TCFC3-06b-Carr-123

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1 Metafísica – Uma Introdução Brian Carr (U. Exeter) Resumão de CARR, B. (1987), Metaphysics: An Introduction. Londres: Macmillan. Confeccionado por Osvaldo Pessoa Jr. para a disciplina FLF0456, Teoria do Conhecimento e Filosofia da Ciência III, USP, 2006. O início aproximado de cada página do original está indicado entre colchetes: [8]. Comentários adicionais do resumidor, também entre colchetes, foram geralmente obtidos de KIM, J. & SOSA, E. (orgs.) (1995), A Companion to Metaphysics. Oxford, Blackwell. CAP. 1: DESCRIÇÃO CATEGORIAL I. INTRODUÇÃO [2] A metafísica, em sua forma mínima, é a atividade de “descrição categorial”. Ao falarmos da realidade, fazemos inúmeras divisões, algumas das quais são mais gerais, como a distinção entre coisas e suas propriedades, entre eventos e seus tempos e lugares, etc. (Cap. 1) I.1. Categorias Aristotélicas Em sua obra Categorias, Aristóteles fez uma lista de dez categorias ou “predicáveis”. Ao dizer “Aristóteles está no Liceu”, o predicado é “está no Liceu”, ou seja, estamos predicando “estar no Liceu” de alguma substância, que no caso é Aristóteles. [3] Note, porém, que não se trata de uma análise sintática de uma sentença, de uma discussão sobre linguagem, mas sim de uma discussão sobre a realidade. Cada categoria designa um tipo de coisa, não um tipo de termo lingüístico ou de idéia. No entanto, para investigar as categorias, Aristóteles precisava investigar a estrutura da linguagem e do pensamento. [4] O estudo dos entes mais gerais da realidade passa por um estudo da linguagem e pensamento, que fornecem as estruturas conceituais mais gerais com as quais categorizamos o mundo. [A metafísica se beneficia não só do estudo da linguagem e pensamento, mas também de sistemas lógicos, dos resultados da ciência (física, cosmologia, biologia, etc.), e dos resultados da ciência cognitiva a respeito de como linguagem e pensamento funcionam.] (Cap. 1) I.2. Categorias Kantianas [5] As categorias em Immanuel Kant provêm do pensamento, não das coisas-em-si, ao contrário do que ocorre com Aristóteles. A fonte das “formas do entendimento” em Kant foi a lógica tradicional. A “quantidade” de um juízo pode ser universal, particular ou singular; a “qualidade” pode ser afirmação, negação ou infinitude; a “relação” pode ser categórica, hipotética ou disjuntiva; e a “modalidade” pode ser problemática, assertiva ou apodítica. Disso, provêm as doze categorias kantianas, que são, respectivamente: unidade,

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Introdução a metafisica

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    Metafsica Uma Introduo

    Brian Carr (U. Exeter)

    Resumo de CARR, B. (1987), Metaphysics: An Introduction. Londres: Macmillan. Confeccionado por Osvaldo Pessoa Jr. para a disciplina FLF0456, Teoria do Conhecimento e Filosofia da Cincia III, USP, 2006. O incio aproximado de cada pgina do original est indicado entre colchetes: [8]. Comentrios adicionais do resumidor, tambm entre colchetes, foram geralmente obtidos de KIM, J. & SOSA, E. (orgs.) (1995), A Companion to Metaphysics. Oxford, Blackwell. CAP. 1: DESCRIO CATEGORIAL I. INTRODUO

    [2] A metafsica, em sua forma mnima, a atividade de descrio categorial. Ao falarmos da realidade, fazemos inmeras divises, algumas das quais so mais gerais, como a distino entre coisas e suas propriedades, entre eventos e seus tempos e lugares, etc. (Cap. 1) I.1. Categorias Aristotlicas

    Em sua obra Categorias, Aristteles fez uma lista de dez categorias ou predicveis. Ao dizer Aristteles est no Liceu, o predicado est no Liceu, ou seja, estamos predicando estar no Liceu de alguma substncia, que no caso Aristteles. [3] Note, porm, que no se trata de uma anlise sinttica de uma sentena, de uma discusso sobre linguagem, mas sim de uma discusso sobre a realidade. Cada categoria designa um tipo de coisa, no um tipo de termo lingstico ou de idia.

