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    APRESENTAO

    O objetivo deste trabalho investigar como foiconstrudo, entre os sculos I ao III d.C., umprocesso de relao e interao entre dois grandesimprios antigos, Roma e a China an, centrosgeradores de poder capa!es de organi!ar umsistema de comunicao e comrcio "ueatravessava toda a #sia e "ue se manifestavaplenamente na estruturao de suas economias e

    sociedades, configurando de uma formacompletamente nova as rela$es polticas "ueabrangiam diversas sociedades da %ntig&idade.

    'sta relao teve alguns antecedentes hist(ricos,como veremos adiante, mas ela se consolida defato na poca "ue buscamos analisar. )al fato sedeve, provavelmente, a estabilidade poltica e

    econ*mica "ue se desenvolve no perodo, "uandoambas as civili!a$es se achavam consolidadas emsuas foras. +... -as o "ue caracteri!ou essainterao, e por"ue ela ocorria Como ela se deu%s respostas podem ser encontradas nadocumentao antiga, mediante uma dissecaoapurada/ em variados trechos vemos aparecer,tanto nas fontes romanas "uanto nas chinesas,men$es sobre o outro, a"uele "ue durante um

    http://rotasdomundoantigo.blogspot.com/2007/07/apresentao.htmlhttp://rotasdomundoantigo.blogspot.com/2007/07/apresentao.html
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    bom tempo foi negligenciado pelos tradicionaisestudos ocidentais. 'ste outro o estrangeiro,a"uele cujo povo envia ou recebe gente e produtos,"ue se destaca pela sua diferena, e "ue por elafica sendo conhecido. 0o caso dos romanos, v1riosso os povos estrangeiros "ue esto alm do limes2e os chineses so um deles. Igualmente, veremosnos documentos orientais men$es sobre osindianos, os partos e a"ueles "ue nos interessamtanto "uanto interessavam aos antigos/ osromanos3 %parentemente todas estas sociedades j1

    se conheciam de alguma forma, mas este t(picono parece ter despertado grande interessehist(rico para a maior parte dos especialistas atento.

    4ara e5plicar essa relao 6 e para retir16la doterreno do acaso 6 temos "ue lanar mo, porm,de algumas indaga$es fundamentais, j1 citadas

    anteriormente/ como se dava essa interao 'm"ue nvel ocorria 7ual sua funo poltica eecon*mica Como se desdobrava no meio social8amos buscar responder uma a uma estas"uest$es.

    -as...9eja :em 8indo ao meu ;ivro sobre as Rotasdo -undo %ntigo3 )odo o material a"ui presente fa!

    parte da minha dissertao de -estrado defendidana ??>. 8oc@ encontrar1informa$es sobre as rotas da seda, sistemamundial, China, Roma, o intercAmbio entrecivili!a$es do mundo antigo e suas trocas culturaise materiais.

    'spero "ue voc@s aproveitem a 8isita3 7ual"uerdBvida, entrem em contato comigo ou d@em uma

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    configurando de uma forma completamente nova as

    rela$es polticas "ue abrangiam diversas sociedades da

    %ntig&idade.

    'sta relao teve alguns antecedentes hist(ricos, como

    veremos adiante, mas ela se consolida de fato na poca "ue

    buscamos analisar. )al fato se deve, provavelmente, a

    estabilidade poltica e econ*mica "ue se desenvolve no

    perodo, "uando ambas as civili!a$es se achavam

    consolidadas em suas foras. H neste momento, por

    e5emplo, "ue vamos ter o desenvolvimento completo da

    rota da seda, "ue foi oficialmente organi!ada e controladaalgumas dcadas antes pelo imperador chin@s da dinastia

    an Ju Ei+K. -as o "ue caracteri!ou essa interao, e

    por"ue ela ocorria Como ela se deu

    %s respostas podem ser encontradas na documentao

    antiga, mediante uma dissecao apurada/ em variados

    trechos vemos aparecer, tanto nas fontes romanas "uanto

    nas chinesas, men$es sobre o outro, a"uele "ue duranteum bom tempo foi negligenciado pelos tradicionais estudos

    ocidentais. 'ste outro o estrangeiro, a"uele cujo povo

    envia ou recebe gente e produtos, "ue se destaca pela sua

    diferena, e "ue por ela fica sendo conhecido. 0o caso dos

    romanos, v1rios so os povos estrangeiros "ue esto alm

    do limes2 e os chineses so um deles. Igualmente, veremos

    nos documentos orientais men$es sobre os indianos, os

    partos e a"ueles "ue nos interessam tanto "uanto

    interessavam aos antigos/ os romanos3 %parentemente

    todas estas sociedades j1 se conheciam de alguma forma,

    mas este t(pico no parece ter despertado grande interesse

    hist(rico para a maior parte dos especialistas at ento.

    4ara e5plicar essa relao 6 e para retir16la do terreno do

    acaso 6 temos "ue lanar mo, porm, de algumas

    indaga$es fundamentais, j1 citadas anteriormente/ como

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    se dava essa interao 'm "ue nvel ocorria 7ual sua

    funo poltica e econ*mica Como se desdobrava no meio

    social 8amos responder uma a uma estas "uest$es.

    Inicialmente, temos de reconhecer "ue o processo de

    articulao entre as sociedades da %ntig&idade a"ui

    envolvidas se dava atravs do comrcio+>, tendo em vista

    "ue no e5istiam fronteiras comuns entre algumas delas.+L

    'ste comrcio internacional centrava6se no flu5o de

    produtos estrangeiros de lu5o e de alto valor, utili!ados em

    todas as partes do mundo antigo pelas elites locais para

    demonstrar seu prestgio e sua fora econ*mica perantesuas pr(prias sociedades Me no caso de Roma e China,

    tambm, perante as outrasN. 0este ponto somos obrigados

    a contestar a viso de -. =inle, "ue acreditava ser o papel

    do comrcio secund1rio no mundo cl1ssico.+P Com o

    aumento dos empreendimentos ar"ueol(gicos neste campo,

    tem6se mostrado "ue a circulao de mercadorias na

    %ntig&idade era muito maior do "ue a"uela apresentada

    unicamente pelos mercados locais, o "ue contesta a visoao "ual se apegava este autor.+Q

    'sta relao comercial cumpria, como afirmamos, uma

    funo indispens1vel s sociedades da poca/ reprodu!ir as

    desigualdades internas e e5ternas, tanto atravs do controle

    econ*mico da atividade "uanto pela demonstrao de

    prestgio e poder, manifestada pela utili!ao de

    mercadorias e5(ticas e de lu5o. O impressionante nessa

    relao ser1 observar "ue, em "uase todas as partes desse

    mundo antigo, tal pr1tica se reprodu!ia, e muitas ve!es

    mediante a utili!ao de alguns produtos especficos, tais

    como a seda chinesa.

    '5istiam algumas dificuldades nas estruturas deste canal de

    comunicao/ sendo o comrcio feito por terra+S, pela rota

    da seda, ou por via martima, atravs do oceano Dndico+T ,

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    os agentes componentes deste flu5o Mmercadores, produtos,

    informa$esN se viam obrigados a passar por territ(rios cuja

    ordenao e estabilidade poltica eram vari1veis e no

    necessariamente articuladas aos Uinteresses sino6romanosV/

    a 41rtia, por e5emplo, conseguiu a inimi!ade de ambos os

    imprios, tantas foram suas tentativas de controlar este

    flu5o, en"uanto os Wushans do norte da Dndia se mostraram

    menos agressivos e mais diplom1ticos, mandando

    embai5adas tanto para o Ocidente "uanto para o Oriente,

    embora no sculo II j1 estivessem bem enfra"uecidos a

    ponto de aceitar uma presena chinesa mais ativa no seu

    territ(rio. ' podemos, igualmente, falar em interesse sino6romano )alve! sim/ em pe"uenos detalhes da

    documentao, observaremos "ue, por ve!es, os literatos

    chineses projetaram em Roma uma nao ideal2 e os

    romanos viram nos distantes 9ericos uma pot@ncia to forte

    como a sua+X, o "ue nos leva a pensar "ue em alguns

    casos a curiosidade, ajudada pela distAncia, criava o desejo

    do mBtuo conhecimento. -as este desejo aparece sempre

    ligado aos objetos "ue despertam o fascnio um do outro/ asmercadorias de lu5o.

    Observamos, portanto, "ue o comrcio a grande via desta

    relao/ mas como faremos para compreender o seu papel

    de integrao entre as mais diversas sociedades "ue

    compunham o mundo antigo Compartilhando da viso

    relativa teoria Centro 6 4eriferia, entendemos "ue houve a

    construo de uma relao hier1r"uica mut1vel entre as

    regi$es submetidas politicamente ao controle dos centros de

    poder MRoma e ChinaN, "ue interagiam neste processo como

    geradoras de e5cedentes negoci1veis e 1reas de consumo,

    alm de atuarem necessariamente como terreno de

    fronteira. 'sse territ(rio, a 4eriferia, era o lugar de encontro

    das rotas comerciais, das feiras, dos povos diferentes/ se

    tomarmos o Imprio romano, por e5emplo, veremos "ue

    uma destas 1reas mais importantes foi a do Oriente

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    4r(5imo, palco de um intenso movimento de luta pelo

    controle dos n(s comerciais "ue atravessavam esta regio

    em torno dos sculos I d.C. ao III d.C.

    % relao de desigualdade e depend@ncia gerada pela

    construo desses imprios em diversas 1reas sistemati!ou

    a organi!ao do modelo Centro 6 4eriferia Mpara a

    %ntig&idadeN de acordo, portanto, com uma srie de

    pressupostos ra!oavelmente definidos "ue condicionavam o

    funcionamento da poltica e da economia das sociedades a

    uma teia de rela$es comple5as e de dinAmica internacional.

    8eremos, mais adiante, a estruturao destes pontos.

    %s considera$es "ue faremos, no entanto, nos permitem

    supor "ue a noo de integrao entre as sociedades da

    %ntig&idade estaria vinculada no somente ao interesse

    poltico, mas tambm, s possibilidades geradas por um

    sistema de poder "ue era capa! de unir as regi$es

    perifricas numa mesma estrutura de funcionamento, o "ue

    terminava por beneficiar, algumas ve!es, 1reas dominadas"ue se viam favorecidas pela entrada de tcnicas e

    investimento romano e chin@s. 0o devemos pensar, no

    entanto, "ue o processo de dominao unidirecional/ como

    bem observa Yardoulias+Z, por ve!es as periferias podiam

    negociar, em certo nvel, sua participao no sistema

    colonial. -as ainda assim estariam sempre, em Bltima

    instAncia, vinculadas aos interesses dos Centros geradores

    de poder2 e as culturas destas metr(poles acabariam sendo,

    assim, o fator determinante de organi!ao das rela$es de

    e5plorao, como veremos adiante.

