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Ministério do Exército Estado Maior do Exército A POLÍTICA EDUCACIONAL PARA O EXÉRCITO BRASILEIRO ANO 2000 - FUNDAMENTOS -

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Ministério do Exército

Estado Maior do Exército

A POLÍTICA EDUCACIONAL

PARA O EXÉRCITO BRASILEIRO

ANO 2000

- FUNDAMENTOS -

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2. AS PECULIARIDADES DA ATUAL REALIDADE

A humanidade presencia nos dias de hoje, uma espetacular

transformação que atinge a todos os campos de atividade. Essa nova era, que já estamos vivendo há alguns anos, foi surgindo gradativamente, e se caracteriza, agora, como a prevalência da mudança como a sua característica Fundamental.

Um conjunto de fatores estabeleceram as condições essenciais para que se instalasse essa marca, parece que definitivamente, no processo civilizatório, que o homem vem protagonizando desde as épocas mais remotas.

O fator mais importante desse conjunto parece ser a progressiva e ascendente trajetória de produção de conhecimentos e a conseqüente aplicação desses conhecimentos na solução de problemas da vida cotidiana.

A trajetória, que se iniciou suavemente, pouco a pouco assumiu um desenvolvimento notável que, nos últimos anos, atingiu uma escala de aceleração exponencial.

Outros dados devem, também, ser considerados: -por volta de 1908, a humanidade tinha acumulado apenas 3% de

todo o conhecimento existente hoje em dia; -oltenta por centro de conhecimento que o homem dispõe na

atualidade foi produzido após a 2ª Guerra Mundial; -alguns pesquisadores indicam que, do conhecimento a existir em

2005, 50% ainda será produzido na próxima década. Variadas causas parecem ter contribuído para essa verdadeira

explosão do conhecimento e para a rapidez crescente com que as teorias e os princípios científicos são aplicados nos mais diferentes setores de produção de tecnologias.

O racionalismo, o empirismo, o aperfeiçoamento continuado de instrumentos e de métodos de observações, o advento da imprensa, o desenvolvimento, marcados pelas revoluções industriais, são algumas das causas apontadas.

Mas o impulso que realmente está colocando o homem na “era do conhecimento” foi gerado pelos seguintes elementos:

-aplicação continuada de expressivos recursos na área da pesquisa como decorrência do desenvolvimento econômico- industrial, que exigiam novas formas de produção e de gerenciamento;

-os avanços da microeletrônica, utilizados nas novas tecnologia da informação e da comunicação;

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- surgimento de novas estruturas e mecanismos voltados para a produção e a difusão do conhecimento: grandes laboratórios e centros de pesquisas, ligados a empresas Industriais, grandes bibliotecas

- associação da universidade com a empresa, com o objetivo de preparar recursos humanos para realizar pesquisas no interesse da produção;

- criação de grandes redes no setor de comunicação, permitindo a rápida difusão da informação.

- O desenvolvimento dos meios de comunicação e a utilização progressiva da informática em todos os setores da atividade humana desempenham importantíssimos papéis na configuração dessas condições.

Claro que os novos meios colocados à disposição do processo de comunicação e os recursos que a informática possibilita, na verdade, decorrem do desenvolvimento científico. Contudo, é necessário entender que as novas tecnologias aplicadas à comunicação e ao tratamento da informação produzem diretamente conseqüências em nível organizacional e individual, gerando outros tipos de transformações.

Desse modo, é necessário compreender que a rapidez com que as informações são processadas, difundidas e recuperadas cria novas necessidades individuais e organizacionais, exige novos comportamentos e estabelece uma nova realidade em que o tempo e o espaço são “encurtados”. Essa realidade permite que o conhecimento de acontecimentos de variadas naturezas sejam difundidos para os mais diferentes públicos e partes do mundo praticamente no mesmo momento em que estão ocorrendo.

Uma avalanche de dados, informações, interpretações, de modelos de comportamentos, de novos valore e atitudes é imposta, ininterruptamente, a todas as pessoas, moradoras de centro urbanos ou áreas rurais, no escritório, na fábrica ou no clube esportivo, facilitando e impulso o processo de mudança tornando-o mais veloz, abrangente e profundo.

As conseqüências dessa intensa difusão de informações, ao longo do tempo, atingem os mais variados níveis e áreas de atividades humanas.

O político, o militar, o cientista, o educador, o administrador, todos sem exceção ficam submetidos a esse processo e, então, reformulam suas atitudes, reorientam seus comportamentos, questionam as informações disponíveis e, nessa atitude crítica, criam novas idéias, teorias e soluções, modificando os mecanismos adaptativos ao ambiente em que vivem, recriando o seu mundo, a sua cultura.

O peculiar, nessa nova era em que estamos vivendo, é que a velocidade das modificações está sempre crescente, exigindo, do homem, uma capacidade adaptativa altamente desenvolvida, de modo a reajustar,

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rapidamente, os seus quadros perceptivos, adequando os às múltiplas alterações que se sucedem nos cenário de sua vida, ainda quando as percepções anteriores não tinham sido perfeitamente processadas. Esse processo de “encurtamento”, no nível psicológico, produz conseqüência nas motivações e nos padrões de comportamento individual.

Nesse novo mundo, não é possível predizer com relativo grau de certeza o que acontecerá amanhã ou depois. A volatilidade, a incerteza, a complexidade e a ambigüidade estão definindo o ambiente em que as ações se desenvolverão no futuro.

Anteriormente, vivíamos em um ambiente em que a educação, a tecnologia e os valores aceitos indicavam os padrões de comportamentos desejáveis e que deveriam ser aprendidos. A mudança era incremental, ocorria gradativamente em pequenos avanços, por isso era fácil preparar-se para as modificações, que, presumivelmente, deveriam ocorrer. O passado era um referencial valioso que nos dava muita experiência e regras seguras para serem seguidas.

Agora, a mudança é quase imprevisível, ela excede à experiência que nós trazemos do passado. O indivíduo tem de possuir habilidades, conhecimentos e atributos especiais para atuar produtivamente nessa realidade.Por outro lado, as organizações para continuarem a ser o fundamento básico da estabilidade, nessa era de rápidas mudanças, terão de ser mais abertas e flexíveis para serem efetivas e, então, sobreviverem. 3. A QUESTÃO DO CONHECIMENTO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

A organização do conhecimento, disponível na sociedade em geral

e, em particular, nas agências educacionais, tem passado ao longo da História, por transformações que marcam períodos distintos na evolução cultural da humanidade.

O primeiro período permeia o tempo que decorre entre a criação da universidade (1020) e o término do Renascimento ( Séc XVI), onde era possível ao homem, individualmente considerado, possuir um conhecimento total e universal.

O segundo período começa com o racionalismo e o advento das tecnologias que permitiam a difusão mais ampla e rápida do conhecimento e vai até nossos dias. Gradativamente, cresce a importância do especialista que conhece, cada vez mais, uma parcela restrita da realidade.

O terceiro período, que já estamos vivendo, parece retornar ao Renascimento, com a exigência de conhecimentos globais e profundos, mais agora com a possibilidade de existirem estruturas que permitem concentrar

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grandes quantidades de informações de forma integrada. No entanto, esse novo período vem acompanhado de algumas características que marcam a sua individualidade:

-reavaliações do conceito de verdade no desenvolvimento do pensamento cientifico;

-advento de outras formas de conhecimentos, além do cientifico; -ocorrência de produtos integrados do conhecimento, obtidos

mediante a utilização de abordagens interdisciplinares. Um dos aspectos mais relevantes dos nossos dias diz respeito às

novas tecnologias da informação e da comunicação, que estão permitindo uma total reestruturação nas formas de produção e difusão do conhecimento.

