XIX International Rock Art Conference IFRAO...

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XIX International Rock Art Conference IFRAO 2015 37 Editores: Hipólito Collado Giraldo José Julio García Arranz ARKEOS Symbols in the Landscape: Rock Art and its Context

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XIX InternationalRock Art ConferenceIFRAO 2015

37

Editores: Hipólito Collado GiraldoJosé Julio García Arranz

ARKEOS

Symbols in the Landscape: Rock Artand its Context

INTERNATIONALROCK ARTCONFERENCE

CÁCERES (EXTREMADURA, SPAIN)

| ARKEOS 37 |

Symbols in the Landscape: Rock Art and its Context

Proceedings of the XIX International Rock Art Conference IFRAO 2015

(Cáceres, Spain, 31 August - 4 September 2015)

FICHA TÉCNICA

ARKEOS | perspectivas em diálogo, nº 37Propriedade: ITM – Instituto Terra e MemóriaDirecção: a Direcção do ITMEditores deste volume: Hipólito Collado Giraldo, José Julio García Arranz© 2015, ITM e autoresComposição: Artes Gráficas Rejas (Mérida)Fotorreprodução, fotomontagem, impressão e acabamento: Artes Gráficas Rejas(Mérida)

CONSELHO DE LEITORES (referees)Abdulaye Camara (Senegal) | Carlo Peretto (Italy) | Fábio Vergara Cerqueira (Brazil)Luís Raposo (Portugal) | Marcel Otte (Belgium) | Maria de Jesus Sanches (Portugal)Maurizio Quagliuolo (Italy) | Nuno Bicho (Portugal) | Pablo Arias (Spain)Susana Oliveira Jorge (Portugal) | Vítor Oliveira Jorge (Portugal)

TIRAGEM: 750 exemplares | Depósito legal: 108 463 / 97ISSN: 0873-593X | ISBN: 978-84-9852-463-5

ARKEOS é uma série monográfica, com edição de pelo menos um volume por ano,editada pelo Instituto Terra e Memória, que visa a divulgação de trabalhos deinvestigação em curso ou finalizados, em Pré-História, Arqueologia e Gestão doPatrimónio. A recepção de originais é feita até 31 de Maio ou 30 de Novembro de cadaano, devendo os textos ser enviados em suporte digital, incluindo título, resumo epalavras-chave no idioma do texto do artigo, em inglês e em português. Os trabalhosdeverão estar integrados na temática do volume em preparação e serão submetidos aoconselho de leitores. A aprovação ou rejeição de contribuições será comunicada noprazo de 90 dias.

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CONTACTARITM, Instituto Terra e Memória, Lg. dos Combatentes, 6120-750 Mação, Portugal

TOMAR, 2015

TOMAR | 2015

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SYMBOLS IN THE LANDSCAPE: ROCK ART AND ITS CONTEXT

| Actas del Congreso | Conference Proceedings | Actes de la Conférence | Actas de Conferência |

| Editores: Hipólito Collado Giraldo | José Julio García Arranz |

Volume editado com a colaboraçao da:

VICERRECTORADO DE EXTENSIÓN UNIVERSITARIA

JUNTA DE EXTREMADURA

FROM PALEOLITHIC PLAQUES, CHALCOLITHIC IDOLS

AND PROTO-HISTORIC ENGRAVED SLABS: THE ROLE OF MOBILE ART

IN EUROPEAN PRE AND PROTO-HISTORIC SOCIETIES

DESDE LAS PLACAS PALEOLÍTICAS, LOS ÍDOLOS CALCOLÍTICOS

Y LAS ESTELAS GRABADAS PROTOHISTÓRICAS: EL PAPEL DE ARTE MOBILIAR

EN LAS SOCIEDADES EUROPEAS PRE Y PROTOHISTÓRICAS

(Sofia Soares de Figueiredo and Andrea Martins, coords.)

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Resumo: As placas de xisto gravadas são uma das mais originais manifestaçõesartísticas das comunidades megalíticas peninsulares, com um foco de difusãocentrado na área do Alentejo – sendo assumidas como elemento caracterizador dogrupo megalítico que se aqui desenvolve desde os últimos séculos do 4º milénioa.n.e. Mais ou menos naturalista, mais ou menos esquemática, uma única ideiaparece influenciar o design das placas de xisto gravadas: a representação de umaentidade simbólica relacionada com uma concepção de morte/ regeneração/fertilidade. Normalmente gravadas com motivos geométricos, existem exemplaresque apresentam atributos claramente antropomórficos, relacionados com asimbólica distintiva da Deusa-Mãe neolítica. Assim, apesar de algumas novasinterpretações sobre a significação destes artefactos, o consenso parece que semantém na circunstância de representarem uma divindade feminina representativada cultura mágico-simbólica das comunidades do Neolítico final/Calcolítico doSudoeste peninsular. E, neste caso, recorrendo a um conhecido adágio de terrasgaulesas, se algo não é tão óbvio como deveria ser à primeira vista, a respostaassenta num imperativo único: cherchez la femme!

PALAVRAS-CHAVE: Placas de xisto gravadas, Neolítico-Calcolítico,Megalitismo, Iconografia, Imagética, Sudoeste peninsular.

ABSTRACT: The engraved schist plaques are perhaps one of the most originalartistic manifestations of the Iberian megalithic communities, with their diffusionfocus apparently centered on the area of Alentejo – being assumed to be the elementthat characterizes the megalithic group that develops in the Southwest Iberia sincethe last centuries of the 4th millennium BCE onwards. More or less naturalistic,more or less schematic, one single idea seems to influence the design of theengraved schist plaques: the depiction of a symbolic entity related to a conceptionof death/regeneration/fertility. They are usually engraved with geometric decorativepatterns, although there are also specimens which present some attributes clearlyanthropomorphic, related to the distinguishing symbolism of the Neolithic GreatGoddess. Thus, despite some new interpretative readings about the significance ofthese artefacts, the consensus seems to be held still on the fact that they depict arepresentative female deity of the magical-symbolic culture of the LateNeolithic/Chalcolithic communities of Southwest Iberia. And, in this case, using a

Cherchez la femme! Iconografia eimagética nas placas de xisto gravadas doMegalitismo do Sudoeste da PenínsulaIbéricaMARCO ANTÓNIO ANDRADE

«L’homme construit des signes parce qu’il est significant danssa realité même et il est significant parce qu’il est dépassementdialectique de tout ce qui simplement donné. Ce que nousnommons liberté, c’est l’irreductibilité de l’ordre culturel àl’ordre naturel.»

Sartre 1960:138

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| Cherchez la femme! Iconografia e imagética nas placas de xisto | Marco António Andrade |

As placas de xisto gravadas do Megalitismo do Sudoeste peninsular

As placas de xisto gravadas são, sem dúvida, uma das mais expressivase representativas (e talvez mesmo das mais originais e emblemáticas) man-ifestações artísticas das antigas comunidades camponesas da PenínsulaIbérica. Com uma evidente carga simbólica (sejam quais forem osdomínios teóricos em que esta se leia), apresentam um foco de difusãoaparentemente centrado na área do Alentejo central (onde se conhecemmonumentos onde se recolheram mais de uma centena de exemplares),estendendo-se daqui até áreas limítrofes, como a Estremadura, Algarve eAndaluzia (Fig. 1).

well-known adagio from Gallic lands, if something is not as obvious as it should beat first glance, the answer lies on one single imperative: cherchez la femme!

