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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ZOOTECNIA BRUNO ROBERTO MÜLLER BOAS PRÁTICAS DE MANEJO NA BOVINOCULTURA LEITEIRA: FOCO EM BEM-ESTAR ANIMAL CURITIBA 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

CURSO DE ZOOTECNIA

BRUNO ROBERTO MÜLLER

BOAS PRÁTICAS DE MANEJO NA BOVINOCULTURA LEITEIRA: FOCO EM BEM-ESTAR ANIMAL

CURITIBA 2012

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BRUNO ROBERTO MÜLLER

BOAS PRÁTICAS DE MANEJO NA BOVINOCULTURA LEITEIRA: FOCO EM BEM-ESTAR ANIMAL

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Zootecnia da Universidade Federal do Paraná, apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Zootecnia. Supervisora: Prof. Dra. Carla Forte

Maiolino Molento, Laboratório de Bem-estar Animal, Departamento de Zootecnia, Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná.

Orientador do Estágio Supervisionado:

Prof. Dr. Edmond A. Pajor, Department of Production Animal Health, Faculty of Veterinary Medicine, University of Calgary.

CURITIBA 2012

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente, e principalmente, a Deus, que

esteve sempre presente, guiando-me em todas as escolhas e me permitindo

superar mais esta etapa da minha vida. A Ele, o meu sincero e profundo

agradecimento.

Aos meus pais, Astrid e Roberto, à minha avó Norma e à minha noiva

Bruna. Vocês são o tesouro mais precioso que Deus me deu. Sem o apoio e

carinho de vocês, eu não estaria onde estou e não seria quem sou.

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AGRADECIMENTOS

À Profa. Dr. Carla Forte Maiolino Molento, por todos esses anos de

orientação, paciência e amizade. Obrigado por acreditar e insistir no meu

crescimento acadêmico e profissional.

Ao Prof. Dr. Ed Pajor, por me aceitar como orientado e integrante

da sua equipe de trabalho. Obrigado por possibilitar novas experiências

e pela confiança depositada em mim.

Ao colega de trabalho Guilherme Borges Bond, por possibilitar a

execução do estágio na Universidade de Calgary. Obrigado por toda a

ajuda durante o período de trabalho e pela amizade valiosa.

A toda equipe LABEA, por proporcionar um ambiente de trabalho

descontraído e, ao mesmo tempo, responsável. Obrigado pela amizade e

pela ajuda em incontáveis situações durante todos esses anos.

Aos Drs. Anne-Marie de Passilé, Jeff Rushen e Elsa Vasseur, pela

contribuição à pesquisa realizada. Agradecimentos também às seguintes

instituições pelo apoio financeiro: Agência de Pecuária e Carne de

Alberta, Coalizão Canadense de Saúde Animal, Produtores Leiteiros do

Canadá, Fundação Margaret Gunn, Conselho Nacional de Cuidados com

Animais de Produção do Canadá e Westgen.

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“…if we are to use animals for our benefit, it is morally incumbent upon us to make sure that they benefit as well, by at least living decent lives, not lives of

misery, fear, and pain. To expect any less is not only immoral, it is dishonorable. It is ethically timely to use our science and technology for the

benefit of the animals we use, not merely for their exploitation.”

(“...se usamos animais para o nosso benefício, cabe a nós, moralmente, garantir que eles também se beneficiem, tendo ao menos vidas decentes, não vidas de miséria, medo e dor.

Esperar qualquer coisa a menos não seria apenas imoral, mas desonroso. Eticamente, este é o momento de usarmos nossa ciência e tecnologia para o benefício dos animais que usamos, e

não meramente para sua exploração.”)

Bernard E. Rollin

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Percentagem de vacas presentes no cocho durante um período de 24 horas, em dois tratamentos (vacas alimentadas às 5:30h e 15:15h, e vacas alimentadas às 5:30h, 11:00h, 15:15h e 22:30h). Adaptado de De Vries et al., 2003. .................................................................................................................. 17

Figura 2. Sistema de Escore de Condição Corporal sugerido, adaptado de Wildman et al., (1982). ...................................................................................................... 21

Figura 3. Variação no tempo despendido em descanso, em um período de 24 horas. São demonstradas duas taxas de lotação: 1,0 e 1,5 vacas por baia. As médias foram calculadas para 48 vacas em observações a cada 10 minutos. Adaptado de Fregonesi et al. (2007a). ............................................................................... 28

Figura 4. Fontes de divulgação do Código de Práticas previstas no questionário aplicado aos produtores durante visitas às fazendas em 2011 e 2012. ............. 38

Figura 5. Mudanças realizadas por produtores nas práticas de manejo adotadas em suas fazendas, após terem lido o Código de Práticas. ...................................... 39

Figura 6. Compatibilidade entre as práticas de manejo adotadas nas fazendas de gado leiteiro de Alberta, Canadá, e as diretrizes estabelecidas no código. ....... 39

Figura 7. Áreas de manejo com alta compatibilidade com o Código de Práticas, em 64 fazendas de gado leiteiro da província de Alberta, Canadá. ......................... 40

Figura 8. Áreas de manejo com baixa compatibilidade com o Código de Práticas, em 64 fazendas de gado leiteiro da província de Alberta, Canadá. ......................... 40

Figura 9. Distribuição da quantidade de leite ofertada aos bezerros desmamados em fazendas de gado leiteiro da província de Alberta, Canadá. .............................. 42

Figura 10. Foto aérea da área ocupada pelo campus principal da Universidade de Calgary, em 2008. Fonte: GoogleEarth. ............................................................ 45

Figura 11. Mensurações de circunferência torácica e altura dos bezerros, realizadas em vistas a fazendas de gado leiteiro da província de Alberta, Canadá, em 2012. .................................................................................................................. 47

Figura 12. Processamento das amostras de sangue coletadas em fazenda, realizado em laboratório, na Universidade de Calgary, em 2012. ..................................... 47

Figura 13. Acelerômetros fixados às patas posteriores de duas vacas em ordenha durante visitas a fazendas na província de Alberta, Canadá, em 2012. ............ 49

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Figura 14. Aula prática de casqueamento emergencial, realizada durante oficina de casqueamento, em Leduc, Alberta, Canadá, em abril de 2012. ......................... 53

Figura 15. Premiação de melhor pôster apresentado durante o 11° Encontro Regional Norte Americano de Etologia Aplicada, realizado em Banff, Canadá, em maio de 2012. .............................................................................................. 54

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Lista de questões aplicadas durante visitas a fazendas na província de Alberta, Canadá, acerca da percepção do produtor em relação ao Código de Práticas .............................................................................................................. 34

Tabela 2. Questões aplicadas durante visitas às fazendas, acerca das práticas de manejo adotadas pelos produtores. Questões destacadas em cinza estão relacionadas com exigências previstas pelo Código, enquanto que as outras estão relacionadas com recomendações estabelecidas. ................................... 35

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12 2. OBJETIVOS ......................................................................................................... 14 2.1. Da Revisão Bibliográfica .................................................................................... 14 2.2. Da Pesquisa ....................................................................................................... 14

2.2. Do Estágio .......................................................................................................... 14

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 15 3.1 Alimentação e Fornecimento de Água ................................................................. 16 3.1.1 Acesso ao Alimento .................................................................................... 16

3.1.2 Pasto ........................................................................................................... 18

3.1.3 Escore de Condição Corporal ..................................................................... 20 3.1.4 Nutrição de Bezerros .................................................................................. 21

3.2 Instalações ........................................................................................................... 24 3.2.1 Bezerros ...................................................................................................... 24 3.2.2 Camas ............................................................ Erro! Indicador não definido. 3.2.3 Piso ............................................................................................................. 26

3.2.4 Taxa de Lotação ......................................................................................... 27 3.3 Saúde................................................................................................................... 28

3.3.1 Monitoramento e Tratamento ...................................................................... 29 3.3.2 Claudicação ................................................................................................ 29

3.3.3 Mastite ........................................................................................................ 30 3.4 Práticas de Produção ........................................................................................... 31

3.4.1 Descorna ..................................................................................................... 31 3.4.2 Caudectomia ............................................................................................... 32

4. PESQUISA: Percepção e Cumprimento do Código de Práticas por Produtores de Leite da Província de Alberta – Canadá .................................................................... 33

4.1 Material e Métodos .............................................................................................. 33 4.2 Resultados e Discussão....................................................................................... 37 4.3 Conclusão ............................................................................................................ 43

5. RELATÓRIO DE ESTÁGIO ................................................................................. 44 5.1 Plano de Estágio .................................................................................................. 44

5.2 Local de Estágio .................................................................................................. 44

5.2.1 Departamento de Saúde de Animais de Produção ..................................... 45

5.3 Atividades Desenvolvidas e Participação em Projetos de Pesquisa .................... 46 5.3.1 Práticas de manejo de bezerros e sua influência sobre o bem-estar e desempenho. ............................................................................................................. 46 5.3.2 Práticas de manejo e instalações para gado leiteiro e sua influência sobre o bem-estar e a prevalência de casos de claudicação. ................................................ 48

5.3.3 Práticas de manejo de colostro e sua influência sobre a saúde e o desempenho de bezerros leiteiros ............................................................................ 50

5.3.4 Análise comportamental de animais doentes .............................................. 50 5.3.5 Pesquisa sobre atenuação de dor em bezerros castrados ......................... 51 5.3.6 Participação em Congressos e eventos Técnicos ...................................... 52 5.4 Discussão do Estágio .......................................................................................... 55

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 56

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REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57 ANEXOS ................................................................................................................... 64 Anexo 1. Sistema padrão de escore de claudicação (Archer et al., 2012) ................ 64 Anexo 2. Plano de Estágio ........................................................................................ 65 Anexo 3. Termo de Compromisso ............................................................................. 66

Anexo 4. Ficha de Avaliação no Local de Estágio ..................................................... 67

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RESUMO

A bovinocultura leiteira tem grande importância mundial por gerar um alimento essencial e pelo seu caráter econômico e social. As práticas de manejo adotadas em fazendas de leite podem afetar diversos aspectos da atividade, como a qualidade do produto final, a produtividade e o bem-estar animal. Com base nisso, diversas diretrizes foram criadas com o intuito de garantir o desenvolvimento da bovinocultura leiteira e melhorar o grau de bem-estar dos animais envolvidos. A adoção de tais diretrizes pode poupar o produtor de problemas futuros e torná-lo mais competitivo no mercado. A pesquisa realizada durante o período de estágio, na província de Alberta, Canadá, demonstrou que as diretrizes são úteis como base para mudanças nas práticas de manejo, mas a compatibilidade entre as práticas adotadas nas fazendas da região e as recomendações e exigências estabelecidas no Código de Práticas local é variável. Esforços adicionais são necessários para desenvolver novas estratégias de divulgação e encorajar o cumprimento de tais diretrizes. De forma geral, a experiência de estágio curricular superou expectativas, possibilitando a fusão de conhecimentos teóricos e práticos e o contato com profissionais experientes. O desenvolvimento da monografia gerou um avanço no conhecimento sobre a bovinocultura leiteira, em especial sobre o bem-estar dos animais envolvidos na atividade.

