Revista Noize #49 - Novembro de 2011

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The Kills, 1991 - O ano que nao terminou, Fred 04 / Mundo Livre S.A., O Paraiso, Aerosmith, Paralamas, Lou Reed e Metallica, Alice in Chains

Transcript of Revista Noize #49 - Novembro de 2011

Job: TNT -- Empresa: Multisolution -- Arquivo: Anu.NOIZE-205x350mm-minotauro-TNT_pag001.pdfRegistro: 52307 -- Data: 09:35:29 20/10/2011

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1. Ariel Martini_ainda insiste em fazer fotos de show. flickr.com/arielmartini2. Gaía Passarelli_ Gaía Passarelli gosta de descobrir música nova e comanda o GOO na MTV Brasil.3. Lalai e Ola_ Lalai trabalha com mídias sociais, mas sua paixão é música. É DJ e produz a festa CREW. O Ola trocou a Suécia pelo Brasil, o design pela música e fotografia.4. Pedro Braga_ As vezes é baixista da Lepata, as vezes é fotógrafo de meninas sem roupa. Entre uma coisa e outra, se alimenta mal e bebe cerveja. flickr.com/pgbraga5. Alex Corrêa_ Carioca, mas gosta mesmo é de São Paulo e acredita na genialidade do Kasabian até o fim.6. Eduardo Guspe_ Membro fundador do Núcleo Urbanóide, ultimamente se dedica a produzir DONUTS. 7. Daniel Sanes_ Jornalista por formação, lunático por opção e roqueiro de nascimento. Um dos editores de música do site www.nonada.com.br.8. Felipe Neves_ Fotógrafo e baterista. Ultimamente se viciou em fotografia analógica. Seus trabalhos: www.flickr.com/felipeneves9. Fernando Halal_ Jornalista malemolente, fotógrafo de técnica zero e cinéfilo dodói, não morre sem ver um show do Neil Young . www.flickr.com/fernandohalal10. Matheus Vinhal_ É de Brasília e escreve sobre música, às vezes, quase sempre. Tem twitter (@mvinhal), tumblr (http://poucocaso.tumblr.com) e algum amor pra dar.11. Anthony Nathan_Com raízes nas subculturas do skate e do graffiti, atua como artista e designer, geralmente misturando esses dois universos. Seja nos muros de Curitiba,ou em estampas para marcas independentes, suas formas geométricas e paleta de cores são facilmente reconhecidas e admiradas.É o idealizador do projeto de streetwear e arte Novedez. flickr.com/anthony_nathan12. Dani Arrais_ Jornalista, nasceu em Recife, mora em São Paulo há quase cinco anos. Começou o donttouchmymoleskine.com há quatro anos e de repente viu que falava de amor quase o tempo todo.13. Leonardo Bomfim_ Jornalista e diretor de cinema, edita o freakiumemeio.wordpress.com14. Roberta Sant’Anna_ flickr.com/photos/robertasantannab15. Gabi Lima_ gabilima.com16. Rafael Kent_ ONIPRESENTE. www.rafaelkent.com

• EXPEDIENTE #49// ANO 5 // NOVEMBRO ‘11_

DIREÇÃO: Kento Kojima Pablo Rocha Rafael Rocha

COMERCIAL: Pablo Rocha [email protected]

DIRETOR DE CRIAÇÃO: Rafael Rocha [email protected]

EDITORA CHEFE: Cristiane Lisbôa [email protected]

EDITOR:Tomás Bello [email protected]

REPÓRTER ESPECIAL: Marília [email protected]

REDAÇÃO:Rafa Carvalho [email protected]

DESIGN: Felipe Guimarã[email protected] ASSIST. ARTE:Camila [email protected]

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO: [email protected]

GERENTE DE PROJETOS:Leandro Pinheiro [email protected]

EDITORA CHEFE DE PROJETOS:Lidy Araú[email protected]

REDAÇÃO DE PROJETOS:Ariadne [email protected] [email protected] [email protected] Araú[email protected] [email protected]

PLANEJAMENTO EDITORIAL DE PROJETOS:Igor [email protected]

ANUNCIE NA NOIZE: [email protected] ASSINE A NOIZE: [email protected]

AGENDA: shows, festas e eventos [email protected]

ASSESSORIA JURÍDICA: Zago & Martins Advogados

PONTOS:FaculdadesColégiosCursinhosEstúdios Lojas de InstrumentosLojas de DiscosLojas de RoupasLojas AlternativasAgências de Viagens Escolas de MúsicaEscolas de Idiomas Bares e Casas de Show Shows, Festas e Feiras Festivais Independentes

TIRAGEM: 30.000 exemplares

DISTRIBUIÇÃO:[email protected]

CIRCULAÇÃO NACIONAL

• FOTO DE CAPA_RAFA ROCHA

Agradecimentos especiais:Andrio Maquenzi eLiege Milk., duo responsável pela banda Medialunas.http://tramavirtual.uol.com.br/medialunas

• COLABORADORES

DO UNDERGROUND AO MAINSTREAM

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“Eu acordo de manhã e já coloco um som. Geralmente já tem algo que eu acordo querendo ouvir. Não existe dar rolê a pé sozinha sem música e não rola desenhar sem música. Tudo fica esquisito sem um som. Eu toquei bateria dos 12 aos 21 anos mais ou menos, ainda sinto falta de poder tocar em casa.”

NOME_Pacolli

PROFISSÃO_ Designer / Ilustradora

UM DISCO_Magnetic Fields | 69 Love Songs

“Vai depender de quan-to eles me querem.” Mickey

Rourke l sobre a possibilidade de atuar em Sin City 2

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“Ceremonials é EnoRME. E isso ME dEixou uM pouco pREocupada.” Florence

Welch l ao descrever o segundo disco de sua banda, Floren-ce And The Machine

“Hidden Treasu-res não é uma si-tuação como a do Tupac.”salaam Remi, produtor de

amy Winehouse | afirmando que o álbum póstumo da cantora não vai dar início a uma enxurrada de material “inédito”

“a vida tem muito mais sentido quando é leva-da pelo lado brega.” Falcão

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“nosso nome é ridículo” Ed nash, baixista do Bombay Bicycle club l em entrevista ao jornal britânico The Independent

“o noel tem que se dar Conta de que ele não é tão bom sem mim.” Liam Gallagher, ex-vocalista do oasis e atual Beady Eye | mandando um recado

básico para o irmão Noel

“Pare o mundo que eu quero descer.” Raul seixas

“a apple é um vampiro digiTal.”pete townshend, guitarrista do the Who | dizendo que a gigante de Steve Jobs está fazendo as novas

bandas “sangrarem”

“eu realmente quero ouVir LuLu. as letras do lou reed não pode-riam ser mais dark, e o metalli-Ca é essa gigantesCa banda de metal estilo esteróide. Como

isso se enContra?” alice cooper

“O brasileirO só Tem Três prOblemas: café, almOçO e janTar” chico anísio

“nós somos muito mais engraçados do que as pessoas pen-sam.” Jeff tweedy, vocalista do Wilco | afirmando que, embora as pes-soas não percebam, suas letras estão cheias de humor

“Há m

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“não me inComodo Com o suCes-so deles. só me inComodo Com o fato de que eles fazem pro-dutos de terCeira Categoria.”steve Jobs l falando sobre a Microsoft, em 1996

“como já disse o filósofo Jagger: ‘você não pode sempre ter aquilo que quer’.” house

noize.com.br 13

Olhe bem a sua volta. Já estão vendendo panetone. Ou seja, tá acabando, mano. 2011 tá virando a curva e não vai adiantar nada você correr atrás. Pare onde está. Mente quieta, espinha ereta e coração tranqüilo. Que esta Noize que você tem em mãos por si só já é um caldo com pimenta e jambú. No primeiro gole, espanto. Fred Zero Quatro do Mundo Livre S/A, não pretende incentivar seu filho a ser músico e, de certa forma, sente saudade do tempo das gravadoras. No segundo, você tem certeza que nunca sentiu este gosto. Pepeu Gomes assume que sua referência é, sempre foi e sempre será seu próprio passado, ou seja, Novos Baianos. No terceiro, adormece sua língua. Lucas Santtana e seu som nada óbvio lotam um show no Pará, a terra do tecnobrega. E então a sua garganta começa a arranhar um pouco. A dupla The Kills afirma que são eles contra o mundo. Involuntariamente você fecha os olhos. O caldo bateu no estômago. A ressaca tá curada. E a gente segue fervendo música em fogo bem alto.Hasta,Cristiane Lisbôa

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_Para fazer esta edição, oUViMos

Mayer Hawthorne – How Do You DoNoel Gallagher – Noel Gallagher’s High Flying Birds

Gaby AmarantosShlohmo – Bad Vibes

Pearl Jam – Vs. or Yield

__VENDO 147 |De cara, gostamos do nome. Mas quando eles subiram no palco, foi impossível não se sentir em casa. São uns moleques (no me-lhor sentido da expressão) baianos que, com dois bateristas, fazem o mais puro rock ‘n’roll instrumental. Estamos fãs. Manda a carteirinha?

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__ao soM dos sinos de BeléM – do Pará – esta edição 49 foi laPidada. PorqUe PassaMos algUns dias de frente Para o Palco do conexão ViVo Pa, qUe eM UM ato de corageM

exPlÍcita reUniU tecnoBrega, cariMBó, rock’n’roll e Moda de Viola. aqUi, nossas escolhas do line UP. e ao longo das PróxiMas Páginas – qUiçá das PróxiMas edições –, Presentes

qUe a gente troUxe de lá, Pra Você.

__FERNANDA TAKAI | A agridoce Takai encerrou o @conexaovivo rasgando corações de Belém. Nara Leão, Pato Fu e todo mundocantandojuntoaomesmotem-po. De chorar tacacá.

__lucAs sANTTANA | Ele mistura. Sam-ba, dub, rock, mashups, afrobeat e o improviso que só quem tem profundo conhecimento de música é capaz de fazer com maestria.

__METAlEIRAs DA AMAzôNIA | Os três integrantes se conhece-ram na banda da polícia militar do Pará. E viraram encantadores de plateia com uma mistura de ca-rimbó com músicas latinas. Feita com metais nobres.

__GABY AMARANTOs|

Ela vestia uma roupa de led que, por controle re-moto, mudava de cor. Em Belém, meu bem. Mas não é (só) isso que faz com que “todas dança”. Gaby é cantora old school. Domina o público, a voz e convence até o mais convicto dos in-dies que um show foi feito pra dançar, cantar junto e se divertir.

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Thaiana Laiun

diva do “carimbó chamegado”, uma dança que há séculos embala casais no Pará e na amazônia. Mestre em cultura popular, foi professora de história e estudos Paraenses e au-tora de um sem número de canções. seu hit “amor Brejeiro” está na trilha sonora do filme Eu Receberia as Piores No-tícias dos Seus Lindos Lábios, de Beto Brant. aos 72 anos, prepara seu primeiro disco.

O que é Carimbó chamegado?O Carimbó Chamegado tem três versos. E ele fala de amor do jeito nosso do Pará. Esse negócio do balançado do om-bro e do quadril. Às vezes, a gente nem dança, só faz esse mexido.

O que é “Amor Brejeiro”?Aqui todo mundo se abraça e se beija. O toque da gente com as pessoas é abraçado. Muita cidade não tem isso. Passa “bom dia” e pronto. Aqui não. Para logo e diz bom dia. “Bom dia Dona Fulana”.

A senhora é a dona danada?Teve uma revista que me colocou na capa com o escrito Dona Danada. A moça me achou danada, me viu cantando aquelas música de letra safada. “Você me leva à loucura quando você me beija com esse corpo suado e essa boca molhada com sabor de cerveja”. Pode ser um sabor de café, de manga, morango, o que importa é que tenha sabor.

Algum conselho para novos músicos?Faça o que realmente gosta, algo que faça com que você se sinta bem. Foque nisso.

Suas canções são sempre de amor?Sempre. Porque está faltando o amor. Está faltando a mulher falar menos – que a mulher fala muito. Fica atazanando o homem. E hoje em dia o homem gosta mais de uma bola de futebol que de mulher.

UMA xÍCARA DE CHÁ E 5 PERGUNTAS PARA:DONA ONETE

* falamos com Dona Onete do #conexaovivoPA

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Um grupo de meninos levou a expres-são speed metal muito a sério: a banda inteira foi dar uma volta com os seus intrumentos. Em cima de uma moto. bit.ly/speed_metal

Taste It, o novo disco dos Forgotten Boys, já ganhou o primeiro clipe, “Another Place”. bit.ly/forgottentaste

A pedido de Dave Grohl, o Prodigy fez dois remixes para “White Limo”, o primeiro single de Wasting Light. bit.ly/whiteremix

_ Nos primeiros 10 segundos a gente jura que vai tocar “Hakuna Matata”, mas é só o clipe novo do Coldplay. “Paradise”, o segundo single de Mylo Xyloto, ganhou imagens de Londres e da África do Sul. E o Coldplay, roupas de elefantinhos.

bit.ly/qAjm4Y

coldplay|Paradise

_Através da hashtag #vac-cinesvideo os fãs podiam enviar fotos tiradas com o Instagram em festivais de música pelo mundo. 2433 fotos e alguns meses depois, o resultado é um vídeo lindo, que se encaixa perfeitamente com a música. Impossível não sorrir – e comprovar a máxima de que Insta-gram deixa tudo mais bonito.

