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78 Revista Produção v. 14 n. 1 2004 A study on the acting of sugar agrobusiness in the state of pernambuco in the period from 1987 to 1996 Abstract This work seeks to evaluate the acting of the section sugar agrobusiness in Pernambuco state during the period between 1987 and 1996, after the retreat of the incentives granted by Proálcool. Aspects of the section, the current context and important concepts linked to the theme are presented. Soon after, makes a brief evaluation of Proálcool effects in the expansion of the section. The adopted and accomplished theoretical referencial is presented a study of the competitive acting. It is concluded with its behavior in the considered period, with relationship to the market, efficiency and training. Key words Competitiveness, agrobusiness, performance indicators. EUNICE PARAGUASSU MOURA E-mail: [email protected] MARIA AUXILIADORA DO NASCIMENTO MÉLO E-mail: [email protected] DENISE DUMKE DE MEDEIROS E-mail: [email protected] Grupo de Pesquisa PLANASP/Departamento de Engenharia de Produção Universidade Federal de Pernambuco Resumo Este trabalho visa avaliar o desempenho do setor agroindustrial canavieiro no Estado de Pernambuco no período entre 1987 e 1996, após a retirada dos incentivos concedidos pelo Proálcool, no qual o setor ficou mais exposto às condições de mercado. São apresentados aspectos da agroindústria açucareira, a contextualização atual do setor e conceitos importantes ligados ao tema. Em seguida, faz-se uma breve avaliação dos efeitos do Programa Proálcool na expansão do setor. É apresentado o referencial teórico adotado e realizado um estudo do desempenho competitivo. Conclui-se, com seu comportamento no período considerado, quanto a mercado, eficiência e capacitação. Palavras-chave Competitividade, agroindústria, Indicadores de desempenho. Um estudo sobre o desempenho da agroindústria canavieira no Estado de Pernambuco no período de 1987 a 1996

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Eunice Paraguassu Moura; Maria Auxiliadora do Nascimento Mélo; Denise Dumke de Medeiros

78 Revista Produção v. 14 n. 1 2004

A study on the acting of sugar agrobusiness in the

state of pernambuco in the period from 1987 to 1996

Abstract

This work seeks to evaluate the acting of the section sugar agrobusiness in Pernambuco state during the period

between 1987 and 1996, after the retreat of the incentives granted by Proálcool. Aspects of the section, the

current context and important concepts linked to the theme are presented. Soon after, makes a brief evaluation

of Proálcool effects in the expansion of the section. The adopted and accomplished theoretical referencial is

presented a study of the competitive acting. It is concluded with its behavior in the considered period, with

relationship to the market, efficiency and training.

Key words

Competitiveness, agrobusiness, performance indicators.

EUNICE PARAGUASSU MOURA

E-mail: [email protected]

MARIA AUXILIADORA DO NASCIMENTO MÉLO

E-mail: [email protected]

DENISE DUMKE DE MEDEIROS

E-mail: [email protected]

Grupo de Pesquisa PLANASP/Departamento de Engenharia de Produção

Universidade Federal de Pernambuco

Resumo

Este trabalho visa avaliar o desempenho do setor agroindustrial canavieiro no Estado de Pernambuco no período

entre 1987 e 1996, após a retirada dos incentivos concedidos pelo Proálcool, no qual o setor ficou mais exposto

às condições de mercado. São apresentados aspectos da agroindústria açucareira, a contextualização atual do

setor e conceitos importantes ligados ao tema. Em seguida, faz-se uma breve avaliação dos efeitos do Programa

Proálcool na expansão do setor. É apresentado o referencial teórico adotado e realizado um estudo do desempenho

competitivo. Conclui-se, com seu comportamento no período considerado, quanto a mercado, eficiência e

capacitação.

Palavras-chave

Competitividade, agroindústria, Indicadores de desempenho.

Um estudo sobre o desempenho daagroindústria canavieira no Estado de Pernambuco

no período de 1987 a 1996

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no Estado de Pernambuco no período de 1987 a 1996

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INTRODUÇÃO

O setor agroindustrial canavieiro é um dos mais repre-sentativos setores de produção do Brasil, não somentequando se considera o caso específico do Estado dePernambuco, mas também a própria economia do Paíscomo um todo. O Brasil ocupa o primeiro lugar naprodução mundial de cana-de-açúcar, sendo o segundoprodutor de açúcar do mundo, ultrapassado apenas pelaÍndia. A produção do setor agroindustrial canavieirorepresenta aproximadamente 1,5% da produção total debens e serviços no País. Em Pernambuco, o setor respon-de por uma parcela de, aproximadamente, 4% do produtototal da economia do Estado.

Vale salientar, ainda, que a atividade canavieira éresponsável, em toda a regiãoda Zona da Mata pernambuca-na, pela quase totalidade dospostos de trabalho disponí-veis. Em época de safra, amesma chega a empregar cer-ca de 6% da mão-de-obra doEstado (BARROS, 1996). As-sim, além de representar um dos mais importantes seto-res de produção do Estado, o setor canavieiro pernambu-cano também desempenha um instrumento fundamentalpara a geração de postos de trabalho.

Nesse contexto, é importante frisar que a manutençãodessa atividade, ao prover todo esse contigente de mão-de-obra na região dos canaviais, diminui significativa-mente o êxodo rural para as grandes cidades, evitando,dessa forma, o agravamento dos problemas sociais rela-tivos à elevada densidade demográfica dos centros urba-nos (LIMA; SILVA, 1995).

