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Revista Crítica de Ciências Sociais 105 (2014) Número semitemático ................................................................................................................................................................................................................................................................................................ Joaquín Perren O fenômeno da segregação residencial no “Sul do Sul”. O caso de Neuquén (Patagônia, Argentina) no início dos anos noventa ................................................................................................................................................................................................................................................................................................ Aviso O conteúdo deste website está sujeito à legislação francesa sobre a propriedade intelectual e é propriedade exclusiva do editor. Os trabalhos disponibilizados neste website podem ser consultados e reproduzidos em papel ou suporte digital desde que a sua utilização seja estritamente pessoal ou para fins científicos ou pedagógicos, excluindo-se qualquer exploração comercial. A reprodução deverá mencionar obrigatoriamente o editor, o nome da revista, o autor e a referência do documento. Qualquer outra forma de reprodução é interdita salvo se autorizada previamente pelo editor, excepto nos casos previstos pela legislação em vigor em França. Revues.org é um portal de revistas das ciências sociais e humanas desenvolvido pelo CLÉO, Centro para a edição eletrónica aberta (CNRS, EHESS, UP, UAPV - França) ................................................................................................................................................................................................................................................................................................ Referência eletrônica Joaquín Perren, « O fenômeno da segregação residencial no “Sul do Sul”. O caso de Neuquén (Patagônia, Argentina) no início dos anos noventa », Revista Crítica de Ciências Sociais [Online], 105 | 2014, colocado online no dia 03 Dezembro 2014, criado a 05 Dezembro 2014. URL : http://rccs.revues.org/5776 ; DOI : 10.4000/rccs.5776 Editor: Centro de Estudos Sociais http://rccs.revues.org http://www.revues.org Documento acessível online em: http://rccs.revues.org/5776 Este documento é o fac-símile da edição em papel. © CES

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  • Revista Crtica de CinciasSociais105 (2014)Nmero semitemtico

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    Joaqun Perren

    O fenmeno da segregao residencialno Sul do Sul. O caso de Neuqun(Patagnia, Argentina) no incio dosanos noventa................................................................................................................................................................................................................................................................................................

    AvisoO contedo deste website est sujeito legislao francesa sobre a propriedade intelectual e propriedade exclusivado editor.Os trabalhos disponibilizados neste website podem ser consultados e reproduzidos em papel ou suporte digitaldesde que a sua utilizao seja estritamente pessoal ou para fins cientficos ou pedaggicos, excluindo-se qualquerexplorao comercial. A reproduo dever mencionar obrigatoriamente o editor, o nome da revista, o autor e areferncia do documento.Qualquer outra forma de reproduo interdita salvo se autorizada previamente pelo editor, excepto nos casosprevistos pela legislao em vigor em Frana.

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    Referncia eletrnicaJoaqun Perren, O fenmeno da segregao residencial no Sul do Sul. O caso de Neuqun (Patagnia, Argentina)no incio dos anos noventa , Revista Crtica de Cincias Sociais [Online], 105|2014, colocado online no dia 03Dezembro 2014, criado a 05 Dezembro 2014. URL: http://rccs.revues.org/5776; DOI: 10.4000/rccs.5776

    Editor: Centro de Estudos Sociaishttp://rccs.revues.orghttp://www.revues.org

    Documento acessvel online em: http://rccs.revues.org/5776Este documento o fac-smile da edio em papel. CES

  • JOAQUN PeRReN

    O fenmeno da segregao residencial no Sul do Sul. O caso de Neuqun (Patagnia, Argentina) no incio dos anos noventa*

    O presente trabalho analisa a segregao residencial socioeconmica na cidade de Neuqun (Patagnia, Argentina) no comeo da dcada de 1990. Para cumprir com esse propsito, o texto divide se em trs partes. Na primeira seo, realiza se uma aproximao terico metodolgica ao conceito de segregao residencial e um levantamento de possveis maneiras de medi la. Na segunda parte, prope se uma descrio geral do cenrio no qual se desenvolveu o fenmeno que pretendemos estudar. Para tanto, examina se a estratgia de crescimento implementada pelo Governo Provincial e as mudanas que a mesma imprimiu na populao e na sociedade de Neuqun. Na ltima parte do texto, apresenta se uma anlise quantitativa de trs dimenses da segregao: desigualdade, concentrao e isolamento. Em termos heursticos, o artigo utiliza informao sociodemogrfica fornecida pelo Censo Nacional de Poblacin y Vivienda de 1991 da Argentina. Alm disso, para espacializar muitos dos fenmenos que os dados censuais colocaram em evidncia, elaboraram se cartografias temticas a partir da utilizao de Sistemas de Informao Geogrfica.

    Palavras chave: acesso habitao; espao urbano; histria regional; Neuqun, Patagnia (Argentina); segregao social.

    Nos ltimos anos, foram publicados dois interessantes trabalhos que estudaram a segregao residencial socioeconmica na Amrica Latina. O primeiro foi parte de uma pesquisa de longa durao realizada pelo Centro Latinoamericano de Demografa (CELADE), cuja autoria de Rodrguez e Arriagada (2004). Em suas pginas, os autores destacaram, no sem assombro, que a produo acadmica sobre a segregao residencial socioeconmica era escassa, fragmentada e pouco comparvel entre pases,

    * Este artigo foi elaborado no mbito de um ps doutoramento realizado no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, financiado conjuntamente pelo Consejo de Investigaciones Cientficas y Tcnicas (CONICET) da Argentina e pelo Programa Argentina towards Europe for Social Sciences (ARTESS Erasmus Mundus).

    Revista Crtica de Cincias Sociais, 105, Dezembro 2014: 1942

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    e isso, como no poderia ser de outra forma, traduzia se na debilidade ou ausncia de intervenes pblicas explcitas sobre este assunto (Rodrguez e Arriagada, 2004: 6). O segundo texto, mais enfocado no caso argentino, foi elaborado por um gegrafo especializado na anlise da diferenciao socioespacial (Gmez, 2011). Mesmo tendo transcorrido mais de meia dcada entre esses textos, a avaliao realizada por Gmez no era muito diferente da apresentada pelos tcnicos da CELADE. Aps uma reviso rigorosa, este autor visualizava a necessidade de contar com estudos que consigam evidenciar e quantificar a segregao junto identificao de suas manifestaes espaciais, para conhecer as particularidades das diferentes cidades e, por sua vez, aprofundar as indagaes de longo prazo sobre a evoluo da segregao residencial, muito analisada em outros contextos regionais (ibidem: 65).

