A Experiencia de Ser Empatico

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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR Vice-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – VRPPG Programa de Pós-Graduação em Psicologia Mestrado em Psicologia REBECA CAVALCANTE FONTGALLAND A Experiência de Ser Empático para o Psicoterapeuta Humanista-Fenomenológico Iniciante The experience of being empathetic to the beginner humanistic- phenomenological psychotherapist Fortaleza – CE 2011

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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR Vice-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – VRPPG Programa de Pós-Graduação em Psicologia Mestrado em Psicologia

REBECA CAVALCANTE FONTGALLAND

A Experiência de Ser Empático para o Psicoterapeuta Humanista-Fenomenológico Iniciante

The experience of being empathetic to the beginner humanistic-phenomenological psychotherapist

Fortaleza – CE 2011

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REBECA CAVALCANTE FONTGALLAND

A EXPERIÊNCIA DE SER EMPÁTICO PARA O PSICOTERAPEUTA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICO

INICIANTE

The experience of being empathetic to the beginner humanistic-phenomenological psychotherapist

Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza – UNIFOR, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Psicologia. Linha de Pesquisa: Produção e Expressão Sociocultural da Subjetividade. Projeto de Pesquisa: Fenomenologia Crítica do Adoecer: Estudos em Psicopatologia e Psicoterapia. Orientadora: Profª Drª Virginia Moreira.

Fortaleza – CE 2011

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Ao meu amado companheiro, Carlos Irlando Moreira, por

acreditar e confiar no meu potencial.

Ao meu pai, Gladstone Fontgalland, pela generosidade.

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AGRADECIMENTOS

A Deus e Nossa Senhora por todas as graças recebidas.

Ao meu companheiro, Carlos Irlando Moreira, por estar junto comigo nessa

jornada, contribuindo com seu conhecimento, pela compreensão, generosidade e

paciência.

Ao meu pai, Gladstone Fontgalland, por me propiciar mais essa conquista.

A minha família, pela força que me deram para crescer e voar.

A Profa. Dra. Virginia Moreira, por me aceitar em seu grupo de trabalho e

estar do meu lado atenciosamente.

Aos membros da banca examinadora Profa. Dra. Marcia Tassinari e Prof. Dr.

Francisco Cavalcante Junior, por disponibilizarem seu tempo a esta pesquisa.

A Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Psicologia.

A Profa. Ms. Anna Karynne Melo, pela ajuda importantíssima na elaboração

desta dissertação.

As minhas amigas, por ordem alfabética, pela amizade conquistada no

período de mestrado, Benedita Francisca Alves, Ivanda Séfora Medina e Neyliane

Sales Chaves Onofre.

Aos sujeitos colaboradores desta pesquisa, que se prontificaram em ajudar.

Aos professores e integrantes do Laboratório de Psicopatologia e Psicoterapia

Humanista Fenomenológica Crítica – APHETO, que colaboraram.

A Jéssica Marques, pela presença e colaboração no início da pesquisa.

Ao secretário do mestrado Daniel Padilla, pelas informações e atenção.

A Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico

– FUNCAP, pelo apoio financeiro.

E a todos que contribuíram para elaboração desta dissertação.

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RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo compreender a experiência de ser empático para o psicoterapeuta humanista-fenomenológico iniciante. Foi realizada uma pesquisa qualitativa de cunho fenomenológico, onde foram entrevistados 25 psicoterapeutas iniciantes, em prática supervisionada clínica no Serviço de Psicologia Aplicada – SPA, do Núcleo de Atendimento Médico Integrado – NAMI, partindo da pergunta disparadora: Como é para você ser empático com seus clientes? Em seguida, foi feita uma análise fenomenológica mundana, tal como proposta por Moreira (2009b), baseada na fenomenologia de Merleau-Ponty. Os depoimentos revelaram que: a experiência vivida de ser empático para os psicoterapeutas iniciantes, consiste na base fundamental para que o processo psicoterapêutico ocorra, podendo ser utilizada como um instrumento que facilita a relação, e que um ouvir e ver fenomenológicos sem criticar e um ambiente propício possibilitam que o cliente sinta-se à vontade em expressar suas dificuldades. A construção da empatia é algo que surge paulatinamente e naturalmente, permitindo que o terapeuta aproxime-se de seu cliente, acolhendo o seu sofrimento. Essa construção pôde surgir quando os entrevistados puderam estabelecer um vínculo nas relações com o cliente. Ser empático surgiu como sendo está em uníssono com o cliente, em completa sintonia, pois permite ao terapeuta compreender o mundo do cliente, sua experiência vivida. Mas, ao mesmo tempo em que existe essa sintonia, a mesma não pode ser confundida com identificação emocional, o que levou muitos entrevistados a terem a necessidade de ir à psicoterapia “trabalhar” questões pessoais, como forma de estarem genuinamente nas sessões com seus clientes, sem deixar que seus problemas pessoais interfiram na relação. E isso foi possível na medida em que puderam ter suas demandas trabalhadas e suspendidas no momento das sessões com os clientes. A importância do conhecimento teórico, acerca das condições facilitadoras, principalmente a empatia, apresentou-se como sendo algo a ser mais explorado tanto pelas faculdades e universidades, quanto pelos próprios psicoterapeutas, pois a mesma está intimamente ligada ao sucesso da terapia. Essa consciência teórica permite, no caso da compreensão empática, que o terapeuta tenha noção dos limites de ser empático, compreendendo a condição de “como se” e o “voltar para si”, saindo do mundo do cliente. Portanto, conclui-se que a experiência de ser empático apresenta-se para o psicoterapeuta como algo a ser construído a cada sessão, e que consiste em um processo de aprendizado significativo na vida do psicoterapeuta. Palavras-chave: Empatia; Carl Rogers; Psicoterapeuta Humanista-Fenomenológico; Análise Fenomenológica.

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ABSTRACT

This research has as its objective to comprehend the experience of being empathetic to the beginner humanistic-phenomenological psychotherapist. We conducted a qualitative study of a phenomenological, where they were interviewed 25 novice psychotherapist in supervised clinical practice in the Department of Applied Psychology – SPA, the Center for Integrated Medical Care – NAMI, starting from the starter question: How is for you to be empathetic with their patients? Then, there was a worldly phenomenological analysis, as proposed by Moreira (2009b), based on the Merleau-Ponty’s Phenomenology. The interviews revealed that: the experience lived of being empathetic to the beginners psychotherapists, is the fundamental basis for the psychotherapeutic process to occur, can be used as an instrument to facilitate the relationship, and that a hearing and seeing no phenomenological critique and an environment conducive enable clients to feel comfortable in expressing their difficulties. The construction of empathy is something that comes naturally and gradually, allowing the therapist to move closer to his client, accepting their suffering. This construction could arise when respondents were able to link in customer relations. Emerged as being empathetic is in unison with the patient (client) is completely in tune, because it allows the therapist to understand the client’s world, his experience. But while there’s this line, it can’t be confused with emotional identification, which led many respondents to have the need to go to psychotherapy “work” personal issues, in order to be genuinely in sessions with clients without letting their personal problems interfere with the relationship. It was possible as it might have worked their demands and suspended at the time of the sessions with clients. The importance of theoretical knowledge about facilitating conditions, especially empathy, presented himself as something to be further explored by both colleges and universities, the psychotherapists themselves, because it is closely linked to the success of therapy. This allows theoretical consciousness, in the case of empathic understanding, the therapist is aware of the limits to be empathetic, understanding the condition of “as if” and “come back to you”, leaving the client’s world. Therefore, it is concluded that the experience has to be empathetic to the psychotherapist as something to be built each session, which consists of a process of meaningful learning in the psychotherapist’s life. Keywords: Empathy; Carl Rogers; humanistic-phenomenological psychotherapist; phenomenological analysis.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO.........................................................................................................................8 OBJETIVOS...........................................................................................................................19 1 CARL R. ROGERS E AS CONDIÇÕES FACILITADORAS……………..............................20

1.1 Vida e Obra de Carl Ramson Rogers (1902-1987).................................................20

1.2 Condições Facilitadoras..........................................................................................27 2 O CONCEITO DE EMPATIA NO PENSAMENTO DE CARL R. ROGERS.........................34

2.1 A Ideia Embrionária no Pensamento de Carl Rogers?….…………………..............34

2.2 Fase Não-Diretiva (1940-1950)...............................................................................36

2.2.1 Evolução da Ideia Embrionária......................................................................39

2.3 Fase Reflexiva (1950-1957)....................................................................................43

2.3.1 Surge o Conceito de Empatia na Fase Reflexiva..........................................44

2.4 Fase Experiencial (1957-1970)...............................................................................51

2.4.1 O Conceito de Empatia na Fase Experiencial...............................................53

2.4.2 A Compreensão Empática.............................................................................59

2.5 Fase Inter-Humana ou Coletiva (1970-1985)..........................................................71

2.5.1 O Conceito de Empatia na Fase Inter-Humana ou Coletiva.........................73 3 O CONCEITO DE EMPATIA NA FASE PÓS-ROGERIANA OU NEO-ROGERIANA (1987-atual)......................................................................................................................................86

3.1 A Vertente Humanista-Fenomenológica..................................................................93

3.2 Empatia e Lebenswelt na Vertente Humanista-Fenomenológica..........................105 4 PSICOTERAPEUTA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICO INICIANTE............................110 5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.........................................................................116

5.1 A Pesquisa Qualitativa Fenomenológica...............................................................116

5.2 O Método Fenomenológico Mundano...................................................................117

5.3 O Local da Pesquisa.............................................................................................121

5.4 Os Sujeitos Colaboradores da Pesquisa..............................................................122

5.5 Instrumento de Pesquisa: Entrevista Fenomenológica.........................................123

5.6 Análise Fenomenológica Mundana.......................................................................124

6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS...............................................................126 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................148 REFERÊNCIAS....................................................................................................................151 ANEXOS...............................................................................................................................157

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INTRODUÇÃO

Como psicoterapeuta iniciante guiada pela vertente humanista-

fenomenológica desde a época da graduação, questiono-me como o psicoterapeuta

iniciante depara-se com a forma de lidar com o outro dentro de um ambiente

terapêutico. Ao entrar para essa prática clínica, surgem muitos medos e dúvidas em

saber como interagir com o cliente, como será o primeiro contato, a primeira sessão

terapêutica, se o cliente vai aparecer, ou se vai criar comigo um vínculo terapêutico.

Não é fácil para um psicoterapeuta iniciante lidar, em alguns momentos, por vezes

inéditos, com determinadas atitudes do cliente ou nossas, ao nos depararmos com

esse outro que está a nossa frente pedindo ajuda, achando muitas vezes que vamos

dizer o que devem fazer, o que não é o nosso papel, mas sim de facilitadores.

Os psicoterapeutas iniciantes, a que me refiro e me questiono aqui, os quais

Kinget (1965/1977) nomeia terapeutas-estagiários e Moreira (2009b) de

psicoterapeuta supervisionando ou psicoterapeuta aprendiz, nesta pesquisa são

aqueles que já começaram a prática de formação clínica através do estágio

supervisionado em psicologia clínica I, II e III, na clínica-escola do Serviço de

Psicologia Aplicada – SPA, do Núcleo de Atendimento Médico Integrado – NAMI, da

Universidade de Fortaleza – UNIFOR, os quais estão sob supervisão clínica de

professores que têm como abordagem, a humanista-fenomenológica.

Esses psicoterapeutas, que estão no início de sua carreira profissional,

mesmo que ainda como aprendizes na clínica-escola, são os que escolheram seguir

o caminho do humanismo e tomam como base teórica e prática os pressupostos

humanistas e fenomenológicos, para se nortearem em sua trajetória como

psicoterapeutas diante do fenômeno que se apresenta. Ao pensar na relação

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terapêutica estabelecida entre cliente e psicoterapeuta humanista-fenomenológico

iniciante, identifiquei como sendo importante para o desenvolvimento dessa

pesquisa, o estudo da empatia como uma dessas atitudes fundamentais da prática

psicoterápica. Como será que esse psicoterapeuta humanista-fenomenológico

iniciante compreende o que é ser empático com seu cliente? O que é ser empático

para esse psicoterapeuta iniciante? A partir de que momento ele percebe isso nessa

relação?

O termo teve sua origem na linguagem grega – empatheia (de em + pathos,

estado de alma), na qual em significa dentro e pathos significa paixão, sofrimento.

Empatia consiste em estar dentro do sofrimento, da alegria do outro, é experienciar

esses sentimentos dentro da perspectiva do outro. Essa ideia grega de dentro (em)

do sofrimento, da paixão do outro, me possibilitou ter uma ideia inicial do que seja

empatia.

Empatia está descrita, em alguns dos dicionários de língua portuguesa, como

sinônimo de simpatia ou como uma afinidade e/ou tendência natural de uma pessoa

para com a outra. Ser empático em quase todas essas fontes seria essa “tendência

para sentir o mesmo que outra pessoa” (Melhoramentos, 2002, p. 182). Tal como

Ferreira (1988/2008) que define empatia como a “tendência para sentir o que sentiria

caso estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa” (p.

241).

Na Encyclopédia Britannica do Brasil (1975/1987) empatia é definida como

sendo (em+pato+ia)

uma projeção imaginária ou mental de um estado subjetivo, quer afetivo, quer

conato ou cognitivo, nos elementos de uma obra de arte ou de um objeto

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natural, de modo que estes parecem imbuídos dele. Na psicanálise, estado de

espírito no qual uma pessoa se identifica com outra, presumindo sentir o que

está sentindo (p. 655).

Os dicionários de língua portuguesa, basicamente, definem a empatia como

essa capacidade de se colocar no lugar do outro, mas com uma tendência à

identificação. O que Rogers enfatiza, posteriormente, a não-identificação como

fundamental em empatia. Tal como veremos adiante, essa não identificação

corresponde à identificação emocional que difere da identificação empática.

Empatia, dentro de uma perspectiva psicológica, seria para Calderelli (1972)

uma

forma de manifestação de estados emocionais no qual se estabelece uma

espécie de comunhão afetiva entre duas pessoas, as quais identificam-se

uma com a outra e de tal maneira que chegam a ter os mesmos sentimentos.

Em outras palavras: é sentir a mesma emoção que está sendo expressa por

outra pessoa. Por exemplo: sentir alegria quando a outra pessoa mostra

sinais de alegria (pp. 234-235).

Aqui, o autor coloca essas duas pessoas interagindo como se fossem uma só,

que a empatia aparece como uma espécie de simbiose, na qual cada uma sente o

que a outra está sentindo. Neste processo, a pessoa que está ouvindo, está mais do

que apenas ouvindo, está em um processo de identificação, como se estivesse no e

com o problema.

Numa perspectiva mais além da anterior, o conceito de empatia, do Dicionário

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de Psicologia Prática (1970), está definido como a

faculdade de experimentar os sentimentos e a conduta de outra pessoa. A

empatia, ou endopatia, diz respeito a uma vivência pelo qual quem a

experimenta se introduz numa situação alheia, real ou imaginária, objetiva ou

subjetiva, de tal modo que aparece como se estivesse dentro dela. A empatia

pode referir-se a toda espécie de situações, […]. Adquire grande importância,

do ponto de vista de compreensão do próximo. No entanto, isto não significa

que a pessoa que a vive se identifique afetivamente com o estado alheio. Um

desenvolvimento especial da empatia é bastante útil para os psicólogos e

psiquiatras, principalmente no início do relacionamento com o paciente (p.

187).

Diferentemente da definição anterior de Calderelli (1972), nessa a empatia já

é vista numa situação de “como se” e não de identificação, é como se estivesse

dentro da situação alheia. Podemos observar nesta definição, um aprofundamento

maior do que seja empatia, não colocando o sujeito empatizante como inteiramente

dentro do que o outro está sentindo, mas, sobretudo, que aquele que escuta não se

identifica afetivamente com o estado do sujeito que fala. É experimentar os

sentimentos e a conduta, e não vivê-las como sua.

Chaplin (1968/1981) define empatia, como sendo a “experiência dos

sentimentos de outra pessoa que se partilha numa comunhão efetiva […]” (p. 175).

Neste momento, ocorre uma comunicação verdadeira entre os envolvidos. É

experienciar os sentimentos do outro de forma real, pois quando estamos

verdadeiramente numa relação, podemos compreender o outro de forma mais

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significativa.

Pestona e Páscoa (1998) conceituam empatia, como sendo a “participação

afetiva no funcionamento psicológico do outro que permite captar a sua experiência

vivida […] este conceito está na base dos modelos teóricos que suportam as

terapias humanistas, a terapia centrada no cliente de Carl Rogers” (Pestona &

Páscoa, 1998, p.70). Este é o conceito que mais se aproximou das ideias

humanistas, principalmente a fenomenológica, uma vez que a empatia é vista como

o captar a experiência vivida do outro por meio do experienciar o mundo do cliente.

Poderíamos dizer que, a empatia transmitida pelo psicoterapeuta faz o cliente se

sentir mais seguro de si, pois sabe que tem outro que o compreende e não o julga.

Este outro procura transmitir ao cliente toda a sua compreensão acerca do que este

expressou. Essa transmissão é importante, porque ajuda ao cliente a ter novas

compreensões de si e do mundo.

Por empatia

entende-se a tentativa de reproduzir o comportamento alheio, com a

finalidade de compreender a outra pessoa. O caminho para a experiência é

primariamente por comunicação verbal, mas pode também ser por

espontânea expressão do sentimento. Em prática psicológica (terapia da

entrevista, orientação educacional, etc.) a empatia assume importância

considerável, […] (Arnold, Eysenck & Meili, 1982, pp. 457-458).

Podemos perceber que, é necessário percorrer juntamente com o cliente

todas as fases de seu sofrimento, que se dá primeiramente através da fala,

buscando assim compreender sua experiência vivida (Moreira, 2009b). É a partir do

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ouvir o que o cliente está falando, que o terapeuta pode caminhar adequadamente

ao lado de seu cliente por todo este processo. Rogers (1975/1977, 1980/2007) já

colocava a importância do ouvir em psicoterapia; para ele é uma escuta verdadeira

das “palavras, pensamentos, tonalidade dos sentimentos, significado pessoal, até o

significado que se subentende nas intenções conscientes do interlocutor”

(1980/2007, p. 5). Amatuzzi (1990) afirma que Rogers se refere a um ouvir mais do

que o natural, o ouvir o significado real. Além disso, ouvir, para Amatuzzi (1990), é

mais importante do que o falar, pois possibilita o abrir-se ao mundo e aos outros.

Essa condição empática, tão própria ao ser humano, é estudada há muito

tempo por vários estudiosos, inclusive fenomenólogos, dentre os quais está Edith

Stein (1917/2005), que procurou entender o que seria empatia em seu conceito

mesmo, na sua essência. Para tanto, investigou a definição anteriormente proposta

por Husserl (seu orientador) de Einfhülung, Lipps e outros estudiosos da época,

buscando a essência da empatia.

Stein se dedicou a analisar a essência dos atos de empatia utilizando-se do

método fenomenológico. Como problema fundamental de sua tese, a filósofa

reconheceu a empatia como a vivência que temos do outro. Ou seja, trata-se de

vivenciarmos a vivência do outro. Para ela existe um pressuposto básico sobre a

empatia: que “nos estão dados sujeitos alheios e suas vivências” (Stein, 1917/2005,

p.79). Nesta afirmação, Stein mostra que quando nos deparamos com o outro,

procurando empatizar-se com ele, estamos entrando em contato com suas

vivências. Assim, nesse momento, estão dados para nós: o outro e suas vivências.

Stein (1917/2005) afirma que a empatia acontece numa relação de um sujeito

próprio (que sou eu) com um sujeito alheio (o outro) constituídos em corpo, alma e

entre outros aspectos que estão envolvidos neste processo. Para ela, a minha

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vivência das coisas não pode ser submetida a dúvidas, uma vez que estou nesse

vivenciar, e estou somente nele, como se estivesse no vivenciar mesmo. Como se

estivesse vivenciando de fato a vivência do outro.

Conforme Stein (1917/2005), o vivenciar do outro é apreendido por meio da

empatia, como podemos observar nesta citação: “todos estes dados do vivenciar

alheio remetem a um tipo fundamental de atos dos quais este vivenciar é apreendido

e que agora, prescindindo de todas as tradições históricas que tem apego a palavra,

designaremos como empatia.” (p. 82). A essência do ato empático, descrito pela

fenomenóloga, é o que o notar mesmo é, o que eu estou notando do que o outro

está me trazendo, e não qual caminho realizado até esse notar. Ela não pretende

descrever todas as fases do que o outro está sentindo, mas demonstrar que a

empatia é esse vivenciar o que o outro está sentindo, não importando qual seja o

sentimento expresso ou quem seja esse outro.

A empatia descrita como a experiência da consciência do outro, não está

interessada em qual sujeito tem essa experiência, mas que tenha uma experiência.

É a experiência de um eu (eu enquanto empática), de outro eu (o outro empatizado).

Desta forma, podemos apreender a vida anímica do outro (Stein, 1917/2005).

Quando Edith Stein (1917/2005) diz que a empatia não é vista como

originária, mas sim como “a vivência não-originária que manifesta uma originária” (p.

91), quer dizer, que a vivência que o outro tem é originária – verdadeira para ele –

mas no momento em que me empatizo com ele, essa vivência dele manifesta-se em

mim como se fosse igual à dele. O mundo do outro, que vejo por meio da empatia, é

existente para mim, tal como o percebido originariamente no outro. E, estes dois

mundos são vistos em perspectivas diferentes, embora sejam os mesmos.

Stein (1917/2005), também, traz a ideia da empatia vista como a

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compreensão de pessoas espirituais, mostrando que é nesse campo espiritual (a

razão) que a empatia se move. Pois, ao empatizar-me com o outro, ao apreender um

ato sentimental seu, estarei penetrando em seu reino do espírito (Stein, 1917/2005).

Esse espírito, é a parte que reflete, decide, avalia e está ligado aos atos da

compreensão, da decisão, da reflexão, do pensar. Por isso, Stein afirma que ao

empatizar com o outro espiritual, estou penetrando em seu mundo da razão.

A empatia sempre foi interesse de muitos filósofos e teóricos, que a

consideram como uma maneira de compreender o outro e de ter acesso a ele de

forma mais profunda e verdadeira. Alguns autores consideram a empatia como

sendo algo sempre positivo para o outro empatizado, o que muitas vezes pode não

acontecer. A sinceridade empática pode vir de forma negativa para o empatizado,

pois este pode não estar preparado, ainda, para entrar em contato com certos

detalhes de seu mundo vivido.

Heinz Kohut (1981), em uma palestra, falou sobre como as pessoas

entendiam o que era empatia. Para ele, as pessoas pensam que empatia cura, que

ser empático é necessário para que as pessoas fiquem boas. Kohut não acreditava

nisso. Segundo ele, não vemos o que está acontecendo no íntimo da pessoa. O que

fazemos para ter contato com esse íntimo é instruí-las a nos contar o que está se

passando.

De acordo com Kohut (1981),

se vocês compreendem a frase “ponha-se no lugar de”, vocês se imaginam

na vida interior de outra pessoa e então poderão usar esse conhecimento

para seus propósitos. Não sei quantas vezes enfatizei que esses propósitos

podem ser de bondade ou de hostilidade total. Se quiserem prejudicar alguém

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e quiserem saber qual seu ponto fraco, têm que conhecê-lo antes de acertá-

lo. Isso é muito importante. Quando os nazistas colocaram sirenes em seus

aviões bombardeiros, sabiam com empatia perversa que as pessoas no solo

reagiriam a isto com uma ansiedade destrutiva. Isto é empatia correta, mas

sem propósitos amigáveis. Certamente, no geral, pressupomos que quando

uma mãe cuida de seu filho, e quando um analista cuida de seu paciente, uma

empatia correta guiará corretamente as ações maternal e analítica. Portanto,

(a empatia) é catalisadora de uma ação apropriada, qualquer que sejam suas

intenções (pp. 5-6).

Ao mesmo tempo, Kohut (1981) mostra que a empatia serve a algo,

contradizendo o que ele disse, ela tem uma ação terapêutica. Isto é, se ela for usada

de forma bem-intencionada, mesmo com finalidades destrutivas, ela pode ser

positiva, sim, em uma ação terapêutica.

Kohut finaliza esse ensaio, Sobre a Empatia de 1981, alertando que sente a

responsabilidade de falar sobre o abuso que atribuem ao conceito de empatia. Para

ele, “vocês devem compreender o que empatia realmente é, nos diferentes níveis do

seu desenvolvimento” (p. 9).

Esse alerta, diz respeito às linhas de desenvolvimento que a empatia

apresenta. Ele mostra que essas linhas podem se apresentar de forma menor, que é

uma forma pessoal de empatia, podendo ser expressada através do apoio corporal,

do toque, do cheiro, expressões faciais, ou palavras. Como, por exemplo, o apoio

maternal. Ou, pode ocorrer em um grau mais elevado de empatia, que é uma

empatia de forma complexa, como no caso, de dar explicações por meio de

interpretações.

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Kohut (1981) acredita que

a mudança de compreensão para explicação, da confirmação de que o

analista sabe o que o paciente sente, pensa e imagina (que ele está

sintonizado com sua vida interior), para a próxima etapa, que é a de dar

explicações, é uma mudança de uma forma inferior de empatia para uma

forma superior (p. 8).

Gostaria, diante de tantas visões filosóficas e teóricas, de citar um autor que

compreende empatia por meio de sua experiência profissional e de pesquisador

científico. Gary Small (2011), em seu artigo Doctor’s Order: Learn Empathy, mostra

que a empatia pode ser aprendida quando envolve três habilidades essenciais:

Primeiro, quando reconhecemos os sentimentos do outro, quando reconhecemos

suas expressões verbais e não-verbais, embora muitas vezes isso não seja possível

por causa de distrações que podemos ter nesse momento; a segunda habilidade, é

aprender a ouvir, esse aprendizado envolve atenção, pois possibilita uma maior

percepção dos sinais, envolve autocontrole para não interrompermos a fala do outro,

a nossa mente não vagueia e fazemos perguntas importantes; a terceira habilidade,

é expressar o entendimento, pois o poder da empatia é, justamente, comunicar de

volta a compreensão, é reafirmar o que foi percebido a partir da perspectiva do

outro, além de pedir detalhes adicionais para tal entendimento (Small, 2011).

Este autor traz, ainda, um dado muito importante para nós estudiosos de

empatia. Ele mostra que, neurocientistas da Universidade da Califórnia usaram

imagens de ressonância magnética funcional para observar a atividade do cérebro

de voluntários, enquanto observavam imagens de seis expressões faciais: felicidade,

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tristeza, raiva, surpresa, nojo e medo. Ao olharem as imagens houve uma ativação

cerebral na parte da ínsula, a região de formato oval que traduz as nossas

experiências em sentimentos. Igualmente, quando os voluntários imitaram as

expressões, a mesma área foi ativada só que em nível mais alto. No Institute of

Neurology at University College em Londres, um estudo com 16 casais mostrou que

além da ínsula, o córtex cingulado anterior foi identificado como sendo responsável

pela empatia e humanidade (Small, 2011).

Essa condição, tão própria do ser humano, está claramente demonstrada por

meios científicos objetivos, além daquelas já demonstradas por experiências

subjetivas que temos da nossa capacidade de sermos empáticos. Carl Rogers foi um

desses cientistas que, por meio de sua vasta experiência em atendimentos clínicos

individuais e grupais, pôde desenvolver teoricamente e de forma subjetiva o conceito

de empatia, que se apresenta como uma atitude fundamental em psicoterapia,

sendo uma condição facilitadora, que propicia o desenvolvimento da personalidade

humana.

Dentre as visões explanadas do que consiste a empatia, em sua definição

propriamente dita, o presente trabalho terá como autor a ser explorado Carl Ramson

Rogers, que propôs as condições facilitadoras em terapia, considerando a empatia

como sendo uma dessas condições.

A metodologia que norteia esse trabalho, consistiu de uma pesquisa

qualitativa, utilizando-se do método fenomenológico mundano proposto por Moreira

(2009b), baseado na fenomenologia de Merleau-Ponty, tendo como instrumento uma

entrevista fenomenológica que se deu a partir de uma pergunta norteadora: Como é

para você ser empático com o seu cliente em psicoterapia?, com psicoterapeutas

humanista-fenomenológicos iniciantes, os quais estão em processo de formação

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dentro da prática clínica, como mencionado anteriormente.

OBJETIVOS

Geral:

Compreender a experiência de ser empático para o psicoterapeuta

humanista-fenomenológico iniciante.

Específicos:

Apresentar o percurso histórico do conceito de empatia no pensamento de

Carl Rogers;

Discutir o que é ser psicoterapeuta iniciante dentro de uma perspectiva

humanista-fenomenológica;

Compreender como é ser empático se apresenta na prática do psicoterapeuta

humanista-fenomenológico iniciante.

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1 CARL ROGERS E AS CONDIÇÕES FACILITADORAS

A contribuição do pensamento de Carl Rogers para a área humanista foi

fundamental, tanto para sua época como para os dias de hoje, pois o seu legado

continua a ser divulgado e praticado, mesclando-se com novos paradigmas

epistemológicos e filosóficos como forma de dar uma continuidade de seu trabalho

na contemporaneidade. A prerrogativa fundamental, deste capítulo, é apresentar Carl

Rogers e seu pensamento, para em seguida focalizarmos especificamente o tema

da empatia em sua obra.

1.1 Vida e Obra de Carl Ramson Rogers (1902-1987)

Carl Ramson Rogers (1902-1987) nasceu em Oak Park, Illinois, Estados

Unidos, era o quarto de seis filhos e foi educado numa família unida que valorizava o

trabalho, mas era rígida quanto à forma de comportamento. Na infância, era uma

criança solitária que lia muito, e ao longo de seus anos no colégio, não teve senão

dois encontros com moças. Aos doze anos, seu pai, ao comprar uma fazenda, a

transformou em uma base científica, adquirindo muitos livros referentes à agricultura

racional. Esse contato, com a agricultura científica, fez com que Rogers se

conduzisse a uma “compreensão fundamental da ciência” (Rogers, 1961/1987, p.

18). Lendo “Feeds and Feeding” de Morison e mergulhando em suas páginas,

Rogers aprendeu o quanto é difícil verificar uma hipótese e a conduzir uma

experiência (Rogers, 1961/1987). Adquiriu assim, “o conhecimento e o respeito pelos

métodos científicos através dos trabalhos práticos” (p. 18).

Segundo Cury (1993), “considerado um excelente aluno, porém sem

Page 23: A Experiencia de Ser Empatico

23

nenhuma experiência quanto às relações sociais, Carl chegou à Universidade de

Wisconsin decidido a diplomar-se em agronomia” (p. 11) e dedicou-se a agricultura.

Posteriormente, durante os dois anos em que estava nesse curso secundário,

desistiu e enveredou-se em favor do sacerdócio e transferiu-se da agricultura para a

história. Quando se emancipou da atitude religiosa de seus pais – por causa da

decepção pós-guerra, do ódio entre franceses e alemães e da divergência entre as

doutrinas religiosas desses países – teve a certeza de que se tornara uma pessoa

independente de suas raízes familiares.

Durante uma viagem à China, apaixonou-se por uma moça conhecida desde

a infância e casaram-se após o término do secundário, para que pudessem seguir

juntos os estudos universitários. Em Union Theological Seminary (1924), esteve em

contato com grandes mestres e professores. Participava de um grupo que tinha o

interesse em explorar suas próprias ideias e descobrir até onde isso levava.

Sentia que provavelmente sempre me interessaria por questões tais como o

sentido da vida, a possibilidade de uma melhoria construtiva da vida do

indivíduo, mas não poderia trabalhar no campo determinado por uma doutrina

religiosa específica em que devia acreditar (Rogers, 1961/1987, p. 20).

Rogers procurava um campo onde seus pensamentos pudessem ser livres,

não sofrendo restrições. Na Union, interessou-se por cursos e conferências voltados

à psicologia e psiquiatria. Neste tempo, seguiu muitos cursos no Teacher’s College

da Universidade de Columbia, começou a trabalhar com filosofia da educação,

iniciou seus trabalhos práticos com criança, dedicando-se ao trabalho

psicopedagógico, o que abriu portas para um pensamento de tornar-se um psicólogo

Page 24: A Experiencia de Ser Empatico

24

clínico.