Palavras-chaves: Bem-estar animal, Bovinocultura leiteira, Práticas de manejo

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1. INTRODUÇÃO

O leite é um alimento nutritivo e balanceado, produzido e consumido em

diversos países ao redor do globo. Segundo a FAO, em 2010, no mundo todo foram

produzidos cerca de 600 milhões de toneladas de leite (FAO, 2012). O Brasil

encontra-se como quinto colocado na lista de principais países produtores de leite,

com um volume produzido de 31,7 milhões de toneladas, representando 5,3% da

produção mundial (EMBRAPA, 2012a). Em termos nacionais, a atividade leiteira tem

grande importância econômica, social na geração de empregos e renda, e na oferta

de um alimento essencial.

Estima-se que o rebanho mundial de bovinos leiteiros em produção seja de

cerca de 264 milhões de cabeças (FAO, 2012). Este número confere grande

importância e responsabilidade sobre a forma com que estes animais são criados e

tratados. Trabalhos recentes, como o da Comissão Europeia (2007), mostram que

há cada vez mais interesse, por parte da população, no estabelecimento de padrões

de bem-estar para os animais de produção. Além disso, situações que resultam em

reduzido grau de bem-estar estão comumente ligadas a indesejáveis efeitos sobre

índices zootécnicos, como reduzida taxa de crescimento, reduzida eficiência

reprodutiva e maior incidência de doenças (BROOM, 1991).

Os sistemas de produção e práticas de manejo adotadas em fazendas de leite

no mundo todo são bastante variados e podem afetar diferentes aspectos da

atividade, como a saúde do rebanho (NYMAN et al., 2009; MCFARLAND, 2010), a

qualidade do leite (HASKELL et al., 2009; RIEKERINK et al., 2010) a produtividade

(PETERS et al., 2010) e também o bem-estar animal (FULWIDER et al., 2008;

VASSEUR et al., 2010a). Com base nisso, diversos trabalhos tem sido feitos no

intuito de estabelecer padrões de boas práticas de manejo focadas no bem-estar,

como o Guia de Boas Práticas de Produção Leiteira da Organização de Alimento e

Agricultura das Nações Unidas, feito em conjunto com a Federação Internacional do

Leite (FAO & IDF, 2011), o Código de Práticas de Manejo de Gado Leiteiro, no

Canadá (NFACC, 2009), os Padrões de Produção para Gado Leiteiro da

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certificadora Cuidados Humanitários com Animais de Produção (HFAC, 2012), e os

Padrões de Bem-estar para Gado Leiteiro da Sociedade Real de Prevenção à

Crueldade com Animais (RSPCA, 2011), dentre outros.

No Brasil, entretanto, a quantidade de recomendações práticas nessa área é

bastante escassa. Alguns esforços foram feitos nesse sentido (DA ROSA et al.,

2009), mas as recomendações divulgadas por órgãos oficiais, como o conjunto de

orientações técnicas estabelecidas pela EMBRAPA Gado de Leite (EMBRAPA,

2012b), ainda são pobres em informação específica sobre bem-estar animal. Dessa

forma, se torna interessante a produção de literatura nessa área, para que se

possibilite a criação de uma base sólida para a construção de futuras

recomendações para a bovinocultura leiteira no nosso país.

O item 3 deste trabalho, portanto, busca abordar, por meio de revisão

bibliográfica, algumas práticas de manejo voltadas para a bovinocultura leiteira,

focando principalmente nos seus efeitos sobre o bem-estar animal e na compilação

de um conjunto de recomendações neste sentido.

O item 4 descreve uma pesquisa feita ao longo do estágio na província de

Alberta, Canadá, sobre a percepção e cumprimento do Código de Práticas por

produtores de leite. A pesquisa compara as práticas adotadas nas fazendas com as

recomendações e exigências estabelecidas no Código, assim como mede a

percepção do Código de Práticas pelos produtores.

O item 5 trata do relatório de estágio, realizado na Universidade de Calgary,

no Canadá. A instituição foi escolhida como local de estágio devido à quantidade e

qualidade dos trabalhos sendo desenvolvidos na área de comportamento e bem-

estar animal, possibilitando a participação em uma variedade de projetos. Além

disso, a troca de informações e estabelecimento de contatos em nível internacional é

interessante para o crescimento e desenvolvimento de qualquer área de pesquisa,

assim como para auxiliar na formação profissional.

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2. OBJETIVOS

2.1. Da Revisão Bibliográfica

Abordar características atreladas à atividade da bovinocultura leiteira, focando

principalmente nos seus efeitos sobre o bem-estar animal e compilar um conjunto de

recomendações práticas nesse sentido.

2.2. Da Pesquisa

Medir a percepção dos produtores leiteiros em relação ao Código de Práticas

de Manejo, bem como verificar o cumprimento das recomendações e exigências

estabelecidas no Código, na província de Alberta, Canadá.

2.2. Do Estágio

Conhecer e participar das atividades da instituição, complementando a

formação acadêmica ao atuar junto a profissionais experientes, possibilitando a troca

de conhecimento para desenvolver o pensamento científico e contribuindo para

melhorar a formação profissional.

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Produtores envolvidos com a bovinocultura de leite obtêm seus resultados por

meio da utilização de diferentes sistemas de instalação e uma série de práticas de

manejo. Com o foco voltado para o bem-estar, diversos guias e códigos de boas

práticas (NAWAC, 2010; FAO & IDF, 2011; RSPCA, 2011; HFAC, 2012) baseiam

suas recomendações de acordo com o conceito das cinco liberdades, estabelecido

pelo Conselho de Bem-estar dos Animais de Produção da Inglaterra (FAWC, 1979).

Segundo o FAWC (2009), esse conceito define um método de análise de bem-estar

lógico e abrangente, para qualquer tipo de sistema, além de estabelecer ações

necessárias para garantir e melhorar o grau de bem-estar dentro da realidade da

produção animal. As cinco liberdades descritas são:

1 – Liberdade de fome e sede: por meio de acesso à água fresca e uma dieta

que garanta saúde e vigor.

2 – Liberdade de desconforto: por meio do fornecimento de ambiente

apropriado, incluindo abrigos e áreas de descanso.

3 – Liberdade de dor, ferimentos e doenças: por meio de prevenção ou rápido

diagnóstico e tratamento.

4 – Liberdade para expressar comportamentos naturais: por meio do

fornecimento de espaço suficiente, instalações adequadas e companhia de outros

animais da mesma espécie.

5 – Liberdade de medo e estresse: por meio da garantia de condições

ambientais e práticas de manejo que evitem o sofrimento físico e psicológico.

De forma prática, para a elaboração deste trabalho de revisão, os cinco

conceitos de liberdade foram reunidos em quatro grandes grupos de práticas de

manejo:

Alimentação e Fornecimento de Água (Abrangendo a Liberdade 1);

Instalações (Abrangendo as Liberdades 2 e 4);

Saúde (Abrangendo a Liberdade 3);

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Práticas de Produção (Abrangendo a Liberdade 5).

Dentro de cada um desses grupos, algumas características relacionadas à

atividade de bovinocultura leiteira serão abordadas com o foco voltado para o bem-

estar animal e, com base na revisão bibliográfica, algumas práticas de manejo

recomendadas serão apresentadas.

3.1 Alimentação e Fornecimento de Água

A ingestão de alimento e água é essencial para a manutenção da saúde de

qualquer animal e, consequentemente, influencia diretamente o bem-estar. Além

disso, a vaca é o componente mais importante dentro de um sistema de produção

leiteira justamente por ser capaz de transformar o alimento recebido no produto final:

o leite (NAWAC, 2010).

O aumento da exigência nutricional causado pela exacerbada capacidade

produtiva das vacas leiteiras atuais, associada à pressão por maior produtividade em

menores áreas e flutuações estacionais na produção forrageira, acaba gerando

algumas restrições de bem-estar, como altas taxas de lotação, déficit nutricional em

determinadas categorias e conflitos sociais entre os animais do rebanho (BOND,

2010).

De forma geral, recomenda-se:

Prover acesso à água fresca e a uma dieta segura e de qualidade que

mantenha a saúde e promova um estado positivo de bem-estar. O alimento e

a água devem ser distribuídos de maneira que os animais possam comer e

beber sem necessidade de competição (FAO & IDF, 2011; HFAC, 2012;

NAWAC, 2010; RSPCA, 2011).

3.1.1 Acesso ao Alimento

Há diversos aspectos do manejo alimentar que influenciam o acesso ao

alimento por vacas leiteiras. No caso de sistemas intensivos, o espaço de cocho por

animal, o desenho das instalações e a frequência de oferta de alimento afetam

diretamente o comportamento alimentar dos animais.

Por se caracterizarem como animais gregários, as vacas tendem a realizar

atividades em conjunto, como alimentação, descanso, ruminação, etc. Estudos

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mostram que determinadas atividades de rotina associadas à bovinocultura leiteira,

como a distribuição de alimento e o retorno da ordenha, estimulam o comportamento

de consumo de alimento (DE VRIES et al., 2003)(Figura 1). Segundo De Vries et al.

(2005), o aumento da frequência de oferta diária de alimento permite maior

oportunidade de acesso ao alimento fresco e reduz a seleção de alimento por vacas

em lactação, potencialmente reduzindo a variação na qualidade da dieta consumida.

Figura 1. Percentagem de vacas presentes no cocho durante um período de 24 horas, em dois tratamentos (vacas alimentadas às 5:30h e 15:15h, e vacas alimentadas às 5:30h, 11:00h, 15:15h e 22:30h). Adaptado de De Vries et al., 2003.

Trabalhos demonstram que altas taxas de lotação animal estão relacionadas

à maior frequência de comportamento agressivo em bovinos (KONDO et al., 1989;

O’CONELL et al., 2010). Quando se trata de animais submissos, isso pode resultar

em uma limitação no acesso ao alimento devido à competição ao cocho. Alguns

autores recomendam que haja no mínimo 0,6 m lineares de espaço de cocho por

animal, que representa o espaço necessário para que todas as vacas se alimentem

ao mesmo tempo (GRANT & ALBRIGHT, 2001). Entretanto, De Vries et al., 2004,

relatam que o aumento no espaço de cocho para 1,0 m por animal resulta em menor

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frequência de interações agonistas e aumenta a atividade de alimentação,

particularmente em vacas submissas.

Outra alternativa para reduzir as interações agonistas é a adição de divisores

de cocho. De Vries e Keyserlingk, 2006 notaram uma redução na competição por

espaço e melhora no acesso à alimentação para vacas em lactação submetidas a

esse tipo de instalação.

Programas de manejo alimentar que levem em consideração essas

características comportamentais são mais propensos a reduzir o estresse e o

comportamento agressivo, além de apresentar um impacto positivo na saúde e

produtividade do rebanho (RUSHEN et al., 2008).

