REVISTA UNIVAP 27-FINAL - Univap - Universidade do Vale do ... · ANÁLISE ECONÔMICA DO AEROPORTO...

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REVISTA UNIVAP

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A REVISTA UniVap tem por objetivo divulgar conhecimentos, idéias e resultados, frutos detrabalhos desenvolvidos na UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba, ou que tiveramparticipação de seus professores, pesquisadores e técnicos e da comunidade científica.Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores. A publicação totalou parcial dos artigos desta revista é permitida, desde que seja feita referência completa àfonte.

CORRESPONDÊNCIAUNIVAP - Av. Shishima Hifumi, 2.911 - UrbanovaCEP: 12244-000 – São José dos Campos - SP - BrasilTel.: (12) 3947-1036 / Fax: (12) 3947-1211E-mail: [email protected]

Supervisão Gráfica: Profa. Maria da Fátima Ramia Manfredini - Departamento de Cultura e Divulgação - Univap / Revisão: Prof. AntônioRavanelli e Sra. Teruka Minamissawa / Editoração Eletrônica: Glaucia Fernanda Barbosa Gomes - Univap (12) 3947-1036 / Impressão: JacGráfica e Editora - (12) 3928-1555 / Publicação: Univap/2008

Campus Centro:

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Universidade do Vale do ParaíbaFicha Catalográfica

Revista UniVap - Ciência - Tecnologia - Humanismo. v.1, n.1 (1993)- .São José dos Campos: UniVap, 1993-

v. : il. ; 30cm

Semestral com suplemento.ISSN 1517-3275

1 - Universidade do Vale do Paraíba

Praça Cândido Dias Castejón, 116 - Centro São José dos Campos - SP - CEP: 12245-720 - Tel.: (12) 3928-9800 Rua Paraibuna, 75 - Centro

São José dos Campos - SP - CEP: 12245-020 - Tel.: (12) 3928-9800

Avenida Shishima Hifumi, 2911 - Urbanova São José dos Campos - SP - CEP: 12244-000 - Tel.: (12) 3947-1000

acesso pela Avenida Shishima Hifumi, 2911 - Urbanova São José dos Campos - SP - CEP: 12244-000 - Tel.: (12) 3947-1000

Estrada Municipal do Limoeiro, 250 - Jd. Dora Jacareí - SP - CEP: 12300-000 - Tel.: (12) 3958-4000

Rua Dr. Tertuliano Delphim Junior, 181 - Jardim Aquarius São José dos Campos - SP - CEP: 12246-080 - Tel.: (12) 3923-9090

Avenida Frei Orestes Girardi, 3 - Bairro Fracalanza Campos do Jordão - SP - CEP: 12460-000 - Tel.: (12) 3664-5388 / 3662-4667

Estrada Municipal Borda da Mata, 2020 Caçapava - SP - CEP: 12284-820 - Tel.: (12) 3655-4646

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S U M Á R I O

v. 15 n. 27 set. 08 ISSN 1517-3275

PALAVRA DO REITOR. ..................................................................................... 5

EDITORIAL. .......................................................................................................... 7

A FUNDAÇÃO VALEPARAIBANA DE ENSINO (FVE) E AUNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA (UNIVAP) ............................... 9

ANÁLISE DAS OBSERVAÇÕES MÉDICO-PEDAGÓGICASDESENVOLVIDAS NA CRECHE-ESCOLA MARIA CLARAMACHADOOmar Amaro, Sonia Sirolli, Maria Tereza Dejuste de Paula, Rodrigo MilagresNascimento .......................................................................................................... 13

LEVANTAMENTO PRELIMINAR DE ESPÉCIES DE BORBOLETAS EMDUAS ÁREAS DO CAMPUS URBANOVAJoyce Valério Cinachi, Nádia Maria Rodrigues de Campos Velho .................. 18

VARIAÇÃO MORFOLÓGICA DO TRYPANOSOMA RANGELI EMDIFERENTES CONDIÇÕES DE CULTIVOMarta Aparecida Moreto, Marco Antonio de Oliveira .................................. 27

CONDIÇÕES PARA A LINEARIDADE DA RELAÇÃO ENTRE DÉBITOCARDÍACO E CONSUMO DE OXIGÊNIOMituo Uehara, Kumiko K. Sakane ................................................................... 35

ALIMENTAÇÃO DE SERRANIDAE (ACTINOPTERYGII, TELEOSTEI,PERCIFORMES) NA PRAIA DE CABUÇU (SAUBARA, BAÍA DETODOS OS SANTOS, BAHIA). III. RYPTICUS RANDALLICOURTENAY, 1967Paulo Roberto Duarte Lopes, Jailza Tavares de Oliveira-Silva, Rogenaldo deBrito Chagas ........................................................................................................ 42

ANÁLISE ECONÔMICA DO AEROPORTO INTERNACIONAL DEVIRACOPOSJosmar Cappa, Fernanda Patrícila Alves ........................................................... 47

DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO SUSTENTÁVEL: ENFOQUE NOARTESANATO LOCAL NA CIDADE DE SANTO ANTÔNIO DOPINHAL, SPRosangela Sant’Ana, Fábio Ricci ...................................................................... 56

SIMULADOR PARA SISTEMAS DE CONTROLE DE ATITUDEClaudinei José Castro, Wanderley Pires Cunha, Lízia Oliveira Acosta Dias 64

OTIMIZAÇÃO DE PROCESSOS NA ÁREA DE RECEBIMENTO DEMATERIAIS DA INDÚSTRIA AERONÁUTICA BRASILEIRATeresa Raquel Pereira da Silva, Wellington Gonçalves Rodrigues, JesuínoTakachi Tomita .................................................................................................. 76

O PERFIL E O FOCO NO CLIENTE: SÃO FUNDAMENTAIS PARA ASACADEMIAS DESENVOLVEREM UM RELACIONAMENTOPOSITIVO COM SEU CLIENTEIve Luciana Ramos, Luis Fernando Zulietti, Rogério dos Santos Morais .... 87

Baptista Gargione FilhoReitor

Antonio de Souza Teixeira JúniorVice-Reitor e Pró-Reitor de Integração Universidade -Sociedade

Ailton TeixeiraPró-Reitor de Administração e Finanças

Elizabeth Moraes LiberatoPró-Reitora de Avaliação

Maria Cristina Goulart Pupio SilvaPró-Reitora de Assuntos Jurídicos

Maria da Fátima Ramia ManfrediniPró-Reitora de Cultura e Divulgação Acadêmica

Maria Helena Beolchi Rios RibeiroPró-Reitora de Projetos e Ação Social

Renato Amaro ZângaroPró-Reitor de Cooperação Nacional e Internacional

Samuel Roberto Ximenes CostaPró-Reitor de Educação Superior e EducaçãoContinuada

Frederico Lencioni NetoDiretor Geral do Campus Villa Branca - Jacareí

Eduardo Jorge Brito BastosDiretor da Faculdade de Engenharias, Arquitetura eUrbanismo

Luiz Carlos Andrade de AquinoDiretor da Faculdade de Direito do Vale do Paraíba

Emilia Angela Loschiavo ArisawaDiretor da Faculdade de Ciências da Saúde

Marcio MaginiDiretor da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas eComunicação

Maria Valdelis Nunes PereiraDiretora da Faculdade de Educação e Artes eDiretora do Instituto Superior de Educação

Sandra Maria Fonseca da CostaDiretora do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento

COORDENAÇÃO GERALAntonio de Souza Teixeira Júnior

REVISÃO DE TEXTOAntônio Ravanelli e Teruka Minamissawa

DIGITAÇÃO E FORMATAÇÃOGlaucia Fernanda Barbosa Gomes

CONSELHO EDITORIALAlexandro Oto HanefeldAmilton Maciel MonteiroAntonio de Souza Teixeira JúniorAntônio dos Santos LopesCláudio Roland SonnenburgElizabeth Moraes LiberatoFrancisco Pinto BarbosaFrederico Lencioni NetoHeitor Gurgulino de SouzaJair Cândido de MeloLuiz Carlos Scavarda do CarmoMarcos Tadeu Tavares PachecoMaria da Fátima Ramia ManfrediniMaria Tereza Dejuste de PaulaPaulo Alexandre Monteiro de FigueiredoRosângela TarangerSamuel Roberto Ximenes CostaVera Maria Almeida Rodrigues Costa

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ESPECIAL GERONTOLOGIA ...................................................................... 99

APRESENTAÇÃO .......................................................................................... 101

LONGEVIDADE, PARA QUÊ?Elizabeth Moraes Liberato .............................................................................. 105

O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO: CONHECENDO ASTRANSFORMAÇÕESMaria Piedade Vieira Grigoleto, Elizabeth Moraes Liberato ........................111

O DESAFIO DO DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER DEPRÓSTATA NO TRABALHADOR BRASILEIRO DENTRO DOSISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE: UMA REALIDADE QUE PRECISASER CONHECIDA E MODIFICADAPaulo Afonso de Barros, Elizabeth Moraes Liberato ................................... 116

DEPRESSÃO NO IDOSOJosé Valter de Andrade, Maria Clara Lombardi de Castro Silva, RosanaBernacca, Rosana Pereira Domiciano Moura, Elizabeth Moraes Liberato 121

CONVIVÊNCIA FAMILIAR NA VELHICEDiva Maria Silva Santos, Lilian Cesare Costa, Mariângela Rebouças de PaulaRodrigues, Elizabeth Moaes Liberato ............................................................. 124

A IMPORTÂNCIA DO CUIDADOR DO IDOSO NA SOCIEDADEBRASILEIRAPatrícia S. M. E. Fonseca, Gesilene A, Simões, Elizabeth Moraes Liberato128

MULHERES SOLTEIRAS NA TERCEIRA IDADE: UMQUESTIONAMENTO DE VIDAMarilda Piedade Godoi, Elizabeth Moraes Liberato ..................................... 132

INTERGERACIONALIDADE: AS RELAÇÕES ENTRE JOVEM E IDOSOMaria Ruth de Almeida Cavalcante, Elizabeth Moraes Liberato ................ 136

O IDOSO VÍTIMA DE MAUS TRATOS NA FAMÍLIAGeralda Pereira Costa, Elizabeth Moraes Liberato ....................................... 138

APOSENTADORIA: PRÊMIO OU CASTIGO?Priscila Flores Chaves da Conceição, Elizabeth Moraes Liberato .............. 141

POPULAÇÃO DE RUA: ENVELHECENDO SEM ACESSO A DIREITOSTaís Cesário de Castro, Elizabeth Moraes Liberato ...................................... 145

PASTORAL DA PESSOA IDOSA: UMA AÇÃO PRÓ-ATIVA?Eliana Pereira Montenegro, Fátima Aparecida Ferreira Barbosa, MargarethSerpa Ferreira Gomes, Elizabeth Moraes Liberato ....................................... 148

A IMPLEMENTAÇÃO DO ATENDIMENTO AO IDOSO NOMUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SEGUNDO AS NOVASDIRETRIZES DO SUASTeresa de Jesus Freire, Elizabeth Moraes Liberato ....................................... 151

GRUPOS DE CONVIVÊNCIA DE IDOSOS NO MUNICÍPIO DE SÃOJOSÉ DOS CAMPOS, SPDioguina das Graças B. V. Costa, Sueli N. Santos, Elizabeth M. Liberato .. 154

A MAGIA DO MERCADO MUNICIPAL: ESPAÇO URBANO DEENCONTROSRosa Ester Guimarães de Quadros, Elizabeth Moraes Liberato ................... 157

ENCONTROS INTERGERACIONAIS - TRANSCENDENDODIFERENÇAS, COMPONDO ESPAÇO DE APRENDIZADO E TROCAENTRE GERAÇÕESMariangela Faggionato dos Santos ................................................................. 160

EDUCAÇÃO CONTINUADA E PROJETO DE VIDA DE PESSOASIDOSASDébora Wilza de Oliveira Guedes .................................................................... 167

NORMAS GERAIS PARA A PUBLICAÇÃO DE TRABALHOS NAREVISTA UNIVAP ........................................................................................... 173

Baptista Gargione FilhoReitor

Antonio de Souza Teixeira JúniorVice-Reitor e Pró-Reitor de Integração Universidade -Sociedade

Ailton TeixeiraPró-Reitor de Administração e Finanças

Elizabeth Moraes LiberatoPró-Reitora de Avaliação

Maria Cristina Goulart Pupio SilvaPró-Reitora de Assuntos Jurídicos

Maria da Fátima Ramia ManfrediniPró-Reitora de Cultura e Divulgação Acadêmica

Maria Helena Beolchi Rios RibeiroPró-Reitora de Projetos e Ação Social

Renato Amaro ZângaroPró-Reitor de Cooperação Nacional e Internacional

Samuel Roberto Ximenes CostaPró-Reitor de Educação Superior e EducaçãoContinuada

Frederico Lencioni NetoDiretor Geral do Campus Villa Branca - Jacareí

Eduardo Jorge Brito BastosDiretor da Faculdade de Engenharias, Arquitetura eUrbanismo

Luiz Carlos Andrade de AquinoDiretor da Faculdade de Direito do Vale do Paraíba

Emilia Angela Loschiavo ArisawaDiretor da Faculdade de Ciências da Saúde

Marcio MaginiDiretor da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas eComunicação

Maria Valdelis Nunes PereiraDiretora da Faculdade de Educação e Artes eDiretora do Instituto Superior de Educação

Marcos Tadeu Tavares PachecoDiretor do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento

COORDENAÇÃO GERALAntonio de Souza Teixeira Júnior

REVISÃO DE TEXTOAntônio Ravanelli e Teruka Minamissawa

DIGITAÇÃO E FORMATAÇÃOGlaucia Fernanda Barbosa Gomes

CONSELHO EDITORIALAlexandro Oto HanefeldAmilton Maciel MonteiroAntonio de Souza Teixeira JúniorAntônio dos Santos LopesCláudio Roland SonnenburgElizabeth Moraes LiberatoFrancisco Pinto BarbosaFrederico Lencioni NetoHeitor Gurgulino de SouzaJair Cândido de MeloLuiz Carlos Scavarda do CarmoMarcos Tadeu Tavares PachecoMaria da Fátima Ramia ManfrediniMaria Tereza Dejuste de PaulaPaulo Alexandre Monteiro de FigueiredoRosângela TarangerSamuel Roberto Ximenes CostaVera Maria Almeida Rodrigues Costa

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PALAVRA DO REITOR

A Revista Univap chega agora ao seu número 27.

Não é tarefa simples a produção de uma Revista, como a nossa, que se dedica, comprofundidade, à análise de temas ligados ao que ocorre no ensino de tantas disciplinas. Cadaartigo é, sempre, um manancial precioso para novos aprofundamentos e com isto cumpre amissão da Universidade de procurar a inovação.

A Revista Univap está aberta à publicação de artigos de boa qualidade, sujeitos à revisãodo conteúdo e da linguagem.

Neste número, abrimos ao “setor da Terceira Idade” e a seus pós-graduados em nível deEspecialização, docentes e coordenadora a oportunidade de retratar a sua experiência,reservando-lhes o anexo “Especial Gerontologia” para divulgar sua experiência.

A Faculdade da Terceira Idade vem sendo dirigida pela Pró-Reitora de Avaliação da Univap,Profa. Dra. Elizabeth Moraes Liberato, com grande competência e os resultados têm sidopromissores, com o pessoal estudando e terminando o curso regular de extensão e atualizaçãocultural. Mas, sobretudo a Faculdade dá a esses alunos condições de se sentirem úteis.

É fácil compreender a importância de cursos da Terceira Idade, num mundo cujaesperança de vida ao nascer vem aumentando e cuja população adulta detém apreciávelexperiência que pode ser canalizada para realizações profícuas. Este potencial disponível émuito grande e é necessário saber aproveitá-lo. Este é o grande objetivo a alcançar.

A leitura atenta da apresentação, às pp. 91-93, da Profa. Dra. Elizabeth Moraes Liberato,será sem dúvida muito esclarecedora sobre os resultados obtidos a partir da instalação, emAgosto de 1991, da Faculdade da Terceira Idade na Univap e, em 1994, do Curso de Pós-graduação Lato Sensu em nível de Especialização em Gerontologia e Família.

Baptista Gargione Filho, Prof. Dr.Reitor da Univap

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EDITORIAL

O Brasil vive momento de grande expectativa de passar a ingressar no mundo privilegiadodo chamado grupo das grandes potências, com os Estados Unidos e China como as estrelasmaiores no momento.

E isto decorre do potencial representado pelas reservas na plataforma do Atlântico, agrandes profundidades, nas bacias de Santos, Campos, Vitória etc, como é sabido.

Mas o Brasil precisa rapidamente formar recursos humanos variados para saber explorartantas riquezas, próximas, mas de difícil acesso, em geral. E para esta tarefa e outras próximasvem buscando aliar universidades e empresas.

Dos Programas em elaboração, o SIBRATEC – Sistema Brasileiro de Tecnologia – tema finalidade de apoiar o desenvolvimento tecnológico do setor empresarial nacional, por meioda promoção de atividades de:

I. pesquisa e desenvolvimento de processos e produtos voltados à Inovação;II. prestação de serviços de metodologia, extensionismo, assistência e transferência de

tecnologia.

O SIBRATEC foi criado mediante Decreto nº 6.259, de 20/11/2007 e Portaria MCT nº 36,de 25/1/2008, que designou seu Comitê Gestor composto por 18 entidades:

MCT, MDIC, MAPA, MEC, MS, MME, MC, NAE-PR, FINEP, CNPQ, BNDES, CAPES,INMETRO, INPI, ABDI, CNI, SEBRAE e ANPEI.

Resumindo, o SIBRATEC pretende a instalação de três tipos de redes compostas por:

- Centros de Inovação.- Serviços Tecnológicos.- Extensão Tecnológica.

Como um Programa desta envergadura vai funcionar?

O exemplo a seguir ajudará a entender.

Dentre muitas propostas em andamento, está prevista a estruturação de uma Rede deCentros Inovação Tecnológica do SIBRATEC – Equipamentos e Componentes de Uso médico-odontológico.

O setor de equipamentos médico-odontológicos é altamente dependente de importaçõese é preciso torná-lo menos sujeito aos humores internacionais e ao mesmo tempo ajudar amelhorar o balanço de pagamentos do país.

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A idéia inicial foi elaborar uma lista dos 100 artigos com maior intensidade de importaçõese aparentemente com maior facilidade de substitui-los por equivalentes produzidos no país.

Como solução, o programa prevê chamadas para projetos de desenvolvimento, comajuda da ordem de 500.000 reais para chegar a protótipos-cabeças de série e a seguir efetuarnovas chamadas para sua aquisição por hospitais da rede pública.

Com isto, o ciclo universidade – indústria – cliente se completa e se dá início a maisempresas presentes, instalando competência de produção no setor médico-odonto-hospitalardo país, com garantia de assistência técnica e reposição de partes e peças. Mutatis mutandis,o mecanismo deve ser o mesmo para outros setores.

A UNIVAP faz parte da rede de inovação do setor de equipamentos médico-odontológicos,do SIBRATEC e há um grande programa a realizar.

Antonio de Souza Teixeira Júnior, Prof. Dr.Pró-Reitor de Integração Universidade - Sociedade

e Vice-reitor da UNIVAP

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Revista UniVap, v.15, n.27, 2008 9

A FUNDAÇÃO VALEPARAIBANA DE ENSINO (FVE) E AUNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA (UNIVAP)

A Fundação Valeparaibana de Ensino (FVE), com sede àPraça Cândido Dias Castejón, 116, Centro, na cidade deSão José dos Campos, Estado de São Paulo, inscrita noMinistério da Fazenda sob o nº 60.191.244/0001-20, Ins-crição Estadual 645.070.494-112, é uma instituição filan-trópica e comunitária, que não possui sócios de qual-quer natureza, com seus recursos destinados integral-mente à educação, instituída por escritura pública de 24de agosto de 1963, lavrada nas Notas do Cartório do 1ºOfício da Comarca de São José dos Campos, às folhas93 vº/96 vº, do livro 275.

A Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), mantidapela FVE, tem como área de atuação prioritária o DistritoGeoeducacional, DGE-31. Sua missão é a promoção daeducação para o desenvolvimento da Região do Vale doParaíba e Litoral Norte (DGE-31).

Até o presente, a UNIVAP possui os seguintes Campi:

a) Campus Centro, em São José dos Campos, situado àPraça Cândido Dias Castejón, 116, e à Rua Paraibuna,75.

b) Campus Urbanova, situado à Av. Shishima Hifumi, 2911.c) Campus Urbanova/Jacareí, com acesso pela Av.

Shishima Hifumi, 2911.d) Campus Aquarius, em São José dos Campos, situado

à Rua Dr. Tertuliano Delphim Júnior, 181.e) Campus Villa Branca, localizado em Jacareí, na Estrada

Municipal do Limoeiro, 250.f) Campus Platanus, localizado em Campos do Jordão,

na Av. Frei Orestes Girardi, 3.g) Unidade Caçapava,na Estrada Municipal Borda da

Mata, 2020.

A Educação Superior, objetivo da UNIVAP, abrange oscursos e programas a seguir descritos:

1) Graduação, abertos a candidatos que tenham con-cluído o ensino médio ou equivalente e que tenhamsido classificados em processo seletivo.

2) Pós-graduação, compreendendo programas deMestrado, Doutorado, Especialização e outros,abertos a candidatos diplomados em cursos de gra-duação e que atendam aos requisitos da UNIVAP.

3) Extensão, abertos a candidatos que atendam aosrequisitos estabelecidos pela UNIVAP.

4) Educação a distância, com uso de novas tecnologiasde comunicação.

A FVE é também mantenedora, tendo em vista a educa-ção integral dos futuros alunos da UNIVAP, de cursos deEducação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio eainda de Formação Profissional e Técnica.

A UNIVAP, em seu Projeto Institucional, centra-se:

1) numa função política, capaz de colocar a educaçãocomo fator de inovação e mudanças na Região doVale do Paraíba e Litoral Norte - o DGE-31;

2) numa função ética, de forma que, ao desenvolver asua missão, observe e dissemine os valores positi-vos que dignificam o homem e a sua vida em socie-dade;

3) numa proposta de transformação social, voltadapara a Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte;

4) no comprometimento da comunidade acadêmica como desenvolvimento sustentável do País e, emespecial, com a Região do Vale do Paraíba e LitoralNorte, sua principal área de atuação.

A UNIVAP está em permanente interação com agentessociais e culturais que com ela se identificam. Como de-corrência da demanda de seus cursos ou dos serviçosque presta, estabelece convênios com instituiçõespúblicas e privadas, no Brasil e no Exterior. Estesconvênios resultam na cooperação técnica e científica,na qualificação de seus recursos humanos e tecnoló-gicos, na viabilização de estágios acadêmicos e naprestação de serviços. A história da UNIVAP, enraizadana trajetória da Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte,traz consigo a marca da participação comunitária, a partirdo compromisso que tem com a sociedade regional,alicerçado na tradição, na busca da excelência acadêmica,na qualidade de seu ensino, no diálogo com a comunidadee no exercício da tríplice função constitucional deassegurar a indissociabilidade da pesquisa institucional,ensino e extensão.

Como atividades de extensão, destacam-se, naUNIVAP, aquelas relativas à Comunidade Solidária, quetêm por objetivo mobilizar ações que contribuam para aalfabetização e melhoria da qualidade de vida de popula-ções carentes. Dentro deste Programa, foram realizadas,a partir de 1998, atividades nas áreas de Saúde, Higiene,Cidadania, Educação e Lazer, em Santa Bárbara (BA),Beruri (AM), Teotônio Vilela (AL), Nova Olinda (CE),Coreaú (CE), Carnaubal (CE), São Benedito (CE), Groaíras(CE), Atalaia do Norte (AM), Pão de Açúcar (AL),Canguaretama (RN), Goianinha (RN), Maxaranguape(RN), Pedra Preta (RN), Preto Velho (RN), Vila Flor (RN) e

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Revista UniVap, v.15, n.27, 200810

São Benedito (CE) e, no Vale do Paraíba, nas cidades deMonteiro Lobato, São Bento do Sapucaí, Paraibuna, SãoFrancisco Xavier e São José dos Campos.Com atuação no Vale do Paraíba, destacam-se:

a) cursos de alfabetizadores, com 140 concluintes;b) projeto cultural Meu Bairro, sobre a história e origem

do bairro de residência;c) visitas mensais de avaliação e acompanhamento das

salas montadas em diversos bairros, seguidas deMostra Cultural, com apresentações de teatro, dança,poesias na festa de encerramento;

d) incentivos aos alfabetizadores a prosseguir estudos.

A partir de outubro de 2005, a UNIVAP participa do Pro-jeto Rondon / Ministério da Defesa, estando presenteem 2006, em Atalaia do Norte (AM) e, em operação noVale do Ribeira, em Itaóca, Itapirapuã Paulista e Ribeira.A seguir, em 2006 e 2007, marca presença em Chuí (RS) ePiraí do Norte (BA). E, a partir de junho de 2007, em Jordão(AC) e Muribeca (SE).

Todas as pesquisas institucionais da Universidade es-tão centradas em seu Instituto de Pesquisa e Desenvol-vimento (IP&D), o qual executa programas e projetos econgrega pesquisadores de todas as áreas da UNIVAP,envolvidos em atividades de pesquisa, desenvolvimen-to e extensão. Em seus oito núcleos de pesquisa, nas

áreas sócio-econômica, genômica, instrumentaçãobiomédica, espectroscopia biomolecular, estudos e de-senvolvimentos educacionais, ciências ambientais etecnologias espaciais, computação avançada, biomé-dicas, atrai e dá condições de trabalho a pesquisadoresde grande experiência, do País e do exterior. Os alunostêm condições de participar, com os professores, depesquisas, executando tarefas criativas, motivadoras, quepropiciam a formulação de modelos e de simulações,trabalhando com equipamentos de primeira linha, e istofaz a diferença entre a memorização e a compreensão.Bolsas de estudo vêm sendo oferecidas a alunos epesquisadores, quer pela UNIVAP, quer por instituiçõescomo CAPES, CNPq, FINEP e FAPESP.

O esforço da UNIVAP em construir, no CampusUrbanova, uma Universidade com instalações especiaispara cada área de atuação, com atenção especial aos la-boratórios, tem por objetivo um ensino de qualidade,compatível com as exigências da sociedade atual.

A UNIVAP, para o ano letivo de 2007, fiel ao lema de que“o saber amplia a visão do homem e torna o seu caminharmais seguro”, oferece, à comunidade da Região do Valedo Paraíba e Litoral Norte, diversos cursos, que vão desdea Educação Infantil à Pós-Graduação, passando inclusivepelo Colégio Técnico Industrial e pela Faculdade daTerceira Idade.

AdministraçãoArquitetura e UrbanismoArtes VisuaisBiomedicinaCiência da ComputaçãoCiências BiológicasCiências ContábeisCiências EconômicasDireitoEducação FísicaEnfermagemEngenharia Aeronáutica e EspaçoEngenharia Ambiental

CURSOS DE GRADUAÇÃO

Letras (Português)MatemáticaModaNutriçãoOdontologiaPedagogiaPublicidade e PropagandaQuímicaRádio e TVSecretariado ExecutivoServiço SocialTerapia OcupacionalTurismo

1.2.3.4.5.6.7.8.9.10.11.12.13.

27.28.29.30.31.32.33.34.35.36.37.38.39.

CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA

Design de InterioresDesign de ModaEventosGastronomiaGeoprocessamento (apl. Gestão Ambiental)Geoprocessamento (apl. Gestão Pública)Gestão Ambiental

Gestão de Micro e Pequena EmpresaGestão de Negócios ImobiliáriosGestão de TurismoHotelariaProdução AudiovisualSistemas para Internet

Engenharia BiomédicaEngenharia CivilEngenharia de AlimentosEngenharia da ComputaçãoEngenharia de MateriaisEngenharia Elétrica/EletrônicaEngenharia QuímicaFarmáciaFísicaFisioterapiaGeografiaHistóriaJornalismo

14.15.16.17.18.19.20.21.22.23.24.25.26.

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CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO

STRICTO SENSU- Mestrado

BioengenhariaCiências BiológicasEngenharia BiomédicaEngenharia MecânicaFísica e AstronomiaPlanejamento Urbano e Regional

- Doutorado

Engenharia BiomédicaFísica e Astronomia

LATO SENSU

- Cursos de Especialização

Administração e Planejamento da EducaçãoAlfabetização e LetramentoArte EducaçãoComputação AplicadaComunicação EmpresarialComunicação MercadológicaDe Shakespeare a Pinter: Uma Leitura MidiáticaDentísticaDireito das CidadesDireito Previdenciário e TrabalhistaDireito ProcessualEducação InclusivaEnfermagem em Cuidados Críticos/CardiologiaEnsino/Aprendizagem do Espanhol e Aprendi-

zagem do Espanhol com Língua EstrangeiraEspecialização de Brinquedistas para os Con-

textos Clínico, Hospitalar e EducacionalEspecialização para o Ensino da MatemáticaGerontologia e FamíliaGestão AmbientalGestão de Negócios em EventosFisioterapia Dermato-Funcional

Fisioterapia Traumato-Ortopédica e DesportivaGestão de Negócios em Instituições FinanceirasGestão de ProjetosGestão EmpresarialGestão HoteleiraGestão Social e Planejamento de Projetos SociaisHistória da ArteLíngua Portuguesa: Leitura e Produção de TextosMarketingMBA em Geoprocessamento: Aplicado à Ges-

tão AmbientalMBA em Geoprocessamento: Aplicado à Ges-

tão PúblicaNovas Tecnologias Aplicadas à EducaçãoNeurologia FuncionalOdontopediatriaOrtodontiaPiscina TerapêuticaPsicopedagogia: Clínica e InstitucionalSaúde da FamíliaSaúde MentalTerapia Familiar

- Cursos de Extensão

Desenvolvimento de Aplicações Práticas usan-do APOO, BD e Delphi OO

Metodologias Multidimensionais em CiênciasSociais

Produção Independente: Vídeo Documentário

- Cursos de Atualização

Cálculos PrevidenciáriosCálculos TrabalhistasCapacitação Profissional Forense

Prática PrevidenciáriaPrática Trabalhista

- Cursos de Atualização e ExtensãoGestão de PessoasGestão de Portfólio em ProjetosGestão de Projetos Abordagem PMIImplantodontiaOPM³ (Organizational Project Management

Maturity Model)Preparatório para Certificação PMPPrótese DentáriaRelações Interpessoais nas Equipes de Alto De-

sempenho

- Curso a DistânciaEspecialização em Jornalismo Científico

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Revista UniVap, v.15, n.27, 200812

São José dos Campos

Com cerca de 600.000 habitantes, São José dosCampos é o município com maior população na sua re-gião, sendo que seu grande desenvolvimento começourealmente com a construção da Rodovia Presidente Dutrae do Centro Técnico Aeroespacial (CTA). Além disso, alocalização estratégica e privilegiada entre São Paulo eRio de Janeiro e a topografia apropriada para a constru-ção de grandes indústrias possibilitaram que a cidadecrescesse vertiginosamente na década de 70, passandoa ser uma das áreas mais dinâmicas do Estado e a terceiramaior taxa de crescimento da década de 80. De 1993 paracá, a cidade passou por grandes transformações, alcan-çando avanços na área da saúde, indústria e comércio,educação, da criança e adolescente, saneamento básicoe construção civil.

O comércio de São José dos Campos é bastante desen-volvido e vive um período de extensão, com vários cen-tros de compras e grandes supermercados e ShoppingCenters. Com mais de 800 indústrias, 4.000 estabeleci-mentos comerciais e superando 7.000 prestadores deserviço, o perfil industrial de São José dos Campos temdois lados distintos: o centralizado nas áreas aeroespaciale aeronáutica, como a Embraer, e com a Petrobras, notratamernto do petróleo e derivados, e outro diversificado,com indústrias, como a General Motors, Johnson &Johnson, Rhodia, Monsanto, Hitachi, Bundy, Ericsson,Eaton e outras. É, no Brasil, o 7º colocado em valoradicionado bruto (12,09 bilhões de reais) e o 10º emrelação ao PIB (17,7 bilhões de reais), segundo dados doIBGE, em 2004.

O orçamento de 2007 do município prevê receita de 998,6milhões de reais, sendo 291,6 milhões para Educação e271,8 milhões para Saúde.

São José dos Campos possui, como resultado da atuaçãode suas indústrias, dos estabelecimentos comerciais edos organismos que desenvolvem tecnologias de ponta,mão-de-obra de altíssimo nível. Entre esses órgãos des-tacam-se o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais(INPE), o Centro Técnico Aeroespacial (CTA), com seusInstitutos: ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica,IAE - Instituto de Atividades Espaciais, IFI - Instituto deFomento e Coordenação Industrial e o IEAv - Institutode Estudos Avançados.

Com uma vida cultural bastante intensa, o município contacom uma Fundação Cultural e vários espaços culturais,como o Museu Municipal, galerias de arte, centros deexposição, casas de cultura, Museu de Aeronáutica,Teatro municipal, Cine-Teatro Benedito Alves da Silva,

Cine-Teatro Santana e o Teatro Univap Prof. MoacyrBenedicto de Souza, cinemas, emissoras de rádio FM eAM, Central Regional da TV Globo, jornais diários comcirculação regional, além dos da capital, e várias Bibliote-cas Escolares, Universitárias e de Pesquisa, como a daUNIVAP, a do INPE e a do ITA.

A UNIVAP integra, com o CTA e do INPE, importantenúcleo de ensino e pesquisa do município. Da Pré-Escolaà Universidade, além de Cursos de Pós-Graduação e daTerceira Idade, a UNIVAP mantém o IP&D - Instituto dePesquisa e Desenvolvimento, que garante a incorpora-ção da pesquisa na comunidade acadêmica da UNIVAP,permitindo a indissociabilidade entre o ensino e a pes-quisa. A UNIVAP tem estado aberta à interação com em-presas e instituições do município, notadamente as deensino e pesquisa, entre elas o INPE e o CTA-ITA, alémde interação com FAPESP, CNPq, FINEP-MCT euniversidades do país e do exterior.

As atividades de extensão ganharam grande reforço coma instituição do Parque Tecnológico Univap, cujoedifício-sede, inaugurado a 1 de abril de 2005 e já abrigacerca de 30 empresas portadoras de tecnologias de futuro,instaladas em edifício moderno, de sete pavimentos e19.000 m2 de área construída.

O edifício-sede já está com sua área de utilizaçãototalmente ocupada e deve ser dada origem a novoedifício, para atender novos pretendentes.

O campus Urbanova, com área de seis milhões de metrosquadrados, constitui, com seus edifícios abrigando asFaculdades, o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento- IP&D, Biblioteca e Administração universitária, o ParqueTecnológico Univap, cujo edifício-sede foi descrito.

De futuro, está previsto moderno Núcleo de Indústrias eCentros de Prestação de serviços, de médio e grandeporte, dedicados, da mesma forma que o edifício-sede, aempresas de tecnologias geradoras de produtosinovadores.

Um Centro de Residências próximo reunirá, no mesmocampus, empresários, pesquisadores, dirigentesuniversitários e docentes, num conjunto no qual Ciênciae Tecnologia se completem e produzam resultadosmarcantes.

O ideal, consubstanciado na definição de Universidade,como sendo a instituição que pratica, de modoindissociável, ensino, pesquisa e extensão, conformepreceitua o Art. 207 da Constitutição Federal, passa a seruma realidade plena.

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Revista UniVap, v.15, n.27, 2008 13

Análise das Observações Médico-pedagógicasDesenvolvidas na Creche-escola Maria Clara Machado

Omar Amaro *Sonia Sirolli **

Maria Tereza Dejuste de Paula ***Rodrigo Milagres Nascimento ****

Resumo: Neste artigo são descritas e analisadas algumas ações desenvolvidas na Creche-EscolaMaria Clara Machado do município paulista de Jacareí, mantida através de parceria entre aSecretaria Municipal de Educação de Jacareí e a Fundação Valeparaibana de Ensino (FVE)mantenedora da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP). São analisadas observações médico-pedagógicas realizadas durante os meses de fevereiro a dezembro do ano letivo de 2007 e defevereiro até abril do ano letivo de 2008. Conclui-se ser de elevada importância a interação daclínica médica com a prática pedagógica para a observação, análise e reflexão acerca do compor-tamento das crianças na creche bem como para a sistematização das ações educativas promovidasjunto aos alunos que nela estudam e suas famílias.

Palavras-chave: Educação infantil, creche, desenvolvimento, saúde.

Abstract: This paper aims at describing and analyzing some actions developed at Nursery SchoolMaria Clara Machado, located in Jacareí city, resulted from a partnership between SecretariaMunicipal de Educação de Jacareí and Fundação Valeparaibanda de Ensino (FVE) sponsor ofUniversidade do Vale do Paraíba (UNIVAP). Medical and pedagogical investigation and notestaken from February to December in 2007 and from February to April in 2008 are analyzed. It wasconcluded to be highly important the interaction between the medical clinic and the pedagogicalpractice in order to observe, analyze and reflect about children behavior at the nursery school. Theresult also showed the importance to systematize the educative actions promoted together with thestudents and their family.

Key words: Childhood Education, nursery school, development, health.

* Médico, disponibilizado pela FVE, para realizarvisitas semanais à creche.

** Pedagoga, disponibilizada pela FVE, para dirigir acreche.

*** Professora da Faculdade de Educação e Artes daUnivap.

**** Universitário-estagiário do curso de Educação Fí-sica, contratado pela Univap, para coordenar asatividades do eixo curricular Corpo e Movimentodesenvolvido na creche.

1. INTRODUÇÃO

A Creche-Escola Maria Clara Machado é resul-tante de uma parceria da Prefeitura Municipal deJacareí, SP, através da sua Secretaria de Educação, e daUniversidade do Vale do Paraíba (UNIVAP). Atendeu, em2007, 70 crianças de 4 meses a 5 anos de idade em perí-odo integral, sendo a maioria delas do bairro Santo An-

tônio da Boa Vista, Jacareí, SP, e de bairros vizinhos. Em2008 atende, também, 70 crianças com as mesmas carac-terísticas. A seleção dos alunos é realizada pelo ServiçoSocial da Secretaria de Educação do município procuran-do-se atender, preferencialmente, filhos de mães-traba-lhadoras da camada popular.

O prédio escolar e a maioria dos equipamentos dacreche são da Prefeitura Municipal de Jacareí, SP, quearca, também, com os custos de manutenção mensal daCreche-Escola tais como: alimentação (são fornecidasquatro refeições por dia para cada aluno, de segunda asexta-feira, sendo previstos 198 dias letivos para o anode 2008) e dois funcionários para a Cozinha e Lactário,contas de água e três auxiliares de limpeza, uma para osberçários e lavanderia e duas, para os demais serviços.

A Creche-Escola em tela é uma das ações do Pro-jeto Social Vale a Pena Viver, criado pelo Prof. Dr. BaptistaGargione Filho, Reitor da UNIVAP.

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A UNIVAP concebeu o Projeto Pedagógico dacreche que é desenvolvido na forma de estágio extra-curricular para alunos universitários, e mantém com bol-sas de estudos e auxílio-transporte 28 alunos proveni-entes dos Cursos de Pedagogia, Educação Física, Ciên-cias Biológicas e Engenharia Ambiental, que atuam soba supervisão da Diretora da Creche. O Dr. Omar Amaro,médico, é cedido pela FVE-UNIVAP para realizar visitassemanais à creche com o objetivo de orientar a equipeque nela atua quanto à saúde do pré-escolar.

Todos os 28 universitários-estagiários, a diretorada Creche-Escola e o médico são custeados pela FVE-UNIVAP, que também cede parte dos equipamentos, for-nece ainda a maioria dos materiais pedagógicos e de higi-ene, paga as contas mensais de telefone e as de energiaelétrica e realiza parte da manutenção do prédio escolar.

A ação educativa planejada pela UNIVAP para aCreche-Escola Maria Clara Machado se pauta na pro-posta do ensino-aprendizagem construtivista-interacionista e oferece Atividades Pedagógicas de Ar-tes Plásticas, Leitura e Produção Oral de Histórias In-fantis. Através destas últimas os alunos são estimula-dos a prever os sentidos dos textos através de suas ilus-trações e a recriar/criar oralmente ou através de dese-nhos outras estórias. São também oferecidas atividadesna brinquedoteca, de recreação e lazer dirigido ao arlivre; Educação Física apropriada à primeira infância;Jogos Didáticos estruturados com o objetivo de desen-volver a inteligência do período sensório-motor ou pré-operacional das crianças de 4 meses a 5 anos de idadeatendidas pela Creche-Escola, conforme recomendaçõesdos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educa-ção Infantil (BRASIL,1998).

A equipe de direção da creche é composta peladiretora; por uma universitária-estagiária, orientadoraeducacional; por um universitário-estagiário, coordena-dor das atividades do eixo curricular “Corpo e Movimen-to”; e por duas universitárias-estagiárias, secretárias dacreche, uma que atua no período da manhã e outra no datarde.

Estão funcionando no corrente ano de 2008 cincoclasses com 70 alunos em período integral, das 7h30m às17h. São dez alunos de 0 a 1 ano de idade; dez alunos de1 a 2 anos de idade; dezenove com 3 anos de idade;dezessete com 4 anos de idade e catorze com 5 anos deidade. Cada classe conta com dois universitários-estagi-ários para o período da manhã e dois para o período datarde. Há dois universitários-estagiários volantes paracada um dos períodos, os quais dão suporte aos banhose refeições dos bebês e demais crianças, à administraçãodos medicamentos e a outras situações do cotidiano dacreche.

2. A FORMAÇÃO DA EQUIPE DIRETORA E DOS UNI-VERSITÁRIOS-ESTAGIÁRIOS JUNTO AO MÉDICOATRAVÉS DAS OBSERVAÇÕES DE CAMPO

No ano letivo de 2007, o Dr. Omar Amaro realizouvisitas semanais à creche, às terças-feiras, de fevereiro adezembro e no corrente ano de 2008 cumpre a mesmarotina.

A formação dos universitários-estagiários pelaequipe diretora da creche em parceria com o médico érealizada através da observação a distância, por ele efe-tuada semanalmente no campo da creche, sendo que aequipe diretora o acompanha durante as mencionadasobservações.

O uso do procedimento de observação a distân-cia pelo médico permite que sejam focalizados pontoscegos não localizados pela equipe pedagógica, pois oolhar deste profissional capta comportamentos e atitu-des das crianças que a equipe não consegue captar devi-do à maior familiaridade e do envolvimento diário com asquestões da creche. Outro fator que leva à descoberta depontos cegos decorre da pauta pedagógica que direcionao olhar da equipe, enquanto a pauta do olhar do médicoé a da clínica médica, complementando-se assim as duas.Dessa forma, durante as observações das crianças tro-cam-se informações entre a equipe e o médico,complementando-se o olhar da equipe com as hipóteseslevantadas por este último.

As observações são efetuadas no pátio, no refei-tório e nas classes, focalizando-se a criança só e na con-vivência social com seus pares, verificando-se os tiposde brincadeiras e interações que efetuam, se o comporta-mento é agressivo ou carinhoso, se preferem o isola-mento ou a interação social, qual é o nível de sua partici-pação nas atividades propostas em classe, pátio ou re-feitório, e, quando livre para o lazer, quais tipos de ativi-dades prefere realizar.

Para efetuar as observações a distância, o médicoescolhe crianças que indicam apresentar um suposto pro-blema, dado seu comportamento perante as outras, como,por exemplo, as crianças que não interagem com o grupono momento da observação, seja porque se sentam iso-ladas no pátio ou refeitório ou porque não interagemcom os colegas e/ou professores dentro da classe.

Um dos universitários-estagiários responsáveispelas classes das crianças escolhidas leva-as, uma porvez, à sala de exame médico para diálogo e análise deseus comportamentos de afetividade: se são quietas, tris-tes, chorosas, chupam o dedo. Estas crianças continuama ser observadas, pelo médico e equipe diretora pelo pe-ríodo de um mês, com o objetivo de verificar se o proble-ma detectado de afetividade, depressão, quando muito

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quieta, permanece, ou se se trata de um problema de com-portamento passageiro.

No caso de uma criança se isolar freqüentementedos colegas, os universitários-estagiários motivam estacriança para sentar-se com seus colegas e integrarem-seàs brincadeiras e atividades propostas. Para isto, recor-rem ao diálogo com a criança dando-lhe sugestões deagrupamentos para brincadeiras e para a realização dasatividades. Algumas vezes é necessário que os própriosuniversitários-estagiários façam a brincadeira ou ativi-dade com a criança para que ela se integre gradativamenteao grupo-classe.

São também estudadas as crianças que demons-tram atividade comportamental mais agitada no grupo,focalizando-se quais são as atitudes que elas expressamperante o grupo-classe. O repertório de comportamentodas crianças observadas é então complementado pelasaga familiar que, muitas vezes, a equipe diretora queatua na creche já conhece e, quando não a conhece, rea-liza visita à sua casa, entrevistando a mãe ou o responsá-vel pela criança.

Observa-se que a mordida, utilizada pela criançacomo forma de comunicação, tende a desaparecer quan-do ela ultrapassa a fase da oralidade dos 3 anos de idade.Interpreta-se que a fala da criança aos 3 anos de idade aleva a superar o uso das mordidas, pois será, então,capaz de “negociar”, através da fala, os seus desejosimediatos com os colegas da creche.

As observações a distância realizadas na crechepelo médico, acompanhado pela equipe diretora, permiti-ram que os universitários-estagiários fossem alertadosquanto às crianças canhotas que estudam na creche. Elesainda não haviam identificado a dominância dalateralidade canhota em 1 criança da classe do Infantil I,com 3 anos de idade, do sexo feminino e em outra do sexomasculino, da classe do Infantil III, com 5 anos de idade.Apenas já haviam identificado uma criança ambidestra,da classe do Infantil I, com 3 anos de idade e do sexomasculino. Esta criança, medicada com anti-convulsivantedesde os 4 meses de idade, apresenta comprometimentoparcial na motricidade dos membros superior e inferiordo lado direto, motivo pelo qual usa as duas mãos pararealizar as atividades cotidianas.

Estas observações são relevantes para que se res-peitem as rotas psico-motoras das crianças pela equipede universitários-estagiários que atua diretamente juntoa elas, e para que lhes sejam oferecidas condições mate-riais-espaciais adequadas, porque a maior parte da mobí-lia e equipamentos é fabricada para as pessoas destras.

Os universitários-estagiários são orientados pelo

médico para observarem o sono das crianças na creche,verificando se é agitado ou calmo. Se agitado, deverãoobservar como se manifesta o comportamento agitadoda criança durante o sono e, se for muito intensa a agita-ção, especificar, descrevendo estes movimentos para que,então, se solicite aos responsáveis, consultá-la com opediatra, que a encaminhará ao neuropediatra, quandonecessário.

Por orientação do médico verifica-se o estado fí-sico com que cada criança é entregue diariamente nasclasses da creche: se manifesta estado febril através dotoque de mão em seu rosto ou pescoço, se apresentaferimentos, urticárias, hematomas ou queimaduras nocorpo.

Caso a criança apresente lesões em seu corpo,questiona-se a mãe ou a pessoa que a entrega na crechesobre as evidências deste breve exame físico e suas cau-sas. Sempre são realizados diálogos entre a equipe dire-tora e os pais ou demais familiares acerca dos cuidadosque a criança precisa receber nos lares. Caso sejam ob-servadas evidências de maus tratos ou descuido, o casoserá notificado ao Conselho Tutelar do Município peladiretora da creche.

Durante os cinco anos de existência da crecheforam feitas por sua diretora duas notificações por des-cuido infantil ao Conselho Tutelar. Outro caso, envol-vendo duas crianças irmãs, já notificado ao ConselhoTutelar pelos vizinhos da família das crianças e resultan-do na perda provisória da tutela materna. As criançasvinham para a creche diretamente do Abrigo Infantil daPrefeitura Municipal de Jacareí, com ordem judicial paraque não fossem retiradas da creche pela mãe. Foram ma-triculadas na creche por uma Assistente Social desteAbrigo Infantil. A mãe destas duas crianças ficou todo oano letivo de 2005 separada delas. Ela passou por trata-mento e recebeu orientações para a efetuação do proces-so de ressocialização com suas duas filhas tecido, agora,em termos adequados, sendo que em 2006 obteve doConselho Tutelar a guarda das crianças.

As doenças mais freqüentemente diagnosticadaspelo médico, no grupo de crianças matriculadas na cre-che, têm sido a rinite, que predomina; tosse produtiva ounão; assaduras; alergias na pele e picaduras por insetos.Dentre estas crianças, uma delas apresentou herpes zóster(cobreiro bravo).

Através do exame físico, ausculta pulmonar e car-díaca o médico diagnosticou 2 crianças com anomaliascardíacas congênitas, dentre o grupo de 70 crianças ma-triculadas na creche. Quando as crianças apresentam le-sões alérgicas, são medicadas no momento da consultacom cremes anti-alérgicos e anti-inflamatórios, quando

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existentes no estoque, em caso contrário é solicitado àsmães que as levem ao Posto de Saúde do bairro, que temfornecido estes medicamentos mediante receituário domédico que atua na creche.

As orientações para as mães acerca da necessi-dade de levar a criança ao médico é feita pela equipediretora da creche. Nos casos extremos, cujas famíliastêm renda zero, ou apenas um pouco mais do que zero, eem que há a necessidade de agilidade de encaminhamen-to médico, é solicitado ao Serviço Social da Secretaria deEducação Municipal de Jacareí que verifique, através devisita à casa da família da criança, as necessidades deorientação e encaminhamento do caso. Há, na creche, 3alunos provenientes de 2 famílias nestas condições derenda e que têm 5 e 4 filhos menores, respectivamente.

Quando as crianças são encaminhadas ao médi-co, a equipe diretora da creche exige a apresentação doreceituário, com a obrigatoriedade de trazer os medica-mentos para serem dados na própria creche, nos horári-os e durante o período prescritos, e, na saída das crian-ças, eles são devolvidos às mães para continuidade dotratamento em casa.

A exigência do receituário médico e dos medica-mentos nele prescritos só pode ser feita aos pais dosalunos pela equipe diretora da creche, porque, no muni-cípio de Jacareí, a população de baixa renda tem acessoao Serviço Médico de Pediatria Público, que também for-nece gratuitamente os medicamentos prescritos para acriança. Nos cinco anos de funcionamento da crecheneste município, nunca houve um caso de criança quedeixasse de ser atendida por este serviço e, em quasetodos os casos de prescrição de medicamentos, estessão fornecidos gratuitamente para a família da criançaatendida.

Os universitários-estagiários que atuam na cre-che, no período da tarde, foram orientados pelo médicopara fazer um relaxamento com as crianças nos últimos 15ou 20 minutos deste período, através da audição de mú-sicas clássicas, com o objetivo de elas irem para as suascasas mais descontraídas.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Organização Mundial de Saúde considera queo índice de mortalidade infantil aceitável, para criançasde 0 a 5 anos de idade, é o de 10 mortes para cada milcrianças nascidas vivas. A mortalidade infantil no Brasilpara as crianças desta faixa etária é de 25,80 mortes paracada mil crianças nascidas vivas (IBGE, 2008). As doen-ças associadas às mortes das crianças brasileiras, na fai-xa etária de 0 a 5 anos de idade, são principalmente adisenteria e a broncopneumonia.

Durante os cinco anos de existência da Creche-Escola Maria Clara Machado tem-se procurado desen-volver nas mães e nos pais a cultura de levar seus filhosao médico, mediante o uso do diálogo explicativo acercadas necessidades de acompanhamento médico de seusfilhos. No terceiro episódio de diarréia da criança elessão chamados pelo telefone ou pessoalmente, e, quandonão possuem telefone, à creche e solicitados a levá-la aomédico pediatra. Explica-se que com esta medida a crian-ça provavelmente não precisará ficar hospitalizada e que,quanto mais cedo medicada, mais rápida será a sua cura.Obviamente, enquanto se espera os pais para buscarema criança é administrado o soro caseiro e suspendida aalimentação sólida para evitar o ato reflexo do estadodiarréico.

A criança portadora de rinite é observada quantoà involução ou evolução deste sintoma. Se este estadose agravar, com manifestação de febre e/ou tosse e rejei-ção de alimentos pela criança, ela tomará banho mornocomo tentativa de diminuir o seu estado febril e líquidoslhe serão oferecidos na forma de sucos. Sua temperaturacorporal é monitorada a cada 1 hora. Caso os sintomaspersistam dentro de 2h30m, são avisados os pais, sendo-lhes descrito o estado em que se encontra a criança esolicitado que a levem ao médico pediatra. É exigido dospais, no dia seguinte, a receita médica e os medicamen-tos prescritos, para que se receba a criança na creche.

Algumas mães costumam reclamar desta exigên-cia da equipe diretora, mas tem-se dialogado com elasargumentando-se que com esta exigência visamos o bem-estar e a saúde de seus filhos. Uma vez uma mãe afirmouà diretora:

- Dona Sonia, a senhora é muito enjoada,qualquer coisinha a senhora quer que agente leve [meu filho] no médico!

A diretora acolheu com tranqüilidade a observa-ção a ela dirigida afirmando:

- Mãe, mas o seu bebê não tem qualquercoisinha! Ele está com quase 39º de fe-bre, e a febre dele poderá aumentar à noitee será mais difícil você ir com ele ao mé-dico à noite. Se a febre aumentar muito éperigoso a criança ter uma convulsão,uma espécie de desmaio.

A mãe olhou-a, suspirou e pareceu entender aexplicação acima. Levou seu bebê ao médico e trouxe areceita e os medicamentos para a creche no dia seguinte.

Observar, analisar, refletir, dialogar e concluir sãotarefas diárias feitas pela equipe diretora junto com a

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equipe de profissionais que atua na creche, com o obje-tivo de propor práticas educativas mais condizentes comas necessidades da comunidade atendida, e que bus-quem promover ao máximo o seu desenvolvimento. Tem-se tomado consciência de que como resultado dessastarefas, ocorreram modificações nas práticas das mães,dos pais e dos alunos atendidos pela creche e da própriaequipe no que se refere às suas expectativas e práticasde manejo e pedagógicas.

Os encontros e confrontos existenciais-sociaiscotidianos possibilitam, à comunidade de pessoas que seinterrelaciona no espaço da creche, a construção das prá-ticas educativas em curso e possibilitam, também, que taispráticas se tornem comuns a esta comunidade. Para isto,o diálogo é um instrumento eficaz. Tem-se procurado sem-pre ouvir as necessidades do outro e ser capaz de mudar aprópria prática, quando isto se mostra necessário, para amelhoria do processo educativo oferecido pela creche.

A análise desse processo tem mostrado a impor-tância do trabalho interdisciplinar, do trabalho coletivo eda reflexão sobre a prática como geradora de soluções econhecimentos que permitem enriquecê-la.

4. REFERÊNCIAS

BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPOR-TO. Secretaria de Educação Fundamental. Referencialcurricular nacional para a educação infantil. Ministé-rio da Educação e do Desporto, Secretaria de EducaçãoFundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998, 3 v.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍS-TICA. Disponível em: <http.www..ibge.gov.br/brasil_em_sintese/tabelas/população_tabela02..htm>.Acesso em: 24 abr. 2008.

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Levantamento Preliminar de Espécies de Borboletas emDuas Áreas do Campus Urbanova

Joyce Valério Cinachi *Nádia Maria Rodrigues de Campos Velho **

Resumo: As borboletas pertencem à ordem Lepidoptera, formando um dos maiores grupos da classeInsecta. O Campus Urbanova apresenta uma vegetação diversificada, com grande disponibilidadede plantas, o que favorece o aparecimento de espécies variadas de borboletas. Este trabalho objetivourealizar um levantamento preliminar das espécies de borboletas em duas áreas do Campus Urbanova,por comparação com levantamentos anteriores realizados e verificar a interferência antrópica. Ascoletas foram realizadas no Lago da Mata da Fazenda Santana do Poço e no CriadouroConservacionista, ambos pertencentes à Universidade do Vale do Paraíba, no Campus Urbanova,no período de abril/2005 a julho/2006, com saídas três vezes por semana. Foram utilizadas trêsarmadilhas e rede entomológica para as coletas. Posteriormente os exemplares eram levados parao laboratório do Borboletário para a identificação e montagem da coleção de referência e bancode dados digitais. Foram identificadas 93 espécies de borboletas, sendo distribuídas em cincofamílias, sendo a família Nymphalidae a mais abundante. Comparando com levantamentos anteri-ores, constatou-se que houve um decréscimo no número de espécies encontradas no CampusUrbanova, onde em 1996 foram registradas 138 espécies num período de 7 meses, comprovandoassim uma possível alteração da lepidopterofauna nas áreas estudadas, decorrentes da açãoantrópica e/ou da modificação ambiental.

Palavras-chave: Levantamento, lepidóptera, famílias, ação antrópica.

Abstract: The butterflies belong to the Lepidoptera order, forming one of the biggest groups of theinsect class. Urbanova Campus presents diversified vegetation with great availability of plants,what favors the appearing of varied species of butterflies. The present work aimed at collecting dataabout the species of butterflies found in two areas of Urbanova Campus, comparing it with previousdata collections and verifying the atrophic interference. The data were collected from April/2005and July/2006, three times a week, in the Lake of Mata of Santana do Poço Farm and in theConservationist Creator, both belonging to University of Vale do Paraíba in Urbanova Campus.Three traps and entomological net were used for collecting data. Later the butterfly units weretaken to the laboratory of the butterfly’s house for identification and elaboration of the referencecollection and digital database. Ninety-three (93) species of butterflies were identified; they weredistributed in five families, being the Nymphalidae the most abundant family. Comparing withprevious studies, it was found that there was a decrease in the number of species found in UrbanovaCampus. In 1996 it was registered 138 species in a period of 7 months. The present result showedthat a possible alteration of “lepidopterofauna” in the studied areas is due to the atrophic actionand/or the environmental modification.

Key words: Survey, lepidoptera, families, atrophic action.

* Bióloga e pós-graduanda em Gestão Ambiental -UNIVAP, 2008.

** Professora da UNIVAP.

1. INTRODUÇÃO

A Ordem Lepidóptera forma um dos maiores gru-

pos da Classe Insecta, com aproximadamente 180.000 es-pécies em 127 famílias e 46 superfamílias. Esses insetosapresentam parte do corpo recoberto por escamas, quesão geralmente achatados e facilmente destacáveis quan-do tocados e responsáveis pela reprodução dos desenhose cores encontrados nas asas (FIGUEIREDO, 2000).

Segundo Morellato (1992), são insetos comuns,

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de hábitos diurnos, inofensivos e apresentando váriascolorações. Não só da beleza decorre sua importância;as borboletas são utilizadas em estudos de ecologia depopulações, inclusive dispersão e migração, onde, noBrasil, as borboletas têm importância, também em pes-quisas sobre interação inseto/planta, demarcação de pro-priedades, planejamento e administração de reservasnaturais.

Os lepidópteros também possuem uma grandeimportância na indicação da qualidade do ambiente. Elessão atrativos, mas também tóxicos, onde têm como pre-dadores algumas aves e aranhas. Apesar de serem orga-nismos bem estudados, o conhecimento dalepidopterofauna neotropical ainda é incompleto, esparsoe fragmentado (SCHANTZ, 2000).

As borboletas são facilmente atraídas por frutosem decomposição, uma vez que encontram água e açú-car. É possível utilizar armadilhas preparadas para coletá-las, porém as capturas com iscas são bastante seletivas(ALMEIDA; RIBEIRO-COSTA; MARINONI, 1998).

À medida que aumenta a pressão antrópica sobre

o planeta, cresce a ameaça aos ecossistemas tropicais(ISERHARD; ROMANOWSKI, 2004 apud WOOD;GILLMAN, 1998). Em regiões nas quais o processo defragmentação se iniciou há muitas décadas, perturbaçõesantrópicas constantes representam uma importante ame-aça à biodiversidade (VIANA, 1995).

A proposta deste trabalho foi realizar um levanta-mento das espécies de borboletas em duas áreas doCampus Urbanova, por comparação com levantamentosanteriormente realizados e verificar se houve a interfe-rência antrópica.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Área de estudo

As coletas foram realizadas no Lago da Mata daFazenda Santana do Poço (23°12’40’’SE e 45°57’35’’W),localizada no município de Jacareí – SP, e no CriadouroConservacionista, localizado no Centro de Estudos daNatureza (CEN), na Universidade do Vale do Paraíba(UNIVAP), Campus Urbanova, São José dos Campos –SP (Fig. 1).

Fig. 1 - Vista parcial do Lago da Mata e do Criadouro Conservacionista.

Foto: Joyce C.

2.2 Amostragem

Foram estabelecidas três áreas amostrais especí-ficas, para a instalação de armadilhas para borboletas.Os dois primeiros pontos estabelecidos foram no Lago

da Mata, onde possui uma vegetação diferenciada, comdisponibilidade de água (Fig. 2). A terceira armadilha foiinstalada no Criadouro Conservacionista, sendo esta áreacom menos vegetação e relativamente mais perturbadapela ação antrópica.

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Fig. 2 - Armadilhas instaladas em dois pontos no Lago da Mata e no Criadouro Conservacionista.

As coletas foram realizadas com auxílio de redesentomológicas e os exemplares acondicionados em en-velopes entomológicos e posteriormente levados paralaboratório e catalogados para a montagem de uma cole-ção de referência e de um banco de dados digital.

Para confecção das armadilhas, seguiu-se Almeida(1992) e as iscas foram colocadas no centro de um discoplástico (Fig. 3). Como atrativos foram colocadas iscasde bananas, amassadas manualmente, por sofrerem fer-mentação rápida e atrair espécies de borboletas.

Fig. 3 - Armadilhas com iscas.

As espécies coletadas foram listadas eidentificadas por um especialista e também com auxíliode chave dicotômica (MORELLATO, 1992) e posterior-mente foram fotodocumentadas e armazenadas em umbanco de dados digital.

3. RESULTADOS

Foram identificadas 93 espécies de borboletas,em um total de 1.230 exemplares, distribuídas em cincofamílias, citadas por Marcos (1996) e Santos (2000), des-tacando: Nymphalidae, Pieridae, Hesperiidae, Lycaenidaee Papilionidae.

A família Nymphalidae foi a mais abundante, com74 espécies identificadas, seguindo as famílias Pieridae,Hesperiidae e Lycaenidae com 6 espécies identificadascada uma, seguida da família Papilionidae com somenteum exemplar encontrado (Fig. 4).

Fig. 4 - Número de espécies de borboletas por família.

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o: J

oyce

Cin

achi

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Na Fig. 5 observa-se que no período de abril asetembro de 2005, quando comparado com o ano de 1996,houve um decréscimo no número das espécies da família

Nymphalidae, com exceção, do mês de maio, provavel-mente devido à elevação da temperatura.

Fig. 5 - Número de indivíduos da família Nymphalidae.

Para a família Pieridae, houve um acréscimo nonúmero de espécimens no mês de julho, quando compa-rado ao ano de 2005, onde nenhum exemplar foi encon-

trado, demonstrando uma perturbação ambiental e comisso, uma alteração na diversidade das espécies, duranteo período analisado (Fig. 6).

Fig. 6 - Número de indivíduos da família Pieridae.

A Fig. 7 evidencia uma alteração significativa nonúmero de exemplares para a família Hesperiidae em 2005

em relação ao ano de 1996, provavelmente devido a alte-rações antrópicas.

Fig. 7 - Número de indivíduos da família Hesperiidae.

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Foram catalogados sete indivíduos da famíliaLycaenidae no mês de julho de 1996, entretanto, para omês de setembro não houve alterações em relação aonúmero de indivíduos, como mostra a Fig. 8. e no período

de abril a setembro de 2005 não foram registrados exem-plares da família Papilionidae, sugerindo-se com isso al-teração ambiental, ou seja, ausência de plantas hospe-deiras (Fig. 9).

Fig. 8 - Número de indivíduos da família Lycaenidae.

Fig. 9 - Número de indivíduos da família Papilionidae.

As espécies foram fotodocumentadasdorsoventralmente e identificadas quanto ao sexo, quan-

do possível.

