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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SISTEMÁTICA E EVOLUÇÃO
FUNGOS GASTERÓIDES (BASIDIOMYCOTA) NA CAATINGA: ESTUDO DE DUAS ÁREAS DE CONSERVAÇÃO
NO CEARÁ E PARAÍBA, BRASIL
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Dissertação de Mestrado Natal/RN, março de 2013
DÔNIS DA SILVA ALFREDO
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DÔNIS DA SILVA ALFREDO
FUNGOS GASTEROIDES (BASIDIOMYCOTA) NA CAATINGA:
ESTUDO DE DUAS ÁREAS DE CONSERVAÇÃO NO CEARÁ E
PARAÍBA, BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Sistemática e
Evolução da Universidade Federal do
Rio grande do Norte – UFRN, em
cumprimento às exigências para
obtenção do título de Mestre em
Sistemática e Evolução.
Natal – 2013
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Dedico aos meus pais José
Benedito Alfredo e Isabel S.
Alfredo por sempre acreditarem e
me incentivarem a chegar até
aqui.
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AGRADECIMENTOS
Aproveito para primeiramente agradecer ao Programa de Pesquisa em Biodiversidade
(PPBio/Semiárido) e ao Programa de Capacitação em Taxonomia (PROTAX) por
proporcionar o apoio financeiro para o desenvolvimento deste estudo, bem como, o auxílio
bolsa; e ao CTPETRO-INFRA E FINEP/LIEM por disponibilizar recursos para confecção das
fotografias em microscopia eletrônica de varredura (MEV).
Não poderia começar meus agradecimentos senão pelo meu orientador Dr. Iuri G.
Baseia. Pois, deste o primeiro momento depositou em mim confiança e credibilidade. Conheci
muitos profissionais, por vezes, com alta credibilidade e conhecimento na área em que
atuavam, mas não possuíam a mesma dedicação, integridade e humildade em sua profissão
como Dr. Iuri G. Baseia. Alguns profissionais da área não depositaram a menor credibilidade
em meu trabalho ou em meu aprendizado, mas o Prof. Dr. Iuri o fez. Soube me apoiar e
incentivar quando mais precisei e não só por isso eu o agradeço. Também, assim o faço pelos
ensinamentos e todos os momentos em que ele parou o que estava fazendo e me ouviu com
atenção, levando em consideração meus apontamentos. Propiciei a ele muito trabalho e isso
tenho consciência, mas espero profundamente que ele, de algum modo, fique satisfeito com os
resultados obtidos até aqui. Sem mais o que falar deste grande profissional deixo aqui meus
sinceros sentimentos de carinho e respeito.
À Tereza Cristina O. Galvão minha gratidão pela confecção de alguns desenhos
presentes nesta dissertação e por suas críticas construtivas.
Aos Professores Doutores Felipe Wartchow e Vagner G. Cortez, fico muito
agradecido por aceitarem a participarem da banca avaliadora; aos Professores Doutores Bruno
C. Bellini e Bruno T. Goto, obrigado por se disporem a participarem como suplentes.
Em especial sou eternamente grato ao meu pai José Benedito Alfredo, que muito se
esforçou para que de alguma forma pudesse me ajudar. Obrigado pai por ter me incentivado
sempre a continuar, em todos os momentos, tanto de alegrias, quanto de tristezas. Seu apoio
foi muito importante e espero retribuir tudo que me proporcionou até aqui. Sinto por não
poder estar ao seu lado durante essa fase, em que sua saúde não lhe ajuda a se manter em pé,
mas sei que está feliz por saber que estou me dedicando ao nosso sonho.
À minha mãe Isabel S. Alfredo, obrigado pelo carinho e suas orações, pois me
ajudaram a permanecer em meu trabalho de forma honesta e humilde. Mesmo não tendo
ciência a senhora me ensinou a ter consciência para com aqueles que estão a minha volta,
mais uma vez, obrigado por ser minha mãe.
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Aos meus irmãos, agradeço por sempre se preocuparem comigo e desejarem que eu
alcance o melhor. Em especial agradeço minha irmã Maria Tereza Alfredo, pois, desde que
cheguei a Natal, me ajudou de diversas maneiras e não deixou faltar um teto e um pedaço de
pão para continuar meus estudos.
Aos colegas do Laboratório de Biologia de Fungos: Ana Clarissa, Judcleidson, Julieth,
Marcelo, Marcos, Mariana, Natália, Rhudson, Tiara, Tiago e Yasmin, agradeço pelo
companheirismo e respeito mútuo. Agradeço a Luana Conrado por ter me ajudado com as
leituras finais de minha dissertação. Para finalizar, não poderia deixar de agradecer as amigas
Anileide e Bianca que desde o começo sempre me ajudaram em todos os aspectos e até hoje
continuam me ajudando. Aos colegas do Laboratório de Micorrizas obrigado. Muito sucesso a
todos.
À minha companheira e amiga Pamela Lavor obrigado pelo incentivo, dedicação,
paciência e por compartilhar todos os momentos durante esse período.
Para terminar tenho minha infinita gratidão a Deus por me manter firme diante das
turbulências da vida, ter me dado saúde e perseverança.
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...Combati um bom combate,
terminei a corrida, guardei a fé.
(2Tm 4:7).
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Resumo
Os fungos gasteroides constituem um agrupamento de vários clados de Basidiomycota com
origens evolutivas distintas (grupo polifilético). Embora, seus táxons apresentem uma grande
diversidade morfológica, por muito tempo foram agrupados como uma classe bem definida,
denominada Gasteromycetes, com base nos basidiomas angiocárpico e dispersão passiva dos
esporos (estatismósporos). A região Nordeste do Brasil possui áreas consideradas de extrema
importância biológica com grande riqueza de espécies e sem estudos sobre fungos
gasteroides. A Caatinga, que foi foco desta pesquisa, possui até então, vinte e cinco espécies
registradas. Desta forma, o presente estudo teve como objetivo fazer um levantamento dos
fungos gasteroides em duas áreas de brejo de altitude consideradas de extrema importância
biológica: APA da Serra de Ibiapaba, no Estado do Ceará e Reserva Ecológica Estadual Mata
do Pau-Ferro, no Estado da Paraíba. Excursões foram realizadas no período de abril a
junho/2012 e resultaram em 103 coletas de fungos gasteroides. As análises microscópicas
utilizaram microscopia eletrônica de varredura a fim de observar detalhes difíceis de serem
percebidos com a microscopia óptica. Foram identificadas 17 espécies representadas pelas
famílias: Clathraceae, Geastraceae, Lycoperdaceae, Phallaceae e Rhizopogonacea. O gênero
com maior número de espécies coletados foi Geastrum (Geastraceae) com nove espécies,
seguidas por: Morganella (Lycoperdaceae) com duas espécies. Os demais gêneros:
Abrachium, Calvatia, Lycogalopsis, Mutinus e Phallus foram representados por uma espécie
cada. Calvatia cava sp. nov. e Morganella nuda sp. nov. são espécies novas para a ciência.
Rhizopogon luteolus e Lycogalopsis sp. são primeiros registros para região Nordeste e
Caatinga. Geastrum morganii, G. pectinatum, G. rusticum e Mutinus caninus são primeiros
registros para Caatinga. Para a região Nordeste houve um aumento de quatro espécies (5.7%)
totalizando 74 espécies de fungos gasteroides para a região. Para a Caatinga houve um
acréscimo de oito espécies (32%) totalizando 33 espécies. Com isto, as regiões de brejos de
altitude em áreas de Caatinga mostraram-se propícias para estudos sobre fungos gasteroides,
desta forma, novos estudos devem ser realizados em áreas de brejo de altitude a fim de
melhorar o esforço amostral, ampliando o conhecimento sobre os fungos gasteroides nestas
áreas.
Palavras-Chave: Agaricomycetes – Brejo de altitude – Gasteromycetes – Nordeste –
Taxonomia.
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Abstract
Gasteroid fungi consist of several clades of Basidiomycota with distinct evolutionary origins
(polyphyletic group). Even though their taxa exhibit wide morphological diversity, for a long
time they were grouped into one well-defined class, denominated Gasteromycetes, based on
angiocarpic basidiomata and passive spore dispersal (statismospores). The northeast region of
Brazil areas considered of extreme biological importance, with considerable species richness,
but lacking in studies on gasteroid fungi. The Caatinga, the focus of this study, has twenty-
five recorded species. Thus, the aim of the present study was to carry out a survey of gasteroid
fungi in two highland areas considered of extreme biological importance: Serra de Ibiapaba
Environmental Protection Area, in Ceará State and Mata do Pau-Ferro State ecological
Reserve, in Paraíba State. Excursions were conducted between April and June 2012, resulting
in 103 samples of gasteroid fungi. Microscopic analyses used scanning electronic microscopy
in order to observe details that are difficult to perceive with optical microscopy. We identified
17 species belonging to the following families: Clathraceae, Geastraceae, Lycoperdaceae,
Phallaceae and Rhizopogonaceae. The genus with the largest number of species collected was
Geastrum (Geastraceae) with nine, followed by Morganella (Lycoperdaceae) with two. The
remaining genera: Abrachium, Calvatia, Lycogalopsis, Mutinus and Phallus were represented
by one species each. Calvatia cava sp nov. and Morganella nuda sp. nov. are new species for
science. Rhizopogon luteolus and Lycogalopsis sp. are the records for the Northeast region
and the Caatinga. Geastrum morganii, G. pectinatum, G. rusticum and Mutinus caninus are
the first records for the Caatinga. There was an increase of four species (5,7%) for the
Northeast region, totaling 74 species of gasteroid fungi. For the Caatinga there was an
increase of eight species (32%), totaling 33. The highlands of the Caatinga were propitious for
studies on gasteroid fungi and, as such, further surveys should be carried out in these areas in
order to increase sampling effort, thereby widening our knowledge of gasteroid fungi in these
regions.
Keywords: Agaricomycetes – Gasteromycetes – Northeast – Taxonomic – Upland forests.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Mapa de distribuição da caatinga no Brasil. ........................................................... 19
Figura 2 – Exemplos de fitofisionomias de Caatinga em brejos de altitude. a. Floresta
Nacional do Araripe-Chapada do Araripe/CE; b. Parque Nacional da Serra das Confusões/PI.
.................................................................................................................................................. 20
Figura 3 – Esquema de formação dos brejos de altitude na caatinga. ...................................... 21
Figura 4 – Alguns exemplos de diversidade de morfologias em fungos gasteroides. a. Podaxis
sp.; b. Mutinus sp.; c. Geastrum sp.; d. Rhizopogon sp. ........................................................... 25
Figura 5 – Partes básicas de um basidioma. a. Lycoperdon perlatum – exoperídio (exo);
endoperídio (end); juntos formam perídio (p); gleba (g); base estéril ou subgleba (sub). b.
ornamentação do perídio (or). c. Geastrum triplex – endoperídio (end); mesoperídio (me);
raios inicialmente sacados, tornando-se revolutos com o tempo (rs); raios (r). ....................... 27
Figura 6 – Tipos de ornamentação do exoperídio e endoperídio. a – c Morganella compacta.
a. basidioma de M. compacta – Foto retirado do material tipo (Holótipo-PDD10140); b.
detalhe do exoperídio espinhoso; c. detalhe do endoperídio areolado; d – f M. albostipitata. d.
Basidioma de M. albostipitata; e. detalhe do exoperídio tomentoso; f. detalhe do endoperídio
liso. ........................................................................................................................................... 28
Figura 7 – a. Abrachium floriforme – perídio permanecendo na maturidade como volva (v); b
basidioma imaturo ou “ovo” em corte transversal – perídio (p), mesoperídio gelatinoso (me),
endoperídio hialino (end). c. Mutinus caninus – volva (v), ápice do basidioma com linha
delimitando a porção fértil ou gleba (g); d. basidioma imaturo ou “ovo” – perídio (p). .......... 29
Figura 8 – Exemplos de basidiomas com presença e ausência da base estéril ou subgleba. a.
Calvatia cyathiformis f. cyathiformis – porção fértil ou gleba (g), base estéril ou subgleba
celular (sub); b. Rhizopogon luteolus – basidioma com subgleba ausente, apresentando apenas
porção fértil ou gleba labirintiforme (g); c. Morganella fuliginea – porção fértil ou gleba (g),
base estéril ou subgleba compacta (sub). Todas as barras representam 10 mm. ...................... 31
Figura 9 – a – b. Basidiomas estipitados; c – d. Basidiomas com micelio basal modificado. a.
Mutinus sp. pseudoestipe (pe) esponjoso com paredes em camaras abertas; b. Tulostoma sp.
com estipe verdadeiro (pe), formado por hifas entrelaçadas; c. Calvatia cyathifomis f. fragilis
com rizormofa (ri); d. Lycogalopsis sp. Com subículo esbranquiçado (sc) sobre a madeira
morta. ........................................................................................................................................ 32
Figura 10 – Exemplos de hifas esqueleteas (capilício e perídio) e generativas (paracapilício).
a. Paracapilício de Morganella nuda. b. Capilício de Geastrum triplex . c. Capilício de
Calvatia sp., com ramificações e septos indicados pelas setas. d. Capilício de C. cyathiformis
f. cyathiformis, com poros e septos indicados pelos setas. e. Perídio (camada micelial) de G.
saccatum. f. Perídio (exoperídio) de Calvatia sp. .................................................................... 34
10
Figura 11 – Exemplos de exoperídio, endoperídio e micoesclereídeos em fungos gasteroides.
a – c. Calvatia cyathiformis f. cyathiformis; a. Hifas pseudoparenquimatosa (ppa.) suportadas
por esferocistos (esf.) (lâmina montada a partir de verrugas do exoperídio); b.
Micoesclereídeos; c. Hifas entrelaçadas do endoperídio; d. Geastrum triplex – esferocistos da
camada pseudoparenquimatosa; e. Morganella compacta – hifas entrelaçadas do endoperídio,
paredes delgadas (< 0,5 µm espessura) – desenho feito a partir do holótipo PDD 10140; f. M.
nuda – hifas pseudoparenquimatosas (ppa.) surgindo a partir do endoperídio (end.) em
basidioma jovem. Desenho feito em câmara clara. .................................................................. 35
Figura 12 – Exemplos de basidiósporos. a. Geastrum triplex. b. Morganella nuda. c. M.
compacta (desenho a tipo PDD 10140). d. Calvatia sp. Desenhos feitos em câmara clara. .... 37
Figura 13 – Exemplos de fotos em Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) de
basidiósporos de fungos gasteroides. a. Geastrum triplex; b. Morganella nuda; c. Morganella.
compacta (retirado do tipo Holótipo-PDD10140); d. Calvatia sp. .......................................... 38
Figura 14 – Exemplos de basidiósporos em Microscópio óptico. a. Geastrum triplex; b.
Calvatia sp.; c. Morganella fuliginea; Rhizopogon luteolus. Confeccionadas em objetiva
100×. ......................................................................................................................................... 39
Figura 15 – Áreas de Coleta. a. APA da Serra de Ibiapaba, Tianguá/CE; b. Reserva Ecológica
Estadual Mata do Pau-Ferro, Areia/PB. ................................................................................... 49
Figura 16 – Localização geográfica das áreas de coletas. Os pontos vermelhos e azuis
representam as trilhadas onde foram realizadas as coletas. APA Serra de Ibiapaba CE –
trilha do Riacho, trilha Pindoguaba e trilha do IFCe; Reserva Ecol. Est. Mata do Pau-Ferro –
trilha do Cumbe e trilha da Boa Vista. ..................................................................................... 50
Figura 17 – Metodologia de coleta. a. Procura por fungos gasteroides em serrapilheira; b.
Caixa plástica para armazenamento dos basidiomas coletados, canivete para retirada do
basidioma do substrato, caderno para anotações e régua milimetrada para medições. ............ 51
Figura 18 – Equipamentos de uso no laboratório. a. Desidratador para secagem dos
basidiomas; b. Estereomicroscópio (lupa); c. Microscópio Nikon “ Eclipse Ni” acoplado ao
microcomputador para captura de imagens. ............................................................................. 53
Figura 19 – Gráfico das Famílias identificadas. ....................................................................... 54
Figura 20 – Basidiomas e microestruturas de Calvatia cava. a. Basidioma sobre folha em
decomposição; b. Basidioma em corte transversal, setas indicando a base estéril oca; c.
Esferocistos do exoperídio; d. Hifas do capilício noduloso indicado pelas setas, septado e com
poros ocasionais. ....................................................................................................................... 59
Figura 21 – Microestruturas de Calvatia cava. a. Cadeia de células do exoperídio; b. Capilício
com nódulos, septos, poros e ramificado; c. Basidiósporos punctado. .................................... 60
11
Figura 22 – Fotos das microestruturas Calvatia cava em Microscópio Eletrônico de Varredura
(MEV). a. Capilício ramificado; b–c. Capilício noduloso (indicado pelas setas); d.
Basidiósporos. .......................................................................................................................... 61
Figura 23 – Basidiomas e microestruturas Lycogalopsis sp. a Basidioma sobre subículo em
madeira morta; b. basidioma em corte transversal; c–d. Exoperídio com grampos de conexão;
e. Basídios, basidiósporos e hifas do capilício; f. Microscopia eletrônica de varredura dos
basidiósporos. As barras em a e b representam 10 mm. ........................................................... 64
Figura 24 – Basidioma Morganella fuliginea. a. Corte transversal em espécime seco; b.
Detalhe do perídio e subgleba; c. Desenvolvimento gregário e cespitoso (espécimes frescos).
As barras representam 10 mm. ................................................................................................. 67
Figura 25 – Fotos microestruturas e microscopia eletrônica de varredura (MEV) Morganella
fuliginea. a. Esferocistos do exoperídio; b. Paracapilício septado; c. Basidiósporos
equinulados; d. Detalhes dos basidiósporos em MEV. As barras representam 10 µm. ........... 68
Figura 26 – Microestruturas Morganella fuliginea. a. Cadeias de células
pseudoparenquimatosas do exoperídio; b. Paracapilício septado e algumas vezes ramificado;
c. Basidiósporos equinulados e algumas vezes pedicelados. Desenho em câmara clara. As
barras representam 10 µm. ....................................................................................................... 69
Figura 27 – Basidiomas e microestruturas Morganella nuda. a. Basidiomas frescos, com
ausência do exoperídio; b. Basidioma seco, com remanescentes do exoperídio na porção
basal, indicado pela seta; c. Basidiósporos com pedicelos, em microscópio de luz (ML) sob
lente 1000 ×; d. Detalhe dos basidiósporos em microscopia eletrônica de varredura (MEV). 72
Figura 28 – Microestruturas de Morganella nuda. a. Esferocistos do exoperídio; b.
Esferocistos surgindo a partir do endoperídio; c. Paracapilício septado, com substâncias
hialinas e amorfas presentes; d. Basidiósporos equinulados, algumas vezes pedicelados. ..... 73
Figura 29 – Basidiomas e Microestruturas de Geastrum hirsutum. a Basidiomas; b. Capilícios;
c. Basidiósporos. ....................................................................................................................... 76
Figura 30 – Fotos e MEV das microestruturas Geastrum hirsutum. a. Capilícios; b. Hifas do
exoperídio hirsuto; c. Basidiósporos verrucosos; d. Hifas do endoperídio; e. Basidiósporos
verrucosos; f. Capilício verrucoso. ........................................................................................... 77
Figura 31 – Basidioma Geastrum javanicum. a. Basidiomas imaturo e expandido com
peristômio delimitado; b. Basidiomas expandidos com peristômio tanto delimitado quanto não
delimitado (ndel.); c. Capilícios; d. Basidiósporos verrucosos. ............................................... 80
Figura 32 – Fotos e MEV das microestruturas Geastrum javanicum. a. Capilícios; b.
Basidiósporos minuciosamente verrucosos; c. endoperídio; d. Basidiósporos verrucosos; e.
Capilício com substância amorfo incrustada. ........................................................................... 81
Figura 33 – Basidiomas e microesturturas Geastrum lageniforme. a. Basidiomas imaturos
sobre serrapilheira com apenas um basidioma aberto (APA de Ibiapaba). b. Basidioma aberto
12
sobre serrapilheira (Res. Ecol. Est. Mata do Pau-Ferro); c Capilícios; d. Basidiósporos com
verrugas colunares irregulares. ................................................................................................. 83
Figura 34 – Fotos e MEV das microestruturas Geastrum lageniforme. a. Capilícios; b.
Basidiósporos com verrugas irregulares; c. Hifas do endoperídio; d. Basidiósporos; e.
Capilícios com substância amorfa incrustada. .......................................................................... 84
Figura 35 – Basidiomas e microestruturas Geastrum morganii. a. Basidiomas coletados em
serrapilheira na APA Serra de Ibiapaba/CE; b. Basidioma coletado no solo na Res. Ecol. Est.
Mata do Pau-ferro/PB; c. Capilícios; d. Basidiósporos com verrugas irregulares. .................. 86
Figura 36 – Fotos e MEV das microestruturas Geastrum morganii. a. Capilícios entre os
basidiósporos; b. Basidiósporos com verrugas irregulares; c. Hifas do endoperídio; d.
Basidiósporos; e. Capilício. ...................................................................................................... 87
Figura 37 – Basidioma e microestruturas Geastrum pectinatum. a. Basidioma seco; b. Detalhe
do endoperídio estipitado e peristômio sulcado; c. Basidioma fresco; d. Capilícios; e.
Basidiósporos verrucosos. ........................................................................................................ 89
Figura 38 – Fotos e MEV das microestruturas Geastrum pectinatum. a. Capilício; b.
Basidiósporos com verrugas irregulares; c. Hifas do endoperídio; d. Basidiósporos com
verrugas colunares; e. Capilício com superfície áspero e substância amorfa incrustada. ........ 90
Figura 39 – Basidiomas e microestruturas Geastrum rusticum. a. Basidiomas imaturos e
expandidos com hábito gregário; b. Detalhe do desenvolvimento adnato dos basidiomas
imaturos e semiabertos; c. Basidioma expandido; d. Capilício com substância amorfa
incrustada; d. Basidiósporos com verrugas irregulares. ........................................................... 93
Figura 40 – Fotos e MEV das microestruturas Geastrum rusticum. a. Capilício com substância
amorfa incrustada; b. Basidiósporos com verrugas irregulares, alguns com substância amorfa
incrustada; c. Hifas do endoperídio; d. Basidiósporos com verrugas colunares irregulares
(colunas ligadas umas as outras), apículo proeminente. ........................................................... 94
Figura 41 – Basidiomas e microestruturas Geastrum saccatum. a. Basidiomas com hábito
gregário e de hábitat em serrapilheira; b. Detalhe do basidioma com peristômio delimitado; c
Capilícios; d. Basidiósporos com verrugas irregurales. ........................................................... 96
Figura 42 – Fotos e MEV das microestruturas Geastrum saccatum. a. Capilício com parede e
lúmen evidentes; b. Basidiósporos com verrugas irregulares; c. Capilício com substância
amorfa incrustada; d. Hifas do endoperídio; e. Basidiósporos com verrugas colunares
irregulares. ................................................................................................................................ 97
Figura 43 – Basidiomas e microestruturas Geastrum shweinitzii. a. Basidiomas imaturos e
expandidos; b, d. Capilícios; c, e. Basidiósporos com minuciosas verrugas irregulares........ 100
Figura 44 – Fotos das microestruturas em MEV Geastrum schweinitzii. a. Capilício incrustado
com substância amorfa; b. Hifas do endoperídio; c. Basidiósporo com minuciosas verrugas
colunares. ................................................................................................................................ 101
13
Figura 45 – Basidiomas e microestruturas Geastrum triplex. a. Basidiomas imaturos em
formato lageniforme, indicado pelas setas; b. Detalhe do basidioma aberto com o “colar”
pseudoparenquimatoso indicado pela seta; c, e. Capilícios; d, f. Basidiósporos com substância
amorfa incrustada e verrugas irregulares. ............................................................................... 103
Figura 46 – Fotos das microestruturas em MEV Geastrum triplex. a. Capilício com substância
amorfa incrustada; b. Hifas do endoperídio; c. Basidiósporo com verrugas colunares
irregulares. .............................................................................................................................. 104
Figura 47 – Basidiomas e microestruturas Abrachium floriforme. a, b. Basidiomas; c.
