Práticas educativas e as interfaces da qualidade

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Práticas educativas e as interfaces da qualidade Graziela Escandiel de Lima Rosane Carneiro Sarturi (Organizadoras)

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Práticas educativas e as interfaces da qualidade

Graziela Escandiel de Lima Rosane Carneiro Sarturi

(Organizadoras)

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Graziela Escandiel de Lima

Rosane Carneiro Sarturi

(Organizadoras)

PRÁTICAS EDUCATIVAS E AS INTERFACES DA QUALIDADE

Santa Maria, RS, Brasil. LABORATÓRIO DE PESQ. E DOC. - CE

2014

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P912 Práticas educativas e as interfaces da qualidade [recurso eletrônico] / Graziela Escandiel de Lima, Rosane Carneiro Sarturi (organizadoras). – Santa Maria, RS : UFSM,

Centro de Educação, 2014. 1 e-book

ISBN: 978-856112842-5

1. Educação 2. Ensino 3. Qualidade I. Lima,

Graziela Escandiel de II. Sarturi, Rosane Carneiro

CDU 37

Ficha catalográfica elaborada por Luzia de Lima Sant’Anna – CRB-

10/728 Biblioteca Central da UFSM

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema computacional. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).

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COMITÊ ORGANIZADOR

Marilene Gabriel Dalla Corte – UFSM

Rosane Carneiro Sarturi – UFSM

Graziela Escandiel de Lima – UFSM

COMISSÃO CIENTÍFICA

Graziela Escandiel de Lima - UFSM

Aruna Noal Correa - UFSM

Graziela Franceschet Faria - UFSM

Julia Bolssoni Dolwitsch - UFSM

Vanessa dos Santos Nogueira - UFPel

Taciana Camera Segat - UFSM

EDITORAÇÃO E CAPA

Evandro Bolzan (Pró-Conselho – UFSM)

Gabriel Marchesan (Pró-Conselho – UFSM)

Marilene Gabriel Dalla Corte (UFSM)

Marina Lara Silva dos Santos Teixeira (Bolsista OBEDUC/CAPES – UFSM)

COMITÊ DE APOIO TÉCNICO

Francine Mendonça da Silva (Pró-Conselho – UFSM)

Gabriela Barichello (Licencianda Educação Especial UFSM)

Caroline da Silva dos Santos (Mestranda em Educação PPGE – UFSM)

Diolinda Franciele Winterhalter (Mestranda em Educação PPGE – UFSM)

Taiana Flôres de Quadros (Mestranda em Educação PPGE – UFSM)

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ...................................................................................................... 7

PRÁTICAS EDUCATIVAS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: AS PEDS COMO ESPAÇOS DE DISCUSSÕES E REFLEXÕES ............................................................................................................. 11 Andressa Wiebusch Andiara Dewes Thaís Pulgatti Trindade Ana Carla Hollweg Powaczuk

SEMINÁRIO INTEGRADO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS A PARTIR DA PRÁTICA PEDAGÓGICA ................................................................................... 23 Jerfferson Paim Luquini Rúbia Machado de Oliveira Ceres Karam Brum

LEITURA INTELIGENTE E O PROCESSO DE APROPRIAÇÃO DO CONHECIMENTO ..................................................................................................... 32 Estela Maris Giordani Daniele Barros Vargas Furtado

DOCÊNCIA ORIENTADA NO MESTRADO ACADÊMICO EM ENFERMAGEM: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA .................................................. 44 Rhea Silvia de Avila Soares Luis Antonio Muller Marciane Kessler Thaís Dresch Eberhardt Suzinara Beatriz Soares de Lima

A CRIANÇA EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA E A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR COMO INTERVENÇÃO PSICOEDUCACIONAL .................................... 52 Caroline Roso Lima Mariana de Almeida Pfitscher

DO DIREITO A PARTICIPAÇÃO À ESCUTA DAS CRIANÇAS NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL .................................................................. 62 Diana Vandréia Dal Soto

O PROFESSOR CRÍTICO REFLEXIVO NA EDUCAÇÃO DO CAMPO ................... 71 Marisa Dal'Ongaro Gerson Jonas Schirmer

A EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA COMO PROPOSTA DE PRÁTICA EDUCATIVA PARA O ENSINO TÉCNICO ................................................................ 81 Rodrigo Belmonte da Silva Jomar João Donadel Thais Cortes Sagrilo

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A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL COMO ALTERNATIVA AOS DESAFIOS DA JUVENTUDE: A PRÁTICA DO INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA-CAMPUS SÃO VICENTE DO SUL ................................................ 93 Rodrigo Belmonte da Silva Jomar João Donadel Thais Cortes Sagrilo

OFICINAS PEDAGÓGICAS POR EIXOS DE APRENDIZAGEM: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA ................................................................................... 105 Caroline Leonhardt Romanowski Camila Fleck dos Santos

O USO DE UM BLOG PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO DE MARKETING UM ESTUDO DE CASO ............................................................. 113 Luciane Rosa de Oliveira Fabiana Zaffalon Ferreira

QUALIDADE NA EDUCAÇÃO: UMA ANÁLISE FILOSÓFICA .............................. 126 Adalberto Dutra Rossatto Carmem Maria de Andrade

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APRESENTAÇÃO

Este livro é composto por um conjunto de textos produzidos para o II

Seminário Internacional de Políticas Públicas da Educação Básica e Superior, o IV

Seminário Internacional de Gestão Educacional, a VIII Semana Acadêmica do Curso

de Especialização em Gestão Educacional e a II Semana Acadêmica do Centro de

Educação da Universidade Federal de Santa Maria, que ocorreram em 2014,

configurando-se em um trabalho articulado com as práticas educativas

desenvolvidas nos dois níveis da educação, a educação básica e a educação

superior com base no tema central "Qualidade da educação? Interfaces e

interlocuções entre políticas públicas e gestão.

Com foco na discussão da qualidade e das interfaces que a mesma apresenta

nos níveis da educação brasileira, objetiva-se reunir um conjunto de experiências

desenvolvidas nas práticas educativas em andamento nas instituições escolares.

Assim sendo, este livro está organizado por doze textos resultantes de um conjunto

de pesquisas desenvolvidas, que abarcam desde a educação infantil até a educação

superior, com foco no eixo temático “Práticas educativas e as interfaces da

qualidade”.

O primeiro texto, intitulado “Práticas educativas na formação inicial de

professores: as PEDs como espaços de discussões e reflexões”, de Andressa

Wiebusch Andiara Dewes, Thaís Pulgatti Trindade e Ana Carla Hollweg Powaczuk,

tem por finalidade refletir sobre as contribuições das disciplinas intituladas Práticas

Educativas (PEDs), que compõem o núcleo de estudos integradores dos Cursos

de Pedagogia Licenciatura Plena (diurno e noturno) da Universidade Federal de

Santa Maria (UFSM). Os resultados são oriundos das experiências articuladas pelas

PEDs, Atividades Complementares de Graduação (ACGs) e pelos Estágios

Curriculares Supervisionados, em cujos espaços são realizadas discussões acerca

das experiências vivenciadas pelas acadêmicas, visando estabelecer as relações

entre os pressupostos teóricos da academia e as práticas escolares. Destacam as

autoras a necessidade de rever a importância das PEDs no processo de formação

inicial das futuras pedagogas.

O segundo texto, “Seminário integrado: desafios e perspectivas a partir da

prática pedagógica”, de autoria de Jerfferson Paim Luquini, Rúbia Machado de

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Oliveira e Ceres Karam Brum, tem por objetivo analisar as ações pedagógicas que os

professores vêm desenvolvendo nas disciplinas de Sociologia e Filosofia,

problematizando as rupturas, ou seja, as dificuldades que a escola está

enfrentando para implementar diálogos interdisciplinares em consonância com a

proposta em questão. Aborda a formação do professor que atua no Seminário

Integrado para conhecer a sua formação para atuação no mesmo. A pesquisa foi

desenvolvida com professores do ensino público da rede estadual de educação

básica de Santa Maria.

O terceiro texto, intitulado “Leitura inteligente e o processo de apropriação

do conhecimento”, escrito por Estela Maris Giordani e Daniele Barros Vargas

Furtado, objetiva discutir como, no contexto da prática escolar, podemos implementar

estratégias que se revelem eficientes para melhorar as habilidades de leitura de

estudantes. Defendem as autoras que a habilidade da leitura é essencial para toda e

qualquer aprendizagem escolar. Os estudos foram realizados a partir de experiências

com aprendizagens de leituras de textos de gêneros informativos, buscando a técnica

da leitura inteligente.

O quarto texto, denominado “Docência orientada no mestrado acadêmico em

enfermagem: um relato de experiência”, dos autores Rhea Silvia de Avila Soares,

Luis Antonio Muller, Marciane Kessler, Thaís Dresch Eberhardt e Suzinara Beatriz

Soares de Lima. Objetiva relatar a experiência de mestrandos do PPGEnf na

elaboração e organização da disciplina de Enfermagem na Administração dos

Serviços de Saúde II, ministrada como docência orientada, e refletir sobre a

importância dos conteúdo programáticos abordados. Insere-se no contexto das

práticas pedagógicas na formação do profissional da saúde.

O quinto texto, “A criança em situação de violência e a importância do

brincar como intervenção psicoeducacional”, escrito por Caroline Roso Lima e

Mariana de Almeida Pfitscher, resulta da participação das mesmas em um grupo

interdisciplinar, que conta com psicólogos, formados e em formação, na busca da

qualificação das práticas desenvolvidas pelo grupo. O estudo buscou problematizar a

intervenção psicoeducacional através do brincar como uma possibilidade de

desenvolvimento da criança em situação de violência, bem pensar nas

possibilidades de intervenções que atendam esta demanda.

O sexto, intitulado “Do direito a participação à escuta das crianças no

contexto da educação infantil”, de Diana Vandréia Dal Soto, problematiza como o

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direito à participação pode sair dos textos teóricos e legais para tornar-se

realidade nas práticas de atendimento à infância. A busca pela compreensão do

contexto das práticas para que seja efetivado o direito das crianças participarem e da

promoção da interação com o mundo que a cercam, sejam as presentes no seu

cotidiano, seja na vida na escola, na busca por uma escola de mais qualidade.

O sétimo texto, “O professor crítico reflexivo na educação do campo”, de

autoria de Marisa Dal'Ongaro e Gerson Jonas Schirmer, objetiva refletir acerca da

atuação dos professores da rede de ensino no município de Agudo-RS. Direciona o

olhar para as escolas do campo e consequentemente fortalecer as discussões que

cercam a proposição de políticas públicas para esta modalidade educacional.

O oitavo texto, “A educação empreendedora como proposta de prática para o

ensino técnico”, dos autores Rodrigo Belmonte da Silva, Jomar João Donadel e

Thais Cortes Sagrilo, objetiva analisar a contribuição do curso técnico em

Informática – educativa IFFarroupilha – Campus São Vicente do Sul, para o

desenvolvimento de competências empreendedoras. Esta pesquisa desenvolve-se

com jovens e adultos, demonstrando a necessidade permanente de buscar

metodologias alternativas de ensino que promovam a aprendizagem, tomando como

referências as práticas desenvolvidas com os alunos, considerando as impressões e

proposições dos próprios alunos.

O nono texto, intitulado “A educação profissional como alternativa aos

desafios da juventude: a prática do Instituto Federal Farroupilha-campus São

Vicente do Sul”, produzido por Rodrigo Belmonte da Silva, Jomar João Donadel e

Thais Cortes Sagrilo, se refere a relatar a experiência e realizar uma análise

preliminar, dos impactos do Projeto de Extensão Semeando Ideias, executado

pelo Instituto Federal Farroupilha – campus São Vicente do Sul. Apresenta o projeto

de extensão que deu origem ao estudo, que se utiliza de palestras, visitas técnicas

e conversas, para estimular os jovens a buscar a educação profissional e assim

despertar para suas muitas possibilidades e as oportunidades de transformação, ao

longo da vida. Participam do projeto alunos do ensino básico e médio, professores da

rede municipal e estadual, bem como os familiares dos alunos da região centro e

oeste do Rio Grande do Sul.

O décimo texto, “Oficinas pedagógicas por eixos de aprendizagem: um

relato de experiência”, escrito por Caroline Leonhardt Romanowski e Camila Fleck

dos Santos, objetivou problematizar e refletir acerca da realização destas atividades

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pedagógicas diversificadas a partir de eixos de aprendizagem, tendo em vista o

processo e construção de conhecimento de acordo com as necessidades, interesses

e dificuldades dos educandos do 3º ano do ensino fundamental. Desenvolvido dentro

do espaço dos anos iniciais do ensino fundamental, demonstra a preocupação com a

criação de estratégias de ensino-aprendizagem que venham a romper coma prática

bancária, considerando os resultados das experiências desenvolvidas.

O décimo primeiro texto, denominado “O uso de um blog para a construção

do conhecimento de marketing um estudo de caso”, de Luciane Rosa de Oliveira

e Fabiana Zaffalon Ferreira, propõe, através da criação de um blog, melhorar o

rendimento da disciplina de Marketing para a etapa 2 do curso Técnico em

Administração do Instituto Estadual de Educação Dinarte Ribeiro, inserindo-se no

contexto das práticas educativas.

O décimo segundo texto, “Qualidade na educação: uma análise filosófica”,

de autoria de Adalberto Dutra Rossatto e Carmem Maria de Andrade. Tem por

objetivo analisar o discurso da qualidade na educação, investigando às implicações

filosóficas e ideológicas na formação do professor. Realiza debates significativos

sobre o tema da – Educação da Qualidade Totalizante no Brasil, a partir dos anos 90,

quando foram constatadas as primeiras discussões sobre a ideologia burguesa nas

escolas brasileiras.

Desta forma, apresentarmos estudos realizados no eixo “Práticas educativas e

as interfaces da qualidade”, demonstrando a relevância dos resultados apresentados

nas pesquisas que constituíram os textos que compõem este livro.

Enfatizamos a necessidade de refletir acerca das práticas desenvolvidas nos

dois níveis da educação brasileira, da educação infantil à educação superior,

abordando as experiências que provocam os profissionais da educação a

repensarem os critérios de qualidade que balizam estas práticas e as estratégias que

possam promover a criação de novas metodologias que possam qualificar as ações

desenvolvidas nos espaços educacionais.

Graziela Escandiel de Lima

Rosane Carneiro Sarturi

Organizadoras

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PRÁTICAS EDUCATIVAS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: AS

PEDS COMO ESPAÇOS DE DISCUSSÕES E REFLEXÕES

Andressa Wiebusch1

Andiara Dewes2

Thaís Pulgatti Trindade3

Ana Carla HollwegPowaczuk4

INTRODUÇÃO

A articulação entre as diferentes áreas do conhecimento é essencial em todas

as profissões, especialmente ao considerarmos a atual conjuntura social com

contextos e cotidianos envoltos em informações que são transmitidas e

disseminadas cada vez com mais velocidade atingindo a grande maioria da

população. Informações estas advindas de todas as áreas do conhecimento e que

precisam ser transformadas em conhecimento. Logo, o professor do século XXI

assume um papel importante neste cenário, ao ser o mediador na transformação das

informações que os alunos trazem para a escola, assim como as informações que

adquirem no ambiente acadêmico/escolar, em conhecimento.

Ao considerarmos a profissão docente, caracterizada por um campo de

atuação e de conhecimento que dialoga com variadas áreas do conhecimento,

principalmente o professor da educação infantil e dos anos iniciais do ensino

fundamental, que trabalha na unidocência, precisa ter conhecimentos básicos de

diferentes áreas do conhecimento, para articulá-las na sua prática educativa. Nesta

direção, coloca-se como um desafio à formação docente viabilizar ao futuro

professor uma discussão e reflexão sobre as possibilidades de articulação entre as

diferentes áreas na composição da prática docente.

1Pedagoga. Especialista em Gestão Educacional. Mestranda em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. E-mail: <[email protected]>. 2Acadêmica do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. E-mail: <[email protected]>. 3Pedagoga. Acadêmica do Curso de Educação Especial. Acadêmica do Curso de Especialização em Gestão Educacional da Universidade Federal de Santa Maria- UFSM. E-mail: <[email protected]>. 4Doutora em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria. Professora do Departamento de Metodologia do Ensino do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Maria- UFSM. E-mail:<[email protected]>.

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Neste sentido, este trabalho tem por finalidade refletir sobre as contribuições

das disciplinas intituladas Práticas Educativas (PEDs), que compõe o núcleo de

estudos integradores dos Cursos de Pedagogia Licenciatura Plena (diurno e

noturno) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Núcleo este composto,

além das PEDs, pelas Atividades Complementares de Graduação (ACGs) e pelos

Estágios Curriculares Supervisionados. Disciplinas estas que se constituem como

um espaço de discussão e reflexão acerca da teoria e da prática envolvendo as

diferentes áreas do conhecimento.

Nesta perspectiva, como objetivos para este trabalho elencamos: promover um

espaço de discussão acerca das contribuições dos conhecimentos das diferentes

áreas profissionais na formação docente; socializar práticas a partir das PEDs como

uma possibilidade de inserção no contexto da educação escolar, e refletir a

importância da disciplina Prática Educativa (PED) na formação inicial de acadêmicas

do Curso de Pedagogia.

O CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

O Curso de Pedagogia (diurno) da Universidade Federal de Santa Maria

(UFSM) foi criado a partir da lei nº 3.958 de 13 de setembro de 1961. A instalação do

referido curso deu-se no ano de 1966 (março), com a federalização do Curso de

Pedagogia, até então integrante da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras

“Imaculada Conceição” mantida pela Sociedade Literária e caritativa “São Francisco

de Assis” das Irmãs Franciscanas (IRION, 1985, p. 52).

A partir de novas demandas educacionais, que estavam surgindo, verificou-se

que o Curso de Pedagogia no Centro de Educação (CE), poderia existir em dois

turnos, no turno diurno, mas também no turno noturno. Então, foi no ano de 2004,

que surgiu uma nova matriz curricular para o Curso de Pedagogia, diurno, passando

a denominar-se “Curso de Pedagogia – licenciatura nos anos iniciais do ensino

fundamental” e “Curso de Pedagogia – licenciatura na educação infantil”. No ano

seguinte, em 2005 no segundo semestre foi implantado o Curso de Pedagogia

(noturno).

O Parecer nº 3 do CNE/CP de 21 de fevereiro de 2006, estabelece as

Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia,

Licenciatura. As diretrizes passaram a ser um elemento norteador dos cursos de

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formação de professores e determinam como central na formação desse

profissional:

I - o conhecimento da escola como organização complexa que tem a função de promover a educação para e na cidadania;

II - a pesquisa, a análise e aplicação dos resultados de investigações de interesse da área educacional;

III - a participação na gestão de processos educativos e na organização e funcionamento de sistemas e instituições de ensino (CNE/CP, 2006, s/p.).

Dessa forma, com a Resolução nº 1 de maio de 2006, o Conselho Nacional de

Educação (CNE), afirma no seu artigo 2º, aplica-se à formação inicial, o exercício da

docência na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, nos cursos

de ensino médio, na modalidade normal, e em cursos de educação profissional na

área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam

previstos conhecimentos pedagógicos (CNE/CP, 2006, s/p).

O ingresso no Curso de Pedagogia da UFSM diurno é no primeiro semestre

letivo, estando organizado em oito semestres letivos, com duração de quatro anos,

sendo um único turno de funcionamento, que é no turno da tarde. Já o curso noturno

está organizado em dez semestres letivos, com duração de cinco anos no turno da

noite, sendo o ingresso no segundo semestre letivo. Os cursos de Pedagogia diurno

e noturno dessa instituição de ensino têm como objetivo:

[...] formar professores/profissionais em nível superior para a docência da educação Infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, capacitados para atuar nas diferentes modalidades de ensino e/ou nas demais áreas nos quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos (PPP, 2007, s/p).

A matriz curricular dos cursos foi organizada com base nos pressupostos da

resolução CNE/CP n. 1 de 15 de maio de 2006, no qual institui as Diretrizes para os

Cursos de Graduação em Pedagogia, Licenciatura, amparada pelos Pareceres

CNE/CP n.5 e n.3, que apresentam as prerrogativas teóricas que fundamentam as

normativas das DCN (PPP, 2007, s/p).

As disciplinas Práticas Educativas (PEDs) nos cursos buscam contemplar

temáticas significativas da educação infantil e dos anos iniciais, no curso diurno as

PEDs contemplam uma carga horária de 210 horas e no curso noturno contemplam

180 horas. Salientamos que:

A matriz curricular do Curso de Licenciatura em Pedagogia está organizada em três núcleos: Núcleo de Estudos Básicos, responsável por promover a

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estrutura dorsal do curso; Núcleo de aprofundamento e diversificação de estudos, que promove a identidade específica do curso; Núcleo de estudos integradores, que estabelecem o movimento dialético da matriz curricular, articulados vertical e horizontalmente pelos eixos articuladores caracterizados pelas Práticas Educativas (PED). Totalizando 3255h. (PPP, 2007, s/p)

A disciplina denominada como PED visa uma ação conjunta com as outras

disciplinas do curso e com os professores formadores dos respectivos semestres.

Para isso é necessário à participação de todos os professores para que possam

elaborar uma proposta pedagógica que abarque as áreas do conhecimento de

origem das referidas disciplinas. As PEDs são ministradas pelos professores das

demais disciplinas que compõe a grade curricular do semestre correspondente.

Sendo assim, os professores que participam da disciplina PED tem como

desafio elaborar uma proposta pedagógica em conjunto com a participação de todos

os professores e que esta seja desenvolvida ao longo do semestre. A PED tem

como proposta atividades práticas, na qual os alunos tenham a possibilidade de ter

contato com o ambiente escolar desde o primeiro semestre. Também possibilita o

diálogo a partir de eixos norteadores do respectivo semestre em que a disciplina

está acontecendo, visando contemplar o interesse dos acadêmicos em dialogar

sobre assuntos pertinentes do contexto escolar.

No Projeto Político-Pedagógico (PPP) do Curso de Pedagogia (diurno) a

disciplina PED está definida da seguinte forma:

A PED funcionará com atividades nas instituições escolares ou espaços educativos não convencionais e com atividades de seminário na Universidade. Prevemos uma dinâmica de encontros semanais entre as atividades de prática educativa e os seminários de discussão temática. Ao longo do semestre, através da PED, ocorrerão seminários referentes ao projeto integrado a ser implementado nos espaços educativos. Esses seminários serão de responsabilidade de todas as disciplinas que compõem o semestre, ficando cada encontro sob a responsabilidade do grupo de professores do semestre. Nos seminários deverão estar presentes todos os professores e os alunos matriculados na PED. Estes seminários também servirão como um momento de realização de formação continuada para os professores em serviço das instituições educativas que estiverem envolvidas com o semestre (PPP, 2007, s/p).

Nesse sentido, a PED no Curso de Pedagogia (diurno) totaliza 210 horas

distribuídas ao longo de sete semestres, sendo que em cada semestre há um eixo

articulador que objetivam organizar/articular as disciplinas que compõem cada

semestre em torno de uma temática central. Estes eixos são denominados de

Educação, Tempos e Espaços (1° Semestre); Conhecimento e Educação (2°

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Semestre); Saberes e Fazeres na Educação Infantil (3° Semestre); Saberes e

Fazeres na nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental (4° Semestre); Saberes e

Fazeres na Educação nas suas Diferentes Modalidades (5° Semestre); Saberes e

Fazeres na Educação Básica (6° Semestre) e Docência Reflexiva na Educação

Básica (7° Semestre).

No Curso de Pedagogia (noturno), as PEDs estão presentes do 1° ao 6°

semestre, totalizando 180 horas. Os eixos articuladores de cada semestre estão

assim distribuídos: no 1° semestre Educação, Tempos e Espaços; no 2° semestre

Conhecimento e Educação; no 3° semestre Contextos e Organização Escolar; no 4°

semestre Educação em Diferentes Modalidades; no 5° semestre Prática Educativa I

e no 6° semestre Prática Educativa II.

Podemos perceber que a organização da disciplina no Curso de Pedagogia

diurno é diferente da organização no Curso de Pedagogia noturno. A carga horária

das disciplinas PEDsno curso noturno é menor, elas acontecem até o 6° semestre,

já no curso diurno as PEDs acontecem até o 8° semestre, o último semestre do

curso. Sendo assim, o curso diurno e noturno buscaram articular as disciplinas de

Práticas Educativas (PED) em seu currículo. As práticas educativas (PEDs)

caracterizam-se como DCGs, essa modalidade de oferta disciplinar pela

coordenação do Curso de Pedagogia, torna-se obrigatória, ou seja, todos os alunos

deverão matricular-se na DCG/PED.

Segundo o Projeto Político-Pedagógico dos referidos cursos, as disciplinas

PEDs fazem parte do Núcleo de Estudos Integradores (NDI) o qual é representado

basicamente pelos eixos integradores citados, que visam articular a prática

educativa junto às demais disciplinas do semestre.

Neste sentido, podemos pensar essa disciplina como uma possibilidade de

inserção nos espaços escolares e não escolares, que possibilita discussões acerca

das escolas, o contexto no qual futuramente os acadêmicos atuarão como docentes.

Agregado a isso, o trabalho dos professores formadores das diferentes áreas do

conhecimento no desenvolvimento das problematizações oriundas das intervenções

realizadas.

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METODOLOGIA

Uma abordagem metodológica é o modo de investigação desenvolvido na

investigação, no ato de pesquisar. Para Minayo (2003, p.16-18), metodologia “é o

caminho do pensamento a ser seguido”. Nesta perspectiva, esta investigação se

constituiu a partir de um estudo qualitativo-narrativo, baseado nas narrativas de

acadêmicas do Curso de Pedagogia. De acordo com Bolzan (2006):

[...] um estudo qualitativo que comporta uma análise que centra sua atenção nos processos de construção coletiva, a partir da realidade sociocultural dos sujeitos participantes do processo. Por meio da análise da atividade discursiva / narrativa entre os professores é possível fazer uma leitura de significados das atividades dos docentes. Esta abordagem implica a compreensão do processo de transformação no qual os participantes da investigação explicitam suas ideias revelando a subjetividade/objetividade das relações sociais na docência (p.386).

Como procedimentos de pesquisa, realizamos uma entrevista semiestruturada,

com foco nas vivências e experiências formativas nas disciplinas de PEDs ao longo

do Curso de Pedagogia. Neste sentido, utilizamos narrativas de três acadêmicas em

formação inicial, do Curso de Pedagogia (diurno e noturno) da Universidade Federal

de Santa Maria (UFSM).

Por meio da atividade discursiva/narrativa é possível compreender os

significados atribuídos às atividades didático-pedagógicas. Essa abordagem implica

a compreensão do processo de transformação no qual os participantes explicitam

suas ideias, revelando a subjetividade/objetividade da prática docente assumida em

sala de aula (BOLZAN, 2002).

Destacamos ainda que, conforme apontado por Bolzan (2012), contar sua

história é uma forma de dar corpo a ideias, crenças, valores, e uma forma de

estabelecer relações, de refletir, e, sobretudo de produção de sentido e significado

sobre suas ações. Segundo Sarmento (1994), narrar fatos ou situações pressupõe a

consideração de três aspectos essenciais tais como: a interpretação dos sentidos, a

socialização da significação e a práxis que dão origem à redescoberta do

conhecimento como construção, isto é, o acesso ao conhecimento com autoria, a

partir de processos interativos. Desta forma, a função interpretativa dos sentidos de

uma narrativa é inseparável das experiências de vida e de formação, dos modelos

de ensino e de sua relação com a prática.

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

A PED, ao se constituir a partir das diferentes áreas do conhecimento,

conforme as disciplinas que compõe cada semestre passa a caracterizar-se como

um espaço interdisciplinar. Ao agregar a carga horária prática das disciplinas que

compõe cada semestre do Curso de Pedagogia, as PEDs, conforme consta nos

PPPs, direcionam-se a potencializar a articulação das diferentes áreas do

conhecimento, através dos eixos articuladores da PED de cada semestre, somando

a isso o diálogo e a vivência entre a teoria e a prática.

Neste contexto, durante cada semestre em que a PED compõem o elenco

disciplinar, os acadêmicos tem a possibilidade de contato com o ambiente escolar,

bem como, vivenciar uma prática interdisciplinar no contexto da formação docente.

No que se refere à inserção nos contextos escolares, isso se dá geralmente a

partir de observações nos espaços escolares tendo desta forma, contato com os

alunos, com a rotina da sala de aula e da escola. Assim como com os demais

elementos que compõe o contexto escolar, por meio de entrevistas com pais;

conhecimento da gestão da escola, com atividades que envolvam a parte diretiva e

gestora.

No que se refere à vivência de uma prática interdisciplinar na formação,

consideramos que ao potencializar o diálogo entre a teoria e a prática, articulando as

diferentes áreas do conhecimento através dos eixos norteadores, a PED na sua

singularidade e particularidade, torna-se um espaço provocador tanto para os

acadêmicos quanto aos professores das disciplinas que dela participam.

Provoca o acadêmico a refletir sobre a experiência que tem como aluno

vivenciando uma disciplina com proposta interdisciplinar, assim como quando é

desafio a planejar uma inserção no ambiente escolar em que a interdisciplinaridade

é o seu maior objetivo. Já para os professores que participam da PED, a provocação

é o trabalho interdisciplinar em um curso superior, considerando que neste nível de

ensino a definição de cada área e a diferenciação destas é saliente.

Logo, eles são desafiados a construírem uma proposta que articule as suas

áreas de tal modo que instigue os acadêmicos – futuros professores – a vivenciarem

a interdisciplinaridade enquanto acadêmicos e a pensar a interdisciplinaridade

enquanto professores ao planejarem as inserções.

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Neste sentido, as elaborações decorrentes deste componente curricular do

Curso de Pedagogia, são de grande relevância a formação docente. As acadêmicas

ao se referirem as suas experiências formativas nestes espaços destacam-nas como

um espaço importante de articulação entre a teoria e a prática. A narrativa da

acadêmica A assim expressa:

Na PED do 4° Semestre, que tinha como eixo: Saberes e Fazeres na nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental realizamos uma inserção nas escolas. A proposta dessa disciplina foi ir em duplas até uma escola, para observar uma turma no Anos Iniciais do Ensino Fundamental e depois faríamos um planejamento que seria desenvolvido com a turma. Escolhemos uma escola estadual do centro da cidade de Santa Maria, uma turma do 4º ano. Com essa turma conseguimos evidenciar possibilidades de um trabalho em sala de aula interdisciplinar. Porém, a professora regente não trabalhava com a interdisciplinaridade e por causa da agitação dos alunos, eles não faziam trabalhos em grupos. Como o planejamento deveria ser em duplas, planejamos atividades interdisciplinares e trabalhos em grupos para os alunos. No início, pensamos que a professora iria detestar nossas aulas, mas para nossa surpresa ela gostou muito. Para nosso espanto, ela sentou no fundo da sala e começou a anotar as atividades que estávamos desenvolvendo com a turma e no final da aula trocamos ideias de outras atividades que poderíamos realizar com a turma, envolvendo o trabalho em grupo. Porque percebemos um grande envolvimento por parte dos alunos nas atividades e houve integração dos alunos. Sendo assim, foi fundamental levarmos em conta o aluno como construtor de saberes, durante nossa prática. (Narrativa da acadêmica A do Curso de Pedagogia Diurno).

Como evidência a acadêmica A, a inserção no contexto escolar a partir da

disciplina PED, viabilizou a experienciação de uma prática docente na sala de aula.

Foi uma vivência que possibilitou para a acadêmica uma reflexão sobre a iniciação

na docência, a partir da realidade da turma e o diálogo com a professa regente,

evidenciando possibilidades e desafios da prática docente.

O desenvolvimento do pensamento reflexivo pode ser indicado como um

elemento de destaque nas atribuições das acadêmicas sobre os espaços formativos

das PEDs, como bem destaca a narrativa da acadêmica B:

A disciplina de PED, com o eixo: Educação, Tempos e Espaços (1° Semestre do Curso de Pedagogia Diurno), foi muito significativa, pois teve como objetivo, conhecer a importância do papel do professor no campo educacional, a partir da reflexão acerca da trajetória educacional nos diferentes tempos e espaços. Nessa disciplina, nós acadêmicas do curso tivemos o desafio de fazer uma apresentação de slides, com fotos, descrições e falas da sua trajetória discente até chegar à graduação, onde buscavam uma formação inicial para se tornar professoras. Esse desafio mexeu com nossos sentimentos e emoções, pois resgatamos nossa história, desde nossa infância até a fase adulta e percebi que muitas colegas minhas desejávamos ser docentes. Já outras colegas, estavam se descobrindo no curso. Nessa disciplina também ouvimos a trajetória discente e docente dos nossos professores formadores e trocamos muitas

Page 19: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

19

experiências, foi uma disciplina marcante do primeiro semestre do curso. (Narrativa da acadêmica B do Curso de Pedagogia Diurno).

A narrativa da acadêmica B demonstra a escolha pelo Curso de Pedagogia e

nesse sentido, a disciplina de PED no primeiro semestre do curso, foi significativa no

momento em que foi proposto resgatar a trajetória discente das acadêmicas. Ao

retomarem sua escolaridade, muitas ressaltaram aspectos positivos de seus

professores e outras aspectos negativos que elas não desejam ser, como exemplo:

professores que visavam uma perspectiva tradicional de ensino. Como a

acadêmicas conheceram também a trajetória docente de seus professores do Curso

de Pedagogia, elas tiveram a possibilidade de refletir sobre o ser professor e a

professora que desejavam ser, a partir de suas vivências no decorrer do curso.

