UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA … · 2019-01-21 · universidade federal do...

97
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA E MEDICINA LEGAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MICROBIOLOGIA MÉDICA FELIPE RODRIGUES MAGALHÃES DE AGUIAR BIOFILMES DO COMPLEXO Sporothrix schenckii: FORMAÇÃO E SENSIBILIDADE IN VITRO FORTALEZA 2016

Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA … · 2019-01-21 · universidade federal do...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE MEDICINA

DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA E MEDICINA LEGAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MICROBIOLOGIA MÉDICA

FELIPE RODRIGUES MAGALHÃES DE AGUIAR

BIOFILMES DO COMPLEXO Sporothrix schenckii: FORMAÇÃO E

SENSIBILIDADE IN VITRO

FORTALEZA

2016

1

FELIPE RODRIGUES MAGALHÃES DE AGUIAR

BIOFILMES DO COMPLEXO Sporothrix schenckii: FORMAÇÃO E

SENSIBILIDADE IN VITRO

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Microbiologia

Médica da Universidade Federal do

Ceará, como requisito parcial à obtenção

do título de mestre em Microbiologia

Médica. Área de concentração:

Micologia Médica.

Orientadora: Profª Drª. Raimunda Sâmia

Nogueira Brilhante

FORTALEZA

2016

2

______________________________________________________________________

_____

Página reservada para ficha catalográfica que deve ser confeccionada após apresentação

e alterações sugeridas pela banca examinadora.

Para solicitar a ficha catalográfica de seu trabalho, acesse o site: www.biblioteca.ufc.br,

clique no banner Catalogação na Publicação (Solicitação de ficha catalográfica)

______________________________________________________________________

_____

3

FELIPE RODRIGUES MAGALHÃES DE AGUIAR

BIOFILMES DO COMPLEXO Sporothrix schenckii: FORMAÇÃO E

SENSIBILIDADE IN VITRO

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Microbiologia

Médica da Universidade Federal do

Ceará, como requisito parcial à obtenção

do título de mestre em Microbiologia

Médica. Área de concentração:

Micologia Médica.

Aprovada em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Profª. Drª. Raimunda Sâmia Nogueira Brilhante (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________

Profª. Drª. Flávia Almeida Santos

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________

Profª. Drª. Adriana de Queiroz Pinheiro

Universidade Estadual do Ceará (UECE)

4

A Deus, Mestre e Senhor do Universo;

À minha avó, Sônia Magalhães;

Aos meus pais, Marcos e Ana Paula;

Ao meu irmão, Rafael Cortez.

5

AGRADECIMENTO

A Deus, por me proporcionar a oportunidade ímpar de escrever essas linhas;

À minha avó Sônia Magalhães, a quem eu jamais cansarei de agradecer,

pois foi a grande responsável por tudo de melhor que já aconteceu na minha vida;

Aos meus pais, Ana Paula Cortez e Marcos Magalhães, que foram o

caminho escolhido por Deus para me dar a vida;

Ao meu irmão, Rafael Cortez, que tem um coração generoso como poucos;

À toda a minha família, meus amores, Vovó Vanda, Vô Hermenegildo,

Nelsa, tios (Fernando, Adelaide, Gláucia, Messias, Neném, Fernanda, Érika, Alexandre,

Germana, André, Socorro e Elias) e primos (Lia, Leo, Ruth, Carolina, Daniel, Mariana,

Victor, Bia, João Victor, Iolanda, Yuri, Yan, Júlia);

À Profª. Drª. Sâmia Brilhante, pelo “acreditar”, pelo voto de confiança e

pelo acompanhamento nessa jornada tão difícil, mas tão gratificante. Por sua paciência,

por suas orientações e por querer o melhor de cada um dos seus alunos. Fui muito feliz

no dia que pude tê-la como orientadora, pois já sabia que meu período de mestrado seria

tutorado por uma pessoa de enormes capacidades.

Aos participantes da banca qualificadora, Prof. Dr. Manoel Paiva de Araújo

Neto e Draª Délia Jéssica Astete Medrano, assim como da banca de defesa, Profª Drª

Flávia Almeida Santos e Profª Drª Adriana Queiroz Pinheiro, pelo tempo,

disponibilidade, valiosas colaborações e sugestões.

À Lucilene Queiroz, minha eterna companheira de bancada, que viveu do

meu lado todas as angústias, surpresas, tristezas e alegrias que só o Sporothrix pôde nos

proporcionar. Saiba, amiga, que você tem grande parte nessa dissertação;

Aos melhores amigos do mundo: Leo Moraes (sem palavras para expressar

o quanto você foi importante nessa vitória!), Thiago Alberine, Alisson Leno, Carlinhos

de Carvalho, Jontinhas, Ranilson Alves, Diogo Evangelista, Samuel Estevam, Juninho,

João Marques, Amanda Militão, Felipe Sobral, Isabella Militão, Neiva, Luciana

Moraes, Cássio, Vivi Araújo, Marquinhos Araújo, Rubens Filho, Ianna Andrade,

Cristiano Rodrigues, Kelton Bantim e tantos outros que sempre estiveram e estão

comigo nos desafios da vida e que, durante dois anos, viveram o mestrado junto

comigo, assim como Cristiane, Aurenívea, Naruytto, Isabely, Nadja, Leonardo, Dudu,

Kéllen, Clarissa, Alana, Marcelo, Cesinha, Márcia, Carol, Mércia, Fernanda, Cláudia,

6

Yelena, Carlysandra e os demais (que graças a Deus são muitos), pelo apoio e

compreensão de sempre;

Aos colegas do Centro Especializado em Micologia Médica (CEMM),

Aline, David, Erisvaldo, Giovanna, Lucas, Gláucia, Jônathas, Rosana, Jamille, Tony,

Jaime, Edmilson, Lana, Lívia, Kleybson, Ewerton, Vandbergue, Jônatas, Patrícia,

Raquel, Yago, Ana Luiza, Gleiciane, Raíssa, Géssica, Chryster, Thalita, Juliana, Jônatas

e Terezinha (que eu “amo de paixão” desde o primeiro dia!), por toda a ajuda e

paciência durante o mestrado. Assim como a mais “Mãecretária” do PPGMM, Carol,

que sempre ajudou no que foi possível e impossível.

Aos Professores Marcos Fábio Gadelha, Rossana Cordeiro, Júlio Sidrim,

Cibele Barreto, Fernanda Edna, Lidiany Rodrigues, Lilia Maria, Luís, pela generosidade

e vontade de me fazer aprender muito além da Microbiologia, não somente através da

transferência de conhecimento, mas do amadurecimento do olhar crítico, da percepção

do meio e da vida como um todo.

À Dra. Silviane e Profª Débora Castelo Branco, pelo conhecimento e pelas

horas e horas de microscopia, sem importar se durante o dia ou entrando à noite.

Ao LIME, à Central Analítica da UFC e ao CEMM como um todo por

disponibilizarem seus profissionais e equipamentos para a realização dessa dissertação.

A todos os funcionários do bloco da Biomedicina, porteiros, auxiliares de

serviços gerais, etc., que proporcionaram um ambiente saudável para o desenvolvimento

desse estudo;

Ao Professor Zoilo Pires de Camargo, assim como todos os colaboradores

de seu laboratório na Universidade Federal de São Paulo, por gentilmente terem cedido

as cepas utilizadas neste estudo;

À Universidade Federal do Ceará, instituição que me acolheu desde a

graduação e que eu tenho o maior orgulho do mundo em fazer parte;

À CAPES, pelo aporte financeiro que tanto foi útil durante esses anos;

7

“Talvez não tenha conseguido fazer o

melhor, mas lutei para que o melhor

fosse feito. Não sou o que deveria ser,

mas, Graças a Deus, não sou o que era

antes.”

Marthin Luther King

8

RESUMO

A esporotricose é uma micose subcutânea cosmopolita, encontrada, principalmente, em

áreas tropicais e subtropicais da América Latina, sendo causada por espécies do

complexo Sporothrix schenckii. O objetivo deste estudo foi demonstrar a capacidade de

fungos do complexo S. schenckii de produzir biofilmes in vitro e determinar o perfil

desses biofilmes frente às drogas antifúngicas clássicas. Foram utilizadas 4 espécies do

complexo Sporothrix schenckii: S. brasiliensis (n=10), S. schenckii sensu stricto (n=2),

S. globosa (n=2) e S. mexicana (n=4). A formação dos biofilmes foi feita através da

transferência de inóculos de 2 x 105 conídios/mL para placas de microdiluição, que

foram incubadas a 25 °C por 5 dias. Após cada dia de incubação, realizaram-se ensaios

de XTT e Cristal violeta, para se determinar a atividade metabólica e biomassa dos

biofilmes, respectivamente. Para os ensaios de sensibilidade, três concentrações

diferentes (MIC planctônico, 10 x MIC e 50 x MIC) dos antifúngicos anfotericina B

(AMB), caspofungina (CAS), cetoconazol (KTC), voriconazol (VRC) e fluconazol

(FLC) foram transferidas para os poços com biofilmes, que foram incubados por 72

horas a 25 °C. O perfil dos biofilmes frente às drogas antifúngicas foi determinado

através de ensaios de XTT e cristal violeta. Biofilmes foram produzidos em lamínulas

de Thermanox™ para visualização através de microscopia óptica com coloração de

vermelho-congo, microscopia eletrônica de varredura e microscopia confocal.

Verificou-se que todas as espécies do complexo S. schenkii são fortes formadoras de

biofilme, não havendo diferença de formação entre as espécies. A absorbância dos

biofilmes após exposição às drogas demonstrou que a biomassa e a atividade metabólica

foram reduzidas de forma significativa (p<0,05), principalmente, em S. brasiliensis. Os

antifúngicos testados mostraram redução na atividade metabólica e biomassa,

principalmente, em concentrações 50 vezes maiores que os MICs planctônicos,

demonstrando o incremento protetivo que a forma séssil possui frente à forma

planctônica.

Palavras-chave: Dimorfismo. Resistência. Antimicóticos.

9

ABSTRACT

Sporotrichosis is a cosmopolitan subcutaneous mycosis, found mainly in tropical and

subtropical areas of Latin America, caused by species of Sporothrix schenckii complex.

The aim of this study was to demonstrate the capacity of Sporothrix schenckii complex

to produce in vitro biofilms and to determine the profile of these biofilms against to

classical antifungal drugs. Four species from Sporothrix schenckii complex were used:

S. brasiliensis (n=10), S. schenckii sensu stricto (n=2), S. globosa (n=2) and S.

mexicana (n=4). The formation of biofilms was performed by transferring inoculum of

2 x 105 conidia/mL for microdilution plates, which were incubated at 25 °C for 5 days.

After each day of incubation, XTT and Crystal Violet assays were made to determine

the metabolic activity and biomass of biofilm, respectively. For susceptibility tests,

three different concentrations (planktonic MIC, 10 x MIC and 50 x MIC) of antifungals

amphotericin B (AMB), caspofungin (CAS), ketoconazole (KTC), voriconazole (VRC)

and fluconazole (FLC) were transferred to biofilm wells, which were incubated for 72

hours at 25 °C. The biofilms profile then antifungal drugs presence was determined by

the XTT and crystal violet assays. Biofilms were produced in Thermanox™ coverslips

for viewing by optical microscopy with congo-red staining, scanning electron

microscopy and confocal microscopy. It was found that all species from S. schenckii

complex are strong biofilm-forming, with no difference formation between them.

Absorbance of biofilm after drug exposure showed that biomass and metabolic activity

was significantly reduced (p<0.05), mainly in S. brasiliensis. Antifungal drugs tested

showed metabolic activity and biomass reduction, especially at concentrations 50 times

higher than the planktonic MICs, demonstrating the protective increase in sessile form

when compared for planktonic form.

Keywords: Dimorphism. Sporothrix. Antimycotics.

10

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Alguns casos reportados de esporotricose no Peru, Estados Unidos da

América e Austrália após a classificação do agente etiológico no gênero

Sporothrix......................................................................................................... 19

Figura 2 – A. Esporotricose cutâneo-fixa-fixa: lesão desenvolvida no local de

inoculação. B. Esporotricose cutâneo-linfática: Lesões nódulo-ulcerativas

surgem ao longo dos vasos linfáticos, a partir da lesão inicial......................... 22

Figura 3 – Sporothrix spp. em sua fase filamentosa. A. Macromorfologia das cepas

melanizadas (escuras) e não-melanizadas (brancas). B. Hifas e conídios em

forma de “flor de margarida” (destacados por setas). C. Conídios de

Sporothrix brasiliensis em microscopia eletrônica de varredura –Ampliação

10999X............................................................................................................. 25

Figura 4 – Distribuição mundial das espécies S. brasiliensis, S. globosa e Sporothrix s.

str. (Clades IIa e IIb)......................................................................................... 27

Figura 5 – Etapas de formação dos biofilmes microbianos............................................... 35

Figura 6 – A. Macromorfologia de colônias filamentosas de Sporothrix schenckii s.

str., melanizadas, em ágar batata dextrose, incubadas a 25 °C. B.

Macromorfologia de colônias de Sporothrix schenckii s. str. em ágar BHI

suplementado com 5% de sangue de carneiro, incubadas a 37 °C................. 37

Figura 7 – Esquema de metodologia para a formação de biofilmes filamentosos de

espécies do complexo S. schenckii.................................................................. 48

Figura 8 – Esquema de metodologia para a avaliação da cinética de biofilmes

filamentosos de espécies do complexo S. schenckii através de ensaios de

biomassa (cristal violeta) e atividade metabólica (XTT).................................. 50

Figura 9 – Esquema de metodologia para ensaio de sensibilidade antifúngica em

espécies do complexo S. schenckii, em suas fases filamentosas, por

microdiluição em caldo..................................................................................... 52

Figura 10 – Esquema de metodologia para ensaio de atividade metabólica e biomassa de

espécies do complexo S. schenckii, em suas fases filamentosas, frente aos

antifúngicos....................................................................................................... 53

Figura 11 – Fluxograma dos ensaios utilizados na metodologia do estudo......................... 54

Figura 12 – Atividade metabólica (A) e biomassa (B) de biofilmes de Sporothrix spp. de

11

acordo com o tempo de maturação em ensaios de XTT e cristal violeta,

respectivamente (n=18)....................................................................................

55

Figura 13 – Microscopia óptica de biofilmes maduros de Sporothrix globosa, corados

através da técnica com corante Vermelho-Congo. A. Matriz extracelular

densa (fundo vermelho), com hifas (setas pretas) e conídios (setas brancas);

B. Canais de água dentro da rede de hifas (setas). Ampliação de 400x........... 57

Figura 14 – Imagens de CLSM de biofilmes maduros de Sporothrix brasiliensis. A.

Hifas (setas pretas) e conídios (setas brancas) formando uma estrutura densa

de biofilme. B. Visão tridimensional do biofilme. Ampliação de 400X.

Imagens adquiridas com laser 488 nm e 561nm para a detecção de SYTO9 e

iodeto de propídio, que identificam células vivas e mortas, respectivamente.. 59

Figura 15 – Imagens de microscopia eletrônica de varredura de biofilmes de S.

brasiliensis formados em lamínulas de Thermanox™ após 24, 48, 72, 96,

120 e 144 horas de incubação (A - F, respectivamente) - Ampliação:

2000X (A - E) e 4032X (F). A. Células aderidas à superfície da lâmina. B.

Início da filamentação pós-adesão. C. Formação de redes de hifas e

conídios. D. Espessamento do biofilme com detecção de produção de

matriz. E. Biofilme maduro com presença de conídios, hifas, matriz e

canais de água (identificados por setas). F. Canais de água no biofilme de

S. brasiliensis (identificados por setas)...........................................................

61

12

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Origem e local de isolamento das cepas de espécies do complexo Sporothrix

schenckii utilizadas neste estudo...................................................................... 47

Tabela 2 – Classificação dos biofilmes das espécies com complexo Sporothrix

schenckii........................................................................................................... 56

Tabela 3 – Concentração inibitória mínima (MIC) e concentração fungicida mínima

(MFC) de isolados planctônicos do complexo Sporothrix schenckii............... 63

Tabela 4 – Atividade metabólica dos biofilmes de Sporothrix spp. após exposição às

drogas antifúngicas (492 nm) (p<0,05)............................................................ 65

Tabela 5 – Biomassa dos biofilmes de Sporothrix spp. após exposição às drogas

antifúngicas (590 nm) (p<0,05)........................................................................ 65

13

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

3D Terceira dimensão

AMB Anfotericina B

BHI Brain Heart Infusion

CAS Caspofungina

CEM Concentração Mínima Eficaz

CEMM Centro Especializado em Micologia Médica

CFM Concentração Fungicida Mínima

CIM Concentração Inibitória Mínima

CLSI Clinical & Laboratory Standards Institute

CLSM Confocal Laser Scanning Microscopy

DO Densidade óptica

EUA Estados Unidos da América

FLC Fluconazol

h hora

HIV Human Immunodeficiency Virus – Vírus da Imunodeficiência

Humana

HMDS Hexametildisilazano

ITS Internal Transcribed Spacer

KTC Cetoconazol

MALDI-TOF Matrix Assisted Laser Desorption/Ionization - Time of Flight

MEV Microscopia Eletrônica de Varredura

MG Média geométrica

min minuto

MOPS 3-[N-morfolino]-propano-ácido sulfônico

PBS phosphate buffered saline

PCR Polymerase Chain Reaction – Reação em Cadeia da Polimerase

PDA Potato Dextrose Agar – Agar Batata Dextrose

pH Potencial Hidrogeniônico

RPMI Roswell Park Memorial Institute

UFC Unidades Formadoras de Colônias

VRC Voriconazol

XTT 2,3-Bis-(2-methoxy-4-nitro-5-sulfophenyl)-2H-tetrazolium-5-

carboxanilide salt

14

LISTA DE SÍMBOLOS

% Porcentagem

°C Graus Celsius

µg Micrograma

µL Microlitro

µm Micrômetro

kDa Quilodalton

kV Quilovolt

mL Mililitro

mM Milimolar

nm Nanômetro

™ Trademark (Marca Registrada)

15

SUMÁRIO

1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 17

1.1 Esporotricose ........................................................................................................... 17

1.1.1 Histórico..................................................................................................................... 17

1.1.2 Epidemiologia............................................................................................................ 19

1.1.3 Patogenia................................................................................................................... 21

1.2 Agentes etiológicos – Sporothrix spp....................................................................... 22

1.2.1 Taxonomia................................................................................................................. 22

1.2.2 Morfologia.................................................................................................................. 24

1.2.3 Distribuição mundial do complexo Sporothrix schenckii........................................ 26

1.2.4 Fatores de Virulência................................................................................................ 28

1.2.5 Biofilmes..................................................................................................................... 32

1.3 Diagnóstico laboratorial da esporotricose.............................................................. 36

1.4 Sensibilidade aos antifúngicos e tratamentos propostos....................................... 38

1.4.1 Iodeto de potássio....................................................................................................... 39

1.4.2 Compostos azólicos.................................................................................................... 40

1.4.3 Anfotericina B............................................................................................................ 42

1.4.4 Caspofungina............................................................................................................. 43

1.4.5 Termoterapia.............................................................................................................. 44

2 HIPÓTESES.............................................................................................................. 45

3 OBJETIVO GERAL................................................................................................ 45

3.1 Objetivos específicos................................................................................................. 45

4 MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................... 46

4.1 Microrganismos......................................................................................................... 46

4.2 Formação do biofilme filamentoso de Sporothrix spp. para testes de

sensibilidade............................................................................................................... 47

4.3 Cinética de crescimento dos biofilmes..................................................................... 48

4.4 Morfologia e estrutura dos biofilmes de Sporothrix spp........................................ 50

4.5 Sensibilidade da forma planctônica........................................................................ 51

4.6 Atividade metabólica e biomassa dos biofilmes frente aos antifúngicos............. 53

4.7 Análises estatísticas................................................................................................... 53

5 RESULTADOS......................................................................................................... 54

5.1 Desenvolvimento e cinética do biofilme.................................................................. 54

16

5.2 Morfologia e estrutura dos biofilmes de Sporothrix spp....................................... 56

5.3 Sensibilidade planctônica......................................................................................... 62

5.4 Atividade metabólica e biomassa dos biofilmes frente aos antifúngicos.............. 64

6 DISCUSSÃO............................................................................................................. 66

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................... 75

ANEXO A.................................................................................................................. 95

17

1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1 Esporotricose

1.1.1 Histórico

Em 1898, no Johns Hopkins Hospital em Baltimore-EUA, o médico americano

Benjamin Robinson Schenck isolou um fungo proveniente de nódulos ulcerados nos

dedos e antebraço de um paciente adulto de 36 anos de idade e encaminhou ao

patologista e micologista Erwin Frink Smith, que identificou o fungo como uma espécie

pertencente ao gênero Sporotrichum, sendo este o primeiro caso relatado do agente

etiológico da esporotricose (SCHENCK, 1898; TÉLLEZ et al., 2014), uma micose

subcutânea, que apresenta-se, geralmente, na forma sub-aguda ou crônica. Já em 1900,

dois anos após o primeiro relato, um segundo caso suspeito de esporotricose foi

visualizado em Chicago por Hektoen e Perkins. Uma criança do sexo masculino foi

atendida com uma lesão no dedo causada por um martelo. Sem necessidade de

tratamento, esta lesão regrediu espontaneamente e, pela primeira vez, o agente

etiológico foi classificado como Sporothrix schenckii, sua atual denominação

(HEKTON & PERKINS, 1900). Outros possíveis casos de esporotricose foram

relatados por Linck em 1809 e por Lutz em 1889, porém, estes pesquisadores não

obtiveram sucesso no isolamento do fungo para confirmação (KWON-CHUNG &

BENNETT, 1992).

Cerca de uma década depois, novos avanços no entendimento sobre a

esporotricose foram descritos no Brasil. Em 1907, os pesquisadores Adolf Lutz e

Alfonso Splendore reportaram, pela primeira vez, a possibilidade de cultivo de S.

schenckii em sua fase leveduriforme in vitro e a infecção natural por este

microrganismo em ratos (LUTZ & SPLENDORE, 1907), levando alguns pesquisadores

a cogitarem a hipótese de transmissão da esporotricose através da mordedura destes

roedores (PUPO, 1917).

Surtos em países como a África do Sul têm sido relatados desde os primeiros

anos do século XX (PIJPER & PULLINGER, 1927). Em Witwatersrand, uma cadeia de

montanhas sul-africanas, um surto de esporotricose em trabalhadores de minas de ouro

foi registrado entre os anos de 1938 e 1947, chegando a aproximadamente 3300

mineiros doentes, que tiveram traumas na pele por lascas de madeira contaminada das

18

vigas de sustentação por onde, provavelmente, o fungo foi inoculado e ocorreu o início

da infecção (LURIE, 1963; GOVENDER et al., 2015).

Apesar dos avanços, somente décadas após a identificação do fungo causador da

esporotricose, S. schenckii foi classificado corretamente, baseado em observações feitas

por Carmichael em 1962, que verificou diferenças significativas na esporulação dos

conídios entre espécies do gênero Sporotrichum e fungos isolados em casos de

esporotricose (CARMICHAEL, 1962).