No Teacher’s College, conseguiu uma colocação no novo Instituto para

orientação de crianças. Próximo a finalização de seu internato, conseguiu um

emprego de psicólogo no “‘Child Study Department’ da Associação para a Proteção à

Infância em Rochester, Nova Iorque” (Rogers, 1961/1987, p. 21). Em Rochester,

Rogers dedicou-se a um

trabalho de diagnóstico e de planejamento de casos de criança e delinquentes

e sem recursos, crianças que nos eram enviadas pelos tribunais e pelos

serviços sociais, e realizei frequentemente “entrevistas de tratamento”

(Rogers, 1961/1987, p. 22).

Sua visão quanto às “entrevistas psicológicas”, neste período em Rochester,

estavam se aprimorando, percebeu coisas que não seriam ideais em algo que

anteriormente achava como uma boa técnica de entrevista. Vê-se neste momento

que Rogers, ao analisar uma entrevista feita por um assistente social, percebeu o

que antes não tinha se dado conta: compreendeu o quanto estava se afastando do

método coercitivo ou de pressão (Rogers, 1961/1987), o que viria a ser sua crítica à

diretividade em terapia.

Outro momento importante, em sua trajetória, foi perceber que é o “cliente

quem sabe aquilo de que sofre, em que direção se deve ir, quais os problemas que

são cruciais, que experiências foram profundamente recalcados” (Rogers,

1961/1987, p. 23), e não o aconselhador.

Em suas experiências, no decorrer de sua vida, aprendeu a “viver numa

relação terapêutica cada vez mais profunda com um número sempre crescente de

Page 25: A Experiencia de Ser Empatico

25

clientes” (Rogers, 1961/1987, p. 26). Para ele, a prática clínica promove um

crescimento pessoal permanente do terapeuta.

Rogers nunca foi prepotente. Propôs suas ideias, tanto para serem aceitas ou

rejeitadas e acerca delas foi atacado imensamente, algumas vezes até de forma

violenta. Daí tomou a decisão de afastar-se do que os outros pensavam a seu

respeito, das obrigações profissionais e da rotina diária. Neste “privilégio de estar só”

(Rogers, 1961/1987, p. 27), foi quando mais progrediu.

As experiências, em Rogers (1961/1987), “não estão cristalizadas” (p. 28),

elas se alteram constantemente. Com estas palavras, ele se atém a mostrar o que

aprendera com sua experiência no livro Tornar-se Pessoa (1961/1987). Para ele

(1961/1987), não adianta agir de uma forma onde na verdade não se é, não adianta

fingir. Diante dessa constatação, sua segunda aprendizagem consistiu em “descobrir

que sou mais eficaz quando posso ouvir a mim mesmo aceitando-me, e quando

posso ser eu mesmo” (Rogers, 1961/1987, p. 29). Essa aceitação de mim mesmo,

me possibilita uma mudança. Essa mudança só ocorre se nos aceitarmos

profundamente, da forma que somos de fato. Isto possibilita “que as relações se

tornem reais” (Rogers, 1961/1987, p.29). Por isso, Rogers atribui muito valor quando

se permite compreender outra pessoa. “Compreender é duplamente enriquecedor”

(Rogers, 1961/1987, p. 30). Essa compreensão permite que as pessoas se

modifiquem.

Outra aprendizagem que Rogers (1961/1987) cita, corresponde a sua

verificação do que o enriquece, para tanto é necessário “abrir canais através dos

quais os outros possam comunicar os seus sentimentos, a sua particular percepção

do mundo (p.32). Que para aceitar outras pessoas e seus sentimentos a

compreensão é fundamental. Comunica, ainda, que, “quanto mais aberto estou às

Page 26: A Experiencia de Ser Empatico

26

realidades em mim e nos outros, menos me vejo procurando, a todo o custo,

remediar as coisas” (Rogers, 1961/1987, p. 33). Rogers sente-se bem mais feliz ao

ser ele mesmo e de os outros poderem ser eles mesmos, disso sobrevêm as

transformações.

Rogers tinha, acima de tudo, confiança em sua própria experiência. “Confio

assim na totalidade da minha experiência, a que acabo por atribuir mais sabedoria

do que ao meu intelecto” (Rogers, 1961/1987, p. 34). Essa experiência seria, para

ele, a suprema autoridade, onde os fatos, coletados e aprendidos, seriam seus

amigos. Em Rogers (1961/1987), podemos perceber que a experiência é

fundamental e que esta o possibilitou ver que as pessoas têm uma orientação

positiva, onde mesmo que estivessem perturbadas encaminhavam-se em direção à

construtividade, amadurecendo. Isso flui porque nada é fixo, tudo se altera. Foi com

seus clientes, que ele percebeu a vida como um fluxo contínuo.

Também chegou “à conclusão de que aquilo que há de único e de mais

pessoal em cada um de nós é o mesmo sentimento que, se fosse partilhado ou

expresso, falaria mais profundamente aos outros” (Rogers, 1961/1987, p. 37).

A experiência, adquirida por Rogers, vem de sua orientação dada à

psicoterapia, que foi elaborada ao longo dos anos (Rogers, 1961/1987). A sua

abordagem terapêutica foi desenvolvida em torno da ideia de que existe um

movimento natural dentro de cada pessoa. Esse movimento para o crescimento é a

tendência atualizante, e ao postular essa “tendência natural inerente ao se vivo, […],

Rogers fundou uma maneira peculiar e revolucionária de se entender o organismo

humano” (Tassinari, 2003, p. 57). Segundo Távora (2002), “para que esta tendência

possa efetivar-se, terapeuta e cliente precisam estabelecer uma relação significativa

que favoreça o encontro” (p. 122).

Page 27: A Experiencia de Ser Empatico

27

A tendência atualizante é o postulado fundamental da teoria da personalidade

de Rogers. “A obra de Rogers refere-se à noção de pessoa como organismo digno

de confiança, que traz em si mesmo uma tendência natural a se desenvolver de

forma construtiva e positiva” (Moreira, 2007, p. 184).

Segundo Moreira (2007), “Rogers (1983a) fundamenta seu conceito de

tendência atualizante em um movimento maior: a tendência formativa, definida como

‘uma capacidade para mudança súbita e criativa no sentido de estados novos e mais

complexos’” (p. 184). Para Branco (2008),

a Tendência Atualizante vincula-se mais à experiência organísmica, ao passo

que a auto-atualização (ou atualização não-experiencial) vincula-se mais a um

self-ideal (ideais de eu), e parece-me que a Tendência Formativa vincula-se a

algo ecológico e cósmico que por nós, psicoterapeutas humanistas

experienciais, é pensado como uma estrutura organísmica complexa ou como

a própria organicidade da Vida, que inclui sua expressão organísmica humana

(p. 74, grifo do autor).

Essa noção de tendência formativa é, de acordo com Branco (2008), “a

própria Vida que atua em todos os elementos do universo e da Terra” (p. 67).

Acrescenta, que diferentemente da Tendência Atualizante, que tem como

características a autonomia e a autocompreensão, “a Tendência Formativa não atua

no nível de personalidade, pois o universo não possui essas noções” (Branco, 2008,

p. 68).

Para Bozarth (1998), a “ideia fundamental da terapia centrada na pessoa é

que o terapeuta pode confiar na tendência do cliente para o crescimento; por esse

Page 28: A Experiencia de Ser Empatico

28

motivo, o papel do terapeuta é criar um clima interpessoal que promova a tendência

atualizante do indivíduo” (p.43).

A ideia de Rogers, é que todo ser humano tem a tendência para o

crescimento, para a atualização, indo em busca do que o faça se sentir melhor

enquanto pessoa. Ao ser empático o terapeuta, no momento da sessão, vai

proporcionar ao cliente uma abertura para que ele possa desenvolver essa

tendência, na medida em que, ao ser compreendido por um outro que o respeita

como ser humano e tal como é, ele se percebe como sujeito, como pessoa digna de

confiança, sendo possível uma ressignificação de seus problemas emocionais, de

suas dificuldades, desenvolver sua personalidade, ter mais atitudes positivas, maior

maturidade dos comportamentos, entre outros. Ou seja, “experienciar livremente as

reações sensoriais e viscerais reais do organismo, sem demasiado esforço para

relacionar essas experiências com o eu” (Rogers, 1961/1987, p. 82).

Moreira (2007) lembra que Rogers propôs seu conceito de tendência

atualizante em vários âmbitos, além da psicoterapia, também levou essa

conceituação para educação, grupos e comunidades, “tendo em conta, justamente,

sua concepção de pessoa como centro” (Moreira, 2007, p. 185). A denominação de

ACP foi se desenvolvendo em Rogers e, segundo Boainain Jr (1999), passou a

surgir na década de 1970, “para abranger os diversos campos de aplicação”

(Tassinari, 2003, p. 55), ao propor um jeito de ser.

Rogers praticou a psicologia desde 1927, e realizou estudos diagnósticos com

crianças, propondo formas de tratamento para as mesmas. Fez aconselhamento

com pais, estudantes, adultos. Além de realizar psicoterapia de pessoas ditas

normais, neuróticas, psicóticas e portadoras de problemas. Formulou uma teoria

sobre psicoterapia, foi um pesquisador responsável, um facilitador do

Page 29: A Experiencia de Ser Empatico

29

desenvolvimento pessoal. Fez terapias individuais e posteriormente dedicou-se a

experiências grupais (Rogers, 1977). Em La Jolla, seu foco passou a ser mais

psicossocial, se preocupando com grupos intensivos, comunidades e relações

diplomáticas. De acordo com Messias (2001), Rogers sempre se dedicou a

compreender o fenômeno humano e buscou elementos que propiciassem uma

melhor maneira de viver.

Rogers trouxe para dentro do campo psicoterápico a ideia das condições

facilitadoras e das atitudes que um terapeuta deveria ter para proporcionar

condições de mudança na personalidade do cliente. Sua abordagem desenvolveu-se

em torno da premissa de que existe um movimento natural para o crescimento

dentro de cada pessoa, a tendência atualizante. É por meio das condições

facilitadoras, que existe a possibilidade de se dar esse crescimento.

1.2 Condições Facilitadoras

As condições facilitadoras surgiram como forma de oposição às técnicas que

seriam mais diretivas em terapia e para possibilitar ao terapeuta agir de maneira que

proporcionasse um maior crescimento pessoal de seu cliente. Essas condições

deveriam ser vistas, pelos terapeutas, em sua profundidade e não apenas em meras

formas de agir.

“Na verdade, as ‘condições terapêuticas’ não podem adotar-se a vontade -

como alguém coloca e tira um avental de médico -, mas que exigem do terapeuta

uma mudança total no modo como percebe a outra pessoa e se relaciona com ela”

(Celis, 2006, p. 3). Essas condições representam um grande desafio para o

psicoterapeuta.

Page 30: A Experiencia de Ser Empatico

30

As seis condições, estipuladas como facilitadoras por Rogers, foram

ressaltadas em seu artigo As condições necessárias e suficientes para a mudança

terapêutica na personalidade (1957/2008) – que serão mencionadas mais à frente.

Dentre essas condições, três são vistas como atitudes fundamentais ao terapeuta

em relação ao cliente para uma mudança construtiva de personalidade: a

Autenticidade ou Congruência, a Aceitação e a Compreensão Empática. Essas

atitudes se tornaram um marco para a psicoterapia.

Amatuzzi (1995), em Descrevendo Processos Pessoais, afirma que a

finalidade dessas condições é facilitar ao cliente que entre em contato consigo

mesmo. Para Silberschatz (2007), essas condições facilitadoras, postuladas por

Rogers, devem estar presentes no “contato psicológico” para que a mudança

psicoterapêutica possa ocorrer. Desta forma, é no contexto de um relacionamento

que perdure essas condições, que a mudança pode ocorrer. Silberschatz (2007) está

de acordo com Rogers, quando este afirma que as condições são necessárias para

a mudança, mas se questiona acerca de elas serem totalmente suficientes. Segundo

esse autor, o que determina mesmo o sucesso da terapia, além das condições, é a

qualidade da relação. Cury (1993) nos mostra que para por essas atitudes em

prática, se requer do terapeuta, que vivencie o relacionamento terapêutico de forma

mais completa, com a totalidade de seu self, de seu eu. Boainain Jr (1999) traz a

ideia de Bowen (1987b), que defende, que

as três atitudes básicas da terapia rogeriana são insuficientes, embora

necessárias, para provocar mudanças terapêuticas reais, não obstante

possam ser satisfatórias em encontros de mero apoio. Propõe, a guisa de

quarta atitude, a função do terapeuta como fornecedor de impressões

Page 31: A Experiencia de Ser Empatico

31

integrativas, isto é, intervenções que permitam ao cliente reorganizar sua

experiência em uma nova compreensão e numa nova consciência, ou seja,

uma nova Gestalt em que estas adquiram um sentido transformador,

enriquecedor e superador da fase de desenvolvimento em que o cliente se

encontra. Propondo que Rogers sempre fizera isto, especialmente por meio

da ‘reflexão de sentimentos’, Bowen também coloca na categoria de

impressão integrativa as metáforas, imagens e ações que surgem

espontaneamente na consciência do terapeuta, especialmente quando em

estado alterado e ampliado de consciência, brotando de alguma elaboração

intuitiva” (Boainain Jr, 1999, pp. 205-206, grifo do autor).

Ao propor condições facilitadoras, a intenção de Rogers é fornecer-nos

subsídios para proporcionarmos ao cliente segurança para que seu mundo vivido

venha à tona. Essa segurança, de falar sobre suas experiências, se dá pelo fato de

o cliente está em um ambiente facilitador. Ao propor esse ambiente adequado e

seguro, o psicoterapeuta, como facilitador, possibilita que o cliente entenda a

dinâmica de sua personalidade, compreendendo a si mesmo, tendo a possibilidade

de mudanças que façam sentir-se bem consigo mesmo.

Em vista disso, as condições podem ser compreendidas uma a uma a seguir:

A Congruência, em Rogers (1961/1987), seria o integralmente verdadeiro,

onde a pessoa transluz aquilo o que verdadeiramente é. A pessoa mostra-se

transparente, tal como uma criança que demonstra e fala tudo aquilo que está

sentindo, de fato. Para O’Leary (2008), a congruência é o terapeuta não tentar fazer

mais do que aquilo que poderia fazer. Quando a pessoa está em posição de

incongruência, sua atitude nesse momento não se refere ao que verdadeiramente

Page 32: A Experiencia de Ser Empatico

32

está sentindo.

Para Rogers (1980/2007),

quanto mais o terapeuta for ele mesmo na relação com o outro, quanto mais

puder mover as barreiras profissionais ou pessoais, maior a probabilidade de

que o cliente mude e cresça de um modo construtivo. Isto significa que o

terapeuta está vivendo abertamente os sentimentos e atitudes que fluem

naquele momento (p.38).

O terapeuta, neste caso, está sendo ele mesmo, sem máscaras, em acordo

interno possibilitando uma atmosfera adequada para o crescimento pessoal de seu

cliente. A congruência apresenta-se em diferentes níveis dependendo da situação, e

depende igualmente de aceitar a experiência pessoal, defendendo-se dela ou não.

Em terapia, Rogers (1961/1987) afirma ser “necessário que o terapeuta seja,

durante a relação, uma pessoa unificada, integrada ou congruente” (p.260). Para

tanto, deve estar completo e consciente do que está experienciando nesse

momento. Segundo Moreira (2010), “a congruência, ou autenticidade, é descrita

como o grau de correspondência entre o que o terapeuta experiencia e o que

comunica ao cliente, sendo ele mesmo na relação terapeuta-cliente” (p. 7).

A aceitação reside, enquanto condição facilitadora, para Rogers (1961/1987),

“no fato de o terapeuta sentir uma calorosa preocupação pelo seu cliente” (p. 261). A

mesma não poderia ser possessiva, não exigindo gratificação pessoal do terapeuta.

É uma forma de considerar o outro “como uma pessoa separada, digna de respeito

por um mérito que lhe é próprio. É uma confiança básica - uma crença de que esta

outra pessoa é, de alguma maneira fundamental, digna de confiança” (Rogers, 1977,

Page 33: A Experiencia de Ser Empatico

33

p.149).

Essa forma calorosa de ver o outro, foi empregada frequentemente por

Rogers, como aceitação. Mas, Rogers afirma que Stanley Standal, em sua tese de

doutorado The need for positive regard: A contribuition to client-centered theory

(1954)

designou esta atitude como “consideração positiva incondicional”, pois que

não lhe estão agregados nenhumas condições de apreciação. Empreguei

frequentemente o termo “aceitação” para descrever esse aspecto do clima

terapêutico. Ele implica que se devem aceitar tanto as expressões negativas

do cliente, os sentimentos “maus”, de desgosto, de medo, ou de

anormalidade, como as suas expressões de sentimentos “bons”, positivos,

maduros, confiantes e sociais. A aceitação implica que se veja o cliente como

uma pessoa independente, permitindo-lhe experimentar os seus próprios

sentimentos e descobrir o que a sua experiência significa. É na medida em

que o terapeuta pode garantir esse clima de segurança e de consideração

positiva incondicional que pode surgir no cliente uma aprendizagem

significativa (Rogers, 1961/1987, pp. 261-262, grifo do autor).

Outra maneira de ver, essa forma calorosa de preocupação pelo cliente, está

em Bozarth (1998/2001), quando este a denomina de olhar incondicionalmente

positivo, que se apresenta como um “fator curativo na teoria centrada no cliente” (p.

133). Esse fator curativo reside no “impulso motivacional normal de atualização do

cliente. É esta tendência que é o fator curativo fundamental presente no âmago da

pessoa” (Bozarth, 1998/2001, pp. 133-134). Para isso, é necessário que “o cliente

Page 34: A Experiencia de Ser Empatico

34

fique mais diretamente ligado à tendência atualizante através da imagem de si

próprio incondicionalmente positiva” (Bozarth, 1998/2001, p. 134).

Vieira e Freire (2006) afirmam que,

a consideração positiva incondicional não diz respeito somente ao terapeuta

com relação ao cliente, mas do psicoterapeuta consigo mesmo, assim como

do cliente consigo mesmo. Este “consigo mesmo” aqui destacado não

significa algo totalizado, perfeitamente identificado e essencialista, mas uma

abertura para o que de imprevisível possa surgir” (p.429).

Igualmente observo, nas leituras que fiz das obras de Rogers, a aceitação

dentro de três visões. Duas formas de autoaceitação, que seriam: primeiro, a

aceitação do psicoterapeuta de si mesmo e segundo, a aceitação do cliente em

relação a si mesmo, após um processo de crescimento pessoal. E, a terceira forma

de consideração, seria então: a aceitação do psicoterapeuta em relação ao seu

cliente. O’Leary (2008) afirma que o terapeuta pode aceitar o que o cliente está

querendo, embora possa não aprovar essa decisão do cliente, como podemos

observar nessa citação: “Therapists can accept without having to endorse. Each

person has a right to want what they want without having to have the further right of

getting what they want” (p.304).

Visualizo também outra possível forma de aceitação, na qual compreendo

como sendo de caráter subjetivo: a aceitação do cliente das

interpretações/compreensões do psicoterapeuta. Esta por sua vez, tem em vista a

decisão de assimilar ou não, no momento da psicoterapia, as compreensões dadas

pelo psicoterapeuta acerca das experiências do cliente. Mas isso dependerá,

Page 35: A Experiencia de Ser Empatico

35

também, do nível de afinidade, de maturidade e desenvolvimento pessoal que o

cliente apresente na relação psicoterápica. As outras formas de consideração,

também partem de um processo mais lento de estado de acordo interno e subjetivo,

mas que algumas vezes não se apresentam, inclusive quando é a consideração do

psicoterapeuta em relação ao cliente, o que para Rogers não precisa ser

considerado como um “dever” (Rogers, 1977/1986), pois nem sempre estamos em

processo de considerar o outro seja qual for.

Para Bozarth (1998/2001), “o olhar incondicionalmente positivo é a condição

teórica básica da mudança do cliente na terapia centrada na pessoa” (p. 75).

Quando o terapeuta tem uma atitude de consideração, produz todas as situações

para que ocorra uma mudança terapêutica (Rogers, 1980/2007). Essa capacidade

está relacionada ao fato do terapeuta vivenciar essa relação de forma mais plena.

“Aceitação ou consideração positiva é a confiança básica no organismo humano e a

crença de que o outro é, de algum modo, digno de confiança. Trata-se da aceitação

do outro individuo como uma pessoa separada, que tem valor por si mesma”

(Duarte, 2004, p.131)

A empatia, como uma dessas condições facilitadoras, “assumiu importância

fundamental na teoria rogeriana quando esse autor afirmou ser necessário que o

terapeuta desenvolvesse uma compreensão empática pelo cliente” (Sampaio,

Camino & Rozzio, 2009, p. 214), passando a ser compreendida como sendo uma

parte essencial do trabalho do terapeuta (Grant, 2010). Esta atitude facilitadora será

abordada nessa pesquisa em maior profundidade a partir da evolução do

pensamento de Carl Rogers sob a perspectiva das fases divididas e descritas por

comentadores de suas obras.

Page 36: A Experiencia de Ser Empatico

36

2 O CONCEITO DE EMPATIA NO PENSAMENTO DE CARL ROGERS

2.1 A Ideia Embrionária de Empatia no Pensamento de Carl Rogers?

Em sua primeira obra, O Tratamento Clínico da Criança Problema

(1939/1978), Rogers não define ou se refere ao que seria especificamente o

conceito de empatia. Porém, é possível perceber que essa conceituação começa a

ser delineada em seu pensamento. Ao explicar o conceito de “Tratamento

Interpretativo” – que busca que o indivíduo compreenda de forma plena suas

reações e seus comportamentos –, Rogers salienta a importância da compreensão

dos problemas do cliente por parte do terapeuta para o tratamento. Tendo por base o

trecho a seguir, é possível perceber que, para ele, o sucesso dessa técnica

terapêutica estaria conectado à capacidade do cliente de aceitar a interpretação

realizada pelo terapeuta.

O problema do terapeuta social consiste em dar essa interpretação ao

paciente. Esse processo é crucial no tratamento porque implica não apenas

na interpretação do comportamento do paciente pelo terapeuta social, mas

também na aceitação dessa interpretação. A aceitação do paciente depende

muito do terapeuta conseguir que o paciente se identifique com a análise ou

interpretação. Em outras palavras é necessário que a análise de fatores surja

dos fatos apresentados pelo próprio paciente, e que este a veja como

verdadeira (Rogers, 1939/1978, p.175).

Nesta obra, Rogers (1939/1978) afirma ser importante uma compreensão do

ponto de vista dos clientes pelo terapeuta, sem identificação emocional. Ao falar de

Page 37: A Experiencia de Ser Empatico

37

um tipo de tratamento descritivo, no qual o profissional desempenha um papel mais

ou menos passivo, Rogers defende a necessidade de não deixar o paciente

dependente de suas interpretações. A responsabilidade das decisões é do paciente,

como se vê na citação de Rogers sobre a Srta. Heart:

Se o paciente tende a ser dependente, desejando uma expressão da opinião

do profissional ou uma sanção, o terapeuta devolve a decisão ao paciente.

Mesmo que o paciente escolha um curso de ação que pode parecer

destrutivo, o terapeuta não assumirá o comando da situação, tomando a

decisão em nome do paciente. […]. E não raramente o terapeuta se

surpreenderá com o fato de que o que considerava destrutivo acabe sendo

uma experiência valiosa para o crescimento do indivíduo. O que pode ser uma

experiência destrutiva para um indivíduo em um estágio de crescimento pode

mostrar-se construtivo em outro estágio (Rogers, 1939/1978, p.181).

Uma das qualificações do terapeuta que colaborariam com a terapia, segundo

Rogers (1939/1978), é a objetividade. A partir desse caráter objetivo, deveria existir

uma compreensão sem qualquer julgamento moral, ou seja, sem preconceito por

parte do terapeuta para com seus clientes.

Essa atitude de respeito não deveria ser exageradamente sentimental, assim

como não poderia ser fria, impessoal. Seria uma atitude autêntica, receptiva, que

colaborasse com a compreensão dos sentimentos do cliente sem uma exagerada

identificação por parte do terapeuta, com o intuito de não prejudicar o tratamento.

Uma identificação “descontrolada” por parte do profissional propiciaria uma confusão

dos sentimentos dele e do paciente. Isso seria a identificação emocional. Pode-se

Page 38: A Experiencia de Ser Empatico

38

perceber um pouco da importância desta ideia para a terapia no trecho abaixo:

Talvez uma menor objetividade seja necessária para a psicoterapia intensiva a

longo prazo. Porém, qualquer que seja ela, um grau fundamental dessa

qualidade é essencial para que a criança seja capaz de aliviar-se sem medo:

medo, de um lado, de ser rejeitada e condenada e medo, de outro lado, de

encontrar apenas simpatia, sem o vigor que brota de uma visão não

comprometida (Rogers, 1939/1978, p. 247).

É possível notar, em sua obra O Tratamento Clínico da Criança Problema

(1939/1978), uma definição embrionária de empatia como sendo uma compreensão,

por parte do terapeuta, dos sentimentos apresentados pelo paciente, o que

colaboraria para a obtenção de um ambiente terapêutico. Essa atitude - que

posteriormente contribuiria para a formulação do conceito de empatia - enfatiza uma

relação terapêutica baseada na objetividade. Uma relação na qual o centro estaria,

ainda, mais voltado para o terapeuta, pois ele interpretaria o comportamento do

paciente.

2.2 Fase Não Diretiva (1940-1950)

As fases descritas do pensamento rogeriano têm início a partir de 1940, que é

quando ele começa a desenvolver uma teoria própria de psicoterapia, tendo como

marco sua famosa palestra em dezembro de 1941. Para Holanda (1994), dentre os

comentadores que discutem as fases do pensamento rogeriano, a esquematização

das fases de Rogers teve muitas divergências. Nessa primeira fase, chamada não-

Page 39: A Experiencia de Ser Empatico

39

diretiva, ele estava na Universidade de Ohio, no período de 1940 a 1950. e

caracteriza-se por ter uma proposta de terapia não diretiva, onde, segundo Messias

(2001), deveria haver “um ambiente propício para que ele, cliente, pudesse

desenvolver seu potencial e assumir a responsabilidade pelo processo” (p.28).

Para Moreira (2010), essa psicoterapia não diretiva

parte de conceitos que têm como base o impulso individual para o

crescimento e para a saúde, dá maior ênfase aos aspectos de sentimento do

que aos intelectuais, enfatiza o presente ao invés de enfatizar o passado do

indivíduo, o foco de interesse maior é o indivíduo e não o problema, e toma a

própria relação terapêutica como uma experiência de crescimento (p. 5).

Os aspectos fundamentais de uma relação terapêutica são estabelecidos na

principal obra concernente a esta fase: “Psicoterapia e Consulta Psicológica”

(1942/1973), onde Rogers propõe como primeiro aspecto na terapia “um calor e uma

capacidade de resposta por parte do conselheiro que torna a relação possível e a faz

evoluir gradualmente para um nível afetivo mais profundo” (Rogers, 1942/1973, p.

97).

Esta fase caracteriza-se pela permissividade na terapia, que Rogers

(1942/1973) descreve como sendo a segunda qualidade da consulta psicológica. Ele

coloca a permissividade como sendo uma “liberdade completa de expressar

sentimentos” (Rogers, 1942/1973, p. 98). Mas, essa liberdade tinha certos limites,

dentre eles, o tempo, que teria seu horário de início e fim. Outro limite estabelecido

são as ações do cliente, que não deveria ter atitudes destrutivas no ambiente

terapêutico, como no caso das crianças não quebrarem brinquedos usados nas

Page 40: A Experiencia de Ser Empatico

40

sessões. Esses limites corresponderiam ao terceiro aspecto em uma consulta

psicológica. A quarta característica refere-se ao fato de que, a entrevista pertence ao

paciente (Rogers utilizava nesta época a nomeação paciente, sendo mais tarde

substituído por cliente), pois “o conselheiro competente abstém-se de introduzir nas

situações terapêuticas os seus próprios desejos, reações e inclinações” (Rogers,

1942/1973, p. 99).

Os terapeutas não diretivos estimulam seus clientes a falarem mais e

livremente, portanto “a consulta psicológica de tipo não diretivo é caracterizada pelo

predomínio da atividade do paciente, que assume a maior parte da conversação

sobre seus problemas” (Rogers, 1942/1973, p. 135).

Rogers assume uma posição de neutralidade (Messias, 2001; Moreira, 2010),

na qual a intervenção do terapeuta deveria ser mínima, pois o cliente tem seu mundo

subjetivo e sua forma de reagir em relação a ele. Messias (2001) explica-nos que a

proposta rogeriana pretendia ser neutra e objetiva. A primeira, diz respeito ao fato do

terapeuta não interferir “no direcionamento ou na construção de um jeito subjetivo de

ver o mundo e reagir a ele” (p.31). E, a objetividade se dá pelo empirismo e o rigor

nas pesquisas realizadas.

Essa ideia de não diretividade, de acordo com Moreira (2010), ocasionou

“mitos e mal-entendidos de ‘laissez-faire’ sobre a atuação do psicoterapeuta que não

fala na sessão” (p. 539). Essa permissividade de Rogers sofreu muitas críticas

devido ao papel pouco ativo do terapeuta, quando na verdade, como lembra

Holanda (1994), “seu esforço era uma tentativa de desarticular a conotação de

autoridade relacionada ao terapeuta” (p.6).

Page 41: A Experiencia de Ser Empatico

41

2.2.1 Evolução da Ideia Embrionária

Em seu livro Psicoterapia e Consulta Psicológica (1942/1973), Rogers

descreve o conceito de hipótese base, que ele define como

a consulta psicológica eficaz consiste numa relação permissiva, estruturada

de uma forma definida que permite ao paciente alcançar uma compreensão

de si mesmo num grau que o capacita para progredir à luz da sua nova

orientação (p.29).

Nesta obra, Rogers (1942/1973) propõe uma forma inovadora de psicoterapia,

e nos mostra que o objetivo da mesma – recente na época – não era o de resolver

um problema particular do cliente, mas sim o de colaborar com o indivíduo para que

ele pudesse se desenvolver, podendo assim enfrentar o problema presente e os

futuros de uma forma mais integrada. Essa psicoterapia tem como um de seus

aspectos, uma confiança mais profunda de que o indivíduo pode orientar-se para a

maturidade, para a saúde e para a adaptação (Rogers, 1942/1973).

Essa nova experiência terapêutica possibilitava uma vivência de

desenvolvimento ao indivíduo, pois nela “o indivíduo aprende a compreender-se a si

mesmo, a optar de uma forma independente e significativa, a estabelecer com êxito

relações pessoais de uma forma adulta” (Rogers, 1942/1973, p.42). Todavia, é

ressaltado que o conselheiro não tem a obrigação de dar respostas certas, pois tem

como função proporcionar um ambiente e uma atmosfera, nos quais os problemas

possam ser refletidos e as relações apreendidas com maior clareza (Rogers,

1942/1973). Ou seja, o terapeuta não diz ao paciente o que é o seu problema, nem

Page 42: A Experiencia de Ser Empatico

42

diz a este o que deve fazer. O terapeuta proporciona uma atmosfera adequada, para

o desenvolvimento do cliente, em um ambiente terapêutico. Estabelece confiança

que possibilite ao cliente expor todas as suas dificuldades e, assim, no decorrer da

terapia bem-sucedida, compreender e ressignificar seus problemas.

Ao falar dos aspectos fundamentais de uma relação terapêutica, Rogers

(1942/1973) mostra algumas qualidades que tornam a atmosfera da consulta

psicológica mais útil. Uma delas é a ideia do que mais tarde poderia ser chamado de

empatia, que ele define como sendo,

um calor e uma capacidade de resposta por parte do conselheiro que torna a

relação possível e a faz evoluir gradualmente para um nível afetivo mais

profundo. Do ponto de vista do conselheiro, porém, trata-se de uma atmosfera

nitidamente controlada, uma ligação afetiva com limites definidos (Rogers,

1942/1973, p.97).