    No entanto, para investigar as categorias, Aristteles precisava investigar a estrutura da linguagem e do pensamento. [4] O estudo dos entes mais gerais da realidade passa por um estudo da linguagem e pensamento, que fornecem as estruturas conceituais mais gerais com as quais categorizamos o mundo. [A metafsica se beneficia no s do estudo da linguagem e pensamento, mas tambm de sistemas lgicos, dos resultados da cincia (fsica, cosmologia, biologia, etc.), e dos resultados da cincia cognitiva a respeito de como linguagem e pensamento funcionam.] (Cap. 1) I.2. Categorias Kantianas

    [5] As categorias em Immanuel Kant provm do pensamento, no das coisas-em-si, ao contrrio do que ocorre com Aristteles. A fonte das formas do entendimento em Kant foi a lgica tradicional. A quantidade de um juzo pode ser universal, particular ou singular; a qualidade pode ser afirmao, negao ou infinitude; a relao pode ser categrica, hipottica ou disjuntiva; e a modalidade pode ser problemtica, assertiva ou apodtica. Disso, provm as doze categorias kantianas, que so, respectivamente: unidade,

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    pluralidade ou totalidade; realidade, negao ou limitao; substncia & acidente, causa & efeito, ou interao recproca; possibilidade, existncia ou necessidade.

    [6] Aristteles pode ser considerado um realista categorial, ao passo que Kant seria um conceitualista categorial. [7] H, porm, uma forma de conceitualismo que no nega (como faria Kant) que tenhamos acesso realidade, mas tambm no o afirma (como faria um realista). esta a linha de descrio categorial mnima defendida pelo autor. (Cap. 1) I.3. Relativismo Metafsico de Collingwood

    Robin Collingwood, em seu Ensaio de Metafsica (1940), defende que a metafsica o estudo dos pressupostos fundamentais do pensamento cientfico de uma poca, como por exemplo o princpio de causalidade da fsica determinstica da mecnica clssica. Como a cincia muda com o passar do tempo, assim tambm a metafsica deve ser sempre revista. Carr chama tal concepo de relativismo categorial, em oposio ao absolutismo de Aristteles e Kant. [8] verdade que, em algumas passagens, Kant considera a possibilidade de haver criaturas com estruturas perceptivas diferentes, ou divises categoriais diferentes uma tese do realismo categorial mas depois ele argumenta a favor do absolutismo categorial.

    [9] A posio de Carr que a descrio categorial mnima no precisa adotar o relativismo, e nem o absolutismo. (Cap. 1) I.4. Strawson sobre Descrio versus Prescrio

    Carr reconhece a influncia que recebeu da obra de Peter Strawson, Individuals

    (1959), [10] mas discorda da distino do oxfordiano entre metafsica descritiva e revisionista. A primeira se contenta em descrever a estrutura que de fato tem nosso pensamento, ao se refeir ao mundo; a revisionista busca alcanar uma estrutura melhor. Segundo Strawson, Aristteles e Kant seriam descritivistas, ao passo que Descartes, Leibniz e Berkeley seriam revisionistas.

    [11] Carr tambm critica a afirmao de Strawson de que podemos nos concentrar na estrutura do pensamento, de maneira independente do estudo da linguagem. Discorda tambm que se possa argumentar que a metafsica descritiva captura as caractersticas imutveis do pensamento (um absolutismo metafsico). [12] (Cap. 1) I.5. Categorias como Tipos Fundamentais

    [13] Devemos aceitar que existam categorias que sejam as fundamentais? Ou haveria diferentes graus de fundamentalidade? Kant, por exemplo, concebeu suas doze categorias como sendo igualmente fundamentais, independentes, e exaustivas. [14] Mas pode-se argumentar que a categoria de interao recproca pode ser derivada das categorias de substncia e causalidade. Assim, Carr considera melhor estudar quais so as categoriais mais (more) fundamentais, sem se preocupar sobre quais seriam as mais (most) fundamentais de todas.

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    II. O LUGAR DA METAFSICA NA FILOSOFIA

    A metafsica no pode ser investigada em isolamento com relao s outras reas da filosofia, como a epistemologia ou a filosofia da mente. Ilustraremos isso examinando a tentativa de Descartes de provar a natureza dual de uma pessoa, e o problema do estatuto ontolgico dos fatos.

    (Cap. 1) II.1. Descartes sobre Mente e Corpo

    [15] Na Segunda Meditao, Ren Descartes (1641) apresenta seu clebre argumento envolvendo o cogito, que pode ser resumido da seguinte maneira: 1) Estou certo de que eu existo. 2) No tenho certeza de que tenho um corpo. Portanto 3) Minha existncia no envolve um corpo. Portanto 4) Eu existo enquanto uma coisa pensante, um res cogitans.

    [16] Antoine Arnauld (1641) criticou a passagem de 1 e 2 para 3, por se basear na ignorncia a respeito de um fato. Esse problema talvez possa ser evitado, mas o interessante perceber como uma tese relativa descrio categorial (ou seja, natureza das coisas) est intimamente ligada a uma tese epistemolgica (sobre o que podemos ter certeza de conhecer).

    Na Sexta Meditao, [17] Descartes props um argumento em favor do dualismo, ou seja, a tese metafsica de que existe uma diferena real entre mente e corpo. Novamente, ele se baseia em premissas epistemolgicas.

