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    361Ano X

    6.05.2011N 1981-8769

    Mrio CorsoGerao Y e as novas formas de lidar com o saber

    Zilda KnoplochTeenagers: da informao ao conhecimento E m>> Anderson dos SanQuase tudo como dante

    quartel televisivo do futbrasi

    >> Astor HexInternacionalizao indus

    e responsabilidade so

    Uma equao d

    Sidnei Oliveira

    Os Ys e as novas relaes trabalhistas

    Cinco geraes contemporneas.Uma descrio

    Z

    YX

    BABY-BOOMERS TRADICIONA

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    IHU On-Line a revista semanal do Instituto Humanitas Unisinos IHU Universidade do Vale do Riodos Sinos - Unisinos. ISSN 1981-8769. Diretor da Revista IHU On-Line: Incio Neutzling ([email protected]). Editora executiva: Graziela Wolfart MTB 13159 ([email protected]). Redao: Anelise ZanoniMTB 9816 ([email protected]), Mrcia Junges MTB 9447 ([email protected]) e Patricia Fachin MTB13062 ([email protected]). Reviso: Isaque Correa ([email protected]). Colaborao: Csar Sanson,Andr Langer e Darli Sampaio, do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores CEPAT, de Curitiba-PR.Projeto grco: Bistr de Design Ltda e Patricia Fachin. Atualizao diria do stio: Incio Neutzling,Greyce Vargas ([email protected]), Rafaela Kley e Stefanie Telles. IHU On-Line pode ser acessadas segundas-feiras, no stio www.ihu.unisinos.br. Sua verso impressa circula s teras-feiras, a partir das8h, na Unisinos. Apoio: Comunidade dos Jesutas - Residncia Conceio. Instituto Humanitas Unisinos- Diretor: Prof. Dr. Incio Neutzling. Gerente Administrativo: Jacinto Schneider ([email protected]).

    Endereo: Av. Unisinos, 950 So Leopoldo, RS. CEP 93022-000 E-mail: [email protected]. Fone: 513591.1122 ramal 4128. E-mail do IHU: [email protected] - ramal 4121.E

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    Cinco geraes contemporneas.Uma descrio

    Em menos de 70 anos, cinco geraes deixaram suas marcas na sociedade contempornea, ditaramtendncias, costumes, mudaram comportamentos, sempre tentando denir uma identidade. Hoje, elasconvivem e se reinventam a partir de um novo paradigma: a tecnologia.

    Conhecidas como Y e Z, as geraes do momento so multitarefas, nasceram com o boom tecnolgico e no concebem a vida sem a internet. Tais comportamentos causam estranhamento aos anteces

    sores, geram conitos e aproximaes.Buscando uma melhor compreenso de como esssas geraes se relacionam e lidam com as novidadestecnolgicas, a IHU On-Line conversou com especialistas atentos ao comportamento da juventude, hoje.

    Autor do livro Gerao Y O nascimento de uma nova verso de lderes 2010, o consultor SidneOliveira acredita que o convvio destas cinco geraes j , em si, um fato novo. Para ele, a explosotecnolgica ter maior impacto na maneira como os jovens se relacionam com o trabalho. As pessoasiro mesclar o trabalho com a vida pessoal e buscaro exercer um pouco mais da vida pessoal no ambiente prossional. Essa talvez seja a grande transformao que veremos nos prximos anos, prev.

    Na mesma perspectiva, a psicloga e professora de Gesto da Unisinos, Patrcia Fagundes, salientaque o atual conceito de liderana tambm ser alterado em funo do comportamento dos jovens. Atendncia de que tenhamos lderes que compreendam a liderana menos como uma posio, e maiscomo um processo.

    Na avaliao do psicanalista Mrio Corso, a principal diferena desta juventude a conduo do saber

    Eles estabelecem uma relao de igual com seus superiores e o fato de no respeitarem hierarquias, explicano deve ser compreendido como um desrespeito, e, sim, como outra maneira de se portar.Zilda Knoploch, antroploga e consultora de marketing, enfatiza que o acesso ao mundo virtual exige

    dos jovens teenagers uma necessidade maior de adaptao vida real. Apesar de serem multitarefas, elesainda no aprenderam como transformar esta hiperexposio embriagante em conhecimento. Na mesmadireo, a sociloga e pesquisadora do Ibase, Patrcia Lnes, lembra que apesar da facilidade de acesso internet, os jovens de hoje convivem com inmeros medos.

    J Daniel Portillo Serrano, professor das Faculdades Integradas de Bauru FIB, acredita que a xao dosjovens pelas tecnologias se justicava muito mais pela novidade do que pela necessidade. na mesma perspectiva, o jornalista Juremir Machado salienta que a internet trouxe muitas facilidades, mas ressalta que omundo continua praticamente o mesmo porque a organizao da vida vai muito alm da tecnologia.

    Na viso do psiquiatra Jos Outeiral, as tecnologias criam uma falsa sensao de relacionamentoafetivo entre a juventude e os sites e redes sociais so utilizados como uma fuga para as relaesperifricas e fugazes.

    Por sua vez, a sociloga Solange Rodrigues, do Iser Assessoria, analisa o interesse dos jovens pelasreligies e comenta como as redes se tornam um meio para buscar o sagrado.

    Tendo em vista o fechamento da planta industrial da Azaleia na ltima semana, no municpio deParob, RS, o ex-professor da Unisinos e da UFRGS, Astor Hexsel e a professora Yeda Swirski de Souzaanalisam o dilema da internacionalizao de empresas nacionais e a responsabilidade social.

    O socilogo Jos Rogrio Lopes, ministrante da palestra A imagtica da devoo, que ocorre naprxima quinta-feira, 19-05-2011, no IHU, antecipa alguns aspectos de sua apresentao e a analisa asimagens religiosas como suporte ritual de demarcao social.

    Quase tudo como dantes no quartel televisivo do futebol brasileiro, o tema do artigo de AndersonDavid G. dos Santos, mestrando do PPG em Comunicao da Unisinos. Segundo ele, o poderio da Rede Globo rearmado com imbrglio dos direitos de transmisso mesmo com limites estabelecidos pelo Cade.

    A todas e todos, uma tima semana e excelente leitura!

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    Leia nesta edioPGINA 02 | Editorial

    A. Tema de capa

    Entrevistas

    PGINA 06 | Sidnei Oliveira: Os Ys e as novas relaes trabalhistas

    PGINA 09 | Zilda Knoploch: Teenagers: da informao ao conhecimento

    PGINA 12 | Mrio Corso: Gerao Y e as novas formas de lidar com o saberPGINA 14 |Daniel Portilho Serrano: Y e Z: duas geraes em busca da novidade

    PGINA 16 | Depoimentos: Diferentes geraes, novos pensamentos

    PGINA 21 | Jos Outeiral: As tecnologias e a falsa sensao de afeto

    PGINA 22 |Patrcia Fagundes: A tendncia ver a liderana como um processo sistmico, e no linear

    PGINA 25 | Solange Rodrigues: A busca espiritual da gerao Y

    PGINA 29 |Juremir Machado: Gerao Y parece coisa de revista Veja

    PGINA 30 | Patrcia Lans: Uma nova percepo do tempo

    B. Destaques da semana Brasil em Foco

    PGINA 35 |Astor Hexsel: Internacionalizao industrial e responsabilidade social. Uma equao difcil

    PGINA 38 |Yeda Swirski de Souza: Novos desaos para a indstria brasileira

    Coluna do Cepos

    PGINA 40 |Anderson David G. dos Santos: Quase tudo como dantes no quartel televisivo do futebol brasileiro

    Destaques On-Line

    PGINA 42 | Destaques On-Line

    C. IHU em Revista

    Eventos

    PGINA 48 | Jos Rogrio Lopes: Imagtica da devoo, uma geograa do sagrado

    IHU Reprter

    PGINA 50 | Josena Maria Fonseca Coutinho

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    Cinco geraes

    TRADICIONAIS (at 1945): a gerao que enfrentou uma grande guerrae passou pela Grande Depresso. Com os pases arrasados, precisaram re-construir o mundo e sobreviver. So prticos, dedicados, gostam de hie-rarquias rgidas, cam bastante tempo na mesma empresa e sacricam-separa alcanar seus objetivos.

    BABY-BOOMERS (1946 a 1964): So os lhos do ps-guerra, que romperampadres e lutaram pela paz. J no conheceram o mundo destrudo e,

    mais otimistas, puderam pensar em valores pessoais e na boa educaodos lhos. Tm relaes de amor e dio com os superiores, so focados epreferem agir em consenso com os outros.

    GERAO X (1965 a 1978):Nesse perodo, as condies materiais do pla-neta permitem pensar em qualidade de vida, liberdade no trabalho e nasrelaes. Com o desenvolvimento das tecnologias de comunicao, j po-dem tentar equilibrar vida pessoal e trabalho. Mas, como enfrentaramcrises violentas, como a do desemprego na dcada de 1980, tambm setornaram cticos e superprotetores.

    GERAO Y (a partir de 1979): Com o mundo relativamente estvel, elescresceram em uma dcada de valorizao intensa da infncia, com inter-net, computador e educao mais sosticada que as geraes anteriores.Ganharam autoestima e no se sujeitam a atividades que no fazem sen-tido em longo prazo. Sabem trabalhar em rede e lidam com autoridadescomo se eles fossem um colega de turma.

    GERAO Z (a partir dos anos 1990 e 2000):nativos digitais, a gerao Znasceu com o boom tecnolgico e familiarizada com todas as tecnologiasque surgiram a partir da internet. Extremamente conectados rede, elesvivem em um mundo virtual e utilizam diversos equipamentos ao mesmotempo. Entre os traos comportamentais, destaca-se a responsabilidadesocial e a preocupao com a sustentabilidade do planeta.

    Fonte: Revista Galileu, http://glo.bo/36AoIZ

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    Os Ys e as novas relaes trabalhistas

    Para a gerao Y, o salrio no o nico atrativo na contratao. Segundo o consultorSidnei Oliveira, os jovens trocam facilmente o dinheiro por novas experincias prossio-nais e pessoais

    Por Patricia Fachin

    C

    om a chegada dos Ys ao mercado de trabalho, a tendncia de que as empresas mudem algumasestratgias para atender as necessidades e ao comportamento desta gerao que nasceu no naldos anos 1970 e durante a dcada de 1980. Algumas transformaes j so evidenciadas e o tra-balho por resultados cada vez mais comum. Segundo o administrador e consultor de empresas

    Sidnei de Oliveira, os trabalhadores passaro a desempenhar as atividades rotineiras em suascasas e algumas prosses permitiro maior exibilizao no horrio de trabalho. As pessoas iro mesclaro trabalho com a vida pessoal e buscaro exercer um pouco mais da vida pessoal no ambiente prossionalporque, de alguma maneira, este j est invadindo a vida pessoal por conta dos equipamentos tecnolgicos.(...) Essa talvez seja a grande transformao que veremos nos prximos anos, aponta.

    Em entrevista IHU On-Line, concedida por telefone, ele enfatiza que o conceito de trabalhotambm precisar mudar, tendo em vista o uso constante das tecnologias e o perfil dos novos traba-lhadores. A remunerao vai ter de ser diferente, no mais baseada em hora/trabalho e, sim, na re-compensa pelo valor que se agrega ao trabalho, independe de quantas horas sejam dedicas para isso.Como trabalho e vida pessoal estaro ainda mais entrelaados, as pessoas tambm tero de aprender agostar da atividade profissional e compreend-la como uma diverso. Quando o profissional descobreo trabalho como uma razo da sua existncia, comea a se divertir com ele.