KEYWORDS: Engraved schist plaques, Neolithic-Chalcolithic, Megalithism,Iconography, Imagetics, Southwest Iberia.

FIG. 1. Distribuição das placasde xisto gravadas no Sudoestepeninsular, de acordo com a suafrequência (adaptado de Lillios2008a:15, fig 1.6). Apesar dealgumas lacunas, derivadas daausência efectiva de trabalhos(ou da publicação deste), nota-se a especial concentração naárea do Alentejo central, tantopelo número de contextosidentificados como pelonúmero de placas de xistogravadas dentro de cadacontexto.

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São precisamente assumidas como elemento caracterizador (e seucomponente distintivo) do grupo megalítico que se desenvolve noSudoeste da Península Ibérica desde os últimos séculos do 4º milénioa.n.e., fazendo parte dos mobiliários votivos (sendo assim reflexo de rituaisfunerários específicos) que acompanhariam inumações realizadas emvários tipos de contextos (monumentos ortostáticos, grutas artificiais, gru-tas naturais, tholoi, sepulturas não estruturadas).

O seu carácter simbólico é justamente compreendido não só pelo seulugar de destaque nos mobiliários votivos dos conjuntos megalíticos doNeolítico final/Calcolítico inicial, mas também pela iconografia e imagéti-ca que ostentam (explícita ou implicitamente). Mais ou menos naturalista,mais ou menos esquemática, uma única ideia parece influenciar o designdas placas de xisto gravadas (e seus congéneres figurativos, como as placasde grés esculpidas): a representação de uma entidade simbólica (ou várias)relacionada com uma concepção de morte/regeneração/fertilidade.

Normalmente gravadas com motivos geométricos, existem exemplaresque apresentam características particulares que concorrem para uma maisclara definição do seu significado estrito – nomeadamente (e a nível icono-gráfico ou morfológico), atributos claramente antropomórficos (ou maispropriamente, teomórficos), de cariz feminino, relacionados com a sim-bólica distintiva da Deusa-Mãe neolítica.

Durante a primeira metade do 3º milénio a.n.e. (e talvez mais próximodos seus meados), surgem representados nestes artefactos símbolos clara-mente relacionados com as comunidades arqueo-metalúrgicas do Calcolíti-co, tais como a dupla figuração raiada designada como «Olhos de Sol» e arepresentação de uma figura possivelmente masculina, equiparada ao«Jovem Deus» da esfera cultural mediterrânica – evidenciando talvez aadopção a velhos símbolos de elementos de um novo sub-sistema mágico-religioso.

Atributos morfo-tipológicos e gramáticas decorativas

Estes artefactos são produzidos preferencialmente sobre xistoardosiano (e ocasionalmente em xistos de outros tipos, como xistoanfibólico, serpentinito, micaxisto), apresentando essencialmente contornosub-rectangular ou sub-trapezoidal (existindo igualmente exemplares comcontorno antropomórfico), gravados com uma vasta gama de motivos dec-orativos. Morfologicamente, o seu design pode ser dividido em várioscampos independentes (Fig. 2).

A «Cabeça», ocupando o terço superior da placa, é normalmente deco-rada com faixas laterais paralelas (horizontais, oblíquas ou verticais), con-vergindo para o V central («Cabeça dentro da Cabeça»). Em alternativa aestas faixas laterais, as laterais da «Cabeça» ser totalmente preenchidas(Cabeça tri-partida) ou ser igualmente decoradas com bandas de triângulospreenchidos ou faixas ziguezagueantes, por vezes prolongando o motivodecorativo do «Corpo», com ou sem separação (sendo, no último caso, a«Cabeça» indicada apenas pela «Cabeça dentro da Cabeça»). Poderá tam-bém encontrar-se lisa ou decorada com motivos antropomórficos.

A «Cabeça dentro Cabeça» apresenta normalmente feição triangular ou

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trapezoidal, havendo casos em que apresenta feição rectangular ou quad-rangular. Poderá ser moldurada, sendo delimitada por faixas preenchidas(Fig. 3).

O «Corpo» apresenta decorações geralmente formadas por com-posições geométricas preenchidas com linhas reticuladas, dispostas nosdois terços inferiores da placa (Fig. 4). De notar que estas composiçõespodem apresentar múltiplas variâncias, sendo apenas referidas as maiscomuns.

Os mais comuns são as bandas de triângulos preenchidos, as faixasziguezagueantes e os campos de xadrez. O primeiro motivo encontra-se

FIG. 2. Representaçãoesquemática da «anatomia» deuma placa de xisto gravadaclássica, com indicação dosdiversos campos morfológicos.

FIG. 3. Tipos genéricos dadecoração da «Cabeça»registados nas placas de xistogravadas. 1: Loba 2 (adaptadode Gonçalves et al. 2005:16,fig. 11); 2: Alter do Chão(adaptado de Andrade 2014:48,fig. 24); 3:Lapa da Galinha(adaptado de Gonçalves et al.2014:fig. 13); 4: Loba 2(adaptado de Gonçalves et al.2005:23, fig. 21); 5: Ordem 1(MNA 995.78.34); 6: São Paulo2 (adaptado de Gonçalves et al.2004a:84, fig. 9); 7: Ordem 1(MNA 998.78.49); 8: Ordem 1(MNA 995.78.31); 9:Ordem 1(MNA 995.78.39).

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representado nas variantes de triângulos com o vértice para cima, triângu-los com o vértice para baixo, triângulos com o vértice para os lados e triân-gulos ocos (triângulos preenchidos com um triângulo vazio no interior). Asfaixas ziguezagueantes dividem-se entre padrões compartimentados e nãocompartimentados, registando-se ainda a variante das linhasziguezagueantes compartimentadas (motivos em espinha adossados). Osmotivos em xadrez repartem-se entre os exemplos com campos de célulasde feição quadrangular ou de feição rectangular vertical. Motivos menoscomuns encontram-se nos exemplares gravados com faixas verticais ouoblíquas preenchidas ou os exemplares com motivo radiante central.

As placas podem possuir áreas de separação entre estes dois campos,sendo a mais comum a separação marcada por uma linha simples. Há, con-tudo, casos em que este Separador se compõe por uma faixa (preenchidaou lisa) ou uma banda com motivos geométricos diferentes dos do «Cor-po», constatando-se igualmente a presença de Separadores complexosassumindo-se quase como motivos decorativos independentes.

Podem igualmente apresentar um «Indicador de fim de placa», corre-spondendo uma faixa (lisa ou preenchida) ou uma banda com motivosgeométricos distintos dos do «Corpo» rematando o padrão decorativo prin-cipal.

Estes campos são, em placas canónicas, objecto de paginação estrutu-rante através da gravação de linhas-guia que enquadrarão a decoração sub-sequente.

