Tratamento do pneumotórax espontâneo por videotoracoscopia · 0 pneumotorax espont5neo e uma...

7
REV PORT (l): 2&7-291 ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLF. Tratamento do pneumotorax espontaneo por videotoracoscopia Four years experience in video-assisted thoracic surgery for spontaneous pneumothorax PEDRO BASTOS'.JORGE CASAI\'OVA'. LUiS GOI'CALVES', LUiS KOCHA' .. 'v l ARJA ROSA UWZ'- lv! i\NUEL RODRJGL'ES GO.\-!£S' Ce ntro de Cirurgia Tor ac i ca c de Ho spi tal de S. Joao. Po rto IH'.SUMO A lomlcicu \idcoassistida i: um metodo recenfe de lralamcnlo do 1m.:u.ruohinex cspoutiul.'O, Rcvcmos a nossa cxpcricncia com 4(i doentcs (dts) consccutivos, 10 do scxo fcminioo e 36 do scxo masculino, cont idades compreendldas entn : os J 7 e us 73 auos (media 38,3 a11os), que foram submetidos a 49 videotorncoscopios otre 1!193 e 1!196. A indl- cil'lit'Rica resultou da exbtblda de pneumoto- ,..x recorrente em 17 dts. de pneumntorn bilater11l e111 3 dts e de fuga oerea persistenle em 16 dOenleS. AilS I RAC' l lhuntcic hMs cvoh•cd as an altel'Dativc to tboracoromy in the trcatmeot of spontaneous pneumothorax. We revie- wed 46 consecutive patients (I Ufemale and 36 male p•tlents, aged 17 to 73 yens. mean 38.3) who under- went 49 video-assisted thorark procedures between 1993 e 1996. Seventeen patients had recurrent ip ."ilaferal pne11mnthnr:.x, 3 (l:,tlienl'i hilale.ral pneu .. mnthnra1 and 26 (Jalieol!i( persi'\lent air leak. The must common UJCtbod of mauagctucnl was "sbl- • Prnfd.sor Convtd ado da de: du l 1 urto. t\djw:lo do C\·ttlro <.lc Cuwgm I Onll'tl !l A ssist entc llospnalar t'JrU!I>J11 To n'ktl'll 1 l ntcmo Compk mL'nler de T o.ritt.:ica h w:mo (.;ompleme. nlur t.J..- ) t 'onsullum dt: Pneuwologia Jlroll' Ssor CulL•lln\lioo dtl F nntl cl;ulc de Mcrl ic:ma do l)ortn. Oirect\w do Centro de Cirurgia Torllc1Ca Recebido p•ra 9H. 111. Aceite para puhlica\'io: 98. U3. 2U M•i o:'l unho 1998 Vul. IV N' 3

Transcript of Tratamento do pneumotórax espontâneo por videotoracoscopia · 0 pneumotorax espont5neo e uma...

Page 1: Tratamento do pneumotórax espontâneo por videotoracoscopia · 0 pneumotorax espont5neo e uma docnca 1i'cquen te, com uma incidencia cstimada entre quatro a nove casos por I 00000

REV PORT P~EUMOL !V (l): 2&7-291

ARTIGO ORIGINAL/ORIGINAL ARTICLF.

Tratamento do pneumotorax espontaneo por videotoracoscopia

Four years experience in video-assisted thoracic surgery for spontaneous pneumothorax

PEDRO BASTOS'.JORGE CASAI\'OVA' . LUiS GOI'CALVES', LUiS KOCHA' . . 'vlARJA ROSA UWZ'­lv!i\NUEL RODRJGL'ES GO.\-!£S'

Centro de Cirurgia Toracica c Scrvi~o de Pncumolo~ia. Hospital de S. Joao. Porto

IH'.SUMO

A cirurgi>~ lomlcicu \idcoassistida i: um metodo recenfe de lralamcnlo do 1m.:u.ruohinex cspoutiul.'O, Rcvcmos a nossa cxpcricncia com 4(i doentcs (dts) consccutivos, 10 do scxo fcminioo e 36 do scxo masculino, cont idades compreendldas entn: os J 7 e us 73 auos (media 38,3 a11os), que foram submetidos a 49 videotorncoscopios otre 1!193 e 1!196. A indl­ca~io cil'lit'Rica resultou da exbtblda de pneumoto­,..x recorrente em 17 dts. de pneumntorn bilater11l e111 3 dts e de fuga oerea persistenle em 16 dOenleS.