Surtos com menor quantidade de pacientes também foram registrados em vários

estados norte-americanos, como em 1988, onde casos começaram a aparecer em agentes

de reflorestamento em Nova Iorque e Illinois e depois foram identificados em 15

diferentes estados, sempre em trabalhadores que estiveram em contato com esfagno, um

musgo bastante utilizado no cultivo de orquídeas e bonsais, adquirido de um mesmo

distribuidor (DIXON et al., 1991) e em uma estação militar de Oklahoma entre 1992 e

1993 (DOOLEY et al., 1997). Países como Austrália (FEENEY et al., 2007; DHINGRA

et al., 2015), China (SONG et al., 2013) e Venezuela (CAMACHO et al., 2015) também

apresentaram casos de esporotricose humana.

Na Austrália, nas proximidades de Darwin, Territórios do Norte, nove casos de

esporotricose foram confirmados entre julho de 2014 e março de 2015. Todos os

pacientes tiveram atividades de jardinagem, seja por lazer ou como atividade laboral.

Além disso, tiveram contato com feno que havia sido molhado pela chuva, situação

extremamente propícia para o crescimento de fungos do gênero Sporothrix

(MCGUINNESS et al., 2016).

Na Europa, o maior surto relatado ocorreu no início do século XX, onde um

grande número de pessoas adoeceu de esporotricose na França. Porém, houve um

decréscimo no número de casos nas décadas seguintes, fazendo com que a Europa não

seja um continente comumente afetado (CHAKRABARTI et al., 2015), exceto por

casos esporádicos, como os relatados na Itália em 2008 (CRISEO et al., 2008) e na

França em 2009 (MAGAND et al., 2009).

Na América do Sul, continente com muitas áreas endêmicas de esporotricose,

Ramírez-Soto (2015) reuniu vários estudos sobre esta micose no Peru, contabilizando

19

em sua pesquisa um total de 1503 casos entre 1985 e 2012 e demonstrando uma região

com altos índices de infecção, Abancay, que contabilizou mais de 1300 pacientes

diagnosticados nesses 27 anos.

Figura 1. Alguns casos reportados de esporotricose no Peru, Estados Unidos da América e Austrália após

a classificação do agente etiológico no gênero Sporothrix.

Fonte: CARMICHAEL, 1962; DIXON et al., 1991; RAMÍREZ-SOTO, 2015; MCGUINNESS et al.,

2016

1.1.2 Epidemiologia

O aparecimento de casos de esporotricose e outras micoses emergentes e re-

emergentes em lugares tão diferentes entre si pode estar intimamente ligado à evolução

das sociedades. Hoje, o comércio intenso promovido pela globalização, o fluxo de

migrantes entre países e continentes, além de mudanças biogeográficas podem favorecer

o deslocamento dos microrganismos de áreas endêmicas para zonas onde,

anteriormente, eram pouco ou nunca descritos. O exemplo citado anteriormente de

esfagno contaminado distribuído por vários estados norte-americanos, relatado por

Dixon et al. (1991) reforça essa idéia.

A esporotricose é uma doença cosmopolita, com uma grande quantidade de

relatos em regiões de clima tropical, subtropical ou temperado, havendo áreas de

hiperendemicidade. O agente etiológico tem predileção por áreas quentes e com alta

umidade, fazendo com que determinados países como Brasil, Peru, Uruguai, México,

Estados Unidos, França, Índia, China, Japão, Austrália, tenham casos confirmados

(MAGAND et al., 2009; BORGES et al., 2013; MAHAJAN, 2014; ZHOU, et al., 2014;

CHAKRABARTI et al., 2015; MCGUINNESS et al., 2016).

20

A esporotricose é uma doença que acomete ambos os sexos e todas as idades,

porém, os pacientes mais acometidos são do gênero masculino e em plena idade laboral,

pois, como a doença é adquirida, majoritariamente, através de inoculação traumática e o

complexo S. schenckii é um conjunto de fungos saprofíticos, os principais acometidos

são trabalhadores do campo como agricultores, jardineiros, floristas, madeireiros,

fazendeiros e caçadores, cuja atividade é, predominantemente, ocupada por homens,

jovens e adultos (MAHAJAN, 2014). Apesar da grande quantidade de trabalhadores do

campo acometidos por essa doença, novos ramos laborais como médicos veterinários

que cuidam de animais doentes e pesquisadores que trabalham diretamente com

espécies do complexo S. schenckii foram incluídos no grupo de atividades de risco

(REED et al., 1993; YEGNESWARAN et al., 2009). Vários surtos de esporotricose,

relacionados a essas atividades laborais, já foram descritos por pesquisadores em

diversos continentes (TÉLLEZ et al., 2014).

No Brasil, a esporotricose é um caso urgente de saúde pública principalmente no

Estado do Rio de Janeiro, onde, entre 1997 e 2007, 1848 casos de esporotricose humana

foram registrados nos serviços de saúde. Destes casos, 1289 foram registrados somente

nos anos entre 2004 e 2007, demonstrando o enorme crescimento da doença nos últimos

anos. Esta epidemia no Rio de Janeiro apresentou uma peculiaridade que a difere das

outras relatadas ao redor do mundo: as mulheres foram mais acometidas, com uma

razão de 2:1. Provavelmente, este fenômeno está relacionado à transmissão zoonótica

por gatos infectados, não tendo relação com a atividade laboral de campo, onde os

homens são mais acometidos (SILVA et al., 2012). Esta hipótese ganha força quando

são considerados os milhares de casos de esporotricose felina registrados neste estado

(PEREIRA et al., 2014).

Na Região Nordeste do Brasil, poucos casos foram relatados e o aparecimento

da doença é raro, tendo um caso de esporotricose canina relatado em 2006 na cidade de

Mossoró, estado do Rio Grande do Norte (FILGUEIRA, 2009) e um caso de

esporotricose felina em 2009 na cidade de Itaporanga, estado da Paraíba (NUNES et al.,

2011). No Ceará, até o presente momento, não existem casos relatados de esporotricose,

seja humana ou animal.

21

É importante salientar que não somente o homem e os gatos são acometidos pela

esporotricose, mas outros mamíferos como cães, tatus e cavalos podem apresentar

manifestações da doença (HAY & MORRIS-JONES, 2008; ROMEO & CRISEO,

2013).

1.1.3 Patogenia

Enquanto micoses como a cromoblastomicose, feohifomicose, micetomas,

zigomicoses, hialohifomicoses e doença de Jorge Lobo têm prevalência em áreas mais

restritas, a esporotricose, causada pelo complexo Sporothrix schenckii, é a micose

subcutânea mais relatada ao redor do mundo (MAHAJAN, 2014).

A esporotricose é uma doença subcutânea crônica e granulomatosa de humanos

e mamíferos, com distribuição mundial e presente, principalmente, em regiões tropicais

e subtropicais, relacionada, geralmente, à inoculação traumática, que, muitas vezes,

pode acontecer com espinhos ou farpas contaminadas pelos agentes etiológicos,

espécies do complexo Sporothrix schenckii (RODRIGUES et al., 2013a; ROMEO &

CRISEO, 2013), os únicos fungos dimórficos causadores de micose subcutânea

primária, diferentemente da histoplasmose ou coccidioidomicose, causadas por

Histoplasma spp. e Coccidioides spp., que são micoses profundas (HOGAN et al.,

1996).

As manifestações clínicas da esporotricose estão classificadas como formas

cutânea fixa, cutâneo-linfática, disseminada e extracutânea. Apesar de ser considerada

uma doença subcutânea e suas lesões serem visualizadas na pele ou nas adjacências de

vasos linfáticos (sua forma mais comum), a esporotricose pode apresentar-se

disseminada a outros órgãos, como os pulmões (forma pulmonar, quando os conídios

são inalados) ou, mais raramente, ter disseminação sistêmica (AUNG et al., 2013;

ALMEIDA-PAES et al., 2014). Porém, fatores do hospedeiro ou do microrganismo

influenciam na mudança do perfil da doença como o status imunológico do hospedeiro,

virulência da cepa inoculada, dentre outros (BARROS et al., 2011). Alguns desses casos

de esporotricose disseminada foram reportados por alguns autores a partir do advento da

aids, como esporotricose cerebral, ocular, endocárdica ou com comprometimento

praticamente total da pele, havendo, em alguns lugares, um aumento do número de

casos em pacientes HIV-positivos, em detrimento de outras doenças como

22

histoplasmose, paracoccidioidomicose e criptococose (SILVA-VERGARA et al., 2012;

FREITAS et al., 2014; PAIXÃO et al., 2015).

Figura 2. A. Esporotricose cutâneo-fixa-fixa: lesão desenvolvida no local de inoculação. B. Esporotricose

cutâneo-linfática: Lesões nódulo-ulcerativas surgem ao longo dos vasos linfáticos, a partir da lesão

inicial.

Fonte: MAHAJAN, 2014.

1.2 Agentes etiológicos - Sporothrix spp.

1.2.1 Taxonomia

Na classificação atual, S. schenckii pertence ao reino Fungi, divisão Ascomycota,

ordem Ophiostomatales, família Ophiostomataceae, gênero Sporothrix e é naturalmente

encontrado em substratos de solo rico em plantas em decomposição, excretas de animais

e celulose, com pH entre 3,5 a 9,4, temperatura próxima a 31 °C e umidade relativa do

ar acima de 92% (LOPES-BEZERRA et al., 2006; TÉLLEZ et al., 2014).

Ao longo de muitas décadas, classificaram-se taxonomicamente os agentes

etiológicos da esporotricose como sendo uma única espécie, denominada Sporothrix

schenckii. Porém, em 2007, baseada em análises fenotípicas e genotípicas, uma nova

classificação foi adotada, descrevendo-se seis novas espécies para o complexo

Sporothrix schenckii: (1) S. globosa, (2) S. brasiliensis, (3) S. mexicana, (4) S. luriei, (5)

S. schenckii sensu stricto e (6) S. albicans, esta última sem relato de causar

esporotricose humana ou animal. Esta nova forma de se classificar foi baseada em

observações macroscópicas (crescimento a 30 °C, 35 °C, 37 °C), morfologia dos

conídios, assimilação de sacarose e rafinose, sequência do gene nuclear da calmodulina

e MALDI-TOF (MENDOZA et al., 2005; MARIMON et al., 2007; OLIVEIRA et al.,

2014). As novas espécies descritas possuem diferenças significativas em relação a

A B

23

cariótipo, fatores de virulência relacionados a polimorfismos genéticos e distribuição

mundial (FERNANDES et al., 2013; RODRIGUES et al., 2013b; SASAKI et al., 2014),

o que implica em uma diferença de resposta contra os principais antifúngicos utilizados

na esporotricose (MARIMON et al,. 2007).

Estudos filogenéticos como o de Teixeira et al. (2014) mostram que espécies

como S. schenckii s. str. e S. brasiliensis possuem cerca de 97,5 % de sequências

genéticas idênticas entre si e possuem 10293 e 9091 genes codificadores de proteínas,

respectivamente, bem similares a um outro fungo, patógeno de plantas, chamado

Grosmannia clavigera. Nas espécies do gênero Sporothrix, percebeu-se a falta de genes

codificadores de liases polissacarídicas, responsáveis por problemas causados em

vegetais, podendo-se supor que esses fungos sofreram um processo adaptativo que os

fez deixar de serem patógenos vegetais para infectarem e causarem doenças em animais.

Além disso, análises filogenéticas demonstraram que S. schenckii s. str. e S. brasiliensis

iniciaram sua divergência de especiação “recentemente”, a cerca de 3,8 a 4,9 milhões de

anos.

Através de estudos baseados em análises do gene da calmodulina e região ITS

do cromossomo fúngico pode-se diferenciar as espécies do complexo S. schenckii. O

perfil eletroforético do cariótipo de cepas de S. brasiliensis já demonstraram que esta

espécies possui menor variabilidade genética que S. schenckii s. str., por exemplo.

Variações no comprimento dos cromossomos são comuns em espécies fúngicas, porém,

muitas vezes, os mecanismos envolvidos em polimorfismos não estão bem esclarecidos

e podem ter correlação com recombinações em sequências repetidas, quebras e

reparações cromossômicas, recombinações entre regiões subteloméricas ou a perda de

cromossomos que contém sequências não necessárias ao crescimento. Os polimorfismos

cromossômicos podem estar intimamente ligados às diferenças encontradas entre as

espécies do complexo S. schenckii em relação à virulência (SASAKI et al, 2014).

Com o avanço das técnicas de identificação e classificação de microrganismos, a

questão taxonômica das espécies vem mudando constantemente, com diversas

proposições para a criação de novas espécies, inclusive no gênero Sporothrix spp., com

a inclusão da espécie Sporothrix chilensis sp. nov., identificada em casos de

24

onicomicose no Chile através de análises multigênicas (RODRIGUES et al., 2016) e

também as espécies S. stylites, S. humicola e S. lignivora (DE MEYER et al., 2008)

1.2.2 Morfologia

O complexo Sporothrix schenckii tem característica termodimórfica, ou seja,

apresentam-se na fase leveduriforme quando em temperatura de 37 °C ou filamentosa

quando se encontram em temperatura entre 25 °C e 30 °C, além de serem saprófitos e

geofílicos (BARROS et al., 2011; RODRIGUES et al., 2013a; SASAKI et al., 2014).

Em laboratório, quando em crescimento em agar Sabouraud dextrose (o meio de cultura

preferencial para seu crescimento) a 25 °C, as colônias de Sporothrix spp. apresentam-

se como colônias planas, úmidas e coloração entre o branco e o marfim. Porém, com o

passar dos dias, as colônias podem adquirir cor marrom ou negra e aspecto rugoso.

Microscopicamente, estes fungos possuem hifas delgadas, hialinas, septadas e

ramificadas, medindo de 1,5 a 2,0 µm de espessura, com pequenos conídios medindo

entre 2,0 a 6,0 µm, piriformes de paredes finas, hialinos, dispostos em cachos que

lembram “flores de margarida” nas pontas dos conidióforos. Com o passar do tempo, os

conídios apresentam-se com paredes mais espessas, ovais ou esféricos e com coloração

negra, o que os dá aspecto dematiáceo, uma característica clássica das espécies do

complexo S. schenckii (TRAVASSOS & LLOYD, 1980; MARQUES-EVANGELISTA

et al., 2010).

Suas colônias leveduriformes, quando crescidas em laboratório em ágar BHI

acrescido ou não de sangue de carneiro e incubadas a 37 °C, possuem,

macroscopicamente, coloração entre branca e creme, superfície irregular, úmida e

aparência cremosa. Ao observá-las ao microscópio, as células leveduriformes podem ser

ovais ou esféricas, com 2,0 a 6,0 µm de diâmetro, ou em formato de charuto, geralmente

com brotamentos ligados a uma célula central (MARQUES-EVANGELISTA et al.,

2010).

25

Figura 3. Sporothrix spp. em sua fase filamentosa. A. Macromorfologia das cepas melanizadas (escuras)

e não-melanizadas (brancas). B. Hifas e conídios em forma de “flor de margarida” (destacados por setas).

C. Conídios de Sporothrix brasiliensis em microscopia eletrônica de varredura – Magnitude 10999X.

Fonte: CEMM, 2016.

A

B

C

26

1.2.3 Distribuição mundial do complexo Sporothrix schenckii

Durante mais de um século, o agente causador da esporotricose foi conhecido

como uma única espécie do gênero Sporothrix. Esta afirmativa ainda era considerada

uma verdade completa até 2007, quando se percebeu através de estudos fenotípicos,

genotípicos e metabólicos que, na realidade, os agentes etiológicos faziam parte deste

gênero, mas eram espécies diferentes, que foram agrupadas em um complexo. Se as

características fenotípicas se mostram muito parecidas, as características genotípicas são

bem distintas entre si, resultando em grandes modificações onde, antes, se imaginava

haver unidade absoluta (MARIMON et al., 2007).

Atualmente, devem-se levar em consideração diversos aspectos relacionados à

epidemiologia das espécies do complexo Sporothrix schenckii, como as diferenças de

distribuição destas, as capacidades de cada uma causar a esporotricose, seus fatores de

virulência e as formas principais de transmissão relacionadas a cada espécie. Dentre as

espécies deste complexo, S. brasiliensis (associada, principalmente, às infecções

animais e transmissão zoonótica), S. schenckii s. str., S. globosa (associada à

transmissão ambiental) e S. mexicana são as espécies mais encontradas nos pacientes

acometidos (GREMIÃO et al., 2015).

Como citado anteriormente, a predileção do gênero Sporothrix por solos ricos

em substratos, principalmente de plantas em decomposição e excretas, além de

ambientes com altíssima umidade relativa do ar, faz com que esses microrganismos

tendam a ser encontrados em regiões cujo clima seja favorável, relacionando a presença

deste gênero, em especial, a regiões úmidas e de clima tropical ou microambientes que

tragam essas características, como celeiros e minas, apesar do gênero Sporothrix ser

encontrado em quase todos os continentes (MAHAJAN, 2014; SASAKI et al., 2014;

TÉLLEZ et al., 2014).

27

Figura 4. Distribuição mundial das espécies S. brasiliensis, S. globosa e Sporothrix s. str. (Clades IIa e IIb).

Fonte: ZHOU et al., 2013; CHAKRABARTI et al., 2015.

28

1.2.4 Fatores de Virulência

Para ter a capacidade de infectar diversos nichos no hospedeiro, os

microrganismos podem apresentar diversos tipos de adaptações, alguns desses sendo

conhecidos fatores de virulência. Esses fatores podem auxiliar na entrada do

microrganismo para regiões específicas do hospedeiro ou até mesmo inibir a ação do

sistema imunitário (NICHOLLS et al., 2011; SILVA et al., 2011). A interação entre os

microrganismos e outros organismos presentes no ambiente pode colaborar para que os

microrganismos adquiram determinadas estratégias de sobrevivência. Estas estratégias

são os fatores de virulência, que interferem na patogenia de determinada infecção,

quando o microrganismo encontra um hospedeiro animal (CASADEVALL, 2012).

Incluídos na teoria acima relatada, os fatores de virulência de S. schenckii

também devem estar relacionados com sua interação com o ambiente. Steenbergen et al.

(2004) sugerem que, quando células leveduriformes de S. schenckii são ingeridas por

uma ameba do solo de vida livre denominada Acanthamoeba castellanii, são capazes

não somente de sobreviver, mas de matar o protozoário e utilizá-lo como nutriente.

Candida albicans e outros fungos que não possuem o solo como habitat não possuem

essa capacidade quando em contato com o mesmo protozoário.

Diversos estudos demonstram os fatores clássicos de virulência das espécies do

complexo Sporothrix schenckii e as diferenças relacionadas em cada uma delas. S.

brasiliensis e S. schenckii s. str. foram consideradas nesses estudos como as espécies

mais virulentas, enquanto S. globosa e S. mexicana não demonstraram ou demonstraram

pouca virulência em modelo murino (ARRIGALA-MONCRIEFF et al., 2009;

FERNÁNDEZ-SILVA et al., 2012; FERNANDES et al., 2013 RODRIGUES et al.,

2014).

Sporothrix spp. possui a capacidade de resistir a condições ambientais

relativamente difíceis, mostrando versatilidade para sobreviver nessas situações, como

temperaturas muito baixas por vários anos e grandes pressões osmóticas (MENDOZA et

al., 2005). Além disso, demonstrou-se que cepas de Sporothrix spp. respondem de

forma diferente a incidências de radiações, como raios ultra-violeta ou radiação gama,

29

podendo manter sua viabilidade, mesmo com variações morfológicas causadas por essas

radiações (TORRES-GUERRER & ARENAS-LÓPEZ, 1998; LACERDA et al., 2011).

Além disso, com o desenrolar da evolução, Sporothrix spp., como diversos

microrganismos, desenvolveu formas de captar íons ferro, imprescindíveis para seu

desenvolvimento, como a produção de sideróforos, moléculas capazes de quelar íons

ferro formando um complexo, mantendo a quantidade necessária deste íon mesmo em

condições desfavoráveis, seja no ambiente ou no hospedeiro (PÉREZ-SANCHÉZ et al.,

2010).

Alguns fatores de virulência já foram descritos para as espécies do complexo

Sporothrix schenckii, como dimorfismo (GAUTHIER & KLEIN, 2008), produção de

melanina (ALMEIDA-PAES, 2009) e enzimas hidrolíticas, termotolerância

(ALMEIDA-PAES et al., 2015), adesinas (TEIXEIRA et al., 2009), proteinase (DA

ROSA et al., 2009) e catalase (WANG et al., 2008).

Algumas espécies fúngicas de importância médica e veterinária têm uma

característica peculiar e importante: possuem a capacidade de modificar sua morfologia

de acordo, principalmente, com a temperatura do ambiente que estão inseridos. Esses

fungos são chamados de dimórficos e crescem na forma de levedura quando a 37 °C

(forma parasitária) e como fungo filamentoso quando entre 25 a 25 °C (forma

infectante) (SASAKI et al., 2014). Alguns exemplos são Blastomyces dermatitidis,

Coccidioides immitis, Coccidioides posadasii, Histoplasma capsulatum var.

capsulatum, Histoplasma capsulatum var. duboisii, Paracoccidioides lutzii,

Paracoccidioides brasiliensis, Penicillium marneffei e Sporothrix spp. (HOGAN et al.,

1996; TÉLLEZ et al., 2014).

Estudos com fungos dimórficos, como H. capsulatum, mostram que a reversão

da fase filamentosa para a fase leveduriforme é um passo imprescindível para o

estabelecimento da doença no hospedeiro (MEDOFF et al., 1987; KLEIN & TEBBETS,

2007), provavelmente devido a uma maior proteção encontrada pelo microrganismo

contra o sistema imunológico. Este fator deve ser, também, de extrema importância para

os outros fungos com essa característica. Blastomyces dermatitidis, outro fungo

dimórfico, quando na fase leveduriforme, é muito grande para ser fagocitado por

neutrófilos polimorfonucleares, diferente de seus pequenos conídios, que sofrem a ação

30

tantos destes neutrófilos quanto de monócitos presentes em sangue periférico (DRUTZ

& FREY, 1985; KLEIN & TEBBETS, 2007). Coccidioides posadasii, fungo dimórfico

encontrado no Nordeste brasileiro, também possui a capacidade de evadir-se do sistema

imune. Os neutrófilos polimorfonucleares conseguem fagocitar somente múltiplos

endósporos deste fungo, que possuem entre 2 e 7 µm, mas não são capazes de fagocitar

estruturas maiores, como suas esférulas, com tamanhos maiores que 11 µm (LEE et al.,

2015).

Diversos mecanismos já foram estudados para revelar os caminhos utilizados

pelos fungos dimórficos para alcançarem a reversão entre as fases morfológicas, mas,

alguns em especial, demonstraram sucesso em seus resultados. Segundo Valentín-

Berríos et al. (2009), um gene de subunidade α (40,9 kDa) de proteína G, denominado

SSG-2, presente em Sporothrix schenckii, participa ativamente do dimorfismo desse

fungo através de interação com fosfolipase A2 citosólica.

