Prefácio de Wordworth
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CM001~6922-6I NO ICE
AUTORES Wordsworth/PeacocklShelley
Alcinda Pinheiro de SOUSI. "RClI'N1tico" pc+u'7 .
BibJiografi •...........................................
William Wordsworth. P,.fieio. ~y:ric:1I8anlds.seguido de "Ap4n.dite ao p,.t.icio: Sobre. dicç6l poétiQ" . 59
7
TITULO Poética Romintica Inglesa
51
COlECçAO
Thonw Lave Peacock. k Quatro IdlIdesda Poesia. . . . . . . . . . . . . . . . 99
Percy ~he SheUey. Oefesa d. Poesi•............... o ' • • • • • • • • 1 2 3í TRAOUÇAo.
INTROOuçAo.
ORGANI2AÇAo
E NOTAS Alcinda Pinheíro de Sousae
JoIo Ferrei •.• Ouartt
\
IMPRESSA.O Capimat, Campo Grmde 294·A
1700 L1SBDA
CAPA: Tipografillldeal, Lisboa
1a. ediçio. Março de 1985
No. de ediçlo: 85/1
, 000 eX&lTlplares
Di reitOl res8l'Vlldo&por:Apigin.tanta . Coopenl1;V8 de ServiçOl Culturais, cri.
Aportado 4254 - 1507 LISBOA COOEX
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r:illiam Wordsworth
PREFAcIO A LVR1CAL BALLAOS
o primeiro volume destes poemas foi já submetido à apr~
c ia çã o g er al . F oi p ub li ca do e m j ei to d e ex pe ri ên ci a q ue ,
1esperava eu, pudesse ter alguma utilidade para compre
va r at é qu e p on to po de m se r t ra nsm it ià as e ssa es pé ci e d e
prazer e essa quantidade de prazer que um poeta pode racig
nalmente esforçar-se por transmitir quando ajusta ao arran
ja métrico uma selecção da linguagem real de homens num e~
tado de sensação vivida.
Não foi muito impreciso O modo como estimei O pfeito
p ro vá ve l d es se s p oe ma s: l is on je av a- me a i d ei a d e q ue s er !
am lidos com um prazer invulgar por todos os que deles se
agradassem e, por outro lado, estava bem ciente de que
aqueles a quem desagradassem haveriam de lê-los com invu!
gar aversao. O resultado divergiu das minhas e::pectat!
vas apenas porque agradei a um n úm er o m ai or d o q ue alguma
vez ousei esperar.
Por amor 1 diversidade e p el a c on sc iê nc ia d a ~ in ha p r§
pria fraqueza, senti necessidade de pedir auxilio a um arn!
90 que me pôs à disposição os ?Cernas "Ancient .!iariner"',
"Foster-Mother' s Tale", "Nightingale", "Dungeon" e o poema
intitulado "Leve". 2 Mas eu não teria pedido este i'ux!
l ia s e nã o a cr ed it as se f ir me me nt e q ue o s n os so s p oe ma s t ~
riam em granàe medida a mesma tendência e que, embora se
pudesse achar alguma diferença, não haveria qualquer di§
cordância quanto âs cores do nosso estilo,jrl que a~ nos~as
opiniões sobre a poesia coincidem quase inteiramente.
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A lg un s d os m eu s a mi go s d es ej am p el ~ b om ê xi to d es te s
poemas por acreditarem que. se se cumprissem as intenções
c om q ue f or am c om po sto s, h ave ri a d e s ur gi r u m t ip o de p o~
sia destinada a interessar a humanidade de uma forma dura
d ou ra e n ã o d e sp re zí ve l p ar a a m ul ti pl ic id ad e e p a ra a qu ~
lidade das suas relações morais; por isso me aconselharam
a antepor aos poemas uma defesa sistemática da teoria que
presidiu à sua composição. Não me sentia, porém, dispo~
to a levar a cabo esta tarefa porque sabia que o leitor
i ri a e nt ão o lh ar c om f ri ez a o s m eu s a rg um en to s, uma vez
q ue m e poderia assim tornar suspeito de ter sido principa!
mente influenciado pela esperança egoísta e insensata de o
persuadir peta ~zão a aprovar ~stes mesmos poemas; e ainda
menos disposto me sentia a levar a cabo a tarefa porque e~
primir adequadamente as minhas opiniões e impor plenamente
o s me us a rg um en to s ex ig ir ia ~ ~ es paç o e xo rb it an te p ar a a
natureza de um prefáciO. Além disso, tratar este assuntocom a clareza e coerência de que me parece susceptível, im
plicaria apresentar um relato completo sobre o estado a~
tual do gosto do público neste pais e d et er mi na r a té q ue
p on to e st e g os to é s ad io o u c or ro mp id o, o q ue m ai s u ma v ez
não poderia ser determinado sem que se apontasse de que me
n ei ra a l in gu age m e o es pí ri to h um ano a gem e re ag em u m s 2
bre o outro e sem que se voltassem a traçar as revoluções,
n ao s ó d a li te ra tu ra , ma s t am bé m da p ró pr ia s oc ie da de .
E is p or qu e m e te nh o t o ta lm en te r ec usa do , p or s is te ma , a
entrar nesta defesa e, contudo, sou sensível ã ideia de
q ue n ão s er ia p ró pr io i mpo r a br up ta me nt e a o pú bli co , s em
algumas palavras de introdução, poemas materialmente tão
d if er en te s d aq ue le s q ue me re ce~ h oj e e m d ia a pr ov aç ão
geral.
se
SUpÕe-se que, no acto
compromete formalmente
d e es cr ev er e m v er so , u m a ut or
a s at isf az er c er to s h áb it os d e
associação já c on he ci do s, d an do a s ab er d es te m od o a o le !
tor não apenas que certas classes de ideias e expressões
se acharão no seu livro,mas também que outras serão cuid~
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dosamente excluídas. A linguagem métrica enquanto índice
ou símbolo terá em diferentes épocas da literatura dese~
c ad ea do e xp ec ta ti va s m ui to d i fe re nte s: p or e xe mp lo , n o
tempo de Catulo. Terêncio e Lucrécio e no de Estácio e
Claudiano] e, no nossOS próprio país, no tempo de Shake~
pear e Bea~~ont e Fletcher e no d e D onne e Cowley, ou deDryden, ou de pope.4 Não t omarei a meu cargo determ!
nar o alcance exacto da promessa que um autor, no a cto de
escrever em verso, faz presentemente ao seu leitor, mas e~
tou certo que parecerá a mu it a g en te q ue n ão c um pr i o s t e~
mos de um contrato por mim voluntariamente contraído. A-
queles que, acostumados à ostentação e fraseologia oca de
muitos escritores modernos, persistirem em ler este livro
até ao fim, terão, sem dúvida, que debater-se frequenteme~
te coro sentimentos de estranheza e confusão: hão-de proc~
rar poesia e serão levados a inquirir a que título de C OE
tesia é que estas experiências se podem assumir como tal.E sp er o, p oi s, qu e o l eit or me n ão c on de ne s e eu t en ta r e~
p or o q ue m e p ro pus r eal iz ar e t am bé m ( na m ed id a e m q ue os
limites de um prefácio o tornem possível) explicar algumas
das principais razões que me determinaram na escolha deste
o bj ec to , p ar a q ue , p el o m en os , l he s e ja po up ad a u ma d es e
gradável sensaçao de desapontamento e para que eu próprio
m e p os sa p ro te ge r d a m ai s d es on ro sa a cu saç ão q ue p od e s er
lançada contra um autor, ou seja, a de que a indolência o
impede de se empenhar na averiguação do que é O seu dever
ou, uma vez averiguado esse dever, o impede de o leal!
5zar.
o principal objecto que a mim próprio me propus nestes
poemas consistiu, pois, em escolher incidentes e situações
da vida de todos os dias e relatá-los ou descrevê-los, tar.t~
q ua nt o p o ss ive l, n um a se le cç ão d a l in gu ag em r ea lme nt e
usada pelos homens, e em recobri-los com um certo colorido
da imaginação, pelo que as coisas comuns se apresentariam
ao espírito de um modo invulgar:6
e , al ém d is so e an te s
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do mais, consistiu em tornar interessantes estes incide~
tes e situações, ao delinear neles, com verdade, mas sem
ostentação, as leis primárias da nossa natureza, sobretudo
no que diz respeito à maneira como associamos ideias num
estado de excitação.7
Foi. em geral, escolhida a vida
humilde e rústica porque, nessa condição, as paixões esse~
ciais do coração encontram um melhor solo para atingirem a
maturidade, estão menos reprimidas e falam uma linguagem
mais simples e mais enfática; porque, nessa condição da
vida, os nossos sentimentos mais elementares coexistem num
estado de maior simplicidade e, consequentemente, podem
ser contemplados de uma forma mais exacta e comunicados de
u m mo do m ai s e né rg ic o; p or qu e a s m an ei ra s d a v id a r ur al
germinam a partir desses sentimentos elementares, compree~
dem-se mais facilmente a partir do carácter necessário das
ocupações rurais, são mais duráveis e, por fim, porque,
nessa condição, as paixões dos homens estão entrelaçadas
com as belas e permanentes formas da natureza. Também seadoptou a linguagem destes homens (de facto purificada do
q ue p ar ec e s er em o s s e us r ea is d ef ei to s e d e t od as a s c a~
sas racionais e duradouras de desagr·ado ou r!'~''-'s.:-.~:;.cia)POE
q ue t ai s h om en s c om un ic am h or a a ho ra c om o s m el ho re s o Q
jectos donde originalmente deriva o melhor da linguagem e
p or qu e, u ma v ez q ue o l ug ar q ue o c up am n a so ci ed ad e e o
circulo estreito e uniforme das suas relações os subtraem
â influência da vaidade social, exprimem os seus sentime~
tos e noções de uma forma mais simples e menos elaborada.
