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    CURRICULARPROPOSTA

    DO ESTADO DE SO PAULO

    F

    ILO

    SO

    FIA

    ENSINO

    MDIO

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo: Filosofia /

    Coord. Maria Ins Fini. So Paulo: SEE, 2008.

    ISBN 978-85-61400-05-7.

    1. Filosofia (Ensino Mdio) Estudo e ensino. I. Fini, Maria Ins. II. So Paulo (Estado)

    Secretaria da Educao.

    CDD 22ed. 107

    GovernadorJos Serra

    Vice-GovernadorAlberto Goldman

    Secretria da EducaoMaria Helena Guimares de Castro

    Secretria-AdjuntaIara Gloria Areias Prado

    Chefe de GabineteFernando Padula

    Coordenador de Estudos e NormasPedaggicasJos Carlos Neves Lopes

    Coordenador de Ensino da RegioMetropolitana da Grande So PauloLuiz Candido Rodrigues Maria

    Coordenadora de Ensino do InteriorAparecida Edna de Matos

    Presidente da Fundao para oDesenvolvimento da Educao FDEFbio Bonini Simes de Lima

    EXECUO

    Coordenao Geral

    Maria Ins Fini

    Concepo

    Guiomar Namo de Mello

    Lino de Macedo

    Luis Carlos de Menezes

    Maria Ins Fini

    Ruy Berger

    GESTO

    Fundao Carlos Alberto Vanzolini

    Presidente do Conselho Curador: Antonio RafaelNamur MuscatPresidente da Diretoria Executiva: MauroZilbovicius

    Diretor de Gesto de Tecnologias aplicadas Educao: Guilherme Ary Plonski

    Coordenadoras Executivas de Projetos: BeatrizScavazza e Angela Sprenger

    APOIO

    CENP Coordenadoria de Estudos e NormasPedaggicas

    FDE Fundao para o Desenvolvimento daEducao

    Coordenao do Desenvolvimento dosContedos Programticos e dos Cadernos dosProfessores

    Ghisleine Trigo Silveira

    COORDENAO DE REA PARA O

    DESENVOLVIMENTO DOS CONTEDOSPROGRAMTICOS E DOS CADERNOS DOSPROFESSORES

    Cincias Humanas e suas Tecnologias: AngelaCorra da Silva e Paulo Miceli

    Cincias da Natureza e suas Tecnologias: LuisCarlos de Menezes

    Linguagens, Cdigos e suas Tecnologias: AliceVieira

    Matemtica: Nilson Jos Machado

    AUTORES

    Cincias Humanas e suas Tecnologias

    Filosofia: Adilton Lus Martins e Paulo Miceli

    Geografia: Angela Corra da Silva, Jaime TadeuOliva, Raul Borges Guimares, Regina Clia Begados Santos, Regina Clia Corra de Arajo eSrgio Adas

    Histria: Diego Lpez Silva, Glaydson Jos daSilva, Mnica Lungov Bugelli, Paulo Miceli e Raqueldos Santos Funari

    Cincias da Natureza e suas Tecnologias

    Biologia: Fabola Bovo Mendona, GhisleineTrigo Silveira, Maria Augusta Querubim RodriguesPereira, Olga Aguilar Santana, Rodrigo VenturosoMendes da Silveira e Solange Soares de Camargo

    Cincias: Cristina Leite, Joo Carlos ThomazMicheletti Neto, Julio Czar Foschini Lisboa,Lucilene Aparecida Esperante Limp, Mara Batistonie Silva, Maria Augusta Querubim RodriguesPereira, Maria Eunice Ribeiro Marcondes, RenataAlves Ribeiro, Rosana dos Santos Jordo, Simone

    Jaconetti Ydi e Yassuko HosoumeFsica: Jos Guilherme Brockington, Marcelo deCarvalho Bonetti, Maurcio Pietrocola Pinto deOliveira, Maxwell Roger da Purificao Siqueira eYassuko Hosoume

    Qumica: Fabio Luis de Souza, Hebe Ribeiro daCruz Peixoto, Luciane Hiromi Akahoshi, MariaEunice Ribeiro Marcondes, Maria FernandaPenteado Lamas e Yvone Mussa Esperidio

    Linguagens, Cdigos e suas Tecnologias

    Arte: Geraldo de Oliveira Suzigan, Gisa Picosque,Mirian Celeste Ferreira Dias Martins e Sayonara Pereira

    Educao Fsica: Adalberto dos Santos Souza,Jocimar Daolio, Luciana Venncio, Luiz SanchesNeto, Mauro Betti, Srgio Roberto Silveira

    LEM Ingls: Adriana Ranelli Weigel Borges,Alzira da Silva Shimoura, Lvia de Arajo DonniniRodrigues, Priscila Mayumi Hayama e Sueli SallesFidalgo

    Lngua Portuguesa: Dbora Mallet Pezarin deAngelo, Eliane Aparecida de Aguiar, Jos LusMarques Lpez Landeira e Joo Henrique NogueiraMateos

    Matemtica

    Matemtica: Carlos Eduardo de Souza CamposGranja, Jos Luiz Pastore Mello, Nilson JosMachado, Rogrio Ferreira da Fonseca, Ruy CsarPietropaolo e Walter Spinelli

    Coordenao do Desenvolvimento doCaderno do Gestor

    Guiomar Namo de Mello e Marta WolakGrosbaum

    Autores: Elianeth Dias Kanthack Hernandes,Guiomar Namo de Mello, Maria Silvia BoniniTararam, Marta Wolak Grosbaum, Miriam MartinsIncio e Terezinha Antonia Berti Tranchitella

    Colaboradores: Dalva de Oliveira S. da Costa,Ermelinda Maura Chezzi Dallan, Jos Alves daSilva, Liara Ferraz Conte APS, Maria Alice Pereira eMaura Silva Guedes

    Preparao de originais: Tina Amado

    Consulta rede sobre experincias exitosas:Lourdes Athi e Raquel B. Namo Cury

    EQUIPE DE PRODUO

    Coordenao Executiva: Beatriz Scavazza

    Assessores: Alex Barros, Beatriz Blay, DeniseBlanes, Eliane Yambanis, Heloisa Amaral Dias de

    Oliveira, Luis Mrcio Barbosa, Luiza Christov eVanessa Dias Moretti

    EQUIPE EDITORIAL

    Coordenao Executiva: Angela Sprenger

    Projeto Editorial: Zuleika de Felice Murrie

    Edio e Produo Editorial: Edies Jogo deAmarelinha, Conexo Editorial e Occy Design(projeto grfico)

    CTP, Impresso e Acabamento

    Imprensa Oficial do Estado de So Paulo

    A Secretaria da Educao do Estado de So Paulo autoriza a reproduo deste material pelasdemais secretarias de educao, desde que mantida a integridade da obra e dos crditos.

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    CURRICULAR

    PROPOSTA

    DO ESTADO DE SO PAULO

    ENSINO MDIO

    FILOSOFIA

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    CURRICULARPROPOSTA

    Carta daSecretria

    Prezados gestores e professores,

    Neste ano, colocamos em prtica uma nova Proposta Curricular, para aten-

    der necessidade de organizao do ensino em todo o Estado.

    A criao da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que deu autonomia s escolas

    para que definissem seus prprios projetos pedaggicos, foi um passo importante.

    Ao longo do tempo, porm, essa ttica descentralizada mostrou-se ineficiente.

    Por esse motivo, propomos agora uma ao integrada e articulada, cujo

    objetivo organizar melhor o sistema educacional de So Paulo.

    Com esta nova Proposta Curricular, daremos tambm subsdios aos profis-

    sionais que integram nossa rede para que se aprimorem cada vez mais.

    Lembramos, ainda, que apesar de o currculo ter sido apresentado e discuti-

    do em toda a rede, ele est em constante evoluo e aperfeioamento.

    Mais do que simples orientao, o que propomos, com a elaborao da

    Proposta Curricular e de todo o material que a integra, que nossa ao tenha

    um foco definido.

    Apostamos na qualidade da educao. Para isso, contamos com o entusiasmo

    e a participao de todos.

    Um grande abrao e bom trabalho.

    Maria Helena Guimares de CastroSecretria da Educao do Estado de So Paulo

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    Sumrio

    Apresentao 81. Uma educao altura dos desafios contemporneos 9

    2. Princpios para um currculo comprometido com o seu tempo 12

    I. Uma escola que tambm aprende 12

    II. O currculo como espao de cultura 12

    III. As competncias como referncia 13

    IV. Prioridade para a competncia da leitura e da escrita 16

    V. Articulao das competncias para aprender 18

    VI. Articulao com o mundo do trabalho 20

    A rea de Cincias da Natureza e suas Tecnologias 261. A presena das Cincias da Natureza na sociedade contempornea 26

    2. A aprendizagem na rea das Cincias da Natureza na educao de base 27

    A Matemtica e as reas do conhecimento 32Por que uma rea especfica para a Matemtica? 33

    A rea de Linguagens, Cdigos e suas Tecnologias 35

    A rea de Cincias Humanas e suas Tecnologias 38

    Proposta Curricular do Estado de So Paulopara a disciplina de Filosofia 41Filosofia e Cultura 41

    CURRICULARPROPOSTA

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

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    Apresentao

    Apresentao da Proposta Curricular do

    Estado de So Paulo

    cesso, a Secretaria procura tambm cumprir

    seu dever de garantir a todos uma base co-

    mum de conhecimentos e competncias, para

    que nossas escolas funcionem de fato como

    uma rede. Com esse objetivo, prev a elabora-

    o dos subsdios indicados a seguir.

    Este documento bsico apresenta os prin-

    cpios orientadores para uma escola capaz

    de promover as competncias indispens-

    veis ao enfrentamento dos desafios sociais,

    culturais e profissionais do mundo contem-

    porneo. O documento aborda algumas

    das principais caractersticas da sociedade

    do conhecimento e das presses que acontemporaneidade exerce sobre os jo-

    vens cidados, propondo princpios orien-

    tadores para a prtica educativa, a fim de

    que as escolas possam se tornar aptas a

    preparar seus alunos para esse novo tem-

    po. Priorizando a competncia de leitura e

    escrita, esta proposta define a escola como

    espao de cultura e de articulao de com-

    petncias e contedos disciplinares.

    Integra esta Proposta Curricularum segun-

    do documento, de Orientaes para a Ges-

    to do Currculo na Escola, dirigido espe-

    cialmente s unidades escolares e aos diri-

    gentes e gestores que as lideram e apiam:

    A Secretaria de Educao do Estado de

    So Paulo est realizando um projeto que visa

    propor um currculo para os nveis de ensino

    Fundamental Ciclo II e Mdio. Com isso,

    pretende apoiar o trabalho realizado nas es-

    colas estaduais e contribuir para a melhoria

    da qualidade das aprendizagens de seus alu-

    nos. Esse processo partir dos conhecimentos

    e das experincias prticas j acumulados, ou

    seja, da sistematizao, reviso e recuperao

    de documentos, publicaes e diagnsticos j

    existentes e do levantamento e anlise dos re-

    sultados de projetos ou iniciativas realizados.

