Transcript of Documento de-aparecida e do caribe
- 1. V CONFERNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO e DO
CARIBE aparecida, 13-31 de maio de 2007 DOCUMENTO FINAL
- 2. SIGLAS AA Apostolicam Actuositatem AG Ad Gentes CIC
Catecismo da Igreja Catlica CDSI Compndio da Doutrina Social da
Igreja CDC Cdigo de Direito Cannico ChD Decreto Christus Dominus
ChL Christifideles Laici DCE Deus Caritas est Dl Discurso Inaugural
de S.S. Bento XVI na V Conferncia Geral do Episcopado
Latino-americano. DP Documento de Puebla DV Dei Verbum EAm Exortao
Apostlica Ecclesia in Amrica. ECE Ex Corde Ecclesiae EMCC Instruo
Erga Migrantes Caritas Christi EN Evangelii Nuntiandi EV Evangelium
Vitae FC Familiaris Consortio FR Fides et Ratio GE Gravissimum
Educationis GS Gaudium et Spes HV Humanae vitae IM Decreto Inter
Mirifica L Laborem Exercens LG Lumen Gentium NAe Declaracin Nostra
Aetate NMI Novo millenio ineunte OT Optatam Totius PC Perfectae
Caritatis PDV Pastores Dabo Vobis PG Pastores gregis
- 3. CELAM PP Populorum Progressio PO Presbyterorum Ordinis RM
Redemptoris Missio RVM Rosarium Virginis Mariae SC Sacrosanctum
Concilium SCa Sacramentum caritatis SD Documento de Santo Domingo
SRS Sollicitudo Rei Socialis TMA Tertio millenio adveniente UR
Unitatis Redintegratio UUS Ut unum sint VC Vita consecrata
- 4. Carta de S.S. Bento XVI aos irmos no Episcopado da Amrica
Latina e Caribe Em 13 de maio passado, aos ps da Santssima Virgem
Nos- sa Senhora Aparecida, no Brasil, inaugurei com grande alegria
a V Conferncia Geral do Episcopado Latino-americano e do Ca- ribe.
Conservo viva a grata recordao desse encontro, no qual estive unido
a vocs no mesmo afeto por seus queridos povos e na mesma solicitude
por ajud-los a serem discpulos e missio- nrios de Jesus Cristo,
para que nEle tenham vida. Ao mesmo tempo que expresso meu
reconhecimento pelo amor a Cristo e Igreja, e pelo esprito de
comunho que ca- racterizou a Conferncia Geral, autorizo a publicao
do Docu- mento Conclusivo, pedindo ao Senhor que, em comunho com a
Santa S e com o devido respeito pela responsabilidade de cada Bispo
em sua prpria Igreja local, ele seja luz e alento para um rico
trabalho pastoral e evangelizador nos anos vindouros. Neste
documento h numerosas e oportunas indicaes pastorais, motivadas por
ricas reflexes luz da f e do atual contexto social. Entre outras,
li com particular apreo as palavras que exortam a dar prioridade
Eucaristia e santificao do Dia do Senhor nos programas pastorais
(cf. n. 251-252), assim como as que expressam o desejo de reforar a
formao crist dos fiis, em geral, e dos agentes de pastoral, em
particular. Neste sentido, para mim foi motivo de alegria conhecer
o desejo de realizar uma Misso Continental que as Conferncias
Episcopais e cada dio-
- 5. CELAM cese so chamadas a estudar e a realizar, convocando
para isso todas as foras vivas, de modo que, caminhando a partir de
Cris- to, busque-se sua face (cf. Novo millenio ineunte, 29). Ao
mesmo tempo em que invoco a proteo da Santssima Virgem em sua
invocao de Aparecida, Patrona do Brasil, e tam- bm em sua advocao
de Nossa Senhora de Guadalupe, Patrona da Amrica e Estrela da
Evangelizao, com afeto invoco sobre vocs a Bno Apostlica. Vaticano,
29 de junho de 2007, solenidade dos santos Aps- tolos Pedro e
Paulo.
- 6. Introduo 1. Com a luz do Senhor ressuscitado e com a fora do
Esp- rito Santo, ns os bispos da Amrica nos reunimos em Apare-
cida, Brasil, para celebrar a V Conferncia Geral do Episcopado
Latino-Americano e do Caribe. Fizemos isso como pastores que querem
seguir estimulando a ao evangelizadora da Igreja, chamada a fazer
de todos os seus membros discpulos e mis- sionrios de Cristo,
Caminho, Verdade e Vida, para que nossos povos tenham vida nEle.
Fazemos isso em comunho com to- das as Igrejas locais presentes na
Amrica. Maria, Me de Je- sus Cristo e de seus discpulos, tem estado
muito perto de ns, tem-nos acolhido, tem cuidado de ns e de nossos
trabalhos, amparando-nos, como a Joo Diego e a nossos povos, na
dobra de seu manto, sob sua maternal proteo. Temos pedido a ela,
como me, perfeita discpula e pedagoga da evangelizao, que nos
ensine a ser filhos em seu Filho e a fazer o que Ele nos disser
(cf. Jo 2,5). 2. Com alegria estivemos reunidos com o Sucessor de
Pe- dro, Cabea do Colgio Episcopal. Sua Santidade Bento XVI con-
firmou-nos no primado da f em Deus, de sua verdade e amor, para o
bem das pessoas e dos povos. Agradecemos a todos os seus
ensinamentos, que foram iluminao e guia seguro para nossos
trabalhos, especialmente seu Discurso inaugural. A lem- brana
agradecida dos ltimos Papas, e em especial do seu rico Magistrio
que tem estado tambm presente em nossos traba- lhos, merece
especial memria e gratido.
- 7. 10 CELAM 3. Sentimo-nos acompanhados pela orao de nosso povo
catlico, representado visivelmente pela companhia do Pastor e dos
fiis da Igreja de Deus em Aparecida, e pela multido de peregrinos
de todo o Brasil e de outros pases da Amrica ao San turio, que nos
edificaram e evangelizaram. Na comunho dos santos, tivemos
presentes todos aqueles que nos antecederam como discpulos e
missionrios na vinha do Senhor e especial- mente a nossos santos
latino-americanos, entre eles Santo Tor- bio de Mogrovejo, patrono
do Episcopado latino-americano. 4. O Evangelho chegou a nossas
terras em meio a um dra- mtico e desigual encontro de povos e
culturas. As sementes do Verbo presentes nas culturas autctones,
facilitaram a nossos irmos indgenas encontrarem no Evangelho
respostas vitais s suas aspiraes mais profundas: Cristo era o
Salvador que esperavam silenciosamente. A visitao de Nossa Senhora
de Guadalupe foi acontecimento decisivo para o anncio e reconhe-
cimento de seu Filho, pedagogia e sinal de inculturao da f,
manifestao e renovado mpeto missionrio de propagao do Evangelho. 5.
Desde a primeira evangelizao at os tempos recentes, a Igreja tem
experimentado luzes e sombras. Ela escreveu pgi- nas de nossa
histria com grande sabedoria e santidade. Sofreu tambm tempos
difceis, tanto por torturas e perseguies como pelas debilidades,
compromissos mundanos e incoerncias, em outras palavras, pelo
pecado de seus filhos, que desfiguraram a novidade do Evangelho, a
luminosidade da verdade e a prticaCf. Puebla, 401.Bento XVI,
Discurso Inaugural da V Conferncia, Aparecida, n. 1. Ser citado
como DI.Cf. SD 15.Bento XVI, Audincia Geral, quarta-feira 23 de
maio de 2007. Certamente que a re- cordao de um passado glorioso no
pode ignorar as sombras que acompanharam a obra de evangelizao do
continente latino-americano: no possvel esquecer os sofrimentos e
as injustias que infligiram os colonizadores s populaes indgenas,
pisoteadas em seus direitos humanos fundamentais. Mas, a obrigatria
meno desses crimes injustificveis j condenados por missionrios como
Bartolomeu de las Casas e por telogos como Francisco de Vitria, da
Universidade de Salamanca no deve impedir de reconhecer com gratido
a admirvel obra realizada pela graa divina entre essas populaes ao
longo destes sculos.
- 8. 11VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL da justia e da caridade. No
entanto, o mais decisivo na Igreja sempre a ao santa de seu Senhor.
6. Por isso, diante de tudo damos graas a Deus e o louvamos por
tudo o que nos tem sido dado. Acolhemos toda a realidade do
Continente como dom: a beleza e fecundidade de suas terras, a
riqueza de humanidade que se expressa nas pessoas, famlias, povos e
culturas do Continente. Sobretudo nos tem sido dado Jesus Cristo, a
plenitude da revelao de Deus, um tesouro in- calculvel, a prola
preciosa (cf. Mt 13,45-46), o Verbo de Deus feito carne, Caminho,
Verdade e Vida dos homens e das mulhe- res, aos quais abre um
destino de plena justia e felicidade. Ele o nico Libertador e
Salvador que, com sua morte e ressurreio, rompeu as cadeias
opressivas do pecado e da morte, revelando o amor misericordioso do
Pai e a vocao, dignidade e destino da pessoa humana. 7. As maiores
riquezas de nossos povos so a f no Deus amor e a tradio catlica na
vida e na cultura. Manifesta-se na f madura de muitos batizados e
na piedade popular que expres- sa o amor a Cristo sofredor, o Deus
da compaixo, do perdo e da reconciliao (...), o amor ao Senhor
presente na Eucaristia (...), o Deus prximo dos pobres e dos que
sofrem, a profun- da devoo Santssima Virgem de Guadalupe, de
Aparecida ou dos diversos ttulos nacionais e locais. Expressa-se
tambm na caridade que em qualquer lugar anima gestos, obras e
caminhos de solidariedade para com os mais necessitados e
desamparados. Est presente tambm na conscincia da dignidade da
pessoa, na sabedoria diante da vida, na paixo pela justia, na
esperan- a contra toda esperana e na alegria de viver que move o
cora- o de nossos povos, ainda que em condies muito difceis. As
razes catlicas permanecem na sua arte, linguagem, tradies e estilo
de vida, ao mesmo tempo dramtico e festivo, e no en- frentamento da
realidade. Por isso, o Santo Padre nos responsa-DI 1.
- 9. 12 CELAM bilizou ainda mais, como Igreja, na grande tarefa
de proteger e alimentar a f do povo de Deus. 8. O dom da tradio
catlica um cimento fundamental de identidade, originalidade e
unidade da Amrica Latina e do Cari- be: uma realidade
histrico-cultural, marcada pelo Evangelho de Cristo, realidade na
qual grande o pecado abandono de Deus, comportamentos viciosos,
opresso, violncia, ingratides e mi- srias porm, onde bem maior a
graa da vitria pascal. Nos- sa Igreja goza, no obstante as
debilidades e misrias humanas, de alto ndice de confiana e de
credibilidade por parte do povo. A Igreja morada de povos irmos e
casa dos pobres. 9. A V Conferncia do Episcopado Latino-americano e
Cari- benho novo passo no caminho da Igreja, especialmente a par-
tir do Conclio Ecumnico Vaticano II. Ela d continuidade e, ao mesmo
tempo, recapitula o caminho de fidelidade, renovao e evangelizao da
Igreja latino-americana ao servio de seus po- vos, que se expressou
oportunamente nas Conferncias Gerais anteriores do Episcopado (Rio,
1955; Medelln, 1968; Puebla, 1979; Santo Domingo, 1992). Em todas
elas reconhecemos a ao do Esprito. Tambm nos lembramos da Assemblia
Espe- cial do Snodo dos Bispos para a Amrica (1997). 10. Esta V
Conferncia se prope a grande tarefa de prote- ger e alimentar a f
do povo de Deus e recordar tambm aos fiis deste Continente que, em
virtude de seu batismo, so chamados a ser discpulos e missionrios
de Jesus Cristo. Com desafios e exigncias, abre-se a passagem para
um novo perodo da his- tria, caracterizado pela desordem
generalizada que se propaga por novas turbulncias sociais e
polticas, pela difuso de uma cultura distante e hostil tradio crist
e pela emergncia de variadas ofertas religiosas que tratam de
responder, sua ma- neira, sede de Deus que nossos povos
manifestam.Ibid. 3.Ibid. 3.
