O Volante de OuroHonorário é atribuídohá 30 anos a pessoascom peso no mundoautomóvel. Pela 2. a

vez, entregámo-loa Ferdinand Piêch,

o Senhor Volkswagen

•» Bemd Wieland,Joachim R. Walthere Mlchael Backhaus

0 nosso encontro com Ferdi-nand Piêch é no centro de

Salzburgo, Áustria. À che-

gada ao local, dúvida: enganá-mo-nos ou será aqui...?! Em vezde edifício moderno, algo à ima-

gem de personalidade tão impor-tante para o crescimento da Ale-manha, motor da economia euro-

peia, paramos em zona residen-cial na margem do rio Salzach.Mas, é mesmo verdade, a VWSalzburgo situa-se aqui. Estra-nho?! Não para este homem. Emabril, nos convites que enviouaos amigos para a festa dos seus75 anos, encontrava-se frase si-

gnificativa da autoria do poetaOdón von Horváth: «Sou total-mente diferente, embora tenhapoucas oportunidades para d

ser»... Em público, este homem

parece sempre inacessível, dis-

tante, frio. Mas, será mesmo di-ferente? Sorrirá? E como intera-

girá com os colaboradores?Durante quatro horas, conversá-

mos com o magnata da indús-tria. .. No final, para o café de des-

pedida, apareceu outro membrodo conselho de supervisão do

Grupo VW, a esposa, Ursula - ou

a «chefe», como diz Ferdinand!E - Qual é a forma correta de

apresentá-lo?! Senhor, SenhorDoutor, Senhor Professor...

R. - Como quiserem! Sou for-mado em engenharia mecânica. . .

Os demais títulos foram-me atri-buídos, incluindo o de «profes-sod> pela Universidade de Viena,onde dou aulas há cerca 10 anos.

P. - Quanto há de si no GoU?R. - A estratégia das platafor-

O coração como trunfo! FerdinandPièch diz que a mulher, Ursula,também diretora da VW, é a chefe

mas modulares foi adotada quan-do estive na Audi e ainda é base

dos nossos carros... O objetivo é

montar os mesmos componentesno maior número possível de au-tomóveis. E esta forma de desen-

volvimento e produção permite-nos produzir com sucesso até em

países com salários elevados.E - Uma criação Piech?R. - Não.,. O conceito de mó-

dulos foi transformado pelo atual

diretor, Martin Winterkorn. E aideia destas plataformas perten-ceu à BMW, com os Série 5 e 7...

Hasteriormente, aperfeiçoámos afórmula para mais marcas e mo-delos. Ainda é fator determinan-te para o nosso sucesso!

P. - O Golf BlueMotion deve-rá consumir só 3,2 1 100 km, emmédia. Com este carro, atingir--se-á o limite da eficiência?

R. - Não existem limites. Em2013, introduziremos o carro de1 litro, que fará 100 km até commenos de 1 litro! Mas, na catego-ria do Golf, 3 1/100 km, durante

algum tempo, será um recorde...P. - Já experimentou o carro

de 1 litro?!

R. - Sim, testei-o, como acon-tece com todas as novidades da

VW. Este modelo servirá absolu-tamente no dia-a-dia e consegui-rá percorrer centenas de quilóme-tros. Estamos na reta final do de-senvolvimento no que respeita a

potência e consumos, mas preci-samos de melhorar odesenhodadianteira. As luzes de LED per-mitem-nos mudar as formas docarro. E também precisamos decores vistosas, como o vermelho,a cor preferida da minha mulher.

E - É o vermelho da Ferrari,certo?! Tem modelos desta mar-ca na garagem?

R- Sim, mas são da minha es-

posa, Ursula. Ofereci-lhe o 1."no nosso 15.° aniversário de casa-

mento, com V 8central.P -Ainda conduz um Bugani?R. - Sim, tenho o mais recen-

te e sempre pensei que não con-

seguiria esgotar os 1200 cv em es-

tradas nacionais. Enganei-me!E -A Fl é assunto em discus-

são no Grupo VW?R. - Não! Os nossos Fl são o

carro de 1 litro, de um lado, e o

superdesportivo, do outro. Vsra

os próximos dois anos, consigoimaginar um Bugatti com 1450a 1500 cv e capaz de atingir 460km/h! Poder-se-á acelerar maisdo que num Fl, com rádio e na-

-1949: Piêch (à dir.) com o avô, Ferdinand Porsche, e o primo FerdinandPorsche Jr. o fascínio pelos automóveis está-lhe nos genes...

