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  • CULTURA CORPORAL NA ESCOLA:Tarefas da Educacao Fisica

    Michell Ortega Escobar*

    ABSTRACT

    The text wants to show deknowledge purposed of thePhysical Edcuatio en the"Corporal Culture". This name isgiven to a hig and rich field ofthe Culture that contain theexpressive-comunicativeproductions, speciallysubjectives, to explained thecorporal expression. To amplifythe concept of "CorporalCulture" putting the PhysicalEducation, pedagogically, underpresuppositions of CriticalPedagogy for OverconingDifficulties, that point toconstuction in a now quality inthe development of the pedagogypractices, that came of thesocial existence movement, aligth of a new historic project.

    KEY TERMS: PhysicalEducation, Corporal Culture,Critical Pedagogy for OverconingDifficulties.

    RESUMO

    Fundamenta-se o conhecimentoobjetivo da Educacao Fisica na"Cultura Corporal", denomina-

    C50 dada ao amplo e riquissimocampo da cultura que abrange aproducao de praticas expressivo-comunicativas, essencialmentesubjetivas, externalizadas pela

    expresso corporal. Amplia-se oconceito de "Cultura Corporal"

    situando a Educacao Fisica,pedagogicamente, sob os

    pressupostos da PedagogiaCritico-Superadora a qual aponta

    para a construck de urn novaqualidade no desenvolvimento da

    pratica pedagggica, advinda doconteOdo e forma dessa cultura

    que emerge do movimento daexistncia social, a luz de urn

    novo projeto histarico.

    UNITERMOS: Educacao Fisica,Cultura Corporal, Pedagogia

    Critico-Superadora.

    * ProP Adjunto IV - UHF - Doutoranda - Faculdade de Educacao da UNICAMP.

  • m 1992, no livroMetodologia do En-sino da Educaco Fi-sica, da EditoraCortez, o Coletivo deA utores, do qual fag()parte, fundamenta aidentidade da discipli-na escolar: Educacdo

    Fisica, num campo da cultura do qualseriam apreendidas man i festacks taiscomo jogo, danca, gindstica, etc., queconstituiriam a area de conhecimento-objeto da disciplina. Neste texto tentareiampliar esse conceito de "Cultura Cor-poral", situando a disciplina EducacoFisica, pedagogicamente, a partir dospressupostos da corrente que no campoeducacional reconhece-se como Critico-Superadora. Num segundo momento fa-rei algumas sugestOes para o trato daCultura Corporal na escola.

    A nossa adeso a Pedagogia Criti-co-Superadora deve ser compreendidamenos como uma recusa ou desaprova-cao radical de outras propostas, a exem-plo da Pedagogia HistOrico Critica, doque explicitacfto do "lugar" em que fala-mos, do projeto histOrico que defende-mos. Adjetivamos de "Superadora" acritica ao sistema educacional atual queemerge das bases do social - que porsocial histOrico - e que aponta para aconstrucdo de uma nova qualidade nodesenvolvimento da prdtica do profes-sor. Compreendemos a Pedagogia, damesma forma que Schmied-Kowarzic(1988), como uma "cithcia prdtica da epara a educacao", por esse motivo nossaabordagem da Educacao Fisica, comodisciplina escolar, envolve a escola como

    MoirIvIt@icla

    instituicao/produto histOrico e social quesb pode ser considerada dentro da tota-lidade em transformaco da qual fazparte.

    A Pedagogia Critico-Superadorasubjaz o projeto histOrico marxista, pro-jeto que, segundo Manacorda (1991),deve ser considerado de modo organicono contexto de uma rigorosa critica asrelacOes sociais prOprias do modo deproducAo capital ista. A partir dessa po-sick), uma educacAo "transformadora"pode ser tida como tal, somente, quandoprofundamente ligada a um projeto revo-luciondrio de sociedade que, em consi-deracdo a realidade atual, reconheca aluta de classes como instancia de supe-racao das estruturas sociais e tenha naclasse operdria a base das suss transfor-macOes. Como revoluciondria, essaeducacAo s6 pode ser vinculada a umaPedagogia claramente socialista que sealicerca no material ismo hist6rico-dialetico e no marxismocomo concepcAode homem e de histOria comprometidoscom a praxis revoluciondria. Em conse-q 11 nc i a, a "Pedagogia Critico-Superadora" a uma Pedagogia que as-sume clara e explicitamente o projetohistOrico socialista.

