1.FBrasete
description
Transcript of 1.FBrasete
-
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)1128ISSN:08745498
AgammnonnaLricaArcaicaGrega AgamemnoninGreekArchaicLyric
MARIAFERNANDABRASETE(UniversidadedeAveiroPortugal)1
Abstract: In thisarticle,we seek to tracedown the figureofAgamemnon in the textsincluded in thecorpuspresentlyknownas thearchaicGreek lyric,byemphasizing themost illustrative testimoniesby three archaicpoets: two fragments fromStesichorussOresteia,the282aPMGFDaviesbyIbycus,andthePithianXI,byPindar.
Keywords:Agamemnon;ArchaicGreek lyric; Stesichorus; Ibycus; Polycrates; Pindar;Pithian11;Oresteia;TheChoephori;Clytemnestra;Orestes.
1.Estepareceserum ttuloambicioso,atendendoaqueaexpressolricaarcaica2utilizadaparadesignar todaapoesiaarcaicaquesucedeaosgnerospicoseprecedeoteatro.Aessaamplitudecronolgicaacresceainda todaaproblemtica tecidaeentretecidaem tornodo termolricaque,numaacepomaislatadaquelaqueosfillogosalexandrinoslhequiseram consignar3, veio a compreender uma significativa diversidade de
Textorecebidoem05.11.2013eaceiteparapublicaoem05.02.2014.Estetexto
correspondeaumaversodesenvolvidaeatualizadadeumaconfernciaproferidanoColquio Internacional Agammnon,o senhorda casa, senhordaguerra (Coimbra,Abrilde2008).
[email protected] Sobre a problemtica terminolgica e taxonmica vd., em especial, Bruno
GENTILI ([1984]1996:cap.III)D.GERBER (1997:19)eC.CALAME (1998).Noseuestudo,intituladoAs representaes deAfrodite na lrica de Safo,GiulianaRAGUSA (2005: cap.1)discute os principais tpicos relacionados com os problemas de definio da lricagregaarcaica.
3Ateoriadosgnerosdifundidapelosfillogosalexandrinos,sobainflunciadadistinopreconizadoporPlatonasLeis (764de) entre poesiamondica e poesiacoralfoiaceitemaisoumenostacitamentepelosestudiososataosanos70dosculopassado.Nessaaltura,nasequnciadeumadescobertadeumaindicaoesticomtrica(N) num pequeno fragmento da Gerioneida um poema estesicreo consagrado sfaanhasdeHracles comeouse a questionar a imagem tradicionaldeEstescorocomoumpoetaexclusivamentecoral.Algunsestudosrecentesdeespecialistasreputados tm salientado a fragilidadedesse fundamentopara classificar ospoemas,poisafinal o poeta coral por excelncia, lcman, ter composto temasmondicos, assimcomoAlceueSafo,os representantes tradicionaisdo canto lsbicomondico, compuserampoemasdestinadosaocantocoraledana
-
12
MariaFernandaBrasete
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)
gnerosesubgneros,ondese incluem tambmo iamboeaelegia.Todossabemosqueestaquestoaindahojenoabsolutamentepacfica,masnoesteomomentoapropriadoparaaretomarmos.Importar,todavia,recordarque,comotmsublinhadoBrunoGENTILI[1984]1996,DouglasGERBER(1997)EvaSTEHLE(1997)ouCharlesSEGAL(1998),entreoutrosestudiosos,anaturezapragmticaeocontextoperformativoquecaracterizaramaantigalricagrega tornaramnaum fenmenocompletamentediferentedapoesiamoderna,eessadistinosobressaitantoaonveldoscontedos,comoaonveldasformasedosmodosdecomunicao.Entreorecitativocomousem acompanhamentomusical eo canto a soloouporum coroacompanhadogeralmentededanasaoritmodamelodiaentoadaeaosomdeuminstrumentodesoprooudecordas,registavaseumagrandediversidadedegnerosedeestiloscultivadospelospoetasquecompunhamemfunodecircunstnciasperformativasmuitoconcretas,versando,amidesvezes,osmesmostemas,emestruturasmtricasequivalentesouno.Todasestasquestescondicionam,diretaouindiretamente,oestudodequalquertemaatinentelricaarcaicagrega.Teremospresenteestelequedequestestopeculiares,mesmosemlheconsignarmosumaabordagemsistemtica4.
4 Se os nomes de Estescoro e bico, no volume I de The CambridgeHistory of
Classical Greek Literature, editado por Patricia E. EASTERLING e BernardM.W. KNOX,aparecemaindadependentesdessa catalogao tradicional,namais recente ediodeDouglasGERBER(1997)procedeseaumareformulaotaxonmica:opoetadeHmeraapareceincludonadesignadaPublicPoetry,aopassoquebicoinseridonoespaoda Personal Poetry, devido ao valor que, hoje, a 1. pessoa lrica passou a ter nadistino dos gneros. E se certo que existe uma forte tendncia (decorrente dasinterpretaesdeWESTeGENTILI)emassociarosdoispoetasdaMagnaGrciatradiodonomoscitardico,deorigemocidental,quenuncaabandonaraostemashericos,deinspiraopica, tambmnoparecemser infundadasasdvidasexpressasporG.O.HUTCHINSON (2001:116).Asconcluses tiradas sobreaextensodealgunspoemasdeEstescoro,naopiniodesseA.,nocontradizemahiptesedeumaexecuocoral,bemcomo,noqueconcernescomposiesdebico,aclassificaomodernacomopoesiamondica,maisvocacionadaparaosimpsio,nosolucionadeuma formadefinitivatodas as questes levantadas pelo conhecimento fragmentrio que possumos daproduoedocontextodalricanapocaarcaica.Efetivamente,porquesetratadeumassuntoondeasconjeturasexcedemascertezas,sersempremuitodifcilfixarcritriosquefundamentemumadistinorigorosaeconsentneaentrepoesiacoralemondica.ComojustamenteobservaLusadeNazarFERREIRA(2012)nohporquenoaceitara
-
AgammnonnaLricaArcaicaGrega 13
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)
que,comoottuloanuncia,oobjetivoprincipaldesteestudorastrearafiguradeAgammnonnos textosqueconstituemo corpushojeconhecidoda lrica arcaica grega5.Contrariamente ao que sepoderia supor, no foitantoaamplitudeouaproblemtica inerente taxonomiaouaocontextooriginriodessesgnerosdepoesiaantigaquesuscitaramasmaioresdificuldades.Na verdade,uma releitura atentado corpus textual conservadoconfirmou a ideia de que, na lrica arcaica grega, no foi concedido umespaosignificativo figurasoberanadoAtridaque,na Ilada,motivaraamenisdeAquiles.Esse factocomprovasenasparcasebrevesalusesqueencontramosnumapoesiamuitofragmentria.
