Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

36
1 PROFLEXÃO SYLVIA FLEMING CROCKER GESTALT JOURNAL, VOL IV, Nº2 – FALL 1984 Tradução : Selma Ciornai Indivíduos fazerem a si mesmo o que querem fazer a outros ou o que querem que outros lhes façam (retroflexão) é algo bastante familiar a qualquer terapeuta gestáltico 1 . Também vemos muitos casos em que pessoas alienam alguns aspectos ou partes de suas próprias personalidades projetando-as em outra pessoa. Em termos de “fluxo de energia”, podemos dizer que no caso de retroflexores, a energia que normalmente fluiria para fora, em direção ao mundo, volta-se para dentro, na direção das próprias pessoas. Na projeção as pessoas alienam a energia que normalmente estaria internamente disponível para seus próprios propósitos, colocando-a de forma fantasiosa em outra pessoa. Mas o que se passa quando alguém faz a outra pessoa o que ele ou ela quer que a outra pessoa lhe faça? Aqui há um fluxo de energia para fora, mas o objetivo básico é elicitar uma resposta mais ou menos previsível do outro 2 . Em outras 1 Quero agradecer Miriam Polster e minha colega Betty King pelos comentários sobre este artigo e por fazerem sugestões que me foram muito úteis ao reescrevê-lo. 2 Proflexão tem somente uma similaridade superficial com a “Regra de Ouro” do Cristianismo. Enquanto que a Regra de Ouro é supostamente um guia interno para um altruísmo pré-existente, a proflexão é meramente manipulativa.

description

Gestalt: proflexão

Transcript of Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

Page 1: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

1

PROFLEXÃO

SYLVIA FLEMING CROCKERGESTALT JOURNAL, VOL IV, Nº2 – FALL 1984

Tradução : Selma Ciornai

Indivíduos fazerem a si mesmo o que querem fazer a outros ou o que querem que

outros lhes façam (retroflexão) é algo bastante familiar a qualquer terapeuta

gestáltico1. Também vemos muitos casos em que pessoas alienam alguns aspectos

ou partes de suas próprias personalidades projetando-as em outra pessoa. Em

termos de “fluxo de energia”, podemos dizer que no caso de retroflexores, a energia

que normalmente fluiria para fora, em direção ao mundo, volta-se para dentro, na

direção das próprias pessoas. Na projeção as pessoas alienam a energia que

normalmente estaria internamente disponível para seus próprios propósitos,

colocando-a de forma fantasiosa em outra pessoa.

Mas o que se passa quando alguém faz a outra pessoa o que ele ou ela quer que a

outra pessoa lhe faça? Aqui há um fluxo de energia para fora, mas o objetivo básico

é elicitar uma resposta mais ou menos previsível do outro2. Em outras palavras, o

objetivo do que a pessoa faz é conseguir que o outro ou imite seu ato, ou responda

de alguma outra forma desejada. Já que este comportamento com sua característica

constante falta de awareness, tem algo em comum tanto com a projeção como com

a retroflexão, escolhi chamá-lo de proflexão.

1 Quero agradecer Miriam Polster e minha colega Betty King pelos comentários sobre este artigo e por fazerem sugestões que me foram muito úteis ao reescrevê-lo.2 Proflexão tem somente uma similaridade superficial com a “Regra de Ouro” do Cristianismo. Enquanto que a Regra de Ouro é supostamente um guia interno para um altruísmo pré-existente, a proflexão é meramente manipulativa.

Page 2: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

2

DESCRIÇÃO FENOMENOLÓGIA DA PROFLEXÃO

Em todos os outros distúrbios de fronteira3 com que estamos familiarizados –

confluência, deflexão, retroflexão, projeção e introjeção – há uma versão saudável e

uma não saudável. Isto também se dá com a proflexão. Como uma função saudável

da personalidade, é chamada modelação. Modelação é obviamente necessária à

vida, para a existência individual e social. De outra forma, ninguém saberia como ser

um pai, um agente moral, um cidadão. Se, de fato, esta capacidade humana

desaparecesse subitamente, todas as aptidões – especialmente as manuais, morais

e sociais – das quais a civilização, depende, se extinguiriam em uma geração!

Acredito que existem duas formas de disfunção que estão associadas à capacidade

humana normal de modelar e de aprender através da modelagem de

comportamento. Uma delas é a tão conhecida introjeção, onde o que aprende

engole sem crítica certas atitudes e tipos de comportamento através da confluência

com os pais, irmãos e amigo. Proflexão por outro lado, é a disfunção pelo lado do

modelador.

Em toda disfunção psicológica existe alguma forma de cegueira que resulta em um

contato empobrecido entre a pessoa e seu ambiente e/ou com pessoas importantes

em sua vida, ou entre ela e outras partes de sua personalidade. Esta cegueira

envolve uma falta de awareness de si e uma awareness distorcida dos outros. Por

exemplo, uma mulher que proflexa, crê erroneamente que é outra pessoa que tem a

chave da sua felicidade. Isto mostra que ela está sem contato com as fontes de

auto-suporte que tem em si e com as opções ambientais que lhe são disponíveis.

Ela tenta manipular o outro para que este lhe dê o que ela quer, usualmente algum

tipo de disposição de ânimo ou sentimento, por exemplo, ela pode querer sentir-se

aceita amada, elogiada, culpada, útil, apreciada, etc.

3 Há um problema em chamá-los de “distúrbios de fronteira” já que isto parece ter conotações pejorativas. No entanto, se a norma no polo de contato (em oposição a retraimento) da auto-regulação organísmica é awareness ininterrupta de pessoas ou objetos significantes no campo ambiental, então qualquer awareness ilusória ou diminuta é um tipo de distúrbio. Um fato a ser notado é que algumas dessas ilusões não são contrárias a comportamento saudável, mas sim são usualmente necessárias a ele. Por exemplo, a capacidade de projetar é necessária à empatia e para predições práticas do comportamento alheio. A capacidade de confluência é necessária para que haja sentimentos sociais e familiares. Deflexões permitem que nos afastemos temporariamente de assuntos difíceis demais de lidar no momento. E assim por diante. Estas capacidades normais tornam-se disfunções quando levam a habitos ou padrões de contato empobrecidos com pessoas e objetos do campo.

Page 3: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

3

Proflexores usam o que sabem sobre comportamentos instigadores para conseguir

seus objetivos. Tal pessoa pode, por exemplo, dizer a alguém: “eu te amo” ou “o que

eu gosto na nossa relação é...”não tanto porque o que ela diz é verdade (apesar de

poder muito bem ser) e não tanto porque ela quer tornar seu contato com o outro

mais “pessoal” (o que ela provavelmente quer), mas porque quer elicitar declarações

tipo “eu também te amo” ou “você também está linda” ou “bem, o que eu gosto sobre

isto é...”.

As manifestações da proflexão vão bastante além da esperança de um simples

espelhar de comportamento. A proflexão toma fundamentalmente duas formas: ativa

e passiva. Nos dois casos o proflexor entra voluntariamente numa atitude servil em

relação a quem ele ou ela está tentando manipular.

Proflexores ativos fazem uma investigação apurada dos gostos e necessidades do

ser amado, e então lhes provêm. Esperam que, em troca, o outro faça uma

investigação análoga de seus gostos e necessidades e ajam analogamente,

provendo-lhes satisfação. É bastante provável que existam grandes diferenças entre

eles nestes aspectos, mas o que o proflexor procura é manifestações de cuidado e

atenção similares às que ele ou ela manifesta.