Apresentam maioritariamente uma perfuração de suspensão, havendoexemplares em que se regista perfuração dupla e (menos comuns) exem-plares não perfurados.

FIG. 4. Principais motivosdecorativos do «Corpo»registados nas placas de xistogravadas. 1: Ordem 1 (MNA998.78.40); 2: Lameira(adaptado de Andrade 2013:fig.6); 3: Loba 2 (adaptado deGonçalves et al. 2005:18, fig.16); 4: Loba 2 (adaptado deGonçalves et al. 2005:21, fig.17); 5: Romeiras (adaptado deGonçalves e Andrade 2014:69,fig. 8); 6: Ordem 1 (MNA995.78.35).

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Atributos antropomórficos

Para além destas composições geométricas, as placas de xisto gravadaspodem apresentar atributos claramente antropomórficos, associando assimestes artefactos a um universo claramente mágico-simbólico – de que éparadigma evidente a placa do Curral da Antinha, uma placa recortada comrepresentação clara da face (com olhos, nariz e tatuagens) e com figuraçãode mãos logo abaixo de bandas de triângulos preenchidos. Trata-se, pelosvistos, da conjugação dos tipos antropomórfico o geométrico.

O antropomorfismo evidente das placas de xisto gravadas lê-se inicial-mente no recorte de alguns exemplares, aplicado a peças em tudo idênticas(a nível decorativo) àquelas de recorte geométrico, com a figuraçãoexplícita de Cabeça e Ombros – sendo assim de assumir que esta ideiaestaria já implícita nos artefactos «comuns» (Fig. 5). Da mesma maneira,os exemplares que apresentam dupla perfuração transmitem uma ideia sub-til de antropomorfismo, equiparando-se aquela a olhos.

Outra base de leitura do antropomorfismo evidente das placas de xistogravadas é a figuração de elementos iconográficos claramente assimiláveisao domínio do «sagrado», nomeadamente referentes à imagética da Deusa-Mãe. Estes símbolos foram sumariados, independentemente do suporte emque se encontram representados, referindo-se que a presença de um únicoseria bastante para o reconhecimento dos restantes e da entidade signifi-cante que representariam (Gonçalves 1993). Listam-se da seguinte forma:Olhos (raiados ou não), Sobrancelhas, Cabelo, Tatuagens/pinturas faciais,Nariz, Boca, Queixo, Seios, Umbigo, Triângulo público.

A este conjunto se poderá juntar também a figuração de Braços eMãos, já referida na placa de Curral da Antinha e presente em algumas pla-cas de xisto com simbologia semelhante à das placas de grés esculpidas doMegalitismo alto-alentejano (como as placas de Bola da Cera ou Horta, porexemplo). Outros símbolos, indirectamente antropomórficos, poderão sertambém encontrados, assumidos como acessórios ou elementos de ves-tuário (tais como a representação de colar, faixas cruzadas no peito, ban-doleiras, lúnulas) (Fig. 6).

A importância dos Olhos é evidente, sendo a sua carga simbólicareforçada pela figuração raiada (Fig. 7). As Tatuagens/Pinturas faciais são,sem dúvida, um símbolo universal – na medida em que é aquele que surgemaioritariamente representado, isolado ou em associação a outros símbo-los. A sua presença exclusiva é o bastante para identificar a divindade, ten-do carga simbólica per se. A significância do Triângulo púbico encontra-se,obviamente, no que está para lá do seu caracácter sexual: a fecundidade e onascimento. Neste sentido, se grande parte destes símbolos (com óbviocarácter teomórfico) se encontram gravados em placas de xisto, será lógicoequipará-las a artefactos em que a totalidade (ou pelo menos grande parte)dos mesmos também se encontra representada. Os símbolos agem aquicomo meio de interacção Homem-Divino, sendo atributos de entidadessimbólicas específicas e modos de as reconhecer.

Sendo incontestável o teor mágico-simbólico da designada Deusa dosOlhos de Sol, o óbvio carácter «sagrado» das placas de xisto gravadasmanifesta-se na adopção a estes artefactos, na primeira metade do 3ºmilénio a.n.e., da simbologia própria desta figura – representada igual-

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FIG. 5. Alguns exemplos deplacas de contornoantropomórfico. 1: Granja deCéspedes (adaptado de AlmagroBasch 1961-62:42, fig. 3); 2:Barrocal das Freiras 3 (MNA985.55.12); 3: Buraca da Mourada Rexaldia (adaptado deAndrade et al. 2010:247, fig. 7);4: Cabacinhitos (adaptado deGonçalves et al. 2005:63, fig.18); 6: Tapada da Laje dasPeles, Crato (desenhado a partirde Isidoro 1971:fig. 21). Denotar a coincidência, noexemplar de Granja deCéspedes, do contornoantropomórfico com a figuraçãooculada associada apinturas/tatuagens faciais.

FIG. 6. Placas com claraiconografia antropomórficarelacionada com a simbólica daDeusa-Mãe. 1: Cabacinhitos(adaptado de Gonçalves et al.2005:58, fig. 13A); 2: Horta(adaptado de Oliveira2006:146); 3: Cabeço daMinistra (adaptado deGonçalves et al. 2014); 4: Horta(adaptado de Oliveira2006:146). De notar adecoração da primeira placa daHorta, afim daquela que seencontra esculpida nas placasde grés.

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mente sobre outros suportes (como veremos abaixo) com claros atributosfemininos.

Esta assimilação é patente não só na presença simples de olhos raiadosem placas de xisto «clássicas», como também pela sua inclusão em todoum conjunto figurativo específico – incluindo, para além dos olhos, a rep-resentação das sobrancelhas, nariz e pinturas/tatuagens faciais e até cabelo(como na placa de Cabacinhitos). E mesmo seios e triângulo púbico, emoutros artefactos.

Mais forte este vínculo sagrado se torna quando surge associada a figu-ra do «Jovem Deus», equiparado ao psicopompo, ao «herói cultural» doscírculos mitológicos mediterrânicos e representado nas pequenas estatuetasesculpidas em osso ou em xisto designadas como «ídolo chato» ou «alme-riense» presentes em variados contextos funerários do Sudoeste peninsular.

A sua gravação em placas de xisto gravadas, para além da sua associa-ção a uma divindade feminina, é evidência clara da geometrização (ouesquematização) de uma figura antropomórfica simbólica, como patentenas placas da Lapa do Bugio (Gonçalves 1970), Courela dos Nascedios(Gonçalves 2006) e Galvões (Gonçalves 2013), confirmada igualmente naplaca de Casa da Moura (colecção MSG) (Fig. 8).

No entanto, e como remate à discussão do antropomorfismo das pla-cas, podemos dizer sem reservas que, seja qual for o estilo decorativo,qualquer placa é antropomórfica, ou pelos menos o é a ideia que lhe estásubjacente, sendo a sua decoração dependente de condicionalismos inter-pretativos de que quem a produz e utiliza. A própria separação morfológi-co-descritiva entre uma «Cabeça» e um «Corpo» (presente com maior oumenor evidência em qualquer placa) possibilita a sua leitura «antropomór-fica», revelando uma clara ideia de antropomorfismo (Gonçalves 2004a).Da mesma maneira, a observação estrita do conjunto «Corpo»-«Cabeçadentro da Cabeça», alheando os motivos laterais, possibilita esta leitura(Fig. 9).

