Tarô, A Sorte pelas Cartas - Arthur Edward Waite

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Transcript of Tarô, A Sorte pelas Cartas - Arthur Edward Waite

  • Arthur Edward Waite

    Tar A Sorte

    Pelas Cartas

    Constando de Fragmentos de Uma Tradio Secreta Sob o Vu da Adivinhao

    Com 78 gravuras ilustrando os Grandes e Pequenos Arcanos

    Traduo de: David Jardim Jnior

  • Ttulo do original: "The Pictorial Key to the Tarot"

    Da traduo Editora Tecnoprint S.A., 1985

    As nossas edies reproduzem integralmente os textos originais.

    IS BN 8 5 - 0 0 - 9 0 9 1 3 - 7

    Grupo Ediouro

    EDITORA TECNOPRINT S.A.

  • ndice Capa - Contracapa Prefcio .................................................................................................................7 Parte I O Vu e os S e u s S m b o l o s 1 Introduo e Generalidades ...................................................................11 2 Classe I Os Trunfos Maiores (ou Arcanos Maiores) ...................15 3 Classe II Os Quatro Naipes (ou Arcanos Menores) .....................23 4 O Tar na Histria ...................................................................................25

    Parte II A Doutrina por Trs do Vu 1 O Tar e a Tradio Secreta ..................................................................35 2 Os Trunfos Maiores e seu Simbolismo Oculto ...................................39 3 Concluses Quanto s Chaves Maiores ...............................................61 Parte III O Mtodo Externo d o s O r c u lo s 1 Distino Entre os Arcanos Maiores e os Menores ...........................65 2 Os Arcanos Menores ...............................................................................67 3 Os Arcanos Maiores e as suas Significaes Divinatrias ............ 123 4 Algumas Significaes Adicionais dos Arcanos Menores ............ 125 5 Repetio das Cartas na Distribuio ............................................... 129 6 A Arte de Adivinhao Pelo Tar ...................................................... 131 7 Um Antigo Mtodo Cltico de Adivinhao .................................... 133 8 Um Mtodo Alternativo de Ler as Cartas do Tar .......................... 137 9 O Mtodo de Leitura por Meio das Trinta e Cinco Cartas ............ 141

  • Prefcio

    Parece antes necessrio do que meramente prefervel, no sentido de apologia, que eu apresente em primeiro lugar uma completa explicao da minha atitude pessoal, como algum que por muitos anos de carreira literria tem sido sujeito s suas limitaes espirituais e de outras naturezas, um expoente das mais elevadas escolas msticas. Julgar-se- que estou agindo de maneira estranha, em face dos meus padres de conduta, tratando do que parece ser, primeira vista, um conhecido mtodo de adivinhar a sorte. Ora, as opinies do Sr. Smith, mesmo em revistas literrias, carecem da importncia, a menos que concordem com as nossas prprias, mas, a fim de justificar esta doutrina, devemos ter o cuidado de assegurar que as nossas opinies e os assuntos delas emanados tenham sempre o mais elevado sentido. Contudo, no deixa de parecer duvidosa no caso em foco, no somente ao Sr. Smith, a quem respeito, dentro dos devidos limites de independncia de pensamento, mas tambm a outros mais conseqentes, que os seus pontos de vista so os meus. A eles eu diria que, depois do muito iluminado Frater Cristo Rosa-Cruz ter visto o Casamento Qumico no Palcio Secreto da Transmutao, sua exposio se interrompe abruptamente, fazendo supor que ele esperava tornar-se o guardio da entrada no dia seguinte. Da mesma maneira, acontece mais vezes do que parece provvel que aqueles que viram o Rei do Cu atravs dos mais claros vus dos sacramentos so os que

    assumem depois disso os mais humildes ofcios de todos com relao Casa de Deus. Graas a tais simples recursos, tam-bm so os Iniciados e Gro-Mestres nas ordens secretas distinguidos da coorte dos nefitos como servi servorum mysterii. Assim tambm, ou de um modo que no de todo diferente, encontramos com as cartas do Tar nas portas mais externas no meio dos fragmentos e detritos das chamadas artes ocultas, acerca das quais ningum, em pleno gozo de seus sentidos, jamais sofreu a menor decepo; no entanto, essas cartas pertencem elas prprias a outra regio, pois contm um simbolismo muito alto, que interpretado de acordo com as Leis da Graa, e no pelos pretextos e intuitos daquilo que passa por adivinhao. O fato de ser a sabedoria de Deus loucura com os homens no justifica a presuno de que a loucura deste mundo tem sentido para a Sabedoria Divina; assim, nem os mestres das classes ordinrias, nem os pedagogos dos poderosos, tero facilidade de compreender a probabilidade ou mesmo a possibilidade de tal proposio. O assunto tem estado nas mos dos cartomantes como parte do ativo de seus negcios; no pretendo persuadir ningum fora de meu prprio crculo, nem acho que isso tenha muita ou nenhuma importncia; no mais feliz, porm, quem encara o fato de maneira histrica e interpretativa; tem ele sido abordado por expoentes que mereceram o desdm das pessoas dotadas de percepo ou qualidades filosficas

  • para a apreciao das provas. J tempo que se lhe traga socorro e o que pretendo fazer de uma vez por todas, uma vez tenha eu podido resolver as questes marginais que nos afastam da concluso. Do mesmo modo que a poesia a mais bela expresso das coisas que so de todas as mais belas, assim tambm o simbolismo a mais catlica expresso na ocultao de coisas que so as mais profundas no Santurio e que no poderiam se exteriorizar com toda a plenitude por meio da palavra falada. A justificao da regra do silncio no se enquadra na minha presente preocupao mas j expus alhures, e bem recentemente, o que possvel dizer a esse respeito.

    O pequeno tratado que se segue est dividido em trs partes, na primeira das quais abordei a antiguidade do assunto e alguns fatos dele decorrentes ou com ele relacionados. Deve ficar bem entendido que isso no constitui uma contribuio para a histria dos jogos de carta, acerca dos quais nada sei e pelos quais no me interesso; trata-se de consideraes dedicadas e dirigidas a uma certa escola de ocultismo, mais especialmente na Frana, como

    fonte e centro de toda a fantasmagoria que assumiu expresso nos ltimos cinqenta anos, sob o pretexto de se estudarem historicamente as cartas do Tar. Na segunda parte, tratei do simbolismo segundo alguns de seus mais elevados aspectos, e tambm isso serve para apresentar o Tar completo e retificado, encontrado separadamente, em forma de cartas coloridas, cujos desenhos so acrescentados ao presente texto em preto e branco. Foram preparadas sob a minha superviso no que diz respeito s atribuies e significaes por uma dama de grande valor como artista. No que diz respeito parte divinatria, com a qual termina a minha tese, considero-a, pessoalmente, como um fato na histria do Tar; como tal, tirei, de todas as fontes escritas, uma harmonia das significaes que tm sido atribudas s v-rias cartas, e assegurei proeminncia a um mtodo de trabalho que no fora anunciado anteriormente; tendo o mrito da simplicidade, embora seja tambm de aplicao universal, pode servir para substituir os sistemas incmodos e complicados dos tratados maiores.

  • PARTE

    I O Vu

    e os seus Smbolos

  • 1 Introduo e

    Generalidades

    A patologia do poeta diz que o astrnomo incru louco; a patologia do homem comum diz que o gnio louco; e entre esses extremos, que se incluem entre milhares de excessos anlogos, a razo soberana assume o papel de rbitro e faz o que pode. No creio que haja uma patologia das consagraes ocultas, mas quanto s suas extravagncias, ningum pode questionar, e no h menos dificuldade do que ingratido em atuar como rbitro a seu respeito. Alm disso, a patologia, se existisse, seria provavelmente antes um empirismo do que um diagnstico, e no ofereceria critrio. Ora, o ocultismo no se assemelha a uma faculdade mstica, e muito raras vezes atua em harmonia, quer com as aptides de desempenho na vida prtica comum, quer com o conhecimento dos critrios de prova em sua prpria esfera. Sei que, para a grande arte da grosseira irreverncia, h poucas coisas mais tolas do que a crtica que sustenta que uma tese inverdica, e no pode compreender que decorativa. Tambm sei que, depois de contato muito prolongado com uma doutrina duvidosa ou com pesquisas difceis, sempre reconfortador, no domnio dessa arte, encontrar-se o que fruto indiscutvel da fraude ou pelo menos da insensatez. Os aspectos da histria, porm, tais como vistos atravs das lentes do ocultismo, no se apresentam como uma regra decorativa, e tm pouca capacidade de curar as dilaceraes que infligem ao entendimento lgico. Quase exige que um Frater Sapiens dominabitur astris na Fraternidade Rosa-Cruz

    tenha a pacincia que no se perca entre as nuvens da loucura quando se considera o Tar de acordo com a mais alta lei do simbolismo. O verdadeiro Tar simbolismo; no fala outra linguagem e no oferece outros sinais. Dada a linguagem interior dos emblemas, eles se tornam uma espcie de alfabeto que capaz de ilimitadas combinaes e tem sentido em todas. No plano mais alto, oferece uma chave para os Mistrios, de uma maneira que no arbitrria e no tem sido lida. Contudo, falsos casos simblicos tm sido contados a seu respeito, e a verso errnea tem sido apresentada em todas as obras at agora publicadas sobre o assunto. Dois ou trs autores insinuaram que, pelo menos no que diz respeito s significaes, tal caso inevitvel, porque poucos com ele esto familiarizados, e, ao mesmo tempo, esses poucos tm compromissos solenes e no podem trair a confiana neles depositada. A sugesto fantstica, pois se apresenta um certo anticlmax na sugesto de que uma interpretao particular da previso da sorte l'art de tirer les caries possa ser reservada para os Filhos da Doutrina. Permanece, no obstante, o fato de que existe uma Tradio Secreta a respeito do Tar, e, como h sempre a possibilidade de que algum arcano menor dos Mistrios possa se tornar pblico com alarde, convm antecipar o acontecimento e advertir os que tm curiosidade de conhecer o assunto de que qualquer revelao conter apenas a terceira parte das terras e do mar e a terceira parte das estrelas do cu a respeito do

  • simbolismo. Isso pela simples razo de que, nem o que diz respeito s razes, nem quanto ao desenvolvimento, algo tenha sido escrito, de modo que muita coisa restar para ser dita aps a pretensa revelao. No tm, portanto, motivo para alarme os guardies dos templos de iniciao que vigiam os mistrios dessa ordem.

    Em meu prefcio de O Tar dos Bomios, que, mais por mero acaso, foi reeditado recentemente aps um longo perodo, eu disse o que era ento possvel ou parecia mais necessrio. A presente obra destina-se mais especialmente como j indiquei a apresentar um conjunto de cartas retificado e dizer a desataviada verdade a seu respeito, tanto quanto seja possvel nos crculos exteriores. No que diz respeito seqncia dos smbolos maiores, sua definitiva e mais alta significao mais profunda do que a linguagem comum de figuras ou hierglifos. Isso ser compreendido por aqueles que receberam al-go da Tradio Secreta. No que diz respeito s significaes verbais aqui atribudas s Cartas de Trunfo mais importantes, destinam-se elas a pr de lado as tolices e imposturas das passadas atribuies, colocar no caminho devido quem tiver o dom do discernimento e tomar cuidado, dentro dos limites de minhas possibilidades, para que mostrem a verdade at o mximo possvel.

