SUAS BHOnline v.1, n.1

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Revista Online da Secretaria de Assistência Social de Belo Horizonte

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SUMÁRIO

Expediente ................................................................................................................................1

Editorial....................................................................................................................................2

Artigos

Informatização do Sistema Único de Assistência Social –SUAS/BH: revisão e construção de

um projeto...................................................................................................................................3

Implementando uma cultura informacional sob a ótica da gestão do conhecimento .................9

A Implantação do Sistema Único de Assistência Social e sua implicação no financiamento da

Política de Assistência Social: uma reflexão............................................................................18

A Gestão da Política de Assistência Social ..............................................................................24

Avaliação e Monitoramento: superando desafios.....................................................................34

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1

Expediente Conselho Editorial: • Cândida Canêdo – Assessoria de Imprensa • Denise de Magalhães Matos(GPES) • Eugênio de Freitas (GGPAS) • Maria de Fátima Queiroz Ribeiro (GEIMA) • Mário César Rocha Moreira (GGPAS) • Renata Silva Daniel Caldeira (GEIMA) • Ronaldo José Sena Camargos (Gabinete) • Shirley Jacimar Pires (GPSO) Equipe de Edição: • Celsiane Aline Vieira Araújo – Coordenadora do Serviço Interno de Informação –

SMAAS • Leila Márcia Silva – Estagiária do Serviço Interno de Informação – SMAAS • Rodrigo Furtini – Designer Gráfico – MOBS

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Editorial

É com satisfação que apresentamos a edição n° 1 da Revista SUAS BH ON LINE.

Lembramos que a edição anterior, n° 0, lançada na Jornada dos Trabalhadores, teve como

tema a Política de Recursos Humanos .

A atual edição tem como tema o Sistema Único de Assistência Social - SUAS:

avanços e desafios, trazendo textos que discorrem sobre a gestão, o financiamento, o

monitoramento, a avaliação e o sistema de informação. De grande relevância para a

implementação do SUAS, esses tópicos têm exigido constante reflexão dos profissionais

envolvidos nesse processo que, vale ressaltar, vêem-se motivados pelo desafio de trabalharem

numa perspectiva que não se reduz a um único campo do saber e que já apresenta avanços na

consolidação da política de assistência social em Belo Horizonte.

Fiel ao seu compromisso de estimular a produção de conhecimentos por parte dos

profissionais da Assistência Social, a Revista SUAS BH ON LINE aguarda a contribuição de

todos aqueles que, de uma forma ou de outra – seja com um pequeno artigo, um resumo de

monografia ou dissertação, uma resenha ou um depoimento – possam enriquecer este espaço

que deve ser apropriado por todos nós, trabalhadores da Assistência Social.

Portanto, a revista é um espaço dos trabalhadores, e aguardamos a contribuição de

todos que, cada vez mais, a revista cumpra o seu papel.

Sua periodicidade, em princípio, será semestral, até que tenhamos volume suficiente

para que sua publicação possa ser mais amiúde. Desejamos a todos uma boa leitura e

deixamos a seguinte reflexão: a SUAS BH ON LINE é nossa e fortalecê-la depende de nós.

Belo Horizonte, fevereiro de 2007

Conselho Editorial

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Informatização do Sistema Único de Assistência Social –SUAS/BH: revisão e construção de um projeto

Projeto selecionado como finalista ao Prêmio de Excelência em Informática e Inovação na Gestão Pública oferecido pelo CONIP/SP de 2006 ELABORAÇÃO Jorge Raimundo Nahas∗ Rosilene Cristina Rocha∗∗ Márcio de Souza Tibo∗∗∗ Giovanni Borges Alves***

João Gilberto Novais***

Ana Paula Salej Gomes*

Léa Lúcia Cecílio Braga**

Adriana Dania Nogueira**

Carla Andrea Ribeiro**

Celsiane Aline Vieira Araújo**

Denise Amaral Soares**

Gustavo Adolfo Rocha Caldeira**

Maria de Fátima Queiroz Ribeiro**

Neuza Maria de Lima**

Renata Silva Daniel Caldeira**

Ricardo Braga Nunes**

Verônica de Araújo Nunes**

RESUMO O presente projeto é resultado das reflexões acerca da experiência de implantação de um sistema informatizado do registro de informação do processo de trabalho de alguns serviços da Assistência Social de Belo Horizonte. A experiência apontou para a necessidade de superação de dois grandes desafios e para a elaboração de um novo projeto de informatização

∗ Secretaria Municipal de Políticas Sociais de Belo Horizonte ∗∗ Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social de Belo Horizonte ∗∗∗ Empresa Municipal de Informação e Informática de Belo Horizonte S/A – PRODABEL

O primeiro desafio é a relevância do

usuário final do sistema. A não participação desse

usuário no processo de desenvolvimento leva a

dificuldades monumentais na sua implantação. A

proposta do novo projeto baseia-se no uso de

metodologia que coloca como centralidade desse

desenvolvimento, o usuário. Portanto, sua adesão

desde o início é fator preponderante para o sucesso.

O segundo desafio é a otimização dos

recursos para um projeto de informatização. Com

isso, foi proposto para a superação de plataforma

proprietária, cliente-servidor, a adoção de

plataforma livre, terminais reciclados (máquinas

obsoletas), 3 camadas e de internet como conexão

em rede. Isso permite a superação do re-trabalho do

registro do atendimento no papel e depois a

digitação no sistema.

O projeto de informatização, que tem por

objetivo alimentar o Sistema Municipal de

Monitoramento e Avaliação do SUAS, com a

finalidade de qualificação dos serviços e seus

resultados junto à população, encontra-se em fase

de mobilização dos recursos.

Introdução

A implantação do Sistema Único de

Assistência Social - SUAS, normatizado em julho

de 2005, e a habilitação do município de Belo

Horizonte na condição de gestão plena desse

sistema, impingiram à Secretaria Municipal

Adjunta de Assistência Social a rever seu projeto de

informatização, visando adequá-lo à necessidade de

execução de um sistema municipal de

monitoramento e avaliação. Isso significou,

principalmente, implantar um sistema que abranja

todo o SUAS-BH.

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Entre 2001 e 2004 havia um projeto de

informatização baseado em um aplicativo

desenvolvido em linguagem Delphi, que utilizava

uma arquitetura de duas camadas (cliente-servidor)

e a Rede Municipal de Informática – RMI, rede

fechada e mantida pela prefeitura municipal. Sua

finalidade era instrumentalizar o atendimento ao

usuário-família/cidadão de três serviços executados

pelo município que estavam em processo de

descentralização.

A revisão do referido projeto se pautou,

principalmente, na necessidade de se informatizar

os processos informacionais dos serviços do SUAS

com uma solução de baixo investimento, uma vez

que é necessário coletar informação em toda rede

de ações, composta por serviços ofertados

diretamente pela SMAAS e por uma extensa rede

de entidades conveniadas. A solução de duas

camadas seria altamente onerosa e inviável, pois

exigia a expansão da RMI para todos os pontos de

registro da informação.

Outro aspecto avaliado foi a adesão dos

usuários do aplicativo, que era muito baixa. Esse

problema pode ser explicado pela metodologia de

elaboração e implantação do projeto, que teve

pouco envolvimento.

Diante das necessidades impostas pela

gestão plena do SUAS e da avaliação do projeto de

informatização em curso na SMAAS, foi proposta,

em 2005, a revisão de todo o projeto, visando

corrigir sua metodologia e adequá-lo ao novo

contexto.

Atualmente, o projeto está na fase de

contratação do desenvolvimento do aplicativo e de

aquisição dos equipamentos. Sua implementação

está prevista para acontecer em três fases, sendo a

1ª com início previsto para agosto de 2006.

Situação- problema ou oportunidade:

O Sistema Municipal de Monitoramento e

Avaliação (M&A) do SUAS é uma exigência da

gestão plena, na qual o município de BH é

habilitado, conforme mencionado. A exigência de

implantação de um sistema dessa natureza aponta

para adoção de um modelo de gestão com tomadas

de decisão mais qualificadas e contínuo processo de

aperfeiçoamento de suas ações. Trata-se de um

sistema composto por várias ações, que vão da

vigilância socioassistencial às avaliações dos

serviços, em profundidade. Isso significa que os

enfoques avaliativos, como a eficácia, a eficiência,

a efetividade, o diagnóstico e a análise situacional,

são contemplados em um sistema de indicadores

que permite avaliar o desempenho do SUAS no

município. O que significa, principalmente,

implantar um sistema que contemple todo o SUAS-

BH.

Para construir tais indicadores, faz-se

necessário registrar informações, principalmente

dos atendimentos realizados pelos serviços do

SUAS. A experiência do projeto de informatização

até então implantado indica que o re-trabalho nos

registros dessas informações é fator de baixa adesão

ao uso do aplicativo. Sendo assim, a solução

proposta deveria superar essa limitação e ofertar

condição de se registrar a informação no ato de sua

geração. Ou seja, informatizar todos os locais de

atendimento do usuário-família/cidadão, o que

representa em Belo Horizonte algo em torno de 400

locais – rede direta e indireta.

Outro problema a ser solucionado é a

multiplicação de cadastro dos usuários que impacta

de forma significativa na qualidade da informação.

Vale ressaltar que a superação do re-trabalho e a

garantia da identificação unívoca do usuário

(população) são dois grandes desafios para a

informatização do Sistema de M&A, mas não são

maiores que a necessidade de se padronizar a

linguagem da Assistência Social. Ou seja, pactuar

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significados e significantes para os termos

utilizados no Sistema de Informação. Esse processo

de pactuação não pode ser tratado como uma

atividade estanque ou pontual, mas sim

compreendido como algo dinâmico e permanente,

com decisões e clareza de uso em relação ao

aplicativo. Essa pactuação é um fator de sucesso na

qualidade da informação.

Em síntese, o problema a solucionar é a

construção de um Sistema de Informação Municipal

de Assistência Social para implantar o Sistema de

M&A do SUAS, utilizando recursos de Tecnologia

de Informação e Comunicação, além de

compreender o fenômeno informacional como

humano e social. Portanto, a pactuação de uma

linguagem é uma ação de intervenção social,

mesmo que seja para viabilizar um recurso

tecnológico.

Solução

As soluções propostas foram amadurecidas

a partir da avaliação do projeto de informatização

existente, conforme mencionado, e podem ser

apresentadas considerando dois eixos: metodologia

de projetos de informatização, que abarca questões

de estruturação conceitual do sistema de

informação e dos processos de sua construção. O

outro eixo está relacionado à solução tecnológica

que atende às necessidades, com baixo

investimento e custeio.

A revisão da metodologia de

informatização se baseou na crítica do centralismo

do projeto nos formuladores e não no usuário do

sistema/aplicativo. Sendo assim, a formulação do

novo projeto tem como orientação a centralidade do

usuário final do aplicativo. Isso exige a elaboração

e execução de processos que envolvam os usuários

em todas as etapas do projeto, o que representa um

volume muito grande de trabalho para a equipe

responsável, mas traz mais condições para o

sucesso do projeto.

A clareza nos conceitos estruturadores do

aplicativo também é indicativo para o sucesso. No

caso da revisão da experiência de informatização,

foram apontados três conceitos: prontuário

eletrônico único, cadastro único e tratamento

espacial da informação.

O conceito de prontuário eletrônico único

do usuário-família/cidadão do SUAS pode ser

extraído do conceito de Prontuário Eletrônico do

Paciente (PEP) de Massad et al1 que o definem

como:

“uma forma proposta para unir todos os diferentes tipos de dados produzidos em variados formatos, em épocas diferentes, feitos por diferentes profissionais da equipe de saúde em distintos locais. Assim, deve ser entendido como sendo a estrutura eletrônica para manutenção de informação sobre o estado de saúde e o cuidado recebido por um indivíduo durante todo seu tempo de vida.”

Essa definição orienta para a escolha do

registro do atendimento do usuário-família/cidadão

na forma de um prontuário eletrônico, acessível por

todos os serviços que ofertam atendimento, por

meio do acesso seletivo de seus técnicos como

usuários do aplicativo.

O registro do atendimento no prontuário

eletrônico é vinculado a uma família e/ou ao

usuário (indivíduo). Para que essa vinculação não

seja multiplicada nos cadastros, também

multiplicados das famílias e dos usuários, optou-se

pelo uso do cadastro populacional realizado em

70% do município. Trata-se do Censo BH Social,

que teve origem no projeto piloto do Cartão

1 MASSAD, Eduardo; MARIN, Heimar de Fátima ; AZEVEDO NETO, Raymundo Soares de; O prontuário eletrônico do paciente na assistência, informação e conhecimento médico . São Paulo : 2003. 213p.

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Nacional de Saúde e visa identificar univocamente

os cidadãos cadastrados por meio de um número

compatível com NIS – Número de Identificação

Social. O conceito principal do cadastro é o registro

da informação no domicílio, elevando, assim, a

qualidade da informação.

O terceiro conceito está relacionado ao

tratamento espacial da informação, o que permite a

construção de indicadores intra-urbanos da situação

socioassistencial, contextualizados no território por

meio de tecnologias de geoprocessamento da

informação.

