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Design Emocional: Aplicação em Redesenho de
Equipamento de Fisioterapia para Crianças
Emotion Design: Redesign of Application in Physicotherapy Equipment for Children
BOSCHETTI, Sandra Cristine; Bel.; Universidade Feevale.
sandra@feevale.br
GUANABARA, Andrea Seadi; Esp., Universidade Feevale.
andreag@feevale.br
Resumo
Este artigo identifica algumas necessidades apresentadas por crianças deficientes, em
especifico de causa neurológica. O estudo recai sobre a atividade fisioterápica e as possíveis
alterações em equipamentos, especificamente a barra paralela e a rampa com espaldar,
existentes com o objetivo de melhorar o seu uso. O conceito de Design Emocional apresenta-
se de forma essencial a proposta do novo equipamento, valendo-se do lúdico e das cores,
permitindo assim maior interesse e estímulo no uso do mesmo.
Palavras-chave: Crianças; fisioterapia; Design Emocional.
Abstract
This article identifies some needs presented by children with disabilities in specific
neurological cause. The study aims to physiotherapy activity and possible changes in
equipment, specifically the bar and the ramp parallel with backs, existing in order to improve
its use. The concept of Emotion Design presents itself in an essential way the proposed new
equipment, taking advantage of the playful and the colors, thus allowing greater interest and
encouragement in the use of it.
Keywords: Children; physiotherapy; Emotion Design.
Design Emocional: Aplicação em Redesenho de Equipamento de Fisioterapia para Crianças
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Introdução
A infância caracteriza-se por um período de aprendizado. Nesse a pessoa começa a se
observar como indivíduo, a compreender o mundo que o cerca e interagir com o mesmo, de
forma produtiva, saudável e educativa. Portanto, essa é uma fase essencial na constituição do
individuo, por isso a preocupação especial existente para com a mesma.
Crianças acometidas por patologias, ocasionalmente não tem a possibilidade de
conviver em ambientes que nutram suficientemente a necessidade de conhecimento peculiar
dessa fase. Para tanto, o objetivo desse artigo consiste em apresentar o redesenho de um
equipamento de fisioterapia, bem como as bases para o mesmo, que contemple além das
necessidades físicas, as de aprendizado inerentes a essas crianças.
O desenvolvimento de um equipamento infantil envolve uma série de aspectos. Estes
dizem respeito desde a associação do lúdico por sua importância no aprendizado e
desenvolvimento do indivíduo até questões técnicas de uso e fabricação do equipamento. As
crianças são em geral um público bastante exigente e sincero com relação as suas vontades e
impressões, isso porque possuem um lado emocional bastante aguçado e valem-se desse de
modo substancial para as suas escolhas.
A metodologia dessa pesquisa partiu da revisão bibliográfica sobre as áreas inerentes
ao tema, após foi realizada a análise de similares, análise antropométrica e pesquisa junto ao
público alvo.
Necessidades Especiais
Uma Realidade Mundial
Caracterizam-se por Necessidades Especiais, de uma forma geral, todos os indivíduos
que possuem algum tipo de limitação (deficiência), seja ela física ou mental, e que por isso
necessitam de atenção diferenciada.
O Censo Demográfico de 2000 contabilizou o universo de pessoas com deficiência no
Brasil, segundo o citado abaixo:
[...] deficiência mental (11,5%); tetraplegia, paraplegia ou hemiplegia (0,44%); falta
de um membro ou parte dele (5,32%); alguma dificuldade de enxergar (57,16%);
alguma dificuldade de ouvir (19%); alguma dificuldade de caminhar (22,7%);
grande dificuldade de enxergar; grande dificuldade de ouvir, grande dificuldade de
caminhar; incapaz de ouvir (0,68%); incapaz de caminhar (2,3%); incapaz de
enxergar (0,6%). (Neri et al, 2003. p. 14).
A mesma pesquisa apresentou ainda que a maior parcela da população que é atingida
por deficiências mais graves, o que, inclusive, em alguns casos leva à incapacidade funcional
do indivíduo, encontra-se na faixa etária de 0 a 4 anos, representando 57% dessa população.