Pode-se citar, portanto, algumas recomendações práticas relacionadas ao

acesso ao alimento, respeitando as informações supracitadas:

Garantir espaço de cocho adequado por animal, evitando estresse e

comportamentos agressivos - ex.: no mínimo 0,6 m por vaca (HFAC, 2012;

RSPCA, 2011; RUSHEN et al., 2009).

Manter uma rotina diária de oferta de alimento (FAO & IDF, 2011; NFACC,

2009; RSPCA, 2011), maximizando a frequência quando possível (DE VRIES

et al., 2005).

Utilizar canzis, quando possível, buscando reduzir a competição por alimento,

particularmente no caso de animais submissos (DE VRIES et al., 2006).

3.1.2 Pasto

O acesso ao pasto pode ser considerado como indicador positivo de bem-

estar animal em bovinos leiteiros, por possibilitar a expressão de comportamento

natural e apropriado para a espécie (WELFARE QUALITY, 2009). Algumas

certificadoras de bem-estar chegam a proibir completamente sistemas que

mantenham o gado sem acesso ao pasto ou área de exercício durante o ano todo

(HFAC, 2012; RSPCA, 2011). De fato, estudos mostram que o acesso ao pasto tem

efeitos positivos na conformação de cascos, claudicação (CORAZZIN et al., 2010),

e até na taxa de mortalidade. Burow et al. (2011) observaram reduções de 46-75%

nas taxas de mortalidade registradas em rebanhos com acesso ao pasto no verão

em comparação a rebanhos confinados durante o ano todo.

Se por um lado o acesso ao pasto soluciona uma série de problemas, por

outro enseja o surgimento de outros, quando mal administrado (VON

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KEYSERLINGK et al., 2009). A pessoa responsável pelo rebanho deve estar alerta a

alguns problemas e preparada para agir corretamente conforme a situação

(NAWAC, 2010). A falta de abrigo do sol no pasto é um exemplo. Legrand et al.

(2009) observaram que as vacas escolhem o pasto nos momentos mais frescos do

dia, mas voltam para dentro do galpão quando a temperatura está elevada. Vacas

expostas a radiação solar direta, sem oferta de abrigo, podem sofrer estresse

calórico e apresentar redução de produtividade (RODRIGUES et al., 2010). Além

disso, as elevadas exigências nutricionais dos bovinos leiteiros durante o

crescimento, gestação e lactação nem sempre são atendidos somente pela

quantidade e qualidade da pastagem. Neste caso, o correto manejo de

suplementação é essencial para evitar quedas na produção, perda de peso e,

consequentemente, problemas de saúde e reprodução no rebanho (NAWAC, 2010).

Estudos também mostram que a elevada umidade do solo e materiais

traumatizantes constituem fatores que podem favorecer o aparecimento de lesões

podais em vacas leiteiras manejadas em pastos mal conservados (CRUZ et al.,

2001). Silveira et al. (2009) observaram que a prevalência de 22,2% de lesões

podais estava, em sua maioria, relacionada com a presença de pedras, além de

outros materiais traumatizantes e acúmulo de matéria orgânica e lama.

Dessa forma, foram propostas as seguintes recomendações:

Permitir, sempre que possível, o acesso ao pasto aos animais (HFAC, 2012).

Garantir que haja adequada proteção contra a radiação solar direta - ex.:

sombra natural ou artificial, quando o gado tiver opção de acesso ao pasto

(NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

Utilizar apenas pastos que tenham boa capacidade de drenagem, sem

acúmulo de umidade excessiva (NFACC, 2009)

Inspecionar e manter trilhas de tráfego de animais no pasto livres de materiais

que possam comprometer a integridade do casco (NFACC, 2009; RSPCA,

2011).

Garantir a complementação com alimento de qualidade quando a oferta de

forragem não atender os requerimentos nutricionais dos animais. (NFACC,

2009; RSPCA, 2011).

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20

3.1.3 Escore de Condição Corporal

Ao considerar a quantidade de alimento e nutrientes requeridos,

especialmente para bovinos leiteiros, uma variedade de fatores deve ser levada em

consideração, como a idade do animal, seu tamanho, seu estado fisiológico, o seu

nível de produção, a quantidade e frequência de oferta de alimento, o clima, etc.

(NRC, 2001). Assim, não seria apropriado especificar uma recomendação geral de

quantidades e nutrientes adequados a serem utilizados. Neste sentido, o

monitoramento do escore de condição corporal (ECC) pode auxiliar na obtenção de

informação que permita o ajuste dos níveis de oferta de alimento (NAWAC, 2010).

O ECC de vacas leiteiras é uma ferramenta utilizada para estimar a sua

proporção de gordura corporal. A escala usada para medir o ECC se diferencia de

país para país, mas baixos valores sempre refletem emagrecimento, enquanto que

valores altos refletem obesidade (Figura 2). Ambos extremos podem representar

restrições de bem-estar animal, como dificuldade de acesso ao alimento ou acarretar

distúrbios metabólicos e dificuldades no parto (WELFARE QUALITY, 2009). Os

trabalhos de Roche et al.(2009) e Matthews et al.(2012) relatam que vacas com

ECCs altos apresentam reduzida ingestão de matéria seca e, por isso, estão mais

propensas a sofrer distúrbios metabólicos ao periparto, enquanto que vacas com

ECCs baixos apresentam maior risco de serem agredidas por outras vacas e podem

sofrer dificuldades na reprodução, principalmente quando há uma mudança drástica

negativa no ECC (WALSH et al., 2011).

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Figura 2. Sistema de Escore de Condição Corporal sugerido, adaptado de Wildman et al., (1982).

O ECC ideal é uma estimativa e varia conforme o estado fisiológico da vaca.

De forma geral, os estágios fisiológicos e os respectivos ECCs ideais recomendados

para bovinos leiteiros são os seguintes (considerando uma escala de 5 pontos):

Período seco – 3,25 a 3,75

Parto – 3,25 a 3,75

Início da lactação (1 a 120 dias) – 2,5 a 3,25

Meio da lactação (120 a 304 dias) – 2,75 a 3,25

Final da lactação (305 dias ou mais) – 3,0 a 3,5

Novilhas em crescimento – 2,75 a 3,25

(HFAC, 2012; NFACC, 2009)

3.1.4 Nutrição de Bezerros

O estado nutricional nos primeiros dias de vida é um dos principais fatores

que influenciam o bem-estar de bezerros (HRISTOV et al., 2011) e tem grande efeito

sobre o seu desenvolvimento e produtividade durante toda a vida adulta (NFACC,

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2009). O programa de manejo alimentar deve manter os bezerros em crescimento

positivo e garantir a transmissão passiva de imunoglobulinas. Dessa forma, o

produtor deve estar atento a alguns detalhes durante o tratamento desta categoria:

Colostro – O colostro é a primeira secreção mamária produzida pela vaca

logo após o parto. Ele é composto por uma fonte de proteína e energia altamente

digestível e anticorpos que são essenciais na proteção do bezerro contra doenças,

impactando de forma importante a saúde e o bem-estar do animal (NAWAC, 2010;

HRISTOV et al., 2011). A habilidade do bezerro de se defender contra doenças

infecciosas está diretamente relacionada com o sucesso da transmissão passiva de

imunoglobulinas, determinado pela quantidade, qualidade e tempo da primeira

ingestão de colostro (RUSHEN et al., 2009).

O momento da primeira oferta de colostro é um ponto crítico no manejo de

bezerros (VASSEUR et al., 2010b), pois o período de absorção ótima de

imunoglobulinas ocorre antes das quatro horas de idade e decresce rapidamente

após 12 horas (Weaver et al., 2000). Segundo Davis & Drackley (1998), o colostro

de boa qualidade deve conter 50mg/ml de imunoglobulinas e deve ser oferecido ao

bezerro em uma quantidade não menor que quatro litros para garantir o sucesso da

transmissão de imunidade passiva. Como a qualidade do colostro pode variar

conforme a idade, ordem de parto, saúde e estado nutricional da vaca, o colostro

deve ser testado para garantir que os níveis adequados de imunoglobulinas estão

sendo administrados ao bezerro. O colostrômetro é uma ferramenta simples e

prática, composta por um recipiente que recebe a amostra de colostro e flutua em

uma proveta, relacionando a gravidade específica do colostro com a concentração

de imunoglobulinas, e pode ser utilizada para esse propósito (FLEENOR & STOTT,

1980).

Oferta de leite – Bezerros são naturalmente motivados a consumir grandes

volumes de leite e, por isso, o seu bem-estar depende de quanto leite lhes é

disponibilizado. Bezerros se beneficiam do consumo de leite especialmente durante

as primeiras quatro semanas de idade, quando sua habilidade de digerir alimentos

sólidos é limitada (RUSHEN et al., 2009). De Passillé & Rushen (2006) observaram

que bezerros com acesso irrestrito às mães chegam a consumir de 6 a 14 litros de

leite por dia. A oferta de leite em volume insuficiente está associada com reduzido

ganho de peso e sinais comportamentais de fome, como comportamento de sucção

cruzada e vocalização (De Paula Vieira et al., 2008). Drackley (2008) e Soberon et

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al. (2012) relatam benefícios como redução na idade ao primeiro parto e aumento de

produção leiteira futura em bezerras que recebem 20% do peso vivo em leite, ao

invés dos convencionais 10%. Bezerros devem receber um volume de leite que

mantenha sua saúde, crescimento e vigor (NFACC, 2009). Temperaturas ambientais

abaixo de 10°C podem aumentar a quantidade de energia necessária para

manutenção da temperatura corporal dos bezerros e, por isso, a oferta de leite deve

aumentar nesses casos (Rushen et al., 2009).

Desmame – O desmame em sistemas de produção é outro fator relacionado à

nutrição que influencia o bem-estar dos bezerros, pois ocorre comumente mais cedo

e de forma mais abrupta que aconteceria na natureza (WEARY et al., 2008).

Bezerros desmamados abruptamente manifestam respostas comportamentais mais

intensas que aqueles desmamados gradualmente, incluindo maior frequência de

vocalização e movimentação (JASPER et al., 2008).

Além da questão comportamental, o bezerro precisa passar por um processo

fisiológico e funcional de transformação do rúmen. O desmame deve ser um

processo gradual e baseado na habilidade do bezerro de digerir alimentos sólidos

(VASSEUR et al., 2010a).

Dessa forma, as recomendações acerca da nutrição de bezerro são:

Ofertar ao menos quatro litros de colostro de boa qualidade aos bezerros nas

primeiras 12 horas de vida, com a primeira oferta ocorrendo o mais cedo

possível e não mais de seis horas após o parto (HFAC, 2012; NAWAC, 2010;

NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

Aumentar o volume ofertado de leite quando a temperatura ambiente estiver

abaixo dos 10°C (HFAC, 2012; NFACC, 2009).