O desenvolvimento desses conceitos e sua

representação nos módulos do aplicativo vêm sendo

elaborados em quatro Grupos de Trabalho,

compostos por técnicos e gerentes dos serviços, que

são: GT de registro de atendimento – prontuário;

GT de indicadores; GT de cadastro; e GT de

território. Os produtos dos GTs serão incorporados

nos módulos propostos para o aplicativo que são:

- cadastro do cidadão/usuário;

-cadastro de serviços e benefícios;

-cadastro de entidades;

-cadastro de trabalhadores;

-controle da oferta de serviços, benefícios

e agenda;

-controle dos encaminhamentos;

-registro de atendimento.

-registro da violação de direitos

-emissão de relatórios e indicadores

O desenvolvimento do aplicativo será

realizado por uma empresa contratada para essa

finalidade. O processo de contratação está em fase

de licitação com previsão de conclusão em maio de

2006. A contração tem como objeto o

desenvolvimento de software em linguagem Java,

com aproximadamente 1.800 pontos de função,

contemplando as etapas de concepção, elaboração,

construção e transição. Em tais etapas deverão ser

desenvolvidas atividades relacionadas às disciplinas

de modelagem de negócios, requisitos, análise e

desenho, implementação, testes e instalação,

operação piloto, além de treinamento e operação

assistida.

Inovação e ineditismo

A gestão da política de assistência social

adquiriu um alto grau de institucionalização a partir

da revisão de suas principais normativas em 2004,

que são a Política Nacional de Assistência Social –

PNAS e as Normas Operacionais Básicas –

NOB/SUAS. Tais normativas preencheram lacunas

históricas na construção da política de assistência

social como política pública. Em destaque e objeto

desse artigo, o Sistema de M&A e sua

informatização. Os conceitos estruturadores

apresentados e sua concretização nos módulos de

um aplicativo é algo inovador e desafiador, sem

mencionar o uso de indicadores e informação de

qualidade nos processos de tomada de decisão.

Em relação à arquitetura tecnológica

aponta-se como inovador o uso de thin clients nos

locais de atendimento da população/usuário do

SUAS, produzidos por meio do aproveitamento de

máquinas obsoletas recicladas. Essa escolha

permite a expansão do uso do aplicativo com pouco

investimento, podendo, assim, garantir sua

capilaridade em toda rede de serviços (direta e

indireta) sem gerar o re-trabalho de registro da

informação no papel para posterior digitação.

Público alvo

O público diretamente beneficiado é o

usuário-família/cidadão do SUAS, indiretamente

são os técnicos e gestores dos serviços e do SUAS.

A relação entre os dois públicos beneficiados é

inexorável, serviços bem geridos, monitorados e

avaliados favorecem seu aperfeiçoamento e

conseqüentemente melhoram sua qualidade. Quem

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se beneficia com a melhora da qualidade dos

serviços é a população usuária dos serviços.

Relevância para o interesse público

A implantação do Sistema Municipal de

M&A e sua informatização cumprem uma função

relevante na consolidação da Assistência Social

como política pública de proteção social e pessoal

de quem dela necessitar. Consolidar essa política

pública na perspectiva de uma gestão social

centrada nos resultados é uma escolha vanguardista

e inovadora na história da Assistência Social. Os

indicadores de sucesso são os processos de

aperfeiçoamento e a expansão do SUAS. Pode-se

observar a consolidação do SUAS a partir de

indicadores:

- de cobertura

- de resolutividade;

- de respeito às normativas em relação às

prioridades de necessidades

sociassistenciais e públicas.

A informatização também consolida

conceitos de modernização dos processos de

trabalho por meio de agilização do atendimento,

dos fluxos e de encaminhamentos responsáveis com

a identificação de disponibilidade de vagas,

benefícios e agendas. Além de ampliar a condição

de gestão do processo de trabalho, seus produtos e

seus prazos.

Viabilidade técnica, financeira e

política/organizacional

A implantação do Sistema de M&A e sua

informatização é financiada com recursos do

município e do BNDES, em duas linhas de

financiamento: Fundo Social Não Reembolsável e

PMAT II - Programa de Modernização

Administrativa e Tributária.

Os recursos captados são suficientes para

garantir:

- infra-estrutura tecnológica (servidoras, softwares

de aplicação e banco de dados);

- desenvolvimento do aplicativo;

- informatização de todos os locais de atendimento

dos usuários do SUAS nos serviços executados

diretamente pelo município.

Os indicadores de resultado do projeto:

% de usuários do aplicativo;

% de locais de atendimento dos usuários do SUAS

informatizados;

% de usuários de aplicativo que extraem relatórios.

A viabilidade política e organizacional do

projeto tem dois eixos: um é o cumprimento dos

requisitos da gestão plena. Essa condição favorece

o município no financiamento dos serviços e na

autonomia de gestão. Portanto, é de interesse do

governo municipal manter essa habilitação e

conseqüentemente é mantido na sua agenda o

cumprimento da gestão plena.

O outro é a metodologia proposta para a

elaboração e implantação do projeto, que é

participativa e centrada no usuário final do sistema.

Essa adesão ao sistema amplia suas possibilidades

de sucesso e sua sustentabilidade.

A sustentabilidade financeira do projeto

tem uma excelente perspectiva, pois o projeto tem

um custo baixo para sua expansão, uma vez que não

utilizará estações de trabalho, e sim thin clients no

ambiente Linux. E por se tratar de um aplicativo de

uso na Internet, a rede de telecomunicação pode ser

uma alternativa comercial de banda larga, em

detrimento da RMI e, conseqüentemente, com um

custeio bem menor.

Facilidade de reprodução

A facilidade tecnológica para reprodução

tem como condição o investimento na estruturação

do ambiente de produção de um aplicativo de

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internet e banco de dados Oracle. Esse ambiente

pode ser compartilhado com outras aplicações com

a mesma arquitetura, ou pode ser promovido por

meio de um consórcio entre municípios. Esse

compartilhamento é uma característica inerente ao

aplicativo Internet, facilitando assim, sua

replicação.

O código-fonte da aplicação será de

propriedade da Prefeitura Municipal de Belo

Horizonte, podendo ser disponibilizado para

customização e reprodução em órgãos públicos.

Ambiente de Hardware e Software

O projeto se baseia nas seguintes

indicações:

Para o software

- Linguagem: Java;

- Sistema Gerenciador de Banco de Dados: Oracle

9.0;

- Servidor de Aplicação: Borland Enterprise

Server, versão mínima 6.0;

- Portabilidade do código: o código executado em

outros Aplications Servers compatíveis com a

especificação J2EE Full Compliant;

- Integração com Bases de Dados: o aplicativo deve

possibilitar o acesso a dados oriundos de outros

sistemas, tais como os do Censo BH Social,

MAPAS, SUCAF, BPC, BH Cidadania, CAVIV,

ARTE-RH, SUAS-WEB e outros identificados

durante o processo de especificação de forma on

line;

- Flexibilidade na definição das permissões de

acesso: o administrador do sistema, por órgão, deve

ser capaz de definir permissões de acesso para

usuários e grupos por meio dos perfis de usuário.

Estas permissões definem os tópicos ou categorias

que os usuários têm acesso, canais que podem

subscrever e funções que podem usar, assim como

os dados que podem ver;

- Segurança: para salvaguardar as informações

corporativas e prevenir acessos não autorizados, o

aplicativo deve suportar serviços de segurança,

como criptografia, autenticação, firewalls,

protocolo de segurança em ambiente Internet e

utilização de Certificação Digital, conforme padrão

Prodabel. Deve também possibilitar auditoria dos

acessos às informações, das alterações de

configuração etc;

- Customização e personalização: o administrador

do sistema por órgão, deve ser capaz de customizá-

lo de acordo com as políticas e expectativas dos

órgãos;

- Interoperabilidade: o sistema deve ser construído

orientado para a arquitetura E-PING, que define um

conjunto mínimo de premissas, políticas e

especificações técnicas que regulamentam a

utilização da Tecnologia de Informação e

Comunicação (TIC) no governo federal,

estabelecendo as condições de interação com os

demais poderes e esferas de governo e com a

sociedade em geral;

- Troca de Informações entre Sistemas: o sistema

deve ser construído com foco em “web services”, o

qual permite a troca de informações entre sistemas.

Para hardware

A arquitetura tecnológica é de 3 camadas, sendo:

- 1ª camada – terminal de máquinas recicladas –

thin clients;

- 2ª camada – servidor de aplicação;

- 3ª camada – servidor de Banco de Dados.

A rede de telecomunicação:

- RMI para os locais de prestação de serviço do

SUAS da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte;

- Banda larga comercial para os demais serviços;

- Acesso do aplicativo por meio do site da PBH.

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Implementando uma cultura informacional sob a ótica da gestão do conhecimento

ELABORAÇÃO Carla Andréa Ribeiro∗ Celsiane Aline Vieira Araújo∗∗ Leila Márcia Souza da Silva∗∗∗ Vanuza Bedeti da Silva∗∗∗∗ Resumo Este artigo descreve a experiência de implantação do Serviço Interno de Informação na Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social de Belo Horizonte. A demanda pela adequação às novas tecnologias e à gestão do conhecimento exige das organizações serviços especializados que contribuam com a integridade do ciclo informacional. Um novo modelo de gerenciamento torna-se necessário em função de uma série de fatores relacionados à política externa, ao desenvolvimento tecnológico, ao valor e uso da informação como instrumento de convergência entre funções, setores e processos de uma organização. A captação de informações, conforme as necessidades geradas, a organização, tratamento, recuperação e disseminação da informação é de suma importância para promover a produção do conhecimento, assegurar a funcionalidade dos serviços, a capacitação de pessoal e subsidiar os processos de tomada de decisão. É sob este contexto que o Serviço Interno de Informação da Assistência Social foi implementado e vem apresentando resultados significativos na cultura informacional desta Secretaria.

PALAVRAS CHAVES Gestão do conhecimento – Gestão da Informação – Serviço de Informação

ABSTRACT The necessity of adequacy to the new technologies and knowledge management demand of the organizations specialized jobs that contribute to the integrity of the informacional cycle. A new model of management becomes necessary in function of a series of factors related to the

∗ Psicóloga e Mestre em Ciência da Informação – GEIMA ∗∗ Cientista da Informação – Serviço Interno de Informação - SMAAS ∗∗∗ Estudante de Ciência da Informação/PUC Minas – Serviço Interno de Informação - SMAAS ∗∗∗∗ Bibliotecária – Serviço Interno de Informação - SMAAS

external politics, to the technological development, to the value and use of the information as instrument of convergence among functions, sectors and processes of an organization. The captation of information as the necessities come, the organization, treatment, recovery and dissemination of the information is of great importance to promote the production of knowledge, to assure the functionality of services, the qualification of staff and to subsidize the processes of decision taking. It is under this context that the Internal Work of Information of the Associate City Department of Social Assistance was implemented and comes presenting resulted significant in the informacional culture of this Secretariat.

KEYWORDS Knowledge management – knowledge information – Information Service

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INTRODUÇÃO A natureza do fenômeno “informação

enquanto mediadora na produção do

conhecimento” faz necessário o surgimento de

serviços que possam recuperar, tratar, organizar e

disseminar informações nos seus mais diversos

formatos. Nessa perspectiva, pode-se inferir que

as organizações precisam encontrar meios de se

instrumentalizar para se adequarem às novas

tecnologias de informação e gestão do

conhecimento no ambiente organizacional,

gerando um potencial competitivo e inovador

adaptado à realidade global.

Neste artigo será apresentado como o

Serviço Interno de Informação da Secretaria

Municipal Adjunta de Assistência Social –

SMAAS, da Prefeitura de Belo Horizonte, atua

nesse contexto, contribuindo com a integridade do

ciclo informacional, visando à produção do

conhecimento individual e organizacional e à

disseminação da informação oficial/formal aos

trabalhadores da assistência social (SMAAS e

Regionais).

Compete também a este Serviço, a

seleção, aquisição, organização e disseminação da

informação, nos seus variados suportes, o

desenvolvimento de produtos e serviços

informacionais, tais como a intranet, o serviço de

disseminação seletiva de informação e

publicações da área de assistência social, bem

como a coordenação do Centro de Memória e

Pesquisa, promovendo o acesso às informações

relevantes ao perfil dos usuários.

Enfim, a exposição deste artigo será uma

descrição de como se deu o processo de

implementação do Serviço Interno de Informação

da SMAAS, abordando as metodologias adotadas,

os produtos, resultados e perspectivas para

manutenção, avaliação e desenvolvimento deste.

Histórico

A precariedade da gestão do ciclo informacional

das diversas ações realizadas no interior da SMAAS

gerou um ambiente informacional fragmentado e caótico,

que resulta nitidamente na falta de acesso às informações

básicas sobre as ações realizadas e, conseqüentemente, à

desatualização das mesmas, dificuldade de acesso aos

documentos institucionais e até mesmo a falta de

informações elementares como um cadastro de seus

colaboradores/trabalhadores constando informações

básicas.

Diante desse cenário, os processos de geração,

processamento, armazenamento e disseminação das

informações, necessárias às ações de publicidades e

gerenciais, são desestruturados. Assim, quando

demandadas, essas ações mobilizam vários trabalhadores

em “força tarefa” para coletar dados manualmente,

processar com recursos precários e produzir peças de

disseminação em suporte limitado, em relação a sua

abrangência (público, locais de acesso etc.), conforme

outras experiências.