Família Nymphalidae

Catonephele numilia (Hew., 1852) -

VentralDorsal

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VentralDorsal

Catonephele numilia (Hew., 1852) - VentralDorsal

Colobura dirce (Linnaeus., 1758)

Família Pieridae

VentralDorsal

Phoebis p. philea (Linnaeus, 1763)

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VentralDorsal

Família Lycaenidae

Família Hesperiidae

VentralDorsal

Lemonias glaphyra (Westwood, 1851)

Autochton neis (Greyer, 1832)

4. DISCUSSÃO

De acordo com Marcos (1996), foram registradas,no período de março a setembro de 1996, no CampusUrbanova, 138 espécies de borboletas pertencentes a 5diferentes famílias. No presente trabalho, no período deabril de 2005 a julho de 2006, foram registradas 93 espéci-es pertencentes a 5 famílias, ocorrendo provavelmente,em uma década, alteração na lepidopterofauna, devido ainfluência antrópica ou perturbação ambiental.

No presente trabalho a família Nymphalidae mos-trou-se a mais abundante e diversificada, corroborandocom o levantamento realizado por Marcos (1996) e San-tos (2000) no Campus Urbanova, seguido da famíliaPieridae, Hesperiidae, Lycaenidae e Papilionidae, estarepresentada por somente um exemplar.

A freqüência relativa da riqueza de espécies porfamílias de borboletas para a região Neotropical mostra-

se diferente para Iserhard; Romanowski (2004). Dadoscompilados por Beccaloni; Gaston (1995) e Brown; Freitas(1999) indicam, para o Brasil, as famílias Lycaenidae,Hesperiidae e Nymphalidae respectivamente, as três fa-mílias mais ricas em espécies. No presente trabalho estaordem se inverte, sendo a família Nymphalidae a maisrica em espécies, seguida por Hesperiidae e Lycaenidae.Já em relação à região Neotropical, Nymphalidae apre-senta ser a mais representativa em relação a Hesperidaesegundo Beccaloni; Gaston (1995), e a mais rica entretodas, segundo Heppner (1991).

Segundo Motta (2002), coletas em ambientes aber-tos, beira de rio, brejos e a utilização de iscas aumentamsubstancialmente o número de espécies. As iscas de ba-nanas utilizadas nas armadilhas como atrativo para asborboletas foram eficazes, confirmadas também porUehara-Prado (2003) e Ferreira (1982), apesar de seremseletivas.

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Nos meses de maio, agosto e setembro de 2005registrou-se um considerável aumento dos exemplaresda família Nymphalidae, coincidindo com o aumento datemperatura nestes meses, em que ela influencia nas ati-vidades destes insetos.

A abundância das borboletas e a freqüência deformas variam conforme a umidade (chuvas), os indiví-duos são menos freqüentes e monomorficamente escu-ros, enquanto, na estação seca, a população aumenta eas formas claras predominam (RUSZCZYK, et al. 2004).

Algumas borboletas, segundo Morellato (1992),são espécies que se habituaram e vivem em locais comperturbações, o que pode ser comprovado no presentetrabalho, exemplificado pelas espécies:

Actinote carycina – em climas frios, áreas per-turbadas;

Adelpha phliassa plesaure – floresta perturbada;

Adelpha syma – comum em florestas perturbadas;

Cobalopsis miaba – comum em áreas perturbadas.

Colobura dirce – todos os hábitats, inclusiveantrópicos;

Diaethria clymena meridionalis – muito co-mum em vários hábitats, inclusive antrópicos;

Eurema albula – florestas úmidas perturbadasaté campos abertos, comum;

Eurema arbela – florestas perturbadas;

Hamadryas f. februa – comum em muitos ambi-entes perturbados;

Heliconius besckei – florestas perturbadas ounão, de serras mais altas;

Heliconius ethilla narcaea – florestas pertur-badas, jardins e parques;

Heraclides thoas brasiliensis – lugares pertur-bados;

Phyciodes claudina – muito comum em flores-tas perturbadas, pousando em grandes agrega-ções em barro úmido;

Pyrgus oileus orcus – muito comum em hábitatsabertos ou perturbados;

Com a presença dessas espécies na Mata doCampus Urbanova pode se considerar que a área estu-dada está relativamente perturbada pela ação antrópicaou outro tipo de perturbação na natureza, uma vez queestes insetos são bioindicadores de qualidade ambiental,interferindo na lepidopterofauna local.

A conservação cuidadosa e completa da flora eda fauna tem grande importância para a toda região, hojequase totalmente ocupada pelo homem e pelas suas ati-vidades, com a vegetação natural reduzida a fragmentospequenos (MORELLATO, 1992).

5. CONCLUSÕES

Foram identificadas 93 espécies de lepidópterosdistribuídas em 5 distintas famílias, sendo 74 espécies dafamília Nymphalidae., 6 espécies da família Pieridae,Hesperiidae e Lycaenidae, respectivamente e 1 espécieda família Papilionidae. A diversidade da famíliaNymphalidae era prevista em razão da quantidade de in-divíduos existentes, o que foi observado na famíliaPieridae para o mês de maio e para a família Lycaenidaeno mês de agosto.

A quantidade de espécies registradas e coletadasem 15 meses foi inferior a 7 meses quando foramregistradas 138 espécies, observando-se também um de-créscimo no número de subfamílias, sendo que para al-gumas não foi registrado nenhum representante no anode 2005.

Os dados apresentados demonstraram que pro-vavelmente por alguma alteração ambiental nas localida-des estudadas ou influência antrópica, houve o registrodo baixo número de espécies, quando comparados comlevantamentos realizados anteriormente.

Algumas espécies encontradas permaneceram porvários meses e em todo o período de coleta, como, porexemplo, Hamadryas f. feronia e H. epinome, pertencen-tes à família Nymphalidae.

6. AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Frederico Lencioni Neto pela identifica-ção das espécies, à Profa. Terezinha de Fátima Nogueirapela revisão do abstract e à Profa. Karla Lopes pelassugestões realizadas.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Variação Morfológica do Trypanosoma rangeliem Diferentes Condições de Cultivo

Marta Aparecida Moreto *Marco Antonio de Oliveira **

Resumo: A família Trypanosomatidae pertence à ordem Kinetoplastida e compreende protozoáriosque se caracterizam pela presença de um único flagelo e de uma estrutura mitocondrial organiza-da. Os gêneros pertencentes a esta família parasitam animais vertebrados, invertebrados e plantas.No gênero Trypanosoma encontramos o Trypanosoma rangeli que é um protozoário não patogênicopara o homem e apresenta diversas características relacionadas com o Trypanosoma cruzi que épatogênico ao homem, sendo: compartilhamento de vetores, hospedeiro o Rhodnius prolixus, distri-buição geográfica e semelhanças antigênicas. Existem algumas características biológicas doTrypanosoma rangeli que permitem diferenciá-lo do Trypanosoma cruzi, como a sua provável inca-pacidade de invadir células de mamíferos, o seu desenvolvimento na hemolinfa e nas glândulassalivares dos triatomíneos e a sua transmissão ao hospedeiro vertebrado através da picada – viainoculativa. O objetivo desse estudo é a análise morfológica e morfométricas através de microscopiaótica das cepas Choachí e SC-58 do Trypanosoma rangeli, cultivados no meio LIT (Liver InfusionTryptose) em diferentes concentrações de hemina: 2,5mg/ml; 5,0mg/ml; 10mg/ml e 15mg/ml, nosdias 1; 3 e 6 após o inóculo dos parasitas, os parâmetros analisados foram: comprimento celularmédio; diâmetro dos parasitas; comprimento do flagelo livre; tamanho do cinetoplasto; diâmetrodo núcleo dos parasitas e comprimento total dos parasitas. Os resultados no presente estudo mos-traram que os parasitas cultivados em meio LIT nas diferentes concentrações de hemina induzemmudanças morfológicas nos parasitas. A principal mudança foi no tamanho total dos protozoáriosda cepa Choachí, causando uma redução estatisticamente significativa.

Palavras-chave: Trypanosoma rangeli, família Trypanosomatidae, morfologia, morfometria.

Abstract: The Trypanosomatidae family belongs to Kinetoplastida order and comprehends protozoawhich are characterized by the presence of only one scourge and an organization mitochondrialstructure. The species which belong to this family lodge vertebrate and invertebrate animals andplants. In the Trypanosoma specie we find the Trypanosoma rangeli which is a protozoan notpathogenic to the man and presents several characteristics related to the Trypanosoma cruzi whichis pathogenic to the man, being: vector sharings, Rhodnius prolixus host, geographical distributionand no genetics similarities. There are some biological characteristics of Trypanosoma rangeliwhich can differ from Trypanosoma cruzi, as its probable incapacity of invading mammal cells, itsprogress on the “hemolinfa” and “triatomíneos” salivary glands and its transmission to the verte-bral host through a bite – inoculative route. The purpose of this study is the morphology andmorphometric analysis of Choachí cepa and SC-58 of Trypanosoma rangeli, cultivated in the LIT(Liver Infusion Tryptose) in different concentrations of hemine: 2.5 mg/ml; 5.0mg/ml; 10mg/mland15mg/ml, in the 1, 3 and 6 days after parasites inoculation. The studied parameters were:average cell length, parasites diameter; length of the free flagellum; kinetoplast size; parasitesnucleus diameter and total length of the parasites. The results presented on this work showed thatthe parasites cultivated in LIT in different hemina concentrations make morphological changes onparasites. The main change was on total size of protozoon of cepa Choachí, causing meaningfulstatistic reductions.

Key words: Trypanosoma rangeli, Trypanosomatidae family, morphology, morphometry.

* Mestranda em Ciências Biológicas - IP&D/UNIVAP, 2006.** Professor da UNIVAP.

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1. INTRODUÇÃO

O Trypanosoma rangeli Tejera, 1920 é umprotozoário hemoflagelado, heteroxênico que infecta se-res humanos e animais domésticos e silvestres. Sua dis-tribuição geográfica é sobreposta a do Trypanosomacruzi Chagas, 1909 (agente etiológico da Doença de Cha-gas) encontrando-se na América Central e em vários pa-íses da América do Sul. Apesar de não ser consideradopatogênico para o homem, o Trypanosoma rangeli induzresposta imune humoral com altos títulos de anticorpos,que apresentam reatividade cruzada com os antígenosde Trypanosoma cruzi empregados no diagnóstico dadoença de Chagas. Os ciclos de vida destes dois parasi-tas apresentam diferenças entre si. Apesar de comparti-lharem vetores e hospedeiros, existem algumas caracte-rísticas biológicas do Trypanosoma rangeli que permi-tem diferenciá-lo do Trypanosoma cruzi, como a sua pro-vável incapacidade de invadir células de mamíferos, oseu desenvolvimento na hemolinfa e nas glândulas sali-vares dos triatomíneos e a sua transmissão ao hospedei-ro vertebrado através da picada – via inoculativa (TOBIE,1964; D’ALESSANDRO; SARAVIA, 1992; STEINDEL etal., 1994; GRISARD et al., 1999; GUHL et al., 1987;VASQUEZ et al., 1997).

O ciclo evolutivo do Trypanosoma rangeli novetor triatomíneo é bastante conhecido. A infecção dovetor ocorre durante o repasto sanguíneo em um hospe-deiro vertebrado infectado. Formas tripomastigotas sãoingeridas, as quais no tubo digestivo do inseto diferen-ciam-se em epimastigotas. Os epimastigotas invadem ahemocele e multiplicam-se no interior dos hemócitos oulivremente na hemolinfa. Seis dias após a invasão dahemocele, os parasitas começam a atravessar ativamenteas paredes das glândulas salivares e alcançam o lúmem,onde se diferenciam em tripomastigotas metacíclicos,sendo essas formas inoculadas com a saliva dotriatomíneo no hospedeiro vertebrado durante o repastosanguíneo. Ao contrário do ciclo evolutivo no vetor, ocurso da infecção por Trypanosoma rangeli no hospe-deiro vertebrado até o presente momento não é bemelucidado. Nos primeiros dias após a infecção os parasi-tas são visualizados na circulação, e durante a primeirasemana há um pequeno aumento na parasitemia que vaidecaindo lentamente e, a partir do décimo quinto dia, osparasitas são detectados através de métodos indiretos,como xenodiagnóstico e hemocultura (AÑEZ, 1983).

Diferentemente do T. cruzi, cuja transmissão ocorreexclusivamente pelos dejetos de triatomíneos infectados(via contaminativa), o T. rangeli é transmitido pela pica-da de triatomíneos infectados (via inoculativa). A trans-missão do T. rangeli através de formas presentes nasfezes é considerada possível, devendo, entretanto, ocor-rer em uma freqüência muito menor do que a transmissão

anterior em condições naturais. O tripomastigota san-guíneo é a única forma evolutiva do T. rangeli detectávelno hospedeiro vertebrado. Esta forma do parasito apre-senta características biológicas compatíveis com outrasespécies do subgênero Herpetosoma. Os tripomastigotasapresentam polimorfismo, podendo ser observadas for-mas delgadas e largas medindo de 26 a 34 µm de compri-mento, incluindo o flagelo. A membrana ondulante é bemdesenvolvida, estando o núcleo localizado na metadeanterior do corpo, e o cinetoplasto pequeno e puntiformeapresenta localização subterminal (D’ALESSANDRO;SARAVIA, 1992).

A infecção do T. rangeli no hospedeiro vertebra-do é caracterizada, portanto, pela ausência depatogenicidade, ausência de formas em divisão nos teci-dos e no sangue e pela limitada duração da parasitemia.Como conseqüência da ausência de manifestações clíni-cas na infecção por T. rangeli e a falta de procedimentosadequados para o diagnóstico específico, acredita-senuma subestimação do número de casos humanos deinfecção pelo T. rangeli e, conseqüentemente uma pos-sível superestimação nos casos de infecção pelo T. cruzi(SOUSA; JOHNSON, 1971; D’ ALESSANDRO, 1976).

2. MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizadas, no presente estudo, as cepasChoachí, originalmente isolada de glândulas salivares deRhodnius prolixus naturalmente infectado, capturado noEstado de Cundinamarca, Colômbia (SCOTHELLIUS,1987) e a cepa SC-58, isolada por hemocultura do roedorEchimys dasythrix, naturalmente infectado na ilha deSanta Catarina – Estado de Santa Catarina, Brasil(STEINDEL et al., 1991).

A manutenção das formas epimastigotas das ce-pas Choachí e SC-58 de Trypanosoma rangeli foram cul-tivadas em meio LIT pH 7,2 (CAMARGO, 1964) acresci-do de 10% de soro fetal bovino (SBF) a 28°C em estufabacteriológica. A cada intervalo de 7 dias as cepas eramsub-cultivadas no mesmo meio de cultura, os inóculoseram constituídos de 10% da cultura original.

Para realização dos experimentos os protozoárioseram obtidos a partir do meio de cultura padrão. O volu-me de meio a ser utilizado foi determinado a partir de umacontagem prévia dos protozoários.

Para o início do cultivo experimental foramsemeadas em cada tubo a 1,0x106 células/mL. A concen-tração de protozoários foi determinada utilizando-se umhemocitômetro (câmara de Neubauer) partindo se de umadiluição inicial de 1:100.

A partir do inóculo foram preparados esfregaços

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da cultura para determinação da morfologia inicial dosprotozoários. Para tanto, em lâminas previamente lava-das, foram depositados 10µl de meio contendoprotozoários, este volume de meio foi distendido sobre alâmina de forma a criar um filme delgado, o qual foi secoao ar. Em seguida, o esfregaço foi fixado com metanolpuro por 1 minuto. Após, o excesso de líquido foi dispen-sado e adicionou-se sobre o esfregaço 3mL de corante,que foi deixado por 20 minutos sobre o mesmo. O coranteutilizado foi preparado a partir de uma solução estoque,previamente filtrada em papel Whatmann, a solução decoloração foi preparada adicionando-se 3 gotas decorante para cada mL de tampão fosfato 0,1M pH 7,2.

A fim de acompanhar as mudanças morfológicasocorridas nos protozoários cultivados na presença dediferentes concentrações de hemina, preparou-se culti-vo em duplicata contendo as seguintes concentraçõesde hemina: 2,5mg/mL; 5,0mg/mL; 10mg/mL e 15mg/mL.

Nos dias 1, 3 e 6 após o inóculos dos parasitas nosmeios de cultivo, foram preparados os esfregaços em dupli-catas, estes foram corados como descrito anteriormente.

Para a determinação de parâmetros morfológicosdos protozoários foram digitalizadas, aproximadamente50 campos microscópios por lâmina, utilizando-se o mi-croscópio Leica BLM equipado com uma câmera CCDcom a interface QWin.A medição dos parâmetros foi rea-lizada com o software ImageJ (http://rsb.info.nih.gov/ij).Os parâmetros mensurados foram os seguintes: Compri-mento celular médio; diâmetro dos parasitas; flagelo li-vre; tamanho do cinetoplasto; diâmetro do núcleo dosparasitas e comprimento total dos parasitas

Os valores obtidos para cada parâmetro foramanalisados utilizando os softwares Origin 6.0, com o qualforam obtidos os valores de média e desvio padrão decada parâmetro. A comparação das médias entre os dife-rentes tratamentos foi realizada aplicando o Teste t deStudent. Os resultados foram apresentados como valo-res de média ±desvio padrão.

3. RESULTADOS

Nas Tabelas 1, 2, 3 e 4, a coluna “Dia O” contém asmedidas obtidas a partir dos parasitas cultivados em meioLIT com a concentração de Hemina padrão, antes doinício de cada tratamento com as diferentes concentra-ções de hemina. Em nenhuma das condições emprega-das nesse estudo foram detectadas alterações significa-tivas nos parâmetros “tamanho do Cinetoplasto” e “diâ-metro do Núcleo”. Após um dia de cultivo no meio con-tendo 2.5 mg/mL de hemina, os parasitas da cepa Choachíapresentaram uma redução significativa no comprimentocelular, que ao final do experimento era de aproximada-

mente 13,21 µm. Com relação a cepa SC-58 não se obser-vou o mesmo fenômeno, os valores continuaram próxi-mo ao do início do experimento. Com 6 dias de cultivo osparasitas apresentavam um comprimento celular de apro-ximadamente 15,97 µm (Tabela 1).

Com relação ao diâmetro dos parasitas, observou-se um comportamento semelhante ao observado para ocomprimento celular para a cepa Choachí, ou seja, osvalores obtidos a partir dos parasitas antes de seremcultivados no meio com 2.5 mg/mL de hemina eram maio-res que ao final do experimento. Da mesma forma que osvalores obtidos para este parâmetro não variou signifi-cativamente para a cepa SC-58 (Tabela 1).

Para o comprimento do flagelo livre observou-seum comportamento oposto nas duas cepas, enquanto osvalores deste parâmetro diminuíram para a cepa Choachí,os mesmos aumentaram para a cepa SC-58, variando res-pectivamente de 7,21 µm a 6,87 µm, e de 6,78 µm para 7,08µm (Tabela 1).

O comprimento total dos parasitas sofreu umavariação significativa, passando de 29,33 µm antes doinício do cultivo para 24,53 µm no último dia de cultivocom 2.5 mg/mL de hemina.

Os parasitas da cepa Choachí cultivadas no meiocontendo 5.0 mg/mL de hemina apresentaram uma redu-ção significativa no comprimento celular de aproximada-mente 13,20 µm. Com relação a cepa SC-58 os valores semostraram significativamente diferentes variando respec-tivamente de 13,08 µm a 16,97 µm (Tabela 2).

Com relação ao diâmetro dos parasitas, observou-se um comportamento semelhante ao observado para ocomprimento celular para a cepa Choachí, ou seja, osvalores obtidos a partir dos parasitas antes de seremcultivados no meio com 5.0 mg/mL de hemina eram maio-res que ao final do experimento. Da mesma forma que osvalores obtidos para este parâmetro não variou signifi-cativamente para a cepa SC-58 (Tabela 2).

O comprimento do flagelo livre sofreu uma varia-ção significativa, passando de 5,81 µm antes do início docultivo para 7,09 µm no último dia de cultivo com 5.0 mg/mL de hemina. O mesmo pode-se dizer do observadopara a cepa SC-58 (Tabela 2).

O comprimento total dos parasitas sofreu umavariação significativa, passando de 25,06 µm antes doinício do cultivo para 20,29 µm no último dia de cultivocom 5.0 mg/mL de hemina.

Os parasitas da cepa Choachí cultivadas no meiocontendo 10 mg/mL de hemina apresentaram uma redu-

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ção significativa no comprimento celular de aproximada-mente 13,03 µm. Com relação a cepa SC-58 os valores semostraram significativamente diferentes variando respec-tivamente de 17,49 µm a 18,26 µm (Tabela 3).

Com relação ao diâmetro dos parasitas, observou-se um comportamento semelhante ao observado para ocomprimento celular para a cepa Choachí, ou seja, osvalores obtidos a partir dos parasitas antes de seremcultivados no meio com 10 mg/mL de hemina eram maio-res que ao final do experimento. Da mesma forma que osvalores obtidos para este parâmetro não variou signifi-cativamente para a cepa SC-58 (Tabela 3).

O comprimento do flagelo livre sofreu uma varia-ção significativa, passando de 6,89 µm antes do início docultivo para 7,06 µm no último dia de cultivo com 10 mg/mL de hemina. O mesmo pode-se dizer do observadopara a cepa SC-58 (Tabela 3).

O comprimento total dos parasitas sofreu umavariação significativa, passando de 27,44 µm antes doinício do cultivo para 20,06 µm no último dia de cultivocom 10 mg/mL de hemina.

Os parasitas da cepa Choachí cultivadas no meiocontendo 15 mg/mL de hemina apresentaram uma redu-ção significativa no comprimento celular de aproximada-mente 13,28 µm. Com relação a cepa SC-58 os valores semostraram significativamente diferentes variando respec-tivamente de 18,04 µm a 17,51 µm (Tabela 4).

Com relação ao diâmetro dos parasitas, os valo-res obtidos antes de serem cultivados no meio com 15mg/mL de hemina eram semelhantes ao final do experi-mento. Da mesma forma que os valores obtidos paraeste parâmetro variou significativamente para a cepa SC-58 (Tabela 4).

O comprimento do flagelo livre sofreu uma varia-ção significativa, passando de 7,34 µm antes do início docultivo para 6,93 µm no último dia de cultivo com 15mg/mL de hemina. Não se observou uma variação significa-tiva para a cepa SC-58 (Tabela 4).

O comprimento total dos parasitas sofreu umavariação significativa, passando de 25,52 µm antes doinício do cultivo para 20,20 µm no último dia de cultivocom 15 mg/mL de hemina.

Tabela 1 – Demonstração dos valores médios, expressos em µm obtidos para os parâmetros comprimentocelular (CC), diâmetro celular (D), flagelo livre (F), comprimento do cinetoplasto (K), diâmetro do núcleo (N) e

comprimento total (C) das Cepas Choachí e SC-58, cultivadas em meio LIT acrescido de 10% de soro fetalbovino contendo 2.5 mg/ml de hemina.

- X = Média- DP = Desvio Padrão- Letras iguais são estatisticamente diferentes (p<0,05).

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Tabela 4 – Demonstração dos valores médios, expressos em µm obtidos para os parâmetros comprimentocelular (CC), diâmetro celular (D), flagelo livre (F), comprimento do cinetoplasto (K), diâmetro do núcleo (N) e

comprimento total (C) das Cepas Choachí e SC-58, cultivadas em meio LIT acrescido de 10% de soro fetalbovino contendo 15 mg/ml de hemina

- X = Média- DP = Desvio Padrão- Letras iguais são estatisticamente diferentes (p<0,05).

5. DISCUSSÃO

O Trypanosoma rangeli e o Trypanosoma cruzisão flagelados morfologica, biologica e bioquimicamentedistintos, compartilham vetores do gênero Rhodnius emamíferos reservatórios, principalmente marsupiais. Porisso a necessidade de sua correta identificação e diferen-ciação com o T. cruzi (D’ALESSANDRO, 1972).

Para este estudo foram utilizadas as cepas Choachíe SC-58 do Trypanosoma rangeli cultivados em meioLIT com a concentração de hemina padrão nos dias 1, 3 e6 e após o inóculo, conforme Tabelas 1, 2, 3 e 4, obser-vou-se que em nenhuma das condições empregadas nes-se estudo foram detectadas alterações significativas nosparâmetros tamanho do cinetoplasto e diâmetro do nú-cleo. Para a definição morfológica do cinetoplasto e nú-cleo as laminas foram coradas com Giemsa.(D’ALESSANDRO; SARAVIA, 1992).

Com os resultados obtidos no presente estudopudemos analisar o estágio morfológico dos parasitasatravés da microscopia ótica e observamos: o núcleo, ocinetoplasto, o corpo celular alongado, o diâmetro e oflagelo livre. E através dessa observação vimos que acepa Choachí teve redução significativa de tamanho nasconcentrações de hemina: 2.5 mg/mL; 5.0 mg/mL; 10 mg/mL e 15 mg/mL. Lafont (1910) e Camargo (1999), chama aatenção para o fato de que a morfologia detripanosomatídeos não é um caráter confiável para dis-tinguir gêneros de tripanosomatídeos encontrados emplantas dos de insetos.

É de conhecimento que as espécies do gêneroRhodnius são altamente suscetíveis a determinadas ce-pas de T. rangeli, poderíamos especular que oTrypanosoma como forma evolucionária, desenvolveumecanismos para escapar de uma resposta imune do in-seto, por outro lado o flagelado é capaz de degradar,inibir e resistir a diversos fatores antiparasitários nahemolinfa do inseto infectado.

Nossa intenção, a esse respeito, não é discutirprofundamente a patogenicidade que o T. rangeli de-monstra para o seu hospedeiro invertebrado, já que nos-sos estudos se limitam unicamente a observaçõesmorfológicas e morfométricas do T. rangeli.

Dados na literatura (D’ALESSANDRO;SARAVIA, 1992) corroboram com os nossos resultadosonde a avaliação dos parâmetros mensurados nos para-sitas cultivados em meio LIT nas diferentes concentra-ções de hemina observou-se formas curtas, medias ealongadas dos parasitas medindo em média 26 µm, inclu-indo o flagelo livre, nas cepas Choachí e SC-58.

Na morfologia do T. rangeli podemos distinguirdiferentes formas em seu hospedeiro vertebrado einvertebrado e por sua vez nos diferentes órgãos do in-seto vetor. Na hemolinfa se encontram formasepimastigotas curtas, médias e largas, e tripomastigotasmetacíclicas; também se observam formas em divisão lon-gitudinal muito ativa, formas esferomastigotas etripomastigotas; é freqüente encontrar a presença denumerosos hemócitos (CUBA, 1998). Nas glândulas sali-

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vares se encontra a maioria das formas tripomastigotasmetacíclicas e no intestino formas largas de epimastigotas(AÑEZ, 1983).

Pessoa (1974) chama a atenção sobre a necessi-dade de uma correta identificação do tripanossomatídeono caso de infecção mista, tendo em vista possível con-fusão com o T. rangeli.

Durante muitos anos vem utilizando-se os termosT. rangeli-like, tripanosomas semelhantes ao T. rangeli etambém o tipo-rangeli,quando eram descritos os estu-dos basicamente morfológicos, flagelados em diversoshospedes vertebrados e em triatomíneos infectados na-turalmente. D’Alessandro (1976) definiu claramente quepara ser denominado um tripanosoma como o T. rangeli,se deve evolucionar na hemolinfa do triatomíneo, invadirsuas glândulas salivares e ser transmitido pela picada novertebrado suscetível. Todos estes são parâmetros bio-lógicos considerados indispensáveis na identificação doparasito.

Devido a ocorrência simultânea de Trypanosomarangeli e Trypanosoma cruzi em vários países da Améri-ca do Sul e América Central, estudos sobre a biologia doTrypanosoma rangeli são de maior importância (GUHLET AL., 1987; HUDSON ET AL., 1992). No contexto atualda capacitação dos recursos humanos e da infra-estrutu-ra dos serviços de Saúde Pública os parâmetros de iden-tificação morfológica e biológica, são de grande utilida-de prática como lemento de identificação do Trypanosomarangeli.

Os nossos resultados mostraram que através daanálise morfológica e morfométrica a concentração dehemina presente no meio de cultura induz mudançasmorfológicas nos parasitas cultivados no meio LIT.

Dessa forma, baseando-se no que foi apresenta-do até aqui, podemos afirmar que o T. rangeli constituium modelo experimental de grande potência de explora-ção cientifica, em um completo campo do fenômeno damorfologia de um parasito protozoário digenético e nosestudos de imunidade celular de insetos.

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Condições para a Linearidade da Relação entre DébitoCardíaco e Consumo de Oxigênio

Mituo Uehara *Kumiko K. Sakane *

Resumo: Discute-se a questão da linearidade da relação entre débito cardíaco e consumo deoxigênio, durante a realização de exercício físico. A discussão é baseada numa equação recente-mente deduzida, que relaciona o débito cardíaco com o consumo de oxigênio, a pressão sistólica eo rendimento do coração no trabalho de bombear o sangue. Supondo que o rendimento do coraçãoseja uma função decrescente do consumo de oxigênio, mostra-se que a pressão sistólica sistêmicadeve ser uma função crescente do consumo de oxigênio, o que é confirmado por observações expe-rimentais. Com dados experimentais publicados na literatura faz-se uma estimativa da variação dorendimento do coração em função do consumo de oxigênio.

Palavras-chave: Rendimento do coração, pressão sistólica, exercícios físicos.

Abstract: The question of the linearity of the relation between cardiac output and oxygenconsumption is discussed. The discussion is based on a recently derived equation which relatescardiac output to oxygen consumption, sistolic pressure and the heart efficiency in pumping blood.Assuming that the heart efficiency is a decreasing function of oxygen consumption it is shown thatthe sistolic pressure must increase as oxygen consumption increases, a behavior that is supportedby experimental observations. By using experimental data published in the literature the variationof the heart efficiency as a function of oxygen consumption is estimated.

Key words: Heart efficiency, sistolic pressure, ergometric exercises.

* Professor(a) da UNIVAP.

1. INTRODUÇÃO

Observações experimentais mostram que a rela-ção entre o débito cardíaco e o consumo de oxigênio,durante a realização de exercício físico, é linear, com mui-to boa aproximação. Recentemente, Beck et al. (2006)realizaram experimentos para investigar a questão dalinearidade dessa relação. Porém, o estudo daqueles pes-quisadores consistiu apenas numa análise estatística dedados experimentais, sem nenhuma tentativa de explica-ção teórica.

Durante a realização de exercícios, em diferentesníveis de intensidade, a pressão arterial e o rendimentodo coração no trabalho de bombear o sangue variam,como mostram observações experimentais(HIGGINBOTHAM et al., 1986; UEHARA et al., 2007).Assim, o débito cardíaco, o consumo de oxigênio, a pres-são arterial e o rendimento do coração variam durante arealização de exercício. Recentemente foi deduzida umaequação relacionando as grandezas citadas (UEHARA

et al., 2008), que permite analisar matematicamente a ques-tão da linearidade entre débito cardíaco e consumo deoxigênio.

Neste trabalho apresentamos uma discussão teó-rica da questão da linearidade entre débito cardíaco etaxa de consumo de oxigênio, durante a realização deexercícios em diferentes níveis de intensidade, com basena equação recentemente deduzida por Uehara et al.(2008). Fazemos uma estimativa da variação do rendi-mento do coração durante a realização de exercício, utili-zando dados experimentais de Higginbotham et al. (1986),Beck et al. (2006) e de Poliner et al. (1980).

2. RELAÇÃO ENTRE O DÉBITO CARDÍACO E OCONSUMO DE OXIGÊNIO

Consideremos a equação, recentemente deduzida(UEHARA et al., 2008),

SP pp

cEQ

+Ωη= (1),

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Revista UniVap, v.15, n.27, 200836

onde Q é o débito cardíaco, η o rendimento do coraçãono trabalho de bombear o sangue, E é a energia liberadapor nutrientes, em reações metabólicas, por litro de oxi-gênio consumido, Ω o volume de oxigênio consumidopela pessoa, por unidade de tempo, c a fração de oxigê-nio consumida pelo coração em relação ao consumo to-tal Ω (isto é, cΩ , sendo c < 1, é o volume de oxigênioconsumido pelo coração, por unidade de tempo), p

P a

pressão sistólica pulmonar e pS a pressão sistólica

sistêmica.

Para uma dieta típica a energia liberada por litro deoxigênio consumido é aproximadamente igual a (MILNOR,1990)

E = 5,0 kcal/(litro de O2) (2).

Dados experimentais mostram que a pressãosistólica sistêmica é da ordem de sete vezes maior que apressão sistólica pulmonar (HIGGINBOTHAM et al.,1986; GRODINS, 1963). Temos, aproximadamente,

7p

p

P

S = (3).

Introduzindo os valores dados por (2) e (3) naequação (1) resulta

S

5

p

c)mmHg10x38,1(Q

Ωη= (4).

Indiquemos pelo símbolo pS o valor numérico

de pS em mmHg, por exemplo se p

S = 120 mmHg, então

pS = 120. A equação (4) pode ser escrita na forma

Q= S

5

p

c10x38,1

Ωη (5),

em que apenas Q e Ω são grandezas dimensionais, dadascomumente em litros/minuto.

Denotemos por r o produto ηc do rendimento, η,do coração no trabalho de bombear o sangue pela fra-ção, c, de oxigênio consumido pelo coração. Assim,

r = ηc (6),

de modo que a Equação (5) pode ser escrita como

(7).

Como c < 1, vemos que r = ηc < η, ou seja, r ésempre menor que o rendimento do coração no trabalhode bombear o sangue. Então, chamaremos r de “índicede rendimento” ou “índice de eficiência” do coração.

3. LINEARIDADE DA RELAÇÃO ENTRE DÉBITOCARDÍACO E CONSUMO DE OXIGÊNIO

Supondo que a relação entre o débito cardíaco e oconsumo de oxigênio seja linear, escrevemos

(8),

onde A e B são constantes.

Observações experimentais mostram que, com oaumento do nível de intensidade de exercício, r decresceenquanto a pressão sistólica sistêmica, p

S, aumenta. Como

a taxa de consumo de oxigênio Ω (litros/minuto) estádiretamente relacionada com o trabalho realizado pelocoração (UEHARA et al., 2008); que por sua vez deve sermaior quanto maior o nível de intensidade de exercício,vamos considerar r e p

S como funções de Ω, isto é, r =

r(Ω) e pS(Ω).

A função r(Ω) decresce com Ω, enquanto a fun-ção p

S(Ω) aumenta com Ω, mas de tal modo que a relação

entre Q e Ω seja linear.

Vamos supor que a função r(Ω) seja da forma

(9),

onde a e b são constantes positivas. De acordo com aEquação (9), a fração de rendimento, r, decresce com oaumento de Ω, e seu valor se aproxima de b para valoreselevados de Ω.

Das equações (8) e (9) obtemos

(10),

que dá a forma como a pressão sistólica pS deve variar

com Ω se r variar de acordo com a Equação (9) e a relaçãoentre Q e Ω for linear.

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Derivando a Equação (10) obtemos

( )2

5S

BA

aBbA10x38,1

d

pd

Ω+−=

Ω (11)

e

( )3

52

2

1076,2Ω+

−−=Ω BA

aBbAx

d

pd S (12)

As equações (11) e (12) mostram que se bA − aB >0 , então dp

S/dΩ > 0 e d2p

S/dΩ2 < 0. Nesse caso, p

S é

função crescente de Ω e o gráfico de pS em função de Ω

é uma curva com a concavidade para baixo. Por outrolado, se bA − aB < 0 , então dp

S/dΩ < 0 e d2p

S/dΩ2 >

0 e, nesse caso, a pressão sistólica pS seria uma função

decrescente de Ω, o que não é confirmado por dadosexperimentais. Portanto, devemos ter

bA − aB > 0 (13),

donde

B

A>

b

a (14).

Vemos pela Equação (11) que a derivada de pS não

se anula para nenhum valor finito de Ω, de modo que apressão sistólica não apresenta nenhum ponto de máximo.

Para valores elevados de Ω, tais que B Ω >> Atemos também que b Ω >> a (pois A/B > a/b) e a Equação(9) mostra que r torna-se praticamente constante e iguala b, enquanto a equação (10) se reduz a

B

b10x38,1p 5

S = (15),

de modo que a pressão sistólica torna-se praticamenteconstante para valores muito elevados de Ω. Resta verse as observações experimentais esclarecem se isso jáocorre em níveis fisiologicamente possíveis de intensi-dade de exercício.

4. ESTIMATIVA DO ÍNDICE DE RENDIMENTO

A grandeza r, que chamamos de índice de rendi-mento, é igual ao produto do rendimento do coração (η)pela fração (c) de oxigênio consumido pelo coração, sen-do, portanto, a menos de um fator c < 1, uma medida dorendimento do coração no trabalho de bombear o sanguepara o sistema vascular. Vamos fazer uma estimativa de rutilizando dados experimentais publicados na literatura.

4.1 Dados de Higginbotharm et al. (1986)

Higginbotham et al. (1986) mediram várias gran-dezas hemodinâmicas em experimentos com vinte e qua-tro pessoas do sexo masculino, com idade variando de20 a 50 anos, com a área da superfície do corpo variandode 1,65 m2 a 2,10 m2. No lugar do débito cardíaco elesapresentaram os valores do índice cardíaco

SA

QCI = (16),

sendo CI o índice cardíaco, Q o débito cardíaco e SA a área

da superfície do corpo. Como aqueles autores não deram ovalor médio da área da superfície do corpo, a fim de calcularo débito cardíaco, vamos tomar a média aritmética

( ) 22

S m88,12

m10,265,1A =+= (17).

A Tabela 1 apresenta dados experimentais deHigginbotham et al. (1986) e valores de r calculados atra-vés da Equação (7).

Tabela 1 - Dados experimentais de Higginbotham et al. (1986) e valores de r calculados através da Equação (7)

pS é a pressão sistólica, ΩΩΩΩΩ a taxa de consumo de oxigênio, CI o índice cardíaco,

Q o débito cardíaco e r o índice de rendimento do coração *Q = (1,88 m2)CI.

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Com os valores de Ω e de Q, apresentados naTabela 1, obtemos

Q = A + B Ω (18),

onde

A = 3,7 litros/min (19)

e

B = 5,7 (20).

A Fig. 1 mostra o gráfico do débito cardíaco Q emfunção da taxa de consumo de oxigênio Ω. É interessanteobservar que o valor do coeficiente angular B = 5,7 coin-cide com o obtido por Beck et al. (2006), que fizeramexperimentos com 72 pessoas.

Fig. 1 - Débito cardíaco, Q, em função da taxa de consumo de oxigênio, ΩΩΩΩΩ.

Com os valores de r, dados na Tabela 1, obtemospara os parâmetros a e b da Equação (9),

a = 0,0023 litro/min. (21)e

b = 0,010 (22).

A Fig. 2 apresenta o gráfico de r em função de Ω,com a e b dados pelos resultados (21) e (22).

Fig. 2 - Índice de rendimento, r, em função da taxa de consumo de oxigênio, ΩΩΩΩΩ.

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Vemos que, com os resultados (19)-(22), as desi-gualdades (13) e (14) estão satisfeitas, de modo que apressão sistólica p

S é uma função crescente de Ω.

A Fig. 3 mostra o gráfico da pressão sistólica emfunção de Ω. A pressão sistólica dada pela Equação (10),com os resultados (19)-(22), não apresenta ponto de má-ximo, mas, para valores elevados de Ω, tende para o valordado pela Equação (15).

Das Equações (15), (20) e (22) obtemos

pS = 242 mmHg (23),

que é o valor da pressão sistólica para valores elevadosde Ω, tais que

(24).

Fig. 3 - Pressão sistólica, pS, em função da taxa de consumo de oxigênio, ΩΩΩΩΩ. Os pontos experimentais

correspondem aos valores de pS dados na Tabela 1.

A Fig. 4 é o gráfico da derivada de pS em relação a

Ω, dada pela Equação (11). A derivada é positiva e paravalores elevados de Ω ela tende a zero.

Fig. 4 - Derivada da pressão sistólica, dpS/dΩΩΩΩΩ, em função da taxa de consumo de oxigênio, ΩΩΩΩΩ.

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4.2 Dados de Beck et al. (2006) e de Poliner et al. (1980)

Beck et al. (2006) mediram o débito cardíaco, Q, ea taxa de consumo de oxigênio, Ω, de setenta e duaspessoas sadias, exercitando-se em bicicleta ergométrica.Porém eles não mediram a pressão arterial sistólica, p

S.

Poliner et al. (1980) mediram o débito cardíaco e a pres-são arterial sistólica de sete pessoas sadias, exercitando-se em bicicleta ergométrica, mas não mediram o consumode oxigênio. Por uma feliz coincidência o valor médio daárea da superfície do corpo das pessoas que se submete-ram aos testes ergométricos de Beck et al. (2006), de umlado, e de Poliner et al. (1980), de outro lado, é pratica-mente a mesma, o que torna razoável supor que os doisconjuntos de dados podem se completar mutuamente.Assim, para um determinado valor de Q, tomamos o valorcorrespondente de Ω, medido por Beck et al. (2006), e ovalor de p

S, medido por Poliner et al. (1980).

A área da superfície do corpo de uma pessoa écalculada através da fórmula empírica (CAMERON,SKOFRONICK E GRANT, 1990)

AS = 0.202M0.425H0.725 (25),

onde AS é a área da superfície do corpo em m2, M a massa

da pessoa em kg e H a altura em metros.

No trabalho de Beck et al. (2006), a massa e aaltura médias das setenta e duas pessoas foram, respec-tivamente, M = 72.1 kg e H = (1.73 ± 0.09) m. Com essesvalores a Equação (25) dá A

S = 1.85 m2. Por outro lado, no

trabalho de Poliner et al. (1980), o valor médio da área dasuperfície do corpo, das sete pessoas que se submete-ram ao teste ergométrico, foi A

S = 1.83 m2.

Com os dados de Beck et al. (2006) obtemos, paraa parte inicial do gráfico de Q em função de Ω, os mesmosresultados (18) – (20), que obtivemos com os dados deHigginbotham et al. (1986). Isso pode ser explicado pelovalor médio da área da superfície do corpo que é aproxi-madamente o mesmo nos dois trabalhos, pois, no traba-lho de Higginbotham et al. (1986), vimos pela Equação(17), que A

S = 1.88 m2

Com os dados de Beck et al. (2006) e de Poliner et al.(1980) calculamos, através da Equações (8), (19) e (20), ovalor do índice de rendimento, r, para as várias condições deexercício. A Tabela 2 mostra os resultados que obtivemos

Tabela 2 - Consumo de oxigênio, ΩΩΩΩΩ, índice de rendimento, r, e pressão sistólica, pS

Supondo para a função r = r(Ω) a forma expressapela Equação (9), determinamos pelo método dos míni-mos quadrados os valores de a e de b que dão o melhorajuste aos dados experimentais apresentados na Tabela2, obtendo os resultados

a = 0.0027 litro/min. (26)e

b = 0.0088 (27).

A Fig. 5 mostra o gráfico de r em função de Ω.

Fig. 5 - Índice de rendimento, r, em função do consumo de oxigênio, ΩΩΩΩΩ. Os pontos experimentais correspondemaos valores de r dados na Tabela 2.

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Com os resultados de A, B, a e b, dados por (19),(20), (26) e (27) determinamos, através da Equação (10), a

pressão sistólica como função de Ω, cujo gráfico é apre-sentado na Fig. 6.

Fig. 6 - Pressão sistólica, pS, em função da taxa de consumo de oxigênio, ΩΩΩΩΩ. Os pontos experimentais

correspondem aos valores de pS dados na Tabela 2.

5. CONCLUSÃO

Mostramos que se o índice de rendimento do co-ração, r, variar com a taxa de consumo de oxigênio, Ω, deacordo com a Equação (9), e a relação entre o débitocardíaco, Q, e o consumo de oxigênio, Ω, for linear, comoexpressa pela Equação (8), então, a pressão sistólica, p

S,

varia com Ω na forma dada pela Equação (10). Inversa-mente, se r variar conforme a Equação (9) e p

S variar de

acordo com a Equação (10), então, a relação entre Q e Ωserá linear e dada pela Equação (8).

A estimativa para a variação de r com Ω, obtidascom dados experimentais de Higginbotham et al. (1986)não diferiu muito da estimativa obtida com os dados deBeck et al. (2006) e de Poliner et al. (1986), como mostramos resultados (21), (22), (26) e (27).

A hipótese expressa pela Equação (9), para a fun-ção r(Ω), deu para a função p

S(Ω) uma forma, expressa

pela Equação (10), que descreve aproximadamente o com-portamento de p

S observado experimentalmente, como

mostra a Fig. 6. Também a Fig. 3 mostra que a forma dafunção p

S(Ω) está de acordo com os dados experimentais

de Higginbotham et al. (1986), apesar de ter apenas doispontos experimentais.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Alimentação de Serranidae (Actinopterygii, Teleostei,Perciformes) na Praia de Cabuçu (Saubara, Baía de Todosos Santos, Bahia). III. Rypticus Randalli Courtenay, 1967

Paulo Roberto Duarte Lopes *Jailza Tavares de Oliveira-Silva **

Rogenaldo de Brito Chagas ***

Resumo: Os conteúdos gastro-intestinais de 104 exemplares de Rypticus randalli Courtenay, 1967(Actinopterygii: Serranidae) foram examinados. Os peixes foram coletados na Praia de Cabuçu(coordenadas 12°47’S - 38°46’W, município de Saubara, região ocidental da Baía de Todos osSantos, estado da Bahia, litoral nordeste do Brasil, Oceano Atlântico ocidental) nos meses de julhode 1999, março, junho, julho, novembro e dezembro de 2000, janeiro, março e abril de 2001, abrilde 2002, março e maio de 2003. Foram identificadas 12 categorias alimentares. Em ocorrência e emnúmero, predomínio de Crustacea Decapoda Dendrobranchiata (camarões, 67,86% e 53,78% res-pectivamente).

Palavras-chave: Dieta, Teleostei, Rypticus randalli, Bahia.

Abstract: The gut content of 104 specimens of Rypticus randalli Courtenay, 1967 (Actinopterygii:Serranidae) were examined. The fishes were collected in Cabuçu beach (12°47’S - 38°46’W, Saubaramunicipality, Western region of Todos os Santos Bay, Bahia state, northeastern littoral of Brazil,Western Atlantic Ocean) in the months of July, 1999, March, June, July, November and December,2000, January, March and April, 2001, April, 2002, March and May, 2003. It was identified 12food categories. In terms of occurrence and in number, predominance for Crustacea DecapodaDendrobranchiata (shrimps, 67,86% and 73,58% respectively).

Key words: Diet, Teleostei, Rypticus randalli, Bahia.

* Prof. assistente da Universidade Estadual de Feirade Santana - Dep. Ciências Biológicas - Lab. IctiologiaE-mail: [email protected]

** Bióloga da Univ. Est. de Feira de Santana - Dep.Ciências Biológicas - Lab. Ictiologia.E-mail: [email protected]

*** Biólogo. Bahia Pesca S.A., Secretária de Irrigação eReforma Agrária do Estado da Bahia, Fazenda Expe-rimental Oruabo, Acupe, Santo Amaro da Purifica-çãoE-mail: [email protected]

1. INTRODUÇÃO

Rypticus randalli Courtenay, 1967, pertencenteà família Serranidae (subfamília Epinephelinae, triboGrammistini) e conhecido como peixe-sabão devido àgrande quantidade de muco que produz quando pertur-bado ou confinado, atinge pelo menos 19,0 cm de com-primento e distribui-se desde Cuba e do sul das Bahamasao estado de Santa Catarina (Brasil) associado com fun-

dos de areia, lama ou cascalho próximo à estuários atéuns 20 m de profundidade (FIGUEIREDO; MENEZES,1980; CERVIGÓN, 1991; CARVALHO FILHO, 1999; GUI-MARÃES, 1999; NELSON, 2006).

A Baía de Todos os Santos, com cerca de 1052km², é o maior acidente geográfico desta natureza na cos-ta brasileira porém não existem muitas informações dis-poníveis sobre sua ictiofauna bem como a respeito dabiologia das espécies aí ocorrentes (LOPES et al., 1999a;LOPES; OLIVEIRA-SILVA, SANTOS, 1999b; OLIVEIRA-SILVA; LOPES, 2002; LOPES et al., 2003; CHAGAS;LOPES; OLIVEIRA-SILVA, 2004).

2. MATERIAL E MÉTODOS

A Praia de Cabuçu, localizada no município deSaubara (região ocidental da Baía de Todos os Santos,estado da Bahia, litoral nordeste do Brasil, coordenadas12°47’S - 38°46’W), apresenta-se com substrato predo-minantemente lamoso e encontra-se sob forte açãoantrópica pois, além de sua população local, recebe gran-

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de fluxo de banhistas e veranistas nos finais de semana enos meses mais quentes do ano resultando na ocupaçãodesordenada do solo e no aumento do despejo de lixo ede esgotos não tratados na praia. R. randalli é citadopor Lopes et al. (1999a) para a Praia de Itapema, localiza-da poucos quilômetros ao norte da Praia de Cabuçu eque também apresenta substrato predominantementelamoso.

Foram realizadas 5 coletas de 100,0 m de extensãototalizando 500,0 m em um trecho desta praia com auxíliode rede de arrasto manual com malha de 10,0 mm entrenós durante a baixa-mar entre julho de 1999 e maio de2003 para captura de exemplares de R. randalli visandocontribuir para o conhecimento de sua biologia atravésda análise do seu conteúdo gastro-intestinal. O númerode exemplares capturados, por mês e ano de coleta, sãoapresentados na Tabela 1.

Tabela 1 - Meses e anos de coleta e respectivos número de exemplares de Rypticus randalli capturados na Praiade Cabuçu (Saubara, Baía de Todos os Santos, Bahia)

Após a captura, ainda no campo, todos os peixesforam acondicionados em gelo e, em laboratório, manti-dos congelados sendo posteriormente fixados em formol10% e transferidos para álcool 70%, onde permaneceramconservados. Em laboratório, o comprimento total de cadaexemplar foi determinado com auxílio de ictiômetro e ré-gua (com precisão de 1,0 mm) conforme a definição deFigueiredo e Menezes (1978). A seguir, cada exemplar foidissecado através de incisão na região ventral para iden-tificação do sexo a partir do exame das gônadas e retiradado tubo digestivo cujo conteúdo foi examinado em mi-croscópio estereoscópico sob diferentes aumentos.

Na análise dos resultados, considera-se freqüênciade ocorrência como o número de tubos digestivos em queuma dada categoria alimentar foi encontrada dividido pelonúmero total de tubos digestivos examinados, expresso emporcentagem, e freqüência numérica como sendo o númerode indivíduos de cada categoria alimentar dividido pelonúmero total de indivíduos das categorias alimentares iden-tificados, expresso em porcentagem, segundo Hyslop (1980),Fonteles Filho (1989) e Zavala-Camin (1996).

Material testemunho encontra-se depositado nacoleção do Laboratório de Ictiologia (Departamento deCiências Biológicas - Universidade Estadual de Feira deSantana) conservado em álcool 70%.

3. RESULTADOS

Foram analisados os tubos digestivos de 104exemplares de R. randalli. O comprimento total dos pei-xes examinados variou entre 42,0 e 119,0 mm.

No que se refere ao sexo, 72 indivíduos puderamser caracterizados como fêmeas (69,23%), 13 como ma-chos (12,5%) e em 19 (18,27%) o sexo não pode ser deter-minado (Gráfico 1).

Quanto ao grau de repleção, 52,38% dos tubosdigestivos estavam pouco cheios, 44,05% estavam chei-os e apenas 3,57% estavam meio cheios; 20 tubos diges-tivos (19,23%) estavam vazios.

No que se refere ao grau de digestão, o alimentoencontrava-se pouco digerido em 33,33% dos tubos di-gestivos e tanto o alimento digerido como aquele meiodigerido foram encontrados em 32,14% e não digeridoem apenas 2,38% dos tubos digestivos examinados.

Foram identificados 12 categorias alimentares. Emtermos de freqüência de ocorrência, predomínio deCrustacea Decapoda Dendrobranchiata (camarões) com67,86% seguido por matéria orgânica digerida (MOD,25,0%), restos de Crustacea (14,28%) e quelas de

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Gráfico 1 - Proporção de sexos de 104 indivíduos de R. randalli na Praia de Cabuçu (julho/1999 a maio/2003)

Tabela 2 - Frequências de ocorrência e numérica para 12 categorias alimentares identificadas nos tubosdigestivos de 84 exemplares de Rypticus randalli coletados na Praia de Cabuçu (Saubara, Baía de Todos os

Santos, Bahia)

Crustacea Brachyura (siris, 11,9%); os demais itens atin-giram valores inferiores a 5,95% (Tabela 2)

Quanto à freqüência numérica, também destaca-

ram-se os Decapoda Dendrobranchiata com 73,58% se-guido por restos de Crustacea e quelas de Brachyura(ambos com 7,55%); os demais itens atingiram valoresinferiores a 3,14% (Tabela 2).

4. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

Todos os representantes da família Serranidae sãopredadores, alimentando-se de invertebrados (principal-mente crustáceos e cefalópodos) e peixes; algumas espé-cies tem rastros branquias numerosos, longos e deste modoestão adaptados para se alimentarem de zooplâncton(FIGUEIREDO; MENEZES, 1980; HEEMSTRA;ANDERSON; LOBEL in CARPENTER, 2002).

Segundo Guimarães (1999), os representantes dogênero Rypticus Cuvier, 1829 alimentam-se principalmentedurante a noite de crustáceos, moluscos e peixes. Carvalho

Filho (1999) comenta que R. randalli alimenta-se basica-mente de peixes e, em menor quantidade, de crustáceos.

Cervigón (1991) afirma que o muco produzido porRypticus contêm uma toxina chamada gramistina cujafunção parece ser defensiva uma vez que quando umpredador ingere o peixe-sabão imediatamente o expulsa.

Randall et al. in Cervigón (1991) citam que exem-plares de Rypticus não foram encontrados em estôma-gos de peixes carnívoros no Mar do Caribe. Chagas;Lopes e Oliveira-Silva (2004), analisando tubos digesti-vos do niquim Thalassophryne sp., de hábitos

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bentônicos, também capturados na Praia de Cabuçu, nãoidentificaram R. randalli nem outros representantes deSerranidae no seu conteúdo gastro-intestinal emboraexemplares da família Tetraodontidae (baiacu), conheci-do por sua toxicidade, tivessem sido ingeridos.

Aguiar e Filomeno (1995) afirmam que a alta fre-qüência de matéria orgânica digerida parece estar relaci-onada com uma alimentação próxima ao padrãoseqüencial, no qual se observa uma busca constante dealimento que é ingerido em pequenas quantidades a cadavez, o que justificaria sua elevada ocorrência também emR. randalli.

O único grupo de Actinopterygii Teleostei possí-vel de ser identificado nos tubos digestivos de R. randallifoi 1 exemplar, representante da família Gobiidae, que qua-se sempre vivem em contato direto com o substrato, ondecomumente se enterram (MENEZES; FIGUEIREDO, 1985).

Trematoda (ocorrência de 3,57%) não são consi-derados como item alimentar mas sim como parasitas dotubo digestivo de R. randalli (BARNES, 1984).

Em Serranus flaviventris (CUVIER, 1829), outraespécie de Serranidae e também para a Praia de Cabuçu,Oliveira-Silva e Lopes (2002) analisaram 333 tubos diges-tivos e identificaram 21 categorias alimentares com am-plo predomínio de Crustacea, principalmente DecapodaDendrobranchiata (camarões), como observado tambémpara R. randalli.

Para Diplectrum radiale (QUOY; GAIMARD,1824), também Serranidae e ainda na mesma praia ondese realizou este estudo, Lopes et al. (2003) identificaram9 categorias alimentares em 36 tubos digestivos exami-nados com destaque para crustáceos, principalmente ca-marões, e peixes, ou seja, novamente semelhante ao quefoi observado para R. randalli.

Com base nas informações aqui apresentadas,para R. randalli, na Praia de Cabuçu, apesar da limitaçãoda amostra durante o período de estudo, constata-se umhábito demersal e predador principalmente sobreCrustacea principalmente Decapoda Dendrobranchiata(camarões), confirmando informações já citadas na lite-ratura para esta espécie.

5. AGRADECIMENTOS

Ao setor de transportes da UEFS pela cessão doveículo para os trabalhos de campo. Aos estagiários doLaboratório de Ictiologia (Dep. Ciências Biológicas -UEFS) que auxiliaram nas coletas e no processamentoinicial do material.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Análise Econômica do Aeroporto Internacional deViracopos

Josmar Cappa *Fernanda Patrícia Alves **

Resumo: Neste estudo, procurou-se fazer uma análise econômica do Aeroporto Internacional deViracopos a partir da dinâmica da economia contemporânea, caracterizada pela formação demercados comuns entre os países (blocos econômicos formados pelos Estados Nacionais) e pelomercado mundial de capitais. Ambos contribuem para elevar as transações comerciais entre paísese blocos econômicos e ampliam a demanda por serviços de logística integrada às operações indus-triais vinculadas ao transporte aéreo. O referencial teórico sobre logística integrada às operaçõesindustriais foi utilizado para compreender Viracopos como parte integrante das estratégias deprodução e de comercialização de mercadorias das grandes empresas que atuam no comérciointernacional. A pesquisa empírica contou com dados disponíveis pelo Ministério do Desenvolvi-mento, Indústria e Comércio (MDIC) relativos à movimentação de mercadorias no país entre 1996e 2006, que foram sistematizados e analisados a partir do mencionado referencial teórico, bemcomo levando-se em consideração as tendências de crescimento do transporte aéreo mundial, asfreqüências de vôos cargueiros e os direitos de tráfego aéreo entre o Brasil e outros países daAmérica Latina.

Palavras-chave: Políticas públicas, economia urbana e regional, transporte aéreo, aeroportos.

Abstract: This study aims at carrying out an economic analysis of Viracopos International Airportfrom the perspective of contemporary dynamics of economy characterized by the formation of commonmarkets among countries (economic blocks of countries) and also formed by World Capital Markets.Both contribute to the increase of trade transactions among countries and economic blocks and theyincrease the demand for logistic services integrated to the industrial operations linked to theairtransport. Theoretical reference on logistics integrated to the industrial operations was used intrying to understand Viracopos as an integrated part of the strategies for production andcommercialization of goods by the big corporate companies that participate in international trade.The empirical survey used data available by the Ministry of Development, Industry and Trade (MDICin Portuguese) related to the movement of goods in the country from 1996 to 2006. Data wassystematically organised and analysed from the perspective of the above mentioned theoretical reference,as well as taking into account the trend for growing in the world airtransport, the frequency of cargoflights and the rights to air traffic between Brazil and other countries in Latin America.

Key words: Public policies, regional and urban economy, airtransport, airports.

* Doutor em Economia pela Unicamp. Professor e Pes-quisador na Faculdade de Ciências Econômicas daPUC-Campinas.Email: [email protected]@puc-campinas.edu.br

** Aluna de Graduação em Economia pela PUC Campi-nas. Orientanda de Monografia.

1. INTRODUÇÃO

Este artigo procura analisar o Aeroporto Interna-cional de Viracopos como parte integrante das estratégi-

as de concorrência das grandes empresas no comérciointernacional.

O trabalho está dividido em três partes. Na primei-ra, houve a recuperação do debate teórico sobre logísticaintegrada das operações industriais relacionada às ca-racterísticas do transporte aéreo e às novas formas deprodução e comercialização de mercadorias no atual am-biente de concorrência competitivo entre as grandesempresas no comércio internacional.

Na segunda parte, a regulamentação sobre trans-

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porte aéreo e a organização da infra-estrutura no paísforam recuperadas para analisar como os centros car-gueiros aeroportuários complementam as atividades dasempresas de transporte aéreo, destacando-se o papel daInfraero nas operações aéreas e industriais realizadas emterra e os acordos bilaterais firmados pelo Brasil com 64países para especificar direitos de tráfego, determinaçãode capacidade, rotas e tarifas.

Na última parte, foi analisado o perfil econômicodo Aeroporto Internacional de Viracopos, por meio dasistematização de dados empíricos sobre movimentaçãode mercadorias no país disponíveis pelo Ministério doDesenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) entre1996 e 2006. Viracopos caracteriza-se por ser um aeropor-to utilizado pelas grandes empresas mais para importa-ção de mercadorias, peças, partes e componentes diver-sos do que para exportação de produtos acabados.

2. O TRANSPORTE AÉREO NA LOGÍSTICA INTE-GRADA DAS OPERAÇÕES INDUSTRIAIS

A economia contemporânea pode ser caracteriza-da pela formação de blocos econômicos e pelo mercadomundial de capitais, elevando, por um lado, as transa-ções comerciais entre países e blocos econômicos, e, poroutro, a demanda por serviços de logística integrada àsoperações industriais vinculadas ao transporte aéreo.

Na economia contemporânea as grandes empre-sas procuram organizar seus processos produtivos e decomercialização de mercadorias a partir de reações rápi-das e flexíveis. Necessitam de matérias-primas, insumos,peças, partes e componentes de diferentes fornecedorespelo mundo que ofereçam vantagens competitivas comocustos, qualidade, escala de produção, rapidez e eficiên-cia no atendimento. A troca de mercadorias envolve, por-tanto, maiores distâncias e, ao mesmo tempo, necessitade rapidez, segurança e confiabilidade nas entregas.

As grandes empresas procuram orientar suas es-tratégias no comércio internacional a partir de estoquesmínimos e de serviços de logística integrada às opera-ções industriais, tendo em vista obter redução de custosoperacionais e ganhos com flexibilidade e agilidade nasdecisões de produção. Utilizam as tecnologias de infor-mação para reunir, em tempo real, todos os processos dacadeia de suprimentos como elaboração de projetos,transportes de insumos e matérias-primas, estoques mí-nimos, embalagens, fluxo de informações sobre vendas,legislação e atendimento aos clientes (PEDRINHA, 2000).

O conceito de logística das operações industriaisajuda a compreender a economia contemporânea, por-que envolve todo o processo de planejamento,implementação e controle do fluxo e armazenamento de

matérias-primas, insumos, peças, partes e componentes,inventário em processo, bens acabados e informaçõessistematizadas do ponto de origem ao destino final damercadoria, de acordo com as necessidades das empre-sas (CLM, 1995; BALLOU, 2004).

Para atender as necessidades de comercializaçãode mercadorias e insumos das grandes empresas no co-mércio internacional, as atividades básicas da logísticade operações industriais (transporte, armazenagem emanuseio) precisam estar integradas entre si, por meiodas modernas tecnologias de informação, para permitireficácia na coordenação do atendimento das demandas(BALLOU, 1993; COSTA et al., 1999).

As necessidades de integrar e coordenar as ativi-dades de logística das operações industriais envolvem ofluxo de informações, que é compreendido pelo conceitode supply chain management ou gerenciamento cadeiade suprimentos, e refere-se à coordenação de processose gerenciamento de parcerias dentro da empresa e, espe-cialmente, com outras empresas na cadeia produtiva. Hátambém a necessidade de agilidade, pois é preciso adap-tar a cadeia de suprimentos frente às oscilações de de-manda no mercado ou adaptações de produtos e proces-sos produtivos.

As operações de logística integrada não se limi-tam ao interior das empresas, pois nas relações econômi-cas entre clientes e fornecedores envolvem distânciasmaiores, com características continentais ou nacionais emenos regionais. Na medida em que contém o estoquemínimo das empresas em trânsito, a infra-estrutura detransporte, a armazenagem, a distribuição de mercadori-as e o marketing são partes importantes da cadeia desuprimentos que complementam a logística integrada dasoperações industriais (CLM, 1995; COSTA et al., 1999;BALLOU, 2004).

O modal aéreo possibilita o transporte de qual-quer tipo de mercadorias com rapidez e segurança, alémde resolver problemas relacionados à sazonalidade deprodução e atender mercados que apresentam proble-mas em relação à acessibilidade, seja pelas precárias con-dições de infra-estrutura de transporte ou pelas distânci-as longas (PEDRINHA, 2000).

As características principais do transporte aéreode mercadorias são: I) movimenta produtos de alto valoragregado como equipamentos eletrônicos, jóias, ouro,informática, máquinas e equipamentos industriais; II)predominam mercadorias de baixo peso e volume, apesarde ter capacidade para transportar qualquer produtocomo, por exemplo, aviões desmontados; III) mercadori-as com data de entrega rígida e periodicidade de urgên-cia como peças de reposição, produtos e instrumentos

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médicos, amostras relativas à saúde, documentos, pro-dutos perecíveis (flores, frutas, peixes), artigos de moda,entre outros; e IV) apresenta baixo nível de perdas quepodem compensar, em certos casos, custos relativosmaiores como, por exemplo, seguros (BNDES, 2001;MATERA, 2007, p.103).