Assim, uma linguagem que nasça da experiência repetida e
dos sentimentos habituais é uma linguagem mais permanentee muito mais filosófica do que aquela por que os poetas
muitas vezes a substituem, pensando que, quanto mais se ~
fastam do contacto com 06 outros homens e se entregam a há
bitos de expressão arbitrários e caprichosos a fim de aI!
mentarem gostos ou apetites volúveis por eles próprios cr!
adas, mais honrarias conferem a si próprios e ã sua arte.-
• Vale a pena o bservar a qUi q ue os passo s qu e, emChaucer, mais nos afectam se apresentam quase se~
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Não posso, contudo, ficar insensível ao actual clamor
de repúdio contra a trivialidade e a mesquinhez, quer do
pensamento, quer da linguagem, que alguns dos meus conte~
porâneos têm ocasionalmente introduzido nas suas campos!
ções métricas, e reconheço que este defeito, onde quer que
exista, é mais desonroso para o próprio carácter do poeta
do que a falsa sofisticação ou a inovação arbitrária, emb2
ra eu pudesse simultaneamente argumentar que, no total das
suas consequências, é m ui to m en os p er ni ci os o. O s p oe ma s
incluídos neste volume diferem de tais versos pelo menos
p or u ma m ar ca d is ti nt iv a, a de q u e c ad a u m d e le s t em u ma
6~e c on di gn a. N ão qu er i s to di ze r qu e eu se mp re t ~
nha começado por escrever com uma finalidade clara e fo!
maLmente concebida, mas julgo terem-me os hábitos de medi
tação formado de tal maneira os sentimentos que não se PQ
derã deixar de reconhecer que as descrições dos objectos
que me impressionam fortemente os sentimentos trazem cansigo uma fyi..YtaLida.de. Se nesta opinião estiver errado, pouco
d ir ei to t er ei a o t ít ul o d e p oe ta . P oi s t od a a b oa p oe si a
é o transbordar espontâneo de poderosos sentirnentos,a mas,
e mb or a i st o s ej a v er da de , t od os o s po em as a q ue s e p od e
atribuir qualquer valor, seja qual for o assunto, foram
sempre produzidos por um homem que, não só possuía uma se~
sibilidade orgânica invulgar, mas era também capaz de r~
f le ct ir p ro fu nd a e l on ga me nt e. O s f lu xo s c on ti nu as d e
sentimento são modificados e dirigidos pelos nossos pens!
mentos, que são, na realidade, os representantes de todos
os sentimentos passados, e, tal corno contemplar a relação
destes representantes gerais uns com os outros permite deê
cobrir o que é realmente importante para os homens, assim
também, atravez da repetição e continuidade deste acto, os
nossos sentimentos combinar-se-ão CaD objectos importantes,
até que, por firo, se possuirmos originalmente uma grande
pre numa linguagem pura e universalmente inteligí-vel mesmo hoje em dia .
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sensibilidade, produztr-se-ão hábitos mentais, cujos impu!
SOS, caso lhes obedeçamos cega e mecanicamente, nos hão-de
levar a descrever objectos e expressar sentimentos de uma
tal natureza e numa tal interligação que, se aquele a quem
nos dirigimos estiver num estado saudável de associação, o
seu entendimento tem necessariamente de sair de algum modo
iluminado e os afectos aperfeiçoados.
Disse já que cada um destes poemas tem uma finalidade.
Também informei já o meu leitor que esta finalidade consls
t ir á p ri nc ip al me nt e e m i lu st ra r a m an ei ra c om o o s nOSS05
sentimentos e ideias se associam num estado de excitação,
ou, para falar numa linguagem mais apropriada, trata-se de
s eg ui r o s f lu xo s e r e fl ux os d o e s pí ri to a gi ta do p el os g ra ~
d es e s im pl es a fe ct os d a n os sa n at ur ez a. F oi e st e o bj e~
t iv o q ue , p or v ár io s m ei os , m e e s fo rc ei p or a ti ng ir n es te s
p eq ue no s e xe rc íc io s: d es cr ev en do a p ai xã o m at er na l a tr a
v ez d as s ua s mu it as i nt ri nc ad as s ub ti le za s, t al c om o n os
p oe ma s " Id io t B o y" e " M ad M o th er ", a co mp an ha nd o a ú lt im aa go ni a d e u m s er h um an o à s p or ta s d a mo rt e, q ue , n a s ol !
d ão s e a pe ga à vi da e à sociedade, como no poema "Forsaken
Indian", mostrando, como nas estrofes intituladas "We Are
S ev en ", a pe rp le xi da de e ob sc ur id ad e q ue , n a n os sa i nf ã~
cia, estão associadas à noção que temos da morte, ou antes,
a n os sa t ot al i nc ap ac id ad e p ar a a dm it ir e ss a n oç ão , p at e~
t ea nd o a f or ça d a l ig aç ão f ra te rn al o u, p ar a f al ar m ai s f !
losoficamente, moral, quando unida desde cedo aos grandes
e b el os o bj ec to s d a n at ur ez a, c om o e m " Th e B ro th er s" , o u,
c om o n o e p is ód io d e " Si mo n L eeH, c ol oc an do o l ei to r e m c OB
d iç õe s d e r e ce be r d as v ul ga re s s en sa çõ es m or ai s u ma o ut ra
impressão mais salutar do que aquelas que estamos acostum~
d os a r ec eb er . F ez t am bé m p a rt e d a m in ha f in al id ad e g ~
ral tentar delinear caracteres influenciados por sentimen
t os m e no s a pa ix on ad os , C Om o e m " T wo A pr il M or ni ng s" , " Th e
F ou nt ai n" , " Th e a ld M an T r av el li ng ", " Th e Tw o T hi ev es ",
etc., caracteres cujos elementos são simples, pertencendo
mais à na tu re za d o q u e a os c os tu me s t al c o mo h oj e e xi st em
e c om o p ro va ve lm en te s em pr e h ão -d e e xi st ir , e q ue , p el a
sua constituição, podem ser contemplados clara e vantajos~
m en te . N ão c on ti nu ar ei a ab us ar d a pa ci ên ci a d o l ei to r
d et en do -m e p or m ai s t e mp o n es te a ss un to , m as c on vé m q ue
m en ci on e u ma o ut ra c ir cu ns tâ nc ia q ue d i st in gu e e st es p oe
m as d a p o es ia q ue a ct ua lm en te é p op ul ar : a de q u e o s en t!
menta aí desenvolvido dá importância à ac çã o e s it ua çã o e
não a acção e situação ao sentimento. O q ue q ue ro d iz er
tornar-se-á perfeitamen~e inteligível se remeter o leitor
p ar a o s p oe ma s i nt it ul ad os " po or S us an ~ e " Ch il dl es s F~
ther", particularmente a última estrofe do segundo.
N ão p er mi ti re i q ue u m s en ti do d e f a ls a m o dé st ia m e i ~
p eç a d e a fi rm ar q ue c ha mo a at en çã o d o l ei to r p ar a e st a
marca distintiva, não tanto por estes poemas, mas pela i~
p or câ nc ia g er al d o a s su nt o. O a ss un to é deveras importa~
t e~ P oi s o e sp ir it a h um an o é c ap az d e s er e xc it ad o s em a
i nt er ve nç ão d e e st im ul an te s v io le nt os e gr os se ir os , e s óq ue m t iv er u ma f ra ca p er ce pç ão d a s u a b el ez a e d ig ni da de
não o reconhecerá, e, além disso, não reconhecerá que,qua~
t o m ai s u m se r hu ma no p os su i e st a c ap ac id ad e, t an to m ai s
s e el ev a a ci ma d e o ut ré m. P ar ec eu -m e, p or ta nt o, q ue pr2
c ur ar p ro du zi r o u a la rg ar e st a c ap ac id ad e é u ma d as m el he
r es m is sõ es a q ue , e m qu al qu er é po ca , u m e sc ri to r s e p od e
e nt re ga r, m as e st a m is sã o, s em pr e e xc el en te , é -o e m e sp ~
cial nos nossos dias. t qu e u m s em n úm er o d e c au sa s a nt ~
riormente desconhecidas combinam-se agora para embotar os
poderes de discernimento do espirita humano e, tornando-o
inadequado a todo e qualquer esforço voluntário, reduzem-
- no a um e s ta do d e t or po r q ua se s el va ge m. D e t od as e st as
c au sa s, a s ma is e fi ca ze s s ão o s g ra nd es a co nt ec im en to s n 2
c io na is q ue d ia ri am en te o co rr em e a c re sc en te a cu mu la çã o
d os h om en s n as c id ad es . o nd e a u n if or mi da de d as s ua s o cu p~
çoes provoca um anseio pelo caso extraordinário, saciado a
t od o o m om en to p el a c om un ic aç ão r áp id a d e n ot íc ia s~ A e !
t a t en dê nc ia d a v id a e do s c o st um es t êm -s e c o nf or ma do n o
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nosso país a literatura e os espectáculos teatrais. As
obras inestimáveis dos nossos autores maiores, quase me
a tr ev ia a di ze r a s o br as d e S ha ke sp ea re e M il to n, s ão d es
prezadas em favor de romances delirantes, tragédias alemã;
doentias e estúpidas e dilúvios de histórias em Verso oci2lO
s as e ex tr av ag an te s. Q ua nd o p en so n es ta d e gr ad an te s ed e
de estímulos afrontosos, quase me envergonho de mencionar
o frágil esforço com que procurei contrariá-Iosll e,r~
flectindo sobre a amplitude do mal geral, sentir-me-ia 2
primldo por uma melancolia não pouco honrosa se Certas qu~
lidades intrínsecas e indestrutíveis do espírito humano,
b em c om o c er to s o bj ec to s g ra nd es e pe rm an en te s q ue s ob re
ele agem e que são igualmente intrínsecos e indestrutíveis
m e nã o t iv es se m i mp re ss io na do p ro fu nd am en te e s e, p ar a
além disso, esta impressão não fosse completada pela eren
ç a n a a pr ox im aç ão d os t em po s e m q ue h om en s d e m ai or es c ap ~
c id ad es s e hã o- de o po r s is te ma ti ca re en te a es se m al e COmum êxito muito mais notável.