    No intuito de fomentar o desenvolvi-mento curricular, a Secretaria toma assim duas

    iniciativas complementares. A primeira delas

    realizar um amplo levantamento do acervo

    documental e tcnico pedaggico existente.

    A segunda iniciar um processo de consulta

    a escolas e professores, para identificar, siste-

    matizar e divulgar boas prticas existentes nas

    escolas de So Paulo. Articulando conheci-

    mento e herana pedaggicos com experin-

    cias escolares de sucesso, a Secretaria pretende

    que esta iniciativa seja, mais do que uma nova

    declarao de intenes, o incio de uma con-

    tnua produo e divulgao de subsdios que

    incidam diretamente na organizao da escola

    como um todo e nas aulas. Ao iniciar este pro-

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    Apresentao

    diretores, assistentes tcnico-pedaggicos,

    professores coordenadores e superviso-

    res. Esse segundo documento no trata

    da gesto curricular em geral, mas tem a

    finalidade especfica de apoiar o gestor

    para que seja um lder e animador da im-

    plementao desta Proposta Curricularnas

    escolas pblicas estaduais de So Paulo.

    Existe uma variedade de outros programas

    e materiais disponveis sobre o tema da

    gesto, alguns dos quais descritos em ane-

    xo, aos quais as equipes gestoras tambm

    podero recorrer para apoiar seu trabalho.

    O ponto mais importante desse segundo

    documento garantir que o Projeto Peda-

    ggico, que organiza o trabalho nas con-

    dies singulares de cada escola, seja um

    recurso efetivo e dinmico para assegurar

    aos alunos a aprendizagem dos contedose a constituio das competncias previstas

    nesta Proposta Curricular. O segundo docu-

    mento, Orientaes para a Gesto do Cur-

    rculo, prope que a aprendizagem resulte

    tambm da coordenao de aes entre as

    disciplinas, do estmulo vida cultural da

    escola e do fortalecimento de suas relaes

    com a comunidade. Para isso, refora e pro-

    pe orientaes e estratgias para a educa-

    o continuada dos professores.

    A Proposta Curricular se completar

    com um conjunto de documentos diri-

    gidos especialmente aos professores.

    So os Cadernos do Professor, orga-

    nizados por bimestre e por disciplina.

    Neles, so apresentadas situaes de

    aprendizagem para orientar o trabalho do

    professor no ensino dos contedos disci-

    plinares especficos. Esses contedos, ha-

    bilidades e competncias so organizados

    por srie e acompanhados de orientaes

    para a gesto da sala de aula, para a

    avaliao e a recuperao, bem como

    de sugestes de mtodos e estratgias

    de trabalho nas aulas, experimentaes,

    projetos coletivos, atividades extraclasse

    e estudos interdisciplinares.

    1. Uma educao altura dosdesafios contemporneos

    A sociedade do sculo XXI cada vez

    mais caracterizadapelo uso intensivo do co-nhecimento, seja para trabalhar, conviver ou

    exercer a cidadania, seja para cuidar do am-

    biente em que se vive. Essa sociedade, pro-

    duto da revoluo tecnolgica que se acele-

    rou na segunda metade do sculo passado e

    dos processos polticos que redesenharam as

    relaes mundiais, j est gerando um novo

    tipo de desigualdade, ou excluso, ligada ao

    uso das tecnologias de comunicao que hoje

    mediam o acesso ao conhecimento e aos bens

    culturais. Na sociedade de hoje, so indesej-

    veis tanto a excluso pela falta de acesso a

    bens materiais quanto a excluso pela falta de

    acesso ao conhecimento e aos bens culturais.

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    Apresentao

    No Brasil essa tendncia caminha pa-

    ralelamente democratizao do acesso a

    nveis educacionais alm do ensino obriga-

    trio. Com mais gente estudando, a posse

    de um diploma de nvel superior deixa de

    ser um diferencial suficiente, e caractersti-

    cas cognitivas e afetivas so cada vez mais

    valorizadas, como as capacidades de resol-

    ver problemas, trabalhar em grupo, conti-

    nuar aprendendo e agir de modo coope-

    rativo, pertinente em situaes complexas.

    Em um mundo no qual o conhecimento

    usado de forma intensiva, o diferencial

    ser marcado pela qualidade da educao

    recebida. A qualidade do convvio, assim

    como dos conhecimentos e das compe-

    tncias constitudas na vida escolar, ser

    o fator determinante para a participao

    do indivduo em seu prprio grupo social e

    para que tome parte de processos de crti-ca e renovao.

    Nesse quadro ganha importncia re-

    dobrada a qualidade da educao ofere-

    cida nas escolas pblicas, pois para elas

    que esto acorrendo, em nmero cada vez

    mais expressivo, as camadas mais pobres da

    sociedade brasileira, que antes no tinham

    acesso escola. A relevncia e a pertinn-

    cia das aprendizagens escolares nessas ins-

    tituies so decisivas para que o acesso a

    elas proporcione uma oportunidade real de

    aprendizagem para insero no mundo de

    modo produtivo e solidrio.

    Outro fenmeno relevante diz respei-

    to precocidade da adolescncia, ao mes-

    mo tempo em que o ingresso no trabalho

    se torna cada vez mais tardio. Tais fen-

    menos ampliam o tempo e a importncia

    da permanncia na escola, tornando-a um

    lugar privilegiado para o desenvolvimento

    do pensamento autnomo, que condio

    para uma cidadania responsvel. Ser estu-

    dante, nesse mundo que expe o jovem

    desde muito cedo s prticas da vida adulta

    e, ao mesmo tempo, posterga a sua in-

    sero profissional , fazer da experincia

    escolar uma oportunidade para aprender a

    ser livre e ao mesmo tempo respeitar as di-

    ferenas e as regras de convivncia. Hoje,

    mais do que nunca, aprender na escola o

    ofcio de aluno, a partir do qual ele vai

    fazer o trnsito para a autonomia da vida

    adulta e profissional.

    Para que a democratizao do acesso

    educao tenha uma funo realmente inclu-

    siva no suficiente universalizar a escola.

    indispensvel a universalizao da relevncia

    da aprendizagem. Criamos uma civilizao

    que reduz distncias, que tem instrumentos

    capazes de aproximar as pessoas ou de distan-

    ci-las, que aumenta o acesso informao e

    ao conhecimento, mas que tambm acentua

    diferenas culturais, sociais e econmicas. S

    uma educao de qualidade para todos pode

    evitar que essas diferenas constituam mais

    um fator de excluso.

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    Apresentao

    O desenvolvimento pessoal um pro-

    cesso de aprimoramento das capacidades

    de agir, pensar, atuar sobre o mundo e lidar

    com a influncia do mundo sobre cada um,

    bem como atribuir significados e ser perce-

    bido e significado pelos outros, apreender

    a diversidade e ser compreendido por ela,

    situar-se e pertencer. A educao precisa

    estar a servio desse desenvolvimento, que

    coincide com a construo da identidade,

    da autonomia e da liberdade. No h liber-

    dade sem possibilidade de escolhas. Elas

    pressupem um quadro de referncias, um

    repertrio que s pode ser garantido se

    houver acesso a um amplo conhecimento,

    dado por uma educao geral, articulado-

    ra, que transite entre o local e o mundial.

    Esse tipo de educao constri, de forma

    cooperativa e solidria, uma sntese dos

    saberes produzidos pela humanidade, aolongo de sua histria e de sua geografia,

    e dos saberes locais. Tal sntese uma das

    condies para o individo acessar o co-

    nhecimento necessrio ao exerccio da ci-

    dadania em dimenso mundial.

    A autonomia para gerenciar a pr-

    pria aprendizagem (aprender a aprender) e

    o resultado dela em intervenes solidrias

    (aprender a fazer e a conviver) deve ser a

    base da educao das crianas, dos jovens

    e dos adultos, que tm em suas mos a

    continuidade da produo cultural e das

    prticas sociais.

    Construir identidade, agir com autono-

    mia e em relao com o outro, e incorporar a

    diversidade so as bases para a construo de

    valores de pertencimento e responsabilidade,

    essenciais para a insero cidad nas dimen-

    ses sociais e produtivas. Preparar indivduos

    para manter o equilbrio da produo cultural,

    num tempo em que a durao se caracteriza

    no pela permanncia, mas pela constante

    mudana quando o inusitado, o incerto e o

    urgente constituem a regra e no a exceo ,

    mais um desafio contemporneo para a

    educao escolar.

    Outro elemento relevante hoje para

    pensarmos o contedo e o sentido da escola

    a complexidade da ambincia cultural, das

    dimenses sociais, econmicas e polticas,

    a presena macia de produtos cientficos e

    tecnolgicos e a multiplicidade de linguagense cdigos no cotidiano. Apropriar-se ou no

    desses conhecimentos pode ser um instru-

    mento da ampliao das liberdades ou mais

    um fator de excluso.

    O currculo que d contedo e sentido

    escola precisa levar em conta esses elementos.

    Por isso, esta Proposta Curricular tem como

    princpios centrais: a escola que aprende, o

    currculo como espao de cultura, as compe-

    tncias como eixo de aprendizagem, a priori-

    dade da competncia de leitura e de escrita, a

    articulao das competncias para aprender e

    a contextualizao no mundo do trabalho.

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    Apresentao

    2. Princpios para um currculocomprometido com o seu tempo

    I. Uma escola que tambm aprende

    A tecnologia imprime um ritmo sem

    precedentes no acmulo de conhecimentos

    e gera uma transformao profunda na sua

    estrutura e nas suas formas de organizao e

    distribuio. Nesse contexto, a capacidade de

    aprender ter de ser trabalhada no apenas

    nos alunos, mas na prpria escola, enquan-

    to instituio educativa: tanto as instituies

    como os docentes tero de aprender.

    Isso muda radicalmente nossa concep-

    o da escola como instituio que ensina

    para posicion-la como instituio que tam-

    bm aprende a ensinar. As interaes en-

    tre os responsveis pela aprendizagem dosalunos tm carter de aes formadoras,

    mesmo que os envolvidos no se dem conta

    disso. Neste sentido, cabe lembrar a respon-

    sabilidade da equipe gestora como formado-

    ra de professores e a responsabilidade dos

    docentes, entre si e com o grupo gestor, na

    problematizao e na significao dos co-

    nhecimentos sobre sua prtica.

