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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR Vice-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – VRPPG Programa de Pós-Graduação em Psicologia Mestrado em Psicologia
REBECA CAVALCANTE FONTGALLAND
A Experiência de Ser Empático para o Psicoterapeuta Humanista-Fenomenológico Iniciante
The experience of being empathetic to the beginner humanistic-phenomenological psychotherapist
Fortaleza – CE 2011
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REBECA CAVALCANTE FONTGALLAND
A EXPERIÊNCIA DE SER EMPÁTICO PARA O PSICOTERAPEUTA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICO
INICIANTE
The experience of being empathetic to the beginner humanistic-phenomenological psychotherapist
Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza – UNIFOR, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Psicologia. Linha de Pesquisa: Produção e Expressão Sociocultural da Subjetividade. Projeto de Pesquisa: Fenomenologia Crítica do Adoecer: Estudos em Psicopatologia e Psicoterapia. Orientadora: Profª Drª Virginia Moreira.
Fortaleza – CE 2011
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Ao meu amado companheiro, Carlos Irlando Moreira, por
acreditar e confiar no meu potencial.
Ao meu pai, Gladstone Fontgalland, pela generosidade.
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AGRADECIMENTOS
A Deus e Nossa Senhora por todas as graças recebidas.
Ao meu companheiro, Carlos Irlando Moreira, por estar junto comigo nessa
jornada, contribuindo com seu conhecimento, pela compreensão, generosidade e
paciência.
Ao meu pai, Gladstone Fontgalland, por me propiciar mais essa conquista.
A minha família, pela força que me deram para crescer e voar.
A Profa. Dra. Virginia Moreira, por me aceitar em seu grupo de trabalho e
estar do meu lado atenciosamente.
Aos membros da banca examinadora Profa. Dra. Marcia Tassinari e Prof. Dr.
Francisco Cavalcante Junior, por disponibilizarem seu tempo a esta pesquisa.
A Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Psicologia.
A Profa. Ms. Anna Karynne Melo, pela ajuda importantíssima na elaboração
desta dissertação.
As minhas amigas, por ordem alfabética, pela amizade conquistada no
período de mestrado, Benedita Francisca Alves, Ivanda Séfora Medina e Neyliane
Sales Chaves Onofre.
Aos sujeitos colaboradores desta pesquisa, que se prontificaram em ajudar.
Aos professores e integrantes do Laboratório de Psicopatologia e Psicoterapia
Humanista Fenomenológica Crítica – APHETO, que colaboraram.
A Jéssica Marques, pela presença e colaboração no início da pesquisa.
Ao secretário do mestrado Daniel Padilla, pelas informações e atenção.
A Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico
– FUNCAP, pelo apoio financeiro.
E a todos que contribuíram para elaboração desta dissertação.
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RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo compreender a experiência de ser empático para o psicoterapeuta humanista-fenomenológico iniciante. Foi realizada uma pesquisa qualitativa de cunho fenomenológico, onde foram entrevistados 25 psicoterapeutas iniciantes, em prática supervisionada clínica no Serviço de Psicologia Aplicada – SPA, do Núcleo de Atendimento Médico Integrado – NAMI, partindo da pergunta disparadora: Como é para você ser empático com seus clientes? Em seguida, foi feita uma análise fenomenológica mundana, tal como proposta por Moreira (2009b), baseada na fenomenologia de Merleau-Ponty. Os depoimentos revelaram que: a experiência vivida de ser empático para os psicoterapeutas iniciantes, consiste na base fundamental para que o processo psicoterapêutico ocorra, podendo ser utilizada como um instrumento que facilita a relação, e que um ouvir e ver fenomenológicos sem criticar e um ambiente propício possibilitam que o cliente sinta-se à vontade em expressar suas dificuldades. A construção da empatia é algo que surge paulatinamente e naturalmente, permitindo que o terapeuta aproxime-se de seu cliente, acolhendo o seu sofrimento. Essa construção pôde surgir quando os entrevistados puderam estabelecer um vínculo nas relações com o cliente. Ser empático surgiu como sendo está em uníssono com o cliente, em completa sintonia, pois permite ao terapeuta compreender o mundo do cliente, sua experiência vivida. Mas, ao mesmo tempo em que existe essa sintonia, a mesma não pode ser confundida com identificação emocional, o que levou muitos entrevistados a terem a necessidade de ir à psicoterapia “trabalhar” questões pessoais, como forma de estarem genuinamente nas sessões com seus clientes, sem deixar que seus problemas pessoais interfiram na relação. E isso foi possível na medida em que puderam ter suas demandas trabalhadas e suspendidas no momento das sessões com os clientes. A importância do conhecimento teórico, acerca das condições facilitadoras, principalmente a empatia, apresentou-se como sendo algo a ser mais explorado tanto pelas faculdades e universidades, quanto pelos próprios psicoterapeutas, pois a mesma está intimamente ligada ao sucesso da terapia. Essa consciência teórica permite, no caso da compreensão empática, que o terapeuta tenha noção dos limites de ser empático, compreendendo a condição de “como se” e o “voltar para si”, saindo do mundo do cliente. Portanto, conclui-se que a experiência de ser empático apresenta-se para o psicoterapeuta como algo a ser construído a cada sessão, e que consiste em um processo de aprendizado significativo na vida do psicoterapeuta. Palavras-chave: Empatia; Carl Rogers; Psicoterapeuta Humanista-Fenomenológico; Análise Fenomenológica.
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ABSTRACT
This research has as its objective to comprehend the experience of being empathetic to the beginner humanistic-phenomenological psychotherapist. We conducted a qualitative study of a phenomenological, where they were interviewed 25 novice psychotherapist in supervised clinical practice in the Department of Applied Psychology – SPA, the Center for Integrated Medical Care – NAMI, starting from the starter question: How is for you to be empathetic with their patients? Then, there was a worldly phenomenological analysis, as proposed by Moreira (2009b), based on the Merleau-Ponty’s Phenomenology. The interviews revealed that: the experience lived of being empathetic to the beginners psychotherapists, is the fundamental basis for the psychotherapeutic process to occur, can be used as an instrument to facilitate the relationship, and that a hearing and seeing no phenomenological critique and an environment conducive enable clients to feel comfortable in expressing their difficulties. The construction of empathy is something that comes naturally and gradually, allowing the therapist to move closer to his client, accepting their suffering. This construction could arise when respondents were able to link in customer relations. Emerged as being empathetic is in unison with the patient (client) is completely in tune, because it allows the therapist to understand the client’s world, his experience. But while there’s this line, it can’t be confused with emotional identification, which led many respondents to have the need to go to psychotherapy “work” personal issues, in order to be genuinely in sessions with clients without letting their personal problems interfere with the relationship. It was possible as it might have worked their demands and suspended at the time of the sessions with clients. The importance of theoretical knowledge about facilitating conditions, especially empathy, presented himself as something to be further explored by both colleges and universities, the psychotherapists themselves, because it is closely linked to the success of therapy. This allows theoretical consciousness, in the case of empathic understanding, the therapist is aware of the limits to be empathetic, understanding the condition of “as if” and “come back to you”, leaving the client’s world. Therefore, it is concluded that the experience has to be empathetic to the psychotherapist as something to be built each session, which consists of a process of meaningful learning in the psychotherapist’s life. Keywords: Empathy; Carl Rogers; humanistic-phenomenological psychotherapist; phenomenological analysis.
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SUMÁRIO INTRODUÇÃO.........................................................................................................................8 OBJETIVOS...........................................................................................................................19 1 CARL R. ROGERS E AS CONDIÇÕES FACILITADORAS……………..............................20
1.1 Vida e Obra de Carl Ramson Rogers (1902-1987).................................................20
1.2 Condições Facilitadoras..........................................................................................27 2 O CONCEITO DE EMPATIA NO PENSAMENTO DE CARL R. ROGERS.........................34
2.1 A Ideia Embrionária no Pensamento de Carl Rogers?….…………………..............34
2.2 Fase Não-Diretiva (1940-1950)...............................................................................36
2.2.1 Evolução da Ideia Embrionária......................................................................39
2.3 Fase Reflexiva (1950-1957)....................................................................................43
2.3.1 Surge o Conceito de Empatia na Fase Reflexiva..........................................44
2.4 Fase Experiencial (1957-1970)...............................................................................51
2.4.1 O Conceito de Empatia na Fase Experiencial...............................................53
2.4.2 A Compreensão Empática.............................................................................59
2.5 Fase Inter-Humana ou Coletiva (1970-1985)..........................................................71
2.5.1 O Conceito de Empatia na Fase Inter-Humana ou Coletiva.........................73 3 O CONCEITO DE EMPATIA NA FASE PÓS-ROGERIANA OU NEO-ROGERIANA (1987-atual)......................................................................................................................................86
3.1 A Vertente Humanista-Fenomenológica..................................................................93
3.2 Empatia e Lebenswelt na Vertente Humanista-Fenomenológica..........................105 4 PSICOTERAPEUTA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICO INICIANTE............................110 5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.........................................................................116
5.1 A Pesquisa Qualitativa Fenomenológica...............................................................116
5.2 O Método Fenomenológico Mundano...................................................................117
5.3 O Local da Pesquisa.............................................................................................121
5.4 Os Sujeitos Colaboradores da Pesquisa..............................................................122
5.5 Instrumento de Pesquisa: Entrevista Fenomenológica.........................................123
5.6 Análise Fenomenológica Mundana.......................................................................124
6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS...............................................................126 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................148 REFERÊNCIAS....................................................................................................................151 ANEXOS...............................................................................................................................157
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INTRODUÇÃO
Como psicoterapeuta iniciante guiada pela vertente humanista-
fenomenológica desde a época da graduação, questiono-me como o psicoterapeuta
iniciante depara-se com a forma de lidar com o outro dentro de um ambiente
terapêutico. Ao entrar para essa prática clínica, surgem muitos medos e dúvidas em
saber como interagir com o cliente, como será o primeiro contato, a primeira sessão
terapêutica, se o cliente vai aparecer, ou se vai criar comigo um vínculo terapêutico.
Não é fácil para um psicoterapeuta iniciante lidar, em alguns momentos, por vezes
inéditos, com determinadas atitudes do cliente ou nossas, ao nos depararmos com
esse outro que está a nossa frente pedindo ajuda, achando muitas vezes que vamos
dizer o que devem fazer, o que não é o nosso papel, mas sim de facilitadores.
Os psicoterapeutas iniciantes, a que me refiro e me questiono aqui, os quais
Kinget (1965/1977) nomeia terapeutas-estagiários e Moreira (2009b) de
psicoterapeuta supervisionando ou psicoterapeuta aprendiz, nesta pesquisa são
aqueles que já começaram a prática de formação clínica através do estágio
supervisionado em psicologia clínica I, II e III, na clínica-escola do Serviço de
Psicologia Aplicada – SPA, do Núcleo de Atendimento Médico Integrado – NAMI, da
Universidade de Fortaleza – UNIFOR, os quais estão sob supervisão clínica de
professores que têm como abordagem, a humanista-fenomenológica.
Esses psicoterapeutas, que estão no início de sua carreira profissional,
mesmo que ainda como aprendizes na clínica-escola, são os que escolheram seguir
o caminho do humanismo e tomam como base teórica e prática os pressupostos
humanistas e fenomenológicos, para se nortearem em sua trajetória como
psicoterapeutas diante do fenômeno que se apresenta. Ao pensar na relação
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terapêutica estabelecida entre cliente e psicoterapeuta humanista-fenomenológico
iniciante, identifiquei como sendo importante para o desenvolvimento dessa
pesquisa, o estudo da empatia como uma dessas atitudes fundamentais da prática
psicoterápica. Como será que esse psicoterapeuta humanista-fenomenológico
iniciante compreende o que é ser empático com seu cliente? O que é ser empático
para esse psicoterapeuta iniciante? A partir de que momento ele percebe isso nessa
relação?
O termo teve sua origem na linguagem grega – empatheia (de em + pathos,
estado de alma), na qual em significa dentro e pathos significa paixão, sofrimento.
Empatia consiste em estar dentro do sofrimento, da alegria do outro, é experienciar
esses sentimentos dentro da perspectiva do outro. Essa ideia grega de dentro (em)
do sofrimento, da paixão do outro, me possibilitou ter uma ideia inicial do que seja
empatia.
Empatia está descrita, em alguns dos dicionários de língua portuguesa, como
sinônimo de simpatia ou como uma afinidade e/ou tendência natural de uma pessoa
para com a outra. Ser empático em quase todas essas fontes seria essa “tendência
para sentir o mesmo que outra pessoa” (Melhoramentos, 2002, p. 182). Tal como
Ferreira (1988/2008) que define empatia como a “tendência para sentir o que sentiria
caso estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa” (p.
241).
Na Encyclopédia Britannica do Brasil (1975/1987) empatia é definida como
sendo (em+pato+ia)
uma projeção imaginária ou mental de um estado subjetivo, quer afetivo, quer
conato ou cognitivo, nos elementos de uma obra de arte ou de um objeto
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natural, de modo que estes parecem imbuídos dele. Na psicanálise, estado de
espírito no qual uma pessoa se identifica com outra, presumindo sentir o que
está sentindo (p. 655).
Os dicionários de língua portuguesa, basicamente, definem a empatia como
essa capacidade de se colocar no lugar do outro, mas com uma tendência à
identificação. O que Rogers enfatiza, posteriormente, a não-identificação como
fundamental em empatia. Tal como veremos adiante, essa não identificação
corresponde à identificação emocional que difere da identificação empática.
Empatia, dentro de uma perspectiva psicológica, seria para Calderelli (1972)
uma
forma de manifestação de estados emocionais no qual se estabelece uma
espécie de comunhão afetiva entre duas pessoas, as quais identificam-se
uma com a outra e de tal maneira que chegam a ter os mesmos sentimentos.
Em outras palavras: é sentir a mesma emoção que está sendo expressa por
outra pessoa. Por exemplo: sentir alegria quando a outra pessoa mostra
sinais de alegria (pp. 234-235).
Aqui, o autor coloca essas duas pessoas interagindo como se fossem uma só,
que a empatia aparece como uma espécie de simbiose, na qual cada uma sente o
que a outra está sentindo. Neste processo, a pessoa que está ouvindo, está mais do
que apenas ouvindo, está em um processo de identificação, como se estivesse no e
com o problema.
Numa perspectiva mais além da anterior, o conceito de empatia, do Dicionário
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de Psicologia Prática (1970), está definido como a
faculdade de experimentar os sentimentos e a conduta de outra pessoa. A
empatia, ou endopatia, diz respeito a uma vivência pelo qual quem a
experimenta se introduz numa situação alheia, real ou imaginária, objetiva ou
subjetiva, de tal modo que aparece como se estivesse dentro dela. A empatia
pode referir-se a toda espécie de situações, […]. Adquire grande importância,
do ponto de vista de compreensão do próximo. No entanto, isto não significa
que a pessoa que a vive se identifique afetivamente com o estado alheio. Um
desenvolvimento especial da empatia é bastante útil para os psicólogos e
psiquiatras, principalmente no início do relacionamento com o paciente (p.
187).
Diferentemente da definição anterior de Calderelli (1972), nessa a empatia já
é vista numa situação de “como se” e não de identificação, é como se estivesse
dentro da situação alheia. Podemos observar nesta definição, um aprofundamento
maior do que seja empatia, não colocando o sujeito empatizante como inteiramente
dentro do que o outro está sentindo, mas, sobretudo, que aquele que escuta não se
identifica afetivamente com o estado do sujeito que fala. É experimentar os
sentimentos e a conduta, e não vivê-las como sua.
Chaplin (1968/1981) define empatia, como sendo a “experiência dos
sentimentos de outra pessoa que se partilha numa comunhão efetiva […]” (p. 175).
Neste momento, ocorre uma comunicação verdadeira entre os envolvidos. É
experienciar os sentimentos do outro de forma real, pois quando estamos
verdadeiramente numa relação, podemos compreender o outro de forma mais
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significativa.
Pestona e Páscoa (1998) conceituam empatia, como sendo a “participação
afetiva no funcionamento psicológico do outro que permite captar a sua experiência
vivida […] este conceito está na base dos modelos teóricos que suportam as
terapias humanistas, a terapia centrada no cliente de Carl Rogers” (Pestona &
Páscoa, 1998, p.70). Este é o conceito que mais se aproximou das ideias
humanistas, principalmente a fenomenológica, uma vez que a empatia é vista como
o captar a experiência vivida do outro por meio do experienciar o mundo do cliente.
Poderíamos dizer que, a empatia transmitida pelo psicoterapeuta faz o cliente se
sentir mais seguro de si, pois sabe que tem outro que o compreende e não o julga.
Este outro procura transmitir ao cliente toda a sua compreensão acerca do que este
expressou. Essa transmissão é importante, porque ajuda ao cliente a ter novas
compreensões de si e do mundo.
Por empatia
entende-se a tentativa de reproduzir o comportamento alheio, com a
finalidade de compreender a outra pessoa. O caminho para a experiência é
primariamente por comunicação verbal, mas pode também ser por
espontânea expressão do sentimento. Em prática psicológica (terapia da
entrevista, orientação educacional, etc.) a empatia assume importância
considerável, […] (Arnold, Eysenck & Meili, 1982, pp. 457-458).
Podemos perceber que, é necessário percorrer juntamente com o cliente
todas as fases de seu sofrimento, que se dá primeiramente através da fala,
buscando assim compreender sua experiência vivida (Moreira, 2009b). É a partir do
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ouvir o que o cliente está falando, que o terapeuta pode caminhar adequadamente
ao lado de seu cliente por todo este processo. Rogers (1975/1977, 1980/2007) já
colocava a importância do ouvir em psicoterapia; para ele é uma escuta verdadeira
das “palavras, pensamentos, tonalidade dos sentimentos, significado pessoal, até o
significado que se subentende nas intenções conscientes do interlocutor”
(1980/2007, p. 5). Amatuzzi (1990) afirma que Rogers se refere a um ouvir mais do
que o natural, o ouvir o significado real. Além disso, ouvir, para Amatuzzi (1990), é
mais importante do que o falar, pois possibilita o abrir-se ao mundo e aos outros.
Essa condição empática, tão própria ao ser humano, é estudada há muito
tempo por vários estudiosos, inclusive fenomenólogos, dentre os quais está Edith
Stein (1917/2005), que procurou entender o que seria empatia em seu conceito
mesmo, na sua essência. Para tanto, investigou a definição anteriormente proposta
por Husserl (seu orientador) de Einfhülung, Lipps e outros estudiosos da época,
buscando a essência da empatia.
Stein se dedicou a analisar a essência dos atos de empatia utilizando-se do
método fenomenológico. Como problema fundamental de sua tese, a filósofa
reconheceu a empatia como a vivência que temos do outro. Ou seja, trata-se de
vivenciarmos a vivência do outro. Para ela existe um pressuposto básico sobre a
empatia: que “nos estão dados sujeitos alheios e suas vivências” (Stein, 1917/2005,
p.79). Nesta afirmação, Stein mostra que quando nos deparamos com o outro,
procurando empatizar-se com ele, estamos entrando em contato com suas
vivências. Assim, nesse momento, estão dados para nós: o outro e suas vivências.
Stein (1917/2005) afirma que a empatia acontece numa relação de um sujeito
próprio (que sou eu) com um sujeito alheio (o outro) constituídos em corpo, alma e
entre outros aspectos que estão envolvidos neste processo. Para ela, a minha
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vivência das coisas não pode ser submetida a dúvidas, uma vez que estou nesse
vivenciar, e estou somente nele, como se estivesse no vivenciar mesmo. Como se
estivesse vivenciando de fato a vivência do outro.
Conforme Stein (1917/2005), o vivenciar do outro é apreendido por meio da
empatia, como podemos observar nesta citação: “todos estes dados do vivenciar
alheio remetem a um tipo fundamental de atos dos quais este vivenciar é apreendido
e que agora, prescindindo de todas as tradições históricas que tem apego a palavra,
designaremos como empatia.” (p. 82). A essência do ato empático, descrito pela
fenomenóloga, é o que o notar mesmo é, o que eu estou notando do que o outro
está me trazendo, e não qual caminho realizado até esse notar. Ela não pretende
descrever todas as fases do que o outro está sentindo, mas demonstrar que a
empatia é esse vivenciar o que o outro está sentindo, não importando qual seja o
sentimento expresso ou quem seja esse outro.
A empatia descrita como a experiência da consciência do outro, não está
interessada em qual sujeito tem essa experiência, mas que tenha uma experiência.
É a experiência de um eu (eu enquanto empática), de outro eu (o outro empatizado).
Desta forma, podemos apreender a vida anímica do outro (Stein, 1917/2005).
Quando Edith Stein (1917/2005) diz que a empatia não é vista como
originária, mas sim como “a vivência não-originária que manifesta uma originária” (p.
91), quer dizer, que a vivência que o outro tem é originária – verdadeira para ele –
mas no momento em que me empatizo com ele, essa vivência dele manifesta-se em
mim como se fosse igual à dele. O mundo do outro, que vejo por meio da empatia, é
existente para mim, tal como o percebido originariamente no outro. E, estes dois
mundos são vistos em perspectivas diferentes, embora sejam os mesmos.
Stein (1917/2005), também, traz a ideia da empatia vista como a
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compreensão de pessoas espirituais, mostrando que é nesse campo espiritual (a
razão) que a empatia se move. Pois, ao empatizar-me com o outro, ao apreender um
ato sentimental seu, estarei penetrando em seu reino do espírito (Stein, 1917/2005).
Esse espírito, é a parte que reflete, decide, avalia e está ligado aos atos da
compreensão, da decisão, da reflexão, do pensar. Por isso, Stein afirma que ao
empatizar com o outro espiritual, estou penetrando em seu mundo da razão.
A empatia sempre foi interesse de muitos filósofos e teóricos, que a
consideram como uma maneira de compreender o outro e de ter acesso a ele de
forma mais profunda e verdadeira. Alguns autores consideram a empatia como
sendo algo sempre positivo para o outro empatizado, o que muitas vezes pode não
acontecer. A sinceridade empática pode vir de forma negativa para o empatizado,
pois este pode não estar preparado, ainda, para entrar em contato com certos
detalhes de seu mundo vivido.
Heinz Kohut (1981), em uma palestra, falou sobre como as pessoas
entendiam o que era empatia. Para ele, as pessoas pensam que empatia cura, que
ser empático é necessário para que as pessoas fiquem boas. Kohut não acreditava
nisso. Segundo ele, não vemos o que está acontecendo no íntimo da pessoa. O que
fazemos para ter contato com esse íntimo é instruí-las a nos contar o que está se
passando.
De acordo com Kohut (1981),
se vocês compreendem a frase “ponha-se no lugar de”, vocês se imaginam
na vida interior de outra pessoa e então poderão usar esse conhecimento
para seus propósitos. Não sei quantas vezes enfatizei que esses propósitos
podem ser de bondade ou de hostilidade total. Se quiserem prejudicar alguém
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e quiserem saber qual seu ponto fraco, têm que conhecê-lo antes de acertá-
lo. Isso é muito importante. Quando os nazistas colocaram sirenes em seus
aviões bombardeiros, sabiam com empatia perversa que as pessoas no solo
reagiriam a isto com uma ansiedade destrutiva. Isto é empatia correta, mas
sem propósitos amigáveis. Certamente, no geral, pressupomos que quando
uma mãe cuida de seu filho, e quando um analista cuida de seu paciente, uma
empatia correta guiará corretamente as ações maternal e analítica. Portanto,
(a empatia) é catalisadora de uma ação apropriada, qualquer que sejam suas
intenções (pp. 5-6).
Ao mesmo tempo, Kohut (1981) mostra que a empatia serve a algo,
contradizendo o que ele disse, ela tem uma ação terapêutica. Isto é, se ela for usada
de forma bem-intencionada, mesmo com finalidades destrutivas, ela pode ser
positiva, sim, em uma ação terapêutica.
Kohut finaliza esse ensaio, Sobre a Empatia de 1981, alertando que sente a
responsabilidade de falar sobre o abuso que atribuem ao conceito de empatia. Para
ele, “vocês devem compreender o que empatia realmente é, nos diferentes níveis do
seu desenvolvimento” (p. 9).
Esse alerta, diz respeito às linhas de desenvolvimento que a empatia
apresenta. Ele mostra que essas linhas podem se apresentar de forma menor, que é
uma forma pessoal de empatia, podendo ser expressada através do apoio corporal,
do toque, do cheiro, expressões faciais, ou palavras. Como, por exemplo, o apoio
maternal. Ou, pode ocorrer em um grau mais elevado de empatia, que é uma
empatia de forma complexa, como no caso, de dar explicações por meio de
interpretações.
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Kohut (1981) acredita que
a mudança de compreensão para explicação, da confirmação de que o
analista sabe o que o paciente sente, pensa e imagina (que ele está
sintonizado com sua vida interior), para a próxima etapa, que é a de dar
explicações, é uma mudança de uma forma inferior de empatia para uma
forma superior (p. 8).
Gostaria, diante de tantas visões filosóficas e teóricas, de citar um autor que
compreende empatia por meio de sua experiência profissional e de pesquisador
científico. Gary Small (2011), em seu artigo Doctor’s Order: Learn Empathy, mostra
que a empatia pode ser aprendida quando envolve três habilidades essenciais:
Primeiro, quando reconhecemos os sentimentos do outro, quando reconhecemos
suas expressões verbais e não-verbais, embora muitas vezes isso não seja possível
por causa de distrações que podemos ter nesse momento; a segunda habilidade, é
aprender a ouvir, esse aprendizado envolve atenção, pois possibilita uma maior
percepção dos sinais, envolve autocontrole para não interrompermos a fala do outro,
a nossa mente não vagueia e fazemos perguntas importantes; a terceira habilidade,
é expressar o entendimento, pois o poder da empatia é, justamente, comunicar de
volta a compreensão, é reafirmar o que foi percebido a partir da perspectiva do
outro, além de pedir detalhes adicionais para tal entendimento (Small, 2011).
Este autor traz, ainda, um dado muito importante para nós estudiosos de
empatia. Ele mostra que, neurocientistas da Universidade da Califórnia usaram
imagens de ressonância magnética funcional para observar a atividade do cérebro
de voluntários, enquanto observavam imagens de seis expressões faciais: felicidade,
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tristeza, raiva, surpresa, nojo e medo. Ao olharem as imagens houve uma ativação
cerebral na parte da ínsula, a região de formato oval que traduz as nossas
experiências em sentimentos. Igualmente, quando os voluntários imitaram as
expressões, a mesma área foi ativada só que em nível mais alto. No Institute of
Neurology at University College em Londres, um estudo com 16 casais mostrou que
além da ínsula, o córtex cingulado anterior foi identificado como sendo responsável
pela empatia e humanidade (Small, 2011).
Essa condição, tão própria do ser humano, está claramente demonstrada por
meios científicos objetivos, além daquelas já demonstradas por experiências
subjetivas que temos da nossa capacidade de sermos empáticos. Carl Rogers foi um
desses cientistas que, por meio de sua vasta experiência em atendimentos clínicos
individuais e grupais, pôde desenvolver teoricamente e de forma subjetiva o conceito
de empatia, que se apresenta como uma atitude fundamental em psicoterapia,
sendo uma condição facilitadora, que propicia o desenvolvimento da personalidade
humana.
Dentre as visões explanadas do que consiste a empatia, em sua definição
propriamente dita, o presente trabalho terá como autor a ser explorado Carl Ramson
Rogers, que propôs as condições facilitadoras em terapia, considerando a empatia
como sendo uma dessas condições.
A metodologia que norteia esse trabalho, consistiu de uma pesquisa
qualitativa, utilizando-se do método fenomenológico mundano proposto por Moreira
(2009b), baseado na fenomenologia de Merleau-Ponty, tendo como instrumento uma
entrevista fenomenológica que se deu a partir de uma pergunta norteadora: Como é
para você ser empático com o seu cliente em psicoterapia?, com psicoterapeutas
humanista-fenomenológicos iniciantes, os quais estão em processo de formação
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dentro da prática clínica, como mencionado anteriormente.
OBJETIVOS
Geral:
Compreender a experiência de ser empático para o psicoterapeuta
humanista-fenomenológico iniciante.
Específicos:
Apresentar o percurso histórico do conceito de empatia no pensamento de
Carl Rogers;
Discutir o que é ser psicoterapeuta iniciante dentro de uma perspectiva
humanista-fenomenológica;
Compreender como é ser empático se apresenta na prática do psicoterapeuta
humanista-fenomenológico iniciante.
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1 CARL ROGERS E AS CONDIÇÕES FACILITADORAS
A contribuição do pensamento de Carl Rogers para a área humanista foi
fundamental, tanto para sua época como para os dias de hoje, pois o seu legado
continua a ser divulgado e praticado, mesclando-se com novos paradigmas
epistemológicos e filosóficos como forma de dar uma continuidade de seu trabalho
na contemporaneidade. A prerrogativa fundamental, deste capítulo, é apresentar Carl
Rogers e seu pensamento, para em seguida focalizarmos especificamente o tema
da empatia em sua obra.
1.1 Vida e Obra de Carl Ramson Rogers (1902-1987)
Carl Ramson Rogers (1902-1987) nasceu em Oak Park, Illinois, Estados
Unidos, era o quarto de seis filhos e foi educado numa família unida que valorizava o
trabalho, mas era rígida quanto à forma de comportamento. Na infância, era uma
criança solitária que lia muito, e ao longo de seus anos no colégio, não teve senão
dois encontros com moças. Aos doze anos, seu pai, ao comprar uma fazenda, a
transformou em uma base científica, adquirindo muitos livros referentes à agricultura
racional. Esse contato, com a agricultura científica, fez com que Rogers se
conduzisse a uma “compreensão fundamental da ciência” (Rogers, 1961/1987, p.
18). Lendo “Feeds and Feeding” de Morison e mergulhando em suas páginas,
Rogers aprendeu o quanto é difícil verificar uma hipótese e a conduzir uma
experiência (Rogers, 1961/1987). Adquiriu assim, “o conhecimento e o respeito pelos
métodos científicos através dos trabalhos práticos” (p. 18).
Segundo Cury (1993), “considerado um excelente aluno, porém sem
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nenhuma experiência quanto às relações sociais, Carl chegou à Universidade de
Wisconsin decidido a diplomar-se em agronomia” (p. 11) e dedicou-se a agricultura.
Posteriormente, durante os dois anos em que estava nesse curso secundário,
desistiu e enveredou-se em favor do sacerdócio e transferiu-se da agricultura para a
história. Quando se emancipou da atitude religiosa de seus pais – por causa da
decepção pós-guerra, do ódio entre franceses e alemães e da divergência entre as
doutrinas religiosas desses países – teve a certeza de que se tornara uma pessoa
independente de suas raízes familiares.
Durante uma viagem à China, apaixonou-se por uma moça conhecida desde
a infância e casaram-se após o término do secundário, para que pudessem seguir
juntos os estudos universitários. Em Union Theological Seminary (1924), esteve em
contato com grandes mestres e professores. Participava de um grupo que tinha o
interesse em explorar suas próprias ideias e descobrir até onde isso levava.
Sentia que provavelmente sempre me interessaria por questões tais como o
sentido da vida, a possibilidade de uma melhoria construtiva da vida do
indivíduo, mas não poderia trabalhar no campo determinado por uma doutrina
religiosa específica em que devia acreditar (Rogers, 1961/1987, p. 20).