(Neri et al, 2003. p. 23).
Através destas pesquisas observam-se dados relevantes no que diz respeito às
situações diárias enfrentadas por pessoas com necessidades especiais. E tais situações podem
ser resolvidas com o desenvolvimento de produtos, equipamentos e espaços que permitam a
melhoria de qualidade de vida.
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9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Infância e Lesões Neurológicas
Breve Panorama Bibliográfico
A infância, como período de desenvolvimento do indivíduo, foi subjudada durante
muito tempo, por diversos autores que resumiam a importância dessa somente pelo
desenvolvimento físico. Mrech (2008, p. 157) reforça essa afirmação ao dizer que “[...], o
infantil tem sido reduzido a uma mera etapa do desenvolvimento humano, com o
privilegiamento sobretudo do desenvolvimento físico”. A autora prossegue enfatizando o
quão mais importante se apresenta essa fase pois “[...] a criança é muito maior do que as
etapas de desenvolvimento estabelecidas para capturá-las”. (Mrech, 2008. p.157)
Galvão destaca a importância sobre esse desenvolvimento ao dizer que
[...] podemos identificar a existência de etapas claramente diferenciadas,
caracterizadas por um conjunto de necessidades e de interesses que lhes garantem
coerência e unidade. Sucedem-se numa ordem necessária, cada uma sendo a
preparação indispensável para o aparecimento das seguintes. (Galvão, 2002, p. 39)
Algumas crianças por serem acometidas por determinados tipos de patologias, aqui
especificamente neurológicas, acabam afastando-se de meios que nutram de forma satisfatória
a sua necessidade de conhecer para aprender. As lesões neurológicas mais comumente
observadas nos consultórios de fisioterapia, durante este estudo, são a Paralisia Cerebral (PC)
e a Síndrome de Down.
A Paralisia Cerebral segundo Hagberg, que teceu a definição aceita pela Sociedade
Internacional de Paralisia Cerebral em 1989, “[...] é o termo usado para designar um grupo de
desordens motoras, não progressivas, porém sujeitas a mudanças, resultante de uma lesão no
cérebro nos primeiros estágios do seu desenvolvimento”. (Souza, 1997, p. 5)
O indivíduo com Paralisia Cerebral apresenta muitas especificidades. Nelson (1994, p.
237) mostra que em geral o diagnóstico basicamente se refere à falta de oxigênio ou alguma
agressão relacionada ao cérebro, que ocorre no “período pré-natal (gestacional), peri-natal
(parto) ou pós-natal (após o nascimento)”. Salter (1985, apud Leite; Prado, 2004) confirma o
dito ao afirmar que a PC ocorre em “[...] qualquer condição que leve a uma anormalidade do
cérebro [...]”.
A Síndrome de Down, é um distúrbio genético, mas que também causa problemas
neurológicos no indivíduo. A Fundação Síndrome de Down (FSDOWN) define essa
Síndrome como “[...] um acidente genético, que ocorre ao acaso durante a divisão celular do
embrião. Na célula normal da espécie humana existem 46 cromossomos divididos em 23
pares. O indivíduo com Síndrome de Down possui 47 cromossomos, sendo o cromossomo
extra ligado ao par 21”. (FSDOWN, 2009)
A Síndrome de Down, portanto pode ser definida como a trissomia do cromossoma
21. Essa trissomia pode ocorrer de duas formas diferenciadas, no entanto, segundo Pueschel
(1996, p. 61) “independente do tipo, quer seja trissomia 21, translocação ou mosaicismo, é
sempre o cromossomo 21 o responsável pelos traços físicos e função intelectual limitada
observados na grande maioria das crianças com síndrome de Down”.
A utilização de artefatos auxiliares no momento de aquisição da marcha é bastante
comum nessas crianças, utilizando esses por bastante tempo até a marcha independente,
quando esta se tornar possível. Por estes motivos, correção postural e aquisição de
independência da marcha, é que a estimulação e as atividades terapêuticas corretas fazem-se
tão importantes nesse desenvolvimento.