AilS I RAC'l

Vidco-w.s~tish:d lhuntcic ~tugcry hMs rc~cu•l'' cvoh•cd as an altel'Dativc to tboracoromy in the trcatmeot of spontaneous pneumothorax. We revie­wed 46 consecutive patients (I U female and 36 male p•tlents, aged 17 to 73 yens. mean 38.3) who under­went 49 video-assisted thorark procedures between 1993 e 1996. Seventeen patients had recurrent ip."ilaferal pne11mnthnr:.x, 3 (l:,tlienl'i hilale.ral pneu .. mnthnra1 and 26 (Jalieol!i( persi'\lent air leak. The must common UJCtbod of mauagctucnl was "sbl-

• Prnfd.sor As...~ciado Convtdado da t'~culdl!.dc de: ~~L~lctnu du l1urto. Ut:~...:wr t\djw:lo do C\·ttlro <.lc Cuwgm I Onll'tl'·!l Assistentc llospnalar ~ t'JrU!I>J11 Ton'ktl'll

1 lntcmo Compk mL'nler de C1rur~u T o.ritt.:ica hw:mo (.;ompleme.nlur t.J..- Pt•('umuk-.g_i;:~

) t 'onsullum dt: Pneuwologia Jlroll'Ssor CulL•lln\lioo dtl Fnntlcl;ulc de Mcrlic:ma do l)ortn. Oirect\w do Centro de Cirurgia Torllc1Ca

Recebido p•ra pnbllca.,.~o: 9H. 111. I~ Aceite para puhlica\'io: 98. U3. 2U

M•io:'lunho 1998 Vul. IV N' 3 2~7

Page 2: Tratamento do pneumotórax espontâneo por videotoracoscopia · 0 pneumotorax espont5neo e uma docnca 1i'cquen te, com uma incidencia cstimada entre quatro a nove casos por I 00000

IUJVISl'A f'ORTUGU£SA Die 1' 1\1:\IJMOI .()( ;IA

AM holhaM pulmona.rel!l foram rc~sc~das tJor "slap· piing~ • em ~0 dbi e elr:ct.rucmagubuht.li em .1 oulrn."l. Em lodol'! Ol'l doenlcs roi cfcctua.da UltUI ».bntsalo plcunl, tic tipo mccioicu em 10 casos c com talco fanoaci:ulico scm asb~lo nos rcstaotes b'iota e scis. Niu Jouuvc mortalidade opel'8toria. l:m d~ote (2,1 %) foi reoperndo por bemorragia e urn ouro·o (2,1%) por fuga aerea persistenle. Os tempos ou<dios de drenagem toradea e de intern a men to posopera­torio foram de, respectlv!omente, 39,5 boras (mAximo 264, mlnimo 18) e 1,9 dias (nul.t:imo 12, minimn I). "U loUow·up" osciJoo entre 1 e 46 meses (mlldia 1 •1,<1 meses). Nio xe registou nenhom casu de recorrencia cte pneumot.nr.:n, manlendn lodmc me doente~ nma es.pansiiOJlUhnonar coJnplcha. Estes tb.dos sugcrcm OJIIe a videllilll"dCIISCIIIIia ~ uona allcrnaliva •·~Iilla il turacutomia ciAssica no 11'8tamcllto d,o pocumotorax cspuoliiloco. 0 tempo de ioternomcoto e mais curto, a moo·bllldnde e mals baixo e os resultados oi dis tan­cia s:Oo txteleotes.

REV PORT PNEL:MOL. 1998; IV (3) : 287-193

l'al:wras~ch:t\lft: rncumnl6r..tx es(WlniAncn~ Vidt:nlom­coxcopia; Plcumi..lcsc com La len.

lNTRUOUc;:.\0

0 pneumotorax espont5neo e uma docnca 1i'cquen­te, com uma incidencia cstimada entre quatro a nove casos por I 00000 doentes :mo (I). Os peq uenos pneumot6raxes n~o complicados podem ser man lidos em observa<;ao sem tratamento. A drcnagcm toriocic~ e, contudo, 0 melodo inicial de tratamcn1.o mais utilizado, sendo o scu rcsultado positlvo na grande maioria dos e<~sos. No cntanto, ccrca de 20% dos docn1cs corn urn pncumotorax espontiineo podem vir a requcrer uma terapeutica cin1rgica. quer por se tratar de um pneumot6rax tccorrente ou bi.lateral, quer por existir uma fistula broncopleural persistentc com expansao incompleta do pulmao. A intcrv<'ttr,:~o

cin'trgica classica tern consistido nurna toracocomia axilar ou laterdl, wm cKcl'CSC das bolhas c plcW'odese ou pleurectomia.