- 10. 13VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL 11. A Igreja chamada a repensar
profundamente e a re- lanar com fidelidade e audcia sua misso nas
novas circuns- tncias latino-americanas e mundiais. Ela no pode
fechar-se frente queles que s vem confuso, perigos e ameaas ou
queles que pretendem cobrir a variedade e complexidade das situaes
com uma capa de ideologias gastas ou de agresses irresponsveis.
Trata-se de confirmar, renovar e revitalizar a novidade do
Evangelho arraigada em nossa histria, a partir de um encontro
pessoal e comunitrio com Jesus Cristo, que desperte discpulos e
missionrios. Isso no depende tanto de grandes programas e
estruturas, mas dehomens e mulheres novos que encarnem essa tradio
e novidade, como discpulos de Jesus Cristo e missionrios de seu
Reino, protagonistas de uma vida nova para uma Amrica Latina que
deseja reconhecer- se com a luz e a fora do Esprito. 12. No
resistiria aos embates do tempo uma f catlica re- duzida a uma
bagagem, a um elenco de algumas normas e de proibies, a prticas de
devoo fragmentadas, a adeses sele- tivas e parciais das verdades da
f, a uma participao ocasional em alguns sacramentos, repetio de
princpios doutrinais, a moralismos brandos ou crispados que no
convertem a vida dos batizados. Nossa maior ameaa o medocre
pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente,
tudo procede com normalidade, mas na verdade a f vai se desgastando
e de- generando em mesquinhez. A todos nos toca recomear a par- tir
de Cristo, reconhecendo que no se comea a ser cristo por uma deciso
tica ou uma grande idia, mas pelo encontro com um acontecimento,
com uma Pessoa, que d um novo horizonte vida e, com isso, uma
orientao decisiva.10RATZINGER, J. Situao atual da f e da teologia.
Conferncia pronunciada no Encontro de Presidentes de Comisses
Episcopais da Amrica Latina para a doutrina da f, celebrado em
Guadalajara, Mxico, 1996. Publicado em LOsservatore Romano, em 1 de
novembro de 1996.Cf. NMI 28-29. 10 DCE 1.
- 11. 14 CELAM 13. Na Amrica Latina e no Caribe, quando muitos de
nos- sos povos se preparam para celebrar o bi-centenrio de sua
inde- pendncia, encontramo-nos diante do desafio de revitalizar
nos- so modo de ser catlico e nossas opes pessoais pelo Senhor,
para que a f crist se enraze mais profundamente no corao das
pessoas e dos povos latino-americanos como acontecimen- to fundante
e encontro vivificante com Cristo. Ele se manifesta como novidade
de vida e misso em todas as dimenses da exis- tncia pessoal e
social. Isso requer, a partir de nossa identidade catlica, uma
evangelizao muito mais missionria, em dilogo com todos os cristos e
a servio de todos os homens. Do contr- rio, o rico tesouro do
Continente Americano... seu patrimnio mais valioso: a f no Deus de
amor...11 corre o risco de seguir desgastando-se e diluindo-se de
maneira crescente em diversos setores da populao. Hoje se prope
escolher entre caminhos que conduzem vida ou caminhos que conduzem
morte (cf. Dt 30,15). Caminhos de morte so os que levam a dilapidar
os bens que recebemos de Deus atravs daqueles que nos precederam na
f. So caminhos que traam uma cultura sem Deus e sem seus
mandamentos ou inclusive contra Deus, animada pelos dolos do poder,
da riqueza e do prazer efmero, a qual termina sendo uma cultura
contra o ser humano e contra o bem dos povos lati- no-americanos.
Caminhos de vida verdadeira e plena para todos, caminhos de vida
eterna, so aqueles abertos pela f que condu- zem plenitude de vida
que Cristo nos trouxe: com esta vida divina tambm se desenvolve em
plenitude a existncia huma- na, em sua dimenso pessoal, familiar,
social e cultural.12 Essa a vida que Deus nos partilha por seu amor
gratuito, porque o amor que d a vida.13 Esses caminhos frutificam
nos dons de verdade e amor que nos foram dados em Cristo, na
comunho dos discpulos e missionrios do Senhor, para que a Amrica
La- 11 Bento XVI, Homilia na Eucaristia de inaugurao da V
Conferncia Geral do Episcopa- do Latino-americano, 13 de maio de
2007, Aparecida, Brasil. 12 DI 4. 13 Bento XVI, Homilia na
Eucaristia de inaugurao da V Conferncia Geral do Episcopa- do
Latino-americano, 13 de maio de 2007, Aparecida, Brasil.
- 12. 15VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL tina e o Caribe sejam
efetivamente um continente no qual a f, a esperana e o amor renovem
a vida das pessoas e transformem as culturas dos povos. 14. O
Senhor nos diz: No tenham medo (Mt 28,5). Como s mulheres na manh
da Ressurreio ele nos repete: Por que buscam entre os mortos aquele
que est vivo? (Lc 24,5). Os si- nais da vitria de Cristo
ressuscitado nos estimulam enquanto suplicamos a graa da converso e
mantemos viva a esperana que no engana. O que nos define no so as
circunstncias dra- mticas da vida, nem os desafios da sociedade ou
as tarefas que devemos empreender, mas acima de tudo o amor
recebido do Pai graas a Jesus Cristo pela uno do Esprito Santo.
Essa priorida- de fundamental a que tem presidido todos os nossos
trabalhos, que oferecemos a Deus, nossa Igreja, ao nosso povo, a
cada um dos latino-americanos, enquanto elevamos ao Esprito Santo
nossa confiante splica para redescobrir a beleza e alegria de ser
cristos. Aqui est o desafio fundamental que afrontamos: mos- trar a
capacidade da Igreja para promover e formar discpulos e missionrios
que respondam vocao recebida e comuniquem por toda parte,
transbordando de gratido e alegria, o dom do encontro com Jesus
Cristo. No temos outro tesouro a no ser este. No temos outra
felicidade nem outra prioridade seno a de sermos instrumentos do
Esprito de Deus na Igreja, para que Jesus Cristo seja encontrado,
seguido, amado, adorado, anun- ciado e comunicado a todos, no
obstante todas as dificuldades e resistncias. Este o melhor servio
o seu servio! que a Igreja deve oferecer s pessoas e naes.14 15.
Nesta hora em que renovamos a esperana, queremos fazer nossas as
palavras de SS. Bento XVI no incio de seu Pon- tificado, fazendo
eco a seu predecessor, o Servo de Deus, Joo Paulo II, e proclam-las
para toda a Amrica Latina: No te- mam! Abram,abram de par em par as
portas a Cristo!... Quem 14 Cf. EN 1.
- 13. 16 CELAM deixa Cristo entrar no perde nada, nada
absolutamente nada do que faz a vida livre, bela e grande. No! S
com esta amiza- de abrem-se as portas da vida. S com esta amizade
abrem-se realmente as grandes potencialidades da condio humana. S
com esta amizade experimentamos o que belo e o que nos liberta...
No tenham medo de Cristo! Ele no tira nada e d tudo. Quem se d a
Ele, recebe cem por um. Sim, abram, abram de par em par as portas a
Cristo e encontraro a verdadeira vida.15 16. Esta V Conferncia
Geral se celebra em continuidade com as outras quatro que a
precederam no Rio de Janeiro, Me- delln, Puebla e Santo Domingo.
Com o mesmo esprito que as animou, os pastores querem dar agora
novo impulso evangeli- zao, a fim de que estes povos sigam
crescendo e amadurecendo em sua f, para serem luz do mundo e
testemunhas de Jesus Cristo com a prpria vida.16 Como pastores da
Igreja, estamos conscientes de que, depois da IV Conferncia Geral,
em Santo Domingo, muitas coisas mudaram na sociedade. A Igreja, que
participa dos gozos e esperanas, das tristezas e alegrias de seus
filhos, quer caminhar ao seu lado neste perodo de tantos desa-
fios, para infundir-lhes sempre esperana e consolo.17 17. Nossa
alegria, portanto, baseia-se no amor do Pai, na participao no
mistrio pascal de Jesus Cristo que, pelo Esp- rito Santo, nos faz
passar da morte para a vida, da tristeza para a alegria, do absurdo
para o sentido profundo da existncia, do desalento para a esperana
que no engana. Esta alegria no sentimento artificialmente provocado
nem estado de nimo passageiro. O amor do Pai nos foi revelado em
Cristo que nos convidou a entrar em seu reino. Ele nos ensinou a
orar dizendo Abba, Pai (Rm 8,15; cf. Mt 6,9). 15 Cf. Bento XVI,
Homilia no solene incio do Ministrio Petrino do Bispo de Roma, 24
de abril de 2005. 16 DI 2. 17 Ibid.
- 14. 17VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL 18. Conhecer a Jesus Cristo pela
f nossa alegria; segui-lo uma graa, e transmitir este tesouro aos
demais uma tarefa que o Senhor nos confiou ao nos chamar e nos
escolher. Com os olhos iluminados pela luz de Jesus Cristo
ressuscitado, podemos e queremos contemplar o mundo, a histria, os
nossos povos da Amrica Latina e do Caribe, e cada um de seus
habitantes.
- 15. PRIMEIRA PARTE A VIDA DE NOSSOS POVOS HOJE 19. Em
continuidade com as Conferncias Gerais anterio- res do Episcopado
Latino-americano, este documento faz uso do mtodo ver, julgar e
agir. Este mtodo implica em contemplar a Deus com os olhos da f
atravs de sua Palavra revelada e o contato vivificador dos
Sacramentos, a fim de que, na vida coti- diana, vejamos a realidade
que nos circunda luz de sua provi- dncia e a julguemos segundo
Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, e atuemos a partir da
Igreja, Corpo Mstico de Cristo e Sacramento universal de salvao, na
propagao do Reino de Deus, que se semeia nesta terra e que
frutifica plenamente no Cu. Muitas vozes, vindas de todo o
Continente, ofereceram contribuies e sugestes nesse sentido,
afirmando que este mtodo tem colaborado para que vivamos mais
intensamente nossa vocao e misso na Igreja: tem enriquecido nosso
traba- lho teolgico e pastoral e, em geral, tem-nos motivado a
assu- mir nossas responsabilidades diante das situaes concretas de
nosso continente. Este mtodo nos permite articular, de modo
sistemtico, a perspectiva crist de ver a realidade; a assuno
de
- 16. 20 CELAM critrios que provm da f e da razo para seu
discernimento e valorizao com sentido crtico; e, em conseqncia, a
projeo do agir como discpulos missionrios de Jesus Cristo. A adeso
crente, alegre e confiante em Deus Pai, Filho e Esprito Santo e a
insero eclesial, so pressupostos indispensveis que garantem a
eficcia deste mtodo.18 18 Cf. CELAM, Sntese das contribuies
recebidas para a V Conferncia Geral do Episco- pado
Latino-americano, 34-35.
- 17. 20. Nossa reflexo a respeito do caminho das Igrejas da
Amrica Latina e do Caribe tem lugar em meio a luzes e som- bras de
nosso tempo. Afligem-nos, mas no nos confundem, as grandes mudanas
que experimentamos. Temos recebido dons incalculveis, que nos
ajudam a olhar a realidade como discpu- los missionrios de Jesus
Cristo. 21. A presena cotidiana e cheia de esperana de incontveis
peregrinos nos lembra os primeiros seguidores de Jesus Cristo que
foram ao Jordo, onde Joo batizava, com a esperana de encontrar o
Messias (cf. Mc 1,5). Eles se sentiram atrados pela sabedoria das
palavras de Jesus, pela bondade de seu trato e pelo poder de seus
milagres. E pelo assombro inusitado que a pes- soa de Jesus
despertava, acolheram o dom da f e vieram a ser discpulos de Jesus.
