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FASCÍCULOS DE JORNALISMO - COMPREENDER A PROFISSÃO Singular e subjetiva A crônica revela um olhar intimista do autor do texto. Sutil e poética, na sua versão contemporânea ela traz uma leitura do cenário social e eterniza os acontecimentos. É um gênero no qual jornalismo e literatura caminham de mãos dadas Nelson Rodrigues escreveu com deboche, ironia e escracho tanto no teatro como no jornalismo REPORTAGEM ENTREVISTA José Ruy Gandra analisa: “A crônica é o que melhor expressa o mergulho emocional”

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F A S C Í C U L O S D E J O R N A L I S M O - C O M P R E E N D E R A P R O F I S S Ã O

Singular e subjetivaA crônica revela um olhar intimista do autor do texto. Sutil e poética, na sua versão contemporânea

ela traz uma leitura do cenário social e eterniza os acontecimentos. É um gênero no qual jornalismo e literatura caminham de mãos dadas

Nelson Rodrigues escreveu com deboche, ironia e escracho tanto no teatro como no jornalismo

REPORTAGEMENTREVISTAJosé Ruy Gandra analisa:

“A crônica é o que melhor expressa o mergulho emocional”

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Expediente

Onde a imaginação tem lugarJosé Ruy Gandra, cronista e jornalista há mais de 25 anos, aborda o presente, passado e futuro da crônica. Ele afirma: “O estilo é algo situado no limite entre jornalismo e ficção”

Apresentação | Caro leitor

Seção | Conceito

Por Fernanda Nunes

Pingue-Pongue | José Ruy Gandra

A vida como ela é...

Arquivo pessoal

José Ruy Gandra (no centro) é jornalista. Publicou, em 2011,

Coração do Pai, pela Da Boa Prosa, que reúne crônicas sobre a

relação entre pai e � lho. Na foto estão Pedro (à esq.) e Paullo (à dir.), seus � lhos

Que tal escrever uma crônica? O gênero é um dos mais pessoais e pede muita criatividade. No Brasil, se tornou popular nas palavras de Nelson Rodrigues, Millôr Fernandes e tantos outros escritores que reinventaram o jor-nalismo no País. Mas o que alguém precisa saber para se aventurar nesse estilo? Batemos um papo com José Ruy Gandra, jornalista e escritor com centenas de crônicas publicadas. Formou-se em Direito pela USP e em Histó-ria pela PUC-SP. Ao longo de seus 25 anos de carreira, já trabalhou como repórter no jornal Folha de S.Paulo e editor nas revistas Exame, VIP e Playboy. Já foi diretor de redação das revistas Web!, Viagem e Turismo, National Geographic e revista do Fantástico. Para ele, o texto é coisa de super-herói: “crônica não é opção, é heroísmo!”.

O fascículo Dois Pontos foi conversar com esse jornalista.

O fascículo Crônica apresenta aos estudantes de jornalis-mo um gênero opinativo que circula livremente entre a literatura e o factual. Sua abordagem é o cotidiano. Seu foco é a vida longe dos holofotes. É um texto com ares de “conversa � ada”. Pode passar despercebida do

olhar de um leitor racional. Nosso intuito com este fascículo é localizar, estabelecer e reposi-

cionar o lugar da crônica no panorama do jornalismo brasileiro con-temporâneo. Queremos iluminar esse gênero textual e, para tanto, esmiuçarmos ao máximo o tema, de forma que o leitor, ao pecorrer nossas reportagens, possa encontrar um signi� cado profundo, in-tenso e que possa gerar “n” outras de� nições sobre o que é a Crônica e sua presença na sociedade. Nossa � nalidade é formar conceitos, ex-plorar a imaginação e atingir o núcleo da estética deste texto.

Para � nalizar, uma frase de Voltaire que sintetiza em parte nossa concepção: “É difícil libertar os tolos das amarras que eles veneram”. Seja na Crônica ou em qualquer outro gênero, acreditamos na expan-são de ideias e agregação de valores que elas nos trazem.

“Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e la glace est rompue está começada a crônica.”

Machado de Assis, Crônicas Escolhidas, pág. 22

“O cronista que sabe atuar como consciência poética da atualidade é aquele que man-tém vivo o interesse do seu público e converte a crônica em algo desejado pelos leito-res. Atua como mediador literário entre os fatos que estão acontecendo e a psicologia coletiva. É por isso que muitos cronistas buscam inspiração no próprio jornal. Reali-zam uma tradução livre da realidade principal, acrescentando ironia e humor à cha-tice do cotidiano, à dureza do dia-a-dia. Os que se afastam do presente e enveredam pelo saudosismo, pela rememoração dos tempos passados, arriscam perder o público ou o limitam aos seus companheiros de geração.”