Descobertas genéticas vêm ajudando os pesquisadores a compreender cada vez

mais quais genes estão diretamente ligados à capacidade de transição entre fases. Para S.

schenckii, um gene denominado sscmk1 capaz de decodificar a produção de uma

proteína-quinase dependente de Ca2+

/calmodulina (CaMK) parece ter fundamental

importância nesse processo, pois, quando experimentos inibem esta proteína-quinase, a

reversão da fase leveduriformes para filamentosa é anulada (VALLE-AVILES et al.,

2007; VALENTIN-BERRIOS et al., 2009). Além disso, quando a há a supressão da

expressão do gene sscmk1, as leveduras de S. schenckii não conseguem crescer em

temperaturas próximas a 35 °C e mostram que o fungo tem uma perda de

termotolerância (RODRIGUEZ-CABAN et al., 2011).

Outras proteínas também podem estar relacionadas à reversão de fases, como

demonstrou estudos de Hou et al. (2013), que demonstraram que uma histidina-quinase

híbrida é possivelmente reguladora de dimorfismo, pois, em S. schenckii, quando

estudada através de PCR em tempo real, há uma maior expressividade na fase

leveduriforme em detrimento da fase filamentosa.

Os pigmentos de melanina, produzidos por espécies do complexo S. schenckii,

são polímeros com multi-funções, com estrutura molecular diversa, de coloração negra

ou marrom escura, encontrados em toda a natureza e produzidos por uma imensa

31

variedade de organismos, incluindo bactérias, outros fungos, vegetais e animais através

de polimerização oxidativa de compostos fenólicos e indólicos (TABORDA et al.,

2008; ALMEIDA-PAES et al., 2012).

Como dito anteriormente, uma grande diversidade de fungos é produtora de

melanina e esta substância é considerada um importante fator na sobrevivência dos

microrganismos que a produzem, seja na natureza, protegendo-os contra a radiação

ultravioleta ou no hospedeiro, onde encontrarão condições também desfavoráveis em

alguns aspectos, como o ataque do sistema imunológico (JACOBSEN, 2000; LIU &

NIZET, 2009).

A melanina pode ser produzida pelos sistemas orgânicos por várias vias. S.

schenckii possui algumas vias conhecidas, como a produção desse pigmento derivado

da dihidrofenilalanina (L-DOPA), do 1,8-dihidroxinaftaleno (DHN) e também a

produção de piomelanina, sintetizada na presença de L-tirosina (ALMEIDA-PAES et

al., 2012).

A parede celular é uma estrutura de extrema importância para os fungos. Para

um patógeno por excelência, a capacidade de adesão e colonização de tecidos de um

hospedeiro é uma etapa crucial no processo infectante e a parede celular é um

protagonista nesse sentido, tendo as modificações estruturais e de composição como o

maior mecanismo de adaptação para invadir os microambientes do hospedeiro

(SHEPARDSON & CRAMER, 2013).

Alguns “padrões moleculares” em agentes patogênicos, conhecidos como

“PAMPs”, como polímeros de carboidratos e proteínas, estão presentes na parede

celular e, ao se ligarem aos receptores em células imunológicas, desencadeiam a

resposta imune (LATGÉ, 2010). Porém, essa estrutura celular vai muito além de um

sinalizador imunitário. Moléculas de adesão estão presentes na superfície da parece

celular e medeiam um interação com componentes da matriz extracelular e células do

hospedeiro. (TRONCHIN et al., 2008).

Um dos principais componentes da parede celular de Sporothrix spp. é um

glicopeptídeo chamado peptídeo-ramnomanana (57% de manose, 33,5% de ramnose e

14,2% de proteína) (LLOYD & BITOON, 1971; LOPES-BEZERRA, 2011).

32

Uma glicoproteína antigênica de 60 kDa (Gp60) foi encontrada somente na

parede celular das leveduras de Sporothrix schenckii, enquanto uma glicoproteína,

também antigênica, de 70 kDa (Gp70) foi encontrada em ambas as morfologias e

mostrou-se a mais prevalente. Além de estimular a resposta imune, a glicoproteína

Gp70 mostra fortes evidências de fazer parte, como adesina, da interação entre o fungo

e a fibronectina presente na matriz extracelular (RUIZ-BACA et al., 2009; TEIXEIRA

et al., 2009; RUIZ-BACA et al., 2011).

Além disso, S. schenckii tem a capacidade de produzir vesículas que medem

entre 51 e 100 nm, com membrana fosfolipídica que, provavelmente, estão relacionadas

com a transferência de substâncias como moléculas periplasmáticas e componentes de

pigmento entre a membrana plasmática e o espaço extracelular. Essas membranas

podem também estar relacionadas com muitos aspectos de virulência desse patógeno,

pois, a secreção de moléculas fosfolipídicas ou proteínas responsivas a stress ambiental,

ligadas à patogênese, à arquitetura da parece celular, à fisiologia fúngica, dentre outras

funções (ALBUQUERQUE et al., 2008).

Outros estudos mostram que muitas substâncias presentes na parede celular de

espécies do complexo S. schenckii podem ser responsáveis pela virulência das cepas,

como a maior presença de ramnomana em relação à manose na parece de conídios mais

virulentos (FERNANDES et al., 2000), a formação de ergosterol peróxido, que

auxiliaria na evasão do fungo às espécies reativas de oxigênio da fagocitose (SGARBI

et al., 1997) e ao ácido siálico presente na superfície de S. schenckii ,que pode estar

relacionado à proteção da célula contra a fagocitose promovida pelo sistema

imunológico do hospedeiro (ALVIANO et al., 1999).

1.2.5 Biofilmes

Nas últimas décadas estamos vivendo um grande problema de saúde pública

relacionado às doenças infecciosas, sobretudo em pacientes imunocomprometidos. A

formação de biofilmes microbianos é um fator de extrema importância no entendimento

das infecções, pois estão, muitas vezes, intimamente associados a dispositivos médico-

hospitalares de grande utilização, como cateteres, tubos endotraqueais, válvulas

cardíacas, marca-passos, entre outros (ROBERTS, 2013).

33

Os biofilmes, formados por células denominadas sésseis, fazem parte de uma

descoberta relativamente recente para a microbiologia. Eles são considerados

comunidades microbianas que podem estar aderidos às superfícies bióticas ou abióticas,

envolvidos por uma matriz polimérica extracelular, com um fenótipo divergente das

células planctônicas em relação a diversos fatores genéticos ou morfológicos, incluindo

processos de crescimento, metabolismo, transcrição gênica e resistência a drogas

antimicrobianas. Esses biofilmes têm a finalidade de proteger as comunidades

microbianas dos fatores ambientais adversos, que podem comprometer a viabilidade

celular, como pH, desidratação, substâncias químicas, dentre outras (RAMAGE et al.,

2006; TOURNU & VAN DIJCK, 2012).

Em estudos com biofilmes bacterianos, verificou-se que a matriz extracelular

encontrada era composta por quatro componentes básicos: exopolissacarídeos, DNA

extracelular, diversos tipos de proteínas e vesículas, que auxiliavam esses biofilmes a

burlarem o sistema imunológico do hospedeiro, diminuindo sua capacidade de

fagocitose, retendo substâncias antimicrobianas produzidas pelo hospedeiro e, muitas

vezes, promovendo a produção, pelas células bacterianas, de fatores que limitam a

capacidade oxidativa e não-oxidativa das células fagocitárias (ALLEWELL, 2016;

GUNN et al., 2016).

Porém, as conclusões que diversos estudos sobre biofilmes microbianos

obtiveram em relação à composição da matriz dos biofilmes é que a mesma depende de

muitos fatores, que incluem desde diferenças entre biofilmes procariontes e eucariontes

ao microambiente onde o biofilme está sendo formado (DESAI et al., 2014;

ALLEWELL, 2016). Biofilmes produzidos in vivo e em algumas condições in vitro por

Aspergillus fumigatus possuem como componentes de matriz: galactomanana, α-1,3

glucano, monossacarídeos, polióis, melanina e proteínas, bem diferentes da composição

de biofilmes bacterianos e de outras espécies fúngicas, como Candida spp. (AL-

FATANI & DOUGLAS, 2006; BEUVAIS & LATGÉ, 2015; GUNN et al., 2016).

Para a formação da comunidade fúngica em biofilme, algumas etapas são

necessárias. A primeira é a adesão dos conídios ou blastoconídios em uma superfície,

seja ela biótica ou abiótica. Após a adesão, ocorre um processo de intensa filamentação

(para fungos filamentosos ou fungos dimórficos nessa fase) e multiplicação, que pode

34

resultar em uma rede densa unida a uma matriz exopolissacarídica (AL-FATANI &

DOUGLAS, 2006).

Essa transição entre as fases planctônicas e sésseis durante a formação do

biofilme envolve diversos sistemas celulares, que podem ser metabólicos ou

fisiológicos, com modificações fenotípicas advindas de sinalizações intracelulares

responsivas a estímulos ambientais (VALENTINI & FILLOUX, 2016).

Como dito anteriormente, os biofilmes de diversas espécies microbianas podem

ser encontrados aderidos a muitos dispositivos utilizados na medicina e estes possuem

capacidade de resistência aos processos químicos e físicos de desinfecção e

esterilização, mostrando-se, com isso, um problema médico importante (TAFF et al.,

2012; ROBERTS, 2013). Após o processo de maturação do biofilme, este se torna mais

resistente também a ação de agentes antimicrobianos e fatores imunitários do

hospedeiro, quando comparado às células planctônicas, pois a complexa arquitetura do

biofilme, sua matriz, o aumento na expressão das bombas de efluxo de drogas e a

plasticidade metabólica aumentam sua resistência (FINKEL & MITCHELL, 2011;

FANNING & MITCHELL, 2012).

A composição dos biofilmes da cada espécie é bastante variável. Espécies de um

mesmo gênero podem formar biofilmes com composições bem distintas entre si, o que

pode modificar, inclusive, a resistência que cada microrganismo possui às adversidades.

Como exemplo, temos os biofilmes de espécies do gênero Candida. Enquanto o

biofilme formado por Candida albicans possui alta concentração de glicose em sua

matriz, o biofilme de Candida tropicalis tem como principal componente a hexosamina

(AL-FATANI & DOUGLAS, 2006).

Alguns estudos, como o de CHATZIMOSCHOU et al. (2011) verificaram

claramente a capacidade dos biofilmes de fornecerem uma intrínseca resistência aos

agentes antimicrobianos. Neste estudo, biofilmes de espécies de Candida foram

submetidos a testes com equinocandinas e triazóis, que se mostraram menos eficazes

quando em comparação à ação em células planctônicas.

Muitos desses mecanismos de resistência são fontes de estudo importantes para a

comparação entre a as formas planctônicas e sésseis dos microrganismos. A resistência

35

antifúngica em biofilmes pode ser explicada devido a mudanças genéticas irreversíveis

causadas pela longa exposição dos fungos a esses componentes. Essas mudanças podem

causar a diferenciação de alvos moleculares anteriormente importantes para a atividade

antifúngica, a presença de bombas de efluxo, limitada difusão das drogas no interior do

biofilme, aumento de tolerância e densidade celular (barreira física), fatores essenciais

na demonstração da maior resistência dos biofilmes frente aos antifúngicos quando

comparadas às formas planctônicas (NIIMI et al., 2010).

Os biofilmes, como dito anteriormente, são comunidades microbianas, altamente

organizadas, possuidores de uma arquitetura que permite a difusão de nutrientes e o

expurgo de substância nociva e, quando maduros, são formados por micro-colônias e

canais de água, que auxiliam essas perfusões. A capacidade de comunicação entre as

células formadoras dá-se através de um processo denominado “quorum-sensing”, onde

há a secreção de sinalizadores moleculares dependentes da quantidade populacional do

biofilme, sendo considerado um dos reguladores centrais de formação do biofilme (DE

BEER et al., 1994; MILLER & BASSLER, 2001; PERUMAL et al., 2007).

Figura 5. Etapas de formação dos biofilmes microbianos.

O processo de sinalização por “quorum-sensing” é composto por um peptídeo

indutor, uma histidina-quinase (que é ativada pelo peptídeo indutor) e um regulador de

resposta, uma proteína que, quando fosforilada pela quinase, liga-se a quatro promotores

no cromossoma. Esses promotores estão envolvidos em processos essenciais para a

formação e dispersão do biofilme e os processos de infecção, como a produção de

exotoxinas e exoenzimas, através de interações proteína-RNA (ALLEWELL, 2016;

KAVANAUGH & HORSWILL, 2016).

Por todos os motivos já elencados, pesquisadores de todo o mundo trabalham

para conhecer melhor as características inerentes dos biofilmes das diversas espécies

36

fúngicas, sejam elas leveduriformes, como o gênero Candida spp. (AL-FATANI &

DOUGLAS, 2006), filamentosas, como o gênero Aspergillus spp. (BEAUVAIS &

LATGÉ, 2015) ou dimórficas, como os gêneros Coccidioides spp. (DAVIS et al., 2002)

e Histoplasma spp. (BRILHANTE et al., 2015) assim como a capacidade de resistência

desses biofilmes aos antifúngicos. Deste modo, o estudo sobre os aspectos biológicos

dos biofilmes produzidos pelas espécies do complexo S. schenckii torna-se necessária

para a aquisição de conhecimento sobre essa forma de vida do fungo, já que relatos na

literatura sobre esses biofilmes do gênero Sporothrix são escassos (SÁNCHEZ-

HERRERA et al., 2014).

1.3 Diagnóstico laboratorial da esporotricose

Nos casos suspeitos de esporotricose, a coleta de amostras para a análise

laboratorial é imprescindível. Por ter a forma cutânea como a mais prevalente em todo o

mundo, grande parte da coleta de secreções e tecidos ulcerados provenientes das lesões

é feita com swabs estéreis, que devem ser encaminhados imediatamente para as análises

histológicas e micológicas.

O exame direto pode se mostrar uma forma de auxiliar no diagnóstico, revelando

a presença de leveduras ovaladas ou em “forma de charuto” com 3 a 5 µm de diâmetro,

em exsudatos ou tecidos. Porém, mesmo micologistas experientes podem encontrar

dificuldades devido à pequena concentração de microrganismos nestes espécimes

clínicos (KAUFFMAN et al., 2007).

O diagnóstico sorológico não se mostrou eficaz e a cultura do microrganismo

continua sendo o padrão-ouro para o diagnóstico da esporotricose. É um método de

identificação barato, simples e seguro, onde, em torno de 5 a 8 dias, já se pode

confirmar o agente causador e fornecer o diagnóstico. Os espécimes clínicos

provenientes do paciente que podem ser utilizados para a cultura podem ser os mais

diversos, levando-se em consideração o tipo de acometimento, como secreções ou

raspados de lesões, escarro, líquido sinovial e líquor. Eles devem ser semeados e

incubados a 25 °C, para que seja visualizada a forma filamentosa do complexo S.

schenckii. Porém, para que o diagnóstico seja definitivo, a conversão da fase

filamentosa para a fase leveduriforme deve ser realizada (KAUFFMAN et al., 2007).

37

Figura 6. A. Macromorfologia de colônias filamentosas de Sporothrix schenckii s. str., melanizadas, em

ágar batata dextrose, incubadas a 25 °C. B. Macromorfologia de colônias de Sporothrix schenckii s. str.

em ágar BHI suplementado com 5% de sangue de carneiro, incubadas a 37 °C.

Fonte: CEMM, 2016.

Muitas doenças apresentam manifestações clínicas que podem ser confundidas

com a esporotricose, o que pode dificultar o diagnóstico clínico. Por isso, o diagnóstico

diferencial entre a esporotricose e doenças como a nocardiose, leishmaniose e infecções

atípicas por micobactérias deve ser considerado (SMEGO et al., 1999; DOWNEY et al.,

2015).

Atualmente, após vários estudos que demonstram as diferenças entre as espécies

do complexo S. schenckii relacionadas à sensibilidade às drogas antifúngicas, virulência

e distribuição geográfica das mesmas, a importância de se ter um diagnóstico correto de

esporotricose com a identificação do agente etiológico em nível de espécie se torna cada

vez maior (FERNANDES et al., 2013). A distribuição geográfica das espécies deve ser

levada em consideração, já que espécies como S. schenckii s. str. e S. globosa são

cosmopolitas e responsáveis, principalmente, por infecções por via ambiente, através de

traumas ocasionados por espinhos e galhos contaminados, e S. brasiliensis, a mais

virulenta, é encontrada somente no Brasil e responsável, principalmente, pela grande

epidemia de esporotricose no Rio de Janeiro, através da transmissão zoonótica por

mordidas ou arranhaduras de animais infectados (GREMIÃO et al, 2015).

A B

38

Em decorrência desta necessidade, o diagnóstico molecular torna-se uma

ferramenta importante na identificação precisa do agente etiológico da esporotricose em

cada paciente, para que haja a precocidade diagnóstica e o tratamento adequado,

principalmente em áreas endêmicas.

Em estudo conduzido por Rodrigues et al., (2015), verificou-se a viabilidade da

utilização de marcadores moleculares para o diagnóstico da esporotricose. Foram

utilizados ensaios de Polymerase Chain Reaction (PCR) com primers espécie-

específicos que mostraram-se eficientes e rápidos na identificação das espécies do

gênero Sporothrix, após cerca de 6,5 horas, bem abaixo da média de 21 dias que os

exames micológicos necessitam. Esses pesquisadores demonstraram que essa técnica é

considerada sensível e confiável, além de ser de fácil procedimento e baixo custo.

1.4 Sensibilidade aos antifúngicos e tratamentos propostos

Assim como em várias outras micoses, a esporotricose possui, geralmente, um

longo período de tratamento, sendo necessários de três a seis meses para a cura da

doença. Esse é um fator preponderante em problemas de adesão ao tratamento por parte

dos pacientes, fazendo com que os medicamentos sejam utilizados de maneira indevida

(ou descontinuados) e não ocorra a melhora na condição de saúde (KAUFFMAN,

2000).

Alguns medicamentos, como o iodeto de potássio e o itraconazol, são clássicos

no tratamento da esporotricose e já vêm sendo utilizados há décadas, principalmente

contra as formas cutâneas. Já a anfotericina B é geralmente utilizada em manifestações

clínicas sistêmicas ou extracutâneas. Já a terbinafina pode ser utilizada em

manifestações cutâneas, porém, são menos prescritos na prática clínica do que os

medicamentos azólicos, apesar de estudos demonstrarem que, juntamente com o

itraconazol, praticamente não há aquisição de resistência pelos microrganismos

(MAHAJAN, 2014; ALMEIDA-PAES et al., 2016).

39

1.4.1 Iodeto de Potássio

Quando os profissionais de saúde estudam os possíveis tratamentos que deverão

ser indicados pra cada doença, muitos fatores devem ser levados em consideração. Qual

o agente etiológico, sintomatologia, condições físicas e psicológicas do paciente, dentre

muitos outros. Mas, além dos fatores biológicos, outro é de extrema importância: as

condições sócio-econômicas do paciente.

Neste sentido, no tratamento da esporotricose, o motivo socioeconômico

também deve ser levado em consideração, já que se trata de uma doença que acomete,

principalmente, populações menos favorecidas, como trabalhadores rurais, floristas,

mineiros, dentre outros (MAHAJAN, 2014).

Conhece-se o iodo como útil no tratamento de doenças desde o início do século

XIX, quando era bastante utilizado contra problemas tireoidianos. Anos depois, novos

tratamentos utilizando o iodo foram surgindo e esta substância passou a participar do

arsenal terapêutico contra eritemas inflamatórios, Síndrome de Sweet, pioderma

gangrenoso, além de doenças infecciosas, como a zigomicose e a esporotricose (HORIO

et al., 1983, STERLING & HEYMANN, 2000).

A solução saturada de iodeto de potássio ainda é uma opção viável para o

tratamento da esporotricose, principalmente em países em desenvolvimento, em

algumas de suas formas clínicas (cutânea fixa e cutâneo-linfática), devido sua boa

relação custo-benefício, facilidade de obtenção e relativa segurança. Possui alta

solubilidade em água, é higroscópico e fotossensível (STERLING & HEYMANN,

2000; HASSAN & KEEN, 2012).

O iodo tem baixa absorção através da pele e, quando utilizado por via oral, o

iodeto de potássio é convertido a iodo, que é transportado para a tireóide para ser

armazenado. Porém, nem todo o iodo consegue ser armazenado e a quantidade

excedente é eliminada principalmente através da urina, fezes, saliva, suor e leite, sendo

este último, motivo para evitar a utilização por lactantes. Também atravessa a barreira

placentária, sendo contra-indicado em gestantes (STERLING & HEYMANN, 2000;

KAUFFMAN et al., 2007), já que pode levar a criança a desenvolver hipotireoidismo

neonatal, tireomegalia, obstrução respiratória fetal e parto prolongado (COSTA et al.,

40

2011). Além disso, não deve ser utilizado por pacientes com tireoidopatias conhecidas e

alergia ao iodo (MAHAJAN, 2014).

É contra-indicado também em doenças infecciosas com acometimento sistêmico,

onde órgãos internos foram afetados, como nos casos de esporotricose cutâneo-

disseminada ou extra-cutânea, pois há a possibilidade de diminuição da atividade

imunológica nesses pacientes (KAUFFMAN et al., 2007).

Poucos estudos de sensibilidade “in vitro” com iodeto de potássio contra cepas

de Sporothrix spp. têm sido relatados na literatura, porém, estudos diversos vêm

mostrando como se comporta a esporotricose quando os pacientes são tratados com

doses de iodeto de potássio. Macedo et al. (2015) demonstraram que doses deste

fármaco foram administradas a 102 pacientes com esporotricose e a taxa de cura foi de

77,4%.

1.4.2 Compostos azólicos

Após décadas da utilização do iodeto de potássio no tratamento da esporotricose

(e de maneira empírica), a evolução das pesquisas farmacológicas e da indústria

farmacêutica mundial fez surgirem novos fármacos para o tratamento desta e de outras

doenças infecciosas. Os compostos azólicos, surgidos na segunda metade do século XX

e com grande foco a partir dos anos 80, foram uma grande esperança para várias

micoses, incluindo a esporotricose, que, atualmente, tem o itraconazol como droga de

escolha para a maioria de suas manifestações clínicas (YAMADA et al., 2011).

Os fármacos azólicos são divididos em imidazóis (cetoconazol, miconazol, etc) e

triazóis (itraconazol, voriconazol, fluconazol, etc), e têm seu mecanismo de ação

baseado na inibição da biossíntese do ergosterol (MAHAJAN, 2014).

O ergosterol é um esterol biologicamente importante por vários motivos. É o

principal componente da membrana celular dos fungos e de alguns protozoários,

exercendo função comparada ao colesterol presente na membrana citoplasmática dos

animais. Por não estar presente na membrana dos animais, o ergosterol tornou-se um

dos alvos para o desenvolvimento de antifúngicos seletivos, que não interferissem na

membrana celular destes (MAERTENS, 2004; MAHAJAN, 2014).

