Valioso Demais Para Que Se Perca

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 VALIOSO  DEMAIS  PARA QUE  SE  PERCA UM  ESTUDO  DAS  CAUSAS  E  CURAS  DO RETORNO PREMATURO  DE  MISSIONÁRIOS Editado  por  William  D.  Taylor Descoberta  Editora  Ltda. Londrina  -  Curitiba

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cuidado missionário

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  • VALIOSO DEMAIS PARAQUE SE PERCA

    UM ESTUDO DAS CAUSAS E CURAS DORETORNO PREMATURO DE MISSIONRIOS

    Editado por William D. Taylor

    Descoberta Editora Ltda.Londrina - Curitiba

  • Ttulo original: Too valuable to lose:exploring the causes and cures of missionary attrition. World Evangelical Fellowship Missions Comission, 1997

    Traduo: Hans Udo FuchsReviso: Edison QueirzCapa: Luciana MarinhoDiagramao: Marianne Bettina Richter DiasImpresso: Imprensa da F

    1 edio em portugus: 1998

    Todos os direitos reservados para:

    Descoberta Editora Ltda.Rua Max Rosenmann, 364Curitiba/PR 82600-150Telefax: (041) 3565083E-mail: [email protected]

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  • foro missionrio transcultural globale aos seus filhos,

    discpulos do trino Deus enviador,de toda nao paro toda nao,

    no passado, no presente e no futuro,

    que servem para queo amado Cordeiro que foi morto

    receba a recompensa por seus sofrimentos.

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  • CONTEDO

    Prefcio 7David Tai-Woong Lee (Coria do Sul)Prlogo 9William D. Taylor (Estados Unidos)

    PARTE 1: Os TEXTOS FUNDAMENTAIS 171. Introduo: Examinando o iceberg do retorno prematuroWilliam D. Taylor (Estados Unidos) 192. Um modelo integrado de missesRodolfo "Rudy Girn (Guatemala) 373. Reflexes sobre o retorno prematuro de missionrios de carreira: umaperspectiva geral do futuroKath Donovan e Ruth Myors (Austrlia)

    PARTE 2: A ANLISE DA PESQUISA 1034. Investigando as causas e curas da perda de missionriosJonathan Lewis (Argentina) 105

    PARTE 3: O PERFIL DO BRASIL 1235. Os missionrios brasileiros: quanto tempo eles esto ficando?Ted Limpic (Brasil) 125

    PARTE 4: CAPTULOS TEMTICOS 141

    O PROCESSO DE SELEOO impacto dos fatores do retorno prematuro relacionados com o processo deseleo do missionrio, trabalhado luz dos textos fundamentais e do debateespecfico, porm com enfoque especial no papel da igreja local.6. O processo de seleo e a questo do retorno prematuroPerspectivas dos novos pases enviadoresBertil Ekstrm (Brasil) 1437. Um chamado parceria no processo de seleo para missesPerspectivas dos antigos pases enviadoresDaryl Platt (Estados Unidos) 159

    TREINAMENTO FORMAL E NO FORMAL ANTERIOR AO CAMPOO efeito dos fatores de atrito relacionadoscom o treinamento do missionrio, luz dos textos fundamentais e dos debates especficos8. Treinamento formal e no formal anterior ao campoPerspectiva dos novos pases enviadoresMargaretha Adiwardana (Brasil) 1759. Treinamento formal e no formal anteriorao campoPerspectiva dos antigos pases enviadoresBruce Dipple (Austrlia) 187

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  • AVALIAO E ORIENTAO PELAAGNCIA MISSIONRIAO efeito dos fatores de retorno relaconados com a avaliao e orientao domissionrio pela agncia10. Avaliao e orientao pela agncia missionria e seu efeito sobre as causasde retorno de missionriosPerspectiva dos novos pases enviadoresSeth Anyomi (Gana) 20111. Seleo e orientao pela agncia missionria: uma experincia pessoalPerspectiva dos antigos pases enviado resBrent Lindquist (Estados Unidos) 215

    TREINAMENTO E SUPERVISO NO CAMPOO efeito dos fatores de retorno relacionados com a superviso do missionriono camo12. Fatores de perda de missionrios: a supervisoPerspectiva dos novos pases enviadoresSung-Sam Kang (Coria do Sul) 22713. Treinamento e superviso no campoPerspectiva dos antigos pases enviadoresMyron S. Harrison (Filipinas) 245

    O CUIDADO PASTORAL DO MISSIONRIOO efeito dos fatores de retorno relaconaodos com o cuidado pastoral domissionrio14. Reflexes sobre cuidado pastoralPerspectiva dos novos pases enviadoresBelinda Ng(Cingapura) 25915. 0 cuidado dos membros no campo: tomando o caminho mais longoPerspectiva dos antigos pases enviadoresKelly ODonnell (Inglaterra/Estados Unidos) 2731 6. O que dizer dos filhos de missionrios e o retorno prematuro?David Pollock (Estados Unidos) 2951 7. Entrevistas com seis pastores de igrejas em cinco pases: causas do retornode missionriosWilliam D. Taylor (Estados Unidos) 30918. Um guia internacional de recursos para cuidado dos membrosKelly ODonnell (Inglaterra/Estados Unidos) 323

    PARTE 5: OBSERVAES E CONCLUS[S FINAIS 34319. Desafiando os que seguram as pontas: concluses e implicaes; mais estudosWilliam D. Taylor (Estados Unidos) 345

    PARTE 6: RECURSOS ADICIONAIS 371O instrumento de pesquisa 373Diretrizes para agncias missionrias detectarem com antecedncia a perda demissionriosPhillip Elkins (Estados Unidos) e Jonathan Lewis (Argentina) 382

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  • PREFCIO

    David Tai-Woong Lee

    Ser que Deus se importa com seus servos? Em toda a Escritura hevidncias inconfundveis de que ele cuida de ns. A questo : Ser que nscuidamos dos nossos que esto servindo ao Senhor l fora no mundo, em umministrio transcultural?

    O Projeto de Reduo do Retorno Prematuro dos Missionrios (ReMAP)desenvolvido pela Comisso de Misses da Aliana Evanglica Mundial (AEM) uma das evidncias mais claras e vIvidas de que, assim como Deus, ns nosimportamos com todos os nossos membros que esto servindo o Senhor, tantodos antigos pases enviadores como dos mais novos. H concordncia geral quantoao acerto da nossa motivao, comoprova a resposta das comunidades missionriasinternacionais. Mais ou menos 115 pessoas de 35 pases se reuniram no All NationsChristian Collegeem Easneye, na Gr-Bretanha, para trabalhar na tarefa de reduziro retorno prematuro em nossos missionrios. Este encontro de trabalho foi oponto culminante de um estudo feito em 14 pases sobre assuntos relacionadosao retorno prematuro, nos dois anos anteriores.

    Um problema srio que veio tona durante o encontro de trabalho foi atremenda falta de recursos para ajudar o missionrio no campo a sobreviver e avencer no ministrio. Isto vale especialmente para os novos pases enviadores.

    Em vista desta situao, nem preciso dizer que o prprio encontro detrabalho e este livro, que utiliza as concluses dos grupos de trabalho nos 14

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  • pases (ampliadas por autores selecionados tanto de antigos pases enviadorescomo de novos), sero de valor inestimvel.

    Este livro, portanto, apresenta perspectivas de executivos de misses,pastores, missionrios e conselheiros, destrinxando algumas das ambigidadesna rea de cuidado de membros por um lado e, por outro, tentando formularmaneiras melhores de cuidar dos nossos colegas no campo.

    Horas incontveis foram investidas nos vrios estgios do ReMAP: aidentificao das questes, o processo de pesquisa, a avaliao e interpretaodas informaes, e depois o encontro de trabalho em si, bem como o estgio deacompanhamento posterior. No h dvida de que um livro deste calibre estarna vanguarda na rea de cuidado de misionrios por muitos anos.

    A equipe da Comisso de Misses da AEM, os membros do grupo detrabalho e os participantes internacionais que trabalharam com dedicao paraproduzir um plano sensvel para cuidado de membros merecem todo oreconhecimento pela tarefa realizada. Uma palavra de profunda apreciaotambm estendida aos autores que representam tanto os antigos como os novospases enviadores e, por fim, ao editor do livro, o diretor executivo da Comissode Misses da AEM, por seu ministrio proftico.

    Que Deus receba toda a glria e honra.

    David Tai-Woong Lee o atual presidente da Comisso de Misses daAEM. Com sua esposa, Hunbok, e dois filhos, Samuel e Benjamin, reside em Seul,na Coria. Ele fundador da Global Missionary Fellowship, Inc. e atual presidenteda sua diretoria. Tambm diretor do Centro de Treinamento da Global MissionaryFellowship em Seul.

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  • PRLOGO

    William D. TaylorBreves histrias de sete pessoas nos introduzem neste livro. Harold e

    Marion, um jovem casal terminando os estudos teolgicos anteriores ao enviomissionrio, estiveram h pouco tempo em minha casa. Eles me perguntaram demodo bem direto: Bill, luz dos nossos estudos sobre retorno prematuro, o quemais podemos fazer, antes de partirmos para a Rssia, que nos ajude a ficarmosfora da sua prxima pesquisa sobre retorno prematuro como vitimas? Quepergunta difcil! Mas eu fiquei contente de ver este casal to capaz, decidido adedicar-se ao servio transcultural de longo prazo, fazendo a pergunta. E creioque Deus me deu algo para lhes dizer.

    Magdalena viveu trs anos em um contexto muulmano difcil e retornouao seu pas de origem cheia de parasitas intestinais e outras doenas. Ela anseiapor voltar ao seu trabalho, mas a realidade da sua sade prejudicada a impede,pelo menos no momento. Enquanto conversvamos, durante os meses da suaconvalescncia, vrias perguntas perturbadoras surgiram em minha mente. Serque sua condio de sade estaria diferente se ela tivesse recebido um pastoreiomais cuidadoso no campo, de modo a permitir-lhe que continuasse seu ministriocom este grupo tnico de acesso restrito, depois de passar um tempo em seupas? Estamos agindo certo ao colocar mulheres solteiras em contextos como este?

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  • O que Magdalena pode fazer agora, de volta ao seu pas, com seu compromissoapaixonado por misses?

    Marcos e Mary acabaram de enviar-me um e-mail de outro canto difcildo mundo. Eles esto aprendendo sua segunda lngua difcil, e fizeram umcompromisso de prazo muito longo para ver a igreja implantada entre este povono alcanado. Eu os conheo bem, e meu prognstico sobre eles que, a noser que haja alguma mudana radical, eles esto no caminho de investir sua vidano ministrio. Eu no acho que eles sejam vulnerveis ao retorno prematuro.Primeiro porque eles ingressaram no ministrio transcultural com uma base fortede vrios anos do ministrio com universitrios, onde os resultados no vm comfacilidade. Segundo, eles tm um alicerce slido de intercessores em seu pasnatal. Terceiro, eles fazem parte de uma equipe sadia de trs famlias, que seconhecem bem e confiam uns nos outros. E quarto, eles so membros de umaassociao missionria slida, com compromissos pastorais evidentes.

    Ian e Susanne serviram na sia com uma agncia denominacional bemconhecida durante alguns anos. Por vrias razes, eles deixaram o campo bemcomo sua igreja. Agora, eles aparentemente tm pouco impulso espiritual, e muitomenos interesse em misses. Eu os encontrei em um evento social, e quandodescobriram que eu estava trabalhando com questes relacionadas ao retornoprematuro, sua ateno aumentou sensivelmente, e eles disseram: Bem, se vocquiser saber como nos sentimos em relao ao retorno prematuro, ns temosalgumas coisas a dizer! O que eu me pergunto se estamos preparados paraouvi-los!

