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3 casos de reencarnação com registros antes da verificação

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Trs Novos Casos de Reencarnao no Sri Lanka com Registros Escritos Feitos Antes de Verificaes

Journal of Scientific Exploration. Vol.2, No. 2, pgs. 217- 238, 1988Pergamon Press pic. Printed in the USA.0892-3310/88 $3.00+.00 1989 Society for Scientific Exploration

Trs Novos Casos do Tipo Reencarnao no Sri Lanka Com Registros Escritos Feitos Antes das Verificaes

IAN STEVENSON

Departamento de Medicina Comportamental e Psiquiatria, Universidade de Virgnia,Charlottesville, VA 22908

e

GODWIN SAMARARATNE

Kandy, Sri Lanka

Resumo Trs novos casos no Sri Lanka de crianas que afirmam se lembrar de vidas passadas foram identificados antes de as declaraes feitas pelas mesmas crianas terem sido verificadas. Os autores fizeram um registro escrito do que foi dito por elas e posteriormente localizaram uma famlia que correspondia s declaraes das crianas. Embora nenhuma destas tenha dito o nome do falecido cuja vida pareciam se lembrar, todas forneceram detalhes que, reunidos, eram suficientemente especficos para identificar uma pessoa em particular como a nica pessoa que correspondia s afirmaes da criana. Cuidadosas investigaes sobre as possibilidades de comunicao normal de informaes de uma famlia para a outra antes de o caso se desenvolver no forneceram qualquer sinal de tal comunicao e faz parecer quase impossvel que isto possa ter ocorrido. Os dados escritos sobre exatamente aquilo que foi dito pela criana em relao vida pregressa faz com que seja possvel excluir distores de lembranas das declaraes da criana por parte dos informantes depois de as duas famlias referidas terem se encontrado. As crianas parecem ter demonstrado um conhecimento paranormal a respeito das pessoas falecidas que eram, anteriormente, completamente desconhecidas para as suas famlias.

Introduo

Crianas que afirmam recordar-se de vidas passadas podem ser encontradas com facilidade no sul da sia, em partes do oeste da sia, oeste da frica, e em algumas outras partes do mundo. Uma pesquisa feita com uma amostra aleatria da populao do norte da ndia mostrou uma incidncia de um de tais casos em 500 pessoas (Barker & Pasricha, 1979). Artigos e livros escritos anteriormente relataram 62 casos deste

Gostaramos de agradecer a Tissa Jayawardane por sua habilidade nas descobertas relativas a estes casos e por fazer investigaes preliminares sobre eles. H.S.S. Nissanka deu-nos informaes teis sobre desabamentos de terra na rea montanhosa do sul de Kandy, Sri Lanka. Susan Adams deu-nos igualmente til assistncia editorial. Correspondncias e pedidos de reedio devem ser enviados para Ian Stevenson, M. D., Caixa Postal 152, Centro de Cincias da Sade, Universidade de Virginia, Charlottesville, Virginia, 22908

tipo em detalhes (Stevenson, 1974, 1975, 1977, 1980, 1983). Alm disto, as caractersticas dos casos foram analisadas em comparaes com vrias culturas (Cook, Pasricha, Samararatne, U Win Maung, & Stevenson, 1983) e em comparaes de casos que ocorreram aps duas geraes (Pasricha & Stevenson, 1987). As pessoas que viveram estes casos frequentemente tm comportamentos, como fobias, filias, e brincadeiras, que so incomuns em sua famlia, mas que esto de acordo com os comportamentos conhecidos na pessoa falecida cuja vida a criana relembra, ou que seria plausvel que se atribusse a esta pessoa. Entretanto, tais condutas poderiam derivar da idia da criana de ter sido aquela pessoa. Por exemplo, uma fobia de facas seria apropriada para algum que acreditasse ter sido morto a facadas em uma vida anterior; a crena por si s no constitui evidncia de que esta pessoa teve uma vida que terminou de tal forma. Um sinal mais significativo pode, contudo, advir das declaraes da criana sobre a vida anterior, porm nem todas estas afirmaes podem ser qualificadas como satisfatrias. Para tanto, temos que saber no s se os relatos so corretos em relao aos fatos da vida de determinado indivduo; temos tambm de saber se a criana poderia ter obtido aquelas informaes por vias normais de comunicao. Estes so critrios difceis de satisfazer, devido a razes que explicaremos a seguir. Primeiramente, em grande nmero de casos a criana no faz declaraes suficientemente especficas para localizar algum falecido que corresponda a elas. (Chamamos esta pessoa de personalidade anterior do caso.) Esses casos no verificados (os quais chamamos casos no resolvidos) podem incluir lembranas de vidas anteriores reais, mas no h como saber, e tais lembranas podem ser somente fantasias. A incidncia de casos no resolvidos varia de um pas para outro e estes so particularmente comuns no Sri Lanka e entre casos no-tribais nos Estados Unidos. Em um segundo grande grupo de casos, a famlia do indivduo e a famlia da personalidade anterior se conheciam antes de o caso se desenvolver, e as informaes sobre esta personalidade podem ter chegado ao indivduo de forma comum. Resta ento um terceiro grande grupo de casos em que as duas famlias no se relacionavam nem se conheciam antes de o caso ocorrer. Alm disto, elas frequentemente vivem to longe talvez 50, 100 quilmetros ou mais de distncia uma da outra que (dadas as dificuldades de comunicao na sia) extremamente improvvel que a famlia do indivduo possa ter sabido alguma coisa por vias normais a respeito da famlia da personalidade anterior antes de o caso acontecer. Infelizmente, os investigadores de casos raramente descobrem algo sobre as famlias antes que estas tenham se encontrado. Se o indivduo que vive um caso como este d informaes sobre a personalidade anterior que parea suficientemente especfica (por incluir nomes prprios de pessoas e lugares) e se a distncia entre eles no to grande, a famlia do indivduo ir geralmente tentar localizar a famlia daquele referido algum. Eles podem se sentir impelidos a faz-lo por curiosidade, pelo forte desejo manifestado pela criana de ir at a outra famlia, ou por ambos os motivos. Quando as famlias se encontram, elas naturalmente trocam informaes sobre o que o indivduo disse a respeito da vida anterior e at que

extenso o que ele disse corresponde aos fatos na vida do falecido membro da outra famlia. Nesta permuta, os membros de uma ou de ambas as famlias podem acreditar que a criana possua um conhecimento mais preciso acerca da personalidade anterior do que esta possua de fato antes de as famlias se encontrarem. Isto pode ocorrer de maneira inconsciente e sem qualquer inteno de enganar e mentir. Tais circunstncias tornam particularmente importantes os raros casos em que algum tenha feito um registro escrito de exatamente aquilo que o indivduo disse antes de as duas famlias se encontrarem. Apesar de estarmos cientes, desde longa data, da importncia de tais casos, estes ainda somam apenas cerca de um por cento dos casos admitidos nas sries documentadas na Universidade de Virgnia. Mais precisamente, entre aproximadamente 2.500 casos, foi feito o registro escrito das declaraes do indivduo antes de serem verificadas em apenas 24 casos. Relatos de trs casos deste grupo na ndia (Stevenson, 1966/1974, 1975) e de dois no Sri Lanka (Stevenson, 1966/1974, 1977) foram publicados. Um meio de aumentar o nmero destes casos tem sido bvio por muitos anos, mas se mostrou difcil de ser implementado. Trata-se de algum capaz de identificar os casos, que resida em uma rea onde estes ocorram; e esta pessoa precisa rapidamente descobrir qualquer caso, do qual se inteire e registre as afirmaes do indivduo sobre a vida anterior antes que os pais do indivduo (ou outros) levem o mesmo ao encontro da famlia anterior. O Sri Lanka parece ser um pas apropriado para este tentame. Temos descoberto ali casos nos quais as duas famlias no haviam se encontrado e que chamaram primeiro a ateno de jornalistas. Estes ltimos identificavam uma famlia que correspondia ao relato do indivduo e frequentemente levavam-no at esta famlia. Eles ento publicavam uma reportagem do caso no jornal (atravs do qual muitas vezes obtivemos as primeiras informaes a respeito). No entanto, os reprteres (com uma nica exceo de nosso conhecimento) estavam apenas interessados no valor imediato das notcias sobre o caso, e no fizeram registros por escrito do relato da criana antes de lev-la ao encontro da outra famlia. Tais casos, portanto, no poderiam ser includos na pequena srie destes casos especiais (com registros escritos antes da verificao) que estamos tentando aumentar. As circunstncias finalmente deram nossa equipe uma ligeira vantagem sobre os reprteres na corrida para saber primeiro sobre novos casos. O Sr. Tissa Jayawardane (T. J.) tem-nos assistido em nossa pesquisa no Sri Lanka por muitos anos. Ele informava-nos de novos casos que chegavam a seu conhecimento e frequentemente acompanhava um ou a ns ambos nas viagens para investigar os casos. Entretanto, sua atividade em defesa da pesquisa era espordica e muito restrita aos perodos em que um de ns estava investigando um caso. Posteriormente, em 1985, ele pde dedicar tempo integral pesquisa, e logo ampliou sua rede de infomantes e comeou a descobrir muitos novos casos. Alguns destes permaneceram sem soluo e provavelmente so insolveis; em outros, as duas famlias j haviam se encontrado antes de T. J. ir a seu encontro. Todavia, em vrias ocasies ele chegou at o indivduo antes de as famlias se encontrarem, fez um registro por escrito de suas declaraes e