FIG. 7. Alguns exemplos deplacas oculadas. 1: Buraca daMoura da Rexaldia (adaptadode Andrade et al. 2010: 246, fig.5); 3: Pessilgais 2 (adaptado deAndrade 2011:81, fig. 6); 5:Cabacinhitos (adaptado deGonçalves et al. 2005:64, fig.19A).

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Congéneres figurativos.

Como dito, a simbologia expressiva da Deusa-Mãe não se encontraexclusivamente representada em placas de xisto gravadas, figurandonoutros suportes crono-culturalmente equiparáveis, tais como placas de

FIG. 8. A geometrização deuma figura antromórfica (jáevidenciada por V. S.Gonçalves) é evidente narepresentação dos designados«ídolos chatos» ou«almerienses» nas placas dexisto gravadas, como mostramos exemplos da Lapa do Bugio(Cardoso 1990-92: Est. 19 e46), Courela dos Nascedios(Gonçalves 2006b:187, fig.10)e Casa da Moura (MSGCMR387). Juntam-se a estes oexemplar de Galvões(apresentado em Gonçalves2013).

FIG. 9. A leitura antropomórficaimplícita na decoração de duasplacas de xisto gravadas daregião de Évora (BM 1115-4e1115-5), evidente na observaçãoconjunta do «Corpo» e da«Cabeça dentro da Cabeça».

A coincidência de símbolos em artefactos distintos permite englobá-losdentro de um mesmo pacote ideográfico (Tabela 1), reflexo de um amplouniverso mágico-religioso partilhado e equiparando as placas de xistogravadas (em termos de teor simbólico) a qualquer um dos elementosreferidos (Bécares 1990; Hurtado 2008, 2010; Gonçalves 1993, 2008).

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grés esculpidas, placas de calcários, betilos de calcário, estatuetas decerâmica, ídolos-falange de osso e recipientes cerâmicos (Fig. 10). Os sím-bolos listados acima encontram-se representados nestes itens em associ-ações figurativas, formando por vezes conjuntos iconográficos complexos,sendo explícito o seu valor significante.

FIG. 10. Exemplos decongéneres figurativos dasplacas de xisto gravadas. 1:placa de grés esculpida, anta daHorta (adaptado de Oliveira2006:142), 2: placa de calcário,La Pijotilla (adaptado deHurtado 2010:145, fig. 2); 3:betilo de calcário, Valencina dela Concepción (adaptado deHurtado 2010:170, fig. 14); 4:estatueta de cerâmica, Tumba 3de La Pijotilla (adaptado deHurtado 2010:167, fig. 12); 5:ídolo-falange, Tumba 3 de laPijotilla (adaptado de Hurtado1987:73, fig. 22); 6: recipientecerâmico, tholos do Monte doOuteiro (adaptado de Leisner1965:Taf. 128)

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TABELA 1: Relação doscomponentes simbólico-figurativos da iconografia eimagética da Deusa-Mãe dasantigas comunidadescamponesas e suarepresentação dos diversosartefactos que lhe servem desuporte.

FIG. 11. Áreas regionais deconcentração dos artefactosmágico-religiosos no Sudoestepeninsular durante o Neolíticofinal e Calcolítico, notando-se aincidência das placas de xistogravadas na área do Alentejocentral, das placas de grésesculpidas no Alto Alentejo,das placas de calcário na baixaExtremadura/alta Andaluzia edos betilos de calcário na orlamarítima atlântico-mediterrânica. Adaptado deHurtado 2010:176, Lám. XIX.

Os diversos suportes sobre os quais se encontram representados estescomponentes ideográficos referem-se somente a prováveis traduções (outradições) simbólicas regionais de um sentimento religioso ecuménico.Embora as suas áreas de dispersão não sejam estanques, notando-se óbvios«cruzamentos culturais», é possível definir «áreas de origem», tendo emconta a densidade de certo tipo de elementos em determinadas regiões (asplacas de xisto gravadas na área do Alentejo central, as placas de grésesculpidas na área do Alto Alentejo, os betilos de calcário na área daEstremadura, Algarve e Andaluzia) (Fig. 11)...

No mesmo âmbito se poderão inclui as estatuetas antropomórficas as-sociados ao universo dos recintos de fossos (Perdigões, Pijotilla, Valencina

de la Concepción), representando tanto figuras femininas como masculinas,mas mostrando os mesmos atributos simbólicos, alguns deles empunhandobastões ou maças (Valera e Evangelista 2014). Recorrendo mais uma vezaos círculos mitológicos mediterrânicos, poderíamos ver aqui a represen-tação de um casal divino ou até mesmo de uma Mãe e de um Filho, à semel-hança da Deusa dos Olhos de Sol e do «Jovem Deus». Por outro lado, estasestatuetas mostram a mesma atitude que estatuetas cicládicas e sumérias demeados do 3º milénio a.n.e., interpretadas como «orantes».

Iconografia, imagética e os possíveis significados das placas de xisto

gravadas

Artefacto característico das práticas funerárias das antigas comunida-des camponesas do Sudoeste peninsular (com especial incidência no Alen-tejo central), a partir dos últimos séculos do 4º milénio a.n.e. até sensivel-mente a meados do seguinte, as placas de xisto gravadas vêm, desde asegunda metade do século XIX, a ser discutida pelos diversos investigado-res que a este período se dedicaram, tentando definir o real domínio da suaforça significante, assim como o seu lugar na vida (e morte) daquelascomunidades que as produziram e utilizaram.

Ideias sobre a simbólica das placas de xisto gravadas tem sido avança-das desde o reconhecimento científico deste artefacto. Não sendo aqui olocal para comentar individualmente todos os esquemas interpretativos,serão de referir trabalhos como os de A. Filippe Simões (1878), Estácio daVeiga (1887), J. Leite de Vasconcellos (1897), V. Correia (1917; 1921), E.Frankowski (1920), A. Mendes Corrêa (1924), G. e V. Leisner (1951); J.Arnal e A.-Ch. Gros (1962), L. de Albuquerque e Castro (1963), M. J.Almagro Gorbea (1973), O. da Veiga Ferreira (1973) – sendo consideradascomo insígnias, amuletos, objectos ligados a cultos religiosos, representa-ções de uma divindade feminina ou representações do inumado.

O investigador que mais assiduamente se tem dedicado ao estudo des-tes artefactos é V. S. Gonçalves, tratando casos de estudo específicos(1970, 1978, 1993, 2003b, 2003c, Gonçalves et al. 2003), debatendo ques-tões gerais sobre simbolismos e cronologias (1989, 1992, 1999, 2003a,2003b, 2004a, 2004c, 2006a) ou apresentando conjuntos de sítios concre-tos (Gonçalves 2004a, 2006b, 2011, 2103; Gonçalves et al. 2004a, 2004b,2005, 2014). Para este autor, as placas de xisto são, sem dúvida, represen-tações de uma divindade, mais concretamente, de uma Deusa-Mãe «pro-tectora dos Mortos e portanto símbolo de vida» (Gonçalves 1999:113),uma divindade mediterrânica feminina, que se manifesta, em diversos for-matos, desde os primeiros tempos das antigas comunidades camponesas(cf. a este respeito Fleming 1969; Gimbutas 1989, 1999).