    Estas histrias, e milhares de outras, formam o alicerce de vidas deste livro.As causas e solues do retorno prematuro so complexas: culturas pessoais,familiares e institucionais so difceis de mudar; a guerra espiritual no algo deque se possa rir; e o ministrio transcultural de longo prazo realmente duro. Masna verdade estamos falando de pessoas, indivduos da vida real crianas, jovense adultos. isto o que motiva o nosso estudo.

    Alguns pensamentos sobre este livro e o empreendimento de pesquisaReMAP

    Seja bem-vindo a este livro histrico e nico. Ele histrico porque registrae estuda questes relacionadas com o retorno prematuro de missionrios de longoprazo, tanto em traos gerais como em aplicaes especficas. O livro nicoporque apresenta estas questes de uma perspectiva realmenteglobal do pontode vista dos antigos pases enviadores e tambm dos novos pases enviadores.

    lo

  • ReMAPEste livro resultado do empreendimento da Comisso de Misses da

    Aliana Evanglica Mundial (AEM) chamado ReMAP(Reducing Missionary AttritionProject Projeto de Reduo do Retorno Prematuro de Missionrios), nossoestudo multifacetado e de longo prazo sobre este assunto to importante. Oobjetivo do ReMAP no foi fazer uma simples contagem de vtimas nem umalista de culpados das desistncias de missionrios. Nossos objetivos eram trs:

    - Identificar as causas principais do retorno prematuro de missionrios delongo prazo (de carreira) e determinar a extenso e natureza do problema;

    - Estudar solues para o problema;- Oferecer s agncias e igrejas no mundo todo produtos e servios que

    ajudem a reduzir o retorno prematuro.Nosso alvo de longo prazo era e pastoral, direcionado para a fora

    missionria global nas reas de seleo e triagem, preparo e treinamento, envio esustento, estratgia e pastoreio, e encorajamento de missionrios durante suaperegrinao de vida para que encontrem o propsito de Deus para eles, sejaqual for sua localizao geogrfica ou seu ministrio especfico.

    ReMAP foi desenvolvido com o intuito de produzir diversos tipos deresultados: resultados de pesquisa (por exemplo, novas informaes sobreporcentagens internacionais e nacionais de retorno prematuro); resultados doprocesso (por exemplo, o efeito que a pesquisa teria sobre os perto de 600lderes na rea de misses que a fizeram, pois trabalhando o material os estimulariaa refletir sobre o retorno prematuro relacionado sua prpria agncia missionriaou igreja); e resultados de produtos (por exemplo, o encontro internacional detrabalho realizado em 1996, bem como este livro).

    Esta publicao se origina de trs fontesprincipais. A primeira foi o irocessoda nossa pesquisa internacional, realizada de 1994 a 1996, com contribuiesiniciais de Jonathan Lewis e depois Rudy Girn, Peter Brierley e outros queescreveram para este livro. A segunda fonte foi nosso encontro internacional detrabalho sobre retorno prematuro realizado no All Nations Christian College naGr-Bretanha, em abril de 1996. Esta conferncia reuniu um misto ricode geraes,sexos, pastores, professores e executivos, que somaram 110 participantes chavesde todo o mundo (41% dos novos pases enviadores e 59% dos antigos pasesenviadores). Os escritores deste livro formaram nossa terceira fonte de informao.

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  • Somente trs palestras foram apresentadas no encontrode trabalho, e estas depoisforam modificadas para a publicao. Todo este livro foi escrito por participantesno encontro de trabalho de 1996. Trata-se de fato de uma perspectiva global, umestudo multidisciplinar, e uma equipe internacional de escritores, que so outrabalham em 1 2 pases.

    A pesquisa ReMAPReMAP fez uso da extensa rede global da Comisso de Misses da AEM

    para reunir informaes dos 14 pases mais destacados no envio de missionrios.Os pesquisadores do ReMAP usaram as informaes primeiro para identificar edefinir as causas reais e percebidas de retorno prematuro de missionrios nosmovimentos missionrios ocidentais e no ocidentais, tanto em contextos nacionaisespecficos comoem termos globais. Depois os dados foram analisados para tentaridentificar os fatores e combinao de fatores especficos que mais podem contribuirpara aumentar ou reduzir o retorno prematuro de missionrios. Em seguida, emconversas criativas com a comunidade missionria a equipe de ReMAP procurouidentificar solues que melhorassem a capacidade de igrejas enviadoras e agnciasmissionrias de enviar e manter servos transculturais eficazes. O resultado desteesforo internacional conjunto est em suas mos.

    Ainda no terminamos este processo. A pesquisa tem de continuar. preciso desenvolver ferramentas, divulgar as informaes e desenvolvertreinamento que trate das razes por que obreiros valiosos so perdidos no esforomissionrio. Este livro apenas uma plataforma inicial, um compasso de abertura,um ponto de partida para tratar de questes que vo bem alm do retornoprematuro e precisam resultar na maior eficincia e na melhor sade do movimentomissionrio global.

    Oramos para que este volume se torne um convite srio para a auto-anlisee reflexo por parte da liderana mltipla do grande empreendimento missionrio.Acima de tudo, desejamos que este livro sirva nossa atual fora missionria nocampo, bem como gerao futura que vai avanar para o campo de batalha emnome do Deus trino e sobrenatural e da mensagem gloriosa da sua histria.

    A estrutura do livroConvidamos voc a olhar mais uma vez a relao do contedo, para ter

    uma viso geral da estrutura do livro. Como mencionado acima, somente trscaptulos foram apresentados como palestras no encontro de trabalho na Gr-

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  • Bretanha, e estes foram modificados ao serem preparados para esta publicao.Todos os outros foram escritos especficamente para este livro.

    A Parte 1 traz os textos fundamentais de vrias perspectivas. Depois deuma viso geral ampla por Bill Taylor, vem uma descrio abrangente do retornoantecipado do corao pastoral de Rudy Girn. Depois temos um estudo geracionalinstigante por Kath Donovan e Ruth Myors.

    A Parte 2 passa para o projeto de pesquisa em si. Jonathan Lewis descrevea elaborao original do projeto.

    A Parte 3 volta-se para estudos nacionais de retorno prematuro demissionrios. Ted Limpic, que mora no Brasil, traa um perfil bem abrangenteque, pela primeira vez, d aos lderes brasileiros base para encorajamento bemcomo para mudanas.

    A Parte 4 muda o enfoque, e 11 autores, escrevendo de oito pases,estudam as cincocategorias mais importantes que ocasionam o retorno prematurodo missionrio: o processo de seleo, com um enfoque especial no papel daigreja enviadora; triagem e orientao da agncia missionria; treinamento esuperviso no campo; e o cuidado pastoral do missionrio. Trazemos um captulochave que trata de questes especficas dos filhos de missionrios. Inclumostambm entrevistas com pastores de vrios pases. Esta parte encerra com umalista global de pessoas que residem nos campos e podem suprir cuidado pastoral.Um fator singular desta seo que cada categoria encarada tanto da perspectivados antigos pases enviadores como dos novos.

    Na Parte 5, Bill Taylor resume alguns dos desafios feitos especificamenteaos principais investidores no movimento missionrio. Esta seo tambm propecaminhos para a continuao da investigao do retorno prematuro.

    A Parte 6 inclui uma cpia do instrumento de pesquisa, uma sugesto deGuia de Rastreamento que pode ser usado para monitorar o retorno prematuro,e um ndice geral.

    Definies especficas usadas no livroEnfrentamos diversos problemas em nosso estudo. Um foi o fato de que

    o termo attrition, traduzido nesta edio por retorno prematuro, no temeqivalentes fceis em outras lnguas, o que exigiu dos nossos colegas que

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  • adaptassem seus prprios termos descritivos para atender sua realidade oque um desafio em qualquer lngua!

    Attrition em portugus significa desgaste, exausto (atrito), e tem sidoentendido como abandono e estafa; os de fala hispnica usaram termoseqivalentes a desero e abandono prematuro do trabalho no campo; umsueco usou um termo que d a idia composta de retirar-se, retroceder, deixar;nosso colega da Etipia falou de perder o interesse at acabarcaindo fora; umholands disse simplesmente: Attrition difcil de traduzir; um filipino disse:Em tagalog isto tem de ser explicado em uma srie de frases ou expresses. Masno difcil de fazer.

    Como usamos o ingls como nossa lngua internacional de pesquisa,achamos que era necessrio definir os termos chaves que so usados neste livro.Aqui esto alguns deles:

    Retorno prematuro o termo mais comum com que trabalhamos, e serefere simplesmente partida dos missionrios do campo, indiferente da causa.Nossa preocupao principal era estudar o retorno prematuro de missionrios delongo prazo (de carreira), com um enfoque especial no retorno prematuro ouevitvel do trabalho no campo. Lderes de misses de curto prazo tero deinvestigar suas prprias manifestaes do problema.

    Porcentagem de retorno prematuro se refere taxa que expressa onmero de missionrios que retornam do campo dentro de um espao especficode tempo, em comparao com o nmero total de missionrios no campo quedeterminada organizao ou movimento tem no campo.

    Retorno prematuro inevitvel entendido como retorno aceitvel oucompreensvel, como no caso de aposentadoria, trmino de contrato, problemasde sade ou chamado legtimo para outro ministrio.

    Retorno prematuro evitvel indica uma questo mais delicada oretorno que poderia ter sido evitado, em primeiro lugar, por uma seleo outriagem inicial melhor, ou por capacitao ou treinamento mais apropriado,ou por pastoreio mais eficiente durante o servio missionrio. Paul McKaughanchamou este tipo de retorno de retorno devido a problemas. Ele diz que eleacontece quando missionrios, por causa de m administrao, expectativasirrealistas, abuso sistmico, fracasso ou outras razes pessoais, deixam o campoantes que a misso ou a igreja achem que eles deveriam. Nisto podem ocorrerreflexos negativos na vida dos prprios missionrios, porm mais preocupante

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  • o impacto negativo sobre a estrutura missionria especfica e a causa demisses mundiais.

    PRI a porcentagem die retorno inevitvel.PRE a porcentagem de retorno evitvel.APE so os antigos pases enviadores. Nosso projeto de pesquisa

    abrangeu 14 pases. Para podermos comparar as duas categorias, APE se refereaos seis pases com uma histria mais longa em misses modernas: Alemanha,Austrlia, Canad, Dinamarca, Estados Unidos e Gr-Bretanha.

    NPE se refere aos novos pases enviadores, os oito pases em nossoestudo com uma histria mais jovem em misses modernas: Gana e Nigria nafrica, Costa Rica e Brasil na Amrica Latina, ndia, Coria do Sul, Filipinas eSingapura na sia.

    PARA TERMINAREscrevemos este livro tendo em mente pessoas especficas em: os

    investidores homens e mulheres que particularmente possuem aes nosassuntos relacionados com o retorno prematuro. Estes investidores so osmissionrios (anteriores, atuais e futuros), mobilizadores para misses (que motivama igreja a fazer misses), lderes de igrejas (pastores, ministros de misses, membrosdo conselho missionrio), pessoas envolvidas com o treinamento de missionrios(em escolas bblicas e faculdades de teologia, agncias, programas de treinamentoou centros, formais ou no), agncias que enviam missionrios (igrejas ouassociaes), igrejas nacionais que recebem missionrios (quando existem) epessoas que prestam atendimento aos membros (pastores e profissionais darea de sade).