Tendo, assim, discorrido longamente sobre os assuntos
e objectivo destes poemas, pedirei agora permissão ao lei
tor para informá-lo de algumas circunstâncias relativas ao
seu e4tilo, a fi m de q u e, e nt re o ut ro s m ot iv os , n ão p os sa
s er c en su ra do p or n ão t er r e al i2 ad o o q ue n un ca m e p ro pu s
realizar. O leitor verificará que nestes volumes raramen
te Ocorrem if - 12-p er s an i caç oes de i de ia s ab str act as q ue, e s
pero, são totalmente rejeitadas como vul~ar artifício para
e ng ra nd ec er o e st il o e el ev á- lo a ci ma d a pr os a. T iv e p o r
objectivo imitar e, tanto quanto possível, adoptar a verda
deira linguagem dos homens, sendo certo qUe tais personif~
cações não fazem natural ou habitualmente parte dessa li~
g ua gem . S ão, d e f ac to , u ma f ig ura d o dl'scurso .ocas~ona!
m en te i ns pi ra da p el a p a ix ão e f o i c om o t al q u e f iz u s o d~
las; porém, esforcei-me de sobremaneira por rejeitá-las
enquanto artifício mecânico do estilo ou t 1enquan O ingu~
o s es cr it or es e m ve rs o p ar ec em r ei vi nd !
Fo i m eu d es ejo M an ter o l ei tor na oc rnp~
gern d e c as ta q ue
por receita.car
n hi a d a n at ur ez a h um an a, c on vi ct o d e q ue , a o f az ê- lo , l he
hei-de despertar O i nt er es se ; c on tu do , e st ou b e m c ie nt e
de que outros, seguindo outras vias, podem igualmente de~
pertar-Ihe o interesse: sem interferir com a pretensão d~
l es , d es ej o a pe na s r ei vi nd ic ar o m eu p ró pr io c am in ho .
N es te s v ol um es , e nc on tr ar -s e- á t am bé m m ui to p ou co d o q ue
h ab it ua lm en te s e de si gn a p or d i cç ão p oé ti ca ~3 f oi -m e t ão
penoso evitá-la quanto o é a outros produzi-la, e isto p~
lo motivo já r ef er id o, o u s ej a, a pr ox im ar a m in ha l in gu ~
gem da linguagem dos homens e, além disso, porque o prazer
que me propus transmitir é de uma espécie muito diferente
daquele que muitas pessoas crêem ser objecto próprio da P2
e si a. N ão s ei c o mo , s em m e t o rn ar c ul pa do em demasia, ~
d er ei d ar a o m eu l ei to r u ma n oç ão mais exacta do estilo em
q ue d e se je i q ue e st es p oe ma s f os se m e sc ri to s s en ão l nf o~
mando-o de que procurei encarar sempre de fr ent e o me u ass un to e , c on se qu en te me nt e, e sp er o q ue n ao s e a ch e n es te s
p oe ma s q ua lq ue r f al sa d es cr iç ão e q ue a s mi nh as i de ia s s ~
jaro expressas numa linguagem adequada â s ua r es pe ct iv a i ~
p or tâ nc ia . C om e s ta p r át ic a, d ev o t e r g an ho a lg o q ue é
propício a u ma c ar ac te ri st ic a d e t o da a bo a p oe si a, o u s ~
ja, bom senso, mas, por outro lado, obrigou-me necessari~
m en te a r om pe r c om u r na g ra nd e q ua nt id ad e d e e xp re ss õe s e
f ig ur as d e e st il o q ue , d e p a is p ar a f il ho s, t êm s id o d e há
muito consideradas como a he ra nç a c omu m dos p oet as. J u!
guei também conveniente restringir-me ainda mais, tendo-me
abstido .0
u so d e m u it as e xp re ss õe s e m s i p ró pr ia s b el as e
adequadas, mas que, à força de serem frivolamente repetidas
p or m au s p oe ta s, a ca ba m p or s e c om bi na r c om t ai s s en ti me g
t os d e a ve rs ão q ue q ua se n ão há arte de associação que 05
possa dominar.
S e n Um p oe ma s e e nc on tr ar u ma s ér ie d e v er so s, o u m e~
mo um único verso, em que a linguagem, embora naturalmente
organizada e obedecendo às estritas leis da metrificação,
não se distingue da da prosa, há logo uma grande quantid~
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de de críticos que, ao tropeçarem nestes prosaIsmos, co~o
eles lhes chamam, imaginam que fizeram uma notável desco
berta e exultam por poderem afirmar que o poeta é ignora~
t e na s ua p ró pr ia p ro fi ss ão . O ra o l ei to r t er á d e c on st ~
tar que, se deseja retirar prazer da leitura destes po~
mas, deve rejeitar to~almente o cânone crítico que estes
homens pretenderiam estabelecer. E seria bem fácil dem on st ra r- lh e q ue , n ão s ó um a g ra nd e p ar te d a l in gu ag em d e
q ua lq ue r b om p oe ma , m es mo d os m a is e le va do s, n ão h á- de n ~
cessariamente diferir, com excepção do metro, da da boa
prosa, mas também que se verificará que algumas das partes
mais interessantes dos melhores poemas são estritamente a
linguagem da prosa, quando esta é bem escrita. Poder-se-
-ia demonstrar a verdade desta afirmação com inúmeros pas
sos de quase todas as obras poéticas, mesmo do próprio Mii
t on o E mb or a n ão t en ha m ui to e sp aç o p ar a c it aç õe s, v ou ;
p re se nt ar a qu i, a fi m de i lu st ra r a qu es tã o d e u ma f or ma
genérica, uma pequena composição de Gray, que foi o primei
ro de entre os que tentaram, através da reflexão, dilata;
o e sp aç o q ue s ep ar a a pr os a d a co mp os iç ão m ét ri ca e q ue ,
mais do que qualquer outro, singularmente elaborou a estr~
tura da sua própria dicção poética.
In vain tO,me the smiling morningsshine,
And r:dden1ng Phoebus lifts his golden fire:
The b1rds ln ~ain their amorous descant join,
Dr cheerful f1elds resume thelr green attire:
The~e ears a~as: for other notes repineiA
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tenho estado a dizer quanto à perfeita afinidade entre a
linguagem métrica e a da prosa, e abre c~~lnho a outras
distinções artificiais que o espIrito de forma voluntária
admite, responderei que a linguagem da poesia que tenho e~
tado a recomendar é, tanto quanto possível, uma selecção
da linguagem realmente falada pelos homens, que esta sele~
ção, sempre que feita com verdadeiro gosto e sentimento,
constituirá por si própria uma distinção muito mais lmpo~
tante do que ã primeira vista se poderia imaginar e separ~
rã inteiramente a composição da vulgaridade e mesquinhez
da vida quotidiana; e se a ela se acrescentar o metro,
creio que se produzirá uma dissemelhança de todo suficie2
te para a satisfação de qualquer espirito racional. Que
outra distinção haverlamos de ter? De onde há-de ela vir?
E onde hã-de existir? Não, decerto, onde o poeta fala p~
la boca das suas personagens: aqui ela não é necessária,
nem para a elevação do estilo, nem como hipotético orname~
to, pois se o poeta escolher judiciosamente o seu assunto,
este conduzi-lo-á naturalmente e no momento adequado a pa!
xões, cuja linguagem, quando seleccionada verdadeira e j~
diciosamente, tem por força de ser digna, colorida e palp!
tante de metáforas e figuras. Abstenho-me de mencionar
uma incongruência que haveria de chocar o leitor intelige~
te caso o poeta entretecesse,no esplendor que a paixão n!
turalmente sugere,um outro qualquer, alheio, de sua inve~
ção: basta dizer que tais acréscimos são desnecessários.
E é certamente mais provável que os passos ond~ metáforas
e figuras existem em justa abundância produzam o seu efeito próprio, se, noutros momentos em que as paixões forem
de natureza mais branda, O estilo for igualmente contido e
sos sentimentos morais, nao posso contentar-me com estas ~
bservações dispersas. E se, pelo que vou dizer, houver
alguém a quem o meu trabalho pareça desnecessário e que me
julgue um homem lutando contra moinhos de vento, recordar-
-lhe-e! que, seja qual for a posição exteriormente defend~
da pelos homens, a fé nas opiniões que pretendo estabel~
cer é, na prática, quase desconhecida. Se as minhas co2
clusões forem aceites e, sendo aceites, forem levadas até
às últimas consequências, os nossos juízos sobre as obras
dos maiores poetas, quer antigos, quer modernos, serão mu!
to diferentes do que são hoje em dia, quer quando os louvê
mos, quer quando os criticamos, e os nossos sentimentos m~
rais, influenciando esses juízos e por eles influenciados,
hão-de, creio eu, ser corrigidos e purificados.