Tags: the vaccines wetsuits instragram

@rubbidoo You can be part of @TheRealVaccines new music video, created using @instagram. #vaccinesvideo vaccinesvideo.com

@JorgeSaborido “The Vaccines - Wetsuit Instagram Video” youtube.com/watch?v=5tr5pt… #instagram #vaccinesvideo

@jody_macpherson This music video really captures the zeitgeist #vaccinesvideo ow.ly/76cZx #crowdsourcing #in

@5pyke 5 killer crowdsourced ad campaigns via @postadver-tising ow.ly/76yqP - i love the “wetsuit” video #vaccinesvideo

@delyra Melhor impossível, Coldplay! - is.gd/mRV8Lj #PARADISE

@Sarah_Martini “Paradise” by @Coldplay tells my life story. I feel like it was written about me. #paradise

The Vaccines | Wetsuit #VACCINES VIDEO

#PARADISE

O Macaco Bong soltou coisa nova por aí. O EP Verdão Verdinho já dá pra ser ouvido – e baixado – de graça. bit.ly/macacobong

TIMELINE

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Se arrependeu de ter comprado o ingresso de um show? Os convites já esgotaram e você não conse-guiu o seu? O Comprei e Não Vou te ajuda. bit.ly/compreinaovou

Depois de oito anos desapare-cido, Leonard Cohen prometeu voltar. E o disco já tem nome: Old Ideas.bit.ly/cohenvolta

“Not For You”, do Pearl Jam, ga-nhou clipe dirigido por Cameron Crowe – o mesmo de Pearl Jam Twenty, o doc dos caras. bit.ly/20crowe

Até o fim do mês, o Instituto To-mie Ohtake recebe a exposição Chaplin e a Sua Imagem. Vale conferir. bit.ly/tomiechaplin

Rolling Stones | No Spare Parts Some Girls, o décimo quarto álbum de estúdio dos Rolling Stones, vai ganhar reedição de luxo ainda esse mês. O clássico de 1978 contém hits como “Miss You”, mas a coisa não para por aí. Quem desembolsar a grana da bolacha leva ainda a inédita “No Spare Parts”. Corre lá: bit.ly/novastones

Jack White | Love is BlindnessNo fim de outubro, a revista gringa Q comemorou os 20 anos de Achtung Baby, o sétimo álbum do U2, de um jeito diferente: juntou artistas como Garbage e Patti Smith para fazerem as suas próprias versões das canções do disco. Jack White se puxou e deixou “Love is Blindness” raivosa e sexy. bit.ly/lovejack

Autoramas | Música CrocanteCom a ajuda do projeto Embolacha – uma espécie de vaquinha virtual – , o Autoramas lança Música Crocante, o seu sexto disco. Com a meta alcançada e o projeto finalizado, agora só falta você dar o play. bit.ly/crocanteautoramas

Medialunas | ChunbyCom o bye bye da Superguidis, o vocalista Andrio Maquenzi não teve dúvidas: cha-mou a namorada Liege Milk e formou o Medialunas. A dupla mistura tudo o que mais ama: guitarras, noise, 90’s e a felina Chunby. Que dá nome ao primeiro clipe. migre.me/65Mk5

_Pedaços de discos do Supertramp, Paul Anka, Chicago e Lil Jon foram cortados e trocados entre si, em retalhos idênticos. O resultado foi um sampleador analógico genial. Queríamos ter pensado nisso antes.

bit.ly/analogsampling

Analog vinyl sampling | Experimental

_Uma única música gravada em um único take dentro de um táxi preto pelas ruas de Lon-dres. Esse é o conceito do Black Cab Sessions. A convidada da vez? Feist o seu novíssimo Me-tals. A escolhida? “Undiscovered First”.

bit.ly/feistblackcab

Feist|@ Black Cab Session

_O Soundcloud – sim, aquele site onde você ouve música por streaming – fez um vídeo para tentar desvendar o que é o som. Nomes como Moby. Tim Exile e Salvatore Principato tentaram responder. Vai arriscar também ?

bit.ly/oqueesom

sound| Soundcloud

“nós ficarÍaMos felizes eM acaBar a nossa carreira agora.”

_Bono Vox, falando sobre o futuro do U2 – e assustando a geral.

#ÁUDIO

@REVISTANOIZE

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É curioso como o clima influencia as nossas escolhas. Talvez se tivéssemos escolhido um dia ensolarado para escrever esse texto, ele teria um re-sultado diferente. Mas está frio, o que nos faz cair em sonoridades mais in-timistas, quase como se estivéssemos procurando por uma trilha sonora para embalar nossos sonhos.

A primeira banda que escolhemos foi Share-a-tories, projeto experi-mental criado em 2006 por Andrew Morehart. Atualmente, a banda tem como base Boston, onde gravaram o EP Dissolved in the Dark, lançado em agosto. O álbum foi sendo liberado música por música gratuitamente no site da banda, gerando uma expecta-tiva pelo conjunto da obra, cheia de

experimentação e uma boa pitada de psicodelia. O resultado final é um trabalho maduro e coeso, produzido por alguém que não tem medo de experimentar.Pode-se dizer que Dissolved in the Dark é construído como um mosaico com muitas peças diferentes, algumas mais alegres, como “Cycling”, e outras mais introspectivas e difíceis, como a faixa “Music For An Execution”.Andrew Morehart fez quase tudo sozinho: vocais, guitarra, baixo, bateria, sintetizadores, violiono e programa-ção. Algumas faixas tiveram participa-ção de outros artistas: Scott Ferber (bateria) e Tom Mitchell (baixo).Cada canção ganhou uma arte criada pelo designer Nathaniel Whitcomb, uma obra prima `a parte.

Divulgação

Banda de rock com canções meio sombrias, liderada

por Allen Glenn (baixista do Last

Van Zant), que começou como projeto solo em 2010 e agora conta com Brian Draper, Jose Davila e Jeff Perry. Walk Away é o

primeiro álbum da banda, com produção impecável e algumas músicas que nos re-metem um pouco a My Bloody Valentine

e Sonic Youth. Trilha perfeita para embalar dias chuvosos acompanhados de uma

boa garrafa de vinho.

Escute:modernmanmusic.bandcamp.com/

MODERN MAN

Projeto solo de post-rock do

produtor Michael Maleki, da Florida,

acaba de lançar seu terceiro álbum

Visio’l, com cinco faixas produzidas

primorosamente. Porém, uma de suas produções que mais chama atenção é

“I Keep Holding On”. Com sample de “I’ll Be There”, do Jackson 5, resulta em uma canção doce, sensível, com batidas envol-ventes e um vocal meio fantasmagórico.

Artista pra deixar no radar.

Escute:kodaktograph.bandcamp.com/

_Por Lalai e Ola Persson

SHARE-A-TORIES

MAS DEVERIA_

KODAK TO GRAPH

020\\

Nos últimos tempos, ouvimos muitas coisas que trouxeram à tona gêneros musicais desaparecidos, como uk--garage e o R&B maduro dos anos 90. O pós-dubstep acabou trazendo o que era dubstep na época em que surgiu. Nesse estilo, James Blake e Jamie Woon são exemplos de como o dubstep pode ser incorporado em algo mais emotivo com resultados incríveis.

AlunaGeorge, formada pela dupla Aluna Francis e George Reid, também traz influências de pós-dubstep, 2-step e IDM, mas junto com o estilo de R&B dos anos 90, de cantoras como Aaliyah e Brandy.

A mistura de R&B, na forma mais expe-rimental, tem uma conexão forte com

o som britânico ressurgido nos últimos anos. O fato da dupla ser de Londres não soa como surpresa depois de ouví--la. Aluna e George se conheceram através da Internet e ficaram trocando referências por quase um ano antes de começarem o projeto.

Mesmo as músicas sendo mais cabeçu-das e experimentais, não os impede de trazer uma pegada pop como no single “Analyser”, em que misturam seu estilo sonoro com uma pegada electro pop. Já o lado B do single tem a faixa “We Are Chosen”, que é a mais legal e mais parecida com o resto do trabalho deles. Chama atenção pela batida minimalista, vindo ao 2-step/uk-garage, com o vocal da Aluna flutuando em cima.

Divulgação / M

eg Hires

_Por Lalai e Ola Persson

MAS DEVERIA_

ALUNAGEORGEO quarteto londri-no se juntou após

os integrantes descobrirem o

gosto em comum pelo diretor

surrealista David Lynch, The Beach Boys e algumas bandas obscuras. E sim,

o som deles é reminiscente do pop dos anos 60. Eles lançaram um EP homônimo.

Depois veio um single e o EP Hynagogic Lullaby, que vem como nossa recomenda-

ção, enquanto esperamos ansiosos pelo primeiro álbum.

Escute:soundcloud.com/weirddreams

O que você faz se assina um contrato

com um grande selo, muda de

cidade pra correr atrás de sua carreira

e nada acontece? Frank Ocean desa-bafou na internet “[…]fuck Def Jam & any company that goes the length of signing a

kid with dreams & talent w/no intention of following through...” e colocou seu álbum

pra baixar de graça. Deu super certo. Já es-tou considerando o álbum Nostalgia, Ultra

como um dos melhores de 2011.

Escute:bit.ly/frankocean-album

FRANK OcEAN

WEIRD DREAMs

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“É minha terapia, meu descanso.”

1. JIMI HENDRIX CONSIDERADO POR MUITOS CRíTICOS UM DOS MELHORES GUITARRISTAS DE TODOS OS TEMPOS. ERA AUTODIDATA E CANHOTO. TOCAVA UMA FENDER STRATOCASTER PARA DESTROS, COM AS CORDAS INVERTIDAS. 2. NOVOS BAIANOS BANDA ANTO-LóGICA QUE ATÉ HOJE INFLUENCIA A MÚSICA BRASILEIRA. CURUMIM, ARNALDO ANTUNES E, SENDO BEM SINCERO, PRATICAMENTE TODO MUNDO. ACABOU CHORARE, O SEGUNDO DISCO, MISTURA BAIXO, BATERIA E GUITARRA COM CHOCALHO, PANDEIRO, CA-VAQUINHO E AGOGô. FOI ELEITO O MELHOR DISCO DA HISTóRIA DA MÚSICA BRASILEIRA.

“Eu aprendi a tocar guitarra por causa do Jimi Hendrix, entendeu?” “É a minha maior referência. A minha raiz tá ali e é dali que eu parto sem-pre. Não tem como negar.”

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“Eu amo grife. Eu desenho as minhas roupas.”

JIMI HENDRIX

MODA

NOVOS BAIANOS

BAHIA

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“O meu país, eu faço tudo pelo meu país. Sou muito nacionalista.”

“Quando eu quero fazer uma música eu ouço Stevie Wonder. Aí eu digo não, sai. E eu ouço Novos Baianos. ”

“Maior referência para minha música, porque me dá segurança.”

POR PEPEU GOMES_Pepeu Gomes* já freqüentou a lista dos melhores guitarristas do mundo

e ganhou um disco de ouro por conta do hit “Eu Também Quero Beijar”. É um dos fundadores do Novos Baianos.

* falamos com Pepeu Gomes no #conexaovivoPA

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“Eu aprendi a tocar cavaquinho por causa dele.”

6. JACOB DO BANDOLIM UM DOS MAIORES NOMES DO “CHORINHO”, AUTOR DE CLáSSICOS DO CANCIONEIRO POPULAR COMO “NOITES CARIOCAS”. PARCEIRO DE PIXINGUINHA E OBVIAMENTE, MESTRE DO BANDONLIM. 8. STEVIE WONDER NASCEU EM 1950. ASSINOU O PRIMEIRO CONTRATO AOS 11 ANOS E, DESDE ENTãO, SEGUE NA MESMA GRAVADORA. TEM MAIS DE 30 SUCESSOS NO TOPO DAS PARADAS MUNDIAIS. E 25 GRAMMY AWARDS NA ESTANTE. Tá BOM PRA VOCê?