Esse processo tem conseqüências amplas na área educacional, a saber:

-alterações profundas na estrutura do conhecimento disponível e nos processos de ensino- aprendizagem decorrentes de mudanças nos modelos de pensamentos, de memória e de atenção;

-aparecimento de novas estratégicas de aprendizagem,em que as limitações de tempo e espaço podem ser superadas graças aos recursos disponíveis na sociedade informatizada. Nesse contexto, o acesso ao conhecimento em qualquer lugar e tempo torna-se exeqüível, contornando se portanto, a contingência geográfica e temporal da educação tradicional;

-o conhecimento reveste-se de um caráter mais interdisciplinar, com a integração de diversas áreas.

-a distinção entre a educação sistemática e a assistemática está desaparecendo, em razão de novas tecnologias de difusão do conhecimento

A interação destas conseqüências está trazendo grande impacto para todas as agências educacionais, que devem:

-incorporar novos conhecimentos, no mesmo ritmo em que eles se produzem;

- adaptar-se às novas formas integradas de organização do saber; - adequar-se ao novo humanismo cientifico- técnico; - considerar as novas filosofias que preconizam uma educação

globalizadora e unificadora do mundo. É possível constatar, também, outros níveis de mudança, que

ocorrem, também, na organização e institucionalização do conhecimento. Assim, é possível identificar:

- a perda do consenso a respeito da natureza da racionalidade científica;

- o advento de conhecimentos com maior grau de integração, possibilidade compreender novos aspectos do saber como o ético e o estético;

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- questionamento de conceitos centrais tais como objetividade, certeza, predição, quantificação;

- enfraquecimento da credibilidade do conhecimento abstrato e fortalecimento do contextualizado.

Nesse quadro, as velhas estruturas educacionais e de produção de conhecimentos, baseadas em formas atomizadas e superespecializadas, estão sendo superadas por novas estruturas capazes de produzir conhecimentos integrados, utilizando metodologias transdisciplinares e que permitam, as duas, desenvolver estratégias de aprendizagem adequadas à nova realidade.

4 . ANÁLISE DE ALGUNS ASPECTOS DA ATUAL REALIDADE

A produção acelerada de novos conhecimentos, e a conseqüente

aplicação dos princípios descobertos na elaboração de novas tecnologias traz reflexos poderosos para todos o os campos da atividade humana: o político, o econômico, o militar, o educacional etc... Esses reflexos são agentes de mudanças nesses campos, que se concretizam com o aparecimento de originais tipos de relacionamentos, mecanismos adaptativos, estruturas organizacionais, normas e padrões de comportamento, individual e organizacional, novas atitudes e valores. Essas inovações se sucedem e se interpenetram, configurando uma realidade altamente complexa, ambígua, incerta e mutante. Qualquer forma de atuação humana, nesse contexto, não pode deixar de considerar a natureza dessa realidade, que transcende à particularidade de um “fazer limitado”, constituindo-se no “pano de fundo” de todas ações e intenções do homem do início de milênio.

Aliás, nesse cenário cambiante, parece existir um mínimo de certeza a de que, a menos que uma gigantesca catástrofe atinja o nosso planeta afetando profundamente o nosso processo civilizatório, a aceleração constante das modificações será a nova marca de sua era, que já estamos vivendo.

Assistimos, nesse final de século, transformações que se quer poderiam ser imaginadas há pouco de mais de uma década.

a.As Relações Internacionais No campo das relações internacionais, o término da Guerra Fria

conduziu a um processo que, em um primeiro momento (após a queda do Muro de Berlim), poderiam ser identificadas algumas características essenciais.

-rejeição do comunismo; -fraqueza política da Europa de Leste; ideológico/político

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-voluntarismo liberal; -associação entre democracia e mercado; econômico -desaparecimento da bipolaridade do poder -surgimento da expectativa de uma nova ordem pública mundial

baseada no Direito e na Razão; -consolidação da importância do tema conhecimento; -conhecimentos dos Tigres Asiáticos; -advento de atitude contrária à violação dos direitos humanos; -preocupação com o narcotráfico. Naquele momento, prevaleciam as forças centrífugas, que

favoreciam a lógica da unificação econômica, no campo do mercado, e, no plano político, a democracia.

Em um segundo momento, seria possível constatar: -a derrocada efetiva da construção interestatal através da qual

articulava-se a URSS; -o fim da Alemanha Oriental e da Iugoslávia; -o crescimento da importância do problema do fundamentalismo; -a afirmação das diferenças e do tema do racismo; -a reflexão critica sobre as funções do Estado; É o momento das forças de desagregação, onde há a afirmação da

liberdade de autodeterminação das identidades nacionais. É a lógica da fragmentação.

Esses dois momentos descrevem um processo em que a lógica integrada da economia convive com a dinâmica desintegradora da identidade.

Portanto o sistema internacional parece descontínuo, transitório, desarticulado e ambivalente, em que há um descompasso entre a autoridade e o poder.

A convivência, no sistema internacional, dessas duas forças de naturezas antagônicas- de aglutinação e de desagregação- parece irá balizar, nos próximos anos, a evolução do processo das relações internacionais.

O ambiente internacional, também, pode ser percebido sob outro ângulo em que se constata o inquestionável fenômeno da globalização, que se prende à evolução da tecnologia, e se evidencia, mais fortemente na economia e na área da comunicação, com reflexos culturais profundos e amplos.

Mas a globalização da ordem econômica- em decorrência das empresas multinacionais e transnacionalização dos capitais- coexiste com uma ordem social fragmentária. Esse processo, que não é propriamente conflituoso, está formando novas identidades, em nível de nações e de organismo internacionais.

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A pós modernidade caracteriza-se pela combinação contraditória, intensa e difícil de uma tendência para o universalismo e a fragmentação crescente da ordem social em que surgem, com vigor, a identidade de sexo, as comunidades locais, as etnias, as corporações, as organizações civis, as minorias.

b.O campo Político No campo político, gradativamente, ocorre o redimensionamento

do papel do Estado, que parece está perdendo a intensidade de sua caracterização nacional, em decorrência mesmo do processo de globalização econômica, da expansão da comunicação e de novos papéis impostos aos organismos internacionais.

Esse novo perfil, que está sendo desenhado para o Estado, impõe- lhe uma estrutura menos complexa, mais produtiva, voltada para algumas funções básicas essenciais como a segurança, saúde e educação. De outro lado, constata-se um processo de descentralização do poder, de acordo com o interesse da sociedade. Desse modo, os problemas devem ser resolvidos para a comunidade, em um primeiro nível e, sucessivamente, pelo município e pelo estado local. Os problemas remanescentes caberiam ao Estado Federal.

c. O Campo Econômico

No campo econômico, em que a globalização, como já foi dito, impõe a dinâmica desse setor, constata-se, também, uma inequívoca universalização do conceito de economia de mercado, como forma de organização do sistema produtivo, em praticamente, toda a sociedade, com pouquíssima exceções. Portanto, há uma tendência fortíssima para, cada vez mais, utilizar-se as forças do mercado como principal elemento da organização das forças da produção e do consumo.

Nota se, também, âmbito do comércio internacional, que estão se firmando, como elementos de troca, a inteligência, o “know how”, “how why” e não produtos acabados ou manufaturas. Nesse contexto, a propriedade intelectual e os instrumentos de proteção à inovação tecnológica assumem uma importância fundamental. A natureza subjetiva desses elementos, que estão constituindo as bases das relações econômicas internacionais, conduz a um processo de corrosão das tradicionais barreiras institucionais e das fronteiras físicas.