    6666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666

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    +K O Imperador Ju Ei, de KPK6XT a.C. foi considerado o

    Uinaugurador oficialV da rota da seda por ser um dos

    primeiros soberanos a investir na construo de uma infra6

    estrutura para estas vias comerciais, anteriormente

    desordenadas e espontAneas. 4ara saber mais sobre este

    overnante, pode6se consultar suas biografias no 9hi ji de

    9ima 7ian e no an 9hu de :an u Mdetalhados adiante,

    como veremosN ou ler um resumo de sua vida no livro de

    4%;

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    centroperiferia, sendo "ue suas considera$es parecem ser

    v1lidas igualmente para o nosso trabalho.

    HISTORIOGRAFIA

    Observemos, neste momento, de "ue forma foi elaborada a

    discusso historiogr1fica a respeito do tema.

    4odemos dividir em duas partes o desenvolvimento dos

    estudos em torno das rela$es Roma e China na

    %ntig&idade. Iniciemos pelas "uest$es te(rico 6metodol(gicas.

    0os Bltimos anos, com o surgimento gradual de novas

    descobertas ar"ueol(gicas, alguns setores da ist(ria

    comearam a dedicar mais ateno ao estudo dos contatos

    internacionais em perodos recuados no tempo. %

    investigao desses achados levou parte dos especialistas

    envolvidos a duvidar da compartimentao hist(rica "ueatribumos s civili!a$es mundiais e de sua capacidade

    cultural e produtiva independente e aut(ctone, tendo em

    vista "ue o nvel de trocas entre os setores produtivos da

    sociedade dei5ava parecer "ue e5istiriam contatos profusos

    entre os mais variados povos desde perodos remotos. Isto

    no tirava a originalidade dos mesmos, mas forava os

    pes"uisadores a analisar mais profundamente em "ue

    condi$es temporais e materiais certos processos hist(ricosreali!aram6se, e "ual a sua relao com outros fen*menos

    an1logos.

    O resultado do desenvolvimento desse ponto de vista foi a

    construo do j1 citado modelo Centro4eriferia, articulado

    idia de ciclos hist(ricos nos "uais a presena de Centros

    hegem*nicos organi!aria a estrutura poltica mundial Mou o

    sistema mundialN, no conte5to de pr1ticas colonialistas de

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    diversos nveis e tipos diferenciados.

    Eois grandes representantes dessa linha so I. Jallerstein e

    %ndr under =ranW, "ue construram uma significativa

    parte dos modelos analticos utili!ados pelos adeptos da

    teoria Centro4eriferia+K. % idia de sistema mundial "ue

    iremos utili!ar, porm, a da 'Wholm e =riedman+> em

    conjunto com as proposi$es de Ro\lands+L, "ue se

    encarregou de adaptar esse "uadro te(rico6metodol(gico

    para o conte5to da %ntig&idade, dando condi$es para "ue

    os sistemas imperiais cl1ssicos e o panorama das rela$es

    internacionais na poca pudessem ser entendidos lu!desta linha de trabalho.

    %ssim sendo, a utili!ao desse modelo deu6nos condio de

    articular, de maneira mais efetiva, as informa$es

    disponveis a respeito do sistema Roma China "ue j1

    haviam sido estudadas no campo historiogr1fico e liter1rio.

    Ee fato, algumas pes"uisas em torno do assunto tinhamsido feitas, mas nenhuma de forma plena. irth, autor

    ingl@s do sculo I identificou na documentao chinesa

    refer@ncias aos romanos, mas no se preocupou em

    entender a dinAmica dessa relao, tal como =illio!at, "ue

    na =rana, j1 investigava no incio do algo sobre as

    rela$es entre Ocidente e Oriente na literatura cl1ssica

    greco 6 romana.+P 0esta mesma poca, o ar"ue(logo %urel

    9tein percorreu a rota da seda e fe! inBmeras descobertas

    significativas, algumas at mesmo ligadas "uesto Oriente

    6 Ocidente, mas sem formular nenhum coment1rio mais

    profundo sobre o assunto.+Q 'm KZLZ, =. )eggart+S

    publicou seu livro, no "ual estabelecia uma correlao entre

    o Imprio romano e o Imprio chin@s, tornando6se um

    marco neste campo de estudo. )ais pes"uisas, no entanto,

    caram no v1cuo at a dcada de Q? do sculo , "uando

    outro ingl@s, 9ir -ortimer Jheeler+T, ar"ue(logo

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    especiali!ado na Dndia e no Oriente, levantou alguns dados

    interessantes sobre a "uesto, principalmente em seu livro

    Rome beond the Imperial frontiers, no "ual abordava o

    relacionamento do limes romano com foras e5ternas.

    Citando o comrcio "ue e5istiria entre as na$es do Oriente

    com Roma, este autor retomou a instigante teoria de

    )eggart+X sobre a desestruturao do Imprio Ocidental,

    cujo fundamento seria uma interrupo abrupta das rotas

    "ue abasteciam a 'uropa atravs do Oriente -dio, e "ue

    se ligariam diretamente rota da seda.+Z,

    concreti!aram um grande volume de informao a respeito

    dessas possveis rela$es, mas careciam justamente de um

    modelo te(rico6metodol(gico "ue pudesse p*r ordem em

    seus achados de maneira a criar uma concepo mais

    abrangente e e5plicativa da estrutura de funcionamento

    destes contatos Oriente Ocidente. 4odemos adicionar

    ainda os trabalhos pioneiros de Cimino+KL, inru+KP e

    da"ueles "ue estudaram especificamente a "uesto da rota

    da seda+KQ.

    4or conseguinte, pela fuso destes dados com as

    propostas apresentadas pelas teorias de Centro4eriferia e

    9istema -undial+KS "ue podemos finalmente construir

    nossas hip(teses, e da inferir um modelo apropriado para

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    respond@6las.

    Eevemos, porm, considerar um ponto importante neste

    nosso trabalho. 9e fi!ermos uma an1lise breve dos autores

    "ue abordam a "uesto das rela$es culturais entre as

    civili!a$es antigas, veremos "ue e5istem, em alguns, a

    tend@ncia em caracteri!ar um processo de difuso cultural

    tendo por base a civili!ao "ue o pr(prio pes"uisador

    analisa. %ssim, comum ver sin(logos "ue di!em "ue Uos

    romanos "uase ignoravam os chineses, en"uanto a China

    conhecia ra!oavelmente o OcidenteV+KT, en"uanto alguns

    classicistas simplesmente olham o mundo antigo girando emtorno de Roma e rcia.+KX 0ossa posio, diante destas

    an1lises, "ue cada autor teve um processo de formao

    especfico, o "ue por ve!es no nos os possibilitou de

    fa!erem estudos mais abrangentes sobre certos casos Me o

    "ue, por ve!es, tambm no eram seus objetivos diretosN2

    em segundo lugar, o processo de trocas culturais acabou

    por formar um conjunto sobre o "ual as civili!a$es tinham

    influ@ncia, mas no controle direto. %ssim sendo, detectar aorigem de certos valores ou conceitos interessante, mas

    devemos ter cuidado ao analisa6las, evitando criar

    preconceitos ou processos de hierar"uia cultural err*neos

    Mtais como acreditar "ue a China era UdonaV da rota da

    seda, e5cluindo a participao dos outros centrosN.

    6666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666

    6666666666666

    +K J%;;'R9)'I0, I. )he modern \orld sstem/ capitalist

    agriculture and the origins of the 'uropean \orld econom

    in the si5teenth centur. 0e\ [orW/ %cademic 4ress, KZTP.

    8er tambm =R%0Y, %. . U)he modern \orld sstem

    revisited6rereading :raudel and JallersteinV in

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    9%0E'R9O0, 9. et alli Civili!ations and Jorld 9stem.

    ;ondon/ %ltamira 4ress KZTQ.

    +> 'YO;-, Y. ] =RI'E-%0, ^. UCapitalV imperialism and

    e5ploitation in %ncient Jorld 9stemsV. In =R%0Y, %. . et

    alli )he Jorld sstem/ five hundred ears or five thousand

    ;ondon/ Routledge, KZZL. p. QZ6XK.

    +L Cf. 0ota Q.

    +P IR), =. China and Roman Orient. ;eip!ing, KXXQ e

    =I;;IO_%), ^. ;`Inde vue de Rome. 4aris, :elles ;ettres,KZKZ.

    +Q ?L6>KPN.

    +X )'%R), =., op. cit., p. v65ii Mpref1cioN2 >>Q6>PK.

    +Z Ibidem, 0otas KS e KT.

    +K? Cf. 0ota Q.

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    +KK -%_%'R[, %. publicou v1rios livros e artigos, dos

    "uais utili!amos dois neste trabalho. Cf. 0ota Q.

    +K> Cf. 0otas Q e S.

    +KL CI-I0O, R. 9. et alli %ncient Rome and %ncient India/

    commercial and cultural contacts bet\een the roman \orld

    and India., KZZS.

    +KP I0R

    +KX )al como ;'8'7

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    econ*micas entre Roma e China constituram um ei5o cuja

    importAncia se manifesta no processo de relao das

    estruturas de poder em ambos os imprios, bem como em

    seus espaos internos.

    :uscamos entender, fundamentalmente, a noo de sistema

    mundial, "ue consistiria na integrao de centros geradores

    de poder e cultura com regi$es perifricas, criando uma

    relao de depend@ncia em "ue o papel do comrcio fosse

    importante como integrador poltico e econ*mico atravs da

    circulao de informao e de mercadorias de lu5o "ue

    cumprissem uma funo de peso, monet1ria e socialmente.'ste sistema estaria organi!ado de acordo com os seguintes

    pontos/

    n % 'scala de integrao entre as regi$es no era baseada

    na fronteira fsica, e sim na concepo de interdepend@ncia

    entre as elites.

    n % Integrao se d1 de formas variadas, segundo recursose mtodos de e5plorao.

    n % periferia tambm serve de centro geopoltico,

    reprodu!indo as diretri!es da metr(pole mediante a

    organi!ao dos meios produtivos, da relao de trocas e do

    controle social e administrativo local.

    n Controle politicamente motivado, no "ual a interveno

    econ*mica varia segundo interesses particulares, mas no

    necessariamente articulados ao do 'stado Mo "ue nos

    permite observar as diferenas entre as diversas formas de

    interveno estatais fomentadas por Roma, China, 41rtia e

    Yushana, cada "ual com uma poltica especficaN.

    n Integrao "ue segue um padro desigual, tendo por base

    a superioridade dos interesses do Centro.

