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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” Um Panorama da Imagem Corporal Por: Cristina Wirz Moreira Orientador Profa. Ms. Fátima Alves Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

Um Panorama da Imagem Corporal

Por: Cristina Wirz Moreira

Orientador

Profa. Ms. Fátima Alves

Rio de Janeiro

2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Um Panorama da Imagem Corporal

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada

como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Psicomotricidade.

Por : Cristina Wirz Moreira

AGRADECIMENTOS

Ao meu grande amigo e professor:

Felismar Manoel

DEDICATÓRIA

Ao meu grande amigo e professor:

Felismar Manoel

RESUMO

Numa visão panorâmica e abrangente, analisamos a imagem corporal do

sujeito considerando-o em sua instância consciente e inconsciente. Há muitos

fatores que podem influenciar a construção e reconstrução desta imagem

corporal. Para tanto, é necessário estudarmos também, os conceitos referentes

à estrutura dessa imagem. Então, quando falamos de corpo, relacionando-o

com a imagem corporal, em especial na área da psicomotricidade e

psicanálise, averiguamos a existência de vários "corpos" no corpo cuja imagem

se constitui, vivencia e pode se modificar. O esquema corporal é o lugar onde

esta imagem está inscrita. Os chamados "corpos" são conceitos bem definidos

por alguns autores, do desenvolvimento dessa imagem. São corpos atuantes e

que crescem em grau de complexidade conforme as fases de desenvolvimento

humano. Assim, nos referimos a corpo vivido, representado, percebido e corpo

próprio no cerne deste trabalho. É necessário também, percebermos como se

desenvolve nesta imagem corporal, as complicações que podem comprometê-

la e a reeducação psicomotora para ajudar na reabilitação desta imagem

corporal. E observarmos neste contexto, a importância de devolver a harmonia

e o equilíbrio entre a imagem corporal, o esquema corporal no corpo próprio

para melhor expressão e compreensão do ser no mundo

METODOLOGIA

A metodologia utilizada a que se destina a elaboração do presente trabalho

foi descrita de referência bibliográfica, na intenção elucidativa ao leitor.

As pesquisas se deram em livros referentes à área da psicomotricidade em

sua maioria. Foram usados também alguns livros de psicanálise.

A intenção de estabelecer definições bem detalhadas nos subtítulos é para

facilitar o leitor quanto ao foco da questão a ser examinada, sem que haja

confusão entre termos no corpo da leitura.

O corpo da pesquisa está dividido em três capítulos, sendo o primeiro mais

voltado para uma definição em torno dos termos. O segundo dá um

detalhamento do assunto e o terceiro, exemplificação de propostas de ação

sobre o tema pesquisado.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Contexto da Imagem

Corporal e Conceitos

Relacionados 11

CAPÍTULO II - Desenvolvimento da Imagem

Corporal no Esquema corporal

E suas Percepções. 22

CAPÍTULO III - Exemplos de Alterações

Da Imagem Corporal e

Reeducação Psicomotora. 33

CONCLUSÃO 44

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45

ÍNDICE 46

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INTRODUÇÃO

A abrangência com que a imagem corporal pode ser analisada é fator relevante. Haja visto seu papel fundamental e comprometedor na formação e manutenção da estima pessoal, da identidade... Ela nos posiciona, nos registra e nos identifica, diante da nossa participação no mundo e inevitavelmente é expressão ser no meio. Ela nos representa diante do outro e, sobretudo, diante de nós mesmos.

A imagem corporal, é a representação mental do próprio corpo (Shilder, 1994).Os fatores que atuam sobre a imagem corporal, são dinâmicos, complexos e orgânicos entre si. O desenvolvimento biológico,o neurológico, o psicomotor,o psicológico, as intervenções do meio ambiente, da cultura e outros fatores, influenciam , tanto na instância consciente como na inconsciente para a construção dessa imagem corporal.

Quando tratamos de imagem corporal, o objeto é o próprio corpo. Um objeto que está em constante processo de formação e modificação. Um objeto que medeia em sua existência, todos os objetos relacionais do indivíduo. A forma e, a intensidade de cada modificação vem sendo sustentada pelas circunstâncias de cada existência.

Segundo Le Boulch,(1982,p.15) a imagem do corpo, representa uma forma de equilíbrio entre as funções psicomotoras e a sua maturidade. Ela não corresponde só a uma função, mas sim, a um conjunto funcional, cuja finalidade é favorecer o desenvolvimento.

A imagem do corpo, enquanto centro da personalidade, vive através das relações do organismo e do meio, que por sua vez, agem de forma mútua.

O espaço gera estímulos que, através de nossas capacidades sensório-motoras, nos chegam como impulsos que resultam em impressões perceptivas da imagem corporal. Essas impressões, são alteradas em sua sensação final, porque a consciência está sempre carregada de relação com fatos que aconteceram anteriormente, ou seja, carregada de impressões anteriores.

Podemos examinar isso na afirmação de Head, descrita no livro, A Imagem do Corpo (Paul Schilder, 1999, p.8):

“Por meio de perpétuas alterações de posição, estamos sempre construindo um modelo postural de nós

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mesmos que se modifica constantemente. Cada nova postura ou movimento é registrado nesse esquema plástico e a atividade cortical cria uma relação com cada novo grupo de sensações evocadas pela postura alterada.O reconhecimento postural imediato acontece tão logo a relação esteja completa.”

Elenca-se aí, a importância das possíveis transformações que podem ocorrer sobre a imagem corporal, através da conscientização corporal pela reeducação psicomotora.

A pesquisa do presente trabalho, trata o assunto da imagem corporal dividindo-o em três capítulos:

Capítulo I - Contexto da Imagem Corporal e Conceitos Relacionados:

Explana sobre os conceitos de Imagem corporal, de esquema corporal, de percepção, inclusive em nível neurológico, e a relação entre eles para buscar compreender o tema, em seu nível de profundidade e abstração que o mesmo oferece.

Capítulo II Desenvolvimento da Imagem Corporal no Esquema Corporal e suas Percepções:

Este módulo concorre para as etapas do desenvolvimento humano e o crescimento concomitante da imagem corporal em sua formação. Aborda também, como percebemos a postura, a face, a superfície, os orifícios, a massa e o peso.

Capítulo III - Exemplos de Alterações da Imagem Corporal e Reeducação Psicomotora:

Confere alguns exemplos, de origem consciente e/ou inconscientes que modificam essa imagem mental da pessoa sobre si e nesse esquema corporal. Geralmente, são resultantes de ordem patológica.

Relata também, exemplos de reeducação psicomotora para a reconstrução de uma imagem satisfatória, beneficiando a pessoa.

Estudar a imagem corporal exige um mergulho em si mesmo, um contato consigo mesmo, exige reconhecer sensações de conforto e desconforto, que em primeira instância parecem vir de fora, mas que brotam de nosso corpo ! Nós somos uma expressão no mundo mas, não somos o mundo. Simplesmente somos esse corpo. Esse reconhecimento é ponto inicial para

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compreendermos e trabalharmos com foco no desenvolvimento, educação, reeducação, ou até mesmo aprimoramento da imagem corporal.

A imagem corporal é dinâmica e singular ao mesmo tempo.

As manifestações diversas e a forma como flutuam as imagens relacionadas ao corpo, são características da própria imagem corporal.

A imagem corporal na sua relação estreita com o esquema corporal, se apresenta de maneira particular para cada pessoa e em cada momento específico da vida porque é uma dinâmica que se expressa todo o tempo.

Numa visão panorâmica, podemos dimensionar fatores importantes que compõem o cenário da imagem corporal.

Nessa visão panorâmica, inclui-se contexto, conceitos, desenvolvimento, detalhes perceptivos, exemplos de alterações e modos de tratamento.

Há um contexto junto ao esquema corporal em que a imagem corporal está inserida, que não pode ser ignorado pelos estudantes da área. E que pode ser examinado cientificamente, considerando-se aí, a neurofisiologia, a psicanálise, a psiquiatria... Certamente, faz-se necessário, para compreendê-la de modo mais amplo.

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CAPÍTULO I

CONTEXTO DA IMAGEM CORPORAL E CONCEITOS RELACIONADOS

A questão da Imagem corporal, não é tão simples quanto possa parecer. Há muito ainda o que descobrir a respeito do tema.

Muitos profissionais das áreas da psicomotricidade, da psicologia, da psicanálise, da psiquiatria, da neurologia e outras afins que trabalham com a mente e o corpo, tem se confundido quanto aos conceitos entre imagem corporal, esquema corporal e consciência corporal. Muitos não sabem, e/ou não buscam saber.

Ao que me parece, "há uma linha muito tênue" entre certas definições. Por exemplo, a diferença entre sensibilidade e percepção. A primeira vista, parece muito semelhante, mas ao estudarmos, encontramos os fatores que as diferenciam.

Em realidade pouco sabemos sobre a abrangência, os desdobramentos e o impacto destas questões nas vivencias do corpo e da mente das pessoas no dia a dia.

Procurar o limite entre elas pode parece muito pragmático, por um lado. Mas por outro, ainda temos muito a aprender, nos debruçando sobre esses temas, preferencialmente com um olhar interdisciplinar e multidisciplinar, onde essas áreas possam se reunir em torno desses temas.

1.1- O Corpo Enquanto Morada do Ser

As várias dimensões do ser vinculam-se entre si e com o meio. Não podemos pensar em corpo sem observar as circunstâncias em que ele se integra, interage e se organiza no processo de sua existência. Para Celso Sanchez (2011), autor do livro: Ecologia do Corpo, nós não podemos ignorar esta realidade:

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"Em primeiro lugar nossa espécie é essencialmente social, o Homo Sapiens sapiens constituiu-se plenamente como tal apenas em grupo. A experiência evolutiva de nossa espécie marcou nossa trajetória com a experiência em grupos e bandos. Em segundo lugar, é preciso pensar que somos determinados por nossa estrutura, pois ela regula, restringe, limita e possibilita diferentes formas de relação com o meio externo. Em outras palavras, a estrutura de cada ser vivo está, constantemente, buscando acoplar-se com o meio em que vive, adaptar-se a ele e, para tal, modifica-se ao mesmo tempo em que modifica o próprio meio. Mesmo antes do nascimento, exercemos este acoplamento com nossas mães. O útero materno é uma espécie de segundo meio ambiente primordial. Constitui-se no espaço onde nosso corpo está sendo formado em constante interação com este meio."(SANCHEZ, 2011, p.19)

Quando pensamos em dimensões do ser, podemos também pensar em dimensões do corpo, como sendo sinônimo. Porque o ser só pode se manifestar e se constituir, pelo corpo que é expressão a si mesmo; desse ser, no meio. Portanto, estamos nos referindo a sua dimensão da corporeidade. Nesta conjectura, não estaria certo pensar: "eu tenho um corpo." E sim, pensar: "eu sou um corpo."

