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REVISTA ON-LINE QUADRIMESTRAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE EUBIOSE Ano lV Número 14 Junho a Setembro de 2016 ´

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REVISTA ON-LINE QUADRIMESTRAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE EUBIOSEAno lVNúmero 14Junho a Setembro de 2016

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EDITORIAL

É natural que todo ser humano queira ser feliz. Ninguém de sã consciência quer ser infeliz. Um ou outro pode entender que, sendo livre, será feliz. Será que, garantida a liberdade, mas faltando a cultura, poderá a criatura humana ser feliz? A liberdade não consiste apenas em um “fazer o que quiser”, se assim o fosse, corre-se o risco da evolução se perder sob a desordenada pressão dos impulsos instintivos. A liberdade está justificada quando presente para assegurar o desenvolvimento harmonioso das potencialidades, tanto instintivas como espirituais, tanto afetivas como intelectuais, tanto egoístas como altruístas, não para tornar alguém num campeão olímpico ou num santo, mas numa pessoa normal capaz de ser feliz. O caminho seguro da liberdade é aquele que faz a pessoa “ser o que é”, aceitando-se como é, porém melhorando-se de dentro para fora, dia a dia. A educação da sua própria liberdade a livrará da libertinagem, do cativeiro de seus instintos e do tráfico das fantasias. A coação física ou moral, o assédio, as imposições externas ou as tutelas demasiadas não fazem parte desse caminho. Nele só existe esforço, quietude e vigilância para que haja o melhoramento da vida em todos os seus aspectos, sem perder de vista a felicidade. Se nele florescerem projetos de prosperidade, virão sem a mácula da ganância e do apego. Se florescerem projetos do crescimento espiritual, virão despidos do devocionalismo e da mistificação. O autodidatismo desenvolvido nesse caminho fortalece uma arteincomum: a arte de pensar bem. A crítica saudável e as conclusões resultantes do estudo comparado dos vários ramos do Saber humano - desdobrados nas ciências, nas artes, nas filosofias e nas religiões - tornarão o autodidata, movido pela disposição incondicional de servir, um ser verdadeiramente livre, em direção a um novo estado de consciência, a um novo grau de refinamento dos sentidos, pertencente a um novo estágio da civilização humana mais próximo da sua natural readaptação cósmica. São muitos os que veem nesse caminho a volta à Natureza; alguns, equivocadamente, poderão confundir esse retorno como sendo a volta ao primitivismo, porém outros, mais atentos, já perceberam que esse movimento adota os avanços tecnológicos de uso racional para transcender a complexidade do mundo contemporâneo, sem dele, no entanto, se desconectar. Aprendem a ler no livro da Natureza os modelos que ela oferece, interpretam os sinais das inabaláveis leis que a regem e dão o primeiro passo para a sua real transformação, entrando em contato com a natureza mais próxima: a sua própria natureza. A tipologia humana, independentemente de suas várias propostas classificatórias, é para o autodidata, especialmente orientado, um instrumento inicial de grande valor para o autoconhecimento, no entanto, há que se considerar que nenhuma delas será o bastante para enquadrar a multidiversificada e surpreendente natureza humana. Caberá a cada interessado desvendar a sua própria natureza e aprimorá-la.

NOSCE TE IPSUM(“Conhece-te a ti mesmo”)

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As lendas da antiguidade, cristalizações poéticas dos ensinamentos emanados dos templos, referem-se, com insistência, a um pais maravilhoso, na região onde o sol se põe, isto é, no ocidente. Os papiros egípcios citam-no como o Amenti, ou melhor, Amen-Ti, o Pais Oculto e também, já particularizando determinado lugar dessa região maravilhosa, falam da Montanha do Ocidente, como sendo a Mansão das Almas osirificadas, justamente onde iam viver aqueles que, iniciados nos mistérios, imortalizavam-se e atravessavam o umbral de Ro-sta. Ro-sta dava para a sala de Maat, a deusa da Verdade. Ao passar a essa sala, o Adepto, o Osíris N. defrontava-se com os senhores que rodeiam o sol do Ocidente, podendo exclamar as palavras que encontramos no Cap. CXVIII do O Livro da Morada Oculta: “Eu nasci em Ro-sta. Aqueles que estão entre as múmias me dão os encantos favoráveis no lugar sagrado de Osíris. Meu caminho é nas Moradas de Osíris”. Hieroglificamente, era Ro-sta representada pela cruz ansata. O círculo dessa cruz e a boca humana, por onde se manifesta o Verbo; o Tau ou a cruz propriamente dita, ou sta, é o caminho pelo qual vai a Mônada, o Peregrino, o Hansa bramânico, o Cisne Branco do ciclo artúrico ou dos cavaleiros do Santo Graal, Grasalis, o sol místico, no final das contas. A tradição indiana, ao falar dos Jvatmas, as Centelhas ligadas perenemente ao Espírito Universal, enuncia: “Nesta infinita Roda de Brama, morada de todos os seres, peregrina o Hansa, pensa o Eu, deferencia o Governador” (Shvêtashuatara). Foneticamente, podemos ler a cruz ansata, de Ankh, ou da Vida, como – Ra e Ta, Ta-ra, a deusa da Sabedoria na Índia; Ro-Ta, o caminho por excelência, ou Ta-Ro, os arcanos que nas suas lâminas encerram todos os mistérios da Vida.

Ro-sta, pois, na linguagem dos hierofantes, era a entrada para a mansão dos eleitos, denominada pelos – latinos – Campos Elísios cujo umbral chamaram de Angus, útero, vereda propriamente dita, onde se verificam as dores do parto. O aspirante a Imortalidade, ao nascer para o Mundo da Verdade, atravessava um portal simbólico e suas angústias são semelhantes às da maternidade. Por isso diziam os místicos cristãos, referindo-se ao Adepto – O Homem das Dores; e podemos recordar uma epístola de Paulo, o Ungido, aos corintos, quando assevera: “Sofro de dores de parto até que encontreis, o Cristo (o Ego Superior, elucidamos nós) no vosso Homem Interno”. Na Índia, antes de nascer espiritualmente, o candidato, o discípulo trajado com vestes brancas ou cândidas, atravessava a Vaca Sagrada, a Vaca de cinco Patas, emblema da Terra, a grande Mãe ou Mater-Rhea (da composição dessas duas palavras surgiu o vocábulo material) Bhumrú”. A Vaca Pentapoda era toda de ouro puro, o qual vem a simbolizar o mesmo ouro filosofal dos alquimistas. Passando Ro-sta, o Adepto demandava o Amen-Ti, o qual, no plano histórico, só poderia ser atingido pelos homens depois que “Colombo abrisse a porta de seus mares”, na ideia de Castro Alves; e, muito antes, todavia, após Hércules ter afastado a Europa da África para abrir o caminho para o mundo ocidental, a terra do mistério, os viajantes desses mares encontraram na África e nas Canárias avisos nos quais se proibia a navegação para o oeste.

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O consenso universal que prestigiou esses avisos foi anulado por Colombo, que “com três caravelas descobriu um reino que não era o seu” – e a América, veio a ser para a Humanidade a Aurora da Libertação. Passemos agora a estudar os doze trabalhos de Hércules em relação com as doze casas zodiacais pelas quais passou simbolicamente a obra da S.T.B., completando, ao comemorar seu 12º aniversário, um ciclo astrológico. Neste caso a S. T. B. vem a ser o Sol. Herakles, o deus solar grego, ou Hércules dos latinos, é derivado do nome sânscrito Hari-Kulas, o Senhor Sol, o Espirito Planetário da Ronda, o Mel-Khalt fenício, que quer dizer, o Senhor da Cidade, em correspondência ainda com o Ogma gaulês, nome esse que lido anagramaticamente vem a dar os de Mago e o africano caótico Ogam. Simbolizam os doze trabalhos as provas iniciáticas por que passava o postulante. Passado o sol pelas doze casas zodiacais concluiu um ciclo astronômico e todos os ciclos secretos baseiam-se no Simbolismo de Hércules. A precessão dos equinócios, ao fim de 25.920 anos, marca um ciclo grande, ligado ao mistério das estrelas polares ou o “Olho de Druva”, que vela por sua filha – a Terra.