José Marques de Melo, Jornalismo Opinativo – Gêneros Opinativos no Jornalismo Brasileiro, Editora Mantiqueira, pág. 156

“Perdem tempo os teóricos preocupados em discutir se a crônica é um gênero maior ou menor. A função da crônica não é saber se é grande, pequena ou média, a função da crônica é explodir, é não deixar a peteca cair, é acordar as pessoas que estão dormindo de olho aberto, e gritar.”

Lourenço Diaféria, Por que me ufano da minha horrível e gloriosa esquina, Depoimento – Escritor Brasileiro 81. São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura

Dois Pontos: Por que a crônica é tão impor-tante para o jornalismo?José Ruy Gandra: Uma das marcas da crô-nica é ser muito autoral. O escritor é muito importante para o texto, porque ele tende a re� etir sobre sua experiência, seja por coisas prosaicas como passarinhos no quintal do vizinho; seja o casamento que está acabando. É um jeito de contar estórias de uma forma intimista, sob o olhar do jornalista. A crônica é o que melhor expressa o mergulho emocio-nal. A� nal, às vezes ser cronista não é opção, é heroísmo. É algo situado no limite entre jornalismo e � cção.

Dois Pontos: Qualquer pessoa de qualquer idade pode ser cronista?José Ruy Gandra: Sim, claro! Podemos ser bons cronistas a qualquer tempo. O que muda são o caráter e a qualidade delas. No Brasil, porém, a crônica adquiriu um con-ceito de que é necessário ter uma grande vivência para escrevê-la. Discordo. Grandes escritores do Brasil escreveram suas melho-res crônicas na relativa juventude, com 25, 30 anos, como Paulo Mendes Campos e Fernan-do Sabino.

Dos Pontos: Qual crônica de sua autoria que mais te marcou?José Ruy Gandra: Nos bons tempos da revis-ta VIP, � zemos um especial sobre as sete mu-danças capitais na vida de um homem. Tí-nhamos o primeiro carro, a primeira transa... E o primeiro � lho, que eu escrevi. Foi uma das melhores, modéstia à parte. Fez muito sucesso, as pessoas comentaram bastante. Paternidade é uma maneira legal de tocar as pessoas, é um assunto muito importante. Fiquei com uma coluna na revista sobre o tema, que durou três anos.

Dois Pontos: Há espaço para a crônica no mundo atual?José Ruy Gandra: O mundo atual é apressa-do e não contribui para o universo da crôni-

ca. A� nal, ela é um devaneio, e o autor precisa parar e pensar sobre o assunto. Mas o gênero se adapta com as novas mídias, como os blo-gs, nos quais a opinião do autor está presente. A partir disso, temos as crônicas dos jornais, que está perdendo terreno; das revistas, que estão se reinventando; e muitas se mantendo pelo ambiente digital.

“O

mundo atual é

apressado e não

contribui para o

universo da crônica

”Dois Pontos: O que você recomendaria para uma pessoa que deseja ser cronista, mas não sabe por onde começar a escrever bons textos?José Ruy Gandra: Ela precisa ler crônica! Vale a leitura de grandes escritores como Fernando Sabino. Se for para indicar o melhor, eu pre� ro o Rubem Braga. Agora, quando o assunto é a crônica mais bonita, � co com Quando o Amor Acaba, de Paulo Mendes Campos. Da nova geração, indico Antonio Prata.

ChancelerAlzira Altenfelder

Silva Mesquita

ReitorJosé Reinaldo Altenfelder

Silva Mesquita

Pró-reitor de GraduaçãoLuis Antônio Ba� le Leoni

Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação

Alberto Mesquita Filho

Pró-reitoria de ExtensãoLílian Brando G. Mesquita

Diretor da Faculdade de LACCERosário Antonio D’Agostino

Coordenação do Curso de Jornalismo

Anderson Fazoli

Dois Pontos é um projeto experimental dos alunos de jornalismo

(3ACSNJO e 3MCSNJO), desenvolvido na disciplina

Jornalismo Impresso, em 2013.

Orientação e Coordenação editorialProfa. Jaqueline Lemos

(MTB 657/GO)

RevisãoProfª. Maria Cristina Barbosa

Diagramação Alexandre Ofélio (MTB 62748/SP)

Redação

Editor assistente Sasha Cruz

(RA: 201100518)

RepórteresAmanda Garcia

(RA: 201107435)

Fernanda Nunes (RA: 201113021)

Luana Escardovelli(RA: 201103517)

Renata Otaviano (RA: 201103486)

Renata Sales (RA: 201105362)

Wesley Mesquita (RA: 201113774)

Capa/ImagemMorgue� le/Mconnrs