BRASIL

MINHA FAMÍLIA

JACOB DO BANDOLIM

STEVIE WONDER

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COLUNISTAS

_ por Gaía Passarelli

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COLUNISTAS

Rep

rodu

ção

_ por Gaía Passarelli

O Camilo Rocha publicou uma excelente lista de músicas que mostram o grande momento que a música eletrônica vivia cir-ca 1991. Obrigatório para saber que nem só de Nirvana e Pearl Jam se fez as mudançassingulares da época. Está em goo.gl/eDgvY

Para quem quer ir a fundo no as-sunto, a wikipedia lista com linkstodos os discos, inéditos e relança-mentos, que as prateleiras daslojas viram em 1991 (já que as lojas de discos ainda dominavam o mundo físico). Tem curiosidades. Procure em goo.gl/of3Hy

__1991, lADO B|Todo mundo e a Noize também falando de 1991 - o grande ano do rock que há exatas duas décadas rendeu dis-cos como The Orb’s Adven-tures Beyond The Ultraworld, Blue Lines, do Massive Attack, Foxbase Alpha, do Saint Etienne, The Pod, do Ween e Just for a Day, do Slowdive. Além de todos aqueles que você vai ler aqui nas páginas da revista e as estreias de Jesus Jones e Seal.

De acordo com Simon Reynolds, em seu Re-tromania, o começo dos anos 90também marca a última fase em que algo realmen-te novo aconteceu na

cultura pop. Isso não sig-nifica que não teve mais nada legal na música nos últimos vinte anos, so-mente aponta, com discu-tível verdade, que após o grunge e a eletrônica não houve nenhum impacto novidadeiro significativo na música consumida pelas massas ao redor do mun-do. É claro que muita coisa mudou na música, princi-palmente na forma como a consumimos, escutamos, repartimos. Talvez a pró-pria existência de tantos micro-nichos conversando entre sí dentro de cada MP3 player nos bolsos de cada um de nós impossibi-lite uma nova grande onda revolucionária.

Mas a vida vem em ondas como o maaaaaaar e 2001 também não foi um ano fraco não, pelo contrário. Foi o ano em que saiu o Discovery, do Daft Punk, por exemplo. E as estreias de Ladytron, Gorillaz, Aaliyah, Destiny’s Child, White Stripes, Yeah Yeah Yeahs e de uma banda aí chamada Strokes. Também ouvimos bons discos de Guided by Voices, Four Tet, Mogwai, Air, Depeche Mode e Radiohead.

Agora, enquanto estamos ainda em 2011:para você, quais serão osgrandes discos deste ano ? Me manda no twitter @gaiapassarelli

Uma série de vinhetas da MTV relembra os outros discos de 1991, como Screamadelica e Loveless. Veja no Vimeo a partir de goo.gl/v5Qak

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BLOGS

__A TRIlHA DA MODA| A coleção Spring 2011 da Rodarte é o que vi de mais “tocante” na moda ultima-mente. É tão bonita que tem até um curta-metragem. Dirigido pelo fotógrafo de moda Todd Cole, The Curve of Forgotten Things mostra em forma de história esta que foi a penúltima coleção da marca até agora. É sutil. É forte. E a trilha é um absurdo. Já começa cortando o coração

com “The End”, do Doors, andando lentamente para “Everybody’s Talking”, do Harry Nilsson. E aí passa para “I’ve Seen All Good People”, do Yes. O curta e a coleção têm como ponto de referência (odeio essa palavra, juro) o filme Days of Heaven, de Ter-rence Mallick, lançado em 1978. Ou seja, . Olha só http://vimeo.com/21726788.

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__ HEluANA QuINTAs,vocalista da banda Mini Box lunar e integrante do coletivo Palafita (AP). “O Mini Box Lunar é um exemplo de banda que deu abertura para ter uma gestão compartilhada de fato. Circulamos, só em 2010, em quase 30 cidades. Temos não somente um produtor, mas vários em todo o país. Se hoje há um hype em torno do nome Mini Box Lunar, é porque a banda reflete bem o termo Gestão Compartilhada e Gestão de Carreira desenvolvida por uma rede.”

__GABY AMARANTOs,cantora. “O trabalho em rede desen-volvido nesse início de século na música brasileira mostra a força de uma cena que se configura independente e sustentável. Para os próximos anos visualizo esse novo mode-lo se expandindo e revelando novos movimentos, o que já é possível perceber atualmen-te com nomes dessa cena destacando-se em premiações importantes da música.”

BLOGS

__eM dezeMBro acontece o iV congresso fora do eixo. qUal o iMPacto qUe o traBalho eM rede teVe na sUa organização coMo Banda? e o qUe Você VisUaliza,

nessa PersPectiVa, Para os PróxiMos anos?

__ TIAGO sAlGADO,tecladista da banda 4Ins-trumental. “A 4instrumental surgiu em 2008, já ligada ao coletivo Fórceps. Após três anos trabalhando como banda/coletivo começamos uma articulação com a Argentina, o que resultou na gravação do nosso primeiro disco em Buenos Aires. Isso só foi possível pelo nosso envolvimento direto com a rede. Essa tour foi articulada durante a imersão do Fora do Eixo Minas, pela banda e vários agentes do circuito.”

__NEY HuGO,baixista do Macaco Bong. “Esse novo modelo de tra-balho está criando um novo mercado, onde o que pauta não é mais o acúmulo de recursos, mas sim a sua cir-culação numa cadeia produ-tiva em que todos ganham. Passados 10 anos da virada de mesa, o rumo é a conso-lidação dessa nova cadeia, integrada em uma grande rede de redes. “

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_Por Daniela Arraisdonttouchmymoleskine.com

Daniela Arrais, já pensando em esconder a idade, é jornalista.Nasceu em Recife, mas mora em São Paulo há quase cinco

anos. Começou o Dont Touch há uns quatro e, de repente, viu que falava de amor quase o tempo todo, numa tentativa

eterna de entender a montanha-russa do coração.

__MA cHéRIE, DO HIDROcOR l Marcelo e Fernanda se apaixo-naram, casaram, escolheram uns bonequinhos muito graciosos para colocar em cima do bolo e, depois de um ano e meio, foram passar a lua de mel em Paris. O resultado é o clipe de “Ma ché-rie”, que é uma fofura só! Marcelo, o Perdido, explica: “A idéia foi da Fernanda e tem um toque de Gno-mo da Amelie Polain. Essa foi a sua primeira aventura audiovisual como diretora, mérito que acabou divi-dindo comigo, já que captei e editei o vídeo. E, claro, fiz a música que embala tudo”. A música faz parte do disco Edifício Bambi, que tem lançamento previsto para o fim do ano e marca a estréia da banda Hidrocor.

BLOGS

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_Por Christina Fuscaldo

PUBLIEDITORIAL

UMA REDE SOCIAL PARA QUE MúSICOS, PRODUTORES E FãS POSSAM DE FATO SE CONECTAR, TROCAR ExPERIêNCIAS, DIVULGAR AGENDA, DESCOBERTAS E PROMOVER ENCONTROS. DE SOM. PESSOAS. LUGA-RES. A CADA EDIçãO DA COLUNA, AQUI NAS PÁGINAS DA NOIZE, OS QUATRO ARTISTAS QUE ESTãO SE DESTACANDO NO CIRCUITO DA MúSICA INDEPENDENTE.

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A NOVA GERAÇÃO DA MÚsIcA BRAsIlEIRA EsTÁ AQuI!

cAscADuRA Country e hard rock Para quem gosta de Pearl JamInfluenciada pelo country, punk e hard rock, a Cascadura tem quase 20 anos de carreira e muita experiên-cia na cena independente baiana. Em breve, alça à fama seu quinto disco, Aleluia, de Fábio Cascadura (voz e guitarra) e Thiago Trad (bateria). O anterior, Bogary, saiu encartado na OutraCoisa, falecida revista dirigida por Lobão. A banda já contou com o guitarrista Martin Mendonça, o baixista Silvano Joe e o baterista Duda Machado, que tocam com Pitty.

PARIs ROcK Rock com brega Para quem gosta de Móveis Coloniais de Acaju Apesar do nome, a Paris Rock foi formada em Belém do Pará. Lá, a história de Yuri (guitarra), Neto (guitar-ra), Mauricio Maumau (voz), Renan Vaca (baixo) e Netto 2T (bateria) rende frutos musicais e gargalhadas. No Grito Rock Amapá, foram obrigados a subir no palco depois de uma banda de trash metal e temeram uma chuva de tomates, mas o brega salvou o grupo. Durante a versão rock de “Amor Amor”, de Carlos Magno, os metaleiros fizeram uma roda punk e cantaram junto com a banda.

DOuTOR JuPTER Rock com folk Para quem gosta de Elvis Presley em início de carreira ou StrokesA Doutor Jupter foi formada em 1998, em Ribeirão Preto (SP), e hoje está radicada na capital paulista. Massonetto (voz, composições, violão, banjo e gaita), Marcio Gonzales (guitarra, banjo e violão), Dudu Massonetto (baixo e vocal) e Mateus Briccio (bateria) já lançaram um EP produzido pelo ex- Ira! Edgard Scandurra e, em 2010, venceram o concurso Vem Pro Novo, que rendeu a gravação do álbum de estreia, lançado este ano.

TREPAx Punk com eletrônica Para quem gosta de Empire of the Sun Em Vitória (ES), uma banda faz a diferença com seu som psicodélico que mistura punk rock com eletrônica e letras em inglês: Trepax. O nome vem das HQs de Guido Crepax e tem Leandro Henrique (voz e synths), Breno Vazzoler (synths, guitarra e baixo) e João Bonna (bateria) na formação. Paralelamente, Leandro grava músicas “mais calmas”, com letras em português, para um novo disco, enquanto Breno faz trilhas sonoras e João atua em seu núcleo de criação voltado para a publicidade.

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1991.

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Mas 1991, além de ser o ano em que a maioria dos nossos leitores nascia, usava fraldas ou dava seus primeiros passos, é o ano em que o mundo mudou. E que talvez tenha salvo uma geração inteira. Ali, grandes nomes da música como Primal Scream, Nirvana e Metallica lançavam seus discos mais famosos e influentes. Kurt Cobain fez o grunge virar pop com o seminal Nevermind, Bobby Gillespie levou o Primal Scream a criar o embrião do britpop com a psicodelia indie-electro de Screamadelica, enquanto o Metallica redefinia o heavy metal com o seu disco homônimo, o popular Black Album, que estreou já no primeiro lugar da Billboard, a parada dos álbuns mais vendidos nos Estados Unidos. Por outro lado, perdemos Freddie Mercury e Miles Davis.

“Smells Like Teen Spirit” virou o hino da chamada Geração x, a livrando da fantasia farofa de grupos como Mötley Crüe e Twisted Sister e do tédio sonoro

trazido pelo pop melado de gente como Paula Abdul e Brian Adams. Já diria Dave Grohl, “antes da gente, o top 10 da MTV era Whitney Houston”. Sábio.

No fim da década de oitenta, o jornalista Zuenir Ven-tura profetizou que 1968 ainda não havia acabado gra-ças às consequências que aquele ano teve na realidade contemporânea. Guardadas as devidas proporções, nós, da música, continuamos a viver 1991. Ou você consegue citar alguma banda nova que não beba da fonte que jorra deste ano? Seja um disco, uma música, uma referência, é impossível fazer canção agora sem olhar para lá. Por isso, aceitamos o desafio de listar tudo aquilo que nos influencia e veio dele.

Vinte anos mais tarde, muito do que se viu em 1991 ficou. Ainda usamos camisas de flanela. Ainda veneramos Kurt Cobain. De uma maneira ou outra, continuamos vivendo esse 1991.

a guerra do golfo engole os estados Unidos. a internet, até então uma aliada norte-americana, chega ao mundo inteiro. Jovens ensebados desco-brem as magias do amor ao som de “More than Words” em reuniões dan-çantes. Veículos de comunicação anunciam a “febre do Videogame” – que, hoje sabemos, causa espinhas e indisposição ao ato sexual que não o soli-tário. sua mãe assistia Vamp na globo. sua irmã mais velha, carrossel no sBt - novela teen que esse ano teve sua sede alagada em uma enchente que acometeu são Paulo. collor congelou as poupanças – tem gente que nem lembra, embora nunca tenha recebido de volta uma boa grana – e teve seu mandato impugnado. a MtV explodia, e os fãs de música passavam horas na frente da televisão para assistir ao seu clipe preferido. hoje, é para isso que serve o Youtube. quem também morreu foram as mixtapes, junto com a TV e as fitas K7, que agora é sigla na internet para outra coisa.

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1991 não foi apenas o ano do grunge. Foi o ano do shoegaze, do britpop, do indie. Alguns já vinham da década anterior, outros ainda aguardavam seus dias de glória. O som de 91 foi de grandes álbuns, obras que nasceram para definir estilos.