ento saiu em busca de uma famlia que correspondesse ao relato (sobre a qual a famlia do indivduo no tivesse ouvido falar ou encontrado). Nossa equipe tem estudado agora quatro destes casos no Sri Lanka e o presente texto relata trs deles. (Por motivos de espao ns omitimos o quarto caso a fim de fornecer detalhes suficientes dos trs outros.) Estes quatro casos so menos que 10% de todos os casos no Sri Lanka que descobrimos ao longo do tempo que os estudamos. No mnimo 50 outros ali ocorridos chamaram nossa ateno durante cerca de trs anos desde que descobrimos o primeiro destes quatro casos. Em todos os outros casos ou as duas famlias j haviam se encontrado quando os localizamos, ou o indivduo havia fornecido informaes insuficientes para localizar uma famlia que correspondesse a suas declaraes (casos no resolvidos). Favoreceu-nos em nossas investigaes o fato de que em dois dos trs casos aqui relatados, as famlias estavam muito distantes geograficamente, e no terceiro caso, embora as famlias vivessem bem mais prximas uma da outra, os pais da criana no se interessaram em verificar suas declaraes. Nenhum relato destes casos foi publicado em jornais ou revistas. T. J. descobriu-os atravs de fontes particulares.

Mtodos de Investigao

As entrevistas com testemunhas de primeira mo em busca de informaes relevantes so os principais instrumentos de investigao. Da parte do indivduo ligado a um caso os informantes importantes so seus pais, mas irmos mais velhos, avs e outros parentes podem prover informaes suplementares. Ns sempre tentamos entrevistar o indivduo, mas crianas mais novas variam muito em sua vontade de conversar conosco. Da parte da personalidade anterior, os pais da pessoa falecida, irmos e cnjuge (se a pessoa era casada) so os informantes mais importantes. Estudamos tambm todos os documentos escritos pertinentes que estejam disponveis, mas estes so raros no Sri Lanka, exceo de certides de nascimento e atestados de bito. Em um dos casos que relatamos aqui, notas de jornal alusivas ao acidente em que a personalidade anterior falecera forneceu-nos alguma informao confirmatria. Para o mesmo caso, examinamos o relatrio de um inqurito judicial. A investigao dos casos procedeu em geral da seguinte maneira: quando T. J. descobria um novo caso, ele ia at a famlia o mais rpido possvel. Ele obtinha o endereo exato e registrava as principais informaes demogrficas sobre o indivduo. Fazia uma lista das declaraes deste com referncia vida anterior, anotando os nomes dos informantes no caso. Ao mesmo tempo, se o caso parecia passvel de soluo, ele ia at o lugar mencionado pelo indivduo e tentava econtrar uma famlia que correspondesse s afirmaes. Quando bem sucedido, ele comunicava-nos o fato. Em seguida, assim que possvel, G. S. ia at a famlia do indivduo para entrevistas mais detalhadas. Ele frequentemente anotava declaraes que

os informantes no haviam mencionado antes para T.J. Se ele os entrevistava antes de as duas famlias terem se encontrado, ns incluamos tais declaraes adicionais na lista daquelas registradas antes de verificao, embora T.J. j tivesse verificado algumas afirmaes que havia registrado antes. G.S. s vezes tambm ia at a famlia da personalidade anterior e confirmava as verificaes do relato do indivduo com os membros desta. Na etapa final da investigao, I.S. (na companhia de G.S. e T.J.) entrevistava (no raro por duas vezes) membros de ambas as famlias envolvidas no caso. Apesar de os informantes s vezes fazerem algumas declaraes adicionais nestas ltimas entrevistas, I.S. concentrava sua ateno principalmente em dois aspectos do caso: a verificao das declaraes do indivduo com a famlia da personalidade anterior, e as possibilidades de alguma comunicao normal de informaes desta ltima com a famlia do indivduo. Ao fazermos nossas verificaes independentes do relato do indivduo, ns sempre obtnhamos informaes de dois, e s vezes de vrios informantes para a famlia anterior identificada. Ao visit-los, ns tambem examinvamos por nossa conta estradas, casas, lojas e outros detalhes das cercanias que haviam surgido no relato do indivduo. Tais observaes diretas nos liberavam da dependncia dos informantes para a verificao destes detalhes, embora, naturalmente, ns tivssemos de confiar nas lembranas destes em relao a mudanas em edificaes que haviam ocorrido depois da morte da personalidade anterior, bem como nas informaes sobre fatos na vida da famlia que eram mencionados nas afirmaes do indivduo. G.S. atuava como intrprete para I.S., que no fala cingals, embora ele possa s vezes compreender alguns elementos nos dilogos entre o entrevistado e o intrprete. Alguns informantes falavam Ingls. Todos eram adeptos do budismo cingals. Raramente usamos gravadores, perferindo ao invs disto, anotaes manuscritas, as quais registram as perguntas feitas e as respostas dadas por cada informante. Detalhes de tcnicas de entrevista foram descritos em outras obras (Stevenson, 1966/1974, 1975). Visando a objetividade, omitimos do caso relatos que acompanham muitos dos detalhes que um completo relato de cada caso incluiria. Por exemplo, mencionaremos somente os nomes dos informantes, pois isto tornar mais fcil para os leitores identificar pessoas mencionadas mais de uma vez. Ns tambm omitimos alguns detalhes dos comportamentos dos indivduos relacionados a suas declaraes. Ao invs disto, concentramos a ateno nos dois seguintes aspectos de cada caso: as declaraes chave feitas pelo indivduo que eram verificadas como correspondentes aos fatos na vida e na morte de determinada pessoa falecida e as possibilidades de comunicao normal de informaes sobre a personalidade prvia ao indivduo ou sua famlia.

Relatos de Casos

O caso de Thusitha Silva Thusitha Silva nasceu perto de Payagala, Sri Lanka, em 29 de julho de 1981. Seu pai e sua me eram respectivamente Gunadasa Silva e Gunaseeli. Gunadasa Silva era um alfaiate. Thusitha era a sexta de uma famlia de sete filhos.

Quando Thusitha tinha aproximadamente trs anos de idade, ela ouviu algum mencionar Kataragama, e comeou a dizer que ela vinha de l. Ela disse que vivera perto de um rio naquela regio e que um menino mudo a empurrara para dentro do rio. Ela deu a entender, sem afirmar claramente, que ento ela se afogara. (Thusitha tinha uma acentuada fobia de gua). Ela disse que seu pai era um fazendeiro e que possua tambm uma banca de flores que se localizava prxima do Kiri Vehera (local Budista). Disse que sua casa era prxima do principal Templo Hindu (Devale) em Kataragama. Ela identificou seu pai como Rathu Herath e disse que este era calvo e usava um sarongue. (O pai atual de Thusitha usava calas.) Thusitha no disse qual era seu nome na vida anterior e na verdade no mencionou nomes prprios alm de Kataragama e Rathu Herath. Ela nunca disse explicitamente que havia sido uma menina na vida anterior, mas falou em vestidos e tambm fez objees quanto a cortar o cabelo; ento seus pais inferiram que ela estava falando sobre a vida de uma menina. Tissa Jayawardane descobriu este caso no outono de 1985 e visitou Thusitha e sua famlia pela primeira vez em 15 de novembro de 1985. Tendo registrado as declaraes acima e algumas outras, ele foi at Kataragama. Aqui devemos explicar que Payagala uma pequena cidade (populao em 1981: 6.000), na costa oeste do Sri Lanka, sul de Colombo, e Kataragama, uma regio conhecida de peregrinao, fica no sudeste da ilha, no interior (Obeyesekere, 1981; Wirz, 1966). Kataragama fica aproximadamente a 220 Km de Payagala (de automvel). tambm uma pequena cidade (populao em 1987: aproximadamente 17.500) e consiste quase inteiramente de templos e edifcios e residncias para as pessoas que mantm os templos e atendem s necessidades dos peregrinos. Um grande rio, o Manik Ganga, passa pela cidade. T.J. foi primeiro at ao distrito policial em Kataragama, onde procurou saber de uma famlia que possusse um filho que era mudo. Indicaram-lhe uma ala dupla de bancas de flores ao longo da pavimentao da estrada principal para a Buddhist stupa, conhecida como Kiri Vehera. (Os vendedores destas bancas vendem flores para os peregrinos para serem usadas na adorao.) Ao inquirir novamente entre os vendedores, eles lhe indicaram uma determinada banca, e, nesta, ele perguntou se uma pequena menina na famlia destes vendedores havia se afogado. Ele foi informado de que uma pequena garota, filha da famlia havia se afogado no rio havia alguns anos, e um de seus irmos era mudo. De acordo com as anotaes de T.J., Thusitha fizera 13 declaraes verificveis e todas com exceo de trs destas eram corretas para a famlia com a criana tola que havia perdido uma filha por afogamento. Na segunda etapa da investigao (em dezembro de 1985), G.S. descobriu 17 declaraes adicionais feitas por Thusitha, e registrou-as. As duas famlias ainda no haviam se encontrado (e, at onde sabemos, isto ainda verdade), de forma que, como mencionado anteriormente, consideramos nosso registro destas declaraes livre de qualquer influncia por contato entre as duas famlias. Duas destas 17 afirmaes adicionais no eram passveis de verificao, mas as outras 15 eram corretas para a famlia da personalidade anterior. Algumas destas, tal como a de que uma das casas onde a famlia vivera tinha um telhado de palha,