    Considerando como fontes as duas reflexes, este trabalho pretende colaborar para preencher as trs lacunas que surgiram a partir das constataes dos referidos especialistas. Em primeiro lugar, consideramos necessrio testar enfoques e instrumentos aplicados em outros casos, o que permitiria uma maior comparabilidade entre os resultados obtidos em diferentes cenrios. Em segundo lugar, acreditamos ser importante oferecer uma perspectiva histrica aos trabalhos dedicados ao estudo da segregao residencial. Decididamente, conhecer as mudanas e as continuidades que esse fenmeno apresenta o que as cincias sociais podem e devem fazer, seguindo o sbio conselho de Bourdieu (1996), e tambm a principal contribuio que a histria pode realizar para uma melhor compreenso das desigualdades sociais e espaciais. Por fim, julgamos fundamental complementar os estudos sobre as reas metropolitanas da regio com outros cujo foco de ateno seja as cidades de tamanho intermdio. Este interesse no se justifica apenas a partir da menor quantidade de trabalhos relacionados a elas, seno essencialmente por sua crescente importncia no contexto latino americano. Para corroborar este ponto, basta revisar algumas cifras sobre o caso argentino: no perodo compreendido entre 1950 e 1991, a taxa de crescimento das urbes cuja populao oscilava entre 500 mil e 1 milho de habitantes foi 50% mais elevada do que a correspondente rea metropolitana de Buenos Aires; enquanto a apresentada pelas aglomeraes que tinham entre 50 mil e 500 mil habitantes foi 70% superior (Jordan e Simioni, 1998: 57).

    A fim de avanar em cada uma das trs direes acima indicadas, no presente trabalho propomos estudar o caso de Neuqun, uma cidade de tamanho intermdio localizada na Patagnia argentina. Neste sentido, e para organizar a exposio, traamos o seguinte caminho: na primeira parte do artigo, faremos uma breve aproximao ao conceito de segregao residencial e investigaremos possveis vias para medi la, utilizando a informao fornecida pelo Censo

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    Nacional de Poblacin y Vivienda de 1991 da Argentina. Posteriormente, com o propsito de analisar os condicionantes societais da segregao, nas palavras de Machado Barbosa (2001: 12), examinaremos a estratgia de crescimento implementada pelo Governo Provincial e as mudanas que a mesma imprimiu na populao e na sociedade de Neuqun. Na ltima parte do texto, apresentaremos uma anlise quantitativa de trs dimenses da segregao (desigualdade, concentrao e isolamento), por meio das quais exploraremos as assimetrias socioespaciais que caracterizaram a cidade durante o perodo selecionado. Em todo este percurso, para espacializar muitos dos fenmenos que as fontes censuais colocaram em evidncia, elaboramos cartografias temticas a partir da utilizao de Sistemas de Informao Geogrfica, em particular o programa ArcView GIS 3.3.

    As ferramentas1

    Existe certo consenso acadmico em relao definio de segregao residencial. Nas palavras de Rodrguez e Arriagada, este conceito remete a formas de desigual distribuio de grupos de populao no territrio (2008: 6). Neste sentido, a segregao pode ser pensada como uma das formas em que se expressa o processo de diferenciao social ou mesmo como a cristalizao da estrutura social no espao (Machado Barbosa, 2001). Se aplicssemos esta ideia no mbito das cidades, chegaramos a uma definio como a de Sabatini, Cceres e Cerda (2001: 27), que entendem a segregao residencial urbana como o grau de proximidade espacial ou de aglomerao territorial das famlias pertencentes a um mesmo grupo social, seja este definido em termos socioeconmicos, tnicos, etrios ou de preferncias religiosas, entre outras possibilidades. Para o nosso caso em particular, deixamos de lado as trs ltimas opes e concentramos nossa ateno no primeiro dos aspectos considerados pelos autores mencionados.

    Em termos metodolgicos, o estudo da segregao residencial na cidade de Neuqun nos obriga a tomar trs decises de enorme importncia. A primeira delas consiste em selecionar uma varivel de segmentao socioeconmica. Acerca deste ponto, os dados disponveis apresentam uma primeira dificuldade. Infelizmente, o Censo Nacional de Poblacin y Vivienda de 1991 da Argentina no oferece informao sobre o nvel de renda nem sobre os estratos que conformavam a estrutura social da cidade de Neuqun. Sendo assim, s podemos ter acesso s diferenas sociais da populao atravs do seguinte exerccio de aproximao: devido ausncia de informao sobre a condio econmica da populao, utilizaremos o mximo nvel de instruo do chefe de

    1 Nesta seo retomamos algumas ideias propostas em Perren (2011b).

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    famlia (MNI) como varivel proxy da condio socioeconmica. Apesar de tratar se de um paliativo, no poderamos dizer que uma deciso caprichosa. Longe disso, numerosos trabalhos abraaram esta opo metodolgica e todos eles partem de uma ideia comum: existe una estreita correlao entre a educao do chefe de famlia e a probabilidade de obter uma maior renda (Rodrguez, 2008; Natera Rivas y Gmez, 2008; Marcos e Mera, 2011).

    Agora vejamos como o Instituto Nacional de Estadstica y Censos (INDEC) da Argentina tornou operacional a observao do MNI. O censo de 1991 nos proporciona oito categorias educativas, que abarcam uma gama de situaes que vo desde o analfabetismo at titulao universitria. Para facilitar nossa aproximao ao fenmeno da segregao, prestaremos especial ateno s categorias que se encontram nos extremos da escala: de um lado, os que possuam at ao nvel primrio completo; e de outro, aqueles chefes de famlia que apresentavam uma passagem bem sucedida pela universidade. O Quadro 1 nos mostra a pertinncia da seleo de critrios educativos como forma de ter acesso ao nvel socioeconmico da populao de Neuqun. De acordo com os dados fornecidos pela Encuesta Permanente de Hogares2 para a regio patagnica, o grupo de maior nvel de instruo tinha, em meados dos anos noventa, uma renda familiar entre trs a quatro vezes superior do grupo que tinha as credenciais educacionais mais baixas. Esses nmeros dependiam do facto de se tratar de uma famlia cujo chefe no tinha formao, ou de uma cujo responsvel apresentava nvel primrio completo.