Outro aspecto abordado pelas acadêmicas refere-se às inserções no contexto

escolar, onde elas buscam conhecer e compreender como as instituições de ensino

estão organizadas, a partir de observações e inserções na sala de aula. A narrativa

a seguir revela uma inserção no ambiente escolar.

A proposta da PED VI, Prática Educativa II, do 6° semestre do Curso de Pedagogia noturno, no primeiro semestre de 2013, foi à inserção em uma escola. Este semestre é composto por um elenco de disciplinas, entre as quais uma da área da história, uma da área das ciências, uma da área da matemática, uma da área da geografia, um da área das letras/literatura e uma da área da educação/pedagogia (contextos educativos na infância), e a própria PED que articula a parte prática destas disciplinas. No entanto os professores das disciplinas da área de geografia e das letras/literaturas não participaram da PED. O desafio aqui foi planejar três dias de aula com caráter interdisciplinar que seriam ministradas para uma turma previamente observada. O destaque da PED deste semestre foi à experiência prática de que a interdisciplinaridade é composta por possibilidades e desafios constantes e contínuos. (Narrativa da acadêmica C do Curso de Pedagogia Noturno).

Na narrativa da acadêmica C, ficou evidente a intencionalidade da acadêmica

ao desenvolver um trabalho interdisciplinar na sala de aula, buscando uma

articulação entre as áreas do conhecimento e os conteúdos e ela também enfatiza o

desafio que foi planejar aulas com caráter interdisciplinar.

Acreditamos que essas situações de enfrentamentos e de desafios são de

suma importância para a formação inicial das acadêmicas, pois elas se constituem

como um processo de mobilização de estratégias, que são necessárias para uma

reflexão sobre o trabalho docente. Entretanto, como a acadêmica destaca há

problemas de organizacionais nas disciplinas PEDS, especialmente no que se refere

à ausência de professores.

Page 20: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

20

O estudo realizado nos permite indicar que as propostas diferenciadas das

disciplinas PEDs, são fragilizadas com a não totalidade de participação dos

professores de todas as disciplinas de cada semestre. O que ocorre principalmente

pelo choque dos horários da PED com disciplinas que o professor ministra em outros

cursos e/ou turmas.

Seria fundamental que cada proposta pudesse envolver todos os professores,

todas às áreas do conhecimento, pois, isso poderia possibilitar aos alunos o

desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar. Porém, destacamos a partir das

narrativas das acadêmicas para a relevância destes espaços na formação docente,

tendo em vista o destaque que as acadêmicas atribuem a este componente

curricular quando a participação de todos os integrantes é garantida e potencializada

pelo compartilhamento de experiências.

Portanto, ressaltamos que as PEDs são um espaço e tempo em que o diálogo

entre a teoria e a prática é potencializado, acrescido da articulação das diferentes

áreas do conhecimento. Podemos inferir que esta é uma oportunidade ímpar aos

professores em formação: vivenciar na prática como os professores formadores

trabalham de modo interdisciplinar. Certamente, as PEDs se constituem em um

espaço repleto de possibilidades e desafios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A relevância deste tempo e espaço vivenciado nas PEDs pelos acadêmicos

constitui-se na oportunidade de discutir e refletir sobre a articulação das diferentes

áreas do conhecimento, implicando significativamente na formação docente.

A articulação entre a teoria e a prática passa dos discursos e explanações

para a realidade vivida pelos professores em formação. Agregado à teorização sobre

esta temática, a característica prática da PED possibilita ao futuro professor

vivenciar e experienciar, principalmente nas inserções em escolas através da PED,

esta articulação das diferentes áreas do conhecimento.

Podemos destacar ainda, que é por meio da PED que os estudantes têm o

contato primeiro contato com a sala de aula, pois desde o primeiro semestre esta

disciplina tem como proposta inserir o aluno no ambiente escolar, o que acontece

durante todo o curso, possibilitando aos alunos a articulação entre a teoria e a

prática, tornando a aprendizagem mais significativa para os futuros professores.

Page 21: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

21

Com as inserções nos contextos escolares os acadêmicos percebem o quanto

a profissão é desafiante, mas ao mesmo tempo gratificante. São nessas inserções

nas escolas, que as acadêmicas se deparam com a profissão docente, o ser

professor e os desafios, mas também as possibilidades da docência.

Desta forma, apesar haver aspectos a serem revistos com relação à

organização da PED, como a necessidade de garantir a participação efetiva de

todos os professores nas PEDs, concluímos então, que as disciplinas de PEDs ao

longo dos semestres dos cursos de Pedagogia (diurno e noturno) da UFSM,

potencializam o diálogo entre a teoria e a prática e a articulação entre as diferentes

áreas do conhecimento no processo formativo dos(as) acadêmicas em formação

inicial, contribuindo significativamente nesse processo de formação.

REFERÊNCIAS

BOLZAN, D. P. V. Formação de professores: compartilhando e reconstruindo conhecimentos. Porto Alegre: Mediação, 2002.

BOLZAN, D. P. V. Verbetes: In: CUNHA, M.; ISAIA S. M. de A. Professor da Educação Superior. In: MOROSINI, M. C. (Org.) Enciclopédia de pedagogia universitária: glossário. Brasília, DF: Inep/Ries, 2006. Vol.2.p.349-405.

______. Aprendizagem da Docência: processos formativos de estudantes e formadores da educação superior. Projeto de Pesquisa Interinstitucional e integrado, Registro no GAP nº 032835. CNPq/PPGE/CE/UFSM, 2012.

______. Resolução CNE/CP n. 1/2006 Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. Brasília, Diário Oficial da União (DOU), 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf>. Acesso em mai/2012.

______. Parecer CNE/CES n. 3/06. Conselho Nacional de Educação. Reexame do Parecer CNE/CP nº 5/2005, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia. Brasília, Diário Oficial da União (DOU), 2006. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pcp003_06.pdf>. Acesso em mai/2012.

MINAYO, M. C. de S. (Org). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 22 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.

SARMENTO, M. J. A vez e a voz dos professores: contributo para o estudo da cultura organizacional da escola primária. Portugal: Porto EditoraLDA, 1994.

UFSM, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA. Projeto Político-Pedagógico do Curso de Pedagogia Diurno. Santa Maria: PROGRAD, 2007. Disponível em:

Page 22: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

22

<http://w3.ufsm.br/prograd/cursos/LICENCIATURA%20PEDAGOGIA%20DIURNO/01%20APRESENTACAO.pdf>. Acesso em mar/2013.

UFSM, Universidade Federal de Santa Maria. Projeto Político-Pedagógico do Curso de Pedagogia Licenciatura Plena Noturno. Santa Maria: PROGRAD, 2005. Disponível em: <http://w3.ufsm.br/prograd/cursos/LICENCIATURA%20PEDAGOGIA%20NOTURNO/>. Acesso em out/2013.

Page 23: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

23

SEMINÁRIO INTEGRADO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS A PARTIR DA

PRÁTICA PEDAGÓGICA

Jerfferson Paim Luquini1

Rúbia Machado de Oliveira2

Ceres Karam Brum3

PALAVRAS INICIAIS

Este texto aborda questões pertinentes ao seminário integrado, o qual se

insere na proposta pedagógica para o ensino médio politécnico e educação

profissional integrada ao ensino médio 2011-2014. Vale destacar que este tema está

sendo investigado em pesquisa realizada no Programa de Pós- graduação em

Ciências Sociais, tendo como eixo investigativo os aspectos da interdisciplinaridade

das disciplinas de filosofia e sociologia no contexto do seminário integrado em

escolas públicas.

O intuito é analisar as ações pedagógicas que os professores vêm

desenvolvendo nas disciplinas de Sociologia e Filosofia, problematizando as

rupturas, ou seja, as dificuldades que a escola está enfrentando para implementar

diálogos interdisciplinares em consonância com a proposta em questão.

Considerar-se-á as interlocuções da filosofia e sociologia com as demais

disciplinas. A finalidade é investigar como foi feita a preparação do professor

responsável pela disciplina de seminário integrado, buscando fazer uma reflexão a

respeito da formação que o professor teve ou deveria ter para assumir tal tarefa.

A pesquisa se realizará com professores do ensino público da rede estadual de

educação básica de Santa Maria, o foco do nosso olhar é especificamente uma

escola da Zona leste, a saber, Colégio Edna May Cardoso. O trabalho será

desenvolvido nas dependências da própria escola, contudo buscaremos saber como

está sendo efetivada a disciplina de Seminário Integrado no contexto geral do

município Santa Maria.

A disciplina de seminário integrado está sendo acompanhada semanalmente,

1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais- Universidade Federal de Santa Maria UFSM. E-mail: <[email protected]>. 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais - Universidade Federal de Santa Maria, UFSM. E-mail: <[email protected]>. 3 Professora do Departamento de Ciências Sociais – UFSM. E-mail: <[email protected]>.

Page 24: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

24

desde abril de 2014 e são realizados (um encontro por semana nas disciplinas de

seminário integrado. Estamos no momento averiguando qual o impacto dessa nova

política pública para o ensino público, pois a mesma se insere, no memento em

todas as escolas do RS e como se sabe, em Santa Maria muitas escolas não têm

condições de receber um ensino médio politécnico, como prevê a nova Lei.

Esta foi implementada sem que houvesse um planejamento escolar, ou seja, a

Lei não levou em consideração as diferentes realidades escolares e agora as

escolas, após a implementação da Lei, estão aos poucos sendo obrigadas a se

reestruturarem. Muitas das escolas do município, não comportam uma estrutura

física e nem mesmo humana (profissionais) para receber essa nova propostas, com

isso o que se ouve dos professores é que a nova proposta está só no papel, mas na

prática eles continuam com a mesma lógica anterior, ou seja, cada professor ministra

sua aula, o que mudou é que em conjunto decidem as notas dos alunos.

Todavia a ideia da educação politécnica pressupõe que essa nova realidade,

essa nova maneira de preparar os jovens, pode vir a proporcionar novos discursos, e

uma nova forma de compreender as questões sociais. Desprendendo-se da

“compreensão de que os problemas não são resolvidos apenas à luz de uma única

disciplina ou área do saber desmistifica-se a ideia, ainda predominante, da

supremacia de uma área do conhecimento sobre a outra”4.

Dessa forma, a interdisciplinaridade aparece como um elo entre as disciplinas,

e por conta disso, esta pesquisa tem a ambição de contribuir com o debate acerca

“dessa” interdisciplinaridade que será proporcionada pela implementação da reforma

curricular no ensino médio no RS. O seminário integrado surge como uma forma de

forçar o estabelecimento de conexões entre as disciplinas e seus conteúdos,

juntamente com o cotidiano da comunidade escolar nas suas relações de

pertencimento.

Porém, a proposta curricular é estabelecida por uma educação politécnica que

se constitui na articulação das áreas de conhecimento e suas tecnologias com os

eixos: Cultura, ciência, tecnologia e trabalho enquanto princípio educativo. De

acordo com a Proposta Pedagógica para o Ensino Médio Politécnico e Educação

Profissional Integrada ao Ensino Médio (2011-2014), este desafio exige uma

formação interdisciplinar, ancorado nas experiências sociocultural sem, no entanto,

4 Proposta pedagógica para o ensino médio politécnico e educação profissional integrada ao ensino

médio (2011-2014 p.21).

Page 25: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

25

prescindir dos conhecimentos formais inerentes ao processo civilizatório que

constitui as áreas do conhecimento.

Entretanto, o que se observa nas escolas, quando se fala em

interdisciplinaridade, é um estado de tensão e desconforto frente ao despreparo dos

professores para implementar diálogos interdisciplinares em consonância com a

proposta em questão. Além do mais, é sabido que algumas disciplinas têm bastante

dificuldade no estabelecimento de diálogo com as demais disciplinas em virtude do

longo ciclo perpetuado pelo ensino tradicional do qual sempre se deu ênfase na

memorização dos conteúdos.

Neste sentido, trabalhar a interdisciplinaridade levando em consideração seu

processo transformador, ou seja, a mudança, a desinquietação tanto do professor

quanto do aluno, faz com que de alguma forma novas experiências pedagógicas

surjam diante desse processo. Assim a riqueza desta nova realidade, está

justamente no pluralismo e na diversidade, pois nenhuma teoria pedagógica produz

sozinho o saber necessário à educação, sendo imprescindível que ocorra o diálogo

entre professor/aluno, entre teoria/prática e que de alguma forma isso faça sentido

para a vida do aluno, suas vivências em um mundo que se transforma a todo

instante. A relevância deste novo modelo está na medida em que surge a

possibilidade de que novos espaços dialógicos norteadores do saber possam vir a

ser constituídos no ambiente escolar e com isso nasça a possibilidade de superar a

fragmentação e a dissociação dos conteúdos escolares.

Deste modo é mister verificar como está sendo efetivado na prática essa

proposta, pois as informações prévias que tivemos é que a disciplina de seminário

não passa de uma disciplina da qual cada professor continua a ministrar aquilo que

sabe, referente a sua própria formação. O que não é de se estranhar, pois foste

formado para tal tarefa e no momento se encontra diante de um desafio do qual não

foste preparado.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A nova proposta para o ensino médio (2011-2014) traz consigo toda dimensão

do seminário integrado (SI) que tem como pressuposto básico da

interdisciplinaridade, o diálogo entre as disciplinas, e a comunicação como

instrumento de interação do qual o objetivo é desvelar a realidade. Deste modo,

Page 26: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

26

interdisciplinaridade trata-se de um neologismo cujo significado pode tomar várias

dimensões e cujo papel nem sempre é entendido da mesma forma, assim, embora

tenhamos várias distinções terminológicas, o principio irá ser sempre o mesmo: “A

interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas

e pelo grau de interação real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de

pesquisa” (JAPIASSÚ, 1976, p. 74).

Para tanto, as bases teóricas que visão a realização do ensino médio

politécnico (EMP) pautam-se no processo interdisciplinar do trabalho pedagógico,

entre as áreas de conhecimento, a saber: Ciências da natureza e suas tecnologias,

Ciências humanas e suas tecnologias, linguagens e suas tecnologias, matemática e

suas tecnologias. Além disso, traz a relação entre teoria e prática, parte e todo, na

pesquisa como princípio pedagógico. Na avaliação emancipatória, no

reconhecimento dos saberes, no trabalho como princípio educativo, e na politecnia

como um conceito estruturante do pensar e fazer. Relacionando todo conhecimento

escolar com o mundo do trabalho.

No que dizem respeito às DCNEM (2012), as mesmas propõem que o ensino

médio politécnico seja permeado pela interlocução entre os eixos: ciência,

tecnologia, cultura e trabalho. Cabe mencionar que no EMP5 esses eixos estão

imbricados, pois todo avanço de um potencializa a caminhada discente nos outros.

Assim, o que temos diante dessas proposições (ciência, tecnologia, trabalho e

cultura) é um tensionamento localizado no Seminário Integrado, aonde o ponto de

origem e retorno localiza-se na materialidade dos trabalhos e na produção de

aprendizagem no ensino médio politécnico (EMP).

Para tanto, chegamos ao ponto central de nossa fundamentação teórica, aonde

a pesquisa no seminário integrado (SI) tem uma centralidade essencial para que se

tenha uma construção do conhecimento conectado com o mundo do trabalho. Ela

constitui-se como um recurso pedagógico a produção do conhecimento de forma

individual e coletiva, permitindo ao aluno-pesquisador o acesso, a condição de

criador, questionador em relação ao mundo em que este se insere. Como afirma

Demo (1991, p. 82) acerca da pesquisa na escola:

O conceito de pesquisa é fundamental, porque está na raiz da consciência crítica questionadora, desde a recusa de ser massa de manobra, objeto dos outros, matéria de espoliação, até a produção de alternativas com vistas à

5 EMP= Ensino Médio Politécnico

Page 27: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

27

consecução de sociedade pelo menos mais tolerável. (Idem, p. 82).

Por isso é de extrema relevância neste contexto, reconhecer que os alunos

sabem e tem muito para dizer, contribuir, e nesse sentido produzir é importante.

Desenvolvendo a pesquisa eles poderão mostrar suas ideias, aperfeiçoá-las e

formar outras ideias acerca da realidade que eles estão inseridos, incluindo todo

contexto, social, cultural, e econômico, saindo do “senso comum” para o “bom

senso” (Gramsci, 1981). Segundo Miranda (2012, p. 118) afirma que, “o trabalho

interdisciplinar e contextualizado requer participação, cooperação, e interação entre

os participantes”. Sendo o modelo da gestão democrática aquele que abre

oportunidade para o diálogo necessário.

Além das definições apresentadas acima sobre o conceito de

interdisciplinaridade, a nova proposta para o ensino médio traz em seu bojo outra

definição, que irá corroborar com as definições apresentadas até o presente

momento, a saber:

Ao buscar um saber mais integrado e livre, a interdisciplinaridade conduz a uma metamorfose que pode alterar completamente o curso dos fatos em educação; pode transformar o sombrio em brilhante e alegre, o tímido em audaz e o arrogante e a esperança em possibilidade. (FAZENDA, 2008)

Clifford Geertz (1978), também contribui para a compreensão do espaço de

pesquisa escolar e mais especificamente as práticas pedagógicas desenvolvidas

pelo professor. Em seu livro a interpretação das culturas, mais especificamente no

capítulo I uma descrição densa: Por uma teoria interpretativa da cultura o autor

coloca:

Se você quer compreender o que é ciência, você deve olhar, em primeiro lugar, não para as suas teorias ou as suas descobertas, e certamente não para o que seus apologistas dizem sobre ela, você deve ver o que os praticantes da ciência fazem. (GEERTZ, 1978)

É neste contexto em que os pesquisadores, num primeiro momento, abstêm-se

de suas teorias, para então diante de uma metodologia especifica acompanhar o que

os praticantes da ciência em questão vêm fazendo, que nos encontramos. No caso

da pesquisa aqui apresentada, esse momento se aplica em fazer-se presente no

cotidiano da escola, na tentativa de compreender ao máximo o que determinada

ação pedagógica tem a nos dizer.

Contudo de acordo com a Proposta Pedagógica para o Ensino Médio

politécnico e educação profissional integrada ao ensino médio (2011-2014) os

Page 28: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

28

seminários integrados constituem-se em:

Espaços planejados, integrados por professores e alunos, a serem realizados desde o primeiro ano e em complexidade crescente. Organizam o planejamento, a execução e a avaliação de todo o projeto político-pedagógico, de forma coletiva, incentivando a cooperação, a solidariedade e o protagonismo do jovem adulto.

A determinação legal oriunda do Conselho Nacional de Educação, que

aprovou o parecer CNE/CEB 38/2006, sobre a inclusão obrigatória das disciplinas de

Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio, traz a tona uma nova

preocupação no que se refere à melhoria da qualidade do ensino básico, em

especial no que diz respeito a estratégias de interação entre os conteúdos

disciplinares. Em linhas gerais, é neste cenário de diálogo entre as disciplinas, que

as disciplinas de História e Geografia compõem juntamente com a Filosofia e

Sociologia, a área das humanidades, a história segundo as Orientações Curriculares

para o Ensino Médio (OCNs, 2006, p.67), busca-se “oferecer aos alunos

possibilidades de desenvolver competências que os instrumentalizem a refletir sobre

si mesmos, a se inserir e participar ativa e criticamente no mundo social, cultural e

do trabalho”.

Quanto à geografia, seu objetivo é fazer com que o aluno possa compreender a

dinâmica social e espacial, que produz, reproduz e transforma o espaço geográfico

nas diversas escalas (local, regional, nacional, e mundial). As relações temporais

devem ser consideradas tendo em vista a historicidade do espaço, não como

enumeração ou descrição de fatos que se esgotam em si mesmos, mas como um

processo de construção social (OCNs, 2006 p.42).

Percebe-se, que neste panorama a questão da interdisciplinaridade, não é uma

tarefa fácil, sobretudo quando se trata de realizar praticas pedagógicas em que as

disciplinas têm que minimamente conversarem entre si. Este processo de

desenvolvimento leva tempo, e, além disso, demanda os professores sair da sua

zona de conforto, e esforçar-se ao máximo para fazer com que o diálogo ocorra.

É em meio a estas questões que objetivamos investigar as práticas

pedagógicas da disciplina de Seminário Integrado para verificar se este diálogo entre

as disciplinas está sendo possível ou não e como ele está sendo apresentado aos

alunos.

Page 29: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

29

METODOLOGIA

Em razão dos objetivos, estamos buscando fomentar diálogos com professores

e alunos da escola básica, bem como se pretende fazer um levantamento de dados

através de entrevistas e observação participante nas aulas da disciplina de

Seminário Integrado.

O método utilizado nesta pesquisa está sendo o etnográfico, pois enriquece o

trabalho na medida em que proporciona uma proximidade, uma convivência

prolongada no universo do grupo pesquisado, tendo em vista que “a abordagem

etnográfica se constrói tomando como base a ideia que os comportamentos

humanos só podem ser devidamente compreendidos e explicados se tomarmos

como referência o contexto social onde eles atuam (VICTORIA, 2000, p. 53). Assim,

emprega-se o trabalho de campo baseado na observação (MALINOWISKI 1978). A

observação participante justifica-se pelo fato de que muitos elementos apreendidos

no campo se tornam inteligíveis somente no decorrer da convivência com os alunos,

pois fazem sentido dentro daquele espaço de circulação a qual foram elaborados.

Para Claudia Fonseca (1999, p. 58) A etnografia é “Calcada numa ciência por

excelência, do concreto. O ponto de partida desse método é a interação entre o

pesquisador e seus objetos de estudo nativos em carne e osso”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando em consideração que a pesquisa está em fase inicial, ainda não

temos uma reflexão teórica consistente assim como não é possível ainda apontar

quais sejam as interlocuções entre as disciplinas que estão sendo apresentadas aos

alunos. O que podemos adiantar é que a prática pedagógica é bastante frágil tendo

em vista que muitos dos professores não foram preparados para trabalhar conteúdos

interdisciplinarmente e com isso não conseguem trabalhar em grupo, pois cada

professor prioriza a ciência de sua formação.

Quanto à escola Edna May Cardoso, a qual se situa na zona leste da cidade de

Santa Maria-RS, bairro Cohab Fernando Ferrari, sendo de periferia, situada em uma

comunidade carente da cidade, a professora possui formação em filosofia, e o

seminário integrado vem sendo realizado com temas transversais de interesse dos

alunos. Um exemplo é pena de morte. É importante apontar que eles minimamente

Page 30: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

30

tentam dialogar esses temas com as demais disciplinas, no entanto, isso nem

sempre ocorre. O seminário integrado da disciplina de filosofia o qual está sendo

acompanhando é de uma turma de terceiro ano noturno, composta por oito alunos.

O que é plausível inferir até o momento é que se percebe que cada escola está

desenvolvendo os seminários integrados das mais diversas maneiras, e que, no

entanto muitas vezes foge do que traz a proposta. Por isso é de extrema importância

acompanhar e tentar compreender o porquê e como determinada ação vem sendo

utilizada naquele determinado contexto cultural, pois a riqueza de um determinado

espaço que contempla múltiplas áreas do conhecimento, a saber, a escola, está na

sua especificidade em transformar esse ambiente em múltiplas formas de

aprendizagens, interligando os mais variados tipos de saberes.

REFERÊNCIAS

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_____. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Leis e Decretos. Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de1996. Dispõe sobre as diretrizes e bases da Educação Nacional.

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BOURDIEU, P. O poder simbólico. RJ/Lisboa: Bertrand Brasil/ DIFEL, 1989.

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Fazenda, Ivani C. A. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro efetividade ou ideologia, 1992.

Page 31: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

31

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GRAMSCI, A. Concepção Dialética da História. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.

SAVIANI, D. Sobre a Concepção de Politecnia. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 1989.

SEDUC-RS. Secretaria de Estado da Educação do Rio Grande do Sul. Departamento Pedagógico – DP. Proposta Pedagógica para o Ensino Médio Politécnico e Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio – 2011-2014. Seduc-RS: Porto Alegre, 2011.

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VÍCTORA et al. Pesquisa Qualitativa em Saúde. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2000. Caps. 4. A construção do objeto de pesquisa.

Page 32: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

32

LEITURA INTELIGENTE E O PROCESSO DE APROPRIAÇÃO DO

CONHECIMENTO

Estela Maris Giordani1

Daniele Barros Vargas Furtado2

INTRODUÇÃO

O Brasil nos últimos anos tem demonstrado uma preocupação quanto a

qualidade do ensino fundamental. Nesta direção muitas políticas públicas foram

implementadas, dentre elas, o Programa Internacional de Avaliação de alunos

(PISA), que aponta como uma das suas preocupações, o domínio da leitura. É este

o nosso objetivo, discutir como, no contexto da prática escolar, podemos

implementar estratégias que se revelem eficientes para melhorar as habilidades de

leitura de estudantes. Entendemos que esta habilidade é essencial para toda e

qualquer aprendizagem escolar, visto que, a cultura acumulada está disponibilizada

proeminentemente em documentos escritos.

Portanto, se o texto é um instrumento privilegiado que contém o conhecimento

científico, o problema que nos propomos a responder neste trabalho é: que estudos

foram realizados sobre experiências com aprendizagens de leituras de textos de

gêneros informativos e, quais são os fundamentos utilizados na concepção,

elaboração e aplicação da técnica da leitura inteligente? Pois, esta técnica se propõe

contribuir para a formação de estudantes que saibam extrair dos textos os princípios

elementares do conhecimento, que são expressos nos textos sem que, os

interpretem com significados que não correspondem ao que foi efetivamente exposto

pelo(s) autor(es).

Corsino, Kramer e Nunes (2011) argumentam que o Brasil, nos últimos anos,

tem demonstrado uma preocupação quanto à qualidade na educação ofertada na

rede pública de ensino. Para que se efetive a diminuição no quadro de repetência,

de evasão e distorção idade/série, o Brasil tem participado de programas como o

Programa Internacional de Avaliação de alunos (PISA). Este programa tem a

finalidade de contribuir para a busca de resultados que contribuam para a melhoria

1Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Professora adjunta do Departamento de Metodologia do Ensino UFSM/CE/MEN. E-mail: <[email protected]>. 2 Acadêmica do Curso de Pedagogia - UFSM. E-mail: <[email protected]>.

Page 33: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

33

da oferta da educação básica1 por meio da produção de indicadores sobre a

efetividade dos sistemas educacionais e da avaliação do desempenho de alunos na

faixa dos 15 anos de idade quanto a proficiência em leitura, matemática e ciências.

As autoras Corsino, Kramer e Nunes (2011) apresentam os dados que revelam

os índices do Brasil, por meio dos dados do PISA, que indicam que nosso país

apresentava-se no 49º lugar no ranking de 56 países no ano de 2006. No quadro

comparativo dos resultados do Brasil no PISA desde 2000, o número de alunos

participantes no Brasil, passou de 9.295 (no ano de 2006) para 18.589 (no ano de

2012). Comparando os dados dos resultados da proficiência dos alunos do Brasil, do

ano de 2006 com o ano de 2012, percebemos um pequeno avanço. Os dados do

PISA demonstram que a proficiência do Brasil em leitura passou de 393 pontos para

410 pontos.

Nos dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE) em 2012, cerca de metade dos alunos no Brasil (49,2%) apresentaram o

nível proficiência abaixo do nível 2, o que significa que possivelmente eles podem

reconhecer o tema principal ou o propósito do autor de um texto sobre um tema

familiar e fazer uma conexão simples entre informações e conhecimento cotidiano.

Comparando com a proporção do ano de 2000 (44,2%) existe uma pequena

melhoria na média da OCDE, nesse intervalo de tempo. Quanto ao nível 5, os dados

da OCDE demonstram que apenas 0,5% a cada 200 participantes são capazes de

lidar com textos que não são familiares em qualquer forma ou conteúdo e podem

conduzir refinadas análises de textos.

Este processo de avaliação constitui-se como ferramenta que possibilita indicar

as necessidades de novas abordagens e estratégias no processo de ensino e

aprendizagem que portem o avanço das condições de proficiência na leitura dos

alunos. Estes dados dialogam com nossa pesquisa, uso da técnica da leitura

inteligente nos processos aquisição de saberes, pois ratificam a necessidade do

domínio da linguagem por meio da apropriação da leitura compreensiva.

Pretendemos fazer da técnica de leitura inteligente um instrumento que possibilite

uma formação para a compreensão de que somos sujeitos históricos,

transformadores do espaço em que estamos inseridos, e principalmente, do domínio

da linguagem utilizada no contexto das aprendizagens escolares. Esperamos com a

1 Portal MEC - PISA/OCDE. Disponível em <http://portal.inep.gov.br/pisa-programa-internacional-de-avaliacao-de-alunos>. Acesso em 20/08/2014.

Page 34: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

34

nossa pesquisa contribuir tanto com docentes quanto discentes para uma melhoria

qualitativa na compreensão textual, de modo que, os discentes consigam extrair dos

textos os princípios elementares do conhecimento, interpretando os significados

expressos pelos autores.

ESTUDOS SOBRE TÉCNICAS DE LEITURA DE TEXTOS INFORMATIVOS

A seguir apresentamos três estudos desenvolvidos com estratégias de leitura

de textos de gênero informativo. Pretendemos com isso compreender as

preocupações dos autores, seus fundamentos e especialmente os procedimentos e

os resultados que cada uma das experiências estudadas possibilita no sentido de

contribuir com a problemática levantada pelos índices do PISA e OCDE.

Vasconcelos (2011) buscou, por meio de um projeto de pesquisa-ação,

exercitar a leitura dos adultos recém alfabetizados em situações da vida concreta. A

autora elucidou a relevância que a leitura assume no cotidiano das pessoas, de

modo que contribua para o aperfeiçoamento das técnicas de leitura, da interpretação

dos textos e do exercício da leitura para a busca de soluções de problemas atuais.

A técnica utilizada por Vasconcelos (2011) em sua pesquisa consistia em

mostrar um texto em um banner, e cada pessoa do grupo fazia individualmente,

cada uma em sua vez, a leitura em voz alta, e posteriormente era realizada a leitura

coletiva. Em seguida, desenvolvia-se um debate sobre o tema e sobre os termos

desconhecidos, de modo a fazer analogias com situações do cotidiano e destacando

termos e expressões que os impressionaram e os transcrevendo na lousa.

Como resultados alcançados no projeto realizado com a comunidade,

Vasconcelos (2011) destaca que os participantes tiveram a oportunidade de

aperfeiçoar as técnicas de leitura, interpretar textos com informações úteis, criar o

hábito de ler entre os adultos, ler conjuntamente com os familiares, amigos e

vizinhos, exercitando a convivência solidária na busca por soluções dos problemas

sociais da comunidade.

Analisando esta experiência a fim de estabelecer as distinções entre a técnica

utilizada por Vasconcelos (2011) e a técnica de leitura inteligente, percebemos que a

leitura inteligente possui o foco na compreensão dos significados dos termos e com

o conhecimento do campo conceitual que os termos chaves possuem

individualmente e posteriormente a articulação da sua compreensão no contexto

Page 35: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

35

global do sentido. Entendemos também que um importante instrumento de busca de

conhecimento dos termos desconhecidos utilizados nesta técnica é o dicionário de

língua portuguesa.

Prestes, Lima e Ramos (2011) desenvolvem as etapas do processo de

aquisição da leitura por meio do trabalho realizado na investigação “a Educação pela

Pesquisa” em que visa contribuir para a inovação do ensino e na formação de

sujeitos mais autônomos na capacidade de gerir suas aprendizagens. Tal proposta

vem ao encontro da Técnica de Leitura Inteligente, pois um de seus princípios

norteadores é justamente, o protagonismo do educando em suas aprendizagens.

No processo da Educação pela Pesquisa, os autores utilizam-se inicialmente

da curiosidade do educando e da elaboração de questionamentos acerca dos

conhecimentos e da reconstrução dos argumentos que respondem a essas

questões, como uma busca inicial ou provisória de respostas, identificando as

lacunas e dúvidas ligadas ao tema em estudo. Após esta etapa, buscam novas

informações e autores que possam aclarar tais lacunas, seguida da comunicação,

etapa em que ocorre a validação do conhecimento aprendido, no exercício do

diálogo, da escuta e da formulação de críticas.

Moss e Loh (2012) argumentam que a compreensão de textos que trazem

informações (tais quais aqueles encontrados na internet, em provas, dentre outros)

depende do desenvolvimento das habilidades adquiridas. Entretanto, ressaltam as

autoras, que não basta saber localizar as informações, mas também é preciso saber

verificar a veracidade das mesmas. Por isso, as autoras defendem a utilização da

“leitura crítica como o modelo de aprendizagem por meio dos textos informativos” (p.

10). As autoras também contribuem para desmistificar o entendimento de que os

alunos não gostam de leituras de gênero informativo “[...] estudos indicam que,

muitos alunos, na verdade, preferem ler textos informativos em vez de ficção [...] os

textos informativos podem estimular essa curiosidade e aprofundar sua

compreensão e entendimento” (p. 10-11). As autoras apresentam 35 estratégias de

leitura de textos de gênero informativo, contemplando, diversas formas de

abordagens destes textos. Nos identificamos e entendemos que existem muitos

aspectos em que as técnicas desenvolvidas pelas autoras encontram diálogo com a

nossa. Mas consideramos que existem aspectos em que, na técnica por nós

desenvolvida, não estão presentes nestas três pesquisas, as quais aprofundamos a

seguir.

Page 36: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

36

FUNDAMENTOS DA CONSTRUÇÃO DA TÉCNICA DA LEITURA INTELIGENTE

A preocupação com a aquisição significativa de conteúdos escolares e a

correta utilização de textos didáticos tem acompanhado nossa trajetória docente.

