Snow White and the Seven Dwarfs a educação ...

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Snow White and the Seven Dwarfs: a educação interdisciplinar e transmidiática. Alexandre GUIMARÃES Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo, São Paulo, 01241-001, Brasil Débora SILVA Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo, São Paulo, 01241-001, Brasil e Valéria MARTINS Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo, São Paulo, 01241-001, Brasil RESUMO É consenso entre os estudiosos dos contos de fadas que o texto mais antigo que apresenta as temáticas presentes em Branca de Neve é de autoria do italiano Giambattista Basile. Trata-se de La schiavoletta, cuja temática central é a inveja que uma rainha tem da beleza de sua sobrinha. O texto faz parte da obra Il Pentamerone, publicada em Nápoles, entre os anos de 1634 e 1636. A presente obra foi popularizada mundialmente pelo filme dos Estúdios Disney e, hoje, faz parte da história da infância de grande parte da população do mundo ocidental. Pretende-se, a partir da narrativa cinematográfica de 1937, desenvolver, junto com educandos da Educação Básica, um projeto interdisciplinar e transmidiático com o intuito da efetivação de um processo de ensino-aprendizagem significativo. Palavras-Chave: Branca de Neve e os Sete Anões; Interdisciplinaridade; Transmídia. 1. INTRODUÇÃO Foi no seio de uma empresa inovadora que surgiu a adaptação fílmica Branca de Neve e os Sete Anões, versão do conto mais amplamente difundida na atualidade. Antecedendo – ou anunciando – o boom da empresa, o filme abriu portas, no que diz respeito ao cinema, para uma nova maneira de fazer animações; e no que diz respeito aos contos de fadas, para novas maneiras de ler e interagir com a narrativa das histórias. Branca de Neve e os Sete Anões, dirigido por David Hand e produzido por Walt Disney, é lançado em 21 de dezembro de 1937 no teatro Carthway, Hollywood. Como destacado no cartaz de divulgação do filme, trata-se da primeira animação longa metragem dos estúdios; é, na verdade, a primeira animação longa metragem em inglês da história do cinema. 2. SNOW WHITE AND THE SEVEN DWARFS De acordo com Neal Gabler, em Walt Disney: O Triunfo da Imaginação Americana (2006) [1], o projeto para a elaboração do filme é iniciado em meados de 1930, momento em que os irmãos Disney decidem expandir sua marca e gerar lucros que animações curta metragem não trariam. Em maio de 1933, após descartar títulos como Alice no País das Maravilhas, Ilíada e Odisseia, Walt Disney decide investir no conto Branca de Neve. Diretores e investidores do cinema criticam a escolha alegando que tal projeto não atrairia o público. Sobre sua própria escolha, Walt Disney justifica: Branca de Neve “It was well known and I knew I could do something with seven screwy dwarfs”. [2] Ainda mencionando Gabler, Walt Disney teve motivos pessoais para se identificar com Branca de Neve uma vez que o conto tem temáticas que estiveram presentes em sua infância: pais tiranos, trabalho árduo e repetitivo e promessa de utopia. Como exposto nos créditos iniciais do filme, a produção é baseada na Branca de Neve dos irmãos Grimm. Entretanto, sabe-se que outras versões também serviram de inspiração para Disney. É o caso de um filme de 1916 estrelado por Marguerite Clark e de uma peça do mesmo ano, escrita por Winthrop Ames e Jessie Braham White. Para a produção do filme, Walt Disney faz uso de Technicolor, um processo de coloração inventado em 1916, que inicialmente funcionava a partir da combinação de filtros vermelhos e verdes, lentes e prismas. O Technicolor utilizado em Branca de Neve e os Sete Anões é uma versão mais sofisticada desse processo, tecnologia sobre a qual Disney deteve direitos de uso exclusivo durante dois anos após seu lançamento. [3] O uso de um processo Technicolor mais moderno foi amplamente divulgado pelos estúdios Disney quando do lançamento do filme. Na verdade, alguns cartazes de divulgação de Branca de Neve e os Sete Anões parecem destacar a

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Snow White and the Seven Dwarfs: a educação interdisciplinar e transmidiática.

