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10 Revista dos Antigos Estudantes da Universidade do Porto, Nº 10, II Série, Março de 2010, 2.5 Euros NA BATALHA PELA BIODiversidaDE, Pág. 14 SEARA CARDOSO E AS SUAS MARIONETAS, Pág. 8 ENTREVISTA A DANIEL BESSA, Pág. 18 800 ANOS DE POESIA, Pág. 30 ESTUDO DA LEISHMANIA, Pág. 34 HUB PORTO, Pág. 38 MUNDIAL DE RUGBY SEVENS 2010, Pág. 42 “máquina de comprimir” da ffup, Pág. 46

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10Revista dos Antigos Estudantes da Universidade do Porto, Nº 10, II Série, Março de 2010, 2.5 Euros

NA BATALHA PELA B IODivers idaDE , P á g. 1 4 SEARA CARDOSO E AS SUAS MARIONETAS , P á g. 8 ENTREVISTA A DANIEL BESSA , P á g. 1 8 8 00 ANOS DE POESIA , Pá g. 30 ESTUDO DA LEISHMANIA , Pá g. 34 HUB PORTO, Pá g. 38 MUNDIAL DE RUGBY SEVENS 20 1 0 , P á g. 4 2 “máquina de comprimir” da ffup , P á g. 4 6

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A Terra está a perder biodiversidade a um ritmo preocupante. Ora, sem diversidade biológica, é a própria sobrevivência da espécie humana que

se encontra em risco. Calcula-se que 40% da economia mundial e 80% das necessidades dos povos dependam dos recursos biológicos. É, pois, um imperativo civiliza-cional garantir o equilíbrio e a estabilidade dos ecossiste-mas, através da preservação da variedade de organismos vivos que habitam o planeta.A redução da biodiversidade é um problema que também se coloca a Portugal, apesar do nosso país ser ainda consi-derado rico e diversificado em flora e fauna. Mas convém não ser demasiado contemporizadores nesta matéria, pois são crescentes os perigos que impendem sobre os habitats e ecossistemas portugueses. Desde logo porque o território nacional não é imune às alterações climáticas, uma das maiores ameaças à diversidade biológica. Mas também porque, em Portugal, temos assistido a erros de planeamento e ordenamento territorial, ao crescimento urbano desordenado, ao abandono de terrenos agrícolas, à utilização de sistemas intensivos de produção agro-ali-mentar, a alterações do uso dos solos, à pressão humana sobre habitats frágeis, a incêndios devastadores, ao au-mento da poluição e a alguma permissividade na gestão

José CarlosMarques dos Santos

Reitor daUniversidadedo Porto

das áreas protegidas, entre outras disfunções que contri-buem para a perda da biodiversidade. Neste contexto, as universidades e seus centros de inves-tigação não podem, sob pena de obliterarem as suas obri-gações cívicas, ignorar os riscos que rodeiam a biodiversi-dade e deixar de aplicar os conhecimentos científicos que produzem na redução desses mesmos riscos. No caso da U.Porto, estamos hoje como ontem empenhados na análise dos grandes problemas civilizacionais e disponíveis para empregar os nossos melhores recursos humanos, científi-cos e tecnológicos com vista à sua resolução.Na nossa comunidade académica avultam, aliás, recursos formativos, unidades de I&D e massa crítica científica para lidar, de forma idónea e eficaz, com os problemas asso-ciados à perda da biodiversidade. E são justamente esses meios, conhecimentos e especialistas que damos a conhe-cer neste número da UPorto Alumni, numa altura em que se assinala o Ano Internacional da Biodiversidade. Estão, de resto, previstas várias iniciativas promovidas pela U.Porto precisamente para enfatizar a importância das questões ambientais que marcam a agenda mundial em 2010.Não podia terminar este editorial sem realçar a circunstân-cia, feliz, da edição deste número da revista coincidir com a Semana da Universidade, durante a qual é assinalado o 99.º aniversário da U.Porto e se inicia mais uma Mostra de Ciência, Ensino e Inovação. Este certame serve, como habitualmente, para expor o que de melhor se faz na nossa comunidade académica e que importa enaltecer quase 100 anos decorridos desde a institucionalização da U.Porto. Em tempo de comemorações, aqui ficam os meus parabéns a todos aqueles que têm contribuído, em maior ou menor escala, para o engrandecimento da nossa Universidade.

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No CampusNotícias que marcaram a actualidade da comu-nidade académica, com destaque para a Mostra de Ciência, Ensino e Inovação, para a aber-tura das inscrições para a Universidade Júnior, para o novo recorde de estu-dantes estrangeiros, para a liderança da U.Porto na produção científica na-cional e para a 3.a edição do IJUP.

PercursoJoão Paulo Seara Cardoso, director do Teatro de Mari-onetas do Porto (TMP), tem uma vida venturosa, que inclui a passagem pela FEUP. Nesta faculdade, o encenador granjeou conhecimentos de engenharia que lhe seriam preciosos na construção dos espectáculos. O TMP conta já com mais de 30 produções em 20 anos de existência, estando o seu espólio a ser reunido num futuro museu de marionetas.

InvestigarUm grupo de investigação liderado por Anabela Cord-eiro da Silva encontra-se a estudar o parasita Leishma-nia, que infecta actualmente cerca de 12 milhões de pes-soas. Graças a este trabalho, a U.Porto tem a co-tutela de duas patentes registadas: uma vacina contra a leish-maniose e novos fármacos para tratamento de doenças parasitárias.

Alma MaterFoto-reportagem do quo-tidiano do Campus Agrário de Vairão (70 hectares), perto de Vila do Conde. Alta-neiro, o edifício do Centro de Actualização Propedêutica e de Formação Técnica revela uma estética austera e par-dacenta, como se a massa construída (área bruta de 4.144 m2) pretendesse dissimular-se no cenário natural.

MéritoPrémios, distinções e descobertas que valorizam a comunidade académica da U.Porto. Destaque para a Lição de Jubilação de Al-exandre Alves Costa, para a conquista pela FMUP do Prémio Corino de Andrade, para a nomeação de João Breda como Senior Techni-cal Officer da Unidade de Doenças não Transmissíveis e Ambiente da OMS e para a entrada da EGP-UPBS num consórcio das melhores business schools do mundo.

VintageFernando Sena Esteves, professor catedrático aposentado da Faculdade de Farmácia, tem a seu cargo o núcleo museológico da FFUP, missão que lhe permite aliar o amor à casa a uma arte sua de coligir memórias e contar histórias, com saber e gosto. Um dos objectos mais interessantes do núcleo é uma máquina de compri-mir, que servia para obter pílulas, pastilhas e minas de lápis.

DesportoA U.Porto vai organizar, de 21 a 24 de Julho, no Estádio do Bessa, o IV Mundial Uni-versitário de Rugby Sevens 2010. Trata-se da estreia deste torneio em Portugal e, por isso, uma boa opor-tunidade para conhecer e apreciar uma modalidade que está a ganhar adeptos no nosso país. Será um dos maiores eventos de despor-to universitário a decorrer, este ano, entre nós.

Face-a-FaceEm entrevista, o director-geral da COTEC admite que ainda não há uma cultura de inovação em Portugal, discorda da estratégia de combate à crise seguida pelo Governo e vê falhas no processo de transferência de tecnologia das univer-sidades para o mercado. Daniel Bessa também prevê dias sombrios para o país, devido à nossa debilidade exportadora.

Em FocoO Ano Internacional da Bio-diversidade é um bom mo-tivo para conhecer o que, no âmbito da U.Porto, está a ser feito para combater a perda de fauna e flora. A actividade da comunidade académica vai desde o estudo e descoberta de novas espécies à classifica-ção de parques para a Área Metropolitana do Porto, passando pela recuperação de habitats. Trata-se, aliás, de uma intervenção cada vez mais pluridisciplinar e integrada.

EmpreenderA partir do conceito de coworking, nasceu em Paranhos, em Junho de 2009, o Hub Porto. Trata-se de um espaço onde, numa lógica informal e a preços reduzidos, cerca de 30 empreendedores criaram o seu próprio emprego e desenvolvem hoje os seus negócios. A U.Porto é par-ceira deste projecto.

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20CulturaDois jovens poetas, Jorge Reis-Sá e Rui Lage, aventu-raram-se numa tarefa assaz afanosa: antologiar 800 anos de poesia portuguesa. O resultado é “Poemas Portugueses – Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI”, que tem a chancela da Porto Editora. Trata-se de uma obra monu-mental, com cerca de 2.000 poemas de 267 autores.

RectificaçãoPor lapso, as fotos que ilustram o artigo “Erasmus em ‘Farmville’ no Douro”, publicado na anterior edição da revista, não foram cre-ditadas a quem de direito. Impõe-se, pois, um pedido de desculpas ao autor das fotos, Telmo Miller.

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Uporto celebra

99º aniversário

NO CAMPUS

De 22 a 28 de Março tem lugar a Semana da Universidade, um conjunto de iniciativas cujo leitmotiv é o 99.º aniversário da U.Porto. Além da tradicional sessão solene assinalando a efeméride, o programa de eventos inclui, no dia 23, às 18h00, no Salão Nobre da Reitoria, a apresentação pelo físico Carlos Fiolhais do 3.º volume do livro “Histórias da Luz e das Cores”, da autoria de Luís Miguel Bernardo (Departa-mento de Física da FCUP). Dois dias volvidos, a 25, pelas 15h00, também no edifício da Rei-toria, é aberta ao público a Sala de Energias Renováveis do Museu da Ciência, aconteci-mento que inclui uma visita guiada por Luís Miguel Bernardo, com a presença do Director do Museu da Electricidade, Eduardo Moura.Depois, as celebrações prosseguem com uma das iniciativas mais emblemáticas da U.Porto: a Mostra de Ciência, Ensino e Inovação, que tem lugar no Pavilhão Rosa Mota, entre 25 e 28 de Março (5a e 6a feiras: 10h00-19h00; Sábado: 11h00-23h00; Domingo: 11h00-19h00). Esta é já a 8.a edição da Mostra, certame que expõe à comunidade as actividades que a Uni-versidade desenvolve nos domínios da forma-ção, da I&D, da transferência de tecnologia, do empreendedorismo, da produção intelectual e da criação artística.

A Mostra permite o diálogo com docentes, investigadores e empreendedores/inovadores com créditos firmados nas suas áreas de es-pecialidade, além de promover a transversali-dade do conhecimento dentro da comunidade académica. Nesta edição, por exemplo, mere-ce especial referência a apresentação de dois pólos do UPTEC – Parque de C&T da U.Porto: o Pólo das Indústrias Criativas e o Pólo do Mar. Relativamente ao Pólo das Indústrias Criati-vas (Praça Coronel Pacheco), destaque para a iniciativa promovida por um dos seus futuros membros (além dos já instalados Agência Lusa e Público/Rádio Nova), as Produções Fictícias. Trata-se de uma maratona de 24h de produção/edição em vídeo intitulada, humo-risticamente, “Faz-me um bideo”. Quanto ao Pólo do Mar (Porto de Leixões), está prevista a monitorização do estado do ambiente no pavilhão e na cidade, através de sensores aplicados e geridos pelo Instituto de Sistemas e Robótica – Porto/FEUP.Refira-se ainda que, para assinalar o Dia da Universidade, a 22, foram convidados a in-tervir, entre outros, o orador principal Viriato Soromenho Marques (responsável pelo Pro-grama Ambiente da Gulbenkian), Luís Portela (presidente do Conselho Geral da U.Porto) e Sérgio Joaquim Guedes da Silva (alumnus da FEUP e consultor da ONU para o Programa Mundial de Alimentação). RMG

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NO CAMPUS

Arrancou no passado dia 18 de Março, no Auditório Gomes Teixeira, no edifício da Reitoria, o Ciclo de Conferências Comemorativo do Centenário da Repú-blica, organizado pela Faculdade de Letras (FLUP). O conjunto de palestras reúne professores universitários especialistas em diferentes áreas da História (cultural e mentalidades, literária, política, social e económica), os quais vão contribuir, certamente, para aclarar as acções, motivações, ideias e valores que enformaram a Primeira República.A sessão de abertura teve como oradora Maria de Fátima Marinho (FLUP), cuja intervenção versou “A implantação da República e as suas representações na literatura portuguesa da pós-modernidade”. O ciclo, que se estende até ao final de Maio de 2010, inclui ainda as conferências “A República na génese da modernidade política em Portugal” (8 de Abril), por Manuel Loff (FLUP); “O lema nacionalista do ‘Portugal maior’ e a utopia neo-romântica das ‘novas Índias’ (variações e contraponto nas tendências literárias da I República)” (15 de Abril), por José Carlos Seabra Pereira (FLUC); “A construção do campo partidário republicano portu-guês (1910-1926)” (22 de Abril), por Ernesto Castro Leal (FLUL); “A Primeira República e os dilemas da democra-tização” (29 de Abril), por António Costa Pinto (ISCTE); “Raul Brandão entre dois fins de século” (6 de Maio), por Maria João Reynaud (FLUP); “A criação do Museu Nacional de Arte Contemporânea e Columbano, seu segundo Director” (13 de Maio), por Agostinho Araújo (FLUP); “O republicanismo autoritário e a posição dos católicos: uma leitura do caso singular de Sidónio Pais e do sidonismo (1917-1918)” (20 de Maio), por Armando Malheiro da Silva (FLUP); “Projectando e justificando a ‘refundação republicana’: polémicas e tensões no ‘tri-bunal’ da História” (27 de Maio), por Pedro Vilas Boas Tavares (FLUP).Resta dizer que, exceptuando a sessão de abertura, to-das as conferências se realizam no Anfiteatro Nobre da FLUP, às 18h00 dos dias indicados. RMG

I República em análise na FLUP

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Livros com descontopara a Academia

A Faculdade de Arquitectura da U.Porto (FAUP) está a organizar, desde 4 de Fevereiro, o ciclo de conferências e debates “Discursos Re-visitados”, que, até 20 de Abril, vai reunir Eduardo Souto Moura, Alexandre Alves Costa, Nuno Portas, entre outros nomes incontorná-veis da Escola do Porto e, mutatis mutandis, da arquitectura nacional. Resultado de uma parceria com a Ordem dos Arquitectos – Secção Regional do Norte (OASRN), esta iniciativa inédita tem como mote a reposição dos “Discursos sobre Ar-quitectura”, um evento que, em 1990, reuniu arquitectos de todo o mundo na Escola Supe-rior das Belas Artes do Porto (actual FAUP). É esse legado deixado – em vídeo – por nomes como Rafael Moneo, Jacques Herzog, Peter Zu-mthor ou o portuense Álvaro Siza (todos eles distinguidos com o Prémio Pritzker, o “Nobel” da Arquitectura) que será revisitado, 20 anos depois, e ao longo de dez sessões, por figuras proeminentes da Escola do Porto.A partir da reunião de algumas das mais mar-cantes gerações de arquitectos das últimas décadas, o ciclo constitui-se então como um espaço de discussão em torno do futuro da Arquitectura, mas também de homenagem àqueles que melhor a representam. Algo que foi comprovado logo na primeira sessão, na qual Alexandre Alves Costa, Eduardo Souto de Moura e Manuel Mendes revisitaram a confe-rência de Fernando Távora, decano da Escola do Porto, falecido em 2005.No encerramento do ciclo comissariado por Jorge Figueira, docente da FAUP, caberá a Gonçalo Byrne a apresentação do “Discurso” de Rafael Moneo, seguida de um debate com Nuno Grande, Luís Tavares Pereira e Luís San-tiago Baptista.Todas as sessões têm lugar às 21h30, na sala de cinema do Passos Manuel. O bilhete para cada sessão custa dois euros e pode ser adquirido no local do evento ou na sede da OASRN.TR

A comunidade académica da U.Porto bene-ficia de descontos na aquisição de livros nas livrarias do Grupo LMB: Leitura e Bulhosa. Esta prerrogativa decorre de um protocolo recentemente rubricado entre a Reitoria da U.Porto e o Grupo LMB, holding que detém ainda a Civilização Editora. O acordo é válido para estudantes, professores, investigadores, funcionários não docentes e alumni da Uni-versidade, variando os descontos conforme a média de compras.Após o preenchimento, em qualquer livraria do grupo, de um impresso próprio de adesão a cliente Bulhosa/Leitura (o qual inclui o nome, morada, n.º de contribuinte, endereço de e-mail e n.º de telefone/telemóvel do interessado), os membros da comunidade académica da U.Porto usufruem de descontos que são de 5% na primeira compra e de 5%, 7% e 10% conforme a assiduidade do cliente e a média de aquisições. Assim, de acordo com a média de compras di-árias, os descontos podem ir até 0,75 € (5%), de 0,75 € até 2,00 € (7%) e acima de 2,00 € (10%). Tendo em conta as compras mensais, as reduções são passíveis de atingir até 22,44 € (5%), de 22,44 € até 59,99 € (7%) e acima de 60,00 € (10%). De fora do protocolo ficam os livros de Direito (que beneficiam sempre de 5% de desconto), os livros escolares e as revistas, jornais, bi-lhetes, cheques brinde, produtos do Museu de Serralves e CDs.Este protocolo vem na esteira da colaboração há muito em curso entre o Pelouro da Cultura, Desporto e Lazer da U.Porto e a Civilização Editora e visa, justamente, reforçar esses laços de entendimento, em particular no que respeita à organização e promoção conjunta de workshops, ciclos de conferências e outras iniciativas culturais.RMG

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As inscrições para a Universidade Júnior (U.Jr.) 2010 abrem no dia 25 de Março e terminam em meados de Junho, estando disponíveis, nesta 6.a edição da iniciativa, cerca de 5 mil vagas. Refira-se que as inscrições são feitas on-line, na página http://universidadejunior.up.pt, e estão limitadas às vagas existentes. O valor da propina de inscrição semanal é de 75 € e a de alojamento de 85 €. A U.Jr. é uma iniciativa da U.Porto que envolve as 14 faculdades e 69 centros de investigação da U.Porto, bem como uma dezena de entida-des parceiras. Os participantes (alunos do en-sino básico e secundário) têm a oportunidade de conhecer as respectivas vocações, expandir conhecimentos, desenvolver competências e ganhar apetência pelo ensino superior. Tudo isto através da frequência de pequenos cursos em diferentes áreas de estudo, com duração de uma semana e estruturados de acordo com a faixa etária dos estudantes.

Inscrições para a UniversidadeJúnior

Na liderançada ProduçãoCientíficaDos 9419 artigos científicos publicados por instituições portuguesas em publicações nacionais e internacionais em 2009, mais de um quinto (22,5%) teve origem nos centros de investigação da U.Porto. O número surge em destaque nos últimos indicadores disponibi-lizados pela Web of Science, base de dados gerida pelo norte-americano Institute for Scientific Information, que evidenciam ainda o aumento de 4,1% na produção científica da U.Porto face a 2008, em contraciclo com a que-bra de 1,4% verificada a nível nacional.Apesar de confirmarem a posição de liderança que a U.Porto vem cimentando ao longo dos últimos anos enquanto maior instituição científica portuguesa, os números agora di-vulgados ganham relevância pelo contraste evidenciado com o cenário nacional.

Uma tendência negativa que a U.Porto contra-riou com a obtenção de dois novos máximos em 2009: o de artigos publicados pela ins-tituição num só ano (2.122, contra 2.038 em 2008), e a maior taxa de participação no total da produção nacional (22,5%, contra os 21,9% de 2007).Igualmente relevante é a análise da evolução dos resultados entre 2003 e 2009. Com uma taxa de crescimento média anual superior a 13%, a produção científica da U.Porto reflecte-se em percentagens que ultrapassam os 20% do total de artigos científicos publicados por instituições portuguesas, desde 2004. Nesse período, os artigos assinados por investiga-dores da Universidade contabilizaram mais de 60 mil citações nas publicações analisadas pela Web of Science.Com 31 unidades de investigação – num total de 69 – classificadas com “Excelente” ou “Mui-to Bom” pela Fundação para a Ciência e a Tec-nologia, a U.Porto é a instituição portuguesa melhor colocada na generalidade dos rankin-gs internacionais de produção científica.TR

NO CAMPUS

Novo recordede estudantesestrangeiros

À semelhança do que aconteceu nos últimos anos lectivos, a U.Porto volta a acolher, em 2009/2010, um número recorde de estudantes estrangeiros, ao abrigo de programas de mo-bilidade internacional. Ao todo são 1390 os es-tudantes de 45 nacionalidades que cumpriram – ou vão cumprir – um período de estudos na U.Porto. Só neste 2.º semestre, estima-se que perto de 700 estudantes estrangeiros recebam formação entre nós.Apesar da contagem ainda não estar finali-zada, os números deste ano traduzem já um aumento de quase 14% face a 2008/2009, ano em que a U.Porto recebeu 1.225 estudantes. Valores que reflectem o esforço de internacio-nalização promovido pela Universidade e que são traduzidos, não só na elevada procura por estudantes de mobilidade, mas também na li-derança de diversos consórcios internacionais e na subida contínua nos principais rankings académicos.