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Fisioterapia
Fisioterapia Neurológica na Habilitação de Indivíduos
No que tange às crianças com lesões cerebrais, o tratamento realizado ocorre através
de um grupo de profissionais envolvidos: psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos,
nutricionistas, professores, médicos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, entre outros.
Isso é importante à medida que a criança tem a necessidade de ser integrada à sociedade. A
fisioterapia neurológica ou fisioterapia neurofuncional, aborda de forma eficaz os aspectos
ligados à motricidade dessas crianças. Esta a área da fisioterapia tem o objetivo do [...]estudo, diagnóstico e tratamento de distúrbios neurológicos que envolvam as
funções neuromotoras [...]. A fisioterapia neurofuncional induz ações terapêuticas
para recuperação de funções, entre elas a coordenação motora, a força, o equilíbrio e
a coordenação. A terapêutica em fisioterapia neurológica baseia-se em exercícios
que promovam a restauração de funções motoras, de forma a resolver deficiências
motrizes e aperfeiçoar padrões motores, [...]. (SAÚDE BRASIL, 2009).
O amparo que essa terapia oferece é essencial para o bom desenvolvimento do
indivíduo afetado pela patologia. As crianças com a Paralisia Cerebral e Síndrome de Down,
beneficiam-se desta de forma bastante ampla. A melhora da motricidade desse público é uma
das principais características observadas. A aquisição do equilíbrio e o aprendizado da marcha
são itens fundamentais para a melhora na qualidade de vida dos mesmos, e essas podem ser
alcançadas, levando em conta o nível da patologia e a aplicação das técnicas apropriadas.
Design Emocional
Emprego do Conceito Através do Brincar-Lúdico e das Cores
A emoção é algo inerente ao ser humano. Esse é o sentimento que o move, auxilia na
tomada de decisões e em alguns casos é determinante destas. Damásio confirma isso ao dizer
que
Sem exceção, homens e mulheres de todas as idades, culturas, níveis de instrução e
econômicos têm emoções, atentam para as emoções dos outros, cultivam
passatempos que manipulam suas emoções e em grande medida governam suas
vidas buscando uma emoção, a felicidade, e procurando evitar emoções
desagradáveis. (Damásio, 2000, p. 55)
De acordo com Damásio (2000), a emoção é algo onipresente, faz parte da tomada de
decisões, mesmo sob influência da razão. Possivelmente, seja essa a chave para a eficácia do
Design Emocional. Iida e Mühlenberg (2006) confirmam essa importância ao afirmar que o
uso das emoções tem interessado cada vez mais os designers devido a grande importância que
essas têm sobre as escolhas. Enfatizam ainda, que na maior parte das vezes elas sobressaem-
se aos aspectos racionais dessa.
Com o objetivo de explicar a aplicação das emoções ao design Normann divide as
mesmas de acordo com três níveis de processamento cerebral: visceral, comportamental e
reflexivo. Posteriormente ele associa de forma bastante clara esses a características do objeto:
“Design visceral > aparência; Design comportamental > prazer e afetividade do uso; Design
reflexivo > auto-imagem, satisfação pessoal, lembranças”. (Normann, 2008, p. 59)
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Verifica-se através do uso do estudo sobre o Design Emocional que esse apresenta
grande eficácia, tanto sobre o poder que exerce para à aquisição do produto quanto no
objetivo de tornar, com os estudos realizados, o uso do mesmo mais fácil.
A utilização do conceito de design emocional no trabalho apresentado auxiliará de
forma importante a questão da atratividade desse público, além de facilitar o uso do
equipamento tornando-o mais eficaz.
Assim como a emoção, o brincar é algo próprio do ser humano. O brincar e o lúdico
apresentam-se como preparatório para as posteriores situações cotidianas da vida adulta.
(Dantas, 2008, p. 115-118).
A questão do brincar e/ou lúdico constitui-se como essencial no desenvolvimento de
qualquer criança, seja ela deficiente ou não. Essas ações refletem um aprendizado importante
para a vida. No caso das crianças deficientes, pode servir inclusive como um estímulo para o
melhor desenvolvimento de alguns aspectos que a algumas crianças são inatas e a essas há
necessidade maior de estimulação, como o sentar, o andar, o falar, entre outros.
