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Título | TitleOlaria Romana: seminário internacional e ateliê de Arqueologia experimentalRoman Pottery Works: international seminar and experimental archaeological workshop

Coordenação geral | General coordinationCarlos Fabião, Jorge Raposo, Amílcar Guerra e Francisco Silva

Coordenação técnica | Technical coordinationCentro de Arqueologia de Almada

Edição | Published byUNIARQ - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa / / Câmara Municipal do Seixal / Centro de Arqueologia de Almada

Apoio | SponsorFundação para a Ciência e a Tecnologia

Local de edição | Printed inLisboa

Data de edição | Edition date2017

Tiragem | Initial printing100 exemplares

Suporte | Media typeDVDTambém disponível em | Also avaiable inRepositório da Universidade de Lisboa / Faculdade de Letras / / Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ)http://repositorio.ul.pt/handle/10451/8771

ISBN978-989-99146-4-3

Nota de abertura / PresentationCarlos Fabião, Jorge Raposo, Amílcar Guerra e Francisco Silva .......................................... 005-008

O contributo dos estudos cerâmicos para a História da presença romana no Ocidente da Península Ibérica

Carlos Fabião ............................................................................................................................................ 009-032

Les ateliers d’amphores dans la Lusitanie romaine, après vingt ans de recherchesFrançoise Mayet ...................................................................................................................................... 033-048

A olaria romana do Morraçal da Ajuda: estruturas de produçãoGuilherme Cardoso, Severino Rodrigues, Eurico Sepúlveda e Inês Alves Ribeiro ........................................................................................... 049-088

A olaria romana da Garrocheira, Benavente: resultados de três intervenções arqueológicas

Clementino Amaro e Cristina Gonçalves ...................................................................................... 089-112

As olarias romanas do estuário do Tejo: Porto dos Cacos (Alcochete) e Quinta do Rouxinol (Seixal)

Jorge M. Cordeiro Raposo .................................................................................................................. 113-138

De las alfarerías de Baetica: focos de producción, tecnología y análisis microespacial de las estructuras de producción

José Juan Díaz Rodríguez e Darío Bernal Casasola .................................................................. 139-174

Produção de ânforas em Lagos na Antiguidade Tardia:ensaio de caracterização de um novo tipo Algarve 1

Carlos Fabião, Rui Roberto de Almeida, Sandra Brazuna e Iola Filipe ............................. 175-194

Em torno dos mais antigos modelos de ânfora de produção lusitana:os dados do Monte dos Castelinhos (Vila Franca de Xira)

João Pimenta ............................................................................................................................................ 195-206

As ânforas Keay 16 da Necrópole da Caldeira, Tróia (Grândola)João Pedro Almeida .............................................................................................................................. 207-220

Olarias romanas do SadoFrançoise Mayet e Carlos Tavares da Silva ................................................................................... 221-238

A produção oleira romana no AlgarveJoão Pedro Bernardes e Catarina Viegas ...................................................................................... 239-256

Balance provisional de un proyecto atípico: el programa OfficinaLuis Carlos Juan Tovar ........................................................................................................................... 257-274

A evolução crono-estratigráfica do ateliê da Quinta do Rouxinol (Seixal):segundo quartel do século III aos inícios do segundo quartel do século V

José Carlos Quaresma .......................................................................................................................... 275-306

O Castro de Segóvia: técnicas de produção de cerâmica manualem Época Romana

Patrícia Bargão ......................................................................................................................................... 307-318

Studying Roman ceramics from the production perspectiveDavid Williams ......................................................................................................................................... 319-332

Rumansil I (Murça do Douro, Portugal): uma produção de cerâmicasda segunda metade do século III e do início do século IV no vale do Douro

Tony Silvino, António Sá Coixão e Pedro Pereira ...................................................................... 333-340

Marcas de ânfora lusitanas do Museu Municipal de Vila Franca de XiraJoão Pimenta e Henrique Mendes .................................................................................................. 341-350

O sítio hispano-romano de Torrejón de Velasco (Madrid):novos dados para o conhecimento da produção cerâmica em âmbito ruralna Meseta, no início do período Imperial

Rui Almeida, Francisco López Fraile e Jorge Morín de Pablos ............................................ 351-362

Seminário / Ateliê “A Olaria Romana”: balanço organizativoAmílcar Guerra ......................................................................................................................................... 363-365

9FABIÃO, C. (2017) – “O Contributo dos Estudos Cerâmicos para a História da Presença Romana no Ocidente da Península

Ibérica”. In FABIÃO et al. Olaria Romana. Seminário Internacional e Ateliê de Arqueologia Experimental / Roman PotteryWorks: international seminar and experimental archaeological workshop. Lisboa: UNIARQ / CMS / CAA, pp. 9-32

(actas de seminário/ateliê | proceedings of seminar/workshop, Seixal, 2010).

Resumo

Apresenta-se um breve historial dos estudos da cerâmica romana no extremo ocidente da Península Ibérica,

procurando avaliar a importância que lhe foi sendo dada. Em uma primeira etapa, encontramos somente

a valorização da cerâmica como artigo da época romana (antiguidade).

Progressivamente, assistimos à afinação dos instrumentos de classificação e estudo, à valorização

do binómio importação / produção local e ao recurso à cerâmica como fonte de conhecimento do

passado romano. Identifica-se as décadas de sessenta e setenta do século XX como as etapas em que

o refinamento destes processos conduziu à valorização da cerâmica como fonte para a história

do Império Romano.

Palavras-chave: Cerâmica romana, Lusitânia, História da investigação.

O Contributo dos Estudos Cerâmicos

para a História da Presença Romana no

Ocidente da Península Ibérica

Carlos Fabião Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Centro de Arqueologia / UNIARQ([email protected]).

Texto revisto em Maio de 2017.

A Olaria Romana: seminário e ateliê de arqueologia experimentalRoman Pottery Works: international seminar and experimental archaeological workshop

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Abstract

This short introduction aims to present a brief historical account on Roman ceramic studies

in the westernmost part of the Iberian Peninsula, trying to evaluate the different levels of

relevance each author gave to the subject. A first moment, chiefly with antiquarian perspective,

consists only at an appreciation of the Roman nature of the ceramics.

As time passed, new and more refined classification and study tools were acquired and

the both local and imported items were combined for a better understanding of the role

ceramics could have played in Roman Lusitania. The sixties and the seventies of the twentieth

Century can be seen as crucial for the growing quality of Roman ceramics research,

and then Roman wares were seen as relevant sources of information for the

history of Roman Empire.

Key words: Roman wares, Lusitania, Research history.

Introdução

Em texto que considero um clássico dos estudos dece râmica romana, Nino Lamboglia, um dos autoresque mais contribuiu para a renovação destes estudos,define dois níveis distintos de abordagem que, mu -tatis mutandis, poderemos considerar plenamenteactuais: a cerâmica como mezzo e como fine (LAMBO -GLIA, 1972). Tomando com as devidas adaptações es -te ponto de vista, poderemos considerar o fine comoa correcta identificação, descrição e classificação dosprodutos da olaria romana, dizendo que tal constituium louvável objectivo em si mesmo (e o presente se -minário apresenta bons contributos desta perspectiva);o mezzo residirá sobretudo nos usos que da informaçãopudermos fazer para incrementar o nosso conhecimentosobre a história do Império Romano. Contudo, nãode veremos em nenhuma circunstância perder de vis -ta que a qualidade deste depende da correcção da -quele, pelo que considero ambas abordagens essenci -ais (e complementares) na investigação.Nestas palavras introdutórias, pretende-se apresentarum brevíssimo historial dos estudos da cerâmica ro -mana em Portugal, valorizando os distintos contributos

individuais e procurando identificar as principais eta -pas por que passou este domínio da investigação.Como não poderia deixar de ser, porque tambémconsidero o mezzo, não deixarei de atentar nos mo -dos como se procurou utilizar a informação construídapara entender a dinâmica da presença romana noocidente peninsular.

1. Os primórdios

A cerâmica romana foi desde há longa data identificada,mas desigualmente valorizada. Encontramos notíciasde colecções de pequenos objectos, como lucernas,reunidas e guardadas pelas suas figurações plásticas,numa clara valorização da dimensão estética e sim -bólica, ainda que sem esquecer o cariz exótico dassuas formas. Isso mesmo podemos observar, a títulode exemplo, na recolha e representação gráfica deuma lucerna de Tróia, do tipo Atlante X C2, Tipo 54,var. B, com cenas bíblicas, de Bonifay, por frei Manoeldo Cenáculo Villas-Boas – exemplar exposto, acom-panhado do respectivo desenho, no Museu de Évora

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Carlos Fabião Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Centro de Arqueologia / UNIARQ([email protected]).

Texto revisto em Maio de 2017.