Retomando, pois, o assunto em termos gerais, pergunto:
o que se quer dizer com a palavra poeta? O que é um po~
ta? A quem se dirige ele? Que linguagem se espera dele?Ele é um homem que fala aos outros homens: um homem, é
certo, dotado de uma sensibilidade mais viva, de mais ent~
siasmo e ternura, que tem um maior conhecimento da natur~
za humana e uma alma mais compreensiva do que se considera
ser vulgar entre os homens; um homem a quem as suas pa!
xões e actos de vontade causam prazer e que se regozija
mais do que os outros homens com o espIrito da vida que n~
le há: que se deleita na contemplação de paixões e actos
de vontade semelhantes talcano se manifestam nas andanças do
universo e habitualmente incitado a criá-los onde não os
acha. A estas qualidades veio ele acrescentar uma disP2sição para se deixar afectar, mais do que os outros homens,
por objectos ausentes como se estivessem presentes, uma c~
pacidade para concitar em si paixões que estão, na verdade,
longe de serem as mesmas que os acontecimentos reais prod~
zem e, no entanto (em especial quanto ao que da afinidade
universal dá prazer e deleite), se assemelham mais às pa!
xões produzidas por esses acontecimentos do que tudo aqu!
ameno.
Mas, uma vez que o prazer que eu espero éar através
dos poemas agora apresentados ao leitor deve depender de
justas noçoes sobre este assunto, e como ele é em si pr§prio da maior importância para O nosso gosto ~ para os n0!l!:
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10 que>os outros hOl.lcns, FJl"tindo .::Ip\~ndsdo:,
$~U espfrito. ~stâo acostumaJoh a s~~ti~ Cr.l
i r.õ/JalsoG CO
si prÓrr-ios.
D~i e à:l ! iU3 fn-;iticJ. ele vcio a :'ldcJ'-lll:ir U::~..lmaior flront;
J:=ío e c apac idade par a e x! "' rl .mi r o que pens, ) c s ente , e ~peç ~
ali.lenteos penSaPentos e sentlmentcs que nele surgem, por
escolha própria ou pela estruturd da sua mente, sem estímulo externo imediato.
M as . s eja q ua l fo r a pr opo rç ão em q ue po de mos s up or
que, i.lesmoo maior poeta, possui esta faculdade, a lingu~
gem que ela lhe há-de sugerir tem de ficar indubitaveL~e~
te muito aquém, em verdade e vivacidade, da que é falada
p el os ho me ns n a vi da re al s ob a p re ss ão ef ect iv a de p ai
xões cujas sombras o poeta produz ou sente produzirem-se
nele. Por m ui to e le va da q ue s ej a a n oç ão d o c a rá ct er d e
um poeta que desejemos acalentar, é ób vio q ue , a o d es cr~
ver e imitar paixões, a sua situação é a bs ol ut am en te s e!'I •. 18v~ e mecan~ca, quando con:parada. COma liberdade e poder
d a a cç ão e s of ri me nt o n a su a s ub st ân ci a e re al id ad e. P or
isso, será desejo do poeta aproximar os seus sentimentos
d os d a s pe ss oa s c uj os s en ti me nt os d es cr ev e, m el ho ~, d e!
xar-se cair, ainda que por um pequeno espaço àe teThpo, n~
m a i lu sã o c om pl et a, e a té c on fu nd ir e i de nt if ic ar o s s eu s
p ró pr io s s en ti me nt os c om os de le s, m od if ic an do a pe na s a
linguagem que assim lhe ê sugerida, por considerar que de~
creve com uma finalidade específica, a de dar p razer. A-
qui ele aplicará o princípio em que tanto tenho insistido,
isto é, o da selecção; ê disto que o po eta d ep en de p araa fa st ar d a p ai xã o o que de outro modo a tornaria dolorosa
ou desgradãvel; ele sentirá que não há qualquer neceszid~
d e d e or na me nt ar o u el ev ar a na tu re za e q ua nt o m ai or a
sua indústria na aplicaçâo deste princípio, tanto mais pr2
fundamente ele acreditará que não há palavras, sugeridas
pela fantasia ou pela ima~inaçáo, comparáveis às que em~
nam da realidade c da v~rdade.
Podem, porém, dizer dqule$c;ue nada têrr.a opor ao c~
pIrito geral dç~t::~ ot'~':cr·,..açnf'!' c::uP., na o p Od end o o po eta
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produzir sempre linguagem tão finamente adequada ã paixão
como a que a própria paixão real sugere, é natural que ele
d ev a c on si de ra r- se n a s it ua çã o d e t r ad ut or q ue s e cr ê j u~
tificado quando substitui por uma perfeição de outro tipo
aquela que lhe é inatingível e se esforça ocasionalmente
por superar o original a fim de compensar de algum modo ainferioridade geral a que sente ter de se submeter. Mas
isto corresponderia a e nc or aj ar a p re gu iç a e o d es ep er o ~
f em in ad o. A lé m di ss o, ê a l in gu ag em d e h o me ns q ue f al am
d o q ue n ão c om pr ee nd em , q ue f al am d e p oe si a c om o s e de d!
v er ti me nt o e pr az er o ci os o s e tr at as se , q ue c o nn os co c o~
versam tão solenemente de um goóZo por poesia, na expressão
d el es , c om o s e f os se a m es ma c oi sa q ue u m g os to p or f un ~
bulismo, Frontignanl9 ou Xerez. Segundo me disseram,
Aristóteles afirmou que a poesia é, de todas, a escrita
m ai s f il os õf ic a; 20 a ss im é : o s eu o bj ec to é a verdade,
não individual nem restrita, mas geral e operante, não b~
seada no testemunho exterior, mas no arrebatamento do cor~
ção sob o efeito das paixões, urna verdade que é testemunhode si própria, que dá força e d iv in da de a o tr ib un al a q ue
apela e desse mesmo tribunal as recebe. A p oe si a é a im~
g em d o ho me m e d a n at ur ez a. O s o bs tá cu lo s à verdade e~
c on tr ad os p el o b ió gr af o e pe lo h is to ri ad or e , po r c on s~
quéncia, à utilidade deles são incalculavelmente maiores
d o q u e a qu el es c om q ue t em d e s e d ef ro nt ar o p o et a q ue t em
um a n oç ão a de qu ada d a di gn ida de da su a ar te . S ó um a re ~
trição condiciona a escrita do poeta: a necessidade ded ar p ra ze r i me di at o a um s e r h um an o q ue p os su a a i nf or m~
ção q ue d el e s e p od e e sp er ar , n ão c om o a dv og ad o, m éd ic o,
marinheiro, astrónomo ou filósofo da natureza, mas como h2
m em . E xc ep tu an do e st a r es tr iç ão , n ão ex is te q ua lq ue r o ~
j ec to q ue s e i nt er pon ha e nt re o p oe ta e a i m ag em da s co ~
s as ; e nt re e st a e o b i óg ra fo o u o h is to ri ad or h á u ma i nf i
nidade.
Contudo, nao se considere esta necessidade de produzir
prazer imediato como uma degradaçâo da arte do poeta. t
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exactamente o contrário. Trata-se de reconhecer a beleza
do universo, de um reconhecimento tanto mais sincero quanto
não é formal, mas indirecto; trata-se de uma tarefa fácil
e ligeira para aquele que contempla o mundo com o espiríto
do amor i além disso, é uma homenagem prestada à dignidadenua e natural do homem, ao grande princípio elementar do
prazer pelo qual se move, conhece,vive e sente. Só
vês doatr~
prazer sentimos afinidades; não desejaria ser mal
interpretado, mas, sempre que sentimos afinidade com a dor,
terá de concluir-se que essa afinidade é produzida e conti
nuada através da subtil cOmbinação com o prazer. Todo o
conhecimento que temos, isto é, os princípios gerais retir~
dos da contemplação dos factos particulares, foi edificado
pelo prazer e existe em nós apenas pelo prazer. ~ isto
que o homem de ciência, o quImico e o matemático, conhece e
sente, sejam quais forem as dificuldades e revezes com que
t em d e s e d ef ro nt ar . P or m ui to d ol or os os q ue s ej am o s o b
jectos com que se relaciona o conhecimento do anatomista,
ele sente que o seu conhecimento ê p ra ze r e s e n ão t em p r~zer não tem conhecimento. O que faz e ntão o poeta? Ele
considera o homem e os objectos que o rodeiam agindoe re! :!
gindo uns sobre os outros, de modo a produzirem uma infini
ta complexidade de dor e prazer; considera que o homem, na
sua própria natureza e na vida quotidiana, contempla isto
com uma certa quantidade de prazer imediato, com certas co~
vicções, intuições e deduções que por hábito adquirem a n!:!
t ur ez a d e i nt ui çõ es ; c on si de ra -o n a c on te mp la çã o d es te
complexo cenário de ideias e sensações e na descoberta, emtoda a parte, de objectos que imediatamente suscitam nele
afinidades que, a partir das necessidades da sua própria na
tureza, são predominante~ente acompanhadas por contentarne~
to. -
o poeta faz principalmente incidir a sua atenção sobrees te c on heci mento que t odos o s ho mens traz em .cons1go e sQ
bre estas afinidades que somos talhados para apreciar com
d el ei te , s em q ua lq ue r o ut ra d is ci pl in a s en ão a da v id a d e
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t od os o s di as . C on si de ra e le q ue o h om em e a n at ur ez a e ~
tão essencialmente adaptados um ao outro e que o espírito
humano ê o espelho das mais belas e interessantes qualid~
d es d a n at ur ez a. A ss im , o po et a, i ns ti ga do p or e s te s e~
timen to de p ra zer q ue o a co mpan ha ao l ongo d e todos os
seus estudos, comunga na natureza em geral com afectos s~
melhantes aos que o homem de ciência, pelo labor e pelo
c or re r d o t e mp o, f ez n as ce r e m s i p ró pr io n o t ra to c om o s
aspectos da natureza que constituem o objecto peculiar dos
seus estudos. O s ab er , t an to d o p oe ta c om o d o h om em d e
ciência, é prazer, mas, enquanto que o saber do primeiro
nos penetra como elemento necessário da nossa existência,
a nossa herança natural e inalienável, o saber do segundo
é urna conquista pessoal e individual, de aquisição lenta,
não nos ligando por qualquer afinidade habitual e di'recta
aos nossos semelhantes. O homem de ciência procura a ver
d ad e c o mo u m be nf ei to r r em ot o e d es co nh ec id o; p re za -a eama-a na s ua s ol id ão , a o pa ss o q ue o p oe ta , e nt oa nd o u m
canto em que todos os seres humanos participam, exulta na
presença da verdade como nossa amiga manifesta e companhe!