    Convidamos voc, nosso leitor, a submergir nesta publicao, formar seuprprio entendimento destes temas crticos, e refletir sobre sua prpria situaocomo indivduo ou como algum envolvido envolvido em liderana. Depois, faatudo o que voc puder, dentro da sua esfera de influncia, para encarar estasquestes e ajudar a corrigi-las.

    William D. Taylor, diretor da Comisso de Misses da AEM desde 1986,nasceu em Costa Rica como filho de missionrios. Ele viveu na Amrica Latina

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  • por mais de 30 anos, 1 7 dos quais como missionrio de carreira, professor noSeminrio Teolgico Centro-americano na Guatemala. Casado com Yvonne,nascida no Texas, tem trs filhos, que nasceram na Guatemala. Taylor editouInternationalizing missionary training (Internacionalizando o treinamentomissionrio, 1991) e Kingdom partnership for synergy in missions (Parceria noReino para sinergia em misses, 1994), e foi autor de Crisis and hope in LatinAmerica (Crise e esperana na Amrica Latina, 1996), junto com Emilio AntonioNuez. Sua paixo terminar bem seu trabalho e abarrotar o cu de adoradores!

  • Porte 1

    Os TEXTOSFUNDAMENTAIS

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  • 1. INTRODUO:EXAMINANDO O ICEBERG

    DO RETORNO PREMATURO

    William D. Taylor (USA)

    A maioria de ns sabe alguma coisa sobre icebergs, aqueles enormesblocos de gelo flutuantes que quebraram de geleiras, com sua maior parte debaixoda gua e perigosamente fora do alcance dos olhos. A perda de missionrios noslembra um iceberg, no sentido de que temos a tendncia de ver somente asevidncias visveis missionrios que, por qualquer razo, deixarampermanentemente o trabatho transcultural. Durante os ltimos trs anos, porm,ns comoequipe de liderana da Comisso de Misses da AEM (Aliana EvanglicaMundial, World Evangelical Fellowship) fomos lembrados vrias vezes dasdimenses ocultas da perda de missionrios as verdadeiras razes por quemissionrios abandonam o campo, ou a cultura invisvel da agncia ou juntamissionria que claramente afeta o missionrio de modo positivo ou negativo.Portanto, tenha estes fatores em mente ao ler, no s este captulo, mas tambmos demais deste livro. Talvez voc mesmo descubra algumas dimenses novasdeste iceberg, tanto visveis como invisveis!

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  • HISTRIAS DE PESSOAS E A DIMENSO DA PERDA DEMISSIONRIOS

    Jamais esquecerei Betty que encontrei rapidamente antes do nosso encontrode trabalho sobre retorno prematuro de missionrios, na Gr-Bretanha, em 1996.Ela era uma discpula de Cristo meiga, graciosa e talentosa, preparando-se para oministrio. Seu rosto jovem refletia um conjunto misto de emoes. Ela sorria durantea nossa conversa, mas seu olhos eram tristes. Eles estavam marcados por umsofrimento muito grande. medida que ela derramava sua histria, sua raiva justa,sua dor e lgrimas revolveram o meu ntimo. Seu pai e sua me tinham se formadoem um centro de treinamento missionrio de primeira linha. Eles foram aceitosporuma grande agncia missionria e, sustentados por amigos e igrejas, foram para ocampo missionrio. Depois que estavam l, porm, a realidade veio tona, e o paide Betty revelou ser um homem que abusava da sua esposa com silenciosa e cruelviolncia. Betty e seu irmo mais novo viam tudo. O segredo da famlia, contudo,nunca foi revelado. A famlia voltou para casa e demitiu-se da misso. Os pais sedivorciaram e a famlia desintegrou-se. A me de Betty desviou-se da f, e na meia-idade casou com um homem que no era cristo mas que, ironicamente, amou-ade verdade, de uma maneira que seu marido cristo nunca fizera. O pai, hoje emdia, um homem amargurado; o irmo est distanciado da famlia e com raiva detodos, inclusive de Deus. Quando Betty ouviu falar do nosso estudo sobre retornode missionrios, ela me perguntou: O Sr. acha que o estudo que vocs estofazendo me ajudar a entender o que aconteceu com minha famlia, para evitarque acontea a mesma coisa com outras pessoas?

    O fato que esta pesquisa sobre o retorno de missionrios tem sido tudomenos animadora, empolgante e cheia de alegria para mim. H tantas histriasque as pessoas compartilhavam com muita liberdade (inclusive os retornados)quando descobriam que estvamos fazendo esta investigao. Nunca quisemossimplesmente contar vtimas nem nos tornar especialistas em fracassos sejam provocados pelo indivduo, pela famlia, igreja, escola ou agncia. Quisemosir alm dos nmeros para dentro das vidas humanas e das culturas das igrejasou misses, para descobrir por que estamos perdendo tanta gente boa no ministriotranscultural de longo prazo. Tambm queramos descobrir o que mantm aspessoas no campo. Tnhamos o propsito de traar um perfil das agnciasmissionrias que esto fazendo um bom trabalho na preveno de perdas. Estatarefa complexa exige que elas encarem sua prpria histria de retornos prematurose providenciem cuidado pastoral e pessoal adequado, detectando quem

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  • vulnervel ao retorno antecipado, e incentivando as mudanas necessrias dentroda cultura e da estrutura da misso.

    Fui muito encorajado por histrias pessoais, tanto de missionrios jovenscomo de veteranos, que ficaram firmes l com o passar dos anos, apesar dascircunstncias difceis. Recentemente uma mulher solteira muito talentosa queserve na sia central passou boa parte do dia em nossa casa. Ns tnhamos oradopor ela anos atrs at que ela conseguiu entrar no mundo muulmano, e agoraela estava de volta pela primeira vez, para os contatos regulares com seusmantenedores. Sua histria era uma seqncia de tenses com colegas, sofrimentopessoal, um corao partido por causa de um namoro que acabou, dificuldadescom aprendizado da lngua e adaptao cultural, ministrio como mulhersolteiraem uma cultura muulmana, e at a mudana de agncia missionria enquantoela estava no campo. Para nosso espanto, esta mulher estava ansiosa para voltar!O que que mantm uma pessoa como esta no campo, enquanto outros emsituaes bem menos difceis se retiram do servio transcultural?

    O retorno prematuro algo multiforme, feito de histrias dolorosas, queobriga a avaliaes pessoais do missionrio e das igrejas, centros de treinamentoe agncias missionrias. Um colega do sul do Pacfico contou-me uma histria dehumor negro sobre este assunto. Ele me disse que, dos primeiros cinco missionriospara as ilhas Cook, dois abandonaram o campo (retorno prematuro), um tornou-se nativo (envio prematuro) e dois foram devorados (morte prematura)! Algumme disse que os moradores das ilhas Salomo devoraram um missionrio, mas sederam mal com os sapatos. Cozinharam-nos por muito tempo, mas noconseguiram amolec-los o suficiente para com-los!

    H no muito tempo falei em um grande congresso de lderes de missesnos Estados Unidos. Fiz trs perguntas de avaliao da realidade pessoal e diverti-me com as respostas. Primeiro, perguntei quantos dos presentes tinham sidomissionrios no campo mas tinham retornado, por qualquer motivo. A maioriano auditrio levantou as mos. Depois, perguntei quantos deles, ao deixarem ocampo, tinham sido classificados como perda lamentvel, por sua agncia ou,talvez, por seus colegas ou igreja de origem. Novamente a maioria disse que sim.Por ltimo, perguntei quantos dos que tinham deixado o campo tiveram umaentrevista derradeira com a liderana da misso ou da igreja. A maioria respondeuque no tiveram. As concluses em geral no eram muito animadoras.

    Lembro tambm muito bem do estudo do caso de uma jovem famliade missionrios na Amrica Latina. O marido era filho de missionrios que

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  • retornara para a amada terra onde crescera, com sua jovem esposa e uma filhapequena. Desde os oito anos de idade ele sonhara em ser missionrio; decisotomada, ele permitiu que ela moldasse a sua vida. Finalmente, depois de trsanos de escola bblica, uma faculdade, quatro anos de seminrio e um perodode trabalho com a Aliana Bblica Universitria, eles partiram para o campo,para seu lar. Pouca noo tinha o moo do que encontraria quando suasexpectativas se defrontaram com a realidade, ou que seus sonhos seriamtorpedeados por um lder de misso que provocava conflitos. No fim do seuprimeiro perodo este missionrio estava totalmente esgotado e beira de jogara toalha e retornar cultura do seu passaporte (que no era sua culturanatal).

    Durante um dos dias mais escuros deste perodo, certa noite a campainhasoou. Para seu espanto, o jovem missionrio em dificuldades viu do lado de forado porto um lder missionrio veterano muito respeitado, que na poca moravanos Estados Unidos. O que o senhor est fazendo aqui na Guatemala?, omissionrio perguntou. Notnhamos nenhuma idia de que o senhor viria! Elerespondeu simplesmente: Pois eu vim. E entrou na casa. Sentou-se e perguntoucorn singeleza: Como vocs esto indo? O jovem marido e pai desmoronou e,com sua esposa ao lado, contou sua histria sofrida, entre lgrimas. O veterano souvia. Ele discernia os gritos de socorro no fundo do corao. Quando falou,trouxe cura, e gradualmente novas perspectivas de esperana surgiram nohorizonte. Humanamente falando, Deus usou este homem para salvar aquelajovem famlia de ser um caso de perda irreparvel. Aquele homem no era apenaso presidente da misso; ele era tambm um pastor visionrio amado. Alm dissoele era meu pai, pois eu era aquele jovem.

    Os problemas que causam o retorno prematuro desde ento soextremamente importantes para mim, pois testemunhei tanto as dimenses visveiscomo as invisveis do iceberg.

    PANO DE FUNDOO empreendimento da Comissode Misses da AEM chamado de ReMAP

    tomou a forma de uma preocupao internacional importante medida queouvamos e conversvamos com nossos colegas ao redor do mundo. Duranteanos tnhamos enfatizado a necessidade de um treinamento apropriado antes deir para o campo, mas conclumos cedo que este treinamento era apenas um dos

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  • trs componentes principais de uma infra-estrutura integrada e funcional demisses. Os trs componentes so:

    1) 0 contexto anterior ao candidato: a mobilizao da igrejae a seleodo missionrio, que abrange sua avaliao, envio e sustento.

    2) 0 treinamento: a capacitao eficiente da fora transcultural.3) 0 campo: sustento, estratgia, pastoreio e superviso da fora

    missionria global.Da perspectiva da nossa equipe na WEF, o empreendimento missionrio

    internacional parecia ter feito um trabalho relativamente bom na primeira rea, amobilizao geral. Tinha-se pesquisado e adotado os grupos tnicos noalcanados e enviado trabalhadores transculturais, tanto de curto como de longoprazos. Quanto ao segundo componente, a viso de treinamento estava chegandoao mundo inteiro, e isto nos encorajou. Mas ser que o movimento global estavaindoto bem tambm nas dimenses estratgias relacionadas com o cuidadopastoral dos missionrios no campo? Estvamos mantendo nossa novae jovemfora missionria no servio transcultural eficiente de longo prazo? Ouestvamos enviando pessoas ao campo que no deveriam ter sido enviadas?Comeamos a nos concentrar mais na eficcia do ministrio de longo prazo doque na sua durao. Qual era a verdadeira taxa internacional de retorno prematurode missionrios de longo prazo (uma expresso melhor do que de carreira), epor que estes trabalhadores estavam retornando? Ficamos muito animados comos pedidos de ajuda, vindos dos novos pases enviadores, para tratar dos seusproblemas de retorno especficos.