Rogers procurava um campo onde seus pensamentos pudessem ser livres,
não sofrendo restrições. Na Union, interessou-se por cursos e conferências voltados
à psicologia e psiquiatria. Neste tempo, seguiu muitos cursos no Teacher’s College
da Universidade de Columbia, começou a trabalhar com filosofia da educação,
iniciou seus trabalhos práticos com criança, dedicando-se ao trabalho
psicopedagógico, o que abriu portas para um pensamento de tornar-se um psicólogo
24
clínico.
No Teacher’s College, conseguiu uma colocação no novo Instituto para
orientação de crianças. Próximo a finalização de seu internato, conseguiu um
emprego de psicólogo no “‘Child Study Department’ da Associação para a Proteção à
Infância em Rochester, Nova Iorque” (Rogers, 1961/1987, p. 21). Em Rochester,
Rogers dedicou-se a um
trabalho de diagnóstico e de planejamento de casos de criança e delinquentes
e sem recursos, crianças que nos eram enviadas pelos tribunais e pelos
serviços sociais, e realizei frequentemente “entrevistas de tratamento”
(Rogers, 1961/1987, p. 22).
Sua visão quanto às “entrevistas psicológicas”, neste período em Rochester,
estavam se aprimorando, percebeu coisas que não seriam ideais em algo que
anteriormente achava como uma boa técnica de entrevista. Vê-se neste momento
que Rogers, ao analisar uma entrevista feita por um assistente social, percebeu o
que antes não tinha se dado conta: compreendeu o quanto estava se afastando do
método coercitivo ou de pressão (Rogers, 1961/1987), o que viria a ser sua crítica à
diretividade em terapia.
Outro momento importante, em sua trajetória, foi perceber que é o “cliente
quem sabe aquilo de que sofre, em que direção se deve ir, quais os problemas que
são cruciais, que experiências foram profundamente recalcados” (Rogers,
1961/1987, p. 23), e não o aconselhador.
Em suas experiências, no decorrer de sua vida, aprendeu a “viver numa
relação terapêutica cada vez mais profunda com um número sempre crescente de
25
clientes” (Rogers, 1961/1987, p. 26). Para ele, a prática clínica promove um
crescimento pessoal permanente do terapeuta.
Rogers nunca foi prepotente. Propôs suas ideias, tanto para serem aceitas ou
rejeitadas e acerca delas foi atacado imensamente, algumas vezes até de forma
violenta. Daí tomou a decisão de afastar-se do que os outros pensavam a seu
respeito, das obrigações profissionais e da rotina diária. Neste “privilégio de estar só”
(Rogers, 1961/1987, p. 27), foi quando mais progrediu.
As experiências, em Rogers (1961/1987), “não estão cristalizadas” (p. 28),
elas se alteram constantemente. Com estas palavras, ele se atém a mostrar o que
aprendera com sua experiência no livro Tornar-se Pessoa (1961/1987). Para ele
(1961/1987), não adianta agir de uma forma onde na verdade não se é, não adianta
fingir. Diante dessa constatação, sua segunda aprendizagem consistiu em “descobrir
que sou mais eficaz quando posso ouvir a mim mesmo aceitando-me, e quando
posso ser eu mesmo” (Rogers, 1961/1987, p. 29). Essa aceitação de mim mesmo,
me possibilita uma mudança. Essa mudança só ocorre se nos aceitarmos
profundamente, da forma que somos de fato. Isto possibilita “que as relações se
tornem reais” (Rogers, 1961/1987, p.29). Por isso, Rogers atribui muito valor quando
se permite compreender outra pessoa. “Compreender é duplamente enriquecedor”
(Rogers, 1961/1987, p. 30). Essa compreensão permite que as pessoas se
modifiquem.
Outra aprendizagem que Rogers (1961/1987) cita, corresponde a sua
verificação do que o enriquece, para tanto é necessário “abrir canais através dos
quais os outros possam comunicar os seus sentimentos, a sua particular percepção
do mundo (p.32). Que para aceitar outras pessoas e seus sentimentos a
compreensão é fundamental. Comunica, ainda, que, “quanto mais aberto estou às
26
realidades em mim e nos outros, menos me vejo procurando, a todo o custo,
remediar as coisas” (Rogers, 1961/1987, p. 33). Rogers sente-se bem mais feliz ao
ser ele mesmo e de os outros poderem ser eles mesmos, disso sobrevêm as
transformações.
Rogers tinha, acima de tudo, confiança em sua própria experiência. “Confio
assim na totalidade da minha experiência, a que acabo por atribuir mais sabedoria
do que ao meu intelecto” (Rogers, 1961/1987, p. 34). Essa experiência seria, para
ele, a suprema autoridade, onde os fatos, coletados e aprendidos, seriam seus
amigos. Em Rogers (1961/1987), podemos perceber que a experiência é
fundamental e que esta o possibilitou ver que as pessoas têm uma orientação
positiva, onde mesmo que estivessem perturbadas encaminhavam-se em direção à
construtividade, amadurecendo. Isso flui porque nada é fixo, tudo se altera. Foi com
seus clientes, que ele percebeu a vida como um fluxo contínuo.
Também chegou “à conclusão de que aquilo que há de único e de mais
pessoal em cada um de nós é o mesmo sentimento que, se fosse partilhado ou
expresso, falaria mais profundamente aos outros” (Rogers, 1961/1987, p. 37).
A experiência, adquirida por Rogers, vem de sua orientação dada à
psicoterapia, que foi elaborada ao longo dos anos (Rogers, 1961/1987). A sua
abordagem terapêutica foi desenvolvida em torno da ideia de que existe um
movimento natural dentro de cada pessoa. Esse movimento para o crescimento é a
tendência atualizante, e ao postular essa “tendência natural inerente ao se vivo, […],
Rogers fundou uma maneira peculiar e revolucionária de se entender o organismo
humano” (Tassinari, 2003, p. 57). Segundo Távora (2002), “para que esta tendência
possa efetivar-se, terapeuta e cliente precisam estabelecer uma relação significativa
que favoreça o encontro” (p. 122).
27
A tendência atualizante é o postulado fundamental da teoria da personalidade
de Rogers. “A obra de Rogers refere-se à noção de pessoa como organismo digno
de confiança, que traz em si mesmo uma tendência natural a se desenvolver de
forma construtiva e positiva” (Moreira, 2007, p. 184).
Segundo Moreira (2007), “Rogers (1983a) fundamenta seu conceito de
tendência atualizante em um movimento maior: a tendência formativa, definida como
‘uma capacidade para mudança súbita e criativa no sentido de estados novos e mais
complexos’” (p. 184). Para Branco (2008),
a Tendência Atualizante vincula-se mais à experiência organísmica, ao passo
que a auto-atualização (ou atualização não-experiencial) vincula-se mais a um
self-ideal (ideais de eu), e parece-me que a Tendência Formativa vincula-se a
algo ecológico e cósmico que por nós, psicoterapeutas humanistas
experienciais, é pensado como uma estrutura organísmica complexa ou como
a própria organicidade da Vida, que inclui sua expressão organísmica humana
(p. 74, grifo do autor).
Essa noção de tendência formativa é, de acordo com Branco (2008), “a
própria Vida que atua em todos os elementos do universo e da Terra” (p. 67).
Acrescenta, que diferentemente da Tendência Atualizante, que tem como
características a autonomia e a autocompreensão, “a Tendência Formativa não atua
no nível de personalidade, pois o universo não possui essas noções” (Branco, 2008,
p. 68).
Para Bozarth (1998), a “ideia fundamental da terapia centrada na pessoa é
que o terapeuta pode confiar na tendência do cliente para o crescimento; por esse
28
motivo, o papel do terapeuta é criar um clima interpessoal que promova a tendência
atualizante do indivíduo” (p.43).
A ideia de Rogers, é que todo ser humano tem a tendência para o
crescimento, para a atualização, indo em busca do que o faça se sentir melhor
enquanto pessoa. Ao ser empático o terapeuta, no momento da sessão, vai
proporcionar ao cliente uma abertura para que ele possa desenvolver essa
tendência, na medida em que, ao ser compreendido por um outro que o respeita
como ser humano e tal como é, ele se percebe como sujeito, como pessoa digna de
confiança, sendo possível uma ressignificação de seus problemas emocionais, de
suas dificuldades, desenvolver sua personalidade, ter mais atitudes positivas, maior
maturidade dos comportamentos, entre outros. Ou seja, “experienciar livremente as
reações sensoriais e viscerais reais do organismo, sem demasiado esforço para
relacionar essas experiências com o eu” (Rogers, 1961/1987, p. 82).
Moreira (2007) lembra que Rogers propôs seu conceito de tendência
atualizante em vários âmbitos, além da psicoterapia, também levou essa
conceituação para educação, grupos e comunidades, “tendo em conta, justamente,
sua concepção de pessoa como centro” (Moreira, 2007, p. 185). A denominação de
ACP foi se desenvolvendo em Rogers e, segundo Boainain Jr (1999), passou a
surgir na década de 1970, “para abranger os diversos campos de aplicação”
(Tassinari, 2003, p. 55), ao propor um jeito de ser.
Rogers praticou a psicologia desde 1927, e realizou estudos diagnósticos com
crianças, propondo formas de tratamento para as mesmas. Fez aconselhamento
com pais, estudantes, adultos. Além de realizar psicoterapia de pessoas ditas
normais, neuróticas, psicóticas e portadoras de problemas. Formulou uma teoria
sobre psicoterapia, foi um pesquisador responsável, um facilitador do
29
desenvolvimento pessoal. Fez terapias individuais e posteriormente dedicou-se a
experiências grupais (Rogers, 1977). Em La Jolla, seu foco passou a ser mais
psicossocial, se preocupando com grupos intensivos, comunidades e relações
diplomáticas. De acordo com Messias (2001), Rogers sempre se dedicou a
compreender o fenômeno humano e buscou elementos que propiciassem uma
melhor maneira de viver.
Rogers trouxe para dentro do campo psicoterápico a ideia das condições
facilitadoras e das atitudes que um terapeuta deveria ter para proporcionar
condições de mudança na personalidade do cliente. Sua abordagem desenvolveu-se
em torno da premissa de que existe um movimento natural para o crescimento
dentro de cada pessoa, a tendência atualizante. É por meio das condições
facilitadoras, que existe a possibilidade de se dar esse crescimento.
1.2 Condições Facilitadoras
As condições facilitadoras surgiram como forma de oposição às técnicas que
seriam mais diretivas em terapia e para possibilitar ao terapeuta agir de maneira que
proporcionasse um maior crescimento pessoal de seu cliente. Essas condições
deveriam ser vistas, pelos terapeutas, em sua profundidade e não apenas em meras
formas de agir.
“Na verdade, as ‘condições terapêuticas’ não podem adotar-se a vontade -
como alguém coloca e tira um avental de médico -, mas que exigem do terapeuta
uma mudança total no modo como percebe a outra pessoa e se relaciona com ela”
(Celis, 2006, p. 3). Essas condições representam um grande desafio para o
psicoterapeuta.
30
As seis condições, estipuladas como facilitadoras por Rogers, foram
ressaltadas em seu artigo As condições necessárias e suficientes para a mudança
terapêutica na personalidade (1957/2008) – que serão mencionadas mais à frente.
Dentre essas condições, três são vistas como atitudes fundamentais ao terapeuta
em relação ao cliente para uma mudança construtiva de personalidade: a
Autenticidade ou Congruência, a Aceitação e a Compreensão Empática. Essas
atitudes se tornaram um marco para a psicoterapia.
Amatuzzi (1995), em Descrevendo Processos Pessoais, afirma que a
finalidade dessas condições é facilitar ao cliente que entre em contato consigo
mesmo. Para Silberschatz (2007), essas condições facilitadoras, postuladas por
Rogers, devem estar presentes no “contato psicológico” para que a mudança
psicoterapêutica possa ocorrer. Desta forma, é no contexto de um relacionamento
que perdure essas condições, que a mudança pode ocorrer. Silberschatz (2007) está
de acordo com Rogers, quando este afirma que as condições são necessárias para
a mudança, mas se questiona acerca de elas serem totalmente suficientes. Segundo
esse autor, o que determina mesmo o sucesso da terapia, além das condições, é a
qualidade da relação. Cury (1993) nos mostra que para por essas atitudes em
prática, se requer do terapeuta, que vivencie o relacionamento terapêutico de forma
mais completa, com a totalidade de seu self, de seu eu. Boainain Jr (1999) traz a
ideia de Bowen (1987b), que defende, que
as três atitudes básicas da terapia rogeriana são insuficientes, embora
necessárias, para provocar mudanças terapêuticas reais, não obstante
possam ser satisfatórias em encontros de mero apoio. Propõe, a guisa de
quarta atitude, a função do terapeuta como fornecedor de impressões
31
integrativas, isto é, intervenções que permitam ao cliente reorganizar sua
experiência em uma nova compreensão e numa nova consciência, ou seja,
uma nova Gestalt em que estas adquiram um sentido transformador,
enriquecedor e superador da fase de desenvolvimento em que o cliente se
encontra. Propondo que Rogers sempre fizera isto, especialmente por meio
da ‘reflexão de sentimentos’, Bowen também coloca na categoria de
impressão integrativa as metáforas, imagens e ações que surgem
espontaneamente na consciência do terapeuta, especialmente quando em
estado alterado e ampliado de consciência, brotando de alguma elaboração
intuitiva” (Boainain Jr, 1999, pp. 205-206, grifo do autor).
Ao propor condições facilitadoras, a intenção de Rogers é fornecer-nos
subsídios para proporcionarmos ao cliente segurança para que seu mundo vivido
venha à tona. Essa segurança, de falar sobre suas experiências, se dá pelo fato de
o cliente está em um ambiente facilitador. Ao propor esse ambiente adequado e
seguro, o psicoterapeuta, como facilitador, possibilita que o cliente entenda a
dinâmica de sua personalidade, compreendendo a si mesmo, tendo a possibilidade
de mudanças que façam sentir-se bem consigo mesmo.
Em vista disso, as condições podem ser compreendidas uma a uma a seguir:
A Congruência, em Rogers (1961/1987), seria o integralmente verdadeiro,
onde a pessoa transluz aquilo o que verdadeiramente é. A pessoa mostra-se
transparente, tal como uma criança que demonstra e fala tudo aquilo que está
sentindo, de fato. Para O’Leary (2008), a congruência é o terapeuta não tentar fazer
mais do que aquilo que poderia fazer. Quando a pessoa está em posição de
incongruência, sua atitude nesse momento não se refere ao que verdadeiramente
32
está sentindo.
Para Rogers (1980/2007),
quanto mais o terapeuta for ele mesmo na relação com o outro, quanto mais
puder mover as barreiras profissionais ou pessoais, maior a probabilidade de
que o cliente mude e cresça de um modo construtivo. Isto significa que o
terapeuta está vivendo abertamente os sentimentos e atitudes que fluem
naquele momento (p.38).
O terapeuta, neste caso, está sendo ele mesmo, sem máscaras, em acordo
interno possibilitando uma atmosfera adequada para o crescimento pessoal de seu
cliente. A congruência apresenta-se em diferentes níveis dependendo da situação, e
depende igualmente de aceitar a experiência pessoal, defendendo-se dela ou não.
Em terapia, Rogers (1961/1987) afirma ser “necessário que o terapeuta seja,
durante a relação, uma pessoa unificada, integrada ou congruente” (p.260). Para
tanto, deve estar completo e consciente do que está experienciando nesse
momento. Segundo Moreira (2010), “a congruência, ou autenticidade, é descrita
como o grau de correspondência entre o que o terapeuta experiencia e o que
comunica ao cliente, sendo ele mesmo na relação terapeuta-cliente” (p. 7).
A aceitação reside, enquanto condição facilitadora, para Rogers (1961/1987),
“no fato de o terapeuta sentir uma calorosa preocupação pelo seu cliente” (p. 261). A
mesma não poderia ser possessiva, não exigindo gratificação pessoal do terapeuta.
É uma forma de considerar o outro “como uma pessoa separada, digna de respeito
por um mérito que lhe é próprio. É uma confiança básica - uma crença de que esta
outra pessoa é, de alguma maneira fundamental, digna de confiança” (Rogers, 1977,
33
p.149).
Essa forma calorosa de ver o outro, foi empregada frequentemente por
Rogers, como aceitação. Mas, Rogers afirma que Stanley Standal, em sua tese de
doutorado The need for positive regard: A contribuition to client-centered theory
(1954)
designou esta atitude como “consideração positiva incondicional”, pois que
não lhe estão agregados nenhumas condições de apreciação. Empreguei
frequentemente o termo “aceitação” para descrever esse aspecto do clima
terapêutico. Ele implica que se devem aceitar tanto as expressões negativas
do cliente, os sentimentos “maus”, de desgosto, de medo, ou de
anormalidade, como as suas expressões de sentimentos “bons”, positivos,
maduros, confiantes e sociais. A aceitação implica que se veja o cliente como
uma pessoa independente, permitindo-lhe experimentar os seus próprios
sentimentos e descobrir o que a sua experiência significa. É na medida em
que o terapeuta pode garantir esse clima de segurança e de consideração
positiva incondicional que pode surgir no cliente uma aprendizagem
significativa (Rogers, 1961/1987, pp. 261-262, grifo do autor).
Outra maneira de ver, essa forma calorosa de preocupação pelo cliente, está
em Bozarth (1998/2001), quando este a denomina de olhar incondicionalmente
positivo, que se apresenta como um “fator curativo na teoria centrada no cliente” (p.
133). Esse fator curativo reside no “impulso motivacional normal de atualização do
cliente. É esta tendência que é o fator curativo fundamental presente no âmago da
pessoa” (Bozarth, 1998/2001, pp. 133-134). Para isso, é necessário que “o cliente
34
fique mais diretamente ligado à tendência atualizante através da imagem de si
próprio incondicionalmente positiva” (Bozarth, 1998/2001, p. 134).
Vieira e Freire (2006) afirmam que,
a consideração positiva incondicional não diz respeito somente ao terapeuta
com relação ao cliente, mas do psicoterapeuta consigo mesmo, assim como
do cliente consigo mesmo. Este “consigo mesmo” aqui destacado não
significa algo totalizado, perfeitamente identificado e essencialista, mas uma
abertura para o que de imprevisível possa surgir” (p.429).
Igualmente observo, nas leituras que fiz das obras de Rogers, a aceitação
dentro de três visões. Duas formas de autoaceitação, que seriam: primeiro, a
aceitação do psicoterapeuta de si mesmo e segundo, a aceitação do cliente em
relação a si mesmo, após um processo de crescimento pessoal. E, a terceira forma
de consideração, seria então: a aceitação do psicoterapeuta em relação ao seu
cliente. O’Leary (2008) afirma que o terapeuta pode aceitar o que o cliente está
querendo, embora possa não aprovar essa decisão do cliente, como podemos
observar nessa citação: “Therapists can accept without having to endorse. Each
person has a right to want what they want without having to have the further right of
getting what they want” (p.304).
Visualizo também outra possível forma de aceitação, na qual compreendo
como sendo de caráter subjetivo: a aceitação do cliente das
interpretações/compreensões do psicoterapeuta. Esta por sua vez, tem em vista a
decisão de assimilar ou não, no momento da psicoterapia, as compreensões dadas
pelo psicoterapeuta acerca das experiências do cliente. Mas isso dependerá,
35
também, do nível de afinidade, de maturidade e desenvolvimento pessoal que o
cliente apresente na relação psicoterápica. As outras formas de consideração,
também partem de um processo mais lento de estado de acordo interno e subjetivo,
mas que algumas vezes não se apresentam, inclusive quando é a consideração do
psicoterapeuta em relação ao cliente, o que para Rogers não precisa ser
considerado como um “dever” (Rogers, 1977/1986), pois nem sempre estamos em
processo de considerar o outro seja qual for.
Para Bozarth (1998/2001), “o olhar incondicionalmente positivo é a condição
teórica básica da mudança do cliente na terapia centrada na pessoa” (p. 75).
Quando o terapeuta tem uma atitude de consideração, produz todas as situações
para que ocorra uma mudança terapêutica (Rogers, 1980/2007). Essa capacidade
está relacionada ao fato do terapeuta vivenciar essa relação de forma mais plena.
“Aceitação ou consideração positiva é a confiança básica no organismo humano e a
crença de que o outro é, de algum modo, digno de confiança. Trata-se da aceitação
do outro individuo como uma pessoa separada, que tem valor por si mesma”
(Duarte, 2004, p.131)
A empatia, como uma dessas condições facilitadoras, “assumiu importância
fundamental na teoria rogeriana quando esse autor afirmou ser necessário que o
terapeuta desenvolvesse uma compreensão empática pelo cliente” (Sampaio,
Camino & Rozzio, 2009, p. 214), passando a ser compreendida como sendo uma
parte essencial do trabalho do terapeuta (Grant, 2010). Esta atitude facilitadora será
abordada nessa pesquisa em maior profundidade a partir da evolução do
pensamento de Carl Rogers sob a perspectiva das fases divididas e descritas por
comentadores de suas obras.
36
2 O CONCEITO DE EMPATIA NO PENSAMENTO DE CARL ROGERS
2.1 A Ideia Embrionária de Empatia no Pensamento de Carl Rogers?
Em sua primeira obra, O Tratamento Clínico da Criança Problema
(1939/1978), Rogers não define ou se refere ao que seria especificamente o
conceito de empatia. Porém, é possível perceber que essa conceituação começa a
ser delineada em seu pensamento. Ao explicar o conceito de “Tratamento
Interpretativo” – que busca que o indivíduo compreenda de forma plena suas
reações e seus comportamentos –, Rogers salienta a importância da compreensão
dos problemas do cliente por parte do terapeuta para o tratamento. Tendo por base o
trecho a seguir, é possível perceber que, para ele, o sucesso dessa técnica
terapêutica estaria conectado à capacidade do cliente de aceitar a interpretação
realizada pelo terapeuta.
O problema do terapeuta social consiste em dar essa interpretação ao
paciente. Esse processo é crucial no tratamento porque implica não apenas
na interpretação do comportamento do paciente pelo terapeuta social, mas
também na aceitação dessa interpretação. A aceitação do paciente depende
muito do terapeuta conseguir que o paciente se identifique com a análise ou
interpretação. Em outras palavras é necessário que a análise de fatores surja
dos fatos apresentados pelo próprio paciente, e que este a veja como
verdadeira (Rogers, 1939/1978, p.175).
Nesta obra, Rogers (1939/1978) afirma ser importante uma compreensão do
ponto de vista dos clientes pelo terapeuta, sem identificação emocional. Ao falar de
37
um tipo de tratamento descritivo, no qual o profissional desempenha um papel mais
ou menos passivo, Rogers defende a necessidade de não deixar o paciente
dependente de suas interpretações. A responsabilidade das decisões é do paciente,
como se vê na citação de Rogers sobre a Srta. Heart:
Se o paciente tende a ser dependente, desejando uma expressão da opinião
do profissional ou uma sanção, o terapeuta devolve a decisão ao paciente.
Mesmo que o paciente escolha um curso de ação que pode parecer
destrutivo, o terapeuta não assumirá o comando da situação, tomando a
decisão em nome do paciente. […]. E não raramente o terapeuta se
surpreenderá com o fato de que o que considerava destrutivo acabe sendo
uma experiência valiosa para o crescimento do indivíduo. O que pode ser uma
experiência destrutiva para um indivíduo em um estágio de crescimento pode
mostrar-se construtivo em outro estágio (Rogers, 1939/1978, p.181).
Uma das qualificações do terapeuta que colaborariam com a terapia, segundo
Rogers (1939/1978), é a objetividade. A partir desse caráter objetivo, deveria existir
uma compreensão sem qualquer julgamento moral, ou seja, sem preconceito por
parte do terapeuta para com seus clientes.
Essa atitude de respeito não deveria ser exageradamente sentimental, assim
como não poderia ser fria, impessoal. Seria uma atitude autêntica, receptiva, que
colaborasse com a compreensão dos sentimentos do cliente sem uma exagerada
identificação por parte do terapeuta, com o intuito de não prejudicar o tratamento.
Uma identificação “descontrolada” por parte do profissional propiciaria uma confusão
dos sentimentos dele e do paciente. Isso seria a identificação emocional. Pode-se
38
perceber um pouco da importância desta ideia para a terapia no trecho abaixo:
Talvez uma menor objetividade seja necessária para a psicoterapia intensiva a
longo prazo. Porém, qualquer que seja ela, um grau fundamental dessa
qualidade é essencial para que a criança seja capaz de aliviar-se sem medo:
medo, de um lado, de ser rejeitada e condenada e medo, de outro lado, de
encontrar apenas simpatia, sem o vigor que brota de uma visão não
comprometida (Rogers, 1939/1978, p. 247).
É possível notar, em sua obra O Tratamento Clínico da Criança Problema
(1939/1978), uma definição embrionária de empatia como sendo uma compreensão,
por parte do terapeuta, dos sentimentos apresentados pelo paciente, o que
colaboraria para a obtenção de um ambiente terapêutico. Essa atitude - que
posteriormente contribuiria para a formulação do conceito de empatia - enfatiza uma
relação terapêutica baseada na objetividade. Uma relação na qual o centro estaria,
ainda, mais voltado para o terapeuta, pois ele interpretaria o comportamento do
paciente.
2.2 Fase Não Diretiva (1940-1950)
As fases descritas do pensamento rogeriano têm início a partir de 1940, que é
quando ele começa a desenvolver uma teoria própria de psicoterapia, tendo como
marco sua famosa palestra em dezembro de 1941. Para Holanda (1994), dentre os
comentadores que discutem as fases do pensamento rogeriano, a esquematização
das fases de Rogers teve muitas divergências. Nessa primeira fase, chamada não-
39
diretiva, ele estava na Universidade de Ohio, no período de 1940 a 1950. e
caracteriza-se por ter uma proposta de terapia não diretiva, onde, segundo Messias
(2001), deveria haver “um ambiente propício para que ele, cliente, pudesse
desenvolver seu potencial e assumir a responsabilidade pelo processo” (p.28).
Para Moreira (2010), essa psicoterapia não diretiva
parte de conceitos que têm como base o impulso individual para o
crescimento e para a saúde, dá maior ênfase aos aspectos de sentimento do
que aos intelectuais, enfatiza o presente ao invés de enfatizar o passado do
indivíduo, o foco de interesse maior é o indivíduo e não o problema, e toma a
própria relação terapêutica como uma experiência de crescimento (p. 5).
Os aspectos fundamentais de uma relação terapêutica são estabelecidos na
principal obra concernente a esta fase: “Psicoterapia e Consulta Psicológica”
(1942/1973), onde Rogers propõe como primeiro aspecto na terapia “um calor e uma
capacidade de resposta por parte do conselheiro que torna a relação possível e a faz
evoluir gradualmente para um nível afetivo mais profundo” (Rogers, 1942/1973, p.
97).
Esta fase caracteriza-se pela permissividade na terapia, que Rogers
(1942/1973) descreve como sendo a segunda qualidade da consulta psicológica. Ele
coloca a permissividade como sendo uma “liberdade completa de expressar
sentimentos” (Rogers, 1942/1973, p. 98). Mas, essa liberdade tinha certos limites,
dentre eles, o tempo, que teria seu horário de início e fim. Outro limite estabelecido
são as ações do cliente, que não deveria ter atitudes destrutivas no ambiente
terapêutico, como no caso das crianças não quebrarem brinquedos usados nas
40
sessões. Esses limites corresponderiam ao terceiro aspecto em uma consulta
psicológica. A quarta característica refere-se ao fato de que, a entrevista pertence ao
paciente (Rogers utilizava nesta época a nomeação paciente, sendo mais tarde
substituído por cliente), pois “o conselheiro competente abstém-se de introduzir nas
situações terapêuticas os seus próprios desejos, reações e inclinações” (Rogers,
1942/1973, p. 99).
Os terapeutas não diretivos estimulam seus clientes a falarem mais e
livremente, portanto “a consulta psicológica de tipo não diretivo é caracterizada pelo
predomínio da atividade do paciente, que assume a maior parte da conversação
sobre seus problemas” (Rogers, 1942/1973, p. 135).
Rogers assume uma posição de neutralidade (Messias, 2001; Moreira, 2010),
na qual a intervenção do terapeuta deveria ser mínima, pois o cliente tem seu mundo
subjetivo e sua forma de reagir em relação a ele. Messias (2001) explica-nos que a
proposta rogeriana pretendia ser neutra e objetiva. A primeira, diz respeito ao fato do
terapeuta não interferir “no direcionamento ou na construção de um jeito subjetivo de
ver o mundo e reagir a ele” (p.31). E, a objetividade se dá pelo empirismo e o rigor
nas pesquisas realizadas.
Essa ideia de não diretividade, de acordo com Moreira (2010), ocasionou
“mitos e mal-entendidos de ‘laissez-faire’ sobre a atuação do psicoterapeuta que não
fala na sessão” (p. 539). Essa permissividade de Rogers sofreu muitas críticas
devido ao papel pouco ativo do terapeuta, quando na verdade, como lembra
Holanda (1994), “seu esforço era uma tentativa de desarticular a conotação de
autoridade relacionada ao terapeuta” (p.6).
41
2.2.1 Evolução da Ideia Embrionária
Em seu livro Psicoterapia e Consulta Psicológica (1942/1973), Rogers
descreve o conceito de hipótese base, que ele define como
a consulta psicológica eficaz consiste numa relação permissiva, estruturada
de uma forma definida que permite ao paciente alcançar uma compreensão
de si mesmo num grau que o capacita para progredir à luz da sua nova
orientação (p.29).
Nesta obra, Rogers (1942/1973) propõe uma forma inovadora de psicoterapia,
e nos mostra que o objetivo da mesma – recente na época – não era o de resolver
um problema particular do cliente, mas sim o de colaborar com o indivíduo para que
ele pudesse se desenvolver, podendo assim enfrentar o problema presente e os
futuros de uma forma mais integrada. Essa psicoterapia tem como um de seus
aspectos, uma confiança mais profunda de que o indivíduo pode orientar-se para a
maturidade, para a saúde e para a adaptação (Rogers, 1942/1973).
Essa nova experiência terapêutica possibilitava uma vivência de
desenvolvimento ao indivíduo, pois nela “o indivíduo aprende a compreender-se a si
mesmo, a optar de uma forma independente e significativa, a estabelecer com êxito
relações pessoais de uma forma adulta” (Rogers, 1942/1973, p.42). Todavia, é
ressaltado que o conselheiro não tem a obrigação de dar respostas certas, pois tem
como função proporcionar um ambiente e uma atmosfera, nos quais os problemas
possam ser refletidos e as relações apreendidas com maior clareza (Rogers,
1942/1973). Ou seja, o terapeuta não diz ao paciente o que é o seu problema, nem
42
diz a este o que deve fazer. O terapeuta proporciona uma atmosfera adequada, para
o desenvolvimento do cliente, em um ambiente terapêutico. Estabelece confiança
que possibilite ao cliente expor todas as suas dificuldades e, assim, no decorrer da
terapia bem-sucedida, compreender e ressignificar seus problemas.
Ao falar dos aspectos fundamentais de uma relação terapêutica, Rogers
(1942/1973) mostra algumas qualidades que tornam a atmosfera da consulta
psicológica mais útil. Uma delas é a ideia do que mais tarde poderia ser chamado de
empatia, que ele define como sendo,
um calor e uma capacidade de resposta por parte do conselheiro que torna a
relação possível e a faz evoluir gradualmente para um nível afetivo mais
profundo. Do ponto de vista do conselheiro, porém, trata-se de uma atmosfera
nitidamente controlada, uma ligação afetiva com limites definidos (Rogers,
1942/1973, p.97).