Outro ponto de fundamental importância é ressaltarmos essa corporeidade relacionada com o que Celso Sanchez chama de "ecologia do corpo", como veremos a seguir, em seu texto:

"... assumimos que o corpo é o lugar privilegiado de encontro entre os aspectos de nossa natureza, de nossa ancestralidade, ou seja, de nossa história natural, com os aspectos de nossa cultura, de nosso universo simbólico. Dito de outra maneira, a corporeidade é concebida, construída tanto biológica quanto socialmente." (SANCHEZ, 2011, p.67)

1.2- Conceito de Corporeidade

Também para Manoel Sérgio, em seu livro: Para Uma Epistemologia da Motricidade Humana, o conceito de corporeidade está na relação direta entre corpo e mundo:

"Condição de presença, participação e significação do homem, no Mundo. A motricidade emerge da corporeidade como sinal de quem está-no-mundo-para-alguma-coisa, isto é, como sinal de um projecto. Toda conduta motora inaugura um sentido, através do corpo." (MANOEL SÉRGIO, 1994, p.155)

Podemos perceber nas elucidações do autor acima, no texto descrito, que no sentido mais amplo, falar de corpo, não é necessário que nos limitemos a falar da instancia material que se constitui o corpo físico, mas sim, entendermos o conceito de corpo, de modo mais amplo.

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Percebido este ponto, é preciso que antes que vejamos a relação do corpo propriamente dito com a construção da imagem corporal, entendamos em qual suporte isto se manifesta. Assim, precisamos conhecer um pouco sobre o chamado: esquema corporal.

1.3- Conceito de Esquema Corporal

Conceituarmos o esquema corporal se faz necessário, para falarmos sobre imagem corporal. Para tanto, citemos Le Bolche, em seu livro: Desenvolvimento Psicomotor, onde ele explica o surgimento do conceito de esquema corporal:

"Em 1911 o neurologista Henry Head levou adiante um conceito que ele chamou "esquema corporal", representando um verdadeiro marco referencial, permitindo a cada instante, através dele, construir um modelo postural de nós mesmos.

Oldfield e Zangwill atribuem ao esquema corporal ou modelo postural um rol essencial de manutenção da regulação postural:

"Os impulsos chegando da periferia são registrados de forma contínua através ou pelo esquema: este modelo é assim informado do estado do organismo em cada instante e oferece a base necessária para a utilização dos impulsos ulteriores."

Van Bogaest (citado por Gantheret), depois de trabalhos clínicos, menciona especialmente a significação deste esquema postural:

"Existe um modelo postural, um esquema, uma imagem de nosso corpo, independente dos estados cutâneos e profundos, que tem um papel importante, embora inaparente na consciência que cada um tem de si."

O modelo postural não é um dado estático: compreende ativamente todos os gestos levados a cabo pelo nosso corpo, nele mesmo e sobre os objetos exteriores. "(LE BOULCH, J.,1982,p.15)

Paul Schilder, em seu livro: A Imagem do Corpo, afirma que Head havia demonstrado que existiam esquemas evidentes da inter-relação entre partes diferentes do corpo.(SCHILDER,PAUL, 1999, p.19)

Assim, percebemos que Schilder, formula alguns parâmetros preliminares sobre esquema corporal:

"1. A sensibilidade postural desempenha um papel na construção do conhecimento do nosso corpo.

2. Em conexão com a capacidade de localização, há a possibilidade de construir o conhecimento da relação entre as diferentes partes da superfície.

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3. Há uma imagem visual do corpo, a qual é independente das imagens táteis já mencionadas.

4. As partes simétricas do corpo se conectam fisiológica e psicologicamente.

5. A percepção visual e a imaginação enfatizam a similaridade tátil dos pontos simétricos.

6. As imagens visuais conscientes e as percepções são apenas uma pequena parte daquilo que ocorre na esfera visual.

7. A localização das impressões e imagens táteis é um processo independente da simples percepção do toque."(SCHILDER,PAUL, 1999, p.19)

1.4- Conceito de Imagem Corporal

Como vimos na introdução, e concordando com Schilder, a imagem corporal é vista como uma representação mental do próprio corpo. Fatores como movimento, sensibilidade, cognição, emoção e outros, são muito dinâmicos e de certa forma instáveis na constituição da imagem corporal. Estes fatores, fazem parte do viver do ser no mundo, numa relação de ação "orgânica"do ser com o mundo, do mundo com o ser e do ser consigo mesmo, dificultando um estudo linear sobre a imagem corporal. Há muito a descobrir sobre a imagem corporal e por isso, não podemos ser categóricos e pragmáticos ao engendrarmos sobre este tema. Felizmente tem se dado atenção, principalmente nas áreas terapêuticas, ao estudo da imagem corporal.

É complexo o conjunto de aspectos neurofuncionais bem como os aspectos psicológicos envolvidos no mecanismo da imagem corporal.

1.4.1- O Visual, o Tátil, a Posição e o Modelo Postural

Para percebermos a complexidade do assunto, citarei um trecho exemplificado por Schilder, que elencam à imagem corporal, questões primordiais como o visual, a posição, o tato e o modelo postural. E além, observaremos neste texto, a visão do autor quanto a questão da diferença entre modelo postural e postura propriamente dita:

"Como já dissemos, Head frisa que, mesmo quando a imagem visual se encontra preservada e a sensibilidade postural prejudicada, se a localização tátil for mantida, o indivíduo indicará os locais onde foi tocado, apesar de, nos casos em que o braço foi colocado em outra posição, referir-se ao lugar da posição anterior e não ao braço, pois

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não chegou a tomar conhecimento do movimento do membro. Assim, Head encara a impressão proveniente da postura como sendo a base do modelo "postural" do corpo. Há um padrão de posturas em relação ao qual são medidas todas as novas percepções recebidas. Head vê uma relação direta entre a hipotonia, a flacidez observada em lesões corticais que leva a um distúrbio da sensibilidade, e a perturbação do modelo postural do corpo.

Minha própria experiência confirma as observações de Head, de que existem casos em que o paciente consegue localizar o toque e saber exatamente qual parte do braço foi tocada, mas é incapaz de determinar a posição do braço no espaço. Mas não posso aceitar seu argumento de que isto prova que o modelo postural se baseia na postura. Ao contrário, diria que esta observação prova que nesse momento, está presente uma imagem visual do corpo a qual a percepção se conecta. Estas mesmas observações mostram a importância da parte visual do modelo postural do corpo.

Aqui, chamaria a atenção para uma observação que publiquei a alguns anos. A paciente sofria de uma apoplexia de origem sifilítica. Apresentava uma séria hemiplegia do lado direito, do tipo parcial. Tinha espasmos pouco relevantes e perturbações peculiares da sensibilidade do lado direito. Havia parestesias na face. A sensibilidade aos estímulos térmicos, às cócegas e a faradização, e a sensibilidade postural se encontravam prejudicadas. Por outro lado, avaliava pesos bastante bem, Havia uma tendência a experiências alucinatórias como, por exemplo, sentir a mão se mexer sem base objetiva. Esta tendência à alucinações se repetia na esfera tátil. A paciente apresentava poliestesia (multiplicação de sensações) nesta parte do corpo, em relação às sensações táteis, térmicas e dolorosas. Um mesmo estímulo foi sentido ali varias vezes, pelo menos duas. Localizava as várias sensações provocadas por um estímulo em pontos mais próximos da extremidade do corpo (mais distais) do que dos locais irritados, com um intervalo que ia de 4 a 10 segundos. Com grande freqüência as sensações subseqüentes eram sensações táteis indefinidas. A sensibilidade profunda também apresentava tendência a poliestesia. Após um intervalo de 4 a 10 segundos, sensações da parte sã do corpo eram transferidas para o lado afetado, sendo qualidade dessas não se alterava durante a transferência. Assim, podiam surgir sensações de calor no lado direito, as quais a paciente não conseguiria perceber de outro modo. Esta sensação do lado direito do corpo, transferida do lado esquerdo, era seguida por uma ou várias pós-sensações. A discriminação (diferenciação entre dois toques simultâneos) era adequada no lado direito, enquanto a localização apresentava sérias perturbações, que por sua vez não eram muito constantes e dependiam grandemente do cansaço. "(SCHILDER,PAUL, 1999, p.16)

Depois de relatar sua experiência, ele conclui mais adiante no texto, explicitando o sobre o ponto de localização:

"Chegamos a formular assim, que as imagens visuais que se encontram em nossa consciência são apenas uma pequena parte daquilo que está realmente ocorrendo na esfera psíquica. Não podemos determinar se há imagens no plano inconsciente ou se lidamos apenas com vestígios somáticos. Voltaremos a este ponto. Mas sabemos que sempre que ocorre um contato, iniciam-se vários processos mentais que conectam este contato com nossas outras experiências. Tudo leva a conclusão de que o

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Localzeichen (sinal de localização) não é dado com a sensação em si, mas sim agregado a ela." (SCHILDER, PAUL, 1999, p.17)

1.5- Conceito de Percepção

Os conceitos sobre a percepção foram muito limitados de um modo geral como nos alerta Le Boulch:

"1. A definição clássica da percepção é muito limitada. Esta definição é a seguinte: "operação psicológica através da qual conhecemos a presença atual de um objeto exterior a partir das modificações que este objeto imprime a nossos órgãos sensoriais".

Ela limita a percepção à organização consciente dos dados de informação em relação aos objetos exteriores. Na realidade, existe um outro aspecto da percepção, muito importante em psicomotricidade: é a organização consciente dos dados de informação em relação ao corpo próprio. Para nós, o jogo das funções gnósticas divide-se em dois campos, um deles relacionados com o ambiente, o outro relacionado com o corpo próprio. "(LE BOULCH, J, 1981, p.31)

Segundo Fátima Alves (2008), há perguntas do cotidiano de uma criança por exemplo, que vão além da noção de esquema corporal. Verifiquemos no texto a seguir, de que percepção ela esta se referindo:

"Quando se interroga uma criança a cerca das partes que mais gosta de seu corpo, ela pode responder por ter noção do seu corpo. Esta noção, ou melhor, este conhecimento que a criança faz do seu corpo diz respeito ao esquema corporal. Mas, por que a criança escolhe uma parte e não outra? Por que determinada zona corporal é para ela mais prazerosa do que outra? Seria a mesma mais prazerosa para ela ou para o outro? Estas perguntas, quer responda ou não, já não dependem apenas do seu esquema corporal, mas também de sua imagem."(ALVES,FATIMA, 2008, p.52)

Concordando com a autora do texto acima, quanto a construção do esquema corporal e da imagem corporal "subseqüente", de que necessita-se da capacidade sensorial de sentir-se; de perceber-se.