41

O principal efeito dos medicamentos azólicos sobre os fungos está na inibição

reversível e não-competitiva de um sistema microssomal dependente da Citocromo

P450, a enzima esterol 14-α-desmetilase. Essa enzima bloqueia desmetilação do átomo

de carbono da posição 14 da molécula de lanosterol, culminando na depleção de

ergosterol e no acúmulo de 14-α-metilesteróis. Essa modificação gera uma instabilidade

na membrana celular, modificando a permeabilidade, a atividade de enzimas como

ATPase e enzimas transportadoras e a síntese da quitina (VANDEN BOSSCHE et al.,

1995; MAERTENS, 2004; CARRILLO-MUÑOZ et al., 2006).

Porém, apesar de todas essas características e dos avanços obtidos para a

terapêutica antifúngica, problemas de não-seletividade de alvos terapêuticos também

geram alguns problemas, como a inibição cruzada da biossíntese de compostos nos

mamíferos por enzimas dependentes da P450, gerando problemas de toxicidade

(CARRILLO-MUÑOZ et al., 2006).

O itraconazol, atualmente, é o principal fármaco utilizado no tratamento das

formas cutâneas e linfo-cutâneas da esporotricose. Porém, mesmo tendo-se bem

definido o papel dos fármacos azólicos nesses casos, sempre é importante um screening

das cepas relacionadas e processos epidêmicos, principalmente para evitar falhas no

tratamento ou recidivas. Estes screenings já demonstraram que o itraconazol e o

posaconazol, em ensaios in vitro, por exemplo, possuem atividade melhor contra cepas

de S. brasiliensis e S. schenckii s. str., quando comparadas às cepas de S. mexicana e S.

globosa. Esses resultados demonstram direta correlação entre a diferença genética e o

perfil de sensibilidade das espécies (RODRIGUES et al., 2014).

Muitas interações medicamentosas também podem ser encontradas, já que, como

citado anteriormente, os fármacos azólicos são inibidores do sistema enzimático P-450

e, desta forma, a administração conjunta com drogas metabolizadas por este sistema,

como varfarina, carbamazepina, fenobarbital, astemizol, rifampicina, midazolam,

sinvastatina, hipoglicemiantes orais, etc, podendo causar toxicidade grave (MAHAJAN,

2014).

Assim como praticamente todos os fármacos antimicrobianos, os azólicos

também sofrem com a problemática da resistência microbiana adquirida. Antes dos anos

90, era muito difícil verificarmos cepas com resistência adquirida aos azólicos. Porém,

42

atualmente, a resistência vem se tornando um problema de saúde pública,

principalmente, pela utilização inadequada de medicamentos como, por exemplo, o

fluconazol (MAERTENS, 2004).

Em estudos com Candida albicans, Maccallum et al. (2010) verificaram que um

dos principais mecanismos de resistência aos fármacos azólicos é devido a modificações

nas enzimas-alvo e na regulação de transportadores desses fármacos. Esses mecanismos,

muitas vezes, estão combinados, não agindo isoladamente em algumas cepas. Essas

descobertas foram possíveis graças à manipulação genética, verificando que essas cepas

conseguem regular genes codificadores de transportadores celulares.

Esses quadros de resistência também vêm aparecendo em estudos com espécies

do complexo Sporothrix schenckii. Rodrigues et al. (2014), em estudo produzido no

Brasil, verificaram a presença de uma cepa de Sporothrix schenckii stricto sensu

advinda de amostra humana com resistência cruzada aos polienos e todos os azólicos

testados in vitro (fluconazol, itraconazol, voriconazol e posaconazol).

Em ensaios de sensibilidade in vitro, alguns estudos demonstram que esses

fármacos possuem atividade antifúngica contra cepas do complexo Sporothrix schenckii

bem variável. Oliveira et al., (2011) demonstraram que o cetoconazol, um dos fármacos

azólicos mais tradicionais, mostrou MICs entre 0,06 a 2 µg/mL quando em contato com

cepas de S. brasiliensis e S. schenckii s. str., enquanto o fluconazol, neste mesmo

estudo, demonstrou MICs para essas cepas entre 16 a 128 µg/mL. Já em ensaios com

posaconazol e itraconazol in vivo demonstraram que estes fármacos foram bastante

eficientes na diminuição da carga fúngica e no tratamento da esporotricose em

camundongos infectados por Sporothrix spp. (ANTUNES et al., 2009; MARIO et al.,

2015).

1.4.3 Anfotericina B

A anfotericina B é um dos antifúngicos mais antigos disponíveis para o

tratamento de infecções micóticas. Faz parte da família dos polienos e faz parte da

prática clínica desde a década de 50 (MATHEW & NATH, 2009).

É um agente de amplo espectro com eficácia demonstrada contra grande parte

dos agentes causadores de micoses sistêmicas, como Paracoccidioides spp.,

43

Histoplasma spp., Coccidioides spp. e Sporothrix spp. Age ligando-se ao ergosterol ou

outros esteróis da membrana fúngica sensível, componentes estruturais essenciais. Essa

ligação provoca a formação de poros aquosos e não aquosos, fazendo com que a

permeabilidade dessa membrana seja alterada e componentes intracelulares como

proteínas e cátions monovalentes (sódio, potássio) e bivalentes sejam perdidos. Isso leva

a perda do potencial da membrana celular, resultando na morte do microrganismo

(MOHR et al., 2008; MATHEW & NATH, 2009).

Atualmente, somente formulações parenterais e tópicas de anfotericina B estão

disponíveis para utilização. Porém, devido a grande quantidade de efeitos adversos

causados por sua administração, novas formulações parenterais foram introduzidas na

prática médica, como formulações complexadas com lipídios, dispersões coloidais e a

anfotericina B lipossomal, que diminui esses efeitos após administração (LANIADO-

LABORÍN & CABRALES-VARGAS, 2009; CHANDRASEKAR, 2011; MAHAJAN

et al., 2015).

Diversos estudos relatam diferenças entre a sensibilidade de cepas e espécies do

complexo S. schenckii frente à Anfotericina B. Rodrigues et al., (2014) verificaram que

este fármaco possui MICs entre 1 a 8 µg/mL contra S. brasiliensis, enquanto contra S.

mexicana os MICs variam entre 8 µg/mL a valores maiores que 16 µg/mL.

Estudo produzido por Ishida et al., (2015) avaliando a sensibilidade de cepas de

S. brasiliensis causadoras de esporotricose disseminada em modelo murino frente à

anfotericina B desoxicolato demonstrou que esse fármaco, quando utilizado por via

parenteral após 7 dias da infecção, se mostrou efetivo em diminuir a carga fúngica nos

modelos infectados, porém, quando o mesmo fármaco atua em conjunto com o

itraconazol administrado por via oral, encontra-se melhor opção terapêutica.

1.4.4 Caspofungina

A caspofungina foi o primeiro fármaco da classe das equinocandinas a ser

licenciado no mundo. É um fármaco semi-sintético derivado da pneumocandina B0,

isolado do fungo Glarea lozoyensis, que age inibindo a síntese de β-(1,3)-D-glucana,

um componente importante da parede celular fúngica. Com o decréscimo desse

componente, causado pela ação do fármaco, ocorre um estresse osmótico, vacuolização

44

e consequente lise e morte celular. A síntese dessa glucana é obtida através de uma

enzima não presente nas células dos mamíferos, denominada β-(1,3)-D-glucana

sintetase, o que a torna um alvo importante para o estudo das propriedades moleculares

antifúngicas (WALSH et al., 2008).

Porém, a caspofungina possui um espectro de ação antifúngica restrito quando

comparado a outros antifúngicos, sendo utilizado, principalmente, contra espécies dos

gêneros Candida e Aspergillus. A caspofungina não se mostrou muito eficaz contra

cepas de espécies do complexo S. schenckii, tendo menor atividade que outros

antifúngicos como itraconazol, cetoconazol, terbinafina e anfotericina B (OLIVEIRA et

al., 2011; BRILHANTE et al., 2016).

1.4.5 Termoterapia

Uma antiga forma de tratamento não medicamentosa que pode ser utilizada em

casos não complicados de esporotricose é a termoterapia. A maioria das espécies do

complexo S. schenckii é sensível e não resistem a temperaturas mais altas, acima de

38,5 °C. A aplicação de calor (42 °C a 43 °C) através de compressas quentes ou

radiação infravermelha nas lesões cutâneas por algumas semanas mostra-se um

tratamento relativamente eficaz, que pode ser ainda mais eficaz quando utilizado em

conjunto com fármacos azólicos ou iodeto de potássio, que, porém, não devem ser

administrados à gestantes (KAUFFMAN et al., 2007; COSTA et al., 2011).

Ainda em estudo de Costa et al. (2011) realizado em um hospital na cidade do

Rio de Janeiro, Brasil, entre 1997 e 2009, 171 pacientes foram admitidos com

esporotricose, sendo, destes, 5 gestantes, o que mostra ser uma doença relativamente

incomum nessa condição. Porém, a cautela deve ser redobrada em relação ao tratamento

que deve ser adotado, pois, as drogas mais utilizadas, atualmente, contra essa doença,

são contra-indicadas em mulheres grávidas, tendo a termoterapia como uma opção

viável. Os derivados azólicos como o cetoconazol, itraconazol e fluconazol devem ser

evitados durante a gravidez, pois possuem razoável potencial teratogênico e

embriotóxico (MOUDGAL & SOBEL, 2003).

Diante do exposto, percebemos que a esporotricose tem afetado a população de

alguns estados brasileiros de maneira preocupante, tornando-se um sério problema de

45

saúde pública, principalmente pela cultura de criação de animais domésticos, dentre eles

os felinos, fonte potencial de transmissão desta doença. Além disso, a formação de

biofilmes microbianos tem demonstrado um aumento no limiar de sensibilidade de

bactérias e fungos frente aos antimicrobianos, dificultando as terapias propostas e

trazendo prognósticos desfavoráveis a muitos pacientes.

Portanto, é necessário o aprofundamento de estudos sobre biofilmes fúngicos e

como os mesmos se comportam frente aos antifúngicos utilizados na prática clínica, a

fim de obter-se um melhoramento nos protocolos de tratamento através do

entendimento da relação do funcionamento destes biofilmes.

2 HIPÓTESES

a) Os biofilmes formados pelas espécies do complexo S. schenckii apresentam

diferenças de metabolismo e biomassa intra-espécie sobre o mesmo

substrato;

b) Os biofilmes das espécies mais virulentas (S. brasiliensis e S. schenckii s.

str.) serão mais espessos e complexos que os das espécies menos virulentas

(S. mexicana e S. globosa);

c) O biofilme de Sporothrix spp. encontra-se organizado de forma a diminuir a

atividade dos antifúngicos contra os microrganismos, quando comparado à

sensibilidade das mesmas cepas em forma planctônica.

3 OBJETIVO GERAL

Conhecer se quatro diferentes espécies do complexo Sporothrix schenckii (S.

schenckii s. str., S. brasiliensis, S. mexicana e S. globosa) são capazes de produzir

biofilmes, in vitro, padronizá-los e determinar seus perfis de sensibilidade frente aos

antifúngicos clássicos.

3.1 Objetivos específicos

3.1.1 Verificar a formação de biofilme, in vitro, por cepas de S. schenckii s. str., S.

brasiliensis, S. mexicana e S. globosa filamentosas;

3.1.2 Determinar a cinética de crescimento, in vitro, dos biofilmes de S. schenckii

46

s. str., S. brasiliensis, S. mexicana e S. globosa filamentosas de acordo com

sua atividade metabólica;

3.1.3 Determinar a cinética de crescimento, in vitro, dos biofilmes de S. schenckii

s. str., S. brasiliensis, S. mexicana e S. globosa filamentosas de acordo com

sua biomassa produzida;

3.1.4 Visualizar a estrutura dos biofilmes de Sporothrix spp. por microscopia

óptica;

3.1.5 Visualizar a estrutura tridimensional dos biofilmes de Sporothrix spp. por

microscopia eletrônica de varredura e por microscopia confocal.

3.1.6 Determinar a concentração inibitória mínima (CIM) e concentração

fungicida mínima (CFM), in vitro, dos antifúngicos azólicos clássicos,

anfotericina B e caspofungina ante as cepas de Sporothrix spp. planctônicas

na fase filamentosa;

3.1.7 Determinar a atividade, in vitro, de concentrações ascendentes dos

antifúngicos azólicos clássicos, anfotericina B e caspofungina ante o

biofilme das cepas de Sporothrix spp. na fase filamentosa.

.

4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 Microrganismos

Neste estudo, foram utilizadas 18 cepas de espécies do complexo Sporothrix

schenckii na fase filamentosa: 10 cepas de S. brasiliensis, 2 cepas de S. schenckii s. str.,

2 cepas de S. globosa e 4 cepas de S. mexicana. O número maior de cepas da espécie S.

brasiliensis leva em consideração a espécie mais encontrada no Brasil, onde este estudo

foi realizado.

Os isolados pertencem à micoteca do Centro Especializado em Micologia

Médica (CEMM), da Universidade Federal do Ceará (UFC) - Brasil e foram

armazenadas em solução salina a 4 °C. Antes dos experimentos, todos os isolados foram

plaqueados em ágar batata dextrose (PDA) (Himedia, Índia), incubados a 25 °C durante

5 dias e mantidos em fase filamentosa. Todos os experimentos foram realizados no

CEMM e na Central Analítica da UFC. Em todos os experimentos, como controle

positivo, foi utilizada a cepa de Candida parapsilosis ATCC 22019. Como controle

negativo, o procedimento foi repetido, porém, sem a presença de inóculo.

47

Tabela 1. Origem e local de isolamento das cepas de espécies do complexo Sporothrix schenckii

utilizadas neste estudo.

Cepa Espécie Origem Isolamento

CEMM 05-3-050 S. brasiliensis Gato BRASIL

CEMM 05-3-052 S. brasiliensis Cão BRASIL

CEMM 05-3-053 S. brasiliensis Gato BRASIL

CEMM 05-3-054 S. brasiliensis Gato BRASIL

CEMM 05-3-055 S. brasiliensis Gato BRASIL

CEMM 05-3-056 S. brasiliensis Gato BRASIL

CEMM 05-3-057 S. brasiliensis Gato BRASIL

CEMM 05-3-058 S. brasiliensis Gato BRASIL

CEMM 05-3-075 S. brasiliensis Gato BRASIL

CEMM 05-3-078 S. brasiliensis Gato BRASIL

CEMM 05-3-090 S. schenckii s. str. Humano BRASIL

CEMM 05-3-100 S. mexicana Vegetal MÉXICO

CEMM 05-4-001 S. mexicana Solo MÉXICO

CEMM 05-4-002 S. schenckii s. str. Solo BRASIL

CEMM 05-3-004 S. globosa Humano BRASIL

CEMM 05-3-005 S. globosa Humano BRASIL

CEMM 05-3-008 S. mexicana Indeterminada BRASIL

CEMM 05-3-009 S. mexicana Indeterminada BRASIL

4.2 Formação do biofilme filamentoso de Sporothrix spp. para testes de

sensibilidade

A formação de biofilmes filamentosos foi realizada como descrito por Cordeiro

et al. (2015c), com algumas modificações. Todos os isolados (n=18) foram previamente

cultivados em PDA por 5 dias a 25 °C. Duzentos microlitros de inóculos com 2 x 104, 2

x 105 e 2 x 10

6 conídios/mL foram transferidos para poços de placas de microdiluição

para a formação dos biofilmes e foram analisados com 1, 8 e 24 horas de adesão.

Através de análises espectrofotométricas, foram encontradas as melhores condições para

a formação dos biofilmes quando utilizado um inóculo com 2 x 105 conídios/mL, com a

adesão de 24 horas. As células foram suspensas com 0,9 % de salina estéril para se obter

uma concentração de inóculo de 2 x 105 conídios/mL (1,0 McFarland). Alíquotas de

1000 µL de cada inóculo foram transferidas para placas de poliestireno de 24 poços

contendo lamínulas de Thermanox™ (Thermo Fisher Scientific, New York, NY) e

incubadas a 25 °C durante 24 horas, sob condições estáticas, para a etapa de pré-adesão.

48

Depois, o sobrenadante de cada poço foi cuidadosamente removido e foi adicionado

1000 µL de meio RPMI 1640 (Sigma, Alemanha) tamponado a pH 7,0 com MOPS

0,165 M. As placas foram incubadas durante 5 dias a 25 °C, em condições estáticas,

para a formação e maturação dos biofilmes e realização dos ensaios posteriores.

Figura 7. Esquema de metodologia para a formação de biofilmes filamentosos de espécies do complexo

S. schenckii.

4.3 Cinética de crescimento dos biofilmes

Seguindo a metodologia de formação dos biofilmes descrita acima, a cinética de

crescimento foi avaliada e mensurada após diferentes tempos de formação (24, 48, 72,

96, 120 e 144 horas). As culturas fúngicas foram crescidas em PDA incubadas a 25 °C

por 5 dias. Os biofilmes foram cultivados em meio RPMI, pH 7,0 a 25 °C em condições

estáticas. Depois de cada tempo de formação, os sobrenadantes foram descartados e as

placas foram lavadas duas vezes com PBS/Tween estéril para remover as células não

aderidas. A biomassa do biofilme foi avaliada com o método de coloração com cristal

violeta e a sua viabilidade metabólica foi avaliada pelo ensaio de XTT [2,3-Bis-(2-

methoxy-4-nitro-5-sulfophenyl)-2H-tetrazolium-5-carboxanilide salt], de acordo com

Pitangui et al. (2012) e Cordeiro et al. (2015c). Para ensaio de XTT, foram realizados

testes utilizando soluções de XTT (1 mg/mL em PBS) e menadiona (1 mM em etanol).

Os biofilmes foram formados como descrito acima em placas de 96 poços separadas em

diferentes tempos (24, 48, 72, 96, 120 e 144 horas). Em cada tempo de formação, 50 µL

de solução de XTT mais 4 µL de solução de menadiona foram adicionados a todos os

poços que contém biofilme e de controle negativo. Após 3 h de tempo de incubação a

25 °C, no escuro, a mudança de cor foi medida em espectrofotômetro a 492 nm. O

49

ensaio de cristal violeta foi efetuado tal como descrito por Brilhante et al. (2015), com

modificações. As placas foram incubadas a 25 °C e, em cada tempo de formação, os

poços referentes a esses tempos foram lavados três vezes com solução salina a 0,9%

para remover as células não aderidas. Posteriormente, os poços foram lavados com 100

µL de metanol 100% e o sobrenadante foi aspirado. Uma alíquota de 100 µL de cristal

violeta 0,3% foi adicionada a cada poço. Depois de 20 min a 25 °C, a solução de

corante foi aspirada e os poços foram lavados duas vezes com 200 µL de água destilada

estéril. Finalmente, foram adicionados 150 µL de ácido acético 33% aos poços corados

e deixados durante 30 segundos. Após este período, o volume foi transferido para outra

placa, que foi imediatamente lida num espectrofotômetro a 590 nm. O valor de cut-off

para a densidade óptica (DOc) para o ensaio foi definida como três desvios padrão

acima da média DO590 nm do controle negativo. Os experimentos foram realizados em

triplicata.

Para estabelecer uma visão geral de formação de biofilme por espécies do

complexo Sporothrix schenckii, foi utilizada a classificação proposta por Cordeiro et al.

(2015a) como uma maneira de se relacionar valores para a formação de biofilme. Para

avaliar a capacidade formadora de biofilme das diferentes cepas de diferentes espécies

do complexo S. schenckii, os valores de densidade óptica (DO) dos poços não

inoculados com os microrganismos foram usados como controle negativo, definindo­se

o valor de corte (DOC) para o teste como sendo três desvios-padrão acima da média de

DO do controle negativo a 590 nm. No final, as cepas foram classificadas como não

formadoras (DO ≤ DOc), fracas formadoras (DOc < DO ≤ 2 × DOc), formadora

moderada (2 × DOc < DO ≤ 4 × DOc), e fortes formadoras (4 × DOc < DO). Os

resultados obtidos são representativos de três experimentos independentes, realizados

em triplicata.

50

Figura 8. Esquema de metodologia para a avaliação da cinética de biofilmes filamentosos de espécies do

complexo S. schenckii através de ensaios de biomassa (cristal violeta) e atividade metabólica (XTT).

4.4 Morfologia e estrutura dos biofilmes de Sporothrix spp.

Microscopia óptica. Para a visualização microscópica do biofilme por

microscopia óptica foi utilizada a metodologia por coloração com Vermelho-Congo. A

superfície de uma lamínula de Thermanox™ em poços de placas de poliestireno após a

formação do biofilme maduro foi coberta com cloreto de cetilpiridínio a 10 mM e

deixou-se secar naturalmente, no ar, durante 30 minutos. Em seguida, a superfície foi

corada durante 15 minutos com uma mistura 2:1 de solução aquosa saturada de

Vermelho-Congo contendo 10% (v/v) de solução de Tween 80. Após lavagem com PBS

1X, a lamínula foi corada com uma solução 10% (v/v) de Ziehl carbolfucsina durante 6

minutos. Em seguida, a lamínula de Thermanox™ foi lavada novamente com PBS 1X e

deixada para secar a 37 °C (ALLISON & SUTHERLAND, 1984). As análises de

Thermanox™ foram feitas através de microscópio óptico, modelo OLYMPUS BX41 e

as imagens foram captadas pela câmara OLYMPUS DP71.

Microscopia confocal a laser (CLSM). Os biofilmes formados foram

analisados por microscopia confocal, como descrito por DiBonaventura et al. (2006)

com modificações. Eles foram formados como descrito acima em lamínulas de

Thermanox™. Após o período de incubação, os biofilmes foram lavados com PBS e

corados utilizando corante LIVE/DEAD™ fluorescente (Invitrogen, EUA). Os

biofilmes formados foram analisadas em microscópio confocal Nykon C2, a 488 nm,

para a detecção de corante fluorescente SYTO 9, que identifica as células vivas e a 561

nm para identificação das células mortas por detecção de iodeto de propídio. Várias

51

secções foram obtidos no plano xy com intervalos de 1 µm ao longo do eixo z.

Reconstruções tridimensionais dos biofilmes foram obtidos pelo software residente. As

imagens foram processadas em software Photoshop (Adobe Systems, San Jose, EUA)

Microscopia eletrônica de varredura (MEV). Para obter informações sobre a

morfologia e estrutura dos biofilmes durante a formação e após a maturação (24, 48, 72,

96, 120 e 144 h), utilizaram-se imagens produzidas por microscopia eletrônica de

varredura. Os biofilmes foram formados em Thermanox™ tal como descrito acima e

analisados de acordo com Wen-Ling et al. (2009) e Cordeiro et al. (2015c), com

modificações. Após incubação, o sobrenadante foi removido e as placas foram lavadas

com tampão cacodilato (0,15 M) por duas vezes subsequentes. Os biofilmes foram,

então, cobertos com glutaraldeído (2,5% em tampão cacodilato de sódio 0,15 M com

azul de alcian 0,1 %) e incubou-se a 4 °C overnight. Após esse processo, os biofilmes

foram lavados duas vezes com tampão cacodilato durante 5 minutos e os biofilmes nas

lamínulas de Thermanox™ foram desidratados numa série ascendente de etanol (50, 70,

80, 95 e 100 %) por duas vezes, durante 10 minutos cada. Os biofilmes foram secos a

25 °C e cobertos com hexametildisilazano (HMDS) (Polysciences Europa, Alemanha)

durante 30 minutos. Depois disso, o HMDS foi removido e biofilmes foram secos

durante a noite no dessecador. As lâminas foram cobertas com 10 nm de ouro (Emitech

Q150T) e observadas com um microscópio eletrônico de varredura FEI Inspect S50 no

modo de alto vácuo a 15 kV. As imagens foram processadas no software Photoshop

(Adobe Systems, San Jose, Califórnia), sem nenhuma manipulação de imagem.

