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IBSN: 0000.0000.000 Página 1 A IMPORTÂNCIA DO GEOSSÍTIO CIDADE DE PEDRA PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA FÍSICA: PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DOS GUIMARÃES-MT Giovanna Letícia da Silva Marcelino (a) , Odaíza dos Santos Alvarenga (b) Prof. Dr. Dener Toledo Mathias (c) , (a) Departamento de Geografia/Instituto de Geografia, História e Documentação, UFMT, [email protected]. (b) Departamento de Geografia/Instituto de Geografia, História e Documentação, UFMT, [email protected] (c) Departamento de Geografia/Instituto de Geografia, História e Documentação, UFMT, [email protected]. Geoarqueologia, Geodiversidade e Patrimônio Natural Resumo O presente estudo apresenta os resultados de trabalho de campo realizado em trilha ecoturística pertencente à Unidade de Conservação Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (MT), com o objetivo avaliar a viabilidade de execução de uma excursão didática para o ensino de geografia física, bem como avaliar a potencialidade do setor denominado Cidade de Pedra em termos de geodiversidade. O trabalho consistiu na avaliação das condições das estradas e trilhas de acesso, contemplando o registro fotográfico de trechos com limitações à circulação de veículos devida a ocorrência de sulcos erosivos. Os resultados permitirão o planejamento de atividades didáticas que possam vir a ser realizadas no local, seja por alunos do ensino médio, como do ensino superior nos cursos que possuem a geografia física como componente curricular. Palavras chave: Unidade de Conservação, Ecoturismo, Patrimônio Geológico. 1. Introdução O reconhecimento da importância de determinadas paisagens para a realização de atividades de campo voltadas ao ensino de Geografia Física tem fomentado nos últimos anos uma série de trabalhos, envolvendo desde a elaboração de roteiros até a proposta de criação de Geoparques. Tendo em vista os elementos representativos do Patrimônio Natural existentes nas Unidades de Conservação, tais áreas possuem amplo potencial às atividades didáticas, especialmente no que concerne aos aspectos relacionados à Geodiversidade.

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A IMPORTÂNCIA DO GEOSSÍTIO CIDADE DE PEDRA PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA FÍSICA: PARQUE NACIONAL DA

CHAPADA DOS GUIMARÃES-MT

Giovanna Letícia da Silva Marcelino (a), Odaíza dos Santos Alvarenga (b) Prof. Dr. Dener Toledo Mathias (c),

(a) Departamento de Geografia/Instituto de Geografia, História e Documentação, UFMT, [email protected]. (b) Departamento de Geografia/Instituto de Geografia, História e Documentação, UFMT, [email protected]

(c) Departamento de Geografia/Instituto de Geografia, História e Documentação, UFMT, [email protected].

Geoarqueologia, Geodiversidade e Patrimônio Natural

Resumo

O presente estudo apresenta os resultados de trabalho de campo realizado em trilha ecoturística pertencente à Unidade de Conservação Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (MT), com o objetivo avaliar a viabilidade de execução de uma excursão didática para o ensino de geografia física, bem como avaliar a potencialidade do setor denominado Cidade de Pedra em termos de geodiversidade. O trabalho consistiu na avaliação das condições das estradas e trilhas de acesso, contemplando o registro fotográfico de trechos com limitações à circulação de veículos devida a ocorrência de sulcos erosivos. Os resultados permitirão o planejamento de atividades didáticas que possam vir a ser realizadas no local, seja por alunos do ensino médio, como do ensino superior nos cursos que possuem a geografia física como componente curricular.

Palavras chave: Unidade de Conservação, Ecoturismo, Patrimônio Geológico.

1. Introdução O reconhecimento da importância de determinadas paisagens para a realização de

atividades de campo voltadas ao ensino de Geografia Física tem fomentado nos últimos anos

uma série de trabalhos, envolvendo desde a elaboração de roteiros até a proposta de criação de

Geoparques. Tendo em vista os elementos representativos do Patrimônio Natural existentes

nas Unidades de Conservação, tais áreas possuem amplo potencial às atividades didáticas,

especialmente no que concerne aos aspectos relacionados à Geodiversidade.

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No caso do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães tais aspectos se

materializam nas formas do relevo e na exposição de formações geológicas, com destaque

para a porção centro-oriental do parque, onde se localiza o ponto de visitação denominado

Cidade de Pedra. Este local consiste em um mirante situado às bordas de escarpas areníticas

que marcam a transição do Planalto dos Guimarães para a Depressão Cuiabana (figura 1),

local onde são identificados afloramentos rochosos pertencentes à Formação Botucatu,

integrante da Bacia Sedimentar do Paraná. Também é notável a ocorrência de relevos

ruiniformes e vestígios de ciclos de aplainamento do relevo pretéritos. Tais atributos conferem

grande valor científico e pedagógico à essa área de visitação, a qual se enquadra na categoria

de Geossítio (VIEIRA JÚNIOR et al. 2011; ROSS, 2014).

Figura 1 – Fotografia panorâmica a partir do geossítio Cidade de Pedra

No entanto, problemas relacionados à processos erosivos tem imposto restrições à

visitação do mencionado local. Este trabalho, portanto, teve como objetivo avaliar o estado de

conservação das vias de acesso ao geossítio denominado “Cidade de Pedra”, bem como

verificar a viabilidade de realização de atividades didáticas e analisar as potencialidades deste

setor para o ensino de Geografia Física.