Os avan~os rcgistados nas tecnicas toracosc6picas

288 Vol. IV N' 3

rling'' of an identified hleb in the hone wich wa• undertaken in .Jfl (65%.) ratjenl•. A rlellrod.,.is wu perfunned in every operated patient; 10 J>lilients load mechanical abrasion while I he inMtillation uf talc "'as used in .36 Jlll.tienL•. There was uo operative morta­lity. One palienl (2,1%) bad to be rt'Opentlcd for bleeding and atrotbcr one (2,1 %) for pcrsisteut air leak. Postoperative tlooracic drailoagc nuog•'tl fnnn 18 to 164 hours (mean 39.5) and postoperative stay from I to 12 days (mean 2.9). Mean follow·up was 24.4 months and ronged from I to 46 months. Theo·e were no instances of recurrent pneumot.ho111ox. These dam suggest tltot video-assisted tboracir surgery is n \1able alternatl.-e to thoracotomy for tb~ treatment of spontaneous pneumothora•. rt results in a short hospital stay, tow morbid it)• nnd tteeUent to11g term rf-SIIIts.

ltt:V I'ORT f'NEIJMOL 1998; IV (3): 287-293

Key-words: Spmouoncuus pncuonoUourax. Videothora· <.:u:.;<.:upy. Tuk plcun.><.lcsis.

levaram-nos a altcrar a abordagcm cirurgica deste problema. Este trabalho descreve a nossa experiencia com a videolomcoscopia (VTC) no tratamento do pm:umutitr::t;.: espunt3ncu ..

MATF:I~IAL F. Mf.TOOOS

Entre Abril de 1993 e Dezembro de 1996 foram realizadas 49 vide.otoracoscopias em 46 doentes com pneumotordxcs l:sponlaocos; em 3 dol:ntes a VTC foi hi lateral. Os doentes, 36 do sexo masculino c I 0 do sexo femil1ino. tinham idades compreendida~ entre os 17 e os 73 anos (media 38,3 anos). i\s indica~oes para a realizac~o da VTC foram as seguintes: pneumot6rax de repeti~llo em 17 doentes, pneumot6rax bilateral em J doentes, e fistula broncopleural persistente com expansao incompleta do pulmao em 26.doentes. Em 7 doenles exi~tia doen~.a pulmonar obstruliva crunica

MaioiJ woho 1??8

Page 3: Tratamento do pneumotórax espontâneo por videotoracoscopia · 0 pneumotorax espont5neo e uma docnca 1i'cquen te, com uma incidencia cstimada entre quatro a nove casos por I 00000

TRATAMENTO DO J'NEUMOI'ORAX ESPONTANEO POR VfDEOTORACOSCOPIA

associada; nos outros 36 casos o diagn6slico roi de

pneumot6rax espontdneo idiop<ltico.

As inteJ>"encl\es cirurgicas foram realizadas sob

anestesia geral, com imubacao endotraquenl com urn tubo de duplo l(tmen. A monitoriz.l~ilo compreendeu

um electrocardiograma continuo. linha intraarterial.

pressao venosa central. oximetria n·anscmanea c

medi~iio do CO~ endoexpiratorio. Os docntes foram colocados em dcc[,bitu l~tcml cum os pe~ da mesa

baixados de rnvdo a "abrir" us c:,payus intercostais. A

dcsinli.:c~~o tlo J(irax c a coloca~au clvs pano:, cin~rgi­

cos toi etecruada como se sc tramssc de uma torncoto·

min chissica. Depois do pulmao homolateralter sido

dcrivado, foi feita uma incisao imcial, com ccrca de 2

em de comprimento, no sexto espaco mtercostal, li11ha axilar media. 0 espa9o intercostal f01 dissecado e a

plew-a parietal perfurada; a explora~~o digital permitiu confirmar a ausencia de aderencias pleurais. Atravcs

da incisao foi c.olorado urn trocane que serviu para a

introdu<,:ao de urn toracosropio (0 ~,'raus ). A cavidade tvr~ci<:~ foi insp~ccion~d~ na su~ tutalidatk. c.om

especia l incidCncia snhrc r, apex do lobu ~upl!riur) o scgmcnto supcrini'<IO lnbn inferior cas cis111-as i utcriu­

ha,·c~. \J m 'egundn trocm1e tf•i cnlncarln atrnv.~s fill

tcrceirn ou quarto cspa~o imcrcnstal na linha axil:~r

antcl'inr c serviu pm·a introduzir umo pin~a de preen­

sao que pennitiu a mm1ipula~an do pulmao, ajudando assim a cxplora~~o toracica. A.p6s confim1a~cro da

doen~a bolhosa (Fig. I), urn terceiro trocarte foi

Fig. I - Bollt:l JllllmonM eX)".''!l.ta c:<'lm Ull'la pinc;a de preensa.o

MaiolJunho 1991'l

colocado atraves do quarto ou quinto espa~o imercos­

tal, na area do tri<ingulo auscultat6rio, para imrodu~ao

do "stapplcr" cndost:6pico (Endo GIA, United States Surgical). Os instrumcmos c u IOrdcoscopio foram