O Contributo dos Estudos Cerâmicos

para a História da Presença Romana no

Ocidente da Península Ibérica

(DELGADO, 1948: 221 e fig. 4; DELGADO, 1949: 238)(Fig. 1) – ou na estampa incluída no II volume dosAnnaes da Sociedade Archeologica Lusitana, onde,uma vez mais, se representam lucernas (ANNAES…,1851: 27-29 e estampa). De igual modo, as ânforas, pelo insólito da sua for -ma, atraíam a atenção dos eruditos. Somente a títulode exemplo, veja-se o exemplar de ânfora do tipoDressel 14, também procedente de Tróia, em resultadodos trabalhos do arcebispo de Évora, apresentado porGama Xaro, nas páginas do Archivo Pittoresco (Fig. 2).Dizia o antiquário sobre esta peça: “Que razão decon veniencia moveria os antigos a darem a estes va -sos uma fórma tal, que para estarem perpendicularescarecem de outra base? Não acho nenhuma, que se -ja aceitável, o que me não maravilha, porque em ma -teria de usos e costumes, em todos os povos há coi -sas, da existencia das quaes a unica razão que pódedar-se, é terem assim existido” (XARO, 1860: 376).

FABIÃO, C.

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Mes mo sem saber como explicar ou que razões darpara uma tal morfologia, esta assumia particular in -teresse pelo simples facto de se tratar de um artefactoromano. Presumivelmente, o mesmo Gama Xaro tam -bém tratou o tema, nas páginas dos Annaes da So-ciedade Archeologica Lusitana, mas sem continuar aencontrar uma explicação para a rara morfologia dasânforas que, ainda assim, não deixa de ilustrar comum exemplar da forma Almagro 51c e outro, incompleto,talvez da forma Sado 1 (S/ AUTOR, 1851: 39-42 e Es-tampa).Em qualquer destas ilustrações, conseguimos reconhecerfacilmente ânforas lusitanas, certamente saídas dasolarias sadinas, por se encontrarem em Tróia. Contudo,não parece haver consciência de que se trataria deartigos da artesania local, menos ainda da relevânciade que se revestiria o seu estudo. Nas páginas dosAnnaes lê-se: “Os vasos cujos desenhos apresentamosneste numero, achados nas excavações das ruinas

Figuras 1 e 2 –À esquerda, lucerna recolhida por Frei Manoel do Cenáculo Villas-Boas (Museu de Évora).

Em cima, ânfora do tipo Dressel 14,proveniente de Tróia (segundo XARO, 1860).

de Cetobriga, poderão dar uma quase perfeita ideiado próprio talhe das amphoras gregas e romanassa hidas das oficinas cerâmicas de Corintho, Samos,Chio, Athenas e Sagunto, e tantas outras cidades fa -mosas e florescentes neste tracto de industria e com -mercio” (IDEM: 42). O autor recenseava algumas dasmais conhecidas áreas de fabrico de cerâmica antiga,partindo da informação literária, sem admitir quetambém estas “menos famosas” paragens ocidentaispoderiam ter conhecido o florescimento de tal acti-vidade.Por estes dados, podemos verificar que, por manifestaincapacidade de os explorar na sua extensão, a apre-sentação justificava-se pelo simples facto de se tratarde cerâmica romana. Há todavia uma outra dimensãoque se revela deveras interessante. Na apresentaçãoda lucerna da Fig. 1, atendendo à iconografia, FreiMa noel do Cenáculo identificou uma cena bíblica,que descreveu e valorizou, como demonstração daremotíssima antiguidade do Cristianismo no ocidenteda Península Ibérica. Contudo, décadas depois, umou tro eclesiástico, o padre Gama Xaro, perante ele -mentos muito mais expressivos, simplesmente nãovalorizou este dado. Foi nas intervenções de 1850, promovidas pela So -ciedade Archeologica Lusitana em Tróia, que se re -colheu uma peça “de barro saguntino – um pratogrande, quebrado, mas concertado [sic] com gatosde chumbo” (ANNAES…, 1851: 36), devi-damente documentado na Estampado terceiro fascículo dos Annaes(Fig. 3). Trata-se de um exemplarda forma Hayes 103a, com de-coração no fundo interno cons-tituída por três pombas (motivo195 de Hayes?), rodeando cruz(motivo 311c ou d), no estiloE(ii) de HAYES (1972: 157-160[para a forma 103]; 222, 259 e277 [para o estilo e motivosde corativos]) – MNA n.º 16866(Fig. 4). O exemplar apresentauma reparação antiga e, pa-rafraseando o texto de autordesconhecido no mencionadofascículo, “o nosso prato é pro -priamente de barro saguntino,

O Contributo dos Estudos Cerâmicos para a História da Presença Romana no Ocidente da Península Ibérica

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Figura 3 – Ânforas eoutras cerâmicas de Tróia(segundo ANNAES…,1856: estampa).

Figura 4 – O prato desigillata clara D de Tróia,representado na estampada figura anterior.

Desenho: Dario Sousa, Arquivo de desenho do MNA B-16.

Foto: João Almeida (MNA).

e tem alguns gatos de chumbo, notáveis pela suamonstruosidade: é mister reconhecer que este trabalhodos antigos é muito imperfeito” (ANNAES…, 1851:36). Ao contrário do verificado no texto de Cenáculo,estas iconografias de evidente simbólica cristã sim-plesmente não foram valorizadas pelo eclesiástico,que já não buscava nos areais de Tróia os testemunhosremotos do Cristianismo português, mas tão-somentepôr a descoberto ruínas e recolher objectos de épocaromana. Em outra perspectiva, poderíamos dizer quepara Cenáculo a observação / estudo do artefacto fun -cionou como mezzo, ou seja, como forma de extrairdo mesmo informações relevantes para a história doocidente peninsular, enquanto para Gama Xaro a des -crição do prato de Tróia constituía somente um fine,na acepção de Lamboglia, apresentar um prato roma -no decorado, mas mal reparado.Por este pequeno exemplo, podemos compreenderque o questionário histórico de cada autor conduzianaturalmente à valorização de determinados aspectosdo registo arqueológico, independentemente do realconhecimento dos artefactos encontrados. Um outro bom exemplo pode ver-se na obra de Mar -tins Sarmento, um dos ilustres pioneiros da Arqueologiaportuguesa. Nos seus estudos, Sarmento buscava ex -plicitamente a caracterização dos lusitanos, entendidoscomo os remotos antepassados dos portugueses ou,como explicou em carta endereçada ao seu amigoPe reira Caldas, “procurar elementos que me guiassemmais seguramente que os livros no problema dasnos sas origens étnicas”. Reconhecia os vestígios ma -teriais como fontes privilegiadas para o esclarecimentode questões ininteligíveis pelo recurso a outras fon -tes, e o método arqueológico como o mais adequadopara a sua construção. Nas suas pesquisas, buscavao genuinamente pré-romano e, por isso, valorizoumais o Castro de Sabroso do que a Citânia de Bri tei -ros, uma vez que “Sabroso apresenta-se sem esta sus -peição [a da presença de influências romanas] Fal -tam aqui as telhas, as ânforas, a louça aretina [...], alouça marcada, as inscripções – tudo isso que na Ci -tânia era lançado à conta da incómoda influênciaromana” (SARMENTO, 1933 [1879]: 22). Registava esabia o que definia uma presença romana: telhas, ân -foras, louça aretina, louça marcada e inscrições, detodas fez abundante recolha e minucioso registo fo-tográfico, como se pode ver no website que conserva

e valoriza o seu legado – http://www.csarmento.uminho.pt/sms_42.asp. Contudo, a cerâmica romananão constituía para si um particular objecto de es -tudo, ou seja, nem fim, nem meio, a não ser o de po -der descartar do perímetro dos seus interesses sítiose contextos onde ela estava presente.Uma outra questão diz respeito ao reconhecimentoe interpretação do registo arqueológico, por um la -do, e à percepção do que com o mesmo se pode fa -zer. Nestes domínios, Leite de Vasconcelos, esse ou -tro dos grandes pioneiros da Arqueologia portuguesa,deixou notória marca.Desde sempre, o fundador do Museu Ethnologicore velou particular interesse pelas ânforas. Logo noprimeiro volume do periódico que fundou, O Ar -cheó logo Português, dedicou atenção ao tema, es-tabelecendo comparação entre ânforas e bilhas alen-tejanas, propondo que as segundas se tivessem ins -pirado nas primeiras, sugerindo que “a perda do bi -co terminal tornou o vaso de uso mais commodo”(VASCONCELOS, 1895b). Neste caso, recorrendo à ân - fora da Herdade do Celão, Mombeja, estabelecia onexo entre artefacto arqueológico e etnográfico, se -guindo a sua linha de investigação, que buscava naarqueologia a explicação do dado etnográfico, semdeixar de sublinhar que ambas (ânfora e bilha) se con -servavam no Museu Municipal de Beja (Fig. 5).