    Essa Pedagogia expressa seu nivelqualitativamente diferente numa teoriaeducacional que discute as relacOes en-tre educacAo e sociedade e o tipo dehomem que se quer formar, Homem quevive numa dada sociedade num dadomomento histOrico determinado por umaconfiguracao social e por urn desenvol-vimento material concreto e, por isso,com determinadas e especificas exigdn-cias no piano educativo. Ela concretiza-se na sala de aula a partir de uma teoria

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    pedagOgica - norte pedagOgico-diddtico- que se constrOi a partir de categorias daprOpria prtica docente.

    Sabe-se que a educacao e ainculcacao de uma serie de valores, idei-as e atitudes predeterminados, mas, des-de que as modal idades de conscienciasocial emergem das bases socials con-cretas, como a producao e a divisaosocial do trabalho, o objetivo e problemacentral do processo educativo escolardeve ser a tomada de consciencia. Issosignifica que uma Pedagogia superadoranao deve, apenas, opor valores distin-tos, sena() que evidenciar a relacao entreos valores educativos e as condicaesmateriais subjacentes, contribuindo paraa destruicao dessas bases materiais namedida em que fazem parte de uma fasehistOrica esgotada (Enguita, 1993). Nosentido assinalado, a tomada de consci-encia inicia-se a partir de uma nova prd-tica, nao espontdnea, mas alimentadapor uma teoria que representa "(...) oresumo da experiencia teOrico-prdtica daluta dos povos pela sua emancipacao eesta disponivel no partido da classeoperdria" (Freitas, 1991).

    A Pedagogia Critico-Superadoranao pode ser interpretada como"reformism pedagOgico" que postulamudancas atraves da acao educativa,posicao que desemboca, irremediavel-mente, napratica de inculcacao criticadas.

    0 aprofundamenfo na histOria levaa compreenderque a atividade pratica dohomem, motivada pelos desafios da na-tureza, desde o erguer-se da posicaoquadrUpede ate o refinamento do use dasua mao, foi o motor da construcao dasua materialidade corprea e das habili-

    dades que !he perm itiram transformar anatureza. Este agir sobre a natureza, paraextrair dela sua subsistncia, deu inicioconstrucao do mundo humano, do mun-do da cultura. Por isso, "cultura"implicaapreender o processo de transformacaodo mundo natural a partir dos modoshistOricos da existncia real dos homensnas suas relaci3es na sociedade e corn anatureza. Siqueira nos amplia o conceitode cultura nos seguintes termos:

    "(...) e urn fenOmeno social querepresenta o nivel alcancado pelasociedade em determinada etapahistOrica: progresso, tecnica, ex-perid ncia de produceio e de traba-lho, instrucdo, educacdo, filoso-fia, ciencia, literatura, arte e ins-tituiciies que Ihes correspondem.A cultura nelo a uma categoriasociolOgicaempirica. Quando nosreferimos ao fenOmeno cultura,nao se trata de teorizar sobre acultura em geral, abstrata, mas deagir, corn suporte conceitual, so-bre a cultura presente, concreta,procurando transforms-la,estende-la e aprofunda-la"(Siqueira, 1992).

    Visual izamos, hoje, resultantes daconstrued() histOrica da nossacorporeidade, urn acervo de atividadesexpressivo-comunicativas corn signifi-cados e sentidos ludicos, esteticos, ar-tisticos, mIsticos, agonistas - ou de outraordem subjetiva - que apresentam, comotraco comum, serem fins em si mesmas,serem consumidas no ato da sua produ-cao. Ent. elas podemos citar os jogos, aginistica, a danca, a mimica, o malabaris-

  • mo, o equilibrismo, o trapezismo, e mui-tas e muitas outras. Cabe, no entanto,reconhecer que etas no indicam que ohomem nasceu saltando, arremessando,jogando. Essas atividades foramconstruidas em determinadas epocashistOricas como respostas a determina-das necessidades humanas.