Ainda com relação ao emprego da mão-de-obra esta-dual, existem alguns números que retratam muito bem oque representa a atividade canavieira como fonte gerado-ra de postos de trabalho no Estado de Pernambuco. Porexemplo, os 6.937 estabelecimentos agrícolas envolvi-dos com a produção de cana-de-açúcar no Estado, no anode 1996, chegaram a empregar um total de 106.349pessoas, o que representa algo em torno de 3% da popu-lação economicamente ativa do Estado (IBGE, 1996).

A importância desse setor também é justificada pelainfluência do mesmo em outros setores da economia taiscomo: agricultura; indústria extrativa; indústria de trans-formação; energia elétrica; construção civil; comércio;transporte, armazenamento e telecomunicações; ativida-des financeiras, imóveis e serviços às empresas; serviçoscomunitários, etc. segundo Jalfrim (1997). Como vistoanteriormente, pelo número de pessoas que emprega, énatural que o desempenho do setor agroindustrial cana-

vieiro afete diretamente uma série de outros setores,principalmente o comércio, na medida em que representao grande gerador de renda de uma parcela significativada força de trabalho em Pernambuco.

Acredita-se, pelo exposto acima, que ainda é conside-rável a influência do setor canavieiro nos principaisindicadores da economia de Pernambuco. Embora a mes-ma já tenha sido muito mais significativa em décadasanteriores, essa atividade vem diminuindo significativa-mente a sua parcela de contribuição para o sistema pro-dutivo do Estado como um todo.

Dessa forma, pela importância que exerce sobre a eco-nomia de Pernambuco, qualquer acontecimento que afeteo referido setor de produção torna-se de grande relevânciapara o desempenho da produção global do Estado.

Pode-se observar que o comportamento do setor agroin-dustrial canavieiro pernambucano vem se apresentando deforma instável nas últimas décadas. Acredita-se que, devi-do a uma série de problemas ainda não bem identificados,o setor vem passando por grandes dificuldades, resultandoem um processo de fechamento de usinas e diminuição dovolume de produção, o que tem provocado a perda daimportância desse setor para a economia de Pernambuco,bem como para a economia nacional.

Assim, pelo que representa o setor agroindustrial cana-vieiro para a economia do Estado de Pernambuco, e pelasdificuldades surgidas ao longo dos últimos anos, torna-seindispensável conhecer as verdadeiras causas que motiva-ram o aparecimento dos empecilhos ao desempenhosatisfatório do setor canavieiro pernambucano, de formaque se possa sugerir, com maior propriedade, algumassoluções que possam viabilizar a retomada do andamentonormal das atividades naquele importante setor produtivo.

PROBLEMÁTICA

Na atividade agrícola, a produção está exposta a al-guns fatores, muitas vezes, imprevisíveis e sem controlepelo homem, tais como, ocorrência de secas, proliferaçãode pragas, etc.

Assim, esses fenômenos são utilizados como justifica-tiva para a existência de programas de crédito subsidia-do, políticas de garantia de mercado e preços mínimos.Ou seja, tendo em vista que fenômenos da natureza

A produção do setor agroindustrial canavieirorepresenta aproximadamente 1,5% da

produção total de bens e serviços no País.

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podem surgir a qualquer momento, os produtores nãopodem deixar de ter algumas facilidades e garantias paraque se sintam mais seguros em produzir.

Entende-se, então, que a intervenção do governo naatividade agrícola justifica-se pela existência de falhas naobtenção de informações que são importantes para asdecisões de investimento (CARVALHO, 1998). Assim, apresença do governo oferecendo garantia de mercado paraa produção, bem como recursos financeiros a custos maisbaixos (subsídio), funciona como um incentivo, muitasvezes, indispensável para que alguns produtos origináriosdo setor em questão possam ser produzidos na quantidadenecessária para atender os desejos dos consumidores.

Nesse sentido, a existência de programas de subsídiocomo, por exemplo, o Programa Nacional do Álcool –Proálcool pôde garantir um nível elevado de produção naatividade canavieira, já que o Estado passou a assumir aquase totalidade dos riscos envolvidos naquela atividade.

Em meio à crise do petróleo durante os anos 70, ogoverno brasileiro lançou, em 1975, o Programa Nacionaldo Álcool. O objetivo imediato desse programa era ampliara oferta de álcool para fins carburantes, com a finalidadede reduzir as importações de petróleo, dado que seu preçohavia quadruplicado no mercado internacional, passando,de mais ou menos US$ 3,00, para algo em torno de US$12,00 o barril. Portanto, a criação do programa foijustificada pelo Governo Federal pela necessidade de sebuscar alternativas de substituição do petróleo, que eraimportado, pelo álcool produzido internamente.

Embora tenha surgido com o propósito de resolver umproblema de desequilíbrio nas contas externas do País,ocasionado pela grande elevação do preço do petróleo nomercado internacional (1973/74), a verdade é que a mag-nitude das facilidades e subsídios envolvidos alavancouuma série de investimentos no setor da agroindústriacanavieira. Esses investimentos surgiram, principalmen-te, a partir de 1979 e foram de grande importância, nãoapenas para a ampliação da capacidade produtiva, comotambém para a modernização daquele ramo de atividade(LOPES, 1996).

Logo em seguida, coincidindo com a retirada dosincentivos desse programa, muitas dificuldades começa-ram a aparecer, provocando a falência de várias unidadesprodutoras, principalmente no Estado de Pernambuco.