    (Cap. 1) II.2. Estatuto Ontolgico dos Fatos

    [18] A descrio categorial examina os tipos fundamentais de coisas que tm lugar em nossos esquemas conceituais. Alm dos particulares, das propriedades, dos eventos, etc., interessante estudar que tipo de coisa um fato, tipo de ser que no aparece na lista de categorias de Aristteles e Kant. Exemplos de substncias particulares so Napoleo e o Big Ben. Um exemplo de um fato que Napoleo perdeu a batalha de Waterloo. Fatos envolvem particulares, mas nem sempre; por exemplo, o fato de que ser azul ser colorido.

    Outra diferena entre particulares e fatos que os primeiros podem sempre ser associados a uma data e local, mas um fato no. O fato de que Napoleo perdeu em Waterloo em 1815, segundo Carr, no datado em 1815, pois trata-se de um fato hoje. Sem falar em exemplos mais claros, como o fato de que 2 um nmero par, [19] ou uma lei fsica.

    Um acontecimento difere de um fato justamente por poder ser associado a um tempo e local: um evento um acontecimento que ocorre num instante, um processo um que ocorre em um tempo mais longo. [20] Um fato tampouco uma propriedade, apesar desta tambm no ser associada a um tempo e local. Propriedades so possudas por particulares, fatos no.

    Uma sugesto que fatos possam ser igualados a proposies verdadeiras. Mas isso no d certo, pois um fato o que torna uma proposio verdadeira. Uma abordagem categorial aos fatos foi apresentada por David Hamlyn (1962). [21] Em suma, fatos podem

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    ser considerados entes do mundo, a no ser que exijamos que a realidade seja co-extensiva com entes espao-temporais. Esta concluso mina, em certa medida, teses como a de George E. Moore (1903), segundo a qual valores no podem ser identificados com fatos, j que valores no tm localizao espao-temporal. Ora, fatos tambm no tm localizao, de forma que este argumento da falcia naturalista no procede. Segundo Carr, pode haver fatos morais, assim como fatos estticos. Vemos assim a relevncia da metafsica tambm para a tica e para a esttica. [22]

    III. AFIRMAES METAFSICAS: CRITRIOS E ESTATUTO (Cap. 1) III.1. H Vrios Critrios

    Ao examinarmos os fatos, vimos certos critrios para se julgarem afirmaes a respeito de categorias. O primeiro critrio a ser apontado que afirmaes categoriais so avaliadas em termos de nossa fala sobre a realidade. [23] Mas algo mais do que uma mera coleo de observaes lingsticas necessrio: preciso tambm abstrair e idealizar. Por fim, interessante prestar ateno na interface da metafsica com outras reas da filosofia. Por exemplo, a filosofia da cincia avanou muito ao esclarecer a descrio categorial envolvendo a relao entre fatos e teoria. Carr tambm promete mostrar como a descrio categorial pode mostrar os erros da nova metafsica essencialista de Saul Kripke e David Lewis.

    (Cap. 1) III.2. Relativismo, Objetividade e Cognitivismo

    [24] As descries categoriais tratam das caractersticas mais amplas e funda-mentais de nossa atividade de pensamento e linguagem, e assim no esto sujeitas aos perigos de especulaes a respeito da realidade em si. Mas mesmo para quem busca afirmaes metafsicas substantivas, a descrio categorial til como passo preliminar.

    Assim, a descrio categorial mostra que particulares e propriedades so tipos de coisa diferentes. Outra questo se, na realidade, existem particulares e propriedades. A descrio categorial no precisa entra nesta questo! Mesmo assim, Carr anuncia que em seu ltimo captulo ir abandonar a postura neutra da descrio categorial, e ir tecer concluses a respeito da realidade. Defender que a suposio do absolutismo metafsico no necessria para um realismo metafsico.

    CAP. 2: SUBSTNCIA I. SUBSTNCIAS ENQUANTO COISAS INDIVIDUAIS OU PARTICULARES

    [25] Com relao terminologia, o autor utiliza os termos ser [being], ente [entity], existente [existent] e coisa [thing] de modo intercambivel, e aplicveis latu sensu aos membros de todas as categorias. No entanto, usual associarmos essas palavras a uma categoria em especial, a dos particulares ou indivduos. Assim, em um sentido estrito,

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    coisa designa um indivduo, que diferente de suas propriedades , etc. O termo usado tradicionalmente em metafsica para esta categoria (associada a indivduos) substncia.

    [26] O termo substncia se refere a coisas que tm uma existncia independente, para as quais acontecem coisas, e para as quais se podem atribuir propriedades e relaes. Por exemplo, Plato uma substncia, mas a altura de Plato no, pois esta no tem realidade independente de Plato.