    Se considerarmos a complexa na-tureza dessas atividades, contemplandosua subjetividade e as contradicaes en-tre os sign i ficados - de natureza social -e os sentidos - de natureza pessoal - queas envolvem, poderemos avaliar o quart--to inadequado defini-las e explica-lascomo "acOes motoras".

    Como aponta Acha, quando refe-re-se a atividade criativa artistica ( o grito

    nosso):

    "(...) nos cabe situar os produtosartisticos no mundo dos objetos ecompares-los corn os cientificos etecnolegicos a luz de suas respec-tivas materialidades. Nessa com-paraciio verificaremos que nemtodos os produtos sao tangiveis eque ndo existemobjetos puramen-te artisticos, cientificos outecnolOgicos. Em todo ato ou obrahumana coexistem estruturas ourelacdes artisticas, cientificas etecnolOgicas. lsto quer dizer quetodo ato ou obra humana refleteo homem..."(Acha, 1979).

    Retracar e transmitir na escola aconstrucao da nossa corporeidade re-quer que o conhecimento sejahistoricizado ou, dito de outra maneira,que a abordagem do conhec.. nento evi-dencie para o aluno o nexo geral dessas

    MotrIvIcla

    atividades expressivo-comunicativas: aexpresso corporal como linguagem.

    A expressao corporal como lingua-gem representa a "forma" geral e predo-minante da grande diversidade de prati-cas como as referenciadas e por isso e ofib condutor para esclarecer a procedn-cia do contend dos conceitos: jogo,gindstica, danca, mimica, malabarismo,equilibrismo, trapezismo, etc. Mas, paraconcretizar a historicizaco, o professordeve proporproblemas que demandeminvestigar e reproduzir, pedagogica-mente, as condicdes materiais-objeti-vas da procedencia do contefido daprdtica em questdo.' Historicizar nodefin ir ou conceituar essas praticas, ape-nas, com base num retorno temporal a-h istOrico, quer dizer, atravs de uma nar-rativa dos aspectos exteriores e superfi-c iais do conteudo, porque dessa maneiraimpede-se a apreenso fiel do caraterdado pelo modo de producao as etapasde desenvolvimento dessas atividadescomo fenOmeno social. Como enfatizaBourdieu (1990): "(...) 0 objeto da hist6-ria e a histeria dessas transformaceies".

    Em trabalhos anteriores, como nes-te prOprio, temos utilizado a denomina-cdo "Cultures Corporal" para designaro amplo e riquissimo campo da culturaque abrange a producdo de praticas ex-pressivo-comunicativas, essencialmen-te subjetivas que, como tat, extemalizam-se pela expressAo corporal. Essa denomi-naco "Cultura C orporal " tem sido alvode criticas por que sugeriria a existnciade tipos de cultura, como "cultura inte-lectual" ou outros. NA vemos a neces-sidade de polemizar a esse respeito, ape-nas queremos destacar que para todainterpretacdo deve prevalecer a

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    conceituacao de cultura que citamosanteriormente. Assim colocado, nao re-presenta uma incoerncia a manutencaodo nome, o qual nos parece sugestivo deum certo vinculo de fami I iaridade com oidedrio que as pessoas tem da nossa areae isso a Oti I para primeiras aproximacOes.Creio que mais adiante devera ser discu-tida a convenincia de se adotar umaoutra denominacao.

    A importancia da historicizacaonao deve ser m in im izada, vez que e oprocedimento que viabiliza a apropria-cao do conhecimento, do ambito da Cul-tura Corporal, corn a atitude critica ne-cessaria a explicacao da diversidade doscampos que a compOem. Por exemplo,face a realidade atual do fenOmeno "es-porte", um dos mais fascinantes da h is-tOria do homem, a Educacao Fisica preci-sa promover, no interior da escola, acompreensao e explicacao da ideolo-gizacao e o fetich ismo que envolvem asverdadeiras causas da transformacao daatividade ludicaem trabalho. Esta neces-sidade a premente, especialmente porque a formas em que os paises depen-dentes sao expostos a uma "culturacomercial" ocidental - na esfera da pro-ducao - e a urna "cultura de consumo "-que reforca a distribuicao desigual eperversa dos recursos - estimulam a ela-boracao conceitual da realidade a partirdos elementos lOgicos do senso comum.