No entanto, quando tal programa é extinto e algumasunidades produtoras são mais atingidas do que outras,mostra que existem diferenças em termos de eficiênciaentre as mesmas. Ou seja, o Proálcool deve ter favoreci-do a expansão do setor agroindustrial canavieiro brasilei-ro, mas não significa que as unidades produtoras torna-ram-se igualmente eficientes, capacitadas, etc. É muitocomum que se atribua à extinção do Proálcool a respon-

sabilidade pelos problemas que o setor canavieiro per-nambucano vem atravessando nos últimos anos. Contu-do, observando a situação no resto do País, nota-se que oreferido setor expandiu-se no mesmo período, fato quecoloca em dúvida essa explicação. Torna-se bastanteoportuno, desse modo, analisar, com maior cuidado, asituação do setor canavieiro de Pernambuco, para queincertezas como essas possam começar a ser esclareci-das, e prováveis soluções sejam encontradas.

Desse modo, o objetivo central do trabalho de pesqui-sa que foi desenvolvido era avaliar o desempenho com-petitivo do setor agroindustrial canavieiro pernambuca-no, ao longo do período que vai de 1987 a 1996, períodoesse que coincide com o enfraquecimento e extinção doProálcool. A importância maior desse período é que omesmo permite que o setor seja estudado sob condiçõesde maior exposição ao mercado, isto é, à concorrência.

A escolha do período 87/96, que coincide com o fim dosincentivos proporcionados pelo Proálcool, não tem porobjetivo apontar o fim daquele programa como causadordas atuais dificuldades, pois isso também deveria serverdadeiro para o restante do País. Ao contrário, a partir deum conjunto de indicadores de desempenho, aplicadospara os dados do setor de produção em estudo, o que se vaiprocurar testar é se o desempenho competitivo do setor foirealmente insatisfatório naquele período, o que daria àsatuais dificuldades uma outra dimensão.

METODOLOGIA APLICADA

Acredita-se que todo estudo sobre competitividadeenvolve a seleção de indicadores, já que existe umavariedade muito grande e nem todos são aplicáveis, oumesmo relevantes, em todos os trabalhos. Sejam elesquantitativos ou qualitativos, devem se enquadrar em trêsdimensões apropriadas, tais como: empresariais, setoriaise sistêmicas. Dentro de cada uma das dimensões citadas,podem ser abordados aspectos de eficiência, capacitação edesempenho (COUTINHO; FERRAZ, 1995).

Uma das principais etapas do trabalho foi a escolha deindicadores de avaliação do desempenho competitivo,que fossem mais adequados à pesquisa.

Neste trabalho, que tem como objetivo geral avaliar arepresentação do setor agroindustrial canavieiro de Per-nambuco, no período de 1987 a 1996, a atuação competi-tiva foi tratada a partir da dimensão setorial, dando-seênfase à utilização de indicadores de desempenho, eficiên-cia e capacitação.

Tal escolha levou em consideração alguns dos indica-dores que constam de uma extensa lista sugerida porCoutinho; Ferraz (1995), possibilitando, desse modo,abordar as três modalidades acima mencionadas.

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Os critérios adotados para a escolha dos indicadoresutilizados nessa pesquisa levaram em conta cinco aspec-tos: a dimensão do desempenho competitivo (setorial), osobjetivos de desempenho propostos (desempenho, eficiên-cia e capacitação), as especificidades do setor canavieiro,os objetivos do próprio trabalho e, ainda, a disponibilidadedas informações necessárias.

Assim, de acordo com os critérios estabelecidos, fo-ram selecionados os seguintes indicadores:• Indicadores de desempenho: taxa de crescimento das

vendas externas, relação exportações/produção, expor-tações locais/exportações nacionais, evolução do preçode venda.

• Indicadores de eficiência: produtividade da terra, custoda mão-de-obra.

• Indicadores de capacitação: escolaridade da mão-de-obra, gastos com pesquisa e desenvolvimento.

RESULTADOS OBTIDOS

Com a aplicação dos indicadores citados anteriormente,foi possível analisar a atuação do setor canavieiro pernam-bucano, ao longo do período analisado. Uma síntese daanálise dos principais indicadores é apresentada a seguir.

Indicadores de Desempenho do Setor Canavieiro

Com relação aos indicadores de desempenho no mer-

cado, o comportamento demonstrou que a performancedo setor em Pernambuco foi totalmente insatisfatória,levando-se em conta todos os aspectos analisados. Osetor açucareiro local perdeu posição em todos os indica-dores apresentados, não conseguindo acompanhar a per-formance nacional do mesmo setor. Como exemplo,pode-se observar o comportamento do indicador expor-tações locais/exportações nacionais (Figura 1). Quandoesta relação apresenta uma tendência de elevação é por-que o setor local vem obtendo um desempenho maissatisfatório do que os demais Estados brasileiros.

Observando atentamente a Figura 1, pode-se ver que arelação entre as exportações locais de açúcar e as expor-tações nacionais declina continuamente através do perío-do analisado, mostrando que o setor açucareiro pernam-bucano obteve um desempenho bastante insatisfatório.Pode-se dizer que os produtores locais não conseguiramacompanhar a performance dos produtores dos demaisEstados em termos da evolução da quantidade vendida nomercado internacional.

Esse indicador, além de fornecer um indicativo daperformance do Estado de Pernambuco em si, mostratambém a situação em relação ao país como um todo. Ouseja, além de um indicador absoluto da situação local, omesmo torna-se muito mais uma medida relativa da situa-ção em andamento. A Figura 2 retrata o seu comporta-mento ao longo do período em estudo.

Fonte: Sindaçúcar e Banco Central.

Figura 1: Exportações de açúcar – Pernambuco/Brasil (1987-95).

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Como pode ser concluído a partir da Figura 1, o Estadode Pernambuco não conseguiu acompanhar a performan-ce dos demais Estados no mercado internacional no perí-odo em estudo. As causas desse resultado podem serobservadas na Figura 2.