foram de grande aplicabilidade. Algumas outras, como a de que havia crocodilos no rio, poderia ser vista como parte da informao de conhecimento geral sobre a cidade de Kataragama. No entanto, vrias dos dados adicionais que G.S. registrou eram sobre detalhes incomuns ou especficos, que citamos a seguir: Thusitha disse que seu pai (da vida anterior) alm de ser fazendeiro e vender flores, era tambm sacerdote no templo. Ela relatou que a famlia tinha tido duas casas e que uma delas tinha vidro no teto. Ela disse que o rio era raso. Falou de cachorros que estavam amarrados e comiam carne. Thusitha disse que sua famlia anterior possua um utenslio para peneirar arroz que era melhor do que o que sua famlia atual possua. Descreveu com gestos imitativos, como os peregrinos quebravam ccos no cho do templo em Kataragama.Os leitores ocidentais, no familiarizados com o Sri Lanka, podem no apreciar de imediato os incomuns detalhes em vrias destas declaraes. Por exemplo, existem muitos ces no Sri Lanka, mas a maioria deles so vira-latas perdidos que comem carnia; poucos so cuidados como animais de estimao. Alm disto, a maioria dos cingaleses que so budistas tem horror caa, apesar de que cingaleses cristos poderiam no agir deste modo. Ocorre que, a famlia anterior possua vizinhos que caavam, e estes alimentavam um co preso com a carne dos animais abatidos misturada com outros elementos. Esta seria uma situao incomum no Sri Lanka. Outro detalhe raro era o vidro (clarabia) no teto da casa. Devotos em templos hindus alm do de Kataragama podem quebrar ccos como parte de seus rituais de adorao, entretanto, Thusitha nunca teve oportunidade de assistir a este ritual. Na terceira etapa da investigao, I.S. (acompanhado de G.S. e T.J.) foi at a famlia de Thusitha e ento a Kataragama. Cada famlia foi visitada duas vezes nesta fase, uma vez em novembro de 1986 e novamente em outubro de 1987. Descobrimos que a menina que se tinha afogado, e que se chamava Nimalkanthi, no tinha nem mesmo completado dois anos de idade queando morreu, em junho de 1974. Nimalkanthi tinha ido ao rio com sua me, que ali lavava roupas. Ela estava brincando perto de sua me com dois de seus irmos, um dos quais era o mudo. Sua me parece ter-se distrado com sua tarefa e ento de repente notou que Nimalkanthi no estava mais ali. O irmo que podia falar no pde dizer aonde ela teria ido. A me de Nimalkanthi avisou a todos, uma busca foi feita, e o corpo de Nimalkanthi foi retirado do rio. pouco provvel que o irmo mudo a tenha empurrado para dentro do rio, mas todas as trs crianas estavam brincando por ali no momento em que ela despareceu. Parece provvel que ela tenha se desequilibrado e escorregado ou cado no rio; ela no sabia nadar. A afirmao de Thusitha de que o irmo doente a empurrara permanece, assim, sem verificao, e provavelmente incorreta. Todavia, o irmo pode t-la empurrado de brincadeira pouco antes que ela se afogasse acidentalmente. Duas das declaraes verificveis de Thusitha eram definitivamente incorretas. Ela disse que seu pai da vida anterior era calvo, mas o pai de Nimalkanthi (por ns entrevistado) era exatamente o oposto. Disse que seu nome era Rathu

Herath, mas ele se chamava Dharmadasa. Havia, entretanto, dois homens calvos na famlia o av materno e um tio por parte de me da menina e Nimalkanthi os encontrava com frequncia. Ademais, uma moa que se casou com um primo, com quem ela se encontrava de tempos em tempos, se chamava Herath (no Rathu Herath). Desta forma, poder-se-ia argumentar que as lembranas de Thusitha incluem algumas confuses com os homens adultos de sua famlia, mas no queremos enfatizar esta explicao. Outra afirmao da menina estava incorreta na vida de Nimalkanthi, mas no para o perodo que se seguiu a sua morte. Ela disse que tinha irms (mas no disse quantas). Nimalkanthi teve uma irm, e aproximadamente 18 meses aps sua morte, sua me deu luz a outra menina. No que toca s possibilidades de conhecimento prvio entre as famlias, estamos convictos de que no tiveram nenhum. A famlia anterior da menina nunca havia mesmo ouvido falar de Thusitha quando ns os encontramos pela primeira vez. O pai de Nimalkanthi nunca havia estado em Payagala; ele passara por esta cidade apenas quando estava a caminho de uma cidade maior, Kalutara, tambm na costa oeste do Sri Lanka. A famlia de Thusitha nunca fra a Kataragama para verificar suas afirmaes. Gunadasa Silva disse que pretendia faz-lo, mas que por vrios motivos a maioria ligada s necessidades de seu trabalho ele nunca tivera ocasio para tal. Nos anos de1980-81 Gunadasa Silva havia ido com muita frequncia a Kataragama. Apenas em uma das viagens, Gunaseeli, sua esposa, grvida de dois meses de Thusitha, o acompanhara. Gunadasa se banhou no rio como de costume entre os peregrinos e comprou flores nas bancas prximas de Kiri Vehera. Ele no se lembrava do nome se ele algum dia o soube do vendedor de quem ele comprou a maioria das flores nesta ocasio. Deste modo, ele havia ido a Kataragama depois da morte de Nimalkanthi, mas deixara de ir at l antes do nascimento de Thusitha. Esta, incidentalmente, disse que vira seu pai em Kataragama, uma referncia de sua parte a uma presumida existncia como desencarnada entre a morte de Nimalkanthi e seu prprio nascimento.[footnoteRef:1] [1: A maioria das crianas que afirmam se lembrar de vidas anteriores no diz nada a respeito de fatos aps a morte na vida anterior e antes de seu nascimento. Lembranas de uma existncia como desencarnada so especialmente raras nos casos ocorridos no Sri Lanka. O caso de Disna Samarasinghe (Stevenson, 1977) excepcional. Quando as crianas fazem comentrios a respeito de tais experincias intermedirias, elas frequentemente incluem a explicao da criana de como ela veio a nascer em sua famlia atual, e no em alguma outra.]

Fizemos uma espcie de pesquisa em Kataragama a respeito da ocorrncia de casos de afogamento no rio. O distrito policial possua registros disponveis apenas dos anos de 1985 a 87. Houve um afogamento em 1985, nenhum em 1986 e um (at outubro) em 1987. O delegado de Kataragama falecera em 1986 e seus registros no estavam disponveis. O delegado da cidade vizinha, Tissamaharama, que o estava substituindo em Kataragama por quase um ano (desde sua morte), no possua nmeros exatos de casos de afogamento no rio; entretanto, ele calculava que havia a ocorrncia de um caso para

cada dois anos, na maioria entre peregrinos. O registrador de nascimentos e bitos em Kataragama no guardava os registros alm de cada ano, ao fim do qual estes eram enviados para um departamento do governo (kachcheri) da maior rea administrativa mais prxima. Os registros no eram classificados de acordo com as causas do bito. A registradora disse que no havia ocorrido afogamentos at 1987 (em desacordo com os registros policiais). Ela estimava que duas crianas afogavam-se no rio a cada ano, um ndice muito mais alto do que outras fontes sugeriam. Havia 20 bancas de vendedores de flores em cada lado da larga avenida que leva at o Buddhist stupa (Kin Vehera) em Kataragama. No dia em que perguntamos, uma banca estava fechada, mas perguntamos aos vendedores de todas as outras bancas se algum membro de suas famlias era mudo e se algum deles havia se afogado. A famlia de um vendedor possua um primo que era mudo; nenhuma outra famlia (exceto a de Nimalkanthi) possua algum membro assim. Nenhuma famlia, com a exceo da de Nimalkanthi perdera um de seus membros por afogamento.