A U.Porto organizou, entre 17 e 19 de Feverei-ro, no edifício da Reitoria, a 3.a edição do IJUP – Encontro de Investigação Jovem da U.Porto. Na iniciativa participaram mais de 700 jovens investigadores (estudantes de 1.º e 2.º ciclo) – com uma média de idades a rondar os 21 anos –, que deram a conhecer e submeteram a debate 410 projectos científicos desenvolvidos nas diversas faculdades da U.Porto. Os se-gredos de uma dieta saudável, o potencial do biodiesel como energia de futuro, a influência das redes sociais (Facebook e Twitter) no comportamento humano, os efeitos benéficos da matemática no batimento cardíaco foram alguns dos temas dos estudos académicos apresentados. Esta foi a primeira edição do IJUP realizada no edifício da Reitoria, que se transformou num autêntico centro de conferências disperso por oito salas e três pisos. Seguindo o modelo de um congresso científico, tiveram lugar 13 ses-sões de apresentação (oito para comunicações orais e cinco para posters), num total de perto de 20 horas de debate interdisciplinar à volta de 23 áreas científicas. À semelhança das edições anteriores, o IJUP’10 contou com a participação de vários estudantes estrangeiros da U.Porto. A estes juntaram-se nove estudantes brasileiros, que se deslocaram propositadamente para apre-sentar os seus trabalhos científicos, no âmbito da cooperação entre a U.Porto e duas univer-sidades de São Paulo. O caminho inverso será percorrido pelos autores das cinco melhores apresentações do IJUP’10, a quem será dada a oportunidade de divulgar os respectivos pro-jectos em dois congressos no Brasil.A sessão de abertura do encontro teve lugar no Salão Nobre da Reitoria, cabendo a José Epifânio da Franca, presidente da Chipidea, ser o orador principal. A conversão do conhe-cimento científico em empreendedorismo foi, naturalmente, o assunto em foco. Resta dizer que o IJUP visa proporcionar aos jovens universitários uma primeira experi-ência de apresentação, divulgação e debate científico, ao mesmo tempo que estimula a discussão interdisciplinar entre as várias uni-dades de investigação da U.Porto.RMG/TR

Cientistas Sub-21 revelam projectos

Como habitualmente, a maior parte dos estudantes são originários do Brasil (576), Espanha (184), Itália (131), Polónia (69), Repú-blica Checa (54), Alemanha (42) e Turquia (38). Entre as 45 nacionalidades representadas en-contram-se ainda estudantes da Zâmbia, Irão, Afeganistão, México, Argélia, Japão ou Índia.Refira-se, a propósito, que a entrada de novos estudantes estrangeiros foi assinalada numa sessão oficial de boas-vindas à Universidade, que se realizou no dia 5 de Março, na Reitoria da U.Porto. A sessão marcou o início de um programa de sete dias de recepção aos estu-dantes, dinamizado pela secção local da ESN – Erasmus Student Network. Do programa de actividades constavam visitas a caves de vinho do Porto, ao Estádio do Dragão e ao Museu de Serralves, bem como um cruzeiro pelo Rio Douro.RMG/TR

Importa explicar que a U.Jr. está estruturada nas seguintes iniciativas âncora: Experimenta no Verão (programas diários para alunos dos 5.º e 6.º anos de escolaridade, com activi-dades de carácter multidisciplinar básico e que, por isso, não são associáveis a cursos ou disciplinas concretas da organização univer-sitária); Oficinas de Verão (programas diários para alunos dos 7.º e 8.º anos de escolaridade, com actividades que representam as grandes áreas de intervenção da U.Porto); Verão em Projecto (programas semanais para alunos do 9.º ao 11.º anos de escolaridade, que incluem actividades de todas as áreas de acção da U.Porto, no âmbito das suas licenciaturas); Es-cola de Línguas (Alemão, Espanhol, Francês, Inglês, Latim, Português para estrangeiros, Italiano e Russo); Escolas por Candidatura (Escola de Ciências da Vida e da Saúde, Escola de Humanidades, Escola de Química, Escola de Verão de Física e Escola de Verão de Ma-temática). Para algum esclarecimento, deve ser contac-tada a coordenação da U.Jr. através do e-mail [email protected]

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PERCURSO

“Nos meus 14 anos tinha a mania que, um dia, havia de construir um automóvel”. Mas foram precisos 40 anos para que o director do Teatro de Marionetas do Porto

(TMP), João Paulo Seara Cardoso, concretizasse algo pareci-do com esse sonho tão ambicioso quanto pueril. Para a nova produção do TMP, “Make Love Not War” (a partir da comé-dia grega “Lisístrata”, de Aristófanes), o encenador portuense está a preparar “umas máquinas cénicas que se locomovem. Estruturas metálicas que contêm marionetas, mas também motor, travões e direcção”. Os inusitados veículos destinam-se à primeira experiência do TMP em teatro de rua (além da participação na “Peregrinação” da Expo-98, com a Máquina-Homem/Clone-Fighters), durante a próxima edição do Festival Imaginarius, em Maio. Na verdade, a “infância feliz” de Seara Cardoso parece ter sido o cinzel que gravou, com precisão renascentista, o futuro do en-cenador nascido no Porto, em 1956. O pequeno João Paulo era um daqueles putos curiosos e engenhoqueiros que não resistia a desmontar tudo o que lhe aparecesse à frente. “Sempre tive uma inclinação por mecanismos e máquinas, para conhecer o funcionamento das coisas. E, a partir de certa altura, comecei a desenhar automóveis”. Por isso não é de estranhar que, ainda antes da passagem pelo politizado Liceu D. Manuel II (onde participou numa greve às aulas ainda antes da Revolução de Abril), Seara Cardoso já tivesse decidido seguir Engenharia Mecânica. “Foi uma decisão que tomei muito cedo”, salienta.Mas seria também na infância que o director do TMP sofre a influência marcante do seu tio-avô, Fortunato Seara Cardoso, carismático director de O Comércio do Porto e genro de um dos principais impulsionadores deste periódico, Bento Carque-ja. “Ia muitas vezes visitar o jornal e sempre tive uma admira-ção muito grande por esse tio – um tipo pequeno, com o cabelo branco e comprido como o do Einstein. Tinha uma personali-dade muito forte e batia o pé à ditadura”, recorda Seara Car-

doso. Refira-se, igualmente, que os tempos de meninice terão ainda esporeado a capacidade de efabulação de Seara Cardoso. “Os espectáculos que faço hoje para crianças e os livros para a infância [nove já publicados] que escrevi reflectem, sem dúvi-da, as brincadeiras no jardim de minha casa”, em Cedofeita. “Imaginei muitas histórias enquanto brincava no jardim”.Passada a “infância maravilhosa” e a adolescência sobressalta-da pelo 25 de Abril, Seara Cardoso ingressa, no final da década de 70, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Mas antes ainda viveu as agruras do Serviço Cívico Es-tudantil, de onde desertou após uma semana a cavar valas nas estradas do Marão, sob um frio inclemente. A desorganização do Portugal pós-revolucionário puseram-no a salvo de qualquer punição e Seara Cardoso pôde abraçar o curso de Engenharia Mecânica da FEUP, onde encontrou o “porreirismo instalado”: “fumava-se nas aulas e tratavam-se os assistentes por tu”. Con-tudo, ressalva, havia “sentido de responsabilidade” e “eu tinha excelentes notas”.

O adeus à FEUPApesar do sucesso escolar e do gosto pelo curso, Seara Cardoso abandona a FEUP no final do 3.º ano. “Havia outros interes-ses misturados na minha vida: o teatro e o automobilismo”. O teatro era um “bichinho” que crescia imparavelmente, so-bretudo a partir da inscrição num curso ministrado pelo TUP (Teatro Universitário do Porto). E as corridas de automóveis uma paixão assolapada que o levava, todos os fins-de-semana, a rebolar-se (literalmente) dentro de um Citroën 2CV, em pistas enlameadas. Na altura, o encenador era piloto de Pop Cross, competindo profissionalmente no intenso campeonato nacio-nal da modalidade. Mas, para o abandono da FEUP, terá sido ainda mais deter-minante o desvanecer da “utopia do engenheiro criativo”. Em visitas a fábricas durante o curso de Engenharia Mecânica, Se-

ara Cardoso deparou com um “espírito” que compara ao de “Metropolis”, de Fritz Lang. “Uma das funções principais dos engenheiros mecânicos nas fábricas, nesse momento, era re-duzir o mapa de pessoal”. O que conflituava com a “veleidade utópica de mudança do mundo e de humanização das coisas” do jovem estudante. Deixada a FEUP para trás, Seara Cardoso continua o curso no TUP – onde recebe a sua “formação teatral mais marcante e ortodoxa”, por João Coimbra – e participa no Teatro Amador de Intervenção. Embora incompletos, os ensinamentos recebidos em Engenharia Mecânica seriam úteis à carreira teatral que en-tão iniciava. “Aprendi a imaginar as coisas no espaço e a ter ca-pacidade de as desenhar e projectar, o que tem muito a ver com a minha prática ligada às marionetas e com o lado mecânico do teatro”. Aliás, “também faço a cenografia dos espectáculos”.As marionetas surgem pouco tempo depois. Mais concreta-mente em 1978, quando se assinala o Ano Internacional da Criança. “Fazia espectáculos para 500 crianças em escolas, sa-lões de bombeiros, centros recreativos... Foi uma experiência fantástica de democratização cultural”. Experiência, de resto, muito semelhança à que viveu no FAOJ (Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis), onde no início dos anos 80 foi respon-sável pelas áreas do teatro de marionetas, etnografia e música. Graças à sua actividade de animador cultural do FAOJ, percor-reu o país e tomou contacto com o teatro popular (Serração da Velha, Festas dos Rapazes, Enterro do Judas, Festa da Bugia-da...). Conheceu então duas figuras que o marcaram bastante:

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Gonçalo António da Silva Ferreira Sampaio nasceu na freguesia de S. Gens de Calvos, em Póvoa de Lanhoso, a 29 de Março de 1865. Em 1885 inscreveu-se na Es-

cola Normal do Porto, com o objectivo de se tornar professor primário, mas acabou por deixá-la e regressar ao Liceu de Bra-ga para concluir os estudos liceais.De seguida, matriculou-se no curso de Matemática da Univer-sidade de Coimbra, que abandonou, apesar de ter sido aprova-do em Álgebra Superior e Geometria Analítica.No ano lectivo de 1890-1891 ingressou na Academia Politécni-ca do Porto, onde cursou Química Mineral, Botânica e Zoolo-gia, sem, no entanto, terminar o curso.No primeiro ano frequentou a 7.a (Química Inorgânica, 1.a parte) e a 10.a (Botânica, 1.a parte) cadeiras; no segundo (1891-1892) inscreveu-se de novo na 7.a cadeira, e ainda na 8.a (Quí-mica Inorgânica e Analítica, 1.a e 2.a partes) e na 11.a (Zoologia, 1.a parte). Nos dois anos lectivos seguintes não se inscreveu em qualquer disciplina. No ano de 1894-1895 inscreveu-se na 2.a (Cálculo Diferencial e Integral), na 4.a (Geometria Descritiva, 1.a parte), na 6.a (Física, 1a parte), na 8.a (Química Orgânica e Analítica, 2.a parte), e na 18.a (Desenho, 1.a e 2.a partes) cadei-ras. Destas cadeiras que frequentou obteve aprovação na 7.a, na 10.a e na 11.a.Nestes tempos de estudante revelou talento para os estudos de plantas, tendo organizado um herbário para o Professor de Botânica, Manuel Amândio Gonçalves, e publicou o seu pri-meiro trabalho nesta área do saber intitulado “Flora Vascular Portugueza. Quadro dichotomico para a determinação das fa-mílias” (1895).Em 1901, por iniciativa de Amândio Gonçalves, foi nomeado naturalista-adjunto da secção de Botânica da Academia Poli-técnica do Porto, e em 1902 foi incumbido de dirigir os traba-lhos dos alunos da disciplina de Botânica. Entre 1909 e 1914 publicou o “Manual da Flora Portuguesa”, uma obra essencial sobre a flora nacional, e em 1910, por doença de Amândio Gonçalves, passou a reger a cadeira de Botânica. Contudo, este cargo académico foi temporariamente interrompido aquando da proclamação da República, pois Sampaio viu-se obrigado a procurar refúgio na Galiza por ser um manifesto apoiante de João Franco.

Em 1912 foi nomeado Professor de Botânica, na recém criada Faculdade de Ciências da Universi-dade do Porto, e em 1913 foi indigitado director do Gabinete de Botânica. Em 1919, após a tentativa de restauração da Monarquia (Monarquia do Nor-te), ocorrida na sequência da morte de Sidónio Pais, foi implicado na organização do Batalhão Académico e, por esse motivo, aprisionado no Al-jube. Nos meses passados em cativeiro escreveu a obra “Epítome da Flora Portuguesa”, que nunca veio a ser editada. Depois da saída do cárcere, vol-tou ao ensino e assistiu à transformação do gabi-nete que dirigia no Instituto de Botânica.Gonçalo Sampaio foi, simultaneamente, um docente inovador e eficiente, que aplicou a técnica histológica nas suas aulas práticas, e um investigador de renome, que se destacou como um grande sistemata e nomenclaturista. Nesta qualidade des-creveu cerca de 50 novas espécies de plantas vasculares, edi-tou a monografia “Rubus portuguesa” (1904) e elaborou um importante herbanário. Publicou um catálogo de líquenes de Portugal continental, estudou a flora liquenológica galega, com Luiz Crespi, organizou uma exsiccata de líquenes portugueses, e ainda descreveu cerca de 70 espécies novas, e um género novo (Carlosia). Dedicou-se igualmente às algas marinhas des-mídias, tendo identificado 5 novas espécies.Esteve envolvido no estabelecimento de regras internacionais de investigação, nomeadamente no Congresso Luso-espanhol do Porto (1921), e contactou com distintos botânicos do seu tempo tais como Júlio Augusto Henriques (1838-1928) e D. António Xavier Pereira Coutinho (1851-1939), e colaborou, en-tre outros, com Romualdo Gonzalez Fragoso (1862-1928).Foi também um amante de música. Estudou violino de forma autodidacta, e empenhou-se na investigação de folclore, sendo responsável pela recolha de cerca de 200 canções populares, editadas no “Cancioneiro Minhoto”.Morreu no Porto a 27 de Julho de 1937, com 72 anos de idade, deixando dois manuscritos praticamente prontos (Flora de Por-tugal e Catálogo dos Líquenes portugueses), que foram edita-dos postumamente, sob a direcção de Américo Pires de Lima, no título “Flora Portuguesa”, em 1946.

Gonçalo Sampaio

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BIOGRAFIA

botânico emérito

o etnólogo Ernesto Veiga de Oliveira e o mestre António Dias, “o último representante de uma geração de bonecreiros”. Seara Cardoso não tem dúvidas: “O meu gosto pelas marionetas vem do teatro popular dos ‘robertos’”. Com António Dias, Seara Cardoso aprendeu justamente a tra-dição dos “robertos” (marionetas de raiz popular que represen-tam histórias curtas, cheias de acção e muito humor). Após o falecimento do mestre, Seara Cardoso sentiu a “obrigação” de prosseguir o seu legado. Mas, para tanto, era necessário despir a farda de “intelectual” e deixar-se imbuir pelo “espírito dos bo-necreiros”. E, assim, fez-se à estrada no seu 2CV, onde também dormia, para apresentar o Teatro Dom Roberto. Qual saltimbanco, chegava às localidades mais recônditas do país, escondia o carro para dissimular as ori-gens burguesas e apresentava espectáculos com a malinha dos “robertos”, uma barraca rudimentar e uma roufenha aparelhagem sonora. No fim, pedia dinheiro com um cha-péu estendido. “Queria conhecer esse lado de humildade, de compreensão do fenóme-no da arte popular”, justifica.

Autor de “Os Amigos do Gaspar” Ultrapassada a vida de andarilho, Seara Cardoso passou a en-cenar, em ambiente de cabaré, uns espectáculos “delirantes”

com marionetas. Estes happenings aconteciam todos os sábados no café-teatro Realejo, no Porto, e eram recebidos em êxtase pelo muito público. Tanto assim que, depois de assistir a um destes espectáculos, um produtor de televisão convida Seara Cardoso para criar um programa infantil. Assim surgiu, em 1985, “A Árvore dos Patafúrdios” e, mais tarde, “Os Amigos do Gaspar” (“marcou uma geração”, garante), “Mópi”

e “No Tempo dos Afonsinhos”. Nestes programas televisivos, Seara Cardoso trabalhou com Sérgio Godinho, Jorge Constante Pereira e Carlos Dias. Importa referir, a propósito, que o en-cenador tinha pouco antes enriquecido a sua formação com cursos no Institut National d’Éducation Populaire e no Institut International de la Marionette, onde trabalhou com Jim Hen-son, o criador de “Os Marretas”. Depois da aventura televisiva, vinha Seara Cardoso embala-do por mais uma torrencial noite de poesia no Pinguim Café quando depara, naquela mesma Rua de Belmonte, com o edifí-cio onde nasce, em 1988, o TMP. Encontrado o local e formada a companhia (além do director, a equipa conta hoje com um produtor, um assistente de produção, três técnicos e três ac-tores), sobe à cena a primeira peça do TMP: “Miséria”. Mas o reconhecimento pelo grande público só surge em 1993, com a sátira social e política “Vai no Batalha”. O espectáculo zombava de várias personalidades públicas (Santana Lopes, Fernando

Gomes, Mário Soares, Cavaco Silva, etc.) e parodiava alguns fenómenos sociais emergentes, como os “arrumadores”, o novo-riquismo ou a “subsidiodependência”. Uma das persona-gens mais hilariantes, Fredo Brilhantinas, o “arrumbador de biaturas ligeiras”, era inspirada num toxicodependente que, num dia de desatino, “arrumou” o carro de Seara Cardoso no rio Douro.Não obstante a popularidade que granjeou ao TMP, o “Vai no Batalha” “não estava a acertar no alvo” que Seara Cardoso tinha pensado para a companhia. Donde, o director do TUP decide destruir o cenário da peça à machadada, apesar dos pedidos para que esta percorresse o país e fizesse uma temporada em Lisboa. Segue-se então novo espectáculo, “3.a Estação”, que Seara Cardoso define como “puramente experimental” e que resulta do cruzamento das marionetas com a dança. Foi assim estabelecido um novo rumo estético para o TMP: a introdu-ção da contemporaneidade no teatro de marionetas, através da miscigenação com outras linguagens artísticas (dança, músi-ca, artes plásticas, vídeo, novas tecnologias digitais, etc.) e da presença visível dos actores em palco. Hoje, o TMP “tem uma personalidade teatral e visual muito vincada”, salienta o seu director.O TMP conta já com mais de 30 produções no seu currículo. Ainda assim, ao longo destes mais de 20 anos, Seara Cardo-so sentiu “necessidade de trabalhar em teatro sem marione-tas”. Por isso encenou, para a companhia Visões Úteis, peças como “A Cantora Careca”, de Ionesco (1996), “Gato e Rato”, de Gregory Motton (1997) ou “Filme na Rua Zero L”, de Al Berto (1999). Além disso, encenou a ópera “O Lobo Diogo e o Mosquito Valentim”, numa co-produção Casa da Música/Orquestra Nacional do Porto. Na dramaturgia aprecia alguns autores britânicos contemporâneos, como Sarah Kane, e é um “apaixonado por [Samuel] Beckett”. Mas continua a “cair nos clássicos, porque são as obras fundadoras”. Hoje, a menina dos olhos de Seara Cardoso é o futuro Mu-seu do Teatro de Marionetas do Porto, que o encenador está a erguer, sem qualquer apoio público, na Rua das Flores. Num edifício já parcialmente remodelado, vai ser possível conhecer o espólio de marionetas do TMP, quase todas criadas pelo ilus-trador Júlio Vanzeler.

Qual saltimbanco, chegava às localidades mais recônditas

do país, escondia o carro para dissimular as origens

burguesas e apresentava espectáculos com a malinha

dos “robertos”...

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PORTO, CIDADE, REGIÃO

Em zonas urbanas torna-se mais difícil lidar com a impre-visibilidade das linhas de água, porque as necessidades de “densificação” na construção lidam mal com o espa-

ço que normalmente não é, mas que um dia pode vir a ser, violentamente conquistado pela água. As recentes enxurradas da Madeira, embora num contexto climático e orográfico (re-levo muito acidentado) específico daquela ilha, mostraram-no tragicamente. Para além da forte precipitação que foi a causa directa, certos especialistas referiram ainda, como factores adi-cionais, os leitos demasiado apertados pela construção, equi-pamentos em zonas de cheia e alguma desflorestação da ilha.Urbanizar significa, frequentemente, pavimentar com inertes e impedir, portanto, que a água se infiltre. Ora, água que não se infiltra é água que escorre em velocidade e se acumula na es-corrência. Não só procura caminhos diferentes dos percorridos em regime natural como, com grande probabilidade, aumen-ta a velocidade de escorrência e o caudal nessa nova situação. Muitas vezes, a rede de águas pluviais não é suficientemente dimensionada. Assim, será necessário fazer cálculos, estudar tendências de comportamento da água e projectar soluções de engenharia hidráulica e biofísica. Porque reabilitar linhas de água e evitar cheias também significa plantar certas espécies que lhes são próprias. Mas, mais uma vez, em muitas linhas de água que passam em meio urbano já pode ser tarde para uma verdadeira reabilita-ção. As obras de engenharia civil, com muros a condicionar o leito e condutas subterrâneas, foram-se sucedendo com dupla função: libertar a superfície para mais construção e esconder poluição e cheiros que ainda persistem na água que corre. Há um terceiro efeito, apenas aparente: transmitir a sensação que, uma vez escondidos e entubados, a ribeira ou o rio estão defi-nitivamente “domados”. Não estão e revelam o seu poder des-trutivo quando surgem fenómenos climáticos extremos, como a intensa pluviosidade de 19 para 20 de Março, na Madeira.