Garantir a oferta diária de leite em ao menos 20% do peso vivo do bezerro até

quatro a cinco semanas de idade, quando o bezerro estiver consumindo no

mínimo 1 kg por dia de alimento sólido e o rúmen estiver pronto para fazer

sua digestão (HFAC, 2012; NAWAC, 2010; NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

Desmamar os bezerros gradualmente, ao longo de, no mínimo, cinco dias

(HFAC, 2012; NAWAC, 2010; NFACC, 2009).

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3.2 Instalações

Os sistemas de alojamento exercem grande influência sobre os índices de

produtividade e saúde de bovinos leiteiros (FORTES, 2009). Algumas de suas

características são utilizadas em diversos protocolos de diagnóstico como

indicadores de bem-estar animal (BOND, 2010; WEFARE QUALITY, 2009). O bem-

estar dos animais, entretanto, não depende apenas das instalações propriamente

ditas, mas também das características de manejo atreladas a elas (NFACC, 2009).

Instalações bem planejadas e administradas podem oferecer muitas

vantagens aos animais e seus tratadores. As vacas são providas com abrigo das

intempéries e tem acesso fácil a áreas de alimentação e descanso, enquanto que os

tratadores tem a oportunidade de monitorar e responder de forma mais rápida às

necessidades dos animais que estão sob seus cuidados (MCFARLAND, 2010). Por

outro lado, projetos de instalações inadequadas podem ter consequências negativas

diretas em termos de comportamento social, saúde (COOK & NORDLUND, 2009),

higiene (LOMBARD et al, 2010) e produtividade das vacas (FREGONESI et al,

2007a).

Para alcançar bons níveis de bem-estar, as instalações devem ser projetadas

com base na fisiologia, comportamento e necessidades dos animais (ALBENI &

BERTONI, 2008).

A recomendação geral, encontrada em diferentes fontes da literatura, é:

Instalações para bovinos leiteiros devem ser projetadas de forma a respeitar o

espaço individual dos animais, protegê-los de desconforto e estresse e

permitir comportamentos naturais (FAO & IDF, 2011; HFAC, 2012; NAWAC,

2010; NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

3.2.1 Bezerros

Bezerros leiteiros são normalmente separados das mães logo após o parto e

alojados em baias individuais. A preferência por tal prática está comumente

relacionada com a suposta maior facilidade de controle de transmissão de doenças

entre os animais e menor incidência de problemas comportamentais, como tentativa

de amamentação cruzada (CHUA et al., 2002). Este tipo de manejo, entretanto,

restringe o contato entre os bezerros, afetando o seu bem-estar (WELFARE

QUALITY, 2009). As interações sociais nos primeiros estágios de vida do animal

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desempenham um papel importante no relacionamento entre indivíduos adultos

(VEISSIER et al., 1994). Chua et al. (2002) relatam viabilidade em termos de saúde

e desempenho e vantagens no bem-estar de bezerros que tem a oportunidade de

socializarem uns com os outros.

Períodos adequados de descanso também parecem influenciar no

crescimento e no bem-estar de bezerros (VASSEUR et al., 2010a). Os animais

devem ter acesso a locais apropriados para esta atividade. Pisos muito duros

(NFACC, 2009) e ambientes com temperaturas abaixo de 10°C representam

obstáculos nesse sentido (HÄNNINEN et al., 2003).

As características recomendadas para instalações projetadas para bezerros

são:

Ser confortáveis, fornecendo isolamento contra o frio e umidade (HFAC, 2012;

NAWAC, 2010; NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

Ser providas de superfícies macias e limpas – como palha, maravalha, etc. –

que permitam que os bezerros descansem de forma confortável (NAWAC,

2010; NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

Permitir que os bezerros possam se deitar, virar e levantar facilmente e ter ao

menos contato visual com outros bezerros (HFAC, 2012; NAWAC, 2010;

NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

3.2.2 Camas

O desenho e manejo das camas são fatores importantes que influenciam o

conforto das vacas em sistemas de produção e, consequentemente, a produtividade,

saúde e bem-estar dos animais (BOND, 2010; RUSHEN et al., 2009). Vacas de leite

tendem a passar de 8 a 16 horas por dia deitadas (DECHAMPS et al., 1989).

Restrições na expressão desse comportamento podem causar efeitos negativos,

como comprometimento da saúde do casco (MCFARLAND, 2010) e variações na

concentração sanguínea de hormônios que afetam a produtividade (FISHER et al.,

2003).

Uma crescente quantidade de novas pesquisas mostra que a superfície

disponibilizada para as vacas é um dos fatores mais importantes que influenciam a

qualidade do local adequado para descanso (RUSHEN et al., 2009; FREGONESI et

al., 2007b). O bom manejo da cama, no que diz respeito à limpeza e reposição, é

essencial (FORTES, 2009). Vacas mostram uma clara preferência por camas limpas

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e secas e passam muito mais tempo de pé quando essas condições não estão

disponíveis (FREGONESI et al., 2007b). A remoção diária de sujidades e o uso de

generosas quantidades de material de cama garantem a limpeza e o conforto das

camas (NFACC, 2009).

Sendo assim, as recomendações acerca das camas são:

Estar sempre limpas e secas (FAO & IDF, 2011; HFAC, 2012; NAWAC, 2010;

NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

Permitir que as vacas se levantem e se deitem com facilidade (FAO & IDF,

2011; HFAC, 2012; NAWAC, 2010; NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

Promover uma superfície de descanso confortável (FAO & IDF, 2011; HFAC,

2012; NAWAC, 2010; NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

3.2.3 Piso

O tipo de piso utilizado em confinamento afeta o bem-estar das vacas de duas

formas principais: prejudicando a sua locomoção, pelo maior risco de escorregões e

quedas, e/ou aumentando a frequência de problemas de casco e claudicação

(RUSHEN et al., 2009).

Pisos de concreto não são ideais para instalações de bovinos leiteiros,

especialmente quando cobertos por esterco. Esse tipo de piso não confere atrito

suficiente para permitir a locomoção normal dos animais (COOK & NORDLUND,

2009) e estudos confirmam que a dureza excessiva do concreto pode causar lesões

de casco induzidas pela sobrecarga nas patas. Ouweltjes et al. (2011) observaram

inclusive que novilhas mantidas em pisos de concreto despenderam menos tempo

se alimentando em pé quando comparadas com novilhas mantidas em piso de

borracha.

A utilização de pisos macios e menos escorregadios gera menor frequência

de escorregões e quedas, permite o comCaportamento adequado de locomoção e

reduz o risco de novos casos de lesões de casco e claudicação (COOK &

NORDLUND, 2009).

Recomenda-se:

Utilizar pisos macios e não escorregadios, como pisos de borracha

texturizada, que permitam que os animais se locomovam com facilidade e de

forma natural, sem prejudicar a integridade dos cascos (FAO & IDF, 2011;

HFAC, 2012; NAWAC, 2010; NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

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Remover o esterco das áreas de tráfego diariamente (FAO & IDF, 2011;

HFAC, 2012; NAWAC, 2010; NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

3.2.4 Taxa de Lotação

O aumento do número de animais confinados em uma área fixa definida

significa menor espaço e acessibilidade a recursos por indivíduo. O aumento na

densidade de lotação pode resultar em maior interação de competitividade pelo

acesso às camas, cochos e bebedouros. Essa maior competitividade, por sua vez,

acarreta em menor tempo despendido em descanso, maior tempo em pé, fora das

baias, e menor frequência de visitas ao cocho (RUSHEN et al., 2009).

Fregonesi et al. (2007a) observaram um aumento na competição, quando a

lotação foi modificada de 1 para 1,5 vacas por baia. Nesse último caso, houve um

aumento na frequência de deslocamentos de animais subordinados por animais

dominantes. Além disso, o tempo de descanso gasto pelos animais reduziu (Figura

3) e as vacas passaram mais tempo em pé, fora das baias.

De forma similar, Krawczel et al. (2008) também observaram que altas taxas

de lotação afetam o tempo de descanso. Ainda, em outro experimento, os autores

também relataram redução no tempo gasto com alimentação, registrando até 24

minutos a menos por dia gastos com essa atividade (KRAWCZEL et al., 2012).

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Figura 3. Variação no tempo despendido em descanso, em um período de 24 horas. São demonstradas duas taxas de lotação: 1,0 e 1,5 vacas por baia. As médias foram calculadas para 48 vacas em observações a cada 10 minutos. Adaptado de Fregonesi et al. (2007a).

Recomendações:

Quando o gado estiver confinado, o número de animais no grupo não deve

exceder o número de camas (FAO & IDF, 2011; HFAC, 2012; NFACC, 2009;

RSPCA, 2011).

3.3 Saúde

O estado sanitário do rebanho é comumente abordado pelo seu impacto

econômico na produção, mas a saúde dos animais também é um componente

importante de bem-estar. A dor e o desconforto causados por problemas de saúde

interferem de tal forma na vida do animal que o seu bem-estar é dependente do seu

estado de saúde (NFACC, 2009).

O ambiente e o manejo ao qual os animais são submetidos devem contribuir

para a manutenção de sua saúde (FAO & IDF, 2011; HFAC, 2012; NAWAC,

2010; NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

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Todo produtor deve desenvolver um protocolo de monitoramento e tratamento

sanitário em conjunto com um veterinário (FAO & IDF, 2011; HFAC, 2012.

NAWAC, 2010; NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

3.3.1 Monitoramento e Tratamento

O registro de incidência e prevalência de doenças está se tornando cada vez

mais simples de ser realizado devido às novas tecnologias disponíveis. Os

produtores devem ser capazes de identificar precocemente problemas específicos

de saúde para melhorar o grau de bem-estar do seu rebanho (NFACC, 2009). A

prevenção de doenças e situações estressantes é melhor que a necessidade de

tratamento (NAWAC, 2010). Entretanto, o conforto e o tratamento humanitário de

animais doentes ou feridos são prioridades na garantia de seu bem-estar (NFACC,

2009).

O rebanho deve ser monitorado regularmente em busca de animais que

apresentem sinais de doença, ferimento ou dor (FAO & IDF, 2011; HFAC,

2012; NAWAC, 2010; NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

Quaisquer casos de animais que apresentem sinal de sofrimento, dor, doença

ou ferimento devem ser registrados e os animais devem ser tratados

imediatamente (FAO & IDF, 2011; HFAC, 2012; NAWAC, 2010; NFACC,

2009; RSPCA, 2011).

3.3.2 Claudicação

A claudicação em vacas leiteiras é amplamente reconhecida como um dos

mais sérios – e caros – problemas de bem-estar e produção na bovinocultura leiteira

(ITO et al., 2010). O termo claudicação é utilizado para descrever a apresentação

clínica de locomoção prejudicada, independentemente da causa. A maioria dos

casos em vacas de leite está associada a lesões dolorosas nos membros posteriores

(ARCHER et al., 2010). Além de comprometer o bem-estar animal, problemas de

claudicação podem resultar em redução na produção de leite e fertilidade e

aumentar o risco de descarte prematuro (ITO et al., 2010).