Comentrio: Apesar da falha de Thusitha em suas declaraes sobre quaisquer nomes prprios ( exceo do nome da cidade, Kataragama), no temos dvida de que identificamos a nica famlia a que suas declaraes podem se referir. O simples fato de que seu pai (anterior) possua uma banca de flores prxima ao Kin Vehera em Kataragama, restringe imediatamente as possibilidades para cerca de 20 famlias. Entre estas, apenas uma possua tanto um filho que era mudo como uma filha que se afogara no rio. Os vrios outros detalhes citados por Thusitha dificilmente seriam necessrios para reforar a veracidade do fato de que aquela era a famlia que correspondia s declaraes de Thusitha, embora tais detalhes forneam confirmao adicional.

O Caso de Iranga Jayakody

Iranga Jayakody nasceu em Uragasmanhandiya, Sri Lanka, em 29 de junho de 1981. Seus pais eram M.H.P. Jayakody e sua mulher, Nimali. O pai de Iranga era professor e astrlogo.Ela era a stima e a mais nova dos filhos, e tambm a nica filha na famlia. Uragasmanhandiya uma pequena vila (populao estimada em 1987: 3.100). Quando Iranga tinha entre trs e quatro anos de idade ela comeou a falar sobre uma vida anterior que ela disse ter vivido em Elpitiya, uma pequena cidade (populao estimada em 1987: 6.200) localizada a cerca de 15 km de Uragasmanhandiya. Sua famlia tinha vizinhos, entre os quais um vinha de um lugar chamado Matugama, e Iranga parece ter querido falar pela primeira vez sobre a vida anterior quando ouviu seu vizinho se referir a Matugama. Ela ento disse que havia tido (na vida anterior) uma me que vinha de Matugama. Depois disto, ela foi gradualmente fazendo muitas declaraes concernentes vida que ela afirmava se recordar. Tais declaraes incluiam detalhes de fatos na vida da famlia, descries da casa onde moravam e seus arredores, e a descrio de uma loja onde se vendiam bananas, da qual seu pai anterior era proprietrio. Disse que possua trs irms, uma das quais, casada. Disse que estudava em uma

escola que era muito maior que sua escola atual. Naquela escola ela usava um uniforme branco, mas mudava de roupa quando chegava a casa e estudava. Ela citou apenas um nome pessoal (que permanece sem verificao) e apenas um nome de lugar alm de Elpitiya. Este era Matugama, a cidade de onde sua me (anterior) vinha. Ela no mencionou como morrera na vida anterior. Iranga tambm demonstrava vrias particularidades em seu comportamento que eram incomuns em sua famlia e que posteriormente se acreditava corresponder ao comportamento que a subsequentemente identificada personalidade anterior costumava apresentar, ou que poderia ser apropriado a ela. O mais notvel destes comportamentos era um extremo pudor em relao a qualquer exposio de seu corpo, principalmente os seios, que permitiu serem vistos pela primeira vez somente aos trs anos de idade. Em dezembro de 1985, T.J. descobriu o caso. No mesmo ms ele visitou Iranga e seus pais e registrou uma lista de 18 afirmaes feitas por ela a respeito da vida anterior lembradas por seus pais. Em fevereiro de 1986 Iranga foi at Elpitiya com sua famlia para uma cerimnia de casamento, e ali ela apontou para uma estrada e disse que era o caminho para sua casa anterior. Entretanto, seus pais no tiveram tempo e nem interesse em investigar o assunto, e trouxeram Iranga de volta para casa, algo desapontada. Em julho de 1986, T.J. foi at Elpitiya, e de sua lista de declaraes feitas por Iranga, ele provisoriamente identificou uma famlia que correspondesse queles dados. Ele o conseguiu perguntando entre os vendedores de bananas se algum havia perdido uma filha em idade escolar. T.J. entrevistou quatro dos membros da famlia e verificou todas com exceo de duas das afirmaes que tinha registrado com os pais de Iranga. Os pais da famlia haviam morrido, e seus informantes eram irmos e irms da candidata a personalidade anterior. Em 11 de agosto de 1986, G.S. e T.J. entrevistaram os pais de Iranga novamente e registraram mais 25 declaraes que no haviam sido registradas antes por T.J. (e que provavelmente no lhe haviam sido ditas antes). Eles ento foram at Elpitiya e entrevistaram um membro (Podi Haminie) da famlia que T.J. imaginara ser a famlia anterior. Esta famlia havia perdido uma filha, Punchihamie, que falecera em 5 de maio de 1950, aos 13 anos. Punchihamie estivera doente por um ano ou mais antes de sua morte e ficara paralisada do lado esquerdo do corpo. Os mdicos em Colombo diagnosticaram um tumor cerebral e propuseram uma operao, mas ela foi levada para casa e ali faleceu. (Ns ainda estamos incertos se a famlia recusara a operao ou se os mdicos consideraram o tumor inopervel quando o diagnosticaram pela primeira vez.) Em uma entrevista posterior com a irm mais nova de Punchihamie, Podi Haminie, G.S. verificou quase todas as afirmaes de Iranga. No dia seguinte (12 de agosto de 1986) G.S. e T.J. levaram Iranga e seus pais a Elpitiya a fim de ver se ela poderia reconhecer pessoas e lugares nesta cidade. Iranga pareceu reconhecer a velha estrada ou o caminho da rodovia para a casa de Punchihamie (ento no muito usada, pois uma nova e maior estrada dava acesso mais fcil at a casa). Entretanto, na casa ela no

reconheceu claramente (ou mesmo vagamente) qualquer pessoa ou objeto que eram familiares a Punchihamie. Ela parecia sentir-se vontade na (para ela) estranha situao, mas no familiarizada com esta de uma forma especfica. Na terceira etapa da investigao, I.S., G.S. e T.J visitaram ambas as famlias em 3 e 4 de novembro de 1986. Foi ento dada ateno especial verificao das declaraes de Iranga e s possibilidades de contato normal entre as famlias referidas. Para as verificaes entrevistamos novamente duas das irms de Punchihamie, Podi Haminie e Emalinnona. Em outubro de 1987, tivemos outra entrevista com a me de Iranga, e visitamos tambm uma vez mais a cidade de Elpitiya, principalmente para dererminar o nmero e a localizao dos vendedores de bananas. T.J. e G.S. haviam registrado (antes das duas famlias se encontrarem) 43 declaraes que os pais de Iranga disseram que esta havia feito sobre a vida anterior. Dentre estas, duas eram incorretas e trs no verificveis ou duvidosas. Uma outra declarao no estava literalmente correta, mas poderia ser considerada correta a partir da perspectiva de uma criana do Sri Lanka. Iranga dissera que sua irm mais nova possua uma bicicleta. Isto no era verdade em relao verdadeira irm mais nova de Punchihamie, Podi Haminie. No entanto, a filha de um vizinho tinha uma bicicleta e Podi Haminie brincava com esta. Alm disto, a menina vizinha, era chamada na famlia de Punchihamie (um costume dos asiticos) de irm mais nova. A eliminao destas seis declaraes incorretas, no verificveis ou duvidosas deixou 37 outras, todas verdadeiras para Punchihamie.Algumas delas poderiam se aplicar a muitas vilas no Sri Lanka. Seriam verdadeiras, por exemplo, as referncias de Iranga a uma trepadeira de Jasmim e rvores tpicas da regio na casa. Porm, muitas outras declaraes tinham uma aplicabilidade muito mais restrita, e apesar de que nenhuma destas fossem decisivas, em seu conjunto elas nos convenciam de que Iranga estava falando sobre a vida de Punchihamie e de nenhuma outra. Agora descreveremos a mais importante das declaraes de Iranga, que, a nosso ver, especificava a famlia e a pessoa de quem ela estava falando. Comeamos com o fato de que Elpitiya uma pequena cidade com apenas duas ruas principais, que so ambas continuaes de rodovias atravs da cidade. Encontramos seis butiques (como so chamadas as pequenas lojas no Sri Lanka) que vendiam bananas e descobrimos trs outras que anteriormente o faziam, mas que haviam abandonado este negcio. Estas estavam entre cerca de 100 butiques ao longo das estradas principais. A escolha entre os donos destas poucas butiques tornou-se bem mais restrita pelo fato de que o dono havia se casado com uma mulher de Matugama e tivera quatro filhas, dentre as quais uma era casada. Posteriormente, Iranga disse que a famlia vivia em uma casa ao longo de uma estrada que passava por uma floresta com rvores de canela e rvores-da-goma-elstica, e esta casa era prxima da butique e tambm do templo; a casa tinha paredes vermelhas e uma cozinha com teto de palha; um poo da famlia tinha sido destrudo pela chuva, mas esta possua ainda dois outros poos, um para beber gua e limpeza, e outro para banho. Iranga, alm de mencionar que frequentava uma grande escola na qual usava um