ra de todas as horas. A poesia ê o alento e Q espírito
mais puro de todo o conhecimento: é a expressão apaixon~
d a no ro st o d e to da a c iê nc ia . P od er á e nf at ic am en te d i
zer-se do poeta o que Shakespeare diz do homem, "que olha
O antes e o depois". 21 Ele é o rochedo defensivo da nat~
reza humana, O que a sustenta e preserva, levando consigo
p ar a t oã o o l ad o s i mp at ia e a mo r. A pe sa r d as d if er en ça s
d e s o lo e c li ma , d e l in gu ag em e ma ne ir as , d e l ei s e c os t~
mes, apesar das coisas silenciosamente es~uecidas e das
coisas violentamente destruídas, o poeta une pela paixão e
pelo conhecimento o vasto império da sociedade humana tal
como s e difu nde por to da a terra e por todo o t empo. Os
o bj ec to s d o p en sa me nt o d o po et a e st ão p or t od a a p ar te ;
embora os olhos e os sentidos do homem sejam, é oerto,osseus
guias favoritos, ele perseguirá, onde quer que a encontre,
uma atmosfera c..:' sensação onde possa adejar. A poesia ê
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o p ri nc ip io e o f im d e t od o o c on he ci me nt o - é tão imortal
como o coração do homem. Se os labc~es dos homens de c!
ência alguma vez criarem uma qualquer revolução material,
directa ou indirecta, na nossa condição e nas i~pressões
que habitualmente recebemos, o poeta não repousará então
mais do que hoje em dia, antes estará pronto a seguir os
passos do homem de ciência, não só quanto aos efeitos ge
rais indirectos, mas também porque estará a seu lado, 1~
pregoando de sensação os objectos da própria ciência. As
mais recônditas descobertas do quImico, do botânico e do
mineralogista serão objectos da arte do poeta, tão apropr!
ados como quaisquer outros sobre os quais ela possa exe~
cer-se, se alguma vez chegar o tempo em que estas coisçs
nos forem familiares, e em que as relações sob as quais
elas são contempladas pelos seguidores destas respectivas
ciências nos forem, como seres que sofrem e se alegram, m~
terialmente manifestas e palpáveis. Se alguma vez chegaro tempo em que os homens estiverem intimamente familiariz~
dos com aquilo a que hoje se chama ciência e esta estiver
pronta, por assim dizer, a revestir a forma da natureza h~
mana, o poeta hã-de participar com o seu espírito divino
nesta transfiguração e saudar o ser assim criado como um
companheiro querido e verdadeiro na casa do homem. Não se
pense, porém, que quem defende a sublime noção de poesia
que tentei transmitir há-de violar a santidade e verdade
das suas imagens com ornamentos transitórios e acidentais
e atrair sobre si a admiração dos outros por artes que só
a assumida mesquinhez do seu assunto pode manifestamente
tornar necessárias.
O que disse até agora aplica-se à poesia em geral e
especialmente às partes da composição em que o poeta fala
pela boca das suas personagens e aqui isso teria tanto pe
so que me levaria a concluir serem poucas as pessoas de
bom senso incapazes de admitir que as partes dramáticas da
composiçâo são tanto mais imperfeitas quanto mais se de~
viam da linguagem real da natureza e são coloridas por uma
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dicção do próprio poeta, quer ela lhe seja peculiar enqua~
to individuo, quer pertença simplesmente aos poetas em g~
ral, isto é, a um grupo de homens que se espera que usem
uma linguagem particular pelo simples facto de as suas co~
posições serem metrificadas.
Não é, pois, nas partes dramáticas da composição que
deve procurar-se esta distinção da linguagem, contudo, ela
pode ser adequada e necessária quando o poeta fala em seupróprio nome. A isto respondo, remetendo o leitor para a
descrição do poeta que anteriormente fiz. Entre as pri~
cipais qualidades que, segundo a minha enumeração, levam
à formação do poeta, nenhuma há que o faça diferir dos o~
tros homens em espécie, mas apenas em grau. A súmula do
que então disse é a seguinte: o poeta distingue-se princ!
palmente dos outros homens por uma maior prontidão para
pensar e sentir sem estimulo externo imediato e por uma m!
ior capacidade para exprimir os pensamentos e sentimentos
que desse modo nele se produzem. Mas estas paixões, pe~
samentos e sentimentos são as paixões, pensamentos e sent!
mentos gerais dos homens. E com que se relacionam eles?
Sem dúvida alguma com os nossos sentimentos morais e sens!
ções animais e com as causas que os provocam, com o mecê
nismo dos elementos e dos fenómenos do universo visível,
com a tempestade e a luz do sol, com a revolução das estê
ções, com o calor e o frio, com a perda dos amigos e pare~
tes, com ofensas e ressentimentos, gratidão e esperança, m~
do e dor. são estes e outros semelhantes os objectos e
sensações que o poeta descreve, pois são as sensações dos
outros homens e os objectos por que se interessam. O poe
ta pensa e sente no espirito das paixões dos homens. Como
pode. então, a sua linguagem materialmente diferir em grau
da de todos os outros homens que sentem vividamente e vêem
lucidamente. Poderia c.CrtlP'toVaA~6e que é impossivel. Mas
supondo que assim não era, nesse caso seria permitido ao
poeta usar uma linguagem peculiar sempre que exprimisse os
seus sentimentos para sua pró?ria satisfação ou ~ara a de
homens como ele. Mas os poetas não escrevem apenas para
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poetas, mas para os homens. A nao ser que advoguemos e~
sa admiraçâo que depende da ignorância e esse prazer que
s ur ge q ua nd o o uv im os o qu e n ão e nt en de mo s, o p oe ta d ev e
descer desta pretensa altura e exprimir-se como os outros
homens, de forma a suscitar a~a simpatia racional. A i~
to pode acrescentar-se que, enquanto o poeta se limitar a
u ma s el ec çã o d a l in gu ag em r ea l d os h om en s o u, o qu e v e m a
d ar n o m es mo , a u ma c om po si çã o c or re ct a n o e sp ír it o d es sa
s el ec çã o, e st á a p is ar t er re no s eg ur o, e s ab em os o q ue d ~
vemos esperar dele. No que se refere ao metro, é a mesma
a nossa opinião, pois, como será conveniente informar o
leitor, a distinção baseada no metro é regular e uniforme
e n ão c om o a q ue é produzida pelo que habitualmente se ch~
ma dicção poética, que é arbitrária e sujeita a uma infin!
d ad e de c ap ri ch os a bs ol ut am en te i mp re vi sí ve is . N um d os
ca so s, o le ito r e st á t ot al men te à mer cê do p oe ta no qu e
diz respeito às imagens ou à dicção que ele possa escolher
p ar a r el ac io na r c om a p ai xã o, e nq ua nt o q ue n o ou tr o, o m ~
t ro o be de ce a de te rm in ad as l ei s a qu e t an to o p o et a, c om o
o l ei to r, s e s ub me te m d e p o m g ra do p or qu e s ão c la ra s e p o r
q ue n ão i nt re fe re m c om a p ai xã o s en ão n a m ed id a e m q ue e l~
varo e aperfeiçoam o prazer que com ela coexiste, de acordo
com o testemunho unânime dos tempos.
será agora conveniente responder a uma questão óbvia:
porque é que, defendendo estas opiniões, escrevi em verso?
Acrescentarei, em primeiro lugar, à resposta implícita no
q ue j á di ss e o s eg uin te : p orq ue , p or mu ito q ue me t en ha
limitado a mim próprio, ainda continua ã minha disposiçãoo que confessadamente constitui o mais valioso objecto de
t od a a e s cr it a, q ue r e m p ro sa , q ue r e m v er so , a s g ra nd es e
u ni ve rs ai s p ai xõ es d o h om em , o q u e h á d e m a is g er al e i nt ~
r es sa nt e n as s ua s o cu pa çõ es e a to ta li da de d o m un do n at ~
r al , d e o nde so u li vr e d e r et ira r a min ha p rov is ão d e i ~
f in dá ve is c om bi na çõ es d e fo rm as e i ma ge ns . O ra s up on do
p or u m m om en to q ue o q ue q ue r q ue h aj a d e i nt er es sa nt e n e!
tes objectos pode ser descrito de modo igualmente vívido
___________________ -"81
em p ro sa, p orq ue t er ei e u d e s er c on de nüà o, s e a u ma t al
d es cr iç ão m e e sf or ce i p or a cr es ce nt ar o e nc an to q ue , p or
consenso das nações, se reconhece existir na lingua~em mg
t ri ca ? O s q ue n ão s e de ix ar am c on ve nc er p el o q ue j á di ss e
poderão retorquir que só uma pequena parte do ~razer dado
p el a p oe si a d ep en de d o me tr o, q ue s e to rn a i m9 ru de nt e e ~
c re ve r e m v er so a n ão s er q ue s ej a a co mp an ha do d as o ut ra s
distinções artificiais de estilo que habitualmente acomp~
nham o metro e que, com este desyio, se perderá mais devido
ao choque assim provocado nas associações do leitor do que
s e ga nh ar á c om q ua lq ue r p ra ze r q ue e st e p os sa r et ir ar d a
e fi cá ci a g er al d o nú me ro . E m re sp os ta à qu el es q ue a i nd a
s e ba te m p el a n ec es si da de d e a co mp an ha r o m et ro c om a s d~
v id as c or es d o e st il o p ar a q ue a ti nj a o f im a pr op ri ad o, e
que, na minha opinião, subestimam grandemente a eficácia
d o me tr o e m s i pr óp ri o, t er ia s id o t a lv ez s uf ic ie nt e, n o
que diz respeito a estes poemas, observar que subsistem ~2
e ma s e sc ri to s a p ar ti r d e a ss un to s m ai s m o de st os e n um e !
t il o m ai s d es nu da do e s im pl es d o q u e a qu el es q ue v is ei , o s
q ua is t êm c on ti nu ad o a da r p ra ~e r d e g er aç ão e m g er aç ão .