Traz o boné ao contrário,mas apresenta-se vestido a rigor,com gravata. Nesta imagem,Piéch com o ex-diretorde competição da Porsche,Frltz Huschke von Hanstein

Biografia1937 Nasceu em Viena, na Áustria,

a 17 de abril

1958 Exame do final do liceu,

na Suíça

1958-1962 Licenciatura

em Engenharia, em Zurique, na Suíça

1963 Técnico no departamento

de testes de motores da Porsche

1968 Diretor de desenvolvimento

da Porsche en." Ida divisão

de motores da marca alemã

1972 Diretor do departamento técnico

da Audi NSU Auto Union AG

1975 Diretor de desenvolvimento

da Audi

1988 Diretor-geral da Audi

1993DiretorgeraldaVW2002 Presidente do Conselho

de Supervisão do Grupo VW

2007 2.* mandato como presidente do

Conselho de Supervisão do Grupo VW

2007 Presidente do Conselho Fiscal

da MAN

2012 3." mandato como presidente do

Conselho de Supervisão do Grupo VW

2012 2." mandato como presidente

do Conselho Fiscal da MAN

2012 Membro da administração

da Scania

2012 Membro da administração

da Ducati

SEGUNDA VEZ!

vegação e sem capacete!E - Existe algum fabricante no

mesmo patamar tecnológico do

Grupo VW, ou que possa repre-sentar uma ameaça?

R. - Não vislumbro nenhum,mas observamos atentamente a

concorrência e as nossas marcas

estão autorizadas a competir nos

mesmos segmentos e mercados.

Mas, não podemos tornar-nos ar-

rogantes e devemos respeitar os

nossos clientes. Fterder essas ca-

racterísticas seria perigoso!R - Fala-se muito do carro elé-

trico. £ o futuro?R. - Não sou fã da propulsão

100% elétrica... No futuro próxi-mo, não existirão baterias com ca-

pacidade suficiente. O meu avô

conduziu um híbrido na sua via-

gem de núpcias e não um dos elé-

tricos comuns na altura. Ou não

teria conseguido ir até Nice e vol-tar para Viena!

I! - Então, qual será a fórmu-la de propulsão do futuro?

R. - O motor de combustão in-terna manter-se-á dominante du-

rante muito tempo, porque ain-da tem um potencial enorme de

aumento da eficiência. Além dis-

so, existirão os híbridos, com me-cânicas Diesel e a gasolina apoia-das por motores elétricos. O meuideal: híbrido com condução elé-

trica na cidade e potência de 200

cv para condução confortável e

rápida em estrada e autoestrada.K -As reservas de energias fós-

seis existentes são maiores do

que muitos pensavam?R. - O gás natural, sobretudo,

encontra-se disponível em quan-tidade assinalável e ainda chega-rá para muitas décadas! ftrmiteextração fácil de combustíveis lí-

quidos e também existem infraes-

truturas de qualidade até nos paí-ses em desenvolvimento.

E - Tem algum motor favori-to? Talvez o Bugatii...

R. - Sim, tenho... E tem sono-ridade parecida: o Ducati!

E - A sua mulher não fica zan-

gada quando conduz motos?

R. - Quando fui nomeado paraa direção VW, tinha uma Hondacom 6 cilindros. Então, a minhamulher vendeu-a, argumentando

que precisava de escolher entre

a agitação da empresa e a agita-

ção da moto. Quando me refor-

mei, comprei uma moto e, há

cerca de um ano, adquiri o mo-delo mais potente da Ducati, com200 cv - um cabríolet barato!

E - Com a crise na Europa, es-

pera uma espécie de luta sangui-nária de descontos?

R. - Para nós, não será!

E - Os jovens estão a perdero fascínio por automóveis?

R. -Não ! A maioria dos jovens

O carro de 1 litro que lançaremos

em 2013 percorrerá mais de 100

km com menos de 1 litro!

europeus tira a carta de condu-

ção e pretende comprar automó-vel próprio. As bicicletas satisfa-

zem só uma minoria. Viveremosbem com essa proporção...

P. - lambem usa bicicletas?

R. - Sim, claro, e também te-nho Segways. Três para a estra-

da, três para o TT! Até são maisdivertidos...

E - Profissionalmente, a me-lhor ideia da sua carreira...

R. - Quando entrei na Audi, a

administração do Grupo VW dis-

se-me: o posicionamento contraBMW e Mercedes é errado; a mar-ca está atrás de Ford e Opel - e é

aí que deve ficar. Bem compor-tado como sou, obedeci - só umanoite! No dia seguinte, comecei

a trabalhar no aumento da qua-lidade e da performance...

P. -A sua mulher também fazparte da administração da em-

presa. Tem sempre a mesma opi-nião do presidente?!