2.1 Tendências de crescimento do transporte aéreo mun-dial entre 2005 e 2025

É devido à dinâmica da economia contemporâneae às atuais necessidades de integrar as operações delogística na cadeia de suprimentos que o desempenhodo transporte aéreo de mercadorias está diretamente re-lacionado ao crescimento econômico das nações. Ou seja,tende a crescer na medida em que os países também cres-cem, devido ao aumento da demanda para movimentarinsumos, matérias-primas, mercadorias e também passa-geiros.

O tráfego aéreo mundial cresceu a uma taxa de11,6% ao ano entre 1966 e 1977, em termos de passagei-ros por quilômetros transportados, passando para 7,8%entre 1978 e 1986 e para 4,8% entre 1987 e 1997. De acor-do com a empresa norte-americana Boeing, líder mundialna produção de aviões, a demanda por transporte aéreode passageiros deverá crescer 5% ao ano entre 2005 e2025 (PASSIN; LACERDA, 2003, p.228).

Os principais mercados para a expansão do trans-porte aéreo de passageiros, apontados pela Boeing, es-tão localizados na China, América do Sul e Ásia-Pacífico.Para a América do Sul, a Boeing espera que o transporteaéreo cresça acima da média mundial (com 7,9% ao ano),sendo a segunda maior taxa de crescimento. A Embraerespera que o transporte aéreo na América Latina cresça5,5% ao ano entre 2007 e 2027, a partir do crescimento dademanda para aeronaves de 30 a 120 assentos.

As expectativas favoráveis para o crescimentodo transporte aéreo na América do Sul devem-se à suabaixa participação no transporte aéreo mundial de passa-geiros por quilômetros transportados, com 3,6% do totalem 1998, enquanto a América do Norte lidera com 38,5%e a Europa encontra-se em segundo lugar, com 27%(PASSIN; LACERDA, 2003, p.230-231).

Não obstante, para a realidade brasileira, o setorde transporte aéreo é importante porque as empresasaéreas nacionais geraram, em 2000, cerca de 35 mil empre-gos diretos, uma renda de US$ 18 bilhões (aproximada-

mente 3% do PIB) e impacto direto superior a US$ 6,3bilhões, segundo o Sindicato Nacional das EmpresasAeroviárias (SNEA) (PÊGO FILHO, 2002, p.5; BNDES,2001, p.1).

Quanto ao transporte aéreo mundial de mercado-rias, existe uma relação direta com o transporte aéreo depassageiros porque nos porões dessas aeronaves é pos-sível transportar bagagens pessoais e também produtosindustriais de baixo peso e volume. As projeções da em-presa americana Boeing indicam uma perspectiva de cres-cimento do transporte aéreo mundial de mercadorias de6,4% ao ano, entre 2005 e 2025, ficando pouco acimatanto do desempenho das exportações mundiais de 5,8%ao ano entre 1995 e 2005, quanto de suas previsões parao transporte aéreo mundial de passageiros (5%). O fluxodo comércio internacional de mercadorias por via aéreaestá concentrado em três regiões: Ásia-América do Nor-te, o Atlântico Norte (América–Europa) e Europa–Leste(PASSIN; LACERDA, 2003, p.230-231; MATERA, 2007,p.103).

É devido à dinâmica da economia contemporâneae às atuais necessidades de integrar as operações delogística na cadeia de suprimentos que o desempenhodo transporte aéreo de mercadorias está diretamente re-lacionado ao crescimento do PIB das nações. Na relaçãoentre crescimento econômico e desempenho do trans-porte aéreo de mercadorias no Brasil observa-se umaevolução crescente entre 2000 e 2005 (ver Gráfico 1).

Pode-se considerar que o transporte aéreo demercadorias adquiriu papel estratégico para diferentessetores econômicos, devido aos serviços de logísticaintegrada às operações industriais que oferece diante damaior internacionalização dos mercados. A escolha domodal de transporte de mercadorias mais adequado àsnecessidades das empresas durante todo o planejamen-to e gerenciamento da cadeia de suprimentos, dos locaisde produção até os de consumo final, é fundamental por-que cria possibilidades para os clientes mudarem as es-colhas em resposta às mudanças nos atributos dos mo-dos de transporte, permitindo estimar a demanda por di-ferentes modos de transportes em situações e necessi-dades distintas.

Por isso, “(...) as empresas [aéreas] buscam de-sempenhar um papel na logística porta-a-porta saindo dafunção de transporte aeroporto-aeroporto, utilizando-sede conexões flexíveis [ou complementares] em aeropor-tos hubs (centros de distribuição) (ALBAN, 2002, p.77).

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Gráfico 1 – Evolução do PIB e do transporte aéreo de mercadorias no Brasil (TKU)*

Fonte: FIBGE – Anuário do Transporte Aéreo.

*TKU é a medida utilizada para avaliar o impacto do transporte, por meio da

multiplicação da massa transportada (T) pela distância percorrida (Km).

No caso do Brasil, a participação do transporteaéreo na distribuição de mercadorias no país foi de ape-nas 0,33% em 2006. Trata-se de uma baixa participaçãofrente aos demais modais de transporte no país (1). Pre-domina a ampla participação relativa do modal rodoviá-rio no sistema de transporte de mercadorias no país, com57,7% (ver Tabela 1).

Não obstante, o Ministério da Defesa do Brasiltem procurado ampliar as rotas aéreas entre os países daAmérica Latina por meio de acordos bilaterais, como ana-lisado no próximo item.

3. TRANSPORTE AÉREO E INFRA-ESTRUTURAAEROPORTUÁRIA NO BRASIL

O setor de transporte aéreo organiza suas ativida-des a partir da regulamentação internacional exercida pela

International Civil Aviation Organisation (ICAO), da qualo Brasil é signatário, fazendo prevalecer toda a legisla-ção relativa ao transporte aéreo internacional sobre alegislação nacional como convenções, tratados, proto-colos, atos e acordos aéreos de que o país seja parteintegrante, conforme consta no Artigo 178 da Constitui-ção da República Federal do Brasil de 1988 (OACI, 2001).

O princípio básico é o da defesa da soberania decada país, considerando-se que cada nação tem autono-mia sobre seu território e seu espaço aéreo. Por isso, autilização do espaço aéreo para fins comerciais está su-jeita à autorização estatal, e quanto à formalização deacordos bilaterais entre os países signatários da ICAO énecessário que as empresas aéreas sejam de propriedadeprivada de cidadãos dos respectivos países, mas na con-dição de prestação de serviço público (transporte depassageiros e de mercadorias) sob concessão estatal.

Tabela 1 – Distribuição do transporte de mercadorias no Brasil (em %)

Fonte: Matera, 2007, p.103.

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Os acordos bilaterais entre os países signatáriosda ICAO são o principal instrumento de regulação do trans-porte aéreo internacional (de passageiros e de mercadori-as), com intuito de garantir a soberania de cada país. Pormeio de acordos bilaterais, os países estabelecem contro-les de acesso e direitos de tráfego nos espaços aéreos,além de regras, por exemplo, sobre quantas e quais serãoas empresas que poderão operar nas rotas aéreasestabelecidas, a capacidade de transporte, as freqüênciasde vôo, a forma de fixação de preços e se é permitido queas companhias aéreas apanhem tráfego em terceiros paí-ses (BNDES, 2001; PASSIN; LACERDA, 2003, pp.219-222).

O Brasil tem acordos bilaterais com 64 países, es-pecificando direitos de tráfego, determinação de capaci-dade, rotas e tarifas. Entre 1998 e 2001, o Ministério daAeronáutica do Brasil desenvolveu esforços junto aospaíses da América Latina para eliminar restrições e aumen-tar as freqüências de vôos cargueiros e os direitos de trá-fego aéreo, com intuito de expandir o setor de transporteaéreo de mercadorias nos vôos internacionais. “(...) Asinovações nos acordos firmados entre o Brasil e outrospaíses aconteceram a partir de 1989, com o acordo assina-do entre o Brasil e os EUA, que introduziu bandas tarifárias,multidesignação e autorizou vôos charter. Outra inovaçãofoi o Acordo de Fortaleza, assinado em 1996 por Argenti-na, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai e que entrouem vigor em 1999” (PASSIN; LACERDA, 2003, p.227).

Segundo o Ministério da Aeronáutica do Brasil(2002, p.18), atualmente o país possui direitos de tráfegoaéreo de: 3ª, 4ª e 5ª liberdades (2) para vôos cargueiroscom os seguintes países: México, Panamá, Argentina,Bolívia, Chile, Colômbia, Peru e EUA, o que viabiliza osvôos das cargueiras nacionais de/para os EUA. As em-presas cargueiras americanas, tanto regulares quanto não-regulares, na grande maioria de seus vôos, prosseguemdo Brasil para Buenos Aires, Assunção, Santiago, Bogo-tá, Cali, Quito, Guaiaquil, Lima, retornando para Miami.

Além dos acordos bilaterais, as companhias aéreasnecessitam do apoio da infra-estrutura aeroportuária ofereci-da pelos aeroportos para completar os serviços de transportede passageiros e mercadorias como, por exemplo, sistemasde auxílio e controle de navegação aérea, alocação de slots(espaço físico da pista para pousos e decolagens de aerona-ves), portões de embarque e desembarque em aeroportos egalpões para manutenção de aeronaves, entre outros.

A infra-estrutura aeroportuária brasileira é compostapor 2.014 aeródromos civis (715 públicos e 1.299 privadosutilizados com permissão do proprietário), sendo, no en-tanto, proibida a exploração comercial. Conta ainda com703 aeroportos públicos, dos quais 67 são administradospela Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária(Infraero) e 235 são administrados por meio de convênio

entre o Comando da Aeronáutica, Estados e Municípios.Os aeroportos administrados pela Infraero concentram 97%de toda a movimentação de passageiros e 99% do trans-porte de cargas aéreas regulares no país, o equivalente,em 2000, a 2,09 milhões de pousos e decolagens de aero-naves (nacionais e estrangeiras) e 67,9 milhões de passa-geiros; e, em 2004, a 2,11 milhões de toneladas de merca-dorias transportadas ou US$ 159,3 bilhões entre exporta-ções e importações (BNDES, 2002; MOREIRA, 2005).

As companhias aéreas cargueiras contam aindacom 32 Terminais de Carga Aérea (Teca) nos aeroportosbrasileiros, que também são administrados pela Infraero.Trata-se de uma área equipada com tecnologias de infor-mação para orientar a gestão da logística integrada dasoperações industriais, utilizando-se, por exemplo, de có-digos de barra e intercâmbio eletrônico de dados,Electronic Data Interchange (EDI), para melhorar a ve-locidade e a acuraria das informações durante toda amovimentação das mercadorias. Nos Tecas são realiza-das as atividades de recebimento, classificação,armazenamento, despacho e documentação das merca-dorias, por meio do processo de recebimento e distribui-ção de produtos pelo sistema de carga utilizada, ou seja,por meio de contêiners e pallets. Essas operações envol-vem todo um processo de embalagem das mercadoriasem contêiner’s ou pallets, armazenagem de contêiners ede pallets para o recebimento e despacho das mercadori-as, além da “desconteinerização” e “despaletização”(3).

4. CARACTERÍSTICAS ECONÔMICAS DO TRANS-PORTE AÉREO DE MERCADORIAS NO BRASIL

No Brasil foram gerados US$ 118,3 bilhões comexportações em 2005, e outros US$ 73,5 bilhões com im-portações, segundo dados do Ministério do Desenvol-vimento, Indústria e Comércio (MDIC, 2006). Em 2005, oAeroporto Internacional de Viracopos representou o se-gundo lugar em movimentação de mercadorias importa-das com participação relativa de 9,36%, avaliada pelosvalores gerados em dólares. Superou o Porto de Vitória(7,45%) e o Aeroporto Internacional de Cumbica (6,32%).O Porto de Santos é o mais importante do país com 26,67%do total dos valores gerados pela movimentação de mer-cadorias importadas (ver Tabela 2).

Quanto à movimentação de mercadorias para omercado internacional em 2005, também avaliada pela ge-ração de valores em dólares, o Porto de Santos tambémmanteve a primeira posição, sendo seguido pelos portosde Vitória (9,6%) e Paranaguá (7,3%). Viracopos ocupoua 12a posição (2,4%), mas representa o segundo maioraeroporto para movimentações de mercadorias exporta-das entre os aeroportos brasileiros, enquanto o aeropor-to de Cumbica representou o primeiro lugar com 3,3% dototal exportado (ver Tabela 3).

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Tabela 2 – Distribuição das importações por modais de transportes (2005)

Tabela 3 – Distribuição das exportações por modais de transportes (2005)

Fonte: MDIC (2006).

Fonte: MDIC (2006).

Com base em pesquisa empírica realizada junto aoMDIC (2006), a movimentação de mercadorias no país, pormeio do modal aéreo, está distribuída em 13 aeroportos, mas

de forma concentrada nos aeroportos de Cumbica e Viracopos,no Estado de São Paulo, que, juntos, responderam por 81%das exportações e 65% das importações em 2005 (Tabela 4).

Tabela 4 – Fluxo de comércio exterior em aeroportos Brasil (2005)

Fonte: MDIC (2006).

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A importância do Aeroporto Internacional deViracopos, como infra-estrutura logística que integra asestratégias corporativas das grandes empresas, está si-nalizada pela sua participação na evolução do PIB doBrasil(4). Observa-se pelo Gráfico 2 que a movimentaçãode mercadorias em Viracopos acompanha o desempenhodo PIB, com exceção do período de 1999 a 2001 quando adesvalorização do Real (R$) frente ao dólar (US$) possi-bilitou um aumento significativo das importações e influ-enciou na evolução do PIB.

O papel estratégico de Viracopos para as grandesempresas pode ser analisado também a partir da sériehistórica da movimentação de mercadorias entre os doismaiores aeroportos cargueiros no país (Cumbica e

Viracopos), avaliada pela geração de valores em dólares.

Por meio da Tabela 5 observa-se a evolução dasparticipações relativas dos aeroportos de Cumbica eViracopos na geração de valores pela movimentação demercadorias exportadas e importadas entre 1996 e 2006.Em 1996, durante o Plano Real, a participação do Aero-porto de Viracopos nas importações era de 37,8% e a deCumbica era de 62,2%. No entanto, para os anos seguin-tes observa-se que a participação relativa do Aeroportode Viracopos na movimentação de mercadorias importa-das adquiriu uma evolução crescente e chegou a 57,5%em 2006, enquanto no Aeroporto de Cumbica ocorreu oinverso, pois a participação relativa foi decrescente echegou a 42,5%.

Gráfico 2 – Evolução do PIB e do Fluxo de comércio exterior em Viracopos

Tabela 5 – Participação de Viracopos e Cumbica na geração de valores com mercadorias exportadas eimportadas – 1996-2006

Fonte: MDIC - Elaboração do AutorVCP = Aeroporto Internacional de ViracoposGRU = Aeroporto Internacional de Cumbica

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A participação relativa do Aeroporto de Cumbica nasexportações é maior quando comparada ao Aeroporto deViracopos. Mas enquanto o Aeroporto de Cumbica teve suaparticipação relativa na movimentação de mercadorias expor-tadas reduzida de 80,4%, em 1996, para 55,7%, em 2006,Viracopos, ao contrário, aumentou de 19,6% para 44,3% emigual período, sinalizando para uma tendência de maior parti-cipação nas estratégias comerciais de empresastransnacionais que atuam no mercado mundial (ver Tabela 5).

5. CONCLUSÃO

O Aeroporto Internacional de Viracopos caracte-riza-se por movimentar mercadorias de alto valor agrega-do, especialmente nas importações de produtos diver-sos, sublinhando o papel estratégico de Viracopos comoinfra-estrutura de logística integrada às operações in-dustriais na cadeia de suprimentos das grandes empre-sas que atuam no comércio internacional.

Dessa forma, Viracopos complementa os proces-sos produtivos das empresas seja por meio da importa-ção de peças, partes e componentes de alto valor agre-gado, para repor estoques e evitar a paralisação da pro-dução, seja para exportar produtos acabados para o des-tino final dos mercados consumidores.

6. NOTAS

(1) Nos EUA o transporte rodoviário representa26% da movimentação de mercadorias e o transporte ro-doviário representa 40%. Com isso, os custos com trans-porte e logística nos EUA chegam a 8,20% do PIB, en-quanto no Brasil chegam a 12,75% do PIB.

(2) Trata-se das chamadas cinco “liberdades doar” estabelecidas pela ICAO, conforme segue: 1ª) direitode voar sobre um outro país sem aterrisagem, 2ª) direitode fazer aterrisagem por motivos técnicos, tal como rea-bastecimento em outro país, mas sem embarcar ou de-sembarcar passageiros e cargas que gerem receita para aempresa; 3ª) direito de transportar passageiros e cargas,geradores de receitas entre o país doméstico e outro país;4ª) direito de transportar passageiros e cargas, gerado-res de receitas, entre um outro país e o país doméstico;5ª) direito de uma empresa de um país A transportar pas-sageiros e carga, geradores de receita, entre um país B eoutro país C, em vôos com origem ou destino no país A(OACI, 2001).

(3) Visita Técnica ao Aeroporto Internacional deViracopos realizada em 27-4-2007 com alunos de Inicia-ção Científica e da Pós-graduação da PUC Campinas,sob a orientação do Prof. Dr. Josmar Cappa.

(4) Esta relação também provoca impactos para a

Região de Campinas. Para detalhes, ver Cappa (2006).

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Desenvolvimento Turístico Sustentável: enfoque noartesanato local na cidade de Santo Antônio do Pinhal, SP

Rosangela Sant’Ana *Fábio Ricci **

Resumo: Este estudo analisou a percepção dos proprietários de oito ateliers e turistas referentes aosistema turístico do Município de Santo Antônio do Pinhal, Estado de São Paulo (SP).Metodologicamente foi realizado através de pesquisas, bibliográficas, de levantamento e descriti-va com abordagem quali-quantitativa. Foram selecionados 12 artesãos, para a primeira etapa doestudo, em virtude de possuírem a mesma filosofia de trabalho, ou seja, visarem o desenvolvimentodo turismo sustentável. De acordo com os resultados obtidos, percebeu-se que referente a algumasvariáveis a percepção do artesão faz correlação com a dos turistas, mas, muitas vezes não. Portan-to, entende-se, conforme a literatura, que para se desenvolver o turismo local são necessáriasestratégias, parcerias em arranjos produtivos e, principalmente, apoio do poder público.

Palavras-chave: Artesanato, turismo, sustentabilidade, Santo Antônio do Pinhal.

Abstract: The objective of this study was to analyze the perception of eight atelier owners and sometourists referring to the touristic system of Santo Antônio do Pinhal City, São Paulo State.Bibliographical and descriptive researches with a quali-quantitative approach were used and alsoa survey was conducted. For the first part of the study 12 craftsmen were selected, because they hadthe same philosophy of work, that is, they aimed at developing the sustainable tourism. Accordingto the results, it was perceived that the perception of the craftsman correlates to the one of thetourists, just referring to some variables but most of the time does not. Therefore, based on theliterature, it was understood that in order to develop the local tourism, some strategies, partnershipsin productive arrangements and, mainly, support of the public power are necessary.

Key words: Art, tourism, sustainability, Santo Antônio do Pinhal.

* Mestre em Desenvolvimento Urbano e Regional pelaUNITAU, 2007.

** Doutor em História Econômica e Professor daUNITAU.

1. INTRODUÇÃO

O turismo é uma atividade que ultrapassa os seto-res convencionais da economia, requerendo dados denatureza econômica, social, cultural e ambiental.

Os dados econômicos mostram uma forte relaçãoentre o ambiente econômico e o crescimento do turismoem todo o mundo. O crescimento do Produto InternoBruto (PIB) potencializa o crescimento turístico, tanto nosentido positivo quanto negativo, no período entre 1975e 2000, o turismo cresceu a um ritmo médio de 4,4% anu-al, enquanto o crescimento econômico mundial médio,medido pelo PIB, foi de 3,5% ao ano (MINISTÉRIO DOTURISMO, 2006).

No Cone Leste Paulista circula cerca de 14 mi-lhões de turistas domésticos por ano, apenas o municí-pio de Aparecida responde por oito milhões de visitan-tes, o Litoral Norte e a Serra da Mantiqueira, onde sedestacam os municípios de Campos do Jordão e SantoAntônio do Pinhal, juntos recebem cinco milhões e orestante está distribuído nas outras cidades do ConeLeste Paulista (GAZETA MERCANTIL 2006).

O Cone Leste Paulista é uma das primeiras regi-ões do Brasil a serem povoadas e colonizadas, partici-pou dos principais ciclos econômicos do país, tendocomo legado um patrimônio rico em histórica, cultura earquitetura em seus municípios, principalmente no ValeHistórico (PIVOTT, 2003).

O turismo no Município de Santo Antônio do Pi-nhal, no Cone Leste Paulista, se desenvolveu em funçãode sua localização na Serra da Mantiqueira, à beleza na-tural, ao clima, à qualidade das águas e ao aspecto pito-resco de cidade interiorana.

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Há um grande crescimento das atividades do ar-tesanato, de acordo com o histórico da feira nacional doartesanato, os dados comprovam que o volume de ven-das na feira cresceu 43,87% em relação ao ano anterior, epor meio do levantamento do Programa do ArtesanatoBrasileiro (PAB) do Ministério do Desenvolvimento, In-dústria e Comércio Exterior, foram comercializadas maisde trinta mil peças. Já na edição de nº 16, realizada emnovembro de 2005, o evento recebeu cerca de 135 milpessoas, vendendo mais de R$ 26 milhões. Ainda, a res-peito do escoamento da produção artesanal, os produto-res encontram dificuldades em estabelecer uma logísticade transportes para seu artesanato.

Nesse sentido, as feiras e as exposições surgemcomo oportunidades de geração de negócios, pois, é apartir destes eventos que são realizados novos conta-tos, facilitando o acesso a locais mais distantes.

Este estudo teve por objetivo analisar a percep-ção de proprietários de oito ateliers e de turistas referen-te ao sistema turístico do Município de Santo Antôniodo Pinhal, Estado de São Paulo. Como complemento,pudemos caracterizar os ateliers, avaliar o artesanatolocal produzido e identificar o perfil dos turistas.

A pesquisa foi realizada na estância climática deSanto Antônio do Pinhal, região do Cone Leste Paulista,Estado de São Paulo, por oferecer uma variedade deatratividades turísticas como o artesanato local. Foramrealizadas pesquisas em dois tipos de amostragem nãoprobabilística: 26 turistas em baixa temporada e 34 emalta temporada de inverno, totalizando 60 sujeitos daamostra da pesquisa.

As perguntas foram destinadas aos 12 artesãos, eestes, foram divididos, sendo seis mulheres e seis ho-mens, as quais, foram respondidas por meio de dois for-mulários compostos por questões semi-abertas: um comvinte questões, sendo um destinado aos proprietáriosde ateliers, e o outro, com 17, aos turistas que já visita-ram esses locais.

A análise foi feita de acordo com as questões for-muladas nas seguintes hipóteses: o Município de SantoAntônio do Pinhal não oferece infra-estrutura adequadaaos turistas; o turista não reconhece o artesanato comoum dos principais atrativos turísticos de Santo Antôniodo Pinhal; o turista considera os ateliers agradáveis eoriginais, divulgação e a localização dos ateliers exer-cem influência na visão dos turistas; os artesãos nãopossuem uma real concepção sobre o perfil do turista deSanto Antônio do Pinhal e por fim, se os artesãos procu-ram uma prática de turismo sustentável em Santo Antô-nio do Pinhal.

Os dados foram coletados entre o final do mês dejunho, durante o mês de julho e início de agosto de 2006.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Turismo e Hospitalidade

Segundo A. H. M. Oliveira (2005) o turismo é aatividade humana capaz de produzir resultados de cará-ter econômico-financeiro e sócio-político-cultural reali-zados numa localidade, decorrentes do relacionamentoentre os visitantes com os lugares visitados durante apresença temporária de pessoas que se deslocam de seulocal habitual de residência para outros, de forma espon-tânea, sem fins lucrativos.

No sentido de sustentabilidade, Gastrogiovanni(2002) diz que o turismo avança por demonstrar maior com-prometimento social, sem ultrapassar os limites físicos epsíquicos dos elementos naturais e culturais do local.

Desta forma, como o artesanato representa umaalavanca para o turismo de Santo Antônio do Pinhal, pormeio de um grupo de artesãos que seguem uma filosofialigada à preservação do meio ambiente e dasustentabilidade, adotar-se-á para esse estudo o concei-to de turismo sustentável.

Hospitalidade refere-se ao bom tratamento dadoao cliente, receber bem envolvendo um bom relaciona-mento interpessoal. A hospedagem é um componentenecessário ao desenvolvimento do turismo, dentro dequalquer destinação que busque servir os visitantes,outros que não viajantes de um dia (CAMARGO, 2004).

Cooper et al (2001) explicam que, no contexto dosetor turístico em geral, a hospedagem tem um lugar ouuma lógica própria. Isto significa que a qualidade e aabrangência da hospedagem disponível refletirão e in-fluenciarão o tipo de visitantes de um local. Sendo assim,a obtenção do equilíbrio apropriado da hospedagem paraatingir os objetivos estratégicos de desenvolvimentoturístico de uma destinação pode ser um desafio.

2.2 Planejamento Econômico

Muitos países como o Brasil, o turismo tornou-seum grande trunfo para o processo de desenvolvimento.

Além dos problemas econômicos básicos, a maio-ria dos países em desenvolvimento é caracterizada pelorápido crescimento da população, que pressionam o go-verno, que precisam gerar mais empregos a fim de absor-ver as crescentes demandas (LICKORISH; JENKINS, 2000).

Qualquer forma de desenvolvimento econômico

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requer um planejamento cuidadoso para que possa atin-gir os objetivos implícitos ou explícitos, que são a basedo desenvolvimento (COOPER et al., 2001). O processode planejamento do desenvolvimento envolve um cruza-mento amplo de participantes que podem trazer consigoobjetivos conflitantes.

Diante de um mercado competitivo, Sancho (2001)enfatiza que há a necessidade de desenvolver os produ-tos turísticos, segundo um plano elaborado que englobecinco etapas, que são: análise de desenvolvimentos tu-rísticos anteriores, avaliação da posição turística atual,formulação da política turística, definição da estratégiade desenvolvimento e a elaboração de programasoperacionais.

2.3 Artesanato como Produto Turístico

Dentre as atividades turísticas de Santo Antôniodo Pinhal está o artesanato. Conforme dados extra-ofici-ais da Prefeitura Municipal, há mais de cem artesãos nacidade, produzindo desde velas até móveis entalhados,fazendo desta atividade um meio de sobrevivência.

Até os anos de 1960, o turismo ganhava força napreocupação básica com a ampliação da demanda turísti-ca. Esse panorama alterou-se a partir do momento em quea conscientização e a preservação do meio ambiente inva-diram a esfera da gestão do turismo, tornando-se um ele-mento de conflito entre a promoção e a preservação, poisa ampliação da demanda pode causar danos ao meio ambi-ente prejudicando a própria atividade turística. Nesse con-texto, formou-se a base de um turismo sustentável, em quehá interação entre o meio urbano, o meio ambiente e aformação de profissionais (RUSCHMANN, 1997).

A concepção de desenvolvimento sustentávelimplica em um novo paradigma de pensar as sociedadeshumanas, sendo uma nova ética de democratização deoportunidades e justiça social, percepção das diferençascomo elementos norteador de planejamento, compreen-são da dinâmica de códigos e valores culturais com com-promisso global com a conservação de recursos naturais(IRVING, 2002).

O desenvolvimento sustentável é um projeto so-cial e político que aponta para o ordenamento ecológicoe a descentralização territorial da produção, assim comopara a diversificação dos tipos de desenvolvimento edos modos de vida das populações que habitam o plane-ta (LEFF, 2001, p. 57).

Swarbrooke (2003) acredita que é preciso come-çar a ver o turismo sustentável como parte de um sistemamais amplo de desenvolvimento sustentável, um sistemaaberto no qual cada elemento afeta os demais, esses ele-

mentos são: agricultura, sociedades/comunidades, meioambiente e recursos naturais, artesanato, preservaçãoambiental e sistemas econômicos, onde uma mudançaem qualquer um desses elementos suscitará uma reaçãoem cadeia nos demais elementos do sistema. É de fácilentendimento de que o turismo sustentável é uma ferra-menta poderosa no auxílio à realização do desenvolvi-mento sustentável, agindo como catalisador para o de-senvolvimento de pequenos negócios e fornecendo mer-cado para a produção agrícola e artesanal.

Por outro lado, na visão de Swarbrooke (2000b),as parcerias são primordiais para o turismo sustentável,uma vez que o alcance pela política do setor público élimitado. A maioria dos órgãos públicos não tem orça-mentos próprios ou capacidade para criar um impactosignificativo na indústria do turismo e em suas ativida-des. Enfatiza que tudo isso exige ação da parte dos go-vernos das localidades turísticas, dos turistas, da comu-nidade local e da indústria do turismo. Ou melhor, que ascomunidades locais precisam de mais poder para quelhes seja permitido o exercício de seus direitos no plane-jamento do turismo e no processo de desenvolvimento.

Ruschmann (1997) acredita que, o planejamentodeve contabilizar todas as possíveis formas de impactos,prevendo, se possível, a que nível para que as conseqü-ências não sejam profundas, fazendo surgir programasque minimizem os efeitos. Muitas vezes, devido amercantilização da cultura, a arte local é induzida a mu-danças para agradar os turistas e vender mais. A culturatorna-se uma mercadoria, além de poder serdescaracterizada em função de um processo de assimila-ção de parcelas das culturas dos turistas.

Na verdade, é preciso reconhecer que o sistematurístico, e também os valores e os padrões culturais de-vem caminhar juntos não somente para o aumento daprodução de bens e serviços como o progresso técnico-tecnológico, mas irá influenciar também no nível de bem-estar e de justiça social em uma sociedade (SOUZA, 2005).

2.4 Sistema Turístico

O sistema turístico deve procurar garantir a quali-dade de seus serviços, de sua cidade e suas atrações aosvisitantes, e não deixar um questionamento ao cliente nofinal da visita se ele foi bem atendido. Para garantir asatisfação do turista, é preciso manter a qualidade emcada uma das interfaces do sistema turístico com o clien-te (PETROCCHI, 1998). Nesse sentido, é preciso montarum sistema turístico abrangente e integrado em todos osseus subsistemas, que são eles: sistemas de promoção einformação, sistema viário e de comunicações, sistemade hospedagem, sistema do meio ambiente, sistema deequipamentos e sistema de formação profissional.

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A integração de cada interface do sistema turísti-co responde à necessidade de oferecer uma completa eespecializada prestação de serviços ao visitante. Paraisso, existe o grupo gestor, incumbido de contribuir bas-tante para o desenvolvimento da atividade de turismosustentável. De acordo com a Vitae Civilis e WWF-Brasil(2003), cabe ao grupo gestor estimular a participação efe-tiva no sistema turístico e a sensibilização dos atoresenvolvidos – turistas, empreendedores locais, órgãospúblicos, associações, lideranças comunitárias, etc.

O maior problema da ausência do planejamentoem localidades turísticas reside no seu crescimento des-controlado, que gera a descaracterização e a perda daoriginalidade das destinações que motiva o fluxo dosturistas, e o empreendimento de ações isoladas, esporá-dicas, eleitoreiras e desvinculadas de uma visão amplado fenômeno turístico (RUSCHMANN, 1997).

Atualmente, hem á uma evidente preocupaçãocorrespondente à interferência que o meio produz na artee na cultura da comunidade, influenciando casos de pre-servação e de continuidade das tradições. No aspec-to sociológico, essa influência resulta em atividades pro-gramadas para simplesmente atender as expectativas dosvisitantes, não reproduzindo com exatidão asperformances de raízes das comunidades envolvidas.

Ao se caracterizar o sistema turístico de um deter-minado município, como no caso Santo Antônio do Pi-nhal, Cone Leste Paulista, pode-se pensar na formaçãode um arranjo produtivo local, de acordo com os artesa-natos e as parcerias da localidade em promoção de umdesenvolvimento turístico sustentável.

Pois, Freitas (2006) acredita que deve se estimularos artesãos a trabalharem de maneira cooperativista deprodução, a qual poderia ser vista, primeiramente, comoum caminho para a comercialização do artesanato e forta-lecimento coletivo.

2.5 Arranjo Produtivo Local

O desenvolvimento de arranjos produtivos é im-portante para a geração de pólos de crescimento edescentralização industrial. Atualmente, destacam-seexemplos internacionais como os empreendimentos doVale do Silício – importante centro de empresas do setorde informática – e a Terceira Itália – que abrange empre-sas de pequeno e médio porte de diversas áreas comotêxtil, móveis, cerâmica e mecânica (SANTOS,GUARNIERI, 2002).

Os arranjos produtivos, que são conceituadoscomo um fenômeno vinculado às economias de aglome-ração, associados à proximidade física das empresas for-

temente ligadas entre si por fluxos de bens e serviços,variam de tamanho, amplitude e estágio de desenvolvi-mento, fortalecidos pela política governamental, federalou estadual, visando o desenvolvimento regional e ge-rando emprego e renda.

O BNDES (2006) procura desenvolver uma políti-ca de desenvolvimento regional, considerando a insti-tuição de arranjo produtivo local para composição deuma atividade nacional de atendimento aos municípios emicrorregiões em processo de desenvolvimento.

A Política Nacional de Desenvolvimento Regio-nal (PNDR), implementada pelo Ministério da Integração,adotou critérios para classificação de micro-regiões, se-gundo orientação territorial e formulação de estratégiasde atuação próprias, utilizando-se de duas dimensõespara avaliar o grau de desenvolvimento econômico demicro-regiões brasileiras.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados mostram que 92% dos artesãos es-tão distribuídos por parcerias locais em busca do desen-volvimento turístico sustentável é apoiada por 92%.

No entanto, quanto ao tipo de parceria, a mesmapesquisa revela ainda que, o índice de maior parceiraestá entre os próprios artesãos 67%, seguido pelos res-taurantes 41%, excluindo-se artesanatos ou panfletos nostipos de estabelecimento.

Em relação à variável número de turistas que omunicípio recebe por dia em baixa e alta temporada, acoleta aponta que na alta temporada a Olaria Paulista,localizada no Shopping de Santo Antônio do Pinhal apre-senta maior número de turistas (trinta), seguida pela Ser-ra Rústica (20) e pela Prata D’Lua (20). Já, na baixa tempo-rada, a Serra Rústica recebe mais turistas (15) que osdemais ateliers, seguida da Olaria Paulistana (cinco) e daPrata D’Lua (cinco). Os três estabelecimentos têm maiorfreqüência de turistas tanto em baixa como em alta tem-porada por estarem localizados no centro da cidade, em-bora este fator é indicado pelos artesãos como de poucoimportância para sua visitação.

Estes dados estão correlacionados à variável infra-estrutura observada como precária pelos proprietáriosde ateliers. Segundo Angel (1981), a demanda de visi-tantes é influenciada pelo sistema turístico adequado eeficiente, o que não ocorre em São Antônio do Pinhal-SP.

Com relação às técnicas utilizadas pelos artesãos,cada um deles tem seu diferencial demonstrado a seguir.O atelier Jardins de Barro, cujo produto é a cerâmica,utiliza técnicas de modelagem em torno e queima da cerâ-

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mica em forno elétrico. O estabelecimento chamadoMorito Móveis, que tem móveis, cadeiras e mesas, utilizaa marchetaria com madeiras, sem pregos e colas, elabora-do mediante a anatomia humana.

Já o atelier Feitiço das Rosas, que comercializaflores e arranjos, faz a esqueletização (retirada da clorofi-la da folha de plantas em soda cáustica), clareamento emcloro e tingimento de folhas. A Ophicina das Artes, cujoproduto são as velas, utiliza a parafina e reaproveitamentode elementos naturais (sementes, flores, madeiras, bam-bu e essência). O Recanto Terra Forte, que fabrica mó-veis, luminárias e utensílios, faz a reciclagem (madeira,metais, ferro, vidros, plásticos, fibras e sementes), trans-formação de lixo em arte funcional. A Prata D’Lua quefabrica jóia utiliza a técnica da confecção com prata, co-bre, sementes, couro, madeiras, frutas, pedras semipreci-osas e sintéticas.

O atelier Olaria Paulistana produz cerâmica quei-mada em forno de alto grau, e por último a Serra Rústicacujos produtos são os móveis, baús, mesas e luminárias,realiza a marchetaria em madeiras de reflorestamento ereaproveitadas da construção, transformadas em móveis.

Os ateliers de Santo Antônio do Pinhal apresen-tam potencial de produto turístico, principalmente por-que cada tipo de produção artesanal possui característi-cas próprias. Quanto à destinação do artesanato, a maio-ria 91% produz para o próprio município, seguido da ci-dade de São Paulo 75%.

Referente à produção mensal de artesanato, oatelier que mais produz é a Ophicina das Artes, numaquantidade de mil velas ao mês devido ao simples pro-cesso artesanal de itens de pequeno porte e baixo custo.Em segundo, aparece a Olaria Paulistana com uma pro-dução de quatrocentas peças em cerâmica, talvez consi-derando à sua localização no centro da cidade.

Por outro lado, o que menos produz é a Serra Rús-tica, numa média de quatro móveis ao mês, pois apesarde estar situado no centro da cidade, seu produtoartesanal é de grande porte e requer mais tempo de traba-lho, devido à técnica minuciosa de marchetaria que temmaior valor agregado em termos de custo. Em relaçãoao meio ambiente, os proprietários de ateliers que de-monstraram preocupação utilizaram estratégias próprias,descritas a seguir. A Ophicina das Artes que além daparafina, trabalha com recursos naturais e materiaisreciclados, pois as velas são artesanais e muitas vezesornamentadas com folhas, lascas de árvores, sementes eflores. Os artesãos, deste recinto, acreditam que não pro-duzem poluição ou resíduos, uma vez que reaproveitamas sobras de parafina.

Na Olaria Paulistana, a artesã tenta reduzir ao má-ximo o descarte de argila e tinta a óleo no esgoto munici-pal, reaproveitando as matérias-primas; já o Feitiço dasRosas, trabalha com recursos naturais, utilizando folhasresiduais de podas de árvores, folhas secas e flores des-cartadas pelas floriculturas da cidade. A grande preocu-pação da proprietária deste atelier é referente à sodacáustica e ao cloro, duas substâncias químicas necessá-rias para o processo de produção de suas rosas. O atelierPrata D’Lua preocupa-se com a emissão de gases, hajavista que trabalha com maçarico queimando gás liquefei-to de petróleo (GLP) – composto por butano e propano –e oxigênio para a emissão de chamas, as quais derretem aprata para torná-la maleável para o molde de jóias comoanéis, correntes, pingentes, pulseiras e brincos, precisa-ria de um filtro para reduzir os efeitos negativos que seuprocesso artesanal causa ao meio ambiente. O RecantoTerra Forte tem à frente uma pessoa que lidera o grupo deartesãos, a qual promove em seu estabelecimento aconscientização ecológica dos turistas. Em seu proces-so artesanal utiliza recursos naturais, como resíduos demadeireira da Serra da Mantiqueira. O artesão aproveita,ao máximo, materiais recicláveis visando um equilíbriodo meio ambiente.

No atelier Jardins de Barro como matéria prima,recicla resíduos da argila para não sujar o leito dos rios. Apequena produção com a utilização dessa matéria primaé considerada ecologicamente correta.

Os artesãos da Morito Móveis utilizam madeirasprovindas de regiões ainda não reconhecidas como emestado crítico de desmatamento. Oferecem resíduos doprocesso artesanal às fazendas e aos haras locais. Nãoutiliza madeira denominada ecológica, uma vez que temconhecimento que durante o beneficiamento passa porum processo químico e de estufa, o qual faz com que amadeira torne-se mais leve e, ao mesmo tempo, tenha umíndice de durabilidade reduzido em 50%, uma vez queuma madeira tradicional dura cerca de vinte anos, en-quanto uma ecológica, apenas dez. Além de ser mais frá-gil, o preço da madeira ecológica é mais alto.

E por fim, a Serra Rústica, que não compra matériaprima de madeireiras, aproveita material reciclado de mu-nicípios adjacentes. Percebe-se que esse grupo deartesãos não está preocupado apenas em divulgar seuartesanato, mas propõe também adequar suas práticasprodutivas ao cuidado quanto à preservação do meioambiente. Utilizando-se de recursos naturais e culturais,ajuda a criar uma identidade.

Baseando-se em Ruschmann (1997), Irving (2002),Leff (2001), Sansolo (2002) e Sachs (2000), os artesãosbuscam pela integração sócio-econômico-cultural pormeio de um grupo mesclado de produção artesanal reu-

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nindo-se, freqüentemente, uma vez ao mês para trocaridéias, adquirir novos conhecimentos e aprender um comoutro mediante benchmarking. A idéia do grupo é pro-mover artesanato cultural com qualidade e bom atendi-mento, entretanto, sem apoio da Prefeitura Municipal deSanto Antônio do Pinhal. De modo geral, os artesãosreivindicam que a Prefeitura Municipal instale uma sina-lização para que o turista, ao chegar à cidade, saiba comoir até o destino.

Referente ao local de origem dos turistas, a pes-quisa mostra que o maior número de visitantes na baixatemporada 62% é do Vale do Paraíba Paulista. Acredita-se que este fenômeno ocorre devido à proximidade dosmunicípios.

A origem dos visitantes confronta a percepçãodo artesão quanto ao perfil do turista e os resultados doestudo realizado em 2004, por A. P. Oliveira (2005), emSanto Antônio do Pinhal, no qual a maior freqüência,tanto na baixa temporada quanto na alta, seria de turistasoriundos da capital de São Paulo, o que comprova umapredominância em 42%.

Enquanto na alta temporada houve predominân-cia pelo guia turístico, resultado este que faz correlaçãocom o apontado pelos artesãos, entretanto confrontan-do o perfil da pesquisa de 2004 de A. P. Oliveira (2005),que indicou a Internet como forma de optar pelo municí-pio. Muitos turistas têm o hábito de visitar o municípiocom uma certa freqüência 62% em baixa temporada.

Já, na alta temporada, a maior freqüência é de pes-soas que visitam o município pela primeira vez 44%, fa-zendo correlação com os dados de A. P. Oliveira (2005).Isso pode indicar que há um potencial de ampliação doíndice de retorno na alta temporada.

E por fim, a pesquisa aponta que grande parte42% dos turistas de baixa temporada não tem preferênciapela época de visitar o local. Entretanto, os participantesda pesquisa durante a alta temporada, preferem este pe-ríodo por estarem em férias juntos com seus filhos.

4. CONCLUSÃO

Este estudo teve por objetivo analisar a percep-ção de proprietários de oito ateliers e de turistas referen-te ao sistema turístico do Município de Santo Antôniodo Pinhal, Estado de São Paulo. Como complemento,pudemos caracterizar os ateliers, avaliar o artesanatolocal produzido e identificar o perfil dos turistas.

Desta forma, entende-se que o grupo pesquisado,composto por 12 artesãos, que possui uma filosofia volta-da para o desenvolvimento do turismo sustentável, pro-

duz artesanatos considerados pelos turistas como origi-nais e com excelente qualidade. Porém, a maioria dos ateliersestá localizada na Zona Rural do município, com difícilacessibilidade, tendo em vista a má-condição das estra-das. Outro fator negativo apontado pela pesquisa foi ainexistência de sinalização de indicação dos ateliers, se-guindo-se a falta de divulgação do artesanato local comoproduto turístico e, como fator mais criticado por artesãose turistas, a falta de uma política municipal mais efetiva.

Freqüentemente, a maior demanda de turistas debaixa temporada visita o município a passeio com a famíliaatravés de indicação de amigos. Os turistas de alta tempo-rada são na maioria de visitantes de primeira viagem, co-nhecendo o município com seus familiares, valendo-se deguia turístico. Geralmente, estes visitantes de primeira vi-agem encontram-se de férias, apontando como ponto tu-rístico preferencial o Pico Agudo e os restaurantes.

Na ótica dos turistas, os ateliers são reconheci-dos e considerados pela qualidade e originalidade deseus artesanatos, muito embora deixando de oferecer umambiente agradável. Porém, no que se refere ao grau deinfluência para visitação destes estabelecimentos, a pes-quisa revela que, considerando os fatores mais críticosapontados pelos turistas, o acesso e a sinalização mere-ceram destaques, percebe-se desta forma que o Municí-pio de Santo Antônio do Pinhal deve melhorar as condi-ções em termos de infra-estrutura.

Portanto, observou-se que a má conservação dasestradas, a falta de sinalização de indicação dos atrati-vos turísticos e a pouca divulgação do artesanato, exer-cem influência negativa na visitação de turistas. Issopode estar correlacionado com o fato de que os turistasnão reconhecem o artesanato como um dos principaisatrativos turísticos locais.

A pesquisa revelou em alguns pontos que a opi-nião dos proprietários de ateliers de Santo Antônio doPinhal corresponde com a dos visitantes no que se refereao sistema turístico do município. Todavia, na maioriadas variáveis há divergência de percepções. Isto explicaque, de acordo com Angel (1981), Irving (2002), Lemos(1997), A. H. M. Oliveira (2005), Petrocchi (1988),Ruschmann (1997), Santos (2002), Swarbrooke (2000a;2002d), para o desenvolvimento turístico local são ne-cessárias estratégias, parcerias em arranjos produtivose, principalmente, apoio do poder público, que sem oqual, o turismo pode não prosperar.

De acordo com a percepção dos sujeitos da pes-quisa, ficou entendido que, para que o artesanato ganhemaior conotação e, conseqüentemente, venha a colabo-rar para um provável turismo sustentável local, sugere-se um investimento público necessário no que tange à

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sinalização de indicação dos atrativos turísticos e nascondições de acessibilidade dos ateliers. Por outro lado,no que tange aos artesãos, propõe-se criação de um gru-po gestor para a organização do arranjo produtivoartesanal, e buscar por parcerias efetivas na divulgaçãodo artesanato como produto turístico de Santo Antôniodo Pinhal, Estado de São Paulo.

A escassez financeira do município e a ausênciade ação coletiva, ainda não tornaram possível que o po-der público, adotasse uma posição de organização e pla-nejamento para os diversos setores produtivos da áreado turismo de Santo Antônio do Pinhal.

Não se trata de apenas divulgar o artesanato lo-cal, mas, sobretudo porque Santo Antônio do Pinhal estádentro de uma Área de Preservação Ambiental (APA),gerando responsabilidades adicionais para turistas,artesãos, população e poder público municipal.

Como conclusão geral, notou-se um grande núme-ro de alternativas turísticas como, restaurantes, pousa-das, pesqueiros e artesanato para o progresso turísticoem Santo Antônio do Pinhal, assim, essa investigação,colaborou com a análise do artesanato no município. Adiversidade dessas atividades feitas pelos artesãos queproduzem grandes peças através de encomendas, nãoadmitiu apenas o recurso de exposição em “feirinhas”.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Simulador para Sistemas de Controle de Atitude

Claudinei José de Castro *Wanderley Pires Cunha **

Lízia Oliveira Acosta Dias ***

Resumo: Este trabalho descreve a proposta de um simulador para testes de sistemas de controle deatitude e velocidade de veículos espaciais. O simulador será equipado com um mancal aeroestáticoesférico, sensor de posição angular, sensores de velocidade e sistema de aplicação de torque.Permitirá movimentos de rotação com três graus de liberdade, 360 graus em dois eixos e até 30graus no outro. Para validar esta proposta é apresentado um programa-modelo, simulandocomputacionalmente o sistema de controle de velocidade do projeto SARA (Satélite de ReentradaAtmosférica), em desenvolvimento no IAE, de modo a zerar as velocidades residuais indesejadas,devido às forças aerodinâmicas, torques e perturbações diversas que ocorrem durante o vôo doveículo.

Palavras-chave: Simulador, mancal a ar, sistema de gás frio, controle de atitude, corpo rígido.

Abstract: This work describes the proposal of an attitude control simulator to spacecraft. Thesimulator will be equipped with spherical gas bearing, angular position sensor, velocity sensorsand torque systems (cold gas system). This equipment will allow rotation on three degrees of freedom,360 degrees on two coordinate axes and up to 30 degrees on the third coordinate axis. In order tovalidate the proposal, a computational program simulating the Velocity Control System of theSARA Reentry Satellite is presented. This program is to bring to zero the undesired residual velocitydue to aerodynamic forces, torques and different perturbations, which could be present during thevehicle flight.

Key words: Simulator, air bearing, cold gas system, attitude control, rigid body.

* Graduando em Engenharia Aeronáutica - FEAU/UNIVAP, 2008.

** Graduado em Engenharia Mecânica.*** Professora da UNIVAP.

1. INTRODUÇÃO

Atualmente no Brasil simuladores de atitude evelocidade são desenvolvidos exclusivamente por cen-tros de pesquisas para aplicações diretamente na áreaespacial e por algumas universidades para uso didático(CUNHA, 1993; KIM; VELENIS; KRIENGSIRI;TSIOTRAS, 2001). O Instituto de Pesquisas Espacias(INPE) e o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE),ligados à AEB – Agência Espacial Brasileira – são cen-tros onde existem equipamentos para testes de siste-mas de controle de atitude e velocidades. No INPE háum simulador de pequeno porte que foi desenvolvidopara teste de alguns sistemas de controle de satélites. Jáno IAE, um simulador localizado no laboratório de siste-mas de controle da divisão de projetos, Fig.1 (EULER,2004), é utilizado para testes dos sistemas de controlede atitude do Veículo Lançador de Satélites - VLS e do

Satélite de Reentrada Atmosférica (SARA), além de con-tribuir para o desenvolvimento de novos programas decontrole.

De acordo com o PNAE, Programa Nacional deAtividades Espaciais, da Agência Espacial Brasileira, AEB,um novo programa de veículos lançadores foi anuncia-do, chamado de Programa Cruzeiro do Sul (MORAES,2006), Fig. 2.

Fig. 1 - Simulador do IAE.

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Esse projeto prevê o desenvolvimento e qualifi-cação de cinco veículos lançadores até o ano de 2022. Oscinco veículos denominados Alfa, Beta, Gama, Delta eÉpsilon, correspondem à ambiciosa proposta do IAE paracolocar o Brasil no seleto grupo de países com tecnologiapara lançamento de satélites. Aproveitando parte datecnologia já desenvolvida pelo IAE com o VLS, comapoio da Agência Espacial Russa e o governo brasileiroatravés da AEB, o IAE tem para a próxima década a mis-são de fazer um sonho tornar-se realidade.

Fig. 2 - Programa Cruzeiro do Sul.

Devido às exigências referentes à precisão nocontrole de atitude destes novos veículos, que serãodesenvolvidos e que incorporarão alto grau deautomatismo, testes que os qualifiquem em terra serãode suma importância. Sendo assim, novos sistemas paratestes deverão ser também desenvolvidos. Aconfiabilidade desses sistemas dependerá dos testes si-mulados em solo.

Existe disponível na literatura uma variedade detécnicas de controle de atitude tratando de questõescomo estabilização, identificação, estimativa e robustez,que precisam ser validadas e implementadas experimen-talmente e que podem incrementar o desempenho dosSistemas de Controle de Atitude (SCA). Uma das maio-res dificuldades para o desenvolvimento de bancadas deteste experimentais está associada à criação do ambientelivre de torques, semelhante ao ambiente em que o SCAopera no espaço. Uma das soluções para o problema desimulação do ambiente espacial são os mancaisaeroestáticos. Certamente estes mancais não podem si-

mular gravidade zero, que ocorre no espaço, mas permi-tem manipulação de hardware em uma condição de ambi-ente com o mínimo torque de atrito. Um simulador equi-pado com mancais aeroestáticos oferece talvez o maispróximo ambiente de testes livre de torque de atrito e poressa razão eles são a tecnologia mais utilizada nas pes-quisas baseadas em terra de dinâmica e controle de atitu-de (SCHWARTZ; PECK; HALL, 2003).

Os mancais aeroestáticos (SCHWARTZ; PECK;HALL, 2003) são usados há mais de 40 anos em simula-dores espaciais e em diversas outras aplicações, e cadavez mais, com o avanço da tecnologia, aparecem novasaplicações, principalmente com o advento da EstaçãoEspacial Internacional (ISS). Um simulador para testesde sistemas espaciais equipado com mancais a ar é cadavez mais uma necessidade nos Centros de Pesquisa eUniversidades e desse modo a existência de um equipa-mento como este é um investimento altamente lucrativoe de retorno imediato, considerando-se o milionário mer-cado de lançamento de satélites e de pesquisas espaci-ais em estações em órbita ao redor Terra.

Nos últimos anos, devido à crescente necessida-de de reparos de veículos espaciais em órbita ao redor daterra por astronautas, o tensor de inércia e o centro degravidade do conjunto astronauta/veículo espacial, ti-veram de ser simulados em terra para maior segurança epara o êxito das missões, ao passo que o consumo decombustível também tem exigido a identificação dessaspropriedades, que variam no espaço (BERGMANN;WALKER; LEVYS, 1985; PECK; 1999). Assim, o proces-so de identificação é feito através de simuladores emterra. Neste trabalho, é abordada a proposta de um simu-lador utilizado para controle de atitude e velocidade deum veículo espacial utilizando sistema de gás frio (JUNG;TSIOTRAS, 2003).

2. METODOLOGIA

A presente proposta do simulador aborda primei-ramente a descrição básica do simulador. Na segundaetapa são feitos os modelamentos referentes a dinâmicae cinemática envolvidas (sistema coordenadas, momen-tos de inércia, eixos principais de inércia, equações dinâ-micas de Euler e equações cinemáticas de Euler).

A proposta aborda somente o modelamento pelométodo dos Ângulos de Euler, fazendo um comentáriodo método dos quatérnios como um método onde nãoocorre o problema de singularidade como no método dosÂngulos de Euler.

Ainda, para a simplificação da proposta são mo-delados somente os torques devidos ao campogravitacional da terra, tendo em mente que para uma

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modelagem completa devemos levar em conta todos ostorques relativos às perturbações que atuamfreqüentemente sobre um veículo espacial em órbita.

Estas perturbações podem ser devidas aos se-guintes fatores:

· Pressão da radiação solar;· Vazamento de gás dos sistemas de controle;· Influência atmosférica (aerodinâmica);· Influência magnética;· Momentos devido à força gravitacional;· Impacto de meteoritos;· Momentos giroscópicos.

Para confirmar a validade da proposta foi feitouma simulação computacional que poderá ser aplicadaao simulador proposto. A simulação consiste de um con-trole de velocidades com a finalidade de zerar as veloci-dades residuais de um veículo espacial específico. Estecontrole foi implementado utilizando o software Simulink.

3. VISÃO GERAL DO SIMULADOR

Este trabalho apresenta uma proposta inovadorano âmbito nacional de um simulador para testes de siste-mas aplicados a veículos espaciais, principalmente con-trole de atitude e velocidade angular (SCHWARTZ;HALL, 2003).

Fig. 3 - Simulador proposto.

Este equipamento tem a capacidade de simular

mais realisticamente o controle de atitude de veículosespaciais. É um sistema que permite 3 graus de liberdade,360 graus de rotação em dois eixos perpendiculares, emrelação ao eixo vertical e horizontal respectivamente euma inclinação de até 30 graus em relação ao terceiroeixo, rotação esta limitada por um barra que passa travésdo centro da esfera e que suporta as plataformas de mon-tagem dos experimentos, Fig. 3.

Durante a fase de desenvolvimento dos softwaresde controle embarcado, várias atualizações ocorrem. Estesimulador possibilita manobras mais realísticas e colabo-ra para aprimorar a qualificação dos sistemas de controletestados.

Os Mancais a ar apresentam várias vantagenssobre outros tipos de mancais. A sua característica prin-cipal é praticamente a inexistência de atrito entre a super-fície côncava do mancal e da esfera.

Duas plataformas fixas nas extremidades de umeixo acoplado à esfera suspensa no mancal a ar terão opropósito de fixar os sensores, o sistema de aplicação detorque de controle, baterias e instrumentação datelemetria.

3.1 Descrição dos Subsistemas

Base/Mancal a ar. O mancal, com capacidade de1,5 toneladas, repousa sobre um pedestal de aço, fixo àuma base de concreto. Este mancal a ar esférico consistede uma esfera de alumínio suspensa em uma película dear dentro de um mancal côncavo. A esfera de alumíniotem dois rebaixos eqüidistantes 180o, onde são fixadas asbarras para as plataformas. O conjunto é mostrado naFig. 4.

Fig. 4 - Mancal a ar esférico.

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Plataforma. Composta por duas placas de alumí-nio fixadas uma de cada lado da esfera central do mancalpor meio de barras. Possibilita a montagem de váriossubsistemas do simulador. Essas placas têm váriasfurações e slots para fixação dos subsistemas (sensores,baterias, computador de bordo, etc.) e contrapesos parabalanceamento, Fig. 3.

Sensor. Para o controle da velocidade angular sãoutilizados girômetros, os quais medem as velocidadesangulares nos três eixos.

Computador. Para a aquisição de dados e contro-le é utilizado um computador remoto, tipo laptop.

Computador de Bordo e Telemetria. É utilizadoum sistema de aquisição de dados remoto do tipo trans-missor de dados, PC 104, AMD K6, placas A/D-D/A e I/Oou um CompactRIO com interface cRIO-9052 de baixoconsumo da National Instruments (SANTOS; SILVA,2006; MOURA, 2007). Este está fixado numa das plata-formas e controla remotamente o simulador. Este compu-tador de bordo permite tanto o armazenamento do pro-grama de controle desenvolvido como o controle viatelemetria, Fig. 5.

Fig. 5 - Laptop/Controlador CompactRIO 9052.

Atuadores. 12 atuadores, tipo liga e desliga sãoutilizados, 8 para controle de rolamento, 2 para arfagem e2 para guinada. O Atuador é composto de uma válvulasolenóide de 24 VDC da Parker, que comanda a aberturae fechamento das saídas do ar a alta pressão, através deuma pequena tubeira com um orifício calibrado, Fig. 6(SANTOS; SILVA, 2006; MOURA, 2007). Uma gama detubeiras para varias faixas de torque poderá ser fabricadaestando disponível para atender a vários clientes especí-ficos, com montagens de várias configurações de teste.A princípio, para um dos testes propostos, é utilizado umconjunto de tubeiras com ponto de operação de 10 barde pressão de entrada, o qual fornece 2 newtons deempuxo cada. Esta tubeira é fabricada e calibrada paragerar os 2 newtons de empuxo nominal. Uma curva deresposta valida a calibração.

Fig. 6 - Atuador tipo liga-desliga.

Reguladores de pressão. Para a regulagem daspressões nos atuadores são utilizados quatro regulado-res de pressão.

Carga de Ar dos atuadores. Para o controle detorque são utilizados cilindros de alta pressão, carrega-dos com ar sintético a 150 PSI, que têm carga para até 2minutos de testes.

Baterias. Tipo seladas (20-30 VDC), fixas a umadas plataformas, fornecem energia elétrica a todos osequipamentos no simulador.

4. MODELAMENTO

A modelagem matemática do simulador aborda adinâmica e a cinemática dos movimentos rotacionais. Asrelações entre velocidade e torque no sistema de coorde-nadas do corpo são descritas pelas equações dinâmicas,já as relações entre velocidade e atitude nas coordena-das do sistema inercial são tratadas pelas equaçõescinemáticas (NASIRIAN et al., 2005).

Os torques de controle são calculados atravésdas equações dinâmicas de Euler e a atitude do veículoespacial é definida pelos ângulos de Euler que são calcu-lados com as equações cinemáticas de Euler.

Como simplificação do modelamento, é considera-do somente o torque referente ao campo gravitacional daterra, lembrando que para o modelamento completo deve-se considerar todos os torques envolvidos no sistema.

Para o controle da atitude do veículo espacial, éusado um sistema de gás frio. O veículo espacial em es-tudo é um corpo rígido em órbita circular em torno daTerra, com movimentos de rotação em torno de seu cen-tro de massa. O momento devido às forças externascorresponde à atuação do gradiente gravitacional sobreo centro de gravidade do veículo espacial.

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4.1 Sistema de Coordenadas

Para o estudo do movimento de um veículo espa-cial, consideram-se três sistemas de coordenadasortogonais, sendo um sistema de referência fixo e doismóveis (WERTZ, 1978):

· Sistema Inercial (WERTZ, 1978). Tem origemdefinida no centro de massa da terra e está fixo no espa-ço. Este sistema não acompanha a rotação da terra. Seueixo X aponta para o equinócio vernal, seu eixo Z apontapara o Pólo Norte e seu eixo Y é orientado seguindo aregra da mão direita. Neste artigo, a origem deste sistemaserá representada por 0X

0Y

0Z

0, Fig. 7.

· Sistema da Órbita (WERTZ, 1978). É o sistemade coordenadas fixo na órbita. Este sistema tem o seu eixoX na direção da velocidade tangencial da órbita, seu eixo Zna direção radial ao plano da órbita, apontando para aorigem do sistema de coordenadas inercial, e por último oeixo Y, perpendicular ao plano da órbita. Neste artigo aorigem deste sistema será representada por 0XYZ, Fig. 7.

· Sistema do Corpo (WERTZ, 1978). É o sistemafixo no corpo, cuja origem coincide com o centro de gra-vidade do corpo e com a origem do sistema da órbita.Tem seus eixos coincidentes com os eixos principais deinércias. Neste artigo a origem deste sistema será repre-sentada por 0xyz, Fig. 7.

Fig. 7 - Sistemas de Coordenadas.

Os vetores de posição, velocidade, aceleração eforça são representados em relação ao sistema de coor-denadas inercial, sendo que as equações do movimentosão analisadas considerando-se o movimento do corpoem relação ao sistema de coordenadas da órbita(BETTIATO, 2003).

4.2 Momento de Inércia e Eixo Principal

Pela dinâmica dos corpos rígidos têm-se(MERIAM, 1966):

(1)

As grandezas Ixx, I

yy, e I

zz são conhecidas como mo-

mentos de inércia, e Ixy ,

Ixz e I

yz como produtos de inércia.

Para o sistema de coordenadas do corpo é conve-niente adotar como referência os eixos principais de inér-cia, cuja distribuição de massa é simétrica em relação aocentro de gravidade do sistema (simulador + veículo es-pacial), e os produtos de inércia do sistema são nulos,assim os elementos fora da diagonal (I

xy ,I

xz ,I

yx I

yz ,I

zx ,I

zy )

da matriz de inércia desaparecem, permanecendo entãoapenas os elementos da diagonal (I

xx ,I

yy ,I

zz).

Assim sendo, o tensor de inércia será:

(2)

4.3 Equações do Movimento

O comportamento rotacional de um veículo espa-cial é descrito pelas “equações do movimento” de rota-ção. Essas são equações diferenciais de segunda or-dem, sendo que sua derivada primeira corresponde àvelocidade angular e a derivada segunda à aceleraçãoangular. Na astronáutica, as dinâmicas de trajetória e deatitude são quase que perfeitamente desacopladas. Arotação não tem influência na órbita do veículo, e geral-mente a órbita não influencia a atitude da nave. As equa-ções do movimento de rotação de um veículo espacialconsideram a influência de momentos externos (torques)que agem sobre o veículo espacial. Podemos estabele-cer essas equações aplicando-se “a lei do momento an-gular” (SCHLINGLOFF, 2005).

Equações Dinâmicas de Euler. Os movimentosrotacionais (atitude) dos veículos espaciais tratados comocorpos rígidos no espaço são descritos pela equação(MERIAM, 1966; WERTZ, 1978; SCARBORUGH, 1958):

(3)

onde:

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As três matrizes de rotação na seqüência 3-1-3,multiplicadas simultaneamente, descrevem a transferên-cia de um sistema de referência para outro, neste caso dosistema de coordenadas fixo no corpo para o sistema daórbita. Uma rotação em torno do eixo Z, Fig.8, umarotação em torno do eixo X, Fig. 9 e uma rotação ,novamente em torno do eixo Z, Fig.10.

Como resultado, a matriz de transformação será:

(9)

Equações Cinemáticas de Euler. Na atitude de umveículo espacial em rotação, o vetor velocidade angular

Fig. 11 - Seqüência adotada dos ângulos de Euler 3-1-3 (Z-X-Z).