O homem foi transformando, transfor-mando… Tanto, que a transformação se agiganta agora para o assombrar. É o caso de muitas intervenções nos

cursos de água e das construções que os esconderam, que são elas próprias

factor de preocupação. Requer-se agora um tipo de intervenção, de

renaturalização, informada por novos paradigmas. Não sem custos, particu-larmente na cidade do Porto… Mas os

riscos podem justificá-los.

FAZER ASPAZES COMAS RIBEIRAS DO PORTO

Reabilitação problemáticaNo Plano Director das Águas Pluviais da Maia, elaborado pelo Instituto de Hidráulica e Recursos Hídricos (IHRH)/Faculda-de de Engenharia (FEUP) para a Câmara Municipal da Maia, consta um enquadramento que se aplica a vários outros casos, nomeadamente ao Porto: “O conceito de escoar a água preci-pitada o mais rápido possível é um conceito actualmente ul-trapassado nos países desenvolvidos. A consequência imediata dos projectos baseados neste conceito é a ocorrência de inun-dações, a jusante, devido ao aumento dos caudais de ponta de cheia. Posteriormente, para transportar esses caudais, é neces-sário ampliar a capacidade dos colectores e dos canais ao longo de todo o seu trajecto até um local onde o seu efeito não atinja as populações. A irracionalidade de alguns destes projectos leva a custos insustentáveis, podendo chegar a ser dez vezes maior do que o custo de amortecer o pico de cheia e diminuir o caudal para jusante através de uma retenção. A canalização de linhas de água, com o intuito de conduzir as águas das cheias para longe, pode proporcionar grandes melhorias locais em épocas de cheias mais frequentes, mas muitas vezes transfere o problema para jusante e agrava significativamente a situação nas cheias excepcionais”. No caso do Rio Tinto, Gondomar, por exemplo, na opinião de Veloso Gomes, professor da Hidráulica na FEUP e director do IHRH, o curso de água terá problemas sempre, mesmo que não haja mais nenhuma obra de condicionamento do leito. Resta, pois, estudar soluções para minimização dos proble-mas. Uma vez condicionado o leito de um rio, desequilibra-se o sistema.

Foi este tipo de problemáticas que a equipa técnica do IHRH da FEUP estudou num trabalho encomendado pela Câmara Municipal do Porto, no contexto da elaboração dos Planos de Pormenor da cidade, sobre cinco ribeiras locais: Granja, Car-tes, Currais, Nevogilde e Ervilheira. Esta seria apenas a pri-meira fase, estando prevista uma outra que incidiria sobre as restantes ribeiras. As ribeiras estão, na grande maioria dos seus percursos, canalizadas, sendo difícil a sua visualização à superfície – o que, desde logo, apresenta riscos quando se pretende realizar obras de construção civil e dificulta qualquer intervenção para reabilitação desses cursos de água. Entre-tanto, a competência nesta área mudou para a Águas do Por-to que, na sequência da reorganização coordenada por Poças Martins – também professor da FEUP, anterior administrador da Águas de Gaia e ex-secretário de Estado do Ambiente e do Consumidor –, criou uma equipa para actuar ao nível destas problemáticas. Como princípio, a Águas do Porto defende, se-gundo fonte da empresa, que nenhum loteamento deverá ser construído em cima das linhas de água, reservando uma faixa de 10 metros até à linha de água. Aliás, o PDM determina como de edificação interdita uma faixa de 10 metros de cada lado da linha de água. Por outro lado, quando um curso de água está entubado e haja possibilidade de o abrir à superfície, tal deve ser feito. Um projecto-piloto de reabilitação, a executar em bre-ve, decorre em terrenos camarários por onde passa a ribeira da Asprela, junto à Faculdade de Economia (FEP).

Pequena janela de oportunidadeOs estudos efectuados até agora revelam que a Ribeira da Gran-ja, embora também canalizada na maior parte do seu traçado, apresenta ainda troços com pouca intervenção, o que constitui um potencial a não desprezar para reabilitação e minimização dos riscos de cheia. Nesse sentido, o IHRH elaborou o “Estudo das condições de cheia da Ribeira da Granja, no troço entre a Es-trada da Circunvalação, a Rua de Requesende e a Rua de Ramal-de do Meio” em parceria com a Imoalde, que promove dois lote-amentos em área anexa e suportará financeiramente a execução do projecto de renaturalização desde troço da ribeira (integrado no “Projecto de Espaços Exteriores e Integração Paisagística da Urbanização de Requesende”). O estudo faz uma caracterização hidrográfica da ribeira, avalia caudais de ponta de cheia, faz uma simulação de cheia em situação actual com um programa de cál-culo avançado e ainda uma simulação de cheia na situação do projecto de reabilitação e renaturalização neste troço.O estudo do IHRH conclui que as velocidades da água em situ-ação do projecto executado são mais baixas do que na situação actual, o que se deverá à alteração prevista para revestimento do canal que actualmente passa no interior de uma galeria de betão. A intervenção projectada preconiza um pequeno canal central revestido a pedra e a restante secção do canal revestida com vegetação, o que tem como consequência a diminuição do pico de cheia na zona. Por outro lado, também a altura da água em situação de projecto é inferior à altura actual. No entanto, o estudo sublinha que incidiu sobre troços homogéneos da ribei-ra limitados por secções a montante e a jusante, que se podem considerar condições de fronteira controladas por travessias hidráulicas por baixo de vias. Mas podem ocorrer factores de risco, como a acumulação de detritos e lixos, que venham a proporcionar condições para a ocorrência de cheia. Por outro lado, refere-se ainda que, tanto na situação de projecto como na actual, o escoamento para jusante da zona de intervenção é controlado pela passagem hidráulica sob a Rua do Viso, a qual não tem capacidade de vazão para cheias com períodos de retorno iguais ou superiores a 10 anos.

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A “gola do lobo”, ainda usada para curar maleitas do su-íno em certos locais do país, e o “fojo do lobo”, usado para capturar este canídeo e que ainda se observa em

paisagens do Nordeste de Portugal, são apenas alguns sinais da presença desta espécie chave na cultural popular portuguesa. Vida selvagem, imaginário popular, literatura e formas de ex-pressão artística, coexistem num novelo raro. O lobo pode ser visto como um indicador de como lidamos com os valores na-turais em Portugal, agora que entrámos no Ano Internacional da Biodiversidade. O povoamento avançou, a paisagem e o coberto vegetal muda-ram ao longo do século XX e o lobo-ibérico, uma subespécie do lobo cinzento, foi regredindo desde a década de 30. Hoje, há apenas presenças pontuais em serras do Norte e Centro, estan-do mais ameaçado a Sul do Douro, porque mais isolado, não existindo contacto com as alcateias de Espanha nem com as do Norte. Das 60 alcateias a nível nacional, menos de uma deze-na vivem a Sul do Douro, afirma Francisco Álvares, investiga-dor do CIBIO, que há anos estuda este canídeo em Portugal. Mudaram as condições de sobrevivência, por exemplo ao nível alimentar, com a escassez das presas preferenciais – o corço, o veado e o javali –, mas também o coberto vegetal e uso humano do solo. Quando faltam as presas preferenciais, alimenta-se de

coelho e lebre, roedores, gado (ovino, caprino, bovino e equino) e cães vadios, sendo um necrófago quando lhe surge a opor-tunidade. Mas não consegue sobreviver sem presas de grande porte. Hoje, também a diminuição da pastorícia constitui ame-aça. Grosso modo, nas zonas onde as alcateias vivem saudavel-mente, o ecossistema mantém alguma integridade.Apesar das adversidades, “o lobo é um resistente”, caracteriza Francisco Álvares, com a admiração de quem tem dedicado ao grande predador nacional quase toda a sua vida de investiga-dor. Para conhecer a situação actual, poder fundamentar e su-gerir medidas de conservação, um projecto do CIBIO irá fazer o seguimento destes animais através de métodos inovadores envolvendo GPS. Este método complementa-se com a análise genética de excrementos, urina e saliva, realizada nos labora-tórios do CIBIO, que permitirá identificar individualmente os animais de cada alcateia, estabelecer relações de parentesco e identificar os animais responsáveis pelos ataques a animais domésticos – por vezes, confundem-se ataques de cão vadio e de lobo. Aliás, em zonas onde já não existe lobo, as alcateias de cão vadio podem vir a ocupar o mesmo nicho ecológico. O projecto está a ser desenvolvido por Francisco Álvares e Raquel Godinho, também investigadora do CIBIO.

O Ano Internacional da Biodiversidade decretado pela ONU, a Universidade faz o balanço da sua

intervenção alargada. Do estudo e descoberta de novas espécies, na Biologia, passando pelas pro-

postas de classificação de áreas e de redes de par-ques para a Área Metropolitana do Porto, própria

dos estudos de paisagem, até à recuperação de habitats que também se faz na Engenharia. Uma

visão de conjunto que se pretende pluridisciplinar e integrada, necessária para travar a perda da

biodiversidade. O lobo é uma espécie chave e, de certo modo, um indicador e um símbolo.

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Em Portugal e mais alémO coelho e a lebre são, portanto, presas do lobo, embora não preferenciais. Mas como são presas preferenciais de vários ou-tros predadores, como o lince-ibérico, a raposa, aves de rapina e outros animais, ocorrendo em diversos habitats na Península Ibérica, desempenham um papel muito importante no funcio-namento destes ecossistemas. A monitorização e compreensão da evolução da lebre são relevantes para perceber a evolução dos ecossistemas. A evolução da lebre – das três espécies da Pe-nínsula – foi objecto de um estudo desenvolvido no CIBIO, em colaboração com a Universidade de Montpellier, em França, com base do DNA mitocondrial. Os resultados mostram que terá havido cruzamento/hibridação entre as três espécies da Península com uma quarta (lebre variável ou alpina) que se ex-tinguiu nesta zona durante as últimas glaciações, há algumas

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dezenas de milhar de anos. Por outro lado, uma colaboração mais recente com a Universidade de Montana procura com-preender e monitorizar a adaptação de duas espécies de lebre ártica, que mudam a cor da pelagem de castanho (Verão) para branco (Inverno), num habitat em mudança, nomeadamente com as alterações climáticas. Essa diferença terá consequên-cias na evolução das espécies de lebre no estudo em que par-ticipam Paulo Célio Alves e José Melo-Ferreira, investigadores do CIBIO.Os investigadores da U.Porto têm desenvolvido vários outros trabalhos no campo da genética da evolução e ecologia, alguns de relevância reconhecida nacional ou internacionalmente. É o caso do estudo das populações de crocodilo do Nilo, nas lagoas da Mauritânia, projecto financiado pela National Geographic Society e coordenado por José Carlos Brito. Embora não ter-minado e após várias expedições ao Norte de África, o trabalho sobre estes crocodilos, que atingem menor dimensão que os restantes da mesma espécie, aponta para a maior viabilidade das populações a viver em lagoas ligadas por linhas de água, ainda que temporariamente. Merecedor do Prémio Gulbenkian Fronteiras das Ciências da Vida, o projecto de Catarina Pinho sobre os peixes ciclídeos do Lago Malawi, em África, usando um método de genética molecular inovador, poderá contribuir para compreender a misteriosa evolução destes peixes. Até agora, não se conseguiu explicar como terão surgido 600 espécies neste grupo de pei-xes coloridos em apenas um milhão de anos.

A biodiversidade ao pé da portaOutras linhas de investigação do CIBIO também relevantes para o estudo e preservação da biodiversidade têm a ver, por exemplo, com grupos considerados ameaçados, como os mor-cegos e os anfíbios. Entre os anfíbios da fauna portuguesa, destaca-se a salamadra-lusitânica observável apenas em locais restritos do Centro e Norte de Portugal, que ocorre somente na zona Noroeste da Península Ibérica, considerada ameaçada e estritamente protegida por normas internacionais. Esta espé-cie tem sido alvo de diferentes estudos por investigadores da Universidade, muitos deles realizados no âmbito de teses de doutoramento e de mestrado, ou de projectos em colaboração com instituições, como o caso da monitorização das popula-ções que ocorrem nas minas de Valongo, cujo estudo é coorde-nado por Fernando Sequeira do CIBIO. A biodiversidade, apesar do que possa parecer, não é apenas uma questão relacionada com a presença de espécies raras em zonas onde houve pouca intervenção do homem. Tanto consi-dera a vida à escala humana como a vida à escala menos visível, como o grupo dos tardígrados, seres pluricelulares aquáticos também designados “ursos de água” devido ao seu aspecto ao microscópio. Quatro pares de patas geralmente com garras e um aparelho bucal complexo caracterizam este grupo que, desde há alguns anos, tem vindo motivar o trabalho de Paulo Fontoura, professor da Faculdade de Ciências (FCUP), talvez o único investigador nesta área em Portugal, e que já contribuiu – em articulação com outros investigadores estrangeiros – para a descoberta de dez novas espécies desde 2007. Duas delas fo-ram identificadas bem perto do Porto, no Parque Biológico de Gaia. Em Portugal estão descritas 66.Tão importante como conservar a biodiversidade em áreas de grande relevância e valor reconhecido, como as Áreas Prote-gidas, é a maneira como nos relacionamos com os recursos naturais ao pé da porta e, especificamente, em áreas urbanas. Muito poucos sabem, por exemplo, que em Portugal o número de espécies de grilos ascende já a mais de duas dezenas e está associada a uma grande discrepância de habitats e, concreta-mente, a alguns mais improváveis. As estações de comboio e metro e as praias são alguns desses habitats, como demonstra o estudo de Sónia Ferreira e Pedro Sousa (ambos do CIBIO) que, para além disso, revelou sete novas espécies antes desco-nhecidas em Portugal e uma nova espécie para a ciência.

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Para assinalar o Ano Internacional da Biodiversida-de, a U.Porto tem previstas duas exposições. Uma delas chama-se “A Evolução de Darwin”, esteve na Fundação Calouste Gulbenkian durante o ano passado e está agendada para o último trimestre de 2010. Para além desta exposição comissariada por Nuno Ferrand, prepara-se ainda a exposição “Anfíbios: uma pata na água, outra na terra”, entre 5 de Abril e 16 de Maio. Ambas decorrerão na Casa Andresen, antigo Departamento de Botânica da FCUP, no interior do Jardim Botânico.Em simultâneo com a exposição sobre os anfíbios, estão previstas diversas actividades de divulgação científica e sensibilização da população escolar. Está ainda programada uma campanha de conser-vação de habitats em vários locais do país, em par-ceria com a Sapo e a Naturlink (www.expoanfibios.org). Um desses locais será a recém-criada Pai-sagem Protegida do Litoral de Vila do Conde, que integra a antiga Reserva Ornitológica do Mindelo, cujo órgão de gestão conta com um representante da U.Porto.

A Agência Europeia de Ambiente (EEA) define a biodiversidade como englobando três tipos de diversi-dade: genética (também no seio de uma mesma espécie), variedade de espécies e variedade de ecos-sistemas que constituem a vida no planeta. No site da EEA, entre as causas da perda da biodiversidade no planeta, apontam-se as alterações dos habi-tats naturais em resultado de diver-sos factores: os sistemas intensivos de produção agrícola e os respecti-vos impactes no ambiente; a cons-trução; exploração de pedreiras; a sobrexploração das florestas dos oceanos, dos rios, dos lagos e dos solos; a introdução de espécies com origem noutro habitat; a poluição e as mudanças climáticas globais, cada vez mais influentes.Um dos grandes desafios que se colocam a Portugal actualmente, na perspectiva de Nuno Ferrand, coordenador do CIBIO e professor da FCUP, é precisamente o impac-te (destacando-se a destruição e fragmentação) das actividades hu-manas nos ecossistemas, tornando premente a criação de um sistema de monitorização da evolução da fauna e flora, nomeadamente para medir e acompanhar os efeitos das alterações climáticas. Este é, aliás, o principal objectivo da proposta de criação de um novo laboratório associado que envolve o CIBIO, en-tre outros centros de investigação e investigadores a nível nacional.

Actuação integradaA preservação da biodiversidade não passa apenas pelo estu-do e conservação de espécies, consideradas individualmente. A diversidade de espécies de uma região também tem a ver com a diversidade de habitats, sendo que alguns deles estão dependentes da actividade humana, como as áreas agrícolas. Um estudo de Pedro Beja, também investigador do CIBIO, re-lacionado com a influência da gestão agrícola e florestal sobre a biodiversidade, no contexto das paisagens agrícolas mediterrâ-nicas, mostrou que, no caso dos ecossistemas florestais medi-terrânicos, a necessidade de manter um mosaico diversificado de parcelas florestais com diferentes mo-delos de gestão para manter a diversidade à escala de uma paisagem. É também nesta perspectiva, a da biodi-versidade junto à porta, neste caso mesmo em zonas urbanas, que foi recentemente proposto o projecto “Estrutura Verde Ur-bana: Estudo da relação entre morfologia do espaço público e diversidade da flora e fauna na cidade do Porto”, coordenado por Paulo Marques, professor do curso de Arquitectura Paisagista na Faculdade de Ciências (FCUP). Pretende-se com esta pes-quisa, explica o coordenador, identificar as tipologias de espaço verde que melhor favoreçam a ocorrência de biodiversidade. Estudos noutros contextos indicam que espaços possuidores de certa diversidade, como clareiras, orlas e mata serão mais acolhedores porque permitem a ocorrência de maior variedade de plantas e de animais de vários nichos ecológicos. Por outro lado, acrescenta, a existência de plantas autóctones também é factor de maior biodiversidade. Perante estes pontos de parti-da, resta saber quais os resultados no contexto do Porto. Por outro lado, a uma escala mais ampla, foi concluída recen-temente a proposta de “Rede de Parques Metropolitanos da Grande Área Metropolitana do Porto”, trabalho coordenado por Teresa Andresen, professora do curso de Arquitectura Pai-sagista da FCUP, sequência lógica da Estrutura Regional da Va-lorização e Protecção Ambiental, realizada no âmbito do Plano Regional de Ordenamento do Território do Norte. Entendeu-se, explica o relatório, “por uma Rede de Parques o conjunto de sítios que, pelos seus valores naturais e/ou culturais e pela sua dimensão funcional ecológica ou ambiental, são conside-rados relevantes e/ou estratégicos para a consolidação de uma estrutura ecológica de dimensão regional/intermunicipal”. Os 11 parques desempenham funções várias, a diferentes escalas, desde a local à metropolitana e nacional, como é o caso da Ser-ra da Freita. O estudo prevê também unidades de ligação entre parques: os corredores. A proposta pretende contribuir para minimizar o que considera ser a escassez de valores conserva-cionistas na AMP, onde “a Rede Nacional de Áreas Protegidas não tem expressão”, existindo apenas os Sítios Rede Natura Es-moriz/Paramos, Serras de Valongo e Freita/Rio Paiva.

Emendar a mãoPara além destes, a U.Porto tem contribuído de diversos modos para a valorização, gestão e atribuição de estatuto legal de várias áreas de interesse para a biodiversidade. Como foi o caso da proposta de classificação da Paisagem Prote-gida do Sul de Vila do Conde, onde se insere a área da antiga Reserva Ornitológica do Minde-lo, criada por iniciativa de Santos Júnior, antigo professor da U.Porto, na altura a primeira área classificada em Portugal. Para além deste caso, recentemente classificado, a U.Porto participou em diversos outros estudos de valorização e classificação, como o Parque Paleozóico de Va-longo e, mais recentemente, a proposta de clas-sificação da Serra da Aboboreira. Até final de 2010, está prevista a conclusão de um sistema de monitorização da biodiversidade em Sítios Rede Natura 2000, um projecto-piloto coor-denado por João Honrado, professor da FCUP, com diversas vertentes, entre as quais uma base de dados e uma rede de observação. A defesa da biodiversidade também passa pela reposição, tanto quanto possível, do que o ho-mem destruiu. Nesse quadro, inserem-se pro-jectos de reintrodução do corço em certas zonas onde o lobo está mais ameaçado, apoiados por promotores de parques eólicos, mas também as acções de recuperação de habitats de anfíbios, nomeadamente através da construção de charcos (CIBIO), e projectos de recuperação de solos e renaturalização de linhas de água, por exemplo, desenvolvidos na Faculdade de Engenharia (FEUP), muitos deles coordenados, respectiva-mente pelos professores Rui Boaventura e Veloso Gomes (ver texto na pág. ?).Travar a perda da biodiversidade, como pretende a ONU de-clarando o Ano Internacional da Biodiversidade, deve fazer-se por diversas vias, inclusive a via política. Por isso, a Assem-bleia Geral da ONU promoverá, a 20 de Setembro, a Cimeira da Biodiversidade prevista para Nagoya, no Japão, em Outubro deste ano.