Contudo, foi nos últimos cinco anos que a nossa experiência foi se transformando

em uma proposta ou estratégia de trabalho tanto no ensino superior quanto no

ensino fundamental. Isso porque, cada vez mais, o exercício da atividade docente é

menos ensinar conhecimentos e mais pautar-se sobre os processos de

aprendizagem com o escopo do desenvolvimento do aprendiz.

De fato, a primeira competência docente conforme Perrenoud (2000) é

“organizar e dirigir situações de aprendizagem” (p. 23), no documento da UNESCO,

conforme Delors et. al. (2001) “aprender a aprender” e também nos nossos

documentos oficiais como no Art. 13 da LDB Lei no 9394/2004 inciso terceiro que

trata das funções docentes está expresso “zelar pela aprendizagem dos alunos”.

Portanto, mudou o significado da função docente, seu objeto de trabalho está

pautado sobre o desenvolvimento das aprendizagens humanas. Por isso, o conteúdo

do fazer docente são as aprendizagens, mas, quais aprendizagens? As

aprendizagens para atingir as finalidades expressas pela LDB em seu Art. 2o, ou seja

“o pleno desenvolvimento do educando” que implica as quatro aprendizagens:

conhecer, fazer, viver juntos e ser (DELORS et al., 2001) ou ainda, conforme

Libâneo (1985, p. 46) o conteúdo do fazer docente ou o fazer pedagógico “[...]

engloba as três dimensões apontadas – [...] o saber, o saber ser e o saber fazer”.

Meneghetti (2014) foi o primeiro autor a expressar essa compreensão em 1978.

Para o autor, o ser humano para ser íntegro deve desenvolver-se nas três

dimensões “saber, fazer e ser” contemporaneamente e continuamente. E, foi

pautado neste autor, Meneghetti (2014) que entendendo o conceito de

aprendizagem humana como “Lat. adphrehendo = me aproprio a partir do íntimo,

disposição à perceber o que é para mim” (2012, p. 24) que nos colocamos o

compromisso de desenvolver uma nova abordagem de leitura de textos informativos.

Desta forma, considerando estes princípios e como meta os processos de

aprendizagem dos alunos, nos colocamos o desafio de, desenvolver uma estratégia

de trabalho que contemplasse tais dimensões e operativamente colocasse em

prática o conceito de aprendizagem cunhado por Meneghetti (2014).

O gênero informativo, no contexto do processo ensino-aprendizagem, porta o

Page 37: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

37

conhecimento universal acumulado ao longo do tempo e que foi selecionado como

instrumento de educação básica (ensino fundamental e médio) e superior (ES). E,

boa parte desses conhecimentos são científicos, ou seja, passaram por processos

de descobertas e elaboração e adquirem validade, aplicabilidade e universalidade –

embora este processo nunca seja totalmente inacabado, pois novas pesquisas são

realizadas para alargar as fronteiras do conhecimento.

Estes são saberes codificados que, para serem aprendidos, não supõe apenas

a habilidade da “leitura” mas um modo de apreender que implica o “saber, fazer e

ser”, sem os quais não é possível a apropriação do quanto aquele saber

potencialmente possibilita a sua configuração representativa. E, é por isso, que

quando desenvolvemos a técnica consideramos o ser humano uma “unidade de

ação histórico-espiritual [...] com funções ou faculdades inteligentes, racionais,

emocionais e biológicas” (MENEGHETTI, 2012, p. 128). Desta maneira,

compreendemos que os processos de leitura impliquem essa complexidade de

funções e por isso, estas devem estar em movimento, se fazer presentes em todo e

qualquer ato de aprendizagem, visto que, sempre temos em mente atingir a

finalidade expressa pela LDB nº 9.394/96, em seu Art. 2o: “o pleno desenvolvimento

do educando” (BRASIL, 1996).

Por isso, a denominamos “técnica de leitura inteligente”, pois não está em jogo

apenas a aquisição da leitura, mas sim, aprendizagens que privilegiam o

desenvolvimento contemporâneo do ser humano em todas as suas dimensões:

saber, fazer e ser. O que entendemos por técnica? Técnica significa exercício de

pedagogia, fazer com precisão. Esta precisão está por ser apreendida, depende de

um exercício. Com o exercício a pessoa do aprendiz vai tomando posse dos

instrumentos e aprendendo a saber operar em uma situação concreta, saber agir,

saber do que se trata e se experimentando, aprendendo a confiar em sua força

interior, em seu potencial. E, por meio do exercício ele percebe-se capaz porque

está fazendo, e ao fazer compreende o que é capaz de fazer, fazendo e

compreendendo, torna-se mais. Na relação com as situações ele torna-se sujeito:

experimenta-se na história, vive a dimensão “histórico-espiritual”, percebe-se

pertencente a um tempo e a um espaço, mas não apenas a estas categorias, porque

a sua essência é a inteligência que é imanente e transcendente. Assim o aprendiz

percebe-se capaz de ingressar no íntimo daquele evento e “apropriar-se” e “perceber

o que é seu” (MENEGHETTI, 2012). Portanto, por meio da ocasião ou da situação

Page 38: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

38

problema “leitura”, implementamos um conjunto de princípios que, sendo

exercitados, desenvolvem no aprendiz a sua capacidade humana de apreender.

COMO APRENDEMOS E ELABORAMOS O CONHECIMENTO

Podemos pensar que o processo de aprendizagem e elaboração das nossas

ideias são processos simples, contudo são processos complexos que implicam a

globalidade do aprendiz. Seguimos os pressupostos de Pain (1985) de que, o corpo

é verdadeiramente o órgão da aprendizagem e, que aprendemos porque temos um

corpo, e de Meneghetti (2012, p. 24) que compreende o processo de aprendizagem

em sua etimologia “lat. adprehendo = me aproprio do íntimo. Disposição a perceber

o que é para mim”, ou seja, a aprendizagem implica um Eu que voluntariamente

escolhe e realiza a apropriação.

Para ingressar na premissa de como o sujeito aprende, é preciso lembrar que

quando aprende este não apenas apropria-se de um conteúdo mas sobretudo

apropria-se de uma forma, de um modo de aprender. De fato, no conceito de

aprendizagem de Meneghetti (2012) ele explica que existe “a) aquisição de modelos

operativos; b) com memória de repetição” mas também Pain (1985) esclarece que,

quando aprendemos em uma cultura ocidental a, por exemplo comer arroz, o

fazemos diversamente do que em uma cultura oriental, visto que, não apenas

comemos este alimento, mas segundo a cultura em que estamos inseridos

aprendemos um modo específico de come-lo que é diverso de outra. Logo, toda

aprendizagem implica um modelo operativo que é internalizado e se reproduz pelo

aprendiz.

Então, podemos dizer que, de acordo com estes dois autores, a aprendizagem

implicaria em conteúdo e forma contemporaneamente. Mas como essa inicia a sua

estrutura? O início da sua configuração ocorre nos primeiríssimos anos de vida na

relação diádica1 com o adulto mãe, aquele adulto que é o centro de referência de

vida, subsistência, segurança e de emotividade da criança (MENEGHETTI, 2014). A

criança aprende a si mesma, segundo o polo diádico estruturado da cultura que

1 Para Meneghetti (2012, p. 73) “a díade é uma realidade ineliminável na existência humana. Toda a vida é díade, é o movimento, é o proceder da vida”. O autor a conceitua “movimento a dois no qual o movente não pode agir sem o coincidente heteromovente”. Especifica o autor que “na vida, a autonomia não existe: o sujeito acontece e vive bem na medida em que funcionam os conjuntos, mas o conjunto se qualifica se a unidade de ação, extremo daquela relação, é válida sobretudo para si mesma” (MENEGHETTI, 2010, p. 236).

Page 39: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

39

oferece aquele adulto ao pequeno. Portanto, o seu Eu - estrutura mediatriz a qual se

reconhece e interage com o seu interno e externo -, é um composto estruturado por

meio daquele codificado da cultura ambiental, em todos os seus particulares1, o

qual, o adulto mãe foi o primeiro mediador, mas que reflete também o composto

social em que estes estão imersos. E, é este Eu, estruturado conforme a mediação

do adulto mãe, que formaliza os dados e os identifica, os categoriza, os relaciona, os

racionaliza, os compreende, decide, aplica, opera, avalia, enfim, realiza tantas

operações.

Logo, quando falamos de um processo de aprendizagem este implica

necessariamente um Eu, uma estrutura que funciona por meio de modalidades de

operações adquiridas em precedentes aprendizagens. Estas não necessariamente

são operações conscientes ao aprendiz, muitas são automatizadas e vividas por

meio dos muitos hábitos adquiridos e que, são mobilizadas automaticamente em

seus contextos interativos – “com memória de repetição”. E, conforme Meneghetti

(2014) se ao mesmo tempo estes processos são funções que facilitam a vida, pois

com isso não precisamos aprender novamente a mesma coisa sempre, por outro,

podem tornarem-se mecanismos que impedem ou dificultam a aquisição de novos

modelos operativos, visto que, são autômatos e, muitas vezes inconscientes ao

sujeito que os opera (modalidades adquiridas nos primeiros anos de vida, que

posteriormente são removidos da estrutura Eu consciente e passam a compor o

inconsciente humano).

Portanto, quando estamos tratando de processos de aprendizagens, temos que

considerar que pode ser que o sujeito aprendiz possua modelos operativos

antitéticos às aprendizagens que estão sendo propostas. E, que se não forem

considerados e identificados estes modelos operativos (antitéticos e os necessários)

é eminente o risco da aprendizagem nova não se efetuar, mas de imitar ou mimetizar

um comportamento que aparente que ocorra a aprendizagem, mas que,

efetivamente ela não ocorreu, porque ela implica um novo modelo operativo, a

capacidade de operar de outro modo. Eis então o aprender a apreender. Portanto, é

necessário compreender como são as funções humanas e como estas são

1 Particulares como os odores, as tonalidades das cores e dos sons e vozes, as formas dos objetos, as linguagens não verbais, os sentimentos, a luminosidade, as texturas, as infinitas formas dos objetivos em seus tipos e também os significados que cada um possui naquele contexto, as personalidades das pessoas (realizadas ou não), as pessoas, o vocabulário, a língua, os valores, as imagens, as crenças, as ideias, os hábitos, as manifestações culturais, as normas (tácitas e explícitas), enfim, todo o tecido ambiental que forma o magma das interações da criança.

Page 40: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

40

colocadas dinamicamente em ação na vida do sujeito aprendiz.

E, se o aprender implica um conteúdo e uma forma contemporaneamente,

então, o que se aprende, o conhecimento que significa “Lat. conoscere = vir a saber.

Lat. cum, gregoνουζ, lat. scitactionem = quando ou como a mente sabe a ação.

Saber a ação” (MENEGHETTI, 2012, p. 57). Então, se o saber ou conhecer implica

fazer com que a mente saiba a ação, o apreender implica em saber como entrar no

íntimo de um evento ou de uma ação, colher a partir do dentro da ação, e, perceber

se aquele evento ou aquela ação são congruentes àquilo que é o meu modo

específico de ser, ou projeto de natureza, ou ainda a minha identidade ôntica e, não

apenas aquilo que aprendi sobre o que eu sou. Então, o ato de aprender e de

conhecer se não estão na direção de uma “lenta mas autêntica descoberta de si”

(DELORS et. al, 2001, p. 99) ou “saber e fazer a si mesmo” (MENEGHETTI, 2012, p.

205) não fazem parte da construção daquilo que é seu e que é a sua identidade

ôntica, do seu ser. E, se são antitéticas as aprendizagens, estas se colocam à

serviço da negação da dimensão humana, ou seja, de um saber que não possibilita

o ser, mas que o aprisiona em um modelo rígido e fixo. Eis então, que o modelo

operativo pode vir a tornar-se funcional ao desenvolvimento do aprendiz ou não. Por

isso, toda e qualquer técnica ou processo de aprendizagem propiciado pela escola

pode estar à serviço de auxiliar ao processo de aprendizagem da forma humana de

ser, ou a alienação do homem de sua natureza humana.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho expusemos o estudo de algumas técnicas de leitura de textos

informativos com a finalidade ampliar e discutir como a utilização desse gênero

textual no contexto de sala de aula pode contribuir para ampliar as possibilidades de

melhoria da apropriação de conhecimentos escolares. Cumprindo com o objetivo

deste artigo em que se fez conhecer os fundamentos que foram seguidos no

processo de concepção e elaboração da técnica da leitura inteligente. Buscamos

demonstrar quais os princípios segue e, se for aplicada com estes princípios esta,

transcende ao desenvolvimento da habilidade de leitura e atinge os objetivos da

formação integral da pessoa do aprendiz. E, é exatamente neste aspecto que ela se

propõe distinta das demais, apesar de em alguns procedimentos aparentemente se

aproximar.

Page 41: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

41

Ao longo do texto vimos que o tema da aquisição da leitura compreensiva é de

preocupação de vários autores que vem buscando maneiras, desenvolvendo

pesquisas e técnicas de se trabalhar eficientemente com esta habilidade. A

preocupação da aquisição da habilidade da leitura compreensiva é também

manifesta em que programas internacionais como o PISA, que estuda e busca

melhorar os resultados em relação a esta habilidade já que ela é essencial para toda

e qualquer aprendizagem escolar, tendo em vista que grande parte dos

conhecimentos científicos é acessada por meio de documentos escritos.

Analisando as propostas destas três abordagens de trabalhos com leitura de

textos de gênero informativos, verificamos que a técnica que propusemos possui

uma distinção essencial, que é, centrar-se sobre a compreensão do próprio

conteúdo que o texto traz, e especialmente, o desenvolvimento das habilidades

racionais do leitor em realizar os processos de análise e síntese, que são os

movimentos utilizados pelo intelecto humano para a aquisição do conhecimento.

Outra importante distinção que existe é que a técnica da leitura inteligente, ativa a

tão almejada possibilidade do sujeito “aprender a aprender” mas não apenas

elementos do saber, mas relativos as dimensões do fazer e ser.

Por entender que o exercício da atividade docente é menos ensinar

conhecimentos e mais pautar-se sobre os processos de aprendizagem

apresentamos os fundamentos da técnica de leitura inteligente. Nesta perspectiva, o

professor trabalha a partir da organização e das propostas mediadas para a

aprendizagem, sendo que ao educando, nesse movimento de aquisição do

conhecimento, necessita aprender a aprender, aprender a ser e a fazer. Assim a

aprendizagem e o desenvolvimento humano são concebidos em sua integralidade,

visto que, também, percebem-se capazes de fazer, e fazendo e compreendendo,

apreendem e tornam-se pessoas melhores, são mais.

No último ponto do texto, apresentamos como aprendemos e elaboramos o

conhecimento a partir dos autores que fundamentam nossa proposta de estudo,

elaboração e utilização da técnica de leitura inteligente. Explicitamos que a

aprendizagem da aquisição leitura e dos demais conhecimentos envolvem a

complexidade do ser humano, mas quando o professor compreende que o aluno,

para além do conhecimento também deve aprender a aprender, encontra o princípio

que sustenta todo o processo de aprendizagem.

Desse modo, os processos de aquisição de compreensão textual por meio

Page 42: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

42

leitura, quando mediados a partir deste princípio e no uso dos textos informativos

tendem a facilitar a aprendizagem e trazem para a discussão elementos do

conhecimento científico e/ou de uso cotidiano nas experiências dos sujeitos, e do

conhecimento de si na relação com o meio. Assim, cabe ao professor conduzir o

aluno a desenvolver a capacidade de operar o conhecimento a partir da lógica de

como este se processa. Dessa maneira, o conhecimento de si, da ação que realiza,

possibilitará aos sujeitos do ensinar e do aprender - consigo e com o outro -, uma

experiência de aprendizagem viva.

Pretendemos com esse artigo possibilitar aos acadêmicos em formação, aos

professores da educação básica e demais interessados no tema, ampliar o

conhecimento sobre esse diferente modo de pensar a pedagogia e os processos de

aprendizagem e aquisição do conhecimento científico, contribuindo para reflexões

acerca do trabalho pedagógico no ensino da leitura no uso de textos informativos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. LDB. Lei nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Brasil: 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em set/2012.

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MENEGHETTI, A. Manual de Ontopsicologia. 4a. ed. Recanto Maestro, São João do Polêsine, Ontopsicológica Editrice, 2010.

MENEGHETTI, A. Pedagogia Ontopsicológica. 3a. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica Editrice, 2014.

MENEGHETTI, A. Dicionário de Ontopsicologia. 3a. ed. Recanto Maestro:

Page 43: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

43

Ontopsicológica Editrice, 2012.

MOSS, Barbara. 35 estratégias para desenvolver a leitura com textos informativos. Porto Alegre: Penso, 2012.

PAIN, S. O papel da escola na transmissão de conhecimentos. Cadernos CEVEC, nº 1, 1-16, 1985.

PERRENOUD, P. 10 novas competências para ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 2000.

PRESTES, R. F.; LIMA, V. M. do R.; RAMOS, M. G. Contribuições do uso de estratégias para a leitura de textos informativos em aulas de ciências. Revista Eletrónica de Enseñanza de lãs Ciencias, v. 10, n.º 2, 2011.

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Page 44: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

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DOCÊNCIA ORIENTADA NO MESTRADO ACADÊMICO EM ENFERMAGEM: UM

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Rhea Silvia de Avila Soares1

Luis Antonio Muller2

Marciane Kessler3

Thaís Dresch Eberhardt4

Suzinara Beatriz Soares de Lima5

INTODUÇÃO

A busca por qualidade na educação vem, atualmente, alcançando importância

tanto nas produções acadêmicas quanto nos discursos de profissionais ligados à

área e em discussões políticas, referindo-se à universidade como uma instituição

que demanda cuidados (FLORES et al., 2013).

Existe uma preocupação com a qualidade da formação dos professores

universitários. Recentemente, segundo Masetto (2012), os professores universitários

começaram a pensar que o seu papel de docente no ensino superior exige

capacitação específica e desenvolvimento de competência pedagógica.

Nesse sentido, o Estágio de Docência passou a ser obrigatório nas instituições

de ensino com programas de pós-graduação stricto sensu a partir do ano de 1999,

com a orientação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES), por meio da Resolução nº 65 de 1999 alterada pela Resolução nº

13 de 2000 (INFOCAPES, 2002).

Logo, os cursos de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem

(PPGEnf) do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM) possuem em sua grade curricular a disciplina de Docência Orientada.

1 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: <[email protected]>. 2 Enfermeiro. Especialista em Urgência, emergência e trauma, em Cardiologia, em Terapia intensiva, Mestrando do PPGEnf da UFSM. E-mail: <[email protected]>. 3 Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Mestranda do PPGEnf da UFSM. E-mail: <[email protected]>. 4 Enfermeira. Especialista em Acupuntura. Mestranda do PPGEnf da UFSM. E-mail: <[email protected]>. 5 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Chefe da Divisão de Enfermagem do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), Docente do PPGEnf da UFSM. E-mail: <[email protected]>.

Page 45: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

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Esta é uma disciplina que faz parte das atividades curriculares obrigatórias dos

acadêmicos mestrandos, que visa a participação em atividades de docência no

curso de Graduação em Enfermagem da mesma instituição, sob a supervisão do

professor responsável pela disciplina ministrada, que pertence ao quadro de

docentes do programa.

A Docência Orientada tem por objetivo possibilitar a formação-didático

pedagógica dos alunos, sendo estes acompanhados por um professor orientador

durante o desenvolvimento das atividades em sala de aula. O alunos desenvolvem

atividades de ensino-aprendizagem, preservando o aspecto formativo e os

conteúdos programáticos da disciplina. O plano de trabalho deve ser aprovado pelo

colegiado do programa.

A docência superior apoia-se na dinâmica da interação de diferentes processos

que respaldam o modo como os professores concebem o conhecer, o fazer, o

ensinar, e o aprender, bem como o significado que dão a eles (ISAIA, 2005). Ensinar

e aprender se vão dando de tal maneira que quem ensina aprende, de um lado,

porque reconhece um conhecimento antes aprendido e, de outro, porque

observando a maneira como a curiosidade do aluno aprendiz trabalha para aprender

o ensinando-se, sem o que não o aprende, o ensinante se ajuda a descobrir

incertezas, acertos, equívocos (FREIRE, 2008).

Logo, a docência orientada permite ao aluno de pós graduação aplicar a teoria

aprendida nas aulas, possibilitando aos mestrandos interações e compartilhamento

de ideias e ações sobre o fazer pedagógico, reflexões sobre o ser docente e sua

pratica profissional. Corroborando, Zabalda (2004) nos diz que, como em qualquer

outro tipo de atividade profissional, os professores devem ter os conhecimentos e as

habilidades exigidos a fim de poder desempenhar adequadamente as suas funções.

Assim, o presente estudo tem o objetivo de relatar a experiência de mestrandos

do PPGEnf na elaboração e organização da disciplina de Enfermagem na

Administração dos Serviços de Saúde II, ministrada como docência orientada, e

refletir sobre a importância dos conteúdo programáticos abordados.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência, sobre a

elaboração e organização de atividades programáticas das aulas teóricas da

Page 46: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

46

disciplina de Enfermagem na Administração dos Serviços de Saúde II, ministrada no

7º semestre do curso de graduação em enfermagem da UFSM, no segundo

semestre de 2013 e segundo semestre de 2014.

A Docência Orientada I e II são disciplinas curriculares obrigatórias do

mestrado em enfermagem da UFSM, com uma carga horária mínima de 15

horas/aula cada, realizadas sob a supervisão do professor responsável pela

disciplina da graduação ou pelo professor orientador do mestrando.

A práxis da docência foi realizada por quatro mestrandos do PPGEnf, do curso

de Mestrado. Para a elaboração das atividades da disciplina, foi necessária a

apropriação de conhecimentos relacionados às temáticas desenvolvidas, a partir de

leituras de textos relacionados aos seguintes temas: Gestão, Liderança,

Governança, Mediação de conflitos, Tomada de decisão, Trabalho em equipe,

Protocolos no gerenciamento do cuidado de enfermagem e Avaliação de serviços de

saúde.

Vale ressaltar que, antes de iniciar as atividades previstas, os mestrandos

tiveram acesso ao Projeto Pedagógico do Curso, que serviu como norte para a

organização do planejamento pedagógico para as aulas da disciplina. Após o

planejamento, as atividades foram encaminhadas para a professora coordenadora

da disciplina na graduação para avaliação.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Gerência dos serviços de enfermagem, liderança, mediação de conflitos,

articulação dos processos de trabalho entre os diferentes núcleos de atividade

profissional são algumas das características do profissional enfermeiro e ações

necessárias para uma melhor qualidade da gerência de enfermagem em seu

exercício profissional. A partir de reflexões sobre os temas mencionados acima, foi

possível apropriação de conhecimentos necessários para que fosse possível

ministrar a referida disciplina.

Quando se fala em liderança, é imprescindível que se a faça uma reflexão do

ser, isto é, uma conscientização de quem somos, do que representamos, do que

compreendemos e do que interpretamos. Entende-se que liderar não é apenas uma

posição que se ocupa, mas um posicionamento perante as pessoas. Ainda, a

Page 47: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

47

maneira como o relacionamento interpessoal se faz pode determinar um vínculo de

confiança, respeito e comprometimento (MACHADO; LIMA, 2012).

As funções gerenciais desempenhadas pelo enfermeiro são voltadas para a

resolução dos problemas de saúde do indivíduo, da família e do meio ambiente. O

gerente, neste ambiente, deve atuar como um polo gerador de conhecimento,

desenvolvendo as competências, incorporando as inovações tecnológicas, definindo

suas responsabilidades, visando à promoção da saúde (FINGER; LOPEZ; LIMA,

2012).

Florence Nightingale, considerada a primeira administradora hospitalar,

demonstrou, com os resultados do trabalho que ela e sua equipe desenvolveram no

hospital militar da Criméia, a importância do conhecimento acerca das técnicas e

instrumentos administrativos para a organização do ambiente terapêutico, mediante

a divisão do trabalho desenvolvido pelas nurses (cuidado direto) e pelas ladies

nurses (cuidado indireto) e na sistematização das técnicas e dos procedimentos de

cuidado de enfermagem (SANTOS et al, 2013). Por introduzir esta abordagem

administrativa no cuidado de enfermagem, tem-se Florence Nightingale como a

precursora da administração hospitalar.

O gerenciamento do cuidado – a prática do enfermeiro – consiste em um

processo amplo, que abrange ações de cuidado, ações administrativas, quer sejam

burocráticas ou não, ações educativas e pesquisa, todas convergindo para o

benefício do paciente. É intransferível e exige um critério profissional que, desde o

planejamento até a execução, responda aos padrões éticos, jurídicos e técnico-

científicos que se alcançam com uma formação superior (SANTOS et al, 2013;

ALVES, 2006).

A liderança potencializa a coordenação e articulação das atividades que

envolvem a produção do cuidado em saúde e enfermagem, bem como dos

profissionais que a desempenham. O enfermeiro líder é o principal responsável pelo

desenvolvimento e pela organização de um ambiente que favoreça e potencialize a

qualidade dos cuidados de enfermagem. A formação de enfermeiros-líderes impera

como uma grande preocupação dos docentes de enfermagem, já que no cenário

atual necessita-se, cada vez mais, de profissionais competentes técnico-

cientificamente e capazes de gerenciar o cuidado e a equipe de enfermagem,

utilizando-se o diálogo, a ética e a humanização (AMESTOY, 2013).

Page 48: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

48

Para Santos et al. (2013), a gerência, especificamente do cuidado da

enfermagem, compreende a articulação entre o gerenciamento e as atividades

assistenciais, sendo que ambos compõem o trabalho do enfermeiro, visando à

realização de melhores práticas nos serviços de saúde por meio do planejamento

das ações de cuidado, da previsão e provisão de recursos necessários para

assistência e da potencialização das interações entre os profissionais da equipe de

saúde visando uma atuação mais articulada.

Nesta perspectiva, salienta-se a necessidade da enfermagem apropriar-se do

conceito de governança, que se constitui como um processo de ação coletiva que

organiza a interação entre os atores, a dinâmica, os processos e as regras formais e

informais por meio das quais uma organização toma e implementa suas decisões e

determina suas condutas (PIERRE; PETERS, 2000 apud SANTOS et al., 2013).

O enfermeiro como gestor e organizador de serviços de saúde, se envolve

diariamente com um conjunto de fatores que podem ser designados como conflitos

na gestão em saúde. Conforme Cecílio (2005, p. 508), “lidar com conflitos é uma

constante no cotidiano dos gerentes e da direção superior, em toda e qualquer

organização”.

Como já visto, o enfermeiro é um dos responsáveis pela assistência prestada

ao cliente e também desempenha funções administrativas e assistenciais

objetivando à realização do cuidado. Para a articulação destas funções o enfermeiro

adapta seu processo de trabalho, ao mesmo tempo que tem o usuário como eixo

central de suas ações. A tomada de decisão permeia meia o processo de trabalho

do enfermeiro, e pode ser considerada uma competência deste profissional

(ALMEIDA et al., 2011).

A tomada de decisão pode ser definida como a escolha entre duas ou mais

alternativas que permitem atingir um determinado resultado. Esta deve ser realizada

com conhecimento, racionalidade, competência e consciência, para que resulte no

alcance do objetivo esperado (MARQUIS; HUSTON, 2005).

Da mesma forma, considera-se o trabalho em equipe fundamental no processo

de trabalho do enfermeiro. Para a relação entre profissionais e trabalho em grupo,

pode ser considerando como um trabalho coletivo, que pressupõe-se a relação e a

colaboração entre os profissionais da equipe em benefício a produção coletiva da

atenção à saúde, pois esta interação auxilia no desenvolvimento com qualidade do

trabalho e atendimento (BENITO; FINATTO, 2010).

Page 49: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

49

Protocolos são as rotinas dos cuidados e das ações de gestão de um

determinado serviço, equipe ou departamento, elaboradas a partir do conhecimento

científico atual, respaldados em evidências científicas, por profissionais experientes

e especialistas em uma área. Esses servem para orientar fluxos, condutas e

procedimentos clínicos dos trabalhadores dos serviços de saúde (WERNECK;

FARIA; CAMPOS, 2009).

É necessário que o enfermeiro apreenda este conteúdo, pois a ausência de

padronização das ações significa fragilidade da gestão, podendo levar a uma grande

variação nos modos de fazer (WERNECK; FARIA; CAMPOS, 2009).

Quanto à avaliação dos serviços de saúde, esta constitui um importante

instrumento para o planejamento e tomada de decisão que possibilita a melhoria da

qualidade dos serviços (PINHEIRO; ESCOSTEGUY, 2009; TANAKA; MELO, 2001

apud KURCGANT et al., 2010); permite a orientação mais adequada dos serviços

às necessidades da população, assim como a avaliação da sua qualidade

(PINHEIRO; ESCOSTEGUY, 2009); e identifica aspectos críticos e as

potencialidades dos serviços, possibilitando a elaboração de planos de intervenção

para resolução dos problemas (BRASIL, 2009).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A apropriação de conhecimentos para o desenvolvimento da docência

orientada oferece um suporte teórico prático e embasa as ações investigativas sobre

o espaço docente e pedagógico, auxiliando no desenvolvimento do perfil profissional

exigido na docência no ensino superior.

Dessa forma, a docência orientada pode contribuir à aprendizagem dos pós-

graduandos, possibilitando-lhes o desenvolvimento profissional, permitindo que eles

atuem em diferentes tempos e espaços, visto que é uma oportunidade para aprender

a docência do ensino superior.

A docência orientada deve ser considerada um espaço de formação

profissional, que possibilita aos alunos o exercício da pratica docente, além de

possibilitar a agregação de conhecimentos, uma vez que se faz necessário sua

ampliação sobre a temática da disciplina a ser ministrada, o que é de grande valia

para o conhecimento dos alunos.

Page 50: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

50

REFERÊNCIAS

ALMEIDA M. L., et al. Instrumentos gerenciais utilizados na tomada de decisão do enfermeiro no contexto hospitalar. Texto contexto enfermagem, Florianópolis, v. 20, p.131-7, 2011.

ALVES, M.; MELLO, R. A. Trabalho em equipe entre profissionais da enfermagem em um centro de terapia intensiva. Ciência, Cuidado e Saúde, v.5, n.3, p.299-308, 2006.

AMESTOY, S. C., et al. Percepção dos enfermeiros sobre o processo de ensino-aprendizagem da liderança. Texto contexto enfermagem, Florianópolis, v. 22, n. 2, jun. 2013.

BENITO, G. A. V.; FINATTO, P. C. Competências gerenciais na formação do enfermeiro: análise documental de um projeto pedagógico de curso. Revista Eletronica de Enfermagem, v.12, n.1, p.140-9, 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Caderno de Auto-Avaliação n 5: Equipe Saúde da Família: Parte 2. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.

CECÍLIO, L. C. O. É possível trabalhar o conflito como matéria-prima da gestão em saúde? Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.21, n.2, p.508-516, mar-abr, 2005.

FINGER, A.; LOPEZ, L. F. D.; LIMA, S. B. S. de. Competências requeridas pelos gerentes de enfermagem de trabalho. Biblioteca Lascasas, v.8, n.2, 2012.

FLORES, P. P. et al. Refletindo sobre o ensino superior: a proposta de docência orientada na percepção dos estudantes da licenciatura em educação física. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 12, n. 1, p. 235-53, 2013.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2008.

INFOCAPES. Boletim Informativo da CAPES. Vol.10 - Nº 2 – Brasília, CAPES, 2002.

ISAIA, S. Ciclos de vida profissional docente: delineamento teórico-metodológico específico para professores do Ensino Superior. In: ALONSO, C. (org.). Reflexões sobre políticas educativas. Santa Maria: UFSM/AUGM, 2005, p.35-44.

KURCGANT, P. (Coord.) et al. Gerenciamento em enfermagem. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

MARQUIS, B. L.; HUSTON, C. Administração e liderança em enfermagem: teoria e prática. 4ª ed. Porto Alegre (RS): Artes Médicas, 2005.

MASETTO, M. T. Competência Pedagógica do professor universitário. 2. ed. São Paulo: Summus, 2012.

MACHADO, B. P.; LIMA, S. B. S. de. Enfermeiros gerentes no contexto hospitalar:

Page 51: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

51

uma proposta de pesquisa qualitativa. Biblioteca Lascasas, v.8, n.2, 2012. Disponível em: <http://www.index-f.com/lascasas/documentos/lc0645.php.>. Acesso em: jul. 2014.

PINHEIRO, R. S.; ESCOSTEGUY, C. C. Epidemiologia e serviços de saúde. In: MEDRONHO, R. A. et al. Epidemiologia. São Paulo: Editora Atheneu, 2009.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA. Docência Orientada I e II. Ementa. [201-?]. Disponível em: <http://coral.ufsm.br/ppgenf/disciplinas.htm>. Acesso em: set. 2014.

ZABALZA, M. A. O Ensino Superior: seu cenário e seus protagonistas. Porto Alegre: Artmed, 2004.

WERNECK, M. A. F.; FARIA, H. P.; CAMPOS, K. F. C. Protocolo de cuidados à saúde e de organização do serviço. Belo Horizonte: Nescon/UFMG, Coopmed, 2009.

Page 52: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

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A CRIANÇA EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA E A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR COMO INTERVENÇÃO PSICOEDUCACIONAL

Caroline Roso Lima1

Mariana de Almeida Pfitscher2

INTRODUÇÃO

Ao longo do seu desenvolvimento, a criança sofre influência das experiências

pessoais e afetivas transmitidas nas relações do seu contexto familiar e social. As

interferências no seu desenvolvimento, que por vezes ocorrem como situações de

violência acometidas contra a criança, as mesmas podem comprometer o gozo de

uma infância íntegra.