Proflexão passiva, que provavelmente é mais típica em mulheres que em homens4,

envolve um tipo de submissão do proflexor ao outro significante. Uma esposa

submissa, por exemplo, pode manter uma posição bastante constante de lealdade

sofrida, aceitando qualquer tipo de comportamento grosseiro e abusivo por parte de

seu marido. Ela pode tentar corresponder às suas (em geral estereotipadas)

expectativas, esperando que, a longo prazo, seu amor e atenção sejam apreciados.

O que torna sua proflexão passiva, é que ela tenta obter o que quer, não através de

alguma forma de solicitação ou afirmação, mas servindo seu marido,

frequentemente apostando na possibilidade de que, finalmente, ele se sinta grato,

devedor ou culpado -- aí ela obterá o que quer.

Estas duas formas de proflexão envolvem expectativas não declaradas. O proflexor

ativo tem expectativas sobre o outro e trabalha duro para manipular o outro a

realizá-las. O proflexor passivo também tem expectativas, mas ao invés de

4 A maioria dos proflexores que conheci tem sido mulheres. Se isto geralmente é o caso, explicaria porque os teóricos gestaltistas, que em sua maioria têm sido homens, não reconheceram e não escreveram sobre a proflexão.

Page 4: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

4

manipular o outro, ela ou ele se submete as expectativas do outro. A pressuposição

inconsciente neste caso é, “se eu fizer isto para você, você acabará tendo que fazer

isto para mim”.

Ocasionalmente proflexores têm “sorte” e o outro responde como desejam. Neste

caso a relação tende a ser estéril e estereotipada. Não é tão dolorosa quanto é

morta, inerte. No entanto, proflexão se torna um problema doloroso quando o outro

não coopera: se, em outras palavras, ou o outro falha totalmente em responder, ou a

resposta não condiz com as expectativa do proflexor, sendo ou menor do que a que

foi esperada/desejada, ou simplesmente diferente. Isto gera ressentimento, às vezes

somente no proflexor às vezes em ambos. O outro pode sentir-se manipulado ou

pode ressentir o fato de que nunca parece satisfazer as demandas e expectativas da

pessoa que proflexa. Outra possibilidade, é que o outro a quem o proflexor passivo

se submeteu, possa sentir desprezo por ele ou ela. As pessoas que de fato

respondem com atenção e carinho ao proflexor, mas o fazem de sua própria

maneira, reclamam que este não parece ver o que fazem como atos de atenção e

amor. O ressentimento que estas pessoas sentem e que às vezes margeia o

desespero, advém do fato de que pessoas que proflexam não parecem estar

dispostas a aceitar os outros como são. Isto é devido à cegueira que, como já

apontei, caracteriza a proflexão: o outro é basicamente um tipo de tela para as

projeções e/ou os desejos e esperanças do proflexor. Proflexores, tanto ativos como

passivos, por terem uma auto-awareness bastante falha, não veem seus

comportamento em relação aos outros como manipulatórios; portanto, podem vir a

experienciar um amargo ressentimento em relação ao outro. Quando isto acontece,

a experiência de ressentimento vem, em geral, acompanhada de pensamentos

como “depois de tudo que eu fiz para ela!”: ou “cachorro ingrato!”

O que faz a proflexão difícil de lidar para aqueles que são suas vítimas, é que as

pessoas que proflexam o fazem em nome da afeição, do dever, do amor, etc. Eles

realmente acreditam que seus motivos são puros e acima de qualquer suspeita. Se

a outra pessoa conseguir escapar ao sentimento de culpa por ter falhado em

responder “apropriadamente” ao comportamento do proflexor, qualquer tentativa sua

de o confrontar, terá que enfrentar a dificuldade de não sentir-se ingrato e rude face

à (provável) alegação do proflexor de assim agir por amor e dedicação. Estas

pessoas entenderão logo o que C.S. Lewis quis dizer quando afirmou: “há pessoas

Page 5: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

5

sobre as quais pode-se dizer que “vivem para os outros”* Você pode distinguir os

“outros” pelas suas expressões perseguidas! (1).

Frequentemente, no entanto, o “outro” do proflexor absorve as atenções e

submissões do proflexor e finalmente se torna, na visão deste último, um explorador.

O “outro” geralmente negará que tenha algum dia pedido ao proflexor que fizesse o

que fez -- o que for que o proflexor tenha feito, foi por sua própria iniciativa: “isto é

problema seu!”.

E assim estes dois se trancam numa relação de servo-escravo, com o proflexor

tentando se manter na relação tempo bastante para fazê-la valer a pena, e o outro

recebendo todos os benefícios e se recusando a ser manipulado a fazer coisas que

ele ou ela, por uma razão ou outra não querem fazer.

CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

Nesta parte quero explorar com detalhe a relação entre a proflexão e as outras

formas de resistência a contato ou distúrbios de fronteira – confluência, projeção,

retroflexão e deflexão. Proporei a seguir uma perspectiva unificadora dos seis.

Proflexão tem algumas semelhanças com confluência. De certa forma a proflexão

visa um tipo de confluência em que cada um se engaja em cuidar do outro sem que

isto tenha que ser pedido. No entanto, dado às reais diferenças entre pessoas, esta

forma de mutualidade não explicitada é, na maioria dos casos, uma esperança

utópica, já que raramente acontece. E nos raros casos em que acontece, só

acontece após um longo período de convívio e comunicações explicitadas. A

proflexão tem uma outra semelhança com a confluência nos casos em que o

proflexor se dispõe a aceitar apenas alguns tipos de atenção do outro, a saber

somente o tipo de espelhamento do que ele mesmo faz. Aqui, a atitude é “se ela (ou

ele) me amasse, faria isto desta forma; esta é a forma que eu faria”. Esta forma de

proflexão ilustra a cegueira do proflexor em relação à maneira individual do outro

fazer as coisas, e sua indisponibilidade de aceitar o outro tal qual ele ou ela é. No

entanto, as expectativas do proflexor podem advir justamente das diferenças entre

ele e o outro. Um homem pode presentear uma mulher não porque ele deseja que

ela faça o mesmo, mas porque ele quer que ela o convide para jantar, transar, etc.

Page 6: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

6

Existem também importantes contrastes entre confluência e proflexão. Enquanto na

confluência existe uma perda de awareness das diferenças entre pessoas, na

proflexão existe uma awareness ansiosa e/ou dolorosa da resistência do outro à

semelhança. O proflexor deseja e espera um grau de identidade que não pode obter.

A confluência é caracterizada por uma (falsa) awareness de igualdade, enquanto

que a proflexão é caracterizada por uma infeliz awareness da diferença. Além disso,

a pessoa confluente provavelmente não está descontente, apesar de que,

frequentemente, a pessoa com quem ela conflui se sente insatisfeita com a relação.

Já o proflexor está insatisfeito com a relação, seu outro significante pode ou não

estar insatisfeito, dependendo se o proflexor é ativo ou passivo. Se o proflexor é

ativo, a outra pessoa pode se ressentir de estar sento manipulada. Se é passivo, o

outro pode simplesmente deleitar-se com toda a atenção que recebe.