Rogers ressalta que é interessante – em determinadas situações – que o
terapeuta seja mais prudente, tentando evitar os extremos da reserva ou da ultra-
implicação, criando uma relação qualificada pelo calor, pelo interesse, capacidade de
resposta e uma dedicação afetiva num grau limitado com clareza e precisão
(Rogers, 1942/1973).
É possível perceber indícios do conceito de empatia no pensamento de
Rogers, quando ele fala da importância do conselheiro não censurar o paciente, nem
ser excessivamente simpático. O conselheiro deve procurar manter uma atitude mais
equilibrada, a fim de que o paciente possa se afastar dos mecanismos de defesa,
sendo assim mais autêntico e permitindo então um melhor enfrentamento da
43
realidade (Rogers, 1942/1973).
Rogers reafirma isso mais adiante:
se, uma vez expressos os sentimentos, o conselheiro se abstém de uma
identificação demasiado compreensiva e da aprovação dessa atitude, bem
como de uma resposta crítica e reprovadora, o paciente sente-se livre para
manifestar outros sentimentos contraditórios que lhe impedem um acesso
claro aos seus problemas de adaptação (Rogers, 1942/1973, p.161).
Percebe-se, neste momento, traços do que viria a ser o conceito de empatia,
uma vez que, Rogers afirma que uma não-identificação e uma resposta não-
reprovadora possibilita que o cliente se sinta livre para expressar seus sentimentos
contraditórios. A não-identificação é, posteriormente, enfatizada por Rogers em sua
conceituação de empatia a qual se daria por meio de uma condição de “como se”
estivesse no lugar do outro. Tal como a resposta empática que viria a ser o abster-se
de uma resposta crítica e reprovadora. Segundo Bozarth (1998/2001), Rogers não
mencionava o termo empatia, mas vários de seus comentários abriram caminho para
o conceito de empatia, na medida em que se referia ao conceito de bom terapeuta,
capacidade de compreensão como se fosse ele próprio, ausência de coerção ou
pressão e o calor da aceitação.
Na relação da consulta psicológica, o calor – esse calor propicia uma relação
empática – da aceitação e a ausência de preconceitos por parte do conselheiro,
possibilitam a expressão máxima de sentimentos, atitudes e problemas por parte do
paciente contribuindo assim para uma consulta psicológica e uma psicoterapia eficaz
(Rogers, 1942/1973).
44
Na obra Psicoterapia e Consulta Psicológica (1942/1973), é possível
observar que não cabe mais ao terapeuta a interpretação do comportamento do
cliente, como foi comentado na obra O Tratamento Clínico da Criança-Problema
(1939/1978). Aqui, Rogers ressalta que o cliente pode alcançar uma compreensão
de si mesmo. O conselheiro colabora com esse processo criando uma atmosfera
agradável e propícia, onde o cliente possa se sentir aceito. Os possíveis indícios das
condições facilitadoras em psicoterapia já podem ser percebidos dentro desta obra
(1942/1973), ele traz a ideia de um ambiente propício, onde possa existir um calor
da aceitação, sem preconceitos e que o terapeuta tenha uma capacidade de
resposta que torne a relação possível e que tenha uma atitude mais equilibrada.
No artigo Significant Aspects of Client-Centered Therapy (1946/2000), Rogers
mostra que, no relacionamento entre terapeuta e cliente, é necessário que o
terapeuta estabeleça uma atmosfera psicológica para que o cliente possa se
expressar e deixar cair sua defesa natural. Ou seja, deve existir um calor, uma
compreensão, uma aceitação básica da pessoa como esta é, para um melhor
andamento do processo. Se o cliente sente que não está sendo avaliado e que está
sendo compreendido, pode se comunicar mais profundamente (Rogers, 1946/2000).
Segundo Rogers (1946/2000), o terapeuta deve colocar de lado sua
preocupação com o diagnóstico, com as avaliações profissionais, e se concentrar
em fornecer uma compreensão profunda e aceitação das atitudes do cliente
enquanto este explora seu próprio interior.
Em Some Observations on the Organization of Personality (1947/2000),
Rogers confirma que o terapeuta sendo compreensivo e não-avaliativo torna-se uma
possibilidade de expressão do cliente. Ao proporcionar um ambiente de
permissividade e de compreensão, elimina as ameaças existentes contra as
45
percepções do self.
Antes, a responsabilidade de interpretar o comportamento do cliente era do
terapeuta, que deixa de assumir esse papel, para que por meio de um calor, que
possibilita a expressão do cliente, de uma atmosfera psicológica facilitadora onde
exista aceitação e o terapeuta seja uma pessoa compreensiva e não-avaliativa, o
cliente possa ter uma maior compreensão de si. Essa compreensão é bastante
destacada na obra Psicoterapia e Consulta Psicológica (1942/1973).
2.3 Fase Reflexiva (1950-1957)
A fase reflexiva caracterizou-se pela prática do reflexo de sentimentos e
correspondeu à Terapia Centrada no Cliente, tendo como principal obra Terapia
Centrada no Cliente (1951). Neste livro, Rogers descreve como se deu essa
modalidade de terapia, na qual o terapeuta era o promotor do desenvolvimento do
cliente, dentro de uma atmosfera desprovida de ameaça, como afirma Moreira
(2010). Isso se dá por meio das condições facilitadoras, que foram introduzidas
nesta época e que são: a congruência ou autenticidade, a aceitação positiva
incondicional e a empatia, esta última apresentando-se como um dos principais
conceitos desenvolvidos por Rogers.
Na obra Terapia Centrada no Cliente, Rogers expõe sua percepção sobre a
experiência e o significado do cliente em terapia. Ele descreve sua experiência,
“descobrindo que não podemos atuar como costumávamos fazer” (Rogers,
1951/1992, p. 4).
Essa fase corresponde à passagem da “não-diretividade” à “centrada no
cliente”, onde o terapeuta torna-se mais ativo – ao contrário da fase anterior onde ele
46
era mais passivo – e o cliente passa a ser alvo da atenção do terapeuta (Shlien &
Zimring, 1970; Cury, 1993, Holanda, 1994 & Moreira, 2010). Cury (1993) enfatiza
que “se, anteriormente, seu papel era o de ficar fora do caminho do cliente, agora ele
é levado a comprometer-se numa busca por compreensão empática do sistema de
referência de outra pessoa” (p.45). Quando Rogers passou a denominar sua terapia
de centrada no cliente, saindo da denominção não-diretiva, neste momento vê-se o
desenvolvimento da noção do quadro de referência do cliente (Grant, 2009).
Branco, Cavalcante Jr e Oliveira (2008) afirmam que nesta fase “Rogers
começa a perceber que o psicoterapeuta poderia ser mais ativo em sua relação com
o cliente, de modo a deixar de ser um observador para adentrar a experiência dele;
as atitudes do psicoterapeuta, sobretudo as atitudes empáticas” (p. 139).
2.3.1 Surge o conceito de empatia na fase reflexiva
Em seu livro Terapia Centrada no Cliente (1951/1992), Rogers, inicialmente,
traz o termo atitude empática como forma de diferenciar da atitude declarativa e para
assinalar que o orientador deve estar focado nessa atitude empática.
Este foco está relacionado ao fato de que, numa atitude declarativa o que é
declarado pelo orientador é algo de forma rígida, de forma técnica, diferentemente
do que ocorre numa atitude empática, onde pode até ser o mesmo conteúdo
expressado da atitude declarativa, mas o tom de voz é mais suave, tendo um caráter
empático e compreensivo, podendo o cliente entender que tem mais possibilidade
de se expressar. Assim, as atitudes do orientador não seriam esclarecer as atitudes
do cliente, mas que seria um experimentar ativo, juntamente com ele (Rogers,
1951/1992).
47
Nos relacionamentos terapêuticos mais satisfatórios, o terapeuta tem como
função assumir, da melhor maneira possível, uma estrutura de referência interna do
cliente, para que possa perceber o mundo como o cliente o vê, deixando de lado
todos os a priori, enquanto estiver na relação, passando algo de sua compreensão
empática ao cliente (Rogers, 1951/1992).
Rogers (1951/1992) mostra que os conceitos de compreensão e aceitação
tornaram-se, cada vez mais, consideráveis para o terapeuta. Como pode ser
observado através da afirmação a seguir:
Parece que, cada vez mais, o terapeuta não-diretivo tem considerado eficazes
a compreensão e a aceitação, passando a concentrar todo o seu esforço na
tentativa de alcançar um profundo entendimento do mundo íntimo do cliente
(Rogers, 1951/1992, p.41).
A partir de uma maior concentração nesses conceitos, o terapeuta busca
observar da maneira mais profunda o que o cliente está vivenciando, ou até mais
intensamente do que o próprio cliente é apto a compreender no momento (Rogers,
1951/1992).
O facilitador tem como principal objetivo na terapia
perceber da forma mais sensível e acurada possível, todo o campo de
percepção do cliente, da maneira como ele o experimenta, com as mesmas
relações de figura e plano de fundo, até o ponto máximo que o cliente estiver
disposto a comunicar; e, tendo assim percebido a estrutura de referência
interna do outro tão completamente quanto possível, indicar para o cliente em
48
que medida está vendo através dos olhos dele (Rogers, 1951/1992, pp. 44-
45).
Com o intuito de conseguir alcançar essa meta e de tornar a relação
terapeuta-cliente única, o orientador tem que deixar de lado o seu próprio self, ou
seja, a si mesmo, para poder entrar no mundo do seu cliente a fim de ajudá-lo.
Eu me tornarei, em certo sentido, um outro self para você – um alter ego de
suas próprias atitudes, sentimentos – uma oportunidade segura para que você
possa se perceber mais claramente, experimentar a si mesmo de forma mais
verdadeira e profunda, escolher de modo mais significativo (Rogers,
1951/1992, p.45).
É possível entender a relevância dessa compreensão para com o cliente na
terapia, na medida em que Rogers (1951/1992) assinala que o terapeuta acaba
cometendo menos erros, ao deixar de tentar interpretar o que o cliente está
trazendo.
Quando o terapeuta participa da relação terapêutica fazendo interpretações,
avaliando o significado do material e coisas do gênero, suas distorções
participam com ele. Quando o terapeuta procura manter-se de fora, como
uma pessoa separada, empenhando-se totalmente no sentido de
compreender o outro de forma tão completa a ponto de tornar-se quase um
alter ego do cliente, é muito menos provável que ocorram distorções e
desajustes pessoais (Rogers, 1951/1992, p.54).
49
Rogers (1951/1992) ressalta que os clientes consideram vantajoso terem suas
atitudes reformuladas, pois é como se eles pudessem voltar a si mesmos e
passassem a compreender o que sentiam e o que estavam dizendo. Isto possibilita
uma melhor reorganização do self e a entrevista passa a ter um significado especial
(Rogers, 1951/1992).
Diante da importância da Terapia Centrada no Cliente, o autor acredita que
esta tem uma aplicação muito ampla, podendo ser realizada em quase todo tipo de
pessoas, pois, a partir desta experiência, elas se sentem compreendidas,
contribuindo assim para uma melhor aceitação delas próprias.
Uma atmosfera de aceitação e respeito, de profunda compreensão, é muito
adequada para o crescimento pessoal, e como tal aplica-se a nossos filhos,
nossos colegas, nossos alunos, bem como a nossos clientes, sejam eles
‘normais’, neuróticos ou psicóticos (Rogers, 1951/1992, p.264).
Através do pensamento de Rogers (1951/1992), pode-se compreender que o
terapeuta tem como objetivo, na relação terapêutica, buscar a reconstrução do
campo perceptivo do cliente no momento em que ele se expressa, por meio de sua
habilidade e sensibilidade. Para que a empatia possa existir na relação, o terapeuta
deve estar atento, pois sem atenção ele não conseguirá compreender o que o cliente
está sentindo e dessa forma não existirá comunicação (Rogers, 1951/1992).
Ao falar de algumas tendências significativas no treinamento de terapeutas,
Rogers se reporta ao fato de o terapeuta passar por uma experiência terapêutica,
pois a terapia pode ajudá-lo a se sensibilizar em meio aos sentimentos e atitudes
que o cliente vivencia, “tornando-o empático num nível mais profundo e significativo”
50
(Rogers, 1951/1992, p. 494). Desta maneira, o terapeuta poderia experienciar todos
os fenômenos empaticamente, a fim de que o indivíduo pudesse ser melhor
compreendido:
Se pudéssemos experimentar empaticamente todas as sensações sensoriais
e viscerais do indivíduo, se pudéssemos experimentar todo o seu campo
fenomenológico, incluindo os elementos conscientes e as experiências que
não foram trazidas ao nível da consciência, teríamos a base perfeita para
compreender o significado de seu comportamento e prever seu
comportamento futuro (Rogers, 1951/1992, p.562).
No entanto, Rogers complementa, afirmando que é impossível alcançar esse
ideal.
Diferentemente de suas obras anteriores, no livro Terapia Centrada no Cliente
(1951/1992), Rogers trabalha com um conceito de terapia menos diretivo, mas
considerando que empatia é uma atitude necessária durante o processo, para a
criação de um ambiente que facilite a compreensão do cliente de que ele é capaz de
se autoatualizar. E, acaba se voltando mais para essa capacidade do homem de
acreditar em si. Para Bozarth (1998/2001), “à medida que Rogers começou a
empregar o termo ‘empatia’, descreveu-a como o desenvolvimento, por parte do
terapeuta, de um interesse e receptividade em relação ao cliente e a busca de uma
compreensão profunda e não crítica” (p. 86).
Rogers (1951/1992) afirma que, para ser um orientador eficaz, é necessário
que este utilize um método ou uma técnica que seja adequada, ou seja, compatível
com as suas atitudes pessoais. O objetivo, desse orientador, seria trabalhar com o
51
cliente acreditando que ele tem condição suficiente para suportar positivamente os
eventos de sua vida, que possam, potencialmente, alcançar a percepção consciente.
Isso seria possível, na medida em que o cliente encontra uma situação favorável
para que esse material chegue à sua consciência, e uma demonstração considerável
de aceitação, uma capacidade de conduzir a si mesmo, por parte do orientador
(Rogers, 1951/1992). Essa situação favorável se dá por meio de uma relação de
compreensão e verdadeira, na qual se produz uma atitude empática.
Isso se dá por meio da unicidade do experienciar, que Rogers traz em seu
artigo Pessoas ou Ciência? Uma Questão Filosófica (1955/2008). Neste artigo, está
claro que essa unicidade é como uma forma de estar junto com o cliente em seu
mundo interno, numa relação verdadeira.
A essência de alguma das partes mais profundas da terapia parece ser a
unicidade do experienciar. […]; e eu sou capaz, com igual liberdade, de
experienciar minha compreensão desse sentimento, sem qualquer
pensamento sobre ele, sem qualquer apreensão ou preocupação quanto
aonde isso vai levar, sem qualquer tipo de diagnóstico ou pensamento
analítico, sem quaisquer barreiras cognitivas ou emocionais, em completa
‘entrega’ à compreensão. Quando se dá essa completa unicidade,
singularidade, inteireza no experienciar do relacionamento, então este adquire
a qualidade de ‘fora-deste-mundo’ que muitos terapeutas relataram, uma
espécie de sentimento tipo-transe na relação, do qual emergimos os dois, o
cliente e eu, ao final da sessão, como se de um poço profundo ou de um
túnel. Nesses momentos há, como diz Buber, uma relação verdadeira ‘Eu-Tu’,
uma vivência atemporal na experiência que é entre o cliente e eu. É
52
exatamente o oposto de ver o cliente, ou a mim mesmo como objeto. É o
ápice da subjetividade pessoal (Rogers, 1955/2008, p. 119).
Nesta passagem, Rogers descreve a sensação de um experienciar único
numa relação com o cliente, o experienciar os sentimentos do cliente, mas sem
qualquer pensamento ou diagnóstico sobre o que o cliente está sentindo. É apenas
compreender o cliente, por meio de uma relação verdadeira. É entrar nessa relação
como uma pessoa, ou seja, é entrar numa relação pessoal.
Rogers (1955/2008) relata ter se lançado nessa “relação terapêutica com uma
hipótese, ou uma crença, a de que a minha estima, a minha confiança, a minha
compreensão do mundo interno da outra pessoa, levaria a um significativo processo
do vir-a-ser” (p. 118).
Três hipóteses são estabelecidas, em sua forma bruta, dentro desse processo
relacional. Estas hipóteses são descritas como apreendidas da Terapia Centrada no
Cliente, e são elas: para que o cliente tenha uma maior aceitação do seu self é
necessário que aceite primeiro o terapeuta; e quanto mais o terapeuta perceber esse
cliente como uma pessoa, mais o cliente poderá perceber a si mesmo como pessoa;
com isso, no decorrer da terapia o cliente terá um tipo de aprendizado experiencial
sobre o self (Rogers, 1955/2008).
Neste artigo, Rogers traz a concepção de pessoa, onde o cliente deve ser
visto como pessoa dentro de uma relação terapeuta-cliente, pois desta forma o
cliente poderá enxergar a si mesmo como pessoa. Um ponto importante é o fato de
Rogers trazer, mais uma vez, a questão da não-identificação, quando descreve
acerca do experienciar os sentimentos do cliente sem ter qualquer pensamento,
preocupação com ele ou diagnosticar o cliente.
53
2.4 Fase Experiencial (1957-1970)
Nesta terceira fase, Rogers tem como foco a experienciação do cliente e a
expressão da experienciação do terapeuta, o que, segundo Holanda (1994)
representa um grande salto no seu trabalho. Também chamada de “fase de
Wisconsin”, foi marcada, de acordo com Amatuzzi (1995), “pelos conceitos
elaborados no contexto da colaboração entre Rogers e Gendlin” (p.66). Este aspecto
é enfatizado, além de Cury (1993), por Moreira (2010), que afirma que Rogers foi
influenciado pelo conceito de experienciação de Gendlin focalizando-se na
experiência vivida tanto do cliente, quanto do psicoterapeuta e de ambos. Segundo
Tassinari (2003), Rogers “com a inspiração de Gendlin, ocupa-se em sistematizar a
experiência e os processos internos que se referem à mudança na personalidade,
promovendo uma mudança de paradigma (sistêmico e não mais mecanicista)” (p.
52).
Para Boainain Jr. (1999), Gendlin propôs esse conceito com o objetivo de
esclarecer o foco orientador do centrar-se do terapeuta rogeriano. Esse experienciar
era entendido por Gendlin como “o fluxo de significados sentidos, isto é, o processo
de eventos interiores e pré-verbais fisicamente sentidos aos quais a pessoa pode ter
acesso direto e concreto em sua experiência” (Boainain Jr, 1999, p. 85).
Segundo Holanda (1994), “o objetivo nesta fase é ajudar o cliente a usar
plenamente sua experiência, promovendo uma maior congruência do self e
desenvolvimento relacional” (p.8). Para Moreira (2010), “aqui é enfatizada a
autenticidade do terapeuta enquanto atitude facilitadora” (p. 540). De acordo com
ela, nessa fase a autenticidade do terapeuta, também, passa a ser importante e a
ser entendida como parte da relação terapeuta-cliente. Cury (1993) afirma que “a
54
relação terapêutica deixa de ser centrada no cliente para tornar-se bicentrada ou
bipolar […], consistindo num esforço de exploração de dois mundos que interagem
em benefício do cliente” (p.52).
De acordo com Moreira (2001, 2007, 2010), na fase experiencial, a prática
clínica de Rogers mais se aproximou da tradição fenomenológica, na medida em
que passou a focalizar a experiência intersubjetiva, mais do que apenas se focar na
pessoa, ou seja, a referida autora quis explicitar que Rogers ao se focalizar na
experiência intersubjetiva entre cliente e terapeuta, se aproximou, neste aspecto, de
uma visão fenomenológica. Mas, depois, na fase seguinte, se distanciou dessa visão
intersubjetiva e voltou a focar-se apenas na pessoa do cliente, na experiência do
cliente.
Para Boainain Jr (1999), na época em que Rogers foi para Wisconsin, em
1957, surgiram algumas tendências e inovações que configuraram uma nova e
importante fase para a Terapia Centrada no Cliente, “cujo sentido mais sintético e
geral na relação, numa modificação ainda mais humanizadora do papel do terapeuta
na relação, numa maior aproximação do referencial existencial-fenomenológico e
numa projeção de Rogers para além do círculo profissional mais restrito” (p. 84).
Neste período, ainda de acordo com Boainain Jr (1999), Rogers era opositor das
ideias behavioristas de Skinner, e teve uma “crescente aproximação com o
pensamento existencial-fenomenológico importado da Europa” (p. 86). Além do que,
“a tônica experiencial abre caminho para o desenvolvimento de investigações em um
modelo científico de orientação fenomenológica, diferenciando-se do referencial
científico anteriormente usado nas pesquisas da ACP” (Boainain Jr, 1999, p. 86).
55
2.4.1 O conceito de empatia na fase experiencial
Em seu artigo As condições necessárias e suficientes para a mudança
terapêutica na personalidade (1957/2008), Rogers tem como preocupação, em sua
época, estabelecer teorias acerca da psicoterapia, da personalidade e das relações
interpessoais, englobando e contendo os fenômenos de sua experiência. Para
Tassinari (2003), “este artigo pode ser considerado um marco na Abordagem pela
ousadia de Rogers em propor a necessidade e a suficiência das seis condições
facilitadoras do crescimento psicológico. Centenas de pesquisas foram geradas a
partir desse artigo […]” (p. 63).
Considera, neste artigo, as seis condições básicas para o processo de
mudança na personalidade. As mudanças, ressaltadas por Rogers, somente
ocorreriam se elas existissem na relação, e que, além disso, fossem persistentes por
um período de tempo. Para Bozarth (1998/2001), Rogers postula essas condições
“para uma mudança terapêutica de personalidade em todas as terapias e relações
interpessoais construtivas, que têm por objetivo a mudança construtiva da
personalidade” (p. 10). Essas condições seriam:
1. Que duas pessoas estejam em contato psicológico;
2. Que a primeira, a quem chamaremos cliente, esteja num estado de
incongruência, estando vulnerável ou ansiosa;
3. Que a segunda pessoa, a quem chamaremos de terapeuta, esteja
congruente ou integrada na relação;
4. Que o terapeuta experiencie consideração positiva incondicional pelo
cliente;
56
5. Que o terapeuta experiencie uma compreensão empática do esquema
de referência interno do cliente e se esforce por comunicar esta experiência
ao cliente;
6. Que a comunicação ao cliente da compreensão empática do terapeuta
e da consideração positiva incondicional seja efetivada, pelo menos num grau
mínimo (Rogers, 1957/2008, p.145).
Segundo O’Leary (2008), a quinta condição é o coração da terapia, sendo a
arte de compreender com precisão o mundo de cada indivíduo, e que está claro que
o terapeuta deve experimentar, com uma exata compreensão, essa estrutura interna
do cliente, esforçando-se em comunicar esta experiência. Concorda com Rogers,
quando afirma que o terapeuta deve se envolver ativamente na terapia,
comunicando a compreensão empática e a consideração positiva incondicional ao
cliente.
Rogers estabelece que, empatia significa “sentir o mundo privado do cliente
como se ele fosse o seu, mas sem perder a qualidade de ‘como se’” (Rogers,
1957/2008, p. 151). Para Bozarth (1998/2001), “o terapeuta deve continuamente
estar consciente dos seus próprios sentimentos, como se eles fossem os
sentimentos do cliente, talvez ‘como eles realmente são’ e não ‘como se fossem’” (p.
106). Empatia consiste, portanto, em o terapeuta sentir o que o cliente está sentindo,
a raiva, o medo, como se fossem seu, sem ao menos sentir ou se envolver com os
sentimentos expressos pelo cliente (Rogers, 1957/2008). Mais uma vez, visualiza-se
a não-identificação com os sentimentos do cliente como fator primordial na atitude
empática do terapeuta.
57
Quando o mundo do cliente é suficientemente claro para o terapeuta e este
move-se nele livremente, então pode tanto comunicar sua compreensão
daquilo que é claramente conhecido pelo cliente, como também pode
expressar significados da experiência do cliente, dos quais o cliente está
apenas vagamente consciente (Rogers, 1957/2008, p. 151).
Nesta citação, podemos compreender em que consiste a atitude do terapeuta
empático, pois quando consegue entender claramente o mundo do cliente, pode
comunicar essa compreensão a ele, tanto do que é claro para ele quanto o que pode
estar pouco consciente. Isso só é possível por meio da empatia.
Rogers (1957/2008), ao citar uma pesquisa feita por Fidler (1950), mostra que
a empatia é importante para a terapia, e dentre outras condições, a condição final
deste estudo mostra que pelo menos, em um grau mínimo, o cliente perceba a
aceitação e a empatia do terapeuta em relação a ele (Rogers, 1957/2008).
No que diz respeito à técnica de reflexo de sentimentos, Rogers (1957/2008)
ressalta que esta não é uma condição essencial de terapia, mas pode ser
considerada como um canal técnico, à medida que serve de canal por onde o
terapeuta comunica a empatia e a consideração positiva incondicional. Um
determinado sentimento, também, pode ser “refletido” de uma forma que transmita a
falta de empatia do terapeuta (Rogers, 1957/2008). Assim, quando o terapeuta fala,
ele deve estar atento para o que de fato está transmitindo ao cliente, pois a fala e a
atitude podem indicar a falta ou presença de empatia. Bozarth (1998/2001) alerta
que respostas de “reformulação de sentimentos” não devem ser confundidas com
empatia, pois Rogers salienta que essas respostas não são uma condição essencial
na terapia, mas que podem servir de canal técnico, através da qual as condições
58
são veiculadas. Para Bozarth (1998/2001), “a empatia rogeriana não é
necessariamente o mesmo que ‘comunicação’ de empatia ou ‘respostas empáticas’”
(p. 98)
Bozarth (1998/2001) mostra, claramente, o que seria essa reformulação de
sentimentos:
1. A reformulação é um modo do terapeuta se tornar empático, de verificar
se compreende o cliente e de lhe comunicar esta compreensão.
2. […]. A reformulação é uma maneira de o terapeuta entrar no mundo do
cliente ‘como se’ o terapeuta fosse o cliente. A reformulação é uma
técnica que pode ajudar o processo.
3. A reformulação não é empatia. É um modo de ajudar o terapeuta a tornar-
se mais empático.
4. A empatia não é reformulação. É um processo de o terapeuta entrar no
mundo do cliente ‘como se’ o terapeuta fosse o cliente. A reformulação é
uma técnica que pode ajudar o processo. […] (pp. 98-99).
Rogers estabelece, neste artigo de 1957, a conceituação de empatia dentro
de uma condição de “como se”, que norteará todo nosso entendimento deste
conceito em seu pensamento. Além disso, relata que o reflexo de sentimentos não
se apresenta como uma condição essencial de terapia, uma vez que, também, pode
transmitir a falta de empatia. Para Bozarth (1998/2001), Rogers deixou claro que “a
técnica seria de pouco valor se não tivesse enraizada nas atitudes do terapeuta” (p.
92), e deixa claro que essas atitudes do terapeuta ajudam a provocar uma mudança
construtiva da personalidade do cliente.
59
Em A Equação do Processo da Psicoterapia (1961/2008), Rogers apresenta
sua “formulação atual do processo de terapia, que incorpora parte do conhecimento
mais recente” (Rogers, 1961/2008, p. 93).
Rogers (1961/2008) relata um primeiro estudo feito por Halkides (1958/2008),
que partiu de suas próprias formulações, referente às condições necessárias e
suficientes para a mudança terapêutica, para desenvolvê-lo. Dos resultados desse
estudo, foi descoberto que um alto grau de compreensão empática estava
correlacionado aos casos mais bem sucedidos. Outro resultado, também, consistia
no fato de que se o conselheiro era empático no início o era também no final. “Isso
significa que as atitudes do conselheiro foram muito constantes no decorrer das
entrevistas. Se ele era altamente empático, tendia a sê-lo do começo ao fim”
(Rogers, 1961/2008, p. 95). Como último resultado, comprovou a correlação entre
empatia, autenticidade ou congruência e consideração positiva incondicional.
Um segundo estudo, mencionado por Rogers (1961/2008), foi o de Barrett-
Lennard (1959). Este, da mesma forma que Halkides (1958), quis investigar a teoria
que Rogers tinha proposto sobre as qualidades essenciais da relação. Rogers
(1961/2008) afirma que “ele estudou a maneira pela qual o relacionamento era
percebido pelo cliente e pelo terapeuta. Desenvolveu um Inventário de
Relacionamento que tinha formas diferentes para clientes e terapeutas e foi
planejado para estudar cinco dimensões do relacionamento” (p. 96). Autenticidade,
grau de consideração e incondicionalidade de aceitação foram correlacionados a
uma terapia bem sucedida. Tal como a empatia, que foi mais significativamente
correlacionada à mudança (Rogers, 1961/2008).
Assim podemos dizer, com alguma certeza, que um relacionamento
60
caracterizado por um alto grau de congruência ou autenticidade do terapeuta;
por um alto grau de consideração, respeito e apreço pelo cliente por parte do
terapeuta; e por ausência de condicionalidade em sua consideração, terá alta
probabilidade de ser uma relação terapêutica eficaz. Essas qualidades
parecem ser os fatores básicos produtores de mudança na personalidade e
no comportamento (Rogers, 1961/2008, p. 98).
Segundo Rogers (1961/2008), esses elementos citados parecem ser
necessários em uma Terapia Centrada no Cliente e em uma mudança construtiva na
personalidade. Apresenta-nos, ainda, uma equação mais completa.
Quanto mais o cliente perceba o terapeuta como real, genuíno, empático,
manifestando uma consideração incondicional por ele, mais se distanciará de
um tipo de funcionamento estático, sem sentimentos, fixo, impessoal e mais
se aproximará de um modo de funcionamento caracterizado pela experiência
fluida, mutável e aceitadora dos sentimentos pessoais diferenciados (Rogers,
1961/2008, p. 109, grifo do autor).
De acordo com Rogers (1961/2008), as mudanças ocorrem devido às atitudes
do terapeuta, e não devido ao que ele estudou, aos seus conhecimentos, as suas
técnicas, mas como ele age na relação. Estas descobertas significam, para Rogers,
que a terapia é um relacionamento que desafia o terapeuta a
ser a pessoa que é, tão sensivelmente quanto seja capaz, sabendo que é a
sua transparente realidade, paralelamente à afeição e à compreensão
61
empática promovidas por essa mesma realidade, que pode servir de ajuda a
seu cliente. Na medida em que puder ser uma pessoa nesse momento, terá
condições de se relacionar com a pessoa e com a pessoa potencial em seu
cliente. Isso, acredito, é a essência curativa, promotora de crescimento em
psicoterapia (Rogers, 1961/2008, p. 111).
Em vista disso, Rogers ressalta, detalhadamente, a importância das
condições facilitadoras dentro de uma relação terapêutica; e por meio de estudos
mostrou a consistência e a fidelidade das atitudes facilitadoras que os terapeutas
apresentavam. E, é por causa dessas atitudes que as mudanças ocorrem e não
devido as suas técnicas terapêuticas, ou seu estudo.
2.4.2 A Compreensão Empática
Durante a fase experiencial (1957-1970), Rogers desenvolveu a obra Tornar-
se Pessoa (1961/1987), onde fez um longo resumo sobre sua história,
principalmente, no campo da psicoterapia. Apresentou os princípios da terapia
centrada no cliente nos domínios da educação, nas relações familiares,
interpessoais, entre outros, apresentando-os como uma filosofia de vida.