Alexandre GUIMARÃES Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie

São Paulo, São Paulo, 01241-001, Brasil

Débora SILVA Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie

São Paulo, São Paulo, 01241-001, Brasil e

Valéria MARTINS Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie

São Paulo, São Paulo, 01241-001, Brasil

RESUMO

É consenso entre os estudiosos dos contos de fadas que o texto mais antigo que apresenta as temáticas presentes em Branca de Neve é de autoria do italiano Giambattista Basile. Trata-se de La schiavoletta, cuja temática central é a inveja que uma rainha tem da beleza de sua sobrinha. O texto faz parte da obra Il Pentamerone, publicada em Nápoles, entre os anos de 1634 e 1636. A presente obra foi popularizada mundialmente pelo filme dos Estúdios Disney e, hoje, faz parte da história da infância de grande parte da população do mundo ocidental. Pretende-se, a partir da narrativa cinematográfica de 1937, desenvolver, junto com educandos da Educação Básica, um projeto interdisciplinar e transmidiático com o intuito da efetivação de um processo de ensino-aprendizagem significativo.

Palavras-Chave: Branca de Neve e os Sete Anões; Interdisciplinaridade; Transmídia.

1. INTRODUÇÃO

Foi no seio de uma empresa inovadora que surgiu a adaptação fílmica Branca de Neve e os Sete Anões, versão do conto mais amplamente difundida na atualidade. Antecedendo – ou anunciando – o boom da empresa, o filme abriu portas, no que diz respeito ao cinema, para uma nova maneira de fazer animações; e no que diz respeito aos contos de fadas, para novas maneiras de ler e interagir com a narrativa das histórias. Branca de Neve e os Sete Anões, dirigido por David Hand e produzido por Walt Disney, é lançado em 21 de dezembro de 1937 no teatro Carthway, Hollywood. Como destacado no cartaz de divulgação do filme, trata-se da primeira animação longa metragem dos estúdios; é, na verdade, a primeira animação longa metragem em inglês da história do cinema.

2. SNOW WHITE AND THE SEVEN DWARFS

De acordo com Neal Gabler, em Walt Disney: O Triunfo da Imaginação Americana (2006) [1], o projeto para a elaboração do filme é iniciado em meados de 1930, momento em que os irmãos Disney decidem expandir sua marca e gerar lucros que animações curta metragem não trariam. Em maio de 1933, após descartar títulos como Alice no País das Maravilhas, Ilíada e Odisseia, Walt Disney decide investir no conto Branca de Neve. Diretores e investidores do cinema criticam a escolha alegando que tal projeto não atrairia o público. Sobre sua própria escolha, Walt Disney justifica: Branca de Neve “It was well known and I knew I could do something with seven screwy dwarfs”. [2] Ainda mencionando Gabler, Walt Disney teve motivos pessoais para se identificar com Branca de Neve uma vez que o conto tem temáticas que estiveram presentes em sua infância: pais tiranos, trabalho árduo e repetitivo e promessa de utopia. Como exposto nos créditos iniciais do filme, a produção é baseada na Branca de Neve dos irmãos Grimm. Entretanto, sabe-se que outras versões também serviram de inspiração para Disney. É o caso de um filme de 1916 estrelado por Marguerite Clark e de uma peça do mesmo ano, escrita por Winthrop Ames e Jessie Braham White. Para a produção do filme, Walt Disney faz uso de Technicolor, um processo de coloração inventado em 1916, que inicialmente funcionava a partir da combinação de filtros vermelhos e verdes, lentes e prismas. O Technicolor utilizado em Branca de Neve e os Sete Anões é uma versão mais sofisticada desse processo, tecnologia sobre a qual Disney deteve direitos de uso exclusivo durante dois anos após seu lançamento. [3] O uso de um processo Technicolor mais moderno foi amplamente divulgado pelos estúdios Disney quando do lançamento do filme. Na verdade, alguns cartazes de divulgação de Branca de Neve e os Sete Anões parecem destacar a

tecnologia e o fato de a animação ser a primeira longa metragem do cinema tanto quanto (ou talvez mais que) a história de Branca de Neve propriamente dita. As imagens a seguir ilustram:

Cartaz de divulgação do filme (1937). O cartaz apresenta o nome do filme e imagens dos anões. Dois textos completam a imagem: - Walt Disney’s First Full Length Feature Production. - In the Marvelous Multiplane Technicolor.

Cartaz de divulgação do filme (1937). O cartaz apresenta uma combinação de imagens (anões, Branca de Neve, animais e quarto dos anões) e textos: - The Miracle of the Movies to amaze you, charm you and thrill you. - Walt Disney’s First Full Length Feature Production. - The most astonishing new thing since movies were born.

Ao longo dos anos, Branca de Neve e os Sete Anões recebeu diversas indicações e premiações em eventos de cinema nos Estados Unidos e no mundo, como ilustrado na tabela abaixo:

Ano Evento e Categoria Resultado

1938 Oscar; Melhor Música Indicado

1938 National Board of Review; 10 melhores filmes Vencedor

1938 Festival de Filme de Veneza; Troféu de Arte Vencedor

1939 Oscar; Oscar Honorário Vencedor

1939 Associação de Críticos de Nova Iorque; Prêmio Especial Vencedor

1977

Grammy; Melhor Álbum Infantil Indicado

1987

Calçada da Fama, estrela do filme é incluída na calçada Vencedor

1987 Prêmio da associação de cartunistas; Prêmio Especial Vencedor

1989

National Film Preservation Board; Filme Nacional

Vencedor

2001

DVD Exclusive Awards (premiação de DVDs);

Melhor Seleção Bônus, Melhor Design,

Melhor Remasterização

Vencedor, Indicado, Indicado

2002

Academia de Ficção Científica, Filmes de Terror e

Fantasia; Melhor Relançamento de Filme

Clássico

Vencedor

De acordo com o site Box Office Mojo [4], a produção de Branca de Neve e os Sete Anões contou com um orçamento de aproximadamente 2 milhões de dólares e rendeu, até os dias de hoje, um total de 185 milhões de dólares, tornando-se a décima maior bilheteria da história.

3. SNOW WHITE AND THE SEVEN DWARFS ENTRE MÍDIAS

Os contos de fadas estão entre nós há centenas de anos. Princesas, bruxas e outras incontáveis personagens, inicialmente pertencentes à tradição popular de contar histórias oralmente, foram criadas e recriadas com o passar dos tempos e percorreram um longo caminho antes de invadirem o imaginário dos homens e mulheres da atualidade.

Justamente por conta de sua extensa história e dada à escassez de vestígios arqueológicos que sirvam de registro sobre como e quais histórias eram contadas nos primórdios da civilização, pensar em definições exatas sobre o que são e como surgiram esses contos de fadas é tarefa quase impossível. Os contos de fadas que hoje conhecemos no Ocidente têm suas origens numa longa história que data da pré-história, passa pela Idade Média e chega ao período de 1450 a 1700, momento em que avanços linguísticos, como a oficialização de línguas nacionais; e tecnológicos, como a invenção da imprensa escrita, propiciam meios para que o conto literário passe a existir. Obviamente, a produção de contos literários absorve muitos dos aspectos contidos nos contos orais populares. A partir da disseminação dos contos, artistas de diferentes áreas também se debruçam sobre o gênero, criando para os contos versões em novas mídias: pode-se mencionar, por exemplo, Tchaikovisky (1840-1893) com suas adaptações de A Bela Adormecida (1890) para a música clássica e o ballet.