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    do centroN e articulando seu funcionamento+S. %s periferias

    so, por conse"&@ncia, os grupos sociais, cidades, regi$es,

    1reas, territ(rios e tribos "ue sofrem alguma espcie de

    ao do centro, seja por sua importAncia estratgica, seja

    por sua pro5imidade geogr1fica. O "ue caracteri!a uma

    periferia a e5ist@ncia de um grupo ou sociedade local "ue

    se articula ao centro hegem*nico por motivos polticos

    Maliana ou dominaoN, econ*micos Mgerao de

    e5cedentes negoci1veis eou consumo de produtos de

    circulao controlada pelo centroN e ainda culturais

    Minflu@ncia de h1bitos, pr1ticas e costumes advindos do

    mesmo centroN+T. 0enhum destes fatores e5clui ou outro,mas ajudam6nos a determinar o grau de importAncia de

    uma periferia dentro do sistema. %pesar de estarem

    tambm inseridas num sistema de relao hier1r"uica, cujos

    procedimentos so, em geral, definidos pelo centro,

    algumas periferias provavelmente possuam uma

    capacidade de negociao maior do "ue outras, fosse pela

    importAncia de sua produo, sua locali!ao geogr1fica,

    etc.+X 0este conte5to, curioso notar "ue a articulaodessas sociedades, fosse com o Imprio romano ou com o

    mundo chin@s, foi respons1vel, s ve!es, por uma

    substancial melhoria material das mesmas, dado "ue foram

    includas em um Ambito de rela$es muito maior do "ue

    a"uele "ue anteriormente possuam.

    'm um nvel de gradao, podemos ainda definir as semi6

    periferias como 1reas "ue sofrem menos interfer@ncia, ou s(

    interfer@ncia ocasional, dos centros geradores de poder.

    9eriam as regi$es "ue possuiriam fronteiras m(veis com os

    limites imperiais tanto de Roma "uanto da China Mmas "ue

    ocasionalmente reali!avam trocas com as periferiasN, no

    possuindo, portanto, uma insero direta no sistema

    mundial mas "ue participavam, ainda assim, do flu5o

    comercial e cultural.

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    criadores de preos. % concorr@ncia s( aparece nos

    mercados criadores de preos. '5istem ainda elementos "ue

    podemos chamar funcionais/ situao geogr1fica, produtos

    "ue so trocados, costumes e leis. 7uanto instituio de

    mercado chamada UpreoV, entende6se como um caso

    especial da categoria das e"uival@ncias2 os preos

    competitivos e, portanto, mut1veis, flutuantes, so

    relativamente recentes em seu aparecimento hist(rico. 0o

    enfo"ue formalista, considera6se o preo como resultado do

    comrcio e da troca e, no, como sua condio. 0a definio

    realista, o preo define rela$es "uantitativas entre

    produtos de diferentes tipos, atingidas mediante escamboou regateio. )rata6se da forma de e"uival@ncia tpica das

    economias integradas por meio da troca. -as as

    e"uival@ncias, em si, no dependem de trocas/ podem ligar6

    se integrao redistributiva.

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    como comrcio de mercado, en"uanto todo dinheiro

    encarado como dinheiro para troca. O mercado aparece

    como instituio geradora de "ue comrcio e dinheiro so

    fun$es.

    %chei "ue seria v1lido citar esta considerao tendo em

    vista "ue, com relao ao tema mercado, nosso trabalho

    pareceu apro5imar6se, num primeiro momento, da idia

    formalista de uma instituio rgida e centrali!adora "ue,

    controlando o flu5o de mercadorias atravs de uma l(gicade trocas definidas pela oferta e procura, acabava por

    determinar tanto o preo "uanto a importAncia das

    mercadorias.

    -. 9ilver discutiu as assertivas de 4olani acerca da

    formao de preos, dos portos de troca e dos centros de

    coleta de ta5as aduaneiras+KP entendendo "ue o mercado

    funcionava, justamente, como um diretor do processo deflu5o comercial, concentrando as atividades de cAmbio e

    produo num Bnico setor das atividades sociais.

    0o entanto, a e5ist@ncia dos mercados, na %ntig&idade, no

    pode ser compreendida por esta l(gica rgida, tendo em

    vista as formas diferenciadas pelo "ual estes se

    organi!avam e se relacionavam com as institui$es polticas

    e sociais. % relao de oferta e procura seria uma das

    formas pela "ual se reali!avam os processos de cAmbio de

    mercadorias, mas no a Bnica2 a busca Mou absoroN de

    produtos de origem estrangeira por motivos ideol(gicos,

    religiosos ou sociais criaria, por e5emplo, demandas "ue

    poderiam corresponder formao de um novo setor do

    mercado, cuja definio de preos seria regulada por

    critrios diferenciados Me no somente pela oferta ou

    procuraN. %lm disso, a via comercial no seria a Bnica

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    forma de troca, tendo em vista "ue polticas de distribuio

    de presentes ou de suborno Mcomo as praticadas pela

    dinastia anN terminavam por interferir no uso do dinheiro e

    na e5ecuo do comrcio, o "ue acabava se manifestando

    na constituio dos preos das mercadorias. %ssim, o

    mercado no pode ser entendido como uma entidade fi5a,

    mas sim como um elemento fle5vel "ue conjuga diversos

    campos das atividades produtivas e culturais de uma ou

    mais sociedades num processo dinAmico de cAmbio, "ue

    sofre a influ@ncia de uma gama variada de fatores polticos,

    econ*micos, sociais e religiosos na definio das formas de

    troca e na constituio dos preos.

    4or conta disso, percebemos "ue as idias formalistas sobre

    preo e mercado no funcionariam de pleno acordo com a

    maneira pelo "ual se desenvolveu o flu5o comercial entre os

    imprios formadores do sistema mundial no perodo

    abordado MI ao III d.C.N. %s formas pelo "ual se

    constituiriam as rela$es de demanda, a regulao de

    preos e a organi!ao de mercados nos permitem supor"ue as sociedades possuam uma influ@ncia definitiva na

    organi!ao destes elementos, e diversas motiva$es

    ideol(gicas, culturais, econ*micas e polticas teriam sido as

    respons1veis pela importAncia "ue o comrcio ad"uiriu, em

    determinado momento, na dinami!ao dos intercAmbios

    entre as sociedades do sistema mundial. )al multiplicidade

    de fatores "ue e5plica, por e5emplo, o interesse

    diferenciado dos governos em interferir ou no nos

    processos econ*micos2 e, da mesma forma, como

    determinadas mercadorias alcanaram um grande valor

    sist@mico no s( atravs da valorao de seus preos, mas,

    tambm, por suas valora$es culturais e polticas.

    % "uesto do valor sist@mico de suma importAncia para

    entender as problem1ticas "ue envolvem as mercadorias de

    circulao internacional. 'le representaria a importAncia Mem

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    termos de valorN de uma determinada mercadoria no

    processo de transao entre duas sociedades. 'ste valor

    seria definido pela conjugao de uma srie de atributos

    econ*micos, culturais e polticos "ue envolvem a produo,

    a troca e a especificidade do produto. 4ara "ue uma

    mercadoria tivesse, portanto, um significativo valor

    sist@mico, era necess1rio "ue ela fosse reconhecida por

    mais de uma civili!ao como um elemento de troca com

    importantes atributos ideol(gicos, culturais e econ*micos.

    0o bastava "ue determinado produto fosse apenas objeto

    de e5portao para alcanar um alto valor sist@mico. 9e

    observarmos o caso do coral mediterrAnico, por e5emplo,veremos "ue ele devia conseguir um bom preo em prata

    nos mercados chineses, mas dentro do pr(prio imprio

    romano ele no possua grande valor, o "ue

    conse"&entemente diminua sua importAncia sist@mica.

    ;ogo, o fato de um produto ser custoso em determinada

    sociedade no o torna, necessariamente, um elemento de

    valor sist@mico/ no entanto, geralmente uma mercadoria de

    grande valor sist@mico acabava, normalmente, atingindo umalto preo, j1 "ue seu consumo estava ligado a grupos

    especficos da sociedade. %ssim, esta valorao sist@mica

    aambarcava tambm o reconhecimento da importAncia

    ideol(gica e cultural de um produto para as sociedades

    envolvidas no processo de troca. O "ue nosso trabalho

    prop$e "ue a elaborao de um sistema mundial na

    %ntig&idade alou um grupo de objetos condio de

    elementos de cAmbio comum, servindo como

    demonstradores de prestgio e poder pelas elites dos centros

    hegem*nicos, ligadas por um sistema de interdepend@ncia

    "ue configurava a ordenao das pr1ticas sociais e polticas

    de poder. ;ogo, estes produtos ad"uiriram um valor

    sist@mico por serem aceitos em todas estas sociedades

    Mtanto centrais como perifricasN de forma semelhante, ou

    seja, como artigos de lu5o importantes para reproduo de

    uma hierar"uia social e para manuteno do consumo

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    conspcuo.

    'ste valor sist@mico nos obriga a fa!er certas considera$es

    sobre a conformao das 1reas envolvidas neste sistema

    mundial/ em primeiro lugar, e5istia a importAncia

    econ*mica da circulao das mercadorias, "ue constituiu um

    fator significativo para a sobreviv@ncia dos imprios da

    China, 41rtia e Yushana, cuja produo em certos nveis era

    sempre problem1tica. % necessidade deste comrcio como

    forma de obter divisas para manter a estrutura destas

    sociedades fica patente na movimentao em torno das

    rotas comerciais no perodo abordado, "uando a pr(priadinastia an incentivou, de forma institucional, a

    distribuio de produtos chineses ao longo da rota da seda,

    assim como no estabelecimento de pontos de comrcio ao

    longo da mesma Mpr1tica essa j1 iniciada com o

    anteriormente citado imperador Ju Ei+KQN. O reino 4arto

    muito provavelmente via a situao de forma semelhante,

    j1 "ue disputava com os romanos o domnio de v1rios

    pontos de encontro de rotas Mn(s comerciaisN, comoobservamos atravs das constantes guerras travadas no

    perodo dos Cl1udios, =l1vios, %ntoninos e 9everos, alm da

    citada pr1tica de dificultar a passagem dos mercadores

    estrangeiros por seu territ(rio2 e por fim, as alfAndegas

    Wushans+KS, bem como as t1buas de trAnsito an+KT so

    uma demonstrao e5ata "ue as ta5a$es e5istiam e "ue o

    fisco era uma forma de acBmulo de capital+KX e5ecutada

    pelas burocracias estatais+KZ.

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    nvel estrutural se reprodu!ia nas desigualdades econ*micas

    e5istentes entre 1reas mais ricas e periferias2 em ambos os

    casos, a pujana material servia para identificar os

    detentores do poder.

    'ssa situao fica bem marcada com a adoo por %ugusto,

    por e5emplo, da seda pBrpura imperial, smbolo de ri"ue!a

    e cuja cor carregava atributos de poder no Ocidente, tal

    como no Oriente era a cor de reis.