    Oliveira desenvolve solues em programas educacionais e comportamentais para mais de 30 mil prossionaisem empresas como Vale do Rio Doce, Petrobras, Gerdau, TAM. Formado em Marketing e Administrao de Empre-sas, autor de vrios livros entre os quais citamos Gerao Y - Ser potencial ou ser talento? - Faa por merecer(SoPaulo: Integrare, 2011); Gerao Y - O nascimento de uma nova verso de lderes (So Paulo: Integrare, 2010);e Chefe e Funcionrio - A batalha Final (So Paulo: Erica, 1995). Atualmente scio-fundador da Kantu EducaoExecutiva, vice-presidente do Instituto Atlantis de preveno ambiental, consultor-associado da Empreenda Con-sultoria e membro da administrao da Creditem Cartes de Crdito. Confira a entrevista.

    IHU On-Line - Em seus livros, o se-nhor destaca que atualmente cincogeraes diferentes convivem mu-

    tuamente, de forma consciente etransformando a realidade. Que ge-raes so essas e como se d esseprocesso de convvio?Sidnei Oliveira A gerao tradicional formada por pessoas que tm maisde 70 anos de idade. Depois, vem aBaby Boomers, formada pelo pessoalque tem entre 50 e 70 anos. A geraointermediria entre os Baby Boomerse a Y, a gerao X, ou seja, pessoasque tm entre 32 e 50 anos de idade.A gerao Y formada por jovens de

    13 a 32 anos. Como existe um inter-valo de aproximadamente 20 anos nasgeraes, obviamente, h diferena

    entre um jovem de 14 e outro de 28anos. A nova gerao, que nasceu nosanos 2000, chamada de Z e, emboraainda no tenha entrado no mercadode trabalho, j ingressou no mercadode consumo e a primeira gerao aentrar com peso no mercado consumi-dor. H um grande movimento de ma-rketing considerando o perl dessascrianas na hora de construir o produtoe se comunicar com os consumidores.As empresas, ao invs de se comunicardiretamente com o pblico, esto se

    comunicado com os lhos do pblicoEst surgindo uma srie de propagan-das utilizando crianas e respeitando

    a comunicao infantil como forma deacessar essas geraes.O convvio destas cinco geraes j

    , em si, um fato novo. Como a ex-pectativa de vida das pessoas era de60 anos, isso no permitia ter tantogeraes convivendo simultaneamente. Todas esto interferindo na socie-dade, consumindo. Evidentementecada gerao tem sua peculiaridade eo que forma a gerao no necessariamente a data de nascimento e, sim,o contexto em que ela viveu enquanto

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    estava se formando.Cada uma dessas geraes nasceu

    em contextos diferentes: a geraotradicional nasceu antes da SegundaGuerra Mundial, durante um perodode depresso profunda; a Baby Boo-mers surgiu nos anos dourados; a X

    foi criada durante os anos rebeldes; aY nasceu durante o perodo de maiorcrescimento tecnolgico e de acesso tecnologia; e a gerao Z nasce noprocesso de apogeu de toda a tecnolo-gia e da internet.

    Aproximaes e distncias

    Alguns comportamentos so ineren-tes a qualquer gerao. Fala-se muitoda ansiedade da gerao Y, que elaquestiona demais, que afobada, ir-reverente. Todas essas caractersticasso de jovens, ou seja, os jovens dasoutras geraes tambm eram dessejeito. Essas atitudes causam incmodonas geraes veteranas, que j estoem outra etapa da vida, onde o ritmono mais intenso. Evidentemente,isso provoca diferena na percepodo contexto em que as pessoas viveme causa atrito e distanciamento entreas geraes. Isso no exclusividadedo momento Y, sempre aconteceu.

    IHU On-Line - Como a gerao Y com-preende a formao para o mercadode trabalho e a atividade prossio-nal? Que relaes eles esperam cons-tituir no ambiente de trabalho? Quaissuas aspiraes?Sidnei Oliveira A gerao Y temcomo modelo de aspirao o sucessoou o insucesso das geraes anterio-res: X e Baby Boomers. Os Ys entramno mercado de trabalho querendocrescer, buscando reconhecimento no

    sentido de ganhos salariais ou privi-lgios que as geraes mais antigastm. A gerao Y quer ter cargos ondeela possa interferir nas decises. Essa uma gerao que gosta de mostrara sua marca e, nesse sentido, no sedifere das outras no que se refere saspiraes. A novidade que a gera-o Y entra no mercado de trabalhoencontrando um cenrio diferente doque as outras encontraram na juven-tude. A X, por exemplo, quando entrou

    no mercado de trabalho h 30 anos, sedeparou com veteranos que estavampreparados para se aposentar por con-ta da perspectiva de vida.

    Hoje, o jovem da gerao Y entra nomercado de trabalho e encontra vete-ranos que no querem sair da empresa

    porque tm uma perspectiva de vidamais longa e, obviamente, os funcio-nrios antigos tm a experincia queo jovem no tem. Por isso, os novosprossionais buscam suprir a falta deexperincia com maior qualicao.

    IHU On-Line - Como as relaes detrabalho se modicam a partir dainsero da gerao Y no mundo dotrabalho?Sidnei Oliveira O mercado cou maisexigente. No passado, o jovem entra-va mais cedo no mercado de trabalhoporque a preocupao era trabalhar edepois buscar a qualicao. Era co-

    mum entre os jovens de 16, 17 anostrabalhar e depois cursar a faculdadeenquanto trabalhavam. Os pais quezeram essa opo no passado, hojeexigem que o lho primeiro terminea faculdade para depois trabalhar. Naoutra ponta, o pai, que o lder emuma determinada empresa, desejapessoas mais qualicadas para desem-penhar as funes. Para atuar como

    atendente de um banco h 25 anos,era necessria uma qualicao deensino fundamental. Hoje, ningumtrabalha nesta funo se no estivercursando faculdade.

    Isso deixa o jovem menos habili-tado para a vida corporativa. Ento,ele tem uma fragilidade que antesno existia. As empresas percebemessa mudana e, para suprir essa fra-gilidade, recontratam pessoas maisexperientes para oxigenar e dar mais

    sentimento corporativo nas empresasporque elas no esto encontrandopessoas com experincia de trabalhopara entregarem as tarefas.

    IHU On-Line As relaes de trabalhotendem a mudar? Em que sentido e

    como isso poder transformar o con-ceito e o signicado do que atualmente entendemos por trabalho?Sidnei Oliveira Dependendo do ramode atividade, o trabalho vai sofrergrandes transformaes. Ns vamosouvir falar cada vez mais em trabalhopor projetos; o horrio de trabalhotende a se exibilizar na maioria dasprosses; vai ter de se abrir espaopara o trabalho remoto no estoudizendo que todo mundo vai trabalhar em casa -, mas em algumas circunstncias as pessoas vo trabalharremotamente. evidente que noestou falando de algumas funes quedependem do ambiente prossionalcomo, por exemplo, no caso de pilotosde avies, enfermeiros.

    De qualquer modo, as relaes detrabalho iro se modicar. As pessoas iro mesclar o trabalho com a vidapessoal e buscaro exercer um poucomais da vida pessoal no ambiente deprossional porque, de alguma manei

    ra, este j est invadindo a vida pessoal por conta dos equipamentos tecnolgicos. Hoje, uma pessoa leva partedo trabalho para casa quando tem umnotebook, quando responde um relatrio por e-mail, quando acionadapelo celular no nal de semana. Ento, naturalmente a vida pessoal vainvadir o trabalho. Essa talvez seja agrande transformao que veremosnos prximos anos.

    IHU On-Line A precarizao do

    trabalho deve aumentar com estastransformaes? Como ca a questoda remunerao salarial neste caso?Sidnei Oliveira O conceito de trabalho vai ter de mudar. O conceito deoito horas de trabalho est fragilizadoAs pessoas vo perceber que trabalham bem mais do que antes e isso jest acontecendo. A remunerao terde ser diferente, no mais baseada emtrabalho/hora e, sim, na recompensapelo valor que se agrega ao trabalho,

    A juventude adia todas

    as escolhas que pode,

    inclusive aquelas

    denitivas como

    o casamento

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    independe de quantas horas sejam de-dicas para isso.

    Meu trabalho hoje independe darelao trabalho/hora. Neste momen-to em que concedo a entrevista, estoutrabalhando. Em seguida, quando es-tiver na sala de espera do aeroporto,

    estarei trabalhando. Vou ter de otimi-zar minhas atividades para contem-plar minha vida pessoal no trabalho.A melhor forma de fazer isso trazero trabalho para a vida pessoal e nocar focado naquela ideia de que s setrabalha no horrio determinado. Essarelao precisa se tornar mais exvel.Percebo que algumas pessoas j estoexercendo isso e algumas empresasesto percebendo os ganhos que tmquando exibilizam o trabalho.

    IHU On-Line E como ca a questodo lazer nesta nova compreenso detrabalho?Sidnei Oliveira As pessoas poderoter lazer enquanto trabalham, ou seja,podero ouvir msica no trabalho,navegar na internet para programaras frias. Vamos ter de descobrir umponto de equilbrio. Muitas pessoas,quando esto reunidas com a famlia,no domingo, atendem ao telefone ce-lular ou tem de ir para o computadorresolver um problema de trabalho por-que necessrio. Em relao ao quej foi almejado no passado, quando setinham horrios denidos para trabalhoe lazer, podemos considerar que estanova congurao trabalhista melhorarou piorar. Na prtica, se encontrarmosum ponto de equilbrio, esta realida-de pode ser legal e muitos vo se di-vertir no trabalho. Os aposentados dehoje esto descobrindo que curtiam avida trabalhando e esto querendo vol-tar para o trabalho. Ento, como se

    mudssemos o modelo mental do que trabalho. O modelo trabalho-casti-go-sofrimento tende a mudar para aconcepo de trabalho parte como davida, divertimento. Quando o pros-sional descobre o trabalho como umarazo da sua existncia, comea a sedivertir com ele. Obviamente, para issoacontecer, a pessoa precisa se sentirbem com o que ela faz. As empresas es-to comeando a perceber que, quantomais exvel for a relao com os fun-cionrios, mais eles estaro felizes e

    ir relacionar trabalho com prazer.Por outro lado, penso que tem uma

    fantasia de fazermos apenas aquilo quegostamos. um nirvana: todo mundoest buscando fazer o que gosta, masno procuram gostar do que fazem.Esta talvez seja a chave de felicidade

    para o trabalho. As pessoas no achammotivao no trabalho e pensam queesto na empresa apenas para ganhardinheiro. Se esta for a nica motiva-o, elas nunca sero felizes.

    IHU On-Line - Por que o reconheci-mento e o feedback so to impor-tantes para a gerao Y?Sidnei Oliveira Tenho uma teoriano cientica, mas que d uma ex-plicao razovel. A gerao Y nasceu

    sob uma nova vertente educacional doelogio e parte da sua criao se deupor meio de jogos eletrnicos comovideogames. Esses jogos tm uma ca-racterstica em comum: sempre do

    feedback e apresentam a performancedo jogador. Algum que recebeu fee-dback constante dos pais, professorese jogos, se acostumou a querer sabero tempo todo como est seu desem-penho. uma gerao que nunca teveacompanhamento direto no dia a dia,ou seja, a primeira gerao quese criou praticamente sozinha, comos pais trabalhando o tempo todo. uma gerao carente do feedback.Naturalmente, ela entra no mercadode trabalho querendo saber o seu de-

    sempenho. Por outro lado, a gerao Xcresceu sem ganhar nenhum feedbackEnto, o lder de hoje reclama e achaestranha a necessidade da gerao YEsse um ponto de conito dentro dasempresas.