    QUADRO 1 Renda per capita mensal, segundo o nvel de educao do chefe de famlia Patagnia, 1995

    Nvel de educao do chefe de famliaRenda per capita

    (pesos argentinos)

    Baixo Sem instruo Primrio incompleto 168

    Primrio completo 233

    Alto Superior e universitrio completos 765

    Fonte: Elaborao prpria com base em dados do INDEC.

    2 A Encuesta Permanente de Hogares um programa nacional de produo permanente de indicadores sociais cujo objetivo conhecer as caractersticas socioeconmicas da populao. realizada de maneira conjunta pelo Instituto Nacional de Estadstica y Censos (INDEC) e as Direcciones Provinciales de Estadstica (DPE). Encontra se uma boa aproximao histria deste instrumento em Graa e Lavopa (2008).

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    A segunda deciso nos remete ao problema da escala. Poderamos resumir esta questo de uma maneira que resulte simples para o leitor. Quanto menor seja a unidade espacial escolhida, maiores sero as possibilidades de analisar situaes que seriam impossveis de observar a nvel geral. Mas os riscos de pecar pelo excesso esto sempre presentes: se a unidade espacial escolhida muito pequena, provvel que produza uma superestimao da segregao. Por isso, o desafio reside na definio de subunidades espaciais que sejam suficientemente pequenas, mas ao mesmo tempo suficientemente significativas quanto ao nmero de habitantes. Em funo destas recomendaes, utilizamos no presente estudo informao a nvel de raio censual que, embora seja a escala limite de desagregao fornecida pelo censo de 1991, proporciona unidades espaciais cuja dimenso poderia assimilar se de uma vizinhana, j que em sua imensa maioria superam os 1000 habitantes (Figura 1).

    FIGURA 1 Cidade de Neuqun por raios censuais (1991)

    Fonte: Elaborao prpria com base em dados da Direccin Provincial de Estadstica y Censo de Neuqun (DPECN).

    Em relao ao problema dos indicadores, terceira das decises que devemos tomar, optamos por seguir o rastro deixado por Massey e Denton (1988), duas referncias imprescindveis no estudo da segregao residencial. Em uma obra clssica, os autores indicavam que a diferenciao socioespacial podia ser analisada a partir de distintas dimenses. Para os fins que

    1000 0 1000 2000 Meters

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    este trabalho persegue, e em funo da informao com a qual contamos, conformar nos emos com abordar trs dimenses em particular: igualdade, concentrao e exposio. Sem querer ser exaustivos, poderamos dizer que os indicadores que derivam da primeira captam a distribuio desigual dos grupos sociais nas reas espaciais em que a cidade pode subdividirse; enquanto os vinculados segunda se referem quantidade relativa de espao fsico ocupado por um grupo no meio urbano. Em outras palavras, a desigualdade nos fala da mescla habitacional que existe entre dois grupos da populao e a concentrao acerca da pequena dimenso das reas nas quais um determinado grupo tem uma forte presena. A terceira dimenso, aquilo que Massey e Denton denominam exposio, trata de elucidar o modo pelo qual a distribuio espacial condiciona as possibilidades de intera o entre grupos sociais, medindo a experincia da segregao sentida pela mdia dos membros de grupos minoritrios ou maioritrios (1988: 287).

    O cenrioUma vez resolvido cada um dos desafios metodolgicos que implica o estudo da diferenciao socioespacial, convm apresentar uma descrio geral do cenrio no qual se desenvolveram os fenmenos que pretendemos estudar. Se tivssemos que enumerar estes condicionantes societais da segregao, no poderamos deixar de marcar aspectos relativos economia, populao e ao mercado de trabalho.

    economiaEm meados do sculo xx, a Patagnia ainda apresentava como atividade predominante uma pecuria extensiva, uma agricultura intensiva de osis e a extrao de hidrocarbonetos. Como lgico supor, esta orientao produtiva colaborou muito pouco para o fortalecimento de um perfil urbano da regio. Pelo contrrio, uma viso superficial nos permitia observar um punhado de cidades que, em nenhum caso, podiam comparar se com os tradicionais centros do pas. No estaria mal se dissssemos que o desenvolvimentismo, esse pensamento econmico irradiado pela Comisin Econmica para Amrica Latina y el Caribe (CEPAL), deu um pouco de ar puro aos perifricos distritos do Sul argentino. A tentativa de desmontar o modelo agroexportador e de erigir em seu lugar uma maquinaria industrial diversificada deu impulso busca de fontes energticas acordes com esta nova meta. Uma economia que at ento havia olhado para fora mostrou um progressivo interesse por criar polos de crescimento, que propagariam sua influncia ao conjunto nacional. Esta nova sintonia ideolgica, que valorizava o papel planificador do Estado,

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    teve Neuqun como um cenrio privilegiado. Por essa razo, divisamos a partir dos anos sessenta um trnsito para uma modalidade de crescimento baseada nos benefcios derivados da explorao de recursos energticos (hidroeletricidade, petrleo e gs). Ao mesmo tempo, e de algum modo como consequncia desta orientao, expandiu se uma ampla gama de atividades localizadas na capital provincial, entre as quais se destacavam a construo e a prestao de servios, sobretudo aqueles que giravam na rbita do Estado, como por exemplo sade, educao e administrao pblica em geral.

    PopulaoAs transformaes econmicas que acabamos de resenhar tiveram um impacto profundo na dinmica demogrfica da cidade. Para explicar isso, basta observar o impressionante crescimento da populao de Neuqun, cujo nmero praticamente foi multiplicado por doze entre 1960 e 1991: seus 15 mil habitantes se transformaram em cerca de 170 mil. Dois fenmenos ajudam a entender um crescimento desta envergadura. Por um lado, devemos mencionar um incremento vegetativo que, devido a uma elevada natalidade e uma mortalidade em descenso, se manteve entre os mais altos da Argentina (Taranda et al., 2009). Por outro lado, o crescimento migratrio levou a cidade de Neuqun a posicionar se como uma das reas receptoras de maior progresso durante a segunda metade do sculo xx.

    Mercado de trabalhoO crescimento do Estado provincial, assim como o desenvolvimento do comrcio, da indstria e das finanas, fez dos assalariados a categoria ocupa cional mais repetida durante a dcada de 1980: trs quartas partes da populao economicamente ativa podiam inserir se nela (Toutoundjian e Holubica, 1990: 59). A populao no assalariada completava o panorama ocupacional de Neuqun. Como em muitos mercados laborais do pas, esta ltima categoria inclua majoritariamente trabalhadores por conta prpria, trabalhadores familiares sem remunerao e patres de empresas de reduzidas dimenses (um ou dois trabalhadores). Cabe destacar que estas figuras encobriam boa parte dos assalariados empregados no mundo da construo.

