Post on 20-Jul-2020
05 MAIS PODEROSOS 2017
MárioCentenoMário Centeno alcança este ano a segunda posição mais elevada de semprepara um ministro das Finanças. Salta de 16.° para 4.° mais poderoso daeconomia portuguesa. Ao longo dos últimos meses, Centeno ultrapassougrande parte dos obstáculos com os quais se deparou - a saída do PDE é omaior destaque -, sobreviveu à polémica CGD, manteve o equilíbrio Bruxelasvs. partidos de esquerda e chega a 2016 com uma economia em aceleração econtas públicas controladas. É o ministro mais popular do Governo.
NUNO AGUIAR
naguiar@negocios.ptRAUL VAZ
raulvaz@negocios.pt
BILHETE DE IDENTIDADE
• Cargo: Ministro das Finanças • Naturalidade: Nasceu em Olhão
em 1966 • Formação: Licenciatura em Economia pelo ISEG em
1990, mestrado em Matemática Aplicada pelo ISEG (1993) e em Eco-
nomia em Harvard (1998). Em 2000, terminaria o doutoramento em
Economia, também em Harvard.
w PORQUE SOBE
De potencial remodelável a intocável. Enquanto ministro das Finanças,
Mário Centeno seria sempre muito poderoso, mas a aceleração da eco-
nomia, a descida do desemprego, o cumprimento das metas de défice e
consequente saída do PDE colocam-no num patamar superior ao do ano
passado. Fora de portas, esta mudança de percepção é bastante clara,
com declarações elogiosas de governantes, como Wolfgang Schãuble, e
especulação sobre uma futura presidência do Eurogrupo. A sua reputa-
ção sobe em paralelo com a de Portugal. Falta arrastar consigo o rating.
Os bons resultados daeconomia e das contaspúblicas deram capitalpolítico e poder a Centeno.
por melhor que sej a um treinador de
futebol, ele será sempre tão aprecia-do quanto os resultados conseguidos
em campo. Mário Centeno é umbom exemplo dessa forma de ver as
coisas. Num só ano passou de elo po-lítico frágil do Governo para "Ronal-do do Ecofin". É possível que ambas
as descrições sejam exageradas. Oministro das Finanças talvez nem te-nha mudado muito, mas a percepção
que existe sobre ele é hoje muito di-ferente. O resultado é um salto no
ranking dos mais poderosos da eco-
nomia, de 16.° para 4.°. Entre os mi-nistros das Finanças, só Vítor Gas-
par acumulou mais poder.Há um ano, a imprensa destaca-
va as gaffes de Centeno, as contradi-
ções com o discurso de António Cos-
ta e as dificuldades em gerir a tensão
entre a relação com Bruxelas e as ne-
gociações com o PCP e o Bloco de
Esquerda. Por esta altura no ano
passado a execução orçamental pa-recia correr bem, mas havia muitasdúvidas sobre o cumprimento dameta de 2,5% ("aritmeticamentenão é possível", dizia em SetembroMaria Luís Albuquerque). A econo-mia dava sinais preocupantes, ten-do crescido abaixo de 1% na primei-ra metade do ano, sem perspectivasde aceleração no horizonte. Aban-ca suscitava ainda muitas preocupa-
ções, não existindo solução para a re-
capitalização da Caixa Geral de De-
pósitos (e ainda aí viria a polémicacom os SMS trocados com António
Domingues) . Da varanda do Terrei-ro do Paço, Centeno via um céu co-berto por nuvens bastante negras.
O ministro das Finanças ultrapas-
sou a tormenta. Dobrou o cabo das
sanções económicas, a economia ace-
lerou vários nós e cresce ao ritmomais rápido em 17 anos, o desempre-
go continua a afundar e o défice che-
gouabomporto,batendoasprevisõesdo Governo e permitindo a Portugalsair do Procedimento dos Défices Ex-cessivos (PDE). Talvez mais impor-tante, as amarras das negociações não
romperam. Nem do lado dospartidosde esquerda, nem do lado da Europa.
Pelo caminho, Centeno ganhou
capital político e poder. Está mais
confiante e agressivo nos debates e,
como as coisas estão a correr bem, o
PS parece mais disposto em sair emsua defesa, apesar das desconfiançasiniciais (excessivamente liberal parauns, demasiado susceptível a gaffes
para outros).Auti]ização mais inten-
siva de cativações centralizou ainda
mais poder num ministério já com
grande ascendente sobre os outros,emboraaumente adiscricionarieda-de das decisões orçamentais e dimi-
nua a transparência das mesmas.