Basidiósporos. ........................................................................................................................ 106
Figura 48 – Basidioma e basidiósporos Mutinus caninus. a. Basidioma; b. Basidiósporos. .. 109
Figura 49 – Basidioma e Basidiósporos Phallus indusiatus. a. Basidioma; b. Basidiósporos.
................................................................................................................................................ 111
Figura 50 – Basidiomas de Rhizopogon luteolus. a – b. basidiomas frescos; b. basidioma com
gleba gelatinizada; c – d. Basidioma seco; d. Basidioma em corte transversal, com gleba
labirintiforme. ......................................................................................................................... 114
Figura 51 – Fotos e MEV das microestruturas Rhizopogon luteolus. a. Hifas do perídio, septos
e grampos de conexão indicados pelas setas; b. Paráfise no trama, indicado pela seta; c.
Basídio com e basidiósporos indicado pela seta; d, e. Basidiósporos lisos, elípticos e
truncados. ................................................................................................................................ 115
Figura 80 – Numero de espécies registradas por substrato. ................................................... 119
14
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Tipos de capilício conforme Krüger et al. (2001) e Bates et al. (2009). ................ 36
Tabela 2 – Registros das espécies de Geastrum na APA da Serra de Ibiapaba e Res. Ecol. Est.
Mata do Pau-Ferro. ................................................................................................................. 118
Tabela 3 – Nome das espécies registrados em cada substrato. ............................................... 119
15
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 16
2 REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................................... 18
2.1 CARACTERIZAÇÃO DO BIOMA DA CAATINGA ............................................. 18
2.1.1 Brejos de Altitude ............................................................................................... 21
2.2 CARACTERIZAÇÃO DOS FUNGOS GASTEROIDES ......................................... 23
2.2.1 Caracteres macromorfológicos ........................................................................... 26
2.2.2 Caracteres micromorfológicos ............................................................................ 33
2.2.3 Importância dos fungos gasteroides ................................................................... 40
2.2.4 Histórico dos estudos sobre gasteromicetos no Brasil ....................................... 43
3 OBJETIVOS...................................................................................................................... 47
3.1 GERAL ...................................................................................................................... 47
3.2 ESPECÍFICOS ........................................................................................................... 47
4 MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................................. 48
4.1 ÁREAS DE ESTUDO ............................................................................................... 48
4.1.1 Área de Proteção Ambiental da Serra de Ibiapaba ............................................. 48
4.1.2 Reserva Ecológica Estadual Mata do Pau-ferro ................................................. 48
4.2 COLETA DOS ESPÉCIMES .................................................................................... 50
4.3 IDENTIFICAÇÃO DOS ESPÉCIMES ..................................................................... 52
5 RESULTADOS ................................................................................................................. 54
5.1 LISTA DOS TÁXONS IDENTIFICADOS .............................................................. 54
5.2 DESCRIÇÃO E COMENTÁRIOS DAS ESPÉCIES IDENTIFICADAS ................ 56
5.2.1 Lycoperdaceae Chevall....................................................................................... 56
5.2.2 Geastraceae Corda .............................................................................................. 74
5.2.3 Clathraceae ....................................................................................................... 104
5.2.4 Phallaceae ......................................................................................................... 107
5.2.5 Rhizopogonaceae .............................................................................................. 112
5.3 Discussão ................................................................................................................. 116
6 Conclusões ...................................................................................................................... 121
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 122
16
1 INTRODUÇÃO
Os fungos gasteroides, embora estejam atualmente classificados em clados com origens
evolutivas distintas, possuem algumas características em comum, como o corpo de
frutificação angiocárpico (onde os esporos se desenvolvem no interior do himenóforo) que
permanece fechado até a completa maturação dos basidiósporos, e a natureza angiocárpica
dos basidioma originou o termo “Gasteromycetes”, pelas combinações de “gaster” =
estômago e “mycetes” = fungo (MILLER; MILLER, 1988). Outra característica é a ausência
de um mecanismo de dispersão ativa dos esporos (balistosporia), já que estes apresentam
liberação passiva dos esporos (estatismosporia), se contrapondo a maioria dos clados de
basidiomicetos (ALEXOPOULOS et al., 1996), que mantiveram a liberação ativa dos esporos
ao contrário de linhagens de basidiomicetos gasteroides, que perderam o apêndice hilar ao
longo do processo evolutivo (HIBBETT et al., 1997; WEBSTER; WEBER, 2007).
Após relevantes mudanças causadas na taxonomia do grupo dos gasteromicetos, com
suporte de técnicas de análises moleculares (HIBBETT et al., 1997), a antiga classe
“Gasteromycetes” deixou de ser considerada como tal e seus representantes foram
reorganizados dentro de Agaricomycetes, em suas várias ordens e famílias (HIBBETT et
al.,1997; HOSAKA et al., 2006; HIBBETT et al., 2007). Desta forma, vários clados de fungos
gasteroides se encontram atualmente inseridos na ordem Agaricales Underw.
Estima-se que 232 espécies de fungos gasteroides estejam distribuídas no Brasil, sendo
que o Estado com maior representatividade é Rio Grande do Sul com 57,3% das espécies; por
sua vez, a região Nordeste, possui 21,5% deste total (TRIERVEILER-PEREIRA; BASEIA
2009a). Entretanto, estudos adicionais foram realizados aumentando a representatividade da
região Nordeste com os trabalhos de: Trierveiler-Pereira e Baseia (2009b), Trierveiler-Pereira
et al. (2009), Ottoni et al. (2010), Trierveiler-Pereira et al. (2010), Barbosa et al. (2011), Silva
et al. (2011), Trierveiler-Pereira et al. (2011), Trierveiler-Pereira e Baseia (2012); que
totalizam aproximadamente 70 espécies de fungos gasteroides para região.
O objetivo do presente estudo é inventariar os fungos gasteroides em duas áreas de
extrema importância biológica em brejo de altitude na Caatinga: Área de Proteção Ambiental
da Serra de Ibiapaba – Tianguá, CE; e Reserva Ecológica Estadual Mata do Pau-Ferro –
Areia, PB.
Neste contexto, o bioma da caatinga, que é exclusivamente brasileiro, quando
comparado com outros biomas condicionados aos mesmos fatores climáticos e edáficos,
mostra-se rico em sua biodiversidade e altamente endêmico (CASTELLETTI et al., 2003;
17
ALVES et al., 2009), abrangendo os Estados do Ceará, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Piauí,
Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte e parte do nordeste de Minas Gerais, sendo limitada a
leste e oeste pelas florestas Atlântica e Amazônica (respectivamente) e ao sul pelo Cerrado
(TABARELLI; SILVA, 2002; LEAL et al., 2005). Contudo, a Caatinga ainda se encontra
entre os biomas brasileiros mais degradados e menos conhecidos (MMA, 2002, 2007).
Visto a intensa degradação de sua cobertura vegetação e do solo pela antropização e
necessidade crescente na obtenção de áreas para agronomia e pecuária, causa forte
desequilíbrio ecológico (ALVES et al., 2009), no qual, influencia diretamente na ocorrência e
diversidade das espécies de animais, plantas e, consequentemente, das espécies de fungos da
região, já que as plantas constituem o hábitat e fonte de energia para a maioria dos fungos,
que por sua vez, possuem certo grau de especificidade com hospedeiros e/ou substratos
(MUELLER et al., 2004).
O baixo conhecimento sobre a diversidade no bioma caatinga é reflexo histórico de
poucos trabalhos de inventários realizados neste bioma; num levantamento para elaboração de
áreas prioritárias para a conservação, o Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2002) lista os
trabalhos de inventários como uma primeira instancia para estas áreas, sendo fundamental que
se conheça melhor os processos e peculiaridades da biodiversidade na Caatinga (VELLOSO
et al., 2002).
O reconhecimento da falta de informações básicas sobre a caracterização dos
ecossistemas do Nordeste, sobre sua biodiversidade e potencialidade dos seus recursos
naturais, provocou um atraso científico e tecnológico em relação às outras Regiões do país, o
que levou o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) a implantar, em novembro de 2001, o
Instituto do Milênio do Semiárido (IMSEAR) e, posteriormente, o Programa de Pesquisa em
Biodiversidade do Semiárido (PPBio/Semiárido) que vem dando continuidade as ações do
programa de biodiversidade iniciadas pelo IMSEAR e que viabilizou a realização do presente
trabalho.
18
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 CARACTERIZAÇÃO DO BIOMA DA CAATINGA
O bioma da caatinga, que se encontra totalmente incluído na região semiárida, até pouco
tempo atrás era (devido a falta de estudos), erroneamente, considerado como o bioma mais
pobre em biodiversidade do Brasil. No entanto, nos últimos anos, o Brasil tem mostrado uma
maior preocupação com esta situação e ações coordenadas de governo têm sido apresentadas;
destacando-se o programa do Ministério do Meio Ambiente, no sentido de identificação das
áreas prioritárias para conservação no Bioma da Caatinga, o que propiciou a detecção de 57
áreas nos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Bahia e
Minas Gerais, sendo 27 de Extrema Importância Biológica (MMA, 2002).
Até pouco tempo atrás, alguns autores, como Leal et al. (2003), Leal et al. (2005)
afirmavam que a Caatinga era a área natural menos estudada no Brasil, apresentando naquele
momento, apenas 2% de sua área em unidades de conservação, dados que são corroborados
por MMA (2007). Atualmente segundo Menezes et al. (2010), a Caatinga possui cerca de 5%
de sua área em UCs, consequentemente, a área menos protegida e num processo continuo de
alteração e deterioração ambiental provocado pelo uso indiscriminado de seus recursos
naturais, levando à perda de espécies únicas e formação de extensos núcleos de desertificação.
Desde o trabalho de Leal et al. (2003) se passou uma década e neste período tivemos a
criação e ampliação (como o Parque Nacional Serra das Confusões, localizado no Estado do
Piauí que ampliou cerca de 300 mil hectares, totalizando cerca de um milhão de hectares) de
novas Unidades de Conservação (UCs), que segundo ICMBio (2013), totalizam hoje um total
de 24 UCs, sendo cinco criadas a partir de nessa ultima década, respectivamente Floresta
Nacional (Flona) dos Negreiros, localizado no Estado de Pernambuco (criada em 2007), Flona
de Palmares, no Piauí (criada em 2005), Área de Proteção Ambiental (APA) Serra da
Meruoca, no Ceará (criada em 2008), Monumento Natural (MN) do Rio São Francisco,
engloba os Estados de Alagoas, Bahia e Sergipe (criada em 2009), Parque Nacional da Fuma
Feia, no Rio Grande do Norte (criada em 2012), e o desenvolvimento de projetos de longa
duração visando a ampliação do conhecimento da biodiversidade, principalmente nas áreas
consideradas de extrema importância biológica que possuem alta taxo de diversidade de
espécies e de espécies endêmicas. Desta forma, são necessários estudos que avaliem
19
novamente o percentual de UCs no bioma Caatinga em relação aos demais biomas brasileiros,
a fim de constar a situação atual.
A Caatinga ocupa uma extensão territorial aproximada de 750.000 Km2, abrange os
Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe,
Bahia, Minas Gerais e Maranhão (PRADO, 2003; LEAL et al., 2005; ALVES et al., 2009),
ocupando assim 13% do território nacional e 70% da região Nordeste [Figura 1] (ALVES,
2007). Sua flora é completamente adaptada a ambientes característicos do nordeste brasileiro
(semiárido). Segundo Veloso et al. (1991) esta vegetação teria migrado da região norte
amazônico, originadas de plantas com dispersão pantropical.
Figura 1 – Mapa de distribuição da caatinga no Brasil.
Mapa: Julieth O. Sousa.
A flora da Caatinga é composta de florestas sazonalmente secas, arbustos espinhosos
(LEAL et al., 2005), ou seja, sua cobertura vegetal é xerófila, mas também ocorrem as
florestas de relevos (florestas perenifólias, subperenifólias dos brejos de altitude - expostas ao
fluxo de ar úmido), florestas semidecíduais, as florestas ripárias e os cerrados (ALVES et al.,
20
2009). O nome caatinga vem do termo tupi-guarani “CAA” quer dizer mata e “TINGA” quer
dizer branca, uma inferência a paisagem da vegetação que perde suas folhas e fica com
aspecto seco durante o período estiagem (Fig. 2) (ALVES, 2007).
Figura 2 – Exemplos de fitofisionomias de Caatinga em brejos de altitude. a. Floresta Nacional do Araripe-
Chapada do Araripe/CE; b. Parque Nacional da Serra das Confusões/PI.
Foto: Dônis Alfredo.
O relevo da Caatinga apresenta terrenos cristalinos, semi-impermeáveis, sedimentares e
reserva de água subterrânea. Com solos pouco desenvolvidos (com algumas exceções), com
fraca retenção de água, mineralmente ricos, pedregosos, e pouco espessos (ALVES, 2007;
ALVES et al., 2009). A presença de arenito é datado do Período Cretáceo sobreposta por
rochas cristalinas do Éon Pré-Cambriano (MARES et al., 1985).
21
As isoietas (linhas de igual volume de precipitações médias anuais) são de 750-800 mm
que envolvem desde nordeste de Minas Gerais e o vale médio inferior do São Francisco até o
Ceará e o Rio Grande do Norte (AB’SÁBER, 2003), contudo, devido as vertentes a
barlavento das serras e chapadas recebem maiores precipitações (Fig. 3), podendo chegar a
1000 mm (nos brejos de altitude), devido a chuvas de convecção forçada chamadas chuvas
orográficas ou de relevo (ALVES et al., 2009).
Figura 3 – Esquema de formação dos brejos de altitude na caatinga.
Fonte: Porto et al. (2004).
2.1.1 Brejos de Altitude
As áreas “alto-montana dos inselbergs”, popularmente conhecidos como “brejos de
altitude”, apresentam dois contrastes ecológicos marcantes: os situados ao norte com
cobertura florística amazônica, p. ex., Serra de Ibiapaba, Serras dos Rosários e Uruburetama,
que possuem suas fáceis voltada para o mar, localizada ao norte da região no Estado do Ceará;
e o inselberg residual situado no interior do Estado da Bahia. (VELOSO et al., 1991).
Segundo os mesmos autores a região apresentava dois tipos climáticos - um que durante todo
o Paleozóico até o final do Mesozóico apresentava altitudes superiores as atuais, sendo o mais
antigo; e outro mais recente, no qual se iniciou ao final do Período Cretáceo e terminou ao
final do Período Pliopleistoceno, por conseguinte, apresentando na atualidade áreas pluviais
de super-úmidas a úmidas (precipitação anual média superior a 1500 mm) na costa florestal
atlântica até as caatingas interioranas.
22
A Mata Atlântica nordestina é composta pelos brejos de altitude (TABARELLI;
SANTOS, 2004; CÂMARA, 2005), que são “ilhas” de floresta úmida cercada por vegetação
de caatinga típica, considerada disjunção ecológica da Mata Atlântica e consequentemente de
elevada biodiversidade (BARBOSA et al., 2005). Existem mais de 30 tipos de brejos de
altitude na Caatinga, consideradas como refúgios florestais, já que apresentam íntima relação
com as florestas Atlântica e Amazônica (LEAL et al., 2005), ou seja, apresentam tanto
espécies de plantas como p. ex., Apeiba tibourbou Aubl. da região amazônica (TABARELLI;
SANTOS, 2004), como Tillandsia recurvata da região de Mata Atlântica (L.) L. (BARBOSA
et al., 2005).
Segundo Veloso et al. (1991), os brejos de altitude são tratados como refúgio ecológico
devido ao fato de apresentarem características fitofisionômicas diferentes da flora dominante
na região ecológica em que se apresentam. Ainda os mesmos autores consideram como
fazendo parte de vegetação relíquia que estão inseridas em meio a situações ecológicas
adversas. Contudo, os brejos vêm sofrendo processos de antropização já que possuem
privilegiada condições agropecuárias (TABARELLI; SANTOS, 2004).
Devido sua alta umidade (média de precipitação anual 1200 mm) e potencial capacidade
de produzir qualquer tipo de alimento, os brejos foram indiscriminadamente desmatados para
uso da agricultura, e isso é acompanhado de consequências como o comprometimento dos
recursos hídricos, erosão, redução da diversidade biológica e adicionalmente afetando a
qualidade de vida do sertanejo (TABARELLI; SANTOS, 2004; ALVES et al., 2009). De
acordo com estes autores, os fatores associados ao desmatamento indiscriminado para
agricultura, cortes da vegetação nativa para retirada de lenha, e pastagens. Um exemplo deste
cenário é a Mata do Pau-Ferro, localizada no Estado da Paraíba no município de Areia, onde
grande parte de suas áreas foram desmatadas em virtude de culturas agrícolas, áreas que hoje
estão abandonadas e num processo de estágios diferençados de capoeiras (BARBOSA et al.,
2005).
A pecuária por sua vez, contribuiu efetivamente no processo de degradação tanto da
caatinga quanto dos brejos, porque para aumentar a área de pastagens, práticas inadequadas
como a derrubada de árvores e utilização de fogo, ocasionaram um aumento do espaço de
pastagem, contudo, também propiciam o crescimento de gramíneas (ALVES et al., 2009), que
impedem a regeneração da vegetação natural (ANDRADE et al., 2006), resultando
transformações muitas vezes irreversíveis.
De acordo com Tabarelli e Santos (2004), restam apenas 2.626 km2 dos 18.500 Km
2 de
florestas semideciduais e ombrófilas abertas de vegetação original dos brejos. Segundo os
23
mesmos autores, esses remanescentes são fragmentos com vegetação de cerrado e caatinga (p.
ex. Chapada do Araripe e Serra de Ibiapaba), consequentemente, os remanescentes de brejos
ficam entre as áreas de floresta Atlântica mais ameaçada devido ao valor econômico de sua
vegetação.
Tendo em vista, os brejos de altitude passam por um processo atual de perda de hábitat,
fragmentação de suas áreas, caça, coleta seletiva de plantas e consequente perda da
biodiversidade, sendo necessário uma política eficaz para conservação nestas importantes
áreas (TABARELLI; SANTOS, 2004). Adicionalmente, as consequentes alterações
antrópicas elucidadas acima comprometem também os processos de ciclagem de nutrientes
por microrganismos (ARAÚJO et al., 2008), dentre eles os fungos gasteroides que possuem
um papel importante na ciclagem da matéria orgânica vegetal no âmbito florestal, como
veremos adiante.
2.2 CARACTERIZAÇÃO DOS FUNGOS GASTEROIDES
Segundo Bruns et al. (1989), Hibbett et al. (1997), Krüger et al. (2001), por meio de
ferramentas moleculares os diversos táxons de fungos gasteróides tratavam-se na verdade de
um grupo polifilético e sua principal característica a perda da capacidade de liberar
ativamente seus esporos na maturidade (balistósporos) surgiu diversas vezes no processo
evolutivo de ancestrais lamelados ou poroides. Mesmo considerando que todas as formas
gasteróides possuem esporos estatismospóricos Desjardin (2003), encontrou uma transição
entre a forma gasteróide e a capacidade balistospórica com a espécie Lactarius rubriviridis
Desjardin, Saylor & Thiers. Este peculiar espécime apresenta basidioma gasteróide, basídio
com esterigma curvado, além de um apêndice hilar central, característica que se perdeu no
processo evolutivo dos gasteróides (HIBBETT et al., 1997).
Além dos trabalhos que por meio de técnicas moleculares nos mostram a condição
polifilética da forma gasteroíde, surgindo diversas vezes no curso evolutivo (HIBBETT et al.,
1997; WILSON et al., 2011), alguns registros fosseis nos dão uma ideia da história evolutiva
do grupo.
O primeiro fóssil de gasteróide encontrado foi por Chaney e Mason (1936) e trata-se de
Bovista plumbae Pers., o fóssil é datado do Pleistoceno, proveniente de escavações no Alaska
em 1929, que foi considerado pelo autor um importante registro já que é raro o registro fóssil
de fungos. Magallon-Puebla e Cevallos-Ferriz (1993), encontraram o primeiro e mais velho
24
registro fóssil de Geastrum Pers., datado entre o Mioceno e Pleistoceno inferior em rochas
carbonizadas. Nenhuma das duas citações anteriores forneceu uma aproximação da datação
geológica. Contudo, Poinar (2001) encontrou o primeiro registro de Lycoperdaceae em
âmbar, inferindo a datação geológica de 22–26 milhões de anos atrás entre o Mioceno Tardio
e Oligoceno Superior, o registro fóssil foi nomeado de Lycoperdites tertiarius Poinar.
Com o advento de novas técnicas de filogenia molecular as diversas linhagens de
basidiomicetos gasteroides foram redistribuídas dentro de Agaricomycetes em várias ordens e
famílias (HOSAKA et al., 2006; HIBBETT et al., 1997, 2007). Portanto, quando nos
referirmos ao longo do texto “gasteromicetos” ou “fungos gasteroides” estes estarão
desvinculados de qualquer valor taxonômico, sendo utilizado como termo mais aplicável aos
organismos que possuem convergência adaptativa em relação ao modo de liberação dos
basidiósporos (CORTEZ, 2009).
Os gasteromicetos possuem variabilidade em forma de basidioma, abertura do perídio e
dispersão dos basidiósporos (Fig. 4), algumas espécies possuem desenvolvimento abaixo do
solo (hipógeo), enquanto que em outras, seu desenvolvimento é sobre o solo (epígeo). Nos
táxons hipógeos o mecanismo de dispersão dos basidiósporos irá depender da ação de
invertebrados ou pequenos mamíferos e, nos epígeos a dispersão irá depender tanto de fatores
bióticos como abióticos (ALEXOPOULOS et al., 1996).
Muitos representantes do gasteromicetos são sapróbios, crescendo sobre solo, folhas
caídas, madeira morta, fezes de ruminantes, ou dunas (WEBSTER; WEBER, 2007). Também
existem espécies que crescem associadas à raízes de plantas, em associações denominadas
ectomicorrízas (LONG et al., 2006; BECHEM, 2011). Todavia, mesmo algumas espécies
epígeas na maturidade, podem ter seu desenvolvimento inicial hipógeo como em algumas
espécies de Geastrum (SUNHEDE, 1989).
25
Figura 4 – Alguns exemplos de diversidade de morfologias em fungos gasteroides. a. Podaxis sp.; b. Mutinus
sp.; c. Geastrum sp.; d. Rhizopogon sp.
Foto: Dônis Alfredo
Após as profundas mudanças ocorridas na sistemática dos gasteromicetos,
sinonimizaram várias ordens e famílias, respectivamente: Lycoperdales Clem. Lycoperdaceae
Smarda, Nidulariales G. Cunn., Nidulariaceae Fr., Tulostomatales Demoulin,
Tulostomataceae E. Fisch. Os representantes destes táxons foram reagrupados em
Agaricaceae Chevall. Sclerodermatales G. Cunn. foi sinonimizada com Boletales E.J. Gilbert
que incorporou a família Sclerodermataceae (KIRK et al., 2008). Neste trabalho seguimos os
conceitos tradicionais, baseados em macro e micromorfologia.
26
2.2.1 Caracteres macromorfológicos
Os diversos táxons de fungos gasteroides apresentam uma grande variedade
morfológica do basidioma. Mesmo com morfologias muitas vezes distintas, podemos definir
no basidioma algumas estruturas presentes em todos os táxons: perídio, gleba e base estéril ou
comumente chamada de subgleba (Fig. 5). A subgleba é uma importante estrutura para
segregar gêneros e espécies em Lycoperdaceae.