    Aps este breve exerccio de contextualizao, temos condies de formular alguns interrogantes que orientaro nossas reflexes: como estas mudanas impactaram sobre as distintas dimenses e indicadores a partir dos quais se expressa a segregao residencial socioeconmica? A ilha de bem estar, tal como se apresentava Neuqun nos discursos oficiais (Favaro e Arias Bucciarelli, 2001: 61), albergava em seu interior bolses de pobreza?

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    Essa populao de escassa renda se encontrava segregada dentro da rea urbana? Compartilhavam espaos na cidade aqueles que se situavam nos extremos da classificao socioeconmica?

    ResultadosA seguir apresentamos os principais resultados que surgiram da medio dos indicadores de segregao espacial na cidade de Neuqun. Por uma questo de ordem, organizaremos a exposio a partir de cada uma das dimenses que detalhamos na segunda parte do trabalho. Como j advertimos, todas as medies foram realizadas tendo como referncia os raios censuais e, para facilitar a leitura dos resultados, acompanhadas por uma enumerao dos principais defeitos e virtudes que apresentam os indicadores selecionados.

    Dimenso de desigualdadeOs dois indicadores de segregao sob a dimenso de desigualdade que examinaremos neste trabalho so os ndices Globais de Segregao (IS) e de Dissimilitude (ID). Ambos partem de duas caractersticas semelhantes: utilizam como referncia o conjunto da cidade e se interpretam como a proporo de um grupo determinado que deveria mudar se para conseguir a desagregao total com respeito a outro (Duncan e Duncan, 1955). Um valor prximo a 100 nos indicaria que o grupo em questo no compartilha reas residenciais com membros do outro grupo (realidade de segregao); enquanto um valor prximo a zero nos avisa que a proporo de ambos os grupos para cada uma das subdivises estudadas idntica (realidade de integrao). A diferena entre um e outro consiste em que, enquanto o IS mede a distribuio de um grupo em relao ao total da populao, o ID mede a distribuio de dois grupos entre si.

    A principal vantagem dos ndices de Segregao e Dissimilitude no muito difcil de imaginar: sua leitura simples e intuitiva. Alm disso, o clculo dos mesmos no precisa de grandes rudimentos, e sua implementao no requer tcnicas de georreferenciamento. As desvantagens, por outro lado, resumem se a duas. Em primeiro lugar, tal como argumentamos quando abordamos o problema da escala, os valores de ID e o IS sero menores quanto maior seja o tamanho das subunidades espaciais (Van Kempen, 2005). A segunda desvantagem consiste em que, ao serem indicadores de resumo, no dizem nada quanto ao facto de as reas de concentrao dos grupos se distriburem de forma aleatria no espao ou de se unirem umas s outras conformando contguos homogneos (Sabatini, Cceres e Cerd, 2001).

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    Para o caso da cidade de Neuqun, o IS mostra que os grupos de MNI baixo e MNI alto no se encontram homogeneamente distribudos (Quadro 2). Em 1991, cerca de um tero dos chefes de famlia que apresentavam os piores indicadores educativos devia mudar seu lugar de residncia para obter uma distribuio homognea em toda a cidade. A segregao dos que mostravam um MNI alto era ainda mais forte. Um IS de 44 nos fala de uma escassa mescla habitacional entre a populao de maior renda e o resto da sociedade de Neuqun (Quadro 2). Nos incios da dcada de noventa, cerca de metade dos chefes de famlia de melhor condio socioeconmica devia transladar se para conseguir uma distribuio uniforme no interior do espao urbano. Poderamos ento resumi lo da seguinte maneira: muito antes da apario dos condomnios fechados e das urbanizaes exclusivas, e rompendo com o que o senso comum parecia indicar nos, os ricos se encontravam muito mais segregados no espao urbano que os pobres.

    QUADRO 2 ndice de Segregao e Dissimilitude segundo grupos cujos chefes de famlia apresentam mximo nvel de instruo

    Neuqun, 1991

    Grupo ndice de Segregao (IS)

    Baixo 32,89

    Alto 49,86

    Par ndice de Dissimilitude (ID)

    Baixo Alto 63,30

    Fonte: Elaborao prpria com base em dados do INDEC.

    Passemos agora ao segundo dos indicadores a partir do qual podemos aproximar nos da desigualdade: o ndice de Dissimilitude. Os resultados que obtivemos neste ponto permitem inserir Neuqun na abundante literatura dedicada ao estudo da segregao residencial socioeconmica. Como em outros trabalhos, a medio do ID mostra a estreita correlao existente entre nvel socioeconmico e ocupao do espao, sugerindo uma alta correspondncia entre a distribuio espacial dos grupos e as distncias socioeconmicas existentes entre eles (Rodrguez, 2008: 18). Para demonstrar o primeiro, basta mencionar uma cifra: dois teros dos membros do grupo de MNI baixo deviam mudar seu lugar de residncia para obter igual distribuio em relao ao grupo de MNI alto em todas as reas da cidade. Porm, este dado nos diz pouco se no o observamos

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    a partir de uma perspectiva mais ampla: no caso de utilizar os parmetros fornecidos por Arriagada Luco (2010), autor especializado no estudo da diferenciao socioespacial em distintas urbes latino americanas, estamos em condies de afirmar que os dois grupos mostravam entre si uma realidade de hipersegregao.

    Dimenso de concentraoO terceiro dos indicadores que utilizaremos para observar a segregao residencial na cidade de Neuqun o ndice Delta (DEL). Trata se de uma medida que considera as densidades relativas de um determinado grupo em cada uma das unidades espaciais selecionadas, relacionando tais magnitudes com a densidade mdia de dita subpopulao no conjunto urbano (Martori i Caas e Hoberg, 2004). A principal vantagem do DEL que inclui uma dimenso territorial que no estava presente nos indicadores que trabalhamos acima. No entanto, como toda a medida de resumo, por meio dela apenas podemos saber se alguma subpopulao mostra uma realidade de concentrao, no sendo possvel identificar em que unidades espaciais se d este processo e, menos ainda, conhecer se tais unidades espaciais se encontram agrupadas em algum setor da cidade. Em outras palavras, e fazendo uso dos sugestivos esquemas de Sabatini, Cceres e Cerda (2001), a obteno do DEL no nos permite saber se estamos na presena de uma segregao micro por exemplo um enclave ou de uma segregao macro uma rea extensa que contm um grupo com semelhantes condies socioeconmicas. Por essa razo, no recomendvel delimitar o estudo da segregao residencial implementao de apenas este indicador de concentrao.