4.5 Sensibilidade da forma planctônica

Os ensaios de microdiluição em caldo foram baseados de acordo com Clinical &

Laboratory Standards Institute (CLSI) M38-A2 (2008) com algumas modificações. O

inóculo foi preparado como descrito por Brilhante et al. (2014). As cepas na fase

filamentosa foram preparadas a partir de culturas em PDA, incubadas durante 6 - 7 dias

a 25 °C. Solução salina estéril foi adicionada a cada cultura de fungos e raspagens

foram feitas a partir da superfície do micélio. Em seguida, cada suspensão fúngica foi

ajustada a 2,0 na escala de McFarland. As suspensões foram diluídas na proporção de

1:10 com meio RPMI para se obter inóculos com concentração final de 1-5 x 105

UFC/ml para Sporothrix spp. Este estudo avaliou a concentração inibitória mínima

52

(MIC) para quatro agentes antifúngicos: anfotericina B (AMB) (Sigma Chemical

Corporation, EUA), voriconazol (VRC) (Sigma), fluconazol (FLC) (Sigma),

cetoconazol (KTC) (Sigma); e a concentração efetiva mínima (MEC) para a

caspofungina (CAS) (Sigma). As concentrações finais de drogas variaram de 0,03-16

µg/mL para AMB, VRC, KTC e CAS e 0,12-64 µg/mL para FLC. Para o ensaio de

sensibilidade para a forma filamentosa, as placas foram incubadas a 25 °C e lidas após

72 h. Todos os isolados foram testados em duplicata. Para AMB e VRC, o MIC foi

definido como a concentração mais baixa de droga que inibiu a 100 % de crescimento

fúngico; para KTC e FLC, o MIC foi definido como a concentração mais baixa de droga

que inibia 50 % do crescimento de fungos; para CAS, a MEC foi definida como a

menor concentração de droga que leva ao crescimento de formas pequenas,

arredondadas, com compactação de hifas, em comparação com o crescimento de hifas

observado no controle de crescimento nos poços. Candida parapsilosis ATCC 22019

foi incluída como controle de qualidade. Após a leitura do MIC, alíquotas de 100 µL a

partir de poços que não apresentaram crescimento de fungos visíveis foram transferidos

para tubos contendo PDA, que foram incubados durante 7 dias a 25-25 °C. A

concentração fungicida mínima (MFC) foi definida como a concentração mais baixa

capaz de inibir o crescimento das colônias fúngicas.

Figura 9. Esquema de metodologia para ensaio de sensibilidade antifúngica em espécies do complexo S.

schenckii, em suas fases filamentosas, por microdiluição em caldo.

53

4.6 Atividade metabólica e biomassa dos biofilmes frente aos antifúngicos

Para determinar a resistência dos biofilmes filamentosos às drogas testadas, os

biofilmes foram formados em placas de poliestireno de 96 poços como descrito

anteriormente no item 4.2. Após 5 dias de incubação a 25 °C, o sobrenadante de cada

poço foi aspirado, descartado e, pouco depois, foram adicionados 200 µL de cada

concentração a ser testada (MIC da forma planctônicas, 10xMIC e 50xMIC – ou MEC,

em relação à caspofungina) de cada fármaco (AMB, VRC, FLC, KTC e CAS) em três

poços, respectivamente, cada poço com uma concentração diferente. Os testes foram

feitos em duplicata. As placas foram incubadas durante 72 h a 25 °C, de forma estática,

e, após este período, foram submetidas a testes de quantificação da biomassa, utilizando

a metodologia de cristal violeta e atividade metabólica, utilizando o ensaio com XTT,

tal como descrito anteriormente no item 4.3. Quando obtivemos como resultado um

valor de MIC ou MEC não mensurável, ou seja, acima da maior concentração testada,

esta maior concentração foi considerada como valor de MIC ou MEC para os cálculos

dos testes de sensibilidade dos biofilmes.

Figura 10. Esquema de metodologia para ensaio de atividade metabólica e biomassa de espécies do

complexo S. schenckii, em suas fases filamentosas, frente aos antifúngicos.

4.7 Análises estatísticas

Para a comparação dos dados de absorbância (Densidade óptica - “DO”) intra-

espécie para as drogas testadas, foi utilizada a ANOVA, seguida do teste de

54

comparações múltiplas de Bonferroni nas espécies S. brasiliensis e S. mexicana. Nas

espécies S. schenckii e S. globosa foi utilizado o Teste não paramétrico de Fisher (Teste

Exato de Fisher), seguido do teste post hoc de Dunn para a comparação entre pares.

Para a análise da cinética de crescimento nas espécies para os períodos investigados, foi

utilizado o Teste não paramétrico de Fisher (Teste Exato de Fisher), seguido do teste

post hoc de Dunn para a comparação entre pares. Em todas as situações, o nível de

significância máximo, adotado para conclusões afirmativas, foi de 5 %.

Figura 11. Fluxograma dos ensaios utilizados na metodologia do estudo.

5. RESULTADOS

5.1.Desenvolvimento e cinética do biofilme

A análise dos dados de ensaio de formação de biofilme nas condições

executadas mostrou que Sporothrix spp., na sua forma filamentosa, é capaz de formar

biofilmes in vitro. Após a realização de ensaios com as três concentrações de inóculos

propostas, verificou-se que a melhor concentração para a formação dos biofilmes de

Sporothrix spp. em todas as condições analisadas foi 2 x 105 conídios/mL quando

comparadas com biofilmes produzidos com outros inóculos de concentrações menores,

sendo essa concentração de inóculo a escolhida para a produção de biofilme. A cinética

55

de formação do biofilme é mostrada na Figura 12, como foi revelado por ensaio de XTT

e cristal violeta. A curva de crescimento de biofilme mostrou que Sporothrix spp. adere

em superfície de poliestireno após 24 h, apresentando aumento da atividade metabólica

após de 24 horas de incubação. Este aumento continuou até 120 horas de incubação e

estabilizou, refletindo o aumento da densidade de células que constituem o biofilme

maduro.

Figura 12. Atividade metabólica (A) e biomassa (B) de biofilmes de Sporothrix spp. de acordo com o

tempo de maturação em ensaios de XTT e cristal violeta, respectivamente (n=18).

0 2 4 4 8 7 2 9 6 1 2 0 1 4 4

0 .0

0 .5

1 .0

1 .5

T e m p o (h )

Ab

so

rb

ân

cia

(4

92

nm

)

A

0 2 4 4 8 7 2 9 6 1 2 0 1 4 4

0

1

2

3

T e m p o (h )

Ab

so

rb

ân

cia

(5

90

nm

)

B

Os ensaios para a quantificação de biomassa dos biofilmes formados por adição

de cristal violeta mostraram que não há diferenças significativas entre as espécies de

Sporothrix spp. Todas as espécies de complexo Sporothrix schenckii foram

consideradas fortes produtoras de biofilme, como demonstrado na tabela 2. A densidade

óptica média do controle negativo foi 0,068, enquanto o desvio padrão foi de 0,009504.

Espécies com densidade óptica (OD) menor que 0,068 foram consideradas não

produtoras de biofilme; DO entre 0,097 – 0,193, pouco produtoras; DO entre 0,193 -

0,386, produtoras moderadas; e maior que 0,386, foram consideradas forte produtoras

de biofilme. Como controle negativo, foi utilizado poço com meio RPMI sem inóculo

fúngico.

56

Tabela 2. Classificação dos biofilmes das espécies com complexo Sporothrix schenckii.

Cepa Espécie DO (590 nm) Classificação

CEMM 05-3-050 S. brasiliensis 2,062 Forte produtora

CEMM 05-3-052 S. brasiliensis 2,232 Forte produtora

CEMM 05-3-053 S. brasiliensis 1,831 Forte produtora

CEMM 05-3-054 S. brasiliensis 1,924 Forte produtora

CEMM 05-3-055 S. brasiliensis 2,029 Forte produtora

CEMM 05-3-056 S. brasiliensis 2,162 Forte produtora

CEMM 05-3-057 S. brasiliensis 2,170 Forte produtora

CEMM 05-3-058 S. brasiliensis 2,577 Forte produtora

CEMM 05-3-075 S. brasiliensis 2,009 Forte produtora

CEMM 05-3-078 S. brasiliensis 2,099 Forte produtora

CEMM 05-3-090 S. schenckii s. str. 2,183 Forte produtora

CEMM 05-3-100 S. mexicana 2,017 Forte produtora

CEMM 05-4-001 S. mexicana 2,061 Forte produtora

CEMM 05-4-002 S. schenckii s. str. 2,151 Forte produtora

CEMM 05-3-004 S. globosa 2,481 Forte produtora

CEMM 05-3-005 S. globosa 2,353 Forte produtora

CEMM 05-3-008 S. mexicana 2,149 Forte produtora

CEMM 05-3-009 S. mexicana 2,002 Forte produtora

5.2 Morfologia e estrutura dos biofilmes de Sporothrix spp.

Microscopia óptica. Os biofilmes maduros de Sporothrix spp. foram

submetidos à microscopia óptica com coloração com vermelho-congo. Através dessa

visualização, pode-se perceber a formação de uma densa matriz extracelular, com

conídios e hifas evidenciados (A). Também se percebe a presença de canais de água

para a hidratação do biofilme, onde não se verifica coloração (B) (Figura 13).

57

Figura 13. Microscopia óptica de biofilmes maduros de Sporothrix globosa, corados através da técnica com corante Vermelho-Congo. A. Matriz extracelular densa (fundo

vermelho), com hifas (setas pretas) e conídios (setas brancas); B. Canais de água dentro da rede de hifas (setas). Ampliação de 400x.

58

Microscopia confocal. Através da microscopia confocal, os biofilmes do

complexo S. schenckii puderam ser visualizados em perspectiva de terceira dimensão

(3D), demonstrando a diferença entre células vivas e mortas, identificadas através das

cores verdes e vermelhas, respectivamente. Esses biofilmes maduros possuem um maior

número de células vivas em detrimento às células mortas, demonstrando que a atividade

metabólica dos biofilmes permanece alta após a maturação, como demonstrado na

figura 14.

59

Figura 14. Imagens de CLSM de biofilmes maduros de Sporothrix brasiliensis. A. Hifas (setas pretas) e conídios (setas brancas) formando uma estrutura densa de biofilme.

B. Visão tridimensional do biofilme. Ampliação de 400X. Imagens adquiridas com laser 488 nm e 561nm para a detecção de SYTO9 e iodeto de propídio, que identificam

células vivas e mortas, respectivamente.

60

Microscopia eletrônica de Varredura (MEV). Os biofilmes maduros de

Sporothrix spp. mostraram, nas condições avaliadas, em microscopia eletrônica de

varredura, que são formados por uma massa densa e heterogênea de conídios e hifas.

Após 24 horas de incubação, as células aderidas à superfície da lamínula de

Thermanox™ são evidentes e, após 48 horas de incubação, percebe-se o início do

processo de filamentação. A rede de conídios e hifas começa a ser visualizada após 72

horas, prosseguindo o processo de amadurecimento após 96 e 120 horas, quando já se

percebe a formação de canais de água para hidratação do biofilme. Após 120 horas de

incubação, o biofilme maduro pode ser visualizado, percebendo-se a presença de uma

matriz extracelular e canais de água bem definidos, como demonstrado na figura 15.

61

Figura 15. Imagens de microscopia eletrônica de varredura de biofilmes de S. brasiliensis formados em lamínulas de Thermanox™ após 24, 48, 72, 96, 120 e 144 horas de

incubação (A - F, respectivamente) - Ampliação: 2000X (A - E) e 4032X (F). A. Células aderidas à superfície da lâmina. B. Início da filamentação pós-adesão. C. Formação

de redes de hifas e conídios. D. Espessamento do biofilme com detecção de produção de matriz. E. Biofilme maduro com presença de conídios, hifas, matriz e canais de água

(identificados por setas). F. Canais de água no biofilme de S. brasiliensis (identificados por setas).

62

5.3 Sensibilidade planctônica

Os resultados dos ensaios in vitro de sensibilidade dos antifúngicos contra as

cepas estudadas de quatro espécies de complexo S. schenckii estão mostrados na Tabela

3. Verificou-se que, para cepas de S. brasiliensis, os resultados de MIC variaram entre

0, 25 µg/mL < MIC < 8,0 µg/mL para AMB, 8,0 a >16 µg/mL para CAS, 0,25 µg/mL <

MIC < 8,0 µg/mL para KTC e >16 e >64 µg/mL para VRC e FLC, respectivamente.

Para cepas de S. schenckii s. str., os MICs foram 0,25 µg/mL para AMB, >16 µg/mL

para CAS e VRC, 8,0 µg/mL para KTC e >64 µg/mL para FLC. Sporothrix globosa

obteve valores de MICs de 0,5 µg/mL para AMB, >16 µg/mL para CAS e VRC, >64

µg/mL para FLC e entre 2,0 µg/mL < MIC < 4,0 µg/mL para KTC. Já S. mexicana

demonstrou MICs variando entre 1,0 µg/mL < MIC < 8,0 µg/mL para AMB, 8,0 a >16

µg/mL para CAS, 2,0 µg/mL < MIC < 16,0 µg/mL para KTC, ≥ 16 µg/mL para VRC e

>64 µg/mL para FLC.

63

Tabela 3. Concentração inibitória mínima (MIC) e concentração fungicida mínima (MFC) de isolados planctônicos do complexo Sporothrix schenckii.

Espécies

AMB (µg/mL)

CAS (µg/mL)

VRC (µg/mL)

FLC (µg/mL)

KTC (µg/mL)

MIC

CEM

MIC

MIC

MIC

Média MG MFC Média MG MFC Média MG MFC Média MG MFC Média MG MFC

S. brasiliensis (n=10)

50%

8 - >16 >16

2 – 16 6,498

64 - >64 >64

0,0625 – 1 0,233

80%

>16 >16

4 - >16 11,314

>64 >64

0,25 – 1 0,5

100%

0,25 – 1 0,660 0,25 – 1

>16 >16 >16

8 - >16 12,126 >16

>64 >64 >64

1 - 4 1,625 2 – 8

S. schenckii s. str. (n=2)

50%

16 16

4 – 8 5,657

32 – 64 45,255

0,5 – 1 0,707

80%

>16 >16

16 - >16 >16

64 - >64 64

1 1

100%

0,25 0,25 0,5

>16 >16 >16

>16 16 >16

>64 >64 >64

1 - 2 1,414 2.

S. globosa (n=2)

50%

16 - >16 >16

8 8

16 – 32 22,627

0,5 0,5

80%

>16 >16

16 16

32 - 64 45,255

1 – 2 1,414

100%

0,5 0,5 0,5

>16 >16 >16

>16 16 >16

>64 >64 >64

2 - 4 2,828 2 - 4

S. mexicana (n=4)

50%

>16 >16

0,5 - >16 4,757

32 - >64 53,817

0,5 – 2 1

80%

>16 >16

4 - >16 9,514

64 - >64 64

1 - 4 1,682

100% 1 – 8 2,378 8 >16 >16 >16 16 - >16 >16 16,0 - >16 64 - >64 >64 >64 2 - 16 4,757 4 - 16

AMB, anfotericina B; CAS, caspofungina; VRC, voriconazol; FLC, fluconazol; KTC, cetoconazol. 50%, 80% e 100%: porcentagem de inibição visual de crescimento por poço; MG: média geométrica; MFC: Concentração fungicida mínima; MIC: Concentração inibitória mínima; CEM: Concentração mínima eficaz

64

5.4 Atividade metabólica e biomassa dos biofilmes frente aos antifúngicos

Neste estudo, a atividade metabólica do biofilme de S. brasiliensis teve uma

redução considerada significativa (p<0.05) quando comparada ao crescimento controle

para todas as concentrações de AMB e KTC e para 10xMIC e 50xMIC de VCR e CAS.

Já para S. schenckii s. str. e S. globosa, a redução foi significativa (p<0.05) para as

concentrações de 50xMIC de AMB, FLC, KTC e CAS. A última espécie analisada, S.

mexicana, mostrou redução significativa (p<0.05) para as concentrações de 50xMIC de

todas as drogas analisadas, além de 10xMIC para KTC e CAS. A atividade metabólica

in vitro dos biofilmes do complexo S. schenckii contra AMB, CAS VRC, FLC e KTC

estão demonstradas da tabela 4.

Quando relacionamos a diferença entre a biomassa dos biofilmes que sofreram

ação de antifúngicos e o crescimento controle, percebemos que para S. brasiliensis

houve redução significativa (p<0.05) em todas as concentrações de FLC e CAS,

50xMIC de KTC e 10xMIC e 50xMIC de AMB. Para S. schenckii s. str, a redução

significativa (p<0.05) foi encontrada para 50xMIC de AMB e CAS. Somente as

concentrações de 50xMIC de todas as drogas testadas foram significativas (p<0.05) para

S. globosa. Cepas de S. mexicana apresentaram redução de biomassa em todas as

concentrações de VOR e KTC e para 50xMIC de AMB e CAS (p<0.05). A biomassa in

vitro dos biofilmes do complexo S. schenckii contra AMB, CAS VRC, FLC e KTC

estão demonstradas na tabela 5.

65

Tabela 4.Atividade metabólica dos biofilmes de Sporothrix spp. após exposição às drogas antifúngicas (492 nm) (p<0,05).

Espécies Controle** AMB

VRC***

FLC***

KTC

CAS***

MIC 10xMIC 50xMIC

MIC 10xMIC 50xMIC

MIC 10xMIC 50xMIC

MIC 10xMIC 50xMIC

MEC 10xMEC 50xMEC

S.brasiliensis

(n=10) 0,9180

0,8696* 0,8221* 0,7540*

0,9351 0,8853* 0,8509*

0,9211 0,9091 0,8895

0,8825* 0,8353* 0,7880*

0,9153 0,8915* 0,8628*

S. schenckii s.

str. (n=2) 0,9338

0,9150 0,8873 0,8558*

0,9260 0,9155 0,9020

0,9170 0,8848 0,8643*

0,9078 0,8855 0,8678*

0,9265 0,9108 0,8970*

S. globosa

(n=2) 0,9303

0,9060 0,8235 0,7893*

0,9883 0,9525 0,9003

0,9110 0,8893 0,8443*

0,8900 0,8550 0,8240*

0,9195 0,8935 0,8590*

S. mexicana

(n=4) 0,8149

0,8093 0,7813 0,7271*

0,8130 0,7908 0,7643*

0,8131 0,7974 0,7601*

0,7921 0,7830* 0,7450*

0,8065 0,7904* 0,7713*

* Redução significativa em relação ao controle

** Crescimento do biofilme sem antifúngico *** Para valores de MICs ou MECs planctônicos acima das concentrações testadas, utilizou-se o valor da maior concentração testada.

Tabela 5. Biomassa dos biofilmes de Sporothrix spp. após exposição às drogas antifúngicas (590 nm) (p<0,05).

Espécies Controle** AMB

VRC***

FLC***

KTC

CAS***

MIC 10xMIC 50xMIC

MIC 10xMIC 50xMIC

MIC 10xMIC 50xMIC

MIC 10xMIC 50xMIC

MEC 10xMEC 50xMEC

S.brasiliensis

(n=10) 2,180 2,163 2,111* 2,059* 2,191 2,189 2,183 2,163* 2,151* 2,131* 2,173 2,170 2,105* 2,164* 2,140* 2,120*

S. schenckii s. str.

(n=2) 2,252 2,222 2,190 2,159* 2,253 2,225 2,193 2,268 2,261 2,230 2,246 2,194 2,156 2,247 2,228 2,212*

S. globosa (n=2) 2,498 2,500 2,457 2,418* 2,607 2,566 2,528* 2,511 2,436 2,402* 2,444 2,384 2,348* 2,479 2,469 2,431*

S. mexicana

(n=4) 2,133 2,126 2,113 2,086* 2,108* 2,083* 2,064* 2,133 2,125 2,115 2,107* 2,079* 2,053* 2,134 2,121 2,106*

* Redução significativa em relação ao controle ** Crescimento do biofilme sem antifúngico

*** Para valores de MICs ou MECs planctônicos acima das concentrações testadas, utilizou-se o valor da maior concentração testada.

66

6 DISCUSSÃO

Quatro espécies do complexo Sporothrix schenckii são relacionadas aos casos de

esporotricose humana e animal relatados em todo o mundo. Dentre as espécies deste

complexo, S. brasiliensis (associada, principalmente, às infecções animais e transmissão

zoonótica), S. schenckii sensu stricto, S. globosa (associada à transmissão ambiental) e

S. mexicana são as espécies mais encontradas nestes pacientes (GREMIÃO et al., 2015).

Os biofilmes são comunidades microbianas que podem aderir-se às superfícies

bióticas ou abióticas, envolvidas por uma matriz polimérica extracelular, com um

fenótipo divergente das células planctônicas em vários fatores genéticos e morfológicos,

incluindo o crescimento e os processos de metabolismo, liberação de endotoxinas,

muramil peptídeos, polissacarídeos e DNA, produção de enzimas, transcrição de genes e

resistência a medicamentos antimicrobianos e mediadores específicos da resposta imune

dos hospedeiros (CAPPELLI et al., 2007; PIERCE et al., 2008), fatores importantes nos

processos infecciosos. Estes biofilmes são destinados a proteger as comunidades

microbianas de fatores ambientais adversos que podem comprometer a viabilidade das

células, como, por exemplo, pH, desidratação, substâncias químicas, entre outros (DI

BONAVENTURA et al., 2006; TOURNU; VAN DIJCK, 2012; MITCHELL, 2016).

Conhecer os mecanismos envolvidos na formação, maturação e reprodução desses

biofilmes é importante para a aquisição de formas de controle dos mesmos.

Neste estudo, exploramos a capacidade de espécies do complexo S. schenckii de

formarem biofilmes em placas de poliestireno, avaliando parâmetros como a produção

de biomassa através dos ensaios com cristal violeta e a atividade metabólica através de

ensaios com XTT. Além disso, os biofilmes foram visualizados por microscopia óptica,

67

confocal e eletrônica de varredura, com informações sobre suas formações estruturais e

ultra-estruturais.

Demonstramos que as espécies do complexo Sporothrix schenckii possuem a

capacidade de formar biofilmes em sua fase filamentosa, encontrada na natureza, assim

como outros autores já relataram que várias espécies fúngicas, sejam elas

leveduriformes, como o gênero Candida spp. (AL-FATANI; DOUGLAS, 2006),

filamentosos, como o gênero Aspergillus spp. (BEAUVAIS; LATGÉ, 2015) e Fusarium

spp. (SENGUPTA et al., 2012) ou dimórficos, como os gêneros Coccidioides spp.