    Segundo Aristteles, substncia a resposta questo o que ? (resposta: um homem), diferindo, claro, de questes como o que tem? (certa altura) ou onde est? (na Academia). Nas Categorias, Aristteles tambm distingue entre uma substncia primeira e uma segunda. A primeira se refere a um indivduo especfico, por exemplo: Um homem atravessou o salo; a segunda se refere a uma classe ou gnero [kind]: Um homem um bpede implume.

    [27] No presente captulo, Carr estar preocupado com a descrio categorial da substncia primeira (indivduos), ao passo que no cap. 3 se voltar substncia segunda (essncias). [28]

    II. O QUE SUBSTNCIAS NO SO (Cap. 2) II.1. O Substrato de Locke

    Para John Locke (1690), o substrato [substratum] seria a entidade que subjaz s propriedades de uma coisa [seria a materia prima de Aristteles, que carregaria as propriedades, mas que em si no as teria]. H uma discusso a respeito de como Locke encarava a tese metafsica do substrato, que no seria consistente com uma postura empirista. [29] Parece que ele considerava o substrato apenas como uma idia que formamos, sem que possamos dizer que corresponda a algo real.

    Um particular, de acordo com essa concepo, seria uma coleo de propriedades que seriam embasadas em um substrato. O substrato, em si, no teria propriedades [seria um particular despido, bare particular]. Assim, no seria possvel apontar qualquer diferena entre o substrato de uma rvore e o de uma pedra. Para que serve ento este conceito de substrato? No ajuda a individuar um particular, pois no podemos distingui-lo de outro, nem reconhecer que um particular o mesmo, nem classificar particulares em diferentes gneros.

    [30] Uma sada seria dizer que aquilo que carrega as propriedades de uma mesa no um substrato, mas sim a prpria mesa. Locke no teria se contentado com esta soluo porque isso identificaria a mesa com suas propriedades [essa a teoria do feixe, bundle theory, de Berkeley e Hume, que se ope noo de substrato]. Locke teria achado que uma propriedade teria que ser possuda por algo que no fosse uma propriedade. Mas Carr no v porque um grupo de propriedades no poderia ter caractersticas peculiares, no compartilhadas por cada propriedade individual, como a localizao espao-temporal. [31] Apesar do autor indicar a viabilidade desta abordagem redutiva aos particulares, como alternativa para a teoria do substrato, ele acaba no a levando muito a srio. Sua posio que os particulares so o que so, no um substrato e nem uma classe de propriedades.

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    (Cap. 2) II.2. Objetos dos Empiristas

    No Tractatus (1921), Ludwig Wittgenstein apresenta uma teoria de objetos que lembra o substrato de Locke, por no possurem propriedades. [32] Tais objetos seriam os constituintes de estados de coisas, que so o produto das relaes estruturais entre objetos, e seriam esses estados de coisas que seriam equivalentes aos particulares (num nvel macroscpico dentro do atomismo lgico do filsofo austraco). Seriam macro-particulares. Carr considera que suas crticas ao substrato de Locke tambm se aplicariam aqui. O atomismo lgico difere de um atomismo fsico por se preocupar no com as partes fsicas de um particular, mas com a construo lingstica do significado de proposies. [33] Na teoria representacional [picture theory] de Wittgenstein, nomes designam objetos, e a estrutura da linguagem (que concatena esses nomes) exibiria a estrutura do mundo.

    Os particulares usuais (estados de coisas) seriam compostos de particulares bsicos, os objetos, que satisfazem os requisitos dos particulares: so existentes distintos, apesar de no poderem existir fora de sua combinao com os outros, mantm relaes entre si, e persistem (conservam-se) durante as mudanas dos estados de coisas.

    [34] Carr examina as crticas teoria do significado do Tractatus, e conclui que os objetos de Wittgenstein no so um bom exemplo da categoria de coisas particulares. Mesmo assim, acha interessante a busca por particulares mais esotricos, que serviriam de base para os macro-particulares de nosso mundo.

    O outro proponente do atomismo lgico foi Bertrand Russell (1918), cuja verso era mais reducionista e proposto em um contexto filosfico diferente. [36] Naquela poca, Russell estava satisfeito em associar um nome prprio a um dado do sentido, como esta mancha branca em meu campo visual, o que o aproximava do fenomenalismo de David Hume. Porm, sua verso priorizava a anlise lgica de sentenas, envolvendo nomes que se referem a particulares, e no se preocupava com a questo do contedo da categoria dos particulares.