    Tenho dito para os lderes terem

    pacincia e darem o feedback. Para osjovens, ressalto que no tero todo o feedback que gostariam de receber e quedevem aprender a conviver com isso.

    IHU On-Line Essa gerao tem maisdiculdade para lidar com o fracasso?Sidnei Oliveira Sim. Por conta detodo esse cenrio que descrevi, essagerao no foi estimulada a fracassar e, sim, a vencer. Os lhos tm deser um sucesso. Essa uma geraoque tem medo de fracassar, no fo

    estimulada a perder. Uso como referncia o prprio videogame: no jogoas crianas no perdem; sempre ga-nham, nem que para isso seja precisoreiniciar o game. A estrutura sociaexige que ele seja prodgio em tudoque faz. Mas como ele no lida com ofracasso, ca ansioso e no faz boasescolhas ou, simplesmente, no fazescolhas. A juventude adia todas asescolhas que pode, inclusive aquelasdenitivas como casamento. O jovemtem medo de escolher a pessoa erra-da, de assumir a responsabilidade deconstituir famlia e no dar conta, detrabalhar em uma empresa e ser penalizado. O jovem de hoje pede feedback, mas no recebe bem o feedbacknegativo.

    IHU On-Line - O que j mudou nomercado de trabalho a partir da atuao da gerao Y?Sidnei Oliveira Tenho percebido queas empresas esto se dando conta de

    que o fenmeno existe, ou seja, prossionais so mais qualicados emum aspecto e menos experientes emoutros. As empresas comeam a sepreparar para receber esses jovensa tentar exibilizar seus processosinternos para adequar expectativadesses trabalhadores. Esse ainda ummovimento muito especulativo nasempresas. Nenhuma organizao con-segue dizer que est acertando comesse pblico. Esse um movimento re-cente, de dois, trs anos. As empresas

    uma gerao que

    nunca teve

    acompanhamento direto

    no dia a dia, ou seja, a

    primeira gerao que se

    criou praticamente

    sozinha, com os paistrabalhando o

    tempo todo

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    esto experimentando mudar as roti-nas internas, mas nem todo processo fcil e rpido de mudar. As empresasvo arriscar alternativas e tentar lidarcom o desconforto que trazem.

    IHU On-Line A formao para o tra-

    balho ter de acompanhar esse pro-cesso de mudana?Sidnei Oliveira Certamente. O mode-lo educacional precisa urgentementepassar por profundas transformaesporque o jovem no est aderindomais ao modelo expositivo de sala deaula. Os professores no so ouvidose o aluno est buscando novas formasde se qualicar. Se as universidadesno mudarem a forma de ensino, elasperdero alunos.

    IHU On-Line - Que relao a gerao Yestabelece com o salrio? Dizem queessa gerao gosta de ganhar algoque v alm do salrio porque estedinheiro serve apenas para pagar ascontas. Como v essa questo?Sidnei Oliveira Essa gerao ultra-passa o interesse pelo salrio. Ela per-cebe que tem outros ganhos que nonecessariamente os nanceiros. Os Ysvalorizam a questo nanceira, sim,mas trocam facilmente o dinheiro poruma experincia boa e nova. umagerao muito mais sensvel experi-ncia de vida indita.

    As empresas podem conquistar osjovens com uma oportunidade de tra-balho ganhando metade do salrio,desde que proporcione a ele uma via-gem internacional. Tem muita empre-sa no mundo percebendo isso e ofe-recendo vaga de trabalho temporrioem um ambiente diferente. As orga-nizaes que perceberam isso estorecrutando jovens brasileiros para tra-

    balharem no exterior com um salriode 300 dlares, mais casa e alimenta-o. Os jovens abandonam salrios demil dlares para ganhar 300 em Singa-pura, pela experincia. O jovem quercurtir a vida antes, no quer esperar onal da vida para conhecer o mundo.Os prossionais querem trabalhar emempresas que lhes deem condies deestudar, de fazer cursos, de crescer nacapacidade de gerar novos projetos.Isso tem mais valor do que o prpriosalrio.

    Os Ys tm mais metas pessoais do que prossionais, queremtrabalhar menos, ter mais liberdade e exibilidade, constataZilda Knoploch

    Por Patricia Fachin

    Eles nasceram em uma sociedade tecnolgica sem fronteiras, onde possvel ter acesso a qualquer lugar do mundo sem sair de casa.Apesar destas facilidades, os teenagers enfrentam uma necessi-

    dade maior de adaptao vida real. Isso porque, segundo ZildaKnoploch, os Ys e os Zs vivem em um perodo de contradio em

    diversos aspectos da vida humana. Ela cita como exemplo a liberdade sexuaem um mundo assombrado pela Aids, onde a vivncia desta liberdade no mais possvel como foi para os Baby Boomers. Alm do mais, as refernciasfamiliares no so as mesmas, as experincias pessoais so descartveis esuperciais, reetindo na vida prossional. Esse paradoxo se reete na ansiedade constante por mudar de trabalho, de amizades, de relacionamentosde atividades, constata.

    Mestre em Antropologia, Zilda estuda o comportamento dos teenagers, jovensda gerao Y e Z, e enfatiza que, apesar de serem considerados multitarefaspor usarem simultaneamente vrios itens tecnolgicos e bastante informados,ainda no aprenderam como transformar esta hiperexposio embriagante emconhecimento. Em funo disto, a pesquisadora aposta na retomada de valorespreponderantes em outras geraes. H movimentos cclicos ao longo da histria que nos mostram que, em certos momentos, os jovens sentem necessidade deretornar a alguns valores mais tradicionais, como forma de terem mais segurana, aponta, em entrevista concedida IHU On-Line por e-mail.

    Mestre em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federado Rio de Janeiro UFRJ, Zilda Knoploch ps-graduada em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing ESPM e membro da Enfoque Pesquisa deMarketing. Conra a entrevista.

    Teenagers: da informao

    ao conhecimento

    IHU On-Line Como as geraes Y eZ lidam com o consumo?Zilda Knoploch - As novas geraes aqui considero a gerao Y, que hojetem entre 18 e 30 anos, e a @ ou Zcomo alguns a chamam, que aindaadolescente, no est no mercadode trabalho, mas nas escolas sogeraes com mais poder em relaos marcas. Estes jovens so mais ma-rketing literate, ou seja, conhecemmais sobre comunicao e so mais

    crticos em relao s mensagensque as propagandas lhes remetemEles no so diferentes das geraesanteriores no tocante a terem noconsumo uma das suas formas de expresso. No entanto, eles interagemcom as marcas, no desejam maisserem meros receptores de mensa-gens, como foram os consumidoresda poca anterior s redes sociais es tecnologias de informao. Cadaum dos jovens potencialmente um

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    formador de opinio. E isto afeta suasrelaes de consumo.

    IHU On-Line Quais eram e quais sohoje as principais diferenas entreas geraes? Percebe uma diferenamais acentuada entre as geraes de

    hoje e as de trinta, quarenta anosatrs?Zilda Knoploch - As principais dife-renas entre estas geraes, como o caso de qualquer outro perodo his-trico, baseiam-se em dois conjuntosde circunstncias: o contexto (social,econmico, poltico e tecnolgico) eas suas aspiraes, que so fortemen-te inuenciadas por este contexto.

    Assim, se olharmos os fatos a partirdestes respectivos contextos, iremosnotar que a gerao X se caracterizou

    por um individualismo em funo de te-rem metas em vez dos ideais da geraoBaby Boomer, e assim o trabalho a suaferramenta para atingir um objetivo deestabilidade material. Esta gerao jrecebeu inuncia dos novos papis fe-minino e masculino, que comearam ase redenir a partir do advento da plulaanticoncepcional, que tornou possvel amulheres da gerao anterior (Baby Boo-mers) decidirem se queriam mesmo serapenas mes de famlia ou se desejavamcontrolar a vinda de seus lhos, para setornarem mais realizadas no mercado detrabalho. Nesta gerao, cresceu o n-mero de divrcios e a adaptao a ummundo com famlias menos tradicionaisfez parte do contexto.

    J a gerao Y, que hoje est com 18a 30 anos, vive uma necessidade aindamaior de adaptao. Alm de viver nummundo mais violento do que seus paisviveram, as novas tecnologias nasceramquando eles estavam saindo da adoles-cncia e eles passam a usufruir dessas

    vantagens na fase de adultecncia,quando j esto com um p na vida adul-ta, mas o outro, ainda no. Eles vivem acontradio de terem total liberdade se-xual, mas num mundo assombrado pelaAids, em que a vivncia desta liberda-de no mais possvel como o foi entreseus avs, os Baby Boomers, livres paraexercer sua sexualidade, e o faziam semmedo. Suas referncias familiares j noso mais as mesmas. As famlias tradicio-nais j so exceo para esta gerao. Eos novos papis femininos e masculinos

    esto trazendo muitas opes at paraos relacionamentos. Estes ltimos, cadavez mais superciais e descartveis tan-to se exercitam na vida pessoal como navida prossional: uma ansiedade cons-tante por mudar de trabalho, de amiza-des, de relacionamentos, de atividades.

    Sobre a mais nova gerao @, hmuito pouco ainda para sermos asser-tivos: eles ainda no saram da adoles-cncia e, sim, so nativos digitais: suarelao com a tecnologia natural.Eles nasceram e cresceram junto comas tecnologias. E isto j faz toda a di-

    ferena em suas jovens vidas.IHU On-Line Em que aspectos elasse assemelham?Zilda Knoploch - Quando olhamos paraos momentos em que estas geraes es-tavam na mesma idade, ou seja, quandoeram crianas e ou adolescentes, o queh e sempre haver em comum a ne-cessidade de construir sua identidade,de se desligar do domnio da sua fam-lia, criar sua independncia. O que di-ferencia estas geraes, entretanto, o

    contexto das famlias maior ou menortradicionalismo, relaes de poder oude autoridade e as formas de que elesdispem para exercer esta conquista deespao pessoal, independncia e suaprpria identidade. Neste caso, a tec-nologia tem tido um papel excepcional-mente diferenciador. Basta pensar nasformas que cada uma destas geraestinha para se comunicar, se educar e vi-venciar seu meio. Juventude da geraoX: sem celular, sem internet, sem carto

    de crdito, sem TV fechada, sem games;gerao Y, como os itens anteriores, po-rm na sua maioria vivendo na casa dosseus pais at bem mais tarde, sem seuespao privativo, o qual passaram a criardentro da sua casa, no seu quarto, comsua TV, seus games, seus celulares. E a

    gerao @, que chega com tudo isso sua disposio, sendo, inclusive a queensina seus pais e avs (das geraes X eBaby Boomers) a usar estes recursos.