FABIÃO, C.

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Figura 5 – Ânfora e bilha alentejana(segundo VASCONCELOS, 1895b).

Em 1896, Vasconcelos procedeu à escavação de umforno cerâmico e depósito de ânforas no Algarve,lu gar de S. Bartolomeu de Castro Marim, a primeiraintervenção conhecida em uma olaria romana no oci - dente da Península Ibérica. O forno, que se en con -trava em excelente estado, foi cuidadosamente de-saterrado, registado e de novo coberto para asse gu -rar a sua conservação. Nas imediações, foi identifica -do e escavado um depósito de ânforas, associado àolaria e entendido como testemunho da sua laboraçãoe não vestígio de adega ou armazém de alimentos(VASCONCELOS, 1898: 333-334) (Fig. 6). Depois dere colher um lote destas ânforas para o Museu, Vas-concelos remata o seu estudo dizendo: “As doze am -phoras que consegui extrahir, e que, como disse,

trou xe para o Museu Ethnologico Português, constituemneste uma secção importante da epocha luso-romana,por serem todas de uma localidade, e saídas de umasó oficina. Com ellas estão os outros fragmentos ce-ramicos e tijolos de que falei a cima. Todos estesobjectos podem servir de ponto de partida para oes tudo dos objectos análogos, e tambem para o co-nhecimento de relações que por ventura houvessenaquela entre a estação industrial de S. Bartholomeude Castro Marim, e vários pontos do país, sobretudodo Sul” (IDEM: 335). O comentário é notável. Vasconcelos percebeu o po - tencial e alcance do seu estudo: havia identificadouma olaria e os seus produtos e, partindo desse acer -vo, poderia ensaiar a indagação e o registo da sua

O Contributo dos Estudos Cerâmicos para a História da Presença Romana no Ocidente da Península Ibérica

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Figura 6 – Forno e depósito de ânforasde S. Bartolomeu de Castro Marim

(segundo VASCONCELOS, 1898).

dis persão. A razão por que se quedou pelo meroenunciado é fácil de entender: à época, não se en -contrava ainda difundida nenhuma sistematizaçãoformal de ânforas romanas, nem se sabia de factoque tal pudesse existir. É certo que já Dressel tinhapublicado a sua primeira tabela de formas, em re sul -tado das escavações dos depósitos de Castro Pretorio(1879), mas não havia ainda a célebre figura do CILXV, publicada somente em 1899 e, acrescente-se, sómuito mais tarde devidamente valorizada e utilizada,quando se percebeu o verdadeiro carácter de valor“universal” da proposta do sábio alemão. Até então,a variabilidade formal das ânforas era sobretudo en-tendida como resultado de localismos, de particula-ridades regionais, daí a ideia de buscar no sul dePor tugal a área de dispersão dos artigos de CastroMarim.Deve também valorizar-se a capacidade demonstradapor Leite de Vasconcelos para entender a naturezada olaria e do seu depósito. Recorde-se que, pelames ma época, A. dos Santos Rocha explorou o queinterpretamos hoje como entulheira de uma olariaromana, sem se aperceber do que se tratava, toman-do-a por cella uinaria (ROCHA, 1895: 201-203; FABIÃOe ARRUDA, 1990). De igual modo, Vergílio Correia,profundo conhecedor dos vestígios arqueológicos dobaixo Sado e região de Alcácer do Sal, não interpretoucorrectamente os extensos vestígios de entulheirasdas olarias de época romana das margens do rio,avançando uma outra explicação para as acumulaçõesde fragmentos cerâmicos: “Nas margens do Sado,per to de Alcácer do Sal, divisam-se por vezes volu -mo sas acumulações de ânforas partidas. Supomostratar-se de cais de embarque das villae rusticae,obe decendo a sua formação aos mesmos motivosque criaram o Testaccio, de Roma” (CORREIA, 1928:288). Anos depois, corrigiu parcialmente essa observa -ção escrevendo: “Os cais de embarque, rio acima, es -tão marcados ainda pelo amontoado de ânforas par -tidas rebordando os desaparecidos pontões. Oficinasde oleiros e fornos [...] perduram perto da corrente,como anexos das villae rusticae” (CORREIA, 1930[1972]: 130).Aparentemente, nem Vasconcelos, nem Correia re ti -veram a notícia publicada por Joaquim Correia Bap -tista, nas páginas de O Archeólogo Português, iden-tificando duas grandes olarias sadinas, na Herdade

da Barrosinha e na Xarrouqueira: “A avaliar pelagrande quantidade de pedaços que em ambos ospretensos fornos se encontram, bem notaveis deveriamser aquelles estabelecimentos de industria ceramica”(BAPTISTA, 1896: 7). Anos mais tarde, José Leite de Vasconcelos voltou aocupar-se de ânforas romanas, a propósito de umde pósito aparecido em Mértola (VASCONCELOS e SA,1905; FABIÃO, 1987). Não deixou de relacionar estarealidade arqueológica, que não observou directamen -te, já que a intervenção foi realizada por Bernardo deSá, à época funcionário ao serviço do Museu (Fig. 7),com essa outra de Castro Marim. Sublinhou, porém,que: “ao passo que junto do de Castro Marim se en-controu o proprio forno em que as amphoras se fa-bricaram, no de Mertola não se encontrou nada desemelhante” (VASCONCELOS e SA, 1905: 96). Já en -tão conhecedor dos trabalhos de Jorge Bonsor noGuadalquivir, o fundador do Museu Ethnologico não

FABIÃO, C.

A Olaria Romana: seminário e ateliê de arqueologia experimentalRoman Pottery Works: international seminar and experimental archaeological workshop

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Figura 7 – As ânforasrepublicanas do depósito

de Mértola (segundoVASCONCELOS e

SA, 1905).

deixou de sublinhar uma analogia entre os materiaisde Castro Marim e Mértola: “Num caso e noutro osdepositos ficavam perto do Guadiana, por onde asamphoras facilmente se expediam para longe” (IDEM:ibidem); de novo se esqueceu das olarias sadinas,que constituiriam outro bom exemplo. Não pareciaocorrer a Vasconcelos que, tal como facilmente se ex -pediam, facilmente se receberiam, quando se tratava(como é o caso) de materiais importados.Em Viana do Alentejo, Vasconcelos recebeu a ofertade uma outra ânfora, claramente um exemplar dotipo Dressel 14, presumivelmente de fabrico lusitano,que registou nas páginas de O Archeólogo Português(Fig. 8). Partindo da sua larga experiência de campo,escreveu: “No sul do reino apparecem bastantes am -phoras inteiras; não assim na Beira ou no Norte, on -de o que vulgarmente se encontra são bicos, asas,gargalos, bocaes ou pedaços de bojo. É bom, comtudo,coligir sempre estes fragmentos, porque com elesmuitas vezes reconstituem-se typos. As amphorasdo nosso país são de diferentes typos, como é na -tural; a essas diferenças corresponde não raro a dobarro. As asas, só por si, podem constituir documentosarcheologicos de certa importancia, quando conteminscripções (marcas de oleiros): há especimes d’estesno Museu Ethnologico, obtidas por Estacio da Veigano Algarve; o Museu de Alcacer do Sal também pos -sue um” (VASCONCELOS, 1904: 278-279). Registe-secomo se ia apercebendo do elevado potencial de in-formação deste tipo de artefactos: diferentes tipos efabricos (diferença do barro), interesse em coligirmes mo os fragmentos, para eventual reconstituiçãotipológica, riqueza dos elementos epigráficos. Faltavaporém um mais robusto acervo de informação paraque se pudesse tirar efectivo partido desse potencial– intuído, mas não explorado.A atenção concedida às ânforas não tinha corres-pondência com a chamada cerâmica comum. Pores ta época, por iniciativa do Museu Ethnologico,rea lizaram-se escavações em diferentes sepulturas,como a dita de Gala, em Tróia, e necrópoles romanas,como a de Rouca, Alandroal, ou Fraga, Marco de Ca-naveses. Em ambos casos, a escavação foi suficiente -

mente criteriosa para registar os espólios votivosde positados em cada sepultura. Contudo, o temanão mereceu mais do que um brevíssimo apontamentonas páginas de Religiões da Lusitania: “Das excavaçõesfeitas por pessoal do Museu Ethnologico em Troia deSetubal, na Rouca (Alandroal), e na Fraga (Feira Nova:Marco de Canaveses) podemos inferir que os cadávereseram incinerados junto das sepulturas, e que dentrod’estas se recolhiam os restos mortuários, colocan-do-se-lhes ao pé vasilhame, lucernas, objectos de ves -tuário, moedas, etc.” (VASCONCELOS, 1913: 370-371).Aparentemente, só interessava de facto documentara natureza do rito funerário e a presença de espóliosdatantes, com especial referência para as moedas,uma vez que os restantes materiais não possuíamainda esse potencial, parecendo irrelevante a descriçãosistemática do restante depósito votivo, que nemera objecto de representação gráfica – no casoconcreto da necrópole da Fraga, de que existem fo-tografias, desenhos e inventário dos conteúdos das