    O clculo do DEL coloca nos face a uma realidade de forte concentrao de pobres e ricos no tecido urbano de Neuqun. Para apoiar este ponto, s preciso dizer que o indicador de ambas as subpopulaes (MNI baixo e MNI alto) superava a barreira de 60. Estes algarismos poderiam ser lidos da seguinte maneira: seis em cada dez integrantes dos grupos em questo deviam mudar de residncia para se conseguir uma densidade uniforme em toda a cidade. Cifras elevadas como as obtidas nos advertem que tanto os chefes de famlia que no tiveram acesso ao nvel secundrio de educao como os que ostentavam uma passagem completa pelo sistema universitrio tinham uma maior presena relativa em determinadas vizinhanas, onde a sua densidade era verdadeiramente alta. Vistos sob uma perspectiva nacional, estes nveis de concentrao encontram se acima do exibido por cidades intermdias de maior porte, como o caso da Provncia de Santa F no comeo do sculo xxi (Gmez, 2011), ou urbes da envergadura de

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    Buenos Aires (Marcos e Mera, 2011). Este simples exerccio comparativo fornece nos uma evidncia adicional sobre uma hiptese que sugerimos em outros trabalhos (Perren, 2011a e 2011b): as aglomeraes de tamanho intermdio, muitas vezes mostradas como espaos de relativa igualdade, no estavam isentas das fraturas sociais que caracterizavam as metrpoles da regio.

    Para remediar algumas das deficincias que apresentava o DEL, necessrio recorrer a outro indicador de concentrao: o Quociente de Localizao (LQ). Em termos gerais, poderamos afirmar que esta medida nos alerta sobre quo elevada a proporo de um determinado grupo em uma determinada rea da cidade relativamente proporo que o mesmo grupo assume em toda a cidade. Um LQ menor que a unidade nos mostra uma situao na qual a proporo de um determinado grupo na unidade espacial inferior proporo do grupo na cidade (realidade de sub representao relativa); enquanto um que se encontre acima daquela cifra mostra o contrrio: a proporo do dito grupo na unidade espacial maior que a proporo do grupo na cidade (realidade de sobrerrepresentao relativa) (Arbaci, 2008). Do que acabamos de expressar infere se a principal vantagem do LQ em relao ao DEL: ao permitir ordenar todas as reas em funo da proporo de membros do grupo que nelas habitam, o primeiro possibilita distinguir agrupamentos espaciais; algo que, como vimos anteriormente, era impossvel realizar utilizando o segundo. Na linha das vantagens tambm devemos destacar um segundo aspecto: o LQ no sensvel s diferenas de populao e permite a comparao da distribuio no espao de grupos muito dspares em termos demogrficos.

    Dito isto, no podemos deixar de fazer uma pergunta: quais eram as reas de maior concentrao relativa de chefes de famlia que se situavam nas extremidades da classificao (MNI Alto e Baixo)? Ou, em outras palavras, onde se localizavam os grupos socioeconmicos que mostravam entre si uma escassa mescla habitacional?

    A resposta a estes interrogantes poderia resumir se da seguinte maneira: a distribuio no espao de ambos os grupos apresentava uma combinao entre elementos antigos e outros que resultavam, no comeo dos anos noventa, inovadores. Na Figura 2 podemos ver que as reas de maior concentrao relativa de chefes de famlia com MNI baixo se localizavam em espaos que se encontravam relegados desde meados do sculo xx (Perren, 2007). Neste caso, devemos mencionar assentamentos semirrurais desenvolvidos nas imediaes do cinturo de chcaras que rodeia a cidade (no Sudoeste, o bairro Valentina) e bairros populares de antiga data (Progreso, no Oeste). O grupo de menor passagem pelo sistema de

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    ensino tambm se encontrava sobrerrepresentado naquelas reas que se juntaram mar urbanizadora nos anos setenta e oitenta. Na maioria dos casos tratava se de assentamentos que se desenvolveram em terras fiscais e que, ainda em 1991, careciam dos servios pblicos mais bsicos (os bairros Malvinas e Ceferino no Oeste e Don Bosco II e III no Sul). Por ltimo, e a reside uma das principais novidades em relao ao passado, o estrato de menor nvel socioeconmico comeava a ser forte em complexos habitacionais construdos pelo Estado provincial no Oeste da cidade. Esta poltica, que aprofundou a segregao dos setores mais vulnerveis da sociedade, deu origem a bairros no Noroeste de Neuqun, entre os quais se destacou, devido ao seu tamanho, San Lorenzo.

    FIGURA 2 Quociente de Localizao de MNI Baixo Cidade de Neuqun, 1991

    Fonte: Elaborao prpria com base no INDEC e DPECN.

    Observamos um mix similar entre elementos antigos e novos em um grupo conformado pelos chefes de famlia de MNI alto (Figura 3). Sua presena relativa era verdadeiramente forte no que, em outro trabalho, denominamos centro estendido; quer dizer, aquele espao conformado pelo traado original e diferentes bairros residenciais que, em virtude do crescente preo da propriedade imobiliria na rea comercial e administrativa, foram construdos em um raio compreendido entre quinze a trinta quadras do centro geogrfico da cidade (Villa Farrell no Leste, Cumeln no Oeste, Santa Genoveva e Provincias Unidas no Nordeste e Alta Barda, COPOL, Salud Pblica e 14 de octubre no Norte). Este padro de assentamento centralizado, que invertia a lgica sugerida por Burgess para

    1000 0 1000 2000 Meters

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    o caso das metrpoles norte americanas, comeou a ser acompanhado de um elemento que ganharia peso conforme nos aproximamos do presente: a periferizao dos padres habitacionais dos membros mais abastados da sociedade. Isto especialmente evidente no caso das reas conhecidas como Jardines del Rey (no Sul), Rincn Club de Campo (no Norte), Consorcio San Martn e Barreneche (ambos no Oeste). Tambm com uma localizao perifrica, ainda que com caractersticas muito diferentes dos anteriores, devemos mencionar os complexos habitacionais construdos para dar soluo ao dficit habitacional que enfrentavam os trabalhadores da educao na capital de Neuqun (MUDON e MUTEN no Noroeste). Em resumo, os padres de assentamento do grupo que ocupava a cspide da classificao assemelhava se a um continente localizado no centro e a um punhado de ilhas que comeavam a surgir na periferia (Figura 3).