Isolando-se a taxa de variação angular obtém-se:

(11)

Assim, ao integrar o sistema de equações diferen-ciais de primeira ordem acima, obtida a partir do vetorvelocidade angular , chega-se aos ângulos de Euler, osquais determinam a atitude do veículo espacial. Estasequações diferenciais não-lineares são chamadas “Equa-ções Cinemáticas de Euler” (WERTZ, 1978;SCARBORUGH, 1958).

Torques Gravitacionais. Os torques aplicados

ψ

m é uma função conhecida do tempo (SCHLINGLOFF,2005). Para se determinar os valores de emtermos dos ângulos de Euler ( ) e suas derivadasno tempo, consideram-se as projeções de todos osvetores da velocidade angular sobre cada um dos eixosem movimento (WERTZ, 1978). Assim, têm-se abaixo asequações:

(10)

Na Fig. 11, têm-se a demonstração das projeçõesdas taxas de variação angular, de cada eixo derotação, nos eixos na posição final da rotação. A somatóriadestas projeções em cada eixo resulta nas velocidadesangulares mostradas na equação (10).

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podem ser decompostos em:

(12)

onde é a somatória de todos os torques externos apli-

cados, são os torques provocados por perturbaçõesexternas, que para o nosso caso não serão modelados e

é o torque do gradiente gravitacional.

(13)

, o torque do gradiente gravitacional, pode ser defi-

nido como (BETTIATO, 2003):

(14)

onde:

(15)

e:

(16)

sendo:

G = constante gravitacionalM = massa da Terra

= vetor unitário na direção radial do veículo espacialR

C = Distância entre o centro de gravidade do veículo

espacial em órbita circular em torno da terra e o centro daterra.

como:

(17)

têm-se:

(18)

E as componentes do torque gravitacional serão:

(19)

Quatérnios. Na determinação da atitude de umcorpo rígido os Quatérnios (CHOBOTOV, 1991) têm vári-as vantagens sobre o uso dos ângulos de Euler. Osquatérnios envolvem o uso de relações algébricas parase determinar os elementos da matriz de rotação ao invésde funções trigonométricas. Os cálculos computacionaistornam-se mais rápidos utilizando-se este método e nãohá o problema de singularidade como pode ocorrer naformulação dos ângulos de Euler. Este problema de sin-gularidade para o caso da seqüência 3-1-3, adotada nes-te artigo, ocorre quando o ângulo é múltiplo negativoou positivo de 180o (CHOBOTOV, 1991). Para a não ocor-rência desta singularidade, numa análise geral, deve-seescolher sen >0, ou 0o< <180o (CHOBOTOV, 1991).

Assim sendo, o nosso sistema proposto tem aflexibilidade de abordar tanto o método pelos ângulos deEuler como pelos quatérnios. Neste nosso artigo a simu-lação proposta aborda somente o método pelo os ângu-los de Euler.

5. RESULTADOS OBTIDOS

Para auxiliar na consolidação desta proposta deum simulador de controle de atitude de veículos espaci-ais, é apresentada uma simulação computacional atravésdo Simulink do MatLab (ADADE, 1997), Fig.13. Esta si-mulação foi idealizada para zerar as rotações residuaisprovenientes de perturbações originadas durante a mis-são de lançamento de um veículo espacial. O SARA é umsatélite de reentrada atmosférica em fase de desenvolvi-mento pelo IAE e deverá cumprir uma missão científicasub-orbital, que conduzirá experimentos para teste emmicrogravidade. As manobras de controle de atitude desteveículo serão testadas em solo e o simulador propostodeverá provavelmente ser utilizado para isto.

A Fig. 12 apresenta o esquema de controle develocidades básico. O valor utilizado para a zona mortamostrada, no caso, para o sistema de controle de veloci-dade do SARA é de 0,2 graus/s, este valor foi utilizadopara o desenvolvimento do programa da simulação pro-posta.

Fig. 12 - Sistema de Controle do SARA.

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Na idealização do controle de velocidade, paraaplicação do torque de controle, foi utilizado um sistemade gás frio, o qual no modelo real deverá estar acopladono veículo ou na mesa do simulador.

Tabela 1 - Dados para a Simulação

Para a simulação proposta, foram utilizados osparâmetros do SARA, os quais são mostrados na Tabela 1.

Fig. 13 - Layout do Programa de Controle desenvolvido no Simulink.

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Foi rodado o programa elaborado no Simulink eforam obtidos os resultados apresentados nas Figs. de14 até 19.

Fig. 14 - Velocidades Angulares versus Tempo.

A Fig.14 mostra que as velocidades iniciais de 20,5 e -10 graus/s, são minimizados até 0,2 graus/s (definidopela zona morta do controlador on/off), em um períodode frenagem de 9 segundos. Quando as velocidades atin-gem esse valor residual de 0,2 graus/s, os atuadores sãodesabilitados. O valor residual está associado à precisãoda velocidade final admissível e o valor da microgravidadeem veículos de sondagem como o SARA.

Fig. 15 - Plano de Fase.

A Fig. 15 mostra o plano de fase, ou seja, as curvasobtidas parametrizadas nos eixos velocidade/posição an-gular. No plano de fase é possível avaliar as amplitudesdas velocidades e posição angular simultaneamente.

Fig. 16 - Deslocamento Angular durante 500 s.

Fig. 17 - Deslocamento Angular durante 20 s.

A Fig. 16 mostra a história temporal da atitude doveículo durante o período de 500s., e a Fig. 17 apresentaainda detalhes do período de frenagem de 9s. Verifica-seque a partir da condição inicial de 0-0-0 graus os ângulosvariam até 50-35-25 graus durante a frenagem e após 9segundos a atitude varia lentamente devido a velocida-de residual de 0,2 graus/s definida pela zona morta.

Fig. 18 - Torques de Atuação.

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Revista UniVap, v.15, n.27, 200874

A Fig. 18 mostra os sinais dos torques de atua-ção, durante o período de 20 segundos. Ao serem acio-nados, os atuadores realizam o processo de frenagem doveículo e a área sob as curvas representam o impulsoespecífico utilizado para a frenagem. A estimativa do im-pulso específico permite definir as especificações do sis-tema de gás frio.

Fig. 19 - Torques de Acoplamento.

A Fig. 19 mostra os valores dos torques deacoplamento devido às três velocidades e aos valoresdas diferenças entre os momentos de inércia (Equação5). O acoplamento no eixo x é pequeno justamente por-que o termo (B-C) é aproximadamente zero, ao passo que(A-B) e (C-A) são representativos.

6. CONCLUSÃO

Os resultados obtidos com a simulaçãocomputacional foram bastante satisfatórios para auxiliarna proposta deste simulador.

Classicamente os sistemas de controle são pri-meiro projetados e em seguida tem a sua estabilidadeexaminada. A aplicação do método de Lyapunov paraverificação da estabilidade de um sistema de controlebaseado nas equações dinâmicas de Euler não é algofácil e não foi o escopo do trabalho. Assim simplesmentefoi observado que o sistema de controle de velocidadeprojetado é estável segundo Lyapunov.

Baseados nas pesquisas realizadas para a elabo-ração deste artigo, conclui-se que esta proposta é únicano Brasil.

A implementação deste simulador será submetidaao fundo setorial de ciência e tecnologia do IAE, no anode 2008. Uma estimativa preliminar do custo para o simu-lador proposto é da ordem de quatrocentos mil dólares.

O campo de atuação para o simulador proposto édado pelas características esperadas, como se pode ci-tar: Carga útil de 0 a 1.500 kg; 0,5 a 4 Newtons de empuxo;torques de atuação de 0,5 a 32 N.m; =360o, =30o em =360o; velocidades angulares: 0 a 100 graus/s; acelera-ção angular: 0 a 3 graus/s2.

7. TRABALHOS FUTUROS

Este trabalho consiste na fase preliminar de umprojeto que terá início em 2008 no IAE para a implantaçãodo simulador proposto neste artigo, e que terá como umadas funções, além da qualificação do sistema de contro-le de atitude, a identificação do tensor de inércia do 4o

Estágio do VLS.

Atualmente no setor espacial do IAE são feitasmedições de momentos e produtos de inércia do veículoespacial, antes do seu lançamento. Durante o vôo, otensor de inércia do veículo varia com o consumo demassa de propelente. Para avaliar essas variações, sãofeitas simulações numéricas com os dados coletados emensaios em banco de provas. Esses dados são utilizadospara o controle do veículo no espaço, porém, os errosexistentes nas interpolações numéricas utilizadas nãopodem ser verificados, devido à inexistência de meiospara a sua detecção. Essas dificuldades podem ser su-peradas utilizando junto com o simulador propostouma maquete que permita medir a variação do tensor deinércia em tempo real.

O simulador proposto, em conjunto com o desen-volvimento da maquete, representará uma inovaçãotecnológica, pelo fato de permitir simulações em três grausde liberdade, medições de centro de gravidade e o tensorde inércia em um único equipamento.

8. AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço à minha esposa Arianepelo amor, compreensão e apoio nos momentos mais di-fíceis; aos meus pais Adão e Mercedes, por me ensina-rem a importância dos estudos e a nunca desistir de nos-sos objetivos; ao meu amigo Loures do IAE, por me in-centivar a retornar aos estudos; aos meus orientadoresWanderley P. Cunha, Euler G. Barbosa e Lízia O. AcostaDias, pelo apoio à elaboração deste artigo e a todos osmeus amigos do curso, em especial ao Sílvio N. Abreu,ao Pedro S. de Araújo e à Teresa Raquel P. da Silva que,mais que colegas, foram também estímulo e companhiapara que concluísse com êxito essa jornada.

9. REFERÊNCIAS

ADADE, A. JR. Simulação de Sistemas Dinâmicos -Simulink. São José dos Campos, SP: Instituto

O

ψ

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Otimização de Processos na Área de Recebimentode Materiais da Indústria Aeronáutica Brasileira

Teresa Raquel Pereira da Silva *Wellington Gonçalves Rodrigues **

Jesuíno Takachi Tomita ***

Resumo: Este trabalho destaca a importância da qualificação de fornecedores para uma empresa,apresentando exemplos de relacionamento entre a Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER)e o fornecedor de peças e conjuntos, relacionados ao interior de suas aeronaves. Neste artigo, osautores propõem um método de qualificação deste fornecedor, baseado na escolha adequada dasferramentas da Qualidade, tais como, análise de Pareto, Diagrama de Causa-Efeito, Fluxograma,sistema JIT e outros. Uma metodologia interna baseada na reengenharia de processos também ésugerida para a empresa, o que permite eliminar a inspeção de recebimento dos materiais analisa-dos, sem causar impactos nas demais etapas do processo produtivo. A análise de métodos identificao material mais propício, em termos de valor financeiro e quantidade de problemas, para ter ainspeção eliminada. No final da análise é possível concluir se a implementação da proposta éviável ou não, considerando os custos de investimento do projeto.

Palavras-chave: Otimização, processos, inspeção, recebimento, qualidade.

Abstract: This work emphasizes the importance of the suppliers qualification for a company, byshowing examples of the relationship between the Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER)and the supplier of parts and assemblies related to the interior of its aircraft. In this article, theauthors propose a method of supplier qualification, based on the adequate choice of Quality tools,such as, Pareto analyze, cause-effect diagrams, Flowcharts, JIT systems and others. A methodologybased on reengineering process is suggested for the company in order to eliminate the receivinginspection of analyzed materials, without causing impacts in the later stages of the productionprocess. The methods analysis identifies which material is most propitious, in terms of financialvalue and amount of problems, to have inspection eliminated. In the end of the analysis it is possibleto conclude if the implementation of the proposal is viable or not, considering investments costs ofthe project.

Key words: Optimization, process, inspection, receiving, quality.

* Graduanda em Engenharia Aeronáutica e Espaço -FEAU/UNIVAP, 2008.

** Eng. Mecânico Industrial e Especialista em Adminis-tração de Empresas.

*** Professor da UNIVAP.

1. INTRODUÇÃO

Com o intuito de garantir o aumento decompetitividade no mercado, as empresas buscam cons-tantemente uma forma de melhorar a qualidade dos pro-dutos. Devido a este fato, a engenharia da qualidadepropõe diversas ferramentas que objetivam gerenciar esteprocesso de melhoria contínua. Bons resultados são

obtidos com a utilização destas ferramentas da qualida-de, entretanto, estes resultados não dependem apenasdo esforço interno da empresa, mas também da qualida-de dos produtos e serviços fornecidos por terceiros, osquais passam, também, a integrar o produto da empresa -cliente.

Este trabalho apresenta uma metodologia de rela-cionamento, entre empresa e fornecedor, que foi desen-volvida com o objetivo de ser implementada na EmpresaBrasileira de Aeronáutica - EMBRAER.

Os valores adotados neste trabalho são fictícios,prestando-se apenas para demonstração dos resultadosobtidos com a implementação da proposta.

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1.1 EMBRAER

A EMBRAER - Empresa Brasileira de AeronáuticaS.A. é a terceira maior empresa aeronáutica do mundoatrás somente da Airbus e da Boeing, posição alcançadagraças à busca permanente e determinada da plena satis-fação de seus clientes.

Com mais de 36 anos de experiência em projeto,fabricação, comercialização, manutenção e pós-venda, aEMBRAER já produziu cerca de 3.900 aviões, que hojeoperam em 70 empresas aéreas e 43 países, nos cincocontinentes. A EMBRAER tem uma base global de clien-tes e importantes parceiros de renome mundial, que re-sulta em uma significativa participação no mercado.

1.2 Ferramentas da qualidade

Kaoru Ishikawa citado em Correa e Correa (2006)afirma que:

“Noventa e cinco por cento dos proble-mas relacionados à qualidade podem serresolvidos com o uso de sete ferramentasquantitativas básicas”.

Para análise do problema discutido neste trabalho,foram utilizadas as ferramentas Diagrama de Pareto, Dia-grama de Causa e Efeito e Fluxograma de Processo, devidoestas, serem as mais adequadas para gerenciar esta análi-se e identificar as causas dos problemas discutidos.

Através da análise de Pareto é possível identifi-car os casos/ problemas mais críticos, e atacálos inicial-mente, tendo como base os critérios estabelecidos pelaempresa cliente. No momento que se entende o porquêda existência dos estoques, pode-se eliminar as causasque geram sua necessidade, acarretando sua diminuiçãoou até mesmo eliminação.

Quanto ao diagrama de causa e efeito (conhecidotambém como diagrama de espinha de peixe, ou diagramade Ishikawa), este tem como objetivo orientar no processode identificação das possíveis causas-raiz de um problema,o que é fundamental para eliminá-lo de forma definitiva.

Uma terceira ferramenta utilizada no nosso traba-lho e também muito utilizada nas indústrias para a orga-nização de processos, é o Fluxograma de Processos. Suafunção é ilustrar os passos necessários para a execuçãode um processo qualquer.

Além da utilização destas ferramentas, este traba-lho está baseado em duas teorias da qualidade: o Just intime (JIT), e a Reengenharia de Processos. A seguir es-tão algumas afirmações de especialistas na área de qua-

lidade, com relação a estas duas teorias:

Marinho e Armando Neto (1997), afirmam que:

“A implantação do sistema Just In Time(JIT) em uma empresa proporciona váriosbenefícios tais como: redução de estoques,diminuição de lead-times, e melhoria daqualidade. O sucesso da implantação des-te sistema depende de fornecedores queatendam pré-requisitos como disciplina,estabilidade da programação, transpor-te, e peças de qualidade”.

Para Isnard Marshall (2003),

“A Reengenharia visa, quando bem em-pregada, à otimização dos métodos e pro-cessos organizacionais, reduzindo custose aumentando a produtividade de formaradical”.

2. DESCRIÇÃO DO PROBLEMA

No recebimento direto de materiais de elevadocusto vindo de fornecedores da indústria aeronáuticaestão envolvidos riscos de problemas de qualidade. Emalguns casos, estes materiais quando chegam ao depar-tamento de Recebimento da empresa, não podem ser uti-lizados devido a não conformidade de determinadasespecificações, conforme contrato entre fornecedor-cli-ente. Fatores como: qualidade inadequada do produto,falha na inspeção final e danos sofridos no processo detransporte são alguns exemplos dessa não conformida-de. Esta situação, obriga a empresa-cliente a executarinspeções de recebimento mais rigorosas do material, re-sultando em maiores gastos. Além do gasto que a empre-sa-cliente incorre pela não utilização dos materiaisnãoconformes, esta ainda assume custos adicionais demão-de-obra, armazenagem, gasto de capitais nos esto-ques envolvidos e tempo despendido na execução dasinspeções, custos estes que poderiam ser evitados, se ofornecedor enviasse os referidos materiais dentro dospadrões de qualidade e nos prazos requeridos.

Na inspeção de recebimento, os inspetores de-vem desembalar e re-embalar o material, processo este,que gera riscos grandes de o componente ser danificadopelo próprio inspetor.

Grande parte dos produtos reprovados na inspe-ção de recebimento é submetida a retrabalhos pelo for-necedor, a fim de serem aprovadas em nova inspeção,mas este processo pode acarretar outras não conformi-dades nos materiais, que são, em alguns casos, detecta-das somente na linha final de montagem.

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Nesta etapa do processo, é praticamente impossí-vel detectar o causador da não conformidade e direcionaras ações corretivas adequadas.

3. OBJETIVO DO TRABALHO

O objetivo do trabalho é o de eliminar a inspeçãode recebimento dos respectivos materiais analisados, econseqüentemente reduzir volume financeiro de materi-ais em estoque. Com a eliminação da inspeção de recebi-mento, o plano de produção do fornecedor passa a serainda mais integrado ao da empresa, caso em que, é pos-sível realizar o planejamento considerando que o materi-al será fornecido diretamente para a linha de montagem.

4. PROPOSTA DO TRABALHO

Através deste trabalho, propõe-se apresentar ummodelo de atuação que melhore a qualidade dos produ-tos fornecidos, permitindo assim eliminar a inspeção derecebimento. Pretende-se, também, sugerir umametodologia interna para a empresa aeronáutica, quepermita eliminar esta inspeção, sem causar impactos nasdemais etapas do processo produtivo. O fornecedor éresponsável por garantir o provimento de um materialque atenda aos parâmetros de qualidade pré-determina-dos em normas e contratos.

Com a implementação das ações propostas nestetrabalho, a empresa economizará em mão-deobra, espaçofísico, tempo e eliminará inspeções desnecessárias, fa-zendo uso mais racional dos recursos que possui.

5. PROCESSO LOGÍSTICO ENTRE FORNECEDOR EEMPRESA

O embarque dos materiais analisados pode servia transporte marítimo ou aéreo. Usualmente os materi-ais são fornecidos via transporte marítimo devido ao cus-to ser menor. Neste caso, o tempo que o material levapara ser transportado é quatro vezes maior do que seeste fosse embarcado via transporte aéreo. Porém, exis-tem situações em que os itens são enviados via trans-porte aéreo para atender demandas relacionadas a modi-ficações no plano de compra dos materiais.

Este trabalho modela as soluções tendo como re-ferência o transporte marítimo.

Uma vez enviados por transporte marítimo, osmateriais são despachados no porto de Santos e de lá,são transportados para São José dos Campos por meiode caminhões. O Embarque marítimo tem duração de 40dias desde a origem até sua chegada na Embraer.

A empresa transportadora é contratada pelo pró-

prio fornecedor, logo quaisquer custos relacionados adanos originados no transporte, são de responsabilida-de do contratante. A empresa cliente somente arca comcusto de transporte quando esta faz uma solicitação quenão está prevista no planejamento ou, quando é avaliadacomo a causadora da não conformidade.

6. MÉTODO DE ANÁLISE

A análise do problema discutido neste trabalhoteve como base as duas ferramentas da qualidade cita-das anteriormente: Análise de Pareto e Diagrama de Cau-sa e Efeito (ou diagrama de espinha de peixe).

Este processo foi operacionalizado em três eta-pas, como segue:

1º Etapa: Identificação dos materiais, de maiorvalor monetário e com altas taxas de rejeição no recebi-mento, através da análise de Pareto.

A Tabela 1 classifica em ordem decrescente, emtermos de valor financeiro parado em estoque, os materi-ais que equipam o interior das aeronaves comerciais naEMBRAER.

A coluna “Valor (%)” representa a porcentagemde valor do determinado material em relação ao valor to-tal dos 57 materiais listados na Tabela 1.

Tabela 1 - Pareto Valor do Material

Fonte: autores.

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A Tabela 2 classifica em ordem decrescente osmateriais que possuem maiores índices de rejeição norecebimento da empresa cliente.

A coluna “nº de rejeições” representa a porcenta-gem rejeições de um material em relação à rejeição totaldos 57 materiais listados na Tabela 2.

As Tabelas 1 e 2 comprovam a afirmativa de Cam-pos (2004) sobre a análise de Pareto:

“Cerca de 80% do valor dos estoques con-centram-se em cerca de 20% dos itens es-tocados; 80% dos problemas de qualida-de concentram-se em 20% dos itens fabri-cados”.

Porém, não é suficiente conhecer de maneira iso-

lada, os materiais de alto custo e os materiais com índicealto de rejeição. Para que os recursos voltados a soluçãode problemas tenham seus resultados maximizados, énecessário priorizar o material que realmente é o maiscrítico para empresa, ou seja, um material que possuacusto elevado e que ao mesmo tempo apresente um nú-mero alto de rejeições no recebimento. Na Tabela 3, osmesmos itens citados nas Tabelas 1 e 2 se repetem, po-rém agora, classificados em ordem decrescente de acor-do com sua criticidade. A criticidade do material é repre-sentada pela equação abaixo, nomeada Índice Crítico:

( ) ( )3

º1.2(%)

rejeiçõesnmaterialvalorIC

×+×=

Este indicador é o mais adequado para o caso emquestão devido o volume em estoque da empresa sermedido em função dos custos dos produtos estocados enão em função da quantidade. Logo, o peso adicionadoao valor do material no estoque é maior do que o pesoadicionado à quantidade de problemas.

Devido a restrição do número de páginas do arti-go, na Tabela 3 estão contidos somente os dados essen-ciais para análise do problema apresentado.

Na Tabela.3, o item 1 representa um pouco maisde 23% do valor total dos 57 materiais listados nestaTabela. Do mesmo modo, o mesmo item, representa11,24% de rejeição em relação ao número total de rejei-ções dos 57 itens listados na Tabela 3.

A Tabela 3 indica que dos 57 materiais analisados,os itens 1, 4, 3, 2 e 7 são os mais críticos para a empresa,porém dada a restrição do tamanho do texto para o pre-sente trabalho, é discutido somente o item 1, considera-do mais relevante na análise.

O item 1 citado neste trabalho, representa os as-sentos de passageiros do avião.

Tabela 2 - Pareto Incidência de Problemas

Tabela 3 - Comparação Valor do materual Versus Incidência de Problemas

Fonte: autores.

Fonte: autores.

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2º Etapa: Identificação das causas-raízes da re-jeição dos assentos de passageiros, através do diagramaespinha de peixe.

A descrição do problema é colocada no lugar ondeficaria a cabeça do peixe. Já as possíveis causas do pro-blema são acrescidas, em forma de ramificações, no lugaronde seria sua espinha dorsal.

A Fig.1 ilustra a análise causa-efeito do problemaobservado: assentos de passageiros recebidos com da-nos.

Com relação as ramificações máquina, meio ambi-ente, método e meio de medição, não foram detectadascausas que contribuíssem para ocorrência do problemaanalisado. Já nas demais ramificações da espinha, algu-mas falhas no processo foram detectadas.

Fig. 1 - Diagrama de Causa e Efeito.Fonte: autora

Para cada falha (causa raiz) encontrada, são pro-postas ações de contenção e correção conforme descri-tas na 3º etapa desta análise.

3º Etapa: Eliminação dos defeitos analisados nodiagrama de Ishikawa, através de ações corretivassugeridas pela área da Qualidade da empresa cliente.

Propõe-se que sejam adicionadas cláusulas emcontratos que determinem a responsabilidade dos cus-tos de implantação dos itens a seguir como sendo dofornecedor, devido este ser o causador das não confor-midades analisadas no Diagrama de Ishikawa.

i) Embalagem Inadequada

Ações: Emitir documento de ação corretiva para ofornecedor, solicitando alteração na embalagem dos as-

sentos de passageiros, de maneira com que os requisitosda engenharia de logística da empresa cliente, sejam se-guidos pelo fornecedor.

O manual de embalagem da empresa cliente deveser utilizado como referência.

No caso dos assentos analisados, a embalagemdeve ser de papelão (Fig. 3) e os assentos devem serenvolvidos por plásticos chamados “plásticos bolha”.

Sugere-se que os próximos kits sejam enviadoscom um reforço de madeira na base dos assentos (Fig. 2).

Este reforço deve conter suportes de aço em ân-gulo nas cantoneiras da madeira para evitar que a basede madeira se desloque e quebre, causando danos nosassentos. As fivelas dos cintos de seguranças tambémdevem ser protegidas quanto à riscos e marcas.

Fig. 2 - Reforço de madeira para suportar o assento.

Fig. 3 - Embalagem de papelão.

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ii) Desentendimento e Utilização Inadequada doscritérios de Inspeção

Ações: Implantação do sistema de IntervençãoEMBRAER nas instalações do fornecedor.

A inspeção final ao processo produtivo do forne-cedor será executada por um empregado qualificado daEMBRAER e o produto somente será aceito no recebi-mento da empresa, se houver evidência desta inspeçãoter sido executada. O alinhamento dos critérios de inspe-ção é a principal atividade do empregado EMBRAER,porém outras funções podem ser acrescentadas de acor-do com o cenário vivido e desde que ambas as empresasestejam de acordo.

iii) Variação de Mão-de-Obra

Ações: Implementação de sistema de inspeçãodelegada no fornecedor.

O fornecedor deverá designar dois ou três empre-gados para executar uma inspeção final ao processo pro-dutivo normal e o produto somente será aceito pelaEMBRAER no recebimento se houver evidência destainspeção ter sido executada por este(s) empregado(s)aprovando o produto. Os inspetores devem ser treina-dos nos requisitos e necessidades da EMBRAER. Casoseja necessária a substituição do inspetor delegado, umnovo processo de delegação deverá ser executado.

7. PROPOSTA DE ELIMINAÇÃO DA INSPEÇÃO DERECEBIMENTO DO ITEM 1 – ASSENTOS DE PASSA-GEIROS

Propõe-se que sejam adicionadas cláusulas emcontratos estabelecidos entre a empresa e fornecedor,referenciando os itens abaixo citados como proposta paraeliminação da inspeção de recebimento dos assentos depassageiros.

i) Criar uma métrica da Qualidade

É importante que uma métrica de qualidade sejacriada com o objetivo de avaliar se as ações implantadasno fornecedor tiveram resultados positivos. Também épossível definir em que momento o produto fornecidoestará com qualidade assegurada e não mais precisarásubmeter-se à inspeção de recebimento. Para o presentetrabalho é sugerido o seguinte indicador demonitoriamento:

recebidoslotesn

esdiscrepantlotesnIM

.º=

Este indicador tem uma grande importância e é o

mais indicado, pois no recebimento da empresa, a inspe-ção do item 1 é feita por números de lotes, logo faz-seuma relação entre o número de lotes recebidos e o núme-ro de lotes com defeitos. O indicador deve ser monitoradoe o item deve conter um histórico de aprovação, por doismeses (tempo suficiente para receber um número superi-or à 15 lotes), no recebimento da EMBRAER, à partir daimplementação dos itens da etapa 3, para assim iniciar oprocesso de inspeção amostral e posteriormente eliminara inspeção de recebimento de forma definitiva.

ii) Alteração do planejamento de compras do ma-terial

O planejamento de compra dos assentos de pas-sageiros deverá ser alterado de maneira com que aEMBRAER possa efetuar o pagamento deste materialcom 12 dias de prorrogação, isto porque, os 12 dias eco-nomizados na inspeção não serão migrados para o esto-que. Este re-planejamento deverá ser feito pelo departa-mento de suprimentos da empresa cliente.

iii) Criar um padrão de inspeção (PI) específicopara inspetor responsável pelo item 1.

Será de responsabilidade do inspetor receber omaterial, registrá-lo no sistema, checar a documentação everificar a integridade da embalagem.

Caso algum problema seja detectado, o inspetordeverá reportar a não conformidade.

Nota: A inspeção visual do material será poramostragem, ou seja, a cada 15 lotes o sistema EMBRAERenvia um aviso de alerta ao inspetor informando que estaatividade deve ser executada.

iv) Realizar Curso de Reciclagem com a área deTransporte Interno da EMBRAER.

O transporte interno da Embraer deve ser capazde garantir a integridade do produto, protegendo o mes-mo quanto a danos ou manchas no material.

Propõe-se curso de reciclagem de manuseio ade-quado dos materiais, aos responsáveis pelo transportedos mesmos. Não é proposto nenhuma ação específicadevido atualmente não existir problemas relacionados aotransporte interno dos assentos de passageiros.

v) Realizar reciclagem da equipe da linha de pro-dução quanto aos critérios de inspeção.

Os operadores responsáveis pela inspeção domaterial devem estar alinhados com os critérios de inspe-ção de interiores determinados pela Engenharia da Qua-

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lidade da empresa. Os operadores receberão treinamentode maneira que a inspeção realizada por eles antes dainstalação do material no avião, seja idêntica, em termosde critérios,em relação à inspeção anteriormente realiza-da no Recebimento e na empresa fornecedora.

A seguir, está o cronograma das atividades quedevem ser cumpridas para atingir o objetivo do projeto.O tempo de duração da proposta foi estimado, permitin-do assim conhecer em que momento a empresa poderácontar com o retorno do capital investido.

8. CUSTOS DE INVESTIMENTO DO PROJETO

A Tabela 4 mostra os custos de investimento doprojeto. O valor total do custo de implementação do pro-jeto é de $ 33,000.00.

Propõe-se que o fornecedor seja responsável pe-los custos de implementação das três primeiras ativida-des da Tabela 4, devido às ações implementadas seremnecessárias para tratar as não conformidades originadaspelo fornecedor.

Tabela 4 - Custos de Investimento no Projeto

Cronograma das Atividades de Implementação da Proposta

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9. RESULTADOS ECONÔMICOS ESPERADOS

Os ganhos econômicos para a empresa cliente,estimados a seguir, partem da estimativa para a família170/190, de produção anual de 100 aeronaves, conside-rando kit com 72 poltronas e de reduções de lead-timemostradas na Tabela 5. A economia obtida com aimplementação deste projeto está relacionada a três as-pectos distintos:

9.1 Economia estimada em relação lead-time do material

A Tabela 5 explica a proposta do lead-time delogística no Recebimento da Empresa. As atividades “con-ferir” e “inspecionar” atual possui um lead time de 14dias para realizar as atividades conforme Fluxograma 9.1a.Embora o ciclo de recebimento, (checar e inspecionar) domaterial ser menor que 14 dias, este é o tempo planejadopara que o assento esteja à disposição na área para exe-cução da atividade. No lead-time proposto, de 2 dias, aatividade “inspecionar” será executada em forma deamostragem, ou seja, a cada 15 lotes, faz-se uma inspe-ção visual. Quando não houver a necessidade da inspe-ção visual, as atividades realizadas serão conforme Flu-xograma 9.1b.

9.1a) Atual fluxograma logístico de recebimento.

A Fig. 4 ilustra a atual situação do fluxo de recebi-mento do material (item 1).

Fig. 4 - Fluxograma da logística de recebimento atual.Fonte: os autores

9.1b) Fluxograma proposto para o processos derecebimento de materiais e componente.

Na Fig. 5 indica um processo simplificado pro-posto para o recebimento dos assentos de passageiros,que elimina a inspeção visual e a sua estocagem noalmoxarifado, reduzindo o lead-time e consequentemente,custos.

Fig. 5 - Fluxograma da melhoria proposta.Fonte: os autores.

Tabela 5 - Logística Recebimento do Item 1

O lead time terá uma redução de 86%. Note queos 10 dias economizados na inspeção não serão migra-dos para o estoque e o planejamento de compra destesmateriais será alterado de maneira que a EMBRAER po-derá fazer o pagamento deste material com 10 dias deprorrogação, reduzindo o nível de estoque e melhorandoo giro de capital.

9.2 Economia estimada em relação à mão-de-obra.

No fluxograma atual, utilizam-se dois funcionári-os: o conferente e o inspetor. Já no proposto fluxograma,a única mão de obra utilizada é do inspetor que irá so-mente conferir o material em um tempo reduzido de 50%em relação ao atual. Logo, a mão de obra utilizada paraum lead time de 14 dias não será mais necessária para umlead time de 2 dias. A redução de mão de obra será de50% e esta poderá ser reaproveitada em outras ativida-des de acordo com a priorização da empresa.

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9.3 Economia estimada em relação ao custo do materialem estoque.

Assumindo um custo médio ponderado de capi-tal (WACC, Weighted Average Cost of Capital) de 18%ao ano, teremos uma economia anual, apenas para o kit1, da ordem de US$ 234,000.00 considerando um custode US$ 390,000.00 para o kit 1.

Considerando interpolação linear simplificada,para 12 dias, o custo de capital será de 0,6% por kit.Assim, 0,6% x US$ 390,000.00 = US$ 2,340.00/kit US$2,340.00 x 100 aeronaves = US$ 234,000.00 /ano.

O cálculo acima mostra que o valor bruto de retor-no é de US$ 234,000.00 no ano, porém, é necessário con-siderar o conceito de valor do dinheiro no tempo. Paraisto, existe a necessidade de calcular o VPL (valor pre-sente líquido) e a TIR (taxa interna de retorno).

O valor presente líquido (VPL) é a fórmula mate-mático-financeira que determina o valor presente de pa-gamentos futuros descontados a uma apropriada taxa dejuros, menos o custo do investimento inicial. Basicamen-te, é o cálculo de quanto os futuros pagamentos soma-dos a um custo inicial estaria valendo atualmente.

O VPL maior do que zero: significa que o investi-mento é economicamente atrativo, pois o valor presentedas entradas de caixa é maior do que o valor presente dassaídas de caixa. Já o VPL igual a zero indica que o inves-timento é indiferente, e VPL menor do que zero indicaque o investimento não é economicamente atrativo.

A TIR de um projeto é a taxa que torna nulo o VPLdo fluxo de caixa do investimento. Esta taxa torna o valorpresente dos lucros futuros equivalentes aos dos gas-tos realizados com o projeto, caracterizando, assim, a taxade remuneração do capital investido.

( )∑= +

+−=n

ttK

FCtIVPL

1 1

( )∑= +

+−=n

ttTIR

FCtIVPL

1 1

Acima, as fórmulas de cálculo do VPL (1) e daTIR (2) onde: I é o investimento de capital na data zero,FC

t o retorno na data t do fluxo de caixa; n é o prazo de

análise do projeto; e, k é o custo de capital do projeto deinvestimento.

Supõe-se que a EMBRAER assuma todos os cus-tos de investimentos, o valor do VPL do nosso projeto será:

( )∑ ++−=

1

1118,01

23400033000VPL 08.605,165=VPL

( )∑ ++−=

1

111

234000330000

TIR %609=TIR

O valor do VPL calculado é positivo e bem atrati-vo em termos financeiros para este projeto, porém caso ofornecedor esteja de acordo com a proposta deste traba-lho e concorde em arcar com os três primeiros custosindicados na Tabela 4, os valores do VPL e da TIR setornam ainda mais atrativos financeiramente:

( )∑ ++−=

1

110181

23400022500VPL 08.805,175=VPL

( )∑ ++−=

1

111

234000225000

TIR %940=TIR

Os resultados acima indicam que o projeto terálucro de $175,805.00 e uma taxa de retorno de 940% porano.

9.4 Eliminação de riscos de o material ser danificado nomanuseio interno da empresa cliente.

O material não mais sofrerá riscos de ser danifica-do durante o manuseio da inspeção de recebimento e/ouno transporte interno da empresa cliente.

10. ANÁLISE DE RISCOS / PLANO DE CONTIGÊNCIA

Propõe-se que sejam adicionadas cláusulas emcontratos estabelecidos entre a empresa e fornecedor,referenciando o procedimento abaixo proposto para ca-sos em que alguma não conformidade for detectada nainspeção amostral ou na linha de montagem antes dainstalação do material. As cláusulas adicionadas devemcontemplar as seguintes situações:

10.1 Não conformidade detectada na inspeção amostralde recebimento.

O inspetor deverá acionar o fornecedor e emitiruma nota de não conformidade, para caso de reparo ouretrabalho. O fornecedor deverá executar o trabalho emum tempo determinado que não afete o planejamento deintalação do material no avião, tempo este, acordado emcontrato entre fornecedor e empresa. Uma sugestão éque, o responsável por reportar a não conformidade nosistema, seja o próprio fornecedor.

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Caso em que, para a não conformidade não sejaaplicável retrabalho, o material deverá ser devolvido imedi-atamente para a origem. O causador da não conformidadedeverá ressarcir os custos gerados para a empresa cliente.

Caso exista a necessidade de re-inspeção de es-toque, o fornecedor deverá executar esta tarefa e infor-mar o inspetor para que este emita o documento de nãoconformidade no sistema se, detectado algum problemano material/documentação. Uma vez liberado acesso parao fornecedor, este mesmo poderá emitir o documento denão conformidade no sistema.

10.2 Não conformidade detectada na linha de produçãoantes da instalação do material.

Para casos em que for detectado alguma nãocoformidade em relação ao produto inspecionado, o mes-mo procedimento, citado no item 10.1 deste capítulo, de-verá ser seguido.

O fornecedor deverá arcar com os custos e assu-mir a responsabilidade da rejeição do material caso estechegue com problemas na linha de produção, excetoquando houver evidência de que a causa da rejeição te-nha sido originada no transporte interno da EMBRAER;

O mesmo procedimento citado no item 10.1 destecapítulo, com relação a re-inspeção de estoque, deveráser executado para este caso.

10.3 Quality Escape do fornecedor

O fornecedor deverá ser acionado e terá que pro-ver um plano de ação de contenção em um determinadotempo, baseado no impacto do problema, tempo este,acordado em contrato.

A re-inspeção de estoque deverá ser executadapelo próprio fornecedor e este acionará o inspetor para aemissão da não conformidade no sistema, caso algumproblema seja detectado com relação ao material. Umaoutra sugestão é que seja liberado acesso ao fornecedorpara que ele seja o responsável por registrar a não con-formidade no sistema e prover com as ações de conten-ção e correção.

O fornecedor deverá ressarcir os custos à empre-sa cliente em relação a cada dia excedente que o materialficar no estoque além do tempo previsto, aguardandoinspeção ou retrabalho.

10.4 Crise de abastecimento e falta de peças

Em caso de crise de abastacimento ou falta dematerial, o fornecedor pagará multa por cada dia de atra-

so, ou conforme o contrato entre cliente/fornecedor.

Uma sugestão de contenção é o fornecedor man-ter um estoque, dentro da empresa cliente, das principaispeças que compõem o item 1. Estas peças devem ser, asque hoje, são as maiores causas de rejeição dos assen-tos no recebimento, ou seja, no caso do item 1, as peçasdevem ser os couros dos assentos e dos encostos, erevestimento dos braços das poltronas.

Em alguns casos, é interessante a empresa clientepossuir mais de um fornecedor para garantia de que suaprodução não irá parar por falta de material.

10.5 Retorno à inspeção de recebimento

Existindo a necessidade de retorno da inspeçãode Recebimento, o planejamento de materiais deverá serrefeito e o fornecedor pagará uma multa devido ao nãocumprimento do proposto contrato. É importante a em-presa cliente possuir um estoque controlado que permitao retorno da inspeção de recebimento, sem grandes im-pactos, pois o estoque da empresa será alterado com oretorno desta inspeção.

Sugere-se que o próprio fornecedor execute a ins-peção de recebimento como forma de penalidade por nãoter cumprido o acordado em contrato, assim, o fornece-dor terá que dispor de sua mão de obra para executar ainspeção de recebimento.

11. CONCLUSÃO

O estudo e análise realizados, demonstram a via-bilidade da simplificação do processo de recebimentodos assentos de passageiros. O processo proposto atin-ge um VPL e TIR de $165,605.08 e 609%, respectivamen-te, no ano, caso a empresa cliente assuma todos os cus-tos do projeto. O VPL e o TIR passam a ser financeira-mente mais atrativos, caso o fornecedor se responsabili-ze por parte dos custos de implantação do projeto, osquais são relacionados às não conformidades origina-das pelo mesmo. Neste caso, o retorno estimado seria de$175.805,08 no ano. Além do item 1, situado na primeiralinha da Tabela 3, a sistemática proposta pode ser aplica-da para qualquer outro item, que hoje apresenta proble-ma de não conformidade, e que possua,concomitantemente, custo elevado, e alta incidência.

Com a implantação deste projeto, o plano de pro-dução do fornecedor passa a ser mais integrado ao daempresa, sendo o material fornecido diretamente para alinha de montagem. A empresa economizará mão-de-obra,espaço físico, tempo e eliminará inspeções desnecessá-rias, conseqüentemente, volume financeiro em estoque.O material não mais precisará submeter-se ao processo

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de inspeção, quarentena, estoque, transporte, entre ou-tros, diminuindo os riscos de serem danificados duranteo transporte e movimentação entre o recebimento e alinha de produção.

Não há restrição em regulamentos ou em contra-tos com relação a eliminação da inspeção de recebimentodos materiais de acabamento das aeronaves ERJ170/190.De acordo com o manual da qualidade da empresa clien-te, esta inspeção pode ser delegada ao próprio fornece-dor, desde que os procedimentos da empresa sejam se-guidos corretamente.

12. AGRADECIMENTOS

A Deus em primeiro lugar, por me capacitar e per-mitir que eu me tornasse engenheira com apenas 22 anosde idade. Aos meus pais, Ferreti e Bene, que sempre esti-veram do mau lado, me motivando e apoiando de maneiraque eu pudesse me dedicar 100% ao trabalho e aos estu-dos. Ao meu irmão Junior pela grande ajuda no iníciodeste trabalho. Agradeço ao Cleber pela paciência a con-sideração que teve comigo durante estes anos. Ao meuorientador Wellington Rodrigues, pela atenção e tempodespendido na orientação deste trabalho. Aos meus pro-fessores MSC Jesuino Takachi, Mestre Lizia Dias e Dr.Sergio Choze, por terem me ensinado tanto sobre o mun-do aeronáutico. Aos meus amigos Alex Alan, AdrianoBarbieri, Claudinei Castro e Silvio Abreu, pelocompanheirismo.

Sem a ajuda destas pessoas, não teria consegui-do concluir este curso, pois nenhum sonho é concretiza-do quando se luta sozinho. Muito obrigada a todos.

13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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O Perfil e o Foco no Cliente: são fundamentais para asacademias desenvolverem um relacionamento positivo com

seu cliente

Ive Luciana Ramos * Luis Fernando Zulietti **

Rogério dos Santos Morais ***

Resumo: O objetivo deste trabalho é mostrar que, em ambientes competitivos, o atendimento aocliente é o mais importante instrumento de diferenciação da empresa, e que atualmente a concor-rência entre as empresas está tão acirrada que quem ganha com isso são os clientes. A empresa temque estar ciente e comprometida com a visão da excelência em atendimento. A luta dos prestadoresde serviço é deixar o cliente encantado, fazer com que o cliente tenha suas expectativas superadas,que ele sinta uma vontade quase que incontrolada de utilizar o serviço. Entendendo isso, todaempresa deve primar por transformar em prática diária e regular todos os valores da instituição quegarantam com que o cliente se sinta numa posição especial, diferenciada e, se possível, única. Oobjetivo é sempre exceder as expectativas dos clientes. Ao agir assim, a empresa tratará de cada umdeles como se fosse o mais importante, e cuidará de cada aspecto do atendimento como se fosse omais importante, e que, para conquistar o cliente, será necessário conhecer as suas necessidades,identificar quais produtos e serviços que agradam o cliente e oferecer um atendimento fantástico.Conseqüentemente tornar o cliente fiel é a chave para a lucratividade e o crescimento da empresa.Não basta mais atrair o cliente, mantê-los se tornou mais importante.

Palavras-chave: Atendimento, cliente, necessidade.

Abstract: The objective of this work is to show that the attendance to the customer is the mostimportant instrument of differentiation of the company and that currently the competition amongthe companies is so strong that the customers take good advantages by having more options. Thecompany must be conscious and engaged in the vision of having an excellent attendance. The fightof the service rendering is to let the customer fascinated, to make him having his expectationstopped, and that he feels an uncontrollable will to use the service. By understanding this, allcompanies must top for transforming into daily and regular practice all the values of the institutionthat guarantee the customer feels in a special, differentiated and, if possible, unique position. Theobjective is always to exceed the expectations of the customers. Behaving this way, the company willdeal with each one of them as if he is the most important person, and it will care about each aspectof the attendance as if it is the most important one. In order to attract the customer it will benecessary to know his needs, to identify which products and services satisfy the customer and to offera fantastic attendance. To make the customer regular and loyal is the key for the profitability andthe growth of the company. To attract the customer is not enough anymore, to keep him became moreimportant.

Key words: Attendance, customer, necessity.

* Professora da UNIVAP.** Professor da Fac. Anhanguera, IBTA e UNIP.*** Professor da Fac. Anhanguera.

1. INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como objetivo promover eapresentar conceitos, fundamentos, idéias, sugestões e

reflexões sobre o atendimento e como fidelizar o cliente.Fidelizar o cliente é a palavra chave para a lucratividade eo crescimento da empresa. O novo desafio é criar clien-tes fiéis.

Fidelização ao cliente mostra alguns passos sim-ples para usar, desenvolver e melhorar uma empresa. Ogrande desafio é saber se a empresa está totalmente com-

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prometida em proporcionar um excelente atendimento e seo cliente é o principal centro de atração da empresa.

Todos os funcionários devem estar cientes e com-prometidos com a visão de excelência no atendimento aocliente.

A seguir, vamos refletir sobre a qualidade do aten-dimento proporcionada ao cliente, como desenvolvê-loe aperfeiçoá-lo. O objetivo dos prestadores de serviço édeixar o cliente encantado. Fazer com que ele tenha suasexpectativas superadas; que o cliente seja até surpreen-dido.

Entendendo isso, toda empresa deve primar portransformar em prática diária e regular todos os valo-res da instituição que garantam ao cliente uma posiçãoespecial, diferenciada, e se possível única.

Finalmente, lembrar-se de que qualquer tipo decomunicação com o cliente representa uma oportunida-de extremamente valiosa para desenvolver um relaciona-mento positivo com o mesmo.

2. FIDELIZAÇÃO DO CLIENTE

O que significa cativar um cliente? Significa criarlaços. Atualmente, a concorrência entre as empresas estáacirrada. Isso é conseqüência da internacionalização daeconomia. E quem ganha com essa competição são osclientes, com mais opções. Eles ganharam poder paraexigir o que querem. E dentre os serviços prestados aocliente, o atendimento destaca-se como um forte instru-mento de diferenciação. O bom atendimento começa peloconhecimento profundo de seus clientes.

Fidelizar o cliente, é a chave para a lucratividade eo crescimento da empresa. Atrair o cliente não é o bas-tante e mantê-los se tornou mais importante (ALMEIDA,2002).

O novo desafio é criar clientes fiéis. E a estratégiaeficaz para isso é um “Fantástico Atendimento”.

2.1 A importância da segmentação dos clientes e da oferta

Os clientes não são todos iguais. Em todo seg-mento de mercado e em especial em academias é possívelobservar grupos de clientes que têm comportamentosdistintos. Em função destas diferenças, as exigências se-rão específicas. Estar atento ao perfil dos clientes é fun-damental para o sucesso do negócio.

Para um cliente de academia que possui temporestrito e precisa otimizá-lo com outras atividades profis-sionais, família e lazer, as instalações do banheiro e a

facilidade de estacionamento, podem ser fatores funda-mentais para a escolha de uma determinada academia.

Realmente, os serviços devem ser desenvolvidoscom foco no cliente. Dessa forma, é preciso preocupar-secom os serviços que o seu negócio oferece atualmente everificar se atendem as demandas dos clientes. Daí a im-portância de uma oferta segmentada. Oferecer soluçõesespecíficas é uma forma de segmentar a sua oferta. Toda-via, nunca se deve esquecer de avaliar o custo dacustomização. É bom lembrar-se de que tudo pode sercopiado; é preciso antecipar-se. (ARAÚJO, 2005)

O mercado das academias tem sofrido mudançasconstantes nas últimas décadas. Os clientes têm-se tor-nado mais exigentes e criteriosos, portanto o profundoconhecimento de suas necessidades é fundamental parapromover sua satisfação.

O paradigma de cada produto e serviço é que eleatenda perfeitamente as necessidades individuais. Preci-sa-se saber quais são as necessidades, os sonhos e oestilo de vida de sua clientela, ou seja, se seu cliente ésolteiro, casado, pai com filho, raça, rendimento, forma-ção educacional etc. Só assim é que se pode satisfazer eatender-lhes os sonhos.

Como os clientes não são todos iguais, o idealseria que para cada um fosse oferecido um serviço espe-cífico, no entanto esta atitude incide em custos e o em-presário deve avaliar qual a gama de serviços deve ofere-cer para o seu publico alvo, preservando a rentabilidadedo negócio (ARAÚJO, 2005).

Quanto maior a customização dos serviços (maiorvariedade de aulas, diferentes opções de aparelhos paramesmos grupamentos musculares, maior variedade e ofer-ta de serviços associados com estacionamento, orienta-ção nutricional) maior poderá ser o impacto nos custosdo negócio e a questão passa a ser o quanto o seu clien-te está disposto a pagar.

2.2 Conceitos

Para Kolter (1996) “as pessoas são diferentes.Quanto mais customizada a oferta em função do perfil docliente, maiores as chances de fidelizar”:

· Um cliente fiel é dinheiro no bolso.

· Um cliente fiel está menos propenso a evadir-se.

· Um cliente fiel pode se tornar mais rentável aolongo do tempo.

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Qual a diferença de segmentar o mercado e osclientes?

A segmentação de clientes está focada nos que jáestão em sua academia, ou seja, conhecer para melhoratender. Já a segmentação de mercado está focada emconhecer o mercado para tomada de decisão de novosinvestimentos. Ao abrir uma nova academia, o empresá-rio deve realizar uma segmentação do mercado, visandodefinir qual segmento pode ser mais rentável, qual des-tes segmentos é compatível com sua capacidade de in-vestimento, quais serviços devem ser oferecidos paramelhor atender aquele mercado.

O investimento em uma nova academia deveria serprecedido de uma análise sistemática do mercado. A pri-meira etapa consiste na segmentação do mercado, o atode identificar e agrupar compradores distintos que podemexigir serviços e/ou compostos de marketing separados. Asegunda etapa consiste na escolha do mercado-alvo, se-lecionando-se um ou mais segmentos de mercado. A ter-ceira etapa é o posicionamento de mercado, ou seja, esta-belecer e comunicar ao mercado os principais benefíciosdos serviços que serão oferecidos.

Cada vez mais as empresas do setor de Fitness, saú-de e lazer se dedicam a uma abordagem de mercado utilizan-do estas três etapas. Elas ajudam a identificar melhor asoportunidades e desenvolver a oferta mais adequada paracada mercado alvo. Podem ajustar seus preços promoçõesde acordo com o mercado alvo (ARAÚJO, 2005).

Segundo Araújo (2005), recentemente a Cia.Athletica lançou sua segunda bandeira, a Cia. Express.Serão academias menores e mais baratas. A rede de aca-demias que por 19 anos colocou seu logotipo em galpõesde 5 mil m², voltados à classe média alta, cria agora suasegunda bandeira, batizada de Cia. Express. Serão aca-demias menores (1,5 mil m²) e mensalidades reduzidas(R$100,00). Foi essa a fórmula encontrada pela empresapara sobreviver no mercado de fitness no Brasil. Ao seg-mentar um mercado buscando determinar qual o melhorinvestimento, realizar a primeira etapa é definir quais va-riáveis serão utilizadas. Conforme Kolter (1996) “estasvariáveis serão utilizadas para orientar as pesquisas demercado. Tradicionalmente quatro grupos de variáveissão utilizadas”:

· Geográficas – A segmentação geográfica pro-põe dividir o mercado em unidades geográficas diferen-tes; estados, cidades, bairros. A empresa, uma nova aca-demia, pode decidir operar em uma ou algumas áreas ge-ográficas ou operar em todas, mas prestando atenção àsdiferenças locais.

· Demográficas – A segmentação demográfica

consiste em dividir o mercado em grupos baseados emvariáveis demográficas como idade, sexo, ciclo da vida(solteiro, casado, pai com filho, etc) raça, rendimento,formação educacional. Isto é visto pelo fato de que osdesejos das pessoas variam com a idade e o sexo.

· Psicográficas – Na segmentação psicográfica,os clientes são divididos tomando-se como base a clas-se social, estilo de vida e/ou personalidade.

· Comportamental – Já na segmentaçãocomportamental, os clientes são divididos, tomando-secomo base seu conhecimento, atitude, e uso ou respostapara um determinado serviço.

Muitas empresas do setor de serviço já começa-ram a adotar fortemente este último tipo de segmentaçãopor acreditar que é o melhor ponto de partida para defini-ção de segmentos de mercado. Segundo Araújo (2005)“um exemplo são as redes de hotéis que levam muito emconsideração a questão da ocasião de uso de um serviçode hotel, segmentando o mercado em turismo de negóci-os e de lazer, ocasiões que certamente exigem serviçosdistintos”.

Da mesma forma pode-se avaliar os clientes deuma academia. Existem clientes que podem estar utilizan-do os serviços visando uma recuperação devido a algumproblema físico (tendinites, fortalecimento muscular, etc.)e outros que usam o serviço visando redução de stressou apenas benefícios estéticos.

Para Armiliato (2006) a “avaliação de atratividadede mercado deve levar em conta três fatores”:

1.Tamanho e crescimento do segmento.

2.Atratividade estrutural do segmento.

3.Objetivos e recursos da empresa (academia).

Uma vez definidas quais são as variáveis que se-rão investigadas, o próximo passo é o levantamento dosdados de mercado. Diversas são as formas de levanta-mento de dados, desde pesquisas de mercado até levan-tamento de dados secundários.

Ao avaliar a atratividade de cada segmento demercado as empresas devem considerar três fatores:

· Tamanho e crescimento,

· Atratividade estrutural do segmento e

· Objetivos e recursos da empresa.

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Estes conceitos não se aplicam apenas a grandesempresas. Eles estão próximos da realidade de todas asacademias, de seus proprietários, gerentes e coordena-dores.

Ao selecionar onde montar uma academia ou ex-pandir criando novas unidades é importante avaliar otamanho do mercado e taxa de crescimento. Analisandodados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE) é possível encontrar dadossobre renda, idade, sexo dentre outras informações. To-das as cidades possuem bairros já consolidados onde apossibilidade de crescimento é menor, e também possu-em novos condomínios e bairros cujo potencial de cres-cimento pode ser maior.

3. MEDIÇÃO DE SATISFAÇÃO DOS CLIENTES

Pesquisas indicam que grande parte das academi-as sofrem do problema da evasão; é comum profissio-nais do setor afirmarem que os clientes é que desistem.Mas por que desistem? A culpa é dos profissionais dosetor ou este é um problema sem solução?

A dificuldade enfrentada pela gerência de umaacademia é que, mesmo que a maioria enuncie uma razão“principal” de evasão, é bem provável que a decisão desair também tenha sido influenciada por vários fatores.Para muitos consumidores o processo de inscrever-seem uma academia é complicado e às vezes emotivo. Comoresultado, reter uma base de clientes cada vez maisdiversificada, baseada em muitos sócios diferentes, é umatarefa impossível para uma única estratégia de ação.

Conforme Araújo (2005), se a academia quiser au-mentar sua capacidade de reter clientes e recuperar al-guns outros, deve implementar várias estratégias, tra-tando de elementos como: capacitação de funcionários,vendas e propaganda, manutenção das instalações e de-senvolver uma identidade para a academia.

A razão principal para o cliente sair de uma acade-mia não está relacionada à academia. A grande maiorianão sai porque a academia tenha, de alguma forma, falha-do no atendimento, mas sim por outras razões. Infeliz-mente, isto parece sugerir que a maioria dos que saem ofaz por questões como falta de tempo e motivação pes-soal, fatores que parecem ser menos propensos a umaintervenção da academia. No entanto, isso não é neces-sariamente verdade.

Não é surpresa que preocupações com o tempo edinheiro se encontrem entre as três razões maiscomumente citadas para alguém sair de uma academia.Segundo Araújo (2005), “as razões pelas quais as pesso-as saem das academias são”:

· Econômica 22%.

· Pessoal 24%.

· Situacional 29%.

· Relacionada à academia 25%.

As razões mais freqüentemente mencionadas paranão renovar a matrícula são:

· Não ter um companheiro para treinar.

· Seu professor preferido saiu da academia.

· Mudança para exercício em casa.

· Perda de interesse/motivação.

· Não se identificou com a academia.

Dentre as razões relacionadas à academia comomotivo de saída, das respostas relativas a fatores de con-trole imediato da academia, as instalações lotadas apare-cem em primeiro lugar. No entanto, três das cinco razõesmais comumente citadas dentro das relacionadas com aacademia, envolvem algum descontentamento com osfuncionários e/ou a direção. Por si só, a percepção delotação é suficientemente importante para sugerir que osoperadores deveriam formular estratégias para propiciaruma utilização mais equilibrada das instalações e umamovimentação melhorada na academia. O impacto com-binado de temas relacionados com os funcionários e suainteração com os sócios representam um problema maior.No entanto, ao mesmo tempo isto oferece uma grandeoportunidade às academias para reterem seus clientes.

Para Araújo (2005), “existem cinco razões princi-pais relacionadas à academia com motivo de saída”:

· Academia lotada 27%.

· Descontentamento com funcionários 13%.

· Falta de atenção personalizada 13%.

· Descontentamento com programas/ atividades8%.

· Gerência inacessível/pouco receptiva 6%.

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3.1 O que é satisfação do cliente

Segundo Araújo (2005), “satisfação consiste nasensação de prazer ou desapontamento, resultante dacomparação do desempenho (ou resultado) percebidode um produto em relação às expectativas do comprador/cliente”.

O Modelo de Gap originou-se de estudos realiza-dos por Zeithaml, Parssuraman e Berry (1990), e se pro-punha a encontrar respostas às seguintes dúvidas:

· Como exatamente os consumidores avaliam aqualidade de um serviço?

· Os serviços são avaliados pelos consumidoresde uma forma global ou parcial?

· Quais as múltiplas facetas das dimensões deum serviço?

Os pontos comuns observados nas entrevistasdeterminaram que a chave da qualidade de um serviço éatender ou exceder a expectativa do cliente; em decor-rência disso, a qualidade de um serviço pode ser definidacomo o grau da discrepância entre as expectativas oudesejos dos clientes e suas percepções. A discrepânciaentre as expectativas dos consumidores e suas percep-ções da qualidade de serviço foi considerada pelos auto-res como a maior causa dessas deficiências, e é o resulta-do de outras discrepâncias que se inter-relacionam e for-mam o Modelo Conceitual da Qualidade de Serviço ouModelo de Análise do Gaps da Qualidade. Esse modelo écomposto por cinco Gaps, descritos a seguir: os Gaps 1,2, 3 e 4 representam as causas relacionadas ao prestadordo serviço e o Gap 5 representa o cliente. Ou seja:

· Gap 1 – representado pela discrepância entre asexpectativas do cliente e as percepções da ge-rência sobre as expectativas desses clientes.

· Gap 2 – representa a discrepância entre as per-cepções que os gerentes têm das expectativasdos clientes e as especificações da qualidadedo serviço.

· Gap 3 – representa a discrepância entre asespecificações da qualidade de serviço e a pres-tação do serviço.

· Gap 4 – representa a discrepância entre o serviçoprestado e a comunicação externa com os clientes.

· Gap 5 – representa a discrepância entre o servi-

ço esperado e o serviço recebido.

Para gerar satisfação do cliente é preciso ir alémda oferta básica. Um grande erro é achar que se propor-ciona um excelente serviço quando na verdade está ape-nas atendendo às expectativas básicas dos clientes.

Como seres humanos, procuramos manter nos-sas relações com as pessoas em equilíbrio, se alguém meconvidar para jantar, então eu vou me sentir na obriga-ção de retribuir a gentileza, se eu não fizer isso, não have-rá equilíbrio e eu vou me sentir em dívida. (ARAÚJO,2005)

A Teoria da Equiparação (Teoria da equiparação =Equilíbrio) é base do que acontece na academia. Quandouma pessoa se matricula, ela acha que já fez um favor ao“escolher a academia” (afinal tinha outras opções).

A meta de um bom “serviço ao cliente” é criarconstantemente balanços positivos” para o cliente (elese sentir “devedor”).

A maioria das pessoas sai não por “preço” ou“tempo”, mas simplesmente porque eles não receberamvalor pelo investimento que fizeram. Isso só é possívelquando “excedemos” as “expectativas básicas” dos cli-entes. (ARAÚJO, 2005)

Para tal é importante que seja identificado clara-mente o que o cliente deseja e projetar seus serviços,treinar seus funcionários e prestar o serviço de formaadequada. O que vimos até o momento foi como medir asatisfação o que não garante o sucesso da academia, omais importante é que os serviços sejam adequados parao cliente. (ARAÚJO, 2005)

Para garantir que a qualidade do serviço prestadoesteja de acordo com os padrões estabelecidos com basenas exigências do cliente, é preciso que a prestação doserviço seja acompanhada periodicamente. Neste senti-do, um conjunto de itens de controle pode ser definido eacompanhado, para garantir que o cliente não ficará in-satisfeito e para verificar se os profissionais da academia(professores, recepcionistas, serviços gerais) estão cum-prindo os padrões estabelecidos. Em uma academia dife-rentes setores estão envolvidos na prestação do servi-ço, desde o atendimento na recepção, passando pelamanutenção e limpeza da academia e seus equipamentose instalações físicas, até a orientação e acompanhamen-to dos clientes em aulas coletivas, individuais, no salãode musculação ou outras dependências. Para cada setorpode ser estabelecido um conjunto de itens que pode sermonitorado, sem necessariamente perguntar ao cliente.Na avaliação de itens de controle o coordenador,supervisor ou proprietário podem concluir se os servi-

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ços estão sendo prestados segundo o padrão estabele-cido.

3.2 Por que o atendimento ao cliente é importante?

A resposta a esta pergunta talvez seja óbvia. Se-gundo Araújo, apud Peters e Austin (2005), em A passionfor excellence, citam Edson P. Williams, vice-presidenteda Ford Motor Company:

“Devo dizer que (antes dos acontecimen-tos dos últimos árduos quatro anos) nos-sa cultura na Ford Motor Company mos-trava que havia um objetivo em nosso ne-gócio: obter o retorno do nosso investi-mento. Acho que agora aprendemos quehá outro fator essencial – e os lucros vi-rão se você encarar como fundamental:atender ao cliente. Os custos e a qualida-de devem estar adequadamente realiza-dos – obviamente tudo isso tem que serfeito – mas devemos pensar sempre no cli-ente como o centro de nossas atividades”.

Ambos os administradores concentram-se em umponto em comum – o de melhorar ou obter maiores lucros-, mas levantam duas questões importantes, e talvez dife-rentes, sobre o atendimento ao cliente. Spedan Lewisressaltou a necessidade de diferenciar-se dos concor-rentes, e Edson Williams, a importância de colocar osclientes no centro de tudo o que se faz. Muitos argumen-tariam que um bom atendimento ao cliente é essencialsomente à sobrevivência, e que é a excelência nesse as-pecto que irá diferenciá-lo dos concorrentes. Algumasempresas falam sobre o atendimento ao cliente como sen-do o núcleo de uma rocha, permeando todas as partes eatividades da empresa. O atendimento ao cliente não seresume a um conjunto de tarefas ou a uma lista do que sepode ou não fazer: é um modo de ser (FRANCES;ROLAND BEE, 2000).

Existem algumas provas concretas: a revoluçãoapresentada pela qualidade começou no setor de produ-ção em que nasceu o conceito de “defeitos zero” – aaspiração de se ter sempre produtos perfeitos. A idéia foiestendida aos clientes – com “deserções zero”, isto é,não perder um único cliente. Pesquisas mostraram oselevados custos de se perder um cliente ou o provávelfluxo de perda de lucros quando um cliente “deserta”.Segundo Frances e Roland Bee (2000) “as evidênciasindicam que os lucros auferidos com um único clienteaumentam significativamente com o correr do tempo.Esses lucros originam-se de”:

· Aumento das compras realizadas pelo clienteao longo do tempo.