2. Material e Métodos Este trabalho teve como procedimento inicial a pesquisa bibliográfica, com o objetivo

de fornecer bases conceituais sobre os temas Geodiversidade e Geoconservação, bem como

obter dados sobre as características da área. Em seguida foi realizado um trabalho de campo

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de reconhecimento do estado de conservação da via de acesso à Cidade de Pedra, através da

observação direta do trajeto e do registro fotográfico de feições erosivas existentes na via,

conforme orientações apontadas por Ross e Fierz (VENTURI, 2005). Por fim, foram

analisados os atributos geológicos e geomorfológicos do sítio, buscando corroborar sua

importância para finalidades científicas e pedagógicas.

3. Resultados e Discussão Os aspectos geomorfológicos, geológicos e ecológicos vislumbrados a partir do

mirante da Cidade de Pedra possuem grande valor científico e pedagógico, por evidenciarem

elementos representativos da geodiversidade brasileira. Destacam-se primeiramente os

afloramentos rochosos da Formação Botucatu, do Jurássico-cretáceo, composta por arenitos

eólicos com estratificação cruzada de médio a grande porte, (evidenciando deposição em

ambiente desértico), sustentando escarpas festonadas que marcam de forma abrupta a

transição do Planalto dos Guimarães para a Depressão Cuiabana. Na superfície cimeira da

Chapada dos Guimarães, próximo ao rebordo escarpado, são encontrados notáveis relevos

ruiniformes esculpidos sobre as citadas litologias. As figuras 2a e 2b evidenciam tais aspectos

(VEIRA JÚNIOR et al, 2011; THOMÉ FILHO, 2006).

Figuras 2a e 2b – Exposição de arenito da Formação Botucatu e relevos ruiniformes.

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Em termos didáticos para o ensino da Geografia Física, as feições mencionadas

permitem a explanação em campo acerca da gênese e evolução das bacias sedimentares, bem

como aspectos relacionados ao ambiente deposicional e à formação das litologias. No âmbito

geomorfológico podem ser abordados temas tais como compartimentação e classificação do

relevo, processos morfogenéticos e a estrutura superficial, enfatizando a questão dos ciclos de

aplainamento pós-cretácico, conforme elucidados por Ross (2014).

A paisagem além da frente escarpada se configura como um amplo vale em anfiteatro

contendo córregos formadores de rios da região, como o Rio Claro, além de apresentar

cobertura vegetal e fauna representativos do bioma Cerrado, caracterizados por rica

biodiversidade.

Na estrada de acesso ao setor, foi constatada a presença de sulcos erosivos com

profundidade, largura e extensão significativas, possivelmente originadas pela concentração

do escoamento superficial relacionada à abertura da via e intensificada pela circulação de

veículos (figuras 3a e 3b). A dinamização erosiva é considerada como uma resposta

processual dos solos da área (Latossolos) às alterações produzidas pela concepção da estrada.

Figuras 3a e 3b – Presença de sulcos erosivos na via de acesso ao geossítio Cidade de Pedra.

Além de sulcos erosivos são também constatados bolsões de areia oriundos da

mobilização dos materiais superficiais e seu acúmulo em depressões do terreno, fato que

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contribui para o impedimento do trânsito na via por veículos que não possuam tração nas

quatro rodas. A medida adotada pela gestão do PNCG foi a de restringir o acesso à área,

sendo apenas permitido com a presença de guias cadastrados e com veículos apropriados.

4. Considerações Finais O geossítio Cidade de Pedra possuí aspectos de suma importância para o ensino de

Geografia Física, dado os elementos da geodiversidade que possui. Entretanto, devido aos

problemas de erosão evidenciados na estrada de acesso o local encontra-se inviabilizado para

práticas didáticas envolvendo um número maior de estudantes. Consideram-se necessários

estudos mais detalhados com a finalidade de gerar subsídios à possíveis medidas de

recuperação que possam ser adotadas a fim de mitigar os processos de erosão ocorrentes na

via. O presente trabalho, portanto, contribui para o conhecimento da problemática, bem como

para enfatizar a importância do geossítio ao conhecimento da geodiversidade regional.

Referências Bibliográficas ROSS, J. L. S. Chapada dos Guimarães: borda da bacia do Paraná. Revista do Departamento de Geografia, v. 28, 2014, p. 180-197.

SILVA, N. M.; SILVA, A. M. Estratégias de conservação de trilhas do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, Brasil. Revista Brasileira de Agroecologia, v. 4, n. 3, 2009, p. 97-106.

VENTURI, L. A. B. Praticando geografia: técnicas de campo e laboratório. São Paulo: Oficina de Textos, p. 65-84, 2005.

THOMÉ FILHO, J. J. (Org.) Sistema de Informação Geoambiental de Cuiabá, Várzea Grande e Entorno – SIG CUIABÁ. Goiânia: CPRM, (Convênio CPRM/SICME), v. 1, 2004, 309 p.

VIEIRA JÚNIOR, H. T.; MORAES, J. M.; PAULA, T. L. F. de. Geoparque Chapada dos Guimarães-MT: proposta. Goiânia: CPRM, (Projeto Geoparques), 2011. 60 p.