Uso do fator de potência de isolantes como parâmetro de ... · baixo isolamento das carcaças e...
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CEFET-MG
Departamento de Engenharia Elétrica
Engenharia elétrica
USO DO FATOR DE POTÊNCIA DE
ISOLANTES COMO PARÂMETRO DE
MANUTENÇÃO PREVENTIVA CONTRA
FALHAS DE BAIXO ISOLAMENTO EM
MOTORES DE TRAÇÃO DE CORRENTE
CONTÍNUA
Guilherme Augusto Vivas de Castro
09/03/2014
CEFET-MG Departamento de Engenharia Elétrica Av. Amazonas, 7675 - Nova Gameleira - Belo Horizonte - MG – Brasl
55 (31) 3319-6838
Guilherme Augusto Vivas de Castro
USO DO FATOR DE POTÊN CIA DE ISOLANTES COM O
PARÂMETRO DE MANUTEN ÇÃO PREVENTIVA
CONTRA FALHAS DE BAI XO ISOLAMENTO EM
MOTORES DE TRAÇÃO DE CORRENTE CONTÍNUA
Trabalho de conclusão de curso submetida
à banca examinadora designada pelo
Colegiado do Departamento de Engenharia
elétrica do CEFET-MG, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do grau
de terceiro grau em Engenharia elétrica.
Área de Concentração: Máquinas elétricas
Orientador(a): Marcos Fernando dos Santos
CEFET-MG
Belo Horizonte
CEFET-MG
2014
Folha de Aprovação a ser anexada
Aos meus pais, Arailton e Telma.
Agradecimentos
Agradeço a Deus, o que seria de mim sem a fé que eu tenho nele.
Aos meus pais, irmão e a toda minha família que, com muito carinho e apoio, não
mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida.
Ao professor Marcos Fernando pela paciência e competência na orientação e
incentivo que tornaram possível a conclusão desta monografia.
A todos da equipe de engenharia de locomotivas da MRS logística que sempre
estiveram à disposição e boa vontade para compartilhar conhecimento comigo.
Aos meus amigos que durante esse tempo viveram intensamente esta etapa tão
importante da minha vida e contribuíram para que fosse especial.
A todos os professores do curso que contribuíram para a minha formação
acadêmica.
i
Resumo
A MRS Logística, empresa que detém a concessão da malha ferroviária sudeste do
Brasil, identifica um dos seus maiores problemas referentes aos motores de tração de
suas locomotivas: as falhas referentes ao isolamento elétrico dos seus motores de
tração de corrente contínua.
A fim de tratar o problema, a companhia investiu em um equipamento que faz a
medição do fator de potência dos isolantes, e que desde o ano de 2010 faz-se a leitura
do fator de potência das carcaças e armaduras dos motores que são reparados na
empresa. Contudo, ainda não há nenhum parâmetro preventivo que se utilize o fator de
potência dos isolantes no processo de manutenção da MRS Logística.
Este trabalho tem o intuito de buscar este parâmetro preventivo, já que o problema de
isolamento tornou-se, em 2012, o principal modo de falha dos motores de tração da
frota de locomotivas da empresa, correspondendo a 21% do total de falhas.
Usando o recurso do FMEA (Failure Mode and Effect Analysis) da empresa, aliado a
recursos estatísticos será proposto um limite de fator de potência que um motor
reparado possa sair da oficina e ser instalado em uma locomotiva tendo um grau
elevado de confiabilidade para cumprir todo o seu ciclo de trabalho, assim, dar-se-á
algumas opções de manutenção preventiva aos isolamentos dos motores para que a
engenharia da empresa opte pelo melhor custo-benefício.
ii
Abstract
iii
Sumário
Resumo .................................................................................................................................................. i
Abstract ................................................................................................................................................ ii
Sumário .............................................................................................................................................. iii
Lista de Figuras ................................................................................................................................. v
Lista de Tabelas ................................................................................................................................ vi
Lista de Abreviações ..................................................................................................................... vii
Capítulo 1 ............................................................................................................................................ 8
1.1. Relevância do tema em investigação .......................................................................................... 8
1.2. Objetivos do Trabalho ................................................................................................................... 9
1.3. Metodologia .......................................................................................................................................... 9
1.4. Organização do Texto ..................................................................................................................... 10
Capítulo 2 ......................................................................................................................................... 11
2.1. Introdução .......................................................................................................................................... 11
2.2. O Isolamento elétrico ..................................................................................................................... 11
2.3. Variáveis que interferem no isolamento ................................................................................. 16
2.4. Estágios de falha no isolamento ................................................................................................. 19
Capítulo 3 ......................................................................................................................................... 21
3.1. Introdução .......................................................................................................................................... 21
3.2. Modos de falhas dos motores de tração da MRS .................................................................. 21
3.3. Como é o ciclo de trabalho das locomotivas da MRS.......................................................... 23
3.4. Processo de manutenção dos motores de tração da MRS Logística ............................. 26
Capítulo 4 ......................................................................................................................................... 32
4.1. Introdução .......................................................................................................................................... 32
4.2. O equipamento de leitura do fator de potência da MRS ................................................... 32
4.3. - Teste do ângulo de fase do isolamento ou fator de potência ....................................... 35
Capítulo 5 ......................................................................................................................................... 38
5.1. O método da análise do banco de dados ................................................................................. 38
5.2. Os processos de reparação da MRS Logística ....................................................................... 39
iv
5.3. Desenvolvimento do método ....................................................................................................... 39
Capítulo 6 Análise dos resultados ........................................................................................... 47
6.1. A limpeza do isolamento ............................................................................................................... 47
6.2. O processo de medição do fator de potência ......................................................................... 49
Capítulo 7 ......................................................................................................................................... 51
Referências Bibliográficas ......................................................................................................... 52
v
Lista de Figuras
Figura 2.1 – Modelo do isolamento elétrico.
Figura 2.2 – Diagrama fasorial das correntes em um isolante.
Figura 2.3 – Comportamento da corrente ao longo do tempo, após aplicação de
um potencial constante, em um isolamento de mica.
Figura 2.4 – Curva de resistência de isolamento típica, para isolamentos limpos e
contaminados.
Figura 3.1 – Modelos de locomotivas e seus respectivos grupos e condições de
manutenção preventiva.
Figura 3.2A – Esquema de manutenção preventiva por tipo de locomotivas.
Figura 3.2B – Esquema de manutenção preventiva por tipo de locomotivas.
Figura 4.1 – Medidor de fator de potência de isolamento.
Figura 4.2 – Circuito básico do medidor de fator de potência e esboço do
diagrama fasorial de certa medição.
Figura 4.3 – Pólo e interpolo de um motor de tração, chamados na MRS Logística
de campo de excitação e campo de comutação.
Figura 4.4 – Representação do circuito isolante e seu diagrama fasorial.
Figura 5.1 – Dispersão dos valores de fator de potência para a excitação dos MT.
Figura 5.2 – Dispersão dos valores de fator de potência para a comutação dos MT.
Figura 6.1 - Carregamento de Minério.
vi
Lista de Tabelas
Tabela 3.1 – Tipos de motores de tração utilizados na frota de locomotivas
Tabela 3.2 – Reparação da carcaça do motor de tração.
Tabela 3.3 – Reparação da armadura do motor de tração.
Tabela 5.1 – Modos de falhas em estudo.
Tabela 5.2 – Efeitos em estudo
Tabela 5.3 – Amostragem de MT.
Tabela 5.4 – Dados de FP Excitação.
Tabela 5.5 – Dados de FP Comutação.
Tabela 5.6 – Quantidade de motores instalados de 2010 a 2013 avariados.
vii
Lista de Abreviações
MT – Motor de tração
FMEA - Failure Mode and Effect Analysis
IC – Inspeção
RCI – Revisão intermediária
C1 – Revisão baseada no consumo de óleo diesel, escopo 1.
C2 – Revisão baseada no consumo de óleo diesel, escopo 2.
C4 – Revisão baseada no consume de óleo diesel, escopo 4
DC – Corrente contínua.
VDC – Tensão em corrente contínua
FP – Fator de potência
8
Capítulo 1
Introdução
1.1. Relevância do tema em investigação
Em uma locomotiva diesel-elétrica o motor primário diesel aciona um gerador
elétrico, que irá transmitir a potência para os motores de tração. Não existe conexão
mecânica entre o motor primário e as rodas de tração. Conceitualmente, este tipo de
locomotiva é um veículo híbrido, que incorpora sua própria estação geradora, feita para
operar em áreas em que a estrada de ferro não é eletrificada.
Importantes componentes da tração elétrica são o motor primário (motor diesel),
gerador principal, ou gerador de tração, que atualmente é um alternador, motores de
tração e o sistema de controle que consiste no governador do motor diesel, regulador de
carga e o chaveamento (disjuntor) dos motores de tração. Em princípio, a eletricidade de
saída do gerador é diretamente enviada do disjuntor para os motores de tração, que são
mecanicamente acoplados às rodas, via engrenagens de redução. Originalmente os
motores de tração e o gerador principal são máquinas CC (Corrente Contínua) [11].