    E lamentvel, sob vrios aspectos, que eu tenha de confessar certas reservas, mas uma questo de honra. Alm do mais, entre as tolices por parte daqueles que nada conhecem da tradio, h, contudo, em sua prpria opinio, os expoentes de algo chamado cincia e filosofia ocultas, e, por outro lado, entre a simulao de alguns poucos autores que receberam parte da tradio e pensam que isso representa um titulo legal para jogar poeira nos olhos do mundo, acho que chegou a ocasio de dizer o que possvel dizer, de maneira que

    possa ser reduzido ao mnimo o efeito do atual charlatanismo e ignorncia.

    Veremos oportunamente que a histria das cartas do Tar , em grande parte, de carter negativo, e que, quando as questes so esclarecidas pela dissipao dos sonhos e especulaes gratuitas expressadas em termos de certeza, no existe, de fato, histria alguma anterior ao Sculo XIV. A decepo e desencanto a respeito de sua origem no Egito, ndia ou China levam a considerar mentirosos os seus primeiros expositores, e os autores ocultistas posteriores pouco mais fizeram do que reproduzirem o primeiro falso testemunho, com a boa f de uma inteligncia inadequada aos problemas da pesquisa. O que aconteceu que todas as exposies se colocaram em uma faixa muito estreita, e pouco deveram, falando-se relativamente, faculdade inventiva. Pelo menos uma tima oportunidade foi perdida, pois ainda no ocorreu a quem quer que seja, at agora, a idia de que o Tar talvez tenha surgido como uma linguagem simblica das seitas albigenses. Encaminho essa sugesto aos descendentes espirituais em linha reta de Gabriele Rosseti e Eugne Aroux, ao Sr. Harold Bayley como outra Nova Luz sobre a Renascena e pelo menos como uma luz, ainda que fraca, na escurido e que, com todo o respeito, poderia ser til ao zeloso e pesquisador esprito da Sra. Cooper-Oakley. Imagine-se s o que o suposto testemunho das linhas d'gua do papel pode ganhar com as cartas de Tar do Papa ou Hierofante, com relao idia de um patriarca secreto albigense, sendo que o Sr. Bayley encontrou nas mesmas linhas d'gua tanto material para o seu objetivo. Imagine-se s por um momento a carta da Alta Sacerdotisa como representante da prpria Igreja albigense; e lembre-se da Torre atingida pelo Raio como representando a almejada destruio de Roma Papal, da cidade das sete colinas, com o pontfice

  • e seu poder temporal abatidos do edifcio espiritual quando feridos pela ira de Deus. As possibilidades so to numerosas e persuasivas que quase enganam em sua expresso um dos eleitos que as inventou. H mais do que isso, porm, embora eu mal me atreva a mencionar. Quando chegou a ocasio em que as cartas de Tar tiveram a primeira explicao formal, o arqueologista Court de Gebelin reproduziu alguns dos seus emblemas mais importantes, e se assim lcito expressar-me o cdigo de que ele se utilizou serviu por meio de suas placas gravadas como base de referncia para muitos conjuntos que foram lanados posteriormente. As figuras so muito primitivas e diferem, nesse sentido, das cartas de Etteilla, do Tar de Marselha, e de outros ainda em uso na Frana. No sou bom juiz em tais assuntos, mas o fato de cada um dos Trunfos Maiores corresponder questo da linha d'gua mostrado pelos casos que citei e pelo exemplo mais notvel do As de Copas.

    Eu poderia cham-lo de um emblema eucarstico, pelo seu feitio de cibrio, mas isso no tem significao no momento. A questo que o Sr. Bayley apresenta seis dispositivos anlogos em sua Nova Luz sobre a Renascena, sendo a linha d'gua do Sculo XVII do papel que ele afirma ser de origem albigense e representar emblemas sacramentais e do Santo Gral. Se ele tivesse ao menos ouvido falar do Tar, e sabido que aquelas cartas de adivinhao, cartas da sorte, cartas de todas as artes aleatrias, eram talvez comuns naquele perodo

    no Sul da Frana, creio que a sua encantadora mas fantstica hiptese poderia ter sido ampliada ainda mais na atmosfera do seu sonho. Teramos tido, sem dvida, uma viso do gnosticismo cristo, do maniquesmo e de tudo que ele entende por Evangelhos puramente primitivos, se mostrando vivamente por trs do quadro.

    No olho atravs de tais lentes, e s posso chamar a ateno para o assunto em um perodo posterior; saliente-se aqui que posso apresentar como um indito portento as maravilhas da especulao arbitrria quanto histria das cartas.

    Com referncia sua forma e ao seu nmero, nem seria necessrio mencion-los, pois devem ser bastante conhecidos, mas, como de certo modo temerrio presumir qualquer coisa, e como h tambm outras razes, vou descrev-los em poucas palavras, como se segue.

  • 2 Classe I Os Trunfos Maiores

    (ou Arcanos Maiores)

    1. O Mago, Mgico ou Pelotiqueiro o jogador de dados e saltimbanco, no mundo da trapaa vulgar. Trata-se de uma interpretao generalizada, e corresponde significao simblica real que o uso da consulta da sorte no Tar tem com a sua construo mstica, de acordo com a cincia secreta do simbolismo. Devo acrescentar que muitos estudiosos do assunto independentes, seguindo as suas prprias luzes, tiraram as suas prprias concluses individuais das significaes no que diz respeito aos Trunfos Maiores, e as luzes so por vezes sugestivas, mas no so as luzes verdadeiras. Assim, por exemplo, Eliphas Lvi diz que o Mago significa a unidade, que a me dos nmeros; outros dizem que ele a Unidade Divina; e um dos ltimos comentaristas franceses considera que, em seu sentido geral, ele a vontade.

    2. A Alta Sacerdotisa, a Papisa Joana ou a Mulher Pontfice; antigos expositores consideravam essa carta como a Me, ou Esposa do Papa, o que se ope ao simbolismo. Algumas vezes tida como representando a Lei Divina e a Gnose, caso em que a Sacerdotisa corresponde idia da Shekinah. E ela a Tradio Secreta e o sentido superior dos Mistrios institudos.

    3. A Imperatriz, s vezes representada de frente, e o seu correspondente, o Imperador, de perfil. Como tem havido uma certa tendncia de atribuir uma significao simblica a essa figura, parece aconselhvel dizer que ela no tem significao

    oculta. A Imperatriz tem sido relacionada com as idias de fecundidade universal e, de um modo geral, com a atividade.

    4. O Imperador, por deduo esposo da anterior. As vezes representado usando, alm de suas insgnias pessoais, as estrelas e fitas de alguma ordem de cavalaria. Menciono isso para mostrar que as cartas constituem uma mistura de antigos e novos emblemas. Os que insistem na evidncia de um, podem tratar com o outro, se estiver ao seu alcance. Nenhum argumento de peso em favor da antiguidade de uma determinada figura pode ser tirado do fato de que ele incorpora material antigo; mas tambm nenhum pode se basear em novidades espordicas, cuja ocorrncia s pode significar a interveno pouco inteligente de um compilador ou de um arranjador retardatrio.

    5. O Alto Sacerdote ou Hierofante, chamado tambm Pai Espiritual, e mais comum e obviamente o Papa. Parece mesmo ter sido chamado o Abade, e, nesse caso, a sua correspondncia, a Alta Sacerdotisa, era a Abadessa ou Madre do Convento. Ambos so nomes arbitrrios. As insgnias da figura so papais, e, em tal caso, a Alta Sacerdotisa , e s poderia ser, a Igreja, com a qual o Papa e os sacerdotes esto casados pelo rito espiritual da ordenao. Penso, contudo, que, em sua forma primitiva, essa carta no representava o Pontfice Romano.

  • 6. Os Amantes ou o Casamento. Este smbolo sofreu muitas variaes, como era de se esperar de tal representao. Na forma do Sculo XVIII, com a qual se tornou pela primeira vez conhecido pelo mundo das pesquisas arqueolgicas, era realmente uma carta representando a vida matrimonial, mostrando um pai e uma me com o filho entre os dois; e o Cupido pago em cima, no ato de lanar a sua seta, , naturalmente, um emblema mal aplicado. Cupido o amor iniciante, e no o amor em sua plenitude, guardando o seu fruto. Segundo se diz, a carta foi intitulada Simulacrum fidei, smbolo da fidelidade conjugal, para o qual o arco-ris o sinal da aliana, que teria sido mais adequado. Tambm se acha que as figuras significavam a Verdade, a Honra e o Amor, mas desconfio que isso foi, por assim dizer, a glosa de um comentarista moralizante. Era isso, mas tinha outros e mais elevados aspectos.

    7. O Carro. Este representado em alguns volumes antigos como sendo puxado por duas esfinges, e o dispositivo est de acordo com o simbolismo, mas no se deve supor que essa tenha sido a sua forma original; a variao foi inventada para apoiar uma determinada hiptese histrica. No sculo XVIII, estavam atrelados ao carro cavalos brancos. No que diz respeito ao seu nome habitual, o menor confirma o maior; trata-se realmente do Rei em seu triunfo, retratando, contudo, a vitria que cria o reino como sua conseqncia natural, e no a realeza imperante da quarta carta. M. Court de Gebelin disse que se tratava de Osris Triunfante, o Sol vencedor

    na primavera, tendo vencido os obstculos do inverno. Sabemos agora que Osris ressuscitando no representado por to bvio simbolismo. Outros animais alm de cavalos tambm tm sido usados para puxarem o currus triumphalis, como, por exemplo, um leo e um leopardo.

    8. A Fortaleza. Esta uma das quatro virtudes cardeais, das quais falarei mais tarde. A figura feminina geralmente representada fechando a boca de um leo. Na forma anterior apresentada por Court de Gebelin, est evidentemente abrindo a boca do leo. A primeira alternativa melhor simbolicamente, mas ambas so exemplos da fora em sua significao convencional, e do a idia de domnio. Tem-se dito que a figura representa a fora orgnica, a fora moral e o princpio de todas as foras.

    9. O Ermito, como chamado na terminologia comum, o que se segue na lista; tambm o Capuchinho e, em uma linguagem mais filosfica, o Sbio. Segundo se diz, ele est em procura da Verdade localizada muito longe na seqncia, e da Justia, que o procedeu no caminho. Mas uma carta de consecuo, mais que uma carta de procura, como veremos mais tarde. Tambm se diz que a sua lanterna contm a Luz da Cincia Oculta e que o seu bordo a Varinha de Condo. Essas interpretaes so comparveis, sob todos os aspectos, s significaes divinatrias de que tratarei oportunamente. O diabolismo de ambas que so verdadeiras ao seu modo, mas deixam de encarar todas as altas coisas com as quais os Arcanos Maiores