O perídio pode apresentar várias camadas, conforme o grupo em questão. Como
exemplo mais comum, temos os táxons com duas camadas, sendo a mais externa denominada
exoperídio e, a mais interna denominada endoperídio: Morganella Zeller, Calvatia Fr.,
Bovista Pers., Vascellum Smarda. Em alguns gêneros, como Geastrum Pers., uma terceira o
mesoperídio, ocorre entre o exoperídio e o endoperídio (Fig. 5c). Em gêneros como
Morganella, nas fases iniciais de desenvolvimento dos basidiomas, o exoperídio é
inconspícuo do endoperídio e o pesquisador precisa de muita atenção quando for preparar
lâminas para visualização ao microscópio óptico.
Muitas vezes, o exoperídio pode ser ornamentado apresentando estruturas como
espinhos, tomentos e/ou verrugas e os padrões de ornamentação são muito utilizados para a
separação de táxons gasteroides (Fig.6). O endoperídio pode ser liso (ou comumente chamado
glabro), areolado (Fig. 6), que são cicatrizes deixadas pelas ornamentações do exoperídio que
caíram ao longo do desenvolvimento dos basidiomas. Em alguns casos, na maturidade o
perídio cai (ou desgasta) por completo no hemisfério superior do basidioma expondo a gleba,
como acontece em algumas espécies de Calvatia.
De acordo com Miller e Miller (1988) e Sunhede (1989), o gênero Geastrum apresenta
duas evidentes camadas: exoperídio e endoperídio; o primeiro subdivide em três partes:
micelial, fibrosa e pseudoparenquimatosa; e o segundo composto de hifas que formam uma
membrana rígida. Contudo, uma terceira camada denominada mesoperídio, poderá raramente
ser observada, principalmente em basidiomas frescos (Fig. 5c), como por exemplo em G.
pectinatum Pers., que apresenta remanescentes do mesoperídio incrustado ao material
cristalino (MILLER; MILLER, 1988; SUNHEDE, 1989).
Em Clathraceae Chevall., o perídio apresenta três camadas que protegem a gleba até a
maturidade. O mesoperídio é gelatinoso, e protege o himênio imaturo. Na maturidade, o
perídio se rompe expondo o receptáculo, o remanescente do perídio poderá permanecer na
porção basal do basidioma e passa a ser chamado de volva (Fig. 7 a–b).
27
Figura 5 – Partes básicas de um basidioma. a. Lycoperdon perlatum – exoperídio (exo); endoperídio (end);
juntos formam perídio (p); gleba (g); base estéril ou subgleba (sub). b. ornamentação do perídio (or). c.
Geastrum triplex – endoperídio (end); mesoperídio (me); raios inicialmente sacados, tornando-se revolutos com
o tempo (rs); raios (r).
Fonte: Miller e Miller (1988), páginas 40 e 47.
28
Figura 6 – Tipos de ornamentação do exoperídio e endoperídio. a – c Morganella compacta. a. basidioma de M.
compacta – Foto retirado do material tipo (Holótipo-PDD10140); b. detalhe do exoperídio espinhoso; c. detalhe
do endoperídio areolado; d – f M. albostipitata. d. Basidioma de M. albostipitata; e. detalhe do exoperídio
tomentoso; f. detalhe do endoperídio liso.
Foto: a–c. Dônis Alfredo; d–f. fonte Alfredo et al. (2012), página 67.
29
Figura 7 – a. Abrachium floriforme – perídio permanecendo na maturidade como volva (v); b basidioma imaturo
ou “ovo” em corte transversal – perídio (p), mesoperídio gelatinoso (me), endoperídio hialino (end). c. Mutinus
caninus – volva (v), ápice do basidioma com linha delimitando a porção fértil ou gleba (g); d. basidioma imaturo
ou “ovo” – perídio (p).
Foto: Alfredo, D.S.
De maneira geral, o perídio apresenta hifas filamentosas, celulares e
pseudoparenquimatosas (PEGLER et al., 1995). Estas três camadas são porções estéreis que
protegem o basidioma até a maturidade. Na maturidade o endoperídio se rompe de diversas
30
maneiras, para que os basidiósporos possam ser dispersos. A exposição da gleba pela ruptura
do endoperídio é o que chamamos de deiscência, e a forma da deiscência será muito utilizada
como um caráter informativo durante a descrição das espécies.
Gleba corresponde à porção fértil do basidioma, nela irá encontrar estruturas como
capilício, paracapilício e aonde serão formados os basídios e, por conseguinte, os
basidiósporos. Enquanto imatura, a gleba é branca na grande maioria dos grupos, tornando-se
escura conforme os esporos amadurecem. Quando madura, além de coloração variada, a gleba
pode apresentar textura pulverulenta (Geastrum, Morganella ou Scleroderma Pers.), lanosa
(Podaxis Desv.), loculada (Melanogaster Corda), em câmaras (Gautieria Vittad.), granulosa
(Pisolithus Alb. & Schwein.) ou mucilaginosa (Phallus Pers.) (Fig. 7 a–d).
A subgleba ou base estéril é a porção inferior do corpo de frutificação dos
gasteromicetos (Fig. 8 a, c), apresentando textura compacta [Morganella subincarnata (Peck)
Kreisel e Dring 1967], celular ou até mesmo esponjosa (Calvatia) e em câmaras (Vascellum),
e neste caso, está separada da gleba por um diafragma, sendo este critério macroscópico
importante para separar Vascellum dos demais gêneros em Lycoperdaceae, como Lycoperdon
ou Morganella (MILLER; MILLER, 1988). Alguns gêneros podem não possuir base estéril,
como em Bovista e Disciseda Czern., e para alguns grupos infragenéricos, podem possuí-la
(Calvatia cyathiformis f. cyathiformis), não possui-la, ou estar reduzida e inconspícua como
em C. cyathiformis f. fragilis (ZELLER; SMITH, 1964) (Fig. 8 a–c).
Outra característica associada à subgleba é a presença de um estipe (Fig. 9 a–b)
(WRIGHT, 1987) como em Tulostomatales, que apresenta um estipe verdadeiro, composto de
hifas arranjadas longitudinalmente e entrelaçadas em seu núcleo, estes são chamados de “stalk
puffballs”, como os representantes do gênero Tulostoma Pers. Por outro lado, alguns
membros de “stinkhorns” como Mutinus Fr. possuem um pseudoestipe, que consiste de tecido
esponjoso sem organização longitudinal de suas hifas ou um receptáculo de consistência
também esponjosa e em câmaras com núcleo oco no qual irá suspender a gleba acima do nível
do solo (CUNNINGHAM, 1944; PEGLER et al., 1995).
Algumas vezes, estruturas semelhantes a raízes poderão estar presentes na porção basal
do corpo de frutificação dos gasteromicetos, com função de prender o basidioma no substrato,
chamadas de rizomorfas (Calvatia). No entanto, estruturas como subículo [Lycogalopsis E.
Fisch. (DRING, 1964)] ou micélio basal [algumas espécies de Geastrum (SUNHEDE, 1989)],
podem ocorrer e possuem finalidade semelhante a das rizomorfas. (Fig. 9 c – f).
31
Figura 8 – Exemplos de basidiomas com presença e ausência da base estéril ou subgleba. a. Calvatia
cyathiformis f. cyathiformis – porção fértil ou gleba (g), base estéril ou subgleba celular (sub); b. Rhizopogon
luteolus – basidioma com subgleba ausente, apresentando apenas porção fértil ou gleba labirintiforme (g); c.
Morganella fuliginea – porção fértil ou gleba (g), base estéril ou subgleba compacta (sub). Todas as barras
representam 10 mm.
Foto: Dônis Alfredo
32
Figura 9 – a – b. Basidiomas estipitados; c – d. Basidiomas com micelio basal modificado. a. Mutinus sp.
pseudoestipe (pe) esponjoso com paredes em camaras abertas; b. Tulostoma sp. com estipe verdadeiro (pe),
formado por hifas entrelaçadas; c. Calvatia cyathifomis f. fragilis com rizormofa (ri); d. Lycogalopsis sp. Com
subículo esbranquiçado (sc) sobre a madeira morta.
Foto: Dônis Alfredo.
33
2.2.2 Caracteres micromorfológicos
Os elementos micromorfológicos são de grande importância na taxonomia dos
gasteromicetos, tanto para diferenciar gêneros quanto espécies. Estes elementos podem ser
hifálicos, de várias porções do basidioma (perídio, gleba, subgleba, rizomorfas), basidiósporos
e estruturas diferenciadas encontradas no perídio como os micoesclereídeos (Fig. 12 b).
O basidioma é constituído de um conjunto especializado de hifas, podendo ser
monomítico ou dimítico. Estas hifas podem ser generativas, que se caracterizam por
apresentar paredes delgadas, septadas, com ou sem grampos de conexão, ramificadas e sem
pigmentação; ou hifas esqueleteas, que apresentam paredes espessadas, grampos de conexão
ausentes, frequentemente sem septos ou raros (camada micelial em Geastrum) e pigmentadas
(Fig. 10 a – f). Quando apresentam apenas hifas generativas, designa-se monomítico, por
outro lado, se apresentar ambas, hifas generativas e esqueleteas, designa-se dimítico.
O exoperídio dos membros de Lycoperdaceae é constituído de hifas
pseudoparenquimatosas com diferentes formas e padrões (Fig. 11). De acordo com Gube e
Dörfelt (2012), o exoperídio é formado por exo- e endostrato, sendo o último composto de
hifas pseudoparenquimatosas que progressivamente transformam-se em esferocistos no
exostrato. Para Geastraceae, o exoperídio apresenta hifas entrelaçadas e de parede espessada
em duas circunstâncias: na camada micelial e fibrosa; já a camada pseudoparenquimatosa,
apresenta esferocistos de formas irregulares, esféricas a ovoides e de parede delgada (BATES,
2004).
O endoperídio de maneira geral é formado por hifas entrelaçadas, de parede delgada a
espessa, que na maturidade irá assemelhar-se ao capilício (Fig. 11), formando um tecido
compacto e persistente (BATES, 2004; GÄUMAN; DODGE, 1928).
Na gleba podemos encontrar dois tipos de hifas, denominadas eucapilício ou capilício
verdadeiro e/ou paracapilício. O eucapilício compreende um conjunto de hifas esqueleteas,
estéreis e que são encontradas comumente em Geastraceae e Lycoperdaceae que possuem
gleba pulverulenta, apresentam parede espessada, pigmentada de marrom, podendo apresentar
poros (Lycoperdon), septos e ramificações (Calvatia), e suas hifas são cianófilas. Em
contraste, o paracapilício é um conjunto de hifas generativas (Fig. 10 a–d), de caráter
acianófilo, septadas, podendo ser ramificadas e que ocorrem em alguns gêneros como
Morganella, Vascellum, Tulostoma e Astraeus. Com relação aos capilícios, podemos definir
cinco tipos, conforme Krüger et al. (2001) e Bates et al. (2009), mostrados na tabela abaixo:
34
Figura 10 – Exemplos de hifas esqueleteas (capilício e perídio) e generativas (paracapilício). a. Paracapilício de
Morganella nuda. b. Capilício de Geastrum triplex . c. Capilício de Calvatia sp., com ramificações e septos
indicados pelas setas. d. Capilício de C. cyathiformis f. cyathiformis, com poros e septos indicados pelos setas. e.
Perídio (camada micelial) de G. saccatum. f. Perídio (exoperídio) de Calvatia sp.
Foto: Dônis Alfredo
35
Figura 11 – Exemplos de exoperídio, endoperídio e micoesclereídeos em fungos gasteroides. a – c. Calvatia
cyathiformis f. cyathiformis; a. Hifas pseudoparenquimatosa (ppa.) suportadas por esferocistos (esf.) (lâmina
montada a partir de verrugas do exoperídio); b. Micoesclereídeos; c. Hifas entrelaçadas do endoperídio; d.
Geastrum triplex – esferocistos da camada pseudoparenquimatosa; e. Morganella compacta – hifas entrelaçadas
do endoperídio, paredes delgadas (< 0,5 µm espessura) – desenho feito a partir do holótipo PDD 10140; f. M.
nuda – hifas pseudoparenquimatosas (ppa.) surgindo a partir do endoperídio (end.) em basidioma jovem.
Desenho feito em câmara clara.
Ilustração: Dônis Alfredo.
36
Tabela 1 – Tipos de capilício conforme Krüger et al. (2001) e Bates et al. (2009).
Tipos de capilício Definição das hifas Exemplos
“Lycoperdon” Apresentam ou não ramificações;
septos ausentes ou septados. Geastrum; Lycoperdon;
“Bovista”
Distinto ramo central donde
surgem ramificações;
frequentemente asseptado, com ou
sem poros.
Bovista;
“Mycenastrum”
Similar ao “tipo Bovista”,
contudo, apresenta ramificações
reduzidas e com“espinhos”.
Mycenastrum corium (Guers.)
Desv.;
“Calvatia”
Similar ao “tipo Lycoperdon”,
mas frequentemente septada
(septos verdadeiros), com poros
circulares, elípticos ou faltando.
Calvatia;
“Handkea”
Similar ao “tipo Lycoperdon”,
contudo, suas paredes apresentam
poros de aparência fendida.
Handkea.
Fonte: Krüger et al. (2001), páginas 947, 948; Bates et al (2009), páginas 159, 161.
Os basidiósporos nos fungos gasteroides apresentam liberação passiva devido a
ausência de apêndice hilar, ou seja, dependem efetivamente de agentes bióticos e abióticos
para que ocorra sua dispersão (ALEXOPOULOS et al., 1996; MILLER; MILLER, 1988;
PEGLER et al., 1995), sendo um importante critério taxonômico (Figs. 12 a–d; 13 a–d), não
só para os fungos gasteroides, mas para qualquer outro grupo de fungos (ECKBLAD, 1971;
BURK et al., 1983; TOLEDO, 1994). São ortotrópicos (o desenvolvimento de seu apêndice
hilar é vertical), apresentando um apículo simétrico, no qual, pode permanecer preso ao
basidiósporo um curto ou longo pedicelo (Fig. 12 b–c), que nada mais é do que uma porção
do esterigma que permanece preso ao esporo. O pedicelo, por vezes é uma característica
informativa na separação de espécies conforme Baseia (2005b) que separa Bovista plumbae
Pers. que se difere de B. pila Berk. & M.A. Curtis, com base, principalmente, na coloração
mais escura dos basidiomas e comprimento dos pedicelos nos esporos.
37
Morfologicamente, os basidiósporos podem variar bastante, apresentando formas
globosas a subglobosas, ovoides, elípticas, cilíndricas, angulosos, baciloide a amigdaloides
(BASEIA; CALONGE, 2005; CALONGE et al., 2003; MILLER; MILLER, 1988). A parede
externa pode ser lisa, sem ornamentação, como em Clathraceae e Phallalaceae (BURK et al.,
1982). Ou podem apresentar a superfície ornamentada como em Lycoperdaceae (BATES et
al., 2009), onde os autores definiram alguns termos relacionados às variações na
ornamentação dos mesmos. Por exemplo, basidiósporos são considerados lisos quando, sob o
microscópio óptico (em 1000×) não é possível visualizar ornamentação; são considerados
verrucosos ou equinulados, quando sob magnificação de 400× a ornamentação está visível; e
são denominados asperolados quando sob a mesma magnificação (400×) a ornamentação é de
difícil visualização, mas passível de discernimento (Fig. 14).
Figura 12 – Exemplos de basidiósporos. a. Geastrum triplex. b. Morganella nuda. c. M. compacta (desenho a
tipo PDD 10140). d. Calvatia sp. Desenhos feitos em câmara clara.
Ilustração: Dônis Alfredo.
38
Figura 13 – Exemplos de fotos em Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) de basidiósporos de fungos
gasteroides. a. Geastrum triplex; b. Morganella nuda; c. Morganella. compacta (retirado do tipo Holótipo-
PDD10140); d. Calvatia sp.
Foto: Dônis Alfredo.
Em Sclerodermataceae mais especificamente em Scleroderma Pers., Guzmán (1970) e
Sims et al. (1995), revisaram o gênero delimitando-o, principalmente com base no tamanho e
padrão de ornamentação dos basidiósporos, que podem ser lisos, equinulados ou reticulados,
medindo 18 a 25 µm de diâmetro (S. michiganense). Alfredo et al. (2012b) registraram S.
minutisporum com basidiósporos medindo de 4 a 7 µm em seu maior diâmetro, nos
basidiomas maduros. Estudos moleculares realizados por Phosri et al. (2009) e Nouhra et al.
(2012) corroboram os estudos morfológicos que separam as espécies de Scleroderma pelo
padrão de morfologia e ornamentação dos esporos.
39
Figura 14 – Exemplos de basidiósporos em Microscópio óptico. a. Geastrum triplex; b. Calvatia sp.; c.
Morganella fuliginea; Rhizopogon luteolus. Confeccionadas em objetiva 100×.
Foto: Dônis Alfredo.
Kreisel e Dring (1967) publicaram um trabalho de emendação do gênero Morganella,
onde os autores consideraram que as características dos esporos como comprimento dos
espinhos, a natureza do pedicelo e o padrão da disposição das cadeias das hifas celulares são
de uso para delimitação específica. Isto está de acordo quando tratamos de algumas espécies
como M. compacta (G. Cunn.) Kreisel & Dring comparada a M. fuliginea (Berk. & M.A.
Curtis) Kreisel & Dring, no qual a primeira apresenta basidiósporos asperolados, enquanto a
segunda possui esporos equinulados. Por outro lado, se compararmos três espécies de
Morganella (M. fuliginea, M. velutinea (Berk. ex Massee) Kreisel & Dring. e M. albostipitata
Baseia & Alfredo) que foram recentemente analisadas por Alfredo et al. (2012a), devemos
40
considerar não só o padrão de ornamentação dos esporos, mas também as hifas do exoperídio,
que se mostram diferenciadas em grupos de espécies como M. compacta, M. fuliginea, M.
afra Kreisel & Dring, entre outras.
2.2.3 Importância dos fungos gasteroides
Os fungos gasteroides, apesar de não possuir espécies com grande importância
apresentam papel ecológico importante no ambiente em que se encontram, degradando
matéria orgânica morta e em simbiose micorrízica (ALEXOUPOLOS et al., 1996). Espécies
como Geastrum schweinitzii (Berk. & M.A. Curtis) Zeller, G. javanicum Lév. e Morganella
fuliginea ocorrem sobre madeira morta (DRING, 1964; PONCE DE LEON, 1968, 1971),
outras espécies como Calvatia cyathiformis (BASEIA, 2003), ocorrem sobre folhas caídas ou
serrapilheira. Os fungos que utilizam matéria orgânica morta como substrato, são os
principais responsáveis pela ciclagem de nutrientes no ambiente (CARLILE et al., 2001;
MARQUES et al., 2008).
Muitos dos fungos gasteroides apresentam camada micelial, subículo e rizomorfas sobre
e/ou abaixo do substrato (WEBSTER; WEBER, 2007). Segundo Carlile et al. (2001) e
Deacon (2006), vários basidiomicetos, através de estruturas especializadas como o subículo
que possibilitam sua fixação no substrato e estão envolvidos na ciclagem de nutrientes no
ambiente. Alguns destes grupos de fungos utilizam suas rizomorfas para captar nutrientes
quando estes são escassos. Para isso, ocorre desenvolvimento de “cordas miceliais” as quais
crescem até encontrarem novas fontes de alimento. Desta forma, a ciclagem de carbono no
ambiente é de suma importância ecológica realizada em grande parte por fungos
decompositores de matéria orgânica morta (CARLILE et al., 2001) e dentre estes, constam
diversas espécies de fungos gasteroides. Para Evans e Hedger (2001), conhecer os fungos com
capacidade de ciclagem de nutrientes in nature podem fornecer uma melhor compreensão
sobre nos estudos de bioremediação, do que quando estudados in vitro, principalmente se
estes organismos se tratarem de fungos de florestas tropicais.
Os representantes gasteroides ectomicorrízicos as espécies pertencentes aos gêneros
Scleroderma e Pisolithus (MILLER; MILLER, 1988), se encontram em intima relação com
raízes de plantas como: Quercus L., Fagus L., Pinus L. entre outros (GUZMÁN, 1970). No
Brasil, Cortez et al. (2008a) encontraram S. albidum em planta exóticas de Eucalyptus L’Hér.,
e Gurgel et al. (2008) encontraram S. bovista Fr. em Gomidesia spectabilis (DC) O. Berg.
41
(Myrtaceae O. Berg,) em Mata Atlântica. Outro exemplo de gasteromicetos ectomicorrízicos
são as espécies do gênero Rhizopogon Fr., (MOLINA; TRAPPE, 1994).
Os trabalhos citados acima sobre ectomicorrizas focam em biotecnologia de
reflorestamento, contudo, em outras áreas da biotecnologia os fungos gasteróides tiveram sua
contribuição. Dhawan et al. (2003), demonstraram a capacidade de produção de lacase em
Cyathus bulleri H.J. Brodie sendo de grande importância na indústria de cosméticos, celulose,
têxtil, no tratamento de efluentes industriais, biotecnologia animal e biotransformações.
Busuioc et al. (2009), testaram a capacidade de G. triplex Jungh. e Calvatia caelata (Bull.)
Morgan como potenciais biorremediadores de metais pesados.
Existem vários estudos voltados para o uso medicinal ou potenciais usos de espécies de
fungos gasteroides na produção fármacos ou na medicina tradicional. Al-Fatimi et al. (2006),
relacionaram usos de Podaxis pistilaris (L.) Fr. na culinária Indiana; no tratamento de doenças
de pele na África do Sul; e na China em tratamentos contra inflamação. Os autores
concluíram que mesmo P. pistilaris apresente antagonismo em bactérias, seu uso como
alimento e medicinal deve ser cauteloso, tendo em vista que pode apresentar efeitos
indesejados como, citotoxidade.
Ao final do século XIX e inicio do século XX alguns trabalhos relacionavam o uso de
fungos gasteroides para beneficio do homem. Knight (1913) relata o uso de Calvatia gigantea
(Batsch) Lloyd como substância hemostática e, relata que seria o melhor modo para estancar
sangramento naquela época. O autor descreve vários casos em países como Irlanda e França
onde o uso do gigante “puffball” obteve sucesso no estancamento em casos de hemorragias.
Em 1853, Benjamin W. Richardson publicou um experimento com o “puffball’
Lycoperdon proteus Bull. O autor realizou o seguinte experimento em animais: fez com que
inalassem por alguns segundos uma solução volátil com a gleba, em seguida, medindo os
batimentos cardíacos e a taxa de respiração dos animais, fazia cortes no corpo do animal. O
autor concluiu que o animal, sob efeito do fungo, não sentia dor, e sugeriu seu teste em
humanos por ser uma droga segura e sem efeitos colaterais.
Uma interessante pesquisa realizada por Fiasson e Petersen (1973), demonstrou a
presença de carotenoides em espécies de Phallales: Clathrus ruber P. Micheli ex Pers.,
Anthurus aseroëformis E. Fisch., Mutinus caninus (Huds.) Fr., M. ravenelii (Berk. & M.A.
Curtis) E. Fisch., M. elegans (Mont.) E. Fisch., visto que estudos realizados com carotenoides
indicam que além de precursores de vitamina A, estão associados a proteção contra doenças
cardiovasculares, degeneração muscular, catarata e alguns tipos de câncer (RIOS et al., 2009).