Todos esses elementos permitem a eclosão do processo de globalização econômica que se concretiza de variadas formas, mas que se caracteriza pela constituição de grandes blocos econômicos que com a queda das barreiras protecionistas, facilitam os fluxos tecnológicos e de investimentos

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d. A tecnologia

A produção de novos materiais permite múltiplas configurações de produtos, com crescentes padrões de segurança, comodidade e preservação do ambiente. As cerâmicas avançadas, o desenvolvimento de polímeros, a criação de materiais compostos possibilitam a existência de produtos com propriedade ótimas, especificamente desenvolvidos para determinados fins.

Constata-se também um espantoso desenvolvimento em outros setores tais como a fotônica, a microeletrônica molecular, a eletrônica molecular, a biotecnologia celular e a engenharia genética. Os conhecimentos recolhidos desses setores são, rapidamente aplicados na produção de novas tecnologias de uso cotidiano ou são, utilizados na própria pesquisa científica.

A investigação na área das Ciências do comportamento humano estão permitindo estabelecer novos princípios e elaborar novos instrumentos técnicas, metodologias aplicáveis no (a):

- educação; - administração; - aconselhamento.

e. O campo militar No campo militar, as transformações também estão ocorrendo com

grande velocidade, levando, ao “campo de batalha”, as suas conseqüências. O advento de novas técnicas de comando, controle, coordenação e informações, a ocorrência de novas formas de operações, tanto convencionais como nucleares, químicas e ambientais vêm exigindo que as Forças Armadas estejam capacitadas a atender as novas situações e condições de combate.

Os sistemas de armas, as estruturas organizacionais, os meios de apoio ao combate estão absorvendo, continuamente e com grande rapidez, o impacto dessas informações. Por outro lado, as novas configurações, altamente multáveis, dos quadros político, econômico e estratégico, em nível mundial, se associam a outros elementos (fanatismo religioso, narcotráfico exacerbação de identidades nacionais, subdesenvolvimento), que caracterizam, como já se viu, forças de desagregação. Essa realidade do mundo moderno e extremamente mutante e imprevisível, exigindo diversa forma de atuação.

Em conseqüência, o ambiente de combate é sempre mais incerto, fragmentado e ambíguo, exigindo técnicas altamente sofisticadas, que convivem com procedimentos rudimentares, produzindo fatos, rápida e

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amplamente difundidos, que geram conseqüências instantâneas no campo político e militar.

Em nível estratégico, a ameaça potencial é difusa e não planejada, tanto no que se refere à sua localização geográfica quanto a sua própria natureza.

Assim, o militar da atualidade, obrigatoriamente, deve estar apto a participar de operações altamente descentralizadas, pois largas frentes de combate, os meios disponíveis, a capacidade de reação do inimigo e o largo emprego de meios eletromagnético condicionam esse procedimento.

Outra habilidade precípua imposta ao militar moderno é a capacidade de decidir de forma rápida e em todos os escalões. É fácil constatar que essa aptidão é um corolário natural das operações descentralizadas.

Finalmente, descarta-se um fato que até bem pouco tempo atrás era considerado de somenos importância - os efeitos colaterais das ações realizadas. A atualidade mostra que a globalização de informação avulta a importância da mídia e a coloca em qualquer local do planeta, inclusive no “campo de batalha”.

Dessa forma, o militar deve acrescer aos tradicionais Fatores de Decisão (Missão, Inimigo, Terreno e Meios ) a importância da colateralidade das decisões tomadas, haja vista que uma ação realizada por um determinado escalão poderá apresentar conseqüências de relevância internacional.

Por outro lado, a implosão de ideologia e do mundo comunista aliada à busca de uma nova ordem mundial, dentre outros motivos, vêm fazendo com que os governos privilegiem o desenvolvimento econômico –social, em detrimento do segmento militar, por intermédio de cortes sucessivos dos recursos destinados ao setor bélico dos seus países. Essa última condicionante funciona como outro grande desafio aos administradores militares no equacionamento das ações necessárias para o comprimento das missões.

f. A realidade brasileira 1) Como não poderia deixar de ser, o Brasil reflete não só as

características do ambiente (político, econômico e social) em que está inserido, mas, também, as suas próprias peculiaridade em que avultam:

-expressivas potencialidades em recursos de variadas naturezas; -as suas grandes dimensões física e demográfica; -um nível médio de desenvolvimento econômico, caracterizado

pela convivência de regiões altamente desenvolvidas com outras de baixíssimos índices;

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-precário estágio de desenvolvimento social, com uma distribuição de renda irregular, concentrada em uma pequena porcentagem da população;

-um baixo nível de desenvolvimento político, marcado pela ausência de partidos políticos com programas consistentes e de relativa permanência no tempo;

-dificuldade de explicitação e de gerência de políticas públicas; -precariedade do nível de capacitação dos recursos humanos para

atender às necessidades da sociedade no setor produtivo no setor público, na pesquisa, na educação etc...

- existência de ilhas excelência nos setores econômicos, científico e tecnológico.

2) Esses valores influem, poderosamente, na caracterização das nossas Forças Armadas, exigindo- lhes a capacidade de atuar em variados ambientes operacionais e cumprindo missões de diversas naturezas.

Assim a Força Terrestre Brasileira organiza-se de forma a: -permitir a manutenção da sua presença em todas as rincões

nacionais; -constituir um núcleo central de forças capazes de atuar,

rapidamente, em qualquer ambiente do território nacional. Essa concepção propicia condições de aumentar, no futuro, a

capacidade operacional do Exército Brasileiro, em conformidade com o desenvolvimento do país e da sua estabilidade econômica.

O núcleo central de forças é considerado como embrião do Exército Brasileiro do próximo século, que tende a ser formado por profissionais voltado para a defesa externa.

Por outro lado, a tipologia das intervenções militares está se modificando rapidamente, exigindo que a força terrestre passe a cumprir, com maior ênfase, missões com características especiais e diferentes das suas atribuições tradicionais, tais como:

- controle de crises; - ações humanitárias; - operações de paz (peace-keeping e peace-enforcing peace

building); - operações complementares em apoio a produção civil, em

território nacional. 5. UMA POLITICA EDUCACIONAL PARA O EXÉRCITO

BRASILEIRO a. Educação Geral

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Uma política educacional para o Exército Brasileiro tendo em vista atender às demandas do ano 2000 não pode deixar de considerar as exigências do ambiente no qual a Força Terrestre está inserida bem como as suas próprias exigências.

O Sistema de Ensino Militar deve continuar qualificando recursos humanos que permitam manter a eficiência do Exército e a projetar as suas necessidades, sua configuração, os seus possíveis empregos para além do início do próximo milênio.

A análise da evolução histórica do ensino de nosso Exército possibilita constatar o gradativo e continuado desenvolvimento de um processo que estruturou um sistema com elevado grau de organicidade e eficácia. Essa análise conduz, também, à identificação de diversos momentos em que o ensino militar passou por reformulações, mais ou menos profundas, tendo em vista a procura de maior adequação às necessidades e aos ambientes que estavam presentes naqueles momentos. Essa capacidade de reajustamento, de readaptação, de renovação é que tem dado vitalidade e aperfeiçoado o sistema de ensino militar.

A política educacional do Exército para os próximos anos tem de considerar a necessidade de estabelecer alguns objetivos, que exigirão alterações na estrutura, nas finalidades, nos procedimentos, nas metodologias em uso no nosso ensino militar e, enfim, no que se poderia chamar de atual pedagogia militar. Essa necessidade não decorre da identificação de indícios de ineficiência ou de ineficácia de nossas praticas educacionais, mas projeta-se do futuro próximo, que já começamos a viver.