Seguindo o desenvolvimento de retificadores de alta capacidade nos anos 60, o
gerador CC foi substituído por um alternador, usando ponte de diodo para retificar a
saída para CC. Isto aumentou a confiabilidade das locomotivas e minimizou os custos de
manutenção pela eliminação do comutador e escovas. A eliminação das escovas e
comutador, por sua vez, resolveu um tipo de evento particularmente destrutivo
relacionado ao faiscamento, que comumente causa falha imediata do gerador e, em
alguns casos, início de incêndio na casa de máquinas [4].
Com a evolução das locomotivas o transporte ferroviário se tornou o principal
transporte em grande escala. A eficiência do transporte de carga ferroviário é
consideravelmente maior do que o transporte rodoviário, dando mais confiabilidade na
chegada da carga no seu destino e retirando das nossas rodovias o transporte de
materiais pesados.
9
Para garantir tamanha eficiência, durante o ano de 2010 a empresa MRS Logística
comprou um equipamento para diagnosticar o isolamento dos motores de tração DC das
locomotivas diesel/elétricas. Tal medida foi tomada devido à verificação dos principais
sintomas de falhas destes motores. Foi constatado, através do FMEA da empresa, que o
baixo isolamento das carcaças e armadura dos motores são um dos maiores casos de
problema nos motores, provocando uma falha na locomotiva e muitas vezes impactando
na produção da empresa.
Este equipamento faz a medição do fator de potência do isolamento, técnica
consolidada em instrumentos do nosso sistema elétrico de potência. A produção
industrial da empresa, responsável pela manutenção dos motores, disponibiliza um
banco de dados dos motores com seus respectivos valores de fator de potência desde a
sua implantação.
1.2. Objetivos do Trabalho
O objetivo deste trabalho é definir um parâmetro de manutenção para os motores
de tração DC da MRS Logística baseado no banco de dados de fator de potência existente
desde 2010 na empresa, para minimizar as falhas por motivos de isolamento e também
detectar as eminências de falhas. A intenção é chegar perto de um valor ideal de fator de
potência com que um motor recuperado na produção industrial seja liberado com uma
confiabilidade alta para operar durante todo o seu ciclo de trabalho proposto. Tal
parâmetro também deverá levar em conta a questão de viabilidade econômica, já que a
manutenção destes motores é cara e pode impactar negativamente nas contas da
empresa.
1.3. Metodologia
A metodologia utilizada será baseada no tratamento do banco de dados obtido.
Para todo motor de tração que tiver alguma falha de baixo isolamento ou aterramento,
10
verifica-se o seu respectivo fator de potência com que ele saiu no ato de reparação antes
da locomotiva entrar em seu ciclo de operação. Também pode ser verificado o tempo
que a locomotiva operou até dar a falha, sendo um dado a mais para dar base ao
parâmetro de fator de potência que se deseja encontrar. Assim, com essa amostragem
utilizam-se alguns recursos estatísticos para estimar a vida útil do isolamento dos
motores através de um determinado fator de potência e verificar a sua probabilidade de
falha.
1.4. Organização do Texto
Este trabalho está dividido em seis capítulos com visões diferentes.
Primeiramente, no capítulo 2 é abordada toda a teoria de um isolante elétrico,
enfatizando o processo de passagem de corrente pelo material dielétrico ao longo do
tempo. Também são citadas as características ambientais e de processo de testes que
interferem na qualidade de um isolante, contribuindo para a diminuição da sua vida útil
e perda da capacidade dielétrica.
Já no capítulo 3, a ênfase é apresentar o problema de baixo isolamento e
aterramento nos motores de tração DC da MRS Logística e descrever o processo de
manutenção atual dos componentes dos motores, e abordar o escopo das manutenções
preventivas no que se refere a eles.
O equipamento comprado para se fazer o teste de leitura do fator de potência das
carcaças e armaduras dos motores de tração DC foram citados no capítulo 4, assim como
a teoria do teste.
O capítulo 5 vai explicar e mostrar o método utilizado para a análise dos bancos
de dados da empresa e, em seguida, o capítulo 6 fará a análise dos resultados.
11
Capítulo 2
O isolamento elétrico
2.1. Introdução
A fim de apresentar certas variáveis referentes ao objetivo final deste trabalho,
serão abordados alguns tópicos relacionados ao assunto para o melhor entendimento do
leitor.
Primeiramente, para mostrar o conceito de fator de potência de isolantes é
necessário conhecer profundamente a característica do isolamento elétrico e o seu
respectivo modelo, assim como o comportamento da corrente ao passar pelo isolante.
É importante ter o conceito, também, dos vários fatores que interferem na vida
útil do isolamento, que fazem o material perder suas características dielétricas.
2.2. O Isolamento elétrico
O isolamento elétrico pode ser modelado como um circuito com quatro ramos
paralelos, por onde podem circular quatro correntes diferentes quando uma tensão é
aplicada. Estas correntes são as correntes de fuga pela superfície (leakage – IL), de
capacitância geométrica (Ic), de condutância (Ig) e de absorção ou polarização (Ia). Estas
correntes somadas representam a corrente total que atravessa o isolamento (It), e estão
representadas na figura 2.1 [3]
12
Figura 2.1 – Modelo do isolamento elétrico.
Para representar as perdas dielétricas inerentes a uma estrutura isolante quando
submetida a um campo elétrico alternado, usa-se o diagrama fasorial representado na
figura 2.2 a seguir.
Figura 2.2 – Diagrama fasorial das correntes em um isolante.
Todo dielétrico submetido a tensões CA de freqüência relativamente baixas,
apresentam uma corrente adiantada da tensão por um ângulo. Esta corrente pode ser
decomposta em três componentes principais [7]:
a) Corrente de deslocamento ou capacitiva Id : Esta corrente é responsável pelo
processo de carga e descarga da capacitância geométrica C, em virtude do campo
13
aplicado ser alternado, esta corrente existe em forma de regime permanente. Ela é
proporcional à tensão, frequência e a capacitância. Ela é sempre adiantada de 90° graus
elétricos.
b) Corrente de absorção Iabs: Esta corrente é composta de duas outras, a
primeira é responsável pela energia elétrica armazenada a cada meio ciclo que retorna a
fonte quando da alternância do campo.
Ela é conseqüência do processo de formação de um campo elétrico pelo
fenômeno da polarização. A segunda é responsável pela energia elétrica dissipada na
forma de efeito Joule, ou seja, pela fricção no movimento dos íons ou na rotação dos
dipolos elétricos. Nos dielétricos sob efeito de tensão CC, esta última é desprezível, no
entanto, nos casos de campos alternados, ela é parte primordial na composição das
perdas. A primeira corrente está 90° elétricos adiantada da tensão e a segunda está em
fase com a tensão.
c) Corrente de condução Ic: É a corrente devido aos portadores de carga livres do
material. Ela está sempre em fase com a tensão aplicada e é proporcional a tensão e
condutância do material.
A relação entre a tensão aplicada e a corrente total medida fornece a resistência
do isolamento.
Para um isolamento do tipo mica, um dos elementos presentes nas carcaças dos
motores de tração, o comportamento destas correntes é dado da seguinte forma,
representado pela figura 2.3[3]:
14
A(ampéries)
T(tempo)
Figura 2.3 – Comportamento da corrente ao longo do tempo, após aplicação de
um potencial constante, em um isolamento de mica. Figura retirada de [4].
No primeiro minuto, a corrente de capacitância torna-se nula, não afetando as
medidas de resistência de isolamento. Entretanto, a corrente de polarização, modelada
por um circuito resistor-capacitor, demora um tempo maior para cessar, afetando a
medição da resistência de isolamento.
Esta corrente de polarização é composta por dois elementos: o primeiro devido à
reorientação das moléculas orgânicas do isolamento e outro devido ao deslocamento
gradual de elétrons e íons através de materiais orgânicos, até que estes fiquem presos
nas superfícies de mica presente na maioria dos sistemas de isolamento encontrados nas
máquinas elétricas. A reorientação das moléculas pode levar vários minutos após a
aplicação do campo elétrico. Entre 30 segundos e alguns minutos, a resistência de
isolamento vai depender muito desta corrente de polarização. Um diagrama da
reorientação das moléculas após a aplicação de um campo elétrico pode ser visto a
seguir. Observe que este deve ser um campo constante, obtido através da aplicação de
15
tensão contínua. Caso fosse utilizado uma tensão AC, as moléculas não ficariam
orientadas, mas seriam agitadas, gerando calor.[3]
As correntes de condução e fuga pela superfície variam com a umidade, sendo
constantes ao longo do tempo. Já a corrente de fuga pela superfície é a maior
responsável pela diminuição da resistência de isolamento. Isto pode ser visualizado na
figura a seguir.
