Thomas P. Bigg-Wither - O vale do Tibagi, Brasil

download Thomas P. Bigg-Wither - O vale do Tibagi, Brasil

If you can't read please download the document

description

Conferência lida em 12 de junho de 1876; publicada no Journal of the Royal Geographical Society, London: John Murray, v. 46, p. 263-277, 1876.

Transcript of Thomas P. Bigg-Wither - O vale do Tibagi, Brasil

  • O vale do Tibagi, Brasil

    por Thomas P. Bigg-Wither--

    (Conferncia lida em 12 de junho de 1876; publicada no lournal of the Royal Geographical Society, London: John Murray, v. 46, p. 263-277, 1876)5

    Em 1871, foi dada uma concesso pelo governo brasileiro ao baro (atu- almente visconde) de Mau6 e a outros para executar um levantamento en-

    volvendo uma linha frrea e servio de barco a vapor que ligaria Curitiba,

    a capital da provncia do Paran, e a cidade de Miranda7, perto da fronteira

    ocidental do Brasil, na provncia de Mato Grosso.

    Conforme a concesso, o traado passaria pela colnia Teresa8, a jusan-

    te do vale do Iva, at o [rio] Paran; percorreria os vales do Ivinheima e

    do Brilhante, atravessaria o espigo divisrio, indo at os vales de Nioac e

    Mondego9. Miranda est situada nas margens deste ltimo rio, um tribut-

    rio do [rio] Paraguai.

    Esse levantamento comeou no ms de agosto do ano seguinte, e o au- tor foi contratado, junto com outros trs engenheiros e uma equipe de n-

    dios e operrios brasileiros, para explorar aquela parte do vale do Iva entre

    a colnia Teresa e a corredeira do Ferrolo.

    De agora em diante todas as notas inseridaj no texto original de Bigg-Wither so de responsabilidade dos autores Lcio Tadeu Mota e Thomas Bonnici.

    "rineii Evangelista de Souza (1813-1889), empresrio e politico, convencido de que a industrializaco era a saida para o Brasil, construiu a maior indstria naval brasileira, tomou iniciativas como a da construco do sistema de iluminaFo a @s no Rio de Janeiro, a primeira ferrovia e a instalaco dos primeiros cabos submarinos.

    Cidarle no Mato Grosso do Sul. rumo ao Pantanal e a fronteira com a Bolivia. R Apoiado pela imperatriz Tlieresa Cliristina o nidico francs Joo Mauricio Faiwe criou nas margens do rio Ivai entre

    Ponta Grossa e G~iarapiiava, em 1847, a colnia Teresa Cristina. Para ali trouxe em torno de 87 pessoas selecionadas na Frana para iniciar um niicleo colonial de inspiraso ut6pica. No entanto, aos poucos os colonos franceses foram abandonando o local sendo s~ibstitudos por nacionais e frustranrlo o sonho do Dr. Faivre qiie ali faleceu em 31 de agosto de 1858.

    " Rins 110 Mato Grosso do SiiI. 'O ltiina grande corredeira no rio Ivai antes deste desaguar no rio Paran, hoje siniada nos municipios de Guaporema e

    Mirador n o noroeste do estado do Paran.

  • Entre essas duas localidades, o terreno era, de modo geral, acidentado

    e montanhoso, coberto com densas florestas tropicais e semitropicais, des-

    povoado, excetuando-se a presena de tribos de ndios ~elvagens~~. Os n-

    dios mais terrveis, chamados coroadosl2, eram agrupados num lugar entre

    o salto das Bananeiras1 e a corredeira do Ferro. A presena desses ndios

    no trajeto da explorao do terreno e sua hostilidade acirrada aos objetivos

    da expedio ameaaram pr empecilhos e at impedir que o levantamento fosse completado. 0 s homens do grupo, na maioria brasileiros, tinham um

    medo profundo, de longa data, at pelos termos "bugre"14 ou "ndio selva- gem". Quando, um ano e meio aps o incio do levantamento, um grupo

    de ndios selvagens apareceu repentinamente, o pnico tomou conta dos operrios brasileiros e os esforos dos engenheiros para coibi-los foi intil.

    O assunto ficou to srio, que descobriu-se haver uma conspirao para

    abandonar na calada da noite os engenheiros, a qual somente foi sustada

    atravs de ameaas extremas.

    Era intil continuar a explorao quando havia esse tipo de gente.

    Como conseqncia, foi necessrio abandonar o projeto por um perodo de tempo e voltar pelo rio ao ponto de incio.

    Observando o MAPA 1 a seguir, ver-se- um outro e claro caminho

    pelo vale do Tibagi15, atravs do qual a regio alta da provncia, formada por campos, poder ser ligada, por terra ou por rio, ao rio Paran. Alm

    disso, aparentemente essa alternativa oferecia vantagens semelhantes, ou

    talvez melhores do que aquelas apresentadas pelo traado original do Iva. O setor que apresenta mais dificuldade para a construo da ferrovia neste

    ltimo caminho, ou seja, a serra alta intermediria que forma a linha divi-

    sria entre os dois vales, poderia ser evitado por completo. Se pudesse ter

    certeza de que a passagem cortada pelo Tibagi pela serra de Apucarana era

    algo mais do que apenas um profundo desfiladeiro ou canyon, e fosse larga

    l i Naquele momento, segiincl;~ metade do seculo XIX, o vale do rio Ivai nas proximidacles da col6iii:i Teresa Cristina estav:~ habitado pelos grupos indigenas Kaingang cliie estavam deslocando Iva abaixo os grupos indgenas Xetb. Para mais detallies sobre esse assunto ver: Mota (1998, p. 175-1891,

    '' Como eram chamados os ndios Kaingang na kpoca. " O salto das Bananeiras, I~>c:ilizado no tiiunicipio de Floresta, na lipoca de Bigg-Witlier, era local preferido de grupos

    Kaingang que ali faziam seus acanip:imentos de inverno para pescareiii em suas corredeiras. , Termo genrico e depreciativo iirilizado pelas populaces no indigenas para designar as populaes indigenas. O rio Tibagi denominado pelas popiiiaes Giiarani de Atibagiba e utn dos principais rios do P;iranh. Tem suas nascentes

    nos Campos Gerais e percorre 550 km no territorio paranaense at desaguar no rio Paranapanema. Para maiores detallies sol~re seus aspectos fsicos ver Maack (1981).