As cores também influenciam na emoção, visto que essas envolvem e estimulam o
indivíduo, física e psicologicamente. Farina et al destaca influência das cores para com o ser
humano e os efeitos que as mesmas têm sobre o cotidianos desses ao dizer que
As cores influenciam o ser humano em seus efeitos, tanto em caráter fisiológico
como psicológico, intervém em nossa vida, criando alegria ou tristeza, exaltação ou
depressão, atividade ou passividade, calor ou frio, equilíbrio ou desequilíbrio, ordem
ou desordem etc. As cores podem produzir impressões, sensações e reflexos
sensoriais de grande importância, porque cada uma delas tem uma vibração
determinada em nossos sentidos e pode atuar como estimulante ou perturbador na
emoção, na consciência e em nossos impulsos e desejos. (Farina et al, 2006, p. 2)
Portanto, verifica-se que diversas são as aplicações das cores e sua eficácia no uso,
inclusive terapêutico. Elas podem trazer sensações diferenciadas de acordo com o ambiente
em que está inserido, ou do histórico de vida da pessoa que entra em contato com elas. Isso
ocorre porque além das mudanças fisiológicas que a cor exerce, essa possui um impacto
psicológico muito forte.
Análise de Similares
Com o objetivo de aprofundamento a cerca dos equipamentos de fisioterapia foram
realizadas análises de similares. A partir de matrizes de avaliação foram analisados 5
equipamentos similares (fig. 1 a 5), entre barras paralelas e rampas com espaldar e os itens
mais importantes dessas análises são aqui referenciados.
Fonte: Autoras
Figura 1 – Similar 1 (Barra Paralela)
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Fonte: Autoras
Figura 2 – Similar 2 (Barra Paralela)
Fonte: Autoras
Figura 3 – Similar 3 (Rampa com Espaldar em “L”)
Fonte: Multimed.
Figura 4 – Similar 4 (Barra Paralela)
Fonte: Multimed.
Figura 5 – Similar 5 (Rampa com Espaldar)
- Análise Estrutural: empregam quantidade excessiva de componentes na produção, o
que dificulta os processos de montagem e desmontagem. Os materiais utilizados na confecção
dos equipamentos são: o metal e o MDF; e nos revestimentos: o polímero e o não-tecido.
Possui alto ciclo de vida já que esses são construídos em materiais resistentes, não ficam
expostos a intempéries e apresentam baixo nível de vandalismo, devido o monitoramento do
uso.
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- Análise Funcional: os similares 1, 2 e 4 (fig. 1, 2 e 4) possuem regulagens nas barras,
sendo: de a altura no similar 1, 2 e 4 (fig. 1, 2 e 4) e largura no similar 1 e 4 (fig. 1 e 4),
permitindo maior adaptabilidade do usuário. A confiabilidade é alta, pois são confeccionados
em materiais resistentes. Possui alta versatilidade para os similares 1 e 4 (fig. 1 e 4), visto que
esses são os únicos que permitem duas regulagens (largura e altura), o similar 2 (fig. 2)
apresenta versatilidade média já que possui somente uma regulagem (altura), já os similares 3
e 5 (fig. 3 e 5) avaliação mínima, por não terem regulagem. Com relação ao acabamento todos
os equipamentos obtiveram avaliação máxima, pois todos contêm superfícies antiderrapantes
sejam poliméricas nos similares 1, 2 e 4 (fig. 1, 2 e 4) ou não-tecido nos similares 3 e 5 (fig. 3
e 5). A reciclagem do produto pode ser realizada após a desmontagem e separação dos
materiais. No entanto, nos similares 1, 2, 3 e 5 (fig. 1, 2, 3 e 5) essa é mais difícil devido as
aplicações das superfícies antiderrapantes serem feitas com cola gerando resíduo e com isso
diminuindo o nível de reciclagem para médio. O similar 4 (fig. 4) por não usar cola apresenta
nível máximo de reciclagem.