· Economia de custos operacionais (visto quemuitos custos estão relacionados ao cliente enão ao nível de vendas).

· Ganhos vindos de clientes adicionais que se-guiram indicação de um cliente satisfeito.

· E ganhos originados do preço adicional que aspessoas pagarão por um serviço ou produtoem que confiam.

Um ponto importante a se ressaltar é que, ao per-der um cliente, geralmente não se perde somente umavenda, mas potencialmente uma vida inteira de vendas.Considerando-se que pode ser muito dispendioso con-quistar um cliente por meio de propaganda e outros cus-tos do marketing, possivelmente represente uma surpre-sa o fato de algumas empresas tratar com tanta negligên-cia os clientes antigos que já são fieis, pois estes clientesgeram lucro a empresa.

Dados o volume de retórica e as provas concretassobre a importância de se manter e conquistar novosclientes, seria surpreendente se a maioria das empresasnão concordasse com o princípio de que o atendimentoao cliente é imprescindível. Entretanto, o que distingueos empreendimentos bem-sucedidos é o modo pelo qualeles transformam esse princípio em realidade (FRANCES;ROLAND BEE, 2000).

Existem motivos para se acreditar na importânciado atendimento ao cliente, podendo até ser pessoal, masdeve-se estar atento:

· Clientes satisfeitos provocam menos estresse.São poucos os que, tendo que lidar com umcliente insatisfeito, não conhecem as pressõesque tais situações causam.

· Clientes satisfeitos tomam menos o nosso tem-po. Lidar com queixas e problemas pode consu-mir muito tempo e eles sempre surgem quandose está mais ocupado.

· Clientes satisfeitos falam de sua satisfação a ou-tras pessoas, o que amplia sua boa reputação.

· Clientes satisfeitos trazem satisfação ao trabalhoe podem ajudar a motivar a empresa.

· Clientes são seres humanos – é natural que elesrequeiram um atendimento atencioso, prestativoe eficiente.

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Finalmente, existe a velha, mas ainda oportunamáxima: sua empresa são seus clientes. Não há opção:eles são importantes.

3.3 A excelência no atendimento ao cliente

Para Frances e Roland Bee (2000) “a excelênciaem atendimento ao cliente depende de quatro princípiosfundamentais”, que são:

1.a empresa está totalmente comprometida em pro-porcionar um excelente atendimento e o clienteé o principal centro de atenção em toda a em-presa;

2.todos os funcionários estão cientes e compro-metidos com a visão de excelência no atendi-mento ao cliente;

3.todos os funcionários são treinados para pro-porcionar o mais elevado nível de atendimentoao cliente; e

4.sistemas e procedimentos são desenhados paradar impulso ao atendimento ao cliente.

Para Frances e Roland Bee (2000), “a visão defuturo de várias empresas aparece muitas vezes na formade declarações de princípios ou de intenções apoiadaspelo que chamamos de valores essenciais”. Essas decla-rações são planejadas para expor aos clientes, funcioná-rios, fornecedores, etc. o objetivo que a empresa desejaalcançar e o modo como deseja alcançá-lo. Por exemplo,a Eastern Electricity expõe sua visão dessa forma: “OEastern Group irá oferecer um atendimento de qualidadenos setores de gerenciamento de redes e energia que atransformará na escolhida pelos clientes” (Idem).

Tal afirmativa é sustentada por alguns valoresfundamentais dos quais um deles é:

· Acreditar em atender a nossos clientes

Como parte do processo de qualidade, a EasternGroup continua a desenvolver uma parceria com os cli-entes e antecipando e atendendo às necessidades demudança sentidas por seus clientes de modo que sejaseu fornecedor escolhido.

Antecipar e prever as necessidades dos clientessão mecanismos pelos quais as empresas assumem com-promissos públicos com a qualidade do atendimento quequerem oferecer. Esse é um primeiro passo vital no cami-nho da excelência no atendimento ao cliente. No entan-to, para que as declarações de princípios e de intençõesse transformem em linha mestra, ainda há três importan-tes passos a serem dados:

1.Todos na empresa precisam estar cientes e com-prometidos em relação a esses princípios e in-tenções.

2.Os princípios e as intenções precisam ser trans-formados em ação.

3.Os princípios e as intenções devem ser trans-formados em metas mensuráveis visando ao de-sempenho do atendimento ao cliente para quea empresa possa monitorar e revisar suas reali-zações.

Segundo Frances e Roland Bee (2000), para reali-zar a etapa 1, as empresas podem transmitir para os fun-cionários uma mensagem consistente, por meio de apre-sentações, palestras, reuniões, etc, usando vídeos, bole-tins, etc.

Para chegar à etapa 2, as empresas podem realizaruma pesquisa a fim de descobrir quais são as necessida-des do cliente e o que eles pensam sobre o atendimentoque recebem; realizar programas de treinamento para osfuncionários sobre atendimento ao cliente; realizar pro-gramas de treinamento para assegurar que os funcionári-os sejam competentes em suas funções e rever proces-sos e procedimentos a fim de assegurar que sejamdirecionados para o cliente.

Na etapa 3, as empresas podem definir metas dedesempenho claras para equipes e indivíduos de modoque todos saibam que padrão de desempenho é visado emonitorar e agir quanto aos resultados.

Os fatores que costumam aparecer com constân-cia da excelência no atendimento ao cliente são descritosna Tabela 1 a seguir:

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Tabela 1 - Fatores que contribuem para o bom e para opéssimo atendimento ao cliente

E as reações das pessoas em relação a essas ex-periências são muito parecidas, como mostra a Tabela 2:

Tabela 2 - Reações ao excelente e ao péssimo atendi-mento ao cliente

Fonte: Frances; Roland Bee, 2000.

Fonte: Frances; Roland Bee, 2000.

Conforme Frances e Roland Bee (2000), o que tam-bém surpreende é a duração dessas reações. E disto, oque aprendemos é que o bom/mau atendimento ao clien-te pode gerar emoções intensas e resultar em alguns be-nefícios notáveis ou conseqüências desastrosas. Entãonão existe somente a oportunidade de manter ou perdero cliente em questão, mas também a de ganhar ou perdermuitos outros. Alguém que teve uma péssima experiên-cia como cliente irá contá-la para pelos menos à dez ou-tras pessoas.

As estratégias adotadas pelas pessoas em res-posta ao péssimo atendimento são diferentes das pesso-as que são bem atendidas, pode-se argumentar que, comocliente interno, é um cliente cativo e não pode procuraroutro lugar. As pessoas, contudo, muitas vezes tentarãofazer algo equivalente – isto é, encontrarão formas decontornar o colega difícil ou não prestativo, procurandooutro integrante da equipe; ficando sem o serviço; tiran-do, por exemplo, ele mesmo suas cópias no xerox, ouficando sem uma determinada informação. O efeito final éprejudicial ao funcionamento eficiente e eficaz da empre-sa, e quem sofre, no final, é o cliente. A reação de contara todos o que aconteceu é exatamente a mesma – é muitofácil conseguir a reputação de não ser prestativo, de nuncacumprir prazos, de não se saber o que está fazendo. Damesma forma – mas talvez não com tanta facilidade –pode-se atingir a meta de ser considerado um membrovalioso e competente da equipe, alguém com quem é umprazer lidar.

3.4 Quem são seus clientes?

Quando começa o que agora considera ser a arris-cada jornada para oferecer excelência em atendimento aocliente, com os campos floridos e o brilho da estrela dosucesso de um lado e a terra devastada e o céu cinzentodo fracasso de outro, a primeira e óbvia pergunta a fazer é:quem são seus clientes? É muito difícil oferecer um bomatendimento aos clientes a menos que se saiba exatamen-te quem eles são. Em alguns casos, a resposta pode pare-cer muito simples. Se é um professor de uma academia,seus principais clientes são, evidentemente, as pessoas aquem se ministram as aulas. Entretanto, o que dizer dosalunos que entram e saem ou os que ligam para pedir infor-mação e reclamação? O que dizer de seus clientes internos– seus colegas de trabalho (ARAÚJO, 2005).

O segredo para identificar os clientes está em pen-sar em um dia ou uma semana comum e anotar com quementra em contato – diretamente, ao telefone ou por escri-to. Em seguida, pensar no objetivo de tal interação – elessão clientes para serviços ou produtos?

Na teoria da qualidade de serviços dois fatoressão fundamentais:

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· O conceito do momento da verdade: é todo omomento em que o cliente entra em contato com umaempresa e dela obtém uma impressão;

· O conceito do ciclo de serviços: é a reuniãoseqüenciada de todos os momentos da verdade.

Conforme Godri (1998), toda vez que o cliente en-tra em contato com a empresa, ele redesenha um novociclo de serviços. Existem três tipos de momento da ver-dade:

1. Momento encantador (mágico):

É aquele momento em que o cliente recebe umserviço excepcional. Sempre quando ele procura servi-ços de qualidade, ele lembra da sua empresa. Inclusiveestá disposto a pagar um pouco mais para ter aqueleserviço diferenciado que você oferece.

2. Momento desencantador (desastrado):

O cliente também lembra de quem o atendeu. Sóque com efeito absolutamente contrário. Ele lembra comódio e raiva. É quando ele só teve momentos desagradá-veis com a empresa e a conseqüência é grave: ele iráfalar da empresa de forma negativa.

3. Momento normal:

É quando o cliente foi atendido, não se criou ne-nhum problema: fez-se exatamente o que estava progra-mado. Mas perde-se a oportunidade de fazer omikromarketing (É o marketing feito no momento daverdade, aquele momento ímpar, que se tem de mostrarao cliente que a empresa é a melhor opção para ele).

3.4.1 Tipos de clientes

Segundo Godri (1998), “os momentos da verdadedesencantadores e os apelidos mais comuns de clientessão”:

1. Cliente Pateta:

Quando o cliente liga para uma empresa a fim deque ela resolva um problema e um atendente passa paraoutro, que passa para outro, que passa para outro, eninguém resolve nada.

Cuidado! O cliente se cansa desta situação e migrapara os braços da concorrência. Uma empresa tem de teruma estrutura de atendimento eficaz, com no máximo doismomentos até a resolução de um problema do cliente.

2. Cliente Chato:

O cliente chato, que reclama, é o consultor do seunegócio. Temos de tomar consciência que o cliente é arazão de ser de uma empresa. Temos de dar graças aDeus quando o cliente reclama, assim temos uma chancede melhorar. Pesquisas demonstram que a maioria dosclientes que são mal atendidos não retornam e possivel-mente vão ao seu concorrente.

3. Cliente Otário:

Este está em extinção! Atualmente, a maior preo-cupação não é mais com a conquista de novos clientes esim com a sua manutenção. Dentro deste novo cenário, éfundamental cultivar o relacionamento com o cliente, como máximo de ética e princípios. Cultivar a prática do clien-te otário é a liquidação do seu negócio.

4. Cliente Desocupado:

Isto se refere a uma empresa que não consegueresolver o problema de um cliente na hora e pede paraque ele retorne amanhã. Atualmente, uma empresa temde ser ágil e eficaz senão ela estará fora do mercado(GODRI, 1998).

3.5 Que produtos e serviços oferece?

Depois de identificar seus clientes, a próxima eta-pa é pensar sobre seus produtos e serviços. Por exem-plo, se trabalha no varejo, em uma loja, seus principaisclientes provavelmente são integrantes do público; osserviços que oferece pessoalmente são fornecimento deinformações, anotação de pedidos, recebimento de pa-gamento e o empacotamento de mercadorias. Algunsde seus clientes internos podem ser: o departamento decontabilidade, para o qual oferece o serviço de somar osvalores contidos na caixa registradora; os escriturários,para quem se preenchem formulários de pedidos especi-ais; e os fiscais da loja, a quem se avisa sobre ocorrênci-as suspeitas. Além disso, que serviços são prestadosaos colegas de loja? Ficar atento para ajudar quandoestão ocupados ou assegurar-se de voltar de seu inter-valo a tempo de a outra pessoa fazer sua pausa na horacerta, podem ser alguns desses serviços. Como um ins-trutor, talvez esteja prestando o serviço de ensinar umahabilidade ou um conhecimento específico aos traineese fazendo contato com os clientes de treinamento paracertificar-se de que o tipo correto de ensinamento estásendo ministrado (FRANCES; ROLAND BEE, 2000).

3.5.1 Você oferece bom atendimento ao cliente?

Depois de identificar seus clientes e a natureza doserviço ou produto que oferece, a questão final e crucial

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é saber até que ponto ele é bom – que tipo de qualidadede atendimento ao cliente você está oferecendo no mo-mento? Segundo Godri (1998), “normalmente há quatroelementos essenciais envolvidos no atendimento de qua-lidade ao cliente”:

· ADEQUAÇÃO: seu serviço/produto é o que ocliente realmente quer – ele atende às necessidades dele?

· CONSISTÊNCIA/CONFIABILIDADE: seu ser-viço/produto corresponde sempre a um mesmo padrão?

· OPORTUNIDADE: o atendimento é oferecidoquando o cliente precisa e durante um período de temporazoável?

· SATISFAÇÃO: o atendimento é oferecido demodo a representar uma experiência agradável para o cli-ente, ou seja, é simpático e prestativo, mostra interessee/ou preocupação?

O atendimento ao cliente pode ser resumido naseguinte equação:

Através da análise desta equação, nós podemosidentificar três situações típicas:

P < E = DesencantadoP = E = Normal

P > E = Encantado

Maximizar o valor desta fórmula deve ser uma meta,um objetivo não só da empresa, mas de todos que fazemparte dela. E se aplicar a fórmula do bom atendimento,certamente o resultado será sempre o encantamento(GODRI, 1998).

O foco no cliente é a principal estratégia competi-tiva da atualidade. A primeira iniciativa a ser tomada parase tornar uma empresa voltada para o cliente éconscientizar todos os funcionários a resgatarem a idéiade que: o cliente é a razão de ser de qualquer negócio.

Para Godri (1998), as ações indispensáveis paraser uma empresa voltada para o cliente são:

· Certificar-se que a empresa é totalmente volta-da para o cliente.

· Identificar o cliente.

· Fazer um estudo detalhado de segmentação, afi-nal, é preciso conhecer muito bem a que tipo decliente se atende.

· Conhecer os detalhes do cliente, mediante o co-nhecimento exato da necessidade dele,asseguradamente, garantindo uma vantagemcompetitiva.

· O cliente deve ser ouvido se possível 24h pordia.

· Canais de atendimento devem ser abertos.

· Ouvir sempre quem quer reclamar.

· Sugestões devem ser aceitas e os procedimen-tos devem ser melhorados.

· Expectativas do cliente devem ser atendidas.

· A satisfação do cliente deve ser monitorada.

· As opiniões devem ser sistematizadas medianteos índices monitorados mensalmente.

· Barreiras que impeçam o cliente de ir até a suaempresa devem ser eliminadas.

· Qualquer processo de entrave burocrático deveser eliminado.

· Conveniências para o seu cliente devem ser cri-adas.

· Atue como se o cliente fosse seu sócio.

· O cliente deve ser pensado como seu parceiro.

· O sucesso do cliente é o objetivo da empresa.

· Não parar nunca! A volta à empresa para o clien-te é um processo eterno do qual participam to-dos.

Encantar o cliente é não desencantá-lo. Ésurpreendê-lo com um fantástico atendimento.

Primeiro o cliente deve ser satisfeito das necessi-dades básicas, no trivial; depois extrapole, encante-o.

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Precisa fazer o que ninguém faz.

3.6 Comunicando-se com os clientes

Há uma habilidade que permeia todos os aspec-tos da vida profissional: a de se comunicar eficazmente.Ela é a essência do atendimento ao cliente e é fundamen-tal para desenvolver relacionamentos profissionais po-sitivos com eles. Segundo Frances e Roland Bee (2000),“podemos nos comunicar com os clientes de três formasdiferentes”:

· Diretamente – na loja, no escritório ou na fábri-ca, ou quando em visita a suas casas ou escritórios.

· Ao telefone – respondendo às chamadas ou li-gando para eles.

· E por escrito – por carta, memorando, relatório,circular; etc.

A recepção ao cliente é fundamental para que eleobtenha uma impressão sobre o seu trabalho: cumpri-mente, sorria, olhe nos olhos e escute. A apresentaçãodeve ser impecável.

Tenha postura, bom humor, empatia, gentileza,disposição, rapidez, tranqüilidade, precisão, compromis-so, mantenha uma comunicação correta.

Pergunte ao cliente, utilize esse eficaz instrumen-to para conhecê-lo e se informar sobre suas necessida-des. Assim o cliente percebe que realmente nos preocu-pamos com ele. O recurso da pergunta pode ser utilizadoantes, durante ou depois do atendimento.

Com um fantástico fechamento do atendimento,possibilitamos a volta do cliente.

O fechamento é a mais recente impressão que ocliente tem da empresa; por isso tende a ser fixado commais facilidade. É necessário perguntar ao cliente se eleestá satisfeito, reforçar que se está sempre a disposiçãode ele ouvir a empresa; agradecer sempre (FRANCES;ROLAND BEE, 2000).

Segundo Almeida (2002), o atendimentotecnológico é aquele que não é feito pessoalmente. Podeser por telefone, fax, bip, correspondência ou e-mail.Quando se atende ao telefone, a imagem da empresa épercebida do outro lado da linha.

Dicas para um bom atendimento o telefone:

· Atenda: o pronto atendimento causa uma exce-

lente impressão.

· Saudação: Enfática.

· Tom da voz.

· Disponibilize-se.

· Escute.

· Informe.

· Despeça-se.

Servir bem o cliente, é mais que uma estratégia delucro ou de sucesso pessoal, é uma filosofia de vida.Além de tudo, essa prática tem o poder de fazer o mundomelhor. Um mundo onde servir ao próximo seja uma mis-são, um objetivo de todos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo de toda empresa é captar e fidelizarclientes. Independentemente de sua ideologia, credo,função social ou interesse financeiro.

No mundo em que vivemos, onde os consumido-res têm invariavelmente uma enorme dificuldade de seligar por muito tempo em alguma determinada marca, adisputa pela sua fidelidade é acirrada.

Além dos clientes terem uma infinidade de op-ções quando se trata de utilizar algum produto ou servi-ço ainda temos que disputá-los com outras empresasque não são do mesmo ramo.

As empresas que quiserem manter seus clientesfidelizados, com um relacionamento mais duradouro de-vem tentar entender que não basta mais falar em clientesatisfeito. Isso porque a satisfação se define como sen-do a condição obtida por um serviço em que o clientesente que sua expectativa foi atingida. E isso ele podeconseguir em vários concorrentes. Basta que o clienteencontre o que estava procurando.

Segundo Armiliato (2006), a luta dos prestadoresde serviço é deixar o cliente encantado. Fazer com que ocliente tenha suas expectativas superadas. Que ele sintauma vontade quase que incontrolada de utilizar o serviço.

Entendendo isso toda empresa deve primar portransformar em prática diária e regular todos os valoresda instituição que garantam que o cliente se sinta numaposição especial, diferenciada e, se possível, única.

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Certamente não será um discurso, nem será umaoferta financeira vantajosa, não será também o trivial, ocomum, o fácil e corriqueiro, nada disso fará o clientevoltar nos outros dias. O que será então?

Nos contatos com ex-alunos de academia (ex-cli-entes) é comum percebermos que o cliente “foi desistin-do”. É, ele não desistiu de uma vez, não foi do dia para anoite. Foi um processo. Primeiro ele faltou uma vez, de-pois duas, depois ficou bastante tempo sem vir, depoisacreditou que não dava mais para recuperar e, aí, desistiudefinitivamente.

E o interessante é que dificilmente ouvimos de umex-cliente alguma reclamação de que foi mal tratado, ouos professores e funcionários foram indiferentes. A mai-oria deles atribui sua desistência à sua própria incompe-tência de se auto-gerenciar no relacionamento com a ati-vidade física (ARMILIATO, 2006).

Não passa pela cabeça do ex-cliente (e do atualcliente também) que alguém poderia tê-lo motivado deuma maneira que ele tivesse forças para lutar contra asforças que certamente o acometeram e que o impediramde persistir. O professor, por exemplo, poderia agir nessesentido. Não é mais somente um bom treino a melhorcoisa que o professor pode oferecer ao aluno.

O profissional deveria efetivamente agir naambientação do cliente na academia, deveria comprome-ter-se com os resultados que o aluno deseja alcançar,deveria ensinar sobre mudanças de hábitos alimentares,deveria atendê-lo respeitando suas características de per-sonalidade e comportamento, enfim, deveria oferecer maiscoisas do que o cliente está esperando. E se não podefazer com todos por falta de tempo, faça com os alunosde risco, aqueles que não têm perfil atlético, aqueles querelatam pouca experiência com a atividade física, os tími-dos e inseguros.

Qual a primeira pergunta que um professor faz quan-do está entrevistando um aluno em sua primeira aula? –Você está treinando? Você está parado há muito tempo?

Essas perguntas parecem ser inapropriadas para

uma pessoa que tem pouca experiência com a atividadefísica (como a maioria dos novos clientes).

A experiência dos professores tem mostrado quequando se fazem perguntas sobre os hábitos do dia-a-dia, sobre a profissão, sobre expectativas do cliente, oprofessor faz com que o cliente se sinta à vontade emfalar, expressar seus anseios, e se manifestar de uma ma-neira espontânea, inclusive dando a oportunidade ex-cepcional ao professor de prestar atenção à coisa maisimportante de tudo nesse momento.

Se desde o primeiro momento o professor utilizacomo referência no relacionamento com o cliente somen-te as experiência e valências físicas, fica difícil imaginarque o cliente sinta que possa ter nesse professor o par-ceiro que certamente ele necessitará no doloroso e difícilprocesso de adaptação à atividade física regular.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, S. Ah! Não Acredito. São Paulo: Atlas, 2002.

ARAÚJO, F. de A. Disciplina de Segmentação e Medi-ção da satisfação de cliente. MBA em Gestão de Acade-mias, São Paulo: UVA, 10 dez. 2005.

ARMILIATO, A. Disciplina de Gestão do Relaciona-mento com o cliente. MBA em Gestão de Academias,São Paulo: UVA, 18 mar. 2006.

FRANCES; ROLAND BEE. Fidelização do Cliente. SãoPaulo: Nobel, 2000.

GODRI, D. Conquistar e Manter Clientes. 64. ed.Blumenau: Eko, 1998.

KOTLER, P. Administração de Marketing. 4. ed. SãoPaulo: Atlas, 1996.

REICHHELD, F. F.; SASSER, W. E. Jr. Zero defections:quality comes to services. Harvard Business Review, set.-out. 1990.

ZEITHAML; PARASURAMAN; BERRY. Modelo Gap. 1990.

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ESPECIAL GERONTOLOGIA

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APRESENTAÇÃO

A capacitação de profissionais de diferentes áreas para atuar nos programas destinadosà população idosa, que abordem em seus conteúdos as questões decorrentes do processode envelhecimento da população brasileira, está prevista no Estatuto do Idoso, lei 10.741, de 1/10/2003, título I, art.º 3º/VI, que diz:

– capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologiae na prestação de serviços aos idosos.

O Estatuto assinala, ainda, no art. 3º/VII:

– estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de carátereducativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento.

O referido Estatuto garante aos idosos todos os direitos fundamentais inerentes à pessoahumana, mas assinale-se que, os textos em pauta asseguram que o atendimento seja realizadopor profissionais com conhecimento e prática dos meandros da legislação, dos seussignificados e modos de operacionalização. E o que é mais relevante é que os idosos devemser portadores desses conhecimentos para poder usufruir do envelhecimento com dignidadee saber garantir seus direitos, como sujeitos de um processo ao qual a sociedade deve estaratenta.

A Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP incorporou uma visão que antecedeu àprópria legislação, ao participar das discussões que já ocorriam nas Instituições e áreasprofissionais e voltar-se para incorporar, em sua missão social, a questão do idoso.

A criação da Faculdade da 3ª Idade – UNIVAP se deu em Agosto de 1991, tendo comosubsídio os debates conduzidos no Seminário da 3ª Idade: Educação Continuada, um direitodo cidadão – Encontro Nacional das Universidades da 3ª Idade, realizado em Junho/1991, naUNIVAP. Esse encontro reuniu as 7 escolas pioneiras então existentes no Brasil, ligadas àUNICAMP, UNISANTOS, Universidade Federal do Ceará, Universidade Federal de SantaCatarina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Santa Maria e Passo Fundo) eUniversidade Federal de Juiz de Fora.

As fundamentações teóricas produzidas até então, em nível nacional e internacional,foram tomadas como base para definir os objetivos e propostas de ação da Faculdade da 3ªIdade:

· Permitir o acesso à Educação Continuada às pessoas com idade acima de 45 anos,propiciando condições para o desenvolvimento do indivíduo e para sua integração nacomunidade, reconhecendo seu potencial de contribuição para a sociedade e seusdireitos como cidadão.

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· Estimular a participação do indivíduo como agente habilitado para ação junto à famíliae à comunidade.

· Envolver a Universidade, de forma interdisciplinar, no tratamento das questões da 3ºIdade, abrindo campo de atuação de ensino, pesquisa e extensão.

· Contribuir para a consolidação da finalidade da UNIVAP no que se refere a “desenvolverações permanentes de forma que um segmento cada vez maior da comunidade possausufruir dos benefícios das atividades por ela desenvolvidas” (art. 3º it. V do s/Estatuto).

A partir de 2001, o Programa passou a fazer parte do “Projeto Vale a Pena Viver”, quecentraliza as ações de filantropia da Universidade. A Faculdade da 3ª Idade - UNIVAP é umprograma de cunho eminentemente social que tem, como ponto de partida, o reconhecimentodo potencial de contribuição das pessoas da 3ª idade para a sociedade. Essas pessoas, namaioria dos casos, não tiveram oportunidade de estudar; outras, na condição de aposentadas,encontram dificuldades para retomar seu espaço social.

A Faculdade da 3ª Idade atende o interesse dessas pessoas na busca de novosconhecimentos e se constitui, também, num espaço para a ampliação dos contatosinterpessoais, para a vivência grupal e para o exercício das responsabilidades e direitos detodo cidadão.

Com compromisso e constante processo de avaliação e recriação, a Faculdade da 3ªIdade entende, como diz Novaes, em seu livro Psicologia da Terceira Idade: “O importante éconsiderar a educação da e pelas pessoas da terceira idade sempre baseada no desejo deauto-realização, nas relações sociais, na melhoria da qualidade de vida, no desenvolvimentode potencialidades, numa aprendizagem continuada e na motivação pelo conhecimento”.(NOVAES, 1997, p. 140)

Dentro da estrutura acadêmica, a Faculdade da 3º Idade, sob coordenação do Curso deServiço Social da Faculdade de Ciências da Saúde, é um programa institucional em nívelacadêmico e social que congrega o Curso de Extensão e Atualização Cultural - CEAC; oCentro de Estudos Avançados para Terceira Idade - CEATI; o Centro de Estudos emGerontologia Social; o Curso de Pós-Graduação “Lato-Sensu”, em nível de Especializaçãoem Gerontologia e Família.

Curso de Especialização em Gerontologia e Família

Objetivos: Oferecer oportunidade de aperfeiçoamento e especialização aos profissionaisque atuam no campo do envelhecimento, capacitando-os para o trabalho interdisciplinar epara a análise e melhoria do nível de atendimento à população idosa. Suscitar ainda a formaçãode quadros especializados em Gerontologia Social, assim como qualificar a formação dedocentes na área.

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Destina-se a Graduados com nível superior em Medicina, Fisioterapia, Enfermagem,Serviço Social, Psicologia, Psiquiatria, Sociologia, Pedagogia, Educação Física, Nutrição,Terapia Ocupacional e áreas similares.

Abrange as Disciplinas: Gerontologia Social, Noções de Geriatria, Psicologia doEnvelhecimento, Família no Processo das Relações Sociais, Direito e Legislação Social,Gerontologia e Interdisciplinaridade, Políticas Sociais Contemporâneas, Pesquisa Social,Planejamento e Administração de Programas Sociais, Educação Continuada, Didática do EnsinoSuperior, Metodologia Científica, Estágio Prático Supervisionado/Orientação de Monografia.

O Curso de Especialização em Gerontologia e Família formou sua 3ª turma, no 1ºsemestre de 2008, composta de profissionais experientes e atuantes no trabalho com o idoso,que buscaram novos conhecimentos e significados para suas ações com esse segmento. Aaprendizagem constante incorporada ao dia-a-dia é que motiva esses profissionais a quereraprender cada vez mais, a buscar conhecer além do que já dominam, pois fazem parteintegrante de um processo que não se esgota e de um caminho que se percorre ao longo davida.

Salienta Novaes, em seu livro citado: “Sem técnicos especializados, sem instalaçõesadequadas, recursos financeiros, programas motivadores, ou assistência adequada, o desejode assistir bem aos idosos não se transformará nunca numa ação sistematizada e profícua”.(NOVAES, 1997, p. 101)

Os trabalhos aqui apresentados são artigos que abordam a gerontologia em algunsaspectos, dentro da vasta gama de temáticas que podem ser tratadas teoricamente oudiscutidas em suas práticas; demonstram o propósito da construção do conhecimento e depropiciar o debate sobre as questões atuais que devem ser priorizadas para que, a partirdelas, possíveis soluções sejam buscadas pelo conjunto da sociedade.

Elizabeth Moraes Liberato, Profa. Dra.Pró-reitora de Avaliação da Univap

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Longevidade, para quê?

Elizabeth Moraes Liberato *

Resumo: Este estudo trata das constatações de mudanças na concepção do envelhecimento, abor-dando a questão do crescimento dos índices de longevidade da população mundial e brasileira, esuas repercussões no processo de construção de políticas de atendimento aos idosos, para alcancedos direitos que lhes são garantidos pela legislação específica, mas que se encontram, ainda, emfase de implementação para que se concretizem como direitos adquiridos.

Palavras-chave: Longevidade, envelhecimento, idoso.

Abstract: This study is about the changes of the ageing conception and the rate increase in longevityof the global and Brazilian population and its effects on the politics and legislation for the elderly.This specific Legislation is still being implemented in order for the elderly to achieve the rights thatare assured in it.

Key words: Longevity, ageing, elderly.

* Pró-Reitora de Avaliação e Professora da Univap -Doutora em Serviço Social e Especialista emGerontologia.

1. INTRODUÇÃO

Um tema que tem sobressaído em estudos e pes-quisas nas diferentes áreas do conhecimento é o aumen-to da longevidade da população mundial. O crescimentoexpressivo da população idosa é um fenômeno global,que se acelerou e tende a ser mais pronunciado nas pró-ximas décadas. Além do mais, o tema da longevidadehumana traz uma nova consciência sobre a vida que deveou pode ser vivida, e o que representa o processo deenvelhecer.

Primando por um caráter interdisciplinar, agerontologia é a ciência que estuda o envelhecimento,em seus aspectos físicos, biológicos, psíquicos e soci-ais, para construção de aportes teóricos e práticos quetratam desse processo, dos significados e das ações nes-se campo específico.

O envelhecimento é uma categoria socialmenteconstruída; pode-se afirmar que é um processo biológi-co marcado por determinantes sociais com característi-cas próprias ao momento histórico de cada país, e umaquestão política que depende do valor atribuído ao ido-so nessa sociedade.

Para o indivíduo, em sua singularidade, os eventosbiológicos acontecem em ritmos e momentos diferencia-

dos, o que interfere em seu processo de envelhecimento.

A longevidade é desejada, com certeza, pela maio-ria dos indivíduos, quando representada por autonomia epreservação de qualidade de vida. Diz Souza “Longevidadeé uma conquista científica, social, educacional, mas acimade tudo individual”. (SOUZA, 2005, p. 31)

Como exemplo, no campo das ciências avança-seà luz dos novos conhecimentos e teorias sofisticadas de“imagens cerebrais”, é possível monitorar o cérebro hu-mano em suas atividades e em seus processos de racio-cínio, aprendizado, processamento, condições demelhoria (LIMA, 2001). O conhecimento das ciências seamplia em todos os sentidos, físicos e mentais.

Além das conquistas da biogenética, alongevidade vai estar ligada ao desenvolvimento sócio-político do país, às condições de saneamento básico, decombate às doenças infecciosas e degenerativas típicasda velhice e, sobretudo, à prevenção às doenças e aosfenômenos de diminuição da vitalidade do indivíduo.

Segundo dados da Fundação Perseu Abramo -FPA, o aumento do envelhecimento da população brasi-leira será de 25%, nos próximos 25 anos; essa pesquisa,realizada em 2006, aponta para a “falta de informação nasociedade sobre a velhice e sobre as reais necessidadesdos idosos, sejam elas físicas, morais, sociais, culturais eou de garantia de direitos.” O Censo de 2000 registra, noBrasil, 15 milhões de pessoas idosas.

Para Souza: “O envelhecimento saudável não de-

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pende só das condições macroestruturais como saúde, ren-da, educação e urbanização, mas também de atitudes, opor-tunidades sociais, valores e o grau de compromisso da so-ciedade para o bem estar dos idosos”. (SOUZA, 2005, p.29)

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O processo de envelhecimento envolve 3 fatores:

- A sociedade, que se serve de números que indi-cam a faixa etária da população considerada envelhecida,embasada em valores que se transformam no tempo, queelegem as novas questões e prioridades, ao apontar oque se torna obsoleto, sem utilidade. Esta sociedade nãoestá preparada para conviver com a nova dinâmicademográfica e seus efeitos, como a longevidade da po-pulação; nela permeia o preconceito e a estigmatizaçãodo idoso. Segundo a Tábua de Mortalidade, divulgadapelo IBGE, em 4/12/2007, o indicador de expectativa devida chegou, no Brasil, a 72,3 anos.

- A família, cuja estrutura e história incorpora aque-le indivíduo em sua condição de criança, jovem, e depoisdo adulto que se encaminha para a fase da maturidade edo envelhecimento. É o espaço onde se processam asrelações e se estabelecem os vínculos que podem perma-necer por toda a existência ou ser rompidos em algummomento. Mas, é na família que ocorrem os primeirosrelacionamentos, onde se dá a transmissão de conheci-mentos e as trocas afetivas, onde o indivíduo inicia oprocesso de construção da sua identidade; a partir dafamília, irá estabelecer os primeiros vínculos com o mun-do exterior. Hoje, depara-se com uma família cuja estrutu-ra sofreu muitas mudanças, antes extensa passa a serprogressivamente substituída pela nuclear, que é aquelacomposta pelo casal e filhos. As estatísticas apontampara a diminuição do número de filhos. A síntese dosindicadores sociais do IBGE, divulgado em setembro de2007, aponta que o número médio de membros nas famí-lias brasileiras caiu de 3,6 para 3,2 membros.

Os valores mais arraigados ligados à família seafrouxam no modelo de sociedade atual, que aproxima-seda permissividade, da desintegração de valores. Hoje,convivem formas tradicionais com modelos mais moder-nos e abertos, e outros que já se prenunciam como maisavançados.

- O idoso, que de acordo com a legislação especí-fica, é o indivíduo na faixa etária acima de 60 anos, se-gundo o Estatuto do Idoso (lei 10.741, de 1º/10/2003).Esta designação está ligada ao ciclo da vida, portanto écronológica, medida pelos anos de vida, tomando-se porbase a evolução do homem nas suas etapas de nasci-mento, crescimento, adolescência, maturidade, velhice emorte. Esse indivíduo idoso acompanhou as mudanças

da sociedade, não esteve fora do processo ou totalmen-te alheio ao que se passava à sua volta. Mas, ele consta-ta que ser idoso já não corresponde ao papel antes atri-buído, que com certeza ele teve a oportunidade de obser-var em sua família ou grupo de origem, ao sentir o trata-mento que era dado aos seus familiares idosos. Hoje,depara-se com novas realidades, como: o núcleo familiarse dispersou, as casas se tornaram um ponto de referên-cia, um endereço que possibilita alguns encontros e con-fraternizações. A família já não significa o espaço maior econstante das relações intergeracionais e dasafetividades.

A idade social incorpora os significados do seridoso, a imagem que lhe agrega valor pela experiência,sabedoria, pelo respeito; ou, em sentido contrário, lheimpõe a morte social antes que esse fato supremo seaproxime e se concretize. Este quadro é agravado pelasperdas biológicas e sociais, que resultam no isolamentoe perda de papéis sociais, pela desvalorização de suaslembranças e formas de expressão. A memória do velho,um bem a ser preservado, perde sua função social, perdeseu significado.

O prolongamento da vida, ligado a fatores genéti-cos, físicos e biológicos que influenciam a longevidade,está sendo possível àqueles que, desde o nascimento,desfrutam de melhores condições de vida e acesso aosbenefícios da medicina e saúde, da alimentação balancea-da, das melhorias da crescente urbanização e saneamento.

No outro lado das projeções de longevidade es-tão os idosos que se mantêm no patamar das carênciasnutricionais, sanitárias, educacionais, habitacionais, cujasfamílias não usufruíram dos direitos sociais, que vivemnas favelas e sub-habitações, nas periferias das cidades,nas regiões pouco desenvolvidas de nosso país, onde oenvelhecimento biológico e social favorece o desenvol-vimento de problemas de saúde mais complexos; preva-lece a velhice precoce que se expressa no aspecto físicoe marcas no rosto das pessoas cuja idade não é compatí-vel à imagem mais desgastada que aparentam,envelhecidas antes do tempo.

O conceito de classe social permeia o pleno de-senvolvimento humano e suas etapas, visto que existemdiferenças sócio-econômico-culturais que favorecem -ou por outro lado impedem - a preservação da saúde, oacesso à escola e educação, aos bens e serviços, o al-cance e manutenção de bem-estar individual e coletivo.(MAGALHÃES, 1989)

Quais os efeitos do envelhecimento para aquelesque fazem parte das camadas mais excluídas da socieda-de, cujo valor se mede pelo consumo, que atribui statusdiferenciado àquele que não tem vínculo de trabalho?

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Fala-se hoje que o mundo do consumo está se voltandopara o idoso, um consumidor em potencial, isto na classemédia e na camada mais privilegiada; mas se esquece dogrande contingente de idosos que mal sobrevivem comparcas aposentadorias e ainda ajudam os filhos e netos.Como diz Magalhães “se são pouco ou nada produtivos,e se não produtivos, são pequenos consumidores ounão são consumidores”. (MAGALHÃES, 1989, p. 28)

Para Arendt, “... o consumo já não se restringe àsnecessidades de vida mas ao contrário visa principal-mente as superfluidades da vida, não altera o caráter des-ta sociedade; acarreta o grave perigo de que chegará omomento em que nenhum objeto do mundo estará a sal-vo do consumo e da manipulação através do consumo”.(ARENDT, 1995, p.146)

A sociedade busca o novo, a produção em massa,o computador, com suas linguagens, substitui a expres-são afetiva e viva; cria-se o estereótipo do “rejuvenesci-mento” ou a indústria do consumo como cura para tudo.(LEHR, 1999)

Como se sente aquele indivíduo que, no exercíciode sua capacidade produtiva, realizado ou não em seusprojetos profissionais, defronta-se com a aproximaçãoda aposentadoria, cuja imagem social é de descarte edesprestígio?

Salienta Ferrigno: “A aposentadoria, a viuvez, a per-da dos amigos e a chamada “síndrome do ninho vazio”, estaúltima caracterizada pela debandada dos filhos emancipa-dos, são fenômenos que impõem aos mais velhos uma ex-pressiva diminuição de funções.” (FERRIGNO, 2003, p.52)

A questão de gênero também deve ser analisadaconsiderando as atribuições que a mulher cumpre noambiente familiar. As idosas (pela pesquisa da FPA, re-presentam 57% da população idosa brasileira), muitasem situação de viuvez (conforme dados da FPA, 48% dasidosas são viúvas e 37% casadas), compõem o segmen-to mais pauperizado da população idosa.

A família, pela dispersão de seus membros, nãotem como manter seus familiares idosos; muitos idosossão institucionalizados em asilos, casas-lares e centros-dia ou outras formas de abrigo. Há famílias que mantêmum processo dinâmico de interação e idosos que optampor viverem sozinhos, preferem a qualidade dos relacio-namentos em vez de dependência mútua. (NOVAES, 1997)A pesquisa da FPA aponta que 22% de idosos não sesentem à vontade com sua família, por situações de de-sentendimento, desarmonia, desrespeito ou falta de afe-to. Ou ainda ocorrem situações mais sérias que implicamem negligência e abandono.

3. RESULTADOS

O estudo da velhice, enquanto fato social, permiteo desvelamento de construções sociais e de concepçõesque foram produzidas através dos tempos. A velhice ex-pressa uma condição humana, faz parte do código genéti-co do homem, que irá corresponder às alterações biológi-cas, donde poderá advir o surgimento de patologias e pro-blemas de natureza psicossocial; mas não é necessaria-mente patológica. As pesquisas biogenéticas e as hipóte-ses delas decorrentes abrem possibilidades futuras à en-genharia genética para alterar o programa genético regula-dor do tempo. É futurologia? Não, é realidade, se tomar-mos a teoria relacionada à produção de radicais livres, quepodem destruir células e tecidos orgânicos e teorias relaci-onadas à alteração do sistema imunológico, estudos so-bre doenças auto-imunes, cujos resultados refletem-se namaior resistência às doenças. (DUARTE, 1999; PY, 1999)Muitas mudanças podem ocorrer na história pessoal decada um, em sua organização de vida e em suas possibili-dades de sobrevida. (GUIMARÃES, 1989; PY, 1999)

Para Néri, “envelhecer satisfatoriamente dependedo delicado equilíbrio entre as limitações e aspotencialidades do indivíduo, o que lhe possibilitará li-dar, em diferentes graus de eficácia, com as perdas inevi-táveis do envelhecimento”. (apud PY, 1999, p.63)

O que deve servir de alerta é que a velhice saudá-vel dependerá de qualidade de vida anterior que a pes-soa conseguiu manter. Fraiman (1994) diz que a proble-mática social tem início na infância carente e culmina navelhice abandonada.

Velhice tem o significado da temporalidade e davida humana, sob a regência de Cronos, que significa tem-po, medida e de Kairós, que expressa o tempo vivido, ossignificados de histórias de vida preservados pela memó-ria que, por conter o sujeito em movimento, não é somentetempo presente, mas contém possibilidades de reconstru-ção e de ressignificação, através de novos olhares para sie para os outros. (LOUREIRO, 1998, apud STANO, 2001)

Para Py “O envelhecimento enquanto experiênciacrucial dos seres humanos presentifica-se nos domíniosda arte de viver. No modo peculiar de cada um participarda construção da existência”. (PY, 1999, p. 30)

A sociedade está alcançando o prolongamentodos anos vividos, a longevidade, mas deve assegurarcondições de dignidade para a velhice.

Muito se discursa, se debate e se escreve sobre oassunto, tanto que os idosos, que até os anos de 1980eram quase ignorados nos estudos sócio-demográficos,estão ganhando visibilidade cada vez maior a partir de

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então. Para Guimarães: “A relativa demora dos censosdemográficos para melhor analisar os dados referentesao envelhecimento populacional é um dos fatores quecontribuíram para que esta faixa da população demoras-se a ter visibilidade social”. (GUIMARÃES, 1996, p.72)

Ao ganhar essa nova projeção, a preocupaçãocom esses dados deve conduzir à mudanças nos padrõesde saúde e doença que interferem nos fatoresdemográficos, econômicos e sociais, visto que a desi-gualdade social se acentua na velhice.

O “I Seminário Internacional: Envelhecimentopopulacional – uma agenda para o final do século”, rea-lizado em Brasília/1996, foi marcante nas discussões dasociedade brasileira.

As pressões do segmento idoso, através de suasassociações e conselhos, somadas às análises e produ-ções de especialistas apontando o crescimento acelera-do e o aumento significativo do número de idosos repre-sentados em fóruns e conselhos, foram fatoresdesencadeadores da criação da legislação específica parao idoso, que já tinha seus direitos assegurados pela Cons-tituição de 1988 (art. 203, art. 229, 230 e outros), mas seimpôs na Política Nacional do Idoso – PNI, lei 8.842, de 4/1/1994. O ano de 1999 foi declarado, pela OrganizaçãoMundial da Saúde – OMS, o Ano Internacional do Ido-

so. Esses foram eventos marcantes para a instituição doEstatuto do Idoso, em 2003.

Mas a legislação não se sobrepõe à visãodistorcida que ainda permanece na sociedade, em rela-ção à velhice, “carregada de distanciamento ou indife-rença ou muitas vezes de preconceitos ostensivos e ve-lados em relação à competência para o trabalho, para avida social, política e cultural ou para a simples convi-vência no lazer (...) na sociabilidade que valoriza a inova-ção e subestima o antigo” (MAGALHÃES, 1989, p.99),visão que não supera a representação social das caracte-rísticas e estereótipos atribuídos aos idosos, como per-da gradativa da energia física e mental, intolerância,hipersensibilidade, conformismo, sentimento de solidão,depressão. (NOVAES, 1997)

Os dados estão aí para mostrar a situação do ido-so no Brasil, que refletem as condições estruturais dasociedade industrializada e globalizada, voltada às no-vas formas de organização do trabalho e da produção, eque não prioriza os direitos e a dignidade da populaçãoenvelhecida.

A pesquisa Idoso no Brasil – Vivências, desafiose expectativas na 3ª Idade, realizada pela Fundação PerseuAbramo, em 2006 e publicada em 2007, apresenta, dentreoutros, os seguintes resultados:

54% vivem ao menos com um filho/a 51% vivem com o cônjuge

Composição Familiar

30% vivem com netos ( 16% Responsáveis por eles) Renda 92% têm alguma fonte de renda própria 88% contribuem para a renda familiar Renda Familiar 43% recebem até 2 salários mínimos

Fontes de Renda aposentadoria por tempo serviço ou por idade e pensão por morte 57% apresentam debilidades físicas e doenças 14% apontam dependência física

Traços negativos da velhice

18% apontam discriminação social Analfabetismo funcional 49% Preconceito contra velhice 80% para esse percentual, existe Algum tipo de violência 35% já sofreram (doméstica física, violência urbana, psíquica,

humilhações, institucional, desrespeito aos direitos, ironia, menosprezo, falta de tratamento e remédio, ameaças, lesão corporal, trabalho excessivo ou obrigatório).

Doença 81% possuem alguma doença (hipertensão, visão, coluna, diabetes, problemas cardíacos, colesterol alto)

68% utilizam serviços públicos Atendimento à saúde 24% utilizam convênio médico

Fonte: Fundação Perseu Abramo

Estes dados e outros constantes da referida pes-quisa devem nos alertar para o compromisso que deveser assumido, de fato, com o idoso no Brasil.

Principalmente, se refletirmos sobre este quadro,construído em uma primeira aproximação, desta autora, queaponta alguns elementos cujas análises devem ser ampliadas:

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É preciso refletir, como Salgado: “Se as perspecti-vas dos velhos são poucas, o mesmo acontece com osjovens, para os quais o caminho há de ser mais longo e

as possibilidades para o futuro bem menores”. (SALGA-DO, 1996, p. 65)

Questões Geracionais e Envelhecimento

Ano Caracteristicas predominantes

na sociedade brasileira e família

Idade em 2008 Demandas/ enfrentamentos Idade em 2018 Demandas/ enfrentamentos

1918 90 anos 100 anos

1928 80 anos 90 anos

1938 70 anos 80 anos

1948

Valores tradicionais/ conservadorismo.

Família extensa/numerosa Id

oso

(exp

ecta

tiva

de

vida

76

anos

- I

BG

E 2

007)

60 anos

Faixa de 90 anos: filhos na faixa de 60 anos/idoso. Políticas públicas incipientes no cumprimento da legislação. Família ainda é um esteio importante, responsável pelos ascendentes idosos, mas conta com menos estrutura doméstica e de recursos para a atenção e cuidados ao idoso principalmente se em situação de dependência. Cabe à mulher cuidar do familiar idoso. Relações familiares: convivência menor. Aposentadoria não é suficiente para suprir gastos; mas muitos idosos contribuem na renda familiar. 70 anos

1958

Processo de industrialização e urbanização crescente. Permanência de valores tradicionais e introdução de novos paradigmas. Famílias menos numerosas. Pr

é-ap

osen

tado

ria

50 anos

Geração que comporá a próxima faixa de idosos. Falta de preparação para enfrentamento das questões do envelhecimento. Núcleo familiar mais disperso.

Idos

o (e

xpec

tativ

a de

vid

a de

ve a

umen

tar)

60 anos

Aumento da população idosa, aumento da longevidade. Implementação de políticas públicas de atendimento ao idoso. Ampliação de programas para idosos. Repercussões na estrutura familiar, resultante de os filhos (em nº menor) estarem na faixa dos 40 a 70 anos (nasceram da década de 70 à frente, quando mudanças estavam ocorrendo de forma acelerada; valores são diferentes). Estrutura doméstica e de recursos insuficiente para cuidar do idoso em situação de dependência.

1968

Mudanças na sociedade e na estrutura da vida familiar. Liberação dos costumes. Mulheres: acúmulo de funções/participação na renda familiar e responsabilidades com tarefas domésticas.

40 anos

Profissionais com experiência / competitividade no campo do trabalho. Pressões frente à mão de obra jovem que pretende ingresssar no mercado de trabalho. Contribuição a Planos de Previdência Privada para garantir reforço da renda. Pr

é-ap

osen

tado

ria

50 anos

Fase da pré-aposentadoria, para aqueles inseridos no mercado de trabalho. Programas de preparação à aposentadoria. Contribuição a Planos de Previdência Privada, para garantir reforço da renda. Relações familiares mais restritas.

1978

Nova dinâmica das relações sociais e familiares. Família núclear: progressiva diminuição do nº de filhos (de 1970 a 2007, passou de 6,7 filhos para 2.6 filhos por casal).

Adu

lto

30 anos

Busca de realização profissional, experiência, campo de trabalho e renda. Constituição da família: diminuição do nº de filhos.

40 anos

Profissionais experientes / competitividade no campo do trabalho. Pressões frente à mão-de-obra jovem que pretende ingresssar no mercado de trabalho. Contribuição a Planos de Previdência Privada para garantir reforço da renda. Família nuclear, rearranjos familiares.

1988

Grandes avanços tecnológicos: trabalho, saúde, habitação, comunicação, etc. Informatização / Inovações no cotidiano das famílias. Papel da mulher: cada vez mais ativo. A

dole

scen

te /j

ovem

20 anos Formação profissional. Fase de conciliação: trabalho e escola.

Adu

lto

30 anos

Busca de realização profissional, experiência, campo de trabalho e renda. Competitividade. Constituição de família: diminuição do nº de filhos.

1998

Rearranjos familiares, para atender crescente inserção da mulher no mercado de trabalho e mudançass na estrutura familiar. Família nuclear, diminuição do nº de filhos.

10 anos Família/ Escola: socialização, educação; busca de alternativas institucionais. 20 anos

Formação profissional. Fase de conciliação: trabalho e escola.

2008

Sociedade altamente competitiva para homens e mulheres. Estresse nas relações famíliares e sociais. Família nuclear, diminuição do nº de filhos. Dados do Ministério da Saúde, agosto/08/ Taxa de fecundidade: 1,8 filho por mulher.

Cri

ança

0 a 9 anos

Família/ Escola: socialização, educação; busca de alternativas institucionais.

Cri

ança

/ A

dole

scen

te /

jove

m

10 anos

Família/ Escola: socialização, educação Convivência familiar mais restrita. Delegação de papéis familiares às instituições.

Quadro elaborado por: Profª Drª Elizabeth M. Liberato - 2008

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste contexto, em primeira instância, uma políticapara o envelhecimento significa uma política para a família,“é pensar, a rigor, em nossas crianças e filhos, pois serãoeles os que efetivamente poderão ser beneficiários ou ví-timas do que fizermos hoje. Aos velhos de hoje só nosresta compensar perdas que poderiam ter sido evitadas,fossem outras as condições históricas de seu ciclo e per-curso de vida”. (MAGALHÃES, 1989, p. 59)

Assim, as ações devem ser mais abrangentes, pos-sibilitar à população brasileira maior acesso aos progra-mas de saúde, alimentação, trabalho, lazer, habitação; háque se proteger a infância, priorizar que a educação sejainclusiva para todos, enfim alcançar a diminuição dasdesigualdades sociais.

É preciso ter presente que, no Brasil, “a política paraa velhice assume contornos mais amplos porquanto paramilhares de velhos a questão não se iniciou no tempo develho, decorrendo essencialmente do acúmulo de desigual-dades ao longo do ciclo de vida”. (SALGADO, 1966, p. 66)

Aos idosos de hoje, da 3ª ou 4ª idade, ou comosejam designados, não deverão ser reservadas ações com-pensatórias e assistencialistas. A sociedade e suas institui-ções devem abrir espaços e caminhos que envolvam a famí-lia, para experiências interativas que superem as dificulda-des de relacionamento. É preciso criar possibilidades paraintercâmbio e trocas de vínculos e afetos, para que os ido-sos reelaborem suas perdas, garantir mecanismos para re-composição de suas rendas para que se mantenham ativose valorizados, buscando desenvolver novas aptidões; e,principalmente, recriar a imagem social que lhes assegure aimportância de registrar suas marcas numa contínua inscri-ção no tempo vivido e no futuro ainda a viver.

Isto significa (FERNANDES, 1997) criar situaçõesque assegurem o tratamento eqüitativo e de reconhecimen-to social, o combate a todas as formas de discriminação, orespeito à autonomia e à dignidade inerente a todo cidadão.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS

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O Processo de Envelhecimento: conhecendo astransformações

Maria Piedade Vieira Grigoleto *Elizabeth Moraes Liberato **

Resumo: Este trabalho tem por objetivo conhecer e entender as transformações físicas e psicológi-cas que ocorrem com os idosos, pessoas do grupo etário acima de 60 anos. A Gerontologia, que é oestudo científico da velhice, desconhecida da maioria das pessoas, apresentava uma conotaçãovoltada para a área médica; hoje, incentiva a retomada dos estudos da velhice sob novas perspec-tivas, ampliando o conhecimento sobre o fenômeno do envelhecimento.

Palavras-chave: Envelhecimento, transformações.

Abstract: This work aims to know and understand physical psychological the transformations thatoccur with the aged ones. The gerontology is the scientific study of the oldness. Much people do notknow about it. Nowadays, there are studies in new perspectives increasing the knowledge about theageing.

Key words: Ageing, transformations.

* Pós-Graduada do Curso de Especialização emGerontologia e Família.

** Pró-Reitora de Avaliação e Professora da Univap -Doutora em Serviço Social e Especialista emGerontologia.

1. INTRODUÇÃO

Durante os primeiros quarenta anos do séculopassado, muito pouco se estudou sobre o processo deenvelhecimento, já que naquela época eram priorizadosos estudos sobre a infância.

Logo após o final da Segunda Guerra Mundial,em 1946, nos Estados Unidos, a criação da GerontologicalSociety of América, da América Geriatric Association eda American Psychological Association incentivou a re-tomada dos estudos sobre a velhice, lançando as basespara o desenvolvimento de uma gerontologia social.

Alguns anos depois, outros países, como a Fran-ça, a Inglaterra e a Alemanha começaram a perceber osefeitos do envelhecimento em suas populações e inten-sificaram-se, na Europa, os estudos e as pesquisas sobreo envelhecimento e o interesse daí decorrentes que serefletiam em problemas de saúde, educação e seguridadesocial.

No Brasil, embora a Sociedade Brasileira de Geria-tria e Gerontologia (SBGG), filiada à Associação Médica

Brasileira, existisse desde 1961, tinha-se conhecimentodas iniciativas européias e norte-americanas para abor-dar os problemas dos idosos; porém, os primeiros estu-dos acadêmicos brasileiros sobre o tema, só foram publi-cados a partir de 1975. (SESC, 2003)

Este trabalho tem por objetivo conhecer e enten-der as transformações físicas e psicológicas, que ocor-rem com as pessoas da terceira idade, grupo etário acimade 60 anos, conforme dispõe a legislação brasileira.

2. MATERIAL E MÉTODOS

De acordo com o Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741,de 1º/10/2003, são consideradas idosas as pessoas comidade igual ou superior a sessenta anos. Atualmente, asestatísticas mostram um aumento significativo da popu-lação idosa; segundo projeções estatísticas da Organi-zação Mundial da Saúde (OMS) – até 2025, a populaçãode idosos, no Brasil, crescerá 16 vezes, contra cinco dapopulação atual. Esse crescimento é o mais acelerado nomundo e só comparável ao México e Nigéria. (CALDASapud VERAS, 1997)

Ao analisar a configuração da vida na senectude,Hall observou que ocorre uma transição crítica para aidade provecta e que difere muito de uma pessoa paraoutra: “de modo que a norma de vida para um homemseria o desastre para um outro”. (HALL, 1992, p. 393)

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2.1 Teorias do Envelhecimento

Na opinião de Pikunas (1979, apud HALL, 1992),o ser humano permanece, essencialmente, juvenil até mes-mo na idade avançada. A idade avançada pede-nos:

...para construirmos um novo eu, exata-mente como tivemos de fazer na adoles-cência, um eu que tanto soma quanto sub-trai muito da antiga personalidade de nos-sos verdes anos. (HALL, 1992, p.394)

Erikson (1963, apud PIKUNAS, 1979) oferece umainterpretação bidirecional da velhice.) Se as crises exis-tenciais durante os estágios adultos da vida foram resol-vidas em favor da intimidade e capacidade de produção,tornar-se possível uma alta integridade do ego para avelhice. A pessoa que possui esta integridade pode, pron-tamente, defender a dignidade de seu estilo de vida con-tra quaisquer ameaças. Entretanto, se a vida adulta foimarcada por preponderância de isolamento e estagna-ção, a velhice estará cheia de desespero. O dano subs-tancial ao ego e as emoções transitórias têm a probabili-dade de produzir sintomas de hipocondria, alucinaçõesou outras perturbações de moderadas a severas quemarcam a senilidade.

Bühler (1968, apud PIKUNAS, 1979), tem, tam-bém, em sua teoria a característica de bidirecionalidade,trata da auto-realização na idade avançada, salienta aauto-avaliação crítica em termos das realizações ou não-realizações da vida toda. Os fracassos e as perdas sãoinevitáveis, porém muitas vidas conseguem realizaçãoparcial – a satisfação é encontrada em uma ou duas áreasbásicas da vida. Quando a experiência frustradora foimuito preponderante, muitas vezes, a velhice é assinala-da pela resignação.

Cumiming et al. (1960 apud PIKUNAS, 1979), de-ram origem à teoria do desengajamento; aparentemente éa primeira interpretação psicossocial bem elaborada dosconstitutivos do envelhecimento. Henry (1965, apudPIKUNAS, 1979), alega que o ponto central desta teoriaé o “ressurgimento do foco na interioridade” acompa-nhada de um declínio na importância anteriormente atri-buída a outras pessoas e eventos. Observou-se que odesengajamento dos idosos é um processo intrínseco einevitável, já acontece em todos os estilos de vida. Tantoa teoria do desengajamento como a da atividade são muitosimples para responderem por uma grande variedade deconfigurações de ajustamento nos anos tardios da vida.Ainda deverá ser formulada uma teoria global do enve-lhecimento.

Normalmente, as pessoas envelhecem de maneiracoerente com a história de sua vida. Existem muitas con-

figurações psicossociais distintas sobre a forma de en-velhecer. Quando o idoso se ajusta ao declínio biológicoe ao desengajamento social, significa que a pessoa queenvelhece continua a recorrer ao que foi, assim tambémcomo ao que é.

2.2 Alterações Biológicas

O envelhecimento biológico é um processo gradu-al de debilitação que não pode ser parado ou invertido.

Há um declínio generalizado das funções orgâni-cas no decorrer do processo de envelhecimento. As mo-dificações no organismo dos indivíduos avançam pro-porcionalmente ao desenvolvimento inicial, o envelheci-mento está geneticamente programado, sendo ambosinerentes ao longo da vida, cuja característica principal éa acentuada perda da capacidade de adaptação e menorexpectativa de vida. Entretanto as modificações variamde pessoa para pessoa, dependendo, entre outros as-pectos, de suas condições físicas internas, do meio am-biente e do estilo de vida.

O envelhecimento causa alterações significativasna estrutura e função do sistema pulmonar. Algumas pes-soas podem se sentir limitadas na sua capacidade departicipar de atividades físicas moderadas e intensas porcausa das limitações dos seus sistemas pulmonar e/oucardiovascular.

As alterações relacionadas com a idade que ocor-rem no sistema músculo-esquelético constituem, talvez,uma maior fonte de preocupação para os idosos do queas alterações sobre a função cardiovascular e pulmonar.A perda óssea e da força muscular, com freqüência, acar-retam sérias e perigosas lesões. Muitas das alteraçõesrelacionadas com a idade que ocorrem no sistema mús-culo-esquelético são resultados da inatividade física.

Com a idade, os ossos tornam-se mais frágeis. Navelhice, fraturas sérias e, com freqüência, debilitantessão comuns. Segundo projeções, por volta dos 90 anos,cerca de 32% das mulheres e 17% dos homens são sus-cetíveis a uma fratura do quadril e de 12% a 20% dessegrupo podem morrer em conseqüência de complicaçõesrelacionadas com as fraturas.

A massa muscular diminui com a idade, resultan-do em menor força e resistência muscular. A força muscu-lar começa a diminuir em torno dos 40 anos e essa quedase acelera após os 60 anos. Para cada década, após os 25anos, 3% a 5% da massa muscular é perdida. A forçamuscular e a capacidade de preensão diminuem signifi-cativamente com a idade. (RAMOS, 2000). A perda daforça muscular nas pessoas da terceira idade pode afetarsignificantemente a qualidade e o tempo de vida.

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Com o envelhecimento normal, o tecido conjunti-vo torna-se mais rígido e as articulações menos móveis.Com a idade, a perda da flexibilidade pode, também, ser oresultado de processos de doença degenerativasubjacente, tal como a artrite. A flexibilidade diminui coma idade, no entanto, não há evidências de que os proces-sos biológicos associados ao envelhecimento sejam res-ponsáveis por essa perda.

Parece que os indivíduos mais velhos possuemum sistema de controle térmico menos eficiente. Tanto oganho quanto a perda de calor não são tão eficientes empessoas idosas. Existe uma maior taxa de mortalidade emorbidade para as doenças relacionadas com o calor, navelhice, em comparação à população mais jovem.(ROBERGS; ROBERTS, 2002)

As deficiências visuais e de orientação, o aumen-to de tempo de reação, a coordenação reduzida e a pro-babilidade de dores musculares de fadiga intensa – tudoisso contribui para uma perda de mobilidade e suas séri-as conseqüências para o ajustamento social. (SACHER,1965 apud PIKUNAS, 1979)

2.3 Alterações Biopsicológicas

Nesta fase da vida, o decréscimo de energia é umdos fatores na mudança da estrutura motivacional. Aagilidade nos movimentos começa a diminuir ligeiramen-te a partir dos 30 anos, ao passo que a coordenaçãopermanece bastante estável até os 60 anos. Em algunscasos, a saúde declina a partir dos 40 e o vigor físico aos45 anos. Deve-se levar em consideração a variação indi-vidual no envelhecimento biológico.

No sexo masculino, há um ligeiro declínio da ativi-dade sexual durante os últimos anos de vida adulta, ace-lerando-se a partir dos 50 anos. Os homens simplesmen-te sentem seu desejo regular de alívio sexual diminuir àmedida que a atividade sexual se torna menos interes-sante que nos primeiros anos de vida adulta. Uma únicafalha em manter ereção, na maioria das vezes, tem efeitodesproporcional sobre as pessoas de mais de quarentaou quarenta e cinco anos.

Nas mulheres, a menopausa dura cerca de doisanos, é quando ocorre o fim do ciclo menstrual. As mu-lheres estão sujeitas a marcante excitabilidade, calores,suores, tonturas, sensibilidade a frio e calor, e outrossintomas. Os temores de perda da feminilidade e de en-velhecer complicam o comportamento emocional. Apóseste ciclo, a estabilidade comportamental e aautoconfiança também se elevam e são mantidos por,aproximadamente, uma década. Os desejos afetuosos esexuais duram a vida toda, mas para estes há um declíniomoderado na idade avançada. (BISCHOF, 1969 apud

PIKUNAS, 1979)

2.4 A Capacidade Cognitiva

Um dos principais aspectos cognitivos da inteli-gência é a capacidade de reter informações.