  • tm de estar relacionados. como se um homem, sabendo em seu corao que todos os caminhos levam s alturas, e que Deus a maior altura de todas, escolhesse o caminho da perdio ou o caminho da loucura como rota para a sua prpria consecuo. Eliphas Lvi atribuiu essa carta Prudncia, mas, assim fazendo, agiu levado pelo desejo de cobrir uma brecha que, de outro modo, ocorreria no simbolismo. As quatro virtudes cardeais so necessrias como seqncia ideolgica como os Trunfos Maiores, mas no devem ser tomadas apenas naquele sentido primrio que existe para uso e consolo daquele que, nestes dias de jornalismo barato, chamado o homem da rua. Em seu sentido prprio, so correlatas aos juzos de perfeio quando forem esses semelhantemente expressados de novo, e se apresentam da maneira seguinte: (a) Justia Transcendental, o desequilbrio dos pratos da balana quando ficam com peso excessivo, de sorte que descem acentuadamente do lado de Deus. O juzo correspondente jogar com dados pesados quando se joga arriscada-mente com Diabolus. O axioma Aut Deus, aut nihil. (b) xtase Divino, como contrapeso a algo chamado Temperana, cujo sinal , creio eu, a extino das luzes na taverna. O juzo correspondente beber apenas vinho novo no Reino do Pai, porque Deus tudo em tudo. O axioma que, sendo o homem um ser racional, deve se embriagar com Deus; o caso imputado em questo Spinoza. (c) O estado da Fortaleza Real, que o estado de uma Torre de Marfim e uma Casa de Ouro, mas Deus, e no o homem, que se tornou Turrris fortitudinis a facie inimici, e fora da casa foi o inimigo lanado. O juzo correspondente que o homem no deve se poupar mesmo em presena da morte, mas sim estar certo de que o seu sacrifcio ser em qualquer caminho aberto o que melhor lhe assegurar o fim. O axioma que

    a fora erguida a tal ponto que o homem se atreva a perder-se lhe mostrar como Deus encontrado, e com tal refgio portanto, ousa e aprende. (d) Prudncia a economia que segue a linha da menor resistncia, que a alma pode reconquistar de onde vem. E uma doutrina de divina parcimnia e conservao de energia, em face do esgotamento fsico e nervoso, do terror e das manifestas impertinncias da vida. O juzo correspondente que a verdadeira prudncia est relacionada com algo necessrio, e o axioma : No esperdices; no cobices. A concluso de toda a questo uma proposio prtica baseada na lei das trocas: No podemos alcanar o que procuramos no que diz respeito a coisas divinas: a lei da oferta e da procura. Mencionei aqui essas poucas questes por duas razes muito simples: (a) porque em proporo imparcialidade do esprito, parece s vezes mais difcil determinar se o vcio ou a vulgaridade que devasta mais lamentavelmente o mundo atual; (b) porque, a fim de remediar as imperfeies das velhas noes, muito necessrio, ocasionalmente, despir termos e frases de sua significao aceita, a fim de que possam receber um novo e mais adequado sentido.

    10. A Roda da Fortuna. H presentemente um Manual de Cartomancia que alcanou grande aceitao na Inglaterra, o qual, no meio de muitas coisas curiosas, apresenta alguns assuntos srios. Em sua ltima e mais ampla edio, o livro tem um captulo sobre o Tar, o qual se estou interpretando devidamente o autor considera de princpio a fim como a Roda da Fortuna, sendo essa expresso compreendida em seu prprio sentido. No fao objeo a to abrangente, embora convencional, descrio; usada em todas as partes, e no sei por que no foi adotada anteriormente como o nome mais adequado, ao lado

  • da leitura da sorte comum. tambm o ttulo de um dos Trunfos Maiores que, na verdade, a nossa preocupao no momento. Nos ltimos anos, tem ela sofrido muitas apresentaes fantsticas e uma reconstruo hipottica, que sugestiva em seu simbolismo. A roda pode ter sete raios; no Sculo XVIII, os animais ascendentes e descendentes eram realmente de carter no especificado, tendo um deles uma cabea humana. No alto, havia outro monstro com o corpo de um animal indeterminado, asas nos ombros e uma coroa na cabea. Segurava duas varas com as suas garras. Essas figuras foram substitudas por um Hermanubis elevando-se com a roda, uma Esfinge deitada no alto e um 'Rifo do lado descendente. Aqui h mais um caso de inveno em apoio de uma hiptese; mas se o ltimo for posto de lado, o agrupamento simbolicamente correto e pode passar como tal.

    11. A Justia. O fato de que o Tar, embora com toda a sua razovel antiguidade, no vem de tempos imemoriais, mostrado por essa carta, que poderia ter sido apresentada de uma maneira muito mais arcaica. Contudo, aqueles que tm o dom do discernimento em assuntos dessa natureza sabem muito bem que a idade no constitui, de modo algum, a essncia da considerao; o Rito de Fechamento da Loja no Terceiro Grau de Ofcio da Maonaria pode pertencer ao fim do Sculo XVIII, mas o fato nada significa; ele no deixa de ser o sumrio de todos os Mistrios institudos e oficiais. A figura feminina da undcima carta , segundo se diz, Astria, que significa a mesma virtude e representada pelos mesmos smbolos. No obstante a deusa, porm, e no obstante o vulgar Cupido, o Tar no pertence mitologia romana, ou grega. Sua apresentao da Justia tida como uma das quatro virtudes cardeais includas na seqncia

    cia do Arcano Maior; mas, como costuma acontecer, falta o quarto emblema, e torna-se necessrio para os comentaristas descobri-lo a todo o custo. Eles fizeram o que era possvel fazer, e no entanto as leis da pesquisa jamais conseguiram deslindar a faltosa Persfone sob a forma de Prudncia. Court de Gebelin tentou resolver a dificuldade, e acreditou ter extrado o que queria do smbolo do Enforcado com o qu, enganou a si mesmo. O Tar tem, portanto, sua Justia, sua Temperana e tambm sua Fortaleza, mas devido a uma curiosa omisso no oferece qualquer tipo de Prudncia, embora se possa admitir que, sob alguns aspectos, o isolamento do Ermito, palmilhando um caminho solitrio luz de sua prpria lmpada, oferece, queles capazes de receb-lo, um certo e alto conselho a respeito da via prudentiae.

    12. O Enforcado. Este o smbolo que se sups representar a Prudncia, e Eliphas Lvi diz, da maneira mais simples e plausvel, que se trata do iniciado preso aos seus compromissos. A figura de um homem est suspensa, de cabea para baixo, em uma forca, qual est amarrado por uma corda que passa em torno de um de seus calcanhares. Tem os braos cruzados para trs e uma perna cruzada sobre a outra. Segundo outra interpretao, em verdade predominante, significa sacrifcio, mas todas as significaes habituais atribudas a essa carta so intuies de cartomantes, carentes de qualquer valor real no lado simblico. Os adivinhadores da sorte do sculo XVIII que utilizavam Tars apresentavam um jovem efeminado vestindo um gibo, apoiando-se com firmeza em um dos ps e frouxamente amarrado a uma estaca fincada no cho.

    13. A Morte. O mtodo de apresentao quase invarivel, e apresenta uma

  • forma burguesa de simbolismo. O cenrio o campo da vida, e no meio de um tipo ordinrio de vegetao, h cabeas e braos vivos saindo para fora do cho. Uma das cabeas coroada, e um esqueleto com uma grande foice est a ponto de ceif-la. A significao transparente e inevitvel a morte, mas as alternativas relacionadas com o smbolo so a mudana e a transformao. Outras cabeas foram varridas de seus lugares anteriormente, mas, em seu sentido comum e patente, mais especial-mente a carta da morte dos Reis. No sentido extico, tem-se dito que significa a ascenso do esprito s esferas divinas, criao e destruio, movimento perptuo, etc.

    14. A Temperana. A figura alada de uma mulher que, em oposio doutrina concernente hierarquia dos anjos, habitualmente classificada nessa ordem de espritos protetores derrama um lquido de uma nfora em uma outra. Em sua ltima obra sobre o Tar, o Dr. Papus abandona a forma tradicional e apresenta uma mulher usando um penteado egpcio. A primeira coisa que, na superfcie, parece claro, que todo o smbolo no tem um relacionamento especial com a Temperana, e o fato de tal denominao ter sido sempre atribuda carta oferece um exemplo evidentssimo de um sentido alm do sentido, que o ttulo merecedor de maior considerao a respeito do Tar como um todo.

    15. O Diabo. No Sculo XVIII, essa carta parece mais ter sido um smbolo da simples falta de pudor animal. A no ser um fantstico arranjo na cabea, a figura principal est inteiramente nua; tem asas semelhantes s do morcego, e os ps apresentam garras de ave. Na mo esquerda, traz um cetro, encimado por um sinal que se acreditava representar o fogo. A figura em seu conjunto no particularmente

    m; no tem cauda, e os comentaristas que disseram serem as suas garras as de uma harpia falaram sem base. No h mais base para a sugesto alternativa que se trate de garras de guia. Presos, por uma corrente suspensa em seus pescoos, ao pedestal em que se encontra a figura, h dois pequenos demnios, presumivelmente macho e fmea. Tm caudas, mas no asas. Desde 1865, a influncia de Eliphas Lvi e da sua doutrina de ocultismo mudou a face dessa carta, e ela agora aparece como uma figura pseudo-Bafomtica com a cabea de bode e uma grande tocha entre os chifres; est sentada, e no de p, e no lugar dos rgos genitais encontram-se os caduceus hermticos. Em Le Tarot Divinatoire de Papus, os pequenos demnios so substitudos por seres humanos nus, de ambos os sexos, presos apenas um ao outro. O autor pode ser felicitado por esse simbolismo melhorado.

    16. A Torre atingida Pelo Raio. Seus ttulos alternativos so: Castelo de Pluto, Casa de Deus e Torre de Babel. No ltimo caso, as figuras que caem da torre so consideradas como Nemrod e o seu ministro. E, sem sombra de dvida, uma carta confusa, e o desenho corresponde, de um modo geral, a qualquer uma das designaes, exceto Maison Dieu, a no ser que entendamos que a Casa de Deus foi abandonada e o vu do templo rasgado. E um pouco surpreendente que o dispositivo no tenha sido at hoje relacionado com a destruio do Templo de Salomo, quando o raio poderia simbolizar o ferro e o fogo com que o edifcio foi atingido pelo Rei dos Caldeus.

    17. A Estrela. A Estrela do Co, ou Srio, tambm fantasticamente chamada a Estrela dos Magos. Agrupadas em torno dela h sete luminrias menores e uma figura feminina nua, com o joelho esquerdo

  • na terra e o p direito sobre a gua. Encontra-se no ato de derramar lquidos de dois vasos. Perto dela, uma ave est pousada em uma rvore; isso tem sido substitudo, em algumas cartas modernas, por uma borboleta em uma rosa. Assim a Estrela tambm tem sido chamada de Esperana. E uma das cartas que Court de Gebelin qualifica de inteiramente egpcia quer dizer, de acordo com a sua prpria imaginao.

    18. A Lua. Algumas cartas do Sculo XVIII mostram a luminria em sua fase minguante; na adulterada edio de Etteilla, a Lua noite em sua plenitude, posta em um cu constelado; nos ltimos anos, a Lua apresentada em sua fase crescente. Em quase todas as representaes ela brilha vivamente e espalha a umidade do orvalho fertilizante em grandes gotas. Por trs, h duas torres, entre as quais serpenteia um caminho na orla do horizonte. Dois ces, ou, alternativamente, um lobo e um co, ladram Lua, e no primeiro plano h gua atravs da qual uma lagosta se move rumo terra.

    19. O Sol. A luminria distinguida nas antigas cartas por grandes raios, ondulados e salientes alternativamente e por outros raios secundrios salientes. Ele parece derramar a sua influncia sobre a terra no somente pela luz e pelo calor, mas como a Lua por gotas de orvalho. Court de Gebelin chamou-as de lgrimas de ouro e de prolas, do mesmo modo que identificou o orvalho lunar como as lgrimas de Isis. Sob Srio h um muro dando a impresso de um recinto fechado podendo ser um jardim murado onde dois meninos, nus ou levemente vestidos, defronte da gua, brincam ou correm, de mos dadas. Diz Eliphas Lvi que eles so algumas vezes substitudos por uma fiandeira fiando destinos, ou ento por um

    smbolo muito melhor: um menino nu montado em um cavalo branco e exibindo um estandarte escarlate.