O Contributo dos Estudos Cerâmicos para a História da Presença Romana no Ocidente da Península Ibérica

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Figura 8 – Ânfora do tipo Dressel 14, de presumível origemlusitana, da Herdadedo Palanque, Viana do Alentejo (segundoVASCONCELOS, 1904).

sepulturas (Fig. 9), no dito volume usa-se somentecomo ilustração uma gravura feita a partir de uma fo -tografia representando a caixa funerária, ainda coma respectiva cobertura, sem deixar ver o seu interiore respectivo conteúdo (IDEM: ibidem).Santos Rocha, nas suas investigações algarvias, re-velou-se sempre mais atento à divulgação dos es pó -lios cerâmicos encontrados quer em sítios de habitat,quer nas sepulturas romanas que escavou, represen-tando-os graficamente, como se pode ver nas ilus -trações do seu relatório, publicado nas páginas de OArcheólogo Português (ROCHA, 1895) (Fig. 10). Mas,uma vez mais, faltava um maior volume de informaçãode referência para que se pudesse ultrapassar o me -ro enunciado e apresentação.

FABIÃO, C.

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Figura 9 – Representação gráfica e inventárioda escavação realizada na necrópole da

Rouca. Marco de Canaveses, conservada noMuseu Nacional de Arqueologia (segundo

FABIÃO, DIAS e CUNHA, 2008).

Figura 10 – Espóliocerâmico da necrópole

romana de Fonte Velha,Bensafrim (segundo

ROCHA, 1895: fig. 9).

Foi somente nas primeiras décadas do século XXque a abordagem de Vasconcelos começou a mudare se verifica uma real valorização dos materiais quecompunham os depósitos fúnebres. Sirva de exemploo caso da sepultura de Gala (Tróia). Sabemos que aescavação se realizou em 1895, com directa intervençãode Maximiano Apolinário, tendo os materiais dadoen trada no então Museu Ethnographico Português(VASCONCELOS, 1895a: 221). A epígrafe foi tratadapor mais de uma vez, tanto nas páginas de O Archeó -logo Português como em Religiões da Lusitania (VAS -CONCELOS, 1913: 370). Contudo, a efectiva publicaçãodo espólio funerário foi somente concretizada muitotempo depois, com as respectivas ilustrações (VAS-CONCELOS, 1929).Creio poder inferir que seria o contexto geral dasno vas tendências de estudo que estimulou a mudança.Percorrendo as páginas de O Archeólogo Português,temos a sensação de que não seria já concebíveldeixar de ilustrar as cerâmicas encontradas no interiordas sepulturas. Sirva de exemplo a publicação da ne -crópole de Parada Todeia, Paredes, por Mendes COR -REIA (1923-1924). Mesmo a chamada cerâmica comumcomeçava a merecer mais particular atenção, tornan -do-se efectivo objecto de estudo, como se vê nasnótulas “ceramográficas” do malogrado Rui de SerpaPinto, um autor que revelava particular atenção àsnovas orientações da investigação (PINTO, 1929). A sensação geral que temos quando se aborda ahis tória das investigações arqueológicas em Portugal,é a de um relativo impasse ao longo das primeirasdécadas de um conturbado século XX. Por um lado,as ideologias nacionalistas prevalecentes tornam pou -co popular o estudo dos vestígios romanos, em de-trimento dos pré e proto-históricos; por outro, pare -cem multiplicar-se as dificuldades de publicação: so -çobrou na primeira década o projecto da revista Por -tvgalia, do Porto, associada a um dos mais dinâmicosgrupos de investigação da época; a revista O Ar cheó -logo Português começa a conhecer números duplose de edição espaçada a partir de 1918 até ini ciar a No -va Série, em 1951; a Revista de Guimarães, que nãose publicou entre 1913 e 1921, não assumira ainda ocarácter de publicação de forte pendor arqueológico,que a partir da década de 50 veio a adquirir; a As -sociação dos Arqueólogos Portugueses, já desfeita asua ligação aos arquitectos civis, iniciou a sua série

Arqueologia e História em 1922, mas revelandoescassa atenção aos temas de cerâmica romana. Estepanorama de dificuldade ou de linhas editoriais ex -plica e justifica a extraordinária dispersão de artigospelos mais díspares periódicos, dificultando sobremaneiraqualquer estudo sobre as tendências da investigação,valendo para o efeito as utilíssimas resenhas biblio -gráficas de Eduardo Pires Oliveira (OLIVEIRA, 1984;1985; 1993).Com as limitações inerentes a este tipo de abordagem,consultando os índices destes volumes, encontramoscerca de duas dezenas de referências para ânfora oucerâmica (não especificada) e cerâmica romana, du -rante o período que se estende do século XVI a 1934(OLIVEIRA, 1993: índices), não se registando diferençasignificativa no número de referências para o períodode 1935 a 1969 (OLIVEIRA, 1984: índices), em clara de -monstração da nula relevância que o tema tinha nosestudos publicados.Alguma diferença se vai tornando perceptível na dé -cada de 50, com a entrada em cena de novos inves-tigadores.

2. A lenta renovação da década de 50 do século XX

Na Península Ibérica, os cursos de Verão de Ampúrias,onde pontuou Nino Lamboglia, assumem um papelfundamental no desenvolvimento dos estudos ce râ -micos. Foi explicitamente a partir dessa experiênciaque J. M. Bairrão Oleiro iniciou o levantamento decarácter sistemático das marcas de terra sigillata do-cumentadas em Portugal (OLEIRO, 1951: 82). Fazia-oporque o estudo destas cerâmicas “se reveste de umaimportância muito particular, pelos elementos cro-nológicos, económicos e artísticos que fornece” (IDEM:ibidem), em claro eco da lição de Lamboglia. Revelan -do uma vez mais os seus objectivos, Oleiro deu à es-tampa um novo trabalho com o expressivo título: OEstudo da “Terra Sigillata” como Auxiliar das Inves ti -gações sobre a Romanização do Território Português(OLEIRO, 1953). Assumidamente, seguia na senda dacerâmica como fine, mas também como mezzo paraestudo e compreensão de fenómenos históricos maisamplos.No primeiro artigo publicado, Oleiro referia os parcosantecedentes do seu esforço: breves notas de Hübnerno CIL, referência de Vasconcelos em De Campolide

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a Melrose, as notas do malogradoRui de Serpa Pinto, que publicara asmarcas de sigillata de Briteiros, e umanota de Eugénio Jalhay sobre umamar ca da Citânia de Sanfins. Muitopou co, portanto (OLEIRO, 1951: 82--83), embora omita na sua abordagem,provavelmente por lapso, os trabalhosque Russell Cortez vinha realizandono Norte de Portugal e que, por essamesma altura, publicava em revistasregionais. Visto de fora, o panoramaera: Oleiro e Cortez renovando os es-tudos sobre a terra sigillata em Portugal,como escreveu J. Maluquer em brevenota na revista Zephyrus, de Salamanca(MALUQUER DE MOTES, 1952).Ao longo da década de 50, os estudossobre cerâmica romana, particularmentea terra sigillata, reuniram Bairão Oleiroa Abel Viana e a Fernando Nunes Ri-beiro. Este último, identificou e recolheuum ingente número de fragmentosce râmicos nos arredores de Beja, porrecolhas de superfície ou, presumi-velmente, pela acção combinada destascom algumas escavações mais ou me-nos pontuais – para não carregar ex-cessivamente de referências estasbreves páginas, remeto o leitor inte-ressado para o repertório bibliográficojá citado (OLIVEIRA, 1984) e para a pu -blicação moderna do acervo bejense(LOPES, 1994). A biblioteca de FernandoNunes Ribeiro foi adquirida pelo Ins -tituto Arqueológico Alemão de Lisboae encontra-se presentemente na Bi-blioteca de Arqueologia da Ajuda (DGPC), pelo quese torna possível perceber o notório esforço de ac-tualização da informação que realizou por essesanos. A aproximação a Bairrão Oleiro resultou porcerto de se tratar de um dos investigadores portuguesesque trabalhava o tema nos moldes então ensaiadospor Lamboglia. A relação pessoal com Abel Viana fe -chava o círculo.