SENTIDO INICIÁTICO DOS DOZE TRABALHOS

1) O JAVALI DE ERIMANTHO – Erimantho é oriundo de Heros Mantheia, que em grego quer dizer – o conhecimento do espírito, simbolizado no javali. Esse animal aparece, em todas as tradições, como Símbolo da Sabedoria Secreta. Adonis, Thamus e outros iniciadores foram destroçados por javalis. Varaha, o javali, ao contrário, foi quem matou o demônio Hiranyakha, que mergulhara a Terra no abismo das águas. Gautama, o Buda, dizem lendas, morreu de uma indigestão de carne de javali. A alegoria é clara: foi obrigado a desencarnar, como todos os grandes Iluminados que em excesso deram conhecimentos esotéricos à Humanidade.

2) O ROUBO DOS CAVALOS DE DIOMEDES – Este termo, contração de Dios-Medos, do deus dos medas, dos zoroastros ou guardiões do misterioso Fogo Celeste que se manifestará com Losuóch, na Idade de Ouro, como o 10º avatara de Vishnu, o Kalki-avatara, o cavalo branco das tradições indianas.

3) O ROUBO DOS BOIS DE GUERYOU - Dos bois solares, ou de Guer-Io, o Senhor de Ísis, representados, no Egito pelos bois: Apis e Mnenis. E este outro símbolo que se relaciona com o da vaca Pentápoda brahmânica, no que concerne a Osíris, o aspecto masculino da Divindade; ao passo que Io, a terneira cantada do Esquilo, é a própria Ísis, sua esposa e irmã. Mais um passo é compreendemos que a Índia é a Mãe da Humanidade e o Egito seu Pai, porque se o sacerdote da Terra de Khemi era a encarnação do poder filosófico e científico, o Adepto indiano, no seu profundo misticismo, representava a encarnação do Amor, essa característica feminina.

Delineiam-se, assim, os dois caminhos apontados em todos os livros sagrados, por nações: Jnana e Bhakti; isto é, Sabedoria e Devoção, os quais se completam com o do Karma, lei de causa e efeito bem expresso nos povos da Ásia Menor.

4) O ROUBO DAS MAÇÃS DE OURO DO JARDIM DAS HESPÉRIDES – O termo grego Hesperos, Hesper ou Vesper, a estrela matutina e vesperal, Vênus, Lúcifer, Portadora da Luz, Phosphoros, Shukra, de onde vieram, no dizer dos sábios, as altas inteligências cósmicas que deram a esta humanidade o intelecto, representado na mitologia grega por Prometeu. Esse termo, tem patente ligação com Pramanteia, o pramanta, a cruz védica de onde brota Agni, o fogo sagrado, o espírito que anima. Pois no jardim das Hespérides, as Atlântidas, as sete filhas de Atlas, guardavam os pomos da Árvore da Sabedoria, aquela que os hebreus colocaram no seu Gan-Eden, junto à Árvore da Vida. Ficavam esses maravilhosos jardins na Atlântida, cujos restos, conhecidos como a ilha de Posseidones vem a ser o 4º continente ou o Kusha-dwipa purânico. Transplantando as maçãs para toda a bacia mediterrânea, Hércules fez com que ali florescessem os mais venerados mistérios da antiguidade. Ao simbolismo desse divino roubo (na verdade: uma prodigiosa transplantação de experiências imprescindíveis à evolução humana), prende-se o formidável e capital mistério da queda ou descida no sexo queremos dizer, a perpetuação da espécie mediante a geração sexual, consoante a tradição judaico-cristã ainda conserva apesar de não a saber interpretar. O “pomo de Adão” atravessado, como diz o povo, na garganta do homem, tem, de fato, relação íntima com o centro psíquico Vishuda, situado nessa região, o qual tem ligação com Vênus. Como força sutil da natureza ou “tatva”, Vênus, é o Akasha, origem psíquica do Som, que faculta ao homem a expressão das ideias. A modificação das cordas vocais, quando o varão surge no adolescente, é prova assaz conhecida e bastantemente comprobatória de que Vishuda e o Sexo influenciam-se mutuamente.

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5) LIMPEZA DAS CAVALARIÇAS DE AUGIAS, REI DA ELIDA – Achamos logo correlação entre Elida e Helios, e a seguir Augêis, cujo nome, em grego, designa luz, raios de sol etc. Consistiu esse trabalho hercúleo em limpar as imundícies milenares das estrebarias que simbolizam este baixo mundo das animalidades, para que o sol do espírito pudesse manifestar-se na Terra e propiciar o advento da Satya-Yuga, a Idade de Ouro vaticinada pelos profetas, videntes e pitonisas de todos os tempos. Assim, só assim, poderiam os cavalos do carro de ouro do Sol cavalgar a Terra, conduzido o Senhor da Luz na Mercabah o carro de fogo.

6) O COMBATE CONTRA A AMAZONA HIPÓLITA – O sexto trabalho de Hércules é um dos maiores enigmas e representa vividamente o mistério da redenção sexual da Humanidade. Jamais foi falado sobre a Terra o significado supremo deste símbolo, nem mesmo pelos grandes Instrutores ou Iniciadores que, de ciclo em ciclo, espalham por entre o gentio de todas as nações as verdades; eternas e seus sentidos remidores. Seria aqui lugar ótimo para desenvolvermos ante o olhar claro de nossos leitores comentários amargos sobre o panorama abrasado de guerras e delitos sexuais em que – peregrinos punidos pelas contingências cármicas – nos debatemos. Para tanto, não há espaço nem propósito, pois os leitores podem e devem compreender isso, apenas volvendo para dentro de si mesmos, meditando e achando no seu Cristo interno o mestre que, qual Virgílio para Dante, lhes mostrará o inferno de sua personalidade e a de quantos ganharam a carne como castigo. É melhor, portanto, discorrermos sinteticamente sobre este trabalho, oferecendo aos nossos irmãos em Humanidade, elementos riquíssimos para meditarem e salvarem-se enquanto é tempo. Este trabalho vela o mistério das grandes profântidas que outrora, no segredo dos santuários entreviam, na profética tremulina das chamas de Agni, o destino dos homens e dos povos. Essas mulheres, profântidas, sibilas, pitonisas, mulheres divinizadas, ao fim, resguardavam nos templos a própria sabedoria representada por Aura-Mazda, pela luz de “Surya”, pelo ardor de Osíris e pelo amor infinito de Dionisos, expressões várias, porém idênticas do próprio Verbo, que se há de apresentar no fim deste negro ciclo que entenebrece o mundo, quando vier no seu flamívomo cavalo alado, o Avatara do País dos Calquis. Elas estavam relacionadas com o nome da própria rainha das Amazonas – Hipólita. É por isso que vemos as amazonas contrapostas

heroicamente ao amor humano, em todas as lendas e tradições. Só Hércules, não com sua forca bruta, mas por ser o símbolo vivo do próprio mistério que elas custodiavam, podia vencê-las. Encontramos, perpetuado pelos bardos, nos cantos nórdicos, o portentoso e iniciático ciclo dos Nibelungos; e nele vemos as mesmas amazonas com o nome de Valquírias, filhas de Votã e da deusa Herda, a Mãe Terra (Mater-Rhea ou Matéria), as quais tinham o alcandorado destino de acender no peito dos imortais a ânsia da imortalidade, que se concretizava no heroísmo que os levava a pugnar na eterna liça deste baixo mundo pelo amor ideal de todos os Iluminados – a Fraternidade. Valquírias, Val-Kyrias, (Vale dos Kyres Kurus etc.), Kuretas, Kyrias, são vocábulos prodigiosos radicados ao Kuru sânscrito, os filhos do sol, a raça eleita das tradições com o papel de conservar, a Ciência Secreta de nossos maiores. Daí a origem pretérita de Cures ou Torre, cidade dos sabinos, fundada por Médio Filho e Himeia, seus deuses superiores, e termos outorgados como títulos honoríficos aos chefes das cúrias romanas, que recebiam, como símbolo de sua delicada e responsabilíssima função social, uma pequena lança de ferro chamada hasta pura. Essa hasta romana era uma espécie da “Balança da Justiça”, que presidia todas as transações jurídicas do direito quiritário (kyris). Por esses étimos constata-se que as Valquírias eram a perfeita representação do eterno feminino que corporifica as aspirações nobres, ou seja, a expressão tradicional da própria Sabedoria, as deusas Ísis, Astarteá, Anat, Semiramis, Minerva, Palas Atenéa etc. A chave sexual deste símbolo faculta a compreensão da constante luta entre o Homem e a Mulher, permanentemente condicionados à ânsia passional, mas realizando o desígnio oculto da evolução: queremos dizer com isto, praticando sua unificação no Filho, que vem a ser o resultado do choque amoroso. Envoltos nas ondas tumultuárias da paixão, o Homem e a Mulher vão, apesar de tudo, evoluindo até chegarem ao dia da “redenção do pedaço original”, em que eles, harmônicos entre si, desaparecem no Andrógino, devido ao equilíbrio das propriedades solares e lunares de sua tríplice constituição.