O ra s e o d es nu da me nt o e a s im pl ic id ad e s ão u m d ef ei to , o
facto aqui mencionado permite a firme suposição que poemas
um pouco menos desnudados e simples são capazes de propo~
c io na r p ra ze r h oj e e m di a; e t ud o o q ue a qu i eJp2.Ua.lm2.ttte.
p ro cu re i f oi j u st if ic ar -m e p or t er e sc ri to s ob o e fe it o
desta convicção.
P od er ia , n o e nt an to , a po nt ar d iv er sa s c au sa s p el as
qUais, quando o estilo é vi ri l e o a ss un to d e a lg um a i mp o~
tância, as palavras metricamente organizadas hão-de cont!
nuar durante muito tempo a transmitir prazer à humanidade.
d e t al f or ma q ue , q u em f or s e ns ív el a o al ca nc e d es se p r~
z er , d es ej ar á t ra ns mi ti -l o. O f i m da p oe si a é produzir
e xa lt aç ão e m s im ul tâ ne o c om u m p re do mí ni o d e p ra ze r. O ra
supondo que a exaltaç~o é um estado de espírito invulgar e
i rr eg ul ar , a s i àe ia s e o s s en ti me nt os n ão s e s uc ed em u ns
aos outros nesse estado pela ordem habitual. r-'.a.sse as pali!
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composição bem sucedida geralmente começa e é n um es ta do
de espIr ito semelhante que prossegue; mas a emoção, qua!
q uer q ue se ja o s eu tip o ou o s eu g rau e q ual que r q ue sej a
a sua causa, é t em pe ra da p or d i ve rs os p ra ze re s, d e t a l m 2
do que, ao descrever qualquer paixão. desde que voluntari~
m en te d es cr it a, o es pí ri to e nc on tr ar -s e- á e m ge ra l n um e §
t ad o de c on te nt am en to . O ra s en do a n at ur ez a t ão c ui da d2
sa que preserva em estado de contentamento um ser assim Q
c up ad o, o po et a d ev ia a pr ov ei ta r a l iç ão q ue l he é apr~
s en ta da e t om ar e sp ec ia l c ui da do p ar a q ue a s pa ix õe s q ue
c om un ic a a o se u l ei to r. q ua is qu er q ue e la s s ej am , v en ha m
sempre acompanhadas de u m p re do mi ni o d e p ra ze r, s e o e sp !
r it o do le ito r for s ão e vi go ros o. O ra a mús ic a da lin g~
a ge D m ét ri ca h ar mo ni os a, o se nt id o d a di fi cu ld ad e s up er !
d a, a c eg a a ss oc ia çã o c om o p ra ze r p re vi am en te r ec eb id o d e
o br as r im ad as o u me tr if ic ad as d e co ns tr uç ão i gu al o u s em ~
lhante e uma indistinta percepção continuamente renovada de
linguagem que, por um lado, de perto se assemelha à da vi
d a r ea l e , p o r o ut ro , d ev id o a o m et ro , d el a t ão a mp la me nt e
diverge, tudo isto cria imperceptivelmente um complexo se~
tim en to de del eit e d a mai or im po rtâ nc ia p ara tem pe rar o
s en ti me nt o d ol or os o q ue s em pr e s e ac ha c om bi na do c om d e~
c ri çõ es p od er os as d as ma is p r of un da s p ai xõ es . E st e e fe !
to é s em pr e p ro du zi do n a po es ia p at ét ic a e ap ai xo na da , e ~
q ua nto q ue n as co mpo si çõe s mai s l ige ir as a faci lid ad e e
gra ci osi da de c om q ue o p oeta m ane ja o rit mo d o ve rs o s ão
e m s i pr óp ri as c on fe ss ad am en te a pr in ci pa l f on te d e s at i~
f aç ão d o l ei to r. P od er ia t al ve z r es um ir t ud o o q ue é n~
ce.uiu:.o d iz er s ob re e st e a s su nt o a fi rm an do a qu il o q ue p o~
cas pessoas ousarão negar, isto é, que, de entre duas descri
ções de paixões, costumes ou personagens, ambas igualmente
bem ex ecu ta das , um a e m p rosa e o utra e m v ers o, a s eg und a
s er á l i da c em v ez es , e nq ua nt o q ue a p ri me ir a a pe na s u ma .
V er if ic am os q ue P op e, s ó p el a f or ça d o ve rs o, c on se gu iu
t or na r i nt er es sa nt es o s m ai s b an ai s l ug ar es -c om un s e a té
m es mo i nv es ti -l os f re qu en te me nt e c om a a pa rê nc ia d e p ai
8\
x ão . E m co ns equ ên cia d es ta m inh a co nvi cç ão, rel at ei e m
v er so a h is tó ri a d e "Gco:!y Blake aro Harr.y Gill" que é um dos
p oe mas m ais si mpl es de sta c ol ect ân ea. D ese jei c ham ar a
atenção para a seguinte verdade: O poder da imaginação h~
mana é s uf ic ie nt e p ar a p ro du zi r, m es mo n a no ss a n at ur ez a
f ís ic a, t ra ns fo rm aç õe s t ai s q ue qu as e p ar ec em m il ag re .
Trata-se de uma verdade importante; O facto (pois é mesmo
um 6actol constitui uma valiosa ilustração dela e te nh o a
s at is fa çã o d e sa be r q ue f oi c o mu ni ca do a m ui ta s c en te na s
d e p es so as q ue n un ca t er ia m o uv id o f al ar d el e s e n ão t iv e~
s e s id o n ar ra do e m f or ma d e b al ad a e n um m et ro m ai s s ug e~
tivo do que é habitual nas baladas.
T en do , a ss im , e xp la na do a lg um as d as r az õe s p or q u e e ~
c re vi e m v er so , p or q ue e sc ol hi a ss un to s d a v id a q uo ti di ~
na e por que me esforcei por aproximar a minha diJlinguagem
r ea l d os h om en s, s e é verdade que fui demasiado minucioso
na defesa da minha causa, também é ve rda de qu e trat ei u ma ss un to d e in te re ss e g er al e é por isso que peço autoriz2ç ão a o le it or p ar a a cr es ce nt ar a lg um as p al av ra s q ue a p~
n as d i ze m r es pe it o a es te s p oe ma s e a al gu ns d ef ei to s q ue
p ro va ve lm en te n el es s e e nc on tr ar ão . E st ou c o ns ci en te d e
q ue a s m in ha s a ss oc ia çõ es d ev em t er s i do , p or v e ze s, p a~
ticulares e não gerais e que, consequentemente, atribuindo
às coisas uma falsa importância, posso ter escrito, motiv2
do por impulsos doentios, sobre assuntas sem merecimento;
m as i st o p re oc up a- me m en os d o q u e o f ac to d e a m i nh a l i n9 '. .1 2
gero poder ter frequentemente sofrido com as relações arb~
trárias de sentimentos e ideias com palavras e expressões
p ar ti cu la re s, a q ue n in gu ém p od e t ot al me nt e f ur ta r- se .
P or i ss o n ão t en ho d úv id as d e q ue , e m a lg un s c as os , e xp re ~
sões que me pareceram ternas e patéticas podem ter suscitado
n os l ei to re s a té o s en ti me nt o d o ri dí cu lo . S e e st iv es se
h oj e e m d ia c on ve nc id o q ue e ss as e xp re ss õe s s ao i mp er fe !
t as e qu e t êm i ne vi ta ve lm en te d e c on ti nu ar a s ê- lo , e sf o~
çar-rne-ia de bom grado, tanto quanto é possivel, por corri
9 i- 1a s. P or ém , é p er ig os o f az er e st as a lt er aç õe s c om b ~
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s e n a s imp le s a ut or id ad e d e a lg un s i nd ivi du os o u mes mo d e
certos tipos de homens, pois quando um autor não está rac!
onalmente convencido, nem os seus sentimentos se alteraram,
isto não pode fazer-se sem lhe causar graves danos; os
sentimentos dele são o seu esteio e o seu suporte, e se,
n um c aso p ar ti cul ar , os p us er d e p ar te, p od e s er l ev ad o a
repetir este acto, até que o espIrito perde toda a confia~
ça em si próprio e fica completamente enfraquecido. Acre§
c en te- se q ue o l ei to r n ão de ve j am ai s e sq ue ce r q ue e st á s ~
j ei to ao s m esm os e rr os q ue o p oe ta e t al ve z n um g ra u m ai s
elevado, pois não é presunção afirmar que não estará prov~
velmente tão familiarizado com os vários estádios de sent~
d o p or q ue as p al av ra s p as sa ra m, n em c Om a i nc on st ân ci a o u
estabilidade das relações entre ideias particulares e, ac!
ma de tudo, estando muito menos interessado no assunto, Pede decidir com ligeireza e descuido.