    De acordo com essa concepo, a esco-

    la que aprende parte do princpio de que nin-

    gum conhece tudo e de que o conhecimento

    coletivo maior que a soma dos conhecimen-

    tos individuais, alm de ser qualitativamente

    diferente. Esse o ponto de partida para o tra-

    balho colaborativo, para a formao de uma

    comunidade aprendente, nova terminologia

    para um dos mais antigos ideais educativos. A

    vantagem que hoje a tecnologia facilita a via-

    bilizao prtica desse ideal.

    Aes como a construo coletiva da

    Proposta Pedaggica, por meio da reflexo e

    da prtica compartilhadas, e o uso intencio-

    nal da convivncia como situao de apren-

    dizagem fazem parte da constituio de uma

    escola altura dos tempos atuais. Observar

    que as regras da boa pedagogia tambm se

    aplicam queles que esto aprendendo a en-

    sinar uma das chaves para o sucesso das

    lideranas escolares. Os gestores, como agen-

    tes formadores, devem aplicar com os profes-

    sores tudo aquilo que recomendam a eles que

    apliquem com seus alunos.

    II. O currculo como espao de cultura

    No cotidiano escolar, a cultura muitas

    vezes associada ao que local, pitoresco, fol-

    clrico, bem como ao divertimento ou lazer,

    enquanto o conhecimento freqentemente

    associado a um inalcanvel saber. Essa dico-

    tomia no cabe em nossos tempos: a infor-

    mao est disponvel a qualquer instante,

    em tempo real, ao toque de um dedo, e o co-

    nhecimento constitui-se como uma ferramen-

    ta para articular teoria e prtica, o mundial e

    o local, o abstrato e seu contexto fsico.

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

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    Apresentao

    Currculo a expresso de tudo o que

    existe na cultura cientfica, artstica e huma-

    nista, transposto para uma situao de apren-

    dizagem e ensino. Precisamos entender que

    as atividades extraclasse no so extracurri-

    culares quando se deseja articular a cultura

    e o conhecimento. Neste sentido todas as

    atividades da escola so curriculares, ou no

    sero justificveis no contexto escolar. Se no

    rompermos essa dissociao entre cultura e

    conhecimento no conseguiremos conectar

    o currculo vida e seguiremos alojando

    na escola uma mirade de atividades cultu-

    rais que mais dispersam e confundem do

    que promovem aprendizagens curriculares

    relevantes para os alunos.

    O conhecimento tomado como ins-

    trumento, mobilizado em competncias,

    refora o sentido cultural da aprendizagem.Tomado como valor de contedo ldico, de

    carter tico ou de fruio esttica, numa es-

    cola com vida cultural ativa, o conhecimento

    torna-se um prazer que pode ser aprendido,

    ao se aprender a aprender. Nessa escola, o

    professor no se limita a suprir o aluno de

    saberes, mas o parceiro de fazeres cultu-

    rais, aquele que promove de muitas formas o

    desejo de aprender, sobretudo com o exem-

    plo de seu prprio entusiasmo pela cultura

    humanista, cientfica, artstica e literria.

    Quando o projeto pedaggico da escola

    tem entre suas prioridades essa cidadania cul-

    tural, o currculo a referncia para ampliar,

    localizar e contextualizar os conhecimentos

    que a humanidade acumulou ao longo do

    tempo. Ento, o fato de uma informao ou

    um conhecimento ser de outro lugar, ou de

    todos os lugares na grande rede de informa-

    o, no ser obstculo prtica cultural re-

    sultante da mobilizao desse conhecimento

    nas cincias, nas artes e nas humanidades.

    III. As competncias como refernciaUm currculo que promove competn-

    cias tem o compromisso de articular as dis-

    ciplinas e as atividades escolares com aquilo

    que se espera que os alunos aprendam ao

    longo dos anos. Logo, a atuao do professor,

    os contedos, as metodologias disciplinares e

    a aprendizagem requerida dos alunos so as-

    pectos indissociveis: compem um sistema ourede cujas partes tm caractersticas e funes

    especficas que se complementam para formar

    um todo, sempre maior do que elas. Maior

    porque se compromete em formar crianas e

    jovens para que se tornem adultos preparados

    para exercer suas responsabilidades (trabalho,

    famlia, autonomia etc.) e para atuar em uma

    sociedade que muito precisa deles.

    Um currculo referido a competncias

    supe que se aceite o desafio de promover os

    conhecimentos prprios de cada disciplina ar-

    ticuladamente s competncias e habilidades

    do aluno. com essas competncias e habi-

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

    14

    Apresentao

    lidades que ele contar para fazer sua leitura

    crtica do mundo, para compreend-lo e pro-

    por explicaes, para defender suas idias e

    compartilhar novas e melhores formas de ser,

    na complexidade em que hoje isso reque-

    rido. com elas que, em sntese, ele poder

    enfrentar problemas e agir de modo coerente

    em favor das mltiplas possibilidades de solu-

    o ou gesto.

    Tais competncias e habilidades podem

    ser consideradas em uma perspectiva geral,

    isto , no que tm de comum com as discipli-

    nas e tarefas escolares, ou ento no que tm

    de especfico. Competncias, neste sentido,

    caracterizam modos de ser, raciocinar e inte-

    ragir que podem ser depreendidos das aes

    e das tomadas de deciso em contextos de

    problemas, tarefas ou atividades. Graas a

    elas podemos inferir se a escola como insti-tuio est cumprindo bem o papel que se

    espera dela no mundo de hoje.

    Os alunos considerados nesta pro-

    posta tm, de modo geral, de 11 a 18 anos

    de idade. Valorizar o desenvolvimento de

    competncias nesta fase da vida implica

    em ponderar, alm de aspectos curricula-

    res e docentes, os recursos cognitivos, afe-

    tivos e sociais de que os alunos dispem.

    Implica, pois, em analisar como o professor

    mobiliza contedos, metodologias e sabe-

    res prprios de sua disciplina ou rea de

    conhecimento, visando desenvolver com-

    petncias em adolescentes, bem como ins-

    tigar desdobramentos para a vida adulta.

    Paralelamente a essa conduta, preciso

    considerar quem so esses alunos. Ter entre 11

    e 18 anos significa estar em uma fase peculiar

    da vida, localizada entre a infncia e a idade

    adulta. Neste sentido, o jovem aquele que

    deixou de ser criana e se prepara para tornar-

    se adulto. Trata-se de um momento complexo e

    contraditrio, que deve orientar nossa propos-

    ta sobre o papel da escola nessa fase de vida.

    Nessa etapa curricular, a trade sobre a

    qual competncias e habilidades so desen-

    volvidas pode ser assim caracterizada: a) o

    adolescente e as caractersticas de suas aes

    e pensamentos; b) o professor, suas caracte-

    rsticas pessoais e profissionais e a qualidade

    de suas mediaes; e c) os contedos das dis-ciplinas e as metodologias para seu ensino e

    aprendizagem.

    Houve um tempo em que a educao

    escolar era referenciada no ensino o plano

    de trabalho da escola indicava o que seria

    ensinado ao aluno. Essa foi uma das razes

    pelas quais o currculo escolar foi confundi-

    do com um rol de contedos disciplinares. A

    Lei de Diretrizes e Bases LDB (lei 9394/1996)

    deslocou o foco do ensino para o da apren-

    dizagem, e no por acaso que sua filosofia

    no mais a da liberdade de ensino, mas a do

    direito de aprender.

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

    1

    Apresentao

    O conceito de competncias tambm

    fundamental na LDB e nas Diretrizes e Pa-

    rmetros Curriculares Nacionais, elaboradas

    pelo Conselho Nacional de Educao e pelo

    Ministrio da Educao. O currculo referen-

    ciado em competncias uma concepo

    que requer que a escola e o plano do profes-

    sor indiquem o que aluno vai aprender.

    Uma das razes para se optar por

    uma educao centrada em competncias

    diz respeito democratizao da escola. No

    momento em que se conclui o processo de

    universalizao do Ensino Fundamental e se

    incorpora toda a heterogeneidade que ca-

    racteriza o povo brasileiro, a escola, para ser

    democrtica, tem de ser igualmente acessvel

    a todos, diversa no tratamento de cada um e

    unitria nos resultados.

    Dificilmente essa unidade seria obtida

    com nfase no ensino, porque quase im-

    possvel, em um pas como o Brasil, estabe-

    lecer o que deve ser ensinado a todos, sem

    exceo. Por isso optou-se por construir a

    unidade com nfase no que indispensvel

    que todos tenham aprendido ao final do pro-

    cesso, considerando a diversidade. Todos tm

    direito de construir, ao longo de sua escolari-

    dade, um conjunto bsico de competncias,

    definido pela lei. Este o direito bsico, mas

    a escola dever ser to diversa quanto so os

    pontos de partida das crianas que recebe.

    Assim, ser possvel garantir igualdade de

    oportunidades, diversidade de tratamento e

    unidade de resultados. Quando os pontos

    de partida so diferentes, preciso tratar

    diferentemente os desiguais para garantir a

    todos uma base comum.

    Pensar o currculo no tempo atual

    viver uma transio, na qual, como em toda

    transio, traos do velho e do novo se mes-

    clam nas prticas cotidianas. comum que o

    professor, quando formula o seu plano de tra-

    balho, indique o que vai ensinar e no o que

    o aluno vai aprender. E compreensvel nesse

    caso que, ao final do ano, tendo cumprido

    seu plano, ele afirme, diante do fracasso do

    aluno, que fez sua parte, ensinando, e que foi

    o aluno que no aprendeu.

    A transio da cultura do ensino

    para a da aprendizagem no individual.A escola deve faz-la coletivamente, ten-

    do frente seus gestores para capacitar os

    professores em seu dia-a-dia, a fim de que

    todos se apropriem dessa mudana de foco.

    Cabe s instncias condutoras da poltica

    educacional nos estados e nos municpios ela-

    borar, a partir das Diretrizes e dos Parmetros

    Nacionais, Propostas Curriculares prprias e

    especficas, prover os recursos humanos, tc-

    nicos e didticos para que as escolas, em seu

    projeto pedaggico, estabeleam os planos

    de trabalho que, por sua vez, faro das pro-

    postas currculos em ao como no presente

    esforo desta Secretaria.

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

    16

    Apresentao

    IV. Prioridade para a competncia daleitura e da escrita

    A humanidade criou a palavra, que

    constitutiva do humano, seu trao distin-

    tivo. O ser humano constitui-se assim um

    ser de linguagem e disso decorre todo o

    restante, tudo o que transformou a huma-

    nidade naquilo que . Ao associar palavras

    e sinais, criando a escrita, o homem cons-

    truiu um instrumental que ampliou expo-

    nencialmente sua capacidade de comuni-

    car-se, incluindo pessoas que esto longe

    no tempo e no espao.