AalusomaisantigaprovmdosculoVIIa.C.deumfragmentodeArquloco (P.Oxy.69.4708, fr.1)6,noquala figuradeAgammnon referida,segundoumatradiopicadiferentedahomrica,apropsitodeumengano inicialdaarmadadochefedas tropasaqueiasnasuaviagemparaTria.Sebemque,nos finaisdessemesmo sculo,ou inciodo sculoVIa.C.,doisfragmentosdapoesiadeSafoapresentemumameno implcita(fr. 17 LP) e outra explcita (fr. 95 LP) aoAtridaAgammnon, no seconsideramrelevantesasexguaselacunaresinformaesquetransmitem.
Defacto,ostestemunhosmaissignificativosencontramolosnocorpustextualremanescentedeoutrostrspoetasarcaicos:emespecial,umpardefragmentos daOresteia, de Estescoro7 (c. 632556 a.C.); o fr. 282a PMGFDavies,debico(sculoIVa.C.)8;ea2tradeea3estrofedaPticaXIdeideiadequeEstescorosenotabilizounacomposiodepoemas longosdecontedopicomitolgico, que sedestinavam apresentao pblica a cargode coros por eletreinados(85),eofactodeopoetadeRgioterutilizadoumestiloelinguagemtpicosdopoetadeHmera(90),bemcomoodeterusadoaestruturatridica[]terosidodeterminantesparaainclusodebiconogrupodoscultoresdelricacoral.
5Estetemadesenvolvidonocap.IVdadissertaodedoutoramentodeReinaMarisolPEREIRA(2012).
6D.OBBINK (2006:5).Vd.a traduoportuguesadeCarlosM.M.de JESUS (2008:65).Cf.ostestemunhosdeProclo(Chr.80.429)edeEstrabo(1.1.17).
7SobreacronologiaeaobradeEstescoro,vd.M.L.WEST (1970)D.E.GERBER(1997:23242),RooseveltROCHA(2009:6568)eLusadeNazarFERREIRA(2013:815).
8 Para umadiscussoda cronologiade bico, vd.C.L.WILKINSON (2013: 312).Apesar da discrepncia de datas suscitada pelos vrios testemunhos, supese que opoetaseriaoriginriodeRgio(Suda),terianascidoporvoltadoincioosculoVIa.C.e
-
14
MariaFernandaBrasete
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)
Pndaro(c.518438a.C.).Almdestasrefernciastextuais,sobejaaindaumaoutrainformaoindirectaenodocumentada,masquepelasuapertinentesingularidademereceserreferida.CombasenumesclioaoOrestesdeEurpides(Schol.Eur.Or.46=549PMG),supesequeumacomposiolricadeSimnidesdeCeos(c.556/552ou532/528)terversadoalendadaOresteia, e que, seguindo Estescoro, situava o reino de Agammnon naLacedemnia9ouseja,emEsparta,enoemMicenasouemArgos.Noestudo que Jennifer R.MARCH concede figura de Clitemnestra (1987:81118), este testemunho indireto aparece associado auma outrapeadeevidnciapapirolgica (P.Oxy.2434),queso interpretadospelaA.comoindciosplausveisdequeoenigmticopoeta inico tiodeBaqulides, recuperara, numa das suas muitas composies apagadas pelo tempo, afigura deAgammnon e a lenda daOresteia. Curiosamente, conjeturaseaindaqueessepoemadeSimnidesemparticularpossatersidoaprincipalfontedeinspiraodaprolferaiconografiafigurativadapoca(15vasos)sobre omalogrado assassnio de Agammnon e os subsequentes crimesretaliatrios,nomeadamenteofamosokraterdeBoston10datadodec.470a.C.,portanto alguns anos antesda representaoda trilogia esquiliana,Oresteia(458a.C.)
2.Deixemos de lado esta ltima referncia, dada a inexistncia deprovas textuais, e centremonos nos textos dos trs autoresmencionadosquealudem,diretaouindiretamente,figuradoAgammnon.Respeitandoacronologia,comecemospelomaisantigo:Estescoro.
Entreos26livrosatribudospelaSuda(1095)11aopoeta,cujonometer recebido por ter sido o primeiro a criar um coro para a ctara
que, num perodomais avanado da sua vida, usufrura domecenato do tirano deSamos,Polcrates.
9 Schol. Eur. Or. 46 = 549 PMG: . . .(ApudJ.R.MARCH,1987:9394enota60).
10Cf.J.R.MARCH(1987:9596).11D.A.CAMPBELL(1991:2920).
-
AgammnonnaLricaArcaicaGrega 15
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)
()12,Oresteiaumdospoucosttulosconhecidos,edosesparsos fragmentos conservados, sobreviveramdoisversos,provenientesdeuma citaonum esclio auma comdiadeAristfanes (Paz),quecontmumacuriosaaluso,indirectaemetafrica,aAgammnon:
,.(Fr.219PMG)
Pareceulhequeseaproximavaumaserpentecomotopodacabeacobertodesangue;edelasurgiaumrei,umPlistnida.