Como consequência deste comportamento (diminuição da corrente total com o
tempo), a medição da resistência de isolamento irá crescer rapidamente à medida que o
tempo passa. Resistência de isolamentos secos e limpos e em boas condições continuam
a crescer por horas, enquanto que a resistência de isolamentos molhados ou
contaminados fica com um valor constante rapidamente, aproximadamente entre 1 a 2
minutos após a aplicação do campo elétrico, como pode ser visto na figura 4. Observe
que o tempo de 1 minuto é suficiente para a interrupção da corrente de capacitância Ic,
fazendo com que as curvas de resistência tenham um “joelho” neste tempo, como pode
ser verificado pela figura 2.4. [3]
Figura 2.4 – Curva de resistência de isolamento típica, para isolamentos limpos e
contaminados. Figura retirada de [4].
16
Como sujeira, óleo e água têm resistividade muito mais baixa que o isolamento,
uma contaminação dos mesmos provoca um grande aumento da corrente de fuga em
isolamentos higroscópicos, como isolamentos mica-asfálticos ou folha de mica
envernizada. Isto faz com que testes de resistência de isolamento sejam adequados para
a avaliação do grau de contaminação dos mesmos.
Isolamentos de mica utilizados em bobinas pré-formadas não permitem a
passagem de praticamente nenhuma corrente, e assim este teste não detectará
problemas como espaços vazios no isolamento devido à deterioração térmica,
problemas na impregnação, a não ser que exista uma falha bem severa que permita o
estabelecimento de uma corrente elétrica no mesmo.
Tais problemas merecem ser analisados, já que as locomotivas da MRS Logística
operam em ambientes com bastantes impurezas. Aproximadamente 80% da carga
transportada pela empresa é minério, além do ciclo de manutenção preventiva dos
motores de tração serem extensos.
2.3. Variáveis que interferem no isolamento
Existem alguns fatores que afetam a resistência de isolamento, tanto no
parâmetro do ambiente quanto em condições laboratoriais, são eles: condição da
superfície, umidade, temperatura, valor da tensão de teste, cargas residuais presentes no
isolamento, a polaridade do teste e a regulação da fonte de tensão [3].
2.3.1 Poeiras e umidade
Poeiras ou sujeira normalmente não condutivas podem tornar-se condutivas e
diminuir a resistência de isolamento ao combinar-se com óleos, vapores químicos ou
mesmo umidade.
A umidade por si só já causa uma redução na resistência de isolamento e este
problema é potencializado na presença de contaminantes, uma vez que se este estiver
em uma temperatura abaixo do ponto de orvalho, um pequeno filme de umidade será
17
formado na superfície do isolamento. De qualquer maneira, uma boa leitura de
resistência de isolamento pode ser obtida em um bom isolamento.
Dependendo do tipo de isolamento, a umidade pode ser mais ou menos
absorvida.
2.3.2 Temperatura
A resistência de isolamento varia inversamente com a temperatura, e de forma
exponencial. Quando a temperatura aumenta em um isolamento, aumenta-se o número
de portadores de carga, reduzindo drasticamente a resistência de isolamento, de modo
inverso ao observado em metais onde o aumento da temperatura aumenta a agitação
térmica e aumenta a resistência elétrica. Ao contrário, quando a temperatura é reduzida,
diminui o número de portadores de carga e a resistência de isolamento aumenta.
Esta variável também é importante devido à natureza de operação. As
locomotivas da MRS Logística operam em ambientes bastante diversos, tanto ao nível do
mar, quanto em serras onde existe um range de temperatura muito grande durante o
dia.
2.3.3 Valor da tensão
Para um bom isolamento, o valor da tensão não tem efeito na medição da
resistência de isolamento. Entretanto, para um isolamento com problemas, um aumento
na tensão de teste pode diminuir a resistência de isolamento, referente a testes de alto
potencial.
Uma diminuição significativa da resistência de isolamento à medida que a tensão
é aumentada significa presença de falhas no isolamento.
2.3.4 Cargas residuais e descarga do isolamento
Pelo fato do isolamento ter propriedades capacitivas, como detalhado
anteriormente, uma determinada energia residual estará retida no enrolamento após a
aplicação de um campo elétrico. Cargas residuais farão com que medidas de resistência
18
de isolamento resultem em valores incorretos. Antes que sejam feitas medidas de
resistência de isolamento, o isolamento deve ser completamente descarregado.
A descarga dos isolamentos é essencial tanto para segurança como para exatidão
dos testes subsequentes, sendo que as cargas residuais podem durar por um tempo
indeterminado.
A descarga do isolamento também é muito importante antes dos testes de alto
potencial para evitar tensões mais elevadas que as especificadas pelo teste. Pode ocorrer
que as tensões residuais sejam somadas às tensões de alto potencial aplicadas,
resultando na ruptura do isolamento devido à problemas não referentes ao teste de alto
potencial, em si.
2.3.5 Polaridade do teste
Polaridade negativa é preferida para as máquinas de teste para diminuição do
efeito de eletroendosmose, que é a passagem de um líquido através de uma membrana
porosa sob a ação de um campo elétrico, um fenômeno observado em isolamentos
antigos e na presença de umidade. Neste fenômeno, diferentes resistências de
isolamento são obtidas quando a polaridade dos fios de teste são invertidas [12].
Para isolamentos antigos e úmidos, por exemplo, a resistência de isolamento
obtida com polaridade reversa, onde o fio terra é conectado ao enrolamento e o fio
negativo à terra da máquina é muito maior que a obtida com polaridade normal.
Desta maneira, para que os testes possam ser comparados ao longo do tempo,
estes devem ser feitos com a mesma polaridade. O relatório de testes deve indicar a
polaridade utilizada.
2.3.6 Regulação da fonte de tensão
Para medições de resistência de isolamento, é necessário utilizar um
meghômetro com uma fonte de tensão DC muito bem regulada (regulação menor ou
igual a 0,1%), sob pena de obtenção de medidas não significativas ou com variações na
medida.
Isto ocorre porque a corrente total depende de vários elementos, inclusive o
elemento capacitivo do isolamento, ou seja, a corrente total varia no tempo. Se a tensão
19
também variar no tempo, não será possível uma estabilização correta desta corrente e
consequentemente uma estabilização da resistência de isolamento.
Além desta regulação, o aparelho deve ser capaz de suportar correntes de pico
muito maiores do que as que estão projetados para suprir continuamente. Como visto
anteriormente no modelo, as correntes iniciais em um isolamento são altas em
comparação com as correntes de regime e, portanto, o aparelho deve ser capaz de
suportar estas correntes relativamente elevadas.
2.4. Estágios de falha no isolamento
As falhas são iniciadas por contaminação dos enrolamentos, fadiga térmica,
umidade, transientes, sobrecargas e fadigas mecânicas. Estas falhas passam por alguns
estágios, sendo os primeiros estágios mais difíceis de detectar.
Os estágios de falha são:
Estágio 1: O isolamento entre condutores é submetido a um grande esforço,
causando uma mudança nas características resistivas e capacitivas do isolamento
naquele ponto. Altas temperaturas e falhas similares resultam na carbonização do
isolamento neste ponto. Carbonização pode ocorrer também devido à formação de arcos
elétricos no isolamento. Valores do ângulo de fase e resposta corrente/frequência do
enrolamento serão afetados neste estágio.
Estágio 2: O ponto de falha torna-se mais resistivo. Uma indutância mútua ocorre
entre a porção “boa” do enrolamento (e quaisquer outras partes condutoras de
corrente) e as espiras em curto. Perdas elétricas (I²R) aumentam no ponto da falha
devido ao aumento da corrente nas espiras em curto, aumentando a temperatura
naquele ponto e provocando a rápida carbonização do isolamento. A máquina começa a
falhar neste ponto quando está quente, podendo até funcionar quando fria durante
alguns minutos.
Estágio 3: O isolamento se rompe e a energia no ponto do curto pode causar uma
ruptura explosiva no isolamento e vaporização dos enrolamentos. Testes de indutância e
20
algumas vezes testes de resistência do isolamento podem detectar a falha neste
ponto.[3]
Tem-se, então, que as características do isolamento de um material dependem de
vários fatores ambientais e de testes para se manterem no parâmetro aceitável de
operação. Estas variáveis são de extrema relevância para a operação dos motores de
tração em uma locomotiva, já que elas operam em ambientes bastante sujos,
principalmente de minérios e trechos com grande variação de temperatura e umidade.
Já os estágios das falhas são dificilmente detectados em oficina nas revisões
preventivas e inspeções, já que o motor não é aberto para detecção de possíveis
anomalias. Atualmente, emprega-se apenas o teste de resistência dos enrolamentos nas
revisões, portanto, o estágio 3 é o que se espera detectar.