    Representar, comunicar e expressar so

    atividades de construo de significado rela-

    cionadas a vivncias que se incorporam ao

    repertrio de saberes de cada indivduo. Os

    sentidos so construdos na relao entre a

    linguagem e o universo natural e cultural emque nos situamos. E na adolescncia, como

    vimos, que a linguagem adquire essa qualida-

    de de instrumento para compreender e agir

    sobre o mundo real.

    A ampliao das capacidades de re-

    presentao, comunicao e expresso est

    articulada ao domnio no apenas da lngua

    mas de todas as outras linguagens e, princi-

    palmente, ao repertrio cultural de cada in-

    divduo e de seu grupo social, que a elas d

    sentido. A escola o espao em que ocorre

    a transmisso, entre as geraes, do ativo

    cultural da humanidade, seja artstico e li-

    terrio, histrico e social, seja cientfico e

    tecnolgico. Em cada uma dessas reas, as

    linguagens so essenciais.

    As linguagens so sistemas simblicos,

    com os quais recortamos e representamos o

    que est em nosso exterior, em nosso inte-

    rior e na relao entre esses mbitos; com

    eles tambm que nos comunicamos com os

    nossos iguais e expressamos nossa articulao

    com o mundo.

    Em nossa sociedade, as linguagens e os

    cdigos se multiplicam: os meios de comuni-

    cao esto repletos de grficos, esquemas,

    diagramas, infogrficos, fotografias e dese-

    nhos. O design diferencia produtos equivalen-

    tes quanto ao desempenho ou qualidade.

    A publicidade circunda nossas vidas, exigindo

    permanentes tomadas de deciso e fazendouso de linguagens sedutoras e at enigmti-

    cas. Cdigos sonoros e visuais estabelecem a

    comunicao nos diferentes espaos. As ci-

    ncias construram suas prprias linguagens,

    plenas de smbolos e cdigos. A produo

    de bens e servios foi em grande parte au-

    tomatizada e cabe a ns programar as m-

    quinas, utilizando linguagens especficas. As

    manifestaes artsticas e de entretenimento

    utilizam, cada vez mais, diversas linguagens

    que se articulam.

    Para acompanhar tal contexto, a com-

    petncia de leitura e de escrita contemplada

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

    1

    Apresentao

    nesta proposta vai alm da linguagem ver-

    bal, verncula ainda que esta tenha papel

    fundamental e refere-se a sistemas simb-

    licos como os citados, pois essas mltiplas

    linguagens esto presentes no mundo con-

    temporneo, na vida cultural e poltica, bem

    como nas designaes e nos conceitos cien-

    tficos e tecnolgicos usados atualmente. A

    constituio dessa competncia tem como

    base o desenvolvimento do pensamento

    antecipatrio, combinatrio e probabilstico

    que permite estabelecer hipteses, algo que

    caracteriza o perodo da adolescncia.

    A prioridade das linguagens no curr-

    culo da educao bsica tem como funda-

    mento a centralidade da linguagem no de-

    senvolvimento da criana e do adolescente.

    Nas crianas a linguagem, em suas diversas

    expresses, apenas um recurso simblico,ou seja, permite representar ou comunicar

    contedos cujas formas, elas mesmas, no

    podem ser estruturadas como linguagem.

    Nessa fase, tais formas so as prprias aes

    e os pensamentos, organizados como es-

    quemas de procedimentos, representaes e

    compreenses. Ou seja, as crianas realizam

    e compreendem ao falar, pensar ou sentir,

    mas no sabem ainda tratar o prprio agir,

    pensar ou sentir como uma forma de lingua-

    gem. s na adolescncia que isso se tor-

    nar possvel e transformar o ser humano

    em um ser de linguagem, em sua expresso

    mais radical.

    A linguagem no apenas uma forma

    de representao, como expressam, por seus

    limites, as crianas. Mais do que isso, ela

    uma forma de compreenso e ao sobre o

    mundo. isso o que os adolescentes, com to-

    dos os seus exageros, manifestam. Graas

    linguagem, o pensamento pode se tornar an-

    tecipatrio em sua manifestao mais comple-

    ta: possvel calcular as conseqncias de uma

    ao sem precisar realiz-la. Pode-se ainda fa-

    zer combinaes e analisar hipteses sem pre-

    cisar conferi-las de antemo, na prtica, pois

    algumas de suas conseqncias podem ser

    deduzidas apenas pelo mbito da linguagem.

    Pode-se estabelecer relaes de relaes, isto

    , imaginar um objeto e agir sobre ele, deci-

    dindo se vale a pena ou no interagir com ele

    em outro plano. Em outras palavras, graas

    linguagem, agora constituda como forma de

    pensar e agir, o adolescente pode raciocinarem um contexto de proposies ou possibili-

    dades, pode ter um pensamento combinat-

    rio, pode aprender as disciplinas escolares em

    sua verso mais exigente, pode refletir sobre

    os valores e fundamentos das coisas.

    Do ponto de vista social e afetivo, a

    centralidade da linguagem nos processos de

    desenvolvimento possibilita ao adolescente

    aprender, pouco a pouco, a considerar suas

    escolhas em uma escala de valores. Viabiliza-

    lhe aprender a enfrentar as conseqncias

    das prprias aes, a propor e alterar contra-

    tos, a respeitar e criticar normas, a formular

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

    18

    Apresentao

    seu prprio projeto de vida e a tecer seus so-

    nhos de transformao do mundo.

    , portanto, em virtude da centralidade

    da linguagem no desenvolvimento da criana

    e do adolescente que esta Proposta Curricular

    prioriza a competncia leitora e escritora.

    S por meio dela ser possvel concretizar a

    constituio das demais competncias, tanto

    as gerais como aquelas associadas a discipli-

    nas ou temas especficos. Para desenvolv-la

    indispensvel que seja objetivo de aprendi-

    zagem de todas as disciplinas do currculo, ao

    longo de toda a escolaridade bsica.

    Por esse carter essencial da competn-

    cia de leitura e escrita para a aprendizagem

    dos contedos curriculares de todas as reas e

    disciplinas, a responsabilidade por sua aprendi-

    zagem e avaliao cabe a todos os professores,que devem transformar seu trabalho em opor-

    tunidades nas quais os alunos possam aprender

    e consolidar o uso da Lngua Portuguesa e das

    outras linguagens e cdigos que fazem parte

    da cultura, bem como das formas de comuni-

    cao em cada uma delas. Tal radicalismo na

    centralidade da competncia leitora e escritora

    leva a coloc-la como objetivo de todas as sries

    e todas as disciplinas. Desta forma, coloca aos

    gestores (a quem cabe a educao continuada

    dos professores na escola) a necessidade de criar

    oportunidades para que os docentes tambm

    desenvolvam essa competncia por cuja cons-

    tituio, nos alunos, so responsveis.

    Por fim, importante destacar que o

    domnio das linguagens representa um pri-

    mordial elemento para a conquista da au-

    tonomia, sendo a chave para o acesso a in-

    formaes e permitindo a comunicao de

    idias, a expresso de sentimentos e o dilo-

    go, necessrios negociao dos significados

    e aprendizagem continuada.

    V. Articulao das competncias paraaprender

    A aprendizagem o centro da atividade

    escolar. Por extenso, o professor caracteriza-se

    como um profissional da aprendizagem e no

    tanto do ensino. Isto , ele apresenta e explica

    contedos, organiza situaes para a aprendi-

    zagem de conceitos, mtodos, formas de agir

    e pensar, em suma, promove conhecimentos

    que possam ser mobilizados em competnciase habilidades, as quais, por sua vez, instrumen-

    talizam os alunos para enfrentar os proble-

    mas do mundo real. Dessa forma, a expresso

    educar para a vida pode ganhar seu sentido

    mais nobre e verdadeiro na prtica do ensino.

    Se a educao bsica para a vida, a quanti-

    dade e a qualidade do conhecimento tm de

    ser determinadas por sua relevncia para a vida

    de hoje e do futuro, alm dos limites da escola.

    Portanto, mais que os contedos isolados, as

    competncias so guias eficazes para educar

    para a vida. As competncias so mais gerais

    e constantes, e os contedos, mais especfi-

    cos e variveis. exatamente a possibilidade

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

    1

    Apresentao

    de variar os contedos no tempo e no espao

    que legitima a iniciativa dos diferentes sistemas

    pblicos de ensino para selecionar, organizar

    e ordenar os saberes disciplinares que serviro

    como base para a constituio de competn-

    cias, cuja referncia so as diretrizes e orienta-

    es nacionais, de um lado, e as demandas do

    mundo contemporneo, de outro.

    As novas tecnologias da informao

    produziram uma mudana na produo, na

    organizao, no acesso e na disseminao do

    conhecimento. A escola hoje j no mais a

    nica detentora da informao e do conhe-

    cimento, mas cabe a ela preparar seu aluno

    para viver em uma sociedade em que a infor-

    mao disseminada em grande velocidade.

    Vale insistir que essa preparao no

    exige maior quantidade de ensino e sim me-lhor qualidade de aprendizagem. preci-

    so deixar claro que isso no significa que os

    contedos do ensino no sejam importantes;

    ao contrrio, so to importantes que a eles

    est dedicado este trabalho de elaborao da

    Proposta Curriculardo ensino oficial do Esta-

    do de So Paulo. So to decisivos que in-

    dispensvel aprender a continuar aprendendo

    os contedos escolares, mesmo fora da esco-

    la ou depois dela. Continuar aprendendo a

    mais vital das competncias que a educao

    deste sculo precisa desenvolver. No s os

    conhecimentos com os quais a escola traba-

    lha podem mudar, como a vida de cada um

    trar novas nfases e necessidades, que preci-

    saro ser continuamente supridas. Preparar-se

    para acompanhar esse movimento torna-se o

    grande desafio das novas geraes.

    Esta Proposta Curricular adota, como

    competncias para aprender, aquelas que

    foram formuladas no referencial terico do

    Enem Exame Nacional do Ensino Mdio.

    Entendidas como desdobramentos da com-

    petncia leitora e escritora, para cada uma

    das cinco competncias do Enem transcritas a

    seguir, apresenta-se a articulao com a com-

    petncia de ler e escrever.

    I. Dominar a norma culta da Lngua Portu-

    guesa e fazer uso das linguagens matem-

    tica, artstica e cientfica. A constituio da

    competncia de leitura e escrita tambm o

    domnio das normas e dos cdigos que tor-nam as linguagens instrumentos eficientes

    de registro e expresso, que podem ser com-

    partilhados. Ler e escrever, hoje, so compe-

    tncias fundamentais a qualquer disciplina

    ou profisso. Ler, entre outras coisas, in-

    terpretar (atribuir sentido ou significado), e

    escrever, igualmente, assumir uma autoria

    individual ou coletiva (tornar-se responsvel

    por uma ao e suas conseqncias).