    20. O Juzo Final. A forma desse smbolo essencialmente invarivel, mesmo no conjunto de Etteilla. Um anjo toca a trombeta per sepulchra regionum, e os monos se levantam. Pouco importa que Etteilla exclua o anjo, ou que o Dr. Papus o substitua por uma figura ridcula, que est, contudo, de acordo com o motivo central do jogo de Tar que acompanha na sua ltima obra. Antes de rejeitarmos a transparente interpretao do simbolismo trazida pelo nome da carta e pela figura que ela apresenta aos olhos, devemos nos sentir pisando um terreno bem firme. Superficialmente pelo menos, s pode ser a ressurreio da trade pai, me, filho que j encontramos na oitava carta. M. Bourgeat arrisca a sugesto de que, esoteri-camente, esse o smbolo da evoluo da qual no apresenta qualquer sinal. Outros dizem que significa renovao, o que evidentemente bastante; que a trade da vida humana; que a fora geradora da terra... e a vida eterna. Court de Gebelin mostra-se impossvel como de costume, e observa que, se as lpides tumulares foram removidas, isso pode ser aceito como um smbolo da criao.

    21. O Bobo, Companheiro ou Homem Ignorante. Que, contudo, na maior parte dos arranjos a carta zero, sem nmero. Court de Gebelin o coloca frente de toda a srie, como o zero ou negativo que pressuposto pela numerao, e, como tal, um arranjo mais simples e assim tambm melhor. Foi abandonado porque ultimamente as cartas tm sido relacionadas com as letras do alfabeto hebraico, e tem havido, ao que parece, alguma dificuldade em colocar o smbolo zero satisfatoriamente em uma seqncia de letras, todas

  • das as quais significando nmeros. Na presente referncia da carta letra Shin, que corresponde a 200, permanece a dificuldade ou irracionalidade. A verdade que jamais transpirou a real disposio das cartas. O Bobo carrega um alforje; olha para cima e no sabe que est beira de um precipcio; mas um co ou outro animal alguns o chamam de tigre o ataca pelas costas, e ele se apressa para a sua no percebida destruio. Etteilla apresentou uma justificvel variao dessa carta como geralmente se entende sob a forma de um bobo da corte, com gorro, campainhas e roupa de cores variegadas. As outras descries dizem que o alforje contm as loucuras e vcios do portador, o que parece burgus e arbitrrio.

    22. O Mundo, o Universo ou o Tempo. As quatro criaturas vivas do Apocalipse e a viso de Ezequiel, atribudas aos evangelistas no simbolismo cristo, esto agrupadas em torno de uma guirlanda elptica, como se fosse uma cadeia de flores destinada a simbolizar todas as coisas sensveis; dentro dessa guirlanda, est uma mulher, que o vento envolveu altura dos

    rins com um leve vu, sendo essa toda a sua vestimenta. A mulher est danando e tem uma vara em cada mo. E eloqente como uma imagem do torvelinho da vida sensvel, da alegria alcanada no corpo, da embriaguez da alma no paraso terrestre, mas ainda sob a guarda dos Vigias Divinos, como se fosse pelo poder e pela graa do Nome Sagrado, do Tetragrama cujas quatro letras inefveis so s vezes atri-budas aos animais msticos. Eliphas Lvi chama a guirlanda de coroa, e informa que a figura representa a Verdade. O Dr. Papus a relaciona com o Absoluto, e a realizao da Grande Obra; para outros, porm, um smbolo de humanidade e da recompensa eterna de uma vida que foi bem vivida. Deve-se notar que nos quatro cantos da guirlanda h quatro flores distintamente marcadas. Segundo P. Christian, a guirlanda deve ser formada de rosas, e essa uma cadeia que Eliphas Lvi diz ser mais difcil de ser quebrada do que uma cadeia de ferro. Talvez por anttese, mas pela mesma razo, a coroa de ferro de Pedro pode ficar mais leve na cabea dos soberanos pontfices do que a coroa de ouro dos reis.

  • 3 Classe II Os Quatro Naipes

    ( ou Arcanos Menores )

    Os recursos da interpretao foram empregadssimos, se no esgotados, nos vinte e dois Trunfos Maiores, cujo simbolismo incontestvel. Restam os quatro naipes, sendo Wands (bastes ou paus) (1) Cetros ex-hypothesi, na arqueologia do assunto, o antecedente do Diamond nas cartas modernas: Copas, correspondente a Hearts; Espadas que corresponde a Clubs, como a arma da cavalaria em relao ao varapau dos camponeses ou moa alsaciana; e finalmente Pentculos tambm chamados Dinheiros e Moeda que so os prottipos de Spades. Nos velhos e novos naipes h dez cartas numeradas, mas no Tar h quatro Cartas de Corte (2) atribudas a cada naipe, o Cavaleiro, alm do Rei, Dama e Valete. O Valete (3) um pajem, criado ou damoiseau: mais correta-mente, um escudeiro, presumivelmente a servio do Cavaleiro; h, porm, certos baralhos, bem raros, em que o pajem se tor

    na uma dama de honra, de tal modo emparelhando os sexos nas quatro cartas da corte. H naturalmente feies diferentes a respeito das vrias figuras, com que quero dizer que o Rei de Paus no exatamente a mesma personagem que o Rei de Copas, mesmo depois de ter sido feita a cor-respondncia entre os diferentes emblemas que usam; mas o simbolismo reside em sua categoria e no naipe a que pertencem. Assim tambm as cartas menores, que at agora jamais foram apresentadas pic-toricamente em nossos dias, dependem da significao particular atribuda a seus nmeros relacionados com o respectivo nai-pe. Reservo, portanto, os pormenores dos Arcanos Menores, at falar na segunda parte sobre o Tar retificado e aperfeioado que acompanha esta obra. O consenso dos significados divinatrios relacionados tanto com os maiores como os menores smbolos pertence terceira parte.

    __________________________________ (1) Os nomes dos naipes do baralho em ingls so: Diamond (diamante), ouros; Hearts (coraes), copas; Spades (ps), espadas; Clubs (cacetes, porretes), paus. No Tar, o naipe Wands (varas, bastes) tem de corresponder a "paus" do baralho comum. Assim o traduzimos. (2) So as que chamamos em portugus "cartas figuradas" em oposio s numeradas. No Tar, contudo, todas as cartas tm figuras, lendo de ser usada a expresso. (3) Em ingls, o valete das cartas de jogar se chama Knave, que significa velhaco, tratante.

  • 4 O Tar na Histria

    O nosso prximo objetivo falar das cartas no que diz respeito sua histria, de modo que as especulaes e fantasias que se perpetuaram e se multiplicaram nas escolas das pesquisas ocultistas possam ser postas de lado de uma vez por todas, como prometi no prefcio deste livro.

    Deve ficar entendido logo que h vrios conjuntos ou seqncias de cartas antigas que apenas em parte nos interessam. O Tar dos Bomios, de Papus, revendo a interpretao imperfeita, traz algumas informaes teis sem tal sentido, e, a no ser pela omisso de datas e de outras provas de natureza arqueolgica, servir ao objetivo para o leitor comum. No pretendo aqui ampli-lo de maneira que possa ser chamado de considervel, mas so necessrios certos acrscimos, assim tambm como um modo diferente de apresentao.

    Entre as cartas antigas que so mencionadas com relao ao Tar, h primeiramente as de Baldini, que constituem o clebre conjunto atribudo pela tradio a Andrea Mantegna, embora esse ponto de vista seja hoje geralmente rejeitado. Supe-se que a sua data esteja em torno de 1470, e acredita-se que no haja mais de quatro colees restantes na Europa. Uma cpia ou reproduo suposta ser de 1485 talvez igualmente rara. O conjunto completo contm cinqenta nmeros, divididos em cinco denrios ou seqncias de dez cartas cada uma. No parece haver indcios de que eram usadas para algum jogo, de azar ou de habilidade; dificilmente poderiam ser usadas para a adivinhao ou

    qualquer forma de leitura de sorte; seria mais do que ocioso atribuir um profundo significado simblico aos seus desenhos evidentemente emblemticos. O primeiro denrio abrange Condies de Vida, como se segue: (1) o Mendigo, (2) o Vilo, (3) o Arteso, (4) o Mercador, (5) o Nobre, (6) o Cavaleiro, (7) o Doge, (8) o Rei, (9) o imperador, (10) o Papa. O segundo contm as Musas e o seu Chefe Divino: (11) Calope, (12) Urnia, (13) Terpscore, (14) Erato, (15) Polnia, (16) Tlia, (17) Melpneme, (18) Euterpe, (19) Cio, (20) Apoio. O terceiro combina parte das Artes e Cincias Liberais com outros setores da sabedoria humana, como se segue: (21) Gramtica, (22) Lgica, (23) Retrica, (24) Geometria, (25) Aritmtica, (26) Msica, (27) Poesia, (28) Filosofia, (29) Astrologia, (30) Teologia. O quarto denrio completa as Artes Liberais e enumera as Virtudes: (31) Astronomia, (32) Cronologia, (33) Cosmologia, (34) Temperana, (35) Prudncia, (36) Fortaleza, (37) Justia, (38) Caridade, (39) Esperana, (40) F. O quinto e ltimo denrio apresenta o Sistema dos Cus: (41) Lua, (42) Mercrio, (43) Vnus, (44) Sol, (45) Marte, (46) Jpiter, (47) Saturno, (48) Oitava Esfera, (49) Primum Mobile, (50) Primeira Causa.

    Devemos pr de lado as fantsticas tentativas de extrair completas seqncias do Tar desses denrios; no devemos dizer, por exemplo, que as Condies de Vida correspondem aos Trunfos Maiores, as Musas aos Pentculos, as Artes e Cincias a Copas, as Virtudes, etc. a Paus e as

  • condies de vida a Espadas. Esse tipo de coisa pode ser feita por um processo de contoro mental, mas que no tem lugar na realidade. Ao mesmo tempo, difcil que as cartas individuais no apresentem certas, e mesmo gritantes, analogias. O Rei, Cavaleiro e Vilo de Baldini sugerem as cartas de corte correspondentes dos Arcanos Menores. O Imperador, Papa, Temperana, Fora, Justia, Lua e Sol so comuns s cartas de Mantegna e aos Arcanos Maiores de qualquer baralho de Tar. H tambm a tendncia de relacionar-se o Mendigo e o Bobo, Vnus e a Estrela, Marte e o Carro, Saturno e o Ermito, mesmo Jpiter, ou a alternativa da Primeira Causa, com a carta do Mundo do Tar. (1) As mais destacadas feies dos trunfos Maiores, contudo, faltam na srie de Mantegna, e no acredito que a seqncia bem ordenada da ltima tenha originado outras. Romain Merlin sustenta esse ponto de vista, e atribui positivamente as cartas de Baldini ao fim do sculo XIV.

    Se se admitir que, a no ser acidental e esporadicamente, as figuras emblemticas ou alegricas de Baldini tm apenas uma plida e ocasional conexo com as cartas do Tar, e qualquer que seja a sua data mais provvel, no podendo ter oferecido qualquer motivo originador, segue-se que ainda estamos procurando no apenas uma origem no lugar e no tempo para os smbolos pelos quais estamos interessados, como tambm o caso especfico de sua manifestao no continente europeu, para servir de ponto de partida, seja para trs, seja para diante. Ora, bem sabido que no ano de 1393 o pintor Charles Gringonneur

    que, por motivos que no sei quais sejam, foi chamado de adepto do ocultismo e da cabala por um escritor ingls indiferente desenhou e iluminou algumas espcies de cartas para diverso de Carlos VI da Frana, quando este se encontrava sofrendo das faculdades mentais, e surge a questo de se saber se algo pode ficar esclarecido sobre a natureza das mesmas. A nica resposta que se tem que, em Paris, na Bibliothque du Roi, h dezessete cartas desenhadas e iluminadas em papel. So belssimas, antiguidades de valor inestimvel; as figuras tm um fundo de ouro e uma orla de prata; no so, porm, acompanhadas por nenhuma inscrio ou nenhum nmero.

