The Walking Dead: os bastidores

22

description

O GUIA OFICIAL DE UMA DAS SÉRIES DE MAIOR SUCESSO DA HISTÓRIA DA TELEVISÃO, BASEADA NOS QUADRINHOS QUE JÁ SE TORNARAM FENÔMENOS DE VENDA EM TODO O MUNDO: THE WALKING DEAD. The Walking Dead: os bastidores é o único guia autorizado da aclamada série da AMC. Rick Grimes, um ajudante de xerife do interior dos Estados Unidos, desperta de um coma, deparando-se com um mundo pós-apocalíptico, povoado por zumbis. Este homem é responsável pela vida de um grupo de sobreviventes, e deve garantir sua segurança enquanto lida com seus próprios problemas familiares e emocionais. Acompanhe o processo de criação dos quadrinhos, best-seller do The New York Times, e o making of da série de TV, indicada ao Globo de Ouro de melhor série dramática. The Walking Dead: os bastidores é ilustrado com fotografias inéditas, imagens do set de filmagens, storyboards e detalhes das etapas de maquiagem e efeitos visuais, que renderam à série o prêmio Emmy.

Transcript of The Walking Dead: os bastidores

Page 1: The Walking Dead: os bastidores
Page 2: The Walking Dead: os bastidores

Os bast idOresO guia Oficial

Walking-brasil.indd 1 16/05/13 12:11

Page 3: The Walking Dead: os bastidores

Paul Ruditis Prefácio: Frank Darabont

Introdução: Robert Kirkman

Walking-brasil.indd 2 16/05/13 12:11

Page 4: The Walking Dead: os bastidores

Paul Ruditis Prefácio: Frank Darabont

Introdução: Robert Kirkman

Os bast idOresO guia Oficial

S ã o P a u l o 2013

Walking-brasil.indd 3 16/05/13 12:11

Page 5: The Walking Dead: os bastidores

Walking-brasil.indd 4 16/05/13 12:11

Page 6: The Walking Dead: os bastidores

Sumário

PREFÁCIO de Frank Darabont 6

In tRODuçãO de Rober t K irkman 8

um COnstRuçãO DO munDO Em quaDRInhOs 13

DoiS Da PÁgIna à tEl a 43

TrêS um sOPRO DE vIDa aOs mORtOs 71

quaTro POvOanDO O munDO DE thE WalKIng DEaD 93

CinCo aDaPtanDO O EstIlO vIsual DE thE WalKIng DEaD 117

SeiS tERRa DOs mORtOs 145

SeTe POstmORtEm 171

oiTo tRagam sEus mORtOs 189

Walking-brasil.indd 5 16/05/13 12:11

Page 7: The Walking Dead: os bastidores

Para mim, foi instantâneo – foi muito fácil querer investir no projeto desta série.

Há anos tenho estado ansioso para contar uma história de mortos-vivos. Adoro

os mitos de zumbi, o mundo criado por George Romero, e vinha procurando uma

oportunidade de brincar nesse playground. E o momento parece ser agora: me sur-

preende o quanto um subgênero do horror, pouco conhecido, interessante apenas

para geeks como eu, desabrochou em um conceito com grande aceitação.

Muito ignorados pelo público geral por décadas, zumbis comedores de carne

eram algo que nós, os fãs, tínhamos só para nós. No entanto, ao longo da última

década os zumbis penetraram o círculo de interesses da cultura popular de um jeito

que eu nunca poderia ter antecipado. Hoje em dia, vejo avós nas grandes livrarias

comprando livros de zumbis para os netos.

Encontrar o playground de zumbis certo onde eu pudesse brincar foi difícil, até

o dia em que entrei em uma livraria local e notei a primeira edição comercial de The

Walking Dead. Eu a vi e pensei: “Ah, legal. Uma história de zumbi. Isso é bem minha

cara”. Então, é claro, comprei o livro e levei para casa.

Naquela noite, quando comecei a ler a primeira história, me veio à cabeça: “Isso

poderia virar um programa de televisão”. Na segunda história, eu pensava: “Vou ligar

para o meu agente amanhã e pedir para ele verificar se os direitos estão disponíveis”.