1.6- Contexto Neurofisiológico da Percepção da Imagem Corporal

Os impulsos nervosos oriundos de informações (por exemplo, de estímulos do meio ambiente) chegam pelas vias aferentes e são captados pelos

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receptores indo por nervos, em direção ao cérebro. É um trajeto que varia conforme a sensibilidade de cada ser humano, no interior da medula e no tronco encefálico. No córtex cerebral, decodifica-se a informação sensitiva. Lá ela passa da área primária para a secundária ou para a área de associação.

Tanto no cérebro, quanto em todo o sistema nervoso em sua maior parte, As células gliais, juntamente com os neurônios formam o tecido nervoso, e são importantes na dosagem da transmissão dos impulsos nervosos, em especial, na função do aprendizado e das lembranças que envolvem a questão da sensibilidade e da motricidade. Esses impulsos nervosos que se dão entre dois neurônios pelas sinapses, por meio das substâncias químicas, chamadas neurotransmissores, caminham. Os neurotransmissores, por sua vez, inibirão ou excitarão as vias nervosas que se auto-regulam, dando um funcionamento equilibrado, em condições normais, ao sistema nervoso. Os neurotransmissores agem em funções nos circuitos motores, sensitivos e de comportamento.

Estes circuitos que veiculam as informações (impulsos nervosos) no córtex cerebral (áreas corticais interativas entre si e com os hemisférios cerebrais contando com as fibras de associação e as comissurais) nos interessam nesta pesquisa, porque são os que com os seus neurotransmissores específicos estão relacionados à percepção. Mas, a percepção vai além da simples sensibilidade. Sim, porque a percepção é gerada não somente pela sensibilidade oriunda de vias nervosas, neurotransmissores, áreas sinápticas, etc., enfim, neurofisiológicas, mas, gerada também de outros fatores que envolvem o psiquismo na sensibilidade, tais como as diferenças entre os indivíduos, nível cognitivo, comportamento emocional, experiências motoras, etc.

Assim, surge de forma única, a percepção. Ela toma parte, como uma das características formadoras de identidade do ser humano.

Complementando esta idéia, observemos no texto a seguir, a ação deste processo perceptivo com a criação da imagem corporal:

"Assim é o processo com qualquer tipo de sensibilidade. Ela sempre será percebida de forma única, dependendo dos fatores citados anteriormente. Ela tem um significado, por mais simples que possa ser, e está associada às experiências corporais, às experiências de vida. A percepção está intimamente relacionada à elaboração de imagens e o conjunto dessas imagens contribui para a representação mental do corpo, ou seja, para a construção da imagem corporal. As experiências perceptivas são fundamentais na construção dessa imagem corporal, acontecem desde a vida intra-uterina, por meio da sensação da pele submersa no líquido amniótico.

As respostas às nossas percepções, na maioria das vezes, são somáticas e/ ou viscerais. Respondemos freqüentemente com movimento a qualquer tipo de sensação,

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que seja interno (viscerais, glandulares) ou externo. A expressão emocional provocada por uma percepção, aciona os sistemas motores e desta maneira alteramos nosso tônus muscular, para mais ou para menos, modificamos nossa percepção. Por exemplo, a percepção de nossa respiração é alterada quando relaxamos a musculatura do nosso corpo.

E assim como a sensação e a percepção são alteradas pelo ambiente, pela emoção, pela cognição e pelo movimento, estes também são alterados por aquelas." (G. CUNHA F. TAVARES, 2007,p.22)

1.6.1- Neuroanatomia Funcional do Esquema Corporal

Saber que existem regiões do cérebro que nos permitem perceber sobre o esquema corporal (modelo postural) e conseqüentemente sobre a imagem corporal "instalada" neste esquema, é significativo para todo profissional que deseja trabalhar com a reabilitação da imagem corporal. Para isso, um estudo mais aprofundado também pode ser feito sobre as estruturas e funções do córtex cerebral, tendo atenção especial para:

As Áreas Sensitivas do Córtex:

Área somestésica

Área visual

Área auditiva

Área vestibular

Área olfatória

Área gustativa

Áreas motoras

Áreas de associação

Áreas gnósicas

Áreas relacionadas a linguagem

Área relacionada com o esquema corporal

Áreas relacionadas com a memória

Áreas relacionadas com as emoções

Observemos o estudo sobre a área relacionada com o esquema corporal:

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"Certas lesões corticais resultam em perturbações psíquicas curiosas nas quais o indivíduo não reconhece a existência de uma metade ou de partes do seu corpo, como os dedos ou todo o braço. Deixa, pois, de usar estas partes e não os dispensa os necessários cuidados higiênicos, não porque não possa fazê-lo, mas simplesmente porque, para ele, estas partes não pertencem ao seu próprio corpo. Se estas partes são acometidas de algum processo patológico como uma hemiplegia, o indivíduo não reconhece a doença. Admite-se que estes quadros clínicos resultam de lesões da chamada área do esquema corporal, que permite ao indivíduo ter uma imagem das partes componentes do seu corpo. Como esta imagem decorre da integração de várias modalidades de sensação a área do esquema corporal localiza-se em um território situado entre as principais áreas de sensibilidade e que corresponde ao giro supra-marginal e regiões vizinhas..."(MACHADO, ANGELO B.M.,1988, p.222)

1.6.1.1- Imagem Mental (corporal) no Esquema Corporal

Vejamos no texto a seguir, a importância das imagens mentais no esquema corporal e qual o grande papel que desempenha a sensibilidade na percepção da imagem de um modo em geral:

"... Portanto, cada imagem tem um significado que depende de experiências sensoriais, motoras, emocionais e cognitivas, transmitidas e vivenciadas pelo indivíduo. Se entendermos esse exemplo, fica fácil entendermos a nossa imagem corporal, que é única e intransmissível. Mas as imagens estão sustentadas por padrões neurais, segundo Damásio (1999), os quais ainda estão sendo estudados. Não conhecemos os detalhes neurofuncionais de como se dá o processo de elaboração da imagem.

As sensações que nos colocam em contato com o mundo e com nós mesmos, ficam memorizadas em nosso córtex cerebral e em nosso corpo, criando um mosaico perceptivo no qual podemos construir nossas imagens. Estas podem ser táteis, auditivas, visuais, olfatórias, gustativas,proprioceptivas, motoras e tantas quantas forem nossas experiências corporais. Elas estão sujeitas sempre aos componentes emocionais e cognitivos que as acompanham. Estão também contextualizadas no tempo e/ou espaço.

As informações táteis, por exemplo, já estão presentes desde as primeiras semanas de vida intra-uterina, estimulando assim, áreas cerebrais em formação (Montagu, 1988). Dessa forma, a nossa memória tátil começa a ser construída antes de nascermos. As reações emocionais provocadas pelo toque tem ligação com as experiências agradáveis ou desagradáveis relacionadas ao tato. A sensibilidade auditiva também está presente na vida intra-uterina de forma bem desenvolvida e sua percepção é desenvolvida após o nascimento. Assim acontece com qualquer sensibilidade. O contexto no qual memorizamos a informação pode ser agradável ou não e, posteriormente, ao ter a mesma sensação ou imaginarmos a mesma sensação

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podemos desencadear reações motoras, viscerais, glandulares e emocionais, de acordo com a nossa primeira experiência." (G. CUNHA. F. TAVARES, 2007, p.28)

Entendemos a palavra: modelo postural como sendo sinônimo daquela imagem corporal que por ultimo foi "impressa" no esquema corporal. Não significando que seja estável. Muito pelo contrário.

1.6.2- Emoções e Imagem Corporal

"O padrão da imagem corporal consiste em processos que constroem e criam com a ajuda da sensação e da percepção, mas os processos emocionais são a força e a

fonte de energia desses processos construtivos, e os dirigem."

(SCHILDER, PAUL, 1981, p.73)

Como já foi dito, parte do contexto são as emoções. Não é possível pensar em imagem corporal sem emoções já que há uma interação direta entre cognição, emoção e motricidade. O comportamento emocional está composto na construção da imagem em geral e da imagem corporal propriamente dita.

Como se daria então em nível neurofuncional, a questão do comportamento emocional?

Vejamos:

"A regulação dos nossos processos emocionais depende de um conjunto de estruturas encefálicas que constituem o sistema límbico. Essas estruturas estão localizadas no diencéfalo (tálamo, hipotálamo e epitálamo) e no telencéfalo, com componentes corticais (giro do cíngulo, giro para-hipocampal, hipocampo e área pré-frontal) e sub-corticais (corpo amigdaloide, área septal). Um feixe de fibras nervosas, o fórnice, relacina o hipocampo ao hipotálamo e à área septal. Essa relação é importante, visto que as informações emocionais seguem para o hipotálamo e ativam os sistemas motores viscerais. Dessa maneira, em uma situação de medo, por exemplo, reagimos com o aumento do batimento cardíaco, dilatação da pupila e aumento da sudorese, entre outros eventos fisiológicos. Martin(1998) aponta para a multiplicidade de circuitos distintos envolvidos em funções específicas do sistema límbico. Exemplifica com os circuitos hipocampais (situados no lobo temporal do cérebro), envolvidos na consolidação da memória de curto prazo. Já os circuitos amigdalóides (também do lobo temporal), ressalta o mesmo autor, parecem envolvidos preferencialmente nas emoções e nas suas expressões comportamentais evidentes. As estruturas do sistema límbico trabalham juntas, de modo mais integrado, no processo de cognição .

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Observamos aqui que as estruturas anatômicas relacionadas com as emoções também exercem importante papel no processo cognitivo, ficando difícil a separação das funções cognitivas de nosso comportamento emocional. Quando estamos em depressão, temos mais dificuldades para aprender, mas se estivermos motivados, com certeza o aprendizado será agradável e eficaz. Os sentimentos (alegria, tristeza, raiva, etc.) interferem em nosso processo de aprendizagem cognitiva e motora.

No entanto, para termos um sentimento é necessário a consciência, segundo Damásio (1999). A consciência, segundo o mesmo autor, é um fenômeno inteiramente pessoal e privado, estudá-la requer perspectivas internas e externas. Portanto, as emoções são estritamente particulares e jamais alguém sentirá algo da mesma forma do que o outro, em intensidade e significado. O significado de um sentimento está relacionado com fatos pessoais e a Psicologia os estuda por meio de várias abordagens, considerando-o como algo contextualizado na vida da pessoa, não como algo isolado. "(G. CUNHA F. TAVARES, 2007,p.24)

É importantíssimo salientarmos que a afetividade (proveniente das emoções) antecede a atenção e a memória no desenvolvimento das fases do ser humano e por sua vez, estes, precedem a aprendizagem que continua ao longo da vida numa "via de mão dupla" entre o afetivo, o cognitivo e o motriz.