(DAVIS et al., 2002), Histoplasma spp. (BRILHANTE et al., 2015) e Paracoccidioides

spp. (SARDI et al., 2015) também possuem, além da capacidade de resistência desses

biofilmes aos antifúngicos.

Esses biofilmes tiveram a melhor capacidade de crescimento em placas de

poliestireno com inóculo de 2 x 105 conídios/mL e tempo de adesão de 24 horas, em

detrimento das outras concentrações e tempos de adesão, pois, quando utilizou-se a

concentração de 2 x 104 conídios/mL, não houve boa capacidade de adesão mesmo após

24 horas, restando poucas células e o biofilme não formava sua rede característica

mesmo após vários dias de incubação. Ao utilizar-se a concentração de 2 x 106

conídios/mL, percebeu-se uma equivalência de crescimento com a concentração testada

imediatamente menor, tanto relacionada à adesão celular medida através de

espectrofotômetro quanto pela visualização da rede de hifas e conídios através de

microscopia eletrônica de varredura. Os ensaios de tempo de adesão com todas as

concentrações de inóculos testadas mostraram que, para a melhor formação de biofilmes

de Sporothrix spp., há a necessidade de contato entre o inóculo e a superfície de

68

poliestireno por, pelo menos, 24 horas, não havendo boa formação de biofilme em

tempos de adesão menores (dados não mostrados).

Assim como outros biofilmes microbianos, os biofilmes formados in vitro por

espécies do complexo S. schenckii seguem padrões de formação que incluem a adesão à

superfície após 24 horas de incubação, a multiplicação celular e a maturação do

biofilme. Com o passar das horas, há um lento crescimento do metabolismo do

biofilme, assim como a biomassa produzida, quando comparado a outros biofilmes

microbianos até que, após 120 horas, é atingido seu ápice de crescimento e a

manutenção das taxas descritas, como foi demonstrado no presente estudo, semelhante

ao encontrado por Sardi et al. (2015) e Brilhante et al. (2015) para P. brasiliensis e H.

capsulatum, respectivamente.

A atividade metabólica determinada por ensaio com XTT é uma metodologia

com alta precisão, pois possui como mecanismo a redução deste sal de tetrazólio em seu

produto colorido, chamado formazan. Esta reação somente acontece na presença de

desidrogenases mitocondriais, ou seja, somente células vivas têm a capacidade de

produzir essa reação. Este ensaio é importante tanto para avaliar a cinética de

crescimento do biofilme quanto à atividade exercida por drogas no metabolismo deste

(PITANGUI et al., 2012; CORDEIRO et al., 2015c).

Através da microscopia eletrônica de varredura pudemos perceber que a

formação dos biofilmes de Sporothrix spp. se dá de forma altamente organizada, assim

como demonstrado com biofilmes de H. capsulatum (PITANGUI et al., 2012). Porém,

diferentemente deste outro fungo dimórfico, o processo de adesão das células de

Sporothrix spp. não é rápido. Enquanto as células de H. capsulatum possuem um tempo

de adesão na superfície de poliestireno de 7 horas, Sporothrix spp. necessita de 24 horas

69

para uma adesão significativa. Durante o período de maturação (24 a 72 horas para H.

capsulatum e 120 horas para Sporothrix spp.), o incremento de matriz extracelular e a

estruturação do biofilme são similares entre os dois fungos, havendo uma aderência

persistente à superfície abiótica.

Em estudo de cinética de crescimento e morfologia de biofilme de leveduras de

P. brasiliensis (Pb18 – cepa utilizada em muitos estudos de virulência), Sardi et al.

(2015) obtiveram resultados bem próximos aos encontrados em nosso estudo. Apesar do

tempo de adesão ser idêntico ao encontrado para H. capsulatum (7 horas), o período de

crescimento e maturação segue ao encontrado para Sporothrix spp., tendo uma

formação consistente próximo a 144 horas de maturação. Entretanto, para que o

biofilme de P. brasiliensis fosse formado, os autores incubaram a 37 °C com 5% de

presença de CO2.

Os biofilmes de Sporothrix spp. após a maturação, apresentam-se como uma

rede heterogênea, ou um aglomerado, de hifas e conídios imersos em matriz,

intercalados com uma grande quantidade de canais de água, por onde o líquido presente

flui. Possui estrutura com grande quantidade de filamentos, organizada, com múltiplas

camadas, que formam uma arquitetura de barreira, protegendo o fungo contra ataques

externos. Nossos achados corroboram Sánchez-Herrera et al. (2014), que demonstraram

essa capacidade estrutural nos biofilmes de S. schenckii, formados por carboidratos

totais que vão sendo incorporados ao biofilme no decorrer do seu desenvolvimento.

Para se investigar a atividade dos antifúngicos contra os biofilmes de Sporothrix

spp., foi necessária, inicialmente, a determinação do MIC planctônico da fase

filamentosa. Diversos estudos em todos os continentes demonstram divergências no

70

perfil de sensibilidade destas espécies em sua forma planctônica a muitos antifúngicos

utilizados na prática clínica, sendo verificados, em alguns casos, altos valores de MIC.

Nossos achados relacionados à atividade in vitro dos antifúngicos contra a forma

planctônica de Sporothrix spp. estão de acordo com muitos trabalhos previamente

realizados, como os resultados obtidos por Brilhante et al. (2016) com cepas de S.

brasiliensis provenientes de gatos com esporotricose. Os MICs são variáveis de acordo

com o antifúngico e com a espécie estudada. Verificou-se, por exemplo, que AMB,

CAS e KTC apresentam valores mais altos de MIC ou MEC planctônicos para S.

mexicana, quando comparados às outras espécies estudadas. Esse achado corrobora

outros autores que têm reportado tolerância desta espécie a antifúngicos (BRILHANTE

at al., 2014; RODRIGUES et al., 2014). Os valores de MEC encontrados para a

caspofungina contra células planctônicas (8 - >16 µg/mL) em nosso estudo corroboram

outros estudos que demonstram a sensibilidade de cepas de S. brasiliensis e S. schenckii

s. str. a este antifúngico (OLIVEIRA et al., 2011).

Verificamos que AMB, CAS e KTC apresentaram valores mais altos de MIC

planctônico para S. mexicana quando comparados às outras espécies estudadas,

corroborando com outros autores que têm reportado determinada tolerância desta

espécie a muitas drogas atualmente utilizadas (BRILHANTE et al., 2014; RODRIGUES

et al., 2014). Os valores de MIC encontrados para a caspofungina contra células

planctônicas (8 - >16 µg/mL) corroboram com os achados por Oliveira et al. (2011),

que demonstraram a sensibilidade de cepas de S. brasiliensis e S. schenckii str. sensu

contra este antifúngico.

S. globosa apresentou MICs planctônicos para AMB próximos aos encontrados

em S. brasiliensis, porém, quanto aos MICs para FLC e KTC, foram menores que as

71

outras espécies estudadas. Rodrigues et al. (2014) verificaram que S. globosa

apresentou MICs para AMB também próximos aos de S. brasiliensis, porém, algumas

cepas apresentaram MICs maiores. Já Oliveira et al. (2015) encontraram MICs de KTC

para S. globosa menores que para S. schenckii str. sensu. Nossos resultados também

corroboram com os encontrados por Khao et al. (2015), com MICs de FLC menores

para S. globosa que para outras espécies estudadas.

Em outro estudo de avaliação de sensibilidade entre fármacos azólicos e espécies

do complexo S. schenckii com suas formas planctônicas, os MICs para o cetoconazol

contra cepas de S. brasiliensis, S. schenckii s. str., S. globosa, S. mexicana foram 0,25 –

0,50 µg/mL, 0,06 – 2,0 µg/mL, 2,0 µg/mL, 4,0 µg/mL, respectivamente. Já para o

voriconazol, com as mesmas cepas, os valores foram 1,0 – 8,0 µg/mL, 1,0 – 16,0

µg/mL, 16,0 µg/mL, 16,0 µg/mL, respectivamente (OLIVEIRA, et al., 2015). Em

nossas análises, todos os MICs para KTC e VRC foram maiores que os encontrados por

esses pesquisadores, exceto o MIC de KTC para S. brasiliensis, que se mostrou o

mesmo nos dois estudos. Isso demonstra a variedade de sensibilidade entre as cepas

encontradas de todas as espécies do complexo Sporothrix schenckii.

Fatores como a diferença entre MICs encontrados em vários estudos e valores

altos para esses dados, em células planctônicas, despertam uma necessidade científica

de promover estudos de sensibilidade que considerem as formas sésseis destes

microrganismos, pois, apesar de evidências da presença de biofilmes microbianos na

natureza e em hospedeiros infectados serem uma realidade, o conhecimento nesta seara

em relação às espécies do gênero Sporothrix é limitado e pouco discutido (DI

BONAVENTURA et al., 2006; ITURRIETA-GONZÁLEZ et al., 2014; SÁNCHEZ-

HERRERA et al., 2014; BRILHANTE et al., 2015a).

72

Os resultados encontrados para a atividade metabólica e a biomassa in vitro dos

biofilmes maduros após a exposição aos antifúngicos analisados mostraram que há

diferenças entre as espécies do complexo S. schenckii para cada droga e para cada

concentração utilizada, reproduzindo o que acontece com os testes de sensibilidade para

células planctônicas. Podemos perceber que a atividade metabólica e a biomassa de

todas as espécies tiveram uma redução significativa quando utilizamos a concentração

de 50xMIC de AMB e CAS. Já VRC mostrou redução nas atividades metabólicas dos

biofilmes de S. brasiliensis (10xMIC e 50xMIC) e S. mexicana (50xMIC) e redução na

biomassa de S. globosa (50xMIC) e S. mexicana (MIC, 10xMIC e 50xMIC).

Já FLC, mostrou redução significativa no metabolismo dos biofilmes de S.

schenckii s. str., S. globosa e S. mexicana (50xMIC). Porém, em relação à redução na

biomassa, FLC foi efetivo contra S. globosa (MICx50) e S. brasiliensis em todas as

concentrações estudadas. Cetoconazol reduziu significativamente o metabolismo dos

biofilmes de S. brasiliensis em todas as concentrações, de S. schenckii s. str. e S.

globosa (MICx50) e S. mexicana (MICx10 e MICx50). Não houve redução significativa

de biomassa nos biofilmes de S. schenckii s. str.

Observou-se atividade anti-biofilme quando utilizadas os MICs planctônicos em

algumas drogas, porém, essa atividade foi mais pronunciada nas concentrações 50 x

MIC de AMB e 50 x MEC de CAS. Vale destacar que achado semelhante foi observado

pesquisa com drogas antifúngicas e farnesol contra os biofilmes do fungo dimórfico H.

capsulatum var. capsulatum, onde as taxas de inibição do biofilme contra essas drogas

foram achadas preponderantemente em concentrações acima dos MICs planctônicos

entre 50 e 100 vezes (BRILHANTE et al., 2015). Esses achados em biofilmes de fungos

dimórficos, incluindo de Sporothrix spp. corroboram as pesquisas com biofilme de

73

Candida albicans, que demonstraram que estas estruturas estão implicadas na menor

responsividade a essas drogas, que também não inibiram a dispersão celular proveniente

do biofilme (SELEEM et al., 2016).

Chatzimoschou et al. (2011) demontraram em seu estudo a dificuldade para se

combater as espécies microbianas quando as mesmas estão sob a forma de biofilmes,

nesse caso, as do gênero Candida spp., as leveduras mais encontradas em infecções

fúngicas. Foram testados triazóis e equinocandinas de forma simultânea, avaliando o

sinergismo contra os biofilmes. Porém, os resultados se mostraram desanimadores,

sendo indiferentes contra as células sésseis.

Davis et al. (2002), ao estudarem falha terapêutica em paciente com meningite

por Coccidioides immitis, corroboraram estes estudos que demonstram a dificuldade de

combater biofilmes microbianos. Foi verificado que este fungo é capaz de produzir

biofilmes em dispositivo médico ventrículo-peritoneal e que estes biofilmes foram

responsáveis pela resistência ao fluconazol utilizado no tratamento, além de permitir a

persistência do fungo causando a infecção por quatro anos.

As diferentes estratégias utilizadas pelos fungos quando em biofilmes para

burlarem a ação das drogas antimicrobianas podem incluir a ação de bombas de efluxo,

a baixa expressão de alvos moleculares utilizados pelos fármacos para exercerem sua

ação, mudanças na fisiologia geral das células, alta densidade celular e a presença de

matriz extracelular (RAMAGE et al., 2012). Deste modo, através dos ensaios para

avaliar a produção de biomassa, pudemos verificar no presente estudo que o gênero

Sporothrix possui a capacidade de formar fortes biofilmes e têm alta densidade celular,

o que pode influenciar nos resultados de baixa resposividade destes biofilmes contra as

concentrações utilizadas, mesmo que altas, dos antifúngicos testados.

74

Além disso, os biofilmes formados pelo gênero Sporothrix possuem altas taxas

de atividade metabólica, avaliados por ensaios com XTT, mesmo após a maturação.

Essa atividade metabólica demonstra que a produção de enzimas e outros componentes

químicos também continua com taxas elevadas, o que pode favorecer os mecanismos de

desativação molecular dos fármacos antimicrobianos por proteases, hidrolases, dentre

outras.

Estas diferenças reforçam a importância da identificação das espécies do

complexo S. schenckii e seus perfis de sensibilidade para que seja feita uma avaliação

dos tratamentos propostos para a esporotricose na prática clínica, já que muitos estudos

já demonstram a capacidade de outros fungos produzirem biofilmes no curso de

infecções em modelos in vivo, como Aspergillus spp. e Candida albicans (SELEEM et

al., 2016; WILLIAMS et al., 2016).

Em resumo, os resultados obtidos por este trabalho mostraram que as quatro

espécies do complexo Sporothrix schenckii causadoras de esporotricose, S. brasiliensis,

S. schenckii s. str., S. globosa e S. mexicana possuem a capacidade de produzirem, in

vitro, robustos biofilmes, tendo sua maturação entre 24 e 120 horas. A caracterização

estrutural destes biofilmes mostra também a similaridade que eles possuem em relação a

outros biofilmes fúngicos, principalmente em relação a outros fungos dimórficos. Além

disso, demonstra que estes biofilmes possuem uma capacidade de proteção dos

microrganismos contra drogas antifúngicas bastante utilizadas na clínica médica, como

anfotericina B, voriconazol, fluconazol, cetoconazol e caspofungina e isso traz a

necessidade do aprofundamento do estudo dos biofilmes do gênero Sporothrix, com

conhecimento das suas composições, expressão gênica, assim como a responsividade

dos mesmos a diversos outros antimicrobianos.

75

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE, P.C.; NAKAYASU, E.S.; RODRIGUES, M.L.; FRASES, S.;

CASADEVALL, A.; ZANCOPE-OLIVEIRA, R.M.; ALMEIDA, I.C.;

NOSANCHUK, J.D. Vesicular transport in Histoplasma capsulatum: an effective

mechanism for trans-cell wall transfer of proteins and lipids in ascomycetes. Cell

Microbiol, v. 10, n.8, p.1695-1710, 2008.

AL-FATANI, M.A.; DOUGLAS, L.J. Biofilm matrix of Candida albicans and

Candida tropicalis: chemical composition and role in drug resistance. J Med

Microbiol. v. 55, n. Pt8, p. 999-1008, 2006.

ALLEWELL, N.M. Introduction to biofilms thematic minireviews series. J Biol

Chem, v. 291, n. 24, p. 12527-12528, 2016.

ALLISON, D.G.; SUTHERLAND, I.W.; A staining techinique for attached bacteria

and its correlation to extracellular carbohydrate production. J Microbiol Methods, v.

2, p. 93-99, 1984.

ALMEIDA-PAES, R.; FRASES, S.; FIALHO MONTEIRO, P.C.; GUTIERREZ-

GALHARDO, M.C.; ZANCOPÉ-OLIVEIRA, R.M.; NOSANCHUK, J.D. Growth

conditions influence melanization of brazilian clinical Sporothrix schenckii isolates.

Microbes Infect. v. 11, n. 5, p. 554-562, 2009.

ALMEIDA-PAES, R.; FRASES, S.; ARAÚJO, G.S.; OLIVEIRA, E.M.E.;

GERFEN, G.J.; NOSANCHUK, J.D.; ZANCOPÉ-OLIVEIRA, R.M. Biosyntesis

and functions of a melanoid pigment produced by species of Sporothrix complex in

the presence of L-tyrosine. Appl Env Microbiol, v. 78, n. 24, p. 8623-86-30, 2012.

ALMEIDA-PAES, R.; OLIVEIRA, M.M.; FREITAS, D.F.; VALLE, A.C.;

ZANCOPÉ-OLIVEIRA, R.M.; GUTIERREZ-GALHARDO, M.C. Sporotrichosis in

Rio de Janeiro, Brazil: Sporothrix brasiliensis in associated with a typical clinical

presentations. PLoS Neglected Tropical Diseases, v. 8, n. 9, e3094, 2014.

ALMEIDA-PAES, R.; OLIVEIRA, L.C.; OLIVEIRA, M.M.E.; GUTIERREZ-

GALHARDO, M.C.; NOSANCHUK, J.D.; ZANCOPÉ-OLIVEIRA, R.M.

76

Phenotypic characteristics associated with virulence of clinical isolates from the

Sporothrix complex. Biomed Res Int, v. 2015, 2015.

ALMEIDA-PAES, R.; OLIVEIRA, M.M.; FREITAS, D.F.; VALLE, A.C.;

GUTIERREZ-GALHARDO, M.C.; ZANCOPÉ-OLIVEIRA, R.M. Refractory

Sporotrichosis due to Sporothrix brasiliensis in humans appears to be unrelated to in

vivo resistance. Med Mycol, pii: myw103, 2016.

ALVIANO, C.S.; TRAVASSOS, L.R.; SCHAUER, R. Sialic acids in fungi: a

minireview. Glycoconj J, v. 16, n.9, p.545-554, 1999.

ANTUNES, T.A.; NOBRE, M.O.; FARIA, R.O.; MEINERZ, A.R.; MARTINS,

A.A.; CLEFF, M.B.; FERNANDES, C.G.; MEIRELES, M.C. Experimental

cutaneous Sporotrichosis: in vivo evaluation of itraconazole and terbinafine. Rev Soc

Bras Me Trop, v. 42, n. 6, p. 706-710, 2009.

ARRILLAGA-MONCRIEFF, I.; CAPILLA, J.; MAYAYO, E.; MARIMON, R.;

MARINÉ, M.; GENÉ, J.; CANO, J.; GUARRO, J. Different virulence levels of the

species of Sporothrix in a murine model. Clin Microbiol Infect, v. 15, n. 7, p. 651-

655, 2009.

AUNG, A.K.; THE, B.M.; MCGRATH, C.; THOMPSON, P.J. Pulmonary

sporotrichosis: case series and systematic analysis of literature on clinico-

radiological patterns and management outcomes. Med Mycol, v. 51, n. 5, p. 534-

544, 2013.

BARROS, M.B.; DE ALMEIDA PAES, R; SCHUBACH, A.O. Sporothrix

schenckii and sporotrichosis. Clin Microbiol Rev, v. 24, n. 4, p. 633-654, 2011.

BEAUVAIS, A.; LATGÉ, J.P. Aspergillus biofilm in vitro and in vivo. Microbial

Spectr. v. 3, n. 4, 2015.

BORGES, T.S.; ROSSI, C.N.; FEDULLO, J.D.; TABORDA, C.P.; LARSSON,

C.E. Isolation of Sporothrix schenckii from the claws of domestic cats (indoor and

outdoor) and in captivity in São Paulo (Brazil). Mycopathologia, v. 176, n. 1-2, p.

129-137, 2013.

77

BRILHANTE, R.S.N.; MALAQUIAS, A.D.; CAETANO, E.P.; CASTELO-

BRANCO, DdeS.; LIMA, R.A.; MARQUES, F.J.; SILVA, N.F.; ALENCAR, L.P.;

MONTEIRO, A.J.; CAMARGO, Z.P.; BANDEIRA, T de J.; RODRIGUES, A.M.;

CORDEIRO, RdeA.; MOREIRA, J.L.; SIDRIM, J.J.; ROCHA, M.F. In vitro

inhibitory effect of miltefosine against strains of Histoplasma capsulatum var.

capsulatum and Sporothrix spp. Med Mycol, v. 52, n. 3, p. 320-325, 2014.

BRILHANTE, R.N.S.; LIMA, R.A.C.; MARQUES, F.J.F.; SILVA, N.F.;

CAETANO, E.P.; CASTELO-BRANCO, D.S.C.; BANDEIRA, T.J.P.G.;

MOREIRA, J.L.B.; CORDEIRO, R.A.; MONTEIRO, A.J.; CAMARGO, Z.P.;

SIDRIM, J.J.C.; ROCHA, M.F.G. Histoplasma capsulatum in planktonic and

biofilm forms: in vitro susceptibility to amphotericin B, itraconazole and farnesol. J

Med Microbiol. v. 64, n. Pt4, p. 394-399, 2015.

BRILHANTE, R.S.N.; RODRIGUES, A.M.; SIDRIM, J.J.C.; ROCHA, M.F.G.;

PEREIRA, S.A.; GREMIÃO, I.D.F.; SCHUBACH, T.M.P.; DE CAMARGO, Z.P.

In vitro susceptibility of antifungal drugs against Sporothrix brasiliensis recovered

from cats with sporotrichosis in Brasil. Med Mycol, v. 54, n. 3, p. 275-279, 2016.

CAMACHO, E.; LÉON-NAVARRO, I.; RODRÍGUEZ-BRITO, S.; MENDOZA,

M.; NIÑO-VEGA, G.A. Molecular epidemiology of human sporotrichosis in

Venezuela revels high frequency of Sporothrix globosa. BMC Infec Dis, v.15, n.94,

2015.

CAPPELLI, G.; RICARDI, M.; RAVERA, F.; LIGABUE, G.; BALLESTRI, M.;

BONUCCHI, D.; BONDI, M. Biofilm on artificial surfaces. Contrib Nephrol, v.

154, p. 61-71, 2007.

CARMICHAEL, J.W. Chrysosporium and some other aleuriosporic hyphomycetes.

Canad J Bot, v.40, p. 1137-1181, 1962.

CARRILLO-MUÑOZ, A.J.; GIUSIANO, G.; EZKURRA, P.A.; QINDÓS, G.

Antifungal agents: Mode of action in yeasts cells. Rev Esp Quimioterap, v.19, n.2,

p.130-139, 2006.

78

CASADEVALL, A. Amoeba provide insight into the origin of virulence in

pathogenic fungi. Adv Exp Med Biol. v. 710, p. 1-10, 2012.

CHAKRABARTI, A.; BONIFAZ, A.; GUTIERREZ-GALHARDO, M.C.;

MOCHIZUKI, T.; LI, S. Global epidemiology of sporotrichosis. Med Mycol, v.53,

p.3-14, 2015.

