A PEDRA DESCORTINADA

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A pedra d Pedro descortinada a casa no ca da paisag introduz o eleme humano no horizo o Du Bois a anto gem ento onte

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Livro de poesia de Pedro Du Bois

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Page 1: A PEDRA DESCORTINADA

A pedra descortinada

Pedro Du Bois

A pedra descortinada

a casa no canto da paisagem

introduz o elemento humano no horizonte

Pedro Du Bois

A pedra descortinada

a casa no canto da paisagem

introduz o elemento humano no horizonte

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CHOVER

Sou a sede

a fome

a garra com que o pássaro

retira d’água o peixe

que se oferece

em superfícies

na profundeza

o abismo se fecha

na escuridão do tempo

naufragado

minha fome se completa

minha sede busca a gota

terminal dos ares.

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CONFISSÃO Sintonizado em barulhos reconheço o prego ao ser pregado o parafuso ao ser enroscado a água ao ser fervida o dia ao ser mudado para a tarde noite dos regressos ser fechado confesso o crime de escutar a vida por todos os lados.

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CORPO Meu corpo cansado pede o tormento: desacerto em horas tardias (o arrependimento cessa a contagem desfeita em prantos) a longitude do planeta indica a inconsequência da vida remanescente (sinto o corpo parado ao instante da decisão no engano aparente). PASSEAR Do fim do mundo - a rua – vejo traçados os limites do passeio na distância necessária à passagem do corpo - o transitar no espaço esvaziado – na concretização do traço: coberto em pedras na massa cimentada o passeio se oferece ao corpo: estanca a passagem.

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VOZES Sendo apenas a voz no discurso incompleto engloba verbos substantivados: às vozes cabem sons exemplificados (não atos concretados) a voz sobre a aversão aos fatos.

INTERESSAR Sou do desinteresse o ouvido parco das novidades, o mundo na extensão da casca do ovo não procuro o novo e a novidade flutua ante meus olhos (não há importância na descoberta: o novo derruba o que resta).

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HÓSPEDES Hóspede na inutilidade perco

a paciência em obviedades:

ao responder anseios interiores

rasgo paredes com palavras

alarmadas ao milagre e refaço

a noite divulgada ao acaso: junto

o teor do expediente e o declino

em versos: no inverso da jornada

esqueço a escala crescente

das necessidades:

hospedo a maldade

ultrapassada.

Sobram cicatrizes em calosidades:

esquecer ainda é o maior mistério.

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DESPREZO Desprezado ao sustento despedaço o corpo à estrada: ir e vir em bifurcado corpo estraçalho a vontade ao recontar pedaços inaproveitáveis repouso antes da viagem na longitude programada imerso em pensamentos penso a passagem do pássaro escalado ao morro atrás da casa ao sustento identifico a fome: restam fatias intercaladas.

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LARVA A larva lavra o caminho: geográfico histórico musical a larva cresce em acuidades: corpo formado ao exemplo diminuto do tormento no espaço ocupado outro corpo se debate em números: a larva recolhe o conceito universal do uso do espaço.

FINAL No final do dia aproximado ao cansaço trazido dos ofícios não estou presente. Ausentado ao tempo não traduzido, esmaecido nos alvoreceres da noite amanhecido em finais de tardes recompostas minha ausência despercebida em minúcias: a estrada bloqueando a entrada.

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ESTAR Não estamos, minha senhora,

à espera do despropositado;

as vírgulas assinalam distanciamento;

estamos, minha senhora, a praticar atos

necessários no encaminhamento

da história aos primórdios: cada fato

se reporta em cadeia

ao fato inicial; minha senhora,

o esforço finda o caminhar

e do início sentimos

o ordenar das coisas;

ao primeiro soprar da vela

em chama, minha senhora,

o despertar do monstro

se apresenta: assim a espera

e a entrega.