Ao sair das trevas e das sombras de morte (cf. Lc 1,79), a vida
deles adquiriu plenitude extraordinria: a de haver sido enriquecida
com o dom do Pai. Viveram a histria de seu povo e de seu tempo e
passaram pelos caminhos do Imprio Romano, sem esquecer o encontro
mais importante e decisivo de sua vida que os havia preenchido de
luz, fora e esperana: o encontro com Jesus, sua rocha, sua paz, sua
vida. 22. Assim ocorre tambm a ns olhar a realidade de nos- sos
povos e de nossa Igreja, com seus valores, suas limitaes, Captulo I
OS DISCPULOS MISSIONRIOS
- 18. 22 CELAM suas angstias e esperanas. Enquanto sofremos e nos
alegra- mos, permanecemos no amor de Cristo, vendo nosso mundo e
procurando discernir seus caminhos com a alegre esperana e a
indizvel gratido de crer em Jesus Cristo. Ele o Filho de Deus
verdadeiro, o nico Salvador da humanidade. A importncia nica e
insubstituvel de Cristo para ns, para a humanidade, consiste em que
Cristo o Caminho, a Verdade e a Vida. Se no conhecemos a Deus em
Cristo e com Cristo, toda a realidade se torna um enigma
indecifrvel; no h caminho e, no havendo caminho, no h vida nem
verdade.19 No clima cultural relati- vista que nos circunda se faz
sempre mais importante e urgente enraizar e fazer amadurecer em
todo o corpo eclesial a certeza de que Cristo, o Deus de rosto
humano, nosso verdadeiro e nico salvador. 1.1. Ao de graas a Deus
23. Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos
abenoou com toda sorte de bnos na pessoa de Cristo (cf. Ef 1,3). O
Deus da Aliana, rico em misericrdia, nos amou primeiro;
imerecidamente amou a cada um de ns; por isso o bendizemos,
animados pelo Esprito Santo, Esprito vivificador, alma e vida da
Igreja. Ele, que foi derramado em nossos cora- es, geme e intercede
por ns e com seus dons nos fortalece em nosso caminho de discpulos
e missionrios. 24. Bendizemos a Deus com nimo agradecido, porque
nos chamou para sermos instrumentos de seu reino de amor e vida, de
justia e paz, pelo qual tantos se sacrificaram. Ele mes- mo nos
encomendou a obra de suas mos para que cuidemos dela e a coloquemos
a servio de todos. Agradecemos a Deus porque nos faz colaboradores
seus para que sejamos solidrios com sua criao pela qual somos
responsveis. Bendizemos a Deus que nos deu a natureza criada que
seu primeiro livro, 19 Cf. DI 3.
- 19. 23VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL para que possamos conhecer a Ele
e viver nela como em nossa casa. 25. Damos graas a Deus que nos deu
o dom da palavra, com a qual podemos comunicar-nos com Ele por meio
de seu Filho, que sua Palavra (cf. Jo 1,1), e entre ns. Damos graas
a Ele que por seu grande amor fala a ns como a amigos (cf. Jo
15,14-15). Bendizemos a Deus que se nos d na celebrao da f,
especial- mente na Eucaristia, po de vida eterna. A ao de graas a
Deus pelos numerosos e admirveis dons que nos outorgou culmina com
a celebrao central da Igreja, que a Eucaristia, alimento
substancial dos discpulos e missionrios. Tambm pelo Sacra- mento do
Perdo que Cristo nos alcanou na cruz. Louvamos ao Senhor Jesus pelo
presente de sua Me Santssima, Me de Deus e Me da Igreja na Amrica
Latina e no Caribe, estrela da evangelizao renovada, primeira
discpula e grande missionria de nossos povos. 26. Iluminados pelo
Cristo, o sofrimento, a injustia e a cruz nos desafiam a viver como
Igreja samaritana (cf. Lc 10,25-37), recordando que a evangelizao
vai unida sempre promoo humana e autntica libertao crist.20 Damos
graas a Deus e nos alegramos pela f, solidariedade e alegria
caractersticas de nossos povos, transmitidas ao longo do tempo
pelas avs e avs, as mes e pais, os catequistas, os rezadores e
tantas pes soas annimas, cuja caridade mantm viva a esperana em
meio s injustias e adversidades. 27. A Bblia mostra reiteradamente
que, quando Deus criou o mundo com sua Palavra, expressou satisfao,
dizendo que era bom (Gn 1,21), e quando criou o ser humano, homem e
mu- lher, disse que era muito bom (Gn 1,31). O mundo criado por
Deus belo. Procedemos de um desgnio divino de sabedoria e amor.
Mas, atravs do pecado essa beleza originria foi deson- rada e essa
bondade ferida. Deus, por nosso Senhor Jesus Cris- 20 DI 3.
- 20. 24 CELAM to em seu mistrio pascal, recriou o homem
fazendo-o filho e dando-lhe a garantia de novos cus e de uma nova
terra (cf. Ap 21,1). Levamos a imagem do primeiro Ado, mas somos
chama- dos tambm, desde o princpio, a produzir a imagem de Jesus
Cristo, novo Ado (cf. 1 Cor 15,45). A criao leva a marca do Criador
e deseja ser libertada e participar da gloriosa liberdade dos
filhos de Deus (Rm 8,21). 1.2. A alegria de ser discpulos e
missionrios de Jesus Cristo 28. Neste encontro, queremos expressar
a alegria de ser- mos discpulos do Senhor e de termos sido enviados
com o te- souro do Evangelho. Ser cristo no uma carga, mas um dom:
Deus Pai nos abenoou em Jesus Cristo seu Filho, Salvador do mundo.
29. Desejamos que a alegria que recebemos no encontro com Jesus
Cristo, a quem reconhecemos como o Filho de Deus encarnado e
redentor, chegue a todos os homens e mulheres fe- ridos pelas
adversidades; desejamos que a alegria da boa nova do Reino de Deus,
de Jesus Cristo vencedor do pecado e da morte, chegue a todos
quantos jazem beira do caminho, pedindo es- mola e compaixo (cf. Lc
10,29-37; 18,25-43).A alegria do dis- cpulo antdoto frente a um
mundo atemorizado pelo futuro e oprimido pela violncia e pelo dio.
A alegria do discpulo no um sentimento de bem-estar egosta, mas uma
certeza que brota da f, que serena o corao e capacita para anunciar
a boa nova do amor de Deus. Conhecer a Jesus o melhor presente que
qualquer pessoa pode receber; t-loencontrado foi o melhor que
ocorreu em nossas vidas, e faz-lo conhecido com nossa pa- lavra e
obras nossa alegria. 1.3. A misso da Igreja evangelizar 30. A
histria da humanidade, histria que Deus nunca abandona, transcorre
sob seu olhar compassivo. Deus amou
- 21. 25VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL tanto nosso mundo que nos deu o
seu Filho. Ele anuncia a boa nova do Reino aos pobres e aos
pecadores. Por isso, ns, como discpulos e missionrios de Jesus,
queremos e devemos procla- mar o Evangelho, que o prprio Cristo.
Anunciamos a nossos povos que Deus nos ama, que sua existncia no
ameaa para o homem, que Ele est perto com o poder salvador e
libertador de seu Reino, que Ele nos acompanha na tribulao, que
alenta incessantemente nossa esperana em meio a todas as provas. Os
cristos somos portadores de boas novas para a humanidade, no
profetas de desventuras. 31. A Igreja deve cumprir sua misso
seguindo os passos de Jesus e adotando suas atitudes (cf. Mt
9,35-36). Ele, sendo o Se- nhor, se fez servidor e obediente at
morte de cruz (cf. Fl 2,8); sendo rico, escolheu ser pobre por ns
(cf. 2 Cor 8,9), ensinando- nos o caminho de nossa vocao de
discpulos e missionrios. No Evangelho aprendemos a sublime lio de
ser pobres seguindo a Jesus pobre (cf. Lc 6,20; 9,58), e a de
anunciar o Evangelho da paz sem bolsa ou alforje, sem colocar nossa
confiana no dinhei- ro nem no poder deste mundo (cf. Lc 10,4 ss).
Na generosidade dos missionrios se manifesta a generosidade de
Deus, na gra- tuidade dos apstolos aparece a gratuidade do
Evangelho. 32. No rosto de Jesus Cristo, morto e ressuscitado,
maltra- tadopornossospecadoseglorificadopeloPai,nesserostodoente e
glorioso,21 com o olhar da f podemos ver o rosto humilhado de
tantos homens e mulheres de nossos povos e, ao mesmo tempo, sua
vocao liberdade dos filhos de Deus, plena realizao de sua dignidade
pessoal e fraternidade entre todos. A Igreja est a servio de todos
os seres humanos, filhos e filhas de Deus. 21 Cf. NMI 25 e 28.
- 22. 2.1 A realidade que nos desafia como discpulos e
missionrios 33. Os povos da Amrica Latina e do Caribe vivem hoje
uma realidade marcada por grandesmudanas que afetam profunda- mente
suas vidas. Como discpulos de Jesus Cristo, sentimo-nos desafiados
a discernir os sinais dos tempos, luz do Esprito Santo, para nos
colocar a servio do Reino, anunciado por Jesus, que veio para que
todos tenham vida e para que a tenham em plenitude (Jo 10,10). 34.
A novidade dessas mudanas, diferentemente do ocor- rido em outras
pocas, que elas tm alcance global que, com di- ferenas e matizes,
afetam o mundo inteiro. Habitualmente so caracterizadas como o
fenmeno da globalizao. Um fator de- terminante dessas mudanas a
cincia e a tecnologia, com sua capacidade de manipular
geneticamente a prpria vida dos seres vivos, e com sua capacidade
de criar uma rede de comunicaes de alcance mundial, tanto pblica
como privada, para interagir em tempo real, ou seja, com
simultaneidade, no obstante as distncias geogrficas. Como se
costuma dizer, a histria se ace- lerou e as prprias mudanas se
tornam vertiginosas, visto que se comunica com grande velocidade a
todos os cantos do planeta. Captulo II OLHAR DOS DISCPULOS
MISSIONRIOS SOBRE A REALIDADE
- 23. 28 CELAM 35. Essa nova escala mundial do fenmeno humano
traz conseqncias em todos os campos de atividade da vida social,
impactando a cultura, a economia, a poltica, as cincias, a edu-
cao, o esporte, as artes e tambm, naturalmente, a religio.
Interessa-nos, como pastores da Igreja, saber como esse fen- meno
afeta a vida de nossos povos e o sentido religioso e tico de nossos
irmos que buscam infatigavelmente o rosto de Deus, e que, no
entanto, devem faz-lo agora desafiados por novas lin- guagens do
domnio tcnico, que nem sempre revelam, mas que tambm ocultam o
sentido divino da vida humana redimida em Cristo. Sem uma clara
percepo do mistrio de Deus, torna-se opaco tambm o desgnio amoroso
e paternal de uma vida digna para todos os seres humanos. 36. Nesse
novo contexto social, a realidade para o ser hu- mano se tornou
cada vez mais sem brilho e complexa. Isso quer dizer que qualquer
pessoa individual necessita sempre mais in- formao, se deseja
exercer sobre a realidade o senhorio a que, por vocao, est chamada.