De este último impõe-se sublinhar a realização ouacompanhamento de diversas escavações em necrópolesromanas no Alentejo, com breve incursão a Pedrasd’El Rei, no Algarve – uma vez mais, para não mul ti -plicar as citações, remeto os interessados para o jácitado repertório bibliográfico (OLIVEIRA, 1984). Viana foi um prolixo autor, com um diversificadíssimocampo de interesses, onde a cerâmica romana so -

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Figura 11 – As típicas ilustrações de Abel Viananas publicações sobre necrópoles romanas

(segundo VIANA e DEUS, 1955).

men te ocupava pequeníssima parte. Haverá a registar,sobretudo, o cuidado que colocou nas escavaçõesque empreendeu e meticulosamente documentouem desenho e fotografia. Consultando a sua obra,en contramos abundantes registos dos conteúdosdas diferentes sepulturas escavadas em cada necrópoleromana, uma imensa profusão de pequenas fotografiasdas peças – uma estratégia de ilustração decorrente

das evidentes dificuldades finan-ceiras que rodeavam os seus tra-balhos –, suscitando não poucasdúvidas, pelos desencontros ve-rificados entre a atribuição de procedência de cada indivíduonos seus múltiplos artigos (Figs.11 e 12). Provavelmente, só mesmoo regresso aos materiais e ao seuestudo sistemático poderá permitiralgum esclarecimento.De um ponto de vista dos métodosensaiados, Viana não estava longeda tradição de Vasconcelos – com -parem-se as Figs. 9 e 11-12. Do-cumenta os conteúdos por se-pultura e sua distribuição no in-terior de cada, recolhe e fotografaos materiais e promove a realizaçãode alguns desenhos “realistas”,ao estilo habitual dos fins do sé -culo XIX / primeira metade doXX. Não foi particularmente ino-vador, embora tenha sido muitoactivo.A década de 50 revela ainda umarenovada atenção ao universodas lucernas romanas. Contudo,o evidente “caos tipológico” emque o estudo destes produtos seencontrava, não incentivava gran-des iniciativas. Bairrão Oleiro pu-blicou alguns materiais de museus,foi concedida atenção ao grandeconjunto identificado em Pero-guarda, por Abel Viana e Nunes

Ribeiro, e A. Ferreira de Almeida consagrou ao temadas lucernas romanas em Portugal a sua tese deDoutoramento, um trabalho meticuloso e bem in -for mado (ALMEIDA, 1953). No entanto, à se melhançado que anteriormente sucedera com Vergílio Correia,com o tempo, o autor orientou os seus inte resses deestudo para a História da Arte, deixando de se ocu -par de temas arqueológicos.

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Figura 12 – As típicas ilustrações de Abel Viananas publicações sobre necrópoles romanas(segundo VIANA e DEUS, 1955).

Percorrendo as páginas da Nova Série de O ArqueólogoPortuguês, ainda a principal publicação de referêncianacional, nada se encontra sobre cerâmicas romanas,para lá dos trabalhos de Ferreira de Almeida sobrelu cernas.Como atrás se referiu, foi durante esta década que arevista da Sociedade Martins Sarmento (Revista deGuimarães) assumiu um pendor mais declaradamentearqueológico, sob a direcção de Mário Cardozo. Ope riódico, com um título enganadoramente regionalista,acolheu múltiplos trabalhos de investigadores nacionaise estrangeiros, assumindo-se como a mais relevanterevista de Arqueologia portuguesa. Nos diversos ar -tigos publicados nas suas páginas encontramos re-ferências a cerâmicas romanas, normalmente repre-sentados em fotografia, e é justamente nas suas pá -gi nas que encontramos, no final da década, um fun-

damental artigo que, pode dizer-se, marca a viragemdo estudo e publicação das cerâmicas romanas. Re-firo-me concretamente ao estudo que Adília Alarcãodedicou à terra sigillata hispânica dos museus doNor te de Portugal (ALARCÃO, 1958). Neste texto en-contramos não somente o estudo detalhado e infor -mado dos exemplares depositados nos museus, mastambém o novo método de representação das cerâ -micas em desenho da vista frontal e secção, bemcomo a representação igualmente frontal e de perfildos fragmentos decorados, já anteriormente usadopor Russell CORTEZ (1951), mas ainda pouco difundido(Fig. 13).Fechando esta década, veio a Portugal, em 1958,Howard Comfort, que por aqui tinha passado em1940, para observar cerâmicas romanas do MuseuEtno lógico, como o próprio narra, registando o que

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Figura 13 – A primeira publicação nos moldes actuais de cerâmicaromana (segundo ALARCÃO, 1958).

lhe parecia então um “notable increase of interest in,and knowledge of, the Roman pottery of the IberianPeninsula” (COMFORT, 1959: 1). Visto à distância e emplano de síntese, sinto alguma dificuldade em par -tilhar o encomiástico optimismo comfortiano. Con -tudo, esse é provavelmente um defeito (ou erro) tí -pico de uma qualquer síntese retrospectiva como aque aqui se ensaia: a aparente modéstia das iniciativas,quando olhadas a posteriori e na longa duração, queassim não eram vistas por quem com elas se deparavavindo de um passado ainda mais cinzento.O artigo foi publicado no número inaugural da re -vis ta Conimbriga, uma nova publicação arqueológicaportuguesa que se constituiria como referência fun-damental da arqueologia romana ao longo das dé -ca das seguintes, sobretudo pela acção de alguns au -tores que ensaiaram a publicação dos seus primeirosestudos na década de 50, mas ganhariam maior no-toriedade nas décadas seguintes.

3. Na década de 60: um novo incremento

Na história dos estudos de cerâmica romana em Por -tugal, Conimbriga constitui sem dúvida uma das maisrelevantes palavras-chave. De facto, nas páginas darevista desse nome verificamos o novo impulso da in -vestigação, em boa parte associado ao projecto luso--francês de investigação da cidade romana do mesmonome. Sublinhe-se, porém, que foram sobretudo osportugueses os obreiros da renovação dos estudosce râmicos.Logo no segundo número da revista (um númerodu plo, revelador das dificuldades de edição registadasde há longa data na comunidade científica portuguesa),Adília Alarcão prossegue a publicação dos seus es -tu dos sobre terra sigillata, dedicando atenção à co -lecção do Museu do Paço Ducal de Vila Viçosa, re -sultante das escavações de Abel Viana nas necrópolesalentejanas (ALARCÃO, 1960-1961).Creio poder considerar-se um importante marco nes -ta nova tendência de estudos o quinto volume da re -vista Conimbriga, integralmente dedicado à necrópoleromana de Valdoca, Aljustrel, criteriosamente escavadapor Veiga Ferreira e Freire de Andrade (1966), cujo es -

pólio foi estudado por Jorge e Adília Alarcão (1966).Trata-se do primeiro estudo sistemático de uma ne-crópole romana, considerando o conteúdo de cadadeposição fúnebre e, sobretudo, a totalidade do es -pó lio votivo depositado, em boa parte constituído porcerâmica comum, sem valorizar especialmente qualquerdas categorias de artefactos. As associações contextuaisdestes materiais com as cerâmicas de grande circulaçãorevelam-se particularmente importantes, e todo o ma -terial aparece representado segundo a norma gráficaque ainda hoje se utiliza nos estudos de cerâmica. Es -tes dois autores desenvolveram também, ao longo dadécada, uma notável actividade de publicação de in -formação cerâmica gerada no decurso de escavaçõesrealizadas por outros investigadores, como no Casteloda Lousa, Mourão, ou na villa romana dita de Cardílio,Torres Novas, ultrapassando as habituais ilustraçõesde fotografias de fragmentos cerâmicas que constituíama norma dos estudos anteriores. Começam tambémos mesmos autores a publicar materiais cerâmicos deConimbriga, secundados por Manuela Delgado, quededicou especial atenção às cerâmicas finas tardias,concretamente à sigillata clara (DELGADO, 1967), bemantes da grande publicação de John Hayes, quandoos trabalhos de Lamboglia constituíam ainda a prin -cipal referência.A ligação destes três autores a Bairrão Oleiro e aoprojecto de estudo da cidade de Conimbriga desenhaaquilo a que poderemos chamar um primeiro esboçode “escola” de investigação, que cresceu e robusteceuna década seguinte, como haverá oportunidade deco mentar.Ao que julgo saber, Adília Alarcão foi também a pri -meira investigadora portuguesa a participar em umareunião da Associação Rei Cretariae Romanae Fautorum,a oitava, com um estudo preliminar sobre a cerâmicade Braga (incluindo a chamada “bracarense”), numassinalável esforço de internacionalização (ALARCÃO,1966), infelizmente, sem continuidade. De um modogeral, até há bem pouco tempo, as relações internacionaisda investigação portuguesa viviam mais da presençaentre nós de investigadores estrangeiros do que daparticipação nacional em projectos ou encontros cien -tíficos além-fronteiras.