R. - Se não tivesse, nunca a te-ríamos aceite [sorrisos]'. É muito

obstinada. Geralmente, discuti-

mos tudo primeiro, com as por-tas fechadas...

P. - Que influência tem a suamulher na administração?

R. -A minha mulher vê as coi-

sas de forma diferente... Por exem-

plo, tecidos, designs e interiores.Os alemães são fãs de materiais

práticos, resistentes. Isso está nos

genes dos nossos designers. Já os

italianos preferem os desenhos

bonitos. A durabilidade ó uma ca-

racterística secundária.E - De que forma é que os

conflitos entre os Porsche e os

Piêch afetaram o seu trabalho?R. - Como presidente do con-

selho de supervisão, atuo de for-

ma independente, sempre a pen-sar no bem do consórcio. Neste

campo, não existem brigas... O

nosso interesse é que o consór-cio cresça... Porsche e Piêch

apoiam-se nessa missão!R -Ainda pretende continuar

muito tempo nesta função?R. - Disse a Winterkorn para

lançar com êxito o próximo Golf,o que sucederá só daqui por cin-co ou sete anos. Até lá, continua-rei a apoiá-10.

R - Que ligação mantém comMartin Winterkorn, diretor-ge-ral da empresa?

R. - Conheci Winterkorn e a

minha mulher na mesma altura!

As duas pessoas mais influentesna minha vida. Sobre temas téc-

nicos, pensamos da mesma for-ma. Quase não precisamos de fa-

lar! Com os anteriores diretores,nunca tive este tipo de relação.

E -Arrepende-se de algumasdecisões ou da dispensa de al-

gum colaborador?R. - Assim, de repente, não

me recordo. Nunca despedimos

ninguém, como diz! Quando não

queríamos alguém em determi-nada posição e não existiam ou-tras tarefas na empresa, as sepa-rações aconteceram de formajusta. Até aconselhámos pessoasaos nossos concorrentes...

E - Winterkorn afirmou quelamentava a saída do designerPeter Schreyer para a Kia...

R. - Sim, culpa nossa. Não de-

víamos ter permitido.R - Tem 12 filhos e vários ne-

tos. É melhor pai ou avó?!

R. - Nenhum. Neste aspeto,tenho défices.. .Falta-me tempo...

P. -É possível criar 12 filhos?!

R. - Conheço a resposta deles:

não. O trabalho roubou-me mui-to tempo, mas fiz tudo para quetivessem a melhor formação, paragarantir-lhes independência.

R - Ainda pretende dar umavolta ao Mundo em barco à vela?

R. -Sim, mas ainda tenho mui-tos planos para o Grupo VW. »

Da esquerda para a direita, Alan Mulally (com o Volante de Ouro Honorário

ganho o ano passado), Piêch (VW), Reithofer (BMW) e Zetsche (Daimler)

PerguntasrápidasPrimeiro carro?

0 Carocha da minha avó materna.

Quem o pagou?A minha avó emprestou-mo.

Recentemente, qual foi

o modelo da concorrência

que mais o impressionou?

0 Ferrari Fl2berlinetta.

Que automóveis tem parados

na garagem pessoal?Demasiados...

Qual é o modelo de eleição

da sua coleçâo privada?

Nenhum.

0 que queria fazer quando

era mais pequeno?

Hoteleiro.

Disciplina preferida na escola?

Férias!

Vinho tinto ou branco?

Branco.

Peixe ou carne?

Peixe.

Café ou chá?

Café.

Música preferida?0 som de um motor de 8 cilindros.

0 prato preferido?

Cozinha japonesa.

Onde gosta de passar

as férias, no verão?

Em Itália.

É supersticioso?

Não.

0 maior defeito?

A boafé.

D melhor sítio do Mundo?

Casa.

Onde gasta dinheiro sem peso

na consciência?

Carros, carros, carros...

0 que mais detesta?

Mau humor.

Gostava de encontrar-se

com o Papa?Já o encontrei várias vezes,

mas gostava de vê-lo com mais

frequência.

Se pudesse escolher cargono governo, qual seria?

Primeiro-ministro.

0 que vê na televisão?

Mr. Bean.

Autor favorito?

Tolstoi.

Qual é qualidade que aprecia

mais numa pessoa?

A tenacidade.

Que talento gostava de ter?

Oratório.

Quando existem problemas

na empresa, fala com quem

em 1." lugar?Com a minha chefe, Ursula.

Uni bom dia de trabalho

começa com...

Notícias positivas do Mundo.

Fórmula para conseguir

sucesso na indústria

automóvel?

Ser-se bem-sucedido

no Grupo VW.