Isso nos tem ensinado a olhar a realidade com mais humildade,
sabendo que ela maior e mais complexa que as simplificaes com que
costumvamos v-la em passado ainda no muito distante e que, em
muitos casos, introduziram conflitos na sociedade, deixando muitas
feridas que ainda no chegaram a cicatrizar. Tambm se tornou difcil
perceber a unidade de todos os fragmentos dispersos que resul- tam
da informao que reunimos. freqente que alguns quei- ram olhar a
realidade unilateralmente a partir da informao econmica, outros a
partir da informao poltica ou cientfica, outros a partir do
entretenimento ou do espetculo. No entan- to, nenhum desses
critrios parciais consegue propor-nos um significado coerente para
tudo o que existe. Quando as pessoas percebem essa fragmentao e
limitao, costumam sentir-se frustradas, ansiosas, angustiadas. A
realidade social parece muito grande para uma conscincia que,
levando em conside- rao sua falta de saber e informao, facilmente
se cr insig- nificante, sem ingerncia alguma nos acontecimentos,
mesmo
- 24. 29VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL quando soma sua voz a outras
vozes que procuram ajudar-se reciprocamente. 37. Essa a razo pela
qual muitos estudiosos de nossa po- ca sustentam que a realidade
traz inseparavelmente uma crise do sentido. Eles no se referem aos
mltiplos sentidos parciais que cada um pode encontrar nas aes
cotidianas que realiza, mas ao sentido que d unidade a tudo o que
existe e nos sucede na experincia, e que os cristos chamam de
sentido religioso. Habitualmente, este sentido se coloca nossa
disposio atra- vs de nossas tradies culturais que representam a
hiptese de realidade com que cada ser humano pode olhar o mundo em
que vive. Em nossa cultura latino-americana e caribenha conhece-
mos o papel to nobre e orientador que a religiosidade popular
desempenha, especialmente a devoo mariana, que contribuiu para nos
tornar mais conscientes de nossa comum condio de filhos de Deus e
de nossa comum dignidade perante seus olhos, no obstante as
diferenas sociais, tnicas ou de qualquer outro tipo. 38. No
entanto, devemos admitir que essa preciosa tradio comea a
diluir-se. A maioria dos meios de comunicao de mas- sa nos
apresentam agora novas imagens, atrativas e cheias de fantasia.
Ainda que todos saibam que elas no podem mostrar o sentido unitrio
de todos os fatores da realidade, oferecem ao menos o consolo de
ser transmitidas em tempo real, ao vivo e diretamente, com
atualidade. Longe de preencher o vazio produ- zido em nossa
conscincia pela falta de um sentido unitrio da vida, em muitas
ocasies a informao transmitida pelos meios s nos distrai. A falta
de informao s se resolve com mais in- formao, retro-alimentando a
ansiedade de quem percebe que est em um mundo opaco e que no
compreende. 39. Esse fenmeno talvez explique um dos fatos mais des-
concertantes e originais que vivemos no presente. Nossas tradi- es
culturais j no se transmitem de uma gerao outra com a mesma fluidez
que no passado. Isso afeta, inclusive, esse n-
- 25. 30 CELAM cleo mais profundo de cada cultura, constitudo
pela experincia religiosa, que se torna agora igualmente difcil de
ser transmiti- do atravs da educao e da beleza das expresses
culturais, al- canando inclusive a prpria famlia que, como lugar do
dilogo e da solidariedade inter-geracional, havia sido um dos
veculos mais importantes da transmisso da f. Os meios de comunica-
o invadiram todos os espaos e todas as conversas, introdu- zindo-se
tambm na intimidade do lar. Ao lado da sabedoria das tradies,
localizam-se agora, em competio, a informao de ltimo minuto, a
distrao, o entretenimento, as imagens dos vencedores que souberam
usar a seu favor as ferramentas tec- nolgicas e as expectativas de
prestgio e estima social. Isso faz com que as pessoas busquem
denodadamente uma experincia de sentido que preencha as exigncias
de sua vocao, ali onde nunca podero encontr-la. 40. Entre os
pressupostos que enfraquecem e menospre- zam a vida familiar,
encontramos a ideologia de gnero, segundo a qual cada um pode
escolher sua orientao sexual, sem levar em considerao as diferenas
dadas pela natureza humana. Isso tem provocado modificaes legais
que ferem gravemente a dig- nidade do matrimnio, o respeito ao
direito vida e a identidade da famlia.22 41. Por essa razo, os
cristos precisam recomear a par- tir de Cristo, a partir da
contemplao de quem nos revelou em seu mistrio a plenitude do
cumprimento da vocao humana e de seu sentido. Necessitamos
fazer-nos discpulos dceis, para aprendermos dEle, em seu
seguimento, a dignidade e a pleni- tude da vida. E necessitamos, ao
mesmo tempo, que o zelo mis- sionrio nos consuma para levar ao
corao da cultura de nosso tempo aquele sentido unitrio e completo
da vida humana que 22 Cf. Congregao para a Doutrina da F, Carta aos
Bispos da Igreja Catlica sobre a cola- borao do homem e da mulher
na Igreja e no mundo, n, 2, 31 de maio de 2004, que cita o Pon-
tifcio Conselho para a Famlia, Famlia, matrimnio e unies de fato,
n. 8, 21 de novembro de 2000.
- 26. 31VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL nem a cincia, nem a poltica, nem
a economia nem os meios de comunicao podero proporcionar-lhe. Em
Cristo Palavra, Sabedoria de Deus (cf. 1 Cor 1,30), a cultura pode
voltar a encon- trar seu centro e sua profundidade, a partir de
onde possvel olhar a realidade no conjunto de todos seus fatores,
discernindo- os luz do Evangelho e dando a cada um seu lugar e sua
dimen- so adequada. 42. Como nos disse o Papa em seu discurso
inaugural: s quem reconhece a Deus, conhece a realidade e pode
responder a ela de modo adequado e realmente humano.23 A sociedade
que coordena suas atividades s mediante mltiplas informaes,
acredita que pode agir de fato como se Deus no existisse. Mas a
eficcia dos procedimentos conseguida mediante a informao, ainda que
com as tecnologias mais desenvolvidas, no consegue satisfazer o
desejo de dignidade inscrito no mais profundo da vocao humana. Por
isso, no basta supor que a mera diversida- de de pontos de vista,
de opes e, finalmente, de informaes, que costuma receber o nome de
pluri ou multiculturalidade, re- solver a ausncia de um significado
unitrio para tudo o que existe. A pessoa humana , em sua prpria
essncia, o lugar da natureza para onde converge a variedade dos
significados em uma nica vocao de sentido. As pessoas no se
assustam com a diversidade. O que de fato as assusta no conseguirem
reunir o conjunto de todos esses significados da realidade em uma
com- preenso unitria que lhes permita exercer sua liberdade com
discernimento e responsabilidade. A pessoa sempre procura a verdade
de seu ser, visto que esta verdade que ilumina a reali- dade de tal
modo que possa nela se desenvolver com liberdade e alegria, com
prazer e esperana. 2.1.1 Situao scio-cultural 43. Portanto, a
realidade social que em sua dinmica atual descrevemos com a palavra
globalizao, antes que qualquer ou- 23 DI 3.
- 27. 32 CELAM tra dimenso, impacta a nossa cultura e o modo como
nos inse- rimos e nos apropriamos dela. A variedade e riqueza das
cultu- ras latino-americanas, desde as mais originrias at aquelas
que com a passagem da histria e a mestiagem de seus povos foram se
sedimentando nas naes, nas famlias, nos grupos sociais, nas
instituies educativas e na convivncia cvica, constitui um dado
bastante evidente para ns e que valorizamos como rique- za
singular. O que hoje em dia est em jogo no a diversidade que os
meios de comunicao so capazes de individualizar e re- gistrar.O que
ningum esquece , pelo contrrio, a possibilida- de de que essa
diversidade possa convergir em uma sntese que, envolvendo a
variedade de sentidos, seja capaz de projet-la em um destino
histrico comum. Nisso reside o valor incompar- vel do nimo mariano
de nossa religiosidade popular que, sob distintos nomes, tem sido
capaz de fundir as diversas histrias latino-americanas em uma
histria compartilhada: aquela que conduz a Cristo, Senhor da vida,
em quem se realiza a mais alta dignidade de nossa vocao humana. 44.
Vivemos uma mudana de poca, e seu nvel mais pro- fundo o cultural.
Dissolve-sea concepo integral do ser hu- mano, sua relao com o
mundo e com Deus; aqui est preci- samente o grande erro das
tendncias dominantes do ltimo sculo... Quem exclui Deus de seu
horizonte, falsifica o conceito da realidade e s pode terminar em
caminhos equivocados e com receitas destrutivas.24 Surge hoje, com
grande fora, uma sobre- valorizao da subjetividade individual.
Independentemente de sua forma, a liberdade e a dignidade da pessoa
so reconhecidas. O individualismo enfraquece os vnculos comunitrios
e prope uma radical transformao do tempo e do espao, dando papel
primordial imaginao. Os fenmenos sociais, econmicos e tecnolgicos
esto na base da profunda vivncia do tempo, o qual se concebe fixado
no prprio presente, trazendo concep- es de inconsistncia e
instabilidade. Deixa-se de lado a preo 24 Ibid.
- 28. 33VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL cupao pelo bem comum para dar
lugar realizao imediata dos desejos dos indivduos, criao de novos e
muitas vezes arbitrrios direitos individuais, aos problemas da
sexualidade, da famlia, das enfermidades e da morte. 45. A cincia e
a tcnica quando colocadas exclusivamen- te a servio do mercado, com
os critrios nicos da eficcia, da rentabilidade e do funcional,
criam uma nova viso da realidade. A utilizao dos meios de comunicao
de massa est introdu- zindo na sociedade um sentido esttico, uma
viso a respeito da felicidade, uma percepo da realidade e at uma
linguagem, que querem impor-se como autntica cultura.Desse modo,
ter- mina-se por destruir o que de verdadeiramente humano h nos
processos de construo cultural, que nascem do intercmbio pessoal e
coletivo. 46. Verifica-se, em nvel massivo, uma espcie de nova co-
lonizao cultural pela imposio de culturas artificiais, despre-
zando as culturas locais e com tendncias a impor uma cultura
homogeneizada em todos os setores. Essa cultura se caracteriza pela
auto-referncia do indivduo, que conduz indiferena pelo outro, de
quem no necessita e por quem no se sente respon- svel. Prefere-se
viver o dia-a-dia, sem programas a longo prazo nem apegos pessoais,
familiares e comunitrios. As relaes hu- manas esto sendo
consideradas objetos de consumo, conduzin- do a relaes afetivas sem
compromisso responsvel e definitivo. 47. Tambm se verifica uma
tendncia para a afirmao exasperada de direitos individuais e
subjetivos. Essa busca pragmtica e imediatista, sem preocupao com
critrios ticos. A afirmao dos direitos individuais e subjetivos,
sem um esfor- o semelhante para garantir os direitos sociais
culturais e solid- rios, resulta em prejuzo da dignidade de todos,
especialmente daqueles que so mais pobres e vulnerveis. 48. Nesta
hora da Amrica Latina e do Caribe, imperati- vo tomar conscincia da
situao precria que afeta a dignidade
- 29. 34 CELAM de muitas mulheres.Algumas, desde crianas e
adolescentes, so submetidas a mltiplas formas de violncia dentro e
fora de casa: trfico, violao, escravizao e assdio sexual;
desigualda- des na esfera do trabalho, da poltica e da economia;
explorao publicitria por parte de muitos meios de comunicao social
que as tratam como objeto de lucro. 49. As mudanas culturais
modificaram os papis tradi- cionais de homens e mulheres, que
procuram desenvolver no- vas atitudes e estilos de suas respectivas
identidades, poten- cializando todas as suas dimenses humanas na
convivncia cotidiana, na famlia e na sociedade, s vezes por vias
equivo- cadas. 50. A avidez do mercado descontrola o desejo de
crian- as, jovens e adultos. A publicidade conduz ilusoriamente a
mundos distantes e maravilhosos, onde todo desejo pode ser
satisfeito pelos produtos que tm carter eficaz, efmero e at
messinico. Legitima-se que os desejos se tornem felicidade. Como s
se necessita do imediato, a felicidade se pretende al- canar atravs
do bem-estar econmico e da satisfao hedo- nista. 51. As novas
geraes so as mais afetadas por essa cultura do consumo em suas
aspiraes pessoais profundas. Crescem na lgica do individualismo
pragmtico e narcisista, que des- perta nelas mundos imaginrios
especiais de liberdade e igual- dade. Afirmam o presente porque o
passado perdeu relevncia diante de tantas excluses sociais,
polticas e econmicas. Para elas ofuturo incerto. Assim mesmo,
participam da lgica da vida como espetculo, considerando o corpo
como ponto de referncia de sua realidade presente. Tm nova atrao
pelas sensaes e crescem na grande maioria sem referncia aos va-
lores e instncias religiosas.Em meio realidade de mudana cultural,
emergem novos sujeitos, com novos estilos de vida, maneiras de
pensar, de sentir, de perceber e com novas formas de se relacionar.