Um dos principais fatores de risco associado com a incidência de claudicação

é a restrição do comportamento de descanso das vacas. O tempo que as vacas

passam deitadas pode ser considerado como uma forma confiável de predição de

risco de claudicação em fazendas de leite (DIPPEL et al., 2009). O diagnóstico

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rápido e o tratamento precoce em estágios iniciais de claudicação reduzem os

problemas de bem-estar e possibilitam uma recuperação menos traumática para o

animal (NFACC, 2009). Dessa forma, é interessante que a pessoa responsável pelo

cuidado dos animais saiba identificar os casos que devem ser tratados. Archer et al.

(2010) sugerem a utilização de um sistema de escore de mobilidade que pode ser

usado para diagnosticar casos de claudicação nas fazendas (Anexo 1).

As recomendações para minimizar os problemas de bem-estar relacionados

com a claudicação nas fazendas leiteiras são:

Diagnosticar precocemente e tratar vacas acometidas o mais cedo possível

(NAWAC, 2010; NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

Minimizar a exposição dos animais a pisos de concreto e garantir o uso das

camas, que devem ser de tamanho adequado e confortáveis (HFAC, 2012;

NAWAC, 2010; NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

3.3.3 Mastite

A mastite é uma inflamação da glândula mamária, causada normalmente por

infecção bacteriana (DE VLIEGHER et al., 2012). A maioria das bactérias penetra no

úbere por meio dos orifícios dos tetos. A doença é considerada como um problema

para a produção, qualidade do leite e segurança alimentar. Do ponto de vista do

bem-estar animal, a mastite pode representar uma infecção local dolorosa e resultar

em febre, desidratação e até em morte (NFACC, 2009).

O desenvolvimento da mastite pode resultar da infecção cruzada entre vacas

durante a ordenha, chamada de mastite contagiosa, ou da infecção por bactérias

presentes no esterco e no ambiente, chamada de mastite ambiental.

Recomenda-se que o desenvolvimento de um programa de prevenção de

mastite seja feito somente em conjunto com um profissional capacitado (NFACC,

2009), mas de forma geral, a precaução com o surgimento de novas infecções e a

eliminação de infecções existentes estão entre os principais objetivos.

As seguintes recomendações podem auxiliar na redução de novos casos:

Garantir que vacas contaminadas sejam ordenhadas por último ou

separadamente das outras vacas (DA ROSA et al., 2009; NFACC, 2009).

Limpar e secar os tetos antes da ordenha (DA ROSA et al., 2009; NFACC,

2009).

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Aplicar a pré-imersão em todos os tetos de todas as vacas, garantindo que a

solução cubra a área que entra em contato com a teteira (DA ROSA et al.,

2009; NFACC, 2009).

Eliminar os três primeiros jatos de leite de cada teta (DA ROSA et al., 2009).

Aplicar a pós-imersão em todos os tetos de todas as vacas (DA ROSA et al.,

2009; NFACC, 2009).

Garantir o adequado manejo e higiene das instalações de confinamento e

ordenha (DA ROSA et al., 2009; NFACC, 2009).

3.4 Práticas de Produção

A produção de bovinos leiteiros envolve uma variedade de procedimentos de

manejo e situações que podem causar dor e estresse nos animais (NAWAC, 2010).

Todas essas práticas devem ser realizadas por profissionais treinados e

competentes e de forma que o sofrimento seja minimizado (HFAC, 2012).

Procedimentos e práticas que causem dor desnecessária não devem ser

utilizados (FAO & IDF, 2011).

3.4.1 Descorna

Procedimentos de descorna são realizados rotineiramente por questão de

segurança do gado e de seus tratadores (NFACC, 2009). Produtores reconhecem

que essa prática causa dor nos animais (GOTTARDO et al., 2011). Felizmente,

estudos identificam métodos e intervenções que podem ser aplicados para aliviar a

dor durante o procedimento (STAFFORD & MELLOR, 2005). Stafford & Mellor

(2011) relatam a redução na manifestação de indicadores de estresse após a

descorna, quando anestesia e analgesia são usadas.

A remoção dos cornos de animais com três meses ou mais de idade gera

respostas fisiológicas e comportamentais que indicam que este procedimento é

doloroso. A descorna de animais mais velhos pode levar a um déficit de ganho de

peso que pode ser detectado até 100 dias depois do procedimento

(GOONEWARDENE & HAND, 1991). Ainda que haja escassez de literatura que

compare os efeitos da descorna em diferentes idades, parece claro que este

procedimento é menos invasivo se executado em animais mais novos – antes dos

três meses de idade (RUSHEN et al., 2009).

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Recomendações:

Utilizar anestesia e analgesia nos procedimentos de descorna (HFAC, 2012;

NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

Garantir que a descorna seja feita apenas por pessoal treinado (HFAC, 2012;

NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

Realizar a descorna em animais com, no máximo, cinco semanas de idade,

ou tão cedo quanto o aparecimento da proeminência dos cornos (HFAC,

2012; NFACC, 2009; RSPCA, 2011).

3.4.2 Caudectomia

A caudectomia é uma prática de manejo em desuso, com baixíssima adoção

no Brasil, mas é adotada em algumas fazendas com base na suposta contribuição

para vacas mais limpas, menor risco de infecções e melhores condições de trabalho

para os ordenhadores (WEARY et al., 2012). Entretanto, não há registro em

literatura que identifique alguma diferença na higiene de úbere ou patas, na

contagem de células somáticas ou na prevalência de patógenos intramamários que

possa ser atribuída à caudectomia (NFACC, 2009).

A caudectomia exerce claros e longos efeitos sobre o bem-estar animal. A

secção dos nervos da cauda pode resultar em formação de neuroma, gerando dor

crônica (LUNAM et al., 2002). Além disso, a execução inadequada do procedimento

pode levar a infecções sérias, incluindo tétano e gangrena (RUSHEN et al., 2009).

Dessa forma, as recomendações que tratam da caudectomia são:

A caudectomia não deve ser realizada, salvo quando necessária por razões

médicas (FAO & IDF, 2011; HFAC, 2012; NAWAC, 2010; NFACC, 2009;

RSPCA, 2011).

Percebe-se que há disponível na literatura uma quantidade considerável de

informações acerca das diferentes práticas de manejo e características dos sistemas

de produção e seu efeito sobre o bem-estar de bovinos leiteiros. Muitos desses

efeitos estão, também, atrelados a variações na produtividade e rentabilidade da

atividade. A adoção de práticas recomendadas nesse sentido pode poupar o

produtor de problemas futuros e torná-lo mais competitivo no mercado.

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33

4. PESQUISA: Percepção e Cumprimento do Código de Práticas por

Produtores de Leite da Província de Alberta – Canadá

O Código de Práticas de Cuidados e Manejo de Bovinos Leiteiros do Canadá

foi desenvolvido pelo Conselho Nacional de Cuidados com Animais de Fazenda

(NFACC, 2009), em colaboração com diversos grupos envolvidos com a

bovinocultura leiteira, como produtores, representantes da indústria e pesquisadores.

O objetivo do código é promover bem-estar e boas práticas de manejo por meio do

estabelecimento de exigências e recomendações, envolvendo vários aspectos da

atividade. As exigências descritas no código refletem padrões regulamentares ou

expectativas impostas pela indústria, enquanto que as recomendações descrevem

práticas que contribuem para o contínuo desenvolvimento da atividade e melhores

níveis de bem-estar. Por meio de esforços feitos pelo NFACC, pelo menos uma

cópia do Código de Práticas foi enviada, por correio, para cada um dos produtores

de bovinos de leite registrados no país.

O propósito do presente trabalho foi avaliar a percepção dos produtores da

província de Alberta em relação ao Código de Práticas e verificar se as práticas de

manejo de bezerros adotadas nas fazendas estão em concordância com o Código.

4.1 Material e Métodos

Um total de 64 produtores de bovinos leiteiros da província de Alberta,

Canadá, participaram da pesquisa. Foram analisadas somente fazendas com vacas

da raça Holandesa, com mais de 75 vacas em lactação, confinadas em sistema de

acesso livre a camas (free-stall). Cada um dos produtores respondeu a dois

questionários aplicados durante visitas realizadas a suas propriedades. O primeiro

questionário foi composto de sete perguntas sobre a percepção do produtor em

relação ao Código de Práticas (Tabela 1).

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34

Tabela 1. Lista de questões aplicadas durante visitas a fazendas na província de Alberta, Canadá, acerca da percepção do produtor em relação ao Código de Práticas

Questões Opções de Resposta

1 - Você já ouviu falar sobre o Código de Práticas?

( )Sim ( )Não

2 - Como você ficou sabendo sobre o Código de Práticas?

( )Cópia por correio ( )Apresentação em encontro ou reunião ( )Artigo em jornal ( )Outro

3 – Você leu o Código de Práticas?

( )Sim ( )Não

4 – Você acha que foi bem elaborado?

( )Sim ( )Não

5 – Você realizou alguma mudança de manejo com base no código?

( )Sim – Especifique................................ ( )Não

6 – Você ainda tem uma cópia do código?

( )Sim ( )Não

7 – Você gostaria de receber uma cópia do código?

( )Sim ( )Não

O segundo questionário foi composto de 15 perguntas sobre as práticas de

manejo de bezerros adotadas na fazenda (Tabela 2). Cada uma das perguntas está

diretamente relacionada com diretrizes claramente estabelecidas pelo Código de

Práticas. As questões cobriram informações sobre nutrição e manejo alimentar de

bezerros desmamados, cuidados veterinários e programas de saúde, características

e manejo de instalações e práticas de descorna. Do total de questões, seis delas

estavam relacionadas com exigências previstas no Código, enquanto que as outras

nove estavam relacionadas com recomendações estabelecidas.

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Tabela 2. Questões aplicadas durante visitas às fazendas, acerca das práticas de manejo adotadas pelos produtores. Questões destacadas em cinza estão relacionadas com exigências previstas pelo Código, enquanto que as outras estão relacionadas com recomendações estabelecidas.

Questões Opções de resposta

1 – Depois de quanto tempo após o nascimento ocorre a primeira oferta de colostro ao bezerro?

_____ Horas

2 – Quantos litros de colostro são rotineiramente administrados para cada bezerro?

Nas primeiras seis horas de vida?____L De seis a doze horas de vida?____L De 12 a 24 horas de vida?____L

3 – De que forma você avalia a qualidade do colostro?

( )Não avalio qualidade ( )Pela cor e/ou consistência ( )Com um colostrômetro ( )Pelo peso relativo ( )Outro Descreva:________________

4 – Qual a temperatura do leite ofertado aos bezerros?

( )Morno ( )Frio

5 – Depois de alimentados com colostro, os bezerros tem acesso irrestrito a leite?

( )Sim ( )Não

6 – Quanto leite é diariamente oferecido aos bezerros?

Primeira semana?____L Segunda semana?____L Terceira semana?____L Quarta semana?____L

7 – Os bezerros recebem mais leite nos dias mais frios?

( )Sim ( )Não

8 – De que forma os bezerros são desmamados?

( )Abruptamente ( )Gradualmente ao longo de ____ dias.

9 – A desinfecção do cordão umbilical de bezerros recém-nascidos é realizada rotineiramente?

