7/21/2019 Cervantes de Gois
1/7
r/ /
4
lotl
'^ l
jenai f ,a
rneco
O
Cervantes
e
Gois
L'ri r:Lelcl;^r=ntij
1
aLl cra, eil i'e,;isiadro
i i i tstu:",-,,-i
P.,tvcila
c Fcrnroso
oin
aS
ve^r:,,ias
e Doi-n
Qr-ii:
7/21/2019 Cervantes de Gois
2/7
tido
Jos
Portrio, que
se destacava os
primeiros
embates
da regio entre grileiros
e
posseiros]
e do
Partido
da
Igreja Crist Renovada
morrendo
de
rir],
eleviu que Deus
concordal'a om
aquilo,
siml"
Esse rito de
iniciao
-
no confirmado por
qualquer outro depoimento - antecipava, a viso
de Fernandes,o
papei
a ser
desempenhado
por
Porfrio,
cujos
nobres
deais,
mal adaptados reali-
dade, contrastavam
com
o formidvel senso co-
mum e o chamamento
aos sentidosdo mascate
Tos
Ribeiro,
membro do Partido
Comunista com atua-
o
importante na organizao
dos
posseiros,
mas
que
nunca fora, segundo
outros
depoimentos,
o
companheiro nseparvei
o Porfrio",ao contrrio
do
que relatou
Fernandes:
"O
fubeiro,
que
era um
homem
pacato,desses
e
faia mansa,que
falavabairo [...] que gostade resolver
tudo na
calma, mas
resolve, sabe resolver
[...],
o
Ribeiro foi
o melhor
companheiro
que
o
Porfirio
teve,o companheiro
nsepa-
rvel do
Porfirio
[...].
O Porfuio ficava
l com as dias
bonita dele, aquela i-
derana
toda
junto
da
mulherada e
coisae
tal, o Ribeiro trabalhava,
raba-
lhava, azia ata,
eunio,
coisade hor-
rio,
compra
de arma,
e tal.
Porffrio,
sem o Ribeiro, era enxada
sem
cabo."
Essase
outras
incoerncias
me fi.-
zeram
suspeitar do
dpoimento.
Consultando documentos
escritos e
i
:q
,.1il
c
c
l
a
3
c
7/21/2019 Cervantes de Gois
3/7
- r ; , : i , t l l
) :0o
30
Literatura
opular:
as
aventuras e
D.
Quixore
e seu iel
escudeiro,Sancho
Pana,nspiraram
imaginao
e aduicos
e cnanas, ue
vrrma
realidadearravsda
fco.Aqrri,
uma
edio
porruguesa
dedicada
exclusivamenteos
pequenos
eitores
ria, seme-
reas
prximas.
Entretanto,
o
coniunto
das mem-
fias
de Fernande_q
se_us
tepentos,
relaes
e
si-
rrificados
-
foi
diferente das demais,
assim
como o
fia; criara trechos
ongos,
aparentemente
em reia-
co com o movimenio socia,
ou
com
quaquer
eventohistrico.
No
havia
ouia
conclusopossivel:
Fernandes
inventara
seu depoimentol A Revolta
do Formoso
foi uma coisa;
outra,
as
memrias
que
Fernandes
construiu a respeito da revolta. vlas histria e me-
mria mantm
tantas relaes ntre
si,
que
at
dificil
pens-las
separa-
damente:
recordar
viver", como
en-
sina o antigo
samba.
vlemrias
reela-
hpram
.a
histria, relacionando-a
a
outros
elementos
e emprestando-he
significados to
novos
que,
das lem-,
branas,brota
uma
outra
histria.
O
coniunto
de memrias
de
fernandes,
a
includas
as recorda-
esdo Formoso,-oi plqlfundamen-
te nfluenciado
pela
sociedade po-
ca em
que
Ylveu:
sao memonas
so-
prprio
Fernandes:
nenhum informante
possua
exatamente mesmo fsico,humor e imaginaao.
A
narratrva de
fernandes constltuu uma
verso.
;entre
muitas, da Revoita
do
Formoso;
ate hoje
ela
disputa,
com outras,
espaos, udincias
e adeses,
em buscade tegi
,averso,no o fato": o antigo ditado popular j cha-
mava a ateno
para
a
lmpe4ng3
3
autonomia das nterpretaes.