So produtores e atores da nova cultura.
- 30. 35VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL 52. Entre os aspectos positivos
dessa mudana cultural aparece o valor fundamental da pessoa, de sua
conscincia e ex- perincia, a busca do sentido da vida e da
transcendncia. Para dar resposta busca mais profunda do significado
da vida, o fra- casso das ideologias dominantes permitiu que a
simplicidade e o reconhecimento do fraco e do pequeno na existncia
surgissem como valor, com grande capacidade e potencial que no
podem ser desvalorizados. Essa nfase na apreciao da pessoa abre no-
vos horizontes, onde a tradio crist adquire renovado valor,
sobretudo quando a pessoa se reconhece no Verbo encarnado que nasce
em um estbulo e assume uma condio humilde, de pobre. 53. A
necessidade de construir o prprio destino e o dese- jo de encontrar
razes para a existncia podem colocar em mo- vimento o desejo de se
encontrar com outros e compartilhar o vivido, como maneira de dar a
si uma resposta. Trata-se de uma afirmao da liberdade pessoal e,
por isso, da necessidade de questionar em profundidade as prprias
convices e opes. 54. Porm, junto com a nfase na responsabilidade
indi- vidual em meio a sociedades que promovem o acesso aos bens
atravs dos meios, paradoxalmente, se nega s grandes maiorias o
acesso aos mesmos bens que constituem elementos bsicos e essenciais
para viverem como pessoas. 55. A nfase na experincia pessoal e no
vivencial nos leva a considerar o testemunho como componente chave
na vivncia da f.Os fatos so valorizados quando so significativos
para a pessoa. Na linguagem testemunhal podemos encontrar um pon-
to de contato com as pessoas que compem a sociedade e delas entre
si. 56. Por outro lado, a riqueza e a diversidade cultural dos
povos da Amrica Latina e do Caribe se tornam evidentes. Exis- tem
em nossa regio diversas culturas indgenas, afro-america- nas,
mestias, camponesas, urbanas e suburbanas. As culturas
- 31. 36 CELAM indgenas se caracterizam sobretudo por seu apego
profundo terra, pela vida comunitria e por uma certa procura de
Deus. Os afro-americanos se caracterizam, entre outros elementos,
pela expressividade corporal, o enraizamento familiar e o sen- tido
de Deus. A cultura camponesa se relaciona ao ciclo agr- rio. A
cultura mestia, que a mais extensa entre muitos povos da regio, tem
buscado em meio s contradies sintetizar ao longo da histria essas
mltiplas fontes culturais originrias, facilitando o dilogo das
respectivas cosmovises e permitindo sua convergncia em uma histria
compartilhada. A essa com- plexidade cultural se deveria
acrescentar tambm a de tantos imigrantes europeus que se
estabeleceram nos pases de nossa regio. 57. Essas culturas
coexistem em condies desiguais com a chamada cultura globalizada.
Elas exigem reconhecimento e oferecem valores que constituem uma
resposta aos anti-valores da cultura que se impem atravs dos meios
de comunicao de massas: comunitarismo, valorizao da famlia,
abertura transcendncia e solidariedade. Essas culturas so dinmicas
e esto em interao permanente entre si e com as diferentes pro-
postas culturais. 58. A cultura urbana hbrida, dinmica e mutvel,
pois amalgama mltiplas formas, valores e estilos de vida e afeta
to- das as coletividades. A cultura suburbana fruto de grandes mi-
graes de populao, em sua maioria pobre, que se estabeleceu ao redor
das cidades nos cintures de misria. Nessas culturas os problemas de
identidade e pertena, relao, espao vital e lar so cada vez mais
complexos. 59. Existem tambm comunidades de migrantes que dei-
xaram as culturas e tradies trazidas de suas terras de origem,
sejam crists ou de outras religies. Por sua vez, essa diversida- de
inclui comunidades que se foram formando com a chegada de
diferentes denominaes crists e outros grupos religiosos. Assumir a
diversidade cultural, que imperativo do momento,
- 32. 37VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL envolve superar os discursos que
pretendem uniformizar a cul- tura, com enfoques baseados em modelos
nicos. 2.1.2 Situao econmica 60. O Papa, em seu Discurso Inaugural,
v a globalizao como um fenmeno de relaes de nvel planetrio,
conside- rando-o uma conquista da famlia humana, porque favorece o
acesso a novas tecnologias, mercados e finanas. As altas taxas de
crescimento de nossa economia regional e, particularmente, seu
desenvolvimento urbano, no seriam possveis sem a aber- tura ao
comrcio internacional, sem acesso s tecnologias de l- tima gerao,
sem a participao de nossos cientistas e tcnicos no desenvolvimento
internacional do conhecimento e sem o alto investimento registrado
nos meios eletrnicos de comunicao. Tudo isso leva tambm consigo o
surgimento de uma classe m- dia tecnologicamente letrada. Ao mesmo
tempo, a globalizao se manifesta como a profunda aspirao do gnero
humano unidade. No obstante esses avanos, o Papa tambm assinala que
a globalizao comporta o risco dos grandes monoplios e de converter
o lucro em valor supremo. Por isso, Bento XVI enfatiza que como em
todos os campos da atividade humana, a globalizao deve reger-se
tambm pela tica, colocando tudo a servio da pessoa humana, criada
imagem e semelhana de Deus.25 61. A globalizao um fenmeno complexo
que possui diversas dimenses (econmicas, polticas, culturais, comu-
nicacionais, etc). Para sua justa valorizao, necessria uma
compreenso analtica e diferenciada que permita detectar tan- to
seus aspectos positivos quanto os negativos. Lamentavel- mente, a
face mais difundida e de xito da globalizao sua dimenso econmica,
que se sobrepe e condiciona as outras dimenses da vida humana. Na
globalizao, a dinmica do mercado absolutiza com facilidade a
eficcia e a produtividade 25 DI 2.
- 33. 38 CELAM como valores reguladores de todas as relaes
humanas. Esse carter peculiar faz da globalizao um processo
promotor de iniqidades e injustias mltiplas. A globalizao, tal como
est configurada atualmente, no capaz de interpretar e reagir em
funo de valores objetivos que se encontram alm do mercado e que
constituem o mais importante da vida humana: a verda- de, a justia,
o amor, e muito especialmente a dignidade e os direitos de todos,
inclusive daqueles que vivem margem do prprio mercado. 62.
Conduzida por uma tendncia que privilegia o lucro e estimula a
concorrncia, a globalizao segue uma dinmi- ca de concentrao de
poder e de riqueza em mos de poucos. Concentrao no s dos recursos
fsicos e monetrios, mas so- bretudo da informao e dos recursos
humanos, o que produz a excluso de todos aqueles no suficientemente
capacitados e informados, aumentando as desigualdades que marcam
triste- mente nosso continente e que mantm na pobreza uma multi- do
de pessoas. O que existe hoje a pobreza de conhecimento e do uso e
acesso a novas tecnologias. Por isso, necessrio que os empresrios
assumam sua responsabilidade de criar mais fontes de trabalho e de
investir na superao dessa nova po- breza. 63. No se pode negar que
o predomnio dessa tendncia no elimina a possibilidade de se
formarem pequenas e mdias empresas. Elas se associam ao dinamismo
exportador da eco- nomia, prestam-lhe servios colaterais ou
aproveitam nichos especficos do mercado interno. No entanto, sua
fragilidade eco- nmica e financeira e a pequena escala em que se
desenvolvem, as tornam extremamente vulnerveis frente s taxas de
juros, ao risco do cmbio, aos custos previsveis e variao nos preos
de seus insumos. A debilidade dessas empresas se associa pre-
cariedade do emprego que esto em condies de oferecer. Sem uma
poltica de proteo especfica dos Estados frente a elas, corre-se o
risco de que as economias de escala dos grandes con-
- 34. 39VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL srcios termine por se impor como
nica forma determinante do dinamismo econmico. 64. Por isso, frente
a essa forma de globalizao, sentimos forte chamado para promover
uma globalizao diferente, que esteja marcada pela solidariedade,
pela justia e pelo respeito aos direitos humanos, fazendo da Amrica
Latina e do Caribe no s o Continente da esperana, mas tambm o
Continente do amor, como props SS. Bento XVI no Discurso Inaugural
desta Conferncia. 65. Isso nos deveria levar a contemplar os rostos
daqueles que sofrem. Entre eles, esto ascomunidades indgenas e
afro- americanas que, em muitas ocasies, no so tratadas com dig-
nidade e igualdade de condies; muitas mulheres so excludas, em razo
de seu sexo, raa ou situao scio-econmica; jovens que recebem uma
educao de baixa qualidade e no tm opor- tunidades de progredir em
seus estudos nem de entrar no mer- cado de trabalho para se
desenvolver e constituir uma famlia; muitos pobres, desempregados,
migrantes, deslocados, agricul- tores sem terra, aqueles que
procuram sobreviver na economia informal; meninos e meninas
submetidos prostituio infantil, ligada muitas vezes ao turismo
sexual; tambm as crianas vti- mas do aborto. Milhes de pessoas e
famlias vivem na misria e inclusive passam fome. Preocupam-nos
tambm os dependen- tes das drogas, as pessoas com limitaes fsicas,
os portadores e vtimas de enfermidades graves como a malria, a
tuberculose e HIVAIDS, que sofrem a solido e se vem excludos da
convi- vncia familiar e social. No esquecemos tambm os seqestra-
dos e os que so vtimas da violncia, do terrorismo, de conflitos
armados e da insegurana na cidade. Tambm os ancios que, alm de se
sentirem excludos do sistema produtivo, vem-se muitas vezes
recusados por sua famlia como pessoas incmo- das e inteis. Sentimos
as dores, enfim, da situao desumana em que vive a grande maioria
dos presos, que tambm necessi- tam de nossa presena solidria e de
nossa ajuda fraterna. Uma
- 35. 40 CELAM globalizao sem solidariedade afeta negativamente
os setores mais pobres. J no se trata simplesmente do fenmeno da
ex- plorao e opresso, mas de algo novo: a excluso social. Com ela a
pertena sociedade na qual se vive fica afetada na raiz, pois j no
est abaixo, na periferia ou sem poder, mas est fora. Os excludos no
so somente explorados, mas suprfluos e descartveis. 66. As
instituies financeiras e as empresas transnacionais se fortalecem
ao ponto de subordinar as economias locais, sobre- tudo debilitando
os Estados, que aparecem cada vez mais impo- tentes para levar
adiante projetos de desenvolvimento a servio de suas populaes,
especialmente quando se trata de investi- mentos de longo prazo e
sem retorno imediato. As indstrias extrativistas internacionais e a
agroindstria, muitas vezes, no respeitam os direitos econmicos,
sociais, culturais e ambientais das populaes locais e no assumem
suas responsabilidades. Com muita freqncia mse subordina a
preservao da nature- za ao desenvolvimento econmico, com danos
biodiversidade, com o esgotamento das reservas de gua e de outros
recursos naturais, com a contaminao do ar e a mudana climtica. As
possibilidades e eventuais problemas da produo de agrocom- bustveis
devem ser estudadas, de tal maneira que prevalea o valor da pessoa
humana e de suas necessidades de sobrevivn- cia. A Amrica Latina
possui os aqferos mais abundantes do planeta, junto com grandes
extenses de territrio selvagem, que so pulmes da humanidade. Assim
se do gratuitamente ao mundo servios ambientais que no so
reconhecidos econo- micamente. A regio se v afetada pelo
aquecimento da terra e a mudana climtica provocada principalmente
pelo estilo de vida no sustentvel dos pases industrializados. 67. A
globalizao tem celebrado freqentes Tratados de Livre Comrcio entre
pases com economias assimtricas, que nem sempre beneficiam os pases
mais pobres. Ao mesmo tem- po, pressiona-se aos pases da regio com
exigncias desmedidas
- 36. 41VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL em matria de propriedade
intelectual, a tal ponto que se per- mitem direitos de patente
sobre a vida em todas as suas formas. Alm disso, a utilizao de
organismos geneticamente manipu- lados tem mostrado qu nem sempre a
globalizao contribui para o combate contra a fome, nem para o
desenvolvimento ru- ral sustentvel. 68. Ainda que se tenha
progredido muitssimo no contro- le da inflao e na estabilidade
macro-econmica dos pases da regio, muitos governos se encontram
severamente limitados para o financiamento de seu oramento pblico
pelos elevados servios da dvida externa26 e interna, enquanto,por
outro lado, no contam com sistemas tributrios verdadeiramente
eficien- tes, progressivos e eqitativos. 69. A atual concentrao de
renda e riqueza acontece prin- cipalmente pelos mecanismos do
sistema financeiro. A liberda- de concedida aos investimentos
financeiros favorecem o capital especulativo, que no tem incentivos
para fazer investimentos produtivos de longo prazo, mas busca o
lucro imediato nos ne- gcios com ttulos pblicos, moedas e
derivados. No entanto, segundo a Doutrina Social da Igreja, o
objeto da economia a formao da riqueza e seu incremento
progressivo, em termos no s quantitativos, mas qualitativos: tudo
moralmente cor- reto se est orientado para o desenvolvimento global
e solidrio do homem e da sociedade na qual vive e trabalha. O
desenvol- vimento, na verdade, no se pode reduzir a mero processo
de acumulao de bens e servios. Ao contrrio, a pura acumulao, ainda
que para o bem comum, no condio suficiente para a realizao de uma
autntica felicidade humana.27 A empresa chamada a prestar uma
contribuio maior na sociedade, assu- mindo a chamada
responsabilidade social-empresarial, a partir dessa perspectiva. 26
Cf. TMA 51; Bento XVI, Carta Chanceler da Repblica Federal da
Alemanha, ngela Merkel, 12 de dezembro de 2006. 27 Compndio da
Doutrina Social da Igreja, 334.