Os quadrinhos de Robert eram exatamente o que eu procurava. Na manhã

seguinte, telefonei para meu agente de TV e disse: “O que pode ser melhor para a

televisão do que um programa realmente bom ambientado no apocalipse zumbi?”.

Ele adorou a ideia. Depois, foram cinco anos de rejeições (mais uma união de

forças com a estimável Gale Anne Hurd como minha sócia na produção) antes de

finalmente encontrarmos uma emissora que concordasse conosco. Finalmente...

felizmente... a AMC percebeu que a ideia era boa e disse sim. Desde então, minha

vida tem sido só zumbis.

Uma história em quadrinhos é uma coisa, uma série de TV é outra. Robert

escreve um material frio, duro. Como fã dos quadrinhos originais, quero que nosso

programa visite os lugares sombrios aonde Robert já nos levou, mas tem que haver

um equilíbrio. Não pode ser tudo frio, ou os espectadores perderão o interesse.

O próprio Robert manifestou preocupação sobre quanto as situações em seu livro

seriam adequadas para uma plateia maior, sob um registro diferente e ao longo de,

digamos, cinco anos. Encontrar o tom adequado e mantê-lo vai exigir um equilíbrio

Prefácio

Walking-brasil.indd 6 16/05/13 12:11

Page 8: The Walking Dead: os bastidores

desafiador e delicado. E essa vai ser uma constante para nós enquanto o programa

durar: caminhar sobre essa tênue linha do tom e conversar com Robert a cada passo

do caminho. Isso porque não vamos querer progredir muito em uma direção em

detrimento de outra. Esse é um programa que, fundamentalmente, quer conquistar

a plateia e alcançar o que eu acho que faz a melhor televisão: contar uma longa

história sobre os personagens, pessoas cujas vidas você quer acompanhar por muito

tempo. Isso tudo somado a incontáveis momentos menores também, acompanhando

os grandes e evidentes fatos da trama.

É realmente um grande prazer apresentar algo de que me orgulho, algo que me

interessa e agrada. Enfim, algo que eu gostaria de ver. Se eu ficasse sabendo que

alguém estava produzindo um programa sobre zumbis, The Walking Dead seria exa-

tamente o programa que eu esperaria ver. Então, se sirvo de medida, se sou uma

indicação, acho que começamos muito bem.

E o melhor de tudo: os fãs parecem concordar com isso, o que me faz extrema-

mente feliz e grato.

Frank Darabont

fRaNK daRaBONt é escritor, diretor e produtor indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro

por Um Sonho de Liberdade e À Espera de um Milagre. Desenvolveu a série The Walking

Dead para o canal AMC e atua como produtor executivo, roteirista, diretor e showrunner.

Mora em Los Angeles, Califórnia.

Walking-brasil.indd 7 16/05/13 12:11

Page 9: The Walking Dead: os bastidores

Estou escrevendo isto em um hotel em Atlanta, e acabaram de começar as gra-

vações da segunda temporada do programa de televisão The Walking Dead, para o

canal a cabo AMC. Recentemente, entreguei o texto do n° 88 de The Walking Dead,

uma série em quadrinhos da Image Comics/Skybound. A McFarlane Toys divulgou

há pouco tempo imagens de duas novas linhas de brinquedos, uma baseada no

programa e outra na série de quadrinhos. Acabei de saber que a coleção em formato

de livro dos números 79-84, com o título de The Walking Dead Volume 14: No Way

Out, vai integrar a Must List da Entertainment Weekly da semana que vem. Acabei de

ver parte da arte para o videogame The Walking Dead, da Tell Tale Games. Terminei

a primeira novela The Walking Dead, Rise of the Governor, com meu coautor, Jay

Bonansinga. Hoje de manhã vi o protótipo de uma lancheira. Aprovei uma nova cami-

seta. Há xícaras de café e dois jogos de tabuleiro em produção. E recentemente

recusei a proposta para um perfume Walking Dead... Tudo está ficando meio maluco.

Fala sério. Perfume.

Graças às boas pessoas da AMC e da Fox International, The Walking Dead é

um fenômeno mundial. O eufemismo da década, eu acho, é dizer que The Walking

Dead ficou maior que eu.