O shoegaze ganhou o apelido por conta de um costume frequente entre os músicos: o de ficar completamente parado no palco, olhando para o chão enquanto tocavam. Shoe = sapato. Gaze = olhar, encarar. Logo, shoegaze. Mas o estilo era, na verdade, puramente sonoro. A música era barulhenta, em alto volume, com uma parede de distorção e feedback que deixava os vocais e as melodias perdidas entre as guitarras+1. O shoegaze já vinha da década de 80, mas foi quando o My Bloody Valentine lançou Loveless, em 1991, que a bandeira do estilo ficou cra-vada para a eternidade. Era a obra prima do grupo irlandês. E outras bandas como the Cocteau Twins, Dinosaur Jr. e the Jesus & Mary Chain seguiram dali.

Músicas comandadas pelas seis cordas da guitarra, de refrães pegajosos, de ar pop e que cantavam a vida da juventude britânica. Uma tradição iniciada pelos Beatles, mas reinventada como nunca pelo britpop. Muitos dizem que o estilo realmente nasceu em 1993, quando o Suede lançou seu disco de estreia.

Foi dois anos antes, porém, que Blur e Primal Scream surgiram com albuns fundamentais para a música que dominaria a Grã Bretanha nos 90’s: Leisure e Screamadelica. A música era pop, bebia nos Beatles mas também no mod+2 do The Who e do The Small Faces. Assim como trazia o glam de David Bowie e T. Rex e o punk do The Jam e The Buzzcocks. O contraponto a sujeira e introspecção do grunge de Seattle. A trilha sonora perfeita para toda uma nova geração de jovens britânicos.

Nomes como Sonic Youth e Pixies estão entre os papas do indie rock. Indie = independente. Ou seja, era como bandas que carregavam a atitude “faça você mesmo” eram chamadas na década de 80. Lan-çavam seus discos por selos pequenos, as produções tinham baixíssimo orçamento. Em sua origem, os grupos indie nasceram para experimentar - sons, letras, emoções -, existiam para viver à margem do sucesso. Tudo o que não queriam. Em 1991, quando o Nirvana chegou ao topo das paradas com Nevermind, a coisa mudou de figura. Bandas como Yo La Tengo, Meat Puppets e Dinosaur Jr passaram a ser ouvidas. O indie saiu do underground, deixou de ser apenas uma pequena seção em uma loja de discos. Hoje, pouco resta do indie pré Nirvana.

O SOM

[+1] Há também quem diga que o estilo ganhou nome graças à quantidade de efeitos de pedal, que forçava os músicos a olharem

para baixo.

[+2] Essa subcultura nasceu em turmas de garotos adolescentes cujas famílias eram ligadas ao comércio

de tecidos em Londres. Os primeiros mods

eram garotos classe média, obcecados pelas tendências da moda e estilos musicais, como ternos italianos bem

justos, jazz moderno e rhythm and blues.

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Se a lembrança era uma década de oitenta extre-mamente chamativa, cheia de brilhos e paetês+3, os anos noventa tomavam o caminho contrário. Calça jeans largas, cueca aparecendo, camisas de flanela abertas sob camisetas de banda, cabelo sujo, tênis e skate no pé. Na entrada dos 90’s, o mundo se rendia a estética grunge. Alexander McQueen, John Galliano, Jean-Paul Gaul-tier e Marc Jacobs levaram para as passarelas roupas inspiradas pela moda das ruas. Em 1993, o estilo grunge de se vestir aparece na coleção primavera/verão de Marc Jacobs para a Perry Ellis. Foi quando o grunge virou fashion pela primeira vez. As modelos eram curvilíneas+4. Cindy Crawford, que em 1991 casava com Richard Gere, e Hele-na Christensen são dois exemplos disso. Mas foi também nessa época que começaram a aparecer as

“anti-modelos”. E Kate Moss era sua melhor repre-sentação: relativamente baixa, pele pálida, olheiras e uma magreza esquálida. As “anti-modelos” marcam a imagem da Geração x. Nas telonas, quem melhor respresentou a tal “Ge-ração Perdida” foi o cineasta Cameron Crowe, com Vida de Solteiro. Lançado em 1992, o filme conta a his-tória de um grupo de jovens em seus vinte e poucos anos que moram em Seattle+5. Vivem entre camisas de flanela, dias chuvosos e shows de rock. Cliff Pon-cier, personagem de Matt Dillon, é quase uma sátira de Eddie Vedder – líder de uma banda, tem como principal sucesso “Touch Me I’m Dick”, inspirada no hit real “Touch Me I’m Sick”, do Mudhoney, uma das principais bandas do cenário grunge. Já os músicos do Pearl Jam formam a banda fictícia de Cliff. Não à toa, Crowe lançou em 2011 Pearl Jam Twenty, doc que conta a história da banda.

A MODA

[+3] bit.ly/tinaprivate

[+4] Dizem por aí que Cindy Crawford pesa 59kg, distríbuídos em seu 1m78cm. Já Kate

Moss pesa 48kg e mede 1m72cm

[+5] Não é à toa que o nome alternativo para o grunge é “Seattle Sound”

(ou “Som de Seattle”).

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/ nirvana

/ Pearl Jam

/ singles / Vida de solteiro

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Foi na década de 90 que os videoclipes conquistaram o seu lugar definitivo como veículo de comunicação de massa dedicado aos adolescentes. Ali, a juventude passou a ser bombardeada com imagens, mensagens, criando um imaginário típico da época. Pense em 1991 e é bem provável que você pense em MTV+6. A Music Television foi o primeiro canal de televisão criado para tocar música, com o propósito de repro-duzir videoclipes – lembre-se, ainda não existia inter-net. Assim, através daquela caixa preta era possível ver o que o seu ídolo vestia, como ele soava ao vivo e a cores. Não à toa, quem foi adolescente na década de noventa é chamado de cria da “Geração MTV”+7.

Há quem diga que o canal massificou (leia-se imbe-cilizou) os jovens. Há quem diga que era exatamente o que eles precisavam. Seja qual for a sua opinião, é importante lembrar que a cultura do videoclipe, consequência da “emetevê”+8, mudou a indústria mu-sical. Ou você nunca parou para prestar atenção em uma banda depois de ver um clipe legal? “Smells Like

Teen Spirit”, do Nirvana, e “Losing My Religion”+9, do R.E.M., foram exemplos dessa força vídeoclíptica em 1991. Nos anos 2000, o vídeo de “Here It Goes Again+10” (aquele das esteiras), do Ok Go, foi parar até em emails do tipo corrente que pais e mães repassam adoidados. E Lady Gaga, bem, criou sua estrela em cima dos clipes, com verdadeiros curta--metragens. Resumindo: seja boa ou ruim, a atenção que a música gera através da imagem com certeza tem uma interferência direta nas vendas. Afinal, não é todo mundo que leva em consideração a qualidade sonora ali presente.

Ao final da conversa, sempre vai aparecer alguém para dizer que tudo isso é capitalista demais, que o “Video Killed the Radio Star”, que ele tira o foco da arte principal – a música. Mas, é bom lembrar, o music business ainda é uma indústria.

É de quebrar a cabeça, não?

UMA TAL DE MTV

[+6] A MTV nasceu em Nova York, em

1981.

[+7] Um site classifica a expressão assim: “É aquilo em que

chegamos hoje, uma geração de jovens

seguidores de modas vazias”. Pesado.

[+8] A expressão abrasileirada do canal

foi imortalizada no VMB 2004, quando o

microfone de Caetano deu pau durante a

apresentação: “Olha, pessoal da emetevê,

vergonha na cara! Vamos começar de

novo e bota essa porra pra funcionar direito”.

[+9] O clipe da música ganhou 6 prêmios no VMA de 1991,

incluindo Vídeo do Ano e Melhor Direção.

[+10] Em 2006, o vídeo ganhou o

YouTube Award de Vídeo Mais Criativo. Em 2007, o Grammy

de Melhor Vídeo Musical.

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Madonna lança o filme Na Cama com Madonna, mostrando os basti-dores da Blond Ambition Tour

O Maracanã recebe a segunda edição do Rock in Rio. 700 mil pessoas em 9 dias,

para assistir gente do calibre de Guns N’ Roses, Faith No More, New Kids On The Block, George Michael, Serguei e Alceu Valença

Pouco mais de 20 mil jovens se reúnem em Phoenix, Arizona, para um festival novo - um tal de Lollapalooza, que precisava de 30 minutos entre um show e outro para ajustar o palco

O duo inglês Massive Attack lança Blue Lines, seu álbum de estreia, considerado o primeiro disco de trip hop

Prince e Michael Jackson passam a usar batidas eletrônicas

Bryan Adams, Lenny Kravitz, Zezé di Camargo & Luciano e Marina Lima estão entre os mais tocados no Brasil

A MTV Brasil lança seu primeiro Acústico MTV, formato nacional para o MTV Unplugged. O primeiro artista foi o Barão Vermelho

Morre, aos 81 anos de idade, Leo Fender, considerado o inventor da guitarra

As únicas maneiras de conhecer e compartilhar música eram: ouvir rádio, assistir MTV, Fantástico ou criar mixtapes em fitas K7.

Percebeu?

TAMBÉM EM 1991...

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Não faz muito, a dupla esteve pelo Brasil. Trou-xe na mala a tour de Blood Pressures, o elogiado novo álbum. Uma primeira apresentação anunciada em São Paulo teve os seus ingressos esgotados em questão de horas. Obrigou a banda a agendar uma data extra no Beco 203. Tamanha adoração ainda surpreende Jamie Hince.

“Eu sempre fico pasmo com isso, absolutamen-te pasmo. Já pensei muito sobre o assunto, mas é difícil saber com certeza o motivo de termos uma base de fãs tão grande e fiel.”

Alison diz que os fãs são ótimos. “Acho que eles são muito ligados em artes. É uma garotada que tá fazendo suas coisas, fazendo sua música, suas fotos, trabalhando com ilustrações. Costumamos conversar com eles depois dos shows e eles sempre têm coisas incríveis pra nos mostrar. E acho que é por isso que eles se identificam tanto com a gente, por uma série de valores artísticos que também carregamos.”

Hince vai mais longe, busca em sua adolescên-cia uma possível explicação para o fato de a banda ter construído uma espécie de culto ao seu redor já nos primeiros anos de vida. Lembra de quando era também um fã e amava bandas que pareciam perten-

Era a virada dos 90’s para os anos 2000. Um inglês chamado Jamie Hince tocava guitarra em um quarto de hotel, em Londres. De um apartamento no andar de cima, Alison Mosshart ouvia os acordes. Gostou. Desceu as escadas e, em questão de minutos, estava batendo à porta daquele sujeito barulhento. Ele era integrante de uma banda de rock chamada Scarfo, ela vocalista do grupo punk norte-americano Discount. Alguns meses se passaram, as bandas deixaram de existir e Alison e Hince passaram a compartilhar ideias. Trocavam fitas repletas de músicas através do correio, como que ignorando o oceano entre eles. Cansados da distância, entraram em um acordo: Alison, você vem morar na Inglaterra, okay? Nascia ali, meio sem querer, talvez culpa do péssimo isolamento acústico de um hotel londrino, o The Kills.

Desde aquele encontro marcado por acordes de guitarra já se passou onze anos. Nesse período, o duo lançou quatro discos+1, Jamie juntou os trapos+2 com a uber model Kate Moss, Alison se juntou a Jack White para formar o The Dead Weather e, mesmo em meio a ocupações paralelas, o Kills se tornou um dos nomes mais cultuados do sempre exigente universo indie.

CONTRA O MUNDOTHE KILLSApós onze Anos e quAtro discos, Alison MosshArt e JAMie hince continuAM fAzendo tudo do seu Jeito.

[+1] Keep on Your Mean Side (2003), No Wow (2005), Midnight Boom (2008) e Blood

Pressures (2011).

[+2] No dia 1o de julho deste ano, James

e Kate trocaram alianças em Cotswolds, na Inglaterra. Entre os

convidados estavam a modelo Naomi Campbell, o ator

Jude Law e a estilista Vivienne Westwood.

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THE KILLS

CONTRA O MUNDO

cer a ele. “O tipo de banda que apenas eu conhecia, sabe?” Para ele, o fato de o Kills nunca ter cruzado para o mainstream faz as pessoas terem essa mesma sensação, de que “pertencemos a eles”.

“A nossa ambição sempre foi essa, de permane-cer do lado de fora do mainstream. Nós nunca vamos deixar de fazer as coisas da nossa maneira para atingir o conceito que queremos. E acho que as pessoas talvez se relacionem com isso. Agora, no final do dia, eu realmente espero que as pessoas se empolgem mesmo é com o que fazemos. É assim que a gente adoraria conquistar o respeito de todos.”