    FIGURA 3 Quociente de Localizao (LQ) de MNI Alto Cidade de Neuqun, 1991

    Fonte: Elaborao prpria com base no INDEC e DPECN.

    Dimenso de exposioA exposio, como adiantamos na segunda seo, constitui uma dimenso que reflete o grau de contato potencial ou a possibilidade de interao entre os membros de diferentes grupos sociais. Para dar conta deste tipo de situao resulta adequado adicionar o ndice de Isolamento (IA) nossa caixa de ferramentas. Nas palavras de Gmez, este indicador mede a probabilidade de que um indivduo compartilhe a mesma unidade com um indivduo de um grupo diferente (2011: 67). Ao contrrio do ID ou do IS, os possveis valores do IA oscilam entre 0 e 1. O valor mximo nos indica que uma determinada

    1000 0 1000 2000 Meters

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    subpopulao est isolada nas unidades espaciais onde reside; enquanto uma pontuao baixa nos indica exatamente o inverso: essa subpopulao deveria ter maiores possibilidades de interagir com outros grupos sociais.

    A principal vantagem do IA que funciona como um complemento ideal de indicadores relacionados com a concentrao. Se estes ltimos, como dissemos anteriormente, mostravam realidades de sub ou super representao de um determinado grupo, o IA permite vincular essa questo com o total dos habitantes de uma determinada unidade espacial. Entretanto, no podemos deixar de notar que este indicador assume como certa uma srie de pressupostos que nem sempre ocorrem na realidade histrica. Entre eles, podemos mencionar trs em particular: a) as pessoas interagem apenas com quem mora na sua prpria rea de residncia; b) cada pessoa tem probabilidade igual de estabelecer contato com qualquer outra da mesma rea; e c) as possibilidades de interao tm como nico determinante a distribuio residencial da populao (Marcos e Mera, 2009: 6). Precisamente por tratar se de um simples exerccio estatstico, de um mero jogo de probabilidades, os resultados que obtenhamos nesta dimenso no apenas devem ser complementados com outros indicadores de segregao, seno que tambm imprescindvel analis los luz de outro tipo de evidncia, seja quantitativa ou qualitativa.

    A aplicao do IA ao caso de Neuqun nos mostra uma realidade muito rica em nuances. Se bem que os grupos de MNI baixo e alto exibiam uma forte concentrao em determinadas reas da cidade, o nvel de isolamento de ambas subpopulaes no era exatamente o mesmo. No estaria mal se dissssemos que os que apresentavam um pior desempenho educativo estavam muito mais isolados do que aqueles que podiam demonstrar uma passagem completa pela universidade. Para apoiar esta afirmao, suficiente destacar que os primeiros praticamente triplicaram o IA dos segundos: os integrantes do grupo de MNI baixo atingiram nesta dimenso valores prximos a 0,3; enquanto os chefes de famlia com MNI alto apenas obtiveram uma pontuao de 0,1. Estas diferenas nos indicam que a proporo de pobres nas reas pobres era muito mais elevada do que a proporo de ricos nas reas ricas, o que nos mostraria uma realidade de segregao que afetava principalmente quem se encontrava na base da estrutura scio ocupacional.

    Uma pesquisa, realizada pelo municpio de Neuqun em meados da dcada de 1980, pode nos dar algumas pistas sobre o grau de isolamento da subpopulao que reunia piores condies socioeconmicas. O objeto deste estudo foi, no por acaso, o Sector 5 do bairro Progreso, no corao do agrupamento de reas pobres. Graas a um duro trabalho de campo, os tcnicos da Prefeitura de Neuqun puderam determinar que este assentamento, que

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    tinha mais de mil habitantes, s contava com quarenta estudantes do ensino secundrio e um estudante universitrio.3 Esse escasso nvel de instruo refletia se em uma estrutura ocupacional onde sobressaam os trabalhadores manuais e, em especial, aqueles que estavam empregados no mundo da construo. As condies habitacionais de vizinhanas assentadas em terras fiscais no eram melhores que as ocupacionais. O Sector 5, como toda a nova periferia nascida nas margens da cidade, constitua um verdadeiro deserto em matria de servios pblicos. A concluso a que chegaram aps realizar este diagnstico no podia ser mais clara, e descreve com perfeio como a segregao das reas pobres incrementava o nvel de polarizao da cidade:

    A falta de comunicao direta com os setores de assentamento, a carncia de servios de infraestrutura, a precariedade da maioria das casas e a falta de ordenamento, acarreta srios transtornos de convivncia no meio e como conseqncia um isolamento social, cultural e econmico dos centros urbanos desenvolvidos.4

    Esta realidade de isolamento e de forte homogeneidade social, descrita pelas prprias autoridades, pode ser posta prova realizando um estudo dos matrimnios. Embora se trate de uma via indireta, que no abrange o conjunto da populao, uma explorao da nupcialidade pode dar nos alguns indcios sobre o impacto da segregao residencial nas relaes sociais e, como argumentam alguns autores, na subjetividade dos habitantes (Machado Barbosa, 2001). Em outro trabalho, analisamos as pautas matrimoniais daqueles que haviam chegado do outro lado da Cordilheira dos Andes e do interior rural de Neuqun. Ou seja, dos grupos da populao que, na dcada de oitenta, apresentavam um comportamento residencial pouco centralizado e uma forte presena nos escales inferiores da estrutura ocupacional. Alguns resultados que obtivemos naquela investigao nos mostraram a forte correlao que existia entre condio social, lugar de residncia e seleo matrimonial: oito em cada dez migrantes de ambas as origens contraram matrimnio com uma pessoa que morava nas mesmas coordenadas espaciais (Perren, 2011c). Esta homogamia residencial, sobreposta com uma homogamia social, avisou nos sobre um aspecto inevitvel: as margens da cidade foram o cenrio de uma fluida comunicao entre os que ocupavam a base da estrutura ocupacional.

    3 Arquivo Histrico da Prefeitura de Neuqun (AHMN), Asesora tcnica de normalizacin de asentamientos ilegales, Secretaria de Obras Pblicas, Municipalidad de Neuqun, 1983, p. 6.4 AHMN, Asesora tcnica de normalizacin de asentamientos ilegales, Secretaria de Obras Pblicas, Municipalidad de Neuqun, 1983, p. 9.