- Análise Ergonômica: a praticidade e a conveniência no uso dos equipamentos foi
avaliado da mesma forma, sendo o maior grau obtido o médio para os similares 1 e 4 (fig. 1 e
4), uma vez que são os únicos que apresentam regulagem de largura e altura. A segurança, a
manutenção e o reparo apresentaram avaliação máxima para todos os similares, visto que são
confeccionados em materiais resistentes, são protegidos de intempéries, vandalismo e são
utilizados com monitoramento.
Análise Antropométrica
Para a análise antropométrica foram observadas as atividades de fisioterapia de dois
usuários do sexo masculino, sendo um deles de 2 anos de idade e 88 cm de altura e o outro de
12 anos de idade e 148 cm de altura.
As fontes para as medicas ideais foram os autores Tilley (2005, p. 2-3, 7, 16, 17, 38) e
Panero e Zelnik (2002, p. 115, 116). Através desses foi possível coletar as medidas
antropométricas estáticas específicas ao público infantil, com relação as medidas
antropométricas dinâmicas e ângulos de conforto não foram encontrados os mesmos com
relação específica ao público infantil. Portanto, as medidas utilizadas serão de acordo com o
público adulto, visto que essas medidas são basicamente as mesmas, as mudanças severas
ocorrem no que tange as medidas e alcances tendo em vista daí as medidas corporais.
Com relação ao percentil 5, no uso da barra paralela, pode-se observar através da
imagem abaixo (fig. 6) os ângulos com relação à intersecção entre o antebraço e o braço e,
especificamente, no caso do braço direito a movimentação de punho também pode ser
observada. Com relação ao braço direito o ângulo máximo de abertura confortável para o lado
interno do braço é 90º, estando esse, portanto em uma posição adequada. Ainda no braço
direito percebe-se a elevação do braço com relação ao ombro que está em 75º, bastante
próximo ao limite de 90º, tendo em vista o público apresentado é necessária intervenção no
sentido de diminuição desse ângulo. Com relação à extensão observada no braço esquerdo,
essa é uma posição que segundo as indicações é neutra e trata-se do ângulo máximo de
extensão. Ainda no braço direito pode-se observar a rotação entre braço e o punho, essa
ocorrendo para o lado interno em 44º, estando dentro da área de conforto que segundo Tilley
(2005) para esse caso é 45º.
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Fonte: Autoras
Figura 6 – Uso da barra paralela percentil 5
A próxima imagem (fig. 7) trata-se da análise do percentil 5 com relação ao uso da
rampa com espaldar, percebe-se que o ângulo entre a coxa e a perna no momento de subida de
escada é de 81º, estando portanto dentro das medidas ideais, segundo apresentado por Tilley
(2005) é de 85º de flexão.
Fonte: Autoras
Figura 7 – Uso da rampa com espaldar percentil 5
A análise do percentil 95 foi realizada somente no uso da barra paralela não houve
viabilidade de análise do uso da rampa com espaldar. Neste caso, pode ser observada na
imagem abaixo (fig. 8) ângulos com relação a movimentação do punho, no braço direito, e da
relação entre o tronco e o braço esquerdo. Tilley (2005) diz que o ideal da movimentação do
punho para parte interna é de até 45º e externa até 25º, estando a imagem apresentada com a
rotação de punho fora da área de conforto em 42º e por isso necessária intervenção. Com
relação à movimentação do braço que se encontra em abdução, Panero e Zelnik (2002) dizem
que o limite para este é de 90º encontram-se, portanto o uso dentro do ângulo de conforto,
pois este é de 55º.
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Fonte: Autoras
Figura 8 – Uso da barra paralela percentil 95
Com relação às medidas antropométricas básicas foram utilizadas referências de Tilley
(2005, p. 2, 3, 7) e para tanto geradas as informações com relação a altura e largura, mínimas
e máximas, das barras e da escada para o percentil 5 (tabela 1) e 95 (tabela 2).