Focalizando a relação terapeuta-cliente, apresenta o termo compreensão empática.
Trouxe, ainda, a questão dos procedimentos favoráveis e desfavoráveis em uma
relação terapêutica.
Ressaltou que dentre os fatores desfavoráveis em uma relação terapêutica
estavam a falta de interesse, uma atitude distante e que afastava, ou ainda uma
simpatia excessiva. Dentre os procedimentos desfavoráveis estavam “aqueles em
62
que o terapeuta dava conselhos diretos e precisos ou em que concedia uma grande
importância ao passado em vez de enfrentar os problemas atuais” (Rogers,
1961/1987, p.47).
Rogers cita, nessa obra, diversos estudos relacionados às atitudes do
terapeuta, assinalando que compreender o cliente é uma atitude de desejo por parte
do terapeuta, da relação entre a alteração construtiva do cliente com as atitudes do
terapeuta, enfim, estudos que foram relatados com a finalidade de dar sustentação
empírica e científica às atitudes do terapeuta numa relação terapeuta-cliente.
Rogers (1961/1987) resume, basicamente, o que seriam as condições
facilitadoras do crescimento psicológico. Dentre estas, uma é
designada/apresentada como Compreensão Empática. Esta condição se cumpre
quando
o terapeuta é sensível aos sentimentos e às reações pessoais que o cliente
experiencia a cada momento, quando pode apreendê-los ‘de dentro’ tal como
o paciente os vê, e quando consegue comunicar com êxito alguma coisa
dessa compreensão ao paciente (Rogers, 1961/1987, p.66).
Esse tipo de compreensão difere daquela que nós com frequência recorremos
ao dizermos ao outro que compreende seu problema, que sabe o que o levou a agir
de determinada maneira; ou seja, essas são, segundo Rogers, “os tipos de
compreensão que estamos habituados a dar e receber, uma compreensão que julga
do exterior” (1961/1987, p.66). Mas quando a pessoa que ouve, compreende sem
querer analisar ou julgar, proporciona o crescimento e o desabrochar do outro.
Assim,
63
quando o terapeuta é capaz de apreender o que o cliente está
experienciando, momento a momento, em seu mundo interior, como este o
sente e o vê, sem que a sua própria identidade se dissolva nesse processo de
empatia, então a mudança pode ocorrer (Rogers, 1961/1987, p.66).
Sejam quais forem os sentimentos e os modos de expressão ou impressão, o
cliente sente que está sendo psicologicamente aceito pelo terapeuta. Sente-se
aceito, igualmente, se o terapeuta expressa e tem uma atitude de respeito e
aceitação por ele e confiança de que o mesmo tem a possibilidade para resolver
seus problemas;
se se atingir um nível de comunicação onde o cliente pode começar a
perceber que o terapeuta compreende os sentimentos que está
experienciando e que os aceita a um profundo nível de compreensão, nesse
momento podemos estar certos de que se iniciou o processo terapêutico. […]
(Rogers, 1961/1987, p.76).
Diante dessas condições, dessa confiança, a mudança pode ocorrer, pois
tanto o cliente se modifica e se reorganiza, como conquista uma nova concepção de
si mesmo. O cliente passa a se sentir uma pessoa de valor, autônoma e que pode
fundamentar seus próprios valores e normas, sentindo uma atitude mais positiva em
relação a si mesmo.
No trabalho com seus clientes, Rogers procurava criar um clima onde
houvesse segurança, calor e compreensão empática. Para ele, mesmo que seja
mínima, essa compreensão empática é fundamental; mas, evidentemente, como
64
afirma Rogers (1961/1987), a ajuda é muito maior quando o terapeuta é capaz de
captar e formular com clareza o que experimentou do cliente. Podemos dizer que,
neste sentido, o terapeuta
é capaz de se abandonar para compreender o seu cliente que não existem
barreiras interiores a impedirem-no de sentir o que ele próprio e o cliente
sentem em cada momento da relação; e que pode transmitir algo dessa
compreensão empática ao cliente. Isso significa, por último, que o terapeuta
está à vontade ao introduzir-se plenamente na relação com o cliente, sem
conhecer de antemão para onde se encaminham, satisfeito com o fato de
proporcionar um clima que torna possível ao indivíduo a maior liberdade para
ele ser próprio (Rogers, 1961/1987, p.165).
Rogers (1961/1987) mostra que ao se lançar nessa relação a simpatia, a
confiança e a compreensão do “mundo interior da outra pessoa provocarão um
significativo processo de transformação. […]” (1961/1987, p.181). Ou seja, insiro-me
numa relação pessoal, olhando o cliente como sujeito e não como um objeto. Para
tanto,
abandono-me ao caráter imediato da relação ao ponto de ser todo o meu
organismo, e não simplesmente a minha consciência, que é sensível à
relação e se encarrega dela. Não respondo conscientemente de uma forma
planejada ou analítica, mas reajo simplesmente de uma forma não reflexiva
para com o outro indivíduo, baseando-se a minha reação (embora não
conscientemente) na minha sensibilidade total organísmica a essa outra
65
pessoa. Eu vivo a relação nesta base (Rogers, 1961/1987, pp. 181-182).
Outro estudo importante, citado por Rogers (1961/1987), foi o de Raskin
(1949) que mostra que a função do terapeuta consiste em pensar com o cliente e
não por ele ou sobre ele. O máximo dessa função seria, então, pensar e entrar em
empatia com o cliente respeitando-o.
Diante do explanado, a empatia é compreendida como sendo o experimentar
uma compreensão do mundo particular do cliente, captando assim seu mundo de
uma maneira “como se” tivesse sentindo seus medos, suas angústias, seus receios,
enfim, sem se afetar por isso. É o movimentar-se pelo mundo do cliente,
compreendendo esse mundo e comunicando ao cliente essa compreensão obtida.
Esse acesso ao mundo do cliente se dá por meio dos sentimentos manifestados,
onde passo a passo o psicoterapeuta escuta, parte do seu ponto de vista e “entra”
no seu mundo. Desta forma acurada, o cliente passa a sentir segurança na relação e
passa ter novas e variadas formas de se relacionar com o mundo e consigo mesmo.
Portanto, a eficácia do terapeuta apresenta-se quando ele é sincero, quando aceita o
cliente tal como ele é e a si mesmo dentro de um estado de acordo interno, e
manifesta uma empatia total na qual possa enfrentar o mundo do cliente a partir dos
olhos deste. Rogers (1961/1987) afirma que a congruência, a aceitação e empatia
do terapeuta devem ser comunicadas com êxito ao cliente e não é suficiente apenas
que o terapeuta as tenha.
Então,
compreender a fundo as ideias e os sentimentos de outra pessoa, com o
significado que essa experiência tem para ela, e, inversamente, ser
66
profundamente compreendido por essa outra pessoa – é uma das
experiências mais humanas e mais compensadoras e, ao mesmo tempo, uma
das experiências mais raras (Rogers, 1961/1987, p.283).
É essa a função do psicoterapeuta, ajudar ao outro a realizar uma
comunicação perfeita consigo mesmo, assim ele será capaz de comunicar-se mais
livremente e eficazmente com os outros ao seu redor (Rogers, 1961/1987). Portanto,
está claro que ser empático provoca uma “maior aceitação de uns pelos outros e
contribui para atitudes que são mais positivas e mais suscetíveis de conduzirem a
soluções” (Rogers, 1961/1987, p.294).
Mais uma vez, Rogers utiliza-se de estudos para fundamentar sua visão de
condições facilitadoras para o crescimento e para a mudança. Essa compreensão
vem relacionada ao fato do cliente ser aceito pelo terapeuta e este o tratar como
pessoa, acreditando que o cliente tem a capacidade de crescer e resolver seus
próprios problemas. Além de entendermos mais uma vez que devemos ser
facilitadores dentro de um processo de “como se”, com o cliente e não por ele ou
sobre ele. Bozarth (1998/2001) sublinha essa ideia de que Rogers insistia no fato de
que “devíamos aperceber do quadro íntimo de referências, do ponto de vista da
pessoa, sem perder a sua condição de ‘como se’” (p. 97).
Em Conceito de Pessoa em Funcionamento Pleno (1963/2008), Rogers
presume que uma pessoa que possua uma relação intensa e extensa com a Terapia
Centrada no Cliente e se essa terapia foi bem sucedida, então, significa que o
terapeuta foi capaz de entrar numa relação pessoal com o cliente, essa relação pôde
se dá de forma subjetiva e intensa. À medida que isso acontece, está ocorrendo aí
uma relação de pessoa para pessoa, onde o terapeuta sente o cliente como uma
67
pessoa, independentemente de sua condição, de seu comportamento ou de seus
sentimentos, o cliente é visto como uma pessoa incondicionalmente valorosa.
Isso significa que o terapeuta terá sido capaz de se entregar à compreensão
do cliente, que nenhuma barreira interna o impediu de captar o que, na sua
percepção, o cliente seja, a cada momento da relação, e que ele pôde
transmitir algo da sua compreensão empática ao cliente. Significa que o
terapeuta sentiu-se confortável ao entrar plenamente nessa relação, sem
saber cognitivamente onde isso o levaria, satisfeito em prover um clima que
libertasse o cliente para que este se tornasse ele mesmo (Rogers, 1963/2008,
p.74).
Na obra Psicoterapia e Relações Humanas (Rogers, 1965/1977a) Volume I,
Rogers afirma que a empatia é uma das noções relativas à fonte de conhecimento.
Para ele, empatia ou compreensão empática
consiste na percepção correta do ponto de referência de outra pessoa com as
nuances subjetivas e os valores pessoais que lhe são inerentes. Perceber de
maneira empática é perceber o mundo subjetivo do outro ‘como se’ fossemos
essa pessoa – sem, contudo, jamais perder de vista que se trata de uma
situação análoga, ‘como se’. A capacidade empática implica, pois, em que, por
exemplo, se sinta a dor ou o prazer do outro como ele os sente, em que se
perceba sua causa como ele a percebe (isto é, em se explicar os sentimentos
ou as percepções do outro como ele os explica a si mesmo), sem jamais se
esquecer de que estão relacionados às experiências e percepções de outra
68
pessoa. Se esta última condição está ausente, ou deixa de atuar, não se
tratará mais de empatia, mas de identificação (Rogers, 1965/1977a, p.179,
grifo do autor).
A percepção do mundo subjetivo do outro é “como se” você fosse ele, não se
identificando. É importante lembrar que a compreensão empática está relacionada
às experiências e percepções de outra pessoa, não as nossas, por isso a não-
identificação. Para Vieira e Freire (2006) esse “como se” se apresenta como uma
abertura à visitação do estranho, do que não é reconhecido como nosso. Portanto,
esse experimentar o mundo do outro numa condição de “como se” não é entrar em
estado de identificação com o que o cliente traz, ou seja, é não se envolver com
esses sentimentos. Esse “como se” consiste no olhar o mundo subjetivo do cliente a
partir da lente dele, e ao tirá-las voltar para nosso mundo de origem, nossa terra
natal.
Rogers (1965/1977a) cita, mais uma vez, as condições fundamentais para o
processo terapêutico. Dentre elas, ele ressalta que o terapeuta deve experimentar
uma compreensão empática do ponto de referência interno do cliente e que o cliente
deve perceber, mesmo que minimamente, a consideração positiva incondicional e a
compreensão empática que o terapeuta lhe assiste. O autor, também, afirma que a
atitude empática e a consideração positiva incondicional só podem funcionar de
maneira adequada quando o terapeuta informa explicitamente, ou seja, verbalmente
que as está experienciando na relação. Caso o terapeuta não consiga comunicar ao
cliente que está vivenciando a atitude empática e a consideração positiva, ele
precisa informar, pelo menos, em uma proporção mínima. No entanto, o terapeuta
não deve fingir que as está vivenciando, pois ele só deve comunicar ao cliente se ele
69
estiver realmente experimentando esses sentimentos. Isso quer dizer que, o
terapeuta deve estar em eficaz estado de acordo interno para que possa
experimentar os sentimentos que supõe ter de experimentar. Sentimentos tais como
a consideração positiva incondicional e a compreensão empática (Rogers,
1965/1977a).
Algumas conclusões relativas à natureza humana são comentadas nesta
obra. Rogers (1965/1977a) explica que o conhecimento dessas conclusões é
importante para que sua teoria possa ser compreendida. Dentre elas, é possível
enunciar que deve ser experimentada “com relação ao interessado uma atitude de
consideração positiva incondicional e uma compreensão empática” (Rogers,
1965/1977a, p.193, grifo do autor). Como explanado pelo próprio autor, essas
notificações serviram para confirmar o que foi proposto na teoria.
Em situações de desenvolvimento, de contradições de comportamento, de
experiência de ameaça e o processo de defesa ou em casos de desmoronamento,
Rogers (1965/1977a) diz que pode se produzir um processo de reintegração que
acarreta em um restabelecimento entre o eu e a experiência. Esse processo é
chamado de reintegração. Uma das características que colabora para a implicação
desse processo é a comunicação efetiva da consideração positiva incondicional que
se realiza através da compreensão empática. Ele explica de maneira mais clara no
trecho seguinte.
Observemos que a verdadeira comunicação bilateral da consideração positiva
incondicional pressupõe sempre a compreensão empática. Com efeito, se
experimento um sentimento de consideração positiva incondicional com
relação a uma pessoa que mal conheço, este sentimento tem muito pouco
70
significado, pois, pode mudar logo que passar a conhecê-la melhor e vier a
descobrir nela características pelas quais não tenho nenhuma consideração.
Ao contrário, se eu a conheço a fundo, e por assim dizer, de “dentro”
empaticamente, e se minha consideração incondicional se mantém, então
este sentimento é altamente significativo (Rogers, 1965/1977a, p.207).
Ao explicar as condições do desenvolvimento de uma relação que se
deteriora, Rogers (1965/1977a) demonstra que se as condições facilitadoras, de um
processo terapêutico, não forem devidamente implantadas na relação, essa relação
se torna negativa. Caso o cliente não esteja sentindo uma relação empática, ele se
sentirá menos confortável para expressar o que sente, se sentirá menos capaz de
expressar sentimentos relativos ao eu, sua percepção será menos diferenciada, ele
estará menos capacitado a perceber e a exprimir o desacordo existente entre os
dados de sua experiência e a imagem que faz de si próprio, ele se tornará menos
habilitado a reorganizar sua imagem (Rogers, 1965/1977a).
Considerando estudos feitos por Halkides (1958), Rogers (1965/1977a) se
utiliza de uma hipótese formulada por este autor sobre a existência de uma ligação
significativa entre o grau de reorganização da personalidade e quatro variáveis.
Dentre essas quatro variáveis, Rogers (1965/1977a) destaca a compreensão
empática do cliente pelo terapeuta. Ao realizar essa pesquisa, foi encontrado um
resultado satisfatório sobre a compreensão empática. “Mais precisamente, a
correlação entre a compreensão empática e o sucesso do caso era significativa a
um nível estatístico de 0,001 – isto para os casos mais bem sucedidos” (Rogers,
1965/1977a, p.249).
Ao falar dos resultados que esperava encontrar em uma de suas pesquisas,
71
Rogers (1965/1977a) mostra o que considera importante em uma relação
terapeuta/cliente, como é possível compreender no parágrafo seguinte.
Para alcançar os resultados por mim imaginados, seria necessário: que o
terapeuta tenha sido capaz de se empenhar numa relação profundamente
pessoal com o cliente; [...] qualquer que fosse o estado, o comportamento ou
a atitude deste; que o terapeuta se tenha mostrado disponível ao cliente e
que, em consequência, tenha sido capaz de compreendê-lo; que nenhum
obstáculo interior tenha impedido o terapeuta de participar das experiências
do cliente, em qualquer momento do processo, e que, numa certa medida,
tenha conseguido comunicar esta compreensão empática ao cliente (Rogers,
1965/1977a, pp. 256-257).
Após vivenciar todo esse processo facilitador, proposto pelo terapeuta, o
cliente viverá uma experiência ótima, conseguindo se entregar a uma exploração
progressiva de pensamentos e de sentimentos porque percebeu que o terapeuta o
aceitava de modo incondicional (Rogers, 1965/1977a).
Em um processo terapêutico, os sentimentos, que antes não eram percebidos
ou expressos pelo cliente, passam a serem expostos na relação. “Em suma, seu
hábito de censurar os dados de sua experiência e de interceptar os dados
inadmissíveis é substituído por uma capacidade de sentir, de ‘viver’ suas
experiências quaisquer que sejam elas” (Rogers, 1965/1977a, p.261).
Essa aceitação incondicional por parte do terapeuta faz com que o cliente
perceba esta disponibilidade e se sinta compreendido e respeitado enquanto sujeito.
Desta forma, os sentimentos que antes não eram expressos vêm à tona,
72
possibilitando ao cliente uma maior compreensão de suas dificuldades, de seus
problemas, de seu mundo interno.
Percebe-se uma ligação existente, desde o início dos escritos de Rogers,
entre aceitação positiva incondicional e empatia, onde podemos observar que uma
não pode se apresentar sem a outra, havendo assim uma espécie de
complementação, pois a partir dessa consideração positiva incondicional para com o
cliente é que vai existir uma possibilidade de compreensão empática. Isso é
confirmado, quando Rogers (1965/1977a) afirma que “a confirmação efetiva desta
consideração positiva incondicional se realiza através de compreensão
empática” (p.206, grifo do autor). Bozarth (1998/2001) igualmente afirma isso, pois
“para que o olhar incondicionalmente positivo seja transmitido, tem de existir num
contexto de compreensão empática” (p. 73). Afirma ainda que,
o pressuposto implícito, e muitas vezes implícito, de Rogers, na sua definição
de compreensão empática é que esta está integralmente relacionada com o
olhar incondicionalmente positivo do terapeuta em relação ao cliente. Na
verdade, a compreensão empática é a aceitação incondicional do quadro de
referências do indivíduo (Bozarth, 1998/2001, p. 87).
A empatia e o olhar incondicionalmente positivo são inseparáveis. A primeira é
uma manifestação e um veículo de comunicação do segundo (Bozarth, 1998/2001).
Além disso, para Bozarth (1998/2001) a congruência do terapeuta, também, está
completamente interligada com a empatia. “Isto significa que, quanto mais
transparente o terapeuta for na relação, mais intensa será a empatia” (p. 106).
Está muito claro, dentro dos escritos de Rogers, que as condições
73
facilitadoras se complementam, principalmente dentro de um clima facilitador, sendo
importantes para a mudança terapêutica, para a facilitação do crescimento do cliente
e das relações grupais e humanas como um todo, e estão intimamente relacionadas
uma a outra.
2.5 Fase Inter-Humana ou Coletiva (1970-1987)
Diante de possíveis nomenclaturas para essa fase, é necessário justificar a
posição de cada um dos precursores das mesmas. Moreira (2010) a nomeia como
sendo Fase Coletiva, porque “nos últimos 15 anos de sua vida Rogers voltou seu
interesse para questões mais amplas, concernentes às atividades de grupo e à
relação humana coletiva, abandonando definitivamente a atividade de terapia
individual no consultório e assumindo a definição de abordagem em vez de
psicoterapia para o seu trabalho” (Moreira, 2010, p. 541). Holanda (1994), ao
repensar as fases do pensamento de Rogers, denomina essa fase de Inter-Humana
baseando-se na linguagem buberiana, pois considera que “‘coletiva” privilegia
demasiado uma outra dimensão da existência humana, a social, representada pelo
grupo onde temos a realização desse coletivo, mas que, em geral, suprime o
elemento pessoal, individual, ‘justamente o elemento mais importante’” (Holanda,
1994, p.9). Além dessas nomenclaturas citadas para essa quarta fase, é importante
citar também, a ideia de Boainain Jr (1999), que em sua descrição da ACP, mantém
as denominações das três fases anteriores e quanto as duas últimas ele as designa
como sendo a quarta fase, a Fase dos Grupos de Encontro (anos 60 a meados de
70) e a quinta fase, a Fase dos Grandes Grupos (de meados dos anos 70 em
diante).
74
A Fase dos Grupos de Encontro corresponde, segundo Boainain Jr (1999), ao
momento em que Rogers praticamente abandona “as atividades de terapeuta
individual, de pesquisador e de professor universitário, para se tornar conferencista,
escritor e, sobretudo, um facilitador de grupos de encontro, atividade que marca e
inspira a maior parte de sua produção nesses anos” (Boainain Jr, 1999, p. 87).
Na Fase dos Trabalhos de Grandes Grupos (que corresponde à quinta fase,
mas inicia-se quando Rogers ainda era vivo, diferentemente da maioria das
propostas pós-rogeriana que se iniciam após a morte de Rogers) proposto por
Boainain Jr (1999), “três tendências ou aspectos centrais contribuem, […], para
caracterizar essa última década da vida de Rogers como uma fase distinta de seu
trabalho e de seu pensamento” (p. 89). A primeira dessas tendências, “diz respeito
ao desenvolvimento de uma nova modalidade de trabalho grupal centrado na
pessoa, designado como o trabalho com grandes grupos” (Boainain Jr, 1999, pp. 89-
90), tais como as comunidades de aprendizagem, encontros de aprendizagem
comunitária, workshops comunitários, ou outras grandes reuniões de pessoas. A
segunda, “refere-se à conscientização e crescente exploração das potencialidades
políticas decorrentes do ponto de vista centrado na pessoa desenvolvido pelo
pensamento e prática de Rogers” (Boainain Jr, 1999, pp. 90-91). No que concerne a
terceira, “consiste na crescente aproximação da perspectiva místico-espiritual que
contemporaneamente caracteriza o movimento transpessoal em psicologia” (p. 92).
Nesta fase, Rogers estende sua visão para mais do que apenas workshops,
estende para visões mais universais, para questões relacionadas a desacordos
internacionais propondo para seus membros e parlamentares que sejam adeptos do
ouvir, da compreensão e do respeito mútuo e volta-se para questões educacionais,
familiares, organizacionais e tudo onde exista uma visão universal de humanidade,
75
respeito e coletividade.
Para Holanda (1994), essa fase correspondeu à transcendência de valores e
ideias, onde Rogers demonstrou preocupação com o futuro da humanidade e do
mundo. Essa seria, então, para Holanda (1994), uma fase mística e holística de
Rogers, voltada para a transcendência da existência humana. E, para Boainain Jr
(1999), corresponde, também, a perspectiva místico-espiritual.
É nesta fase, que Rogers assume a denominação de Abordagem Centrada na
Pessoa, pois a mesma não é somente focada no cliente, mas em toda e qualquer
relação de desenvolvimento humano.
2.5.1 O conceito de empatia na fase inter-humana ou coletiva
Na obra A Pessoa como Centro (Rogers, 1975/1977), Rogers mostra que
pesquisadores passaram a compreender a possibilidade desta abordagem ser de
aplicação universal e ser utilizada numa infinita possibilidades de situações
humanas. O interesse de Rogers parte então, nesta fase, para mais do que apenas
atividades terapêuticas individuais; parte também para problemas sociais cada vez
mais amplos. Rogers foca-se em pessoas e em relações interpessoais.
No artigo Uma Maneira Negligenciada de Ser: a maneira empática (1975),
que se faz presente como um dos capítulos da obra em português A Pessoa como
Centro (1977), Rogers defende a tese de se reexaminar uma maneira especial de
ser, a maneira empática. Para ele é uma maneira sutil e poderosa no funcionamento
pessoal, mas é raramente encontrada integralmente numa relação interpessoal.
Infelizmente, alguns percalços o haviam feito, por alguns anos, não dizer mais
nada sobre a atenção empática. A abordagem proposta por Rogers fora considerada
76
como uma técnica de refletir sentimentos, portanto, a atenção empática (resposta
empática) fora deixada de lado por um tempo. Com o decorrer dos anos, a
importância da empatia foi se apresentando, “levando-nos à conclusão de que um
alto grau de empatia talvez seja o fator mais importante na promoção de mudanças
e aprendizagem” (Rogers, 1975, p.71). Por conseguinte, ele acreditava que era
necessário darmos uma maior importância à resposta empática e mirar a empatia
com novos olhos. Logo, passou a considerar a empatia como talvez um fator mais
relevante numa relação, e como sendo um dos fatores mais importantes para a
promoção de mudanças e aprendizagem (Rogers, 1975/1977).
Uma observação importante, posta por Rogers (1975/1977), diz respeito ao
momento de reconhecer o valor da empatia
Tenho observado que existem muitas pessoas dispostas a rever as maneiras
de estar com pessoas, que possibilitem mudanças auto-dirigidas e que
localizem o poder na pessoa e não no especialista; este fato leva-me, mais
uma vez, a examinar cuidadosamente o significado que atribuímos à empatia
e o que sabemos a respeito dela (p. 71, grifo do autor).
Rogers deu várias definições à empatia, até então, mas necessitava formular
uma definição mais atual, e para tanto lançou mão do conceito de vivência de
Gendlin que norteou as ideias de Rogers neste artigo Uma maneira negligenciada
de ser: a maneira empática.
Para Rogers, Gendlin é de
opinião que durante todo o tempo se verifica no organismo humano um fluxo
77
de vivência ao qual o indivíduo pode se voltar repetidas vezes, usando-o
como ponto de referência para descobrir o significado de sua existência.
Segundo ele, empatia é ressaltar com sensibilidade o ‘significado sentido’ que
o cliente está vivenciando num determinado momento, a fim de ajudá-lo a
focalizar este significado até chegar à sua vivência plena e livre (Rogers,
1975/1977, p. 72).
Logo após essa retaguarda conceitual, Rogers passa então a formular uma
definição mais atual de empatia, onde a mesma não é mais vista como um estado,
mas como um processo. Como nos esclarece Amatuzzi (1995), esse processo não é
um estado, mas um movimento, pois “quando o processo se instaura é a própria
estrutura que se questiona, se flexibiliza, se transforma” (p. 65). Diante dessa nova
maneira de compreender a empatia, surgiu uma conceituação mais atual
estabelecida por Rogers (1975/1977), onde a empatia
significa penetrar no mundo perceptual do outro e sentir-se totalmente a
vontade dentro dele. Requer sensibilidade constante para com as mudanças
que se verificam nesta pessoa em relação aos significados que ela percebe,
ao medo, à raiva, à ternura, à confusão ou ao que quer que ele/ela esteja
vivenciando. Significa viver temporariamente sua vida, mover-se
delicadamente dentro dela sem julgar, perceber os significados que ele/ela
quase não percebe, tudo isto sem tentar revelar sentimentos dos quais a
pessoa não tem consciência, pois isto poderia ser muito ameaçador. Implica
em transmitir a maneira como você sente o mundo dele/dela à medida que
examina sem viés e sem medo os aspectos que a pessoa teme. Significa
78
frequentemente avaliar com ele/ela a precisão do que sentimos e nos
guiarmos pelas respostas obtidas. Passamos a ser um companheiro confiante
dessa pessoa em seu mundo interior. Mostrando os possíveis significados
presentes no fluxo de suas vivências, ajudamos a pessoa a focalizar esta
modalidade útil de ponto de referência, a vivenciar os significados de forma
mais plena e a progredir nesta vivência.
Estar com o outro desta maneira significa deixar de lado, neste
momento, nossos próprios pontos de vista e valores, para entrar no mundo do
outro sem preconceitos; num certo sentido, significa pôr de lado nosso próprio
eu [...] (Rogers, 1975/1977, p.73).
Essa definição foi analisada por Freire (2000), que percebeu que Rogers
engloba três facetas do zmodo de ser empático. Designou-as, portanto, como sendo
“experiência empática”, “compreensão empática” e “reflexo de sentimentos”. Para
ela, a primeira faceta diz respeito a “uma maneira de estar na relação com o outro”
(p. 16, grifo do autor), e a segunda se refere a conhecer os significados e
sentimentos que o outro está experienciando na relação. Já o reflexo de
sentimentos, apresenta-se como “um método ou um modo de comunicação na
relação com o cliente” (Freire, 2000, p. 17, grifo do autor).
Por mais que aparente ser sutil e suave, ser empático é algo complexo, pois
exige muita doação, disponibilidade e aprendizado. No que se refere às pesquisas
realizadas e aos conhecimentos obtidos, Rogers afirma que “a empatia está
claramente relacionada a resultados positivos” (1975/1977, p.79).
Rogers, tanto em psicoterapia quanto em aconselhamento individual,
descobriu que a confiança na capacidade do cliente para caminhar na direção de
79
uma autocompreensão e tomar providências construtivas para resolver problemas,
era compensador (Rogers, 1977), pois ao criar um clima facilitador, o cliente podia
sentir que o terapeuta estava sendo empático, caloroso e verdadeiro. Da mesma
forma, Rogers procurou estabelecer um clima facilitador com os seus alunos, que
embora inicialmente relutantes, o resultado foi surpreendente, pois os estudantes
passaram a ser mais responsáveis e aprendiam mais. Rogers, logo, se tornou um
facilitador de aprendizagem.
Nessa facilitação de aprendizagem, a compreensão empática foi primordial
“na criação de um clima para a aprendizagem vivencial e auto-iniciada” (Rogers,
1977, p.149). O clima facilitador, caracterizado pela autenticidade, pela aceitação e
pela compreensão, ajuda as pessoas e grupos a saírem da rigidez e a caminharem
em direção à flexibilidade, à autonomia, à criatividade, à auto-aceitação, enfim
(Rogers, 1977).
Rogers (1975/1977) nos mostra que muitas pesquisas demonstraram o
quanto existe uma correlação entre a empatia transmitida pelo terapeuta, a
autoexploração do paciente e as mudanças que ocorrem no cliente.
De acordo com Rogers (1975/1977), a interação empática permite que o
sujeito perceba-se como membro da raça humana, na medida em que alguém o
valoriza e está atento para a pessoa que ele é, aceitando-o. Não podemos sentir o
mundo perceptual do outro se não o valorizamos enquanto pessoa.
A empatia ou compreensão empática consiste em aceitar e não julgar. Não
podemos ajudar o cliente se formamos a respeito dele uma opinião, que muitas
vezes é infundada. “A verdadeira empatia jamais abrange qualquer característica
avaliativa ou diagnóstica” (Rogers, 1975/1977, p.82). Por isso, faz-se necessário
ouvir o cliente de forma interessada e não avaliativa. Isso é um fator muito poderoso
80
dentro do processo psicoterapêutico, pois se estabelece uma alta sintonia entre
ambos. Nesse momento, o cliente desenvolve, a partir da compreensão, “uma
qualidade de pessoa, sua identidade” (Rogers, 1975/1977, p. 82).
“A empatia proporciona esta confirmação necessária de que existimos como
pessoa individual, valorizada e possuidora de uma identidade” (Rogers, 1975/1977,
p.83). Ou seja, o cliente passa a perceber um novo aspecto de si mesmo. Daí em
diante, “o comportamento modifica-se no sentido de corresponder ao self que acaba
de ser percebido” (Rogers, 1975/1977, p.83).
É prover, por meio da empatia, a aprendizagem do respeito a si mesmo, ao
seu mundo interno, e entrar em contato com uma variedade maior de suas vivências,
permitindo seu fluxo normal. Isto quer dizer que a pessoa passa a ser promotora de
seu crescimento.
Rogers (Rogers, 1975/1977) comenta acerca da importância de ouvir o cliente
no momento da terapia. Ele aprendeu que ouvir e transmitir compreensão ao cliente
são forças poderosas que possibilitam uma mudança terapêutica no cliente. Essa
atenção empática (ouvir), segundo ele, possibilita o acesso ao mundo misterioso do
sujeito.