A infância, pensada no sujeito em formação, é uma construção diária dentro

das possibilidades culturais que atravessam esse sujeito e, como trabalhado aqui,

em situação de violência. Violência, nesse contexto estudo, entende-se

caracterizada por negligências de diferentes gêneros ou por falta de recursos por

parte do núcleo familiar e/ou da instituição escola que a criança está inserida.

Para tanto, o trabalho apresentado parte de um grupo de estudo interdisciplinar,

desenvolvido por um grupo de educadores e psicólogos (formados e em formação)

que vem buscando por meio da pesquisa qualificar sua prática. Desta forma, esta

pesquisa trata de um estudo teórico, no qual buscou problematizar a intervenção

psicoeducacional através do brincar como uma possibilidade de desenvolvimento da

criança em situação de violência, bem pensar nas possibilidades de intervenções

que atendam esta demanda.

Ressalta-se que em tempos precedentes não haviam preocupações destinadas

às implicações ao desenvolvimento da infância, bem como, a escolarização das

crianças como se observa na hodiernidade. Este estudo adotou como demanda de

investigação, crianças que se encontram expostas a situações de violência, diante

deste contexto foram analisados alguns aspectos desenvolvimentais destes

indivíduos, considerando a criança como um sujeito singular ao adulto, com

particularidades a serem asseguradas e desenvolvidas, permitindo através de um

1 Graduanda em Psicologia pelo Centro Universitário Franciscano, Santa Maria – RS. E-mail: <[email protected]>. 2 Psicóloga. Graduada pela Universidade Luterana do Brasil, Campus Santa Maria. Acadêmica do Programa Especial de Formação de Professores pela Universidade Federal de Santa Maria - RS. E-mail: <[email protected]>.

Page 53: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

53

olhar psicoeducacional que a mesma seja olhada como um todo.

Neste sentido, este estudo bibliográfico discorreu sobre os aspectos históricos

da infância, para aposteriori compreender as implicações desta etapa do

desenvolvimento quando a mesma ocorre em um contexto violento, na perspectiva

de encontrar estratégias de intervenção que minimizassem os prejuízos que a

violência pode vir acarretar no desenvolvimento da criança.

OS PARADIGMAS DA INFÂNCIA NA ATUALIDADE

Em momentos históricos precedentes ao atual o entendimento sobre a criança

se dava de forma distinta sendo tratadas como pequenos adultos, vistas como forças

produtivas de trabalho. Assim, estas desempenhavam atribuições semelhantes a dos

adultos, sendo capacitadas para realizar atividades onde estes eram incapazes em

virtude de seu porte físico (AIRÈS, 1978). O autor mostra ainda que não havia

cuidados especiais a estas como observamos hoje, tampouco a sociedade se

preocupava com questões referentes ao desenvolvimento infantil e/ou a participação

das crianças na escola. Neste período, os ambientes educacionais ofereciam

apenas cuidados as crianças, ou seja, estas não eram estimuladas a pensar e a agir,

e sim treinadas para o trabalho repetitivo, sem autonomia e sem criticidade. A

educação era um direito apenas das classes abastadas da sociedade, os demais

eram vistos, como força de trabalho, não tendo a educação como prioridade.

Ao longo dos tempos este cenário foi se modificando e hoje a criança é

percebida como um sujeito singular ao adulto, com necessidades e particularidades

a serem asseguradas e desenvolvidas. Associada a estas percepções se constitui

um conceito/representação para esta etapa chamada infância. Airès (1978) dizia em

suas pesquisas que a infância foi uma invenção da modernidade, deixando clara a

tessitura de que esta nada mais é do que um construto social.

Portanto, ao considerarmos que os fatores socioculturais são determinantes

críticos do comportamento humano, verifica-se que ao longo da história existiram

várias formas de ser criança e de viver a infância, pois a organização de cada

cultura atribuí tal representação. Na sociedade moderna, percebe que ao distanciar

as crianças dos adultos, se idealiza um modo de ser criança, de viver a infância e

modelos que fogem a este perfil pré-estabelecido “precisam” ser dotado de um

diagnóstico. Um modelo o qual, nas formulações hodiernas, apresenta-se com

Page 54: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

54

características próprias, entre elas, a inocência, fragilidade, imaturidade,

naturalmente boas, crianças que são perspectivas de um futuro digno (BUJES,

2005).

A representação sobre a infância no século XXI, ainda embasada pelas

concepções modernas, é permeada por um mundo inexiste à maioria, na medida em

que significa um período cuja felicidade é plena, onde as atribuições das crianças

circunscrevem as brincadeiras, a escola, os cuidados da família, sendo considerado

o “período mais feliz” do ciclo da vida. No entanto, este conceito é definido com

bases nas vivências de uma minoria privilegiada. Scliar (1995, p.4) nos traz o

pensamento “[...] não são todas as crianças que se encontram neste país mágico da

infância. [...] Esta condição rodeia grandes cidades, e seu espaço mágico da

infância, se alastra em caçadas por automóveis, pés ao asfalto” (SCLIAR, 1995).

Diante das palavras do autor convidamos a pensar sobre em que país vive as

crianças cujo um lar não possuem, tampouco fazem parte de uma estrutura familiar

organizada? A realidade é que não existe possibilidade de discutirmos sobre uma

infância, mesmo que estejamos falando de um mesmo momento histórico, pois as

crianças são reflexos das suas vivências, das suas relações, da sua cultura e esta,

por sua vez, não é única, mas múltipla.

OS ASPECTOS DESENVOLVIMENTAIS DA CRIANÇA EM SITUAÇÃO DE

VIOLÊNCIA

As diferentes formas de violências cometidas contra crianças em situação de

risco, entre elas a violência física, negligência e violência psicológica, maus tratos e

abusos nas inter-relações familiares, podem causar possíveis implicações no

desenvolvimento potencial da criança, incluindo os aspectos educacionais,

cognitivos e emocionais (ASSIS; AVANCI; PESCE; XIMENES, 2009), deste modo, a

criança que tem sua infância marcada por situações violentas, traumatizantes pode

apresentar prejuízos no seu desenvolvimento.

As primeiras fases do desenvolvimento emocional estão repletas de conflitos e

potenciais e, a relação da realidade externa com o desenvolvimento emocional da

criança mostra que a criança negligenciada através da violência, sente-se insegura e

“procura fora de casa às quatro paredes que lhe faltaram” (WINNICOTT, 1975, p.

257), mostrando assim as dificuldades enfrentadas no desenvolvimento de crianças

Page 55: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

55

em situação de violência. Diante desta perspectiva, podemos referir que, as crianças

menos privilegiadas socioeconomicamente, ao não dispor de um ambiente

considerado adequado, tais como com condições favoráveis de moradia,

alimentação, socialização, afetividade, tendem a necessitar de um controle externo

para satisfazer suas necessidades pulsionais, emocionais e cognitivas, para que

essas facilitem o seu desenvolvimento. Assim, ao intervir com crianças carentes ou

em situação de violência, percebe-se a importância de avaliar o contexto de inserção

desta, bem como os fatores influenciadores nos aspectos do desenvolvimento

(WINNICOTT, 1975).

Desta forma, compreende-se que o período desenvolvimental da criança sofre

a influência de fatores internos e externos que provocam variações de um indivíduo

para outro, tais fatores são fundamentais ao desenvolvimento infantil – neste

trabalho nos referimos a criança no aspecto vulnerável e em situação de violência -

o que não é considerado pelas autoras como um ambiente suficientemente bom,

negativando os aspectos positivos de um ambiente saudável de crescimento

maturacional (WINNICOTT, 2001).

Diante das nossas perspectivas, um ambiente considerado positivo para o

desenvolvimento infantil é aquele em que as falhas podem acontecer, mas são

amparadas através de um mecanismo denominado holding3 – suporte após as

frustrações. Desconsiderando a existência desse ambiente e do holding as

consequências das falhas para a saúde psíquica da criança podem estar

relacionadas com o momento em que acontece, que parte do pressuposto

winnicottiano da dependência relativa até a independência emocional da criança. O

autor traz ainda o conceito onde remete a importância desses processos – mesmo

sendo marcados por falhas, afirmando que quando existem condições adequadas, a

criança pode vir a ampliar de maneira favorável o desenvolvimento integral

(WINNICOTT, 1987).

A partir da análise, pensa-se na constituição dos processos simbólicos e

psicológicos aplicados no desenvolvimento da criança que está em um ambiente não

considerado saudável, ou suficientemente bom para seu desenvolvimento. Essas

crianças tendem a reproduzir sua vulnerabilidade na forma mais primitiva em que

3Holding para Winnicott (2001) é a sustentação que a mãe dá a criança nas suas primeiras ansiedades e necessidades básicas, compreende, então a figura materna como um ego auxiliar no desenvolvimento da criança.

Page 56: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

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encontram – através da agressividade, perturbações, dificuldades pessoais,

educacionais e emocionais. Considerando paradigmas e índices de violência com

crianças, compreende-se a dedicação a estas enquanto prevenção e promoção

frente a situações de riscos, visando incentivar seu protagonismo e colaborando

para que se reconheça enquanto sujeito desejante e constituinte do campo social

(WINNICOTT, 2001).

Entende-se que um trabalho com crianças em situações de risco demanda a

transmissão de valores, além daqueles as quais tem acesso, que perpassam pela

sua cultura de origem, permite proporcionar as crianças o conhecimento de

escolhas. Jerusalinsky (2002) afirma que a criança inserida em cada família possui

valores muito particulares, é deste ponto que o estudo visa atender crianças que

encontram-se em situação de vulnerabilidade, seja através de perdas físicas ou

psíquicas, carências, falta de investimentos afetivos, dificuldades escolares e

situações de violência. Assim, as crianças em situação de risco e inseridas no

contexto educacional devem buscar por si, permeando um campo, uma linha tênue

ao fracasso que se vê ante a cada desejo próprio deparando-se com a

impossibilidade de realizações. Diante disto, psicoeducar reflete em abrir uma

brecha, abrir uma porta, para que a criança não fique condenada ao anonimato e

para que seja capaz de formular seu desejo, exercendo seu protagonismo, na sua

maneira particular de circular e incluir-se socialmente.

UMA ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO PSICOEDUCACIONAL: POSSÍVEIS

PRODUÇÕES SIMBÓLICAS POR MEIO DO BRINCAR

O brincar está estritamente relacionado com a infância e sua função é

essencial para o desenvolvimento integral da criança. Ao brincar, esta estimula à sua

imaginação, criatividade, motricidade, espírito de cooperação, fortalece vínculos,

raciocínio, memória, aprendizagem, segurança, desenvolve potencialidades, tanto

outros benefícios por meio de construções simbólicas. Além disso, o brincar é um

direito, conforme estabelecido no Estatuto da Criança e do Adolescente, art. 16, item

IV – brincar, praticar esportes e divertir-se.

É no brincar que muitas crianças fantasiam a sua realidade, por vezes, árdua e

difícil, em meio à violência e situações sofridas vivenciadas em seu cotidiano, o que

de acordo com WINNICOTT (1965, p. 161), “dão escoamento ao ódio e à agressão”.

Page 57: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

57

Neste sentido, é através do brincar que a criança que sofre ou sofreu algum tipo de

violência, a esquece, embora, temporariamente, deixando para trás o véu da tristeza

e da dor, dando lugar a imaginação e a fantasia, propiciando momentos de alegria e

de prazer, vivendo a sua infância em toda a sua plenitude.

Neste sentido, o brincar não deve ser visto como um passatempo, como uma

atividade sem objetivo, sem importância, e sim como recurso de desenvolvimento

infantil, onde a criança constrói conhecimentos, age e interage com outras crianças,

movimenta-se, explora, pensa, imita, experimenta o novo e reinventa o que já

conhece. É a partir da fantasia que a criança vivência as diferentes emoções,

exterioriza sentimentos, construindo a razão. Suas brincadeiras proporcionam o seu

desenvolvimento completo, sonhando, experimentando diferentes papeis que

compõem a sociedade, a fim de constituir-se como um adulto experiente, que valora

as emoções, que utiliza da criticidade acerca das suas responsabilidades

(VYGOTSKY, 2008).

Aos olhos das crianças, o brincar é o que há de mais importante para fazer, por

isso acreditamos que deve-se integrar esta ação á aprendizagem e outros possíveis

aspectos favoráveis ao desenvolvimento, como método de intervenção

psicoeducacional. Nos aspectos do desenvolvimento psicológico o brincar aparece

como um “resultado” de uma elaboração da realidade muitas vezes dura e difícil,

sendo dado no tempo e no espaço em que a criança se desenvolve. Deste modo,

Winnicott nos diz que (1975, p. 79) “é no brincar, e talvez apenas no brincar, que a

criança ou adulto fruem sua liberdade de criação.”

O processo de aprendizagem e da subjetividade provém das representações

do indivíduo. Esses dois eixos, quando juntos em um contexto de escola informal,

são estimulados de forma a despertar o interesse, a curiosidade e a criatividade,

além de trabalhar formas de produção de conhecimento e crescimento. Através do

brincar pensa-se na criança criando possibilidades de experimentação a novas

formas de ação, através do exercício do ser criativa, imaginativa e situacional,

reproduzindo momentos e interações importantes de sua vida, ressignificando-os. O

brincar a partir dos jogos e das brincadeiras são formas de demonstração das

vivências prazerosas e desprazerosas no qual se reconhecem sobre o mundo e a si

mesmo, o que contribui para um enfrentamento através de recursos próprios no

desenvolvimento cognitivos e afetivos – além de propiciar a aprendizagem

(PEDROZA, 2005).

Page 58: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

58

São estas produções que emergem as condições mínimas para se comunicar,

é através do brincar que é demarcada a borda ou porta simbólica para transitar entre

o familiar e o social, a estabilidade dos significantes inseridos na criança se dará

através da palavra, do olhar, do discurso simbólico que muitas vezes é ausente ou

escasso nas condições que as crianças se encontram, quando pensamos no âmbito

da violência (MOLINA, 2011). Esta autora afirma que é por meio do brincar que a

criança mantém seus laços e permite a construção de significantes daquilo que ela

vê, buscando maneiras subjetivas de aliviar seu desconforto, é por meio deste

brincar que a criança adquire competências para continuar indagando seus ganhos

simbólicos.

Rosa (2011) pontua a ideia de educação estruturante, visando intervenções

que possibilitassem as crianças deslocarem seus sintomas e angústias para o

brincar, bem como construir junto aos educadores e pais suas funções e

diferenciações no campo educativo, familiar e escolar. Se tratando de pensar a

educação de um modo amplo, não somente desenvolvimentista e educacional, mas

sim que os cuidados também tenham funções estruturantes, sejam estes cuidados

simbólicos que encontram suporte nas inscrições significantes que a criança

circunscreve naquele espaço.

Deste ponto, compreende-se a importância da interdisciplinaridade pensando

através do brincar a possibilidade de uma educação estruturante, propondo a ideia

de ter o olhar dirigido a aspectos de desenvolvimento como um todo da criança, sua

estruturação psíquica, orgânica e suas articulações (ROSA, 2011). A autora

compreende que a educação estruturante consiste em detectar sinais de angústia ou

inibição no brincar e no aprender, por exemplo, o educador pode intervir,

promovendo o deslocamento desta angústia para um brincar com jogo estruturante

ou para o criar, para num segundo momento produzir efeitos em sua aprendizagem

e desenvolvimento.

Esta forma de intervir baseada nas concepções da educação estruturante, visa

aprimorar algo que por vezes pode impedir a criança de se desenvolver. Contudo,

mediante estas intervenções devem ser ressaltadas a intermediação do educador,

para que não seja apenas uma atividade pedagógica, mas algo que circunde pelo

significante simbólico, onde estará sendo inferido e registrado algo. Rosa (2011)

afirma que a educação sendo sistemática ou assistemática produz efeitos de

inscrição significante nas crianças pequenas, pois educar e cuidar se perpassam e

Page 59: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

59

tornam-se funções que estão diariamente no discurso dos educadores. Neste

sentido, neste laço com as crianças pode haver um ordenamento simbólico, pois há

possibilidades de intervenções nos processos subjetivos e na promoção de um olhar

singular, incluindo intervenções diárias que permitem o brincar e aprender nesta

forma de educação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A integração das diferentes áreas do saber permitiram circular por novas

possibilidades de intervenções psicoeducacionais com crianças em situação de

violência. Neste mesmo sentido, o estudo se delineou a partir de um principio

embasado nos aspectos desenvolvimentais, onde foi realizada uma construção

teórica sobre o resgate da infância, o qual a posteriori abrangeu aspectos

recorrentes à exposição da criança a situações de violência. Assim, perpassou pelas

possibilidades de reconstruções simbólicas, onde o brincar enquanto estratégia de

intervenção visou o fortalecimento das potencialidades da criança desprovida de

recursos ambientais e psicológicos para propiciar o desenvolvimento íntegro, pois o

comportamento das crianças é influenciado pelas situações concretas que a mesma

vivencia.

Diante desta perspectiva percebemos que as crianças, as quais sofreram ou

sofrem algum tipo de violência, já citadas anteriormente neste artigo, as reproduzem

ou demonstram ao brincar, por meio das representações simbólicas, sejam elas, da

linguagem, do jogo corporal, e principalmente através da brincadeira de faz de conta,

onde exterioriza seus sentimentos e experiências. Assim, o que as crianças

imaginam ou fantasiam, podem demonstrar através das representações simbólicas

exteriorizadas por meio do brincar, e o envolvimento com a fantasia contribui para a

concretização dos desejos afastados da sua realidade.

Deste modo, este estudo acenou para as intervenções psicoeducacionais –

psicologia e educação - como ferramentas que podem oferecer suporte às situações

que fragilizam o crescimento destas crianças, a fim de estabelecer subsídios ao

desenvolvimento educacional e psicológico destes sujeitos considerados em

situações de violência. Neste mesmo sentido, a educação estruturante, proposta por

Rosa (2011) perpassa o brincar como possibilidade de desenvolvimento da criança,

onde o educador pode vir a atuar de forma extensiva, qual seja na ampliação do

Page 60: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

60

olhar destinado a essa criança, considerando o contexto o qual está inserida,

promovendo inferências ao seu desenvolvimento. Assim, no brincar existe uma

possibilidade, a qual não se restringe apenas ao campo da educação ou ao da

psicologia, não se tornando uma atividade sem mediação, mas uma intervenção

possível no campo da psicoeducação, favorecendo o desenvolvimento da criança

que corresponde a esta demanda.

REFERÊNCIAS

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61

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Page 62: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

62

DO DIREITO A PARTICIPAÇÃO À ESCUTA DAS CRIANÇAS NO CONTEXTO DA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Diana Vandréia Dal Soto1

INTRODUÇÃO

As reflexões que perpassam a construção deste texto unem tanto as minhas

experiências com a prática pedagógica, quanto as provenientes das pesquisas,

através das quais me dediquei a escutar as crianças. Parto do princípio de que as

“crianças são cidadãs, pessoas detentoras de direitos, que produzem cultura e são

nelas produzidas” (KRAMER, 2007, p. 15) e na defesa do direito das mesmas serem

escutadas nos processos educativos de que fazem parte, efetivando-lhes o direito de

participação. Nesse sentido, busco amparo em documentos legais e publicações

teóricas que defendem os direitos das crianças e evidenciam suas potencialidades

como sujeitos ativos dos processos educativos e de suas aprendizagens, conforme

apontam os estudos de Edwards et. al (1999); Fernandes (2007) e Oliveira-

Formosinho (2008; 2007).

Tais experiências e estudos me permitiram revelar as potencialidade das

crianças e enfatizar a necessidade de criar campos interativos e desafiadores para a

participação ativa das crianças, tornando-as protagonistas dos processos que a elas

se destinam, na educação infantil. Nesse sentido, favorecer o acesso à cultura, a

partir das suas diferentes formas de expressão e de vivências com as diferentes

linguagens, formas pelas quais as crianças pequenas acessam e compreendem o

mundo.

Os direitos das crianças são conquistas obtidas em longo prazo, as quais estão

diretamente associadas às transformações que foram ocorrendo nas sociedades.

Nesse ínterim, movimentos de variados setores geraram espaço para a construção

da concepção e imagem que se tem hoje de criança, que coloca em evidencia suas

necessidades e direitos, os quais passam a ser teorizados e ganham espaço nas

legislações educacionais. Contudo, ainda existem barreiras no que se refere à

materialização desses direitos na prática, especialmente, quando se trata do direito à

participação, tendo em vista as dificuldades que a escola e seus profissionais

1 Pedagoga. Especialista em Gestão Educacional (CE/UFSM). Mestre em Educação (PPGE/UFSM).

E-mail: <[email protected]>.

Page 63: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

63

enfrentam no sentido de compreender e construir práticas mais democráticas, para

conviver e educar as crianças pequenas.

O direito à participação é um dos direitos das crianças, no entanto, esse é

menos colocado em prática que os demais direitos, no que diz respeito à proteção e

provisão.2 Tais evidências nos convidam a problematizar: como o direito à

participação pode sair dos textos teóricos e legais para tornar-se realidade nas

práticas de atendimento à infância? Essa questão lança-nos o desafio de buscarmos

estudos que auxiliam na compreensão das condições práticas de efetivação deste

direito às crianças, promovendo suas participações em interação com os demais

sujeitos que fazem parte dos seus cotidianos de vida na escola e, por conseguinte,

caminhar na construção de práticas com mais qualidade. É nesse movimento que

inscrevo a escrita deste texto.

A seguir, busco expandir estas ideias, com o devido apoio teórico, bem como

embasada nas experiências que já vivenciei junto às crianças na prática pedagógica

ou na pesquisa, refletindo sobre a efetivação do direito à participação, escuta e

envolvimento das crianças como processos centrais na concretização de práticas de

qualidade na Educação infantil. Nesse sentido, inicio falando sobre a participação e

escuta das crianças na (s) pesquisa (s), considerando que este texto também leva

em conta experiências de investigações que desenvolvi. Na sequência, encaminho

as reflexões e discussões, partindo dos direitos das crianças, evidenciando suas

possibilidades à participação e à importância de serem escutadas nos processos

educativos em que estão inseridas na escola. Finalizo as reflexões da escrita, ao

defender a promoção de práticas pedagógicas que compreendem a criança, como

sujeito de direitos e criem condições para que os processos sejam partilhados com

elas.

AS CRIANÇAS, SUJEITOS PARTICIPANTES NA INVESTIGAÇÃO

Considerando que este texto toma também como base experiências com a

pesquisa realizada com as crianças, torna-se necessário explicitar as indicações

metodológicas que incorrem no exercício de escuta das mesmas na(s) pesquisa(s).

Os fundamentos metodológicos que embasam as investigações referidas nesta

2 No corpo do texto faço diferenciações no que se constituem estes direitos.

Page 64: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

64

escrita, voltadas ao publico de 4 a 5 anos e atendidas em escolas de Educação

Infantil do município de Santa Maria/RS, estão alicerçados na perspectiva qualitativa

de pesquisa. Nesta perspectiva tenho buscado apoio na Teoria Histórico – Cultural,

mais especificamente, à luz de Vygotsky (2003; 1995) e Leontiev (2010; 1978),

através dos quais me desafio na elaboração de estratégias e procedimentos

metodológicos que permitem a interação com os sujeitos (as crianças) e no registro

de suas contribuições.

Oliveira - Formosinho e Araújo (2008) salientam que a participação efetiva das

crianças nas pesquisas pode ser promovida através de diferentes formatos de

escuta, por meio da observação e registro, documentação fotográfica, a partir da

análise das produções realizadas por elas ou entrevistas. Refletindo dentro desse

quadro de possibilidades e com apoio na perspectiva teórico-metodológica

explicitada interiormente, tenho optado pela observação participante e utilização de

registros fílmicos, fotográficos, e em diário de campo, registrando a realidade vivida

pelas crianças na escola, a fim de conhecê-las e estudá-las nestes processos.

Na sociedade contemporânea, as crianças têm ganhando espaço como

sujeitos participantes das investigações voltadas a estudá-las, e com vistas a

compreender os processos educativos nas instituições de atendimento à infância.

Nesse sentido, Oliveira-Formosinho e Araújo (2008) relatam investigações, que se

ocuparam em compreender as crianças, suas participações e visões sobre questões

que vivenciam na escola, as quais revelam a competência e os conhecimentos que

elas possuem a acerca da vida cotidiana das quais fazem parte, inclusive nas

percepções sobre o desempenho de seus educadores e metodologias utilizadas por

eles em suas práticas.

No âmbito destas construções, compreendo que eleger as crianças como

sujeito participante das pesquisas voltadas à educação que a elas se destina é uma

questão social, política e científica. Contar com suas participações é reconhecê-las

que são sujeitos sociais de pleno direito, competentes para falar de si mesmas e da

instituição educativa que diariamente frequentam. É nesse contexto que são criadas

as condições para escutá-las e considera-las sujeitos nas investigações.

Page 65: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

65

DO DIREITO À PARTICIPAÇÃO AO EXERCÍCIO DE ESCUTA NAS INSTITUIÇÕES

ESCOLARES PARA A PEQUENA INFÂNCIA

Os direitos das crianças nas legislações brasileiras são reconhecidos a partir

de um longo processo de movimentos, negociações, propostas pedagógicas,

reformulações teóricas e legais, os quais acarretam também na mudança de

concepções e entendimentos sobre o “ser criança”. É com a Constituição Federal de

1988 que a criança passa a ser legalmente um sujeito de direitos, garantido assim o

seu direito à educação. Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988, o Estatuto

da Criança e do Adolescente (ECA), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB/96), dentre outras legislações decorrentes, garantem às crianças o

direito a Educação Infantil, e normatizam o seu atendimento em creches e pré-

escolas.

Atualmente, a concepção de criança expressa nas Diretrizes Curriculares

Nacionais para Educação Infantil (DCNEI/2010) define-a como sujeito histórico e de

direitos que constrói sua identidade pessoal e coletiva, através das interações e

relações que vivencia nas práticas cotidianas, quando brinca, imagina, fantasia,

deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e, por meio dessas,

constrói sentidos sobre a Natureza e a sociedade, produzindo cultura. Nesse

sentido, o documento orienta as instituições de Educação Infantil a tomarem as

crianças como centro do planejamento curricular, e com isso fortalecer espaços de

relações e trocas entre e com as crianças, possibilitando às mesmas ampliar e

enriquecer suas vivências de mundo.

Subjacente a estas orientações também se inscreve no direito a educação

infantil, a exigência ao direito de qualidade no atendimento às crianças, ao respeito

as suas necessidades de desenvolvimento e aprendizagem, e de serem ativas no

acesso aos seus conhecimentos. Para isso, nas relações que estabelecemos com

elas, precisamos levar em conta que possuem “desejos, ideias, opiniões,

capacidades de decidir, de criar, de inventar, que se manifestam, desde cedo em

seus movimentos, expressões, no seu olhar, nas suas vocalizações, na sua fala”

(DIAS & FARIA, 2012, p. 56).

De acordo com Dias e Faria (2012), afirmar que a criança é um cidadão de

direitos “é considerar que, independente de sua história, de sua origem, de sua

cultura e do meio social em que vive, lhe foram garantidos legalmente direitos

Page 66: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

66

inalienáveis que são iguais para todas as crianças” (p. 57). Nesse sentido, as

práticas pedagógicas, na Educação Infantil, precisam estar pautadas na

multiplicidade de experiências, e na proposição de ações interativas que busquem

salvaguardar a todas as crianças, em suas diferenças e necessidades, seus direitos

de participar e aprender, construindo um contexto educativo, dialógico e participativo.

No geral, a concepção de criança sujeito de direitos abarca, em termos legais,

que esta tem direito à proteção, que se refere ao direito da criança ser resguardada

contra negligência, abuso, exploração e todos os tipos de violência; que ela tem

direito à provisão, resguardando à criança ser provida de cuidados, alimentação e

educação; e também direito à participação, que corresponde ao direito da criança

ser ativa na tomada de decisões que afetam a sua vida (SOUZA et al, 2010).

Desta forma, os direitos à participação correspondem a um dos direitos das

crianças, entretanto, como destacam as análises feita por Sousa et. al (2010), estes

são menos enfatizados e colocados em prática do que os direitos de proteção e

provisão, mesmo diante dos avanços que têm ocorrido no curso das últimas

décadas. Estes têm identificado e enunciado meios emancipatórios, experiências,

iniciativas e lutas por/com/das crianças, o que contribui para a progressiva inclusão

das crianças na agenda sociopolítica mundial, embora tal efetivação ainda ocorra em

passos.

Nesse contexto, o reconhecimento e a efetivação dos direitos da criança à

participação encontram alguns obstáculos, pois há divergências entre as

perspectivas que apoiam os direitos de proteção e de participação das crianças. Por

um lado, há a defesa da criança como dependente de proteção do adulto e incapaz

de assumir responsabilidades; por outro, a concepção da criança como sujeito de

direitos, o que inclui “o direito a participação nas decisões que afetam a sua vida”.

(FERNANDES, 2007, p. 246). A essa imagem da infância participativa, que

reconhece a necessidade de proteção às crianças e, ao mesmo tempo, considera

suas capacidades de agir e intervir no social, associa-se a ideia de

‘interdependência’ e ‘inter-relação’ entre os diferentes direitos da criança.

A defesa de um paradigma que associe direitos de proteção, provisão e participação de uma forma interdependente, ou seja, que atenda à indispensabilidade de considerar que a criança é um sujeito de direitos, que, para além da proteção, necessita também de margens de ação e intervenção no seu cotidiano, é a defesa de um paradigma impulsionador de uma cultura de respeito pela criança cidadã: de respeito pelas suas vulnerabilidades, mas de respeito também pelas suas competências.

Page 67: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

67

Possibilidades

É possível, através de meios apropriados à compreensão das crianças, sempre informá-las e escutar suas opiniões sobre os acontecimentos na escola, uma vez que possuem tal direito. Além do mais, quando se trata de um acontecimento como as eleições para diretor, cujas decisões estão diretamente relacionadas à educação e bem estar delas na escola. É um fato que não pode passar despercebido às crianças, e sim necessitam tomar conhecimento e serem oportunizadas a compartilhar desse movimento escolar. Nesse sentido, é preciso haver uma organização sistemática por parte da escola, seus gestores e educadores, buscando o envolvimento das crianças nos acontecimentos e decisões, preparando-se para responder ou mediar respostas de forma adequada a seus questionamentos, sem negar-lhes informações. A exemplo desse caso em que as crianças foram escutadas e envolvidas em reinvindicações junto à equipe diretiva, no atendimento do que era necessário para elas, muitas outras questões podem assim ser encaminhas, na interação com seus pares e com os adultos. Assim, a participação e o envolvimento das crianças podem ser considerados, tanto na organização, definições e encaminhamento para melhor atender suas necessidades e interesses no que dizem respeito ao espaço escolar macro, quanto ao espaço micro (sala de aula): escolha de materiais, organização e utilização de espaços, passeios, definição de rotinas, temas de estudos, escolha de atividades, etc.

(FERNANDES, 2007, p. 250)

Nesse sentido, diferentes situações se apresentam nas práticas que tenho

vivenciado como oportunidades na ampliação das experiências de participação das

crianças, algumas identificadas e conduzidas pelos educadores e gestores,

favorecendo a inclusão das crianças nas decisões, outras passam despercebidas ou

não são consideradas como o devido valor no favorecimento as suas participações.

Exemplifico com duas situações organizadas no quadro 01, as quais me permitem

refletir sobre a dimensão de eventos recorrentes na escola, frente às iniciativas e

necessidades demarcadas pelas crianças, que podem estar se tornando

possibilidades de promover suas participações e, consequentemente, viabilizar

espaços para serem protagonistas.

Quadro 1: No exercício do direito à participação

Fonte: Elaborado pela autora a partir das vivências nas pesquisas.

Situações

A criança percebe uma movimentação diferente na escola (dia de eleições para diretor) e questiona o que está havendo, a educadora despista a pergunta e não a deixa a par do acontecimento real; com isso, é possível perceber que as crianças da turma não haviam sido informadas e nem envolvidas em tal processo.

As crianças da pré-escola fazem comentários insatisfatórios com relação à pracinha da sua escola (brinquedos quebrados, não adequados aos seus tamanhos, expostos ao sol, etc.). A professora responsável pela turma abre espaço para escutar estes anseios, os registra, e, juntamente com elas, encaminha à equipe diretiva da escola. Essa procura dialogar com as crianças e, entendendo a necessidade apontada, busca priorizar, na aplicação de recursos, a construção de uma nova pracinha. Todo o processo foi acompanhando pelas crianças.

Page 68: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

68

Os exemplos em destaque representam movimentos amplos no sentido de

envolver a participação ativa das crianças, como também localizam possibilidades,

através das quais elas podem estar sendo oportunizadas a participar de questões

específicas do trabalho pedagógico, no planejamento e condução da aula. De toda

a forma, envolver as crianças nos processos educativos, exige atenção constante

dos adultos que com elas se relacionam, prestando atenção em todos os seus

movimentos e situações que estão envolvidas e não necessariamente na criação de

espaço específico para questioná-las e saber das suas opiniões.

Araújo e Andrade (2008) elucidam, a partir de seus estudos, movimentos pelos

quais podemos efetivar a participação das crianças nas práticas educativas, escola e

sala de aula, valorizando e respeitando as diferenças individuais das crianças.

Assim, os referidos autores mostram que o direito à participação se concretiza, a

medida que os interesses e preferências das crianças forem consideradas, quando

valorizadas em suas competências individuais; ao criar espaço para a partilha de

experiências, na expressão de suas iniciativas e ao dar respostas a estas, bem

como, ao favorecer-lhes o bem estar e autoestima. No que tange essas

possibilidades, Oliveira - Formosinho e Lino (2008) pontuam:

Se queremos contribuir para o desenvolvimento cívico de cidadãos participativos desde os anos de infância, temos que saber construir um cotidiano dialogante nas instituições de educação da infância, um cotidiano onde a prática de escuta ao outro é sustentada, onde escutar as crianças não é um processo seletivo do que nos interessa ouvir, mas um processo aberto, sentido como necessário, desafiante e ético. (p. 71).