    Conse"&entemente, estabelece6se a um di1logo material

    entre dominado e dominador, no "ual a apresentao dosartigos estrangeiros funciona no s( como demarcador

    social, mas tambm como fonte de ri"ue!a, rentabilidade e

    segurana, estabelecendo para o comrcio internacional

    MespecificamenteN um patamar de aceitao diferente do

    comrcio local, apesar da proposta de =inle+>? lhes

    atribuir importAncias menores em relao as outras

    atividades produtivas e de acumulao da poca. 'm

    compensao, se podemos observar "ue no Imprio romanoo comrcio no era algo limitado e restrito, e sim, uma

    pr1tica de nveis diferenciados, na China a mentalidade

    institucional+>K estimulava6o como forma de reali!ao

    material e como parte integrante da estrutura social

    e5istente. ', como se observou, a dinastia an empregou

    tambm os produtos estrangeiros como smbolos de

    prestgio, o "ue denotava a e5ist@ncia de uma pr1tica

    comum do consumo conspcuo na %ntig&idade como

    reprodutora de estruturas sociais.

    4odemos, ento, constituir nosso modelo de investigao

    atravs dos a5iomas apresentados. )emos, portanto, a

    noo do sistema mundial atravs de um conjunto de

    rela$es "ue articulam os Centros e 4eriferias, integrando6

    os numa estrutura relacional em "ue o valor sist@mico das

    mercadorias se torna um fator de articulao atravs de sua

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    importAncia como reprodutor de diferencia$es sociais e

    ideol(gicas, vinculadas, por conseguinte, formao de um

    mercado de produtos de prestgio intrinsecamente

    relacionados ao comrcio internacional, cujo papel de

    ligao entre esses grupos se manifesta na sua

    movimentao poltica, econ*mica e cultural.

    %ssim, partindo dos princpios indicados, voltamos

    documentao para identificar as fontes "ue fundamentam

    nossa pes"uisa. 0o entanto, necess1rio organi!ar esse

    material, tendo em vista sua multiplicidade e diferenciao.

    =16lo6emos na pr(5ima parte, dedicada e5clusivamente an1lise e a apresentao das fontes.

    6666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666

    6666666666666

    +K ROJ;%0E9, -., op. cit., p.K6KZ.

    +> 'stes a5iomas t@m por base o te5to de ROJ;%0E9, -.

    UCenter and 4eripher/ a revie\ of conceptV in ROJ;%0E9,

    -. et alli Center and 4eripher in the %ncient Jorld.

    Cambridge/ Cambridge

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    alli Center and 4eripher in %ncient Jorld. Cambridge/

    Cambridge 9I;8'R, -., op. cit., p. ZQ6KQL e KQL KTZ.

    +KL Cf. 0ota LT.

    +KP 9I;8'R, -., op. cit., p. ZT K?L.

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    +KQ Cf. 0ota K.

    +KS J'';'R, -. op. cit., p.KX>6>?T.

    +KT Cf. ;O'J', -. Records of an %dministration.

    Cambridge/ Cambridge

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    anN e finalmente o [antienlum, ou )ratado do sal e do

    ferro Mao "ual nos remeteremos mais adianteN.

    DOCUMENTAO

    8amos analisar as fontes, e entender de "ue modo elas

    fundamentam nossos conceitos b1sicos.

    % princpio, entendemos "ue fosse ade"uado dividir nosso

    corpus em grupos especficos de fontes, conte5tuali!ando6as

    segundo o g@nero. 'ssa classificao foi necess1ria por"ues( no caso romano, por e5emplo, encontramos tr@s tipos de

    documentao diferentes, sem contar seus aspectos

    temporais/ temos 4lnio, O 8elho,+K e seu livro ist(ria

    0atural, junto com os %nais de )1cito e a Res estae de

    %ugusto includos no g@nero hist(rico2 4tolomeu, 'strabo e

    4omp*nio -ela no grupo dos ge(grafos, e ainda, o dos

    poetas, formado por Ovdio, -arcial e or1cio. %pesar das

    diferenas de conte5to "ue cercam cada uma dessas obras,temos a possibilidade de agrup16las na busca de dados,

    como integrantes dos te5tos "ue sirvam a nossos objetivos.

    Eesta forma, as e5plica$es tcnicas de 4lnio acerca da

    seda so, por e5emplo, complementadas pelas informa$es

    geogr1ficas do grupo de 'strabo, dei5ando a cargo dos

    poetas as informa$es "ue nos transmitem sobre as

    concep$es do imagin1rio romano sobre os 9in, ou 9ericos,

    MchinesesN. )emporalmente, todos os autores situam6se noperodo entre os sculos I a.C. e II d.C.

    %s fontes chinesas constituem um corpo de informa$es de

    diversos tipos, condensado em biografias ou hist(rias.

    4odemos encontrar nas obras de 9ima 7ian Mo 9hi jiN como

    de :an u e =an [e Man 9huN uma redao bem

    documentada, resultante de um trabalho comple5o e

    aprofundado mas, ao mesmo tempo, complementado por

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    indica$es de cunho mitol(gico e mstico. 0o entanto, todas

    essas obras foram patrocinadas e aprovadas pelos governos

    da dinastia an Mcom e5ceo de =an [e, como veremos a

    seguirN e devemos investig16las lu! de sua proced@ncia Ma

    elite, e feitas para a mesmaN, bem como do mtodo

    utili!ado para constitu6las.

    Eevemos por fim definir o "ue podemos utili!ar da"uilo "ue

    foi produ!ido pelos partos, Wushans e sassAnidas, "ue no

    nos legaram muitos escritos, infeli!mente. 9obre a 41rtia e

    o Imprio 9assAnida, temos somente an1lises do material

    ar"ueol(gico e um te5to, produ!ido pelo Bltimo, chamadoYarnamiW I %rdashir, "ue seriam as mem(rias hist(ricas

    do fundador dessa dinastia, %rdashir I+>. 0o entanto, os

    estudos sobre a cultura material desses povos, seus

    vestgios ar"ueol(gicos, estilos artsticos e ar"uitet*nicos,

    nos proporcionam os elementos dos "uais necessitamos

    para concreti!ar nosso trabalho. 0o mais, e5istem tambm

    as refer@ncias encontradas sobre eles na documentao

    romana e chinesa, "ue utili!aremos sempre "ue possvel.

    8amos, ento, analisar mais especificamente as obras "ue

    temos em mos.

    'm primeiro lugar, temos o trabalho do grupo dos

    ge(grafos, representado por 4tolomeu, 'strabo e 4omp*nio

    -ela. O esforo destes tr@s autores em retratar as fronteiras

    "ue envolvem e comp$em o mundo romano foi um fruto

    direto do processo de e5panso "ue o Imprio promoveu ao

    longo dos tr@s sculos a"ui abordados. 9eus mapas indicam

    a presena dos 9in Mou 9eros, 9eres ou 9ericosN na

    geografia e no conhecimento "ue os romanos t@m sobre os

    mesmos. % evoluo das formas de cartografia

    apresentadas por estes autores demonstra uma mudana na

    perspectiva da sociedade imperial romana em compreender

    o mundo sua volta, e5pandindo seus hori!ontes para alm

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    do limes, embora este processo tivesse muito haver com o

    intuito dos romanos em se diferenciarem dos b1rbaros

    mediante a delimitao de suas fronteiras fsicas e culturais.

    'm segundo lugar, temos o grupo representado por

    %ugusto, 4lnio, O 8elho e )1cito, denominado como

    hist(ricos. 0ele inclumos os autores respons1veis pela

    leitura dos eventos sociais e da hist(ria romana, e, apesar

    do te5to de 4lnio ser substancialmente diferente dos outros,

    os trechos a "ue recorreremos em sua ist(ria 0atural

    possuem as caractersticas necess1rias para en"uadra6loneste grupo Mo "ue nos permitiu concluir, portanto, "ue no

    seria preciso criar um novo corpus apenas para abrigar esta

    obraN. %ugusto fe! no seu testamento apenas uma breve

    meno s na$es conhecidas dos romanos, mas "ue nos

    interessa pelos nomes citados, "ue vo at a Dndia. 4lnio,

    no sculo I, escreveu sobre a seda e sua utili!ao na corte

    romana. 9eu objetivo era demonstrar a origem dos produtos

    orientais, descrev@6los e, por fim, criticar a elite romana "ueabusava desses smbolos de prestgio. '5plica6se/ 4lnio era

    adepto das idias de austeridade pregadas por )ibrio e via

    no consumo da"ueles produtos uma forma conden1vel de

    ostentao. Ee 4lnio retiramos os principais achados "ue

    contribuem para nossa idia de "ue esses produtos eram

    empregados para demonstrar poder e status por parte da

    elite, transformando em necessidade a pr1tica do comrcio

    internacional, respons1vel pelo abastecimento desse tipo de

    mercadoria. ^1 )1cito escreve sobre um perodo comple5o,

    em sua viso, "uando o comrcio j1 desenvolvido permeia

    um mundo romano cosmopolita, mosaico de culturas

    abaladas por guerras, conflitos e uma incrvel profuso de

    trocas de informao. O sistema mundial estava, ento,

    modificando6se em toda a sua estrutura, reorgani!ando e

    estabelecendo novas configura$es de funcionamento, cuja

    interdepend@ncia afetava tanto o Ocidente romano "uanto o

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    Oriente chin@s.

    4or fim, temos o grupo da poesia. 'le representa tr@s

    gera$es temporais, convocando nossa leitura a recorrer ao

    imagin1rio constitudo pelos romanos sobre os 9in, ou

    9eros. Com or1cio MSQ6X a.C.N, temos as primeiras notcias

    dos 9in, durante o reinado de %ugusto. Eepois, Ovdio nos

    introdu! no mundo do sculo I, citando por ve!es os

    chineses em suas obras como os fabricantes das sedas

    maravilhosas "ue tanto apeteciam vaidade feminina. ^1

    -arcial reprodu!iu, em seus epigramas, a mentalidade forte

    e con"uistadora "ue atravessava a sociedade romana do I eII sculo/ ele nos apresenta os 9eros como uma pot@ncia

    militar, um imprio poderoso e temvel.

    Eessa forma, temos com estes tr@s grupos de autores a

    possibilidade de cru!ar informa$es e acompanhar, em cada

    conte5to, o processo de desenvolvimento das pr1ticas de

    ostentao, assim como de formao do imagin1rio romano

    acerca dos chineses, manifestao derivada do aumento dainterao entre o Imprio romano e as 1reas perifricas com

    o outro centro de poder da %ntig&idade, a China. 7uanto s

    men$es "ue os mesmos fa!em sobre a 41rtia ou sobre a

    Dndia, n(s as utili!aremos "uando for necess1rio, embora

    este no seja o nosso foco principal. 'm geral, as cita$es

    sobre a 41rtia so bem vivas, dado "ue os romanos se

    envolviam em numerosos processos polticos e econ*micos

    com esta civili!ao. ^1 as refer@ncias sobre os indianos so

    menores, abordando basicamente as rela$es econ*micas e

    fa!endo algumas cita$es sobre sua cultura+L. Os romanos

    no fa!iam muita distino entre os Wushans e os outros

    pe"uenos reinos indianos, relacionando a todos como vindos

    da IndiWa.