Mais adiante, em 1937, quando do lançamento de Branca de Neve e os Sete Anões por Walt Disney, a maior revolução pela qual passa o gênero dos contos de fadas é iniciada. Tomando por base a versão literária escrita pelos irmãos Grimm, à qual somam-se uma adaptação do texto feita para o cinema (1916), e outra feita para o teatro (1916), Disney compõe um filme com características mais cômicas e românticas, moldando a narrativa de maneira a atrair mais espectadores e, também, maior visibilidade e lucros para o estúdio criado em 1923. A fórmula se revela eficiente e abre portas para tantos outros contos de fadas que são transformados em filmes pela mesma empresa. O sucesso desses filmes vai além das telas de cinema e faz com que brinquedos, jogos, roupas e produtos em geral sejam lançados. Ao mesmo tempo, talvez por conta do sucesso obtido pela Disney, outras empresas de variadas áreas de atuação começam a investir em produções inspiradas no gênero. Com essas transformações, é conferida ao gênero uma dimensão de expansão e comercialização das histórias em diferentes mídias que, de acordo com Maria Tatar [5], tem devolvido aos contos a sua propriedade de atrair diferentes gerações:

These days fairy tales are passed on to us through what the media gurus call multiple “delivery systems”, and the stories have reclaimed their multigenerational appeal. Children can read versions of Little Red Riding Rood by the Brothers Grimm, but also by Jon Sczieska; adolescents can watch Catherine Hardwicke’s Little Red Riding Rood, featuring Amanda Seyfried, or take in the camp version of her story with Reese Witherspoon; and adults can get their dose of that same story from Angela Carter’s Company of Wolves or Anne Sexton’s poem in Transformations. And now we have new versions like ABC’s Once Upon a Time that aim not only to tell the story but also to draw viewers into the glow of a virtual reality constructed around fairy-tale narratives.

Aproximadamente 20 anos após o lançamento de Branca de Neve e os Sete Anões, extensões da história para outros tipos de mídia começam a ser lançadas. É o caso, em 1955, de Snow White Scary Adventures, atração em Disneyland; em 2001, do jogo Snow White and the Seven Dwarfs para videogame e, iniciado em 2012. Seven Dwarfs Mine Train, atração híbrida, com trechos escuros e abertos, que contará a história dos anões de Branca de Neve e substituiu Snow White Scary Adventures no Magic Kingdom, em Orlando. O termo transmídia é concebido em 1991 pela norte-americana Marsha Kinder, professora da Universidade do Sul da Califórnia. Inicialmente é utilizado no estudo das franquias do cinema, histórias lançadas em várias partes e expandidas para outras mídias. De acordo com Kinder, as franquias do cinema são, na verdade, “transmedia supersystems...[that] position consumers as powerful players while disavowing commercial manipulation” [6].

Por super sistemas transmídia a autora entende o agrupamento de mídias distintas – cinema, televisão, videogames – no contar e propagar de uma história. Sobre o desmembrar da manipulação comercial, pode-se afirmar que é um processo gerado por conta da possibilidade de leitura dupla que os super sistemas transmídia oferecem: uma passiva, que acontece quando o consumidor assiste ao filme, e outra interativa, experimentada, por exemplo, através do ato de jogar um videogame. Assim sendo, o público passa a participar do ato de construir a história que é consumida. Há mais de 20 anos, a previsão de Kinder era que esses super sistemas transmídia se tornassem cada vez maiores e mais abrangentes e que, consequentemente, o público passasse a ter mais envolvimento com o processo de contar histórias. Na atualidade, o estudo de transmídia confirma a precisão desse raciocínio. Hoje, o termo criado por Marsha Kinder é frequentemente complementado pela palavra narrativa. Temos, então, narrativas transmídia. Mais do que falar em mídias agrupadas, fala-se em mídias que se complementam, cada uma com igual importância, a fim de contar e/ou propagar uma história. As narrativas transmídia acontecem quando diferentes mídias se interligam com o objetivo de obter um produtor final: contar uma história. É importante destacar a diferença entre adaptações e transmídia:

Historically, new versions of texts tended to take the form of adaptations – transferring a story from one medium to another […]. Increasingly, multiple versions of texts are being generated as parts of interconnected and coordinated networks constructed by media conglomerations. In these transmedia networks, the same core story is dispersed and delivered across a range of media and a variety of formats […]. Instead of a succession of independent re-presentations of a story […], versions in different media are conjoined in ways that resemble series narratives, with each component offering new information. [7]

Pode-se inferir que a expansão de histórias para diversas mídias torna possível a ampliação de públicos-alvo e, consequentemente, sua utilização em um processo educacional interdisciplinar.

4. PROPOSTA INTERDISCIPLINAR E TRANSMIDIÁTICA.

É na Europa dos anos 1960, principalmente na França e na Itália, que surge o movimento da interdisciplinaridade [8], que defende um processo de ensino-aprendizagem calcado em uma visão da totalidade e não da fragmentação dos conhecimentos. A interdisciplinaridade traz a possibilidade do restabelecimento da unidade do saber, abarcando, sem disparidades, as diversas áreas deste mesmo saber.

Deve distinguir-se que a efetivação da aprendizagem dos conhecimentos só se dará de modo efetivo se produzir significado, ou seja, se permitir que o aluno relacione o que está aprendendo com conhecimentos e experiências que já possui; que o envolva como pessoa; que o incentive a perguntar, a comunicar, a debater, a trabalhar em equipe; e que amplie o seu mundo. Destacando a união do conhecimento, imediatamente pensa-se em um saber que tenha conotações universais, que não anule o pessoal, mas valorize uma atitude de diálogo, de troca de ideias e informações; atitude que só se faz existente quando não há a predominância do exclusivismo e não se teme a dúvida, a incerteza. Uma das motivações do aprender vem justamente de encontro ao desejo de adentrar ao desconhecido, todavia, ao enfrentá-lo, o homem confronta a própria ignorância, a qual só pode sanar-se com o questionar e o buscar do conhecimento. A ignorância não é correlata de uma percepção pejorativa, ao contrário, ela é a matriz das dúvidas, da incompletude humana; o desafio posto, que, se aceito, direciona o homem à tentativa, utópica, da perfeição. Entretanto, expor-se a própria incerteza pressupõe uma postura crítica e autocrítica, um preceito comprometido e corajoso, além de um engajamento instruído da condição inicial e, some-se, a ciência da incógnita, do limite do porto de chegada das somas geradoras do conhecimento. No cenário contemporâneo, nossos alunos estão postados diante de diversas mídias e de diversas linguagens. O resgate do Conto de Fada e de sua reescrita, tomando como base diversas disciplinas e diferentes mídias, é um caminho de efetivação do fazer educacional. É a partir destas convicções que um professor do Ensino Fundamental II, etapa da Educação Básica brasileira na qual os alunos têm entre 11 e 14 anos, poderia trabalhar com a recriação da obra Branca de Neve e os Sete Anões utilizando diferentes linguagens, muito diferentemente da maioria dos professores que continuam a cobrar a interpretação e a compreensão de obras por meio de provas escritas. O educando, de modo geral, rejeita a aula monológica, puramente expositiva, que parte, quase que exclusivamente, da enunciação do professor ou do autor do livro didático. Em muitos casos, há uma disposição para aprender, para ler, para debater textos, para compartilhar sentidos, porém, torna-se indispensável que se mude o tratamento dado a essas atividades. Dessa forma, inicialmente, depois da exibição da obra, o docente poderia pedir para que os alunos falassem das impressões que a obra causara em cada um, dando voz aos educandos para que, inclusive, eles refletissem sobre as diferentes interpretações entre eles mesmos depois de terem assistido à obra. Ao longo desse primeiro momento, o educador poderia, ainda, verificar quais são as memórias que os alunos têm de Branca de Neve e os Sete Anões de sua infância. Seria uma excelente oportunidade para mostrar aos alunos que obras lidas ou assistidas em diferentes momentos de vida podem ser interpretadas ou reinterpretadas de forma diferente.