Na atividade profissional, o indivíduo idoso, ge-ralmente, experimenta uma perda de eficiência. Poucodepois dos sessenta anos, muitos começam a demons-trar inadequações no desempenho do trabalho costu-meiro, cansam-se com mais facilidade do que antes. Esta-belecer uma aposentadoria, arbitrariamente, a uma deter-minada idade, por exemplo, aos sessenta e cinco, não éjusto para alguns que ainda são capazes de desempe-nhar bem seus cargos. A falta de instalações recreativasapropriadas para aposentados, além da sensação de queeles já não são mais necessários, leva a sentimentos deinadequação e depressão.

Se o idoso não encontra saídas para exercer suascapacidades, o sentimento de inutilidade que resulta éprejudicial à sua segurança. Os efeitos psicológicos do“tempo vago” são prejudiciais a muitos, especialmentepara os que têm falta de variedade de interesses quepossam ocupar o tempo que antes era dedicado ao traba-lho.

Duvall (1971 apud PIKUNAS, 1979), afirma que aparticipação ativa em algumas atividades individuais egrupais é de capital importância psicológica para a ma-nutenção da auto-estima e do sentimento de impor-tância.

2.5 Senescência e senilidade

Senescência é o período da vida identificado, ar-bitrariamente, como idade cronológica. Nos estudos atu-ais, a idade de sessenta e cinco anos é considerada oponto para a introdução neste ciclo. A aposentadoria,com seus problemas de ajustamento, pode marcar essemomento. É importante salientar que isto não implica emdeterioração marcante dos sistemas orgânicos, poderescognitivos ou perícias adquiridas. (PIKUNAS, 1979).

A senilidade, por outro lado, embora intimamentealiada à senescência, implica numa perda substancial deintegração orgânica e funcional. O período da velhice éde mudança disseminada, e às vezes, drástica. A velhice,assim como a adolescência, é caracterizada por altera-ções físicas, sociais e emocionais. E da mesma maneiraprecisa de uma preparação adequada para tais mudan-ças. A expectativa social e a pressão cultural atuam emconjunto, amiúde forçando uma nova modalidade de vidaantes que haja uma necessidade pessoal ou as capacida-des em declínio o exijam. (PIKUNAS, 1979)

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2.6 Alterações na Personalidade

Na senectude, ocorrem mudanças na estrutura ena organização da personalidade. A repetição e o hábitode atividades rotineiras aumentam e declinam o ajusta-mento às preferências expressas pelos outros.

O sucesso na preservação da integridade da per-sonalidade e seus traços operativos mostram amplas di-ferenças individuais relacionadas ao desenvolvimentoanterior da personalidade. Seu nível funcional de auto-expressão é coerente com seus dotes e ocasiona muitasexperiências gratificantes de auto-realização.

A saúde mental não pode se substancialmentemelhorada durante os estágios mais tardios da vida. Asperturbações emocionais, hipocondria e demência senilgeral são freqüentes. Aparentemente, muitas pessoasdeixam de tratar com sucesso das privações, conflitos eproblemas moderados e sérios dos seus vinte ou trintaanos e tornam-se predispostas a perturbaçõespsicossomáticas e mentais na idade adulta. A pessoa idosadesenvolve uma diminuição do espaço vital e há, tam-bém, a negação de respostas. (MATSUDO et al., 2000)

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O universo de estudo sobre o processo de enve-lhecimento é complexo e amplo e faz parte da vida detodos os seres humanos; contudo, no dia-a-dia, o tema étratado como tabu, como assunto que não deve ser co-mentado ou debatido.

O indivíduo precisa se sentir capaz de tomar suaspróprias decisões, de administrar sua própria vida, mas,é imprescindível que faça isso desde a idade adulta, pre-parando-se para as fases posteriores. A questão essen-cial é superar os preconceitos da incapacidade ou inuti-lidade, assumir as possibilidades que se apresentaremde manter-se física, psíquica e socialmente capaz.

A função social da velhice é “facilitar a continui-dade da população humana na ordem dos valores, da-quilo que pode justificar a vantagem de viver e assegurara qualidade de vida”. (BASTIDE, 1999, p.9)

O mundo atual é o resultado da ação do homemna busca da realização individual e coletiva. A sociedadecria as categorias de homens produtivos e improdutivos,ideologicamente considerados como atributos comuns enaturais. Essa perspectiva encobre a categoria dos de-sempregados, desqualificados profissionalmente ou al-tamente qualificados, que oculta as diferenças de classesocial.

Tal perspectiva encobre, ainda, o fato de que os

assalariados aposentam, mas passam a realizar “bicos”ou biscates para enfrentar despesas básicas, como ali-mentação, moradia e saúde. (BOSI, 1994)

Conviver com o processo de envelhecimento éaceitá-lo como condição existencial, visto que só enve-lhecem aqueles que tiverem o privilégio de não morrerquando crianças ou quando jovens; isto pode soar comoóbvio para alguns. É imprescindível aprender a convivercom a realidade humana que é o envelhecimento. Ao seconquistar este espaço de ser, o idoso será capaz deressignificar sua história, na sua trajetória de vida entre onascer e o morrer, em todos os seus significados.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A velhice pode ser uma fase compensadora se éalcançada com alegria, criatividade e curiosidade. Estasqualidades requerem viver em plenitude o momento pre-sente, já que o hoje é a juventude da longevidade.

A idéia não questionada do paradigma ligado àvelhice era que, à medida que o corpo ia se desgastandocom o passar do tempo, a vida se tornava cada vez me-nos gratificante.

Contudo, o estoque de possibilidades de vida nãose esgota após uma certa idade; esta é definida por cadasociedade e indivíduo. O novo paradigma diz que a vidaé um processo de transformação constante, não dedeclínio, mas plena de potencial para um crescimentosem limites.

Para conservar a chance de novas possibilida-des, década após década, tem-se que saber quais são aspossibilidades que existem. O que se deveria esperar físi-ca, mental e emocionalmente no segundo cinqüenta anosde vida? Está sendo formulada uma nova ciência dalongevidade para responder a essa questão. O declínioautomático não está programado dentro dos corpos. Alongevidade acontece para aqueles que descobriram istopor si mesmos – a ciência está validando as numerosasmelhorias nas funções corporais que as pessoas maisvelhas já estão experimentando. (CHOPRA, 1994)

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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O Desafio do Diagnóstico Precoce do Câncer de Próstatano Trabalhador Brasileiro dentro do Sistema Público de

Saúde: uma realidade que precisa ser conhecida emodificada

Paulo Afonso de Barros *Elizabeth Moraes Liberato **

Resumo: O artigo trata da necessidade do diagnóstico precoce do câncer da próstata, discute aexistência de um grande preconceito que persiste entre a população masculina, os tabus e os medosque cercam a realização dos exames de prevenção e detecção e as dificuldades que o sistema desaúde público impõe aos trabalhadores de empresas privadas que não dispõem de plano de saúdepróprio. O assunto é tratado considerando os dados nacionais de incidência da doença. O traba-lho traz uma proposta de reformulação na política de saúde no município de São José dos Campos,estado de São Paulo, e em caráter nacional, considerando o aumento da população idosa e ocaráter preventivo voltado à promoção da saúde de maneira plena.

Palavras-chave: Saúde, diagnóstico precoce, prevenção, próstata, preconceito.

Abstract: The article treats the necessity of the precocious diagnosis of the cancer of prostate in thecity of São José dos Campos, discuss the existence of a great prejudice that persists among themasculine population, the taboos and the fears that surround the accomplishment of the preventionexams and detection and the difficulties that the public system of health imposes the workers ofprivate companies who do not have own health insurance. The work brings a proposal ofreformularization in the politics of health in the city of São José dos Campos, state of São Paulo, andin national character, considering the increase of the aged population and the preventive characterdirected to the promotion of the health in full way.

Key words: Health, precocious diagnosis, prevention, prostate, preconception.

* Pós-Graduado do Curso de Especialização emGerontologia e Família.

** Pró-Reitora de Avaliação e Professora da Univap -Doutora em Serviço Social e Especialista emGerontologia.

A saúde é um direito fundamental do serhumano, devendo o Estado prover as con-dições indispensáveis ao seu pleno exer-cício, por meio de políticas econômicas esociais que visem à redução de riscos dedoenças e de outros agravos e no estabe-lecimento de condições que asseguremacesso universal e igualitário às ações eserviços para a promoção, proteção e re-cuperação da saúde individual e coletiva(BRASIL, 2002; 2006).

1. INTRODUÇÃO

A Constituição da República Federativa do Brasil,promulgada em 5 de outubro de 1988, contemplou a saúdecomo um direito de todos e dever do Estado. A partir deentão, e sempre com a mobilização da sociedade civil orga-nizada, foram publicadas as Leis Orgânicas da Saúde (8.080/90 e 8.142/90), o Decreto No.99.438/90 e as NormasOperacionais Básicas -NOB, editadas em 1991 e 1993.

A Lei 8.080/90 regulamentou o Sistema Único deSaúde - SUS, estabelecendo as obrigações da União, dosestados e municípios, cada um em sua esfera de atuação,e devidamente integrados, a partir do que seriam propici-adas as condições mínimas para que todo cidadão brasi-leiro tivesse acesso aos cuidados básicos de sua saúde,não só pela medicina curativa, prática essa ainda muitocomum em nosso país, mas, principalmente, utilizando-se da medicina preventiva, consagrada universalmentecomo única forma de se evitar doenças preveníveis.

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A atenção à saúde, ainda de acordo com a referidaNOB, implica a implementação de ações de assistência,voltadas para as pessoas, de maneira individual ou cole-tiva, seja ambulatorialmente ou em ambientes hospitala-res e ainda domiciliares, prevendo também, intervençõesambientais, especialmente nos ambientes de vida e tra-balho e, por fim, políticas externas ao setor saúde, ondeestão previstas políticas direcionadas ao emprego, habi-tação e, dentre outras, a educação.

É ratificado na mesma NOB o amplo conceito desaúde, segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS(Organização Nações Unidas - ONU): “Saúde é um esta-do de completo bem- estar físico, mental e social, e nãoapenas a ausência de doença ou enfermidade”.. Para tan-to são enfatizadas as necessárias e imprescindíveis açõesnesses três níveis de atenção à saúde, envolvendo suapromoção, proteção e recuperação, prioritariamentefocando-se a prevenção.

2. MATERIAL E MÉTODOS

A cidade de São José dos Campos – São Paulo,através da Norma Operacional Básica do Sistema Únicode Saúde - NOB-SUS, de 01/96, assumiu, a responsabili-dade de gerir plenamente esse sistema, ressalvadas asobrigações do Estado e da União.

O Sistema Único de Saúde possui níveis de aten-dimento à população, sendo primário, secundário eterciário. Ao nível primário cabem os atendimentos de

baixa complexidade realizados nas Unidades Básicas deSaúde-UBS; o nível secundário trata de procedimentoscom maior complexidade nas Unidades de Pronto Aten-dimento-UPA, nos hospitais e nos ambulatórios de es-pecialidades; já o atendimento em nível terciário diz res-peito aos atendimentos de média e alta complexidade, emhospitais geralmente ligados às universidades(GUTIERREZ apud PELOSO, 2005)

As Unidades Básicas de Saúde representam aporta de entrada do cidadão ao Sistema Único de Saúde,cabendo-lhes prestar a atenção básica aos munícipes.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúdede São José dos Campos (2005), cabe à rede de atençãobásica as “ações ligadas à manutenção da qualidade devida das pessoas pela promoção de hábitos e atitudessaudáveis, pela prevenção de doenças e agravos e pelaassistência a doenças mais comuns na comunidade”.(PELOSO, 2005, p.73)

Cada UBS possui uma área de abrangência deli-mitada de acordo com a origem da demanda dos serviçosde saúde pública, e também devido à acessibilidade dis-ponível, considerando, assim, a oferta dos serviços desaúde e a demanda. (CORTEZ, 2004 apud PELOSO, 2005)

Segundo dados da Secretaria Municipal da Saú-de, o município de São José dos Campos dispõe de umarede de atendimento, conforme quadro abaixo:

REGIÃO Serviços de Atendimento Centro Leste Norte Oeste Sudeste Sul

Unidade Básica de Saúde 4 11 6 2 3 10 Unidade Especializada em Saúde 10 1 1 0 0 2 Unidade de Pronto Atendimento 0 2 2 0 0 0 Hospital Público 1 1 0 0 0 0 Unidade de Apoio 1 0 0 0 0 2 São seis os hospitais contratados e conveniados que fazem parte do atendimento.

Não há programas e projetos específicos para o idoso, eles estão inseridos no programa de saúde PROGRAMA DE SAÚDE DO ADULTO.

Fonte: Secretaria Municipal da Saúde.

A partir desse quadro, pretendemos demonstrar anecessidade de uma reformulação na política de saúde domunicípio, em relação ao diagnóstico precoce de patologi-as oncológicas, especialmente a do câncer da próstata.

2.1 O Câncer de Próstata

“A próstata é uma glândula que só o homem pos-sui e que se localiza na parte baixa do abdômen. É um

órgão pequeno, tem a forma de uma maçã e se situa logoabaixo da bexiga e adiante do reto. A próstata envolve aporção inicial da uretra, um tubo pelo qual a urina arma-zenada na bexiga é eliminada. A próstata produz parte dosêmen, um líquido espesso que contém osespermatozóides produzidos pelos testículos e que é eli-minado durante o ato sexual”. (INCA, 2005, p. 34)

O Instituto Nacional de Câncer - INCA, juntamen-

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te com o Ministério da Saúde, desde o ano de 1995, vemaprimorando a coleta de dados que trata da incidência decâncer em nosso país; esse trabalho é hoje um dos ins-trumentos essenciais para enfrentar as muitas dificulda-des que ainda são muito presentes, na população mas-culina brasileira, em aceitar e buscar a prevenção do cân-cer de próstata.

O número de casos novos de câncer de próstataestimado para o Brasil, em 2006, é de 47.280. Estes valo-res correspondem a um risco estimado de 51 casos no-vos a cada 100 mil homens. (INCA, 2005, p. 34)

O câncer de próstata é o mais freqüente em todasas regiões entre o total de tumores, exceto pele nãomelanoma, com risco estimado de 68/100.000 na regiãoSul, 63/100.000 na região Sudeste, 46/100.000 na regiãoCentro-Oeste, 34/100.000 na região Nordeste e 22/100.000na região Norte. (INCA, 2005, p.34)

Em países desenvolvidos, o número de casosnovos diagnosticados de câncer de próstata representa15,3% de todos os casos incidentes de câncer, enquantoque, nos países em desenvolvimento, esse índice é de4,3% dos casos. Seguramente o câncer de próstata é omais prevalente entre os homens. (INCA, 2005, p. 34)

Com o surgimento de exames de rastreamento,dentre eles o teste de Antigeno Prostático Específico(PSA), observa-se um aumento nas taxas de sua incidên-cia em indivíduos assintomáticos, justamente onde esseexame já é uma rotina.

O surgimento desse tipo de câncer na velhice,notadamente a partir dos 65 anos de idade, conformedescrito na referida publicação, se deve em muito à nãorealização de exames preventivos já a partir dos 45 anosou mesmo antes, pelo menos desde os 40 anos, caso hajaantecedentes familiares diretos que desenvolveram essapatologia antes dos 60 anos, dentre eles, pai, e irmão.

3. DISCUSSÃO

Um dado significativo que nos remete à futuracondição de vida do idoso, é que 75 % de todos os casosde câncer da próstata no mundo acometem indivíduos apartir dos 65 anos. (INCA, 2005, p. 34)

Se considerarmos o aumento da população idosabrasileira, especificamente da população de São José dosCampos, conforme abaixo, e correlacioná-la aos dadosestatísticos já referenciados que envolvem o câncer depróstata, podemos projetar uma difícil situação para essecontingente importante de indivíduos velhos, com oenfrentamento das conseqüências do diagnóstico tardiodo câncer da próstata, já com metástases, que lhes trará

grande sofrimento e precárias condições de sobrevida comqualidade e dignidade, além ainda do aumento dos custospara a previdência social e para o sistema de saúde.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografiae Estatística-IBGE, Censos e Estimativas, a estimativapara a população residente por faixa etária em São Josédos Campos, no ano de 2006, é de 610.962 indivíduos,dos quais 301.870 (49,40%) são do sexo masculino e des-tes, 39.004 (12,54%) estão na faixa etária entre 50 a 79anos, período de maior incidência e mortalidade em de-corrência do câncer de próstata.

Geralmente os homens só querem fazer o examede sangue para dosagem do PSA, uma vez que os mitosque cercam a realização de um exame clínico específicoda próstata, que é o toque digital, ainda é cercada demedo e vergonha e que, em muitos casos, no imagináriodo homem, atentaria contra a sua própria masculinidade.(MURAD, 2005)

É importante ressaltar que, para o indivíduoassintomático principalmente, a dosagem do PSA , alte-rada ou não, só serve de informação complementar parao médico, a sensibilidade do toque é vital para a percep-ção de alterações na próstata que podem indicar a neces-sidade da realização de exames complementares, taiscomo a ultra-sonografia prostática transretal (através doânus), eventual biópsia que confirmará ou não a existên-cia de um tumor maligno ou de um aumento da próstataem decorrência de doenças inflamatórias (prostatites) e ahiperplasia benigna, que produz crescimento de umadenoma (tumor benigno) (MURAD, 2005).

Dentre as várias formas de conscientização e es-clarecimento da população, ressaltamos a necessidade dautilização de um dos mais importantes instrumentos, aeducação formal, desde o ensino fundamental, com a devi-da capacitação dos professores das redes pública e priva-da, bem como persistirmos na contínua realização de cam-panhas. Infelizmente, esses veículos de comunicação sãopouco aproveitados enquanto estratégias para diminui-ção desse preconceito tão enraizado em nossa cultura.

4. RESULTADOS

Uma vez conscientizada, a população masculinanão encontra mecanismos operacionais adequados narede pública para buscar orientação e apoio; enfrenta, naprática, muitas dificuldades, a começar pela marcação desua primeira consulta na UBS.

O procedimento atual para a realização de consul-tas e exames no município de São José dos Campos nãofavorece a prevenção do câncer da próstata, visto que, omaior contingente de pessoas que freqüentam as Unida-

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des Básicas de Saúde, no município, é de mulheres, asquais, enquanto aguardam suas respectivas consultasou de seus filhos, participam de palestras e esclareci-mentos de patologias que as afetam e a necessidade darealização de exames preventivos. Já os homens, especi-almente os assintomáticos em se tratando de patologiasque acometem a próstata, raramente participam dessaspalestras ou simplesmente não procuram a rede pública.

Os homens, trabalhadores formais, não são esti-mulados pelas empresas que não oferecem plano de saú-de próprio ou contratado, a procurarem as UBSs, em fun-ção da quantidade de vezes que esse empregado deixaráde trabalhar ou chegará atrasado.

Entre a marcação de uma consulta, sua efetivarealização, ida ao laboratório de análises clínicas paracoleta de sangue, retirada desse resultado, mais um re-torno à UBS, e encaminhamento ao especialista na Uni-dade Especializada em Saúde para outra avaliação, e anecessidade de eventuais exames complementares, istodemandará um número elevado de ausências ao traba-lho, ainda que parciais.

Essa peregrinação inibe o indivíduo a dar seqüên-cia à investigação clínica necessária.

O empregador, via de regra, não aceita esse pro-cesso, não só visando à redução de seus índices deabsenteísmo e a redução de custos de seu produto final,também pela falta de conhecimento e ausência de incen-tivo por parte do sistema público, que, por sua vez, pre-cisa atuar de maneira pró-ativa, facilitadora e preventiva-mente.

Assim, resta ao trabalhador a insegurança entre bus-car seu direito à saúde ou a manutenção de seu emprego.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim como a legislação obriga as empresas arealizarem exames médicos ocupacionais, é importanteque, com a participação dos diversos segmentos dostrabalhadores, representações de classe, conselhos co-munitários de saúde, entidades médicas e a classe políti-ca, especialmente do legislativo federal, seja alterada alegislação trabalhista, institucionalizando-se o ProgramaNacional de Diagnóstico Precoce do Câncer da Próstata,obrigando as empresas a liberarem os trabalhadores quese enquadrarem no perfil acima descrito, ou seja, idadeassociada a antecedentes familiares, quando for o caso,para a realização de consultas e exames na rede pública.

A partir de então, através de uma parceria com opoder público municipal, seriam operacionalizados to-dos os procedimentos necessários, conforme aqui su-

cintamente mencionados, de maneira prática, ágil e obje-tiva, diminuindo significativamente o tempo de esperapara as consultas e realização de exames complementa-res. Uma vez regulamentado esse programa, certamenteseriam propiciadas condições mínimas para um aumentoconsiderável na quantidade de indivíduos que, de fato,passariam a fazer a prevenção do câncer de próstata,dando-lhes oportunidade de uma velhice com mais qua-lidade de vida, lembrando que a maior incidência dessapatologia ocorre a partir dos 65 anos de idade.

Dessa forma, empresas, trabalhadores, entidadesde classe e poder público, juntos, formariam uma sólidacooperação para combater o preconceito e viabilizar apromoção da saúde de maneira plena e digna.

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Depressão no Idoso

José Valter de Andrade *Maria Clara Lombardi de Castro Silva *

Rosana Bernacca *Rosana Pereira Domiciano Moura *

Elizabeth Moraes Liberato **

Resumo: Este artigo propõe-se a uma reflexão sobre alguns aspectos que levam, hoje, ao alto índicede ocorrência de depressão no idoso, analisando o que leva a um quadro depressivo e o papel dafamília no tratamento. Trata, ainda, da visão do idoso integrado na sociedade moderna, antes eapós a aposentadoria. De acordo com Kramlinger, em seu livro Depressão Pesquisada e Comenta-da pela Clínica Mayo, “a depressão não é parte natural da velhice.”

Palavras-chave: Idoso, depressão, família, aposentadoria.

Abstract: This study aims to reflect about aspects that affect the occurrence of depression betweenthe elderly people, and analyze the cause of the depressive situation, and paper of the family in thetreatment. It treats about the elderly vision, in the modern society, before and after the retirement.

Key words: Elderly, depression, family, retirement.

* Pós-Graduado(a) do Curso de Especialização emGerontologia e Família.

** Pró-Reitora de Avaliação e Professora da Univap -Doutora em Serviço Social e Especialista emGerontologia.

1. INTRODUÇÃO

A visão que a sociedade moderna tem dos velhosnem sempre é agradável, principalmente aos seus própri-os olhos; muitas vezes, eles são motivos de comentáriosjocosos e preconceituosos. O idoso, hoje, vem de umarealidade diferente, pertence a um tempo em que os fi-lhos cuidavam de seus pais. Isto, por vezes, não aconte-ce nos dias de hoje, onde as famílias têm um númeromenor de filhos, todos trabalham fora para melhorar ascondições financeiras, sobrando pouco tempo e espaçopara o idoso dentro do núcleo familiar.

O idoso é penalizado, ainda, por suas própriasquestões financeiras. Após anos de trabalho, o valor daaposentadoria que recebe não lhe proporciona tranqüili-dade e dignidade.

Afirma Cerqueira: “Estudar as condições de saú-de e bem estar da população idosa implica, necessaria-mente, dar uma atenção especial à sua saúde mental, in-vestigando, particularmente, a demência e a depressão,doenças que têm suas incidências e prevalências aumen-

tadas com o avanço da idade e que podem levar o idosoà perda de sua autonomia, aumentando os anos de vidavividos com incapacidade”. (CERQUEIRA, 2003, p. 143)

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Pesquisa Epidemiológica

Segundo estudo da distribuição dos transtornospsiquiátricos na população humana e dos fatores queinfluenciam sua distribuição (LILIENFELD; LILIENFELD,1980 apud KRAMLINGER, 2000), a pesquisaepidemiológica da depressão no idoso é um assunto re-levante na prática clínica, pois determina a taxa de ocor-rência de depressão em pessoas idosas na comunidade eos possíveis fatores de risco associados à depressão.

São usadas três fontes de dados para verificaçãoda extensão dos transtornos depressivos no idoso:

· O registro de casos psiquiátricos é um protoco-lo central que inclui informação sobre todas aspessoas com diagnóstico de transtorno psiqui-átrico, através de contato com serviços psiquiá-tricos, como hospitais e ambulatórios.

· As pesquisas em instituições representam asegunda fonte de dados com relação à distribui-ção da depressão em idosos. A depressão é co-mum entre pessoas idosas em asilos e há preo-

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cupação quanto ao fato de que ela éfreqüentemente sub-diagnosticada.

· Uma terceira fonte de dados para a freqüência dadepressão é a pesquisa populacional. Um méto-do de avaliação comumente utilizado emepidemiologia é a da prevalência por períodos(número de casos ocorridos durante um dadoperíodo por unidade da população ou do grupo).

A depressão no idoso é uma doença que podelevar à perda da autonomia funcional; muitas vezes, nãoé uma doença isolada, ela antecede algum problema maisgrave de saúde ou surge logo após este problema terocorrido, como por exemplo, o infarto ou o derrame. Deacordo com pesquisa da Clínica Mayo (Mayo FoundationFor Medical Education and Research), citada porKramlinger em seu livro “Depressão Pesquisada e Co-mentada – 2000”, o derrame tem uma forte relação com adepressão, e independentemente do nível de complica-ções (leve, moderada ou grave) pode durar até 2 anosapós a sua ocorrência.

Nas doenças de Parkinson e nos AcidentesVasculares Cerebrais (AVCs), a depressão faz parte daprópria doença; são consideradas como Depressão Se-cundária.

Algumas pessoas com dificuldades leves entramem depressão e outras, com graves seqüelas físicas, nãodeprimem. Pode ocorrer que as pessoas que cuidam des-ses idosos acreditem que os sintomas depressivos se-jam “normais” mas, a falta de um tratamento eficaz preju-dica a recuperação dos comprometimentos físicosadvindos do derrame.

2.2 Causalidade da Depressão

As características clínicas da depressão no idosopodem tomar por base os clássicos conceitos de depres-são reativa, depressão secundária e depressão endógena,que se confundem na depressão senil.

Depressão Reativa - reativa a alguma situaçãovivencial traumática (o idoso passa por uma condiçãoexistencial problemática e, muitas vezes, sofrível)

Depressão Secundária – secundária a alguma con-dição orgânica (o idoso costuma desenvolver estadospatológicos e degenerativos que facilitam o desenvolvi-mento da depressão).

Depressão endógena – é constitucional, atreladaà personalidade (as pessoas com depressão endógenaou constitucional envelhecem e continuam depressivas).

Verifica-se pelas condições existenciais, que adepressão do idoso bem que poderia ser reativa. Poderiaigualmente ser secundária conforme as condições físi-cas do idoso e finalmente, pelos eventuais anteceden-tes, poderia ser endógena.

3. RESULTADOS/DISCUSSÃO

Citando os estudos dos pesquisadores norte-americanos Beekman et al. sobre a prevalência de de-pressão entre idosos, Cerqueira (2003) cita como rele-vante os dados de incidência de uma em cada oito pes-soas com mais de 65 anos.

Verifica-se que um dos fatores sociais que levamà depressão do idoso é a não-participação deste no seiofamiliar. O idoso se vê em uma situação marginalizada nafamília e na sociedade, excluído no dia-a-dia, das deci-sões familiares, dos eventos sociais, enfim, situações emque, há pouco tempo, era ele quem se destacava ou orga-nizava.

Outro fator social é a chegada da aposentadoria,nem sempre o idoso está preparado emocionalmente efinanceiramente; torna-se um fato que ocasiona mudan-ças profundas em sua vida, levando-o a se sentir inútilou inválido para a sociedade e a família.

O envelhecimento ocorre de forma variada nosindivíduos, alguns fazem uma passagem tranqüila. Aque-les que extraem do trabalho a satisfação pessoal comoelo social, sua auto-estima com a chegada da aposenta-doria pode alterar-se; a rotina muda, as expectativas mu-dam, os relacionamentos também podem mudar.

Algumas atitudes tomadas certamente podem pre-venir a depressão, como manter uma vida social, apren-der novas atividades, engajar-se em um trabalho volun-tário, consultar um profissional para fazer atividades físi-cas que dêem prazer. A renovação espiritual também for-talece o indivíduo, de acordo com sua crença, seus valo-res e propósitos de vida.

Outras causas de depressão no idoso são: medi-cação inadequada; perda de pessoas queridas;distanciamento familiar; incapacidade funcional; entreoutras.

Os sintomas de depressão nos idosos podem servários, entre eles se destacam: tristeza profunda; desâni-mo; diminuição de interesse por atividades anteriores;alterações no sono e apetite; irritabilidade. A depressãopode causar um forte impacto nas relações familiares eafetar a qualidade de vida.

Toda depressão deve ser avaliada e tratada por

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médico. Ela pode ser leve, moderada ou grave e cabe aomédico diagnosticá-la e tratá-la, com medicamentos ou não.

Com as devidas orientações e identificação dadoença, esta pode ter o auxílio de outros tratamentos,como psicoterapia individual ou em grupo; atividade fí-sica ou terapia ocupacional. Para um tratamento eficazsão importantes o apoio e participação da família. O ido-so pode reagir tão bem ao tratamento tanto quanto osmais jovens.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A depressão no idoso ou qualquer pessoa, sejaqual for a causa, tem que ser tratada como doença, tendosempre avaliação e acompanhamento médico. O papel dafamília durante e após o tratamento é parte integrantedeste; é a família que deve dar o apoio e suporte para queo tratamento seja mantido do início ao fim, sem interrup-ções, pois uma recidiva sempre é pior do que a própriadoença.

Como dizia Samuel Johnson, escritor inglês doséculo XVII, “a tristeza é a ferrugem da alma. A atividadelimpa e a torna brilhante”.

Citando Castilho:

“A falta da família e da rede social podetornar os idosos pessoas tristes e agravar ajá esperada depressão comum à velhice(...)As políticas públicas e institucionais con-tribuiriam muito se incluíssem em seus pro-gramas projetos que promovessem o forta-lecimento dos vínculos familiares e o resga-te da história e da memória dos eventos edos afetos”. (CASTILHO, 2007, p. 63)

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Serviços de saúde-Depressão no idosowww.lincx.com.br/lincx/saude a z/3 idade/depressao.asp

Sua Saúde - Portal do envelhecimentowww.por ta ldoenve lhec imento .ne t / suasaude /suasaude5.htm

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Convivência Familiar na Velhice

Diva Maria Silva Santos *Lilian Cesare Costa *

Mariângela Rebouças de Paula Rodrigues *Elizabeth Moraes Liberato **

Resumo: Este trabalho tem por finalidade focalizar a relevância do convívio familiar na velhice. Osestudos contemporâneos sobre o assunto têm evidenciado mudanças na família nuclear, com osurgimento de novos arranjos e re-arranjos familiares. Buscou-se em pesquisa bibliográfica referencialpara a compreensão do tema.

Palavras-chave: Convivência, família e idoso.

Abstract: This work focuses on the relevance of living among their own family for elderly people.The present studies over this subject have shown changes in the family nucleus, with the uprising ofnew family arrangements and rearrangements. It was used bibliographic references for a bettercomprehention of the subject.

Key words: Convivance, family and elderly people.

* Pós-Graduada do Curso de Especialização emGerontologia e Família.

** Pró-Reitora de Avaliação e Professora da Univap -Doutora em Serviço Social e Especialista emGerontologia.

1. INTRODUÇÃO

“Desde o início da história da humanidade, a fa-mília sempre existiu”, mesmo nos grupos sociais maisdiversos culturalmente (LUFT, apud MARTINS, 1991, p.68). Daí a necessidade de se refletir primeiramente sobreo conceito de família para, posteriormente, enfatizarmossobre a dinâmica das relações familiares nas diferentesculturas. Com o aumento da expectativa de vida da po-pulação, com a redução do âmbito familiar e com as cres-centes demandas de trabalho e sobrevivência, estas ques-tões estão cada vez mais em debate. (GOLDIM, 2004)

O crescimento da população idosa e o surgimentode novos arranjos familiares repercutem no crescente nú-mero de idosos em situação de isolamento e depressão.

Citando Castilho: “pouco espaço resta para o idosoda família contemporânea, cujos membros – embora jun-tos – vivem isolados”. (CASTILHO, 2006, p. 59)

Neste contexto social, a família encontra dificul-dades em manter relações de reciprocidade com seus ido-sos, principalmente quando estes requerem maior aten-

ção, devido à situação de fragilidade.

Como dizem Vergara e Vergara: “Diante disso, aquestão é saber como recriar novas formas de convivên-cia com aqueles que, por direito, reivindicam reconheci-mento, respeito e inclusão nos acontecimentos da vidacotidiana e no contexto em que vivem”. (VERGARA;VERGARA, 2004, p.36)

Como alternativa imediatista, muitas famílias op-tam pela institucionalização de seus idosos, avaliandopor si próprias, qual encaminhamento seria mais adequa-do para o bem-estar deles.

De maneira geral, as instituições de longa perma-nência para idosos não priorizam a manutenção da con-vivência familiar e comunitária, dispensando maior aten-ção aos cuidados básicos.

Sendo assim, o desafio da sociedade modernadeve estar pautado na reconstrução da identidade socialdo idoso, entendendo que não existe um único protago-nista, mas uma co-responsabilidade que deve abranger oidoso enquanto agente de sua própria história, assimcomo a família e o poder público.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Conceito de Família

A origem etimológica da palavra “família” provémdo vocábulo latino “familus”, que significa “servo” ou

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“escravo”. A família foi assim designada porque, nospovos primitivos, incluía o conjunto de escravos ou cri-ados de uma mesma pessoa. A noção de posse e obedi-ência sempre esteve presente nas relações familiares, nãosó entre os povos primitivos como ao longo dos tempos.Os pais se julgavam com direito absoluto sobre os filhose a mulher devia obediência ao seu marido. O sentimentode posse e a questão do poder estão, portanto, intrinse-camente vinculados à origem e evolução do grupo fami-liar. (SIQUEIRA, 2006).

Definir o que é família é uma tarefa complexa, poisnão é uma expressão passível de conceituação, mas dedescrições de várias estruturas assumidas pela famíliaao longo dos séculos.

A família não deve ser vista como algo estático,definitivo e fechado, ou seja, a família está sempre emmovimento, em um constante processo de transforma-ção. (CABRAL, 2002).

Na realidade, “família é uma construção sócio-cultural”(...) que altera no tempo e no espaço os seusmodelos e atitudes. As idéias de família são construídasdentro de contextos históricos específicos, que lhes dãocaracterísticas culturais especiais, de acordo com os va-lores, a cultura, a crença e hábitos existentes nesses con-textos. (CABRAL, 2002)

Segundo Cabral (2002), diferentes critérios são uti-lizados para conceituar família, entre eles coabitação,consangüinidade, afinidade afetiva, etc..., que variam deacordo com o contexto social apresentado. Nas defini-ções clássicas de família, o critério de consangüinidadeaparece com maior evidência; assim como, na modernidade,o de afetividade e solidariedade sobressaem.

Família é sinônimo de família patriarcal e extensa,típica do período colonial, instituição vertical baseadano parentesco, lealdades pessoais e territorialidade.(FREIRE apud CABRAL, 2002)

Família são pessoas aparentadas que vivem emgeral na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e osfilhos: pessoas do mesmo sangue, ascendência, linha-gem e estirpe. (HOLANDA apud CABRAL, 2002)

Família não é apenas uma instituição social capazde existir isoladamente, mas constitui também e particu-larmente um valor. A sociedade brasileira valoriza a famí-lia como uma instituição fundamental à própria vida soci-al; é um grupo social e uma rede de relações: funda-se nagenealogia e nos elos jurídicos, mas também se faz naconsciência social intensa e longa. (da MATA apudCABRAL, 2002)

Família é aquela que propicia os aportes afetivose o bem-estar dos seus componentes: ela desempenhaum papel decisivo na educação formal e informal; é emseu espaço que são absorvidos os valores éticos e hu-manitários e onde se aprofundam laços de solidariedade;é também em seu interior que se constroem as marcasentre as gerações e são observados os valores culturais.(FERRARI apud CABRAL, 2002)

Família é a gente com quem se conta. (ONU apudCABRAL, 2002)

2.2 A família nos dias atuais

O modelo tradicional de família, que perduroudurante séculos, sofre questionamentos “a partir do de-senvolvimento técnico e econômico da revolução indus-trial, que gera mudanças filosóficas, ideológicas, étnicase políticas, transformando significadamente a vida soci-al.” (PRADO apud MARTINS, 2005, p. 68).

Esse novo contexto é caracterizado pelo “aumen-to do número de separações conjugais, e ainda: “a inde-pendência feminina, o consumo de tóxicos pelos jovens,o capitalismo, o liberalismo sexual, a mídia, a baixa taxa denatalidade e individualismo”. (MARTINS, 2005, p. 68)

Em virtude das transformações sociais, surge anecessidade de novas configurações de padrões familia-res, como resposta à necessidade de uma organização dasociedade moderna, que assim se constituem.

· Famílias Monoparentais: decorrentes de divór-cios ou separações; um dos pais assume a res-ponsabilidade dos filhos.

· Famílias Reconstituídas: decorrentes da ampli-ação do relacionamento familiar; o casal separa-do constitui uma outra composição familiar, agre-gando outros indivíduos.

· Uniões consensuais – decorrentes de vínculoentre as pessoas, mas de forma independente. Éuma união informal, sem compromisso legal.

· Casais de adolescentes: decorrentes da uniãode dois adolescentes, geralmente relacionada àgravidez precoce.

· Casais sem filhos por opção: decorrentes daopção do casal em não ter filhos, geralmentepriorizam a satisfação pessoal/ascensão profis-sional, independência social e financeira.

· Associação – decorrente da união de amigos,porém sem grau de parentesco.

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· Casais de homossexuais – decorrentes da uniãode indivíduos do mesmo sexo.

Diante desses arranjos e rearranjos familiares, érelevante a preocupação com as relações familiares nes-sa dinâmica social.

Paralelamente a estas mudanças, destaca-se o cres-cimento acelerado da população idosa; no entanto, “asrelações e as atitudes estabelecidas pelas famílias com oidoso são quase nulas” (MARTINS, 2005, p. 68); repro-duz-se uma imagem negativa e depreciativa da velhice.

Contraditoriamente, ao mesmo tempo em que astransformações sociais da sociedade contemporânea re-forçam uma identidade estigmatizada do idoso, nem tan-to pelo aspecto cronológico, mas por uma série de carac-terísticas negativas (doença, tristeza, capacidade de pro-dução, etc...), afetando diretamente na construção de suaidentidade social, inicia-se uma preocupação com umavelhice mais sadia. (ROCHA, 1980)

Em decorrência do processo de socialização pro-gressiva da velhice, emerge um novo-idoso, que anseiareconstruir seu papel na sociedade, no âmbito familiar,social, econômico e político.

As relações familiares não se tornam diferentescom a possibilidade de as pessoas viverem mais tempo,apenas tornam-se mais complexas, devido ao crescentenúmero de pessoas interagindo. “O aumento do númerode interações propicia uma maior possibilidade de rela-ções caóticas”. (MORIN apud GOLDIM, 2004, p.2)

Em virtude da dificuldade de reorganização e re-construção destas relações, muitas vezes opta-se pelaexclusão dos mais vulneráveis, principalmente dos maisvelhos.

Neste sentido, é necessária a atenção das famíliase do poder público para a busca de estratégias, visandoà inclusão do idoso, reconhecendo suas diferenças epossíveis contribuições. As estratégias de como lidarcom situações de conflito devem ser ampliadas, permi-tindo maior possibilidade de uma melhor convivênciafamiliar. (GOLDIM, 2004)

3. RESULTADOS

O crescimento da população idosa traz novas im-plicações no âmbito familiar e no âmbito público, decor-rente de uma diversidade de demandas apresentadaspelos idosos, onde percebe-se um despreparo tanto dafamília quanto dos órgãos públicos para atendê-las, prin-cipalmente em relação aos idosos fragilizados.

Afirmam Vergara e Vergara que, em décadas pas-sadas, “chegar à velhice no Brasil era menos complica-do, pois as desigualdades sociais pareciam ser menores,o custo de vida era mais baixo e a aposentadoria permi-tia-lhes uma vida de menos miséria e abandono”. (VER-GARA; VERGARA, 2004, p. 37)

Muitas vezes, na velhice, os problemas de saúdecausados por patologias múltiplas são agravados pelasolidão e a pobreza. A falta de companhia do velho, nosdias atuais, está diretamente ligada às transformaçõesque se operam no interior das famílias.

Viver só não é precisamente algo negativo, mui-tas pessoas, em todas as idades, optam em viver assim.No entanto, viver por um grande período sem companhiapode ocasionar isolamento.

Outros fatores contribuem para a diminuição dosuporte familiar para com o velho, entre eles a maior mo-bilidade das famílias e o aumento do número de divórci-os, que resultam em uma vida mais isolada e uma redu-ção do apoio familiar ao idoso.

Como solução imediatista, muitas famílias recor-rem às instituições asilares como resposta às necessida-des sociais dos idosos e aos conflitos gerados no conví-vio familiar. No entanto, essa deve ser a última alternati-va, visando garantir os direitos sociais dos idosos, con-forme preconiza o Estatuto do Idoso, em seu art. 3º, pará-grafo V.

A velhice é uma questão social e, nesse aspecto,ressalta-se a responsabilidade do poder público, seja naesfera municipal, estadual ou federal, no sentido de criarpolíticas públicas que garantam uma velhice digna, atra-vés de programas/projetos e serviços que propiciem al-ternativas de atendimento com vistas ao não-asilamentodos velhos e assim proporcionar suporte/apoio aos ido-sos e, respectivamente às suas famílias, para a manuten-ção do convívio familiar e comunitário na velhice.

A Lei 8.842, de 4 de janeiro de 1994, que dispõesobre a Política Nacional do Idoso, traz algumas propos-tas de atendimento alternativo aos idosos.

Centro de convivência: local destinado à perma-nência diurna do idoso, onde são desenvolvidasatividades físicas, laborativas, recreativas, cultu-rais, associativas e de educação para a cidadania;

Centro de cuidados diurnos: Hospital-Dia e Cen-tro-Dia-Local destinado à permanência diurna doidoso dependente ou que possua deficiência tem-porária e necessite de assistência médica ou deassistência multiprofissional;

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Casa Lar: residência, em sistema participativo,cedida por instalações públicas ou privadas, des-tinadas a idosos detentores de renda insuficientepara sua manutenção e sem família;

Oficina Abrigada de Trabalho: local destinado aodesenvolvimento, pelo idoso, de atividades produ-tivas, proporcionando-lhe oportunidade de elevarsua renda, sendo regida por normas específicas;

Atendimento Domiciliar: é o serviço prestado aoidoso que vive só e seja dependente, a fim desuprir as suas necessidades da vida diária. Esseserviço é prestado em seu próprio lar, por profis-sionais da área de saúde ou por pessoas da pró-pria comunidade;

Outras formas de atendimento: iniciativassurgidas na própria comunidade, que visem à pro-moção e à integração da pessoa idosa na família ena sociedade.

Para Vergara eVergara (2004) nem todas as cama-das sociais de idosos têm acesso a esses programas deconvivência.

Não é objetivo atribuir uma imagem negativa aoatendimento das instituições de Longa Permanência paraIdosos, mas ressaltar que a prioridade de encaminha-mento a este serviço deve ser para aqueles idosos que jánão possuem vínculo familiar, aos que se encontram emsituação de risco, ou ainda àqueles que por si própriosfizerem a opção.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A convivência familiar é indispensável ao desen-volvimento humano, independente do ciclo de vida. Tam-bém é uma referência importante na construção da iden-tidade social do indivíduo, que necessita participar, rela-cionar, interagir e assim construir sua história de vida, aomesmo tempo que também é parte da história de outros edo meio em que vive.

A condição de isolamento e abandono dos idosospor seus familiares é relativa, pois não corresponde à tota-lidade dos idosos, por isso não deve ser generalizada.

Os estudos sobre a velhice têm contribuído paraderrubar alguns estigmas sobre a condição dos idosos eapontam para o surgimento de um “novo-idoso”, que

apresenta estilos de vida com foco na participação, soci-abilidade e no grande desafio de reinventar a própriavelhice. Esta questão se apresenta como central a todosaqueles que trabalham ou desenvolvem projetos volta-dos à população idosa.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BRASIL. Lei 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõesobre o Estatuto do Idoso.

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CABRAL, C. et al. Trabalho social com família. 2. ed.Rio de Janeiro: Booklink Publicações Ltda., 2002.

CASTILHO, T. O idoso fragilizado e a família. In Ver. ATerceira Idade. v. 18, n. 38. São Paulo: SESC. fev. 2007.

FERRIGNO, J. C. Coeducação entre gerações. São Paulo:Vozes, SESC.

GOLDIM, J. R. Bioética, relações familiares e envelhe-cimento. 2004. Disponível em: www.ufrgs.br/bioética/gerfam.htm. Acesso em: 16 out. 2006.

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PINTOS, C. C. G. A família e a terceira idade, São Paulo:Paulinas, 1997.

ROCHA, G. Sob o signo de Saturno, Reflexões Antropo-lógicas em torno da velhice. Cad. Serviço Social. v. 3, n.3.Belo Horizonte, pp.25-55, 1998.

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A Importância do Cuidador do Idoso na SociedadeBrasileira

Patrícia S. M. Esteves da Fonseca *Gesilene A. Simões *

Elizabeth Moraes Liberato **

Resumo: Este artigo tem a finalidade de apresentar a importância do papel do cuidador de idosono meio familiar e social, destacando suas ações e dificuldades nos cuidados com idosos fragilizadosdentro da estrutura familiar. Neste contexto, o artigo explanará sobre o cuidador, as responsabili-dades que assume, fragilidades, necessidades no desempenho de suas funções ao preencher aslacunas deixadas por programas sociais voltados ao processo de cuidar de idosos.

Palavras-chave: Cuidador, idoso, família.

Abstract: This study aims to present the importance of the paper of elderly caretaker in the family. Inthis context, it treats about his responsibility fragilities, necessities in the performance of its functionswhen filling the gaps left for social programs come back to the process to take care of aged.

Key words: Caretaker, elderly, family.

* Pós-Graduada do Curso de Especialização emGerontologia e Família.

** Pró-Reitora de Avaliação e Professora da Univap -Doutora em Serviço Social e Especialista emGerontologia.

1. INTRODUÇÃO

“Cuidar é uma atitude de amor e interessepor outra pessoa. Cuidar de alguém é ge-ralmente considerado um atributo positi-vo – um sinal de comportamento maduro ecivilizado. A capacidade de uma socieda-de cuidar de seus membros menos afortu-nados é a marca do seu desenvolvimen-to.” (BROTCHIE; HILLS, 1991, p. 33).

O cuidador vem adquirindo um espaço importan-te na sociedade, devido à grande demanda de idososfragilizados ou não, que precisam de cuidados não ofere-cidos pelo Estado, sociedade e família que não vêem avelhice e suas perdas como parte da sua vida, e não écapaz, em alguns casos, de oferecer amor e cuidados.Isso ocorre no Brasil e no mundo, pois a sociedade não écapaz de colocar a velhice como parte do meio social,econômico e político.

1.1 O Cuidador de Idoso

Para definir a figura do cuidador, não se pode dei-

xar de esclarecer o porquê desse arranjo familiar na reali-dade atual.

O processo de envelhecimento, no Brasil, vemocorrendo de forma acentuada, sem a implantação deuma política eficaz e de programas voltados para o idoso,como ressalta. A Política Nacional para o Idoso – PNI, de4/11/1994, no artigo 3º: que é obrigação da família, dasociedade e do Poder Público assegurar, ao idoso, aefetivação do direito à saúde, à promoção e assistênciasocial, à educação, à cultura, esporte, e lazer, à justiça, aotrabalho e previdência social, à habitação, que compre-enderá garantias de autonomia, integração e participa-ção efetiva na sociedade. A população idosa, em suamaioria, tem capacidade funcional que vai além dos 60anos. O IBGE, em 1981, apontava que a taxa de portado-res de deficiência, com mais de 60 anos, era de 9%.(MEDINA apud KARSCH, 2003, p.104).

Nessa fase da vida, aumenta o risco de doençasdegenerativas que levam a casos mórbidos, ocasionan-do perda de independência ou autonomia. Estudos ana-lisados em 1986 apontavam que idosos de mais de 80anos eram duas vezes mais dependentes do que na faixade 60 a 80 anos (RAMOS apud KARSCH, 2003, p. 104).

Para Duarte: “na área de Gerontologia, o desem-penho funcional dos idosos, ou seja, sua capacidade devivenciar as atividades cotidianas sem a necessidade deauxílio, mostra-se mais significativa na vida dos mesmosdo que a presença de doenças, sinais clínicos ou, até

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mesmo, questões biomecânicas (Baltes e Silvenberg).Assim considerando, parece mais indicado verificar emque nível tais doenças impedem o desempenho, de formaautônoma e independente, das atividades cotidianas dosidosos e, por outro lado, que demandas assistenciaisdecorrem da presença de limitações, subsidiando, dessaforma, um planejamento assistencial mais adequado”.(DUARTE, 2003, p.186)

Várias mudanças ocorreram na sociedade brasi-leira em todas as áreas. No campo da saúde, cabe referir-se à política de saúde hospitalar, de desospitalização,que se reflete no retorno do paciente à sua casa em prazomenor, em condições que possa ser cuidado. Daí a im-portância de se estudar como estão sendo atendidos osidosos que demandam maiores cuidados. Às vezes, apósa alta, em muitos casos, o idoso é cuidado pelo cônjuge,igualmente idoso. Muitas famílias não têm condiçõesmateriais, físicas e emocionais, ou habilidades específi-cas de algum de seus membros para desempenhar a fun-ção de cuidador, pois significa um processo que envolvetarefas domésticas, pessoais e sociais. Surge então anecessidade de uma categoria própria de pessoa pararealizar essa intervenção no cuidado com o idoso. O quese observa é que, em geral, há a delegação para umapessoa, que é designada para este papel.

A categoria de cuidadores de idosos no Brasil épouco reconhecida. Em vários países europeus é umaformação aperfeiçoada ao longo de anos. No Brasil, onão-reconhecimento aos cuidadores, ocorre, pois os cui-dados são invisíveis aos olhos do Estado, assim comodas organizações que deveriam se responsabilizar porprogramas de atendimento, mas persistem em não enxer-garem a real situação, de forma que não são criadas redesde apoio, serviços externos, ou políticas e programas,dentro de uma política voltada para o envelhecimento dapopulação.

Para atender a esta situação, é que surge a figurado cuidador, como ator social que opera na dinâmica doscuidados necessários às atividades de vida diária dosidosos fragilizados ou não, que perderam sua indepen-dência, necessitando assim de uma ação interventivadentro da estrutura sócio-familiar.

Citando Castilho: “Pouco espaço resta para o idosoda família contemporânea, cujos membros embora juntosvivem isolados. As muitas funções exercidas por filhos enetos impedem que os cuidados não sejam terceirizados.”(CASTILHO, 2007, p. 5).

Os cuidadores podem ser representados como:cuidador familiar, comunitário, cuidadores informais, eformais; instituições e profissionais de prevenção.

· Cuidador Familiar: cônjuges, filhos, parentes pre-sentes à realidade do paciente idoso que preci-sa de cuidados.

Na maioria das vezes, uma pessoa é designadapela família para oferecer os cuidados necessários du-rante e pós doença, e acaba assumindo obrigações etarefas que o idoso não tem mais possibilidade de reali-zar. As tarefas vão desde a higiene pessoal até adminis-tração financeira da família.

Para o idoso é importante ser cuidado por paren-te, pois assim, estará num mundo conhecido e com laçosfamiliares.

Segundo Karsch (2003), “A eleição do cuidadorfamiliar obedece à seguinte ordem: parentesco direto como cuidador, gênero do cuidador, à distância entre o idosoe o cuidador e a proximidade afetiva.”

Na sociedade brasileira está implícito que o papelde cuidador é assumido pela mulher, podendo ela seresposa, filha ou nora.

· Ajuda Comunitária: é representada por agentesComunitários, tais como vizinhos, voluntários,associações.

· A família, embora tenha amor pelo idoso, muitasvezes se encontra desgastada, por um cotidianorepleto de pressões e responsabilidades, não so-brando tempo, nem energia, para desempenharo papel de cuidador.

Neste contexto, verifica-se a importância da ajudacomunitária, representada por pessoas que apóiam ecomplementam as tarefas dos cuidadores familiares, cons-truindo assim uma rede. A finalidade desta é “substituiros cuidados familiares,(...) dar suporte aos cuidadores,aliviar o seu cansaço, substituí-los periodicamente, as-sim como complementar os cuidados de rotina.”(KARSCH, 2003, p. 109)

· Cuidador Informal: representado pela família eamigos que cuidam, oferecendo suporte físico,social e afetivo na comunidade em que vive.

Estes, também, desempenham um papel de gran-de relevância na ajuda cotidiana, pois são fundamentaispara a rede de cuidadores comunitários para idosos.Embora o significado deste cuidado tenha sido modifica-do nas últimas décadas, onde o cuidado informal se cons-tituía por redes locais, de parentes, e grupos de pessoasque cooperavam entre si, hoje, é difícil encontrar na es-trutura familiar diferentes gerações sob o mesmo teto,gerando assim uma intimidade à distância.

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Assim, a categoria que vem muito contribuindopara esta representação é a de empregada doméstica.

· Cuidador Formal: são os médicos, enfermeiros,fisioterapeutas, etc., profissionais que prestamserviços domiciliares ou como voluntários emtrabalhos comunitários.

· Instituições: Hospitais-Dia, ou Centro-Dia, sãoopções que as famílias e os cuidadores têm nasua comunidade, para receber ajuda nos cuida-dos com seus pacientes idosos.

· Profissionais de Prevenção: São psicólogos,educadores e outros profissionais que estimu-lam a independência de idosos para seremautocuidadores nas suas necessidades físicas eemocionais.

· Programas de Atendimento Domiciliar ao idoso:Como exemplo, o programa da Unifesp-SP, cujoobjetivo é o atendimento ao idoso e orientaçãoaos cuidadores.

2. RESULTADOS

Segundo Stephens (apud LEAL, 1990), as inter-venções relacionadas a cuidar de idosos pertencem aquatro domínios:

1ª- Intervenções relacionadas a proporcionar su-porte em atividades instrumentais na vida diá-ria do idoso, como arrumar, limpar a casa, pre-parar refeições, fazer compras, receber e admi-nistrar o pagamento, transportar e acompanharem consultas, exames e passeios.

2ª- Intervenções ligadas a dificuldades funcionaisassociadas a atividades físicas e aoautocuidado, como: caminhar, alimentar, tomarbanho, tomar medicação, etc., são todas as ati-vidades diárias.

3ª- Intervenções que envolvem as necessidadesde suporte emocional, exemplo: fazer compa-nhia, atuar como confidente, conversar sobrequestões pessoais e emocionais, compartilharatividades, manter e reatar laços afetivos.

4ª- Intervenções psicológicas relacionadas a dis-túrbios psicológicos e psiquiátricos, depres-são, baixa satisfação ao proporcionar cuida-dos.

A família tem um papel importante comofacilitadora de intervenções necessárias, devendo con-

tribuir para a motivação de seus idosos, facilitando con-dições favoráveis e prestando valiosas informações so-bre a evolução dos atendimentos, condutas e reaçõesdos idosos.

2.1 O cuidador também precisa de cuidados e de conhe-cimentos

“Você não pode viver um dia perfeito sem fazeralgo por alguém que nunca será capaz de retribuir”. (JONHWOODEN apud BERALDO, 2002).

Como vimos, o papel do cuidador é expressar amore cuidados além dos seus limites, é vivenciar e deixar,muitas vezes, de viver a sua vida em função do outro;geralmente, esta pessoa cuidadora precisa de suporteprofissional e familiar para manter os cuidados a pacien-tes debilitados por doenças degenerativas, como doen-ças de Alzheimer, câncer e outras.

Os cuidadores enfrentam doenças como depres-são, stress, passam a sofrer da “síndrome do cuidador”,pois suas funções são intensas e suas vidas são deixa-das em segundo plano, para suprir a necessidade do outroque precisa de seus cuidados.

Com o objetivo de ajudar os cuidadores, existemassociações, encontros familiares, grupos de apoio, etc.,que procuram dar subsídios para melhorar a qualidadede vida do cuidador.

Estes grupos oferecem apoio psicológico para ocuidador relatar seus medos, suas raivas e suas angústi-as, trocar experiências de vida, readquirindo assim, umaestabilidade emocional para lidar com os problemas dosoutros, como profissional, ou como cuidador de pessoasfragilizadas da própria família.

3. CONCLUSÃO

Através deste artigo, podemos verificar nas ques-tões relacionadas ao envelhecimento, a importância dadiscussão dessa realidade, na sociedade brasileira. Sen-do que as políticas sociais não suprem as necessidadesde áreas como saúde, cuidados, moradia, previstos emleis e estatutos para a população em geral. O que se refle-te na situação dos idosos, é que podem ser excluídos emsua própria família.

Assinala Duarte: “compreende-se ser cada vez maisnecessária, na assistência aos idosos, a compreensão queestes estão inseridos num contexto familiar em um contí-nuo processo de interação”. (DUARTE, 2003, p. 198)

Na estrutura familiar contemporânea, muitos fa-miliares não são capazes de amar e cuidar, pois não ad-

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quiriram, através da cultura, noções de respeito para sesentirem responsáveis, oferecendo à pessoa idosa cui-dados especiais.

Hoje, como resultado desta realidade, surge o pa-pel do cuidador, que enfrenta dificuldades para poder serreconhecido como categoria, para exercer suas funções.

O idoso precisa do cuidador para que possa seratendido em suas dificuldades, no meio familiar e social;o cuidador é um agente essencial para atender essa rea-lidade. É importante, dentro deste contexto, aimplementação de projetos de capacitação de cuidadorespara o atendimento adequado do idoso em seu domicilio.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Mulheres Solteiras na Terceira Idade:um questionamento de vida

Marilda Piedade Godoi *Elizabeth Moraes Liberato **

Resumo: Em dados estatísticos apresentados recentemente, deparamo-nos com uma realidadeincontestável – o aumento da população idosa no Brasil. Fruto de significativas quedas nas taxasde mortalidade e fecundidade, decorrentes de uma destacada melhoria na qualidade de vida daspessoas. Notou-se o aumento relevante da população feminina junto ao segmento idoso, numfenômeno conhecido como feminização da velhice. Este fator se evidencia frente a vários ramos dasociedade, trazendo esta nova mulher idosa como destaque em sua atuação. Perante esta realida-de, propomo-nos a estudar aquela mulher jovem do século XX – décadas de 60 a 80, que perantetoda repressão familiar, social e política, optou pela identidade civil de solteira. Diante disso, esteestudo terá como objetivo o traçado de vida, através de relato de história oral do sujeito pesquisadoaté chegar aos patamares atuais, já que o estigma “solteirona” tinha um forte teor de negatividade.O estudo do envelhecimento humano é uma questão prioritária. O conhecimento da populaçãofeminina que habita este universo se faz necessário, assim como pesquisar o comportamento psico-sócio-cultural da mulher discriminada em seu potencial, ao redefinir os papéis a ela atribuídospela sociedade.

Palavras-chave: Velhice, feminização, idosa solteira.

Abstract: The increase of the aged population in Brazil is caused by significant falls in the taxes ofmortality and fecundity, decurrent of one detached improvement in the quality of life of the people.The increase of the aged feminine population, is a phenomenon, the “feminização” of the oldness.This fact is evidenced in some branches of the society. This work aims to study the young woman ofcentury XX - decades of 60 the 80, that before all familiar, social repression and politics, opted to thecivil identity of bachelor. This study objectives the tracing of life, through verbal story of history ofthat woman. The stigma “solteirona” has a strong text of negativity. The study of the human ageingis a priority question. The knowledge of the feminine population is necessary, as well as searchingthe physico-social-cultural of the woman discriminated in its potential, when redefining the papersattributed by the society.

Key words: Ageing, “feminização”, elderly bachelor.

* Pós-Graduada do Curso de Especialização emGerontologia e Família.

** Pró-Reitora de Avaliação e Professora da Univap -Doutora em Serviço Social e Especialista emGerontologia.

1. INTRODUÇÃO

O teor do movimento feminino no século XX éindiscutível. As mulheres deixaram de interpretar o papelde coadjuvantes da história para fazerem parte do elencoprincipal. Ao longo dos anos 1960, quando os canais decomunicação começaram a abrir espaço para as denúnci-as sobre a condição marginal da mulher brasileira, mal se

podia prever a verdadeira revolução que se anunciavaneste campo. Alguns sinais de que as coisas começavama mudar já podiam ser apontados: em 1962, o CódigoCivil eliminava, enfim, o princípio segundo o qual a mu-lher, ao contrair matrimônio, abria mão, por assim dizer,do direito de decidir sobre alguns aspectos fundamen-tais de sua condição de cidadã, como firmar contrato detrabalho, sem autorização do marido, dispor de conta oupoupança bancárias, opinar na fixação do domicílio, via-jar para o exterior, isto para criar apenas alguns exem-plos; os projetos de lei que propunham o divórcio, elimi-nando da Constituição o princípio do casamentoindissolúvel, embora rejeitados pela maioria no Congres-so (sua aprovação só viria 12 anos depois) eram ampla-mente apoiados pela sociedade civil; crescimento verti-

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ginoso de matrículas femininas na universidade denun-ciava a queda de um reduto tradicional do patriarcadobrasileiro: no mercado de trabalho aumentava sua parti-cipação em áreas não-convencionais dos diferentes se-tores de produção.

A partir de meados da década de 1970, os primei-ros movimentos organizados de mulheres cresciam e seespalhavam por todo o país e as teorias de Simone deBeauvoir e Betty Friedan eram amplamente debatidos,nos diversos espaços sociais, da universidade à fábricade sutiãs, passando pelos sindicatos e pelos partidospolíticos (BAUER, 2001).

Os anos 1970 irão marcar uma reviravolta do mo-vimento feminista, que coloca no centro das discussõesa relação homem-mulher. Nessa década, as mulheres, jáorganizadas, combinaram a luta contra a ditadura e pormelhores condições de vida, com a discussão dos pro-blemas específicos das mulheres – sexualidade,contracepção, aborto, dupla jornada de trabalho e a dis-criminação econômica, social e política.

As estatísticas no Brasil e no mundo exibem umapredominância da população feminina entre os idosos –e este fenômeno é uma realidade numérica constatadainternacionalmente na literatura, pelos estudossociodemográficos. Existem no mundo cerca de 302 mi-lhões de mulheres e 247 milhões de homens com 60 anosde idade ou mais. Nos países desenvolvidos, as mulhe-res acima de 60 anos representam mais de 20% do totalda população feminina (ONU, 1995 apud VERAS, 1999).Essa maior proporção de mulheres no total da populaçãoidosa – superioridade que aumenta com a idade – é de-nominada de “feminização da velhice” (ARBER; GINN,1991; BRITTO DA MOTA, 1998; BERQUÓ, 1999; VERAS,1999; CAMARANO et al., 1999; NERI, 2001; RATELIFF,2002; BASSIT, 2004). Dados atuais são apresentados pelapesquisa do SESC/Fundação Perseu Abramo, maio de2007, onde os índices de idosas passa para 57% da po-pulação acima dos 60 anos.

Para Saffioti (1992), inclusive, pode-se dizer quetanto o gênero quanto o sexo são inteiramente culturais,pois o sexo, em si, não tem registro apenas no terrenobiológico, mas é perpassado por toda uma elaboraçãosocial, uma vez que os próprios fatos de sexualidade sãoexpressos socialmente e incluem significados oriundosda cultura.

As preocupações teóricas relativas ao gênero,enquanto categoria de análise, estiveram ausentes namaior parte das teorias sociais formuladas desde o sécu-lo XVIII até o começo do século XX. No Brasil, o campode estudos de gênero só veio a se consolidar no finaldos anos 70, paralelamente ao fortalecimento do movi-

mento feminista no país (FARAH, 2004).

Estes comportamentos de acatar, renunciar, sub-meter-se e obedecer – herança de um modelo tradicionalque restringiu a mulher ao espaço doméstico durante sé-culos, estão na origem da naturalidade e até do orgulhocom que muitas mulheres aceitam e tomam para si o papelde grandes “cuidadoras” da humanidade. Segundo Duartee Santos (2004), “desde o patriarcado, uma das represen-tações sociais mais identificadas às mulheres foi aindissolúvel paridade mulher-cuidadora” (...) e “ser altru-ísta não era uma qualidade, mas, antes de tudo, um requi-sito de toda mulher” (DUARTE; SANTOS, 2004, p.4).