A aprendizagem por ser contínua ao longo da vida, vai fazer parte dos processos relacionais e de vivências corporais que seguem, interferindo na construção da identidade de da imagem corporal.

O fator afetivo tem importante papel no aspecto neurofisiológico, no psiquismo e, no aspecto social onde se estende e interage manifestando o ser no mundo pela sua corporeidade e sendo parte da modificação da mesma, dentro do processo.

Ao concordar com Schilder (1999), reforçamos a idéia das emoções aliadas à nossa imagem corporal com ação no aspecto social:

"As emoções se dirigem para os outros. As emoções são sempre sociais. Do mesmo modo, o pensamento é uma função social, mesmo quando a pessoa está sozinha. A humanidade é o ouvinte invisível de suas idéias." (SCHILDER, PAUL, 1981, p.241)

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CAPÍTULO II

DESENVOLVIMENTO DA IMAGEM CORPORAL NO ESQUEMA CORPORAL E SUAS PERCEPÇÕES

"Uma das características inerentes da nossa vida psíquica é o fato de mudarmos nossa imagem continuamente; nós as multiplicamos e as fazemos aparecer de forma

diferente". (SCHILDER, PAUL, 1981, p.73)

Este capítulo trata da classificação em que foi dividida para fins didáticos, a evolução da imagem corporal dentro do desenvolvimento humano. Quando a imagem corporal, está sendo registrada gradualmente e vai "aderindo" no esquema corporal passando pelas etapas evolutivas do ser humano. Ou seja, na formação integral do mesmo enquanto pessoa.

Além disso, a presente pesquisa vai tratar das percepções da imagem corporal,vivenciadas no ser enquanto entidade corpórea que é.

2.1- "Corpos" na Construção da Imagem Corporal

No livro: Psicomotricidade: Corpo, Ação e Emoção, de Fátima Alves (2005, p.50), aborda-se as fases de desenvolvimento humano que se relacionam com a construção desse esquema e imagem corporal. Como podemos conferir nos subtítulos abaixo:

"1ª etapa

Corpo vivido (até 3 anos de idade)

Corresponde à fase da inteligência sensório-motora de Piaget. Essa etapa é dominada pela experiência vivida pela criança através da exploração do meio. As descobertas são intensas nessa fase por sua atividade investigadora e incessante. Seus primeiros movimentos são através dos movimentos dos outros. É em virtude da imagem do outro em movimento que ela aprende a mover-se (imitação).

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Até o fim do primeiro ano de vida, o bebê aprende a eliminar todos os comportamentos que não lhe são proveitosos, estabelecendo ligações entre seus movimentos e suas sensibilidades.

Aos poucos a criança vai se diferenciando do meio e no fim desta etapa pode-se falar em imagem do corpo, pois o "eu"se torna unificado e individualizado. Vemos, então, que parte de um estado de indiferenciação para um estado de diferenciação.

2ª etapa

Corpo percebido ou descoberto (três a sete anos)

Corresponde a organização do esquema corporal devido à "função de interiorização". Le Boulch, define a função de interiorização como a "possibilidade de deslocar sua atenção do meio ambiente para seu corpo próprio a fim de levar à tomada de consciência". A criança com isso passa a aperfeiçoar e refinar seus movimentos, adquirindo uma maior coordenação dentro de um espaço e tempo determinado.

Ela chega à representação mental dos elementos do espaço, descobre sua dominância e com ela seu eixo corporal. Passa a ver seu corpo como ponto de referência para se situar e situar os objetos em seu espaço e tempo. Assimila conceitos como embaixo, acima, direita, esquerda, etc., além das noções temporais: o que vem antes, depois, primeiro e ultimo.

O final desta etapa, diz Le Boulch, pode ser caracterizado como pré-operatório, porque está submetido à percepção num espaço em parte representado, mas ainda centralizado sobre o próprio corpo.

3ª etapa

Corpo representado (sete a 12 anos)

Nesta etapa, observa-se a estruturação do esquema corporal, pois já apresenta a noção do todo e das partes de seu corpo, conhece as posições e mantém um maior controle e domínio corporal. A partir daí, ela amplia e organiza seu esquema corporal.

No inicio desta fase, a imagem do corpo é estática e reprodutora, por volta dos 10/12 anos a criança dispõe de uma imagem mental do corpo em movimento efetuando e programando mentalmente suas ações (imagem de corpo operatório) o que representa uma grande evolução das funções cognitivas. Nesta etapa ocorre a descentralização do corpo, que não é mais visto como ponto de referência. "(ALVES, FÁTIMA, 2005, p.50)

O "Corpo próprio". É assim descrito por Le Boulch (1982), a delimitação da criança com relação ao seu próprio corpo entre os 5 e 7 anos de idade. Le Boulch (1982) o descreve, relacionando-o com a percepção, o conhecimento e a interiorização desse corpo, na etapa do "corpo vivido":

"-Desde os 5 aos 7 anos, a criança integra progressivamente seu corpo, adquirindo consciência de seu corpo próprio, com possibilidade ulterior de representação mental

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e de transformação de si em relação a outra pessoa. Nesta etapa podem ser propostos, junto aos exercícios de atividade global, exercícios de percepção e de tomada de consciência do "próprio corpo" feitos com verbalização. Neste estágio, a associação dos dados cinestésicos aos dados de outros campos sensoriais (tátil, visual e sonoro) é fundamental. Um aspecto da associação do campo sonoro a outros campos perceptivos está representado pela associação do símbolo verbal a outras sensações do "corpo próprio".

-Esta verbalização é importante para vivenciar melhor o conhecimento das diferentes partes do corpo, sobretudo para o domínio das noções de orientação. Em torno dos 6 anos, no momento em que a criança tem consciência da diferença entre a direita e a esquerda e consegue verbalizar este conhecimento, a orientação do seu "corpo próprio" é atingida. Tem também, o conhecimento para frete, para trás, para cima para baixo, a direita, a esquerda do seu corpo, e pode projetar a orientação do seu corpo no espaço: a criança tem acesso a um espaço orientado a partir de seu "corpo próprio", multiplicando suas possibilidades de ações eficazes.

-Os jogos de imitação, nos quais a criança tem possibilidade de adotar globalmente tal ou qual atitude, permitem utilizar o corpo segundo um modelo. Este modelo é identificado pela criança através de sua imagem visual, já que ainda não pode ser dado pela representação mental. A partir desta imagem, ela vai relacionar as diferentes sensações cinestésicas que ocorrem durante o deslocamento de um segmento do corpo.

No curso desta atividade, existe uma fusão progressiva da imagem visual do corpo e da imagem cinestésica, o que possibilita que a criança represente mentalmente seu próprio corpo em todos os seus detalhes. "(LE BOULCH, J, 1981, p.162)

Uma visão teoricamente mais aprofundada do que a de Le Boulch, porém não contraditória, é a de Maurice Merleau-Ponty (199, p.205) sobre o conceito de corpo próprio. Para melhor analisar o conteúdo do capítulo IV, de seu livro: Fenomenolgia da Percepção, a organização em tópicos, facilita o entendimento sobre suas afirmações:

1. Nosso corpo não está no espaço, ele é no espaço.

2. A espacialidade do corpo é o desdobramento do seu ser de corpo.

3. Um corpo é cheio de significações vivas e emaranhadas.

4. No corpo, o hábito motor, é uma extensão do hábito perceptivo e vice-versa na aquisição da existência, do mundo e cujo significado se dá por este corpo. Todo hábito é ao mesmo tempo motor e perceptivo. Fica entre a percepção explicita e o movimento efetivo. Delimita ao mesmo tempo o nosso campo de visão e de ação.

5. Ser corpo é estar atado a um mundo e nosso corpo não está primeiramente no espaço: ele é o espaço.

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6. Eu posso sentir o espaço do meu corpo pelos sentidos porque existe uma presença e uma extensão afetivas cuja espacialidade objetiva não é condição suficiente nem necessária.

7. Os movimentos das partes do nosso corpo estão a nossa disposição para uma função. Por isso, quando as crianças começam a fazer as primeiras preensões, elas não olham para suas mãos, mas para o objeto. Ou seja, os segmentos do corpo são conhecidos pela função.

8. A conexão entre: as partes do corpo e inclusive com nossas experiências visuais e táteis não acontecem pouco a pouco e cumulativamente, mas de uma só vez porque é meu próprio corpo.

9. Cada um se vê como que por um olho interior que de alguns metros de distância, nos observa da cabeça aos joelhos.

10. Conhecemos nosso corpo por sua lei de construção.

11. O corpo lei eficaz da suas mudanças. (Leibniz, citado por Ponty)

12. O corpo próprio interpreta a si mesmo onde, os dados táteis aparecem pelo sentido visual e os dados visuais aparecem pelos sentido tátil.

13. Uma bengala, por exemplo, pode se tornar um instrumento onde o cego percebe como um apêndice do corpo; uma síntese corporal. Através das sensações produzidas pela pressão da bengala na mão, o cego "constrói" a bengala em suas diferentes posições. A bengala se tornando familiar, o mundo recua e não mais começa na epiderme da mão, mas na extremidade da bengala.

14. O olhar vai obter a significação das coisas conforme a interpretação do ser, segundo a maneira pela qual ele as interroga ou se apóia nelas. Aprender a ver as coisas é adquirir um estilo de visão, um novo uso do corpo próprio, enriquecendo e reorganizando o esquema corporal.

Podemos ressaltar um detalhe relevante neste ultimo tópico: O esquema corporal pode ser reorganizado. Esta mudança, quando acontece, muda toda a percepção do corpo próprio. É um objetivo fundamental nas terapias de reabilitação da imagem corporal.

2.2- Considerações sobre Percepções da Imagem Corporal no Esquema Corporal

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As percepções da imagem corporal, são muito diversas e detalhadas, citaremos aqui, alguns enfoques em que elas podem ser descritas. Certamente há muito ainda a que se descobrir sobre elas.