Como se depreende, esto aqui implcitos doismotivos que foramsignificativamenteexploradospelos tragedigrafos,emparticularnaOresteiadesquilo:osonhoominosodeClitemnestraeavinganadoassassniodobasileus,descendentedePlstenes,ousejaAgammnon13.Diferentementedamonstruosa anfisbenaprofetizadaporCassandranoAgammnon esquiliano (v.1233)14, ou da vbora terrvel ( : v. 249; v.994:)queOrestesvnasuaprpriame,estedrakonensanguentadorepresenta,nosversosdeEstescoro,umaaparioaterradoraparaaprpriaClitemnestra,porquantoserefereaoespritodomaridoviolentamenteassassinadoepressagiaumasangrentavingana familiar.Masse recordarmos o v. 929 das Coforas ( ),damoscontadequeaprpriaClitemnestra,nasltimaspalavrasquedirigeaOrestes,refereocomoumaserpentequelamentatergeradoecriado15.Oraapoderosaambiguidadequematizaaexploraotrgicados
12 Estescoro tradicionalmente considerado um poeta da lrica coral, em
funodosmetroseaexecuodosseuspoemas.SobreadiscussoemtornodaperformancecitardicaoucoraldaobradeEstescoro,vd.M.DAVIES (1988:5253),D.E.GERBER1997:23235)eRooseveltROCHA(2009:6668).
13Devidoambiguidadedesta refernciagenealgica,poderseia suporqueoPlstenes fosseOrestes, seu neto, o executor da vingana.No entanto, creio que osegundoversodo fragmentoprolongaaalusoaAgammnon,o basileusqueaparececomoumamanifestaododescendedePlstenesmorto.Cf.Fr.194.5MWinfra.
14AscitaesdaspeasdaOresteiaseguematraduoportuguesadeM.OliveiraPULQURIO(1991).
15ComorefereM.deFtimaSILVA(2005),noseuexcelenteestudosobreadramaturgiadesquilo,estanovaClitemnestrapoucotemavercomamulherpoderosadeoutrotempo(119).
-
16
MariaFernandaBrasete
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)
valoressimblicosdaimagemdaserpentetemsidoobjectodediversasinterpretaes16,mas,nestemomento, importar somentenotarqueno encontramos,nemnatrilogiaesquiliana,nemnaElectradeSfocles17,qualqueralusoaessedrakonctnicocomo representaometafricadoespritodeAgammnon.certoqueopardeversoscitadosnoapresentaumareferncia directa e concreta a Agammnon, mas isso no invalida que sepossam tirar algumas ilaes: emprimeiro lugar,omitodeAgammnonperduravacomotemadalricacoralnoinciodosculoVIa.C.,sebemquevinculadoaum lequede tpicos lendriosque juma longa tradio lheassociaraamalogradaCasadeAtreu,oassassnioimpiedosodequenoeraisentadeculpaasuaesposaadltera,Clitemnestra,eevidentementeoepisdiosubsequentedevinganaretaliatria.QueristodizerqueaomitodeAgammnonseencontravamagregados,desdeostemposmaisremotosde uma tradio poticamarcadamente oral, outros episdios lendriosfamiliares,sendoosmaisrelevantesatraiodeClitemnestraeavinganaretaliatria perpetrada por Orestes. Estes factos iriam, evidentemente,marcarafortunadonomedeAgammnon.
Deve ainda referirse, que, segundo um testemunho de Ateneu(12.512e513), o homerssimo e hesiodssimo18 Estescoro versara otemamticodaOresteia,acrescentandoumnmeromuito significativodepormenores inovadores a uma histria familiar que tambm havia sidotratada por um poeta menor da poca, nosso desconhecido, o mlicoXanto19. Independentementede ter existido ounouma relaode inter
16Cf.,por exemplo,K.ONEIL (1988) eo estudo recentedeClaireCATENACCIO
(2011).17EmSof.El.417ss.,Cristemisrefereque,numsonhonoturno,Clitemnnestra
viraomaridoassassinadoregressarluzdodia,comumceptronamo.TambmnoOrestesdeEurpides(v.618)sereferequeClitemnestrasonharacomoomaridomorto.
18Cf.F.deMARTINO&O.VOX (1996:20).SobreoestilohomricodeEstescoro,verA.LPEZEIRE (1975:3 sqq.)M.DAVIES (1991:145147)eG.O.HUTCHINSON (2001:11319).
19 Com base numa passagem de Ateneu (13. 610c), Patricia E. EASTERLING &BernardM.W.KNOX (1985: 186) admitem a hiptesede que aOresteiadeEstescorotenha recebido influnciadessepoeta, seupredecessor.Vd. tambmReinaMarisolT.PEREIRA(2012:16566).