( )Sim ( )Não

10 – Que tipo de informações são registradas para cada bezerro?

( )Identificação ( )Dificuldade de parto ( )Procedimentos realizados ( )Mortalidade ( )Afecção de doenças ( )Tratamentos realizados ( )Crescimento e desempenho ( )Desmama

11 – Existem protocolos de procedimentos padrão estabelecidos para a identificação e tratamento de bezerros doentes?

( )Sim ( )Não

12 – Os bezerros tem contato uns com os outros?

( )Não ( )Contato visual ( )Contato físico

13 – Com que frequência o material de cama dos bezerros desmamados é trocado ou adicionado?

____ vezes por ____ (dia/semana/mês)

14 – Atualmente, com que idade é realizada a descorna nos bezerros?

____ dias.

15 – Durante a descorna, é usado algum tipo de medicamento para o controle da dor?

( )Sim ( )Não

Para as questões número 1 e 2, a exigência estabelecida pelo Código de

Práticas é de que “Os bezerros devem receber um mínimo de quatro litros de

colostro de boa qualidade nas primeiras doze horas de vida, com o primeiro

consumo ocorrendo o mais cedo possível e não mais de seis horas após o

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nascimento”. Dessa forma, práticas de manejo que não garantiam a primeira oferta

de colostro antes das seis horas e o consumo de pelo menos quatro litros antes das

12 horas de vida do bezerro, foram consideradas como incompatíveis com o código.

Para a questão 3, a recomendação descrita pelo código é de que “A

qualidade do colostro deve ser avaliada com o uso de um colostrômetro”. Assim, a

falta de avaliação ou qualquer tipo de avaliação de colostro que não fosse feita com

o auxílio do equipamento foram consideradas como não compatíveis com o código.

As recomendações e exigências estabelecidas pelo código acerca da oferta

de leite para bezerros desmamados são:

“O leite deve ser oferecido aos bezerros em uma temperatura de 15-40°C”.

“Permitir acesso irrestrito ao leite”.

“Garantir o consumo mínimo de 20% do peso vivo em leite (aproximadamente

8 litros para bezerros da raça Holandesa) até os 28 dias de vida”.

“Garantir o aumento do consumo de leite quando a temperatura ambiente

estiver abaixo dos 10°C”.

“Desmamar os bezerros gradualmente, ao longo de 5-14 dias”.

As práticas de manejo adotadas pelos produtores, definidas pelas questões 4,

5, 6, 7 e 8, que não garantissem o cumprimento das recomendações citadas acima

foram consideradas como incompatíveis com o código.

Com o intuito de contribuir com a manutenção da saúde do bezerro e evitar

infecções, o Código de Práticas recomenda a “Desinfecção dos cordões umbilicais

de bezerros logo após o parto e diariamente nos dias subsequentes até que o

cordão esteja seco”. Respostas para a questão 9, que refletissem a negligência na

desinfecção dos cordões umbilicais foram consideradas como incompatíveis com o

código.

Com relação às informações registradas para cada bezerro, definidas pela

questão 10, o Código de Práticas recomenda apenas que os produtores “Realizem a

identificação individual e registro de tratamentos”. Dessa forma, apenas as opções

de resposta “Identificação” e “Tratamentos realizados” foram levadas em

consideração na análise dos dados. Apenas produtores que realizam o registro das

duas informações foram considerados como condizentes com o código de práticas.

A pergunta número 11 do questionário está relacionada à recomendação

descrita no código de que “Produtores devem estabelecer protocolos de

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37

procedimentos padrão para a identificação e tratamento de bezerros doentes”.

Dessa forma, a ausência de protocolos de procedimentos-padrão nas fazendas foi

considerada como fator de incompatibilidade com o código de práticas.

Para a questão 12, o código estabelece a exigência de que “As instalações

devem permitir o contato visual entre bezerros”. Respostas expressas através das

opções “Contato visual” e “Contato físico” foram consideradas como compatíveis

com o código, pois ambas refletem o cumprimento da diretriz estabelecida.

De acordo com o código de práticas, os produtores devem “Adicionar material

de cama limpo e seco, diariamente”. Dessa forma, para a questão 13, apenas

produtores que realizam a adição de cama em frequência diária, ou maior, foram

considerados como condizentes com a diretriz estabelecida pelo código.

As questões número 14 e 15 tratam das práticas adotadas em procedimentos

de descorna. Conforme o código de práticas, os produtores devem:

“Realizar a descorna antes dos 21 dias de idade do bezerro”;

“Utilizar medicamento para o controle da dor durante a descorna”.

Produtores que realizam a descorna depois do período recomendado e não

utilizam nenhum tipo de medicamento para o controle da dor durante o procedimento

foram considerados como não condizentes com o código de práticas.

As respostas de cada produtor, para ambos os questionários, foram

registradas e analisadas descritivamente.

4.2 Resultados e Discussão

A maioria dos produtores (71%) já havia ouvido falar sobre o código de

práticas. Do total de 64 produtores entrevistados, 45 declararam saber da existência

do conjunto de recomendações e exigências estabelecidas pelo NFACC. Ainda

assim, este número pode ser considerado baixo, já que cópias do código foram

enviadas a todos os produtores que participaram da pesquisa.

De fato, a principal forma pela qual os produtores ficaram sabendo da

existência do código foi por meio das cópias enviadas pelo correio (Figura 4). Dos

produtores que participaram da pesquisa, 46% disseram tê-lo conhecido dessa

forma. Apenas 9% ficaram sabendo sobre o código por meio de apresentações em

encontros e reuniões, 6% leram em artigos de jornais e 10% tomaram conhecimento

por meio de outras fontes.

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38

Figura 4. Fontes de divulgação do Código de Práticas previstas no questionário aplicado aos produtores durante visitas às fazendas em 2011 e 2012.

Apenas 51% dos produtores possuíam uma cópia do código de práticas e

somente 43%, afirmaram ter lido o material. Este número representa apenas 60%

dos produtores que sabiam da existência do código.

Os resultados descritos acima sugerem que o envio do código de práticas

pelo correio não é uma boa estratégia de divulgação e não garante que a informação

contida no material seja transmitida aos produtores. Novos estudos podem ser

desenvolvidos para definir melhores métodos de abordagem.

Nove produtores afirmaram ter realizado mudanças nas suas práticas de

manejo com base nas diretrizes estabelecidas pelo código (Figura 5). Destes

produtores, quatro fizeram mudanças nas práticas de descorna e outros cinco

realizaram alterações nas práticas de manejo de transporte, de parto, de descarte de

animais, de caudectomia e de vacas com claudicação, respectivamente.

46%

6% 9% 10%

0

8

16

24

32

40

48

56

64

Cópia por correio Artigo em jornal Apresentação emencontro ou reunião

Outro

mero

de p

rod

uto

res

Formas de divulgação

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Figura 5. Mudanças realizadas por produtores nas práticas de manejo adotadas em suas fazendas, após terem lido o Código de Práticas.

Quando questionados sobre a qualidade do código de práticas, 37% dos

produtores afirmaram que ele foi bem elaborado. Este número representa 89% dos

produtores que efetivamente leram o material. Dos produtores entrevistados, 41%

gostariam de receber uma cópia, representando 84% dos produtores que não

possuíam o código.

De forma geral, 45% das recomendações e exigências estabelecidas pelo

código de práticas foram atendidas pelos produtores. A compatibilidade entre as

práticas de manejo adotadas e as diretrizes presentes no código variou, entre

fazendas, de 13% a 71% (Figura 6).

Figura 6. Compatibilidade entre as práticas de manejo adotadas nas fazendas de gado leiteiro de Alberta, Canadá, e as diretrizes estabelecidas no código.

6% 2% 2% 2% 2% 2%

0

8

16

24

32

40

48

56

64

Descorna Parto Descarte deanimais

Claudicação Caudectomia Transporte

mero

de p

rod

uto

res

Práticas de Manejo

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

% d

e c

om

pati

bilid

ad

e

Fazendas

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40

Algumas áreas de manejo apresentaram alta compatibilidade com o código de

práticas (Figura 7) e outras apresentaram baixa compatibilidade (Figura 8).

Figura 7. Áreas de manejo com alta compatibilidade com o Código de Práticas, em 64 fazendas de gado leiteiro da província de Alberta, Canadá.

Figura 8. Áreas de manejo com baixa compatibilidade com o Código de Práticas, em 64 fazendas de gado leiteiro da província de Alberta, Canadá.

Os resultados das questões sobre manejo de colostro revelaram o

cumprimento das exigências de tempo e quantidade na oferta de colostro. Em 95%

das fazendas, o colostro é oferecido até às seis horas de vida do bezerro e em 56%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Hora daprimeira oferta

de colostro

Quantidade decolostroofertada

Temperatura doleite ofertado

Registro deidentificação etratamentos

Manejo de cama

% d

e c

om

pati

bil

ida

de

Práticas de Manejo

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Avaliação daqualidade do

colostro

Quantidade deleite oferecida

Desinfecção doumbigo

Idade àdescorna

Controle da dordurante adescorna

% d

e c

om

pati

bil

ida

de

Práticas de Manejo

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41

o alimento é oferecido nas primeiras duas horas após o parto. Estes resultados

coincidem com aqueles obtidos em outra pesquisa feita em 115 fazendas de leite do

Canadá, que relata que 95% das fazendas oferecem colostro nas primeiras seis

horas de vida do bezerro (VASSEUR et al., 2010a).

A quantidade exigida de colostro, oferecida nas primeiras 12 horas de vida do

bezerro, foi respeitada por 77% dos produtores que disseram oferecer pelo menos

quatro litros durante esse período. Fulwider et al. (2008), em pesquisa feita em 113

fazendas de leite nos Estados Unidos, relatam que 61,9% dos produtores oferecem

em média 3,8 litros de leite para os bezerros na primeira mamada.

Com relação às práticas de avaliação da qualidade do colostro, apenas 19%

dos produtores seguem a recomendação de uso do colostrômetro. Uma grande

parte dos produtores (45%) não realiza nenhum tipo de avaliação qualitativa e 36%

fazem a avaliação por meio de outros métodos que não estão previstos em

recomendações. Segundo Fleenor & Stott (1980), a avaliação adequada da

qualidade do colostro é essencial para garantir o sucesso na transferência de

imunidade passiva. Falhas nessa prática podem gerar consequências negativas de

longo prazo na vida do bezerro (RUSHEN et al., 2009).

A temperatura do leite influencia a sua aceitabilidade e o seu consumo pelos

bezerros (HRISTOV et al., 2011) e, por isso, o código de práticas recomenda que o

leite seja oferecido a uma temperatura de 15-40°C. Esta recomendação foi seguida

em 97% das fazendas avaliadas.