    Na escola deve ser elaboradas res-postas para compreender o motor datransformacao do jogo prazeiroso emguerra, do lUdico em agonistico, do soli-ddrio em competitivo, da motivacao eincentivo da agressividade, da violnciaexacerbada no esporte que afugenta aspessoas dos espacos pUblicos das pra-

    ticas esportivas coletivas. SO noaprofundamento histOrico podem serencontradas explicacOes da diversidadede formas que assumem as praticas dosdiferentes grupos socials, dos estilosque sao praticados e das relacOes dessaspraticas com suas formas de competicaoe treinamento.

    Face a dramaticidade da violncianos campos de jogoe uma exigencia eticapromover na escola a apreensao dereferenciais para leitura da legitimacaoda violencia pelos regulamentos, pelanormatizacao, pelas regras ditas esporti-vas - como a dos socos e pancadas doboxe legitimados, no ringue, por regras enormas tecnicas. Leitura da violenciacomo uma propriedade do esporte naoexplicitada pela descricao puramente tee-nica que, normalmente, dele se faz. Leitu-ra da violencia manifesta contra si mes-mo que, disfarcada sob um sofisticadoaparato de dopagem, 6 exigida para au-mentar os limites humanos, com meiosartificiais, e alcancar a vithria a qualquercusto.

    Bourdieu (1990), no "Programapara uma sociologia do esporte" apon-ta problemas e delimita campos em tornodo fen6meno esportivo. Urn campo deatencao deve ser a relacao corn o corpo,a qual 6 associada a uma posicao sociale a umaexperincia origindria do mundofisico e social que outorga as praticasesportivas uma identidade de classesocial. Ressalta que as mais distintasasseguram uma relacao mais distanciadacorn o adversario, entretanto, como elansao estetizadas a violencia apresenta-semais eufemizada, de modo que forma eformalidade prevalecem sobre forca efuncao. A distancia social se retraduz na

  • lOgica do esporte, no espaco ordenado ereservado e na exclusdo do contato dire-to entre os adversarios, ainda que corn aintermediacdo de uma bola. Assim, urndos fatores que determina as mudancasnas praticas, aduz Bordieu, a vontadede manter no nivel das praticas a distdn-cia que existe entre as posicks sociais.

    0 espaco das praticas esportivasdeve ser pensado como um sistema noqual cada elemento recebe seu valor dis-tintivo. Elas tern que ser entendidas comoa resultante da relacao entre uma oferta- conjunto de "modelos" de prdticas,regras, equipamentos, instituicOesespecializadas - e uma procura estreita-mente ligada as disposicOes para a pra-tica, disposicOes que sempre sdo soc ial-mente constituidas. Em outros termos,uma relacdo entre o espaco dos produtosoferecidos num dado momento e o espa-co das disposicOes que se associamposicao ocupada no espaco social, aqual pode manifestar-se em outros tiposde consumo em relacdo corn outros espa-cos de oferta. E isso que p6e em evida-cia os espacos dos esportes e o campo dopoder como elementos fundantes dosistema.

    A magnitude do campo do poderinstitui a separacdo entre a pratica doesporte comum e o esporte espetdculo,paralelamente a um distan-ciamento en-tre os profissionais e os leigos, os quais,despossuidos do conhecimento especi-fico, sao reduzidos a meros espectado-res. Para Bourdieu, estes espectadores,sem a compreensdo dada pela competen-cia prdtica esportiva, como o resultado ea vitOria, corn isso provocando efeitos -por intermdclio da sua sanco financeiraou de outro tipo - no prOprio funciona-

    MoirIvIt6)mla

    mento do campo profissional, assim comoa busca da vitOria a qualquer prep, bus-ca que desencadeia, entre outras coisas,o aumento da viol6ncia.