A atividade educacional, por natureza, não pode ser proposta e planejada sem a cogitação do futuro porque o educando, necessariamente sempre deverá atuar em um tempo posterior àquele em que ocorre o processo educacional. Dependo da própria finalidade de atividade educacional, essa perspectiva de tempo poderá ser mais ou menos dilatada. Por exemplo, um curso de graduação ou de formação tem uma perspectiva de tempo mais ampla do que programas educacionais que pretendam a capacitação para o exercício especializado de atividades específicas e delimitadas.

O que ocorre, nesta nossa era, é que o futuro está contido em um quadro de mudanças aceleradas, em que os conhecimentos, as tecnologias, os padrões de comportamentos, individuais e organizacionais, tornam-se, rapidamente, obsoletos e superados como mecanismos de adaptação do homem ao seu ambiente. Desse modo, o saber, as habilidades e as atitudes atualmente aceitos têm um alcance limitado no tempo e não podem ser prognosticadas com um grau relativo de certeza, que permite elaborar um programa educacional.

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Mesmo as especializações (de Oficiais ou de Sargentos),que tenham em vista preparar técnicos para atividades mais específicas dentro da profissão militar, mesmo essa atividade educacional restrita, deve considerar a formação geral adequada (que, nesse caso, deve ser entendida como educação tecnológica) para permitir enfrentar o impacto da obsolescência pré matura de equipamentos, instrumentos e procedimentos, adotados em determinados momento. Por outro lado, os cursos de especializações devem estar voltados para a preparação de recursos humanos que atuem em um “espectro” mais amplo de funções, de modo que, um técnico fique capacitado a atuar em uma “família de ocupações” e não permaneça preso ao exercício específico de uma ou duas funções apenas. É necessário, portanto, orientar os cursos de especializações para uma amplitude maior, permitindo a melhor gestão dos recursos humanos disponíveis, facilitando as movimentações e o preenchimentos de claros na OM.

Naturalmente que a especialização não pode deixar de levar em conta a preparação de recursos humanos para a utilização das tecnologias disponíveis, após a realização do curso. Esse é o novo desafio da atualidade, preparar pessoal capaz de acompanhar a evolução tecnológica, mas que, ao mesmo tempo, tenha excelente grau de proficiência na operação das técnicas, dos equipamentos e dos instrumentos utilizados em determinada especialidade.

A especialização, cada vez mais apurada, mas sustentada em conhecimentos que permitam acompanhar a evolução.”Fazer sabendo” seria, portanto, o novo tema exigido pela era do conhecimento.

A formação de sargentos não pode deixar de considerar essa nova imposição. No entanto, nesse caso, a formação puramente militar relacionada às técnicas e aos procedimentos de combate e a outras atividades de interesse estritamente militar podem ficar sustentadas por uma base geral muito próxima do ensino de primeiro grau, com algumas agregações necessárias relativas às ciências do comportamento humano (diferenças individuas, aprendizagem, motivação, liderança etc...) e de outras áreas ainda a serem identificadas.

Essas considerações conduzem a uma necessidade de reformulação da “Metodologia para Elaboração e Revisão de Currículos” (MERC), que, como já se viu, estabelece, como fonte principal de objetivos, o perfil profissiográfico decorrente da análise ocupacional. Esse modelo, que centraliza na ocupação o principal referencial na construção curricular, não mais se ajusta às necessidades impostas pela realidade que já estamos vivendo.

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A tentativa de compromisso com o futuro, que a MERC preconiza com a introdução do item 8 no perfil profissiográfico, a visão perspectiva da ocupação, não melhora a eficácia desse recurso metodológico - a análise ocupacional - como o principal elemento no processo de elaboração de currículos.

Os programas educacionais, sem deixarem de considerar o fazer (as ocupações, os atos e as atividades que configuram uma profissão ) devem ter em vista, fundamentalmente, o ser, isto é, o sujeito das atividades a serem desenvolvidas no âmbito da ocupação. Porque o necessário a enfocar é o perfil psicológico e cultura do homem capaz de exercer as atividades profissionais que se transformam continuamente, como decorrência da evolução da própria profissão e do mundo no qual ela se integra. O exercício prospectivo, de médio prazo, sobre as ações, os instrumentos e as técnicas de uma dada profissão, além de ser um trabalho pouco produtivo, em razão da imprevisibilidade da mudança não possibilita os dados essenciais para a elaboração curricular.

O necessário, basicamente, é definir qual o perfil desse sujeito, quais os conhecimentos essenciais, quais as suas atitudes e valores básicos, capazes de enfrentar um desafio em que a incerteza, a complexidade e a imprevisibilidade são os fatores mais visíveis.

Trata-se, portanto, de retornar do conceito original de educar, em que o sujeito ocupa a posição central e mais importante do ato pedagógico.

Desse reposicionamento decorrerá um conjunto de conseqüências que afetarão fortemente a didática, a formação do pessoal docente, além de influir nos trabalhos de elaboração curricular.

É preciso ressaltar, no entanto, que não se trata de excluir a análise da ocupação (e em conseqüência a o perfil profissiográfico) das fontes de objetivos educacionais, mas se pretende que essa fonte deva ter a mesma importância relativa do perfil do sujeito da ocupação a ser considerada na análise. Não se pode perder de vista o sentido da utilidade imediata da atividade educacional, mas esse sentido deve ter um alcance maior e envolver a preparação de recursos humanos capazes de exercerem funções em um tempo imediato à própria atividade educacional, mas também, a capacitação de pessoas para o exercício de funções em um futuro mais afastado.

b. A Reformulação Curricular e o Auto-Aperfeiçoamento Contudo, não baseará essa reordenação em nível de ensino de

formação e de especialização de oficiais e sargentos para possibilitar uma educação adequada e atualizada. As inovações permanecerão ocorrendo e em

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velocidades cada vez maiores, após a realização de cursos. Como vencer esse permanente desafio imposto pela velocidade de mudança?

Duas ações podem oferecer as condições para superar essa dificuldade.

Inicialmente, os currículos devem ter uma periodização menor no seu processo de reformulação.

A reformulação trienal, que a MERC recomenda como o procedimento ordinário, deve torna-se anual. Para isso, é necessário construir mecanismos e possuir instrumentos, talvez utilizando os recursos da informática, de modo que o conceito de sistema auto-regulado, subjacente ao modelo de avaliação e validação curricular, adotado no ensino militar do Exército Brasileiro, se tome efetivo. Nessas novas condições, as alterações curriculares anuais não serão extraordinárias, como atualmente preconiza a MERC.

A segunda ação será promover o conceito de auto-aperfeiçoamento em todos os níveis da carreira profissional.

Nenhum sistema de ensino, mesmo aqueles que assumem um caráter de educação continuada, poderá fazer frente à velocidade, cada vez mais acelerada, com que novos conhecimentos são produzidos e as inovações tecnológicas ocorrem, em todos os campos da atividade humana. O retorno, que periodicamente está previsto para o reingresso no sistema de ensino militar não supre as necessidades constantes de atualização e reciclagem, que cada vez mais assumirão um caráter crítico, na era do conhecimento. Somente uma atitude voltada para o auto-aperfeiçoamento minimizará essa necessidade. Para isso, torna-se necessário estabelecer mecanismos de motivação e dotar, ainda na agência educacional, o aluno com estratégias que lhe permitirão, no seu futuro profissional, desenvolver o seu ato aperfeiçoamento. A expressão “aprender a aprender” não pode permanecer apenas como uma declaração de intenções, inócua, mais deve ser conseqüente e envolver um conjunto de estratégias, que são de fato aprendidas na agência educacional, e permitir o autodesenvolvimento, o autodidatismo, capaz de possibilitar um crescimento pessoal e profissional continuado. Paralelamente a essa decisão de operacionalizar o conceito de “aprender a aprender”, devem ser implantados mecanismos de incentivação, que promovam a vontade de auto-aperfeiçoamento.