-
AgammnonnaLricaArcaicaGrega 17
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)
textualidadeouatderivalidadeentreasobrasdosdoispoetascontemporneos, importar salientar que a reelaborao de Estescoro, pautandosepelaoriginalidadeepelaobjectividadenarrativaalisapangiosreconhecidosdasuaartepotica, teracrescentadonovoselementosaomitoqueatradiopicaconcentraranasacesgloriosasdoheri.Entreosvrios espaos vazios deixados pela narrativa pica e que foram preenchidospela lrica,sobressai,evidentemente,estemotivocrucial,posteriormente exploradopelapoesiadramtica epela iconografia:oda culpadeClitemnestranoassassniodomarido.PareceadmissvelsuporqueEstescoro terreavivadoerecriadoomitoAgammnon,emmoldesmanifestamentediferentesdosda tradio pica,querhomrica,querhesidicaoumesmodociclopico.AsuaOresteia,queintegravaosdoisversosdofr.219PMGF, ter sido, por certo, uma das fontes da trilogia esquiliana, pelomenos no tocante imagem da serpente como smbolo de uma foractnica.Atravsdesteengenhosotopos,oAtridaassassinadosurgiametaforizadonuma serpente sanguinolentaque atormenta o inconscienteda esposaadlteraehomicida.squiloteraproveitadoestaapariodeAgammnonmorto, associandoadeuma formadramaticamente convincenteaosonhodeClitemnestra,masexplorandodetalformaasimbologiadestetema tradicional que dele parece ter feito depender a prpria estruturadramticadasCoforas.Efetivamente,osonhoconstituiomotivoquelevaoCoroaotmulodeAgammnon,oque,porsuavez,vaipermitiroreencontroeoreconhecimentoentreosdoisirmos.Aforasimblicadessesonho uma fora catalisadora da prpria estrutura dramtica da pea, porquanto,almdeprovaraculpadeClitemnestra,setransfiguranaimagemdo filhoserpente (v. 328: ) que o seiomaterno alimentou e omatricdio cruento ensanguentar. Por outro lado, a apario do herimortoserviaaindaparaperpetuarokleosdaquelequeanarrativahomricahavia celebrado comoo rei soberano esenhordoshomensque comandara com xito a expediogrega contraTria,masdepoisdeumnostostriunfante,enfrentaraumamortetrgica,noseiodoseuprpriooikos.
Convm talvezrecordarque,noclebrepassodosNekyadaOdisseia(11.40910), o destino funesto de Agammnon divulgado na primeirapessoa.NoHades,oespritodoAtridarelatapessoalmenteaUlissesque,
-
18
MariaFernandaBrasete
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)
na Ilada (18.265)o julgaramortonumabatalhaalgunspormenoresdoscrimesmacabros que se sucederam ao seu bemsucedido retorno a casa:Egistoforaoseuassassino,mascomaconivnciadeClitemnestraque,nomesmomomento em que omarido legtimo se esvaa em sangue, se encarregara,elaprpria,de tiraravida jovemCassandra.NospoemasdoCiclopico,ahistriadamortedeAgammnonforaigualmenteretomada,eoutrospormenoreshaviamsido,porcerto,exploradosoumesmoacrescentados. Podemos, assim, presumir que a traio e a cumplicidade deClitemnestra,fautoradavinganaperpetradaporOrestes,conferiramcontinuidade e unidade histriamalograda do rei glorioso, que o Catlogopseudohesidico tambm no ignorou, como testemunham algunsfragmentospreservados,equeaedioconjuntadeR.MERKELBACHeM.L.WEST(1967)nosdaconhecer.
Cito apenas a traduo de um desses fragmentos, pela pertinenteinformaodecarizgenealgicoqueencerra:
AgammnonfilhodePlstenesque,porsuavezerafilhodeAtreu.EmHomerosempreoAtrida.(Fr.194.5MW)
Pensoquepodemosencontrar,nestesversos,umtestemunhoabonatrioa favordaaparentementeestranhagenealogianohomricaseguidaporEstescoro,querefereAgammnoncomofilhodePlstenes.Efetivamente,atradiogenealgicadoreiregistavaumacertaambiguidade,poisse,comoHomero,eleeraconsideradoumdosdoisfilhosdeAtreu20,circulavaumaoutraverso,alisseguidaporpoetasposteriores,nomeadamentepelos trgicos,dequePlstenesseria filhodeAtreu,portanto,paideAgammnon e deMenelau. Sabese que estas questes genealgicas, assimcomoasonomsticas,ostentam,amidesvezes,uma sriede imprecisesquedevemsernotadas,masnosobrevalorizadas.Exemplos tpicosdessafluidez encontramse tambmnosnomesdeduas filhasdeAgammnon,IfigniaeElectraquestoquenovouaquidesenvolvereaindanalocalizaogeogrficadoreinodeAgammnon.Comojsereferiuanteriormente, um esclio ao Orestes de Eurpides (schol.Eur.Or.46= 549 PMG)fornecenosainformaodequeasupostaOresteiadopoetaSimnidesde
20EstescororefereocomoAtrida,nofr.238.312PMGF.
-
AgammnonnaLricaArcaicaGrega 19
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)
Ceos seguiraaversodeEstescoro, situandoo reinodeAgammnonnaLacedminapossivelmente emEsparta, comonaOdisseia eno emMicenasouemArgos,deacordocomasduasversespresentesna Ilada.Podemosaindaassociaraessadupladissociao,genealgicaegeogrfica,deAgammnonnaOresteiadeEstescoro,arefernciaaoinusitadonomedaama,queterprotegidoOrestes:Laodamia21.
muitodifcilobtermosumaimagemcoerenteeconsistenteapartirdestesfragmentosesboroadospelotempo,maspensasequeapoesiadeEstescoro ter,certamente,marcadoummomentodeviragemnapoesiaarcaicagrega.OfactodeasuaOresteiaestardivididaemdoislivros22constitui,aparentemente,umdadosignificativoqueentroncana ideiadequeopoeta siciliano adaptou o legado da tradio potica anterior23 s novasformas lricasemergentes,eivadasdeumaartenarrativaondearecriao,aobjectividade ea importnciadopormenor se revelam comomarcasdeuma idiossincrasia potica, ancorada ainda namundividncia herica dopassado,mastambmmuitodistantedaenunciaopersonalizada,daconciso e da brevidade que a narrativa mtica conquistaria na poticapindrica.