Outras práticas de manejo adotadas nas fazendas, relacionadas com a oferta

de leite aos bezerros desmamados, revelaram alta incompatibilidade com o código

de práticas. Apenas 12% dos produtores permitem acesso irrestrito ao leite e

somente um dos 64 produtores entrevistados respeita a quantidade mínima a ser

oferecida diariamente. A maioria dos produtores oferece apenas cinco litros de leite

por dia aos bezerros (Figura 7). Além disso, apenas 7% dos produtores afirmaram

aumentar a oferta de leite nos dias em que a temperatura ambiente cai abaixo dos

10°C.

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42

Figura 9. Distribuição da quantidade de leite ofertada aos bezerros desmamados em fazendas de gado leiteiro da província de Alberta, Canadá.

Vasseur et al. (2010b) afirmaram que o manejo de oferta de leite a bezerros

desmamados pode realmente ser considerado como um ponto crítico de bem-estar

em fazendas no Canadá e encorajaram o desenvolvimento de trabalhos que visem

mudanças nas práticas atuais.

O principal método de desmame foi o gradual, adotado em 70% das fazendas

avaliadas. Entretanto, apenas 53% dos produtores realizam a desmama gradual

dentro do período de 5-14 dias, recomendado no código de práticas. Outros

métodos de desmame registrados incluíam o abrupto (30%) e o gradual ao longo de

períodos muito curtos (8%) ou muito longos (9%).

Surpreendentemente, apenas 27% dos produtores desinfetam o cordão

umbilical de bezerros recém-nascidos. A desinfecção é recomendada pelo código,

sendo que a facilidade de realização e os efeitos benéficos resultantes da sua

execução geraram a hipótese de um maior número de produtores adeptos da

prática. Maiores estudos devem ser desenvolvidos para investigar os motivos de tal

negligência.

Os produtores revelaram, de forma geral, manter registros completos de

identificação e tratamentos realizados nos bezerros. Ambas as informações são

registradas em 86% das fazendas avaliadas. Entretanto, apenas 28% dos

produtores afirmaram possuir protocolos de procedimentos-padrão estabelecidos

para a identificação e o tratamento de bezerros doentes.

3

17

20 18

5

1

3 4 5 6 7 10

0%

10%

20%

30%

40%

50%

Quantidade de leite ofertada (L/dia)

me

ro d

e p

rod

uto

res

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43

Em discordância com as exigências de manejo e características das

instalações, 44% dos produtores alojam os bezerros em baias que não permitem o

contato visual entre os animais. A adição diária de material de cama nas instalações

de bezerros é realizada em 69% das fazendas. A outra principal frequência de

adição é a cada troca de bezerro (19%).

Com relação às práticas de descorna, apenas 24% dos produtores realizam o

procedimento dentro do prazo recomendado pelo código. As idades mais comuns de

realização da descorna são 60, 42 e 28 dias de idade, com 13%, 8% e 10% dos

produtores realizando o procedimento nestas épocas, respectivamente.

Medicamento para o controle da dor durante a descorna somente é empregado por

34% dos produtores. Tais resultados indicam que a maioria dos bezerros criados nas

fazendas avaliadas sofrem severas restrições no seu bem-estar.

4.3 Conclusão

Os resultados demonstram que a compatibilidade entre as práticas adotadas

nas fazendas e as recomendações e exigências estabelecidas no material é variável.

Produtores que não seguem as diretrizes estabelecidas estão expondo os animais

que estão sob seus cuidados a restrições de bem-estar e podem experimentar

consequências na produtividade. As informações presentes no código provaram ser

úteis como base para mudanças nas práticas de manejo. Esforços adicionais são

necessários para desenvolver novas estratégias de divulgação e encorajar o

cumprimento das diretrizes estabelecidas no código.

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44

5. RELATÓRIO DE ESTÁGIO

5.1 Plano de Estágio

O plano de estágio definido inicialmente envolvia a participação e auxílio em

projetos de pesquisa (Anexo 2). Os projetos principais previstos para o período de

estágio eram:

Pesquisa sobre práticas de manejo de bezerros adotadas por produtores de

gado leiteiro da província de Alberta, Canadá;

Pesquisa sobre atenuação de dor em bezerros castrados;

Análise comportamental de animais doentes.

Adicionalmente aos projetos já previstos, três novas atribuições foram

definidas no local de estágio:

Auxílio em pesquisa sobre Práticas de manejo de colostro e sua influência

sobre a saúde e o desempenho de bezerros;

Auxílio em pesquisa sobre Práticas de manejo e instalações para gado leiteiro

e sua influência sobre o bem-estar e a prevalência de casos de claudicação.

Desenvolvimento de um relatório sobre a percepção e cumprimento do

Código de Práticas por produtores de bovinos de leite da província de Alberta,

Canadá (Pesquisa descrita neste trabalho, no capítulo 4).

5.2 Local de Estágio

O estágio foi realizado na Universidade de Calgary, durante o primeiro

semestre do ano de 2012, do dia 28 de fevereiro ao dia 25 de maio, na província de

Alberta, Canadá, mais especificamente no Departamento de Saúde de Animais de

Produção. Fundada em 1966, a Universidade de Calgary é uma instituição

responsável pelo desenvolvimento de pesquisas em diversas áreas do

conhecimento. A instituição é considerada como uma das oito melhores

universidades do Canadá e é uma das 15 universidades que apresentam maior

número de pesquisas sendo desenvolvidas no país. O campus principal da

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45

universidade ocupa uma área de mais de 200 hectares (Figura 8) e é sede de 14

faculdades e 85 centros de pesquisa que, juntos, oferecem mais de 100 programas

acadêmicos à comunidade.

Figura 10. Foto aérea da área ocupada pelo campus principal da Universidade de Calgary, em 2008. Fonte: GoogleEarth.

Mais de 31.000 estudantes estão atualmente matriculados em cursos de

graduação e pós-graduação. A Universidade já graduou 145.000 alunos durante os

seus 44 anos de existência.

5.2.1 Departamento de Saúde de Animais de Produção

A Faculdade de Medicina Veterinária é uma das 14 faculdades que compõe a

Universidade de Calgary e a primeira a ser instalada na província de Alberta.

Completamente financiada pela província, a faculdade foi criada com o objetivo de

atender às demandas da comunidade local em relação à saúde pública e animal, por

meio de programas de ensino, pesquisa e extensão.

O Departamento de Saúde de Animais de Produção faz parte da faculdade de

medicina veterinária, desenvolvendo pesquisas e oferecendo apoio a atividades nas

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46

áreas relacionadas com o manejo sanitário, incluindo medicina aplicada a indivíduos

e populações de animais de produção.

5.3 Atividades Desenvolvidas e Participação em Projetos de Pesquisa

5.3.1 Práticas de manejo de bezerros e sua influência sobre o bem-estar e

desempenho.

Este projeto de pesquisa está sendo desenvolvido pelo doutorando Guilherme

Borges Bond. O objetivo do trabalho é estabelecer relações entre práticas de manejo

adotadas e indicadores de desempenho, saúde e bem-estar animal, em 100

fazendas da província de Alberta, Canadá.

Para isso, diversos produtores de bovinos leiteiros da raça Holandesa, que

criem seus próprios bezerros e tenham mais de 75 vacas em lactação, confinadas

em sistema de acesso livre a camas, foram contatados por telefone e indagados

sobre o interesse em participar do projeto. No caso de concordância do produtor em

participar, uma visita à sua fazenda foi agendada.

Durante a visita, cada produtor respondeu a um questionário contendo 57

questões sobre as práticas de manejo de bezerros adotadas em sua propriedade. As

questões abrangiam informações gerais sobre a fazenda, práticas de separação de

bezerros das mães, práticas de manejo de colostro, práticas de manejo alimentar de

bezerros desmamados, práticas de manejo sanitário dos bezerros, instalações para

bezerros e outros procedimentos.

Além da aplicação do questionário, as instalações onde os bezerros ficam

alojados foram medidas e caracterizadas conforme:

Forma de alojamento: individual ou em grupos;

Tipo das instalações: baias ou “casinhas”;

Tamanho das instalações: altura x largura x comprimento.

Os bezerros também foram medidos conforme a sua circunferência torácica,

para posterior estimativa de peso, e altura (Figura 9). Amostras de sangue foram

coletadas, através da veia jugular, de bezerros com até sete dias de idade para

posterior análise da concentração de imunoglobulinas no soro.

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47

Figura 11. Mensurações de circunferência torácica e altura dos bezerros, realizadas em vistas a fazendas de gado leiteiro da província de Alberta, Canadá, em 2012.

Após cada uma das vistas, as respostas dos produtores e as informações

obtidas nas mensurações das instalações e bezerros foram carregadas em um

arquivo do Microsoft Access, para criação de um banco de dados e posterior análise

estatística.

As amostras de sangue coletadas nas fazendas foram identificadas de acordo

com a fazenda, o número de identificação do bezerro e a data da coleta, e foram

armazenadas em um recipiente térmico para o transporte. Cada amostra foi levada

para o laboratório na universidade para separação do soro via centrifugação. O soro

foi então armazenado em congelador, a uma temperatura de -80°C, para posterior

análise (Figura 10).

Figura 12. Processamento das amostras de sangue coletadas em fazenda, realizado em laboratório, na Universidade de Calgary, em 2012.

As atividades realizadas, relacionadas com este experimento, incluíram:

Preparação do equipamento e material levado nas visitas;

Coleta de sangue e mensuração dos bezerros;

Registro de informações sobre as instalações dos bezerros;

Tabulação dos dados obtidos durante as visitas;

Processamento e identificação das amostras de sangue.

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48

5.3.2 Práticas de manejo e instalações para gado leiteiro e sua influência

sobre o bem-estar e a prevalência de casos de claudicação.

Este projeto de pesquisa está sendo desenvolvido pela doutoranda Laura

Solano Quesada. O objetivo do trabalho é estabelecer relações entre as práticas de

manejo de gado leiteiro adotadas, o bem-estar e a prevalência de casos de

claudicação em 100 fazendas da província de Alberta, Canadá.

Este projeto está sendo realizado em conjunto com o projeto descrito

anteriormente, no item 5.3.1 deste trabalho. A metodologia aplicada nos dois

projetos é bastante semelhante, sendo que os mesmos produtores estão envolvidos

em ambos. Diferentemente do projeto com bezerros, este projeto envolve duas

visitas à fazenda e um novo questionário (doravante denominado Questionário 2). A

segunda visita é normalmente agendada diretamente com o produtor durante a

primeira visita e deve ocorrer no mínimo quatro dias depois.

Durante a primeira visita, cada produtor respondeu ao Questionário 2,

contendo 68 questões sobre as práticas de manejo adotadas na sua fazenda e

sobre a sua percepção acerca do Código de Práticas de Manejo de Bovinos

Leiteiros. As questões abrangiam informações sobre instalações, nutrição, saúde,

bem-estar, manejo de bezerros e outros procedimentos.