Com a criação da GEIM-AS – Gerência de

Informação, Monitoramento e Avaliação da Assistência

Social -, na reforma administrativa de 2000, tornou-se

natural, na dinâmica da Secretaria Municipal Adjunta de

Assistência Social, localizar, nessa gerência, o papel de

fornecimento e tratamento de informações. Visando

acatar esta demanda, a GEIM-AS, atual Gerência de

Informação, Monitoramento e Avaliação - GEIMA,

adotou como foco de atuação o desenvolvimento de

atividades integradas à Política Municipal de Assistência

Social – PMAS, em consonância com o Sistema Único

de Assistência Social – SUAS, priorizando a

informatização de um Sistema de Monitoramento e

Avaliação para alimentação das necessidades

informacionais da SMAAS.

Para viabilizar o desenvolvimento desse Sistema, a

GEIMA adotou duas formas de intervenção,

considerando tanto os recursos humanos (equipe de

tecnólogos), como recursos de Tecnologias de

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Informação e Comunicação TIC’s. A primeira

intervenção consistiu na adequação e expansão do

Sistema Integrado de Serviços de Assistência

Social com foco no Sistema de Monitoramento e

Avaliação. A segunda intervenção implicou na

implantação do Serviço Interno de Informação,

objeto deste artigo.

Avaliou-se que a proposta de implantação do

Serviço Interno de Informação da SMAAS, requer

muito mais gestão e articulação dos recursos

existentes do que investimentos. E o cenário que

se encontrava, decorrente da reforma

administrativa de 2004/05, favorecia essa

intervenção. Sugeriu-se, então, que a formulação

inicial sobre o serviço proposto considerasse os

seguintes pressupostos:

a) articulação entre informação e

comunicação;

b) gestão do conhecimento centrada na

subjetividade e produção intelectual;

c) gestão de documentos – arquivos de

memória institucional e outros acervos;

d) Intranet como ferramenta de integração

organizacional e comunicação.

Cabe esclarecer que a proposta do Serviço

Interno de Informação da SMAAS também foi

considerada devido às atribuições da Gerência de

Informação, Monitoramento e Avaliação –

GEIMA, que, entre outras, coordena a

organização das informações desta Secretaria,

organiza os projetos e documentos da execução

dos trabalhos da SMAAS, com o objetivo de

preservação da memória institucional, e mantém

um acervo bibliográfico de referência sobre a área

da assistência social.

ASPECTOS TEÓRICOS

O atual cenário de avanços tecnológicos e

de modernização, embutidos no processo de

globalização, exige das organizações de um modo

geral adequação e a busca de mecanismos que propiciem

uma melhor convivência no contexto de mudanças

permanentes e velozes, tornando indispensáveis os

atributos de adaptabilidade, flexibilidade e constante

atualização.

A partir dessas considerações, percebe-se que as

organizações precisam encontrar recursos e modelos mais

adequados a promover a interligação entre as tecnologias

de gestão e as tecnologias de informação. Dentre as

abordagens, trataremos aqui dos aspectos teóricos que

envolvem os pressupostos do Serviço.

a) Articulação entre Informação e Comunicação

O conceito de informação defendido por

Buckland (1995) baseia-se na compreensão de que ela só

se concretiza na relação entre informante e informado e

visa reduzir incertezas e ignorâncias. Já Allen (1996)

compreende que esses dois tipos compõem um mesmo

significado para informação. Como processo composto

por emissor e receptor, no qual uma estrutura cognitiva

do emissor é codificada e transmitida para o receptor, que

compreende a mensagem codificada, interpreta-a e

aprende a partir dela. Essa definição reafirma a

concepção de Buckland que não existe informação

independente sendo indispensável para a existência da

informação o processo comunicacional estabelecido

através da relação entre informante e informado.

Na proposta em questão, sugere-se que o

intermediador (profissional da informação) tenha

condição de estabelecer a interação com o usuário até o

grau de conselheiro. Ou seja, o profissional da

informação atua não somente na organização física do

acervo e na catalogação adequada do mesmo, como

proporciona aos usuários a opção de um acesso

independente às informações ou intermediado pelo

profissional desde a elaboração do seu questionamento à

pertinência e viabilidade da informação solicitada.

b) Gestão do conhecimento centrada na subjetividade e

na produção intelectual

A relação entre informação e conhecimento,

conforme definições apresentadas anteriormente, é

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compreendida como um fenômeno humano e

social que tem a comunicação como processo

viabilizador e é inerente às práticas de gestão de

processos na organização.

A definição de conhecimento utilizada

pelos autores Davenport e Prusak auxilia a

compreensão dessa relação:

“Conhecimento é uma mistura fluida de experiência condensada, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para a avaliação e incorporação de novas experiências e informações. Ele tem origem e é aplicado na mente dos conhecedores. Nas organizações, ele costuma estar embutido não só em documentos ou repositórios, mas também em rotinas, processos, práticas e normas organizacionais”. (DAVENPORT; PRUSAK, 1998)

A atividade criadora de conhecimento está

centrada no humano, apesar do conhecimento ser

disseminado e transferido por meios e suportes,

como livros, documentos, ferramentas

tecnológicas e contatos de pessoa-a-pessoa que

vão desde conversas até relações de aprendizado.

A primazia humana nos processos cognitivos

aponta para a complexidade de gerir esse

processo, principalmente por se tratar de um

objeto intangível. Portanto, a gestão não é só do

conhecimento, mas também dos processos

estruturados que podem resultar na produção e

aplicação do conhecimento. Dessa forma, torna-se

necessário compreender todos os componentes

envolvidos nos processos cognitivos considerando

as experiências pessoais, relação das pessoas com

a organização, cultura organizacional, ambiente

informacional e o conhecimento que não se

conhece.

Sendo assim, um sistema de informação

bem estruturado e de eficaz funcionalidade,

certamente proporcionará aos colaboradores

recursos para desenvolvimento e qualificação

pessoal e profissional, uma vez que em nossa atualidade a

informação é tida também como um bem capital, não se

restringindo somente ao seu aspecto abstrato, mas sim

como um bem que agrega valor.

Para que a efetivação dos processos

informacionais se resulte em conhecimento individual e

organizacional, considerando as necessidades

mencionadas, sugere-se que o serviço de informação

destinado ao trabalhador da Assistência Social se articule

com as ações voltadas para a formação do trabalhador e a

valorização do conhecimento existente e gerado

internamente. Assim, a atuação da Gestão do

Conhecimento visa garantir a integridade do ciclo de

aprendizagem organizacional e localizar as fontes de

conhecimento interno da SMAAS.

c) Gestão de documentos – arquivos de

memória institucional e outros acervos Os procedimentos de gestão de documentos e

arquivos partem da assertiva que a informação

arquivística é a base da gestão da informação nas

unidades de informação; entretanto, não pode ser

considerada como o único tipo de informação gerado e

usado em uma organização, pela sua limitação (inerente à

sua natureza). A a natureza da informação arquivística

está no registro, “informações registradas em suporte

definido, acumuladas por um sujeito que é, ao mesmo

tempo, emissor e receptor” (LOPES, 1996, p. 35).

Considerando essa definição de informação

arquivística pode-se compreender o conceito de arquivo a

partir da definição do Dicionário Internacional de

Terminologia Arquivística, citado por Fonseca (1999):

[arquivo é] o conjunto de documentos, quaisquer que sejam suas datas, suas formas ou seus suportes materiais, produzidos ou recebidos por pessoas físicas e jurídicas, de direito público ou privado, no desempenho de suas atividades. (FONSECA, 1999, p. 150-151)

Jardim (1999) observa em pesquisa realizada na

administração pública federal, que outras unidades de

informação se enquadram na definição de arquivo, mas

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utilizam denominações diversas, como: centro de

documentação, centro de memória, serviço de

comunicação administrativa, biblioteca interna e

serviço de protocolo. Segundo ele, o não uso do

termo arquivo relaciona-se com o baixo grau de

institucionalidade da gestão da informação na

administração pública. Não obstante, o tipo de

informação gerida nessas unidades de informação

é a arquivística.

d) Intranet como ferramenta de integração

organizacional e comunicação

Até o final da década de 1980, a

comunicação nas organizações era realizada por

meios tradicionais, como as publicações

impressas, murais, clipings, correspondência,

jornais, revistas e outros meios de comunicação

em suporte material e estático. Hoje, a

comunicação organizacional utiliza também as

novas Tecnologias de Informação e Comunicação

(TIC) como meio e instrumento para atingir seus

objetivos, produzindo uma dinâmica síncrona de

disseminação da informação por meio de recursos

digitais. A Intranet pode ser definida basicamente

como uma rede privada de informações,

utilizando-se toda a tecnologia da Internet, com

mesmo navegador e protocolos de comunicação.

Enquanto a Internet é uma rede pública, a Intranet

oferece acesso restrito às pessoas de uma

determinada organização.

A articulação entre os profissionais de

informação e de comunicação favorece que a

organização utilize potencialmente este novo

canal de comunicação como veículo facilitador do

trabalho de relações públicas, integração e

desenvolvimento organizacional e formação

continuada.

ASPECTOS METODOLÓGICOS

Metodologia de implantação do Serviço Interno

de Informação

Um Serviço de Informação tem como pré-

requisito de sua existência e bom funcionamento a

necessidade informacional do usuário para o qual o

serviço é direcionado. Dessa forma, se faz necessário

identificar o perfil desse usuário por meio de estudos e

pesquisas fundamentadas na convergência dos

conhecimentos da gestão de recursos humanos,

comunicação e informação, uma vez que tais áreas

formam o tripé para a produção do conhecimento que,

por sua vez, gera a necessidade informacional.

O Estudo de Uso e Usuários do Serviço de

Informação e Mapeamento do Conhecimento teve por

objetivo conhecer o trabalhador social considerando dois

focos: o usuário da informação e a construção da Política

de Recursos Humanos/Gestão de Pessoas da SMAAS,

que baseia-se nos princípios do reconhecimento do

trabalhador como agente ativo da política municipal de

assistência social e da valorização e motivação do mesmo

em seu processo de trabalho.

Para isso foi elaborado um questionário que foi

enviado aos trabalhadores da política de assistência

social, lotados nos níveis central, regional e

equipamentos (local de execução dos programas e

serviços da política de Assistência Social). Teve como

um de seus objetivos adquirir informações precisas e

claras da realidade vivida pelo publico alvo –

trabalhadores da política -, de forma a construir um

diagnóstico do quadro funcional da SMAAS.

Nesse diagnóstico procurou-se identificar os

vínculos de trabalho, a trajetória profissional, as

expectativas e habilidades pessoais, as necessidades de

formação profissional, inerentes ao trabalho, a produção

intelectual e acadêmica, e as necessidades

informacionais, para melhor atender os trabalhadores no

Serviço Interno de Informação que foi implantado na

Gerência de Informação, Monitoramento e Avaliação -

GEIMA.

De um total aproximado de 513 trabalhadores que

lidam diretamente com a assistência social - sendo aqui

considerados pessoas envolvidas nas atividades meio e

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fim: pessoal técnico (gerentes, coordenadores,

técnicos, educadores sociais de 2º grau) e

administrativo (assistente administrativo e auxiliar

administrativo de 2º grau) efetivos, comissionados

e contratados - obteve-se um retorno de 467

questionários preenchidos. Os demais

questionários que complementam o universo não

foram respondidos devido aos seguintes motivos:

licença maternidade, licença médica, outros tipos

de licenças, férias, recusa em responder, não estar

lotado na assistência social, atuação em outros

órgãos.

A partir da aplicação dos questionários e

coleta dos dados, foram identificados vários

parâmetros que serviram de norteamento para a

definição das metas e planejamento do Serviço.

a) Entre os trabalhadores da SMAAS,

96,7% possuem acesso a

microcomputadores, no entanto não se

consideram capacitados a utilizar de

todos os recursos que esse acesso

possibilita.

b) Constatou-se também que 59,3% dos

trabalhadores não possuíam e-mail

institucional. Em função desse dado, o

endereço eletrônico de vários serviços

também eram cadastrados em web mails.

c) As principais fontes de informação

utilizadas são, respectivamente:

documentos oficiais (Leis, Decretos,

Normativa etc.), canais informais

(pessoas da secretaria), jornais, revistas e

livros. Estas fontes, acima de 50% de

uso. Abaixo dessa média, seguem:

Internet (web), Internet (base de dados),

vídeos e bibliotecas externas.

d) O corpo funcional da SMAAS, é em mais

60% constituído por trabalhadores jovens

em média com 28,5 anos. Em função

deste dado, foi possível constatar que há

uma grande expectativa relacionada à aquisição

e produção de conhecimento, uma vez que parte

significativa dos trabalhadores, atuam em

atividades operacionais em que sua qualificação

está diretamente relacionada à qualidade dos

serviços prestados, havendo, portanto, uma

grande demanda informacional.