Mas não é isso que um criador quer, afinal? Criar alguma coisa, seja uma história

em quadrinhos, uma novela, um programa de televisão ou o que for, é, em muitos

aspectos, semelhante a ter um filho... E o objetivo final de um pai não é dar tudo

o que ele precisa para ganhar o mundo sozinho? O propósito de todo o processo

é vê-los deixar o ninho, sabendo que estão preparados para lidar com o mundo

exterior. Nesse sentido, você não cria alguma coisa só para você mesmo: quer que o

maior número possível de pessoas aprecie sua criação.

Então, por esse ângulo, é incrível que The Walking Dead tenha passado de

uma coisa minha, algo em que trabalhei incansavelmente com meus colaboradores

Charlie Adlard, Cliff Tathburn e Rus Wooton para levar às prateleiras das livrarias e

lojas de quadrinhos do mundo todo, a essa sensação global, apreciada por vários

milhões de pessoas que provavelmente eu nunca vou conhecer.

The Walking Dead deixou de ser meu bebê. Há um batalhão de redatores,

artistas, diretores, músicos, escultores, animadores, cenógrafos, figurinistas, edito-

res, produtores e atores envolvidos nas várias produções baseadas em minha ideia

original. Pode parecer meio enervante ou sobrepujante ver todas essas pessoas

diferentes trabalhando em algo que criei em um cômodo de casa quando tinha 23

inTroDuÇÃo

Walking-brasil.indd 8 16/05/13 12:11

Page 10: The Walking Dead: os bastidores

anos, mas é espantoso pensar nas coisas crescendo e se transformando no que são.

Conforta-me saber que, de toda forma, pude escolher a dedo as diversas pessoas

envolvidas com The Walking Dead. Meu bebê está em boas mãos.

Tudo isso me leva a Frank Darabont. Talvez você tenha ouvido falar em Frank. Ele

é o roteirista e diretor de filmes clássicos como À Espera de um Milagre e Um Sonho

de Liberdade. Frank é um desses cineastas que fazem intervalos sem pressa entre

os filmes, escolhendo os projetos certos aos quais se dedicarem. Ele não tem um

portfólio muito extenso, mas é possível ver que põe coração e alma em cada projeto

que desenvolve. Quando Frank chegou, foi como um sopro de ar fresco.

A verdade é que Frank Darabont não foi o primeiro figurão de Hollywood a me

procurar com interesse nos direitos de The Walking Dead. Quando ele chegou, em

2005, eu recusava ofertas havia dois anos. Algumas foram feitas por nomes que você

reconheceria, mas não vou mencioná-los porque, na maioria dos casos, a ideia sobre

o que fazer com The Walking Dead era tenebrosa. Superzumbis, cachorro zumbi,

canibais heroicos... Em muitos casos, a impressão era de que as pessoas estavam

tentando provar o quanto não haviam conseguido “apreender” do material de origem.

E então Frank apareceu. É engraçado, mas quando meu empresário me disse

pela primeira vez que Frank queria falar comigo, pensei: “Isso é estranho, o cara de

Um Sonho gosta de zumbis?”. Eu não sabia que Frank havia começado a carreira

escrevendo filmes como A Bolha Assassina, A Mosca 2, e A Hora do Pesadelo 3

(que na verdade funcionam nessa ordem, como uma espécie de trilogia; você tem

que tentar assistir a todos no mesmo dia). E, mais tarde, eu descobriria que Frank é,

provavelmente, o maior fã de Bernie Wrightson em todo o planeta. Frank está enrai-

zado no gênero. Ele ama terror e ficção científica como ninguém mais.

Mas, mais importante: Frank havia lido The Walking Dead.

E, ainda mais importante: ele havia entendido.

Minha primeira conversa com Frank foi muito legal, devo dizer. Como escritor

de quadrinhos em Kentucky, eu não conversava com muitos diretores de cinema

importantes (com alguns, mas não muitos), e me lembro de ter ficado espantado com

como Frank foi simpático e agradável desde o início. Foi como se fôssemos velhos

amigos falando sobre filmes de zumbis. Não foi uma conversa longa, mas extraí dela

o que queria. Frank me disse exatamente o que eu desejava ouvir:

– Você é brilhante.

c ont inua

Walking-brasil.indd 9 16/05/13 12:11

Page 11: The Walking Dead: os bastidores

Brincadeira. O que eu realmente queria ouvir era:

– Não é sobre zumbis.