CHANDRASEKAR, P. Management of invasive fungal infections: a role for

polyenes. J Antimicrob Chemother, v. 66, p. 457-465, 2011.

CHATZIMOSCHOU, A.; KATRAGKOU, S.; SIMITSOPOULOU, M.;

ANTACHOPOULOS, C.; GEORGIADOU, E.; WALSH, T.J.; ROILIDES, E.

Activies of triazole-echinocandin combinations against Candida species in biofilms

and as planktonic cells. Antimicrobial Agents and Chemotherapy, v. 55, n. 5, p.

1968-1974, 2011.

CLSI, Reference Method for Broth Dilution Antifungal Susceptibility Testing of

Filamentous Fungi. 2nd

edition, Clinical and Laboratory Standards Institute, 2008.

CORDEIRO, R.A.; OLIVEIRA, J.S.; CASTELO-BRANCO, D.S.C.M.;

TEIXEIRA, C.E.C.; MARQUES, F.J.F.; BITTENCOURT, P.V.; CARVALHO,

V.L.; BANDEIRA, T.J.P.G.; BRILHANTE, R.S.N.; MOREIRA, J.L.B.; PEREIRA-

NETO, W.A.; SIDRIM, J.J.C.; ROCHA, M.F.G.; Candida tropicalis isolates

obtained from veterinary sources show resistance to azoles and produce virulence

factors. Med Mycol, v. 53, n. 2, p. 145-152, 2015a.

CORDEIRO, R.A.; SERPA, R.; ALEXANDRE, C.F.U.; MARQUES, F.J.F.;

MELO, C.V.S.; FRANCO, J.S.; EVANGELISTA, A.J.J.; CAMARGO, Z.P.;

BRILHANTE, R.S.N.; ROCHA, M.F.G.; MOREIRA, .J.L.B.; BANDEIRA,

T.J.P.G.; SIDRIM, J.J.C. Trichosporon inkin biofilms produce extracellular

79

proteases and exhibit resistance to antifungals. J Med Microbiol, v. 64, n. 11, p.

1277-1286, 2015b.

CORDEIRO, R.A.; SERPA, R.; MARQUES, F.J.; DE MELO, C.V.;

EVANGELISTA, A.J.; MOTA, V.F.; BRILHANTE, R.S.; BANDEIRA, TdeJ.;

ROCHA, M.F.; SIDRIM, J.J. Inhibitory activity of isoniazide and ethionamide

against Cryptococcus biofilms. Can J Microbiol, v. 61, n. 11, p. 827-836, 2015c.

COSTA, R.O.; AZULAY-ABULAFIA, L.; NEVES, M.L.P.; BERNARDES-

ENGEMANN, A.R.; BENVENUTO, F.; LOPES-BEZERRA, L.M. Sporotrichosis

in pregnancy: case reports of 5 patients in a zoonotic epidemic in Rio de Janeiro,

Brazil. An Bras Dermatol, v.86, n.5, p.995-998, 2011.

CRISEO, G.; MALARA, G.; ROMEO, O.; PUGLISI GUERRA, A.

Lynphocutaneous sporotrichosis in na immunocompetent patient: a case report from

extreme southern Italy. Mycopathologia, v. 166, n.3, p.159-162, 2008.

DA ROSA, D.; GEZUELE, E.; CALEGARI, L.; GOÑI, F. Excretion-secretion

products and proteases from live Sporothrix schenckii yeast phase: immunological

detection and cleavage of human IgG. Rev Inst Med Trop São Paulo, v. 51, n. 1, p.

1-7, 2009.

DAVIS, L.E.; COOK, G.; COSTERTON, J.W. Biofilm in ventriculo-peritoneal

shunt tubing as a cause of treatment failure in coccidioidal meningitis. Emerg Infect

Dis. v. 8, n. 4, p. 376-379, 2002.

DE BEER, P.; STOODLEY, P.; LEWANDOWSKY, Z. Liquid flow in

heterogeneous biofilms. Biotech and Bioeng. V. 44, n. 5, p. 636-641, 1994.

DE MEYER, E.M.; SUMMERBELL, R.C.; MOHARRAM, A.M.; DE HOOG,

G.S.; VISMER, H.F.; WINGFIELD, M.J. Taxonomy and phylogeny of new wood-

and soil-inhabiting Sporothrix species in the Ophiostoma stenoceras - Sporothrix

schenckii complex. Mycologia. v.100, n. 4, p.647-661, 2008.

80

DESAI, J.V.; MITCHELL, A.P.; ANDES, D.R. Fungal biofilms, drug resistance,

and recurrent infection. Cold Spring Harb Perspect Med, v. 4, n. 10, 2014.

DHINGRA, D.; DURREHEIN, D.; PORIGNEAUX, P. Sporotrichosis outbreak and

moudly hay in NSW. Aust Farm Physician, v.44, n.4, p. 217-221, 2015.

DI BONAVENTURA, G.; POMPILIO, A.; PICCIANI, C.; IEZZI, M.;

D’ANTONIO, D.; PICCOLOMINI, R. Biofilm formation by the emerging fungal

pathogen Trichosporon asahii: development, architecture and antifungal resistance.

Antimicrob Agents Chemother, v. 50, n. 10, p. 3269-3276, 2006.

DIXON, D.M.; SALKIN, I.F.; DUNCAN, R.A.; HURD, N.J.; HAINES, J.H.;

KEMNA, M.E.; COLES, F.B. Isolation and Characterization of Sporothrix

schenckii from Clinical and Enviromental Sources Associated with Largest U.S.

Epidemic of Sporotrichosis. J of Clin Microbiol, v.29, n.6, p.1106-1113, 1991.

DOOLEY, D.P.; BOSTIC, P.S.; BECKIUS, M.L. Spook house sporotrichosis. A

point-source outbreak of sporotrichosis associated with hay bale props in a

Halloween haunted-house. Arch Int Med, v.157, n.16, p.1885-1887, 1997.

DOWNEY, C.; NAVAJAS, L.; ANDINO, R.; VERA-KELLET, C.; MANRÍQUEZ,

J.J. Sporotrichoid-like tuberculosis: an unusual presentation of cutaneous

tuberculosis in an immunocompetent patient. Rev Chil Infectol, v. 32, n. 2, p. 234-

237, 2015.

DRUTZ, D.J.; FREY, C.L. Intracellular and extracellular defenses of human

phagocytes against Blastomyces dermatitidis conidia and yeasts. J Lab Clin Med,

v.105, n. 6, p.737-750, 1985.

FANNING, S.; MITCHELL, A.P. Fungal biofilms. PLoS Pathogens, v. 8, n. 4,

e1002585, 2012.

FEENEY, K.T.; ARTHUR, I.H.; WHITTLE, A.J.; ALTMAN, S.A.; SPEERS, D.J.

Outbreak of Sporotrichosis, Western Australia. Emerg Infec Dis, v.13, n.8, p.1228-

1231, 2007.

81

FERNANDES, G.F.; DOS SANTOS, P.O.; RODRIGUES, A.M.; SASAKI, A.A.;

BURGUER, E.; DE CAMARGO, Z.P. Characterization of virulence profile, protein

secretion and immunogenicity of different Sporothrix schenckii sensu stricto isolates

compared with S. globosa and S. brasiliensis species. Virulence, v. 4, n. 3, p. 241-

249, 2013.

FERNANDES, K.S.S.; COELHO, A.L.J.; BEZERRA, L.M.L.; BARJA-FIDALGO,

C. Virulence of Sporothrix schenckii conidia and yeast cells, and their susceptibility

to nitric oxide. Immunology, v.101, n.4, p.563-569, 2000.

FERNÁNDEZ-SILVA, F.; CAPILLA, J.; MAYAYO, E.; GUARRO, J. Virulence

of Sporothrix luriei in a Murine Model of Disseminated Infection. Mycopathologia,

v. 173, n. 4, p. 245-249, 2012.

FILGUEIRA, K.D. Esporotricose na espécie canina: relato de um caso na cidade de

Mossoró, RN. Cien Anim Bras, v.10, n.2, p.673-677, 2009.

FINKEL, J.S.; MITCHELL, A.P. Genetic control of Candida albicans biofilm

development. Nat Rev Microbiol, v. 9, n. 2, p. 109-118, 2011.

FREITAS, D.F.S.; VALLE, A.C.F.; SILVA, M.B.T.; CAMPOS, D.P.; LYRA,

M.R.; SOUZA, R.V.; VELOSO, V.G.; ZANCOPÉ-OLIVEIRA, R.M.; BASTOS,

F.I.; GALHARDO, M.C.G. Sporotrichosis: An emerging neglected opportunistic

infection in HIV-infected patients in Rio de Janeiro, Brazil. PLoS Neg Trop Dis, v.8,

n.8, 2014.

GAUTHIER, G.; KLEIN, B.S. Insights into fungal morphogenesis and immune

evasion: fungal conidia, when situated in mammalian lungs, may switch from mold

to pathogenic yeasts or spore-forming spherules. Microbe Wash DC, v. 3, n. 9, p.

416-423, 2008.

GOVENDER, N.P.; MAPHANGA, T.G.; ZULU, T.G.; PATEL, J.; WALAZA, S.;

JACOBS, C.; EBONWU, J.I.; NTULI, S.; NAICKER, S.D.; THOMAS, J. An

Outbreak of Lymphocutaneous Sporotrichosis among Mine-Workes in South Africa.

PLoS Negl Trop Dis, v.9, n.9, 2015.

82

GREMIÃO, I. D.; MENEZES, R. C.; SCHUBACH, T. M.; FIGUEIREDO, A. B.;

CAVALCANTI, M.C.; PEREIRA, S. A. Feline sporotrichosis: epidemiological and

clinical aspects. Med Mycol, v. 53, n. 1, p. 15-21, 2015.

GUNN, J.S.; BAKALETZ, L.O.; WOZNIAK, D.J. What’s on the outside matters:

the role of the extracellular polymeric substance of Gram-negative biofilms in

evading host immunity and as a target for therapeutic intervention. J Biol Chem, v.

291, n. 24, p. 12538-12546, 2016.

HASSAN, I; KENN, A. Potassium iodide in Dermatology. Ind J Dermatol Venereol

Leprol, v. 78, n.3, p.390-393, 2012.

HAY, R.J.; MORRIS-JONES, R. Outbreaks of sporotrichosis. Curr Opin Infect Dis,

v. 21, n. 2, p. 119-121, 2008.

HEKTON, L.; PERKINS, C.F. Refractory subcutaneous abscess caused by

Sporothrix schenckii: a new pathogenic fungus. J Exp Med, v.5, p. 77-91, 1900.

HIRUMA, M.; KAGAWA, S. Ultrastructure of Sporothrix scheckii treated with

iodine-potassium solution. Mycopathologia, v.97, n.2, p.121-127, 1987.

HOGAN, L.H.; KLEIN, B.; LEVITZ, S.M. Virulence factors of medically

important fungi. Clin Microbiol Rev, v.9, n.4, p.469-488, 1996.

HORIO, T.; DANNO, K.; OKAMOTO, H.; MIYACHI, Y.; IMAMURA, S.

Potassium iodide in erythema nodosum and other erythematous dermatoses. J Am

Acad Dermatol, v.9, n.1, p.77-81, 1983.

HOU, B.; ZHANG, Z.; ZHENG, F.; LIU, X. Molecular cloning, characterization

and differential expression of DRK1 in Sporothrix schenckii. Int J Mol Med, v.31,

n.1, p. 99-104, 2013.

ISHIDA, K.; DE CASTRO, R.A.; BORBA DOS SANTOS, L.P.; QUINTELLA,

L.P.; LOPES-BEZERRA, L.M.; ROZENTAL, S. Amphotericin B, alone or

followed by itraconazole therapy, is effective in the control of experimental

83

disseminated sporotrichosis by Sporothrix brasiliensis. Med Mycol, v. 53, n. 1, p.

34-41, 2015.

ITURRIETA-GONZÁLEZ, I.A.; PADOVAN, A.C.B.; BIZERRA, F.C.; HAHN,

R.C.; COLOMBO, A.L. Multiple species oh Trichosporon produce biofilms highly

resistant to triazoles ans amphotericin B. PLoS One, v. 9, n. 10, 2014.

JACOBSEN, E.S. Pathogenic roles for fungal melanins. Clin Microbiol Rev. v. 13,

n. 4, p. 708-717, 2000.

KAUFFMAN, C.A. Sporotrichosis. Clin Infect Dis, v. 30, p. 684-687, 2000.

KAUFFMAN, C.A.; BUSTAMANTE, B.; CHAPMAN, S.W.; PAPPAS, P.G.

Clinical practice guidelines for the management os Sporotrichosis: 2007 Update by

the Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis, v.45, p.1255-1265,

2007.

KAVANAUGH, J.S.; HORSWILL, A.R. Impact of environmental cues on

Staphilococcal quorum sensing and biofilm development. J Biol Chem, v. 291, n.

24, p. 12556-12564, 2016.

KHAO, M.; ZHOU, X.; LIU, T.; YANG, Z. Morphological and phisiological

comparison of taxa comprising the Sporothrix schenckii complex. J Zhejiang Univ,

v. 16, n. 11, p. 940-947, 2015.

KLEIN, B.S.; TEBBETS, B. Dimorphism and virulence in fungi. Curr Opin

Microbiol, v. 10, n. 4, p. 314-319, 2007.

KWON-CHUNG, K.J.; BENNETT, J.E.; Sporotrichosis. Medical Mycology

Pennsylvania, p. 707-729, 1992.

LACERDA, C.M.; MARTINS, E.M.; DE RESENDE, M.A.; DE ANDRADE, A.S.

Gamma radiation effects on Sporothrix schenckii yeast cells. Mycophatologia,

v.171, n.6, p.395-401, 2011.

LANIADO-LABORÍN, R.; CABRALES-VARGAS, M.N.; Amphotericin B: side

effects and toxicity. Rev Iberoam Micol, v. 26, n. 4, p. 223-227, 2009.

84

LATGÉ, J.P. Tasting the fungal cell wall. Cell Microbiol, v.12, n.7, p.863-872,

2010.

LEE, C.Y.; THOMPSON III, G.R.; HASTEY, C.J.; HODGE, G.C.; LUNETTA,

J.M.; PAPPAGIANIS, D.; HEINRICH, V. Coccidioides endospores and spherules

draw strong chemotactic, adhesive, and phagocytic responses by individual human

neutrophils. PLoS One, v. 10, n. 6, 2015.

LIU, G.Y.; NIZET, V. Color me bad: microbial pigments as virulence factors.

Trends Microbiol. v. 17, p. 406-413, 2009.

LLOYD, K.O.; BITOON, M.A. Isolation and purification of a peptide-

rhamnomannan from the yeast form of Sporothrix schenckii. Structural and

immunochemical studies. J. Immunol, v.107, n.3, p.663-671, 1971.

LOPES-BEZERRA, L.M.; SCHUBACH, A.; COSTA, R.O. Sporothrix schenckii

and Sporotrichosis. An Acad Bras Cienc, v.78, n.2, p.293-308, 2006.

LOPES-BEZERRA, L.M. Sporothix schenckii cell wall peptidorhamnomannans.

Front Microbiol, v. 2, 2011.

LURIE, H.I. Five unusual cases of Sporotrichosis from South Africa showing

lesions in muscles, bones and viscera. Brit J of Surg, v.50, n.224, p.585-591, 1963.

LUTZ, A.; SPLENDORE, A. Sobre uma mycose observada em homens e ratos. Ver

Med S Paulo, v.21, p.433-450, 1907.

MACCALLUM, D.M.; COSTE, A.; ISCHER, F.; JACOBSEN, M.D.; ODDS, F.C.;

SANGLARD, D. Genetic dissection of azole resistant mechanism in Candida

albicans and their validation in a mouse model of disseminated infection.

Antimicrob Agents Chemother, v.54. n.4, p.1476-1483, 2010.

MACEDO, P.M.; LOPES-BEZERRA, L.M.; BERNARDES-ENGEMANN, A.R.;

OROFINO-COSTA, R. New posology of potassium iodide for the treatment of

cutaneous sporotrichosis: study of efficacy and safety in 102 patients. J Eur Acad

Dermatol Venereol, v. 29, n. 4, p. 719-724, 2015.

85

MAERTENS, J. History of the development of azoles derivates. Clin Microbiol

Infect, v.10, n.1, p.1-10, 2004.

MAGAND, F.; PERROT, J.L.; CAMBAZARD, F.; RABERIN, M.H.; LABEILLE,

B. Autochthonous cutaneous Sporotrichosis in France. Ann Dermatol Venereol,

v.136, n.3, p.273-275, 2009.

MAHAJAN, V.K. Sporotrichosis: an overview and therapeutical options. Dermat

Res Pract, v. 2014, 13p, 2014.

MAHAJAN, V.K.; MEHTA, K.S.; CHAUHAN, P.S.; GUPTA, R.S.; RAWAT, R.

Fixed cutaneous sporotrichosis treated with topical amphotericin B in an immune

suppressed patient. Med Mycol Case Rep, v. 7, p. 23-25, 2015.

MARIMON, R.; CANO, J.; GENÉ, J.; SUTTON, D.A.; KAWASAKI, M.;

GUARRO, J. Sporothrix brasiliensis, S. globosa, and S. mexicana, three new

Sporothrix species of clinical interest. J Clin Microbiol, v. 45, n. 10, p. 3198-3206,

2007.

MARIO, D.N.; GUARRO, J.; SANTURIO, J.M.; ALVES, S.H.; CAPILLA, J. In

Vitro and In Vivo Efficacy of Amphotericin B Combined with Posaconazole against

Experimental Disseminated Sporotrichosis. Antimicrob Ag Chemother, v. 59, n. 8, p.

5018-5021, 2015.

MARQUES-EVANGELISTA, O.M.; ALMEIDA-PAES, R.; DE MEDEIROS-

MUNIZ, M.; DE LIMA-BARROS, B.M.; GUTIERREZ-GALHARDO, C.M.;

ZANCOPÉ-OLIVEIRA, R.M. Sporotrichosis caused by Sporothrix globosa in Rio

de Janeiro, Brazil: case report. Mycopathologia, v.169, n.5, p.359-363, 2010.

MATHEW, B.P.; NATH, M. Recent approaches to antifungal therapy for invasive

mycosis. Chem Med Chem, v. 4, n. 3, p. 310-323, 2009.

MCGUINNESS, S.L.; BOYD, R.; KIDD, S.; MCLEOD, C.; KRAUSE, V.L.;

RAUPH, A.P. Epidemiological investigation of an outbreak of cutaneos

Sporotrichosis, Northern Territory, Australia. BMC Infect Dis, v.16, n.16, 2016.

86

MEDOFF, G.; KOBAYASHI, G.S.; PAINTER, A.; TRAVIS, S. Morphogenesis

and pathogenicity of Histoplasma capsulatum. Infect Immun, v.55, n.6, p.1355-

1358, 1987.

MENDOZA, M.; ALVARADO, P.; DÍAZ DE TORRES, E.; LUCENA, L.; DE

ALBORNOZ, M.C. Comportamiento fisiológico y de sensibilidad in vitro de

aislamientos de Sporothrix schenckii mantenidos 18 años por dos métodos de

preservación. Rev Iberoam Micol, v. 22, n. 3, p. 151-156, 2005.

MILLER, M.B.; BASSLER, B.L. Quorum sensing in bacteria. Ann Review

Microbiol. v. 55, p. 165-199, 2001.

MITCHELL, K.F.; ZARNOWSKI, R.; ANDES, D.R.; The Extracellular Matrix of

Fungal Biofilms. Adv Exp Med Biol, v. 931, p. 21-35, 2016.

MOHR, J.; JOHNSON, M.; COOPER, T.; LEWIS, J.S.; OSTROSKY-ZEICHNET,

L. Current options in antifungal pharmacotherapy. Pharmacotherapy, v. 28, n. 5, p.

614-645, 2008.

MOUDGAL, V.V.; SOBEL, J.D. Antifungal drugs in pregnancy: a review. Expert

Opin Drug Saf, v. 2, n. 5, p. 475-483, 2003.

NICHOLLS, S.; MACCALLUN, D.M.; KAFFARNIK, F.A.; SELWAY, L.; PECK,

S.C.; BROWN, A.J. Activation of the heat shock transcription factor Hsf1 is

essential for the fungal virulence of the fungal pathogen Candida albicans. Fungal

Genet Biol, v. 48, n. 3, p. 297-305, 2011.

NIIMI, M.; FIRTH, N.A.; CANNON, R.D. Antifungal drug resistence of oral fungi.

Odontology. V. 98, n. 1, p. 15-25, 2010.

NUNES, G.D.L.; CARNEIRO, R.S.; FILGUEIRA, F.G.F.; FERNANDES, T.H.T.

Esporotricose felina no município de Itaporanga. Arq Cien Vet Zoo, v.14, n.2, p.157-

161, 2011.

OLIVEIRA, D.C.; LOPES, P.G.M.; SPADER, T.B.; MAHL, C.D.; TRONCO-

ALVES, G.R.; LARA, V.M.; SANTURIO, J.M.; ALVES, S.H. Antifungal

87

susceptibilities of Sporothrix albicans, S. brasiliensis, and S. luriei of the S.

schenckii complex identified in Brazil. J Clin Microbiol, v. 49, n. 8, p. 3047-3049,

2011.

OLIVEIRA, M.M.; SANTOS, C.; SAMPAIO, P.; ROMEO, O.; ALMEIDA-PAES,

R.; PAIS, C.; LIMA, N.; ZANCOPÉ-OLIVEIRA, R.M. Development and

optimization of a new MALDI-TOF protocol for identification of

the Sporothrix species complex. Res Microbiol, vol. 166, n. 2, p. 102-110, 2014.

OLIVEIRA, D.C.; LORETO, E.S.; MARIO, D.A.N.; LOPES, P.G.M.; NEVES,

L.V.; ROCHA, M.P.; SANTURIO, J.M.; ALVES, S.H. Sporothrix schenckii

complex: susceptibilities to combined antifungal agents and characterization of

enzymatic profiles. Rev Inst Med Trop Sao Paulo, v. 57, n. 4, p. 289-294, 2015.

PAIXÃO, A.G.; GALHARDO, M.C.; ALMEIDA-PAES, R.; NUNES, E.P.;

GONÇALVES, M.L.; CHEQUER, G.L.; LAMAS CDA, C.; The difficult

management of disseminated Sporothrix brasiliensis in a patient with advanced aids.

AIDS Res Ther, v.12, n.16, 2015.

PEREIRA, S.A.; GREMIÃO, I.D.; KITADA, A.A.; BOECHAT, J.S.; VIANA,

P.G.; SCHUBACH, T.M. The epidemiological scenario of feline sporotrichosis in

Rio de Janeiro, State of Rio de Janeiro, Brazil. Rev Soc Bras Med Trop, v.47, n.3,

p.392-393, 2014.

PÉREZ-SANCHEZ, L.; GONZÁLEZ, E.; CÓLON-LORENZO, E.E.;

GONZÁLEZ-VELAZQUEZ, W.; GONZÁLEZ-MÉNDEZ, R.; RODRÍGUEZ-DEL

VALLE, N.; Interaction of the heterotrimeric G protein alpha subunit SSG-1 of

Sporothrix schenckii with proteins related to stress response and fungal

pathogenicity using a yeast two-hybrid assay. bmc Microbiol, v. 10, n. 317, 2010.