A cultura informacional da SMAAS aponta para uma

evolução favorável dos processos informacionais

direcionadas para ações mais organizadas,

sistematizadas, formalizadas e profissionalizadas. Com

foco no público alvo os trabalhadores da Assistência

Social, bem como os dados levantados no Estudo de Uso

e Usuários, o Serviço Interno de Informação estabeleceu

como base para o planejamento do Serviço, as seguintes

diretrizes:

a) intermediar as necessidades informacionais dos

usuários dos serviços com as diversas fontes de

informação interna e externa;

b) elaborar e executar política e gestão de documentos;

c) elaborar e executar política de desenvolvimento de

acervo, de disseminação e acesso à informação para

o público interno e externo à SMAAS;

d) organizar acervo de documentos, considerando os

diversos suportes;

e) organizar acervo de documentos digitalizados;

f) estabelecer fluxos de atualização de informações

básicas sobre as atividades da SMAAS;

g) estabelecer relações com fontes de informação

internas (PBH) e externas;

h) coordenar, selecionar e tratar conteúdo a ser

disseminado por meio da Intranet e Internet,

mantendo sua atualização;

i) produzir outras “peças” de disseminação da

informação.

IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO INTERNO DE

INFORMAÇÃO

O serviço deve se estruturar para atender às

necessidades do público interno, por meio da

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intermediação da necessidade informacional e da

recuperação e acesso às informações identificadas

no interior da Prefeitura, tais como técnicas,

científicas, gerenciais, estatísticas,

organizacionais, arquivísticas, assim como os

serviços ofertados, decisões governamentais,

fluxos informacionais e outras. Também cumpre o

mesmo papel em relação às informações geradas

externamente a PBH as fontes secundárias:

indicadores sociais e econômicos, diagnósticos,

pesquisas científicas e eventos relacionados aos

fenômenos objetos da intervenção da Política de

Assistência Social, análise de cenários, pesquisas

de opinião pública, satisfação do usuário dos

serviços, etc.

Considerando os aspectos acima, as constatações

extraídas do estudo de usuários e as diretrizes já

pré-estabelecidas para que o Serviço Interno de

Informação se efetivasse de modo consistente,

estabeleceu-se o seguinte plano de execução para

sua implantação:

Definiu-se que a lotação de melhor referência

para os trabalhadores seria no mesmo espaço

físico da Gerência de Informação,

Monitoramento e Avaliação. O espaço conta

com um acervo especializado em assistência

social e um local para estudo.

Propôs-se que a equipe responsável pela

operacionalização do serviço fosse

constituída por profissionais da informação.

Sendo assim, a equipe de trabalho

formalizou-se com os seguintes profissionais:

uma cientista da informação, uma

bibliotecária pós-graduada em gestão

estratégica de recursos humanos e uma

estagiária em ciência da informação.

Ações desenvolvidas e em desenvolvimento

para institucionalização do Serviço:

− Gestão de documentos – orientação para

uso da Tabela de Temporalidade e

Destinação de Documentos.

− Recuperação de informações – realização de

pesquisas e auxílio na intermediação de

acesso a fontes de informação internas e

externas à SMAAS.

− Organização de Acervo – processamento

técnico, diretrizes de desenvolvimento de

coleções, preservação e conservação de

documentos entre outros.

− Circulação de Materiais – serviços de

empréstimo local e domiciliar.

− Intranet – disponibilização de informações

técnicas e especializadas, documentos e links

pertinentes à área de Assistência Social,

publicação da Revista Eletrônica SUAS- BH

Online, promoção da integração e melhor

comunicação entre os trabalhadores da

SMAAS, etc.

− Expansão dos recursos informacionais –

inclusão digital dos trabalhadores por meio da

criação de e-mails, cursos de capacitação em

informática.

− Suporte em informática – orientações quanto ao

uso de recursos tecnológicos.

− Disseminação Seletiva de Informações –

disponibilização de informações direcionadas

conforme demanda do usuário.

CONSIDERAÇÕES

Diante da perspectiva de resultados, a partir da

implantação do serviço interno de informação cabem

algumas considerações no que tange seus pressupostos.

Em relação a articulação entre informação e

comunicação foi desenvolvida uma rede de comunicação

entre os níveis centrais, regionais e equipamentos

promovendo a padronização e a utilização do e-mail com

domínio PBH para todos os programas e serviços da

Assistência Social.

Essa rede conta também com um canal direto do

trabalhador com os profissionais do serviço, através da

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intranet, para solicitações, reclamações e

sugestões o que tem trazido uma maior utilização

das tecnologias de informação e comunicação

disponíveis na Assistência Social e promovendo a

inclusão digital, fato de expressivo anseio dos

trabalhadores. Uma lista de contatos, telefones e

endereços, atualizada trimestralmente, também é

disponibilizada aos trabalhadores agilizando a

relações de trabalho.

A sensibilização do trabalhador para a

produção intelectual, abordada na Gestão do

Conhecimento, foi iniciada com a

disponibilização do conhecimento já produzido

dentro da Assistência Social como: Monografias,

Dissertações e Teses, no espaço reservado para o

acervo institucional o Centro de Memória e

Pesquisa – CMP. Em seguida fomentamos a

prática de produção do conhecimento por meio de

uma Revista Eletrônica voltada para o público

interno à SMAAS que apresenta publicações tanto

de práticas profissionais quanto de conhecimento

científico.

Tendo em vista a educação continuada

dos profissionais da secretaria foram utilizados

recursos para promover a informática básica –

Windows, Word, Excel, Power Point e Internet –

minimizando, também, o problema da inclusão

digital.

Contemplando a preservação da memória

institucional partimos do pressuposto da

Arquivística em que os documentos inerentes ao

desempenho das atividades da SMAAS serão

tratados sob a ótica da Gestão de Documentos,

embasado na tabela de temporalidade construída

através da experiência dos trabalhadores na

execução administrativa e da abordagem do

Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte

mantidos na condição de consulta, empréstimo e

pesquisa no CMP juntamente com um acervo

específico da área de Serviço Social.

Os pressupostos acima viabilizaram a atividade

de Disseminação Seletiva de Informação considerando os

temas pertinentes aos grupos de interesses como: criança

e adolescente, idoso, pessoas portadoras de deficiência,

entre outros. A ferramenta que possibilita essa

disseminação é o e-mail institucional inserido na cultura

informacional da organização.

A intranet estabelece a comunicação

organizacional por meio da disponibilização de

conteúdos como: leis, normativas, programas e serviços

da Assistência Social bem como suas ações, publicações

oficiais, manuais de procedimentos e eventos realizados

dentro e fora da SMAAS. Essa ferramenta fortalece a

gestão do ciclo informacional contribuindo com a

integridade das informações demandadas e disseminadas

potencializando a cultura informacional.

Por fim, diante do contexto apresentado, a

perspectiva do Serviço Interno de Informação é adequar

as atividades realizadas às premissas do e-gov, a fim de

melhorar a eficiência interna e a entrega de serviços

públicos no modelo Governo-à-Governo – G2G – no

qual se encontra para , posteriormente, abranger os

cidadãos passando a ser um modelo Governo-à-Cidadão

– G2C.

CONCLUSÃO

No cenário atual, a informação exerce um papel

estratégico como insumo à produção e gestão do

conhecimento e sinaliza para a importância da criação de

serviços de informação. No entanto, o desenvolvimento

do serviço exige um ambiente interno propício, isto é,

deve haver uma confluência de interesses entre o serviço

e seus receptores, uma vez que o processo de informação

envolve a criação de uma rede de relacionamentos e

promoção da troca de conhecimentos.

A partir das novas tecnologias de informação e

comunicação, surgem novas configurações dos serviços

de informação e, conseqüentemente, de produção,

tratamento, disseminação, acesso e uso da informação.

Entende-se, portanto, que um serviço de informação é

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uma rede de comunicação, aplicada à

disseminação de informações nos seus mais

diversos formatos.

Segundo Gontow (1997), um serviço de

informação tem por busca o desenvolvimento dos

diversos setores da organização, no intuito de

propiciar a capacitação à modernidade, às novas

tecnologias, à produtividade e à competitividade.

A Prefeitura de Belo Horizonte, no

anseio de se adequar a essa modernidade e suprir

suas necessidades informacionais, projetou-se

nesse cenário de modernização ao decretar à

Secretaria Municipal Adjunta de Assistência

Social, Gerência de Informação, Monitoramento e

Avaliação, a atribuição de implantar e gerenciar o

Serviço Interno de Informação.

Nessa perspectiva, a interação tecida pelo

Serviço provoca o surgimento de produtos

demandados por meio do estudo de usuários,

colocando em relevância a informação produzida

internamente, que servirá de interlocução entre

público interno e externo.

A sistematização da informação aparece

como meio de conexão entre os conhecimentos

produzidos e a transmissão desses conhecimentos.

Configura-se, portanto, um espaço de informação

e materialização de produtos informacionais. A

intranet neste cenário pode ser uma excelente

ferramenta para facilitar o compartilhamento de

informações da própria instituição e dinamizar o

fluxo informacional e os processos de

comunicação interna. A constituição de um espaço

físico com um acervo especializado composto

tanto por materiais técnicos da área de assistência

social, como por documentos que retratem a

memória institucional e patrimonial da

organização, promove uma maior interação dos

usuários com o Serviço, além de gerar um

ambiente para troca de experiências e legitimar o

serviço como um “guardião” dos conhecimentos

produzidos pelos trabalhadores.

Conclui-se, portanto, que a implantação do

Serviço Interno de Informação é de grande relevância à

SMAAS/PBH, por projetar no cenário nacional, por meio

do gerenciamento sistemático de informações, os

benefícios sócio-econômicos vinculados às atividades

realizadas por esta Secretaria, com visibilidade e

transparências de suas ações.

REFERÊNCIAS

ALLEN, Bryce. Information tasks: toward a user

centered approach to information systems. San Diego:

Academic Press, 1996.

BUCKLAND, Michael. Information and Information

Systems. New York: Praeger, 1995.

CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS.

Dictionary of archival terminology. Paris: K- G, Sauer,

Munchen, 1984.

DAVENPORT, T. H., PRUSAK, L. Conhecimento

empresarial. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1998

FONSECA, Maria Odila. Informação e direitos humanos:

acesso às informações arquivísticas. Ciência da

Informação. v.28, n.2, p. 146-154. maio/ago. 1999

GONTOW, Rejane. Serviço de informação e assistência

tecnológica para o segmento agroindustrial de alimentos.

Ciência da Informação. v. 26, n. 3, 1997. Disponível em:

<http://www.ibict.br/cienciadainformacao/include/getdoc

.php?id=745&article=421&mode=pdf.>. Acesso em: 21

ago. 2006

JARDIM, José Maria. Transparência e Opacidade do

Estado no Brasil: usos e desusos da informação

governamental. Niterói: EdUFF, 1999.

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18

A Implantação do Sistema Único de Assistência Social e sua implicação no financiamento da Política de Assistência Social: uma reflexão

ELABORAÇÃO Ana Paula Simões Hilário∗

RESUMO Este artigo aborda o modelo da Seguridade Social trazido pela Constituição de 1988; as diversificações das formas de financiamento da Seguridade Social dentro da Política Nacional de Assistência Social – PNAS e os desafios que se apresentam ao longo do processo de implantação dessa Política. Aborda também sobre a habilitação à condição de gestão e financiamento; sobre o Fundo Municipal de Assistência Social como instrumento de gestão e sobre o Sistema Municipal de Assistência Social focando, sempre, a sustentabilidade dos serviços integrados ao Sistema Único da Assistência Social.

∗ Psicóloga - Gerência Administrativa Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social

1 Sistema de Seguridade Social e Assistência

Social

A Assistência Social, direito do cidadão e dever

do Estado, parte integrante da Política de Seguridade

Social assegurada pela Constituição Federal – Título

VIII/Capítulo II/Seção IV/Art.203, está inserida no

Sistema de Seguridade Social juntamente com a

Previdência Social e a Saúde. Este Sistema por sua vez é

inspirado no modelo Welfariano2 marcado pelos

princípios do Bem Estar Social. Nele, o processo é

definido pela necessidade existente e não pela capacidade

de pagamento. Este tipo de sistema traz, de forma

implícita, a idéia de transferência de renda. Os

programas, projetos, serviços e benefícios são oferecidos

para os que deles necessitam, sem a contrapartida dos

seus integrantes.

O modelo da Seguridade Social, trazido pela

Constituição Federal de 1988, apresenta, dentre outros

princípios, a universalidade da cobertura e do

atendimento em relação à política de Assistência Social,

o reconhecimento de direitos sociais e deveres do Estado

e a gestão compartilhada envolvendo a União, Estados e

Municípios e convergindo para uma forma de execução

descentralizada e participativa.

Com o advento da Constituição de 1988, a

Assistência Social adquire o caráter de política

específica, não mais atrelada à Previdência Social,

inaugurando a partir daí novas perspectivas.

Diversificam-se também as formas de financiamento da

Seguridade Social, estabelecendo que:

“a seguridade social será financiada por toda a

sociedade, de forma direta e indireta, nos

2 Welfare State ou Estado de Bem Estar Social. Segundo esta concepção, todo o indivíduo teria o direito, desde seu nascimento, a um conjunto de bens e serviços que deveriam ser fornecidos diretamente, através do Estado, ou indiretamente, mediante seu poder de regulamentação sobre a sociedade civil.