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Há muito se fala numa mudança de paradigma de desenvolvimen-to em Portugal, com a passagem de uma economia eminentemente industrial para uma economia do conhecimento. Esta mudança de paradigma está de facto a ocorrer? Comparando Portugal com o mundo desenvolvido, a melhoria não tem sido muita. Houve uma fase de alguma euforia na se-gunda metade dos anos 80 e nos anos 90, em que a economia portuguesa cresceu muito, o desemprego baixou e o nível de vida aumentou. Mas tudo isso era insustentável. Portanto, nós estamos a tentar essa mudança de paradigma, embora, como sempre, já com grande atraso e comparando mal com os países mais desenvolvidos. Empresas como a Critical Software, Alert, Efacec ou Bial estão próximas dessa economia do conhecimento, só que são poucas.

Mas a nossa balança tecnológica é positiva desde 2007. Ainda re-centemente, o primeiro-ministro garantia que Portugal exportava 1300 milhões de euros em serviços tecnológicos...Cada um fala do que pode. E os membros do Governo, quase por obrigação profissional, têm de ser optimistas. A balança tecnológica é realmente positiva, mas temos que ver o que ela incorpora. Trata-se de uma balança apenas de serviços, sem ex-portação de mercadorias. O que ali tem é o que o país recebe do exterior e o que paga ao exterior por utilização de patentes, marcas, direitos de autor, serviços de consultoria... Aliás, o prin-cipal contributo para essa balança positiva vem do investimento que empresas portuguesas, como a Sonae ou a PT, fizeram no estrangeiro, passando as holdings a facturar serviços de gestão às participadas.

A BONOMIA QUE DEIXA TRANSPARECER CON-TRASTA COM O DESASSOMBRO COM QUE

ANALISA A REALIDADE ECONÓMICA E POLÍTICA PORTUGUESA. O DIRECTOR-GERAL DA COTEC

ADMITE QUE AINDA NÃO HÁ UMA CULTURA DE INOVAÇÃO EM PORTUGAL, DISCORDA DA ESTRATÉGIA DE COMBATE À CRISE SEGUIDA

PELO GOVERNO E VÊ FALHAS NO PROCESSO DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA DAS UNIVER-SIDADES PARA O MERCADO. ANTIGO ESTUDAN-

TE E DOCENTE DA FACULDADE DE ECONOMIA (FEP), DANIEL BESSA PREVÊ DIAS SOMBRIOS

PARA O PAÍS, DEVIDO À FALTA DE BENS E SER-VIÇOS TRANSACCIONÁVEIS NO EXTERIOR.

FACE-A-FACE

DANIEL BESSA DIRECTOR GERAL DA COTEC

Não há, portanto, uma cultura de inovação em Portugal.O sucesso dos anos 80 e 90 foi terrível: o crescimento da pro-dução e do emprego serviu apenas para satisfazer a procura in-terna. O Estado e as famílias gastaram muito e endividaram-se. Durante esses 15 anos, adormecemos na orientação para o mer-cado externo. Só nesta década, quando o Estado e as famílias já não podiam gastar mais por causa dos níveis elevados da dívida, é que muitas empresas portuguesas se convenceram de que só podiam vender fora. Começaram então a vender para outros mercados e a tentar exportar outros produtos, com maior con-teúdo de inovação.

E que barreiras há ainda à inovação? Eu não culpo o português comum. Nós encontramos portugue-ses pelo mundo inteiro e, normalmente, são exemplos de disci-plina e produtividade. Portanto, as barreiras maiores à inovação partem das lideranças – não só públicas como privadas. Os em-presários gostam muito de culpar o Estado. Mas, no relatório do World Economic Forum, a debilidade das estratégias e operações das empresas portuguesas é apontada como um dos pontos fra-cos do país. Há muito a fazer nas empresas.

Neste sentido, que contributo pode dar a COTEC para eliminar as barreiras à inovação e para sensibilizar as tais lideranças?Temos três grandes linhas de trabalho e uma delas é direccio-nada para as PME, tanto as nossas associadas como as da rede PME Inovadoras. Nós achamos que a recuperação da economia portuguesa vai passar muito mais pelas PME do que pelas gran-des empresas. E temos trabalhado com as PME apoiando-as na aproximação aos mercados externos e às agências que cuidam disso – como a AICEP –, na aquisição de competências, no con-tacto com os financiadores e na abertura de mercados juntos das empresas nossas associadas. Uma outra linha de trabalho visa levar as empresas a inovar. Hoje, há a possibilidade de uma empresa ter os seus processos certificados em gestão da inovação. Por isso, nós tentamos di-fundir essas práticas junto das empresas associadas, das empre-sas da rede e de outras empresas. Outra das linhas em que trabalhamos é a valorização do co-nhecimento criado nas universidades, através do COHiTEC. No programa COHiTEC só trabalhamos com tecnologias que tenham um potencial de crescimento muito elevado e viradas para o mercado internacional. Além disso, os empreendedores são acompanhados por gestores com muita experiência e foram criados fundos de investimento para as futuras empresas.

Já se realizaram mais de 10 edições do COHIiTEC, das quais re-sultaram 65 planos de negócio. Contudo, só foram criadas duas start-ups high-tech, high-growth. Não será pouco em seis anos de actividade? É que nós só trabalhamos as empresas que têm uma intensidade tecnológica muito elevada e que estão viradas para o mercado in-ternacional. Além disso, algumas das tecnologias que passaram por aqui deram lugar a empresas que não estão a ser trabalha-das por nós. Duas empresas em 65, até talvez não seja mau. O que é pobre é que, ao fim de seis anos, só tenham passado por aqui 65 tecnologias. Isto que significa que as universidades e politécnicos portugueses não estão a gerar muitas hipóteses de empresas.

Falhas no sistema universitário

E por que é que acha que isso acontece?Há coisas mal resolvidas no sistema universitário. Por exem-plo, algumas hipóteses morreram por não se saber quem era o proprietário do conhecimento. Não estão a ser devidamente patenteadas as tecnologias nem esclarecidas as questões dos di-reitos. Neste momento, temos na COTEC um GAPI (Gabinete de Apoio à Promoção da Propriedade Industrial) que é o único no país com o objectivo de avaliar e valorizar activos intangíveis, nomeadamente o conhecimento. Nós achamos que uma coisa é desenvolver o conhecimento e outra coisa é fazer uma em-presa que valorize esse conhecimento, chegando ao produto e levando-o ao mercado. Nas universidades portuguesas, há uma dificuldade muito grande em compreender que, por vezes, o melhor que o investigador tem a fazer é vender [o conhecimen-to] e sair. Porque ele não tem condições para seguir em frente no processo de valorização. Para isso é preciso muito dinheiro, e não basta o dinheiro dos outros. São precisos capitais próprios e conhecimentos de gestão muito sofisticados.

Hoje, há a possibilidade de uma empresa ter os seus processos certificados em gestão da inovação.

O sucesso dos anos 80 e 90 foi terrível: o crescimento da produção e do emprego serviu apenas para satisfazer a procura interna.

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Isto significa que as universidades têm falhado na transferência de tecnológica para o mercado?Acho que se tem feito alguma coisa. Na Universidade do Porto, ando a ouvir falar nisto há dezenas de anos e hoje, apesar de tudo, têm sido feitas algumas coisas. É evidente que houve pro-gresso, mas temos ainda muito que aprender. Há ainda algum amadorismo nas universidades portuguesas. Temos que passar para um patamar superior de consciencialização e profissiona-lização.

Como é que a COTEC se relaciona com as universidades?Para além da valorização do conhecimento, temos agora uma iniciativa junto do Conselho de Reitores para arranjar uma for-ma de contacto mais permanente e mais estruturado com os gabinetes de transferência de tecnologia das universidades. No caso da U.Porto, com a UPIN. Vamos tentar aproximar esses gabinetes, transferir algum do nosso know-how e aumentar o fluxo de tecnologias ao COHiTEC.

Na delicada conjuntura económica em que vivemos, a inovação é de facto a solução para a falta de competitividade das empresas?Se Portugal quiser continuar no euro, não há outra solução. Nós somos dos países mais baratos da zona do euro e é bom que continuemos assim. Mas, quando nos comparamos com o resto do mundo, nós somos um país caro. Portanto, só consegue estar nos mercados quem, pelo seu grau de sofisticação e pelo seu grau de diferença, suporta um preço mais alto. Mesmo quando a actividade se baseia em recursos naturais, como a floresta, é ne-cessária a sofisticação de processos, a tecnologia, o investimento, a rede comercial…

FACE-A-FACE

Mas não será irrealista pensar que a solução está na inovação, ten-do em conta o défice de qualificação em Portugal, os problemas de tesouraria das empresas e as actuais dificuldades de acesso ao crédito?Pois… Por isso é que nós estamos confrontados com escolhas muito difíceis. Como estamos muito atrasados, nos próximos anos vão ser mais as actividades tradicionais que vamos perder do que as actividades sofisticadas que vamos ganhar. A parte vencedora, ou com potencial de vencer, que a nossa economia tem hoje é ainda muito pequena. Os seus êxitos não chegam para compensar as derrotas na parte mais ameaçada. Vamos passar por um período em que, provavelmente, não vamos cres-cer. Mas temos que aguentar. Se não aguentarmos, temos de sair do euro – o que seria um enorme passo atrás.

E esse aguentar passa por criar bases para o futuro, designadamen-te em termos de qualificação e incentivos ao investimento?É evidente que Portugal continua a ter uma das populações me-nos qualificadas da zona euro, mas a percentagem de jovens com ensino superior cresceu consideravelmente. E muitos deles não encontram emprego. Portanto, as empresas portuguesas não se podem queixar de falta de licenciados. No que se refere ao dinheiro, é evidente que é pouco. Mas o Estado, às vezes, pa-rece que tem muito dinheiro. Quando se fala em certas obras públicas, ou melhor, no volume de obras públicas e todas ao mesmo tempo… Quando se dá a entender que, em simultâneo, se podem fazer TGV’s, auto-estradas e aeroportos, que diabo: quem fala assim parece ter dinheiro! Como é que depois falta para outras coisas? Talvez falte para outras coisas porque o di-nheiro não está a ser bem orientado.

A prioridade do investimento público devia ser o apoio às PME?As PME não têm sido uma prioridade política e deviam sê-lo. Por exemplo, Portugal tem um sistema de capital de risco pri-vado e público. Mas o capital de risco que o Estado oferece é, normalmente, de montantes muito reduzidos. Acontece que, se quisermos fazer crescer empresas como a Bial, a Frulact ou a Efacec, são necessárias dezenas ou centenas de milhões de euros. Para dar músculo a estas médias empresas, nós não temos soluções financeiras e apoios de capital públicos. E se calhar estas empresas são muito importantes, porque têm con-dições de penetrar nos mercados externos e arrastarem outras mais pequenas. Mais: no mundo sofisticado, quem dá capital também dá know-how de gestão especializada. E o nosso capi-tal de risco não está em condições de fazer isso.

Solução está na oferta

Afirmou recentemente que a recuperação da nossa economia de-pende das exportações. Mas também disse que o drama português é não ter o que vender. Como vamos conseguir ultrapassar este di-lema?Em períodos difíceis como este, há sempre duas grandes teses: a de que falta procura e a de que falta oferta. Quem acha que o problema é de procura tem uma solução: gastar mais. É daí que vêm as orientações para o Governo gastar mais dinheiro, fazer obras, comprar isto e aquilo. Eu acho que este caminho não ser-ve. É por estas e por outras que nós chegámos ao défice público e ao défice externo que temos. Portanto, há que levar isto de outra maneira: pôr as pessoas a produzirem coisas que possam ser vendidas não só cá dentro como lá fora. O Governo parece perfilhar a tese de que se deve fomentar a procura. Mas o Professor, ainda assim, escreveu que o OE para 2010 é o “orçamento possível”.Quando digo que este é o “orçamento possível” é porque ele in-troduz alguma moderação na despesa e aponta para uma redu-ção do défice. Além disso, o ministro das Finanças [Teixeira dos Santos] foi muito claro relativamente a alguns investimentos. Ele deu a entender que, em relação às auto-estradas, vai fazer-se o que está contratado e não vamos contratar mais nada. E em relação aos grandes investimentos, tudo vai depender de termos ou não dinheiro. Neste momento, ninguém sabe qual vai ser o ritmo de execução do TGV, por exemplo. Quem fala assim mostra algum desconforto com o caminho que foi seguido. Eu valorizei mais o que o ministro das Finanças disse do que o que ele conseguiu fazer. Porque o que ele conseguiu fazer [no OE] foi pouco.

Esperava medidas mais ousadas do lado da despesa?O Governo é o que é, o primeiro-ministro é o que é, o programa político que ele segue é o que é. Por isso foi preciso meter uns travões. E os travões vieram do lado da Presidência da República, dos credores internacionais, dos partidos da oposição – PSD e CDS – e do próprio ministro das Finanças. Daí que eu diga que mais importante que os números que lá estão é o que o ministro disse. Mas as coisas são o que são e, provavelmente, não havia condições para fazer [um OE] muito melhor.

Defendeu algumas medidas de consolidação das contas públicas pouco ortodoxas, como a privatização de serviços públicos nas áreas da educação e da saúde. É esse o caminho?Uma das brincadeiras, entre aspas, que me permiti dizer nos últimos tempos foi que a solução de esquerda para o problema das finanças públicas vão ser as privatizações. Quando chegar-mos a uma situação em que não temos dinheiro para pagar aos funcionários [públicos] e as alternativas são ou reduzir-lhes os salários ou mandá-los embora, talvez seja melhor vender os ser-viços. Não despeço ninguém e procuro encontrar alguém para pôr aquilo [os serviços] a funcionar. A solução é de esquerda por-que é menos agressiva para os trabalhadores do Estado, mas é também uma solução que quem está na actividade empresarial conhece bem: quando o dinheiro não chega, vendem-se activos. Aliás, o Estado português já privatizou. E não o fez por questões ideológicas, mas sim porque precisava de dinheiro. Toda a gente receia que um dia, por falta de dinheiro, lá seja privatizada uma fatia da CGD. E esse dia será muito dramático.

Mas privatizar escolas e hospitais não é um risco?Privatizar a CGD traz dinheiro para o Estado e permite reduzir a dívida. Mas o funcionamento da CGD não entra nas contas do défice, não está contabilizado como despesa pública. As escolas e os hospitais estão. Eu acredito que, se as coisas correrem mal, temos que vender activos e desfazermo-nos de despesa. Portan-to, é uma via possível. As escolas e os hospitais não vão parar, e até podem começar a funcionar melhor. Agora, a classe média vai começar a pagar por isso. Eu, como membro da classe mé-dia, prefiro pagar pela saúde e pela educação do que pagar mais impostos.

UE pode ter de ajudar

Acredita que é possível evitar a subida de impostos, sendo certo que, em 2013, o défice orçamental não pode ultrapassar os 3% do PIB e a dívida pública os 60%?Isso seria terrível! Se isto tiver de ser resolvido pela via dos im-postos, as subidas vão ser brutais. O IVA, por exemplo, teria de subir a sua taxa para 35 ou 36%. E não resolvia nada: a fuga aos impostos intensificava-se e a economia deprimia-se.

Vamos conseguir recuperar a credibilidade internacional e travar a subida dos juros da dívida?Neste últimos tempos, os credores internacionais ficaram muito nervosos com as notícias da Grécia e também se viraram para Portugal. E o orçamento não ajudou. Por isso, o custo da dívida subiu. Agora, vamos ver qual é a reacção ao PEC [Programa de Estabilidade e Crescimento, na altura da entrevista ainda desco-nhecido]. A questão crítica do PEC é a taxa de crescimento que o Governo vai admitir. Porque, se o Estado português admitir uma taxa de crescimento muito alta, nem precisa de reduzir despesa nem de aumentar a taxa dos impostos, porque há mais receita.

Foi isso que o eng. José Sócrates começou por dizer: “Vamos chegar a um défice de 3% do PIB porque a economia vai crescer e gerar mais receitas”. Mas eu fiz umas pequenas contas e, para que isso fosse ver-dade, a economia portuguesa tinha de crescer 5% ao ano. E isso não vai acontecer. O que toda a gente vai ver no PEC é como vamos atingir os 3% de défice e se isso é credível. Se aparecer um PEC onde, como começou por ser dito, não se mexe na despesa e nos impostos e tudo vem do crescimento, o mundo vai pôr-se a rir.

Num cenário mais pessimista para a economia portu-guesa, é expectável um plano de ajuda da UE ou uma intervenção do FMI? Sim, claro. Não do FMI, que intervém mais na taxa de câmbio. Isto deve ser resolvido no âmbito da UE, que tem os seus órgãos próprios para isso. A nossa dívida, por mais monstruosa que seja, representa quase nada na UE. Portanto, não custará muito à Alemanha, à França ou à Holanda aplicar aqui uns trocos. Agora, nós não devemos partir do princípio de que, por sermos irrelevantes, podemos gastar o que quisemos sem disciplina ou controlo. Acho que o dinheiro aparecerá, mas vai ser acompanhado da imposição de condições.

Centrando agora a conversa no Norte, como é que a região pode recuperar do declínio dos sectores tradicionais e da deslocalização de investimento?A grande Lisboa tem lá o Estado todo, a banca e os seguros, as grandes empresas que eram públicas, e essas actividades não estão muito ameaçadas. A economia do Norte não tem nada a ver com isso. Vive de vender e, sobretudo, de vender ao exterior. Portanto, esta é a zona do país mais ameaçada. Mas também é, junta-mente com o Centro, onde estão as em-presas mais dinâmicas. Mas, como dizia há pouco, o que é novo, dinâmico e ga-nhador não chega para compensar as per-das nas actividades tradicionais.

O cluster das Ciências da Saúde é uma via possível para o reforço da competitividade da região?Claro. Não é por acaso que o único pólo de competitividade que, neste momento, tem funcionado é o da Saúde [Health Cluster Portugal]. E isto porque já existia antes do Estado o ter criado. Não ficou à espera do Estado, envolve umas dezenas largas de entidades públicas e privadas, tem a Bial à frente e institutos de investigação de referência. Acho que as condições estão criadas e é uma boa resposta.

Daniel Bessa nasceu no Porto a 6 de Maio de 1948. É licen-ciado (FEP, 1970) e doutorado em Economia (Técnica de Lisboa, 1986). Foi docente da U.Porto (1970-2009), tendo ainda assumido os cargos de presidente do Conselho Directivo da FEP (1978-1979), de Pró-Reitor para a Orien-tação da Gestão Financeira (1990-1995), de presidente da Direcção da EGP – Escola de Gestão do Porto (2000-2008) e de presidente da Direcção da EGP – University of Porto Business School (2008-2009). Integrou a administração e os corpos sociais de várias empresas (Efacec, Galp, Celbi, Bial, etc.), exerceu funções em organismos públicos (como a AICEP – Agência para o Inves-timento e Comércio Externo de Portugal) e foi ministro da Eco-nomia (1992 -1995). Enquanto governante, “fartei-me de apanhar pancada. Mas aprendi muito”, admite. É, desde Junho de 2009, direc-tor-geral da COTEC Portugal – Associação Empresarial para a Inovação, constituída em Abril de 2003. Esta associação sem fins lucrativos resultou de uma iniciativa do então Presidente da República, Jorge Sampaio, e visa “promover o aumento da competitividade das empresas localizadas em Portugal, atra-vés do desenvolvimento e di-fusão de uma cultura e de uma prática de inovação, bem como do conhecimento residente no país”.

ENTRE AACADEMIA EAS EMPRESAS

Só consegue estar nos mercados

quem, pelo seu grau de sofisti-

cação e pelo seu grau de diferença, suporta um preço

mais alto.

Eu, como membro da classe média, prefiro

pagar pela saúde e pela educação do que pagar

mais impostos.

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FORMAÇÃO CONTÍNUA DA

UNIVERSIDADEDO PORTO

243 Razõespara aprendercom a U.Porto

O saber não ocupa lugar, aponta o velho ditado. É a pensar nisso mas, sobretudo, nas exigências de uma sociedade em constante mudança e onde a aprendizagem ao longo da vida se afirma como pilar funda-mental que a U.Porto promove, até ao próximo mês de Julho, 243 cur-sos de Formação Contínua abertos a toda a população, destinados a quem se quer manter actualizado nas mais variadas áreas do conhe-cimento.

Dirigidos preferencialmente aos alumni – que a U.Porto quer acolher cada vez mais como estudantes permanentes –, os programas na área da educação contínua distinguem-se das denominadas formações conferentes de grau pela sua maior flexibilidade e pelo seu carácter essencialmente prático. Características que a Universi-dade tem potenciado por via de uma oferta atractiva e crescente de cursos creditados segundo o modelo de ensino proposto por Bolonha. Prova disso é o facto de, só nos últimos dois anos, mais de 15 mil pessoas terem aproveitado a oportunidade de “reciclar” co-nhecimentos e competências nas diversas unidades orgânicas (onde se incluem as suas 14 faculdades, a Escola de Gestão do Porto - UPBS e a Reitoria) da U.Porto.

Centrando as atenções no catálogo de 2010, a promoção em “banda larga” de programas pensados para diferentes públicos e catego-rias profissionais é o condimento principal de uma receita que, neste primeiro semestre, reforça a aposta

na formação em áreas inovadoras e multidisciplinares. Ao todo são 16 as áreas contempladas, seguindo a

Classificação Nacional de Áreas de Educação e Formação (CNAEF): Arquitectura e Construção, Artes, Ciências da Vida, Ciências Empre-sariais, Ciências Físicas, Ciências Sociais e do Comportamento,

Direito, Engenharia Técnica e afins, Formação de Professores e Ciên-cias da Educação, Humanidades, Informática, Matemática e Estatísti-ca, Protecção do Ambiente, Saúde, Serviços de Segurança e Serviços Pessoais.