    Demos partida ao ReMAP em 1994 para trabalhar em questesrelacionadas especificamente com missionrios de longo prazo (e no os de curtoprazo) e seu retorno prematuro indesejvel do trabalho ativo no campo. O retornoprematuro uma expresso que se aplica a todos os tipos de missionrios quevoltam antesdo esperado, porm sentimos que a natureza estratgica deste projetonos levava a concentrar-nos no pessoal de longo prazo. Louvamos a Deus pelocrescimento e impacto dos missionrios de curto prazo, mas tambm sentimosque a maioria dos povos no alcanados ou pouco alcanados tero igrejasplantadas em seu meio primordialmente pelos que esto dispostos a investir umnmero suficiente de anos para aprender bem a lngua, compreender a heranae cultura do povo, amar profundamenteas pessoas e, assim, formar credibilidadepara contar a histria transformadora do Deus trino.

    23

  • O alvo geral do nosso estudo foi reduzir a perda indesejvel do corpode missionrios de longo prazo e, assim, aumentar a eficincia da fora detarefa missionria global. O estudo levou a um processo de cinco a sete anos,que revelado nesta publicao. Contudo, ainda no terminamos a pesquisa, enos sentimos desafiados ao pensar nos caminhos a tomar nos prximos anosdesta investigao.

    ESTUDANDO O ICEBERG: OBSERVAES PESSOAIS SOBRERETORNO PREMATURO DE MISSIONRIOS1) RETORNO PREMATURO NO MUNDO SECULAR

    O retorno prematuro um problema real e muito dispendioso no mundosecular com militares, diplomatas e empresrios. No s objeto da preocupao dasmisses. Tenho conversadocom pessoasque conhecem estes vrios tipos de vocao eemprego. Veja estas concluses do mundo dos negcios:

    Aproximadamente 30% dos executivos transferidos dos Estados Unidospara o exterior retornam antes do previsto (Shames, 1995). Esta afirmaosurpreendente seguida de uma discusso sobre por que acontece o retornoprematuro. Shames registra que o stress pessoal e da famlia o fator principal.Qual o custo financeiro disto para as empresas? Para um profissional solteiro denvel mdio o valor chega perto de 150.000 dlares, porm para um profissionalde grau mais elevado com famlia, o nmero chega a 350.000 ou mais. Todavia,tambm h diferentes etiquetasde preos. O artigo continua: Os prejuzoshumanosdesafiam os clculos. Caos emocional, famlias desfeitas, carreiras descarriladas edoenas so o preo de negligenciar o bem-estar pessoal no circuito global.

    Em junho de 1996 o Personal Journal trouxe um relatrio breve masobjetivo com o ttulo: Transferncias para o exterior podem no estar atingindoseus objetivos. Algumas das questes levantadas foram:

    1) Sua organizao j teve de trazer funcionrios de volta do exteriorantes da hora?

    No 27% Sim 73%2) Sua organizao j teve de trazer de volta antes da hora famlias de

    funcionrios, sem eles?No 55% Sim 45%

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  • 3) Sua organizaao j teve tuncionrios que tracassaram em atingir osobjetivos da empresa com sua transferncia para o exterior?

    No 18% Sim 82%4) Voc suspeita que muitos problemas profissionais no exterior ocorrem

    devidos a problemas culturais que talvez nunca tenham chegado direo central?No 9% Sim 9l%

    5) Algum do seu escritrio tem contato regular com o funcionrio noexterior, para monitorar como ele est indo em sua tarefa?

    No 36% Sim 64%

    2) UMA MUDANA NA LINGUAGEM NECESSRIAPrecisamos mudar nossa maneira de falar da perda de missionrios: reduzir

    o uso de termos pejorativos em relao ao assunto, e comear a ver pontos positivosfortes. Alguns dos termos negativos so: abandono, fracasso, desistir, cairfora, vtima e culpados. Muitas vezes estas palavras denotam um julgamentodas pessoas erradas. Talvez os missionrios foram forados a sair por lderes decampo negativos ou colegas que se sentiam ameaados por lderes novos e dotados.Ou eles ficaram esgotados devido a cuidado pastoral inadequado ou expectativasno realistas deles mesmos, das suas igrejas e mantenedores, da junta ou agnciaenviadora, do projeto no campo ou at da igreja nacional. Talvez o julgamentodeva ser voltado para a liderana da misso, as estruturas administrativas ou acultura da agncia.

    Todavia, h outro lado nesta moeda, que acha que o retorno prematuro a melhor coisa que poderia acontecer com um missionrio, aceitando at que a vontade de Deus em Cristo para a pessoa. Talvez os lderes da igreja e damisso deveriam reestruturar suas atitudes e aes na direo de encontrar olugar correto de ministrio para esta pessoa. Talvez Deus, em sua vontade soberana,permite que uma pessoa sirva em um contexto transcultural para trabalhar ocarter e as habilidades, ou fazer outros tipos de provas. Depois hora de mudarpara outro ministrio, talvez de volta na cultura de origem.

    Alguns outros lderes tm sugerido que o retorno prematuro o plano deDeus para promover a nacionalizao de certos ministrio que precisam sertotalmente transferidos para as estruturas da igreja nacional. Algumas destasorganizaes no rejeitariam um missionrio que podem ter de graa, mas istotalvez no seja o melhor para a misso e a igreja nacional.

    25

  • 3) ATITUDES DIVERGENTESLderes de misses e de igrejas apresentaram atitudes divergentes em

    relao aos vrios aspectos do retorno prematuro neste estudo. Alguns norte-americanosforam muito francos, dizendo coisas como: No me incomode commais um estudo de que no precisamos!, ou: Isto desperdcio de dinheiro,ou: Nossa igreja na verdade no tem nenhum problema com retorno prematuro.Outros disseram: Se tivssemos uma boa pesquisa de dados [isto , quais so osnmeros?], poderamos terminar a tarefa da evangelizao do mundo. De outrostivemos resistncia passiva: Bem, pode ser que voc deva fazer isto, mas naverdade... Tambm encontramos os cabra macho: Isto uma guerra, e voctem de contar com baixas. Essas coisas acontecem! preciso ficar firme. A atitudede alguns foi de negao, fazendo um crculo com os carroes para protegersua histria, tradies e estruturas. Esta foi a reao de muitas agncias, eespecialmente de lderes mais velhos. Muitos no valorizam seus missionrioshonestamente e no tomam conhecimento de que eles e suas famlias estosofrendo, ou que algo est seriamente errado com a estratgia ou a liderana damisso. As agncias tm medo de perder seu crculo de mantenedores, e istonovamente revela negao e medo.

    Fomos incentivados por muitos: Realmente precisamos de deste estudo!Esta observao veio principalmente de fora dos Estados Unidos, praticamenteda boca de cada lder dos pases emergentes com os quais falamos, mas tambmde alguns lderes mais jovens no Ocidente. Um pastor de misses de uma grandeigreja americana disse-me: H pouco tive de lidar com alguns dos casos maiscomplicados de retorno antecipado da minha vida. Por favor, diga s pessoas quens, nas igrejas enviadoras, temos de prestar mais ateno seleo de missionrios,bem como ao cuidado pastoral deles com base no campo. Significativo foi quealguns retornados apoiaram o estudo e tiveram muito a dizer sobre ele,contribuindo de modo franco com suas opinies. Muitas vezes me perguntei porque eles estavam to interessados, e ento a resposta ficou bvia: eles so os quesentiram a dor pessoalmente!

    4) INVESTIGAO PELAS AGNCIASAlgumas agncias fizeram um trabalho admirvel de rastrear e encarar

    seus fatores que causaram retorno prematuro. Fomos muito incentivados poragncias como a Aliana Crist e Missionria, cujos estudos, que cobrem dcadas,so modelos de acompanhamento cuidadoso. A Junta de Misses Estrangeiras daConveno Batista do Sul dos Estados Unidos outro exemplo, assim como aAssemblia de Deus americana. Peter Brierly fez um estudo para a OMF (Overseas26

  • Missionary Fellowship) que foi revelador em muitos sentidos. Algumas outrasagncias, como OC International (Overseas Crusade) e WEC (Misso Amm)fizeram seus prprios estudos.

    O que as agncias fizeram comos resultadosdos seus estudos tem variado.Algumas levaram a srio as implicaes e introduziram mudanas. O estudo sobreretorno prematuro feito por uma agncia no denominacional revelou umacarncia sria die cuidado pastoral com base no campo. Eles reconheceram adeficincia e indicaram algum para atender necessidade. Mas ser que isto foisuficiente para estancar suas perdas? Muitas agncias dizem que investigam asperdas, mas na verdade nunca analisaram as causas a fundo. Com franqueza,muitas simplesmente negam que o retorno prematuro um problema para elas.O executivo de uma misso me disse: Nossos missionrios no precisam decuidado pastoral. Na outra ponta do espectro, graas a Deus cada vez maisagncias querem receber ajuda para investigar seus casos de retorno prematuro etrabalhar seus problemas especficos.

    Vrios estudos tm esclarecido que, apesar de o retorno prematuro atingirespecialmente os missionrios que esto em seu primeiro perodo de trabalho, ofenmeno no est restrito a eles. Uma misso constatou que ocorriam perdassrias no estgio em que novos lderes adquiriam experincia.

    5) NOVAS NAES ENVIADORASA seguir h algumas vinhetas com implicaes do retorno prematuro das

    novas naes enviadoras, que tm uma fora de trabalho mais jovem, com poucosque retornaram:

    Cingapura: Uma taxa mnima de 75.000 dlares cingapuranos tem deser paga ao governo se os pais decidem continuar dando aulas em casa no exterioraos meninos que atingem a idade de 12 anos.

    ndia: Em mdia, cada missionrio que trabalha na regio de Malto jteve malria mais de 15 vezes. H missionrios que j foram afetados pela malriade 25 a 30 vezes. Mas eles permanecem. A ndia tambm tem seus mrtires, eesta categoria emergiu dos resultados das estatsticas do ReMAP

    Filipinas: As principais razes de retorno prematuro foram a falta desustento, falta de chamado, casamento no exterior, compromisso inadequado eproblemas de sade.

    Brasil: Com base em nmeros no checados, temia-se que a taxa deretorno prematuro era de 15% ao ano, mas o estudo ReMAP registrou uma PRI

    27

  • de 7% por ano. As cinco principais causas eram o treinamento inadequado, afalta de sustento financeiro, falta de compromisso, fatores pessoais como baixaauto-estima e esgotamento, e problemas com colegas. As principais causas deperdas estavam relacionadas com problemas de carter e no com limitaes dehabilidade, o que ter um grande impacto sobre os programas de treinarnento noBrasil.

    Coria do Sul: Em 1992 somente 23% das agncias acusaram perdas,mas em 1994 este nmero tinha pulado para 44%. A taxa de retorno prematuro muito maior para missionrias solteiras, principalmente devido s presses dafamlia para que se casem. Para o ano de 1994 a taxa de retorno prematuro parao primeiro perodo era de 2,75%. As principais causas constatadas foram problemascom colegas, apoio insuficiente de casa, problemas de sade, crianas, mudanade posto e casamento no exterior.