P or m uit o q ue t en ha de mo ra do o m eu l eit or , e sp er o q ue
m e p er mi ta a in da p re ve ni -l o c on tr a u m t ipo d e f als a c rí t!
ca que tem sido aplicada à poesia cuja linguagem se assem~
lha de perto ã da vida e da n at ur ez a. E st e g én er o de ve ~
sos tem sido triunfantemente parodiado em composições de
que a seguinte estrofe do Dr. Johnson é um belo exemplar.
I put my hat upon rny head,And walked ioto the Strand,And there I met another maoW ho se h at w as i n hi s ha nd . 2 5
L og o a s eg ui r a e st es v er so s c ol oc ar ei u ma d as e st rof es de
"Babes in the Wood" mais justamente admiradas.
These pretty Babes with hand in handWent wandering up and down;Bu t n ev er m or e t hey s aw t he Ma n
Approaching trom the Town.26
E m a mb as a s es tro fe s, a s pa la vr as e a su a o rde m d e m ~
do algun\ diferem da conversa mais desapaixonada. Existem
em ar..baspalavras, por exemplo, "the Strand" e "the Town",
que não estão associadas senão às ideias mais familiares;
contudo, urna delas consideramo-la ad~irável e a outra um
b el o e xe mpl o d o s up re mo m au g os to . O e on de s urg e e sta d i
ferença? Nem do metro, nem da linguagem, nem da ordem das
palavras, é o próprlo M.6U.n.to na estrofe do Dr. Johnson
que é de mau gosto. O modo ideal de t ratar versos sim
pI es e t r ivi ai s d e q u e a e st ro fe d o D r . J o hn so n c on st itu i
u~a boa ilustração nao consiste em afirmar que é má poesia
o u q ue n ão é p oe si a, m as q ue c are ce d e s en ti do ; n ão é em
si interesssante, nem condu.z a o q ue q ue r q ue r s eja d e i nt e
ressante, ne~ as imagens se originam nesse estado salutar
d e s en ti me nto q ue n as ce d o p en sa men to , n em s ao ca pa ze s d e
estimular no leitor o pensamento ou o sentimento. testa
a única maneira razoável de lidar core tais versos: porquê
preocuparmo-nos com a espécie, se ainda não decidimos o g!
nero? Porquê incomodarmo-nos a provar que um macaco não é
um N ew to n, s e é e vi de nt e q ue n ão é u m h o me m?
Tenho apenas um pedido a f az er a o l ei to r: q ue , a o av ~
liar estes poemas, decida unicamente pelos seus próprias
sentimentos e não ponderando o juízo que outros provave!
mente farão. t bastante vulgar ouvir alguém dizer: "por
mi m n ão d es ap ro vo e st e e st il o d e co mp os iç ão o u es ta o u ~
quela expressão, mas a certas pessoas parecerão mesquinhos
ou r id íc ul os" . E st e m od o d e c rit ic ar , q ue d e str ói t od o e
qualquer juízo sólido e nao adulterado, é quase universal;de vo , p oi s, p ed ir a o l ei to r q ue , d e f or ma i nd ep en de nt e,
g uar de f id eli da de a os s eu s p ró pr ios s en ti me nt os e q ue , ~
chando-se impressionado, não permita que tais conjecturas
interfiram no seu prazer.
Se um autor, graças a uma única composição, despertou
em nós o respeito pelo seu talento, é de considerar que i~
to permite supor que, quando noutras ocasiões nos desagr~
do u, p od e, c on tu do , n ão t er e s cr it a m al ou d e f or ma a bs u!
da ; e , a lém d is so . é de conceder-lhe, por essa c~?osição.
u m c ré di to t al q ue n os i nd uz a a r ev er a qu il o q ue n os d es ~
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gradou com mais cuidado do que de outro modo lhe teríamos
consagrado. Não se trata apenas de um acto de justiça,
mas, em especial quanto aos juízos que temos de fazer sQ
bre a poesia, pode em grande medida conduzir ao aperfeiço~
menta do nosso próprio gosto. pois em poesia, como em t2
das as outras artes, um gosto coJVtecto é, t al como Si r Jo_ 27
shua Reynolds observou, um talento adq~o. que só a reflexão e um longo e contínuo contacto com os melhores made
los de composição podem gerar. Menciono isto, não com o
ri dí culo propó si to d e l · m. ~dir que o 1 . t ..~~ !1 ar ma15 1nexperie~
te ajuize por si próprio (afirmei já que dese jo q ue o fa
çal I ma s s om en te p ar a t em pe ra r a pr ec ip it aç ão d o j ui zo e
sugerir que este pode ser erróneo e em muitos casos há-de
necessariamente sê-lo, a não ser que ao estudo da poesia
se dedique muito tempo.
Reconheço que nada teria tão eficaZmente contribuído
para prcmover o objectivo que tenho em vista corno mostrar
de que espécie é e como se produz o prazer que é confessa
damente gerado por composições métricas essencialmente di
ferentes das que me esforcei por recomendar aqui; o le!
tor afirmará que tais composições lhe agradaram e, nesse
caso, que mais posso eu fazer por ele? O poder de qua!
quer arte é limitado e, como tal, ele suspeitará que lhe
proponho novos amigos apenas sob condição de abandonar os
antigos. Além disso, como já disse, o próprio leitor tem
consciência do prazer que recebeu de tais composições, a
que singularmente apôs o nome querido de poesia; e todos
sentem habitualmente gratidão e algo como um louvável fana
tismo pelos obj~~tos que durante muito tempo nos provoc~
ram prazer: não desejamos apenas ter prazer, mas tê-lo dê
quele modo particular a que nos acostumámos. Há uma muI
tidâo de argumentos nestas opiniões, mas eu seria tão me
nos capaz de os combater com êxito quanto estou disposto a
aceitar que, para apreciar inteiramente a poesia que rec2
mendo. seria necessário pôr de parte muito do que é aeral
mente a~rcciado. Mas se os meus limites me tivessem- pe~
mitido indicar como se produz este prazer, teria podido r~
mover muitos obstáculos e auxiliado o meu leitor a cornpr~
ender que o poder da linguagem não é tão limitado como ele
supõe e que é possível que a poesia proporcione outros t!
pos de contentamento de uma natureza mais pura, mais dura
doura e mais rara. Não descurei de todo esta parte do
meu assunto, mas o seu objectivo presente nao foi tanto
provar que o interesse despertado por alguns outros tipos
de poesia é menos vívido e menos digno dos mais nobres PQ
deres do espírito humano, quanto apresentar motivos para
supor que, se o fim que me propus fosse adequadamente a1
cançado, produzir-se-ia um tipo de poesia que é genuína,
por natureza bem adaptada a interessar permanentemente a
humanidade e igualmente importante quanto à multiplicidade
e qualidade das suas relações morais.
A partir do que foi dito e de um exame atento destes
poemas, aperceber-se-á claramente o leitor do fim que me
propus, determinará até que ponto o alcancei e, o que é
muito mais importante, se valeu a pena alcançá-lo; e é na
resposta a estas duas questões que repousará a minha pr~
tensão ao favor do público.
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corrupções que se seguiram:
mento, os poetas posteriores
que tinha. é certo, uma coisa em comum com a genuín~ l~
sob a influência
constl-uIram uma
deste senti
fraseologia
g er o d a p oe si a. i st o é, nã o e r a o uv id a n as c on ve rs as d e tQ
dos os dias, era invulgar. Mas, tal como afirreei, os pr!
meiros poetas falavam uma linguagem que, embora invulgar,
e ra a in da a li ng ua ge m d os h om en s, c ir cu ns tâ nc ia e st a q ue ,
no entanto, foi descurada pelos seus sucessores; estes
chegaram à conclusão que podiam a gr ad ar p or m ei os m ai s s im
pIes, tornando-se orgulhosos de uma linguagem que eles pr§
prios tinham inventado e que só eles prôprios proferiam;
d ep oi s, n o es pí ri to d e urna confraria, arrogaram-se o dire!
to de a considerar sua. Com o c or re r d o t em po , o m et ro
tornou-se num símbolo ou promessa desta linguagem invul
g ar e t od o aqu el e q ue t om ava s obr e s i a in cu mb ên ci a d e,
ao escrever, utilizar o metro, introduzia nas suas campos!
ções, consoante possuísse maior or menor grau de verdadei
ro génio poético, maior ou menor quantidade desta fraseol~
g ia a du lt era da , d e t al mo do q ue o v er dad ei ro e o f al so s ~
entre teceram tão intimamente que o gosto dos homens se foi
gradualmente pervertendo e esta linguagem passou a ser r~
cebida como uma linguagem natural; por fim, devido à
fluência dos livros sobre os homens, tornou-se até
ponto efectivamente natural. Abusos deste género
importados de nação para nação, até que, cada vez mais s2
fisticada, esta dicção se foi tornando dia a dia mais co~
rupta, deixando a perder de vista a pureza natural do
mem sob o efeito de uma colorida mascarada de truques, ex
travagãncias, hieroglifos e enigmas.