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Merece ainda um comentário a identificação e estudodas olarias de época romana. De facto, ao longo des -ta década regista-se o aparecimento de algumasolarias, que suscitaram diferentes abordagens. Os re -motos antecedentes eram escassos. O já comentadoforno de ânforas de S. Bartolomeu de Castro Marim,identificado e estudado por Leite de Vasconcelos, al guns fornos, principalmente de material de construção,observados e descritos por Santos Rocha, nas ime -diações da Figueira da Foz (ROCHA [1897], 1975), e assempre esquecidas ou desvalorizadas menções deBaptista às olarias sadinas. Na década de sessenta doséculo XX multiplicaram-se as re fe rências, sem quetodavia se possa dizer que o tema suscitasse particularinteresse.Partindo da escavação de um forno de materiais deconstrução de Idanha-a-Velha, Fernando de Almeidae O. Da Veiga Ferreira ensaiam o inventário das ola -rias romanas documentadas no ocidente da PenínsulaIbérica (ALMEIDA e FERREIRA, 1968), voltando ao te -ma aquando da descoberta e primeira publicação daolaria da Herdade do Pinheiro, em Alcácer do Sal (AL -MEIDA, ZBYSZEWSKI e FERREIRA, 1971). Se a escavaçãodo forno de Idanha se ficou pelo registo do mesmoe a identificação da sua funcionalidade, associada àprodução de material de construção, nos fornos doPinheiro a atitude afigura-se distinta. Relacionam aolaria com o grande complexo da Península de Tróia– “estamos convencidos que muita da cerâmicausada em Tróia foi cozida nestes fornos” (IDEM: 164)– e anunciam a intenção de realizar ali escavaçõespara melhor entender as relações entre ambos sítios(IDEM: ibidem), uma vez que, em sua opinião: “A ce -râ mica encontrada nas entulheiras nas vizinhançasdos fornos grandes do Pinheiro é toda do tipo do -méstico ou industrial […] Pela espessura e extensãodestes restos pode supor-se que os fornos trabalharamimenso tempo” (IDEM: ibidem). A imensidão temporalintuída limitava-se, porém, “até ao século IV porque apartir dessa época começa a decadência em Tróia eem todos os estabelecimentos conserveiros do oci -dente peninsular” (IDEM: ibidem), num claro registoapriorístico que valorizava a “decadência” tradicio-nalmente associada à tardo-antiguidade. Contudo,as escavações não chegaram a realizar-se. De salientaro facto de, pela primeira vez, se estabelecer uma re -lação entre as olarias e a produção de preparados de

peixe de Tróia, rompendo com a antiga ideia de Ver -gílio Correia de serem estas as olarias das villae lo -cais, destinadas a receber os seus produtos.Das restantes olarias inventariadas e cartografadaspouco haverá a dizer, na medida em que somente anosmais tarde foram objecto de estudo mais de ta lhado,como é o caso das olarias de Alcácer, re cu perando ainformação de Correia Baptista, ou do Mon te da Abula(= Abul); da olaria de Sines, que Dias Dio go valorizouanos mais tarde no Colóquio do Seixal, de 1991 (DIO -GO e COSTA, 1996), ou a do Martinhal, Sagres, comuma intervenção de emergência realizada muito tem -po depois, quando se verificava já acentuada degra da -ção do sítio (SILVA, COELHO-SOARES e COR REIA, 1990).Interessante, por outras razões, é o caso da olariado cumentada em S. Sebastião do Freixo, no âmbitodas escavações realizadas por Bairrão Oleiro e JorgeAlarcão em busca da cidade de Collippo (OLEIRO eALARCÃO, 1969). No local, foi ensaiado de modo ex -perimental uma prospecção não invasiva, com mag-netómetro de protões, por M. J. Aitken (IDEM: 8-9),uma absoluta novidade no contexto da arqueologiaportuguesa. Uma das anomalias identificadas cor-respondia a um forno romano, que foi escavado e de -vidamente registado, sem que tivesse sido possívelidentificar que materiais ali teriam sido produzidos.Os investigadores realizaram ainda uma nova campanhana área “na esperança de descobrir algum monte decacos” (IDEM: 11), o que se não veio a verificar, comonão se verificaram futuras campanhas de escavaçãoentão anunciadas.As olarias passaram assim a fazer parte dos horizontesda investigação, ainda que sem produzirem informaçãorelevante, fosse por permanecerem inéditas, comono caso de Sines, fosse por não terem fornecido asindispensáveis “entulheiras”, passíveis de enriquecera informação, como em S. Sebastião do Freixo, ousimplesmente por não ter existido um real investimentono estudo das suas produções, como ocorreu no Pi-nheiro, onde as entulheiras existiam, talvez porquese esperasse trabalhar de uma forma mais efectiva ainformação no contexto das anunciadas “futuras es-cavações”, que não chegaram a concretizar-se.Este multiplicar de actividades de diferentes grupose agentes, nos finais da década de sessenta, anunciavaa chegada da grande década da investigação nacionalsobre cerâmica romana.

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4. Os gloriosos anos setenta

A década de setenta do século XX constituiu semdúvida a grande fase de incremento e consolidaçãodos estudos sobre cerâmicas romanas, em boa partedevido ao amadurecimento e sofisticação do trabalhoda geração que iniciara a publicação de estudos emdé cadas anteriores, mas também pelo surgimento denovos agentes de dinamização destes estudos. Entreuns e outros as relações são mais ou menos evidentes,pelo que se poderá falar de uma “escola informal”de estudos cerâmicos, nascida, sobretudo, em Coimbra.A década está igualmente marcada pela afirmaçãomais consistente de uma linha arqueométrica noses tudos cerâmicos, onde J. M. Peixoto Cabral assumeparticular relevância.Em termos de ciclo, poderemos traçar uma linha cu-mulativa, que se inicia no II Congresso Nacional deArqueologia, realizado em Coimbra, em 1970, ondese ensaiou um balanço da década precedente (ALAR -CÃO e ALARCÃO, S/data [1970]), continuada pelo gran -de colóquio internacional A propos des céramiquesde Conimbriga, realizado em 1975, culminando na pu -blicação dos diferentes volumes monográficos dasescavações daquela cidade romana, concretamente,os volumes 4, 5 e 6. Central em todo este processo éo grupo Adília M. Alarcão, Jorge Alarcão e ManuelaDelgado, a que se somaram Françoise Mayet e Saleteda Ponte. Contudo, esta renovação dos estudos ce-râmicos assume verdadeiramente dimensões extra -or dinárias com a entrada em cena de investigadoresde outros âmbitos académicos e geográficos, comoJ. Rigaud de Sousa e Carlos Alberto Ferreira de Al -mei da, a norte, Elisabeth Cabral, Maria Maia, ManuelMaia, José Caeiro, Dias Diogo e Guilherme Cardoso,em Lisboa, Carlos Tavares da Silva, Antónia Coelho-Soares, Luísa Ferrer Dias e Joaquina Soares, em Se -tú bal, ou ainda Jeanette Nolen que, sem enquadramentoinstitucional, produziu trabalhos marcantes, tambéma partir desta década.Neste período, vão perdendo relevância algumas daspublicações periódicas tradicionais, como O ArqueólogoPortuguês, que de 1972 em diante publicou somenteum volume triplo, e a Revista de Guimarães, onde ostrabalhos sobre outros temas que não os estritamentearqueológicos se multiplicaram. Num balanço geralda década, são escassos os artigos que trataram de

ce râmica romana publicados nessas revistas. Aindaassim, algumas referências haverá a registar, como ostrabalhos de Maria Maia ou José Caeiro, no primeiro,ou os de Carlos Alberto Ferreira de Almeida, no se -gundo. A Associação dos Arqueólogos Portuguesesregista algum dinamismo, com a publicação da re vis -ta Arqueologia e História e pela realização das suasJornadas Arqueológicas, com três edições, onde têmescassa presença os estudos de cerâmica romana,excepção feita aos trabalhos de Maria Garcia PereiraMaia, José Caeiro e pouco mais. A década é, sem dú -vida, a da plena afirmação da revista Conimbriga e,de certo modo, de uma nova publicação periódica,Setúbal Arqueológica, saída a bom ritmo a partir dasegunda metade da década, de algum modo suprindoa ausência da publicação do Museu Nacional de Ar-queologia.O primeiro marco assinalável é o II Congresso Na -cional de Arqueologia, cujo segundo volume deactas apresenta uma notável lista de trabalhos. Ma -nuela Delgado efectuou o balanço dos conhecimentossobre cerâmica campaniense em Portugal, explorandodiferentes fundos de museus e classificando os exem-plares identificados, não deixando de chamar a aten -ção para a existência de imitações locais desta cerâ -mica de grande circulação (DELGADO, 1971). Adí liaMoutinho Alarcão realizou um balanço análogo paraa sigillata itálica, com uma robusta lista de materiaisconhecida em diferentes sítios arqueológicos (15 aotodo) e um extenso catálogo de marcas, e realiza ain -da uma boa análise do “estado da arte” destes es tu -dos além-fronteiras (ALARCÃO, 1971). Maria Garcia Pe -reira (mais tarde, Maia) apresenta uma amostra dasdiferentes categorias de sigillata de Mirobriga, a tí -tu lo de amostra (PEREIRA, 1971). Françoise Mayetocupou-se da cerâmica de “paredes finas”, “une descéramiques romaines les moins bien connues” deConimbriga (MAYET, 1971: 445), iniciando aqui umpercurso que a levaria a estudar de um modo maisabrangente estas cerâmicas na Península Ibérica. Ri -gaud de Sousa trata da chamada cerâmica “bracarense”em texto que revela os sólidos conhecimentos doautor e a correcta abordagem desta produção, ondenão falta a referência ao Prado, como fonte de ma-téria-prima, comprovada por análises (SOUSA, 1971),