A diminuição contínua da participação das exporta-ções de Pernambuco nas exportações nacionais se deupor conta de uma estagnação das exportações locais, aomesmo tempo em que as exportações brasileiras cresciamsubstancialmente, conforme a Figura 2 demonstra.

Assim, pode-se dizer que, de acordo com esse indica-dor, o setor açucareiro pernambucano obteve uma atua-ção bastante insatisfatória ao longo do período, no que serefere às exportações.

Outra avaliação da atividade do setor agroindustrialcanavieiro ao longo dos últimos anos pode ser feita apartir do índice da produção mensal do setor, divulgadapelo IBGE. Nesse índice, além da produção de cana-de-açúcar, é considerada, também, a produção de açúcar, deálcool, de bebidas e de todos os demais produtos doreferido setor. A Figura 3 apresenta a evolução do índiceda produção mensal do setor no Estado de Pernambuco,durante a primeira metade da década de 90.

Na Figura 3, nota-se, em primeiro lugar, que a produ-ção oscila consideravelmente ao longo de cada ano.Como a grande maioria das atividades que estão ligadasà agricultura, a produção do setor agroindustrial cana-vieiro também tende a se concentrar, com maior intensi-dade, em determinados períodos de tempo específicos,

mantendo uma certa tendência de altos e baixos ao longodo tempo. Esse caráter sazonal da produção agroindus-trial reflete basicamente as diferentes condições climáti-cas que vigoram no decorrer de um período produtivo.

Pode-se observar ainda que, com relação à questãoespecífica do desempenho do setor, se verifica que omesmo atingiu o seu auge nos primeiros anos daquelasérie de dados, mais precisamente, por volta da safra 92/93. A produção sofreu uma ligeira queda a partir deentão, estabilizando-se em um patamar inferior, o quepode ser visto através da observação dos picos atingidospelo índice em análise, ao longo dos anos considerados.Pode-se observar que o desempenho do setor canavieirodeve ser considerado, no mínimo, como sendo insatisfa-tório, visto que, além de não apresentar qualquer cresci-mento, houve uma ligeira retração.

Para que se possa entender melhor o que deve teracontecido no Estado de Pernambuco, convém que sejaobservado o comportamento do mesmo indicador para aprodução brasileira como um todo, o que é feito atravésda Figura 4.

Observando a Figura 4, construída a partir de dadosreferentes ao Brasil como um todo, pode-se notar algu-mas diferenças bem visíveis em relação aos dadosconcernentes ao Estado de Pernambuco, apresentados naFigura 3.

Em primeiro lugar, ao contrário do Estado de Pernam-buco, o setor agroindustrial canavieiro nacional apresen-ta uma tendência de expansão ao longo do período anali-

Fonte: Sindaçúcar e Banco Central

Figura 2: Exportações de açúcar - Pernambuco e Brasil (1987-95)

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sado, dado que os picos atingidos pela produção do setor semostram cada vez mais elevados, embora aí sejam incluídasalgumas contribuições negativas como a do próprio setorpernambucano. Assim, como Pernambuco tem uma certa

representatividade nesse ramo, se fosse retirada a influênciadesse Estado para os dados que deram origem à Figura 4,acredita-se que o desempenho do setor brasileiro se mostra-ria bem mais satisfatório.

Figura 3: Índice da produção mensal do setor canavieiro (1991-95).

Fonte: IBGE. Base: Média de 1991 = 100. Calculados a partir de valores monetários da produção.

Figura 4: Índice da produção mensal do setor canavieiro (1991-95).

Fonte: IBGE. Base: Média de 1991 = 100. Calculados a partir de valores monetários da produção.

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Em segundo lugar, nota-se, também, que o ciclo deprodução é mais longo para o Brasil (Figura 4) do quepara o Estado de Pernambuco individualmente (Figura3). Isso pode ser percebido pelo fato de as elevações dafig. 4 possuírem uma espessura mais larga do que aquelasconstantes da Figura 3. A explicação está no fato de queos dados referentes ao Brasil são provenientes de Estadoscom diferentes períodos de colheita, como é o caso dePernambuco e São Paulo, por exemplo, onde as condi-ções climáticas são bem diferentes.

Por fim, vê-se claramente que o índice aqui tratadooscila numa faixa bem mais estreita na Figura 4 do quepropriamente na Figura 3. Isso pode ser consideradocomo um indicativo de que a produção agroindustrialcanavieira mostra-se bem mais instável no Estado dePernambuco do que no Brasil como um todo. Um de-monstrativo adicional dessa proposição pode ser dado apartir do cálculo da dispersão do índice apresentado paraas duas regiões consideradas. No caso brasileiro, o des-vio padrão do índice atinge o valor de 67,7 enquanto que,no caso pernambucano, o valor calculado é de 84,3. Istoé, os dados são, realmente, mais dispersos no setor cana-vieiro de Pernambuco.

Em síntese, de acordo com o que foi visto acima, pode-se concluir que o setor agroindustrial canavieiro de Per-nambuco não apresentou um desempenho suficiente aolongo da primeira metade da década de 90. Quando vistoisoladamente, nota-se que, além de não se expandir, sofreuma ligeira retração ao longo do período analisado, esta-bilizando os níveis de produção numa faixa inferioràquela apresentada nos primeiros anos. Quando compa-rado com o desempenho brasileiro do mesmo setor, osnúmeros se mostram ainda mais preocupantes, dado que,no âmbito nacional, o setor se expandiu e sofreu menoresoscilações em seus níveis de produção.