2.2.1- A Dor e a Imagem Corporal

A questão da dor foi uma das preocupações de Schilder (1981) para com o desenvolvimento da imagem corporal. Ele afirma que tanto os bebês quanto os animais, tem reações incompletas à dor, e questiona, relacionando este fato, à integração insuficiente do esquema corporal. Inteirando ainda, que tanto a dor quanto o controle motor dos membros, tem uma participação muito importante na criação dessa imagem corporal:

"É verdade que a dor é, aqui, um fator importante. Ajuda-nos a decidir o que desejamos termais perto de nossa personalidade, do centro de nosso ego, e o que desejamos manter o mais afastado possível dele. Esta decisão e opção deve ser intimamente relacionada as atividades motoras; mas o que é verdadeiro a respeito da dor vale igualmente para qualquer outra sensação. Como foi frisado, toda sensação tem sua motilidade. A sensação traz em si própria uma resposta motora. Assim a atividade contínua está na base do nosso eu corporal." (SCHILDER, PAUL, 1981, p.116)

2.2.2- Relação entre o Inconsciente e a Imagem Corporal

Fato outro interessantíssimo é quando ele confirma a influência dos processos inconscientes através do texto:

"Este é um processo contínuo e ativo de desenvolvimento. Sob a influência de impulsos internos, só artificialmente se podem separar as experiências sensoriais das atividades internas e das batalhas libidinais, que emanam de uma personalidade central." (SCHILDER, PAUL, 1981, p.116)

Ora, do ponto de vista psicanalítico, ao que podemos perceber, ele está se referindo a formação das estruturas dinâmicas da personalidade (id, ego, superego) conforme modelo de Freud, pelas quais a "libido" percorre nas fases de desenvolvimento humano (oral, anal,fálica e genital) associando esta formação da personalidade à concomitante formação da imagem corporal. Fato este, que concorre para estabelecermos sempre em nossos estudos, a influência significativa do inconsciente na construção não só da imagem mas

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também, do esquema corporal (este ultimo, levando em conta as fases de gestação do ser humano).

2.2.3- A Percepção do "todo" de uma Imagem Corporal no Esquema Corporal

É de relevância pensar que um adulto normal pode perfeitamente perceber num desenho, que as partes de um corpo apresentam interligações. Ele percebe isso de maneira fácil e quase automática. Uma criança, dependendo da idade, não apresenta esta síntese com tanta facilidade. Como vemos nos estudos de Luquet, comentados por Schilder neste texto:

"Provavelmente, o desenvolvimento do esquema corporal, se dá, em grande parte, paralelamente ao desenvolvimento sensório-motor. Luquet, que estudou desenhos infantis, fala sobre a incapacidade de síntese da criança.

"A coisa não aparece como um todo. Os detalhes são apenas dados e, devido a falta de relações sintéticas, são simplesmente justapostos. Assim, um olho será colocado próximo à cabeça, um braço próximo a uma perna, etc. " Claro que o desenho é uma atividade psíquica bastante complicada. E pode ser difícil de determinar se esta incapacidade de síntese se baseia inteiramente em dificuldades sensoriais ou se deve simplesmente a incapacidades motoras. Mas a criança se satisfaz plenamente com seus desenhos e, conseqüentemente acredito que o modo como as crianças desenham as figuras humanas realmente reflete o conhecimento e a experiência motora que tem da imagem corporal. No mínimo, expressam a imagem mental que possuem do corpo humano, e a imagem corporal é tanto imagem mental quanto percepção. "(SCHILDER, PAUL, 1981, p.117)

2.2.4- A Figuração Visual (impressão visual) e Sensação Tátil sobre o Esquema e Imagem Corporal

Sobre a experiência visual, Schilder (1981) coloca que ela é vivenciada através de ações e determinações dando forma ao nosso eu corporal. E que muitas vezes, a figuração visual pode determinar a sensação tátil e o modelo tátil do corpo. Mas, em outros, o esquema corporal é determinado pela sensação tátil.

A visão quando sofre mudanças, perturba a imagem corporal que por sua vez, se reorganiza, formando uma nova unidade.

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Quanto aos sinais de localização, estes, ficam alterados quando as sensações táteis se traduzem para outro mundo visual. A questão da lateralidade (direção direita/ esquerda), por exemplo, troca-se uma pela outra mais facilmente do que a questão do acima e abaixo.

2.2.5- A Percepção, as Sensações e Os Sentidos na Imagem e Esquema Corporal

Observemos as especificações de Shilder (1981) com relação entre os sentidos e a percepção e sensações dos mesmos:

"Este esquema em geral não é suficiente, já que cada sensação só adquire sentido e significado em conexão com o corpo como um todo, de modo que o esquema geral deveria ser: (1) percepção; (2) sensação; (3) relação de sensação com o corpo e como um todo (imagem corporal); (4) reação da personalidade como um todo.

Claro que é possível fazer subdivisões, especialmente no ponto (4), mas, no momento, não é esta nossa tarefa. A descrição de qualquer experiência deve levar em conta todos os pontos mencionados, e a relação entre os quatro aspectos da percepção será uma característica fundamental da nossa experiência. Na esfera visual, a percepção se encontra distante e separada da sensação. A sensação como tal (a experiência do corpo) não tem aí um papel importante, sendo necessário até que prestemos certa atenção para descobrir que a percepção visual é acompanhada por sensação. Precisamos do corpo para ver, mas não apenas em função da experiência específica da visão. Na reação da personalidade como um todo, a reação do corpo é relativamente menos importante do que a reação da emoção e das chamadas funções superiores da mete.

Praticamente o mesmo ocorre em relação à audição. Pode-se dizer, tanto a respeito do grupo visual de experiências quanto do acústico, que a sensação e a percepção se encontram muito afastadas no espaço. Na esfera tátil, a sensação e a percepção encontram-se mais próximas. O modelo postural tem aí participação muito mais óbvia. O olfato e o paladar estão praticamente na mesma categoria. Estes dois últimos, executam uma parte objetiva, mas seus objetos estão, ao menos parcialmente, dentro do corpo e,conseqüentemente, a reação da esfera instintiva do corpo se torna mais forte."(SCHILDER, PAUL, 1981, p.109)

2.2.6- O Movimento corporal e sua Relação com o Esquema Corporal e a Imagem Corporal

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Segundo Schilder(1981) e concordando com ele, o movimento nos dá uma melhor orientação em relação ao nosso corpo. Se não nos movemos, sabemos muito pouco sobre o nosso corpo. Ele é um fator importante de unificação das diferentes partes do corpo. É através do movimento que chegamos a uma relação definitiva com o mundo e os objetos externos. E é então que aprendemos sobre nosso corpo. É só nesse contato com o mundo externo, que somos capazes de fazer correlações sobre as diversas impressões ligadas ao nosso corpo. Portanto, o conhecimento do nosso corpo depende muito de nossa ação. O modelo postural (a produção de uma forma) do corpo não vem pronto, mas vai sendo adquirido através da ação que gradualmente e intencionalmente dirigimos às experiências a respeito do mundo.

Quando há uma desorganização da imagem corporal, pode haver uma sensação de náusea, considerando-se que é uma espécie de vertigem. As vertigens ocorrem quando as impressões sensoriais não podem ser unificadas. Lembramos que as mudanças ocorridas no mundo visual resultam em ações motoras intencionais prejudicadas (Lembremos do exemplo do estado de alguém em alto mar). Estamos falando aí, de impossibilidade de adaptações dos movimentos ao meio ambiente em constantes mudanças.

2.2.7- A Unidade da Imagem Corporal e a Unidade da Percepção das Partes do Corpo

Schilder (1981) afirma que o resultado final da imagem corporal, gera uma unidade não rígida e passível de transformações. Mas a percepção do nosso corpo pode registrar também, o princípio da independência relativa das partes. Cada unidade tem partes e aspectos que são relativamente independentes uns dos outros.

Os sentidos colaboram para a criação do esquema corporal. E que, podemos modificar parte das experiências em um campo da percepção.

2.2.8- O Aparelho Vestibular e sua Interferência na Imagem Corporal

Ao ocorrer uma mudança de função do aparelho vestibular, a percepção pode sofrer distorção, transposição espacial e multiplicação e modificações no tamanho do objeto percebido. Esta afirmação de Schilder (1981), em suas

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pesquisas, mostra a grande importância de nosso aparelho vestibular para a imagem corporal, como verificamos no texto:

..."estudamos a influencia do sistema otolítico na percepção da massa do corpo, mas, sob a influência das irritações vestibulares, dão-se outras modificações importantes no que diz respeito à imagem corporal." (SCHILDER, PAUL, 1981, p.130)

Quando ocorre alguma alteração na consciência, sempre pode ocorrer o aumento da interferência vestibular no modelo postural. A interferência vestibular é também significativa na integração, das experiências sensoriais.

Averiguamos nos exemplos descritos por Shilder (1981), as alucinações decorrentes desta interferência:

"Na intoxicação por mescalina deparamos com uma modificação d consciência, mas é provável que também haja mudanças no aparelho vestibular. Forster relata que durante uma intoxicação deste tipo, teve a sensação de que seu lado esquerdo era muito fino, enquanto o direito estava cinco vezes mais grosso e pesado. Tinha a sensação de que os membros não combinavam. Zádor fala de um paciente que se sentia menor em condições similares - suas pernas diminuíam como se ele estivesse encolhendo, e quando fechava os olhos tinha a sensação de que caberia num buraco de rato." (SCHILDER, PAUL, 1981, p.130)

2.2.8.1- O Aparelho Vestibular Relacionado à Gravidade na Percepção da Imagem Corporal

Ao observar os estudos de Schilder (1981), verificamos que: tanto o aparelho otolítico como os canais semicirculares influenciam a percepção da gravidade sobre o corpo. Algumas partes do corpo são mais importantes para a orientação do próprio corpo do que outras. São as que sofrem influencia direta da gravidade. Exemplo disto são as solas do pé quando estamos de pé, as nádegas quando estamos sentados. Quando queremos formar uma imagem visual de nós mesmos, sempre usamos uma espécie de moldura a partir de um ponto de referência na qual encaixamos a imagem corporal.

A orientação também é proveniente da sola dos pés, que é o contato com o espaço da terra, o espaço de estabilidade no mundo. A cabeça entende-se enquanto portadora e receptora de informações. Os orifícios e a pele, em algumas partes, fazem uma espécie de orientação adicional. Depois da moldura do corpo se delineada, ela elaborada gradualmente.

Na neurastenia, na hipocondria e até mesmo nas neuroses, haverá uma sensação diferente da impressão corporal. Dependendo de cada um desses

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casos, pode ser sensação de bolha em algum membro, sensação de peso compacto, de dispersão, de vazio... Em especial na neurastenia, lembramos que sempre que houver uma irritação vestibular por conversão, prejudica-se o a estrutura do modelo corporal (imagem corporal instalada no esquema corporal).

2.2.9- Percepção da Postura Habitual no Modelo Postural (Imagem no Esquema Corporal)

Schilder (1981), fala que tem muitos movimentos voluntários que nós negligenciamos. Essas ações voluntárias e as tensões musculares inconscientes modificam demais a posição habitual do membro. Elas, não são usadas no modelo postural do corpo. O fator motor e o sensorial estão envolvidos nesse processo. O primeiro, como exemplo, a persistência do tônus. O segundo, a persistência da impressão sensorial.