livremente n·ocados de modo a ohter a mclhor c~po­

si~~o posslvcl. t\s bolhas pulmonares toram, de seguida, rcssecadas na sua base com o "stappler"

cndvscupicv. Em 3 doentes com bolhas de dimensl\es

muitv rcduzidas, que mlo faziam procidencia sobre o pMcnyuima pul monar. as rm:sm~s fordm elect.rocoagu­

lada.' com bisturi cic(:trico. Em 13 doemes nao sc

conscguiu idcnti licar qu~lqut:r Jcs~o bolhosa; em tres

dele;. o apex do lnbn superior fbi dcctivamenle resse­

cado com o "stappler'' cndoscc\pico (Fig. 2) Ap6s

Fig. 2- Ressec~O:o ccga do apex do lobo superior

resseccan nu e lectrocoagulaciio das bolila.~ foi instilado soro fi~iol6gico na cavidadc lOracica, o pulmao foi

ventilado e a potencial exis~ncia de fugas plcurais

pesq uisada mcrgulhando progrcssivrunente partes do

pulmao por baixo do llquido. Uma vez comprovada a ausencia de fugas, o soro fui aspirddo. De seguid~ foi

r~alizada. ~m todos o' casos, uma abrdsao pkurdl apical. Nos primeiros 10 doentes operados a abras~o foi de tipo mecanico, efeetuada com uma wmprt:ssa

momada na extremidade de uma pin~.a de prc.ensiiv, enquanto que nos reslanlt:s 36 casus foi lcv~da a Cilbo

~trdvc~ d~ i11st.ila\'Jio de talcu timnaceutico sem a'\besto

fNOVATF.CH, Auhaquc). lim a dois grama.~ de mlco

lornm insutlados no e'paco pleural atraves de um

cateter rigido dirig1do para o apex do hemit6rax. Sob

289

Page 4: Tratamento do pneumotórax espontâneo por videotoracoscopia · 0 pneumotorax espont5neo e uma docnca 1i'cquen te, com uma incidencia cstimada entre quatro a nove casos por I 00000

REVISTA PORTUGUESA DE PNEUMOWGIA

vis~o lorncosc6pica um dreno 241' foi, de seguida, colocado atraves de uma das incisOes, de modo a que a sua extremidade fkasse colocada no ponto mais alto do hcmitordx. Finalmmtc. o pulrnilo foi lcntamente rccxpanditlo ~urn vcntila1:ilo com prcssao pusitiva.

RESULTADOS

Nao houve mortalidade operat6ria. Vm doentc requereu uma toracotomia duas horas apos se tcr compktado a VTC d~vido <t ~xist(:nt:ia de uma hcmor­n-1gia al'lCrial com origem noma adcrCncia plcuntl qw.:

tinha ~ida elcctrocoagulada. 1\um outm docntc, com docn~a pulmonar obstrutiva cr(mica, a fuga acrca persistiu no posopcrat6rio, com cxpansao incompleta do pulmao, pelo que foi submctido a uma toracowmia no 10" dia posoperatorio. Nao se registaram outras cumplica\:Ot:> pusop~rdt<.irias tendo sido obtida. em tndo;. n~ c~so~. um~ cxpltnS~o ctnnpk-ta do pulmao. 0 numcm de bolha;. ressccatla., pnr "~!appling" cn1 cada docmc variou entre I c 12 (media 2,')4 holh~s por docntc). 0 tempo de drenagem toracica posopcrat.Oria osci lou entre 18 c 26<1 horas (media 39.5 horas); no en tanto apcnas em 5 docntcs a drcnagcm sc prolongou p~r~ ak'm das 72 horas. 0 tempo de internruncnto J)O~orcrat6riu v~riou cntrt: 1 c 12 di<ts {media 2,9 dias ). ( J follow-up dos 44 uocnl.cs !JUO continu«<am no cstudo ( os do is docntcs suhmctidos a 1oracotom ias foram cxcluidos) oscilou entre I c 4(, mcscs (media 24.4 mescs). Ni!o sc rcgistou. nestc periodo. qualquer r~cidiv~ dt: pneumotorax espontanco. mantendo todos cles uma cxpansilo pulmonar complcta.

OISCUSSAO

Os objcc:tivos do tratamento do pneumot6rax esp<onllinco sao promov~r a rccxpansiio completa e r:ipida do pulmao, restabelecer a tiJn~iio pulrnonar c prevcnir a recorrencia. Parn o eleito dcscja-sc uma tecnica terap!utica que tenha poucas complica~oc$, provO<( lie uma dor posoperat6ria minima e proporcio­nc urn intcrnamemo hospitalarcurto.