Tanto na confluência como na proflexão, se o outro realmente se importa com a

pessoa que está resistindo ao bom contato, este outro pode sentir dor ou/e

ressentimento frente ao fato de que o proflexor não o aceita em seus próprios

termos. Tanto a confluência como a proflexão estão baseadas numa falácia comum:

“a base da minha felicidade está na outra pessoa”. Tanto a pessoa confluente,

através da identificação com o outro – e o proflexor – através das tentativas de

elicitar certos tipos de comportamento do outro – procuram suporte no outro.

Nenhum parece compreender que boas relações envolvem pessoas que conhecem,

respeitam e dependem em boa parte de si mesmas, e que entram em relação com

outros porque querem, e não porque se sentem compelidos ou presos nelas. A

pessoa saudável, ao contrário da pessoa confluente ou proflexora, assume

responsabilidade por sua própria felicidade.

Muitos projetores tem esta mesma crença falaciosa sobre o papel e o poder de outra

pessoa em relação a seu próprio bem estar. O projetor paranoico acredita que o

outro é uma fonte de perigo, que o outro, de algum modo, tem a chave da

destruição e da degradação da sua pessoa, e por isso é visto como uma forte

ameaça. Nas suas formas menos extremas, a projeção envolve a crença de que

alguém (o outro) tem características que, se negativas, o projetor necessita

combater no outro, ao invés de em si, , ou, se positivas, o projeto se vê

desesperançosamente desprovido delas. Neste caso o projetor pode acreditar que

só poderá ter acesso a estas características e/ou poderes positivos, se puder

Page 7: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

7

manipular o outro para que os use a seu serviço. Assim, uma mulher pode, por

exemplo, tramar para conseguir que a outra pessoa enfrente uma situação por ela.

Na medida em que o projeto trama para conseguir que o outro se comportar de uma

determinada forma (ao invés de pedir para que ele ou ela assim o faça), o projetor

também se torna um proflexor. Na medida em que tanto o proflexor como a pessoa

confluente acredita que o outro tem o poder de fazê-lo feliz, são, sob este aspecto,

projetores.

Em outras palavras, estas pessoas alienam de si um poder básico que de fato cada

um tem, mas não está aware de ter. Isto leva a uma evitação da responsabilidade

por suas próprias vidas.

Proflexão é de certa forma o reverso da retroflexão na medida em que o proflexor

faz algo a outro, ao invés de, como na retroflexão, fazer algo a ou para si mesmo,

apesar de que ambos estão “fazendo algo para si mesmos” ao se cegarem e se

aleijarem como organismo. Além disto, esta ação do proflexor serve como substituto

para o fazer algo a ou para si próprio, que na realidade ele pode fazer por si, e que ,

do ponto de vista de seu próprio bem-estar ele necessita fazer. Isto é o reverso do

comportamento do retroflexor, que, em vez de pedir ao outro que faça algo a ou para

si, o faz a ou para si mesmo. Nem o proflexor nem o retroflexor permitem o acesso

do outro ao que ele ou ela realmente se propõe ao fazer o que faz, ou a pedir

abertamente o que quer. Na verdade, nenhum dos dois está inteiramente aware do

que quer ou do que está fazendo para obter o que quer. O retroflexor faz a si mesmo

porque lhe é desesperante fazer com que o outro faça por ele; se ele está aware do

que quer, pode não saber como conseguir que o outro aja de forma satisfatória, ou

pode temer pedir. Já o proflexor não capitula no tentar fazer com que o outro faça

algo a ou para ele, e quando se depara com a resistência, sua resposta é redobrar

suas manipulações. Porém, como o retroflexor, tem medo de especificar a si mesmo

o que quer, ou de ser direto com o outro tanto sobre o que quer do outro como

quanto a poder pedir o que quer .

Dinamicamente a proflexão é diferente da introjeção apesar de ser possível que

certas noções introjetadas sobre felicidade e relações pessoais “ideais” tenham um

papel causal no processo de uma pessoa tornar-se um proflexor. Na nossa cultura, a

visão tradicional do papel submisso da mulher contribui para a crença de várias

Page 8: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

8

mulheres de que seu bem-estar está ligado às atitudes e comportamentos de seus

maridos; ideias religiosas sobre o egoísmo (perverso) de sentir qualquer desejo, e

mais ainda, de pedir o que se quer, contribuem para a formação de padrões

proflexivos de comportamento. Noções sentimentais sobre a felicidade do

casamento estabelecem expectativas de que o outro simplesmente saberá de

alguma forma como fazer seu parceiro feliz, e quando isto não acontece

automaticamente, a pessoa desapontada pode recorrer à manipulação para fazer

com que isto aconteça.

Deflexão5 é uma forma de evitar um verdadeiro encontro pessoal com a outra

pessoa. O oposto da deflexão é uma ligação pessoal genuína entre pessoas, onde

se lida com o assunto em questão através da expressão direta dos sentimentos e

desejos pessoais.

A vontade de ser e agir me compromete pessoalmente à auto-revelação para com

os outros que encontro em minha vida. Como a maioria dos proflexores evitam

revelações diretas ao outro do que querem, e ao invés de pedir, recorrem à

manipulação, pode-se dizer que a deflexão caracteriza frequentemente seus

comportamentos. No entanto, quando proflexores abandonam os meios indiretos

que usam para conseguir o que querem, podem recorrer a acusações

confrontativas.

A proflexão não confrontativa e a deflexão comum desviam-se das ligações íntimas

onde a auto-revelação possa ocorrer ou qualquer calor possa a ser gerado. Porém

as duas diferem na medida em que a deflexão usualmente envolve mudança de

assunto ou retraimento para um nível mais abstrato e menos afetivo, enquanto que a

proflexão não confrontativa leva a estados de retraimento silente, mau humor, amuo,

5 Em minha opinião, a deflexão não recebeu suficiente atenção dos terapeutas e teóricos gestálticos. Isto se dá talvez, porque não faz parte do corpo teórico original apresentado em “Gestalt Therapy” (2) foi uma contribuição posterior feita por Erving e Miriam Polster (3) à teoria básica. É um comportamento disfuncional bastante difundido que eu, como intelectual e esposa de intelectual tenho me engajado, testemunhado, e sido vitimizada por várias vezes. Acredito ser esta uma disfunção alejadora que impossibilita relações satisfatórias, e não só, entre acadêmicos, como também entre todas as pessoas pegas pelas exigências da nossa cultura tecnologicamente sofisticada e massiva. O abstrato e o impessoal tornam-se segundo natureza para todos nós, e diariamente recebem seus honorários.