Acredita-se que não se pode avaliar o desempenho deum setor observando apenas os indicadores acima anali-sados. Como visto anteriormente, a atuação competitivade um setor deve ser medida por uma série de indicado-res, que devem ser escolhidos de acordo com as suascaracterísticas. No entanto, a trajetória dos índices acimaanalisados se constitui um indicativo relevante da per-formance do setor, pois tais índices podem revelar os

rumos que o setor vem tomando, ou seja, decadência,estagnação ou expansão.

Dessa forma, a partir de uma primeira constatação deque o setor agroindustrial canavieiro pernambucano ob-teve um desempenho insatisfatório na primeira metadeda década de 90, deve-se fazer uma avaliação individualde alguns dos principais produtos que compõem a produ-ção total do referido setor agroindustrial. Portanto, antesda aplicação dos índices de desempenho escolhidos parao ramo de atividade em questão, será feita a avaliação dealguns produtos, para que se possa obter uma visãopanorâmica da situação.

Outro indicador importante de desempenho no merca-do é a relação entre a quantidade exportada e a quantida-de produzida. Quando um setor se caracteriza pela gran-de parcela de suas vendas destinada ao mercado interna-cional, ao mesmo pode ser atribuído um bom desempe-nho, dado que a concorrência nesse mercado é muitogrande. No mercado internacional, além das empresaslocais, estão também as empresas de todos os países domundo. Acredita-se que conseguir vender uma parcelacada vez maior da produção em um mercado com essascaracterísticas é sinal de bom desempenho.

O comportamento darelação em análise, en-contra-se na Figura 5.Quando comparados oinício e o fim do períodoanalisado, pode-se dizerque a participação dasvendas externas no totalproduzido manteve-se

praticamente constante. Comparando-se os valores obti-dos para os anos de 1986 e 1995, vê-se que os mesmossão exatamente iguais, mais precisamente 0,60. Vistodessa forma, tal fato talvez pudesse indicar que o desem-penho do setor, pelo menos, não poderia ser consideradocomo insatisfatório, já que se trata de uma relação. Entre-tanto, observando melhor a Figura 5, vê-se que, dentro dointervalo citado, tal relação ficou, na maioria das vezes,abaixo de 0,60, por exemplo, chegando a 0,43 em 1990.Pode-se perceber também que houve sempre grandesoscilações dentro do mesmo intervalo.

Observando o comportamento da relação entre ex-portações e quantidade produzida, retratada na Figura 5e analisada acima, pode-se concluir que, por esse indi-cador não houve um desempenho satisfatório do setoraçucareiro pernambucano ao longo do período de tempoem análise.

A evolução do preço obtido pelo produto também setorna uma variável importante na medida em que a mes-ma pode servir de estímulo ou desestímulo ao produtor.

E m Pernambuco, a agroindústria canavieiraresponde por uma parcela de, aproximadamente,

4% do produto total da economia do Estado.

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Um preço mais elevado tende a aumentar a lucratividadedo setor na medida em que proporciona uma maior recei-ta por unidade produzida. O contrário ocorre quando opreço sofre uma redução. Essa variável funciona muitomais como um indicativo de estímulos ao produtor doque simplesmente como uma medida de desempenho.Mesmo assim, por assumir tal importância, a mesma nãodeve deixar de fazer parte de uma análise dessa natureza.O comportamento dessa variável, para o caso do açúcar,no mercado internacional, ao longo do período analisa-do, é apresentado graficamente na Figura 6.

Observa-se na Figura 6, que há uma tendência deredução do preço obtido por tonelada, ao longo de todo operíodo analisado. Com exceção de uma substancial ele-vação entre 1988 e 1989, o preço pago por tonelada semostrou sempre declinante.

A tendência assumida pelo preço do açúcar no merca-do internacional pode indicar que o desempenho insatis-fatório do setor, no período analisado, pode ter entre assuas causas problemas relacionados com preços, pelomenos no que se refere ao mercado do açúcar.

Torna-se conveniente verificar também o comporta-mento dos preços do produto no mercado interno. Comofoi visto anteriormente, apenas uma parcela do açúcar évendida no exterior, sendo o restante vendido no merca-

do brasileiro. Por isso, o comportamento do preço nomercado local também se torna uma variável importantea ser analisada.

A Figura 7 apresenta o comportamento do preço doaçúcar no mercado interno para o período compreendidoentre 1987 e 1995.

Analisando essa figura, observa-se que o preço emvigor no mercado interno se comportou de maneira aindamais negativa para o setor do que propriamente o preçono mercado externo. No caso do preço local, a tendênciade redução foi muito mais intensa, caindo ao longo detodo o período de forma quase que contínua. Assim,pelos números apresentados para o preço do açúcar, nãohá qualquer evidência de que o setor agroindustrial cana-vieiro pudesse ter tirado algum proveito exclusivo dessavariável como forma de obter uma performance maissatisfatória. Pela queda do preço, tanto no mercado inter-no como no mercado externo, não é surpresa que arelação exportação/produção tenha se mantido constanteao longo do período.

No entanto, dado que outros produtos também contri-buem significativamente para a produção total dessesetor, convém verificar o comportamento dos preços noque se refere a tais produtos.

Um dos produtos de maior interesse nesse trabalho,

Figura 5: Relação exportação/produção de açúcar (1986-96).

Fonte: Sindaçúcar.

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dada a sua importância para o setor canavieiro, é o álcool,que contribui com uma grande parcela das receitas dosprodutores. Desse modo, o comportamento do preço do

álcool no mercado interno é um indicador importante parao desempenho do referido setor. Na Figura 8, apresenta-sea evolução do preço desse produto no período em análise.

Fonte: Barros (1996) . Base: em R$ de abril de 1995 por tonelada.

Figura 6: Preço do açúcar no mercado externo (1986-95).