Mas implementar o conceito de “aprender a aprender” pressupõe, novamente, um conjunto de medidas, no âmbito da didática e nos estabelecimentos de ensino, que, certamente, exigirão modificações, algumas delas profundas, nos procedimentos pelo Corpo Docente e pelos

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estabelecimentos de Ensino, afetando o planejamento curricular, aspecto da administração escolar e, a própria arquitetura da escola.

“Aprender a aprender” recoloca, novamente, o aluno no centro do processo de ensino aprendizagem. As estratégicas, que serão desenvolvidas individualmente pelos aprendizes, exigem espaço e tempo para serem identificadas, exercitadas e assimiladas. Não se “aprende a aprender” quando o ritmo e a direção do processo de aprendizagem é conduzido de fora, pelo professor, nas sim quando o aprendiz descobre e aplica as suas próprias técnicas. Desse modo, a palestra, o grande grupo, as grandes salas, a carga horária reduzida, o conteúdo e o desenvolvimento unilateral do professor são elementos contraproducentes nesse processo de ensino aprendizagem. Ao contrário, a dinâmica de grupo, o exercício, a motivação do aluno, a pequena conferência, a pesquisa, o pequeno grupo, pequenos ambientes de aprendizagem, o tempo disponível adequado ao objetivo educacional são os fatores que possibilitam a aprendizagem do aprender.

Essa nova didática e esses novos procedimentos, que aliás já são preconizados há muitos anos pelo movimento da “Escola Nova” têm de ser efetivamente implantada e para isso é necessário existir:

-uma arquitetura escolar adequada; -corpo docente capacitado; -currículo adequado; -alunos motivados. Mas a motivação do aluno em continuar o seu auto –

aperfeiçoamento, após o término do curso, deverá ser sustentada e assistida por recursos adicionais, que o ensino – à – distância poderá prover.

Naturalmente que o objetivo de um Sistema de Ensino – à – Distância não pode limitar-se unicamente a oferecer apoio ao profissional no seu esforço de auto – aperfeiçoamento, mas esse Sistema poderá, também, colocar adicionalmente, à disposição desse profissional, meios e programas específicos para permitir recursos adicionais, que favoreçam e apóiem essas iniciativas individuais.

O ensino à distância deve se constituir em um meio poderoso facilitador da atualização e da reciclagem em diversas áreas, além, é claro, de possibilitar o desenvolvimento de unidades e módulos específicos de um determinado curso.

Agora, no entanto, estamos enfocando, apenas, as possibilidades

do ensino – à distância como veículo promotor da atualização e da reciclagem.

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Paralelamente ao esforço pessoal do profissional em auto-aperfeiçoar-se e como conseqüência da adoção do princípio de “aprender a aprender” , o ensino – à – distância deve construir-se em um valioso instrumento de difusão de novos conhecimentos e novas habilidades, seja na atualização de cursos de formação ou de especialização, seja na complementação de estágios específicos desenvolvidos com o objetivo de divulgar determinada técnica, metodologia ou procedimento. Dentro dessa perspectiva, materiais instrucionais de variadas naturezas ( vídeos, textos, jogos educacionais, exercícios ) produzidos em uma determinada organização, segundo metodologias particulares, e para atingir objetivos específicos, são levados ao profissional em seu próprio local de trabalho ou em sua residência, com a finalidade de atualizá-lo em determinada área.

c. A Cultura de Informática Como já se viu, um dos principais fatores que tem impulsionado a

produção incessante de novos conhecimentos e a renovação tecnológica acelerada consiste nas possibilidades oferecidas pela informática para a obtenção, o armazenamento e a rápida difusão da informação. Na verdade, a era do conhecimento, que começamos a viver, é um produto dessas possibilidades sucessivas, múltiplas e crescentes.

Portanto, a informática está gerando novos equipamentos, novas

metodologias, novas estruturas organizacionais, novos espaços de lazer, novas configurações dos meios comunicacionais, novas atitudes e novas necessidades.

As modernas tecnologias educacionais, baseadas no ensino

assistido por computador, nos processos interativos, nos simuladores, além de serem novos elementos para melhorar as condições de aprendizagem, produzem efeitos profundos em nível psicológico, desenvolvendo reações típicas, que abrangem não só a percepção mas também as estratégias individuais da aprendizagem.

Todas essas inovações fazem parte desse cenário de mudança da

era do conhecimento. Portanto, a promoção de uma “cultura de informática” é uma condição fundamental para a inserção nesse novo mundo. A importância do papel que as escolas desempenham no desencadeamento desse processo é vital. Não se trata, propriamente, de estudar a informática , como uma disciplina do conhecimento, analisando suas lógicas, seus métodos, sua

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abrangência e sua aplicação. Mas, antes, inserir o aluno nesse novo mundo permitindo a sua iniciação no contato com a máquina, na utilização de computador e de seus variados programas para solução de problemas específicos, na avaliação das potencialidades da informática para o trato variadas questões que ocorrem cotidianamente na profissão e na sua vida particular. Enfim, permitir que o aluno integre o computador ao espectro de suas capacitações, tornando-o um meio de utilização permanente na sua interação com o ambiente em que vive.

Esse esforço é decisivo para acompanhar a evolução da mudança e

exigirá recursos vultosos a serem aplicados em aquisição de equipamentos, na formação de recursos humanos, na criação de estruturas organizacionais com o objetivo de desenvolver ações no sentido de transformar a informática em elemento próprio do processo de ensino aprendizagem. Esse objetivo será alcançado com a produção de programas que se integrem nas estratégias a serem empregadas durante o desenvolvimento do currículo.

Portanto, o desafio da mudança acelerada, decorrente da explosão

de novos conhecimentos e do avanço tecnológico será enfrentado, basicamente com as seguintes medidas:

-ênfase na educação geral, entendida como a base de

conhecimentos, habilidades e atitudes necessários à compreensão e ao acompanhamento da evolução científica e tecnológica. Essa preocupação deve estar presente nos cursos de altos estudos militares e de formação; principalmente de Oficiais, e também, nos cursos de especialização;

-Incentivar o auto – aperfeiçoamento, o que pressupõe a adoção do

lema: “aprender a aprender”. O “aprender a aprender” deve ser um objetivo das agências educacionais, que, para isso, devem ter Corpo Docente capacitado, arquitetura e currículos adequados. Paralelamente, deve ser implementado um sistema de ensino – à – distância com o objetivo de possibilitar a constante atualização do profissional em determinada área ou setor e, também, de apoiar o seu esforço de auto – aperfeiçoamento.

- agilização do processo de reformulação curricular; - a promoção de uma cultura de informática.

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Como já foi ressaltado, esse novo mundo que estamos vivendo caracteriza-se, principalmente, pela mudança decorrente da evolução científica e tecnológica.

d . Interação com o Ambiente O avanço desse processo produz ramificações que atingem a todas

as áreas de atividade humana gerando, em conseqüência, novos tipos de interações, novas formas organizacionais, novas estruturas institucionais. Na verdade, o ambiente no qual vivemos e do qual participam todos os sistemas está em processo de constante mutação seja na sua própria dimensão física, em decorrência da ação do homem, seja nas suas dimensões política, econômica e social. Portanto, a interação com esse ambiente é uma condição vital para a sobrevivência de qualquer organização.