7) A CORÇA CERINITA – Nas montanhas da Arcádia vivia a corça Cerinita, de galhos d’oiro e patas de bronze, consagrada a Artemis pela ninfa Taigeta. Incansável, desafiava todos os caçadores que a perseguiam. Hércules, durante um ano, por montes e vales, perseguiu-a até os Hiperbóreos. Cansada, a corça retornou sobre seus passos para a Arcádia, onde se refugiou no santuário da deusa. Aí Hércules a alcançou, mas não a matou em atenção aos rogos de Apolo e sua irmã. A alegoria é clara: a Arcádia, a Arca onde se conservam as sementes de todo ser vivente, ou seja, os mundos divinos das regiões inferiores, é a mesma terra chamada, de Agarta pelos hindus, a Arghya (símbolo da Lua, de onde procedem todos os seres na Terra, e que hoje se esconde aos olhos obscurecidos dos homens, nas Invioláveis cidades subterrâneas.

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Por isso a corça lunar, já aureolada pelos fulgores do Sol, calca – o bronze atlante – de que eram feitos os seus cascos; e pôde ser consagrada a Artemis, a Deusa da Pura Luz, à Casta Virgem, que em tempo algum conhecera as alegrias do himeneu nem as máculas do amor, representando a própria verdade solar como Taigeta, uma das Plêiades, Mamas ou Amas de Kartikéa, o Salvador, segundo a concepção bramânica, ou melhor, o Chefe dos Guerreiros Celestes – o Akdorge das tradições transhimalaias – que virá, cavalgando seu níveo corcel, abrir as portas da cidade de Oiro. Estando a corça Cerinita diretamente ligada à tradição dos atlantes, é patente que Hércules vence no seu sétimo trabalho, o mistério do antigo povo vermelho, cujas relíquias iniciáticas se encontram custodiadas na verdadeira Cidade Eterna (não só por ser eterna mas por conter em si a própria eternidade) na Agarta, ou Arcádia, onde, dia e noite, fulguram Apolo e Artemis, o Deus do Fogo e a Deusa da Luz, expressões da própria Divindade desdobrada, duplicada na maravilhosa e pulquérrima geminação, para consumar o enorme sacrifício da Criação. Esses deuses tinham (e têm) em Hércules seu próprio rebento ou, para jogarmos com um símbolo conhecido no ocidente, o Verbo feito carne.

8) O TOURO DE CRETA – Posseidon, o Senhor das Águas, o Netuno grego, ofereceu a Minos, Ménes, Manu de Creta, um touro que se tornou furioso porque o rei não o quis oferecer em sacrifício ao deus. Tornou-se o terror da ilha, até que Hércules o capturou e domou. Evidencia-se neste hercúleo trabalho a furta da lei do Touro, dominante na 4ª sub-raça atlante, a qual tirou seu nome – Toranica ou Turanica – justamente por ter vivido sob o influxo do signo zodiacal de Taurus. Essa lei levantou-se, no arrebol da nova raça nascida na Advarsha, o berço dos arias ou Aries, o Carneiro, e dirigida pelo Manu Vaivasvata até as ubérrimas terras de Sapta-Sindhavas. Até aqui o símbolo, agora o seu sentido: em plena raça ariana, Hércules subjuga a tradicional magia atlante, representada no furioso touro, o quaternário inferior.

9) A HIDRA DE LERNA – Era filha de Tifon (Tiphaon) e de Ecdna (Echdina). Horrido dragão de sete cabeças, habitava os pântanos marginais de Argos; seu hálito era peçonha que envenenava todo o país e matava quem o respirasse. A cada cabeça que perdia nasciam-lhe duas. Corresponde, nas teogonias nórdicas, ao dragão Fafner, que guardava os tesouros dos Nibelungos. É o símbolo das forças brutas da Natureza elementar. É a expressão, sintética e medonha, dos monstros apocalípticos da cadeia lunar (antecedente da nossa Terra) ou, mais claramente, os assuras, não-deuses, os deuses sombrios que perpetuamente assediam os que se libertar buscam dos caucásicos grilhões que os cativam à roda dos nascimentos e das mortes. É, no final das contas a infausta sombra do Mal que se contrapõe à fastigiosa luz do Bem. Tifon e Ecdena tinham na hidra de Lerna o produto legitimo de suas naturezas. Para matá-la Hércules teve o concurso de seu fiel companheiro Iolais. Este agitou contra o animal fatídico o purificador fogo dos archotes acesos nas trípodes dos templos iniciáticos.

Iolaos, a lei de Io, a Lua, Ísis, ou a Sabedoria Iniciática das Idades. Só o fogo sagrado da iniciação espanca as trevas da ignorância.

10) AS AVES DO LAGO STYMPHALE – O vale de Stymphale, enquadrado entre altas montanhas, formava uma bacia onde as águas das neves derretidas empoçavam. Nas suas margens viviam as monstruosas aves, guerreiras de Ares (o deus da destruição, na mitologia grega), as quais lançavam suas penas como dardos e talavam os campos cultivados, repastando-se de carne humana. Seja qual for a etimologia e a tradução que lhe deem os mitólogos, para nós, ocultistas, essas são as aves, fálicas que se nutrem da carne sacrificada no carnaval do sexo. (Carnaval ou “Carne-vale”).

11) O LEÃO DE NÉMEA – Hércules esmaga entre seus robustos braços a fera que apavora os habitantes de Némea. Arranca-lhe a pele para cobrir seu próprio corpo, como símbolo do sol que, no signo zodiacal, está em exaltação e por isso se torna invulnerável com os despojos do leão, consoante reza a mitologia. Os leões ardentes são os deuses da mais alta hierarquia criadora. Promana deles o hálito vital que anima todas as criaturas e pode espiritualizar os que a eles se chegam. Astrologicamente, o leão é o signo do fogo. Por isso Dhâranâ (primitivo nome de nossa escola iniciática) foi fundada a 10 de agosto, quando as Dez Luzes, as Dez Sefirots se manifestavam em plenitude, porque à S.T.B. fora incumbido o Trabalho Mor de preparar os homens – todas as raças aglutinadas na Terra do Fogo Sagrado ou Brasil – para que o próprio Hércules, já como Maitri, pudesse vir a manifestar-se no sublime dia em que Ele, Rei do Mundo, surja avante de seu reino subterrâneo, à frente de seu povo, como vaticinado foi no mosteiro de Narabanchi-Kure, pelo ínclito ser enviado de Shamballah, tal qual se pode verificar no livro de Ossendowski, traduzido em todas as línguas cultas – Bestas, Homens e Deuses.

12) HERAKLES ENCADEANDO CÉRBERO – Finaliza o rosário cruciático de seus trabalhos, descendo ao sombrio Tártaro e encadeando Cérbero, o cão de três cabeças guardião dos reinos inferiores, para mostrar que na finalização dos “ciclos da necessidade” todos os homens, já osirificados habitarão a Terra Interdita. Motivo porque a fraternidade de Kaleb (cão, em árabe), no deserto líbico, situaria aos 23º de latitude norte, tem por emblema o cão que resplandece em Sirius. Um dos mais prodigiosos períodos egípcios – o ano sótico - era marcado por Sirius.