O desejo da dupla há anos parece ter se tornado realidade. Não só o The Kills tem o respeito dos fãs, como de grande parte da crítica especializada. Já em 2003, ao lançar o seu álbum de estreia, elogios imediatamente pipocavam por todos os cantos. Para a Rolling Stone norte-americana, por exemplo, Keep on Your Mean Side era um “arrasa quarteirão de blues pós-moderno”. O disco havia sido gravado no Toe Rag Studios, em Londres, local famoso por ainda manter o formato analógico de registro de áudio - o popular “rolo” – e ter sido utilizado por outra famosa de dupla blues-garageira: os White Stripes +3. As comparações foram inevitáveis. O que nunca agradou o guitarrista.

“Quando começamos o The Kills, nós quería-mos soar e ser como as bandas que amávamos. Como o Fugazi+4, por exemplo. Eles não eram parte de uma cena. E nós nunca quisemos nos colocar em uma cena, ser isso ou aquilo. Nós estamos apenas tentando fazer álbuns que a gente quer fazer, música que a gente quer fazer.” Mesmo ser uma dupla nunca foi exatamente uma opção, afirma ele. Foi necessidade. “Queríamos ter um baixista, um baterista, mas não encontramos ninguém. E porque não tínhamos um baterista, era eu quem tocava bateria lá no início. Costumava construir todos esses loops. Sabe, quando começamos, eu estava completamente apaixonado pela PJ Harvey. Costuma-va ouvir a PJ, a maneira com que ela se movia do punk

ao blues e então a eletrônica. E eu amava aquilo. É algo que eu sempre quis fazer. Nunca quis fazer apenas isso ou aquilo, mas sempre tentar soar como tudo o que eu amo ao mesmo tempo.”

Este ano, o The Kills colocou nas prateleiras o seu quarto álbum. As comparações simplistas com o White Stripes já estão bem mais distantes, apesar de Alison dedicar boa parte de seu tempo ao projeto que mantém com Jack White. Foi por passar 2010 in-teiro na estrada com o Dead Weather que a vocalista fez do disco um processo demorado. Blood Pressures levou três anos para ficar pronto. Para alguns críticos, justamente o motivo de ele ser o melhor lançamento do duo até hoje. É o caso de Simon Harper, da revista The Clash: “As aventuras de Hince pelo som dão ao álbum uma melhor produção, enquanto o período de Mosshart com o Dead Weather deu a ela mais confiança e talento para suas letras sempre provoca-doras”.

A dupla celebra a boa recepção de Blood Pressures. Diz que desde o início da carreira sempre trabalhou com liberdade, acreditando na música que faz. “Seja ela muito comercial ou muito indie”, comentam, aparentando não dar importância para possíveis rótulos. Alison, vê o álbum à caminho das listas de melhores lançamentos da temporada como uma conquista.

“É incrível. Estamos muito felizes com esse álbum. Lutamos por uma liberdade para ser o que somos musicalmente e acho que talvez tenhamos alcançado isso. Somos muito orgulhosos do nosso trabalho, da nossa música e de nosso novo disco. E é ótimo que as pessoas tenham gostado também, porque trabalhamos muito duro nele.”

Em Blood Pressures, as letras provocadoras já tão familiares para quem acompanha a banda parecem realmente dar um mergulho mais fundo na tríade amor, sexo e relacionamentos. Mesmo assim, Jamie nega que seja um álbum conceitual.

“Não é algo que planejamos ou definimos

[+3] Depois de cerca de 14 anos de estrada e oito discos na bagagem, o White Stripes anunciou o seu fim no dia 2 de fevereiro de 2011.

[+4] É uma banda norte-americana formada em 1987 e conhecida por seu ideal DIY (Do It Yourself). Nome fundamental na música punk e emo. Está em hiato desde 2002.

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como um conceito. O que acontece é que, quando um álbum chega as lojas, nós saímos em turnê. E talvez quando você passa muito tempo em turnê você não tira muita inspiração das coisas que faz. Porque você faz basicamente as mesmas coisas todos os dias – têm as entrevistas, a passagem de som, os shows. Ou seja, você tende a escrever músicas sobre o que você sente, sobre o que se passa dentro de você. O nosso primeiro álbum, por exemplo, tinha letras sobre todos esses personagens e sobre todas essas coisas que estávamos fazendo. Mas naquela época a gente não fazia tanta turnê. Quando você está na estrada, você não parece ver nada de especial, então você olha para o seu coração. E ali você encontra relacionamentos, sexo, sangue... É daí que vem o nome do disco.”

Embora pareça definir as doze canções em apenas duas palavras - Blood Pressures - , o guitarrista bate o pé. Afirma que essa é uma tarefa impossível.

“Esse é o tipo de coisa que jornalistas sempre querem que o artista faça: definir algo que eles tenham feito em uma frase ou palavra. Mas você simplesmente não pode fazer isso. Você não pode pegar algo que passou tanto tempo fazendo, algo que é uma cons-trução, e simplificá-lo em apenas uma frase. A coisa toda é uma luta de duas pessoas tentando soar como uma orquestra, considerando que é apenas a Alisson e eu, que não temos nem baterista ou outros músicos. Mesmo que soe como mais que isso. Então é uma luta para ver o que nós dois conseguimos tirar de um disco. É a luta de duas pessoas contra o mundo.”

O que, segundo Jamie, não quer dizer que eles estejam disparando tiros em direção ao inimigo.

“Literalmente, não estamos matando ninguém. The Kills é como se alguma coisa estivesse sendo morta. É como se você fosse para algum lugar e atiras-se em qualquer coisa. Em 3 coisas. Você teria 3 mortes. Mas, acima de tudo, acho que é apenas um bom nome para uma banda que poderia estar presente em qual-quer era da música. Poderia estar nos anos 50 em uma banda de rock ou nos anos 60 em uma banda hippie. Ou mesmo hoje em dia em uma banda de música eletrônica. Desde o início, a ideia era eleger um nome que não nos deixasse presos.”

Liberdade realmente soa como a tônica na carreira de Alison e Jamie. Quando analisam a relação com os fãs, creditam a ela boa parte da intensa identificação entre eles. Ao descrever os álbuns, letras, canções e escolhas, a palavra também surge com ponto de partida. Está sempre lá. Não poderia ser diferente no processo de composição que move os experimentos da dupla.

“Seria o máximo encontrar uma senhora com uma fórmula para escrever música. Porque não existe uma”, avalia Hince. “Claro que, com o passar dos anos, desenvolvemos esse tipo de processo que tende a evoluir. Mesmo assim, ainda não é algo que possa ser levado como regra. Eu tenho o meu quartinho, a Alisson tem o dela também sempre pronto e assim passamos muito tempo fazendo jams. Eu vou lá e faço as minhas coisas, ela vai no seu espaço e faz as suas coisas. Vamos por horas e horas. Até que entramos juntos na mesma sala de estúdio e partimos para essas jams gigantescas.”

Até mesmo de influências externas o duo prefere se ver livre, confessa o guitarrista.

“Isso é bem interessante, na verdade. Quando estamos em estúdio não ouvimos mesmo outras ban-das. Não temos influências de outras pessoas. A Alison geralmente vem com um monte de ideias, a maioria delas inacabadas. E é dali que eu venho na maioria das vezes. Porque eu sempre tenho essa visão do que que-ro fazer, mas não consigo sempre chegar lá por conta própria. Agora, é engraçado isso, a gente realmente nunca ouve outras coisas para buscar inspiração.”

Poucos meses depois de ter finalizado as gravações de Blood Pressures, Jamie subiu ao altar para trocar alianças com a top Kate Moss+5. Ele não gosta de tocar no assunto. Alison, muito menos. No entanto, ambos concordam que o Kills mantém uma relação estreita com o mundo da moda. “Começamos por ali”, lembra a vocalista.

“Eu sempre lembro de 2004, com o nosso primeiro álbum. Ninguém queria escrever sobre a gente, mas várias revistas de moda, revistas cult, revistas indie, todos eles adoravam o álbum. E de repente estávamos tocando em festas para algumas

[+5] Durante o casamento, revistas gringas juram que Alison, a “padrinha” de Hince, deu um discurso paternalista que constrangeou os convidados e levou o irmão de Kate a tirar o microfone da tomada

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grifes, sabe? As pessoas apareciam lá para ver a gente. De qualquer maneira, não penso que a moda é parte da nossa música. Não é para onde projetamos a nossa carreira. É como se fosse uma amizade.”

Se não serve de guia na hora de conduzir os movimentos da banda, Alison insinua que é, pelo me-nos, uma boa saída para sobreviver ao ainda mutante e tempestuoso cenário musical dos anos 00.

“É um momento muito delicado na música. A indústria mudou muito. Grandes gravadoras elegem cada vez menos artistas para trabalhar, então tudo o que você faz pra manter a banda passa a ser um pro-blema exclusivo da banda e não mais do selo. Assim, temos que encontrar o nosso meio de ganhar dinhei-ro para criar coisas que são melhores e vão além.”

Jamie vai pelo mesmo caminho, diz que quando eles falam em tocar para grandes grifes, falam também em fazer negócio. “Não podemos ser cínicos. Viver de música é uma tarefa difícil. Gravar um clipe pode custar 3 mil dólares”, acrescenta. “As pessoas querem nos ver na América do Sul e querem um vídeo lindo sobre a viagem. E isso não se paga. Fazer discos não dá dinheiro. E coisas como tocar em festas de grandes grifes nos ajudam a sobreviver, sabe? Eu não tenho problemas com isso.”

Segundo Alison, o verdadeiro fundamento que direciona o trabalho da banda é a estética. O que pode dar a impressão errada ao observar o The Kills a alguns quilômetros de distância.

“O estilo é uma grande parte da banda. É sim

parte da nossa música. Nós realmente nos importa-mos com a cara do Kills, com a arte do álbum, com as fotografias, com a maneira com que vamos nos apre-sentar para o mundo. São vários aspectos que fazem parte de um estilo, não da moda necessariamente.”

Acima de tudo, de qualquer rótulo, definição ou prateleira na qual tentem encaixar Alison Mosshart e Jamie Hince, a música transparece como a mais pura razão de eles fazerem o que fazem. É claro que o universo The Kills gira em torno de outras paixões, seja ela moda, fotografia, arte ou Kate Moss. No entanto, em todas elas a música está como o centro de convergência de todas as forças. É a partir dela que está traçado o passado, presente e o futuro da banda. Embora Jamie admita que o horizonte perfeito seria aquele em que a música brilhasse lado a lado com outras formas de arte. E de preferência com mais algu-mas pessoas para dar uma mãozinha aos dois.

“Eu nunca quis estar em uma banda por um motivo específico que não fazer música. Nunca quis ter um manifesto. O que nós queremos mesmo é continuar fazendo o que fazemos: música. E fazer tudo do nosso jeito. Mas eu gostaria de expandir, explorar mais, partir para novas ideias, encontrar o tempo para que a gente possa tocar com mais pessoas. Eu sonho em construir uma cena, englobando não apenas mú-sica, mas ultrapassando isso. Ter músicos mas também cineastas, artistas, fotógrafos, sabe? Criar todo um movimento, uma verdadeira cena artística.”

THE KILLS

“Nós nunca quisemos nos colocar em uma cena, ser isso ou aquilo. Nós estamos ape-nas tentando fazer álbuns que a gente quer fazer, música que a gente quer fazer.”Jamie Hince

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Fred foi amigo de Chico Science e trabalhou com Jorge Du Peixe. De ambos, foi parceiro no som. Junto com a sua banda, o Mundo Livre S/A, coleciona cinco discos – o sexto, As Novas Lendas da Etnia Toshi Babaa, levou três estrelas na página 70 desta mesma edição da Noize. Chega às lojas em meados deste mês. Acom-panhado de um cavaquinho, que envolve com graça a guitarra pesada, Zero Quatro faz um som impossível de ser definido em uma palavra. E faz do Mundo Livre um road movie musicado que expõe as veias do Brasil. Com sotaque carregado, sim. Mas bem mais que isso.

Em uma tarde mais pra quente que pra fria encontramos com Fred em um bar cheio de santos cató-licos e cachaça. Cansaço, família, indústria, o esquema e música, claro. Ele falou. O hype é rápido demaisTodo mundo quer se parecer com todo mundo, é uma coisa.... não sei. A velocidade com que o hype celebra e descarta e como isso é reproduzido pelos consumidores dessa geração mais nova... Hoje, tenho certeza que alguma música dessa aí [do novo CD] vai frequentar durante alguns segundos o iPod de alguém porque uma rede social compartilhou e nego vai ouvir uma vez e vai descartar, saca? O que eu

acho perverso. E lógico que a indústria tem seus la-dos perversos também, mas o que acho perverso na cadeia musical de hoje é a dificuldade pra um artista novo fidelizar o público. Porque se hoje um iPod tem 8 giga, mês que vem tem 16 e ele não vai comprar um negócio de 16 gigas pra não ocupar. Então ele baixa 2000 músicas por semana. Como é que ele vai virar fã de alguém? Acho muito complicado isso aí.