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termos da lei, mediante recursos

provenientes dos orçamentos da União,

dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios e das contribuições sociais:

I – dos empregadores, incidente sobre

a folha de salários, o faturamento e

o lucro;

II – dos trabalhadores;

III – sobre a receita de concursos de

prognósticos.” (Art. 195)

Diante deste cenário e do papel assumido

pela Assistência Social, fazia-se necessário o

reordenamento institucional a uma nova

concepção política da Assistência Social para

além do disposto na Norma Operacional Básica de

1997, refletindo as deliberações das Conferências

Municipais, Estaduais e Nacional de Assistência

Social posteriores, que culminaram com a

elaboração da Nova Política Nacional de

Assistência Social, concretizada em setembro de

2004.

2 A Política Nacional de Assistência

Social e as novas diretrizes do financiamento

A Política Nacional de Assistência Social

- PNAS aprovada em 2005, tem como

característica de sua execução, a

operacionalização e o monitoramento de suas

ações através do Sistema Único da Assistência

Social - SUAS. Reforça a consolidação da

Assistência Social enquanto política pública,

rompendo com todos os estereótipos que a

vinculam a ações marcadas pelo caráter

assistencialista e/ou a serviço de outras políticas.

O novo modelo traz consigo mudanças

relacionadas não somente aos mecanismos de

operação financeira relativos à transferência de

recursos. Trata-se de um novo olhar, onde está

embutida uma mudança de concepção acerca do

ato de financiar a política de Assistência Social e suas

implicações. Aqui, o financiamento se coloca como um

dos eixos estruturadores do SUAS, aliando-se à gestão e

ao controle social. Alguns aspectos considerados pelo

Sistema:

Participação tripartite (União, Estados e Município)

no financiamento da política de Assistência Social;

Adesão ao conceito de co-financiamento nas

ações/serviços a serem executados, diferenciando-o

da então contrapartida existente e cujos percentuais

são estabelecidos pela Lei de Diretrizes

Orçamentárias;

Integralidade e descentralização político-

administrativa;

Manutenção de uma lógica comum, dando ao

sistema um caráter harmônico, que respeita as

diferenças regionais e culturais existentes nos

diversos municípios brasileiros;

Transferência de recursos de forma regular e

automática, conforme já estabelecido na LOAS;

Rompimento com a descentralização tutelada de

recursos para a execução das ações da Assistência

Social; marcada pela criação de empecilhos diversos

e programas herméticos.

A idéia do co-financiamento imprime aos

municípios a co-responsabilidade comprovada

contabilmente na execução das ações da Assistência

Social. Esta comprovação previamente aprovada pelo

Conselho Municipal da Assistência Social é condição

para a realização da transferência dos recursos federais.

Os valores alocados para o co-financiamento variam de

acordo com as ações/serviços executados pelos

municípios. Alguns desafios ainda se apresentam ao

longo da implantação da Política Nacional de Assistência

Social – 2005 em relação ao financiamento e à

transferência de recursos. Os Municípios cada vez mais

devem assumir seu papel de gestores da política através

da consolidação do Sistema Municipal de Assistência

Social. Cabe aos Municípios o levantamento de suas

necessidades conforme características e peculiaridades

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20

próprias. A mudança mais profunda trazida pela

nova política é também a mais difícil de ser

assimilada e requer um tempo de maturação: a

mudança de concepção.

Os Municípios, ao aderirem ao novo

modelo, assumem o compromisso e a

responsabilidade na implantação da política

pública de Assistência Social. A valorização da

autonomia municipal na execução dos programas,

projetos, serviços e benefícios tem se mostrado

muito mais efetiva, contribuindo para uma rápida

mudança rumo à gestão de qualidade.

2.1 Habilitação à condição de gestão e

Financiamento

A alocação de recursos nos municípios

obedece aos critérios de partilha pactuados nas

Comissões Intergestoras Bipartite e Tripartite, e

deliberados nos Conselhos Municipais de

Assistência Social. Tal fato confere transparência

e imparcialidade ao processo de implementação da

política de Assistência Social, atendendo ao

disposto no Art. 18, Inc. IX da LOAS. Esta

alocação é baseada em indicadores de

embasamento social, econômico e demográfico,

consideradas as especificidades de cada município

brasileiro.

A grande dificuldade para atender ao

objetivo da universalidade, princípio básico da

política, é que este processo seja de fácil

assimilação e entendimento por parte dos

municípios, garantindo a transparência e

facilitando o controle social.

A condição primordial para a

transferência de recursos é a adesão ao sistema, ou

seja, a habilitação a uma modalidade de gestão

(inicial, básica ou plena), que por sua vez traz

agregada a existência de Conselho Municipal,

Plano de Ação e Fundo Municipal da Assistência

Social. Neste momento de implantação da

política, até que seja atingida a universalidade da

cobertura da Proteção Social Básica, o montante

repassado a cada município obedece aos critérios de

partilha e porte dos municípios, de acordo com os

parâmetros estabelecidos pela Norma Operacional Básica

(2005).

Já a alocação de recursos para a Proteção

Especial obedecerá a critérios como: a existência de

ações de combate ao trabalho infantil e ao abuso e

exploração sexual nos municípios, de acordo com

indicadores específicos. No que se refere aos serviços

compreendidos como pertencentes à série histórica, os

valores anteriormente repassados foram mantidos

integralmente neste momento de implementação da nova

direção acerca do financiamento.

A habilitação dos municípios a uma das

modalidades de gestão, conforme mencionado

anteriormente, atua como fator preponderante para

adesão à nova forma de financiamento. Caso contrário, os

municípios continuarão recebendo os mesmos recursos já

definidos pela série histórica.

A transferência dos recursos é feita de forma

regular e automática, fundo a fundo, respeitadas as

condições para tal e os níveis de gestão. Como referência,

foram estabelecidos Pisos de Cobertura, sendo eles: Piso

Básico Fixo, Piso Básico de Transição, Piso Básico

Variável, Piso de Transição de Média Complexidade,

Piso Fixo de Média Complexidade e Piso de Alta

Complexidade I e II, além da manutenção dos repasses

anteriormente realizado na forma de bolsas.

Para algumas ações pontuais e específicas que

não possuem caráter continuado, a transferência de

recursos ainda é feita de forma voluntária, monitorada

pelos aplicativos do Sistema, mediante aprovação prévia

realizada pelo órgão financiador a projetos enviados

pelos municípios.

3 O Fundo Municipal de Assistência Social

como instrumento de gestão

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SUAS BH Online, Belo Horizonte, n 1, v 1, 2007, 38 p.

21

O Fundo de Assistência Social é um

fundo especial criado por Lei, que atua como

instrumento de gestão, onde são alocadas as

receitas específicas vinculadas à execução das

ações da Assistência Social. Tendo como base a

política e o Plano Plurianual da Assistência

Social, atende aos preceitos da Lei nº 4320 de 17

de março de 1964 e o disposto na Constituição

Federal. Os Fundos Municipais de Assistência

Social são criados por lei municipal específica,

com normas peculiares de controle e prestação de

contas.

Segundo o Art. 143 da Lei nº 4.320 de 17

de março de 1964, constitui unidade orçamentária

o agrupamento de serviços subordinados ao

mesmo órgão ou repartição a que serão

consignadas dotações próprias.

Atendendo às exigências necessárias

como condição a habilitação em gestão

regulamentadas pela Norma Operacional Básica

da Assistência Social – 2005, o Fundo Municipal

de Assistência Social deverá estar constituído

enquanto *unidade orçamentária. Dessa forma, a

unidade Fundo Municipal de Assistência Social

caracteriza um procedimento que garante a

descentralização da execução orçamentária,

permitindo que seja alcançada maior visibilidade

no gerenciamento dos recursos (exercício do

controle social), e possibilita agilização da

implementação rápida e eficaz das atividades e

projetos na área da Assistência Social.

4 Sistema Municipal de Assistência

Social

A nova sistemática de financiamento

estabelecida pela Norma Operacional Básica da

3 Segundo o Art. 14 da Lei nº 4.320 de 17 de março de 1964, constitui unidade orçamentária o agrupamento de serviços subordinados ao mesmo órgão ou repartição a que serão consignadas dotações próprias.

Assistência Social – 2005 - se apresenta para os

municípios como um grande desafio que objetiva o

melhor controle no custo dos serviços e maior eficiência

na utilização dos mesmos.

O rompimento com a antiga lógica “per capita”,

marcada pela série histórica, e a adoção de pisos de

cobertura como mecanismo contábil balizador da

transferência automática fundo a fundo, respeitando-se os

níveis de proteção, faz com que os municípios busquem

definir qual o real custo de cada um dos serviços

executados nas diversas políticas setoriais (idoso, criança

e adolescente, população de rua, etc) consideradas as

diferenças e especificidades regionais. A existência da

lógica per capita atuava em alguns casos como “pseudo”

custo dos serviços, encobrindo as reais demandas e

necessidades municipais.

Neste momento da implantação dos Sistemas

Municipais de Assistência Social, faz-se necessária a

estreita relação entre a regulação dos serviços que

compõem as diversas políticas setoriais e o

financiamento, a fim de garantir a execução planejada

dos serviços.

O grande upgrade trazido pelo Sistema Único da

Assistência Social é possibilitar que os municípios

adquiram uma maior autonomia financeira e

potencializem, de forma crescente, a transferência

financeira automática aliada a critérios técnicos de

programação.

A abolição, realizada pelo Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome, da Certidão

Negativa de Débito como documento condicionante para

a transferência de recursos para os Municípios, fez com

que o velho atraso no repasse dos recursos se

transformasse em um problema superado em grande parte

dos Municípios, tendo como premissa que o usuário da

política de Assistência Social, inserido nos seus

respectivos serviços de natureza continuada, não poderia

ser penalizado por dificuldades alheias apresentadas

pelos Municípios.

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SUAS BH Online, Belo Horizonte, n 1, v 1, 2007, 38 p.

22

O grande desafio para os Municípios, na

construção do Sistema Municipal de Assistência

Social, no que diz respeito à gestão financeira dos

recursos, consiste na busca da adequação dos

procedimentos e processos administrativos

existentes, com a agilidade oferecida pelo SUAS a

partir da transferência regular e automática dos

recursos. A diversidade das fontes de recursos

com os quais o Município conta, exige uma

sistemática adequada de planejamento,

contabilização e controle das receitas. As

Secretarias Municipais de Assistência Social, ou

órgãos correlatos, deverão se instrumentalizar para

este tipo de gestão mais detalhada.

Por outro lado, há também a necessidade

de se avançar na construção de mecanismos mais

ágeis, legalmente embasados, transparentes e

democráticos, de repasse de recursos para as

entidades sócioassistenciais que integram a rede

SUAS, objetivando a possibilidade futura de

realização deste repasse também através da

transferência regular automática. Para tal, se fará

necessária a construção de instrumentos

administrativos.

5 Considerações finais

O advento do Sistema Único da

Assistência Social enfoca novamente a discussão

acerca do financiamento da política pública de

Assistência Social. Considerando a dimensão do

território brasileiro e suas diversidades, é difícil a

construção de um modelo que responda

integralmente a todas as variáveis regionais

existentes. O mais importante porém, é que,

qualquer que seja o sistema adotado, esteja

assegurada a manutenção da engrenagem do

financiamento, garantindo a sustentabilidade de

todos os serviços integrados ao sistema, de forma

a não torná-lo susceptível às variações da

economia.

Segundo Selene Peres Nunes, especialista em

gasto público do INESC, “existem políticas sociais de

duas categorias: as que contam com a vinculação de

recursos e as que não contam. A intenção da política é

ótima, mas sem garantir recursos das três esferas de

governo não vai servir para nada, porque os governos

cortam os recursos”. Porém, para Behring, citada por

Breve, a alocação de recursos está diretamente

relacionada à política de ajuste fiscal adotada. Para ela,

“o maior desafio é vencer a política de superávit

primário e desvinculações de receitas da Seguridade

Social”.(BREVE, 2004)

Referencias

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março de 1964. Estatui normas gerais de direito

financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e

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<https://legislacao.planalto.gov.br/legislacao.nsf/fraWeb?

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sf%2FFrmConsultaWeb1%3FOpenForm%26AutoFrame

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Assistência Social e dá outras providências. Brasília, DF.

BRASIL. Constituição da República Federativa do

Brasil. Brasília, DF. [s.n.], 1988

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência

Social. Norma Operacional Básica da Assistência

Social, NOB/SUAS Brasília, DF.: MDS, 2005

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência

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23

Social. Política Nacional de Assistência Social –

PNAS. Brasília/DF.: MDS, 2004

BREVE, Nelson. Sistema Único de Assistência

Social avança para a Cidadania. Outro Brasil –

Laboratório de Políticas Públicas, Rio de

Janeiro, 2004. Dossiês Temáticos: seguridade

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SAÚDE ON-LINE, 1, [s.d.], [s.l.] Disponível em:

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Janeiro. Ago. 2006

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SUAS BH Online, Belo Horizonte, n 1, v 1, 2007, 38 p.