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A fraternidade de Kaleb, aos 23º de latitude norte, trópico de Câncer, já o dissemos várias vezes e o repetimos agora, é uma das mais veneradas pela Grande Fraternidade Branca, porque dela, nos dolorosos dias em que magos negros prepararam a múmia de Katsbeth (da hoje redimida princesa atlante Kalibet), saíram os dirigentes da missão em que trabalhamos – Henrique e Helena – ou Pitis e Alef, como então eram chamados na linguagem mística. Prepararam-se lá para operar nos planos oculto e histórico, até virem, após lutas cruentas, estabelecer aos 23º de latitude sul esta gloriosa obra redentora. Capricórnio – o trópico em que atualmente viceja a Árvore da Sabedoria – está ligado ao profundo mistério dos Kumaras, os deuses que deram o mental ao gênero humano. Tendo a raça ariana desenvolvido, como lhe competia, o máximo progresso mental, é claro que a apoteose da obra dos Kumaras deveria ser ultimada pela dos “Gêmeos Espirituais”, na Terra Prometida. Conseguintemente, a lei da Causalidade exigiu que o Brasil fosse descoberto por quem através de seu nome apontasse a representação histórica e oculta dos Kumaras: Cabral.

Texto publicado originalmente em:Dhâranâ nº 13 e 14 – janeiro a junho de 1960 – Ano XXXV

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Antônio Castaño FerreiraEsse texto consta do Boletim de Estudo nº 7 da Série Regular B do Curso por Correspondência da SBE.

Pesquisado por Roberval Baptista Lobo

Trata-se do método introspectivo. Para a grande maioria, pouco preocupada com os problemas dessa envergadura, a moral fundamenta-se na fé que depositam em suas tradições religiosas ou de costumes. Necessitando viver em comunidade, procuram se adaptar aos preceitos estabelecidos por esta comunidade, e segundo os costumes adquiridos pela educação, sabem o que é bom ou mau. Não tem, pois, para a vida puramente prática e espiritualmente sedentária, necessidade de conhecer a filosofia moral. Entretanto, os que sentem um impulso interior de superação, não se acomodando ao simples credo estabelecido, chocam-se amiúde com as doutrinas religiosas, revoltam-se contra certos preceitos sectários, em atenção aos apelos da consciência moral, que sente necessidade de categorias mais adiantadas. Nesse estado, o ser procura descobrir uma ordem moral mais consentânea que justifique a razão de ser perante sua razão e suas emoções. Sabemos, contudo, que a razão é falha e as emoções enganadoras. Há, pois, necessidade de superarmos esse meio de pesquisa com base na intuição direta. Existe, como já dissemos, uma realidade incontestável - a de nosso senso moral, a da consciência do que é bom ou mau. Todos nós sentimos o que é correto, o que deve ser feito, embora violemos essa prática do dever inúmeras vezes. O que é que nos dita essa consciência do dever?

O que nos impulsiona interiormente à prática do bem, fazendo-nos sentir remorsos ao desobedecermos a esse chamado? São imperativos morais. Esses imperativos morais estão de acordo com a consciência moral do ser. Para se atingir o Bem supremo, que constitui o ideal moral, dever-se-á poder ser chamado pelos imperativos absolutos, capazes de produzir o Bem supremo. Ao imperativo capaz de realização desse ideal, Kant deu o nome de imperativo categórico, e aos outros, imperativos hipotéticos. Temos a possibilidade de atingir o Bem supremo em virtude de existir em nós algo que atende ao imperativo categórico, o imperativo incondicional. Vejamos, com mais detalhes, a diferença entre o imperativo relativo (hipotético) e o imperativo absoluto (categórico). Qualquer ato tem por origem uma ordem, um mandamento, um imperativo surgido da consciência. O imperativo é relativo quando se sujeita a uma condição. Por exemplo: “se quiseres saber, estuda”. O imperativo aqui é “estuda”, isto é, a consciência manda estudar a quem deseja conhecer. Vê-se que esse imperativo não é absoluto, não é incondicional e sim sujeito à condição “se quiseres saber”. De fato, quem não quiser saber, não verá brotar em seu interior essa ordem “estuda”.

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O imperativo absoluto ou categórico não está condicionado a nenhuma finalidade, a não ser a do próprio cumprimento do dever. Exemplos: “não matarás”, “não farás falso testemunho”, “honrarás a teus pais” etc. Falamos da confusão reinante entre os termos “moralidade” e “costume”. O mesmo se dá entre “moral” e “legal”. Muitas ações podem ser legais e, no entanto, não serem morais. Ao contrário uma ação pode ser moral e não ser legal. Toda pessoa que cumpre com a lei ou por visar a uma recompensa ou por medo do castigo, esta pessoa não pode se considerar moral. Um ato só pode ser taxado de moral quando é praticado unicamente porque é dever moral praticá-lo. É fácil, agora compreender que há muitos imperativos que para uns são relativos e para outros, absolutos. A pessoa que não rouba porque o seu dever é não desejar o que é dos outros, está diante dum imperativo absoluto. Ao contrário, o que não rouba por medo de ser descoberto e castigado está diante dum imperativo relativo. Somente o primeiro tem seus atos envoltos na pureza moral. Se alguém sente em si um imperativo que o leva a respeitar seus pais porque assim proceder constitui para ele, incondicionalmente, um dever, este ser é moral; se, porém, ele assim procede por receio de se ver repudiado por terceiros, este ser não é moral. O imperativo absoluto pode ser, como está vista nestes exemplos, sutilmente transformado em imperativo relativo e as condições desses imperativos “respeita a teus pais” e “não roubarás” passam a ser “se não quiseres ser repudiado” e “se não quiseres sofrer um castigo”. Chegamos, finalmente, à conclusão de que para que uma ação seja verdadeiramente moral, é necessário que seja determinada por um imperativo absoluto. O ser moral deve agir de modo a que sua ação tenha foro de lei universal. Vejamos como se pode entender este princípio moral. O Universo é regido por um conjunto de leis cósmicas a que os Indus denominam de DHARMA. Este termo não se refere a uma lei particular e, sim, à totalidade das leis que exercem seu poder sobre as coisas manifestadas. Para sermos mais rigorosos, o que na verdade rege o Universo não é uma multidão de leis e, sim, uma única Lei, e esta se chama DHARMA. Nosso entendimento, porém, não nos permite ter uma percepção conjunta do Universo como uma Unidade, parecendo-nos haver inúmeras leis e não uma só, realizando essa formidável sinfonia cósmica. Não há, pois, senão focalizarmos, na falta dessa percepção, nossa vista para os diversos componentes da Unidade, da qual somos, os seres humanos, parcela de importância acentuada.

O homem, ao mesmo tempo que sofre os impulsos da evolução do sistema em que se encontra, participa, dentro dos seus limites mais ou menos amplos, dessa evolução, como ser ativo e não somente como ser passivo. Ele é, dentro de seu próprio campo evolutivo, um propulsor do progresso e sua ação reflete-se infinitamente nos outros campos evolutivos dos reinos inferiores e superiores; do mesmo modo, sobre ele recai a ação dos outros inumeráveis seres que constituem o Universo. Essa faculdade de agente propulsor da evolução é exercida através de seu livre-arbítrio e limitado pelo determinismo de sua dependência à evolução geral. Se o homem fosse um ser isolado do universo, sem nenhum grau de dependência com outros reinos da natureza, inclusive com a própria Terra onde vive e morre, não se compreenderia a razão de não possuir livre-arbítrio absoluto. Ao contrário, não se pode crer na doutrina do estreito determinismo sem se tornar necessário aceitar a hipótese de sua não participação ativa no processo universal. Todas as demais criaturas desde a pedra até um “deva” estão sujeitas ao mesmo princípio, como “seres” ativos-passivos, mais ativos ou mais passivos, conforme

o lugar que ocupam no conjunto. DHARMA, como Lei Universal única, age sobre todas as escalas do Universo, e tantas vezes diferencia-se quantas forem as condições especiais em que se encontra a substância primordial. A lei que rege esse jogo entre o livre-arbítrio e o determinismo chama-se Carma.