Tabela 1 – Medidas antropométricas estáticas: percentil 5
Peça Medida Referência
(distância)
Dimensões
Degrau Altura Chão – pé (joelho em
flexão 90º)
81 mm
Largura Linha da coluna – pé 219 mm
Barra Altura Chão – braço
(antebraço em flexão
90º)
385 mm
Largura Ombro – palma da
mão
369 mm
Fonte: adaptado de Tilley (2005, p. 2-3)
Tabela 2 – Medidas antropométricas estáticas: percentil 95
Peça Medida Referência
(distância)
Dimensões
Degrau Altura Chão – pé (joelho em
flexão 90º)
341 mm
Largura Linha da coluna - pé 500 mm
Barra Altura Chão – braço
(antebraço em flexão
90º)
913 mm
Largura Ombro – palma da
mão
620 mm
Fonte: adaptado de Tilley (2005, p. 7)
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Análise com o Público Alvo
A pesquisa realizada teve caráter quantitativo. O questionário é composto por 16
questões objetivas, sendo 4 de múltipla escolha, foi aplicado aos responsáveis de crianças que
façam fisioterapia e tenham até 12 anos. Devido à especificidade do público a ser pesquisado
foram obtidos retorno de 53 indivíduos, sendo aplicados via internet, com a publicação de
questionário em comunidades específicas no Orkut, blogs da área da saúde, além da aplicação
em clínicas de fisioterapia e instituições de apoio a essas crianças.
Do universo de perguntas realizadas na pesquisa quatro foram essenciais e norteadoras
no desenvolvimento do trabalho, pois referiam-se a faixa etária de início da fisioterapia, a
utilização dos equipamentos estudados bem como a eficácia dos mesmos e as características
que segundo o usuário melhorariam o seu uso. Através destas pode-se constatar que o início
da fisioterapia, em geral, começa muito cedo, antes dos 2 anos de idade (68%), o que leva a
crer que isso ocorra imediatamente após o diagnóstico da patologia, também que a barra
paralela é um equipamento bastante usado por esses pacientes (42%), mas que há um número
considerável (30%) que faz uso dos dois e que com relação a eficácia do uso desses
equipamentos encontram-se satisfeitos (63%) pelo nível de melhora apresentado. No que diz
respeito aos anseios por melhorias do novo equipamento a maioria optou pela mudança de
cores (25%) e pela aplicação de brincadeiras no mesmo (22%)
Através das pesquisas realizadas pode-se chegar a um universo próprio do público
alvo, vislumbrando seu histórico, seus desejos e suas expectativas.
Seleção de Materiais
Com relação a seleção dos materiais, a escolha recaiu sobre os polímeros, foi realizada
para tanto uma pré-seleção desses materiais, essa englobou o polipropileno (PP), poliestireno
de alto impacto (PSAI), o policloreto de vinila (PVC), a acrilonitrila butadieno estireno
(ABS), o polimetacrilato de metila (PMMA), a poliamida (PA) e o policarbonato (PC). No
entanto, levando em consideração a necessidade de maior eficácia e precisão na escolha
destes, foi realizado um estudo com base em informações apresentadas por Ashby (2007) e
com auxilio de fichas técnicas dos materiais propostos, foram gerados os gráficos
apresentados a seguir
O primeiro gráfico gerado para essa seleção (fig. 9) utiliza uma relação em Módulo de
Young e Preço, uma vez que esses são dois aspectos essenciais na elaboração deste produto.
Uma vez que o primeiro relaciona-se a resistência do material e o segundo irá interferir no
preço final do equipamento.
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Fonte: adaptado de Ashby (2007)
Figura 9 – Polímeros: Preço X Módulo de Young
Conforme o gráfico acima (fig. 9) pode-se observar que no geral esses materiais
encontram-se em uma mesma zona de resistência e valores, no entanto, o policloreto de vinila
(PVC), o polimetacrilato de metila (PMMA) e a poliamida (PA) são os que apresentam
melhores desempenho com relação a resistência. A partir desse mesmo gráfico pode-se ainda
perceber que o material que apresentou melhor relação custo – benefício de acordo com os
índices demonstrados foi o policloreto de vinila (PVC). Além disso, o segundo gráfico (fig.
10) constata ainda que esse apresenta menor emissão de CO2 se comparado aos outros
polímeros, dando especial atenção aos de maior resistência mencionados anteriormente.