Em Sobre o Poder Pessoal (1977/1986), Rogers mais uma vez enfatiza a
questão das atitudes facilitadoras, tendo como aspecto facilitador do relacionamento
a compreensão empática. Mais precisamente, podemos entendê-la como sendo a
maneira do terapeuta sentir os sentimentos e os significados que estão sendo
vivenciados pelo cliente pessoalmente, comunicando-lhe esta compreensão. Em
certo momento, onde se atinge um ponto máximo de compreensão, o terapeuta
pode mais do que apenas estar dentro do mundo do cliente, pode, também, ter
acesso ao que está abaixo do nível da consciência. Obviamente, sem exercer
81
controle sobre o cliente, e sim, ajudá-lo a compreender seu próprio mundo de forma
mais clara. Neste caso, é o próprio cliente que obtém sobre si mesmo um maior
controle e toma suas próprias decisões (Rogers, 1977/1986).
Trata-se, portanto, da facilitação na relação com o cliente e dos grupos entre
si. Na relação terapeuta-cliente, essa facilitação proporciona que o cliente tome
posse de si mesmo; e nas relações grupais, permite que os sentimentos sejam
expressos, esclarecidos e entendidos pelos participantes dos grupos. A expressão
do sentimento se dá por meio de uma comunicação aberta, onde as atitudes e
sentimentos são levados em consideração não importando a intensidade deles
(Rogers, 1977/1986). “É evidente que as atitudes facilitadoras podem criar uma
atmosfera onde seja possível uma expressão aberta. Expressão aberta, neste tipo
de clima, leva à comunicação. Melhor comunicação leva, frequentemente, à
compreensão e compreensão derruba muitas das antigas barreiras” (Rogers,
1977/1986, p. 131).
Rogers orgulhava-se dos membros de seus grupos, quando estes mostravam
preocupação em relação aos outros e quando tinham um interesse mais amplo. Para
ele, quando existia um clima facilitador, desenvolvia-se um comportamento
responsável tanto entre jovens, quanto nos idosos. Esse interesse significa que o
outro, ao qual demonstro essa abertura, precisa simplesmente ser ouvido. Seus
sentimentos, sua raiva devem ser levados a sério e compreendidos com empatia.
Como afirma Rogers (1977/1986), “a verdade sobre o ressentimento é que ele só se
dissolve quando é ouvido e compreendido de fato, sem reservas” (p.132).
Precisamente, Rogers (1977/1986) nos esclarece que:
As atitudes que conduzam à mudança, ao crescimento e a melhores
82
relacionamentos não são misteriosas, embora possam ser difíceis de ser
alcançadas. Uma é a vontade de ‘viver’ na realidade que percebemos do
outro; uma disposição para entrar no mundo privado dele ou dela e percebê-lo
como se fosse o nosso próprio. Quanto mais ocorre tal compreensão, mais as
tensões distendem-se, surgem novas percepções e a comunicação torna-se
possível (p. 137).
Por conseguinte, “quando o poder é deixado às pessoas e quando somos
verdadeiros, compreensivos e interessados por elas, ocorrem mudanças
construtivas no comportamento, e elas manifestam mais força, poder e
responsabilidade” (Rogers, 1977/1986, p.270).
Rogers se dedicou às questões sociais e políticas, e não podia concordar com
ideias autoritárias ou sistemas educacionais rígidos, e muito menos com o controle
elitista do comportamento individual. Para ele, em todos os âmbitos e regimes,
mesmo os mais estritos, emergiam pessoas.
A abordagem centrada na pessoa nos possibilita ver o quanto as tradições e
os valores democráticos não são submetidos, nem estimulados, nem preservados
por sistemas autoritários, a pessoa é livre. “Nada pode extinguir o impulso do
organismo humano de ser ele mesmo – realizar-se de modo individual e criativo”
(Rogers, 1977/1986, p. 246). Portanto, Rogers sustentava a ideia de que a espécie
humana é digna de confiança.
Assim como em A Pessoa como Centro (Rogers, 1975 in Rogers &
Rosenberg, 1977), em Um Jeito de Ser (1980/2007), Rogers postula sobre as
questões acerca do ouvir o cliente. Ele expõe algumas experiências e perspectivas
pessoais, dentre as quais destaca a importância de ser ouvido. Afirma que, quando
83
alguém é realmente capaz de ouvir o que o outro está dizendo, quando consegue
perceber o significado um pouco além do que está sendo dito, ele se sentirá
incrivelmente bem. Para conseguir ouvir verdadeiramente alguém, é necessário que
a pessoa que está escutando não fique julgando ou tentando assumir a
responsabilidade pela outra, ela precisa ouvir de uma forma empática, sensível e
concentrada (Rogers, 1980/2007).
Quando Rogers se refere ao ouvir, evidencia uma escuta profunda das
palavras, dos pensamentos, do significado pessoal, dos sentimentos, do que está
por trás da consciência, mesmo que seja um grito humano profundo (Rogers,
1980/2007). Esse ouvir provoca muitas mudanças significativas, tanto em terapia
individual, quanto nas experiências intensivas de grupo, pois os indivíduos passam,
gradualmente, a ouvir uns aos outros.
É a partir do ouvir, que o psicoterapeuta pode caminhar com seu cliente por
todo esse processo gestacional. Esse ouvir apresenta-se, segundo Rogers, como
uma característica importante em psicoterapia. Tal como destaca alguns de seus
seguidores, como Amatuzzi (1990), que afirma que Rogers refere-se a um ouvir mais
do que o natural, refere-se a ouvir o significado real. Esse ouvir o significado real
seria, para Amatuzzi (1990), mais importante do que o falar, pois possibilita o abrir-se
ao mundo e aos outros.
Rosenberg (1977) demarca que a dimensão de ser ouvido aproxima-se em
aspectos fundamentais “à provisão das condições facilitadoras de crescimento que
Rogers (1957) propôs como necessárias e suficientes nas relações interpessoais
com a finalidade terapêutica” (p. 122).
É possível perceber que existem três formas de ouvir dentro do que propõe
Rogers, são elas respectivamente em seu valor: o terapeuta ouvir a si mesmo, o
84
terapeuta ouvir o cliente e o cliente ouvir a si mesmo. O terapeuta, em Rogers, deve
ouvir e aceitar o que se passa dentro de si mesmo, e quanto mais for capaz de se
ouvir e de se aceitar maior será sua congruência, seu estado de acordo interno. Com
isso, poderá ouvir o cliente de maneira interessada e não avaliativa. Esse ouvir
compreensivo o cliente possibilita que o mesmo possa ouvir a si mesmo,
compreendendo seus próprios significados pessoais e a ter uma visão mais clara de
si, entrando em estado de congruência e aceitação de si. Rogers, desde o começo
de suas atividades, descobriu que ouvir o cliente atentamente era uma maneira
importante de ajudá-lo. Essa era uma maneira, digamos assim, que Rogers utilizava,
pois quando tinha dúvidas quanto ao que fazer, se limitava a ouvir.
Pode-se observar abaixo, o quanto é importante na relação terapêutica que o
terapeuta consiga ouvir de forma empática o seu paciente, pois este poderá crescer
e se perceber.
Assim, como vocês podem perceber a partir do que eu disse até aqui, um
ouvir criativo, ativo, sensível, acurado, empático, imparcial, é algo que se me
afigura imensamente importante numa relação. Para mim, é importante
propiciá-lo e tem sido extremamente importante, principalmente em certos
momentos de minha vida, recebê-lo. Sinto que cresço quando o ofereço; e
tenho a certeza de que cresço e me sinto aliviado e valorizado quando recebo
este tipo de escuta (Rogers, 1980/2007, p.9).
Rogers (1980/2007) afirma que é comprovado cientificamente que a
capacidade de ouvir empaticamente, a congruência, a autenticidade, a aceitação, a
estima em relação ao outro, quando vivenciadas em uma relação, promovem uma
comunicação adequada e mudanças construtivas na personalidade.
85
Ao falar das características da Abordagem Centrada na Pessoa, Rogers
(1980/2007) ressalta que existem três elementos que facilitam a relação terapêutica:
1) congruência; 2) aceitação e 3) compreensão empática. Esses elementos ou
atitudes facilitadoras estão presentes em qualquer relação e proporciona um clima
facilitador para o desenvolvimento dessas relações, sejam entre terapeuta e cliente,
pais e filhos, líder e grupo, administrador e equipe, enfim. Estas condições se
aplicam em qualquer relação e/ou situação onde o objetivo seja o desenvolvimento
da pessoa (Rogers, 1980/2007). Dentre estas condições, a compreensão empática
ocorre quando o terapeuta capta, ao ouvir verdadeiramente, os significados pessoais
que o cliente está experienciando e comunica essa compreensão ao cliente. Como
podemos observar com a seguinte passagem do autor:
Quando está em sua melhor forma, o terapeuta pode entrar tão
profundamente no mundo interno do paciente que se torna capaz de
esclarecer não só o significado daquilo que o cliente está consciente como
também do que se encontra abaixo do nível da consciência. Este tipo de
escuta ativa e sensível é extremamente raro em nossas vidas. [...]. E, no
entanto, esse modo tão especial de ouvir é uma das forças motrizes mais
poderosas que conheço (Rogers, 1980/2007, p.39).
Quando as pessoas são aceitas e consideradas, elas acabam por
considerarem mais os seus sentimentos. Ao serem ouvidas de modo empático, as
pessoas podem, igualmente, ouvir de forma mais detalhada o fluxo de suas
experiências internas. Dessa forma, o cliente torna-se mais congruente com suas
próprias experiências, torna-se assim propiciador do seu próprio crescimento
(Rogers, 1980/2007).
86
Ao fazer aconselhamento e psicoterapia individual, Rogers (1980/2007) pôde
perceber o quão importante era, para a relação, acreditar na capacidade do cliente
para crescer, para se entender melhor e para dar passos construtivos na resolução
de seus problemas. No entanto, isso só seria possível se ele (terapeuta) criasse um
clima facilitador no qual fosse empático, interessado e verdadeiro. Essa é a tarefa do
terapeuta, que propiciando um ambiente facilitador e tendo as atitudes facilitadoras
como base, possibilita ao cliente uma maior oportunidade de mudança, podendo
cada vez mais ser ele mesmo.
À medida que o psicoterapeuta adentra no mundo do cliente, ele assume um
papel de “facilitador de exploração e um companheiro na busca dessa exploração”
(Falcone, Gil & Ferreira, 2007, p. 453). Além de facilitador e companheiro, o
psicoterapeuta, para esses autores, deve proporcionar um ambiente adequado que
vise um clima terapêutico de aceitação, sendo o psicoterapeuta autêntico com seus
pensamentos, sentimentos e comportamentos.
Na educação, a Abordagem Centrada na Pessoa é necessária, uma vez que
o conceito de empatia pode ser redefinido como um ensaio para tentar compreender
o sentido da experiência escolar para cada aluno. Essa importância está relacionada
aos resultados acadêmicos satisfatórios dos alunos e de professores que aplicam as
condições facilitadoras. Caso os coordenadores e os diretores, também, utilizem as
atitudes facilitadoras, os alunos obterão sucesso em todas as matérias (Rogers,
1980/2007).
De acordo com Rogers, muitas pesquisas demonstraram o quanto essas
condições facilitadoras estavam presentes, provocando mudanças efetivas no
comportamento e na personalidade das pessoas. Essas condições facilitadoras
devem estar presentes em todos os âmbitos, seja na educação, na clínica, nos
87
grupos, nas organizações, nas relações humanas como um todo, onde o objetivo
seja o desenvolvimento pessoal.
Podemos concluir destes escritos de Rogers, a importância da compreensão
empática para um maior desenvolvimento do processo terapêutico e para o
desenvolvimento pessoal do cliente, pois ao encontrar alguém que o compreenda
sem julgá-lo, percebe que, também, pode acreditar em si mesmo e amadurecer ao
significar seu mundo interno.
É fundamental, que o terapeuta esteja em estado de acordo interno, para
proporcionar todo esse ambiente ideal ao seu cliente, pois este está ali confiando na
possibilidade de crescer como pessoa, confiando na integridade e disponibilidade de
facilitação do terapeuta. Ou seja, o terapeuta é um facilitador desse processo,
buscando em sua autenticidade, em sua congruência subsídios para uma maior
consideração positiva incondicional e uma compreensão empática mais adequada a
cada situação dos fenômenos emergentes.
Ouvir os sentimentos do cliente e ouvir a si mesmo é algo que o terapeuta
deve fazer. Ambas as formas de escuta devem estar em acordo, porque não há a
possibilidade de uma relação terapêutica ideal sem esse estado de acordo interno
do terapeuta. Como pode compreender o cliente se não se compreende a si
mesmo?
Essas são algumas considerações que se pode tirar de todo esse benefício
que Carl Rogers nos proporciona com tanta sabedoria e experiência. As condições
facilitadoras são necessárias sim, mas muitas vezes podem não ser suficientes se o
terapeuta não está em acordo consigo mesmo, quando não consegue aprofundar os
conteúdos que estruturam o mundo subjetivo do cliente e quando não têm uma
formação psicoterapêutica adequada.
88
3 O CONCEITO DE EMPATIA NA FASE PÓS-ROGERIANA OU NEO-ROGERIANA (1987 - ATUAL)
Foi a partir da revisitação da Abordagem Centrada na Pessoa na
contemporaneidade, que Moreira (2009a, 2010) nomeou esta última fase de Pós-
Rogeriana ou Neo-Rogeriana, que diz respeito a pensadores após a morte de
Rogers, compreendendo o período de 1987 aos tempos atuais no que se refere à
Abordagem Centrada na Pessoa. Durante esses últimos vinte anos, em vários
lugares do mundo, a abordagem centrada na pessoa vem se desenvolvendo por
meio de várias vertentes (Moreira, 2010).
Moreira (2010) se questiona acerca de como estariam sendo praticadas e
pensadas essas novas vertentes por estes profissionais contemporâneos e cita:
1) a versão clássica, atualmente desenvolvida pelo Center for Studies of the
Person, onde Rogers passou a última fase de sua vida; 2) a linha experiencial
fundada por Eugene Gendlin (1988 e 1990), com ênfase na experienciação e
focalização, na University of Chicago; 3) a linha experiencial processual,
representada por Laura Rice, no Canadá e Robert Elliot, nos Estados Unidos,
(Rice & Greenberg, 1990; Greenberg, Rice & Elliot, 1993), tendo um interesse
principal no estudo detalhado dos elementos do processo; 4) a linha
existencial fenomenológica, embasada na fenomenologia-existencial,
desenvolvida, principalmente por autores brasileiros que, segundo Segrera
(2002), estaria representada por Virginia Moreira (2001) – e que poderíamos
acrescentar outros representantes no Brasil como Advíncula (1991), Amatuzzi
(1989), Belém (2004), Boris (1987 e 1990), Cury (1987, 1988 e 1993),
Fonseca (1988 e 1998), Holanda (1998), entre outros; 5) a linha
89
transcendental, que abarca interesses espirituais, religiosos e transpessoais,
trabalhada por autores como Charles Curran (1952), nos Estados Unidos,
Yves Saint-Arnaud (1967), no Canadá, Brian Thorne (1991/1993), na
Inglaterra, Peter Schmid (1995), na Áustria, Ana Maria González (1995), no
México, Elias Boainain (1999), no Brasil; 6) a linha expressiva, que integra
elementos de arte, movimento corporal, estabelecendo pontes com a gestalt-
terapia e o psicodrama, sendo representada principalmente pela filha de Carl
Rogers, Nathalie Rogers (1993); 7) a linha analítica, com seu interesse na
relação entre a psicologia do si mesmo de Heinz Kohut e outros elementos
analíticos, representada por Edwin Kahn (1985); 8) a linha comportamental-
operacional, com ênfase no desenvolvimento de habilidades, representada
por Reinhard Tausch (1990), na Alemanha e Ernest Meadows (Meadows &
Stillwell, 1998), na Califórnia; Moreira (2008 e 2009) acrescenta um nono
desenvolvimento contemporâneo: 9) a linha do curriculum centrado na
pessoa, realizado na área de educação, no Chile, representado por Eric
Troncoso e Ana Repetto (Troncoso & Repetto, 1997; Moreno, Troncoso &
Videla, A.,1999). Mais recentemente é possível, ainda, observar outros
desenvolvimentos que podem vir a constituir novas linhas (Moreira, 2010, p.
542).
Para Moreira (2010), estas vertentes desenvolveram-se a partir das diferentes
fases do pensamento de Rogers. Sendo uma destas linhas teóricas pós-rogerianas,
a qual se baseia essa pesquisa, a humanista-fenomenológica, que toma como base
as contribuições de Rogers, principalmente a partir de sua fase experiencial, e
acentua “seu caráter fenomenológico através de contribuições da tradição da
90
Psicopatologia Fenomenológica e da Análise Existencial” (Moreira, 2010, p. 542). A
proposta desta vertente é, justamente, o desenvolvimento de uma teoria e uma
metodologia para uma clínica mundana, com caráter eminentemente crítico (Moreira,
2010), fundamentando-se em uma base filosófica por meio de autores
fenomenológicos e/ou existenciais, como: Kierkegaard, Nietzsche, Husserl,
Heidegger, Merleau-Ponty, Sartre, Buber (Moreira, 2009a). Por outro lado, a linha
transcendental é ressaltada por Moreira (2010) como sendo voltada para questões
transcendentais do ser humano.
Assim, […], a linha humanista-fenomenológica terá como base a ideia de
homem mundano e do trabalho clínico voltado para a compreensão do
Lebenswelt (mundo vivido), enquanto que a linha transcendental terá uma
fundamentação espiritual e o trabalho clínico será norteado por valores
religiosos ligados aos aspectos transpessoais do ser humano (Moreira, 2010,
p. 542, grifo do autor).
No que diz respeito à linha transcendental, Boainain Jr (1999), em sua divisão
das fases finais do desenvolvimento da ACP, nomeia a quinta fase de “Trabalho com
Grandes Grupos” (como mencionado no capítulo anterior), mas essa fase começaria
desde a época em que Rogers estava vivo, meados dos anos 70 até os dias atuais,
e baseia-se na perspectiva místico-espiritual que caracteriza o movimento
transpessoal em psicologia. Para Moreira (2010), essa linha teórica toma como base
a fase Inter-humana de Rogers, quando Rogers volta-se mais para questões
transcendentais do ser humano.
91
É importante ressaltar que, assim como existem inúmeras vertentes
contemporâneas baseadas no pensamento de Carl Rogers, a partir de diferentes
fases de seu pensamento, mas que seguem seu próprio caminho, o conceito de
empatia é retomado pelos comentadores de suas obras ou adaptadas e
reformuladas nas várias vertentes teóricas contemporâneas de seu pensamento. A
empatia, como as outras atitudes facilitadoras, continua sendo fundamental em
todas elas.
A empatia, na Fase Pós-Rogeriana, continua sendo explorada e sendo uma
das atitudes facilitadoras mais importantes no processo psicoterápico, nos processos
grupais e nos processos em que o objetivo seja o desenvolvimento humano.
Algumas dessas conceituações merecem ser citadas para ilustrar uma melhor
compreensão dos vários desenvolvimentos pós-rogerianos.
Bozarth (1998/2001) mostra-nos a singular conceituação rogeriana de
empatia, da maneira como esta evoluiu na Teoria Centrada no Cliente. Para ele,
Rogers considerava a empatia como sendo “mais uma noção essencial terapêutica
do que uma pré-condição de outras formas de tratamento” (Bozarth, 1998/2001, p.
81). Além do que “Rogers trouxe o conceito de empatia numa perspectiva diferente,
ao torná-la a chave do processo de mudança terapêutica” (Bozarth, 1998/2001, p.
83), estando a essência da terapia rogeriana “fundamentada na empatia não
diretiva” (p. 91). Para Rogers, é necessário que o cliente perceba o experienciar por
parte do terapeuta de uma compreensão empática para que a mudança terapêutica
ocorra. Ou seja, Bozarth (1998/2001) afirma que “a teoria de Rogers é expressa em
termos de atitudes do terapeuta” (p. 88), portanto, “a técnica seria de pouco valor se
não estivesse enraizada nas atitudes do terapeuta” (Bozarth, 1998/2001, p. 92).
Essas atitudes devem ser transmitidas ao cliente, pois abrem a possibilidade de
92
mudança. Bozarth (1998/2001) nos esclarece que o olhar incondicionalmente
positivo “é transmitido pela compreensão empática e receptivo do terapeuta, no
contexto da congruência do terapeuta na relação” (p. 93).
Nas conclusões da pesquisa sobre empatia, Bozarth (1998/2001) assinala
que, “numa medida significativa, o resultado final mais comum da pesquisa
corrobora a conceptualização de Rogers de empatia, em relação ao resultado final
psicoterapêutico eficaz” (p. 94). E, ainda, afirma que uma das questões mais
importantes sobre a empatia rogeriana é que “a empatia rogeriana não é
necessariamente o mesmo que ‘comunicação’ de empatia ou ‘respostas empáticas’”
(Bozarth, 1998/2001, p. 98), mas que “tipos especiais de respostas podem ou não
ser representativas da compreensão empática do quadro de referências do
indivíduo” (p. 99).
Segundo Bozarth (1998/2001), a empatia rogeriana é diferente das outras
conceituações de empatia, uma vez que “baseia-se em princípios que conferem
poder ao próprio, posto em execução num esquema comportamental, e toca as raias
da fusão experiencial holística com outro indivíduo” (p. 107). A empatia rogeriana
estaria, portanto, intimamente ligada com a teoria, sendo única.
Bozarth (1998/2001) finaliza sua investigação tratando da empatia na
estrutura básica da Terapia Centrada no Cliente, da mesma forma que Rogers a
considerava. Assim, ela é
(1) mais um conceito terapêutico fundamental do que uma pré-condição para
outras formas de tratamento, (2) mais uma atitude e uma experienciação em
relação ao cliente do que um comportamento especial, (3) um processo
interpessoal baseado numa atitude não diretiva e (4) parte de uma atitude
93
global, na qual a experienciação da compreensão empática está interligada
com a congruência e com o olhar incondicionalmente positivo do terapeuta em
relação ao cliente” (Bozarth, 1998/2001, p. 107-108).
Já Cavalcante Jr (2008), mostra-nos três níveis onde a empatia é
compreendida por Maria Bowen: o nível de relacionamento; o nível de energia (onde
o trabalho terapêutico acontece de duas formas: pela escuta ativa e por meios
habilidosos); e o nível da unidade.
O nível de relacionamento é compreendido como sendo aquele que “o
material primeiro de trabalho é o conteúdo e os sentimentos que emergem na
interação entre cliente e psicoterapeuta” (p. 25). E, a principal função do terapeuta
seria, justamente, “criar um espaço de confiança no qual os clientes possam explorar
e manifestar diferentes partes de si mesmos e experienciar as suas próprias
energias curativas, em seus tempos e ritmos próprios” (p. 25). Criativamente, o
espelho é citado para compreendermos o processo de que o terapeuta reflete o que
é percebido do cliente, sem perder a natureza da percepção. Neste nível, portanto,
“o trabalho terapêutico é fruto de um modelo interpessoal, e o material a ser
trabalhado em psicoterapia é aquilo que o cliente diz ao terapeuta, as reações do
terapeuta ao que o cliente apresenta-lhe e a interação entre ambos” (p. 25).
O nível da energia mostra-nos um poder que pode passar despercebido ou
subestimado, como é o caso da escuta ativa, pois uma escrita de qualidade pode ter
um poder curativo não sendo necessário, muitas vezes, que o psicoterapeuta faça
ou diga alguma coisa (Cavalcante Jr, 2008). Os meios habilidosos são aqueles que
“depende do nível de desenvolvimento espiritual do terapeuta. Quando o que ele
utiliza em terapia não é somente uma técnica isolada, mas algo que se tornou
94
intrisecamente parte experiencial da sua vida” (Cavalcante Jr, 2008, p. 26), por
exemplo, “exercícios espirituais de visualização de meditação, de sonhos, de
mantras e de outros sons, com o objetivo de facilitar e contato do cliente com seus
recursos interiores” (p. 26).
No nível da unidade terapeuta e cliente passam a compartilhar, como um só,
do mesmo mundo. “A empatia deixa de ser uma ferramenta que o terapeuta utiliza
com o cliente e passa a ser uma realidade compartilhada que transcende a cada um,
individualmente” (p. 26).
Cavalcante Jr (2008), em seu texto A Empatia Formativa É!, tem a intenção
de ampliar a noção de empatia no nível da unidade. Para tanto, utiliza-se do
pensamento de Maria Bowen, a respeito da unidade: “para se operar no nível da
unidade, a conexão entre os terapeutas e os clientes tem que estar presente,
mesmo sendo transcendida para além da relação, incluindo uma energia que
ultrapassa a mente consciente” (Bowen, 1992 apud Cavalcante Jr, 2008, p. 59). A
esse tipo de fluxo terapêutico, Cavalcante Jr, denomina de Empatia Formativa.
Essa Empatia Formativa “brota do cosmo, que vive em nós e nos convida a
nele mergulhar onde ele e eu somos um” (Cavalcante Jr, 2008, p. 60, grifo do autor).
Não se trata apenas de adentrar na realidade do outro como se fosse a nossa, é
uma empatia que faz o nosso espírito nos mover a dizer algo, e “esse algo, por sua
vez, não brota de dentro ou de fora: ele é, ao mesmo tempo, dentro e fora”
(Cavalcante Jr, 2008, p. 60, grifo do autor).
Cavalcante Jr (2008) afirma que Maria Bowen “posteriormente, descobriu que,
no nível da Unidade, a intuição estava associada a um grau elevado de empatia do
terapeuta” (p. 61). Ele coloca em seu texto uma carta aberta de Bowen (sobre o que
Rogers lhe escrevera), onde esta afirma que “[…], a intuição é uma forma elevada
95
de empatia, e eu concordo com ele que ela somente acontece em momentos
especiais em terapia e que, quando acontece, traz a ela uma qualidade poderosa de
cura” (Bowen, 1991, apud Cavalcante Jr., 2008, p. 61, grifo do autor).
Cavalcante Jr e Bowen consideram a Empatia Formativa como uma
expressão da mística da ACP, e Cavalcante Jr (2008) refere-se “à dimensão mística
e espiritual que Rogers subestimou, da mesma forma que muitos praticantes
contemporâneos da ACP” (p. 62).
Boainain Jr (1999) já concordava com essa questão da intuição, para ele a
“intuição extraordinária revelada em momentos de excelência terapêutica
associados à alteração ampliadora da consciência descrita por Rogers tem sido
algumas vezes considerada, na literatura da ACP, como uma forma particularmente
profunda e potente da habitual atitude rogeriana da empatia” (p. 204).
Estes são exemplos de pensadores pós-rogerianos que destacaram a
importância da empatia em suas perspectivas teóricas e práticas atuais. Dentre
estes desenvolvimentos pós-rogerianos está a vertente humanista-fenomenológica
que será explorada a seguir.
3.1 A Vertente Humanista-Fenomenológica
Dentre as várias linhas teóricas pós-rogerianas, está a humanista-
fenomenológica, com uma proposta de psicoterapia humanista que utiliza como base
epistemológica e teórica o pensamento rogeriano, partindo da fase experiencial, que
é, para Moreira (2007, 2009b), quando Rogers mais se aproximou de um
pensamento fenomenológico ao se focar na experiência intersubjetiva – ou seja, na
relação terapeuta e cliente, por mais que, posteriormente, tenha voltado ao cliente,
96
unicamente, como centro. Esta proposta toma as condições facilitadoras (empatia,
aceitação e congruência) como atitudes importantes no desenvolvimento da
personalidade do cliente. Como base fenomenológica, toma como referencial
filosófico, o pensamento de Merleau-Ponty, para o desenvolvimento de um método
fenomenológico crítico. Por meio desse pensamento fenomenológico, Moreira
(2009b) vem pensando o desenvolvimento de técnicas de intervenção, enquanto
atitudes fenomenológicas, além das já propostas por Carl Rogers, que para Moreira
(2009b) são necessárias, mas não suficientes, para compreender
fenomenologicamente o mundo vivido do cliente.
Para Boainain Jr (1999),
[…], a psicologia humanista desenvolve, adapta e renova variadas técnicas e
metodologias de abordagem da pessoa, com finalidades de estudo e
intervenção. Os questionamentos e as posições assumidas sobre a natureza
da ciência psicológica e seu objeto próprio de estudo fazem do projeto
humanista de construção da psicologia uma fonte de inspiração e parâmetros
no desenvolvimento de abordagens adequadas, sendo, sobretudo, o
compromisso com sua visão de homem que orienta a criação e o
desenvolvimento de novas formas de estabelecer a saúde psíquica e
promover o desenvolvimento dos melhores potenciais humanos (Boainain Jr,
1999, p. 37).
A vertente humanista-fenonemonológica desenvolve-se a partir de uma
preocupação dos psicólogos com uma fundamentação teórico-filosófica da
psicologia humanista (Moreira, 2007, 2009b). Surgindo por volta do século XX, a
97
abordagem humanista tinha por objetivo combater tanto o intelectualismo da
psicanálise, quanto o mecanicismo do behaviorismo. A visão humanista engloba o
ser humano enfatizando-se na vivência das emoções (Moreira, 2007, 2009b).
Focalizando-se na experiência, a teoria acabou por ficar em segundo plano, o que
acarretou muitas acusações de terem como metodologia a subjetividade e a intuição
(Boris, 1987; Moreira, 2007, 2009b). Moreira (2007, 2009b) destaca que essas
acusações não foram por acaso, uma vez que os autores da abordagem humanista
não se preocupavam em uma fundamentação teórico-filosófica de seus
pensamentos, mas focavam-se em suas experiências. Para se defenderem dessas
acusações, muitos autores, no final do século XX e início do XXI, se preocuparam
com uma fundamentação teórico-filosófica do enfoque humanista. Essa
fundamentação possibilitaria que desenvolvessem seu trabalho de forma
competente.
A psicoterapia humanista-fenomenológica desenvolveu-se a partir de duas
vertentes: o pensamento humanista em psicologia e o pensamento de psiquiatras
europeus. O pensamento humanista “surgiu nos Estados Unidos na primeira metade
do século XX com pensadores como Carl Rogers, Rollo May, Frederick Perls,
Maslow, entre outros” (Moreira, 2009b, p.2) e o pensamento de psiquiatras
europeus,
representados por Binswanger, Boss, Van Den Berg, Strauss, dentre outros,
que no início do século XX, influenciados pela leitura da filosofia de
Heidegger, criticaram o enfoque freudiano que priorizava a existência de um
aparelho psíquico, propondo a ‘daseinanalyse’ ou a análise existencial, que
passava a focalizar a clínica na relação com o paciente, compreendido em
98
seu mundo, em sua existência (Moreira, 2009b, p. 25).
O desenvolvimento de uma psicologia humanista-fenomenológica diz respeito
“à busca de um caráter epistemológico” (Moreira, 2009b, p. 30), que encontra
caminhos através da filosofia de Buber, Nietzsche, Heidegger, Marx e de Merleau-
Ponty, entre outros.
No que se refere ao fundamento epistemológico, Moreira (2009b) faz uma
crítica ao humanismo antropocêntrico visualizado no pensamento de Rogers. Para
ela, “esta crítica teve como objetivo desenvolver uma prática clínica cuja
preocupação fundamental fosse o humano, embora não tivesse o homem como
centro, mas como um ser mundano” (Moreira, 2009b, p.32, grifo do autor). Trata-se
de desenvolver uma psicologia que possibilite entender o homem como um ser
humano atravessado por múltiplas dimensões, e que não seja visto como centro.