Para tal, V. S. Gonçalves baseia-se em três pontos principais (Gonçal-ves 1989:290, 1999:113): na uniformidade iconológica das placas de xistogravadas (recusando, portanto, a hipótese de estas representarem o inuma-do); na sua clara simbologia feminina (menos ou mais estilizada, consoan-te os casos); na própria iconografia de cunho mediterrânico, representadanas placas da Lapa do Bugio, por exemplo (Gonçalves 1970, 1992; cf. tam-bém Cardoso 1992).

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Outras ideias têm encarado as placas de xisto gravadas de formasdiversas. Para P. Bueno-Ramírez, este artefacto apresenta-se como meio deidentidade étnica de grupos contemporâneos, invocando memórias ances-trais – denotando-se, assim, um forte cunho regional na sua produção(Bueno-Ramírez 1993, 2010). Para esta investigadora, a dispersão de moti-vos decorativos semelhantes deve-se somente a trocas regionais.

Um pouco de encontro a esta hipótese vai K. Lillios, defendendo queas placas de xisto seriam símbolos heráldicos identificadores de clãs eregistos de memórias genealógicas, sendo as diversas matizes decorativasrepresentações de padrões que identificariam estes mesmos grupos e a sualinhagem (Lillios 2002, 2003, 2004, 2008a, 2008b, 2010; Lillios e Thomas2009). Agiriam assim como indicadores duradouros da identidade de gru-pos regionais, contribuindo para legitimar e perpetuar uma ideologia dediferenciação social hereditária desde o Neolítico final. Teríamos assim, esegundo a visão desta autora, um sistema social organizado em famíliasabstractas ocupando um certo território do Sudoeste peninsular em fins do4º e durante a primeira metade do 3º milénio a.n.e.

Como para a autora anterior, para K. Lillios a dispersão de placassemelhantes deve-se a trocas regionais, entre as quais se podem contar astrocas matrimoniais, que explicariam a dispersão destes clãs, agindo as pla-cas de xisto gravadas como meio de identificação imediata dos mesmos.

No entanto, estas assumpções interpretativas (e principalmente aqueladefendida por K. Lillios) foram recentemente postas em causa com baseem análises filogenéticas aplicadas às placas de xisto gravadas, demons-trando-se que a ampla dispersão de padrões decorativos idênticos, assimcomo a sobreposição de padrões distintos, invalida de certa forma a sua lei-tura estrita como indicadores clânicos (García Rivero e O’Brien 2014).

Neste contexto, convém, portanto, comentar as variâncias decorativas.P. Bueno-Ramírez e K. Lillios defendem assim que os diversos motivosrepresentam meios identificadores de grupos étnicos – explicando a suadispersão pelas trocas regionais. Qualquer uma das hipóteses perde consis-tência quando pensamos que num único monumento podem surgir motivosdecorativos diversos, não sendo pois credível que várias comunidades etni-camente apartadas depositassem os seus mortos num mesmo monumento –o próprio Megalitismo, se encarado como meio de afirmação da individua-lidade das comunidades dos 4º/3º milénios a.n.e. (cf. Hodder 1984; Ren-frew 1976), afasta esta ideia.

Outro factor contrário a esta hipótese encontra-se nas placas com moti-vos decorativos de grande dispersão, não parecendo aceitável que, apesarda grande mobilidade das antigas comunidades camponesas, existisse umgrupo étnico que cobrisse uma tão vasta área ou que, segundo a ideia de K.Lillios, «exportasse» mulheres (ou homens, conforme as tendências sexis-tas) para todos os cantos do Sudoeste peninsular. Acrescentemos, ainda, ofacto de existirem exemplares que apresentam representações de váriosmotivos distintos compondo a decoração do Corpo de uma única placa,não parecendo credível que um mesmo indivíduo (exceptuando-se, obvia-mente, os evidentes casos de esquizofrenia) pudesse pertencer a dois outrês clãs em simultâneo (a respeito das placas híbridas, cf. Gonçalves2006a). A placa de Monte das Pedras, gravada na face e no verso commotivos distintos de cuidado acabamento, como se de duas placas indepen-

dentes se tratasse, é precisamente reveladora desta disposição (Gonçalves2006a:46, fig.10) (Fig. 12).

Não se nega, contudo, a evidência de trocas regionais – se não do arte-facto, pelo menos da ideia, já notada por G. e V. Leisner (1951) e evidenci-ada na comparação entre as placas de xisto de Rosal de la Frontera e Quin-ta da Farinheira (Zbyszewski 1957), às quais se somam o fragmento daPraia das Maçãs (Leisner et al. 1969) e as placas de Cabacinhitos(Gonçalves 1992; Gonçalves et al. 2005), Fábrica da Celulose (Oliveira2002) e Cerro de la Cabeza (Fernandez e Ruiz 1978).

A singularidade da representação oculada presente nestas placas, comOlhos de Sol de raios «baculíformes» representando sóis flamejantes, assimcomo a uniformidade conceptual do motivo decorativo genérico, permiteligar estes exemplares, estendendo um longo corredor de influência não jáde Lisboa a Huelva, mas de Lisboa a Sevilha, passando pelo interior alente-jano (Fig. 13). Confirma-se, assim, a existência de placas de xisto gravadastão semelhantes que parecem ir para além da mera padronização rígida.

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Para V. S. Gonçalves, as variâncias decorativas são, essencialmente,representações de uma única «divindade feminina, cujo revestimento sealtera, mas cuja essência significante se não transforma» (Gonçalves2003c:135). Motivos em bandas de triângulos, faixas ziguezagueantes oucampos de xadrez são assim símbolos básicos codificados, «referências deuma mesma identidade simbólica» (Gonçalves 2003c:136). A sua disper-são baseia-se, pois, em «redes de troca, áreas de influência cultural, umfundo comum, um complexo mágico-religioso partilhado» (Gonçalves1989:293).

Seja como for, qualquer que seja o motivo decorativo, o padrão que seregista é sempre a alternância entre um espaço vazio e um espaço preenchi-do – o que importa é, aqui e apenas, o efeito bicromático que esta alternân-cia possibilita. Toda a simbologia, toda a dinâmica de «reprodução» (e seupreceito ideográfico) que está inerente a esta alternância nos escapam

FIG. 12. Dois exemplos deplacas híbridas, decoradas commotivos decorativos diversos,numa única face ou em ambas.1: Ordem 1 (MNA 995.78.47);2: Monte das Pedras (adaptadode Gonçalves 2006a:46, fig.10).