    interessante comparar essas abordagens empiristas com as duas teorias da substncia do racionalista Gottfried Leibniz. [37] Sua primeira teoria identifica substncias com entidades que chama de mnadas. Uma mnada uma substncia simples (sem partes), atmica, sem extenso, sem forma, indestrutvel, que no interage causalmente, e dotada de percepo (Monadologia, publ. 1714). Sua segunda teoria identifica as substncias com instanciaes de noes completas, o que incluiria particulares ordinrios, alm das mnadas. [38] Leibniz considerava que cada uma dessas substncias individuais teria uma definio que incluiria todas as verdades a seu respeito, ou seja, um nome no se referiria apenas a um indivduo, mas tambm a sua definio completa (Discurso de Metafsica, 1686). (Cap. 2) II.3. Designao Rgida

    A tese leibniziana de que particulares seriam instanciaes de noes completas faz com que todas as suas propriedades sejam necessrias. Em oposio a isso, costume assumir que muitas propriedades dos particulares sejam contingentes. [39] Poderamos at querer defender que todas as propriedades dos particulares sejam contingentes, apesar de parecer haver excees para isso, como os nmeros (que so particulares peculiares), que tm propriedades necessrias.

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    Saul Kripke (1970), dentre outros filsofos da corrente chamada de essencialismo moderno (que incluem Hilary Putnam, David Lewis e Alvin Platinga), argumenta que particulares tm tanto propriedades essenciais quanto contingentes, e que isso se reflete no uso de nomes para designar particulares. Os nomes so designadores rgidos que se referem ao mesmo particular neste mundo e em todos os mundos possveis, em virtude de suas propriedades essenciais.

    Consideremos Alexandre Magno. Que ele tenha sido o vencedor de Dario uma propriedade contingente. Frege e Russell poderiam argumentar que o nome Alexandre uma descrio disfarada da propriedade ser filho de Felipe da Macednia, que seria essencial. [40] Kripke, porm, segue John Stuart Mill ao defender que nomes no so descries disfaradas, mas apenas dispositivos de referncia. As propriedades essenciais de um particular no so um reflexo do significado que atribumos ao seu nome, mas se encontram fora do uso de nossa linguagem, e tm que ser descobertas.

    Para esta concepo funcionar, preciso distinguir entre uma necessidade (e possibilidade) epistmica e uma necessidade de posse de propriedade. Suponha que Alexandre seja um designador rgido de Alexandre, em virtude da propriedade essencial de ser filho de Felipe. Esta uma propriedade necessria, pois em todos os mundos possveis Alexandre possui esta propriedade (esta a concepo de Leibniz, de que uma verdade necessria verdadeira em todos os mundos possveis). No entanto, para ns, este um fato emprico, e antes de conhecer sua verdade consideraramos epistemicamente possvel que ele no tivesse essa propriedade. [41] [42]

    H alguns problemas com esta concepo. Se, em algum mundo possvel, Alexandre tivesse tido um irmo gmeo idntico, como identificaramos sua propriedade essencial? Carr pondera que a objeo bsica contra a concepo de Kripke que nosso uso de nomes se d sobre o pano de fundo de uma apreciao compartilhada socialmente da histria mundial, e muitas definies se do sobre propriedades contingentes. [43] [44]

    (CAP. 2) III. O QUE SUBSTNCIAS SO

    Na seo anterior, Carr apresentou argumentos contra diferentes caracterizaes de substncias primeiras. Mas algumas concluses positivas foram obtidas.

    Particulares so existentes independentes. Mesmo havendo diferentes interpretaes quanto a esta independncia (ver Descartes e Spinoza), [45] podemos adotar restries menos severas e aceitar que a categoria de particulares inclui coisas como uma mesa, uma montanha, uma pessoa, uma multido, etc.

    Particulares tambm tm propriedades (atributos, acidentes), se bem que uma propriedade como beleza tambm instancie uma propriedade, como desejabilidade. Eventos e processos tambm tm propriedades. Assim, no se pode querer definir particulares como aquilo que tem propriedades.

    [46] Uma diferena entre particulares, de um lado, e processos e eventos, de outro, que um evento ou processo pode ser definido a partir da mudana da propriedade de um particular, ou de um evento ou processo, ao passo que um particular no definido a partir de uma mudana de propriedade.

    Dentre as propriedades relacionais envolvendo particulares, eventos ou processos, duas se destacam: as relaes de localizao espao-temporais e as conexes causais.

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    (Cap. 2) III.1. Sujeitos em Aristteles Os dois critrios para uma boa teoria dos particulares, segundo Carr, que ela d

    conta da existncia independente dos particulares, e que faa uma distino clara entre particulares e acontecimentos.

    [47] Em Aristteles, ao dizer Scrates um homem, temos em Scrates uma substncia primeira, em relao qual algo predicado, que ele um homem. Homem tambm uma substncia, e que predica algo de Scrates, mas uma substncia segunda. Assim, faz sentido a afirmao de Aristteles de que uma substncia primeira aquilo do qual no se diz de um sujeito e nem parte de um sujeito. Ou seja, Scrates nunca poderia aparecer como um predicado em uma sentena. [48] Se dissssemos Joo Scrates, no se trataria de uma sentena com sujeito e predicado, mas de um enunciado de identidade.