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um primeiro interessante afloramento da via arqueo -métrica.A exposição intitulada Dez Anos de Actividade Ar-queológica em Portugal 1960-1969, realizada no âm -bito do Congresso, apresentava um panorama dasactividades desenvolvidas ao longo dessa década e,sobretudo, para o tema que nos interessa, incluía umarica mostra de cerâmicas romanas, com pequenostextos explicativos (ALARCÃO e ALARCÃO, S/data[1970]). Embora no painel com a referência de ca tá -logo “n.º 9 (6)” se apresentassem Ânforas de Tróiade Setúbal (sic) (IDEM: 86), a intenção parece ter sidomeramente ilustrativa, uma vez que nenhum textoou imagem se lhes dedicou no breve catálogo daex posição.Toda a atenção concedida à cerâmica romana expressano II Congresso Nacional de Arqueologia não encontracontinuidade no III, realizado no Porto, em 1973, on -de somente Maria Garcia Pereira Maia publica umimportante estudo sobre a sigillata foceense (entãochamada Late Roman C Ware, a partir da publicaçãode John Hayes) de Tróia, recuperada nas antigas es-cavações ali realizadas (MAIA, 1974). Provavelmente,a concentração no estudo dos materiais de Conimbriga,por parte de alguns dos mais activos investigadoresdesta década, explicará a escassez de comunicaçõesao Congresso.À margem do Congresso, embora pela mesma época,Carlos Alberto Ferreira de Almeida iniciou uma novaabordagem aos estudos cerâmicos, juntando na suaanálise a cerâmica indígena (“castreja”) com a cerâmicaromana, identificando mesmo produções locais queimitam as formas da terra sigillata, que consideravauma das suas categorias dentro das cerâmicas locais(Estilo E). Particularmente interessantes são as consi-derações que fez sobre este grupo que, claramente,situava em etapa cronológica anterior ao florescimentoda chamada “cerâmica bracarense”: “cerâmica de pas -ta e de aspectos técnicos castrejos mas onde se no -tam já nítidos sintomas de romanização. Isto acontecenão só quando se copiam tipos de cerâmica romanae suas modas decorativas, como quando, e isto emfase mais tardia e devido a mudanças económicas eculinárias, aparecem outras formas de cerâmica comoutras funções. Nestes aspectos as grandes novidades,relativamente à época castreja que passa a findar, sãoos pratos de cozinha e de comida, os jarros, as lu -

cernas, as imitações de sigillata aretina” (ALMEIDA,1974: 190).A longa citação justifica-se plenamente por revelar ariqueza de perspectivas do autor, que entende a ce -râmica como um meio privilegiado para captar astransformações culturais, justificando-se assim a con-sideração em uma mesma abordagem dos artigosda artesania local e as “imitações” de cerâmicas ro -ma nas, interpretadas como sintomas de um mundoque finda, dando lugar a outro. A cerâmica, na ópticade Carlos Alberto Ferreira de Almeida, constituía uminstrumento privilegiado de leitura dos processos detransformação e mudança. Nos estudos sobre os ma -teriais do Monte Mózinho, Almeida voltou ao tema,sublinhando a ligação entre formas cerâmicas e há -bitos alimentares em mudança, uma perspectivafrancamente inovadora (ALMEIDA, 1977). Na abordagem a esta década de estudos, merece es -pecial destaque o colóquio internacional A proposdes céramiques de Conimbriga, realizado em 1975(um tempo em que Portugal enfrentava outras preo-cupações nada arqueológicas), cujas actas foram pu-blicadas no volume 14 da revista Conimbriga. Oevento apresenta múltiplos aspectos notáveis. Desdelogo, a possibilidade de realizar um balanço da pre -sença e distribuição de algumas das grandes categoriascerâmicas no espaço hoje português e não somentena cidade romana de Conimbriga, constituindo umexcelente momento de reunião e debate que juntouos estudiosos portugueses com os principais autoresinternacionais. Em segundo lugar, justamente essaetapa de internacionalização absolutamente única,que trouxe até ao ocidente da Península Ibérica osin vestigadores internacionais de referência. Com esteColóquio, pode dizer-se, a Lusitania entrou de plenodireito no Império Romano, no que aos estudos ce-râmicos dizia respeito. Jorge e Adília Alarcão, ManuelaDelgado e Françoise Mayet foram autores das ex po -sições temáticas sobre cada categoria cerâmica, e alista de participantes nos debates é deveras impres-sionante: Comfort, Lamboglia, Carandini, J.-P. Morel,C. Goudineau, A. Vernhet, P. de Palol, P. A. Février, J.Hayes, F. Pallarés. Foi indubitavelmente uma etapade relevante afirmação da investigação portuguesae da sua integração nos circuitos internacionais – lis -ta de participantes em ALARCÃO e ETIENNE, 1975:157-159).

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A reunião científica, que se pretendeu ampla e abran-gente, deixou de fora duas categorias cerâmicas: asânforas e as lucernas, uma vez que “Les trouvailles eConimbriga, três fragmentaires pour les premières,plus abondantes pour les secondes, n’enrichissentguère ce que l’ont sait déjà de ce matériel” (ALARCÃOe ETIENNE, 1975: 6). Não seria exactamente assim. Oprincipal motivo estaria antes associado ao desen-volvimento específico de ambas áreas da ceramologiaarqueológica. Lucernas e ânforas, recorde-se, justamenteas categorias cerâmicas que de há longuíssima datamais atraíram os eruditos, encontravam-se, então, ain -da, em estado embrionário do conhecimento, comoadiante voltarei a comentar. Algumas décadas volvidas,as ânforas ganharam um novo protagonismo (e dis -so falarei mais adiante); as lucernas continuam à es -pera de voltar a ter a atenção que merecem – por serde elementar justiça, deve recordar-se os trabalhosde Claudette Belchior sobre as lucernas de Conimbriga,bem como os de Elisabeth Cabral sobre Tróia, Alcácerdo Sal ou Mirobriga, e ainda os de Adília Alarcão eSa lete da Ponte, em clara demonstração de que o te -ma não ficou propriamente esquecido (uma vez mais,veja-se as referências em OLIVEIRA, 1985).Das actas do encontro, com a sua imensa riqueza,des tacaria um par de temas, por demais importantes,justamente o que se prende com a destruição / aban -dono de Conimbriga e suas implicações nos estudoscerâmicos, e o do lugar da Lusitania no contexto doImpério Romano. O encontro aconteceu pouco depois da publicaçãoda grande síntese de John HAYES (1972), com as res-pectivas propostas cronológicas. Acontece que, paraa cidade lusitana, havia a célebre referência da Cró -ni ca de Hidácio de Chaves aos ataques suevos de465 e 468, o último dos quais supostamente devastadore definitivo, referências utilizadas para datar o que se -riam os níveis de destruição documentados no forume em outras zonas da cidade. Nesses níveis apareciamas formas tardias da sigillata clara D, datadas por Hayesem intervalos cronológicos posteriores aos dos men-cionados ataques. É interessante verificar como a dis -cussão girou em torno da rectificação das cronologiaspropostas por Hayes, com base nos dados arqueológicosde Conimbriga, “datados” pelas referências idacianas.Em claro fecho do círculo, A. Tranoy, nos seus co men -tários à edição da Crónica, dada à estampa nessa