Assim, a imagem da criança participativa será consolidada na medida em que

os processos de participação, em seus cotidianos na escola, sejam organizados de

forma sistemática, pautados na observação, escuta, negociação e documentação

dos processos com elas. Para que isso seja estabelecido é essencialmente

importante desenvolver o respeito por suas opiniões e garanti-lhes a liberdade para

expressarem-se, questionarem e opinarem; proporcionar-lhes informações sobre as

situações que ocorrem no meio de convivência, com orientações adequadas as suas

compreensões. E, portanto, com atenção e respostas as iniciativas e necessidades

das crianças, é possível transformar as práticas educativas/pedagógicas em

atividades compartilhadas, onde ambos, crianças e adultos, são protagonistas

destes processos.

Page 69: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

69

REFLEXÕES CONCLUSIVAS

Os argumentos expostos e problematizados através deste texto nos permitem

compreender que, a fim de construir uma Educação Infantil de qualidade, é preciso

que a criança seja considerada sujeito de direitos, estando ao centro do

planejamento curricular, e que os educadores consigam promover experiências de

aprendizagem pautadas pela observação sistemática do desenvolvimento,

autonomia, interesse e curiosidades das crianças. Nesse sentido, a observação e

escuta atenta são processos educativos elementares, que favorecem na construção

da imagem de criança como ativa, competente e com direitos, favorecendo também

na negociação, que acontece por meio de uma relação dialógica entre adultos e

crianças, sendo imprescindível na construção de espaços de liberdade de expressão

e participação da criança.

Sendo assim, ao concebermos em termos teóricos e legais a criança sujeito de

direitos, precisamos também estar engajados, como profissionais responsáveis pela

educação de crianças, na responsabilidade de construir um ambiente educativo que

respeite e promova tais direitos. Nesse propósito, fica o convite, através das

palavras de Malaguzzi, a pensarmos “uma escola para crianças pequenas como um

organismo vivo integral, como um local de vidas e relacionamentos compartilhados

entre adultos e crianças” (1999, p. 72). É uma construção que ainda requer nossos

esforços, para tornar-se realidade nos cotidianos de vida coletiva das escolas de

Educação Infantil.

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Page 71: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

71

O PROFESSOR CRÍTICO REFLEXIVO NA EDUCAÇÃO DO CAMPO

Marisa Dal’ Ongaro1

Gerson Jonas Schirmer2

INTRODUÇÃO

A partir do momento que há uma reflexão sobre a prática o educador

desenvolve-se tanto no aspecto pessoal quanto intelectual, porém é necessário que

se conheça a si mesmo e compreenda suas ações para efetivamente refletir sobre

sua prática. Percebe-se que é necessária uma reflexão coletiva que é desenvolvida

através de um processo aberto e contínuo de discussões que abrange toda a escola,

analisando como está o desenvolvimento de suas ações, quais os seus objetivos, o

que tem favorecido o processo de ensino-aprendizagem, o que tem prejudicado, o

que precisa ser revisto ou que alterações são necessárias.

Nesse sentido, esta pesquisa possui como problemática a falta de informação

sobre a educação do campo, bem como subsídios teórico e prático para qualificar a

formação dos professores para este meio de atuação, diante da descontextualização

na implementação das escolas núcleo no município de Agudo-RS.

Alguns educadores que lecionam no campo estão muito enraizados na cultura

da cidade, onde na maioria dos casos costumam viver. No campo, é preciso que se

oportunize um ensino relacionado com as atividades que as crianças vivenciam no

cotidiano. Assim, busca-se uma escola com os ideais que se assemelham com a

“Escola Plural” de Arroyo:

Tenho sido perguntado por que o nome Escola Plural. A escolha do nome tenta incorporar a procura pedagógica de uma docência aberta à pluralidade de saberes e de aprendizagens, à pluralidade de dimensões do desenvolvimento humano, da formação dos educandos e dos educadores (ARROYO, 2002, p. 71).

Um dos eixos dessa Escola Plural era a sensibilidade com a totalidade da

formação humana, que buscava uma abertura a cerca dos conteúdos da docência.

Entende-se que o educador não deve restringir-se apenas a área pela qual é

formado, mas deve atuar correlacionando as diferentes realidades dos educandos 1Acadêmica do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria. Email: <[email protected]> 2 Prof. Universidade do Oeste de Santa Cataria; Doutorando em Geografia na Universidade Federal de Santa Maria. Email: <[email protected]>

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refletidas em sua cultura. Arroyo desenvolve então uma crítica em relação a esse

sistema escolar que tem perdido sua pluralidade de funções socioculturais.

Essa critica é fortalecida com a lei nº 9394/96 que tem como contribuição a

incorporação de uma concepção ampliada da educação, destacando em seu 1º

artigo que:

A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (BRASIL, 2010).

Nesse sentido, esta pesquisa tem como objetivo refletir a cerca da atuação dos

professores da rede de ensino no município de Agudo-RS. Com esta investigação

espera-se produzir informações úteis para a elaboração de políticas educacionais,

por parte da secretaria do município, que sejam capazes de favorecer o ensino-

aprendizagem dos educandos das escolas do campo. Nesse sentido, de acordo com

Wizniewski (2010), o papel dos educadores do campo, é de possibilitar dinâmicas

pedagógicas que resgatem a cultura e o significado de se viver no campo com

dignidade e de forma sustentável.

Considerando que a finalidade da educação é desenvolver a plenitude do

educando, torna-se papel do educador ampliar as dimensões de seu ensino, de

forma que seja possível englobar os saberes do campo e a construção de

identidade. A partir disso, Piaget (1967, apud Ribas, 2014), escreve que o que

desenvolve a criança é as dificuldades e os desafios propostos.

O DESAFIO DE PLANEJAR E REFLETIR SOBRE A PRÁTICA

Acredita-se que o processo de alfabetização deveria ocorrer a partir de

“movimentos amplos” que no meu entendimento é o processo de entender o

passado para compreender o presente e planejar o futuro. Somente através desse

movimento passa-se a participar política e pedagogicamente da comunidade e

consequentemente da escola. O projeto de educação não inicia nem acaba na

escolarização. Nesse sentido tem-se a contribuição de Castrogiovanni, 2008:

Nos primeiros anos de escolarização deve-se trabalhar a valorização do espaço e tempo vivenciados pelo aluno. Não menos importantes a construção das noções temporais quantificação e representação das categorias do passado, presente e futuro e caracterização de épocas. Sem

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73

impor limites, de espaço e tempo, é importante estudar movimentos amplos.

É fundamental que o educador, o pedagogo, o alfabetizador produza esse

movimento. Esse movimento é do educador consigo mesmo, com os demais

educadores, com a comunidade, com os educandos, com o lugar, com o espaço

produzindo novos saberes a partir dessas trocas. Isso poderá gerar uma

emancipação e uma perspectiva crítica e responsável de encaminhar a ação

pedagógica.

O lúdico é uma estratégia essencial principalmente em uma escola do campo,

onde há turmas multisseriadas que tornam muito mais desafiante o processo de

cativar o educando. Esse desafio existe devido às diferenças entre as crianças da

turma a cerca de idade, níveis de conhecimento, necessidades e interesses, sendo

que estas, não podem ser tratadas de forma homogênea. Assim, corroboro com

Ribas (2014), acerca do educador:

[...]muitas são as angustias dos professores que trabalham nas escolas do campo, pois no momento de estarem planejando suas atividades para contemplar os múltiplos saberes e ritmos diferenciados das turmas, muitas vezes classes multisseriadas, estas exigem um cuidado no processo de elaboração para atender as especificidades das crianças e da relação escola-comunidade (p.30).

Dessa maneira, o planejamento é mais um desafio para esses educadores,

pois além de atender as especificidades das crianças, necessita também de

constantes avaliações orientadas pelas reflexões diárias, a fim de tornar o ensino

contextualizado. Outros desafios seriam o isolamento e a falta de formação para

lidar com essa realidade, fazendo com que sua atuação seja mecânica (apenas

transferência de conteúdo) e crie uma reprodução de um ensino urbano.

É compreensível que existem conteúdos da matriz curricular que precisam ser

trabalhados, mas quando estamos apresentando esses conteúdos podemos

relacionar com exemplos vividos por essas crianças do campo, tornando assim a

aprendizagem mais significativa. Ainda é importante salientar que, os educadores

precisam pensar como vão articular os conteúdos (direitos dos educandos) com a

sua realidade. Quando o educador respeita a individualidade de cada educando,

levando em consideração o sujeito e sua história de vida, tem-se como

consequência um melhor resultado na aquisição do conhecimento através da

aprendizagem.

Na perspectiva construtivista de Piaget, a capacidade das crianças

Page 74: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

74

compreenderem um tema não depende apenas da idade da criança ou da amplitude

dele, mas do método utilizado pelo educador para incentivar a criança na busca do

saber.

Quando se reflete sobre determinadas situações, constrói-se saberes que

possuem a finalidade de melhorar o desenvolvimento da criança. Acredita-se que a

reflexão crítica necessita de um momento tranquilo e que o mais indicado seria no

conforto de casa, após o trabalho, uma vez que no momento da observação nem

sempre tem-se a tranquilidade de aprofundar reflexões e ligá-las com o

conhecimento profissional que adquire-se na formação sobre determinadas atos que

se observa em algumas crianças.

“(...) a necessidade de reflexão sobre a prática a partir da apropriação de teorias como marco para as melhorias na prática de ensino, em que o professor é ajudado a compreender seu próprio pensamento e a refletir de modo crítico sobre a sua prática e, também, a aprimorar seu modo de agir, seu saber-fazer, internalizando também novos instrumentos de ação” (LIBÂNEO, 2002, p. 70).

A reflexão também possibilita a criação de novas atividades que surgem do

interesse da turma ou de uma necessidade da turma observada durante a aplicação

da atividade. A atividade não é colocar uma criança sentada e pedir que ela copie

temas no quadro, ao contrario, a atividade é um momento de interação entre as

crianças que precisa ser prazeroso, sem tempo de duração estipulado e tendo a

figura do professor como sujeito mediador que orienta, observa e quando necessário

participa.

[...] a cada momento há ocorrência de novos eventos, reconfigurando-se a rede de significações, com novos papéis ou posições sendo atribuídos/assumidos pela pessoa em interação, [...] com emergência de novas emoções e significações (ROSSETI-FERREIRA,2004, p. 17).

O educador quando planeja suas atividades deve levar em consideração a

escola em que ele trabalha, a comunidade na qual a escola pertence e por fim as

particularidades e diferenças de cada criança, como um conhecimento a ser

estimulado. A escola deve se adequar a criança, ela não deve ser modificada ou

colocada em um quadrado de vidro em que todas devem ser iguais.

O PAPEL DO EDUCADOR NA CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM

Na educação é importante ter consciência de que tipo de cidadão se pretende

Page 75: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

75

construir e localizar a criança dentro da sociedade a qual ela pertence, de modo que

ela possa entender a estrutura político-produtiva do lugar.

A apresentação dos aspectos sociais e ambientais da localidade do município é

um excelente laboratório para a inserção do educando no cotidiano escolar. Para

entender como o espaço é produzida, como as pessoas vivem e trabalham, basta

dar uma volta pelo entorno da escola com olhos atentos às manifestações e

materializações, ao existente e suas significações.

A escola do campo é uma escola que esta inserida na realidade da

comunidade a qual pertence, que fortalece o povo que é sujeito social, possuindo

sua própria história, sua cultura, porém mobiliza uma atuação em prol da luta de um

coletivo. Apesar disso Caldart (2001) afirma que:

Sair do campo para estudar, ou estudar para sair do campo não é uma realidade inevitável, assim como não são imutáveis as características marcadamente alheias à cultura do campo (p. 44).

O ambiente da escola do campo é um lugar onde deve-se conhecer,

problematizar, criticar e valorizar os conhecimentos próprios da agricultura, além dos

conteúdos de uma formação que integra a qualificação social e profissional, nesse

sentido Caldart acredita em:

O aprendizado da paciência de semear e colher no tempo certo, o exercício da persistência diante dos entraves das intempéries e dos que se julgam senhores do tempo. Mas não fará isso apenas com discurso; terá que se desafiar e envolver os educandos e as educadoras em atividades diretamente ligadas a terra (2001, p. 35).

É através do trabalho ligado a terra que os educandos passam a entender

como é o processo de plantio, e desenvolvem valores como a paciência, esperança,

persistência que são necessários para esse processo. A partir disso, também

valoriza-se mais as pessoas que sobrevivem da lida com a terra. Nesse sentido, há

uma humanização através do trabalho e dessa forma essa humanização invade

também a escola e aprimora-se nas relações sociais, nos erros e no enfrentamento

de dificuldades.

Com isso, tem-se a construção de uma formação que prepara as crianças para

serem críticas, autônomas e também que respeitem as regras e direitos tanto dos

colegas como das demais pessoas que as rodeiam, para isso é necessária uma

construção de uma rotina. De acordo com Caldart:

Page 76: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

76

Somos um ser de escolhas permanentes e delas depende o rumo de nossa vida e do processo histórico em que estamos inseridos. E as escolhas nem são apenas individuais nem podem ser apenas de um coletivo. Cada escolha é feita pela pessoa, movida por valores que são uma construção coletiva (2001, p. 37).

Assim como a tomada de escolhas é necessária, assumir a responsabilidade

por elas passa a ser um desafio. É necessário trabalharmos os valores humanos,

pois eles possibilitam a coletividade e permitem que as pessoas tenham dignidade,

porém esses valores precisam se transformar em ações. Segundo Caldart:

Quando os educadores se assumem como trabalhadores do humano, formadores de sujeitos, muito mais que apenas professores de conteúdo de alguma disciplina, compreendem a importância de discutir sobre suas opções pedagógicas e sobre que ser humano estão ajudando a produzir e cultivar (2001, p. 50).

Acredita-se que trabalhar os valores culturais e humanos é essencial, porem

não basta, é preciso que o educando busque conhecer a si mesmo e se desenvolver

com sua identidade tornando possível uma realização pessoal. Para Vidor (2014),

educar é alimentar para a vida, conduzir o ser humano para que ele possa se

conduzir-se de forma adequada. De acordo com esses conceitos, a pedagogia,

constrói novos sujeitos sociais e conduz a formação humana.

Para Benjamin (2001), a principal característica para o ser humano, em

oposição a todas as outras espécies, é exatamente a sua capacidade de imaginar o

futuro e agir para construí-lo.

De acordo com FERREIRO & TEBEROSKY (1989):

A criança que procura ativamente compreender a natureza da linguagem que se fala a sua volta, e que, tratando de compreendê-la, formular hipóteses, busca regularidades, coloca à prova suas antecipações e cria sua própria gramática (que não é simples cópia deformada do modelo do adulto, mas sim criação original).

Apesar de que não cabe ao professor escolher quem serão seus futuros

alunos, quando há comprometimento com a profissão, sabe-se que durante a sua

carreira entrará todo o tipo de aluno e cabe a esse professor se atualizar e estudar

para que a sua metodologia seja a mais próxima possível, da realidade do aluno.

Assim, de acordo com Pinto (1981):

Refere-se aos professores justificando que eles não recebem uma formação adequada para lidar com a realidade do campesinato, por isso seu desinteresse em estabelecer relações com as comunidades, quando encaminhados a trabalhar nas áreas rurais. Ele registra que os programas de alfabetização – as esporádicas campanhas nacionais de que temos

Page 77: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

77

conhecimento – pouca relação têm com a escola rural. Outra característica identificada na educação rural pelo mesmo autor é a sua desvinculação da comunidade dos trabalhadores rurais que enviam seus filhos à escola (apud CALDART, 2012, p. 296).

A partir desse pressuposto, considera-se que é impossível relacionar o

conteúdo com a realidade da criança se não se conhece que realidade é essa,

acaba-se construindo um ensino baseado no ruralismo pedagógico, onde a

aprendizagem tem como base a realidade do educador que na maioria dos casos

advêm do meio urbano. Logo, o educador que não conhece o cotidiano da família e

da comunidade onde o aluno esta inserido, precisa conhecer, percorrer nos

arredores da escola e conversar com as pessoas que ali vivem a fim de entender

como são os seus costumes, princípios e o que fazem para sobreviver.

A pesquisa do que chamava universo vocabular nos dava assim as palavras do Povo, grávidas de mundo. Elas nos vinham através da leitura do mundo que os grupos populares faziam. Depois, voltavam a eles, inseridas no que chamava e chamo de codificações, que são representações da realidade (FREIRE,1989, p.13).

Após essa inserção na realidade dos educandos, é possível questionar-se

sobre quem ele é, o que ele quer, qual sua real necessidade e qual método deve ser

utilizado para dialogar com ele e juntos construir o conhecimento. Quando essa

reflexão não acontece tem-se como consequência um educador que dialoga sozinho

e que se desestimula por não encontrar resultados na sua prática.

Outra característica de um professor crítico-reflexivo é sua postura humana que

o permite errar e assumir o erro, dando assim oportunidade ao educando errar e

assumir que não sabe ou não entendeu. Uma postura humana também é a que

permite sugestões ou críticas a cerca de seu trabalho a fim de repensar e melhorar

sua prática.

METODOLOGIA

Primeiramente buscou-se bibliografias sobre educação do campo. Entrou-se

em contato com a escola para que se possa entrevistar os professores das séries

iniciais e observar as suas aulas e o entorno da escola em uma tentativa de

conhecer a comunidade na qual a escola está inserida.

O levantamento bibliográfico acompanhou as várias etapas de desenvolvimento

do trabalho, sendo realizado através da consulta, leitura e seleção de uma série de

Page 78: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

78

bibliografias relacionadas à temática e também trabalhos específicos sobre a área

de estudo. Pesquisas complementares, direcionadas no entendimento de cada

procedimento executado durante os levantamentos, foram efetuadas no decorrer de

cada etapa até a finalização da pesquisa.

Para se atingir o objetivo geral deste estudo, foi necessário observar in loco as

características da realidade de ensino de uma escola do campo. Nesse sentido, de

acordo com Macedo (2006) a observação de campo é mais que uma etapa

preparatória, ela se constitui em um contato com a realidade. O dinamismo da

realidade estabelece o pensamento crítico independente. No caso de pesquisas

qualitativas, as observações de campo, segundo Macedo (2006), realizam uma

verdadeira “garimpagem” de ações, realizações e sentidos.

Nas entrevistas realizadas com os professores buscou-se abordar a origem dos

professores, se são de origem urbana ou do campo, se em suas aulas trazem

atividades que envolvam o cotidiano dos educandos ou apenas utilizam livros

didáticos. O contato com os educadores da rede municipal que atuam na escola foi

realizado, com o intuito de melhorar relação afetiva em sala de aula entre educando

e educador, investigando quais os temas que merecem mais destaque e qual a

melhor forma de tratá-los, visando reforçar que educadores recorram a exemplos

cotidianos e locais como o intuito de melhor explicarem os mais variados conteúdos

de sala de aula.

A pesquisa em questão buscou caracterizar a forma de ensino utilizada neste

contexto, destacando as dificuldades e facilidades que os educadores têm para

desenvolver aulas que envolva o cotidiano dos educandos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um professor crítico-reflexivo do campo procura relacionar o ensino com os

saberes do campo. Nesse sentido, ele inicialmente planeja a sua aula e em seguida

se questiona a cerca de como esse conteúdo está presente no campo e

consequentemente na vida dessa criança.

Para uma educação significativa é necessário que o educador realize uma

reflexão coletiva desenvolvida através de um processo aberto e contínuo de

discussões que abrange toda a escola, analisando como está o desenvolvimento de

suas ações, quais os seus objetivos, o que tem favorecido o processo de ensino-

Page 79: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

79

aprendizagem, o que tem prejudicado, o que precisa ser revisto ou que alterações

são necessárias.

Dessa forma, é importante a busca insaciável por superação, isso só se dá de

maneira satisfatória através da reflexão- ação-reflexão. O educador é uma junção de

saberes pedagógicos adquiridos durante sua formação, de experiências da sua

prática e formação continuada, que vão se acumulando e se renovando através de

reflexões ao longo da sua careira profissional.

REFERÊNCIAS

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BENJAMIN, C.; CALDART, R. S.; Projeto Popular e Escolas do Campo. Brasília-DF: Articulação Nacional Por Uma Educação Básica do Campo, 2000. Coleção Por Uma Educação Básica do Campo, 2ª Edição: setembro 2001.

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FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes médicas, 1989.

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LIBÂNEO, J. C. (2002): Reflexividade e formação de professores: outra oscilação do pensamento pedagógico brasileiro? São Paulo, Cortez Editora.

MACEDO, R. S. Etnopesquisa Crítica, Etnopesquisa-formação. Coleção Pesquisa n. 15, Brasília: Líber Livro, 2006.

PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. In: RIBAS, J. R. O Caderno de Educação do Campo: Possibilidade de Reflexão sobre o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Santa Maria-RS, 2014, 34p.

PINTO, J. B. A educação de adultos e o desenvolvimento rural. In: CALDART, R. S. (org.). Dicionário da Educação do Campo. RJ, SP: Escola Politécnica de Saúde

Page 80: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

80

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RIBAS, J. R. O Caderno de Educação do Campo: Possibilidade de Reflexão sobre o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Santa Maria-RS, 2014, 34p.

ROSSETTI-FERREIRA, M. C; AMORIM, K.S.; SILVA, A. P. S. Rede de significações: alguns conceitos básicos. In: ROSSETTI-FERREIRA et al. (orgs.) Rede de significações e o estudo do desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2004.

WIZNIEWSKI, C. F. A contribuição da Geografia na construção da educação do campo. Experiências e diálogos em educação do campo. Fortaleza:Edições UFC, 2010,129p.

VIDOR, A.; BARBIERI, J.; GIORDANI, E. M.; Uma nova pedagogia para a sociedade futura: princípios práticos. Fundação Antonio Meneghetti-Recanto do Maestro, RS: Ontopsicologia Editora Universitária, 74p, 2014.

Page 81: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

81

A EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA COMO PROPOSTA DE PRÁTICA

EDUCATIVA PARA O ENSINO TÉCNICO

Rodrigo Belmonte da Silva1

Jomar João Donadel²

Thais Cortes Sagrilo³

INTRODUÇÃO

O mundo atual tem passado por várias transformações, em curtos períodos de

tempo, a evolução da tecnologia e ao advento da globalização revolucionaram o

estilo de vida das pessoas. Essas mudanças são frutos de inovação, são geralmente

produzidas por pessoas visionárias, que questionam, arriscam, que querem e fazem

algo diferente. Dornelas (2005) afirma que essas pessoas são conhecidas como

empreendedores, pois são diferenciadas, que possuem motivação singular,

apaixonados pelo que fazem, não se contentam em ser mais um na multidão,

querem ser reconhecidos e admirados, referenciadas e imitadas, desejam deixar um

legado.

Existe um questionamento científico que aborda o empreendedorismo como

algo inato, que nascia com a pessoa e predestinava as pessoas ao sucesso.

Dornelas (2005) contraria esta visão, acreditando e afirmando que o processo

empreendedor pode ser aprendido e potencializado por qualquer pessoa e que o

sucesso é decorrente de uma gama de fatores interno e externos que circundam o

ambiente de negócio.

A proposta para educação empreendedora aqui descortinada demonstra a

preocupação em se trabalhar conceitos empreendedores com educandos do curso

Técnico em Informática do Instituto Federal Farroupilha campus São Vicente do Sul,

visando prepará-los para a atuação no mundo do trabalho como intra-

¹ Graduado em Administração, licenciado em educação para o ensino Profissional pela UFSM. Mestre em Eng. de Produção pela UFSM. Professor de ensino básico, técnico e tecnológico do Instituto Federal Farroupilha – São Vicente do Sul. E-mail: <[email protected]> ² Graduado em Educação Física. Mestre em metodologias para o ensino superior pela UFSM. Professor de ensino básico, técnico e tecnológico do Instituto Federal Farroupilha – São Vicente do Sul. E-mail: <[email protected]> ³ Graduada em Administração de empresas. Pesquisadora do Instituto Federal Farroupilha – São Vicente do Sul. E-mail: <[email protected]>

Page 82: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

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empreendedores, empreendedor proprietário de uma empresa, empreendedor

autônomo, ou ainda, como tecno-empreendedor. Tal proposta busca contribuir com

a formação de jovens capazes de fortalecer a cultura da informática, atuando com

base em questões éticas e responsáveis, a fim de esclarecer dúvidas, desmistificar

conceitos, apresentar a informática como recurso essencial para a resolução de

metas e alcance dos objetivos empresariais, visando à melhoria na qualidade de

vida de empresários e funcionários.

Assim, o trabalho tem como objetivo geral analisar a contribuição do curso

técnico em Informática – IFFarroupilha – Campus São Vicente do Sul, para o

desenvolvimento de competências empreendedoras. Para chegar ao objetivo

específico, buscou-se especificamente: identificar de acordo com os alunos, quais

atividades de ensino motivam e impulsionam a prática empreendedora; propor uma

metodologia, que contribua para a formação empreendedora dos alunos; verificar a

existência de estímulo ao empreendedorismo a partir da metodologia apresentada.

O EMPREENDEDORISMO E O EMPREENDEDOR

A literatura referente ao assunto tende a ser relativamente ampla e farta, no

entanto, é difícil encontrar uma unanimidade quanto a definição do que vem a ser o

indivíduo empreendedor.

Atualmente têm-se o termo como definição de toda pessoa que está à frente de

uma empresa, contudo não se pode considerar uma pessoa como sendo

empreendedora, simplesmente pelo fato de ter aberto um negócio, pois as

características que envolvem este tipo de pessoa fazem com que elas possam atuar

de várias formas em vários locais distintos.

Segundo Dolabela (1999) o termo “empreendedorismo” trata de uma livre

tradução da palavra entrepreneurship, utilizado para designar os estudos relativos

ao empreendedor, seu perfil, suas origens, seu sistema de atividades e o seu

universo de atuação. O termo corresponde a uma grande área de abrangência:

desde a criação de empresas até a geração do auto-emprego.

Drucker (1980) menciona que o empreendedor consegue se dedicar

intensamente às atividades que se propõe a fazer, pois seu trabalho se confunde

com prazer. Para o autor isso ocorre pelo fato de o empreendedor ser alguém que

define por si mesmo o que vai fazer e em que contexto será feito, levando seus

Page 83: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

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sonhos, desejos e preferências em conta em tudo o que faz.

Nessa definição, são ainda empreendedores aqueles que criam algo novo,

mudam ou transformam valores. O espírito empreendedor é uma característica

distinta, seja de um indivíduo, ou de uma instituição. Não é um traço de

personalidade, mas sim um comportamento e suas bases são o conceito e a teoria,

e não a intuição (FILION e DOLABELA, 2000).

Para Timmons (1985) empreendedor é aquele que tem a habilidade de criar e

construir algo a partir do nada. Sendo um indivíduo altamente criativo, encontrando

energia pessoal para iniciar e construir uma empresa ou organização, fazendo mais

do que simplesmente assistir, analisar ou descrever. Por fim, é também uma pessoa

que assume riscos pessoais e financeiros, porém, faz todo o possível para colocar

do seu lado as vantagens, e assim, reduzir as possibilidades de fracasso.

Schumpeter (1883-1950) define empreendedor como alguém que inova e é

agente de mudanças, associando definitivamente o empreendedor ao conceito de

inovação e apontando-o como o elemento que dispara e explica o desenvolvimento

econômico.

EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA – A PEDAGOGIA EMPREENDEDORA DE

DOLABELA

O ensino de empreendedorismo no Brasil está se propagando fortemente à

medida que estamos diante da explosão de um movimento que começou há pouco

mais que uma década no Brasil. Pode-se firmar que dentro de pouco tempo todas as

universidades e instituições de segundo grau terão o ensino de empreendedorismo

em suas grades curriculares. (DOLABELA, 2000)

Segundo o mesmo autor, a tarefa da pedagogia empreendedora não é apenas

ensinar, e sim criar um ambiente "cultural" em que o aluno, perceba e desenvolva

valores empreendedores, aprendendo sobre si mesmo e sobre o outro, e a utilizar

corretamente suas ferramentas e instrumentos.

Em pesquisa aos trabalhos de Hynes (2005), o educador-empreendedor deve

agir como um especialista, instruindo e facilitando o processo de aprendizagem. Os

aspectos informais devem focalizar a construção de habilidades, desenvolvimento

de atributos e mudança comportamental para atingir os objetivos. Métodos indutivos

e de descoberta devem ser amplamente utilizados, sendo estes: estudos de caso,

Page 84: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

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visitas técnicas à empresas brainstorming, discussões em grupo, projetos de mini

empresas etc. Tais métodos permitem aos discentes integrar e aplicar a teoria

aprendida.

Deve-se considerar que muito tempo é desperdiçado pelo ensino de técnicas,

ferramentas e instrumentos que os alunos podem aprender sozinhos. Na maioria

das vezes o papel do professor é "traduzir" conteúdos teóricos explicitados de forma

não acessível aos alunos. Os educadores na área de empreendedorismo devem

produzir material em linguagem adequada ao público alvo, de tal forma que lhe seja

permitido aprender sozinho (DOLABELA, 2000).

Por todos estes motivos, uma metodologia que englobe todos estes problemas

e integre possíveis soluções são extremamente necessárias para que as instituições

de ensino não lancem seus alunos em um ambiente inóspito para eles ou mesmo

para que não se sintam intimidados em ultrapassar os limites das salas de aula em

virtude destas adversidades.

Partindo do pressuposto de que todos nós nascemos com as características

básicas do empreendedorismo, Dolabela (2003), em seu livro “Pedagogia

Empreendedora”, afirma que nossa educação acaba reprimindo o livre desabrochar

e desenvolvimento dessas características.

Para o autor, a educação tradicional aprisiona, "impõe limites, preserva

poderes, exclui" enquanto a Pedagogia Empreendedora liberta, pois esta,

diferentemente daquela, não priva os jovens do conhecimento e dos sonhos. Ele

acredita ainda, que o empreendedor precisa primeiro sonhar para em seguida

realizar.

Segundo Dolabela (2003) a Pedagogia Empreendedora entende o ser humano

como alguém habilitado a criar novos conhecimentos a partir de um conjunto de

saberes que constituem 'os quatro pilares da educação' – aprender a saber,

aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.

Com isso, Dolabela (2003) propõe o ensino do empreendedorismo voltado ao

desenvolvimento social sustentável. A aplicabilidade do mesmo é feita através da

identificação prévia de competências empreendedoras e a escolha de métodos de

ensino que estimulem a autonomia dos estudantes. Ressalta-se que esta

metodologia trata o empreendedorismo como uma forma de ser e não de fazer,

transportando o conceito que nasceu na empresa para todas as áreas da atividade

humana. Desenvolve assim o potencial dos alunos para serem empreendedores em

Page 85: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

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qualquer atividade que escolherem: empregados do governo, do terceiro setor, de

grandes empresas, pesquisadores, artistas, etc.

METODOLOGIA

O estudo realizado tratou-se de uma pesquisa de cunho exploratória-descritiva,

cujo método utilizado é o estudo de caso. O estudo pretendeu analisar as práticas

didático-pedagógicas, ou seja, verificar a metodologia de ensino atualmente

empregada na disciplina Administração e Empreendedorismo do curso técnico em

Informática subsequente do Instituto federal Farroupilha de São Vicente do Sul.

A pesquisa foi dividida em três etapas principais. No primeiro momento, para

atingir o objetivo de Identificar quais atividades de ensino motivam e impulsionam a

prática empreendedora; foi aplicado um questionário estruturado aos quinze alunos,

que correspondem o universo de pesquisa. Após foi desenvolvida de maneira

bibliográfica e executada através de uma oficina de educação, nove aulas, que

compõe a metodologia elaborada para desenvolvimento de práticas

empreendedoras.

E por fim o último objetivo específico foi novamente aplicado aos alunos outro

questionário com a finalidade de pesquisar os resultados da oficina, relativas ao

estímulo para a formação de competências empreendedoras.

Por fim, o estudo delimita como universo de pesquisa os alunos do terceiro ano

do ensino técnico em informática do Instituto Federal Farroupilha, que serão

abordados através de um questionário estruturado, de forma quanti-qualitativa.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Perfil dos Alunos

Os alunos do curso técnico em informática dividem-se em 47% do gênero

masculino e 53% do gênero feminino, 60% possuem idade entre 18 a 20 anos e

40% entre 21 a 25 anos. A distribuição de origem dos alunos, é diversificada, 27%

dos alunos são de Santiago, 20% de São Francisco de Assis, 13% de São Pedro do

Sul e 13% de Cacequi e ainda 7% de Jaguari e 7% de Restinga Seca. Em relação a

ocupação dos pais, 47% respondeu que o Pai é prestador de serviços como

eletricista, encanador, motorista, e outros 33% vive de atividades relacionadas a

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agricultura. Em relação a mãe 53% respondeu que a mãe não possui atividade

remunerada, sendo do lar e 33% que a mãe acompanha o pai nas atividades

agrícolas.

Portanto percebe-se que a maioria dos alunos é jovem, ainda não exerce

atividade remunerada e que sua origem está na região centro do RS, num raio de

ação de 100 Km do Instituto, os Pais na sua maioria são agricultores ou prestadores

de serviços.