Para mim, essa é a chave para The Walking Dead, a coisa mais simples e óbvia

sobre a obra, mas Frank foi realmente a primeira pessoa a morder a isca do lado certo

e, mais importante, a abraçá-la. The Walking Dead não é uma brincadeira de ação

zumbi com personagens intensamente sangrentos e superficiais, que servem apenas

como bucha de canhão – por mais que eu, pessoalmente, adore esse tipo de coisa.

The Walking Dead é uma novela. É um romance: um relato envolvente de sobrevi-

vência, contraposto à mais horrível tragédia mundial que alguém poderia imaginar,

quando os mortos retornam, devorando os vivos.

The Walking Dead é algo triste e trágico, uma história que coloca seus perso-

nagens no moedor e espera para ver o que vai sair do outro lado. E Frank entendeu

tudo isso. Ele viu The Walking Dead como eu via. Pela primeira vez me vi frente a

frente – ou melhor, voz a voz – com alguém que parecia se importar com The Walking

Dead tanto quanto eu. E pelos motivos certos.

Eu soube desde o início que nos entenderíamos, o que foi bom, porque não nos

conhecíamos há muito tempo quando chegou a hora de fazer acontecer esse pro-

grama de TV. Na verdade, gosto de ressaltar que Frank e eu nos debatemos com um

programa em construção até Gale Anne Hurd embarcar na equipe e trazer a AMC,

pondo tudo isso em movimento.

E, quando dei por mim, pessoas como Chic Eglee e Jack LoGiudice também

estavam na equipe para criar o programa. Greg Nicotero e o KNB Effect Group

foram convidados para criar os melhores zumbis que já se viu. Então Frank, Gale e o

pessoal na AMC reuniram nosso elenco lendário e a corrida começou.

Dali em diante era uma menção no TV Guide aqui, um truque internacional de

marketing envolvendo centenas de zumbis invadindo cidades no mundo todo ali, algu-

mas capas de revista e a espantosa cobertura na internet, tudo isso construindo uma

forte estreia e, me disseram, um sucesso indiscutível.

Agora os livros voam das prateleiras, eu escrevo para a série enquanto continuo

trabalhando nos quadrinhos, e minha vida mudou completamente. O que é fantástico,

considerando que já era ótima no início.

Então... Não sei realmente o que estou tentando dizer aqui, além de OBRIGADO.

Obrigado por comprar este livro, por gostar da série, dos quadrinhos ou seja do

que for. Obrigado por nos dar uma chance, fazendo dessa empreitada maluca um

sucesso. Obrigado por se vestir como zumbi às vezes, ou fazer uma tatuagem maluca

Walking-brasil.indd 10 16/05/13 12:11

Page 12: The Walking Dead: os bastidores

de The Walking Dead, ou dar a seu filho o nome de Rick Grimes, e todas essas

coisas. É realmente incrível e lisonjeiro, e me faz tentar ainda mais continuar fazendo

os quadrinhos e a série tão bons quanto podem ser, porque você merece.

The Walking Dead agora pertence a vocês*.

(E se você está realmente muito ansioso para ter um perfume Walking Dead...

sinto muito.)

Robert Kirkman

* Mas eu continuo ganhando os direitos autorais, certo?

ROBERt KiRKMaN é autor best-seller do The New York Times e criador de The Walking

Dead e Invincible. Kirkman é sócio na Image Comics, onde fundou a marca Skybound, e

também é roteirista e produtor executivo da série The Walking Dead, da AMC. Mora em

Backwoods, Califórnia.

Walking-brasil.indd 11 16/05/13 12:11

Page 13: The Walking Dead: os bastidores

12 tHE WalKiNg dEad: Os BastidOREs

Walking-brasil.indd 12 16/05/13 12:12

Page 14: The Walking Dead: os bastidores

um

ConSTruÇÃo Do munDo em quaDrinhoSa criação de The Walking Dead

The Walking Dead foi não convencional desde sua cria-

ção, revelando uma profundidade nem sempre encontrada

nas páginas de quadrinhos. Ele tem sido considerado como

uma exploração do colapso da sociedade em um mundo

pós-apocalíptico; um estudo de personagem de um homem

levado ao limite para proteger sua família; e até uma críti-

ca à cultura de consumo, quando pessoas são forçadas a vi-

ver uma existência despojada, sem aparelhos de TV e iPads.