A seguir o docente poderia dividir a sala em sete grupos e solicitar que cada grupo fizesse a releitura da obra em função de diversas linguagens escolhidas pelo professor. Nessa etapa do processo, o educador explicaria que a tarefa seria criar uma paráfrase ou uma paródia, cujos enredos recontariam a narrativa de Walt Disney. O grupo 1, em diálogo com as disciplinas da área de artes, poderia recriar a obra por meio da criação de uma música, cujo estilo musical ficaria à escolha dos alunos. O grupo 2, em diálogo com as disciplinas da área de história e geografia, escreveria uma notícia de jornal cuja característica central seria o sensacionalismo. O grupo 3, em diálogo com as disciplinas da área esportiva e de matemática, montaria um jogo de tabuleiro contendo perguntas e respostas sobre a trajetória de Branca de Neve. O grupo 4, em diálogo com as disciplinas da área de artes, 4 faria uma adaptação da obra para o teatro, trazendo a narrativa para o mundo atual tecnológico. O grupo 5, em diálogo com as disciplinas da área de artes, criaria uma história em quadrinhos sobre a obra de Disney, mas com as características dos desenhos de muros grafitados. O grupo 6, em diálogo com as disciplinas da área de história, de geografia e de artes, montaria peças publicitárias que além de venderem determinado produto, que ficaria à escolha dos discentes, teriam a missão de narrar a vida de Branca de Neve. O grupo 7, em diálogo com as disciplinas da área de artes, apresentaria a narrativa de Disney por meio de um espetáculo de stand-up comedy. Por fim, o professor poderia propor aos discentes um novo olhar para as recriações, mostrando aos alunos que as recriações não devem ser vistas como uma mera imitação empobrecida ou um simples resumo da obra original, mas, sim, uma criação em um novo contexto. Uma linguagem não é melhor do que a outra. Cada linguagem representa simplesmente uma maneira diferente de atingir o receptor.

5. CONCLUSÃO

Algumas narrativas que hoje chegam ao público de maneira transmidiática nem sempre foram originalmente concebidas em tais moldes, entretanto, narrativas transmídia bem sucedidas proporcionam ao público uma experiência mais profunda e contínua de contato com as histórias. Dessa união do processo educacional interdisciplinar com a utilização de várias mídias e, consequentemente, várias linguagens certamente há de refletir um aprendizado mais significativo para o adolescente.

References [1] N. Gabler. Walt Disney: The Triumph of American Imagination. Nova Iorque: A.A Knopf, 2006.

[2] N. Gabler. Walt Disney: The Triumph of American Imagination. Nova Iorque: A.A Knopf, 2006. [3] D. Smith, Updated Official Encyclopedia: Disney from A-Z. Orlando: Disney Editions, 1998. [4] http://www.boxofficemojo.com/movies/?id=snowwhite.htm (Acesso em 08.03.13) [5] M. Tatar, Enchanted Hunters: The Power of Stories in Childhood. Nova Iorque: W. W. Norton & Company, Inc, 2009. [6] M. Kinder, Playing with Power in Movies, Television, and Video Games: From Muppet Babies to Teenage Mutant Ninja Turtles. Berkeley and Los Angeles, California: University of California Press, 1991. [7] R. Kimberley, Children’s Literature, A Very Short Introduction. 2011. [8] I. C. A. Fazenda, Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. Campinas: Papirus, 1994.