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FIG. 13. Comparação darepresentação dos Olhos de Solem seis exemplares de placas dexisto gravadas do Sudoestepeninsular. 1: Cerro de laCabeza (adaptado de FernandezGomez e Ruiz Mata 1978:216,fig. 9); 2: Rosal de la Frontera(adaptado de Gonçalves1992:201, fig. 28); 3: Fábricada Celulose (adaptado deOliveira 2002:168, fig. 4); 4:Cabacinhitos (adaptado deGonçalves et al. 2005:64, fig.19a); 5: Quinta da Farinheira(adaptado de Gonçalves1992:201, fig. 28); 6: Praia dasMaçãs (adaptado de Leisner1965:Taf. 42). Para além darepresentação das duas trançasda Deusa presente no versodestas placas (não representadonesta figura e imperceptível nopequeno fragmento provenientedo monumento da Praia dasMaçãs), o pormenor quepermite correlacioná-las,independentemente dasvariâncias decorativas doCorpo, evidencia-se narepresentação singular dosOlhos de Sol, sob a forma deraios «baculiformes» –representação óbvia de sóisflamejantes – que culminará naesquematização das «suásticas»célticas e romanas.

actualmente, dado não estarmos inseridos no seu devido contexto mágico-simbólico-religioso. Seguem assim não esquemas rígidos, mas padrõesfacilmente reconhecíveis. Existe, em tal medida, uma construção mental daimagem a reproduzir, o que implica um (re)conhecimento prévio do esque-ma figurativo-simbólico – podendo, assim, os diversos motivos decora-tivos serem variâncias de um mesmo símbolo, com um significado especí-fico.

Está reservada ao artesão a liberdade para trabalhar com esquema figu-rativos padronizados, jogando com a alternância de motivos ou cambiantesdo mesmo motivo – revelando um certo conceito de estética, com a cor-recção de certos componentes decorativos e preocupação com a «harmo-nia» do resultado final, mostrando uma clara noção de simetria e sentidoestético-figurativo. A definição do padrão influi, assim, na estética final doartefacto e a sua larga dispersão manifesta o gosto comum em relação aomesmo – ou seja, ideias estéticas partilhadas, patenteando o contacto entreas comunidades com a difusão de motivos a larga escala, não havendoindividualismos com motivos característicos de dada região (refutando aexistência de grupos identificáveis e reforçando a ideia de uma óbvia inter-acção simbólica).

Contudo, parece não haver uma selecção/opção rígida (a nível deacabamento) das placas de xisto gravadas a acompanhar as deposiçõesfunerárias. Não falando já das placas reaproveitadas (Fig. 14), já debatidas

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Figura 14: Exemplos dereaproveitamentos de placas dexisto gravadas presentes emcontextos funerários, comoplacas de «segunda geração» oucomo elementos de adorno(pendentes e contas de colar). 1:Alter do Chão (adaptado deAndrade 2014:46, fig. 20); 2:Ordem 1 (MNA 995.78.36); 3:Tholos do Escoural (adaptadode Gonçalves et al. 2003:226,fig 6); 4: Paço 1 (adaptado deGonçalves et al. 2003:231, fig.8); 5: Anta Grande doZambujeiro (adaptado deGonçalves et al. 2003:218, fig.2); 6: São Paulo 2 (adaptado deGonçalves et al. 2004a:80, fig.5); 7: Antões 3 (MNA995.47.25); 8: Capela (MNA2003.74.87D); 9: Anta Grandeda Comenda da Igreja (MNA).

noutros locais (Gonçalves et al. 2003; Lillios 2010), os exemplares consid-erados de «segunda categoria» também integram os mobiliários votivos.Contam-se, em tais casos, com placas tosca e/ou sumariamente gravadas,placas com gravação assimétrica e desorganizada e esboços de placas ouplacas inacabadas (Fig. 15). Qualquer um dos casos surge, por vezes,inserido em conjuntos de grande qualidade, como Cabacinhitos(Gonçalves et al. 2005). Tratar-se-á daquilo que foi referido por V. S.Gonçalves como «a morte dos deuses» ou tratar-se-á da particularização deindivíduos de «segunda categoria» num espaço funerário colectivo?

Com efeito, algumas placas de xisto gravadas revelam uma claradespreocupação em termos de objectividade do que é representado, o quenão invalida o facto de a ideia que lhes é intrínseca estar presente e serreconhecida por quem está inserido no seu devido contexto.

É este o caso dos exemplares que padecem da dita «síndrome das pla-cas loucas», que «pode ser definida como uma ruptura intencional do con-ceito estruturante de simetria comum à enorme maioria das placas de xistogravadas» (Gonçalves 2003c:143) ou como um «resultado degenerativo deum conceito estruturante, o da simetria no preenchimento do espaçosuporte» (Gonçalves 2003c:156). São, neste sentido, placas que revelamum completo descuido ou inexperiência do artesão, sendo embora placascompletamente acabadas, mas com assimetria dos motivos decorativos.

Mesmo assim, tanto placas inacabadas como deficientemente gravadasnão deixam de ocupar o seu lugar nas deposições funerárias e de ter a suasimbologia própria e contextual. Mesmo estas têm valor simbólicointrínseco, entendido muito para além dos motivos decorativos (e deaparentes registos genealógicos e heráldicos). O seu óbvio significado ritu-al é precisamente discernível pela sua presença em contexto funerário, ladoa lado com placas de xisto «típicas».

Seja como for, e tratando-se de um artefacto, o que se deve igualmenteressalvar nas placas de xisto gravadas, para além da simbologia que lhes é

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Figura 15: Exemplos de placasde xisto inacabadas (esboços),anepígrafas, sumária oucaoticamente gravadaspresentes em contextosfunerários. 1: Caeira 7 (MNA996.6.3); 2: Cabacinhitos(adaptado de Gonçalves et al.2005:60, fig. 14); 3: Ordem 1(MNA 995.78.41); 4: Ordem 1(MNA 995.86.38).

inerente e da óbvia função mágico-religiosa, é a estética do objecto em si.A representação gráfica presente nas placas de xisto gravadas, para além darepresentação de algo ligado ao universo mágico-religioso, traduz não sóas escolhas estéticas do gravador como também daquele que adquire a pla-ca. Assim, a expressão subjectiva e ecuménica patente nas placas de xistogravadas, a sua simetria e estandardização atestam a partilha de uma mes-ma ideia estética.

Esta hipótese pode-se resumir numa equação simples, revelando que apadronização dos subconjuntos se reflecte em padrões de comportamentocomunais, reflectindo-se a padronização dos conjuntos em padrões decomportamento sociais. Assim, as placas de xisto gravadas podem ser anal-isadas num contexto geral, incluídas num sistema (sendo as placas quefogem às normas apresentadas apenas como dissidências de uma estruturabem definida a nível simbólico representada por essas placas ditas nor-mais); ou em alternativa podem ser analisadas como artefacto individualproduzido por um agente individual, dando-se especial ênfase às placasexcepcionais, pois a fuga/recusa de padrões auxilia em igual medida para acompreensão dos mesmos. Não podemos esquecer que estamos tratando desímbolos, que nessa categoria podem encerrar em si uma multiplicidade designificados dependentes obviamente dos contextos em que se encontraminseridos.