24

A Gestão da Política de Assistência Social

ELABORAÇÃO Mário César Rocha Moreira − Psicólogo − Mestre em Administração Pública pela

Fundação João Pinheiro − Analista de Política Pública da PBH − Gerente de Gestão da Secretaria Municipal de

Assistência Social de Belo Horizonte RESUMO Este texto trata da organização da política de assistência social como Sistema Único de Assistência Social - SUAS, trazendo elementos teóricos para o entendimento das organizações como sistemas sociotécnicos, que devem responder a um ambiente instável e mutável, nos quais a estrutura, as pessoas e o uso de tecnologias se articulam em busca de eficácia e efetividade das ações.

Introdução

O esforço em andamento atualmente para

organizar a política de assistência social como um

sistema, o Sistema Único de Assistência Social -

SUAS, exige um maior esforço conceitual para

explicitar os fundamentos teóricos e políticos da

Assistência Social como política pública e também

para entender o papel de agentes públicos e

organizações que materializam o SUAS, que

realizam as ações prescritas pela política, em seu

contato direto com a população usuária.

Este esforço nos leva a buscar contribuições de

diversas áreas do conhecimento o que torna o tema

relevante e desafiante. Este texto trás o enfoque da

abordagem sistêmica, da teoria das organizações e

dos estudos sobre políticas públicas, visando situar

o papel dos trabalhadores na política de assistência

social, entender a ação organizada das pessoas nas

organizações, os fundamentos técnicos, éticos e

políticos dos agentes que operacionalizam a política

pública.

Concepção sistêmica

Um sistema é um conjunto de elementos

em interação, realizando uma ação, com uma

determinada finalidade e que resulta em um

produto. Para isso depende de insumos do meio que

ao entrarem no sistema, detonam um determinado

processo, ou seja, um conjunto de relações entre as

partes, cujo resultado é a saída de um produto. A

ocorrência sistemática de determinados processos

configura uma determinada organização ou

estrutura. Existem processos destinados a

monitorar e informar a centros de coordenação e

comando o andamento dos processos monitorados.

São mecanismos de fidibeque que subsidiam

eventuais ou permanentes correções destes últimos

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25

de acordo com a finalidade do sistema. Desta

forma, mesmo que os processos variem, através dos

mecanismos de fidibeque é possível ainda atingir o

objetivo final do sistema. Isso é chamado

equifinalidade. Entre alguns elementos do sistema

ocorre uma interdependência, ou um vínculo mais

forte, por terem funções comuns, formando

subsistemas. Note-se que alguns sistemas se

modificam e crescem, e à medida que crescem, seus

processos ficam mais especializados, mais funções

operacionais surgem e demandam mais

mecanismos de coordenação e de fidibeque.

É importante que o SUAS construa

conhecimentos sobre os elementos que o compõe.

Sobre seus insumos básicos como, o público alvo,

os recursos humanos, recursos financeiros,

informações, conhecimentos etc.

O mesmo se aplica aos seus processos e

produtos, as trajetórias a serem seguidas pelos

usuários no âmbito do sistema, o funcionamento

técnico e administrativo, a padronização de

processos, a criação de políticas internas a

determinados subsistemas, resultados e impactos

que a política espera e se têm sido conseguidos.

O Sistema Descentralizado e Participativo de

Assistência Social

Conforme definido na LOAS a política de

assistência social é realizada através de um

conjunto integrado de ações da iniciativa pública e

da sociedade (art.1º), organizadas em um sistema

descentralizado e participativo, sistema este

constituído por “entidades e organizações de

assistência social, que articule meios, esforços e

recursos e por um conjunto de instâncias

deliberativas compostas pelos diversos setores

envolvidos na área (art. 6). È estabelecida ainda a

existência de órgãos gestores - instâncias

coordenadoras - da política em cada esfera de

governo.

Notemos que as instâncias são

subdivididas conforme sua função de deliberação

(cuja instância máxima é o Conselho Nacional de

Assistência Social), de coordenação (órgãos

gestores em cada esfera de governo) e

operacionalização (rede socioassistencial).

Como uma tendência nos sistemas

administrativos podemos identificar órgãos ou

instâncias que compõem subsistemas decisórios,

subsistemas de coordenação e subsistemas

operacionais. Notemos que a rigidez na estrutura

administrativa quanto a quem decide, quem

coordena e quem operacionaliza, pode ser causa de

ineficiência burocrática. Por outro lado, a falta de

definições claras em identificar e definir as

atribuições inerentes a estas funções também pode

levar a ineficiências.

Decisões, coordenação e

operacionalização, formal ou informalmente,

ocorrem em todos os níveis das organizações, em

todas as etapas da política pública: na formulação,

na implementação, na avaliação. Estudos sobre

políticas públicas têm demonstrado que os

operadores das políticas, o corpo de funcionários da

administração pública, são muitas vezes decisivos

no sucesso ou fracasso das mesmas. De suas

decisões cotidianas no contato direto com a

população depende a efetivação da política.

Organizações como sistemas sociais

Os estudos sobre organizações apontam

como anteriormente o paradigma das organizações

baseava-se nos sistemas mecânicos, resultando em

organizações hierarquicamente rígidas, com uma

visão do ser humano também mecanicista.

Predominava a ênfase nos detalhamentos das

normas, pressupondo que isso era o suficiente para

obter a cooperação dos indivíduos e a consecução

dos objetivos empresariais.

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26

Posteriormente o modelo biológico

predominou, trazendo noções dos sistemas abertos,

em constante troca e interdependência com seu

meio ambiente. Sistemas vivos que se modificam

para adaptação ao meio, ou morrem.

Atualmente um conjunto de disciplinas das

ciências humanas e sociais contribuem para o

entendimento sobre as organizações e os sistemas.

As organizações são vistas como formadoras de um

contexto onde se dão as interações entre as pessoas.

As organizações são sistemas sociais. O

principal elemento dos sistemas sociais são as

pessoas. São as interações entre as pessoas que, ao

seguirem uma rotina previsível, prescrita nas

normas, atualizam a cada dia uma estrutura. São as

relações entre as pessoas, seus comportamentos, a

maneira prescrita de fazer as coisas, que assumem

uma determinada configuração. Na medida em que

as ações são coordenadas, ou se complementam

produzindo um determinado resultado é que

podemos distinguir a organização. A organização,

dessa forma, não se confunde com o prédio ou com

a firma jurídica. A organização são as pessoas que

se comportam em um contexto institucional, ou

seja, de acordo com regras, normas, costumes e

estímulos diversos do ambiente.

A principal questão para a sobrevivência

ou eficácia de qualquer organização é, dessa forma,

a questão da ação coletiva. Como fazer as pessoas

agirem de forma complementar e coordenada para

atingir um determinado fim? Como obter a

cooperação? Em que medida usar a coerção?

Organizações como sistemas abertos

Quando o contexto passa a ser

considerado, para o exame de problemas

específicos da organização, surge a teoria da

contingência estrutural com uma reflexão explícita

acerca do papel do contexto na dinâmica das

organizações. De acordo com essa teoria, não há

uma estrutura organizacional única que seja

altamente efetiva para todas as organizações. A

otimização da estrutura variará de acordo com

determinados fatores contingenciais, tais como a

estratégia da organização ou seu tamanho. A

estrutura organizacional é modelada de maneira a

satisfazer as necessidades do ambiente e tarefas daí

decorrentes (Donaldson, 1999: 105).

Burns e Stalker (1961) propõem 2 tipos

ideais de organização sob o prisma da “adequação”

dos processos organizacionais às características

específicas do contexto: o modelo mecânico mais

hierarquizado e centralizado mais adequado a

ambientes estáveis; o modelo orgânico de

organização menos rígido, menos formalizado, com

comunicação mais intensa e menos verticalizada,

envolvendo discussão e cooperação interna, mais

propício em um contexto turbulento.

A teoria da contingência estrutural revela

seus limites e recebe críticas com relação à natureza

da relação unilateral que postulam (uma adaptação

passiva ao ambiente), negligenciando o fato de as

organizações também influenciarem (ou poderem

influenciar) o contexto em que operam, o que será

enfatizado, em particular, pelas abordagens

neoinstitucionalistas.

Conforme Pires (2001), a principal ênfase

do neoinstitucionalismo é quando a relação das

instituições com o comportamento social de grupos

e indivíduos. Para o autor há um certo consenso na

definição de instituições enquanto regras do jogo

numa sociedade, ou seja, constrangimentos

humanamente impostos à ação humana, definindo

limites e cursos de ação humana, de forma a

diminuir a incerteza. Instituições fornecem modelos

morais ou cognitivos para a interpretação ou ação.

As instituições podem ser

constrangimentos formais – regras, normas, leis –

ou informais – convenções, valores, símbolos -,

incluem tanto o que é proibido fazer quanto as

condições em que se pode fazer o permitido.

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27

A característica central do processo de

institucionalização é a natureza estável, recorrente,

e repetitiva do comportamento social, pela qual

organizações e procedimentos ganham valor e

estabilidade. Para isso, entretanto é necessário que

haja duas condições: controle e sanções no caso do

descumprimento e a aceitação, legitimidade por

parte dos envolvidos.

O grau de formalização é o aspecto

estrutural que mais influenciam o comportamento

do indivíduo. Formalização extrema pode desviar

do objetivo central, inibir a autonomia dos

indivíduos, dificultando a adaptação da organização

ao contexto. Mas não é possível a existência de uma

ação coletiva organizada sem algum grau de

formalização.

As organizações como sistemas epistemológicos

Todo sistema social é um sistema

epistemológico, isto é, um mecanismo de produção

e reprodução de formas de interpretar a realidade

(Angeloni,2002). O modelo epistemológico

considera que a organização é composta pela

estrutura (relações entre as pessoas, papéis,

normas legais, existe uma estrutura formal e uma

informal); pela tecnologia (conjunto de normas,

ferramentas, técnicas, metodologias, modos

conhecidos de implementar as ações

organizacionais) e pela teoria (regras

epistemológicas por meio das quais se interpreta a

realidade externa e interna da organização, podem

ser explícitas ou tácitas).

Este modelo fundamenta o enfoque da

organização como um sistema sociotécnico, que vê

a organização composta por três dimensões

interatuantes: a dimensão infra-estrutura, a

dimensão pessoas e a dimensão tecnologia. Esta

abordagem postula a importância de se trabalhar a

cultura organizacional e busca de um estilo

gerencial que rompa com o comando e controle e

busque um estilo gerencial mais participativo,

desenvolvimento de habilidades e expressão das

pessoas, considerando-as como criadoras de

conhecimento e implementação de uma infra-

estrutura tecnológica.

Em um ambiente de incerteza,

imprevisibilidade é importante que as organizações

estejam estruturadas de forma a incentivar seus

colaboradores a participarem ativamente da gestão

da organização, desenvolvendo conhecimentos,

criatividade e autonomia para interpretar o

ambiente e agir de acordo com a finalidade do

sistema naquele contexto. Isso requer, por um lado

um esforço de conhecimento da organização sobre

seus processos, seu contexto, etc, e, por outro, uma

estrutura descentralizada, que permita maior

geração de idéias e criação do conhecimento. Os

modelos de alta centralização restringem os canais

de comunicação e reduzem as informações

disponíveis.

A dimensão tecnologia

Na atualidade, as críticas ao modelo

centralizado, hierárquico e determinista levou a

busca de modelos que se interrogam sobre os atores

sociais envolvidos, suas diferentes racionalidades,

seus comportamentos autônomos. Deixou-se de

lado a aspiração de se programar em detalhes,

pondo a ênfase na construção de legitimidade, por

meio da delegação de capacidade decisória para a

adaptação à situação. Exigem, assim, mecanismos

horizontais de coordenação e formas de

organização que permitam a flexibilidade para

adaptação, aprendizagem e inovação.

Dessa forma as novas metodologias

incorporam as dimensões:

Política – capacidade de condução

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Técnica – utilização, disponibilidade de

conhecimento adequado e tecnologias

adequadas

Institucional e organizacional – capacidade

de gestão determinada pelo contexto

oranizacional, de mobilização dos recursos e

sua administração

Social – aceitação/legitimidade do projeto

pelos beneficiários

Cenário de negociações e conflitos

Diferentemente dos sistemas mecânicos, os

sistemas sociais apresentam equifinalidade, ou

seja, a capacidade de atingir uma mesma finalidade

usando diferentes processos. Os diferentes

processos envolvem custos e vantagens diferentes,

ainda que atinjam a mesma finalidade.

A necessidade de padronização ou

programação dos processos, ou seja a criação de

Know How, visa, além da eficácia em se atingir o

objetivo também uma maior eficiência, redução de

custos e maximização das vantagens. Significa o

reconhecimento de que, sob certas condições, há

uma melhor maneira de fazer as coisas. Entretanto,

estas condições devem ser explicitadas. Essa

racionalização objetiva diminuir a equifinalidade,

mas dificilmente ela será eliminada de todo,

principalmente nos sistemas administrativos, que

são extremamente dinâmicos e envolvem ações e

exigem tecnologias de natureza variada no que se

refere ao grau de padronização de cada uma.

As tecnologias utilizadas podem ser

classificadas como tecnologias duras; leve-duras e

brandas. O conjunto de máquinas, equipamentos,

compõem o grupo das tecnologias duras; o grupo

das leve-duras, por sua vez, é composto pelos

conhecimentos, processos de trabalho,

metodologias (trabalho em rede, matricialidade

sócio-familiar, participação) enquanto o grupo das

leves é composto pelas tecnologias das relações,

habilidades pessoais, difíceis de serem

padronizados (Franco e Junior,2003).