Figura 7: Preço do açúcar no mercado interno (Nordeste, 1987-95).

Fonte: Barros (1996). Base: em R$ de abril de 1995 por saca de 50 kg.

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Um estudo sobre o desempenho da agroindústria canavieira

no Estado de Pernambuco no período de 1987 a 1996

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Da mesma forma que o preço do açúcar, o preço do álcoolcaiu significativamente ao longo do período, mostrandoque, também no caso desse produto, os incentivos proveni-entes dos preços não foram, de maneira alguma, positivos.

Uma vez analisados os indicadores de desempenhoapresentados e os resultados obtidos, observa-se que osmesmos, de uma forma geral, indicam uma situação emque a performance do setor açucareiro pernambucano écrítica. A taxa de crescimento das vendas externas não secomportou satisfatoriamente, a relação exportações/pro-dução apresentou grandes oscilações, enquanto que aparticipação das exportações pernambucanas nas expor-tações brasileiras reduziu-se significativamente ao longodos anos. O comportamento dos preços, verificados emtermos de mercado interno e mercado externo, mostrou-se um fator extremamente negativo para a evolução dosetor, dado que caíram intensamente ao longo dos anos.

Diante desse cenário, não havendo um só indicadorcom comportamento favorável, a conclusão a que sepode chegar é que o setor açucareiro pernambucano,realmente, não obteve um desempenho satisfatório demercado, durante o período considerado.

Indicadores de Eficiência do Setor Canavieiro

Dando seqüência à análise dos indicadores, a perfor-mance do setor canavieiro será avaliada também pelosindicadores de eficiência, onde serão analisados algunsaspectos ligados aos custos de produção, como a produ-tividade da terra e o custo da mão-de-obra.

Os dados apresentados na Figura 9 representam umamédia ponderada dos rendimentos obtidos pelas diversasfaixas salariais apresentadas pelo IBGE. Cada faixa foiponderada de acordo com o número de pessoas na classe,no total do número de indivíduos em atividade.

Figura 8: Preço do álcool no mercado interno (Nordeste, 1987-95).

Fonte: Barros (1996). Base: em R$ de abril de 1995 por m3.

Figura 9: Custo da mão-de-obra em Pernambuco (1987-96) a partir de dados do IBGE (em salários mínimos).

ANOS

1987 1,04 2,15

1990 1,08 2,38

1993 0,45 1,73

1996 0,73 2,22

INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃOAGRÍCOLA

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Como é possível observar na Figura 9, o custo da mão-de-obra em Pernambuco, no período analisado, de umamaneira geral, pode ser considerado como muito baixo,não representando nenhum obstáculo ao desempenho dosetor. O salário médio na indústria de transformação nãochega a 2,5 salários mínimos, enquanto no setor agrícola,nos períodos de maior remuneração, não passa de umsalário mínimo. Considerando o baixo custo da mão-de-obra, um setor como o agroindustrial canavieiro, ondeestá contabilizada grande parte da remuneração da mão-de-obra agrícola, não pode atribuir ao pagamento desalários elevados a responsabilidade por qualquer de-sempenho insatisfatório que possa vir a obter. Como seobserva, houve uma tendência de queda nos salários, oque poderia tornar o setor mais competitivo.

No entanto, pode ser que o setor careça de mão-de-obra especializada, e este poderia vir a ser um fatorimportante para levar a um desempenho insatisfatório.Entretanto, a remuneração dos trabalhadores não deveser apontada como causa de uma má performance.Dessa forma, torna-se conveniente verificar até queponto a mão-de-obra local está devidamente qualifica-da, fator indispensável para a obtenção de um desem-penho satisfatório em qualquer atividade.

Os indicadores de eficiência mostraram que a produ-tividade da terra em Pernambuco é muito mais baixa quenas demais regiões do País e, ao contrário do que ocorreuno restante do Brasil, a mesma declinou ao longo dosanos no Estado, como pode ser visto na Figura 10.

Para a baixa produtividade, a razão pode ser a utiliza-ção de terras pouco apropriadas ou de técnicas ultrapas-sadas, o que deve acabar resultando em uma baixa remu-neração do trabalhador. Acredita-se que esses resultados

devam ter contribuído diretamente para o desempenhocompetitivo insatisfatório do setor.

Indicadores de Capacitação do Setor Canavieiro

O conjunto dos indicadores de capacitação procurademonstrar o nível de preocupação com melhorias, tantodo pessoal envolvido como dos equipamentos e do pró-prio ambiente. Leva-se em consideração algumas medi-das que se referem mais diretamente a especificidadestais como adoção de normas de qualidade, escolaridade etreinamento da mão-de-obra, gastos com pesquisa e de-senvolvimento, gastos com melhorias ambientais, etc.

Para avaliar a situação em termos de instrução da forçade trabalho à disposição do setor canavieiro pernambu-cano, a Figura 11 apresenta a média em termos de anos deestudo para a população economicamente ativa do Esta-do, em anos selecionados, de acordo com a sua localiza-ção, rural e urbana.

Nessa Figura 11, é apresentada a média ponderada dosanos de estudo, de acordo com a distribuição apresentadapelo IBGE. Cada faixa foi ponderada de acordo com onúmero de pessoas em cada uma no número total deindivíduos que compõem a população economicamenteativa do Estado.

Os dados da fig. 11 mostram que a população econo-micamente ativa do Estado de Pernambuco, ao longo doperíodo analisado, possui um nível de instrução quedeixa muito a desejar. A situação mais grave, como já erade se esperar, está no meio rural, onde os valores obtidosindicam que a média não chega a três anos de estudo,mostrando que esses indivíduos não possuem sequer ograu primário de educação. Além do mais, ao longo dotempo, pode-se notar que a mesma variável não mostra

Figura 10: Produtividade da terra no cultivo da cana-de-açúcar (1987-96) a partir de dados do IBGE.