    E certo, de qualquer maneira, que incluem os Trunfos Maiores do Tar, cuja lista a seguinte: Bobo, Imperador, Papa, Amantes, Roda da Fortuna, Temperana, Fortaleza, Justia, Lua, Sol, Carro, Ermito, Enforcado, Morte, Torre e Juzo Final. H tambm quatro cartas de Tar no Muse Carrer, em Veneza e cinco outras alhures, fazendo um total de nove. Incluem dois Pajens ou Valetes, trs Reis e duas Damas, ilustrando assim os Arcanos Menores. Essas colees foram todas identificadas com o jogo produzido por Gringonneur, mas a imputao foi contestada at o ano de 1848, e, segundo parece, no foi apresentada em nossos dias, mesmo por aqueles que se mostram mais interessados em evidenciar a antigidade do Tar. Sustenta-se que todas so de origem italiana e algumas, pelo menos, sem dvida de origem veneziana. Tem-se sustentado mais com autoridade que o Tar veneziano constitui a

    ____________________________ (1) O mendigo est praticamente nu, e a analogia constituda pela presena de dois ces, um dos quais parece estar correndo para as suas pernas. A carta de Marte mostra um guerreiro empunhando uma espada em um carro com dossel, ao qual, contudo, no h cavalos atrelados. Naturalmente, se as cartas de Baldini pertencem ao fim do Sculo XV, no h problema algum em jogo, pois o Tiro era conhecido na Europa muito antes daquele tempo.

  • forma mais antiga e verdadeira, que o pai de todos os outros; eu deduzo, porm, que jogos completos de Arcanos Maiores e Menores pertencem a perodos muito posteriores. Acredita-se que o baralho consistia de setenta e oito cartas.

    No obstante, porm, a preferncia mostrada pelo Tar veneziano, sabe-se que algumas pores de um baralho minciano ou florentino remontam quele perodo, entre 1413 e 1418. Estiveram elas em poder da Condessa Gonzaga, em Milo. Um baralho minciano completo, contendo noventa e sete cartas, e a despeito desses vestgios, considerado, falando-se de um modo geral, como evoluo posterior. H quarenta e um Trunfos Maiores, sendo os nmeros adicionais copiados da srie emblemtica de Baldini ou nela inspirados. Nas cartas da corte dos Arcanos Menores, os Cavaleiros so monstros do gnero centauro, enquanto os Valetes ora so guerreiros, ora serviais. Outra diferena reside na predominncia de idias medievais crists e completa ausncia de qualquer sugesto oriental. Resta, todavia, a questo de se saber se h vestgios orientais em quaisquer cartas do Tar.

    Chegamos, enfim, ao Tar Bolonhs, s vezes considerado como veneziano e tendo os Trunfos Maiores completos, mas os nmeros 20 e 21 so trocados de ordem. Nos Arcanos Menores, o 2, o 3, o 4 e o 5 das cartas pequenas so omitidos, do que resulta que h sessenta e duas cartas ao todo. A terminao dos Trunfos Maiores na representao do Juzo Final curiosa, e um tanto impressionante como um ponto de simbolismo; isso, porm, tudo que parece necessrio observar a respeito do baralho de Bolonha, a no ser que se diz ter sido ele inventado ou, como um Tar, mais corretamente, modificado no comeo do Sculo XV, por um Prncipe de Pisa exilado, residente naquela cidade. A finalidade para a qual era usado parece

    bastante evidente pelo fato de ter, em 1423, So Bernardino de Sienna pregado contra o jogo de cartas e outras formas de jogo. Quarenta anos depois, no tempo do Rei Eduardo do IV, foi proibida a importao de cartas pela Inglaterra. Essa a primeira meno certa acerca do assunto.

    E difcil examinar-se exemplos perfeitos dos baralhos enumerados antes, mas no difcil encontrarem-se descries minuciosas e ilustradas, e eu acrescentaria: contanto que o autor no seja ocultista, pois os relatos emanando de tais fontes so habitualmente imperfeitos, vagos e preocupados com consideraes que obscurecem as questes crticas. Um exemplo disso oferecido por certos pontos de vista expressados com relao ao cdice de Mantegna, se que posso continuar a atribuir a cartas de baralho tal denominao. Tem-se estabelecido como vimos que Apolo e as Nove Musas correspondem aos Pentagramas, mas a analogia no provm de um trabalho de pesquisa; e o sonho deve se avizinhar do pesadelo antes que possamos identificar a Astronomia, a Cronologia e a Cosmologia com o naipe de Copas. As figuras de Baldini que representam tais assuntos so emblemas de seu tempo, e no smbolos, como o Tar.

    Em concluso a esta parte, devo observar que tem havido uma tendncia entre os especialistas de achar que os Trunfos Maiores no esto originalmente relacionados com os naipes numerados. No pretendo apresentar um ponto de vista pessoal; no sou especialista em histria dos jogos de azar, e odeio o profanum vulgus dos recursos divinatrios; aventuro-me, porm, a observar, com toda a reserva, que se, as recentes pesquisas justificam tal concepo exceto para a velha arte de ler a sorte e adulterar o chamado destino ser muito melhor para os Arcanos Maiores.

    At aqui, o que parece indispensvel

  • como preliminar aos aspectos histricos das cartas de Tar; passarei agora ao lado especulativo do assunto e a apresentar os ensaios de avaliao. Em meu prefcio de o Tar dos Bomios, salientei que o primeiro escritor que tornou conhecido o caso das cartas foi o arquelogo Court de Gebelin, que, pouco antes da Revoluo Francesa, gastou vrios anos com a publicao de seu Monde Primitif, que se estendeu por nove volumes in quarto. Ele foi, em seu tempo, um erudito, maom de grau elevado, membro da histrica Loja dos Philalethes e um virtuoso com profundo e permanente interesse no debate sobre as antigidades universais, antes que existisse uma cincia sobre o assunto. Ainda hoje, os seus memoriais e as suas dissertaes, coligidas sob o ttulo que citei, merecem ateno. Por um acaso, ele travou conhecimento com o Tar que era ento inteiramente desconhecido em Paris, e imediatamente concebeu a idia de que se tratava de remanescentes de um livro egpcio. Realizou pesquisas a propsito e verificou que o Tar circulava em uma parte considervel da Europa Espanha, Itlia, Alemanha e Sul da Frana. Era usado como jogo de azar ou de habilidade, segundo o modo habitual de jogar cartas; e verificou mais como se jogava. Tambm era usado, contudo, para a finalidade mais elevada de adivinhao ou leitura da sorte, e, com a ajuda de um amigo erudito, Court de Gebe-lin, descobriu a significao atribuda s cartas, juntamente com o mtodo de arranjo adotado para esse fim. Em uma palavra, foi valiosa a sua contribuio para o nosso conhecimento, e ainda constitui uma fonte de referncia, mas apenas como questo de fato, e no na sua querida hiptese de que o Tar contm a pura doutrina egpcia. Ele, contudo, criou a opinio que prevalece at os nossos dias, por intermdio das escolas do ocultismo, segundo a qual estava perdida a origem das cartas,

    no mistrio e, portanto, na estranha noite dos deuses, na lngua estranha e nos hierglifos no decifrados que simbolizavam o Egito no fim do Sculo XVIII. Assim sonhava um dos caractersticos literatos da Frana, e at podemos compreender e simpatizar com ele, pois o pas do Delta e do Nilo estava comeando a ocupar ampla-mente a curiosidade dos eruditos, e omne ignotum pro AEgyptiaco era o caminho da iluso para o qual rumavam aqueles espritos. Ento, era bastante desculpvel, mas no h desculpa para o fato de haver continuado a loucura e, dentro do crculo encantado das cincias ocultas, ainda ser transmitida de boca em boca. Vejamos, pois, as provas apresentadas por M. Court de Gebelin a favor de sua tese, que procurarei resumir, tanto quanto possvel, com as suas prprias palavras.

    (1) As figuras e disposio do jogo so manifestamente alegricas; (2) as alegorias esto na conformidade da doutrina civil, filosfica e religiosa do antigo Egito; (3) se as cartas fossem modernas, nenhuma Alta Sacerdotisa estaria includa entre os Arcanos Maiores; (4) a figura em questo traz os chifres de sis; (5) a carta chamada o Imperador tem um cetro que termina com uma trplice cruz; (6) a carta intitulada a Lua, que sis, mostra gotas de chuva ou orvalho no ato de serem derramadas pela luminria, e tais gotas so como vimos as lgrimas de sis, que encheram as guas do Nilo e fertilizaram os campos do Egito; (7) a dcima stima carta, ou Estrela, Srio, que foi consagrada a sis e simboliza o comeo do ano; (8) o jogo jogado com o Tar se baseia no nmero sagrado sete, que tinha grande importncia no Egito; (9) a palavra Tar pura-mente egpcia: no idioma egpcio, Tar = estrada ou caminho, Ro = rei ou real, e Tar significa, portanto, Estrada Real da Vida; (10) alternativamente, deriva de A = doutrina; Rosh = Mercrio = Tot, e o

  • artigo T em suma, Tarosh; e, portanto, o Tar o Livro de Tot, ou o Quadro da Doutrina de Mercrio.

    Tal o testemunho, ficando entendido que deixei de lado vrias afirmaes fortuitas, sem qualquer espcie de justificativa. So, portanto, dez as colunas que sustentam o edifcio da tese, e so colunas de areia. O Tar , sem dvida, alegrico quer dizer, simbolismo mas as alegorias e smbolos so catlicos pertencem a todos os pases, todas as naes e todos os tempos: no so mais egpcios do que mexicanos; so da Europa e de Catai, do Tibete alm do Himalaia e das sarjetas de Londres. Como alegoria e smbolo, as cartas correspondem a muitos tipos de idias e de coisas; so universais e no particulares; e o fato de que no correspondem especial e peculiarmente doutrina egpcia religiosa, filosfica ou civil se torna claro pela impossibilidade de Court de Gebelin ir alm de uma simples afirmao. A presena de uma Alta Sacerdotisa entre os Trunfos Maiores se explica mais facilmente como lembrana de alguma antiga superstio, o culto de Diana, por exemplo, cuja persistncia na Itlia moderna tem sido exposta com notveis resultados por Leland. Tambm devemos lembrar a universalidade dos chifres em todos os cultos, sem excetuar os do Tibete. A trplice cruz despicienda como exemplo do simbolismo egpcio; a cruz da s patriarcal, tanto grega como latina de Veneza e Jerusalm, por exemplo e a forma de persignao usada at hoje por sacerdotes e leigos no rito ortodoxo. Deixo de lado a ociosa aluso s lgrimas de Isis, porque outros autores ocultistas nos tm dito que se trata de Jods hebraicos; no que diz respeito dcima stima carta, trata-se da estrela Srio ou de outra que se prefira; o nmero sete era sem dvida importante no Egito, e qualquer tratado sobre o misticismo mostrar que o mesmo se

    aplica em toda a parte, mesmo se preferirmos ignorar os sete Sacramentos Cristos e os sete Dons do Esprito Santo. Final-mente, no que diz respeito etimologia da palavra Tar, bastante observar que ela foi oferecida antes da descoberta da Pedra de Rosetta e quando nada se conhecia sobre o idioma egpcio.