    A distino feita por Aristteles funciona tanto no nvel da realidade, quanto no da linguagem e no do pensamento. Carr explica tambm como a metafsica de Strawson segue a abordagem aristotlica. [49] Mas ainda preciso suplementar a concepo aristotlica, para distinguir particulares de acontecimentos.

    (Cap. 2) III.2. Princpios de Identidade

    Um particular algo que tem princpios de identidade que permitem a individuao do particular, dentre outros de seu gnero, e tambm a re-identificao posterior do particular como sendo numericamente o mesmo. [50] O princpio de identidade para objetos fsicos familiares, como mesas, dever envolver consideraes sobre a localizao espao-temporal dos particulares. Assim, Carr prope o seguinte princpio de identidade:

    O critrio de individuao dado por aquelas caractersticas que so definitivas do gnero de indivduo e que o distinguem espacialmente de outros de seu gnero; o critrio de re-identificao dado pela suplementao deste critrio com a continuidade espao-temporal do objeto.

    H outros particulares alm dos objetos fsicos, dentre os quais dois tipos importantes: estados mentais e os possuidores dos estados mentais (pessoas e animais). Um estado mental, como a crena numa certa proposio, pode ser associado a um intervalo de tempo, e so possudos por algum que ocupam uma localizao espacial. [51] Porm, a questo da identidade pessoal complicada.

    Outro exemplo de particular so grupos dos particulares j mencionados. Tambm complicado estabelecer o critrio de identidade de uma multido ou de uma sociedade. Uma localizao espacial ou temporal tambm um particular. Outro tipo de particular seriam instanciaes de propriedades, como a altura de Plato, por exemplo.

    Por fim, Carr conclui que eventos e processos tambm so particulares. [52] Com relao questo da independncia, verdade que eventos dependem de particulares, mas os particulares mais simples tambm dependem, por exemplo, de sua localizao espao-temporal e de suas propriedades. Dentre os particulares, os acontecimentos (eventos e processos) se distinguem por poderem ser expressos por verbos, como em Joo sorri.

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    CAP. 3: ESSNCIA E ACIDENTE I. SUBSTNCIA E ACIDENTE

    Substncia ope-se a acidente ou atributo. Este par anlogo aos termos mais modernos particulares e propriedades. A oposio entre os termos do par foi examinada no captulo anterior. 1) Um particular nunca predicado de alguma coisa, ao passo que propriedades predicam e podem ser predicadas. 2) Particulares tm critrios de identidade, mas propriedades no: no se pode distinguir este vermelho carmim de outro vermelho carmim. Para propriedades, indistinguibilidade implica identidade.

    [54] A substncia segunda, de Aristteles, compartilha essas caractersticas das propriedades. Ela no um particular, mas sim o gnero e espcie nos quais participam os particulares. A diferena entre espcies comparvel diferena especfica entre dois particulares, mas no h critrio de identidade para espcies: no pode haver duas espcies qualitativamente idnticas que sejam numericamente distintas, como ocorre com os particulares.

    [Se escrevo a perereca um batrquio arbreo, o gnero batrquio, a espcie perereca, e a diferena arbreo. O gnero supremo uma categoria, e a espcie nfima no gnero de nada. Gnero, espcie e diferena pertencem a seus objetos de maneira essencial. A propriedade, atributo de uma s espcie, no essencial, mas pertence de maneira necessria. J o atributo acidente, o quinto predicvel dos medievais, no pertence necessariamente ao objeto.] (Cap. 3) I.1. O Problema dos Universais

    A investigao da categoria das propriedades tem uma longa histria no problema dos universais. Existem propriedades? Ou isso privilgio especial dos particulares? [55] A teoria que nega a existncia de universais chamada de nominalismo. Para o nominalismo, existem termos universais como vermelho ou animal, mas isso reflete apenas o uso lingstico que fazemos desses termos, e no algo a respeito da realidade. No sc. XVII, a teoria das idias gerais (por exemplo, em Locke) defendia a existncia de propriedades, e ela foi combatida por Berkeley e Hume, que argumentavam que todas as nossas idias (por exemplo, branco) so particulares, sendo somente usadas de maneiras variadas. Mesmo admitindo que existam idias gerais, o nominalismo afirma que tais propriedades no existem no mundo real, mas apenas em nossa linguagem [nominalismo, stricu sensu] ou mente [conceitualismo].

    Plato salientava a realidade das propriedades, e considerava que os particulares habitavam o mundo sombrio das aparncias. Os particulares seriam cpias imperfeitas das propriedades ideais. [56] Um problema com esta teoria, vislumbrado pelo prprio Plato, era estabelecer o que havia em comum entre um crculo desenhado no papel e a forma pura da circularidade: seria uma forma pura mais elevada ainda?