42
Jonathan e Fasidi (2003), estudaram duas espécies de “puffball” comestíveis na Nigéria:
Lycoperdon pusilum Batsch e L. giganteum Batsch, e avaliaram extratos com propriedades
antibacterianas em ambas as espécies, demonstrando sua potencial aplicação na medicina e na
produção de fármacos. Neste mesmo contexto, Dulger (2005), avaliou a atividade
antimicrobiana entre as espécies de Bovista plumbea, B. pusilla (Batsch) Pers., Lycoperdon
echinatum Pers., L. molle Pers., L. perlatum Pers., Lycoperdon pyriform Schaeff., Calvatia
utriformis (Bull.) Jaap, Geastrum badium Pers., G. fornicatum (Huds.) Hook. e G. sessile
(Sowerby) Pouzar. Seus resultados indicaram que todas as espécies, exceto C. utriformis,
tiveram atividade antifúngica positiva. Por outro lado, apenas nas espécies de Geastrum a
atividade antibacteriana foi negativa, justificando o uso destas espécies na medicina
tradicional. Adicionalmente, Guerra Dore et al. (2007), estudaram as propriedades anti-
inflamatórias e antioxidantes de Geastrum saccatum Fr. indicando um alto potencial uso deste
fungo como agente anti-inflamatório.
Além da importância para o ambiente florestal, aplicação em tecnologias de recuperação
de áreas desmatadas, ou uso como medicamentos tradicionais, alguns dos táxons gasteróides
são muito apreciados na culinária em alguns países com a China (ALEXOPOULOS et al.,
1996). Cunningham (1944), apontou em seu trabalho que poucos são os gêneros e espécies de
gasteromicetos que ocupam papel econômico importante e que poucas são as espécies
comestíveis. O mesmo autor relata que algumas espécies de Phallales têm seus basidiomas
imaturos muito apreciados na culinária da América do Norte. Também existem relatos de
espécies comestíveis de os “puffballs” que são consumidas enquanto os basidiomas estão
imaturos, ou seja, antes do completo desenvolvimento dos esporos (SILVEIRA, 1943;
PEGLER et al., 1995). Miller e Miller (2006), comentam que as espécies de ”puffballs” como
Calvatia. gigantea (Batsch) Lloyd., C. booniana A.H. Sm.., C. cyathiformis (Bosc) Morgan, e
C. craniiformis (Schwein.) Fr. são espécies muito apreciadas na América do Norte. Segundo
Sarma et al. (2010) Calvatia gigantea e Lycoperdon pyriform, são apreciados na culinária no
estado de Assam na Índia. De acordo com Miller e Miller (2006), algumas espécies de falsas
trufas como as de Rhizopogon, são muito apreciadas na culinária em regiões da Europa e Ásia
e que as espécies de “earthballs” (Scleroderma spp.) e “earthstars” (Geastrum spp.) são
tóxicas. Geastrum mammosum Chevall. foi relacionada como venenosa em um trabalho de
macrofungos comestíveis para o Paquistão (BURNI et al., 2006).
Blackwell (2004), listou diversos usos de “puffballs” por tribos indígenas americanas na
feitiçaria, itens religiosos, ornamentos, compressas para estocar sangramentos e como
alimentos. Shrestha e Kropp (2009), em seu trabalho de etnomicologia relatou que além de
43
comestível em algumas partes do Nepal Calvatia gigantea é usada para cicatrização de
animais feridos.
Segundo Calonge (1998), Pisolithus arhizus é uma das espécies de fungos gasteróides
mais importante, devido seu potencial uso, pois, além do uso como ectomicorrízico, tintura de
tecidos, é muito utilizado na culinária. Estudos mais recentes de bioquímica com espécies
tropicais como os trabalhos de Guerra-Dore et al. (2007) e Nascimento et al. (2012) vem
demonstrando que algumas espécies tem potencial farmacológico.
2.2.4 Histórico dos estudos sobre gasteromicetos no Brasil
A história da micologia no Brasil iniciou-se de modo discreto, a primeira publicação
relacionada a fungos ocorreu somente em 1648 por Piso, reportando sete espécies de fungos
que eram chamados de Carapucu na língua tupi (FIDALGO, 1985). Até então, segundo o
autor, nenhum fungo gasteroide havia sido descrito para o Brasil. Enfim, em 1790, o mineiro
José Marianno da Conceição Vellozo, reportou Dictyophora indusiata (Vent.) Desv., hoje
considerado um sinônimo de Phallus indusiatus, na obra consta ainda ilustrações - prancha
119. Posteriormente, o inglês W.J. Burchell em 1826 registra para no estado de São Paulo um
espécime de Clathrus (FIDALGO, 1974).
Berkeley (1842), citou Nidula plicata Fr., para o Estado do Rio de Janeiro. Berkeley
(1868), registrou para o Brasil as espécies Cyathus montagnei Tul. & C. Tul. (Estado não
informado), C. limbatus Tul. & C. Tul. (Bahia), C. microsporus Tul. & C. Tul. (Rio de
Janeiro) e Geastrum saccatum (Estado não informado), o trabalho se tratava na verdade de
espécies de fungos para Cuba, contudo, junto às informações de coletas constavam também as
localidades brasileiras. Adicionalmente, Berkeley e Cooke (1876), elaboraram uma lista de
fungos para o Brasil dos quais 10 espécies eram de fungos gasteróides: Cyathus montagnei, C.
microsporus, C. limbatus, C. plicatus (Fr.) Tul., Cycloderma weddellii Mont., Geastrum
saccatum, G. fimbriatum Fr., Hippoperdon crucibulum Mont., Lycoperdon astrocaryi Berk. &
Cooke e Scleroderma stellatum Berk.
Möller (1895), também contribuiu com o conhecimento de fungos gasteroides no Brasil,
descreveu dez espécies, destas oito eram novas para ciência: Protubera maracujá Möller.,
Clathrus crysomycelinus Möller., Colus garciae Möller. (Pseudocolus garciae (Möller)
Lloyd), Blumenavia rhacodes Möller, Aporophallus subtilis Möller., Itajahya galericulata
Möller., Ithyphallus glutinolens (Phallus glutinolens (Möller) Kuntze), Dictyophora
44
callichroa Möller, Laternae columnata Nees, Mutinus bambusinus (Zoll.) E. Fisch.,
Dictyophora phalloidea Desv.
Os trabalhos relacionados acima constituem registros de fungos gasteroides no Sec.
XIX. Os registros no Sec. XX iniciam com os trabalhos de Hennings (1902, 1904a, b, c), que
registram uma espécie para o Estado de São Paulo, três para o Rio de Janeiro e sete para o da
Amazônia.
Sydow e Sydow (1907), reportaram as espécies de Lycoperdon acuminatum Berk. &
M.A. Curtis, L. cruciatum Rostk., L. piriforme (Morganella pyriformis (Schaeff.) Kreisel &
D. Krüger), L. pusillum Fr., L. wrightii Berk. & M.A. Curtis, Calvatia lilacina (Mont. &
Berk.) Henn., Arachnion album Schwein., Cyathus lesueuri Tul. & C. Tul., e Dicthyophora
phalloidea, todas para São Paulo. Patouillard (1907), descreveu Calvatia lachnoderma Pat.,
também para o Estado de São Paulo. Geastrum englerianum Henn., G. rickii Lloyd., G.
saccatum, G. velutinum Morgan, foram registradas para Minas Gerais.
Silveira (1943), realizou um trabalho pioneiro sobre o gênero Calvatia para espécies
procedentes do Brasil. Nele é fornecidas descrição e chave de identificação das espécies
estudadas, que totalizam oito espécies.
Posteriormente, Viégas (1945), publicou uma extensa lista de espécies pertencentes às
famílias: Cyathaceae, Geastraceae, Lycoperdaceae, Phallaceae e Sclerodermataceae; para os
Estados de São Paulo e Santa Catarina. A família Cyathaceae foi estabelecida por Viégas
(1945), contudo, Cyathaceae é um nome inválido segundo código internacional de
nomenclatura botânica (MCNEILL et al., 2012) porque dentre as razões não possuir uma
descrição e/ou diagnose latina ou referência a uma diagnose ou descrição prévia
anteriormente e devidamente publicada. Atualmente a família devidamente publicada que
acomoda as espécies descritas por Viégas (1945) é Nidulariaceae Dumort, de 1822. Outra
importante contribuição para o conhecimento de fungos gasteroides no Brasil foi feita por
Batista (1950), onde reporta três espécies novas de Podaxis Desv. Posteriormente, Batista e
Vital (1955), publicaram três novas espécies de Tulostoma Pers. para Pernambuco. No mesmo
ano, Batista e Vital (1955b) publicaram Mesophelliopsis pernambucensis, para Pernambuco.
Adicionalmente, Batista e Bezerra (1960) várias espécies de basidiomicetos no nordeste
brasileiro, dentre elas Calvatia maxima (Schaeff.) Morgan.
O padre J. Rick proporcionou uma grande contribuição para o conhecimento dos
gasteromicetos no Brasil através de inúmeros trabalhos (RICK, 1929a, 1929b, 1930, 1934).
Após sua morte, foi publicada uma compilação de seus dados e fez o registro de 122 espécies
para os Estado do Rio Grande do Sul (RICK, 1961), sendo o detentor da maior diversidade de
45
fungos gasteroides no Brasil. Após Rick, Homrich; Wright, (1973); Homrich (1969, 1975)
teve importante contribuição para o conhecimento dos fungos gasteroides para o Estado.
Bononi et al. (1981, 1984), registraram diversas espécies para o Parque Estadual das
Fontes do Ipiranga e Parque Estadual Ilha do Cardoso, ambas localizadas no Estado de São
Paulo. Neles são referidos representantes das famílias Clathraceae, Geastraceae,
Hysterangiaceae, Lycoperdaceae, Mesopheliaceae, Nidulariaceae, Phallaceae,
Protophallaceae, Sclerodermataceae, Sphaerobolaceae e Tulostomataceae, num total de 36
espécies.
Para a década de 90 há uma lacuna referente a publicações de fungos gasteroides para o
Brasil, mas a partir do ano 2000 houve um significativo acréscimo na quantidade sobre novos
registros e descrições de novos táxons. Esta ampliação se deve a formação de recursos
humanos especializados na taxonomia deste grupo.
Giachini et al. (2000), registram com espécies de fungos gasteroides ectomicorrízicos
em plantações exóticas, no Estado de Santa Catarina, com espécies registradas pela primeira
vez na América do Sul e três espécies novas: Descomyces giachinii Trappe, V.L. Oliveira,
Castellano & Claridge, Chondrogaster angustiporus Giachini, Castellano, Trappe & V.L.
Oliveira, Scleroderma bougheri Trappe, Castellano & Giachini.
Baseia e Milanez (2000), descrevem Scleroderma polyrhizum (J.F. Gmel.) Pers. pela
primeira vez para o Brasil. Na sequência seguem contribuições para o conhecimento da
micobiota gasteroide no país: Baseia e Milanez (2001a, b, c); Baseia e Galvão (2002); Baseia
e Milanez (2002a, b, c, d); Baseia (2003); Baseia (2005a, b); Baseia e Calonge (2005); Baseia
e Calonge (2006); Baseia et al. (2006a, b); Baseia et al. (2007); Cortez et al. (2007); Leite e
Baseia (2007); Leite et al. (2007a, b); Silva et al. (2007a, c); Baseia e Calonge (2008); Gurgel
et al. (2008). Estes estudos foram realizados principalmente em áreas de cerrado no Estado de
São Paulo e na região Nordeste do Brasil. Outros trabalhos contribuíram para aumentar o
conhecimento da micobiota da região nordeste como: Trierveiler-Pereira e Baseia (2009);
Trierveiler-Pereira et al. (2009); Trierveiler-Pereira et al. (2010); Silva et al. (2011);
Trierveiler-Pereira et al. (2011).
Para a região Sul do país trabalhos como os de Baseia et al. (2006); Cortez et al. (2006,
2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012); Cortez e Alves (2012); Alves e Cortez, (2013); Cortez
et al. (2011); Trierveiler-Pereira et al. (2009), contribuíram significantemente para ampliar as
informações sobre os fungos gasteroides para a região.
Temos também registros recentes de fungos gasteroides para a região amazônica como
os trabalhos de Leite et al. (2011), com seis espécies de Geastrum: G. entomophilum,
46
Fazolino, Calonge & Baseia, G. fimbriatum, G. javanicum, G. lageniforme Vittad., G. lilloi,
G. saccatum; e Alfredo et al, (2012a), Alfredo et al. (2012b), com as espécies Morganella
albostipitata, M. rimosa Alfredo & Baseia e Scleroderma minutisporum respectivamente.
Para o Estado de Rondônia, Capelari e Maziero (1988), registram alguns táxons de fungos
gasteróides identificando Morganella fuliginea em nível específico. Existe uma grande lacuna
de conhecimento sobre fungos gasteroide na região Amazônica.
47
3 OBJETIVOS
3.1 GERAL
Ampliar o conhecimento dos fungos gasteroides em duas áreas de extrema
importância biológica em brejo de altitude no bioma Caatinga (APA da Serra de Ibiapaba,
Tianguá–CE; Reserva Ecológica Estadual Mata do Pau-Ferro, Areia–PB).
3.2 ESPECÍFICOS
1. Realizar excursão para coleta de espécimes nas áreas definidas;
2. Confeccionar fotografias dos espécimes frescos nas localidades definidas;
3. Descrever e ilustrar os táxons, acrescentando comentários sobre suas relações
taxonômicas;
4. Confeccionar fotografias em microscópio eletrônico de varredura das
microestruturas de importância taxonômica (ex: esporos, basídios, capilício);
5. Identificar as espécies através de literatura especializada e/ou através de
comparação com espécimes emprestados de outros herbários.
48
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 ÁREAS DE ESTUDO
4.1.1 Área de Proteção Ambiental da Serra de Ibiapaba
A Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra de Ibiapaba (Figs. 15a; 16) está
localizada no município de Tianguá no Estado do Ceará, a 330 km de Fortaleza, altitude
média de 800 metros acima do nível do mar, podendo ultrapassar 900 metros. Além do
município de Tianguá a APA da Serra de Ibiapaba engloba mais cinco municípios: Viçosa do
Ceará, Ipú, Ubajara, Guaraciaba do Norte e Carnaubal (CEARÁ, 2012), e detém 374.628
hectares do território cearense (MENEZES et al., 2010), na condição de Unidade de
Conservação (IBAMA; WWF-Brasil 2007). Embora a vegetação predominante seja caatinga,
outros três tipos ocorrem: floresta subperenifólia tropical plúvio-nebular, ou seja, mata úmida
e serrana; floresta subcaducifólia tropical pluvial (mata seca); e carrasco (OLIVEIRA;
BASTOS, 2010). Apresenta uma precipitação média anual de 1.200 mm (ARAÚJO et al.,
1999), temperatura media anual de 22º a 24ºC, e período chuvoso nos meses de janeiro a maio
(VIANA et al., 2010).
4.1.2 Reserva Ecológica Estadual Mata do Pau-ferro
A Reserva Ecológica Estadual Mata do Pau-Ferro está localizada no Município de Areia
no Estado da Paraíba (Figs. 15b; 16). É uma Unidade de Conservação Estadual, com
aproximadamente 600 ha, contemplando além do município de Areia, outros seis: Alagoa
Grande, Alagoa Nova, Bananeiras, Borborema, Pilões e Serraria. A região é caracterizada
pelo clima úmido, solos férteis a medianamente férteis, com hidrografia caracterizada por
pequenos e médios cursos d’água. Consequentemente, a Reserva Ecológica Mata do Pau-
Ferro é a região de brejo de altitude com maior representatividade de área no Estado da
Paraíba (BARBOSA et al., 2004), senão do interior do Nordeste (ANDRADE et al., 2006).
Apresenta precipitação média anual de 1.200 a 1.400 mm, com concentração maior nos meses
de março a agosto (75%), com clima quente e úmido com chuvas de outono-inverno (SILVA
et al., 2010) e temperatura média anual de 22ºC (OLIVEIRA et al., 2006). Sua vegetação é de
floresta ombrófila propiciada pela condição de brejo sitiada pela vegetação de caatinga,
fazendo da região uma ilha de elevada biodiversidade (ANDRADE et al., 2006).
49
Figura 15 – Áreas de Coleta. a. APA da Serra de Ibiapaba, Tianguá/CE; b. Reserva Ecológica Estadual Mata do
Pau-Ferro, Areia/PB.
Foto: Dônis Alfredo.
50
Figura 16 – Localização geográfica das áreas de coletas. Os pontos vermelhos e azuis representam as trilhadas
onde foram realizadas as coletas. APA Serra de Ibiapaba CE – trilha do Riacho, trilha Pindoguaba e trilha do
IFCe; Reserva Ecol. Est. Mata do Pau-Ferro – trilha do Cumbe e trilha da Boa Vista.
Mapa: Pâmela Lavor.
4.2 COLETA DOS ESPÉCIMES
Nas áreas de estudo, as coletas foram realizadas de forma aleatória pelas trilhas e mata
adentro quando possível. Todos os substratos propícios ao surgimento de fungos gasteróides,
como solo, serrapilheira e madeira morta foram observados; os espécimes quando
encontrados foram fotografados e, posteriormente, coletados com auxílio de um canivete (Fig.
17). Os basidiomas foram acondicionados em caixas plásticas com compartimentos
individualizados (Fig. 17b), seguindo a metodologia adotada corriqueiramente em estudos
deste grupo (LODGE et al., 2004).
Os basidiomas foram secos em desidratador elétrico à temperatura aproximada de 40oC,
durante cerca de 48 horas (Fig. 19 a), sendo que os mais carnosos seccionados em fatias para
desidratar uniformemente o espécime, evitando que as partes internas permaneçam úmidas.
Os espécimes então foram acondicionados em sacos plásticos, etiquetados e levados ao
laboratório. Para a herborização os mesmos foram acondicionados em caixas de papelão,
etiquetados, sendo registrados dados relativos às localidades, datas, coletor, hábitat (natureza
51
do substrato) e basidiomas (forma, consistência, modo de inserção no substrato, coloração e
dimensões). Os basidiomas foram analisados macroscopicamente quanto à forma, tamanho e
cor do basidioma, características do perídio e da gleba. As medidas foram obtidas com um
paquímetro de precisão e as cores foram determinadas de acordo com o guia de cores de
Küppers (2002). As cores das estruturas, bem como algumas medidas p. ex. espessura do
perídio, foram observadas em material fresco e após a secagem.
Figura 17 – Metodologia de coleta. a. Procura por fungos gasteroides em serrapilheira; b. Caixa plástica para
armazenamento dos basidiomas coletados, canivete para retirada do basidioma do substrato, caderno para
anotações e régua milimetrada para medições.
Foto: Dônis Alfredo
52
4.3 IDENTIFICAÇÃO DOS ESPÉCIMES
O estudo dos espécimes foi realizado no Laboratório de Biologia de Fungos do
Departamento de Botânica, ecologia e Zoologia – Centro de Biociências da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte.
Para a análise das microestruturas foram utilizados microscópios e lupas, e seguida à
metodologia tradicional para taxonomia deste grupo, ou seja, para a confecção das lâminas o
material foi cortado à mão livre, com auxílio de lâmina de barbear e manipulado com
estiletes. Para observação das microestruturas do basidioma foram feitos cortes transversais, à
lupa (estereomicroscópio “Leica EZ4”- Fig. 18 b), e com ajuda de duas pinças as camadas
foram separadas e colocadas sobre lâminas distintas, contendo KOH a 2-5%, azul de algodão,
reagente de Melzer, e/ou floxina, dependendo do grupo estudado. Em seguida as hifas foram
separadas com o estilete até o conteúdo tornar-se quase homogêneo, sendo finalmente
observadas ao microscópio (SUÁREZ; WRIGHT, 1996; SOTO; WRIGHT, 2000). Para
obtenção das medidas microscópicas utilizou-se o microscópio óptico “Olympus BX41TF”; e
foram feitas 20 medidas de cada uma das microestruturas e anotados os valores extremos. Na
medição dos esporos as ornamentações foram incluídas. As fotos das microestruturas foram
confeccionadas no microscópio Nikon “Eclipse Ni” com câmara fotográfica “DSRi” acoplado
ao microcomputador, e utilizou-se o programa de suporte para a captura das imagens –
“Software de Imagem de Microscopia NIS-Elements” (Fig. 18 c).
Adicionalmente, foi utilizada microscopia eletrônica de varredura (MEV) em aparelho
Phillips modelo XL30-ESEM, disponível no Laboratório de Geoquímica/UFRN e/ou
Shimadzu modelo SSX-550 no laboratório do Centro de Tecnologias do Gás – CTGás/Natal
para obtenção detalhada das microestruturas de importância taxonômica, como por exemplo:
ornamentação dos esporos, basídios e capilícios. Uma metodologia detalhada dos
procedimentos para as analises em MEV pode ser observado em Cortez (2009).
A identificação das espécies, bem como as descrições, foram efetuadas de acordo com
os caracteres observados nos espécimes examinados e com base em literatura pertinente a
cada grupo. A terminologia micológica seguiu a nomenclatura proposta por Kirk et al. (2008),
Fidalgo e Fidalgo (1967). A coleção foi catalogada e incorporada ao acervo do herbário
UFRN (Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia/CB/UFRN). As siglas de herbários
serão abreviadas por acrônimos segundo Index Herbariorum.
53
Figura 18 – Equipamentos de uso no laboratório. a. Desidratador para secagem dos basidiomas; b.
Estereomicroscópio (lupa); c. Microscópio Nikon “ Eclipse Ni” acoplado ao microcomputador para captura de
imagens.
Foto: Dônis Alfredo
54
5 RESULTADOS
5.1 LISTA DOS TÁXONS IDENTIFICADOS
As coletas realizadas nas duas áreas de brejo de altitude (APA Serra de Ibiapaba e
Reserva Ecológica Mata do Pau-Ferro) resultaram em 103 coletas de fungos gasteróides.
Destes, 43 coletas não foram consideradas durante a secção 5.2 do presente trabalho e estão
distribuídas em: 3 coletas do gênero Cyathus, que não contemplaram o presente estudo; 37
coletas de Geastrum sp., que se apresentaram no estagio imaturos ou quando maturos estes
eram de apenas um indivíduo; e os gêneros com uma coleta cada: Hysterangium sp., Mutinus
sp. (totalmente destruídos), e Tulostoma sp., também com apenas um indivíduo. As 60 coletas
restantes foram identificados em 17 espécies distribuídas em cinco famílias: Clathraceae (uma
espécie), Geastraceae (nove espécies), Lycoperdaceae (quatro espécies), Phallaceae (duas
espécies), Rhizopogonaceae (uma espécie), (Fig. 19).
Figura 19 – Gráfico das Famílias identificadas.
Gráfico: Dônis Alfredo
55
Listagem dos táxons coletados na APA Serra de Ibiapaba e Reserva Ecológica Estadual
Mata do Pau-Ferro
Subclasse Agaricomycetidae
Ordem Agaricales
Família Lycoperdaceae Chevall.
Calvatia cava sp. nov.
Lycogalopsis sp.
Morganella fuliginea
Morganella nuda sp. nov.
Ordem Boletales
Família Rhizopogonaceae
Rhizopogon luteolus Fr.
Subclasse Phallomycetidae
Ordem Geastrales
Família Geastraceae Corda
Geastrum hirsutum Baseia & Calonge
Geastrum javanicum
Geastrum lageniforme
Geastrum morganii Lloyd
Geastrum pectinatum Pers.
Geastrum rusticum B.D.B. Silva, T. S. Cabral & Baseia
Geastrum saccatum
Geastrum schweinitzii
Geastrum triplex Jungh.
Ordem Phallales
Família Clathraceae
Abrachium floriforme (Baseia & Calonge) Baseia & T.S. Cabral
Família Phallaceae
Mutinus caninus
Phallus indusiatus
56
5.2 DESCRIÇÃO E COMENTÁRIOS DAS ESPÉCIES IDENTIFICADAS
5.2.1 Lycoperdaceae Chevall., Fl. Gèn. Env. Paris 1: 348, 11826.
5.2.1.1 Calvatia Fr., Summ. Veg. Scand. 2: 442. 1849 nom. cons.
Hippoperdon Mont., Annls Sci. Nat., Bot., Ser. 2 17: 121, 1842.
Handkea Kreisel, Nova Hedwigia 3–4: 282, 1989.