No que se refere, especialmente ao Sistema de Ensino Militar, pelo próprio objetivo desse sistema, que tem uma função educacional, essa necessidade de interação assume uma importância fundamental.

Na verdade, a análise da evolução histórica de ensino militar do Exército Brasileiro mostra com grande clareza, que a longa construção que se vem processando deste 1698 é uma produção da qual têm participado diferentes fatores, mas que, basicamente, é impulsionado pelos estímulos que, provenientes do ambiente que o circunda, fornecem insumos ou provocam reações capazes de contribuir para essa evolução.

Para nos restringimos ao século XX, constatamos as continuadas contribuições para a evolução do nosso sistema de ensino, decorrentes da absorção de insumos provenientes da interação com diferentes níveis de ambiente : influência dos princípios do positivismo, contribuições oriundas do exército prussiano, ação da Missão Francesa, contribuições decorrentes do contatos com o Exército dos Estados Unidos da América, influência da pedagogia instrumentalista de Dewey, contribuições conseqüentes do pensamento educacional corrente nos anos de 1960, no Brasil.

Por outro lado, as transformações que estamos observando nos campos das relações internacionais, na área de pensamento político, reflexos expressivos nos modelos de configuração do Estado e no papel de diversos segmentos da sociedade; no campo das relações econômicas; no papel dos organismos militares nacionais têm afetado profundamente a nossa sociedade. No Brasil, a evolução política e econômica da sociedade brasileira não pode deixar de refletir, também, os grandes processos que ocorrem em nível mundial. Por sua vez, as missões, a organização e os valores centrais do Exército Brasileiro, que decorrem de um desenvolvimento histórico, iniciado

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nos primórdios de nossa existência política, recebem também, como não podia deixar de ser, os estímulos provenientes desse sistema mais abrangente que é o Brasil.

O sistema de Ensino Militar do Exército Brasileiro, desde o início

de sua constituição, tem sido a estrutura que tem viabilizado, que tem canalizado, essa interação do Exército com a sociedade brasileira e com os diversos campos de expressão que configuram uma dada realidade - militar, econômica, social e política. Essa é, aliás, uma das funções de toda agência educacional de qualquer nível: sistemas educacionais, escolas, cursos, etc. Dentro dessa linha de argumentação, o Exército Brasileiro tem de ser como aliás tem sido ao longo de sua evolução, uma instituição em contacto com a realidade e com os anseios da sociedade brasileira, e, também, não pode desconhecer o estado da arte das atividades militares, as grandes correntes de pensamento político internacional, as grandes questões envolvidas no debate sobre o poder em nível internacional, como, também, não pode deixar de manter a sua identidade, que vem sendo construída ao longo dos anos. Enfim, não pode desconhecer o mundo em que vivemos e os nossos valores centrais. A modernização, o desenvolvimento, o aperfeiçoamento decorre da capacidade de interagir com o ambiente e promover os ajustamentos necessários para projetar a permanência e a evolução institucional. Na era do conhecimento de mudanças aceleradas, essa necessidade de comunicação, de interação, entre os sistemas e os ambientes que os delimitam e os sustentam é vital para a permanência e para o desenvolvimento desses sistemas. A atividade educacional é o mecanismo mais valioso para possibilitar essa troca, essa sintonia, com o meio ambiente.

Assim, estão evidentes as grandes exigências de interação com que nos deparamos:

-inicialmente, o estudo sistemático do meio –físico, político, econômico, social, tecnológico e militar - é essencial para compreendermos a natureza e as característica de atuação do Exercito em diversos tipos de ações;

- também é de grande importância o desenvolvimento e o

aperfeiçoamento de mecanismos e interação com a sociedade brasileira em geral;

-ressalta, ainda a necessidade de ampliarmos a nossa capacidade de comunicação, com diversos Exércitos, condição essencial para cumprirmos missões no âmbito de operações de paz.

As possibilidades de aperfeiçoamento dos mecanismo de interação passam, inicialmente, por uma esfera cognitiva.

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É necessário preliminarmente, estabelecer um estudo sistematizado do meio, considerado nos seus aspectos: político, econômico, social, tecnológico e militar. Essa base cognitiva permitirá as condições iniciais para serem desenvolvidos diversos tipos de interação que podem assumir variadas formas: obtenção de dados, troca de experiência, mudanças de atitudes etc...

Para isso, os cursos de formação, de aperfeiçoamento e de altos estudos, de Oficiais, de um modo integrado, devem possibilitar condições para que esse tipo de conhecimento seja obtido e difundido.

Depois, a ampliação e o aprofundamento da capacidade de interação com a sociedade em geral é também um passo essencial. O estabelecimento de mecanismos específicos, em nível educacional, é a base para essa providencia. Nesse campo, abre-se um amplo espectro de possibilidades:

-programas de intercâmbio de docentes de Universidades ou instituições de ensino e de pesquisa civis com docentes militares

-realização de estudos e pesquisa conjuntos sobre variados assuntos, inclusive de natureza estratégico-militar, envolvendo institutos e universidades civis e estabelecimentos de ensino do Exército;

-programas de intercâmbio para a realização de estágios ou cursos em estabelecimentos de ensino militares e em universidade civis;

-outras possibilidades a serem identificadas. Esses mecanismos deveriam ser cuidadosamente projetados e

gradativamente implementados, de modo que redundassem em efetivos meios para o real aperfeiçoamento da Força Terrestre.

A urgência de ampliarmos a nossa capacidade de comunicação com outros Exércitos é uma contingência da atualidade atual e, muito provavelmente, do futuro, em que a globalização, nas suas diversas formas, afetará, cada vez mais, o ambiente político, econômico e militar.

As novas formas de cooperação militar em nível internacional, que não podem prescindir da participação do Exército Brasileiro, exigem a possibilidade de nos comunicarmos com outros Exércitos, o que pressupõe:

-o conhecimento de mecanismos dessas participações e dos principais aspectos das doutrinas dos Exércitos de outros países;

-o conhecimento de hábitos e costumes de outras nações; -o domínio de códigos lingüísticos que possibilitam a comunicação

oral e escrita. O intercâmbio com Exército de outros países, que se

operacionaliza pela realização de visitas, estágios e cursos, vem sendo desenvolvido com muita ênfase atualmente e deve ser mantido no futuro. Essa ação possibilita estabelecer uma base de conhecimentos apreciável sobre a

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doutrina, procedimentos, peculiaridades e outros aspectos de Exércitos de outros países.

O estudo de idiomas estrangeiros, principalmente o inglês, nos dias atuais e no futuro, é condição fundamental para ampliar as possibilidades de interação com outros Exércitos.

Não só em nível de Oficiais, mas também para Sargentos deve ser incentivado o aprendizado de línguas estrangeiras.

Nesse particular, o curso de Formação de Oficiais assume papel de extrema relevância pela sua duração e pelo momento da carreira profissional em que é realizado.

A AMAN deve prosseguir o objetivo de capacitar os seus cadetes no uso de, pelo menos um idioma estrangeiro, principalmente para a comunicação oral

Em princípio, poderia ser adotado um dos seguintes modelos: -Iniciação e desenvolvimento, até um nível de comunicação verbal,

de todos os cadetes em, pelo menos, um idioma; -iniciação de todos os cadetes e desenvolvimento, até o nível de

comunicação verbal, de, pelo menos, metade dos cadetes de uma série de idioma.

Deveria haver mecanismos que possibilitassem, ao cadete, cursar mais de um idioma de acordo com seu interesse e suas possibilidades.

O sistema de Ensino Militar deve oferecer condições para o desenvolvimento dessa capacitação ao longo da carreira, seja através do Sistema de Ensino- à -Distancia, seja proporcionando cursos regulares em estabelecimentos de Ensino do Exercito, ou entidades civis.