A indústria nunca foi santa. E dai?Por mais que ela tivesse práticas perversas, preda-tórias, excludentes em muitos aspectos - não tinha nenhum santinho ali –, era um caminho. Pra uma cidade como Recife, longe de tudo e que não tem uma economia forte, com artistas que as rádios boicotam, a indústria tinha um papel fundamental na cadeia da história. Porque uma cadeia produtiva - qualquer técnico do Sebrae vai te dizer isso –, de qualquer tipo de produto, setor econômico, precisa de interdependência. Elos. Cada elo dependendo do outro. Aí você, por exemplo, tira a gravadora e acha que com isso não vai afetar em nada. Mas, de certa forma, você acabou tirando o mais forte, o que mais injetava recurso. E agora? Quando a gente começou, velho, era só avisar que tinha trabalho pronto e vinha

FRED 04 / MUNDO LIVRE S.A.

com vinte e poucos anos, fred Zero Quatro escreveu os fundamentos do que viria a ser o Mangue Beat. em 1992, escreveu “caranguejos com cérebro”, o primeiro manifesto do Mangue. o movimento deu a recife o título de centro musical do país , referência que a cidade carrega até hoje.

“O mundO insiste em se repetir de maneira tediOsa”

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“Então ele baixa 2000 músicas por semana. Como é que ele vai virar fã de alguém?”

[+1] Cordel do Fogo Encantado foi um

grupo pernambucano que ficou na ativa de

1999 a 2010.

[+2] A Associação Brasileira de Festivais

Independentes foi criada em 2005 e

reúne 32 eventos do gênero.

[+3] “Ela é meu treino de futebol /Ela é meu domingão de sol / Ela

é meu esquema...”

[+4] Por Pouco é o quarto álbum do

Mundo Livre, lançado em 2000 pela Abril

Music

gente querendo bancar, levar pra festival, trabalhar aquilo. Claro que não era de graça. Tinha um preço. E aí era uma coisa de aceitar ou não. Dava pra dizer não, dava pra negociar. E não tô defendendo a indús-tria, não me entenda mal. Tô dizendo que a cadeia produtiva da música perdeu um elo e precisa achar um jeito de consertar.

O caminho é adaptável Eu nunca viajei com oito guitarras como o Herbert Vianna viajava. A gente viajava e era uma estrutura pequena, entendeu? Mesmo quando a gente foi tocar no Lincoln Center em NY, foi sem roadie. Hoje em dia, tem muita banda que não topa uma turnê pela Europa, porque pra manter não sei quantos técnicos, não sei quantos roadies, você tem que ter show toda noite. Pra manter day off dessa galera toda, não com-pensa. E a gente não, a gente viaja numa estrutura bem... sempre foi assim. A gente tem uma banda de estrada, que se adapta a essa galera dos coletivos, das casas. Mas a gente chegou a frequentar um pouco a margem da indústria, no sentido de que teve clipe do Mundo Livre no primeiro lugar na MTV. Então assim, a gente teve essa visibilidade que a indústria proporcionou - mesmo de forma marginal -, mas se adapta a esse contexto de estrada de hoje. Acho que tem muita banda que tá com dificuldade de se manter no padrão que tinha na época da indústria porque não consegue.

E Recife, como é que tá?Não sei o que dizer, velho. Sinceramente. Eu tenho

dois filhos hoje, viajo muito. Não tenho como estar lá nas bocadas descobrindo as coisas. Tem gente que você diria que cinco anos atrás era uma aposta e hoje a banda não existe mais. O Cordel+1 acabou. Lirinha tá em carreira solo, lançou [disco] pra download. Alguém sabe o nome de alguma música do disco novo de Lirinha? Eu mesmo não sei. As coisas se perdem na nuvem da internet. Então se você não tá bancando uma grana com assessoria de imprensa, que é caro, pra plantar uma coisinha aqui, outra ali. É o elo que tá faltando. Que é o que? A indústria.

$$$Agora, nego da diretoria do Fora Do Eixo e da Abrafin+2 tá até defendendo que não tenha mais nem cachê nos shows deles. A banda tem que ir lá pela divulgação. E olha que a Fora Do Eixo é bancada pelo Ministério da Cultura, Petrobrás e pá pá pá. Tem apoios internos e tal. E quer cobrar bilheteria e o músico não ganhar cachê.

O meu esquemaVoce vê [nos shows] muito moleque que tá desco-brindo [a banda] por conta de redes sociais. Só “Meu Esquema” acho que tem uns 30 clipes genéricos. E é engraçado, porque “Meu Esquema”+3 não tem clipe oficial. A música que a Abril (Music) apostou na época [do lançamento de Por Pouco+4] foi “Melô das Musas”, mas por conta de um programa da MTV ela acabou sendo mais tocada. Mas não teve clipe porque não tinha mais orçamento pra clipe. Aí, na internet, tem um monte desses álbuns que nego faz

noize.com.br060\\

“E não tô defendendo a indústria, não me entenda mal. Tô dizendo que a cadeia produtiva da música

perdeu um elo e precisa achar um jeito de consertar.”

pra namorada, pra filha, não sei o que. Aí assim, é uma galera que hoje é quem sustenta, é o público da gente que vai nos shows. Tem música desse disco novo, “Ela é Indie”, que já tá com clipe genérico no YouTube.

Jabá tem. Mas acabou. O Mundo Livre é um dos mais favorecidos pela morte do jabá. Então músicas como “Melô das Mu-sas”, “Bolo de Ameixa” e outras que na época toca-vam na MTV ficavam ali, rádio não tocava. Porque as rádios eram praticamente controle rígido e ferrenho das verbas de jabá das gravadoras, não sobrava espa-ço pro alternativo nas redes de rádio. Hoje tem uma Oi FM da vida, tem em São Paulo uma Mitsubishi FM, no Rio tem uma Nova MPB. Ceará tinha Oi FM também. Jabá tá quase em extinção. Porque o jabá existe a nível internacional, então uma Jovem Pan, se Beyoncé for lançar um single, já tá garantido antes a nível mundial. Mas o jabá nacional, que dominava as rádios, já não rola mais. Principalmente no nordeste, onde todo mundo que vivia disso se fodeu. Então assim, isso favorece a que? Minha arrecadação de direito autoral e execução em rádio bombou de uns anos pra cá. Não tô rico. Mas assim, aumentou 1000% porque o jabá deixou de dominar nas rádios.

A revolução não mais será televisionada Tem um autor lá de Recife, acho que hoje mora no Rio, que é campeão de emplacar música de novela. Dudu Falcão. Quase toda novela tem uma música que é composição dele. Já teve período de eu acom-

panhar umas que todo brasileiro acompanhava, mas a importância da TV hoje em dia é cada vez menor. Isso é comprovado no Ibope. A Globo de ano a ano tá perdendo, perdendo e perdendo Ibope. Então assim, a influência de uma trilha de novela hoje em dia já não é a mesma de um tempo atrás. A internet tem esse outro efeito, que é o de cada vez relativizar mais ainda essa história do hit. Porque antigamente o que acontecia? A música entrava na novela, aí no outro dia a gravadora já armava um esquema pra entrar numa rede Jovem Pan da vida, numa Transa-mérica e aí o cara já era convidado pro Faustão, aí já dava entrevista no jornal. Pra voce dizer que é um hit de verdade, tem que ser uma coisa combinada. Se eu perguntar a um bombeiro de posto de gasolina, lá em Recife, quem é Karina+5, ele não vai saber. Nem vai saber o fato dela ter entrado na trilha de uma novela popular. As pessoas podem até “ah, já ouvi essa música, é da novela”, mas não vão associar.

Filho de peixe, peixinho não precisa ser Há uns cinco anos, quando Caio, meu filho mais velho, tinha uns quatro anos, eu levava ele pra passa-gem de som. Aí fiquei encantado quando ele tocou bateria pela primeira vez. “Pô, vou incentivar esse fera. Esse maluco tem jeito”. Tava motivado, ia ser lindo ver meu filho aprender a tocar. Hoje em dia, cara, neca de escola de música porra nenhuma. Se ele quiser insistir, eu não vou reprimir, mas dizer que eu vou incentivar uma carreira de música pro meu filho? Jamais, velho. Virou aquela coisa como aquele livro do Andrew Keen, O Culto Do Amador.+6

[+5] Cordel Encantado, a última novela das seis da Globo, tinha na trilha “Tum Tum Tum”, da Karina Buhr.

[+6] Lançado em 2009 no Brasil, o livro acusa a internet de promover a ditadura da ignorância.

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A história da música é cheia de grandes mistérios, pequenos abismos e silenciosos encantos coletivos.

O album Paradiso, lançado em 1997 por Ronaldo Bastos+1 e Celso Fonseca+2, é um exemplo disso.

Durante muitos anos foi referência para grandes vozes da MPB. Nos estúdios e nos bares da vida,

era comum que os técnicos de som ouvissem “Quero um som meio Paradiso”. Acontece que, na hora

das citações de referência, outras coisas eram ditas. Talvez porque ninguém abre o coração para um

gravador. Ou porque nem todo mundo gosta de compartilhar comoções, lágrimas e beleza.

Fato é que Paradiso virou um segredo guardado dentro de uma caixa. Até agora. Porque Ronaldo

Bastos e o produtor Leo Pereda decidiram que, de novo, era o tempo da delicadeza. Chamaram

Adriana Calcanhoto, Luiz Melodia, Marcos Valle, Milton Nascimento, Nana Caymmi, Paulo Miklos,

Sandra de Sá e mais bem mais gente da fina flor da música brasileira. Andaram por Berlim.+3 Ab-

sorveram boemia, dias profundamente azuis. Ouviram de novo viejas violas. E veio Liebe Paradiso+4.

Que apesar de ter 10 das 12 canções vindas do álbum original não é uma regravação, pois cada

palavra, cada tom sofreu uma profunda reformulação estética. Porque todo futuro é feito de passado.

Mas não muito. Entendeu?+5

[+1] Ronaldo Bastos é compositor de quase todos os grandes hits da MPB. Sabe aquela música que você cantarola sem perceber? Deve ser dele. Foi parceiro de Tom Jobim, Caetano Veloso, Milton Nascimento e otras personas más.

[+2] Celso Fonseca já gravou (como produtor, instrumentista ou diretor musical ) com artistas como Gal Costa, João Bosco, Elza Soares, Chico Buarque, Ney Matogrosso, Maria Bethânia e mais. Bem mais. Foi sócio de Gilberto Gil no selo Geléia Geral.

[+3] Liebe, em alemão, quer dizer amor.

[+4] Liebe Paradiso foi lançado pelo selo Dubas

[+5] Depoimentos de quem já ouviu. Clipes e história. Aqui. https://www.facebook.com/liebeparadiso

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Grandes ícones do pop tem suas biografias publicadas ainda em vida. Steve Jobs não era artixxxta [sic], mas era popstar e, infelizmente, não conseguiu esperar para ver a sua pronta. O livro tem uma série de 40 entrevistas com o fundador da marca da maçã, traz a tona coi-sas que ninguém (supostamente) sabia. Steve Jobs por Walter Isaacson | Quanto: A partir de 49,90Onde: saraiva.com.br ou livraria da sua pre-ferência.de estudante.

Além de causar dores estratosféricas para quem pisa numa peça, Lego ainda pode servir para eternizar clássicos. Se você quiser carregar o lado negro da força no bolso invista neste esse chaveiro do Darth Vader. Chaveiro Lego Darth Vader | Quanto: R$ 34,90 Onde? segredodovitorio.com

A história como a conhecemos hoje tem vários pontos de vista. Mas, e como seria se eventos históricos tivessem seus status postados no Facebook? The History of the World According to Facebook é um livro que traz uma série de fatos históricos con-tados sobre o ponto de vista do usuário comum da rede social. The History of The World According to Facebook | Quanto: U$9.90 +freteOnde: amazon.com

Já virou tradição as garrafas especiais de Absolut. A nova é inspirada nas listras da Savile Row, a casa de alfaiataria mais tradicional de Londres. Edição VIP com apenas 700 garrafas. Dá pra beber e de-pois encher d’água. Absolut Pinstripe Crystal | Quanto? U$1.500,00 Onde? na terra da rainha

Sábado à tarde. Uma praça, música ao vivo, cangas na grama. Amigos, comidi-nhas, bebidinhas. É hora de desacelerar do estress da cidade. Em São Paulo, nasceu o Slow Movie, que reúne um povo nos parques e praças para viver a cidade. Uma banda toca durante a tarde e logo ao anoitecer um filme passa na tela. Slow Movie | Quanto: Grátis Onde: Em slowmovie.com.br

Era para ser mais um modelo de tênis lançado pela Nike. Caiu nas graças de um time de fashionistas e virou hit. Entrou pra ala das modas da empresa e ganhou edição especial. Nos dias de hoje até um par de sneakers pode se tornar pop star. Corra atrás do seu. Nike SB Zoom Stefan Janoski | Quanto? U$75 Onde? Premier Store - www.thepremiersto-re.com / entrega no Brasil.