    A tese de Court de Gebelin no foi perturbada no esprito da poca, tendo apelado para os homens cultos exclusivamente por meio de um quarto volume. Deu uma oportunidade s cartas do Tar em Paris, como centro da Frana e de todas as coisas francesas no universo. A sugesto de que a adivinhao por meio de cartas tinha a apoi-la a inesperada garantia da antiga cincia oculta, e que a raiz de tudo se encontrava nas maravilhas e mistrio do Egito refletiram-se quase que como uma dignidade divina; dos limites da prtica oculta da cartomancia saiu para entrar na moda e assumiu no momento fei-o quase pontifical. O primeiro a tomar o papel de bateleur, mgico e prestidigitador, foi um iletrado mas zeloso aventureiro, Alliette; em segundo lugar, como uma espcie de Alta Sacerdotisa, cheia de intuio e revelaes, apresentou-se Mlle. Lenormand, mas essa pertence a um perodo posterior; enfim, surgiu Julia Orsini, mais semelhante a uma Rainha de Copas do que a uma portadora de clarividncia. No me interesso por essas pessoas como leitoras da sorte, quando o prprio destino se encarregava de embaralhar e distribuir as cartas no jogo universal da revoluo, ou por cortes e cortesos como os de Lus XVIII, Carlos X e Luis Felipe. Mas sob a designao oculta de Etteilla, anagrama de seu nome, Alliette, aquele perruquier levou em considerao a si mesmo com muita seriedade e apresentou-se mais como um sacerdote de cincias ocultas do que como um entendido comum em lart de tirer les cartes. At hoje h gente, como

  • o Dr. Papus, que pensa salvar do esquecimento uma parte daquele bizarro sistema.

    O longo e heterogneo relato de Le Monde Primitif foi terminado em 1782; em 1783 as pginas de Etteilla comearam a ser publicadas, atestando que ele j gastara trinta, ou melhor, quase quarenta anos, no estudo da magia egpcia, e que encontrara afinal as chaves. Eram, de fato, as Chaves do Tar, que eram um livro de filosofia e o Livro de Tot, mas ao mesmo tempo fora realmente escrito por dezessete Magos em um Templo de Fogo, nos limites do Levante, a cerca de trs lguas de Mnfis. Continha a cincia do universo, e o cartomante tratava de aplic-lo Astrologia, Alquimia e leitura da sorte, sem a mais leve hesitao ou reserva em revelar que visava a uma atividade lucrativa. No tenho dvida, realmente, de que o considerava como um mtier legtimo, e que ele prprio foi a primeira pessoa que convenceu a respeito de seu sistema. Mas o que quero salientar que, a partir daquele modo, a antigidade do Tar foi geralmente trombeteada. Os livrinhos de Etteilla constituem uma prova cabal de que ele no conhecia sequer o seu prprio idioma; quando, com o decorrer do tempo, publicou um Tar reformado, mesmo aqueles que o encaram com a maior simpatia admitiram que ele deturpara o seu simbolismo; e, no que diz respeito antiguidade, ele tinha apenas Court de Gebelin como a sua autoridade universal.

    Os cartomantes sucederam-se uns aos outros do modo que mencionei, e houve, naturalmente, adeptos rivais desses mistrios diminutos; mas os estudos srios sobre o assunto, se se pode dizer que existem, baseiam-se todos no volume in-quarto de Court de Gebelin h algo mais de sessenta anos. Por sua autoridade, no se pode duvidar que quem travou conhecimento, na teoria ou na prtica, por acaso ou intencionalmente, com a questo das cartas de

    Tar, aceitou o seu carter egpcio. Tem-se dito que as pessoas so geralmente aceitas pelo que dizem de si mesmas, e seguindo, como acontece, a linha da menor resistncia a mentalidade geral pouco especulativa aceita as pretenses arqueolgicas mais ousadas e aqueles que as sustentam. O primeiro que se apresentou para reconsiderar o assunto com algumas credenciais foi o escritor francs Duchesne, mas sou obrigado a deix-lo de lado com uma simples referncia, e assim tambm algumas interessantes pesquisas sobre o assunto geral de cartas de jogar por Singer, na Inglaterra. Esse ltimo acreditava que o velho jogo veneziano chamado Trappola foi a forma europia mais antiga de jogos de carta, que sua origem era rabe e que as cinqentas e duas cartas usadas derivam daquela regio. No creio que qualquer im-portncia tenha tido esse ponto de vista.

    Duchesne e Singer foram seguidos por outro autor ingls, W. A. Chatto, que reviu os fatos disponveis e a onda de especulaes j provocada pelo assunto. Isso ocorreu em 1848, e a sua obra ainda teve uma certa autoridade, mas a no ser algumas observaes corretas atribuveis ao seu esprito independente o resultado medocre ou mesmo fraco. Foi, contudo, caracterstico em sua maneira de apreciar a incerteza do Sculo XIX. Chatto rejeitou a hiptese egpcia, mas, como pouco se preocupou com ela, dificilmente poderia desbancar Court de Gebelin, se esse ltimo tivesse qualquer terreno slido para apoiar a sua hiptese. Em 1854, outro escritor francs, Boiteau, encarou a questo em geral, sustentando a origem oriental das cartas do Tar, embora sem tentar prov-la. No tenho certeza, mas creio que ele foi o primeiro autor que as identificou com os ciganos; para ele, contudo, o lar original dos ciganos era a ndia, e o Egito no entrava, portanto, em seus clculos.

  • Em 1860, surgiu Eliphas Lvi, um brilhante e profundo illumin, que impossvel aceitar e ainda mais impossvel rejeitar. Jamais houve uma boca declarando to grandes coisas, de todas as vozes ocidentais que proclamaram ou interpretaram a cincia chamada oculta e a doutrina chamada mgica. Parece-me que, fundamentalmente falando, ele se preocupava tanto e to pouco quanto eu pela parte fenomenal, mas explicava os fenmenos com a segurana de algum que abertamente admitia ser o charlatanismo um grande meio para um determinado fim, se usado em prol de uma causa justa. Ele se apresentou e se acreditou, tambm por sua prpria avaliao, como um homem de grande saber que nunca foi e como revelador de todos os mistrios, sem ter sido iniciado em nenhum. Creio jamais ter havido exemplo de um escritor com grandes dons, em sua peculiaridade, que os tenha utilizado de maneira to medocre. Afinal de contas, ele era apenas Etteilla encarnado pela segunda vez, dotado em sua transmutao de uma boca de ouro e de um conhecimento casual mais vasto. No obstante isso, ele escreveu a mais completa, brilhante e agradvel Histria da Magia jamais escrita em qualquer idioma. Levou muito a srio o Tar e a hiptese de Gebelin, e toda a Frana ocultista e a Gr-Bretanha esotrica, martinistas, cabalistas semi-instrudos, escolas de soi disant teosofia aqui, ali e acol aceitaram o seu juzo a respeito com a mesma confiana com que aceita-ram as suas interpretaes dos grandes clssicos da Cabala, pelos quais antes passou os olhos do que os leu. Para ele, o Tar era no somente o mais perfeito instrumento de adivinhao e a pedra angular da cincia oculta, como tambm o livro primitivo, o nico livro dos antigos Magos, o volume milagroso que inspirou todos os escritos sagrados da Antigidade. Em sua primeira obra, todavia, Lvi se contentou

    em aceitar a construo de Court de Gebelin e reproduzir o stimo Trunfo Maior com umas poucas caractersticas egpcias. A questo da transmisso do Tar atravs dos ciganos no o preocupou, at que J. A. Vaillant, um bizarro escritor com grande conhecimento do povo cigano, levantou a hiptese em suas obras sobre aquelas tribos errantes. Os dois autores quase coincidiram e refletiram um ao outro, de ento para diante. Coube a Romain Merlin, em 1869, salientar o que deveria ser evidente, isto , que cartas de baralho de alguma espcie eram conhecidas na Europa antes da chegada dos ciganos, cerca de 1417. Mas, como essa foi a data de sua chegada a Luneburg, e como a sua presena pode ser assinalada anteriormente, a correo perdeu grande parte de sua fora; o mais seguro, portanto, dizer que as provas do uso do Tar pelas tribos ciganas s foram apresentadas depois do ano de 1840; o fato de alguns ciganos, antes daquele tempo, terem sido encontrados usando as cartas perfeitamente explicvel, admitindo-se a hiptese, no de que eles as tenham trazido para a Europa, e sim de que j as encontraram ali e as adotaram.

    J vimos que no h a menor prova da origem egpcia das cartas de Tar. Olhando-se em outras direes, observou-se certa vez que cartas de algum tipo foram inventadas na China, cerca do ano de 1120 da nossa era. Court de Gebelin acreditava, em seu entusiasmo, que as descobrira em uma inscrio chinesa considerada antiqssima, que se dizia refletir-se ao abaixamento das guas do Dilvio. Os caracteres de tal inscrio estavam contidos em setenta e sete compartimentos, e isso constitui a analogia. A ndia tambm teve as suas tabuletas, fossem cartas ou outras coisas, o que sugeriu tambm semelhanas igualmente tnues. Mas a existncia, por exemplo, de dez seqncias ou estilos, de doze nmeros cada um, e representando os

  • avatares de Vixnu, como um peixe, uma tartaruga, um javali, um leo, um macaco, um guarda-chuva ou um arco, assim como um bode, uma tenda e um cavalo, no vai nos ajudar a descobrir a origem dos nossos prprios Trunfos Maiores, nem coroas e harpas nem mesmo a presena de possveis moedas como sinnimos de dinheiros e talvez como um equivalente de pentagramas contriburam sensivelmente para elucidar os Arcanos Menores. Se todos os idiomas, povos, regies e pocas possuram suas cartas se tambm com elas filosofaram, adivinharam e jogaram o fato seria bastante interessante, mas a no ser que fossem cartas do Tar, o fato

    s denotaria a tendncia universal do homem de buscar as mesmas coisas mais ou menos da mesma maneira.

    Termino, pois, a histria desse setor repetindo que no h histria anterior ao Sculo XIV, quando se ouviram as primeiras informaes referentes s cartas. E possvel que existissem h sculos, mas mesmo isso parece duvidoso, ainda que s fossem usadas no jogo ou para prever o futuro; por outro lado, se continham indcios profundos da Doutrina Secreta, o Sculo XIV parece cedo demais, ou, pelo menos, a esse respeito no podemos saber grande coisa.