    IHU On-Line Quais so os valoresdos teenagers?Zilda Knoploch - Os teenagers de hojeainda esto num processo de formar seusvalores. Neste sentido ainda so muitoinuenciados pela gerao anterior, Y,com a qual ainda dividem muitas carac-tersticas e, possivelmente, da qual ab-

    sorvero ainda muitos dos valores. Estesteenagers so, igualmente, multitarefaspodem usar e usam simultaneamentevrios itens de contedo e comunica-o (TV, computador, celular, iPod). Mascom o fenmeno da convergncia, elestendero a se expressar pela telas dostablets. Eles so um tanto egocntricose autocentrados, um tanto exibicionis-tas e encontram nas redes sociais suapossibilidade de viver uma cultura demicrocelebridades. Eles tm uma formamais natural de sexualidade, estimuladapelo contedo a que so expostos, quasesempre sem superviso dos seus pais. Eesta nova sensualidade uma das basesdo sucesso de cones como Lady Gaga1

    Shakira2, e outros pop stars que entram

    1 Stefani Joanne Angelina Germanotta(1986): mais conhecida pelo nome artsticoLady Gaga, uma cantora, compositora e produtora musical dos Estados Unidos. inspiradapor artistas e grupos de glam rock como DavidBowie e Queen, alm de cantores de msicapop como Cher, Cyndi Lauper, Elton John, Madonna, Grace Jones e Michael Jackson. Declarou que a moda uma fonte de inspirao para

    a sua composio e apresentaes. Conra nasNotcias Dirias do site do Instituto HumanitasUnisinos: Lady Gaga em perspectiva teolgica, publicada em 08-05-2011, disponvel emhttp://bit.ly/m7KLZn; Deus em Lady Gagaum hino aos marginalizados, publicada em 0705-2011, disponvel em http://bit.ly/myTzNiO fm do sexo na era de Lady Gaga , publicada em 15-10-2010, disponvel em http://bitly/91pZQC. (Nota da IHU On-Line)2 Shakira Isabel Mebarak Ripoll (1977): cantora, compositora, coregrafa, produtora, lantropa, danarina e atriz colombiana. VenceVencedora de 2 prmios Grammy, 8 Latin Grammy, 4VMA, 1 EMA, 2 AMA, 3 BMA, 20 Latin BillboardAwards e 3 WMAe 4 NRJ Music Awards. ShakiShakira j vendeu mais de 92 milhes de lbuns no

    A tecnologia tem

    tido um papel

    excepcionalmente

    diferenciador. Basta

    pensar nas formas que

    cada uma destas

    geraes tinha para se

    comunicar, se educar e

    vivenciar seu meio

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    em suas telas sem qualquer restrio.Eles so impacientes, como a geraoY, e acreditamos que sero ainda mais,pois sua noo de tempo e de velocida-de, cunhada pela velocidade da internetbanda larga, os torna mais exigentes emais angustiados em consumir e produ-

    zir mais e mais informao: seja vdeos,fotos e dilogos em real time.

    Por isto tudo, sua relao com seusavs, da Gerao X ou Baby Boomer,causa a estes crescente angstia: oque posso ensinar para estes netos?Como entender o que eles falam?Como estabelecer um dilogo? Comotraar limites?

    IHU On-Line Quem so os heris eos mitos destas novas geraes?Zilda Knoploch - Os heris e mitos dasnovas geraes (Y e @) so as celebri-dades do mundo musical e dos esportes.No so os polticos, nem os cientistas,nem os empresrios. E o heri mximo(herona) a Me. H uma crescentedescrena em relao a guras pblicas,governantes, legisladores. Um vazio delideranas. Um culto a realizao rpi-da, sem tanto esforo, talvez com algumtalento, mas no necessariamente. Videas celebridades geradas pelo BBB.

    IHU On-Line Como as antigas gera-es podem compreender e se comu-nicar com a juventude?Zilda Knoploch - Esta uma respos-ta que vale muitos milhes de dlares,no ? No h uma frmula. Temos queacompanhar estas geraes atravs depesquisas, como empresas vm fazendoao longo de pelo menos 20 anos. Hoje,ao pesquisar as vrias geraes que con-vivem na nossa sociedade, observamoscomo elas se relacionam, e que desaoscada uma tem tido para manter um di-

    logo produtivo. Da mesma forma, asmarcas precisam deste acompanhamen-to a m de poder serem relevantes paraestes jovens de hoje. E isto quer dizer:estabelecer conversas, dilogos, em vezdos monlogos que eram no s aceit-veis, como a nica forma possvel antesdas novas tecnologias. E acompanhar

    mundo segundo a BMI, sendo uma das maioresvendedoras de discos nos anos 2000. Uma dasmelhores cantoras latinas de todos os tempos,hoje a que est mais na mdia e suas msicassempre no topo das paradas de todo mundo.(Nota da IHU On-Line)

    como as tecnologias afetam estas rela-es, como venho fazendo e orientandomuitos dos meus clientes no meio em-presarial.

    IHU On-Line Como o comportamentodas geraes X e Y reetem no mer-

    cado de trabalho? Quais os limites eas possibilidades dessa relao?Zilda Knoploch - As geraes X e Y somuito diferentes quando o tema o mer-cado de trabalho. H grandes conitosdecorrentes deste gap. Se para a gera-o X, a produtividade e a objetividadeso valores predominantes para atingirmetas, para a gerao Y, as metas no tra-balho no as sensibilizam. Eles tm maismetas pessoais, querem trabalhar me-nos, ter mais liberdade, mais exibilida-de. E, principalmente, no aceitam bemas hierarquias tradicionais no trabalho.Isto gera um imenso conito no ambien-te funcional e uma grande insegurana por parte da gerao X de como lidarcom estes jovens, que, em grande parte,tm excesso de autoconana e poucanoo de circunstncias. Eles so, quasesempre, vistos como difceis de liderar.Eles no querem lideres no ambiente detrabalho, nem querem liderar. Queremrelaes de igual para igual. Por outrolado, falta-lhes o conhecimento que a

    gerao X detm, e este o trunfo destagerao neste relacionamento delicads-simo. Anal, as empresas precisam des-tes jovens Y, pois eles sero os futurosgestores, quando a gerao X comeara se retirar.

    IHU On-Line A senhora mencionaque a sociedade ainda no assimiloucomo entender os teenagers, comoentrar no seu mundo e projetar seucomportamento quando assumirem opapel adulto. O que podemos esperarO que podemos esperar

    desta gerao nos prximos anos?Zilda Knoploch - Eles vo crescer eviver seus prprios desaos, de cres-cer num mundo mais dominado pelatecnologia, que deixa de ser vanta-gem competitiva, j que todos a do-minaro. Eles vivem numa era que jclassico como a era do conhecimen-to, e no mais da informao. Os Yso superinformados, mas ainda noaprenderam como transformar estahiperexposio embriagante em co-

    nhecimento. Creio que os atuais te-enagers devero se encaminhar maisnesta direo. H movimentos cclicosao longo da histria que nos mostramque, em certos momentos, os jovenssentem necessidade de retornar a alguns valores mais tradicionais, como

    forma de terem mais segurana. Istoj se delineia um pouco, ao vermosum movimento meio retr em vrios aspectos do consumo. A msica um deles (os jovens esto curtindo osRolling Stones e Paul McCartney, sexa-genrios, junto de seus pais e avs).De toda a forma, vejo que o ambientesocial como um todo (famlia, escolaempresas, poltica, economia) serafetado e afetar as novas possibilida-des que a tecnologia disponibiliza snovas geraes, acelerando seu processo de educao, de informaode formao e at, infelizmente, dedeformao. Todos teremos que rein-ventar muitas das nossas prticas derelacionamento com os jovens, tantono plano da famlia quanto nas outrasinstncias da sociedade que esto emmutao a cada gerao. S reforoque tudo com eles muito mais r-pido. A sociedade, entretanto, emmuitas coisas, como a infraestruturaos programas educacionais, as ferra

    mentas de insero tecnolgica, notem se mostrado gil e da decorreme decorrero muitos abismos a seremvencidos.

    IHU On-Line Quais so as pretensesprossionais das novas geraes?Zilda Knoploch - Os jovens Y queremmenos rigidez, mais liberdade, e nodaro o sangue para crescer nas empresas como a gerao anterior faziaEles so superciais e impacientes esua vida pessoal tem prioridade sobre

    a vida empresarial. Isto j causa gran-des conitos. A gerao @ tender aaumentar este tipo de comportamen-to. Porm, medida que vai encontrarsuperiores da gerao Y, o conito quehoje existe no ambiente de trabalhotende a ser menor. Vamos vivenciarcada vez mais trabalhos remotos, exibilidade de horrio, bancos de horas,remunerao baseada em cumprimento de metas e no de horrio. O resto um pouco de futurologia.

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    Gerao Y e as novas formas de lidar com o saber

    Para o psicanalista Mrio Corso, a gerao Y levemente contraditria: quer ser indepen-dente, mas pouco rompe a relao com os pais

    Por Patricia Fachin

    A

    partir da experincia e do contato com jovens no consultrio, o psicanalista Mrio Corso observaque o comportamento da chamada gerao Y diferente da juventude dos anos 1980, ou seja,daqueles jovens que nasceram entre as dcadas de 1960 e 1970. A maneira como eles lidam com osaber, segundo Corso, o aspecto que mais os difere de seus antecessores. A cultura tradicionalde que o ancio era o sbio foi decaindo com as ltimas geraes e a gerao Y levou isso ao paro-

    xismo, ao ponto mximo, e inverteu essa questo: a idade no garantia de nenhuma sabedoria para eles eisso leva a uma srie de mal entendidos no sistema de aprendizagem, pois vrios professores no conseguemlecionar para essa gerao. O fato de no respeitar a hierarquia, segundo Corso, no deve ser compreendi-do como um desrespeito, no se trata disso e, sim, de outra maneira de se portar.

    Na entrevista que segue, concedida IHU On-Line por telefone, o psicanalista explica que, em ge-ral, os jovens de hoje pertencem a um modelo familiar mais estreito, em que os filhos convivem com aexigncia do no fracasso constantemente. Os pais desta gerao colocam os filhos em uma injunode gozo da vida, ou seja, como eles no tm nada para transmitir, resta ter uma vida para ser gozada.Isso difcil de levar, porque o gozar a vida se torna um imperativo a partir do qual o indivduo obri-gado a ter prazer, muito prazer.

    Corso tambm compartilha da opinio de que os Ys so mais ansiosos em relao aos jovens dasgeraes anteriores e esclarece que, na psicanlise, este sentimento compreendido como angstia e

    se instala quando as pessoas no sabem para onde ir.Membro da Associao Psicanaltica de Porto Alegre - Appoa, Mrio Corso graduado em Psicologia pelaUniversidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Escreveu os livros Monstrurio (Porto Alegre: Tomo Edi-torial, 2002), Fadas no div(Porto Alegre: Artmed, 2006) eA Psicanlise na Terra do Nunca (Porto Alegre:Artmed, 2011), os dois ltimos em parceria com Diana Lichtenstein Corso. Conra a entrevista.

    IHU On-Line - A partir da sua experi-ncia clnica, que novidades percebeno comportamento da chamada ge-rao Y?Mrio Corso O que mais me chama

    ateno nesta gerao a maneiracomo lidam com o saber. Eles j nas-ceram com um esquema pedaggicodiferente dos outros. Desde pequenostiveram a liberdade de escolher o quequeriam aprender e tudo isso inun-cia no jeito deles viverem. O aluno dehoje pode estudar temas com os quaisse identica e essa inuncia pedag-gica o contamina no bom sentido.

    Esses jovens tm uma peculiaridadede no admitir a alteridade do saber,que era uma questo bastante clssica

    no ensino. Eles percebem o professorcomo um facilitador, no reconhecema sabedoria da gerao anterior e atratam de igual para igual, argumen-tando que essa uma gerao um pou-

    co mais vivida. A tem uma inunciados pais, que foram pouco conantesna sua prpria sabedoria e nos valoresque tinham de transmitir.

    A cultura tradicional de que o an-cio era o sbio foi decaindo com asltimas geraes e a gerao Y levouisso ao paroxismo, ao ponto mximo,e inverteu essa questo: a idade no garantia de nenhuma sabedoria paraeles e isso leva uma srie de mal-en-tendidos no sistema de aprendizagem,pois vrios professores no conseguem

    lecionar para essa gerao.Para se apropriarem do saber, eles

    precisam falar sobre aquilo; queremparticipar da aula, serem escutadospelo professor, mesmo quando no sa

    bem opinar sobre determinado assunto. Mas esse o jeito deles de se apro-priarem da novidade. outra maneirade se portar e isso gera confuses emaula, porque parece que eles agemcom desrespeito, quando, em verdade, no se trata disso, mas, sim, deoutra maneira de se portar.