:

Walking-brasil.indd 13 16/05/13 12:12

Page 15: The Walking Dead: os bastidores

14 tHE WalKiNg dEad: Os BastidOREs

O criador da série, Robert Kirkman, cen-

trou The Walking Dead em um conceito funda-

mental mais simples: é a história de zumbis que

nunca termina. “Sempre que você vê um filme de

zumbi, o fim do filme é o mesmo”, ele lamenta.

“Ou são os últimos sobreviventes caminhando

para o pôr-do-sol, ou todos morrem.”

Ele cita certa brusquidão normalmente

associada a essas histórias, nas quais uma

batalha final frequentemente eclode do nada,

forçando os sobreviventes a encontrarem um

dos dois destinos pré-determinados. E embora

tenha sido fã do gênero durante a maior parte de

sua vida, esse desfecho o deixava querendo mais.

“Nunca houve realmente uma história que conti-

nuasse depois que os personagens caminhassem

para o pôr-do-sol”, ele explica. “Nunca houve

uma narrativa continuada que permanecesse

no mundo e seguisse os personagens para sua

conclusão natural, tentando sobreviver durante

anos e anos nesse cenário [pós] apocalíptico.

Este seria definitivamente um livro que eu teria

gostado de ler, e por isso decidi escrevê-lo: por-

que ele não existia”.

O passo inicial para uma exploração prolon-

gada dos zumbis foi um projeto de ficção cien-

tífica chamado Dead Planet (Planeta Morto).

A história começa em uma colônia de minera-

ção em outro mundo onde existia um minério

com propriedades que podiam reanimar carne

humana. Esse minério eventualmente encon-

trou seu caminho para a Terra, precipitando

um futurista apocalipse zumbi. Com essa ideia

básica, Kirkman passou a trabalhar na realiza-

ção da visão. “Seria um livro divertido”, ele lem-

bra. “Tony Moore, que desenhou os primeiros

seis episódios de The Walking Dead, desenharia

esse livro... Trabalhamos juntos para desenhar

os personagens e tudo.”

Kirkman e Moore eram amigos desde a

infância, quando assistir a filmes de zumbi era o

passatempo favorito dos dois. Mais tarde, quando

Moore estava na escola de arte, Kirkman entrou

em contato com o amigo e sugeriu que eles traba-

lhassem juntos na ideia de um livro em quadri-

nhos. Isso se tornou o primeiro empreendimento

oficial conjunto dos dois: Battle Pope, uma

exploração satírica de um papa de vida austera

ACIMA: arte de capa, de tony Moore e Val staples, para Battle Pope n°1. Battle Pope, de Robert Kirkman e tony Moore, foi lançado em 2000 como primeiro título da pe-quena e incipiente editora de Kirkman, a funk-O-tron.

ANTERIOR: O n°1 de The Walking Dead, lançado em ou-tubro de 2003 com arte de capa de tony Moore.

Walking-brasil.indd 14 16/05/13 12:12

Page 16: The Walking Dead: os bastidores

cONstRuçãO dO MuNdO EM quadRiNHOs 15

chamado para salvar o mundo dos demônios,

pedindo ajuda de Jesus Cristo para a batalha.

Battle Pope foi publicado pela editora inde-

pendente criada por Kirkman, a Funk-O-Tron.

Foram quatorze números dessa publicação e,

embora ela não tenha incendiado a indústria

cômica, ajudou Kirkman a entrar no mercado.

Ao longo dos três anos seguintes, ele escre-

veu um punhado de quadrinhos, incluindo

Tech Jacket, com o artista E. J. Su para a Image

Comics. O livro teve apenas seis números, mas

um personagem que Kirkman introduziu na

época se tornaria uma presença constante no

universo da Image Comics: Invincible, cujos

quadrinhos de mesmo nome foram lançados,

com o artista Cory Walker, no início de 2003.