- 37. 42 CELAM 70. tambm alarmante o nvel de corrupo nas econo-
mias, envolvendo tanto o setor pblico quanto o setor privado, ao
que se soma notvel falta de transparncia e prestao de contas
cidadania. Em muitas ocasies, a corrupo est vincu- lada ao flagelo
do narcotrfico ou do narconegcio, e por outro lado vem destruindo o
tecido social e econmico em regies in- teiras. 71. A populao
economicamente ativa da regio afetada pelo subemprego (42%) e pelo
desemprego (9%), e quase a meta- de est empregada no trabalho
informal. O trabalho formal, por sua vez, se v submetido
precariedade das condies de em- prego e presso constante da
subcontratao, que traz consigo salrios mais baixos e falta de
proteo na rea da seguridade social, no permitindo a muitos o
desenvolvimento de uma vida digna. Nesse contexto, os sindicatos
perdem a possibilidade de defender os direitos dos trabalhadores.
Por outro lado, poss- vel destacar fenmenos positivos e criativos
para enfrentar tal situao por parte dos afetados, que vm
estimulando diversas experincias, como por exemplo micro-finanas,
economia local e solidria e comrcio justo. 72. Os homens do campo,
em sua maioria, sofrem por cau- sa da pobreza, agravada por no
terem acesso terra prpria. No entanto, existem grandes latifndios
em mos de poucos. Em alguns pases, essa situao tem levado a populao
a exigir uma Reforma Agrria, estando atentos aos males que lhes po-
dem ocasionar os Tratados de Livre Comrcio, a manipulao da droga e
outros fatores. 73. Um dos fenmenos mais importantes em nossos
pases o processo de mobilidade humana, em sua dupla expresso de
migrao e itinerncia, em que milhes de pessoas migram ou se vem
foradas a migrar dentro e fora de seus respectivos pases. As causas
so diversas e esto relacionadas com a situao eco- nmica, a violncia
em suas diversas formas, a pobreza que afeta as pessoas e a falta
de oportunidades para a pesquisa e o de-
- 38. 43VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL senvolvimento profissional. Em
muitos casos, as conseqncias so de enorme gravidade em nvel
pessoal, familiar e cultural. A perda do capital humano de milhes
de pessoas, de profissionais qualificados, de pesquisadores e
amplos setores camponeses, vai nos empobrecendo cada vez mais. A
explorao do trabalho che- ga, em alguns casos, a gerar condies de
verdadeira escravido. Acontece tambm um vergonhoso trfico de
pessoas, que inclui a prostituio, inclusive de menores. Merece
especial meno a situao dos refugiados, que questiona a capacidade
de acolhida da sociedade e das igrejas. Por outro lado, no entanto,
a remessa de divisas dos emigrados a seus pases de origem se tem
torna- do uma importante e, s vezes, insubstituvel fonte de
recursos para diversos pases da regio, ajudando o bem-estar e a
mobili- dade social ascendente daqueles que conseguem participar
com xito nesse processo. 2.1.3 Dimenso scio-poltica 74. Constatamos
um certo progresso democrtico que se demonstra em diversos
processos eleitorais. No entanto, ve- mos com preocupao o acelerado
avano de diversas formas de regresso autoritria por via democrtica
que, em certas ocasies, resultam em regimes de corte neo-populista.
Isso indica que no basta uma democracia puramente formal, fun- dada
em procedimentos eleitorais honestos, mas que neces- sria uma
democracia participativa e baseada na promoo e respeito dos
direitos humanos. Uma democracia sem valores como os mencionados
torna-se facilmente ditadura e termina traindo o povo. 75. Com a
presena da Sociedade Civil assumindo uma atitude mais protagonista
e a irrupo de novos atores sociais como os indgenas, os
afro-americanos, as mulheres, os profis- sionais, uma extensa
classe mdia e os setores marginalizados organizados, vem se
fortalecendo a democracia participativa e esto se criando maiores
espaos de participao poltica. Esses grupos esto tomando conscincia
do poder que tm
- 39. 44 CELAM nas mos e da possibilidade de gerarem mudanas
impor- tantes para a conquista de polticas pblicas mais justas, que
revertam sua situao de excluso. Nesse plano, percebe-se tambm uma
crescente influncia de organismos das Naes Unidas e de Organizaes
No-Governamentais de carter in- ternacional, que nem sempre ajustam
suas recomendaes a critrios ticos. No faltam tambm atuaes que
radicalizam as posies, fomentam a conflitividade e a polarizao
extre- mas e colocam esse potencial a servio de interesses alheios
aos seus, o que ao final pode frustrar e reverter negativamente
suas esperanas. 76. Depois de uma poca de enfraquecimento dos
Estados devido aplicao de ajustes estruturais na economia, por re-
comendao de organismos financeiros internacionais, v-se atualmente
com bons olhos um esforo dos Estados em definir e aplicar polticas
pblicas nos campos da sade, educao, segu- ridade alimentar,
previdncia social, acesso terra e moradia, promoo eficaz da
economia para a criao de empregos e leis que favorecem as
organizaes solidrias.Tudo isso mostra que no pode existir
democracia verdadeira e estvel sem justia so- cial, sem diviso real
de poderes e sem a vigncia do Estado de direito.28 77. Cabe
assinalar, como grande fator negativo em boa parte da regio, o
recrudescimento da corrupo na sociedade e no Estado, envolvendo os
poderes legislativos e executivos em todos os nveis, alcanando
tambm o sistema judicirio que, muitas vezes, inclina seu juzo a
favor dos poderosos e gera im- punidade, o que coloca em srio risco
a credibilidade das insti- tuies pblicas e aumenta a desconfiana do
povo, fenmeno que se une a um profundo desprezo pela legalidade. Em
amplos setores da populao, e especialmente entre os jovens, cresce
o desencanto pela poltica e particularmente pela democracia, 28 Cf.
EAm 56.
- 40. 45VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL pois as promessas de uma vida
melhor e mais justa no se cum- priram ou se cumpriram s pela
metade. Nesse sentido, esque- ce-se de que a democracia e a
participao poltica so fruto da formao que se faz realidade somente
quando os cidados so conscientes de seus direitos fundamentais e de
seus deveres correspondentes. 78. A vida social em convivncia
harmnica e pacfica est se deteriorando gravemente em muitos pases
da Amrica La- tina e do Caribe pelo crescimento da violncia, que se
mani- festa em roubos, assaltos, seqestros, e o que mais grave, em
assassinatos que a cada dia destroem mais vidas humanas e enchem de
dor as famlias e a sociedade inteira. A violncia se reveste de
vrias formas e tem diversos agentes: o crime or- ganizado e o
narcotrfico, grupos paramilitares, violncia co- mum sobretudo na
periferia das grandes cidades, violncia de grupos juvenis e
crescente violncia intra-familiar. Suas causas so mltiplas: a
idolatria do dinheiro, o avano de uma ideolo- gia individualista e
utilitarista, a falta de respeito pela dignida- de de cada pessoa,
a deteriorao do tecido social, a corrupo inclusive nas foras da
ordem e a falta de polticas pblicas de eqidade social. 79. Alguns
parlamentos ou assemblias legislativas apro- vam leis injustas
contra os direitos humanos e a vontade popu- lar, precisamente por
no estarem perto de seus representados, nem saberem escutar e
dialogar com os cidados, mas tambm por ignorncia, por falta de
acompanhamento e porque muitos cidados abdicam de seu dever de
participar na vida pblica. 80. Em alguns pases tem aumentado a
represso, a viola- o dos direitos humanos, inclusive o direito
liberdade religio- sa, a liberdade de expresso e a liberdade de
ensino, assim como o desprezo objeo de conscincia. 81. Ainda que
alguns pases tenham conseguido acordos de paz superando dessa forma
conflitos antigos, em outros conti-
- 41. 46 CELAM nua a luta armada com todas as suas seqelas
(mortes violentas, violaes dos Direitos Humanos, ameaas, crianas na
guerra, seqestros etc.), sem que se possam prever solues a curto
pra- zo. A influncia do narconegcio nesses grupos dificulta ainda
mais as possveis solues. 82. Na Amrica Latina e no Caribe v-se com
bons olhos uma crescente vontade de integrao regional mediante
acor- dos multilaterais, envolvendo crescente nmero de pases que
geram suas prprias regras no campo do comrcio, dos servios e das
patentes. origem comum unem-se a cultura, a lngua e a religio, que
podem contribuir para que a integrao no seja s de mercados, mas de
instituies civis e sobretudo de pessoas. Tambm positiva a
globalizao da justia, no campo dos direi- tos humanos e dos crimes
contra a humanidade, que permitir a todos viver progressivamente
sob normas iguais chamadas a proteger sua dignidade, sua
integridade e sua vida. 2.1.4 Biodiversidade, ecologia, Amaznia e
Antrtida 83. A Amrica Latina o Continente que possui uma das
maiores biodiversidades do planeta e uma rica scio-diversida- de,
representada por seus povos e culturas. Estes possuem gran- de
acervo de conhecimentos tradicionais sobre a utilizao dos recursos
naturais, assim como sobre o valor medicinal de plan- tas e outros
organismos vivos, muitos dos quais formam a base de sua economia.