&
me-
fo
-ria m espeqial
quando
organiza-
da
em narrativa,
possui
uma
dimen-
qtu
simblica
que
a leva rapidamente
g
desprender:s'
descolar-sedo
Foncreto,
para
alar
vos
prprios.
Todos
os seres vivos conhecem
essadimenso
simblica da mem-
ria,
que
a literatura
sabe to
bem
apreender:um simples sabor - co-
mo
o da
madeleine,
o doce
cujo sa-
bor remeteu
o escritor
Marcel
Proust
prpria
infncia,
e
tambm
escrita dos
sete
volumes do
seu magistral
Em busca do tempo
perddo
-
capazde despertar
as mais longnquas
lembranas.
O
calter
simblico marca
profunda-
mente a
narrativa
de Fernandes.
Marca
os vrios
Mas
no era
s:
eu
tinha a impresso,
que
se trans-
forma'aem.erteza@
do
depoimento, datado
qquela
histria. Finalmente,
percebi
ser a ngqaliva
de Fernandesuma recriao
do Dom
Quixote
de Ia
Mancha, de Mieuel de
Cervantes
Seu
empo,
portanto,
tambm era o da criao
do
Dom
Quxote,
o
da
Espanhamedieval, o de antigas
tradies,
yelhas
de
muitos sculos....A
dimenso
simblica unificqu, na
narrativa de Fernandes,
his-
t ria, me+ ria e
lggglatg4o
_hist
.ri-g.
d
g
al99
-
1
de um eixo cgndutor
e de uma lgica.
No
a lsica
histrica tradicional, coadaaoseventos,masa lggi-
Sa
qiinblilq. s semelhanas
encontradas
entre os
dois relatos,
desdea
loucura
e o idealismo
dos
pro-
tagonistas,
no deixavam dvida:
Fernandes real-
mente
inspirara-se
no Dom
Qukote
de
Ia Mancha
para compor
seu depoimento.
Ora.
se ele no_inven .arg
seg. rgljrlo,-se n-g*9
compusera
a
partfu
unicamente
dg_prqpr1qilnjrgi-__
nao,
se no era apenas
um grande
mentiroso, um
farsante,como, a
princpio,
eu
pensara,
como en-
tender
a entrevista?
Coqto
co-pt.-e"d"r
"s
r.l19s-
ntre uma revolta de poss-eirosc_o.rridqlo interior
tempos oue ela contm, assimcomo as relaces n-
.
,..
.
,
.--
"
"'i
tre eles: s emposdu hist.i"
d
venttff i ,as
o
o
5
o
o
o
,.
7/21/2019 Cervantes de Gois
4/7
o
:
o
5
)
o
I
:
iH
31
Dois
cavaleiros
asso passo
A
comparao
istemtica
ntreasaventuras
e
Ze
Porfrio as
de Dom
Quixore,
rotagonisras
o
depoimenro
rat
de
Fernandes
do livro A Engenhoso
idalgo
om
Quixote
e
a Mancha,
e Miguel
de
Cervanresaavedra,
espectiva-
mente, pontaparanumerosasemelhanas.lmdo recurso um"felescudeiro"aum cavalo omo mesmo o-
me
-
Rocinante
embora
Porfirio,
o
que
consta,
amais
ossura
avalo)
,
ambas
snarrarivas
rilizam-se
om
freqncia
o
humor
e dos
ecursos
a
arsa,
ssim omode subttulosongos,
an
inroduzir
assubdivises
a
ao.
o caso o
Captulo
XV,do livro
de Cervantes,
Em
que
se
elata
desgraada
vencura
ue
enfrenrou
lom
Quixoce
o opar
com uns
desalmados
angeses
narurais
e Yanguas,a regio
e
Castilha]",
o necho
do
relato
de
Fernandes,
Vou
contar
prbcs
asmuitas venruras o7 Porfirio
seucompanheiro
Ribeiro, as
maas
do So
Patrcio,
uando
eles eu
src)
e
cara
om um nimigodesconhecido
malvado".