    II. Construir e aplicar conceitos das vrias reas

    do conhecimento para a compreenso de

    fenmenos naturais, de processos histrico-

    geogrficos, da produo tecnolgica e das

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

    20

    Apresentao

    manifestaes artsticas. o desenvolvi-

    mento da linguagem que possibilita o ra-

    ciocnio hipottico-dedutivo, indispensvel

    compreenso de fenmenos. Ler, nesse

    sentido, um modo de compreender, isto ,

    de assimilar experincias ou contedos disci-

    plinares (e modos de sua produo); escrever

    expressar sua construo ou reconstruo

    com sentido, aluno por aluno.

    III. Selecionar, organizar, relacionar, interpre-

    tar dados e informaes representados de

    diferentes formas, para tomar decises e

    enfrentar situaes-problema. Ler implica

    tambm alm de empregar o raciocnio

    hipottico-dedutivo, que possibilita a com-

    preenso de fenmenos antecipar, de

    forma comprometida, a ao para intervir

    no fenmeno e resolver os problemas de-

    correntes dele. Escrever, por sua vez, sig-nifica dominar os muitos formatos que a

    soluo do problema comporta.

    IV. Relacionar informaes, representadas

    em diferentes formas, e conhecimentos

    disponveis em situaes concretas, para

    construir argumentao consistente. A

    leitura, aqui, sintetiza a capacidade de

    escutar, supor, informar-se, relacionar,

    comparar etc. A escrita permite dominar

    os cdigos que expressam a defesa ou a

    reconstruo de argumentos com liber-

    dade, mas observando regras e assumin-

    do responsabilidades.

    V. Recorrer aos conhecimentos desenvolvi-

    dos na escola para elaborar propostas de

    interveno solidria na realidade, respei-

    tando os valores humanos e considerando

    a diversidade sociocultural. Ler, aqui, alm

    de implicar em descrever e compreender,

    bem como em argumentar a respeito de

    um fenmeno, requer a antecipao de

    uma interveno sobre ele, com tomada

    de decises a partir de uma escala de valo-

    res. Escrever formular um plano para essa

    interveno, levantar hipteses sobre os

    meios mais eficientes para garantir resulta-

    dos, a partir da escala de valores adotada.

    no contexto da realizao de projetos esco-

    lares que os alunos aprendem a criticar, res-

    peitar e propor projetos valiosos para toda a

    sociedade; por intermdio deles, aprendem

    a ler e escrever as coisas do mundo atual,

    relacionando aes locais com viso global,por meio de atuao solidria.

    VI. Articulao com o mundo do trabalho

    A contextualizao tem como norte os

    dispositivos da Lei de Diretrizes e Bases, as

    normas das Diretrizes Curriculares Nacionais,

    que so obrigatrias, e as recomendaes dos

    Parmetros Curriculares Nacionais, que fo-

    ram elaborados para o Ensino Mdio mas so

    pertinentes para a educao bsica como um

    todo, sobretudo para o segmento da 5 srie

    em diante. Para isso preciso recuperar alguns

    tpicos desse conjunto legal e normativo.

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

    2

    Apresentao

    Compreenso do significado dascincias, das letras e das artes

    Compreender o sentido reconhecer,

    apreender e partilhar a cultura que envolve as

    reas de conhecimento, um conjunto de con-

    ceitos, posturas, condutas, valores, enfoques,

    estilos de trabalho e modos de fazer que ca-

    racterizam as vrias cincias exatas, sociais

    e humanas , as artes visuais, musicais, do

    movimento e outras , a Matemtica, as ln-

    guas e outras reas de expresso no-verbal.

    Quando a LDB dispe sobre esse objeti-

    vo de compreenso do sentido est indicando

    que no se trata de formar especialistas nem

    profissionais. Especialistas e profissionais de-

    vem, alm de compreender o sentido, domi-

    nar a estrutura conceitual e o estatuto episte-

    molgico de suas especialidades no esse

    o caso dos alunos da educao bsica. Comoesto na escola, preparando-se para assumir

    plenamente sua cidadania, todos devem pas-

    sar pela alfabetizao cientfica, humanista,

    lingstica, artstica e tcnica, para que sua

    cidadania, alm de ser um direito, tenha qua-

    lidade. O aluno precisa constituir as compe-

    tncias para reconhecer, identificar e ter viso

    crtica daquilo que prprio de uma rea de

    conhecimento, e, a partir desse conhecimen-

    to, avaliar a importncia dessa rea ou discipli-

    na em sua vida e em seu trabalho.

    A lei d um prazo generoso para que

    os alunos aprendam o significado das

    cincias, das artes e das letras: comea na

    educao infantil, prossegue nos anos do

    Ensino Fundamental e tem mais trs anos

    no Ensino Mdio. Durante mais de doze

    anos dever haver tempo suficiente para al-

    fabetizar-se nas cincias, nas humanidades e

    nas tcnicas, entendendo seus enfoques

    e mtodos mais importantes, seus pontos

    fortes e fracos, suas polmicas, seus concei-

    tos e, sobretudo, o modo como suas des-

    cobertas influenciam a vida das pessoas e o

    desenvolvimento social e econmico. Para

    isso, importante abordar, em cada ano

    ou nvel da escola bsica, a maneira como

    as diferentes reas do currculo articulam a

    realidade e seus objetos de conhecimento

    especficos, a partir de questes como as

    exemplificadas a seguir.

    Que limitaes e potenciais tm os enfo-

    ques prprios das reas?

    Que prticas humanas, das mais simples

    s mais complexas, tm fundamento ou

    inspirao nessa cincia, arte ou rea de

    conhecimento?

    Quais as grandes polmicas nas vrias dis-

    ciplinas ou reas de conhecimento?

    A relao entre teoria e prtica em cadadisciplina do currculo

    A relao entre teoria e prtica no

    envolve necessariamente algo observvel

    ou manipulvel, como um experimento de

  • 8/2/2019 So Paulo Proposta Curricular

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

    22

    Apresentao

    laboratrio ou a construo de um objeto.

    Tal relao pode acontecer ao se compreen-

    der como a teoria se aplica em contextos reais

    ou simulados. Uma possibilidade de transpo-

    sio didtica reproduzir a indagao de ori-

    gem, a questo ou necessidade que levou

    construo de um conhecimento que j est

    dado e precisa ser apropriado e aplicado, no

    obrigatoriamente ser descoberto de novo.

    A lei determina corretamente que a re-

    lao teoria e prtica se d em cada discipli-

    na do currculo, uma vez que boa parte dos

    problemas de qualidade do ensino decorre da

    dificuldade em destacar a dimenso prtica do

    conhecimento, tornando-o verbalista e abs-

    trato. Por exemplo, a disciplina Histria por

    vezes considerada terica, mas nada to pr-

    tico quanto entender a origem de uma cidade

    e as razes da configurao urbana. A Qumica erroneamente considerada mais prtica por

    envolver atividades de laboratrio, manipula-

    o de substncias e outras idiossincrasias, no

    entanto no existe nada mais terico do que o

    estudo da tabela de elementos qumicos.

    A mesma Qumica que emprega o nome

    dos elementos precisa ser um instrumento

    cognitivo para nos ajudar a entender e, se

    preciso, decidir pelo uso de alimentos com

    agrotxicos ou conservantes. Tais questes

    no se restringem a especialistas ou cientistas.

    No preciso ser qumico para ter de escolher

    o que se vai comer. A fim de sermos cidados

    plenos, devemos adquirir discernimento e co-

    nhecimentos pertinentes para tomar decises

    em diversos momentos, em relao escolha

    de alimentos, uso da eletricidade, consumo

    de gua, seleo dos programas de TV ou a

    escolha do candidato a um cargo poltico.

    As relaes entre educao e tecnologia

    A educao tecnolgica bsica uma

    das diretrizes que a LDB estabelece para orien-

    tar o currculo do Ensino Mdio. A lei ainda

    associa a compreenso dos fundamentos

    cientficos dos processos produtivos com o

    relacionamento entre teoria e prtica em cada

    disciplina do currculo. E insiste quando deta-

    lha, entre as competncias que o aluno deve

    demonstrar ao final da educao bsica, o

    domnio dos princpios cientficos e tecnol-

    gicos que presidem a produo moderna.

    A tecnologia comparece, portanto, no

    currculo da educao bsica com duas acep-

    es complementares: a) como educao

    tecnolgica bsica; b) como compreenso

    dos fundamentos cientficos e tecnolgicos

    da produo.

    A primeira acepo refere-se alfabeti-

    zao tecnolgica, que inclui aprender a lidar

    com computadores, mas vai alm. Alfabetizar-

    se tecnologicamente entender as tecnologias

    da histria humana como elementos da cultu-

    ra, como parte das prticas sociais, culturais e

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

    2

    Apresentao

    produtivas, que por sua vez so inseparveis

    dos conhecimentos cientficos, artsticos e lin-

    gsticos que as fundamentam. A educao

    tecnolgica bsica tem o sentido de nos pre-

    parar para viver e conviver em um mundo no

    qual a tecnologia est cada vez mais presente:

    no qual a tarja magntica, o celular, o cdigo

    de barras e muitos recursos digitais se incorpo-

    ram velozmente vida das pessoas, qualquer

    que seja a sua condio socioeconmica.

    A segunda acepo, ou seja, a com-

    preenso dos fundamentos cientficos e tec-

    nolgicos da produo, faz da tecnologia a

    chave para relacionar o currculo ao mundo

    da produo de bens e servios, ou seja, aos

    processos pelos quais a humanidade e cada

    um de ns produz os bens e servios de que

    necessita para viver. Foi para manter-se fiel

    ao esprito da lei que as DCN introduziram atecnologia em todas as reas, tanto das DCN

    como dos PCN para o Ensino Mdio, evitando

    a existncia de disciplinas tecnolgicas iso-

    ladas e separadas dos conhecimentos que lhe

    servem de fundamento.

    A prioridade para o contexto do

    trabalho

    Se examinarmos o conjunto das reco-

    mendaes j analisadas, o trabalho enquanto

    produo de bens e servios revela-se como a

    prtica humana mais importante para conec-

    tar os contedos do currculo com a realidade.

    Desde sua abertura, a LDB faz referncia ao

    trabalho, juntamente com as prticas sociais,

    como elemento que vincula a educao bsica

    realidade, da Educao Infantil at o final do

    Ensino Mdio. O vnculo com o trabalho carre-

    ga vrios sentidos, que preciso explicitar.