  • PARTE

    II A Doutrina por Trs do

    Vu

  • 1 O Tar e a Tradio Secreta

    O Tar engloba apresentaes simblicas de idias universais, atrs das quais ficam todos os subentendidos da mente humana, e nesse sentido que elas contm a doutrina secreta, que a compreenso, por parte de poucos, de verdades engastadas na conscincia de todos, embora no reconhecidas expressamente pelos homens comuns. A teoria que essa doutrina tenha sempre existido, isto , tenha sempre se manifestado na conscincia de uma minoria de eleitos; que tem sido perpetuada em segredo passando de um a outro, e registrada em literaturas secretas, como as da Alquimia e da Cabala; que tambm est contida nos Mistrios Institudos, dos quais a Rosa-cruz oferece um exemplo prximo de ns no passado, e a Maonaria um sumrio vivo, ou um memorial generalizado, para aqueles capazes de interpretarem sua significao real. Por trs da Doutrina Secreta, afirma-se haver uma experincia ou prtica que justifica a Doutrina. claro que em um livro como este, pouco mais posso fazer do que mencionar as afirmaes, que, contudo, foram discutidas amplamente em vrios de meus outros escritos, ao mesmo tempo que se destinam a tratar de dois dos seus aspectos mais importantes livros dedicados Tradio Se-creta da Maonaria e literatura Hermtica. No que diz respeito s afirmaes sobre o Tar, devemos nos lembrar de que uma parte considervel da mencionada Doutrina Secreta apresentada nos emblemas pictricos da Alquimia, de modo que o alegado Livro de Tot no de

    Modo algum um instrumento isolado dessa espcie emblemtica. Ora, a Alquimia tinha dois ramos, como expliquei plenamente alhures, e os emblemas pictricos que mencionei so comuns a ambas as divises. Seu lado material representado no estranho simbolismo do Mutus Liber, impresso nos grandes in-flios de Mangetus. Ali, o processo de consecuo do grande trabalho de transmutao mostrado em quatorze gravuras em chapas de cobre, que apresentam as diferentes fases da matria nos vrios recipientes qumicos. Acima desses recipientes, h smbolos mitolgicos, planetrios, solares e lunares, como se as potncias e virtudes que segundo o ensinamento hermtico presidem a evoluo e aperfeioamento do reino metlico estivessem intervindo ativamente para ajudarem os dois agentes que esto atuando embaixo. Os agentes bem curioso so macho e fmea. O lado espiritual da Alquimia apresentado nos emblemas muito mais estranhos do Livro de Lambspring. Ali est contido o mistrio do que chamado de elixir mstico ou arquinatural, sendo o casamento da alma e do esprito no corpo do filsofo iniciado e a transmutao do corpo como resultado fsico de tal casamento. Nunca defrontei com dedues mais curiosas do que naquela pequena obra. Pode-se mencionar o fato de serem ambos os tratados muito posteriores mais recente data que pode ser assinalada para a distribuio generalizada de cartas de Tar na Europa pela mais severa forma de crtica. Pertencem respectivamente

  • ao fim do Sculo XVII e Sculo XVI. Como no recorro aqui fonte da imaginao para completar dos fatos e experincia, no sugiro que o Tar apresente o exemplo da expresso da Doutrina Secreta por meio de figuras e que isso foi seguido pelos autores hermticos; mas admissvel que talvez seja o mais antigo exemplo dessa arte. E tambm o mais catlico, uma vez que no , por atribuio ou por outro modo, um derivado de qualquer escola ou literatura de ocultistas; tambm no da Alquimia, Cabala, Astrologia ou Magia Cerimonial; mas, como tenho dito, a apresentao de idias universais por meio de tipos universais, e na combinao desses tipos se tal se d que apresenta a Doutrina Secreta.

    Essa combinao pode, ex hypothesis, residir nas seqncias numeradas de suas sries ou em sua reunio fortuita obtida embaralhando, cortando e distribuindo cartas, como nos jogos de azar comuns jogados com cartas de baralho. Dois autores adotaram o primeiro ponto de vista sem prejuzo do segundo, e parece-me que devo explicar logo o que disseram. Mr. Mac-Gregor Mathers, autor de um folheto sobre o Tar, dedicado principalmente leitura da sorte, sugere que os vinte e dois Trunfos Maiores podiam ser construdos, seguindo a sua ordem numrica, para formar o que chamado de sentena associada. Tratava-se, de fato, das manifestaes de uma tese moral sobre a vontade humana, seu esclarecimento pela cincia, representada pelo Mgico, sua manifestao pela ao significao atribuda Alta Sacerdotisa sua realizao (a Imperatriz) em atos de misericrdia e benevolncia, cujas qualidades eram atribudas ao Impera-dor. Tambm falou ele sobre o modo familiar, convencional, de prudncia, fortaleza, sacrifcio, esperana e afinal felicidade. Mas se essa fosse a mensagem das cartas,

    claro que no haveria desculpa para se dar ao trabalho de elucid-las de algum modo. Em seu Tar dos Bomios, obra escrita com zelo e entusiasmo, sem poupar esforos de pensamento ou pesquisa dentro de suas linhas particulares mas infelizmente sem real discernimento o Dr. Papus apresentou uma explicao singular-mente elaborada dos Trunfos Maiores. Ela depende, como a de Mr. Mathers, de sua seqncia numrica, mas mostra o seu inter-relacionamento com o Mundo Divino, o Macrocosmo e o Microcosmo. Em seu modo de ver, temos como que uma histria espiritual do homem, ou da alma vinda do Eterno, penetrando nas trevas do corpo material, e regressando s alturas. Acho que o autor se distancia sensivelmente do caminho certo, e seus'pontos de vista so at certo ponto informativos, mas o seu mtodo sob alguns aspectos confunde as questes, os dispositivos e as maneiras de ser.

    Os Trunfos Maiores tambm tm sido tratadas pelo mtodo alternativo que mencionei, e Grande Oriente, em seu Manual de Cartomancia, guisa de um modo de adivinhao transcendental, realmente ofereceu o resultado de certas leituras ilustrativas das cartas quando dispostas em resultado de uma combinao por meio do embaralhamento e da distribuio. O uso de mtodos divinatrios, qualquer que sejam a inteno e o objetivo, traz consigo duas sugestes. Pode-se supor que as significaes profundas so antes atribudas que reais, mas isso afastado pelo fato de haver certas cartas, como o Mgico, a Alta Sacerdotisa, a Roda da Fortuna, o Enforcado, e Torre ou Maison Dieux, e vrias outras, que no correspondem s Condies de Vida, Artes, Cincias, Virtudes ou outros assuntos contidos nos denrios da figuras emblemticas de Baldini. H tambm provas positivas de que bvias e naturais moralidades no podem explicar a seqncia. Tais cartas mostram

  • relacionarem-se de outra maneira; embora o estado em que deixei o Tar no que diz respeito ao seu lado histrico seja o mais difcil, por ser o mais aberto, as cartas indicam a questo real com que esto relacionados. Os mtodos mostraram tambm que os Arcanos Maiores foram pelo menos adaptados leitura de sorte, e no que a isso pertenam. As significaes divinatrias comuns, que sero apresentadas na terceira parte, so atribuies muito arbitrrias, ou o produto de intuio secundria e desinformada; ou, na melhor hiptese, pertencem ao caso em um plano inferior, separado da inteno original. Se o Tar fosse em suas razes destinado leitura da sorte, teramos de procurar em lugares muito estranhos o motivo de tal coisa: na Feitiaria e no Sab Negro, antes que em qualquer Doutrina Secreta`

    As duas classes significativas relacionadas com o Tar nos mundos superior e inferior e o fato de que nenhum ocultista ou outro escritor tenha tentado atribuir al-go mais que uma significao divinatria aos Arcanos Menores, justificam, de mais uma maneira, a hiptese de que as duas sries no pertencem uma outra. possvel que o seu casamento tenha se efetuado em primeiro lugar no Tar de Bolonha por aquele Prncipe de Pisa a que me referi na primeira parte. Diz-se que esse recurso lhe assegurou o reconhecimento pblico e recompensa por parte da cidade que adotara, o que dificilmente teria sido possvel, mesmo naqueles dias fantsticos, pela produo de um Tar que apenas omitisse algumas das cartas menores; mas, como estamos tratando de uma questo de fato, que tem de ser atribuda a algo, concebvel que possa ter sido criado uma sensao pela combinao de cartas menores, de jogo, com o baralho filosfico, e pela adaptao de ambos a um jogo de azar. Depois, teria sido mais uma

    vez adaptado a outro jogo de azar chamado de leitura da sorte. Deve ficar entendido aqui que no nego a possibilidade de adivinhao mas, como mstico, oponho-me maneira com que so levadas as pessoas para tais caminhos, como se elas tivessem qualquer relao com a Procura Mstica.

    As cartas de Tar publicadas com a edio resumida da presente obra, isto , com a Chave Pictrica do Tar foram desenhadas por Miss Pamela Colman Smith, e sero, acredito, consideradas como notveis e muito belas, tanto em sua concepo como em sua execuo. So reproduzidas na presente edio ampliada da Chave como meio de referncia ao texto. Diferem, em muitos e importantes aspectos, dos convencionais arcasmos do passado e dos lamentveis produtos de lanamentos que ora nos vm da Itlia, e resta-me justificar as suas variaes no que diz respeito ao simbolismo. O fato de apresentar pela primeira vez no tempo moderno um baralho que trabalho de um artista no pre-cisa, penso eu, ser justificado, mesmo para as pessoas se algumas delas permanecem entre ns que costumavam ser descritas e se chamavam a si mesmas de muito oculta. Se algum olhar o belo Valete do Tar, que apresentado em uma das gravuras de Fatos e Especulaes a respeito da Histria das Cartas de Jogar de Chatto, ver que a Itlia, antigamente, produziu alguns esplndidos baralhos. Eu muito desejaria que fosse possvel restaurar e retificar as cartas no mesmo estilo e no mesmo tamanho; tal coisa teria feito plena justia aos modelos, mas o resultado teria se mostrado inexeqvel para as finalidades prticas relacionadas com as cartas, pelo que se deve admitir a hiptese, quaisquer que sejam os meus pontos de vista sobre o caso. Sou o nico responsvel pelas variaes do simbolismo pelas quais os desenhos tenham sido afetados. No que diz respeito aos Arcanos Maiores, no resta dvida de que esto sujeitos a

  • provocar crticas por parte dos estudiosos, reais e imaginrias. Quero portanto dizer, dentro dos limites da cortesia e de la haute convenance, dominante na irmandade de pesquisas, que no me preocupo com qualquer opinio que possa ser expressada. H uma Tradio Secreta a respeito do Tar, assim como uma Doutrina Secreta nele contida; segui uma parte da mesma, sem exceder os limites que esto traados acerca dos assuntos dessa natureza e pertencentes s leis da honra. Essa tradio tem duas partes, e, como uma delas passou escrita, parece lcito deduzir que ela pode ser trada a qualquer momento, sem se manifestar, devido segunda, com o que no significa, como salientei, que no tenha se passado no presente e sustentado por muito poucos em verdade. Os fornecedores de cpias esprias e os traficantes de mercadorias furtadas devem ficar bem ciente disso, se a isso se dignarem. Peo, alm disso, para ser distinguido de dois ou trs escritores que recentemente tm insinuado que poderiam dizer muito mais, se assim quisessem, pois no falamos a mesma linguagem; mas tambm daquele que, agora ou no futuro, possa afirmar que dir tudo, porque dispe apenas dos acidentes e no dos essenciais necessrios a tal revelao. Se eu segui o conselho de Robert Burns, guardando comigo algo que dificilmente diria a algum, ainda assim disse tudo que posso; a verdade segundo a sua prpria maneira, e o tanto quanto posso esperar ou exigir daqueles crculos abertos onde no podem ser esperadas as qualificaes para as pesquisas especializadas.

    No que diz respeito aos Arcanos Menores, so eles os primeiros, modernamente, mas no em todos os

    tempos, a serem acompanhados por figuras, alm do que chamado de pvides, isto , os dispositivos pertencentes aos nmeros dos vrios naipes. Essas figuras correspondem s significaes divinatrias, que foram tiradas de muitas fontes. Resumindo-se, pois, a presente diviso desta chave est dedicada aos Trunfos Maiores; elucida os seus smbolos no que diz respeito inteno superior e com referncia aos desenhos do baralho. A terceira apresentar a significao divinatria a respeito das setenta e oito cartas do Tar, e particularmente com referncia aos desenhos dos Arcanos Menores. Apresentar, em suma, algumas maneiras de utilizao para aqueles que as quiserem, e no sentido das razes que j expliquei no prefcio. O que se seguir dever ser encarado, para finalidades de comparao, relacionamento com a descrio geral dos antigos Trunfos do Tar na primeira parte deste livro. Ver-se- que a carta zero do Bobo est localizada, como sempre , no lugar que a torna equivalente ao nmero vinte e um. A disposio ridcula superficialmente, o que no significa grande coisa, mas tambm errnea no simbolismo, e nem melhora a situao quando feita substituir o dcimo segundo ponto da seqncia. Etteilla reconheceu as dificuldades de ambas as atribuies, mas ainda fez pior destinando o Bobo ao lugar habitual-mente ocupado pelo s de Pentculos como em todas as ltimas sries de Tar. Essa redistribuio foi seguida recentemente por Papus em Le Tarot Divinatoire, onde a confuso no tem grande importncia, pois as concluses da leitura da sorte dependem de posies fortuitas e no do lugar essencial na seqncia das cartas. J vi, contudo, outra colocao do smbolo zero, que nenhuma dvida oferece em certos casos, mas falha nos planos mais elevados, e para as nossas exigncias atuais seria ocioso levar mais adiante o exame.