3. Tambm sob a influncia da tradio homrica, entretecida comressonnciashesidicas,um curioso epolmico fragmentode bico (282aPMGF)24,peseemboraoseuestadofragmentrio,recuperaoestatutosoberano emajestoso deAgammnon que, como justamente observouG.O.HUTCHINSON (2001: 243), ocupa um lugar de relevo, enquanto figuramagnificentemente adornada,que ecoa adico pica, apesarde se revestirdeuma significaomaisampla, tendoemcontaostemaseargumentosimplcitosdopoema.Emprimeirolugar,valerapenareferirdoisoutrsaspectosessenciaisparaacontextualizaodopoema.
21Cf.fr.218PMG/schol.A.Ch.733.22Cf.fr.213,214PMG.23Vd.,porexemplo,AntonioLPEZEIRE(1975:132)P.E.EASTERLING&B.M.W.
KNOX(1985:88sqq),E.CINGANO(2003:2534)eJenniferL.BENEDICT(2005).24Praumaresenhadasinterpretaesdestepoema,nomeadamentedasdeD.L.
PAGE(1951)edeJ.P.BARRON(1969),vd.LeonardWOODBURY(1985).
-
20
MariaFernandaBrasete
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)
Desconheceseaparteintrodutriadestefr.282aPMGF(=S151)eomododeexecuoaquesedestinava,sebemqueostopoidaenunciaona1.pessoa edo elogio belezadeum jovem chamadoPolcrates tenhamsustentadoahiptesedequesetratavadeumacomposioencomendadapara ser cantada numa cerimnia convivial25 possivelmente, um simpsio,no tempoda juventudedo futuro tiranode Samos.Construdosobreumaestruturatridica(talvezumamarcadainflunciadeEstescoro,talvezaestruturaapropriadaaestetipodecantosencomisticoscircunstanciais), apresenta jmarcas discursivas de uma enunciao na 1. pessoa,comprovada pela presena da forma pronominal , no v. 10, onde seenceta uma preterio: Mas no meu desejo cantar26.A presena doadvrbio|27,hipoteticamentelocalizadoeminciodeverso,instaurariaohicetnuncdoargumento28,indiciando,desdelogo,ovalorexpressivoqueaanttesepassadopresenteganhavanaconstruopoticadoencmioque,sobaformatpicadapraeteritio,iluminaasrefernciasmticas,pormeiodaanalogiaedocontraste.
Entreaprimeiratrada,porsinalincompleta,easegunda,sucedemseasalusesafigurasmticasdalendriaGuerradeTria29,dasquaisPrisanicaquemereceumaavaliaonegativaum traidor talvezportervioladoosprincpiosdehospitalidade(xenia)aoraptarHelena.MasaconjugaoengenhosadomotivodopreponcomodapraeteritioquecriaumparaleloeloquenteentreamemorvelgrandezadafrotadeAgammnoneodesejocontemporneodequeailhadeSamosfossereconhecidapelasuasupremacia martima. A funcionalidade das aluses mticas, particularmente frota de Agammnon30, no se esgotava, por conseguinte, nas
25Cf.BrunoGENTILI([1984]1996:278).26 As citaes do fr. 282a PMGF seguem a traduo portuguesa de Frederico
LOURENO(2006:4849).27AfavordestaemendapropostaporGREEFELLeHUNT(1922),pronunciaramse,
porexemplo,G.O.HUTCHINSON(2001:240)eClaireL.WILKINSON(2013:65).28AbelezadePolcrates(vv.4648).Vd.LeonardWOODBURY(1985:196).29Cf.D.E.GERBER(1997:1923)30Desalientar,as inmerasreminiscnciasdoCatlogodasNaus,docanto II
daIlada.semelhanaeEstescoro,tambmbicoutilizatopoiherdadosdoCiclopicoenomeadamentefiguraseepisdiosrelativossagatroiana,que,naopiniodeClaireL.
-
AgammnonnaLricaArcaicaGrega 21
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)
questes poticas, apresentando tambm motivaes pragmticas concretas,comojustamenteobservouB.GENTILI([1984]1996:282):OpropsitodopoetaerachamaraatenodoauditrioparaopodertalassocrticoqueafamliadePolcratesdetinhanapoca.
EstepeculiarenquadramentopoticodafiguradeAgammnonfaziasobressairmuitosdosatributosqueaIladalhehaviaglorificado.Oseukleosperduravamesmoaonvelda linguagem:eledescrito,nosvv.2022doepodo da segunda trade como o poderoso Agammnon (v.20: |) [o rei] da linhagem dos Plstenes(v.21: |||, condutor dos homens (v.21: ) e o filho doilustreAtreu (v.22: | | ).Mas esta caracterizao doAtridaparececombinar,deummodocoerente,eptetoshomricosconsagrados,comaalusonohomricaaPlstenes31.queosujeitopoticodeclarara,anteriormente (vv. 1517), a sua recusa emnarrara insolente areta(transliteroa formadrica)dosherisgregos,e,poresse facto,aalusolinhagem dos Plstenes sobrepunhase, relegando para segundo plano amalogradahistriadeAtreu.Masaforaretricadapreteriofaziaaindarealaro temada arete,que, entrelaado como tpicodo kleos,promoviauma afinidade significativa entre as figuras dominantes do poema:Agammnon,opoeta,eo jovemebeloPolcrates,odestinatrioelogiado.ComoobservouLeonardWOODBURY(1985),Barronjperceberaqueotemadestapoemaeraopoderdapoesiaemconferirimortalidade.
Paraconcluir,poderemosdizerque,nestecomplexoemuitofragmentriopoemadebico,Agammnonafiguraseumparadigmamticosignificante, que, de ummodo subversivo, funciona como mulo de um novoconceitodearete,aliceradonospilaresdabelezaedaglria,que,nopassado,imortalizaraomaisjovemfilhodePramoeHcuba,Troilo,e,nopresente, atravs do canto e da fama do poeta, iria conceder um
WILKINSON (2013:1314),constituaumprocedimento tpicodospoetasarcaicosgregosqueseenquadravaperfeitamentenumalricadetemticaerticaquecelebravaabelezadeheris.