    A assimetria hierrquica no res-peitada por esta gerao; so o avessodo Exrcito, totalmente democrtica etem diculdade de perceber e admitiras hierarquias do mundo. So bastante

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    anarquistas no sentido poltico do ide-al de um mundo pouco hierarquizado.

    No sei qual ser o resultado destecomportamento. S podemos analisar osefeitos de uma gerao depois de colheros frutos. Sinceramente no h como sa-ber que tipo de sujeito ir se formar.

    IHU On-Line A individualidade tam-bm pode ser considerada uma ca-racterstica desses jovens?Mrio Corso No acredito, embora oindividualismo esteja consolidado des-de o sculo XX. Diria que a gerao Y mais preocupada com o meio ambien-te e mais fcil convencer um jovemde 20 do que um indivduo de 70 anosa recolher o lixo seco, por exemplo.Nesse sentido, quem o mais indivi-dualista? Se eles fossem to individua-

    listas, teriam como ideal um lugar deuma assimetria forte. As pessoas con-fundem individualismo com egosmo ecom indivduos autocentrados. Pensoque os jovens so um pouco autocen-trados; tm diculdades de aprendercom a experincia alheia.

    IHU On-Line - Muitos especialistascaracterizam a gerao Y como an-siosa. Essa uma particularidadedesta gerao, ou pode ser atribudaaos jovens, independentemente do

    momento histrico em que vivem?Em que medida a ansiedade um re-exo da cultura de redes?Mrio Corso Para falar dos jovens dehoje, temos de falar um pouco sobrequem so os pais desta gerao. A an-siedade deles est ligada ao tipo deeducao que os pais deram, a qualfoi bastante vazia. Que valores os paispassaram para esses lhos? Quandoperguntamos a alguns pais o que elesquerem que os lhos sejam, respondemque desejam a felicidade, que se rea-lizem. Este desgnio intransitivo. Serfeliz genrico, no diz nada. Alis,quem deseja que o lho seja infeliz? Es-ses pais no dizem absolutamente nadapara seus lhos, ao contrrio da gera-o anterior, que transmitia uma visoslida que orientava em uma direo,embora os lhos optassem, s vezes,por outros caminhos. Os pais desta ge-rao colocam os lhos em uma injun-o de gozo da vida, ou seja, como elesno tm nada para transmitir, resta ter

    uma vida para ser gozada. Isso difcilde levar, porque o gozar a vida se tornaum imperativo a partir do qual o indiv-duo obrigado a ter prazer, muito pra-zer. No toa que esta gerao vivenum crescente momento de relaestoxicmanas. Se a questo bsica a

    busca pela felicidade, porque no usarum atalho perfeito como a droga? Pen-so que a falta de rumo destes jovensfoi dada pela gerao anterior, que noconseguiu traduzir para eles alguns va-lores. uma gerao frustrada pelo queconseguiu na vida e encarrega os lhosde fazer por eles. A gerao Y pertencea uma famlia nuclear mais estreita eos lhos no podem falhar. Os pais es-peram muito deles e a exigncia do nofracasso est sempre presente.

    Essa uma juventude mais ansiosaque a anterior, tem muita pressa deviver. A pressa, na psicanlise, com-preendida como angstia e se instalaquando as pessoas no sabem paraonde ir. Quanto menos se sabe paraonde ir, mais pressa se tem.

    Nunca se viveu tanto e por que tertanta pressa? Antigamente, a expecta-tiva de vida era muito menor e quemtinha 50 anos era considerado velho etinha netos. Hoje em dia, aos 50 anosestamos na metade da vida e s se velho aos 80.

    IHU On-Line Percebe algum conitosocial entre as diferentes geraes?Pode-se falar em mudanas nas rela-es familiares a partir do comporta-mento e dos valores da atual geraode jovens?Mrio Corso Os jovens no saem de

    casa to cedo porque o conito de geraes acabou. No conito clssico dadcada de 1960, havia geraes dife-rentes, que tinham impossibilidade deconviver. Hoje, as geraes no soto diferentes e vivem sob os mesmospadres de vida.

    Um jovem pode fumar maconha emcasa porque os pais tm um discursode que melhor transar em casa doque na rua. Antes, esses assuntos eramimpensveis e o impulso de sair da re-sidncia era a impossibilidade de conviver. Hoje, no h essa ruptura. Sebem que esta gerao impe limitespor meio do corpo: alguns se tatuammuito e a partir disso delimitam o corpo como uma forma de dizer que nopertencem mais ao pai e me, embora vivam na residncia paterna.

    Enquanto os lhos moram com ospais, eles no se responsabilizam pouma srie de atividades. Essa geraoprolonga a infncia e a adolescnciae levemente contraditria: muitoprincipista em algumas questes de independncia, mas, na prtica, rompepouco com os pais.

    Alguns assuntos so fronteiras difceise eu no sei como pensar: parece queessa acelerao do mundo e essa ques-to de fazer experincia assimilaode uma acelerao do mundo moderno

    e do capitalismo avanado. Por seremmais frgeis, talvez os jovens sejam fa-cilmente cooptados pelo consumo.

    Os jovens de hoje tambm se di-ferenciam bastante em funo da vir-tualidade. A rede social se d de umamaneira distinta. mais fcil ser di-ferente hoje porque a tecnologia pro-porciona mais chances de se conectarcom outros diferentes. Se antes asgeraes estavam mais condenadas auma corrente principal de ideias, hoje mais fcil encontrar a sua excentri-cidade. O que diferencia esta gerao a capacidade de se comunicar compessoas distantes. Essa conexo eraimpensvel antigamente. Parece queessa relao ter um efeito positivo.

    Percebo que o jovem o que nopelo que ele faz. Antigamente, a prosso dava mais identidade aos indivduos. Os jovens no se inclinam parauma prosso e ela tem menos sentidopara eles. Ao falar com um jovem, eleconta vrios aspectos de sua vida e po

    Se antes as geraes

    estavam mais

    condenadas a uma

    corrente principal de

    ideias, hoje mais fcil

    encontrar a sua

    excentricidade

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    Leia Mais...Mrio Corso j concedeu entrevista IHU

    On-Line. O erte dos adolescentes e jovens com a morte.Publicada na edio 312, de 26-10-2009. Acesseno link http://migre.me/4rdQC; O grande medo dos jovens no encontrarum lugar no mundo adulto. Publicada na edio273, de 15-09-2008. Acesse no link http://migre.me/4rdTt.

    ltimo fala de sua prosso.

    IHU On-Line - Como o senhor v anecessidade desta gerao por cons-tantes avaliaes em relao ao seudesempenho?Mrio Corso A essncia do humano o

    reconhecimento. No sei se essa gera-o busca mais aprovao do que a an-terior. Entretanto, buscam aprovaoentre eles, querem ser aceitos muitomais pelo grupo do que pelos pais. Aest uma diferena: enquanto as gera-es anteriores buscavam mais aprova-o dos pais, esta se preocupa com aopinio do grupo da gerao deles.

    IHU On-Line Resumidamente, quevalores norteiam o comportamentoda gerao Y?

    Mrio Corso No sei se os valores delesse diferenciam muito dos da gerao an-terior. Penso que eles tendem a acredi-tar mais em uma tica visvel. Acreditammenos no discurso que uma pessoa ca-paz de dizer do que nas aes concretase cotidianas. Eles parecem preocupadoscom a tica e a verdade. No esto pre-ocupados com o que se diz, mas com oque se faz. A minha gerao esteve maisvoltada para os ideais, enquanto estatem menos ideais. Esta, porm, estpreocupada com o comportamento e seele condizente com o discurso.

    Eles parecem

    preocupados com a tica

    e a verdade. No esto

    preocupados com o

    que se diz, mas com

    o que se faz A relao que os jovens estabelecem com a internet temtransformado costumes que anos atrs eram corriqueiros,como visitas pessoais. Hoje, a prioridade o contato virtuale tudo que eles precisam saber sobre os amigos est disponvelem stios de relacionamento, constata o consultor DanielPortilho Serrano

    Por Patricia Fachin

    Ocomportamento das geraes Y e Z e a relao que os jovens man-tm com a internet tm causado estranhamento entre as gera-es anteriores, que nem sempre compreendem a necessidade deeles estarem conectados constantemente internet. A justicativa, segundo o professor e consultor Daniel Portillo Serrano, est

    muito mais relacionada novidade do que com a prpria necessidade.Embora a gerao Y tenha nascido junto com as tecnologias, entre os Zs

    aqueles que nasceram depois dos anos 1990 e 2000, que o acesso rede temse intensicado. Em entrevista IHU On-Line por e-mail, Serrano mencionaque a gerao Z a encarnao do que a Y gostaria de ter sido. Enquanto

    os jovens dos anos 1980 tinham de usar modems para acessar a internet, agerao Z trata as conexes Internet como se fossem o fornecimento deeletricidade ou gua. Assim como sabem que, ao abrir uma torneira, a guasai e ao ligar um equipamento em uma tomada, ele funciona, a internet algo abundante e disponvel, compara.

    Daniel Portillo Serrano graduado em Comunicao Social com especializao em Publicidade e Propaganda pela Universidade Anhembi Morumbi,ps-graduado em Administrao de Empresas pelo Centro Universitrio Ibe-ro-Americano e mestrando em Administrao de Empresas pela UniversidadePaulista Unip. Atualmente leciona Marketing e Estudos de Comportamentodo Consumidor na Faculdade Eniac Educao Bsica e Superior, e Comportamento do Consumidor e Tendncias de Consumo nos cursos de ps-graduaodas Faculdades Integradas de Bauru - FIB. Conra a entrevista.

    Y e Z: duas geraes em busca

    da novidade

    IHU On-Line - Por que a gerao Yest sempre conectada internet?Como compreender essa necessida-de de estar sempre online?Daniel Portillo Serrano - A juventudeatual nasceu cercada de computado-res. No foi, no entanto, o dispositivoque chamou a ateno dessa gerao,mas, sim, a possibilidade de utiliz-lo

    para se conectar e manter-se onlinePermanecer conectado d aos com-ponentes da gerao Y a sensao deque nenhum fato, nenhuma notcianenhum acontecimento vai passardespercebido. A gerao Y nasce soba gide do imediatismo, da informa-o instantnea.

    Diferente dos seus pais, que espe

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    para entrar no seu mundo, a geraoZ j nasceu conectada. No h maisa necessidade de um computador. Ainternet est presente em todos osseus equipamentos: telefone, note-books, televisores de ltima geraoe dispositivos portteis. Conversa

    com os amigos por SMS (j que o e-mail est fora de moda). Ao invs deusar o celular no ouvido o utilizam frente dos olhos. So multitarefa eno so fieis a trabalhos ou empre-gos que no estejam de acordo comsuas crenas.

    IHU On-Line - O senhor diz que a ge-rao Z se parece mais com a Y doque os prprios Y. Em que aspectose por qu?Daniel Portillo Serrano - A geraoZ a encarnao do que a gerao Ygostaria de ter sido. Vrios adoles-centes da gerao Y tinham que usarmodems, ou acesso discado paraentrar na internet. Sempre fren-te de um computador Y. A gerao Ztrata as conexes internet comose fossem o fornecimento de eletri-cidade ou gua. Assim como sabemque ao abrir uma torneira a gua saie ao ligar um equipamento em umatomada, ele funciona, a internet

    algo abundante e disponvel. Poucosconheceram uma conexo discada.Na verdade poucos sabem o que sig-nifica discar.

