Press Review page · Maria do Carmo Belard-Kopke Marques Pinto de Dalmau. Este é o nome completo...
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28 PASSEIO PÚBLICO
Empreendedora Social
"Uma causa é o que me move na vida". Esta é uma das frases-chave de Maria do Carmo Mar-
ques Pinto a nova diretora de Empreendedorismo e Economia Social da Santa Casa da Miseri-córdia de Lisboa. É a nova causa de uma europeísta convicta
Passeio Público
Europeísta e empreendedora. São dois atributos que assentam comouma segunda pele em Maria do Carmo Marques Pinto, a novadiretora de Empreendedorismo e Economia Social da Santa Casa daMisericórdia de Lisboa. Europeísta porque construiu praticamente todaa sua carreira ao serviço do projeto europeu, mas também, e sobretudo,porque acredita verdadeiramente na União Europeia. "É nossa", "não hávolta atrás"
A europeísta empreendedora
Foi a convite pessoal de Pedro
Santana Lopes, atual provedor da
Santa Casa da Misericórdia de Lis-
boa (SCML), que Maria do Carmo
Marques Pinto assumiu a Direçãode Empreendedorismo e Econo-
mia Social da instituição. Incum-
bência: imprimir uma nova dimen-
são e dinâmica ao empreendedo-rismo social, no início de uma nova
fase da vida do departamento, que
começou por dar resposta a inicia-
tivas das comunidades locais, atra-
vés do microcrédito, mas ambicio-na impulsionar projetos com maior
impacto social, mais estruturados
e com sustentabilidade.
Esse foi o desafio que aceitou.
"Sabe o que é que eu respondi
quando o dr. Pedro Santana Lo-
pes me perguntou o que é que eu
percebia de empreendedorismo?
Respondi-lhe que sou empreende-dora". E o foi também o que disse
aos colaboradores quando assu-
miu o cargo: "Disse-lhes que não
podemos pregar o empreendedo-rismo se não formos nós próprios
empreendedores". E - sublinha
Maria do Carmo - "ou se é ou não
é". Porque ideias há muitas, umas
são boas, outras podem ser me-
lhoradas, mas mais importante é
encontrar um empreendedor quevá tornar uma ideia má numa ideia
boa. É que um empreendedor, aocontrário de alguém que vive de-
pendente de subsídios, "jamaisfalará de um problema, fala imedia-
tamente de uma solução".
E esta atitude que procura, pois. Li-
cenciada em Direito pela Universi-
dade Católica de Lisboa, frequen-tou uma pós-graduação em Direito
Comunitário, pela mesma institui-
ção, e possui um diploma em Altos
Estudos Europeus, pelo Colégio da
Europa, em Bruges. Porquê esta
inclinação? A explicação é sim-
ples: "Sou da geração da adesão
[de Portugal à então Comunidade
Económica Europeia]".Fez - diz - "o percurso lógico para
quem sai da faculdade naquela
época". Um percurso que a levou a
uma permanência de dez anos em
Bruxelas, como assessora jurídicada Secretaria-Geral do Conselho
da União Europeia. "Fui apren-
diz, aprendi muito do que sei no
Conselho, que me deu uma visão
transversal dos assuntos - fiscais,
financeiros, cultura, social - e uma
visão institucional da União". Foi
aí que aprendeu a gostar de po-lítica, das negociações, da arte
do compromisso. Mas, ao fim de
duas décadas e depois de já ter
vivido duas presidências do mes-
mo país, decidiu que estava na
altura de mudar de vida. Até por-
que não queria que os filhos - tinha
dois então - crescessem em Bru-
xelas. Desagrada-lhe o ambiente
eurocrata, burocrata: "As pessoas
perdem as raízes. Fica-se sem sí-
tio para voltar e eu não queria não
ter sítio para voltar". Entre Lisboa
e Barcelona - o marido é catalão
- venceu a segunda, onde nasceu
o terceiro filho.
Não deixou, porém, os assuntos
europeus. Trabalhou para o gover-no da Catalunha como secretária-
-geral do Patronat Catalunya-Món,o consórcio público para a promo-
ção exterior da região, e, mais tar-
de, fundou a sua própria empresa- o GEA (Barcelona European Con-
sulting para Assuntos Internacio-
nais e da União Europeia).Entre estas duas etapas, uma
experiência única: assessora do
primeiro-ministro da Bulgária. Foi
durante uma viagem aos Estados
Unidos, a convite do Departamen-to de Estado norte-americano e
quando ainda colaborava com o
governo catalão, que fez o contac-to que a levaria a Sofia: conheceu
uma deputada búlgara, que, mais
tarde, haveria de apelar aos seus
conhecimentos europeus para
ajudar o primeiro-ministro a lidar
com o congelamento dos fundos
europeus. Aquilo que deveria ser
apenas uma assessoria pontual
prolongou-se por um ano, a con-vite do primeiro-ministro, então
Sergei Stanishev. "Tudo quantose diga é pouco. É outro mundo".
Porquê? Maria do Carmo relata o
insólito de um chefe de governo
que não falava diretamente com o
presidente da Comissão Europeia."Nem queria acreditar. Ninguém do
gabinete dele tinha ido alguma vez
a Bruxelas, pelo que a minha mis-
são era regularizar as relações com
o gabinete de Durão Barroso".