Entre cursos de curta duração e outros que podem prolongar-se por três anos, formações técnicas para licenciados e outras mais ge-néricas, encontra-se, por exemplo, um sempre útil Curso de Finanças para não Financeiros (EGP-UPBS). Pelo meio, há tempo para descobrir “Grandes Livros, Grandes Obras” na Faculdade de Letras, responder ao desafio do The Magellan MBA, descobrir a culinária saudável em 12 horas ou relaxar com a ajuda da medicina tradicional chinesa. E se não houver tempo, pode sempre aprender a geri-lo, em apenas 15 horas, num curso de Gestão Eficaz do Tempo.

O catálogo completo de cursos – em permanente actualização – pode ser consultado em http://formacaocontinua.up.pt > For-mação Contínua > Catálogos > Catálogo 2010. Aí podem encontrar-se informações sobre as condições de candidatura, contactos para inscrições, preços, horários, datas e o que mais inte-ressa saber para quem nunca se cansa de conhecer.

Tiago Reis

Faculdade de Belas Artes(FBAUP)Av. Rodrigues de Freitas, 265 • 4049-021 Porto • Tlf: +351 225192400 • Fax: +351 225367036 • http://www.fba.up.pt

2º Ciclo / Mestrado em EsculturaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 18 a 25 de Junho de 2010 (1.ª fase) • Horário: Misto, com algumas aulas em horário pós-laboral • Vagas: 20 • Créditos: 120 ECTS • Info: 225192400/02 / [email protected] • Propina 2009/2010: 1600 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em PinturaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 18 a 25 de Junho de 2010 (1.ª fase • Horário: Misto, com algumas aulas em horário pós-laboral • Vagas: 20 • Créditos: 120 ECTS • Info: 225192400/02 / [email protected] • Propina 2009/2010: 1600 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Práticas Artís-ticas ContemporâneasDuração: 4 semestres • Candidaturas: 18 a 25 de Junho de 2010 (1.ª fase) • Horário: Misto, com algumas aulas em horário pós-laboral • Vagas: 20 • Créditos: 120 ECTS • Info: 225192400/02 / [email protected] • Propina 2009/2010: 1600 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Desenho e Técnicas de ImpressãoDuração: 4 semestres • Candidaturas: 18 a 25 de Junho de 2010 (1.ª fase) • Horário: Misto, com algumas aulas em horário pós-laboral • Vagas: 20 • Créditos: 120 ECTS • Info: 225192400/02 / [email protected] • Propina 2009/2010: 1600 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Design Gráfico e Projectos EditoriaisDuração: 4 semestres • Candidaturas: 18 a 25 de Junho de 2010 (1.ª fase) • Horário: Misto, com algumas aulas em horário pós-laboral • Vagas: 20 • Créditos: 120 ECTS • Info: 225192400/02 / [email protected] • Propina 2009/2010: 1600 c / ano

FORMAÇÃO PÓS-GRADUADA DA

UNIVERSIDADEDO PORTO

FORMAÇÃO PÓS-GRADUADA DA UNIVERSIDADE

DO PORTOCANDIDATURAS

ENTRE MARÇO EJULHO DE 2010

AtençãoOs valores das propi-

nas são referentes a 2009/2010, pelo que

poderão ser actualiza-dos mediante decisão do Conselho geral da

U.Porto. Em alguns casos, o período de

candidaturas e o nú-mero de vagas estarão

sujeitos a alterações, podendo ainda ser

criadas novas fases de candidaturas. Para mais

informações, aconse-lha-se a consulta dos

sites das diferentes uni-dades orgânicas.

2º Ciclo / Mestrado em Estudos ArtísticosDuração: 4 semestres • Candidaturas: 18 a 25 de Junho de 2010 (1.ª fase) • Horário: Misto, com algumas aulas em horário pós-laboral • Vagas: 20 • Créditos: 120 ECTS • Info: 22 5192400/02 / [email protected] • Propina 2009/2010: 1600 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Design da ImagemDuração: 4 semestres • Candidaturas: 18 a 25 de Junho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: Misto, com algumas aulas em horário pós-laboral • Vagas: 20 • Créditos: 120 ECTS • Info: 225192400/02 / [email protected] • Propina 2009/2010: 1600 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Ensino de Artes Visuais no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino SecundárioDuração: 4 semestres • Candidaturas: 18 a 25 de Junho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: Misto, com algumas aulas em horário pós-laboral • Vagas: 30 • Créditos: 120 ECTS • Info: 225192400/02 / [email protected] • Propina 2009/2010: 1600 c / ano

Faculdade de Ciências (FCUP)Rua do Campo Alegre, s/n • 4169-007 Porto • Tlf: +351 220402000 • Fax: +351 220402009 • http://www.fc.up.pt

2º Ciclo / Mestrado em Arquitectura PaisagistaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 7 a 21 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em AstronomiaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Biodiversida-de, Genética e EvoluçãoDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em BiologiaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Biologia e Gestão da Qualidade da ÁguaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Biologia e Ge-ologia em Contexto EscolarDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em BioquímicaOrganização: FCUP, em colaboração com o ICBAS • Duração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 30 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Va-gas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Ciência de ComputadoresDuração: 4 semestres • Candidaturas: 28 de Junho a 9 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Ciências do Consumo e NutriçãoOrganização: FCUP, em colaboração com a FCNAUP • Duração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Va-gas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Ciências e Tecnologia do AmbienteDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Contaminação e Toxicologia AmbientaisOrganização: FCUP, em colaboração com o ICBAS • Duração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Va-gas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Desenvolvimento Curricular pela AstronomiaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Ecologia, Ambiente e TerritórioDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Engenharia AgronómicaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Cré-ditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Engenharia GeográficaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Engenharia MatemáticaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Ensino de Biologia e de Geologia no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino SecundárioDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Ensino de Física e de Química no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino SecundárioDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Ensino de Matemática no 3º Ciclo do Ensino Básico e no SecundárioDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em FísicaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Física e Química em Contexto EscolarDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Física MédicaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Fisiologia Molecular de PlantasOrganização: FCUP, em colaboração com a Universidade do Minho • Duração: 4 se-mestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A de-finir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em GeologiaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase)Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Genética ForenseDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Geomateriais e Recursos GeológicosOrganização: FCUP, em colaboração com a Universidade de Aveiro • Duração: 4 se-mestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A de-finir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

Page 15: U. Porto - Universidade do Porto - 10 2020-06-19 · 2009, o Hub Porto. Trata-se de um espaço onde, numa lógica informal e a preços reduzidos, cerca de 30 empreendedores criaram

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2º Ciclo / Mestrado em Informática MédicaOrganização: FCUP, em colaboração • com a FMUP • Duração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em MatemáticaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Matemática para ProfessoresDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Modelação, Análise e Optimização de Processos IndustriaisDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em QuímicaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Recursos Biológicos AquáticosDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Sistemas de Informação GeográficaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

3º Ciclo / Programa Doutoral em Ensino e Divulgação das CiênciasDuração: 6 semestres • Candidaturas: 15 de Abril a 7 de Maio de 2010 (1ª Fase); 14 de Junho a 2 de 2010 (2ª Fase) • Horário: A definir • Vagas: A definir • Cré-ditos: 180 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina: A definir

3º Ciclo / Programa Doutoral em Arquitectura PaisagistaDuração: 6 semestres • Candidaturas: Abertas em permanência • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 180 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina: A definir

3º Ciclo / Programa Doutoral em BiologiaDuração: 8 semestres • Candidaturas: Abertas em permanência • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 180 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina: A definir

3º Ciclo / Programa Doutoral em Ciência de ComputadoresDuração: 8 semestres • Candidaturas: Abertas em permanência • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 180 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina: A definir3º Ciclo / Programa Doutoral em Ciências e Tecnologia do AmbienteDuração: 8 semestres • Candidaturas: Abertas em permanência • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 180 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina: A definir

3º Ciclo / Programa Doutoral em Engenharia GeográficaDuração: 8 semestres • Candidaturas: Abertas em permanência • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 180 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina: A definir

3º Ciclo / Programa Doutoral em QuímicaDuração: 8 semestres • Candidaturas: Abertas em permanência • Horário: A definir • Vagas: A definir • Créditos: 180 ECTS • Info: 220402000 / [email protected] • Propina: A definir

Faculdade de Direito (FDUP)Rua dos Bragas, 223 • 4050-123 Porto Tlf: +351 222041609 • Fax: +351 222041614 • http://www.direito.up.pt

2º Ciclo / Mestrado em DireitoDuração: 4 semestres • Candidaturas: 19 de Julho a 20 de Agosto de 2010 • Vagas: 150 • Horário: Pós-laboral • Cré-ditos: 120 ECTS • Info: 222041602/09 / [email protected] • Propina: A definir

3º Ciclo / Doutoramento em DireitoDuração: 8 semestres • Candidaturas: 19 de Julho a 20 de Agosto de 2010 • Va-gas: 5 • Horário: A definir • Créditos: 240 ECTS • Info: 222041602/09 / [email protected] • Propina: A definir

3º Ciclo / Doutoramento em CriminologiaDuração: 8 semestres • Candidaturas: 19 de Julho a 20 de Agosto de 2010 • Va-gas: 3 • Horário: A definir • Créditos: 240 ECTS • Info: 222041602/09 / [email protected] • Propina: A definir

Faculdade de Economia (FEP)Rua Dr. Roberto Frias, s/n • 4200-464 Porto • Tlf: +351 225571100 • Fax: +351 225505050 • http://www.fep.up.pt

2º Ciclo / Mestrado em Análise de Dados e Sistemas de Apoio à DecisãoDuração: 3 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: Pós-laboral • Vagas: 30 • Créditos: 90 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em ContabilidadeDuração: 3 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: Pós-laboral • Vagas: 30 • Créditos: 90 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em EconomiaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: Pós-laboral • Vagas: 60 • Créditos: 120 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Economia e Administração de EmpresasDuração: 4 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: Pós-laboral • Vagas: 45 • Créditos: 120 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Economia e Gestão do AmbienteDuração: 4 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: Pós-laboral • Vagas: 30 • Créditos: 120 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Economia e Gestão das CidadesDuração: 4 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: Pós-laboral • Vagas: 30 • Créditos: 120 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Economia e Gestão da InovaçãoDuração: 4 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: Pós-laboral • Vagas: 30 • Créditos: 120 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Economia e Gestão InternacionalDuração: 4 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: Pós-laboral • Vagas: 30 • Créditos: 120 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Economia e Gestão de Recursos HumanosDuração: 4 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: Pós-laboral • Vagas: 30 • Créditos: 120 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em FinançasDuração: 3 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: Pós-laboral • Vagas: 60 • Créditos: 90 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Finanças e FiscalidadeDuração: 3 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: Pós-laboral • Vagas: 30 • Créditos: 90 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Gestão ComercialDuração: 3 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: Pós-laboral • Vagas: 30 • Créditos: 90 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Gestão e Eco-nomia de Serviços de SaúdeDuração: 4 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: Pós-laboral • Vagas: 20 • Créditos: 120 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em MarketingDuração: 3 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: Pós-laboral • Vagas: 30 • Créditos: 90 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Métodos Quantitativos em Economia e GestãoDuração: 4 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: Pós-laboral • Vagas: 30 • Créditos: 120 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

2º Ciclo / Mestrado em Gestão de ServiçosDuração: 4 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: Pós-laboral • Vagas: 30 • Créditos: 120 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Propina 2009/2010: 996 c / ano

3º Ciclo / Doutoramento em Ciências EmpresariaisDuração: 6 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: Pós-laboral • Vagas: 25 • Créditos: 180 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Propina 2009/2010: 3000 c / ano

3º Ciclo / Doutoramento em EconomiaDuração: 8 semestres • Candidaturas: 3 a 31 de Maio (1ª fase) • Horário: DiurnoVagas: 15 • Créditos: 240 ECTS • Info: 225571292 / [email protected] • Pro-pina 2009/2010: 1800 c / ano •

Faculdade de Engenharia(FEUP)Rua Dr. Roberto Frias • 4200-465 Porto • Tlf: +351 225081400 • Fax: + 351 225081440 • http://www.fe.up.pt

3º Ciclo / Programa Doutoral em Engenharia CivilDuração: 6 semestres • Candidaturas: 1 a 31 de Março de 2010 (9ª fase) • Horário: diurno • Vagas: 40 • Créditos: 180 ECTS • Info: 22 508 1977 / [email protected] • Propina 2009/2010: 3000 c / ano

3º Ciclo / Programa Doutoral em En-genharia Electrotécnica e de ComputadoresDuração: 6 semestres • Candidaturas: 1 a 31 de Março de 2010 (9ª fase) • Vagas: 50 • Horário: diurno • Créditos: 180 ECTS • Info: 225081977 / [email protected] • Propina 2009/2010: 3000 c /ano

3º Ciclo / Programa Doutoral em Engenharia MecânicaDuração: 6 semestres • Candidaturas: 1 a 31 de Março de 2010 (9ª fase) • Vagas: 60 • Horário: diurno • Créditos: 180 ECTS • Info: 225081977 / [email protected] • Propina 2009/2010: 3000 c /ano

3º Ciclo / Programa Doutoral em Engenharia Metalúrgica e de MateriaisDuração: 6 semestres • Candidaturas: 1 a 31 de Março de 2010 (9ª fase) • Vagas: 8 • Horário: diurno • Créditos: 180 ECTS • Info: 225081977 / [email protected] • Propina 2009/2010: 3000 c /ano

3º Ciclo / Programa Doutoral em Engenharia e Gestão de TransportesDuração: 6 semestres • Candidaturas: 1 a 31 de Março de 2010 (9ª fase) • Vagas: 10 • Horário: diurno • Créditos: 180 ECTS • Info: 225081977 / [email protected] • Propina 2009/2010: 3000 c /ano

3º Ciclo / Programa Doutoral em Engenharia do AmbienteDuração: 6 semestres • Candidaturas: 1 a 31 de Março de 2010 (6ª fase) • Vagas: 15 • Horário: diurno • Créditos: 180 ECTS • Info: 225081977 / [email protected] • Propina 2009/2010: 3000 c /ano

Faculdade de Letras (FBAUP)Via Panorâmica, s/n • 4150-077 Porto • Tlf: +351 226077100 • Fax: +351 226091610 • http://www.letras.up.pt

2º Ciclo / Mestrado em ArqueologiaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 20 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em Ciência da Informação (sediado na FEUP)Duração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 30 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em Ciências da ComunicaçãoDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 60 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em Ensino de Fi-losofia no Ensino SecundárioDuração: 4 semestres • Candidaturas: A anunciar • Horário: A definir • Vagas: 15 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em Ensino de His-tória e de Geografia no 3º Ciclo do En-sino Básico e no Ensino SecundárioDuração: 4 semestres • Candidaturas: A anunciar • Horário: A definir • Vagas: 30 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em Ensino de Inglês e de Língua Estrangeira no Ensino BásicoDuração: 4 semestres • Candidaturas: A anunciar • Horário: A definir • Vagas: 15 (Inglês); 7 (Francês); 5 (Alemão); 5 (Espanhol) • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em Ensino de Português e de Línguas Clássicas no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino SecundárioDuração: 4 semestres • Candidaturas: A anunciar • Horário: A definir • Vagas: 37 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em Ensino do Português no 3º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário e de Língua Estrangeira nos ensinos Básico e SecundárioDuração: 4 semestres • Candidaturas: A anunciar • Horário: A definir • Vagas: 74 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em Ensino de Inglês e de Língua Estrangeira no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino SecundárioDuração: 4 semestres • Candidaturas: A anunciar • Horário: A definir • Vagas: 37 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em Estudos AlemãesDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 10 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em Estudos Anglo-AmericanosDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 50 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)2º Ciclo / Mestrado em Estudos Literários, Culturais e InterartesDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 50 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em Didáctica das Línguas Maternas ou Estrangeiras e Supervisão PedagógicaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 20 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em FilosofiaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 30 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c

2º Ciclo / Mestrado em História ContemporâneaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 25 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em História da Arte PortuguesaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 25 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em História e EducaçãoDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 25 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em História e PatrimónioDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 30 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em História Medieval e do RenascimentoDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 20 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em História, Re-lações Internacionais e CooperaçãoDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 25 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em LinguísticaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 20 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em MuseologiaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 30 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em Ensino do Português: Língua Segunda / Língua EstrangeiraDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 15 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em Riscos, Cidades e Ordenamento do TerritórioDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 40 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em Sistemas de Informação Geográfica e Ordenamento do TerritórioDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 25 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 2000 c (em aprovação)

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ESTÓRIAS

Quando os fios da memória começam a puxar pelas vivências passadas, vêm-me à lembrança muitos episódios de um tem-po, anos sessenta, em que fui aluna na FLUP (Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Alguns acontecimentos saltam dessa amálgama de recorda-ções e remoem-me o pensamento, como que a pedirem que fiquem registados para a posteridade, num sinal que mostre aos jovens de hoje como foi o Portugal desse tempo: cinzento, preconceituoso, repressivo, carregado de dificuldades econó-micas…A ida para a Universidade representava para grande parte das famílias, geralmente mais numerosas do que as de hoje, uma série de sacrifícios, talvez até de privações. As muitas facili-dades dos dias de hoje não existiam nesse tempo e tudo era completamente diferente da actualidade. A classe média vivia com o indispensável e nada de muitos luxos, pois a política de “apertar o cinto” era mesmo dura. Só uma vida muito regra-da permitia a algumas famílias terem os filhos a estudar no ensino superior, quase sempre longe de casa. Por isso, havia muitas contas, muitos cálculos, muita contenção de gastos para poder dar tudo certo. Como ter um passe de transporte com várias viagens era caro, as minhas deslocações de casa para a Faculdade de Letras, en-tão a funcionar onde hoje é o ICBAS, eram feitas de manhã cedo, de eléctrico e, ao fim da manhã ou à tarde, tinha que regressar a pé, até à zona oriental da cidade, onde então mora-va, dado que o meu passe era apenas de uma viagem por dia. Assim, esse grande percurso que tinha de fazer de regresso a casa levava-me a subir a Rua de Santo António (31 de Janeiro), onde um extraordinário centro de interesse me atraía sempre e me transmitia um deslumbramento enorme: a Livraria Ber-trand. Carregada de livros e revistas, estas, sobretudo as fran-cesas, enchiam-me de curiosidade e admiração, pelas muitas imagens de uma outra realidade que aqui, em Portugal, não tínhamos ainda alcançado. A moda atraía-nos a mim e a outras colegas, o que, por hábito, nos levava a folhear as revistas que encontrávamos na livraria, as poucas que cá conseguiam che-gar em tempos de censura actuante. O uso de calças, por parte das mulheres, não estava ainda gene-ralizado entre nós, tão pouco o pronto-a-vestir, pois as famílias conservavam ainda o hábito de ter costureira periodicamente, em casa, para os “arranjos” que eram feitos na roupa que se usava durante bastante tempo e que chegava a passar dos fi-lhos mais velhos para os mais novos. As imagens de mulheres com calças, apresentadas nas revistas francesas, fascinavam-me e faziam-me sonhar em experimentar também, não sei se só por ser moda “lá fora”, se, com toda a certeza, por uma questão de afirmação e pelo desejo de assumir uma posição de igualdade, numa sociedade ainda muito talhada pelo homem.Um dia, enchi-me de coragem e pedi a minha mãe para ter umas calças. Entre o ar meio escandalizado e reprovador dela e a minha longa insistência com argumentos de peso, lá a con-

As calçaseram do meu pai

Maximina Maria Girão da Cunha RibeiroFLUP, 1965-1970

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2º Ciclo / Mestrado em SociologiaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 40 • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

2º Ciclo / Mestrado em Tradução e Serviços LinguísticosDuração: 4 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Ho-rário: A definir • Vagas: 20 por língua • Créditos: 120 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 1250 c (em aprovação)

3º Ciclo / Doutoramento em ArqueologiaDuração: 6 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 10 • Créditos: 180 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina 2009/2010: 2500 c (em aprovação)

3º Ciclo / Doutoramento em Crítica Textual e Crítica GenéticaDuração: 6 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 10 • Créditos: 180 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 2500 c (em aprovação)

3º Ciclo / Doutoramento em Didáctica de LínguasDuração: 6 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 10 • Créditos: 180 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 2500 c (em aprovação)

3º Ciclo / Doutoramento em Estudos AlemãesDuração: 6 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 10 • Créditos: 180 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 2500 c (em aprovação)

3º Ciclo / Doutoramento em Estudos Anglo-AmericanosDuração: 6 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 10 • Créditos: 180 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 2500 c (em aprovação)

3º Ciclo / Doutoramento em FilosofiaDuração: 6 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horário: A definir • Vagas: 10 • Créditos: 180 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propi-na 2009/2010: 2500 c (em aprovação)

3º Ciclo / Doutoramento em História da Arte PortuguesaDuração: 6 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 10 • Créditos: 180 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 2500 c (em aprovação)

3º Ciclo / Doutoramento em HistóriaDuração: 6 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 10 • Créditos: 180 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 2500 c (em aprovação)

3º Ciclo / Doutoramento em Informa-ção e Comunicação em Plataformas DigitaisDuração: 6 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 10 • Créditos: 180 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina 2009/2010: 2750 c (em aprovação)