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    Reflexes finaisAps este passeio por uma parte da histria urbana da cidade de Neuqun, necessrio afirmar que as cidades intermdias no estiveram isentas das fraturas socioespaciais que caracterizaram as urbes de maior dimenso, tal como certa literatura parecia esforar se por demonstrar (Llop Torn, 1999: 44). E esta afirmao no s vlida para o perodo que se inaugura na dcada de 1990, quando se exacerbaram os problemas de emprego e a retirada do Estado complicou enormemente o acesso habitao, seno que tambm aplicvel para o perodo prvio. Tal como demonstramos em outros trabalhos e reafirmamos no presente estudo, a chamada ilha do bem estar apresentava, para cada uma das dimenses analisadas, nveis de segregao residencial que se encontravam altura de cidades intermdias de maior tamanho e inclusive comparveis aos que exibia na rea metropolitana de Buenos Aires (Perren, 2011b).

    Agora, dito isso, algumas perguntas so inevitveis: que implicaes este fenmeno teve em uma cidade com as caractersticas de Neuqun? Que mecanismos sociais foram resultado das evidentes desigualdades espaciais da cidade?

    Poderamos comear dizendo que a segregao, alm de expressar no espao distintos tipos de desigualdades, constitui se no cimento sobre o qual tais diferenas se assentam, reproduzem e agravam. Com isto, queremos dizer que a estrutura espacial da cidade no reflete apenas as assimetrias prprias da sociedade, como tambm retroalimenta uma estrutura social complexa na qual coexistem e se combinam processos de diferenciao, desigualdade e excluso (Sarav, 2008: 97). Esta hiptese, que coloca a segregao no lugar de causa e no como uma mera consequncia, foi defendida por dois enfoques tericos que, ainda que diferentes, tm mais de um ponto de contato. O primeiro deles procurou desentranhar o que alguns autores denominaram efeito de bairro. Defendendo a premissa de que a vizinhana importa, como alguma vez assinalou Ruben Katzman (1999), os autores que pertencem a esta tradio se esforaram em demonstrar como o isolamento dos pobres no fez mais do que recortar o horizonte daqueles que sobrevivem nestes espaos relegados, levando a maioria dos que ali residem a imaginar a pobreza como nica possibilidade. A segunda perspectiva partia de um pressuposto bastante mais simples: as comunidades com poucas oportunidades so aquelas que apresentam inocultveis dficits em setores necessrios para que seus habitantes possam desenvolver todas as suas capacidades. Essa desigual geografia das oportunidades envolve, entre outros elementos, a escassez de estabelecimentos educativos, a falta de postos de trabalho, a baixa taxa de gerao de emprego e uma insuficiente

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    capacidade para originar recursos fiscais. Alm das suas bvias diferenas, ambas as vises propem pensar o micro como efeito de condicionantes macros que operam no plano espacial (Otero e Pellegrino, 2004: 50).

    Alguns resultados que obtivemos para o caso de Neuqun pareciam apontar nesta direo (Perren, 2013). Depois de reconstruir, por meio de fontes nominais, o comportamento ocupacional de uma centena de famlias, advertimos sobre a existncia de trajetrias diferenciais vinculadas precisamente ao lugar de residncia. Algumas cifras podem fornecer nos pistas a este respeito: cerca de um tero das famlias que moraram nos espaos ocupacionalmente heterogneos, localizados principalmente na rea central da cidade, exibiram alguma forma de mobilidade ascendente; enquanto s um quinto das que residiram apenas em espaos pouco estratificados, todos de localizao perifrica, poderiam localizar se nas mesmas coordenadas. Encontramos diferenas do mesmo teor se paramos para olhar aqueles que no mostraram trajetrias ocupacionais variveis. Neste sentido, suficiente dizer que as famlias perifricas apresentaram uma estabilidade superior em 22% quelas que residiram nos espaos mais consolidados da cidade (ibidem). Estes dados nos indicam que as trajetrias das pessoas que desenvolveram sua sociabilidade na nova periferia, justamente no momento em que esta estava se construindo, apresentavam uma segurana e uma cobertura que no eram to visveis naqueles espaos que continham universos de relaes menos densos. Porm, esta trama de relaes, que podia servir de garantia ante o desemprego, funcionava como uma cpsula ocupacional, dificultando o acesso a empregos que se encontrassem fora de um mundo de relaes que tinha a proximidade espacial como principal condicionante.

    No entanto, no podemos deixar de mencionar uma dimenso positiva da segregao residencial. A concentrao espacial dos pobres foi de vital importncia para seu empoderamento (Katzman, 2001): sobre a base da organizao territorial, pde reforar se a capacidade de ao de quem reside nos assentamentos perifricos. Claro que os efeitos positivos da segregao no podiam ser reduzidos a uma questo organizacional ou a mecanismos de presso ante as autoridades. Vemos tambm, em certa medida atravessada por aquelas prticas, a emergncia de novos contextos culturais. Compartilhar um mesmo quadrante da cidade, sobretudo espaos isolados, foi um insumo fundamental para a edificao de identidades que, nos dizeres de Castells (1999), giravam em torno da possibilidade do acesso a consumos coletivos. Em outras palavras, e abreviando ao extremo a proposta analtica do socilogo catalo, as urbes contemporneas se caracterizavam por uma forma de luta de classes que, embora tivesse sua origem na esfera da produo, operava sobre os efeitos mais visveis do

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    capitalismo: as condies materiais de existncia daqueles que moravam nas margens da cidade.

    A experincia de Neuqun, embora longe destes focos de interesse, pode ser que nos esclarea sobre este aspecto positivo da segregao residencial. Em um recente trabalho (Perren, 2011c), pudemos demonstrar como nos anos oitenta, justamente quando a cidade acelerava sua urbanizao, emergiu um modelo distintivo de resoluo de problemas. Este repertrio de modalidades de interveno nega qualquer imputao de uma suposta cultura da pobreza que a populao que residia nos assentamentos trouxe consigo dos espaos tradicionais e que havia encontrado terreno frtil para seu desenvolvimento na ecologia da periferia, tal como imaginava Lewis (1964) para o caso mexicano. A evidncia destacada parecia demonstrarnos o contrrio: as estratgias traadas pelos habitantes dos assentamentos, longe de constiturem uma herana imemorial transmitida entre geraes, tiveram como origem as relaes cara a cara nascidas de necessidades compartilhadas e reforadas pela proximidade espacial.