O governo acabou por cair, mas
Durão Barroso acabou a prestar
homenagem ao primei ro-ministro
cessante no Parlamento Europeu.E se esta falta de comunicaçãoentre os governos de Sofia e da
União Europeia era inédita, menos
não se pode dizer da experiênciade viver na Bulgária: "É outra cultu-
ra. Por um lado, são eslavos e têm
uma influência oriental muito gran-de; por outro, receberam a herançado regime soviético, de que eram
os mais ortodoxos e o que os tor-
na muito fechados e malabaristas
ao mesmo tempo". Além de que é
um país muito pobre: "Nunca tinha
visto tanta pobreza, não nas ruas,
mas dentro de casa. Há um atraso
brutal e uma nova economia para-lela".
De Sofia, Maria do Carmo Mar-
ques Pinto regressou a Barcelona.
E entretanto a Lisboa. Apenas com
o filho mais novo, de 12 anos. Os
outros - de 23 e 21 - e o marido
permaneceram na capital da Cata-
lunha, mas diz Maria do Carmo afamília é mais do que o local onde
estão: "A cumplicidade é tão gran-de que é indiferente onde estamos.
É claro que não podemos estar to-dos separados eternamente, mas
eles compreendem perfeitamente.
"Neste País, ouse pertence aum partido e seé apadrinhada
dentro dopartido ou nãose tem hipótese.Compreendoque a confiançapessoal éindispensável,mas não éincompatívelcom dar valor àexperiência. Ocartão vale mais"Há uma grande solidariedade, ape-sar da distância".
Não foi o convite de Pedro Santana
Lopes que a trouxe de regresso ao
seu País. Veio sem uma ocupaçãodefinida "unicamente" para intervir,
com "espírito de serviço". Já tinha
servido o governo da União, o da
Catalunha e o da Bulgária, sentia
que, agora, era o momento de ser-
vir o seu. "Interessa-me o que faço,não o dinheiro pelo dinheiro". Mas
a frustração nublou a dedicação:"É impossível neste País. Ou se
pertence a um partido e se é apa-drinhada dentro do partido ou não
se tem hipótese. Compreendo quea confiança pessoal é indispensá-
vel, mas não é incompatível com
dar valor à experiência. O cartão
vale mais. É muito frustrante", cri-
tica, lamentando que os seus 25
anos de carreira na área europeiatenham assim sido desaproveita-
dos.
Não desistiu, porém, de intervir.
Fá-lo numa plataforma de reflexão
sobre o futuro de Portugal e da Eu-
ropa, com uma convicção: "Nós
somos a União Europeia. É o nos-
so espaço. Não há em deve haver
volta atrás. Temos de encarar aUnião como nossa, não estamos
a discutir o projeto de outros". É
- sublinha - uma maneira de estar
que não tem nada a ver com a per-da de raízes: "Não vou perder nun-
ca a minha língua, nem a cultura,
nem a nacionalidade. O que vou é
dar mais oportunidades aos meus
filhos, sem dúvida".
Não obstante acreditar no projeto
europeu, não deixa de criticar a fal-
ta de ambição: "O projeto europeuem si parece-me absolutamente
lógico. É muito pior para nós ter-
mos a senhora Merkl a mandar.
Portugal é pequeno, pelo que nun-
ca poderá ter um papel despropor-cionado em relação à dimensão.
Mas temos de usar o smartpower,todas as alavancas, todas as pos-sibilidades para defender os nos-
sos interesses. Desde que Durão
Barroso é presidente da Comissão
que Portugal conta muito mais no
mundo".
A Europa é, claramente, uma cau-sa para a nova diretora de Em-
preendedorismo e Economia da
SCML. Para usar as suas próprias
palavras: "Uma causa é o que me
move na vida".
"Um empreendedor, ao contrário de alguém que vive dependente de subsídios,
"jamais falará de um problema, fala imediatamente de uma solução"
ORIGENS
Entre Espanha e Alemanha
Maria do Carmo Belard-Kopke
Marques Pinto de Dalmau. Este
é o nome completo da direto-
ra de Empreendedorismo e
Economia Social da SCMLUm nome a espelhar a multi-
culturalidade das suas origens.Comecemos pelo primeiro ape-lido: Belard-Kopke, uma "alian-
ça" entre a herança espanholae a alemã. O Belard chega-lhe
por via de um trisavô espanhole com uma estória acoplada:
rezam os anais da família que,com negócios do café em São
Tomé, esse antepassado viaja-va muito e num dos regressosa casa a mulher terá tido um
caso extraconjugal, o que levou
a mudar-se com os filhos paraLisboa; terá então abandonado
o apelido original - Velarde - ou
este terá sido corrompido pelos
portugueses que não o saberiam
pronunciar, não se sabe bem. O
que se sabe é que casou com
uma portuguesa, da qual Ma-ria do Carmo é descendente.
Já o Kopke é alemão, herdado
da presença de antepassadosde Hamburgo, cônsules da
Liga Hanseática, que rumaram
a Portugal nos idos de 1600,tendo-se estabelecido no Por-
to e dedicado ao negócio do
vinho com o mesmo nome.Da genealogia paterna ficou
o Marques Pinto. E o Dalmau
chega por via do casamento.