290 Vol. IV N"1

As indica~Oes para tratamemo cirUrgico incluem o pneumot6rax recorrente, o pneumot6rax bilateral, a fistula bronco-pleural pcrsistenle e a incapacidade de rccxp~nsilu do pulm<lo ap6s drenagem toracica apro­r•·iada.

Historicamente, o tratrunento cirur~ico do pncu­mot6rax de repetlcao tem sido efectuado ntravcs de uma t.Oracotomia postero-lateral standard, de uma toracotomia anterior. de uma csternotomia (no caso de pneumot6rax bilateral) ou de uma minit.Oracotomia axilar. Esla ultima via de abordagem rapidamcntc sc tornou muito popular e, antes do >uivenlo da VTC, era pnwavclmcntc a rnais utiliLatla. lndcpendcntemente da via de accsso, a opcra~ito consi.stia na i1kntifica~ao c exeo•cse do.~ bolhas pulrnonarcs por suturd, pur laqut:a· ~~o ou, mals recentemente, por "stappling",

0 ponto de mal or controv~rsia residia na nccc~si­dade e no melhor mctodo de pmmover uma sinfise pleural adequada. Os metodos de pleurodese incluimm a abrasilo mecanica com comprcssa, a instila~ao de subst~nciasquimicas irritativas (tetraciclina, doxicicli· na, blcomic.ina), a irrita<;ao plewal com laser ou electrocautcrio c a inst:ilav~O de talco. Urn trablllho experimental reccmcmcntc rca I izado por Rr~sticker ~ cols. (2) comparou as aderencia~ plc11rai.~ promovidas pelas v:irias tt!cnicas. A instil~ao de talco e a ahrasiin mecanica provaram scr mais efectivas e superiorcs an laser, el~clroeauterio e bleomicina, tanto no que di?. rcspcito ~ qu~lidade como :l quantidade de aderencias. Tambcm Hartman (3). num estudo efectuado em doentes cnm dcrramcs plcumis malignos, concluiu pela nitida superioridaclc c;!n talco na promo9<lo da pleurodcsc, quando comparado com a blcornicina e a tetraciclina. Emborn de eficacia cornprovada, o talco rann.aceutico tern sido menus utilizado que a abrnsao mecanica devido ao receio da contrunina~i'io por asbcsto, uma preocupa~ao que se vcio a rcvclar scr infundada. Na verdade, nos estudos a Iongo tcrmo efectuados por Lange (4), Viskum (5), e pela Briti.<h Thoracic Association ( 6), em doemes 20 a 40 anos apos talcagcrn por pncumolorax, registou-se apenas um ligeiro compromisso rcstritivu da fun9ao pulmo· nar, sem que houvesse qualqucr aumcnto de risco de

Maio/Junko I YY~

Page 5: Tratamento do pneumotórax espontâneo por videotoracoscopia · 0 pneumotorax espont5neo e uma docnca 1i'cquen te, com uma incidencia cstimada entre quatro a nove casos por I 00000

TRATAMENTO DO PNEliMOTORAX ESPOJ\TANEO POR VlDEOTORACOSCOPlA

cnncro ou de mesotelioma. Uma outra critica que sc faz ao uso do talco e a de que provoca uma reac9~0 granulomarosa excess iva, o que pode dificultar sobre­maneira uma eventual toracotomia ulterior. A tecnicn que utilizamos de dirigir selectivamentc a talcagem pard o apex do hcmilorax alenua, sensivelmente, este riscu.

A pleurectomia total e, tambcm, Ulll mctodo elect i­vo de pleurodese, mn.~ rem algumas dcsvantAgcns que tem s1do atenuadas limitando-a no apex do hcrnitorax (7-'l). Esta tecnica e, no entnnto, muito mais traumittica que os omros modos de pleurodese e eslll sujeita a complica~Oes imporrantcs, nomeadamente ao lisco de h~.murragia ( 10,1 1 ). Para al<!m disso, toma uma subsc­qucnlc tomcotomia extraordinariamente dificil. caso algum de~1es doentes vcnha a requerer uma interven~o cir(Jrgica tocicica nos anos futuros (7.8).

A VTC toi rccchida com uma nnd~1 iniciHl 1k:

cntusia~mn que condu7.i u a >l[ll ic~1~lio dcst~ tt:cnolu~Ji~ a uma grande variedade de patologia imraJ.oracica. incluindo as doencns do pericardia, pleUJ'a, pulmao, es6fago, timo e pru-ede toracica ( 12).