Atividades que Estimulam ou Impulsionam a Prática Empreendedora

Atuação dos Docentes e Metodologia do Curso

Questionados sobre se os docentes do curso técnico em informática são

considerados empreendedores nas suas práticas de ensino, criando métodos

diferentes e diversificando a metodologia das aulas, com criatividade e inovação,

33% dos alunos responderam não concordar com a afirmação, 20% responderam

que a questão é neutra 20% responderam concordar e 27% responderam concordar

totalmente. A questão divide a opinião dos alunos, somadas as respostas que

mencionam discordar e neutros o percentual de 53% é maior e descortina a

realidade e a necessidade de uma melhora nas questões metodológicas em sala de

aula por parte dos docentes, visando tornar suas aulas mais atrativas.

Incentivo a Atividade Empreendedora

A questão tem como objetivo investigar se em sala de aula na suas disciplinas

os docentes estimulam que os alunos sejam criem seus próprios negócios, ou façam

inovações mesmo dentro de suas funções e empresas. Somando os percentuais das

respostas que discordam dessa ação e daqueles em que responderam que os

docentes não influenciam nem positivamente nem negativamente tem-se 70%, um

índice considerável, demonstrando a percepção da parte dos alunos quanto ao

estímulo é bastante tímida.

Influência da Família na prática Empreendedora

Perguntado sobre a existência de influencia positiva da família em relação a

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87

prática empreendedora, 33% respondeu que não existe nenhuma influência sendo

neutra essa questão, 27 % respondeu não concordar com a influencia positiva, e

ainda 20% respondeu discordar totalmente mencionando que a família em nenhum

aspecto influencia na prática empreendedora. Somando-se as respostas de

concordo e concordo totalmente, relativas a incentivos positivos têm-se somente o

índice de 20%.

Influência da Instituição na Prática Empreendedora

Questionados sobre a percepção sobre a Instituição, nos aspectos de

infraestrutura e sua influencia positiva na prática empreendedora, 80% respondeu

concordar ou concordar totalmente, e 20% respondeu que a influência é neutra.

Atividades que estimulam a Prática Empreendedora

Questionados os alunos sobre quais atividades realizadas no decorrer do curso

contribuíram de fato para a prática empreendedora, foram citadas em 37% dos

casos a elaboração de plano de negócio, 21 % exercícios sobre empresas na

disciplina de administração, 14% mencionaram atividades sobre hardware e outros

14% sobre atividades de criação de web sites, 7% não respondeu e outros 7%

responderam não identificar nenhuma atividade que estimulasse o

empreendedorismo.

Ao analisar os dados levantados, percebem-se alguns pontos importantes a

discutir. Inicialmente verifica-se que os alunos jovens em sua totalidade com até 25

anos, de idade não conseguem perceber o estímulo da prática de ensino do curso.

Demonstrado pelo percentual baixo de respostas em relação direta da questão e

pela citação inexistente de exercícios e práticas técnicas relacionadas quando

questionados sobre as atividades em sala de aula que estimulassem o

empreendedorismo. No entanto existe outra questão relevante, a família não

estimula as práticas empreendedoras, a maioria dos pais exerce atividades de

agricultura e prestação de serviços, não possuindo relação direta com empresa e

vivência nesse meio.

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Metodologia de Ensino Empreendedor

A metodologia proposta tem como principal objetivo, capacitar os alunos do

técnico em informática para que se transformem em atores centrais do processo de

mudança, primeiro de suas próprias vidas, sendo autônomos e capazes de tomar

decisões planejadas sobre o seu futuro. Também desenvolver a região onde estão

inseridos sendo agentes de mudanças, gerando negócios sustentáveis ou agindo

como empreendedores internos disseminando criatividade e inovação.

Sobretudo a metodologia tem a finalidade de introduzir uma cultura em que

tenham prioridades valores como geração e distribuição de riquezas, independência,

inovação, criatividade, sustentabilidade, liberdade e desenvolvimento econômico.

A figura 1, demonstra a organização do método em três Eixos: o primeiro

mencionando conceitos e fazendo o aluno refletir sobre o que necessita mudar para

que sua atitude auxilie no processo de geração de oportunidades relacionadas com

os aspectos empreendedores, contempla o conceito de empreendedorismo, ações

que estimulam a criatividade e inovação e prática e benefícios do planejamento para

as atividades empresariais e pessoais.

EIXO TEMA C H

O que é empreendedorismo?

Conceito de Empreendedorismo 2

Estímulo ao Planejamento e Criatividade 3

Inovação, criando Valor 2

A Consolidação do Sonho.

Empreendedor é aquele que sonha 4

Empreendedor é aquele que inova 4

Empreendedor é aquele que faz 3

Aprendendo a Empreender.

Aprendendo com quem sabe fazer 4

Construindo o sonho 4

Comunicando o sonho 4

TOTAL 30

Figura 1: Metodologia de Ensino Empreendedor

Fonte: Autores.

O segundo Eixo trabalha aspectos relacionados a três habilidades centrais, o

sonhar, o inovar e o fazer. Essas questões de fundem e completam-se entre si,

fazendo com que os exercícios, filmes depoimentos, viagens e debates com

empreendedores despertam no aluno e direcionem o caminho para a consolidação

de um negócio.

E por fim o terceiro eixo aqui denominado aprendendo a Empreender, parta

inicialmente do conhecimento de experiências de quem já tem um negócio,

dificuldades, pontos fortes e fracos e desafios para a implementação de um negócio.

Page 89: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

89

Em seguida a construção de um plano de negócio simplificado, planejamento e

organizando os setores da futura empresa para então comunicar o sonho, ou seja,

apresentar o modelo de negócio concebido praticando a habilidade de vendas e

negociação, em sala de aula e para os próprios professores, através de um

seminário.

A metodologia é dividida em três eixos com 3 oficinas de trabalho em cada

aula, totalizando 30 horas de atividades.

Avaliação da Metodologia Proposta

Com a intenção de verificar após a aplicação da Oficina sobre a melhora do

estímulo dos alunos e a sua contribuição para a formação de competências

empreendedoras, foram propostas questões relativas ao estímulo de atividades de

planejamento, inovação, oportunidade e ao alinhamento da metodologia ao currículo

do curso.

Ao questionar os alunos sobre se a metodologia complementou os conteúdos

da disciplina de administração e de outras disciplinas de gestão, 60% respondeu

concordar totalmente com a afirmação e 40% respondeu concordar, totalizando

100% de concordância com a idéia de complemento de conteúdos já ministrados.

Questionados sobre se sentirem, após a participação na oficina, estimulados a

buscar novas oportunidades nas suas vidas pessoais e profissionais e inovarem nas

suas atividades docentes, pessoais e profissionais 70% dos alunos respondeu que

concorda totalmente e 30% que concorda.

Outra questão colocada foi acerca do entendimento de que planejamento,

objetivos, metas e sistematização de atividades pessoais e pessoais são

fundamentais para a organização e êxito de quaisquer atividades profissionais.

Nessa questão 80% dos entrevistados responderam concordar plenamente e 20%

responderam concordar. Deixando evidente que após a participação na oficina esses

conceitos tornaram-se mais evidentes.

E por fim, os alunos foram questionados se a metodologia deveria fazer parte

da disciplina de administração e empreendedorismo, 67% responderam que

concordam plenamente com a inclusão, 20% que concordam e 13% que são

neutros, não possuem opinião formada sobre o assunto. Os alunos ainda sugeriram

que fosse trocada a ordem e a disciplina de administração e empreendedorismo

Page 90: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

90

fosse realizada no primeiro semestre, exatamente para que esse estímulo aconteça

no começo do curso, ainda sugeriram mais atividades e simulações de empresas

nas disciplinas técnicas e ainda a participação em palestras e vistas técnicas em

empresas de informática, para troca de experiências.

Percebe-se que foi positiva a aceitação da prática metodológica aplicada. Ainda

são necessários ajustes relacionados ao melhor dimensionamento de tempo no

decorrer das aulas para um melhor processamento e discussão dos objetivos de

cada momento. È necessário ainda mencionar que esse método consistiu num

estudo de caso para atender especificamente o curso técnico em informática, no

entanto o método poderá ser adaptado para outras realidades e atender outros

cursos com mudanças em filmes e alteração do ramo de atividade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista a necessidade da formação de jovens empreendedores para o

mundo do trabalho, é necessário possibilitar no espaço escolar, momentos para o

estímulo ao reconhecimento de características empreendedoras necessárias para

atuação profissional.

A proposta para educação empreendedora apresentada nesse artigo buscou

demonstrar a preocupação em se desenvolver competências empreendedoras com

educando do curso Técnico em Informática do Instituto Federal Farroupilha campus

São Vicente do Sul, visando prepará-los para a atuação no mundo do trabalho.

Diante da realidade investigada nesse trabalho, percebe-se que a Instituição, e

o seu curso técnico possuem uma proposta que contempla em parte, o estímulo ao

empreendedorismo, conforme a concepção dos alunos. Será necessário trabalhar

um formato curricular multidisciplinar, citando e exemplificando nas disciplinas

técnicas a possibilidade do aluno vir a ser empresário ou inovador na sua atividade

mesmo como colaborador interno da organização. Realizar palestras ou colocar os

alunos em contato com pessoas com experiências profissionais relevantes poderá

minimizar a dificuldade de apoio por parte da família dos alunos, visto que a maioria

respondeu não receber estímulo dos familiares.

Em relação a metodologia e sua aplicação, verificou-se a participação e nível

de frequência bastante baixos no decorrer das aulas, demonstrando além dos

percentuais positivos apresentados anteriormente a aceitação favorável por parte

Page 91: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

91

dos alunos. A sugestão em realizar a oficina como parte da disciplina de

administração e Empreendedorismo e incluí-la para o próximo semestre dos alunos

e também em modificar a ordem colocando-a no primeiro semestre poderá ser uma

das ação para colaborar com o nível de evasão do curso, que chega a 58%.

Finalmente, através desse estudo sobre competências empreendedoras no

curso técnico em informática, espera-se, de um modo geral, que sirva de base ao

IFF – de São Vicente do Sul, para avaliar o curso técnico em informática, e pensar

novas alternativas de ensino, dentro de um processo continuo e evolutivo, sendo

assim possível um efeito substantivo nas práticas tradicionais.

REFERÊNCIAS

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_________. O Segredo de Luisa, uma Idéia uma Paixão e um Plano de Negócios: como nasce um empreendedor e se cria uma empresa. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1999.

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DRUCKER, P. F. Inovação e Espírito Empreendedor. 5 ed. São Paulo: Pioneira, 1987.

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Page 92: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

92

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TIMMONS, Jeffrey A. Smollen and dingee, New Venture – Creation: A Guide Entrepreneurship, 1985.

Page 93: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

93

A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL COMO ALTERNATIVA AOS DESAFIOS DA

JUVENTUDE: A PRÁTICA DO INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA-CAMPUS

SÃO VICENTE DO SUL

Rodrigo Belmonte da Silva1

Jomar João Donadel2

Thais Cortes Sagrilo3

INTRODUÇÃO

Ao discutir políticas públicas, ou mesmo práticas pedagógicas sobre educação

de jovens, faz-se necessário fazer uma reflexão mais ampla sobre o tema: a

correlação entre três aspectos de amplitude social: a família, a escola e o trabalho.

Em relação a família, Carvalho (2000) observa que, a fórmula ideal da relação

família-escola seria a seguinte: quanto maior o envolvimento dos pais em casa, em

relação aos estudos dos filhos, maior o aproveitamento escolar, aprendizagem, e

menor taxa de evasão escolar.

Para atingir esse parâmetro, Bordieu (1998) menciona que é necessário que os

pais proporcionem as condições econômicas ideais para que os filhos frequentem a

escola com saúde e plenas condições para aprender; proporcionem condições

financeiras para que os filhos tenham plenas condições de usufruir de materiais

escolares adequados; exista comunicação frequente com a escola; os pais ainda

auxiliem na escolarização em casa e ainda participem nas decisões e processos

participativos de gestão e discussões promovidas na escola, sobre aprendizagem.

Já o papel da escola na vida e no processo de formação do cidadão, adquire

um papel mais amplo, na visão de Frigotto (1998) educação é antes de mais nada, o

desenvolvimento de potencialidades e apropriação de ‘saber social’ (conjunto de

conhecimentos e habilidades, atitudes e valores que são produzidos pelas classes,

em uma situação histórica dada de relações, para dar conta de seus interesses e

1Graduado em Administração, licenciado em educação para o ensino Profissional pela UFSM. Mestre em Eng. de Produção pela UFSM.Professor de ensino básico, técnico e tecnológico do Instituto Federal Farroupilha – São Vicente do Sul. E-mail: <[email protected]> 2 Graduado em Educação Física. Mestre em metodologias para o ensino superior pela UFSM. Professor de ensino básico, técnico e tecnológico do Instituto Federal Farroupilha – São Vicente do Sul. E-mail: <[email protected]> 3 Graduada em Administração de empresas. Pesquisadora do Instituto Federal Farroupilha – São Vicente do Sul. E-mail: <[email protected]

Page 94: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

94

necessidades). Objetivando assim a formação integral do homem, ou seja, o

desenvolvimento físico, político, social, cultural, filosófico, profissional, afetivo, entre

outros. Nesse contexto a escola e a educação, adquirem um papel transformador,

crítico, onde se proporcione ao homem plenas condições de desenvolver seu

potencial, em busca da satisfação de suas múltiplas necessidades.

Dentro dessa ótica, relaciona-se a questão do trabalho, pois o projeto

pedagógico de qualquer escola precisa estar pautado na realidade, preparando o

sujeito para o mundo do trabalho, mas também projetado para proporcionar uma

visão crítica, transformadora. Entendendo que a realidade não é uma forma

acabada, e sim um processo em permanente construção. A escola assume portanto,

uma função social no processo de direcionamento do desenvolvimento educativo, na

sistematização e socialização da cultura historicamente produzida pelos homens.

Nem sempre as condições ideais para o aprendizado e para garantir todos os jovens e

adolescentes em idade escolar, em sua respectiva escola, acontecem. Pelo contrário, na

região centro-oeste do Rio Grande do Sul, escopo dessa pesquisa, em dados obtidos pelo

IBGE (2010), a taxa de frequência liquida do ensino médio em 2010 era de 46,80% o que

demonstra que mais da metade os jovens em idade escolar não chegam ao ensino médio,

ou estão fora da idade neste nível de ensino.

Considerando essa problemática, os Institutos Federais de educação, na

reorganização da educação profissional em 2008, surgem como política púbica, com

o objetivo ofertar o ensino básico, técnico e tecnológico, nas mais diversas

modalidades, com o compromisso de ir além da educação curricular, formando e

qualificando cidadãos com vistas na atuação profissional nos diversos setores da

economia, com ênfase no desenvolvimento socioeconômico local, regional e

nacional.

Assim, o presente trabalho, tem como objetivo relatar a experiência e realizar

uma análise preliminar, dos impactos do Projeto de Extensão Semeando Ideias,

executado pelo Instituto Federal Farroupilha – campus São Vicente do Sul. O projeto

tem a finalidade de despertar através de palestras, visitas técnicas e conversas,

estímulo aos jovens à educação profissional, despertando as inúmeras

possibilidades da educação profissional, as oportunidades de transformação, ao

longo da vida. Tendo como público-alvo alunos do ensino básico e médio,

Page 95: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

95

professores da rede municipal e estadual e familiares dos alunos da região centro e

oeste do Rio Grande do Sul.

JUVENTUDE, ESCOLA, TRABALHO

As recentes transformações pelas quais o mundo passa no novo século, traz

fortes impactos na vida cotidiana, especialmente dos jovens, modificando o conceito

da família, as formas de socialização e a relação que se estabelece com a escola e

o trabalho, frente a necessidade dos novos conhecimentos. Para os jovens, essa

nova realidade, se não acompanhada de orientação segura da família, escola, e

uma perspectiva de colocação profissional do mundo do trabalho, é um desafio a

enfrentar.

De acordo com Raitz e Petters (2008), o conceito de juventude não possui uma

definição única, nem estática, pois em cada período, em cada momento histórico,

cada geração traz marcas próprias dentro do contexto social, portanto os sujeitos

são influenciados pela sociedade em que vivem e, por isso, comportam-se, pensam

e agem de maneira diferenciada. É dessa forma que se pode observar como os

conceitos de adolescência e juventude vêm se transformando ao longo do processo

de constituição de nossa civilização.

Considerando o marco teórico, dessa pesquisa, a delimitação mais adequada

para definir o termo, é definida por Pais (1996), que menciona juventude conforme a

sociologia das gerações, isto é, compreende-se como uma fase na vida do sujeito

que se inicia com o término da infância e se encerra com o início da idade adulta.

Nesse contexto de incompletude, a fase da juventude, segundo Raitz e Petters

(2008), abarca o jovem como um sujeito incompleto, que depende da construção de

seu próprio futuro, ou melhor, de seu ingresso na vida adulta para ser reconhecido

socialmente.

Oliveira e Coelho (2009) apontam a família como a principal responsável pela

formação do cidadão, servindo de apoio no processo de adaptação e educação,

para viver em sociedade. Uma boa educação no seio familiar, uma boa convivência

com os pais, garante uma base sólida e segura para enfrentar as adversidades, bem

como adquirir o amadurecimento social.

Page 96: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

96

No entanto com as mudanças da competitividade mundial, o consumismo

vivenciado no século XXI, menciona transformações que resultam mudanças na

estrutura familiar. A ausência cada vez maior dos pais, em detrimento aos

compromissos profissionais e a pressão que a sociedade impõe para ascensão

social, diminui o tempo com os filhos, tornando-os vulneráveis ao comportamento

egocêntrico, vaidades, acomodações eletrônicas, e demais dificuldades que

dificultam a solidez familiar, necessária para a evolução necessária para a fase

adulta.

Costa (2009), um dos idealizadores do Estatuto da Criança e do Adolescente,

declara que a partir do momento em que as crianças ficam soltas na comunidade, há

uma perda de referência em relação aos valores considerados importantes para o

desenvolvimento de uma base sólida. Porém, segundo ele, não basta apenas estar

presente, é preciso saber educar de forma correta, o desafio está na qualidade

dessa convivência, que deve ser marcada por um forte componente de presença

educativa.

A preocupação aflora mais, quando a maioria dos jovens chega a idade de

ingresso no ensino médio. As transformações ocorridas no mundo do trabalho, como

oferta de vagas, termos utilizados como empregabilidade e ainda a influência dos

pais, nesse contexto, configura como uma das principais preocupações dos jovens

considerando a questão da profissionalização e do emprego.

Silva, Pelissari e Steimbach (2013), mencionam que as modificações ocorridas

nos processos de produção e de trabalho, como uso de novas tecnologias, e o

aparecimento de novas formas de gestão, geram transformações sociais

importantes, tornando a busca pela inserção no chamado mercado de trabalho e a

qualidade no processo laboral, sejam muito diferentes do que até então. De certa

forma mercantilizando a vida social.

A preocupação que ocorre aqui é com o processo de inclusão, mencionado na

reorganização da educação profissional a partir de 2008, quando o surgimento dos

Institutos Federais de Educação. Instituições que visam promover a educação

profissional e tecnológica do nível básico ao tecnológico, da formação continuada à

pós-graduação, com vistas a aliar a educação à territorialidade, ou seja, ao processo

de inclusão nas regiões menos favorecidas, estimulando o desenvolvimento local.

Assim busca-se no próximo tópico do referencial, discorrer sobre a intenção da

nova organização da rede federal, seus objetivos e sua caracterização, frente a nova

Page 97: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

97

realidade e necessidade de formação educacional, tendo em vista as modificações

sociais e estruturais da sociedade.

OS INSTITUTOS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Em dezembro de 2008, através da Lei 11.892, reorganiza-se a Rede Federal

de Educação Profissional, com a instituição dos Institutos Federais de Educação,

Ciência e Tecnologia. Pacheco (2010) mencionam que apesar da nova instituição

espelhar-se nas Universidades, pois são a elas equiparados, são na verdade uma

forma híbrida dessas, com os CEFET´s, representando uma desafiadora novidade

para a educação brasileira.

Os Institutos são organizações de educação superior e de educação básica

que, tendo como eixo articulador a educação profissional, são pluricurriculares e

multicampi. A formação profissional, as práticas científicas e tecnológicas e a

inserção territorial constituem-se em aspectos fundantes dessa nova

institucionalidade.

A inovação pedagógica reside na questão da verticalização, onde é possível

que os docentes atuem em diferentes níveis de ensino, e que os discentes

compartilhem espaços de aprendizagem, como laboratórios, delineando e

deliberando a sua trajetória profissional na mesma área, desde o curso técnico ao

doutorado.

O aspecto importante na abordagem dos Institutos para o fim dessa pesquisa,

segundo Pacheco (2010), é a sua proposta de agregar à formação acadêmica a

preparação para o trabalho e discutir os princípios das tecnologias a ele

concernentes dão luz a elementos essenciais para a definição de um propósito

específico para a estrutura curricular da educação profissional e tecnológica. O que

se propõem é uma formação contextualizada, de conhecimentos, princípios e

valores que potencializam a ação humana na busca de caminhos mais dignos de

vida.

A proposta de formação, está fundamentada, no assentamento do pensamento

analítico, indo além do preparo de técnicos para o mercado de trabalho, busca na

Page 98: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

98

verdade, uma formação profissional mais abrangente e flexível, indo além da

formação laboral, mais na direção da compreensão do mundo do trabalho.

Pacheco (2010) menciona três características básicas para a formação da nova

Instituição: a institucionalidade como política pública, o foco no desenvolvimento

territorial e a sua similaridade como rede social.

Sobre o aspecto da política pública, espera-se que o local que tenha um

campus, exista a compreensão das estruturas institucionais e na intervenção nas

relações sociais moldadas por diferentes interesses e expectativas que os Institutos

Federais assumem o papel de agentes estratégicos na estruturação das políticas

públicas para a região que polarizam, estabelecendo uma interação mais direta junto

ao poder público e às comunidades locais.

Em relação ao desenvolvimento local, a possibilidade de um diálogo vivo e

próximo dessas instituições com a realidade local e regional, buscando a

compreensão de seus aspectos essenciais, ou seja, do que existe de universal

nessa realidade, alinhando os eixos tecnológicos que organizam a proposta de

ensino, aos arranjos produtivos locais que movimentam a economia local e em

consequência propiciam melhor qualidade de vida para a população do lugar.

E por fim a instituição vista como Rede Social, Pacheco (2010) menciona que a

rede, onde existe um Instituto, é tecida a partir das relações sociais existentes que

oportunizam, por um lado, o compartilhamento de ideias, visando à formação de

uma cultura de participação e, de outro, a absorção de novos elementos, objetivando

sua renovação permanente. Trata-se, portanto, de um espaço aberto e em

movimento, de atuação regional, com bases em referenciais que expressam também

uma proposta de desenvolvimento nacional em longo prazo.

A possibilidade em ofertar um ensino verticalizado, público e com qualificado

corpo docente, aliado a estrutura familiar, e em consonância com o mundo do

trabalho, é o desafio permanente da proposta da nova institucionalidade.

METODOLOGIA

O presente estudo configura-se como uma pesquisa descritiva, estudo de caso,

qualitativo de fontes secundárias. De acordo com Gil (1999) as pesquisas

descritivas, tem o objetivo de descrever as características de determinada

população, ou fenômeno, e estabelecer relações entre as variáveis. Foi descrito na

Page 99: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

99

pesquisa em questão, o relato sobre o Projeto de Extensão Semeando ideias e

procurou-se estabelecer as relações de benefícios para a comunidade de

abrangência.

O estudo caracterizou-se como técnica, de acordo com YIN (1998) como um

estudo de caso, pois a delimitação do estudo teve como escopo a realidade do

projeto de Extensão e suas relações. De acordo com Yin (1989) o estudo de caso é

uma inquirição empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um

contexto da vida real, quando a fronteira entre o fenômeno e o contexto não é

claramente evidente e onde múltiplas fontes de evidência são utilizadas. Esta

definição, apresentada como uma "definição mais técnica" por YIN (1989), nos

ajuda, segundo ele, a compreender e distinguir o método do estudo de caso de

outras estratégias de pesquisa como o método histórico e a entrevista em

profundidade, o método experimental e o survey.

Por fim a técnica utilizada para levantamento de dados foi a Bibliográfica,

baseada nos projetos e relatórios entregues na diretoria de Extensão do campus do

Instituto Federal Farroupilha de São Vicente do Sul nos anos de 2010, 2011, 2012 e

2013.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O Projeto Semeando Ideias: da proposta à implantação

O projeto Semeando Ideias é uma atividade de Extensão, em curso, desde o

ano de 2010. Estimulada pelo PIIEX (Programa de Incentivo Institucional à

Extensão), programa coordenada pela pró-reitoria de Extensão do Instituto Federal

Farroupilha, as atividades têm como objetivo incentivar as práticas de extensão de

ensino, na modalidade de projetos de longa duração (12 meses) com bolsa para

docentes e alunos e ainda os projetos de curta duração (cursos de extensão) com

hora atividade remunerada para docentes.

O projeto enquadra-se na primeira modalidade, envolvendo alunos, que

auxiliam a sua aplicação, docentes do quadro efetivo da diretoria de Extensão

(2010-2011) e diretoria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional (2012-

2013) do campus São Vicente do Sul.

Page 100: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

100

Considerando que a prática educativa, é mais ampla que a escolarização, o

Projeto tem como finalidade, estimular a família, escolas fundamentais e estaduais,

envolvendo alunos e professores, e ainda instituições parceiras dos municípios e

escolas, como Emater, associações de pais e mestres, sindicatos e associações de

classe, grupos da melhor idade e algumas instituições privadas relacionadas com a

educação. A proposta dos três anos de atividades, é estimular através de palestras,

organização de visitação ao Instituto Federal Farroupilha – campus São Vicente do

Sul, os públicos envolvidos, para que o tripé: família, escola, trabalho, estejam

integrados antes, durante e após a escolarização, especificamente aqui, o ensino

profissional e tecnológico.

Em relação a organização das atividades, foram realizadas atividades de

divulgação dos temas das palestras em Instituições públicas e privadas, nos

municípios pertencentes aos COREDES Vale do Jaguari e Centro do RS;

agendamento das mesmas, organização das palestras; realização das palestras.

Considerando o público-alvo, as palestras variam de conteúdo, tendo como

tema o estímulo e a motivação para uma melhora de vida pessoal e profissional. Os

conteúdos programáticos apresentados nas palestras são:

1. Compromisso dos pais junto à escola na formação da cidadania dos filhos:

Privilégios; família, missão da Família, missão dos Pais, alguns valores para a

Família, atitudes positivas para com os filhos, indagações sobre o tipo de Pai ou

Mãe sou; atitudes dos Pais em relação à escola.

2. A educação no Século XXI - desafios e motivos para (re)construí-la: as

oportunidades da educação profissional, o perfil da escola na atualidade,

autoconhecimento, habilidades e competências para êxito na caminhada escolar.

3. Estímulo e Motivação na Vida Pessoal: controle do estresse, atitudes

positivas para consigo, relacionamento interpessoal, afetividade, espiritualidade,

convivência familiar, organização na vida pessoal, reflexões de autoestima.

4. Desafios para a inserção e permanência no mundo do trabalho: liderança, o

mundo do trabalho na atualidade, competências para o profissional bem sucedido,

autoconhecimento, habilidades do líder empreendedor.

Além das palestras, as visitas técnicas oferecidas e organizadas para Pais,

alunos e professores, no campus São Vicente do Sul, fazem parte do projeto. Essa

atividade possui três etapas:

Page 101: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

101

1. Recepção dos Alunos e breve apresentação do Instituto Federal Farroupilha

e sua estrutura de ensino e administrativa. Essa etapa é composta por uma breve

apresentação, realizada pelo professor coordenador do projeto, tem como finalidade

recepcionar os visitantes e apresentar a estrutura da escola.

2. Visita às instalações: o professor coordenador, auxiliado pelos alunos

bolsistas, fazem um roteiro, visitando o câmpus, salas de aula, setores de produção,

laboratórios de práticas, atividades culturais, moradia estudantil, estrutura de esporte

e lazer, além da estrutura administrativa.

3. Palestra de encerramento: dependendo do público que visita o campus,

escolhido o conteúdo adequado e realizada pelo professor que coordena o projeto

com auxílio dos alunos bolsistas.

PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES

O Projeto Semeando Ideias, em 2014, completa quatro anos de existência.

Entre as principais contribuições dessa prática de extensão, apresenta-se os

números de abrangência do trabalho, nas regiões centro e oeste do estado do Rio

Grande do Sul. A Tabela-1, demonstra os resultados apresentados e a evolução,

das atividades do projeto ao longo dos últimos anos.

Tabela 1 – Números do Projeto de Extensão Semeando Ideias

2010 2011 2012 2013

Municípios

beneficiados 39 45 37 37

Pessoas assistentes

de Palestras 2.609 6.342 3.213 4.315

Número de Visitas 27 25 11 25

Pessoas em visita no

campus 937 773 225 963

Total de Pessoas

beneficiadas 3.545 7.115 3.438 5.278

Fonte: Autoria.

Os números de municípios atingidos pelo Projeto, demonstra a importância da

Page 102: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

102

prática para o marketing institucional do campus, de 2010 a 2013, atingindo

diretamente 19.376 pessoas, em média anual de 39 municípios ao redor de São

Vicente do Sul. Considerando que em todas as atividades acontece o relato e

apresentação do campus, como estratégia de divulgação do campus, há uma

relevância estratégica importante, para expansão das atividades de ensino, somadas

as outras práticas de comunicação realizados pelo campus.

Cabe aqui ressaltar que o campus de São Vicente do Sul, embora com

aproximadamente 1.600 alunos presenciais e 500 alunos na modalidade de ensino à

distância, ainda necessita, como toda a rede federal de ensino profissionalizante,

fortalecer a sua marca. O Campus na sua trajetória de sessenta anos, estabeleceu

um posicionamento muito forte quando então Escola Agrotécnica Federal, portanto o

projeto auxilia nesse reposicionamento da Instituição, mostrando para as entidades

parceiras, as alternativas de verticalização de ensino, as demais áreas de ensino,

além da rural e sobretudo as mudanças significativas na sua infraestrutura.

Outras contribuições podem ser mencionadas, além dos benefícios

Institucionais para o Instituto. O projeto por exemplo, foi bastante demandado pelas

escolas municipais e estaduais, na abertura dos anos letivos, com as palestras

sendo promovidas tanto para formação pedagógica dos professores, quanto para

aproximar os Pais das escolas das redes municipal e estadual.

Outro benefício indireto das atividades promovidas pela Extensão do campus,

foram os estímulos em encontros de entidades de classe, também abrangidos pelas

palestras. A Emater por exemplo, demandou muitas palestras para fortalecimento do

associativismo, estímulo a mulheres rurais, incentivo a qualificação profissionais de

agricultores e estímulo a escolarização formal da melhor idade.

No entanto, conforme a base do referencial teórico aqui exposto, o benefício

maior do Projeto, foi estabelecer a relação entre o tripé essencial para uma

educação de qualidade: jovens, família e trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora a missão da Rede Federal de Educação Profissional, e dos Institutos

Federais de Ciência, Educação e Tecnologia em ofertar ensino, com base qualificada

e com vistas ao desenvolvimento local e regional, sabe-se que nem todos os jovens

conseguem acessar esse modelo de educação formal, ou ainda aqueles que o

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103

fazem, em grande parte, abandonam as atividades escolares.

O presente trabalho buscou descortinar e debater através do referencial, a

relação importante para uma educação de base, do papel da família e das

instituições parceiras do mundo do trabalho. O projeto de Extensão Semeando

ideias, configura-se em uma estratégia importante, primeiro integrar o campus com a

comunidade regional, e demonstrar aos jovens, pais, escolas, e parceiros

institucionais que a possibilidade do ensino público, gratuito e com infraestrutura

adequada, é uma das alternativas da formação educacional acessível a grande parte

dos jovens da região.

Ainda em curso, o trabalho aqui relatado, tem tanto nas visitas das escolas e da

comunidade ao campus, quando nas palestras externas dos extensionistas,

vivenciado a realidade da dificuldade de autoestima que dificulta os níveis de

aprendizagem dos jovens. Em parte, esse descrédito vem da família, de outro do

perverso mundo do trabalho que privilegia somente, por vezes, a formação

acadêmica de nível superior, e ainda a precariedade de estrutura de ensino, que as

escolas de ensino fundamental, da rede municipal e estadual apresentam aos alunos

e aos pais, insuficiente para a aprendizagem adequada nessa fase da vida.

Escopo ainda de outros estudos, esse relato buscou apresentar de maneira

sistematizada, a relação criada pelo Instituto Federal Farroupilha – campus São

Vicente do sul, no seu compromisso de inclusão e missão de promover a educação

com base no desenvolvimento local e regional.

REFERÊNCIAS

BORDIEU, P. A miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, 1998.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOSLESCENTE– Lei nº. 8.069 de 13 de Julho de l990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em ago/2014.

FRIGOTTO, G. Educação e Crise do Trabalho. Petrópolis: Vozes, 1999.

GARCIA, D.M, Juventude em Tempos de Incertezas: Enfrentando Desafios na Educação e no Trabalho. Caderno CERU, série 2, n 14, 2003.

GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

YIN, Robert K. - Case Study Research - Design and Methods. Sage Publications Inc., USA, 1989.

Page 104: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

104

OLIVEIRA, T.B; COELHO, V.M.B, A Importância da Família para a Formação da Cidadania, Artigo Educação, Escola e Família – Disponível em: < http://www.artigos.com/artigos/humanas/educação/educacao,-escola-e-familia-4160/artigo>. Acesso em Nov/2009.

PAIS, J.M, Culturas Juvenis, Lisboa: Imprensa Nacional da Casa da Moeda, 1993.