Está sempre presente em nós, o modelo postural em sua forma original. Essa forma original vai desde o modelo postural da criança até o do adulto, registrando essas transformações contínuas no qual ele se baseia.

2.2.10- Percepção da pele no Esquema Corporal

É interessantíssima essa percepção relatada por Schilder (1981), onde ele mostra que tanto sentado como em pé, quando estamos parados; quietos, e verificamos o que sentimos. É muito diferente a sensação da pele. Há lugares em que percebemos mais facilmente do que em outros. Nas mãos, por exemplo, onde a pele se apresenta esticada sobre os ossos, em especial nas juntas. Na face, em particular, a região da maçã do rosto, onde a pele se estica sobre o osso na ação da gravidade. Quando sentamos, sentimos inicialmente a cadeira, e depois se continuamos prestando atenção, sentimos a pele sobre ela. A sola dos pés, com a superfície de um calçado, etc. Basicamente as partes que tem contato com o mundo externo.

Ao fechar os olhos e tentar vagar com a consciência ou a imaginação sobre o nosso corpo, temos uma impressão da imagem visual bem incompleta de nós mesmos. O contorno da pele fica indistinto, é sentido abaixo da superfície do corpo e, não é sentido como suave e reto. A pele se torna nítida, quando em contato com os objetos. Sentimos em alguns lugares do corpo, a temperatura da pele mais facilmente do que em outros.

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Na esfera tátil, a sensação e a percepção encontram-se bem próximas. E na mesma categoria, estão olfato e o paladar.

Há muitas outras percepções detalhadas sobre diversas partes do corpo. Por exemplo, sobre os orifícios do corpo que, nunca são sentidos em sua superfície, sobre o peso e tônus muscular e seus efeitos na imagem corporal, etc. Vale fazer um estudo posterior mais aprofundado sobre este particular.

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CAPITULO III

EXEMPLOS DE ALTERAÇÕES DA IMAGEM CORPORAL E REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA

"[...] os padrões psicológicos não são algo estático mas são uma tendência e uma função." (SCHILDER, PAUL, 1981, p. 73)

Aqui vamos indicar alguns exemplos de alterações da imagem corporal que estão ligadas em sua maioria a patologias.

De ordem psíquica, primeiramente, vamos tratar de descrever a histeria refletida na imagem corporal. Um segundo exemplo, mas, que muda o aspecto físico além do comprometimento da mudança da imagem corporal no esquema corporal é a anorexia, que também será descrita.

Há os exemplos de ordem física que envolve questões psíquicas, tais como: deficiência visual e membro fantasma. Que são incisivos na interferência da imagem corporal, não podendo deixar de serem vistos.

Além desses, será exposto um exemplo não patológico mas, pertinente a mudança de ciclo de vida como é o próprio envelhecimento do ser humano, sua imagem corporal e, sua relação com o padrão estético atual.

A reeducação psicomotora, neste capítulo, vem mostrar algumas idéias a respeito, que podem apontar caminhos para o resgate da imagem corporal desequilibrada em seu esquema, a ser reabilitada terapeuticamente.

3.1- Alteração da Imagem Corporal na Histeria

A histeria foi estudada exaustivamente por muitos e em especial por Freud. Segundo Schilder (1981, p.186),em grande parte dos sintomas, é uma alteração da imagem corporal, mais ou menos ligado a relações sexuais com os outros. Diz que os desejos genitais e a histeria estão intimamente ligados ao

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complexo de Édipo. Fala que além da transposição na imagem corporal do sujeito, ocorre o fato de as partes das imagens corporais de outros seres serem introduzidas na imagem corporal da própria pessoa.

É interessante como ele relaciona a teoria analítica aplicada na imagem corporal, expondo detalhes simbólicos significativos:

"Segundo a teoria analítica, a cegueira histérica é a expressão do desejo de ver o parceiro sexual despido e a repressão desse desejo. Posso acrescentar que a freqüente ausência de reflexos conjuntivos na histeria provavelmente pertence a uma categoria similar. Em experiências hipnóticas sugeri cegueira total. Esta sugestão era geralmente acompanhada pela ausência de reflexo conjuntivo (o reflexo da córnea nunca desaparece na histeria ou na sugestão). O globus histérico, a sensação de sufocamento na garganta ou a sensação de que um prego está sendo enfiado na cabeça (Clavus) são expressão de um desejo relativo ao órgão sexual masculino, apesar de não se referir a qualquer órgão, mas, sim, ao de uma determinada pessoa. A anestesia histérica é expressão de uma repressão de qualquer sentimento sexual. A hipersensibilidade à dor, especialmente na zona erógena do mamilo, e o ponto histérico sobre os ovários são uma nítida negação de tendências sexuais destas partes, intimamente relacionadas com atividades genitais. É verdade que pode acontecer de o genital do paciente ser transposto de uma parte do corpo para outra, mas também é possível que órgãos genitais de outras pessoas sejam simbolicamente conectados com diferentes partes do corpo. Mesmo que, em todas essas sensações e alterações da imagem corporal, haja fantasias de tipo mais primitivo de tipo pré-genital, ou mesmo tendências homossexuais, anais, orais, etc., os sintomas da conversão histérica estão sempre relacionados, de algum modo, com os desejos genitais."(SCHILDER, PAUL, 1981, p.187)

As energias libidinais (enquanto impulsos vitais; pulsões naturais do Id), aí, não falando especificamente sexuais, canalizadas e fixadas de modo desequilibrado, traduzem-se e aparecem nos "delírios" das impressões da pessoa sobre sua imagem corporal (proveniente de sensações desse desequilíbrio). Apontam claramente a ação do inconsciente sobre a harmonia ou não na construção do modelo postural.

3.2- Alteração da Imagem Corporal na Anorexia

Trata-se de um distúrbio alimentar, onde a vontade de alimentar-se é limitada voluntariamente, onde há uma distorção da imagem corporal, surge um medo de engordar e a não aceitação do seu peso normal, mesmo quando a pessoa já se encontra magérrima.

O texto de G. Cunha F. Tavares (2007, p.107), salienta as afirmações de Lacan (1995) sobre a questão de necessidade e de demanda, importante no

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caso da anorexia, por tratar, da necessidade do alimento e da demanda que o envolve (o que há de interesse "por trás" além do alimento; o objeto - no sentido psicanalítico). Observemos no texto, a importância da demanda:

"O bebê pequeno chora de fome, mas a sua demanda é pela presença e pelo amor da mãe. Juntamente com o leite, o bebê alimenta-se das palavras e do olhar, do desejo do outro dirigido a ele.

O corpo que não tem essa experiência não forma limites entre o dentro e o fora, é impedido de estabelecer trocas. O olhar que passa através dele ou mesmo que não é a ele dirigido faz transparente. Não o faz sujeito. O corpo fica marcado pela falta de percepção e resposta empática, e a imagem corporal incompleta, borrada, pouco definida. Se o rosto de quem cuida não reflete a criança, o espelho não a refletirá. Podemos tomar a Anorexia Nervosa como uma linguagem desse corpo marcado pela incompletude. Uma linguagem que expressa um desequilíbrio, uma supertensão, uma angustia originada na insatisfação da demanda. Essa linguagem faz aparecer escrita no corpo,, a invasão sofrida ou a falta de empatia que não pode ser dita com palavras...Recusa do alimento e emagrecimento excessivo são marcas no corpo que chamam a atenção do outro e revelam uma profunda angústia encarnada."(G. CUNHA. F. TAVARES, 2007, p.107)

Podemos ver claramente neste trecho acima, o inconsciente (ressaltando as pulsões do Id) agindo junto e se desenvolvendo nas fases iniciais da vida, e os danos causados à formação do ser na sua corporeidade. Há múltiplos aspectos a serem considerados além deste inicial, que envolvem as causas da anorexia.

Como nada é isolado em si, o ato de alimentar-se cumpre papeis na sociedade que vão além da simples necessidade satisfatória do corpo. Esse ato está ligado a questões religiosas, econômicas, afetivas, etc.

Vejamos no texto, a descrição perceptiva da imagem corporal, no caso da anorexia nervosa:

"Na Anorexia nervosa, o corpo é marcado pela incoerência entre o corpo real e o corpo representado. É a incoerência entre um corpo pequeno e esquálido e aquele representado como gordo, sempre gordo. A frágil imagem corporal, que marca as pessoas que apresentam Anorexia Nervosa, muitas vezes decorre do fato de se sentirem atendidas somente em suas necessidades biológicas - no comer - e não encontrarem acolhimento em suas demandas psíquicas - a demanda do olhar de amor e de palavras. Para elas é impossível obter um reconhecimento enquanto sujeito e um modelo externo inacessível é a esperança de reconhecimento. Toda imagem disforme manifesta-se na insatisfação com a forma do corpo e com a busca incessante pela perda de peso.

Brush (1979) dizia que o distúrbio da experiência do corpo é o que essencialmente distingue os transtornos alimentares de outras condições psicológicas que envolvem perda de peso e anormalidades na alimentação. Reconhece que três

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áreas do funcionamento psíquico sofrem distúrbios na Anorexia Nervosa: um "distúrbio de proporções delirantes da imagem do corpo" - que pode ser entendido como a ausência de interesse sobre a extrema magreza, mesmo quando avançada, e a obstinação com a qual essa aparência é defendida como normal - "um distúrbio na percepção ou distúrbio intraceptivo"- percebida na inabilidade de reconhecer as sensações provenientes do corpo como fome, saciedade, alegria, tristeza e outras sensações decorrentes desses sinais. Por último, tem-se um "forte sentimento de ineficácia paralisante"

Alguns traços são comuns na imagem corporal de quem sofre com a Anorexia Nervosa. A insatisfação com o tamanho do corpo e a preferência pela magreza foram descritos como componentes do distúrbio da imagem corporal. A eles se soma a distorção do tamanho do corpo, um fenômeno que envolve a percepção do tamanho real. Além desses, sumarizando, podem-se citar as condições sobre o julgamento dos outros a respeito do próprio corpo, uso de "modelos" perfeitos, preocupação com defeitos, avesso a situações de exposição, experenciar o corpo como um estranho (em uma forma de despersonalização) e uma atitude extremamente negativa a respeito do corpo e da aparência (Probst, 1997). "(G. CUNHA. F. TAVARES, 2007, p.107)

A imagem corporal está distorcida e registrada com se fosse real, em seu esquema corporal, porém, trata-se de uma imagem ideal de si. Ou seja, a pessoa, mesmo ao ver-se num espelho não se enxerga e não se sente em sua imagem real. A alteração perceptiva da corporeidade, não significa a alteração de uma imaginação de si mesmo, mas, uma alteração perceptiva de si mesmo propriamente dita; uma alteração do ser no mundo.