Rogers ressalta que é interessante – em determinadas situações – que o

terapeuta seja mais prudente, tentando evitar os extremos da reserva ou da ultra-

implicação, criando uma relação qualificada pelo calor, pelo interesse, capacidade de

resposta e uma dedicação afetiva num grau limitado com clareza e precisão

(Rogers, 1942/1973).

É possível perceber indícios do conceito de empatia no pensamento de

Rogers, quando ele fala da importância do conselheiro não censurar o paciente, nem

ser excessivamente simpático. O conselheiro deve procurar manter uma atitude mais

equilibrada, a fim de que o paciente possa se afastar dos mecanismos de defesa,

sendo assim mais autêntico e permitindo então um melhor enfrentamento da

Page 43: A Experiencia de Ser Empatico

43

realidade (Rogers, 1942/1973).

Rogers reafirma isso mais adiante:

se, uma vez expressos os sentimentos, o conselheiro se abstém de uma

identificação demasiado compreensiva e da aprovação dessa atitude, bem

como de uma resposta crítica e reprovadora, o paciente sente-se livre para

manifestar outros sentimentos contraditórios que lhe impedem um acesso

claro aos seus problemas de adaptação (Rogers, 1942/1973, p.161).

Percebe-se, neste momento, traços do que viria a ser o conceito de empatia,

uma vez que, Rogers afirma que uma não-identificação e uma resposta não-

reprovadora possibilita que o cliente se sinta livre para expressar seus sentimentos

contraditórios. A não-identificação é, posteriormente, enfatizada por Rogers em sua

conceituação de empatia a qual se daria por meio de uma condição de “como se”

estivesse no lugar do outro. Tal como a resposta empática que viria a ser o abster-se

de uma resposta crítica e reprovadora. Segundo Bozarth (1998/2001), Rogers não

mencionava o termo empatia, mas vários de seus comentários abriram caminho para

o conceito de empatia, na medida em que se referia ao conceito de bom terapeuta,

capacidade de compreensão como se fosse ele próprio, ausência de coerção ou

pressão e o calor da aceitação.

Na relação da consulta psicológica, o calor – esse calor propicia uma relação

empática – da aceitação e a ausência de preconceitos por parte do conselheiro,

possibilitam a expressão máxima de sentimentos, atitudes e problemas por parte do

paciente contribuindo assim para uma consulta psicológica e uma psicoterapia eficaz

(Rogers, 1942/1973).

Page 44: A Experiencia de Ser Empatico

44

Na obra Psicoterapia e Consulta Psicológica (1942/1973), é possível

observar que não cabe mais ao terapeuta a interpretação do comportamento do

cliente, como foi comentado na obra O Tratamento Clínico da Criança-Problema

(1939/1978). Aqui, Rogers ressalta que o cliente pode alcançar uma compreensão

de si mesmo. O conselheiro colabora com esse processo criando uma atmosfera

agradável e propícia, onde o cliente possa se sentir aceito. Os possíveis indícios das

condições facilitadoras em psicoterapia já podem ser percebidos dentro desta obra

(1942/1973), ele traz a ideia de um ambiente propício, onde possa existir um calor

da aceitação, sem preconceitos e que o terapeuta tenha uma capacidade de

resposta que torne a relação possível e que tenha uma atitude mais equilibrada.

No artigo Significant Aspects of Client-Centered Therapy (1946/2000), Rogers

mostra que, no relacionamento entre terapeuta e cliente, é necessário que o

terapeuta estabeleça uma atmosfera psicológica para que o cliente possa se

expressar e deixar cair sua defesa natural. Ou seja, deve existir um calor, uma

compreensão, uma aceitação básica da pessoa como esta é, para um melhor

andamento do processo. Se o cliente sente que não está sendo avaliado e que está

sendo compreendido, pode se comunicar mais profundamente (Rogers, 1946/2000).

Segundo Rogers (1946/2000), o terapeuta deve colocar de lado sua

preocupação com o diagnóstico, com as avaliações profissionais, e se concentrar

em fornecer uma compreensão profunda e aceitação das atitudes do cliente

enquanto este explora seu próprio interior.

Em Some Observations on the Organization of Personality (1947/2000),

Rogers confirma que o terapeuta sendo compreensivo e não-avaliativo torna-se uma

possibilidade de expressão do cliente. Ao proporcionar um ambiente de

permissividade e de compreensão, elimina as ameaças existentes contra as

Page 45: A Experiencia de Ser Empatico

45

percepções do self.

Antes, a responsabilidade de interpretar o comportamento do cliente era do

terapeuta, que deixa de assumir esse papel, para que por meio de um calor, que

possibilita a expressão do cliente, de uma atmosfera psicológica facilitadora onde

exista aceitação e o terapeuta seja uma pessoa compreensiva e não-avaliativa, o

cliente possa ter uma maior compreensão de si. Essa compreensão é bastante

destacada na obra Psicoterapia e Consulta Psicológica (1942/1973).

2.3 Fase Reflexiva (1950-1957)

A fase reflexiva caracterizou-se pela prática do reflexo de sentimentos e

correspondeu à Terapia Centrada no Cliente, tendo como principal obra Terapia

Centrada no Cliente (1951). Neste livro, Rogers descreve como se deu essa

modalidade de terapia, na qual o terapeuta era o promotor do desenvolvimento do

cliente, dentro de uma atmosfera desprovida de ameaça, como afirma Moreira

(2010). Isso se dá por meio das condições facilitadoras, que foram introduzidas

nesta época e que são: a congruência ou autenticidade, a aceitação positiva

incondicional e a empatia, esta última apresentando-se como um dos principais

conceitos desenvolvidos por Rogers.

Na obra Terapia Centrada no Cliente, Rogers expõe sua percepção sobre a

experiência e o significado do cliente em terapia. Ele descreve sua experiência,

“descobrindo que não podemos atuar como costumávamos fazer” (Rogers,

1951/1992, p. 4).

Essa fase corresponde à passagem da “não-diretividade” à “centrada no

cliente”, onde o terapeuta torna-se mais ativo – ao contrário da fase anterior onde ele

Page 46: A Experiencia de Ser Empatico

46

era mais passivo – e o cliente passa a ser alvo da atenção do terapeuta (Shlien &

Zimring, 1970; Cury, 1993, Holanda, 1994 & Moreira, 2010). Cury (1993) enfatiza

que “se, anteriormente, seu papel era o de ficar fora do caminho do cliente, agora ele

é levado a comprometer-se numa busca por compreensão empática do sistema de

referência de outra pessoa” (p.45). Quando Rogers passou a denominar sua terapia

de centrada no cliente, saindo da denominção não-diretiva, neste momento vê-se o

desenvolvimento da noção do quadro de referência do cliente (Grant, 2009).

Branco, Cavalcante Jr e Oliveira (2008) afirmam que nesta fase “Rogers

começa a perceber que o psicoterapeuta poderia ser mais ativo em sua relação com

o cliente, de modo a deixar de ser um observador para adentrar a experiência dele;

as atitudes do psicoterapeuta, sobretudo as atitudes empáticas” (p. 139).

2.3.1 Surge o conceito de empatia na fase reflexiva

Em seu livro Terapia Centrada no Cliente (1951/1992), Rogers, inicialmente,

traz o termo atitude empática como forma de diferenciar da atitude declarativa e para

assinalar que o orientador deve estar focado nessa atitude empática.

Este foco está relacionado ao fato de que, numa atitude declarativa o que é

declarado pelo orientador é algo de forma rígida, de forma técnica, diferentemente

do que ocorre numa atitude empática, onde pode até ser o mesmo conteúdo

expressado da atitude declarativa, mas o tom de voz é mais suave, tendo um caráter

empático e compreensivo, podendo o cliente entender que tem mais possibilidade

de se expressar. Assim, as atitudes do orientador não seriam esclarecer as atitudes

do cliente, mas que seria um experimentar ativo, juntamente com ele (Rogers,

1951/1992).

Page 47: A Experiencia de Ser Empatico

47

Nos relacionamentos terapêuticos mais satisfatórios, o terapeuta tem como

função assumir, da melhor maneira possível, uma estrutura de referência interna do

cliente, para que possa perceber o mundo como o cliente o vê, deixando de lado

todos os a priori, enquanto estiver na relação, passando algo de sua compreensão

empática ao cliente (Rogers, 1951/1992).

Rogers (1951/1992) mostra que os conceitos de compreensão e aceitação

tornaram-se, cada vez mais, consideráveis para o terapeuta. Como pode ser

observado através da afirmação a seguir:

Parece que, cada vez mais, o terapeuta não-diretivo tem considerado eficazes

a compreensão e a aceitação, passando a concentrar todo o seu esforço na

tentativa de alcançar um profundo entendimento do mundo íntimo do cliente

(Rogers, 1951/1992, p.41).

A partir de uma maior concentração nesses conceitos, o terapeuta busca

observar da maneira mais profunda o que o cliente está vivenciando, ou até mais

intensamente do que o próprio cliente é apto a compreender no momento (Rogers,

1951/1992).

O facilitador tem como principal objetivo na terapia

perceber da forma mais sensível e acurada possível, todo o campo de

percepção do cliente, da maneira como ele o experimenta, com as mesmas

relações de figura e plano de fundo, até o ponto máximo que o cliente estiver

disposto a comunicar; e, tendo assim percebido a estrutura de referência

interna do outro tão completamente quanto possível, indicar para o cliente em

Page 48: A Experiencia de Ser Empatico

48

que medida está vendo através dos olhos dele (Rogers, 1951/1992, pp. 44-

45).

Com o intuito de conseguir alcançar essa meta e de tornar a relação

terapeuta-cliente única, o orientador tem que deixar de lado o seu próprio self, ou

seja, a si mesmo, para poder entrar no mundo do seu cliente a fim de ajudá-lo.

Eu me tornarei, em certo sentido, um outro self para você – um alter ego de

suas próprias atitudes, sentimentos – uma oportunidade segura para que você

possa se perceber mais claramente, experimentar a si mesmo de forma mais

verdadeira e profunda, escolher de modo mais significativo (Rogers,

1951/1992, p.45).

É possível entender a relevância dessa compreensão para com o cliente na

terapia, na medida em que Rogers (1951/1992) assinala que o terapeuta acaba

cometendo menos erros, ao deixar de tentar interpretar o que o cliente está

trazendo.

Quando o terapeuta participa da relação terapêutica fazendo interpretações,

avaliando o significado do material e coisas do gênero, suas distorções

participam com ele. Quando o terapeuta procura manter-se de fora, como

uma pessoa separada, empenhando-se totalmente no sentido de

compreender o outro de forma tão completa a ponto de tornar-se quase um

alter ego do cliente, é muito menos provável que ocorram distorções e

desajustes pessoais (Rogers, 1951/1992, p.54).

Page 49: A Experiencia de Ser Empatico

49

Rogers (1951/1992) ressalta que os clientes consideram vantajoso terem suas

atitudes reformuladas, pois é como se eles pudessem voltar a si mesmos e

passassem a compreender o que sentiam e o que estavam dizendo. Isto possibilita

uma melhor reorganização do self e a entrevista passa a ter um significado especial

(Rogers, 1951/1992).

Diante da importância da Terapia Centrada no Cliente, o autor acredita que

esta tem uma aplicação muito ampla, podendo ser realizada em quase todo tipo de

pessoas, pois, a partir desta experiência, elas se sentem compreendidas,

contribuindo assim para uma melhor aceitação delas próprias.

Uma atmosfera de aceitação e respeito, de profunda compreensão, é muito

adequada para o crescimento pessoal, e como tal aplica-se a nossos filhos,

nossos colegas, nossos alunos, bem como a nossos clientes, sejam eles

‘normais’, neuróticos ou psicóticos (Rogers, 1951/1992, p.264).

Através do pensamento de Rogers (1951/1992), pode-se compreender que o

terapeuta tem como objetivo, na relação terapêutica, buscar a reconstrução do

campo perceptivo do cliente no momento em que ele se expressa, por meio de sua

habilidade e sensibilidade. Para que a empatia possa existir na relação, o terapeuta

deve estar atento, pois sem atenção ele não conseguirá compreender o que o cliente

está sentindo e dessa forma não existirá comunicação (Rogers, 1951/1992).

Ao falar de algumas tendências significativas no treinamento de terapeutas,

Rogers se reporta ao fato de o terapeuta passar por uma experiência terapêutica,

pois a terapia pode ajudá-lo a se sensibilizar em meio aos sentimentos e atitudes

que o cliente vivencia, “tornando-o empático num nível mais profundo e significativo”

Page 50: A Experiencia de Ser Empatico

50

(Rogers, 1951/1992, p. 494). Desta maneira, o terapeuta poderia experienciar todos

os fenômenos empaticamente, a fim de que o indivíduo pudesse ser melhor

compreendido:

Se pudéssemos experimentar empaticamente todas as sensações sensoriais

e viscerais do indivíduo, se pudéssemos experimentar todo o seu campo

fenomenológico, incluindo os elementos conscientes e as experiências que

não foram trazidas ao nível da consciência, teríamos a base perfeita para

compreender o significado de seu comportamento e prever seu

comportamento futuro (Rogers, 1951/1992, p.562).

No entanto, Rogers complementa, afirmando que é impossível alcançar esse

ideal.

Diferentemente de suas obras anteriores, no livro Terapia Centrada no Cliente

(1951/1992), Rogers trabalha com um conceito de terapia menos diretivo, mas

considerando que empatia é uma atitude necessária durante o processo, para a

criação de um ambiente que facilite a compreensão do cliente de que ele é capaz de

se autoatualizar. E, acaba se voltando mais para essa capacidade do homem de

acreditar em si. Para Bozarth (1998/2001), “à medida que Rogers começou a

empregar o termo ‘empatia’, descreveu-a como o desenvolvimento, por parte do

terapeuta, de um interesse e receptividade em relação ao cliente e a busca de uma

compreensão profunda e não crítica” (p. 86).

Rogers (1951/1992) afirma que, para ser um orientador eficaz, é necessário

que este utilize um método ou uma técnica que seja adequada, ou seja, compatível

com as suas atitudes pessoais. O objetivo, desse orientador, seria trabalhar com o

Page 51: A Experiencia de Ser Empatico

51

cliente acreditando que ele tem condição suficiente para suportar positivamente os

eventos de sua vida, que possam, potencialmente, alcançar a percepção consciente.

Isso seria possível, na medida em que o cliente encontra uma situação favorável

para que esse material chegue à sua consciência, e uma demonstração considerável

de aceitação, uma capacidade de conduzir a si mesmo, por parte do orientador

(Rogers, 1951/1992). Essa situação favorável se dá por meio de uma relação de

compreensão e verdadeira, na qual se produz uma atitude empática.

Isso se dá por meio da unicidade do experienciar, que Rogers traz em seu

artigo Pessoas ou Ciência? Uma Questão Filosófica (1955/2008). Neste artigo, está

claro que essa unicidade é como uma forma de estar junto com o cliente em seu

mundo interno, numa relação verdadeira.

A essência de alguma das partes mais profundas da terapia parece ser a

unicidade do experienciar. […]; e eu sou capaz, com igual liberdade, de

experienciar minha compreensão desse sentimento, sem qualquer

pensamento sobre ele, sem qualquer apreensão ou preocupação quanto

aonde isso vai levar, sem qualquer tipo de diagnóstico ou pensamento

analítico, sem quaisquer barreiras cognitivas ou emocionais, em completa

‘entrega’ à compreensão. Quando se dá essa completa unicidade,

singularidade, inteireza no experienciar do relacionamento, então este adquire

a qualidade de ‘fora-deste-mundo’ que muitos terapeutas relataram, uma

espécie de sentimento tipo-transe na relação, do qual emergimos os dois, o

cliente e eu, ao final da sessão, como se de um poço profundo ou de um

túnel. Nesses momentos há, como diz Buber, uma relação verdadeira ‘Eu-Tu’,

uma vivência atemporal na experiência que é entre o cliente e eu. É

Page 52: A Experiencia de Ser Empatico

52

exatamente o oposto de ver o cliente, ou a mim mesmo como objeto. É o

ápice da subjetividade pessoal (Rogers, 1955/2008, p. 119).

Nesta passagem, Rogers descreve a sensação de um experienciar único

numa relação com o cliente, o experienciar os sentimentos do cliente, mas sem

qualquer pensamento ou diagnóstico sobre o que o cliente está sentindo. É apenas

compreender o cliente, por meio de uma relação verdadeira. É entrar nessa relação

como uma pessoa, ou seja, é entrar numa relação pessoal.

Rogers (1955/2008) relata ter se lançado nessa “relação terapêutica com uma

hipótese, ou uma crença, a de que a minha estima, a minha confiança, a minha

compreensão do mundo interno da outra pessoa, levaria a um significativo processo

do vir-a-ser” (p. 118).

Três hipóteses são estabelecidas, em sua forma bruta, dentro desse processo

relacional. Estas hipóteses são descritas como apreendidas da Terapia Centrada no

Cliente, e são elas: para que o cliente tenha uma maior aceitação do seu self é

necessário que aceite primeiro o terapeuta; e quanto mais o terapeuta perceber esse

cliente como uma pessoa, mais o cliente poderá perceber a si mesmo como pessoa;

com isso, no decorrer da terapia o cliente terá um tipo de aprendizado experiencial

sobre o self (Rogers, 1955/2008).

Neste artigo, Rogers traz a concepção de pessoa, onde o cliente deve ser

visto como pessoa dentro de uma relação terapeuta-cliente, pois desta forma o

cliente poderá enxergar a si mesmo como pessoa. Um ponto importante é o fato de

Rogers trazer, mais uma vez, a questão da não-identificação, quando descreve

acerca do experienciar os sentimentos do cliente sem ter qualquer pensamento,

preocupação com ele ou diagnosticar o cliente.

Page 53: A Experiencia de Ser Empatico

53

2.4 Fase Experiencial (1957-1970)

Nesta terceira fase, Rogers tem como foco a experienciação do cliente e a

expressão da experienciação do terapeuta, o que, segundo Holanda (1994)

representa um grande salto no seu trabalho. Também chamada de “fase de

Wisconsin”, foi marcada, de acordo com Amatuzzi (1995), “pelos conceitos

elaborados no contexto da colaboração entre Rogers e Gendlin” (p.66). Este aspecto

é enfatizado, além de Cury (1993), por Moreira (2010), que afirma que Rogers foi

influenciado pelo conceito de experienciação de Gendlin focalizando-se na

experiência vivida tanto do cliente, quanto do psicoterapeuta e de ambos. Segundo

Tassinari (2003), Rogers “com a inspiração de Gendlin, ocupa-se em sistematizar a

experiência e os processos internos que se referem à mudança na personalidade,

promovendo uma mudança de paradigma (sistêmico e não mais mecanicista)” (p.

52).

Para Boainain Jr. (1999), Gendlin propôs esse conceito com o objetivo de

esclarecer o foco orientador do centrar-se do terapeuta rogeriano. Esse experienciar

era entendido por Gendlin como “o fluxo de significados sentidos, isto é, o processo

de eventos interiores e pré-verbais fisicamente sentidos aos quais a pessoa pode ter

acesso direto e concreto em sua experiência” (Boainain Jr, 1999, p. 85).

Segundo Holanda (1994), “o objetivo nesta fase é ajudar o cliente a usar

plenamente sua experiência, promovendo uma maior congruência do self e

desenvolvimento relacional” (p.8). Para Moreira (2010), “aqui é enfatizada a

autenticidade do terapeuta enquanto atitude facilitadora” (p. 540). De acordo com

ela, nessa fase a autenticidade do terapeuta, também, passa a ser importante e a

ser entendida como parte da relação terapeuta-cliente. Cury (1993) afirma que “a

Page 54: A Experiencia de Ser Empatico

54

relação terapêutica deixa de ser centrada no cliente para tornar-se bicentrada ou

bipolar […], consistindo num esforço de exploração de dois mundos que interagem

em benefício do cliente” (p.52).

De acordo com Moreira (2001, 2007, 2010), na fase experiencial, a prática

clínica de Rogers mais se aproximou da tradição fenomenológica, na medida em

que passou a focalizar a experiência intersubjetiva, mais do que apenas se focar na

pessoa, ou seja, a referida autora quis explicitar que Rogers ao se focalizar na

experiência intersubjetiva entre cliente e terapeuta, se aproximou, neste aspecto, de

uma visão fenomenológica. Mas, depois, na fase seguinte, se distanciou dessa visão

intersubjetiva e voltou a focar-se apenas na pessoa do cliente, na experiência do

cliente.

Para Boainain Jr (1999), na época em que Rogers foi para Wisconsin, em

1957, surgiram algumas tendências e inovações que configuraram uma nova e

importante fase para a Terapia Centrada no Cliente, “cujo sentido mais sintético e

geral na relação, numa modificação ainda mais humanizadora do papel do terapeuta

na relação, numa maior aproximação do referencial existencial-fenomenológico e

numa projeção de Rogers para além do círculo profissional mais restrito” (p. 84).

Neste período, ainda de acordo com Boainain Jr (1999), Rogers era opositor das

ideias behavioristas de Skinner, e teve uma “crescente aproximação com o

pensamento existencial-fenomenológico importado da Europa” (p. 86). Além do que,

“a tônica experiencial abre caminho para o desenvolvimento de investigações em um

modelo científico de orientação fenomenológica, diferenciando-se do referencial

científico anteriormente usado nas pesquisas da ACP” (Boainain Jr, 1999, p. 86).

Page 55: A Experiencia de Ser Empatico

55

2.4.1 O conceito de empatia na fase experiencial

Em seu artigo As condições necessárias e suficientes para a mudança

terapêutica na personalidade (1957/2008), Rogers tem como preocupação, em sua

época, estabelecer teorias acerca da psicoterapia, da personalidade e das relações

interpessoais, englobando e contendo os fenômenos de sua experiência. Para

Tassinari (2003), “este artigo pode ser considerado um marco na Abordagem pela

ousadia de Rogers em propor a necessidade e a suficiência das seis condições

facilitadoras do crescimento psicológico. Centenas de pesquisas foram geradas a

partir desse artigo […]” (p. 63).

Considera, neste artigo, as seis condições básicas para o processo de

mudança na personalidade. As mudanças, ressaltadas por Rogers, somente

ocorreriam se elas existissem na relação, e que, além disso, fossem persistentes por

um período de tempo. Para Bozarth (1998/2001), Rogers postula essas condições

“para uma mudança terapêutica de personalidade em todas as terapias e relações

interpessoais construtivas, que têm por objetivo a mudança construtiva da

personalidade” (p. 10). Essas condições seriam:

1. Que duas pessoas estejam em contato psicológico;

2. Que a primeira, a quem chamaremos cliente, esteja num estado de

incongruência, estando vulnerável ou ansiosa;

3. Que a segunda pessoa, a quem chamaremos de terapeuta, esteja

congruente ou integrada na relação;

4. Que o terapeuta experiencie consideração positiva incondicional pelo

cliente;

Page 56: A Experiencia de Ser Empatico

56

5. Que o terapeuta experiencie uma compreensão empática do esquema

de referência interno do cliente e se esforce por comunicar esta experiência

ao cliente;

6. Que a comunicação ao cliente da compreensão empática do terapeuta

e da consideração positiva incondicional seja efetivada, pelo menos num grau

mínimo (Rogers, 1957/2008, p.145).

Segundo O’Leary (2008), a quinta condição é o coração da terapia, sendo a

arte de compreender com precisão o mundo de cada indivíduo, e que está claro que

o terapeuta deve experimentar, com uma exata compreensão, essa estrutura interna

do cliente, esforçando-se em comunicar esta experiência. Concorda com Rogers,

quando afirma que o terapeuta deve se envolver ativamente na terapia,

comunicando a compreensão empática e a consideração positiva incondicional ao

cliente.

Rogers estabelece que, empatia significa “sentir o mundo privado do cliente

como se ele fosse o seu, mas sem perder a qualidade de ‘como se’” (Rogers,

1957/2008, p. 151). Para Bozarth (1998/2001), “o terapeuta deve continuamente

estar consciente dos seus próprios sentimentos, como se eles fossem os

sentimentos do cliente, talvez ‘como eles realmente são’ e não ‘como se fossem’” (p.

106). Empatia consiste, portanto, em o terapeuta sentir o que o cliente está sentindo,

a raiva, o medo, como se fossem seu, sem ao menos sentir ou se envolver com os

sentimentos expressos pelo cliente (Rogers, 1957/2008). Mais uma vez, visualiza-se

a não-identificação com os sentimentos do cliente como fator primordial na atitude

empática do terapeuta.

Page 57: A Experiencia de Ser Empatico

57

Quando o mundo do cliente é suficientemente claro para o terapeuta e este

move-se nele livremente, então pode tanto comunicar sua compreensão

daquilo que é claramente conhecido pelo cliente, como também pode

expressar significados da experiência do cliente, dos quais o cliente está

apenas vagamente consciente (Rogers, 1957/2008, p. 151).

Nesta citação, podemos compreender em que consiste a atitude do terapeuta

empático, pois quando consegue entender claramente o mundo do cliente, pode

comunicar essa compreensão a ele, tanto do que é claro para ele quanto o que pode

estar pouco consciente. Isso só é possível por meio da empatia.

Rogers (1957/2008), ao citar uma pesquisa feita por Fidler (1950), mostra que

a empatia é importante para a terapia, e dentre outras condições, a condição final

deste estudo mostra que pelo menos, em um grau mínimo, o cliente perceba a

aceitação e a empatia do terapeuta em relação a ele (Rogers, 1957/2008).

No que diz respeito à técnica de reflexo de sentimentos, Rogers (1957/2008)

ressalta que esta não é uma condição essencial de terapia, mas pode ser

considerada como um canal técnico, à medida que serve de canal por onde o

terapeuta comunica a empatia e a consideração positiva incondicional. Um

determinado sentimento, também, pode ser “refletido” de uma forma que transmita a

falta de empatia do terapeuta (Rogers, 1957/2008). Assim, quando o terapeuta fala,

ele deve estar atento para o que de fato está transmitindo ao cliente, pois a fala e a

atitude podem indicar a falta ou presença de empatia. Bozarth (1998/2001) alerta

que respostas de “reformulação de sentimentos” não devem ser confundidas com

empatia, pois Rogers salienta que essas respostas não são uma condição essencial

na terapia, mas que podem servir de canal técnico, através da qual as condições

Page 58: A Experiencia de Ser Empatico

58

são veiculadas. Para Bozarth (1998/2001), “a empatia rogeriana não é

necessariamente o mesmo que ‘comunicação’ de empatia ou ‘respostas empáticas’”

(p. 98)

Bozarth (1998/2001) mostra, claramente, o que seria essa reformulação de

sentimentos:

1. A reformulação é um modo do terapeuta se tornar empático, de verificar

se compreende o cliente e de lhe comunicar esta compreensão.

2. […]. A reformulação é uma maneira de o terapeuta entrar no mundo do

cliente ‘como se’ o terapeuta fosse o cliente. A reformulação é uma

técnica que pode ajudar o processo.

3. A reformulação não é empatia. É um modo de ajudar o terapeuta a tornar-

se mais empático.

4. A empatia não é reformulação. É um processo de o terapeuta entrar no

mundo do cliente ‘como se’ o terapeuta fosse o cliente. A reformulação é

uma técnica que pode ajudar o processo. […] (pp. 98-99).

Rogers estabelece, neste artigo de 1957, a conceituação de empatia dentro

de uma condição de “como se”, que norteará todo nosso entendimento deste

conceito em seu pensamento. Além disso, relata que o reflexo de sentimentos não

se apresenta como uma condição essencial de terapia, uma vez que, também, pode

transmitir a falta de empatia. Para Bozarth (1998/2001), Rogers deixou claro que “a

técnica seria de pouco valor se não tivesse enraizada nas atitudes do terapeuta” (p.

92), e deixa claro que essas atitudes do terapeuta ajudam a provocar uma mudança

construtiva da personalidade do cliente.

Page 59: A Experiencia de Ser Empatico

59

Em A Equação do Processo da Psicoterapia (1961/2008), Rogers apresenta

sua “formulação atual do processo de terapia, que incorpora parte do conhecimento

mais recente” (Rogers, 1961/2008, p. 93).

Rogers (1961/2008) relata um primeiro estudo feito por Halkides (1958/2008),

que partiu de suas próprias formulações, referente às condições necessárias e

suficientes para a mudança terapêutica, para desenvolvê-lo. Dos resultados desse

estudo, foi descoberto que um alto grau de compreensão empática estava

correlacionado aos casos mais bem sucedidos. Outro resultado, também, consistia

no fato de que se o conselheiro era empático no início o era também no final. “Isso

significa que as atitudes do conselheiro foram muito constantes no decorrer das

entrevistas. Se ele era altamente empático, tendia a sê-lo do começo ao fim”

(Rogers, 1961/2008, p. 95). Como último resultado, comprovou a correlação entre

empatia, autenticidade ou congruência e consideração positiva incondicional.

Um segundo estudo, mencionado por Rogers (1961/2008), foi o de Barrett-

Lennard (1959). Este, da mesma forma que Halkides (1958), quis investigar a teoria

que Rogers tinha proposto sobre as qualidades essenciais da relação. Rogers

(1961/2008) afirma que “ele estudou a maneira pela qual o relacionamento era

percebido pelo cliente e pelo terapeuta. Desenvolveu um Inventário de

Relacionamento que tinha formas diferentes para clientes e terapeutas e foi

planejado para estudar cinco dimensões do relacionamento” (p. 96). Autenticidade,

grau de consideração e incondicionalidade de aceitação foram correlacionados a

uma terapia bem sucedida. Tal como a empatia, que foi mais significativamente

correlacionada à mudança (Rogers, 1961/2008).

Assim podemos dizer, com alguma certeza, que um relacionamento

Page 60: A Experiencia de Ser Empatico

60

caracterizado por um alto grau de congruência ou autenticidade do terapeuta;

por um alto grau de consideração, respeito e apreço pelo cliente por parte do

terapeuta; e por ausência de condicionalidade em sua consideração, terá alta

probabilidade de ser uma relação terapêutica eficaz. Essas qualidades

parecem ser os fatores básicos produtores de mudança na personalidade e

no comportamento (Rogers, 1961/2008, p. 98).

Segundo Rogers (1961/2008), esses elementos citados parecem ser

necessários em uma Terapia Centrada no Cliente e em uma mudança construtiva na

personalidade. Apresenta-nos, ainda, uma equação mais completa.

Quanto mais o cliente perceba o terapeuta como real, genuíno, empático,

manifestando uma consideração incondicional por ele, mais se distanciará de

um tipo de funcionamento estático, sem sentimentos, fixo, impessoal e mais

se aproximará de um modo de funcionamento caracterizado pela experiência

fluida, mutável e aceitadora dos sentimentos pessoais diferenciados (Rogers,

1961/2008, p. 109, grifo do autor).

De acordo com Rogers (1961/2008), as mudanças ocorrem devido às atitudes

do terapeuta, e não devido ao que ele estudou, aos seus conhecimentos, as suas

técnicas, mas como ele age na relação. Estas descobertas significam, para Rogers,

que a terapia é um relacionamento que desafia o terapeuta a

ser a pessoa que é, tão sensivelmente quanto seja capaz, sabendo que é a

sua transparente realidade, paralelamente à afeição e à compreensão

Page 61: A Experiencia de Ser Empatico

61

empática promovidas por essa mesma realidade, que pode servir de ajuda a

seu cliente. Na medida em que puder ser uma pessoa nesse momento, terá

condições de se relacionar com a pessoa e com a pessoa potencial em seu

cliente. Isso, acredito, é a essência curativa, promotora de crescimento em

psicoterapia (Rogers, 1961/2008, p. 111).

Em vista disso, Rogers ressalta, detalhadamente, a importância das

condições facilitadoras dentro de uma relação terapêutica; e por meio de estudos

mostrou a consistência e a fidelidade das atitudes facilitadoras que os terapeutas

apresentavam. E, é por causa dessas atitudes que as mudanças ocorrem e não

devido as suas técnicas terapêuticas, ou seu estudo.

2.4.2 A Compreensão Empática

Durante a fase experiencial (1957-1970), Rogers desenvolveu a obra Tornar-

se Pessoa (1961/1987), onde fez um longo resumo sobre sua história,

principalmente, no campo da psicoterapia. Apresentou os princípios da terapia

centrada no cliente nos domínios da educação, nas relações familiares,

interpessoais, entre outros, apresentando-os como uma filosofia de vida.