Sinônimos de acordo com Lange (1993).
De acordo com Lange (1993); Zeller; Smith (1964), o gênero é caracterizado por:
Basidioma epígeo, ovoide a piriforme, pequeno a muito grande (3–30 cm largura). Perídio
duplo. Exoperídio liso ou ornamentado com pequenos tufos de hifas (macroscopicamente com
aspecto granuloso), verrugas ou espinhos. Endoperídio liso ou rugoso, membranoso.
Deiscência ocorre após a maturidade, tanto exoperídio quanto endoperídio se quebram
irregularmente a partir da porção apical, expondo a gleba. Subgleba inexistente, pouco
desenvolvida ou bem desenvolvida podendo ocupar dois terços do basidioma, em câmaras ou
compacta, diafragma presente ou ausente. Gleba inicialmente branca, adquirindo coloração na
maturidade. Paracapilício ausente. Capilício presente, tipo “Lycoperdon”, algumas vezes
fragmentado, septado, com poros ou fissuras, ramificado ou não, amarelado a marrom em
KOH, dextrinoide ou sem reação ao Melzer. Basidiósporos globosos a elipsoides, lisos,
verrugosos a espinhosos, curtamente pedicelado, pedicelo frágil que se desprende do esporo
com facilidade, coloração amarelado a marrom em KOH, dextrinoide ou sem reação ao
Melzer.
Este gênero possui hábito solitário ou gregário, podendo ser terrícola, lignícola (folhas) ou
arenícola; possui distribuído principalmente em regiões áridas e tropicais (KREISEL, 1989,
1992).
57
5.2.1.1.1 Calvatia cava Alfredo & Baseia sp. nov.
Mycobank no.: MB804770
Figuras 20 – 22.
Diagnose – Basidiomata 24–33 mm width., pyriform to turbinate. Exoperidium granulose not
persistent. Sterile base occupying half of the basidiomata, which disappearing in maturity and
thus leaving a hollow cavity. Basidiospores 3.1–5.1 µm diam., finely echinulate.
Eucapillitium 2.5–3.8 µm diam., ornamented with spaced nodules.
Etimologia – em referência a subgleba, que desaparece completamente na maturidade,
deixando a porção basal do basidioma oca.
Basidioma 24–33 mm largura × 29–54 mm altura, piriforme a turbinado. Exoperídio
granuloso não persistente, marrom (N90Y90M70) na base tornando-se marrom oliva
(N70Y80M40) no ápice. Endoperídio papiráceo, superfície areolada, plicada, castanho
(N50Y99M20) a marrom (N50Y99M50). Gleba cotonosa, tornando-se pulverulenta, marrom oliva
(N60Y80M20). Subgleba ocupando metade do basidioma, desaparecendo na maturidade e então
deixando uma cavidade oca, afilada na base, presa ao substrato (detritos ou folhas).
Rizomorfas ocasionais, quando presente < 0,5 mm espessura esbranquiçada.
Basidiósporos 3,1–5,1 µm comprimento × 3,8–5,1 µm largura (incluindo ornamentação),
globoso a subgloboso, finamente equinulado ou punctado, marrom amarelado em KOH 5%,
dextrinoide em reagente de Melzer. Capilício 2,5–3,8 µm diâm., hifa com paredes retas < 1,5
µm espessura, frequentemente ornamentado com espaçados nódulos (< 1 µm altura),
ocasionalmente ramificado e septado, poros pouco frequentes, amarelo pálido em KOH 5%,
dextrinóide em reagente de Melzer. Paracapilício ausente. Exoperídio com hifas subglobosas,
claviformes, piriformes, obpiriforimes a elípticas, 7,6–26,6 µm diâm. × 12,7–40,6 µm altura,
paredes < 1,5 µm espessura, amarelo pálido em KOH 5%. Endoperídio com hifas 3,1–5,7 µm
diâm., parede reta < 1,5 µm esp., quebradiça, entrelaçadas, marrom claro em KOH 5%.
Material examinado – Brasil, Paraíba, Areia, 06º57’899’’S, 35º44’956’’W, 642 m, 17 de julho
2012, col. D.S. Alfredo DSA 97, (Holótipo, UFRN-Fungos 1842); Brasil, Ceará, Tianguá
APA Serra de Ibiapaba, 03º39’’806’S, 40º57’’625’ W, 761 m, 19 abril 2012, D. S. Alfredo,
DSA 76 (Parátipo, UFRN-Fungos 1843).
Habitat – sobre folhas em decomposição.
Habito – solitário.
58
Distribuição da espécie – conhecida até o momento para Brasil.
Comentários – Sob primeira analise em campo Calvatia cava foi inicialmente confundida
com um representante do gênero Vascellum Smarda devido a subgleba oca se parecer com um
diafragma (Fig. 20 a, b), separando a base estéril da gleba. As espécies de Vascellum possuem
um poro apical bem desenvolvido e deiscência irregularmente estelada (PONCE DE LEON,
1970; HOMRICH, 1975), não ocorrendo em Calvatia (MORALES; KIMBROUGH, 1978)
Em Calvatia cava a deiscência ocorre quando o perídio se desintegra, expondo totalmente a
gleba (Fig. 20 a, b), sendo que esta é uma característica do gênero. Outras características, tais
como: capilício com septos verdadeiros ocasionalmente com poros, ramificado e ornamentado
(Figs. 20 d; 21 b; 22 a–c); basidiósporos finamente verrucosos (Figs. 21 c; 22 c, d) indicam se
tratar de uma espécie de Calvatia.
Calvatia rosacea Kreisel apresenta os basidiósporos similar aos de C. cava, visto que,
em microscópio de luz (ML) são finamente verrugosos (Fig. 20 d, 21 c) e em MEV
apresentam pequenos verrugas ligados por estrias (Fig. 22 c–d) (KREISEL, 1989). Entretanto,
uma análise minuciosa separam estas duas espécies: Calvatia cava apresenta base estéril que
na maturidade desaparece deixando uma cavidade oca (Fig. 20 b), hifas do capilício nodulosas
(Figs. 20 d; 22 a–c), características não presentes em C. rosacea; as células do exoperídio
(esferocistos) apresentam formas globosas a elípticas (Fig. 20 c; 21 a), e mesmo Kreisel
(1989, pág. 293, fig. 6) não tendo chamado atenção para esta característica, ele fez ilustração
das células do exoperídio, deixando claro que a disposição das células em ambas as espécies
são distintas.
Outras espécies apresentam caracteres similares com Calvatia cava, como C. pallida
A.H. Sm. por apresentar hábito lignícola, tamanho e padrão de ornamentação dos
basidiósporos, e C depressa (Bonord.) Zeller & A.H. Sm. por apresentar os basidiósporos
finamente equinulados. Por outro lado, os demais caracteres como células do exoperídio,
capilício e base estéril são divergentes nas mesmas. Cortez et al. (2012), registraram C.
rugosa (Berk. & M. A. Curtis) D.A. Reid para o Rio Grande do Sul, em comparação com
nossa espécie apenas o padrão de ornamentação dos basidiósporos se assemelham, os demais
caracteres morfológicos como células do exoperídio, base estéril, capilício são totalmente
diferenciados quando comparadas. Alves e Cortez (2013b), registraram para o Estado do
Paraná Calvatia guzmanii C.R. Alves & Cortez, a espécie é caracterizada por: exoperídio
distintamente espinhoso; endoperídio liso; base estéril persistente e celular; gleba cotonosa; e
capilício liso com poros abundantes, essas características mostram-se distintas de C. cava.
59
Figura 20 – Basidiomas e microestruturas de Calvatia cava. a. Basidioma sobre folha em decomposição; b.
Basidioma em corte transversal, setas indicando a base estéril oca; c. Esferocistos do exoperídio; d. Hifas do
capilício noduloso indicado pelas setas, septado e com poros ocasionais.
Foto: Dônis Alfredo.
60
Figura 21 – Microestruturas de Calvatia cava. a. Cadeia de células do exoperídio; b. Capilício com nódulos,
septos, poros e ramificado; c. Basidiósporos punctado.
Ilustração: Dônis Alfredo.
61
Figura 22 – Fotos das microestruturas Calvatia cava em Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV). a.
Capilício ramificado; b–c. Capilício noduloso (indicado pelas setas); d. Basidiósporos.
Foto: Dônis Alfredo.
5.2.1.2 Lycogalopsis E. Fisch. Ber. dt. bot. Ges. 4: 197, 1886.
Enteromyxa Ces., Atti Accad. Sci. fis. mat. Napoli 8: 13, 1879.
Sinônimo segue Dennis (1953).
De acordo com Martín (1939) e Dennis (1953), o gênero é caracterizado por:
basidioma globoso a subgloboso. Perídio duplo. Exoperídio quebrando-se em pequenas
escamas, creme a marrom pálido. Endoperídio branco, papiráceo, deiscência irregular,
quebrando-se no ápice em parte deixando um aspecto de colar ao redor da base estéril. Base
62
estéril persistente, compacta, diafragma marcante separando a base estéril da gleba. Gleba
amarela pálida a pálido ocreácea.
A característica marcante deste gênero é hábito densamente gregário, crescendo sobre
subículo esbranquiçado sobre madeira em decomposição.
5.2.1.2.1 Lycogalopsis sp.
Figura 23.
Basidioma 8–15 mm diâm., globoso a subgloboso crescendo sobre subículo branco a
amarelado (N00Y10M00) sobre madeira morta em decomposição. Perídio duplo. Exoperídio
enrugado, persistente, creme (N00Y20M00), amarelado (N00Y30M00) a amarelo alaranjado
(Y99M30C30). Endoperídio liso, persistente, amarelado (N00Y10M00). Base estéril ausente ou
reduzida (<2 mm altura). Gleba inicialmente branca quando fresco, após 20 a 30 segundos do
corte lilás (Y99M90C80) tornando-se marrom escuro (N70Y99M70) em espécime seco, rígida,
câmaras fechadas, columela discreta que se espalhas em linhas para a periferia da gleba.
Basidiósporos 3,8–5,1 µm diâm., globosos, apículo presente, asperolados, amarelado em
KOH 5%. Capilício 1,3–3,8 µm diâm., parede lisa, sinuosa < 0,5 µm esp., hifas curtas,
quebradiças, paralelamente sobrepostas, hialinas a amareladas em KOH 5%. Exoperídio
composto de hifas 1,3–2,5 µm diâm., densamente sobrepostas, submersas em substância
amorfa hialina, parede sinuosa < 0,5 µm esp., hifas curtas e fragmentadas, hialina a
esverdeada em KOH 5%. Endoperídio gelatinizado com substância amorfa. Hifas do subículo
1–2,5 µm diâm., parede sinuosa, hialinas a amarelo pálidas em KOH 5%.
Material examinado – Brasil, Paraíba, Areia, Res. Ecol. Est. Mata do Pau-Ferro,
06º57’899’’S, 35º44’956’’W, 642 m, 18 julho 2012, D.S. Alfredo, DSA 98 (UFRN-Fungos
1859).
Material adicional – Brasil, Pernambuco, Recife, Parque Estadual Dois Irmãos, I. G. Baseia
(UFRN-Fungos 1470).
Habitat – madeira em decomposição.
Habito – cespitoso, crescendo sobre subículo.
Distribuição da espécie – ainda conhecida apenas para Brasil.
63
Comentários – O presente espécime é caracterizado pelo basidioma cespitoso, crescendo
sobre subículo bem desenvolvido sobre madeira morta (Fig. 23 a, b). Estes caracteres são
relacionados ao gênero Lycogalopsis. Contudo, não foi observada a deiscência irregular
relatada por Martín (1939) e Dennis (1953) para este gênero. Podemos pensar na
possibilidade de estarmos analisando espécimes imaturos, que seria suportada pela presença
de gleba gelatinosa e inicialmente branca. Porém, depois de secos a gleba torna-se escurecida
e dura. Basidiomas apresentando a mesma característica dos analisados neste estudo foram
coletados anos atrás em Pernambuco por Baseia, I.G. (em 21/julho de 2003, no Parque Dois
Irmão, Recife/Pernambuco, UFRN-Fungos 1470). Nos espécimes coletados em Pernambuco,
foi observada deiscência irregular por fragmentação do perídio. Por outro lado, a natureza da
gleba gelatinosa a qual se torna lilás em cerca de 20 a 30 segundos após cortar o basidioma
fresco (Fig. 23 b), a consistência rígida da gleba em espécime seco, os capilícios
paralelamente justapostos e hialinos, os basidiósporos agrupados e asperolados (Fig. 23 e–f),
os basídios alongados com 2 a 4 basidiósporos (Fig. 23 e) e o exoperídio composto de hifas
septadas e com grampos de conexão (Fig. 23 c–d) não são encontrados em Lycogalopsis, um
gênero monoespecífico (CALONGE; MATA; CARRANZA, 2005; DENNIS, 1953;
MARTÍN, 1939). Desta forma, são necessárias novas coletas a fim de verificar outros estágios
de maturação dos basidiomas, além de estudos comparativos e moleculares que visem
confirmar a inclusão deste táxon em Lycogalopsis.
64
Figura 23 – Basidiomas e microestruturas Lycogalopsis sp. a Basidioma sobre subículo em madeira morta; b.
basidioma em corte transversal; c–d. Exoperídio com grampos de conexão; e. Basídios, basidiósporos e hifas do
capilício; f. Microscopia eletrônica de varredura dos basidiósporos. As barras em a e b representam 10 mm.
Foto: Dônis Alfredo.
65
5.2.1.3 Morganella Zeller, Mycologia 40: 650, 1948.
Basidioma epígeo, depresso globoso a piriforme. Perídio duplo. Exoperídio furfuráceo,
velutíneo, granular, verrugoso a espinhoso. Endoperídio papiráceo, liso a reticulado.
Deiscência pela formação de poro apical irregular. Subgleba compacta ou em câmaras
(algumas vezes inconspícua). Gleba inicialmente branca tornando marrom na maturidade,
pulverulenta. Capilício restrito a apenas uma espécie até o momento. Paracapilício abundante,
ramificado, septado, hialino em KOH, acianófilo. Basidiósporos globosos a amplamente
ovoides, verrugosos a espinhosos (PONCE DE LEON, 1971).
O gênero possui hábito gregário, cespitoso, podendo ser lignícola, ocorrendo sobre
madeira morta.
5.2.1.3.1 Morganella fuliginea (Berk. & M.A. Curtis) Kreisel & Dring, Feddes Repert. 74:
113, 1967.
Figuras 24 – 26.
Lycoperdon fuligineum Berk. & M.A. Curtis, Journ. Linn. Soc. Bot. 10:345, 1868.
Lycoperdon astrocaryi Berk. & Cooke, Journ. Linn. Soc. Bot. 15: 393, 1877.
Bovista puiggarii Speg., Boln Acad. Nac. Cienc. Córdoba 11:489, 1889.
Lycoperdon cubense Berk., in Massee, Journ. Roy. Microscop. Soc.: 722, 1887.
Lycoperdon confluens Pat., Bull. Soc. Mycol. Fr. 15: 203, 1899.
Morganella mexicana Zeller, Mycologia 40: 650, 1948.
Radiigera puiggarii (Speg.) Singer, J.E. Wright & E. Horak, Darwiniana 12: 603, 1963.
Morganella puiggarii (Speg.) Kreisel & Dring, Feddes Rep. 74: 116, 1967.
Sinônimo segue Suárez e Wright (1996).
Basidioma 5−13 mm diâm., × 2−9 mm alt., globoso a subgloboso, não umbunado. Perídio
consistindo de exoperídio persistente, glabro finamente tomentoso no inicio do
desenvolvimento, tornando-se aveludado a espinhoso na maturidade, espinhos ˂ 0,5mm
compr., quando jovem amarelo amarronzado (Y50M10C00 a Y60M20C10) na base, tornando-se
lilás escuro (Y60M90C90) no ápice, quando maduros marrom claro (Y90M60C30) na base
tornando-se marrom (Y99M80C80) no ápice; formam cadeias de hifas globosas a subglobosas,
medindo 7,2−25,4 µm diâm. × 8,9−27,9 µm alt., parede ˂ 2 µm espessura. Endoperídio
glabro, inicialmente branco quando jovem a amarelo esbranquiçado (N00C00Y10 a N00C00Y30)
quando maduro, deiscência por um peristômio lacerado, formado de hifas filamentosas,
66
hialinas a esverdeadas, 2,5−3,8 µm diâm., paredes retas <1,5 µm esp. Pseudoestipe conspícuo,
branco (Y00M00C00), < 2mm compr. Base estéril celular, compacta, creme (N00C00Y30), <
2mm alt. Gleba branca quando imatura, membrana glebal presente hialina e desaparecendo na
maturidade; em basidiomas maduros marrom (Y99M60C70) e pulverulenta. Rizomorfas
inconspícuas.
Basidiósporos imaturos 2,8−5,1 µm diâm. (incluindo ornamentação), globosos, pedicelos até
7,6 µm compr. Basidiósporos maturos 4,8−7,6 µm diâm. (incluindo ornamentação), globosos,
pedicelos até 5,1 µm compr., marrom em KOH 5%. Capilício ausente. Paracapilícios
abundantes 3,8−6,3 µm diâm., parede reta < 1,5 µm espessura, septado, hialino em KOH 5%.
Material examinado – Brasil, Ceará, Tianguá APA Serra de Ibiapaba, 03º39’’806’S,
40º57’’625’ W, 761 m, 04/2012, col. Alfredo, D.S, DSA 73 (UFRN-Fungos 1768);
Material adicional – Brasil, Rio Grande do Norte, Baía Formosa, RPPN Mata Estrela,
05/2004, col. Baseia, I.G & Lacerda, P.P.T (UFRN-Fungos 325).
Habitat – sobre solo e serapilheira.
Habito – gregário.
Distribuição da espécie – em regiões tropicais e subtropicais (Suárez & Wright 1996).
Comentários – As características marcantes desta espécie são exoperídio persistente,
espinhoso, espinho marrom escuro (Fig. 24) e basidiósporos fortemente equinulados (Figs. 25
c, d c; 26 c) (DENNIS, 1953). Morganella mexicana Zeller foi considerada espécie tipo para
o gênero (ZELLER, 1948), contudo, durante suas revisões, Kreisel e Dring (1967), Ponce de
Leon (1971) e Suárez e Wright (1996), consideraram sinônimo de M. fuliginea. Algumas
espécies são intimamente relacionadas à M. fuliginea, como M. velutina e M. albstipitata, pois
compartilham mesmo padrão de ornamentação dos esporos (Figs. 25 c, d; 26 c), no entanto,
apresentam padrão de disposição das cadeias de hifas do exoperídio diferem entre elas (Figs.
25 a; 26 a) (ALFREDO et al., 2012; PONCE DE LEON, 1971). Esta característica, segundo
Kreisel e Dring (1967), servem para distinguir espécies próximas. O presente espécime com
base nas características apresentadas é um bom representante de Morganella fuliginea.
67
Figura 24 – Basidioma Morganella fuliginea. a. Corte transversal em espécime seco; b. Detalhe do perídio e
subgleba; c. Desenvolvimento gregário e cespitoso (espécimes frescos). As barras representam 10 mm.
Foto: Dônis Alfredo.
68
Figura 25 – Fotos microestruturas e microscopia eletrônica de varredura (MEV) Morganella fuliginea. a.
Esferocistos do exoperídio; b. Paracapilício septado; c. Basidiósporos equinulados; d. Detalhes dos basidiósporos
em MEV. As barras representam 10 µm.
Foto: Dônis Alfredo.
69
Figura 26 – Microestruturas Morganella fuliginea. a. Cadeias de células pseudoparenquimatosas do exoperídio;
b. Paracapilício septado e algumas vezes ramificado; c. Basidiósporos equinulados e algumas vezes pedicelados.
Desenho em câmara clara. As barras representam 10 µm.
Ilustração: Dônis Alfredo.
70
5.2.1.3.2 Morganella nuda Alfredo & Baseia sp. nov.
Mycobank no: MB 801797
Figuras 27 –28.
Diagnose – Basidiomata 5–15 mm diâm., depressed globose to pyriform, not umbonate.
Exoperidium granulose in small hyphal tufts, when mature falling off completely exposing
the endoperidium. Basidiospores 5.7−7.6 µm diâm., globose, strongly echinulate, sometimes
pedicellate (3.8−13 µm long).
Etimologia – Em referência ao exoperídio, que cai quase ou completamente na maturidade,
deixando o basidioma nu.
Basidioma 5–15 mm diâm. × 3–12 mm altura, depresso globoso a piriforme, não umbunado.
Perídio com exoperídio caindo quase ou completamente na maturidade. Exoperídio granuloso
em pequenos tufos de hifas, caindo parcialmente ou completamente, expondo o endoperídio,
ocasionalmente com remanescentes na base, laranja pálida (N00Y40M20) a marrom oliva
(N50Y80M40) na base, tornando-se marrom (N50Y90M60 a N60Y90M70) no ápice, composto de
hifas em cadeias regulares (7,6–22,8 µm diâm. × 10,1–34,3 µm altura), globosa a subglobosa,
tornando-se ovoide nas extremidades, paredes < 1,5 µm esp. Endoperídio liso a enrugado,
papiráceo, lilás claro (N00Y20M30 a N00Y30M40) em espécimes frescos, tornando-se lilás
acinzentado (N40Y00M20) a marrom amarelado (Y70M30C10) em espécimes secos, deiscência
por um peristômio plano, composto de hifas hialinas (2,5–3,8 µm diâm.), paredes < 0,5 µm
esp. Base estéril compacta, branca a amarelo pálida (N00Y10M00), 1 mm altura. Gleba marrom
(Y99M60C60).
Basidiósporos globosos, 5,7–7,6 µm diâm. (incluindo ornamentação), fortemente equinulados,
algumas vezes pedicelados (3,8–12,7 µm long.), marrom amarelado em KOH 5%. Eucapilício
ausente. Paracapilício abundante, 2,5–5,7 µm diâm., septado, ocasionalmente ramificado,
parede <1,5 µm esp., exibindo incrustações amorfas e hialinas, hialino em KOH 5%.
Material examinado – Brasil, Paraíba, Areia, 17 julho 2012, D.S. Alfredo, DSA 105
(Holótipo, UFRN-fungos 1765), 18 julho 2012, D.S. Alfredo, DSA 119; 137 (UFRN-Fungos
1766, UFRN-Fungos 1767).
71
Habitat – sobre madeira em decomposição.
Habito – gregário.
Distribuição da espécie – ainda conhecida apenas para Brasil.
Comentários – Morganella nuda pode ser inicialmente confundida com M. fuliginea, uma
espécie amplamente distribuído pelo mundo, sendo ambas as espécies muito semelhantes.
Contudo, M. nuda pode ser reconhecida primariamente pelo exoperídio efêmero, que cai
completamente com o tempo, com ocasionais pequenos remanescentes sobre a porção basal
do basidioma (Fig. 27 a, b). Ao contrário das espécies de M. fuliginea em que o exoperídio é
persistente mesmo em amostras seca e velhas, e consiste em cadeias hifálicas agrupadas de tal
maneira, que a sua conformação fornece um aspecto espinhoso na superfície do exoperídio
(DENNIS, 1953; ZELLER, 1948).
Morganella nuda pode ser facilmente distinguida de M. albostipitata Alfredo & Baseia,
outra similar espécie, primariamente por seu pseudoestipe inconspícuo em M. nuda (Fig. 27 a,
b). Elas também diferem pela natureza efêmera do exoperídio, na conformação das cadeias e
morfologia das hifas, no qual se mostram ovoides (Fig. 28 a) e não extremidades setosas
como em M. albostipitata (ALFREDO et al., 2012 figura 11, página 69). Morganella nuda,
também apresenta basidiósporos globosos, equinulados e algumas vezes pedicelados (Figs. 27
c, d; 28 d), com pedicelos medindo até 13 µm compr. (Fig. 27 c), observado apenas em
microscópio de luz. Este padrão de basidiósporo ocorre em outras espécies de Morganella (M.
velutina), mas estas espécies em adição a discrepância do exoperídio, mostram várias outras
divergências taxonômicas.