    Aristteles trouxe as propriedades para o mundo dos particulares. No haveria a circularidade em si mesma, mas apenas particulares circulares. No se trata de um nominalismo, pois as propriedades existem, sendo porm inerentes aos particulares.

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    [57] Talvez em conseqncia da queda da noo de espcie e gnero fixos, na biologia, muitos filsofos mais modernos tm considerado que as propriedades seriam oriundas apenas de semelhanas que percebemos nos objetos particulares. Essa teoria da semelhana [resemblance theory] precisa responder objeo colocada por Russell (1912): a noo de semelhana no seria neste caso um universal?

    (Cap. 3) I.2. Acidentes Essenciais

    Antes do sc. XVII, fazia-se uma distino entre propriedades (ou atributos) essenciais e acidentais. A rejeio feita por Locke da doutrina escolstica das formas substanciais o fez usar os termos atributo e acidente de maneira intercambivel. Mas, hoje em dia, o essencialismo est de volta, e utiliza-se o estranho termo acidente essencial [onde na verdade acidente usado como sinnimo de propriedade].

    Para entender isso, tracemos uma distino entre necessidade de dicto e necessidade de re. Vamos supor que 9 a soma de 4 e 5 atribua uma propriedade necessria ao nmero 9, uma propriedade essencial cuja posse faz parte do que 9 . Por outro lado, a afirmao solteiros so descasados tambm atribui uma propriedade necessria ao sujeito, [58] mas tal necessidade oriunda de uma conveno lingstica, no de um estado de fato. Assim, esta ltima um exemplo de uma necessidade de dicto, enquanto a propriedade do nmero 9 um exemplo de necessidade de re.

    A necessidade de re o que caracterizaria a relao entre propriedades essenciais, no-acidentais (ou seja, acidentes essenciais), e seus possuidores. Scrates humano envolveria necessidade de dicto, no de re.

    Aristteles considerava que espcies tinham propriedades essenciais; por exemplo, homem teria a propriedade essencial de ser racional. A funo da cincia seria classificar as espcies de acordo com essas propriedades necessrias de re. A noo de necessidade de re aparece tambm em Descartes, para quem a essncia da mente seria o pensamento e do corpo a extenso, e em Leibniz, para quem a essncia da mente humana seria o conhecimento das verdades eternas necessrias.

    [59] Na matemtica haveria tambm necessidade de re, mas hoje em dia muitos filsofos argumentam que a necessidade na matemtica de dicto. Carr argumenta ento que no existem casos claros de posse de propriedades que seja necessria de re. Considera gneros naturais [natural kinds], como a gua, argumentando que no necessrio de re que a gua seja composta de hidrognio e oxignio, mas algo contingente.

    No entanto, autores como Kripke e Putnam ressuscitaram a tradio aristotlica de usar modalidades de re para tratar de gneros naturais (que teriam propriedades essenciais), que seriam um exemplo de designador rgido.

    II. GNEROS NATURAIS

    John L. Mackie (1976) forneceu uma caracterizao mnima do que seria um gnero natural: o agrupamento legiforme [de acordo com uma lei] de propriedades [lawlike clustering of properties]. Por exemplo, gua, ouro, sal de cozinha, e vrias espcies de plantas e animais. Exemplos de gneros no-naturais, segundo Carr, seriam misturas

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    qumicas (como o solo), cadeiras, reis. Gneros naturais teriam sido separados pela natureza.

    Locke tratou desta questo, chamando o gnero natural de substncia, em oposio a um modo e uma relao, [61] que no tm existncia independente. Fez uma distino entre essncias nominais e reais de substncias. A essncia nominal de um gnero o complexo de idias abstratas que associamos s propriedades do gnero. Por exemplo, a essncia nominal do ouro so as idias de amarelo, cor brilhante, alta densidade, maleabilidade, fcil fuso, etc. No entanto, haveria um outro tipo de essncia, a essncia real, que seria a constituio interna real da substncia; [62] no caso do ouro, seria sua constituio atmica.

    (Cap. 3) II.1. O Nominalismo Lingstico de Locke

    Locke discordava da verso escolstica da teoria dos gneros naturais, a chamada teoria das formas substanciais. Locke discordava da suposio de que os tipos substanciais poderiam ser reconhecidos de maneira a priori, e ao fazer esta crtica acabou adotando a postura nominalista de que os tipos so construes nossas, e no entidades reais.

    Mas aceitando que h gneros naturais, e que coisas como o ouro tm uma essncia interna real e uma essncia nominal observvel, coloca-se a questo de como os termos de gneros naturais so usados. [63] A resposta de Locke que tais termos so usados em referncia essncia nominal. Porm, os homens tm o costume de associar tambm uma essncia real a esses termos, o que para Locke ftil.