21
Capítulo 3
O problema da isolação elétrica dos motores de tração
3.1. Introdução
A análise do modo e efeito de falha, ou simplesmente FMEA, é um estudo
sistemático e estruturado das falhas potenciais que podem ocorrer em qualquer parte de
um sistema para determinar o efeito provável de cada uma sobre todas as outras peças
do sistema e no provável sucesso operacional, tendo como objetivo melhoramentos no
produto e desenvolvimento do processo. [9]
Sendo assim, a equipe de engenharia de manutenção de locomotivas da MRS
Logística adota este recurso de estudo visando identificar os seus maiores problemas
com cada componente, para depois poder tratá-los de forma satisfatória.
3.2. Modos de falhas dos motores de tração da MRS
No ano de 2013 foi realizado um trabalho pela equipe de engenharia de
locomotivas da MRS Logística a fim de diagnosticar quais eram os maiores problemas da
manutenção corretiva dos motores de tração. Para isto, utilizou-se da planilha do FMEA
da empresa, a qual cita o efeito do motor ter sido retirado da locomotiva, ou seja, o
porquê dele ser retirado e o modo de falha da retirada, análise criteriosa feita pela
equipe de manutenção após ter o diagnóstico do motor.
Os dados foram colhidos ao longo de todo o ano de 2012 e o resultado dos efeitos
dos motores de tração retirados neste período está no gráfico 3.1 de pareto abaixo:
22
Gráfico 3.1 – Efeitos de retirada dos motores de tração no ano de 2012.
Já os modos de falha apresentados por estes MT fora representados no gráfico 3.2
a seguir.
Gráfico 3.2- Modos de falha dos motores de tração no ano de 2012.
Verificou-se, então, que as falhas de aterramento e baixo isolamento dos motores
de tração da frota da MRS Logística corresponderam a 21% de todos os problemas, tanto
47 46 42
26
15
7 7 5 5 4 3 3 3 2 2 2 2 1 21%
42%
61% 73%
79% 82% 86% 88% 90% 92% 93% 95% 96% 97% 98% 99% 100% 100%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
0 5
10 15 20 25 30 35 40 45 50
Motor de Tração - Efeitos
Efeito Pareto
86
64
44 39 38
33 30 28 25 24 20 19 19 19 16 15 14 14 14 12 11 9 9 9 8 7 7 5 4 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 13% 23%
29% 35%
41% 46% 51% 55% 59% 62% 66% 68% 71% 74% 77% 79% 81% 83% 85% 87% 89% 90% 91% 93% 94% 95% 96% 97% 98% 98% 98% 98% 99% 99% 99% 100% 100% 100% 100%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
100
CA
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Motor de Tração - Modos de Falha
23
nos efeitos quanto nos modos de falha, correspondendo a um total 138 falhas das 658
totais durante o ano de 2012.
Esta situação pode ser explicada por não existir, ainda, ações de manutenção
preventiva para o isolamento capacitivo dos motores no programa de revisões das
locomotivas. Apenas é medida a resistência do isolamento com o meghometro nas
revisões intermediárias, chamadas na empresa de IC, C1 e C2 que serão abordadas no
próximo tópico. Quando a resistência deste é menor que 1MΩ o motor é retirado para
manutenção.
Tal situação desperta ainda mais curiosidade para a criação de um parâmetro de
manutenção dos motores de tração segundo o fator de potência, tendo em vista que já
existe um parâmetro contínuo de acompanhamento preventivo da resistência do
material e mesmo assim o problema de baixo isolamento e aterramento tem a maior
porcentagem dentre as falhas dos motores.
Entende-se que este problema de baixo aterramento dos isolantes dos motores
de tração está diretamente ligado com o processo de acompanhamento da qualidade do
material isolante ao longo das manutenções preventivas, já que este vai perdendo suas
características dielétricas ao longo do tempo e, ainda, são acentuadas pelos fatores
citados no capítulo anterior. Por isso, é importante conhecer como é o ciclo de trabalho
das locomotivas e seu processo de manutenção no que diz respeito aos motores de
tração.
3.3. Ciclo de trabalho das locomotivas da MRS
A MRS Logística é uma empresa que arrendou os ativos da malha sudeste do
Brasil da antiga Rede Ferroviária Federal em 1996, e durante esses anos de operação
buscou renovar a sua frota. Por este motivo, a empresa possui uma diversa gama de
locomotivas, sendo a maioria da General Eletric e uma outra parte da General Motors.
Estas locomotivas são separadas em grupos de 1 a 10 dentro da empresa. Tais grupos
foram montados levando em conta os modelos e potência das locomotivas.
A Figura 3.1 abaixo, além de mostrar os modelos de locomotivas com seus
respectivos grupos, também mostra as manutenções preventivas chamadas de IC
24
(Inspeção), RCI, C1, C2 e RC4, que são realizadas por dias de operação ou por consumo
de óleo diesel. Estas revisões estão em ordem crescente de complexibilidade, ou seja, em
uma revisão C2 troca-se mais componentes se comparado a uma C1.
Figura 3.1 – Modelos de locomotivas e seus respectivos grupos e condições de
manutenção preventiva.
A RC4 corresponde ao final do ciclo da locomotiva, nesta revisão os componentes
da locomotiva são retirados e reparados, inclusive o motor de tração que é o nosso
objeto de estudo. Esta revisão é planejada tendo em vista a vida útil do motor diesel, que
é o componente mais caro da locomotiva.
As revisões intermediárias à RC4 não são comuns a todos os tipos de locomotivas,
por motivos de operação e características das mesmas. Abaixo temos um esquema do
ciclo de operação de cada locomotiva da MRS Logística, ilustrados nas figuras 3.2A e
3.2B.
25
Figura 3.2A - Esquema de manutenção preventiva por tipo de locomotivas.
26
Figura 3.2B– Esquema de manutenção preventiva por tipo de locomotivas.
3.4. Processo de manutenção dos motores de tração da MRS Logística
Dentre os 10 grupos de locomotivas, temos 6 tipos de motores de tração na
empresa. Alguns deles podem ser utilizados em diversos tipos de locomotivas, outros
não. A tabela 3.1 abaixo explica o emprego e nomeia cada tipo de motor:
Tabela 3.1 – Tipos de motores de tração utilizados na frota de locomotivas
27
Modelo do Motor de Tração Locomotivas que podem ser
utilizados
GE-E8A U23-C, U23CA, C30,C36
GE-AF15 U23-C, U23CA, C30,C36
GE-AH30 C44-MIL
761CA12 AC44-MIL
D77 SD18 e SD38
D87 SD40-2 e SD40-3
GE-761 U5, U6 e U20
Quando a locomotiva encerra seu ciclo de trabalho, realizando a sua RC4, ou
quando o motor de tração sofre alguma avaria grave, o mesmo é submetido a um escopo
de reparação. Esta reparação do motor de tração possui um padrão que é comum a
todos os tipos de motores, mas que pode variar quando o motor sofre intervenção
corretiva. Abaixo seguem a descrição da reparação básica das carcaças e armaduras na
tabela 3.2:
Tabela 3.2 – Reparação da carcaça do motor de tração.
1 SERVIÇOS BÁSICOS
1.1 Manutenção básica
1.2 Lavagem com jato de vapor
1.3 Secagem em estufa
1.4 Testes iniciais
1.5 Inspeção preliminar e verificação dimensional
1.6 Conferir resistência de isolamento (Megger)
1.7 Conferir resistência ôhmica das bobinas de excitação
e comutação
1.8 Impregnação a vácuo com verniz classe H
1.9 Cura em estufa
1.10 Testes finais
1.11 Conferir resistência de isolamento para massa
(Megger)
28
1.12 Conferir Alto – potencial (HI-POT)
1.13 Conferir teste entre espiras (SURG-TESTE).
1.14 Conferir resistência ôhmica das bobinas de excitação
e comutação
1.15 Conferir teste de Polaridade
1.16 Conferir teste de Impedância
2 SERVIÇOS EVENTUAIS
2.1 Recuperação dos mancais de suspensão
c/enchimento solda e usinagem e fornecimento de chaveta
de encosto;
2.2 Recuperação dos mancais de suspensão apenas com
usinagem e fornecimento de chaveta de encosto;
2.3 Recuperação do encaixe de alojamento do rolamento
(furo escudo) LP ou LC com enchimento de solda e usinagem;
2.4 Recuperação do vão do nariz de suspensão e
fornecimento de duas chapas de desgastes em aço manganês
2.5 Retirada das bobinas e peças polares
2.6 Jateamento da estrutura da carcaça
2.7 Recuperar suporte porta-escovas e fornecimento do
fixador com parafusos e arruelas (Tramela)
2.8 Recuperação dos olhais da caixa de graxa e içamento
2.9 Substituição de grades de ventilação
2.10 Recuperação de todas as roscas
2.11 Reisolamento de uma bobina de excitação para a
massa com materiais classe H (Nomex, Kepton e mica )
2.12 Reisolamento de uma bobina de comutaçã para a
massa com materiais classe H (Nomex, Kepton e mica )
2.13 Reisolamento de uma bobina de excitação para a
massa e entre espiras com materiais classe H (Nomex,
Kepton, e mica)
2.14 Reisolamento de uma bobina de comutaçã para a
massa e entre espiras com materiais classe H (Nomex,
29
Kepton e mica )
2.15 Recuperação do tap de ligação de uma bobina de
comutação
2.16 Recuperação do tap de ligação de uma bobina de
excitação
2.17 Substituição dos condutores de interligação com
terminais e cordoallhas (conjunto)
2.18 Soldagem das interligações com solda a base de prata,
Reisolamento e amarração das mesmas.