Ao se falar em envelhecimento é, preponderante,falar das mulheres idosas, uma vez que dadossociodemográficos confirmam ser a velhice um episódiovivido, em sua expressiva maioria, pelas mulheres. Osdados do Censo de 2000 e da Pesquisa Nacional poramostra de Domicílios/PNAD/2001, do IBGE, confirmamesta superioridade numérica das mulheres idosas em re-lação aos homens idosos: “Como resultado da mortali-dade diferenciada por gênero, constatou-se um exceden-te feminino na composição da população, o que se tornamais evidente nas idades mais avançadas. Em 2001, aparcela feminina representava 55,8% do contingente depessoas de 60 anos ou mais idade” . Já em 2007, atravésda pesquisa: “Idosos no Brasil: Vivências, desafios e ex-pectativas na 3ª Idade”, feita pelo SESC e a FundaçãoPerseu Abramo, o índice passa para 57% de mulheresidosas contra os 43% de homens.

Perante todo o estudo apresentado por pesquisa-dores do envelhecimento, cabe-nos descobrir quem éesta mulher idosa que aparece com tanta evidência domi-nando o contexto da “feminização acentuada da velhi-ce”. Esta mulher que era o retrato da repressão física,social e psicológica, que não poderia ser exposta publi-camente, pois seu papel era de provedora da educaçãodos filhos, mantenedora da moral familiar e trabalhadorainvisível num mundo de muitos “sins”, torna-se a jovemrevolucionária do século XX (décadas de 60 a 80). Estamulher idosa deixou de ser uma presença silenciada nahistória, passou a ser ouvida na política, a ser respeitadacomo cidadã, deixa de ser da esfera privada para ser daesfera pública, evidenciando suas particularidades, aoinvés de diluir-se na homogeneidade do todo.

Propomos-nos a estudar teoricamente estas jo-vens - hoje idosas - que questionaram aberta e publica-mente o seu papel social, ao quebrarem regras que a elaseram atribuídas desde o final do século XVIII. Fizeram-se ouvir, expressando seus propósitos e rompendo comos mitos que as haviam relegado ao silêncio durante sé-culos. Isto significou um importante avanço na vida co-tidiana das mulheres no século XX, abrindo caminhos

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para o grito de liberdade e respeito à mulher, para conhe-cer como foi esta trilha, suas dores, sucessos, sublima-ções e como isto se refletiu no seu comportamento atual.

Através de relato de história oral, pretendemosestabelecer uma ponte entre o que foi rememorado e oque está por vir, com a intenção de contribuir paraparâmetros de maior inclusão da mulher idosa no mundoatual, como cidadãs que têm consciência de seus direi-tos e potencial humano, deixando de ser uma coadjuvan-te para ser a atriz principal no teatro da vida.

2. METODOLOGIA

Fez-se uma investigação (sobretudo bibliográfi-ca) sobre as transformações ocorridas (ou a elas relacio-nadas), que se alicerça em bibliografias específicas, bemcomo revistas científicas da área e dos assuntos afins.Através de filmes de época e atuais, analisaram-se oscomportamentos e sua correlação. Por fim, apoiamo-nostambém em informações obtidas pela Internet. Para a aná-lise da bibliografia, recorreremos a fichamentos (fichasde transcrição e/ou fichas analíticas) e resumos.

Consideramos importante um levantamentoempírico; para tanto, será feito entrevista qualitativa comidosa participante de atos públicos e políticos, que traz namemória fatos e atos guardados no subconsciente. Para arealização da entrevista, utilizaremos gravadores, posteri-ormente, transcreveremos as fitas e, por fim, faremos aanálise teórico-científica dos discursos e dados obtidos.

Deixamos claro, entretanto, que pela vastidão doassunto a pesquisa poderá se estender e, assim, ser ne-cessário direcionar para um foco mais específico, dandosua continuidade em outros estudos posteriores.

3. DISCUSSÃO

Ser mãe, esposa e dona-de-casa era consideradoo destino natural das mulheres. A vocação para a mater-nidade e a vida doméstica seriam marcas de feminilidade,enquanto a iniciativa, a participação no mercado de tra-balho, a força e o espírito de aventura definiriam a mas-culinidade. A mulher que não seguisse seus caminhosestaria indo contra a natureza, não poderia ser realmentefeliz ou fazer com que outras pessoas fossem.

O casamento seria a porta de entrada para a reali-zação feminina, era tido como “o objetivo” de vida detodas as jovens solteiras. O papel de mulher de vida pri-vada passaria a propor-lhe poucas possibilidades de teruma vida pública.

Perante as opções de muitas mulheres em perma-necer solteiras, hoje idosas, assumiram papéis como

cuidadoras de pais, sobrinhos, irmãos, etc.

Através do relato de história oral pela persona-gem solteira de nossa pesquisa, analisaremos o reflexodesta opção em sua vida, durante o ciclo vital do enve-lhecimento que hoje vivencia.

4. RESULTADOS

De início, através de uma leitura sistemática, apre-enderemos o que houver de mais relevante na literaturabrasileira e internacional sobre o processo de envelheci-mento. Da mesma forma, será indispensável a realizaçãode uma análise conceitual do material bibliográfico levan-tado no decorrer do estudo. Se possível, utilizaremos do-cumentos escritos sobre a rememorização da entrevista-da, juntando-se a um fichário do informante; obtendo da-dos pessoais adquiridos no final da gravação. Registrosparalelos serão feitos durante a entrevista, sobre o ambi-ente da pesquisa, captando emoções e interpretações,seguindo-se o processo de organização dos dados,fichamentos por temas orientados e introdução desubtemas trazidos pela testemunha; e após isto, organiza-remos os arquivos de temas sobre a fala da entrevistada.

A análise dos achados será realizada comparandoos temas com as informações da pesquisa sócio-históri-ca e cultural realizada, bem como análise do referencialteórico previamente estudado. A partir disto, construire-mos o produto final, com uma análise comparativa dasinformações coletadas.

Esse primeiro procedimento dará suporte teóricopara a nossa investigação. Após os estudos teóricos,traçaremos características significativas do perfil da ido-sa e como foram trabalhadas as barreiras sócio-culturaise políticas, refletidas no seu mundo atual.

Traçado o perfil da idosa solteira, poderemos com-pilar dados estatísticos de posicionamento da mesma nosdiversos tipos de escala sócio-cultural e qual o atual per-fil que ela tem perante a sociedade e como sua opção serefletiu em seu novo papel, analisando – inclusive – aquebra do estigma de “solteirona” que a acompanhoudurante estas últimas décadas.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARBER, S.; GINN, J. Gender and later life: a sociologicalanalysis of resources and constraints. London: Sage, 1991.

BASSIT, A. Z. Na condição de mulher: a maturidade fe-minina. In: L. Py; J.L. Pacheco; J.L.m. de Sá; S.N. Goldman(orgs.), Tempo de Envelhecer – percursos e dimensõespsicossociais (pp. 137-157). Rio de Janeiro: NAU, 2004.

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BEAUVOIR, S. A Velhice. Tradução de Maria Helena Fran-co Monteiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.

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BRITTO DA MOTTA, A. PVC – Bicho-papão para as Fe-ministas? In: Metamorfoses: gênero nas perspectivasinterdisciplinares. Salvador, UFBA, Núcleo de EstudosInterdisciplinares sobre a Mulher, 1998. pp. 137-145.

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DUARTE, C.V.; SANTOS, M.A. dos. E agora... de quemcuidarei – o cuidar na percepção de idosasinstitucionalizadas e não institucionalizadas. RevistaCiência e Profissão [on line], v. 24, n. 1, pp. 1-19.Disponí-vel em: http://www.revistacienciaeprofissão.org.Acessado em: 22 fev. 2006

FARAH, M. F. S. Gênero e políticas públicas. Rev. Estu-dos Feministas [on line], v. 12, n. 1, pp.47-71. Disponívelem: http/www.scielo.br. Acessado em: 24 jan. 2005.

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Intergeracionalidade: as relações entre jovem e idoso

Maria Ruth de Almeida Cavalcante *Elizabeth Moraes Liberato **

Resumo: Na atualidade, um grande contraste se apresenta: de um lado, uma sociedade que cami-nha para o envelhecimento, e por outro, a apologia do mundo do jovem. Surge então, o distanciamentoentre as gerações e a necessidade de se estabelecer novas relações entre o jovem e o idoso. Idosoque já foi jovem e que também teve suas dificuldades de se relacionar com o idoso. O jovem, cheio deexpectativas, que não aceita, muitas vezes, as idéias e questionamentos do idoso. Decorre daí anecessidade de se investir em novos relacionamentos entre as gerações.

Palavras-chave: Envelhecimento, aprendizagem, intergeracional.

Abstract: We live in a world that from one point of view see its population growing older and fromanother point of view we still have the world of younger people. From this, come a generation gapand the necessity to promote new ways of contact between these two generations. There is theelderly generation that was once young and had its share of trouble dealing with the old generationitself. There is the young generation, full of expectation that sometimes refuses the ideas and thearguments of the other generation. We are at the moment of change, where we see the needless of anew bonding between.

Key words: Aging, learning, intergeracional.

* Pós-Graduada do Curso de Especialização emGerontologia e Família.

** Pró-Reitora de Avaliação e Professora da Univap -Doutora em Serviço Social e Especialista emGerontologia.

1. INTRODUÇÃO

Na atualidade, o aumento da longevidade do serhumano tem ampliado o cenário em que ocorre o relacio-namento intergeracional. O contexto familiar é a instân-cia essencial da relação entre as gerações.

Os dados censitários indicam que, em futuro pró-ximo, o Brasil deixará de ser predominantemente um paísde jovens. A população idosa, hoje, aspira a mudanças ebusca novas perspectivas e modelos de vida. No entan-to, como característica marcante dos novos tempos, onúcleo familiar vivencia um afastamento em suas rela-ções, os encontros familiares, tão importantes, não ocor-rem com constância, com quantidade e qualidade. Cadamembro da família encontra-se, cotidianamente, corren-do para realizar seus afazeres, num impulso frenético atrásde seus interesses; ao chegar em casa, continua esseefeito estressante. Os membros da família continuam suastarefas, sem perceberem que não se relacionam, não secumprimentam, não se olham e nem conversam sobre o

seu dia e seus problemas. Como conseqüência, cada vezmais se estabelece a distância relacional. Cada qual viveem seu espaço-tempo exclusivo, quer seja o jovem, oadulto ou o idoso.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Em nossa cultura e realidade, o universo do jo-vem é simbolizado pela ousadia. O jovem acredita e valo-riza a sua juventude, julgando-a eterna. Para ele, o mun-do apresenta-se cheio de significados e de promessas,acredita que tem que investir em seus objetivos e proje-tos, seguir suas metas e realizar seus sonhos. Manifestasua rebeldia e preconceito. Prefere não acreditar no pro-cesso de envelhecimento. O adulto quando se vê enve-lhecendo, muitas vezes enfrenta profunda crise de iden-tidade.

Para o idoso, isso não ocorre de forma diferente.Ele também vive em seu próprio espaço. Com o passardos anos e apoiando-se em suas experiências de vidatorna-se cada vez mais autêntico e franco ao falar;freqüentemente, cria resistência e um equivocado pre-conceito em relação ao jovem, ao ignorá-lo e nãoconsiderá-lo como ser provido de competência e respon-sabilidade.

A intergeracionalidade somente ocorrerá ao se criar

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mecanismos que promovam a interação mais humanaentre o jovem e o velho, que possibilite a convivênciaharmoniosa, a aceitação das diferenças. Como diz Beauvoir“(...) a amizade dos jovens é muito grata às pessoas deidade: ela lhes dá a impressão de que este tempo em queestão vivendo ainda é o seu tempo, ressurge sua própriajuventude e os arrasta para o infinito do porvir: constitui,em suma, a melhor defesa contra a melancolia que pairasobre a velhice. (BEAUVOIR, 1970, p. 226)

O aumento progressivo de idosos, na sociedade,deixou de ser questão a ser encarada somente pela famí-lia, mas constitui-se, de fato, em questão social e política.O idoso, em épocas anteriores, era mais respeitado, pas-sava para a sociedade sua vivência e conhecimentosadquiridos ao longo de sua vida. Mas, nos dias atuais,como o progresso industrial e tecnológico, a sabedoriagravada na mente deixou de ser tão importante. Muitosidosos ficam presos a esta memória e deixam de acompa-nhar o desenvolvimento que está à sua volta. Atualmen-te, o jovem busca o que quer, usando a tecnologia a quefacilmente tem acesso. Não considera relevante o conhe-cimento que pode ser transmitido pelo idoso. Com o cres-cimento da população idosa, torna-se necessária a pre-paração da nova geração para um convívio saudável eprofícuo entre gerações.

3. RESULTADOS

A troca entre gerações poderá garantir um futurocom mais integração, uma sociedade mais humana, maisjusta e com qualidade de vida. Não podemos esquecerque envelhecer é um processo sempre presente na reali-dade de cada um, em seu contexto de vida. A interaçãoentre as gerações poderá levar à descoberta do desco-nhecido para ambos, possibilitando novas leituras sobrea realidade.

Há que se promover a convivência e a aproxima-ção entre as gerações. Essa ocorrência somente serápositiva se houver o intercâmbio afetivo. Deve-se des-pertar no jovem e no idoso a troca de suas peculiarida-des no modo de ser, sentir, pensar e querer de cada um.Há que existir a cumplicidade entre eles. Sobretudo, aten-der ao que dispõe o Estatuto do Idoso – Lei 10.741 (1º/10/2003), Título I art. 3º/IV: Viabilização de formas alter-nativas de participação, ocupação e convívio do idosocom as demais gerações.

Ferrigno apresenta a questão: “É realmente pos-sível a co-educação entre gerações? Quais são as condi-ções necessárias e suficientes para que ela se estabele-

ça?” E traz suas reflexões sobre a importância e possibi-lidades das trocas geracionais, resultando uma visão maisrealista sobre as demais gerações, decisiva para a lutacontra a segregação das faixas de idade que empobreceas relações sociais e provoca o preconceito etário dosvelhos em relação aos jovens e destes em relação aosidosos. (FERRIGNO, 2003)

A partir da intergeracionalidade, o jovem alicerçaráseus conhecimentos com base nos conhecimentos e naslições de uma vida já vivida pelo idoso. O idoso conser-vará sua vontade de viver, sustentado pelo fascínio pelavida, pela esperança e pela paixão do jovem. Assim, ojovem confiante e seguro, preparará seu lugar para o fu-turo; o idoso, com a ternura realimentada pelo jovem, aotrilhar os caminhos ainda a percorrer, sentirá novas for-ças e a energia resultante do compartilhamento de expe-riências.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A velhice exige mudanças de atitudes e deve serrespeitada, pois a cada dia, desde o nascimento, estamosem processo de amadurecimento e envelhecimento. As-sim, a partir do instante em que o jovem e o idoso desco-brirem a necessidade da interação, da busca pela apren-dizagem conjunta, ambos serão agraciados pela belezada vida e poderão contemplar a sua idade com serenida-de e descobrir que vale a pena viver a idade que têm.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEAUVOIR, S. de. A velhice. Difusão Européia do livro,São Paulo, 1970.

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O Idoso Vítima de Maus Tratos na Família

Geralda Pereira Costa *Elizabeth Moraes Liberato **

Resumo: No contexto das sociedades modernas, o termo velho ou velhice ganha um significadodepreciativo. Além do preconceito, os idosos são vítimas dos mais diversos tipos de violência. Estasvariam de insultos a agressões físicas praticados por familiares e cuidadores; outras são decorren-tes de políticas socioeconômicas que reforçam as desigualdades presentes na sociedade. Certa-mente, muitos dos avanços já alcançados com a criação do Estatuto do Idoso, em 2003, são degrande valia para a abordagem e tratamento desta questão no Brasil. O presente trabalho tem porobjetivo abordar, em sua temática, a situação do idoso vítima de maus tratos no âmbito familiar.

Palavras-chave: Idoso, violência, família.

Abstract: In the society context the expression elderly people is depreciative. Aged people arevictims of prejudism and violence. They would range from insults to physical aggressions done bymembers of the family or caretakers. Other violence result of the social economics politic that arethe reflection of social inequality. The advances achieved by the “Estatuto do Idoso”, in 2003, areimportant to treat this question in Brazil. This present work intends to discuss the situation of theelderly people that are victims of maltreat in the family.

Key words: Elderly, violence, family.

* Pós-Graduada do Curso de Especialização emGerontologia e Família.

** Pró-Reitora de Avaliação e Professora da Univap -Doutora em Serviço Social e Especialista emGerontologia.

1. INTRODUÇÃO

Os idosos são vítimas dos mais diversos tipos deviolência, que podem variar de insultos e agressões físi-cas, muitas vezes, praticados por familiares e cuidadores.As políticas socioeconômicas reforçam as desigualda-des presentes na sociedade, que repercutem nos direitosque deveriam ser assegurados a todos. Com relação aoidoso, os avanços já conquistados com o Estatuto doIdoso, Lei 10.741, de 1º/10/03, têm buscado reverter otrato dessa questão social no Brasil.

O presente trabalho tem por objetivo abordar aquestão do idoso vítima de maus tratos no âmbito famili-ar. Se por um lado, a violência contra os idosos se inserenos meandros dos conflitos intrafamiliares, muitas vezesinvisíveis para a sociedade, por outro lado, a própria cons-trução do ser idoso, na sociedade capitalista, associa aidade avançada à obsolescência, que se traduz em vio-lência social. Isto coloca a questão da violência comoparte de uma questão mais ampla.

2. MATERIAL E MÉTODOS

A violência é um fenômeno cada vez mais presen-te em nossa sociedade, abrange aspectos econômicos,sociais, culturais. Atinge todo e qualquer cidadão, emsuas diferentes formas de manifestação. Frente a essaviolência instalada em diferentes contextos, como garan-tir segurança àqueles que a requisitam das diversas ins-tâncias públicas? Como sentir-se protegido contra aagressão, o preconceito e a discriminação que permeiamas relações sociais e se instalam progressivamente comofatores inexoráveis, contra os quais não se tem mecanis-mos de defesa? Ao analisar os reflexos dessa situaçãosobre o idoso, acresce-se que a sua própria condição deser na sociedade é vista na perspectiva do desprestígiosocial, somada à dificuldade de acesso aos programas desaúde, alimentação, lazer.

A implementação do Estatuto do Idoso garanteao idoso os instrumentos legais que regulam os direitosdas pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Coma aprovação do Estatuto do Idoso, os direitos dos ido-sos foram ampliados e legitimados perante a sociedade,garantindo punição severa para aqueles que desrespei-tam ou abandonam os cidadãos da terceira idade. EsteEstatuto resgatou princípios constitucionais que garan-tem, aos cidadãos, direitos que preservam a dignidadeda pessoa humana, sem discriminação de origem, raça,

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sexo, cor e idade. Esta legislação traz, em seu conteúdo,a garantia dos direitos fundamentais referentes à pessoahumana, além de penalizar as pessoas que praticam adiscriminação, a crueldade, a opressão, a negligência e aviolência contra os idosos, bem como aqueles que omi-tem das autoridades competentes os crimes de que te-nham conhecimento. Assim, o Estatuto foi uma conquis-ta legítima da sociedade e teve, com certeza, uma granderepercussão social, que deve ser efetivada em garantiasreais que abranjam a população idosa.

3. RESULTADOS

Valle assinala um dado a ser levado em conta eque influencia a real situação do idoso na atualidade: “arapidíssima passagem de um contexto rural, com seussistemas de parentesco e estruturas de proteção, seja dacriança ou do idoso, para um contexto urbano de paíssubdesenvolvido, de megalópoles circundadas porcinturões de miséria, favelas e bairros populares seminfra-estrutura, dentro de um condicionamento socialextremamente violento, além de excludente. Essa violên-cia é uma questão estrutural”. (VALLE, 1997, p. 33)

Ser velho, na sociedade, é estar debilitado, nãopela decorrência de um processo natural de envelheci-mento, mas por maus tratos decorrentes de alimentaçãoinadequada e horário desorganizados, relacionamentosinterrompidos ao longo do tempo, que resultam em isola-mento e solidão.

A violência contra o idoso pode também se apre-sentar sob a forma de insultos e agressões físicas perpe-tradas por familiares e cuidadores; outras são decorren-tes de políticas socioeconômicas, que reforçam as desi-gualdades presentes na sociedade.

O ato de culpar a família pela falta de cuidado comos idosos é recorrente, se levar-se em conta a crescenteprecarização das condições de vida e as mudanças ocor-ridas em seu interior.

É importante ressaltar que a violência contra o ido-so não deve ser entendida fora do contexto da violênciasocial/estrutural em que os indivíduos estão inseridos.

O Ministério da Saúde (2002, p. 15), conceituaviolência intrafamiliar: (...) toda ação ou omissão que pre-judique o bem-estar, a integridade física, psicológica oua liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de ou-tro membro da família. Pode ser cometida dentro ou forade casa por algum membro da família, incluindo pessoasque passam a assumir função parental, ainda que semlaços de consangüinidade e assumem relação de poderfrente à outra.

A violência contra o idoso não pode ser generali-zada às famílias de baixa renda, pois extrapola a análisede classe social.

Porém, o fenômeno pode ser agravado por fato-res da conjuntura socioeconômica. Embora o idoso sejaprotegido pelo Estatuto, a família brasileira nem sempretem condições de arcar com essa responsabilidade, devi-do às altas taxas de desemprego e separações conjugais,o que a torna sem condições econômicas, físicas e emo-cionais para cuidar de seus idosos.

Nessa sociedade em que a família tem como basecondições profundamente desiguais, a vida cotidiana épermeada de conflitos. Para Mello: “a violência dos maisfortes contra os mais fracos (...) sempre está presente (...)é preciso não confundir a violência dos conflitos queatingem estas famílias (...) é necessário ver as condiçõesem que vivem estas famílias”. (MELLO, 2000, p.58)

Afirma Castilho: “Nas famílias que vivem em maiorvulnerabilidade social, a relação com os idosos acontecena complexidade de um cotidiano difícil, orquestrado pelapobreza e exclusão social”. (CASTILHO, 2007, p. 60)

A ausência de políticas públicas de auxílio temcomo possível conseqüência os maus tratos contra ido-sos, que acabam sofrendo nos ambientes onde moram.

Minayo (2004) classifica os maus tratos e a vio-lência contra os idosos em: físicos, aqueles que se con-cretizam em agressões, falta de cuidados de higiene, ali-mentação, chegando até à situações extremas de imobili-zação e “cárcere privado”. Psicológicos, quando ocor-rem pressões, chantagens, ameaças explícitas ou não,formas abusivas de controle e exercício de poderdiscriminatório contra o idoso. Abusos financeiros emateriais, geralmente contra idosos que têm alguma fon-te de renda, alguns bens, e que são despojados das deci-sões e usufruto, chegando ao extremo da manipulação euso de sua renda ou aposentadoria, de sua moradia, emproveito de outros. Negligência e abandono: situaçõesinstaladas junto a idosos incapacitados, que são verda-deiramente abusados em seus direitos de tratamento eacompanhamento devidos em suas dificuldades de ali-mentação, higiene, apoio emocional e afetivo.

A sociedade não pode permanecer omissa frentea esse quadro; cabe a todo e qualquer cidadão denunciare estar atento à violência que se instala no cotidiano devida dos idosos, muitas vezes impossibilitados de rea-ção e de requisitar respeito e direitos.

4. CONCLUSÃO

Certamente, os avanços implementados pela le-

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gislação e as estratégias e políticas de atendimento sãode grande auxílio para o trato da questão da prevençãoaos maus tratos ao idoso. É preciso integrar o idoso esua família à sociedade, dando-lhes capacidade de en-frentar obstáculos e promover mudanças em seu interiore nas relações sociais.

5. BIBLIOGRAFIA

CASTILHO, T. O idoso fragilizado e a família. In A ter-ceira Idade. v. 18, n. 38. São Paulo. SESC, 2007.

MELLO, S. L. Família: perspectiva teórica e observaçãofactual. In: A Família contemporânea em debate. São Pau-lo: Cortez, 2000.

MINAYO, M. C. S. Violência contra Idosos: O avesso doRespeito à experiência e à sabedoria. Secretaria de Direi-tos Humanos, 2004.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Violência intrafamiliar: ori-entações para a prática em Serviço. n. 8. Série A. Brasília,2000.

VALLE, E. A velhice e o futuro – os novos velhos do ter-ceiro milênio. São Paulo. PUC/SP, 1997.

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Aposentadoria: prêmio ou castigo?

Priscila Flores Chaves da Conceição *Elizabeth Moraes Liberato **

Resumo: A aposentadoria é um direito de todos; no entanto, essa fase da vida das pessoas podecorresponder a diferentes formas de encará-la, fazendo com que um número significativo de idososnão queiram requerê-la temendo como será suas vidas após aposentarem-se. Ao abordar este tema,o artigo chama a atenção para a necessidade de preparar continuamente o indivíduo para a fase dedesligamento de sua atividade laboral, para que ele analise o seu estilo de vida e planeje o seufuturo fora do âmbito profissional, após a aposentadoria, para que tenha a possibilidade de apro-veitar melhor essa nova etapa da vida.

Palavras-chave: Velhice, aposentadoria, trabalho.

Abstract: The retirement is a right of all; however, in this phase of the life of the people is difficult toface it, making with that a significant number of aged does not want to require fearing, afraid of itslives after to retire. This article calls the attention for the necessity to prepare the individual for thephase of disconnection of its labor activity, so that he analyzes his style of life and plans his futureafter the retirement, so that he has the possibility to advantage this new stage of the life.

Key words: Elderly, retirement, work.

* Pós-Graduada do Curso de Especialização emGerontologia e Família.

** Pró-Reitora de Avaliação e Professora da Univap -Doutora em Serviço Social e Especialista emGerontologia.

1. INTRODUÇÃO

“Não se vê nada mais comum entre os ve-lhos do que ansiar pela aposentadoria: enada mais raro, entre os aposentados, doque não se arrepender por estar inativo”(SAINT-EVREMOND apud BEAUVOIR,1990, p. 326).

No Brasil, a aposentadoria é direito assegurado atodo trabalhador, urbano e rural, pela Constituição Fede-ral, de 1988 (art. 7º). A aposentadoria é entendida como oconjunto de leis que regulamentam as condições de reti-rada de um trabalhador do mercado de trabalho. A apo-sentadoria é o período em que a pessoa passa a receberuma remuneração sem manter o vínculo de trabalho. Re-presenta uma recompensa financeira vitalícia a quem jácontribuiu com seu trabalho e agora pode usufruir deseu tempo livre de outra forma, executando outras ativi-dades. Sendo um direito de cada trabalhador, devemosindagar por que, cada vez mais, pessoas a consideramcomo um castigo, algo penoso ou até mesmo, como é

comum ouvir, uma “sentença de morte”?

Para tentar responder a esta questão, é necessá-rio entender o significado atribuído ao ato de aposentar-se nos dias atuais.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Aposentadoria vem do vocábulo “aposento”, lu-gar ou local de morada, habitação de alguém. (CALDASAULETTE, 1958)

Os autores Zanelli e Silva, apontam sinônimosencontrados, em dicionários, para o verbo aposentar: “[...]pôr de parte, de lado. O que é colocado de parte, de lado?Aquilo que já não presta [...] recolher-se aos aposentos.Novamente a imagem é de reclusão ou retirada”(ZANELLI; SILVA, 1996, p.27). Estes sentidos retratambem a imagem que as pessoas têm do que é desligar-seda vida profissional. Para Rodrigues: “Uma geração sóvai se preocupar com o envelhecer quando sente queesta nova fase de vida está se aproximando, produzindosensações de desconforto, ansiedade, temores e medosfantasiosos” (RODRIGUES apud ALVES, 2005, p.124).Para muitos, aposentar-se significa morrer, tais pessoasconsideram que após a aposentadoria as doenças apare-cem e a vida perde o sentido. Rocha (1998) comenta quepode acontecer a morte social do indivíduo, uma vez quehá uma ruptura com o meio social em que estava inserido

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e ele se depara com o vazio e a solidão, ficando o aposen-tado a esperar a morte física.

Além disso, a aposentadoria é sinônimo de velhi-ce e esta, por sua vez, remete à imagem do feio, chato,inútil, da pessoa doente e muito próxima da morte. É deespantar-se que exista ainda esta relação, pois como co-loca Adler (1999), até algumas décadas atrás, depois daaposentadoria, o tempo vivido era curto; mas hoje, como avanço da medicina e tecnologia, a longevidade dosindivíduos aumentou consideravelmente, podendo oaposentado programar projetos e sonhos para a sua novaetapa de vida.

Para Guimarães (2004), a aposentadoria é consi-derada um rito de passagem, por indicar muitas mudan-ças na vida do indivíduo. Compreendê-la significa inter-pretar a fase anterior e a fase posterior, ou seja, quando oindivíduo passa da classe dos trabalhadores para a dosinativos, ou do mundo público para o privado, e percebeque “os momentos da separação, da não pertença, doafastamento, da incerteza, dos desafios que estão porvir” (GUIMARÃES, 2006, p. 36); ou como dito anterior-mente, entra na fase da velhice.

Independente se a pessoa a deseja ou prorrogaao máximo ingressar na fase de aposentadoria, sua che-gada causa ansiedade, expectativa e mudanças econô-micas e sociais que podem acarretar conseqüências mo-rais e psicológicas.

2.1 Aposentadoria e Trabalho

Alguns estudos comparam a espera pela aposen-tadoria com a satisfação profissional, como cita Frias: “Aexpectativa de que um dia teremos mais tempo para nosdedicar ao prazer, se deve, provavelmente, ao fato deque, no Brasil, poucas pessoas atingem a realização pro-fissional ou estão satisfeitas com o seu trabalho [...]”(FRIAS, 1999, p.183).

Estando ou não satisfeitas com a atividade laboraldesempenhada, é o trabalho que organiza a vida socialdo indivíduo. Zanelli e Silva dizem que “toda a nossavida é baseada no trabalho. Os processos de socializa-ção nos preparam para isto quando ainda não entende-mos tais significados” (ibid., p.19). Sendo assim, não deveser fácil desprender-se de todo o contexto relacional eativo que o trabalho proporciona ao indivíduo.

Mesmo para aqueles que gostam da atividade queexercem e estão realizados profissionalmente, a idéia deter mais tempo para aproveitar a vida e realizar passeios eprojetos que o tempo do trabalho não permite, permeia amente de todos, relata Frias (1999). Porém, quando ques-tionados sobre como, de fato, aproveitarão o tempo no

momento que se aposentarem, poucos têm a resposta emuitos se percebem sem ter construído um substitutopara o trabalho.

Numa cultura em que “tempo é dinheiro”, os tra-balhadores chegam a se dedicar quase que integralmen-te ao trabalho, deixando a família e o lazer de lado; muitosaté julgam indesejável o tempo fora do trabalho. A pes-soa tem sua importância reconhecida pela produção epelo lucro gerado, o indivíduo tem a sensação de totalinutilidade quando se aposenta.

Rodrigues ilustra bem o significado do trabalho,atualmente, quando escreve que “o tempo livre, não raro,é preenchido com tarefas, na empresa ou fora dela. Écomo se o serviço fosse parte da sua família, a empresapassa a ser o sobrenome” (RODRIGUES, 2001, p.78).

3. RESULTADOS

Envolvidos com a carreira que o trabalho impõe,as pessoas não têm tempo para outra atividade que nãoseja laboral e não param para programar como será a vidana época do desligamento profissional. França (1999)relata que as pessoas estão “alienadas” em relação aopróprio futuro.

Devido à importância atribuída ao trabalho, ao seaposentar, muitos indivíduos se sentem perdidos, semobjetivos, “sem chão”, suas vidas tornam-sedesestruturadas de um dia para o outro. Perdem a rotina,os relacionamentos afrouxam-se, pois na grande maioria,eram colegas de trabalho e vêem-se isolados e solitários.O trabalhador, antes acostumado ao tempo escasso ecorrido, agora tem que se adaptar aos dias intermináveis,como se fossem eternas tardes de domingo, explica Ro-cha (1998). Beauvoir cita a angústia de Hemingway emrelação ao afastamento do trabalho: “a pior morte paraum indivíduo é perder o que forma o centro de sua vida,e que faz dele o que realmente é [...] aposentar-se é aban-donar nossas ocupações – essas ocupações que fazemde nós o que somos – equivale a descer ao túmulo”(BEAUVOIR, 1990, p. 325). Esta fala retrata a perda deidentidade social que acontece com freqüência entre osaposentados, que deixam de ser o funcionário, o gerentede tal empresa e ainda não visualizam o novo papel soci-al que agora ocupam na sociedade.

As mudanças inerentes ao processo de aposen-tadoria podem desencadear nas pessoas sentimentos deinutilidade, por não se sentirem produtivas; dificuldadesde relacionamento familiar, ficando mais sensíveis nasrelações com cônjuges e filhos; não é fácil romper osvínculos com o mundo do trabalho, as relações sociaisestabelecidas e encarar de frente a ociosidade ou darnovos sentidos à vida. (GUIMARÃES, 2004)

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Algumas vezes, os indivíduos buscam substitu-tos não adequados para o preenchimento do vazio deixa-do pelas horas não dedicadas ao trabalho formal, como oexagerado consumo de alimentos e bebidas. A condiçãoque se instala de falta de perspectivas é tanta, que écomum o desenvolvimento de doenças psicossomáticase, em casos mais graves, a ocorrência de morte súbita.

Devido à nossa cultura considerar o homem comoresponsável pelo sustento da família, o aposentar-se pesaainda mais para ele; Rodrigues (2001) assinala que, seafastando do trabalho, o homem sente como se estives-se afastando-se também da sua masculinidade. Rocha(1998) ressalta que há também a cisão entre o mundo dotrabalho e o doméstico, pois o homem não reconhece oambiente da casa como seu. Em relação a ser o provedorda casa, tal situação está mudando, visto que cada vezmais as mulheres têm participação igual a dos compa-nheiros no orçamento da casa. Em contrapartida, mesmosendo relevante a participação das mulheres no mundodo trabalho, elas não abandonam o mundo doméstico,acumulam funções e, mais comumente, vêem na aposen-tadoria a oportunidade de terem mais tempo para cuida-rem de si mesmas. É bom salientar que isto não isenta amulher de todas as angústias e mudanças decorrentesda aposentadoria.

Além disso, geralmente ocorre a perda econômicae o padrão de vida tem que ser alterado. Como um direitoao não-trabalho, os proventos da aposentadoria deveri-am ser suficientes para satisfazer às necessidades doaposentado, mas isso nem sempre ocorre; como dizBeauvoir (1990), ele é obrigado a escolher entre descan-sar e viver decentemente. Os autores Rodrigues (2001) eFrança (1999) ressaltam que a perda financeira na apo-sentadoria é relevante, porém, esta fase acumula muitasoutras perdas e por este motivo, pessoas que continuamcom o mesmo poder aquisitivo podem sofrer, até maisque outras, com o fim da atividade profissional.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos concluir que a aposentadoria é um even-to que representa a passagem de uma situação laboral àoutra de inatividade, que não deve ser elaborada comofase final de vida. Além disso, não é somente após aaposentadoria que o indivíduo não sabe o que fazer como tempo livre. Durante toda sua vida, ele não se permitiuter muitas horas de lazer e esta conduta interfere direta-mente em como viverá a fase pós-trabalho.

O Estatuto do Idoso (lei 10.741, de 1º/10/03) art.28/II, diz que cabe ao Poder Público criar e estimular pro-gramas de preparação dos trabalhadores para a aposen-tadoria, com antecedência mínima de um ano, por meiode estímulo a novos projetos sociais, conforme seus in-

teresses, e de esclarecimentos sobre os direitos sociais ede cidadania.

Percebendo a dificuldade dos funcionários emaceitar a aproximação da condição de aposentados, mui-tas empresas oferecem programas que auxiliam na prepa-ração para essa fase da vida, os chamados PPA – Progra-ma de Preparação para Aposentadoria. A Lei 8.842, de1994, da Política Nacional do Idoso, estimula a manuten-ção desses programas nos setores públicos e privados,com antecedência mínima de dois anos antes do afasta-mento. Esses programas buscam encorajar o trabalhadorpara que planeje sua aposentadoria como fato natural esocial, discutindo formas de complementação de renda,alternativas de ocupação e aspectos de saúde e psicoló-gicos. Alguns programas sugerem ao indivíduo desen-volver um trabalho voluntário, como uma boa forma deocupar o tempo livre e sentirem-se úteis e ativos. Melhorseria que esta preparação começasse cedo, assim que oindivíduo iniciasse a sua atividade profissional, para quese tenha uma reeducação em relação ao lazer e ao plane-jamento da vida.

Pois como diz Rodrigues:

“Se pretendemos ter homens vivendo esseperíodo da vida de maneira mais prazerosa,devemos pensar em políticas que se preo-cupem com esta questão durante a vidaprofissional, e não deixar para as vésperasda aposentadoria para se tentar mudar opadrão de uma vida inteira” (RODRIGUES,2001, p. 81).

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEAUVOIR, S. de. A Velhice. Rio de Janeiro: Nova Fron-teira, 1990.

FRANÇA, L. Preparação para aposentadoria: Desafiosa enfrentar. In: Veras, R. (org.) - Terceira Idade: Alterna-tivas para uma sociedade em transição. Rio de Janeiro:Relume-Dumará UnATI/UERJ, 1999.

FRIAS, S. R. de. Aspectos emocionais da aposentadoria.In: Veras, R. (org.) - Terceira Idade: Alternativas para umasociedade em transição. Rio de Janeiro: Relume-DumaráUnATI/UERJ, 1999.

ADLER, E. Aspectos emocionais da aposentadoria. In:Veras, R. (org.) - Terceira Idade: Alternativas para umasociedade em transição. Rio de Janeiro: Relume-DumaráUnATI/UERJ, 1999.

ALVES, M. L. M. J. Aposentadoria e finalidade de vida.In: Silva, N. L. (org.) – Gerontologia Social: A práxis no

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envelhecimento. Aracaju - SE, 2005.

ROCHA, G. Sob o signo de saturno: reflexões antropoló-gicas em torno da velhice. Cad. Serviço Social. Belo Ho-rizonte, v. 3, dez., 1998.

GUIMARÃES, A. F. A. Aposentadoria como rito de pas-sagem. Rev. Memorialidades. ano 1, n. 1 UESC/DFCH.Ilhéus, BA. Jun., 2004.

RODRIGUES, C. L. Homem de Pijama: o imaginário mas-culino em relação à aposentadoria. Revista Kairós, SãoPaulo, v. 4, n. 2, dez. 2001.

ZANELLI, J. C.; SILVA, N. Programa de preparação paraaposentadoria. Florianópolis: Insular, 1996.

Estatuto do Idoso, 2003.

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População de Rua: envelhecendo sem acesso a direitos

Taís Cesário de Castro *Elizabeth Moraes Liberato **

Resumo: O presente artigo visa discutir a dificuldade de acesso da população de rua envelhecidaaos direitos que deveriam ser acessados com base na legislação em vigor, justapondo à realidadeexcludente que é vivenciada por esse segmento. Para dimensionar esta realidade, procurou-seretratar a situação da população de rua que passa pelo processo de envelhecimento sem ter umlugar definido para morar, assim, deixa de estabelecer vínculos e condições de recorrer a seusdireitos básicos.

Palavras-chave: População de rua, envelhecimento, direitos.

Abstract: The present article aims to analyze the difficulty of access to the law by the aged homeless,by understanding in the present time the relations established between legislation and reality. Inorder to have greater vision of this reality it was adopted bibliographies in such a way to report thegeneral overview of either the current capitalist society or the situation of the homeless who feelsthe process of aging without a definite place.

Key words: Homeless, aging, access to rights.

* Pós-Graduada do Curso de Especialização emGerontologia e Família.

** Pró-Reitora de Avaliação e Professora da Univap -Doutora em Serviço Social e Especialista emGerontologia.

1. INTRODUÇÃO

Artigo 25 – Toda pessoa tem direito a umnível de vida suficiente para assegurar asua saúde, o seu bem-estar e o de sua fa-mília, especialmente para alimentação, ves-tuário, moradia, cuidados médicos e servi-ços sociais necessários; tem direito à se-gurança em caso de desemprego, doença,invalidez, viuvez, velhice ou em outroscasos de perda dos meios de subsistên-cia, graças às circunstâncias independen-tes de sua vontade. (PALERMO, 1984)

No livro Direitos Sociais no Brasil: síntese de umapolítica social, Palermo ressalta os direitos fundamentaisdo homem. Dada a importância de abordar a temática emquestão, este trabalho visa ressaltar que existem pesso-as, em nossa sociedade, que não possuem acesso aquaisquer desses direitos. Assim ocorre com relação àspessoas que vivem na rua, pois nenhum desses direitoslhes é assegurado, eles não possuem um endereço dereferência, logo, não conseguem ter acesso às políticas

de saúde, de educação ou de assistência social, uma vezque, para fazer qualquer cadastro, é necessário endereçoe documentação, sendo que normalmente, quem vive emsituação de rua não os possui.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O que leva a pessoa a permanecer na rua, em situ-ação de desabrigo e desamparo?

Afirma Ferez: “Na categoria genérica da popula-ção de rua estão: mendigos, doentes crônicos e agudos,pessoas idosas em situação de desproteção e abando-no, famílias desabrigadas (...) desempregados ocasionaisou permanentes (...), etc.” (FEREZ, 1991, p.58). o que osunifica é a condição de desproteção social, decorrentede fenômenos estruturais, que se agravam em determina-das conjunturas econômicas e sociais.

Envelhecer em situação de rua torna a questão doenvelhecimento uma realidade ainda mais grave, pois quan-do se alcança certa idade as dificuldades de locomoçãoaumentam, os problemas de saúde se agravam; enfim, ini-cia-se um processo de degradação física e, muitas vezes,mental. Em 1º/10/2003, foi aprovado o Estatuto do Idoso,Lei Federal nº 10.741 – que se constitui em leis de amparoao idoso, as quais asseguram direitos como andar gratui-tamente de ônibus, a garantia de um salário mínimo parapessoas com idade igual ou superior a sessenta e cincoanos, com renda per capita inferior a um quarto do salário

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mínimo, entre outros direitos assegurados à populaçãoidosa. Mas cabe refletir sobre a situação do idoso moradorde rua que não consegue acessar esses direitos, pois nãopossui referências para reivindicá-los.

Diante deste cenário divergente entre ter direito epoder usufruí-lo, questiona-se que a sociedade acabapor criar leis, que, no entanto, não são capazes de atingiros objetivos propostos, o que gera segregação em umasociedade em que prevalecem as políticas de exclusão emarginalização; considere-se, nesse quadro, o agravan-te da situação de vida do morador de rua, destituído detodas as garantias sociais.

2.1 População de Rua Envelhecida

A situação de rua é um fenômeno existente emtodas as sociedades, pessoas co-habitando em espaçospúblicos e fazendo desses, seu espaço de sobrevivênciae de subsistência. Isso é uma constante nacontemporaneidade. Segundo Rosa (2005), desde a dé-cada de 50, havia grupos de pessoas residindo na rua emSão Paulo; mas foi somente na década de 80 que se ini-ciou um trabalho voltado para essa demanda. Demandaessa que pode ser encontrada nos logradouros públi-cos, seu único refúgio, pois, a partir do momento em quese perde um endereço, perde-se também, a família, o tra-balho e todas as demais referências.

Segundo reportagem do Jornal “O Estado de SãoPaulo”, de 25/10/07, todos os anos São Paulo ganha milnovos moradores de rua, 60% concentrados na regiãocentral da cidade.

Diz Valle: “Andando pela ruas de São Paulo eolhando os menores abandonados, vendo os flanelinhas,os trombadinhas, a gente tem uma amostragem. Se hojeeles, que ainda têm alguma possibilidade, já são excluí-dos, como será sua velhice?” (VALLE, 1997, p. 37)

Estar na rua é um processo de (re) construção devalores. Rosa (2004) cita Dias (1987), retratando assim aquestão do tempo na rua, sendo que para ambos “É ou-tro o tempo da rua, ele não está controlado pelo relógio”.Assim como o processo de envelhecimento, envelhecerna rua não está vinculado ao tempo do relógio, mas aotempo de cada um, de cada história.

Esse mesmo tempo traz consigo o cansaço, o des-gaste, sendo que esses são sentimentos e vivências quenão se podem mudar. Bastide afirma que:

“O ser humano envelhece desde o seunascimento. Viver é envelhecer. O parado-xo e o enigma da vida e, talvez, de todo ouniverso, é que ao mesmo tempo, é uma

evolução, uma expansão e um recesso, umaforça que não pode se manifestar sem des-gastar-se, sem degradar-se.” (BASTIDE,1980, p.7)

Este paradoxo acentua-se nas condições da rua.Pois o uso em demasia do álcool e/ou de drogas, a máqualidade de alimentação, o pernoitar ao relento, as máscondições de saúde, tudo isso agrava e acelera o proces-so de envelhecimento. Beauvoir (1990) afirma que, o orga-nismo tende a declinar quando as suas chances de sub-sistir se reduzem. Pode-se reconhecer que este processo éacelerado nas condições de rua, pois subsistir nela, é do-loroso, solitário e, demais, sem acesso a direitos.

3. RESULTADOS

Segundo Dowbor: “a sociedade do futuro - paragarantir qualidade de vida - deve ser economicamenteviável, socialmente justa” (DOWBOR apud MEDEIROS,2001, p.8), as transformações sociais e políticas devematingir a todos e não excluir determinados segmentos.

Reconhecem-se as dificuldades em garantir o di-reito aos idosos, direitos básicos, como o de ir e vir, comoo de acesso aos benefícios, ou mesmo à segurança. Avelhice traz consigo certa fragilidade, e pode, para al-guns, ser pior, a improdutividade.

A sociedade capitalista se baseia no lucro e naprodutividade, é nesta sociedade que o Estado cria aspolíticas públicas de atendimento à população em geral.Tanto os idosos quanto a população de rua não se en-quadram nas categorias de classes sociais, são pessoasconsideradas improdutivas, que perdem a condição desujeitos de direito.

Este cenário excludente acentua-se quando sereporta para o idoso em situação de rua, pois este nãoconsegue acessar seus direitos básicos, devido à faltade documentação, de ter um logradouro fixo para mora-dia ou ainda por falta de informações para que busque,através dos órgãos competentes, os direitos que lhe cabe.

A realidade da rua mediada pelo processo de en-velhecimento, juntamente com as dificuldades e precon-ceitos estabelecidos pela sociedade atual, tendem a afas-tar os direitos de seus agentes receptores. O idoso comfamília, residência fixa e tudo mais que a sociedade con-sidera como padrão, já passa por um processo de desva-lorização e de estigmatização, o que dificulta o acesso aseus direitos garantidos em lei. O que poderá ser consi-derado em relação ao idoso morador de rua? É uma ques-tão que demanda atenção dos responsáveis pelas políti-cas públicas e pelos órgãos representativos dos direitosdo idoso.

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4. CONCLUSÃO

São históricas as dificuldades que os segmentosexcluídos têm para acessar seus direitos. Vive-se, nacontemporaneidade, o aspecto contraditório das políti-cas públicas, sendo elas limitadas e acessíveis à minoria.Hoje, há uma desvalorização de quem não produz; omorador de rua, sem emprego e idoso, está entre os ex-cluídos dos excluídos, sendo que assim permanece àmargem das políticas públicas e da sociedade que deve-ria lhes assegurar seus direitos.

5. BIBLIOGRAFIA

BASTIDE, P. A. A idéia do Tempo: O Envelhecimento.Caderno da Terceira Idade: SESC. N6, 1980.

BEAUVOIR, S. de. A Velhice. Rio de Janeiro: Nova Fron-teira, 1990.

DIAS, C. J. M. A Catação de Papelão nas Ruas de SãoPaulo. São Paulo, Mimeo, 1987.

MEDEIROS, S. A. R. Longevidade. São Paulo: Cortez, 2001.

FEREZ, A. I. Família nos segmentos da população maisempobrecida. In: Debates Sociais. RJ. CBCISS, 1991.

PALERMO, A. Direitos Sociais no Brasil: síntese deuma política social. Franca: Departamento de ServiçoSocial, 1984.

ROSA, C. M. M. População de Rua: quem é, como vive,como é vista. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.

ROSA, C. M. M. Vidas de Rua. 3. ed. São Paulo: Hucitec/Rede Rua, 2005.

VALLE, E. A velhice e o futuro – os novos velhos do ter-ceiro milênio. São Paulo. PUC/SP.

Jornal Estado de São Paulo, 25 out. 2007.

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Pastoral da Pessoa Idosa: uma ação pró-ativa?

Eliana Pereira Montenegro *Fátima Aparecida Ferreira Barbosa *Margareth Serpa Ferreira Gomes *

Elizabeth Moraes Liberato **

Resumo: Este trabalho tem por finalidade demonstrar as atividades desenvolvidas por um grupointitulado – Pastoral da Pessoa Idosa, que pertence à Igreja Católica, junto a idosos da comunida-de, que se empenha para que estes idosos conquistem espaços de valorização na sociedade.

Palavras-chave: Idoso, Pastoral da Pessoa Idosa.

Abstract: The aim of this study is to show the development of the activities of “Pastoral da PessoaIdosa”, linked to the Catholic Church. This Program looks for the achievement the rights thatelderly people in the community have.

Key words: Elderly, Pastoral da Pessoa Idosa.

* Pós-Graduada do Curso de Especialização emGerontologia e Família.

** Pró-Reitora de Avaliação e Professora da Univap -Doutora em Serviço Social e Especialista emGerontologia.

1. INTRODUÇÃO

O idoso tem ocupado um espaço na sociedade,cada vez mais marcante, pelas projeções que apontam ocrescimento da população idosa. A Organização Mundi-al da Saúde (OMS) define o idoso como a pessoa comidade a partir de 60 anos; em um estudo realizado peloInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) a cate-goria idosa não pode ser considerada como o indivíduoisolado, tem que ser visto no contexto da sociedade emque ele vive.

Em sua obra, A Velhice, Beauvoir diz que “...quan-do compreendemos o que é a condição dos velhos, nãopodemos contentar-nos em reivindicar uma “política develhice” mais generosa (...) a reivindicação só pode serradical: mudar a vida”. (BEAUVOIR, 1990, p. 665)

No Brasil, os passos em relação a um atendimentodigno na velhice têm sido tímidos. O movimento da Pas-toral da Pessoa Idosa significa um marco no conjuntodas ações que a sociedade civil construiu para o atendi-mento ao idoso.

A Pastoral do Idoso é constituída por um grupode pessoas voluntárias que comungam do mesmo credo

e trabalham em prol da melhora de qualidade de vida dosidosos.

Os voluntários, conhecidos como agentes pasto-rais, recebem capacitação e avaliação antes de iniciar otrabalho. Há um livro que serve de instrumento demetodologia para os voluntários e de base para avaliaçãodo trabalho desenvolvido. Foi editado nacionalmente comapoio do Mistério da Saúde e entregue a todos os agentespastorais, que o utilizam como manual de trabalho.

O objetivo do trabalho é desenvolver, na família ena comunidade, o senso de responsabilidade e participa-ção na qualidade de vida que o idoso tem direito, nosdias atuais.

Este atendimento é bastante abrangente, vai des-de as orientações de higiene pessoal, cuidados com ali-mentação, prevenção de doenças e seqüelas, até confor-to espiritual. Existe também a preocupação de colocar oidoso em situações que propiciem o desenvolvimento desuas habilidades mentais e físicas ainda preservadas.

1.1 Histórico

Em 1993, aconteceu um encontro de Drª Zilda ArnsNeumann – Médica Pediatra e Dr. João Batista Lima Filho– Médico Geriatra, na época presidente da SociedadeBrasileira de Geriatria e Gerontologia – Seção Paraná. Naocasião, surgiu a semente germinadora da Pastoral doIdoso.

Em 1994 e 1995 – Foi elaborado o manual “De Bem

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com a Vida”, de autoria de Dr. João Batista Lima Filho ede Sophia Sarmiento, que serviu de base para desenca-dear o processo de formação de líderes comunitários,com material de conteúdo científico sobre o envelheci-mento e os cuidados com as pessoas idosas, mas aomesmo tempo, em linguagem simplificada, acessível àspessoas da comunidade.

Em 2003 – Esse ano foi marcado por dois impor-tantes eventos, o primeiro, a Campanha da Fraternidadecom o tema: “Fraternidade e as Pessoas Idosas” e o lema:“Vida – Dignidade – Esperança”. E ainda houve a pro-mulgação da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 –Estatuto do Idoso.

Em 2004 – Foi o Ano da Fundação da Pastoral daPessoa Idosa.

Em novembro, aconteceu a I Assembléia Nacio-nal da Pastoral da Pessoa Idosa, com participação depessoas de todas as regiões do Brasil. Nessa Assem-bléia foi fundada, oficialmente, a Pastoral e foi aprovadoo Estatuto da Pastoral; foram elaboradas e aprovadas aslinhas de ação, sendo escolhido e aprovado o nome Pas-toral da Pessoa Idosa.

Em 2005 – A Pastoral fez sua Inscrição no Cadas-tro Nacional de Pessoas Jurídicas, recebeu o Título deUtilidade Pública Municipal, Estadual e Federal e foi ins-crita no Conselho Municipal e Nacional de AssistênciaSocial.

A Pastoral da Pessoa Idosa acompanhou, em ní-vel nacional, no 4º Trimestre de 2005, 31.699 pessoasidosas, 110 dioceses, 347 paróquias, com ações realiza-das por 3.638 líderes comunitários.

1.2 Objetivos

Para alcance do objetivo da Pastoral da PessoaIdosa houve necessidade de se estruturar o trabalho eestabelecer metas e avaliá-las, o que é realizado atravésde grupos treinados e harmônicos que desenvolvem oatendimento aos idosos e familiares, em suas respecti-vas residências.

Com essa proposta, durante a I Assembléia Naci-onal da Pastoral da Pessoa Idosa, foi aprovado o Estatu-to da Pastoral da Pessoa Idosa (PPI); em seu 2º artigo,descreve seus objetivos e finalidades, como segue:

1 – Promover o desenvolvimento físico, mental,social, espiritual, cognitivo e cultural dos ido-sos;

2 – Promover o respeito da dignidade e da cidada-

nia das pessoas idosas, colaborando na di-vulgação e na implementação do Estatuto doIdoso – Lei nº 10.741, de 1º de outubro de2003;

3 – Promover o convívio das pessoas idosas comas demais gerações, estimulando uma velhi-ce ativa, buscando uma longevidade comqualidade;

4 – Estimular e respeitar a espiritualidade das pes-soas idosas;

5 – Valorizar a história de vida, as experiências, oser biográfico, a sabedoria adquirida ao lon-go da vida de cada pessoa idosa, respeitan-do-a como guardiã da memória coletiva;

6 – Capacitar agentes pastorais para o acompa-nhamento das pessoas idosas através de vi-sitas domiciliares, encontros e outras ativi-dades afins;

7 – Organizar redes de solidariedade nas comuni-dades e nos diferentes níveis, para promovero bem-estar dos idosos;

8 – Incentivar a criação de conselhos de direitosdo idoso em níveis nacional, estadual e muni-cipal e estimular a participação dos mesmos;

9 – Somar esforços com outras pastorais, com acomunidade científica, com associações degeriatria e gerontologia e com organizaçõesde defesa dos direitos dos idosos, de assis-tência social e outras entidades afins;

10 – Manter e divulgar informações sobre a situa-ção das pessoas idosas no Brasil.

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, ressaltamos a importância damobilização de todos os segmentos da sociedade e dogoverno para que haja um atendimento com qualidadeao idoso carenciado.

Na Pastoral da Pessoa Idosa, além do acompa-nhamento voluntário dos agentes pastorais, também háuma parcela de compromisso de cada cidadão.

Esta valorização deverá ser iniciada com a práticade desenvolver, na criança e no adulto, a consciência deque envelhecer é um processo natural da vida. CitandoProust: “É com adolescentes que duram um número bas-tante grande de anos que a vida fez velhos”.

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A partir dessa conscientização, será possível mo-bilizar outros segmentos da sociedade e do governo adesenvolverem ações eficazes voltadas para o alcancede uma velhice digna e livre de riscos, como o abandono,a fome, a falta de vontade de viver, a falta de esperança ea descrença nos homens.

Definida pela Organização Mundial da Saúde(OMS) “como completo bem-estar físico, mental e social,e não somente a ausência de doença”, a saúde é o bemmais importante de qualquer ser humano.

A organização e a participação de todos poderáviabilizar esta proposta de bem-estar digno e humano. Avalorização do idoso e sua participação na comunidade éde responsabilidade social de cada um de nós.

O trabalho realizado pela Pastoral da Pessoa Ido-sa demonstra que é possível uma nova abordagem nocuidado com o idoso e o que é preciso fazer para a suaintegração na sociedade. Com um diferencial, que é aintegração do próprio idoso nas ações de auto-cuidado,pela dimensão comunitária dada ao conceito de saúde e

pela soma de esforços e resultados alcançados pela açãovoluntária de pessoas compromissadas com o bem-estardo idoso.

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEAUVOIR, S. de. A Velhice. Rio de Janeiro: Nova Fron-teira, 1990.

FERREIRA, A. B. de H. Novo Aurélio XXI: Dicionário daLíngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

SARMIENTO, S. A terceira idade na Pastoral da Criança:de bem com a vida. 2. ed. Curitiba: Ministério da Saúdedo Governo Federal, 2003.

Texto para discussão nº 681. IPEA – Instituto de Pesqui-sa Econômica Aplicada, 1998. Ministério do Planejamen-to, Orçamento e Gestão.

httpp://www.pastoraldapessoaidosa.org.br

httpp://www.pastoraldoidoso.org.br

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A Implementação do Atendimento ao Idoso no Municípiode São José dos Campos, Segundo as Novas Diretrizes do

SUAS

Teresa de Jesus Freire *Elizabeth Moraes Liberato **

Resumo: O presente tema foi escolhido considerando o momento atual de implementação dosprogramas, projetos e serviços em face às diretrizes estabelecidas pelo Sistema Único de Assistênciaa Saúde e as adequações que o órgão gestor municipal deverá fazer para a sua concretização. Istoé importante uma vez que o SUAS foi aprovado para ser implantado em todo o território nacional,de forma a normatizar o padrão e qualidade no atendimento, a nomenclatura dos serviços, além dedefinir os indicadores de avaliação e resultados a sem utilizados em todos os programas.

Palavras-chave: Sistema Único de Assistência Social, proteção social, política pública.

Abstract: The present issue was chosen considering the current moment of programs, projects andservices implementation, due to the new directives established by SUAS and the adaptations thatthe City Council Administrative Office should do in order to make it real. This is very important onceSUAS was approved for being implemented within the national territory to regulate the quality, thestandard and the nomenclature of the services, beyond defining ratings of evaluation and results tobe used in all programs.

Key words: Unified System of Social Assistance, social protection, public politic.

* Pós-Graduada do Curso de Especialização emGerontologia e Família.

** Pró-Reitora de Avaliação e Professora da Univap -Doutora em Serviço Social e Especialista emGerontologia.

1. INTRODUÇÃO

Ao abordar o tema da implementação do atendi-mento ao idoso, é preciso assinalar a legislação específi-ca que a antecede.

Em 7/12/1993, a Lei Orgânica da Assistência Soci-al – LOAS, Lei Federal nº 8742, coloca a Assistência So-cial no campo dos direitos sociais, enquanto Política deSeguridade não contributiva e estabelece como diretri-zes, em seu art. 5º:

I - descentralização político-administrativa paraos Estados, o Distrito Federal e os Municípi-os, e comando único das ações em cada esfe-ra de governo;

II - participação da população, por meio de orga-nizações representativas, na formulação das

políticas e no controle das ações em todos osníveis;

III - primazia da responsabilidade do Estado nacondução da Política de Assistência Socialem cada esfera de governo.

A expansão demográfica e o envelhecimento dapopulação idosa despertaram a preocupação da socie-dade e de seus representantes legais, pressionados pe-las questões emergentes, em discutir e implantar diretri-zes e leis que assegurassem os direitos do idoso.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Em 1º/10/2003, foi aprovada a Lei Federal nº 10.741,que institui o Estatuto do Idoso, destinado a regular osdireitos assegurados às pessoas com idade igual ou su-perior a 60 anos, o qual estabelece, ainda os direitos fun-damentais, as medidas de proteção, a política de atendi-mento, o acesso à justiça e os crimes previstos.

Em 15/10/2004, foi aprovada pelo Conselho Naci-onal de Assistência Social – CNAS, através da resoluçãonº 145, a Política Nacional de Assistência Social – PNAS,que estabelece como diretrizes as mesmas definidas na

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Constituição Federal de 1988 e na LOAS, acrescida doitem:

IV – Centralidade na família para concepção eimplementação dos benefícios, serviços, pro-gramas e projetos.

Ainda de acordo com a PNAS/2004, são funçõesda Assistência Social:

“... a proteção social hierarquizada entreproteção básica e proteção especial, a vi-gilância social e a defesa dos direitossocioassistenciais”. (NOB/SUAS-2005,p.15)

Em 15/7/2005, é aprovada a Norma OperacionalBásica do Sistema Único da Assistência Social, definidacomo “um sistema público não contributivo, descentrali-zado e participativo, que tem por função a gestão doconteúdo específico da Assistência Social no campo daproteção social brasileira” (NOB/SUAS-2005, p. 12).

Estabelece como eixos estruturantes da gestãodo Sistema Único da Assistência Social - SUAS:

a) Precedência da gestão pública da política;

b) Alcance dos direitos socioassistenciais pelosusuários;

c) Matricialidade sociofamiliar;

d) Territorialização;

e) Descentralização político-administrativa;

f) Financiamento partilhado entre os entesfederados;

g) Fortalecimento da relação democrática entreestado e sociedade civil;

h) Valorização da presença do controle social;

i) Participação popular/cidadão usuário;

j) Qualificação de recursos humanos;

k) Informação, monitoramento, avaliação e sistema-tização de resultados (NOB/SUAS-2005, p. 13)

O SUAS define, ainda, a proteção social como:

“... conjunto de ações, cuidados, atenções,benefícios e auxílios ofertados pelo SUAS

para redução e prevenção do impacto dasvicissitudes sociais e naturais ao ciclo davida, à dignidade humana e à família comonúcleo de sustentação afetiva, biológica erelacional” (NOB/SUAS-2005, p. 16)

3. RESULTADOS

3.1 A Rede Socioassistencial para o Idoso em São Josédos Campos, SP

Segundo a NOB/SUAS, “a rede socioassistencialé um conjunto integrado de ações de iniciativa pública eda sociedade que ofertam e operam benefícios, progra-mas e projetos, o que supõe a articulação dentre todasestas unidades de provisão de proteção social sob a hi-erarquia básica e especial e ainda por níveis de complexi-dade”. (NOB/SUAS-2005, p. 19)

São José dos Campos, SP, segundo dadoscensitários de 2000, contava com uma população de539.313 pessoas, sendo que a população idosa represen-tava 5,92% (entre o sexo masculino) e 7,21% (entre osexo feminino) e em 2006, contava com uma populaçãoestimada de 610.965 pessoas.

A Secretaria de Desenvolvimento Social do Mu-nicípio - SDS, órgão gestor e executor da Política Munici-pal de Assistência Social, segundo o site oficial da mes-ma, tem como funções básicas “a inserção, prevenção,proteção e promoção das famílias e indivíduos em situa-ção de vulnerabilidade social e/ou em situação de riscosocial e/ou pessoal”.

No que tange ao atendimento voltado à popula-ção idosa, os programas/projetos estão assim classifica-dos:

· Proteção Social Básica

1) Projeto Convive: atende 527 idosos em 11grupos de convivência ligados aos progra-mas municipais e 331 idosos em 6 entidadessociais conveniadas.

2) Benefício de Prestação Continuada – BPC: érepassado a 2.881 pessoas idosas.

· Proteção Social Especial de Média Complexidade

1) Projeto de Atendimento Domiciliar ao Idoso –PROJEDI: atende 80 idosos.

· Proteção Social Especial de Alta Complexidade

1) atende 122 idosos em 3 instituições de longa

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permanência, sob o regime de abrigo,conveniadas com o poder público.