    IHU On-Line - O que se pode esperarda gerao Z em relao tecnologiae ao comportamento voltado para asredes?Daniel Portillo Serrano - A geraoZ ser a grande consumidora de tec-nologia dos prximos anos. Poucosfabricantes esto atentos a isso. En-

    quanto todos festejam a gerao Ycomo os consumidores do futuro, a gerao Z que acaba consumindoos gadgets mais badalados e inova-dores. A gerao Y j est entrandono mercado de trabalho produzindoo que eles no tiveram de geraesanteriores. Grande parte procuraempresas de tecnologia para fabri-car sonhos inimaginveis anos atrs.Os grandes consumidores dessa for-nada ser a gerao Z.

    Por aneLise Zanoni

    Talvez a tecnologia seja a grande alavanca de mudana das ltimasgeraes que esto saindo ou chegando ao mercado de trabalho.Primeiros a crescerem em frente TV, os chamados baby boomerspuderam compartilhar grandes eventos culturais e acompanharamde forma ativa importantes momentos do sculo XX. Por outro lado

    o grupo que surgiu aps os anos 1960 (e at 1979), chamados da Gerao X,conviveu com transformaes rpidas do mundo, lutaram contra represses

    ainda existentes e buscaram a prpria identidade.Mais evoludos tecnologicamente, os integrantes da Gerao Y so tema de

    diversas discusses, principalmente pelo fato de eles conviverem facilmentecom a internet e modicarem modos de viver, agir e pensar.

    Para compreender a dinamicidade de cada uma das pocas, a IHU On-Lineconversou com pessoas de diferentes idades. A partir de chas e depoimentos, possvel reconhecer semelhanas e grandes diferenas, o que faz de cadauma das geraes algo nico. Conra.

    Diferentes geraes,

    novos pensamentos

    BABY BOOMERS (nascidos entre 1940 e 1959)

    Nome: Marisa Ferreira RoqueIdade: 54 anosProsso: nutricionistaReligio: catlicaMercado de trabalho : uma opo oferecida para as pessoas trabalharemO emprego ideal : aquele em que a pes-soa gosta do local, tem um horrio paraconciliar a vida pessoal e com boa remu-nerao

    Famlia : um porto seguro, onde podemos nos apoiar

    Como constituda minha famlia: eu e meu maridoRelacionamento: casada h 17 anosUm tipo de msica: brasileiraUma pessoa que admira: minha meO que fao nas horas de lazer: trabalhos manuais, olho TV, ouo msica evejo lmesO que o amor: um sentimento acompanhado de companheirismo, svezes difcil de explicarQuais so os dolos na msica: Bono VoxMelhor tecnologia inventada: telefone celularO que acha da internet: timo, se controladaRedes sociais: no uso

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    17/52SO LEOPOLDO, 16 DE MAIO DE 2011 | EDIO 361 1

    GERAO X (nascidos entre 1960 e 1979)

    Nome: Carlos Alexandre

    Fonseca PereiraIdade: 34 anosProsso: auxiliar adminis-trativoReligio: no tenhoMercado de trabalho : umcampo de oportunidades

    prossionais no qual precisamos nos adaptarO emprego ideal : aquele que concilia bom salrio e apossibilidade de estabilidadeFamlia : duas pessoas que se amamComo constituda minha famlia: eu e minha esposaRelacionamento: casado h 10 anos

    Um tipo de msica: MPBUma pessoa que admira: minha meO que fao nas horas de lazer: estudo, toco violo eouo msicaO que o amor: respeito e cumplicidadeQuais so os dolos na msica: Gilberto Gil e CaetanoVelosoMelhor tecnologia inventada: internetO que acha da internet: uma faca de dois gumesRedes sociais: uso Facebook, MSN e Twitter

    GERAO Y (nascidos entre 1980 e 1999)Nome: Matheus Borba Gui-maresIdade: 17 anosProsso: estudanteReligio: no temMercado de trabalho : umdesao para seguir na vidaO emprego ideal : algo

    que no seja cansativo e tenha boa remuneraoFamlia : algo que car para sempre ao seu ladoComo constituda minha famlia: eu, pai, me e irm

    Relacionamento: namoraUm tipo de msica: rockUma pessoa que admira: avO que fao nas horas de lazer: saio com amigos e cona internetO que o amor: aquilo que faz as pessoas mudarem ojeito de pensar e nos deixa mais felizQuais so os dolos na msica: Kurt CobainMelhor tecnologia inventada: internetO que acha da internet: o melhor do sculoRedes sociais: acesso Orkut, Facebook, MSN, Last.fm eTwitter

    GERAO Y (nascidos entre 1980 e 1999)Nome: Mariana VazIdade: 19 anosProsso: estudanteReligio: catlica, apenasbatizadaMercado de trabalho : lu-gar onde vou atuar depoisda universidade

    O emprego ideal : algo que eu goste de fazer e queme d satisfaoFamlia : a base da vida

    Como constituda minha famlia: eu e minha avRelacionamento: namoroUm tipo de msica: rock anos dos anos 1960 e reggaeUma pessoa que admira: minha meO que fao nas horas de lazer: co na internet ou durmoO que o amor: a base de um bom relacionamentoQuais so os dolos na msica: John Lennon e Bob MarleyMelhor tecnologia inventada: internetO que acha da internet: a melhor tecnologiaRedes sociais: acesso MSN, Orkut e Facebook

    GERAO Y (nascidos entre 1980 e 1999)

    Nome: Mayara Vargas

    Idade: 18 anosProsso: estudanteReligio: catlica, mas nopraticoMercado de trabalho : ondevou ganhar dinheiroO emprego ideal : um loca

    onde vou atuar e ser felizFamlia : unio e base para a vidaComo constituda minha famlia: eu, minha me e minha avRelacionamento: solteiraUm tipo de msica: ecltico

    Uma pessoa que admira: minha av e minha meO que fao nas horas de lazer: co na internet e assistoa lmesO que o amor: so todos os bons sentimentos em um sQuais so os dolos na msica: John Lennon e Bob MarleyMelhor tecnologia inventada: telefoneO que acha da internet: uma das melhores tecnologiasRedes sociais: uso MSN, Twitter, Facebook e Orkut

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    18/5218 SO LEOPOLDO, 16 DE MAIO DE 2011 | EDIO 361

    GERAO Y (nascidos entre 1980 e 1999)

    Nome: Bruna Lu-casIdade: 18 anosProsso: estu-danteReligio: evang-lica praticanteMercado de traba-lho : um investi-mento para a vida

    O emprego ideal : aquele que eu consiga serfamosaFamlia : unio e amorComo constituda minha famlia: eu e meu paiRelacionamento: solteiraUm tipo de msica: eletrnicaUma pessoa que admira: me, pai e eu mes-maO que fao nas horas de lazer: durmoO que o amor: tudo na vidaQuais so os dolos na msica: o DJ David GettaMelhor tecnologia inventada: computadorO que acha da internet: timoRedes sociais: MSN, Twitter, Facebook e Orkut

    Sou a tpica jovemda gerao Y. No sei vi-ver sem Internet, vou dosamba ao rock em um se-gundo. Minha vida pessoalvem sempre em primeirolugar e eu fao mil coisasao mesmo tempo.

    Considero pontos fortesda minha gerao a capa-cidade de adaptao, criatividade e coragem.

    Tenho orgulho de fazer parte dessa geraoque est quebrando as regras do mundo cor-porativo com suas jornadas de trabalho ex-veis e a convivncia com as outras geraes deigual para igual, no se importando com quemsabe mais e, sim, trocando experincia e co-nhecimento o tempo todo.

    Karine Santos da Silva tem 2 anos, estudan-te de Administrao de Empresas e atualmentetrabalha na empresa Reiter Log

    Com a ideia de fazer meuTrabalho de Concluso de Cursosobre redes sociais e a geraoY, vi a a oportunidade de fa-lar sobre algo que de extre-

    ma importncia, visto que osindivduos da gerao Y estochegando s lideranas empre-sariais e, com isso, o atual con-texto organizacional est tendode se moldar ao comportamen-to desses jovens.

    Lendo o livro A Gerao Yno trabalho: Como lidar coma fora de trabalho que in- uenciar defnitivamente acultura da sua empresa (Riode Janeiro: Campus/Elsevier,2010), de Nicole Lipkin, perce-bi que a gerao que me incluo perfeitamente previsvel emsuas caractersticas. Por termos sido criados na melhor fasepoltico-econmico-social do mundo, nossos pais puderam nosdar uma educao recheada de ateno especial, tecnologia esempre fomos tratados como lhos especiais.

    Por causa disso, hoje temos diculdade de lidar com crticase feedbacks de nossos chefes. Queremos ser bem-sucedidos efocamos na carreira desejada custa da carreira atual. Fala-mos o que nossos superiores no esto dispostos a ouvir e pre-cisamos de graticao e reconhecimento instantneo, o quenos torna ansiosos e impacientes no ambiente de trabalho.

    Lendo um blog, encontrei uma denio um tanto engraada,mas tambm preocupante em relao gerao Y. A autora doblog fazia a aluso aos fones de ouvido, de que os os do foneformam um Y. Praticamente todos os jovens Ys so adeptos stecnologias (MSN, celular, ipods, ipads, jogos) e diversas vezes aspreferem ao contato pessoal. Acabamos por nos tornarmos umagerao introspectiva e a relao interpessoal est sendo deixadade lado. De certa forma, isso est se reetindo negativamente noambiente de trabalho.

    Por outro lado, temos estilos prprios e autnticos, somosabertos a perguntas, trabalhamos muito bem em equipe, somosinovadores e no temos medo de exposio com novas ideias. Va-lorizamos a integrao da vida prossional com a pessoal para ga-

    rantir uma melhor qualidade de vida. Tambm temos quase totaldomnio do mundo digital. Somos a gerao menos preconceituosados ltimos tempos e lidamos bem com as diferenas. Damos maisvalor ao talento do que ao tempo de trabalho.

    Em resumo, somos a gerao do momento, o que no faz dens os ltimos. A gerao Z j est a. As crianas so inteligen-tssimas, sabem mexer em qualquer tecnologia e falar quasesem erros gramaticais antes dos trs anos de idade.

    Andrezza Nascimento estudante de Relaes Pblicas e tem22 anos

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    19/52SO LEOPOLDO, 16 DE MAIO DE 2011 | EDIO 361 19

    Meu nome Carlos Alberto Britto Salamoni. Nasci emPorto Alegre, em 1971. Tenho 39 anos. Vivo uma espciede crise pr-40, questionando o que z da minha vida at

    agora. Por enquanto o saldo positivo. Estudei em escolapblica e z cursinho pr-vestibular para ingressar na uni-versidade federal. Tentei ser cirurgio-dentista, mas desistino primeiro semestre. Uma deciso difcil, porm correta.Mudei para o jornalismo, mais uma deciso correta. Traba-lho com comunicao institucional, caminho que percorrodesde o primeiro estgio, quando ainda estava na facul-dade. Fiz vrias publicaes para dezenas de empresas,trabalhando em uma pequena editora. Teria feito carreirapor l, mas quatro anos foram sucientes para eu perceberque a remunerao no iria muito alm do piso da catego-ria. Sa e trabalhei um tempo, produzindo vdeos publicit-rios. Experincia fascinante, porm desgastante pela falta

    de vnculos trabalhistas e da segurana nanceira que umemprego formal proporciona, pagando salrio todo ms,frias, 13, fundo de garantia. Sou muito p no cho.O convite para fazer uma entrevista em uma empresa foisuciente para eu desistir da publicidade. Voltar formali-dade, deu uma certa tranquilidade, tanto que estou h dezanos nessa empresa. S saio, se me mandarem embora.