    Esse repertrio tinha como primeiro elemento de relevncia a criao de redes de resoluo de problemas, fazendo uso da muito til noo elaborada por Auyero. Estes vnculos familiares e de amizade, reforados pela aproximao espacial, foram importantes para dar resposta a diferentes reas sensveis da vida cotidiana nas vilas de emergncia, entre as quais podemos mencionar a proviso de gua, a construo de moradias, o traado de caminhos e o aterro das numerosas valetas que atravessavam a geografia do assentamento. A escassa presena oficial na periferia era suprida por laos de cooperao, cujo motor foi aquilo que Lefevbre (2012) definiu como direito de viver a cidade. Ou, emprestando as palavras de Manuel, um fun cionrio radicado no setor, o propsito dessas redes informais no era outro seno o de deixar a vila mais visvel.5

    Quando as necessidades do assentamento no podiam ser resolvidas em seu interior, o repertrio dos ocupantes agregava um segundo recurso: iniciavam se gestes burocrticas junto s autoridades competentes. No caso da regularizao de alguns servios ou da incorporao de novas prestaes, as redes sociais conformadas nas vilas de emergncia abandonavam a periferia e avanavam sobre a cidade formal. A segregao residencial se traduzia em uma invisibilidade, tanto para os setores sociais mais abastados como para o Estado, que s podia ser revertida a partir da organizao: os laos informais, que haviam solucionado muitos dos problemas cotidianos da vila, ganhavam formalidade para fazer efetivas as demandas dos ocupantes do assentamento.

    5 Revista de CALF (1983), Villa El Progreso, 65(5), 34.

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    Finalmente, quando as redes de resoluo de problemas e as gestes burocrticas junto s autoridades competentes resultavam insuficientes, os habitantes dos assentamentos utilizavam um terceiro recurso: as mobilizaes. Se as instituies pblicas no davam resposta, as aes coletivas adquiriam um carter contencioso, empregando a inteligente categoria desenvolvida por Tarrow (1997). Isto no significava que a violncia se convertesse no componente principal dos protestos. Tratava se, em todo caso, da emergncia dos interesses em um determinado momento necessariamente contraditrios. Foi o que precisamente sucedeu na ocasio dos aumentos no pagamento de distintos servios pblicos, registrados em 1988. A manifestao, organizada por distintas comisses da periferia, foi uma importante demonstrao de fora e convenceu as autoridades estaduais sobre a necessidade de amortecer o impacto dos aumentos de maneira paulatina. A rpida resposta de ambas as instncias oficiais nos d algumas pistas acerca de como as agncias estatais administraram as tenses que a expanso da cidade trouxe consigo, abrindo canais de integrao para aqueles que, at ao momento, no haviam sido mais que prias urbanos (Wacquant, 2007).

    Esta natureza dual do fenmeno da segregao residencial socioeconmica nos coloca a necessidade de multiplicar os estudos comparativos entre diversas cidades, tanto em seus aspectos objetivos como na incidncia que as desigualdades espaciais tm nos mecanismos microssociais. Somente desta forma poderemos escapar daqueles olhares que tentaram analisar a segregao fazendo uso de modelos supostamente universais, seja estudando a realidade latino americana a partir da experincia norteamericana ou mesmo buscando nas cidades do Sul aqueles elementos que levariam a uma normalidade urbana no mbito de uma globalizao onipresente (Stren, 1994; Topalov, 2002; Thorns, 2002). Para que esta aposta d seus primeiros frutos, de fundamental importncia resgatar as particularidades que a diferenciao socioespacial assumiu em diferentes cenrios e faz las convergir em uma narrativa global. Ou seja, iniciar uma empresa que, sem perder sua coerncia interna, consiga apreciar a especificidade da existncia urbana, seguindo a sugestiva proposta de Lefevbre (2012). E neste esmerado trabalho de sntese deve dedicar se um lugar s outras cidades, a essas experincias urbanas que, de acordo com Fortuna, incluem as cidades do passado da nossa modernidade urbana, mas tambm as pequenas cidades e as localidades que constituem cada uma delas, e tambm cidades das outras latitudes que no as do universo euro americano, sem excluir as cidades do futuro em que estamos destinados a viver (2008: 27). Esperamos que nosso estudo sobre um espao

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    urbano situado no Sul do Sul haja contribudo, ainda que minimamente, para a construo de uma nova agenda urbana.

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    Anexo estatstico

    Dimenso Indicadores

    a Desigualdade 1. ndice de Dissimilitude

    Onde Nxi a populao do grupo x na subdiviso territorial i; Nyi a populao do grupo y na subdiviso territorial i; Nx a populao total do grupo x na unidade territorial superior; e Ny a populao total do grupo y na unidade territorial superior.

    Fonte: Rodriguez Vignoli (2001).

    2. ndice de Segregao

    Onde xi a populao do grupo minoritrio na seo censual i; X a populao total do grupo minoritrio no municpio; ti a populao total na seo censual i; T a populao total do municpio; n o nmero de sees do municpio.

    Fonte: Martori i Caas e Hoberg (2004).

    b Concentrao 3. ndice Delta

    Onde Nxi a populao do grupo x na unidade espacial i, Nx a populao do grupo x na cidade; Ai a superfcie da unidade i; e A a superfcie total da cidade.

    Fonte: Massey e Denton (1988).

    4. Quoeficiente de Localizao

    Onde Nxi a populao do grupo x na subunidade espacial i; Nx a populao do grupo x na cidade; Ni a populao total na subunidade espacial i; e N a populao total da cidade.

    Fonte: Rodriguez (2008).

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    c Exposio 5. ndice de Isolamento

    Onde Nxi e Ni so os nmeros de membros x e a populao total da subunidade i, respectivamente, e Nx representa o nmero de membros x na cidade. Varia entre 0 e 1, e expressa a probabilidade de que um membro selecionado aleatoriamente do grupo minoritrio se encontre em sua subrea de residncia com outro membro de seu mesmo grupo.

    Fonte: Massey e Denton (1988).

    Artigo recebido a 08.01.2014Aprovado para publicao a 11.06.2014

    Joaqun PerrenCentro de Estudios de Historia Regional (CEHiR) de la Unidad Exjecutora en Rede Investigaciones Socio Historicas Regionales (ISHIR CONICET), Universidad Nacional del Comahue (UNCo), Buenos Aires 1400, Neuqun (8300), Argentina Contacto: [email protected]