  • 2 Os Trunfos Maiores e

    Seu Simbolismo Oculto I

    O Mgico Uma jovem figura,

    com vestes de mgico, a fisionomia do divino Apoio, um sorriso de confiana e olhos brilhantes. Acima de sua cabea, o misterioso signo do Esprito Santo, o signo da vida, semelhante a uma corda sem fim, formando a figura 8 em posio horizontal . Perto de sua cintura, h um cinto em forma de serpente, uma serpente que parece devorar a prpria cauda. Trata-se de al-go bem conhecido como smbolo convencional da eternidade, mas no caso indica mais especialmente a eternidade de consecuo no esprito. Na mo direita do Mgico est uma varinha de condo erguida para o cu, enquanto a mo esquerda aponta para a terra. Esse duplo signo conhecido nos graus muito elevados dos Mistrios Institudos; mostra a descida da graa, da virtude e da luz, vin-das das coisas de cima e levadas para as coisas de baixo. A sugesto completa , portanto, a posse e comunicao dos Poderes e Dons do Esprita Na mesa que se

    encontra diante do Mgico esto os smbolos dos quatro naipes do Tar, significando os elementos da vida natural, apresentados diante do iniciado, que pode adapt-los vontade. Abaixo h rosas e lrios, flos campi e lilium convallium, mudados em flores de jardins para mostrarem o cultivo de aspiraes. Essa carta representa a motivao divina no homem, refletindo Deus, a vontade na liberao de sua unio com o que est acima. tambm a unidade do ser individual em todos os planos, e em um sentido muito elevado o pensamento na fixao daquele. Voltando-se ao que

    chamei de signo da vida e sua conexo com o nmero 8, de se lembrar que o gnosticismo cristo fala do renascimento de Cristo como uma mudana dentro do Grupo de Oito. O nmero mstico chamado Jerusalm superior, a Terra em que fluem o Leite e o Mel, o Esprito Santo e a Terra do Senhor. Segundo o martinismo, 8 o nmero de Cristo.

  • Ela tem a lua crescente a seus ps, um diadema com chifres na cabea, com um globo no meio, e uma grande cruz solar no peito. No rolo de pergaminho que tem na mo est escrita a palavra Tora, significando a Lei Maior, a Lei Secreta e o segundo sentido da Palavra. Est em parte coberto por seu manto, para mostrar que algumas coisas so implcitas e outras explcitas. Ela est sentada entre uma coluna branca e outra negra J. e B. do Templo mstico, e o vu do Templo encontra-se atrs dela, sendo bordado com palmas e roms. As vestes so vaporosas e flutuantes e o manto sugere leveza uma brilhante irradiao. Ela tem sido chamada a Cincia Oculta do limiar do Santurio de sis, mas realmente a Igreja Secreta, a Casa que de Deus e do homem. Representa tambm o Segundo Casamento do Prncipe que j no deste mundo; a Noiva e Me espiritual, a filha das estrelas e o

    Jardim Superior do den. E, em suma, a Rainha da luz empres-tada, mas essa a luz de tudo. E a Lua nutrida pelo leite da Me Suprema.

    De certo modo, tambm a prpria Me Suprema quer dizer, ,o reflexo brilhante. E nesse sentido de reflexo que o seu mais verdadeiro e mais alto nome no simbolismo Shekinah a glria que coabita. Segundo a Cabala, existe uma Shekinah tanto acima como abaixo. No mundo superior, chamada Binah, a Suprema Compreenso, que se reflete nas emanaes que h embaixo. No

    mundo inferior, Malkuth sendo esse mundo, para tal fim, entendido como um Reino abenoado aquela que faz ser abenoada a Glria residente. Misticamente falando-se, a Shekinah a Noiva Espiritual do homem justo, e quando ele l a Lei ela lhe d o sentido Divino. Sob alguns aspectos, essa carta a mais elevada e mais santa dos Grandes Arcanos.

    II Alta Sacerdotisa

  • Uma imponente figura, sentada, trajando ricas vestes e tendo um aspecto real, como uma filha do cu e da terra. Seu diadema de doze estrelas reunidas. O smbolo de Vnus est no escudo que se encontra perto dela. Em sua frente amadurece um trigal, e atrs dela h uma queda d'gua. O cetro que ela segura encimado pelo globo deste mundo. Ela o Jardim do den, o Paraso terrestre, tudo que simbolizado pela casa visvel do homem. No a Regina coeli, mas ainda o refugium peccatorum, a me fecunda de milhares. H tambm certos aspectos nos quais tem sido corretamente descrita como desejo e suas asas, como a mulher vestida de Sol, como Gloria Mundi e o vu do Sanctum Sanctorum; mas no , posso acrescentar, a alma que alcanou asas, a no ser que todo o simbolismo seja interpretado

    de outra e inusitada maneira. Ela acima de todas as coisas a fecundidade universal e o senso exterior do sentido externo da Palavra. Isso evi-dente, porque no h mensagem direta que tenha sido transmitida ao homem como aquela que trazida pela mulher; mas ela prpria no traz a in-terpretao de tal mensagem. Em outra ordem de idias, a carta da Imperatriz significa a porta ou porto atravs do qual se pode entrar nesta vida, como em um jardim de Vnus; e ento o caminho que leva para fora de l, para o que

    est alm, o segredo conhecido pela Alta Sacerdotisa: comunicado por ela aos eleitos. A maior parte das atribuies dessa carta est de todo errada quanto ao simbolismo como, por exemplo, a sua identificao com a Palavra, a Natureza Divina, a Trade, etc. etc.

    III A Imperatriz

  • Ele tem uma forma da Crux ansata no que diz respeito ao cetro e ao globo em sua mo esquerda. E um monarca coroado dominador, imponente, sentado em um trono, cujos braos tm na frente cabeas de carneiros. Ele o executor e a realizao, o poder deste mundo, e est revestido de seus mais altos e naturais atributos. ocasionalmente representado sentado em uma pedra cbica, que, contudo, causa alguma confuso. Ele o poder viril, ao qual a Imperatriz corresponde, e, nesse sentido, ele que procura remover o vu da Isis; ela, contudo, permanece virgo intacta.

    Deve ficar entendido que essa carta e a da Imperatriz no representam precisamente a condio de vida conjugal, embora

    o estado esteja implcito. Na superfcie, como j foi indicado, elas representam a realeza mundana, elevada s alturas do poder; mas h acima a sugesto de outra presena. Elas significam tambm e em especial a figura masculina o reinado mais alto, ocupando o trono intelectual. Ambas as personagens, de acordo com o seu prprio modo, esto repletas de estranha experincia, mas no sua, conscientemente, a sabedoria que flui de um mundo superior. O Imperador tem sido descrito como (a) a vontade em sua forma corporificada, mas isso apenas uma de suas

    aplicaes, e (b) como uma expresso das possibilidades contidas no Ser Absoluto mas isso fantasia.

    IV O Imperador

  • Usa a trplice coroa e est sentado entre duas colunas, mas no so as do Templo que guardado pela Alta Sacerdotisa. Em sua mo esquerda segura um cetro que termina com a trplice cruz, e com a mo direita faz o conhecido sinal eclesistico que chamado de esotrico, distinguindo entre a parte manifesta e a parte oculta da doutrina. Convm lembrar, a esse respeito, que a Alta Sacerdotisa no faz sinal algum. Aos seus ps esto as chaves cruzadas, e dois sacerdotes vestindo alvas se ajoelham diante dele. Tem sido habitual-mente chamada o Papa, o que uma aplicao particular da funo mais geral que representa. Ele o poder governante da religio externa, como a Alta Sacerdotisa o gnio dominante do poder esotrico, retrado. As significaes adequadas dessa carta tm sofrido adulteraes de quase todos os lados. Grande Oriente diz, com razo, que o Hierofante o poder das chaves, a doutrina ortodoxa esotrica, e o lado externo da vida que leva

    doutrina; mas ele certamente no um prncipe da doutrina oculta, como outro comentarista sugeriu.

    Ele antes a summa totius theologiae, quando transposto para a mais completa rigidez de expresso; mas simboliza tambm todas as coisas que so corretas e sagradas no lado manifesto. Como tal, o canal da graa pertencente ao mundo da instituio como distinto do da Natureza, e o chefe da salvao da raa humana em geral. Ele a ordem e a cabea da hierarquia reconhecida, que o reflexo de outra e maior ordem hierrquica; mas

    pode acontecer assim que o pontfice se esquea da significao de seu estado simblico e atue como se contivesse, dentro de suas prprias limitaes, tudo que o seu signo significa ou que o seu smbolo procura mostrar. Ele no , como se tem pensado, a filosofia exceto no lado teolgico; no a inspirao; e no a religio, embora seja um modo de sua expresso.

    V O Hierofante

  • O Sol brilha no znite, e embaixo h uma grande figura alada, com os braos estendidos,derramando influncias. No primeiro plano h duas figuras humanas, masculina e feminina, sem vus, uma diante da outra, como Ado e Eva quando viviam no paraso do corpo terrestre. Atrs do homem est a Arvore da Vida, carregada com doze frutos, e a rvore do Conhecimento do Bem e do Mal est atrs da mulher; a serpente est enroscada em torno dela. As figuras sugerem juventude, virgindade, inocncia e o amor antes de contaminado pelo grosseiro desejo material. Esta em toda a sua simplicidade a carta do amor humano, aqui exposto como parte do caminho, da verdade e da vida. Substitui, pelo recurso aos primeiros princpios, a velha carta do casamento,e as loucuras posteriores que mos-

    travam o homem entre o vcio e a virtude. Em um sentido muito elevado, a carta um mistrio da Aliana e do Sab.

    A sugesto a respeito da mulher que ela significa a atrao para a vida sensvel, que traz dentro de si a idia da Queda do Homem, mas antes a atuao de uma Lei Secreta de Providncia do que uma tentadora voluntria e consciente. E atravs de seu imputado lapso que o homem se erguer afinal, e somente com ele poder completar-se. A carta , pois, a seu modo, outra advertncia a respeito do grande mistrio da condio

    feminina as antigas significaes se espatifam junta-mente com as antigas figuras, porm, mesmo como interpretaes das ltimas, algumas eram da ordem do lugar comum e outras eram falsas quanto ao simbolismo.

    VI Os Amantes

  • Uma figura ereta e imponente, trazendo uma espada desembainhada e correspondendo, a grosso modo, descrio tradicional que apresentei na primeira parte. Nos ombros do heri vitorioso h o que se supe ser o Urim e Thummim. Ele escravizou a escravido; venceu em todos os planos; no esprito, na cincia, no progresso, em certas provas de iniciao. Ele assim respondeu Esfinge, e devido a is-so, aceitei a variao de Eliphas Lvi; desse modo o seu