que se cristalizam no interior do partido revolucionrio (que

    inevitavelmente influenciam a forma de relao do partido com seu ambiente exterior)

    cumprem papel fundamental no processo de educao para uma nova cultura e de

    deseducao das relaes e valores burgueses (prxis educativa em seu momento

    prtico). A vida interior do partido um combate incessante contra essa herana capitalista

    em que se busca construir o germe de novas relaes societrias que s podero se realizar

    plenamente com a superao do modo capitalista de produo. Essa luta interna ao partido

    to mais completa e intensa quanto mais intensamente e completamente se envolve o

    militante revolucionrio nas atividades partidrias. O conjunto da personalidade do

    indivduo deve estar toda conectada s atividades do partido, permitindo, assim, ser

    questionada por todas essas relaes, ser posta em contradio. O partido revolucionrio

    utiliza o seu membro, leva-o a expandir-se, e julga-o, rasgando nele os invlucros

    reificados que, na sociedade capitalista, enevoam a conscincia do indivduo. (LUKCS,

    1987, pp. 80-81).

    Os dirigentes, como Lnin, portanto, no so demiurgos ou personalidades exticas

    e nicas (como um lder carismtico na sociologia dos partidos de Michels22), mas

    22 Robert Michels (1876, 1936) foi um socilogo alemo que analisou o comportamento poltico das elites intelectuais, tornando-se conhecido pela sua obra Sociologia dos partidos polticos (1915) em que desenvolve a lei de ferro da oligarquizao": toda organizao, em seu processo de crescimento, estaria fadada a burocratizao e separao estanque do grupo dirigente da base de sua organizao.

  • 16

    indivduos forjados na luta revolucionria, ponto de convergncia de um vasto movimento

    revolucionrio (MACCIOCCHI, 1977, p. 84). Assim, tambm, o partido revolucionrio

    leninista no o sujeito da revoluo, mas sua parte mais consciente e capaz, agindo como

    educador, mas tambm como educando em relao classe e ao ambiente. Logo, o

    dirigente, o partido, so elementos da classe operria, so uma parte da classe operria

    (GRAMSCI apud MACCIOCCHI, 1977, p. 84)23.

    A autonomia organizacional do partido revolucionrio em relao s massas

    fundamental para que o proletariado possa tomar conscincia de si como figura histrica,

    para que toda a classe eleve conscincia a sua prpria existncia como classe. Mas, em

    partidos cuja relao entre direo e base, entre partido e classe, apresenta-se deformada,

    seu funcionamento assemelha-se ao de seitas ou organizaes oportunistas. No primeiro

    caso, h uma separao artificial da vida e da evoluo da classe conscincia de classe

    correta (como se esta pudesse subsistir num tal isolamento abstrato), e, no segundo caso,

    os oportunistas realizam o nivelamento destas estratificaes da conscincia ao mais baixo

    nvel e, no melhor dos casos, ao nvel da mdia. (LUCKCS, 1987, p. 68). Podemos

    entender esses dois tipos de deformao como, respectivamente, vanguardismo (em que o

    plo terico se destaca das contradies prticas da base partidria ou da classe), e basismo

    (quando as contradies imediatas da base ou da classe subjugam o plo terico).

    Para entender melhor as deformaes na prxis educativa revolucionria, deve-se

    analisar sua relao estruturante, ou seja, a prxis educativa entre direo e base no partido

    revolucionrio. A prxis educativa entre direo e base, por sua vez, configura-se a partir

    das relaes cristalizadas na estrutura organizativa do partido, sendo determinada

    essencialmente pelo centralismo democrtico. O centralismo democrtico um

    mecanismo pedaggico e organizativo que prope o mximo de liberdade e democracia no

    perodo de discusso e o mximo de unidade na ao, aps a discusso, votao e

    resoluo.

    O centralismo democrtico possui em si os dois elementos que Gramsci aponta

    como fundantes do processo educativo moderno, constituintes fundamentais do processo

    hegemnico: a coero e o consenso. Consenso, aqui, no se entenda como necessidade

    de que os debatedores cheguem a um consenso, mas como momento democrtico em que

    23 Artigo O dirigente publicado por Gramsci em 15 de maro de 1924 em LOrdine Nuovo.

  • 17

    diferentes posies podem se confrontar livremente e expor suas divergncias e acordos. A

    coero o momento do centralismo, em que aqueles que foram derrotados no debate so

    obrigados - pelo livre acordo com os princpios de funcionamento do partido - a aceitar a

    posio vencedora (da maioria) e agir de acordo com as resolues.