Embora a aplica9li0 da VTC no tratrunento do pn~urnotorax seJa relativamente recente, a toracosco­pia rigic.la foi usada no tratamento destes docmes durante, pdo mt:nos, t:re.s det:adas (13,14). A evolu~ilo da tor.;cuscopia rigida para a VTC processou-sc ao Iongo dns ultirnn~ ~etc anos. Durante este lapso de tempo os metodos usados na ahla,.an de holhas tam­bem evoluiram do laser (15) para o electmcauterio ( II>) ou a laquca~ilo ( 17) e. finalmente, para o •·srappling" rm:t:~nit:u (18). Cum a introduc:lo dos "stapplers'' ~ndost:opicos, os propuiJcnlcs tla abordagem por VTC pu1km, agord, aiirmar que estao a realizar a mesma opera91io que ant.erionnentc etectuavam, so que por uma via de acesso diferentc.

Os nossos resultados, bern como os de outros autores (19,20), mostram que a VTC c uma t~cnica Segura. A hcmOrrdgia que obrigou a re.aliza9li0 de ttma toracotomia ncorrcu no inido da nossa cxpcriCncia, c tcria sido evitada sea adcrencia que a miginou ti vcssc sido laqucada com um cl ipmetalico, como actual men­te fazemos, em vez de ter sido electroc.oaguladn.

MoioiJunho 1998

Apenas em cinco doentes a drenagem toracica poso· perat6ria se prolongou para aMm das 72 horns. tendo sido necessaria uma segtmda opern9~0 num doente (2, 1% ), uma incidencia de reopera9il.0 que n~ difere das reportadas por Orooks (2 t ), Granke (22) e Deslau­rit:rs (10) com as tecnicas classicas. Por outro lado, o tempo mcdio de intemamento posoperat6rio foi de 2,9 dias, o que c ti·ancamcntc inlcrior aus tempos de internamento reporlados qucr com a toracolumia clil.•sica qucrcom A roracotornia axil~r (22-24), embora os resultados rossrun tJiio ~cr totalmcnlc compar.iveis por as populaclies de doentes scrcm difcr,~ntcs <.:, tambcm, porque nos ultimos anos existc uma L<!JJ· dencia para uma alta hospiralar mais p1-ecoce. No en tanto, mesmo <Juando controntado com um o-abalho muito recente, em que J.1 doemcs altamente seleccio­natlo' (ill all~ inf<.:rior a 30 anos, ausencia de problemas medicos CC)JlCOll'l italltCS) fontm tralaUOS pur vi:t transa­.~ ilar (211), () tcmpu mcdio tic inlemamento posopcra­t6rio registado nos nossos doentes tern uma eompara­~ao favon\vel (2,9 versu.f 5, 1 dias).

[lmbom o "follow-up" scja, ainda, 1·clat.i vamcntc curro, a auscncia de recorrencias nos docnt.es opcrados e surpreendente, .i:i que quer nos doentes tmtndos pelas tecnicas cl:issicas (8-10,23) quer nos doentes IJatados pur VTC (20.25,26) a incidancia de recorrencias oscila entre 2,7 e. 4,5%. De acordo com Naunheim (20), o risco <!<.: rccidiv~ ti maior nos docntes em que n~o foi 11ossivcl idcntilicar qualqut:r lesao bolhosa, e que na presentc scric constih!l~m um~ parte importante dos doentes tratados; ncstcs casos cstaci aconse.Jhada a reali7..a~o de uma t-essec91io ''ccga" do apex do lobo superior. A utiliza~ilo do talco como indutor da sinfrsc pleural poder.\, evcntualmente, cstar na h~~c dos resultados obtidos. 0 pnCUJUOt6rax espontdneO e Wll pl'oblema frequent.e, e como tal e rcsponsavel por um ·consider.\vel dis­pendio de dinheiro e de recursos. Muito do entusiasmo que crc~ccu ~ vulla da VTC resultou da no~ao que a cirurgia minimamcmc inva:'<iva rcdul.iria a dor poso· perat6tia, o tempo de i ntemamcnto c os custos hospi­talares, para al~m de proporcionar um resultado cosmetico superior. Embora com a V'J'C o intema-

Vol. IV N'3 291

Page 6: Tratamento do pneumotórax espontâneo por videotoracoscopia · 0 pneumotorax espont5neo e uma docnca 1i'cquen te, com uma incidencia cstimada entre quatro a nove casos por I 00000

R.EVISTA PORTUGUECSA DE l'l>tU.\10LOGIA

memo hospitalar seja rna is curto, o aumento de cu.qtos rclocionodo com a tccnolotJifl ulilizada n~o pennite conc luir que este process<) ~cjs mai:s ccon6mico. No cntanto. uma an:l.hse completa da rclaoyao cu~tos­·bcncficios dever.i tcr em conta, para Ia dos custos hospitalan:s, as hordS de cmprego pcrdidas e a quali­dadc tk 'ida, de modo a poder proporciorar resposta.~ vlllidas quanto ilj u~lctH dH abordagem videotoracos· ctipicn.