Focalizando a relação terapeuta-cliente, apresenta o termo compreensão empática.

Trouxe, ainda, a questão dos procedimentos favoráveis e desfavoráveis em uma

relação terapêutica.

Ressaltou que dentre os fatores desfavoráveis em uma relação terapêutica

estavam a falta de interesse, uma atitude distante e que afastava, ou ainda uma

simpatia excessiva. Dentre os procedimentos desfavoráveis estavam “aqueles em

Page 62: A Experiencia de Ser Empatico

62

que o terapeuta dava conselhos diretos e precisos ou em que concedia uma grande

importância ao passado em vez de enfrentar os problemas atuais” (Rogers,

1961/1987, p.47).

Rogers cita, nessa obra, diversos estudos relacionados às atitudes do

terapeuta, assinalando que compreender o cliente é uma atitude de desejo por parte

do terapeuta, da relação entre a alteração construtiva do cliente com as atitudes do

terapeuta, enfim, estudos que foram relatados com a finalidade de dar sustentação

empírica e científica às atitudes do terapeuta numa relação terapeuta-cliente.

Rogers (1961/1987) resume, basicamente, o que seriam as condições

facilitadoras do crescimento psicológico. Dentre estas, uma é

designada/apresentada como Compreensão Empática. Esta condição se cumpre

quando

o terapeuta é sensível aos sentimentos e às reações pessoais que o cliente

experiencia a cada momento, quando pode apreendê-los ‘de dentro’ tal como

o paciente os vê, e quando consegue comunicar com êxito alguma coisa

dessa compreensão ao paciente (Rogers, 1961/1987, p.66).

Esse tipo de compreensão difere daquela que nós com frequência recorremos

ao dizermos ao outro que compreende seu problema, que sabe o que o levou a agir

de determinada maneira; ou seja, essas são, segundo Rogers, “os tipos de

compreensão que estamos habituados a dar e receber, uma compreensão que julga

do exterior” (1961/1987, p.66). Mas quando a pessoa que ouve, compreende sem

querer analisar ou julgar, proporciona o crescimento e o desabrochar do outro.

Assim,

Page 63: A Experiencia de Ser Empatico

63

quando o terapeuta é capaz de apreender o que o cliente está

experienciando, momento a momento, em seu mundo interior, como este o

sente e o vê, sem que a sua própria identidade se dissolva nesse processo de

empatia, então a mudança pode ocorrer (Rogers, 1961/1987, p.66).

Sejam quais forem os sentimentos e os modos de expressão ou impressão, o

cliente sente que está sendo psicologicamente aceito pelo terapeuta. Sente-se

aceito, igualmente, se o terapeuta expressa e tem uma atitude de respeito e

aceitação por ele e confiança de que o mesmo tem a possibilidade para resolver

seus problemas;

se se atingir um nível de comunicação onde o cliente pode começar a

perceber que o terapeuta compreende os sentimentos que está

experienciando e que os aceita a um profundo nível de compreensão, nesse

momento podemos estar certos de que se iniciou o processo terapêutico. […]

(Rogers, 1961/1987, p.76).

Diante dessas condições, dessa confiança, a mudança pode ocorrer, pois

tanto o cliente se modifica e se reorganiza, como conquista uma nova concepção de

si mesmo. O cliente passa a se sentir uma pessoa de valor, autônoma e que pode

fundamentar seus próprios valores e normas, sentindo uma atitude mais positiva em

relação a si mesmo.

No trabalho com seus clientes, Rogers procurava criar um clima onde

houvesse segurança, calor e compreensão empática. Para ele, mesmo que seja

mínima, essa compreensão empática é fundamental; mas, evidentemente, como

Page 64: A Experiencia de Ser Empatico

64

afirma Rogers (1961/1987), a ajuda é muito maior quando o terapeuta é capaz de

captar e formular com clareza o que experimentou do cliente. Podemos dizer que,

neste sentido, o terapeuta

é capaz de se abandonar para compreender o seu cliente que não existem

barreiras interiores a impedirem-no de sentir o que ele próprio e o cliente

sentem em cada momento da relação; e que pode transmitir algo dessa

compreensão empática ao cliente. Isso significa, por último, que o terapeuta

está à vontade ao introduzir-se plenamente na relação com o cliente, sem

conhecer de antemão para onde se encaminham, satisfeito com o fato de

proporcionar um clima que torna possível ao indivíduo a maior liberdade para

ele ser próprio (Rogers, 1961/1987, p.165).

Rogers (1961/1987) mostra que ao se lançar nessa relação a simpatia, a

confiança e a compreensão do “mundo interior da outra pessoa provocarão um

significativo processo de transformação. […]” (1961/1987, p.181). Ou seja, insiro-me

numa relação pessoal, olhando o cliente como sujeito e não como um objeto. Para

tanto,

abandono-me ao caráter imediato da relação ao ponto de ser todo o meu

organismo, e não simplesmente a minha consciência, que é sensível à

relação e se encarrega dela. Não respondo conscientemente de uma forma

planejada ou analítica, mas reajo simplesmente de uma forma não reflexiva

para com o outro indivíduo, baseando-se a minha reação (embora não

conscientemente) na minha sensibilidade total organísmica a essa outra

Page 65: A Experiencia de Ser Empatico

65

pessoa. Eu vivo a relação nesta base (Rogers, 1961/1987, pp. 181-182).

Outro estudo importante, citado por Rogers (1961/1987), foi o de Raskin

(1949) que mostra que a função do terapeuta consiste em pensar com o cliente e

não por ele ou sobre ele. O máximo dessa função seria, então, pensar e entrar em

empatia com o cliente respeitando-o.

Diante do explanado, a empatia é compreendida como sendo o experimentar

uma compreensão do mundo particular do cliente, captando assim seu mundo de

uma maneira “como se” tivesse sentindo seus medos, suas angústias, seus receios,

enfim, sem se afetar por isso. É o movimentar-se pelo mundo do cliente,

compreendendo esse mundo e comunicando ao cliente essa compreensão obtida.

Esse acesso ao mundo do cliente se dá por meio dos sentimentos manifestados,

onde passo a passo o psicoterapeuta escuta, parte do seu ponto de vista e “entra”

no seu mundo. Desta forma acurada, o cliente passa a sentir segurança na relação e

passa ter novas e variadas formas de se relacionar com o mundo e consigo mesmo.

Portanto, a eficácia do terapeuta apresenta-se quando ele é sincero, quando aceita o

cliente tal como ele é e a si mesmo dentro de um estado de acordo interno, e

manifesta uma empatia total na qual possa enfrentar o mundo do cliente a partir dos

olhos deste. Rogers (1961/1987) afirma que a congruência, a aceitação e empatia

do terapeuta devem ser comunicadas com êxito ao cliente e não é suficiente apenas

que o terapeuta as tenha.

Então,

compreender a fundo as ideias e os sentimentos de outra pessoa, com o

significado que essa experiência tem para ela, e, inversamente, ser

Page 66: A Experiencia de Ser Empatico

66

profundamente compreendido por essa outra pessoa – é uma das

experiências mais humanas e mais compensadoras e, ao mesmo tempo, uma

das experiências mais raras (Rogers, 1961/1987, p.283).

É essa a função do psicoterapeuta, ajudar ao outro a realizar uma

comunicação perfeita consigo mesmo, assim ele será capaz de comunicar-se mais

livremente e eficazmente com os outros ao seu redor (Rogers, 1961/1987). Portanto,

está claro que ser empático provoca uma “maior aceitação de uns pelos outros e

contribui para atitudes que são mais positivas e mais suscetíveis de conduzirem a

soluções” (Rogers, 1961/1987, p.294).

Mais uma vez, Rogers utiliza-se de estudos para fundamentar sua visão de

condições facilitadoras para o crescimento e para a mudança. Essa compreensão

vem relacionada ao fato do cliente ser aceito pelo terapeuta e este o tratar como

pessoa, acreditando que o cliente tem a capacidade de crescer e resolver seus

próprios problemas. Além de entendermos mais uma vez que devemos ser

facilitadores dentro de um processo de “como se”, com o cliente e não por ele ou

sobre ele. Bozarth (1998/2001) sublinha essa ideia de que Rogers insistia no fato de

que “devíamos aperceber do quadro íntimo de referências, do ponto de vista da

pessoa, sem perder a sua condição de ‘como se’” (p. 97).

Em Conceito de Pessoa em Funcionamento Pleno (1963/2008), Rogers

presume que uma pessoa que possua uma relação intensa e extensa com a Terapia

Centrada no Cliente e se essa terapia foi bem sucedida, então, significa que o

terapeuta foi capaz de entrar numa relação pessoal com o cliente, essa relação pôde

se dá de forma subjetiva e intensa. À medida que isso acontece, está ocorrendo aí

uma relação de pessoa para pessoa, onde o terapeuta sente o cliente como uma

Page 67: A Experiencia de Ser Empatico

67

pessoa, independentemente de sua condição, de seu comportamento ou de seus

sentimentos, o cliente é visto como uma pessoa incondicionalmente valorosa.

Isso significa que o terapeuta terá sido capaz de se entregar à compreensão

do cliente, que nenhuma barreira interna o impediu de captar o que, na sua

percepção, o cliente seja, a cada momento da relação, e que ele pôde

transmitir algo da sua compreensão empática ao cliente. Significa que o

terapeuta sentiu-se confortável ao entrar plenamente nessa relação, sem

saber cognitivamente onde isso o levaria, satisfeito em prover um clima que

libertasse o cliente para que este se tornasse ele mesmo (Rogers, 1963/2008,

p.74).

Na obra Psicoterapia e Relações Humanas (Rogers, 1965/1977a) Volume I,

Rogers afirma que a empatia é uma das noções relativas à fonte de conhecimento.

Para ele, empatia ou compreensão empática

consiste na percepção correta do ponto de referência de outra pessoa com as

nuances subjetivas e os valores pessoais que lhe são inerentes. Perceber de

maneira empática é perceber o mundo subjetivo do outro ‘como se’ fossemos

essa pessoa – sem, contudo, jamais perder de vista que se trata de uma

situação análoga, ‘como se’. A capacidade empática implica, pois, em que, por

exemplo, se sinta a dor ou o prazer do outro como ele os sente, em que se

perceba sua causa como ele a percebe (isto é, em se explicar os sentimentos

ou as percepções do outro como ele os explica a si mesmo), sem jamais se

esquecer de que estão relacionados às experiências e percepções de outra

Page 68: A Experiencia de Ser Empatico

68

pessoa. Se esta última condição está ausente, ou deixa de atuar, não se

tratará mais de empatia, mas de identificação (Rogers, 1965/1977a, p.179,

grifo do autor).

A percepção do mundo subjetivo do outro é “como se” você fosse ele, não se

identificando. É importante lembrar que a compreensão empática está relacionada

às experiências e percepções de outra pessoa, não as nossas, por isso a não-

identificação. Para Vieira e Freire (2006) esse “como se” se apresenta como uma

abertura à visitação do estranho, do que não é reconhecido como nosso. Portanto,

esse experimentar o mundo do outro numa condição de “como se” não é entrar em

estado de identificação com o que o cliente traz, ou seja, é não se envolver com

esses sentimentos. Esse “como se” consiste no olhar o mundo subjetivo do cliente a

partir da lente dele, e ao tirá-las voltar para nosso mundo de origem, nossa terra

natal.

Rogers (1965/1977a) cita, mais uma vez, as condições fundamentais para o

processo terapêutico. Dentre elas, ele ressalta que o terapeuta deve experimentar

uma compreensão empática do ponto de referência interno do cliente e que o cliente

deve perceber, mesmo que minimamente, a consideração positiva incondicional e a

compreensão empática que o terapeuta lhe assiste. O autor, também, afirma que a

atitude empática e a consideração positiva incondicional só podem funcionar de

maneira adequada quando o terapeuta informa explicitamente, ou seja, verbalmente

que as está experienciando na relação. Caso o terapeuta não consiga comunicar ao

cliente que está vivenciando a atitude empática e a consideração positiva, ele

precisa informar, pelo menos, em uma proporção mínima. No entanto, o terapeuta

não deve fingir que as está vivenciando, pois ele só deve comunicar ao cliente se ele

Page 69: A Experiencia de Ser Empatico

69

estiver realmente experimentando esses sentimentos. Isso quer dizer que, o

terapeuta deve estar em eficaz estado de acordo interno para que possa

experimentar os sentimentos que supõe ter de experimentar. Sentimentos tais como

a consideração positiva incondicional e a compreensão empática (Rogers,

1965/1977a).

Algumas conclusões relativas à natureza humana são comentadas nesta

obra. Rogers (1965/1977a) explica que o conhecimento dessas conclusões é

importante para que sua teoria possa ser compreendida. Dentre elas, é possível

enunciar que deve ser experimentada “com relação ao interessado uma atitude de

consideração positiva incondicional e uma compreensão empática” (Rogers,

1965/1977a, p.193, grifo do autor). Como explanado pelo próprio autor, essas

notificações serviram para confirmar o que foi proposto na teoria.

Em situações de desenvolvimento, de contradições de comportamento, de

experiência de ameaça e o processo de defesa ou em casos de desmoronamento,

Rogers (1965/1977a) diz que pode se produzir um processo de reintegração que

acarreta em um restabelecimento entre o eu e a experiência. Esse processo é

chamado de reintegração. Uma das características que colabora para a implicação

desse processo é a comunicação efetiva da consideração positiva incondicional que

se realiza através da compreensão empática. Ele explica de maneira mais clara no

trecho seguinte.

Observemos que a verdadeira comunicação bilateral da consideração positiva

incondicional pressupõe sempre a compreensão empática. Com efeito, se

experimento um sentimento de consideração positiva incondicional com

relação a uma pessoa que mal conheço, este sentimento tem muito pouco

Page 70: A Experiencia de Ser Empatico

70

significado, pois, pode mudar logo que passar a conhecê-la melhor e vier a

descobrir nela características pelas quais não tenho nenhuma consideração.

Ao contrário, se eu a conheço a fundo, e por assim dizer, de “dentro”

empaticamente, e se minha consideração incondicional se mantém, então

este sentimento é altamente significativo (Rogers, 1965/1977a, p.207).

Ao explicar as condições do desenvolvimento de uma relação que se

deteriora, Rogers (1965/1977a) demonstra que se as condições facilitadoras, de um

processo terapêutico, não forem devidamente implantadas na relação, essa relação

se torna negativa. Caso o cliente não esteja sentindo uma relação empática, ele se

sentirá menos confortável para expressar o que sente, se sentirá menos capaz de

expressar sentimentos relativos ao eu, sua percepção será menos diferenciada, ele

estará menos capacitado a perceber e a exprimir o desacordo existente entre os

dados de sua experiência e a imagem que faz de si próprio, ele se tornará menos

habilitado a reorganizar sua imagem (Rogers, 1965/1977a).

Considerando estudos feitos por Halkides (1958), Rogers (1965/1977a) se

utiliza de uma hipótese formulada por este autor sobre a existência de uma ligação

significativa entre o grau de reorganização da personalidade e quatro variáveis.

Dentre essas quatro variáveis, Rogers (1965/1977a) destaca a compreensão

empática do cliente pelo terapeuta. Ao realizar essa pesquisa, foi encontrado um

resultado satisfatório sobre a compreensão empática. “Mais precisamente, a

correlação entre a compreensão empática e o sucesso do caso era significativa a

um nível estatístico de 0,001 – isto para os casos mais bem sucedidos” (Rogers,

1965/1977a, p.249).

Ao falar dos resultados que esperava encontrar em uma de suas pesquisas,

Page 71: A Experiencia de Ser Empatico

71

Rogers (1965/1977a) mostra o que considera importante em uma relação

terapeuta/cliente, como é possível compreender no parágrafo seguinte.

Para alcançar os resultados por mim imaginados, seria necessário: que o

terapeuta tenha sido capaz de se empenhar numa relação profundamente

pessoal com o cliente; [...] qualquer que fosse o estado, o comportamento ou

a atitude deste; que o terapeuta se tenha mostrado disponível ao cliente e

que, em consequência, tenha sido capaz de compreendê-lo; que nenhum

obstáculo interior tenha impedido o terapeuta de participar das experiências

do cliente, em qualquer momento do processo, e que, numa certa medida,

tenha conseguido comunicar esta compreensão empática ao cliente (Rogers,

1965/1977a, pp. 256-257).

Após vivenciar todo esse processo facilitador, proposto pelo terapeuta, o

cliente viverá uma experiência ótima, conseguindo se entregar a uma exploração

progressiva de pensamentos e de sentimentos porque percebeu que o terapeuta o

aceitava de modo incondicional (Rogers, 1965/1977a).

Em um processo terapêutico, os sentimentos, que antes não eram percebidos

ou expressos pelo cliente, passam a serem expostos na relação. “Em suma, seu

hábito de censurar os dados de sua experiência e de interceptar os dados

inadmissíveis é substituído por uma capacidade de sentir, de ‘viver’ suas

experiências quaisquer que sejam elas” (Rogers, 1965/1977a, p.261).

Essa aceitação incondicional por parte do terapeuta faz com que o cliente

perceba esta disponibilidade e se sinta compreendido e respeitado enquanto sujeito.

Desta forma, os sentimentos que antes não eram expressos vêm à tona,

Page 72: A Experiencia de Ser Empatico

72

possibilitando ao cliente uma maior compreensão de suas dificuldades, de seus

problemas, de seu mundo interno.

Percebe-se uma ligação existente, desde o início dos escritos de Rogers,

entre aceitação positiva incondicional e empatia, onde podemos observar que uma

não pode se apresentar sem a outra, havendo assim uma espécie de

complementação, pois a partir dessa consideração positiva incondicional para com o

cliente é que vai existir uma possibilidade de compreensão empática. Isso é

confirmado, quando Rogers (1965/1977a) afirma que “a confirmação efetiva desta

consideração positiva incondicional se realiza através de compreensão

empática” (p.206, grifo do autor). Bozarth (1998/2001) igualmente afirma isso, pois

“para que o olhar incondicionalmente positivo seja transmitido, tem de existir num

contexto de compreensão empática” (p. 73). Afirma ainda que,

o pressuposto implícito, e muitas vezes implícito, de Rogers, na sua definição

de compreensão empática é que esta está integralmente relacionada com o

olhar incondicionalmente positivo do terapeuta em relação ao cliente. Na

verdade, a compreensão empática é a aceitação incondicional do quadro de

referências do indivíduo (Bozarth, 1998/2001, p. 87).

A empatia e o olhar incondicionalmente positivo são inseparáveis. A primeira é

uma manifestação e um veículo de comunicação do segundo (Bozarth, 1998/2001).

Além disso, para Bozarth (1998/2001) a congruência do terapeuta, também, está

completamente interligada com a empatia. “Isto significa que, quanto mais

transparente o terapeuta for na relação, mais intensa será a empatia” (p. 106).

Está muito claro, dentro dos escritos de Rogers, que as condições

Page 73: A Experiencia de Ser Empatico

73

facilitadoras se complementam, principalmente dentro de um clima facilitador, sendo

importantes para a mudança terapêutica, para a facilitação do crescimento do cliente

e das relações grupais e humanas como um todo, e estão intimamente relacionadas

uma a outra.

2.5 Fase Inter-Humana ou Coletiva (1970-1987)

Diante de possíveis nomenclaturas para essa fase, é necessário justificar a

posição de cada um dos precursores das mesmas. Moreira (2010) a nomeia como

sendo Fase Coletiva, porque “nos últimos 15 anos de sua vida Rogers voltou seu

interesse para questões mais amplas, concernentes às atividades de grupo e à

relação humana coletiva, abandonando definitivamente a atividade de terapia

individual no consultório e assumindo a definição de abordagem em vez de

psicoterapia para o seu trabalho” (Moreira, 2010, p. 541). Holanda (1994), ao

repensar as fases do pensamento de Rogers, denomina essa fase de Inter-Humana

baseando-se na linguagem buberiana, pois considera que “‘coletiva” privilegia

demasiado uma outra dimensão da existência humana, a social, representada pelo

grupo onde temos a realização desse coletivo, mas que, em geral, suprime o

elemento pessoal, individual, ‘justamente o elemento mais importante’” (Holanda,

1994, p.9). Além dessas nomenclaturas citadas para essa quarta fase, é importante

citar também, a ideia de Boainain Jr (1999), que em sua descrição da ACP, mantém

as denominações das três fases anteriores e quanto as duas últimas ele as designa

como sendo a quarta fase, a Fase dos Grupos de Encontro (anos 60 a meados de

70) e a quinta fase, a Fase dos Grandes Grupos (de meados dos anos 70 em

diante).

Page 74: A Experiencia de Ser Empatico

74

A Fase dos Grupos de Encontro corresponde, segundo Boainain Jr (1999), ao

momento em que Rogers praticamente abandona “as atividades de terapeuta

individual, de pesquisador e de professor universitário, para se tornar conferencista,

escritor e, sobretudo, um facilitador de grupos de encontro, atividade que marca e

inspira a maior parte de sua produção nesses anos” (Boainain Jr, 1999, p. 87).

Na Fase dos Trabalhos de Grandes Grupos (que corresponde à quinta fase,

mas inicia-se quando Rogers ainda era vivo, diferentemente da maioria das

propostas pós-rogeriana que se iniciam após a morte de Rogers) proposto por

Boainain Jr (1999), “três tendências ou aspectos centrais contribuem, […], para

caracterizar essa última década da vida de Rogers como uma fase distinta de seu

trabalho e de seu pensamento” (p. 89). A primeira dessas tendências, “diz respeito

ao desenvolvimento de uma nova modalidade de trabalho grupal centrado na

pessoa, designado como o trabalho com grandes grupos” (Boainain Jr, 1999, pp. 89-

90), tais como as comunidades de aprendizagem, encontros de aprendizagem

comunitária, workshops comunitários, ou outras grandes reuniões de pessoas. A

segunda, “refere-se à conscientização e crescente exploração das potencialidades

políticas decorrentes do ponto de vista centrado na pessoa desenvolvido pelo

pensamento e prática de Rogers” (Boainain Jr, 1999, pp. 90-91). No que concerne a

terceira, “consiste na crescente aproximação da perspectiva místico-espiritual que

contemporaneamente caracteriza o movimento transpessoal em psicologia” (p. 92).

Nesta fase, Rogers estende sua visão para mais do que apenas workshops,

estende para visões mais universais, para questões relacionadas a desacordos

internacionais propondo para seus membros e parlamentares que sejam adeptos do

ouvir, da compreensão e do respeito mútuo e volta-se para questões educacionais,

familiares, organizacionais e tudo onde exista uma visão universal de humanidade,

Page 75: A Experiencia de Ser Empatico

75

respeito e coletividade.

Para Holanda (1994), essa fase correspondeu à transcendência de valores e

ideias, onde Rogers demonstrou preocupação com o futuro da humanidade e do

mundo. Essa seria, então, para Holanda (1994), uma fase mística e holística de

Rogers, voltada para a transcendência da existência humana. E, para Boainain Jr

(1999), corresponde, também, a perspectiva místico-espiritual.

É nesta fase, que Rogers assume a denominação de Abordagem Centrada na

Pessoa, pois a mesma não é somente focada no cliente, mas em toda e qualquer

relação de desenvolvimento humano.

2.5.1 O conceito de empatia na fase inter-humana ou coletiva

Na obra A Pessoa como Centro (Rogers, 1975/1977), Rogers mostra que

pesquisadores passaram a compreender a possibilidade desta abordagem ser de

aplicação universal e ser utilizada numa infinita possibilidades de situações

humanas. O interesse de Rogers parte então, nesta fase, para mais do que apenas

atividades terapêuticas individuais; parte também para problemas sociais cada vez

mais amplos. Rogers foca-se em pessoas e em relações interpessoais.

No artigo Uma Maneira Negligenciada de Ser: a maneira empática (1975),

que se faz presente como um dos capítulos da obra em português A Pessoa como

Centro (1977), Rogers defende a tese de se reexaminar uma maneira especial de

ser, a maneira empática. Para ele é uma maneira sutil e poderosa no funcionamento

pessoal, mas é raramente encontrada integralmente numa relação interpessoal.

Infelizmente, alguns percalços o haviam feito, por alguns anos, não dizer mais

nada sobre a atenção empática. A abordagem proposta por Rogers fora considerada

Page 76: A Experiencia de Ser Empatico

76

como uma técnica de refletir sentimentos, portanto, a atenção empática (resposta

empática) fora deixada de lado por um tempo. Com o decorrer dos anos, a

importância da empatia foi se apresentando, “levando-nos à conclusão de que um

alto grau de empatia talvez seja o fator mais importante na promoção de mudanças

e aprendizagem” (Rogers, 1975, p.71). Por conseguinte, ele acreditava que era

necessário darmos uma maior importância à resposta empática e mirar a empatia

com novos olhos. Logo, passou a considerar a empatia como talvez um fator mais

relevante numa relação, e como sendo um dos fatores mais importantes para a

promoção de mudanças e aprendizagem (Rogers, 1975/1977).

Uma observação importante, posta por Rogers (1975/1977), diz respeito ao

momento de reconhecer o valor da empatia

Tenho observado que existem muitas pessoas dispostas a rever as maneiras

de estar com pessoas, que possibilitem mudanças auto-dirigidas e que

localizem o poder na pessoa e não no especialista; este fato leva-me, mais

uma vez, a examinar cuidadosamente o significado que atribuímos à empatia

e o que sabemos a respeito dela (p. 71, grifo do autor).

Rogers deu várias definições à empatia, até então, mas necessitava formular

uma definição mais atual, e para tanto lançou mão do conceito de vivência de

Gendlin que norteou as ideias de Rogers neste artigo Uma maneira negligenciada

de ser: a maneira empática.

Para Rogers, Gendlin é de

opinião que durante todo o tempo se verifica no organismo humano um fluxo

Page 77: A Experiencia de Ser Empatico

77

de vivência ao qual o indivíduo pode se voltar repetidas vezes, usando-o

como ponto de referência para descobrir o significado de sua existência.

Segundo ele, empatia é ressaltar com sensibilidade o ‘significado sentido’ que

o cliente está vivenciando num determinado momento, a fim de ajudá-lo a

focalizar este significado até chegar à sua vivência plena e livre (Rogers,

1975/1977, p. 72).

Logo após essa retaguarda conceitual, Rogers passa então a formular uma

definição mais atual de empatia, onde a mesma não é mais vista como um estado,

mas como um processo. Como nos esclarece Amatuzzi (1995), esse processo não é

um estado, mas um movimento, pois “quando o processo se instaura é a própria

estrutura que se questiona, se flexibiliza, se transforma” (p. 65). Diante dessa nova

maneira de compreender a empatia, surgiu uma conceituação mais atual

estabelecida por Rogers (1975/1977), onde a empatia

significa penetrar no mundo perceptual do outro e sentir-se totalmente a

vontade dentro dele. Requer sensibilidade constante para com as mudanças

que se verificam nesta pessoa em relação aos significados que ela percebe,

ao medo, à raiva, à ternura, à confusão ou ao que quer que ele/ela esteja

vivenciando. Significa viver temporariamente sua vida, mover-se

delicadamente dentro dela sem julgar, perceber os significados que ele/ela

quase não percebe, tudo isto sem tentar revelar sentimentos dos quais a

pessoa não tem consciência, pois isto poderia ser muito ameaçador. Implica

em transmitir a maneira como você sente o mundo dele/dela à medida que

examina sem viés e sem medo os aspectos que a pessoa teme. Significa

Page 78: A Experiencia de Ser Empatico

78

frequentemente avaliar com ele/ela a precisão do que sentimos e nos

guiarmos pelas respostas obtidas. Passamos a ser um companheiro confiante

dessa pessoa em seu mundo interior. Mostrando os possíveis significados

presentes no fluxo de suas vivências, ajudamos a pessoa a focalizar esta

modalidade útil de ponto de referência, a vivenciar os significados de forma

mais plena e a progredir nesta vivência.

Estar com o outro desta maneira significa deixar de lado, neste

momento, nossos próprios pontos de vista e valores, para entrar no mundo do

outro sem preconceitos; num certo sentido, significa pôr de lado nosso próprio

eu [...] (Rogers, 1975/1977, p.73).

Essa definição foi analisada por Freire (2000), que percebeu que Rogers

engloba três facetas do zmodo de ser empático. Designou-as, portanto, como sendo

“experiência empática”, “compreensão empática” e “reflexo de sentimentos”. Para

ela, a primeira faceta diz respeito a “uma maneira de estar na relação com o outro”

(p. 16, grifo do autor), e a segunda se refere a conhecer os significados e

sentimentos que o outro está experienciando na relação. Já o reflexo de

sentimentos, apresenta-se como “um método ou um modo de comunicação na

relação com o cliente” (Freire, 2000, p. 17, grifo do autor).

Por mais que aparente ser sutil e suave, ser empático é algo complexo, pois

exige muita doação, disponibilidade e aprendizado. No que se refere às pesquisas

realizadas e aos conhecimentos obtidos, Rogers afirma que “a empatia está

claramente relacionada a resultados positivos” (1975/1977, p.79).

Rogers, tanto em psicoterapia quanto em aconselhamento individual,

descobriu que a confiança na capacidade do cliente para caminhar na direção de

Page 79: A Experiencia de Ser Empatico

79

uma autocompreensão e tomar providências construtivas para resolver problemas,

era compensador (Rogers, 1977), pois ao criar um clima facilitador, o cliente podia

sentir que o terapeuta estava sendo empático, caloroso e verdadeiro. Da mesma

forma, Rogers procurou estabelecer um clima facilitador com os seus alunos, que

embora inicialmente relutantes, o resultado foi surpreendente, pois os estudantes

passaram a ser mais responsáveis e aprendiam mais. Rogers, logo, se tornou um

facilitador de aprendizagem.

Nessa facilitação de aprendizagem, a compreensão empática foi primordial

“na criação de um clima para a aprendizagem vivencial e auto-iniciada” (Rogers,

1977, p.149). O clima facilitador, caracterizado pela autenticidade, pela aceitação e

pela compreensão, ajuda as pessoas e grupos a saírem da rigidez e a caminharem

em direção à flexibilidade, à autonomia, à criatividade, à auto-aceitação, enfim

(Rogers, 1977).

Rogers (1975/1977) nos mostra que muitas pesquisas demonstraram o

quanto existe uma correlação entre a empatia transmitida pelo terapeuta, a

autoexploração do paciente e as mudanças que ocorrem no cliente.

De acordo com Rogers (1975/1977), a interação empática permite que o

sujeito perceba-se como membro da raça humana, na medida em que alguém o

valoriza e está atento para a pessoa que ele é, aceitando-o. Não podemos sentir o

mundo perceptual do outro se não o valorizamos enquanto pessoa.

A empatia ou compreensão empática consiste em aceitar e não julgar. Não

podemos ajudar o cliente se formamos a respeito dele uma opinião, que muitas

vezes é infundada. “A verdadeira empatia jamais abrange qualquer característica

avaliativa ou diagnóstica” (Rogers, 1975/1977, p.82). Por isso, faz-se necessário

ouvir o cliente de forma interessada e não avaliativa. Isso é um fator muito poderoso

Page 80: A Experiencia de Ser Empatico

80

dentro do processo psicoterapêutico, pois se estabelece uma alta sintonia entre

ambos. Nesse momento, o cliente desenvolve, a partir da compreensão, “uma

qualidade de pessoa, sua identidade” (Rogers, 1975/1977, p. 82).

“A empatia proporciona esta confirmação necessária de que existimos como

pessoa individual, valorizada e possuidora de uma identidade” (Rogers, 1975/1977,

p.83). Ou seja, o cliente passa a perceber um novo aspecto de si mesmo. Daí em

diante, “o comportamento modifica-se no sentido de corresponder ao self que acaba

de ser percebido” (Rogers, 1975/1977, p.83).

É prover, por meio da empatia, a aprendizagem do respeito a si mesmo, ao

seu mundo interno, e entrar em contato com uma variedade maior de suas vivências,

permitindo seu fluxo normal. Isto quer dizer que a pessoa passa a ser promotora de

seu crescimento.