    O centralismo democrtico permite que o ser coletivo mantenha sua fora

    constituda pela unidade da vontade coletiva. Caso contrrio, as vontades se fragmentam e

    agem isoladamente, fazendo com que a organizao retroceda ao estgio anterior de

    heterogeneidade onde h poucas possibilidades de ao conjunta. O centralismo

    democrtico permite, igualmente, a troca, o dilogo, o conflito, to necessrio para a prxis

    educativa revolucionria entre direo e base.

    Mas o centralismo democrtico no est isento de desvios. Gramsci, mesmo

    entendendo que o partido revolucionrio - enquanto vanguarda da classe operria

    estruturado a partir de princpios e da disciplina, advertia sobre o risco de que o fiel da

    balana entre o centralismo e a democracia recasse sobre o primeiro, permitindo a

    instalao de prticas autoritrias e conseqente burocratizao da estrutura partidria. Para

    Gramsci, o partido s representa a vontade coletiva se o momento democrtico se realiza

    plenamente: ampla circulao de idias entre os militantes e formao que garanta a

    compreenso terica e poltica dos debates. Deve-se buscar constantemente que os

    militantes de base deixem de ser meros executantes e se tornem deliberadores. Por isso

    mesmo, o centralismo democrtico deve ser, segundo Gramsci,

    uma contnua adequao da organizao ao movimento real, uma capacidade de temperar os impulsos da base com o comando do alto, uma insero contnua dos elementos que desabrocham do mais profundo das massas no quadro slido do aparato da direo que assegura a continuidade e a acumulao regular das experincias. (GRAMSCI apud MACIOCCHI, 1977, p. 173).

    Mas quem, em ltima instncia, pode garantir esse equilbrio dinmico entre a teoria

    que tempera os impulsos da base e a prtica que assegura a acumulao regular de

    experincias? Esta pergunta nos coloca diante de um dilema pedaggico. Observemos

    melhor como esse dilema se manifesta no centralismo democrtico.

    Em uma reunio deliberativa do partido, o tempo de discusso influencia

    diretamente a qualidade da resoluo. Mas, certamente, no h tempo para que todos

  • 18

    possam compreender completamente as questes em pauta, at porque a diferena de

    experincia e conhecimento entre os membros do partido exigiria que a assemblia fosse

    transformada em um curso de formao terica, o que no exeqvel. preciso, portanto,

    estabelecer um tempo mdio que permita que o debate se efetive e no se configure apenas

    como uma encenao. H uma tenso, portanto, entre a necessidade de dar resposta prtica

    s demandas da realidade (que pressiona para que se reduza o tempo de debate e se passe

    rapidamente ao) e a necessidade de estabelecer amplo e profundo debate, construindo

    assim a racionalidade da deciso que ser obedecida, inclusive, por aqueles contrrios a ela.

    Mas quem determina a durao desse debate? Em geral, a direo em suas diversas

    instncias. O educador/dirigente diante de um debate que acredite imaturo pode cortar ou

    encurtar a discusso. E caso sua avaliao esteja errada?24

    Os desvios possveis do centralismo democrtico escancaram esse dilema fundante

    da relao entre teoria e prtica, dirigente e dirigido, que nomeamos, aqui, de dilema da

    prxis educativa revolucionria. Em uma prxis educativa, o educador detm a autoridade

    (coero) para dirigir o processo educativo atravs de uma prxis revolucionria que

    permita ao longo de seu desenvolvimento que os educandos se realizem enquanto seres

    autnomos e possam participar de forma mais ntegra na deciso dos rumos do prprio

    processo educativo. O centro do dilema pode-se resumir na seguinte questo: Quem

    determina quando o educando adquiriu autonomia suficiente para decidir sobre o prprio