31Vd.supranota13.
-
22
MariaFernandaBrasete
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)
renomeimorredouro(v.47.)aojovemebeloPolcrates32.EstaconscinciadotalentopoticoaliadacrenadequeocantoinspiradodasMusastinhaodomde imortalizar a glria (kleos)dos homens,prenuncia oprogramapoticodeumgneroencomisticoqueviriaa florescernumapocamaistardiadalricaarcaica:oepincio33.
4.E precisamentenumdos epinciosdomais reputado cultordogneroquese inscreveaderradeiraaluso lrica figuradeAgammnonque encontramos no corpus da lrica arcaica grega. Tratase da PticaXI,compostaparacelebraraterceiravitriadeTrasideu34deTebasnacorridaderapazesdeduasvoltasaoestdio(vv.114),noanode474ou454a.C.35.Novouaquidemorarmenaanlisedestaintricadaode,quetemsuscitadoaos comentadoresmuitosproblemas.Centrarmeei apenasna secomtica,edeumaformamuitobreve,paradepoisexaminaraalusoquefeitaaAgammnon.
Nas quatro tradas que compem a ode, a convencional narrativamticadesenhauma estrutura circularpela retomado seu tema central
32SegundoClaireL.WILKINSON(2013:23),()Ibycususesbothmythicalevents
orcharactersandtheexpressionoferoticsentimentstopraiseanindividual.Bothmythand love arepresented in S 151,wich ends bypromising eternal glory to the youngPolycrates. Ibycus rejection of the Trojan War implies that Polycrates is a moreimportantsubjectforbeauty().
33SebemqueosnomesdePndaroedeBaqulidessetenhamimortalizadocomoos poetasmais representativos a cultivarem o epincio, a inveno deste gnero depoesiaencomisticatradicionalmenteatribudaaSimnides,opoeta jnicooriginrioda ilhadeCeos,quesediz tersidooprimeiroacomporumapoesiadecircunstncia,porencomendaea trocode remunerao.Descobertaspapirolgicas recentes levaramalguns estudiosos adefender ahiptesede bico ter composto odesdevitria.Vd.LusadeNazarFERREIRA(2013:91,especialmente,n.75).
34NestaPtica11,celebraseavitriadeTrasideunovigsimooitavo Jogo,masatravsdo Schol.Pi.P. 11 sabese que este filhodePitovencera tambm o trigsimoterceiro.
35Sobreaproblemticadataodestaodevd.P.J.FINGLASS(2007:518)declaraasuaprefernciapeloanode474a.C.,valorizandoa refernciaaopai (v.44)do jovematleta,que, certamente, teria encomendadoopoema.Contudo,osvriosparalelismosquesepodemestabelecerentreestaOdeeaOresteiadesquilo(458a.C.)sustentamahiptesedadataposterior,tradicionalmenteindicada:oanode454a.C..
-
AgammnonnaLricaArcaicaGrega 23
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)
Orestes (v.16ev.35)36,que incluiasegunda tradaea terceiraestrofe.Oargumentoqueintroduzatradicionalsecomticaconstrudoatravsdeumanotageogrficaque localizavagamenteoespaoemqueessa terceiravitriadeTrasideuforaobtida:naslezriasfrteisde/Plades,oamigodo lacnicoOrestes37 (vv. 1516: / ).Estava lanadoomoteparaumanarrativaque,aoenumeraraspersonagensmaisilustrativasdomito(almdePlades,queforaanteriormentemencionado,Agammnon,Clitemnestra,Cassandra,Ifignia,Estrfio), introduza figuraenigmticadeumaama,denomeArsnoe38 (v.17),que ter levadoo jovemOrestesno sedizparaondedepoisdoviolentoassassniodopai.SercuriosoobservarosaspetosselecionadospelopoetanestanarrativadomitodeOrestes39.
OprimeiroepisdioevocadoprecisamenteodoassassniodopaideOrestessmosviolentasdeClitemnestra (vv.1718: /)40,apodadadeimpiedosa (v.19: )eresponsabilizadaaindapelamortedeCassandra.Aabordagemdestetemaprocessaseemsintoniacomatradio,masasmarcasdeoriginalidadeinsinuamsena imagem inslitaeominosaqueassociaosdestinosdeAgammnon edeCassandra, juntos nasmargensdoAqueronte (v. 202: ). Efetivamente,semelhanadapoesiadeEstescoro,ediferentementedadebico,AgammnonparaPndaroumhomemmorto,vtimadeumaassassniodolosoesanguinrio,certo,massernaoriginalalusosuapsychequea
36Ostopoireferidosso:oresgatedeOrestesdepoisdasmortesdeAgammnone
deCassandra;oseuexlioeoregresso;omatricdioeotiranicdio.37AscitaesdaPticaXIseguema traduoportuguesadeAntniodeCastro
CAEIRO (2006:13538).NotesequePndaro,diferedaversoesquiliana, localizandoomitodeOrestesemEsparta.Cf.S.J.INSTONE(1986:878)querealaofactodeestaOdenoapresentarumapassagemgnmicaa ligaromitoeavitria.RoryB.EGAN (1983:193)adverteparaquenoseentendaqueaassociaogeogrficaTebasLacinaquearelevnciadomitodeOrestesnestaOde.
38Vd.supran.21.39Sobrearelevnciadomitonestaode,vd.David.C.YOUNG(1968:4ss.),RoryB.
EGAN(1983),S.J.INSTONE(1986:878)eP.J.FINGLASS(2007:3446).40Paraainterpretaodosvv.1718vd.NicholasLANE(20062007).