O esforço principal deve concentrar-se no idioma inglês e, secundariamente, no espanhol, francês, alemão e em outros idiomas, nessa ordem de importância.

A incentivação do auto-aperfeiçoamento no domínio de idiomas estrangeiros deve ser um fator presente em toda a carreira militar, seja pela divulgação constante das possibilidades que se abrem ao militar com proficiência em ou um mais idioma, seja pela capacitação que lhe permite para o exercício de determinadas funções.

A ênfase no ensino de idiomas na AMAN exigirá, de certo, novos recursos humanos, organizacionais e materiais.

O aumento do número de professores capacitados, a existência de estruturas adequadas (recursos audiovisuais, salas especiais, material de consulta etc), carga horária compatível prevista no currículo, possibilidades de visitas e intercâmbios a serem realizados pelos estudantes de cada idioma em

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outros Exércitos, são algumas medidas a serem desenvolvidas na AMAN e que deverão ser apoiadas e intensificadas.

Deverão, também, serem oferecidas aos sargentos, possibilidades para o estudo de idiomas estrangeiroas, através de cursos regulares em estabelecimentos de ensino ou em entidades civis e, também, por intermédio do Sistema de Ensino- à- Distância. Os objetivos iniciais dessas atividades deveriam concentra-se no desenvolvimento de capacidade de comunicação verbal dos sargentos.

Um dos problemas centrais da implantação de algumas das

medidas acima preconizadas e da intensificação de outras, já em desenvolvimento, e que contribuíriam para a ênfase a ser dada ao ensino de idiomas reside na supervisão geral de todas as providências relacionadas a essas atividades e que compreende as seguintes ações:

- orientação pedagógica centralizada para todos os estabelecimentos de

Ensino e para o Sistema de Ensino – à – Distância, naturalmente naturalmente considerando as peculiaridades das escolas e dos cursos;

- Implementação gradativa dos recursos de apoio, obedecendo a um

plano global para todo o Exército, com prioridade para a AMAN;

- atualização e reciclagem do pessoal docente. O atual sistema de ensino de idiomas deveria ser reavaliado para que se

introduzissem as modificações necessárias na sua configuração. O CEP deveria se constituir, de fato, no órgão central desse sistema, mas, para isso, deveria possuir a real competência institucional e os recursos humanos necessários para desempenhar, efetivamente, esse papel. Em relação a esse aspecto particular, cabe ressaltar a necessidade de se estabelecerem mecanismos que facilitassem as relações desse órgão central com as diversas escolas que desenvolvessem atividades de ensino de idiomas estrangeiros.

Quanto aos outros papéis do Centro de Estudos de Pessoal, no que se

refere ao ensino de idiomas, cabe ressaltar os seguintes: - sob a coordenação do Centro de Ensino – à – Distância do Exército,

continuar o desenvolvimento, com maior ênfase, do subsistema de ensino – à – distância de idiomas com a finalidade de apoiar o auto – aperfeiçoamento, de promover o estudo regular de idiomas para públicos que não pudessem ser

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atingidos pela ação dos cursos desenvolvidos em Estabelecimentos de Ensino e de promover a atualização para estudantes que já tivessem alcançado níveis de proficiência avançada em diferentes idiomas;

- desenvolver o ensino e a pesquisa de idiomas de interesse específico

para o Exército ( árabe, japonês, mandarim etc ); - realizar estudos e atividades no sentido de promover a atualização e o aperfeiçoamento de professores de diferentes idiomas;

- centralizar a elaboração e aplicação de testes para a capacitação

lingüística, tendo em vista o exercício de missões no exterior, que gradativamente deveriam avaliar, prioritariamente , a capacidade de comunicação verbal;

- desenvolver e orientar atividades para preparação intensiva de militares ( e familiares ) designados para missões no Exterior. Sob a coordenação pedagógica do CEP, poderiam ser organizados núcleos de preparação em outras guarnições, que oferecessem demanda razoável para esses núcleos ( por exemplo Brasília, Porto Alegre, São Paulo etc ).

E . Desenvolvimento de Mecanismos de Avaliação Mas a interação com o ambiente exige, também, o

desenvolvimento de outros mecanismos de adaptação em nível psicológico, compreendendo, também, atitudes e valores.

O ritmo acelerado da mudança impõe aos homens, em qualquer

setor de atividade, o exercício de algumas aptidões particulares relacionadas à sua capacidade de perceber a evolução e de atuar produtivamente em cenários complexos e dominado pela incerteza. Naturalmente que algumas dessas aptidões são mais exigidas em determinados níveis de atuação e de decisão. Assim, em nível estratégico, prevalece um conjunto de competências de natureza cognitiva que poderiam ser definidas como capacidades de integração, de abstração, de formular pensamentos originais e de utilização de amplos e complexos quadros de referências.

Outros tipos de capacidades, algumas delas de natureza afetiva, são

necessárias em variados níveis de atuação, assim como por exemplo: a adaptabilidade, a iniciativa e a cooperação.

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Adaptabilidade se refere não só à capacidade de perceber a

transformação e de mobilizar-se para agir, de modo equilibrado e eficientemente, ao cenário que está se configurando; mas, também, diz respeito à plasticidade que permite atuar, em dado momento, em diferentes tipos de ambientes. A rigidez perceptiva, que impede visualizar os principais indicadores das modificações e a reiterada rejeição dos aspectos inovadores de uma dada realidade imobilizam as pessoas e as tornam incapazes de contribuir para o desenvolvimento do grupo social e da organização. Essa questão, se bem que tenha uma base cognitiva relevante, envolve um processo mais profundo em nível de personalidade, em que elementos emocionais estão presentes.

A criatividade, também, é um atributo essencial à nossa era. A

capacidade de formular soluções para problemas difíceis e de apresentar novas soluções para velhos problemas é essencial hoje em dia. A criatividade está estreitamente relacionada a habilidade de reconstruir a estrutura de percepção de uma dada realidade, compreendendo-a de um novo modo e ensejando uma ação original.

A iniciativa está ligada à primazia da ação, à capacidade de romper

um determinado equilíbrio, começando um novo processo, aglutinando e mobilizando outros comportamentos pela própria atração que é imanente desse tipo de comportamento. Também, em um cenário de rápidas mudanças, a iniciativa possibilita agir com oportunidade, de modo a influir no desenvolvimento dos processos.

Por outro lado, a cooperação é um dos atributos essenciais para o

desenvolvimento da liderança, principalmente, em nível estratégico. Cada vez mais, a capacidade de integrar um grupo e de agir cooperativamente dentro desse grupo torna-se uma das características necessárias para a facilitação do desempenho individual. A prevalência de trabalhos conjuntos, interdisciplinares e integrados, uma das peculiaridades da era do conhecimento, exige, em alto grau, o desenvolvimento do atributo cooperação.

Todos esses atributos, capacidades, atitudes e valores são

apreendidos pelo homem no decorrer de sua vida.

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A educação sistemática, desenvolvida em agencias educacionais, sempre tem explicitado em seus currículos e em seus programas a necessidade e a intenção de promover o desenvolvimento dessas capacitações. Mas o que ocorre é que as práticas educacionais, os currículos, a programação escolar, em decorrência da própria tradição, estão voltados para o conteúdo e para o desenvolvimento de objetos cognitivos relacionados apenas com os assuntos das matérias curriculares. Essa limitação impede que esses objetivos, que não se relacionam diretamente com as disciplinas do conhecimento humano, possam, de fato, ser objeto de uma ação educacional sistemática e conseqüente.