    Do ponto de vista filosfico, expressa

    o valor e a importncia do trabalho. parte

    de qualquer implicao pedaggica relativa a

    currculos e definio de contedos, o valor do

    trabalho incide em toda a vida escolar: desde

    a valorizao dos trabalhadores da escola e

    da famlia, at o respeito aos trabalhadores

    da comunidade, o conhecimento do trabalho

    como produtor da riqueza e o reconhecimento

    de que um dos fundamentos da desigualdade

    social a remunerao injusta do trabalho. A

    valorizao do trabalho tambm uma crti-

    ca ao bacharelismo ilustrado, que por muitotempo predominou nas escolas voltadas para

    as classes sociais privilegiadas.

    A implicao pedaggica desse prin-

    cpio atribui um lugar de destaque para o

    trabalho humano, contextualizando os con-

    tedos curriculares sempre que for pertinen-

    te, com os tratamentos adequados a cada

    caso. Nesse sentido, a relao entre teoria

    e prtica em cada disciplina do currculo,

    como exige a lei, no pode deixar de incluir

    os tipos de trabalho e as carreiras profissio-

    nais aos quais se aplicam os conhecimentos

    das reas ou disciplinas curriculares.

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

    24

    Apresentao

    Em sntese, a prioridade do trabalho

    na educao bsica assume dois sentidos

    complementares: como valor, que imprime

    importncia ao trabalho e cultiva o respei-

    to que lhe devido na sociedade, e como

    tema que perpassa os contedos curricula-

    res, atribuindo sentido aos conhecimentos

    especficos das disciplinas.

    O contexto do trabalho no Ensino Mdio

    A tradio de ensino academicista, des-

    vinculado de qualquer preocupao com a

    prtica, separou a formao geral e a forma-

    o profissional no Brasil. Durante dcadas

    elas foram modalidades excludentes de ensi-

    no. A tentativa da Lei 5692/1971 de unir as

    duas modalidades, profissionalizando todo o

    Ensino Mdio, apenas descaracterizou a for-

    mao geral, sem ganhos significativos paraa profissional.

    Nos dias de hoje, essa separao j

    no se d nos mesmos moldes, porque o

    mundo do trabalho passa por transforma-

    es profundas. medida que a tecnologia

    vai substituindo os trabalhadores por aut-

    matos na linha de montagem e nas tarefas

    de rotina, as competncias para trabalhar

    em ilhas de produo, associar concepo

    e execuo, resolver problemas e tomar de-

    cises tornam-se mais importantes do que

    conhecimentos e habilidades voltados para

    postos especficos de trabalho.

    A LDB adota uma perspectiva sintoni-

    zada com essas mudanas na organizao

    do trabalho ao recomendar a articulao

    entre educao bsica e profissional, quan-

    do afirma, entre as finalidades do Ensino

    Mdio: apreparao bsica para o traba-

    lho e a cidadania do educando, para conti-

    nuar aprendendo, de modo aser capaz de

    se adaptar com flexibilidade a novas con-

    dies de ocupao ou aperfeioamento

    posteriores (grifo nosso). A lei no recu-

    pera a formao profissional para postos

    ou reas especficas dentro da carga hor-

    ria geral do Ensino Mdio, como tentou fa-

    zer a legislao anterior. Mas tambm no

    chancela o carter inteiramente propedu-

    tico que esse ensino tem assumido na edu-

    cao bsica brasileira. Trata-se, portanto,

    de entender o que vem a ser apreparao

    bsica para o trabalho.

    As Diretrizes Curriculares Nacionais

    para o Ensino Mdio interpretaram essa

    perspectiva como uma preparao bsica

    para o trabalho, abrindo a possibilidade de

    que os sistemas de ensino ou as escolas te-

    nham nfases curriculares diferentes, com

    autonomia para eleger as disciplinas espec-

    ficas e suas respectivas cargas horrias den-

    tro das trs grandes reas institudas pelas

    DCN, desde que garantida a presena das

    trs reas. Essa abertura permite que esco-

    las de Ensino Mdio, a partir de um projeto

    pedaggico integrado com cursos de edu-

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

    2

    Apresentao

    cao profissional de nvel tcnico, atribuam

    mais tempo e ateno a disciplinas ou reas

    disciplinares cujo estudo possa ser aprovei-

    tado na educao profissional.

    Para as DCN, o que a lei denomina de

    preparao bsica para o trabalho pode ser

    a aprendizagem de contedos disciplinares

    constituintes de competncias bsicas que

    sejam tambm pr-requisitos de formao

    profissional. Em muitos casos essa opo

    pouparia tempo de estudo para o jovem que

    precisa ingressar precocemente no mercado

    de trabalho. Para facilitar essa abertura, as Di-

    retrizes Curriculares da Educao Profissional

    de Nvel Tcnico flexibilizaram a durao dos

    cursos profissionais desse nvel, possibilitan-

    do o aproveitamento de estudos j realizados

    ou mesmo exerccio profissional prvio. Essas

    duas peas normativas criaram os mecanis-mos pedaggicos que podem viabilizar o que

    foi estabelecido na LDB (lei 9394/1996) e de-

    cretos posteriores.

    A preparao bsica para o trabalho

    em determinada rea profissional, portanto,

    pode ser realizada em disciplinas de for-

    mao bsica do Ensino Mdio. As esco-

    las, nesse caso, atribuiriam carga horria

    suficiente e tratamento pedaggico ade-

    quado s reas ou disciplinas que melhor

    preparassem seus alunos para o curso de

    educao profissional de nvel tcnico es-

    colhido. Essa possibilidade fundamenta-se

    no pressuposto de que nfases curricula-

    res diferenciadas so equivalentes para a

    constituio das competncias previstas na

    LDB, nas DCN para o Ensino Mdio e na

    matriz de competncias do Enem.

    Isso supe um outro tipo de articulao

    entre currculos de formao geral e currculos

    de formao profissional, em que o primeiro

    encarrega-se das competncias bsicas, fun-

    damentando a constituio das mesmas em

    contedos, reas ou disciplinas afinadas coma formao profissional nesse ou em outro n-

    vel de escolarizao. E supe tambm que o

    tratamento oferecido s disciplinas do curr-

    culo do Ensino Mdio no seja apenas prope-

    dutico nem tampouco voltado estreitamente

    para o vestibular.

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

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    rea CNT

    A rea de Cincias da Natureza

    e suas Tecnologias

    1. A presena das Cinciasda Natureza na sociedadecontempornea

    As Cincias da Natureza esto presen-

    tes sob muitas formas na cultura e na vida em

    sociedade, na investigao dos materiais, das

    substncias, da vida e do cosmo. Do mesmo

    modo, elas se associam s tcnicas, tomando

    parte em todos os setores de produo e de

    servios: da agropecuria medicina, da in-

    dstria ao sistema financeiro, dos transportes

    comunicao e informao, dos armamen-

    tos blicos aos aparelhos domsticos. Essa

    associao entre as cincias e as tcnicas,

    que constitui a tecnologia, resultou nas v-rias revolues industriais e integra todas as

    dimenses prticas da vida humana, como

    a extrao e processamento de minrios, a

    produo de energia, a construo civil, a pro-

    duo de alimentos, o envio de mensagens e

    o diagnstico de enfermidades.

    O desenvolvimento cientfico-tecnol-

    gico tem sido to rpido que certos proces-

    sos e equipamentos podem tornar-se ob-

    soletos em poucos anos. Essa corrida pela

    inovao transforma at mesmo algumas

    prticas sociais, como est acontecendo

    com a rpida expanso da telefonia mvel

    e da rede mundial de computadores. Por

    sua vez, as cincias tambm se beneficiam

    do desenvolvimento tecnolgico nas suas

    investigaes, como no lanamento em r-

    bita terrestre de um grande telescpio, ou

    na tomada e no processamento de dados

    cientficos feitos em laboratrios, por equi-

    pamentos informticos.

    As Cincias da Natureza tambm

    tm dimenso filosfica, pois, ao interpre-

    tar eventos da biosfera e compreender a

    evoluo da vida, ou ao observar estrelas e

    galxias e perceber a evoluo do universo,

    elas permitem conjecturar sobre a origem

    e o sentido csmicos atividades que nopassado eram prerrogativa do pensamento

    filosfico. Em contrapartida, para monitorar

    ou controlar o desenvolvimento cientfico-

    tecnolgico, ao investigar a interveno

    humana na biosfera e eventualmente esta-

    belecer seus limites, os instrumentos para

    essa investigao de sentido igualmente

    tico so tambm cientfico-tecnolgicos.

    As cincias so, portanto, base conceitual

    para intervenes prticas que podem ser

    destrutivas como na tecnologia blica ,

    mas tambm promovem valores humanos

    ao fornecerem critrios para a percepo

    crtica e para a interpretao da realidade.

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    Arterea CNT

    Finalmente, as cincias tm grande be-

    leza, por ampliar a viso do mundo natural,

    ao mergulhar nos detalhes moleculares da

    base gentica da vida ou ao revelar a periodici-

    dade de carter quntico das propriedades dos

    elementos qumicos. O mesmo se d em sua

    esttica da simplicidade, em que umas poucas

    leis gerais valem para qualquer processo, como

    o princpio da conservao da energia que se

    aplica ao vo de um colibri ou emisso de luz

    por um tomo. Essa beleza das cincias, ainda

    que menos reconhecida, pode ser comparada

    das artes, no sentido mesmo de fruio, pre-

    cisamente pela associao da cincia ao senti-

    do pragmtico das tecnologias.

    Essa mltipla presena, a intensa produ-

    o e a divulgao de conhecimentos cientficos

    e tecnolgicos demanda de todos ns uma al-

    fabetizao cientfico-tecnolgica. Por exemplo:para saber que uma gua mineral de pH 4,5

    cida; para ler medidas de energia em quilo-

    watt-hora, caloria, joule, e converter uma uni-

    dade na outra; ou para entender argumentos a

    favor e contra a produo de gros transgnicos

    demanda-se um domnio conceitual cientfico

    bsico, mesmo em se tratando de informaes

    usuais presentes em jornais dirios, equipamen-

    tos domsticos e embalagens de alimentos.

    Por isso tudo, jovens que concluem a

    educao de base, preparados para seu de-

    senvolvimento e sua realizao pessoal, devem

    saber se expressar e se comunicar com as lin-

    guagens da cincia e fazer uso de seus conhe-

    cimentos. Dessa forma, podero compreender

    e se posicionar diante de questes gerais de

    sentido cientfico e tecnolgico, e empreender

    aes diante de problemas pessoais ou sociais

    para os quais o domnio das cincias seja es-

    sencial, como ser detalhado a seguir.