72
Figura 27 – Basidiomas e microestruturas Morganella nuda. a. Basidiomas frescos, com ausência do exoperídio;
b. Basidioma seco, com remanescentes do exoperídio na porção basal, indicado pela seta; c. Basidiósporos com
pedicelos, em microscópio de luz (ML) sob lente 1000 ×; d. Detalhe dos basidiósporos em microscopia
eletrônica de varredura (MEV).
Foto: Dônis Alfredo.
73
Figura 28 – Microestruturas de Morganella nuda. a. Esferocistos do exoperídio; b. Esferocistos surgindo a partir
do endoperídio; c. Paracapilício septado, com substâncias hialinas e amorfas presentes; d. Basidiósporos
equinulados, algumas vezes pedicelados.
Ilustração: Dônis Alfredo.
74
5.2.2 Geastraceae Corda, Anleit. Stud. Mykol., Prag: 104, 1842.
5.2.2.1 Geastrum Pers. Neues Mag. Bot. 1: 85, 1794.
Geaster P. Micheli, Nova plantarum genera (Florentiae): 220, 1729.
Gasteroides Battarra, Fungorum agriariminensis historia. 1: 74. 1755.
Plecostoma Desv., J. Bot. Paris 2:99–100, 1809.
Cycloderma Klotzsch, Linnaea 7: 203, 1832.
Sinônimos de acordo com Sunhede (1989).
De acordo com Soto e Wright (2000); Sunhede (1989), o gênero é caracterizado por
apresentar: basidioma globoso, subgloboso, “onion-shape” (forma de cebola), lageniforme a
piriforme, epígeo ou tornando-se epígeo na maturidade. Exoperídio dividindo-se em forma de
estrela na maturidade, podendo variar de 4 a 12 raios que podem ser ou não higroscópicos.
Endoperídio séssil ou estipitado, com uma boca apical (ostíolo), podendo ser ou não
delimitado. Columela inconspícua a conspícua dentro da gleba matura. Gleba pulverulenta,
marrom; capilícios abundantes, não ramificados, sem grampos de conexão, pigmentados;
paracapilícios ausentes; basidiósporos globosos, subglobosos, ornamentados com verrugas ou
colunas irregulares.
O gênero possui hábito gregário ou solitário, podendo ser terrícola, lignícola (folhas ou
madeiras).
5.2.2.1.1 Geastrum hirsutum Baseia & Calonge, Mycotaxon 95: 302, 2006.
Figuras 29 – 30.
Basidioma imaturo 6 mm diâm., × 10 mm altura, subgloboso, superfície hirsuta, marrom claro
(N10Y60M.). Basidioma expandido 9–16 mm largura × 5–6 mm altura (incluindo peristômio).
Exoperídio dividido 5–7 raios. Raios revolutos não higroscópicos. Camada micelial marrom
claro (N20Y60M30), superfície hirsuta. Camada fibrosa creme (N00Y10M00), papirácea. Camada
pseudoparenquimatosa marrom clara (N20Y70M30), lisa. Endoperídio 4–5 mm largura 3–5 mm
altura, globoso, séssil, liso, marrom acinzentado (N50Y30M20). Peristômio fimbriado, marrom
(N50Y60M40), mamiforme, delimitado, delimitação concolor ao endoperídio. Gleba marrom
(N50Y60M40).
75
Basidiósporos 3,8 – 5,7 µm diâm. (incluindo ornamentação), globosos, verrucosos (verrugas
> 0,5 µm compr.), marrom em KOH 5%. Capilícios 1,9 – 2,5 8 µm diâm., paredes < 1 µm
espessura, marrom claros. Camada pseudoparenquimatosa 11,4 – 28 µm diâm. × 20,3 – 42
µm altura, globosa, piriforme a alongada, hialina a marrom amarelada em KOH 5%, Hifas da
camada hirsuta do exoperídio 2,6 – 4 µm diâm., entrelaçadas, amareladas em KOH 5%.
Material examinado – Brasil, Paraíba, Areia, Reserva Estadual Mata do Pau-Ferro,
06º58’340’’S, 35º44’866’’ W, 572 m, 18/07/2012, col. Alfredo, D.S., DSA 124; 135 (UFRN-
Fungos 1860).
Habitat – sobre madeira morta.
Habito – gregário.
Distribuição da espécie – Conhecida até o momento para o Brasil (Baseia & Calonge 2006).
Comentários – Uma das características peculiares desta espécie é sua camada micelial hirsuta
(Fig. 29 a), (BASEIA; CALONGE, 2006). Em comparação com a espécie descrita pelos
autores os basidiósporos menores (2,5–3 µm diâm.) quando comparados ao do presente
espécime 3,8–5,7 µm diâm. (Figs. 29 c; 30 b, e). Geastrum albonigrum Calonge & Mata
ambas compartilham exoperídio hirsuto (CALONGE; MATA 2004), embora, G. hirsutum
apresenta peristômio delimitado (Fig. 29 a) e padrão de ornamentação dos basidiósporos
diferentes (Fig. 29 c; 30 b, e). Geastrum schweinitzii compartilha com G. hirsutum hábito
lignícola (Fig. 29 a), com subículo bem desenvolvido sobre madeira morta e peristômio
delimitado; a primeira, no entanto, não apresenta camada micelial hirsuta (PONCE DE
LEON, 1968). Recentemente, Geastrum hirsutum foi considerado sinônimo de G trichiferum
Rick (Trierveiler-Pereira & Silveira 2012), contudo algumas questões deixaram dúvidas, com
a interpretação do Código de Nomenclatura para determinação do tipo e a necessidade de
estudos comparativos mais detalhados com material proveniente dos Herbários PACA, BPI e
UFRN. Estudos com este objetivo estão sendo realizados pela equipe do Laboratório de
Biologia de Fungos da UFRN. Desta forma, até termos uma posição sobre os resultados deste
estudo, preferimos considerar Geastrum hirsutum.
76
Figura 29 – Basidiomas e Microestruturas de Geastrum hirsutum. a Basidiomas; b. Capilícios; c. Basidiósporos.
Foto e ilustração: Dônis Alfredo.
77
Figura 30 – Fotos e MEV das microestruturas Geastrum hirsutum. a. Capilícios; b. Hifas do exoperídio hirsuto;
c. Basidiósporos verrucosos; d. Hifas do endoperídio; e. Basidiósporos verrucosos; f. Capilício verrucoso.
Foto: Dônis Alfredo.
78
5.2.2.1.2 Geastrum javanicum (Lév.) P. Ponce de León, Fieldiana Bot. 31: 314, 1968.
Figuras 31 – 32.
Basidioma imaturo 19 mm largura × 18 mm altura, com ápice umbunado, rizomorfas
presentes, laranja amarelado (N00Y60M10), com superfície lisa a velutínea. Basidioma
expandido 17–51 mm largura × 7–20 mm altura. Exoperídio dividindo-se em 5–7 raios. Raios
não higroscópicos, saculiformes a arqueados. Camada micelial laranja amarelada
(N00Y40M10), dividindo-se irregularmente e caindo completamente na maturidade, coriácea.
Camada fibrosa amarelada (N00Y30M00), cotonosa. Camada pseudoparenquimatosa marrom
(N90Y99M70), rígida, persistente, até 2 mm espessura (em espécime fresco). Endoperídio
depresso globoso, 11–17 mm largura × 7–14 mm altura (incluindo peristômio), séssil, marrom
acinzentado (N30Y70M30) a marrom (N80Y50M30). Peristômio fibriloso, indistintamente
delimitado a distintamente delimitado, concolor com endoperídio, mamiforme. Gleba marrom
(N80Y80M50).
Basidiósporos 3,5–5,7 µm diâm. (incluindo ornamentação), globosos, apículo presente,
verrucosos em microscópio óptico, colunar em MEV, marrom em KOH5%. Eucapilício
composto de hifas 2,5–7,6 µm diâm., lúmen < 1,5 µm espessura, ocasionalmente ramificado,
marrom em KOH 5%. Camada micelial composta de hifas 2,5–9 µm diâm., asseptadas, lúmen
ausente, amarelo pálida em KOH 5%. Camada fibrosa composta de hifas 2,5–5,7 µm diâm.,
paredes retas < 1 µm espessura, lúmen presente <1 µm espessura, asseptadas, hialinas a
esverdeadas em KOH 5%. Camada pseudoparenquimatosa composta de hifas subglobosas,
piriformes a alongadas, 15,2–41,9 µm diâm. × 11,4–19,1 µm compr., paredes < 1 µm
espessura, hialinas a amarelo pálidas em KOH 5%.
Material examinado – Brasil, Ceará, Tianguá, APA Serra de Ibiapaba, 03º43’164’’S,
41º05’062’’W, 680 m, 18/04/2012, col. Alfredo, D.S., DSA 51; 52; 55; 58 (UFRN-Fungos
1851); Paraíba, Areia, Reserva Ecológica Estadual Mata do Pau-Ferro, 06º58’087’’S,
35º45’028’’W, 577 m, 18/07/2012, col. Alfredo, D.S., DSA 117; 153; 154 (UFRN-Fungos
1863).
Habitat – sobre folhas e serapilheira; alguns crescendo sobre madeira em decomposição.
Habito – gregário e cespitoso.
Distribuição da espécie – Java, Austrália, África, Américas (Central, do Norte e Sul), Oeste da
Índia (PONCE DE LEON, 1968); Havaí (Hemmes & Desjardin 2011); Brasil, Minas Gerais,
Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro (Trierveiler-Pereira et al., 2011).
79
Comentários – Esta espécie se distingue das demais espécies de Geastrum devido ao
exoperídio que se desprende completamente da camada fibrosa com tempo. Esta característica
está de acordo com a descrição de Ponce de Leon (1968). Este autor e outros mais recentes
(CALONGE et al., 2005; LEITE et al., 2011) descreveram esta espécie com peristômio
delimitado. Contudo, Calonge et al. (2008) e Trierveiler-Pereira et al. (2011), descreveram a
espécie com peristômio não delimitado. No presente estudo houve registro de espécimes com
peristômio apresentando distinta e indistinta delimitação (Fig. 31 a, b), provavelmente esta é
uma característica variável na espécie. Alguns basidiomas imaturos apresentaram superfície
lisa a velutínea. Geastrum javanicum apresenta hábito lignícola como em G. hirsutum e G.
schweinitzii (BASEIA; CALONGE, 2006; CALONGE; MATA; CARRANZA, 2005;
CALONGE; MORENO-ARROYO; GÓMEZ, 2008). Por outro lado, Geastrum javanicum
não apresenta exoperídio hirsuto (Fig. 31 a, b), e G. hirsutum, não apresenta camada micelial
e pseudoparenquimatosa avermelhada em basidiomas frescos (Fig. 31 a, b). Baseado nas
literaturas revisadas acima, se conclui que os espécimes aqui estudados são representantes de
G. javanicum.
80
Figura 31 – Basidioma Geastrum javanicum. a. Basidiomas imaturo e expandido com peristômio delimitado; b.
Basidiomas expandidos com peristômio tanto delimitado quanto não delimitado (ndel.); c. Capilícios; d.
Basidiósporos verrucosos.
Foto: a. Bruno Goto; b. Dônis Alfredo; Ilustração: Dônis Alfredo.
81
Figura 32 – Fotos e MEV das microestruturas Geastrum javanicum. a. Capilícios; b. Basidiósporos
minuciosamente verrucosos; c. endoperídio; d. Basidiósporos verrucosos; e. Capilício com substância amorfo
incrustada.
Foto: Dônis Alfredo.
82
5.2.2.1.3 Geastrum lageniforme Vittad. Monog. Lycoper. 16–17, 1842. Figs. 38–41.
Figuras 33 – 34.
Basidioma imaturo 10–18 mm diâm. × 12–22 mm altura, epigeo, ápice umbonado,
obpiriforme a lageniforme, gregários. Preso na base por um tufo micelial. Superfície lisa a
verrugosa, esbranquiçada a amarelo amarronzada (N10Y50M10), sem incrustações. Basidioma
expandido 21–65 mm largura × 8–17 mm altura. Exoperídio dividindo-se em 5–8 raios não
higroscópicos. Raios sacados com ranhuras longitudinais, com pontas delgadas de aspecto
aracnoide. Camada micelial amarelo amarronzada (N10Y50M10) a amarronzado (N30Y70M40),
não incrustado, mas algumas vezes escassos detritos estão aderidos, lisa a verrugosa. Camada
fibrosa papirácea, branca. Camada pseudoparenquimatosa 2 mm espessura (em espécimes
frescos), marrom acinzentado (Y80M40C50) quase desaparecendo com o tempo. Endoperídio
8–17 mm diâm. × 10–18 mm altura (incluindo peristômio), séssil, depresso globoso, marrom
acinzentado (Y60M50C50). Peristômio fibriloso, delimitado, mamiforme, concolor com o
endoperídio. Gleba marrom (Y80M60C50).
Basidiósporos 3,8–6,3 µm diâm. (incluindo ornamentação), globosos, ornamentados com
verrugas colunares em microscópio óptico e em MEV, marrom claro em KOH 5%.Eucapilício
composto de hifas 2–7 µm diâm., paredes retas <1 µm espessura lúmen ausente, substância
amorfa hialina incrustada amarelo pálida em KOH 5%. Camada micelial 2–6,3 µm diâm.,
paredes <1 µm espessura, lúmen <1 µm espessura, hifas entrelaçadas, amarelo pálidas em
KOH 5%. Camada fibrosa 2,5–6,3 µm diâm. hifas de paredes retas a sinuosas, < 1 µm
espessura, lúmen < 1,5 µm espessura, esverdeadas em KPH 5%. Camada
pseudoparenquimatosa composta de hifas globosas, subglobosas a piriformes, 11,4–54,6 µm
diâm. × 31,7–62,2 µm altura, hialinas a amareladas em KOH 5%.
Material examinado – Brasil, Ceará, Tianguá, APA Serra de Ibiapaba, 03º43’164’’S,
41º05’062’’W, 680 m, 18/04/2012, col. Alfredo, D.S., DSA 59 (UFRN-Fungos 1846);
03º39’866’’ S, 40º57’625’’W, 761 m, 18/04/2012, col. Alfredo, D.S., DSA 63; 66; 67
(UFRN-Fungos 1847); 19/04/2012, col. Alfredo, D.S., DSA 70; 82 (UFRN-Fungos 1848);
Paraíba, Areia, Reserva Estadual Mata do Pau-Ferro, 06º57’899’’S, 35º44’956’’ W, 642 m,
17/07/2012, col. Alfredo, D.S., DSA 95; 100; 106 (UFRN-Fungos 1861); 06º58’349S’’,
35º44’876’’W, 568 m, 18/07/2012, col. Alfredo, D.S., DSA 114; 115; 149; 152; 155 (UFRN-
Fungos 1862).
Habitat – serapilheira.
Habito – gregário e cespitoso.
Distribuição da espécie – Cosmopolita (DRING, 1964; SOTO; WRIGHT, 2000).
83
Comentários – A espécie é caracterizada principalmente por seus basidiomas imaturos
lageniformes (Fig. 33 a), quando expandidos apresentam raios com ranhuras longitudinais
(em basidioma seco), alongados e com pontas delgadas, com aspecto aracnoide. As espécies
mais intimamente relacionadas são G. triplex, G. saccatum e G. morganii (SUNHEDE, 1989).
G. morganii é claramente distinto de G. lageniforme, (COKER; COUCH, 1928; SUNHEDE,
1989; HEMMES; DESJARDIN, 2011) sendo primeiro diferenciado por seu peristômio não
delimitado, cônico e plicado, com 5–2 dobras. Em comparação com Geastrum triplex, G.
lageniforme não apresenta colar proveniente da camada pseudoparenquimatosa (Fig. 33 a, b),
o corpo do endoperídio é menor 7,5–19,5 mm diâm., e o basidioma expandido também é
menor 26–80 mm largura. Em comparação com G. saccatum, este não apresenta as pontas dos
raios alongadas e delgadas como em G. lageniforme (DRING, 1964). Com Base nas
literaturas revisadas, os espécimes se enquadram em Geastrum lageniforme.
Figura 33 – Basidiomas e microesturturas Geastrum lageniforme. a. Basidiomas imaturos sobre serrapilheira
com apenas um basidioma aberto (APA de Ibiapaba). b. Basidioma aberto sobre serrapilheira (Res. Ecol. Est.
Mata do Pau-Ferro); c Capilícios; d. Basidiósporos com verrugas colunares irregulares.
Foto e ilustração: Dônis Alfredo.
84
Figura 34 – Fotos e MEV das microestruturas Geastrum lageniforme. a. Capilícios; b. Basidiósporos com
verrugas irregulares; c. Hifas do endoperídio; d. Basidiósporos; e. Capilícios com substância amorfa incrustada.
Foto: Dônis Alfredo
85
5.2.2.1.4 Geastrum morganii Lloyd Myc. Writings 1:80, 1901.
Figuras 35 – 36.
Basidioma imaturo não observado. Basidioma expandido 43–59 mm largura ×11–19 mm
altura. Exoperídio dividindo-se em 5–8 raios. Raios sacados com longas pontas delgadas, não
higroscópico. Camada micelial amarelo ouro (N10Y80M20) a amarronzada (Y70M30C10 a
Y80M30C20), persistente, sem detritos incrustados, mas ocasionalmente grãos de areia podem
estar aderidos. Camada fibrosa papirácea, creme (N00Y10M00). Camada pseudoparenquimatosa
laranja pálido (Y40M20C10) a marrom acinzentado (Y80M60C50), até 2 mm espessura (em
espécimes frescos), persistente a quebrando-se na base dos raios, apresentando um aspecto de
colar na base do endoperídio. Endoperídio 5–14 mm diâm. × 7–19 mm altura (incluindo
peristômio), séssil, aparentemente glabro, mas sob lentes de estereomicroscópio com curtas
hifas protuberantes < 0,1 mm compr., ocasionalmente grãos de areia podem estar aderidos.
Peristômio cônico, irregularmente plicado, com 5–7 dobras, 0,3–0,6 mm altura, delimitação
inconspícua, creme (N00Y10M00). Gleba marrom (Y99M70C66).
Basidiósporos 3,4–6,6 µm diâm. × 3,4–6,6 µm altura (incluindo ornamentação), globosos a
subglobosos, pedicelo não observado, verrucosos em microscópio óptico e colunar em MEV,
marrom amarelados em KOH 5%. Eucapilícios 3,8–6,3 µm diâm., liso, com incrustações,
lúmen < 1,5 µm espessura, marrom amarelados em KOH 5%. Camada micelial composta de
hifas 2–4,4 µm diâm., com paredes retas a sinuosas < 1 µm espessura, lúmen <1 µm esp.
amarelo pálidas em KOH 5%. Camada fibrosa composta de hifas 2,5–7,6 µm diâm., com
paredes retas a sinuosas <1,5 µm espessura, lúmen <1,5 µm esp., ocasionalmente ramificadas,
esverdeadas em KOH 5%. Camada pseudoparenquimatosa composta de hifas subglobosas,
piriformes, citriformes a formas irregulares, 10,1–54,6 µm diâm. × 17,8–63,5 µm compr.,
parede 2 µm espessura, hialina a amarelo pálidas em KOH 5%.
Material examinado – Brasil, Ceará, Tianguá, APA Serra de Ibiapaba, 03º43’164’’S,
41º05’062’’W, 680 m, 18/04/2012, col. Alfredo, D.S., DSA 56 (UFRN-Fungos 1849);
Paraíba, Areia, Reserva Estadual Mata do Pau-Ferro, 06º56’349’’S, 35º44’876’’ W, 642
m,18/07/2012, col. Alfredo, D.S., DSA 125 (UFRN-Fungos 1854).
Habitat – solo e serapilheira.
Habito – gregário.
Distribuição da espécie – Estados Unidos (Coker & Couch 1928), Europa (SUNHEDE,
1989).
Comentários – Geastrum morganii é caracterizado por seus raios longos e pontiagudos,
peristômio cônico, plicado, com 5–12 dobras e delimitação inconspícua (Fig. 35 a, b)
86
(SUNHEDE, 1989; HEMMES; DESJARDIN 2011). De acordo com Sunhede (1989) as
espécies mais próximas são G. lageniforme e G. saccatum, por também apresentarem raios
longos, mas, nenhuma das duas espécies em questão possui peristômio plicado e não
delimitado. Geastrum triplex também se assemelha com G. morganii devido a característica
da camada carnosa formar um tipo de “colar”, contudo não é frequente em G. morganii (Fig.
35 a, b), a característica distinta em ambas as espécies é o peristômio não plicado de G.
triplex. As características apresentadas pelos espécimes os enquadram em Geastrum
morganii.
Figura 35 – Basidiomas e microestruturas Geastrum morganii. a. Basidiomas coletados em serrapilheira na APA
Serra de Ibiapaba/CE; b. Basidioma coletado no solo na Res. Ecol. Est. Mata do Pau-ferro/PB; c. Capilícios; d.
Basidiósporos com verrugas irregulares.
Foto e ilustração: Dônis Alfredo
87
Figura 36 – Fotos e MEV das microestruturas Geastrum morganii. a. Capilícios entre os basidiósporos; b.
Basidiósporos com verrugas irregulares; c. Hifas do endoperídio; d. Basidiósporos; e. Capilício.
Foto: Dônis Alfredo.
88
5.2.2.1.5 Geastrum pectinatum Pers., Syn. Meth. Fung. 132 – 133, 1801.
Figuras 37 – 38.
Geastrum plicatum Berk., Ann. Nat. Hist. 3:399, 1839 (como Geaster).
Geastrum tenuipes Berk., Hook. J. Bot. Lond. 7: 576, 1848 (como Geaster).
Sinônimos de acordo com Sunhede (1989).
Basidioma imaturo 5–12 mm largura × 9–12 mm altura, subgloboso a lageniforme, pálido
amarelado (N00Y10M00) a marrom acastanhado (N60Y60M30). Basidioma expandido 30 mm
largura × 22 mm altura. Exoperídio dividindo-se em 6 raios arqueados, não higroscópicos.
Camada micelial amarelo pálida (N00Y20M00), fortemente incrustada com detritos. Camada
fibrosa papirácea coriácea, creme (Y10M00C00). Camada pseudoparenquimatosa marrom
(N50Y70M50), persistente, lisa, colar não presente. Endoperídio 7 mm diâm. × 7 mm altura
(incluindo peristômio), globoso, pedicelado, marrom acinzentado (Y80M60C60). Pedicelo 5
mm compr., amarelado (N00Y40M10), apófise estriada na porção basal do endoperídio.
Peristômio sulcado, cônico, plicado com 14 dobras, 3 mm altura, marrom escuro (N60Y80M60).
Gleba marrom (N60Y80M60).
Basidiósporos 5,1–6,3 µm diâm. (incluindo ornamentação), globosos, com verrugas colunares
em microscópio óptico e em MEV, apículo presente, com pedicelo <1,5 µm compr., marrom
amarelado em KOH 5%. Eucapilício composto de hifas 3,1–7,6 µm diâm., paredes <1,5 µm
esp., amareladas em KOH 5%. Camada micelial composta de hifas 1,3–2,5 µm diâm., paredes
<1 µm espessura, amarelo pálidas em KOH 5%. Camada fibrosa composta de hifas 2–3,8 µm
diâm., parede <1 µm espessura, hialinas a esverdeadas em KOH 5%. Camada
pseudoparenquimatosa composta de hifas com formas isodiamétricas irregulares, 14–33 µm
diâm. × 17,7–42 µm altura, hialinas a amarelo pálidas em KOH 5%.