2.19 Substituição do flange da bobina de excitação (Mola)
2.20 Substituição do flange da bobina de comutação (Mola)
2.21 Montagem das bobinas de excitação e comutação na
carcaça
2.22 Aferição do assentamento das bobinas
2.23 Aferição do alinhamento em relação a linha neutra
2.24 Substituição de um condutor de saída com terminal,
bucha de passagem, tubo termo contráctil e as devidas
identificações.
2.25 Fornecimento de cabo terra
2.26 Substituição de braçadeira para cabo com as devidas
identificações.
2.27 Pintura com esmalte sintético preto
3 FORNECIMENTO DE PEÇAS (INCLUSO SERVIÇOS
DE SUBSTITUIÇÃO)
3.1 Bobina de excitação
3.2 Parafuso fix. do núcleo Comutação
3.3 Parafuso fix. do núcleo excitação
3.4 Capa de mancal L.C
3.5 Capa de mancal L.P
3.6 Copo de lubrificação
3.7 Substituição do bujão de vedação do óleo da capa de
mancal
30
3.8 Parafuso Capa do mancal
3.9 Anel de descarga (Caso o MT tenha sido enviado com
alojamento)
3.10 Conjunto de tampa Inspeção com corrente de fixação
A reparação das armaduras dos MT de corrente contínua seguem um escopo
citado abaixo pela tabela 3.3.
Tabela 3.3 - Reparação da armadura do motor de tração.
1 SERVIÇOS BÁSICOS
1.1 Manutenção básica
1.2 Lavagem com jato de vapor
1.3 Secagem em estufa
1.4 Testes iniciais
1.5 Inspeção preliminar e verificação dimensional
1.6 Conferir resistência de isolamento (Megger)
1.7 Conferir resistência ôhmica dos enrolamentos
1.8 Impregnação a vácuo com verniz classe H
1.9 Cura em estufa
1.10 Usinagem do comutador
1.11 Rebaixamento de mica com quebra de cantos
1.12 Balanceamento dinâmico em dois planos de simetria
com remoção dos pesos utilizados em balanceamentos
anteriores.
1.13 Testes finais
1.14 Conferir resistência de isolamento (Megger)
1.15 Conferir Alto – potencial (HI-POT)
1.16 Conferir teste de surge teste
1.17 Conferir resistência ôhmica de lâminas consecutivas
do comutador
1.18 Conferir resistência ôhmica do passo polar do
comutador
31
2 SERVIÇOS EVENTUAIS
2.1 Embaralhamento de 10% do pacote;
2.2 Embaralhamento de 20% do pacote;
2.3 Recuperação do comutador com substituição apenas
do cônico de mica dianteiro.
2.4 Recuperação do comutador com substituição dos
cônicos de mica dianteiro, trazeiro e colar.
2.5 Substituição da bandagem do comutador (EPOXI ou
TEFLON)
2.6 Reenrolamento da armadura com materiais classe H
e confecção das bandagens do pacote magnético lado
comutador com fibra de vidro, lado pinhão com arame não
magnético e do comutador com epox, silicone ou fibra de
vidro.
2.7 Substituição do comutador completo, cônicos de mica
e colar
2.8 Substituição do eixo
2.9 Recuperação das roscas dos furos da extremidade do
eixo
2.10 Fornecimento do bujão do furo de injeção de óleo
para sacar pinhão
Uma vez conhecido o escopo e o processo de manutenção dos motores, tem-se
uma ideia macro do sistema preventivo realizado pela empresa MRS Logística. Para a
análise do problema de baixo isolamento dos motores de tração DC, estes dados são de
suma importância para se questionar se o processo atual é satisfatório para se ter uma
boa confiabilidade dos isolantes dos motores de tração.
32
Capítulo 4
O uso do fator de potência na MRS
4.1. Introdução
A fim de solucionar o problema de baixo isolamento dos motores de tração, em
2010 começou-se a medir os ângulos dos fatores de potência dos motores de tração que
saiam da oficina de reparação de equipamentos elétricos da MRS Logística.
A medição, no entanto, é feita depois da reparação do componente, já que ao
chegar à oficina, a maioria dos motores estão contaminados e a alta tensão do
equipamento pode causar danos ao isolamento do motor, comprometendo a leitura.
Como consequência disto, não é possível analisar a qualidade do isolamento capacitivo
ao final do ciclo da locomotiva, e sim, apenas o estado de como ele vai iniciar o seu ciclo
de trabalho.
4.2. O equipamento de leitura do fator de potência da MRS
O modelo utilizado é o MFP12000, da empresa UTILI, o qual aplica uma tensão
alternada nos equipamentos testados. Este equipamento tem uma tensão mínima de
aplicação de 2000VCA e é ilustrado pela figura 4.1 abaixo [1].
33
Figura 4.1 – Medidor de fator de potência de isolamento.
O princípio de funcionamento deste equipamento baseia-se no esquema elétrico
apresentado pela figura 4.2 abaixo [1]:
34
Figura 4.2 – Circuito básico do medidor de fator de potência e esboço do
diagrama fasorial de certa medição.
Quando a entrada do amplificador é conectada em V1 o medidor de corrente e
potência ativa são ajustados através do potenciômetro de ajuste do galvanômetro para
ler 100 divisões.
Conectando-se a entrada do amplificador em V3, o medidor irá indicar o produto
da resistência R2 multiplicada pela corrente absorvida pelo isolamento em teste. Como
R2 é fixo e a calibração do medidor de corrente e potência inclui um fator de tensão, o
medidor irá indicar os miliampéres absorvidos pelo isolamento a 10 kV.
Conectando-se a entrada do amplificador à posição 3, o medidor irá indicar a
diferença entre as tensões de P e R2. A queda de tensão sobre R2 possui um componente
em quadratura (capacitância do isolamento) e um em fase (resistência do isolamento).
Por outro lado, a tensão em P pode ser considerada como puramente capacitiva, pois
sofre um deslocamento de 180º após o indutor, e a indutância é muito menor que R.
35
Desta forma ao girarmos o potenciômetro P existirá um ponto de inflexão que
corresponderá ao vetor AB. Como o vetor AB é proporcional às perdas ativas, a leitura
do medidor pode ser calibrada para ser feita diretamente em watts [1].
4.3. - Teste do ângulo de fase do isolamento ou fator de potência
A medição atual da resistência elétrica do isolamento com o megôhmetro fornece
a parcela resistiva do isolamento. Porém a parcela capacitiva não é medida. O teste de
fator de potência é utilizado para auxiliar no valor desta medida capacitiva, que indica a
qualidade do isolamento, podendo ser vinculada ao tempo de vida que o isolamento do
componente possui, fazendo análises de valores de resistência capacitiva pelo tempo de
falha.
Este teste permite analisar e avaliar o comportamento das condições físicas do
enrolamento. Uma mudança na capacitância do isolamento pode ocorrer devido ao
envelhecimento natural, envelhecimento térmico ou outros contaminantes tais como
umidade ou poeira.
Pequenas mudanças na capacitância do sistema de isolamento resultam em
mudanças significativas do ângulo de fase. Como ferramenta de manutenção, a utilidade
do teste do ângulo de fase do isolamento está no acompanhamento ao longo do tempo.
Caso haja um aumento do fator de potência em relação ao nível normal, é provável que
haja algum início de falha, como descrito anteriormente.
No equipamento descrito na seção anterior são medidas a corrente de fuga, a
perda wattimétrica e a capacitância do isolamento elétrico. Para carcaças de motores de
tração, estes parâmetros são medidos para o campo de excitação e para o campo de
comutação (cabos AA e FF). Já para as armaduras as medidas destes parâmetros são
únicas, curto-circuitando o comutador. A figura 4.3 ilustra os pólos e interpolos do MT
[5].
36
Figura 4.3 – Pólo e interpolo de um motor de tração, chamados na MRS Logística
de campo de excitação e campo de comutação respectivamente.
O fator de potência do isolamento é calculado utilizando a equação 1, onde “w” é a
perda wattimétrica, e “mA” é a corrente de fuga. A figura 4.4 representa uma
aproximação do circuito isolante e o comportamento da corrente ao passar por ele [5].