As tecnologias leves são mais factíveis de

compartilhamento do que de programabilidade.

Embora difíceis de serem padronizados em uma

rotina programável, os conhecimentos podem ser

compartilhados entre profissionais de uma mesma

equipe e, através da escrita de textos e publicações,

convertidos em conhecimento organizacional.

Modelo de Gestão Organizacional

Conforme Martinez Nogueira (1998), o

modelo de organização e gestão se explicita na

definição das atividades e tarefas. O modelo de

gestão pode ser analisado a partir das seguintes

variáveis: conhecimento a ser utilizado; relação

com os destinatários, grau de discricionaridade do

operador. Outras dimensões importantes nessa

análise são o grau de programabilidade e o grau

de interação com os destinatários da política.

O grau de programabilidade das tarefas

depende do seu contexto técnico, ou seja:

O grau de variação na execução

Estoque de conhecimento explícito

organizacional

Grau de indeterminação da tecnologia

A possibilidade de medir impactos

Tipo de participação do destinatário

Quanto maior seja o âmbito de

comportamentos que se pretende impactar (atitudes

a serem modificadas, valores a serem

estabelecidas), maior será a interação necessária

entre o público alvo e os profissionais operadores e

maior a necessidade de gerar

mecanismos/oportunidades de participação da

população.

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29

A partir dos itens identificados

anteriormente podemos caracterizar as tecnologias

em quatro grupos:

1. Tecnologias com alta programabilidade e

baixa interação com os usuários: exigem

pouca discricionaridade dos operadores e

poucos mecanismos de participação

2. Tecnologias com alta programabilidade e

alta ou média interação: exigem muita

discricionaridade por parte dos operadores e

muitos mecanismos de participação.

3. Tecnologias com baixa programabilidade e

pouca interação com os destinatários: exigem

muita discricionaridade por parte dos

operadores e poucos mecanismos de

participação.

4. Tecnologias com baixa programabilidade e

alta interação: exigem muita

discricionaridade e muitos mecanismos de

participação.

Note-se que a maioria das tecnologias

utilizadas na política de assistência social têm baixa

programabilidade, seja por sua natureza de

tecnologias leves, seja pela falta de conhecimentos

necessários para tal. As tecnologias com baixa

programabilidade e alta interação são

particularmente vulneráveis ao clientelismo,

assistencialismo, enfim, relações de dependência,

não emancipatórias.

Tecnologias leves e leve-duras na PMAS

1) Participação: Trata-se do protagonismo do

usuário na superação de sua situação. Não há

autonomia sem protagonismo. A participação

pode se dar em diferentes níveis, com

diferentes significados e atingindo diferentes

resultados. A participação pode se dar

através de consulta, de deliberação, de

sugestões. Pode ter de fato uma influência

em cada etapa da política ou simplesmente

ser pró-forma, sem efeito real. Para que esta

tecnologia de fato produza autonomia é

necessário um manejo técnico adequado por

profissionais que entendam os limites e

possibilidades da mesma. O protagonismo e

autonomia do próprio profissional surge

como elemento fundamental do contexto

técnico. Protagonismo significa um

envolvimento, intelectual, afetivo com os

objetivos da política, não apenas com as

regras prescritas.

É necessário também, uma forte vontade

política que veja a participação como um

direito capaz de promover um aprendizado

democrático e autonomia dos usuário.

2) Trabalho em rede e intersetorialidade:

trata-se de efetivar um dos princípios básicos

da concepção sistêmica que é o

estabelecimento de relações de

complementaridade entre diversos elementos

do sistema. Trata-se de efetivar também o

princípio da intersetorialidade. Trata-se ainda

de reconhecer os limites do Estado na

provisão de bens e serviços e reconhecer o

papel da sociedade organizada na superação

das condições de vulnerabilidades, violações

de direitos e exclusão social.

3) Relação dialógica: envolve a dimensão da

escuta e o manejo da linguagem, tão

presentes nas intervenções socioassistenciais.

A busca de autonomia dos usuários requer

que se trabalhe a dimensão simbólica, as

representações sociais acerca da assistência

social, dos seus usuários e da relação que se

estabelece quando se faz uma intervenção

social ou se concede um benefício. É a

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concessão de um favor ou de um direito?

Como o cidadão usuário está entendendo,

interpretando esta situação?

4) Elaboração de políticas internas:

“A capacidade de resposta às

pressões do ambiente externo é determinada,

em larga escala, pelas condições

operacionais internas” (Bio, 1985:45). Em

termos administrativos, existem vários níveis

de políticas, algumas são simples regras de

trabalho, outras afetam o comportamento da

‘empresa’ como um todo. Políticas são

decisões orientações preestabelecidas para a

tomada de decisões em função dos objetivos.

Implica uma atitude de planejamento. Elas

permitem o arbítrio e auxiliam o agente

público nas decisões ad hoc, ou seja, quando

já haja parâmetro preestabelecido.

Gestão participativa: geração de conhecimento e

capital social

Para que a organização atinja seus

objetivos é necessário mais do que o acúmulo de

capital intelectual, é necessário a geração ou o

fomento do capital social, que é apontado como um

fator que facilita a cooperação e a ação coletiva. O

capital social – a capacidade de comunidade, ou

seja, a capacidade de cooperação, solidariedade,

reciprocidade, de uma dada comunidade - é

positivo, quando tem como pressuposto a

confiança, e o negativo, quando tem como

pressuposto a desconfiança, e consequentemente

baixa capacidade de solidariedade, cooperação e

reciprocidade. O capital social positivo favorece

maior capacidade de acordos e consensos e quanto

maior o capital social positivo de uma comunidade,

maior é seu grau de desenvolvimento social e

econômico.

Um elemento básico do capital social é a

confiança. Economistas, sociólogos e estudiosos

das políticas públicas apontam a confiança como

um elemento que fomenta as trocas entre as

pessoas, facilita as negociações, relações

contratuais de forma geral, ao reduzir os custos de

transação e o risco de oportunismo nos contratos e

relações entre indivíduos e grupos. Como

gerar/utilizar o capital social? Quais as tecnologias

podem ser utilizadas?

Putnam (1996) aponta para as raízes

históricas e culturais do capital social, descobrindo

forte correlação entre o capital social e a

comunidade cívica, que diz respeito ao

associativismo horizontal da sociedade e sistemas

verticais de participação democrática, valorização

do espaço público. A questão que se coloca então é:

até que ponto as intervenções governamentais

podem gerar o capital social onde não existe? Como

pode aproveitá-lo onde existe?

Em contraposição à abordagem histórico-

cultural de Putnam, os autores neoinstitucionalistas

Evans e Fox acreditam que a existência ou não de

capital social é determinada pela qualidade da ação

das instituições e sua relação com as pessoas.

Para Fukuyama (apud Linhares, op cit) as

organizações mais eficientes são baseadas em

comunidades de valores éticos compartilhados, que

não requerem contratos e medidas legais “para

salvaguarda de suas relações porque um consenso

moral prévio dá aos membros do grupo uma base

de confiança mútua. Não havendo confiança, as

pessoas “acabarão cooperando somente num

sistema de regras e regulamentos que têm de ser

negociados, acordados, litigados, posto muitas

vezes em vigor por meios coercitivos”, o que

acarreta em altos custos de transação (p. 30).

A capacidade do órgão gestor público de

fomentar o capital social nas relações com o usuário

dependerá igualmente de sua capacidade de gerar

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capital social no âmbito interno de sua organização,

mobilizando todos os profissionais para a ação

coordenada com vistas a um mesmo fim.

Geração de capital social pela ação estatal

Estruturas e formas de gestão mais

participativas tais como equipes intergerenciais e

interdisciplinares facilitam a ação coletiva por

envolvem elaborações e aprendizagem coletiva. A

aprendizagem coletiva exige a expressão e o

compartilhamento de idéias e emoções. Necessita

de um ambiente propício ao desenvolvimento

pessoal da auto-estima, da assertividade, de

habilidades de comunicação e gera, no processo, a

“formação” da identidade em seus aspectos pessoal

e coletivo.

A participação dos trabalhadores nas

discussões políticas os capacitam para entender a

finalidade da organização, habilidade necessária nas

intervenções em ambientes políticos, que exigem

negociações, busca de consensos ou de

convencimento, situações comuns no âmbito das

políticas públicas.

A escolha por este tipo de participação

envolve custos e benefícios. É um processo que

exige tempo, forte vontade política para permitir de

fato os embates e soluções negociadas, pessoal

capacitado para lidar com processos políticos e

psicossociais em questões conflituosas. Por outro

lado resulta geralmente em uma política mais auto-

sustentável, em soluções mais apropriadas pelo

conjunto dos atores e mais eficácia na

implementação da política pública.

Propicia também mais planejamento, mais

intercâmbio entre atores e maior controle e

avaliação, uma vez que todos os atores envolvidos

adquirem o conhecimento subjacente à formulação

da política em questão e desenvolvem habilidades

para efetivá-la e avaliá-la.

O maior intercâmbio entre os atores,

qualidade encontrada nos ambientes com alto grau

de capital social, fomenta as articulações em rede,

mais relações formais e informais entre

profissionais e organizações. A realização e

consolidação desses relacionamentos ao mesmo

tempo exige e estimula a confiança entre as pessoas

e entre as organizações envolvidas. Lidar com estes

espaços de trocas e construção coletiva é lidar com

um recurso valioso, o capital social.

Para produzir usuários autônomos são

necessários profissionais autônomos. A autonomia

é aprendida. A ação coletiva também é aprendida.

Essa aprendizagem se dá em um contexto ambiental

propício, um contexto democrático, que possibilite

o envolvimento afetivo dos atores, troca de idéias e

intercâmbios, resultando no florescimento de

relações de solidariedade generalizada.

Para que as ações da assistência social se

transformem em capital social é necessário que elas

propiciem contextos capacitantes, ou seja,

propícios à aprendizagem de ação coletiva e

desenvolvimento pessoal. Este contexto envolve

condições ambientais tais como a configuração

física, e também condicionantes culturais, normas e

regulamentos, valores.

Não podemos dessa forma dissociar a

aprendizagem do profissional neste contexto da

aprendizagem do usuário, a autonomia do usuário

da autonomia dos profissionais. Os profissionais

devem ter a oportunidade de construir

coletivamente a metodologia do atendimento e

transformar suas descobertas em novos

conhecimentos.

As práticas formais e informais de

compartilhamento são importantes para a

organização, mas a organização não pode depender

unicamente das práticas informais. O

compartilhamento, no entanto, pode ser difícil de

ocorrer por vários bloqueios e resistências. O

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compartilhamento exige a existência de confiança

nas relações. A organização deve criar estratégias

para estimulá-la.

Conclusão

As organizações são sistemas abertos

compostos por três dimensões básicas: infra-

estrutura, as tecnologias e as pessoas.

A eficácia do sistema em atingir seus

objetivos exige não apenas a geração de

conhecimentos e Know How técnico, como

também da criação de condições institucionais. Para

garantir a ação coordenada do conjunto de

profissionais a organização deve criar condições

para a geração de um contexto de confiança, que

permita o compartilhamento de conhecimentos e a

troca de informações, espaços de articulação, de

trocas e intercâmbios, de decisões e de

aprendizagem do conjunto dos atores. A geração de

capital social na organização exige a presença de

arenas de negociação e de participação cívica que

proporcione a aprendizagem da democracia,

favoreça relações de reciprocidade generalizada e

confiança entre os atores.

Para fomentar um ambiente de confiança, a

organização deve desenvolver sua capacidade de

dar respostas, não só aos usuários como também

aos seus colaboradores, dentro de critérios claros e

construídos com o envolvimento de todos. Neste

aspecto, um ambiente onde o agente público se

sinta seguro de contar com determinadas

retaguardas institucionais, tanto com relação aos

compromissos que assume com a população,

quanto à sua própria segurança e bem estar.

Sem isso o profissional não exerce sua

autonomia, é um profissional inseguro e se apega às

regras como um mecanismo de autodefesa. Nestas

condições não pode estabelecer uma relação de

confiança com o usuário e isto, portanto, afeta a

eficácia das metodologias e tecnologias utilizadas.

Nessa perspectiva, melhores condições de trabalho,

segurança e valorização dos profissionais dessa

política, portanto, não são apenas um direito dos

trabalhadores, como também fundamentais para a

eficácia do sistema.

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34

Avaliação e Monitoramento: superando desafios

ELABORAÇÃO Fabiana Geise Braga4 Lucas Dayrell Matragrano 5 RESUMO Este artigo visa situar a importância da prática da Avaliação e do Monitoramento no âmbito do Sistema Único de Assistência Social - SUAS - como processos vitais que devem ser incorporados no cotidiano de programas e projetos sociais. Seguindo esta linha, esclarece o significado destes dois termos e procura desmistificar a idéia construída socialmente de serem coercitivos e punitivos. Propõe então um novo paradigma que supere a visão revelada inconsistente de ser Avaliação e Monitoramento um "desafio" para mostrar que é principalmente por meio destas práticas que as Políticas Públicas alcançarão resultados mais eficazes e condizentes com os investimentos empregados nas ações e projetos sociais. Aponta como caminho para o êxito dessas práticas uma mudança de conceitos e de hábitos e diferencia uma avaliação qualificada como "informal" da que é considerada "formal", que é a que melhor faz jus à sua utilização como método a ser empregado.