uniforme branco, e que se trocava ao chegar em casa, disse tambm que frequentava o catecismo budista aos domingos. Ela tinha brincos de ouro, presente de seu pai e usava o cabelo partido ao meio. Ela era a filha do meio e tinha uma irm mais nova. Todos estes detalhes eram corretos para Punchihamie e sua famlia. Iranga referiu-se corretamente a vrias das caractersticas da butique e da casa que existiram na poca em que Punchihamie era viva, mas que depois foram modificadas.Por exemplo, a butique onde se vendiam bananas tinha tido um teto de folhas de cco, mas depois o teto foi trocado por um de telhas. As paredes da casa eram vermelhas, mas foram depois pintadas de branco. A cozinha possua um teto de palha, que foi tambm substitudo por telhas. Iremos em seguida mencionar e brevemente discutir trs das declaraes de Iranga que so no verificveis ou duvidosas. Ela se referiu a algum de nome Wijepala. Ningum na famlia de Punchihamie pde localizar com exatido uma pessoa com este nome, embora Podi Haminie tenha achado que este poderia ter sido o nome de um empregado da butique de bananas. Iranga tambm se referiu a sua irm mais velha e sua me indo para o hospital e retornando com uma irm mais nova. O fato que durante a vida de Punchihamie tanto sua me como sua irm mais velha haviam dado luz a meninas. Estes bebs teriam sido tratados por Punchihamie como irms mais novas. possvel que Iranga tenha fundido as lembranas destes dois nascimentos. Iranga disse que fra at as feiras da vila com sua me. Esta afirmao correta, mas ela tambm disse que (em uma ocasio) ela no conseguia encontrar sua me na feira e ento se via na presente famlia. Quando perguntamos a Podi Haminie se Punchihamie j se havia perdido em alguma feira, ela no se recordava de tal acontecimento. Ela ento se lembrou (mas no com certeza) de que Punchihamie fra at uma feira sozinha e ali se sentira mal. Este foi o incio da molstia de que ela posteriormente viera a falecer. No entanto, a irm mais velha de Punchihamie, Emalinnona, lembrou-se de que ela se sentira mal pela primeira vez na escola, quando desmaiou. Os membros das duas famlias referentes ao caso no se conheciam antes do caso se desenvolver. A me de Iranga disse que sua famlia no tinha qualquer ligao com Elpitiya; eles faziam suas compras em Uragasmanhandiya, mas o pai de Iranga havia visitado alguns pacientes no hospital de Elpitiya, e s vezes fazia breves paradas em Elpitiya quando a caminho de outras cidades para as quais viajava de nibus. Ademais, a famlia de Iranga havia ido a um casamento em Elpitiya, ento eles, evidentemente, possuam alguns conhecidos l. Isto no significa que eles conheciam ou sabiam algo a respeito da famlia de Punchihamie, e parece extremamente improvvel que isto ocorresse.Que eles no conheciam a famlia de Punchihamie parece ainda mais evidente, quando estavam em Elpitiya para o casamento, por sua indiferena ao esforo de Iranga para mostrar-lhes o caminho para a casa onde ela dissera ter vivido na vida anterior. Se eles tivessem reconhecido a estrada como um lugar em que algum que eles conheciam vivia, eles se recordariam disto depois.

O pai de Punchihamie possua um parente em Uragasmanhandiya, e ia at l s vezes para visit-lo. Alm disto, havia um monge muito conhecido em Uragasmanhandiya, que tinha a fama de curador, e pessoas doentes eram s vezes levadas at ele para isto. A famlia de Punchihamie a levara a este monge algumas semanas apenas antes desta falecer. (Nesta poca a famlia de Iranga estava ainda vivendo em Ampurai, a grande distncia dali, ao leste do Sri Lanka.) A irm mais nova de Punchihamie, ao saber sobre Iranga, teve grande vontade de conhec-la, e se esta soubesse sobre Iranga e sua famlia antes de termos promovido o encontro das duas famlias, ela certamente teria ido a Uragasmanhandiya para encontr-los. Perguntamos ao pai de Iranga se, quando os dois grupos familiares se encontraram, eles descobriram se possuam amigos em comum ou outras ligaes e a resposta foi negativa. Deve ter havido ocasies em que eles estiveram no mesmo lugar e ao mesmo tempo em Elpitiya, tais como nas paradas de nibus ou no hospital, mas isto no significa que eles se conhecessem ou j tivessem se encontrado formalmente.Em resumo, nossas investigaes mostraram que cada famlia possua alguns conhecidos ou parentes na comunidade da outra famlia e uma visitara a comunidade da outra, mas estamos satisfeitos de que estas no se conheciam antes do caso se desenvolver.

Comentrio: Muitas das declaraes de Iranga tomadas uma a uma poderiam se aplicar a um grande nmero de famlias em Elpitiya. Entre os vendedores de bananas primeiramente entrevistados por T.J., somente dois haviam perdido suas filhas. Entretanto, um destes havia perdido duas filhas antes da idade escolar e Iranga havia falado sobre ir escola, como o fazia Punchihamie, a filha do outro comerciante. A identificao ainda mais especfica com muitas das outras afirmaes de Iranga. Quando acrescentamos detalhe aps detalhe, a aplicabilidade coletiva de todas as suas declaraes a outras pessoas se torna rigorosamente reduzida, ate que se torna claa que Iranga estava falando sobre a vida de Punchihamie e de ningum mais.

O Caso de Subashini Gunasekera

Subashini Gunasekera nasceu no hospital de Madampe, Sri Lanka, em 13 de janeiro de 1980. Seus pais eram M.G.M. Gunasekera e sua esposa, Podi Menike. Ambos eram professores. Subashini era sua segunda filha menina e a quarta (e mais nova) entre os filhos. Antes do nascimento de Subashini, a famlia vivia em Kuliyapitiya, que uma pequena cidade (populao em 1987: aproximadamente 5.000) na rea centro-oeste do Sri Lanka, a 35 km da costa oeste. De automvel esta fica a 75 km a oeste e ligeiramente ao norte de Kandy. Quando Subashini tinha cerca de trs anos de idade, ela comeou a falar sobre a vida anterior. Ela disse que havia ficado presaquando um monte caiu sobre sua casa e que este fato havia ocorrido em Sinhapitiya, Gampola. Subashini deu alguns detalhes sobre a famlia anterior, inclusive de que possua um irmo mais velho,

uma irm mais velha, e um irmo e uma irm mais novos.Ela se referiu a algum de nome Vasini que estava onde ela vivia, mas ela no disse quem era Vasini; ela tambm no disse qual era seu nome na vida anterior. Gradualmente, ela mencionou outros detalhes, tais como que sua famlia trabalhava em uma plantao de ch, onde sua me e seu irmo colhiam as folhas de ch e onde eles tiveram um vazamento de gua que no pde ser totalmente fechado. Disse que quando o monte comeou a cair, este fazia um som como Gudu, Gudu. Sua me, disse ela, a chamou e pediu-lhe para pegar uma tocha (lanterna) e sair para ver se o monte estava caindo sobre a casa. Subashini disse que ento ficara presa e viera para sua famlia (atual) com a lanterna. Gampola se situa nas reas montanhosas do Sri Lanka, a cerca de 20 km ao sul e ligeiramente a oeste de Kandy, e portanto, cerca de 95 km (de automvel) de Kuliyapitiya.Sinhapitiya tambm uma pequena cidade (populao em 1987: aproximadamente 5.000), a cerca de 1 km ao sul de Gampola. A me de Subashini possua parentes prximos em vilas na rea de Gampola. Uma irm mais velha vivia a 10km de Gampola e um irmo mais velho a 15 km desta. Ela e seu mairdo visitavam estes parentes ao menos uma vez por ano. Podi Menike ouviu falar sobre um desabamento em Sinhapitiya em 1977, logo depois de ter ocorrido, mas ela no soube de detalhes a respeito deste e no leu reportagens no jornal sobre isto. Ela no deve ter falado no assunto com seu marido, porque M.G.M.Gunasekera disse que no ficara sabendo nada sobre este desabamento at Subashini comear a falar sobre um. Quando Subashini tinha cerca de trs anos de idade, seus pais foram a um casamento na regio de Gampola e Subashini os acompanhou. Seu pai contou a seus parentes sobre suas declaraes a respeito de uma vida anterior. O cunhado de Podi Menike lembrou-se de que alguns anos antes havia ocorrido um desabamento de terra em Sinhapitiya com algumas vtimas fatais. Procurando saber mais sobre a veracidade das afirmaes de Subashini, seu pai levou-a pela estrada at a fazenda de plantao de folhas de ch, onde lhe disseram que o desabamento havia ocorrido. Entretanto, Subashini ficou assustada, gritou e recusou-se a prosseguir, dizendo que estava com medo de ficar presa. M.G.M., ento, foi embora e no encontrou nenhuma das famlias que perderam alguns de seus membros no desabamento. Subsequentemente, ele escreveu para o irmo mais velho de sua esposa e lhe pediu-lhe que investigasse o caso em busca de mais detalhes. Seu cunhado verificou que havia ocorrido algumas mortes de trabalhadores no desabamento, que as mortes incluam membros de uma famlia cingalesa que vivia em linhas (como dissera Subashini), e que um filho da famlia estava trabalhando em uma loja em Gampola. Este foi o resumo de tudo que M.G.M. havia verificado antes de entrarmos em contato com eles. Ele parecia ter perdido o interesse no caso, posto que interrompera suas investigaes. T.J. descobriu o caso no final de 1983, e visitou Subashini e sua famlia pela primeira vez em 24 de novembro de 83. Nesta poca Subashini ainda no completara quatro anos, e como ela ainda estivesse falando sobre a vida anterior, T.J. registrou dez declaraes diretamente dela. (Outros membros de sua famlia confirmaram que ela j havia mencionado estes detalhes antes.) T.J. enviou-nos a lista das declaraes de Subashini. Ele tambm enviou uma fotocpia