RAITZ, T. R.; PETTERS, L. C. F. “Novos desafios dos jovens na atualidade: trabalho, educação e família”. Revista Psicologia & Sociedade; 20 (3): 408-416, 2008.

SILVA, M.R; PELISSARI L.B; STEIMBACH, A. A. Juventude, escola e trabalho: permanência e abandono na educação profissional técnica de nível médio. Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 39, n. 2, p. 403-417, abr./jun. 2013.

Page 105: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

105

OFICINAS PEDAGÓGICAS POR EIXOS DE APRENDIZAGEM: UM RELATO DE

EXPERIÊNCIA

Caroline Leonhardt Romanowski1

Camila Fleck dos Santos2

INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta o relato e a análise das experiências vivenciadas por

professoras do 3º ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede estadual de

ensino da cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul no qual são realizadas

oficinas diversificadas por eixos de aprendizagem de acordo com o desenvolvimento

dos educandos. As oficinas consistem em um reagrupamento das crianças das

quatro turmas de 3º do turno da tarde da escola. Este reagrupamento ocorreu de

acordo com a necessidade de aprendizagem, interesse e dificuldades das crianças.

Dessa forma, cada professora dos 3º anos ficou responsável por uma oficina, que

consistem em atividades diferenciadas e que tenham objetivos específicos.

As oficinas ocorrem semanalmente, das 13 horas e 30 minutos às 16 horas. As

atividades são pensadas a partir do interesse do grupo de crianças e que sejam

desafiadoras e privilegiem o trabalho em grupo, o desenvolvimento da autonomia e o

resgate da autoestima.

Nesta perspectiva, reconhecemos que os estudantes apresentam diferentes

estilos cognitivos, assim como distintos ritmos e modos de aprendizagem. Dessa

forma, procuramos desenvolver atividades que levem em consideração esta

variedade de estilos de aprendizagem, que partam de situações reais e de

conhecimentos prévios do grupo.

Nosso foco está em atividades diversificadas de leitura e escrita, com ênfase

no sujeito, em como ele aprende as experiências que tem com a leitura e escrita.

Pensar em estratégias de ensino nos remete à compreensão do processo de

construção do conhecimento, pois assim, o foco não está mais em como se ensina,

mas em como se aprende. Portanto, compreendemos que a alfabetização não é

1 Pedagoga. Mestre em Educação/UFSM. Professora da Rede Estadual. E-mail:

<[email protected]>. 2 Pedagoga. Mestranda em Educação/UFSM. Professora da Rede Estadual. E-mail:

<[email protected]>.

Page 106: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

106

codificação e decodificação de um código, mas um processo de apropriação de um

sistema de representação (FERREIRO e TEBEROSKY, 1999; FERREIRO, 2011,

2012, 2013).

Para tanto, é importante que o professor tenha um olhar voltado para a criança

e que assuma um papel de mediador da aprendizagem. Segundo Bolzan (2007), “o

papel do professor é o de introduzir os alunos na cultura escolar, servindo de

suporte, sendo estímulo auxiliar, proporcionando seu avanço em relação às novas

conquistas escolares” (p. 26). Nesse sentido, é importante que o professor proponha

atividades que sejam desafiadoras, que leve à reflexão acerca da língua materna e

que problematize a partir das situações que forem surgindo.

A mediação deve ser realizada no âmbito da Zona de Desenvolvimento

Proximal (ZPD). Para Vygostki (1998) a ZPD é

A distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (p. 207).

Então, a ZDP é o caminho entre o que a criança já consegue fazer sozinha e o

que ela está próxima de conseguir desenvolver. Dessa forma, o docente precisa

estar atento para identificar essas duas capacidades e, através delas, construir o

percurso de cada discente entre ambas por meio das mediações.

Além do contato com o docente, a interação entre as crianças possibilita o

avanço em sua aprendizagem. Esta interação ocorre nas atividades propostas e nas

relações estabelecidas no trabalho em grupo. Logo, entendemos que a prática da

interação grupal possibilita o desenvolvimento da aprendizagem da leitura e da

escrita, pois as crianças aprendem através da resolução de conflitos e do

compartilhamento. Neste sentido, os estudos de Isaia (2006, p. 23) evidenciam que

[...] acredita-se que em sala de aula a interação grupal possa vir a ser uma prática educativa que favoreça a construção do conhecimento por parte das crianças que, interagindo cooperativamente, trocam informações e hipóteses divergentes que as fazem avançar conceitualmente.

Então, no trabalho desenvolvido nas oficinas, damos ênfase em atividades que

sejam significativas, prazerosas e valorizem a interação grupal. Compreendemos

também que a presença do professor como mediador é essencial, para que as

crianças se desenvolvam e avancem em seus conhecimentos.

Page 107: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

107

Portanto, no decorrer deste trabalho, temos como objetivo problematizar e

refletir acerca da realização destas atividades pedagógicas diversificadas a partir de

eixos de aprendizagem, tendo em vista o processo e construção de conhecimento

de acordo com as necessidades, interesses e dificuldades dos educandos do 3º ano

do ensino fundamental. Diante disso, trazemos para a discussão questões

referentes à repercussão deste trabalho no desenvolvimento das crianças.

METODOLOGIA

Esta pesquisa se caracteriza por ser qualitativa, pois, segundo Bogdan & Biklen

(1994), o mais importante neste tipo de pesquisa é o contexto que envolve a

realidade pesquisada, seus indivíduos e o local onde o estudo acontece; Isso porque

a preocupação consiste em entender os acontecimentos, as falas, os contextos,

interpretando-os sob o referencial teórico do pesquisador.

Por se constituir em uma investigação da área das ciências humanas e partir

da investigação e reflexão de nossa própria prática pedagógica é que, foi feita esta

escolha, pois este tipo de pesquisa, segundo Minayo,

[...] não é uma mera classificação de opiniões dos informantes, é muito mais. É a descoberta de seus códigos sociais a partir das falas, símbolos e observações. A busca da compreensão e da interpretação à luz da teoria aporta uma contribuição singular e contextualizada do pesquisador (1996, p. 27).

Assim buscamos analisar os dados coletados nas observações e práticas

realizadas qualitativamente realizando a reflexão dos acontecimentos trazendo a luz

os teóricos que embasam este trabalho.

Trazendo conosco este olhar qualitativo sobre o pesquisado é que

descrevemos agora a metodologia utilizada para a construção e reflexão das oficinas

por eixo de aprendizagem se tratando de uma pesquisa sobre a prática da

aprendizagem da leitura e da escrita acreditamos que esta aprendizagem e

ensinagem devem ser prazerosa, desafiadora e que proporcione construção do

conhecimento através de atividades significativas, como corrobora Bolzan (2007),

Podemos dizer que a alfabetização é um processo dinâmico e contínuo que não se restringe apenas à leitura e à escrita das palavras e dos textos. É necessário propiciar às crianças atividades desafiadoras e prazerosas, a fim de que elas busquem investir sua produção pessoal e espontânea, descobrindo e reinventando o mundo a partir de experiências ativas na sua

Page 108: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

108

cultura. (p. 23)

A oficina pedagógica 1 está desenvolvendo a temática identidade e do

reconhecimento dos alunos como sujeitos históricos sociais. O trabalho

desenvolvido foca-se principalmente na leitura e escrita inicial, com a exploração das

letras, palavras, com atividades que partam do nome da criança e que tenham

sentido e significado. Esta turma conta com o auxilio de monitores, ou seja, crianças

que já estão alfabetizadas e que auxiliam nas atividades desenvolvidas.

Na oficina pedagógica 2, o objetivo central é consolidar a escrita e leitura a

partir da escrita espontânea, da produção textual, da reflexão acerca da escrita,

composição da palavra, relação som e grafema. Segundo Cagliari (1991),

Deixar as crianças escreverem textos espontâneos é de fundamental importância para que façam corretamente a passagem da fala para a escrita e da escrita para a ortografia. Dessa forma elas verão como a fala e a escrita funcionam, como os dialetos vivem, como uma classe pode ter falantes de diferentes dialetos, quando se usa um dialeto e quando se usa outro. Mas para isso é preciso que a professora saiba o que está acontecendo e o que ela está fazendo. Às vezes é preciso até mesmo que explique detalhadamente ao aluno o que ele próprio fez, como fez e por que fez, além, é claro, de como deveria ter feito e por quê (p. 71).

Cabe destacar que o professor, ao organizar atividades de produção textual, é

considerado um agente mediador das construções, ao favorecer o reconhecimento

de diferentes portadores de texto e suas funções, além de provocar a produção da

escrita espontânea, de modo que as crianças se expressem livremente em seus

registros (CAGLIARI, 1991).

Na oficina pedagógica 3, o eixo central tem sido a produção textual e a

compreensão de textos de diversos gêneros. As atividades têm se desenvolvidos a

partir da poesia, da consciência fonológica, do trabalho em grupo e diferentes

produções textuais como anúncios, rimas, entre outros.

Já na oficina pedagógica 4, o foco é a pesquisa e a investigação. As atividades

incentiva a autonomia, a criticidade, a construção do conhecimento a partir da

pesquisa. Nesta oficina, há a articulação da leitura e escrita, matemática e ciências.

O reagrupamento das crianças ocorre sempre que observarmos a falta de

interesse da criança na atividade, quando supera alguns obstáculos, desenvolve

uma habilidade até então não desenvolvida. Assim, os grupos das oficinas são

flexíveis e abertos a reformulações sempre que observado a necessidade tanto das

professoras quando dos alunos.

Page 109: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

109

O agrupamento das crianças não diz respeito somente à hierarquização de

supostos ritmos de aprendizagem e o objetivo não é classificar as crianças como os

que sabem mais e os que sabem menos. A intenção é que a partir de uma

organização diferenciada, possam ser propostos novos espaços tempos de

aprendizagem e interação entre os alunos e professores, assim também propondo

atividades que privilegiam pontos específicos que precisam ser desenvolvidos com

as crianças e que através da interação entre pares, entre crianças de diferentes

turmas e com diferentes ritmos de aprendizagem todos se desenvolvam com

autonomia e sintam-se capazes de aprender e evoluir cada vez mais em seus

conhecimentos.

O reagrupamento não pretende corroborar com o discurso que muitas vezes é

feito sobre a criança que não aprende, que é fraca, com dificuldade de

aprendizagem, mas sim potencializar aquilo que ela já sabe para que se sinta segura

e capaz de desenvolver-se em sua totalidade.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O desenvolvimento das oficinas com as turmas de 3º ano do ensino

fundamental tem viabilizado a construção de um trabalho coletivo, de parceria e

compartilhamento entre as docentes envolvidas no projeto. A partir das discussões

realizadas buscávamos novas estratégias de ensino e de aprendizagem,

resignificando e qualificando o trabalho desenvolvido.

Em relação à repercussão no desenvolvimento das crianças, percebemos

grande envolvimento, interesse e crescimento. Como a organização das oficinas

pedagógicas ocorrem uma vez por semana foi possível perceber que as crianças

tem se desenvolvido muito com seus novos pares, que se envolvem de uma maneira

impar com as atividades e se tornam verdadeiramente atores de sua aprendizagem,

transformando a alfabetização em uma experiência única e especial.

A partir dos conhecimentos prévios, demandas e interesses das turmas

elaboramos estratégias pedagógicas que envolviam jogos, a exploração de gêneros

e produções textuais, a pesquisa, atividades diversificadas envolvendo a identidade

e dobraduras. Tais atividades favoreceram diferentes modos de construção da

lectoescrita, qualificando as práticas de alfabetização envolvidas nessa dinâmica.

Em seus estudos sobre alfabetização, Bolzan (2007) coloca que,

Page 110: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

110

Portanto, a alfabetização precisa converter-se em uma experiência especial, na qual a reflexão sobre o que a escrita representa e seu valor como objeto social sejam constantemente explorados, de forma prazerosa, permitindo à criança a manipulação e a apropriação deste objeto, a fim de que ela possa transformá-lo e recriá-lo (p. 23).

E este novo olhar sobre a prática da alfabetização só foi possível com as

situações de intercâmbio de aprendizagem realizadas antes, durante e após as

oficinas pedagógicas tanto entre as professoras – professoras, alunos-professoras e

alunos- alunos.

Sobre isso Wiesz (2009) pontua:

Quando o professor proporciona situações de intercambio e colaboração na sala de aula, eles podem trocar informações entre si, discutir de maneira produtiva e solidária e aprender uns com os outros. Para poder explicar ao colega que seu jeito de pensar está incorreto, o aluno precisa formular com precisão e argumentar com clareza- e esta é uma situação muito rica para sistematizar seus próprios conhecimentos. Quando se contradiz e percebe isso, pode reorganizar as ideias, e dessa forma, seu conhecimento avança (p. 72).

Através de atividades significativas de leitura e de escrita, foram propostas

diferentes situações de produção textual, como a criação de anúncios, de poesias,

histórias, fichas técnicas de animais e receitas. Nesse sentido, percebemos quão

ricas foram às produções das crianças, pois, criaram e reinventaram a partir do

vivido e do experienciado. Vygotski (2014), ao se referir à leitura e a escrita, traz que

É muito mais fácil desenvolver o gosto literário na criança, e tem-se mais sucesso quando se convida a criança a escrever sobre um tema que ela compreenda, que a emocione e, especialmente, a estimule a expressar com palavras seu mundo interior. É muito comum que a criança escreva mal porque não tem sobre o que escrever. (p. 55)

Assim, em propostas de escrita em que o tema não é do interesse da criança,

algo que ela não pensou sobre, alguma situação que não faz parte do seu cotidiano

repercute em uma produção textual pobre, em que a criança dificilmente se implica,

tornando sua produção textual superficial e vazia. Entretanto, quando a proposta de

produção textual tem sentido e significado, que mostra à criança a necessidade de

escrever, expor suas ideias, pensamentos e reflexões, resulta em um interesse

maior pela escrita e um texto mais criativo e rico de ideias.

Portanto, as atividades de produção textual levaram em consideração o nível

de aprendizagem de cada criança e, assim, fomos trabalhando aspectos específicos

como ortografia, coesão e coerência, a organização do texto, também incentivamos

Page 111: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

111

a escrita espontânea para que as crianças mais retraídas perdessem o medo de

expor suas hipóteses. Nosso maior objetivo na produção textual foi proporcionar

situações significativas que desenvolvessem o gosto e a necessidade da escrita.

Vygotski (2014) traz que “a verdadeira educação consiste em despertar na criança

aquilo que ela já tem em si, ajudá-la a desenvolvê-lo e orientar seu desenvolvimento

em determinada direção” (p. 61).

CONCLUSÃO

O projeto desenvolvido com as turmas de 3º ano do ensino fundamental tem

proporcionado um ambiente de ensino e aprendizagem muito rico tanto para as

crianças quanto para as docentes. Como as temáticas partem dos questionamentos,

curiosidades e necessidades específicas de cada oficina e de seus participantes, o

envolvimento e a participação das crianças tem sido fundamental. Por ser um projeto

semanal, em que as crianças se deslocam de turma, trocam de professoras e têm

atividades diferenciadas, as crianças acabam se envolvendo e convivendo com uma

maior número de pessoas dentro da escola, fazendo novas amizades e sentindo-se

parte de um todo mais amplo que a sala de aula.

As diferentes atividades realizadas em aula valorizam o trabalho em grupo, o

questionamento e a observação, tem favorecido a aprendizagem das crianças que,

ao explicarem uns aos outros suas hipóteses, colocarem sua opinião, vão

sistematizando o que já haviam aprendido e reelaborando.

Acreditamos que nosso objetivo de proporcionar mais qualidade e inovação

para a educação vem sendo concretizado em cada oficina planejada conjuntamente

com as quatro professoras participantes do projeto buscando sempre o intercâmbio

de conhecimento e ideias para os desafios encontrados no dia a dia do ensino e da

aprendizagem. Também proporcionando outros espaços e tempos para a troca,

construção de conhecimento e desenvolvimento dos educandos diferentes daqueles

que seguidamente são encontrados dentro das paredes da sala de aula.

REFERÊNCIAS

BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação. Porto: Porto Editora, 1994.

Page 112: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

112

BOLZAN, Doris Pires Vargas. Leitura e escrita: ensaios sobre alfabetização. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2007.

CAGLIARI, L. C. Alfabetização e linguística. São Paulo: Scipione, 1991.

FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. São Paulo: Cortez, 1999.

FERREIRO, E. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 2011.

WEISZ, T. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática, 2009.

ISAIA, T. P. Gestão da sala de aula: interação grupal como estratégia pedagógica para a apropriação compartilhada da lecto-escrita. Monografia de especialização. Universidade Federal de Santa Maria; Santa Maria, 2006.

MINAYO, C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 28. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

VIGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. 6ª edição. Trad. José Cipolla Neto, Luis S. M. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

VYGOTSKI, L. S. Imaginação e criação na infância. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2014.

Page 113: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

113

O USO DE UM BLOG PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO DE

MARKETING UM ESTUDO DE CASO

Luciane Rosa de Oliveira1

Fabiana Zaffalon Ferreira2

INTRODUÇÃO

O ambiente em que vivemos está em uma constante transformação. A

entrada dos computadores e a internet fazem com que diariamente milhares de

pessoas troquem informações em qualquer parte do mundo de forma

instantânea. Estas tecnologias fazem parte da vida de nossos educandos, por

isso buscamos integrar os alunos, e nossas escolas com o meio digital, fazendo

com que os alunos sintam-se parte construtora do conhecimento, através da

participação efetiva neste processo. A ideia da construção de um blog interativo

onde as informações serão postadas pelos alunos, demonstra a possibilidade

dos mesmos serem sujeitos ativos na construção do conhecimento,

possibilitando a criatividade, a interação, a pesquisa, auxiliando numa

aprendizagem efetiva.

Este artigo traz referência à busca pela melhora no processo educativo,

através da criação de um blog e o aumento do rendimento na disciplina de

Marketing para a etapa 2 do curso Técnico em Administração do Instituto

Estadual de Educação Dinarte Ribeiro.

No processo educativo os jovens precisam se sentir, parte na construção

dos conhecimentos. Este, novo perfil de estudantes, na sua grande maioria, vive,

diariamente conectado á internet e se utiliza, diariamente de redes sociais. O uso

das mídias, da tecnologia em sala de aula faz com que os alunos participem de

forma criativa, possibilitando a autonomia na aprendizagem, usando uma nova

ferramenta que atrai a atenção desses jovens.

Estas mudanças fazem também com que o professor se reinvente quanto

educador, nas suas relações profissionais com os colegas, com a escola e com a

1 Especialista em Mídias na Educação pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Sul Rio-grandense- IFSUL, polo de Santana da Boa Vista. Professora do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Sul Rio-grandense- IFSUL/Bagé. E-mail: <[email protected]> 2 Mestre em Ciência da Computação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). E-mail: <[email protected]>

Page 114: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

114

comunidade escolar, pois as práticas pedagógicas utilizadas por várias décadas

como a convencional sala de aula com quadro e giz dão lugar à utilização de

novas tecnologias e o uso de novas mídias.

Esta atividade visou a integração dos alunos com a realidade mostrando a

relevância da interação com ambiente em que os mesmos fazem parte

conhecendo a realidade e preparando-os para a concorrência, pois após a

conclusão do curso técnico os alunos devem estar preparados com a nova

realidade do mercado de trabalho onde há uma, instantaneidade das

informações e os mesmos devem buscar uma, qualificação continuada, onde

este profissional precisa ter a formação escolar e as informações sobre a sua

realidade para manterem-se no mercado.

Nesta nova era nossos alunos não estão mais presos a poucos livros

didáticos, ou apenas aos meios convencionais. Os educadores precisam

despertar o interesse, buscando motiva-los para o processo de aprendizagem e

para isso precisamos nos adequar a nova era. Nesta era da informação onde as

novas tecnologias, fazem com que diariamente milhares de jovens passem horas

em frente a computadores navegando na Internet. E os professores precisam

melhorar este processo, estando preparados para estas mudanças, que já vem

ocorrendo ao longo do tempo, mas que muitos ainda se deparam com muita

dificuldade, pois estão presos a velhos conceitos e muitas vezes têm medo de

buscar o novo. O educador precisa se adequar a esta nova realidade afim de

melhorar o processo educativo, aumentando o interesse do aluno diminuindo,

assim, a evasão escolar. (MADEIRO, 2012).

O USO DAS MÍDIAS

As mídias começaram a ser incorporadas nas salas de aula com muitos

temores entre vários professores, pois acreditavam que estas ferramentas poderiam

substituí-los ao longo do tempo. O tempo foi passando e os professores começaram

a ver que as mídias podem e devem ser utilizadas para auxiliar na construção do

conhecimento.

O educador não pode mais se esconder atrás do quadro, e giz e ignorar as

mudanças tecnológicas. As mídias impressa, informática, rádio, TV e vídeo podem, e

devem ser utilizadas na construção do conhecimento, trazendo dinamismo e pró

Page 115: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

115

atividade no processo educativo.

Através destas mídias podemos nos utilizar de várias ferramentas que

engrandecem o processo de ensino aprendizagem fazendo com que nossos

educandos se tornem partes autoras na construção do conhecimento trazendo a

motivação tanto a alunos quanto a professores.

O uso de novas mídias no processo educativo fez com que essas novas

tecnologias se tornassem peça, importantes na construção do conhecimento

fazendo com que o professor se utilize destas ferramentas afim de auxiliar seus

alunos no processo de ensino aprendizagem. “Nesse sentido, é necessário que o

professor tenha abertura e flexibilidade para relativizar a sua prática e as estratégias

pedagógicas, com vistas a propiciar ao aluno a reconstrução do conhecimento”

(PRADO, 2012, p. 4), pois o professor deve estar preparado e atualizado para este

uso.

A partir da explosão tecnológica, o computador, este novo elemento que faz

parte da nova realidade, além da internet, que hoje é utilizada mundialmente,

proporciona programas que facilitam o processo educativo como o Excel para a

realização de planilhas, se utilizando de comandos que fórmulas que melhoram e

facilitam cálculos e a criação de gráficos, o Word para a digitação de textos

facilitando a formatação, informando eventuais erros de escrita e o PowerPoint

para a realização de apresentações facilitando e melhor demonstrando

resultados obtidos, sendo necessária para a sua melhor disposição o uso do data

show quando esta for, para um número maior de ouvintes.

A internet se transformou numa ferramenta em que os alunos se apropriaram,

pois hoje é difícil conhecermos um aluno que não acesse seu e-mail, ou uma rede

social ou ainda que não se utilize desta ferramenta para a produção escolar.

Apesar das grandes dificuldades em nossas escolas estaduais como a falta

de equipamentos em nossos laboratórios, ou defasagem dos mesmos, a falta de

condições físicas onde muitas vezes não possuímos um computador por aluno

ou ainda materiais como vídeo, rádio, data show em quantidade inadequada para

o número de alunos que atendemos em nossas escolas não podem ser fatores

desmotivadores aos educadores.

Devemos a medida do possível, utilizá-los e fazer com que as mídias

transformem-se em realidade diária em nossas salas de aula, mas, para isso é

necessária a capacitação dos educadores com relação ao uso das mídias, pois

Page 116: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

116

os mesmos devem conhecer a aplicabilidade, buscando extrair ao máximo as

possibilidades de aprendizagem e as ferramentas disponíveis para um melhor

processo educativo.

O professor deve ser um mediador no processo de construção e

transformação de novos saberes e informações, mediante o auxílio criativo e

crítico para a busca e seleção das inúmeras informações existentes na internet

que faz com que a aprendizagem se faça mais significativa no momento em que

o aluno percebe a utilidade e aplicação daquilo que aprende.

Portanto, a internet e seus hipertextos, com sua forma aberta e não linear e

não sequencial, permitem a autonomia do leitor para a criação do seu conhecimento

( MARCUSCHI, 2001).

A Informática Educativa traz, um duplo sentido na medida em que o aluno

aprende interagindo com a máquina e utilizando esses novos conhecimentos

para fazer intervenções cada vez mais complexas, podendo buscar informações

sobre qualquer coisa, em qualquer parte do mundo podendo discernir sobre o

que acredita ser o mais importante, preocupando-se sempre com a veracidade e

autenticidades das páginas visitadas e dos autores citados.

O novo processo de ensino aprendizagem demonstra que os alunos

precisam interagir, e as mídias auxiliam, muito neste processo. Os autores Freire

e Prado falam que o aluno aprende-fazendo, aplicando aquilo que sabe e

buscando novas compreensões com significado para aquilo que está produzindo.

(FREIRE & PRADO, 1999).

Demonstrando a importância do desenvolvimento de novas habilidades

como a pró-atividade, a criatividade que, no momento que nos utilizamos das

mídias em sala de aula, nossos alunos sentem-se parte do processo educativo

aumentando o aprendizado, e este se torna mais significativo.

Foram utilizadas neste trabalho, o uso de duas mídias, a impressa e a

informática. A mídia impressa tendo como ferramenta as revistas Você SA,

Fecomércio RS e Revista Sebrae, revistas estas especificas na área de

Administração e a mídia informática com as ferramentas data show onde

realizamos as apresentações e ainda através da internet a criação do blog.

Page 117: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

117

O USO DO BLOG NO PROCESSO EDUCATIVO

O blog por ser um recurso que permite que a produção, a publicação e a

interação entre o escritor e o público leitor em um único espaço, trazendo dinamismo

ao ambiente, possibilitando a inserção de inúmeros recursos, os quais são capazes

de torná-lo mais atrativo e dinâmico podendo ser criado sem custos e por qualquer

usuário da internet.

No blog vários assuntos são discutidos sendo respeitada a opinião tanto do

escritor como a do leitor, valorizando a reciprocidade e a troca de informações para

a construção de um novo conhecimento.

O blog é um espaço que permite, postagens de arquivos em áudio, vídeos,

imagens e ainda, a alteração de seu modelo são alguns exemplos que podem

auxiliar na caracterização desse ambiente virtual estabelecendo, inclusive, a sua

forma.

Por isso, criar um blog é muito fácil e rápido, pois não exige conhecimentos

profundos de informática, nem instalação de programas para a publicação e

atualização, além de ser possível encontrar na Web inúmeros serviços gratuitos que

permitem a publicação dessa nova maneira de se publicar registros e compartilhar.

(GOMES, 2012)

A partir da escolha do assunto a ser trabalhado, do planejamento prévio, o

educador pode se utilizar da ferramenta blog, para a criação de um local para a

discussão de assuntos pertinentes as disciplinas escolares através da orientação do

educador junto ao educando afim de tirar o maior proveito desta tecnologia.

O educador precisa auxiliar seus alunos para extraírem todas as vantagens da

utilização de um blog e da internet. Assim o educador precisa manter a atenção dos

alunos na disciplina pois, a internet assim como é facilitadora, pode através da sua

diversidade de informações, fazer com que o aluno entre em outros sites, blogs ou

redes sociais perdendo assim o enfoque na disciplina a ser estudada.

A IMPORTÂNCIA DO MARKETING

Para a conclusão do curso técnico em Administração os alunos precisam

realizar as disciplinas de Planejamento de Marketing e Marketing. O autor

(KOTLER,1998, p. 27), define o marketing como, “um processo gerencial pelo qual

Page 118: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

118

indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação oferta e

troca de produtos de valor com os outros”.

A escolha da disciplina de Marketing é devido à sua importância tanto na

escola como na preparação de nossos alunos para a realidade e a concorrência

acirrada no mercado de trabalho. O Marketing é uma disciplina que diariamente têm

novidades pois, a cada dia novos produtos são criados, pois o mercado consumidor

potencial compartilham de uma necessidade ou desejo específico dispostos a fazer

uma troca que satisfaça essas necessidades ou desejos.

O estudo sobre o consumo demonstra que as pessoas adquirem produtos por

possuírem necessidades, ou por estes atiçarem seu desejo para consumir, ou seja o

trabalho do marketing é a criação e a satisfação dos desejos de consumo, fazendo

com que os consumidores sintam-se atraídos por novos produtos ou serviços.

Kotler (1998, p. 37) coloca que

O marketing assume que a chave para atingir as metas organizacionais consiste em ser mais eficaz que os concorrentes para integrar as atividades de marketing, satisfazendo, assim, as necessidades e desejos dos mercados-alvos.

O Marketing, portanto, estuda as maneiras para que uma empresa consiga

trabalhar com uma maior eficiência e eficácia que os seus concorrentes de forma a

satisfazer os mercados consumidores, atendendo a demanda de desejos e

necessidades.

As ferramentas que o marketing se utiliza para a disseminação das

informações sobre os produtos e serviços normalmente são os meios de

comunicação, pois estes conseguem chegar a um grande número de consumidores

e consumidores em potencial.

Os meios de comunicação, seja televisão, ou, internet nos mostram produtos,

serviços que atiçam o nosso desejo. Em poucos anos atrás, poucas pessoas

detinham computadores em casa, muito menos internet ou telefone celular. Hoje,

através de um marketing bastante agressivo, podemos notar que muitos de nós não

conseguimos viver sem estas tecnologias e este avanço tecnológico também é

considerado um avanço no consumismo mundial.

A obtenção de um maior conhecimento sobre esta disciplina através do blog se

faz muito necessária, pois através desta ferramenta poderemos estar sempre

conectados com as mudanças de mercados consumidores. O profissional precisa

Page 119: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

119

estar conectado ao mundo, com as novidades, novos produtos e serviços.

TIPO DE PESQUISA

Existem vários tipos de pesquisa, mas quando buscamos trazer a realidade

prática no desenvolvimento das atividades nos utilizamos da pesquisa ação, pois

este tipo de pesquisa busca através da realidade prática observar se realmente

aquilo que foi visto na teoria é efetivamente aplicado. Este tipo de pesquisa pode ser

aplicada dentro e fora das salas de aula.

O autor Geigel (2012, p. 2) define a pesquisa ação como:

A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa participante engajada, em oposição à pesquisa tradicional, que é considerada como “independente”, “no-reativa” e “objetiva”. Como o próprio nome já diz, a pesquisa-ação procura unir a pesquisa à ação ou prática, isto é, desenvolver o conhecimento e a compreensão como parte da prática. É, portanto, uma maneira de se fazer pesquisa em situações em que também se é uma pessoa da prática e se deseja melhorar a compreensão desta.

Esta pesquisa mostrou na prática como o uso das mídias, pode auxiliar no

desenvolvimento e no aumento significativo do conhecimento sobre Marketing, pois

através desta, colocamos os alunos, através da interação social, em contato direto

com todos os que estão envolvidos como: as pessoas, as tarefas e os

procedimentos.

Através deste tipo de ação os alunos conseguem de forma pró ativa construir o

conhecimento de forma dinâmica, fazendo com que os mesmos não aprendam

apenas o que já foi dito por outros autores, mas consigam de forma construtiva se

tornarem autores do seu próprio conhecimento, vendo na prática.

O autor Geigel (2012, p. 183) reafirma o compromisso da pesquisa ação com a

prática e a importância do seu uso dentro das salas de aula na citação abaixo:

A pesquisa-ação se aproxima mais deste segundo modo de ver a natureza da pesquisa. Se, de acordo com ela, os conhecimentos científicos são provisórios e dependentes do contexto histórico, os professores, como homens e mulheres da prática educacional, ao invés de serem apenas os consumidores da pesquisa realizada por outros, deveriam transformar suas próprias salas de aula em objetos de pesquisa. Neste contexto, a pesquisa-ação é o instrumento ideal para uma pesquisa relacionada à prática.

Demonstrando o papel do professor como mediador e responsável pela

construção do conhecimento, sendo a sala de aula o lugar ideal para a realização

das pesquisas de forma quantitativa considerando que tudo pode ser quantificável, o

Page 120: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

120

que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-los e

analisá-los, utilizando de recursos e de técnicas estatísticas para a apuração dos

resultados.

METODOLOGIA

Ao desenvolvermos a atividade foi realizada uma pesquisa ação quantitativa

onde foram utilizadas duas mídias: a mídia impressa, tendo como ferramenta

revistas específicas na área e também a mídia informática com a ferramenta data

show através do programa PowerPoint, para uma maior explanação do artigo e,

posteriormente a internet para a criação do blog.

Foram utilizados a sala de aula para a realização da primeira etapa onde os

alunos em duplas fizeram um resumo sobre as principais ideias dos artigos pré

determinados, específicos na área de marketing das revistas Você SA,

Fecomércio RS e Revista Sebrae.

A escolha prévia foi feita por dez artigos com assuntos atuais, práticas

utilizadas nas empresas, novidades, informações relevantes na área, novos

produtos, serviços sendo eles todos direcionados a disciplina do Marketing.

Em casa os alunos realizaram a atividade de criação de um documento em

PowerPoint, onde havia uma explanação do resumo dos artigos pré-definidos,

onde os mesmos explanaram sobre suas concepções, percepções,

conhecimentos adquiridos, curiosidades e dúvidas sobre os assuntos.

No segundo momento os alunos foram para o salão nobre da Escola para

explanar sobre o que entenderam, sobre o seu resumo com o auxílio do

equipamento data show, visando uma melhor visualização, uma vez que

realizaram suas apresentações orais para toda a turma com o auxílio das

apresentações feitas através do programa PowerPoint, programa este que facilita

e torna dinâmica e interativa toda a explanação.

No terceiro momento fomos para os laboratórios de informática, onde em

duplas os alunos do Instituto Estadual de Educação Dinarte Ribeiro começaram

a construção do blog sobre Marketing.

Após a realização da atividade os alunos foram convidados a responderem

um questionário fechado, ou seja, um questionário onde as perguntas estão

previamente com as alternativas estabelecidas, de forma quantitativa, ou seja, a

Page 121: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

121

análise dos dados pode ser feita através de estatísticas, sobre a sua avaliação

da atividade, sendo uma população de dez alunos que responderam ao

questionário determinado.