Page 9: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

9

etc, como substituto para encontros onde a pessoa realmente se revela. Mas existe

uma forma de deflexão que é altamente afetiva e quase pessoal: quando o deflexor

criticado por algum motivo pelo seu outro significante, vira a mesa e critica por sua

vez o outro. Aqui, o deflexor (como o projetor) critica o outro por uma falha idêntica

ou por alguma outra razão real ou alegórica. Isto permite ao deflexor retirar o foco

das áreas em que sente vulnerável, transpondo-o para outras áreas onde crê poder

escapar de sentir-se culpado, ferido, etc. Como vimos há uma forma de

confrontação similar na proflexão. Quando o proflexor chega ao ponto onde “não dá

mais para aguentar” a dor e a frustração no lidar com o outro, pode lançar mão de

confrontos acusatórios: o outro é acusado de ser responsável pela infelicidade do

proflexor. Este tipo de proflexão é obviamente bastante parecida com o mudar de

assunto deflexivo. Tanto o deflexor quanto o proflexor dão evidências nestes casos

de desprazer pessoal, e até raiva: mas raramente permitem que sua dor e/ou

frustração apareçam. Portanto seus comportamentos nestes casos são apenas

quase pessoais. O que dizem ao outro é dissimulado em mensagens sobre o outro

(“você deveria...”, “você não...”, “você está errado...”). Desta forma ambos se

escondem atrás de um escudo de acusações contra o outro, evitando revelar-se de

forma realmente pessoal e vulnerável. E, em vez de permitir que o outro realmente

se revele frente ao assunto em questão, o proflexor e o deflexor insistem para que o

outro tome uma posição defensiva, respondendo às suas acusações, ao invés de

expressar seus sentimentos, desejos e intenções. Contraste esta forma de ser com

o “modus operandi” da pessoa saudável, que, quando ferida por alguém ou quando

algo que alguém faz lhe desagrada, dá a esta pessoa um relato de seus sentimentos

e processos internos. Estes são dados diretamente como mensagens sobre si (“eu

não gosto disso...”, “quando você faz isso eu me sinto...”, ”o que eu quero que você

faça é...”). Esta forma de comunicação é tanto auto-reveladora quanto convida à

auto-revelação. Mesmo na dor ou na raiva, esta forma de comunicação abre as

pessoas envolvidas para um encontro EU-TU, em contraste com acusações que

visam a “coisificar” o outro, e comumente resultam em “coisificação” recíproca.

Tendem portanto a uma forma despersonalizada, Eu-Isso, de relacionamento (4).

O seguinte trecho de Perls em “A Abordagem Gestáltica” pode servir para focalizar o

que venho dizendo. Ele descreve aqui os quatro tipos originais de distúrbios de

contato em termos de pronomes que tipicamente empregam:

Page 10: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

10

‘“Como a introjeção se apresenta pelo uso de pronome “eu” quando o significado real é “eles”; como a projeção se apresenta pelo uso dos pronomes “isto”, “ele”, “ela” ou “eles”, quando o verdadeiro significado é “eu”; como a confluência se apresenta pelo uso de pronome “nós” quando o significado verdadeiro está em questão; assim, a retroflexão se apresenta pelo uso do reflexivo “eu mesmo”. (pg. 54 da versão brasileira).”

A isto adicionaríamos que a deflexão se apresenta pelo uso de “isto”, “vocês”, “uma

pessoa” – de qualquer modo, “não eu” e “não nós” – quando o verdadeiro

siginificado é “eu” ou “nós”. Como na projeção (apesar disto não ter sido

mencionado por Perls no trecho acima citado), a proflexão se apresenta no uso de

“você” – apesar de nunca “eles” - quando o que a pessoa quer dizer é “eu”.

II

Como indicações práticas de disfunções de contato ou disfunções de fronteira, estas

categorias são obviamente bastante úteis para o/a terapeuta que tenta ajudar o

cliente a lidar com a dor e a ansiedade. Mas do ponto de vista de teoria científica

são muito fragmentadas, falta-lhes um princípio unificador. Para encontrar este

princípio, temos que tentar compreender o que determina os vários estados de

fronteira de contato, e particularmente o que as várias disfunções de contato têm em

comum.

A psicoterapia tem como interesse algumas características das interações e

ajustamentos do organismo humano aos outros (no sentido mais amplo). O uso do

termo “fronteira” advém da fundamental distinção lógica e antológica entre “algo” e

“outro” (6). Algo pode interagir, somente se existe um outro com que(m) pode fazê-

lo. A diferença (alteridade) entre eles é baseada em distinções discerníveis; isto

pode ser postulado em termos de definição de finitude: cada um é finito (tem limites)

sobre e em oposição ao outro, e portanto nenhum é o outro. Neste sentido, cada um

é limitado ou tem uma fronteira que o distingue do outro. Quando duas ou mais

coisas interagem, as fronteiras são “onde” a ação se dá. A interação requer

necessariamente suas alteridades, já que coisas idênticas simplesmente “ficam onde

estão”.

Esta distinção se mantêm entre quaisquer coisas que são discernivelmente distintas

uma da outra. Porém, dado que nosso interesse aqui é o organismo humano,

Page 11: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

11

queremos entender como seres humanos individuais interagem com objetos e

pessoa em seus ambientes e com seus próprios aspectos discerníveis. Portanto

necessitamos começar olhando para os processos de awareness do indivíduo e

para os vários atos internos através dos quais ele ou ela se dirige aos outros. Gestalt

terapeutas colocam este dirigir-se como awareness em termos de contato: olhamos

como um dado ser humano faz ou se recusa a fazer contato, ou, como distorce seu

contato com outros.

Além disto, como seres humanos são pessoas, a fronteira com a qual estamos

lidando é a fronteira do eu. Kant, e após ele os fenomenólogos, mostram que há três

traços característicos do “Eu” (7). Primeiramente é o fato da awareness: eu estou

aware. Segundo, eu que estou aware, nunca apareço como objeto na minha própria

awareness, mas tenho um senso subjetivo de mim: minhas percepções são todas

acompanhadas pela sensação de que são minhas 6 . Terceiro, eu organizo

espontaneamente minha experiência de tais formas que a façam fazer sentido. A

terapia gestáltica emprega a primeira destas noções ao focalizar na pessoa como

aware, com vários graus de vivacidade e precisão, e como adaptando-se ao mundo

de sua experiência de formas tais que possa satisfazer seus desejos e necessidades

com excelência. Emprega a segunda destas noções na medida em que evita definir

o “self” de maneira tradicional, optando, ao invés, por lidar com o self funcionalmente

e fenomenologicamente (9). Em relação ao terceiro traço característico do “eu” isto

é, que organiza espontaneamente sua experiência, a terapia gestáltica vê a

percepção humana como experiênciando figuras (todos) em seus respectivos

campos (os dois juntos formam um todo maior). Em minha opinião, não foi dada

suficiente atenção ao fato de que seres humanos organizam as unidades de suas

experiências num todo cada vez maior com o passar do tempo. Desta forma

fazemos com que o mundo que cada um de nós experiência, seja mais previsível,

controlável e significativo.

6 Husserl e Sartre (8) deram muita ênfase ao fato que nunca sou um objeto de awareness.

A ontologia Sartreana é baseada nisto, e sua psicologia brota diretamente da visão

contígua de que a “natureza do “eu” é a de agir espontaneamente e portanto, a de não

ter uma natureza. Segue-se a isto que é somente a falta de coragem que impede

qualquer pessoa de mudar, mesmo que isto não seja nada mais do que recusar (dizendo

“não”) de continuar a se comportar da mesma forma.

Page 12: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

12

Sobre a fronteira do eu, Miriam e Erving Polster dizem: “A fronteira do eu de uma

pessoa é a fronteira daquilo que é para ela contato permissível. Ela é composta de

toda uma gama de fronteiras de contato e define aquelas ações, ideias, pessoas,

valores, ambientes, imagens, memórias, etc., aos quais ela está propensa e

comparativamente leve para se ligar plenamente, tanto com o mundo fora de si

mesma, quanto com as reverberações dentro de sim mesma que a ligação possa

despertar. Ela inclui também o senso de quais são os riscos que a pessoa está

inclinada a assumir” (10), (pg 108 da versão brasileira).