de uma reportagem de jornal sobre um desabamento em Sinhapitiya que foi publicado em 25 de outubro de 1977 (trs dias aps o fato), no Ceylon Daily Mirror. (Esta inclua uma foto de uma caixa contendo os corpos de algumas das vtimas soterradas no desabamento.) Aqui faremos uma breve digresso para descrever o desabamento. Nossa informao sobre este foi obtida principalmente por membros sobreviventes de uma das famlias cujas casas foram destrudas, de um de seus vizinhos e do proprietrio/administrador (I.B. Herath) da fazenda de plantao de ch onde o desabamento ocorreu. A notcia do jornal mencionada acima (e outra que obtivemos posteriormente) tambm forneceu-nos informaes, bem como uma cpia do inqurito que examinamos. O desabamento ocorreu em uma alta montanha perto dos limites mais altos da grande fazenda de plantao de folhas de ch. Uma forte chuva estava caindo e no incio da noite estimativas de horrio variam entre 19h30min e 20h30min a terra com pesadas pedras acima de uma linha de casas de trabalhadores comeou a cair e rapidamente cobriu completamente as casas com seus moradores. A retirada de todos os corpos demorou alguns dias. Um informante disse que 17 pessoas haviam morrido, mas o proprietrio da fazenda disse que o nmero de mortos era 28. Todos eles viviam em uma linha de pequenas casas (chamadas linhas) onde os trabalhadores das plantaes moravam. Como j era noite, muitos dos moradores estavam em casa quando o desabamento ocorreu. Retornando a nossa investigao sobre o caso, durante os anos de 1984-85, fizemos pouco trabalho de campo no Sri Lanka, e somente depois de maio de 1986 retomamos o trabalho neste caso. Neste ms, G.S. esteve duas vezes em Sinhapitiya. A primeira pessoa que encontrou foi I.B. Herath, o proprietrio da fazenda, que conseguiu para G.S. um encontro com um membro sobrevivente de uma das famlias que sofreram o desabamento. Este homem era H.G. Piyasena, e ele verificou a preciso da maioria das afirmaes de Subashini como correspondentes vida de sua irm mais nova, Devi Mallika, a qual juntamente com quatro outros membros da famlia, inclusive seus pais, haviam morrido no desabamento de terra em 22 de outubro de 1977. H.G. Piyasena no estava em casa naquele momento, e desta forma, conseguira escapar; assim ele no pde verificar a declarao de Subashini de que quando o desabamento comeou, sua me lhe pedira para pegar uma lanterna e ver se a montanha estava caindo. Na prxima etapa de nossa investigao (agosto-setembro de 1986), G.S. entrevistou ambos os pais de Subashini e registrou mais 22 tens adicionais sobre sua vida anterior. Ele ento providenciou para que Subashini e seus pais fssem com ele e T.J. para Sinhapitiya, onde eles encontrariam membros da famlia de Devi Mallika, na casa do proprietrio da fazenda. Ali Subashini reconheceu H.G. Piyasena, chamando-o de irmo mais velho, mas no reconheceu Mallika, a irm mais velha de Devi Mallika e um vizinho da famlia, R.W. K. Banda, que conhecia bem Devi Mallika. (O reconhecimento de Subashini de H.G. Piyasena foi prejudicado, porque ele saiu de trs do grupo e colocou-se diante de Subashini; G.S. ento perguntou-lhe: Quem este? Assim, apesar que que ela no tivesse qualquer sinal verbal para sua identidade, ela pode ter inferido de que ele era um irmo mais velho da famlia.)

Na ocasio deste encontro, G.S. percorreu a lista completa das declaraes registradas de Subashini, que agora continha 32 tens. Em sua opinio, todas, exceo de sete destes tens eram corretos em relao vida de Devi Mallika.O irmo e a irm mais velhos de Devi Mallika forneceram a maioria das verificaes, mas R.W.K. Banda tambm contribuiu com algumas informaes. O grupo, que consistia da famlia de Subashini, G.S. e T.J. foi de carro at a estrada que levava at os nveis mais altos da fazenda referida. Eles alcanaram o lugar onde Subashini havia antes reagido com medo, fazendo seu pai traz-la de volta. Nesta segunda oportunidade trs anos e meio mais tarde ela no mostrou qualquer sinal de medo; ela tambm no pareceu reconhecer nenhum lugar ao longo do caminho. O carro no podia chegar at o lugar do desabamento e o grupo retornou. Em novembro de 1986, I.S., G.S. e T.J. encontraram Subashini e seus pais em Kuliyapitiya. Ns abordamos alguns dos principais aspectos do caso novamente e descobrimos mais sobre os parentes de Podi Menike que viviam em vilas prximas a Sinhapitiya. Ento nos dirigimos a Sinhapitiya (perto de Gampola) e ali continuamos a investigao. Era importante para ns examinarmos o lugar do desabamento por ns mesmos. Para isto foi necessrio subir cerca de 4 km de onde o jeep da fazenda nos deixara.No local do desabamento e em uma montanha vizinha encontramos novamente o irmo mais velho de Devi Mallika, H.G. Piyasena, e sua irm, Mallika. H.G. Piyasena levou-nos ao local do desabamento. Uma abundante vegetao havia coberto completamente a rea e no restara nenhum trao da linha destruda de casas. Entretanto, H.G. Piyasena mostrou-nos os lugares de alguns detalhes que Subashini mencionara. Ao examinarmos o terreno ngreme, pudemos facilmente imaginar como o desabamento havia ocorrido. Ns tambm vimos algumas das tpicas linhas residenciais onde trabalhadores da fazenda viviam e tivemos uma vvida impresso da extrema pobreza das famlias residentes nessas pequenas e sujas casas. Neste caso, muito mais do que na maioria dos casos no Sri Lanka, as duas famlias estavam muito distantes uma da outra, em seu status scio-econmico. Em Gampola ns examinamos e copiamos parte do inqurito sobre as mortes ocorridas naquele desabamento. Em outubro de 1987 fizemos outra entrevista com os pais de Subashini e fomos novamente at a rea de Gampola. Nesta ocasio encontamos e entrevistamos a irm de Podi Menike, seu cunhado e seu irmo. Tambm obtivemos informao adicional sobre a ocorrncia de desabamentos com mortes na rea de Sinhapitiya. Mencionamos acima que todas, exceto sete das afirmaes de Subashini eram corretas para a vida de Devi Mallika. Estas sete eram declaraes incorretas ou no verificveis; pensamos que cinco destas merecem breve meno e discusso. Duas delas eram as declaraes mencionadas antes referentes me anterior ter pedido a ela que pegasse a lanterna e visse se a montanha estava caindo sobre a casa. Por falta de testemunha ocular, estas permanecem sem verificao, mas so plausveis. A casa no possua eletricidade e a famlia usava lanternas noite; tambm, Devi Mallika era a mais velha das trs crianas