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Quando Karina Buhr surgiu com Eu Menti Pra Você, já era a verve de suas palavras que se destacava. Em Longe de

Onde, a palavra ainda se mantém central na sua música. Neste disco, porém, as cancões se adequam melhor a essa verve, tão diferente da covardia musical que acomete nossas cantoras. Ainda que se mantenha distante de algo memorável, Longe de Onde é um disco que se pode facilmente bendizer no atual cenário brasileiro. Mesmo assim, é mesmo nas palavras que a cantora se mostra mais interessante. Karina subverte várias ve-zes temas fofos como o amor, além de não temer outros ainda mais incômodos. E é nesses momentos - sem medo da feiura, da morte, do asco - que Karina se mostra mais original e útil à música brasileira. Matheus Vinhal

Branquelo e com cara de nerd, Mayer Hawthorne é a prova viva de que as aparências enganam. Cantor, produtor,

DJ e mais uma pá de coisas, o norte-americano poderia muito bem se passar por um artista negro de soul dos bons tempos da Motown. Se as referências ao melhor da black music já eram claras em A Strange Arrangement, estão ainda mais fortes no se-gundo disco. How Do You Do é puro suingue, com faixas perfei-tas para qualquer festa (“A Long Time”, “The Walk”, “You Cal-led Me”) e melodias belíssimas (“Finally Falling” e Can’t Stop”, com a participação do onipresente Snoop Dogg). A música de Hawthorne pode não ser lá muito inovadora, mas é feita com tanta paixão que é praticamente impossível não viciar-se nela.Ouça já. Daniel Sanes

A musa indie volta a arregaçar as man-gas, desta vez com um claro objetivo: evitar um disco de singles. Quem estiver

atrás de uma “1234”, melhor desistir. Metals será lembrado como o seu álbum soft, aquele em que Leslie Feist decidiu optar pelo sussurro. Nas prateleiras de CDs, poderia ser clas-sificado como “pop preto e branco”. A brisa de verão “Cicadas and Gulls” lembra um Iron and Wine de saia: acústica, descom-plicada, linda. “Graveyard” é obra-prima: começa soturna e vai se desmilinguindo, até ressurgir com naipe de metais, refrão explosivo e as backing vocals entoando “traga todos de volta à vida”. É a única faixa que destoa em um trabalho que é uma ode ao minimalismo. Exigente, mas recompensador. Deixe-se levar. Fernando Halal

A estreia fogo de palha do Beady Eye deve ter estampado um largo sorriso em Noel: era chegada a hora de provar

ao mundo quem é o Gallagher f...dão nessa história. Com-positor de inegável talento, o eterno arquiinimigo do brother Liam não decepciona. Flying Birds é um desses discos de bem com a vida, e a sequência natural para Dig Out Your Soul (2008), álbum derradeiro do Oasis. As melodias envolventes e as letras amarguradas estão todas lá – a diferença é que os solos de guitarra feitos para estádios cederam espaço ao intimismo folk dos pubs. São tantas canções espetaculares (“If I Had a Gun” nasceu clássica) que dá para imaginar seus ex-companheiros se contorcendo de inveja. A vida segue, afinal. E o placar está em Noel 1 a 0. Fernando Halal

Ousadia. Este é provavelmente o único elo entre Lou Reed e Metallica, já que musical-mente são como água e vinho - ou pior, água e óleo. É por isso que o anúncio da parceria soou estranho. E é por isso, obviamente, que Lulu soa estranho. Com faixas longas e divididas em dois discos, o projeto consiste em uma espécie de metal vanguardista em que o ex-líder do Velvet Underground despeja letras fortes e faladas sobre uma base ora eficiente, ora monótona. São necessárias muitas e pacientes audições para que a coisa se torne ao menos palatável. O fato é que o álbum só deve ganhar alguma atenção de quem entender inglês, para assim sacar a história de Lulu, inspirado em peça do alemão Frank Wedekind. Há alguns (quase) acertos, como “Cheat on Me” e “Iced Honey”. No geral, porém, sobra ousadia e falta inspiração. Daniel Sanes

Lulu

KARINA BuHR

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How Do You DoMetals

Noel Gallagher & The High Flying BirdsLonge de Onde

lOu REED & METAllIcA

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FAcElIFT| Um dos mais famosos grupos a consagrar o chamado som de Seattle, o Alice in Chains tinha na verdade uma sonoridade mais próxima do heavy metal do que do punk. Mas era um peso arrastado, que neste álbum de estreia, de 1990, não mostra nenhum resquício do glam rock que o grupo tocava três anos antes. Depressivas, as composições, quase todas de autoria do guitarrista Jerry Cantrell, caíram como uma luva na voz de Layne Staley, um junkie de carteirinha. O trio de abertura (“We Die Young”, “Sea of Sorrow” e o hit “Man in the Box”) levou Facelift a se tornar o primeiro álbum grunge no top 50 dos EUA.

DIRT| Se o sucesso já havia sido enorme com Facelift, em Dirt, lançado em 1992, tomou proporções gigantescas. A essa altura, o grunge estava no topo - com Nirvana, Pearl Jam e Soundgarden colhendo os louros de seus álbuns mais bem-sucedidos. Com o Alice in Chains não foi diferente. Mesmo passando por maus bocados devido ao vício em heroína, musicalmente Staley estava em um grande momento. E destilava toda sua dor em canções fortes como “Angry Chair”, “Rooster”, “Down in a Hole” e “Would?” (que entrou no álbum após a ótima recepção da trilha sonora de Vida de Solteiro, de Cameron Crowe). Ouça no volume máximo.

AlIcE IN cHAINs | Em 1995, Kurt Cobain já havia se suicidado, o Pearl Jam andava recluso e o Soundgarden estava perto do fim. Em meio a tudo isso, o Alice in Chains lançou seu derradeiro disco com Staley. As letras, cada vez mais depressivas, pareciam profetizar o trágico fim do vocalista, que acabou morrendo de overdose em 2002. “Heaven Beside You” e “Grind” foram alguns dos destaques do álbum, que também é conhecido como “Tripod” por causa de sua bizarra capa - a imagem de um cão com três pernas. Em 2009, a banda surpreendeu ao lançar um disco novo, o bom Black Gives Way to Blue, com William DuVall nos vocais.

por Daniel Sanes

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Além das características já intrínsecas ao Mundo Livre S/A (a filiação quase direta de Fred 04 à Jorge Ben, o uso de

elementos eletrônicos em serena harmonia, a fácil transição entre gêneros estrangeiros e nacionais), há algo muito especial em As Novas Lendas...: o reconhecimento de que o Mundo Livre já é um clássico da nossa música. Isso se mostra de várias formas - no direcionamento das letras, no desenvolvimento das músicas, na maneira com que Fred canta. Demonstra a maturi-dade de um grupo seguro de si, consciente da sua importância. É surpreendente perceber que a banda pertence a uma gera-ção passada e, ainda assim, continua a ser relevante. Como um Stephen Malkmus – citado nominalmente no disco – da música brasileira. Matheus Vinhal

MuNDO lIVRE s/A As Novas Lendas da Etnia Toshi Babaa

Bjork é uma das artistas mais originais e interessantes dos últimos trinta anos. Dito isso, o fato de que Biophillia foi

precedido de longas introduções conceituais diz muito sobre sua pretensão e preciosismo. É claro que é pacote muito bem amarrado - suas belas capas de discos e videoclipes têm o mesmo peso de um aplicativo para iPad e a criação de um complexo instrumento de cordas. Mas é complicado absorver a cada vez mais peculiar voz da outrora simpática esquimó, agora cantando sobre plantas e minerais. Biophilia, seu oitavo álbum solo, é o trabalho mais completo da fase madura da cantora - embora impenetrável sem uma aguda dose de paciência. Gaía Passarelli

BJORKBiophillia

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É estranho. Falam em um revival dos anos 1990 – década que já mastigava muita coisa de outros tempos. Mas o perigo de tê-la como referência é acabar numa relação superficial com a própria história da música. Liderado pelo talentoso Sean O’ Hagan, o High Llamas escancara que nada começou ali. De Tom Zé a Todd Rundgren, as influên-

cias estão às claras, nomeadas. Gideon Gaye, o segundo disco, é aquele que mais destaca a importância dos Beach Boys para a construção da sonoridade etérea do grupo. Canções como “The Dutchman”, “Giddy and Gay” e “The Goat Looks On” parecem sobras do Sunflower, o que não é pouca coisa. No fim, a lição do High Llamas é talvez a única daquela década que devemos lembrar com carinho: vá direto à fonte.

REDESCOBERTA

.: Amy Winehouse:. | Lioness: Hidden TreasuresÉ um álbum póstumo. São covers, gravações inéditas feitas entre 2002 e 2008 e diferentes versões de músicas já consagradas na voz de Amy. Tem até a inglesinha cantando “The Girl From Ipa-nema”, clássico da bossa nova escrito pela dupla Jobim e Vinicius. A seleção das tracks vem assinada por Mark Ronson e Salaam Remi, os produtores por trás do sucesso de ww. No Reino Unido, uma libra de cada cópia vendida vai direto para os cofres da Amy Winehouse Foundation, instuição criada pelo pai Mitch logo após a morte da cantora.

Stephen Makmus & The Jicks Mirror Traffic ___Há quem prefi-ra Malkmus solo ao próprio Pavement. Perfeitamente compreensível. E o novo Mirror Traffic vem reforçar essa ideia. Eis um disco de rock quase per-feito, com punch e inteligência, sujeira e lirismo, sob a batuta do produtor Beck. Longa vida a um dos heróis maiúsculos do indie 90’s.

Nevilton De Verdade ___ Depois de alguns EPs, demos, singles e mais um punhado de coisas, o Nevilton final-mente lança seu primeiro disco. São quatorze faixas. A mixagem é de Tomás Magno (O Rappa, Raimundos). É pop, é rock, é indie. É uma bela estreia.

Death in VegasTrans-Love Energies___Após sete anos em silêncio, o Death in Vegas volta na pele do DJ e produtor Richard Fearless. E assim faz um álbum psicodélico, dark, pop e repleto de boas atmosferas. Como diz a BBC, “um bom retorno de uma banda que trilha uma fantástica viagem ao invés de uma simples carreira”.

CONFIRA

TÁ POR VIR

Todo mundo está de volta, então por que não o Jane’s Addiction? É difícil dizer se a banda está ou não num come-

back de verdade, já que grupo de Perry Farrel e Dave Navarro já ensaiou alguns retornos - o que pode, de certa forma, signifi-car que eles nunca pararam de verdade. Tirando a empolgação comercial oferecida pelas efemérides de 1991, o que justifica o Jane’s entrar em estúdio para gravar novas músicas? Ouvindo o álbum lançado esse ano, é difícil dizer. Não faz feio, mas é apenas ok, considerando que dupla fez dois grandes álbuns (em 1998 e 1990) e seguiu por carreiras solo respeitáveis. A verda-de mesmo é que o Jane’s Addiction perdeu a chance de lançar um grande disco há algumas décadas. Gaía Passarelli

JANE’s ADDIcTIONTHE HIGH llAMAs GiDeon GAye

In The Grace... soa fresco. Cada faixa tem um sabor particular. A colossal “Sail Away” e a soturna “Miss You”

compõem a apetitosa dobradinha de entrada. “Come Back To Me” possui a construção contrastante – a primeira parte com um sampler que lembra um acordeon, a outra com sintetizadores. O refrão da funkeada “Never Gonna Die Again” é surpreendentemente legal, pode apostar – imagine o Jamiroquai sem toda aquela bunda-molice. “Roller Coaster”, doidona, com incessante batida, remete a qualquer boa canção do Of Montreal. As músicas finais tencionam para o electro/house, mas nunca ao pasteurizado. “It Takes A Time To Be A Man”, arrastada, encerra o prato com um delicado piano unido a coros de vocalizações. Um banquete pungente. Gaía Passarelli

THE RAPTuRE

The Great Escape Artist

In The Grace Of Your Love

Alguém ainda aguenta o Coldplay? O próprio Chris Martin – vocalista epersonificação do termo “coxinha”–

afirmou que este seria o último álbum deles. Derradeiro ou não, para escapar da lassidão e esgotamento artístico, Mylo Xyloto faz a banda voltar em busca de apoio na figura mítica de Brian Eno. O toque de Eno é claro: muitas ambientações ele-trônicas, por vezes excessivas, poluentes. “Hurts Like Heaven”, a canção de abertura, é ótima e pop. Porém, na sua estrofe, vaticina o que virá a seguir: “It’s so cold/ So cold”. O single “Pa-radise”, caprichoso e simpático, virou clipe fofo, e já traz o coro da plateia embutido no refrão. Mas e “Princess Of China” com Rihanna? Vergonha-alheia do set. Se pretendiam rejuvenescer, falharam. Alguém? Nicolas Gambin

cOlDPlAY Mylo Xyloto

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A PELE QUE HABITODificilmente alguém odeia Pedro Almodóvar. Talvez sejam suas cores (sem referências a Adriana Calcanhoto, por favor), talvez suas histórias. Talvez seja a junção de tudo. Não se sabe o motivo exato, mas o diretor espanhol é sempre muito democrático em seus filmes. A Pele que Habito não é diferente. O filme conta a história de Dr. Robert Ledgard, um cirurgião plástico interpretado por Antonio Banderas, cuja mulher morre queimada em um acidente de carro. A partir daí, Ledgard começa a trabalhar incessantemente na criação de uma pele indestrutível, no intuito de aprimorar o “ponto fraco” que matou a sua mulher. Baseado no livro Tarântula, do escritor francês Thierry Jonquet (1954-2009), a película ainda traz no elenco Elena Anaya (Vera Cruz), Marisa Paredes (Marília), Jan Cornet (Vicente) e Bianca Suárez (Norma Ledgard).Trabalhando entre o noir, o terror e até pela ficção científica, o diretor consegue levar novamente às telas o fascínio e o suspense almodovariano de sempre. Muitos têm gostado. Mas, dessa vez, muitos também odiaram. Tire suas próprias conclusões.