A fronteira do eu pode ser construída em termos do corpo, valores, familiaridade,

expressão e exposição do individuo (11). Estas são maneiras de observar o fato de

que indivíduos diferem em sua disposição e/ou habilidades presentes para viver

certas experiências, para estar aware e/ou se envolver com outros. Em algumas

pessoas isto pode implicar em falta de contato com partes de seus corpos e mesmo

certo tipos de percepções, por exemplo, alguns não querem “ver” ou “ouvir” certas

coisas, enquanto que outras “veem” e “ouvem” coisas que não estão enraizadas em

fatos objetivos. Indivíduos também diferem em suas disposições e/ou habilidades de

se comportar de modos contrários a seus valores ou mesmo a reconhecer, nos

outros tais comportamento. Algumas pessoas se recusam a experienciar

comportamentos ou vivências que não lhes são familiares, enquanto outros

saboreiam aventuras com deleite. Também há variações quanto à medida em que

pessoas ousam se expressar ou se expor arriscadamente. Em indivíduos saudáveis

existe provavelmente uma tendência conservativa que impede com que os

indivíduos tomem riscos de graus variados de perigo. Disfunções de contato são

resultado desta tendência. Terapeutas lidam com pessoas cuja recusa ou distorções

de contato interferem com suas capacidades de satisfazer seus desejos e

necessidade normais.

O que uma pessoa fará ou não, ou pensa ser possível ou impossível, é função de

como ela organiza e interpreta sua experiência; em outras palavras, é função do seu

modelo de mundo, tanto do seu mundo interno como do mundo externo (12). Como

somos por natureza indivíduos históricos (fazedores de estórias), nossa experiência

passada não é uma coleção aleatória, mas um sistema de experiências, variando de

pessoa para pessoa, tanto em conteúdo como quanto à largura ou estreiteza de sua

extensão, e quanto à rigidez ou soltura de sua organização. Quando seres humanos

Page 13: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

13

diminuem ou bloqueiam sua awareness e habitualmente se retraem de contato

vivificado consigo e com objetos e outras pessoas em seu campo ambiental, assim o

fazem, inicialmente, por uma boa razão. Frente às circunstâncias tóxicas ou

inóspitas em que se encontram, a evitação de contato é o que de melhor podem

fazer por si mesmos ao tentar responder às suas necessidade e manter algum tipo

de equilíbrio pessoal.

Isto me leva a propor que examinemos o impacto da experiência ameaçadora sobre

a visão do mundo da pessoa, afim de podermos começar a ver a unidade dos seis

distúrbios de contato com os quais temos lidado.

O psicólogo Kurt Goldenstein, (que inicialmente teve grande influência no

pensamento de Laura e Fritz Perls), desenvolveu alguns insights sobre a natureza e

o comportamento humano ao observar como soldados com lesões cerebrais se

ajustaram à suas deficiências fisiológicas, que considero úteis para nosso propósito

(13). De acordo com Goldenstein, toda pessoa tem a importante tarefa de “chegar a

termos” com seu mundo, e de fazê-lo de tal forma que suas possibilidades mais

favorecidas passam a ser nele atualizadas. Uma pessoa normal é flexível em sua

capacidade de ajustar a si mesma ou seu meio, a fim de responder aos seus

desejos e necessidades. Diz Goldenstein:

“O comportamento total pode ser dividido em suas classes básicas,

objetivamente distinguíveis: a uma dessas classes pertencem as

atuações eficazes, à outra, as atuações deficientes. Ao primeiro tipo de

comportamento chamaremos de ordenado, e ao segundo de

desordenado ou catastrófico” (14).

Estudiosos da literatura teórica da Gestalt-terapia reconhecerão como “auto-

regulação organímica”, o que Goldenstein chama de comportamento “ordenado”.

Sobre comportamento “ordenado” ele diz:

“Em uma situação ordenada, as respostas parecem ser constantes,

corretas e adequadas ao organismo a que pertencem” – em termos de

sua espécie, sua individualidade e das respectivas circunstâncias. O

indivíduo as experiência com uma sensação de funcionamento

tranquilo, fluído, de bem-estar, ajustamento ao mundo e satisfação, isto

Page 14: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

14

é, o curso de comportamento tem uma ordem definida, um padrão total

em que todos os fatores organísmicos, desde o mental e o somático,

aos processos fisio-químicos, participam de forma apropriada da

atividade em questão. E isto é de fato o critério de normalidade das

condições do organismo” (15).

Este tipo de comportamento contrasta com:

“Por outro lado, as reações “catastróficas” são não somente inadequadas, mas também desordenadas, inconstantes, inconsistentes e embebidas em um estado de choque físico e mental. Nestas situações, o indivíduo se sente preso, abalado e vacilante. Experiência um choque afetando não só sua pessoa, mas também o mundo que o circunda. Está na condição que usualmente chamamos de ansiedade” (16).

Goldenstein achou que a pessoa com lesão cerebral perdeu a maior parte de sua

capacidade de ajustamento flexível. Esta pessoa estreita radicalmente seu mundo

para que este possa vir a ter proporções com as quais possa lidar. Seu maior medo

é o caos, que é sentido como ameaça catastrófica â sua existência. Assim, reduz

seu mundo, mas o faz espontaneamente e não deliberadamente, já que não tem

consciência de sua desvantagem. Isto levou Goldenstein a afirma que “uma lei

particularmente importante do comportamento que tem validade generalizada, é a de

que organismos deficientes atingem comportamentos ordenados, somente com a

redução de seu ambiente proporcionalmente ao seu defeito” (17).

Podemos ver analogias entre os ajustamentos espontâneos feitos por organismo

humanos com lesões cerebrais, e os ajustamentos feitos por psicóticos e vários tipos

de pessoas neuróticas. Referindo-se às suposições de Goldenstein sobre a

sabedoria do organismo humano em adaptar seu comportamento da melhor forma

que lhe é possível ao meio ambiente, Miria Polster me escreveu em uma carta: “em

minhas palestras, tenho frequentemente feito uma ligação entre as pessoas com

lesões cerebrais, que se comportam de certo modo em decorrência de injúrias

físicas, e pessoas fisicamente intactas que respondem de modo similar em

decorrência de injúrias psicológicas”. Todos os tres tipos de pessoas disfuncionais

parecem reduzir o mundo público e compartilhado em que se encontram: cada uma

se retrai de certa forma para um mundo privado. Todos os tres o fazem para evitar o

que lhes seriam formas não manejáveis de caos: um estado de coisas que possa

Page 15: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

15

levá-los a graus intoleráveis de ansiedade e mesmo (a partir de seus ângulos de

visão) à catástrofe.

O psicótico em decorrência da violência física ou psicológica, de constantes

mensagens duplas nas situações familiares ou qualquer razão – abriu não, na

realidade, do mundo público e compartilhado (18). Ele se retirou para um mundo

mais previsível e controlado onde se sente relativamente seguro e

comparativamente em paz. Somente (talvez) para ele, este mundo, para o qual se

retirou, faça sentido; e se fala de forma confusa, seu mundo tem uma linguagem que

(talvez) somente para ele tenha sentido. Ele ficará neste mundo privado até que sua

fé no mundo compartilhado – ou mais exatamente, que sua fé em compartilhar um

mundo possa ser de algum modo restaurada. Como estabelecer com o psicótico

contatos restabelecedores de fé é o objetivo principal dos terapeutas que lidam com

tais pessoas. Como estabelecer contatos geradores de crescimento com pessoas

neuróticas é um dos objetivos básicos da maioria dos gestalt-terapeutas 7.