Tais conhecimentos so atualmente objeto de apropriao intelectual
ilcita, sendo patenteados por indstrias farmacuticas e de
biogentica, gerando vulnerabilidade dos agricultores e suas famlias
que dependem desses recursos para sua sobrevivncia. 84. Nas decises
sobre as riquezas da biodiversidade e da natureza, as populaes
tradicionais tm sido praticamente ex- cludas. A natureza foi e
continua sendo agredida. A terra foi depredada. As guas esto sendo
tratadas como se fossem mer- cadoria negocivel pelas empresas, alm
de terem sido transfor-
- 42. 47VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL madas num bem disputado pelas
grandes potncias. Exemplo muito importante nessa situao a
Amaznia.29 85. Em seu discurso aos jovens, no Estdio do Pacaembu,
em So Paulo, o Papa Bento XVI chamou a ateno sobre a de- vastao
ambiental da Amaznia e as ameaas dignidade hu- mana de seus povos30
e pediu aos jovens um maior compro- misso nos mais diversos espaos
de ao.31 86. A crescente agresso ao meio-ambiente pode servir de
pretexto para propostas de internacionalizao da Amaznia, que s
servem aos interesses econmicos das corporaes inter- nacionais. A
sociedade panamaznica pluritnica, pluricultu- ral e
plurirreligiosa. Nela, cada vez mais, se intensifica a disputa pela
ocupao do territrio. As populaes tradicionais da regio querem que
seus territrios sejam reconhecidos e legalizados. 87. Alm disso,
constatamos o retrocesso das geleiras em todo o mundo: o degelo do
rtico, cujo impacto j est se ven- do na flora e fauna desse
ecossistema; tambm o aquecimento global se faz sentir no estrondoso
crepitar dos blocos de gelo rtico que reduzem a cobertura glacial
do Continente e que re- gula o clima do mundo. Profeticamente, h 20
anos, desde a fronteira das Amricas, Joo Paulo II assinalou: Desde
o Cone Sul do Continente Americano e frente aos ilimitados espaos
da Antrtida, lano um chamado a todos os responsveis de nosso
planeta para proteger e conservar a natureza criada por Deus: no
permitamos que nosso mundo seja uma terra cada vez mais degradada e
degradante.32 29 A Amaznia pan-americana ocupa uma rea de 7,01
milhes de quilmetros quadra- dos e corresponde a 5% da superfcie da
terra, 40% da Amrica do Sul. Contm 20% da disponibilidade mundial
de gua doce no congelada. Abriga 34% das reservas mundiais de
florestas e gigantesca reserva de minerais. Sua diversidade
biolgica de eco-sistemas a mais rica do planeta. Nessa regio se
encontram cerca de 30% de todas as espcies da fauna e flora do
mundo. 30 Bento XVI, Mensagem aos jovens no Pacaembu 2; Brasil, 10
de maio de 2007. 31 Ibid. 32 Joo Paulo II, Homilia na Celebrao da
Palavra para os fiis da Zona Austral do Chile 7; Punta Arenas, 4 de
abril de 1987.
- 43. 48 CELAM 2.1.5 Presena dos povos indgenas e afro-americanos
na Igreja 88. Os indgenas constituem a populao mais antiga do
Continente. Esto na raiz primeira da identidade latino-ameri- cana
e caribenha. Os afro-americanos constituem outra raiz que foi
arrancada da frica e trazida para c como gente escravizada. A
terceira raiz a populao pobre que migrou da Europa a par- tir do
sculo XVI, em busca de melhores condies de vida, e o grande fluxo
de imigrantes de todo o mundo a partir de meados do sculo XIX. De
todos esses grupos e de suas correspondentes culturas se formou a
mestiagem que a base social e cultural de nossos povos
latino-americanos e caribenhos, como j o reco- nheceu a III
Conferncia Geral do Episcopado Latino-americano celebrada em
Puebla, Mxico.33 89. Os indgenas e afro-americanos so, sobretudo,
ou- tros diferentes que exigem respeito e reconhecimento. A socie-
dade tende a menosprez-los, desconhecendo o porqu de suas
diferenas. Sua situao social est marcada pela excluso e pela
pobreza. A Igreja acompanha os indgenas e afro-americanos nas lutas
por seus legtimos direitos. 90. Hoje, os povos indgenas e afros
esto ameaados em sua existncia fsica, cultural e espiritual; em
seus modos de vida; em suas identidades; em sua diversidade; em
seus territ- rios e projetos. Algumas comunidades indgenas se
encontram fora de suas terras porque estas foram invadidas e
degradadas, ou no tm terras suficientes para desenvolver suas
culturas. Sofrem graves ataques sua identidade e sobrevivncia, pois
a globalizao econmica e cultural coloca em perigo sua prpria
existncia como povo diferentes. Sua progressiva transformao
cultural provoca o rpido desaparecimento de algumas lnguas e
culturas. A migrao, forada pela pobreza, est influindo pro-
fundamente na mudana de costumes, de relacionamentos e in- clusive
de religio. 33 DP 307, 409.
- 44. 49VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL 91. Os indgenas e
afro-americanos emergem agora na so- ciedade e na Igreja. Este um
kairs para aprofundar o en- contro da Igreja com esses setores
humanos que reivindicam o reconhecimento pleno de seus direitos
individuais e coletivos, serem levados em considerao na
catolicidade com sua cosmo- viso, seus valores e suas identidades
particulares, para viverem um novo Pentecostes eclesial. 92. J, em
Santo Domingo, os pastores reconhecamos que os povos indgenas
cultivam valores humanos de grande signifi- cado;34
valoresqueaIgrejadefende...diantedaforadominado- ra das estruturas
de pecado manifestas na sociedade moderna;35 so possuidores de
inumerveis riquezas culturais, que esto na base de nossa identidade
atual;36 e, a partir da perspectiva da f, esses valores e convices
so fruto de sementes do Verbo, que j estavam presentes e operavam
em seus antepassados.37 93. Entre eles podemos assinalar: abertura
ao de Deus pelos frutos da terra, o carter sagrado da vida humana,
a valori- zaodafamlia,osentidodesolidariedadeeaco-responsabilida-
denotrabalhocomum,aimportnciadocultual,acrenaemuma vida
ultra-terrena.38 Atualmente, o povo tem enriquecido am- plamente
esses valores atravs da evangelizao e os tem desen- volvido em
mltiplas formas de autntica religiosidade popular. 94. Como Igreja
que assume a causa dos pobres, estimula- mos a participao dos
indgenas e afro-americanos na vida ecle- sial. Vemos com esperana o
processo de inculturao discerni- do luz do magistrio. prioritrio
fazer tradues catlicas da Bblia e dos textos litrgicos nos idiomas
desses povos. Neces- sita-se, igualmente, promover mais as vocaes e
os ministrios ordenados procedentes dessas culturas. 34 SD 245. 35
Ibid. 243. 36 Mensagem da IV Conferncia aos Povos da Amrica Latina
e do Caribe, 38. 37 SD 245. 38 Ibid. 17.
- 45. 50 CELAM 95. Nosso servio pastoral vida plena dos povos
indge- nas exige que anunciemos Jesus Cristo e a Boa Nova do Reino
de Deus, denunciemos as situaes de pecado, as estruturas de morte,
a violncia e as injustias internas e externas e fomen- temos o
dilogo intercultural, interreligioso e ecumnico. Jesus Cristo a
plenitude da revelao para todos os povos e o cen- tro fundamental
de referncia para discernir os valores e as defi cincias de todas
as culturas, incluindo as indgenas. Por isso, o maior tesouro que
podemos oferecer a eles que cheguem ao encontro com Jesus Cristo
ressuscitado, nosso Salvador. Os in- dgenas que j receberam o
Evangelho, como discpulos e missio- nrios de Jesus Cristo, so
chamados a viver com imensa alegria sua realidade crist, a explicar
a razo de sua f em meio a suas comunidades e a colaborar ativamente
para que nenhum povo indgena da Amrica Latina renegue sua f crist,
mas ao con- trrio, sintam que em Cristo encontram o sentido pleno
de sua existncia. 96. A histria dos afro-americanos tem sido
atravessada por uma excluso social, econmica, poltica e sobretudo
racial, onde a identidade tnica fator de subordinao social. Atual-
mente, so discriminados na insero do trabalho, na qualidade e
contedo da formao escolar, nas relaes cotidianas e, alm disso,
existe um processo de ocultamento sistemtico de seus valores,
histria, cultura e expresses religiosas. Permanece, em alguns
casos, uma mentalidade e um certo olhar de menor res- peito em
relao aos indgenas e afro-americanos. Desse modo, descolonizar as
mentes, o conhecimento, recuperar a memria histrica, fortalecer os
espaos e relacionamentos inter-cultu- rais, so condies para a
afirmao da plena cidadania desses povos. 97. A realidade
latino-americana conta com comunidades afro-americanas muito vivas
que participam ativa e criativa- mente na construo deste
continente. Os movimentos pela recuperao das identidades, dos
direitos dos cidados e con-
- 46. 51VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL tra o racismo e os grupos
alternativos de economias solidrias, fazem das mulheres e homens
negros sujeitos construtores de sua histria e de uma nova histria
que se vai desenhando na atualidade latino-americana e caribenha.
Essa nova realidade se baseia em relaes inter-culturais onde a
diversidade no significa ameaa, no justifica hierarquias de um
poder sobre outros, mas sim dilogo a partir de vises culturais
diferentes, de celebrao, de inter-relacionamento e de reavivamento
da esperana. 2.2 Situao de nossa Igreja nesta hora histrica de
desafios 98. A Igreja Catlica na Amrica Latina e no Caribe, apesar
das deficincias e ambigidades de alguns de seus membros, tem dado
testemunho de Cristo, anunciado seu Evangelho e ofereci- do seu
servio de caridade principalmente aos mais pobres, no esforo por
promover sua dignidade e tambm no empenho de promoo humana nos
campos da sade, da economia solidria, da educao, do trabalho, do
acesso terra, da cultura, da habi- tao e assistncia, entre outros.
Com sua voz, unida de outras instituies nacionais e mundiais, tem
ajudado a dar orienta- es prudentes e a promover a justia, os
direitos humanos e a reconciliao dos povos. Isso tem permitido que
a Igreja seja reconhecida socialmente em muitas ocasies como
instncia de confiana e credibilidade. Seu empenho a favor dos mais
pobres e sua luta pela dignidade de cada ser humano tem ocasionado,
em muitos casos, a perseguio e inclusive a morte de alguns de seus
membros, os quais consideramos testemunhas da f. Que- remos
recordar o testemunho valente de nossos santos e santas, e aqueles
que, inclusive sem terem sido canonizados, viveram com radicalidade
o Evangelho e ofereceram sua vida por Cristo, pela Igreja e por seu
povo. 99. Os esforos pastorais orientados para o encontro com Jesus
Cristo vivo deram e continuam dando frutos. Entre ou- tros,
destacamos os seguintes:
- 47. 52 CELAM a) Devido animao bblica da pastoral, aumenta o
conhe- cimento da Palavra de Deus e do amor por ela. Graas
assimilao do Magistrio da Igreja e formao melhor de generosos
catequistas, a renovao da Catequese tem produzido fecundos
resultados emtodo o Continente, chegando inclusive a pases da
Amrica do Norte, Europa e sia, para onde muitos latino-americanos e
caribenhos tm emigrado. b) A renovao litrgica acentuou a dimenso
celebrativa e festiva da f crist centrada no mistrio pascal de
Cristo Salvador, em particular na Eucaristia. Crescem as mani-
festaes da religiosidade popular, especialmente a pie- dade
eucarstica e a devoo mariana. Esforos tm sido realizados para
inculturar a liturgia nos povos indgenas e afro-americanos. Esto
sendo superados os riscos de reduzir a Igreja a sujeito poltico,
com melhor discerni- mento dos impactos sedutores das ideologias.