Isso possibilita uma prática clínica para além da pessoa (Moreira, 2009b).
Moreira (2009b) nos relata em sua pesquisa, que concluiu que “a concepção
de pessoa como centro impede Rogers de realizar uma psicoterapia
verdadeiramente fenomenológica” (p. 35). O próprio Rogers, em sua fase
experiencial, caminhou em uma direção fenomenológica, mas “ao manter a pessoa
como centro, estanca em uma concepção antropocêntrica” (Moreira, 2009b, p. 36).
É necessário esclarecer, que com tudo isso, o objetivo desta crítica de Moreira
(2009b) não é fundamentar a teoria rogeriana de acordo com a fenomenologia
existencial:
o importante para a psicologia humanista é acompanhar o processo de
liberação da noção de centro que, na fenomenologia existencial, logrou-se
99
através da trajetória de Merleau-Ponty que conseguiu transcender o
centramento teórico da fenomenologia (na consciência e no sujeito) em
direção à mútua constituição (Moreira, 2009b, p.36).
Merleau-Ponty, segundo Moreira (2009b), traz uma importante contribuição à
metodologia fenomenológica, além disso, contribui para elaboração de uma
concepção de homem que se distancia do modelo dualista. Seu pensamento é
eminentemente crítico. Para Moreira (2009b), Merleau-Ponty “supera,
definitivamente, a dicotomia entre o mundo natural e o mundo cultural através da
priorização do significado do mundo vivido” (p. 37).
Merleau-Ponty desenvolveu uma fenomenologia mundana, que consiste em
uma ferramenta crítica e não apenas um método, pois supera os pensamentos que
se dizem verdadeiramente absolutos. Sua filosofia busca o significado da
experiência vivida, por isso é uma filosofia da facticidade (Moreira, 2009b).
Podemos entender do diálogo com outros autores, que para Moreira (2009b),
a visão de Merleau-Ponty se apresenta como antropológica, pois “é esta
fenomenologia antropológica, que tem como eixo o Lebenswelt (mundo vivido), que
faz com que Merleau-Ponty tenha uma definição de humanismo que se diferencia da
tradição antropocêntrica” (Moreira, 2009b, p. 38, grifo do autor).
No pensamento de Moreira (2009b), para que ocorra o desenvolvimento de
um humanismo que se preocupe com o homem enquanto ser mundano é necessário
que seja elaborado
um modelo teórico no qual o homem seja mundo e o mundo seja homem,
abolindo uma visão de homem dicotomizada, que o divide em interioridade e
100
exterioridade, em individual e social. Na medida em que o homem é sujeito e
objeto, mistura-se na geléia geral que compõe o mundo, o homem e a
história, ao mesmo tempo em que se singulariza com suas ações,
pensamentos e discursos (Moreira, 2009b, p. 38, grifo do autor).
Passa-se a entender o homem e o mundo em mútua constituição,
entrelaçados um ao outro, onde o mundo não é mais visto como objeto, nem o
homem como sujeito. Não existe mais uma dualidade, uma separação. Ambos fazem
parte da mesma contextura carnal – mais uma contribuição de Merleau-Ponty.
Segundo Moreira (2007, 2009b), carne em Merleau-Ponty, partindo da ideia de
intercorporeidade, diz respeito
aquilo que o meu corpo é – ativo-passivo, visível e vidente. Carne não é a
síntese homem-mundo é uma forma de abordar o ser, que escapa à
representação. Não é matéria nem espírito, mas está entre ambos. É o
sentido do corpo em sua relação com os objetos (Moreira, 2009b, p. 39, grifo
do autor).
Compreende-se que o homem não é o centro do mundo, à medida que o
mundo e homem se constituem fazendo parte da mesma contextura carnal. É dessa
crítica ao humanismo antropocêntrico, em prol de uma visão de homem
antropológica que, segundo Moreira (2009b),
identificou-se a necessidade urgente de uma (re)formulação da concepção de
homem na prática de um humanismo histórico cultural em psicologia. […]. A
101
elaboração pertinente dessa visão de homem parece ser então, um passo
fundamental. Transcende a ideia de centramento que aprisiona as
abordagens psicológicas humanistas, impedindo-as de realizar-se
fenomenologicamente, tal como elas se propõem. […] (p. 39, grifo do autor).
Para Moreira (2009b),
independentemente dos limites a serem trabalhados e superados ou da
perspectiva a ser utilizada como caminho para sua construção teórica, a
psicoterapia humanista-fenomenológica poderá sempre contar com a
fenomenologia antropológica mundana como ferramenta crítica que
proporciona subsídios à compreensão da experiência vivida (p. 41, grifo do
autor).
A psicoterapia humanista-fenomenológica baseia-se nas condições
facilitadoras propostas por Rogers; mas, segundo Moreira (2009b), por serem
necessárias e nem sempre suficientes, a fundamentação metodológica, de sua
proposta de psicoterapia humanista-fenomenológica, vem tendo como base a
fenomenologia de Merleau-Ponty para desenvolver as técnicas de intervenção como
atitudes complementares em psicoterapia, utilizando-se de uma visão de sujeito, de
pessoa, mais fenomenológica. Assim, "propõe-se a fundamentação fenomenológica
merleau-pontyana como base para uma utilização da intervenção clínica no contexto
de uma psicoterapia humanista-fenomenológica” (Moreira, 2009b, p. 60).
Essas fundamentações as quais se baseiam as técnicas de intervenção em
psicoterapia humanista-fenomenológica são:
102
INTUIÇÃO EIDÉTICA
Segundo Moreira (2009b), um dos objetivos da psicoterapia é “apreender o
significado da experiência, função da intuição eidética” (p. 63). É justamente, o
psicoterapeuta buscar “facilitar ao cliente a compreensão dos significados de sua
experiência” (Moreira, 2009b, p. 63).
Essa compreensão do mundo do cliente só é possível por meio do discurso, o
qual nos traz informações que, segundo Kinget (1965/1977), devem ser apreendidas
e não interpretadas. Essa apreensão da experiência do cliente deve se dar da
mesma forma como ele apreende suas experiências. Posto isso, Rogers
compreende que o terapeuta deve apreender os sentimentos do cliente tal como o
cliente os vê (Rogers, 1961/1987). Para Vieira e Freire (2006) na empatia “não
importa apreender a totalidade racional da experiência do outro (explicação), mas
tentar compreender o sentido (compreensão) do que é trazido à tona na
psicoterapia” (p. 430).
Ainda, de acordo com Moreira (2009b), “a partir de um saber universal (a
teoria psicoterapêutica) a psicoterapia tratará de compreender a experiência singular
(o vivido pelo paciente em seu mundo), facilitando o seu processo de
desenvolvimento e de mudança” (p. 63). A intuição eidética é mais do que apenas
viver o mundo do cliente, é sim, tirar daquela vivência o sentido e a significação da
experiência do cliente.
REDUÇÃO FENOMENOLÓGICA
Em psicoterapia, a redução fenomenológica apresenta-se como uma forma de
possibilitar a compreensão da realidade existencial do cliente e não teorizar ou
refletir sobre essa realidade (Moreira, 2009b). Para isso, é necessário que o
103
psicoterapeuta tente suspender todos os seus pré-julgamentos, teorias, hipóteses
diagnósticas, pensamentos sobre o cliente, para escutá-lo e assim penetrar em seu
mundo, apreendendo sua experiência singular (Moreira, 2009b). Desta forma,
podemos penetrar à vontade no mundo do cliente, apreendendo toda sua
experiência de forma desprovida de qualquer pensamento ou julgamento. Mas, além
de penetrar nesse mundo da razão, temos que voltar às coisas mesmas, onde
passaremos toda essa compreensão de seu mundo perceptual ao cliente, como
forma de facilitar seu desenvolvimento pessoal.
Segundo Moreira (2009b),
para poder exercer a redução fenomenológica é necessário ter o que pôr
entre parênteses, ou seja, ter presente os sentimentos, a experiência de vida
e entender que o conhecimento técnico e teórico não deverá ser considerado
como uma verdade absoluta ou um a priori. […]. Busca-se um conhecimento
que é pré-reflexivo; alcançá-lo é a função da redução fenomenológica (p. 65,
grifo do autor).
A redução fenomenológica assume um papel fundamental na psicoterapia
humanista-fenomenológica, à medida que pode ser utilizada como uma técnica ou
atitude psicoterapêutica (Moreira, 2009b), possibilitando um acesso ao mundo vivido
do cliente, onde este se revela para mim. “Na perspectiva de uma psicoterapia
humanista-fenomenológica, entende-se este processo de revelação do mundo vivido
ou do significado da experiência vivida como o núcleo do processo psicoterapêutico”
(Moreira, 2009b, p. 66).
104
DESCRIÇÃO
A psicoterapia humanista-fenomenológica, segundo Moreira (2009b), “parte
do princípio de Merleau-Ponty (1945) que considera que a realidade deve ser
descrita antes que seja interpretada ou pensada” (p. 66). Para Merleau-Ponty
(1945/1994), “trata-se de descrever, não de explicar nem de analisar” (p. 3). O
processo de psicoterapia humanista-fenomenológica parte de uma descrição,
“embora a análise, ou a explicação, possa aparecer como consequência da
descrição” (Moreira, 2009b, p. 67). Assim, o psicoterapeuta deve pedir ao cliente que
descreva como vive sua experiência, o que está sentindo, repetidamente, quantas
vezes for necessário. Essa descrição, por mais que não seja simples para o cliente,
mesmo assim deve ser pedida ao cliente de forma insistente. Isso possibilita
alcançar e aprofundar os conteúdos mais importantes, e consequentemente, ter um
maior autoconhecimento e a mudança pode acontecer (Moreira, 2009b).
FALA AUTÊNTICA
Moreira (2009b) ressalta que existem em Merleau-Ponty (1945) dois tipos de
fala: a autêntica, que é a fala primeira, quando se fala pela primeira vez, que é
correspondente ao pensamento; e a expressão segunda, que é uma “fala sobre
falas, que está constituída pela linguagem ordinária” (Moreira, 2009b, p. 67). A fala
autêntica seria aquela a qual sai de forma espontânea, se referindo ao que estamos
pensando, e a fala segunda é aquela pensada, formulada, que não é espontânea, é
a fala de pensamentos anteriores, o que para Amatuzzi (1988, 1989) seria aquela
“que ocorre, por exemplo, quando a pessoa fala aquilo que já pensou para falar,
aquilo que preparou de antemão: ela está então simplesmente relatando
pensamentos que já teve, mas não os pensamentos que está tendo no ato de falar”
105
(Amatuzzi, 1988, p. 47).
Moreira (2009b) cita um exemplo, que quando um cliente chega à sessão com
um discurso pronto e acabado, pode tornar-se uma sessão sem avanços
significativos para o cliente, porque não deixou que as coisas fluíssem normalmente.
Nesta situação, o cliente não deixou fluir seus pensamentos presentes, levando um
discurso produzido, o que muitas vezes não corresponde ao que está sentindo
naquele momento. Isso impossibilita uma fala nova, um possível insight. Portanto,
seria uma fala como expressão segunda,
de acordo com a definição merleau-pontyana, que frequentemente se mantém
ao longo de várias sessões seguidas, muitas vezes como defesa do paciente
ante a dificuldade de chegar a temas mais profundos e dolorosos. Ao
contrário, quando o cliente chega à sessão e diz ao terapeuta que não pensou
em nada para contar-lhe, que não sabe de que falar, que não tem nada
preparado para comentar, é exatamente esta a sessão em que o processo
terapêutico pode desenvolver-se significativamente, tendo importantes
avanços (Moreira, 2009b, p. 68).
Quando a fala autêntica se apresenta, existe a possibilidade de novos
descobrimentos, de “dar-se conta de algum tipo de conteúdo ou emoção escondida
até esse momento” (Moreira, 2009b, p. 68). Segundo Amatuzzi (1988, 1989), a fala
autêntica é quando a pessoa “surpreende e formula seus pensamentos ou
inquietações presentes, ‘pela primeira vez’. Neste caso a pessoa está improvisando,
está dando forma ao que ela está sendo e sendo o que fala. Sua fala é ‘nova’”
(1988, p. 47).
106
“Podemos dizer que a fala autêntica é o resultado da redução fenomenológica
e, assim como esta, nunca se completa” (Moreira, 2009b, p.68), na medida em que,
segundo Moreira (2009b), está pondo entre parênteses o que lhe é secundário,
naquele momento, para dar espaço ao que está em seus pensamentos, falando de
assuntos que facilitem sua mudança e seu crescimento pessoal.
VER E OUVIR FENOMENOLOGICAMENTE
No ambiente terapêutico, a relação entre cliente e terapeuta se dá de forma
que possam se ver e ouvir simultaneamente. “Ver e ouvir têm um papel fundamental
na psicoterapia humanista-fenomenológica: busca-se o encontro na intrínseca
relação de um com o outro” (Moreira, 2009b, p. 69). Esse olhar e esse ouvir, diz
respeito ao que é escutado e visto, muito além do que está presente, é escutar o não
dito, ver nas entrelinhas. É por meio do ver e ouvir atentos que podemos ter acesso
ao invisível. “Na relação de mútua constituição do processo psicoterapêutico, cliente
e terapeuta são sujeitos do ver e do ouvir. Os dois tornam-se videntes e visíveis na
medida em que se olham e se escutam entre si. Vêem o invisível e ouvem o não
dito” (Moreira, 2009b, p. 69).
Rogers já demonstrava a importância do ouvir, estabelecendo a necessidade
de um ouvir realmente. Esse ouvir realmente, para Amatuzzi (1990), significa ouvir o
significado real. É ouvir o que está por trás da fala, do que muitas vezes não está
claro ou consciente para o cliente. Segundo Amatuzzi (1990), “o ouvir é mais que
observar, é estar em relação, e portanto tornar-se pessoa” (p. 91).
107
3.2 Empatia e Lebenswelt na Vertente Humanista-Fenomenológica
Para compreendermos a empatia por meio de um enfoque humanista-
fenomenológico, representado por Moreira, nos remetemos primeiramente à
conceituação de Rogers sobre o que seja empatia. Rogers a compreende como
sendo uma maneira de penetrar no mundo perceptual do outro e captar com
precisão seus sentimentos e significados pessoais, numa condição de “como se” e
comunicar essa compreensão ao cliente. Moreira (2009b) enfatiza essa posição
acrescentando que “a empatia possibilita que o psicoterapeuta não somente
‘penetre’ no mundo do cliente, como se mova na companhia do cliente, buscando a
compreensão de sua experiência vivida” (p.52). Para Vanaerschot (1990), o
terapeuta quando é empático entra em contato com as partes do mundo
fenomenológico do cliente, e é por meio da escuta empática que o terapeuta se
familiariza com esse mundo fenomenológico. Por isso, ainda de acordo com
Vanaerschot (1990), o terapeuta pode ter a sensação de que está em fusão com o
cliente, mas essa sensação não implica a perda da condição de “como se”. Isso é
importante, pois o terapeuta tem que está ciente de que o que está experimentando
naquele momento vem e pertence ao cliente e que não é dele.
Ao tratarmos de método fenomenológico baseado no pensamento de
Merleau-Ponty, Moreira (2009b) nos esclarece que isso significa, “em primeira
instância, de buscar o significado da experiência vivida, ou seja, compreender o
Lebenswelt, o mundo vivido” (p. 51, grifo do autor). Essa compreensão é captada em
sua totalidade, pois se refere ao “entrelaçamento da experiência objetiva com a
subjetiva” (Moreira, 2009b, p. 51). Trata-se de compreender o indivíduo tal como ele
é, de acordo com suas experiências. “Quando, como psicoterapeuta, busco
108
compreender o significado do Lebenswelt, busco captar esta mistura do vivido, que
é, simultaneamente, tanto subjetivo como objetivo, tanto consciente como
inconsciente, tanto individual como social e, portanto, ambíguo” (Moreira, 2009b, p.
52, grifo do autor).
Dentro do processo psicoterápico, Moreira (2009b) assinala que se produz
uma “intersecção dos Lebenswelten do terapeuta e do cliente” (p.52, grifo do autor).
Nesta intersecção que se estabelece, o psicoterapeuta caminha com seu cliente de
mãos dadas no mundo vivido dele, mas numa condição de “como se”, “sem nunca
separar-se de seu próprio Lebenswelt” (Moreira, 2009b, p. 52, grifo do autor). Isso se
dá por meio da empatia, que é uma das condições facilitadoras em terapia, proposta
por Carl Rogers.
É por meio da empatia que se compreende os significados do sofrimento do
cliente, e essa compreensão somente é possível quando o cliente aceita receber o
psicoterapeuta em seu mundo vivido. Esse sofrimento pode ser compartilhado com o
psicoterapeuta, e este o compreende como um facilitador empático. Desta forma,
ocorre uma possibilidade de ressignificação do sofrimento pelo cliente.
Moreira (2009b) cita, por meio de um exemplo descrito por Maria Bowen,
quatro características que facilitariam a viagem do psicoterapeuta ao Lebenswelt do
cliente. Na primeira característica, Moreira (2009b) afirma que “o psicoterapeuta não
elege o destino ou o caminho a percorrer neste mundo, ainda que ele conheça
vários caminhos” (p. 53). Embora, com a experiência de psicoterapeuta, possamos
visualizar coisas que o cliente ainda não tem conhecimento de seu mundo, a
intervenção deve ser feita de forma hipotética, uma vez que deve ser algo a ser
pensado e analisado pelo cliente. Isso é possível por meio da redução
fenomenológica, onde posso tentar colocar minhas opiniões acerca do cliente em
109
suspenso, para compreender seu mundo em sua perspectiva e deixá-lo percorrer
seu caminho, por mais que essa redução não seja completa (Moreira, 2009b).
Vanaerschot (1990) afirma que o terapeuta deve escutar o cliente e estar
comprometido com o que ele está dizendo, colocando-se “entre parênteses”. Neste
sentido, Vanaerschot (1990) mostra que o terapeuta deixa de lado seu conhecimento
teórico, opiniões e expectativas, além de suspender a sua própria estruturação,
organização, conhecimentos, entre outros.
Na segunda característica, Moreira (2009b) frisa o quanto o psicoterapeuta
“conhece bem a região” (p. 54). Por meio de conhecimentos teóricos, de vida, ou
seja, da experiência de uma forma geral, tanto objetiva quanto subjetiva, é que se
tem a possibilidade, segundo Moreira (2009b), de compreender os significados da
experiência vivida do cliente. “Compreender os significados deste sofrimento em seu
Lebenswelt possibilita, por sua vez, a mudança pessoal almejada na psicoterapia”
(p. 54, grifo do autor). Por mais que o psicoterapeuta saiba da região a que está
sendo explorada, por meio da experiência teórica e de vida, vendo por meio de suas
lentes, o cliente é quem vive seu próprio mundo de forma particular, singular;
portanto, segundo Moreira (2009b), o cliente é sempre primeiro.
A terceira característica, abordada por Moreira (2009b), nos remete à relação
terapeuta-cliente, onde “o psicoterapeuta, […], divide a carga com o cliente” (p. 54).
Neste ponto, Moreira (2009b) estabelece momentos dentro dessa caminhada com o
cliente em seu mundo, onde a divisão da carga com o cliente passa a ser o primeiro
momento, seguido do segundo momento, onde o cliente se sentirá compreendido,
deixando “de estar só em seu Lebenswelt” (Moreira, 2009b, p. 54, grifo do autor). É
nesse momento, que Moreira assinala que Rogers propôs as condições facilitadoras
(empatia, aceitação e a congruência), as quais, para ela, seriam necessárias, mas
110
nem sempre suficientes. É por meio dessa insuficiência, que Moreira (2009b) propõe
as técnicas de intervenção fenomenológicas (vistas no tópico anterior), no terceiro
momento, como sendo fundamentais em terapia.
Na quarta característica, “o psicoterapeuta crê que a psicoterapia é um
instrumento de crescimento pessoal e de tratamento eficaz” (Moreira, 2009b, p. 55).
Mas, também, sabe que a psicoterapia não tem receitas prontas e rápidas ou que
faz milagres. O psicoterapeuta não pode garantir o êxito do processo
psicoterapêutico, uma vez que o mesmo é algo subjetivo e singular, sendo cada
caso um caso (Moreira, 2009b). “O caminho terá que ser construído pelo cliente,
quiça com minha ajuda profissional” (Moreira, 2009b, p. 55).
Enfatiza Moreira (2009b), que com o decorrer do tempo o cliente passa a
conhecer melhor seu Lebenswelt, passando a identificar os melhores caminhos,
seus limites e suas potencialidades. Ou seja, o cliente “passa a conhecer melhor seu
próprio modo de funcionar no mundo” (p.56). Além disso, “na medida em que
aprende sobre seu Lebenswelt, o cliente aprende sobre os significados de sua
experiência vivida, tanto os significados negativos como os positivos, tanto sobre os
seus ganhos como sobre suas perdas” (Moreira, 2009b, p. 56, grifo do autor).
Desta forma, podemos compreender empatia, dentro de um enfoque
fenomenológico, como sendo a capacidade de penetrar no mundo perceptual do
cliente e percorrer todo o caminho desenvolvido pelo cliente juntamente com ele de
mãos dadas, mas sem esquecer que estou nesse mundo numa condição de “como
se” estivesse no lugar dele, devolvendo essa compreensão de seu mundo vivido
para o cliente como forma de facilitar seu desenvolvimento pessoal numa relação
que se estabelece com o mundo.
Podemos entender que, no enfoque humanista-fenomenológico, a empatia é
111
a capacidade de penetrar no mundo vivido do cliente, por meio da redução
fenomenológica, e apreender sua experiência vivida, para quando voltar para a si
mesmo poder passar ao cliente essa compreensão que teve de seu mundo vivido,
para que este possa perceber a sua relação estabelecida com o mundo.
112
4 PSICOTERAPEUTA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICO INICIANTE
A discussão acerca de quem é o psicoterapeuta humanista-fenomenológico
iniciante, articulada à sua vertente teórica é fundamental para compreendermos o
objetivo desta pesquisa.
Boris (1987) traz uma discussão importante, no que se refere à formação dos
psicoterapeutas humanistas, da necessidade de uma consistência teórica. Diante
dessa necessidade, as psicoterapias humanistas partiram para o uso de uma
metodologia que se contrapunha às visões dicotômicas entre o sujeito e o objeto, a
fenomenologia. E, ao adotar essa metodologia fenomenológica, Boris (1987) afirma
que as psicoterapias elegeram como forma de relação a atitude Eu-Tu, tomando
como visão teórica, Martin Buber. “Psicoterapeuta e cliente são cada vez mais
compreendidos como duas pessoas, envolvidos numa relação de sujeito-a-sujeito,
essencialmente igualitária, baseada na inter-subjetividade, intuição e afetividade”
(Boris, 1987, p. 72).
Boris (1987) propõe que, ao aderir a uma metodologia fenomenológica, as
psicoterapias se finquem em mais do que apenas nos fenômenos que aparecem,
mas que reflitam sobre a experiência vivida do outro. Além disso, traz à consciência
do psicoterapeuta humanista uma concepção mais ampla do que apenas se fincar
em filosofias que se referem à psicoterapia, mas que se dediquem ao estudo da
fenomenologia, do existencialismo e, principalmente, sobre os relacionamentos
psicoterápicos que estamos envolvidos.
Com base na perspectiva teórico-filosófica, descrita no tópico 3.1, o papel do
psicoterapeuta humanista-fenomenológico é buscar compreender o significado
dessa experiência vivida, do mundo vivido do cliente, pois esse ser mundano, tal
como Moreira (2009b) nos esclarece, vive em mútua constituição com o mundo.
113
Para ela, a fundamentação do terapeuta deve ser sobre “uma concepção de homem
enquanto ser no mundo e, como tal, como fenômeno em mútua constituição com o
mundo” (Moreira, 2007, p.107). Dentro dessa ideia de mútua constituição é que se
pode, segundo Moreira (2007), “realizar uma psicoterapia transformadora” (p. 108).
Portanto, ser psicoterapeuta humanista-fenomenológico iniciante requer uma
fundamentação humanista e filosófica as quais dispõem de atributos consistentes
que facilitarão a prática clínica. A prática psicoterápica requer certos atributos do
psicoterapeuta de base humanista-fenomenológica e este utiliza-se de atitudes
facilitadoras em seu trabalho. Essas atitudes, tal como mencionadas anteriormente
neste trabalho, são a autenticidade ou congruência, a consideração positiva
incondicional e a capacidade empática. Kinget (1965/1977) afirma que além dessas
atitudes facilitadoras, “são necessárias duas qualidades […]: um grau elevado de
maturidade emocional e de compreensão de si” (p.104, grifo do autor).
Portanto, o terapeuta deve estar em estado de acordo interno consigo
mesmo, devendo ser autêntico, “pois a ausência de autenticidade conduz a uma
deterioração da relação, o que torna não somente ineficaz, mas prejudicial” (Rogers,
1965/1977a, p. 107); além de ser empático, aceitando incondicionalmente o cliente
enquanto ao que ele é. Percebe-se a necessidade dessas atitudes, as quais o
terapeuta necessita ter para um bom desenvolvimento do processo.
Para Kinget (1965/1977b), a prática psicoterápica requer dois gêneros de
competência: “uma formação especial e certos atributos pessoais” (p.101),
considerando o primeiro atributo como primordial nessa prática. No entanto, ela
afirma que mesmo
o treinamento mais completo não poderia equipar o terapeuta com as
114
técnicas necessárias para interagir de um modo ao mesmo tempo fecundo e
‘asséptico’. Não é principalmente o conhecimento nem a habilidade do
profissional que tem mais valor no trabalho terapêutico. É a sua integridade
pessoal (Rogers & Kinget, 1965/1977b, p. 112).
Bucher (1989) lembra-nos que ninguém nasce psicoterapeuta e que a
formação é importante, mas a sua personalidade é igualmente importante, e disso
dependerá seus interesses, suas aptidões e atitudes.
Para Boris (2008a), quando o psicoterapeuta iniciante se porta de forma
onipotente, procurando mostrar eficiência ou quando é excessivamente disponível,
“esconde aparentemente a insegurança e a inexperiência” (p. 374). Embora,
também, assuma uma postura impotente, ao ser muito compreensivo e não
aprofundar os conteúdos trazidos pelo cliente. Portanto, ao mesmo tempo, que pode
se mostrar excessivamente “competente”, o psicoterapeuta iniciante tem as suas
impossibilidades, devido à falta de experiência.
Boris (2008a) assinala que
A literatura teórica é um ponto essencial de apoio e de referência ao
psicoterapeuta, mas não basta por si mesma, devendo sempre ser adotada
com flexibilidade, fundamentando e sendo fundamentada pela prática
profissional, pelas vivências pessoais, pela supervisão e pela própria
psicoterapia do psicoterapeuta (p. 376).
Dentro do processo de formação do psicoterapeuta iniciante, incluindo o
humanista-fenomenológico, a supervisão apresenta-se como um recurso
115
fundamental de formação, e um dos instrumentos facilitadores disso são as versões
de sentido propostas por Amatuzzi (1989), enfatizadas por Boris (2008b) e Moreira
(2009b). Essa ferramenta, utilizada dentro da abordagem humanista-
fenomenológica, vem como um recurso fundamental, proporcionador de
aprendizado, pois é nele que o psicoterapeuta coloca suas impressões acerca de
seus atendimentos psicológicos com seus clientes. É aqui que o psicoterapeuta
pode colocar suas dúvidas, medos, sucessos, fracassos, enfim, como forma de
aprimoramento de suas visões e de aprendizado ao ver o quanto evolui em sua
trajetória com cada cliente individualmente.
Essas versões de sentido são, para Amatuzzi (1995), “uma tentativa de dizer
a experiência imediata do terapeuta enquanto pessoa naquele momento, e enquanto
ainda referida à sessão que acaba de terminar” (p. 68). Para Amatuzzi (1993), a
versão de sentindo é cabível de aprendizado tal como se vai aprendendo a ser
terapeuta.
Para Moreira (2009b), quando falamos de supervisão clínica, isso inclui três
dimensões: “a teórica, a experiencial e a de supervisão” (p. 71). Sabemos a
importância da fundamentação teórica, da experiência como fundamental para um
melhor andamento do processo e a melhor forma de lidar com as situações
adversas, pois cada cliente é único. A supervisão, no modelo humanista-
fenomenológico, diz respeito à “mundaneidade, a tendência atualizante e a
responsabilidade contingente” (Moreira, 2009b, p. 77, grifo do autor), que são a base
filosófica dessa abordagem e fundamentam a supervisão.
Moreira (2009b) afirma que “o objetivo da supervisão será, prioritariamente, a
formação do psicoterapeuta” (p. 78). Além disso, assinala que “segundo a
fenomenologia, a realidade é um a priori, e a experiência vivida dá-se no âmbito da
116
prática” (Moreira, 2009, p. 79, grifo do autor). Boris (2008b) destaca que Moreira
mostra a importância do valor da experiência vivida do psicoterapeuta iniciante para
a sua formação, além de se submeter ao seu próprio processo psicoterápico.
Mesmo ao término do estágio supervisionado, Boris (2008b) afirma ser
importante uma continuidade da supervisão do psicoterapeuta iniciante por um
psicoterapeuta mais experiente, o qual permitirá que aquele tenha essa opção como
um recurso valioso e imprescindível em sua trajetória inicial como psicoterapeuta. A
importância da supervisão, tanto no estágio quanto depois, é fundamental, uma vez
que, segundo Boris (2008b),
a formação de um psicoterapeuta é contínua e sistemática, persistindo ao
longo de sua vida profissional e devendo ser sempre condizente com sua vida
pessoal e as diversas opções e experiências que ele faz e vivencia. Não é,
portanto, pontual e circunstancial (p. 167).
Távora (2002) afirma que
Treinar futuros terapeutas exige, ao mesmo tempo, técnica, arte e
sensibilidade. Exige respeito às diferenças e crença no talento de cada
iniciante amendrotado, tímido em suas iniciativas e pouco confiante em si.
Significa também deixar que os treinandos ensinem ao supervisor a arte de
ser paciente, de acreditar sem ver resultados imediatos e de abster-se de
induzi-los a um modelo de terapeuta já pronto (p.121).
Em vista do que foi explanado, sobre as condições necessárias a um
117
psicoterapeuta iniciante, mais especificamente, o humanista-fenomenológico,
percebe-se as dificuldades que estes sofrem ao lidar com essa nova situação em
sua vida profissional, daí a importância de uma adequada formação acadêmica. No
que se refere, à abordagem específica a ser seguida e à supervisão, apresenta-se
como um norte fundamental diante das impossibilidades e como uma troca de
experiências, pois cada situação de ambiente terapêutico é única, e tanto supervisor
e orientando aprendem com essas maneiras de ser de cada um.
Fazemos muitas escolhas na vida, assumimos muitas responsabilidades e
uma delas é quando decidimos ser psicoterapeuta. A responsabilidade de cuidar do
outro requer muita sabedoria, acordo interno consigo mesmo e uma formação
adequada. Bucher (1989) enumera três condições que dão sentido a escolha da
“carreira” de psicoterapeuta, que penso que seja adequado citá-las, devido à
importância de tamanha responsabilidade. Essas condições dizem respeito,
inicialmente, a pessoa se interessar pelo ser humano, saber lidar com esse outro em
suas manifestações; além de aturar e suportar a dimensão humana e o impacto da
mesma na vida do outro. A última condição se refere à formação profissional, onde o
aspecto técnico é necessário, mesmo que seja insuficiente para lidar com esse
humano (Bucher, 1989).