-
24
MariaFernandaBrasete
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)
figurado herico filhodeAtreu (v. 31: ) se ilumina,nasprofundezasdoHades.Essaluz,todavia,umaluzmortia,noirradiaobrilho da glria (kleos), pelo contrrio, desobscurece o ethos do soberano,problematizandooatemtermosticomorais.NessalinhadepensamentosedeveminterpretardoismomentostextuaisdeterminantesdestarecaracterizaopindricadeAgammnon:aduplainterrogaoretricaquereflecteumaambiguidaderelativamentesortedasua filha Ifignia (segundaantstrofe,vv.2227)eainfernciacusticaquesepercebenosversosqueestabelecem o encavalgamento entre o epodo final da segunda trade com aterceiraestrofe(vv.3134).Atentemosnessasduaspassagens.
[Ant.2]TersidoIfigniachacinadaemEuripo,longedaptriaquemalevouaergueramopesadadorancor?Outersidodominadanumacamaannima,easnoitesdesexodesviaramnadoseucaminho?
[Epodo2]()Foiassimqueelemesmomorreu,ohericofilhodeAtreu,quandofinalmenteregressoufamosaAmiclas
[Estr.3]edestruiuaraparigadasprofecias,aoacabarcomoluxonacasadostroianoseprlhefogo,porcausadeHelena.
Uma surpreendente apropriaodomito reconfigurava,portanto, aimagemdeAgammnonneste epincio,mesmono sendo eleoprotagonistadoparadeigma.Parecemassimmitigadasalgumasinquietaeshermenuticase controvrsiasgeradasem tornodeste cantodevitria.quasecertoquenoestavanoespritodopoetaqueosepisdiosmticosdadesditosageraodeAtreuconstitussemumparadeigmapositivoparaaprsperafamliadovencedorouomotivodeumexcursusmeramenteretrico,comoparecesugeriroenunciadodaAntstrofe3:eacabeipormeperderemencruzilhadas, quando no incio/ seguia em frente por um caminhodireito(vv.3940)41.Esteartifciometadiscursivo,tocaractersticodapotica pindrica, permitialhe, sim, recuperar o tema central da ode e
41Cf.interpretaodeRobertaSEVIERI(1999:79).
-
AgammnonnaLricaArcaicaGrega 25
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)
sublinhar os princpios do programa encomistico da ode que pretendiacelebraravitriapticadeTrasideu.
NaAntstrofe4,depoisdeosujeitopoticoenunciarclaramenteoseuobjetivo o de alcanar as excelncias que todos partilham (v.55)segueseumasriedegnomaiqueparecemsintetizarnaperfeioaslinhasorientadorasdeumainterpretaomaisampladomitonarrado:
Massealgumchegaraolimite,queohabiteserenamenteeescapesoberbahorrorosa:talvezassimconsigaultrapassarlimitesmaisbelosdoqueanegramorte,deixandosuadocedescendnciaagraadeumbomnome,omelhordetodososbens.(vv.5559)
NohaviamsidoestesosprincpiosqueorientaramavidadeAgammnon,assimcomoadasuafamlia.OnomedageraodosAtridasperpetuarasemanchadode sangue,porquea traio,a insolnciaea impiedadequeconduziramaoregicdio,desencadearamoutrosactosviolentosemparticularomatricdio impostoaOrestesque,emltima instncia,provocaram a destruio do oikos42.A vitria ptica de Trasideu tornariamemorveloseularpaterno(v.14),talcomoavinganadeOrestes,sobos auspcios de Apolo, permitira perpetuar o nome do seu progenitor,punindoClitemnestraelibertandoooikosdotiranousurpador(Egisto)43.
Atendendofinalidadeparadigmticaqueomitodetinhanognerodo epincio, a figuradeAgammnon, alis como ada sua famlia, representa nesta ode, um passadomemorvel,mas que no se devia repetir,especialmenteparaosquedesejavamconquistarumbomnome(isto,oreconhecimento pblico) e alcanar uma excelncia inextinguvel.A esteidealsupremodeveria tambmaspirarovencedorpticoeasuaprspera
42Cf.MariadoCuFIALHO (2012: 49)que consideraClitemnestra o fulcrodo
crime, a rainha que, na ausncia domarido, se convertera na mulher demsculasdisposiesnumoikosdisfuncionalepervertido.
43VejaseoestudodeRobertaSEVIERI(1999).OmatricdioentendidocomoumatohericodeOrestesqueencarnaoprottipodovingador justo,porque sancionadopelodeusdeDelfosApolo.Por isso, lavalenzanegativadelparadigmamtico siconcentrasullacoppiadiususrpatori,mentrelafiguradiOresteilpuntodiriferimentoperlafiguradellaudando(90).
-
26
MariaFernandaBrasete
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)
famlia,paraque,contrariamentedeAgammnon,fossemreconhecidosecelebradosporumaimaculadaglria.
BibliografiacitadaBARRON,JohnP.(1969),Ibycus:ToPolycrates.London.BENEDICT,JenniferLynn(2005).StesichorusandtheEpicTradition.University
PressofVirginia.C.SEGAL.1998.Aglaia :thepoetryofAlcman,Sappho,Pindar,Bacchylides,andCorinna.Lanham,Md..
CALAME,Claude(1988),Laposie lyriquegrecque,ungenre inexistent?:Littrature111(1988)87110.
CAMPBELL,DavidA.(ed.)(1991),GreekLyric,VolumeIII,Stesichorus,Ibycus,Simonides,andOthers.Loeb,CambridgeMass..
CATENACCIO, Claire (2011), Dream as Image and Action in AeschylusOresteia:Greek,Roman,andByzantineStudies51(2011)202231.
DAVIES, M. (1988), Monody, Choral Lyric, and the Tyranny of thehandbook:CQ38(1988)5264.
DAVIES,M. (ed.) (1991),Poetarum,Melicorum,Graecorum,Fragmenta.Vol.1.Alcman.Stesichorus.Ibycus.Oxford.