A nossa expcricnei11 conlirma que a VTC c umn altcmativa vaJida no traullncnln du pncumotorax cspont5nco. A Mcnica e bcm tolcmda, tcm urn result«· do cosmctico cxcclcntc c pcrmnc ao~ docntcs tcr aha

lit Jlt.J OC: R A JTI 1\

I. ll hPPER NGG. MELJ'I)I\ 1.1. OKH liUl Vl'. lnc><kncc ol )P\)Utuncous pm:umothma:.; 10 Otm~ted LclUnt) f r•v1mncsuta. 1950-74. Am RC\ Rc•ptr l)o> 120: l.l7~: ~l: I nY.

2 llRES llCKER \1!\. OBA J. LOCICERO J. GKI:LM K Optirool pl~s. A '""'I'Wi><n< :otud). Ann I bor.te SUltl ~s JM 7. 1993.

l HARTMAN DL. GAITHU J~. KESLER KA. ~YLH m·t. BROW JW. MATHUR PN CoonJ)aoison ufiu>ufiluu:.t L'llt: Under lh0r:1CO~C<,pic eul(l:•nre with StAndard tetffiC)diJll:

nnd hleomyc•n pleum<lr.~t~~ for <'.()ntrol <lfnmlignnnt plcutol cnusum:~ . .I !'horae Card~<wa~c. 'iure 10.~· 741-8~ 1993.

4, l-ANGE P, :VIORTENSEN J, GROTH S. Lun~ finction 22· lS )rotS after ueatmeut uri..Jiupulhic s-ponw.m:uus pncumot-horox '"th t!lc poudlag< or >implc .truinllj!l:. Tbanl.' 43: ~~'). 61. 1988

). VISKUM K, LAN<iE 1'. MOIIJTI\SI:N J long rmn 11<.-qud~~~.: after btlc pk-urodcs1s for Jf')Onranoous pne:umntho-rw.. Pn~wuologie4J. 105-6: 1?89.

6. llEShAilCII COMMIJ'IUi Oil TilE IJR!TISH THORA CIC ASSOCIA I'ION. A ,, urvcy nfohe lnng oem' etl<x:ts of tulc Wlu kaolin plcurodcso•. IJr J u .. Chc." 73 : 285-8: 1979.

7 (;A FNSLGR EA . Partkal plcutectom) fot rocunt:lll :,ponwm:o-ou\ pnt.'!umothorax Surg Gynt('01 Ob:sret l02. 293 7, 1956

8. SINGH Sl:. Cum:nt >llltw of pancutl plcurectomt on recunetll pit<:umulh\KllA. S....OO J Tborac Canlio>a'<C Suov tl. 93·9; 1979.

9, Wl!l: llhN ll, SMI'I II <ill Surs:tc.,.111 e'i:pcrirncc ln tht managcmt.'Tlt nf spnmanenu.~ rneumn11\n~x 1972·82 . Thomx 38: /37-40; 1983.

m Vol. IV N' J

hospitalar num per!odo de tempo significativamcnt.c m~is curto, pelo que considerarnos ser a tecnica de c~c<llh3 <(Uanr.lo sc coloca a indica~ao cinirgica num doente com urn pneumot6rax C~(lOnUinco. A ausencia dr rccomncias verifica.da at~ no momcmo, por outro

lado. pcrmite pcrspcctivar cxcelentes rcsultado:s a Iongo prdl.O.

( .• ,tTC< (IMrlCnc. in

Pro1. Pedro R.lstoo; <.:t:nll'u df Churs:b Tcr.lcJCa. Hft~IJ•Inl tk S Juilv AIO\m~da rrot:l!<:m1r.1 ~fonr.ei1,,, 4200 ._...,,tu ltl:l ~S02l!"':fax:5S02l.s4

II)

II

12

I)

14.

1!>.

lb

t 7.

18.

0£SLAURJ cRS J. BEAULieU M, UhSI'IU·.S JP, I E<,.lll;.. I •X ~1, LEBLANC l. OI:SMtULES M. Tran<axill•ry pl"'urretom~ .:or tn:ollhnc.:n( ur !!.pumancnus pneurrwnhornx Ann Tbor.l< Surg 30. 569· N. I 980.