Nos remetemos aqui, mais uma vez, às questões voltadas a atitude do
psicoterapeuta diante de uma relação interpessoal com seu cliente, da necessidade
de uma boa formação profissional, da personalidade do mesmo, como suas
posições e atitudes influenciarão ou não o andamento do processo terapêutico.
118
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Realizei uma pesquisa qualitativa de cunho fenomenológico mundano,
ancorado no pensamento de Merleau-Ponty e desenvolvido por Moreira (2007,
2009b), pois este consiste em um método que busca compreender as dimensões do
vivido humano.
5.1 A Pesquisa Qualitativa Fenomenológica
Para elucidar e compreender o meu objeto de estudo, buscando conhecer a
dimensão do vivido, as experiências do sujeito, procurando apreender o significado
dos conteúdos que emergem em uma pesquisa, que fiz uso de uma pesquisa
qualitativa fenomenológica, pois esta tem a finalidade, segundo Amatuzzi (2001), de
clarear os fenômenos, visando construir uma compreensão de algo. Por meio desse
tipo de pesquisa, podemos nos aproximar ao máximo do relato do indivíduo tal como
aparece, do vivido em sua própria intencionalidade. Para Amatuzzi (2001), o que o
pesquisador busca é a “experiência intencional, vivida. Não os fatos que possam ser
inferidos, não a estrutura de pensamento subjacente revelada pelo uso de
determinadas palavras, não o desejo oculto e camuflado pelo discurso” (p. 8).
Para ele, numa pesquisa fenomenológica, “o melhor relato é o que procura
trazer, tornar presente, a experiência vivida” (Amatuzzi, 2001, p. 18). Assim, a
pesquisa fenomenológica é aquela que visa compreender o vivido, e esse vivido
podemos acessá-lo, por meio do relato da experiência. Esse relato “não se
manifesta sozinho, ou puro. Ele sempre se mostra já compondo-se com concepções,
percepções, construções da consciência” (Amatuzzi, 2001, p. 19).
119
Em concordância, Rey (2005) aponta que as experiências são extremamente
pessoais, as quais dizem respeito a uma história, um contexto próprio de cada um,
marcando sua singularidade. E o pesquisador, por meio de uma escuta atenta,
procura compreender esses fenômenos, a partir da descrição, uma vez que o
fenômeno pode falar por si só, objetivando alcançar o sentido da experiência,
emergindo, assim, os significados gerais ou universais dessas descrições (Holanda,
2006).
Após a apreensão dos dados qualitativos da pesquisa, por meio da descrição
da experiência,
a análise fenomenológica dos dados procede através da metodologia da
redução, da análise de afirmações e temas específicos e da busca de todos
os significados possíveis. O pesquisador também põe de lado todos os
prejulgamentos, pondo entre parênteses […] as suas experiências (um retorno
à “ciência natural”) e apoiando-se na intuição, na imaginação, em estruturas
universais para obter um retrato da experiência (Creswell, 1998, p. 5).
Por conseguinte, procurei ter acesso à experiência e compreender o
significado de ser empático para cada psicoterapeuta iniciante entrevistado, através
do método fenomenológico mundano.
5.2 O Método Fenomenológico Mundano
A busca pelo significado da experiência, através da compreensão dos
fenômenos, é o principal objetivo da pesquisa fenomenológica mundana. Assim, a
120
experiência vivida do sujeito é compreendida a partir de sua mundaneidade. Este
método, proposto por Moreira (2007, 2009b), é inspirado na filosofia de Merleau-
Ponty, caracterizando-se como uma ferramenta crítica que facilita a apreensão da
experiência vivida do sujeito.
Como pressuposto filosófico, é necessário fazer uma rápida releitura
fenomenológica de Merleau-Ponty, para melhor compreender este método e a visão
de homem como ser mundano, pois Merleau-Ponty vai além de uma visão dualista
de homem e mundo. Nesta perspectiva metodológica, há uma visão de homem, que
deixa de ser percebido de forma dualista, passando a ser pensado em sua mútua
constituição com o mundo. Dessa mútua constituição, é que surge o conceito de
homem mundano proposto por Moreira (2001, 2004, 2009b). Esse homem mundano
é atravessado por inúmeras dimensões, sejam sociais, políticas, culturais, biológicas
e psicológicas. E é a partir dessa dimensão do vivido que este método procura
compreender esse homem. Assim,
o mundo é inseparável do sujeito, mas de um sujeito que é senão projeto do
mundo, e o sujeito é inseparável do mundo, mas de um mundo que ele
mesmo projeta. O sujeito é ser-no-mundo, e o mundo permanece ‘subjetivo’,
já que sua textura e suas articulações são desenhadas pelo movimento de
transcendência do sujeito (Merleau-Ponty, 1945/1994, p. 576).
O pensamento de Merleau-Ponty (1945/1994) traz a ideia de que a
fenomenologia situa-se numa perspectiva onde a essência está na existência, dando
significado à experiência vivida de cada um e que o homem e mundo são vistos a
partir de sua facticidade. Além do mais, afirma que as coisas e o nosso corpo são
121
feitos do mesmo estofo e o corpo está preso no tecido do mundo, “são um anexo ou
prolongamento dele mesmo, estão incrustados em sua carne” (Merleau-Ponty,
1964/2009, p. 17).
Por conseguinte, esse corpo, que se constitui com o mundo, é visto a partir de
seus múltiplos contornos, onde não existe uma dicotomia entre ambos. Em A dúvida
de Cézanne (1945/2004), as linhas disformes apresentadas nas obras desse pintor
retratam muito mais a realidade do que propriamente a fotografia, pois as mesmas
parecem um prolongamento entre as partes correspondentes da figura. Assim, “seus
quadros dão a impressão da natureza em sua origem, enquanto as fotografias das
mesmas paisagens sugerem os trabalhos dos homens, suas comodidades, sua
presença iminente” (Merleau-Ponty, 1945/2004, p. 128).
Na fotografia há a perda do movimento, congelando a imagem, onde separa o
real do imaginário, cristalizando apenas uma representação de determinado
momento. O que não se vê nas pinturas de Cézanne, onde os traçados parecem ter
movimentos, ou melhor, parecem não existir traçados. Para Merleau-Ponty
(1945/2004), “o contorno dos objetos, concebidos como uma linha que os delimita,
não pertence ao mundo visível, mas à geometria” (Merleau-Ponty, 1945/2004, pp.
129-130).
Essa analogia, feita por Merleau-Ponty, remete-nos às ambiguidades que são
inerentes ao ser humano, pois este é constituído de múltiplos contornos, faz parte de
um mundo, de uma cultura, de uma sociedade, de uma economia, de uma história e,
ao mesmo tempo, é constituído por todas elas. Para Nóbrega (2008), “Merleau-
Ponty reflete sobre a pintura de Cézanne como configuração perceptiva cuja
natureza problematiza as dicotomias entre percepção e pensamento, entre a
expressão e o que é expressado” (p. 141) .
122
Assim, a pintura de Cézanne é usada por Merleau-Ponty como forma de
expressar seu pensamento, que aquele pintor expunha, nas pinturas, o
prolongamento da vida do homem e do mundo. O filósofo reconhecia, a partir disso,
as ambiguidades que são inerentes ao ser humano em seus múltiplos contornos.
Disso, Merleau-Ponty pretendia, segundo Moreira (2007), “desfazer a ideia de que o
real é estático, tomando como exemplo o movimento da pintura (Moreira, 2007, p.
222).
Esse real, para Merleau-Ponty (1945/1994), “deve ser descrito, não construído
ou constituído” (p. 5). Articulando essa ideia de Merleau-Ponty com a pesquisa,
tenho como finalidade, apreender a descrição do real, daquilo que foi vivido
verdadeiramente pelos colaboradores da pesquisa. E é neste intercurso entre o
vivido do homem e o mundo, que pela redução fenomenológica, busquei colocar
entre parênteses a minha experiência, meus conhecimentos, saberes e ideias
acerca da temática aqui proposta, me atendo apenas nas falas dos entrevistados,
pois é por conta dessa redução, que chegamos ao sujeito situado no mundo, mundo
este que antecede a reflexão. Isso é uma tentativa, uma vez que para Merleau-Ponty
(1945/1994), “o maior ensinamento da redução é a impossibilidade de uma redução
completa” (p. 10).
A utilização dessa redução é, para Moreira (2009b), um artifício lógico para
que o pesquisador alcance a realidade, e ela nunca se completa porque estamos
ancorados no mundo, somos um só, estamos enraizados um no outro, numa espécie
de atolamento congênito.
É diante dessa visão que estabelece o homem enquanto ser mundano,
composto por suas experiências, que procurei compreender a experiência desses
psicoterapeutas iniciantes, resgatando a dimensão do vivido de cada um.
123
5.3 O Local da Pesquisa
As entrevistas foram realizadas no Serviço de Psicologia Aplicada - SPA do
Núcleo de Atendimento Médico Integrado – NAMI. O NAMI é uma instituição que se
preocupa em promover a qualidade de vida e para isso foi criado em 1978, tendo a
finalidade de prestar atendimento multidisciplinar que são focados na humanização e
na evolução do atendimento. É referência no Norte e Nordeste pela qualidade do
atendimento prestado, incluindo os casos de natureza secundária e de alta
complexidade. São beneficiados, por ano, cerca de 25 mil pacientes, realizando 300
mil procedimentos por ano.
A missão do NAMI é desenvolver ações de saúde no nível secundário de
atenção, procurando promover, prevenir, diagnosticar, tratar, reabilitar e proporcionar
a melhoria da qualidade de vida, de forma interdisciplinar.
O NAMI possui diversos tipos de atendimentos, dentre os quais destaco:
fonoaudiologia, terapia ocupacional, Programa Interdisciplinar de Nutrição aos
Transtornos Alimentares e Obesidade, serviços médicos mais especializados, entre
outros, além de possuir uma academia que tem como objetivo a prática esportiva, o
complemento da assistência médica terapêutica, e o Serviço de Psicologia Aplicada,
onde foram feitas as entrevistas desta pesquisa, que possui uma estrutura para
teoria e prática da vivência profissional.
Esse campo de investigação foi escolhido porque nesse local se encontram
os psicoterapeutas iniciantes da vertente humanista-fenomenológica, que são
orientados por professores que trabalham com esse enfoque.
124
5.4 Os Sujeitos Colaboradores da Pesquisa
Para Amatuzzi (2001), “a pesquisa fenomenológica não tem sujeitos que
forneçam informações, mas colaboradores que pensam junto o assunto, e o fazem
com a novidade da primeira vez.” (p. 19).
O critério de inclusão para participação levou em consideração aqueles
psicoterapeutas iniciantes que já tiveram mais de cinco atendimentos psicoterápicos
com seus clientes. Essa pesquisa contou com a participação voluntária de 25
psicoterapeutas iniciantes da vertente humanista-fenomenológica, indicados pelos
respectivos orientadores, que estão fazendo estágio curricular em psicologia clínica.
Esse estágio tem a finalidade de que os alunos graduandos façam atendimentos em
psicoterapia individual ou em grupo, triagem, psicodiagnóstico como requisito parcial
para formação em psicologia.
O processo de composição dos sujeitos colaboradores se deu da seguinte
forma: inicialmente, contatei os professores orientadores desses estagiários, os
quais acharam melhor que eu os convidasse pessoalmente nas salas de supervisão,
assim pude convidá-los, explicando o objetivo da pesquisa, garantido o sigilo do
conteúdo das entrevistas; posteriormente, esclareci que deveriam assinar um Termo
de Consentimento (ver em anexo), aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
UNIFOR - COÉTICA (Parecer nº 162/2011), e que estariam participando por livre e
espontânea vontade, podendo desistir dela a qualquer momento; após os
participantes aceitarem e demonstrarem interesse em vir a conhecer os resultados
finais da pesquisa, as entrevistas foram realizadas (uma entrevista com cada
colaborador); e dos 25 participantes, três eram do sexo masculino e 22 do sexo
feminino – essa diferença de gênero se deu devido ao pequeno número de homens
125
orientados por estes professores; desses 25 sujeitos colaboradores, que se
dispuseram a participar, 17 eram estagiários de clínica I, seis de clínica II e somente
um participante de clínica III, sendo um dos colaboradores, estagiário de clínica II e
III, simultaneamente.
5.5 Instrumento de Pesquisa: Entrevista Fenomenológica
O instrumento de pesquisa utilizado consistiu em uma entrevista
fenomenológica não-estruturada, a partir de uma pergunta norteadora: Como é para
você ser empático com seus clientes em psicoterapia?
Esse instrumento de pesquisa é, para Moreira (2009b), um “artifício utilizado
para colher dados sobre o fenômeno que se pretende compreender. Dado que o
caminho que se pretende seguir é, basicamente, a descrição da experiência, a
entrevista tem sido o instrumento amplamente utilizado por pesquisadores
fenomenológicos” (p. 114).
Buscou-se a descrição do sujeito colaborador acerca de sua experiência
vivida. Para Amatuzzi (2001), o objetivo da entrevista fenomenológica seria
“surpreender o vivido no presente, quando a experiência da pessoa é pensada de
repente e dita como pela primeira vez, […]” (p.19). Para o mesmo autor, no momento
da pesquisa, o entrevistador deve ter um senso crítico a respeito de si mesmo, para
que possa colocar suas questões de lado sendo capaz de estar atento aos fatos e
fenômenos emergentes, por meio da redução fenomenológica; e que além dessa
atitude de pesquisador, também deve ter uma relação de tal forma com o
entrevistado, a fim de permitir que este possa relatar sua experiência vivida, e desta
maneira o pesquisador ter acesso à experiência vivida além das ideias, das teorias e
126
das estruturas de pensamento.
As entrevistas foram marcadas em dias, locais e horários pré-determinados, e
foram realizadas no SPA. O ambiente era calmo e silencioso, sem interrupções. As
entrevistas foram gravadas em áudio com o consentimento de todos, após
assinarem o Termo de Consentimento. Foram feitas 25 entrevistas, variando de 7 a
45 minutos, as quais foram transcritas literalmente. Após esse momento, foi
realizada uma análise detalhada das entrevistas, seguindo os passos da análise
fenomenológica mundana (Moreira, 2009b).
5.6 Análise Fenomenológica Mundana
A análise, das entrevistas, seguiu o modelo da análise fenomenológica
mundana, de acordo com os passos adaptados e propostos por Moreira (2009b), os
quais se resumiram da seguinte forma: primeiro, fiz a transcrição literal da entrevista,
onde transcrevi todas as falas, juntamente com todos os aspectos não-verbais, tais
como: os ruídos, risos, respirações, pausas realizadas pelo entrevistado, tal como
apareceram; posteriormente, fiz a divisão desse texto em movimentos, seguindo o
tom da entrevista, ou seja, foram divididos seguindo as mudanças que ocorreram
durante a entrevista, como quando os entrevistados mudaram de tema, de voz ou
fizeram pausas por causa de dúvidas, ou porque estavam pensando sobre o
assunto; em seguida realizei a análise descritiva desses sentidos que emergiram de
cada movimento, procurando identificar e compreender os significados da
experiência de ser empático; o último passo dessa análise consistiu em sair dos
parênteses e neste momento, a questão principal foi o retorno à hipótese, o que
antes era colocado entre parênteses como hipótese, retornou como foco de atenção,
127
fazendo articulações com os resultados da pesquisa, contemplando-a em seus
múltiplos contornos.
128
6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Em busca do significado da experiência vivida dos psicoterapeutas
humanista-fenomenológicos iniciantes realizei a análise fenomenológica mundana
nas entrevistas, onde as seguintes categorias descritivas emergiram:
6.1 Compreensão do conceito de empatia
Podemos compreender, a partir das falas dos sujeitos colaboradores, as
seguintes ideias acerca do conceito de empatia:
6.1.1 Empatia como base para facilitar o processo terapêutico
Pra mim ser empática é a base de tudo, é o que vai facilitar todo o processo, porque assim se não rola essa empatia no início vai ter complicação nessa relação terapeuta-cliente (Paulo); Então, eu acho que a questão da empatia é o ponto crucial da terapia, é o primeiro ponto, é essencial… para ocorrer mesmo os atendimentos, ocorrer de uma forma bacana, com… com qualquer é… cliente, essa questão da empatia é essencial, é essencial, tem que acontecer, é o ponto inicial para mim (Sandra); Ser empática para mim é… para mim na sessão ser empática é tudo sabe eu acho que começa daí, o crescimento, o desenvolvimento do paciente começa daí, da questão da empatia, se você conseguir ser empático com o seu cliente, é… acho que é o primeiro passo para tudo ocorrer depois daí, pro vínculo acontecer, para ele ter confiança de estar falando as questões dele para você, entendeu, saber que tem aquela pessoa que ele sabe que quer o bem dele, que quer que ele se desenvolva (Sandra).
Nestes relatos, a empatia aparece como sendo fundamental ao processo
psicoterapêutico, sendo considerada como a base, o ponto inicial para que o
processo aconteça. Ela apresenta-se como sendo importante para a profissão de
129
psicólogo e para facilitar a relação entre psicoterapeuta e cliente. Rogers
(1961/1987) afirma que a empatia surge como essencial no processo terapêutico, à
medida que o terapeuta é capaz de captar o mundo do cliente sem esquecer-se da
condição de “como se”. Grant (2010) ressalta essa colocação de Rogers, mostrando
que, enquanto condição facilitadora, ela é parte essencial do trabalho dos
terapeutas.
Para Bozarth (1998/2001), Rogers trouxe uma perspectiva diferente ao tornar
a empatia “a chave do processo de mudança terapêutica” (p. 83). O’Leary (2008)
compartilha com essa visão. Isso pode ser visto nas falas dos entrevistados, quando
os mesmos afirmam que a empatia é compreendida como o ponto crucial em terapia
possibilitando o desenvolvimento do cliente. Ela é, em Rogers (1975/1977), um fator
primordial na promoção de mudanças e de aprendizagem.
6.1.2 Empatia como instrumento para facilitar a relação
Acho que eu tenho sempre usado a empatia como um instrumento, como instrumento de que facilite dentro dos processos, até porque tem clientes que não são tão fáceis de construir essa relação empática, então assim, até você compreender como… compreender como é essa empatia e como ela deve ser construída, não é… como você tem que respeitar o limite do teu cliente para que realmente você consiga é criar esse vínculo, essa relação empática, eu acho que tudo isso é um processo que a gente tem que respeitar, porque todo mundo tem um tempo, até interessante porque dentro dos clientes que eu atendo, cada um eu percebo que tem o seu tempo, e às vezes alguns já vêm de outras situações terapêuticas, então até… construir isso é muito complicado e às vezes você tem que… às vezes você tem que perceber e só estando ali com ele para conseguir compreender como é construir isso (Paulo).
Rogers coloca a empatia como sendo uma atitude facilitadora para que o
processo de desenvolvimento da personalidade ocorra, permitindo ao cliente o
crescimento, evitando que a mesma seja confundida como uma técnica. Decorre
130
disso, a preocupação da empatia não poder ser ensinada, pois correria o risco de
ser entendida como uma técnica (Grant, 2010).
De acordo com Bozarth (1998/2001), “para Rogers, a empatia é o modo de o
terapeuta experienciar outra pessoa, na medida em que é mais do que uma técnica,
fórmula, forma ou base esquemática cognitiva” (p. 92).
Neste caso, o entrevistado usa a empatia como um instrumento que facilita a
construção do processo. Mas esse instrumento parece ser compreendido, quando
ele diz que a usa como instrumento, “porque tem pacientes que não são tão fáceis
de construir uma relação empática”, como uma espécie de fórmula que facilita, o
que, para Rogers, seria apenas o experienciar os sentimentos do outro como se
fosse esse outro, e não uma fórmula de construção de relação. A empatia, por mais
que ela seja “uma maneira de ser complexa, exigente e intensa” (Rogers,
1975/1977, p. 74), ela é, segundo Rogers, sutil e suave. Para ele, “é algo que o
terapeuta oferece e não alguma coisa apenas eliciada por um tipo particular de
cliente” (Rogers, 1975/1977, p. 77).
6.1.3 Ver e ouvir verdadeiramente
Eu acho que quando o cliente, ele traz as questões dele de certa forma se você está com uma escuta atenta você entra no mundo do cliente e você imagina que você está junto com ele lá,… mas sempre tento estar com ele também, então eu acho que sempre que eu estou com a escuta atenta eu estou com ele nesse mundo dele e mais, com cuidado para saber como sair, em que momento sair, então é mais ou menos isso (Roberta);
É justamente esse olhar que você tem diante da situação do cliente, diante do que ele está vivendo, diante do que ele está experimentando, tentar compreender aquilo como se você fosse ele, tentar é… enxergar aquela situação usando os olhos dele, digamos assim, através de uma lente comum (Diana).
Tal como Rogers já colocava a importância de um ouvir atento e verdadeiro,
131
muitos entrevistados apontaram como sendo fundamental ouvir atentamente o que o
cliente está trazendo sem criticá-lo, e olhá-lo com atenção. Ouvir o cliente, para
Rogers (1980/2007), seria uma espécie de força motriz, pois de acordo com ele,
ouvir é um modo especial de ajudar imensamente importante na relação. Esse ouvir
deveria ser imparcial, ativo, sensível e com muito cuidado. O próprio Rogers
(1980/2007) utilizava o ouvir quando tinha dúvidas acerca do que fazer a respeito do
que o cliente trazia.
É por meio do ouvir e do olhar atento, que o terapeuta consegue adentrar ao
mundo do cliente, pois o fenômeno aparece tanto por meio da fala quanto por meios
não verbais. É o que se percebe na fala da entrevistada Diana, quando ela procura
olhar o cliente de acordo com o que ele está experimentando. A pessoa também se
comunica por meio do olhar, da postura, dos movimentos, gestos, e da mesma
forma o terapeuta se comunica não verbalmente com seus clientes (Rosenberg,
1977). Por isso, esse contato verbal e não verbal afiguram-se como fundamentais
para que o processo desenvolva-se em direção ao crescimento do cliente, e isso
está claro para os entrevistados, na medida em que eles ouvem e veem por trás do
visível a situação do cliente. A percepção do que foi expresso, faz com que o
terapeuta chame a atenção do cliente de muitas coisas que não foram ditas por ele.
Segundo Amatuzzi (1990), o ouvir o que está por trás da mensagem, é para Rogers,
o ouvir mesmo, e não o deduzir o que o cliente diz.
Para Merleau-Ponty (1945/1994), “o sentido do gesto não está contido no
gesto enquanto fenômeno físico ou fisiológico. O sentido da palavra não está contido
na palavra enquanto som” (p. 262). “O sentido está enraizado na fala, e a fala é a
existência exterior do sentido” (p. 247).
Furlan e Bocchi (2003) afirmam que Merleau-Ponty (1945/1994)
132
recorrerá ao gesto para esclarecer a comunicação pela palavra, buscando no
corpo não só a compreensão do problema da linguagem, mas também o
entendimento de uma questão mais abrangente, a expressão. Segundo ele,
há um mesmo modo de apreensão sensível na base da compreensão da fala
e do gesto corporal. Apreende-se o significado da palavra assim como
apreende-se o sentido de um gesto (p. 448).
Dentro do processo psicoterapêutico, ver e ouvir precisam ser estabelecidos
de tal forma que proporcione o encontro entre terapeuta e cliente. Esse ver e ouvir
estão para além do aparente, estão por trás do que o outro diz ou expressa não
verbalmente, percebendo o que está invisível. Isso possibilita que o cliente possa
ouvir melhor o fluxo de suas experiências. “Para o terapeuta ver o paciente é,
simultaneamente, sair de si mesmo e trazê-lo ao mundo dentro de si. A partir disso,
ser-lhe-á possível falar autenticamente” (Moreira, 2009b, p. 69).
6.1.4 Ambiente Propício
Então, acredito que empatia é isso, é dar esse ambiente para o seu cliente, esse ambiente propício para que ele possa se colocar, e você também respeitando os limites dele, acho que é mais ou menos isso (Roberta).
A necessidade de um ambiente propício fez-se presente em uma das falas,
como sendo importante para que o cliente sinta-se à vontade para se colocar. Esse
ambiente facilitador é fundamental para que o processo se desenvolva de forma que
o cliente perceba esse acolhimento e sinta-se à vontade para se colocar e trabalhar
suas questões.
133
Quando uma atmosfera não ameaçadora ocorre, o cliente sente-se
compreendido, aceito, sente que não estão sendo julgado ou avaliado e que o
terapeuta está ali ouvindo atentamente. Sente que o terapeuta o escuta com
atenção, esforçando-se para compreendê-lo (Rogers, 1951/1992). É desta forma
que se constitui um ambiente facilitador, sem julgamentos, aceitando o cliente tal
como ele é e o compreendendo genuinamente, permitindo que possa expressar seu
sofrimento e que o fluxo de suas experiências internas seja reestruturado de acordo
com o tempo do cliente. “Neste clima, pessoas e grupos conseguem sair da rigidez e
caminhar em direção à flexibilidade da vivência estática à vivência processual, da
dependência à autonomia, do previsível a uma criatividade imprevisível, da
defensividade à auto-aceitação” (Rogers, 1973/1977, p. 195).
Percebe-se a preocupação do colaborador em dá essa atenção ao cliente,
oferecendo-lhe um ambiente adequado para seu desenvolvimento, e para ele a
empatia lhe permite isso.
6.1.5 Sintonia e Reciprocidade
A impressão é essa mesmo, estar em uníssono, estar no mesmo tom, estar afinando… (Natália); Eu entendo por compreensão empática quando é… como se tivesse uma sintonia, é uma sintonia mútua digamos assim, não sei se posso chamar de mútua, mas como se estivesse numa compreensão, como se as duas pessoas no mesmo ritmo juntas… eu entendo assim (Bruna).
Ser empático para estes sujeitos colaboradores consiste em está em sintonia
com seus clientes, permitindo uma compreensão do mundo deles. Moreira (2009b)
afirma que “o processo psicoterapêutico se produz na intersecção dos Lebenswelten
do terapeuta e do cliente” (p. 52, grifo do autor). Nesse momento de sintonia, parece
134
que terapeuta e cliente já estão em um estágio de profunda relação de
compreensão, tanto o terapeuta compreendendo o cliente, como o cliente se
sentindo compreendido. Parece que, ao está em uníssono com o cliente o terapeuta
está captando “os significados da experiência vivida em sua totalidade, que não é
puramente objetiva ou subjetiva” (Moreira, 2009b, p. 51). Ela é, simplesmente,
experiência.
É por meio da empatia que o terapeuta se aproxima da experiência de seu
cliente. É desse veículo de partida, como afirma Souza (2008), que o terapeuta
“realiza as travessias experienciais com o cliente” (p. 116). Sem ela, o trabalho do
terapeuta direciona-se “para outros resultados que não o funcionamento pleno do
organismo” (p. 116).
6.1.6 Condições facilitadoras
Eu acho que é esse consentimento que a gente se permite… de dar permissão ao outro de ser quem ele é,… essa empatia ela vem justamente da relação, ela nasce dessa relação, da gente se permitir ser a gente mesmo, o que não é fácil na primeira sessão (Natália); Compreensão empática é você compreender… eu posso está enganada, mas assim, minha forma de entender é assim… compreender… o que eu entendo por compreensão empática, é você é… aceitar aquela pessoa da forma como ela é, independente de quem seja,… eu sabia que eu ia ter essa aceitação, quem viesse, como viesse (Lidia); As atitudes facilitadoras do Rogers, eu não consigo assim pensar uma delas, sem pensar nas outras duas, no caso não consigo pensar empatia sem pensar um pouco em autenticidade, e na aceitação positiva incondicional, que para mim são atitudes que estão sempre andando de mãos dadas, digamos assim, mas ser empático para mim é uma das atitudes mais importantes sim (Diana); É uma experiência de muito crescimento, uma experiência muito boa assim, quando você consegue ser genuinamente empático na relação com o cliente, podendo “aceitar ele” de maneira verdadeira e tudo, é como se você… assim, o que eu sinto e às vezes que eu já… já experimentei isso, é como se
135
validasse de certa forma aquilo que você está se propondo a fazer (Natália); De está diante do cliente não com a concepção de que ele seja um objeto, mas que… é uma pessoa, que ali… a partir das diferenças, mas que há muitas semelhanças comigo enquanto terapeuta, isso tem facilitado demais essa relação empática com meu paciente, a questão assim da posição incondicional, o respeito pelo paciente… do cliente, isso tem facilitado (Priscila).
Por mais que as condições facilitadoras estejam interligadas, elas devem ser
diferençadas quanto ao conceito e ao papel de cada uma delas dentro do processo
psicoterápico. Temos que aceitar o cliente tal como ele é, mas a compreensão
empática surge a partir do momento em que entramos em contato com o mundo do
cliente, o que só se dá depois de aceitá-lo verdadeiramente enquanto pessoa e, ao
mesmo tempo, é tal como Bozarth (1998/2001) afirma, que “para que o olhar
incondicionalmente positivo seja transmitido, tem que existir num contexto de
compreensão empática” (p. 73). Então, uma coisa não invalida a outra, pelo
contrário, reafirma a necessidade das condições facilitadoras em conjunto.
No que concerne à autenticidade, Bozarth (1998/2001) afirma que ela é “uma
característica do terapeuta que deve existir. É contextual, isto é, esta condição é um
desenvolvimento atitudinal que permite ao terapeuta estar mais apto a experienciar a
compreensão empática e o olhar incondicionalmente positivo em relação ao cliente”
(p. 75).
É inegável a ligação e a contribuição que cada atitude tem de facilitar o
crescimento da personalidade do cliente, embora seja conceituada e entendida de
forma particular por cada um dos entrevistados. O conhecimento das mesmas,
enquanto atitudes facilitadoras, está claramente explícita nas falas dos
entrevistados, demonstrando a existência delas na terapia, embora precisem ter a
compreensão de cada uma enquanto atitude em si mesma.
De acordo com Bozarth (1998/2001), todas estas atitudes estão integralmente
136
relacionadas, e que “a compreensão empática é a aceitação incondicional do quadro
de referências do indivíduo” (Bozarth, 1998/2001, p. 87). E, para compreender
empaticamente e aceitar o cliente, o seu quadro de referências, o terapeuta tem que
está congruente em si mesmo (Bozarth, 1998/2011).
6.1.7 Identificação
Ser empático, no caso é uma coisa que vem abrir portas, vem trazer a possibilidade da pessoa se sentir à vontade de se sentir identificado para que ele possa falar sobre si, falar sobre suas questões (Pedro); […] a partir do momento em que eu penso com ela, eu me torno uma pessoa identificável a ela, então se identifica em mim na minha compreensão da situação dela e a partir daí eu a vejo com empatia comigo, então assim, eu tento fazer dessa forma, eu acho que isso me ajuda bastante (Pedro); […] porque você para tentar entender as experiências de outro, você não viveu de certa forma, você tem que comparar com experiências semelhantes que você teve (Pedro); […] tem momentos assim que eu me angustio muito com o que ela traz, que o choro vem bem aqui, quando ela chora dizendo que… enfim… das dificuldades, eu me identifiquei com ela porque eu tenho uma filha pequena também, é complicado (Veruska); […] por mais que a gente não queira sentir aquilo na gente, parece que é… a gente se sente naquela situação, ou seja, quando ela traz uma questão que é dela tem momentos que eu vejo aquela questão como sendo minha, e a gente… essa coisa… é… muito difícil porque a gente quer colocar… quer trazer à tona como se a gente estivesse vivendo aquilo na situação real da gente, isso é uma coisa que eu ainda preciso aprender a separar… a gente se identifica um pouco com isso, e às vezes é complicado a gente ver a situação dela, a gente fica naquela situação querendo resolver a dela e a da gente também (Carla).