FP% = (W x 10) / mA. Equação 1
37
Figura 4.4 – Representação do circuito isolante e seu diagrama fasorial.
A técnica do fator de potência como parâmetro preventivo de dielétricos já é
consolidada e utilizada em diversas aplicações, como em pára-raios, óleos isolantes e em
buchas isolantes. Sendo assim, a MRS Logística a implementa no seu sistema preventivo
de manutenção e agora deseja, na prática, desenvolver um parâmetro com esta técnica
para dar mais confiabilidade aos seus motores de tração DC.
38
Capítulo 5
Análise do banco de dados de fator de potência
5.1. O método da análise do banco de dados
Para a análise dos dados da empresa foi estabelecido um método de trabalho:
correlacionar o fator de potência do motor liberado juntamente com seu modo de falha e
ainda verificar o tempo de vida destes motores.
O primeiro passo na análise de dados foi buscar o FMEA dos motores de tração da
empresa e a base de dados dos fatores de potência medidos em suas respectivas
carcaças. Nesta etapa, encontraram-se algumas dificuldades para o estudo do fator de
potência como parâmetro preventivo de baixa isolação das carcaças, como:
O banco de dados da empresa apresentava informações completas dos
motores de tração só a partir do ano de 2011, contendo as informações de
instalação, retirada, efeito de retirada e problema identificado. Portanto,
apenas é possível trabalhar com dados de falhas de motores dos últimos 4
anos, o que restringe a gama de motores a serem analisados com o modo
de falha específico de estudo deste trabalho.
A base de dados das medições do fator de potência é incompleta. Há
exemplos de motores com entrada na base FMEA e que não possuem
medição de fator de potência da carcaça.
O aparelho de medição do fator de potência da empresa ficou em
manutenção cerca de 3 meses durante o ano de 2012, o que comprometeu
a medição dos motores que foram liberados pela produção industrial
neste período.
Diante dessas dificuldades encontradas, muitos dados que poderiam ser úteis
foram descartados para não contaminar o restante de dados confiáveis.
39
5.2. Os processos de reparação da MRS Logística
Outro ponto considerável no processo e que faz a diferença no processamento
dos dados é que a medição do fator de potência se dá depois do componente ser
devidamente recuperado, e não quando ele chega à oficina após a falha, como seria o
ideal para a análise do componente. Isso se dá devido à elevada tensão (2000VDC)
aplicada pelo aparelho medidor do fator de potência, que segundo o fabricante do
medidor, poderia causar danos à isolação do motor já que ele chega com altos índices de
impurezas e imperfeições devido ao modo de utilização e sujeira.
Basicamente, existem três tipos de processos possíveis na recuperação dos
enrolamentos da carcaça:
Processo A: O procedimento de manutenção é feito dentro da oficina de
manutenção de componentes elétricos da MRS Logística, sendo que o
componente é apenas lavado.
Processo B: A manutenção também é feita dentro das instalações da
empresa, mas neste caso o motor apresenta-se impregnado de impurezas,
portanto a reparação é mais complexa que o processo A.
Processo C: Esta é uma recuperação do componente mais elaborada. É
feito por empresas especializadas e que, na maioria das vezes, necessita-se
fazer o reenrolamento.
Tendo em vista os tipos de manutenção dos MT’s, aqueles que passaram pelo
processo C contaminariam a base de dados, já que, ao ser reenrolado, o motor perderá
todas as características que tinha no ciclo de vida anterior à falha, e o fator de potência
medido não corresponderia à sua antiga operação. Portanto, estes foram excluídos deste
trabalho.
5.3. Desenvolvimento do método
Analisando o FMEA, tem-se que os modos de falhas pertinentes a serem tratados
neste estudo estão descritos na tabela 5.1 abaixo:
40
Tabela 5.1 – Modos de falhas em estudo.
CÓDIGO MODO
DE FALHA
DESCRIÇÃO
MTGX251M16 CARCAÇA BOBIBAS DE COMUTAÇÃO ATERRADO
MTGX251M14 CARCAÇA BOBIBAS DE COMUTAÇÃO BAIXO ISOLAMENTO
MTGX249M16 CARCAÇA BOBINAS DE EXCITAÇÃO ATERRADO
MTGX249M14 CARCAÇA BOBINAS DE EXCITAÇÃO BAIXO ISOLAMENTO
Da mesma forma, os efeitos de retiradas de objeto de estudo, são dados pela
tabela 5.2 abaixo:
Tabela 5.2 – Efeitos em estudo
CÓDIGO EFEITO DESCRIÇÃO
MTGXE01 ALTERAÇAO DE VALOR OHMICO/MT EM CURTO
MTGXE02 ATERRAMENTO / BAIXO ISOLAMENTO
A fim de verificar o comportamento dos motores de tração DC da frota mapeados
pelo banco de dados, procurou-se intercalar os dados da seguinte forma: localizar
aqueles motores que tiveram modo de falha como descritos na tabela 5.1 acima e que
passaram pelo processo de medição do fator de potência anteriormente na Produção
Industrial, antes de entrar em operação. Desta forma, há como fazer uma análise de
tempo de utilização do componente em comparação ao fator de potência do seu
respectivo isolamento.
Ao cruzar estes resultados, encontraram-se 47 exemplares de motores de tração
DC com os dados requeridos, que estão dispostos abaixo na tabela 5.3:
Tabela 5.3 – Amostragem de MT.
41
Locomotiva
Código Descrição Série Fab
Data de
Instalação
Data de
remoção
Tempo de
utilização
(Dias)
Processo
PF Excita
ção
FP Comutação
905103 R56613
5001 Motor tração d77-
15 dentes 61H142
17/08/2011
02/01/2012
138 B 16,29
% 12,60%
905307 R56612
5007 Motor de tração d87-17 dentes
00N2909
17/12/2008
30/12/2011
1108 B 3,55% 7,11%
903762 R57614
0022 Motor de tração af15-18 dentes
7536019 01/02/2009
10/02/2012
1104 B 2,45% 6,32%
903750 R57614
0030 Motor de tração e8a-20 dentes
214356 17/01/2010
09/03/2012
782 B 1,80% 2,58%
903663 R57614
0022 Motor de tração af15-18 dentes
214303 08/02/2010
29/03/2012
780 B 3,85% 4,23%
903837 R57612
5007 Motor de tração af15-20 dentes
BB255000121
19/09/2011
28/03/2012
191 B 2,39% 2,60%
903151 R57612
5010 Motor de tração 761-18 dentes
218238 07/06/2010
05/04/2012
668 B 3,04% 3,44%
903151 R57612
5010 Motor de tração 761-18 dentes
218111 07/06/2010
05/04/2012
668 B 6,12% 4,63%
903144 R57612
5010 Motor de tração 761-18 dentes
218109 15/09/2010
05/06/2012
629 B 2,40% 3,78%
903711 R57614
0022 Motor de tração af15-18 dentes
214394 24/11/2010
27/06/2012
582 B 1,52% 1,89%
903823 R57612
5007 Motor de tração af15-20 dentes
214579 29/04/2010
17/05/2012
749 A 3,05% 3,74%
903624 R57614
0022 Motor de tração af15-18 dentes
20440024
19/03/2011
16/10/2012
576 B 3,68% 2,08%
903623 R57614
0022 Motor de tração af15-18 dentes
BB255000115
12/04/2012
14/10/2012
185 B 3,44% 2,82%
905245 R56612
5007 Motor de tração d87-17 dentes
96k34245
21/09/2011
09/11/2012
415 B 1,25% 2,92%
903854 R57614
0030 Motor de tração e8a-20 dentes
74458 28/09/2010
30/11/2012
793 A 1,75% 2,42%
903851 R57614
0030 Motor de tração e8a-20 dentes
7446312 09/11/2011
30/11/2012
387 A 5,30% 3,82%
903607 R57614
0023 Motor de tração e8a-18 dentes
7445992 28/03/2011
18/12/2012
630 B 9,07% 5,66%
905312 R56612
5007 Motor de tração d87-17 dentes
96K34336
06/02/2012
10/01/2013
338 B 3,07% 3,95%
905312 R56612
5007 Motor de tração d87-17 dentes
99L34054
06/02/2012
09/01/2013
338 A 1,86% 4,72%
905312 R56612
5007 Motor de tração d87-17 dentes
96K34336
06/02/2012
10/01/2013
338 B 3,07% 3,95%
905312 R56612
5007 Motor de tração d87-17 dentes
99L34054
06/02/2012
09/01/2013
338 A 1,86% 4,72%
903601 R57614
0022 Motor de tração af15-18 dentes
7536021 23/07/2011
21/02/2013
579 B 5,37% 2,45%
903628 R57614 Motor de tração 7531356 04/01/ 14/06/ 161 B 2,51% 2,27%
42
0022 af15-18 dentes 2013 2013
905312 R56612
5007 Motor de tração d87-17 dentes
96E34260
03/07/2012
05/07/2013
368 A 4,32% 14,65%
903504 R57612