4 Psicóloga graduada pela FUMEC. 5 Psicólogo graduado pela UFMG. Técnicos do Serviço de Abordagem de Rua – Gerência de Inserção Especial – Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social – Prefeitura de Belo Horizonte.

Como se pode pensar a prática diária da

política pública, no âmbito do Sistema Único de

Assistência Social - SUAS -, tendo como

facilitadores os processos de Avaliação e de

Monitoramento? Este artigo tem como objetivo um

convite à reflexão do quanto a Avaliação e o

Monitoramento de programas e de suas ações

podem contribuir na busca de resultados mais

eficazes, eliminando o retrabalho6 e ações

experimentais sem fundamentação. Busca ainda a

desconstrução de paradigmas que norteiam a idéia

de avaliação e causam resistência em utilizá-la

como ferramenta de trabalho.

A compreensão teórica dos processos de

Avaliação e Monitoramento é o que contribuirá na

desmistificação de idéias que são, na maioria dos

casos, bloqueadoras na inserção destas novas

práticas, assumindo lugar de constante "desafio".

Aliás, “desafio” tem sido um termo que anda de

mãos dadas com a idéia de Avaliação e

Monitoramento quando o assunto são políticas

públicas, principalmente na área social. Para

CAETANO,

"Diferentemente de políticas públicas nas áreas econômicas, industrial, agrícolas e outras, políticas e programas sociais tendem a ser mais difusos na medida em que geralmente possuem objetivos múltiplos que muitas vezes passam por redefinições no decorrer de sua implementação. São, por isso, mais resistentes à estruturação analítica, constituindo um objeto de avaliação que

6 Retrabalho: ação de realizar uma mesma atividade ou serviço por duas ou mais vezes sendo que o trabalho poderia ter sido concluído satisfatoriamente já na primeira vez. Um processo de avaliação bem conduzido permite levantar erros e/ou falhas que provoquem retrabalho, evitando repetições desnecessárias com perda de tempo e energia. A execução do serviço torna-se mais ágil, com ações novas e apropriadas para sua realização, tendo como resultado final um aumento da eficiência do programa ou projeto social.

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apresenta desafios não triviais." (2006, p. 09).

Há de se pensar e questionar se os

dificultadores de um processo de avaliação

encontram-se na elaboração do programa, em suas

características e em suas práticas ou em seus

executores que, erroneamente, podem definir

avaliação como processo coercivo. Outro

dificultador pode estar implícito na idéia de que as

práticas de programas sociais possuem variáveis

que dificultariam a definição de indicadores em um

processo de avaliação. Variadas justificativas

podem ser construídas para sustentar a não

realização da avaliação em determinados

programas, estas por sua vez, tendem a permear o

motivo real mas sem esclarecê-lo ou deixando-o

subentendido. Seja qual for o motivo da não

realização de uma avaliação, este precisa ser

desvendado e trabalhado. A realidade é que existem

programas e projetos sociais que são criados,

tomam força, avançam, mas não submetem-se a um

processo de avaliação e posteriormente a um

monitoramento que poderá garantir não apenas a

continuidade de resultados positivos mas também o

melhoramento de atividades que possibilitarão

maior qualidade no resultado final. Inserir estas

práticas no cotidiano, eleitas como fundamentais

por diversos autores, requer mudanças de hábitos e

muitas vezes de conceituações. Sem que se proceda

a essa revisão, a probabilidade de ocorrência de

resistências é consideravelmente maior, o que pode

resultar em um implementação parcial desses

processos, aquém daquilo que seria esperado.

Apesar destas práticas estarem ainda distantes de

atingirem a totalidade de ações provindas dos

programas sociais, não há dúvidas quanto ao

importante caminho que vem sendo percorrido,

uma vez que a própria necessidade de diminuir e

amenizar os efeitos causados pela pobreza e pela

desigualdade social são impulsores na busca de

resultados mais eficazes. Conforme ESTEFFANIO,

“O crescente processo de democratização do país e o aumento dos índices de pobreza e miserabilidade de sua população são fatores que pressionam os governos no sentido de maior transparência e de resultados mais efetivos na área social” (2004, p. 13).

Indagações são levantadas quanto a

necessidade de uma avaliação em determinado

serviço ou parte dele. O próprio indagador pode

chegar a uma conclusão ao refletir a partir dos

seguintes parâmetros: Políticas Públicas necessitam

de grandes investimentos, pessoal capacitado e

projetos coerentes; como saber se os resultados

alcançados correspondem ao esperado frente ao

investimento? Quais parâmetros ou indicadores são

utilizados na construção de uma estatística para

saber a real intervenção do trabalho realizado?

Dificilmente será possível responder tais

questionamentos com propriedade sem que

processos avaliativos, que permitam analisar prática

e resultado, estejam sendo aplicados e utilizados em

prol de um melhoramento da qualidade do serviço

prestado, assim como, apenas um processo

verdadeiro de monitoramento, permite com que as

mudanças necessárias tornem-se prática natural das

atividades diárias.

É de importância singular saber distinguir

a diferença existente entre uma avaliação do

trabalho diário e um processo de avaliação e

monitoramento sustentável e aplicável. Avaliar é

uma ação corriqueira e que faz parte do cotidiano

de qualquer ser humano, sem dúvida é um

instrumento fundamental para o conhecimento, a

compreensão e o aperfeiçoamento das ações. Esse

processo natural, qualificado como uma “avaliação

informal”, não é suficiente para a avaliação de uma

política pública pois não se baseia em estudos

fundamentados e contextualizados, típicos de uma

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"avaliação formal". Esta caracteriza-se por estudos

sistemáticos que tem como ponto inicial a criação

de indicadores, os quais devem ser produzidos por

quem conhece a prática, ou seja, o próprio corpo de

funcionários. Para ter uma conotação de avaliação

positiva e possuir o intuito de auxiliar o trabalho,

deve ocorrer num processo participativo, no qual

cada um pode expor sua opinião. A “avaliação

informal”, comumente utilizada no dia a dia

profissional, carrega o risco de tornar-se uma

avaliação coercitiva e quantitativa se for feita de

forma simplista, objetivando apenas levantamento

de dados sem a consideração dos resultados.

A prática de avaliação em políticas

públicas não é algo recente. Após a década de

1980, torna-se, além de mais presente no meio das

ações políticas, um destaque no meio acadêmico. A

ênfase dada à avaliação ocorre diante a necessidade

de trabalhar com políticas que apresentem

resultados mais eficazes. Com o aumento desta

prática, os processos de avaliação passam a ocupar

um lugar que transcende o do planejamento e o da

busca por melhores resultados nas ações políticas,

pois possibilitam maior acesso às informações.

Consequentemente promovem a construção de uma

sociedade mais próxima à um processo de

democratização sustentado por ações transparentes

e fundamentadas.

É importante conceituar o significado de

Avaliação e Monitoramento não somente com a

contribuição de alguns autores, mas também e

principalmente dentro da própria realidade da

Assistência Social.

Para apresentar o significado de Avaliação

enquanto termo técnico da Assistência Social os

serviços sustentam-se na teorização de Aguilar e

Ander-Egg,

[...] “uma forma de pesquisa social aplicada, sistemática, planejada e dirigida, destinada a identificar, obter e proporcionar de maneira valida e confiável dados e informação suficiente e relevante

para apoiar um juízo sobre o mérito e o valor dos diferentes componentes de um programa (tanto na fase de diagnostico, programação ou execução, ou de um conjunto de atividades especificas que se realizam, foram realizadas ou se realizarão, com o propósito de produzir efeitos e resultados concretos; comprovando a extensão e o grau em que se deram essas conquistas, de forma tal que sirva de base ou de guia para uma tomada de decisões racional e inteligente entre cursos de ação, ou para solucionar problemas e promover o conhecimento”. (Aguilar & Ander-Egg, 1994, p.31).

Entende-se como Monitoramento,

“O instrumento que possibilita uma visão mais abrangente e detalhada do processo, tendo em vista identificar e apontar aos participantes diretos e indiretos das ações, fatores negativos e/ou positivos para o desempenho adequado do plano de ação e da consecução de seus resultados” (Barreiras, 1999). “O monitoramento estabelece ate que ponto recursos, cronogramas, produtos e outras questões estão sendo processados de acordo com o planejamento, de maneira que as decisões oportunas possam ser tomadas para corrigir as deficiências detectadas” (Segone, M. 2002).

“Processo contínuo e sistemático de acompanhamento das atividades dos serviços, programas e projetos, para verificar se estas estão de acordo com o programado” (Pequeno dicionário: Assistência Social de A a Z, 2001)

Para Garcia e Mokate,

“De forma genérica, avaliação é todo processo de determinação do mérito ou valor de algo em relação a um determinado objetivo a partir de parâmetros estabelecidos como pertinentes e relevantes. Neste sentido, o processo avaliativo pode ser dividido em dois componentes. O primeiro é técnico, referente à geração sistemática de informações e às metodologias de analise destas informações. O segundo componente é basicamente valorativo, pois referente ao ajuizamento das informações geradas com o objetivo de extrair conclusões e tomar decisões em relação ao que se busca alcançar”. (GARCIA, 2001; MOKATE, 2000).

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Possibilitar as condições necessárias para a

realização da Avaliação e do Monitoramento

significa ter como objetivo construir meios que

propiciem como resultado final a mudança

qualitativa de vida do público atingido pelas ações

de um programa, pois é de fundamental importância

lembrar que resultados, como promoção ou inserção

social, são os motivos principais pelos quais tantos

projetos e programas sociais foram criados.

Percebe-se na literatura um consenso

quanto a importância da submissão de programas e

projetos sociais de políticas públicas à avaliação e

ao monitoramento, mas há divergências quanto a

metodologia que será utilizada. É importante para

tal escolha ter claro qual é o objetivo que se busca

alcançar, além de estabelecer qual parte do processo

irá submeter-se inicialmente à avaliação, para a

correta construção dos indicadores, tendo claro que

não se faz necessário que o projeto esteja em fase

de construção ou implementação para que seja

avaliado, podendo projetos e programas que já

encontram-se em prática submeterem-se ao referido

processo.

Para Belloni, Magalhães e Sousa (2001,

p.9), “as metodologias adotadas, em geral

concentram-se na aferição de impacto quantitativo,

objetivo e imediato das ações desenvolvidas”. Esta

metodologia de avaliação é relevante quando o que

se busca é o conhecimento de resultados ou

conseqüências das ações que possuem objetivos

imediatos, quantitativos e de identificações claras,

mas não contribuem quando se objetiva avaliar

resultados de políticas e ações que possuem

atividades produtoras de resultados difusos e em

diferentes tempos, com conseqüências a curto,

médio e longo prazo. É necessário perceber quando

as ações estão atuando sobre um fenômeno e

quando é possível obter alterações nas causas.

Enfim, é de máxima importância a clareza

dos objetivos do projeto, programa ou política, o

que se alcança a partir da metodologia do serviço,

para que o retrabalho e a sustentação de paradigmas

não se fortaleçam no próprio processo de avaliação.

Isso para não fazer de um instrumento facilitador

um novo obstáculo ou “desafio” para se alcançar

ações planejadas e resultados eficazes. Desse modo

se faz necessária a consciência de que processos

avaliativos fundamentam-se na busca do

melhoramento de resultados, implicando portanto

na necessidade de mudanças e alterações

metodológicas e práticas. A idéia de mudança deve

ser recebida como possibilidade de produção de

conhecimento e aprimoramento de serviços que

tendem a tornar-se cada vez mais eficazes. O

significado de mudanças e suas aplicações também

permeia a idéia de desafio, considerando que,

naturalmente, as pessoas sentem-se mais seguras

diante de projetos e ações tidos como

“consolidados”, com metodologias “inabaladas”, e

acabam não aproveitando a oportunidade do

aprendizado. Deve-se considerar que metodologias

eficazes são exatamente as que encontram-se

abertas às mudanças quando necessário. Diante o

processo de avaliação e a necessidade de mudanças

há também o surgimento de frustrações provindas

de possíveis desconstruções teóricas e

reformulações. Torna-se importante transformar

“frustração” em “ação”, em um processo de

reconstrução de ações ainda mais fundamentadas.

Para se obter resultados eficientes, integração,

disponibilidade e trabalho em conjunto são os

pilares para a construção de uma nova realidade

diante o processo de avaliação assim como na

interpretação de seus resultados.

A partir da desconstrução de paradigmas e

o entendimento de que o processo de avaliação e

monitoramento surgem como aliados na busca de

resultados mais eficazes, é possível avançar na

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construção de projetos, programas e serviços,

abandonando assim idéias errôneas inibem o

crescimento ou até mesmo provoquem a extinção

de projetos que possuam chances de sucesso. A

avaliação sustenta não só o melhoramento das ações

mas também fundamenta o sucesso de um serviço.

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SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE

POLÍTICAS PÚBLICAS: avaliação e gestão

pública : conexões entre conhecimento e ação.

Anais... Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro /

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