Rogers (Rogers, 1975/1977) comenta acerca da importância de ouvir o cliente

no momento da terapia. Ele aprendeu que ouvir e transmitir compreensão ao cliente

são forças poderosas que possibilitam uma mudança terapêutica no cliente. Essa

atenção empática (ouvir), segundo ele, possibilita o acesso ao mundo misterioso do

sujeito.

Em Sobre o Poder Pessoal (1977/1986), Rogers mais uma vez enfatiza a

questão das atitudes facilitadoras, tendo como aspecto facilitador do relacionamento

a compreensão empática. Mais precisamente, podemos entendê-la como sendo a

maneira do terapeuta sentir os sentimentos e os significados que estão sendo

vivenciados pelo cliente pessoalmente, comunicando-lhe esta compreensão. Em

certo momento, onde se atinge um ponto máximo de compreensão, o terapeuta

pode mais do que apenas estar dentro do mundo do cliente, pode, também, ter

acesso ao que está abaixo do nível da consciência. Obviamente, sem exercer

Page 81: A Experiencia de Ser Empatico

81

controle sobre o cliente, e sim, ajudá-lo a compreender seu próprio mundo de forma

mais clara. Neste caso, é o próprio cliente que obtém sobre si mesmo um maior

controle e toma suas próprias decisões (Rogers, 1977/1986).

Trata-se, portanto, da facilitação na relação com o cliente e dos grupos entre

si. Na relação terapeuta-cliente, essa facilitação proporciona que o cliente tome

posse de si mesmo; e nas relações grupais, permite que os sentimentos sejam

expressos, esclarecidos e entendidos pelos participantes dos grupos. A expressão

do sentimento se dá por meio de uma comunicação aberta, onde as atitudes e

sentimentos são levados em consideração não importando a intensidade deles

(Rogers, 1977/1986). “É evidente que as atitudes facilitadoras podem criar uma

atmosfera onde seja possível uma expressão aberta. Expressão aberta, neste tipo

de clima, leva à comunicação. Melhor comunicação leva, frequentemente, à

compreensão e compreensão derruba muitas das antigas barreiras” (Rogers,

1977/1986, p. 131).

Rogers orgulhava-se dos membros de seus grupos, quando estes mostravam

preocupação em relação aos outros e quando tinham um interesse mais amplo. Para

ele, quando existia um clima facilitador, desenvolvia-se um comportamento

responsável tanto entre jovens, quanto nos idosos. Esse interesse significa que o

outro, ao qual demonstro essa abertura, precisa simplesmente ser ouvido. Seus

sentimentos, sua raiva devem ser levados a sério e compreendidos com empatia.

Como afirma Rogers (1977/1986), “a verdade sobre o ressentimento é que ele só se

dissolve quando é ouvido e compreendido de fato, sem reservas” (p.132).

Precisamente, Rogers (1977/1986) nos esclarece que:

As atitudes que conduzam à mudança, ao crescimento e a melhores

Page 82: A Experiencia de Ser Empatico

82

relacionamentos não são misteriosas, embora possam ser difíceis de ser

alcançadas. Uma é a vontade de ‘viver’ na realidade que percebemos do

outro; uma disposição para entrar no mundo privado dele ou dela e percebê-lo

como se fosse o nosso próprio. Quanto mais ocorre tal compreensão, mais as

tensões distendem-se, surgem novas percepções e a comunicação torna-se

possível (p. 137).

Por conseguinte, “quando o poder é deixado às pessoas e quando somos

verdadeiros, compreensivos e interessados por elas, ocorrem mudanças

construtivas no comportamento, e elas manifestam mais força, poder e

responsabilidade” (Rogers, 1977/1986, p.270).

Rogers se dedicou às questões sociais e políticas, e não podia concordar com

ideias autoritárias ou sistemas educacionais rígidos, e muito menos com o controle

elitista do comportamento individual. Para ele, em todos os âmbitos e regimes,

mesmo os mais estritos, emergiam pessoas.

A abordagem centrada na pessoa nos possibilita ver o quanto as tradições e

os valores democráticos não são submetidos, nem estimulados, nem preservados

por sistemas autoritários, a pessoa é livre. “Nada pode extinguir o impulso do

organismo humano de ser ele mesmo – realizar-se de modo individual e criativo”

(Rogers, 1977/1986, p. 246). Portanto, Rogers sustentava a ideia de que a espécie

humana é digna de confiança.

Assim como em A Pessoa como Centro (Rogers, 1975 in Rogers &

Rosenberg, 1977), em Um Jeito de Ser (1980/2007), Rogers postula sobre as

questões acerca do ouvir o cliente. Ele expõe algumas experiências e perspectivas

pessoais, dentre as quais destaca a importância de ser ouvido. Afirma que, quando

Page 83: A Experiencia de Ser Empatico

83

alguém é realmente capaz de ouvir o que o outro está dizendo, quando consegue

perceber o significado um pouco além do que está sendo dito, ele se sentirá

incrivelmente bem. Para conseguir ouvir verdadeiramente alguém, é necessário que

a pessoa que está escutando não fique julgando ou tentando assumir a

responsabilidade pela outra, ela precisa ouvir de uma forma empática, sensível e

concentrada (Rogers, 1980/2007).

Quando Rogers se refere ao ouvir, evidencia uma escuta profunda das

palavras, dos pensamentos, do significado pessoal, dos sentimentos, do que está

por trás da consciência, mesmo que seja um grito humano profundo (Rogers,

1980/2007). Esse ouvir provoca muitas mudanças significativas, tanto em terapia

individual, quanto nas experiências intensivas de grupo, pois os indivíduos passam,

gradualmente, a ouvir uns aos outros.

É a partir do ouvir, que o psicoterapeuta pode caminhar com seu cliente por

todo esse processo gestacional. Esse ouvir apresenta-se, segundo Rogers, como

uma característica importante em psicoterapia. Tal como destaca alguns de seus

seguidores, como Amatuzzi (1990), que afirma que Rogers refere-se a um ouvir mais

do que o natural, refere-se a ouvir o significado real. Esse ouvir o significado real

seria, para Amatuzzi (1990), mais importante do que o falar, pois possibilita o abrir-se

ao mundo e aos outros.

Rosenberg (1977) demarca que a dimensão de ser ouvido aproxima-se em

aspectos fundamentais “à provisão das condições facilitadoras de crescimento que

Rogers (1957) propôs como necessárias e suficientes nas relações interpessoais

com a finalidade terapêutica” (p. 122).

É possível perceber que existem três formas de ouvir dentro do que propõe

Rogers, são elas respectivamente em seu valor: o terapeuta ouvir a si mesmo, o

Page 84: A Experiencia de Ser Empatico

84

terapeuta ouvir o cliente e o cliente ouvir a si mesmo. O terapeuta, em Rogers, deve

ouvir e aceitar o que se passa dentro de si mesmo, e quanto mais for capaz de se

ouvir e de se aceitar maior será sua congruência, seu estado de acordo interno. Com

isso, poderá ouvir o cliente de maneira interessada e não avaliativa. Esse ouvir

compreensivo o cliente possibilita que o mesmo possa ouvir a si mesmo,

compreendendo seus próprios significados pessoais e a ter uma visão mais clara de

si, entrando em estado de congruência e aceitação de si. Rogers, desde o começo

de suas atividades, descobriu que ouvir o cliente atentamente era uma maneira

importante de ajudá-lo. Essa era uma maneira, digamos assim, que Rogers utilizava,

pois quando tinha dúvidas quanto ao que fazer, se limitava a ouvir.

Pode-se observar abaixo, o quanto é importante na relação terapêutica que o

terapeuta consiga ouvir de forma empática o seu paciente, pois este poderá crescer

e se perceber.

Assim, como vocês podem perceber a partir do que eu disse até aqui, um

ouvir criativo, ativo, sensível, acurado, empático, imparcial, é algo que se me

afigura imensamente importante numa relação. Para mim, é importante

propiciá-lo e tem sido extremamente importante, principalmente em certos

momentos de minha vida, recebê-lo. Sinto que cresço quando o ofereço; e

tenho a certeza de que cresço e me sinto aliviado e valorizado quando recebo

este tipo de escuta (Rogers, 1980/2007, p.9).

Rogers (1980/2007) afirma que é comprovado cientificamente que a

capacidade de ouvir empaticamente, a congruência, a autenticidade, a aceitação, a

estima em relação ao outro, quando vivenciadas em uma relação, promovem uma

comunicação adequada e mudanças construtivas na personalidade.

Page 85: A Experiencia de Ser Empatico

85

Ao falar das características da Abordagem Centrada na Pessoa, Rogers

(1980/2007) ressalta que existem três elementos que facilitam a relação terapêutica:

1) congruência; 2) aceitação e 3) compreensão empática. Esses elementos ou

atitudes facilitadoras estão presentes em qualquer relação e proporciona um clima

facilitador para o desenvolvimento dessas relações, sejam entre terapeuta e cliente,

pais e filhos, líder e grupo, administrador e equipe, enfim. Estas condições se

aplicam em qualquer relação e/ou situação onde o objetivo seja o desenvolvimento

da pessoa (Rogers, 1980/2007). Dentre estas condições, a compreensão empática

ocorre quando o terapeuta capta, ao ouvir verdadeiramente, os significados pessoais

que o cliente está experienciando e comunica essa compreensão ao cliente. Como

podemos observar com a seguinte passagem do autor:

Quando está em sua melhor forma, o terapeuta pode entrar tão

profundamente no mundo interno do paciente que se torna capaz de

esclarecer não só o significado daquilo que o cliente está consciente como

também do que se encontra abaixo do nível da consciência. Este tipo de

escuta ativa e sensível é extremamente raro em nossas vidas. [...]. E, no

entanto, esse modo tão especial de ouvir é uma das forças motrizes mais

poderosas que conheço (Rogers, 1980/2007, p.39).

Quando as pessoas são aceitas e consideradas, elas acabam por

considerarem mais os seus sentimentos. Ao serem ouvidas de modo empático, as

pessoas podem, igualmente, ouvir de forma mais detalhada o fluxo de suas

experiências internas. Dessa forma, o cliente torna-se mais congruente com suas

próprias experiências, torna-se assim propiciador do seu próprio crescimento

(Rogers, 1980/2007).

Page 86: A Experiencia de Ser Empatico

86

Ao fazer aconselhamento e psicoterapia individual, Rogers (1980/2007) pôde

perceber o quão importante era, para a relação, acreditar na capacidade do cliente

para crescer, para se entender melhor e para dar passos construtivos na resolução

de seus problemas. No entanto, isso só seria possível se ele (terapeuta) criasse um

clima facilitador no qual fosse empático, interessado e verdadeiro. Essa é a tarefa do

terapeuta, que propiciando um ambiente facilitador e tendo as atitudes facilitadoras

como base, possibilita ao cliente uma maior oportunidade de mudança, podendo

cada vez mais ser ele mesmo.

À medida que o psicoterapeuta adentra no mundo do cliente, ele assume um

papel de “facilitador de exploração e um companheiro na busca dessa exploração”

(Falcone, Gil & Ferreira, 2007, p. 453). Além de facilitador e companheiro, o

psicoterapeuta, para esses autores, deve proporcionar um ambiente adequado que

vise um clima terapêutico de aceitação, sendo o psicoterapeuta autêntico com seus

pensamentos, sentimentos e comportamentos.

Na educação, a Abordagem Centrada na Pessoa é necessária, uma vez que

o conceito de empatia pode ser redefinido como um ensaio para tentar compreender

o sentido da experiência escolar para cada aluno. Essa importância está relacionada

aos resultados acadêmicos satisfatórios dos alunos e de professores que aplicam as

condições facilitadoras. Caso os coordenadores e os diretores, também, utilizem as

atitudes facilitadoras, os alunos obterão sucesso em todas as matérias (Rogers,

1980/2007).

De acordo com Rogers, muitas pesquisas demonstraram o quanto essas

condições facilitadoras estavam presentes, provocando mudanças efetivas no

comportamento e na personalidade das pessoas. Essas condições facilitadoras

devem estar presentes em todos os âmbitos, seja na educação, na clínica, nos

Page 87: A Experiencia de Ser Empatico

87

grupos, nas organizações, nas relações humanas como um todo, onde o objetivo

seja o desenvolvimento pessoal.

Podemos concluir destes escritos de Rogers, a importância da compreensão

empática para um maior desenvolvimento do processo terapêutico e para o

desenvolvimento pessoal do cliente, pois ao encontrar alguém que o compreenda

sem julgá-lo, percebe que, também, pode acreditar em si mesmo e amadurecer ao

significar seu mundo interno.

É fundamental, que o terapeuta esteja em estado de acordo interno, para

proporcionar todo esse ambiente ideal ao seu cliente, pois este está ali confiando na

possibilidade de crescer como pessoa, confiando na integridade e disponibilidade de

facilitação do terapeuta. Ou seja, o terapeuta é um facilitador desse processo,

buscando em sua autenticidade, em sua congruência subsídios para uma maior

consideração positiva incondicional e uma compreensão empática mais adequada a

cada situação dos fenômenos emergentes.

Ouvir os sentimentos do cliente e ouvir a si mesmo é algo que o terapeuta

deve fazer. Ambas as formas de escuta devem estar em acordo, porque não há a

possibilidade de uma relação terapêutica ideal sem esse estado de acordo interno

do terapeuta. Como pode compreender o cliente se não se compreende a si

mesmo?

Essas são algumas considerações que se pode tirar de todo esse benefício

que Carl Rogers nos proporciona com tanta sabedoria e experiência. As condições

facilitadoras são necessárias sim, mas muitas vezes podem não ser suficientes se o

terapeuta não está em acordo consigo mesmo, quando não consegue aprofundar os

conteúdos que estruturam o mundo subjetivo do cliente e quando não têm uma

formação psicoterapêutica adequada.

Page 88: A Experiencia de Ser Empatico

88

3 O CONCEITO DE EMPATIA NA FASE PÓS-ROGERIANA OU NEO-ROGERIANA (1987 - ATUAL)

Foi a partir da revisitação da Abordagem Centrada na Pessoa na

contemporaneidade, que Moreira (2009a, 2010) nomeou esta última fase de Pós-

Rogeriana ou Neo-Rogeriana, que diz respeito a pensadores após a morte de

Rogers, compreendendo o período de 1987 aos tempos atuais no que se refere à

Abordagem Centrada na Pessoa. Durante esses últimos vinte anos, em vários

lugares do mundo, a abordagem centrada na pessoa vem se desenvolvendo por

meio de várias vertentes (Moreira, 2010).

Moreira (2010) se questiona acerca de como estariam sendo praticadas e

pensadas essas novas vertentes por estes profissionais contemporâneos e cita:

1) a versão clássica, atualmente desenvolvida pelo Center for Studies of the

Person, onde Rogers passou a última fase de sua vida; 2) a linha experiencial

fundada por Eugene Gendlin (1988 e 1990), com ênfase na experienciação e

focalização, na University of Chicago; 3) a linha experiencial processual,

representada por Laura Rice, no Canadá e Robert Elliot, nos Estados Unidos,

(Rice & Greenberg, 1990; Greenberg, Rice & Elliot, 1993), tendo um interesse

principal no estudo detalhado dos elementos do processo; 4) a linha

existencial fenomenológica, embasada na fenomenologia-existencial,

desenvolvida, principalmente por autores brasileiros que, segundo Segrera

(2002), estaria representada por Virginia Moreira (2001) – e que poderíamos

acrescentar outros representantes no Brasil como Advíncula (1991), Amatuzzi

(1989), Belém (2004), Boris (1987 e 1990), Cury (1987, 1988 e 1993),

Fonseca (1988 e 1998), Holanda (1998), entre outros; 5) a linha

Page 89: A Experiencia de Ser Empatico

89

transcendental, que abarca interesses espirituais, religiosos e transpessoais,

trabalhada por autores como Charles Curran (1952), nos Estados Unidos,

Yves Saint-Arnaud (1967), no Canadá, Brian Thorne (1991/1993), na

Inglaterra, Peter Schmid (1995), na Áustria, Ana Maria González (1995), no

México, Elias Boainain (1999), no Brasil; 6) a linha expressiva, que integra

elementos de arte, movimento corporal, estabelecendo pontes com a gestalt-

terapia e o psicodrama, sendo representada principalmente pela filha de Carl

Rogers, Nathalie Rogers (1993); 7) a linha analítica, com seu interesse na

relação entre a psicologia do si mesmo de Heinz Kohut e outros elementos

analíticos, representada por Edwin Kahn (1985); 8) a linha comportamental-

operacional, com ênfase no desenvolvimento de habilidades, representada

por Reinhard Tausch (1990), na Alemanha e Ernest Meadows (Meadows &

Stillwell, 1998), na Califórnia; Moreira (2008 e 2009) acrescenta um nono

desenvolvimento contemporâneo: 9) a linha do curriculum centrado na

pessoa, realizado na área de educação, no Chile, representado por Eric

Troncoso e Ana Repetto (Troncoso & Repetto, 1997; Moreno, Troncoso &

Videla, A.,1999). Mais recentemente é possível, ainda, observar outros

desenvolvimentos que podem vir a constituir novas linhas (Moreira, 2010, p.

542).

Para Moreira (2010), estas vertentes desenvolveram-se a partir das diferentes

fases do pensamento de Rogers. Sendo uma destas linhas teóricas pós-rogerianas,

a qual se baseia essa pesquisa, a humanista-fenomenológica, que toma como base

as contribuições de Rogers, principalmente a partir de sua fase experiencial, e

acentua “seu caráter fenomenológico através de contribuições da tradição da

Page 90: A Experiencia de Ser Empatico

90

Psicopatologia Fenomenológica e da Análise Existencial” (Moreira, 2010, p. 542). A

proposta desta vertente é, justamente, o desenvolvimento de uma teoria e uma

metodologia para uma clínica mundana, com caráter eminentemente crítico (Moreira,

2010), fundamentando-se em uma base filosófica por meio de autores

fenomenológicos e/ou existenciais, como: Kierkegaard, Nietzsche, Husserl,

Heidegger, Merleau-Ponty, Sartre, Buber (Moreira, 2009a). Por outro lado, a linha

transcendental é ressaltada por Moreira (2010) como sendo voltada para questões

transcendentais do ser humano.

Assim, […], a linha humanista-fenomenológica terá como base a ideia de

homem mundano e do trabalho clínico voltado para a compreensão do

Lebenswelt (mundo vivido), enquanto que a linha transcendental terá uma

fundamentação espiritual e o trabalho clínico será norteado por valores

religiosos ligados aos aspectos transpessoais do ser humano (Moreira, 2010,

p. 542, grifo do autor).

No que diz respeito à linha transcendental, Boainain Jr (1999), em sua divisão

das fases finais do desenvolvimento da ACP, nomeia a quinta fase de “Trabalho com

Grandes Grupos” (como mencionado no capítulo anterior), mas essa fase começaria

desde a época em que Rogers estava vivo, meados dos anos 70 até os dias atuais,

e baseia-se na perspectiva místico-espiritual que caracteriza o movimento

transpessoal em psicologia. Para Moreira (2010), essa linha teórica toma como base

a fase Inter-humana de Rogers, quando Rogers volta-se mais para questões

transcendentais do ser humano.

Page 91: A Experiencia de Ser Empatico

91

É importante ressaltar que, assim como existem inúmeras vertentes

contemporâneas baseadas no pensamento de Carl Rogers, a partir de diferentes

fases de seu pensamento, mas que seguem seu próprio caminho, o conceito de

empatia é retomado pelos comentadores de suas obras ou adaptadas e

reformuladas nas várias vertentes teóricas contemporâneas de seu pensamento. A

empatia, como as outras atitudes facilitadoras, continua sendo fundamental em

todas elas.

A empatia, na Fase Pós-Rogeriana, continua sendo explorada e sendo uma

das atitudes facilitadoras mais importantes no processo psicoterápico, nos processos

grupais e nos processos em que o objetivo seja o desenvolvimento humano.

Algumas dessas conceituações merecem ser citadas para ilustrar uma melhor

compreensão dos vários desenvolvimentos pós-rogerianos.

Bozarth (1998/2001) mostra-nos a singular conceituação rogeriana de

empatia, da maneira como esta evoluiu na Teoria Centrada no Cliente. Para ele,

Rogers considerava a empatia como sendo “mais uma noção essencial terapêutica

do que uma pré-condição de outras formas de tratamento” (Bozarth, 1998/2001, p.

81). Além do que “Rogers trouxe o conceito de empatia numa perspectiva diferente,

ao torná-la a chave do processo de mudança terapêutica” (Bozarth, 1998/2001, p.

83), estando a essência da terapia rogeriana “fundamentada na empatia não

diretiva” (p. 91). Para Rogers, é necessário que o cliente perceba o experienciar por

parte do terapeuta de uma compreensão empática para que a mudança terapêutica

ocorra. Ou seja, Bozarth (1998/2001) afirma que “a teoria de Rogers é expressa em

termos de atitudes do terapeuta” (p. 88), portanto, “a técnica seria de pouco valor se

não estivesse enraizada nas atitudes do terapeuta” (Bozarth, 1998/2001, p. 92).

Essas atitudes devem ser transmitidas ao cliente, pois abrem a possibilidade de

Page 92: A Experiencia de Ser Empatico

92

mudança. Bozarth (1998/2001) nos esclarece que o olhar incondicionalmente

positivo “é transmitido pela compreensão empática e receptivo do terapeuta, no

contexto da congruência do terapeuta na relação” (p. 93).

Nas conclusões da pesquisa sobre empatia, Bozarth (1998/2001) assinala

que, “numa medida significativa, o resultado final mais comum da pesquisa

corrobora a conceptualização de Rogers de empatia, em relação ao resultado final

psicoterapêutico eficaz” (p. 94). E, ainda, afirma que uma das questões mais

importantes sobre a empatia rogeriana é que “a empatia rogeriana não é

necessariamente o mesmo que ‘comunicação’ de empatia ou ‘respostas empáticas’”

(Bozarth, 1998/2001, p. 98), mas que “tipos especiais de respostas podem ou não

ser representativas da compreensão empática do quadro de referências do

indivíduo” (p. 99).

Segundo Bozarth (1998/2001), a empatia rogeriana é diferente das outras

conceituações de empatia, uma vez que “baseia-se em princípios que conferem

poder ao próprio, posto em execução num esquema comportamental, e toca as raias

da fusão experiencial holística com outro indivíduo” (p. 107). A empatia rogeriana

estaria, portanto, intimamente ligada com a teoria, sendo única.

Bozarth (1998/2001) finaliza sua investigação tratando da empatia na

estrutura básica da Terapia Centrada no Cliente, da mesma forma que Rogers a

considerava. Assim, ela é

(1) mais um conceito terapêutico fundamental do que uma pré-condição para

outras formas de tratamento, (2) mais uma atitude e uma experienciação em

relação ao cliente do que um comportamento especial, (3) um processo

interpessoal baseado numa atitude não diretiva e (4) parte de uma atitude

Page 93: A Experiencia de Ser Empatico

93

global, na qual a experienciação da compreensão empática está interligada

com a congruência e com o olhar incondicionalmente positivo do terapeuta em

relação ao cliente” (Bozarth, 1998/2001, p. 107-108).

Já Cavalcante Jr (2008), mostra-nos três níveis onde a empatia é

compreendida por Maria Bowen: o nível de relacionamento; o nível de energia (onde

o trabalho terapêutico acontece de duas formas: pela escuta ativa e por meios

habilidosos); e o nível da unidade.

O nível de relacionamento é compreendido como sendo aquele que “o

material primeiro de trabalho é o conteúdo e os sentimentos que emergem na

interação entre cliente e psicoterapeuta” (p. 25). E, a principal função do terapeuta

seria, justamente, “criar um espaço de confiança no qual os clientes possam explorar

e manifestar diferentes partes de si mesmos e experienciar as suas próprias

energias curativas, em seus tempos e ritmos próprios” (p. 25). Criativamente, o

espelho é citado para compreendermos o processo de que o terapeuta reflete o que

é percebido do cliente, sem perder a natureza da percepção. Neste nível, portanto,

“o trabalho terapêutico é fruto de um modelo interpessoal, e o material a ser

trabalhado em psicoterapia é aquilo que o cliente diz ao terapeuta, as reações do

terapeuta ao que o cliente apresenta-lhe e a interação entre ambos” (p. 25).

O nível da energia mostra-nos um poder que pode passar despercebido ou

subestimado, como é o caso da escuta ativa, pois uma escrita de qualidade pode ter

um poder curativo não sendo necessário, muitas vezes, que o psicoterapeuta faça

ou diga alguma coisa (Cavalcante Jr, 2008). Os meios habilidosos são aqueles que

“depende do nível de desenvolvimento espiritual do terapeuta. Quando o que ele

utiliza em terapia não é somente uma técnica isolada, mas algo que se tornou

Page 94: A Experiencia de Ser Empatico

94

intrisecamente parte experiencial da sua vida” (Cavalcante Jr, 2008, p. 26), por

exemplo, “exercícios espirituais de visualização de meditação, de sonhos, de

mantras e de outros sons, com o objetivo de facilitar e contato do cliente com seus

recursos interiores” (p. 26).

No nível da unidade terapeuta e cliente passam a compartilhar, como um só,

do mesmo mundo. “A empatia deixa de ser uma ferramenta que o terapeuta utiliza

com o cliente e passa a ser uma realidade compartilhada que transcende a cada um,

individualmente” (p. 26).

Cavalcante Jr (2008), em seu texto A Empatia Formativa É!, tem a intenção

de ampliar a noção de empatia no nível da unidade. Para tanto, utiliza-se do

pensamento de Maria Bowen, a respeito da unidade: “para se operar no nível da

unidade, a conexão entre os terapeutas e os clientes tem que estar presente,

mesmo sendo transcendida para além da relação, incluindo uma energia que

ultrapassa a mente consciente” (Bowen, 1992 apud Cavalcante Jr, 2008, p. 59). A

esse tipo de fluxo terapêutico, Cavalcante Jr, denomina de Empatia Formativa.

Essa Empatia Formativa “brota do cosmo, que vive em nós e nos convida a

nele mergulhar onde ele e eu somos um” (Cavalcante Jr, 2008, p. 60, grifo do autor).

Não se trata apenas de adentrar na realidade do outro como se fosse a nossa, é

uma empatia que faz o nosso espírito nos mover a dizer algo, e “esse algo, por sua

vez, não brota de dentro ou de fora: ele é, ao mesmo tempo, dentro e fora”

(Cavalcante Jr, 2008, p. 60, grifo do autor).

Cavalcante Jr (2008) afirma que Maria Bowen “posteriormente, descobriu que,

no nível da Unidade, a intuição estava associada a um grau elevado de empatia do

terapeuta” (p. 61). Ele coloca em seu texto uma carta aberta de Bowen (sobre o que

Rogers lhe escrevera), onde esta afirma que “[…], a intuição é uma forma elevada

Page 95: A Experiencia de Ser Empatico

95

de empatia, e eu concordo com ele que ela somente acontece em momentos

especiais em terapia e que, quando acontece, traz a ela uma qualidade poderosa de

cura” (Bowen, 1991, apud Cavalcante Jr., 2008, p. 61, grifo do autor).

Cavalcante Jr e Bowen consideram a Empatia Formativa como uma

expressão da mística da ACP, e Cavalcante Jr (2008) refere-se “à dimensão mística

e espiritual que Rogers subestimou, da mesma forma que muitos praticantes

contemporâneos da ACP” (p. 62).

Boainain Jr (1999) já concordava com essa questão da intuição, para ele a

“intuição extraordinária revelada em momentos de excelência terapêutica

associados à alteração ampliadora da consciência descrita por Rogers tem sido

algumas vezes considerada, na literatura da ACP, como uma forma particularmente

profunda e potente da habitual atitude rogeriana da empatia” (p. 204).

Estes são exemplos de pensadores pós-rogerianos que destacaram a

importância da empatia em suas perspectivas teóricas e práticas atuais. Dentre

estes desenvolvimentos pós-rogerianos está a vertente humanista-fenomenológica

que será explorada a seguir.

3.1 A Vertente Humanista-Fenomenológica

Dentre as várias linhas teóricas pós-rogerianas, está a humanista-

fenomenológica, com uma proposta de psicoterapia humanista que utiliza como base

epistemológica e teórica o pensamento rogeriano, partindo da fase experiencial, que

é, para Moreira (2007, 2009b), quando Rogers mais se aproximou de um

pensamento fenomenológico ao se focar na experiência intersubjetiva – ou seja, na

relação terapeuta e cliente, por mais que, posteriormente, tenha voltado ao cliente,

Page 96: A Experiencia de Ser Empatico

96

unicamente, como centro. Esta proposta toma as condições facilitadoras (empatia,

aceitação e congruência) como atitudes importantes no desenvolvimento da

personalidade do cliente. Como base fenomenológica, toma como referencial

filosófico, o pensamento de Merleau-Ponty, para o desenvolvimento de um método

fenomenológico crítico. Por meio desse pensamento fenomenológico, Moreira

(2009b) vem pensando o desenvolvimento de técnicas de intervenção, enquanto

atitudes fenomenológicas, além das já propostas por Carl Rogers, que para Moreira

(2009b) são necessárias, mas não suficientes, para compreender

fenomenologicamente o mundo vivido do cliente.

Para Boainain Jr (1999),

[…], a psicologia humanista desenvolve, adapta e renova variadas técnicas e

metodologias de abordagem da pessoa, com finalidades de estudo e

intervenção. Os questionamentos e as posições assumidas sobre a natureza

da ciência psicológica e seu objeto próprio de estudo fazem do projeto

humanista de construção da psicologia uma fonte de inspiração e parâmetros

no desenvolvimento de abordagens adequadas, sendo, sobretudo, o

compromisso com sua visão de homem que orienta a criação e o

desenvolvimento de novas formas de estabelecer a saúde psíquica e

promover o desenvolvimento dos melhores potenciais humanos (Boainain Jr,

1999, p. 37).

A vertente humanista-fenonemonológica desenvolve-se a partir de uma

preocupação dos psicólogos com uma fundamentação teórico-filosófica da

psicologia humanista (Moreira, 2007, 2009b). Surgindo por volta do século XX, a

Page 97: A Experiencia de Ser Empatico

97

abordagem humanista tinha por objetivo combater tanto o intelectualismo da

psicanálise, quanto o mecanicismo do behaviorismo. A visão humanista engloba o

ser humano enfatizando-se na vivência das emoções (Moreira, 2007, 2009b).

Focalizando-se na experiência, a teoria acabou por ficar em segundo plano, o que

acarretou muitas acusações de terem como metodologia a subjetividade e a intuição

(Boris, 1987; Moreira, 2007, 2009b). Moreira (2007, 2009b) destaca que essas

acusações não foram por acaso, uma vez que os autores da abordagem humanista

não se preocupavam em uma fundamentação teórico-filosófica de seus

pensamentos, mas focavam-se em suas experiências. Para se defenderem dessas

acusações, muitos autores, no final do século XX e início do XXI, se preocuparam

com uma fundamentação teórico-filosófica do enfoque humanista. Essa

fundamentação possibilitaria que desenvolvessem seu trabalho de forma

competente.

A psicoterapia humanista-fenomenológica desenvolveu-se a partir de duas

vertentes: o pensamento humanista em psicologia e o pensamento de psiquiatras

europeus. O pensamento humanista “surgiu nos Estados Unidos na primeira metade

do século XX com pensadores como Carl Rogers, Rollo May, Frederick Perls,

Maslow, entre outros” (Moreira, 2009b, p.2) e o pensamento de psiquiatras

europeus,

representados por Binswanger, Boss, Van Den Berg, Strauss, dentre outros,

que no início do século XX, influenciados pela leitura da filosofia de

Heidegger, criticaram o enfoque freudiano que priorizava a existência de um

aparelho psíquico, propondo a ‘daseinanalyse’ ou a análise existencial, que

passava a focalizar a clínica na relação com o paciente, compreendido em

Page 98: A Experiencia de Ser Empatico

98

seu mundo, em sua existência (Moreira, 2009b, p. 25).

O desenvolvimento de uma psicologia humanista-fenomenológica diz respeito

“à busca de um caráter epistemológico” (Moreira, 2009b, p. 30), que encontra

caminhos através da filosofia de Buber, Nietzsche, Heidegger, Marx e de Merleau-

Ponty, entre outros.