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REINSTALAR Reinstalo a vida

e a remeto ao final:

o mágico e o profeta

duelam crenças

a carta marcada

indica a morte

reinventada: vida

na sucessão

da hora

induzida

ao desconhecimento

a vida se distancia

no espaço em acreditar

e descobrir do truque

a artimanha: desvanecer

em barulhos diários de antigas

reconstruções.

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HAVERES Na terra que não é sua: o proprietário na vontade que lhe escapa: o pânico na descoberta da hora: o tempo na desconfiança do ato: o fato na memória encoberta: há quem conte sobre o outro lado memorizado em estrofes intercaladas: há o ranger de dentes e a dor de cabeça pelo não acontecido na forma pública: o todo recolhido ao sacrifício.

REAFIRMAÇÕES Reafirmo a crença no futuro diz o homem moribundo o medo da inexistência tolhe seu gesto de contrição: a sabedoria reversa redescobre os mitos onde permanece no pensamento adverso de ser o nada redundante reafirmo a esperança no presente afirma o homem em despedida.

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LONGE

Longe em ares

sou vácuo. Diferença

indistinta entre o som

e o nada. Aconselhado

retorno ao vício em respiração

diária: anoto a solicitude

do pedido: ares

ininterruptos. No vácuo

me encontro em corpos

decompostos: retorno ao ovário

e me aplacento.

O vácuo permite aos ares

o desfazimento dos elementos.

A decomposição do corpo

no irrealizável.

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PROIBIR A proibição denota

fraqueza: o descontrole

assume o comando

e a insanidade

vence

o efêmero perdura

o instante

e cede

ao grito

de guerra

rompo a proibição e permaneço

rompo a proibição e compareço

rompo a proibição e apresento

aos olhos

claros da história

a versão

livre

dos atos.

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TERMOS Estreito termo: escorreito entre pedras colocadas: blocos de gelo artificialmente descorados (cenas antecedidas aos acordes musicais: calado, escuto) estreito senso, ao cada acordar memorizo o esconderijo onde me vejo.

LINGUAJAR Construo a linguagem apropriada: ao verbo movimento peças impensadas comunico ao próximo a desestruturação da diversidade: respeito as diferenças avento ao tempo o substantivo necessário à nominação do espaço: reajo ao silêncio.

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POESIA Poesia em desencanto: a casa no canto da paisagem introduz o elemento humano no horizonte. Permanecer ao extremo tempo ensaiando passos dançados sobre a terra o desengano da efemeridade e a recorrência do bailado sobre águas passadas.

DUPLICAR Na duplicação defino a imagem reapresentada: o corpo carcaça invólucro depositado aos pés da terra: segue na permanência da lembrança até que a luz seja apagada. Sou jovem e velho: adulto e criança: ator e personagem. Imagem centuplicada do corpo na perda da identidade.

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PAIXÃO Apaixonei-me pela luz e a persegui

em beira mares, tive com a areia

atritos indesejáveis: a luz

e os pés molhados; perdi

a batalha, meu refúgio é o escuro

vão da escada, onde guardo

tralhas desconsideradas: rabisco

a poeira com palavras versejadas:

poderia anotar os dias.

A PEDRA DESCORTINADA

Pedra no sapato pedras no caminho caminhos de pedra pedra no meio do caminho pedra atirada pedra fundamental base de pedra tu és pedra sob a água empedras.

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PEDRO BU BOIS é poeta e contista de Itapema, Santa Catarina. Publica seus versos em vários sites e blogs, além de enviá-los semanalmente aos amigos. http://pedrodubois.blogspot.com http://www.meiotom.art.br

http://amata.anaroque.com/arquivo/2011/02/interessar

http://tuda-papeleletronico.blogspot.com

http://www.revistacerradocultural.blogspot.com

http://revistaliteratas.blogspot.com

http://vidraguas.com.br/wordpress/2011/03/10/corpo-poema-de-pedro-du-bois-em-vidraguas

http://www.limacoelho.jor.br/busca/busca_vitrine.php?busca=Pedro

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