Rogers já dizia que não deveria haver essa identificação, porque senão o
terapeuta se perderia dentro do processo do outro. Para Bozarth (1998), “Rogers
parecia especialmente preocupado com o fato de o terapeuta não se dever
identificar com o cliente, mas sim manter a dimensão de ‘como se’” (p. 87). Segundo
137
Rogers, essa não-identificação é, “sentir a angústia, o receio ou a confusão do
cliente como se de sentimentos seus se tratasse e, no entanto, sem que essa
angústia, esse receio ou essa confusão o venham afetar, tal é a condição que
estamos tentando descrever” (Rogers, 1961/1987, p. 262).
Rogers (1951/1992), ao falar em identificação, se refere a uma identificação
empática, que é diferente de uma identificação emocional. Na identificação
empática, o orientador (nessa época ele chamava assim o terapeuta), “percebe os
ódios, as esperanças e os medos do cliente através da imersão num processo
empático, sem contudo experimentar ele próprio esses ódios, esperanças e medos”
(Rogers, 1951/1992, p. 39).
6.1.8 Simpatia
Um sujeito colaborador descreve empatia como sendo a pessoa se mostrar
disponível tendo algumas características pessoais como, ser simpática:
Essa compreensão empática é você está ali disponível… você se mostrar disponível e você ter algumas características pessoais, como ser simpática também, a empatia é claro que é a mesma coisa… e assim é você está acessível, acho que isso contribuiu muito para que estabeleça essa compreensão empática, aconteça (Sandra).
O terapeuta pode ser simpático com seus clientes, mas ter uma atitude
empática quer dizer que está realmente implicado com aquele cliente, está de fato
compreendendo, sem julgamentos, aquela pessoa. Essa disponibilidade, que o
entrevistado fala, é estar aberto para o outro, mas pode ser confundida, dentro
desse contexto, com aquela abertura do senso-comum.
138
6.1.9 Acolhimento
Eu acho que ser empático é tentar me aproximar o máximo do que eu puder do que eles estão me trazendo como questão naquela sessão… porque… aí cada sessão eu acho que é diferente, porque eles trazem questões iguais, mas que são diferentes na forma que eles colocam e que mudam de uma semana para outra, e eu acho que é bem isso… é mais tentar me aproximar deles, porque não dá para me colocar exatamente na posição que eles estão, mas é tentar acolher da melhor forma possível, que eles sintam que aquilo que eles estão dizendo, está sendo validado, está sendo levado em consideração (Patrícia); Quando eu estou na sessão, a minha presentificação dentro da sessão, eu consigo está bem atenta, prestar bem atenção, é saber acolher o sofrimento do outro, e… é você está atenta ao que o outro está te trazendo, aquilo que é do outro, é sabendo tirar o que é teu (Lidiane).
O acolhimento apresenta-se como uma forma de validar o que o cliente está
trazendo, mostrar que eles estão sendo levados em consideração. É se aproximar
deles, acolhendo seu sofrimento, prestando atenção no que estão trazendo. É o
cuidado com o ambiente, a forma de se trajar e se comportar para que o cliente se
sinta acolhido. Nós (psicoterapeutas) aprendemos na faculdade os cuidados que
temos que ter no momento do atendimento, isso seria uma forma de mostrar
respeito pelo cliente, e é isso que se observa nas falas desses sujeitos
colaboradores: é o estar presente para o cliente, é aproximar-se dele, é ter uma
relação adequada, é dar crédito ao cliente, tornando-o parte do processo.
6.2 Sentimento de ser empático
Eu me sinto muito bem quando eu estou conseguindo fazer, é… quando eu estou conseguindo participar do problema, que às vezes eu consigo até sentir quando traz uma questão de angústia, que me angustia um pouco, quando traz uma reação de felicidade, que me traz felicidade, eu me sinto com uma sensação parecida, então eu me sinto bem, eu gosto, e quando eu percebo, às vezes a gente não percebe que está acontecendo, mas às vezes a gente
139
“olha, está acontecendo”, e… é uma coisa que é fundamental acontecer pra que o processo terapêutico se desenrole, mas às vezes isso está acontecendo de uma forma tão legal, tão natural, tão prática, que a gente mesmo não percebe, é uma coisa que flui, mas às vezes a gente… às vezes a gente não para, para perceber, às vezes a gente… dar um estalo e percebe que está acontecendo, esses momentos em que eu percebo que está acontecendo, me deixam bem feliz (Pedro).
O sentimento de ser empático apresenta-se como sendo algo bastante
satisfatório para alguns dos entrevistados, o que possibilita que a relação terapêutica
flua, pois percebem que estão sendo coerentes. É um momento de entrar de fato na
relação, validando o papel do psicoterapeuta, sentindo-se mais seguros desse papel.
O ser empático parece, para este entrevistado, imergir naturalmente, tanto
que nem se percebe estando no mundo do cliente, e quando volta para si, se dá
conta do que estava acontecendo: o processo de compreensão empática, que fez
com que a relação fluísse, deixando-o com um sentimento de felicidade, ou melhor,
podemos entender disso, um sentimento de satisfação pessoal enquanto terapeuta.
6.3 Construindo uma atitude empática na relação terapêutica
Essa empatia ela nasce quando eu paro de julgar, se eu não faço nenhum juízo então eu permito que essa empatia se instale (Natália). Esse colaborador afirma que a empatia, dentro de uma relação terapêutica,
nasce quando não há julgamentos da parte dele em direção ao cliente. Para Rogers
(1975/1977), ser empático não diz respeito a atribuir características avaliativas e
diagnósticas a respeito do cliente. Essa atitude de não julgamento na relação, que
permite uma construção da compreensão empática por parte do terapeuta, parte da
concepção de que o terapeuta é uma parte importante na relação, fazendo com que
sua atitude desempenhe um papel fundamental dentro da terapia.
140
Segundo Rogers (1975/1977), “a expressão mais alta da empatia consiste em
aceitar e não julgar. Isto é verdade porque é impossível perceber com precisão o
mundo interior de outra pessoa quando temos uma opinião avaliativa formada a seu
respeito” (p. 82).
Para outros, essa construção é bem mais difícil:
Então, essa empatia que eu vejo hoje nesse semestre, que a gente… as duras penas terminando é que se constrói, é construída, mas que assim… precisa que tenha um consentimento interior nosso, precisa que a gente se permita construir (Natália); Você tentar se aproximar cada vez mais de uma compreensão empática, de uma posição mais empática, que assim a princípio para mim isso não é algo tão simples assim, não é uma coisa que eu chegue e já consiga de cara está numa posição, postura completamente empática isso e aquilo, eu acho que é um exercício (Sandy);
Essa questão da empatia assim, eu acho que… torna-se um pouco, um pouco mais complicado, mais delicado, acho que essa palavra é melhor, tem muito ainda da insegurança, de está começando a clínica agora, de não saber muito bem como manejar algumas coisas no processo terapêutico, e às vezes essa… essa compreensão empática pode… tentar ficar um pouco nublada, um pouco por conta dessa insegurança de ser psicoterapeuta iniciante na minha prática (Diana); Não é uma coisa que você aprende na teoria e você aplica, não é uma técnica, mas é uma questão mesmo de atitude, tanto que uma das minhas pacientes que eu comecei a atender nesse semestre em clinica I, não houve em um primeiro momento essa empatia acredito eu, da minha parte, foi meio complicado transpor esse… esse primeiro momento, mas depois a coisa foi andando e enfim, hoje a gente tem um vínculo bem legal (Veruska).
A compreensão empática, dentro dos atendimentos, foi um processo a ser
construído aos poucos por alguns dos entrevistados. Para eles, isso não se deu
facilmente no início, isso se constituiu como um exercício contínuo no decorrer das
sessões. O envolvimento na relação diz respeito à construção da relação empática,
permitindo-se conhecer o outro diferente dele, permitindo-se entrar na história de
vida dos clientes. Esse envolvimento acontece de tal forma, que não percebem que
141
estão verdadeiramente no mundo do cliente.
Rogers (1961/1987) demonstra, como se dá esse processo de estar na
relação com o cliente, na seguinte passagem:
e eu sou capaz de experimentar com igual liberdade a minha compreensão
desse sentimento, sem pensar nele conscientemente, sem qualquer
apreensão ou preocupação de saber onde é que isso levará, sem qualquer
espécie de diagnóstico ou de análise, sem quaisquer barreiras, emocional ou
cognitiva, para uma entrada total na compreensão (Rogers, 1961/1987, p.
182).
Esses psicoterapeutas tinham uma preocupação se a empatia iria ou não
ocorrer no momento da psicoterapia, se o que iriam fazer estava certo, tendo muita
dificuldade em ser empático. Relatam que a empatia é algo difícil de ser colocado
em prática, porque às vezes não conseguem compreender o mundo do cliente, o
que o cliente traz, atribuindo, muitas vezes, a culpa para si mesmo, pois como
estudantes e psicoterapeutas deveriam ter esse conhecimento.
Para Bozarth (1998/2001), Rogers mostra que “mesmo os terapeutas
experimentados, muitas vezes, não conseguem ser empáticos” (p. 95). Esse
momento é demonstrado por Rogers, quando ele diz que, “julgo que cada um de nós
descobriu que este tipo de compreensão é extremamente raro. Nem nós a temos
nem somos objeto dessa compreensão com muita frequência” (Rogers, 1961/1987,
p. 66).
A compreensão empática é algo tão natural e ao mesmo tempo tão complexa,
que muitas vezes não conseguimos entendê-la. Esse se colocar no lugar do outro
142
pode parecer fácil, mas muitas vezes essa construção não se dá devido as nossas
próprias dificuldades, ou porque não aceitamos aquele sujeito tal como ele
verdadeiramente é.
6.4 Vínculo entre psicoterapeuta e cliente
É tanto que tem clientes que,… tipo assim, muda de terapeuta porque não deu mesmo. Não teve o vínculo e tudo, e assim eu acho que é fundamental, porque é o que vai dirigir todo o restante do processo. Sem ter a empatia, sem ter a formação desse vínculo fica complicado (Paula);
Eu soube me colocar no lugar dela mesmo, e ela sentiu isso, e pode até se dizer que ali foi que realmente criou o vínculo com ela, entendeu, foi ali, eu acho que foi realmente ali, eu não tinha nem parado para pensar nisso (Sandra); Para estabelecer o vínculo com ela foi uma coisa que demorou muito tempo, e… as atitudes facilitadoras da ACP foi o que… o que eu percebo que… permitiu que a gente construísse uma relação muito boa. E ai assim… como eu estava falando das atitudes, foi o que permitiu que a gente estabelecesse um vínculo muito bom na relação (Diana).
O processo de estabelecer um vínculo com o cliente foi um tema surgido nas
entrevistas, uma vez que os psicoterapeutas iniciantes entrevistados acreditam que
empatia e vínculo são fundamentais para que o processo ocorra. Alguns sentem
dificuldade em vincular-se ao cliente, enquanto para outros, isso se deu no primeiro
atendimento. Nas falas acima descritas, vê-se que o vínculo foi algo a ser construído
com o tempo, seja por causa de alguma situação em que o terapeuta transmitiu
confiança ao cliente, sendo compreensivo com as dificuldades dele, permitindo que
o vínculo fosse estabelecido; seja porque as atitudes facilitadoras proporcionaram
essa vinculação (como na última fala). Às vezes, o vínculo não acontece tão
facilmente, o que dificulta o processo terapêutico do cliente, e este parte a procura
de outro terapeuta que esteja mais próximo de suas expectativas enquanto cliente.
143
Essas expectativas dizem respeito à abertura para o processo do cliente, pois pode
acontecer de o cliente não gostar de determinado terapeuta ou não aceitar ou lidar
com alguma característica do terapeuta, como no caso a seguir:
Na verdade o vínculo com a criança existiu, com o… era um adulto jovem, é… com 23 anos, com ele eu acredito que não, assim… ele chegou a colocar que sentia vergonha por conta do meu olho, que ele tinha problema com olho claro, enfim… eu pensei em trabalhar um pouquinho essa vergonha, mas a questão é que eu… não sei porque era comigo, ou se é porque de fato é assim e ele não estava disposto a uma terapia, ele não desenvolvia, ele não falava, […] ele desistiu da terapia há umas duas semanas atrás o que foi um pouco frustrante (Sandy).
6.5 Suspensão dos a priori
[…] eu estou tentando compreender como ele compreende, mas eu sei que eu conservo quem eu sou, conservo os meus a priori de alguma forma, eu acredito que é […] tentativa, mas nunca completa, na maneira como eu entendo (Fernando); Um dos pontos principais para você ser empático com seu paciente, para você ter essa compreensão, é você não olhar para o seu paciente já com alguma coisa pré-estabelecida, com algum julgamento, você olha para o paciente e diz “ah, não gostei dele, porque ele é assim, assim”. Então, eu acho… quando você suspende tudo isso, a relação acontece de fato e é tudo mais rico (Cláudia); Só quando você consegue entrar no mundo dele, quando você consegue se conectar com ele, eu acho que só dessa forma você consegue realmente, ou verdadeiramente, se desprender do que é seu e está ali dentro da história que é do outro (Paulo); A gente não tem noção do quanto é difícil, a gente fazer essa suspensão, eu particularmente achei muito complicado fazer essa suspensão total assim, no sentido de estar ali na relação (Luana).
Um ponto fundamental no papel do psicoterapeuta humanista-fenomenológico
é a redução fenomenológica, que permite que o mesmo tente suspender seus a
priori, seus valores, pensamentos e teorias, com a finalidade de apreender a
144
realidade existencial de seu cliente. Mas, isso não quer dizer que o terapeuta tenha
que se posicionar neutramente na relação, uma vez que para praticar a redução é
necessário ter o que pôr entre parênteses (Moreira, 2009b). Em algumas falas,
pode-se verificar o quão a mesma é importante para o desenvolvimento do processo
psicoterapêutico, pois facilita uma compreensão do mundo vivido do cliente. Como
afirma Moreira (2009b), “é por isso que voltar à pessoa do paciente e não a uma
teorização ou reflexão sobre ele será fundamental para o desenvolvimento do
processo psicoterapêutico” (p. 65).
A suspensão dos a priori, no momento do processo psicoterápico, é algo que
a maioria tem consciência. Embora, saibam que essa suspensão não seja completa,
como afirma Merleau-Ponty (1945/1994). Muitos acreditam na suspensão dos a
priori, até mesmo como um dos pontos principais para ser empático, pois ao
suspender, a relação acontece de fato. É interessante notar que, para uns esse
processo de suspensão dos a priori parece ser uma coisa mais fácil de ser atingida,
enquanto para outros psicoterapeutas iniciantes é mais complicado.
6.6 Necessidade de trabalhar problemas pessoais pelo psicoterapeuta em psicoterapia
[…] antes de ser psicóloga você é ser humano, tem nossas questões, nossas dificuldades e se a gente não tiver cuidado isso acaba interferindo na nossa relação com nosso cliente, acaba chegando, também, estando ali, então elas precisam ser trabalhadas (Paula); […] eu tenho minhas experiências, vou ouvir experiências, aquelas experiências vão de alguma forma em algum momento tocar as minhas experiências, e se minhas experiências estiverem, estiverem sido… mesmo que bem resolvidas, mesmo que bem estabilizadas, mas elas estão paradas, mas elas vão ser tocadas novamente, elas vão ser provocadas novamente, elas podem entrar em ação e se eu não estiver com elas bem resolvidas ou se elas entrarem em ação e eu não conseguir resolvê-las bem, eu jamais vou conseguir ser neutro, jamais vou conseguir, até mesmo a questão da empatia (Pedro);
145
Então, eu senti essa responsabilidade, no entanto, a partir de cada encontro foram surgindo tantas demandas, tantas descobertas que nem eu me dava conta que eu tinha tanta demanda (Priscila).
Dentro do consultório com os clientes em psicoterapia, de repente diante das
demandas do cliente, começam a surgir nos psicoterapeutas iniciantes, aqui
entrevistados, questões pessoais que pensavam não existir ou que supunham que já
estavam bem trabalhadas em terapia. A maioria afirmou que sente a necessidade de
fazer psicoterapia, para poder lidar melhor com as demandas do cliente e com suas
próprias demandas que surgiram ao se depararem com o problema do outro. Essas
demandas repontam, devido a se depararem com sentimentos que pensavam já
terem trabalhado, mas que retornaram ao se depararem com um sofrimento do
cliente parecido ou igual ao que tiveram outrora.
Essa necessidade surge para que seus problemas não interfiram nos
atendimentos com o cliente, para que as suas questões não afetem, de alguma
forma, o processo de crescimento do cliente. Esse trabalho pessoal por parte do
psicoterapeuta iniciante é fundamental, pois às vezes podem se perder dentro da
relação não tendo a consciência do que é conteúdo seu ou o que é do cliente.
Para Rogers (1975/1977), “quanto mais equilibrado internamente seja o
terapeuta, maior o grau de empatia que ele demonstra […] quanto mais
psicologicamente maduro e integrado seja o terapeuta como pessoa, mais
proveitosa a relação que ele proporciona” (pp. 77-78).
6.7 Limites de ser empático: o “como se” e o “voltar para si”
[…] eu acho que sempre que eu estou com a escuta atenta eu estou com ele nesse mundo dele e mais, com cuidado pra saber como sair, em que
146
momento sair, então é mais ou menos isso (Roberta); […] compreensão empática você não pode perder a condição de como se, o que Rogers bate muito (Fernando); […] um dos limites importantes de ser empático durante o processo, é não se perder dentro dessa condição, dentro dessa forma de compreensão (Diana); […] é como eu estava te falando, você também tem que ter cuidado com esse limite para você não se perder dentro desse mundo da outra pessoa, porque senão fica os dois meio que perdidos, você não vai… você sabe o seu papel de terapeuta, então assim, por mais que a empatia seja importante, é importante também saber esse limite, e é um limite que nem sempre às vezes você consegue ter tão claramente na clínica (Diana).
Esse limite é o “como se” estivesse no mundo do cliente e voltar antes que
mergulhe de vez no mundo dele.
Rogers (1961/1987) estabeleceu que dentro do processo psicoterapêutico as
atitudes facilitadoras seriam fundamentais para o crescimento da personalidade do
cliente. A empatia, como uma atitude facilitadora, encontra seu limite quando o
terapeuta ao adentrar ao mundo do cliente o faz numa condição de como se
estivesse nessa relação, não podendo identificar-se com o que o cliente está
trazendo. Além do que, quando o psicoterapeuta está nesse mundo vivido do cliente,
ele precisa, em algum momento, retornar para não se perder lá dentro. Esse retorno
possibilita ao psicoterapeuta dá ao cliente a compreensão desse mundo vivido, da
experiência do cliente enquanto ser que sofre e em processo de atualização. Então,
adentrar no mundo do cliente numa condição de “como se’ e retornar desse mundo,
voltando a si, consiste em limites que o psicoterapeuta deve ter ao ser empático com
seus clientes. Seja para não se identificar, por isso a condição de “como se”, seja
para não se perder no mundo do cliente, voltando para si.
147
6.8 Feedback do cliente
Eu acho que pra mim é muito natural, coisa natural ser empática, é não sei te explicar, é muito bom saber que está acolhendo bem seu cliente, me faz bem saber que ele está se sentindo bem também comigo ali. E… e… ele me retorna, já algumas vezes ele me retornou isso, então foi muito gostoso ouvir da parte dele, de que questões que ele nunca levou nem para conversar com a mãe dele ou com amigos, ele hoje tem essa liberdade para está trazendo para conversar comigo, para está colocando e para a gente está trabalhando junto. Então, eu acho isso muito interessante (Roberta); […] eu percebi isso assim com mais segurança, quando eu tenho o retorno dele, quando ele se sente compreendido, caso contrário eu nunca sei, eu sempre suspeito que eu estou sendo, entendendo… eu só me sinto assim quando eu tenho um retorno, quando eu tenho o feedback do cliente, quando ele diz, “ah é assim mesmo” ou então “não, não é assim”, quando ele diz que não é a minha intervenção vai no sentido de “tá, mas então, me esclarece como que é que está se sentindo, como é que tu vê determinada coisa”, eu acho que passou muito pela resposta dele (Fernando). Um ponto crucial, que surgiu nas entrevistas, diz respeito ao feedback dos
clientes, a como o psicoterapeuta está compreendendo a situação atual deles. Desta
forma, muitos entrevistados relataram a importância que atribuem a esse retorno que
os clientes dão acerca de suas atitudes. Nesses feedbacks os clientes trazem a
sensação de confiança que tem em relação ao psicoterapeuta, que as sessões estão
fazendo bem a eles, que podem falar coisas que fora dali não poderiam, senão
seriam julgados.
Rogers (1975/1977) já apontava a capacidade de o cliente perceber essas
atitudes no psicoterapeuta, para ele “os clientes são os melhores juízes do grau de
empatia do que os terapeutas” (p. 78). Essa confiança no psicoterapeuta fornece ao
cliente a possibilidade de expressar sua condição naquele momento.
148
6.9 Consistência teórica para o psicoterapeuta iniciante
Dois pontos apareceram no que concerne à fundamentação teórica:
6.9.1 Alguns acham que a teoria é fundamental no momento do atendimento
psicoterápico:
Eu acho que a teoria é a base de tudo, porque você não vai chegar em… não adianta ser só uma escuta atenta, não adianta porque senão tudo passa e perdi, se não fica senso-comum e qualquer pessoa vai poder ter uma escuta…, mas a teoria é que dá, que nos dá a base mesmo, de está ouvindo e saber o que está ouvindo, de ter noção do que, que esse cliente está trazendo (Roberta); O Rogers não estava errado, existe essa questão da empatia, existe essa questão… é uma condição facilitadora, tem todo esse liame teórico, atrelado, dando suporte… a teoria não vai me ensinar a escutar, ela vai dizer aprimore a escuta, a teoria vai me dizer pra estabelecer um vínculo, ela não vai me dizer de que maneira eu tenho que fazer, ela não tem receita, mas ela diz estabeleça um vínculo, então assim… é essa abertura que a teoria me dá que eu tenho que aprender a lidar também (Veruska). 6.9.2. Outros acreditam que o distanciamento da teoria no momento do
atendimento facilita a estarem mais tranquilamente no processo psicoterápico de
seus clientes:
No início a gente fica muito querendo ver, coisas que disseram até ali pra gente, “ah faça isso, não faça isso, não faça aquilo” e assim… como eu tinha mais uma leitura eu acho que em Rogers, sei lá, e era muito… assim… a sessão pra mim, eu levei muito na minha intuição, sabe eu não… embora no início eu acho que eu estava presa de querer fazer o que estava dizendo, é tanto que eu terminava eu ia fazer relatório pegava os livros, e é isso ai, mas ai depois eu me libertei disso, e ai eu vou fazer o que minha intuição estava mandando, e ai eu vi que eu não me prendia muito a… porque eu não tinha muita leitura teórica da própria abordagem que eu estava sendo orientada, tinha mais do humanismo mesmo do Rogers, em geral do todo, da fenomenologia (Lídia); Eu acho que sim, na maioria das vezes… embora a maioria das vezes eu, também eu fugia, eu saía ficava longe de tudo, até de teoria, mas assim que a gente consegue se distanciar, tem hora que a gente está longe e não está
149
nem ouvindo, mas eu nunca me preocupei muito com a teoria não, na hora dos atendimentos (Lídia); A empatia está para além do que acontece realmente no livro, você não aprende assim por decreto… porque as atitudes facilitadoras, que são colocadas por Rogers, elas não são por decreto, nem livro vai te ensinar isso (Valesca). Observou-se a necessidade de uma fundamentação teórica como sendo
essencial para que a terapia não se torne uma conversa do senso-comum, a mesma
torna-se fundamental para dá um norte, um suporte no processo psicoterapêutico,
pois sem ela não poderiam compreender a experiência do cliente verdadeiramente.
Ao mesmo tempo, por mais que considerem a teoria como essencial,
precisam pô-la de lado, temporariamente, para poder entrar ao mundo do cliente,
sem pensar em como e quando deve fazer uma intervenção. Esse distanciamento
temporário permite uma melhor escuta do cliente, naturalmente, sem se preocupar
como se escuta, tecnicamente.
150
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Frente às situações enfrentadas pelos psicoterapeutas iniciantes, a empatia,
compreendida como uma atitude facilitadora, permite muitas dúvidas tanto quanto
facilidades no processo psicoterápico. Compreender como os psicoterapeutas
humanista-fenomenológicos iniciantes lidam com o novo, com os clientes que estão
ali a procura de ajuda e que precisam ter uma postura eloquente, para que a
facilitação do processo psicoterapêutico ocorra, de modo que a compreensão
empática possa ser percebida pelo cliente, é fundamental. Dessa compreensão
empática, entendida como aquela que vai além da simples compreensão do senso
comum, sendo algo mais acurado, mais profundo, numa escuta verdadeira e que
ocorre naturalmente, percebe-se que a experiência de ser empático é algo
extremamente importante, pois permite aos psicoterapeutas, principalmente aos
iniciantes, uma maior compreensão desse sentimento que emerge no momento dos
atendimentos na relação com o cliente.
O estabelecimento de uma profunda confiança permite que o cliente, ao
percebê-la, aprofunde em seu mundo vivido, colocando-se para o psicoterapeuta
que tenta penetrar nesse mundo, procurando apreender essa experiência do cliente.
Essa apreensão deve se dá a partir da compreensão do que está sendo dito e vivido
pelo cliente, não pela suposição do psicoterapeuta. Essa compreensão deve ser
aquela emergida como fenômeno quando se está andando juntamente com o cliente
em seu mundo vivido apresentado ao psicoterapeuta. Não podemos cair na
esparrela de achar que ser empático é apenas chegar à sessão e dizer que entende
o cliente, sem ao menos se entregar de fato àquela relação. Se entregar quer dizer,
está genuinamente na relação, está congruente consigo mesmo, aceitando o cliente
151
e seus problemas tal como se apresentam, compreendendo verdadeiramente sua
experiência vivida.
A importância das condições facilitadoras, propostas por Rogers, e as
técnicas fenomenológicas de intervenção, da psicoterapia humanista-
fenomenológica, propostas por Moreira (2009b), baseadas na fenomenologia de
Merleau-Ponty, permitem essa tentativa de acesso a esse mundo vivido do outro.
Como psicoterapeuta, que possui a capacidade de ser empático, faz-se
necessário o conhecimento acerca dos conceitos das condições facilitadoras, pois
as mesmas estão interligadas, favorecendo um desenvolvimento adequado do
processo terapêutico e favorecendo o desenvolvimento da personalidade do cliente.
Isso remete à necessidade de uma fundamentação teórica mais consistente,
tanto mostrada por Boris (1987). Embora alguns psicoterapeutas entrevistados não
se prendam à teoria no momento das sessões, suspendendo-a e deixando-se
apenas adentrar no mundo do cliente, acreditam na necessidade de uma
consistência teórica com a finalidade de ter um norte para entender os fenômenos
que aparecem nas sessões.
Não que se afastar da teoria seja algo a ser feito, mas ao praticarmos a
redução fenomenológica devemos pô-la de lado. Da mesma forma, no que diz
respeito aos nossos problemas pessoais, às nossas suposições acerca do problema
do cliente, que devem ser colocadas de lado, permitindo apenas estar naquela
escuta atenta e verdadeira, que ocorre naturalmente. Esse processo de redução
fenomenológica surgiu nas entrevistas como sendo um dos pontos principais para
que a relação acontecesse e fluísse verdadeiramente, embora os entrevistados
tenham a consciência que essa redução não pode ser completa, tal como afirma
Merleau-Ponty (1945/1994).
152
Por mais que tentem pôr de lado as questões pessoais, os psicoterapeutas
iniciantes entrevistados afirmaram que existe a necessidade de fazer terapia, para
poder lidar melhor com suas próprias dificuldades e problemas pessoais, que muitas
vezes interferem na relação com o cliente, dificultando o entendimento do que o
cliente traz enquanto demanda.
Para ter mais tranquilamente esse acesso ao mundo vivido do cliente, o
psicoterapeuta tem que passar por uma experiência de terapia, como Rogers dizia,
onde possa trabalhar suas questões, para que estes problemas não interfiram na
relação entre terapeuta e cliente, e a identificação emocional com os problemas do
cliente, muitas vezes devido a essas questões, não deve ocorrer no processo
psicoterapêutico, pois corre o risco de o psicoterapeuta se perder dentro do mundo
do cliente, comparando os sentimentos do cliente com os seus.
Destaca-se, a importância e a necessidade de alguns psicoterapeutas
iniciantes terem um maior contato com a teoria, para adquirirem noção dos conceitos
das condições facilitadoras, estipuladas por Rogers, inclusive a compreensão
empática, além de estudos acerca de como estão sendo transmitidos os conteúdos
aos estudantes de psicologia dentro das universidades, pois muitos dos
entrevistados, ainda, sentem essa necessidade.
Portanto, conclui-se que a experiência de ser empático para os
psicoterapeutas iniciantes, aqui entrevistados, é algo que vai se construindo
paulatinamente, pois, embora alguns tenham mais facilidade, outros ainda estão em
processo de construção dessa atitude empática. Esse é um momento de
aprendizado significativo na vida de cada um desses psicoterapeutas, sendo
construído a cada sessão.
153
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ANEXOS
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
Eu,___________________________________________________________
_____de nacionalidade_______________________, estado civil__________________, portador do RG__________________________________________________, residente na R./Av. _____________________________________________________, nº __________, na cidade de ___________________________, através do presente instrumento, concordo em participar desta pesquisa por meio de uma entrevista gravada em áudio pela psicóloga Rebeca Cavalcante Fontgalland, para fins exclusivos de pesquisa acadêmica.
Estou ciente de que os dados serão utilizados como subsídio para a pesquisa de mestrado A Experiência de Ser Empático para o Psicoterapeuta Humanista-Fenomenológico Iniciante, cujo objetivo é compreender a experiência de ser empático do psicoterapeuta humanista-fenomenológico iniciante em relação ao seu cliente no momento do atendimento psicoterápico.
Sei que esta entrevista individual é um das etapas da pesquisa, que contará também com outros participantes. Minha participação nesta entrevista é voluntária, podendo haver recusa ou mesmo retirada do consentimento em qualquer momento sem que isto acarrete a mim nenhuma penalização ou prejuízo.
Estou ciente que o pesquisador compromete-se a preservar o sigilo desta entrevista, pois é compromisso do pesquisador preservar o anonimato e a privacidade dos participantes, além de prestar quaisquer tipos de esclarecimentos antes, durante e após a entrevista.
Em caso de dúvida entrar em contato com a pesquisadora Rebeca Cavalcante Fontgalland, do Mestrado em Psicologia da Universidade de Fortaleza – UNIFOR, telefone: 55 (85) 88096789, ou com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Fortaleza – UNIFOR, situada na Av. Washington Soares, 1321, Fortaleza-Ce, Cep. 60811-905, telefone: 55 (85) 34773219.
Este documento é assinado em duas vias, sendo uma delas cedida ao participante. Fortaleza,_______de_____________2011 __________________________________ _____________________________ Entrevistador/Pesquisador Participante Rebeca Cavalcante Fontgalland
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