5007 Motor de tração af15-20 dentes
EP91040647
19/02/2013
13/06/2013
114 B 2,47% 2,20%
905305 R57612
5007 Motor de tração af15-20 dentes
96E34168
03/10/2010
31/08/2013
1063 A 12,83
% 22,43%
905312 R56612
5007 Motor de tração d87-17 dentes
96K34133
05/07/2013
18/09/2013
74 B 2,52% 4,34%
903716 R57614
0022 Motor de tração af15-18 dentes
213093 19/12/2011
25/01/2014
767 B 3,01% 5,26%
903768 R57614
0023 Motor de tração e8a-18 dentes
7346918 08/09/2009
29/04/2011
598 B 4,65% 4,46%
905218 R56612
5007 Motor de tração d87-17 dentes
96L34195
07/06/2008
26/05/2011
1083 A 2,94% 15,00%
905301 R56612
5007 Motor de tração d87-17 dentes
96J12162
05/01/2010
05/09/2011
608 B 13,06
% 21,31%
903152 R57612
5010 Motor de tração 761-18 dentes
218208 18/01/2009
28/10/2011
1013 A 1,60% 1,71%
903152 R57612
5010 Motor de tração 761-18 dentes
7301315 13/02/2011
28/10/2011
257 A 5,69% 8,56%
903718 R57614
0022 Motor de tração af15-18 dentes
03j50584747
05/04/2009
27/10/2011
935 A 2,20% 2,17%
903156 R57612
5010 Motor de tração 761-18 dentes
7301198 06/09/2009
15/12/2011
830 B 2,56% 3,50%
905312 R56612
5007 Motor de tração d87-17 dentes
96K34336
04/08/2009
08/11/2011
826 B 3,07% 3,95%
905307 R56612
5007 Motor de tração d87-17 dentes
01B1583 13/05/2009
29/12/2011
960 B 0,36% 9,20%
905307 R56612
5007 Motor de tração d87-17 dentes
00N2909
28/09/2008
29/12/2011
1187 B 3,55% 7,11%
905307 R56612
5007 Motor de tração d87-17 dentes
96E34148
30/12/2010
29/12/2011
364 B 62,00
% 62,13%
903837 R57612
5007 Motor de tração af15-20 dentes
BB255000121
28/03/2012
24/04/2012
26 B 1,60% 2,09%
903837 R57612
5007 Motor de tração af15-20 dentes
BB255000121
24/04/2012
28/08/2013
491 A 1,64% 2,05%
903624 R57614
0022 Motor de tração af15-18 dentes
20440024
28/01/2013
06/08/2013
190 A 2,63% 3,26%
905245 R56612
5007 Motor de tração d87-17 dentes
96k34245
05/08/2011
06/03/2013
579 B 1,73% 2,26%
903601 R57614
0022 Motor de tração af15-18 dentes
7536021 21/02/2013
26/12/2013
307 A 4,84% 3,59%
903628 R57614
0022 Motor de tração af15-18 dentes
7531356 14/06/2013
27/08/2013
74 B 2,97% 3,37%
905312 R56612
5007 Motor de tração d87-17 dentes
96K34133
18/09/2013
05/11/2013
48 A 3,01% 4,24%
43
Mais claramente, as figuras 5.1 e 5.2 de dispersão abaixo mostram uma melhor
perspectiva dos fatores de potência dos motores de tração que tiveram modo de falha de
baixo isolamento e/ou aterrado.
Figura 5.1 – Dispersão dos valores de fator de potência para a excitação dos MT.
Figura 5.2 – Dispersão dos valores de fator de potência para a comutação dos MT.
44
Tem-se que este não era um resultado esperado. Acreditava-se que por serem
motores de tração que tiveram problemas de isolamento elétrico em suas carcaças, com
período médio de vida de 1 ano e 6 meses em operação, tempo este relativamente curto,
apresentassem um fator de potência mais elevado, seja nos enrolamentos de comutação
ou excitação. Obteve-se uma média de FP para a Excitação da máquina de 5,15% e
6,71% para a Comutação. Resultado inconclusivo para a análise da capacitância de um
isolamento, já que são números baixos e aceitáveis para se aprovar um isolante.
Aprofundando neste assunto na prática da oficina de reparação de componentes
elétricos da MRS, os especialistas de manutenção adotaram, a partir do ano de 2011,
uma convenção de não liberarem os motores de tração DC com fatores de potência
elevados. Portanto, motores com FP maiores que 10% seriam retrabalhados antes de
entrarem em operação.
Fazendo uma análise da planilha de Fator de potencia, considerando todos os
motores liberados pela oficina, é perceptível esta ação interna quando se olha os valores
de variância depois do ano de 2011 na tabela 5.4 e 5.5 abaixo:
Tabela 5.4 – Dados de FP Excitação.
Ano Dado Valor
2010 Média 5,13%
Variância 0,39%
2011 Média 3,67%
Variância 0,44%
2012 Média 3,40%
Variância 0,13%
2013 Média 4,26%
Variância 0,13%
2014 Média 3,60%
Variância 0,05%
45
Tabela 5.5 – Dados de FP Comutação
Ano Dado Valor
2010 Média 6,06%
Variância 0,50%
2011 Média 3,94%
Variância 0,52%
2012 Média 3,57%
Variância 0,13%
2013 Média 4,21%
Variância 0,25%
2014 Média 3,66%
Variância 0,08%
Percebe-se um decaimento nítido da variância dos valores a partir do ano de
2012, o que comprova a ação tomada pela oficina.
Com intuito de verificar a razoabilidade desta ação da oficina, que é uma ação
preventiva relacionando o fator de potência com a qualidade do isolamento elétrico,
porém sem embasamento técnico e experimental já que não há um estudo por trás da
decisão tomada, foi levantado a quantidade de motores instalados no período de 2010 a
2011 e 2012 a 2013 que obtiveram os modos de falha de baixo isolamento e
aterramento. A tabela 5.5 abaixo indica os valores obtidos.
Tabela 5.6 – Quantidade de motores instalados de 2010 a 2013 avariados.
Período de instalação dos MT
Quantidade de motores avariados com o
modo de falhas de baixo isolamento ou
aterramento
2010 – 2011 40
2012 – 2013 20
46
Os dados da tabela 5.6 comprovam uma relativa melhora de motores instalados a
partir de 2012, período em que a ação da oficina já estava em vigor. Entretanto, deve-se
considerar que estes motores tiveram menos tempo de uso, se comparados aos motores
instalados no período entre 2010 e 2011, portanto a conclusão a premissa que este
período teve a metade de motores avariados em relação ao outro é relativo.
Tendo em vista que o método do fator de potência em equipamentos do sistema
elétrico já é bem difundido e consolidado para avaliar a capacitância de isolamentos e
que, no uso em ferrovias, ainda é uma forma pioneira de se avaliar às condição dos
motores, isto pode mostrar algo que a operação dinâmica em locomotivas os
diferenciem na maneira em que o método é utilizado.
A manutenção preventiva é um das técnicas que mais se evoluem, e que
principalmente na ferrovia, está em completa transformação devido à dinâmica de como
os componentes se comportam durante o ciclo de operação, seja pelas condições
ambientais, desgaste e vida útil. A avaliação precisa dos custos envolvidos em qualquer
tipo de interrupção de processo, principalmente, quando se trabalha com conceitos
estatísticos, sem sombra de dúvida, resulta na necessidade de implantação ou alteração
de programas de manutenção preventiva.
47
Capítulo 6 Análise dos resultados
Os resultados obtidos e mostrados no capítulo anterior, realmente, não foram
aquilo esperado pela equipe de manutenção da MRS Logística. Porém, o fato dos
números não estarem nos limites aceitos gera uma indagação sobre todo o processo de
manutenção dos motores de tração DC no que se refere ao seu isolamento elétrico.
6.1. A limpeza do isolamento
Primeiramente, a limpeza do equipamento é uma questão crítica. Segundo
ALMEIDA “É importante que o equipamento fique isento de poeiras, teias de aranha,
fiapos de algodão, óleo, ou seja, sujeira em geral”. A sujeira cria uma camada nos
enrolamentos e/ou carcaça diminuindo a troca de calor com o ambiente, além de reter
umidade e provocar um curto-circuito, bem como, ser um elemento propagador de
incêndios. Desta forma, é conveniente limpar externamente o equipamento e, logo após,
as suas partes internas. Para tanto, usa-se ar comprimido seco e limpo, soprando-se o pó
e os resíduos do seu interior. É importante certificar-se que todas as passagens de ar
estão livres e desimpedidas. A remoção de poeiras pode ser feita com um aspirador de
pó ou com ar comprimido seco (com 29 a 40 psi de pressão), porém o último apresenta a
desvantagem de espalhar a poeira por outras máquinas ao redor.