Pois bem, vimos que o imperativo absoluto é determinado com o único objetivo de se cumprir com o dever. E o que é dever? Como podemos apurar qual o nosso dever? De uma maneira relativa, auscultando nossa consciência moral, sujeita à evolução. De uma maneira absoluta, o dever não é mais do que a necessidade do homem agir no sentido do cumprimento da Lei que rege seu campo de evolução, isto é, exercer sua ação de maneira a que esteja sempre de acordo com as leis parciais sob as quais está subordinado. Como diz Kant, “age de maneira a que possas querer que o motivo que te levou a agir seja uma lei universal”. De onde é que provêm as forças ou elementos para que o homem possa atingir semelhante realização, se a todo momento temos provas da enorme fraqueza dos sentimentos e da razão? - Do Eu Imortal, que constitui o verdadeiro homem.

“Toda pessoa que cumpre com a lei, ou por visar a uma recompensa ou por medo do castigo, esta pessoa não pode se considerar moral.”

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Este Eu divino, o Espírito humano, o Ego, encerra em si as mesmas hipóstases da Divindade, e é através dele que DHARMA, em seus aspectos diversificados, procura agir sobre a consciência para determinar o que deve realizar, embora não se possa sempre cumprir com esse dever. Permanece, contudo, a consciência de dever, gerador do imperativo absoluto. A consciência moral está fora e acima dos limites da razão objetiva. A bondade e a justiça fazem parte da Essência Divina, quer essa Essência seja universal (Deus) ou individual (Ego); são, pois, consequência inevitável de sua natureza. Essa Essência Divina não tem, pois, capricho em que tal ato seja bom ou mau. É pelo fato de tal ação estar concorde com DHARMA, com a Lei universal, que Ela a considera boa. A prática desinteressada do bem leva o homem à iluminação, porque o Bem é um dos atributos da Essência Divina. Nesse princípio fundam-se todas as verdadeiras regras de conduta, entre estas sobressaindo-se as doutrinas expostas no Bhagavad Gitâ (Capítulos III a V), o qual reputamos como uma das mais valiosas obras que o mundo teve a ventura de ganhar.

Tivemos, com a exposição resumida que acabamos de fazer, o intuito de fornecer a nossos amados discípulos os fundamentos da Ética eubiótica. Na época que estamos atravessando, em que os encantamentos traiçoeiros nos espreitam a cada passo, é muito importante podermos refutar, principalmente ante nossa própria consciência, nas épocas de crise moral, com segurança, os argumentos que visam crer que a moral é invencionice tola e descabida, superstição inadaptável aos “tempos modernos”. Consideramo-la, ademais, como a primeira e mais importante das armas, não só de defesa como de ataque, com que se deve precaver o candidato à iluminação e sem a qual os frios conhecimentos sobre ocultismo poderão levá-lo à descrença, ao pessimismo, ao fanatismo ou à loucura.

“A consciência moral está fora e acima dos limites da razão objetiva. A bondade e a justiça fazem parte da Essência Divina, quer essa Essência seja universal (Deus) ou individual (Ego)”

C.A.F.

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(Texto estabelecido de memória a partir da fala do autor sobre o tema, na 7ª fase do 1º Seminário de História da Obra, realizado pela Ordem do Ararat em São Lourenço em 20.4.2006):

Quase dois mil anos de História da Obra e da própria humanidade tiveram como centro o Graal. E da Tragédia do Gólgota até o Hino ao Graal há o maravilhoso trabalho de Redenção, Construção e Exaltação de JHS. O trabalho do Pramantha, da Divindade na face da Terra não segue a lógica de encadeamento de fatos norteados por uma meta. O estudo dos acontecimentos mostrados nos Seminários de História da Obra, organizados pela Ordem do Ararat, demonstra que vários projetos e tentativas são encetados ao mesmo tempo. Forçando um pouco a imaginação, podemos dizer que há uma espécie de “sistema de autorregulação” que vai orientando a escolha da melhor estratégia geral de execução. Apesar do trabalho realizado na Palestina e Roma ter redundado em parte na Tragédia do Gólgota, ele simplesmente não poderia ser extinto. Parece claro que após a morte de Cristo pelo menos dois projetos foram em seguida implementados. No Tibet um núcleo passou a realizar um trabalho de espiritualidade mais focado no divino, enquanto no ocidente, duas grandes instituições criadas no movimento anterior – a Igreja Católica e o Exército Romano - aceleram o processo civilizatório, com um foco mais humano, mais profano.

O núcleo do Tibet caiu no ano de 985. Mais uma tragédia. Logo depois surge na literatura da Europa, em meados do século XII, as canções, as poesias, os relatos em torno da Lenda do Santo Graal. Para nós da SBE - Sociedade Brasileira de Eubiose, muito mais que uma lenda, um itinerário de catedrais em que o Sangue dos Avataras é guardado por aqueles que se fizeram dignos deste mister. Mas só foi possível aparecer a Lenda do Santo Graal, cujo primeiro documento foi a trilogia de Roberto de Boron sobre o herói galês Persival, depois que foi estruturada uma instituição típica da Idade Média, a cavalaria. A cavalaria foi o suporte de todas as ordens iniciáticas que se estabeleceram na Europa a partir da alta Idade Média. Historicamente ela começou entre os séculos VI e VII, de origem germânica, cultivando os sentimentos de honra e lutando contra as injustiças. Um velho adágio da época dizia que “nascia-se nobre, mas era-se armado cavaleiro”. Numa linguagem sutil, insinuava-se que nem todo aquele que nascia nobre era digno de ser cavaleiro. O processo de formação do cavaleiro era também uma iniciação, mas moldada nos valores guerreiros das tribos teutônicas. Aos sete anos a criança entrava ao serviço de um fidalgo, como pajem. Aos 14 passava a ser escudeiro, e podia usar espada. Aos 21 era armado e consagrado cavaleiro.

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Várias ordens iniciáticas foram criadas na Europa, tendo como base a cavalaria. As mais famosas, cuja existência está documentada, são a Ordem do Templo (Templários), a Ordem de Cristo, a Ordem de Avis e a Ordem do Hospital ou de São João de Jerusalém. Existem fortes indícios de que outras ordens iniciáticas historicamente posteriores ao auge da cavalaria beberam de sua fonte e adotaram muito dos seus procedimentos, dentre elas a Ordem Rosacruz e a Maçonaria. Mas nem todo o trabalho foi perdido com a Tragédia do Gólgota. As fortes e sábias (para o seu tempo) instituições romanas, avançadíssimas para a sua época, continuaram a exercer um profundo processo civilizatório não apenas na Europa, mas em toda a região de influência do Mediterrâneo. A grande máquina de guerra, o exército romano, era também uma grande máquina civilizatória. Quando avançava, levava consigo arquitetos, artesões de todo o tipo, médicos, educadores, que foram essenciais para a transformação dos bárbaros germanos – a quinta sub-raça ariana – em cidadãos aptos para um novo giro do Pramantha. Com o Imperador Constantino o cristianismo passa a ser a religião do Estado Romano e se incorpora ao processo cultural em andamento. Uma Ordem destacou-se neste trabalho, a dos Beneditinos, fundada por São Bento em 529, na Itália. Eles em seus mosteiros dedicaram-se a copiar os livros clássicos da Grécia e de Roma, essenciais para a continuação da vida intelectual. Graças ao trabalho de uns poucos orientando muitos. O Projeto Europa coordenado por São Germano vingou e tornou possível as realizações posteriores.

AS TRÊS AVES SAGRADAS Falar do Graal e a atualidade é trazer à cena as três aves sagradas, símbolos e metáforas do amplo processo de divinização do humano e humanização do divino, que se desdobra em projetos sociais, culturais, iniciáticos, e articula numa rede e numa matriz que só é dado a nós compreender por vislumbres. Levando até o limite a mente abstrata, vamos tentar descortinar ao longe centelhas de consciência, tendo como referencial concreto o Templo de São Lourenço. Existe um quadro de um pintor que viveu sob a influência da época da Revolução Francesa, William Blake, denominado O Grande Geômetra. Na parte superior da pintura existe um ancião, com o Jeová pintado por Miguel Ângelo na Capela Sistina, portando um grande compasso com as hastes voltadas para baixo, criando as coisas terrenas, um verdadeiro Supremo Arquiteto do Universo. É interessante que o compasso é usado desde a antiguidade como o instrumento de medida. Mede os ângulos e também os segmentos de reta, e possibilita transferir uma medida de um lugar, de um objeto para outro. Desse modo, o compasso está associado ao movimento de trazer o sagrado, a medida sagrada, da região divina para o humano, para aquilo que está sendo construído no mundo dos homens. Inversamente, o esquadro, que era e é usado como a medida perfeita do ângulo reto, sempre representou o movimento do humano para o divino, através da construção de pedras, tijolos, de forma cúbica, perfeita.