na casa naquele momento, e assim, a mais provvel de ter sido mandada pela me para ver o que estava acontecendo.Tambm no nos foi possvel verificar uma referncia que Subashini fizera a um irmo mais velho que fra em casa rapidamente antes do desabamento e ento sara outra vez para jantar em outro lugar. Um dos irmos mais velhos de Devi Mallika, Chandrasena, tinha ido a sua casa naquela hora. Ento ele saiu de casa depois que seu pai lhe pedira para chamar outro irmo mais velho para vir v-lo; Chandrasena ento escapou de ser morto no acidente. Ele no havia sado de casa, at onde pudemos saber, porque seu jantar no estava pronto; mas possvel que Subashini possua uma lembrana algo confusa deste irmo mais velho. (Ns ainda no pudemos localiz-lo). Subashini tambm se referiu a um tio que era severo, e que no foi identificado. possvel que ela estivesse se referindo a R.W.K. Banda, o vizinho mencionado anteriormente. Devi Mallika pode t-lo tratado, como de costume no Sri Lanka, como um tio. Ele fazia parte da fora policial, e Devi Mallika pode ter associado sua ocupao com sua severidade, e, portanto, ter pensado que era severo. Alm disso, apesar do fato de que este era amigvel e mesmo afetuoso com ela, ele s vezes a aborrecia com sua rigorosidade.A quinta declarao deste grupo pode talvez ser explicada como um exemplo de confuso entre duas palavras cingalesas muito parecidas. Subashini havia dito ou seu irmo mais velho pensou que ela dissera que a casa anterior possua uma cachoeira em seus arredores. Isto no confere com a verdade, mas havia um crrego perto desta casa. A palavra cingalesa para crrego ala, e para cachoeira dialla, da a possibilidade de uma confuso. (Discutiremos a seguir um oitavo tem, um nome citado por Subashini, que inexato, embora o tenhamos como correto.) Subashini usava algumas palavras e frases que no eram comuns em sua famlia, mas apropriados para a vida de que ela parecia estar se recordando. Por exemplo, ela se referia a seu pai anterior pela palavra tpica no sul do pas, Thatha, ao passo que se referia a seu pai atual como Apachie, usando a palavra comum entre os Kandianos (norte do pas). Devi Mallika chamava seu pai de Thatha. Ao se referir srie de casas chamadas linhas, nas quais os trabalhadores de fazendas produtoras de ch viviam, ela dizia line kamera e lime. Ambos os termos so usados por estes moradores para se referir a tal. (A palavra lime [neste contexto] pode ser um tipo de fuso de line kamera ou isto pode derivar da palavra Tmil[footnoteRef:2]* layam, que significa estbulo.) [2: * Tmil um idioma falado por um grupo de indivduos que vive em regies do sul da ndia e Sri Lanka, entre outros pases. (N. T.)]

Ns descreveremos em seguida o raciocnio que seguimos para decidir que Subashini estava falando sobre a vida de Devi Mallika e no de outra pessoa. Subashini havia mencionado a montanha caindo (uma referncia bvia a um desabamento), e ela disse que era de Sinhapitiya, Gampola. De I.B. Herath, que vivera em Sinhapitiya toda sua vida (tendo ento 36 anos), de reprteres de jornal da regio sul de Kandy, e de dois ancios do povo, a quem entrevistamos, ns apuramos que por 25 anos antes e provavelmente por muito mais, houve apenas um grande desabamento com vtimas fatais em Sinhapitiya, o de 22 de outubro de 1977.

Neste acidente, entretanto, Devi Mallika foi uma dos talvez 28 mortos, e temos de mostrar como pudemos determinar que Subashini estava falando sobre sua vida e no de alguma outra pessoa morta no mesmo desabamento. Ocorre que embora houvesse cerca de oito casas nas linhas destrudas no desabamento, todas, exceo de uma, eram ocupadas por tmils.[footnoteRef:3] Subahini havia deixado claro que sua famlia era cingalesa. Ela falara sobre tmils vivendo nas linhas, ento um de seus irmos a aborreceu com a possibilidade de que ela fosse tmil. Isto a deixou muito irritada, o que no ocorreria se ela estivesse se lembrando da vida de um tmil. Outro indcio para este detalhe veio da declarao de Subashini de que havia um templo budista perto de sua casa. A maioria dos cingaleses budista, embora haja tambm cristos. Tmils so quase sempre hindus. Subashini estava desta forma se referindo nica famlia cingalesa que vivia na linha residencial coberta pelo desabamento. Nesta famlia, havia 11 filhos, apesar de que nem todos estavam residindo na casa na poca do acidente. De fato, apenas as trs crianas mais novas duas meninas e um menino estavam na casa com seus pais na hora do desabamento. Todos foram mortos. Subashini falou do pai e da me anterior e fz (corretas) observaes descritivas sobre eles, tal como a de que seu pai anterior tinha uma grande barriga, e sua me era maior do que sua me atual. Algumas de suas outras observaes, como referncias a um vestido azul e uma pipa (ambos objetos que pertenciam a Devi Mallika), apontavam tambm claramente para a vida de uma criana do sexo feminino, e no de um adulto. Devi Mallika era a mais velha das trs crianas mortas na ocorrncia e a nica entre estas que poderia dizer, como o fz Subashini, que possua um irmo e uma irm mais novos. Ela mencionou tambm o nome de Vasini, no como o dela mesma na vida anterior, mas como o de uma menina que era talvez um membro da famlia. [3: Durante sculos os cingaleses foram cultivadores independentes e no gostavam de se tornar empregados de outras pessoas. Por este motivo, os donos de plantaes de folhas de ch do sculo 19 trouxeram tmils da ndia para trabalhar nas fazendas produtoras em regies montanhosas. Mesmo atualmente, tmils so os principais trabalhadores nestas fazendas e algo incomum encontrar cingaleses entre eles.]

Pensamos que o nome Vasini era uma lembrana modificada do nome do animal de estimao da irm mais nova de Devi Mallika, o beb da famlia, que tinha um ano e meio na poca do acidente. O nome deste beb era Chandrakanthie, mas o nome de seu bichinho era Vasanthie; este nome muito prximo de Vasini. No temos dvida, portanto, de que Subashini estava falando da vida de Devi Mallika e de ningum mais. Devi Mallika tinha em torno de sete anos de idade quando morreu.[footnoteRef:4] [4: Obtivemos estimativas da idade de Devi Mallika na ocorrncia do desabamento, que variava muito entre menos de trs anos e meio e mais de sete anos de idade. (Um dos registros do delegado afirmava que ela tinha quatro anos, mas esta informao pode ter derivado de um vizinho pouco informado sobre a famlia; outro de seus registros afirmava que ela tinha sete anos e continha uma observao de que estes dados vinham de sua irm mais velha.) Adotamos a idade de sete anos para ela, com o que a irm mais velha de Devi Mallika, Mallika e o vizinho da famlia, R.W.K. Banda concordaram.]

Alm de suas declaraes sobre a vida anterior, que deram indcios para

a posterior identificao da personalidade anterior, Subashini fz outras observaes e mostrou um comportamento compatvel com a vida de uma famlia pobre que vive em uma fazenda de plantao de folhas de ch. Ela pde descrever folhagens de ch, as quais ela nunca poderia ter visto na rea onde sua famla atual vivia; esta possui uma vegetao muito diferente daquela da regio de Gampola. Ela comentou que seu irmo mais novo ganhara mais leite do que ela, o que indicava uma vida na pobreza, como o indicava o de tomar com seu ch somente uma pequena quantidade de acar na palma de sua mo, a qual ela lambia. (A irm mais velha, Mallika, disse que esta era uma prtica em sua famlia porque eles podiam comprar apenas muito pouco acar.) Devi Mallika tinha um carinho especial por seu pai e dormia com ele com mais frequncia do que com sua me. Subashini, igualmente, preferia dormir com o pai. Ela tambm possua uma acentuada fobia de troves e relmpagos; as outras crianas da famlia no tinham esta fobia. Para concluir o relato do caso de Subashini, iremos mencionar novamente os parentes da me de Subashini, Podi Menike, que vivia em vilas na periferia de Gampola. A famlia de Devi Mallika tinha parentes em duas vilas desta rea, e ela fra levada at l. possvel que aps sua morte, alguns de seus familiares estivessem nesta rea quando os pais de Subashini tambm estivessem. Poder-se-ia supor que os pais de Subashini ou a prpria tenha ouvido os parentes de Devi Mallika falndo sobre o desabamento de 1977. Se isto ocorreu, a ocasio no teria sido social devido grande disparidade do status social entre as duas famlias. Alm disto, no acreditamos que Subashini ou seus pais pudessem ter assimilado 25 detalhes corretos sobre uma famlia estranha, sem que seus pais se lembrassem depois ao menos de alguns destes. A famlia de Devi Mallika no tinha qualquer contato ou relacionamento em Kuliyapitiya, e podemos com toda certeza excluir a possibilidade de que Subashini e sua famlia pudessem ficar sabendo de Devi Mallika na rea em que viviam. Comentrio: Este caso requer menos comentrio do que os precedentes. O indivduo disse que se lembrava de um desabamento que foi o nico a ocorrer no lugar citado. Forneceu detalhes sobre uma famlia e sobre uma filha desta famlia que poderiam aplicar-se a somente uma pessoa, a menina que havia perecido em um desabamento.

Sumrio das Declaraes feitas pelos Trs Indivduos

Resumimos no Quadro 1 as declaraes feitas por cada indivduo, e determinamos a percentagem das declaraes verificveis que estavam corretas. Apesar de no termos conduzido uma examinao sistemtica da preciso das afirmaes das crianas em casos deste tipo, acreditamos que outros indivduos, cujos casos investigamos, mostraram semelhantes nveis de preciso. Devemos enfatizar, entretanto, que a identificao de uma pessoa falecida correspondente s declaraes de uma criana depende mais da especificidade das afirmaes do que de sua quantidade. Algumas declaraes especficas com aplicabilidade restrita, tais como nomes prprios, podem ser suficientes para uma identificao correta, quando muitas afirmaes de grande aplicabilidade no o podem.