Ao mesmo tempo em que desenvolvia

Invincible para a Image, Kirkman também tra-

balhava com Moore na preview de cinco páginas

de Dead Planet. Eles apresentaram o trabalho a

alguns editores de quadrinhos, inclusive da Image,

mas isso foi antes da febre zumbi na cultura pop e,

assim, a ideia não foi aceita de imediato. Kirkman

gostava realmente do conceito, mas descobriu que

não havia nada que pudessem fazer com ele.

“Agora fico feliz por isso ter acontecido”, diz

Kirkman. “Eu ainda queria fazer alguma coisa

com Tony Moore. Ainda queria fazer alguma

coisa que envolvesse zumbis. Por isso pus minha

cabeça para funcionar e tentei pensar em um

jeito de fazer aquele livro, mas tornando-o um

pouco mais atraente para os editores, talvez.”

Ele então matou o aspecto de ficção científica da

história e voltou ao conceito central: o filme de

zumbis que nunca termina.

Porém, essa edição ainda não foi a bala de

prata capaz de matar as dúvidas da indústria dos

quadrinhos sobre o poder comercial da série;

zumbis ainda eram um conceito que tinha que

ser provado. Mas havia alguma coisa no material

revisado que provocou um brilho de interesse

nos olhos da Image Comics, a editora com que

Kirkman mais trabalhava.

A Image Comics havia sido fundada no iní-

cio dos anos de 1990, criação de um grupo de

artistas da Marvel Comics que estavam cansados

de ceder os direitos do próprio trabalho a outras

pessoas. Esses escritores e artistas vislumbraram

um novo paradigma para o ramo, no qual os

criadores dos quadrinhos preservariam a pro-

priedade e os direitos autorais de seu trabalho. A

Imagem cresceu, transformou-se em uma com-

panhia com vários selos, cada um publicando

assuntos variados, adequados a seus diversos

criadores. Isso deu à companhia a chance de

incorporar novos escritores com ideias únicas,

que iam além dos tradicionais quadrinhos de

super-heróis. The Walking Dead, como seria

chamada depois, foi uma dessas ideias.

O atual publisher da Image Comics, Eric

Stephenson, era diretor de marketing da empresa

quando Kirkman apresentou sua série de qua-

drinhos. Stephenson reconheceu a centelha cria-

tiva no conceito, mas não foi uma compra fácil

para ele. “Não havia muito interesse em mate-

rial sobre zumbis naquela época. Quase não

compramos o livro, porque, naquele momento,

quadrinhos sobre o assunto não faziam muito

sucesso. Não era um negócio certo.”

O filme sobre zumbis de Danny Boyle,

Extermínio, havia estreado recentemente no

Reino Unido, e ainda estava meses distante da

ampla divulgação nos Estados Unidos. Foi um

ano antes da publicação do livro de paródia

Walking-brasil.indd 15 16/05/13 12:12

Page 17: The Walking Dead: os bastidores

16 tHE WalKiNg dEad: Os BastidOREs

de Max Brooks, o Guia de sobrevivência aos

zumbis: proteção total contra os mortos-vivos.

Zumbis estavam muito longe de ser algo certo

para qualquer editor, mas havia interesse na série

e em ver o que Kirkman poderia fazer com um

conto de zumbis que nunca terminava. Mas, se a

Image ia assumir um compromisso com o pro-

jeto, algumas mudanças teriam que ser feitas. As

cinco páginas da preview que Kirkman e Moore

haviam criado pareciam clichês demais para

Stephenson. O comentário dele levou à agora

familiar abertura na qual o ajudante de xerife

Rick Grimes acorda de um coma. No entanto,

ainda faltava alguma coisa.

“A reação inicial a The Walking Dead era

que ali não havia um gancho”, Kirkman explica.

“Era só uma história de zumbis comum, sem nada

de realmente único.” Naquela altura, ele estava

determinado a criar uma saga zumbi direta, sem

rodeios. De fato, a ideia evoluiu para um conceito

completamente despojado, explorando mais um

drama humano do que zumbis. Mas Kirkman

sabia que qualquer hesitação poderia matar a ideia,

e por isso fez o que qualquer escritor faria diante

do interesse hesitante de um editor. Ele mentiu.