No relatooralh
passagens
iretamente
etiradas
o
livro
de
Cervantes,
daptadas
Cois
Revolta
o
Formoso,omo
o
"Epirafio"
e
Dulcinia. sversos
o
livro
"Descansa
qui Dulcineia,/Que,
endo
orda
e
rosada,/
Emcinzae
p
foi mudada/
Pela
morte,honenda feia') eapareciam
o
relato
de
Fernandes
omode
autoria
dos
membros
a Associao
os Lawadores
o
Formoso
Trombas,
undadaem 1954:
Descansa
qui
a
polcia/
Que
sendo
orda
e
rosada,/
m
cinzae
p
foi
mudada/
Pelamorte,horrenda
feia."
Ouro exemplo nvolve ancho ana o "escudeiro"e Porfirio, e Ribeiro. o iwo, sancho acou eseu ardel
um naco
de
po
e um
pedao
e
queijo,
dando-os
o moo lhedisse
-
oma, rmo
Andre
a ruadesgraa
oca-
nos
a odosj'No relaro
e Fernandes,
Ze
Ribeiro acou
e seurnel um naco
de
po
e um
pedao
e
queijo,
dan-
do-osao
moo
o
ovem
Cosmelino,
osseiro
ecm-chegado
o Formoso],
he
disse Toma,rmo
Cosme, rua
desgraa
oca-nos
rodosl'E
ervances
Femandesor
a
vo,
p;rsso passo
om
Rocinante.
O
Cavr.jeircja r::re
FiErr: ,nnr:ncic
Rccinan:. : :
tsmo
iion
e
.iacO
O cavalO
dc lcier a Revolra o
Formoso,
mboraeste
nunca
enha
possudo
um cavalo
Estado
de Gois,
m meados
do sculo
XX. e
uma novela
erudita,
publicada
na
trezentos e cinqenta
anos
antes?
O- *
O"i*t"
a"
U Uo"clrq,
.wo de cabeceirade Fernandes.Elepossuao volume
desde 1942,
ano em que
o herdara
do av
que, por
sua vez,
o encomendara
a
um
mascatede
viagem
ao
Rio de
Janeiro,
onde
o
comprara. No apenas
Fernandes,mas
boa
parte
da
populao
do munic-
pio
de Uruau nascida
antes
de 1950 conhecii
o
.Qri*ot";
uiioi
ttia.gggrte
dta,
gqlq4t
rt
4lguiqlnaqvlto.
Se alfabetizado,
"contador
de histrias",
enta-
4o
sobreum banco,
na calada
ou na
praa,
ia o li-
wo
para
uma
roda de atentos
ouvintes,
gente
varia-
da: crianas e adultos, homens e mulheres, awado-
res,comerciantes,
vaqueiros...
Se
analfabeto,
o
"con-
tlrdor" narrava
o
qpe
sua mem_ria_guar4ara
sele-
cionara do
que
ouvira
da histria
original. Nos dois
casos,a
platia
participava
atiyamente,
tecendo
co-
mentris, divertindo-se,
indignando-se,
emocio-
nando-i e, o
que
era freqente
-
e,
pra
nosso
es-
:.|ll:3i
7/21/2019 Cervantes de Gois
5/7
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32
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q4
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barcelonesa
:e i879
do
clssicc
:e Mguel
de
.lervantes,
rcf
nrte
crnamentaca
0r
RicardoBalace
A esquerda,
fronrispcio
a edio
madrrlense
e
1798.
H referncias
e
que
a
vida do engenhoso
fidalgo
en apreciaCa
em Cos
no
sculo
,{Vlll,
quando
oi
encenada
ma pera
sobre
o tema
){rN
'r r - t \ i in ' :
l )Jr
1, . \ \ t iN j t . \
f'1{
ir r
j,l
.l ::{ \'_\:i l r
Littr { i_
a
:
l
o
o
o
I
o
o
:
tudo,
particularmente signifi
cativo
-,
relacionando
as
passagens
s
prprias histrias
de
vida'
No
apenas Fernandes
e os
uruauenses
de
sua
gerao
conhciam
a
histria do
Quixote.
O
liwo
e a
histria circulavam pelos povoados mais antigos de
Goirs
havia mais de
duzentos anos,
desde
o sculo
XVIII,
quando
a regio
receberaos
primeiros
con-
tingentesbrancos,
em decorrncia
da
descobertade ouro. Correspondncia
do
governador
da Capitania,
datada
de
1774, referiu-se
encenao
de
uma pera no
povoado
de Pilar,
ba-
seada na histria do...