    %s fontes chinesas merecem um outro tipo de an1lise

    crtica, no entanto, dada a sua nature!a diferenciada. 'las

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    constituem um conjunto de te5tos de diversos tipos, como

    biografias, hist(rias, escritos tcnicos, geogr1ficos e

    religiosos, permeados de dados msticos e folcl(ricos

    utili!ados em sua composio.

    %ssim, temos de investigar detalhadamente, em meio a

    essa documentao, as partes "ue tratam objetivamente

    das rela$es internacionais, presentes nas biografias e em

    algumas refer@ncias hist(ricas. 0o entanto, esta mesma

    nature!a comple5a das fontes chinesas nos permite apreciar

    uma "uantidade ra!o1vel de impress$es e particularidades

    dos seus contatos com o Ocidente.

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    so preciosas para entender os fundamentos da e5panso

    chinesa para o Ocidente. 9ima 7ian coletou dados em todas

    as partes da China, continuando a tarefa de seu pai, para

    escrever a ist(ria das dinastias chinesas, principalmente a

    an.+Q 'm sua obra, "ue serviria de modelo para todos os

    historiadores posteriores, ele nos conta a construo de

    uma grande China, plena de her(is "ue con"uistam pases e

    povos, com uma cronologia to bem articulada "ue nos

    fornece datas "uase precisas at XPK a.C. M3N+S. 0este

    conte5to, 9ima 7ian nos d1 as primeiras informa$es sobre

    os reinos do Ocidente, como os %n 5i MpartosN e os reinos

    greco6indianos da :actriana.

    'stas cita$es surgem nos primeiros contatos dos an com

    as civili!a$es da #sia central, "uando do estabelecimento

    da rota da seda. Os chineses no tinham uma idia e5ata da

    e5tenso do mundo alm das fronteiras partas, mas

    prov1vel "ue j1 nessa poca tenham sabido da e5ist@ncia

    dos romanos.

    -as so :an u e =an e, autores do an 9hu M%nais da

    dinastia anN, "ue nos contam a hist(ria das primeiras

    tentativas de contato direto entre chineses e romanos

    atravs da ist(ria de :an _hao, e da 8iagem de an [in.

    'stes trechos so pe"uenos, mas significativos Mcom

    e5ceo do e5tenso captulo biogr1fico sobre o general :an

    _hao, her(i da poca, como veremos adianteN. :an Chao MI6

    II d.C.N tornou6se um general famoso "uando foi enviado

    para os e5tremos das fronteiras chinesas an para

    assegurar a defesa da rota da seda, debelando uma revolta

    no )ur"uesto chin@s, fomentando a criao de protetorados

    e postos comerciais e buscando entrar em contato, por via

    diplom1tica, com as na$es do Ocidente+T. ' foi seu

    enviado, an [in, "ue terminou por nos contar suas

    impress$es sobre o mundo do Oeste, embora no tenha

    podido ir alm da 41rtia. :an u e =an [e no s( comentam

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    este epis(dio como, fiis mentalidade estatal, relacionam

    ainda as mercadorias ocidentais e a presena de

    negociantes do Oeste em seu imprio.

    %s fontes chinesas, nesse ponto, so bastante pertinentes/

    elas comprovam, de fato, "ue e5istia um interesse chin@s

    pelo mundo romano, e a compreenso resultante deste fato

    levou os pr(prios chineses, em alguns momentos, a

    parecerem "uerer uma espcie de aliana com os romanos

    contra os partos ou contra os 5iong6nu.

    )emos, porm, de analisar o processo de confeco do an9hu. Inspirado nos mtodos hist(ricos de 9ima 7ian, :an

    u teria comeado a redigir seu livro no sculo I d.C.,

    planejando escrever uma hist(ria e5tensa das dinastias an

    anterior e posterior. '5plica6se a diferena entre as duas

    dinastias/ entre > e >> d.C., um usurpador de nome Jang

    -ang tentou estabelecer uma nova dinastia, tendo no

    entanto falhado em seu intuito, o "ue permitiu a retomada

    do poder pela casa dos an em >>6>L d.C. :an u s(conseguiu redigir sobre o primeiro perodo an, morrendo

    em X> d.C. e foi sua irm, :an _hao+X, "ue continuou o

    trabalho de escrever sobre a dinastia. %lm disso, o an

    9hu foi fi5ado sobre a primeira redao de :an u, o "ue

    fe! com "ue os escritos sobre o general :an Chao Mirmo de

    :an u e :an _haoN no fossem diretamente adicionados ao

    seu conteBdo. 'screvendo sobre a Einastia an %nterior,

    :an u no teve, portanto, a oportunidade de abordar o

    perodo da Einastia an 4osterior. :an _hao continuou,

    porm, a recolher informa$es at morrer em

    apro5imadamente K?> d.C. 4osteriormente, =an [e, nos

    sculos I8 6 8, teria recopilado o an 9hu, denominando6o

    %nais da an %nterior. Os escritos da dinastia an posterior

    foram empregados na confeco de uma obra sua, "ue

    ganhou o nome de ou an 9hu, ou %nais da an posterior.

    Eesta forma, temos um trabalho feito a tr@s mos "ue, no

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    entanto, conseguiu manter uma certa uniformidade.

    'ngajados ideologicamente no discurso confucionista, o an

    9hu e o ou an 9hu so, igualmente, obras de car1ter

    hist(rico com os mesmos tipos de refer@ncia do 9hi ji aos

    ocidentais e aos povos alm da fronteira. %crescentamos a

    esta lista alguns escritos posteriores "ue remetem

    igualmente a poca trabalhada/ o Jei ;u, o ^in 9hu, o ;iang

    9hu e o 9ong 9hu Mprodu!idos entre os sculos I8 e 8I

    d.C.N. 'stes anais, de dinastias ef@meras, cont@m, no

    entanto, preciosas informa$es sobre as rela$es da China

    com o Ocidente e podem ser empregados para observar a

    trajet(ria do raciocnio cultural chin@s diante das civili!a$esdo Oeste. O "ue neles nos interessa um grupo de cita$es

    curtas, algumas at copiadas de documentos mais antigos.

    Outros trechos, porm, indicam as transforma$es no

    processo de relao entre o Ocidente e o Oriente.

    Os te5tos chineses so bastante concisos em suas

    informa$es/ como foi dito, eles so e"uivalentes, em

    conteBdo, aos te5tos do grupo hist(rico da documentaoocidental. Os autores eram precisos "uanto ao conte5to de

    sua poca, determinavam listas dos produtos negociados e,

    ainda, costumavam emitir breves coment1rios Mseus, ou

    talve!, das elites "ue representavamN a respeito da

    recepo "ue as mercadorias tinham em suas sociedades,

    tanto como dos povos "ue as produ!iriam.

    4ara finali!ar as "uest$es sobre a documentao chinesa,

    importante falar tambm sobre o sistema de notao "ue

    empregaremos2 como as fontes a"ui utili!adas no possuem

    uma subdiviso numerada de linhas, versos ou par1grafos

    em seus captulos, tal como encontramos nos te5tos gregos

    e latinos, faremos somente a citao simples de cada

    captulo, j1 "ue os mesmos no contm, em geral, te5tos

    muito e5tensos. 8ale ressaltar "ue muitos destes escritos

    nunca receberam um sistema de numerao formal2 alguns

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    receberam mais de um, e como a escolha de um sistema se

    presta confuso, optei, portanto, pela indicao simples

    dos trechos, tal como encontramos no livro de irth+Z e

    Jatson+K?.

    8ale ressaltar "ue "uase todos os te5tos a"ui presentes em

    grego ou latim foram colhidos em tradu$es "ue contavam

    com a apresentao do te5to original. 0o caso das fontes

    chinesas, a transliterao do an 9hu para o ingl@s uma

    apresentao incompleta do original2 o 9hi ji em ingl@s est1

    completo, e apesar de no contar com o te5to em chin@s,

    seu tradutor, :urton Jatson, um dos mais renomadosespecialistas em lngua chinesa da atualidade, o "ue torna

    sua verso uma fonte confi1vel. 7uanto aos outros te5tos

    Mou an 9hu, Jei ;u, etc.N, o trabalho de =. irth para

    vert@6los ao ingl@s M"ue a verso do "ual dispomosN

    reconhecido com autoridade por todos os sin(logos e

    autores a"ui empregados.

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    com "ue os mesmos se tratem no como periferias, mas

    sim como centros de poder, relegando aos grupos de

    segunda ordem Mpartos, Wushans, etcN e s regi$es

    perifricas o papel de b1rbaros ou de menos civili!adosV.

    Eesta forma, acreditamos ser possvel construir nosso

    trabalho em torno de uma base ra!oavelmente s(lida,

    aplicando os conceitos referidos de acordo com o mtodo de

    an1lise e os dados provenientes das fontes.

    6666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666

    6666666666666

    +K %pesar da obra de 4lnio possuir caractersticas "ue a

    diferenciam em muito dos te5tos de )1cito e %ugusto, decidi

    inclu6la no grupo dos hist(ricos por compreender "ue no

    seria necess1rio criar uma nova categoria para a ist(ria

    0atural, tendo em vista os trechos "ue dela utili!aremos.

    +> Ee fato, a maior parte das refer@ncias te5tuais sobre os

    partos e sassAnidas advm dos te5tos romanos ou chineses.

    O YarnamiW I %rdashir no nos de grande valia no

    caso, no possuindo informa$es significativas para nosso

    trabalho.

    +L )OR;'[, ^. U)he roman empire and the WushansV., op.

    cit., p. KXK6KZ? e CI-I0O, R. U'uropean geographical

    Wno\ledge about India in ancient timesV. Op. cit., p. L6T2

    U)he idea of a universal empire. )he 4a5 %ugustaV. Op. cit.,

    p. K>6KS2 Ueneral references from classical authorsV. Op.

    cit., p. XP6XT in CI-I0O, R. et alli %ncient Rome and India /

    Commercial and Cultural Contacts bet\een the Roman

    Jorld and India, KZZS.

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    cuidado muito grande dos chineses antigos com a "uesto

    das data$es e da continuidade hist(rica.

    +T -OR)O0, J., op. cit., p. TS6X?.

    +X % famlia :an era composta por :an Chao, o general

    famoso, seu irmo historiador :an u e a irm :an _hao,

    escritora e tambm historiadora. O pai, :an :iao, havia sido

    igualmente um renomado literato e poeta em sua poca.

    +Z IR), . China and the Roman Orient, KXXQ.

    +K? 9I-% 7I%0 9hi ji Rceords of the grand historian.

    Columbia/ Columbia

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    como identificador de grupos em Roma e na China, bem

    como em suas depend@ncias, ainda "ue em escalas

    vari1veis nos em nveis c@ntricos "uanto nos nveis

    perifricos.