PERUMAL, P.; MEKALA, S.; CHAFFIN, W.L. Role of cell density in antifungal

drug resistence in Candida albicans biofilms. Antimicrob Agents and

Chemotherapy. v. 51, n. 7, p. 2454-2463, 2007.

PIERCE, C.G.; UPPULURI, P.; TRISTAN, A.R.; WORMLEY, F.L.; MOWAT, E.;

RAMAGE, G.; LOPEZ-RIBOT, J.L. A simple and reproducible 96-well plate-based

88

method for the formation of fungal biofilms and its application to antifungal

susceptibility testing. Nat Protoc, v. 3, n. 9, p. 1494-1500, 2008.

PITANGUI, N.S.; SARDI, J.C.O.; SILVA, J.F.; BENADUCCI, T.; MORAES DA

SILVA, R.A.; RODRÍGUEZ-ARELLANES, G.; TAYLOR, M.L.; MENDES-

GIANNINI, M.J.S.; FUSCO-ALMEIDA, A.M. Adhesion of Histoplasma

capsulatum to pneumocytes and biofilm formation on an abiotic surface. Biofouling,

v. 28, n. 7, p. 711-718, 2012.

PJIPER, A.; PULLINGER, B.D. An outbreak of Sporotrichosis among South

African native miners. The Lancet, v.210, n.5435, p.914-916, 1927.

PUPO, J.A. Frequência da Sporotrichose em São Paulo. Annaes Paulista de Med e

Cirurgia, v. 8, n. 3, p. 53-68, 1917.

RAMAGE, G.; MARTÍNEZ, J. P.; LÓPEZ-RIBOT, J. L. Candida biofilms on

implanted biomaterials: a clinically significant problem. FEMS Yeast Res, v. 6, n. 7,

p. 979-986, 2006.

RAMAGE, G.; RAJENDRAN, R.; SHERRY, L.; WILLIAMS, C. Fungal biofilm

resistance. Int J Microbiol, v. 2012, 2012.

RAMÍREZ-SOTO, M.C. Sporotrichosis: The Story of an endemic region in Peru

over 28 years (1985 to 2012). PLoS ONE, v.10, n.6, 2015.

REED, K.D.; MOORE, F.M.; GEIGER, G.E.; STEMPER, M.E. Zoonotic

Transmission of Sporotrichosis: Case Report and Review. Clin Infect Dis, v.16,

p.384-387, 1993.

ROBERTS, C.G. The role of biofilms in reprocessing medical devices. Am J Infect

Control, v. 41, n. 5, p. S77-80, 2013.

RODRIGUES, A.M.; CRUZ CHOAPPA, R.; FERNANDES, G.F.; DE HOOG,

G.S.; DE CAMARGO, Z.P. Sporothrix chilensis sp. nov. (Ascomycota:

Ophiostomatales), a soil-borne agent of human sporotrichosis with mild-pathogenic

potential to mammals. Fungal Biol, v.120. n. 2, p. 246-264, 2016.

89

RODRIGUES, A.M.; DE HOOG, S.; DE CARMARGO, Z.P. Emergence of

pathogenicity in the Sporothrix schenckii complex. Med Mycol, v. 51, n. 4, p. 405-

412, 2013a.

RODRIGUES, A.M.; DE HOOG, S.; DE CARMARGO, Z.P. Molecular diagnosis

oh pathogenic Sporothrix species. PLoS Negl Trop Dis, v. 9, n. 12, 2015.

RODRIGUES, A.M.; DE HOOG, G.S.; PIRES, D.C.; BRILHANTE, R.S.N.;

SIDRIM, J.J.C.; GADELHA, M.F.; COLOMBO, A.L.; DE CAMARGO, Z.P.

Genetic diversity and antifungal susceptibility profiles in causative agents of

Sporotrichosis. BMC Infect Dis, v.14, n.219, 2014.

RODRIGUES, A.M.; DE MELO TEIXEIRA, M.; DE HOOG, G.S.; SCHUBACH,

T.M.; PEREIRA, S.A.; FERNANDES, G.F.; BEZERRA, L.M.; FELIPE, M.S.; DE

CAMARGO, Z.P. Phylogenetic analysis reveals a high prevalence of Sporothrix

brasiliensis in feline sporotrichosis outbreaks. PLoS Negl Trop Dis, v. 7, n. 6,

e2281, 2013b.

RODRIGUEZ-CABAN, J.; GONZALEZ-VELAZQUEZ, W.; PÉREZ-SÁNCHEZ,

L.; GONZALEZ-MENDEZ, R.; RODRIGUEZ-DEL VALLE, N.

Calcium/calmodulin kinase1 and its relation to thermotolerance and HSP90 in

Sporothrix schenckii: an RNAi and yeast two-hybrid study. BMC Microbiol, v.11,

n.162, 2011.

ROMEO, O.; CRISEO, G. What lies beyond genetic diversity in Sporothrix

schenckii species complex? New insights into virulence profiles, immunogenicity

and protein secretion in S. schenckii sensu stricto isolates. Virulence, v. 4, n. 3, p.

203-206, 2013.

RUIZ-BACA, E. TORIELLO, C.; PEREZ-TORRES, A.; SABANERO-LOPEZ, M.;

VILLAGOMEZ-CASTRO, J.C.; LOPEZ-ROMERO, E. Isolation and some

properties of a glycoprotein of 70 kDa (Gp70) from the cell wall of Sporothrix

schenckii involved in fungal adherence to dermal extracellular matrix. Med Mycol,

v.47, v.2, p.185-96, 2009.

90

RUIZ-BACA, E.; MORA-MONTES, H.M.; LÓPEZ-ROMERO, E.; TORIELLO,

C.; MOJICA-MARÍN, V.; URTIZ-ESTRADA, N.; 2D-immunoblotting analysis of

Sporothrix schenckii cell wall. Mem Inst Oswaldo Cruz, v.106, n.2, p.248-250,

2011.

SÁNCHEZ-HERRERA, R.; FLORES-VILLAVICENCIO, L.L.; PADILLA-

GUERRERO, I.; BARBOSA-SABANERO, G.; SABANERO-LÓPEZ, M.

Formación de biopelículas en el hongo patógeno Sporothrix schenckii: desarrollo,

arquitectura y características bioquímicas. Acta Universitaria, v.24, n. NE-2, p. 11-

15, 2014.

SARDI, J.C.O.; PITANGUI, N.S.; VOLTAN, A.R.; BRAZ, J.D.; MACHADO,

M.P.; FUSCO ALMEIDA, A.M.; GIANNINI, M.J.S.M. In vitro Paracoccidioides

brasiliensis biofilm and gene expression of adhesins and hydrolytic enzymes.

Virulence, v. 6, n. 6, p. 642-651, 2015.

SASAKI, A.A.; FERNANDES, G.F.; RODRIGUES, A.M.; LIMA, F.M.; MARINI,

M.M.; DOS S FEITOSA, L.; DE MELO TEIXEIRA, M.; FELIPE, M.S.; DA

SILVEIRA, J.F.; DE CAMARGO, Z.P. Chromosomal polymorphism in the

Sporothrix schenckii complex. PLoS ONE, v. 9, n. 1, e86819, 2014.

SCHENCK, B.R. On refractory subcutaneous abcess caused by a fungus possibly

related to the Sporotricha. Bull. Johns Hopkins Hosp. v.9, p. 286-290, 1898.

SELEEM, D.; BENSO, B.; NOGUTI, J.; PARDI, V.; MURATA, R.M. In vitro and

in vivo antifungal activity of Linchochalcone-A against Candida albicans biofilms.

PLoS One, v. 11, n. 6, 2016.

SENGUPTA, J.; SAHA, S.; KHETAN, A.; SARKAR, S.K.; MANDAL, S.M.

Effects of lactoferricin B against keratitis-associated fungal biofilms. J Infect

Chemother, v. 18, n. 5, p. 698-703, 2012.

SGARBI, D.B.G.; SILVA, A.J.R.; CARLOS, I.Z.; SILVA, C.L.; ANGLUSTER, J.;

ALVIANO, C.S. Isolation of ergosterol peroxide and its reversion to ergosterol in

pathogenic fungus Sporothrix schenckii. Mycopathologia, v.139, n.1, p.9-14, 1997.

91

SHEPARDSON, K.M.; CRAMER, R.A. Fungal cell wall dynamics and infection

site microenvironments: signal integration and infection outcome. Curr Opin

Microbiol, v. 16, n. 4, p. 385-390, 2013.

SILVA, S.; NEGRI, M.; HENRIQUES, M.; OLIVEIRA, R.; WILLIAMS, D.W.;

AZEREDO, J. Adherence and biofilm formation on non-Candida albicans Candida

species. Trends Microbiol, v. 19, n. 5, p. 241-247, 2011.

SILVA, M.B.T.; COSTA, M.M.M.; TORRES, C.C.S.; GALHARDO, M.C.G.;

VALLE, A.C.F.; MAGALHÃES, M.A.F.M.; SABROZA, P.C; OLIVEIRA, R.M.;

Urban sporotrichosis: a negleted epidemic in Rio de Janeiro, Brazil. Cad Saude

Publ, v.28, n.10, p.1867-1880, 2012.

SILVA-VERGARA, M.L.; DE CAMARGO, Z.P.; SILVA, P.F.; ABDALLA, M.R.;

SQARBIERI, R.N.; RODRIGUES, A.M.; DOS SANTOS, K.C.; BARATA, C.H.;

FERREIRA-PAIM, K. Disseminated Sporothrix brasiliensis infection with

endocardial and ocular involvemente in na HIV-infected patient. Am J Trop Med

Hyg, v.86, n.3, p.477-480, 2012.

SMEGO, R.A. Jr.; CASTIGLIA, M.; ASPERILLA, M.O. Lymphocutaneous

syndrome: a review of non-Sporothrix causes. Medicine (Baltimore), v. 78, n. 1, p.

38-63, 1999.

SONG, Y., LI, S.S.; ZHONG, S.X.; LIU, Y.Y.; YAO, L.; HUO, S.S. Report of 457

sporotrichosis cases from Jilin province, northeast China, a serious endemic region.

Journ Eur Acad Dermatol Venereol, v.27. n.3, 313-318, 2013.

STEENBERGEN , J.N.; NOSANCHUK, J.D.; MALLIARIS, S.D.;

CASADEVALL, A. Interaction of Blastomyces dermatitidis, Sporothrix schenckii

and Histoplasma capsulatum with Acanthamoeba castellanii. Infect Immun. v. 72, n.

6, 3478-3488, 2004.

STERLING, J.B.; HEYMANN, W.R. Potassium iodide in dermatology: a 19th

century drug for the 21st century uses, pharmacology, adverse effects and

contraindications. J Am Acad Dermatol, v.43, n.4, p.691-697, 2000.

92

TABORDA, C.P.; SILVA, M.B.; NOSANCHUK, J.D.; TRAVASSOS, L.R.

Melanin as a virulence factor of Paracoccidioides brasiliensis and other dimorphic

pathogenic fungi: a minireview. Mycopathologia. v. 165, n.4-5, p. 331-339, 2008.

TAFF, H.T; NETT, J.E.; ZARNOWSKY, R.; ROSS, K.M.; SANCHEZ, H.; CAIN,

M.T.; HAMAKER, J.; MITCHELL, A.P., ANDES, D.R. A Candida biofilm-

induced pathway for matrix glucan delivery: implications for drug resistance. PLoS

Pathog, v. 8, n. 8, e1002848, 2012.

TEIXEIRA, P.A.; DE CASTRO, R.A.; NASCIMENTO, R.C.; TRONCHIN, G.;

TORRES, A.P.; LAZÉRA, M.; DE ALMEIDA, S.R.; BOUCHARA, J.P.;

LOUREIRO Y PENHA, C.V.; LOPES-BEZERRA, L.M.; Cell surface expression of

adhesins for fibronectin correlates with virulence in Sporothrix schenckii.

Microbiology, v. 155, n. Pt11, 2009.

TEIXEIRA, M.M.; ALMEIDA, L.G.P.; KUBITSCHEK-BARREIRA, P.; ALVES,

F.L.; KIOSHIMA, E.S.; ABADIO, A.K.R.; FERNANDES, L.; DERENGOWSKI,

L.S.; FERREIRA, K.S.; SOUZA, R.C.; RUIZ, J.C.; ANDRADE, N.C.; PAES, H.C.;

NICOLA, A.M.; ALBUQUERQUE, P.; GERBER, A.L.; MARTINS, V.P.;

PECONICK, L.D.F.; NETO, A.V.; CHAUCANEZ, C.B.; SILVA, P.A.; CUNHA,

O.L.; OLIVEIRA, F.F.M.; SANTOS, T.C.; BARROS, A.L.N.; SOARES, M.A.;

OLIVEIRA, L.M.; MARINI, M.M.; VILLALOBOS-DUNO, H.; CUNHA, M.M.L.;

DE HOOG, S.; SILVEIRA, J.F.; HENRISSAT, B.; NIÑO-VEGA, G.; CISALPINO,

P.S.; MORA-MONTES, H.M.; ALMEIDA, S.R.; STAJICH, J.E.; LOPES-

BEZERRA, L.M.; VASCONCELOS, A.T.R.; FELIPE, M.S.S. Comparative

genomics of the major fungal agents of human and animal Sporotrichosis:

Sporothrix schenckii and Sporothrix brasiliensis. BMC Genomics, v. 15, n. 943,

2014.

TÉLLEZ, M.D.; BATISTA-DUHARTE, A.; PORTUONDO, D.; QUINELLO, C.;

BONNE-HERNÁNDEZ, R.; CARLOS, I.Z. Sporothrix schenckii complex biology:

environment and fungal pathogenicity. Microbiology, v. 160, n. Pt11, p. 2352-2365,

2014.

93

TORRES-GUERRER, H.; ARENAS-LÓPEZ, G. UV irradiation induced high

frequency of colonial variants of altered morphology in Sporothrix schenckii. Med

Mycol, v.36, n.2, p.81-87, 1998.

TORRES-MENDONZA, B.M.; VÁSQUEZ-VALLS, E.; GONZÁLEZ-

MENDONZA, A. Effect of potassium iodide on the immune response in the

sporotrichosis. Rev Iberoam Micol, v.14, n.3, p.98-100, 1997.

TOURNU, H.; VAN DIJCK, P. Candida biofilms and the host: models and new

concepts for erradication. Int J Microbiol, v. 2012, 16p., 2012.

TRAVASSOS, L.R.; LLOYD, K.O. Sporothrix schenckii and related species of

Ceratocystis. Microbiol Rev, v.44, n.4, p.683-721, 1980.

TRONCHIN, G.; PIHET, M.; LOPES-BEZERRA, L.M.; BOUCHARA, J.O.

Adherence mechanisms in human pathogenic fungi. Med Mycol, v.46, n.8, p.749-

772, 2008.

VALENTÍN-BERRÍOS, S.; GONZÁLEZ-VELÁZQUEZ, W.; PÉREZ-SÁNCHEZ,

L.; GONZÁLEZ-MÉNDEZ, R.; RODRIGUEZ-DEL VALLE, N. Cytosolic

phospholipase A2: a member of the signalling pathway of new G protein α subunit

in Sporothrix schenckii. BMC Microbiol, v.9, n.100, 2009.

VALENTINI, M.; FILLOUX, A. Biofilms and c-di-GMP signaling: lessons from

Pseudomonas aeruginosa and other bacteria. J Biol Chem, v. 291, n. 24, p. 12547-

12555, 2016.

VALLE-AVILES, L.; VALENTIN-BERRIOS, S.; GONZÁLEZ-MENDEZ, R.R.;

RODRIGUEZ-DEL VALLE, N. Functional genetic and bioinformatic

characterization of a calcium/calmodulin kinase gene in Sporothrix schenckii. BMC

Microbiol, v.7, n.107, 2007.

VANDEN BOSSCHE, H.; KOYMANS, L.; MOEREELS, H. P450 inhibitors of use

in medical treatment: focus on mechanism of action. Pharmac Ther, v.67, n.1, p.79-

100, 1995.

94

WALSH, T.J.; ANAISSIE, E.J.; DENNING, D.W.; HERBRECHT, R.;

KONTOYIANNIS, D.P.; MARR, K.A.; MORRISON, V.A.; SEGAL, B.H.;

STEINBACH, W.J.; STEVENS, D.A.; VAN BURIK, J.A.; WINGARD, J.R.;

PATTERSON, T.F. Treatment of Aspergillosis: Clinical Practice Guidelines of

Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis, v.46, n.3, p.327-60, 2008.

WANG, X.H.; LI, R.Y.; CAO, C.W.; WANG, Y.H.; LIU, W.; QIAO, J.J.; LI, Y.Z.

Differential mRNA expression of Sporothrix schenckii catalase gene in two growth

phases and effects factors. Chin Med J (Engl), v. 121, n. 20, p. 2100-2102, 2008.

WEN-LING, W.; RONG-YA, Y.; JUN-HONG, A.O. Uncommon characteristics of

the structure and development of Trichosporon asahii. Chin Med Journ, v. 122, n.

15, p. 1806-1810, 2009.

WILLIAMS, C.; RAJENDRAN, R.; RAMAGE, G. Aspergillus biofilms in human

disease. Adv Exp Med Biol, 2016.

YAMADA, K.; ZAITZ, C.; FRAMIL, V.M.S.; MURAMATU, L.H. Tratamento da

esporotricose cutânea com SSKI: experiência de 24 anos no estado de São Paulo,

Brasil. Rev Inst Med Trop, v. 53, n.2, p.89-93, 2011.

YEGNESWARAN, P.P.; SRIPATHI, H.; BAIRY, I.; LONIKAR, V.; RAO, R.;

PRABHU, S. Zoonotic Sporotrichosis of lymphocutaneous type in a man acquired

from a domesticated feline source: report of a first case in southern Karnataka,

India. Int J Dermatol, v.48, n.11, p.1198-1200, 2009.

ZHAO, M.; ZHOU, X.; LIU, T.; YANG, Z. Morphological and physiological

comparison of taxa comprising the Sporothrix schenckii complex. J Zhejiang Univ

Sci B, v. 16, n. 11, 2015.

ZHOU, X.; RODRIGUES, A.M.; FENG, P.; DE HOOG, G.S. Global ITS diversity

in the Sporothrix schenckii complex. Fungal Diversity, v. 66, n. 1, p. 153-165, 2014.

95

ANEXO A – PUBLICAÇÃO ORIGINADA A PARTIR DA DISSERTAÇÃO

Antifungal susceptibility of Sporothrix spp. in biofilm form

Raimunda Sâmia Nogueira Brilhante¹*

Felipe Rodrigues Magalhães de Aguiar¹

Maria Lucilene Queiroz da Silva¹

Jonathas Sales de Oliveira¹

Zoilo Pires de Camargo3

Anderson Messias Rodrigues3

Vandbergue Santos Pereira¹

Rosana Serpa¹

Débora Castelo Branco de Sousa Colares¹

Edmilson Emanuel Monteiro Correia¹

Waldemiro Aquino Pereira Neto¹

Rossana de Aguiar Cordeiro¹

Marcos Fábio Gadelha Rocha1,2

José Júlio Costa Sidrim¹.

¹Specialized Medical Mycology Center, Postgraduate Program in Medical Microbiology, Department of

Pathology and Legal Medicine, Federal University of Ceará, Fortaleza, Ceará, Brazil.

²College of Veterinary Medicine, Postgraduate Program in Veterinary Sciences, State University of

Ceará, Fortaleza, Ceará, Brazil.

3Department of Microbiology, Immunology and Parasitology, Cellular Biology Division, Federal

University of São Paulo, São Paulo, Brazil

RESUMO

A esporotricose é a micose subcutânea cosmopolita mais comumente encontrada em áreas tropicais e

subtropicais da América Latina, sendo causada por espécies do complexo Sporothrix schenckii. As

espécies relacionadas à esporotricose são S. brasiliensis, S. schenckii sensu stricto, S. globosa e S.

mexicana. O objetivo deste estudo foi avaliar a sensibilidade dos biofilmes com complexo Sporothrix

schenckii frente às drogas antifúngicas. Para tanto, inicialmente investigou-se a capacidade de fungos

do complexo S. schenckii produzir biofilmes in vitro, e, a seguir, determinou-se a influência da exposição

a concentrações crescentes (MIC da forma planctônica, 10xMIC e 50xMIC) de anfotericina B (AMB),

caspofungina (CAS), cetoconazol (KTC), voriconazol (VRC) e fluconazol (FLC) na biomassa e atividade

metabólica destes biofilmes, mensurada através de ensaios de cristal violeta e XTT, respectivamente.

Após a formação dos biofilmes do complexo S. schenckii, os mesmos foram levados à microscopia óptica

para visualização através da coloração por vermelho-congo, assim como para microscopia eletrônica de

varredura e microscopia confocal. Através das análises de absorbância da biomassa produzida pelos

96

biofilmes maduros, os mesmos foram classificados como não formadores, fracos ou fortes formadores de

biofilmes, de acordo com a quantidade de biomassa produzida. Após a transferência do inóculo fúngico

para poços de placas de poliestireno, incubou-se por 24 horas a 25 °C para a adesão das células à

superfície, passo inicial para a formação dos biofilmes. Depois de 24 horas, o sobrenadante foi retirado e

acrescentou-se meio RPMI 1640 e incubou-se por 120 horas para a maturação do biofilme. Após esse

período, a biomassa foi lida em espectrofotômetro e verificou-se que todas as espécies do complexo S.

schenkii são fortes formadoras de biofilme, não havendo diferença de formação entre as espécies. Os

biofilmes foram analisados por microscopia e percebeu-se a presença de uma densa rede de hifas e

conídios, entrelaçados entre si e imersos em matriz. A presença de canais de água, por onde os fluidos

transportam as substâncias necessárias e produzidas pelas células sésseis. A absorbância dos biofilmes de

cepas de S. brasiliensis (n=10), S. schenckii sensu stricto (n=2), S. globosa (n=2) e S. mexicana (n=4)

após exposição às drogas demonstrou que a AMB e CAS em concentrações de 50xMIC foram capazes de

reduzir significativamente a biomassa e a atividade metabólica dos biofilmes de todas as espécies e KTC,

na mesma concentração, somente não mostrou redução na biomassa do biofilme S. schenckii s. str. A

concentração encontrada para os MICs planctônicos somente conseguiu reduzir a biomassa dos biofilmes

de S. mexicana com VRC e KTC e S. brasiliensis com FLC e CAS, assim como a atividade metabólica

somente dos biofilmes de S. brasiliensis com AMB e KTC. Os antifúngicos utilizados nos testes de

sensibilidade demonstraram redução na atividade metabólica dos biofilmes somente em concentrações

bem acima dos MICs encontrados nas células planctônicas, demonstrando que, entre as mesmas espécies,

há diferença positiva na proteção que o biofilme demonstra contra as drogas antifúngicas em relação à

forma planctônica, mesmo em concentrações mais altas.