Material examinado – Brasil, Ceará, Tianguá, APA Serra de Ibiapaba, 03º43’164’’S,
41º05’062’’W, 680 m, 18/04/2012, col. Alfredo, D.S., DSA 54 (UFRN-Fungos 1850).
Habitat –serapilheira.
Habito – gregário.
Distribuição da espécie – Cosmopolita (PONCE DE LEON, 1968; SOTO e WRIGHT, 2000;
BASEIA et al., 2003).
Comentários – Geastrum pectinatum é reconhecido por seu endoperídio estipitado apófise
estriada e peristômio delimitado, cônico e plicado (Fig. 49) (PONCE DE LEON, 1968;
SOTO; WRIGHT, 2000; BASEIA et al., 2003). As características citadas acima são
compartilhadas com G. striatum DC. e G. berkeleyi Massee, mas nestas, a apófise é lisa
89
(SUNHEDE, 1989; CALONGE et al., 2005). Os espécimes analisados apresentam caracteres
que os enquadram no conceito de G. pectinatum, de acordo com as descrições encontradas na
literatura especializada para este gênero.
Figura 37 – Basidioma e microestruturas Geastrum pectinatum. a. Basidioma seco; b. Detalhe do endoperídio
estipitado e peristômio sulcado; c. Basidioma fresco; d. Capilícios; e. Basidiósporos verrucosos.
Foto e ilustração: Dônis Alfredo.
90
Figura 38 – Fotos e MEV das microestruturas Geastrum pectinatum. a. Capilício; b. Basidiósporos com verrugas
irregulares; c. Hifas do endoperídio; d. Basidiósporos com verrugas colunares; e. Capilício com superfície áspero
e substância amorfa incrustada.
Foto: Dônis Alfredo.
91
5.2.2.1.6 Geastrum rusticum Baseia, T.S. Cabral & B.D.B. Silva, Nova Hedwigia, in Press.
Figuras 39 – 40.
Basidioma imaturo 10–18 mm largura × 13–21 mm altura, parcialmente hipógeo, superfície
incrustada com liteira, adnatos, formas irregulares, branco alaranjado (N00Y20M10) a laranja
pálida (N00Y30M10) tornando-se um pouco assimétricos com o tempo. Basidiomas expandidos
21–45 mm largura × 11–18 mm altura. Exoperídio dividindo-se em 5–7 raios, não
higroscópico. Raios saculiformes tornando-se revolutos, frequentemente recurvados sob o
exoperídio. Camada micelial papirácea, laranja pálida (N00Y30M10) a laranja clara
(N00Y40M10), não persistente, algumas vezes incrustada com partículas do solo. Camada
fibrosa branca a amarelo clara (N00Y20M00), cotonosa. Camada pseudoparenquimatosa
marrom clara (Y60M30C10) a marrom amarelada (Y60M40C20), rígida, lisa, persistente.
Endoperídio 11–17 mm largura × 10–15 mm altura (incluindo peristômio), séssil, globoso,
depresso globoso a algumas vezes com formas irregulares, liso, cinza amarelado (N20Y20M10).
Peristômio não delimitado, fibriloso, mamiforme a algumas vezes aplanado, concolor com
endoperídio. Gleba marrom (Y80M60C50).
Basidiósporos 4,4–6,3 µm diâm. (incluindo ornamentação), globosos, densamente verrugosos,
apículo presente, marrom amarelados em KOH 5%. Eucapilício composto de hifas 3,1–5,7
µm diâm., verrugosas, incrustadas com substância amorfa hialina, lúmen <1,5 µm espessura,
parede <1 µm esp., marrom KOH 5%. Camada micelial composta de hifas sinuosas 1,9–3,5
µm diâm., lúmen ocasional <1 µm espessura, parede <1 µm esp., misturadas com substância
amorfa hialina, amarelo pálidas em KOH 5%. Camada fibrosa composta de hifas 2,5–10,1 µm
diâm., lúmen < 2 µm espessura, parede < 1 µm esp., esverdeadas em KOH 5%. Camada
pseudoparenquimatosa composta de hifas elipsoides, ampuliformes, obclavadas, piriformes a
formas variadas, 14–39,3 µm largura × 29,2–66 µm compr., parede <1,5 µm espessura,
hialinas a amarelo pálidas em KOH 5%.
Material examinado – Brasil, Ceará, Tianguá, APA Serra de Ibiapaba, 03º39’806’’S,
40º57’625’’W, 761 m, 19/04/2012, col. Alfredo, D.S., DSA 75; 77 (UFRN-Fungos 1852).
Habitat – solo e serapilheira.
Habito – gregário.
Distribuição da espécie – somente para o nordeste brasileiro (Cabral et al., 2013).
92
Comentários – As características marcantes da espécie são endoperídio séssil, peristômio
fibriloso a aplanado, não delimitado, exoperídio não higroscópico, com basidiomas adnatos e
com formas irregulares (Fig. 39 a–c), (CABRAL et al., 2013). Geastrum saccatum apresenta
basidiomas imaturos irregulares crescendo densamente colados (SUNHEDE, 1989), como em
G. rusticum, mas, quando as espécies estão expandidas apresentam características
morfológicas divergentes: Geastrum saccatum apresenta peristômio delimitado, raios com
pontas delgadas (PONCE DE LEON, 1968; SUNHEDE, 1989), características ausentes na
espécie estudada. Geastrum fimbriatum Fr. também apresenta formas assimétricas devido ao
crescimento adnato, raios frequentemente recurvados, exoperídio incrustado com detritos,
esporos < 4,5 µm diâm. (CALONGE, 1998; PONCE DE LEON, 1968; SUNHEDE, 1989),
entretanto, G. rusticum difere por apresentar raios retangulares, exoperídio livres de detritos
(Fig. 39 c) e esporos maiores que 4,5 µm diâm. (Figs. 39 e; 40 b, d) (CABRAL et al. 2013).
93
Figura 39 – Basidiomas e microestruturas Geastrum rusticum. a. Basidiomas imaturos e expandidos com hábito
gregário; b. Detalhe do desenvolvimento adnato dos basidiomas imaturos e semiabertos; c. Basidioma
expandido; d. Capilício com substância amorfa incrustada; d. Basidiósporos com verrugas irregulares.
Foto e ilustração: Dônis Alfredo.
94
Figura 40 – Fotos e MEV das microestruturas Geastrum rusticum. a. Capilício com substância amorfa
incrustada; b. Basidiósporos com verrugas irregulares, alguns com substância amorfa incrustada; c. Hifas do
endoperídio; d. Basidiósporos com verrugas colunares irregulares (colunas ligadas umas as outras), apículo
proeminente.
Foto: Dônis Alfredo.
95
5.2.2.1.7 Geastrum saccatum Fr., Syst. Mycol. 3:16–17, 1829.
Figuras 41 – 42.
Basidioma imaturo não observado. Basidiomas expandidos 12–28 mm largura × 5–9 mm
altura. Exoperídio saculiforme, dividindo-se em 6–9 raios não higroscópicos. Raios
inicialmente saculiformes, tornando-se revolutos com tempo, curvando sob o exoperídio,
algumas vezes com ranhuras longitudinais e extremidades afiladas. Camada micelial não
persistente, se desprendendo com o tempo, sem incrustações, amarelo acinzentado
(N20Y70M20) a marrom (N40Y30M20). Camada fibrosa papirácea e esbranquiçada. Camada
pseudoparenquimatosa bege (Y40M10C00), persistente, lisa. Endoperídio 5–10 mm dia. × 6–10
mm altura (incluindo peristômio), séssil, liso, depresso globoso, acinzentado (N20Y30M10).
Peristômio fibriloso, delimitado, mamiforme, marrom (N20Y50M30). Gleba marrom
(N50Y70M40).
Basidiósporos 4,5–5,7 µm diâm., globosos, verrugosos, com verrugas colunares irregulares
em microscópio óptico e em MEV, marrom em KOH 5%. Eucapilício composto de hifas 2–
6,3 µm diâm., lúmen <1,5 µm espessura, parede <1,5 esp., marrom amareladas em KOH 5%.
Camada micelial composto de hifas 2,5–5,7 µm diâm., ramificadas, paredes < 1,5 µm
espessura, lúmen <1,5 µm esp., amarelo pálidas em KOH 5%. Camada fibrosa composto de
hifas 2–6,3 µm diâm., parede <1,5 µm espessura, esverdeadas em KOH 5%. Camada
pseudoparenquimatosa composta de hifas globosas, piriformes, ovaladas a alongadas, 11,4–
35,5 µm largura × 25,4–53,3 µm compr., amarelo pálidas em KOH 5%.
Material examinado – Brasil, Paraíba, Areia, Reserva Estadual Mata do Pau-Ferro,
06º58’031’’S, 35º44’828’’ W, 633 m, 17/07/2012, col. Alfredo, D.S., DSA 107; (UFRN-
Fungos 1855); 06º58’340’’S, 35º44’866’’W, 572 m, 18/07/2012, col. Alfredo, D.S., DSA
131; 146; 148 (UFRN-Fungos 1856).
Habitat – folhas e serapilheira.
Habito – gregário.
Distribuição da espécie – Cosmopolita (Ponce de Leon 1968; Soto & Wright 2000; Baseia et
al., 2003).
Comentários – A espécie é determinada por seu exoperídio expandido saculiforme,
endoperídio séssil, peristômio fibriloso e delimitado (Fig. 41 a, b) (PONCE DE LEON, 1968;
CALONGE, 1998; BASEIA et al., 2003). Geastrum saccatum é similar a G. lageniforme e G.
96
triplex, mas a aparência aracnoide apresentada pelos raios em G. lageniforme não ocorre em
G. saccatum (Fig. 41 a, b). Geastrum triplex apresenta um “colar” proveniente da camada
pseudoparenquimatosa, que é de consistência rígida, e mesmo que alguns basidiomas possam
apresentar “colar”, este é mais frágil e menos frequentemente evidente em G. saccatum
(SUNHEDE, 1989; SOTO e WRIGHT, 2000).
Figura 41 – Basidiomas e microestruturas Geastrum saccatum. a. Basidiomas com hábito gregário e de hábitat
em serrapilheira; b. Detalhe do basidioma com peristômio delimitado; c Capilícios; d. Basidiósporos com
verrugas irregurales.
Foto e ilustração: Dônis Alfredo.
97
Figura 42 – Fotos e MEV das microestruturas Geastrum saccatum. a. Capilício com parede e lúmen evidentes; b.
Basidiósporos com verrugas irregulares; c. Capilício com substância amorfa incrustada; d. Hifas do endoperídio;
e. Basidiósporos com verrugas colunares irregulares.
Foto: Dônis Alfredo.
98
5.2.2.1.8 Geastrum schweinitzii (Berk. & M.A. Curtis) Zeller, Myc., 40: 649, 1948.
Figuras 43 – 44.
Coilomyces schweinitzii Berk. & M.A. Curtis, Jour. Acad. Natl Sci. Phil. 2 (2): 297, 1853.
Geastrum mirabile Mont., Ann. Sci. Nat. 4(3): 139, 1855.
Geastrum rhizophorum Dissing & M. Lange, Bull. Jard. Bot. Etat. Bruxellas 32: 372, 1962.
Geastrum papyraceus Berk. & M.A. Curt., Proc. Amer. Acad. Arts & Sci. 4: 124, 1860.
Geastrum lignícola Berk., Journ. Linn. Soc. Bot. 18: 386, 1881.
Geastrum subiculosum Cooke & Massee, Gre. 16: 16, 1887.
Geastrum jurense Henn. Hedwigia 43: 184, 1904.
Geastrum tomentosus Lloyd, Myc. Writ. 1: 185, 1904.
Geastrum trichifer Rick, in Lloyd, Myc. Writ. 2: 314, 1907.
Geastrum caespitosus (Lloyd) Lloyd, Myc. Writ. 2: 315, 1907.
Sinônimos de acordo com Ponce de Leon (1968).
Basidioma imaturo 3–6 mm largura × 4–9 mm altura, globoso a subgloboso, gregário e
cespitoso, sem incrustações, crescendo sobre subículo esbranquiçado sobre madeira morta,
castanho (N30Y60M40 a N40Y60M40). Basidiomas expandidos 9–20 mm largura × 5–10 mm
altura. Exoperídio sacado, dividindo-se em 5–7 raios não higroscópicos. Raios saculiformes
tornando-se revolutos com tempo curvando-se para baixo. Camada micelial persistente,
papirácea, sem incrustações, amarelo acinzentada (N10Y50M10) a marrom (N40Y60M20).
Camada fibrosa papirácea, creme (N00Y10M00). Camada pseudoparenquimatosa persistente,
rígida, lisa, marrom (N40Y50M30). Endoperídio 4–8 mm largura × 4–8 mm altura, globoso,
liso, séssil, cinza amarronzado (N70Y20M20). Peristômio delimitado, fibriloso, mamiforme,
concolor com endoperídio. Gleba marrom (N70Y70M40).
Basidiósporos 2,8–3,5 µm diâm., globosos, asperolados em microscópio óptico, verrucosos
em MEV, marrom em KOH 5%. Eucapilício composto de hifas 2,3–4,4 µm diâm.,
ramificadas, lúmen < 1 µm espessura, parede < 1 µm esp., marrom em KOH 5%. Camada
micelial composto de hifas 2–8,2 µm diâm., lúmen < 2 µm espessura, paredes < 1,5 µm esp.,
retas a sinuosas, amarelo pálidas em KOH 5%. Camada fibrosa composta de hifas 2,5–9 µm
diâm., esverdeadas em KOH 5%. Camada pseudoparenquimatosa composta de hifas globosas,
subglobosas a alongadas, 12,7–36,8 largura × 17,8–50,8 µm compr., amarelo pálidas em
KOH 5%.
99
Material examinado – Brasil, Paraíba, Areia, Reserva Estadual Mata do Pau-Ferro,
06º57’899’’ S, 35º44’956’’ W, 642 m, 17/07/2012, col. Alfredo, D.S., DSA 93 (UFRN-
Fungos 1857); 06º58’340’’ S, 35º44’866’’ W, 572 m, 18/07/2012, col. Alfredo, D.S., DSA
129; 133 (UFRN-Fungos 1858).
Habitat – galhos caídos.
Habito – gregário e cespitoso.
Distribuição da espécie – Cosmopolita (PONCE DE LEON, 1968).
Comentários – A espécie é caracterizada por seu desenvolvimento gregário e cespitoso sobre
subículo esbranquiçado sobre madeira morta, apresenta exoperídio saculiforme e não
higroscópico, endoperídio com peristômio fibriloso e delimitado (Fig. 43 a) (Zeller 1948;
Baseia et al., 2003). Das espécies aqui estudadas, Geastrum hirsutum e G. javanicum
apresentam o mesmo desenvolvimento lignícola e gregário, mas em relação à primeira, G.
schweinitzii não possui camada micelial hirsuta (Fig. 43). Quando comparada ao com G.
javanicum, a espécie em questão não apresenta camada micelial se desprendendo
completamente na maturidade (BASEIA et al., 2003; CALONGE et al., 2005; LEITE;
BASEIA, 2007). Com base nos comentários acima, este é um bom representante de Geastrum
schweinitzii.
100
Figura 43 – Basidiomas e microestruturas Geastrum shweinitzii. a. Basidiomas imaturos e expandidos; b, d.
Capilícios; c, e. Basidiósporos com minuciosas verrugas irregulares.
Foto e ilustração: Dônis Alfredo.
101
Figura 44 – Fotos das microestruturas em MEV Geastrum schweinitzii. a. Capilício incrustado com substância
amorfa; b. Hifas do endoperídio; c. Basidiósporo com minuciosas verrugas colunares.
Foto: Dônis Alfredo.
5.2.2.1.9 Geastrum triplex Jungh., Tijdschr. Natuurl. Gesch. Physiol. 7:287–288,1840.
Figuras 45 – 46.
Basidioma imaturo 12–27 mm largura × 12–24 mm altura, subgloboso, com ápice umbonado,
rizomorfas presentes, amarelo acinzentado (Y50M30C30). Basidiomas expandidos 45–50 mm
largura × 14–15 mm altura. Exoperídio saculiforme, dividindo-se em 6 raios, não
higroscópicos. Raios inicialmente saculiformes tornando-se revolutos sob o exoperídio, com
pontas afiladas. Camada micelial lisa, papirácea, sem incrustações, algumas vezes partículas
de solo aderidas, descamando-se irregularmente e mantendo algumas manchas de cor marrom
(Y70M60C50), marrom acinzentada (Y70M50C50). Camada fibrosa papirácea, amarelo
esverdeada (Y50M20C10). Camada pseudoparenquimatosa rígida, até 2 mm espessura,
102
quebrando na base dos raios formando de um ”colar” ao redor de endoperídio, persistente,
marrom acinzentada (Y80M60C60). Endoperídio 15 mm largura × 13 mm altura (incluindo
peristômio), séssil, depresso globoso, marrom acinzentado (Y80M60C60). Peristômio
delimitado, cor da linha amarelo pálida (Y30M00C60), fibriloso, peristômio mais escuro que
endoperídio, mamiforme. Gleba marrom (Y99M70C80).
Basidiósporos 3,8–6,3 µm diâm. (incluindo ornamentação), globosos, apículo presente,
verrugosos em microscópio óptico e em MEV, substancia amorfa ocasionalmente aderida,
marrom claro KOH 5%. Eucapilício composto de hifas 3,5–6,3 µm diâm., incrustadas com
substancia amorfa, lúmen < 2 µm esp., ocasionalmente ramificadas, marrom em KOH 5%.
Camada micelial composto de hifas 2,5–7,6 µm diâm., hifas curtas, quebradiças, septadas,
parede < 1 µm espessura, grampos presentes, amarelo pálidas em KOH 5%. Camada fibrosa
composto de hifas 3,8–7,8 µm diâm., parede < 1 µm espessura, lúmen 1.3–5,1 µm esp., septos
ausentes, hialinas a esverdeadas em KOH 5%. Camada pseudoparenquimatosa composta de
hifas subglobosas a alongadas, 15,2–44,4 largura × 19–56 µm compr., hialinas a amarelo
pálidas em KOH 5%.
Material examinado – Brasil, Ceará, Tianguá, APA Serra de Ibiapaba, 03º39’866’’S,
40º57’625’’W, 761 m, 18/04/2012, col. Alfredo, D.S., DSA 64; 65 (UFRN-Fungos 1844);
03º39’866’’S, 40º57’625’’W, 761 m, 19/04/2012, col. Alfredo, D.S., DSA 71; 79; 80; 81
(UFRN-Fungos 1845).
Habitat – solo e serapilheira.
Habito – gregário.
Distribuição da espécie – Cosmopolita (SOTO; WRIGHT, 2000).
Comentários – Geastrum triplex é reconhecido por seu endoperídio séssil, peristômio
delimitado e fibriloso, camada pseudoparenquimatosa formando um “colar” ao redor do
endoperídio (Fig. 45 a, b) e seu grande tamanho (PEGLER et al., 1995; CALONGE, 1998;
SOTO e WRIGHT, 2000). A espécie já foi registrada para a região Nordeste por Leite e
Baseia (2007) e Trierveiler-Pereira et al. (2011). As espécies intimamente relacionadas são G.
lageniforme e G. saccatum. Ponce de Leon (1968); Smith e Ponce de Leon (1982), por
exemplo, consideram G. triplex como sinônimo de Geastrum indicum (Klotz.) Rauschert.
Para Legon e Henrici (2011), G. saccatum e G. michelianum W.G. Sm., são sinônimos de G.
triplex. O presente estudo segue as delimitações da espécie de acordo com Sunhede (1989),
103
Calonge (1998), Soto e Wright (2000), Baseia et al. (2003) entre outros, que consideram G.
triplex espécie distinta de G. indicum e G. saccatum.
Figura 45 – Basidiomas e microestruturas Geastrum triplex. a. Basidiomas imaturos em formato lageniforme,
indicado pelas setas; b. Detalhe do basidioma aberto com o “colar” pseudoparenquimatoso indicado pela seta; c,
e. Capilícios; d, f. Basidiósporos com substância amorfa incrustada e verrugas irregulares.
Foto e ilustração: Dônis Alfredo.
104
Figura 46 – Fotos das microestruturas em MEV Geastrum triplex. a. Capilício com substância amorfa incrustada;
b. Hifas do endoperídio; c. Basidiósporo com verrugas colunares irregulares.
Foto: Dônis Alfredo
5.2.3 Clathraceae (Chevall.) Baseia, Mycotaxon 119: 423, 2012.
5.2.3.1 Abrachium Baseia & T. S. Cabral, Mycotaxon 119: 424, 2012.
De acordo com Cabral et al. (2012), este gênero é caracterizado por apresentar: basidioma
imaturo (”ovo”) subgloboso, epígeo, com várias rizomorfas presas na base, branco. Estipe
cilíndrico e esponjoso, com receptáculo em formato de flor, sem braços (definidos de Aseröe).
Disco apical central com gleba gelatinosa. Basidiósporos cilíndricos, lisos e hialinos.
O gênero possui hábito solitário; arenícola (em dunas) ou folícola.
105
5.2.3.1.1 Abrachium floriforme (Baseia & Calonge) Baseia & T. S. Cabral, Mycotaxon 119:
424, 2012.
Figuras 47.
Aseröe floriformis Baseia & Calonge, Mycotaxon 92:170, 2005.
“Ovo”epígeo, 18 mm diâm. × 23 mm alt., quando fresco, e 17 mm diâm. × 20 mm alt.,
quando seco, subgloboso, branco amarelado (Y20M00C00), rizomorfas presas na porção basal,
1,5 mm esp., branco; Volva 4 mm diâm. × 6 mm alt., composta internamente por camada
hialina, gelatinosa e membranosa, formado por hifas septadas, ramificadas 3–8 µm diâm.
Estipe 10 mm diâm. × 49 mm alt., quando fresco, 5 mm diâm. × 25 mm alt., quando seco,
cilíndrico, esponjoso, rosa avermelhada (Y30M90C00 a Y40M90C00), composta de estrutura
pseudoparenquimatosa 20–40 µm diâm. × 15–30 µm alt., globosa a subglobosa. Receptáculo
em forma de girassol, 40 mm diam, quando fresco, 21 mm quando seco, sem “braços”, rosado
(Y00M40C00), disco central perfurado avermelhado (Y90M99C00). Gleba marrom oliva
(N60Y90M70).
Basidiósporos 1–2 µm diâm.× 3–5 µm alt., cilíndricos a baciliformes, liso, hialino.
Material examinado – Brasil, Ceará, Tianguá APA Serra de Ibiapaba, 03º39’’806’S,
40º57’’625’ W, 761 m, 04/2012, col. Alfredo, D.S, DSA 61 (UFRN-Fungos 1772).
Habitat – serapilheira sobre solo arenoso.
Habito – gregário.
Distribuição da espécie – Nordeste brasileiro (BASEIA e CALONGE, 2005).
Comentários – Abrachium floriforme tem a peculiar característica a ausência de braços,
apresentando-se em forma de girassol (Fig. 47 a, b). Baseia e Calonge (2005), descreveram a
nova espécie acomodando-a em Aseröe Labill., pela semelhança morfológica com A. rubra
Labill., entretanto, baseado em conjunto de dados morfológicos, suportados por análises
moleculares Cabral et al.(2012), descreveram o gênero Abrachium para acomodar A.
floriformis, descoberta em área de floresta atlântica nordestina (Baseia & Calonge 2005), e
posteriormente foi registrada em outras localidades do nordeste brasileiro (BASEIA et al.,
2006b; LEITE et al., 2007b; BEZERRA et al., 2009), sendo considerada endêmica para a
região nordeste (BEZERRA et al., 2009). As características apresentadas pelo presente
espécime deixam claro se tratar de um representante de Abrachium floriforme.
106
Figura 47 – Basidiomas e microestruturas Abrachium floriforme. a, b. Basidiomas; c. Basidiósporos.
Foto: Dônis Alfredo; Ilustração: Tereza C. O. Galvão.