    H possvel ver, no mundo antigo, a e5ist@ncia de um sistema

    "ue vinculava as sociedades pelo intercAmbio material e

    cultural sistema esse no "ual se observa a manifestao

    de hierar"uias estabelecidas pela diferenciao social e

    econ*mica 6 e legitimadas, por conseguinte, pela

    redistribuio do poder a partir dos Centros hegem*nicos.

    )eria emergido, assim, uma economia de configuraogeogr1fica singular, onde determinados grupamentos ou

    regi$es se encontravam em posio especialmente

    privilegiada, fomentando um processo de polari!ao das

    foras econ*micas e sociais de diversas sociedades. %

    premissa "ue embasa o conceito dessas Ueconomias

    mundiaisV "ue estas se dividem justamente entre centros

    hegem*nicos e 1reas perifricas, no "ual o crescimento

    gradual dos primeiros incorpora paulatina e"ualitativamente as regi$es pr(5imas em um regime de

    rela$es econ*micas desiguais e dominantes.

    %ssim, observamos "ue o perodo compreendido entre os

    sculos I ao III d.C. constituiu6se em poca e5tremamente

    propcia interao entre o Imprio Romano e o Imprio

    an, o "ue buscaremos comprovar a seguir.

    O TEMPO

    O perodo de unificao de parte da 'uropa no sculo I d.C.

    sob a gide de Roma foi definitivo para a consolidao das

    rotas comerciais ligadas ao Oriente. % e5peri@ncia no era

    nova/ %le5andre -agno j1 havia tentando, sculos antes,

    estabelecer algo no g@nero, mas se politicamente sua

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    tentativa de construir um grande imprio foi frustrada, os

    gregos conseguiram criar bases dur1veis para a difuso de

    sua cultura e de seus interesses econ*micos.+K O

    estabelecimento dos reinos gregos da :actriana+> e mesmo

    a influ@ncia de elementos hel@nicos no reino parto so

    mostras da importAncia da cultura grega nestas 1reas+L,

    sem contar as influ@ncias "ue os mesmos legaram arte

    indiana nas escolas de andhara e -athura, aspecto "ue se

    desenvolveria ainda mais com a solidificao da rota da

    seda+P, como veremos mais adiante.

    0o entanto, so os romanos de fato "ue do coeso estrutura do imprio mediterrAneo/ %ugusto MI a.C. I d.C.N

    estende as fronteiras at o Oriente -dio, estabelece as

    periferias romanas nessas 1reas e reformula o sistema

    poltico com o estabelecimento do 4rincipado. O permetro

    constitudo pela 9ria, 4alestina e %rm@nia seria, porm,

    uma 1rea de atrito constante com a periferia dos partos,

    instalados na 4rsia.+QRoma havia conseguido articular um

    territ(rio dividido em provncias cujo trAnsito demercadorias foi favorecido pelo desenvolvimento do

    comrcio, estabilidade poltica e uso da moeda romana.

    %ssim sendo, a difuso de produtos estrangeiros foi

    facilitada entre as elites locais, desejosas de reafirmar seu

    prestgio perante Roma e em suas pr(prias sociedades de

    origem.

    %pesar do seu desenvolvimento nesta poca, este tr1fico

    comercial tem origens anteriores ao Imprio Romano. 4ara

    entend@6las, devemos saber mais sobre a ist(ria dos

    outros tr@s centros e5istentes no perodo/ o Imprio an, a

    41rtia e Yushana.

    % hist(ria da Einastia an comea no sculo III a.C., com a

    deposio da Einastia 7in M"ue havia unificado a ChinaN e a

    ascenso ao trono de ;iu :ang, o primeiro Imperador an.

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    'stabelecidos sobre uma base burocr1tica

    administrativamente eficiente Mao menos neste perodo

    inicialN, os chineses da poca se lanaram con"uista de

    novos territ(rios, bem como impuseram um controle severo

    aos ata"ues dos Ub1rbarosV do 0orte do pas, conhecidos

    como iong 0u.+S %s periferias chinesas se estabili!aram

    nessas 1reas, locali!adas em torno da rande -uralha da

    China, cuja construo j1 perfa!ia, desde o tempo dos 7in,

    uma grande parte da fronteira+T 'm direo ao 9ul, os an

    chegaram at o 8ietn, tornando6o um protetorado Mem

    torno do sculo I d.C.N. ', em relao ao Oeste, foram

    variadas as tentativas dessa dinastia de descobrir o "uehavia alm de suas fronteiras com a Dndia.

    9ob o reinado do j1 citado Ju Ei, no perodo I a.C., foi

    enviada uma e5pedio oficial sob o comando de _hang

    7ian para buscar aliados contra os iong 0u e verificar as

    fronteiras do Oeste.+X%p(s uma srie de aventuras, a

    embai5ada teria entrado em contato com os %n i Mpartos,

    cujo nome em chin@s deriva do termo %rs1cida, designao"ue correspondia dinastia governanteN. Informa$es

    posteriores foram acrescentadas no relato de :an u+Z,

    tais como o nome das capitais partas e de algumas regi$es

    do Ocidente.+K?)ratados foram firmados, tentando

    assegurar a pa! entre estes dois poderosos reinos, cujas

    rela$es eram regidas por desconfianas mBtuas "ue

    aflorariam j1 no sculo seguinte, como no caso da

    e5pedio do general :an Chao, "ue veremos seguir.+KK

    O fato "ue Ju Ei, dispondo das informa$es colhidas por

    seus emiss1rios, decidiu organi!ar um sistema comercial

    controlado pela burocracia imperial "ue daria origem,

    finalmente, rota da seda. _hang 7ian+K> havia

    constatado "ue os produtos chineses eram muito apreciados

    nas rotas comerciais percorridas2 e o imperador concluiu

    disso "ue seria e5celente tanto para poltica como para

    economia da China an "ue seus artigos fossem distribudos

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    de forma ordenada por toda a #sia central e mesmo por via

    martima+KL. 'sta poca marcou o incio da venda e do

    presenteamento macio de seda e de mercadorias chinesas

    para alm das fronteiras, alcanando at o Ocidente.+KP

    'ste processo passou tambm por uma importante

    necessidade de definir as fronteiras chinesas a Oeste. Os

    an comearam a fortificar as 1reas onde estavam

    presentes ao longo da rota da seda, chegando at as

    fronteiras dos Wushans, instalados no norte da Dndia, hoje

    em 1reas correspondentes ao 4a"uisto e ao %feganisto.

    +KQ 'sta ponte sobre o 0orte da Dndia constituiu6se num

    territ(rio "ue alternava entre ser uma periferia e uma semi6periferia end(gena ao territ(rio chin@s. 0o sculo I d.C., por

    e5emplo, o supracitado general :an Chao foi enviado para

    debelar uma revolta no territ(rio do )ur"uesto, e e5istem

    indcios de "ue a mesma teria recebido au5lio dos partos.

    +KS Ora, esta localidade, "ue os chineses haviam perdido

    durante a crise do perodo Jang -ang M>6>> d.C.N, tinha

    fronteiras com os Wushans, com a 41rtia ou, no m15imo,

    com algum dos pe"uenos reinos de =ergana ou :actriana, o"ue "uer di!er "ue a fronteira entre as periferias desses

    'stados era bastante fle5vel e vari1vel.

    8@6se por estes dados "ue os an tiveram, portanto, muitas

    oportunidades para desenvolver seu sistema comercial, e

    tentaram aproveit16las ao m15imo.

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    poca de Ju Ei+>?, at "ue, no sculo III d.C., ap(s uma

    srie de crises sociais provocadas por perodos de escasse!,

    fome, colheitas ruins e administrao ineficiente+>K, a

    dinastia an enfra"ueceu6se em definitivo, at "ue a casa

    imperial foi derrubada e o Umandato do cuV+>> saiu de

    suas mos, dando origem a um perodo de diviso interna

    do territ(rio.

    9e considerarmos a fronteira chinesa como algo m(vel em

    direo ao Oeste, devemos nos perguntar, ento, como se

    organi!ava seu principal vi!inho, o reino Yushana, "ue

    aparentemente se tornaria um satlite chin@s no perododos sculos II6III d.C.

    0a verdade, a ist(ria dos Wushans comea com a UajudaV

    indireta dos chineses. O povo "ue teria dado origem a este

    reino era conhecido pelos an como [ueh _hi, e no sculo I

    a.C. ele teria sido empurrado por guerras violentas

    promovidas pelos iong 0u at o 0orte da Dndia.+>L O

    movimento "ue a ocorreu teria como causa justamente oschineses, "ue haviam sido vitoriosos em suas lutas contra

    os iong 0u e os haviam alijado de seus territ(rios no norte

    da China. 'ste domin( lanou os [ueh _hi contra a

    enfra"uecida dinastia dos 9haWa, instalada no territ(rio dos

    atuais 4a"uisto e %feganisto. =inalmente, no sculo I d.C.,

    Yujula Yadphises+>P teria fundado a dinastia Yushan,

    conhecida pelos chineses como Yuei 9hang, ou Yuei

    9huang, "ue durante algum tempo ainda lutou para se

    estabelecer no territ(rio contra um reino satlite da 41rtia,

    constitudo com os restos da dinastia 9haWa e vencido, por

    fim, no mesmo sculo. 0o perodo dos sculos I e II d.C., a

    dinastia Yushana teria conhecido seu 1pice sob o governo

    de YanishWa, patrono das artes e religi$es.+>Q 0o so

    raras as cita$es sobre os mesmos no 9hi ^i e no an shu.

    -as, j1 no final do sculo II, suas estruturas polticas se

    desagregaram/ o "ue no foi tomado pelos sassAnidas no

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    sculo III terminou por sobreviver, precariamente, como

    'stado dependente do poder chin@s. 1 tambm um srio

    problema envolvendo a cronologia do reis Wushans, de difcil

    soluo pela escasse! de informao sobre o assunto.+>S

    'n"uanto constituam, porm, um grande reino, os Wushans

    conseguiram significativos recursos controlando as 1reas por

    onde passava a rota da seda em seu territ(rio. Isso fica

    patente pelos dep(sitos alfandeg1rios encontrados por

    Jheeler+>T, com tesouros de origem ocidental e oriental.

    %lm disso, as rotas descritas pelo 4riplo+>X aportavam

    em territ(rio Wushan, o "ue permitia a esse povo um certo

    controle sobre o tr1fego martimo. )al posio permitiu "ueos Wushans fossem bem conhecidos no s( pelos chineses

    como tambm pelos romanos.+>Z %ugusto, na primeira

    parte no Res estae, comenta sobre a visita de v1rias

    embai5adas estrangeiras, entre elas a dos indianos.+L?Eion

    fala tambm sobre uma possvel embai5ada indiana a

    )rajano+LK, e a Dndia aparece nitidamente nas primeiras

    elabora$es geogr1ficas de 4omp*nio, 'strabo e 4tolomeu.