Seria altamente interessante apontar as causas do pr~
zer provocado por esta linguagem estrambótica e absurda,
mas não é este o lugar apropriado; depende de uma grande
variedade de causas, mas de nenhuma outra dependerá talvez
tan~o como da sua capacidade para cunhar uma noção da sin
guIar idade e exaltação do carácter do poeta e lisonjear o
amor-próprio do leitor ao irmaná-lo com esse carácter, um
certo
foram
efeito que se consegue abalando os hábitos vulgares do pe~
sarnento e ajudando, desse modo, o leitor a aproximar-se
dessa vertigem e perturbação, estado de espírito esse em
que tem por força de encontrar-se para não se imaginar d~
cepcionan~emente pJLiv4do de um peculiar contentamento que
a poesia pode e deve conferir.
a soneto de Gray que transcrevi no prefácio consiste,c om e xc ep çã o d os v er so s i mp re ss os e m it ál ic o, e m p ou co
mais do que esta dicção, embora não da pior qualidade; e,
de facto, se me é permitido afirmá-lo, é extraordinariame~
te vulgar nos melhores escritores, quer antigos, quer mQ
dernos. O modo mais fácil de explicar ao leitor, com um
exemplo concreto, o que quero dizer com a expressão d..i.c.çÃ.o
pomCfl. consistirá, talvez, err. remetê-lo para uma compare
ção entre as paráfrases métricas de passos do Velho e Novo
Testamento e esses mesmos passos tais como existem na no~
s a tr ad uç ão c om um. V ej a- se t od o o "H ess ia s" d e Pa pe e ,
d e P ri or , " Di d sw ee t s au nds a dor o my f lo wi ng t on gu e" e29
"Thaugh I speak with the tangues of men and of angels".
Veja-se a Primeira Epistola aos Coríntios, cap. 13. A titulo de exemplo imediato, considere-se o seguinte ?oema do
Dr. Johnson:
Turn on the prudent Ant thy heedless eyes,
Observe her labours, Sluggard, and be wise;
No stern command, no monitory voice,Prescribes her duties, ar directs her choice;
Yet, timely provident, she hastes awayTo snatch the blessings of a plenteous daYiWhen fruitful Surnmer loads the teeming plain,She crops the harvest and she stores the grain.How long shall sloth usurp thy useless hours,Unnerve thy vigour, and enchain thy powers?While artful shades they downy couch enclose,And 50ft solicitation courts repese,Amidst the drowsy charms of dull ãelight,
Year chases year with unremitted flight,
Till want now following, fraudulent anã slow, 30Shall spring to seize thee, like an umbushed foe.
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Passer:tos desta confusão de palav::-as ao original: "Vai,
á preguiçoso, ter com a formiga, observa o seu proceder e
t orn a-t e sá bi o. E la nã o t em g ui a, v ig il an te o u su pe ri or;
p re pa ra n o ve rã o a s s ua s p ro vi sõ es e a ju nt a n o
fa o seu mantimento. Até quando dormirás tu,
tempo da ce!
ó preguiç2
dormirás,50? Q ua nd o t e l ev an ta rá s d o t eu s on o? Um pouco
outro pouco dormitarás, outro pouco cruzarás as mãos para
dormires, e a indigencia virá sobre ti c om o u m v aga bu nd o e
a pobreza corno um homem armado" I PltovVtbú, c a p. 6 .
Mais uma citação e terminei; é d os v er so s d e C ow pe r31
supostamente escritos por Alexander Selkirk:
Religion~ What treasure untoldResides in that heavenly word~More precious than silver and gold,Or all that this earth can affard.But the saund of the church-gaing bellThese valleys and rocks never heard,
Never sighed at the saund of a knell,
Or smiled when a sabbath appeared.
Ye winds, that have made me your sportConvey to these desolate shoreSome cordial endearing reporta f a l an d I m us t v isi t n o m or e.My friends, do they now and then sendA wish or a thought after me?
a tell m e I yet h ave a friend, 32Though a friend I aro never to see.
Citei este passo como exemplo de três estilos diferentes de
composição. Os quatro primeiros versos estão construidos
de forma deficiente; alguns criticas diriam que se trata
de uma linguagem prosaica, mas o facto é que, a sê-lo, s~
ri a m á p r osa , t ão m á q ue , m et ri fi ca da , p ou co p io r s e po de
to rn ar . O ep ít eto " ig re je ir o" a pl ica do a u m si no , e po r
um escritor tão simples como Cowper, é um exemplo dos estr!
nhos abusos que os poetas têm introduzido na sua linguagem,
a té q ue es te s e os s eus l ei tor es os t om am p or c oi sa n at ~
ral, se é que não os destacam expressamente como objectos
de a dm ir aç ão . O s do is v er so s " Nun ca o d ob re d os s in os o s
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fez suspirar," etc., são, segundo penso, um exemplo da li!!
guagem da paixão arrancada ao seu uso correcto e aplicada,
devido ao simples facto de a composição ser metrificada, em
circunstâncias que não justificam expressões tão violentas;
por ~1m condenaria este passo embora provavelmente poucos
leitores concordem comigo, como instância de dicção poética
corrompida. A última estrofe está toda ela construida deforma admirável; seria igualmente boa, quer em prosa, quer
e m ve rs o, s ó qu e o le it or s ent e u m p ra zer ra ro a o ve r q ue
uma linguagem tão natural se encontra tão naturalmente asso
c ia da a o m et ro . F ac e ã beleza desta estrofe, sinto-me teu
tado a acrescentar aqui uma opinião que devia impregnar O
espírito de um sistema que só fragmentária e imperfeitame~
te foi exposto no Prefácio, isto é, quer seja a composiào
em prosa, quer em verso, as ideias e os sentimentos, na m~
dida do seu valor, requerem e impõem uma só e mesma lingu~
gemo
NOTAS Â TRADUÇÃO
1) Wordsworth fala como se LytLic.aL Ba1..UJ.d..bfosse uma obraapenas sua, o que não é verdade, mas que parcialmentese justifica, dado os poemas acrescentados à 2 a. e d!ção serem todos dele.
2) O amigo a quem Wordsworth se refere é, evidentemente,Coleridge, o autor destes poemas.
3) Catulo, Terêncio e Lucrécio to autor do célebre poema
V~ 1l.eJWm~ fSobJte a.
na.twtc.za. dt16 c.oiot16 I ,poetas latin os d o s s éc ul os I I e I AC ; E st ác io e Cl au di an o, p oetas latinos respectivamente dos séculos I e IV AD. -
4) Beaumont e Fletcher. dramaturgos ingleses pós-isabelinos (séculos XVI-XVII) j Donne e Cowley, poetas met~físicos ingleses (século XVII); Dryden e Pape, po~tas e criticas ingleses neo-clássicos (séculos XVII--XVIII) .
5) Esta ressalva de "ordsworth denuncia O ponto de vista, dominante ao longo do Renascimento e, em espeClaI, durante o século XVIII, segundo o qual o poeta d~vc prpcurar satisf~:~r as expectativas do público.
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6) Cf. a opinião de Coleridge acerca deste empreenu~menta er.l &{(lg-'tQ./JIu.a. UÁvr.aJl..iA., XIV e XVII.
7) Trata-se de um princípio da escola associacionistade psicologia, fundada por David Hartley (1705-57) j cf. Coleridge, &
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Cidade"; estrofe de uma balada popular recolhida por Thomas Percy cm Rc..t-,o nd e s e i nt it ul av a M Th e C hi ld re n i n t he W oo d" : ~r o terceiro verso da segunda estrofe apresentava as eg ui nt e v ers ão : " Du t n eVe r mo re c ou ld s ee t heman.".
27) Pintor r etratist.a do século XV!I!. pr-.imeiro.Pre!:Jdente
da Royal Academy af Arts, que proferiu anua~~nte,
entre 1769 e 1790, conferências sobre os principiosda arte (f).wCOuJL6U I.
28) Acrescentado por Wordsworth ã ed iç ão d e 1 80 2 d e L~ca.l fla.UatU.
2 9) " So ns ma is d oc es o rn aram-me a lín gu a flu en te ," e"E mbo ra eu f al e as l íng uas d e ho mens e anj os ," deMatthew Prior (166(-1721), poeta neoclássico inglês.
30) "Põe na prudente Formiga os olhos descuidados/ Atent a n o s eu l ab or , P re gu iç os O, e s ê s e ns at o; / N em m a~d o s ev er o, n em voz monitória/ Lhe prescreve o deverou dirige a escolha;! Porém, providenciando a tempo,apressa-se ela/ A c ol he r a s b en çã os d e um dia op~lento;/ Quando o V er ão f ec un do c ar re ga a p la ní ci e a
b und an te, / E la fa z a co lhe it a e ar re cad a o gr ão .!Até quando há-de a preguiça usurpar-te as horas inút ei s. / E nf ra qu ec er -t e o v ig or e a gr il ho ar -t e a s f or
ç as ?/ v ão -t e c er ca nd o o l e it o p el úc id o s om br as a rd Ilosas,/ Brandos apelos cortejam-te o repouso./ E,entre o torpor encaJ1.tadode lerdas delícias ./Os anosp er se gu em -s e e m f ug a in ce ss an te ./ V in da d ep oi s, apenúria, lenta e falaz,! Te agarrará de um saltoqual inimigo â espreita."
31) William Cowper {1731-1800l. poeta pré-romântico i~glês, metodista e percursor de Wordsworth.
32} "R el ig iã o: Q ue t e so ur o s ec re to / R es id e n es se n om e
di vin o:/ Ma is pr ec ios o q ue p rat a e ou ro! O u qu e t u
do o q ue a t er ra d ã. ! Ma s o som do sino igrejeiro!N un ca e st es v al es e r oc ha s o uv ir am ,! N un ca o dobred os s in os o s fez su sp ir ar ,! N em s or ri ra m a o s ur gi r
de um sábado.!! Ventos, que f iz es tes de m im vo ss og oz o, ! T ra ze i a e st as p ra ia s t ri st es ! C ar as e c or di
ais notIcias/ De urna terra que não mais verei.!Meus
amigos, mandam-me eles ainda/ algum desejo ou pens~
mento?! Oh, dizei-me qu e me re sta um só a mi go, / M esm o q ue e ss e amigo eu n ão ~ais veja." -
~---------
Thomas Love Pueoc:k
AS QUATRO IDADES DA POESIA
_________ f:1