    Carr critica este nominalismo lingstico do pensador ingls. [64] Argumenta que o avano da cincia torna menos ntida a distino entre as propriedades que so e que no so observveis. Reconhece, porm, que Locke no cometeu o erro de atribuir um critrio de identidade aos gneros naturais (ou seja, as essncias nominal e real dos gneros envolvem propriedades e no particulares). [65] Locke tambm no defende que as propriedades essenciais sejam necessrias de re. Ser Kripke quem introduzir tais necessidades de re na descrio dos gneros naturais. (Cap. 3) II.2. O Realismo Lingstico de Kripke

    Vimos que Locke associava o gnero natural a uma essncia nominal (a descrio das propriedades observveis), e no constituio interna. Saul Kripke (1970), em contrapartida, associa o gnero natural essncia real da substncia, exemplificada pela estrutura atmica do ouro. Gneros naturais no conotam propriedades, mas tm designao rgida (ver cap. 2, seo II.3), que vale em todos os mundos possveis.

    Mackie oferece algumas sugestes em favor de Kripke. Primeiro, defende que a viso deste se aplica s explicaes cientficas, [66] que buscam a constituio interna das substncias. Isso, no entanto, no significa que a cincia no possa associar um gnero natural a um complexo envolvendo essncia nominal e essncia real. Um segundo ponto que a essncia nominal de uma substncia pode variar de pessoa para pessoa, se estas percebem a substncia de maneiras diferentes, ao passo que a essncia real seria fixa. [67] Essa variabilidade, porm, pode ser superada se as pessoas adotarem uma conveno sobre quais so as propriedades definidoras de um gnero natural. [68]

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    De qualquer maneira, a tese de que os gneros naturais so designadores rgidos proposta como uma tese sobre o modo como esses termos so de fato usados. Um termo de gnero natural operaria como um dispositivo de referncia, sem contedo descritivo; ele designaria o mesmo gnero em todos os mundos possveis; e igualdade de gnero seria igualdade de essncia real. Assim, gneros naturais teriam propriedades essenciais necessrias de re.

    Tomemos como exemplo o termo gua. Ele se refere gua, independentemente de usas propriedades, como a liquidez, transparncia ou falta de odor. Descobrimos, porm, que a gua formada por H2O, de forma que esta seria sua essncia real. Assim, gua designaria H2O em qualquer mundo possvel. Por exemplo, em um mundo em que HCl tivesse todas as propriedades nominais da gua, mesmo assim ela no seria gua. Por outro lado, em um mundo em que H2O tivesse todas as propriedades diferentes das que conhecemos, mesmo assim ela seria gua.

    Essas possibilidades so bizarras porque pem em cheque as conexes entre essncias real e nominal de nosso mundo atual, ou seja, podem representar uma violao das leis naturais. [69]

    Outro ponto que, em diferentes mundos possveis, gneros com essncias reais diferentes podem ter as mesmas propriedades, de maneira indistinguvel. Isso vai contra a tese (defendida por Carr, ver incio do cap. 3) de que propriedades no poderiam ser duplicadas, que elas no viriam em um nmero distinto. Nesse sentido, os gneros seriam tratados por Kripke como particulares.

    Notemos tambm que a necessidade que a cincia atribui a certas leis contingente e emprica, sendo diferente das necessidades de re de Kripke. Ou seja, a necessidade envolvida na definio de gua como H2O diferente da necessidade que a cincia atribui s propriedades fenomnicas consecutivas. [70]

    Carr termina rejeitando a tese de Kripke. Argumenta que a afirmao de que gua poderia ser slida e opaca to plausvel quanto a afirmao de que gua poderia ser HCl. Critica a diviso entre propriedades observacionais e tericas pressuposta por Locke e Kripke. Rejeita, por fim, a relevncia de se usar mundos possveis para esclarecer nosso uso prtico de termos naturais.

    Defende Kripke, porm, da acusao de que seu uso de modalidade de re seria na verdade uma modalidade de dicto (para essas definies, ver cap. 3, seo I.2). [71] Discute brevemente, tambm, as noes de verdade necessria, verdade a priori e verdade analtica, mencionando que Harr & Madden (1975) aceitam que uma verdade necessria possa no ser nem analtica, nem a priori.

    Harr & Madden investigam a noo de poderes causais [causal powers], e definem um particular poderoso como um particular que tem a disposio de provocar alteraes em propriedades observacionais. Ou seja, teriam uma constituio interna (essncia real) e propriedades disposicionais (essncia nominal), que se relacionariam de maneira necessria. Esta necessidade, portanto, seria objeto da explicao cientfica. Em Kripke isso no ocorre, [72] j que para ele a essncia real independente da essncia nominal.