A SDS aprovou, em 2005, o projeto da Casa doIdoso, inaugurada em 2007, com objetivo de prestar aten-dimento aos idosos a partir de 60 anos de idade, atravésde ações voltadas aos aspectos de saúde, assistênciasocial, educacional, cultural, recreativo e de lazer, contri-buindo para a melhoria da qualidade de vida da popula-ção idosa.

A meta de atendimento mensal da Casa do Idosoé de, aproximadamente, 7.000 idosos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da implantação do SUAS no município, oórgão gestor define a família/comunidade como eixo dasações da Política Municipal de Assistência Social, como elointegrador das ações e foco dos programas específicos.

Com isso, passa a atender o princípio damatricialidade sociofamiliar estabelecido pela NOB/SUAS. Contudo, alguns pontos ainda não estão plena-mente efetivados, tais como:

· Envolvimento da população na formulação daspolíticas e no controle das ações;

· Adequação do BPC/Idoso;

· Atendimento à família dos idosos inseridos noProjeto Convive.

A implementação desses aspectos garantirá ao

idoso usuário da Assistência Social o papel de protago-nista da rede de ações e serviços, ampliando espaçospara o exercício pleno da cidadania.

Citando Fernandes, o desenvolvimento das polí-ticas específicas “deve realçar a dignidade humana e cri-ar igualdades entre os distintos grupos de idade paracompartilhar recursos, direitos e obrigações da socieda-de” (FERNANDES, 1997); isso só se alcança reconhe-cendo direitos humanos como aqueles considerados fun-damentais a todas as pessoas para consecução de umasociedade igualitária e justa.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Estatuto do Idoso – Lei nº 10.741, 1º.10.2003.

FERNANDES, F. S. As pessoas Idosas na LegislaçãoBrasileira. São Paulo: LTR, 1997.

Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, Lei nº 8.742,7.12.1993.

Norma Operacional Básica – NOB/SUAS, resolução nº130, 15.7.2005.

Política Nacional de Assistência Social – PNAS, resolu-ção nº 145, 15.10.2004.

Disponível em:www.mdsm.gov.br/suas, acessado em 9.11.2006.

www.sjc.sp.gov.br/acidade, acessado em 6.11.2006.

www.sjc.sp.gov.br/sds, acessado em 6.11.2006.

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Grupos de Convivência de Idosos no Município de São Josédos Campos, SP

Dioguina das Graças Bitarelli Viana Costa *Sueli Neves dos Santos *

Elizabeth Moraes Liberato **

Resumo: Atualmente, existe no município de São José dos Campos-SP, espaços de convivência, oschamados grupos de Terceira Idade, através dos quais a sociedade busca formas de engajar ereintegrar os idosos ao meio social. Neste contexto da política municipal do idoso, surge a criaçãoda Casa do Idoso, um centro com o objetivo de oferecer ao idoso todos os serviços nas áreas de lazer,cultura, saúde e orientação jurídica. Assim, neste artigo, voltamos nossa atenção para a PolíticaMunicipal do Idoso, para uma reflexão necessária, buscando contribuir para o planejamento deuma proposta de intervenção interdisciplinar, visando a atenção aos idosos que possuem condi-ções desfavoráveis, cuja mobilização é importante para o processo de construção da cidadania dapopulação idosa.

Palavras-chave: Grupo de convivência, envelhecimento.

Abstract: Nowadays, there are environments named “Grupos da 3ª Idade”, in São José dos Campos,with the aim of reintegrate the elderly people in the social context. The local politics created the“Casa do Idoso”, in order to offer all kinds of services such as leisure, culture, health and juridicassistance. In this work we intend to reflect about the “Política Municipal do Idoso”, in order tocontribute for the interdisciplinary action to overcome the disadvantaged conditions and achievethe construction of the citizenship of the elderly.

Key words: Togetherness group, ageing.

* Pós-Graduada do Curso de Especialização emGerontologia e Família.

** Pró-Reitora de Avaliação e Professora da Univap -Doutora em Serviço Social e Especialista emGerontologia.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo refletir so-bre os grupos de convivência do idoso e sua importân-cia no Município de São José dos Campos, SP. O enve-lhecimento populacional é uma realidade no Brasil, des-de a década de 70, caracterizando-se pela aceleração desseprocesso. Em 1991, a população idosa brasileira com maisde 60 anos ou mais perfazia um total de 10,7 milhões.Hoje, essa população idosa já passa de 14 milhões e, noano de 2020, está estimada em 31,8 milhões, situando oBrasil como o sexto país do mundo em termos de númerode idosos; evidencia-se, assim a importância dessa faixaetária no Brasil. (VERAS, 2002)

Com o crescente aumento da população idosabrasileira, é importante para o efetivo exercício da cida-

dania, a construção de uma sociedade mais conscientedo envelhecimento populacional e de sua realidade atuale futura. A Política do Idoso está estabelecida em trêsesferas: Federal, Estadual e Municipal, contendo medi-das de proteção e que asseguram direitos ao cidadão, apartir dos 60 anos, conforme estabelece o Estatuto doIdoso (lei 10.471 de 1º/10/03).

Em São José dos Campos, a população idosa, atra-vés da Política Municipal do Idoso, é atendida em pro-gramas e serviços que pontuam a necessidade de ampli-ar o acesso a todo o segmento.

Com a construção da Casa do Idoso, na regiãoCentro, inaugurada em julho/2007, há necessidade de sediscutir a Política Municipal do Idoso nos grupos deconvivência, através de fóruns regionais, assegurandosua integração nesse novo contexto.

Vale ressaltar que, apesar dos direitos assegura-dos pelo Estatuto do Idoso, na maioria das vezes, osidosos não são reconhecidos pela sociedade, cabendo-lhes lutar para reafirmar a conquista do seu espaço nocenário social.

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2. MATERIAL E MÉTODOS

As pessoas idosas parecem transitar por limitesmuito tênues de dependência x autonomia na reprodu-ção cotidiana das relações sociais e na família, com todasas implicações em sua realidade de vida, que refletem acomplexidade de mudanças e os novos arranjos familia-res no contexto urbano.

A ampliação das ações de apoio ao segmento ido-so foi garantida pela Política Nacional do Idoso e peloEstatuto do Idoso. Representa um esforço do Estadobrasileiro em reconhecer, em forma de lei, as principaispreocupações e exigências da sociedade civil, e também,o reconhecimento da necessidade de implantação de inú-meras ações de apoio ao segmento idoso, assim como aconstrução de um novo conceito social para velhice.

Segundo Camaramo (1999), os estudos sobre oenvelhecimento são importantes, pois deve-se conside-rar o significativo número de idosos na sociedade brasi-leira. A definição do que é o envelhecimento abrangevárias dimensões; salientam-se três aspectos: biológico,cronológico e social. Ao lidar com a pessoa idosa, umadas causas importantes a considerar deve ser a dimen-são social, que abrange aspectos da solidão, que resultada falta de um papel social ativo, e que gera o tempo livree a ociosidade.

Ainda incluso na dimensão social, considera-seque, à medida que as pessoas envelhecem, vão-se afas-tando da vida em sociedade, havendo tendência a ummaior isolamento ao longo do tempo; com isso, há pre-servação de valores antigos, não havendo incorporaçãode novos conceitos e valores.

Para Salgado: “O homem reduz sua participação àmedida em que avança na idade. Tal atitude leva-o ao afas-tamento de seus semelhantes. A necessidade dessa parti-cipação social é benéfica não só ao idoso mas também aoconjunto da sociedade”. (SALGADO, 1980, p. 65)

O conceito de envelhecimento saudável requer amanutenção de um envolvimento ativo com a vida. Ateoria da atividade explicita que o bem-estar emocional é,em parte, resultado da interação social e da forma como ovínculo social se dá. Então, compartilhar atividades físi-cas, intelectuais e sociais é importante para que o idosopreserve a qualidade de vida, o que contribuinotadamente para a sua autonomia.

Em se tratando de velhice, que conceito deve seradotado? Várias denominações vão sendo criadas, taiscomo meia idade, maturidade, terceira idade, juventudeacumulada, melhor idade, entre outros. Assim o envelhe-cimento pode ser vivenciado em um contexto marcado

pelo surgimento de um discurso científico sobre a velhi-ce e por mudanças na forma como os indivíduos, ao en-velhecer, vêem sua própria imagem refletida na socieda-de. Envelhecer é uma experiência única. Ao mesmo tem-po que o progresso científico permite que as pessoasvivam mais tempo, também a sociedade deve proporcio-nar-lhes oportunidades para viverem significativamenteos anos conquistados.

No dizer de Lehr: “a expectativa de vida e a quali-dade de vida não dependem somente de condições físi-cas ou biológicas. Fatores sociais, psicológicos eambientais também são importantes. (...) Os indivíduosestão vivendo mais, na verdade, é uma tarefa para todos,mas também para a sociedade”. (LEHR, 1999, p. 26)

3. DISCUSSÃO

O envelhecimento populacional é foco de discus-sões de vários setores da sociedade e de diversas áreasde conhecimento que se interessam pelo tema, com oobjetivo de enfrentar a problemática, na tentativa de ga-rantir melhor qualidade de vida aos que envelhecem. Oprolongamento da vida foi, sempre, uma aspiração dahumanidade. A forma de tratar os idosos depende, entre-tanto, de cada cultura ou sociedade.

Nas culturas primitivas, os idosos eram reconhe-cidos pela sua experiência de vida. Na sociedade con-temporânea, o envelhecimento está culturalmente asso-ciado com a saída do mercado de trabalho e o ingressona aposentadoria. Com a aposentadoria, os idosos ten-dem a diminuir suas relações sociais, antes possibilita-das pelo trabalho. Para enfrentar essas mudanças, é ne-cessário que os idosos recriem novas alternativas departicipação, lazer e ocupação do tempo livre. Mas é pre-ciso que todos os idosos tenham acesso a essas alterna-tivas de lazer. Ao discutir opções de entretenimento parao idoso, é preciso ser levado em conta que o processo deenvelhecimento é heterogêneo e diferenciado, pois asatividades, expectativas e o lazer não possuem o mesmosignificado para todos, embora, alcançar o envelhecimen-to saudável seja aspiração da maioria.

4. RESULTADOS

É importante refletir sobre o trabalho desenvolvi-do junto aos grupos de convivência, localizados nosbairros, em São José dos Campos. A importância de gru-pos de convivência para idosos é praticamente a mesmaque para qualquer outra idade, com a característica posi-tiva de que os idosos dispõem de maior tempo. Apesarde se viver numa sociedade que privilegia o trabalho, aprodução e o consumo, e não as necessidades humanas,alguns programas para a terceira idade estão sendo cria-dos, garantindo a gratuidade de serviços culturais e de

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lazer a essa parcela da população.

No meio urbano, os números de grupos de convi-vência são expressivos, configurando-se como espaçosque oferecem aos idosos múltiplas atividades lúdicas, delazer e informação, tais como: aulas de dança, canto ecoral, teatro e expressão corporal, bailes, caminhadas,ginástica, excursões, palestras e eventos relacionados àterceira idade, enfim, atividades que favorecem o desen-volvimento sócio-cultural do idoso, através da sua parti-cipação na sociedade.

A participação em atividades coletivas, como pas-seios, representam opções de lazer ao ar livre, que ofere-cem oportunidade de afastamento do cotidiano, desper-tando a solidariedade, a divisão de tarefas e responsabili-dades, oportunizando o crescimento pessoal a cada mem-bro do grupo. Sem dúvida, essas iniciativas possibilitam ainserção dos idosos no meio social, levando-os a superara solidão, o isolamento e a ociosidade provocados, muitasvezes, pela falta de opções de lazer no cotidiano.

Inserir o idoso em programas sociais é assegurarsua cidadania, reconhecendo através de seuengajamento, seus direitos, considerando-os como par-te integrante de um processo dinâmico do ciclo da vida.

A velhice precisa ser vivida e encarada como umprocesso natural, como as demais fases da vida. O con-tato social, as amizades e as demais atividades realizadassão indispensáveis para se viver socialmente. As diver-sas possibilidades para se estabelecer contato com ooutro, seja por meio de atividades comunitárias, físicasou religiosas precisam ser exploradas, pois, contribuempara que os idosos se adaptem às mudanças que o pro-cesso de envelhecimento envolve. É indispensável, por-tanto, a participação contínua e permanente dos idososem todos os espaços da vida social, desfrutando de situ-ações e oportunidades de acordo com os interesses erecursos pessoais de cada um, mas, acima de tudo, queesse envolvimento seja resultado de escolhas que tradu-zem satisfação e vontade de viver.

A Política Municipal do Idoso deve ser discutidanos grupos de convivência, para que os idosos sintam-se parte integrante da Casa do Idoso, equipamento queacresce, no município, os recursos para atendimentomultidisciplinar à população idosa.

5. CONCLUSÃO

É preciso mudar a visão da sociedade em relaçãoà consciência do processo de envelhecimento. A velhicedeve ser entendida como um processo do ciclo da vida e

não como uma fragilidade biopsíquica do ser em deca-dência.

Para Beauvoir “Envelhecer é um fenômeno bioló-gico e cultural”. (1994)

A participação e o envolvimento dos idosos deveser estimulado nos grupos, centros de convivência, clu-bes ou programas universitários, nas instituições. Existeo reconhecimento da importância dos grupos de convi-vência para o idoso; esperamos que essa reflexão tragacontribuições para o município, assim como para a Políti-ca Municipal do Idoso. Entretanto, não deve significarpara o idoso, somente, usufruir as atividades e progra-mas planejados e organizados pelos outros e sim partici-par, trabalhar coletivamente, incluir-se nas discussões eproposições de alternativas, no planejamento de ações,na concretização de planos, na gestão, no controle e naavaliação das atividades. É preciso ampliar as possibili-dades de lazer e os objetivos dos programas destinadosaos idosos, qualificando aqueles já existentes, incenti-vando a auto-expressão, a troca de experiências, o forta-lecimento mútuo, a criatividade, a autonomia e, especial-mente, os processos emancipatórios, capazes de condu-zir à plena inserção na vida social.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BEAUVOIR, S. A Velhice. 3. ed. Rio de Janeiro: NovaFronteira, 1994.

CAMARANO. A.A. Muito além dos 60 anos. Os novosidosos brasileiros. R.J. IPEA, 1999.

LEHR, U. A revolução da longevidade: impacto na socie-dade, na família e no indivíduo. In: Estudosinterdisciplinares sobre o envelhecimento. Porto Alegre,R.S: UFRS, 1999.

LORDA, C. R.; SANCHEZA, C. D. Recreação na Tercei-ra Idade. Rio de Janeiro: SPRINT, 2001.

SALGADO. M. A Velhice uma nova questão social. Ter-ceira Idade. São Paulo. SESC, 1980.

VERAS, R. P. Gestão Contemporânea em saúde. Rio deJaneiro: Relume Dumará, 2002.

Estatuto do Idoso, 2003.

Política Municipal do Idoso.

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A Magia do Mercado Municipal: espaço urbano deencontros

Rosa Ester Guimarães de Quadros *Elizabeth Moraes Liberato **

Resumo: O texto apresenta algumas questões a serem refletidas sobre o espaço urbano e a memóriasocial, tomando por base vivências e relações sociais observadas no Mercado Municipal de SãoJosé dos Campos, SP.

Palavras-chave: Espaço urbano, memória social.

Abstract: This stud presents questions to be reflected about the urban space and social memory,considering the vivencial and relationship observed in the Mercado Municipal de São José dosCampos.

Key words: Urban space, social memory.

* Pós-Graduada do Curso de Especialização emGerontologia e Família.

** Pró-Reitora de Avaliação e Professora da Univap -Doutora em Serviço Social e Especialista emGerontologia.

1. INTRODUÇÃO

A partir de uma aproximação visando um melhorconhecimento sobre a magia que envolve o espaço urba-no do Mercado Municipal, de São José dos Campos-SP,coloca-se uma instigante provocação quanto a se com-preender as várias expressões manifestas, verificadassobretudo na perspectiva de um espaço de encontro entreas pessoas idosas que vivem há um tempo histórico maisprolongado no espaço da cidade.

Santos (1998) coloca a questão do direito ao en-torno, do direito aos espaços públicos, típicos da vidaurbana e que denotam a tradição cultural histórica. Se-guindo a orientação do autor, no tocante à noção dedireito a esse espaço pleno de história e tradição para amemória social das pessoas que freqüentam o MercadoMunicipal da cidade de São José dos Campos, torna-sesignificativo analisar a dinâmica encontrada na ocupa-ção e nas atividades desse local público, preservadocomo patrimônio da cidade.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Considerando o contexto social resultante dasmudanças no traçado da cidade e em suas característi-

cas, há que se olhar e pensar como é fascinante o centrohistórico de São José dos Campos, onde sobressai oespaço urbano em questão, o Mercado Municipal, inau-gurado em 1923 e que passou por muitas mudanças, masmanteve sua estrutura original, preservado comoPatrimônio Histórico da cidade.

O estudo desse espaço requer uma abordagemsócio-histórica, com base num olhar retrospectivo. É im-portante deixar-se envolver pela atmosfera alegre que épercebida em suas ruelas e no encontro de pessoas. Estecenário suscita ainda uma provocação, visando compre-ender a diversidade cultural sob o prisma da memóriasocial presente no lugar.

Num passeio, realizamos com atenção uma obser-vação sobre esse fluxo, olhando a movimentação de pes-soas, focando, de um lado, uma conversa provocada numaparente encontro casual, de outro lado, um encontroque se apresenta numa roda de conversa, talvez marcadaem determinados dias da semana, se assemelhando a umaconvivência prazerosa que se repete recheada com sa-bores, cheiros e ao som de uma música de fundo, que falaao coração, que remete à cultura, à raiz, relacionadas àshistórias de vida do grupo de pessoas ali reunidas, mui-tas delas idosas.

Explorando um pouco mais além, através da pers-pectiva da ocupação do espaço social pela pessoa idosae relacionando com uma nova identidade de uma pessoamais ativa, mais participativa em busca da ocupação deseu lugar social, torna-se interessante questionar, co-nhecer, aproximar-se e registrar a roda de conversa entre

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os idosos reunidos freqüentemente nesse mágico lugarda cidade. As questões se colocam: é um espaço de tra-dição que remete ao aspecto de pertencimento, de inclu-são social na vida urbana? Ou é um espaço que refere àmemória social?

Com esta visão pode-se recorrer a citação de Poulet(1992), relembrando Proust (1957 apud BRANDÃO, 1999)que diz: “(...) graças à memória, o tempo não está perdido,e se não está perdido, também o espaço não está. Ao ladodo tempo reencontrado está o espaço encontrado, um es-paço que se encontra e se descobre em razão do momentodesencadeado pela lembrança”.

Halbwachs (1990) analisa a questão da memórialigada ao espaço, refere que enquanto algumas marcasmateriais da cidade permanecerem, elas serão fontes desegurança para as pessoas que ali vivem.

Assim sendo, se for considerada esta dimensãoda memória social, o espaço e o tempo não estão perdi-dos. Com as lembranças, tornam-se ainda mais mágicos,fascinantes e instigantes à aproximação, com vistas aoconhecimento da realidade nessa dinâmica de encontropessoal e roda de conversa, identificados no cotidianodos homens e mulheres circulantes no espaço do Merca-do Municipal, em especial os idosos.

Na perspectiva do contexto apresentado, existemquestões a serem refletidas e conhecidas neste processode conhecimento; podemos levantar que, em meio a tan-tas mudanças, a preservação do espaço pode ser vistocomo referência às pessoas idosas, cujas histórias devida foram construídas num determinado espaço urba-no, em determinado tempo histórico.

A partir deste olhar, coloca-se uma reflexão a sermelhor compreendida: Espaço, Tempo e Memória Socialpodem-se constituir em um recurso repleto de significa-dos de vida, de sentimentos e emoções e ainda indicarum novo modo da pessoa idosa estar nesse lugar social.

3. RESULTADOS

Neste enfoque dado ao trabalho, além de se consi-derar o surgimento na sociedade contemporânea de umanova visão e identidade social do idoso, deve-se conside-rar a forma de ocupação do seu espaço social e,gradativamente, descortinar a presença histórica dessapessoa, podendo ser vista e reconhecida socialmente nodesempenho de novos papéis na realidade social urbana.

Cabe uma reflexão mais ampla, considerando asreferências dos autores assinalados; coloca-se a ques-tão da presença histórica da pessoa idosa no espaço esua imagem identificada como depositária da memória da

sociedade. Esta questão se constitui numa temática queinterliga espaço, tempo e memória social. Espaço confi-gurando o aspecto de pertencimento e que confere refe-rência, decorrente da própria lembrança desencadeada,permitindo reconhecer o papel social por meio das remi-niscências.

Ainda no tocante ao tempo histórico é importanteconsiderar que o contato com o passado possibilita re-cuperar a história. Este processo de rememorar supera avisão ingênua, reducionista, percebida numa recordaçãoque não confere significado.

A memória está, nesta perspectiva, dimensionadapor um movimento dinâmico, que deve possibilitar, atra-vés das religações, a construção de um lugar significati-vo, no qual pessoas idosas sejam valorizadas e se valo-rizem, bem como se percebam na sociedade.

Hoje, percebe-se o movimento de valorização damemória construída pela sociedade, através de novosolhares para a pessoa idosa.

Assim, focando o espaço do Mercado Municipal,onde transitam personagens que se misturam, muitoscarregam em si lembranças, sensações que reconstituemo passado daquele espaço urbano e da própria cidade.

É uma tarefa instigante adentrar cada vez maisnessa trama e dela extrair histórias e mais histórias, da-queles que se constituem no dizer de Py (1999) “testemu-nhas vivas da história”.

4. CONCLUSÃO

O trabalho aponta caminhos de apreensão da rea-lidade, na continuidade da pesquisa que deverá levar emconsideração personagens e a subjetividade inerente aotema, ao deparar com os sujeitos que ajudaram a cons-truir a história, em conseqüência, a memória social doespaço urbano do Mercado Municipal de São José dosCampos. Isto traduz-se nas palavras de Mafessoli:

“A cidade, em sua banalidade, é potencial-mente rica em aventuras produzidas porsuas inumeráveis ruas e lugares diversos,assim como o dado social, em seu aspectomais comum, através do jogo da diferença,pode provocar situações, encontros emomentos particularmente intensos.(...) éisso que permite compreender que o coti-diano mais banal seja o cadinho da perma-nência da socialidade”. (MAFFESOLI,1984, p. 27)

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Encontros Intergeracionais - Transcendendo Diferenças,Compondo Espaço de Aprendizado e Troca entre Gerações

Mariangela Faggionato dos Santos *

Resumo: Este trabalho tem por finalidade apresentar o processo de aproximação intergeracionalatravés de ações educativas do Projeto Intergeracional: terceira idade e jovens, da Faculdade da3ª Idade da Universidade do Vale do Paraíba-Univap. Para mostrar as possibilidades de ocorrên-cia de trocas entre as gerações, buscou-se elaborar um estudo sobre a prática desenvolvida emencontros de co-educação entre gerações no município de Campos do Jordão e São José dosCampos.

Palavras-chave: Idoso, Terceira Idade, Projeto Intergeracional.

Abstract: This article discusses the process of appoach between generation by educations actionsof the Intergenerational Project, Third Age and Youngsters, of Third Age University of Vale doParaíba University, Univap. To show the possibility’s of occurrence of interchange betweengenerations, we search to elaborated a study about the partice develpe in co-education meetingbetween generations, in the borough of Campos do Jordão e São José dos Campos.

Key words: Elderly, Thirty Age, co-education between generations.

* Coordenadora do Curso de Gerontologia e Família.Coordenadora da Faculdade da Terceira Idade -Univap - Núcleo Campos do Jordão.Mestre em Gerontologia.

1. INTRODUÇÃO

O estudo aqui apresentado tem como propostamostrar as vivências no desenvolvimento de projetointergeracional, entre alunos da Faculdade da 3ª Idadeda Universidade do Vale do Paraíba - Univap, nos Muni-cípios de São José dos Campos e Campos do Jordão, ealunos de escolas de Ensino Médio e Fundamental darede de ensino municipal e estadual destas cidades.

O Programa Faculdade da Terceira Idade da Uni-versidade do Vale do Paraíba-Univap, foi criado em 1991;permite o acesso à educação continuada e oferece con-dições para integração do idoso na comunidade, assimcomo a organização e apoio a eventos sobre o processode envelhecimento e a condição do idoso; o incentivo aestudos ligados ao processo de envelhecimento e à faseda velhice. A Faculdade da 3ª Idade – Univap, sob acoordenação do Curso de Serviço Social, da Faculdadede Ciências Sociais Aplicadas, está vinculada ao ProjetoSocial Vale a Pena Viver da Universidade. Este Programaé desenvolvido nos municípios de São José dos Cam-pos, Caçapava e Campos do Jordão.

A proposta de desenvolvimento do Projeto deEncontro Intergeracional: terceira idade e jovens, quevem sendo desenvolvido desde 2002, pela Faculdade da3ª Idade - Univap, nos municípios de Campos do Jordãoe São José dos Campos, surgiu enquanto fruto de refle-xões sobre o processo de envelhecimento. Considera-sea importância do resgate das relações entre gerações e opapel social de cada um como ator social capaz de gerartransformações em si mesmo e em seu entorno. Compre-ende trabalhos de interação e de co-educação entre ido-sos e jovens.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O envelhecimento é inerente ao processo de vida,nascemos, crescemos, envelhecemos num tempo cujosignificado é estabelecido culturalmente. Para Bruns eAbreu, há algo comum entre os seres humanos, “(...)independente de classe social, preferência sexual, esta-do civil, religião – todos trilham a incontornável traje-tória do envelhecimento”. (BRUNS; ABREU, 1994, p.188)

O ser humano é um ser histórico-social que vem,através do tempo construindo, desconstruindo e recons-truindo seus espaços sociais. Dentro dessa perspectiva,o sentido dado à velhice, ou a qualquer fase da vida, estárelacionado aos valores éticos e morais da sociedade,num tempo histórico.

Para Àries (1986), a demanda demográfica mostra

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e determina o perfil do momento histórico vivido e anali-sado. O autor, em sua obra, determina idades que foramprivilegiadas em determinadas épocas, fala da juventudecomo privilégio do século XVII, da infância do séculoXIX, e da adolescência do século XX.

Para Todaro e Costa, “(...) se principalmente oséculo XVIII ajudou a nutrir e divulgar a idéia de infân-cia é somente no final do século XIX que os franceses sedestacam por passarem a dar um tratamento social àvelhice.” (TODARO; COSTA, 2004, p.35)

No século XX, há o prolongamento do tempo devida em função da modernização, que promove aprimo-ramento das condições sociais, econômicas e de saúde,fatores que influenciam a mudança das causas de morte,anteriormente resultantes de doenças infecciosas e pa-rasitárias, pelas doenças crônico-degenerativas, fenôme-no denominado de transição epidemológica. Em funçãodo prolongamento do tempo de vida, há um aumentoprogressivo da população idosa, o que determina a ne-cessidade de estudos e de busca pela efetivação de ações,que dêem conta dessa nova realidade social do séculoXX.

O Brasil, considerado um país em processo deenvelhecimento, terá, em 2025, uma população aproxima-da de 34 milhões de idosos, esta será a sexta maior popu-lação de idosos do mundo. Este dado demográfico refor-ça a necessidade de se ampliar os esforços na efetivaçãode ações que contemplem as necessidades da popula-ção brasileira que envelhece num processo rápido e pro-gressivo.

Dentro desse cenário da vida moderna, nos en-contramos com outro fenômeno que vem sendo alvo dediscussões e reflexões, além do prolongamento do tem-po de vida, o distanciamento das relações entre as gera-ções.

Houve, na modernidade, o re-desenho da vidacotidiana, ocorre uma compartimentalização dos espa-ços sociais promovendo uma segregação das diversasgerações. Cada grupo etário passa a ser defensor de umespaço próprio, onde a referência da complementariedadena diversidade se perde.

Para Todaro e Costa, podemos confirmar isto, “(...)nas instituições voltadas única e exclusivamente paraas crianças, como por exemplo, as escolas de ensinofundamental que as separam das maiores. E no casodos velhos podemos verificar estas práticas nos espa-ços de educação não-formal, onde as atividades sãooferecidas unicamente para os velhos.” (TODARO;COSTA, 2004, p.35)

O distanciamento entre os grupos geracionais le-vou a um enfraquecimento do espaço coletivo, a um es-vaziamento na organização grupal, que impossibilita aconstrução de um sentimento coletivo de garantia dedireitos comuns a todo.

O princípio de igualdade social é construído noespaço coletivo, onde os indivíduos se apropriam dodireito de serem vistos, ouvidos e o de desenvolveremações concretas na construção da vida em comunidade.

Arendt (2002) reflete sobre essas questões e mos-tra as conseqüências advindas da perda do espaço cole-tivo, da falta de interação entre os seres humanos, quan-do o indivíduo se isola e vive a ausência de outros, des-pojando-se de ter um lugar no mundo.

Assim coloca a autora: “(...) viver uma vida intei-ramente privada significa, acima de tudo, ser destituí-do de coisas essenciais à vida verdadeiramente huma-na: ser privado da realidade que advém do fato de servisto e ouvido por outros, (...) privado da possibilidadede realizar algo mais permanente que a própria vida,(...) o homem privado não se dá a conhecer, e, portanto,é como se não existisse. O que quer que ele faça perma-nece sem importância ou conseqüência para os outros,e o que tem importância para ele é desprovido de inte-resse para os outros.” (ARENDT, 2002, p. 68)

A vida moderna criou o fenômeno da solidão, quedestruiu a vida no espaço público, onde se dá o encon-tro entre os iguais, o espaço da vida coletiva. Assim co-locando Arendt: “Nas circunstâncias modernas, essaprivação de relações ‘objetivas’ com os outros e de umarealidade garantida por intermédio destes últimos tor-nou-se um fenômeno de massa da solidão, no qual assu-miu sua forma mais extrema e mais anti-humana.”(ARENDT, 2002, p. 68)

Enquanto ser grupal, o ser humano realiza suasexperiências de autodescoberta e de descoberta do ou-tro, através da comunicação e da comunhão interpessoal,que acontecem no espaço grupal. Os espaços de convi-vência grupal são espaços de construção de uma histó-ria onde o “eu” e o “tu” se fazem num tempo de possibi-lidades e não de determinismo.

No final do século XX, há a redescoberta da im-portância da convivência intergeracional, se assume queas relações intergeracionais são importantes para os in-divíduos e para a sociedade. São possibilitadoras de en-contros onde ocorrem trocas de experiências, aprendiza-do e crescimento.

Dos estudos de Moragas, temos que, “A UniãoEuropéia fez ecoar pela primeira vez internacionalmen-

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te a necessidade de estabelecer relaçõesintergeracionais sãs em 1992. Para este fim, convocoua todos os seus membros para que apresentassem inici-ativas criativas de relações intergeracionais.”(MORAGAS, 2004, p. 27)

O fortalecimento e resgate da importância das re-lações intergeracionais constituem instrumentos efeti-vos para o processo de humanização do ser humano,para a preservação de suas raízes e o enfrentamento doprolongamento do tempo de vida.

Em relação ao processo de humanização do hu-mano, Oliveira coloca que, “Nenhum ser humano sehumaniza sozinho. Sempre precisa de outro, aquele quetestemunha seu inacabamento. Por isso, humanizar ohumano é tarefa que tem um norte, mas que não temfim.” (OLIVEIRA, 1996, p. 9)

Para Alves e Correia, é nas experiências relacionaisem grupo que todos têm a oportunidade de se verem aovivo, “(...) interagindo, enfrentando as dificuldades eos conflitos interpessoais, na relação com o poder, comas normas, com os limites e com todos os símbolos deautoridade. Perceber o nível de profundidade que sequer nas relações, compartilhar os sentimentos e a pos-sibilidade de se viver a solidariedade, a troca, a verda-de, o perdão, a compreensão, a compaixão, o amor, a fé,a esperança de um mundo melhor mais humano e éti-co”. (ALVES; CORREIA, 2004, p. 91)

O encontro intergeracional possibilita a ocorrên-cia de uma co-educação entre gerações, onde se supõegerações em movimento. Oliveira sugere que, nesses en-contros, “(...) cada geração, além de ser vista comodepositária de uma época e, portanto, banhada por umtempo datado historicamente, pode igualmente ser per-cebida como modeladora das marcas de sua passagem,no tempo e no espaço. Tais marcas estariam impressasna cultura material e simbólica que comporia, vamosdizer assim, o conjunto de oferendas das gerações umasàs outras.” (OLIVEIRA, 1996, p. 7)

Em função do aumento da população idosa, há aproliferação, no Brasil, de programas para a Terceira Ida-de, que são oferecidos por instituições públicas e/ou

privadas, com o objetivo de desenvolver atividades só-cio-educativas, culturais e esportivas para os idosos.

Para Todaro e Costa, ainda são poucos os progra-mas que se preocupam em promover espaços de trocas ede convivência intergeracional, assim se colocando asautoras, “(...) Infelizmente, ainda são poucas as insti-tuições que se configuram em locais aonde se vai paraexperienciar vivências intergeracionais.” (TODARO;COSTA, 2004, p. 35)

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Encontros Intergeracionais em Campos do Jordão

O Núcleo da Faculdade da 3ª Idade-Univap, emCampos do Jordão, foi criado em 1999, por iniciativa esolicitação de um grupo de moradores, juntamente comum grupo instituído daquela cidade, o Grupo de Apoio àImplantação de Cursos Superiores, GRAICUS. Desde suacriação, o Núcleo vem desenvolvendo trabalhos de edu-cação continuada junto à população que se encontra na3ª Idade, tendo como uma de suas propostas de traba-lho, estimular a participação social do indivíduo comosujeito histórico, agente de transformação social. OsEncontros Intergeracionais realizados na cidade de Cam-pos do Jordão entre os alunos do Núcleo da Faculdadeda 3ª Idade e alunos das escolas municipais e estadualdo Município, foram realizados através de encontrosdialogais, sob o esteio do pensamento de Paulo Freire eatravés de estudos e pesquisa de campo, que foram rea-lizados em diversos locais no Município e nas instala-ções do Núcleo da Faculdade da 3ª Idade - Univap e dasescolas de Ensino Fundamental e Médio, parceiras dosdiversos encontros.

Do primeiro ao sexto, os EncontrosIntergeracionais realizados em Campos do Jordão, reu-nindo os núcleos de São José dos Campos e Campos doJordão, contaram com a parceria de escolas de cada cida-de; foram desenvolvidos seis projetos interligados comcada uma delas. As sensações, falas e emoções vividasnesses encontros foram transformadas em apresentaçõesartísticas, a cada final de ano, organizadas na cidade deCampos do Jordão, reunindo idosos e os jovens da re-gião.

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Nos depoimentos de alguns alunos podemos per-ceber a intensidade dos sentimentos e emoções presen-tes durante os encontros:

JovemEu achei o encontro super interessante, porque

lá nós aprendemos e ensinamos um pouco do que sabe-mos. Eu gostei muito de lá, as pessoas são supereducadas e gentis, eu conheci muitas pessoas e quandoestou lá me sinto muito bem. O Encontro Intergeracionalé legal e nos incentiva muito, pois sabemos que um diatambém estaremos no lugar deles e outros jovens emnosso lugar.

IdosoÉ sempre transformador o contato entre gera-

ções. Há sempre uma troca de informação e portantoaprendizado. A visão amplia.

JovemTodas as tardes de quinta-feira que passei com o

pessoal da Terceira Idade foram muito agradáveis. Sãosenhoras e senhores muito inteligentes, cultos, alegres,felizes, poetas, contadores de histórias, dançarinos, pin-tores e artistas. Estão todos dispostos a ensinar e apren-der. Eu aprendi nos encontros que tivemos, que não éporque somos mais vividos, que não podemos ir na es-cola, ter amigos, dançar e namorar ....

IdosoFoi um grande prazer, poder participar destes

encontros, por ter contato com os jovens, é muito grati-ficante.

JovemDesde o primeiro encontro foi muito divertido,

sempre tomávamos um café juntos, em todas as aulas.Assistimos uma aula sobre música, tocamos teclado, vi-olão, cantamos e nos conhecemos. Em todos os encon-tros aprendemos um pouco de nós e realizamos coisasque nem pensávamos que seríamos capazes de realizar.Nesses encontros trocamos idéias, sorrisos e palavrasque valeram muito e servirão como exemplo para a vidatoda. Ter feito esse encontro foi muito bom, pois pude-mos perceber a importância de uma convivência compessoas da 3ª Idade, pudemos ver que eles podem sertão divertidos quanto nós adolescentes.

IdosoMe senti muito bem, é muito bom estar perto dos

jovens, eles nos trazem muita alegria e vontade de viver.

JovemFoi uma experiência única. Apesar de ser

jordanense, nunca tinha chegado tão perto das obrasde uma grande artista que viveu aqui na minha cidade.

IdosoMe senti bastante descontraída e curiosa, (...)

Foi muito produtivo e oportunidade de crescimento.

Jovem(...) pude perceber que a idade não interfere em

nada na vida, apenas nos mostra que há tempo paratudo e que não existe cedo ou tarde demais.

IdosoFoi muito bom. Na verdade é sempre bom estar

com os jovens. aprendemos muito, e um elo de respeitomútuo se forma..

Jovem(...) adquiri conhecimentos e vida com os idosos,

que nenhum livro no mundo seria capaz de me ensinar.Cada sorriso, cada gesto, cada palavra de uma fonte desabedoria, é capaz de transformar o mundo. O olhardistante, às vezes, a face vivida, mostra bem à nossafrente, em questão de instantes, como seremos daqui háalgum tempo. De tudo isso, o que mais aproveitei foi ocontato direto com pessoas de face vivida e alma livre.Os idosos.

IdosoPassei a admirar mais Felícia Leirner e este pro-

jeto uniu mais o nosso grupo com os jovens.

JovemAs obras de Felícia me passaram uma paz interi-

or muito grande, me renovou o espírito quando desco-bri o verdadeiro valor, significado delas. Ao retrataruma mãe e uma filha ou até mesmo os filhos saindo doventre da mãe. Felícia mostra que tinha uma grandecapacidade interior de criar e transformar. Essas obrasnão são apenas monumentos sobre uma grama, numMuseu distante, mas sim um progresso espiritual paracada um que conhece o verdadeiro significado delas.

IdosoO que mudou em mim após participar desse pro-

jeto foi, antes de qualquer visita a museu ou ao apreci-ar obras de arte, conhecer o significado de cada escul-tura, quadro, etc. Estou muito contente e feliz, é o maisimportante, não é?

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto “Encontros Intergeracionais” da Facul-dade da Terceira Idade-Univap é uma proposta de açãoeducativa que objetiva aproximar idosos e jovens. A cadaano o projeto desenvolveu um tema específico que con-tribuiu para promoção de um espaço, que propiciou oconvívio intergeracional, através de atividades sócio-educativas-culturais, com troca de experiências que fa-

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voreceram o aprendizado conjunto entre gerações.

Esse projeto surge como uma possibilidadefacilitadora do restabelecimento da comunicação entregerações, levando à apreensão de conhecimento de umageração para outra, acreditando no poder de transforma-ção da vida como fonte verdadeiramente inexaurível aocrescimento e desenvolvimento. As relações se apresen-tam como solo fértil que dispõem de um poder para origi-nar novas expressões, novos arranjos existenciais.

Os momentos vividos durante a realização do pro-jeto intergeracional em Campos do Jordão, de 2002 a 2007,foram de amorosidade entre as gerações, realizamos di-versos encontros dialogais, tendo como material de sus-tentação textos, músicas, oficinas e pesquisa de campo.

Foram momentos ricos na descoberta do outro.Contamos, principalmente, com o comprometimento dosalunos e professores envolvidos no projeto, sempre acre-ditando, de acordo com o referencial teórico de sustenta-ção do projeto, que é possível a construção de um mun-do melhor e de um estar junto alimentador.

Nas vivências instituídas em Campos do Jordãono projeto de encontros intergeracionais, nos depara-mos com jovens e idosos partilhando experiências, cons-truindo possibilidades à transcendência de diferenças,compondo espaços de aprendizado e troca, a partir deuma proposta de produção conjunta.

Ao acreditar no convívio de gerações, não comouma relação linear, mas como uma troca onde os sujeitosse refazem e se constituem mutuamente, acreditamos,como coloca Oliveira que, “Idosos, jovens e adultosinteragem na vida em comum e se modificam reciproca-mente. (...) uma possibilidade que se inaugura a partirde co-existência de gerações diferentes numa dada si-tuação social.” (OLIVEIRA, 1996, p. 7)

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Educação Continuada e Projeto de Vida de Pessoas Idosas

Débora Wilza de Oliveira Guedes *

Resumo: O envelhecimento é um processo natural do ser humano; a velhice é uma das fases dodesenvolvimento do homem, e como as demais, possui características próprias. O envelhecimentopopulacional e a longevidade apresentam à sociedade e aos indivíduos novos desafios sobre comopropiciar condições aos idosos para a realização de seu potencial de vida. Para que isso ocorra deforma plena, é importante o idoso estar inserido no contexto educativo. A educação continuadadeve voltar-se às peculiaridades dos idosos. O ser humano mantém, mesmo nas idades mais avança-das, a necessidade e a capacidade de repensar sua vida, cabendo a cada indivíduo e à sociedade,de modo geral, garantirem as condições necessárias para que os idosos se sintam incentivadospara realizar novos projetos de vida. Esta pesquisa, realizada na Faculdade da Terceira Idade-Univap, no município de São José dos Campos, SP, teve como objetivo verificar a existência darelação entre educação continuada e projeto de vida de pessoas idosas, visando ampliar o conhe-cimento existente nessa área e contribuir com programas e projetos voltados para idosos. Os resul-tados obtidos nesta pesquisa demonstram a existência de uma relação entre educação continuadae projeto de vida de pessoas idosas, indicando a importância da sua inclusão em programas eatividades voltadas para a construção e realização de projetos de vida.

Palavras-chave: Velhice, educação continuada, projeto de vida.

Abstract: Aging is a natural process for the human being and the old age; as well as the other stagesof life, has its own features. The population aging and longevity bring up new challenges to thesociety and to the individuals on how to offer the elderly conditions so they can keep developingtheir life potential. In order to have a full development of it, the elderly should be inserted in theeducational context, and the continuing education approach meets this demand. The human beingkeeps, even at the most advanced ages, the need and ability to rethink life and it is up to eachindividual and to the society, on the whole, to guarantee the necessary conditions so the elderly feelencouraged to make new life projects. This research, carried out at the Faculdade da Terceira IdadeUNIVAP, in the city of São José dos Campos, SP, aimed at verifying the existence of relationshipbetween the continuing education and the elderly life project, as well as, intended to broaden theknowledge of this area and to contribute to projects and programs directed to the elderly. Theresults of this research show the existence of a positive relation between the continuing educationand the elderly life project and point out the importance of including them in programs with activitiesthat encourage the elderly to plan and accomplish life projects.

Key words: Elderly, continuing education, life project.

* Assistente Social. Mestre em Gerontologia Social.Coordenadora Pedagógica da Faculdade da Tercei-ra Idade São José dos Campos da Univap.

1. INTRODUÇÃO

O envelhecimento do ser humano é um processonatural, inerente ao desenvolvimento das potencialidadesde cada indivíduo. A velhice faz parte desse processo,sendo considerada uma fase com características própri-as e peculiares.

Entretanto, como todas as outras fases da vida,

que não são estanques ou independentes, a velhice tam-bém apresenta dificuldades e facilidades que se relacio-nam aos diferentes momentos que caracterizam a trajetó-ria de vida das pessoas.

O aprendizado é uma condição constante e im-portante para o pleno desenvolvimento do indivíduo, aocorresponder às características e necessidades própriasde cada momento vivido.

O tema deste trabalho foi definido a partir de ob-servações sobre transformações significativas ocorridascom os idosos nas atividades vivenciadas na Faculdadeda Terceira Idade-Univap.

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Essas transformações contemplam questões queenvolvem temas relacionados à realidade do envelheci-mento, da velhice e da educação continuada, elementosintegrantes do objeto da pesquisa, constituindo-se nasprincipais categorias da base teórica deste estudo.

Observou-se, também, no universo dos idososda Faculdade da Terceira Idade-Univap, a presença deum fato específico, relacionado à questão dos projetosde vida. Dada sua relevância, essa categoria passa a serincorporada para efeito de fundamentação teórica, so-mando-se às três anteriores: envelhecimento, velhice eeducação continuada. A base teórica sobre educaçãocontinuada orientada para o segmento idoso é apresen-tada com enfoque nas faculdades para a terceira idade,entre as quais a Faculdade da Terceira Idade-Univap.Dá-se ênfase às referências teóricas sobre projeto de vida,auto-estima e liberdade, na perspectiva de sistematizaros conteúdos referentes a esses conceitos, consideran-do a realidade do segmento idoso e o contexto corres-pondente ao objeto da pesquisa.

Os resultados da pesquisa de campo compõemduas partes: na primeira são apresentados os procedi-mentos metodológicos e na segunda os resultados daanálise dos dados coletados através da realização deentrevistas, conforme os procedimentos metodológicosadotados para a realização deste trabalho.

As considerações finais foram elaboradas a partirdas reflexões mais relevantes recolhidas do processo dapesquisa, objetivando apresentar as principais contri-buições do estudo realizado.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O objetivo geral deste estudo é investigar a rela-ção entre educação continuada e projeto de vida de pes-soas idosas na Faculdade da Terceira Idade Univap –São José dos Campos – SP.

Acredita-se que os resultados da pesquisa con-tribuirão para reformulações possíveis de programas edu-cacionais para idosos, atendendo às necessidades deprofissionais integrados em ações sócio-educativas querequeiram conhecimentos para conduzir seu trabalho demaneira competente.

Quanto aos objetivos específicos, tendo em vistao objetivo geral, direcionou-se a investigação para iden-tificar o motivo pelo qual o idoso procurou a Faculdadeda Terceira Idade Univap. Foram reconhecidos quais osprojetos de vida dos idosos antes do ingresso na Facul-dade da Terceira Idade Univap e identificados quais pro-jetos surgiram ou foram retomados após os idosos nelase inserirem.

Para atingir os objetivos do trabalho, e tendo emconta o universo de investigação, desenvolveu-se umapesquisa qualitativa, considerando procedimento indi-cado e propiciador do conhecimento das trajetórias devida e experiências sociais dos idosos, sujeitos da pes-quisa, numa abordagem não meramente descritiva.

Para Chizzotti,

“A abordagem qualitativa parte do funda-mento de que há uma relação dinâmicaentre o mundo real e o sujeito, umainterdependência viva entre o sujeito e oobjeto, um vínculo indissociável entre omundo objetivo e a subjetividade do su-jeito.” (CHIZZOTTI, 2003, p.79)

Para conhecer as situações vividas pelos idosose apreender os significados que estes lhes atribuem, tam-bém pelo fato da pesquisadora estar inserida como pro-fissional no universo estudado, utilizou-se a técnica daobservação participante, que permite ao pesquisadoraprofundar-se no universo dos sujeitos pesquisados eavaliar seus comportamentos e os processos sociais nosquais estão inseridos.

Moreira aponta as contribuições dessa forma decoleta ao colocar: “As pessoas precisam ser estudadasem seus próprios termos, devendo o pesquisador tentarapreender os sentidos simbólicos que as pessoas defi-nem como importantes e reais”. (MOREIRA, 2002, p. 51)

Complementando os requisitos que definem asdiferentes técnicas utilizadas na realização da pesquisa,explica Moreira: “A observação participante pode serconceituada como uma estratégia de campo que combi-na, ao mesmo tempo, a participação ativa com os sujei-tos, a observação intensiva em ambientes naturais, en-trevistas abertas informais e análise documental.”(MOREIRA, 2002, p. 52)

Considerou-se importante o levantamento de da-dos que permitiram o conhecimento do perfil sócio-eco-nômico dos alunos da Faculdade da Terceira Idade-UNIVAP, São José dos Campos.

Para a coleta de dados nos três níveis em que seorganiza a Faculdade da Terceira Idade Univap (Nível I,Nível II e CEATI – Centro de Estudos Avançados da Ter-ceira Idade) foram escolhidos como sujeitos, três idosos,com sessenta anos ou mais, cada um cursando um dessestrês níveis. Utilizou-se as letras de A a C, como forma deapresentação desses sujeitos, evitando a identificação dosmesmos. O sujeito A, é aluno do nível I, tem 75 anos, é dosexo masculino, casado e possui ensino fundamental com-pleto; o sujeito B é aluno do nível II, tem 67 anos, é do sexo

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feminino, casado e com ensino médio completo; o sujeitoC é aluno do CEATI, com 86 anos, do sexo feminino, viúvoe possui ensino fundamental incompleto. Ampliou-se ouniverso da pesquisa, ainda, com a participação de umquarto idoso, na condição de ex-aluno, que é o sujeito D,com 74 anos, do sexo feminino, casado, com escolaridadede nível superior completo.

A escolha dos sujeitos baseou-se também na ex-periência profissional da pesquisadora, na Faculdade daTerceira Idade-Univap. Esse processo de escolha se jus-tifica em razão do objetivo da pesquisa, que não se des-tinou a obter dados estatísticos, mas interpretar signifi-cados e vivências dos sujeitos investigados. Desta for-ma, como referido por Martinelli, não se trata de um tra-balho de pesquisa pautado em amostras obtidas de modoaleatório e, sim, de trabalho no qual “[...] temos a possibi-lidade de compor intencionalmente o grupo de sujeitoscom os quais vamos realizar nossa pesquisa.”(MARTINELLI, 1999, p.24)

A coleta de dados foi realizada através de entrevis-tas semi-estruturadas, na qual o pesquisador se utiliza te-orias e hipóteses que interessam à pesquisa para susten-tar os questionamentos básicos que serão o ponto de par-tida das entrevistas. À medida que as respostas são obti-das, surgem novas hipóteses que ampliam o campo dasinterrogativas. Esta técnica oferece, assim, de maneiraenriquecedora, as várias perspectivas possíveis do objetoestudado, com liberdade e espontaneidade, como coloca-do por Triviños: “Desta maneira, o informante, seguindoespontaneamente a linha de seu pensamento e de suasexperiências dentro do foco principal colocado pelo in-vestigador, começa a participar na elaboração do conteú-do da pesquisa”. (TRIVIÑOS, 1990, p.146)

A entrevista semi-estruturada, precedida da aplica-ção dos termos de consentimento e autorização, foi elabo-rada com utilização de um roteiro centrado nos objetivos dapesquisa, a partir de estudos teóricos prévios e das obser-vações que foram feitas sobre o fenômeno pesquisado.

As entrevistas foram realizadas em duas etapas, parase dispor de um momento de aproximação com o sujeitomais descontraído e possibilitador de relatos mais ricos emconteúdos e significativos. Nas duas etapas, os sujeitosentrevistados foram surpreendentes, em razão das peculia-ridades dos seus depoimentos, e consolidaram os dadosobtidos pelas observações realizadas anteriormente.

A escolha das categorias de análise utilizadasneste trabalho, “projeto de vida” e “educação continua-da”, decorrera do objetivo geral da pesquisa que propõea investigação da relação entre essas duas categorias,relacionadas ao segmento idoso. A necessidade de tra-balhar com outras duas categorias de análise surgiu da

observação feita no dia-a-dia, uma vez que a auto-estimae liberdade dos idosos aparecia de maneira expressivaatravés dos contatos desenvolvidos na Faculdade daTerceira Idade-Univap.

O processo de análise baseou-se no agrupamen-to dos dados coletados em categorias significativas frenteaos objetivos, justificativa e referencial teóricos, elemen-tos direcionados na realização da pesquisa.

As categorias de análise: auto-estima, liberdade, pro-jeto de vida e educação continuada, permitiram interpretar arealidade e os significados do objeto de estudo, com o pro-pósito de chegar à compreensão do fenômeno estudado.

3. RESULTADOS

A análise dos dados processou-se em vários mo-mentos, sucessivos, iniciando-se, informalmente, quan-do estavam sendo feitas as entrevistas e obtidas as res-postas. Já naquele momento, surgiram hipóteses inespe-radas. Concluídas todas as entrevistas, os depoimentosforam transcritos e analisados.

O processo de análise dos dados revelou, tam-bém, que as respostas de alguns dos entrevistados de-corriam de interpretações subjetivas das perguntas, ge-rando dados que eram ricos em significados, embora nãorelacionados diretamente às perguntas feitas. Essa situ-ação exigiu cuidados especiais para identificar objetiva-mente o discurso do sujeito.

Para tornar mais visíveis os dados coletados efacilitar a análise do conjunto das informações, foramreunidas as respostas dos quatro sujeitos sobre cadacategoria. As perguntas formuladas aos sujeitos durantea pesquisa foram reproduzidas, facilitando a organizaçãodas informações analisadas.

Considerando os objetivos deste trabalho, no pro-cesso de análise das respostas oferecidas para cada per-gunta, procurou-se destacar a existência da relação entreprojeto de vida e educação continuada e quais as carac-terísticas que essa relação oferecia para cada um dosentrevistados.

A análise das respostas dos entrevistados tevecomo base de apoio os referenciais teóricos estudados eos conceitos abordados.

Viver plenamente as potencialidades humanas re-quer do indivíduo que mantenha ativa a sua capacidadepara fazer projetos de vida que atendam suas necessida-des e respondam às constantes mudanças que ocorremem sua vida.

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Na velhice, o indivíduo não pode abrir mão da suacapacidade de projetar para a vida, nem tampouco devese render aos preconceitos que o impeçam de ver-se comocapaz e merecedor de construir novos projetos de vidaou de realizar os projetos idealizados anteriormente.

A situação de exclusão vivenciada por muitos ido-sos ocorre, principalmente, em razão dos preconceitosdecorrentes de uma visão negativa da velhice e esta situ-ação de exclusão gera obstáculos para que o indivíduopossa usufruir seus direitos sociais. As capacidades deaprender e de projetar para a vida comunicam-se e combi-nam-se nos seres humanos, alimentando-se mutuamente.Na fase da velhice, essa relação não se mostra diferente.

A educação continuada, enquanto expressão deincentivo da capacidade de aprender, proporciona umambiente ideal para estimular nas pessoas a retomada deprojetos anteriores de vida, não realizados, para a cons-trução de novos projetos, nos quais se exprime a crençanas possibilidades do futuro.

Os resultados desta pesquisa demonstram queessa mesma condição é válida também para os idosos,pois o ambiente de relações sociais proporcionados pelaeducação continuada a essa população favorece tanto acapacidade de aprender quanto a de realizar projetos devida. Destaca-se a idéia de que voltar a estudar, paramuitos idosos, é a realização de um projeto de vida, alémdas conquistas em relação ao sentido de liberdade, noâmbito de autonomia e independência.

Gozar de autonomia e de independência como con-dição para sua participação no processo de educação conti-nuada torna-se significativo para o idoso. Esta mesmacondição de liberdade é requerida para a realização de pro-jetos de vida. Tal relação se faz de modo combinado, poisa participação do idoso no processo educacional continu-ado e a realização de projetos de vida permitem que eleexercite e fortaleça a sua capacidade de ser livre.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A auto-estima na velhice recebe influência positivadas atitudes desenvolvidas pelos idosos, a partir do conta-to com a educação continuada e com seus projetos de vida.

A sociedade atual ainda cultiva idéias que se sus-tentam em preconceitos e na desconsideração da digni-dade do idoso. É preciso, urgentemente, formular umapostura social coerente com a verdade da velhice: umafase maravilhosa da vida, na qual é natural que o indiví-duo conviva com as dificuldades e facilidades que lhesão peculiares.

Um passo fundamental em direção a essa nova pos-

tura exige que a sociedade crie oportunidades para que umcontingente cada vez maior de pessoas, que usufruem oprivilégio de envelhecer, possa se manter ativo e participan-te em sua própria vida e na vida do seu grupo social.

Os que envelhecem têm o direito natural de exer-cer plenamente suas potencialidades e a medida das suascondições biológicas, psicológicas e sociais deve servista dentro da dimensão de simples medida. Medidaque cabe ao indivíduo e à sociedade respeitarem e rever-terem em favor do crescimento humano.

Os projetos de vida que são feitos ou que sãoretomados a partir do momento que o idoso entra emcontato com a educação continuada demonstram como aeducação é um importante instrumento deconscientização, ao oferecer, para os idosos, oportuni-dades de convivência, de atualização e de desenvolvi-mento pessoal.

É essencial o aumento de projetos de educaçãocontinuada como este que é desenvolvido pela Faculdadeda Terceira Idade-Univap, que ofereçam um trabalho sério,criterioso e profissional, pois a educação continuada é umdireito e um meio importante de exercício da cidadania.

O envelhecimento, em sua condição de aconteci-mento apenas cronológico, não é, em si mesmo, uma ga-rantia do exercício dos potenciais de vida e, por isso, épreciso que se imprima ao passar do tempo a sua dimen-são de humanidade, no qual cada pessoa evolui enquan-to indivíduo e enquanto parte do todo social.

A relação entre educação continuada e projeto devida de pessoas idosas tem o sentido de oportunidadede uma velhice com desenvolvimento pessoal e social.Vista desta perspectiva, a longevidade revela-se como averdadeira conquista que é para o ser humano, enquantouma extensão do seu tempo de vida plena, em que sãopossíveis novos aprendizados, outros sonhos e a reali-zação de mais e belos projetos de vida.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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NORMAS GERAIS PARA A PUBLICAÇÃODE TRABALHOS NA REVISTA UNIVAP

A Revista UniVap é uma publicação de divulgaçãocientífica da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP),que procura cumprir com a sua tríplice missão de ensino,pesquisa e extensão. Assim, a pesquisa na UNIVAPtem, dentre suas funções, a de formar elites intelectuais,sem as quais não há progresso. Esta publicaçãoincentiva as pesquisas e procura o envolvimento de seusprofessores e alunos em pesquisas e cogitações deinteresse social, educacional, científico ou tecnológico.Aceita artigos originais, não publicados anteriormente,de seus docentes, discentes, bem como de autores dacomunidade científica nacional e internacional. Publicaartigos, notas científicas, relatos de pesquisa, estudosteóricos, relatos de experiência profissional, revisões deliteratura, resenhas, nas diversas áreas do conhecimentocientífico, sempre a critério de sua Comissão Editorial ede acordo com o formato dos artigos aqui publicados.

Solicita-se o cumprimento das instruções a seguir parao preparo dos trabalhos.

1. Os originais devem ser apresentados em papel brancode boa qualidade, no formato A4 (21,0cm x 29,7cm) eencaminhados completos, definitivamente revistos, comno máximo 15 páginas, digitadas em espaço 1,5 entre aslinhas (recomenda-se o uso de caracteres Times NewRoman, tamanho 12), em 1 via, acompanhada de disqueteou CD. Somente em casos muito especiais serão aceitostrabalhos com mais de 15 páginas. Os títulos das seçõesdevem ser em maiúsculas, numerados seqüencialmente,destacados com negrito. Não se recomenda subdivisõesexcessivas dos títulos das Seções.

2. Língua. Os artigos devem ser escritos,preferencialmente, em Português, aceitando-se tambémtextos em Inglês e Espanhol. No caso do uso das línguasPortuguesa e Espanhola, devem ser anexado um resumoem Português (ou Espanhol) e em Inglês (Abstract).

3. Os trabalhos devem obedecer à seguinte ordem:

- Título (e subtítulo, se houver). Deve estar de acordocom o conteúdo do trabalho, conforme os artigos aquiapresentados.

- Autor(es). Logo abaixo do título, apresentar nome(s)do(s) autor(es) por extenso, sem abreviaturas. Comasterisco, colocado logo após o nome completo do autorou autores, remeter a uma nota de rodapé relativa àsinformações referentes às instituições a que pertence(m)e às qualificações, títulos, cargos ou outros atributos.

- Resumo. Com no máximo 250 palavras, o resumo deveapresentar o que foi feito e estudado, seu objetivo, comofoi feito (metodologia), apresentando os resultados,conclusões ou reflexões sobre o tema, de modo que oleitor possa avaliar o conteúdo do texto. NBR6028.

- Abstract. Versão do resumo para a língua Inglesa.Caso o trabalho seja escrito em Inglês, o Abstract deveser traduzido para o Português (Resumo).

- Palavras-chave (Key words). Apresentar de duas acinco palavras-chave sobre o tema.

- Texto. Corpo do artigo estruturado em introdução,desenvolvimento e conclusão. No caso de divisão deseções, sua ordenação deve seguir o sistema denumeração progressiva (NBr6024), com subtítulos decaráter informativo.

- Citações dentro do texto. As citações com mais de 3linhas devem ser destacadas com recuo da margemesquerda 4 cm, com letra menor que a do texto utilizadoe sem aspas.Ex.: Na criança, bons hábitos posturais são

importantes para evitar sobrecargasanormais em ossos em crescimento ealterações adaptativas em músculos etecido mole. (KISNER; COLBY, 1998).

Nas citações são utilizadas sobrenome e data,apresentadas em maiúsculas dentro do parênteses eem minúsculas fora do parênteses.Ex.: 1. Segundo Spector (2003), “A discussão dosresultados é a parte mais livre da tese, onde o autortem maior latitude para demonstrar o seu domínio dotema e o valor do estudo.”Ex.: 2. A discussão dos resultados é a parte mais livreda tese, onde o autor tem maior latitude parademonstrar o seu domínio do tema e o valor do estudo(SPECTOR, 2003).

- Referências Bibliográficas: devem ser apresentadasno final do trabalho, em ordem alfabética de sobrenomedo(s) autor(es), como nos seguintes exemplos:

a) Livro: SOBRENOME, Nome. Título da obra. Localde publicação: Editora, data. Exemplo: PÉCORA,Alcir. Problemas de redação. 4.ed. São Paulo: MartinsFontes, 1992.

b) Capítulo de livro: SOBRENOME, Nome. Título docapítulo. In: SOBRENOME, Nome (org.). Título do

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livro. Local de publicação: Editora, data. Páginainicial-final. Exemplo: LACOSTE, Y. Liquidar ageografia... liquidar a idéia nacional? In: VESENTIN,José William (org.). Geografia e ensino: textos críticos.Campinas: Papirus, 1989. p.31-82.

c) Artigo de periódico: SOBRENOME, Nome. Títulodo artigo. Título do periódico, local de publicação,volume do periódico, número do fascículo, páginainicial-página final, mês(es). Ano. Exemplo:ALMEIDA JÚNIOR, M. A economia brasileira.Revista Brasileira de Economia, São Paulo, v. 11, n.1, p. 26-28, jan./fev. 1995.

d) Dissertações, Teses e Trabalhos Acadêmicos:SOBRENOME, Nome. Título da dissertação (ou tese).Local. Número de páginas (Categoria, grau e área deconcentração). Instituição em que foi defendida. data.Exemplo: BRAZ, A. L. Efeito da luz na faixa espectraldo visível em adultos sadios. 2002. 1 disco laser.Dissertação (Mestrado em Bioengenharia) - Institutode Pesquisa e Desenvolvimento, Universidade doVale do Paraíba, São José dos Campos, 2002.

e) Outros casos: Consultar as Normas da ABNT paraReferências Bibliográficas (NBR6023). Ou acessar osite: http://www.univap.br/cultura/abnt.htm

4. As figuras (desenhos, gráficos, ilustrações, fotos) etabelas devem apresentar boa qualidade e seremacompanhados de legendas breves e claras. Indicar noverso das ilustrações, escritos a lápis, o sentido da figura,o nome do autor e o título abreviado do trabalho. Asfiguras devem ser numeradas seqüencialmente comnúmeros arábicos e iniciadas pelo termo Fig., devendoficar na parte inferior da figura. Exemplo: Fig. 4 - Gráficode controle de custo. (fonte 10). As tabelas tambémdevem ser numeradas seqüencialmente, com númerosarábicos, e colocadas na parte superior da tabela.Exemplo: Tabela 5 - Cronograma da Pesquisa. As figurase tabelas devem ser impressas juntamente com o originale quando geradas no computador deverão estar gravadasno mesmo arquivo do texto original. Fotografias,desenho artístico, mapas etc., devem ser de boaqualidade e em preto e branco.

5. O encaminhamento do original para publicação deveser feito acompanhado do disquete ou CD-ROM e com aindicação do software e versão usada.

6. O Corpo Editorial avaliará sobre a conveniência ounão da publicação do trabalho enviado, bem comopoderá indicar correções ou sugerir modificações. A cadaedição, o Corpo Editorial selecionará, dentre os trabalhosconsiderados favoráveis para publicação, aqueles queserão publicados imediatamente. Os não selecionadosserão novamente apreciados na ocasião das ediçõesseguintes.

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