3º Ciclo / Doutoramento em GeografiaDuração: 6 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 10 • Créditos: 180 ECTS • Info: 22 607 71 72 / [email protected] • Propina 2009/2010: 2500 € (em aprovação)

3º Ciclo / Doutoramento em Literaturas e Culturas RomânicasDuração: 6 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 10 • Créditos: 180 ECTS • Info: 22 607 71 72 / [email protected] • Propina: 2500 € (em aprovação)3º Ciclo / Doutoramento em SociologiaDuração: 6 semestres • Candidaturas: 5 a 16 de Julho de 2010 (1.ª fase) • Horá-rio: A definir • Vagas: 10 • Créditos: 180 ECTS • Info: 226077172 / [email protected] • Propina: 2500 c (em aprovação)

Faculdade de Medicina (FMUP)Rua Prof. Hernâni Monteiro, s/n • 4200-319 Porto • Tlf: +351 225513604 • Fax: + 351 225513605 • http://www.med.up.pt

2.º Ciclo/ Mestrado em Educação para a Saúde Duração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1ª fase) • Vagas: 25 • Horário: a definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 225513676 / [email protected] • Propina 2009/2010: 3000 c / ano

2.º Ciclo/ Mestrado em EpidemiologiaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1ª fase) • Vagas: 25 • Horário: Sexta-feira (das 14h às 20h) e Sábado (das 9h às 18h) • Créditos: 120 ECTS • Info: 225513676 / [email protected] • Propina 2009/2010: 3000 c / ano

2.º Ciclo/ Mestrado em Informática MédicaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1ª fase) • Vagas: 33 • Horário: Quinta-feira (16h às 20h), Sexta-feira (14h às 20h) e Sábado (9h às 13h) • Créditos: 120 ECTS • Info: 225513676/ [email protected] • Propina 2009/2010: 1750 c / ano

2.º Ciclo/ Mestrado em Saúde PúblicaDuração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1ª fase) • Vagas: 25 • Horário: Segunda a quinta-feira (das 15h às 19h) e Sexta-feira (das 14h às 20h) • Créditos: 120 ECTS • Info: 225513676/ [email protected] • Propina 2009/2010: 3000 c / ano

2.º Ciclo/ Mestrado em Sociologia e Saúde Duração: 4 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1ª fase) • Vagas: 25 • Horário: a definir • Créditos: 120 ECTS • Info: 225513676/ [email protected] • Propina 2009/2010: 3000 c / ano

3.º Ciclo/ Programa Doutoral em Investigação Clínica e em Serviços de Saúde Duração: 6 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1ª fase) • Vagas: 17 • Horário: Quinta-feira (das 16h às 20h), Sexta-feira (das 14h às 20h) e Sábado (das 9h às 13h) • Créditos: 180 ECTS • Info: 225513676 / [email protected] • Propina 2009/2010: 2500 c / ano

3.º Ciclo/ Programa Doutoral em MedicinaDuração: 6 semestres • Candidaturas: 1 a 8 de cada mês • Vagas: Não aplicável • Horário: Este Curso não tem parte curricular • Créditos: 180 ECTS • Info: 225513676 / [email protected] • Propina 2009/2010: 2500 c / ano

3.º Ciclo/ Programa Doutoral em Saúde PúblicaDuração: 6 semestres • Candidaturas: 14 de Junho a 2 de Julho de 2010 (1ª fase) • Vagas: 12 • Horário: A definir • Créditos: 180 ECTS • Info: 225513676 / [email protected] • Propina 2009/2010: 7500 c / ano

segui convencer. Minha mãe, não encontrando outra solução, respondeu-me como que para me calar:– Só se forem umas do teu pai!Passados uns dia, a nossa habitual costureira, a menina Ilda, transformou habilmente umas calças do meu pai num belíssi-mo modelo para mim.Agora, só me faltava a coragem para ir para a Faculdade de calças!Logo no dia em que me aventurei a aparecer de calças na Facul-dade de Letras, entre a estupefacção de uns e a incredulidade de outros, apareceu, a meio da manhã, a funcionária D. Jú-lia, com ar um tanto atemorizado, transmitindo-me baixinho para ninguém se aperceber, que o Senhor Director, o Professor Doutor António Cruz, me chamava ao seu gabinete. Atónita e amedrontada, imediatamente compareci à sua presença, adi-vinhando desde logo que a causa poderia ser… as calças que vestia!Ao entrar no gabinete, os olhos do Director percorreram-me de alto a baixo, chispando de crítica e reprovação pelo meu vestu-ário. Do alto da sua autoridade, descarregou logo duas pergun-tas que me arrasaram.– Já viu a “triste” figura em que se apresenta? O seu pai sabe como vem vestida para a Faculdade?Intimidada e reduzida à minha insignificância, apenas respon-di com o ar mais ingénuo do mundo:– Senhor Professor, as calças eram do meu pai!

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Dois jovens poetas abalançaram-se numa tarefa hercúlea: anto-logiar 800 anos de poesia portuguesa. O resultado é uma obra colossal, com cerca de 2.000 poemas de 267 autores. Publi-cada pela Porto Editora, “Poemas Portugueses – Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI” veio preencher um vazio no nosso mundo literário, pedagógico e editorial. Contu-do, a recepção pública do extenso volume organizado por Jorge Reis-Sá e Rui Lage tem oscilado entre o silêncio despeitoso e a crítica acerada. Nada que os antologistas não esperassem.“No mundo non me sei parelha, / mentre me for como me vai, / ca ja moiro por vós, e ai!”. É com estes versos em ga-laico-português, da autoria do trovador Pai Soares de Taveirós (século XIII), que se inicia a travessia por 800 anos de poesia portuguesa. Duas mil páginas depois, o périplo termina num apeadeiro lírico muito mais familiar ao leitor comum: “Vamos morrer, mas somos sensatos, / e à noite, debaixo da cama, / deixamos, simétricos e exactos, / o medo e os sapatos” (Pedro Mexia, “Vamos morrer”, 2007). Há, portanto, um oceano de diferenças literárias, estéticas e vivenciais a transpor por quem se aventura na leitura de “Poemas Portugueses – Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI”, cuja selecção, or-ganização, introdução e notas são da responsabilidade de Jorge Reis-Sá e Rui Lage.Dada à estampa pela Porto Editora no final de 2009, a obra em causa “é, se não a mais extensa, uma das mais extensas antologias da poesia portuguesa que já se publicaram”, escre-

ve Vasco Graça Moura no prefácio. O cartapácio orça as 2.149 páginas e nelas se inscrevem, num papel finíssimo que difi-culta o manuseio, cerca de 2.000 poemas de 267 autores. Tão ambiciosa empreitada abarca desde a lírica galaico-portuguesa até à poesia mais hodierna, pelo que, num mesmo volume, encontramos quer os poetas canónicos mortos (Gil Vicente, Camões, Bocage, Cesário, Pessanha, Pessoa, Sena, Sophia, Eugénio...), quer os poetas canónicos vivos (Herberto, Graça Moura, Manuel Gusmão, Nuno Júdice, António Franco Ale-xandre, Gastão Cruz...), quer os pouco conhecidos trovadores dos cancioneiros medievais, quer ainda alguns representantes da novíssima geração poética (valter hugo mãe, José Miguel Silva, Luís Quintais, Jorge Melícias...). Talvez por isso, o prefa-ciador tenha escrito que a antologia “propõe ao grande público uma compilação monumental e pistas fascinantes no interior da cultura portuguesa”.Importa salientar, a propósito, que a antologia contém verbe-tes com informação sumária sobre cada um dos 267 poetas, verbetes esses redigidos, em muitos casos, por professores, investigadores e actuais e antigos estudantes da Faculdade de Letras (FLUP). Entre os autores convidados por Jorge Reis-Sá e Rui Lage para a redacção dos verbetes constam, por exemplo, Arnaldo Saraiva, Luís Fardilha, Maria João Reynaud, Maria Lu-ísa Malato Borralho, Pedro Eiras, Zulmira Santos, entre outros. “Na poesia procuro uma casa onde o eco / existe sem o grito que todavia o gera” (Gastão Cruz)

E tudo começou numa trivial conversa de amigos. Neste caso, entre os poetas Jorge Reis-Sá (n. 1977) e Rui Lage (n. 1975), am-bos pertencentes à comunidade académica da U.Porto. O pri-meiro frequentou, entre 1994 e 2000, os cursos de Astrono-mia e Biologia na Faculdade de Ciências e estagiou no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP). O segundo licenciou-se em Estudos Portugueses e Ingleses na FLUP, unidade orgânica da U.Porto onde se en-contra a concluir o doutoramento em Literaturas Românicas. Jorge Reis-Sá tem ainda experiência na edição (Quasi Edições e Editorial Magnólia), sendo também autor de “Anos 90 e Agora – Uma Antologia da Nova Poesia Portuguesa”. Ensaísta e crítico literário, Rui Lage é igualmente autor de teatro (“Não há mais que Nascer e Morrer”) e de literatura para a infância.Escorados nesta experiência literária e na proximidade de gos-tos poéticos, Jorge Reis-Sá e Rui Lage magicaram, à mesa de café, uma “antologia de poesia portuguesa que fizesse o ple-no”. As palavras são de Rui Lage que admite a existência de “uma série de antologias de poesia portuguesa, algumas delas bastante boas, mas que ou são temáticas ou abarcam apenas alguns séculos. Normalmente ficam-se pelo primeiro moder-nismo, pela geração do Orpheu. Deixam de fora quase 70 anos de poesia”. Ora, “ao chegarmos ao ano 2000, ficou-se em con-dições de fazer uma panorâmica completa: do nascimento da poesia ao século XX”. Refira-se, a propósito, que a “meta final [da antologia] é o ano de 1999: não surgem aqui poetas que se tenham estreado no (...) século XXI”, conforme se lê na intro-dução da obra. Apesar disso, os poemas incluídos vão até 2008. Seguros da pertinência da ideia na qual matutavam, os dois poetas propuseram o projecto antológico a diversas editoras. As recusas sucederam-se quer devido aos custos da obra, quer à escassa procura que a poesia tem em Portugal. Mas, numa altura em que a esperança já tinha fenecido, a Porto Editora de-cidiu, no início de 2008, avançar com a antologia. Seguiram-se

DOIS JOVENS POETAS ABALANÇARAM-SE NUMA TAREFA HERCÚLEA: ANTOLOGIAR 800 ANOS DE POESIA PORTUGUESA. O RESULTADO É UMA OBRA COLOSSAL, COM CERCA DE 2.000 POEMAS DE 267 AUTORES. PUBLICADA PELA PORTO EDITORA, “POEMAS PORTUGUESES – ANTOLOGIA DA POESIA PORTUGUESA DO SÉC. XIII AO SÉC. XXI” VEIO PREENCHER UM VAZIO NO NOSSO MUNDO LITERÁRIO, PEDAGÓGICO E EDITORIAL. CONTU-DO, A RECEPÇÃO PÚBLICA DO EXTENSO VOLUME ORGANIZADO POR JOR-

GE REIS-SÁ E RUI LAGE TEM OSCILADO ENTRE O SILÊNCIO DESPEITOSO E A CRÍTICA ACERADA. NADA QUE OS ANTOLO-GISTAS NÃO ESPERASSEM.

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então cerca de 20 meses de trabalho árduo, com os olhos tom-bados sobre milhares de poemas e a angústia de seleccionar autores e poemas. “A repartição do trabalho não foi rigorosa. Dada a minha formação académica, fiquei com os séculos que antecedem o século XX e o Jorge com a maior parte da poesia contemporânea. Validávamos sempre as escolhas um do ou-tro”, mas “nem sempre os nossos gostos coincidiram. Tivemos às vezes de fazer negociações, com cedências de um lado e do outro”, explica Rui Lage.“(...) mão certeira / com a água / intimidade com a terra,/ em-penho do coração. / Assim se faz o poema” (Eugénio de An-drade)A antologia segue a ordem cronológica do nascimento de cada autor, o que, segundo Rui Lage, “simplificou o trabalho”. Con-tudo, havia que estabelecer critérios que justificassem a sem-pre melindrosa tarefa de seleccionar autores e poemas num tão amplo arco temporal. “Os critérios não podiam ser me-ramente estéticos nem de gosto pessoal”, ressalva Rui Lage.

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Os sorrisos são reveladores não só da boa camaradagem que existe entre os “tugas” do CERN, mas também, muito provavelmente, um sinal do entusiasmo dos

grandes desafios. Com idades compreendidas entre os 25 e os 43 anos, a maioria tem formação em Engenharia Electrotéc-nica e de Computadores. Mas alguns concluíram Engenharia Informática e de Computação. E um é de Engenharia Mecâni-ca. Muitos aproveitaram uma oportunidade de estágio, através da Agência de Inovação. Outros responderam simplesmente a anúncios para o CERN – Organização Europeia para a Investi-gação Nuclear, o maior laboratório mundial de física de partí-culas, situado na zona de Genebra, na fronteira franco-suíça. A principal função do CERN é disponibilizar aceleradores de partículas e outros equipamentos necessários aos estudos de física de altas energias. Um projecto central no CERN actual-mente – e o mais mediático – é o LHC (Large Hadron Colli-der), um acelerador de partículas gigante, de 27 quilómetros de perímetro, construído a 100 metros de profundidade, no qual se depositam as maiores expectativas sobre o estudo das mais pequenas partículas da matéria e, eventualmente, a ori-gem do Universo. As experiências geram enormes quantidades de dados que terão de ser armazenados e tratados. Por isso, não admira que o CERN se tenha tornado, recentemente, o centro para o desenvolvimento da grid computing, que significa o uso de computadores adstritos a domínios diferentes mas usados, articuladamente, para um mesmo objectivo. Mas inovação nes-tas áreas já vem de trás. Recorde-se, por exemplo, que a World Wide Web nasceu no CERN, através de um projecto chamado ENQUIRE e iniciado por Tim Berners-Lee, em 1989, e Robert Cailliau, em 1990. Haverá outro local tão entusiasmante quanto este para um en-genheiro informático ou de computadores em início, ou não, de carreira? Alguns deles já ali trabalham há uns anos, com a perspectiva de ficarem muitos mais; outros estão há menos tempo e têm, por enquanto, compromisso para os próximos meses. Mas a vivacidade das respostas releva uma indisfarçá-vel vontade de ficar mais tempo. O trabalho não deixa mar-gem para distracções, mas há sempre as pausas do pequeno-almoço, café e almoço para dois dedos de conversa numa mesa internacional, ou entre os conterrâneos lusos, na sua maioria da FEUP e do Porto. No final das oito horas de trabalho, se não

“Com esta antologia panorâmica e assumidamente didáctica, quisemos dar a medida da riqueza da nossa poesia. E para isso seria sempre necessário dar uma perspectiva do número e da diversidade de correntes, sensibilidades e movimentos estéti-co-literários”. Mas “há também critérios de relevância históri-ca, de importância sociológica e de representatividade cultu-ral”, acrescenta. Daí, por exemplo, a inclusão de “Pedra Filoso-fal” (António Gedeão) que, embora “não seja um bom poema, representa muito para a geração que se opôs ao salazarismo”.Por outro lado, “incluímos a norma e aquilo que fugia à norma. Fomos também à procura da diferença”, assim se explicando a inclusão de poemas sátiros de Fernando Pessoa ao regime salazarista, apesar de estes “serem esteticamente menores”. “A poesia portuguesa não pode ser reduzida àquilo que é poeti-camente correcto. Tentámos, por isso, provar que, para cada concepção poética ou estética de gosto seguro, há uma contes-tação, uma reacção, uma recusa”, esclarece Rui Lage.É notória também uma abordagem preferencial da poesia con-temporânea. Rui Lage defende-se dizendo que se deve “ao fac-

to de nunca ter sido antologiada toda a poesia do século XX, enquanto que sobre a poesia dos séculos anteriores há uma série de antologias”. Além disso, acrescenta, “a poesia do sécu-lo XX é aquela que nos está mais próxima, aquela que diz mais sobre as nossas concepções e representações do mundo”. Ain-da assim, “não há, em Portugal, antologias que dediquem mil páginas à poesia dos séculos XIII ao XIX”, observa Rui Lage. “Cada poema actualiza a morte. / De onde madruga o poeta / para uma outra que lhe vem de longe” (Fernando Echevarrría) Não obstante a antologia preencher um hiato no mundo lite-rário, pedagógico e editorial português, a recepção pública da obra organizada por Jorge Reis-Sá e Rui Lage provocou um “si-lêncio ominoso”, segundo o poeta Eduardo Pitta, quedando-se as poucas críticas suscitadas por alguma acrimónia. “Estáva-mos cientes do risco. Sabíamos perfeitamente que íamos ser escrutinados e contestados. Sobretudo por sermos muito no-vos. Há aqui também uma questão geracional: dois tipos de trinta e poucos anos fazerem uma antologia deste género é um atrevimento, uma provocação”, atira Rui Lage. Mas “esta anto-logia é feita para leitores de poesia e não, como muitas coisas em Portugal, para o escrutínio inter pares”. Ainda assim, “não teria visto com maus olhos que tivesse havido mais discussão da antologia. Mas também não é algo que me tire o sono ou me deixe decepcionado”. Para Rui Lage, são mais importantes “as reacções muito boas” dos agentes educativos. “Nós pensámos a antologia como um instrumento de trabalho para professores de português que en-sinam a cultura, literatura e língua portuguesas através de tex-tos literários. E muitos professores dizem-nos que faltava uma antologia deste género, que foi excelente ter aparecido um ins-trumento de trabalho como este. Quando precisam de textos poéticos, recorrem à nossa antologia porque sabem que têm uma enorme diversidade de textos à escolha”, realça Rui Lage. Por outro lado, “é insensato pensar que esta antologia torna-rá escusada a compra de mais livros de poesia”. “A antologia pretende ser uma primeira degustação, para que os leitores que tenham ‘empatizado’ com determinados poetas possam descobri-los. Até porque, a seguir a cada verbete, aparece uma bibliografia activa seleccionada onde incluímos obras, títulos ou antologias dos autores que ainda estejam disponíveis no mercado”, complementa Rui Lage.

houver imprevistos, talvez ainda sobre tempo para algum exer-cício de preparação para as aventuras de ski ou skateboard do fim-de-semana, agora que é Inverno – como comentava Pedro Moreira, 29 anos, um dos “tugas” engenheiro electrotécnico e de computadores.Da esquerda para a direita, os “tugas” – nome pelo qual se de-signam, simpaticamente, os portugueses entre si – da FEUP no CERN são: Ricardo Silva, Mário Pereira, Fernando Pedrosa, Pedro Moreira, Belmiro Moreira, José Ferreira, Miguel Santos, Filipe Sousa, João Fernandes, Ricardo Rocha, Pedro Martel, Daniel Rodrigues, José Melo, Pedro Andrade e Daniel Teixei-ra. Ao desafio lançado pela UPorto Alumni de falarem sobre o seu dia-a-dia no CERN e de se reunirem para uma fotografia de grupo, tarefa que contou com o apoio essencial de Miguel Coelho dos Santos (de casaco escuro, ao centro), responderam de modo pronto e com boa disposição.

Vidas & VoltasCULTURA

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Anabela Cordeiro da Silva, 45 artigos indexados até à data na ISI Web of Science, 325 citações, com um índi-ce h de 11 no ISI e de 12 na Scopus, base em que estão

elencados 52 artigos com 417 citações, fez, desde há 15 anos, do desenvolvimento de novas imunoterapias e fármacos para serem utilizadas contras as infecções parasitárias uma missão a tempo inteiro. Licenciada em Ciências Farmacêuticas, opção de Análises Quí-mico-Biológicas, e também em Farmácia Comunitária, com um mestrado em Imunologia, na área da biologia molecular de um parasita, e doutoramento em Imunologia ligada às in-fecções parasitárias, lidera a investigação em vacinas e novos fármacos contra infecções parasitárias na U.Porto, que desen-volve numa impressionante rede de parcerias internacionais, e mantém um núcleo muito jovem e fortemente produtivo de colaboradores, cujas idades vão dos 22 aos 30 anos, entre a Fa-culdade de Farmácia (FFUP) e o Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), locais onde tem decorrido a investigação.Investigadora do IBMC, Anabela Cordeiro da Silva foi respon-sável, em 2006, pela criação do grupo “Parasite Disease” (Do-enças Parasitárias) no laboratório associado. Em 2008, o IBMC acolheu em termos físicos a investigadora e a sua equipa, que conta neste momento com 13 elementos, dois dos quais no es-trangeiro em doutoramento e pós-doutoramento.

O parasita Leishmania tem sido um foco principal de atenção do grupo. A leishmaniose viceral, potencialmente mortal, e a leishmaniose cutânea, infectam actualmente cerca de 12 mi-lhões de pessoas, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). O primeiro tipo tem uma expressão muito forte (cerca de 90%) em países com áreas rurais e suburbanas po-bres como o Bangladesh, a Índia, o Nepal, o Sudão e o Brasil, estando também presente em Portugal, Espanha, Itália e Fran-ça, através sobretudo da infecção de um dos seus hospedei-ros, o cão, mas também no homem, sobretudo por associação com o vírus de imunodeficiência humana (HIV) como infecção oportunista. No momento presente, com duas invenções pa-tenteadas na área da prevenção e tratamento das doenças para-sitárias, o grupo prepara-se para passar para o mercado alguns dos resultados alcançados. Neste primeiro passo, o horizonte é o mercado veterinário.