    Gosto de fazer uma coisa de cada vez e de me envolverem projetos longos. A multiplicidade de tarefas no mesmodia e at na mesma hora atrapalha a minha produtividade.Perco o controle da situao, o que desastroso. O reexodireto disso a baguna na mesa de trabalho. Quando tudoest bem, minha mesa digna de prmio no 5S. Mantenhomeus arquivos bem organizados no computador. Qualquercolega poder encontr-los com facilidade. Minha neces-sidade de organizao virtual tambm vale para a minhacaixa de e-mails. Caixa cheia me d nos nervos. Procuromanter o mnimo necessrio para no me confundir. Noco olhando a caixa toda hora. E-mail urgente se mandapor telefone.

    Hbitos - Gosto de ler livros de papel, de anotar, de su-blinhar. Comecei minha vida adulta acompanhando uma re-voluo tecnolgica que hoje chegou aos tablets. No consigoler muito texto em telas, meus olhos cansam rapidamente,

    mesmo que eu esteja de culos. Folhear faz parte da leitura.Na minha opinio, ainda est por ser inventado um suporte decomunicao escrita mais acessvel do que livros e revistas.

    Msica - Sou apaixonado por msica, principalmente porrock, mas no toco um acorde. Sou um ouvinte apaixonado.Alguns de meus dolos morreram antes de eu nascer (Jim Mor-rison, Jimmy Hendrix, Janis Joplin), seria a maldio da letraJ? Outros, morreram quando eu era s um garotinho (Moon,Bonzo). Mas h os resistentes s mazelas desse estilo de vida

    (Ozzy Osbourne, Keith Richards). Como dizia Cazuza, meusheris morreram de overdose, meus inimigos esto no poder,ou estavam? Colecionava discos de vinil que ouvia exaustiva-mente at arranh-los. Troquei toda minha coleo pelo CD,mais durvel e menos volumoso. Agora estou substituindo meusCDs por arquivos digitais, migrando do fsico para o virtual. Jcopiei toda a coleo para o computador, o que me permiterecopi-la para o MP3 player, meu aparelho de som favoritodada a portabilidade dele. A msica est onde eu estiver. Na

    msica, a tecnologia digital conseguiu substituir os meios tra-dicionais. A possibilidade de baixar msicas na internet abriujanelas que pareciam trancadas pelo tempo. Descobri bandasesquecidas ao longo da histria que no chegaram aos meusouvidos na adolescncia. Hoje possvel ouvir o ltimo lan-amento de uma banda antes do CD chegar s lojas. Isso fascinante. Como as gravadoras vo se virar com isso? No sei, problema delas.

    Sonhos - Quero viajar com minha famlia, conhecer ovelho mundo, sentir o seu cheiro, ouvir o seu barulho, sen-tir o sabor de sua culinria, tocar em paredes com centenasde anos, viver num outro jeito de viver. Fotograas so

    muito articiais e limitadas.Quero acompanhar mais de perto a educao da minhalha, hoje com trs anos. Poder ajud-la nas tarefas daescola. Vai ser divertido poder ensinar. Quem sabe, um diaeu aprenda a tocar um instrumento, junto com ela. Tenhoum teclado guardado embaixo da cama da minha lhotaUm dia vou apresent-lo. Espero que ela goste.

    Carlos Salamoni jornalista, tem 39 anos e h 10 trabalha na Fun

    dao CEEE, em Porto Alegre

    Carlos (X), Valentina (Z) eoroCkComogostoemComum

  • 8/6/2019 RevistaIHU Geracoes Cultura Digital

    20/5220 SO LEOPOLDO, 16 DE MAIO DE 2011 | EDIO 361

    Nasci em 1986 e me denocomo uma clssica representan-te da gerao Y. No gosto dessertulo de que somos ansiosos,mas, de certa forma, este nos-

    so jeito de ser est relacionadocom as tecnologias. Somos umagerao acostumada com respos-tas rpidas e queremos rapideztanto nas relaes de trabalhocomo nas de consumo.

    Para compreender as crticasfeitas a jovens da minha idade,estudei o comportamento da gerao Y e recentemente nalizei o Trabalhode Concluso de Curso do MBA. Na ocasio, estudei trs empresas fundadaspor prossionais Ys e vi que nessas organizaes a relao com o trabalho diferente, principalmente em relao hierarquia. As empresas formadas porYs so mais uidas, exveis em relao ao horrio, o que no signica queeles trabalhem menos, pelo contrrio, em diversas situaes trabalham muitomais. As pessoas so mais donas do seu tempo e das suas atividades. Existehierarquia nas empresas.Todavia, o fato de se ter um chefe no diz nada. Ochefe precisa mostrar para o restante da equipe que ele tem competnciapara assumir esta posio e a relao se d pela credibilidade.

    Para ns, as horas de trabalho tm menos importncia do que a atividade aser realizada e a questo do salrio e do reconhecimento tambm levado emconta. Temos mais facilidade em trabalhar com projetos e crescer na empresano signica necessariamente trocar de cargo e, sim, ter novos desaos. Nasempresas formadas por Ys, percebi que h laos de amizades, algo que emmuitas organizaes tradicionais no bem visto.

    Penso que as empresas tm a ganhar com a mescla de geraes. No s

    de conito que vivem as empresas. Se elas criarem um ambiente de compar-tilhamento e cooperatividade, podem obter bons resultados porque todas asgeraes tm o que ensinar. A questo todos os funcionrios terem humilda-de para reconhecer as qualidades do outro.

    Nesse sentido, a gerao X pode contribuir com os Ys, ensinando trs coisasque ns no encontramos no Google: valores, escolhas e foco. Sempre recorroa professores, familiares e peo sugestes para direcionar algumas atividades.Essa troca pode ser positiva.

    A educao que temos hoje no ensino bsico est na contramo das novastecnologias, em especial porque o modelo de ensino de sala de aula e a expo-sio arquitetnica das salas so os mesmos do sculo passado. Falamos tantodas transformaes do mundo e do trabalho, mas, enquanto isso, a educaocaminha a passos curtos. Existem alguns estudos que propem a educao a

    partir de jogos e penso que eles podem revolucionar o processo educacional.Pensando na formao universitria, algumas questes no mudam nunca.

    O papel do professor na universidade, independentemente da gerao a quepertena, compreender seus alunos. Muitos prossionais tm perl no Twit-ter, no Facebook e penso que isso positivo porque no existe mais divisoentre a vida online e ofine. Ento, o espao de relacionamento e de compar-tilhamento no precisa ser apenas a sala de aula; ele pode transcender.

    Silvia Kihara formada em Cincias Sociais e ps-graduadaem Gesto de Pessoas

    01d

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    irosIHU

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    21/52SO LEOPOLDO, 16 DE MAIO DE 2011 | EDIO 361 21

    As tecnologias e a falsa sensao de afeto

    Para o psiquiatra Jos Outeiral, o ciberespao poder ser til como ferramenta tecnol-gica. Contudo, no necessariamente positivo para as relaes humanas

    Por Patricia Fachin

    N

    a avaliao do psiquiatra Jos Outeiral, em entrevista concedida IHU On-Line por e-mail, astecnologias criam, entre os jovens, a falsa sensao de estabelecer um relacionamento afetivo.Presente no dia a dia da juventude, stios de relacionamento e redes sociais so utilizadas, naopinio dele, como uma fuga para as relaes perifricas e fugazes.

    Outeiral psicoterapeuta de Grupo e especialista em psiquiatria de adultos, crianas e ado-lescentes. Membro da Sociedade Psicanaltica de Pelotas e da Sociedade Brasileira de Psicanlise do Rio deJaneiro, ex-professor da Faculdade de Medicina da PUCRS. Entre suas obras, citamos Adolescer(EditoraRevinter, 2008) e O adolescente borderline (Editora Artmed, 1993). Conra a entrevista.

    IHU On-Line - Como o senhor carac-teriza o comportamento dos jovensda chamada gerao Y, que nasceramjunto com as tecnologias? O que osdiferencia das outras geraes?Jos Outeiral - As geraes se suce-

    dem e mantm pontos em comum e di-ferenas com as geraes anteriores.Uma das diferenas pode ser a queenvolve a intromisso da tecnolo-gia nas relaes interpessoais; muitosjovens se escondem do contato in-terpessoal atravs de stios de relacio-namento, outros, ao contrrio, imagi-nam que tm dezenas de amigos noOrkut. A tecnologia nunca substituir,sob meu ponto de vista, o contato hu-mano.

    IHU On-Line - Quais so os valores dajuventude?Jos Outeiral - H um incremento donarcisismo, por exemplo; a saga dosvampiros representa um aspecto indi-vidualista onde nas relaes busca-seextrair do outro aquilo de que algumnecessita; h um evitar da intimida-de e uma fuga para as relaes peri-fricas e fugazes, vampirescas, porassim dizer, de uma esttica gtica,brbaros para os renascentistas.

    IHU On-Line - O senhor diz que o ci-berespao utilizado de forma po-sitiva para formar grupos virtuais,mas, por outro lado, ele pode gerarum adoecer. Pode nos explicaressa ideia?

    Jos Outeiral - Tenho dvida de que ociberespao seja, efetivamente, posi-tivo para as relaes humanas. Comoferramenta tecnolgica, poder sertil se bem utilizado, o que no f-cil. H uma mquina que se interpementre as pessoas e onde se pode usarum nickname que nos remete ao fal-so.

    IHU On-Line Alguns especialistas ca-racterizam a gerao Y como ansio-sa. Esse comportamento reexo da

    cultura de redes?Jos Outeiral - H uma ansiedade por-que as relaes so fugazes e super-ciais. H uma grande velocidade queimpede o estabelecimento de vncu-los, mas a ansiedade caractersticados seres humanos desde que h civi-lizao.

    IHU On-Line - Diferente da geraoanterior, os jovens de hoje priorizammais a vida pessoal do que a vida

    prossional? Psicologicamente, comocompreender esse comportamento?Jos Outeiral - Penso o inverso: huma nfase, como posso perceber emmeu trabalho clnico e no que leio sobre o assunto, um grande anseio por

    xito prossional em detrimento, porvezes, da realizao pessoal. A terceira causa de morte de jovens no Brasil,segundo o IBGE, por suicdio, o quenos d uma ideia de que o ser huma-no est em tenso.

    IHU On-Line - Como, de maneira ge-ral, esses jovens se comportam emrelao s questes de gnero, di-versidade sexual, preconceitos?Jos Outeiral - H uma maior aceitao da diversidade e da singularidade

    e isto, ao mesmo tempo, causa incer-tezas quanto aos padres que eram vi-gentes na gerao anterior.

    IHU On-Line- Dizem que os jovens dehoje so mais individualistas do queos de outras geraes. A que aspec-tos o senhor atribui essa individualidade?Jos Outeiral - Acredito que um dosfatores uma sociedade centrada nonarcisismo e em valores materiais.

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    22/5222 SO LEOPOLDO, 16 DE MAIO DE 2011 | EDIO 361

    A tendncia ver a liderana como um processo sistmico, e

    no linearNa avaliao da psicloga Patrcia Fagundes, o dinamismo e a impacincia que marcama gerao Y so expresses que traduzem os avanos telemticos da sociedade contem-pornea

    Por Patricia Fachin

    Oconceito de liderana individual deve mudar a partir da insero da gerao Y no mercado detrabalho. Isso porque, segundo a psicloga e professora de Gesto, Patrcia Fagundes, os novos

    trabalhadores compreendem o mundo de forma mais dinmica, conectado e com fontes deinformao que extrapolam as tradicionais guras de autoridade como pais e professores. Parafuturo, explica, a tendncia de que tenhamos lderes que compreendam a liderana menos

    como uma posio, e mais como um processo.Na entrevista que segue, concedida por e-mail IHU On-Line, Patrcia menciona que as diculdades de

    relao entre as geraes X e Y se do no ambiente prossional e tem a ver com o signicado de trabalhopara ambos. comum que os Xs sejam workholics, e que tenham se acostumado com dicotomias do tipo vidaprossional = trabalho duro; vida pessoal = lazer. No passa pela cabea dos Ys esta separao. Arrisco a dizerque para os Ys, trabalho tem que equivaler a algo do tipo prazer remunerado, ou algo prximo a isto.