    0 espaco, como elemento de repro-ducdo da for-0 dominante, a respeito doespaco social, "(...)distingue-sedasfor-mas vazias pela sua cumplicidade corna estrutura social" ressalta Santos(1982). Corn o desenvolvimento das for-cas produtivas e a extensdo da divisdodo trabalho, o espaco manipulado paraaprofundar as diferencas de classes. Estamesma evolucdo acarreta um movimentoaparentemente paradoxal: o espaco queune/separa os homens. Afirma esse au-tor que os construtores do espaco ndo sedesembaracam da ideologia dominantequando concebem uma casa, uma estra-da, um bairn), uma cidade. 0 ato de cons-truir estd submetido a regras que procu-ram nos modelos de producdo e nasrelac6es de classe suas possibilidadesatuais.

    Esse vasto campo de conhecimen-to corn o qual a Educacdo Fisica deve-secomprometer a obriga, como toda disci-pl ina escolar, a orientar seus aspectosespecificos pelos aspectos gerais ouprincipios norteadores da teoria peda-gOgica que, ademais, pode ser conside-rada como um paradigma prOprio de and-I ise do fen6meno pedagOgico.

    Por outra parte, a Educaco Fisicadeve introduzir na escola a preocupacdopela prOpria producdo cultural, vez que aemergncia de uma nova cultura deveafirmar-se ndo apenas pela extensdo daalfabetizacdo e da educacdo escolarizada,mas no acesso das camadas popularesao campo da producdo cultural da so-ciedade no sentido mais abrangente.

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    Siqueira(1992)afirma que:

    "() deve-se atuar fora e dentrodos meios de comunicaceio demassa e, atraves deles, exerceruma acao que nil se deixe envol-ver pelos processo negativos demassificaccio cultural."

    As relacOes sociais conseqentesao processo de trabalho, na realidadeatual, determinam a crescente, e brutal,deterioracdo das condicOes de vida dostrabalhadores e dos seus dependentes.A qualidade de vidae comprometida naoapenas pelo baixo, ou inexistente, poderaquisitivo, mas, pela perda quase queabsoluta das possioilidades do exercicioda cidadania, a qual efetivaria-se quandoapropriados os direitos a pre y idncia,sal:1de e assistncia social, ao lazer, aouse do patrimOnio pUblico, a educacdode qualidade e, ate, ao exercicio do poder,entre outros.

    A questdo do lazer apresenta-serelevante, tido no sentido, para nos equi-vocado, de transformar a escola ou a aulade Educacdo Fisica num espaco/tempode lazer, mas na perspectiva de, ambas,serem viabilizadoras da formacdo de umaconscinciacritica a partirda informacaode ideias e de valores que, entre outros,preservem a memOria nacional, incenti-vem as formas de expressdo popular,estimulem a capacidade criativa, indivi-dual e coletiva e promovam o acesso daclasse trabalhadora ao campo da produ-cdo cultural da sociedade.

    As relacOes entre o popular e oerudito estdo em intima dependncia dascondiciies histricas de exercicio dahegemonia da diferentes classes sociaise isso aponta a necessidade de fazer a

    leitura das contradicOes entre ambos, apartir das condicOes histOricas dadas noentrave da correlacdo das forcasdeterminantes das possibil idades da pra-tica da cidadania.

    Em relacdo ao exercicio social dasformas con sc entes de Lazer (Lazer Criti-co) Siqueira defende:

    "(...) deve servir a apropriacciodos esforcos de alocacilo do tem-po nab diretamente vinculado aotrabalho produtivo para a corn-preentho e resgate do papel daforca de trabalho, no conjuntodas relaccles sociais de producelo,superando os mecanismos dedistanciamento da realidade edesenvolvendo a consciencia dosprodutores em direcclo critica"Siqueira(1992).

    0 exercicio da cidadania estd vin-culado a todo um processo de informa-cdo de ideias e de valores, daqui a impor-tancia de reconhecer ideologia inerentea pratica pedagOgica da escola capitalis-ta, precisamente, a que subjaz as catego-rias dessa pratica.

    No momento em que, no amago deuma pedagogia Critico-Superadora, bus-camos as bases da Educacdo Fisica -como disciplina escolar - nas formas his-tOricas da Cultura Corporal, defendemosa possibilidade de resgatar prtiticasque possam, de urn lado, contribuirefetivamente para o desenvolvimentoda consciencia critica e, do outro, cons-tituir formas efetivas de resistncia.