Domínio e orientação da acçãoA investigadora explica que a definição do seu campo de in-teresses já vinha do seu trabalho de mestrado. À época, uma oportunidade de trabalhar em biologia molecular na área da parasitologia, no Instituto Pasteur de Lille, pô-la em contacto com o seu “primeiro parasita”. Decidiu então “que no douto-ramento iria para a imunologia”. Quando foi para o Instituto

INVESTIGAR

Um grupo de investigação liderado por Anabela Cordeiro da Silva (FFUP e IBMC) está a estudar o parasita Leishmania, que infecta actualmente cerca de 12 milhões de pessoas. Graças a este trabalho, a U.Porto tem a co-tutela de duas pa-tentes registadas: uma vacina contra a leishma-niose (2005) e novos fármacos para tratamento de doenças parasitárias (2008). Destinado ao mercado veterinário, o grupo construiu recente-mente um “kit de diagnóstico” rápido.

Vacinas enovos fármacoscontra infecçõesparasitárias

Pasteur de Paris centrou-se na imunologia ligada aos parasitas. Com a sua colaboração com França, mereceu em 2003 o pré-mio científico da Associação Portuguesa de Doutoramentos em França. O projecto distinguido, que liderou pela parte portu-guesa, intitulava-se “Imunologia da leishmaniose em Portugal e da doença das chagas”. Após ter ganho, quando do regresso a Portugal, em 1999, o Prémio Gulbenkian no programa de Estímulo à Iniciação Cientifica, com o trabalho “Estudos das populações linfocitárias envolvidas na resposta imunológica à proteína ribossomal de 32kDa de Leishmania major”.No doutoramento, trabalhou sobre o Trypanossoma cruzi, pa-rasita que só existe no Brasil, responsável pela disseminação da “doença das chagas”. Chegada ao Porto, em 1997, optou por outro modelo de parasita, a leishmania, “aparentado” com o trypanossoma em termos de biologia e organização, e de que existiam no país focos endémicos. Refere-nos que “esse era o modelo mais lógico”, porque “poderia usufruir do know-how adquirido”, salientando também a questão da utilidade públi-ca, que lhe “permitiria pedir financiamento ao governo sem remorsos de estar a gastar mal dinheiro dos contribuintes”. Pensou que podia “ajudar” as populações infectadas, “com uma vacina ou com um novo composto”. Criada uma equipa mista, luso-francesa, a área de estudos ex-pandiu-se e diversificou-se. Hoje, através dela, a U.Porto tem

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Durante vários anos, Kátia Ramos percor-reu as 14 faculdades da U.Porto para co-nhecer e estudar as estratégias de ensino e o perfil dos professores da instituição. “Reconfigurar a profissionalidade docente universitária – Um olhar sobre ações de atualizacão pedagógico-didática” é o resultado dessa investigação. Comun-gando da perspectiva que defende uma “profissionalidade” docente reflexiva, “investigativa” e crítica, alicerçada numa ética de responsabilidade individual e colectiva, o presente estudo traz uma contribuição ao campo em construção da Pedagogia Universitária, tanto no que diz respeito ao papel de acções de actuali-zação pedagógico-didática na (re)confi-guração da “profissionalidade” docente universitária como ao carácter mediador do conhecimento pedagógico-didático neste processo. Numa altura em que tanto se debate o estatuto da carreira do docente universi-tário, e tomando como ponto de partida o trabalho desenvolvido pelo Grupo de Investigação e Intervenção Pedagógica da U.Porto (GIIPUP), a autora propõe uma reflexão profunda à volta da profissionali-zação dos professores do ensino superior e dos desafios que se colocam actualmen-te à classe. Trata-se de um ponto de vista independente, considerando que Kátia Ramos é brasileira e desenvolve, neste momento, actividade de docência na Uni-versidade Federal de Pernambuco (Brasil). Doutorada em Ciências da Educação pela FPCEUP, desenvolve investigação no campo da Formação de Professores e da Pedagogia Universitária.

Este livro inclui um conjunto diversifica-do de perspectivas históricas e políticas enquadráveis no estudo científico dos sistemas eleitorais. Trata-se de contribu-tos esclarecedores de algumas etapas do longo e lento processo de construção da participação eleitoral, enquanto pilar da democracia. Estes estudos incidem em ac-tos eleitorais locais, nacionais e europeus. Entre as Cortes Constituintes de 1820, tidas como o primeiro parlamento português, e o triplo acto eleitoral de 2009, passaram quase dois séculos. Mas de que forma é que os múltiplos sistemas e actos eleito-rais que decorreram nesse período con-duziram à democracia representativa que vigora hoje em Portugal? Essa é uma das questões respondidas por alguns dos mais importantes historiadores, politólogos e sociólogos portugueses em “Eleições e Sistemas Eleitorais – Perspectivas históri-cas e políticas” um livro com a chancela da U.Porto editorial.Organizada por Maria Antonieta Cruz, his-toriadora da Faculdade de Letras (FLUP), esta obra procura lançar uma perspectiva esclarecedora e actual sobre o processo de construção da participação eleitoral em Portugal, partindo da análise dos sistemas políticos e dos resultados das várias elei-ções que tiveram lugar no país nas últimas décadas. Temas que se entrecruzam em nove estudos assinados por especialistas nas áreas da História, Ciência Política e da Sociologia.As eleições presidenciais de 1958, que opuseram Humberto Delgado a Salazar, as Europeias de 2004 e as eleições autárqui-cas no pós-25 de Abril são alguns dos mo-mentos analisados num livro que abarca o período entre o século XVIII e o início do século XXI.

Com a chancela da U.Porto editorial, esta obra reúne os últimos artigos de Jorge Ribeiro de Faria sobre diferentes temas de Direito das Obrigações, publicados em di-versas revistas e obras colectivas ao longo dos anos, bem como os seus principais discursos académicos. De entre os escritos incluídos na obra, destacam-se os artigos 801.º e 802.º do Código Civil, relativos à natureza do direito de indemnização cumulável com o direito de resolução, e um outro artigo sobre a natureza da indemnização no caso da resolução do contrato. A posição de Ribeiro de Faria nestas matérias foi durante muito tempo uma posição isolada na doutrina nacional, mas encontra um apoio crescente nos últimos anos. Por último, uma palavra para os discursos que são publicados nesta obra e que foram todos eles proferidos enquanto Professor da U.Porto.Jorge Leite Ribeiro de Faria nasceu em 1931, na Póvoa de Lanhoso. Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra em 1953, instituição onde mais tarde se doutorou em Ciências Jurídico-Criminais (1979). Foi professor da Faculdade de Economia (FEP) entre 1979 e 1984, tendo integrado, em 1986, a Comissão que lide-rou a criação da licenciatura em Direito na U.Porto. Em 1995 integrou a Comissão instaladora da FDUP, instituição à qual se manteve sempre ligado, e a cuja bibliote-ca emprestou o seu nome. Faleceu a 26 de Janeiro de 2007, no Porto.

RECONFIGURAR A PROFISSIONALIDADE DOCENTE UNIVERSITÁRIA - UM OLHAR SOBRE AÇÕES DE ATUALIZAÇÃO PEDAGÓGICO-DIDÁTICAKÁTIA RAMOSU.PORTO EDITORIAL

ESTUDOS DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E DISCURSOS ACADÉMICOSJORGE RIBEIRO DE FARIA (IN MEMORIA)UPORTO EDITORIAL

ELEIÇÕES E SISTEMAS ELEITORAIS - PERSPECTIVAS HISTÓRICAS E POLÍTICASMARIA ANTONIETA CRUZ (ORG.)UPORTO EDITORIAL

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a co-tutela de duas patentes registadas, em 2005 e em 2008, a primeira correspondente a uma vacina contra a infecção por Leishmania, com uma estrutura estável mas particular, por ser aquilo a que a investigadora chama “uma vacina viva atenua-da”, a segunda relativa à construção de novos compostos para o tratamento ou prevenção do cancro e doenças parasitárias. A investigadora dá-nos conta de que, relativamente à vacina patenteada, “o que está neste momento feito é o estudo dos mecanismos que induzem a protecção”. Ricardo Silvestre, um dos elementos do grupo de investigação, realizou com o seu doutoramento o ponto da situação, tendo estudado “os meca-nismos imunológicos responsáveis” pelo seu efeito protector. Acentuando o factor tempo, a cientista refere que a patente se realiza sempre no momento de construção de um material para o proteger, e que só posteriormente se faz “o estudo do que o organismo produz, nas células e no animal, e do seu mecanismo de acção”, pelo que é preciso “muito tempo para chegar aos resultados”.As suas eventuais limitações para a aplicação humana decor-rem do facto de ser construída a partir da estirpe virulenta com a qual o grupo trabalha – a L.infantum –, responsável no velho mundo pela expressão mais agressiva da infecção – a leishma-niose visceral, patologia na qual os órgãos vão sendo progres-sivamente afectados e que, sem tratamento, conduz à morte. Explica-nos que o parasita vivo é manipulado de modo a ser-lhe eliminado parcialmente “o gene da virulência”, para que a vaci-na possa proteger contra a patologia. Mas, pelo facto mesmo de ser artificialmente atenuada, e apesar da sua estrutura se man-ter estável em laboratório desde a sua construção, há sete anos (data de 2003 a publicação do primeiro paper sobre o assunto), há sempre “a possibilidade de uma reactivação da virulência nos indivíduos imuno-comprometidos”.

Novos desafiosA vacina, já testada no modelo do ratinho, está agora pronta para passar por uma fase de teste no cão, mamífero que repre-senta um reservatório privilegiado da doença induzida pelo pa-rasita, e cuja proximidade com o homem é um factor de risco para a população. A OMS alertou já, em relatório de 2004, para o perigo que representa o alastramento da leishmaniose cani-na, que tem focos endémicos no nosso país. Em Portugal, as regiões mais afectadas são Trás-os-Montes e Alto Douro, parte significativa das Beiras, Ribatejo e Alentejo, a região metropoli-tana de Lisboa, a península de Setúbal e o Algarve. Também para o mercado veterinário, numa área complemen-tar, o grupo construiu recentemente, e está já a testar, um “kit

de diagnóstico” rápido para poder ser usado em campo. Isto é, de fácil manipulação, seguro (eliminando as reacções cruzadas de outras formas de diagnóstico), e que permita uma leitura visual de resultados. A este respeito, Anabela Cordeira da Silva espera no próximo ano ter dados conclusivos e, tudo indica, que com esta inovação estará próxima uma terceira patente.Neste domínio é decisiva a participação do “colaborador vete-rinário” do núcleo, Luís Cardoso, que é professor na Univer-sidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, que tem “conseguido amostras clínicas dos animais e que muitas vezes realiza os testes”. Ao desenvolvimento do “kit” está ainda associada Eulá-lia Carvalho Pereira, da Faculdade de Ciências, Departamento de Química. Por outro lado, relativamente à vacina, uma nova parceria inter-nacional com o Brasil, Universidade de Ouro Preto, já financiada no contexto da FCT Capes para 2010-2011, “permitirá testá-la a nível canino” e agilizará a sua validação nesse mercado.

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Alexandre Alves Costa, professor catedrático da Faculdade de Arquitectura (FAUP) e um dos nomes mais marcantes da Escola do Porto, proferiu, no dia 21 de Janeiro, a sua Lição de Jubilação. Foi, portanto, a derradeira aula de uma figura determinante na formação de várias gerações de arquitectos portugueses, muitos deles presentes no Auditório Fernando Távora da FAUP, onde decorreu a cerimónia. A prelecção de Alexandre Alves Costa versou o tema “Nós somos da Póvoa do Varzim”, o que se traduziu numa abordagem da relação da identidade portuguesa com a arquitectura nacional. Na altura, e perante uma assistência onde pontificavam o ministro Mariano Gago e o cineasta Manoel de Oliveira, o mestre citou grandes nomes da cultura portuguesa, como Eça de Queirós, Agustina Bessa-Luís e José Mattoso.Alexandre Vieira Pinto Alves Costa nasceu em 1939, no Porto, e licenciou-se em Arquitectura na ESBAP – Escola Superior de Belas-Artes do Porto, em 1966. Foi membro das comissões instaladoras dos cursos de Arquitectura da FAUP (1979) e das universidades de Coimbra (1988) e do Minho (1997). Na FAUP, desempe-nhou vários cargos directivos e dirigiu o 1.º Programa de Doutoramento em Arquitectura.Do seu percurso como arquitecto destacam-se a recuperação da Aldeia de Idanha-a-Velha, a requalificação de várias zonas da Baixa Portuense, a remodelação do Cine-Teatro Constantino Nery, em Matosinhos, e a valo-rização do Convento de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra (Prémio Diogo de Castilho 2009). Em Julho de 2009 foi distinguido, juntamente com Sérgio Fernandez, com o Prémio da As-sociação Internacional dos Críticos de Arte/Ministério da Cultura.

Paulo Ferreira, antigo estudante de Engenha-ria Informática e Computação da FEUP, venceu a primeira edição do Prémio OPT (2009), que tem como objectivo distinguir o melhor tra-balho de projecto relacionado com a gestão e utilização de TICs na área dos transportes.O prémio de 1500 euros distinguiu o trabalho “Specification and Implementation of an Artificial Transport System”, em que Paulo Ferreira desenvolveu um simulador de tráfego baseado em agentes de inteligência artificial responsáveis pela manipulação directa da simulação, como, por exemplo, agentes con-dutores e agentes controladores de semáforos. Este protótipo foi concebido como comple-mento para a plataforma Lab. MAS-T2er (La-boratory for MAS-based Traffic and Transpor-tation Engineering Research), produzida pelo Núcleo de Inteligência Artificial Distribuída & Robótica.O ex-estudante da FEUP explica que esta concepção teve como objectivo alimentar um simulador de tráfego com dados recolhidos por sensores reais espalhados pela rede de transportes, sendo que os resultados positivos puderam validar alguns dos conceitos apre-sentados ao longo do trabalho. A OPT – Optimização e Planeamento de Trans-portes, S.A., é pioneira em Portugal no desen-volvimento de projectos de I&D no âmbito do planeamento operacional de transportes colectivos, desenvolvendo soluções informáti-cas avançadas para a gestão e optimização de sistemas de transportes.

JUBILAÇÃODE ALVES DA COSTA

ALUMNUS DA FEUPVENCE PRÉMIO OPT

JOÃO BREDA NA OMS

ICBAS VENCE PRÉMIO DE EPIDEMOLOGIA

EGP ENTRE AS MELHORES DO MUNDO

“CORINO DE ANDRADE” PARA A FMUP

O nutricionista João Breda, licenciado pela Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimen-tação (FCNAUP) em 1991, iniciou funções na Organização Mundial de Saúde (Região Europeia) como Senior Technical Officer (Nu-trition) da Unidade de Doenças não Transmis-síveis e Ambiente (Divisão de Programas de Saúde). Com este cargo, João Breda passou a tutelar a definição de políticas e estratégias de nutrição para toda a Europa (UE e Leste euro-peu) e Israel, mobilizando para isso recursos e estabelecendo parcerias com autoridades de saúde e investigação científica.Mestre em Saúde Comunitária pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (1996), João Breda encontra-se a finalizar o doutoramento na FCNAUP. É ainda director do Departamento de Ciências da Nu-trição da Universidade Atlântica e, nos últimos anos, exerceu as funções de coordenador da Plataforma Nacional contra a Obesidade, or-ganismo da Direcção-Geral de Saúde. Este cargo passou a ser ocupado por Pedro Graça, também formado na FCNAUP e actual docente desta unidade orgânica da U.Porto. Além disso, Pedro Graça integra a Unidade de Promoção da Saúde e Prevenção do Cancro no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular (IPATIMUP) e é colaborador da Associação Portuguesa de Nutricionistas.

Uma equipa de investigadores do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e do Centro Hospitalar do Porto (CHP) foi distin-guida com a primeira edição do Prémio SCML/MSD em Epidemiologia Clínica, atribuído pela Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa e pela empresa Merck Sharp & Dohme Portugal.A equipa de epidemiologia clínica constituída por Assunção Tuna (CHP), Manuel Correia (CHP), Rui Magalhães (ICBAS) e Maria Carolina Costa e Silva (ICBAS) investigou a taxa de incidência de acidentes neurológicos transitórios (ANT) e a ocorrência de acidentes vasculares na população urbana e rural do Norte de Portugal.Durante sete anos, os referidos especialistas estudaram os elevados riscos de ocorrência de eventos vasculares, os quais apresentaram uma taxa de mortalidade superior à popula-ção em geral. Assim, a avaliação e tratamento destes doentes devem ser encarados como urgentes.O prémio entregue, no dia 17 de Fevereiro, durante uma cerimónia presidida pela minis-tra da Saúde, Ana Jorge, atribui uma verba de vinte mil euros. Entre os critérios de avaliação destacam-se a originalidade do trabalho e qualidade científica, bem como o potencial de aplicabilidade imediata ou futura dos resulta-dos da investigação.

A EGP – University of Porto Business School (EGP-UPBS) integra, desde Dezembro pas-sado, o Membership Commitee do The Inter-national University Consortium for Executive Education (UNICON), tornando-se assim a primeira escola de negócios portuguesa a fa-zer parte do consórcio que reúne as melhores business schools do mundo.Eleita unanimemente por todos os membros do UNICOM, a EGP-UPBS correspondeu ple-namente aos rigorosos critérios de adesão. A experiência da instituição e dos docentes, a dimensão da Escola, a relação com empresas e estudantes, o investimento em inovação e em novas tecnologias foram alguns dos facto-res mais valorizados. Para o dean da EGP-UPBS, Nuno de Sousa Pereira, esta nomeação “resulta da relação superior e distintiva que a EGP-UPBS tem com as empresas nacionais e os seus executivos”. Esta é “uma parceria que continuaremos a solidificar, mantendo a nossa aposta na qualidade dos programas que oferecemos”, acrescenta. Criada em 1972, a UNICON tem por missão o desenvolvimento da área da formação para executivos, contando entre os seus membros instituições tão prestigiadas como Harvard, Wharton, Instituto de Empresa, INSEAD e London Business School.

A Faculdade de Medicina (FMUP) foi dis-tinguida com o Prémio Corino de Andrade, atribuído pela Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos. O galardão seria entre-gue numa cerimónia realizada, a 13 de Janeiro, no Centro de Cultura e Congressos da Ordem dos Médicos, no Porto. Atribuído anualmente, o Prémio Corino de Andrade destina-se a galardoar, a nível na-cional, pessoas singulares ou colectivas que se tenham notabilizado pela prestação de serviços relevantes à medicina e aos médicos portugueses. A FMUP foi eleita, este ano, pelo “papel incisivo que desempenha na formação de médicos em Portugal”. O prémio (não pecuniário) foi entregue a J. Agostinho Marques, director da FMUP, que manifestou o seu mais profundo agrado com a atribuição do referido galardão à Faculdade. Segundo o representante máxima da institui-ção, o Prémio Corino de Andrade reconhece o “enorme esforço pedagógico e científico que tem sido feito por todos os membros da FMUP, no sentido de estarem na linha da frente do ensino e da investigação em Portugal”.Outras instituições de reconhecido mérito, como o consórcio I3S, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Cruz Vermelha, por exemplo, já foram laureadas com o Prémio Corino de Andrade.

MÉRITO

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Em Portugal, o desemprego atinge 10% da população acti-va. Este drama social é sentido com particular acuidade na Freguesia de Paranhos, uma das mais carenciadas do

Porto. E foi precisamente a pensar na escassez de emprego que a Junta local decidiu contactar a rede mundial Hub, presente em 16 cidades de 13 países espalhados pelos quatro continen-tes. Baseada no conceito de coworking (partilha de um espaço por vários empreendedores, promovendo sinergias entre eles), a rede Hub avaliou as condições do antigo Centro de Recursos Educativos da Rua do Tâmega e aprovou a sua primeira platafor-ma portuguesa de inovação social para a promoção do empre-endedorismo. “Quando pensámos [Junta de Freguesia] no desemprego em Pa-ranhos, há cerca de dois anos, dissemos: ‘Este problema tem de ter solução’. E a solução podia passar por um ninho de em-presas. Mas nós não queríamos um ninho de empresas igual a tantos outros. Encontrámos então este conceito: uma rede in-ternacional de empreendedores que funciona em coworking, e

não em regime de aluguer de salas e escritórios. O coworking permite preços mais baixos, por um lado, e trabalhar em grande interacção, por outro. Bem como trabalhar com instituições de grande valor acrescentado para a sociedade”, explica Francisco Gonçalves, membro da Assembleia de Freguesia de Paranhos e responsável político pelo Hub Porto. Tutelado pela Junta de Freguesia de Paranhos, o Hub Porto foi inaugurado em Junho de 2009 (embora só tenha, de facto, entrado em funcionamento depois do Verão). Antes, o edifício cedido à Junta pela autarquia sofreu obras de reconversão orça-das em 150 mil euros. Com 635 metros quadrados, o Hub Porto conta hoje com um open space, salas de formação, espaços para eventos, um bar, salas de reuniões e uma secretaria comum. À semelhança de uma incubadora de empresas tradicional, tam-bém oferece os serviços administrativos básicos (central telefó-nica, wi-fi, recepção de correio, fax, etc.). A grande diferença está nos preços praticados e no regime de funcionamento: em vez de uma renda fixa, os membros do Hub pagam apenas as horas de que necessitam, variando os preços entre os oito (cinco horas) e os 120 euros (mês).