Daí o compasso e o esquadro serem os símbolos dos Construtores da Humanidade. São também usados pela maçonaria, de forma entrelaçada, como a indicar que a obra está perfeitamente articulada com o divino e o humano, ou melhor, Justa e Perfeita. Na tradição pramânthica, o Supremo Arquiteto do Universo, o 8º Senhor, também é representado por um olho no interior de um triângulo, como se observa no Templo de São Lourenço e em vários locais sacros, como Lojas Maçônicas e inclusive no teto da Catedral de Santiago de Compostela, na Espanha. Este “Olho Que Tudo Vê” é uma alegoria do 1º Logos, do 1º Trono, e está relacionado com a Ave de Hansa, o Cisne Sagrado de diversas teogonias. Podemos também relacionar a Ave de Hansa com os Maha-Satwas. No nosso templo em São Lourenço, logo abaixo do “Olho Que Tudo Vê” encontra-se a Taça do Santo Graal, associada à Pomba do Espírito Santo, a ave que representa o 2º Trono, e também aos Maha-Rajas. A Taça está ladeada por dois candelabros de sete velas, mas não ordenadas como nas “menorás” judaicas tradicionais. As velas estão em altura decrescente, como se o Deus Único e Verdadeiro fosse descendo sua luz gradativamente sobre a Terra... Em mais um esforço de dilatação da consciência abstrata, podemos imaginar uma terceira Ave Sagrada, a mais próxima da humanidade Jiva, sempre representada nas tradições pramânthicas como o Pelicano, arrancando pedaços de carne de seu ventre para alimentar os filhotes famintos. O Pelicano é também um símbolo adotado pela maçonaria e relacionado ao grau 18 do Rito Escocês Antigo e Aceito. Esta milenar alegoria dos Avataras que doam pedaços de suas vidas para melhorar o estado de consciência dos homens também se relaciona com os Maha-Tamas, os verdadeiros Cordeiros de Deus que tiram os pecados do mundo. No nosso Templo o Pelicano localiza-se um degrau imediatamente abaixo da Taça do Santo Graal, e não está representado por nenhum símbolo ou alegoria. É o próprio 3º Trono vivo e em expressão humano/divina – o Apta. Deste modo, os Templos de São Lourenço, Itaparica e de Nova Xavantina, bem como os diversos Santuários, são verdadeiras Usinas Teúrgicas que condensam a Vida-Energia do Universo e a esparge de volta em forma de Vida-Consciência, agindo em perfeita harmonia com os Três Tronos Celestes.

O GRAAL COMO 7º DIREÇÃO CÓSMICA No livro Mistérios do Sexo, o Professor Henrique José de Souza fala-nos das seis direções cósmicas, tendo o homem como centro. Assim, a direção Norte é representada pelos nossos ancestrais, por aqueles que doaram nosso arcabouço genético, e continua o eixo, em direção ao Sul, formando aqueles ligados à nossa descendência, filhos, netos, bisnetos. Do Leste vem a nossa herança em termos de estado de consciência, nossos Mestres, Orientadores, que segue no eixo em direção ao Oeste, naqueles que se tornaram nossos alunos, orientandos, aprendizes.

Da direção do Nadir, centro da Terra, estão todas as nossas experiências acumuladas em vidas passadas. A continuação deste eixo em direção ao zênite, mostra-nos os objetivos de nossa atual encarnação. O importante deste esquema iniciático é a perfeita articulação das direções nos seus respectivos eixos. Uma vida eubiótica será sempre centrada, um perfeito equilíbrio entre a utilização da herança passada e a realização no presente de um futuro planejado. Podemos observar que os Cerimoniais realizados nos Templos e Santuários seguem uma orientação teúrgica que perpassa as Três Aves Sagradas, os Três Tronos e também as direções cósmicas. Podemos relacionar a Abertura, com a saudação à Tríade Indissolúvel, ao Primeiro Trono. A saudação aos Maha-Rajas ao Segundo Trono, e a própria realização do Ritual em si, e suas alusões à História da Obra, ao Terceiro Trono. No que diz respeito às direções cósmicas, além das quatro tradicionais sempre lembradas, Norte-Sul-Leste-Oeste, a posição do Fogo Sagrado é perpassada pelo eixo Nadir-Zênite, em que o Nadir aponta para os Kumaras e o Zênith para os Planetários. Forçando mais uma vez a imaginação abstrata, podemos conceber a Taça do Santo Graal como expressão de todos os Avataras – atuais, passados e futuros – como uma 7ª direção cósmica, muito além do espaço imaginável, um eterno movimento que pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Usando ainda o nosso Templo de São Lourenço como suporte imaginativo, podemos conceber ainda uma 8ª direção, que não podemos sequer denominar mais de direção, mas sim um “espaço-tempo sem limites”, um embrião dos futuros sistemas, que por estar além do universo concebido, no nosso Templo também se localiza fora dele. Como tudo em nossa Obra existe objetivamente, imaginamos que este 8º, muito além do mais além, é representado pelo Deva da Obra que tem como referência física o Portal do Templo de São Lourenço.

AMPLIAR O PRESENTE É VIVENCIAR O BIMÂNICO Em termos bimânicos não existe passado nem futuro, mas um eterno presente. Vamos então retornar à alegoria do compasso, imaginando que ele esteja medindo o tempo, a partir de determinada abertura angular, digamos 45º. Em termos humanos, o instante presente seria então a perpendicular baixada sobre o segmento de reta que une as duas hastes do compasso. Suponhamos então que a haste esquerda seja o ponto extremo do passado, em termos dos ensinamentos do Venerável Fra Diávolo, a concretude do concretismo absoluto. A haste direita, por sua vez, o ponto extremo do futuro, a concretude do subjetivismo absoluto. Em termos humanos, portanto, a noção do presente é muito restrita, muito estreita. O presente, dizem os poetas, é algo extremamente fugaz. Ao mesmo tempo, existem estudos já realizados com animais mais evoluídos, que indicam que eles não possuem a noção que temos do futuro, e o passado é uma percepção bastante próxima e diminuta. Portanto existe uma relação direta entre estado de consciência e percepção do tempo, pelo menos entre os animais e os humanos comuns.

À medida que ampliamos nosso estado de consciência, isto é, nosso percentual de consciência bimânica, nossa insersão consciente no trabalho do Pramantha, nosso passado é trazido para o cotidiano em termos de conhecimento acumulado, sabedoria – e não mais como dor, sofrimento, culpa e expiação – e o futuro também se integra no mesmo processo, sendo antecipado, porque de certa forma vamos dar aos nossos atos presentes um valor consciente que repercutirá tempos depois. Esta antecipação do futuro, também, no plano da consciência emocional, não mais se apresentará como medo, receio, temor de punição, e sim como exaltação ao trabalho avatárico. A ampliação da consciência bimânica, em outras palavras, significa o alargamento do presente. Voltando à metáfora do compasso, o presente não mais será um ponto sobre o segmento de reta que une as duas hastes. O presente expande-se, pode ocupar todo o tamanho do segmento, quando teremos então a instantaneidade. Uma das várias conseqüências desta ampliação de consciência é interferir no futuro e no passado. Usando o raciocínio do estado de consciência anterior, o mental abstrato, já é possível compreender que podemos interferir no futuro através das ações presentes. Isso é bastante compreensível e não causa espanto. Mas a ação no bimânico possibilita modificar o passado. Isto porque, neste estado, o que chamamos de passado nada mais é que os registros existentes na consciência. Assim, por exemplo, o sentimento de culpa de algo realizado remotamente pode ser varrido, deletado por uma operação de trabalho no presente voltado para a exaltação pramânthica. De certa forma, este tem sido o trabalho de Redenção dos Avataras, ao engajar no seu cotidiano de labor as consciências caídas de todos os níveis hierárquicos. Assim, neste novo sentido proposto, o Graal não mais pode ser concebido como uma Taça que guarda o Sangue dos Sacrificados, que nos lembra todas as tragédias passadas, mas sim um componente catalizador que age nos Três Tronos em exaltação ao trabalho pramânthico, que ecoa o sonido eterno da alegria divina.