107
5.2.4 Phallaceae Corda, Icon. Fung. (Prague) 5: 29, 1842.
5.2.4.1 Mutinus Fr., Summa Veg, Scand. 2: 434, 1849.
Cynophallus (Fr.) Corda, Incon. Fung.6: 14, 1854.
Caromyxa Mont., Syll. gen. sp. crypt. (Paris): 2281, 1856.
Corynites Berk. M.A. Curtis, Ann. Mag. nat. Hist., ser. 2 11: 136, 1853.
Jansia Penz., Ann. Jard. Bot. Bultenzorg. 16: 139, 1899.
Phallus sec.Xylophallus Schltdl., Linnaea 31: 149, 1862.
Os sinônimos seguem Cunningham (1944) e Pegler et al., (1995).
De acordo com Calonge (1998) e Pegler et al., (1995), este gênero é caracterizado por
apresentar: Basidioma imaturo (“ovo”) globoso a ovoide. Basidioma maduro com receptáculo
cilíndrico, fusiforme, não ramificado, perfurado ou não no ápice, avermelhado a rosado.
Porção fértil sobre o ápice, carregando uma massa mucilaginosa de basidiósporos, até ou
próximo aos limites superior do receptáculo, podendo ser rugoso ou liso. Basidiósporos
cilíndricos, lisos e hialinos ou amarelados.
O gênero possui hábito solitário ou em duplas, crescendo em substrato rico em matéria
orgânica de florestas e jardins.
5.2.4.1.1 Mutinus caninus (Huds.: Pers.) Fr., Summa Veg. Scand. 2: 434,1849.
Figuras 48.
Phallus caninus Huds.: Pers., Fl. Angl. 2: 630, 1762.
Sinônimo segue Calonge (1998).
Basidioma maturo 7 mm diâm. × 48 mm alt., em espécime fresco, 6 mm diâm. × 38 mm alt.,
em espécime seco, epígeo. Receptáculo 25 mm alt., × 6 mm diâm., fusiforme, oco, parede
celular (chambered); surgindo a parir da volva saculiforme; volva 9 mm diâm., × 14 mm alt.,
branco amarelada (N00Y00M00); ápice não perfurado, rugoso e delimitado; Gleba restrita a
porção apical do receptáculo, mucilaginosa em espécime fresco, rugoso em espécime seco,
marrom oliva (N90Y90M70), odor fétido em espécime fresco tornando-se inodoro em espécime
seco.
Basidiósporos 1,4–2,1 µm largura. × 4,6–5,9 µm alt., oblongo a cilíndrico, liso, hialino a
esverdeado em KOH 5%.
108
Material examinado – Brasil, Paraíba, Reserva Ecológica Estadual Mata do Pau-Ferro –
Areia, 06º58’’349’, 35º44’’876’, 568 m,07/2012,col. Alfredo, D.S., DSA 116 (UFRN-Fungos
1771).
Habitat – solo.
Habito – solitário.
Distribuição da espécie – amplamente distribuída, mas rara nos trópicos (BASEIA et al.,
2006).
Comentários – Mutinus caninus é caracterizado pelo receptáculo delgado e cilíndrico, estipe
simples e oco, com massa de esporos restrita a porção apical e delimitada (Fig. 48 a)
(BOTTOMLEY, 1948; CALONGE, 1998). É facilmente confundida com M. elegans (Mont.)
E. Fisch., por ambos apresentarem estipe cilíndrico e serem delgados no ápice. Entretanto, é
possível diferenciá-los conforme padrão de disposição da gleba, onde M. caninus é delimitada
no ápice, enquanto que em M. elegans está irregularmente espalhada e sem delimitação
(CALONGE, 1998; CALONGE et al., 2005). Mutinus caninus difere de M. fleischeri Penz.
pela porção estéril presente no ápice sobre a região glebífera (PETCH, 1924). O primeiro
registro da espécie foi com (BASEIA et al., 2006), Constitui o primeiro registro para Paraíba
e segundo para Brasil.
109
Figura 48 – Basidioma e basidiósporos Mutinus caninus. a. Basidioma; b. Basidiósporos.
Foto: Dônis Alfredo.
110
5.2.4.2 Phallus Junius ex L., Sp. Pl. 2: 1178, 1753.
Hymenophallus Nees, Syst. Pilz. (Würzburg): 251, 1817.
Dictyophora Desv., J. Bot. (Desvaux) 2: 92, 1809.
Ithyphallus (Fr.) E. Fisch. in Journ. Bot. Gard. Berlin 4: 41, 1886.
Os sinônimos segue Pegler et al. (1995).
De acordo com Cunningham (1944) este gênero é caracterizado por apresentar: basidioma
imaturo (“ovo”) ovoide, branco, com rizomorfas ocasionais na base; ao se romper o perídio
permanece na base como um volva. Pseudoestipe maduro cilíndrico, oco, branco, de
consistência esponjosa e frágil; presença de receptáculo cônico na porção apical do
pseudoestipe, podendo ou não possuir indúsio. Gleba cobrindo todo o receptáculo,
mucilaginosa, fétida, marrom oliva. Basidiósporos elipsoides, esverdeado a amarelo pálido,
liso.
O gênero possui hábito solitário a gregário; crescendo em solos ricos em matéria orgânica de
florestas ou jardins.
5.2.4.2.1 Phallus indusiatus Vent.: Pers., Syn. Meth. Fung. 244, 1801.
Figura 49.
Dictyophora indusiata (Vent.) Desv., J. Bot.,Paris 2: 92,1809;
Dictyophora phalloidea Desv., Journ. Bot., 2: 92, 1809;
Dictyophora braunii Henn., Apud Saccardo, Sylloge, 9:262,1861.
Os sinônimos seguem Dring (1964) e Demoulin e Dring (1975).
Basidioma com pseudoestipe 10 mm largura × 114 mm alt. em espécime seco, cilíndrico,
esponjoso, não pigmentado; volva branca 10 mm largura × 12 mm alt.; Indúsio com até ¾ do
comprimento do pseudoestipe, bem desenvolvido, branco, peduncular e em câmaras abertas;
Receptáculo 24 mm largura × 23 mm alt. quando fresco, 20 mm largura × 15 mm alt. quando
seco, campânula reticulada; Poro apical 5 mm diâm.; Gleba verde oliva (N90C00Y99),
mucilaginosa.
Basidiósporos 1–1,5 µm diâm.× 2,5–3,2 µm alt., cilíndricos a baciliformes, lisos, hialinos.
Material examinado – Brasil, Ceará, Tianguá APA Serra de Ibiapaba, 03º39’’806’S,
40º57’’625’ W, 761 m, 04/2012, col. Alfredo, D.S., DSA 72 (UFRN-Fungos 1773).
Habitat – sobre folhas caídas.
Habito – solitário.
Distribuição da espécie – neotropical (BASEIA; MAIA; CALONGE, 2006).
111
Comentários – Phallus indusiatus é facilmente identificado por seu indúsio bem desenvolvido
(DRING, 1964), receptáculo até 20 cm altura e branco, campânula reticulada (Fig. 49 a)
(BOTTOMLEY, 1948). A espécie se diferencia de P. atrovolvatus Kreisel & Calonge, por sua
campânula rugosa a meruloide, gleba bege a cinza amarelada, volva persistente negra e odor
adocicado (CALONGE et al., 2005a). Phallus indusiatus se diferencia de P. echinovolvatus
(M. Zang, D.R. Zheng & Z.X. Hu) Kreisel por sua volva equinulada, enquanto que P.
merulinus (Berk.) Lloyd apresenta receptáculo granuloso, rugoso ou meruloide (CALONGE,
2005). O primeiro registro da espécie para nordeste se deu com Baseia et al. (2006b), este é o
segundo registro para a região.
Figura 49 – Basidioma e Basidiósporos Phallus indusiatus. a. Basidioma; b. Basidiósporos.
Foto: Dônis Alfredo; Ilustração: Tereza C. O. Galvão.
112
5.2.5 Rhizopogonaceae Gäum. & C.W. Dodge, Comp. Morph. Fungi (London): 468, 1928.
5.2.5.1 Rhizopogon (Fr.) Tul., Giornal Botanica Italiana,2: 56, 1844.
Hysteromyces Vittad., Not. Nat. Civil. lombardia 1: 340, 1844.
Sinônimos seguem Cunningham (1944).
De acordo com Bottomley (1948); Cunningham (1944), o gênero é caracterizado por:
basidioma irregularmente globoso, subgloboso a tuberiforme, hipógeo ou epígeo, sem base
estéril definida. Perídio rígido e membranoso, simples ou duplo, formado por hifas
entrelaçadas, gelatinizada ou não, coberta por varias ou poucas rizomorfas. Gleba usualmente
marrom, formado por tramas anastomosadas, formando cavidades subglobosas a
labirintiformes. Columela ausente. Esporos hialinos ou coloridos, lisos, elípticos. Basídios
subclavados a cilíndricos, usualmente colapsando na maturidade, 2-8 esporos sobre curto
esterigma.
O gênero possui hábito gregário, cespitoso, crescendo associado a raízes de coníferas, em solo
arenoso.
5.2.5.1.1 Rhizopogon luteolus (Fr.) Tul., Giorn. Bot. Ital. 2: 57, 1844.
Figuras 76 – 79.
Rhizopogon induratus Cooke., Grevillea 8:59, 1879.
Melanogaster wilsonii Lloyd, Mycol. Notes 1176, 1923.
Sinônimos seguem Cunningham (1944).
Basidioma 5–23 mm diâm., subgloboso a depresso globoso, laranja acinzentado (N00Y30M00)
a marrom avermelhado (N60Y99M99) em espécimes frescos, marrom escuro (N90Y99M60) em
espécimes secos, rizomorfas bem desenvolvidas e basal, marrom (N40Y80M70) em espécimes
frescos, tornando-se marrom escura quando secos (N90Y99M50); Perídio 0,3 – 0,5 mm esp.,
coloração marrom escuro (N90Y99M50); Gleba marrom avermelhada (Y99M60C40), gelatinizada
em espécimes frescos, tornando-se firme, em cavidades labirintiformes. Basidiósporos
elípticos, truncado nas extremidades, 2,7–3,8 µm largura. × 7,6–10,1 µm comprimento,
gutulados, lisos e hialinos em KOH 5%, sem reação ao Melzer. Paráfises 3,8 – 11,4 µm
largura, hialinas em KOH 5%. Basídios 4 esporos, 3,8 – 5,7 µ largura, subclavados. Perídio
113
formado por hifas 3,1 – 7,6 µm diâm., septado, ramificado, hialino em KOH 5%, sem reação
ao Melzer.
Material examinado – Brasil, Ceará, Tianguá APA Serra de Ibiapaba, ao lado do IFCe
(Instituto Federal do Ceará), 03º43’941’’S, 41º00’840’’ W, 772 m, 04/2012, col. Alfredo, D.S
DSA 84; 85 (UFRN-Fungos 1853).
Habitat – semi-hipógeos, junto a raízes de Pinus spp.
Habito – gregário e cespitoso.
Distribuição da espécie – África do Sul, América do Norte, Ásia, Austrália, Europa, Nova
Zelandia (BOTTOMLEY, 1948).
Comentários – Os basidiomas apresentam desenvolvimento semi-hipógeo com alguns
basidiomas a menos de 10 cm abaixo do solo, mas em sua maioria emergindo na superfície
(Fig. 76 a – b), conforme elucidado por Beaton et al. (1985). Baseia e Milanez (2002b),
registraram R. luteolus para estado de São Paulo como primeiro registro para o Brasil, sendo
esse o primeiro registro para o semiárido brasileiro e segundo para o pais. Rhizopogon
luteolus é caracterizado por seu basidioma de forma irregular a depresso globoso de coloração
clara enquanto fresco, tornando-se escuro quando seco, de até 30 mm largura, gleba
gelatinizada enquanto fresco, tornando-se firme, em cavidades labirintiformes preenchidas
com esporos (Fig. 76) (ZELLER e DODGE, 1918; COKER e COUCH 1928). A espécie
compartilha característica semelhantes com R. rubescens (Tul. & C. Tul.) Tul. & C. Tul. e R.
niger (Lloyd) Zeller & C.W. Dodge contudo, as duas ultimas não apresentam gleba
labirintiforme (BOTTOMLEY, 1948; CUNNINGHAM, 1944).
114
Figura 50 – Basidiomas de Rhizopogon luteolus. a – b. basidiomas frescos; b. basidioma com gleba gelatinizada;
c – d. Basidioma seco; d. Basidioma em corte transversal, com gleba labirintiforme.
Foto e ilustração: Dônis Alfredo.
115
Figura 51 – Fotos e MEV das microestruturas Rhizopogon luteolus. a. Hifas do perídio, septos e grampos de
conexão indicados pelas setas; b. Paráfise no trama, indicado pela seta; c. Basídio com e basidiósporos indicado
pela seta; d, e. Basidiósporos lisos, elípticos e truncados.
Foto: Dônis Alfredo.
116
5.3 Discussão
Para a região da Caatinga segundo dados publicados por Forzza et al. (2012), há
registro de 734 espécies de fungos, dos quais 56 são endêmicas. Os táxons gasteroides
representam desse total 25 espécies (BARBOSA, 2011; BASEIA; GALVÃO, 2002; BASEIA,
2005b; BASEIA et al., 2007; OTTONI et al., 2010; SILVA; CALONGE; BASEIA, 2007;
SILVA; LEITE; BASEIA, 2007; SILVA; SOUZA; BASEIA, 2011; SILVA, 2006;
TRIERVEILER-PEREIRA; BASEIA, 2011; WARTCHOW; SILVA, 2007), alguns destes
registros confirmados no presente trabalho.
Com base nas coletas realizadas na APA Serra de Ibiapaba/CE e na Reserva Mata do
Pau-Ferro/PB foram registradas 17 espécies de fungos gasteroides, sendo dois novos registros
para a ciência, quatro primeiros registros para a região Nordeste e oito primeiros registros
para Caatinga. Uma das novas espécies descritas, Calvatia cava, foi coletada nas duas
localidades estudadas. Entretanto, nas duas localidades houve ocorrência de apenas um
basidioma, indicando hábito solitário para este táxon. A segunda espécie nova descrita neste
trabalho, Morganella nuda, foi registrada apenas na Reserva Mata do Pau-Ferro/PB, onde
foram registrados diversos basidiomas (21) coletados em três pontos distintos da área.
Estes resultados corroboram com os resultados de Batista e Bezerra (1960), Wartchow
e Silva (2007), e Trierveiler-Pereira e Baseia (2011), que registraram espécies de Calvatia e
Morganella em áreas de nordeste brasileiro, alguns em Caatinga. Os gêneros acima citados
possuem gleba cotonosa e esporos ornamentados com espinhos e verrugas, características que,
segundo alguns autores (KREISEL, 1989; CALONGE; MARTÍN, 1990; BATES, 2004), lhes
permite melhor adaptação a regiões de clima árido. Calvatia cava, Morganella fuliginea e M.
nuda apresentaram basidiósporos característicos de espécies gasteroides de regiões com
períodos de chuvas longos, isso porque os basidiósporos ornamentados com espinhos e
verrugas possuem ação repelente a água (GREGORY, 1945; BEEVER; DEMPSEY, 1978;
KREISEL; AL-FATIMI, 2008; GUBE; DÖRFELT, 2012). Seria uma boa adaptação para as
áreas de coleta em questão, que de acordo com Silva et al. (2010), possuem período de chuva
com cerca de 5 meses de duração.
Calvatia cava e M. nuda tem seu desenvolvimento sobre folhas e/ou madeira em
decomposição, visto que, em épocas de chuva a deposição de serapilheira em áreas de
Caatinga é alta (ALVES et al., 2006). Segundo Kreisel e Dring (1967), Kreisel (1989) e Bates
(2004), as espécies do gênero Calvatia são na maioria sapróbias, terrícolas, humícolas e
117
poucas são lignícolas, enquanto que as espécies do gênero Morganella são restritas ao hábito
lignícola (salve raras exceções).
Rhizopogon luteolus é o primeiro registro para a região nordeste, coletado apenas na
Serra de Ibiapaba-CE, em uma área de plantas exóticas (Pinus sp.), que segundo Zeller e
Dodge (1918) esta espécie tem ocorrência em áreas de coníferas e solos arenosos. Resultado
que corrobora com Baseia e Milanez, (2002b), que registraram a mesma espécie em áreas
com plantações de Pinus sp. no Estado de São Paulo, contudo, para a região nordeste não
havia ainda registro para o gênero.
As espécies falóides, Abrachium floriformis e Phallus indusiatus, foram coletadas
sobre serapilheira (folhas em decomposição sobre solo arenoso) na APA Serra de
Ibiapaba/CE, e Mutinus caninus na Reserva Mata do Pau-ferro/PB. Estas mesmas espécies
foram registrados para brejo de altitude em área Caatinga por Trierveiler-Pereira e Baseia
(2011) exceto Mutinus caninus sendo o primeiro registro para brejo de altitude.
O gênero Geastrum apresentou nove espécies, sendo o gênero mais representado nas
áreas estudadas. Todas elas tem registros para a região nordeste realizados por Baseia et al.
(2003), Baseia e Calonge (2006), Leite e Baseia (2007),Trierveiler-Pereira et al. (2009a,
2011), Silva et al. (2011). Destas, seis foram registradas anteriormente em brejo de altitude:
Geastrum hirsutum, G. javanicum, G lageniforme, G. schweinitzii e G. triplex
(TRIERVEILER-PEREIRA; BASEIA, 2011). Este foi o gênero com maior número de
espécies nos trabalhos de Trierveiller-Pereira (2010) e Barbosa (2011), com nove e 11
espécies, respectivamente.
As espécies G. javanicum, G. lageniforme e G. morganii foram comuns para as duas
áreas de coleta, enquanto que, G. pectinatum, G. rusticum e G. triplex ocorreram apenas na
APA Serra de Ibiapaba. As espécies Geastrum hirsutum, G. saccatum e G. schweinitzii foram
reportadas somente para a Reserva Ecológica Mata do Pau-Ferro (Tabela 2).
118
Tabela 2 – Registros das espécies de Geastrum na APA da Serra de Ibiapaba e Res. Ecol. Est. Mata do Pau-
Ferro.
Registros das espécies de Geastrum nas áreas de coletas
Espécies APA Serra de Ibiapaba
Res. Ecol. Est. Mata do Pau-
Ferro
Geastrum hirsutum ○ ●
Geastrum javanicum ● ●
Geastrum lageniforme ● ●
Geastrum morganii ● ●
Geastrum pectinatum ● ○
Geastrum rusticum ● ○
Geastrum saccatum ○ ●
Geastrum schweinitzii ○ ●
Geastrum triplex ● ○ Legenda: ● houve registro; ○ não houve registro.
Tabela: Dônis Alfredo.
Com relação ao substrato, foi dividido em três categorias seguindo o conceito de
Barbosa e Faria (2006): 1) serrapilheira/solo – 11 espécies; 2) madeira em decomposição –
cinco espécies; 3) folhas em decomposição – duas espécies. Conforme o gráfico abaixo (Fig.
78). Em serrapilheira/solo ocorreram espécies que se desenvolvem de modo hipógeo ou que
são hipógeas apenas no início do desenvolvimento (Abrachium floriforme, Geastrum
javanicum, G.lageniforme, G. morganii, G. pectinatum, G. rusticum, G. saccatum, G. triplex,
Mutinus caninus, Phallus indusiatus e Rhizopogon luteolus). Quando sobre madeira em
decomposição detectamos a ocorrência das seguintes espécies: Geastrum hirsutum, G.
javanicum, G. schweinitzii, Morganella fuliginea, M. nuda e Lycogalopsis sp.; As espécies
com hábito folícola ocorreram com menor frequência que sobre os demais tipos de substratos
(Calvatia cava e G. javanicum). Geastrum javanicum foi a espécie com ocorrência em todos
os tipos de substratos (Tab. 3).
119
Figura 52 – Numero de espécies registradas por substrato.
Gráfico: Dônis Alfredo.
Tabela 3 – Nome das espécies registrados em cada substrato.
Nome das espécies que foram registradas em cada substrato
Espécies Serrapilheira/solo Madeira em decomposição
Folha em
decomposição
Abrachium floriforme ● ○ ○
Calvatia cava sp. nov. ○ ○ ●
Geastrum hirsutum ○ ● ○
Geastrum javanicum ● ● ●
Geastrum lageniforme ● ○ ○
Geastrum morganii ● ○ ○
Geastrum pectinatum ● ○ ○
Geastrum rusticum ● ○ ○
Geastrum saccatum ● ○ ○
Geastrum schweinitzii ○ ● ○
Geastrum triplex ● ○ ○
Morganella fuliginea ○ ● ○
Morganella nuda sp. nov. ○ ● ○
Mutinus caninus ● ○ ○
Phallus indusiatus ● ○ ○
Rhizopogon luteolus ● ○ ○
Lycogalopsis sp. ○ ● ○
Legenda: ● houve registro; ○ não houve registro.
Tabela: Dônis Alfredo.
120
A vegetação da APA Serra de Ibiapaba e da Reserva Ecológica Mata do Pau-
apresentam origens a partir de mata amazônica e mata atlântica, respectivamente (VELOSO et
al., 1991; BARBOSA et al., 2004), a ocorrência de fungos gasteroides em áreas com este tipo
de vegetação era esperado, primeiro porque são áreas consideradas verdadeiros refúgios
ecológicos de alta biodiversidade (LEAL et al. 2003), segundo porque trabalhos realizados
anteriormente em outras áreas de brejo de altitude com a dissertação de mestrado de
Trierveiller-Pereira (2010), registrou fungos gasteroides em Pernambuco (Brejo dos Cavalos e
Mata do Estado). Desta forma, mesmo sabendo do potencial destas localidades, são
necessários estudos de longa duração que permitam um levantamento mais completo das
espécies que ocorrem nestes ambientes com alta biodiversidade.
121
6 Conclusões
Com base nas coletas realizadas nas duas áreas de Brejo de Altitude, no período de
Março a Julho de 2012, conclui-se que:
1. Os representantes de fungos gasteroides nas duas áreas de coletas estão distribuídos
em duas subclasses, quatro ordens, cinco famílias, oito gêneros e 17 espécies;
2. A família com maior número de espécies registradas é Geastraceae seguida por:
Lycoperdaceae, Phallaceae, Clathraceae, e Rhizopogonaceae;
3. Calvatia cava e Morganella nuda, são espécies novas para a ciência, Rhizopogon
luteolus é uma nova citação para o Estado do Ceará, e as espécies de Geastrum
hirsutum, G. javanicum, G. morganii, G. pectinatum, G. rusticum e G. triplex, e
Mutinus caninus para o Estado da Paraíba;
4. A área APA Serra de Ibiapaba apresentou maior número de espécies registradas (11
espécies) enquanto que, a Reserva Mata do Pau-Ferro apresentou 10 espécies;
5. Calvatia cava, Geastrum javanicum, G. lageniforme e G. morgani foram comuns nas
duas áreas de coletas;
6. As duas áreas de coletas são propícias ao registro de fungos gasteroides em período de
chuva;
7. Houve um aumento de 5,7% de espécies de fungos gasteroides registradas na região
Nordeste com as espécies: Calvatia cava, Morganella nuda, Lycogalopsis sp.,
Rhizopogon luteolus, totalizando 74 espécies;
8. Houve um aumento de 32% de espécies de fungos gasteroides registradas para a
Caatinga com as espécies: Calvatia cava, Morganella nuda, Lycogalopsis sp.,
Rhizopogon luteolus, Geastrum morganii, G. pectinatum, Geastrum rusticum, Mutinus
caninus, totalizando 33 espécies;
9. Há a necessidade de realizar um estudo mais aprofundado em áreas de brejos de
altitude para aumentar o conhecimento de fungos gasteroides nessas áreas, visto que
estes são os primeiros registros para as duas áreas.
122
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