Tm-se fortalecido a responsabilidade e a vigilncia com relao s
verdades da F, ganhando em profundidade e sereni dade de comunho.
c) Nosso povo tem grande estima pelos sacerdotes. Reco- nhece a
santidade de muitos deles, como tambm seu testemunho de vida, seu
trabalho missionrio e sua cria- tividade pastoral, particularmente
daqueles que esto em lugares distantes ou em contextos de maior
dificuldade. Muitas de nossas Igrejas contam com uma pastoral
sacer- dotal e com experincias concretas de vida em comum e de uma
retribuio do clero mais justa. Em algumas Igre- jas desenvolve-se o
diaconato permanente. Contam tam- bm com ministrios confiados aos
leigos e outros ser- vios pastorais, como ministros da Palavra,
animadores de assemblia e de pequenas comunidades, entre elas as
comunidades eclesiais de base, os movimentos eclesiais e um grande
nmero de pastorais especficas. Grande es- foro se faz para a formao
em nossos Seminrios, nas
- 48. 53VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL casas de formao para a vida
consagrada e nas escolas para o diaconato permanente. significativo
o testemu- nho da vida consagrada, sua participao na ao pas- toral
e sua presena em situaes de pobreza, de risco e de fronteira.
Estimula a esperana o incremento de vo- caes para a vida
contemplativa masculina e feminina. d) Ressalta-se a abnegada
entrega de tantos missionrios e missionrias que, at o dia de hoje,
tm desenvolvido valiosa obra evangelizadora e de promoo humana em
todos os nossos povos, com multiplicidade de obras e ser- vios.
Desse modo se reconhece o trabalho de numero- sos sacerdotes,
consagradas e consagrados, leigos e leigas que, a partir do nosso
Continente, participam da misso ad gentes. e) Crescem os esforos de
renovao pastoral nas parquias, favorecendo o encontro com Cristo
vivo, mediante diver- sos mtodos de nova evangelizao que se
transformam em comunidade de comunidades evangelizadas e missio-
nrias. Contata-se em alguns lugares um florescimento de comunidades
eclesiais de base, segundo o critrio das Conferncias Gerais
anteriores, em comunho com os Bispos e fiis ao Magistrio da
Igreja.39 Valoriza-se a pre- sena e o crescimento dos movimentos
eclesiais e novas comunidades que difundem sua riqueza carismtica,
edu- cativa e evangelizadora. Tem-se tomado conscincia da
importncia da pastoral Familiar, da Infncia e Juvenil. f) A
Doutrina Social da Igreja constitui uma riqueza sem preo, que tem
animado o testemunho e a ao solidria dos leigos e leigas, que se
interessam cada vez mais por sua formao teolgica como verdadeiros
missionrios da caridade, e se esforam por transformar de maneira
efeti- va o mundo segundo Cristo. Hoje, inumerveis iniciativas 39
Cf. Puebla, 261, 617, 638, 731 e 940; Santo Domingo, 62.
- 49. 54 CELAM leigas no mbito social, cultural, econmico e
poltico dei- xam-se inspirar pelos princpios permanentes, pelos
cri- trios de juzo e pelas diretrizes de ao provenientes da
Doutrina Social da Igreja. Valoriza-se o desenvolvimento que tem
tido a Pastoral Social, como tambm a ao da Critas em seus vrios
nveis, e a riqueza do voluntaria- do nos mais diversos apostolados
com incidncia social. Tem-se desenvolvido a pastoral da comunicao
social, e mais do que nunca a Igreja tem contado com mais meios de
comunicao para a evangelizao da cultura, resistin- do em parte a
outros grupos religiosos que ganham cons- tantemente adeptos usando
com perspiccia o rdio e a televiso. Temos rdios, televiso, cinema,
jornais, inter- net, pginas de web e a RIIAL que nos enchem de
espe- rana. g) A diversificao da organizao eclesial, com a criao de
muitas comunidades, novas jurisdies e organismos pas- torais,
permitiu que muitas Igrejas locais avanassem na estruturao de uma
Pastoral Orgnica, para servir me- lhor s necessidades dos fiis. No
com a mesma inten- sidade em todas as Igrejas, tem-se desenvolvido
o dilo- go ecumnico. Tambm o dilogo interreligioso, quando segue as
normas do Magistrio, pode enriquecer os par- ticipantes em diversos
encontros.40 Em outros lugares, tm-se criado escolas de ecumenismo
ou de colaborao ecumnica em assuntos sociais e outras iniciativas.
Ma- nifesta-se, como reao ao materialismo, uma busca de
espiritualidade, de orao e de mstica que expressa fome e sede de
Deus. Por outro lado, a valorizao da tica um sinal dos tempos que
indica a necessidade de superar o hedonismo, a corrupo e o vazio
dos valores. Alegra-nos, alm disso, o profundo sentimento de
solidariedade que 40 Cf. Congregao para a Doutrina da F, artigo de
comentrio Notificao a propsito do livro do Pe. Jacques Dupuis Hacia
uma teologia del pluralismo religioso, 12 de maro de 2001.
- 50. 55VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL caracteriza nossos povos e a
prtica de compartilhar e de ajuda mtua. 100.Apesar dos aspectos
positivos que nos alegram na es- perana, observamos sombras, entre
as quais mencionamos as seguintes: a) Para a Igreja Catlica, a
Amrica Latina e o Caribe so de grande importncia, por seu dinamismo
eclesial, por sua criatividade e porque 43% de todos os seus fiis
vivem nesses locais; no entanto, observamos que o crescimen- to
percentual da Igreja no segue o mesmo ritmo que o crescimento
populacional. Na mdia, o aumento do clero, e sobretudo das
religiosas, distancia-se cada vez mais do crescimento populacional
em nossa regio.41 b) Lamentamos, seja algumas tentativas de voltar
a um certo tipo de eclesiologia e espiritualidade contrrias renovao
do Conclio Vaticano II,42 seja algumas leitu- ras e aplicaes
reducionistas da renovao conciliar; lamentamos a ausncia de uma
autntica obedincia e do exerccio evanglico da autoridade, das
infidelida- des doutrina, moral e comunho, nossas dbeis vivncias da
opo preferencial pelos pobres, no pou- cas recadas secularizantes
na vida consagrada influen- ciada por uma antropologia meramente
sociolgica e no evanglica. Tal como manifestou o Santo Padre no
Discurso Inaugural de nossa Conferncia: perce- be-se um certo
enfraquecimento da vida crist no conjun- to da sociedade e da
prpria pertena Igreja Catlica.43 c) Constatamos o escasso
acompanhamento dado aos fiis leigos em suas tarefas de servio
sociedade, particular- 41 Enquanto no perodo 1974 a 2004 a populao
latino-americana cresceu quase 80%, os sacerdotes cresceram 44,1% e
as religiosas s 8%. Cf. Annuarium Statisticum Ecclesiae. 42 Cf.
Bento XVI, Discurso aos Cardeais, Arcebispos, Bispos e Prelados
superiores da Cria Romana, quinta-feira, 22 de dezembro de 2005. 43
DI 2.
- 51. 56 CELAM mente quando assumem responsabilidades nas
diversas estruturas de ordem temporal. Percebemos uma evangeli-
zaocompoucoardoresemnovosmtodoseexpresses, uma nfase no ritualismo
sem o conveniente caminho de formao, descuidando outras tarefas
pastorais. De igual forma, preocupa-nos uma espiritualidade
individualista. Verificamos, desse modo, uma mentalidade
relativista no tico e no religioso, a falta de aplicao criativa do
rico patrimnio que contm a Doutrina Social da Igreja e, em certas
ocasies, uma compreenso limitada do carter se- cular que constitui
a identidade prpria e especfica dos fiis leigos. d) Na evangelizao,
na catequese e, em geral, na pastoral, persistem tambm linguagens
pouco significativas para a cultura atual e em particular para os
jovens. Muitas vezes as linguagens utilizadas parecem no levar em
conside- rao a mutao dos cdigos existencialmente relevantes nas
sociedades influenciadas pela ps-modernidade e marcadas por amplo
pluralismo social e cultural. As mu- danas culturais dificultam a
transmisso da F por parte da famlia e da sociedade. Frente a isso,
no se v uma presena importante da Igreja na gerao de cultura, de
modo especial no mundo universitrio e nos meios de co- municao
social. e) O nmero insuficiente de sacerdotes e sua no eqitativa
distribuio impossibilitam que muitssimas comunida- des possam
participar regularmente na celebrao da Eu- caristia. Recordando que
a Eucaristia faz Igreja, preocupa- nos a situao de milhares dessas
comunidades privadas da Eucaristia dominical por longos perodos de
tempo. A isso se acrescenta a relativa escassez de vocaes ao mi-
nistrio e vida consagrada. Falta esprito missionrio em membros do
clero, inclusive em sua formao. Mui- tos catlicos vivem e morrem
sem assistncia da Igreja, qual pertencem pelo batismo. Enfrentam-se
dificulda-
- 52. 57VCONFERNCIAGERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO
CARIBE- aparecida -DOCUMENTO FINAL des para assumir a sustentao
econmica das estruturas pastorais. Falta solidariedade na comunho
de bens no interior das igrejas locais e entre elas. Em muitas das
nos- sas Igrejas locais no se assume suficientemente a pasto- ral
penitenciria, nema pastoral de menores infratores e em situaes de
risco. insuficiente o acompanhamento pastoral para os migrantes e
itinerantes. Alguns movi- mentos eclesiais nem sempre se integram
adequadamen- te na pastoral paroquial e diocesana; por sua vez,
algumas estruturas eclesiais no so suficientemente abertas para
acolh-los. f) Nas ltimas dcadas, vemos com preocupao, por um lado,
que numerosas pessoas perdem o sentido transcen- dental de suas
vidas e abandonam as prticas religiosas; e, por outro lado,
quesignificativo nmero de catlicos esto abandonando a Igreja para
entrar em outros grupos religiosos. Ainda que este seja um problema
real em to- dos os pases latino-americanos e caribenhos, no existe
homogeneidade no que se refere a suas dimenses e sua diversidade.
g) Dentro do novo pluralismo religioso em nosso continen- te, no se
tem diferenciado suficientemente os cristos que pertencem a outras
igrejas ou comunidades eclesiais, tanto por sua doutrina como por
suas atitudes, dos que fazem parte da grande diversidade de grupos
cristos (in- clusive pseudo-cristos) que se tm instalado entre ns.
Isso porque no adequado englobar a todos em uma s categoria de
anlise. Muitas vezes no fcil o dilogo ecumnico com grupos cristos
que atacam a Igreja Cat- lica com insistncia. h) Reconhecemos que,
ocasionalmente, alguns catlicos se tm afastado do Evangelho, o qual
requer um estilo de vida mais simples, austero e solidrio, mais
fiel verdade e caridade, como tambm nos tem faltado valentia, per-
sistncia e docilidade graa de prosseguir, fiel Igreja
- 53. 58 CELAM de sempre, a renovao iniciada pelo Conclio
Vaticano II, impulsionada pelas Conferncias Gerais anteriores, e
para assegurar o rosto latino-americano e caribenho de nossa
Igreja. Reconhecemo-nos como comunidade de pobres pecadores,
mendicantes da misericrdia de Deus, congregada, reconciliada, unida
e enviada pela fora da Ressurreio de seu Filho e pela graa de
converso do Esprito Santo.
- 54. SEGUNDA PARTE A VIDA DE JESUS CRISTO NOS DISCPULOS
MISSIONRIOS