    6) QUESTES MAIS PROFUNDASO retorno prematuro apenas a ponta do iceberg. Temos de avaliar todo

    o processo de seleo,treinamento, superviso e cuidado pastoral dos missionrios,bem como estrutura e cultura dia agncia. Estas dinmicas surgiram sempre denovo, tanto no encontro de trabalho de abril de 1996 como neste livro. KathDonovan e Ruth Myors (veja o cap. 3) trataram deste assunto diretamente e afundo em sua palestra no encontro do ReMAP Cada igreja e agncia missionriatem uma cultura ou sistema particular, que preserva comoparte da sua histria.Muitas, porm, negam que hajasofrimento e perda de missionrios. Talvez muitasagncias sejam lideradas por visionrios (ou funcionrios), que no tm os donspastorais necessrios para sentir quando pessoas sofrem.

    Donovan e Myors tambm se concentraram em compreender questescomo espiritualidade, chamado e capacidade para perseverar. De valorespecial foi seu grfico que deu uma perspectiva de trs geraes australianas.Muitos participantes do encontro gostaram especialmenteda sua comparao deque a gerao mais velha motivada pela parbola do arado, e a mais jovempela dos talentos.

    7) Motivos DO RETORNO PREMATUROIdentificamos quatro categorias de motivos por que as pessoas deixam o

    campo missionrio. Peter Brierly foi o primeiro a identificar os primeiros trs, e euacrescentei mais um:

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  • a) Os motivos que os lderes da agncia e da igreja acham que ouviram eentenderam;

    b) Os motivos registrados nos arquivos;c) Os motivos que os missionrios que saem mantm em segredo ou

    talvez compartilham com amigos ntimos;d) Os verdadeiros motivos possvel conhec-los?Muitas perguntas surgem destas quatro categorias. Um dos desafios ao

    lidar com uma unidade familiar de missionrios que volta cedo tentar discerniros verdadeiros motivos, de maneiras que ajudem de verdade a eles, sua famlia,as igrejas que os sustentam e as agncias missionrias.

    8) Tipos DE RETORNO PREMATUROVimos quatro tipos de retorno prematuro emergir:

    RETORNO PREMATURO ACEITVELPodemos entender como aceitvel, alm da aposentadoria, o retorno

    relacionado com filhos (apesar de algumas vezes isto ser uma fachada paraproblemas no resolvidos dos pais), uma mudana legtima de ministrio, ouproblemas de sade. significativo que nos Estados Unidos, com uma foramissionria de mais idade, estas so as quatro principais razes do retorno dosmissionrios. H outras que tambm podemos aceitar.

    RETORNO PREMATURO EVITVELH causas de retorno que sentimos que so evitveis, como falta de apoio

    da base (no s financeiro), problemas com colegas, preocupaes pessoais, faltade chamado (resolvida antes da partida para o campo), preparo ou treinamentoinadequadoantes de ir para o campo, adaptao cultural deficiente e uma porode outras que apareceram em nossa pesquisa. Foram estas as causas que achamosque podiam ser trabalhadas antes da partida para o campo, e tambm j estandono trabalho. Igualmente significativo o fato de que a fora missionria maisjovem enfrenta seu prprio conjunto de causas principais de retorno, que podemtodas ser classificadas como evitveis: falta de sustento, falta de chamado,compromisso inadequado e desentendimentos com a agncia.

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  • RETORNO DESEJVEL MAS NO EFETUADOEste o retorno que deveria ter ocorrido mas no aconteceu. No conheo

    nenhum estudo formal que documentou esta situao, mas h missionrios que ficamquando deveriam partir, e a tragdia fica maior pois, com sua permanncia, fazemalguns dos melhores sair. Portanto, nem sempre o retorno antes da aposentadoria mau. Pode ser muitosaudvel reduzir o nmero de missionrios com permisso paracontinuar no campo. Fazer isto, porm, requer ao corajosa e proativa por parte dalideranada agncia ou igreja responsvel. Isto tambm desvenda uma lalha estruturalimportante que se v principalmente nas chamadas misses de f, mas que eususpeito que existe em todas: para se manter vivas e aparentemente relevantes, asagncias dependem de missionrios e seus mantenedores. Assim, quando vmpessoas com um aparente chamado para misses e com apoio financeiro tangvel, ese encaixam de alguma forma na agncia missionria, a tendncia que sejam aceitos.E alguns jamais sairo nem sero afastados! Requer grande coragem da lideranapara agir com responsabilidade, e eles fazem um grande bem aos missionrios tirando-os do campo trazendo-os para casa. Esta ao certamente trar benefcios para asigrejas locais e os outros missionrios.

    PEssoAs SUSCETVEIS AO RETORNO PREMATUROPor ltimo, h um grupo que podemos dizer que vulnervel ao retorno

    prematuro. Esta categoria emergiu do estudo da OMF sobre retorno demissionrios feito por Peter Brierly, que se concentrou no segmento de jovem ata meia-idade do seu pessoal missionrio. A compreenso deste fenmeno levoua OMF a tomar medidas corretivas. Quais so os fatores em determinada sociedademissionria ou em um setor dela, talvez diferente de um contexto nacional paraoutro, que faz com que este segmento da fora missionria tenha predisposiopara o retorno prematuro? Os lderes das misses sero sbios se estudarem estaquesto.

    9) IGREJAS E AGNCIASIgrejas e agncias tm suas preocupaes especficas com o retorno

    prematuro. No s na Amrica do Norte, mas tambm em vrios pases emvolta do mundo, as igrejas esto borbulhando com seu prprio fermento demisses mundiais. Algumas esto profundamente insatisfeitas com a maneiracom que as escolas treinaram mal as pessoas e as agncias usaram mal osrecursos humanos e financeiros. Ns podemos faz-lo melhor e mais barato!Algumas igrejas esto selecionando, treinando e enviando suas prprias

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  • equipes de implantao de igrejas, at para regies difceis, inalcanadas domundo. Mas ser que elas calcularam de verdade o custo de prover o sistemanecessrio de apoio no campo, para dar condies s suas equipes paraviver e servir com eficincia por perodos mais longos? Minha tendncia duvidar. Poucas igrejas estudaram sua prpria histria de retorno demissionrios ou as realidades que enfrentaro se no mudarem sua maneirade fazer as coisas.

    Outras igrejas, que forneceram uma poro grande do sustento financeirode um missionrio, precisam dar mais ateno a outras causas de retorno. Umpastor de misses americano telefonou-me pouco antes de eu comear a escrevereste captulo para dizer: O estudo de vocs sobre retorno de missionrios absolutamente crucial para nossa igreja. Eu acabei de passar por uma experinciahorrvel com duas famlias, e a tragdia que poderamos ter prevenido boaparte do sofrimento. Outra igreja perdeu trs famlias de missionrios no espaode um ms: uma por causa da doena de um dos filhos, outra devido condutapecaminosa de um dos pais, e a terceira por uma combinao de razes.

    E o que dizer das agncias? Algumas, americanas e internacionais, estoenfrentado questes muito srias relacionadas ao retorno prematuro. Infelizmente,porm, muitas agncias missionrias ainda no encararam sua histria de perda demissionrios. Este o caso tanto em antigos como em novos pases enviadores. Porque isto acontece? Insegurana? A idia de que isto no necessrio?Desconhecimento de como faz-lo?

    significativo que o encontro de trabalhosobre retorno prematuro levoumuitos lderes de agncias a trabalhar em seus prprios fatores de retorno. M.Patrick Joshua, da Friends Missionary Prayer Band da ndia, escreveu-me: Nossodepartamento de pesquisa e desenvolvimento levou a srio as anotaes iniciaisque eu trouxe da conferncia e aplicou alguns dos princpios ao nosso sistema. Oefeito foi tremendo sobre a observncia de cuidado pastoral intensivo, a visodiferente de como lidar com geraes mais jovens de missionrios etc. Houveuma reduo significativa em nossa taxa de retorno prematuro.

    Durante o encontro de trabalho do ReMAP constatamos que, quantomais distante o lder da misso est da realidade pastoral do campo, maior atendncia de minimizar as questes relacionadas ao retorno. Foram os homens emulheres perto do olho do furaco da vida dos missionrios que sentiram comoa questo crtica.

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  • 10) A ESCATOLOGIA DO RETORNO PREMATUROAo usar escatologia neste sentido, refiro-me a fatores de retorno que

    podem afetar as geraes futuras de missionrios, especialmente os que aindaesto se preparando ou acabaram de se formar. Ser que podemos tentar predizero que acontecer com estes jovens, dentro das atuais estruturas das misses, oudas que esto sendo criadas?

    Novamente, foram Kath Donovan e Ruth Myors que incentivaram muitosde ns a avaliar o perfil futuro tanto do pessoal como da sociedade missionria.Antes do encontro de trabalho, um participante do Ocidente escreveu irritadoque o programa preparado por Donovan e Myors era mais uma imposio dealgo ocidental sobre os pases emergentes. Minha reao foi dupla: ns tnhamospedido aos palestrantes que falassem sobre o assunto a partir da sua experinciae da sua perspectiva nacional, porm eu suspeitava que cada pas tinha algum tipode fator geracional a considerar, tanto em termos da igrejas como do movimentomissionrio. Felizmente eu estava certo nos dois aspectos! Um lder filipino disseque, quando leu sobre o elemento geracional pela primeira vez, achou que istono tinha aplicao em sua nao; mas quando compartilhou estas idias comalguns colegas mais jovens, eles o ajudaram a ver seus problemas entre geraesdentro da prpria casa. Em todo o mundo um fenmeno semelhanteest ocorrendo,e exigir muito criatividade por parte dos lderes cristos mais velhos.

    Quando avalio a gerao mais jovem na Amrica do Norte chamemo-la de Gerao X (sendo que o X representa as possibilidades ilimitadas dalgebra, no uma brandura genrica! sobre a definio das geraesrepresentadas pelos termos GeraoX, boosters, boomers e busters, vejao cap. 3) eu me pergunto como muitos destes jovens se encaixaro nas estruturasdas misses de hoje, em particular das agncias com o peso da histria e datradio. Estas estruturas especficas de subculturas crists existem em todas asespcies, gradaes e estilos possveis de doutrinas, estratgias, regras no escritase particularidades ou peculiaridades prprias. Depois que falei sobre retornoprematuro de missionrios na conferncia de 1996 da Associao Evanglica!Internacional de Agncias Missionrias (EFMA/IFMA) na Flrida, um lder de 31anos de idade de uma agncia bem conhecida perguntou-me diretamente: Vocacha que a Gerao X ir se encaixar nestas agncias?

    Eu lhe (lei quatro respostas. Primeiro: Sim, alguns iro, porque aGerao X to diversificada. Sempre haver alguns que cresceram em umasubcultura que combina com a da agncia. Podem ser filhos de missionriosque acham que aquele mundo normal, e retornaro ao campo missionrio.

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  • Alguns sero incapazes de encaixar-se em outro lugar ou na cultura do seupassaporte. Podem ser formados de escolas bblicas e seminrios quecombinam com aquele mundo. Segundo, existe a esperana de que algumasdas agncias mais antigas faam mudanas substanciais, at estruturais, paraabrir espao para estes jovens capacitados e consagrados. Terceiro, outrosjovens da Gerao X encontraro sua comunidadeglobal no contexto de igrejaslocais vibrantes onde empreendedores na rea pastoral, missionria oucomercial mesclam suas vises e criam novas estruturas de envio e sustento.Por fim, ainda outros jovens da Gerao X comearo suas prpriasorganizaes especficas, que reflitam seus valores, compromissos e paixes.Isto j est acontecendo por todos os Estados Unidos. O fato, porm, quemuitos jovens da Gerao X enfrentaro frustrao ao exercerem seucompromisso global.