No que se refere ao fundamento epistemológico, Moreira (2009b) faz uma

crítica ao humanismo antropocêntrico visualizado no pensamento de Rogers. Para

ela, “esta crítica teve como objetivo desenvolver uma prática clínica cuja

preocupação fundamental fosse o humano, embora não tivesse o homem como

centro, mas como um ser mundano” (Moreira, 2009b, p.32, grifo do autor). Trata-se

de desenvolver uma psicologia que possibilite entender o homem como um ser

humano atravessado por múltiplas dimensões, e que não seja visto como centro.

Isso possibilita uma prática clínica para além da pessoa (Moreira, 2009b).

Moreira (2009b) nos relata em sua pesquisa, que concluiu que “a concepção

de pessoa como centro impede Rogers de realizar uma psicoterapia

verdadeiramente fenomenológica” (p. 35). O próprio Rogers, em sua fase

experiencial, caminhou em uma direção fenomenológica, mas “ao manter a pessoa

como centro, estanca em uma concepção antropocêntrica” (Moreira, 2009b, p. 36).

É necessário esclarecer, que com tudo isso, o objetivo desta crítica de Moreira

(2009b) não é fundamentar a teoria rogeriana de acordo com a fenomenologia

existencial:

o importante para a psicologia humanista é acompanhar o processo de

liberação da noção de centro que, na fenomenologia existencial, logrou-se

Page 99: A Experiencia de Ser Empatico

99

através da trajetória de Merleau-Ponty que conseguiu transcender o

centramento teórico da fenomenologia (na consciência e no sujeito) em

direção à mútua constituição (Moreira, 2009b, p.36).

Merleau-Ponty, segundo Moreira (2009b), traz uma importante contribuição à

metodologia fenomenológica, além disso, contribui para elaboração de uma

concepção de homem que se distancia do modelo dualista. Seu pensamento é

eminentemente crítico. Para Moreira (2009b), Merleau-Ponty “supera,

definitivamente, a dicotomia entre o mundo natural e o mundo cultural através da

priorização do significado do mundo vivido” (p. 37).

Merleau-Ponty desenvolveu uma fenomenologia mundana, que consiste em

uma ferramenta crítica e não apenas um método, pois supera os pensamentos que

se dizem verdadeiramente absolutos. Sua filosofia busca o significado da

experiência vivida, por isso é uma filosofia da facticidade (Moreira, 2009b).

Podemos entender do diálogo com outros autores, que para Moreira (2009b),

a visão de Merleau-Ponty se apresenta como antropológica, pois “é esta

fenomenologia antropológica, que tem como eixo o Lebenswelt (mundo vivido), que

faz com que Merleau-Ponty tenha uma definição de humanismo que se diferencia da

tradição antropocêntrica” (Moreira, 2009b, p. 38, grifo do autor).

No pensamento de Moreira (2009b), para que ocorra o desenvolvimento de

um humanismo que se preocupe com o homem enquanto ser mundano é necessário

que seja elaborado

um modelo teórico no qual o homem seja mundo e o mundo seja homem,

abolindo uma visão de homem dicotomizada, que o divide em interioridade e

Page 100: A Experiencia de Ser Empatico

100

exterioridade, em individual e social. Na medida em que o homem é sujeito e

objeto, mistura-se na geléia geral que compõe o mundo, o homem e a

história, ao mesmo tempo em que se singulariza com suas ações,

pensamentos e discursos (Moreira, 2009b, p. 38, grifo do autor).

Passa-se a entender o homem e o mundo em mútua constituição,

entrelaçados um ao outro, onde o mundo não é mais visto como objeto, nem o

homem como sujeito. Não existe mais uma dualidade, uma separação. Ambos fazem

parte da mesma contextura carnal – mais uma contribuição de Merleau-Ponty.

Segundo Moreira (2007, 2009b), carne em Merleau-Ponty, partindo da ideia de

intercorporeidade, diz respeito

aquilo que o meu corpo é – ativo-passivo, visível e vidente. Carne não é a

síntese homem-mundo é uma forma de abordar o ser, que escapa à

representação. Não é matéria nem espírito, mas está entre ambos. É o

sentido do corpo em sua relação com os objetos (Moreira, 2009b, p. 39, grifo

do autor).

Compreende-se que o homem não é o centro do mundo, à medida que o

mundo e homem se constituem fazendo parte da mesma contextura carnal. É dessa

crítica ao humanismo antropocêntrico, em prol de uma visão de homem

antropológica que, segundo Moreira (2009b),

identificou-se a necessidade urgente de uma (re)formulação da concepção de

homem na prática de um humanismo histórico cultural em psicologia. […]. A

Page 101: A Experiencia de Ser Empatico

101

elaboração pertinente dessa visão de homem parece ser então, um passo

fundamental. Transcende a ideia de centramento que aprisiona as

abordagens psicológicas humanistas, impedindo-as de realizar-se

fenomenologicamente, tal como elas se propõem. […] (p. 39, grifo do autor).

Para Moreira (2009b),

independentemente dos limites a serem trabalhados e superados ou da

perspectiva a ser utilizada como caminho para sua construção teórica, a

psicoterapia humanista-fenomenológica poderá sempre contar com a

fenomenologia antropológica mundana como ferramenta crítica que

proporciona subsídios à compreensão da experiência vivida (p. 41, grifo do

autor).

A psicoterapia humanista-fenomenológica baseia-se nas condições

facilitadoras propostas por Rogers; mas, segundo Moreira (2009b), por serem

necessárias e nem sempre suficientes, a fundamentação metodológica, de sua

proposta de psicoterapia humanista-fenomenológica, vem tendo como base a

fenomenologia de Merleau-Ponty para desenvolver as técnicas de intervenção como

atitudes complementares em psicoterapia, utilizando-se de uma visão de sujeito, de

pessoa, mais fenomenológica. Assim, "propõe-se a fundamentação fenomenológica

merleau-pontyana como base para uma utilização da intervenção clínica no contexto

de uma psicoterapia humanista-fenomenológica” (Moreira, 2009b, p. 60).

Essas fundamentações as quais se baseiam as técnicas de intervenção em

psicoterapia humanista-fenomenológica são:

Page 102: A Experiencia de Ser Empatico

102

INTUIÇÃO EIDÉTICA

Segundo Moreira (2009b), um dos objetivos da psicoterapia é “apreender o

significado da experiência, função da intuição eidética” (p. 63). É justamente, o

psicoterapeuta buscar “facilitar ao cliente a compreensão dos significados de sua

experiência” (Moreira, 2009b, p. 63).

Essa compreensão do mundo do cliente só é possível por meio do discurso, o

qual nos traz informações que, segundo Kinget (1965/1977), devem ser apreendidas

e não interpretadas. Essa apreensão da experiência do cliente deve se dar da

mesma forma como ele apreende suas experiências. Posto isso, Rogers

compreende que o terapeuta deve apreender os sentimentos do cliente tal como o

cliente os vê (Rogers, 1961/1987). Para Vieira e Freire (2006) na empatia “não

importa apreender a totalidade racional da experiência do outro (explicação), mas

tentar compreender o sentido (compreensão) do que é trazido à tona na

psicoterapia” (p. 430).

Ainda, de acordo com Moreira (2009b), “a partir de um saber universal (a

teoria psicoterapêutica) a psicoterapia tratará de compreender a experiência singular

(o vivido pelo paciente em seu mundo), facilitando o seu processo de

desenvolvimento e de mudança” (p. 63). A intuição eidética é mais do que apenas

viver o mundo do cliente, é sim, tirar daquela vivência o sentido e a significação da

experiência do cliente.

REDUÇÃO FENOMENOLÓGICA

Em psicoterapia, a redução fenomenológica apresenta-se como uma forma de

possibilitar a compreensão da realidade existencial do cliente e não teorizar ou

refletir sobre essa realidade (Moreira, 2009b). Para isso, é necessário que o

Page 103: A Experiencia de Ser Empatico

103

psicoterapeuta tente suspender todos os seus pré-julgamentos, teorias, hipóteses

diagnósticas, pensamentos sobre o cliente, para escutá-lo e assim penetrar em seu

mundo, apreendendo sua experiência singular (Moreira, 2009b). Desta forma,

podemos penetrar à vontade no mundo do cliente, apreendendo toda sua

experiência de forma desprovida de qualquer pensamento ou julgamento. Mas, além

de penetrar nesse mundo da razão, temos que voltar às coisas mesmas, onde

passaremos toda essa compreensão de seu mundo perceptual ao cliente, como

forma de facilitar seu desenvolvimento pessoal.

Segundo Moreira (2009b),

para poder exercer a redução fenomenológica é necessário ter o que pôr

entre parênteses, ou seja, ter presente os sentimentos, a experiência de vida

e entender que o conhecimento técnico e teórico não deverá ser considerado

como uma verdade absoluta ou um a priori. […]. Busca-se um conhecimento

que é pré-reflexivo; alcançá-lo é a função da redução fenomenológica (p. 65,

grifo do autor).

A redução fenomenológica assume um papel fundamental na psicoterapia

humanista-fenomenológica, à medida que pode ser utilizada como uma técnica ou

atitude psicoterapêutica (Moreira, 2009b), possibilitando um acesso ao mundo vivido

do cliente, onde este se revela para mim. “Na perspectiva de uma psicoterapia

humanista-fenomenológica, entende-se este processo de revelação do mundo vivido

ou do significado da experiência vivida como o núcleo do processo psicoterapêutico”

(Moreira, 2009b, p. 66).

Page 104: A Experiencia de Ser Empatico

104

DESCRIÇÃO

A psicoterapia humanista-fenomenológica, segundo Moreira (2009b), “parte

do princípio de Merleau-Ponty (1945) que considera que a realidade deve ser

descrita antes que seja interpretada ou pensada” (p. 66). Para Merleau-Ponty

(1945/1994), “trata-se de descrever, não de explicar nem de analisar” (p. 3). O

processo de psicoterapia humanista-fenomenológica parte de uma descrição,

“embora a análise, ou a explicação, possa aparecer como consequência da

descrição” (Moreira, 2009b, p. 67). Assim, o psicoterapeuta deve pedir ao cliente que

descreva como vive sua experiência, o que está sentindo, repetidamente, quantas

vezes for necessário. Essa descrição, por mais que não seja simples para o cliente,

mesmo assim deve ser pedida ao cliente de forma insistente. Isso possibilita

alcançar e aprofundar os conteúdos mais importantes, e consequentemente, ter um

maior autoconhecimento e a mudança pode acontecer (Moreira, 2009b).

FALA AUTÊNTICA

Moreira (2009b) ressalta que existem em Merleau-Ponty (1945) dois tipos de

fala: a autêntica, que é a fala primeira, quando se fala pela primeira vez, que é

correspondente ao pensamento; e a expressão segunda, que é uma “fala sobre

falas, que está constituída pela linguagem ordinária” (Moreira, 2009b, p. 67). A fala

autêntica seria aquela a qual sai de forma espontânea, se referindo ao que estamos

pensando, e a fala segunda é aquela pensada, formulada, que não é espontânea, é

a fala de pensamentos anteriores, o que para Amatuzzi (1988, 1989) seria aquela

“que ocorre, por exemplo, quando a pessoa fala aquilo que já pensou para falar,

aquilo que preparou de antemão: ela está então simplesmente relatando

pensamentos que já teve, mas não os pensamentos que está tendo no ato de falar”

Page 105: A Experiencia de Ser Empatico

105

(Amatuzzi, 1988, p. 47).

Moreira (2009b) cita um exemplo, que quando um cliente chega à sessão com

um discurso pronto e acabado, pode tornar-se uma sessão sem avanços

significativos para o cliente, porque não deixou que as coisas fluíssem normalmente.

Nesta situação, o cliente não deixou fluir seus pensamentos presentes, levando um

discurso produzido, o que muitas vezes não corresponde ao que está sentindo

naquele momento. Isso impossibilita uma fala nova, um possível insight. Portanto,

seria uma fala como expressão segunda,

de acordo com a definição merleau-pontyana, que frequentemente se mantém

ao longo de várias sessões seguidas, muitas vezes como defesa do paciente

ante a dificuldade de chegar a temas mais profundos e dolorosos. Ao

contrário, quando o cliente chega à sessão e diz ao terapeuta que não pensou

em nada para contar-lhe, que não sabe de que falar, que não tem nada

preparado para comentar, é exatamente esta a sessão em que o processo

terapêutico pode desenvolver-se significativamente, tendo importantes

avanços (Moreira, 2009b, p. 68).

Quando a fala autêntica se apresenta, existe a possibilidade de novos

descobrimentos, de “dar-se conta de algum tipo de conteúdo ou emoção escondida

até esse momento” (Moreira, 2009b, p. 68). Segundo Amatuzzi (1988, 1989), a fala

autêntica é quando a pessoa “surpreende e formula seus pensamentos ou

inquietações presentes, ‘pela primeira vez’. Neste caso a pessoa está improvisando,

está dando forma ao que ela está sendo e sendo o que fala. Sua fala é ‘nova’”

(1988, p. 47).

Page 106: A Experiencia de Ser Empatico

106

“Podemos dizer que a fala autêntica é o resultado da redução fenomenológica

e, assim como esta, nunca se completa” (Moreira, 2009b, p.68), na medida em que,

segundo Moreira (2009b), está pondo entre parênteses o que lhe é secundário,

naquele momento, para dar espaço ao que está em seus pensamentos, falando de

assuntos que facilitem sua mudança e seu crescimento pessoal.

VER E OUVIR FENOMENOLOGICAMENTE

No ambiente terapêutico, a relação entre cliente e terapeuta se dá de forma

que possam se ver e ouvir simultaneamente. “Ver e ouvir têm um papel fundamental

na psicoterapia humanista-fenomenológica: busca-se o encontro na intrínseca

relação de um com o outro” (Moreira, 2009b, p. 69). Esse olhar e esse ouvir, diz

respeito ao que é escutado e visto, muito além do que está presente, é escutar o não

dito, ver nas entrelinhas. É por meio do ver e ouvir atentos que podemos ter acesso

ao invisível. “Na relação de mútua constituição do processo psicoterapêutico, cliente

e terapeuta são sujeitos do ver e do ouvir. Os dois tornam-se videntes e visíveis na

medida em que se olham e se escutam entre si. Vêem o invisível e ouvem o não

dito” (Moreira, 2009b, p. 69).

Rogers já demonstrava a importância do ouvir, estabelecendo a necessidade

de um ouvir realmente. Esse ouvir realmente, para Amatuzzi (1990), significa ouvir o

significado real. É ouvir o que está por trás da fala, do que muitas vezes não está

claro ou consciente para o cliente. Segundo Amatuzzi (1990), “o ouvir é mais que

observar, é estar em relação, e portanto tornar-se pessoa” (p. 91).

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107

3.2 Empatia e Lebenswelt na Vertente Humanista-Fenomenológica

Para compreendermos a empatia por meio de um enfoque humanista-

fenomenológico, representado por Moreira, nos remetemos primeiramente à

conceituação de Rogers sobre o que seja empatia. Rogers a compreende como

sendo uma maneira de penetrar no mundo perceptual do outro e captar com

precisão seus sentimentos e significados pessoais, numa condição de “como se” e

comunicar essa compreensão ao cliente. Moreira (2009b) enfatiza essa posição

acrescentando que “a empatia possibilita que o psicoterapeuta não somente

‘penetre’ no mundo do cliente, como se mova na companhia do cliente, buscando a

compreensão de sua experiência vivida” (p.52). Para Vanaerschot (1990), o

terapeuta quando é empático entra em contato com as partes do mundo

fenomenológico do cliente, e é por meio da escuta empática que o terapeuta se

familiariza com esse mundo fenomenológico. Por isso, ainda de acordo com

Vanaerschot (1990), o terapeuta pode ter a sensação de que está em fusão com o

cliente, mas essa sensação não implica a perda da condição de “como se”. Isso é

importante, pois o terapeuta tem que está ciente de que o que está experimentando

naquele momento vem e pertence ao cliente e que não é dele.

Ao tratarmos de método fenomenológico baseado no pensamento de

Merleau-Ponty, Moreira (2009b) nos esclarece que isso significa, “em primeira

instância, de buscar o significado da experiência vivida, ou seja, compreender o

Lebenswelt, o mundo vivido” (p. 51, grifo do autor). Essa compreensão é captada em

sua totalidade, pois se refere ao “entrelaçamento da experiência objetiva com a

subjetiva” (Moreira, 2009b, p. 51). Trata-se de compreender o indivíduo tal como ele

é, de acordo com suas experiências. “Quando, como psicoterapeuta, busco

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108

compreender o significado do Lebenswelt, busco captar esta mistura do vivido, que

é, simultaneamente, tanto subjetivo como objetivo, tanto consciente como

inconsciente, tanto individual como social e, portanto, ambíguo” (Moreira, 2009b, p.

52, grifo do autor).

Dentro do processo psicoterápico, Moreira (2009b) assinala que se produz

uma “intersecção dos Lebenswelten do terapeuta e do cliente” (p.52, grifo do autor).

Nesta intersecção que se estabelece, o psicoterapeuta caminha com seu cliente de

mãos dadas no mundo vivido dele, mas numa condição de “como se”, “sem nunca

separar-se de seu próprio Lebenswelt” (Moreira, 2009b, p. 52, grifo do autor). Isso se

dá por meio da empatia, que é uma das condições facilitadoras em terapia, proposta

por Carl Rogers.

É por meio da empatia que se compreende os significados do sofrimento do

cliente, e essa compreensão somente é possível quando o cliente aceita receber o

psicoterapeuta em seu mundo vivido. Esse sofrimento pode ser compartilhado com o

psicoterapeuta, e este o compreende como um facilitador empático. Desta forma,

ocorre uma possibilidade de ressignificação do sofrimento pelo cliente.

Moreira (2009b) cita, por meio de um exemplo descrito por Maria Bowen,

quatro características que facilitariam a viagem do psicoterapeuta ao Lebenswelt do

cliente. Na primeira característica, Moreira (2009b) afirma que “o psicoterapeuta não

elege o destino ou o caminho a percorrer neste mundo, ainda que ele conheça

vários caminhos” (p. 53). Embora, com a experiência de psicoterapeuta, possamos

visualizar coisas que o cliente ainda não tem conhecimento de seu mundo, a

intervenção deve ser feita de forma hipotética, uma vez que deve ser algo a ser

pensado e analisado pelo cliente. Isso é possível por meio da redução

fenomenológica, onde posso tentar colocar minhas opiniões acerca do cliente em

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109

suspenso, para compreender seu mundo em sua perspectiva e deixá-lo percorrer

seu caminho, por mais que essa redução não seja completa (Moreira, 2009b).

Vanaerschot (1990) afirma que o terapeuta deve escutar o cliente e estar

comprometido com o que ele está dizendo, colocando-se “entre parênteses”. Neste

sentido, Vanaerschot (1990) mostra que o terapeuta deixa de lado seu conhecimento

teórico, opiniões e expectativas, além de suspender a sua própria estruturação,

organização, conhecimentos, entre outros.

Na segunda característica, Moreira (2009b) frisa o quanto o psicoterapeuta

“conhece bem a região” (p. 54). Por meio de conhecimentos teóricos, de vida, ou

seja, da experiência de uma forma geral, tanto objetiva quanto subjetiva, é que se

tem a possibilidade, segundo Moreira (2009b), de compreender os significados da

experiência vivida do cliente. “Compreender os significados deste sofrimento em seu

Lebenswelt possibilita, por sua vez, a mudança pessoal almejada na psicoterapia”

(p. 54, grifo do autor). Por mais que o psicoterapeuta saiba da região a que está

sendo explorada, por meio da experiência teórica e de vida, vendo por meio de suas

lentes, o cliente é quem vive seu próprio mundo de forma particular, singular;

portanto, segundo Moreira (2009b), o cliente é sempre primeiro.

A terceira característica, abordada por Moreira (2009b), nos remete à relação

terapeuta-cliente, onde “o psicoterapeuta, […], divide a carga com o cliente” (p. 54).

Neste ponto, Moreira (2009b) estabelece momentos dentro dessa caminhada com o

cliente em seu mundo, onde a divisão da carga com o cliente passa a ser o primeiro

momento, seguido do segundo momento, onde o cliente se sentirá compreendido,

deixando “de estar só em seu Lebenswelt” (Moreira, 2009b, p. 54, grifo do autor). É

nesse momento, que Moreira assinala que Rogers propôs as condições facilitadoras

(empatia, aceitação e a congruência), as quais, para ela, seriam necessárias, mas

Page 110: A Experiencia de Ser Empatico

110

nem sempre suficientes. É por meio dessa insuficiência, que Moreira (2009b) propõe

as técnicas de intervenção fenomenológicas (vistas no tópico anterior), no terceiro

momento, como sendo fundamentais em terapia.

Na quarta característica, “o psicoterapeuta crê que a psicoterapia é um

instrumento de crescimento pessoal e de tratamento eficaz” (Moreira, 2009b, p. 55).

Mas, também, sabe que a psicoterapia não tem receitas prontas e rápidas ou que

faz milagres. O psicoterapeuta não pode garantir o êxito do processo

psicoterapêutico, uma vez que o mesmo é algo subjetivo e singular, sendo cada

caso um caso (Moreira, 2009b). “O caminho terá que ser construído pelo cliente,

quiça com minha ajuda profissional” (Moreira, 2009b, p. 55).

Enfatiza Moreira (2009b), que com o decorrer do tempo o cliente passa a

conhecer melhor seu Lebenswelt, passando a identificar os melhores caminhos,

seus limites e suas potencialidades. Ou seja, o cliente “passa a conhecer melhor seu

próprio modo de funcionar no mundo” (p.56). Além disso, “na medida em que

aprende sobre seu Lebenswelt, o cliente aprende sobre os significados de sua

experiência vivida, tanto os significados negativos como os positivos, tanto sobre os

seus ganhos como sobre suas perdas” (Moreira, 2009b, p. 56, grifo do autor).

Desta forma, podemos compreender empatia, dentro de um enfoque

fenomenológico, como sendo a capacidade de penetrar no mundo perceptual do

cliente e percorrer todo o caminho desenvolvido pelo cliente juntamente com ele de

mãos dadas, mas sem esquecer que estou nesse mundo numa condição de “como

se” estivesse no lugar dele, devolvendo essa compreensão de seu mundo vivido

para o cliente como forma de facilitar seu desenvolvimento pessoal numa relação

que se estabelece com o mundo.

Podemos entender que, no enfoque humanista-fenomenológico, a empatia é

Page 111: A Experiencia de Ser Empatico

111

a capacidade de penetrar no mundo vivido do cliente, por meio da redução

fenomenológica, e apreender sua experiência vivida, para quando voltar para a si

mesmo poder passar ao cliente essa compreensão que teve de seu mundo vivido,

para que este possa perceber a sua relação estabelecida com o mundo.

Page 112: A Experiencia de Ser Empatico

112

4 PSICOTERAPEUTA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICO INICIANTE

A discussão acerca de quem é o psicoterapeuta humanista-fenomenológico

iniciante, articulada à sua vertente teórica é fundamental para compreendermos o

objetivo desta pesquisa.

Boris (1987) traz uma discussão importante, no que se refere à formação dos

psicoterapeutas humanistas, da necessidade de uma consistência teórica. Diante

dessa necessidade, as psicoterapias humanistas partiram para o uso de uma

metodologia que se contrapunha às visões dicotômicas entre o sujeito e o objeto, a

fenomenologia. E, ao adotar essa metodologia fenomenológica, Boris (1987) afirma

que as psicoterapias elegeram como forma de relação a atitude Eu-Tu, tomando

como visão teórica, Martin Buber. “Psicoterapeuta e cliente são cada vez mais

compreendidos como duas pessoas, envolvidos numa relação de sujeito-a-sujeito,

essencialmente igualitária, baseada na inter-subjetividade, intuição e afetividade”

(Boris, 1987, p. 72).

Boris (1987) propõe que, ao aderir a uma metodologia fenomenológica, as

psicoterapias se finquem em mais do que apenas nos fenômenos que aparecem,

mas que reflitam sobre a experiência vivida do outro. Além disso, traz à consciência

do psicoterapeuta humanista uma concepção mais ampla do que apenas se fincar

em filosofias que se referem à psicoterapia, mas que se dediquem ao estudo da

fenomenologia, do existencialismo e, principalmente, sobre os relacionamentos

psicoterápicos que estamos envolvidos.

Com base na perspectiva teórico-filosófica, descrita no tópico 3.1, o papel do

psicoterapeuta humanista-fenomenológico é buscar compreender o significado

dessa experiência vivida, do mundo vivido do cliente, pois esse ser mundano, tal

como Moreira (2009b) nos esclarece, vive em mútua constituição com o mundo.

Page 113: A Experiencia de Ser Empatico

113

Para ela, a fundamentação do terapeuta deve ser sobre “uma concepção de homem

enquanto ser no mundo e, como tal, como fenômeno em mútua constituição com o

mundo” (Moreira, 2007, p.107). Dentro dessa ideia de mútua constituição é que se

pode, segundo Moreira (2007), “realizar uma psicoterapia transformadora” (p. 108).

Portanto, ser psicoterapeuta humanista-fenomenológico iniciante requer uma

fundamentação humanista e filosófica as quais dispõem de atributos consistentes

que facilitarão a prática clínica. A prática psicoterápica requer certos atributos do

psicoterapeuta de base humanista-fenomenológica e este utiliza-se de atitudes

facilitadoras em seu trabalho. Essas atitudes, tal como mencionadas anteriormente

neste trabalho, são a autenticidade ou congruência, a consideração positiva

incondicional e a capacidade empática. Kinget (1965/1977) afirma que além dessas

atitudes facilitadoras, “são necessárias duas qualidades […]: um grau elevado de

maturidade emocional e de compreensão de si” (p.104, grifo do autor).

Portanto, o terapeuta deve estar em estado de acordo interno consigo

mesmo, devendo ser autêntico, “pois a ausência de autenticidade conduz a uma

deterioração da relação, o que torna não somente ineficaz, mas prejudicial” (Rogers,

1965/1977a, p. 107); além de ser empático, aceitando incondicionalmente o cliente

enquanto ao que ele é. Percebe-se a necessidade dessas atitudes, as quais o

terapeuta necessita ter para um bom desenvolvimento do processo.

Para Kinget (1965/1977b), a prática psicoterápica requer dois gêneros de

competência: “uma formação especial e certos atributos pessoais” (p.101),

considerando o primeiro atributo como primordial nessa prática. No entanto, ela

afirma que mesmo

o treinamento mais completo não poderia equipar o terapeuta com as

Page 114: A Experiencia de Ser Empatico

114

técnicas necessárias para interagir de um modo ao mesmo tempo fecundo e

‘asséptico’. Não é principalmente o conhecimento nem a habilidade do

profissional que tem mais valor no trabalho terapêutico. É a sua integridade

pessoal (Rogers & Kinget, 1965/1977b, p. 112).

Bucher (1989) lembra-nos que ninguém nasce psicoterapeuta e que a

formação é importante, mas a sua personalidade é igualmente importante, e disso

dependerá seus interesses, suas aptidões e atitudes.

Para Boris (2008a), quando o psicoterapeuta iniciante se porta de forma

onipotente, procurando mostrar eficiência ou quando é excessivamente disponível,

“esconde aparentemente a insegurança e a inexperiência” (p. 374). Embora,

também, assuma uma postura impotente, ao ser muito compreensivo e não

aprofundar os conteúdos trazidos pelo cliente. Portanto, ao mesmo tempo, que pode

se mostrar excessivamente “competente”, o psicoterapeuta iniciante tem as suas

impossibilidades, devido à falta de experiência.

Boris (2008a) assinala que

A literatura teórica é um ponto essencial de apoio e de referência ao

psicoterapeuta, mas não basta por si mesma, devendo sempre ser adotada

com flexibilidade, fundamentando e sendo fundamentada pela prática

profissional, pelas vivências pessoais, pela supervisão e pela própria

psicoterapia do psicoterapeuta (p. 376).

Dentro do processo de formação do psicoterapeuta iniciante, incluindo o

humanista-fenomenológico, a supervisão apresenta-se como um recurso

Page 115: A Experiencia de Ser Empatico

115

fundamental de formação, e um dos instrumentos facilitadores disso são as versões

de sentido propostas por Amatuzzi (1989), enfatizadas por Boris (2008b) e Moreira

(2009b). Essa ferramenta, utilizada dentro da abordagem humanista-

fenomenológica, vem como um recurso fundamental, proporcionador de

aprendizado, pois é nele que o psicoterapeuta coloca suas impressões acerca de

seus atendimentos psicológicos com seus clientes. É aqui que o psicoterapeuta

pode colocar suas dúvidas, medos, sucessos, fracassos, enfim, como forma de

aprimoramento de suas visões e de aprendizado ao ver o quanto evolui em sua

trajetória com cada cliente individualmente.

Essas versões de sentido são, para Amatuzzi (1995), “uma tentativa de dizer

a experiência imediata do terapeuta enquanto pessoa naquele momento, e enquanto

ainda referida à sessão que acaba de terminar” (p. 68). Para Amatuzzi (1993), a

versão de sentindo é cabível de aprendizado tal como se vai aprendendo a ser

terapeuta.

Para Moreira (2009b), quando falamos de supervisão clínica, isso inclui três

dimensões: “a teórica, a experiencial e a de supervisão” (p. 71). Sabemos a

importância da fundamentação teórica, da experiência como fundamental para um

melhor andamento do processo e a melhor forma de lidar com as situações

adversas, pois cada cliente é único. A supervisão, no modelo humanista-

fenomenológico, diz respeito à “mundaneidade, a tendência atualizante e a

responsabilidade contingente” (Moreira, 2009b, p. 77, grifo do autor), que são a base

filosófica dessa abordagem e fundamentam a supervisão.

Moreira (2009b) afirma que “o objetivo da supervisão será, prioritariamente, a

formação do psicoterapeuta” (p. 78). Além disso, assinala que “segundo a

fenomenologia, a realidade é um a priori, e a experiência vivida dá-se no âmbito da

Page 116: A Experiencia de Ser Empatico

116

prática” (Moreira, 2009, p. 79, grifo do autor). Boris (2008b) destaca que Moreira

mostra a importância do valor da experiência vivida do psicoterapeuta iniciante para

a sua formação, além de se submeter ao seu próprio processo psicoterápico.

Mesmo ao término do estágio supervisionado, Boris (2008b) afirma ser

importante uma continuidade da supervisão do psicoterapeuta iniciante por um

psicoterapeuta mais experiente, o qual permitirá que aquele tenha essa opção como

um recurso valioso e imprescindível em sua trajetória inicial como psicoterapeuta. A

importância da supervisão, tanto no estágio quanto depois, é fundamental, uma vez

que, segundo Boris (2008b),

a formação de um psicoterapeuta é contínua e sistemática, persistindo ao

longo de sua vida profissional e devendo ser sempre condizente com sua vida

pessoal e as diversas opções e experiências que ele faz e vivencia. Não é,

portanto, pontual e circunstancial (p. 167).

Távora (2002) afirma que

Treinar futuros terapeutas exige, ao mesmo tempo, técnica, arte e

sensibilidade. Exige respeito às diferenças e crença no talento de cada

iniciante amendrotado, tímido em suas iniciativas e pouco confiante em si.

Significa também deixar que os treinandos ensinem ao supervisor a arte de

ser paciente, de acreditar sem ver resultados imediatos e de abster-se de

induzi-los a um modelo de terapeuta já pronto (p.121).

Em vista do que foi explanado, sobre as condições necessárias a um

Page 117: A Experiencia de Ser Empatico

117

psicoterapeuta iniciante, mais especificamente, o humanista-fenomenológico,

percebe-se as dificuldades que estes sofrem ao lidar com essa nova situação em

sua vida profissional, daí a importância de uma adequada formação acadêmica. No

que se refere, à abordagem específica a ser seguida e à supervisão, apresenta-se

como um norte fundamental diante das impossibilidades e como uma troca de

experiências, pois cada situação de ambiente terapêutico é única, e tanto supervisor

e orientando aprendem com essas maneiras de ser de cada um.