    +L>)horle cita ainda a possibilidade de %driano e %ntonino4io terem recebido visitas do g@nero.+LL4or fim, os

    romanos parecem conhecer alguma coisa sobre a cultura

    indiana, como aparece na obra de =ilostrato, a 8ida de

    %pol*nio de )iana. +LP

    8emos, assim, "ue os Wushans se estabeleceram, por

    conseguinte Me en"uanto puderamN, como um centro poltico

    forte, disposto a dar continuidade ao sistema de tr1fico

    comercial elaborado pelos chineses, do "ual tiravam

    significativo partido, sendo intermedi1rios amig1veis tanto

    dos an "uanto de Roma.

    Os motivos pelos "uais sua estrutura poltica iria ruir no

    sculo III d.C. ainda so uma grande inc(gnita para a maior

    parte dos historiadores. %ntes da diminuio do flu5o de

    mercadorias "ue ocorreria partindo da China Mem virtude da

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    "ueda da Einastia an, o "ue interferiria no comrcio, uma

    importante fonte de recursos para os WushansN, vimos "ue

    os mesmos, no sculo II, j1 sofriam interfer@ncias polticas

    nos seus domnios. Ee imediato, s( podemos analisar

    brevemente sua participao neste sistema mundial no

    perodo indicado, dei5ando um aprofundamento maior na

    "uesto para outra ocasio.

    O reino Yushana tinha suas fronteiras delimitadas por um

    outro 'stado bastante poderoso na poca, a 41rtia. 'sta

    pot@ncia, "ue rivali!ava com Roma em grande!a e fora,

    teve seu ciclo de e5ist@ncia locali!ado no perodo >PT a.C >>X d.C. Mou seja, nos sculos III a.C. a III d.C., num

    movimento conte5tual bem semelhante ao da China e

    pr(5imo das datas da e5panso romana e WushanN+LQ e

    sua economia dependia em muito, tambm, das rotas

    comerciais "ue passavam por seu territ(rio+LS.

    % hist(ria dos partos surge no processo de desagregao do

    domnio sel@ucida na #sia central. =ragmentados porrevoltas e guerras, "ue culminam com a independ@ncia de

    algumas provncias+LT, os territ(rios dos gregos se

    achavam fragili!ados e grupos n*mades vindos das estepes

    se aproveitaram do momento para retirar o seu "uinho.

    Eestes, os mais fortes foram os partos, "ue con"uistaram

    as regi$es pr(5imas do C1spio em >PZ a.C. e fundaram sua

    dinastia em >PT a.C. sob a liderana de %rsaces, "ue deu

    nome mesma M%rs1cidasN.+LX 0o demoraram a solapar

    o "ue restava dos domnios sel@ucidas, e um poderoso

    soberano parto, -itrdates I MKTK6KLX a.C.N, finali!ou esta

    carreira de vit(rias con"uistando a 4rsia e a :abil*nia.+LZ

    'sta onda ecoou em territ(rios distantes/ em K?S a.C. Mno

    perodo da segunda viagem de _hang 7ianN, os chineses

    enviaram uma embai5ada a -itrdates II em

    reconhecimento de sua fora.+P?-anobra h1bil dos

    chineses/ eles haviam buscado, anteriormente, apoio nos

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    reinos bactrianos+PK contra os iong 0u, mas pressentindo

    as mudanas no panorama poltico, aproveitaram a

    oportunidade e distriburam mais presentes para os partos

    do "ue para os outros.+P>

    O reino parto, porm, praticava uma poltica agressiva de

    controle nas fronteiras e nas rotas comerciais, bem como na

    disputa de territ(rio, o "ue terminou por coloc16lo em

    situa$es de conflito e5tremo e de delicado relacionamento

    internacional com as pot@ncias Wushan e chinesa, mas

    principalmente com Roma.

    O conflito entre 41rtia e Roma tornar6se6ia uma hist(ria de

    sculos, em disputa, sempre, pelas regi$es da 9ria Mtomada

    pelos romanos aos sel@ucidasN, %rm@nia e demais territ(rios

    do Oriente -dio. %ugusto+PL ficou famoso por recuperar

    as insgnias romanas perdidas por Crasso. ^1 )rajano+PP

    foi, provavelmente, o mais bem sucedido de todos os

    soberanos romanos na regio, estendendo ao m15imo as

    fronteiras imperiais sobre a 1rea/ mas seria justamente-arco %urlio, o Uimperador fil(sofoV, "ue dei5aria seu nome

    registrado nos documentos chineses como %n )un+PQ,

    representado por uma embai5ada Mcujo car1ter duvidoso

    veremos adianteN "ue se utili!ava do prestgio de seu nome

    ap(s uma tremenda vit(ria infligida aos partos.

    'ste, no entanto, o lado vitorioso romano/ se Roma no

    tivesse disputado tantas ve!es suas provncias com as

    foras partas, no haveria tantos her(is e con"uistadores na

    sua ist(ria. -as o fato "ue os partos dese"uilibravam o

    jogo das rela$es internacionais da poca com suas

    constantes manifesta$es de fora. ^1 no sculo I d.C.,

    "uando :an Chao recon"uistou o )ur"uesto+PS, sup$e6se

    "ue ele teria recebido informa$es sobre a presena de

    emiss1rios e foras partas Mou gregasN no local, terminando

    por enfrent16las e venc@6las.+PT O rei da %rm@nia tambm

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    buscou o apoio da distante dinastia an para seu reino,

    diante desta instabilidade poltica, enviando embai5adas

    corte chinesa.+PX

    Eiante destes acontecimentos, vemos "ue os partos no se

    sujeitariam facilmente inger@ncia de "ual"uer outro

    governo em seu territ(rio2 e na sua poltica e5terna, o tom

    conciliador vinha acompanhado de interesses econ*micos e

    polticos bem definidos. -as, por isso mesmo, devemos crer

    "ue, "uando possvel, este mesmo reino, cuja forte

    interao com o flu5o comercial internacional era patente,

    deveria buscar formas de administrar suas rela$es polticasnas fronteiras, tanto com as periferias romanas "uanto com

    seus vi!inhos orientais, como forma indispens1vel de

    sobreviv@ncia. Ea por"ue vemos esta sociedade encarando

    o combate aos n*mades orientais+PZcomo uma UtarefaV e

    cultivando a cultura grega como forma de arte e de

    civili!ao UsuperiorV.+Q? %o partos tinham tr@s capitais

    ar"uitetonicamente desenvolvidas, chamadas 'cbatana,

    ecatomplos e Ctsifon+QK , "ue tambm possuam umaforte atuao comercial. 4or fim, esta sociedade bem

    estruturada s( seria desarticulada, no sculo III, com a

    chegada de outro povo vindo dos planaltos iranianos, os

    sassAnidas, cuja cavalaria vitoriosa destruiria os

    governantes partos+Q> e os substituiria na ameaa aos

    romanos. Constitudos por um grupo de etnia persa, os

    sassAnidas entram neste final de cena, liderados pelo seu

    rei, %rdashir+QL, para constituir um novo reino no -dio

    Oriente e assumir o controle das rotas comerciais para o

    Ocidente. 'ste grupo, porm, foi mais h1bil na

    administrao de seus conflitos e5ternos, e, apesar de sua

    periculosidade e efic1cia na guerra contra os romanos,

    soube conciliar o maior tempo possvel a e5ist@ncia pacfica

    de suas periferias com Roma e com a Dndia, esta, j1 no final

    do sculo III, fragmentada em diversos reinos.

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    unificou as moedas, os pesos, as medidas, a escrita e as

    ta5a$es. 4or conta disso, como o sistema chin@s abrangia

    um grande territ(rio, as 1reas perifricas terminaram por

    adotar parte das regras chinesas, visando facilitar seu

    cAmbio com o Imprio Celeste.

    +KP H o caso das cortinas de seda de ^ulio Csar, citado em

    Eion, ;III, >P %4

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    seria sempre forte.

    +>K 4ara um estudo detalhado dessas crises, ver ;O'J',

    -. Crisis and conflict in an dnast. ;ondon/ eorge %llen,

    KZTP.

    +>> %p(s a poca da dinastia _hou, os Imperadores

    comearam a governar tendo por base a crena de "ue

    recebiam um -andato do Cu, ou seja, um perodo

    estabelecido pelas foras c(smicas e pelos deuses, no "ual

    recebiam o encargo de administrar a vida na terra. % perda

    deste mandato significava a runa de uma dinastia,provavelmente, segundo o imagin1rio poltico chin@s,

    por"ue a"ueles "ue e5ecutaram o poder no o teriam feito

    de forma correta, incorrendo em crimes contra o povo e

    contra a nature!a.

    +>L )OR;'[, ^., op. cit., p.T> este ponto mais bem

    detalhado no livro de )%4%R, R. istor of India. ;ondon/

    armonds\orth, KZSS p. Z>6K?Z e E%0I';OT J'';'R, -., op. cit., p. KSP6KTL2 KXL6>KP

    +>X O te5to do 4eriplus indica v1rios pontos de trocas na

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    +P? %s datas oscilam neste ponto entre K?S6ZK a.C. 0o 9hi

    ^i, Cap. CIII, temos uma segunda embai5ada de data no

    precisada para os %n i. IR), . China and the Roman

    Orient/ researches into their %ncient and -edieval relations

    as represented in old chinese records. 9hangai ] ong

    Yong, KXXQ p. LQ6ZS situa6a em ZK a.C.2 RO?? situam6na

    em K?S a.C. % confuso ocorre por um motivo simples/ em

    KKQ6K?Q a.C., temos a segunda viagem de _hang 7ian, o

    "ue torna a embai5ada de ZK a.C. um empreendimento

    desvinculado de sua figura.

    +PK 4or eles nomeados como UEa [uanV. 9hi ^i, CIII.

    +P> 9hi ^i, CIII.

    +PL %ugustus >T a.C. KP d.C.

    +PP )rajano ZTd.C. KKT d.C. Cf. Y'00'E[, E. Rome`sdesert frontier. %ustin/

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    partos devem ter tentado enganar ou trapacear os orientais

    "uanto origem das mercadorias "ue negociavam2 mas,

    contanto "ue fossem respeitadas suas fronteiras, as atitudes

    de desconfiana arrefeciam em relao aos estrangeiros, o

    "ue lhes permitia ento serem mais abertos sobre a

    proveni@ncia dos produtos.+Q

    O coral mediterrAnico tambm era e5tremamente apreciado

    por chineses e indianos, e os romanos, "ue no davam

    muito valor ao mesmo, tratavam de e5plor16lo e revend@6lo

    aos negociantes orientais, interessados no produto pelo seu

    valor na #sia. ^1 o vidro era trocado por "uantidadesra!o1veis de seda, posto "ue os chineses no conheciam

    corretamente a produo do mesmo e tendiam, desta

    forma, a confundi6lo com alguma espcie de cristal.+S 4or

    fim, os bordados e perfumes parecem ter sido provenientes

    do Oriente 4r(5imo, onde as provncias romanas produ!iam6

    nos em grande "uantidade para e5portao.+T'5istem

    tambm interessantes refer@ncias ao tr1fico de escravos,

    "ue eram apreciados pelas elites chinesas por seremestrangeiros, com cores de pele e fei$es diferentes das

    suas, o "ue constitua um poderoso smbolo de prestgio.+X

    0o "ue se relaciona ao Ocidente, porm, no foi preservada

    Mou talve! no se produ!iuN nenhuma lista do g@nero,

    comparada chinesa. 9abemos "ue, alm da seda, os

    romanos e partos compravam especiarias da Dndia+Z,

    tra!iam de l1 tecidos e objetos e5(ticos e admiravam

    profundamente a "ualidade do ferro produ!ido na China.