    Da experiencia de praticas dessetipo in fere-se que a cultura ndo se da emelementos esparsos e desagregados,

  • sena como um todo dominance. Issopercebe-se, facilmente, nas prOprias es-colhas dos grupos participantes que,embora pertencendo a classe trabalha-dora mais despossuida de bens basicos,tido fogem da "moda" imposta pela cul-tura hegemOnica. Portanto, e no sentidodo duplo objetivo acima assinalado, atarefa de um Educaeo Fisica "Critico-Superadora " deve estender-se aoenfrentamento do conteOdo e forma des-sa cultura que emerge do movimento daexistncia social.

    Face ao processo, em expansdocontinua, da massificaco de certas mo-dalidades de esporte - que impedem olivre curso de expressOes capazes deampliar o patrimOnio da cultura corporal- o conhecimento-objeto da EducaedoFisica deve possibi litaro reconhecimen-to dos elementos de dominaco nelascontido. Para isso, o projeto politicopedagOgico da escola, em estreita rela-ea corn urn projeto histOrico-superador,deve promover, a partir da unidademetodolOgica - como possibilidade dainterdisciplinaridade - a revisdo do co-nhecimento espontaneo a luz do conhe-cimento cientifico do real, sempre empermanente ligacao corn perspectival deefetivo exercicio da cidadania.

    Nesse delineamento, deve existirclareza de que: "Cultura de Massas",urn conceito que "(...) busca diluir oconjunto das relaclies que constituemobjetivamente o homem num agregadohistoricamente indeterminado: as mas-sas. Ao mesmo tempo em que elege umabase conceitual tcnico-quantitativa"Siqueira(1992). Dal decorre que a Educa-

    cdo Fisica deva engajar-se na promo-eft de ac6es concretas da escola paraintegrar o movimento politico de cons-trued() de uma ''Cultura para asMassas".

    A construed, na escola, de umaCultura Corporal, demanda privilegiarvalores que coloquem o coletivo sobre oindividual, que defendam o compromis-so corn a solidariedade e respeito huma-nos e que promovam a compreensdo deque jogo se faz "a dois", de que e dife-rente Jogar corn" o companheiro doque jogar "contra" ele. Somente dessaforma poder-se-dconstruir a possibilida-de de oposiedo as praticas orientadaspelos valores do esporte de "altos ren-dimentos " - al imentados pela exacerba-ea da competiedo, pelo sobrepujar epela violencia tolerada do treinamento.Essa tarefa, ao nosso modo de ver, de-manda:

    Que na selecdo do conhecimento se-jam consideradas as modal idades queencerrem urn major potencial de uni-versalidade e compreensdo dos ele-mentos gerais circundantes, empre-gando os critrios de atual e de atil naperspectiva de classes sociais;

    Que se privilegie a unidademetodolOgica, como possibilidade dainterdisciplinaridade na escola;

    Que os instrumentos de avaliacao se-jam buscados no prOprio mecanismode construed das prdticas corporals;

    Que o professor seja urn trabalhadororganic da educacao e do ensino.Organizador, divulgador, incentivadore pesquisador - engajado na dinamicasocio-cultural da comunidade escolar- que se utiliza, como mais experiente,

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    da alividade pratica, o trabalho soci-al, como Unica mediacdo entre a Ito-mem e o conhecimenio para a promo-cdo da autoconscincia dos alunos;

    Que as possibilidades da pratica es-portiva sejam relacionadas as possibi-lidades dadas pela acdo nas areas desande, cultura, bem estar social, habi-tacdo e planejamento urbano, entreoutras;

    Que o entendimento de "democra-tizacdo" dos espacos e equipamentosde esporte implique o gerenciamentode recursos pela prOpria escola e pelacomunidade que faz seu chdo.

    Essas no sao tarefas fceis, exi-gem para sua real izacdo a determinacdoe forca do coletivo, tendo sempre pre-sente que:

    "(...) toda tentativa de atingir umasociedade melhor mais humana,mais racional, e julgada an-ticientifica, utOpica e suhversiva;e assim a ordem social existencena sociedade aparece como sen-do nelo apenas a finica possivel,como tamhem a th'iica concebi-vel" Baransweezy (1968).

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