mes ma época, referiu que as escavações de Conimbrigaestavam a demonstrar a veracidade do texto do fla -viense, pela identificação de um nível de destruiçãocorrespondente a estes ataques (TRANOY, 1974: 125).Assim, o texto de Idácio datava os níveis de destruiçãode Conimbriga, tal como os níveis de destruição dacidade confirmavam a notícia do bispo.O tema fez ainda correr tinta depois do Colóquio,mas, por fim, a cronologia das cerâmicas acabou portriunfar sobre a leitura, demasiado literal, da obra deIdácio de Chaves. Penso que o episódio é suficientemen -te expressivo de como (lentamente, é certo) o registoarqueológico e a cerâmica ganhavam estatuto defonte histórica credível na construção das narrativassobre o passado romano. Um outro aspecto importante da reunião científicaso bre as cerâmicas de Conimbriga consistiu na fortechamada de atenção para a plena integração do ex -tremo ocidente da Península Ibérica no Império Ro -mano, por apresentar a uma plêiade de especialistasinternacionais a boa representação das cerâmicas degrande circulação, desde época tardo republicana àAn tiguidade Tardia. Fazia sentido então insistir noforte carácter mediterrâneo do registo arqueológicoda cidade romana, em oposição às suas “raízes cél -ticas”, como se comentou.De entre os diversos apontamentos que se poderiamsalientar, tome-se o exemplo da robusta presença desigillata foceense, então chamada Late Roman C ware.A apresentação de Manuela Delgado foi bastante cla -ra, insistindo na forte presença desta cerâmica em Co -nimbriga, sublinhando uma suposta cronologia dosmeados do século V, que casava pacificamente as da -tações de Hayes com as datas de destruição da ci -da de, segundo Idácio – polidamente, Hayes aceitouna generalidade a proposta, mas não deixou de no -tar que alguns fragmentos lhe pareciam mais tardios;com uma ponta de sarcasmo, P. A. Février interroga-va-se se Conimbriga tinha entrado em contacto como Oriente, no momento em que era saqueada. Del -gado, reportando as suas observações em museusportugueses, referiu que esta categoria cerâmica es -tava mal representada em Portugal, uma vez que sóeram conhecidos os exemplares de Tróia, recentementepublicados por Maria MAIA (1974). Certeiramente,Lamboglia afirmou que Conimbriga não seria porcerto excepção, e que estas cerâmicas encontrar-se-

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-iam em outros sítios portugueses, lembrando comoera importante retomar o tema das relações Orien-te-Ocidente.Hayes haveria de recordar os materiais de Conimbrigae Tróia quando publicou o seu Supplement to LateRoman Pottery, em 1980, ao referir alguns materiaisdispersos pelo sudoeste da Grã-Bretanha e Irlanda:“recent finds of the ware [sigillata foceense] in Por -tugal serve to provide the vital connecting link be -tween the Mediterranean distribution of the wareand its occasional presence, previously unexplainedin terms of any normal pattern of distribution, onsites in southwest Britain” (HAYES, 1980: lix). Estaarguta observação, valorizando a “rota atlântica” nocontexto do mundo antigo, não recebeu de imediatoa atenção que merecia (e merece). O que se passava então com as ânforas, um temacentral do nosso seminário, excluídas do debate Apropos des céramiques de Conimbriga?Os materiais recolhidos nas escavações da cidade fo -ram publicados por J. Alarcão, em capítulo próprio,no sexto volume de Fouilles de Conimbriga (ALARCÃO,1976b), e várias outras em outro capítulo do mesmovolume intitulado Cerâmicas Comuns de Importação,onde o autor admite poderem estar várias ânforas(ALARCÃO, 1976a), como de facto estão. O principalproblema que Alarcão enfrentou no seu estudo foi oda generalizada falta de informação de referência.Justamente na década de setenta do século XX as-sistia-se ao nascimento / crescimento do interessepe las ânforas romanas, ainda que debaixo de algumaam biguidade. Recorde-se, por exemplo, que há umcapítulo dedicado às ânforas no volume de MercedesVegas sobre as cerâmicas comuns romanas (VEGAS,1973), ou seja, a ânfora ainda não era valorizada co -mo categoria cerâmica distinta e autónoma, antesuma variedade de “cerâmica comum”. O interesse pe -la história económica valorizava crescentemente asânforas, com especial relevo para as Dressel 20, peloseu exuberante hábito epigráfico, enquanto a ar -queo logia subaquática com escafandro autónomoia revelando os naufrágios da bacia do Mediterrâneo,quase sempre barcos carregados de ânforas – emboraos primeiros naufrágios revelados / estudados fossemquase todos de época republicana. Por esse tempo

se dizia que a arqueologia subaquática era a arqueo -logia da ânfora, o que justifica a constituição doacer vo do Museu de Mar de Cascais ou do CentroPortuguês de Actividades Submarinas.Em 1971, a Escola Francesa de Roma organizou umprimeiro Colóquio Internacional sobre ânforas romanas,onde é por demais evidente o estado embrionáriodas investigações – um pouco mais de metade do vo -lume é constituído pelo estudo de Rodríguez Almeidasobre a epigrafia do Testaccio (VV.AA., 1972). No Co -lóquio lá estão Nino Lamboglia, Fausto Zevi, AndréTchernia, os principais obreiros da nova etapa do es -tudo das ânforas, nomeadamente pela recuperaçãoda tabela de Dressel no CIL XV, valorizando-a face àsoutras tabelas dos acampamentos militares da Ger -mânia (Haltern ou Oberaden). Lá está também a es-tratigrafia de Ostia, apresentada por C. Panella, aindacom várias dúvidas sobre a proveniência de algumasânforas, como essas parecidas com a forma Dressel 14,mas de fabrico distinto. Tinha acabado de se publicaro estudo fundamental de Miguel BELTRÁN LLORIS(1970), que Panella já utiliza, mas não ganhara aindasuficiente projecção. É este o contexto em que de -cor reu e se concretizou o estudo das ânforas de Co-nimbriga, é importante não o esquecer.Contudo, deve sublinhar-se, que o rigor e qualidadeda publicação permite-nos, voltando às suas páginas,perceber que as produções de Peniche (classificadasentão, com reservas, como ânforas da forma Oberaden81) se documentam em níveis claudianos e flavianos(ALARCÃO, 1976b: 84, n.ºs 16-25), ou que as Lusita -na 3 estão presentes em estratos da época de Trajano(ALARCÃO, 1976a: 75, pl. XIX, n.º 63), e ainda detectara presença das ânforas Almagro 51c lusitanas nos ní -veis de destruição da casa a norte das termas (ALAR -CÃO, 1976b: n.º 49), nos níveis de demolição da in -sula do vaso fálico, ambos casos datáveis do século V,e outras ainda das chamadas “casas bárbaras” (IDEM:88). Em suma, apesar das limitações existentes à épo -ca de publicação do estudo, o rigor e qualidade dore gisto mantêm Conimbriga como referência importantepara o debate sobre as ânforas lusitanas.Para lá da investigação da cidade romana, registam--se contributos interessantes na década de 70 de Ma -nuel Maia, sobretudo estudando fundos antigos de

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museus, de Carlos Tavares da Silva e Antónia Coelho--Soares, que publicam ânforas de Setúbal (depósitodo museu local e os materiais da destruída olaria daQuinta da Alegria), e Guilherme Cardoso que, es tu -dando o acervo de ânforas do Museu do Mar deCas cais recolhido em diferentes locais, fez a primeiragrande valorização / caracterização de muitas das ola -rias do baixo Sado, de anterior conhecimento difuso(CARDOSO, 1978: 64-65).No II Colóquio sobre ânforas promovido pela EscolaFrancesa de Roma, em 1974, mas só publicado maistarde (VV.AA., 1977), A. Parker apresenta um conjuntode notas resultantes de uma viagem pelos museusportugueses, com registo fotográfico de várias ânforas.O seu artigo, sem dúvida importante para a interna-cionalização dos dados do extremo ocidente peninsular,teve a virtude de chamar a atenção para a notóriapro dução de preparados de peixe na Lusitânia, rela-cionando-a com a produção de ânforas para a suaexportação, como a sua presença em naufrágios me -diterrâneos demonstrava (PARKER, 1977: 41-42). Es -teve menos bem ao supor que algumas das ânforassaídas das olarias do actual Algarve eram somentede produção / circulação local.

Em jeito de epilogo

Aqui chegados, a datas situáveis há cerca de trintaanos atrás, poderíamos continuar esta abordagem,que soaria sempre como uma espécie de “História aoVivo”, uma vez que estão presentes neste seminárioo grosso dos agentes activos nestas últimas décadas.Pode dizer-se que a atenção à cerâmica romana cres -ceu uma vez mais explosivamente, nas últimas duasdécadas, em boa parte devido à benéfica influênciado desenvolvimento da década de setenta e à acçãopedagógica dos seus principais agentes. Esse cres ci -mento justificou a reunião de uma mesa-redonda de -dicada às ânforas lusitanas, realizada em Conimbrigaem 1988 (ALARCÃO e MAYET, 1990), seguida de umasjornadas reunidas aqui no Seixal, com a atenção maisfocada na problemática da ocupação romana dosestuários do Tejo e do Sado, em 1991, cujo volume deestudos tardou em ver a luz do dia (FILIPE e RAPOSO,1996). Nestes encontros, bem como no presente se-minário, escreve-se a história das últimas décadasde investigação, que seria tão pretensioso comoocio so pretender contar a muitos daqueles que têmsido os seus mais directos agentes.

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