ANOS

1987 52,83 75,52 62,29

1988 50,64 75,84 62,76

1989 54,14 73,96 61,99

1990 48,83 76,07 61,48

1991 50,32 73,53 61,96

1992 51,65 77,00 64,60

1993 39,49 78,41 63,29

1994 48,16 80,11 67,23

1995 49,46 76,45 66,61

1996 49,92 77,14 67,25

SÃO PAULO (T/HA)PERNAMBUCO (T/H

A) BRASIL (T/H

A)

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qualquer perspectiva de elevação nos níveis dos seusvalores. No meio urbano, embora o nível de instruçãoainda seja baixo, nota-se que há uma perspectiva demudança no sentido positivo ao longo do tempo.

Acredita-se que uma das explicações para os baixosvalores encontrados é o alto índice de analfabetismo dapopulação economicamente ativa do Estado de Pernam-buco. Segundo dados do IBGE, essa taxa se encontravaem torno de 30% em 1994. Ao incluir essa parcela damão-de-obra nos cálculos anteriores, é normal que osvalores encontrados para a variável em questão sejambaixos, conforme os dados da Figura 11.

De acordo com a situação analisada acima, pode-sedizer que o setor agroindustrial canavieiro pernambuca-no tem, a sua disposição, uma mão-de-obra muito poucoqualificada, representando um empecilho ao melhor de-sempenho do referidosetor, conforme justifi-cativas anteriormenteapresentadas.

Em relação ao outroindicador de capacita-ção estudado – gastoscom pesquisa e desen-volvimento – segundodados apresentados por Barros (1996), não há qualquertipo preocupação nesse sentido por parte dos produtoresdo setor canavieiro pernambucano, visto que não hágastos desse tipo por parte dos empresários do setorcanavieiro de Pernambuco. Segundo o referido autor,isso se deve, basicamente, ao fato de os retornos dosinvestimentos em pesquisas não poderem ser internaliza-dos pelos que tentam implementá-los. Isto é, como osresultados podem ser facilmente copiados pelos demaisprodutores, nenhum deles, individualmente, se disporia abancar os gastos com esse tipo de investimento.

Posto que o governo também não desenvolveu qual-quer programa significativo de pesquisa direcionada aosetor em análise, no Estado de Pernambuco, o resultado éa ausência de pesquisas no setor canavieiro local noperíodo estudado. Isso acarreta sérios prejuízos ao setor

em questão, já que se trata de um dos mais viáveis meiosde aumentar a produtividade ao longo do tempo. Assim,a exemplo de outros indicadores, esse também tende acontribuir para um desempenho insatisfatório do setorcanavieiro pernambucano.

CONCLUSÕES

Sabe-se que o setor agroindustrial canavieiro temuma importância para o Estado de Pernambuco queremonta ao período colonial da história brasileira. Apósa extração do pau-brasil, a primeira atividade realmenteviável que os portugueses exploraram no Brasil foi aatividade canavieira, localizada principalmente na re-gião que atualmente representa parte do Estado de Per-nambuco.

Uma avaliação do contexto do setor canavieiro per-nambucano mostra que o mesmo ainda tem grande im-portância econômica e social não somente para o Estado,como também, para o próprio País. Embora convivendocom uma situação de fechamento de algumas usinas eendividamento extremado, o setor canavieiro local aindadispõe de uma significativa parcela das unidades produ-tivas, bem como do volume total da produção. Parareforçar a proposição referente à importância desse setor,deve-se lembrar também que, a partir de dados apresen-tados nesse trabalho, o setor emprega uma grande parcelada mão-de-obra do Estado de Pernambuco, mostrando,desse modo, não somente a sua importância econômica,como também social.

A partir de meados dos anos 70 até o final dos anos 80,o setor canavieiro brasileiro, de uma forma geral, rece-

Figura 11: Nível de instrução da mão-de-obra em Pernambuco (1987-96) a partir de dados do IBGE

(em anos de estudo)

ANOS

1987 2,70 5,00

1990 2,32 5,32

1993 2,28 5,83

1996 2,54 6,33

URBANARURAL

Devido a competitividade e técnicas e equipamentosde produção mais complexos é necessário se

dispor de mão-de-obra mais qualificada.

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beu um grande estímulo, resultante da entrada em vigordo Programa Nacional do Álcool. Dadas as vantagensdesse programa, como era esperado, o setor canavieiropernambucano experimentou grande prosperidade no re-ferido período. Com juros e preços altamente favoráveis,a produção local dos principais produtos do setor cresceusignificativamente, destacando-se a produção específicado álcool, reflexo das próprias finalidades do programa.

Passado esse período, com a retirada dos incentivosconcedidos pelo Proálcool, começa uma fase em que osetor fica bem mais exposto às condições de mercadoe, em decorrência disso ou não, a agroindústria cana-vieira pernambucana entra em um período de grandesdificuldades. Em virtude das as diversas especulaçõesno meio acadêmico e nos próprios meios de comunica-ção local, a importância de tais dificuldades, bemcomo as suas verdadeiras causas, tornou-se um assun-to bastante debatido.

Uma forma apropriada para análise da importância edas causas das dificuldades enfrentadas pelo setor cana-vieiro é através do estudo do desempenho competitivodo referido setor, a partir do emprego de um conjunto deindicadores, para os quais foram escolhidos três tipos:desempenho no mercado, eficiência e capacitação. Asituação encontrada confirmou que o desempenho com-petitivo do setor agroindustrial canavieiro de Pernam-buco sofreu uma deterioração nos anos que se seguiramao enfraquecimento e extinção do Proálcool, dentro deum ambiente de maior exposição ao mercado.