Quase auto-sustentávelActualmente, o Hub Porto é utilizado por cerca de 30 mem-bros (oito em regime permanente). A taxa de ocupação atingiu os 50%, prevendo Francisco Gonçalves que, dentro de poucos meses, o Hub registe a sua capacidade máxima. Devido à eleva-da procura, o projecto da Junta de Paranhos está, aliás, na imi-nência de alcançar o equilíbrio entre custos e receitas e espera, nos próximos anos, amortizar o investimento realizado. “Isto é empreendedorismo social, mas não tem de dar prejuízo. Esta instituição deve ser auto-sustentável. E estamos a consegui-lo”,

garante Francisco Gonçalves. Segundo este antigo estudante da Faculdade de Economia (FEP) e actual investigador na Faculda-de de Medicina (FMUP), “ao fim de quatro meses, o Hub Porto conseguiu o que outros Hubs internacionais não conseguiram: estar em equilíbrio operacional e ter 30 e poucos membros. Não houve nenhum centro no mundo a conseguir esta taxa de cresci-mento, num espaço de tempo tão breve”. Para o êxito do Hub Porto contribuíram, decisivamente, os parceiros do projecto, como as fundações EDP e Calouste Gul-benkian, a Associação Nacional de Direito ao Crédito e a U.Porto, por exemplo. De resto, a função de Francisco Gonçalves é justa-mente fazer a ponte entre as instituições parceiras e os empre-endedores, para que as primeiras apoiem projectos empresariais específicos e possibilitem, assim, a sua concretização. Esse apoio pode ser financeiro ou de outro tipo. No que respeita à U.Porto, o Hub gostaria, por exemplo, que os estagiários da FEP elaboras-sem, no âmbito dos seus trabalhos académicos, planos de negó-cio para actuais ou futuros membros do centro. Mas Francisco Gonçalves espera ainda mais da parceria com a Universidade. “Estando o Hub vocacionado para negócios de va-lor acrescentado e de inovação, pensamos que a U.Porto deve ter aqui um papel fundamental. Isto porque o Hub pode ser uma oportunidade para alunos da Universidade montarem a sua em-presa, assim como os empreendedores que cá estão podem ser apoios interessantes para projectos da Universidade, das facul-dades ou da UPTEC [Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto]. Da UPTEC queremos, sobretudo, apresentar este conceito e es-tes membros às empresas que lá estão incubadas, para potenciar as oportunidades entre eles”, salienta o responsável do Hub.Importa salientar que, em virtude de estar integrado numa rede internacional, o Hub Porto constitui um importante respaldo para os empreendedores que pretendam internacionalizar os seus negócios. A rede permite aos membros dos vários Hubs conhecerem os projectos empresariais uns dos outros e, even-tualmente, estabelecerem parcerias, gerarem sinergias e conclu-írem negócios entre eles. Por outro lado, um membro de um Hub pode utilizar os escritores de qualquer um dos outros Hubs existentes no mundo, para, por exemplo, realizar reuniões no estrangeiro ou organizar eventos internacionais. Os empreendedores que criaram empresas unipessoais no Hub Porto têm todos formação superior e experiência no mercado de trabalho. Regra geral, trata-se de pessoas que, por insatisfação,

abandonaram os seus postos de trabalho e decidiriam criar o seu próprio emprego. Mas as suas competências profissionais são muito diversificadas, assim como os negócios que estão a implementar. Há projectos nas áreas da consultoria de gestão e economia, do coaching e da auto-motivação, das TIC, da tradu-ção, da promoção de vinhos, da produção teatral, da mediação de negócios de exportação, entre outros. Além disso, o Hub Porto acolhe iniciativas filantrópicas (Associação Terra dos Sonhos, Amnistia Internacional e Academia Cisco) ou de responsabilida-de social (fundações EDP e Calouste Gulbenkian).

Partilhar conhecimentoResponsável pela PortBalt, empresa dedicada à mediação co-mercial entre Portugal e os Países Bálticos, a lituana Ieva Gliau-danskiene teve conhecimento do Hub Porto num curso de em-preendedorismo para imigrantes. À UPorto Alumni garantiu ter encontrado junto dos restantes membros novas oportunidades de negócio, para além de ajuda na compreensão do português mais técnico. Salienta ainda que no Hub lhe tratam de muitos expedientes burocráticos, e elogia a liberdade de horários. Já Luís Cochofel, da LC+DPE (Desenvolvimento de Pessoas e Empresas), conheceu o Hub Porto quando necessitou de um es-paço para o processo de selecção do Programa INOV Contacto. Gostou das instalações e das pessoas, tendo então decido esta-belecer a sua empresa unipessoal na antiga escola primária da Rua do Tâmega. Para este especialista em coaching e da auto-motivação, a grande vantagem do Hub é a “partilha do conheci-mento”. “Temos gente de áreas tão ricas e variadas, que eu acho que o Hub só pode ser interessante para quem esteja, de facto, interessado em partilhar o conhecimento que tem e em fazer crescer o que está à sua volta”. Neste sentido, Luís Cochofel tem procurado “gerar motivos para a acção. Ser uma fonte de energia permanente e mexer um bocado com os meus coworkers”.

A partir do conceito de coworking, nasceu em Paranhos, em Junho de 2009, o Hub Porto. Trata-se de um espaço onde, numa lógica informal e a preços reduzidos, cerca de 30 empreendedores cria-ram o seu próprio emprego e desenvolvem hoje os seus negócios. A U.Porto é parceira deste projecto que, para além de uma voca-ção social, procura promover actividades inovadoras e de valor acrescentado. A integração na rede mundial homónima permite, inclusivamente, pensar na internacionalização das empresas.

EMPREENDER

Conceito inovador para o auto-emprego

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O verde impõe-se ao olhar como um poema na folha em branco. Um extenso relvado enleia o edifício e, nas suas cercanias, campos agrícolas definem a personalidade rural do lugar. Algumas árvores

compõem a paisagem, acentuando o bucolismo do Campus Agrário de Vairão (70 hectares), perto de

Vila do Conde. Altaneiro, o edifício do Centro de Actualização Propedêutica e de Formação Técnica revela uma estética austera e pardacenta, como se

a massa construída (área bruta de 4.144 m2) preten-desse dissimular-se no cenário natural.

Em contraste com a ruralidade do lugar, o edifício da autoria do Gabinete GALP alberga sofisticado equi-pamento de investigação científica e na sua decora-

ção interior avultam as formas lineares, a alvura das paredes, a gestão parcimoniosa da luz e o mobiliário funcional. Alguma sofisticação caracteriza, portanto,

o Centro inaugurado em Maio de 1994.A U.Porto instalou-se no Campus Agrário de Vairão em 1996, onde são ministradas as licenciaturas em

Medicina Veterinária e Ciências Agrárias. Em Janeiro do ano seguinte, o edifício passou também a acolher

os laboratórios do ICETA - Instituto de Ciências e Tecnologias Agrárias e Agro-Alimentares, que inclui, como unidade de I&D, o CIBIO - Centro de Investiga-

ção em Biodiversidade e Recursos Genéticos.Resta dizer que a construção do edifício foi promo-

vida pelo IDARN - Instituto para o Desenvolvimento Agrário da Região do Norte e resulta de uma par-ceria da U.Porto com a Direcção Regional de Agri-

cultura de Entre Douro e Minho, a CCDR-N e outras universidades e entidades ligadas à agricultura da

região.

RMG

QUE BEM QUE SE ESTÁ

NO CAMPO

ALMA MATER

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T ackle*, ruck*, maul* ou scrum* são algu-mas das expressões

que, dentro de três meses, vão entrar no vocabulário da cidade do Porto. Está aí o IV Mundial de Rugby Se-vens 2010, um evento or-ganizado pela U.Porto que promete trazer a Portugal as melhores selecções univer-sitárias dos quatro cantos

do mundo. Neste momento, segundo a organização do certa-me, resta somente “efectivar alguns acordos já estabelecidos e tratar de pormenores de nível logístico”.A decorrer pela primeira vez em Portugal, o Campeonato Mun-dial Universitário de Rugby Sevens 2010 vai reunir na cidade invicta cerca de 42 selecções de estudantes (masculinos e fe-mininos) de todo o mundo, naquele que será um dos maiores eventos de desporto universitário a decorrer no nosso país. O número de equipas é, efectivamente, sinal da grandiosidade da competição que se realiza no Estádio do Bessa. “Na realidade, o

objectivo a que nos propusemos, 24 equipas masculinas e oito femininas, era já bastante ambicioso e de difícil alcance, até porque o histórico das últimas três edições não era nada famo-so. No entanto, com a inscrição de 42 equipas superámos am-plamente o nosso objectivo, sendo este um sinal claro de que a promoção internacional do evento foi conseguida”, confirma Bruno Almeida, um dos organizadores do torneio. Selecções como as da Austrália, França, Grã-Bretanha, Itália, China, Espanha ou Rússia já confirmaram a sua presença no evento. Destaque para a participação da selecção sul-africana, campeã mundial universitária em título. A Espanha, vice cam-peã no último Mundial, e a Rússia também terão certamente uma palavra a dizer na corrida pelo título. A espreitar um lugar nas finais estará a selecção portuguesa, sétima classificada no Mundial disputado em Córdoba (Espanha 2008).

Portugal pode lutar pelas medalhasPara Bruno Almeida, a selecção nacional portuguesa terá todas as condições para alcançar as finais. “A Universidade do Por-to tudo fará para proporcionar às duas selecções portuguesas [Masculino e Feminino] as melhores condições para que pos-sam obter resultados de excelência”. O membro da comissão

organizadora recorda também que “grande parte dos atletas da selecção nacional de Rugby de Sevens são universitários e sagraram-se há pouco tempo Campeões Europeus”.Com praticamente tudo preparado para o início do evento, a or-ganização tem, nestes últimos meses, focado atenções para a di-vulgação externa do torneio. Para isso, a comissão organizadora do Mundial está a apostar forte na promoção junto das Associa-ções de Estudantes da U.Porto e dos clubes de rugby nacionais. Está também garantida a transmissão de alguns jogos em canal aberto (RTP) e as entradas para o estádio do Bessa serão total-mente gratuitas. “Com isso, procuramos chamar ao estádio não só os amantes do rugby como as famílias e jovens interessados em desporto de alta competição”, explica Bruno Almeida.A cerimónia de abertura realiza-se na Avenida dos Aliados, num cortejo que irá contar com mais de 500 jovens atletas de 30 nações diferentes. Com uma comissão de honra liderada pelo Presidente da Repú-blica, Cavaco Silva, o evento contará ainda com o apoio declarado da Câmara Municipal do Porto e da Federação Portuguesa de Rugby. Em 2008, o Secretário de Estado da Juventude e Despor-to, Laurentino Dias, reconheceu oficialmente o interesse público do IV Mundial Universitário de Rugby Sevens 2010.

EMOÇÕES DO RUGBY SEVENS NO PORTO

Guameses, australianos, noruegueses, polacos, brasileiros, ucranianos, japoneses... Selecções de todas estas nacionalidades que vão estar pre-sentes no IV Mundial Universitário de Rugby Se-vens 2010, evento organizado pela U.Porto, de 21 a 24 de Julho, no Estádio do Bessa. Trata-se da estreia deste torneio em Portugal e, por isso, uma boa oportunidade para conhecer e apreciar uma modalidade que está a ganhar adeptos no nosso país. Será um dos maiores eventos de des-porto universitário a decorrer, este ano, entre nós.

DESPORTO

Rugby SevensO rugby sevens é uma variante do rugby jogada, tal como o nome in-dica, por somente sete jogadores de cada equipa. O jogo está dividido em duas partes de sete minutos. A grande vantagem face ao rugby tradicional é a velocidade do encontro e a curta duração de uma com-petição (dura entre 2 a 4 dias). Esta modalidade tem ganho imensos adeptos e surge várias vezes em jogos de exibição para promover a modalidade. Prova da sua importância é a presença da modalidade nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.

Maul – O maul acontece quando três jogadores estão em contacto: um que tem a posse da bola e mais dois, um de cada equipa. O que difere o ruck do maul é que a bola não se encontra no chão, mas sim na mão do jogador. Ruck – Após um tackle, o jogador solta a bola e é formado um ruck com vários jogadores que se empurram para tentar fazer a bola ficar do lado da sua equipa. Dentro do ruck, os jogadores não podem usar as mãos para empurrar a bola.Srum – É uma situação frequente no rugby: os avançados das duas equipas formam uns contra os outros. Geralmente é usado após uma jogada irregular ou em alguma penalização.Tackle – O tackle é feito agarrando-se o jogador adversário que está com a bola, tentando atirá-lo ao chão na esperança que este largue a bola.

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D izia-nos: “Vou-lhe contar a história deste microscópio de latão. Propus à Dr.a Amélia Ferraz, da Medicina, trocar uma balança por um destes microscópios, de

que não tínhamos nenhum exemplar e eles têm muitos. Não consegui. Um dia, olhei para o topo de um armário no Serviço de Toxicologia e vi uma caixa de madeira, que devia estar ali há 20 anos. E pronto. Lá estava o nosso”.Conversador, a partir de muitos “Sabia que?...” vai relatando utilidades, práticas e episódios esquecidos, que recolhe com espírito coleccionista. E lá vamos nós, da máquina de escrever electrónica da IBM e do velho Macintosh em exposição no 2.º piso do edifício (as máquinas interessam-no particularmente) à estadia de Abel Salazar na Faculdade, na direcção do Centro de Estudos Microscópicos, com passagem pelos artigos que publicou à época, pelo retrato a carvão da sua colaboradora Adelaide Estrada esboçado na parede do laboratório, e visita ao microscópio por ele talvez utilizado – que se não é aquele podia bem sê-lo, porque era esse o modelo que usava…

Objecto “muito farmacêutico”E o que nos traz este conjunto museológico de muito espe-cial não é, desta vez, o valor absoluto de uma ou outra peça, a raridade do objecto que o destina naturalmente à colecção museológica, ao espaço de exposição. Ainda que efectivamen-

VINTAGE

Fernando Sena Esteves, professor catedrático apo-sentado da Faculdade de Farmácia, tem a seu cargo o núcleo museológico da FFUP, missão que lhe per-mite aliar o amor à casa a uma arte sua de coligir memórias e contar histórias, com saber e gosto. É que é pelo lado mais saboroso e concreto, em que não ra-ras vezes entra o humor, que desenrola as suas nar-rativas. Guardador de uma memória viva, é com ela que cuida das peças e as destina, ao mesmo tempo que recolhe elementos sobre a história da instituição.

te algumas das peças sejam particularmente bonitas, como o alambique ou as estufas de cobre, as balanças ou os estojos de densímetros, ou o núcleo de corantes para soluções, entre muitos outros que não podemos aqui enumerar. É antes o seu valor de uso, associado a uma utilidade que já foi notória para o ensino, que perdurou longamente no tempo, e a aura que esse valor de uso lhe confere, como uma funcionali-dade, ou melhor, uma finalidade não separável do objecto, pelo menos no contexto em que o encontramos. Isto é, no núcleo museológico de uma faculdade. De tal modo que à frente de cada peça um “este servia para” é quase inescapável e, de facto, sem ele, o objecto fica até menos vivo e conversador.Fernando Sena Esteves sobe e desce da cadeira que lhe permite aceder às prateleiras, abre as enormes vitrinas e apressa-se a colocar as peças onde melhor possam ser observadas e foto-grafadas. Mas, logo à entrada, quando lhe perguntámos que objecto entendia que devíamos distinguir do seu extenso, dis-perso e variado núcleo museológico, não hesitou em apontar: “a máquina de comprimir”. E acrescentou, é uma boa opção porque “é um objecto muito farmacêutico”.

Momentos: 1924 e 1937No Guia do Estudante da Faculdade de Farmácia de 1924, a 4.a imagem reproduz o Laboratório de Farmácia Galénica e à di-reita, no canto inferior, podemos ver a máquina de comprimir. À época era um equipamento chegado há pouco tempo à Fa-culdade. Ao que nos relata o professor, a máquina pertencia a um lote de material científico que, após a guerra de 1914-1918, mais precisamente em 1920, foi entregue à Universidade pela Alemanha, em jeito de desagravo e indemnização. Foi fabri-cada, em Leipzig-Schleussig, pela empresa Henning & Martin Maschonenfrabik.Em 1937, no álbum da U.Porto, no qual a instituição se apre-senta com as suas quatro faculdades – Ciências, Engenharia, Medicina e Farmácia e anexos –, é no Laboratório de Indústria Farmacêutica que surpreendemos, à direita, a nossa máquina. Sena Esteves conta-nos que a máquina funcionou até há pouco tempo. Afectada pelo incêndio que sobreveio na Faculdade em 1975, foi então recuperada e colocada nas instalações provisó-rias que a escola ocupou no Colégio Universal, acrescentada de um motor eléctrico autónomo.

Explica-nos que prevalecente à invenção da máquina esteve a descoberta de W. Brockedon, pintor e escritor inglês que, no século XVIII, comprimiu pela primeira vez grafite para fazer as minas de lápis, logo sendo a ideia aproveitada por uma com-panhia farmacêutica que o contratou e “patenteou em 1842 o processo de obter ‘pílulas, pastilhas e minas de lápis por com-pressão de matrizes’”. Em tempos usada como equipamento didáctico, necessário para as disciplinas de Farmácia Galénica e de Indústria Farma-cêutica, ainda que deslocada na sala de aula se atendermos à sua natureza de componente industrial (tinha a capacidade de produzir 2000 comprimidos por hora), a máquina ocupa hoje um lugar de destaque no topo da escadaria da escola. Sena Esteves demonstra-nos, girando o volante, o movimento da “tremonha” que despejava o granulado para ser comprimi-do, enquanto empurrava para o tabuleiro o comprimido obtido, implicando uma força de duas toneladas na descida do punção superior sobre o inferior de forma a produzir o comprimido.

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A EGP REÚNEALUMNI NO BRASIL

TERTÚLIA COM ANTIGOS ELEMENTOS DO TUP

A EGP - University of Porto Business School (EGP-UPBS) organi-zou, no passado dia 24 de Fevereiro, um encontro com antigos es-tudantes e com a comunidade portuguesa, em São Paulo, no Bra-sil. O evento teve lugar no Consulado de Portugal naquela cidade e contou com a presença de mais de 70 convidados. Para além do convívio, os participantes puderam ainda assistir à intervenção de João Pessoa Jorge, CEO da Sonae Sierra no Brasil, que falou sobre a sua experiência na internacionalização da empresa.Este foi o primeiro encontro da série “Connecting Abroad”, que conta com a colaboração dos Embaixadores EGP-UPBS. Trata-se de alumni da escola que prosseguiram uma carreira no estrangei-ro, ou com contactos privilegiados em determinado país, que se disponibilizaram para colaborar com a EGP-UPBS em iniciativas locais e para ajudar os actuais estudantes que tenham interesse em prosseguir uma carreira no estrangeiro. A reunião teve como pretexto a participação da EGP-UPBS na “Access MBA Tour”, um evento onde marcam presença, anual-mente, as mais prestigiadas escolas de negócios do mundo. O ob-jectivo passou por dar a conhecer a oferta de MBA’s da business school da Universidade do Porto, com destaque para o programa MBA Magellan.EGP/TR

Antigos elementos do TUP – Teatro Universitário do Porto reuniram-se, no passado dia 22 de Janeiro, na Sala da Música do Museu Nacional de Soares dos Reis (MNSR), para uma tertúlia de evocação dos 100 anos do nascimento de António Pedro (1909-1966). Recorde-se que o pintor, ceramista, poeta, dramaturgo e teatrólogo português é dos nomes maiores da história do TUP (criado a 13 de Dezembro de 1948), grupo para o qual encenou várias peças.Importa salientar que, em 2000, uma pequena colecção de desenhos e peças de cerâmica da autoria de António Pedro foi confiada, em regime de depósito, ao MNSR, por Daniela Santos Costa. A propósito da passagem dos 100 anos sobre o nascimento de António Pedro, o Museu seleccionou um conjunto de obras do artista plástico para, desta forma, homenagear a sua transversal actividade artística e a importância que esta teve para a cultura portuguesa.António Pedro da Costa nasceu na Cidade da Praia, Cabo Verde, em 1909. Frequentou as faculdades de Direito e de Letras de Lisboa, bem como o Instituto de Arte e Arqueologia da Sorbonne, em Paris. A sua intensa actividade criativa cobriu uma série de linguagens artísticas, desde a pintura e cerâmica ao teatro, pas-sando pela poesia e pela ficção (“Os meus sete pecados capitais” (1926), “Distância” (1927), “Máquina de Vidro” (1931), “A Cidade” (1932), “15 Poemas au Hasard” (1935), “Onze Poemas Líricos de Exaltação” (1938), “Casa de Campo” (1938), “Apenas Uma Narra-tiva” (1942) são algumas das suas obras). António Pedro integrou o Grupo Surrealista de Lisboa (1947), sendo considerado um dos introdutores e principais expoentes em Portugal do movimento criado por André Breton. Foi ainda jornalista da imprensa escrita e radiofónica, tendo colaborado com a BBC durante a 2ª Guerra Mundial. RMG

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