Centeno colhe os louros das con-
quistas - afinal, ele é ministro das Fi-
nanças -,mas também beneficiou de
mudanças às quais é alheio. Houveuma melhoria da conj untura interna-
cional, a Comissão Europeia tem-semostrado muito mais flexível e pou-cos esperariam que BE e PCP assi-
nassem por baixo do maior exceden-
te primário da Zona Euro.Mário Centeno é, de longe, o mi-
nistro mais popular do Governo e, ao
contrário do passado recente, não está
entre os mais impopulares. Em Julho
do ano passado, 15% dos inquiridosnuma sondagem da Aximage dizia
que Centeno era o melhor ministro e
quase 11% achavam que era o pior.Um ano depois, a percentagem de
pessoas que o considera o melhormembro do Executivo duplicou (é
agora 29%), enquanto os que o vêem
como opiorcaírambastante (2,7%).Este movimento é explicado, em parte,
pela viragem da atenção mediática para cri-
ses graves sob a alçada de outros dois minis-
tros. Depois do flagelo dos incêndios e do
roubo de armas em Tancos, Constança Ur-bano de Sousa e Azeredo Lopes são os mi-nistros mais impopulares.
Mário Centeno está a seguir a trajectó-ria de outros ministros das Finanças. MariaLuís Albuquerque, por exemplo, entrou nes-
te ranking em 19.° lugar, subiu ligeiramente
para 17° no ano seguinte e em 2015 saltou
para 6. a mais poderosa. Vítor Gaspar tam-bém subiu de 5.° para 2 0
. Teixeira dos San-
tos só esteve um ano no ranking, em 9° lugar.Ou seja, depois de ter entrado nos mais po-derosos com a terceira posição mais baixa
para um ministro das Finanças, Centeno al-
cança este ano a segunda mais alta.
Em retrospectiva, este Governo benefi-ciou de expectativas baixas na primeira me-tade do mandato. O mesmo se pode dizer de
Centeno. Daqui para a frente, a barra serácolocada alguns centímetros acima. É ne-cessário garantir que este crescimento é sus-
tentável, que a dívida pública começa a des-
cer e o rating a subir. Ao mesmo tempo, os
acordos assinados com os partidos à esquer-da estão a esgotar-se e BE e PCP mostram-se cada vez mais exigentes, pedindo mais
medidas de apoio aos rendimentos. Obstá-culos que terão de ser superados sem Fer-nando Rocha Andrade, que tinha o perfilmais político da equipa das Finanças.
No Governo anterior, uma das principais
garantias do poder de Vítor Gaspar era a in-fluência que tinha nas instituições internacio-
nais. Mário Centeno - o "Ronaldo do Ecofin",
naspalavrasdeWolfgangSchãuble-gozahojede uma reputação internacional em crescen-
do. De talforma,quesesente confortável paraalimentarpublicamente apossibilidadedeserescolhido como presidente do Eurogrupo. No
entanto, atéßonaldofalhagolosisolado.Mes-mo depois de ter fintado meia equipa. ¦
ééEsta decisão [saídado PDE] é ummomento deviragem na medidaem que expressa a
avaliação da UE deque o déficeexcessivo dePortugal foicorrigido de formasustentável.Admito que possanão ter afastadodo entendimentodo senhor AntónioDomingues queo acordo poderiaretirar o dever deapresentação dasdeclarações.Estamos a desenharuma medida que vaiao encontro de umanecessidade dealívio fiscal nesseintervalo derendimentos[2.0 escalão de IRS].A folga a existir temde ser para criarmelhores condiçõesnestas dimensões[de financiamentoda economia] ouseja, nós nãopodemos pôr emcausa as nossasmetas.
MÁRIO CENTENOMinistro das Finançasde Portugal
Cerca de um ano depois de Portugal
conquistar o Europeu de futebol, o
país conseguiu finalmente sair doProcedimento dos Défices Excessivos.
O ELEVADOR DO PODER0 Ministério das Finanças é uma fonte grande de poder. Mas este ano jáesteve no centro da polémica, quando Rocha Andrade foi "apanhado" pelo
caso das viagens pagas pela Galp ao Euro 2016. Foi substituído. O que lhe
garantiu a chegada a este elevador do poder, que continua a ter políticos
e dirigentes.
PRÓXIMO PODEROSO
JOSÉ EDUARDO MARTINSCandidato à Assembleia Municipal de Lisboa, o advogado que organiza festivais de
música (como o Paredes de Coura e o Primavera Sound) não tem ficado calado,
mesmo quando tem de atacar o seu próprio partido. Tem palco no comentário te-
levisivo e Marques Mendes até já o elogiou, dizendo que Portugal precisava de mais
políticos assim.
EX-PODEROSOFERNANDO ROCHA ANDRADEO ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais era o homem mais chegado a An-
tónio Costa no Ministério das Finanças. Tinha estado com Costa na Administração
Interna, no governo de José Sócrates. Mas uma viagem ao Euro 2016, paga pela
Galp, deitou tudo a perder. Rocha Andrade, que tinha a pasta do Fisco (com quem
a petrolífera está em litígio judicial), saiu do Governo e foi constituído arguido.
FALSO PODEROSO
MARIA JÚLIA LADEIRAA presidente da Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Públi-
ca podia ser mais poderosa do que é na realidade. Apesar do poder conferido por
lei, a Cresap foi alvo de críticas do próprio ministro das Finanças que admitiu mu-
dar o organismo. E recentemente perdeu reconhecimento ao considerar adequa-
das as propostas do Governo para a Anacom, que foram arrasadas no Parlamento.