EASTERLING, Patricia E. & KNOX, B. M. W. (eds.) (1985), The CambridgeHistoryofClassicalGreekLiterature.GreekLiterature.I.Cambridge.
EGAN,RoryB. (1983), On theRelevance ofOrestes inPindarsEleventhPythian:Phoenix37.3(1983)189200.
FERREIRA, J. R. (2000), A heroizao do vencedor na poesia grega:F.OLIVEIRA(coord.),Oespritoolmpicononovomilnio.Coimbra:4555.
FERREIRA,LusadeNazar (2013),MobilidadepoticanaGrcia antiga.UmaleituradaobradeSimnides.Coimbra.
FIALHO,Maria doCu (2012), DoOikos Plis deAgammnon: sob osignodadistoro:gora.EstudosClssicosemDebate14(2012)761.
FINGLASS,P. J. (ed.) (2007),Pindar:PythianEleven,Editedwith Introduction,Translationandcommentary.Cambridge.
GENTILI,Bruno([1984]1996),PoesayPblicoenlaGreciaAntigua.Tradesp.deXavierRiu.Barcelona.
GERBER,DouglasE.(1997),AcompaniontotheGreeklyricpoets.Leiden.HUTCHINSON,G.O.(2011),Greek lyricpoetry:acommentaryonselected largerpieces.Oxford.
INSTONE,S.J.(1986),Pythian11:DidPindarErr?:CQ36.1(1986)8694.JESUS,CarlosM.M.de(2008),Arquloco.FragmentosPoticos.Lisboa.
-
AgammnonnaLricaArcaicaGrega 27
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)
LANE, Nicholas (20062007), The Interpretation of Pindar, Pythian11.1718:IllinoisClassicalStudies31/32(20062007)263267.
LPEZEIRE,Antonio (1975),Estescoroenelmarcode la literaturagriegaarcaica:EstudiosClsicos19.7476(1975)132.
LOURENO,Frederico(2006),PoesiagregadelcmanaTecrito.Lisboa.MARCH,JenniferR.(1987),CreativePoet:StudiesontheTreatmentofMythsinGreekPoetry.(BulletinSupplement49).London.
MERKELBACH,R.&WEST,M.L.(1967),FragmentaHesiode.Oxford.ONEIL, K. (1998), Aeschylus, Homer, and the Serpent at the Breast:Phoenix52.34(1998)216229.
OBBINK,D. (2006), ANewArchilochus Poem:Zeitschrift fr PapyrologieundEpigraphik156(2006)19.
PAGE,D.L. (1951), IbycusPoem inHonour ofPolycrates:Aegyptus 31(1951)158172.
PAGE,D.L.(1955),SapphoandAlcaeus.AnintroductiontothestudyofancientLesbianpoetry.Oxford.
PEREIRA,ReinaMarisolT.(2012),Agamemnon(es):EntreomitoeaLiteratura.Dissert. Doutoramento. Coimbra. Disponvel em: http://hdl.handle.net/10316/23019
RAGUSA, Giuliana (2005), Fragmentos de uma Deusa. A representao deAfroditenaLricadeSafo.Campinas.
ROCHA,Roosevelt (2009),EstescoroentrepicaeDrama:Phaos9 (2009)6579.
SEVIERI,Roberta(1999),Uneroeincercadidentit:OrestenellaPiticaXIdiPindaroperTrasideodiTebe:Materialiediscussioniperlanalisideitesticlassici43(1999)77110.
SILVA, Maria de Ftima (2005), squilo: O Primeiro Dramaturgo Europeu.Coimbra.
STEHLE,Eva (1997),Performance andGender inAncientGreece:NondramaticPoetryinItsSetting.Princeton.
WEST,MartinL.(1970),Stesichorus:CQ21.2(1970)302314.WILKINSON,ClaireLouise (2013),TheLyric of Ibycus: Introduction,Text andCommentary.Berlin/Boston.
WOODBURY, Leonard (1985), Ibycus and Polycrates: Phoenix 39.3 (1985)193220.
YOUNG,DavidC.(1968),ThreeOdesofPindar:ALiteraryStudyofPythianII,Pythian3.andOlympian7.Leiden.
-
28
MariaFernandaBrasete
gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)
*********
Resumo: Pretendese, neste estudo, rastrear a figura deAgammnon nos textos queconstituemocorpushojeconhecidodalricaarcaicagrega,privilegiandoostestemunhosmaisilustrativosdetrspoetasarcaicos:doisfragmentosdaOresteia,deEstescoro,ofr.282aPMGFDavies,debico,eaPticaXI,dePndaro.
Palavraschave:Agammnon; lricaarcaicagrega;Estescoro;bico;Polcrates;Pndaro;Ptica11;Oresteia;Coforas;Clitemnestra;Orestes.
Resumen:Enesteestudiose intenta rastrear la figuradeAgamennen los textosqueconstituyenelcorpusactualmenteconocidodelalricaarcaicagriega,dandoprimacaalostestimoniosmsilustrativosdelostrespoetasarcaicos:dosfragmentosdelaOrestadeEstescoro,elfr.282aPMGFDavies,debico,ylaPticaXI,dePndaro.
Palabras clave:Agamenn; lrica arcaica griega;Estescoro; bico;Polcrates; Pndaro;Ptica11;Oresta;Coforas;Clitemnestra;Orestes.
Rsum:Danscettetude,onprtendsuivrelatracedelafiguredAgamemnondanslestextesquiconstituentlecorpus,telquonleconnataujourdhui,delalyriquegrecque,enprivilgiant les tmoignages les plus rvlateurs de trois potes archaques: deuxfragmentsdOrestie,deStsichore, lefr.282aPMGFDavies,dIbycos,et laPythiqueXI,dePindare.
Motscls: Agamemnon; lyrique archaque grecque; Stsichore; Ibycos; Polycrate;Pindare;Orestie;Chophores;Clytemnestre;Oreste.