    Sendo franco, estou profundamente desanimado com a atitude dosmissionrios e lderes mais velhos, que julgaram os jovens com rudeza e mostrarampouca compaixo, graa e misericrdia com uma gerao quebrada. Por que osboomers esto reagindo de modo to negativo, quando muitos da Gerao Xso seus prprios filhos? Michael Schwarz, o jovem editor criativo e comprometidode Vox: The Voice of a Generation (uma revista escrita por e para jovens),recentemente me disse que sua geraoencontrou ouvidos mais compassivos dagerao dos mais velhos do que dos boomers. Por esta razo respeitam maisaqueles. A Gerao X est mais perto da situao scio-moral-espiritual dos cristosdo primeiro sculo do que imaginamos. Todavia, medida que trabalha seuquebrantamento no poder do Esprito, tambm se tornar uma gerao de gloriosapromessa, tanto para a igreja como para a causa global de Cristo!11) REVENDO ESTUDOS SOBRE RETORNO PREMATURO DE MISSIONRIOS

    A avaliao das causas do retorno dos missionrios por parte das agnciasmissionrias no algo novo, como muitos de ns j sabemos. Eu encontrei emmeus arquivos a cpia de um artigo no publicado de quatro pginas do Dr. J.Herbert Kane, com o ttulo Um Estudo das Baixas de Missionrios. Ele comentaum estudo feito pela Biblioteca de Pesquisa de Misses de Nova York que cobrea dcada die 1953 a 1962. Durante este perodo foram informadas 1 .409 baixaspor 36 agncias, pequenas e grandes, denominacionais e misses die f. O estudotinha duas classificaes: retornos evitveis e retornos previstos, cobrindomissionrios de carreira com 20 ou mais anos de servio.

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  • As estatsticas so enganosas sob qualquer circunstncia, e suaconfiabilidade questionada com justia. Enfrentamos o problema no ReMAP,e oferecemos nossos nmeros com cuidado, dentro do seu contexto e realidade.Alguns j exageraram os dados para construir seus prprios casos. Uma agnciade um APE (antigo pas enviador) escreveu pouco depois cio nosso encontro detrabalho de 1996: 47% dos missionrios abandonam o campo durante osprimeiros cinco anos. 71% deles o fazem por motivos evitveis. Treinamentoeficiente, ou a falta dele, tem um papel crucial. O fato que, para os APE, otreinamento no apropriado constava como 20a causa no estudo. Nos NPE(novos pases enviadores), porm, estava em 11 o lugar.

    Talvez uma maneira melhor de visualizar a questo do treinamento verificar as cinco principais causas evitveis de retorno prematuro nos APE econstatar que estas tm a ver primordialmente com carter e relacionamentos.Depois podemos fazer a pergunta: De que maneiras nosso treinamento formal eno formal prepara nossos missionrios nestas duas dimenses cruciais? Asinstituies teolgicas formais que dizem que treinam missionrios muitas vezesse concentram em elementos de conhecimento, no de carter nem de habilidadesnecessrias para sobreviver e fazer um bom trabalho em misses transculturais. Oque precisa ser feito para mudar a maneira como treinamos missionrios? Serque nossos lderes de igrejas, misses e instituies de ensino tm a coragem paraabrir uma nova trilha?

    Vejamos uma das principais descobertas da pesquisa do ReMAP:calcula-se que, da fora missionria global, um missionrio em cada 20(5,1% da fora missionria) deixa o campo missionrio para voltar paracasa a cada ano. Destes que saem, 71 % o fazem por motivos evitveis. Oque estes nmeros nos dizem? Se estimamos a atual fora missionriainternacional transcultural de longo prazo em 150.000 pessoas umnmero bastante conservador uma perda anual de 5,1% representa7.650 missionrios por ano que deixam o campo. Para um perodo dequatro anos este nmero pula para 30.600. Esta o total da perda demissionrios, somados todos os motivos. A porcentagem evitvel de 71%de 3 0.600 representa 21 .726 missionrios.

    As implicaes financeiras j so dramticas, mas ainda podem sercalculadas. Porm as implicaes humanas so assustadoras e realmenteincalculveis. Podemos simplesmente tocar o negcio como sempre fizemos? Deforma alguma!

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  • REFLEXES FINAIS SOBRE RETORNO PREMATURO DEMISSIONRIOS A PARTIR DE UMA EXPERINCIA PESSOAL

    Em maro de 1996 minha esposa e eu passeamos na praia gelada e batidapelo vento da distante ilha de lona, a noroeste da Esccia, um lugar essencial deperegrinao para estudantes da histria dos celtas e do cristianismo. Sentimos ahistria tornando-se real para ns ao revivermos o testemunho poderoso daqueleshomens e mulheres de f que moldaram de tal maneira o seu mundo e o futuro.Em 563 a.C. Columba, um missionrio peregrino, velejou atravs do marda Irlandapara estabelecer sua base nesta pequena ilha. Esta se tornou o ponto de apoio daevangelizao dos celtas que moravam na terra que hoje chamamos de Esccia.Cristos celtasda Irlanda mais tarde enviaram missionrios to longe comoa Ucrnia.

    De interesse especial para meu estudo sobre perda de missionrios a visomissionria dos celtas, que eles chamavam de peregrinatio (peregrinao, no sentidode prazer em viajar para explorar o desconhecido), sob um dos seus smbolos parao Esprito Santo, o ganso selvagem. Com o passar dos anos os celtas desenvolveramum conceito fascinante de martrio, com trs cores: o martrio vermelho simbolizavaperseguio, derramamento de sangue, ou a entrega da vida por Cristo; o martrioverde falava da negao de si mesmo e de atos severos de penitncia que conduzissem santidade pessoal; e o martrio branco descrevia a dor de deixar para trs a famlia,o cl e a tribo para difundir a causa de Cristo, talvez sem jamais voltar para casa.

    Quando penso nas diversas causas de retorno de missionrios queemergem do ReMAPe da nossa prpria peregrinatio das misses crists modernas,sinto que aqueles homens e mulheres celtas, de f missionria, poderiamcompreender alguns dos nossos problemas. Eles teriam muito a nos dizer hojesobre a relevncia do seu martrio de trs cores. Talvez possamos adaptar asabedoria e viso deles ao nosso tempo e realidade.

    glorioso poder viver na poca atual, servindo em misses globais aoDeus trino sobrenatural. No devemos evitar pagar o preo, mas temos deadministrar muito melhor nossa fora missionria.

    BIBLIOGRAFIATarefas no exterior podem no estar atingindo seus objetivos. Personal

    Journal, junho de 1996.G. W. SHAMES, United Airlines Hemispheres. Fevereiro de 1995.

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  • William D. Taylor, diretor da Comisso de Misses da AEM desde 1986,nasceu Em Costa Rica como filho de missionrios. Ele viveu na Amrica Latinapor mais de 30 anos, 17 dos quais como missionrio de carreira, professor noSeminrio Teolgico Centro-americano na Guatemala. Casado com Yvonne,nascida no Texas, tem trs filhos, que nasceram todos na Guatemala. Taylor editouInternationalizing missionary training (Internacionalizando o treinamentomissionrio, 1991) e Kingdom partnership for synergy in missions (Parceria noReino para sinergia em misses, 1994), e foi autor de Crisis and hope in LatinAmerica (Crise e esperana na Amrica Latina, 1996), junto com Emilio AntonioNuez. Sua paixo terminar bem seu trabalho e abarrotar o cu de adoradores!

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  • 2. UM MODELO INTEGRADO

    DE MISSESRodolfo Rudy Girn

    A questo do retorno prematuro de missionrios tem relao direta com amaneira que o missionrio escolhido, preparado e enviado. Neste captulo queroapresentar a declarao fundamental de que o retornoevitvel pode ser minimizadose escolhemos, treinamos, enviamos, pastoreamos e supervisionamoscorretamente nossos missionrios. Estudaremos um modelo no qual sugerimosque, se no integrarmos mais estes vrios elementos, teremos um aumento na taxade retorno dos nossos obreiros.

    Ser instrutivo comear citando um artigo de Robert T. Coote (1995, p.6), onde ele afirma:

    Em um mundo onde centenas de milhes ainda esto para ouvir o nome deCristo e outros tantos milhes ainda no ouviram o evangelho apresentado demodo eficienteem seu contexto cultural, no h substituto para o missionrio decarreira. Diante desta constatao, s poderemos ter uma satisfao limitada comos relatrios de milhares de pessoas que se envolvem com misses a curtoprazo, de igrejas locais e escolas que fazem incurses de exposio transcultural,e de vrios meios de comunicao de alta tecnologia que so usados no apoio proclamao do evangelho. Estes e outros fatores positivos no podem compensar

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  • a diminuio de compromissos de longo prazo por parte de homens e mulheresque esto preparados para comunicar o evangelho de Jesus Cristo de maneiraprofunclaniente encarnacional a pessoas de outras culturas.

    Esta citao reflete a situao do movimento missionrio nos EstadosUnidos e no Canad hoje em dia, mas no est longe do que est acontecendoem boa parte do restante mundo ocidental e dos pases emergentes.

    Compromisso missionrio de longo prazo no pode ser obtido por meio derecrutamentos simples em conferncias, seminrios ou centros de treinamento. Antes,ele resulta de um alicerceslido colocado na famlia e na igreja local. Um missionriode carreira produto de um processo. Leva tempo.

    Compromisso missionrio de longo prazo pressupe permanecer nocampo, superar o desgaste e viver de tal maneira que o campo se torna lar, e o larse torna campo.

    Nossa tendncia, quando pensamos no envio ele missionrios, lembrarda agncia missionria ou da igreja local. Ambas so partes essenciais no processode envio, mas no so as nicas. Precisamos ver o envio de missionrios comoum processo integrado onde a igreja, a agncia missionria, os centros detreinamento e outros elementos so parte.

    Historicamente tem havido uma tenso entre a igreja e a agnciamissionria no recrutamento e envio de missionrios. Alguns missilogos definiramclaramente as duas instituies como tendo caractersticas distintas que torna cadauma ideal para aquilo que faz melhor. A igreja descrita como grupo aberto,definida como uma fraternidade estruturada de tal maneira que nela no hlimitaes de sexo ou idade. A agncia missionria chamada de grupo fechado,uma fraternidade restrita porque os membros tm de tomar uma segunda decisoquanto filiao. Em uma sodalidade considera-se questes como sexo, idade eestado civit.

    Os dois conceitos de grupo aberto e fechado tm feito parte domovimento missionrio ocidental. Encontramos alguma influncia destasidias em outras regies do mundo, mas na maior parte das igrejas dos pasesemergentes vemos que um paradigma diferente est sendo desenvolvido.No Novo Testamento no parece haver distino entre a igreja e a agnciamissionria, apesar de algum poder dizer que as duas atuaram na carreiramissionria do apstolo Paulo.

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  • Neste captulo quero propor outra maneira de ver o empreendimento deenviar missionrios. O modelo apresentado aqui um modelo missionrio integradoque rene quatro elementos distintos: seleo, treinamento, envio, e cuidado pastorale superviso do missionrio. A implementao deste modelo deve resultar em maismissionrios de carreira que esto comprometidos com ficar no campo aonde Deusos chamou, diminuindo desta forma o retorno antecipado na fora missionria. AFigura 2-1 ilustra este modelo.