3.3- Alteração da Imagem Corporal na Deficiência Visual (Em Especial a Cegueira)

Citamos no capítulo anterior, a importância da visão na construção da imagem corporal, bem como sua relação com os outros estímulos provenientes dos outros sentidos do corpo. Já verificamos sua relação estreita com o estímulo tátil, no qual, ele orienta. Devemos considerar que 80% do que registramos das informações, são através da visão. Ela certamente nos situa nesse mundo formado de espaços no tempo, rodeado de formas, cores, texturas, signos, etc. Para perceber qual a correlação entre a cegueira e a imagem corporal analisemos no texto:

"Cobo et al. (2003) afirmam que, de maneira geral, a cegueira traduz-se em um "complexo de situações variáveis que reduz a capacidade de reunir informações, tornando a pessoa insensível à maior fonte de conteúdo informativo, o que logicamente afeta seu comportamento, reduzindo-o a um ambiente social diferente do

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da pessoa vidente." Assim, além das características e conseqüências provocadas pela cegueira descritas até o momento, ainda podemos apontar como traços peculiares a essa população a resistência física baixa, inibição voluntária, marcha deficitária (causada pela restrição de mobilidade independente), dificuldade de relaxamento, baixa flexibilidade e defasagem em expressões corporais e faciais (Conde, 1994)." (G. CUNHA. F. TAVARES, 2007, p.134)

Somente pelas percepções táteis, cinestésicas e aditivas, o deficiente visual em nível de cegueira, poderá desenvolver, dentro de limitações, as sensações corporais que lhe darão a estrutura da sua imagem corporal (obviamente, não nos referimos à imagem visual, mental de si) no esquema corporal. Além, é claro, da inter-relação constante com pessoas videntes que o estimulem com relação ao meio e aos objetos. Assim, é possível a alteração melhorando a imagem que tem de si, e a expressão desta no mundo.

Talvez a pouca divulgação da reeducação da imagem corporal para cegos e/ou o preconceito oriundo da própria cegueira, faz nos perceber, que vem trazendo prejuízos para a melhora da imagem corporal na população de cegos. Essa afirmação baseia-se na observação realizada por alguns profissionais psicomotores, sobre o tipo de desenvoltura no deslocamento corporal do cego.

3.4- Alteração da Imagem Corporal na questão de Membro- Fantasma (Amputação Física)

Segundo Schilder (1981, p. 69), esse fenômeno foi observado inicialmente por Weiner Mitchell. Posteriormente, outros pesquisadores também analisaram a questão. Perceberam que o fantasma é representado por sensações táteis e cinestésicas. Schilder, afirma que quase sempre as imagens visuais referidas ao fantasma continuam bem presente. De maneira que no início, o fantasma toma a forma da extremidade que foi amputada, no entanto, na medida em que o tempo vai passando, a forma começa a mudar e algumas de suas partes desaparecem ou pode mudar o tamanho e posição, como por exemplo, numa amputação de braço, a mão ser percebido como mão de bebê ou estar junto ao coto ao invés de manter a distância de sempre. Ou ainda manter a impressão de rigidez e/ou de posição de quando foi amputado, como observou nos estudos de Katz e Riese.

Para melhor visualizar o alcance do fantasma na alteração da imagem corporal, resolvemos listar em itens, as observações resultantes dos estudos de Schilder (1981):

1. O fantasma segue leis próprias.

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2. Um braço-fantasma ao se movimentar, em direção a um objeto rígido penetra-o. Ou mesmo, pode atravessar o próprio corpo do amputado se seguir na direção do corpo.

3. As representações psicológicas destas partes amputadas, devem ser diferentes das de outra partes do corpo.

4. O modelo postural do corpo se desenvolve no contato e com as experiências do mundo externo. As partes do corpo que tem um contato mais variado e estreito com a realidade, são as mais importantes, registradas nesse modelo postural.

5. Dentro das partes mais importantes de membros amputados, há regiões das mesmas partes que são mais importantes do que outras, e, no caso de percepção de desaparecimento, as regiões de menor importância tendem a desaparecer primeiro dentro destas partes.

6. Pode haver dois fenômenos na mesma questão: a presença do fantasma e o esquecimento do defeito; esquecimento de que não tem mais o membro.

7. Os fenômenos periféricos não bastam para explicar a imagem corporal do fantasma.

8. As parestesias mostram o ponto para o qual o esquema corporal está se dirigindo. Assim, o modelo postural se voltará sempre para os pontos de sensações fortes.

Para melhor enfatizar sobre as parestesias relacionadas em questão,pois os fantasmas dependem claramente delas, registramos as considerações sobre um caso de amputação:

"Antes de entrar nesta discussão, desejo mencionar a observação de um caso que perdeu, por amputação (em um acidente automobilístico), as duas últimas falanges do terceiro e quarto dedos da mão esquerda. Logo depois da operação, o paciente passou a sentir uma dor forte associada à vívida impressão tátil dos dois dedos dobrados de uma maneira dolorosa na primeira junta interfalangéia. As parestesias, juntamente com dores, desempenham um importante papel nesta fase. As imagens visuais estavam quase regularmente associadas à percepção tátil, Com a cessação da dor, o fantasma persistiu com os dedos já não mais dobrados, mas bastante estendidos e normais. Nesta fase, a conexão com as parestesias também era óbvia. Quando as parestesias eram mais fortes, o modelo tátil e visual dos dedos se tornava cada vez mais nítido. Mas sem que houvesse qualquer base sensorial, o sujeito muitas vezes esquecia que não havia dedos." (SCHILDER, PAUL, 1981, p.71)

A questão do fantasma e, a alteração da imagem corporal estende-se não somente aos membros; a extremidades, mas a outras partes internas como, por exemplo, observou Mayer-Gross, num fantasma após destruição total dos

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nervos do plexo braquial de uma lesão transversal da medula espinhal, como foi descrito nos relatos de Schilder (1981,p.72).

Vale estudar mais sobre o assunto, já que muito foi descoberto quanto ao modelo postural, a partir destas observações.

3.5- Alterações da Imagem Corporal no Envelhecimento

Atualmente a estética corporal, baseada na moda de uma sociedade capitalista de consumo, traz como resultado modelos idealizados de corpos, de comportamentos, hábitos, procedimentos, etc. Este padrão determinado de induzida influência sobre a massa social, como já sabemos, vem gerando lucros descomunais a diversas empresas industriais de elites multinacionais. Mas, este padrão estético ideal que tem sido admitido, aceito e cultivado pela população desta sociedade, nada tem haver com a real situação corporal da maioria das pessoas desta mesma sociedade. Esta discrepância tornou-se normatizada e automatizada como fato natural.

Neste contexto,o modelo real do corpo idoso em sua corporeidade que se manifesta no mundo, com sua alteração declinante de ritmo fisiológico, sensório-motor e, psicoemocional, encontra-se à margem de receber os louros desse "estado desejante" da sociedade.

Nesta faixa etária, o idoso ao refletir sobre si mesmo, ainda que não se importe com a opinião alheia, receberá a influências do meio. Esse meio a que nos referimos, além do externo, é também o interno. Aquele que é resultado de considerações e experiências vividas pelo ser junto ao meio no decorrer da vida e que são internalizadas como arquétipos atuantes na consciência vigente.

Esse olhar sobre si sofre as impressões da sua imagem corporal como veremos no texto de G. Cunha F. Tavares (2007, p.210):

"O envelhecimento também influencia na percepção do próprio corpo. O indivíduo jovem certamente tem uma percepção diferente de seu corpo do que um idoso. O processo de envelhecimento é uma experiência heterogênea, isto é, pode ocorrer de modo diferente para indivíduos que vivem contextos históricos e sociais distintos. Essa diferenciação depende de influências de circunstâncias histórico-culturais, de fatores intelectuais e de personalidade e da incidência de patologias durante o envelhecimento normal. A velhice deve ser analisada como "uma etapa da vida na qual, em decorrência da alta idade cronológica ocorrem modificações bio-psicossociais que afetam a relação do indivíduo com o meio."(Salgado, 1992). O corpo do idoso relaciona-se de maneira diferente com o meio ambiente e consigo mesmo. Sua participação socialmente ativa diminui com o decorrer dos anos. O relacionamento com a família modifica-se, muitas vezes de mantenedor para mantido. A relação

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consigo mesmo altera-se com as mudanças fisiológicas advindas com a idade avançada. E como o idoso enxerga, percebe, concebe, conhece esse corpo, modificado pelo processo de envelhecimento?

Gaiarsa (1986) cita em seu livro Como enfrentar a velhice: "Não sei o que pesa mais sobre os velhos, se a idade ou a idéia que fazem de si mesmos, movidos pelo modo como são tratados". Isso indica que o que o idoso pensa sobre si, sobre seu corpo, é influenciado pelo meio em que ele vive e não só pela sua visão da vida..

Sabemos que a imagem corporal constrói-se por meio das relações de nosso corpo com o mundo, com outros corpos e com o que as outras pessoas pensam e demonstram pensar de nossos corpos. Tavares (2003, p.27) fala que "a imagem corporal engloba todas as formas pelas quais uma pessoa experiencia e conceitua seu próprio corpo". A autora ainda afirma que "a percepção do corpo e do mundo modifica-se de acordo com os relacionamentos recíprocos entre o corpo e o mundo"(opus cit, p.35). Paul Schilder diz que a imagem corporal é baseada na organização estrutural do organismo humano. Todas as experiências da vida, as histórias internas de vida, fazem parte da elaboração da imagem corporal. A história interna do indivíduo é também a história de sua relação com outros seres humanos e também com a sociedade em seu sentido mais amplo (Bender, apud Shaskan e Roller, 1985). Como a relação da pessoa com ela mesma e com a sociedade modifica-se ao longo da vida, é natural que a imagem corporal também se modifique com o passar dos anos." (G. CUNHA. F. TAVARES, 2007, p.107)

Há muitos outros exemplos de situações onde, a imagem corporal é alterada, seja patologicamente ou não. Alguns deles são mais encontrados na literatura psicomotora como os que serão citados abaixo e que podem ser explorados nos estudos de suas causas, sintomas, efeitos sobre a imagem corporal e, o tipo de reeducação que pode ser realizada para a melhora ou cura em questão. Entre os exemplos tem-se:

1. Narcisismo

2. Alfabetização

3. Apraxia e agnosia

3. Aloestesia

4. Aloquiria relacionada à falta psicogenética da percepção da imagem corporal

5. Neurasteinia

6. Hipocondria

7. Lesão cerebral / paralisias

8. Imagem corporal não percebida

9. Expansão e destruição da imagem corporal

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3.6- Reeducação Psicomotora da Imagem Corporal no Esquema Corporal

Com os avanços da ciência, é sabido, ha certo tempo, que a plasticidade neural, ou também chamada de neuroplasticidade, é uma capacidade do cérebro de transformar-se plástica e fisiologicamente, melhorando funções cerebrais relacionadas. Conseqüentemente surge a melhora do bem estar aumentando a qualidade de vida.