    processo educativo? O educador? Educador e educandos juntos?25

    Esta uma situao delicada e a porta de entrada para diversos desvios: o educador

    pode avaliar que uma conduta, postura ou posicionamento diferente do seu implica

    imaturidade do educando, quando esta se refere apenas a diferenas ou divergncias

    maduras para explodir (vanguardismo). Ou ento, o educador pode avaliar que os

    educandos j se encontram maduros quando, na verdade, no esto, o que colocaria a

    perder todo o sentido do processo educativo seguinte (basismo). 24 H exemplos no processo revolucionrio russo, como em alguns debates entre os bolcheviques e grupos de oposio internos ao partido ("Comunistas de Esquerda", os "Centralistas Democrticos", a "Oposio Operria"), aps a revoluo russa, em que essa questo acerca do possvel abuso do poder do educador/dirigente (no caso, a frao bolchevique era a maioria) ainda hoje discutida (a partir de 1921, foram proibidas as fraes dissidentes dentro do Partido Bolchevique). Apesar das diferenas entre estes grupos oposicionistas e do perodo em que surgiram, eles questionavam a poltica bolchevique e criticavam a burocratizao, defendendo a autonomia proletria. 25 Esse mesmo dilema pode ser transposto para o perodo de transio ao comunismo, em que o Estado socialista passa a funcionar como educador coletivo.

  • 19

    Parece-nos claro, portanto, que essa deciso (sobre o momento da autonomia) no

    deveria ficar apenas a cabo do educador e deveria ser discutida coletivamente. Mas, ento,

    apresenta-se outra questo: como decidir? Por quantidade de votos? Mas sempre haver

    mais educandos que educadores e volta-se a correr o risco do basismo! Por peso de

    experincia e saber acumulado? Mas como se avalia isso? No estaramos incorrendo no

    risco do vanguardismo? Estamos adentrando um conjunto de questes complexas e que no

    possuem fcil resoluo terica e, provavelmente, tero que ser avaliadas a partir dos frutos

    histricos das decises tomadas. Por isso a importncia de, qualquer que seja a deciso

    tomada no confronto entre educadores/direo e educandos/base, que a resoluo seja

    levada a cabo de forma unitria, pois s assim uma avaliao geral poder demonstrar a

    falha real no processo, permitindo a crtica e a auto-crtica eficiente.

    6. A IMPORTNCIA DA PRXIS EDUCATIVA ENTRE DIREO E BASE NO

    PARTIDO REVOLUCIONRIO

    O atual estgio de barbrie capitalista no nos deixa dvidas acerca da necessidade

    de propor um novo conformismo societrio (comunismo) atravs de um plo educador

    consciente (intelectual, partido, Estado socialista). Para que essa prxis educativa se torne

    revolucionria, deve-se buscar a unidade de seus momentos terico e prtico, s possvel

    atravs de um ser coletivo, gerando novo conhecimento e prtica revolucionrios que

    permitam a construo da hegemonia proletria.

    A prxis educativa revolucionria constituda, em seu eixo pedaggico, por uma

    tenso constante entre coero e consenso, direo e espontaneidade, que se complexifica

    medida que a relao educativa se aprofunda e os educandos adquirem maior autonomia.

    Esse processo constantemente ameaado por deformaes prprias das contradies do

    sistema capitalista. Dentre essas deformaes, a mais perigosa a que envolve a prxis

    educativa entre direo e base no partido revolucionrio em seu elemento estruturante, o

    centralismo democrtico. Verificamos a existncia do dilema da prxis educativa

    revolucionria que pode, se mal equacionado, deformar a prxis educativa em todos seus

  • 20

    nveis de relao: entre dirigentes e dirigidos; direo e base; partido e classe; Estado

    socialista e massas.

    Seria a existncia do dilema da prxis educativa revolucionria uma indicao de

    que a crtica dos anarquistas e das correntes do socialismo democrtico (Nova Esquerda) ao

    modelo leninista de organizao estariam corretas? Acreditamos, por tudo que foi exposto

    ao longo deste estudo, partindo do pensamento de um dos maiores pensadores marxistas,

    Antonio Gramsci, que no. No h outra forma de superar a contradio entre capital e

    trabalho (e, portanto, a separao entre os que pensam e os que fazem) sem enfrentar a

    tenso prpria desse dilema pedaggico. Negar-se a assumir a direo desse processo

    educativo revolucionrio aceitar a reproduo contnua do dilema, a separao

    permanente entre dirigentes/educadores e dirigidos/educandos. Reafirmamos, portanto,

    junto com Gramsci, a necessidade do partido revolucionrio como educador coletivo,

    vanguarda orgnica classe trabalhadora. Contudo, importante atentar para a autocrtica

    de Gramsci s formas organizativas produzidas pelos comunistas ao revalorizar o processo

    de hegemonia, a estrutura organizativa e a prxis educativa revolucionria entre dirigente e

    dirigido.

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