    Oprimeiro movimento da igreja local para o campo, passando peloprocesso detreinarnento e seleo pela igreja e pelaagncia missionria.

    O segundo movimentovai do campo de volta para a igreja local, pelo processo dereentrada e adaptao cultural, que alimentadopela agncia e pela igreja.

    No veremos um trabalho missionrio bem sucedido enquanto nointegrarmos os quatro elementos representados na ilustrao. No mundo ocidental,por exemplo, normalmente se tem pensado que a melhor maneira de treinarpastores e lderes envi-los para um instituto bblico ou seminrio antes quecomecem seu ministrio. Esta postura tem sido exportada para as naes onde otrabalho missionrio ocidental tem sido feito. Entretanto, em pases queexperimentaram um crescimento de igreja surpreendiente, no s nas igrejaspentecostais mas tambm em muitas outras igrejas novas nos pases emergentes,a realidade que pastores e lderes so primeiro identificados, autenticados ereconhecidos pela igreja local. Depois que estes indivduos se tornam pastores oulderes, eles so enviados para um instituto bblico ou seminrio para treinamento.

    Assim como lderes de igreja no so produzidos por um instituto bblico ouseminrio, missionrios no so produzidos por uma agncia missionria ou centrode treinamento. Eles so produzidos primeiro por igrejas locais, que os treinam ediscipulam, reconhecem seu chamado e os testam como indivduos e como futuros

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  • lderes e missionrios. Depois as igrejas enviam os candidatos a missionrios paraum centro de treinamento, que os apronta para irem para o campo missionrio, edepois os passa para a agncia missionria. Esta os avalia e equipa para tarefasespecficas. Uma vez no campo, os missionrios precisam receber a supervisoapropriada do seu trabalho, e precisam ser pastoreados pelo pastor da sua igrejalocal ou pelo lder da misso, bem como pelo supervisor pastoral da agnciamissionria. Quando os missionrios visitam seu pas para refazer contatos edesenvolver parcerias, tanto a agncia como a igreja precisam ser envolvidas,para garantir que a experincia ser satisfatria para os missionrios bem comopara seus filhos.

    A descrio acima soa idealista; entretanto, este tipo de integrao necessrio se pretendemos ter um movimento missionrio de longo prazo bemsucedido.

    Vejamos cada um dos componentes do nosso modelo.

    SELEOA seleo inclui todos os elementos que tornam possvel que o chamado

    por Deus para misses seja reconhecido pelo missionrio, pela comunidade criste pela agncia missionria. Em alguns casos a prpria igreja local faz a identificaodo missionrio. Nestes casos o missionrio discipulado pela igreja e depoisenviado para o campo missionrio sem passar pela avaliao de uma agnciaexperiente. Para muitos candidatos no h problemas com este processo, mas alongo prazo a falta de avaliao por parte de uma agncia compromete a boaseleo e pode diminuir a eficincia do missionrio no campo.

    Nos casos tpicos a agncia missionria avalia o candidato. H quem prefirachamar este processo de seleo, mas eu prefiro cham-lo de avaliao, pois aseleo abrange muito mais do que uma anlise por meio de testes psicolgicos eoutros instrumentos. Muitas agncias aprovam o candidato para o trabalhomissionrio sem perguntar o que a igreja pensa dele. Com base em suas ferramentasde avaliao, a agncia envia o missionrio para o campo sem a necessriaexperincia de discipulado, que s pode ser obtida na igreja. O resultado umataxa elevada de retorno devido ao carter cristo imaturo. Surgem problemas entreo missionrio e outros na equipe, ou no relacionamento com os lderes nacionaisou de agncias.

    inquestionvel que a melhor entidade para autenticar o chamado paramisses de determinada pessoa a igreja. No importa quo profissional uma

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  • agncia seja, ela jamais poder tomar o lugar da avaliao da igreja local.Em Atos 13 vemos um modelo bblico na experincia da igreja em Antioquia. Oapstolo Paulo era bem conhecido pela igreja. Quando Deus, por meio do seuSanto Esprito, chamou Paulo e Barnab, a igrejavalidou o chamado por meio deorao e jejum. Este um modelo muito bonito de como a igreja confirma ochamado de um missionrio.

    A seguir estudaremos com mais detalhes os elementos envolvidos naseleo de um missionrio.

    DISCIPULADO DO MISSIONRIOO modelo que Jesus estabeleceu quando tomou 12 homens de contextos

    diferentes e fez deles discpulos , sem dvida, o melhorexemplo para ns quandopensamos no trabalho missionrio. No h nenhum mtodo de treinamento quepode substituir o processo de discipulado para lanar os alicerces para um trabalhomissionrio bem sucedido.

    Normalmente o processo de discipulado conduzido na maior partepela igreja local. A agncia apenas toma o que a igreja fez e finaliza o processodando ao missionrio as ferramentas necessrias para adaptar seu ministrio cultura especfica servida pela agncia. Todavia, duas semanas ou mesmo trsmeses no produziro um verdadeiro discpulo cristo. Isto algo que vem deum perodo mais longo de instruo, durante o qual os pastores, lderes emembros da igreja local discipulam o candidato a missionrio.

    Olhando para a vida de Paulo, vemos o processo de discipulado em aoquando ele vai para Jerusalm comocrente novo (At 9.26-30). Porcausa das ameaas sua vida, Paulo foi enviado primeiro para Cesaria e depois para Tarso, sua cidadenatal. Este pode muito bem ser o perodo em que Paulo passou pela maioria dastribulaes descritas em 2Corntios 11 (Bruce, p. 127). Ele tambm testemunhougrande crescimento espiritual entre seus concidadosjudeus. Estes anos constituramum perodo de discipulado, durante o qual Paulo estava sob os cuidados espirituaisda sinagoga em Tarso.

    IDENTIFICAO E AUTENTICAO DO CHAMADO MISSIONRIOEste elemento crucial, pois muitos candidatos apenas acham que tm

    um chamado de Deus para serem missionrios. Outros podem querer ir para ocampo missionrio simplesmente porque no h ministrio ou trabalho para elesem na igreja local.

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  • Quando algum expressa interesse em tornar-se missionrio, a igreja ouagncia precisa certificar-se que o chamado ou motivao genuno antes que apessoa v para o campo. H um grande risco de prejuzo quando se descobredepois que um missionrio est no campo que ele no tem um chamadomissionrio de verdade. Esta constatao no afeta apenas a vida do missionrio,mas tambm a das pessoas que trabalham com ele. A igreja local tem o papelimportante de autenticar o chamado da pessoa antes que ela passe peloprocesso de avaliao em uma agncia missionria e v para o campo. Tantoa igreja local como a agncia precisam ter procedimentos claros para identificar evalidar o chamado de Deus para o candidato a missionrio.

    Como observamosacima, a igreja em Antioquia reconheceu e confirmou ochamado de Paulo e Barnab para a misso aos gentios. Esta confirmao foinecessria durante toda a carreira dos dois como missionrios, pois a igreja deAntioquia era sua base de operaes e de apoio.

    ACOMPANHANDO O MISSIONRIOUma vez que a igreja reconheceu o chamado die algum para o trabalho

    missionrio, necessrio acompanh-lo para prepar-lo para o prximo passoem sua carreira. Esta expresso de apoio importante, no apenas para orientaro missionrio quanto sua melhor opo de ministrio, mas tambm paraidentificar o campo para o qual Deus est chamando a pessoa, e para escolher aagncia missionria.

    A agncia apropriada para esta parceria pode ser escolhida estabelecendo-se canais de comunicao entre o conselho missionrio ou a liderana da igrejalocal e as agncias que oferecem as melhores opes Iara o futuro campo detrabalho do candidato a missionrio.

    Em resumo, a seleo no se limita avaliao de um candidato amissionrio. Ela um processo natural de reconhecimento e validao de que apessoa tem um chamado genuno de Deus para misses. Ao mesmo tempo, amaneira natural de excluir aqueles cujo chamado no autntico. Muitos danosao empreendimento missionrio sero evitados se prestamos ateno a estesaspectos da seleo.

    TREINAMENTOA figura 2-2 retrata o desenvolvimento de um missionrio durante a sua

    vida, usando como modelo os traos bsicos da fachada de um templo grego.

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  • FIGURA 2-2 PROCESSO DE FORMAO DO MISSIONRIO DURANTE TODA A VIDA:O EDIFCIO DO TREINAMENTO

    Em qualquer edifcio, o alicerce vital para sustentar toda a construo.Geralmente o fundamento no est visvel, mas isto no diminui sua importncia.A durabilidade de todo o edifcio depende da qualidade dos alicerces. Pauloenfatiza a importncia dos fundamentos espirituais em 1 Corntios 3.11, onde eleafirma: Ningum pode lanar outro fundamento, alm do que foi posto, o qual Jesus Cristo.

    Em cima do alicerce, as colunas com suas bases e capitis formam asegunda parte da fachada do templo. As colunas servem para erguer o edifcio docho e sustentar o telhado. Em nosso modelo, quando algum se converte edepois entra no processo de crescimento e desenvolvimento em uma igreja locale em um centro de treinamento bblico e teolgico, de certa maneira ele levantado do nvel do cho at o nvel de ser um candidato a missionrio.

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  • Por ltimo, a parte mais visvel da fachada de um templo grego o frontotriangular no topo, conhecido como tmpano, onde geralmente se encontramfiguras decorativas. Em nossa ilustrao, este nvel a fase mais visvel na vida deum candidato a missionrio. Neste nvel a igreja local envia o missionrio paraum centro de treinamento, onde seu potencial avaliado. Presume-se que otreinamento far tudo o que necessrio para preparar o missionrio para ocampo. Contudo, o seu potencial tambm depender muito do seudesenvolvimento na vida e na igreja.

    Um modelo nunca pode representar completamente as realidades davida, mas ajuda a ilustrar o que estamos tentando dizer. Nosso modelo dodesenvolvimento de um missionrio tem como nvel fundamental a estrutura deapoio na vida e no ser do missionrio. No nvel 2 o chamado do missionrio confirmado e ele levantado da condio de crente novo at estar preparadopara ir para uma escola de treinamento. O nvel 3 o que vemos do missionriono campo.

    Referimo-nos aqui ao crescimento e desenvolvimento do missionrio comoo modo de ele ser preparado de maneira apropriada para atender ao chamadode Deus. O processo inclui mais do que a mera instruo em um programa deorientao para missionrios. um processo que dura a vida toda, em que Deusvai fazendo do candidato um missionrio. A educao na famlia, o ambientesocial, a formao escolar e as experincias profissionais so todas partes desteprocesso. A igreja local, atravs de um programa de discipulado, leva o candidatoao ponto em que ele est pronto para ir para uma escola bblica ou seminrio.Neste instituto o candidato preparado para apresentar o evangelho de modoeficiente em sua prpria cultura. Ao completar este programa educacional, eleest pronto para receber treinamento transcultural. Por ltimo, ele vai para umprograma de treinamento preparatrio j em um contexto transcultural, onde polido at se encaixar nas exigncias de um campo missionrio especfico.

    Mais uma vez, estecenrio parece ser idealista demais para ser real. Mesmoassim, temos de levar a srio todo o processo de desenvolvimento do missionriocomo pessoa e como cristo, se queremos ver resultados positivos do esforomissionrio.

    FORMAO ESPIRITUALAntes de examinarmos cada nvel de desenvolvimento em detalhe,

    devemos lembrar que um trao destacado neste modelo a formao espiritualdo missionrio. Representamos esta formao esquerda da fachada do templo.