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CLÁUDIO ALVIM ZANINI PINTER

Em razão do modelo padrão que vem sendo adotado pela sociedade atual, tem-se elevado o nível de conforto, resultado do avanço tecnológico. No entanto, as exigências profissionais no trabalho 1, trabalho 2, trabalho 3, e assim sucessivamente, vêm sugando o bem mais precioso do ser humano: a saúde e o tempo. Com o dinheiro ganho das horas prolongadas do trabalho, o indivíduo pode usufruir um conforto maior, focado na qualidade de vida. Vida esta, muitas vezes, abreviada pelo excesso que o indivíduo por “n” razões decidiu encarar, quer por insegurança ou ganância. Mas o tempo ele não conseguirá comprar. Eis o desafio, de colocar em prática os conhecimentos adquiridos na Sociedade Brasileira de Eubiose. Neste sentido, questiona-se: como está sendo praticado o ócio criativo na sua vida? Para responder esta pergunta vamos fazer uma viagem V.:I.:T.:R.:I.:O.:L (Visita Interiora terrae, rectificando que, invenies occultum lapidem) que significa “visita o interior da terra e, retificando, encontrarás a pedra oculta”, à luz do conhecimento iniciático.

ORIGENS E CONCEITUAÇÃO BÁSICA DO ÓCIO CRIATIVO O que é Ócio Criativo? O primeiro passo é discernir sobre o seu real significado, uma vez que Domenico de Masi, em sua obra Ócio Criativo, encontrou no dicionário, 15 sinônimos da palavra ócio,

classificando em três categorias: Significado Positivo (lazer, trabalho mental suave e repouso); Significado Neutro (inércia, inatividade inação e divagação) e Significado Negativo (mândia, debilidade, acídia, preguiça, negligência, improdutividade e desocupação). No grego arcaico, ócio tem o sentido de escole, cujo significado é escola. Enquanto que no latim, ócio (otium), voltado ao trabalho intelectual, oposição ao Negócio (nec-otium, negação do otium), destinado ao trabalho de subsistência. Já a criatividade, etimologia do latim, no HOUAISS, 2000: Criatividade: 1. Qualidade ou característica do que é criativo (talento). 2. Que se distingue pela aptidão intelectual para criar (diz-se indivíduo); criador inovador (aluno). 3. Que se caracteriza pelo caráter inovador, original (ideia). A palavra criatividade vem do termo grego creatus, que significa literalmente criar. Assim como o termo “Meraki - do Grego, significa fazer algo com amor, com criatividade, com uma Alma”. Por isso, o trabalho no novo Pramantha que vem edificar o mundo, vem exigindo um esforço maior do indivíduo na realização da obra do eterno na face da terra, através do caráter e da cultura para uma vida mais justa e fraterna a todos os irmãos, independente de raça, cor, situação financeira e religião. Portanto, ser criativo não é ser um aventureiro qualquer. Meu professor e orientador da tese de doutorado da Universidade de Leon, Espanha,

Dr. Francisco Carantoña Alvarez dizia: “estudiar es amargo, pero sus frutos sun doces”. Referendando pelo Prof. Henrique José de Souza, “O verdadeiro homem é aquele que não fica radicado nas mesmas ideias.” Para a pedra ser polida, não basta passar a mão e alisar. Assim é o ser humano, que caminha na vereda da iniciação, que é capaz de superar as mazelas e “pancadas” recebidas e transformá-las em energia que culmina com sua iluminação. Consoante a criatividade, Albert Szent-Györgyi, ganhador do Prêmio Nobel de medicina em 1937 disse: “Descobrir consiste em olhar para o que todo mundo está vendo e pensar uma coisa diferente.” OECH (1983, p. 61) registra a experiência de um cliente que incorporou na filosofia o lema: “Aqui, todas as normas podem ser desobedecidas. Menos esta”. Este paradigma serve para o desbloqueio mental. O autor ainda descreve que “o pensamento criativo não é só construtivo. Pode ser destrutivo também”. A mente precisa estar aberta para a quebra de padrões pré-estabelecidos. E criar algo novo que seja sublime em sua essência.

De acordo com Santos Neto (1999):Na Grécia antiga, havia dois conceitos para o trabalho: ponos, seria o trabalho realizado pelos escravos, no sentido de punição. E o outro, denominado ergon, representava o trabalho realizado pelo homem livre. Daí o caráter científico, filosófico e artístico. Contudo, o sentido do trabalho do aprendiz tem que estar relacionado com uma gama de valores quanti/qualitativos, mais precisamente com o ergon.

Segundo o professor Henrique José de Souza, fundador da Sociedade Brasileira de Eubiose, “A humanidade é infeliz por ter feito do trabalho um sacrifício, e do amor um pecado”. Isso tem que mudar. Portanto, o trabalho tem que ser realizado com entusiasmo, com vontade e com garra. O tempo é igual para todas as pessoas, independente de raça, sexo, credo, religião ou situação financeira. Tem que ser gasto de forma racional. Não pode ser guardado. É bom lembrar da parábola dos talentos que o Senhor recomenda multiplicá-los e condena a quem por medo, preguiça ou insegurança, for enterrar ou esconder. MATHEUS (Capítulo 25, versículos 14 a 30). A predominância dos sinônimos negativos sobre o ócio deve-se à influência das igrejas católica, calvinista e luterana, bem como da educação familiar e educacional que focam 400% a mais para as horas do trabalho, que corresponde a 80 mil horas (cerca de 30 anos, considerando-se 220h de trabalho mensal) do que as 400 mil horas para a ausência do trabalho. (DE MASI, 2000). Referendando a Bíblia Sagrada, na passagem em que o Senhor disse a Adão e Eva quando foram expulsos do paraíso, tem-se: “Ide e ganhai o pão com o suor do vosso rosto”. Que seria o trabalho como sentido de punição. Já em Eclesiástico (Capítulo 33, versículo 28) temos o seguinte registro: “Mande-o trabalhar, para que não fique ocioso, porque a ociosidade ensina muitos males”. Talvez seja por isso que hoje é muito comum a expressão popular “mente vazia oficina do diabo”.

No princípio budista da ética no trabalho, constam dois pensamentos os quais destacamos: “A produtividade é uma maneira de praticar a virtude”. SHIBUSAWA EIICHI, samurai sob o último dos Soguns Tokugawas, 1610”. Ainda na tradição japonesa, temos a frase de Yamamoto Shichihei, sholar que afirma “não trabalhar significa que a pessoa não está prestando seus serviços ao Buda”. Deus criou o mundo em seis dias e descansou no último dia (trabalho e ócio). Por isso, não resta dúvida alguma da necessidade do trabalho ser compensando com o “descanso” para renovar as energias, libertar-se do stress cotidiano e aumentar sua criatividade, indispensável para uma melhor qualidade de vida. Abraham Maslow, idealizador da pirâmide das necessidades: fisiológicas, segurança, sociais e de autorrealização enfatiza que a partir do alcance de uma necessidade na hierarquia apresentada, outra necessidade aparece para ser conquistada. A última hierarquia será contínua e permanente, pois sempre terá um desejo a mais para satisfazê-la. De acordo com a filosofia das idades, a predominância dos desejos recai sobre os seres em estado evolucional, que em sânscrito, língua falada na antiga Índia é denominado de Kama Rupas. Kama (significa desejos, sensualismo, luxúrias) e Rupas (forma). Cada tipo de desejo possui suas formas próprias. O seu tempo livre pode ser destinado a criação de devas (anjos) ou demônios. A decisão está em suas mãos (ações) e na sua mente (pensamento e razão). Já dizia Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. Enfim, o homem tem que dominar o seu maior inimigo que é ele próprio. O uso eficaz do tempo oportuniza os primeiros passos na adoção das premissas do Ócio Criativo, de acordo com a abordagem de Domenico de Masi. Referendando os antigos mistérios iniciáticos da cosmogênese, onde o Pai está no Pai, O Pai está no filho, O filho está no Pai, O Pai está na Mãe... o androginismo perfeito, o qual apresenta um modelo de integração e não de divisão. Significa em outras palavras que o homem poderá fazer o uso racional do tempo, contemplando algumas características essenciais para o seu crescimento e desenvolvimento pessoal, sistematicamente em cada atividade que planeje, desenvolva e execute.