Dom
Quixote
de
la
Mancha Referncias
histricas
esParsas'
orm
confi.veis,
testaram
apermannciaem Goisda narrativa
do
Quixote
e,
provavelmente, tam-
bm do
liwo,
ao longo
do
sculo
XIX.
A
tradio
medieval
ibrica
(que
Cervantes ncorporara e
retrabalhara
em seu texto), introduzida
durante o
perodo colo-
nial em territrio
goiano,
deve
ter-se
fortalecido
com o isolamento da regio,
a
partir
do
terceiro
quartel
do
sculo
XVIII, em conseqncia
da
derro-
cadada
minerao.
Ainda
hoje, elemntos
dessa
ra-
dio,
reinventados
e atualizados
pela
populao'
esto presentesem Gois; o caso dasfestasanuais
do Divino
Esprito Santo,
que
incluem
as
Cava-
lhadas, uma
luta ritual entre
cristos
e mouros'
cu-
ja
origem
provvel remonta
s nvestidas
de
Carlos
Magno
contra os rabes,
ao
norte
da Pennsula
Ibrica, no ano
800.
gltglg-gl"dita (D om Quixote) -culuraiglglel
(tradies
goianas) associaram-se'
assim,
influen-.
ciando-se
mutuamente
e
promoy :ndo uma
circula-
ridade
de culturas,
al como
definida
por
Mikhail
Bakhn
em seus
studos
sobre
a
narrativamedieval
e renas-
centista.
Algqcllqerq:se,
ambm,
9I
crita
e oralidade
um
texto
escrito
alimentou,
durante
sculos,
uma
ra-
dio
mista, escrita
e
oral,
em Gois.
Parte desta
radio
me
foi
transmi-
da, oralmente, por Femandes, rea-
parecendoagora
neste
exto
escrito.
A dimenso
simblica
das entre-
bre
os
fatos,
mas
penmte
compreen-
der
os diversos
signifiJados
que
iqdivdugs
el{lgpos
sociais
conferem
s
exPerincias
que tm. Entrevistas
reaizadas
osteriormente
Por
mim'
em
reasprxi-
mas
-
nos
atuais
municpios
de
Porangatu,
Minau
e
Santa
bresinha,
cujos
habitantes
no haviam
viven-
ciado
a
Revolta
do
Formoso'
mas nela se nspiraram
para deflagrar
movimentos
de
posseiros
,
registram
verses
muito
semelhantes
apresentada
por
trliitr
crrrrrgirla Ja s(sundr pli' Jr
4r,,1"/c-
a crr{o .le ii.
-lrrn
r\otorro teiliccr,
th lcrl
.\carlumia Jc l{isrir, \arn.
QL&t?
| t-r)9.
-]
7/21/2019 Cervantes de Gois
6/7
JJ
:
=
o
o
I
;
o
Fernandes:
estavam s
quadrinhas
adaptadas
o
li -
vro de
Cervantes,
os diilogos iterais,
as referncias
a
personagens
episdios
da obra.
Na
regio
de
Uruau
j
existia,
portanto, uma
forte tradio
de origem ibrica,
da
qual
o
ivro
Dom
Qukote
de Ia Nancha
fazia
pare,
expressan-
do-a e reforando-a; esta tradio era constante-
mente reelaborada
peia populao
ocal,
por
meio
de rituais
e da memria coletiva.
Foi a ela
que
Fernandes
ecorreu,
para
construir seu
depoimento
sobre
a
Revolta
do Formoso.
Lq3gg-p"rt""t",d*_
um
grande
mentiroso, Fernandes
verbalizara,
em
seu depoi
cnios e sentimentos
profundamente
enraizados
na
memria coletiva
de sua regio e
grupo
social de
origem.
revolta, ele construiu
uma
narrativa
original,
mes-
de
antieas
radices, ssimiladas
ocalmente.
No relato de Fernandes, a
"memria
herdada"
a"i
-
te o
"homem de onte
das
tradies ibricas
para
as
tradies
goianas
-
e
g_o*tatfofaeniq49?4
]l1
g:-
esquemas
nconscientes de
percepo, representa-
ilEcritos
no@
nos
gestos,
no
riso de Fernandes.Por essa
inha de
interpretao, Fernandes no
apenas no mentiu,
em seu relato,
como se mostrou profundamente
verdadeiro,
ao recorrer a cdigos mentais,
psicol-
gicos
e corporais
inscritos no sel ntimo.