Encontramos uma ou mais das variedades de distúrbios de contato-fronteira que

discutimos previamente em indivíduos neuróticos. Cada uma destas disfunções

envolve falta de awareness, e cada uma permite que o neurótico fique menos

abalado e/ou menos ameaçado pelas pessoas ao seu redor e pelos eventos tanto

internos como os externos a si. A maneira pela qual neuróticos evitam um contato

vívido com seu meio e os objetos e as pessoas que nele se encontram (incluindo

seus próprios aspectos) são, de fato, maneiras pelas quais reduzem seus universos

pessoais a um tamanho e a um caráter com que cada um está disposto a lidar.

As pessoas que projetam excluem de sua awareness certas características e

impulsos próprios que, caso se permitissem contatar, os levariam a sentimentos de

culpa ou ações sentidas como “forçadas”. Ao projetar, colocam tais características e

impulsos “fora de si”, em outra pessoa, onde possam combatê-los de formas menos

7 Gestalt -terapeutas são fiéis na maioria das vezes â Teoria Paradoxal da Mudança (19), que afirma que o primeiro passo para as transformações humanas é a aceitação do que é (20). Enquanto esta teoria é bem testada no trabalho com pessoas neuróticas, a abordagem terapêutica por ela indicada é bem menos usada no trabalho com indivíduos psicóticos. Existem, no entanto, algumas evidências fascinantes de que quando alguns indivíduos psicóticos foram acompanhados onde estavam (o que indica aceitação), fizeram mudanças surpreendentes. (21)

Page 16: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

16

ameaçadoras e ansiosas. Se alguém é “desse modo” (e eu não) então eu posso até

me sentir virtuoso ao pensar nesta pessoa e ao tomar medidas para enfrentar o que

ele ou ela (de acordo com minha imaginação) possa fazer. Tenho muito mais

controle assim do que me visse “desta maneira”. Ao reduzir assim seu mundo

interno, o projetor escolhe estar “acima” de outra pessoa, em vez de sofrer estar

“abaixo” em alguma dimensão de sua personalidade, em relação a algum outro, ou

em relação a seus valores pessoais e/ou culturais. Não ousa dar-se conta de como

realmente é, já que esta awareness, ao surgir, traria sensações de culpa e

impotência. Mas esta opção projetiva enviesa o mundo externo e diminui o interno.

Retrofletores, ao fazerem por e para si mesmo o que gostariam de fazer aos outros,

ou que fosse feito a eles por outros, evitam, pelo menos, dois tipos de ansiedade:

por um lado, ao não pedir ao outro o que querem, evitam a recusa, e de forma mais

extrema, a catástrofe de serem inteiramente rejeitados se fizerem

exigências/pedidos ao outro. Por outro lado, ao não pedir ao outro o que querem,

retrofletores evitam o vexame social que, acreditam, certamente adviria das ações

sexuais, violentas (físicas ou verbais) ou simplesmente embaraçosas que fantasiam.

Portanto, de certa forma os retrofletores apagam o outro, e reduzem sua esfera de

ação a si próprios. Distorcem tanto sua própria auto-awareness com a awareness do

outro: do outro no sentido em que os retrofletores provavelmente não se deixam dar-

se conta inteiramente do que querem do outro; de si mesmos no sentido de que o

que fazem por ou a si mesmo não é satisfatório – e no entanto continuam tentando

satisfazer a si mesmos. Neste último caso o significado fundamental do que fazem é

exatamente relacional; isto é, seria satisfatório realmente somente se feito a ou pelo

outro. Assim, por exemplo, um homem que retroflete sua raiva, repete

indefinidamente sua expressão codificada de si mesmo; em vez de expressá-la

apropriadamente em relação ao outro; e repete indefinidamente, não podendo dar a

ela um fim, justamente porque sua expressão é em código ao invés de ser em uma

realidade apropriada. Desta e de outras formas análogas, retrofletores permanecem

cegamente aderidos tanto ao outro como dentro de si mesmos. As exclusões do

mundo interno do retrofletor e de sua visão de mundo externo são óbvias, como é o

enviesamento que precipitam.

Proflexores são como os retrofletores em sua não disposição de arriscar recusa ou

rejeição ao pedir o que querem ou expressar como se sentem. Em vez disso,

Page 17: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

17

recorrem, como vimos, à manipulação. Pedir o que querem e/ou afirmar o que

gostam ou não, pode – e realmente pode – levar a uma “cena” e uma “cena” pode

resultar em sentirem-se impotentemente atados ao “status quo”, ou resultar num fim

da relação que tanto valorizam. Como vimos, o proflexor acredita, sem questionar,

que o outro significante tem a chave de sua felicidade. Ora, na medida em que uma

pessoa acredita que sua felicidade é função do que outra pessoa faz ou pensa, pode

evitar o esforço e o possível sofrimento que vem do assumir responsabilidade por

sua própria felicidade. Se, e quando, o proflexor vê que ninguém tem o poder, não

mencionando sequer o desejo, de fazê-la feliz, depara-se com a seguinte questão:

“o que posso fazer sobre isto agora?”. E a resposta a esta questão é desconfortável:

“não muito, somente um passo”. Se posso culpar alguém de minha infelicidade,

posso lidar com ela globalmente: “é tudo por sua culpa”. E portanto posso escapar

do descontentamento comigo mesmo – que, sem um bode expiatório, se torna

virtualmente inescapável- e fadado a surgir se assumo responsabilidade pessoal por

minha infelicidade. Em outras palavras, para estas pessoas é melhor (“mais

confortável”) permanecer focado no outro, com um tipo de túnel de visão, do que se

permitir ver-se como possuidores de poder de escolha, e com isso, da capacidade

de tornarem-se felizes. Aqui a redução é basicamente do mundo interno da pessoa.

Introjetores colocam sua fé em mensagens (alegadamente) “testadas e

verdadeiras” de pais, colegas, sociedade. Creem (com uma awareness muito

reduzida) que se seguirem as regras do jogo (contidas nestas mensagens) serão

felizes, ou que pelo menos não serão infelizes. O problema que os introjetores tem

de deixar de lado as regras e padrões estereotipados de comportamentos é que se

assim o fizerem o mundo lhes aparecerá de forma muito mais complexa, em seus

inúmeros detalhes, e pior, lhes será muito fácil cometer enganos. Obviamente,

introjetores tem uma awareness muito obscurecida disto. A introjeção permite uma

evitação de riscos muito maior de que um comportamento com awareness clara e

vivaz – que também implica em maior possibilidade de fracasso e sentimento de

culpa. Os introjetores optam por um mundo mais simples, e o conseguem através do

bloqueio de awareness e da habitual categorização do mundo real – que é de fato,

altamente complexo e desarrumado. Aqui a redução é basicamente do mundo

externo, mas se um introjetor começa a abandonar introjetos, descobrirá

simultaneamente em si, o poder de criar regras – e o de improvisar sem elas. Este

Page 18: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

18

poder, muito mais do que estragado ou bloqueado, não foi ainda realmente

descoberto.