Essas redes neuronais fazem parte das áreas do cérebro e que nem sempre são próximas. Quando estimuladas por métodos terapêuticos com objetivos e ações bem definidas, trazem excelentes resultados na recuperação corporal e cerebral. Conferem assim, o surgimento de novos engramas que fazem novos trajetos nesta malha neural, tornado-a mais irrigada e funcional. Entre os vários benefícios, a eliminação de alguns casos de doenças e/ou sintomas.

O tratamento terapêutico integrado entre as áreas psicomotora, psicanalítica e outras áreas afins, torna mais eficaz o resultado de melhora ou cura do cliente, evitando, de um modo geral, seu retorno na clinica e/ou no consultório.

Como já vimos anteriormente, o esquema corporal, é uma configuração de todo o corpo, localizada no cérebro.

Pode surgir a necessidade de reabilitar a imagem corporal que se encontra atuante neste esquema corporal. Isto pode ocorrer por ela estar incompatível com as necessidades do cliente trazendo transtornos em vários campos de sua vida. Neste caso, há que, se realizar técnicas e/ou métodos psicomotores para tratar terapeuticamente.

Durante os tratamentos, há um objetivo de extrema relevância: fazer uma estimulação da irrigação sanguínea cerebral relacionada às áreas do esquema corporal, para registrar novos modelos de imagem corporal mediante uma nova consciência corporal.

Outro procedimento também crucial para consolidação do tratamento, é que o mesmo, seja feito por pelo menos no mínimo noventa dias para consolidar os novos engramas cerebrais nas redes neuronais.

Há vários caminhos para conseguir elaborar a consciência corporal. Vamos exemplificar alguns métodos e ou técnicas que podem ser utilizados no

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campo terapêutico para tratar as alterações inadequadas da imagem corporal no esquema corporal. Vejamos alguns deles:

1. Técnicas de Massagens (da periferia ao centro corporal)

2. Método Filogenético

3. Método da Ginástica dos Animais

4. Método de Educação Rítmica de Áreas Corporais (objetivando a expressão corporal e ou dança ao final do processo)

5. Método de Rood

Para finalizar, resolvemos trazer à pesquisa, um exemplo de como funciona um desses métodos. As observações abaixo de trechos de dois textos da web, mostram sobre o Método de Rood.

Vejamos a visão de Leina Faray, Mariano Fabrício e Wendell Carvalho (25/jan. 2009), sobre o método:

"Método de Rood: nesse método há uma facilitação da atividade da unidade motora, por estimulação exteroceptiva, através de estímulos térmicos, barestésicas e paleo-estésicos, tapping (pequenas percussões sobre saliências ósseas), e outras." (www.jornalpequeno.com.br/2009/1/25/Página97249.htm)

Agora,observemos como descreve Ana Lúcia Moreira (15/set.2011), sobre o mesmo método:

"O método de Rood é uma técnica propriceptiva (termo-tatil) aplicada através de estímulos que são provocados nos pacientes para ativar os receptores sensoriais, onde irão receber esses estímulos e assim transmitir essas informações parao sistema nervoso central onde irão[aumentar a sensibilidade dos receptores de estiramento, seguida de estimulação proprioceptiva através de estiramento muscular rápido, facilitando desta forma a contração voluntária do músculo. A estimulação sensorial é realizada através da escovação rápida, massagem lenta e aplicação de frio e alongamento rápido."

O método Rood da ênfase a seqüência do movimento (do mais simples ao mais complexo), a escovação rápida deve ser realizada no sentido contrário da origem dos pelos afim de reforçar a atividade dos motoneurônios, passando de 3 a 5 vezes.

O objetivo do método é normalizar o tônus muscular, retornar ou aumentar a sensibilidade cutânea e proprioceptiva. O estimulo sensorial é aplicação do material com deslizamento no ventre muscular, e o estimulo proprioceptivo com a compressão articular manual, alongamento rápido, tapping e resistência ao movimento.

O Rood pode ser usado em ambiente hospitalar, adaptando a estimulação para ser feita com materiais de diferentes texturas, como por exemplo, gazes, algodão,

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máscara cirúrgica e luva de latéx." (www.fisiosaber.blogspot.com/.../aplicação-do-metodo-rood-no-ambiente_15.html)

Entendemos que muitas áreas do saber, sobretudo a área humana e da saúde, estão hoje, preocupadas em devolver a qualidade de vida do ser humano no mundo. São nítidas as conseqüências do automatismo em nossa sociedade para este ser.

Por isso, encontrarmos "pontes" entre estes saberes é fundamental para viabilizar a reconstrução dessa corporeidade iniciada no corpo próprio e estendida ao corpo social.

Um método ou uma técnica, não deve mais ser considerado como propriedade de uma determinada área do conhecimento, mas sim, ser instrumento multidisciplinar aplicado ao bem estar dessa pessoa.

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CONCLUSÃO

Há muito ainda o que se estudar a respeito da imagem corporal.

O panorama da imagem corporal pode ampliar-se com novas perspectivas no horizonte. Mas, antes de tudo, é preciso um olhar cuidadoso para que sejam minimizadas as confusões sobre o tema. É preciso que tudo que diz respeito ao ser, seja visto de maneira singular e significativa para sua estrutura. É preciso a união dos profissionais destas áreas afins que envolvem a imagem, esquema e consciência corporal, no empenho de uma práxis qualitativa.

Sempre foi, mas torna-se evidente em nossos dias, lembrar que uma pessoa é integral por natureza e necessita de condições que sustentem esse seu estado integral.

Pensar em organizar meios de ação para que viva com mais qualidade de vida, interagindo e incluindo-se no mundo, é também concretizar uma sociedade mais reflexiva e com mais alteridade.

Assim, a finalidade a ser alcançada com o empenho profissional e pessoal de todos, aponta caminhos para sanar as dificuldades da expressão desse ser no mundo que em sua corporeidade vivente, busca realizar sua completude.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALVES, Fátima. Como aplicar a psicomoticidade: uma atividade multidisciplinar com amor e união. 4. ed. RJ: Wak, 2011.

ALVES, Fátima. Psicomotricidade: corpo ação e emoção. 4. ed. RJ: Wak, 2008.

FARAY, Leina. FABRICIO, Mariano. CARVALHO, Wendell. Artigo disponível em: www.jornalpequeno.com.br/2009/1/25/Página97249.htm. Acesso em: 25/jan. 2009.

FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade e neuropsicologia: uma abordagem evolucionista. RJ: Wak, 2010.

LE BOULCH, Jean. O Desenvolvimento Psicomotor: do nascimento aos 6 anos. 7. ed. Porto Alegre: Artes Médica, 1982.

LELOUP, Jean Yves. O corpo e seus símbolos: uma antropologia essencial/16. ed. - Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

MACHADO, Ângelo. B. M. Neuroanatomia funcional. RJ. Atheneu, 1988

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. SP: Martins Fontes,1994.

MOREIRA, Ana Lúcia. Artigo disponível em: www.fisiosaber.blogspot.com/.../aplicação-do-metodo-rood-no-ambiente_15.html. Acesso em: 15/set. 2011.

OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. 15. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

RAPAPORT, Clara Regina. Psicologia do desenvolvimento. SP: Epu,1981.

SANCHEZ, Celso. Ecologia do corpo. RJ: Wak, 2011.

SCHILDER, Paul. A Imagem do Corpo. 3. ed. SP: Martins Fontes,1999.

SERGIO, Manuel. Para Uma epistemologia da psicomotricidade humana. 2. ed. Lisboa: Compendium,1994.

TAVARES, Maria da Consolação G. Cunha F. O Dinamismo da Imagem Corporal. SP: Phorte, 2007.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 08

CAPITULO I 11

CONTEXTO DA IMAGEM CORPORAL E CONTEXTOS RELACIONADOS 11

1.1- O corpo enquanto morada do ser 11

1.2- Conceito de corporeidade 12

1.3- Conceito de esquema corporal 13

1.4- Conceito de imagem corporal 14

1.4.1- O visual, o tátil, a posição e o modelo postural 14

1.5- Conceito de percepção 16

1.6- Contexto neurofisiológico da percepção da imagem corporal 16

1.6.1- Neuroanatomia funcional do esquema corporal 18

1.6.1.1- Imagem mental( corporal) no esquema cerebral 19

1.6.2- Emoções e imagem corporal 20

CAPITULO II 22

DESENVOLVIMENTO DA IMAGEM CORPORAL NO ESQUEMA CORPORAL E SUAS PERCEPÇÕES 22

2.1- "Corpos" na construção da imagem corporal 22

2.2- Considerações sobre percepções da imagem corporal no esquema corporal 25

2.2.1- A dor e a imagem corporal 26

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2.2.2- Relação entre o inconsciente e a imagem corporal 26

2.2.3- A percepção do "todo" de uma imagem corporal no esquema corporal 28

2.2.4- A figuração visual (impressão visual) e sensação tátil sobre o esquema e imagem corporal 27

2.2.5- A percepção, as sensações e os sentidos na imagem e esquema corporal 28

2.2.6- O movimento corporal e sua relação com o esquema corporal e a imagem corporal 28

2.27- A unidade da imagem corporal e a unidade da percepção das partes do corpo 29

2.2.8- O aparelho vestibular e sua interferência na imagem corporal 29

2.2.8.1- O aparelho vestibular relacionado à gravidade na percepção da imagem corporal 30

2.2.9- Percepção da postura habitual no modelo postural (imagem no esquema corporal) 31

CAPÍTULO III 33

EXEMPLOS DE ALTERAÇÕES DA IMAGEM CORPORAL E REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA 33

3.1- Alteração da imagem corporal na histeria 33

3.2- Alteração da imagem corporal na anorexia 34

3.3- Alteração da imagem corporal na deficiência visual (em especial a cegueira) 36

3.4- Alteração da imagem corporal na questão do membro fantasma (amputação física) 37

3.5- Alteração da imagem corporal no envelhecimento 39

3.6- Reeducação psicomotora da imagem corporal no esquema corporal 41

CONCLUSÃO 44

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45

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