Relegar a
plano secundrio
as
relaes entre me-
mria
e vivncia, entre
indivduos e
grupos
sociais,
entre
tempos e
entre culturas
imobilizar
o
passado
nas
cadeias cronolgicas de um
"real"
onde
residiria
sua
"verdadeira naturezao,a ser
"resgatada"
pelos
his-
toriadores.
De acordo com essa oncq:o,a entrevis-.
ta de Fernandes
no serve
para
nada; seu destino
a
A
histria
alada... gravada
Nos
anos
50
do secuio X
aps
nveno
o
gravador
fita, niciou-se
osEsadosUnidos, uropa
e Mxico
umametodologia e
pesquisa
ue
se
baseia
na
gravao
e esemunhosobre
contecimentos,
conjunruras,
nstituies, odos
e
vida
e ouros
aspectos
a
histria ontempornea:
hiscria nl.
Bastante
ifundida asduasdkadasseguintes,
oanir de
1980
la
consolidou m
Dermanente
intercmbio
ntre
os
que
a
praricam:
oso
historiadoresanroplogos,
omo
cientistas
pol
ticos,
edagogos,
ericos
a teratura,
siclogos.
No Brasil, metodologia
oi
nsroduzida
osanos
7Ocoma criao o
Programa
e
HistriaOnl do
CPDOC,
a
Fundao
elio
Vargas, ifundindo-se
especialmente
panir
dosanos
0,
quando
oi
criada
a Associao
rasileirae HistriaOral,em
1994,
om
membros e odo o pas uese enem
periodicamente
m
encontrosegionaisnacionais,
editamuma
evista
contam
om um
porl:
www.cpdocfuv/abho.
lata
de ixo, ou o fundo de
gaveta, nde, desde1979,a
deixei.
ulassegundoa concepoaqui
adotada
que
relaciona a
vivncia e as memrias de
un
ser
hugta-
no com seu empo, com o
a4lerior e
gJS
_futulg-
sociando,
em vrios nveis e de
vrios modos, real
e
simblico, histria e memria, memria e imagina-
o,
radio e inveno,
i.co histria
-,
possvel
oferecer
uma resposta
para
o enigma
de como
g
@ontado
em
seu cavalo
Rocinante,
atravessouocenos
para
lutar contra moi-
nhos de
vento nos ongnquos sertesde Goirs.
n
J,c..reN,f
u.roo
prof*mra tinlar aposetttada
do Departamento
le Histria ila Universidade
de Braslia-
No
momento,
alm
dahistria, dedica-se
fiqo.
Parasabermais
ABREU,
ebastio.
A guenilha
do
Z Pcrfrio.
3rasilia: oeihe,1985.
AMDO,
Janana.
"
Eu
quero
ser uma
pessoa:evolra
ampo-
nesa
poltca
o
e. t1
7/21/2019 Cervantes de Gois
7/7
Janena
madc
Grande
Menti i 'os+
"Neste
caso, ne
ef i ro
a um
importantemovimento
ocial
rovocado
ela
ocupao e
terras
por
parte
de campesinos,
ue
eve
lr . rgarrn urna
provncia
o
inter lordo Bras l
-
Goias entre os anos 50
e 50, e
que
conhecido
omo
Revoita io Formoso.
Mais
qu*
movimentoem s
mesmo, no momento
nos interessa
relato
de
um dos
nlegrantes
cjo
grupo
que
foi largamenteentrevistado
pela
histor iadora
anana
Amadol l* j . nic ialmente, ontaa histor iaciora, relatocjeFernandes a informante
no
pocie
ser aprovetacio
para
a reccnstruo
histrica
porque
parecia
rnuito
fantasioso,
f f i a lguns
aspectos, e desviava
denraisdos
relatosdos demais.
Mas
passeccs
uns
qLjantos
nos, a histcr iadcra e cidiu
evisaras
entrel , istas se deu
c*=l*
de
que
a versode
Fernandes
ombinava
atos histr icos o m
reminiscncas
t ;+
-
-i
-:
--
i i -?: l i5,
fo
seu
infcrme,
*
movimentode
um
mcdo
gerai
apresentava
ma trama bem
artlculade ntre +
eipico
a
farsa.