Kirkman examinou novamente a prova de seu

original de Dead Planet e se animou com a ideia

de oferecer um gancho para a nova série sem rela-

cionar tudo ao aspecto de ficção científica. “Eu

disse que toda a história dependia de uma revela-

ção posterior sobre alienígenas terem causado os

zumbis, e que isso era parte de um imenso ataque

alienígena. Eles enfraqueceriam a infraestrutura

do governo trazendo os mortos de volta à vida, e

depois apareceriam e dominariam o planeta.”

A Image comprou a ideia, sem saber que

Kirkman não tinha nenhuma intenção de colo-

cá-la em prática. Sua esperança era de que eles se

encantassem de tal forma com a oferta original

que não se importariam com a mentira. O terrível

telefonema de Eric Stephenson aconteceu depois

da chegada do primeiro número dos quadrinhos.

Stephenson não conseguia ver nenhuma alusão ao

envolvimento de alienígenas na linha da história

e perguntou se era ele quem não via as dicas, ou

se elas seriam incluídas nos próximos números.

Era hora de Kirkman dizer a verdade, admitindo

ACIMA: uma página revisada da prova dos quadrinhos, com arte de Moore, na qual Rick tem seu primeiro en-contro com o morto andante do título.

OPOSTO: Entrando diretamente na história, Rick acor-da para uma nova ordem mundial na segunda página do n° 1, sozinho em um hospital e ainda sem ter conheci-mento dos perigos fora de seu quarto.

Walking-brasil.indd 16 16/05/13 12:12

Page 18: The Walking Dead: os bastidores

Walking-brasil.indd 17 16/05/13 12:12

Page 19: The Walking Dead: os bastidores

LanÇanDo os quaDrinhos

Walking-brasil.indd 18 16/05/13 12:12

Page 20: The Walking Dead: os bastidores

ANTERIOR ACIMA: a proposta de Kirkman da série em quadrinhos The Walking Dead propõe uma trama ligeira-mente diferente da obra final, ambientada na Pensilvâ-nia e com a esposa de Rick chamada carol, mas ainda guarda o tom e o conceito central da série.

ANTERIOR, ABAIXO: enredo manuscrito de Robert Kirkman para o nº 1 de The Walking Dead, com a quebra página a página dos quadrinhos.

a proposta de the Walking dead

HistóriaRick Grimes é policial de uma pequena cidade do estado da Pensilvânia. Ele vive com a esposa, Carol, e o filho Carl em uma bela casa na área rural. Rick não tem uma vida muito agi-tada. Exceto pelo treinamento de tiro ao alvo, nunca disparou sua arma, e não é, de jeito nenhum, um herói. Quando surge a notícia de que mortos-vivos vagam pela área rural cometendo assassinatos em massa e comendo suas vítimas, Rick tem que encarar o desafio de proteger sua família da loucura à sua volta.

O livro é sobre um homem que vai fazer de tudo para garantir que a família fique segura. Quando residências particulares são decretadas inseguras, Rick leva a família para a estrada em busca de comida, abrigo e alguma coisa que seja pareci-da, pelo menos, com estabilidade. Seguimos a família Grimes enquanto ela tenta encontrar um jeito de voltar à vida normal que um dia conheceu. O primeiro arco da história vai detalhar sua caminhada pelo estado e como se instalam em uma antiga escola abandonada. Esse colégio transforma-se rapidamente em uma fortaleza bem defendida, enquanto a vida na América se aproxima muito dos tempos medievais. Assim que uma base de operações é estabelecida, Rick passa a liderar um exército numa cruzada para expandir a zona de segurança, e eventual-mente recuperar o planeta... ou pelo menos tentar.

formatoThe Walking Dead será em preto e branco, como os melhores filmes de horror, até as capas podem ser em preto e branco, de fato, reduzindo assim ao mínimo os custos de impressão. A arte será inteiramente em tons de cinza. Cada número terá um número padrão de 22 páginas. No fim de cada ano (se as vendas permitirem) uma edição reunindo os 12 números do ano anterior será lançada no mesmo mês do primeiro número do ano seguinte, garantindo um ponto de retomada perfeito a cada ano (volume 1 à venda no mesmo mês do n° 13 etc).

Contato

Robert Kirkman

tHE WalKiNg dEad #1

1) Flash Back Rick leva um tiro.

2) Acorda no hospital, remove tubos, se veste.

3) Procura hospital.

4) Cadáver Pinos.