Fazemos muitas escolhas na vida, assumimos muitas responsabilidades e

uma delas é quando decidimos ser psicoterapeuta. A responsabilidade de cuidar do

outro requer muita sabedoria, acordo interno consigo mesmo e uma formação

adequada. Bucher (1989) enumera três condições que dão sentido a escolha da

“carreira” de psicoterapeuta, que penso que seja adequado citá-las, devido à

importância de tamanha responsabilidade. Essas condições dizem respeito,

inicialmente, a pessoa se interessar pelo ser humano, saber lidar com esse outro em

suas manifestações; além de aturar e suportar a dimensão humana e o impacto da

mesma na vida do outro. A última condição se refere à formação profissional, onde o

aspecto técnico é necessário, mesmo que seja insuficiente para lidar com esse

humano (Bucher, 1989).

Nos remetemos aqui, mais uma vez, às questões voltadas a atitude do

psicoterapeuta diante de uma relação interpessoal com seu cliente, da necessidade

de uma boa formação profissional, da personalidade do mesmo, como suas

posições e atitudes influenciarão ou não o andamento do processo terapêutico.

Page 118: A Experiencia de Ser Empatico

118

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Realizei uma pesquisa qualitativa de cunho fenomenológico mundano,

ancorado no pensamento de Merleau-Ponty e desenvolvido por Moreira (2007,

2009b), pois este consiste em um método que busca compreender as dimensões do

vivido humano.

5.1 A Pesquisa Qualitativa Fenomenológica

Para elucidar e compreender o meu objeto de estudo, buscando conhecer a

dimensão do vivido, as experiências do sujeito, procurando apreender o significado

dos conteúdos que emergem em uma pesquisa, que fiz uso de uma pesquisa

qualitativa fenomenológica, pois esta tem a finalidade, segundo Amatuzzi (2001), de

clarear os fenômenos, visando construir uma compreensão de algo. Por meio desse

tipo de pesquisa, podemos nos aproximar ao máximo do relato do indivíduo tal como

aparece, do vivido em sua própria intencionalidade. Para Amatuzzi (2001), o que o

pesquisador busca é a “experiência intencional, vivida. Não os fatos que possam ser

inferidos, não a estrutura de pensamento subjacente revelada pelo uso de

determinadas palavras, não o desejo oculto e camuflado pelo discurso” (p. 8).

Para ele, numa pesquisa fenomenológica, “o melhor relato é o que procura

trazer, tornar presente, a experiência vivida” (Amatuzzi, 2001, p. 18). Assim, a

pesquisa fenomenológica é aquela que visa compreender o vivido, e esse vivido

podemos acessá-lo, por meio do relato da experiência. Esse relato “não se

manifesta sozinho, ou puro. Ele sempre se mostra já compondo-se com concepções,

percepções, construções da consciência” (Amatuzzi, 2001, p. 19).

Page 119: A Experiencia de Ser Empatico

119

Em concordância, Rey (2005) aponta que as experiências são extremamente

pessoais, as quais dizem respeito a uma história, um contexto próprio de cada um,

marcando sua singularidade. E o pesquisador, por meio de uma escuta atenta,

procura compreender esses fenômenos, a partir da descrição, uma vez que o

fenômeno pode falar por si só, objetivando alcançar o sentido da experiência,

emergindo, assim, os significados gerais ou universais dessas descrições (Holanda,

2006).

Após a apreensão dos dados qualitativos da pesquisa, por meio da descrição

da experiência,

a análise fenomenológica dos dados procede através da metodologia da

redução, da análise de afirmações e temas específicos e da busca de todos

os significados possíveis. O pesquisador também põe de lado todos os

prejulgamentos, pondo entre parênteses […] as suas experiências (um retorno

à “ciência natural”) e apoiando-se na intuição, na imaginação, em estruturas

universais para obter um retrato da experiência (Creswell, 1998, p. 5).

Por conseguinte, procurei ter acesso à experiência e compreender o

significado de ser empático para cada psicoterapeuta iniciante entrevistado, através

do método fenomenológico mundano.

5.2 O Método Fenomenológico Mundano

A busca pelo significado da experiência, através da compreensão dos

fenômenos, é o principal objetivo da pesquisa fenomenológica mundana. Assim, a

Page 120: A Experiencia de Ser Empatico

120

experiência vivida do sujeito é compreendida a partir de sua mundaneidade. Este

método, proposto por Moreira (2007, 2009b), é inspirado na filosofia de Merleau-

Ponty, caracterizando-se como uma ferramenta crítica que facilita a apreensão da

experiência vivida do sujeito.

Como pressuposto filosófico, é necessário fazer uma rápida releitura

fenomenológica de Merleau-Ponty, para melhor compreender este método e a visão

de homem como ser mundano, pois Merleau-Ponty vai além de uma visão dualista

de homem e mundo. Nesta perspectiva metodológica, há uma visão de homem, que

deixa de ser percebido de forma dualista, passando a ser pensado em sua mútua

constituição com o mundo. Dessa mútua constituição, é que surge o conceito de

homem mundano proposto por Moreira (2001, 2004, 2009b). Esse homem mundano

é atravessado por inúmeras dimensões, sejam sociais, políticas, culturais, biológicas

e psicológicas. E é a partir dessa dimensão do vivido que este método procura

compreender esse homem. Assim,

o mundo é inseparável do sujeito, mas de um sujeito que é senão projeto do

mundo, e o sujeito é inseparável do mundo, mas de um mundo que ele

mesmo projeta. O sujeito é ser-no-mundo, e o mundo permanece ‘subjetivo’,

já que sua textura e suas articulações são desenhadas pelo movimento de

transcendência do sujeito (Merleau-Ponty, 1945/1994, p. 576).

O pensamento de Merleau-Ponty (1945/1994) traz a ideia de que a

fenomenologia situa-se numa perspectiva onde a essência está na existência, dando

significado à experiência vivida de cada um e que o homem e mundo são vistos a

partir de sua facticidade. Além do mais, afirma que as coisas e o nosso corpo são

Page 121: A Experiencia de Ser Empatico

121

feitos do mesmo estofo e o corpo está preso no tecido do mundo, “são um anexo ou

prolongamento dele mesmo, estão incrustados em sua carne” (Merleau-Ponty,

1964/2009, p. 17).

Por conseguinte, esse corpo, que se constitui com o mundo, é visto a partir de

seus múltiplos contornos, onde não existe uma dicotomia entre ambos. Em A dúvida

de Cézanne (1945/2004), as linhas disformes apresentadas nas obras desse pintor

retratam muito mais a realidade do que propriamente a fotografia, pois as mesmas

parecem um prolongamento entre as partes correspondentes da figura. Assim, “seus

quadros dão a impressão da natureza em sua origem, enquanto as fotografias das

mesmas paisagens sugerem os trabalhos dos homens, suas comodidades, sua

presença iminente” (Merleau-Ponty, 1945/2004, p. 128).

Na fotografia há a perda do movimento, congelando a imagem, onde separa o

real do imaginário, cristalizando apenas uma representação de determinado

momento. O que não se vê nas pinturas de Cézanne, onde os traçados parecem ter

movimentos, ou melhor, parecem não existir traçados. Para Merleau-Ponty

(1945/2004), “o contorno dos objetos, concebidos como uma linha que os delimita,

não pertence ao mundo visível, mas à geometria” (Merleau-Ponty, 1945/2004, pp.

129-130).

Essa analogia, feita por Merleau-Ponty, remete-nos às ambiguidades que são

inerentes ao ser humano, pois este é constituído de múltiplos contornos, faz parte de

um mundo, de uma cultura, de uma sociedade, de uma economia, de uma história e,

ao mesmo tempo, é constituído por todas elas. Para Nóbrega (2008), “Merleau-

Ponty reflete sobre a pintura de Cézanne como configuração perceptiva cuja

natureza problematiza as dicotomias entre percepção e pensamento, entre a

expressão e o que é expressado” (p. 141) .

Page 122: A Experiencia de Ser Empatico

122

Assim, a pintura de Cézanne é usada por Merleau-Ponty como forma de

expressar seu pensamento, que aquele pintor expunha, nas pinturas, o

prolongamento da vida do homem e do mundo. O filósofo reconhecia, a partir disso,

as ambiguidades que são inerentes ao ser humano em seus múltiplos contornos.

Disso, Merleau-Ponty pretendia, segundo Moreira (2007), “desfazer a ideia de que o

real é estático, tomando como exemplo o movimento da pintura (Moreira, 2007, p.

222).

Esse real, para Merleau-Ponty (1945/1994), “deve ser descrito, não construído

ou constituído” (p. 5). Articulando essa ideia de Merleau-Ponty com a pesquisa,

tenho como finalidade, apreender a descrição do real, daquilo que foi vivido

verdadeiramente pelos colaboradores da pesquisa. E é neste intercurso entre o

vivido do homem e o mundo, que pela redução fenomenológica, busquei colocar

entre parênteses a minha experiência, meus conhecimentos, saberes e ideias

acerca da temática aqui proposta, me atendo apenas nas falas dos entrevistados,

pois é por conta dessa redução, que chegamos ao sujeito situado no mundo, mundo

este que antecede a reflexão. Isso é uma tentativa, uma vez que para Merleau-Ponty

(1945/1994), “o maior ensinamento da redução é a impossibilidade de uma redução

completa” (p. 10).

A utilização dessa redução é, para Moreira (2009b), um artifício lógico para

que o pesquisador alcance a realidade, e ela nunca se completa porque estamos

ancorados no mundo, somos um só, estamos enraizados um no outro, numa espécie

de atolamento congênito.

É diante dessa visão que estabelece o homem enquanto ser mundano,

composto por suas experiências, que procurei compreender a experiência desses

psicoterapeutas iniciantes, resgatando a dimensão do vivido de cada um.

Page 123: A Experiencia de Ser Empatico

123

5.3 O Local da Pesquisa

As entrevistas foram realizadas no Serviço de Psicologia Aplicada - SPA do

Núcleo de Atendimento Médico Integrado – NAMI. O NAMI é uma instituição que se

preocupa em promover a qualidade de vida e para isso foi criado em 1978, tendo a

finalidade de prestar atendimento multidisciplinar que são focados na humanização e

na evolução do atendimento. É referência no Norte e Nordeste pela qualidade do

atendimento prestado, incluindo os casos de natureza secundária e de alta

complexidade. São beneficiados, por ano, cerca de 25 mil pacientes, realizando 300

mil procedimentos por ano.

A missão do NAMI é desenvolver ações de saúde no nível secundário de

atenção, procurando promover, prevenir, diagnosticar, tratar, reabilitar e proporcionar

a melhoria da qualidade de vida, de forma interdisciplinar.

O NAMI possui diversos tipos de atendimentos, dentre os quais destaco:

fonoaudiologia, terapia ocupacional, Programa Interdisciplinar de Nutrição aos

Transtornos Alimentares e Obesidade, serviços médicos mais especializados, entre

outros, além de possuir uma academia que tem como objetivo a prática esportiva, o

complemento da assistência médica terapêutica, e o Serviço de Psicologia Aplicada,

onde foram feitas as entrevistas desta pesquisa, que possui uma estrutura para

teoria e prática da vivência profissional.

Esse campo de investigação foi escolhido porque nesse local se encontram

os psicoterapeutas iniciantes da vertente humanista-fenomenológica, que são

orientados por professores que trabalham com esse enfoque.

Page 124: A Experiencia de Ser Empatico

124

5.4 Os Sujeitos Colaboradores da Pesquisa

Para Amatuzzi (2001), “a pesquisa fenomenológica não tem sujeitos que

forneçam informações, mas colaboradores que pensam junto o assunto, e o fazem

com a novidade da primeira vez.” (p. 19).

O critério de inclusão para participação levou em consideração aqueles

psicoterapeutas iniciantes que já tiveram mais de cinco atendimentos psicoterápicos

com seus clientes. Essa pesquisa contou com a participação voluntária de 25

psicoterapeutas iniciantes da vertente humanista-fenomenológica, indicados pelos

respectivos orientadores, que estão fazendo estágio curricular em psicologia clínica.

Esse estágio tem a finalidade de que os alunos graduandos façam atendimentos em

psicoterapia individual ou em grupo, triagem, psicodiagnóstico como requisito parcial

para formação em psicologia.

O processo de composição dos sujeitos colaboradores se deu da seguinte

forma: inicialmente, contatei os professores orientadores desses estagiários, os

quais acharam melhor que eu os convidasse pessoalmente nas salas de supervisão,

assim pude convidá-los, explicando o objetivo da pesquisa, garantido o sigilo do

conteúdo das entrevistas; posteriormente, esclareci que deveriam assinar um Termo

de Consentimento (ver em anexo), aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

UNIFOR - COÉTICA (Parecer nº 162/2011), e que estariam participando por livre e

espontânea vontade, podendo desistir dela a qualquer momento; após os

participantes aceitarem e demonstrarem interesse em vir a conhecer os resultados

finais da pesquisa, as entrevistas foram realizadas (uma entrevista com cada

colaborador); e dos 25 participantes, três eram do sexo masculino e 22 do sexo

feminino – essa diferença de gênero se deu devido ao pequeno número de homens

Page 125: A Experiencia de Ser Empatico

125

orientados por estes professores; desses 25 sujeitos colaboradores, que se

dispuseram a participar, 17 eram estagiários de clínica I, seis de clínica II e somente

um participante de clínica III, sendo um dos colaboradores, estagiário de clínica II e

III, simultaneamente.

5.5 Instrumento de Pesquisa: Entrevista Fenomenológica

O instrumento de pesquisa utilizado consistiu em uma entrevista

fenomenológica não-estruturada, a partir de uma pergunta norteadora: Como é para

você ser empático com seus clientes em psicoterapia?

Esse instrumento de pesquisa é, para Moreira (2009b), um “artifício utilizado

para colher dados sobre o fenômeno que se pretende compreender. Dado que o

caminho que se pretende seguir é, basicamente, a descrição da experiência, a

entrevista tem sido o instrumento amplamente utilizado por pesquisadores

fenomenológicos” (p. 114).

Buscou-se a descrição do sujeito colaborador acerca de sua experiência

vivida. Para Amatuzzi (2001), o objetivo da entrevista fenomenológica seria

“surpreender o vivido no presente, quando a experiência da pessoa é pensada de

repente e dita como pela primeira vez, […]” (p.19). Para o mesmo autor, no momento

da pesquisa, o entrevistador deve ter um senso crítico a respeito de si mesmo, para

que possa colocar suas questões de lado sendo capaz de estar atento aos fatos e

fenômenos emergentes, por meio da redução fenomenológica; e que além dessa

atitude de pesquisador, também deve ter uma relação de tal forma com o

entrevistado, a fim de permitir que este possa relatar sua experiência vivida, e desta

maneira o pesquisador ter acesso à experiência vivida além das ideias, das teorias e

Page 126: A Experiencia de Ser Empatico

126

das estruturas de pensamento.

As entrevistas foram marcadas em dias, locais e horários pré-determinados, e

foram realizadas no SPA. O ambiente era calmo e silencioso, sem interrupções. As

entrevistas foram gravadas em áudio com o consentimento de todos, após

assinarem o Termo de Consentimento. Foram feitas 25 entrevistas, variando de 7 a

45 minutos, as quais foram transcritas literalmente. Após esse momento, foi

realizada uma análise detalhada das entrevistas, seguindo os passos da análise

fenomenológica mundana (Moreira, 2009b).

5.6 Análise Fenomenológica Mundana

A análise, das entrevistas, seguiu o modelo da análise fenomenológica

mundana, de acordo com os passos adaptados e propostos por Moreira (2009b), os

quais se resumiram da seguinte forma: primeiro, fiz a transcrição literal da entrevista,

onde transcrevi todas as falas, juntamente com todos os aspectos não-verbais, tais

como: os ruídos, risos, respirações, pausas realizadas pelo entrevistado, tal como

apareceram; posteriormente, fiz a divisão desse texto em movimentos, seguindo o

tom da entrevista, ou seja, foram divididos seguindo as mudanças que ocorreram

durante a entrevista, como quando os entrevistados mudaram de tema, de voz ou

fizeram pausas por causa de dúvidas, ou porque estavam pensando sobre o

assunto; em seguida realizei a análise descritiva desses sentidos que emergiram de

cada movimento, procurando identificar e compreender os significados da

experiência de ser empático; o último passo dessa análise consistiu em sair dos

parênteses e neste momento, a questão principal foi o retorno à hipótese, o que

antes era colocado entre parênteses como hipótese, retornou como foco de atenção,

Page 127: A Experiencia de Ser Empatico

127

fazendo articulações com os resultados da pesquisa, contemplando-a em seus

múltiplos contornos.

Page 128: A Experiencia de Ser Empatico

128

6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Em busca do significado da experiência vivida dos psicoterapeutas

humanista-fenomenológicos iniciantes realizei a análise fenomenológica mundana

nas entrevistas, onde as seguintes categorias descritivas emergiram:

6.1 Compreensão do conceito de empatia

Podemos compreender, a partir das falas dos sujeitos colaboradores, as

seguintes ideias acerca do conceito de empatia:

6.1.1 Empatia como base para facilitar o processo terapêutico

Pra mim ser empática é a base de tudo, é o que vai facilitar todo o processo, porque assim se não rola essa empatia no início vai ter complicação nessa relação terapeuta-cliente (Paulo); Então, eu acho que a questão da empatia é o ponto crucial da terapia, é o primeiro ponto, é essencial… para ocorrer mesmo os atendimentos, ocorrer de uma forma bacana, com… com qualquer é… cliente, essa questão da empatia é essencial, é essencial, tem que acontecer, é o ponto inicial para mim (Sandra); Ser empática para mim é… para mim na sessão ser empática é tudo sabe eu acho que começa daí, o crescimento, o desenvolvimento do paciente começa daí, da questão da empatia, se você conseguir ser empático com o seu cliente, é… acho que é o primeiro passo para tudo ocorrer depois daí, pro vínculo acontecer, para ele ter confiança de estar falando as questões dele para você, entendeu, saber que tem aquela pessoa que ele sabe que quer o bem dele, que quer que ele se desenvolva (Sandra).

Nestes relatos, a empatia aparece como sendo fundamental ao processo

psicoterapêutico, sendo considerada como a base, o ponto inicial para que o

processo aconteça. Ela apresenta-se como sendo importante para a profissão de

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psicólogo e para facilitar a relação entre psicoterapeuta e cliente. Rogers

(1961/1987) afirma que a empatia surge como essencial no processo terapêutico, à

medida que o terapeuta é capaz de captar o mundo do cliente sem esquecer-se da

condição de “como se”. Grant (2010) ressalta essa colocação de Rogers, mostrando

que, enquanto condição facilitadora, ela é parte essencial do trabalho dos

terapeutas.

Para Bozarth (1998/2001), Rogers trouxe uma perspectiva diferente ao tornar

a empatia “a chave do processo de mudança terapêutica” (p. 83). O’Leary (2008)

compartilha com essa visão. Isso pode ser visto nas falas dos entrevistados, quando

os mesmos afirmam que a empatia é compreendida como o ponto crucial em terapia

possibilitando o desenvolvimento do cliente. Ela é, em Rogers (1975/1977), um fator

primordial na promoção de mudanças e de aprendizagem.

6.1.2 Empatia como instrumento para facilitar a relação

Acho que eu tenho sempre usado a empatia como um instrumento, como instrumento de que facilite dentro dos processos, até porque tem clientes que não são tão fáceis de construir essa relação empática, então assim, até você compreender como… compreender como é essa empatia e como ela deve ser construída, não é… como você tem que respeitar o limite do teu cliente para que realmente você consiga é criar esse vínculo, essa relação empática, eu acho que tudo isso é um processo que a gente tem que respeitar, porque todo mundo tem um tempo, até interessante porque dentro dos clientes que eu atendo, cada um eu percebo que tem o seu tempo, e às vezes alguns já vêm de outras situações terapêuticas, então até… construir isso é muito complicado e às vezes você tem que… às vezes você tem que perceber e só estando ali com ele para conseguir compreender como é construir isso (Paulo).

Rogers coloca a empatia como sendo uma atitude facilitadora para que o

processo de desenvolvimento da personalidade ocorra, permitindo ao cliente o

crescimento, evitando que a mesma seja confundida como uma técnica. Decorre

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disso, a preocupação da empatia não poder ser ensinada, pois correria o risco de

ser entendida como uma técnica (Grant, 2010).

De acordo com Bozarth (1998/2001), “para Rogers, a empatia é o modo de o

terapeuta experienciar outra pessoa, na medida em que é mais do que uma técnica,

fórmula, forma ou base esquemática cognitiva” (p. 92).

Neste caso, o entrevistado usa a empatia como um instrumento que facilita a

construção do processo. Mas esse instrumento parece ser compreendido, quando

ele diz que a usa como instrumento, “porque tem pacientes que não são tão fáceis

de construir uma relação empática”, como uma espécie de fórmula que facilita, o

que, para Rogers, seria apenas o experienciar os sentimentos do outro como se

fosse esse outro, e não uma fórmula de construção de relação. A empatia, por mais

que ela seja “uma maneira de ser complexa, exigente e intensa” (Rogers,

1975/1977, p. 74), ela é, segundo Rogers, sutil e suave. Para ele, “é algo que o

terapeuta oferece e não alguma coisa apenas eliciada por um tipo particular de

cliente” (Rogers, 1975/1977, p. 77).

6.1.3 Ver e ouvir verdadeiramente

Eu acho que quando o cliente, ele traz as questões dele de certa forma se você está com uma escuta atenta você entra no mundo do cliente e você imagina que você está junto com ele lá,… mas sempre tento estar com ele também, então eu acho que sempre que eu estou com a escuta atenta eu estou com ele nesse mundo dele e mais, com cuidado para saber como sair, em que momento sair, então é mais ou menos isso (Roberta);

É justamente esse olhar que você tem diante da situação do cliente, diante do que ele está vivendo, diante do que ele está experimentando, tentar compreender aquilo como se você fosse ele, tentar é… enxergar aquela situação usando os olhos dele, digamos assim, através de uma lente comum (Diana).

Tal como Rogers já colocava a importância de um ouvir atento e verdadeiro,

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muitos entrevistados apontaram como sendo fundamental ouvir atentamente o que o

cliente está trazendo sem criticá-lo, e olhá-lo com atenção. Ouvir o cliente, para

Rogers (1980/2007), seria uma espécie de força motriz, pois de acordo com ele,

ouvir é um modo especial de ajudar imensamente importante na relação. Esse ouvir

deveria ser imparcial, ativo, sensível e com muito cuidado. O próprio Rogers

(1980/2007) utilizava o ouvir quando tinha dúvidas acerca do que fazer a respeito do

que o cliente trazia.

É por meio do ouvir e do olhar atento, que o terapeuta consegue adentrar ao

mundo do cliente, pois o fenômeno aparece tanto por meio da fala quanto por meios

não verbais. É o que se percebe na fala da entrevistada Diana, quando ela procura

olhar o cliente de acordo com o que ele está experimentando. A pessoa também se

comunica por meio do olhar, da postura, dos movimentos, gestos, e da mesma

forma o terapeuta se comunica não verbalmente com seus clientes (Rosenberg,

1977). Por isso, esse contato verbal e não verbal afiguram-se como fundamentais

para que o processo desenvolva-se em direção ao crescimento do cliente, e isso

está claro para os entrevistados, na medida em que eles ouvem e veem por trás do

visível a situação do cliente. A percepção do que foi expresso, faz com que o

terapeuta chame a atenção do cliente de muitas coisas que não foram ditas por ele.

Segundo Amatuzzi (1990), o ouvir o que está por trás da mensagem, é para Rogers,

o ouvir mesmo, e não o deduzir o que o cliente diz.

Para Merleau-Ponty (1945/1994), “o sentido do gesto não está contido no

gesto enquanto fenômeno físico ou fisiológico. O sentido da palavra não está contido

na palavra enquanto som” (p. 262). “O sentido está enraizado na fala, e a fala é a

existência exterior do sentido” (p. 247).

Furlan e Bocchi (2003) afirmam que Merleau-Ponty (1945/1994)

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recorrerá ao gesto para esclarecer a comunicação pela palavra, buscando no

corpo não só a compreensão do problema da linguagem, mas também o

entendimento de uma questão mais abrangente, a expressão. Segundo ele,

há um mesmo modo de apreensão sensível na base da compreensão da fala

e do gesto corporal. Apreende-se o significado da palavra assim como

apreende-se o sentido de um gesto (p. 448).

Dentro do processo psicoterapêutico, ver e ouvir precisam ser estabelecidos

de tal forma que proporcione o encontro entre terapeuta e cliente. Esse ver e ouvir

estão para além do aparente, estão por trás do que o outro diz ou expressa não

verbalmente, percebendo o que está invisível. Isso possibilita que o cliente possa

ouvir melhor o fluxo de suas experiências. “Para o terapeuta ver o paciente é,

simultaneamente, sair de si mesmo e trazê-lo ao mundo dentro de si. A partir disso,

ser-lhe-á possível falar autenticamente” (Moreira, 2009b, p. 69).

6.1.4 Ambiente Propício

Então, acredito que empatia é isso, é dar esse ambiente para o seu cliente, esse ambiente propício para que ele possa se colocar, e você também respeitando os limites dele, acho que é mais ou menos isso (Roberta).

A necessidade de um ambiente propício fez-se presente em uma das falas,

como sendo importante para que o cliente sinta-se à vontade para se colocar. Esse

ambiente facilitador é fundamental para que o processo se desenvolva de forma que

o cliente perceba esse acolhimento e sinta-se à vontade para se colocar e trabalhar

suas questões.

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Quando uma atmosfera não ameaçadora ocorre, o cliente sente-se

compreendido, aceito, sente que não estão sendo julgado ou avaliado e que o

terapeuta está ali ouvindo atentamente. Sente que o terapeuta o escuta com

atenção, esforçando-se para compreendê-lo (Rogers, 1951/1992). É desta forma

que se constitui um ambiente facilitador, sem julgamentos, aceitando o cliente tal

como ele é e o compreendendo genuinamente, permitindo que possa expressar seu

sofrimento e que o fluxo de suas experiências internas seja reestruturado de acordo

com o tempo do cliente. “Neste clima, pessoas e grupos conseguem sair da rigidez e

caminhar em direção à flexibilidade da vivência estática à vivência processual, da

dependência à autonomia, do previsível a uma criatividade imprevisível, da

defensividade à auto-aceitação” (Rogers, 1973/1977, p. 195).

Percebe-se a preocupação do colaborador em dá essa atenção ao cliente,

oferecendo-lhe um ambiente adequado para seu desenvolvimento, e para ele a

empatia lhe permite isso.

6.1.5 Sintonia e Reciprocidade

A impressão é essa mesmo, estar em uníssono, estar no mesmo tom, estar afinando… (Natália); Eu entendo por compreensão empática quando é… como se tivesse uma sintonia, é uma sintonia mútua digamos assim, não sei se posso chamar de mútua, mas como se estivesse numa compreensão, como se as duas pessoas no mesmo ritmo juntas… eu entendo assim (Bruna).

Ser empático para estes sujeitos colaboradores consiste em está em sintonia

com seus clientes, permitindo uma compreensão do mundo deles. Moreira (2009b)

afirma que “o processo psicoterapêutico se produz na intersecção dos Lebenswelten

do terapeuta e do cliente” (p. 52, grifo do autor). Nesse momento de sintonia, parece

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que terapeuta e cliente já estão em um estágio de profunda relação de

compreensão, tanto o terapeuta compreendendo o cliente, como o cliente se

sentindo compreendido. Parece que, ao está em uníssono com o cliente o terapeuta

está captando “os significados da experiência vivida em sua totalidade, que não é

puramente objetiva ou subjetiva” (Moreira, 2009b, p. 51). Ela é, simplesmente,

experiência.

É por meio da empatia que o terapeuta se aproxima da experiência de seu

cliente. É desse veículo de partida, como afirma Souza (2008), que o terapeuta

“realiza as travessias experienciais com o cliente” (p. 116). Sem ela, o trabalho do

terapeuta direciona-se “para outros resultados que não o funcionamento pleno do

organismo” (p. 116).

6.1.6 Condições facilitadoras

Eu acho que é esse consentimento que a gente se permite… de dar permissão ao outro de ser quem ele é,… essa empatia ela vem justamente da relação, ela nasce dessa relação, da gente se permitir ser a gente mesmo, o que não é fácil na primeira sessão (Natália); Compreensão empática é você compreender… eu posso está enganada, mas assim, minha forma de entender é assim… compreender… o que eu entendo por compreensão empática, é você é… aceitar aquela pessoa da forma como ela é, independente de quem seja,… eu sabia que eu ia ter essa aceitação, quem viesse, como viesse (Lidia); As atitudes facilitadoras do Rogers, eu não consigo assim pensar uma delas, sem pensar nas outras duas, no caso não consigo pensar empatia sem pensar um pouco em autenticidade, e na aceitação positiva incondicional, que para mim são atitudes que estão sempre andando de mãos dadas, digamos assim, mas ser empático para mim é uma das atitudes mais importantes sim (Diana); É uma experiência de muito crescimento, uma experiência muito boa assim, quando você consegue ser genuinamente empático na relação com o cliente, podendo “aceitar ele” de maneira verdadeira e tudo, é como se você… assim, o que eu sinto e às vezes que eu já… já experimentei isso, é como se

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validasse de certa forma aquilo que você está se propondo a fazer (Natália); De está diante do cliente não com a concepção de que ele seja um objeto, mas que… é uma pessoa, que ali… a partir das diferenças, mas que há muitas semelhanças comigo enquanto terapeuta, isso tem facilitado demais essa relação empática com meu paciente, a questão assim da posição incondicional, o respeito pelo paciente… do cliente, isso tem facilitado (Priscila).

Por mais que as condições facilitadoras estejam interligadas, elas devem ser

diferençadas quanto ao conceito e ao papel de cada uma delas dentro do processo

psicoterápico. Temos que aceitar o cliente tal como ele é, mas a compreensão

empática surge a partir do momento em que entramos em contato com o mundo do

cliente, o que só se dá depois de aceitá-lo verdadeiramente enquanto pessoa e, ao

mesmo tempo, é tal como Bozarth (1998/2001) afirma, que “para que o olhar

incondicionalmente positivo seja transmitido, tem que existir num contexto de

compreensão empática” (p. 73). Então, uma coisa não invalida a outra, pelo

contrário, reafirma a necessidade das condições facilitadoras em conjunto.

No que concerne à autenticidade, Bozarth (1998/2001) afirma que ela é “uma

característica do terapeuta que deve existir. É contextual, isto é, esta condição é um

desenvolvimento atitudinal que permite ao terapeuta estar mais apto a experienciar a

compreensão empática e o olhar incondicionalmente positivo em relação ao cliente”

(p. 75).

É inegável a ligação e a contribuição que cada atitude tem de facilitar o

crescimento da personalidade do cliente, embora seja conceituada e entendida de

forma particular por cada um dos entrevistados. O conhecimento das mesmas,

enquanto atitudes facilitadoras, está claramente explícita nas falas dos

entrevistados, demonstrando a existência delas na terapia, embora precisem ter a

compreensão de cada uma enquanto atitude em si mesma.

De acordo com Bozarth (1998/2001), todas estas atitudes estão integralmente

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relacionadas, e que “a compreensão empática é a aceitação incondicional do quadro

de referências do indivíduo” (Bozarth, 1998/2001, p. 87). E, para compreender

empaticamente e aceitar o cliente, o seu quadro de referências, o terapeuta tem que

está congruente em si mesmo (Bozarth, 1998/2011).