O
der
a
revolta Jos
Forfr icde Souza
aparecia
comoa
encrnao e
Dan
Quixote
a
oucura
io avaleiro e
manifestava a
revol ta
cjo campcns
perante
as tremendas njust ias
a rea
rural brasi lei ra"O
ri tual de
inci=c e ios Porf i r ia a mi i tana e assernelhava uma parodiado bat ismode
D*;" ;
' ; ixote
como cavaieiro. ontava, lm
cisso, om
a
presena
onstante
e um
coi"npanheiro
m todas suas
aes
pol t icas
o est i lo
de um Sancho
Panzae t inha
tambm
um
cavaio
chamad*
Rocinante,
uando
n verdade,segundo
dizem os
demas nformantes, csPorf r ioRern
equer
eve um cavaio.
As coincicincias
ntre
o
i-elato
e
Fernandes
obra de Cervanies
o
vriasej cc mc disse
a histaradore,
no
cabiam
dvidasde
que
o
infermante aviase
inspiraejoo
Quixoie
para
compor
n*
slr=
maginao
ma verso
quixoiesca
a
Revolta,
Mas
como
expl icar
presena
de u:r ia
obra de trad ioerudi ta em urn
povo
que,
alm de
viver ern
condies
b;tsarit*
precras,
ontacorr
um
rande
nmerode analfabetos?
O
cr-:r *s*
que
deposde um
ieno
empc,
passando or
fontesorais e
escr i tas,
ni-*r+r iaciorahegoua aigumas onc i ;sesastante ugest ivas. m primero ugarse
l-;c*r;
=abenio
cue
Fernandes
ia regularmentea
Quxate
e
desde
194?
tinha
uma
e*i*
presenteaia cr
seu av.
Logo
soube
amb,r l
de
que
no s Fe rnandes
omo
grande
parte
das
pessoas
o
povoado
Uruau),
ascida ntes
dos anos 50,
conhecia
a
*bre.
Muitos
deiesse lembrava rn e haver ouvido
as
histor ias o cavaleiro
e
la
i{ancha contadas
pCIrpessoas
e mais
idade
que
tradicionalmente
e
reuniam
na
pra
naior
ao entardecer
relatavam
u
l am as
incrveis istr ias
e Don
Quixote
Dra
Jr '
Erupo
heterogneo e homens,mulheres,
r ianas,
amponeses,
equenos
ccmerc ani-s, a
si :a
grande
maior ia
analfabetos.
stes,
por
sua
vez,
part ic ipavam
*t i, 'ai-::ente as aventuras carraiheires cas
azendo comentrios
e
especial; 'nente
relae*rrando
historiacornc rcunstnciasa
vida, A entrada
do
uixofe
nesta regic
dc i :r ter ior ras ieircorie na seg undametadedo sculoXVi I , quandocheEam s
pri
n"leiros ornensbr6p5i1'
':
N*
easc da Revoita
da
Formosc,ocorre
um
perfeito
processo
de'apropriao
da obra
de
Cervantes, f igurado cavalheiro
e
coniunde
sm a do
l dei- ampons
se um
iura
*eio
restabelecimento
a orcjemda cavalar ia
ndante,
outro
mil i ta a
favor da
just ie
sccia .Os rasgos
de
loucura
e confundem
om o
herosnnoavalheiresco
vis*
cjc
nai 'recior
arante
urn
ponto
de vista
instvel
que
se
move entre o
srio
e
c
cmico. tvas
sem dvida, o
mais
surpreendente
o informe
de Fernandes
a
dea izeo
ue
cr ia so bre um
mcvimento social ,
estabeiecendo
m
jogo
entre
:m*inao
e
vercjade histr ica
que
'ecupera,
quixotescamente,
ja
ant iga
ccr-rt: 'cv*rsia
as
fronte
ras
e as
cnxes ntre
iteraturae
vieia."
"c,
r:./es
e
prornover
resgate istrico
a
;'evolta,onstruiu,
m tcrncdela,umanarrativa
ori*ai, rnesclando
acontecirnenios erdicos, existentes
i lo n' lovimento,
com
ti 'amas,
; iomenclaturas
simbologias e ant iEas radies,
ssimi lacias
ocalmente"
MADO,
995,
p,
1?1\
aJr l .
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