5) “Jesus... Que diabo aconteceu aqui?”

6)

7) Epidemia? Abrigo, tranca de zumbi aberta.

8) Fugindo, tropeçando, cambaleando, cai na escada.

9) Desce para garagem. Painel WIOE no térreo.

10) Examina carros... começa a andar.

11) Vê criança na estrada, vai pegar bicicleta.

12) Criança começa a se mover. Vira horrorizado... foge na bi-cicleta

13) Chega em casa. Ninguém lá, olha em volta, vai à garagem.

14) Vai ao quintal, leva pancada na cabeça.

15) Homem negro e criança. “Oh, merda”.

16) Levam-no para a casa.

17) Rick acorda, longa conversa.

18) Mais conversa. “Então, você é um policial?”; “Qual foi sua primeira pista?”

19) Risadas. Rick mostra chaves. “Quer ir às compras?”

20) Chega delegacia. Olha mesas.

21) Na sala de armas pegando armas.

22) Saindo com carros. Dizendo adeus.

23) Partindo... Para carro, desce.

24) Painel superior criança zumbi de novo. Atira, grita, vai em-bora.

“Então, achei que você fosse um policial.”

“Dizem que nossa geração teve tudo fácil.”

Tinha que haver uma retribuição...

Walking-brasil.indd 19 16/05/13 12:12

Page 21: The Walking Dead: os bastidores

20 THE WALKING DEAD: OS BASTIDORES

A Noite dos Mortos-Vivos”, Kirkman explica, “e

também de economizar um pouco de dinheiro na

impressão. Imaginei que, se as vendas caíssem, eu

queria contar o máximo possível da história antes

de encerrarem minha série, e poderíamos ir um

pouco mais longe se a impressão fosse mais barata.”

Hoje, a produção de quadrinhos coloridos não é

proibitivamente mais cara que outros em preto e

branco, mas Kirkman ainda acredita que a arte

escolhida permite a seus quadrinhos vendas muito

mais altas. Ela também tem outros benefícios.

que não considerava necessário seguir por esse

caminho – e, felizmente, Stephenson concordou.

A evolução no quadrinho ainda não estava

completa. O título de trabalho da prova não era

o mesmo com que a obra seria lançada. Quando

Kirkman desistiu do plano com Dead Planet,

ele precisava encontrar um título que se enqua-

drasse na nova história. Queria alguma coisa

que focasse sua principal influência: A Noite dos

Mortos-Vivos, o filme de George Romero de 1968

que reinventou o gênero de terror e apresentou a

moderna ideia de zumbis. Como quis o destino,

o distribuidor original daquele filme deixou de

incluir uma nota de direitos autorais nas cópias,

o que é requisito para um título ter direitos

autorais nos Estados Unidos. Como resultado,

A Noite dos Mortos-Vivos entrou no domínio

público. E era esse o nome que Kirkman queria

dar a seu novo épico sobre zumbis.

Mais uma vez, executivos na Image Comics

interferiram com sábios conselhos. Embora

houvesse a importância do nome, certamente

ele limitaria o que poderia ser feito além dos

quadrinhos. Quem se interessasse pelos direi-

tos da história para o cinema ou televisão teria

que mudar o título pare evitar confusão com o

original. Como a história não tinha nenhuma

conexão com o filme, era melhor escolher um

novo título. E assim nasceu The Walking Dead.

Embora a história de Kirkman fosse única,

havia alguns elos com o filme que ele considerava

sua inspiração, elos que iam além de trechos de

diálogo do filme que ele usara na prova revisada.

A decisão de desenhar a arte interna em preto e

branco, por exemplo, foi uma escolha artística,

além de financeira. “Pensamos que seria um jeito

de homenagear o trabalho de George Romero em

ACIMA: Como se percebe no trabalho de Moore no n°2 da série, página 13, a morbidez inerente à batalha zumbi é um pouco atenuada pelo fato de os quadrinhos serem em preto e branco, mas a violência ainda é evidente.

OPOSTA: The Walking Dead n° 2 foi publicado em no-vembro de 2003 com capa de Moore.

Walking-brasil.indd 20 21/05/13 10:53

Page 22: The Walking Dead: os bastidores

Walking-brasil.indd 21 16/05/13 12:12