Com relação às variáveis analisadas, tanto os indica-dores de eficiência como os de capacitação e aqueles dedesempenho no mercado apresentaram-se igualmenteinsatisfatórios. Isso, de certa forma, mostra que as causasdo desempenho insatisfatório do setor são bastante gene-ralizadas. A produtividade baixa e decrescente, o baixonível de instrução da força de trabalho, a falta de investi-mento em pesquisa e desenvolvimento, entre outros, sãofatores que certamente contribuíram para a performanceinsatisfatória encontrada.

Pode ser que o setor apresentasse outra situação, casotivessem sido mantidos os incentivos do Proálcool. Noentanto, com a extinção desse programa, o que é impor-tante analisar é que o setor canavieiro pernambucanoperdeu posição em relação às demais regiões brasileiras.

Isso ficou bastante claro através da comparação da evo-lução dos indicadores de produtividade e participação nototal das exportações. Ou seja, a falta de um programamaior de incentivos ao setor canavieiro prejudica igual-mente a todos, não justificando, assim, a perda de compe-titividade somente dos produtores pernambucanos emrelação a outros Estados da federação, como por exemploSão Paulo.

O que justifica a perda de competitividade em relaçãoa outros Estados, pode ser algo ligado a questões comoníveis de capacitação e eficiência, isto é, algo ligado aopróprio modo como a produção local se desenvolve.Nesse sentido, os resultados obtidos para alguns dosindicadores aplicados podem dar uma noção global dasverdadeiras causas dos problemas encontrados.

Fatores como relevo inadequado e instabilidades climá-ticas não podem mais justificar a totalidade dos problemasdo setor. Da mesma forma, não se pode utilizar a justifica-

tiva da queda dos preços no mer-cado. Em um ambiente em queos produtores não se dispõem agastar nenhum recurso com odesenvolvimento de novos mé-todos de plantio, técnicas deprodução mais modernas, des-coberta de novas variedades

mais adequadas, treinamento da mão-de-obra, entre ou-tros, torna-se pouco provável qualquer expansão. Com-promete-se, desse modo, a produtividade do setor, que éfator fundamental para a sobrevivência em um ambientede maior exposição ao mercado, principalmente no casoem que o mercado internacional é muito importante.

Diante desse quadro, não é surpresa o fato de que o setorcanavieiro pernambucano tenha passado por inúmeras di-ficuldades ao longo do período em análise. Deterioraçãodos níveis de produção, fechamento de usinas, endivida-mento e perda de mercado, foram características marcan-tes do comportamento do referido setor. De acordo com osindicadores analisados, a situação é realmente preocupan-te, visto que o desempenho do setor agroindustrial cana-vieiro no Estado de Pernambuco foi realmente insatisfató-rio ao longo do período considerado.

A sobrevivência desse importante setor de produçãodo Estado de Pernambuco requer, assim, uma mudançade atitude por parte dos produtores locais. Isso podecomeçar pela união dos mesmos em torno de cooperati-vas que viabilizem a realização de pesquisas, que con-tribuam para a adoção de métodos e técnicas de produ-ção mais apropriadas, variedades mais adequadas àscondições da região, como também um melhor aprovei-tamento dos subprodutos gerados pelo setor, como jáocorre em outros Estados.

É preciso também manter programas detreinamento constante, ou seja, uma força

de trabalho caraterizada pela multifuncionalidade.

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Acredita-se que o setor canavieiro pernambucano po-deria até se beneficiar de uma atitude governamental nosentido de financiar a realização das pesquisas necessárias.No entanto, em virtude das condições financeiras doEstado, nos seus três níveis de governo, esta não seriauma estratégia viável, pelo menos a curto prazo. A per-manecer a situação atual, a tendência é que as disparida-des entre Estados como Pernambuco e São Paulo seampliem cada vez mais, tornando o setor canavieiropernambucano cada vez menos competitivo.

Deve-se ressaltar também que, dado um ambientemais competitivo e técnicas e equipamentos de produçãomais complexos, é cada vez maior a necessidade de sedispor de mão-de-obra mais qualificada. Além de umnível de instrução cada vez mais elevado, é precisotambém manter programas de treinamento constante,uma vez que os novos métodos requerem uma força detrabalho caraterizada pela multifuncionalidade.

Desse modo, deve-se procurar melhorar as tecnolo-gias e os processos. Nos mercados em constante processode mudança, não é possível continuar utilizando, nopresente, métodos e técnicas do passado. A sobrevivên-

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É comum encontrar-se, entre as soluções apontadaspara o problema, a reivindicação de uma participaçãomais intensa por parte dos governos, através da adoçãode medidas tais como as que vigoraram com o Progra-ma Nacional do Álcool, ou através da fixação de pre-ços mais elevados para os produtos do setor. A presen-ça do governo reduz as incertezas e pode contribuirpara um melhor desempenho. No entanto, a mesma nãopode durar para sempre e os produtores têm que sepreparar para sobreviver sob condições de maior expo-sição ao mercado.

Portanto, tudo indica que a solução dos problemas dosetor não depende de uma atitude dos governos, mas simde uma atitude das próprias empresas, já que a base dacompetitividade encontra-se na empresa, e não fora dela.Acredita-se que somente com medidas efetivas, comoinvestimento em pesquisa e desenvolvimento, é que osetor canavieiro pernambucano pode alcançar os níveisde competitividade necessários à sua continuidade.

Artigo recebido em 21/01/2003

Aprovado para publicação em 05/03/2004

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