    2. A aprendizagem na rea dasCincias da Natureza na educaode base

    Mais do que simples divises do saber,

    as disciplinas em geral so campos de investi-

    gao e de sistematizao dos conhecimentos.

    Algumas delas so milenares, como a Filosofia,

    a Histria e a Fsica. Outras, como a Matemti-

    ca, renem campos igualmente antigos, como

    a Geometria e a lgebra. Outras ainda, como

    a Biologia, so reunies recentes de campostradicionais, como a Botnica, a Zoologia e a

    Histria Natural, aos quais se somaram outros,

    mais contemporneos, como a Gentica.

    Nem sempre se estabelecem fronteiras

    ntidas entre as disciplinas. A Qumica, que

    surgiu h alguns sculos, apresenta interes-

    ses comuns com a Fsica, como a constitui-

    o atmica da matria, e outros em comum

    com a Biologia, como processos bioqumicos

    e o estudo das substncias orgnicas. Todas

    as Cincias da Natureza fazem uso de instru-

    mentais matemticos em seus procedimentos

    de quantificao, anlise e modelagem.

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

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    rea CNT

    A reunio de certos conjuntos de

    disciplinas em reas do conhecimento

    decorrncia natural das referidas frontei-

    ras comuns. No nosso caso, tambm um

    recurso de sentido pedaggico, para expli-

    citar que a aprendizagem disciplinar no

    tem sentido autnomo, mas deve se dar

    em funo dos interesses dos alunos, de

    sua formao geral. Nesse sentido, a rea

    constitui uma pr-articulao de um siste-

    ma mais amplo, o projeto pedaggico de

    escola, em que a proposta curricular orga-

    niza e d razes para a aprendizagem em

    geral, disciplinar ou no.

    O conjunto das Cincias da Natureza

    pode ser tomado como uma das reas do

    conhecimento que organizam a aprendiza-

    gem na educao bsica, pois, ainda que di-

    ferentes cincias, como a Biologia, a Fsica ea Qumica tenham certos objetos de estudo

    e mtodos prprios, tambm tm em co-

    mum conceitos, mtodos e procedimentos,

    critrios de anlise, de experimentao e de

    verificao. Alm disso, elas compem uma

    viso de mundo coerente, um acervo cultural

    articulado e renem linguagens essenciais,

    recursos e valores que se complementam

    para uma atuao prtica e crtica na vida

    contempornea. Com essa compreenso,

    v-se que a articulao numa rea permite

    compreender melhor o papel educacional da

    Biologia, da Fsica ou da Qumica, do que to-

    mar cada disciplina isoladamente.

    No se deve, assim, estranhar que da

    5a 8a srie do Ensino Fundamental as cin-

    cias estejam integradas na mesma disciplina

    escolar, englobando tambm as linguagens

    adequadas para cada faixa etria. Na 5 e

    na 6 srie, a nfase est colocada na re-

    alidade mais imediata do aluno, com suas

    vivncias e percepes pessoais, e tambm

    como tema para exerccio do letramento

    propriamente dito e para o incio da alfabe-

    tizao cientfico-tecnolgica.

    Na 7 e na 8 srie, a nfase j se des-

    loca para temticas mais abrangentes e suas

    interpretaes. Por isso, o corpo humano e

    seus sistemas, o ser humano como partcipe

    da biosfera, as tecnologias de uso cotidiano

    ou as primeiras percepes csmicas da Ter-

    ra no Universo devem ter tratamentos com-

    patveis com a maturidade em cada fase.

    Ao fim do Ensino Fundamental, j

    possvel identificar e qualificar as muitas

    tecnologias presentes na produo indus-

    trial e energtica, agropecuria e extrativa,

    nas comunicaes, no processamento de in-

    formaes, nos servios de sade, nos bens

    de consumo, no monitoramento ambiental

    etc. Praticamente em todos os setores da

    vida em sociedade, dando-se o mesmo foco

    s questes globais, como a dos combus-

    tveis fsseis e dos renovveis, a defesa da

    biodiversidade ou o comprometimento dos

    mananciais de gua.

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

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    Arterea CNT

    J no Ensino Mdio, possvel ousar um

    maior aprofundamento conceitual da rea de

    conhecimento nas trs disciplinas cientficas

    bsicas Biologia, Fsica e Qumica , nas

    quais a especificidade temtica e metodol-

    gica se explicita, permitindo, inclusive, uma

    organizao curricular mais detalhada. Por

    exemplo, na constituio celular ou na inter-

    dependncia das espcies, em Biologia; nas

    ondas eletromagnticas ou na relao traba-

    lho-calor, na Fsica; e na dinmica das reaes

    ou nos compostos orgnicos, na Qumica,

    juntamente com as tecnologias s quais esto

    diretamente relacionados todos esses aspec-

    tos disciplinares. Esse maior aprofundamento

    da disciplina no deve significar qualquer exa-

    gero propedutico, o que pode ser evitado

    quando se explicitam competncias relaciona-

    das ao conhecimento cientfico e aos contex-

    tos reais, geralmente interdisciplinares.

    Voltando a pensar o projeto peda-

    ggico escolar, a rea do conhecimento de

    Cincias da Natureza tem importante inter-

    face com a rea das Cincias Humanas; por

    exemplo, os perodos histricos so pauta-

    dos pelos conhecimentos tcnicos e cient-

    ficos presentes nas atividades econmicas,

    assim como as trocas comerciais, as dispu-

    tas internacionais e os domnios territoriais

    dependem do desenvolvimento das foras

    produtivas, estreitamente associadas aos

    conhecimentos cientficos. Tambm alguns

    campos de investigao cientfica, como os

    da cosmologia e da evoluo, como vimos,

    tm forte apelo e interesse filosfico.

    Da mesma forma, h uma ampla interfa-

    ce com a rea das linguagens e cdigos, pois as

    Cincias da Natureza, de um lado, fazem uso

    de inmeras linguagens e, de outro, constituem

    linguagens elas prprias. Hoje, no sequer

    possvel compreender muitas notcias sem que

    se entendam terminologias cientficas como

    materiais semicondutores, substncias alca-

    linas e gros transgnicos. Essa dimenso

    das cincias como linguagem precisa, assim,

    ser explicitada e trabalhada na sua aprendi-

    zagem escolar, pois constituir a qualificao

    mais continuamente exercida pelos educan-

    dos ao longo de sua vida, qualquer que seja

    sua opo profissional e cultural.

    Enfim, a sociedade atual, diante dequestes como a busca de modernizao

    produtiva, cuidados com o ambiente natural,

    procura de novas fontes energticas, escolha

    de padres para as telecomunicaes, precisa

    lanar mo das cincias como provedoras de

    linguagens, instrumentos e critrios. Por isso,

    a educao de base que se conclui no Ensino

    Mdio deve promover conhecimento cientfi-

    co e tecnolgico para ser apreendido e domi-

    nado pelos cidados como recurso seu, no

    dos outros sejam cientistas ou engenheiros,

    e utilizado como recurso de expresso, instru-

    mento de julgamento, tomada de posio ou

    resoluo de problemas em contextos reais.

  • 8/2/2019 So Paulo Proposta Curricular

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

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    rea CNT

    Competnciasgerais Habilidades gerais e especficas

    Representar.

    Comunicar-se.

    Conviver.

    Ler e expressar-secom textos,cifras, cones,grficos, tabelas efrmulas.

    Converter umalinguagem emoutra.

    Registrarmedidas eobservaes.

    Descreversituaes.

    Planejar e fazerentrevistas.

    Sistematizardados.

    Elaborarrelatrios.

    Participar dereunies.

    Argumentar.

    Trabalhar emgrupo.

    Investigar e intervirem situaes reais.

    Formularquestes.

    Realizarobservaes.

    Selecionar

    variveis.

    Estabelecerrelaes.

    Interpretar,propor e fazerexperimentos.

    Fazer e verificarhipteses.

    Diagnosticare enfrentarproblemas,individualmenteou em equipe.

    Essas expectativas de aprendizagem

    esto expressas na nossa Lei de Diretrizes

    e Bases da Educao (LDB), de 1996, em

    termos de grandes campos de competn-

    cia, como o domnio das formas contem-

    porneas de linguagem ou dos princ-

    pios cientfico-tecnolgicos que presidem

    a produo moderna. Para atender a tal

    orientao, o ensino das Cincias da Natu-

    reza deve buscar compor o desenvolvimen-

    to da cultura cientfica com a promoo de

    competncias mais gerais ou de habilida-

    des mais especficas como as expressas no

    quadro seguinte:

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

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    Arterea CNT

    Enfim, deve assegurar um tipo de ensi-

    no das Cincias da Natureza de forma a ga-

    rantir, na preparao dos jovens no Ensino

    Mdio, uma efetiva apropriao das cincias

    como qualificao pessoal, no simplesmen-

    te como ilustrao cultural.

    Competnciasgerais Habilidades gerais e especficas

    Estabelecerconexes e darcontexto.

    Relacionarinformaes eprocessos comseus contextose com diversasreas deconhecimento.

    Identificardimensessociais, ticase estticasem questestcnicas ecientficas.

    Analisar o papelda cincia eda tecnologiano presente eao longo daHistria

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

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    rea Matemtica

    A Matemtica e as reas do conhecimento

    Em todas as pocas e em todas as

    culturas, a Matemtica e a lngua materna

    constituem dois componentes bsicos dos

    currculos escolares. Tal fato era traduzido,

    em tempos antigos, pela caracterizao da

    funo trplice da escola, como o lugar em

    que se aprenderia a ler, escrever e contar

    o que significava, sinteticamente, uma du-

    pla alfabetizao: no universo das letras

    e no dos nmeros. Naturalmente, h muito

    a alfabetizao que se espera da escola

    teve sua ao ampliada para incorporar o

    interesse pelas mltiplas linguagens pre-

    sentes na sociedade contempornea, que

    se estendem para os universos das cincias

    e das tecnologias, particularmente no que

    se refere s tecnologias informticas.

    Em decorrncia de tais fatos, em

    organizaes curriculares mais recentes,

    como nos Parmetros Curriculares Nacio-

    nais (PCN), um mapeamento do conhe-

    cimento a ser apresentado de maneira

    tanto disciplinada quanto disciplinar na

    escola, surgiram propostas de organizao

    dos contedos em trs grandes reas:

    Linguagens, incluindo-se as lnguas estran-

    geiras, a Educao Fsica e as Artes, como

    diferentes formas de expresso;

    Cincias Humanas, incluindo-se Histria,

    Geografia e, no caso do Ensino Mdio,

    Filosofia;

    Cincias Naturais e Matemtica, uma

    grande rea que no Ensino Mdio inclui

    as disciplinas de Fsica, Qumica, Biologia

    e Matemtica.