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  • A formao espiritual algo que continua em cada nvel de treinamento. Sealgum vem de um lar cristo, seu desenvolvimento espiritual comea na infncia.Em muitos casos isto uma grande vantagem, e muitos bons missionrios sedesenvolveram desta maneira. Em outros casos, a pessoa nasce de novoem algumaaltura da sua vida em que j est na sua atividade profissional. Nestes casos aigreja tem o papel de nutrir a vida espiritual da pessoa. Mesmo se a sua vidaanterior transcorreu fora da vontade de Deus, Deus ainda pode usar esta vidapara a sua glria. Isto faz parte dos seus caminhos misteriosos. Ele pode usarpescadores para pescar gente e fabricantes de tendas para construir templos santos.

    A formao espiritual essencial em todo o desenvolvimento de ummissionrio. Ela no termina nem quando ele chega no campo missionrio. Pelocontrrio, um novo nvel de desenvolvimento espiritual comea a partir dali. Overdadeiro testede um missionrio se ele capaz de lidarcom as novas realidadese exigncias espirituais da vida no campo.

    A formaoespiritual precisa fazer parte de cada passo ao longodo caminhode um missionrio. Temos de evitar a tendncia de reduzir o treinamento domissionrio a meros exerccios acadmicos. Para ser realmente eficaz, todo programade treinamento precisa ter em sua base um elemento espiritual muito forte.

    Depois desta introduo, olhemos cada um dos componentes da figura2-2, para compreendermos melhor este processo de desenvolvimento na vida deum missionrio.

    FUNDAMENTAL: NVEL 1Alm do que a igreja ou qualquer instituio bblica ou teolgica pode

    fazer para moldar o Carter de algum, h um nvel fundamental na vida. Estenvel consiste de trs camadas: um alicerce de vida, um alicerce secular e umalicerce profissional. O nvel fundamental como um todo tem a ver com a maneiracomoo indivduo foi criado. Ningum pode subtrair-se influncia do seu contextocultural, social e familiar. Examinando cada elemento cio nvel fundamental,descobriremos indicaes quanto ao que a pessoa tem potencial para fazer navida. Deus usa e molda o que encontra na pessoa que vem a ele.

    ALICERCE DE VIDA relativamente fcil compreender este estgio de desenvolvimento, mas

    so poucas as igrejas ou agncias que levam em conta o alicerce de vida aocolocar missionrios em determinado campo. Deus levou o desenvolvimento davida em considerao quando escolheu Paulo e no Pedro para ser missionrio

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  • aos gentios. Ele usou Pedro como apstolo aos judeus. Deus coloca cada pessoano lugar apropriado para um ministrio eficaz.

    Ao olharmos para a vida de Paulo, podemos compreender como Deuso moldou e escolheu at antes de nascer. Paulo descendia de uma famlia defariseus. Ele nasceu fora da rea palestina em uma cidade greco-romana, emum contexto cultural helenista. Teve a vantagem de ser de uma famlia prspera,e o privilgio de nascer cidado romano. Foi educado como hebreu, tanto emcasa como na escola. Ainda jovem, foi enviado a Jerusalm para estudar como rabino Gamaliel, que seguia uma escola de pensamento farisaica rgida.Mesmo assim, Paulo ainda era capaz de compreender e valorizar o mundohelenista.

    Podemos dizer que, pela situao da vida de Paulo, Deus o preparoupara ministrar aos gentios. Ele no tinha a orientao etnocntrica de Pedro, quepassou por muitas dificuldades em relao aos gentios, durante o seu ministrio.Deus deu a Pedro o encargo de trabalhar com seus compatriotas judeus, e Paulofoi enviado aos gentios.

    Ficamos admirados com quantas vezes missionrios foram enviados semque algum levasse mais seriamente em considerao as caractersticas do seualicerce de vida. Para todos ns que somos parte do movimento missionrio dospases emergentes, este aspecto significativo. Ao enviar um missionrio, no suficiente simplesmente ter recursos financeiros para sustentar os obreiros, comoalguns pases na sia tm. necessrio levar em conta o contexto de vida domissionrio e o chamado de Deus. No suficiente ter o entusiasmo dos povoslatinos para enviar missionrios Espanha ou a outros pases europeus. Precisamosescolher os obreiros com base em seu alicerce de vida. Deste modo podemosevitar muitas frustraes e perdas na fora missionria.

    ALICERCE SECULARO alicerce secular de um missionrio pode abranger toda a bagagem de

    estudo da pessoa, desde o primeiro grau at a faculdadeou ps-graduao. Podeincluir tambm o treinamento vocacional. Em um mundo que espera mais e maisque trabalhadores estrangeiros tenham qualificaes profissionais, os missionriosestaro melhor preparados para trabalhar no campo se buscarem esta formao.

    O crescimento da fora missionria bi-vocacional uma evidncia daimportncia da formao profissional para o empreendimento missionrio hojeem dia. Precisamos incentivar mais missionrios que no tm formao em alguma

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  • rea secular a pensarem na possibilidade de buscar tal formao, para otimizarsua carreira missionria.

    A formao secular, portanto, um ponto a favor no trabalho missionrio.Com cada vez mais profissionais entrando na fora missionria, estamos vendomuito mais oportunidades para alcanar pases que restringem o acesso. O prximosculo sem dvida testemunhar nmeros ainda maiores de profissionaissecularesjuntando-se s fileiras dos missionrios. Para todos estes obreiros, odesenvolvimento espiritual por meio cio discipulado ser a chave para equilibraro ministrio profissional e o espiritual no campo.

    ALICERCE PROFISSIONALReferimo-nos aqui no formao tcnica ou acadmica, mas ao perodo

    posterior ao segundo grau ou faculdade, em que a pessoa se estabelece comoprofissional. Este o tempo de familiarizar-se com o mundo dos negcios e ciaproduo, alm do mundo acadmico. Missionrios que tm este tipo detreinamento prtico esto mais atentos s realidades da vida. Eles comeam acompreender a grande diferena entre o mundo acadmico e o mundo real.

    Ter experincia profissional no mundo secular especialmente importantepara missionrios que desejam servir em pases onde o trabalho missionriovocacional restringido. Precisamos incentivar mais empresriosa considerar estetipo de trabalho missionrio. Muitos missionrios latinos esto usando esta estratgiae conseguindo entrar nos pases restritos do mundo muulmano, atravs do mundosecular dos negcios. Este aspecto da experincia profissional deve ser levado emconsiderao no momento de escolher o campo em que o missionrio ir trabalhar.

    NVEL 2: ECLESISTICOChegando neste nvel de treinamento, compreendemos que, quanto mais

    treinamento eclesistico um missionrio tem, melhor ele far seu trabalho. Vejamoscada componente.

    DISCIPULADOA NVEL DA IGREJA LOCALMais uma vez, enfatizamos a importncia do discipulado no mbito da

    igreja local. Com o passar dos anos do trabalho missionrio, foi provado que omissionrio que tem este preparo na igreja ser mais capaz de atender s exignciasdo campo. No podemos sublinhar o suficiente o valor da experincia da igrejaquando consideramos o tipo de missionrio que necessrio para iniciar ummovimento de implantao de igrejas entre povos no alcanados do mundo.

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  • O treinamento em discipulado em uma igreja local chamado detreina mento ou educao informal. Pastores e lderes de igreja devem estar cientesdos benefcios deste preparo. O missionrio reproduzir (de modocontextualizado, espera-se) o que recebeu da igreja local.

    TREINAMENTO BBLICOO treinamento bblico tem a ver com educao formal e no formal. Ele

    pode ser administrado distncia ou do modo residencial. De qualquer das duasmaneiras, a formao bblica preparar o missionrio para apresentar o evangelhode maneira clara aos que ainda no ouviram a mensagem da salvao. A igrejalocal, em muitos casos, pode suprir o treinamento bblico que o missionrionecessita, se o pastor ou os lderes da igreja pessoalmente tm treinamento bblicosuficiente.

    Por mais simples que esta perspectiva possa parecer, muitos candidatos amissionrios, especialmente nos pases emergentes, no consideram o valor destetipo de treinamento. As exigncias de custo e tempo para a formao bblica levamalguns candidatos a pular este estgio to necessrio. No possvel especificar oquanto o treinamento importante. Enfatizamos, porm, que ir para o campomissionrio semtreinamento bblicodiminuir em muitoo impacto que o missionriopode ter.

    TREINAMENTO TEOLGICO OU MISSIOLGICONo mundo ocidental, e cada vez mais em alguns pases no ocidentais, a

    formao teolgica ou missiolgica fundamental pr-requisito para ser aceitocomo missionrio. Esta formao pode incluir o grau de bacharel ou, at melhor,de mestrado. O grau pode ser na rea de teologia ou missiologia. Em algumasreas, exige-se doutorado.

    Pular este nvel de desenvolvimento resulta no envio de missionrios semum alicerce bblico e teolgico slido. Em regies onde a pregao do evangelho restrita, um nvel elevado de educao teolgica pode ser crucial. A apologtica o corao da proclamao do evangelho. Missionrios que vo para regies noalcanadas do mundo devem gastar tempo adquirindo o alicerce teolgico emissionrio de que precisam, antes de ir.

    Apesar da afirmao acima, temos de tomar cuidado para no darnfasedemais na educao teolgica e missiolgica, em detrimento de umdesenvolvimento sadio nos primeiros estgios da vida. Algumas agncias, porexemplo, se concentram mais no treinamento teolgico e missiolgico do que

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  • em estgios anteriores do desenvolvimento do missionrio. Este erro vem dainfluncia de uma sociedade desenvolvida, em que se exige diversificao econhecimento especializado para que uma pessoa seja aceita em determinadopapel na sociedade. Alm disso, a indstria da educao religiosa vende seuproduto (diplomas) igreja e faz esta crer que, sem esta educao, o indivduojamais se dar bem no campo missionrio.

    Concordamos totalmente com a grande vantagem de ter um diplomateolgico ou missiolgico, mas discordamos da idia de que um missionrio farum trabalho melhor no campo somente por ter um diploma. Aqueles de ns queso de pases que tm recebido missionrios podem testemunhar como estapressuposio est errada.

    O melhor missionrio nem sempre o que mais estudou. O melhormissionrio aquele que foi abenoado com um alicerce bblico e teolgicoslido, que conhece o que a igreja e como ela funciona, e que se relaciona demodo eficiente e respeita as pessoas na cultura que o hospeda e onde ele serve.

    EXPERINCIA DE LIDERANA E MINISTRIOOs melhores missionrios so os que provaram em sua cultura de origem

    que podemministrar a outras pessoas de maneira relevante. A experincia provo tipo de educao informal que molda a maior parte dos bons hbitos ehabilidades de que o missionrio necessita. Os cristos que levam a srio seupapel como discpulos de Jesus podem, neste estgio, aproveitar muitasoportunidades de ministrio, incluindo experincias missionrias de curto prazo.

    NVEL 3: MISSIoNRIONeste estgio do desenvolvimento missionrio, um treinamento

    transcultural especfico necessrio. Muitas agncias e instituies, especialmenteno mundo ocidental, negligenciam este passo e enviam missionrios apenas comum curso breve, introdutrio, para familiarizar seus candidatos com a cultura aque a agncia serve.

    Nossa posio que um missionrio neste estgio ainda no est prontopara ir para o campo. Primeiro ele precisa participar em um programa detreinamentoem que vrios fenmenos transculturais so explicados. O treinamentopode ser feito em um ou dois estgios, dependendo da qualidade dos programasoferecidos pelos