A pessoa confluente espalha o risco. Se eu me identifico com outra pessoa, eu não

só distribuo parte da responsabilidade de escolher o que fazer e como ser, como

também descarrego parte da responsabilidade pelos eventuais fracassos. A

confluência tem também um outro “benefício”: se eu insisto nesta identificações com

o outro e exijo que ele ou ela também se identifique comigo, eu não só simplifico o

meu mundo (como faz o introjetor), mas “melhor que tudo”, eu também reduzo a

quantidade de ligações genuinamente pessoais com as quais tenho que lidar. Tanto

a confluência como a introjeção ajudam a pessoa neurótica a reduzir as dimensões

inesperadas e erráticas da vida e a “arrumar o mundo” de forma a torná-lo mais

previsível e manejável. Isto contrasta com a atitude de pessoas inteiras e saudáveis:

como uma destas pessoas, quando me envolvo com um outro “Tu”, me comprometo

a um tipo de dança da vida, na qual da vida, na qual cada pessoa alternadamente

segue e dirige, e algumas vezes, através de awareness mutuamente vívidas,

compreensivas e solidárias, ninguém dirige – simplesmente dançamos. Dirigir o

outro ou ser dirigido produz ansiedade: quando dirijo carrego a responsabilidade;

quando sigo o outro não sei onde estou indo. E se ninguém dirige não posso estar

certa do que acontecerá a seguir. Quando há condução espontânea, recíproca e

alternada, não posso prever quando exatamente perderei ou assumirei controle. Isto

se dá por um acordo não verbalizado, uma troca rítmica. A pessoa confluente quer

controlar, ou ser controlada, dependendo de seu estilo relacional. Pessoas

confluentes não querem dançar!

Deflexores também não querem dançar, mas têm uma estratégia distinta para evitar

isto. Simplesmente recusam-se a se envolver com outros de forma inteira e pessoal.

Temos visto que um envolvimento pessoal torna-se uma possibilidade iminente: os

deflexores ou mudam de assunto, ou o levam ao nível de abstrações e ideais

impessoais. Ou, se a confrontação não pode ser evitada, reduzem o outro

”coisificando-o”, virando a mesa com acusações sobre seu comportamento, motivos,

etc. Ao contrário dos introjetores, várias pessoas deflexivas organizam seu próprio

conjunto de regras para viver; porém, tal como os introjetores, tais pessoas vivem

dirigidas para um conjunto de regras que excluem detalhes muito concretos da vida,

especialmente os que revelam dimensões genuinamente pessoais. Suas regras lhes

Page 19: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

19

dão controle, ou, pelo menos, uma forma de escapar do que é imprevisível e

incontrolável – a presença total de uma outra pessoa.

Através da exclusão de certos elementos em si mesmos e/ou em seus meios

ambientes, e pela inclusão de outros, os indivíduos neuróticos conseguem evitar

contatos vívidos com seus ambientes e com as pessoas que neste se encontram

(incluindo a si próprios). Todas estas formas são maneiras pelas quais reduzem ou

recortam seus mundos a tamanhos e caráteres com os quais estão dispostos e

sentem-se competentes para lidar.

Apesar de que as diferenças em grau são marcantes, existem semelhanças

inegáveis entre neuróticos, psicóticos e pessoas com lesões cerebrais: ao reduzir e

entorpecer seus mundos, seus modelos internos de como o mundo é e de que poder

tem para nele atuar, se tornam empobrecidos (22), e eles mesmo tornam-se seres

humanos diminutos e insípidos. Proponho denominar esta condição comum de

“parvanimidade” (parvus = pobre, pequeno; animus = alma, espírito).

Parvanimidade tem conotações opostas as de magnanimidade. Enquanto que a

última significa grandeza de espírito e expansividade – e até alegria – parvanimidade

implica em pequenez de espírito, empobrecimento, implosividade, amortecimento.

Uma pessoa saudável é tanto magnânima quanto autêntica: tem uma grande

capacidade de compartilhar, de dar, e isto está enraizado no fato de que esta

pessoa tem auto-conhecimento e auto-suporte.

O modelo de mundo de uma pessoa saudável é frouxamente organizado e amplo

em extensão, e como resultado, capaz de acomodar rapidamente novos elementos

no decorrer da vida. O modelo de mundo de uma pessoa “parvânima” tende a ser

mais rigidamente organizado e bem mais estreito em sua extensão, e, portanto a

pessoa tende a estar fechada ou cega a novas experiências, a valores divergentes,

a novas revelações pessoais, etc. Uma pessoa saudável é realista sobre seu próprio

poder de ação, assim como sobre que ajuda pode obter de outras pessoas. Em

contraste, algumas pessoas parvânimas tem uma visão reduzida de seu poder de

dar forma a suas próprias vida; enquanto que outras têm uma visão não realista de

si mesmas como tendo que conseguir tudo por si próprias, isto é que ninguém às

ajudará. Nos dois casos a pessoa “parvânima” em geral se vê, como vítima.

Page 20: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

20

A vida do indivíduo “parvânimo” caracteriza-se por privação e empobrecimento: em

uma variedade de aspectos falta-lhes uma boa qualidade de vida - que é seu direito

natural. Parvanimidade tem muito em comum com o que Kierkegaard chamou de

“enfermidade para a morte” -- uma doença do self da qual pessoas raramente

morrem, mas que as fazem miseráveis, já que cada um dos que dela sofrem, de

certa forma falham em tornar-se a pessoa completa que ele ou ela real e

fundamentalmente tem (ou teve) a capacidade de ser (23).

CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS

Retornando agora à proflexão, vejamos o que podemos fazer para ajudar as

pessoas a desfazer suas proflexões. Como é de se esperar o lugar onde começar é

awareness. Quando um cliente descreve uma situação como a que tenho descrito, e

relata sentir-se tanto esgotado por “todo o esforço” que investiu na relação, como

ressentido com a outra pessoa por sua falha em responder “apropriadamente”, é

necessário iniciar solicitando a essa pessoa que se dê conta de o que exatamente

quer do outro, e como tem tentando consegui-lo. Que tipos de ações manifestas do

outro satisfariam os desejos do proflexor? Num primeiro momento a pessoa pode ter

dificuldades em discernir e afirmar claramente o que quer e que ações seriam

satisfatórias, mas com a forma comum de trabalho gestáltico, tais dificuldade podem

ser ultrapassadas.

O segundo passo para desfazer a proflexão implica em trabalhar com a provável não

disposição do proflexor de pedir o quer do outro. Aqui temos geralmente que lidar

com medos e ressentimentos. É frequente o caso em que pessoas ressentem ter

que pedir o que querem dos outros, e expressam tal sentimento dizendo coisas

como “se ele me amasse ele saberia.” Estas são as pessoas que usualmente

desejam ser tão analisadas pela outra pessoa como a outra pessoa foi por eles

analisada.

Aqui os proflexores precisam ser ajudados a ir além do desejo deste tipo de

confluência com o outro, precisam ser ajudados a começar a apreciar as diferenças

de estilo entre pessoas. Necessitam de ajuda para perceber que as pessoas diferem

radicalmente em suas habilidades e interesses em observar detalhadamente os

Page 21: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

21

outros, e em suas habilidades em conseguir descobrir seus desejos e necessidades.