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3. suRREAlIsMO

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5. BIGODE

1. AlMODÓVAR 6. FRIDA KAHlO

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Pedro Almodóvar é um dos maio-res diretores do cinema atual. Autor de clássicos como Carne Trêmula, Tudo Sobre Minha Mãe e Volver, foi o primei-ro espanhol a concorrer ao Oscar de Melhor Diretor. É considerado um dos maiores cineastas espânicos, jun-to com Luis Buñuel.

2. BuÑuElBuñuel é um diretor espanhol natu-ralizado mexicano, que sofreu forte influência do surrealismo de Salvador Dalí. Entre as suas obras mais conhe-cidas está o clássico experimental surrealista O Cão Andaluz.

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O surrealismo é um movimento artístico-literário que nasceu em Paris, nos anos 20. As características do estilo são o abstratismo, o irreal e o incons-ciente. A Persistência da Memória, de Dalí, é o maior exemplo de obra deste gênero.

Salvador Dalí foi um dos mais importantes pin-tores surrealistas da história. Tinha um nome enor-me (também atendia por Salvador Domingo Felipe Jacinto Dali i Domènech, 1º Marquês de Dalí de Púbol) e, apesar de toda a sua obra, muita gente só lembra dele por causa do bigode.

Em 2002, Frida Kahlo teve sua vida retratada no cinema. Quem interpretou a pintora mexicana foi Salma Hayek – que teve que raspar o buço de gilette. Talvez pelo sotaque latino, é muito recor-rente a parceria entre Salma e Antonio Banderas. A moça e o queridinho de Almodóvar já for-maram um casal nas telonas mais de cinco vezes.

Bigode é o conjunto de pelos faciais localiza-dos entre o nariz e o lábio superior. É comum ele ser preservado junto ou não de uma barba. Entre os seus adeptos mais famosos estão Fre-ddie Mercury, Belchior e Frida Kahlo.

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fotos: 1| Richie Wireman 2| Elson Sempé

The Ryman, Nashville, EuA – 01 e 02/10_Thiago Piccoli é fã de carteirinha do Wilco. Foi atrás de Jeff Tweedy e cia pra ver de perto a tour de The Whole Love, novo disco dos caras. E nos conta como foi. Quer dizer que foi aos EUA só pra ver os dois shows? Vi três show. Quando anunciaram a nova turnê, sentei pra comprar ingresso e apenas uma cidade NãO estava sold out. Era Raleigh. Não tive escolha, apelei pro jeitinho brasileiro: em Raleigh, bêbado, enchi o saco de um cara da produção da banda e ele conseguiu ingresso pra ver duas noites em Nashville, TN, três dias depois. Foi ver-gonhoso. Mas azar. Realizei um sonho. E você ainda conseguiu ver a passagem de som dos caras... A passagem de som fez parte do pacote “enchendo-o-saco-do-bróder-da-produção”w. (risos) Sabe quando tu vê aquele DVD de bastidores com teus amigos e vocês gritam “baaaaaah, imagina estar ali??”. Pois é. Foram 40 minutos de olho aberto, afundado em lágrimas. O que mais chamou a atenção nos shows? O Jeff Tweedy não olha pro público. A conexão é 100% sentimen-tal. Nada é visual no show. Valeu a pena a viagem? Muito! Aprendi que Nashville é o centro do universo. E todo músico deveria passar uma semana lá. Quase voltei com um violão na bagagem.- Nota de 1 a 10? 9,5. Ao vivo, o Wilco é a segunda melhor banda de rock em atividade. Só perde pro Foo Fighters. Mas eles não tocaram “Via Chicago”. Fiquei de cara. (risos)

Bar Opinião, Porto Alegre, 11/10_“Sensacional. Melhor show nacional que eu já fui”, João Pigato. “Muito bom. Com certeza foi um show pra marcar a história de Porto Alegre. Só estava muito calor. Tinha que ter mais ar-condi-cionado aqui, porque é muita gente”, Samir Ferreira. “Show de altíssima qualidade. Eu até não sou muito fã da banda, vim por influência da minha namorada, mas o show é muito bom. Os caras conseguem levantar a galera”, Marcelo Bittencourt. “Faz tempo que estou distante da noite, mas tinha de vir. É a recor-dação de uma época, de uma maneira de ver a vida. Foi muito legal encontrar pessoas da mesma geração e com essa mesma visão de mundo”, Marcelo Lubaszewski. “Achei maravilhoso. Parte da minha juventude se passou nos anos 1980. Eu tinha o sonho de conhecer o Herbert, ele é um exemplo de superação”, Zíngara Lubaszewski, esposa do Marcelo. “O show me fez lembrar de minha adolescência”, Adriane Parraga. “O show tava divino. Acho a história do Herbert maravilhosa. O admiro. Sou fã”, Élen Mattos. “Foi emocionante quando o Herbert pe-diu um país mais humano e verdadeiro. Ficou marcado pra mim. E o Paralamas tem tudo a ver com a minha adolescência”, Fa-biani Portella. “A ideia de comemorar os 25 anos do Selvagem? é muito legal, melhor do que tocarem apenas os hits. E o show tava bom, embora muito cheio”, Luciana Merini e Priscilla Mörschbächer. “Eles misturaram coisas do Selvagem? com mú-sicas da atualidade. Achei surpreendente e inovador”, Cláudio Caetano. Jônatas Costa

WIlcOno day after

PARAlAMAs - 25 ANOs DE sElVAGEM?segundo os fanáticos de plantão

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fotos: 3|MRossi 4| Marcel Nascimento

Arena Anhembi, são Paulo, 30/10_1 - O show começa debaixo de uma fina chuva. Que engrossa, mas nem por isso tira o gás de quase 30 mil pes-soas. É um super palco com direito a passarela, que deixa Steven Tyler e Joe Perry mais perto do público. “Draw the Line” abre com vigor a apresentação. 2 - “Janie’s Got A Gun” levanta o tom de voz da multidão. Tyler abre um sorriso. “I fucking love you São Paulo” é a frase entre um refrão e outro. 3 - Alguém levou uma boneca inflável para o show. Steven olha e pergunta, “This is you girlfriend? Let me see this bitch.” Com agilidade ímpar aos 63 anos, alcança a boneca e faz poses ao lado dela. O povo cai em um coro único de gargalhadas. 4 - Pausa. Tyler e Perry deixam o palco. Vem um solo de bateria de Joey Kramer, enquanto o instrumento se move mecanicamente para frente. Tyler reaparece e os dois “divi-dem” a mesma bateria. Os tiozinhos ainda têm vitalidade e muita habilidade. 5 - Tudo o que pode, Tyler arremessa ao público. Baque-tas, a gaita de boca que tocou em “I Don´t Wanna Miss a Thing”, a toalha na qual se enxugou, revelando o roxo no rosto por baixo da maquiagem. A chuva lava a alma de todos. Com um repertório baseado em clássicos, o público brasileiro se esbaldou cantando a plenos pulmões. E o do-mingo sem Faustão e Fantástico foi bem mais feliz. Rafael Carvalho

studio sP, são Paulo, 20/10_Habitué do Baixo Augusta muito antes da região ganhar o apelido, a Zabomba fez um show especial para o lançamen-to de Vivendo de Truque, seu novo álbum. Convidou Ney Matogrosso. Da pista, o público soltou seus demônios. Do palco, o vocalista Rapha Z conta como foi. “Pra nós é mais do que um prazer imenso trabalhar com um artista do tamanho do Ney Matogrosso, um cara que representa muito para a cultura brasileira. E eu posso dizer com todas as palavras que esse foi o melhor show da nossa vida. Veio o nosso produtor gringo, veio o percussionista do Ney, que foi o cara responsável pela ponte entre nós... E o Ney por si só é um artista muito generoso. É um cara que catapulta o nível da apresentação pra uma coisa de outro mundo. Eu tô muito feliz. Rola uma responsabilidade muito grande em estar no palco com alguém do naipe do Ney. Não é brincadeira. Não dá pra vacilar. Foi a nossa primeira vez tocando juntos ao vivo, porque só existia a participação dele em uma faixa do nosso disco, mas foi tudo perfeito. A música é mágica por causa disso. E eu acabei de viver um momento tão intenso de mágica que tô extasiado. Mas um dia de cada vez. Vou aproveitar esse momento, antes que o dia amanheça e tudo volte a ser como era antes. A sorte vem uma só vez. Ainda bem que soubemos aproveitar quando ela bateu na nossa porta.” N.R.: O que mais se comentava pelo camarim pós-show era a felicidade com que Ney Matogrosso deixou a casa. Como se fosse novamente a sua “primeira vez”. Rafael Carvalho

AEROsMITHem 5 momentos

zABOMBA REcEBE NEY MATOGROssO do banheiro do show

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_O QUEACONTECEU

NO MÊS DEOUTUBRO

_Créditos

Rafa Rocha_Sepultura e Machine Head @ Porto Alegre

Ariel Martini_The Kills @ São Paulo

Felipe Neves_Cut Copy @ Porto Alegre

Rafa Rocha_Criolo @ Porto Alegre

__uM PROGRAMA DE RÁDIO QuE VIRA uM PROGRAMA DE TV| Pare-cia gincana. Em 60 dias eu deveria fazer 60 progra-mas com 60 músicos dife-rentes. E estes convidados deveriam aceitar fazer uma versão mais acústica de um som seu, já que as gravações aconteceriam em um estúdio de rádio, ou seja, sem espaço físico para uma banda completa. Ela deve ou não deve acei-tar? Deve levar a música brasileira feita hoje para um canal de TV aberta mesmo que isso signifique menos horas de sono, dias

ROBERTA MARTINEllIFALA SOBRE...

emendados e litros de café a mais? Siiiiiiiiiiiiiiiim, sem dúvida!         Depois da resposta positiva, em menos de uma semana eu já estava correndo. Porque o Cultura Livre, meu programa na Rádio Cultura Brasil, ganhou uma ver-são para a TV. Era preciso caprichar. Era preciso estar a altura da minha responsabilidade, da alegria e dos meus convidados. E aí teve aquele músico que me ligou no horário que deveria estar chegando no estúdio com o prefixo 021 (isso mesmo, Rio de Janeiro, e o estúdio é em São Paulo), “Acho que não vou conseguir chegar a tempo”. Acho? E o dia em que a pessoa veio sem instru-mento nenhum. “Ah, precisava? “ Lá fomos nós buscar. O bom foi que durante o caminho ele ainda encontrou ou-tro cantor que eu estava doida para trazer e ele apare-ceu por lá e fez sua participação. Teve o dia que eu fiquei doente, fora aquelas coisas terríveis que todo mundo imagina como clichê de televisão e que acontecem na vida real sim... Teve até matéria falsa em uma revista com uma história de tirar o sono, mas...         A parte boa é que tudo isso que parece um de-

sespero na hora, que me dói o estômago e – juro – quase tira o ar vira piada depois. Agora. Por-que quando a luzinha do estúdio acende o letreiro vermelho de “NO AR”, tudo fica leve, bonito e eu entendo o porquê de fa-zer isso todo dia. A impor-tância do Cultura Livre, da música e do radinho de pilha. De segunda à sexta, às 19h55 da noite, tô na TV Cultura. Aparece, vai.

Divulgação

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