    Sempre houve discusses acaloradas

    sobre a possibilidade de a Matemtica ser

    includa na rea de Linguagens, o que fa-

    ria sentido, sem dvida. Afinal, juntamente

    com a Lngua Materna, a Matemtica com-

    pe o par de sistemas simblicos funda-

    mentais para a representao da realidade,

    para a expresso de si e compreenso dooutro, para a leitura, em sentido amplo, de

    textos e do mundo dos fenmenos.

    Entretanto, na organizao final dos

    documentos que integram os PCN, preva-

    leceu a proximidade com as Cincias Na-

    turais. Isso tambm faz sentido, pois estas

    encontram na Matemtica uma lingua-

    gem especialmente apropriada, desde as

    origens da Cincia moderna, com Galileu,

    at Descartes, com seu sonho de expres-

    so de todo conhecimento confivel na

    linguagem matemtica.

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

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    rea Matemtic

    No Estado de So Paulo, nas propostas

    curriculares elaboradas a partir de 1986 e em

    vigor at o presente momento, a Matemtica

    era apresentada como uma rea especfica.

    Tais propostas constituram um esforo expres-

    sivo, e em alguns sentidos pioneiro, na busca

    de uma aproximao entre os contedos es-

    colares e o universo da cultura, especialmente

    no que tange s contextualizaes e busca

    de uma instrumentao crtica para o mundo

    do trabalho. Essa rica herana pedaggica so-

    breviveu a uma avalanche de novidades passa-

    geiras e serve agora de ponto de partida para

    que, incorporadas as necessrias atualizaes,

    novos passos sejam dados para sua efetivao

    nas prticas escolares. Particularmente no que

    tange s reas em que se organiza, a nova

    proposta inspirou-se na anterior, mantendo a

    rea de Matemtica como um terreno espe-

    cfico, distinto tanto das Linguagens quantodas Cincias Naturais.

    Por que uma rea especficapara a Matemtica?

    Trs so as razes principais desta op-

    o. Em primeiro lugar, destaca-se o fato de

    que uma parte da especificidade da Mate-

    mtica resulta esmaecida quando ela agre-

    gada seja ao grupo das linguagens em sen-

    tido amplo, ou seja, ao grupo das cincias.

    A Matemtica compe com a Lngua Ma-

    terna um par fundamental, mas de carter

    complementar: impossvel reduzir um dos

    sistemas simblicos ao outro. Se uma lngua

    se aproximar demasiadamente do modo de

    operar da Matemtica, resultar empobre-

    cida, e o mesmo poderia ocorrer com um

    texto matemtico que assumisse a ambiva-

    lncia, apropriada apenas expresso ling-

    stica. A multiplicidade de sentidos em um

    mesmo elemento simblico ou combinao

    de elementos prpria da lngua natural e

    intencionalmente controlada na expresso

    matemtica. A busca da expresso precisa

    inerente na Matemtica, mas pode empo-

    brecer o uso natural da lngua. No que esta

    no possa ser precisa: ela o exemplarmen-

    te, como bem revela um texto potico, em

    que uma palavra no pode ser substituda

    por um sinnimo sem desmontar o poema.

    Mas existe uma diferena fundamental, irre-

    dutvel, entre a preciso na Lngua e a preci-

    so na Matemtica.

    Em segundo lugar, a incorporao da

    Matemtica rea de Cincias pode dis-

    torcer o fato de que a Matemtica, mesmo

    oferecendo uma linguagem especialmente

    importante e adequada para a expresso

    cientfica, constitui um conhecimento espe-

    cfico da educao bsica. Tal conhecimen-

    to inclui um universo prprio muito rico de

    objetos, instrumentos e interesses, funda-

    mentais tanto para as chamadas Cincias

    Naturais quanto para as Cincias Humanas,

    e ainda para as Linguagens em sentido am-

    plo. A incluso da Matemtica na rea de

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

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    rea Matemtica

    Cincias teve o efeito salutar, no caso dos

    PCN, de minimizar o risco de que o contedo

    matemtico fosse concebido como um fim

    em si mesmo, enfatizando sua condio

    instrumental. Entretanto, a partir da conso-

    lidao da idia de competncias, apresen-

    tada pelo Exame Nacional do Ensino Mdio

    (Enem), tal risco deixou de existir e explicita-

    se com nitidez o que j era apresentado

    tacitamente em propostas anteriores: todos

    os contedos disciplinares, nas diversas re-

    as, so meios para a formao dos alunos

    como cidados e como pessoas. As disci-

    plinas so imprescindveis e fundamentais,

    mas o foco permanente da ao educacio-

    nal deve situar-se no desenvolvimento das

    competncias pessoais dos alunos.

    Em terceiro lugar, o tratamento da Ma-

    temtica como rea especfica pode facilitar aincorporao crtica dos inmeros recursos tec-

    nolgicos de que dispomos para a representa-

    o de dados e o tratamento das informaes,

    na busca da transformao de informao em

    conhecimento. De fato, caso se pretendesse

    caracterizar um novo Trivium (grupo de dis-

    ciplinas constitudo por Lgica, Gramtica e

    Retrica), mais consentneo com as caracte-

    rsticas da sociedade contempornea, certa-

    mente pareceria mais justo incluir a Lngua,

    a Matemtica e a Informtica. E, ainda que

    os computadores sejam hoje instrumentos ab-

    solutamente imprescindveis para jornalistas e

    escritores em geral, no terreno da Matemti-

    ca que se abrem as mais naturais e promissoras

    possibilidades de assimilao dos inmeros re-

    cursos que as tecnologias informticas podem

    oferecer no terreno da Educao.

    Insistimos, no entanto, no fato de que

    a apresentao da Matemtica como uma

    rea especfica no pretende amplificar suas

    supostas peculiaridades nem caracteriz-la

    como um tema excessivamente especializa-

    do ou relevante. Visa apenas a uma explora-o mais adequada de suas possibilidades de

    servir s outras reas, na ingente tarefa de

    transformar a informao em conhecimento

    em sentido amplo, em todas as suas formas

    de manifestao.

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    Proposta Curricular do Estado de So Paulo

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    ArteArterea LCT

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    A rea de Linguagens, Cdigos

    e suas Tecnologias

    A rea de Linguagens, Cdigos e suas

    Tecnologias compreende um conjunto de dis-

    ciplinas: Lngua Portuguesa, Lngua Estrangei-

    ra Moderna (LEM), Arte e Educao Fsica, no

    Ensino Fundamental e no Mdio. Para a rea,

    segundo os Parmetros Curriculares Nacio-

    nais (PCN 2006), a linguagem a capacidade

    humana de articular significados coletivos em

    sistemas arbitrrios de representao, que so

    compartilhados e que variam de acordo com

    as necessidades e experincias da vida em so-

    ciedade. A principal razo de qualquer ato de

    linguagem a produo de sentido.

    Mais do que objetos de conhecimento,

    as linguagens so meios para o conhecimen-to. O homem conhece o mundo atravs de

    suas linguagens, de seus smbolos. medida

    que ele se torna mais competente nas dife-

    rentes linguagens, torna-se mais capaz de co-

    nhecer a si mesmo, assim como a sua cultura

    e o mundo em que vive.

    Nesta perspectiva, trabalha-se, em pri-

    meiro lugar, com a construo do conheci-

    mento: conhecimento lingstico, musical,

    corporal; conhecimento gestual; conheci-

    mento das imagens, do espao e das formas.

    Assim, prope-se uma mudana profunda na

    maneira como as disciplinas da rea devem

    ser examinadas e ensinadas. O conhecimento

    de natureza enciclopdica, sem significao

    prtica, substitudo por contedos e ativi-

    dades que possibilitam no s a interao do

    aluno com sua sociedade e o meio ambien-

    te, mas tambm o aumento do seu poder

    como cidado, propiciando maior acesso s

    informaes e melhores possibilidades de in-

    terpretao das informaes nos contextos

    sociais em que so apresentadas.

    Com tal mudana, a experincia escolar

    transforma-se em uma vivncia que permite ao

    aluno compreender as diferentes linguagens e

    us-las como meios de organizao da realida-

    de, nelas constituindo significados, em um pro-

    cesso centrado nas dimenses comunicativasda expresso, da informao e da argumen-

    tao. Esse processo exige que o aluno anali-

    se, interprete e utilize os recursos expressivos

    da linguagem, relacionando textos com seus

    contextos, confrontando opinies e pontos de

    vista e respeitando as diferentes manifestaes

    da linguagem utilizada por diversos grupos so-

    ciais, em suas esfera de socializao.

    Utilizar-se da linguagem saber colocar-

    se como protagonista do processo de produo/

    recepo. tambm entender os princpios das

    tecnologias da comunicao e da informao,

    associando-os aos conhecimentos cientficos e

    s outras linguagens, que lhes do suporte.

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    rea LCT

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    O ser humano um ser de linguagens,

    as quais so tanto meios de produo da

    cultura quanto parte fundamental da cultura

    humana. Por cultura entendemos a urdidura

    de muitos fios que se interligam constante-

    mente e que respondem s diferentes formas

    com que nos relacionamos com as coisas de

    nosso mundo, com os outros seres huma-

    nos e com os objetos e as prticas materiais

    de nossa vida. Cultura , assim, uma trama

    tecida por um longo processo acumulativo

    que reflete conhecimentos originados da

    relao dos indivduos com as diferentes

    coisas do mundo.

    Somos herdeiros de um longo processo

    acumulativo que constantemente se amplia e

    renova sem anular a sua histria, refletindo,

    dessa forma, o conhecimento e a experin-

    cia adquiridos pelas geraes anteriores. amanipulao adequada e criativa desse patri-

    mnio cultural que possibilita as inovaes e

    as invenes humanas e o contnuo caminhar

    da sociedade.

    Como manifestaes culturais, a Lite-

    ratura e a Arte no devem ser reduzidas

    a meras listagens de escolas, autores e

    suas caractersticas. O ensino de Arte no

    pode equivaler nem ao conhecimento his-

    trico nem mera aquisio de repertrio,

    e muito menos a um fazer por fazer, es-

    pontanesta, desvinculado da reflexo e do

    tratamento da informao. No ensino das

    diversas linguagens artsticas, no se pode

    mais abandonar quer o eixo da produo

    (eixo potico), quer o da recepo (eixo es-

    ttico), quer o da crtica.

    Da mesma maneira, a Educao Fsi-

    ca compreende o sujeito mergulhado em

    diferentes realidades culturais, nas quais

    esto indissociados corpo, movimento e

    intencionalidade. Ela no se reduz mais ao

    condicionamento fsico e ao