Na próxima etapa os alunos responderam a uma avaliação com relação ao

conhecimento adquirido através do blog. Neste questionário foi perguntado sobre

o perfil dos alunos que frequentam o curso técnico afim de conhecer idade e a

frequência que os alunos se utilizam da internet, e ainda a relação que os

mesmos acreditam existir entre a informática e o mercado de trabalho.

A importância do questionamento destas variáveis é devido às suas

influências e que podem interferir no resultado da pesquisa, pois precisamos

conhecer o perfil de nossos alunos para analisar a adequação do uso das

mídias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através da aplicação do projeto em todas as suas etapas obtivemos os

seguintes resultados:

Perfil dos alunos e o uso da informática

Para definirmos o perfil dos alunos começamos com a idade dos alunos do

curso Técnico em Administração Etapa Dois do Instituto Educacional Dinarte

Ribeiro prevalece a idade de 26 a 30 anos com 50% dos alunos entrevistados

sendo 40% com idade entre 18 anos a 25 anos e 10% com idade de 31 a 40

anos.

Através desta diversidade de idades podemos notar que possuímos a

maioria de alunos com idade entre 26 a 30 anos ou seja, a maioria já se

encontra no mercado de trabalho e buscam neste curso uma maior qualificação

para o mercado de trabalho.

Quando questionados sobre a frequência que se utilizam computadores e a

Internet 90% dos alunos se utilizam na Internet cinco vezes na semana e 10%

utilizam a Internet diariamente.

Mostrando assim que o uso da mídia informática é uma realidade para os

alunos, podendo os educadores se utilizarem da mesma em sala de aula pois

Page 122: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

122

esta já faz parte da realidade dos alunos, sendo uma realidade no dia a dia dos

alunos onde muitos comentaram que no trabalho e na casa se utilizam de

computadores e principalmente da internet.

Quando questionados sobre o uso dos computadores, da informática, para

o mercado de trabalho 100% dos alunos questionados se sentem preparados

para utilizar os computadores dentro das empresas. Mostrando assim a

importância de ensinar esta mídia dentro da sala de aula tanto para a

disseminação de conhecimento teórico-prático como a preparação para o

mercado de trabalho.

O uso das mídias na sala de aula

Quanto ao questionamento sobre a utilização das mídias na sala de aula

100% dos alunos acreditam que estas ferramentas aumentam o aproveitamento

escolar, prendem a atenção e desenvolvem a criatividade e a pró atividade, pois

eles mesmos realizam as atividades, através de um planejamento e uma

orientação pré determinada do educador onde o mesmo é responsável por

orientar o passo a passo a fim de manter o foco na atividade sugerida.

Quanto a avaliação da atividade da criação da resenha critica das matérias

da revista Você SA, Sebrae, Fecomércio RS, e o uso do Power point 100% dos

alunos acreditaram que foi muito boa porque obtiveram um maior conhecimento

sobre o que estava sendo estudado, de forma diferente das experiências

normais de aprendizagem, nas salas de aulas convencionais.

O material atualizado é um diferencial no processo educativo. Mostrando

assim que o interesse dos alunos nas aulas aumentam muito quando nós

utilizamos de material atualizado, adequado e diferente pois atiça a curiosidade e

desenvolve a criatividade dos mesmos.

Com relação à avaliação, da construção do blog, para o aumento do seu

conhecimento, na disciplina de marketing, 100% dos alunos avaliaram a

atividade muito boa porque obtiveram um maior conhecimento sobre o que

estava sendo estudado

Esta pesquisa demonstra que o uso de mídias, prende mais a atenção dos

alunos, desenvolvendo o espírito pró ativo, pois estes educandos sentem-se

parte construtora do conhecimento mostrando a importância da inovação de

Page 123: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

123

nossas aulas visando um maior rendimento em sala de aula e no

desenvolvimento das atividades propostas.

Demonstrou também, que os alunos sentem a necessidade do

conhecimento destas tecnologias não só no processo de aprendizagem quanto

sala de aula, mas também para a vivência no mercado de trabalho, uma vez que

a maioria maciça das empresas se utilizam de computadores ou programas ou

ainda da internet, sendo o conhecimento destas ferramentas necessárias para

um bom desempenho profissional.

CONCLUSÕES

O uso de diferentes mídias na escola tornou-se o caminho para promover

mudanças de atitudes e de metodologias de trabalho, pois o professor precisa se

especializar para melhorar sua didática, porque hoje, apenas o giz e o quadro não

suprem as expectativas dos alunos, que estão cada dia mais exigentes.

Através de muita informação entre os educadores e diversas variáveis como: a

capacitação para o uso adequado das mídias, condições físicas em nossas escolas

como o número de laboratórios de informática e de computadores e a disponibilidade

de equipamentos como data show, máquinas para a impressão de material são

variáveis para o processo adequado do uso das mídias, pois não adianta o professor

planejar a utilização destas mídias se a escola não possui a disponibilidade de

equipamentos

Por isso, é importante o planejamento, dos educadores para o uso destas no

processo educativo permitindo uma gestão participativa no processo onde os alunos

sintam-se parte integrante do processo. Estes alunos que além de buscar aptidão e

formação escolar, buscam obter conhecimento visando uma posição melhor no

mercado de trabalho.

Ao realizar a pesquisa ação com o uso das mídias o grau de aproveitamento

dos alunos junto a aula foi maior, onde os alunos agregaram conhecimento sobre a

disciplina e tiveram um maior aproveitamento se comparássemos com uma aula

convencional, pois as mídias prendem a atenção dos alunos, fazendo com que os

mesmos obtivessem um maior conhecimento sobre a disciplina de marketing de

forma criativa e construtora do conhecimento.

Atividades diferentes, às do cotidiano escolar, fazem com que os educandos

Page 124: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

124

possam desenvolver a sua criatividade, se sentindo mais pró-ativos, sendo os

próprios alunos autores do seu conhecimento, através de uma metodologia

dinâmica.

Hoje, existe um novo perfil de aluno, onde os mesmos estudam e trabalham e a

tecnologia está presente diariamente na vida destes estudantes. Seja no trabalho,

nas redes sociais, seja na comunicação através da troca de e-mails ou apenas para

o entretenimento.

Este novo perfil, mostra também que eles estão sedentos por tecnologia dentro

das salas de aula, e não veem dificuldades na utilização destes recursos pois já se

utilizam dos computadores e da internet diariamente nas suas casas e também nos

locais de trabalho, onde as empresas se utilizam com programas próprios para os

controles internos.

Hoje o mercado de trabalho não admite pessoas que não tenham o

conhecimento sobre computadores, pois eles auxiliam nos processos dentro das

empresas e também na troca de informações e na busca constante pelo

conhecimento.

Verificou-se então que o uso das mídias na sala de aula são muito importantes

na construção do conhecimento. O educador precisa planejar e as mídias além de

proporcionar a pró atividade dos educandos, traz muitos benefícios como a

interação, o melhor uso do tempo, a criatividade, a curiosidade, a busca pelo novo,

entre outros. O uso das mídias é necessário, pois estamos preparando alunos não

só para concluírem o curso, mas também, para o mercado de trabalho e para a vida

e as novas tecnologias são uma realidade mundial.

REFERÊNCIAS

FREIRE, F. M. P.; PRADO, M. E. B. B. Projeto Pedagógico: Pano de fundo para escolha de um software educacional. In: J. A. Valente (org.) O computador na Sociedade do Conhecimento. Campinas, SP: UNICAMP-NIED, 1999.

GEIGEL, G. I. Pesquisa-ação. Disponível em: <http://www.educaremrevista.ufpr.br/arquivos_16/irineu_engel.pdf. >. Acesso em jun/2012.

GOMES, M. J. Blogs um Recurso e uma Estratégia Pedagógica. Disponível em: <http://arrobainfoeduc.blogspot.com.br/2007/01/blog-como-ferramenta-pedaggica.html>. Acesso em mai/2012.

Page 125: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

125

KOTLER, P. Administração de Marketing: Análise, Planejamento, Implantação e Controle. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1998.

MADEIRO, E. P. O Papel do Gestor escola para a motivação do aluno e do professor. Disponível em: <http://www.artigonal.com/educacao-online-artigos/o-papel-do-gestor-escolar-na-motivacao-do-aluno-e-do-professor-3351283.html>. Acesso em jun/2012.

MARCUSCHI, L. A. O hipertexto como um novo espaço de escrita em sala de aula. Universidade Federal de Pernambuco, Linguagem & Ensino, Vol. 4, No. 1, 2001 (79-111).

PRADO, M. E. B. B. Pedagogia de Projetos. Disponível em: <http://www.eadconsultoria.com.br/matapoio/biblioteca/textos_pdf/texto18.pdf>. Acesso em jun/2012.

Page 126: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

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QUALIDADE NA EDUCAÇÃO: UMA ANÁLISE FILOSÓFICA

Adalberto Dutra Rossatto1

Carmem Maria de Andrade2

INTRODUÇÃO

A pesquisa tem por objetivo analisar o discurso da Qualidade na Educação,

investigando às implicações filosóficas e ideológicas na formação do professor.

Travaram-se, muitos debates significativos, a respeito do tema – Educação da

Qualidade Totalizante no Brasil, a partir dos anos 90, época das primeiras entradas

dessa ideologia burguesa nas escolas brasileiras. Nos anos 80, a qualidade passava

a ser parte integrante do comércio e da indústria. Nos princípios dos anos 30, a

qualidade na formação do trabalhador foi enfatizada na Inglaterra. Seu ápice no

mundo foi em torno dos anos 50, embasando-se no industrialismo nipônico, após a

Segunda Guerra Mundial. A delimitação da pesquisa teve como norte orientador, à

educação dentro do invólucro do neopositivismo industrial, pós-anos 50. Tratava-se

do discurso da sobrevivência competitiva dos seres mais bem adaptados. Depois de

20 anos de atraso, surgiram os primeiros materiais anticapitalismo, provindos dos

marxistas. Deste conflito, definiu-se à problemática da pesquisa; averiguar em que

medida o capitalismo e o marxismo repercutiram na formação do professor, perante

o discurso referente à totalização da qualidade na educação. Estes dois vieses

contraditórios, se apresentam de modo conflituoso: os capitalistas se posicionam do

lado da ideologia nipônica como modelo incontestável de qualidade na educação,

enquanto os marxistas pela via oposta apresentavam as fossilizações deste discurso

qualitativo, negando-o. As compreensões destas duas acepções fornecem subsídios

valiosos à Qualidade na Educação, em nossos dias. Parte do debate se efetivou

pela necessidade de oposição ao caráter impositivo destas ideologias.

A década de 60 já havia travado uma guerra prático/intelectual, no que tange à

educação de adultos na perspectiva de uma pedagogia crítica e autocrítica. Paulo

Freire, como mentor deste pensamento, sempre negou qualquer tipo de ensino

colonizador. Seu trabalho é referência na interrupção aos ditames do neoliberalismo.

1Doutorando na Universidade Federal de Santa Maria UFSM. E-mail: <[email protected]> 2 Doutoranda na Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: <[email protected]>.

Page 127: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

127

Uma das questões relevantes e imprescindíveis que circunscreveram o debate foi:

Será que os capitalistas e os marxistas não estavam brigando pela implantação de

uma qualidade insustentável na educação? Os primeiros acreditavam que a

proposta de qualidade via Japão, poderia ser aplicada em todas as empresas do

mundo como um modelo perfeito. Tudo daria certo independente das diferentes

situações culturais. Consideravam e ainda consideram este paradigma funcionalista

revolucionário e emancipador, dentro dos padrões qualitativos da microeletrônica. Os

segundos, defendiam a politecnia, como modelo incontestável de educação, por

possibilitar uma qualidade suprema como formação na conquista do homem

omnilateral. Depois de mais de três décadas, a Qualidade ainda tem sido um tema

polêmico e recorrente ao longo dos anos no mundo educativo do trabalhador. O

próprio nome “Qualidade”, de acordo com os vários dicionários pesquisados, não

inspira confiança na concreticidade do termo. Apresenta ambiguidades.

Inegavelmente, à palavra Qualidade, traz contradições insofismáveis. O compêndio

educativo tem demonstrado ao longo dos tempos, que a qualidade do ensino

brasileiro, advém de modelos extemporâneos. O texto visa discutir a ideia de que a

Qualidade jamais está pronta, está sempre se perfazendo, frente aos conflitos

estratificadores.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O horizonte aberto pela dialética racional possibilita uma reflexão diferenciada

ao colocar em contestação a Qualidade na Educação. Michel Lowy (1978, p. 19),

argumenta que Marx se dedicou ao esclarecimento da “dialética racional” ao tratar

do aspecto “crítico e revolucionário”. Não existe nenhuma neutralidade em nada, e é,

neste sentido que, a pessoa do professor (a) deverá se relacionar com os outros.

Essa troca relacional possibilita que a educação seja uma experiência tecida

artesanalmente. Torna-se forma de vida por estar sempre se construindo e se

dissolvendo. É estado de devenir, nessa progressão reconstrutiva da própria

desconstrução, sem se ideologizar. Esta práxis da práxis desemboca no pensamento

de Marx. Sua compreensão de história é estar sempre em movimento, frente aos

conflitos entre dominadores e dominados, até materializar a história dos sujeitos não

escravizados. E é, por este motivo, que no processo idiossincrático em que cada

pessoa vive, não existe neutralidade em nada do que faz. A forma de agir de cada

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128

um, expressa em suas representações o reflexo de suas ações de modo objetivado.

Deste ponto de partida há a criação e recriação da realidade, que é aquilo que é, e

ao fazer a representação dessa realidade, a pessoa passa a discursar sobre aquilo

que a realidade é. Dessa maneira, procura-se descrever que os ideais de dominação

de cada época podem refletir no indivíduo, de alguma maneira, naquilo que ele é.

Freire (1981, p. 14) vê a pessoa como um corpo consciente, não alienado, em

estado de libertação. No primeiro capítulo de Pedagogia do oprimido – trata do

“fenômeno da introjeção da consciência dominadora na consciência oprimida. Diz

que a consciência oprimida constitui-se como consciência dual: é ela e é a outra

nela hospedada”. Para que a pessoa se liberte dessas ruminâncias interiores

precisará perceber que o opressor manipula a partir do mito dissimulado pelas

classes opressoras. Se o oprimido não se identificar com esta casta, deixará de ser

o seu “hospedeiro”. Este é um dos caminhos possíveis para que a pessoa/professor

(a) possa se libertar das imposição ideológicas do discurso ideológico da qualidade

na educação. É importante relembrar que o método de Freire não trabalha com

pontos fixos e imutáveis na aplicação da teoria na prática e da prática na teoria.

Trabalha com a práxis autêntica dentro de uma unidade dialética indissociável da

própria ação/reflexão/prática/teoria/crítica. Não existe contexto teórico fora da

existência do contexto concreto. Gradativamente, a acepção dialética de Freire, faz

verter os caminhos do método dialético escrito por Marx, não pelos marxistas. As

razões que nos levaram a tais pensamentos, decorrem de uma tentativa de

superação das ideologias, particularmente, da ideologia burguesa, por ser uma

ideologia de classes. O marxismo também se tornou uma ideologia burocratizada de

classes, a partir do totalitarismo stalinista. É da ótica de Marx e não do marxismo,

que queremos falar.

A passagem da produtividade comercial dos fenícios, a industrial de Taylor, de

Ford e do Toyotismo foi definindo a pessoa, apenas, como produtora de bens

econômicos e utilitários. Neste ponto, a filosofia de Marx ajudou-nos na crítica ao

rebater a produtividade capitalista, na superação da ideia de trabalho para a

sobrevivência e a subsistência. Pois a “sublevação”, era uma forma de apropriação

indevida, usurpada pelo capitalista, como negação do tempo livre. Quando Schaff

(1995, p. 12-59) critica Mannheim, esclarece que a verdade não pode ser verdade

para uns e mentira para outros. Assinala que a verdade é para todos sempre uma

verdade parcial e objetiva, como racionalidade individual/subjetiva/objetiva/social. A

Page 129: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

129

verdade puramente, subjetiva equivale à falsidade. O “fator subjetivo” é introduzido

pelo humano ao processar o conhecimento. Esses materiais históricos servem para

constatações próprias, em que o fator subjetivo faz intervenções entre o todo e a

parcela, podendo a parcela ser tomada no todo, sendo o todo acessível ao

conhecimento pela mediação de suas partes, tomando o caráter de um processo

infinito. Schaff está tratando da “historiografia” e da “gnoseologia” dizendo que o

conhecimento das causas de algo é sempre um conhecimento inacabado; “a custa

de afrontamento de ponto de vista” distintos e contraditórios, “a verdade histórica se

constrói cada vez mais complexa” e precisa a partir de verdades parciais, e neste

sentido é sempre verdade relativa. O historiador/professor (a) mesmo dispondo dos

mesmos materiais históricos sempre chegará a propósitos diferenciados.

Talvez esta seja uma das formas de explicar a qualidade individual de cada um.

Lembremo-nos, rapidamente, de três personalidades únicas, cada qual com um

estilo incontestável, na Renascença italiana: Leonardo da Vinci (1452-1519); Miguel

Ângelo (1475-1564) e Rafael Sanzio (1483-1520). Voltando-nos, para a Idade Média,

detectamos uma qualidade diferenciada da chamada qualidade total/totalizante. O

lucro não estava acima de tudo, outros fatores influenciavam as relações e os modos

e meios de produção. Se o Renascimento valorizava a criação-inventiva, quer dizer

que a arte na expressão leonardiana estava vinculada à ciência, sem ser esta

relação acidental. Havia uma intenção antifuncional, primando pela busca da beleza.

O Feudalismo dava os indícios de uma qualidade, cuja origem foi a descentralização

Feudal à centralização capitalista. Gimpel (1977), conta: ao contrário do que se

pensa, a Primeira Revolução Industrial antecede a Renascença italiana e a

Revolução Inglesa da Máquina a Vapor. No entanto, continua sendo ignorada. Entre

os séculos XI ao XIII, ocorreu o ápice tecnológico de uma sociedade “técnica e

intelectual”. A educação da Idade Média, já evidenciava os sintomas qualitativos com

predominância da Escolástica aristotélica. Havia ainda, nessa Idade Medieval, dois

tipos de homens, duas educações e algumas individualidades distintas, por

possuírem estas duas formações. A criação inventiva do Relógio de Dondi, trouxe

um tempo padronizado para o mundo do trabalho. A invenção do relógio se tornou

parte inseparável da nossa vida diária. O mundo Medieval é de uma riqueza

documental quase imensurável, por contrariar escritos já existentes. Para uma breve

noção, começava uma crença na ideia de progresso, houve um drástico consumo de

energia elétrica, tarefas manuais passaram a ser executadas à maquina, a inflação

Page 130: Práticas educativas e as interfaces da qualidade

130

fora divulgada pela primeira vez, a moeda desvalorizada trazia falência bancária, o

desenvolvimento de máquinas foi superior ao de qualquer outra civilização, o uso da

engrenagem foi limitado “na animação de brinquedos e autômatos”. Nessa época,

existiam dois tipos distintos de sistemas de educação na civilização ocidental:

O das artes mecânicas e das artes liberais – formam respectivamente dois tipos de homens: os engenheiros e os literatos. São as 'duas culturas' de que fala C. P. Snow. Quanto aos historiadores, tendo adotado os preceitos dos intelectuais, raramente se debruçaram sobre a história das técnicas. (GIMPEL, 1977, p. 10)

Segundo historiadores, esse acontecimento denegriu, o verdadeiro sentido das

técnicas, como se fossem algo inferiorizado. Gimpel diz que no medievo a energia

hidráulica foi tão importante, como é o petróleo em nosso século. O trabalho

mecanizado, substituiu o trabalho forçado dos escravos, pela maquinaria. O

desemprego em massa se tornou algo chocante. O cerne do funcionalismo

capitalista qualidade/controle total, é bem antigo. Gimpel (1977, p. 12), num

documento do século XIII, da abadia cisterciense de Clairlvaux, afirma que “742

mosteiros da Ordem de Cister”, dispersos em países como Portugal, Suécia, Escócia

e Hungria foram construídos todos com o mesmo sistema hidráulico, algumas

diferenças eram explicadas pelas variantes locais – “pode se dizer que um monge

cisterciense cego era capaz de encontrar seu caminho em qualquer das casas de

sua Ordem”. As ovelhas tinham lugar destacado no século XII, no quadro

econômico. Além de alimento, o pergaminho era feito de suas peles e a lã era

importantíssima na geração de riquezas. A educação atingiu um momento

inigualável, gerando a necessidade de livros. A cultura começou a se tornar

abrangente. Do controle das peles das ovelhas nesses mosteiros organizadíssimos,

surgia uma competência técnica e instrumental eficientíssima.

O que queremos demonstrar com essas ideias é que o capitalismo sendo

herdeiro do feudalismo, aprendeu a explorar às pessoas, a partir da visão funcional,

técnica e utilitária no controle da produção, originando uma massa pauperizada.

Mooney (1974, p. 101-131) diz que os princípios das organizações, descende da

estrutura da Igreja. Esta sempre teve uma organização hierárquica simples, mas

invejável, por muitas corporações. A qualidade/qualidade total introjetou nas

organizações, empresas, escolas, faculdade e universidades muito dessa estrutura

feudalista. O feudalismo foi marcado pela luta entre as classes sociais. Isto repercute

na escola como subproduto deste sistema. Engels (1986, p. 179-183) parte de “O

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131

Capital de Marx” e do “Livro de Morgan”, radicando-se a organização gentílica, por

esta civilização não ter admitido a dominação e a servidão. Procurou saber o que

havia levado ao esfacelamento dessa sociedade, analisando as relações

econômicas. Os peles vermelhas norteamericanos serviram de exemplo. O

desenvolvimento das várias genes, dividiu a tribo em diferentes classes. Se desde

os tempos mais antigos os direitos eram concebidos conforme a riqueza, podemos

dizer que, a educação pode através do professor (a) provocar a reflexão a partir da

realidade existencial de cada comunidade, como ponto de arranque para discutir,

que tipo de Qualidade desejam. Uma Qualidade que serve para a escravização ou

uma Qualidade que possibilite novas condições existenciais de vida sustentável, fora

destes ditames que avassalam à cultura? Valendo-nos de Engels, poderemos

encontrar uma compreensão para tratar da “Qualidade da Educação”:

Assim o Estado da antiguidade era, antes de tudo, o Estado dos donos de escravos para a subjugação dos camponeses servos e dependentes e o moderno Estado representativo é o instrumento da exploração do trabalho assalariado pelo capital. (ENGELS, 1986, p. 184).

Desta passagem, pode ser entendida, três formas de expropriação: A

escravatura no Mundo Antigo, a servidão na Idade Média Feudal e o pagamento do

salário, no Mundo Contemporâneo. Engels expressou, as três formas de escravidão

que impossibilitam a pessoa de ter, à Qualidade de vida almejada. Marx queria a

destruição deste sistema divisionista. Eis o porquê de ser detestado pelos seus

opositores. Estes não querem jamais possibilitar qualquer tipo de qualidade material,

semelhante a que possuem. Essa forma de divisão subumana tem defendido a

estratificação entre os mundos. A descentralização fomentada continua ao modo

medieval. Um “salto qualitativo” torna-se fundamental e necessário. A Escola, como

mundo de todas as pessoas, pode fazer isto. Se a Idade Média estava voltada

exclusivamente para a educação escolástica, isto não quer dizer que tenha

conseguido banir a qualidade artística, literária, filosófica, pedagógica, dentre outras.

Vislumbrava-se, já naquele tempo, do Pré ao Alto Renascimento italiano, uma

educação técnica voltada para um educare instrumental, entretanto, algumas

pessoas não aceitavam essas regras fixas, por terem uma compreensão muito além

desse domínio. Estas pessoas não estavam interessadas em satisfazer uma

sociedade altamente funcional, mas em colocarem marcos demarcadores dos limites

e das delimitações desta mesma sociedade, originando uma Qualidade distinta a

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132

partir da criação inventiva de cada um. É neste sentido, que o estudo desconfia da

ideia de qualidade que forma para a padronização, colocando sobre suspeita a

“Qualidade da Educação”. A palavra “qualidade” é controversa, tornando-se vaga e

inconsistente, em algumas circunstâncias. Em defensores do capitalismo como

Hutchins (1992, p. 3-4) o termo qualidade/qualidade total nos dois dicionários de

língua inglesa Webster e Oxford, é definido como “grau de excelência”. Juran

apresenta a Qualidade Total e a do Produto, “Q maiúsculo versus q minúsculo”,

enquanto para Crosby não passa de “absoluta”. Para Lobos qualidade é cumprir as

exigências do cliente. Para a tradição industrial japonesa é uma sistemática

administrativa alicerçada na participação de todos. Teboul prefere o termo “dinâmica”

em lugar de “Total”, num movimento contínuo e permanente. Para O'Donnell a

palavra “qualidade” é incompatível “com quantidade”, prefere substituir a palavra

“total” por “global”. Passa a usar a ideia de “Qualidade integral”. Para Moller

“qualidade é um conceito ambíguo”. Hutchins insiste que a definição do dicionário

Roget's Theshaurus é mais aplicável, qualidade é um grau de superioridade sem um

grau de perfeição.

Os marxistas, assinalam que a qualidade, no viés capitalista não passa de um

“controle total do trabalhador”. A “qualidade total” é a nova ofensiva do capital,

sintonizada à lógica neoliberal, na competição dos megamercados (globalização) e

na negação “autônoma dos trabalhadores”. É um militarismo disfarçado que

massacra. Moroz (1955, p. 133-171) escreve que a “qualidade” tem uma designação

interna que se “desvela” ao ser confrontada com objetos e fenômenos indicadores

dos limites separadores. Esse caráter adverso diverge dos “sistemas metafísicos e

idealistas”, para estes tudo já está dado subjetivamente. Fazem a pessoa

dependente de suas sensações, enquanto “o materialismo dialético” vê a qualidade

de modo mais objetivo, real, a matéria está em circulação constante. A “imagem

subjetiva de cosias objetivas, revela “as qualidades subjetivas das coisas”, que são

inseparáveis dos fenômenos reais ao serem pensados pela consciência. Moroz

coloca que Engels em “A Dialética da natureza”, expressa a transição do quantitativo

ao qualitativo, através da “Lei do desenvolvimento da natureza e da sociedade”,

como “acréscimo ou diminuição quantitativas de matéria e de movimento (da

chamada energia). Engels tratou da equivalência entre quantidade/qualidade

reciprocamente. Triviños (1987) pode ser apreciado a respeito desta conexão: Os

objetos, as coisas e os fenômenos, são distintos pela quantidade de qualidades que

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cada um possui. A qualidade representa ainda o que o objeto é em relação a outros

objetos. Abbagnano (1982, p. 785), demarca: “Qualidade” – do grego significa –

Dinamikos – do latim Qualitas, do inglês Quality, do francês Qualité e do alemão

Qualität. Sua noção é extensa e irredutível a uma reputação única, diferencia-se “da

propriedade”, indicando o que caracteriza ou individualiza um objeto, sendo própria

do mesmo, ao compreender uma mesma família de conceitos “puramente formal”.

Quase “nada foi acrescentado” no percurso da história da filosofia, às proposições

de Aristóteles. A Qualidade foi um tema bastante discutido na tradição filosófica. No

entanto, deixaremos de lado.

Em algumas circunstâncias a qualidade foi levada mais para a noção objetal.

Com os dialéticos foi ampliada esta condição da Qualidade. Esse entendimento não

está restrito ao cognitivo como muito se tem pensado, mas a todo o corpo emocional

que anima a pessoa em sua integralidade, na busca incessante pelo saber. A

qualidade na posição dos marxistas tem possibilidades pela via da educação da

politécnica. Manacorda (1991, p. 67), pensa numa “possível função de conteúdo no

processo de ensino do futuro”, contra qualquer tipo de educação unilateral. Mesmo

que Marx se mostrasse cético a repeito do ensino politécnico no 'presente', Nogueira

(1993, p.129) diz que o pensamento marxiano, depois de passar por diversas

modificações abandonou este ceticismo, vendo possibilidades do ensino politécnico

ser organizado de acordo com “o interesse dos trabalhadores”. Isto se diferencia em

todos os aspectos dos interesses econômicos. Poderia ser perguntado: Qual

Qualidade se quer? Uma Qualidade pela via da Arte por ser algo original? Fayga

Ostrower (1987, p. 90), no livro, Criatividade e processos de criação, diz que é “pela

linguagem, que a obra de arte firma em nós a dupla experiência: a do fenômeno do

ser e a da ordem do ser”. É neste sentido, que queremos dizer que desde os

tempos mais remotos da humanidade, existe uma Qualidade que faz parte do

compêndio cultural, sem ser atividade humana instrumental voltada para ao

consumo. A qualidade artística difere da qualidade totalizante, tem um sistema

individual próprio, centrado no realizador da obra. A Qualidade da Educação pode

propiciar o descobrimento de novos horizontes a partir das conjunções

multifacetadas dos saberes no mundo relacional. Não existe nenhuma Qualidade

preexistente, ela precisa ser forjada na marcha pelos próprios artesões da

pedagogia. Talvez, essas ideias possam ajudar a constituir um afazer docente

alicerçado numa nova perspectiva de práxis.

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134

METODOLOGIA

Definimos os procedimentos da pesquisa a partir do “método dialético”. A práxis

de inspiração pessoal seguiu a ideia de Freire. Ele foi um exímio estudioso de Marx

e sempre acreditou que a educação só poderia ser concebida desta forma. Em suas

“Primeiras palavras”, Freire (1981, p. 19), explica sua proposta dizendo ser “o

resultado de nossas observações [...] que se vêm juntando […] nos vários setores

em que tivemos oportunidade de exercer atividades educativas”. Novoa (1979, p.

30), coloca que o pensador crítico deve olhar tudo distanciadamente, para não se

ideologizar. Complementa esta ideia, chamando a atenção para a visão

arqueológica: “a educação para a libertação, deve começar por uma espécie de

arqueologia, do conhecimento ou conscientização”, do arqueólogo que somos nós,

em nossas criações.

Bardin (1977, p. 30) ajudou-nos a acrescentar “que a intenção da análise de

conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção” (ou,

eventualmente de recepção) inferência esta que recorre a indicadores (qualitativos

ou não). O pesquisador é o analista dos vestígios. Valemo-nos também da “dialética

socrática” nos diálogos relacionais e na conexão “consciência e mundo”, buscando

maior suporte no pensamento marxiano. Marx (1988) criticou Hegel e a sua dialética,

por sua configuração essencialmente acrítica, metafísica e defensora do status quo

alemão. Voltamo-nos para a concepção de Marx, buscando aportes na “dialética

materialista e histórica”. Diferente de Hegel a existência humana criava o mundo a

partir do concreto e não o contrário. A existência é que nos torna conscientes do

mundo. Em Hegel era a consciência que fazia a existência do homem. Em Marx o

concreto se apresenta como síntese da própria história humana, articulada

organicamente entre essas relações sociais de poder e da produção material dos

seres humanos. O concreto é definido pelo trabalho do intelectual que, sobretudo,

deverá se emancipar da materialidade que investiga.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A reflexão na base do diálogo é caminho alentador no debate relacional, entre

as pessoas. A dialética, depois de Sócrates possibilitou, a tolerância, a escuta, a

sensibilização. Abriu passagem para uma conversa sem imposições. O outro passou

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a se fazer presente na ação e reação elocutiva, a partir da experiência

transformadora pela linguagem. A Idade Média estava voltada para uma acepção

escolástica de educação impossibilitando à dimensão expressiva, mesmo assim,

uma qualidade diferenciada era veiculada pelas pessoas que se rebelavam aquele

modelo. Como disse Gimpel, mesmo que do Pré ao Alto Renascimento italiano,

houvesse uma educação técnica voltada ao mecanicismo, sempre houve aqueles

que não o aceitaram. O advento da burguesia ainda implica em nosso meio um

saber absoluto. Isto reflete consciente ou inconscientemente, na prática dos

professores (as), tudo depende sempre do lugar de onde estamos falando. Enquanto

a qualidade totalizante segue a tradição de Platão, torna-se necessário, um

pensamento no mundo concreto de uma Educação de Qualidade fora dos

parâmetros do positivismo. Os desbravadores sempre estão procurando por todos

os meios e modos de produção uma forma de escravização. Ser empático com eles

é decretar a morte como devoção. As ideias suscitadas até este momento, podem

servir para repensar um pouco, que Qualidade da Educação queremos como

professores (as)?

O mundo instrumental/utilitário tem avassalado a humanidade. Em tempos bem

antigos, por volta de 2150 a.C, “O Código de Hammurab” já explicitava, algumas

regras drásticas. Se um construtor construísse uma casa e esta desabasse e

matasse os moradores, o construtor seria imolado. Um equívoco evidente converge

para o ritmo frenético e embriagador, cuja educação deve corresponder,

particularmente, às exigência de uma elite esmagadora, que coloca o dinheiro acima

de tudo. Na verdade defendem, a concentração de riquezas e o acumulo de

excedentes, como se a vida estivesse resumida somente a isto. No “Jornal Zero

Hora” (1998, p. 6), anunciava-se: “A Hora do Ensino – a Luz Verde Para a

Educação” nos moldes técnicos. Os Governos colonizadores validaram uma tese: “a

reforma integral e a melhora dos sistemas educativos rimam com o progresso do

continente”. A ideia era preparar o trabalhador para a fabricação. “[...] o Brasil e

outros 33 países receberão empréstimos de US$ 43 bilhões em três anos para o

financiamento de projetos sociais, em todo o continente americano, exceto Cuba”.

REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, N. História da filosofia. Lisboa: Presença, Vol. VI, 1982.

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136

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