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O pedreiro poderá estar assentando pedras e cantando ao mesmo tempo. Trabalho, significa Ergon, dar oportunidade para a livre iniciativa, trabalho intelectual, artístico, dentre outros. Amar jamais poderá ser pecado. Isso faz parte do ócio. A obra denominada A Terceira Onda, do autor Alvin Tofler, vem ao encontro deste tema, através da trajetória da primeira Onda (Revolução Agrícola), da segunda Onda (Revolução Industrial), da terceira Onda (Era da Informação) e da quarta Onda (Sustentabilidade e do Meio Ambiente) que são frutos do ócio criativo, ou seja, as grandes invenções. Não é por acaso que nas sociedades iniciáticas os pilares da loja são: sabedoria, força e beleza. Se no dia a dia, em seu trabalho, o indivíduo focar apenas um dos pilares, como por exemplo a força, poderá até acumular riquezas em curto prazo, através do excesso da carga horária, trabalho contínuo e penoso, em detrimento do tempo com a família e do cuidado com sua saúde. Certamente, terá muito dinheiro para gastar, se possível, na sua velhice. Se for voltado ao pilar da beleza, consumirá todo seu tempo para sobressair seu brilho e chamar atenção de quem quer que seja. Não se preocupa com a equipe, afinal, o Eu é mais importante que o Todo. Cultua o corpo, passa horas na academia... É o verdadeiro Narciso. Já o homem voltado ao pilar da sabedoria, saberá dosar cada pilar com espaço e tempo harmoniosos. Em outras palavras, o remédio na dose certa cura, ameniza, tranquiliza enquanto que na dose errada, transforma em veneno e mata. Agora, amigo leitor, você poderá fazer silenciosamente a reflexão “minha culpa”, que para os católicos, significa ato penitencial, logo após a abertura da Missa. Ou em outras palavras o que muito lhe é dado, muito lhe será cobrado. Temos tempo, que de forma igualitária é distribuído pelo Supremo Árbitro do Universo todos os dias de nossas vidas. Se não usarmos de forma adequada, seremos cobrados, quer pela família, empresa, sociedade... Sempre teremos justificativas que nem sempre serão verdadeiras. E nós sabemos disso! Mas como a Divindade é Justa e Perfeita, cai nossa máscara! Por isso, mantenha-se ALERTA!

LivroO Ócio Criativo,de Domenico de Masi,a que o autor se refere no texto

O DESPERTAR DA CRIATIVIDADE SOB DOIS PRIMAS

O despertar da criatividade vem chamando a atenção de filósofos, sociólogos, psicólogos, neurocientistas, médicos, professores, pesquisadores, autores, atores e demais indivíduos de nossa sociedade. Se fôssemos relacionar e comentar as sugestões para acender a lâmpada interna, teríamos que escrever outro artigo. Consoante isso, vamos tentar refletir sobre dois primas:

Criatividade sob o prisma das organizações: O despertar da criatividade nas organizações é constante, mediante palestras, cursos, oficinas e treinamentos. Os indivíduos que sobressaem são “premiados” para compensar sua contribuição com a competividade, inovação, redução e custos da empresa frente aos concorrentes. Viagens a passeio, hotel fazenda, participação em shows, teatro, carros, bonificações, participação no lucro, dentre outros são a moeda de troca para o resultado deste desempenho. É notório que a robotização, fruto da era da inovação e da tecnologia, também vem gerando empregos, embora não na mesma proporção que os empregos já existentes que são “destruídos” pelo uso de máquinas com inteligência artificial (fruto do ócio criativo). Um outro fator, de natureza econômica, deve-se ao valor da hora de trabalho. Enquanto que na Itália o trabalhador ganha em média 24,00 dólares, na Tailândia chega a 0,60 centavos de dólares. Uma grande preocupação para o futuro próximo será a inserção dos profissionais qualificados e não qualificados para promover a expansão da riqueza, com crescimento e desenvolvimento sustentável. Não podemos esquecer também que o robô vem poupando a vida de trabalhadores em locais perigosos e com alto índice de acidentes e/ou doenças vinculadas a repetição de atividades, inteligentemente apresentadas no filme Tempos Modernos de Charles Chaplin. Criatividade sob o prisma da espiritualidade: Separar o físico do espírito pode ser comparado a um carro sem o motorista. Se colocar em “ponto morto” ficará todo desgovernado... se estiver numa ribanceira qualquer empurrãozinho e ele cairá no precipício. Assim, o homem, precisa estar interconectado, inicialmente com o seu Deus Interior, seguindo a trajetória VITRIOL, desabrochando para as questões duradouras e não passageiras no que se refere somente ao mundo material. O ócio criativo com ênfase na espiritualidade será um bálsamo contra amarras do ciclo atual. A obra de Jack Hawley intitulada O redespertar espiritual no trabalho: o poder do gerenciamento vem ao encontro desta reflexão, uma vez que o empresário independente do dogma religioso acredita que o trabalhador irá produzir mais e gerar maior lucro para a organização, se estiver harmoniosamente equilibrado.

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No que se refere à criatividade ou brainstorming o professor Henrique José de Souza afirma: “Não mais admito que se diga tive uma ideia, porque no futuro a ideia será permanente no homem”. Desta forma, a escola eubiótica é inteligentemente feliz ao despertar no neófito três características fundamentais na trilha iniciática: superação, transformação e metástase. A Superação requer a força (um dos pilares da maçonaria) para transformar as tendências negativas em positivas. Isso requer vigilância constante dos sentidos. Desejo de mudança de atitudes, pensamentos e ações. Transformação: saber lidar com as adversidades sem querer adotar da bandeira da vingança, da retaliação, da ira e do ódio. O uso da beleza para iluminar o que cada filho do eterno tem em sua essência: a centelha divina. E finalmente a metástase, que na medicina tem o sentido negativo, quando se refere a uma doença como o câncer. Mas a metástase avatárica, a qual estamos nos referindo, deve-se à irradiação plena de todo o ser. A aplicação da Sabedoria nos pensamentos, atos e ações permitirá o indivíduo subir a escada de Jacó, chegando ao estado maior de consciência denominado de Crístico ou Atmã.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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OECH, Roger Von. Um “toc” na cuca. Técnicas para quem quer ter mais criatividade na vida. São Paulo: Livraria Cultura Editora, 1988. 153 p.

PUCHI, J. ABC do Aprendiz. Tubarão: Editora Dehon, 1993. 174 p.

SANTOS NETO, Laudelino. O trabalho no novo pramantha. Tubarão: Ed. Unisul, 1999, 11 p. Trabalho apresentado na 51º Convenção da Sociedade Brasileira de Eubiose, São Lourenço, 1999.

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Se fosse um guardador de rebanhose uma ovelha fosses do meu pastoreiobuscaria que as estrelas indicassem-meonde te desgarrastee te mostraria o caminho de volta aos teus

Se então uma criança na roda cirandae outra tu a brincar na roda da vidate levaria pelas mãos e correríamosem direção ao pote dourado no final do arco-íris

Se um mago e entendesse mistériose uma aprendiz fosses sem o sabertomaria da vara encantada do destinoe te ofertaria a luz

Se como um pobre crente peregrino sonhadorconversasses com os ventos e as nuvens do desertoentregar-te-ia uma bússola solarpara que encontrasses a Deus na solidão

Se um dia te aproximaste do reinofértil e incansável da amizadesaberias que não existe a vergonhao pecado a dor a sombra a necessidade

O irmão velará pelo coração do outrofeito o futuro nos ensinou um dialugar onde o amor não será apenaspaixão prazer posse comércio

Mas uma incessante chamaIrradiando doação, renúncia e paz...

LUIS CÉSAR DE SOUZA

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Ano IV – edição 14 – junho a setembro de 2016

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