H JJl R~.lll\.1'1 OC. GRLY DP, MEE RB. Tt1UUC31hclcr cmbnhr.u.nn rC\r c-.ontrol ofblccdin& fol1o\'ril~ pk:\Jn."'(,."t..my. AM lhorac~urg27:1nl-n: 197Q

l lAZELRIGG SK, NUKCHUCK SK. LOCICERO!. Video A~f<'i. .. lrct Thoracic S\u·gery SluU) Group Datu, Ann Thvr~aL'

!>urs '"' t Hl9·4 3: I QQJ

VAN l.lE BREK.EL JA, OUt.. R.K£NS VA, VANDERSCHU· t::R£1\ RG Pneumothoto.\ f\!:.Ulli or thOWCO)L'Opy O.lld rt<nrtxlesis "'ith the poudrJae and thoracotom) . Chest I OJ ';4~7; 1993

I'Sl. KAMO'J 0 I. JooAKAMIJilA II , ~ 1011 r, YAMADA

K. NAGASAWA ~ Comp~~.rt~ti>c .,udi<1 using a nwd tllui«VSI..'Op(' uud fil.x..·ruptic b1uncho:.cupc tv ln:-.U spuntan~:­ous pu<omodlorux. Chest I 00. 9SJ·8: 1991.

lllllllt:: M, UJ.LI.ONI I' Nd: Y A(i lostr pleurodosis thruu,Kh lhnr<Jcoscopy: new cun.mve lhcrapy in S(')OntanootL\ pm.:ucnolhora:<. Ann 'I horae ~IUA 47· MIO-~; 19RlJ.

WAKAIIA YASIII A Thnmcoscopicablntion ofblebs in U1e uauncnt of rectii'T1!n·t or ~'Utnt &pontancous pnewnotho~

'""-Ann fhorac SUlJ! 4K' 6~1·1: 19MV

NA THAI'iSON LK. SHL\'11 SM, WOOV KA, OJSCHII:J<I A. Violeothur1100S<.'\>pio til!"'iun of bulla rmd plcura:tomy fO< >jJUnllllw"" pncwnulhorax. Ann lhnracS1111(52: 316-9; 1991.

( 'ANKON WB, VIERRA MA. CANNON A. Thoracoscopy

MnioiJUJ~lo 1998

Page 7: Tratamento do pneumotórax espontâneo por videotoracoscopia · 0 pneumotorax espont5neo e uma docnca 1i'cquen te, com uma incidencia cstimada entre quatro a nove casos por I 00000

TllATAML>~TO DO PNEUMOTORAX ESPONTANEO POR VIDEOTORACOSCOPIA

for spontaneous pneumothorax. Ann '!'horae Surg 56: 6K6-7; 1993.

19. HAZELRJGG SR, LANDRENEAU R J, MACK M, ACUFF T. SEll'llRT PE, ANuR JU. MAGEE M. Thoracoscopic sr.1pled re.~ecrion tOr spontanMus pneumothorax J Thorne. CardicwaseSurg 105: 3~9.q1; )QqJ

20. NAUHEJM KS, MACK MJ, HAL£LI(J(;(, Sl!, H\ll(;IJ. SON MK. FERSON PP, BOLEY TM, LANUI!hNI'A lJ I!J. Safely and ~:Ol<.:ucy of vidco-us.sish.:d lhoracic surg1cal h.:ctu1ique:; forth~: treutmt:nl of :,pontum.'Ou~ pm:umothoru.x. J Thoaac Cotdlovasc Surg 109. 1199-204; 1995,

21. BROOKS .IW. Open thor.1cotomy m the management ol spontaneous pneumothorax. Ann Su~ 177: 7lJK-XU;li; 19TS.

22. GRANKE K, FISCHER CR, GAGO 0. MORRJS JD, PRAGER RL. The ctlicacy and timing of operative iutl':f\!i'fl

Mau)l.lunho 1998

rion tOr ~rontaneolt5 pneumothorax. Ann Thorae Surg 42: 540-2; J9Ho.

23. YOUMANS CR, WILLIAMS RD, MCMINN MR. DER· RJCK LR. SU!·glcal 11\0ilagemeut ofspout•ncous pu<wuulhu· rux b~· bleb Ligatioll and pleuml dty S!KUlg~: abrasion. Am J Surg 110: 6·1• 8: l970.

24. THOMAS P. LEME£ F. LEHORS H. R<,;ull:< of surgical lrcuuncnt oC pcn~i:;tcnlor rc..:um:nl pm.:umothoru.x. Ann Chir 47.136-40; 1993.

~5. YA:vlAt a .Cii I A , SHINONA(';A M, TATE HE S. Thoracos. rop1c stapled bullcctomy supported hy surunng. Ann Thorac Surg 5~: 691 ·3: 1993.

26. INDERBITZI R, FURRER M. The sw·gical m:~uueut vf spontaneous pneumothorax t-y video·tl~omcoscopy. TI1oJ".tC' \ C':udiov:l')(.: Surg 40· 110·1; I 992