Sujeiras encrostadas entre as passagens de ar da máquina devem ser removidas
com uma espátula de madeira ou de fibra. Não se deve usar pontas e raspadeiras
metálicas, pois estas podem ferir o isolamento.
A limpeza de graxas e óleos deve ser feita com pano isento de fiapos embebido
com um solvente recomendado, como o Varsol, a Benzina e o Tetracloreto de Carbono. O
uso de solvente em excesso arruína o verniz que compõe o isolante; portanto, deve se
usar a quantidade justa de solvente e em seguida enxugar com um pano seco.
48
O uso de solventes requer cuidados; os derivados de petróleo são inflamáveis e o
tetracloreto de carbono, que não é inflamável, é muito tóxico (deve ser usado em lugares
bem ventilados). No caso de isolamentos contaminados pela água do mar ou com lama
de inundações, estes devem ser lavados com água doce (com pressão de 29 a 40 PSI),
sendo necessária secagem posteriormente. “A secagem é a operação que tem por fim
retirar a umidade ocasionalmente depositada ou absorvida pelo isolamento.” [13]
Tendo em vista que, na MRS Logística, os MT não possuem nenhum tipo de
manutenção preventiva prevista para limpeza do seu isolamento, permanecendo o
mesmo até o fim da vida útil da locomotiva, quando se faz a manutenção pesada nas
chamadas RC4, este parece ser um dos principais fatores para o problema de baixo
isolamento nos motores.
Visto que a técnica de fator de potência é amplamente utilizada em equipamentos
de potência, estáticos, de subestações de energia e a sujeira já é um dos principais
fatores a se terem cuidado com a manutenção, percebe-se um grau mais elevado ainda
de atenção para os motores de tração de locomotivas, por possuírem operação dinâmica
e agentes contaminadores muito mais poderosos que poeira e outros contaminantes que
o ar possa levar. O minério, que é responsável por 80% da carga da empresa, está
presente em toda a operação das locomotivas, destacando-se os pontos de carregamento
e descarregamento da carga, onde o ambiente é certamente muito poluído.
Figura 6.1 - Carregamento de Minério.
49
Diante deste perigo eminente, propõe-se à equipe de manutenção da engenharia
de manutenção de locomotivas que insira em um dos seus escopos manutentivos a
limpeza dos isolamentos dos motores de tração. Uma sugestão seria implementá-lo nas
revisões C2, por serem intermediárias às R4 e possuírem um tempo maior de retenção
manutentiva nas oficinas. Para isto, deve-se fazer um estudo de viabilidade e verificar a
possibilidade de realizar o trabalho nas principais oficinas da empresa: unidades do
Horto Florestal em Belo Horizonte, Barra do Piraí no Rio de Janeiro, Lapa e Jundiaí,
ambas em São Paulo, já que os processos de manutenção em componentes são
realizados em oficinas específicas, necessitando o envio do componente de uma cidade
para outra, na maioria das vezes. Caso seja viável, este processo não atrasaria o tempo
de retenção das locomotivas nem ao menos prejudicaria a sua disponibilidade e oneraria
a equipe de operação da empresa.
6.2. O processo de medição do fator de potência
Como visto, a medição do fator de potência é medida depois da reparação do
motor, se tornando apenas um parâmetro de liberação do mesmo.
Para um monitoramento completo do estado do isolamento do motor, seria
necessário ter a medição que já é feita pela empresa, adicionada pela medição no fim da
vida útil do motor, assim que ele chega na oficina de reparação. Deste modo, teria-se
como avaliar o progresso da condição do isolamento e, também, a deteriorização de
acordo com o estado e a limpeza do motor. Assim, a engenharia da empresa terá dados
suficientes para calcular, experimentalmente, a vida útil do isolamento elétrico dos seus
motores, utilizando o mesmo método deste trabalho.
Porém, esta medição no fim da vida útil do motor não é feita por motivos já
citados: o fabricante do medidor do fator de potência adquirido pela empresa não dá
garantias e não recomenda a utilização do seu aparelho no equipamento sujo e
impregnado, alegando a possibilidade de causar mais danos ao componente, devido ao
alto potencial do teste e o isolamento estarem em condições de apresentar menor
resistência a uma corrente elétrica que poderia causar danos irreversíveis ao isolamento
aplicado.
50
Tendo em vista que a tensão nominal dos motores de tração DC é 750VCC e uma
condição ideal para se aplicar testes em isolantes sem causar danos ao isolamento
geralmente é em torno do dobro de sua tensão nominal, é recomendado fazer alguns
testes de leitura de fator de potência com uma tensão menor daquela utilizado até então
de 2000V. Segundo esta teoria, a tensão de 1500V poderia ser utilizada de forma a
apresentar resultados significativos e causar menos perigo ao isolamento. Se
comprovado nos testes a possibilidade desta utilização, o processo de monitoramento
do fator de potência se fecha, possibilitando melhores resultados para futuros estudos.
Outros problemas, mas que vem sendo sanado é o processo de preenchimento do
banco de dados do fator de potência que foi modificado no final do ano de 2013.
Identificou-se que os motores de tração possuíam até 3 números diferentes de
identificação, possibilitando a opção do manutentor em utilizar quaisquer destes
números ao preencher o check list do equipamento. Desta maneira, o mesmo
equipamento poderia retornar à oficina, ser preenchido com um número diferente
utilizado pelo primeiro manutentor, e as informações deste componente seriam
perdidas devido à numeração diferente utilizada. Então, iniciou-se o processo de
raspagem das numerações sobressalentes dos MT’s que chegavam à oficina de
reparação de componentes elétricos em Belo Horizonte, para que este problema de
desvio fosse contornado. Acredita-se que tal fato possa ter contribuído para a
diminuição da amostragem deste trabalho.
Além disto, a oficina de reparação de equipamentos elétricos deve fazer um
controle garantindo que todos os motores de tração retirados ou não por manutenção
corretiva devam passar pelo processo de medição do fator de potência. Há casos
evidentes de motores que possuem entrada no controle de FMEA da empresa, porém
não possuem seus dados de fator de potência na respectiva planilha de dados.
51
Capítulo 7
Conclusão
Ao apresentar as características de isolamento elétrico de um motor de tração de
locomotivas DC, tanto quanto aos fatores naturais que interferem na sua vida útil, pôde-
se avaliar seus desgastes quanto à capacidade de isolação de acordo com as condições de
uso em uma locomotiva.
O ciclo de trabalho das locomotivas da MRS Logística e seu processo de
manutenção dos motores elétricos de tração foram explanados para embasar a segunda
parte deste trabalho, que é buscar um parâmetro máximo de fator de potência dos
isolantes dos motores que podem ser liberados para cumprir seus ciclos de trabalho
depois de serem reparados. Este parâmetro buscado envolve várias outras variáveis
além da própria técnica, que são operacionais e, principalmente, econômicas.
Infelizmente, não foi possível encontrar o parâmetro buscado devido as falhas de
processo no levantamento, condicionamento e estratégia da leitura do fator de potência
dos motores de tração DC. Porém, o fato deste sistema de avaliação de isolantes ser
pioneiro no ramo de ferrovia no Brasil faz com que o processo ainda não esteja maduro
o suficiente, contento tentativas e erros.
O objetivo principal deste trabalho apesar de não ter chegado alcançado, serviu
para apontar alguns erros de processo da empresa MRS Logística. Uma vez sanados, a
empresa disponibilizará, ao longo do tempo, dados confiáveis e conclusivos para a busca
do fator de potência como parâmetro de manutenção preventiva contra falhas de baixo
isolamento e aterramento.
Uma vez implementada a limpeza dos motores de tração nos escopos de
manutenção preventivos intermediários tornará possível, também, fazer uma
comparação de vida útil dos motores antes e depois da ação tomada, identificando os
resultados trazidos à empresa.
52
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Utili, 2008.
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Manutenção / Operação de Geradores Elétricos de Corrente Continua Utilizados
em Locomotivas (Excitatriz e Gerador Auxiliar). UFMG. 2008.
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isolamento em motores de tração DC de Locomotivas. Belo Horizonte. 2011
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motores de tração DC de locomotivas. Belo Horizonte. 2011.
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Manser Manutenção e Serviço Ltda, 2008.
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Componentes de Locomotivas. Dissertação de Mestrado em Engenharia de
Transportes, IME. Rio de Janeiro, 2009.
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FMEA e FTA. Fundação Christiano Ottoni. Belo Horizonte. 1995.
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11. MARIOZA, O. Mecânica de locomotivas Diesel-elétricas. MRS Logística. Belo
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12. Site: http://aulete.uol.com.br/eletrosmose
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13. ALMEIDA, Antônio Tadeu Lyrio de. Manutenção em Equipamentos Elétricos,
Itajubá.