Além da aplicação do Questionário 2, diversas mensurações e avaliações

foram realizadas nas instalações de confinamento, incluindo:

Desenho e tamanho das instalações;

Número de animais alojados;

Qualidade e quantidade do material de cama;

Limpeza das instalações;

Características do sistema de ordenha;

Tipos de pisos;

Presença de pedilúvios para os animais;

Ainda durante a primeira visita, 40 vacas eram escolhidas aleatoriamente

conforme o seu estágio de lactação, obtido através dos sistemas de registros da

fazenda, sendo que apenas as vacas entre 0 e 120 dias de lactação eram

selecionadas. Estas vacas foram medidas conforme a sua altura e largura de quadril,

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definida pelas pontas dos íleos. Além disso, cada uma delas recebeu um

acelerômetro preso a uma das patas posteriores (Figura 11). O dispositivo é

composto por três eixos que registram a posição da vaca em relação à direção da

força de gravidade, identificando e armazenando os períodos em que as vacas

despenderam de pé ou deitadas. Para facilitar a sua colocação, os acelerômetros

foram fixados durante a ordenha, utilizando uma fita de uso veterinário. Os

acelerômetros ficaram presos às patas das vacas por quatro dias e, após este

período, foram retirados pelos próprios produtores durante a ordenha. Ainda, cada

vaca selecionada foi filmada após a saída da ordenha para posterior análise de

vídeo da sua postura de andadura.

Figura 13. Acelerômetros fixados às patas posteriores de duas vacas em ordenha durante visitas a fazendas na província de Alberta, Canadá, em 2012.

No período entre a primeira e a segunda visita, os dados obtidos por meio do

Questionário 2 e das mensurações realizadas na fazenda eram carregados para o

computador para posterior análise estatística. A partir dessas informações, um

relatório descritivo da fazenda também era gerado e este era levado ao produtor no

dia da segunda visita.

Durante a segunda visita, os acelerômetros eram coletados com o produtor e

as informações armazenadas eram carregadas para o computador e transformadas

em um relatório do comportamento de descanso das vacas. As informações deste

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relatório, juntamente com o relatório gerado a partir das outras informações da

fazenda, eram então transmitidas ao produtor.

As atividades realizadas, relacionadas com este experimento incluíram:

Preparação do equipamento e material levados nas visitas;

Avaliação e registro das mensurações feitas nas instalações;

Filmagem da postura de andadura das vacas após a ordenha;

Fixação dos acelerômetros durante a ordenha;

Carregamento dos dados armazenados nos acelerômetros e processamento

dos relatórios entregues aos produtores.

5.3.3 Práticas de manejo de colostro e sua influência sobre a saúde e o

desempenho de bezerros leiteiros

Este projeto de pesquisa está sendo desenvolvido pela mestranda Amanda

Bartier. O objetivo do trabalho é verificar a influência do manejo de colostro sobre

indicadores de saúde e de desempenho de bezerros leiteiros.

Para isso, amostras de colostro e sangue de bezerros estão sendo coletadas

semanalmente em 10 fazendas localizadas próximas da cidade de Calgary, na

província de Alberta, Canadá. As amostras de sangue são centrifugadas e o soro

sanguíneo é separado para posterior análise de concentração de imunoglobulinas.

Da mesma forma, as amostras de colostro são levadas para laboratório e avaliadas

quanto à sua qualidade.

Além das coletas de amostras, durante as visitas semanais os bezerros são

medidos conforme a sua altura e circunferência torácica, para posterior estimativa de

peso.

As atividades realizadas, relacionadas com este experimento incluíram:

Acompanhamento das visitas a cinco fazendas;

Auxílio na coleta de sangue;

Auxílio na mensuração dos bezerros.

5.3.4 Análise comportamental de animais doentes

Durante o período de estágio, houve a possibilidade de conhecer uma

pesquisa que está sendo conduzida pelo Professor Dr. Michel Levy, em cooperação

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com o instituto de pesquisas em Agricultura e Agro-Alimentos do Canadá. O objetivo

da pesquisa é identificar sinais comportamentais precoces de desenvolvimento da

Encefalopatia Espongiforme Bovina, ou mal da vaca louca. Para isso, um grupo de

10 animais foi infectado propositadamente com príons da doença, em uma estação

experimental isolada. Mensalmente, os animais são trazidos ao brete e o seu

comportamento é analisado.

É esperado que animais acometidos pela doença demonstrem

comportamento de hipersensibilidade a diversos fatores ambientais, como estímulos

sonoros, luminosos e de tato. Dessa forma, após serem trazidos ao brete, os

animais tinham três minutos para se acalmarem e, logo em seguida, eram

submetidos a três diferentes estímulos:

Som metálico estridente produzido pelo bater de panelas;

Flash de luz direcionado;

Toque das patas traseiras com uma vassoura de palha;

O comportamento do animal era registrado em vídeo para posterior análise.

5.3.5 Pesquisa sobre atenuação de dor em bezerros castrados

A participação na pesquisa sobre atenuação de dor em bezerros castrados

não foi possível, pois as atividades relacionadas a este experimento não tiveram

início durante o período de estágio. Ao invés disso, houve a oportunidade de

participação em um dia de atividades de campo de um estudo preliminar sobre

respostas comportamentais à prática de castração em bovinos de corte.

O estudo foi realizado em uma fazenda comercial de gado de corte, localizada

próxima à cidade de Calgary, na província de Alberta, Canadá. O comportamento de

dois grupos de bezerros foi obervado. Um dos grupos era composto por bezerros

que sofreram procedimento de castração com anel de borracha e o outro grupo era

composto por bezerros que não passaram pelo procedimento. O registro

comportamental foi realizado por três horas, logo após o procedimento de castração,

por meio de filmagem.

Além da filmagem, cada um dos bezerros dos dois grupos recebeu um

acelerômetro que foi fixado em uma das suas patas posteriores com fita de uso

veterinário. Os acelerômetros foram mantidos por 14 dias para posterior análise.

As atividades realizadas neste dia de campo envolveram:

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Fixação dos acelerômetros nas patas dos bezerros;

Filmagem do comportamento dos bezerros.

5.3.6 Participação em Congressos e eventos Técnicos

Durante o período de estágio foi possível participar de alguns congressos e

eventos técnicos nas áreas de bovinocultura leiteira e comportamento e bem-estar

animal. O primeiro evento técnico aconteceu já no primeiro mês de estágio, nos dias

6 a 9 de março. Foi o Trigésimo Seminário de Bovinos Leiteiros do Oeste

Canadense. O seminário foi voltado para produtores, extensionistas, pesquisadores

e fornecedores de serviços e equipamentos. Houve a participação de mais de 700

pessoas inscritas e os temas das palestras abrangeram diversas áreas da produção

de bovinos leiteiros.

O segundo evento foi o congresso sobre Cuidados com os Animais de

Produção da Província de Alberta, que aconteceu nos dias 21 e 22 de março. Os

temas principais abordados durante o congresso estavam principalmente

relacionados a trabalhos que visam à melhoria do grau de bem-estar de animais de

produção na província.

Também houve a possibilidade de participar de uma oficina de casqueamento

de gado de leite, organizado pela Faculdade de Medicina Veterinária da

Universidade de Calgary. O principal público-alvo da oficina foi produtores de gado

de leite. Foram apresentadas palestras sobre a importância dos cuidados com o

casco de bovinos leiteiros, além de aulas práticas de casqueamento emergencial

(Figura 12).

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Figura 14. Aula prática de casqueamento emergencial, realizada durante oficina de casqueamento, em Leduc, Alberta, Canadá, em abril de 2012.

Dois pôsteres do relatório desenvolvido durante o período de estágio foram

apresentados em dois encontros técnicos que ocorreram no mês de maio. Um deles

foi o 11° Encontro Regional Norte-Americano de Etologia Aplicada, ligado à

Sociedade Internacional de Etologia Aplicada (ISAE), a maior sociedade

internacional dedicada à etologia e bem-estar animal. Durante este encontro, o

pôster apresentado, intitulado “Percepção e Cumprimento do Código de Práticas por

Produtores de Leite da Província de Alberta – Canadá”, foi selecionado para o

prêmio de melhor pôster do encontro (Figura 13).

O mesmo trabalho foi apresentado em um novo pôster durante o encontro do

Consórcio de Pesquisa e Extensão em Bovinocultura Leiteira da Província de

Alberta. O encontro reuniu pesquisadores, extensionistas e produtores em duas

seções de pôster, nos dias 24 e 25 de maio.

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Figura 15. Premiação de melhor pôster apresentado durante o 11° Encontro Regional Norte Americano de Etologia Aplicada, realizado em Banff, Canadá, em maio de 2012.

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5.4 Discussão do Estágio

As mudanças realizadas no plano de estágio contribuíram para a participação

em um número maior de projetos durante o estágio, aumentando a gama de

conhecimentos adquiridos durante o período. Essa expansão nas atividades

desenvolvidas também possibilitou o contato com um maior número de colegas de

trabalho e pesquisadores experientes na área de estágio, contribuindo para o

amadurecimento da formação profissional.

As situações observadas durante o estágio, principalmente durante as várias

visitas em fazenda, contribuíram de forma significativa para a definição do tema da

revisão bibliográfica. A vivência em atividades de campo evidenciou a importância

das práticas de manejo no bem-estar dos animais envolvidos na atividade da

bovinocultura leiteira. Novas pesquisas que busquem descrever as práticas

adotadas por produtores brasileiros são necessárias para avançar no conhecimento

dos pontos críticos da bovinocultura brasileira em relação ao bem-estar animal, e

possibilitar a criação de uma base sólida para a construção de futuras

recomendações que tragam consigo o desenvolvimento da atividade no Brasil, de

forma sustentável e respeitando o bem-estar dos animais envolvidos.

Os conhecimentos técnicos teóricos e práticos adquiridos através das

disciplinas cursadas na UFPR foram essenciais para o desempenho de uma

variedade de atividades durante o período de estágio e, com certeza, abriram portas

para novas oportunidades profissionais.

A Universidade de Calgary, através do professor orientador Dr. Ed Pajor,

também abriu espaço, sempre que possível, para a participação em processos de

decisão e troca de opiniões. O investimento que a instituição faz no avanço do

conhecimento e a confiança que deposita em seus alunos e funcionários é invejável

e gera um senso de comunidade fortíssimo, que encoraja o trabalho em equipe e a

transposição de barreiras.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De forma geral, a experiência de estágio curricular superou expectativas. O

período de estágio curricular permitiu a participação em uma grande variedade de

atividades, estimulando a relação entre conhecimentos práticos e teóricos e o

desenvolvimento do pensamento científico. O contato com profissionais experientes

contribuiu de forma positiva na complementação da formação acadêmica e no

amadurecimento profissional. O desenvolvimento da revisão bibliográfica permitiu

um avanço considerável no conhecimento sobre as principais práticas de manejo

adotadas na bovinocultura leiteira e os alvos que devem ser alcançados para gerar o

desenvolvimento da atividade, principalmente no que diz respeito ao bem-estar

animal.

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ANEXOS

Anexo 1. Sistema padrão de escore de claudicação (Archer et al., 2010)

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Anexo 2. Plano de Estágio

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Anexo 3. Termo de Compromisso

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Anexo 4. Ficha de Avaliação no Local de Estágio

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