    Graduada em Psicologia pela Unisinos, mestre em Administrao de Empresas e doutora em Psicologiapela PUCRS, Patrcia Fagundes docente na Unisinos e professora visitante em MBAs de diversas universida-des. Tem experincia nas reas de Psicologia do Trabalho e Recursos Humanos, atuando em consultoria nas

    reas de desenvolvimento gerencial e de equipes, comportamento organizacional e gesto de pessoas. Entreas obras publicadas estA dimenso coletiva da liderana, divulgada nos Cadernos IHU Ideias, de 13-07-2009, edio 120. Disponvel em http://migre.me/4yiWS. Conra a entrevista.

    IHU On-Line - Como descreve a ge-rao Y?Patrcia Fagundes - No h uma con-cordncia quanto ao ano de nascimen-to dos Ys, variando as refernciasentre 1978 e 1984. Mas o que diferea gerao Net de suas antecessoras principalmente o fato de esta sera primeira gerao a crescer cercadapela mdia digital, tendo contato einterao, ainda na infncia, com atecnologia digital (jogos, internet, ce-lulares). Assim, o fator determinantepara a caracterizao de um sujeitoY o contexto telemtico com que,desde cedo, ele interage. Obviamen-te, este um fator que interdependede todo um contexto socioeconmico-cultural que no pode ser esquecidonesta identicao e compreenso da

    gerao Y. A despeito destas especi-cidades de cada contexto, possvelidenticar caractersticas convergen-tes aos Ys, tais como: a) capacidadede criar e empreender; b) capacidadede manter relacionamentos sociais ede trabalho em equipe, embora reivin-diquem autonomia em suas opinies eatuao; c) inclinao para aes eresultados mais imediatos, constan-temente demandando e fornecendofeedbacks.

    Podem estar sicamente individu-alizados (ele e o computador), masno so individualistas: esto conec-tados ao coletivo, o tempo todo, pelarede. Tendem evidenciam preocu-pao com a tica e a incluso.

    A intensidade e nuances de mani-festao de tais caractersticas pre-

    cisam, portanto, ser compreendidasdinamicamente e em relao ao con-texto socioeconmico-cultural emquesto.IHU On-Line - Quais so os valoresdesta gerao no que se refere aotrabalho?Patrcia Fagundes - Cito alguns:a) Liberdade na conduo de suas buscas de sentido e, consequentementena construo de suas carreiras. Umapesquisa brasileira sobre Gerao Ye Carreira aponta este resultado: anecessidade das pessoas assumirem ocomando de sua evoluo prossional,independentemente das fronteiras deuma organizao. (...) A autogestoda carreira evidenciada (VASCONCELOS et al., p. 11, 2009).

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    24/5224 SO LEOPOLDO, 16 DE MAIO DE 2011 | EDIO 361

    buscando construir conexes viveis,que partam do que h em comum,para transformarem o que passvelde transformao at contemplar oque se sustenta entre as inigualveisdiferenas.

    IHU On-Line - A gerao Y ir mudar amaneira de as empresas conduziremas relaes de trabalho e a estruturatrabalhista tradicional?Patrcia Fagundes Sim. Reforando oque posicionei anteriormente, acredi-to que a mdio prazo (se no a curtoprazo) a estrutura trabalhista deverser repensada e adequada ao tempode resposta, de autonomia e de prio-ridades que a gerao Y vem deman-dando e, em decorrncia, transfor-mando antigas certezas no mundo

    do trabalho e na sociedade em geral.

    IHU On-Line - Que aspectos devemmudar na rotina de trabalho em fun-o da gerao Y? O mercado ir setransformar para se adaptar a essagerao?Patrcia Fagundes - Um aspecto que ne-cessariamente precisa ser repensado,com a emergncia da gerao Y no mun-do do trabalho, a burocracia organiza-cional, principalmente quanto s valida-es hierrquicas, ao decorrente tempo

    de resposta, e os tradicionais mecanis-mos de controle, como o carto-ponto.No se trata de extinguir a burocracia

    (pois, dependendo da natureza da orga-nizao, ela um elemento necessrioe regulador), mas o prprio ritmo dos Ysdeve lhe impor mudanas e adaptaes.No mnimo, a tecnologia digital vai se in-tensicar, estando mais presente mesmoem organizaes aparentemente menospermeveis a estas inovaes. A exem-plo disso, podemos citar o prprio poderjudicirio.

    IHU On-Line - Como se d oprocesso de gesto de pes-

    soas a partir da insero dosYs no mercado de trabalho? Que as-pectos devem ser levados em conta?Patrcia Fagundes - Deve-se levar emconta o prprio perl que caracterizaesta gerao. No podemos, por exemplo, gerir empreendedores sob a mtri-

    ca da obedincia. preciso dar-lhes espao, autonomia, desaos, feedback; preciso integrar-se sua conectividadecomo forma de comunicao e interrelao. Ao mesmo tempo, fundamen-tal problematizar algumas respostasrpidas (tpicamente Y), desenvolvendo nestes trabalhadores, to rpidos naao, a capacidade de contemplar, dereetir, de ouvir, de respeitar o tempo do outro. Sim, porque esta geraocada vez mais ocupar lugares de lide-rana. E, portanto, devero identicar

    novos potenciais, desenvolver novoslderes. Alis, questiono-me a respeitode se a gerao Y ser percebida pelagerao Z. Esta uma conversa paraoutro momento.

    Pelo abismo

    tecnolgico, a discusso

    dos valores muitas

    vezes torne-se oclusa,pouco discutida e

    talvez por isto cause a

    impresso de que pouco

    existe

    Leia Mais...>> Patrcia Fagundes j concedeu outra

    entrevista IHU On-Line.* Liderana e gesto de grupos no IHU ideias. Pu-blicada na edio 290. Acesse no link http://mi-gre.me/4ePSB.

    Ciclo de Palestras: Renda bsica de cidadania

    Palestra: Renda Bsica de Cidadania. Um panorama dasituao brasileira.

    Palestrante: Profa. Dra. Lena Lavinas, da Universidade Federaldo Rio de Janeiro UFRJData: 23 de maioHorrio: das 19h s 20h - Recepo e credenciamentoDas 20h s 22h - PalestraInformaes em www.ihu.unisinos.br

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    25/52SO LEOPOLDO, 16 DE MAIO DE 2011 | EDIO 361 25

    A busca espiritual da gerao Y

    Os Ys tm mais liberdade para conhecer diferentes sistemas religiosos, por isso, a ten-dncia desta gerao, segundo Solange Rodrigues, o trnsito em diversas alternativasreligiosas num curto espao de tempo

    Por Patricia Fachin

    A

    internet a principal ferramenta utilizada pela gerao Y e a proximidade com a tecnologia uma das marcas geracionais dos jovens de hoje, aponta Solange Rodrigues, em entrevista IHUOn-Line, por e-mail. Segundo ela, atravs da rede, a juventude estabelece identidades pessoaise sociais, de tal modo que todos sentem necessidade de acessar stios de relacionamentos como

    Orkut ou estar conectados ao MSN para serem reconhecidos como sujeitos.No que tange opo religiosa, os jovens se denem como buscadores do sagrado e, nesta perspec-tiva, o acesso rede acaba sendo um meio para juventude exercitar a f e o autoconhecimento. No seurelacionamento com a dimenso do sagrado, na busca de sentido para a vida, as tecnologias de informaocomunicao entram como mais um elemento acionado pelos jovens, que recorrem internet para pesquisare para se comunicar, para formar comunidades tambm em torno de identidades religiosas, destaca, ementrevista concedida por e-mail.

    Solange mestre em Sociologia, formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ. Atualmente pesquisadora do Iser Assessoria. Conra a entrevista.

    IHU On-Line - Que relao os jo-

    vens da chamada gerao Ymantm com a religio e quevalor do religiosidade? Quais soas crenas e prticas religiosas da ju-ventude contempornea?Solange Rodrigues - Jovens estoimersos na dinmica da vida social,no formam um mundo parte. Suascrenas e prticas religiosas so asmesmas que as da populao em ge-ral. O que pesquisas recentes tm de-monstrado que, no atual contexto depluralismo religioso, alguns processos

    e tendncias relativas religio, pre-sentes na contemporaneidade, tor-nam-se mais intensos entre os jovens:o trnsito entre diversas alternativasreligiosas em curto espao de tempo;o peso da conscincia individual naadeso religiosa, se comparado ao datradio familiar; o crescimento docontingente daqueles que se declaramsem religio. Note-se que declarar-sesem religio no signica ser desti-tudo de uma vivncia do sagrado. De

    acordo com pesquisas realizadas na

    dcada de 2000, jovens que no es-tavam vinculados a nenhuma religiodeclararam possuir uma gama enormede crenas (em Deus ou deuses, nosorixs, em duendes, em cristais, nanatureza, numa fora superior, na B-blia, em espritos, etc.). So estes quea pesquisadora Regina Novaes1 temdenominado de religiosos sem reli-gio. Esse processo de desinstitucio-nalizao - ou seja, a vivncia da ex-perincia do sagrado, do mistrio, semvnculo com uma religio instituda,

    um pouco mais frequente entre os jo-vens. preciso assinalar, no entanto,que uma parcela dos jovens tambmest engajada em diversas organiza-es religiosas. Assim, nesta geraoh aqueles que se mantm vinculadosa uma determinada religio, aquelesque transitam entre as opes presen-tes no campo religioso, aqueles quevivem uma espiritualidade indepen-

    1 Regina Novaes: uma das maiores autorida-des na rea de infncia e juventude, pesqui-sadora do CNPq

    dentemente de aderir a esta ou aquela

    religio, e tambm aqueles que se de-claram ateus ou agnsticos.Portanto, no h um nico padro

    de relacionamento da juventude coma religio na atualidade. H uma sriede desigualdades (socioeconmicasregionais, de acesso educao, tra-balho e bens culturais...) e de diferen-as (de gnero, de cor/etnia, orienta-o sexual, de adeso poltica...) queatravessam a juventude contempornea, e constituem diferentes identi-dades juvenis. Tanto que j se tornou

    corrente falar na existncia de juven-tudes, isto , no plural. Tambm noque se refere religio, os jovens sediferenciam: tanto na escolha entre asalternativas presentes no campo reli-gioso como na forma de adeso maistnue ou mais intensa.

    Experincia particular

    No entanto, para alm das diferen-as, os jovens de hoje compartilham de

  • 8/6/2019 RevistaIHU Geracoes Cultura Digital

    26/5226 SO LEOPOLDO, 16 DE MAIO DE 2011 | EDIO 361

    uma experincia geracional comum,constituda pelas incertezas relativasao ingresso e permanncia no mundodo trabalho, em profunda transforma-o; pela convivncia cotidiana comdiversas formas de violncia; pelaspossibilidades descortinadas pelas no-

    vas tecnologias de informao e comu-nicao; pela ameaa da crise ecolgi-ca. Trata-se de um contexto comum,que afeta de modo diferenciado cadajovem, dependendo das desigualdadese diferenas citadas anteriormente, edas trajetrias biogrcas. Assim, a di-culdade de encontrar trabalho podesignicar para jovens que contam comuma rede de proteo familiar