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Serão, nestes casos, os significados dependentes dos contextos, haven-do a possibilidade de significados diversos para uma mesmo artefacto?Uma coisa se não nega: o facto de as placas de xisto gravadas serem indu-bitavelmente um objecto cultual, na medida em que os contextos em quesurgem maioritariamente indicam a sua utilização nos rituais funerários.Para além disso, enquanto símbolo, funcionam como agentes de umasuper-estrutura cultural (a nível mágico-religioso), bem definida regional ecronologicamente.

É, pois, necessário perceber a estrutura significante inerente às variân-cias de um mesmo padrão: isto é, definir na medida dos possíveis a super-estrutura ideológica, enquadrando o sistema simbólico em que uma placade xisto gravada é produzida e utilizada.

Podemos, no entanto, encarar as variâncias decorativas em três pontosbásicos: atributos diversos de uma mesma divindade; símbolos identifi-cadores de divindades distintas; escolhas inocentes do gravador. Se os doisprimeiros pontos não podemos clarificar com precisão, sobre o terceiropodemos dizer que, havendo placas que seguem padrões decorativos tãorigorosos, dificilmente se aceita o acaso como explicação para as variaçõesestilísticas. Assim, para entendermos um artefacto (neste caso, as placas dexisto gravadas) temos, previamente e numa perspectiva razoavelmentehodderiana (cf. Hodder 1982, 1986, 2000), perceber as ideias (ou ideolo-gias) que lhes estão subjacentes.

Ao falarmos da produção de placas de xisto, tendemos a esquecer (ou arelegar para segundo plano) uma questão deveras importante, essencialtalvez: a individualidade do artesão (problema já levantado em Gonçalves2003c, a respeito da «síndrome das placas loucas»). Os símbolos, seja qualfor a sua função, servem como meio organizador das sociedades humanas,como êmbolo das relações inter-pessoais e inter-comunitárias. Assim, na suaexecução, há que ter em conta, para além do próprio contexto cultural emque o artesão se insere, as motivações estéticas e ideológicas inerentes à suaprodução (a título de exemplo, veja-se Shanks 1996 ou Hodder 1991).

Deveremos então procurar compreender o contexto geral em que a pla-ca de xisto é produzida e utilizada ou, em alternativa, procurar compreen-der apenas as motivações e escolhas individuais do artesão, independente-mente do contexto cultural em que este se insere? Temos, assim, duasvisões aparentemente antagónicas: a primeira procura encontrar não o indi-víduo por trás do artefacto, mas o sistema sócio-cultural por trás de ambos,recusando tudo o que foge a esse sistema e que assim o não reflecte (logo,o individualismo); a segunda enfatiza as características individuais do arte-facto, sendo este resultado das escolhas pessoais do indivíduo que o pro-duz, agindo como reforço ou rejeição dos componentes caracterizadoresdesse mesmo sistema, mas podendo ser analisado independentementedeste.

Obviamente, o artefacto é produzido por um indivíduo, com vontades epretensões individuais. No entanto, este indivíduo está inserido num sis-tema sócio-cultural, e dentro deste num sub-sistema mágico-religiosoespecífico – que, como consequência, regula essas vontades e pretensõesindividuais (sejam elas contrárias ou concordantes). Pois se as primeirastêm peso nas acções deste indivíduo, os segundos não o têm menos. Assim,cada artefacto é produzido com um propósito, com um objectivo específico

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e cumpre uma determinada função dentro do seu contexto sócio-cultural,do sistema em que se inclui tanto artefacto como artesão, pelo que nãopode ser independente daquele. As excepções, da mesma forma que as nor-mas, obedecem a critérios particulares, regulados por esse sistema.

Há, pois, que definir dois contextos específicos, não necessariamenteautónomos, mas coetâneos: contexto cultural, abrangente e colectivo, regu-lado por um sistema social regularizador das acções do indivíduo; contextoindividual, agindo segundo as motivações e pretensões próprias do indiví-duo, a nível intelectual e sensorial.

Porque, com efeito e apesar de tudo, «each archaeological object isproduced by an individual (or a group of individuals), not by a social sys-tem» (Hodder e Hutson 2003:7).

No caso das placas de xisto gravadas, o primeiro contexto evidencia-seno uso generalizados deste artefacto nas deposições funerárias, seguindoesquemas mais ou menos padronizados, em que uma placa de xisto é sem-pre uma placa de xisto, independentemente das suas particularidades. Osegundo contexto envolve já as escolhas pessoais do artesão, a sua exper-iência e percepção, as suas motivações, a sua recusa ou aceitação de esque-mas estabelecidos, reflectindo-se estes factores no aspecto final do artefac-to, tendo a placa de xisto um valor particular atendendo às suas caracterís-ticas próprias (morfológicas e figurativas).

Serão então as placas de xisto gravadas, enquanto artefacto, depen-dentes de um sistema na medida em que são genericamente reflexo deste e,convencionais ou não, sua parte integrante (independentemente das suascaracterísticas particulares)? Ou, enquanto símbolo, contribuem para adefinição desse mesmo sistema de modo individual, regulando-o? Ambashipóteses são válidas, porque enquanto artefacto e símbolo, agem dentro deum contexto estrutural específico, ao mesmo tempo que o definem. Tratar-se-à, pois, da velha questão do ovo e da galinha…

Sinceramente, não creio num Descartes megalítico filosófico e racional-ista que, filosófica e racionalistamente, produzisse uma placa de xisto. Umaplaca de xisto é sempre uma placa de xisto, tenha ela recorte geométrico ouantropomórfico, seja ela decorada com bandas de triângulos, campos dexadrez ou faixas ziguezagueantes, tenha ela ou não a figuração oculada. Aideia é sempre a mesma, a forma de a representar é que varia consoante asdisposições do artesão (que, refira-se, está incluído em uma super-estruturabem definida a nível simbólico). O acto de produzir uma placa de xisto éum acto individual, mas englobado numa mentalidade colectiva, inseridanum imaginário comum, povoado por experiências intelectuais e sensoriaisquotidianas – expressas, precisamente, por símbolos. Não esqueçamos, con-tudo, que a própria individualidade de quem produz e utiliza uma placa dexisto condiciona a interpretação que se faz do artefacto, podendo esta variarde indivíduo para indivíduo ou de comunidade para comunidade.

Neste ponto, devemos unicamente apreender as características físicasdo artefacto e, partindo delas, definir a ideia que lhe é inerente, resistindo àteorização fácil, imbuída num relativismo excessivo ou num determinismorelativista. Os significados são, com efeito, dependentes dos contextos...

E neste sentido surgem, com maior ou menor utilidade, as diversas pro-postas tipológicas. Uma das tentativas de compreender as placas de xistogravadas é precisamente agrupá-las em tipos, não sendo aqui o local para

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enumerar todos ensaios tipológicos entretanto esboçados – vejam-se aspropostas de V. Correia (1921:80), G. e V. Leisner (1951:116), A. M. e J.Sá Pinto (1979:183), M. da Conceição Rodrigues (1986a, 1986b), P.Bueno-Ramírez (1993:577) e J. Oliveira (1998:514).