QUADRO 1

Percentagem de declaraes corretas feitas pelos indivduos ThusithaIrangaSubashini

Nmero total de declaraes registradas304332

Declaraes no verificveis020303

Declaraes verificveis284329

Declaraes corretas233725

Declaraes incorretas050304

Percentagem de declaraes verificveis que eram corretas82%92%86%

Discusso Antes de discutirmos o significado particular dos trs casos aqui relatados, queremos coloc-los no contexto maior de investigaes de casos deste tipo. Entre os aproximadamente 180 casos que investigamos no Sri Lanka, estes trs casos esto entre os mais fortes na evidncia que proporcionam de algum processo paranormal. No entanto, alguns outros casos so to significativos como estes trs, ou ainda mais. Pensamos que os leitores podem avaliar melhor o peso destes casos estudando relatos de alguns deles juntos certamente mais do que apenas trs e esperamos que o presente trabalho estimule os leitores no familiarizados com tais casos a examinar alguns de nossos outros relatos deles e uma viso geral desta pesquisa que I.S. publicou (Stevenson, 1987). Nenhum dos trs indivduos destes casos disse o nome da pessoa de cuja vida eles pareciam se recordar. Na verdade, como ocorre quase sempre entre indivduos cingaleses, eles mencionavam poucos nomes pessoais de qualquer tipo.[footnoteRef:5] Entretanto, todos eles mencionaram os nomes dos lugares onde a vida anterior ocorrera, e todos deram detalhes especficos adicionais de modo que fosse possvel identificar uma pessoa falecida em cada caso outra criana cuja vida e morte correspondesse s declaraes do indivduo. [5: Em sua interao diria com os outros mesmo dentro de suas famlias o povo cingals no usa muito nomes pessoais ao conversar entre si. Um de ns obteve em outros lugares mais observaes sobre este hbito, que quase uma fobia ao uso de nomes pessoais (Stevenson, 1977). Qualquer que seja sua origem, a relutncia em us-los provavelmente tem um embasamento para a infrequncia com que os indivduos dos casos no Sri Lanka incluem tais nomes em suas declaraes sobre as vidas anteriores de que parecem lembrar.]

Um ponto importante se dada a falha das crianas de mencionar nomes pessoais suas afirmaes poderiam ter-se aplicado igualmente bem a outra criana falecida. Pensamos que no, mas tentamos fornecer detalhe suficiente de modo que outros leitores possam formar sua opinio prpria sobre o assunto. Um segundo ponto igualmente importante se os indivduos podem de alguma forma ter obtido a informao correta que apresentaram por meios

comuns, e pensamos ter mostrado que nestes casos isto extremamente improvvel quando no impossvel. Sentimo-nos seguros, portanto, ao concluir que os indivduos destes trs casos obtiveram todo o conhecimento detalhado sobre uma determinada pessoa falecida por algum processo paranormal. Durante os quase 30 anos que passaram desde que a investigao sistemtica destes casos comeou, uma variedade de interpretaes para eles tem sido aventada, tanto por ns como por outras pessoas que leram nossos relatos. As principais interpretaes so: fraude, criptomnsia, distoro no-intencional das lembranas da parte dos informantes (paramnsia), percepo extra-sensorial da parte do indivduo, possesso e reencarnao. No iremos rever os argumentos contra e a favor de cada uma destas interpretaes. Os leitores interessados podem estudar discusses completas sobre eles em outras fontes (Stevenson, 1966/1974, 1975, 1987). Basta-nos dizer aqui que embora cada uma das interpretaes que so alternativas reencarnao possa ser correta para alguns casos, todas, exceto uma, falham ao serem aplicadas maioria dos casos. A interpretao excepcional, entretanto, extremamente difcil de ser excluda. Referimo-nos paramnsia, que significa que, sem estar consciente de que tenham agido assim, os informantes das famlias referidas em um caso tenham suas lembranas to confusas sobre o que o indivduo disse e o que era verdade sobre a pessoa falecida que tenham viciado o caso. Tal possibilidade tem-se tornado mais elaborada no que podemos chamar de interpretao scio-psicolgica dos casos. Segundo esta, em uma cultura que possua a crena na reencarnao, uma criana que parece falar sobre uma vida anterior ser encorajada a dizer mais. O que esta diz leva seus pais de alguma forma a encontrar outra famlia cujos membros venham a acreditar que a criana esteja falando sobre uma pessoa falecida de sua famlia. As duas famlias trocam informaes sobre detalhes, e terminam por atribuir ao indivduo muito mais conhecimento sobre a identificada pessoa falecida do que ele realmente possua. Chari (1962,1987) tem sido um expoente particularmente articulado e antigo desta interpretao. Brody (1979) fez uma sucinta bem como justa exposio da mesma.Por reconhecermos a plausibilidade da interpretao scio-psicolgica, pelo menos para alguns casos, atribumos grande importncia aos casos do presente grupo: aqueles em que algum (ns mesmos, de preferncia) faa um registro escrito das declaraes do indivduo antes que estas sejam verificadas. Como mencionado em nossa Introduo, os trs casos presentes pertencem a um ainda reduzido grupo de 24 casos. Contudo, nosso recente sucesso em encontrar os presentes casos nos encoraja a pensar que podemos encontrar outros casos deste tipo. A investigao destes casos deve auxiliar consideravelmente na reduo do nmero de possveis interpretaes de casos sugestivos de reencarnao.Concluses Nos trs casos de crianas (no Sri Lanka) que afirmavam lembrar-se de vidas anteriores, foram feitos registros escritos das declaraes da criana antes de as mesmas serem

verificadas. Foi possvel em cada caso, encontrar uma famlia que havia perdido um de seus membros, cuja vida correspondia s declaraes do indivduo. Tais declaraes, como um conjunto, eram suficientemente especficas, de modo que no poderiam ter correspondido vida de qualquer outra pessoa. Acreditamos que exclumos a transmisso por vias normais das informaes corretas aos indivduos e que estes obtiveram as informaes corretas que apresentaram sobre a referida pessoa falecida por algum processo paranormal.Referncias Bibliogrficas

Barker, D.R., & Pasricha, S.K. (1979). Reincarnation cases in Fatehabad: A systematic Survey in North India. Journal of Asian and African Studies, 14, 231-240.Brody, E. B. (1979). Review of Cases of the reincarnation type. Volume II. Ten cases in Sri Lanka. By Ian Stevenson. Charlottesville: University Press of Virginia, 1977. Journal of Nervous and Mental Disease, 167, 769-774.Chari, C.T.K. (1962). Paramnesia and reincarnation. Proceedings of the Society for Psychical Research, 53, 264-286.Chari, C.T.K. (1987). Correspondence. Journal of the Society for Psychical Research, 54, 226-228.Cook, E.W., Pasricha, S., Samararatne, G., U Win Maung, & Stevenson, I. (1983). A review and analysis of unsolved cases of the reincarnation type. II. Comparison of features of solved and unsolved cases. Journal of the American Society for Psychical Research, 77, 115-135.Obeyesekere, G. (1981). Medusas hair. Chicago: University of Chicago Press.Pasricha, S.K., & Stevenson, I. (1987). Indian cases of the reincarnation type two generations apart. Journal of the Society for Psychical Research, 54, 239-246 Stevenson, I. (1974). Twenty cases suggestive of reincarnation. Charlottesville: University Press of Virginia (2nd rev. ed.). (First published in Proceedings of the American Society for Psychical Research, 26, 1-362, 1966.) Stevenson, I. (1975). Cases of the reincarnation type. I. Ten cases in India. Charlottesville: University Press of Virginia. Stevenson, I. (1977). Cases of the reincarnation type. II. Ten cases in Sri Lanka.Charlottesville: University Press of Virginia. Stevenson, I. (1980). Cases of the reincarnation type. III. Twelve cases in Lebanon and Turkey. Charlottesville: University Press of Virginia Stevenson, I. (1983). Cases of the reincarnation type. IV. Twelve cases in Thailand and Burma. Charlottesville: University Press of Virginia.Stevenson, I. (1987). Children who remember previous lives: A question of reincarnation.Charlottesville: University Press of Virginia. Wirz, P. (1966). Kataragama: The holiest place in Ceylon (D.B. Pralle, Trans.). Colombo: Lake House Publishers.

Refernca original: Stevenson, Ian; Samararatne, Godwin. Three new cases of the reincarnation type in Sri Lanka with written records made before verification. J. Sci. Exploration 2, No. 2 (1988) pp. 217-238_________________________

Este artigo foi traduzido para o portugus por Mrcia Guimares Andrade, filha de Gil Restani de Andrade. 237