Fonte: adaptado de Ashby (2007)
Figura 10 – Polímeros: Módulo de Young X Emissão de CO2
Para tanto, observando a relação entre a resistência e custo do material a ser utilizado
para o desenvolvimento deste produto, o PVC apresenta-se como a melhor opção. Além das
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características apresentadas demonstra também o menor índice de emissão de CO2 em sua
produção, se comparado aos outros polímeros pré-selecionados, e alta taxa de reciclabilidade.
Resultados
Renders e Mockup
O resultado apresentado, objetiva permitir um local de fisioterapia mais alegre,
estimulante e educativo para esse público que divide seu tempo em diversos espaços médico-
hospitalares. As cores visam estimular a prática da fisioterapia, o equipamento pretende
permitir um ambiente agradável e divertido. As brincadeiras são uma solução importante,
tanto para questão da atratividade como pela questão de estímulo intelectual (fig. 13-17). As
adaptações antropométricas bem como o material empregado visam aumentar o conforto do
usuário, e por fim, a associação dos dois equipamentos permite que mesmo clínicas de
fisioterapia com espaços mais restritos disponham dos benefícios pertinentes a cada um deles.
Fonte: Autora Sandra
Figura 11 – Render barra paralela
Fonte: Autora Sandra
Figura 12 – Render rampa
Através da rotação da plataforma de suporte a barra paralela (fig. 11) vira a rampa (fig.
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12), os encaixes que sustentam o painel na barra, passam a abrigar a escada na rampa.
Fonte: Autora Sandra
Figura 13 – Render brinquedo: encaixe de formas
Fonte: Autora Sandra
Figura 14 – Render brinquedo: associação de sensações
Fonte: Autora Sandra
Figura 15 – Render brinquedo: associação de imagens
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Fonte: Autora Sandra
Figura 16 – Render brinquedo: associação de quantidades
Fonte: Autora Sandra
Figura 17 – Render brinquedo: associação de palavras
Fonte: Autora Sandra
Figura 18 – Detalhe encaixe
Os enxertos, as barras verticais e horizontais utilizam-se do mesmo sistema de fixação
apresentado no encaixe acima (fig. 18).
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Com a finalidade de comprovação do funcionamento dos sistemas de encaixe e
rotação da plataforma foi confeccionado um mockup em escala 1:2 (fig. 19 e 20), devido a
complexidade da confecção do mesmo em material polimérico esse foi feito em MDF, apesar
disso foi possível a realização de testes bem como a confirmação de que o sistema de encaixes
escolhido e projeto é funcional.
Fonte: Autora Sandra
Figura 19 – Mockup: barra
Fonte: Autora Sandra
Figura 20 – Mockup: rampa
Considerações Finais
Através do desenvolvimento do projeto apresentado nesse artigo constata-se que
pouco é feito, em termos de produtos específicos para crianças com necessidades especiais.
Por isso a relevância do desenvolvimento de um projeto que vise à melhoria na qualidade da
atividade de fisioterapia desse público.
No seu desenvolvimento levaram-se em conta questões essenciais a essas crianças,
como as adaptações antropométricas do equipamento, além das suas necessidades cognitivas,
associando ao redesenho deste produto o Design Emocional.
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A complexidade deste projeto não habitou, somente, na necessidade de adaptação
ergonômica, mas sim na necessidade de atrair o público alvo. Além disso, a proposta da
associação de dois equipamentos em um só demandou diversos experimentos e pesquisa, com
relação aos mecanismos de elevação e encaixe, para que esses fossem facilmente
manipuláveis pelo fisioterapeuta.
Apesar de todos os desafios apresentados, acredita-se que o redesenho desse
equipamento corresponde de forma eficaz as necessidades pesquisadas e constatadas. A
utilização de cores, regulagens e do lúdico foram o ponto alto do projeto. Conclui-se, por fim,
que é possível o desenvolvimento de produtos diferenciados para o público apresentado, onde
esses possam associar os cuidados físicos as suas necessidades cognitivas.
Referências
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Propriedades, Aplicações e Projeto. Rio de Janeiro: Editora Elsevier Editora Ltda, 2007.
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GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil.
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