Além disso, devem chegar a dar-se conta de quão difícil é saber o que a outra

pessoa quer sem que isso lhes seja dito. Sem dúvida, muitas das opiniões dos

proflexores sobre os desejos do outro têm sido projeções, o proflexor necessita

portanto, adquirir o habito de verificar suas crenças nestes aspectos. Para tornar

mais palpável a dificuldade de saber o que o outro deseja sem que este o diga, eu

frequentemente ilustro o problemas com um jogo bem simples. Digo aos clientes

que quero que ele ou ela me toque em um lugar do meu corpo, mas que não lhe

direi onde – terão que achar sozinhos por tentativas e erros. No que a pessoa tenta

me tocar no lugar “certo” e falha, eu respondo: “Não é aí, mas se você me amasse,

saberia onde é”. O medo que o proflexor frequentemente tem de pedir o que quer do

outro provém geralmente de uma convicção vaga: “se eu pedir o que quero, o outro

pode recusar, e aí toda esperança estará perdida”. E esta recusa temida provocaria

ou o impensável (terminar a relação) ou o intolerável (ficar desesperançosamente

preso na situação). Portanto, proflexores se encontram em um impasse: quando

chegam a uma terapia, já passaram por bastantes misérias, e no entanto, ainda

acreditam que é mais seguro continuar tentando manipular o outro para conseguir o

querem do que serem abertos e diretos sobre os assuntos em questão. Já que pedir

é por demais amedrontador, e continuar, por demais exaustivo, sentem-se

empacados e miseráveis. No entanto através do uso da fantasia, o terapeuta

gestáltico pode ajudar a que o proflexor ultrapasse o medo de pedir, fazendo-o

experimentar isto de várias formas. Ao apresentar tanto a si mesmo como ao outro,

e ao se experienciar em vários cenários, o proflexor gradualmente se tornará capaz

de lidar com este impasse.

É possível que quando a pessoa proflexora trabalhou suficientemente a ponto de se

dispor a pedir abertamente o que quer do outro, poderá dizer ao outro que se sente

insatisfeita com a relação tal qual é, e ter a coragem de dizer que tipo de

comportamento deseja dele ou dela.

Suponhamos agora, por exemplo, que uma mulher que tenha estado profletindo se

dê conta finalmente do que tem estado fazendo para conseguir o que quer do outro.

Suponhamos também que ela esteja disposta a expressar seu descontentamento

com a relação e pedir certo tipo de comportamento do outro. O que podemos fazer

para preparar o cliente para a possibilidade de que o outro em questão se recuse a

Page 22: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

22

fazer qualquer mudança de comportamento e assuma a atitude de: “é assim ou

nada?” A primeira coisa talvez, seja convidar a mulher a imaginar como seria

continuar na relação exatamente do mesmo jeito. Neste ponto, ela provavelmente

não desejará continuar. Neste caso temos que ajudá-la a assimilar um aspecto duro

da vida: que realmente existem tragédias, e que acontece na vida que pessoas

realmente não se encontram. Uma das falácias mais difíceis de ajudar as pessoas a

se libertar, é a crença de que com um pouco mais, ou mesmo com muito do mesmo

tipo de esforço, o passado pode ser salvo e redimido: que a relação pode vir a

funcionar. Às vezes isto é verdade. Porém, mais frequentemente, a verdade é que

os esforços e sofrimentos do passado não podem ser redimidos, ou, se podem, é

somente através de uma estratégia distinta. No entanto, às vezes as

incompatibilidades entre as pessoas são tão fundamentais, que o ato de maior

redenção para uma pessoa é realmente abandonar a coisa toda. Neste caso, nosso

trabalho como terapeuta é ajudar a pessoa a se despedir.

Finalmente o terapeuta pode novamente usar a capacidade do cliente de fantasiar

para ajudá-lo a imaginar, de forma bem específica, as várias possibilidade entre as

quais poderá escolher um novo caminho. No que a pessoa objetivamente escolhe

uma ou mais destas alternativas para experimentar, começará a experienciar seu

próprio poder de escolha, base de sua liberdade pessoal. Acredito que a terapia

deva visar esta experiência. E esta crença é baseada em outra ainda mais

fundamental: que o contato vívido entre uma pessoa e seu poder de escolha –

quando acompanhada do por aguçada auto-avareness, é o requisito básico para que

a pessoa possa estabelecer bons contatos com qualquer outra coisa ou qualquer

outra pessoa.

__________________________________

Page 23: Proflexão Sylvia F. Crocker (1)

23

Notas

1- Lewis C.S.: The Screwtape Letters. New York: The Macmillan Co. 1943.2- Perls F. S., Hefferline, R. & Goodman, P.: Gestalt Therapy. New York: Dell

Publishing Co. 1951. 3- Polster. E. & Polster. M.: Gestalt Therapy Integrated. New York: Vintage Books,

1974.4- Buber M.: Dialogue Between Man and Man. Traduzido por Ronald Gregor Smith.

New York: The Macmillan Co., 1965. I and Thou. Traduzido por Walter Kaufmann. New York: Charles Scribner’s Sons, 1970.

5- Perls F. S.: The Gestalt Approach and Eye Witness to Gestalt Therapy; New York: Bantam Books, 1976. P. 41.

6- Plato: The Sophist in The Dialogues of Plato. Vol. II. Traduzido por Benjamin Jowett. New York: Random House. 1892. Perls Hefferline, and Goodman. Op. Cit. Vol II. Ch. 1.

7- Kant, I: Critique of Pure Reason. Traduzido por Norman Kemp Smith. London: Macmillan and Co, Ltd. 1958. Ver especialmente “Transcendental Deduction (8)”.

8- Husserl, E.: Cartesian Meditations. Traduzido por Dorion Cairns. The Hague: Martinus Nijhoff, 1973. Sartre, J. P.: The trancendence of the Ego. Traduzido por Forest Williams e Robert Kirkpatrick. New York: The Noonday Press, 1957. Being And Nothingness. Traduzido por Hazel Barnes. New York: The Philosophical Library. 1956. Ver especialmente parte 45.

9- Perls, Hefferline & Goodman, op. Cit., vol. II. Ch. 10.10- Polster & Polster, op. Cit. P. 10811- Ibid., p. 115.12- Bandler, R., e Grinder, J.: The Structure of Magic, Vol. I. Palo Alto: Science and

Behavior Books. Inc. 1975.13- Goldstein, K.: Human Nature. New York: Schocken Books, 1963. The Organism.

New York: American Book Company, 1939.14- Goldstein, K. The Organism, op. Cit., p. 3615- Ibid., pp. 36-37.16- Ibid., p. 37.17- Ibid., p. 46.18- Bateson, G.: “Toward a Theory of Schizophrenia” em Steps to an Ecology of

Mind. New York: Ballatine Books. 1972.19- Beisser. A.: “The Paradoxiacal Theory of Change” em Fagan, J. E Sheperd, E. L.

(Eds): Gestalt Therapy Now. Palo Alto: Science and Behavior Books. 1970.20- Polster, E., e Polster, M.: “Therapy Without Resistance: Gestalt Therapy” em

Burton, Arthur (Ed): What Makes Behavior Change Possible? New York/Mazel. 1976.

21- Ver por exemplo, Bandler. R. & Grinder, J. : Patterns of The Hipnotic Techniques of Milton H. Erickson. M. D., Vol. I. Cupertino, Ca.: Meta Publications, 1975, pp. 139-142; Bandler. R. E Grinder. J. : Frogs into Princes. John C. Stevens (Ed). Moab, Ut.: RealPeople Press. 1979, p. 76; e Bateson, G. Op. Cit. P. 226.

22- Bandler & Grinder, op. Cit.23- Kierkegaard, S: The Sickness Unto Death. Traduzido por Walter Lowrie:

Princeton University Press, 1968.

________________________