    +K?

    0a formulao deste sistema de trocas, os centros

    articulavam a produo das diversas periferias e5istentes

    direcionando6as para as vias de comrcio estrangeiras. 0o

    caso de Roma, vemos "ue seus metais preciosos vinham,

    como foi dito, da 'spanha e do :1ltico2 "ue o vidro e os

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    tecidos provinham da 9ria e do 'gito2 o coral, espalhado

    por todo o -editerrAneo, era trabalhado para confeco de

    j(ias em v1rias partes do imprio, inclusive no 0orte2 e da

    'scandin1via, regio semiperifrica "ue fa!ia contato com as

    provncias romanas, provinha o Ambar, "ue era vendido em

    pedra ou utili!ado na produo de perfumes na 4alestina e

    em outras partes do Oriente 4r(5imo.

    Eo mesmo modo, o imprio chin@s controlava a produo e

    distribuio da seda, bem como vigiava o trAnsito de

    mercadorias e a cobrana das ta5as alfandeg1rias.+KK

    %parentemente a seda era produ!ida em toda a China, maso sul obtinha melhores resultados pelo seu clima ameno,

    mais ade"uado vida das lagartas, o "ue

    conse"&entemente favorecia seu rendimento. O monop(lio

    do 'stado afetava tambm a manufatura do ferro, do sal e

    de outros produtos negoci1veis no estrangeiro.+K>'m

    Roma, a interveno do 'stado nas atividades de comrcio e

    produo no parece ter sido to forte, e o seu

    direcionamento estaria mais espontaneamente ligado aointeresse econ*mico das elites locais em se articularem ao

    sistema do imprio.

    Eevemos agora analisar os aspectos geogr1ficos relativos a

    estes contatos.

    Como vimos, a idia de estabelecer uma rota oficial da seda

    partiu do Imperador Ju Ei MI a.C.N, mas seu oficial, _hang

    7ian, havia constatado "ue os comerciantes chineses j1

    conheciam muito bem as vias de trAnsito na #sia central

    "ue levavam Dndia e ao Ocidente.+KL

    Os pontos de partida das rotas terrestres eram Chang %n e

    ;uoang, capitais do Imprio an. % primeira, cidade de

    traado geomtrico, contava com uma parte especfica do

    seu permetro urbano destinada somente aos mercados,

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    onde se misturavam negociantes de todas as partes da

    China, caravanas vindas do oeste longn"uo e embai5adas

    dos mais diversos locais do mundo antigo.+KP )eria sido a

    "ue os chineses haveriam recebido a Uembai5adaV de %n

    tun+KQ em KSS d.C. ^. ernet identificou ainda outras

    embai5adas Mmais provavelmente caravanasN "ue teriam

    sido enviadas aos chineses em ;uoang e em 0anjing em

    >>S e >XP.+KS %ntes disso, porm, os chineses j1 haviam

    recebido tambm embai5adas da Dndia MXZ e K?Q d.C.N e de

    9umatra MKL> d.C.N, alm das j1 mencionadas comitivas do

    [ung u tiao de 9han Mo rei da %rm@niaN em XZ, K?S e K>?

    d.C.+KT

    Ea capital an+KX, a rota terrestre se dirigia cidade de

    =engsiang, a Oeste e depois, atravs da regio do ansu,

    cidade de %n5i, onde se dividia em dois caminhos, o

    percurso sul e o percurso norte, "ue atravessavam

    diretamente o deserto de ;iu 9ha, conhecido por n(s como

    )aWlamaWam. % diferena entre estes dois caminhos parecia

    residir Bnica e e5clusivamente na opo "ue se fa!ia peloso1sis ao longo de cada um deles. %mbos voltavam a se

    encontrar, j1 na altura de Yashgar, no final do )ur"uesto,

    em direo a 9amarcanda ou diretamente para -erv,

    primeira cidade no territ(rio parto. %o passar pelo

    induWush e pelo 4amir, os comerciantes chineses j1 se

    encontravam em territ(rio Wushan, onde podiam transitar

    livremente mediante o pagamento de ta5as, "ue ficavam

    guardadas em dep(sitos aduaneiros "ue foram descobertos

    por Jheeler.+KZ 9amarcanda, ponto importante desta rota

    por ser a conflu@ncia entre mercadores vindos do oriente e

    ocidente, esteve na maior parte do tempo em mos

    Wushans, embora durante um breve perodo os partos

    tenham tentado control16la atravs da imposio do reino

    9haWa, mas sem sucesso.

    Ee 9amarcanda seguia6se para os limites da 41rtia. avia

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    uma proibio e5pressa por parte dos partos de "ue

    comerciantes estrangeiros pudessem passar por seu

    territ(rio, sendo obrigados a negociar seus produtos em

    -erv. 0o temos conhecimento e5ato da e5tenso desta lei,

    j1 "ue so os chineses "ue a comentam2 logo, no sabemos

    se eram apenas seus representantes e aliados "ue estavam

    proibidos de circularem pelo reino, ou se a proibio

    alcanava realmente a todos os comerciantes. H difcil

    precisar este ponto, j1 "ue os emiss1rios e viajantes

    estrangeiros pareciam no ter a mesma dificuldade para

    circular pelo territ(rio, salvo em caso de e5ce$es como a

    de an [in. -as esta situao era compreensvel, sepensarmos "ue este enviado chin@s representava alguma

    espcie de ameaa aos partos ap(s a esmagadora vit(ria de

    :an Chao no )ur"uesto. 'ra sabido "ue os chineses

    constituam um imprio poderoso e e5pansionista2 e, por

    isso, os partos no podiam conceder facilidades a potenciais

    inimigos.

    Ee -erv, os comerciantes levavam suas mercadorias para osul, em direo ao olfo 4rsico, onde seriam negociadas

    com os 1rabes eou levadas para a #frica2 ou ento,

    continuavam a seguir as rotas para oeste, at a fronteira do

    imprio romano, passando necessariamente pelas suas

    capitais, ecatomplos+>?, 'cbatana+>K e por fim

    Citsifon, nas "uais provavelmente as cortes retiravam sua

    parte nas mercadorias negociadas.

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    cortinas de brocado.+>L Ee Citsifon, as mercadorias fluam

    atravs da fronteira pelo imprio romano, chegando a 4etra,

    )iro, Eura6'uropos, 4almira e Eamasco, alm de ^erusalm.

    Ee 'cbatana e5istia uma estrada "ue levava diretamente a

    _eugma e tambm a %ntio"uia, cidade em crescimento na

    poca.

    Eestes mercados os produtos estrangeiros se propagavam

    pelos territ(rios romanos, e para os mesmo lugares de

    passagem afluam as mercadorias "ue seriam levadas para

    o Oriente. Ea esta 1rea do Oriente 4r(5imo ser um

    constante motivo de atrito entre romanos e partos/ domin16la seria uma forma de assegurar, para os Bltimos, um

    monop(lio ainda maior sobre o flu5o de produtos

    estrangeiros2 e para os primeiros, um caminho pelo "ual

    pudessem estender sua influ@ncia sobre o Oriente.

    Observamos "ue a conformao desta rota estruturava em

    parte o trAnsito comercial do sistema mundial. -as e5istiam

    ainda outras rotas, "ue devemos analisar.

    8oltando a =engsian, encontramos uma via, em direo ao

    sul, "ue era mais utili!ada na poca do vero, posto "ue no

    inverno ele se tornava intransit1vel. 'ste caminho se dirigia

    ao imalaia, atravessando a regio do 9inWiang, onde foram

    catalogados inBmeros achados de mercadorias ocidentais e

    orientais negociadas nesta 1rea atravs da rota.

    +>P4assando por a, a rota seguia para o olfo de :engala,

    onde os chineses vendiam ou trocavam nos pe"uenos reinos

    hindustas e budistas "ue no estavam sobre o controle dos

    Wushans2 ou, continuavam a seguir por terra, para oeste,

    at o mar da %r1bia, j1 em territ(rio do reino Yushana ou

    ainda, subiam novamente em direo norte at chegarem a

    )a5ila, importante cidade "ue fa!ia a ligao entre esta

    segunda rota e a primeira.

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    4arece6nos "ue esta via no era somente uma opo s

    rotas conhecidas como UprincipaisV em determinadas

    esta$es do ano. %creditamos "ue ela e5istia pela

    comodidade "ue oferecia aos chineses de negociarem

    grande parte do tempo em seu pr(prio territ(rio, oferecendo

    maior segurana. 0o entanto, prov1vel tambm "ue as

    mercadorias indianas e ocidentais lhes chegassem com um

    preo maior, devido ao grande nBmero de atravessadores

    e5istentes at os portos de :engala e na Dndia central.

    %s rotas "ue atravessavam o mar, porm, "ue atualmente

    despertam os fascnios dos historiadores.+>Q %trecentemente, muito dos estudos "ue envolviam a

    possibilidade de e5istirem vias martimas para o Oriente

    resvalavam no realismo fant1stico, e por isso no eram

    devidamente analisadas.+>S% evoluo da %r"ueologia

    propiciou, no entanto, uma mudana deste panorama, "ue

    aliada uma releitura dos te5tos cl1ssicos, nos permitiram

    fa!er infer@ncias mais apro5imadas sobre a realidade das

    trocas comerciais reali!adas pelo mar.

    0esta poca, os chineses no eram ainda grandes

    navegadores, preferindo dirigir6se para o interior do

    territ(rio. -as acreditavam, de igual maneira, "ue dominar

    as 1reas costeiras era importante para o monop(lio do

    comrcio, j1 "ue diversas frotas mercantes e embai5adas

    vinham por mar. +>T

    Eesta forma, podemos compreender o avano chin@s em

    direo pennsula da Indochina, chegando ao 8ietn e

    controlando a os portos "ue fa!iam a ligao do imprio

    chin@s com a -al1sia e 9umatra.+>X %creditamos "ue

    nestes portos os chineses j1 se misturavam com

    marinheiros de diversas nacionalidades, limitando suas

    a$es de longo curso, tendo em vista "ue esta no a

    poca, ainda, em "ue a China ser1 conhecida por formar

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    'sta breve an1lise da estrutura das rotas