6.1.7 Identificação

Ser empático, no caso é uma coisa que vem abrir portas, vem trazer a possibilidade da pessoa se sentir à vontade de se sentir identificado para que ele possa falar sobre si, falar sobre suas questões (Pedro); […] a partir do momento em que eu penso com ela, eu me torno uma pessoa identificável a ela, então se identifica em mim na minha compreensão da situação dela e a partir daí eu a vejo com empatia comigo, então assim, eu tento fazer dessa forma, eu acho que isso me ajuda bastante (Pedro); […] porque você para tentar entender as experiências de outro, você não viveu de certa forma, você tem que comparar com experiências semelhantes que você teve (Pedro); […] tem momentos assim que eu me angustio muito com o que ela traz, que o choro vem bem aqui, quando ela chora dizendo que… enfim… das dificuldades, eu me identifiquei com ela porque eu tenho uma filha pequena também, é complicado (Veruska); […] por mais que a gente não queira sentir aquilo na gente, parece que é… a gente se sente naquela situação, ou seja, quando ela traz uma questão que é dela tem momentos que eu vejo aquela questão como sendo minha, e a gente… essa coisa… é… muito difícil porque a gente quer colocar… quer trazer à tona como se a gente estivesse vivendo aquilo na situação real da gente, isso é uma coisa que eu ainda preciso aprender a separar… a gente se identifica um pouco com isso, e às vezes é complicado a gente ver a situação dela, a gente fica naquela situação querendo resolver a dela e a da gente também (Carla).

Rogers já dizia que não deveria haver essa identificação, porque senão o

terapeuta se perderia dentro do processo do outro. Para Bozarth (1998), “Rogers

parecia especialmente preocupado com o fato de o terapeuta não se dever

identificar com o cliente, mas sim manter a dimensão de ‘como se’” (p. 87). Segundo

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Rogers, essa não-identificação é, “sentir a angústia, o receio ou a confusão do

cliente como se de sentimentos seus se tratasse e, no entanto, sem que essa

angústia, esse receio ou essa confusão o venham afetar, tal é a condição que

estamos tentando descrever” (Rogers, 1961/1987, p. 262).

Rogers (1951/1992), ao falar em identificação, se refere a uma identificação

empática, que é diferente de uma identificação emocional. Na identificação

empática, o orientador (nessa época ele chamava assim o terapeuta), “percebe os

ódios, as esperanças e os medos do cliente através da imersão num processo

empático, sem contudo experimentar ele próprio esses ódios, esperanças e medos”

(Rogers, 1951/1992, p. 39).

6.1.8 Simpatia

Um sujeito colaborador descreve empatia como sendo a pessoa se mostrar

disponível tendo algumas características pessoais como, ser simpática:

Essa compreensão empática é você está ali disponível… você se mostrar disponível e você ter algumas características pessoais, como ser simpática também, a empatia é claro que é a mesma coisa… e assim é você está acessível, acho que isso contribuiu muito para que estabeleça essa compreensão empática, aconteça (Sandra).

O terapeuta pode ser simpático com seus clientes, mas ter uma atitude

empática quer dizer que está realmente implicado com aquele cliente, está de fato

compreendendo, sem julgamentos, aquela pessoa. Essa disponibilidade, que o

entrevistado fala, é estar aberto para o outro, mas pode ser confundida, dentro

desse contexto, com aquela abertura do senso-comum.

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6.1.9 Acolhimento

Eu acho que ser empático é tentar me aproximar o máximo do que eu puder do que eles estão me trazendo como questão naquela sessão… porque… aí cada sessão eu acho que é diferente, porque eles trazem questões iguais, mas que são diferentes na forma que eles colocam e que mudam de uma semana para outra, e eu acho que é bem isso… é mais tentar me aproximar deles, porque não dá para me colocar exatamente na posição que eles estão, mas é tentar acolher da melhor forma possível, que eles sintam que aquilo que eles estão dizendo, está sendo validado, está sendo levado em consideração (Patrícia); Quando eu estou na sessão, a minha presentificação dentro da sessão, eu consigo está bem atenta, prestar bem atenção, é saber acolher o sofrimento do outro, e… é você está atenta ao que o outro está te trazendo, aquilo que é do outro, é sabendo tirar o que é teu (Lidiane).

O acolhimento apresenta-se como uma forma de validar o que o cliente está

trazendo, mostrar que eles estão sendo levados em consideração. É se aproximar

deles, acolhendo seu sofrimento, prestando atenção no que estão trazendo. É o

cuidado com o ambiente, a forma de se trajar e se comportar para que o cliente se

sinta acolhido. Nós (psicoterapeutas) aprendemos na faculdade os cuidados que

temos que ter no momento do atendimento, isso seria uma forma de mostrar

respeito pelo cliente, e é isso que se observa nas falas desses sujeitos

colaboradores: é o estar presente para o cliente, é aproximar-se dele, é ter uma

relação adequada, é dar crédito ao cliente, tornando-o parte do processo.

6.2 Sentimento de ser empático

Eu me sinto muito bem quando eu estou conseguindo fazer, é… quando eu estou conseguindo participar do problema, que às vezes eu consigo até sentir quando traz uma questão de angústia, que me angustia um pouco, quando traz uma reação de felicidade, que me traz felicidade, eu me sinto com uma sensação parecida, então eu me sinto bem, eu gosto, e quando eu percebo, às vezes a gente não percebe que está acontecendo, mas às vezes a gente

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“olha, está acontecendo”, e… é uma coisa que é fundamental acontecer pra que o processo terapêutico se desenrole, mas às vezes isso está acontecendo de uma forma tão legal, tão natural, tão prática, que a gente mesmo não percebe, é uma coisa que flui, mas às vezes a gente… às vezes a gente não para, para perceber, às vezes a gente… dar um estalo e percebe que está acontecendo, esses momentos em que eu percebo que está acontecendo, me deixam bem feliz (Pedro).

O sentimento de ser empático apresenta-se como sendo algo bastante

satisfatório para alguns dos entrevistados, o que possibilita que a relação terapêutica

flua, pois percebem que estão sendo coerentes. É um momento de entrar de fato na

relação, validando o papel do psicoterapeuta, sentindo-se mais seguros desse papel.

O ser empático parece, para este entrevistado, imergir naturalmente, tanto

que nem se percebe estando no mundo do cliente, e quando volta para si, se dá

conta do que estava acontecendo: o processo de compreensão empática, que fez

com que a relação fluísse, deixando-o com um sentimento de felicidade, ou melhor,

podemos entender disso, um sentimento de satisfação pessoal enquanto terapeuta.

6.3 Construindo uma atitude empática na relação terapêutica

Essa empatia ela nasce quando eu paro de julgar, se eu não faço nenhum juízo então eu permito que essa empatia se instale (Natália). Esse colaborador afirma que a empatia, dentro de uma relação terapêutica,

nasce quando não há julgamentos da parte dele em direção ao cliente. Para Rogers

(1975/1977), ser empático não diz respeito a atribuir características avaliativas e

diagnósticas a respeito do cliente. Essa atitude de não julgamento na relação, que

permite uma construção da compreensão empática por parte do terapeuta, parte da

concepção de que o terapeuta é uma parte importante na relação, fazendo com que

sua atitude desempenhe um papel fundamental dentro da terapia.

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Segundo Rogers (1975/1977), “a expressão mais alta da empatia consiste em

aceitar e não julgar. Isto é verdade porque é impossível perceber com precisão o

mundo interior de outra pessoa quando temos uma opinião avaliativa formada a seu

respeito” (p. 82).

Para outros, essa construção é bem mais difícil:

Então, essa empatia que eu vejo hoje nesse semestre, que a gente… as duras penas terminando é que se constrói, é construída, mas que assim… precisa que tenha um consentimento interior nosso, precisa que a gente se permita construir (Natália); Você tentar se aproximar cada vez mais de uma compreensão empática, de uma posição mais empática, que assim a princípio para mim isso não é algo tão simples assim, não é uma coisa que eu chegue e já consiga de cara está numa posição, postura completamente empática isso e aquilo, eu acho que é um exercício (Sandy);

Essa questão da empatia assim, eu acho que… torna-se um pouco, um pouco mais complicado, mais delicado, acho que essa palavra é melhor, tem muito ainda da insegurança, de está começando a clínica agora, de não saber muito bem como manejar algumas coisas no processo terapêutico, e às vezes essa… essa compreensão empática pode… tentar ficar um pouco nublada, um pouco por conta dessa insegurança de ser psicoterapeuta iniciante na minha prática (Diana); Não é uma coisa que você aprende na teoria e você aplica, não é uma técnica, mas é uma questão mesmo de atitude, tanto que uma das minhas pacientes que eu comecei a atender nesse semestre em clinica I, não houve em um primeiro momento essa empatia acredito eu, da minha parte, foi meio complicado transpor esse… esse primeiro momento, mas depois a coisa foi andando e enfim, hoje a gente tem um vínculo bem legal (Veruska).

A compreensão empática, dentro dos atendimentos, foi um processo a ser

construído aos poucos por alguns dos entrevistados. Para eles, isso não se deu

facilmente no início, isso se constituiu como um exercício contínuo no decorrer das

sessões. O envolvimento na relação diz respeito à construção da relação empática,

permitindo-se conhecer o outro diferente dele, permitindo-se entrar na história de

vida dos clientes. Esse envolvimento acontece de tal forma, que não percebem que

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estão verdadeiramente no mundo do cliente.

Rogers (1961/1987) demonstra, como se dá esse processo de estar na

relação com o cliente, na seguinte passagem:

e eu sou capaz de experimentar com igual liberdade a minha compreensão

desse sentimento, sem pensar nele conscientemente, sem qualquer

apreensão ou preocupação de saber onde é que isso levará, sem qualquer

espécie de diagnóstico ou de análise, sem quaisquer barreiras, emocional ou

cognitiva, para uma entrada total na compreensão (Rogers, 1961/1987, p.

182).

Esses psicoterapeutas tinham uma preocupação se a empatia iria ou não

ocorrer no momento da psicoterapia, se o que iriam fazer estava certo, tendo muita

dificuldade em ser empático. Relatam que a empatia é algo difícil de ser colocado

em prática, porque às vezes não conseguem compreender o mundo do cliente, o

que o cliente traz, atribuindo, muitas vezes, a culpa para si mesmo, pois como

estudantes e psicoterapeutas deveriam ter esse conhecimento.

Para Bozarth (1998/2001), Rogers mostra que “mesmo os terapeutas

experimentados, muitas vezes, não conseguem ser empáticos” (p. 95). Esse

momento é demonstrado por Rogers, quando ele diz que, “julgo que cada um de nós

descobriu que este tipo de compreensão é extremamente raro. Nem nós a temos

nem somos objeto dessa compreensão com muita frequência” (Rogers, 1961/1987,

p. 66).

A compreensão empática é algo tão natural e ao mesmo tempo tão complexa,

que muitas vezes não conseguimos entendê-la. Esse se colocar no lugar do outro

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pode parecer fácil, mas muitas vezes essa construção não se dá devido as nossas

próprias dificuldades, ou porque não aceitamos aquele sujeito tal como ele

verdadeiramente é.

6.4 Vínculo entre psicoterapeuta e cliente

É tanto que tem clientes que,… tipo assim, muda de terapeuta porque não deu mesmo. Não teve o vínculo e tudo, e assim eu acho que é fundamental, porque é o que vai dirigir todo o restante do processo. Sem ter a empatia, sem ter a formação desse vínculo fica complicado (Paula);

Eu soube me colocar no lugar dela mesmo, e ela sentiu isso, e pode até se dizer que ali foi que realmente criou o vínculo com ela, entendeu, foi ali, eu acho que foi realmente ali, eu não tinha nem parado para pensar nisso (Sandra); Para estabelecer o vínculo com ela foi uma coisa que demorou muito tempo, e… as atitudes facilitadoras da ACP foi o que… o que eu percebo que… permitiu que a gente construísse uma relação muito boa. E ai assim… como eu estava falando das atitudes, foi o que permitiu que a gente estabelecesse um vínculo muito bom na relação (Diana).

O processo de estabelecer um vínculo com o cliente foi um tema surgido nas

entrevistas, uma vez que os psicoterapeutas iniciantes entrevistados acreditam que

empatia e vínculo são fundamentais para que o processo ocorra. Alguns sentem

dificuldade em vincular-se ao cliente, enquanto para outros, isso se deu no primeiro

atendimento. Nas falas acima descritas, vê-se que o vínculo foi algo a ser construído

com o tempo, seja por causa de alguma situação em que o terapeuta transmitiu

confiança ao cliente, sendo compreensivo com as dificuldades dele, permitindo que

o vínculo fosse estabelecido; seja porque as atitudes facilitadoras proporcionaram

essa vinculação (como na última fala). Às vezes, o vínculo não acontece tão

facilmente, o que dificulta o processo terapêutico do cliente, e este parte a procura

de outro terapeuta que esteja mais próximo de suas expectativas enquanto cliente.

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Essas expectativas dizem respeito à abertura para o processo do cliente, pois pode

acontecer de o cliente não gostar de determinado terapeuta ou não aceitar ou lidar

com alguma característica do terapeuta, como no caso a seguir:

Na verdade o vínculo com a criança existiu, com o… era um adulto jovem, é… com 23 anos, com ele eu acredito que não, assim… ele chegou a colocar que sentia vergonha por conta do meu olho, que ele tinha problema com olho claro, enfim… eu pensei em trabalhar um pouquinho essa vergonha, mas a questão é que eu… não sei porque era comigo, ou se é porque de fato é assim e ele não estava disposto a uma terapia, ele não desenvolvia, ele não falava, […] ele desistiu da terapia há umas duas semanas atrás o que foi um pouco frustrante (Sandy).

6.5 Suspensão dos a priori

[…] eu estou tentando compreender como ele compreende, mas eu sei que eu conservo quem eu sou, conservo os meus a priori de alguma forma, eu acredito que é […] tentativa, mas nunca completa, na maneira como eu entendo (Fernando); Um dos pontos principais para você ser empático com seu paciente, para você ter essa compreensão, é você não olhar para o seu paciente já com alguma coisa pré-estabelecida, com algum julgamento, você olha para o paciente e diz “ah, não gostei dele, porque ele é assim, assim”. Então, eu acho… quando você suspende tudo isso, a relação acontece de fato e é tudo mais rico (Cláudia); Só quando você consegue entrar no mundo dele, quando você consegue se conectar com ele, eu acho que só dessa forma você consegue realmente, ou verdadeiramente, se desprender do que é seu e está ali dentro da história que é do outro (Paulo); A gente não tem noção do quanto é difícil, a gente fazer essa suspensão, eu particularmente achei muito complicado fazer essa suspensão total assim, no sentido de estar ali na relação (Luana).

Um ponto fundamental no papel do psicoterapeuta humanista-fenomenológico

é a redução fenomenológica, que permite que o mesmo tente suspender seus a

priori, seus valores, pensamentos e teorias, com a finalidade de apreender a

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144

realidade existencial de seu cliente. Mas, isso não quer dizer que o terapeuta tenha

que se posicionar neutramente na relação, uma vez que para praticar a redução é

necessário ter o que pôr entre parênteses (Moreira, 2009b). Em algumas falas,

pode-se verificar o quão a mesma é importante para o desenvolvimento do processo

psicoterapêutico, pois facilita uma compreensão do mundo vivido do cliente. Como

afirma Moreira (2009b), “é por isso que voltar à pessoa do paciente e não a uma

teorização ou reflexão sobre ele será fundamental para o desenvolvimento do

processo psicoterapêutico” (p. 65).

A suspensão dos a priori, no momento do processo psicoterápico, é algo que

a maioria tem consciência. Embora, saibam que essa suspensão não seja completa,

como afirma Merleau-Ponty (1945/1994). Muitos acreditam na suspensão dos a

priori, até mesmo como um dos pontos principais para ser empático, pois ao

suspender, a relação acontece de fato. É interessante notar que, para uns esse

processo de suspensão dos a priori parece ser uma coisa mais fácil de ser atingida,

enquanto para outros psicoterapeutas iniciantes é mais complicado.

6.6 Necessidade de trabalhar problemas pessoais pelo psicoterapeuta em psicoterapia

[…] antes de ser psicóloga você é ser humano, tem nossas questões, nossas dificuldades e se a gente não tiver cuidado isso acaba interferindo na nossa relação com nosso cliente, acaba chegando, também, estando ali, então elas precisam ser trabalhadas (Paula); […] eu tenho minhas experiências, vou ouvir experiências, aquelas experiências vão de alguma forma em algum momento tocar as minhas experiências, e se minhas experiências estiverem, estiverem sido… mesmo que bem resolvidas, mesmo que bem estabilizadas, mas elas estão paradas, mas elas vão ser tocadas novamente, elas vão ser provocadas novamente, elas podem entrar em ação e se eu não estiver com elas bem resolvidas ou se elas entrarem em ação e eu não conseguir resolvê-las bem, eu jamais vou conseguir ser neutro, jamais vou conseguir, até mesmo a questão da empatia (Pedro);

Page 145: A Experiencia de Ser Empatico

145

Então, eu senti essa responsabilidade, no entanto, a partir de cada encontro foram surgindo tantas demandas, tantas descobertas que nem eu me dava conta que eu tinha tanta demanda (Priscila).

Dentro do consultório com os clientes em psicoterapia, de repente diante das

demandas do cliente, começam a surgir nos psicoterapeutas iniciantes, aqui

entrevistados, questões pessoais que pensavam não existir ou que supunham que já

estavam bem trabalhadas em terapia. A maioria afirmou que sente a necessidade de

fazer psicoterapia, para poder lidar melhor com as demandas do cliente e com suas

próprias demandas que surgiram ao se depararem com o problema do outro. Essas

demandas repontam, devido a se depararem com sentimentos que pensavam já

terem trabalhado, mas que retornaram ao se depararem com um sofrimento do

cliente parecido ou igual ao que tiveram outrora.

Essa necessidade surge para que seus problemas não interfiram nos

atendimentos com o cliente, para que as suas questões não afetem, de alguma

forma, o processo de crescimento do cliente. Esse trabalho pessoal por parte do

psicoterapeuta iniciante é fundamental, pois às vezes podem se perder dentro da

relação não tendo a consciência do que é conteúdo seu ou o que é do cliente.

Para Rogers (1975/1977), “quanto mais equilibrado internamente seja o

terapeuta, maior o grau de empatia que ele demonstra […] quanto mais

psicologicamente maduro e integrado seja o terapeuta como pessoa, mais

proveitosa a relação que ele proporciona” (pp. 77-78).

6.7 Limites de ser empático: o “como se” e o “voltar para si”

[…] eu acho que sempre que eu estou com a escuta atenta eu estou com ele nesse mundo dele e mais, com cuidado pra saber como sair, em que

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146

momento sair, então é mais ou menos isso (Roberta); […] compreensão empática você não pode perder a condição de como se, o que Rogers bate muito (Fernando); […] um dos limites importantes de ser empático durante o processo, é não se perder dentro dessa condição, dentro dessa forma de compreensão (Diana); […] é como eu estava te falando, você também tem que ter cuidado com esse limite para você não se perder dentro desse mundo da outra pessoa, porque senão fica os dois meio que perdidos, você não vai… você sabe o seu papel de terapeuta, então assim, por mais que a empatia seja importante, é importante também saber esse limite, e é um limite que nem sempre às vezes você consegue ter tão claramente na clínica (Diana).

Esse limite é o “como se” estivesse no mundo do cliente e voltar antes que

mergulhe de vez no mundo dele.

Rogers (1961/1987) estabeleceu que dentro do processo psicoterapêutico as

atitudes facilitadoras seriam fundamentais para o crescimento da personalidade do

cliente. A empatia, como uma atitude facilitadora, encontra seu limite quando o

terapeuta ao adentrar ao mundo do cliente o faz numa condição de como se

estivesse nessa relação, não podendo identificar-se com o que o cliente está

trazendo. Além do que, quando o psicoterapeuta está nesse mundo vivido do cliente,

ele precisa, em algum momento, retornar para não se perder lá dentro. Esse retorno

possibilita ao psicoterapeuta dá ao cliente a compreensão desse mundo vivido, da

experiência do cliente enquanto ser que sofre e em processo de atualização. Então,

adentrar no mundo do cliente numa condição de “como se’ e retornar desse mundo,

voltando a si, consiste em limites que o psicoterapeuta deve ter ao ser empático com

seus clientes. Seja para não se identificar, por isso a condição de “como se”, seja

para não se perder no mundo do cliente, voltando para si.

Page 147: A Experiencia de Ser Empatico

147

6.8 Feedback do cliente

Eu acho que pra mim é muito natural, coisa natural ser empática, é não sei te explicar, é muito bom saber que está acolhendo bem seu cliente, me faz bem saber que ele está se sentindo bem também comigo ali. E… e… ele me retorna, já algumas vezes ele me retornou isso, então foi muito gostoso ouvir da parte dele, de que questões que ele nunca levou nem para conversar com a mãe dele ou com amigos, ele hoje tem essa liberdade para está trazendo para conversar comigo, para está colocando e para a gente está trabalhando junto. Então, eu acho isso muito interessante (Roberta); […] eu percebi isso assim com mais segurança, quando eu tenho o retorno dele, quando ele se sente compreendido, caso contrário eu nunca sei, eu sempre suspeito que eu estou sendo, entendendo… eu só me sinto assim quando eu tenho um retorno, quando eu tenho o feedback do cliente, quando ele diz, “ah é assim mesmo” ou então “não, não é assim”, quando ele diz que não é a minha intervenção vai no sentido de “tá, mas então, me esclarece como que é que está se sentindo, como é que tu vê determinada coisa”, eu acho que passou muito pela resposta dele (Fernando). Um ponto crucial, que surgiu nas entrevistas, diz respeito ao feedback dos

clientes, a como o psicoterapeuta está compreendendo a situação atual deles. Desta

forma, muitos entrevistados relataram a importância que atribuem a esse retorno que

os clientes dão acerca de suas atitudes. Nesses feedbacks os clientes trazem a

sensação de confiança que tem em relação ao psicoterapeuta, que as sessões estão

fazendo bem a eles, que podem falar coisas que fora dali não poderiam, senão

seriam julgados.

Rogers (1975/1977) já apontava a capacidade de o cliente perceber essas

atitudes no psicoterapeuta, para ele “os clientes são os melhores juízes do grau de

empatia do que os terapeutas” (p. 78). Essa confiança no psicoterapeuta fornece ao

cliente a possibilidade de expressar sua condição naquele momento.

Page 148: A Experiencia de Ser Empatico

148

6.9 Consistência teórica para o psicoterapeuta iniciante

Dois pontos apareceram no que concerne à fundamentação teórica:

6.9.1 Alguns acham que a teoria é fundamental no momento do atendimento

psicoterápico:

Eu acho que a teoria é a base de tudo, porque você não vai chegar em… não adianta ser só uma escuta atenta, não adianta porque senão tudo passa e perdi, se não fica senso-comum e qualquer pessoa vai poder ter uma escuta…, mas a teoria é que dá, que nos dá a base mesmo, de está ouvindo e saber o que está ouvindo, de ter noção do que, que esse cliente está trazendo (Roberta); O Rogers não estava errado, existe essa questão da empatia, existe essa questão… é uma condição facilitadora, tem todo esse liame teórico, atrelado, dando suporte… a teoria não vai me ensinar a escutar, ela vai dizer aprimore a escuta, a teoria vai me dizer pra estabelecer um vínculo, ela não vai me dizer de que maneira eu tenho que fazer, ela não tem receita, mas ela diz estabeleça um vínculo, então assim… é essa abertura que a teoria me dá que eu tenho que aprender a lidar também (Veruska). 6.9.2. Outros acreditam que o distanciamento da teoria no momento do

atendimento facilita a estarem mais tranquilamente no processo psicoterápico de

seus clientes:

No início a gente fica muito querendo ver, coisas que disseram até ali pra gente, “ah faça isso, não faça isso, não faça aquilo” e assim… como eu tinha mais uma leitura eu acho que em Rogers, sei lá, e era muito… assim… a sessão pra mim, eu levei muito na minha intuição, sabe eu não… embora no início eu acho que eu estava presa de querer fazer o que estava dizendo, é tanto que eu terminava eu ia fazer relatório pegava os livros, e é isso ai, mas ai depois eu me libertei disso, e ai eu vou fazer o que minha intuição estava mandando, e ai eu vi que eu não me prendia muito a… porque eu não tinha muita leitura teórica da própria abordagem que eu estava sendo orientada, tinha mais do humanismo mesmo do Rogers, em geral do todo, da fenomenologia (Lídia); Eu acho que sim, na maioria das vezes… embora a maioria das vezes eu, também eu fugia, eu saía ficava longe de tudo, até de teoria, mas assim que a gente consegue se distanciar, tem hora que a gente está longe e não está

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149

nem ouvindo, mas eu nunca me preocupei muito com a teoria não, na hora dos atendimentos (Lídia); A empatia está para além do que acontece realmente no livro, você não aprende assim por decreto… porque as atitudes facilitadoras, que são colocadas por Rogers, elas não são por decreto, nem livro vai te ensinar isso (Valesca). Observou-se a necessidade de uma fundamentação teórica como sendo

essencial para que a terapia não se torne uma conversa do senso-comum, a mesma

torna-se fundamental para dá um norte, um suporte no processo psicoterapêutico,

pois sem ela não poderiam compreender a experiência do cliente verdadeiramente.

Ao mesmo tempo, por mais que considerem a teoria como essencial,

precisam pô-la de lado, temporariamente, para poder entrar ao mundo do cliente,

sem pensar em como e quando deve fazer uma intervenção. Esse distanciamento

temporário permite uma melhor escuta do cliente, naturalmente, sem se preocupar

como se escuta, tecnicamente.

Page 150: A Experiencia de Ser Empatico

150

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Frente às situações enfrentadas pelos psicoterapeutas iniciantes, a empatia,

compreendida como uma atitude facilitadora, permite muitas dúvidas tanto quanto

facilidades no processo psicoterápico. Compreender como os psicoterapeutas

humanista-fenomenológicos iniciantes lidam com o novo, com os clientes que estão

ali a procura de ajuda e que precisam ter uma postura eloquente, para que a

facilitação do processo psicoterapêutico ocorra, de modo que a compreensão

empática possa ser percebida pelo cliente, é fundamental. Dessa compreensão

empática, entendida como aquela que vai além da simples compreensão do senso

comum, sendo algo mais acurado, mais profundo, numa escuta verdadeira e que

ocorre naturalmente, percebe-se que a experiência de ser empático é algo

extremamente importante, pois permite aos psicoterapeutas, principalmente aos

iniciantes, uma maior compreensão desse sentimento que emerge no momento dos

atendimentos na relação com o cliente.

O estabelecimento de uma profunda confiança permite que o cliente, ao

percebê-la, aprofunde em seu mundo vivido, colocando-se para o psicoterapeuta

que tenta penetrar nesse mundo, procurando apreender essa experiência do cliente.

Essa apreensão deve se dá a partir da compreensão do que está sendo dito e vivido

pelo cliente, não pela suposição do psicoterapeuta. Essa compreensão deve ser

aquela emergida como fenômeno quando se está andando juntamente com o cliente

em seu mundo vivido apresentado ao psicoterapeuta. Não podemos cair na

esparrela de achar que ser empático é apenas chegar à sessão e dizer que entende

o cliente, sem ao menos se entregar de fato àquela relação. Se entregar quer dizer,

está genuinamente na relação, está congruente consigo mesmo, aceitando o cliente

Page 151: A Experiencia de Ser Empatico

151

e seus problemas tal como se apresentam, compreendendo verdadeiramente sua

experiência vivida.

A importância das condições facilitadoras, propostas por Rogers, e as

técnicas fenomenológicas de intervenção, da psicoterapia humanista-

fenomenológica, propostas por Moreira (2009b), baseadas na fenomenologia de

Merleau-Ponty, permitem essa tentativa de acesso a esse mundo vivido do outro.

Como psicoterapeuta, que possui a capacidade de ser empático, faz-se

necessário o conhecimento acerca dos conceitos das condições facilitadoras, pois

as mesmas estão interligadas, favorecendo um desenvolvimento adequado do

processo terapêutico e favorecendo o desenvolvimento da personalidade do cliente.

Isso remete à necessidade de uma fundamentação teórica mais consistente,

tanto mostrada por Boris (1987). Embora alguns psicoterapeutas entrevistados não

se prendam à teoria no momento das sessões, suspendendo-a e deixando-se

apenas adentrar no mundo do cliente, acreditam na necessidade de uma

consistência teórica com a finalidade de ter um norte para entender os fenômenos

que aparecem nas sessões.

Não que se afastar da teoria seja algo a ser feito, mas ao praticarmos a

redução fenomenológica devemos pô-la de lado. Da mesma forma, no que diz

respeito aos nossos problemas pessoais, às nossas suposições acerca do problema

do cliente, que devem ser colocadas de lado, permitindo apenas estar naquela

escuta atenta e verdadeira, que ocorre naturalmente. Esse processo de redução

fenomenológica surgiu nas entrevistas como sendo um dos pontos principais para

que a relação acontecesse e fluísse verdadeiramente, embora os entrevistados

tenham a consciência que essa redução não pode ser completa, tal como afirma

Merleau-Ponty (1945/1994).

Page 152: A Experiencia de Ser Empatico

152

Por mais que tentem pôr de lado as questões pessoais, os psicoterapeutas

iniciantes entrevistados afirmaram que existe a necessidade de fazer terapia, para

poder lidar melhor com suas próprias dificuldades e problemas pessoais, que muitas

vezes interferem na relação com o cliente, dificultando o entendimento do que o

cliente traz enquanto demanda.

Para ter mais tranquilamente esse acesso ao mundo vivido do cliente, o

psicoterapeuta tem que passar por uma experiência de terapia, como Rogers dizia,

onde possa trabalhar suas questões, para que estes problemas não interfiram na

relação entre terapeuta e cliente, e a identificação emocional com os problemas do

cliente, muitas vezes devido a essas questões, não deve ocorrer no processo

psicoterapêutico, pois corre o risco de o psicoterapeuta se perder dentro do mundo

do cliente, comparando os sentimentos do cliente com os seus.

Destaca-se, a importância e a necessidade de alguns psicoterapeutas

iniciantes terem um maior contato com a teoria, para adquirirem noção dos conceitos

das condições facilitadoras, estipuladas por Rogers, inclusive a compreensão

empática, além de estudos acerca de como estão sendo transmitidos os conteúdos

aos estudantes de psicologia dentro das universidades, pois muitos dos

entrevistados, ainda, sentem essa necessidade.

Portanto, conclui-se que a experiência de ser empático para os

psicoterapeutas iniciantes, aqui entrevistados, é algo que vai se construindo

paulatinamente, pois, embora alguns tenham mais facilidade, outros ainda estão em

processo de construção dessa atitude empática. Esse é um momento de

aprendizado significativo na vida de cada um desses psicoterapeutas, sendo

construído a cada sessão.

Page 153: A Experiencia de Ser Empatico

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ANEXOS

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Eu,___________________________________________________________

_____de nacionalidade_______________________, estado civil__________________, portador do RG__________________________________________________, residente na R./Av. _____________________________________________________, nº __________, na cidade de ___________________________, através do presente instrumento, concordo em participar desta pesquisa por meio de uma entrevista gravada em áudio pela psicóloga Rebeca Cavalcante Fontgalland, para fins exclusivos de pesquisa acadêmica.

Estou ciente de que os dados serão utilizados como subsídio para a pesquisa de mestrado A Experiência de Ser Empático para o Psicoterapeuta Humanista-Fenomenológico Iniciante, cujo objetivo é compreender a experiência de ser empático do psicoterapeuta humanista-fenomenológico iniciante em relação ao seu cliente no momento do atendimento psicoterápico.

Sei que esta entrevista individual é um das etapas da pesquisa, que contará também com outros participantes. Minha participação nesta entrevista é voluntária, podendo haver recusa ou mesmo retirada do consentimento em qualquer momento sem que isto acarrete a mim nenhuma penalização ou prejuízo.

Estou ciente que o pesquisador compromete-se a preservar o sigilo desta entrevista, pois é compromisso do pesquisador preservar o anonimato e a privacidade dos participantes, além de prestar quaisquer tipos de esclarecimentos antes, durante e após a entrevista.

Em caso de dúvida entrar em contato com a pesquisadora Rebeca Cavalcante Fontgalland, do Mestrado em Psicologia da Universidade de Fortaleza – UNIFOR, telefone: 55 (85) 88096789, ou com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Fortaleza – UNIFOR, situada na Av. Washington Soares, 1321, Fortaleza-Ce, Cep. 60811-905, telefone: 55 (85) 34773219.

Este documento é assinado em duas vias, sendo uma delas cedida ao participante. Fortaleza,_______de_____________2011 __________________________________ _____________________________ Entrevistador/Pesquisador Participante Rebeca Cavalcante Fontgalland

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