No entanto, para V. S. Gonçalves, «a questão da “arrumação” internadas placas não é demasiado importante para a questão fundamental, a do seusignificado. O “estilo” de representação não interfere com o “conteúdo”, eesse não parece variar» (Gonçalves 1992:76). Contudo, como meio de des-ignação instantânea e atendendo às suas características gerais, este investi-gador divide as placas de xisto gravadas em vários tipos de identificaçãoimediata (Gonçalves 1999:113). Apesar desta divisão, V. S. Gonçalves evi-dencia a falibilidade de tipologias excessivamente rigorosas, demasiado es-tanques para aceitar as especificidades que certas placas apresentam (veja-seum exemplo em Rodrigues, 1986b, com esquemas de tal maneira com-plexos, que uma mesma placa pode enquadrar-se em mais do que um dosgrupos previamente estipulados – anulando pois a sua utilidade instantânea).

Assim, «há que pensar as placas de xisto gravadas num contexto inter-pretativo necessariamente muito amplo, mas, ao mesmo tempo, não perdera noção da importância de elas serem correctamente descritas e minuciosa-mente analisadas» (Gonçalves 2003c:136). Desta maneira, analisando asplacas caso a caso, como artefacto individual que são, obtém-se uma maiscompleta percepção daquilo que representam, afastando-se, pois, a supostafiabilidade de tipologias estritas. Cada placa tem as suas característicaspróprias, os seus atributos específicos, sendo, nestes casos, essencial perce-ber as significações das divergências decorativas – que se não atingem comsequências tipológicas demasiado gerais para o artefacto particular que é aplaca de xisto gravada, que prima, precisamente, pela sua variedade.

No entanto, o que se obtém, no mais puro sentido empírico-cognitivo,são modos diversos de representar uma mesma imagem/ideia. A alternân-cia de imagem não implica a alternância de conceitos ou significados. LesCinques Baigneuses de Cézanne e Les Demoiselles d’Avignon de Picasso,apesar de representarem uma mesma imagem, não são necessariamenteiguais. Aqui joga uma multiplicidade de factores, desde logo o contexto emque se insere o autor, as suas influências e disposições. Ou, no extremooposto, podemos referir a Mona Lisa ou a fonte-urinol de Duchamp. Sãoimagens facilmente reconhecíveis e associáveis a conceitos específicosque, no entanto e dada a individualidade do artista (as suas pretensões emotivações), são reaproveitadas e pervertidas ou reinterpretadas – con-ferindo-lhes novos significados. Contradiz-se assim a realidade (ou que sejulga realidade, por ser reconhecível e caracterizável), questionando-se osconceitos de significação e representação.

Contudo, mesmo tendo em conta todas estas possíveis variantes emrelação às placas de xisto gravadas, a nível de iconografia e imagética, reg-ista-se a maior percentagem de placas decoradas com bandas de triângulos.Tendo em vista um grande conjunto, o de Olival da Pega 1 (Leisner e Leis-ner 1951), em 138 placas de xisto recolhidas, 44,2% são placas cujo moti-vo decorativo é as bandas de triângulos, em oposição a 21% de placas dec-oradas com faixas ziguezagueantes e 17,4% de placas com campos dexadrez, contando-se ainda com percentagem igual de exemplares em que omotivo é inidentificável.

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Em outros grandes conjuntos parece repetir-se esta mesma tendência,independentemente do contexto regional em que se inserem, havendo noentanto ligeiras diferenças percentuais em relação às placas com motivosem faixas ziguezagueantes e motivos em xadrez. Trata-se pois de um mod-elo de grande dispersão, atestando, como dito, a partilha de uma mesmaideia estética e de um conceito iconográfico principal/universal – não seregistando grandes divergências formais entre placas de contextos region-ais distantes.

Concluindo?

Tendo em conta o exposto, tratar-se-ão efectivamente as placas de xistogravadas da representação de uma divindade feminina ou, em alternativa,de símbolos heráldicos e memórias genealógicas, como recentementedefendido? Em rigor, uma hipótese explicativa não invalida necessaria-mente a outra, podendo ser complementares. No entanto, no estado actualdos conhecimentos, dispondo dos atributos iconográficos (e seus paralelos)e do contexto genérico em que estes artefactos são recolhidos (e sua dis-tribuição geográfica), a primeira hipótese parece mais viável. Para a clarifi-cação da segunda hipótese, seria obviamente necessário dispor de um con-junto estatisticamente significante associado a inumações bem individual-izadas que permitissem consequentes estudos genéticos e avaliação deresultados em conjunto com a análise das características decorativas dasplacas de xisto gravadas.

Os congéneres figurativos das placas de xisto gravadas (assumidosprecisamente não só pela iconografia que exibem como pelos contextos emque são maioritariamente recolhidos) dificilmente poderão ser entendidoscomo memórias genealógicas, na medida em que apresentam atributosclaramente antropomórficos, relacionados com a simbólica distintiva daDeusa-Mãe neolítica. E tratando-se de itens com carga simbólica semel-hante à das placas de xisto gravadas, é lógico supor que se enquadrariamno mesmo contexto interpretativo (logo, manifestando significados semel-hantes). A assimilação, fundindo dois círculos mágico-religiosos, da figurada Deusa dos Olhos de sol (e do «Jovem Deus») às placas de xistogravadas (e por conseguinte, àquilo que derradeiramente significariam) éprova bastante do carácter sagrado destes artefactos.

Assim, como já debatido por V. S. Gonçalves (2004a), e tendo em con-ta a uniformidade conceptual das placas de xisto gravadas e a aparente rep-resentação em todas elas de um mesmo conceito, explícita ou implicita-mente, parece não fazer sentido reconhecer que umas representem umaentidade simbólica (ou várias) e outras não. Mais esquemática ou mais nat-uralista, uma única ideia parece influir na iconografia destes artefactos: atradução imagética de atributos mágico-simbólicos específicos – revelandouma óbvia universalidade cultural, reflexo de comunidades bem organi-zadas a nível de super-estrutura religiosa, recorrendo a símbolos comunspara manifestar um certo ecumenismo religioso.

De igual modo, a presença de placas inacabadas, anepígrafas, sumáriaou caoticamente gravadas em contextos funerários manifestam por si sóum significado ritual, não estando este dependente dos motivos decora-

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tivos (e de aparentes registos genealógicos e heráldicos). Nestes casos, adecoração poderá ser assumida como um atributo «secundário» – o quenão me parece possível caso se tratassem efectivamente de elementos deidentificação étnica.

Desta maneira, apesar de algumas novas interpretações distantesavançadas na última década sobre a significação destes artefactos, signifi-cação esta que (e diga-se em boa verdade) não se atinge com classificaçõestipológicas genéricas (devendo os artefactos ser analisados caso a caso,como objecto individual que são), o consenso parece que se mantém aindana circunstância de as placas de xisto gravadas representarem uma divin-dade feminina relacionada com uma concepção de morte/regeneração/fer-tilidade, fortemente representativa da cultura mágico-simbólica das comu-nidades do Neolítico final/Calcolítico do Sudoeste peninsular.

E, neste caso, recorrendo a um conhecido adágio de terras gaulesas, sealgo não é tão óbvio como poderia parecer à primeira vista (ou não tãocompreensível como deveria ser, por limitações metodológicas), a respostaassenta num imperativo único: cherchez la femme!

LisboaMarço de 2014

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