O desenvolvimento da capacidade de integrar conceitos, da

adaptabilidade, da iniciativa, da cooperação exige, pela própria natureza desses atributos, procedimentos muito diferentes daqueles que tradicionalmente as escolas têm utilizado para a consecução de objetivos educacionais relacionados a conteúdos das disciplinas do conhecimento humano.

A própria estrutura curricular, organizada em torno de matérias,

explicita apenas os objetivos que interessem ao aprendizado dessas matérias, em conseqüência, a carga horária é distribuída apenas para atender aos assuntos dessas matérias.

Por outro lado, a didática empregada está centrada no professor e

no conteúdo: “o professor dá a matéria”. Essa concepção contrapõe-se, de modo frontal, às condições necessárias para que se promova, de modo sistematizado e conseqüente, esse tipo de aprendizado.

Portanto, mais uma vez torna-se evidente a necessidade de

introduzir modificações na estrutura curricular, de modo a abrir “espaço educacional” para que esses tipos de competências possam, de fato, ser promovidos de modo sistemático e controlado.

Por isso, é necessário atribuir carga horária especificada para essa

finalidade, prever procedimentos didáticos que coloquem o aprendiz no centro do processo de ensino – aprendizagem, possibilitando – lhe condições para atuar, expor suas opiniões, agir no contexto de um pequeno grupo. Nesse quadro, o professor deve ser, antes um especialista da aprendizagem de modo a possibilitar, de fato, o desenvolvimento dos alunos e não, meramente, um especialista de uma área do conhecimento.

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A utilização de modernas tecnologias educacionais, possibilitadas

pela informática e pelos avançados meios aplicados ao processo de comunicação – programas de informática voltados para a área educacional, vídeos, simuladores – são, também, recursos valiosos que poderão ser utilizados no estabelecimento dessas novas condições de aprendizagem.

Essas exigências fundamentais passam por:

- reformulação curricular; - reciclagem do corpo docente; - reformulação da arquitetura escolar; - disponibilidade de novas tecnologias. F – Preservação dos Valores Centrais A problemática da mudança exige, como está se vendo, a

necessidade de perceber a evolução e de integrar-se ao processo em desenvolvimento; essa é uma imposição da realidade em nível pessoal e organizacional. Mas essa integração tem de ser feita de modo orgânico e equilibrado, permitindo que as pessoas e as organizações alcancem estágios mais elevados no seu processo de desenvolvimento. Esse processo não pode pressupor a “desintegração” dos indivíduos e das instituições. Nessa “passagem”, torna-se vital a necessidade de preservação dos valores centrais que dão identidade às pessoas e às instituições. Sem a observância desse cuidado, ocorre a fragmentação do grupo social. Portanto, o processo educacional sistematizado também deve cumprir o seu papel de fator de preservação do patrimônio cultural do grupo social.

Nessas condições, a modernização, o acompanhamento da

mudança , tem de estar sustentado pelos valores mais vitais que dão sentido a uma instituição.

No caso específico do Exército Brasileiro, o sistema educacional

deve continuar promovendo valores e atitudes tais como:

- patriotismo; - disciplina; - lealdade; - responsabilidade.

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Todas as reformulações que têm ocorrido ao longo da história, em nosso sistema educacional, não deixaram de lado esse postulado fundamental.

O engrandecimento, o aperfeiçoamento, o desenvolvimento do

Exército tem de ser sempre um processo de evolução em que o núcleo das motivações mais essenciais da instituição conforme e dê sentido a qualquer tipo de transformação, em qualquer nível.

Portanto, o estudo da História Militar do Brasil tem de permanecer

e ser ampliado, permitindo, que se analisem os comportamentos, os pensamentos e as vidas dos nossos modelos militares.

Naturalmente que os objetivos da matéria História Militar não

devem limitar-se a essa finalidade, mas essa matéria deverá também, ser estudada com esse sentido.

O desenvolvimento, nos estabelecimentos de ensino do Exército,

desses objetivos de natureza puramente afetiva é fundamental. Mas essa ação deve ser realizada de modo sistematizado, controlado e produtivo em pregando as estratégias educacionais realmente adequadas a esse propósito.

Certamente que as nossas escolas têm experiências valiosíssimas

nessa área e que se confundem com prática já secular do Exército Brasileiro. Mas é possível enriquecer e aprimorar essas práticas, introduzindo

novas técnicas consonantes com as modernas e atuais teorias desenvolvidas no campo da psicologia social.

G . A Competência profissional O conceito de competência profissional, para o militar compreende

todos os aspectos abordados anteriormente ( educação geral ampla, capacidade de interagir com o ambiente e mecanismos de adaptação à realidade cambiante ) e, também, a aptidão para o desempenho de cargos e funções existentes nas diversas organizações militares.

Contudo, não é possível deixar de considerar que as atividades a

serem desenvolvidas no exercício de cargos e funções sofrem o impacto de dois conjuntos de variáveis; principalmente, aquelas decorrentes das próprias

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características de um ambiente em constante mudança; depois as relacionadas às peculiaridades da realidade do Brasil em dado momento.

As variáveis decorrentes do ambiente em constante mutação, em

principio, são os seguintes: - Instabilidade e incerteza dos cenários estratégicos; - rápida e continuada evolução da doutrina; - obsolescência constante da tecnologia aplicada às operações de

combate ( equipamentos, instrumentos, sistemas de armas ); - possibilidade de ampla e rápida repercussão de fatos ocorridos

em âmbito militar, de qualquer nível; - descentralização das operações militares; - atuação em ambientes operacionais contrastantes, utilizando

recursos de diferentes níveis de sofisticação tecnológica; - cumprimento de missões de variadas naturezas ( operações de

combate, operações de paz ). As principais variáveis relacionadas às nossas peculiaridades são: - dimensões continentais do Brasil, com diferentes regiões naturais

e operacionais e grandes vazios populacionais; -carência de recursos, na medida do nível do nosso

desenvolvimento; - necessidade de manutenção da integridade política do país; - exigência de realização de operações para a manutenção da lei e

da ordem e em apoio à população civil; Portanto, o nosso sistema educacional deve preparar recursos

humanos que atendam a múltiplas e diferenciadas exigências: - primeiro, em razão da própria variedade de cargos que se

estendem em diversos níveis de complexidade e em uma grande amplitude de especializações;

- depois, pela concomitância de fatores de modernidade

caracterizados pelo alto nível de sofisticação tecnológica ), e de fatores de permanência ( caracterizados pelo baixo nível de sofisticação tecnológica ), que coexistem e integram entre si, em nossa realidade.

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Desse modo, as atividades educacionais desenvolvidas no sistema educacional do Exército devem:

- nos cursos de formação de Oficiais, preparar pessoal capaz de

exercer os cargos e as funções relativos aos primeiros postos da carreira, de atender às evoluções decorrentes do acelerado avanço cientifico e tecnológico e de ser base da construção educacional do chefe do futuro;

- nos cursos de especialização de Oficiais, preparar Oficiais para o

exercício de um conjunto de funções afins, dotando-os dos conhecimentos, das habilidades e das atitudes necessárias à compreensão e ao acompanhamento da evolução científica e tecnológica ocorrida no setor de sua especialização;

- nos cursos de altos estudos militares, capacitar Oficiais para os

cargos e funções de alta complexidade, relacionados às atividades de estado – maior, de comando, de direção e de assessoria de alto – nível;

- nos cursos de formação de sargentos, preparar pessoal capaz de

exercer os cargos e as funções relativos às graduações iniciais de sargentos; - nos cursos de aperfeiçoamento de sargentos, capacitar pessoal para

o exercício de cargos e funções relativas às graduações mais elevadas de praças aprofundando, ampliando e atualizando a formação recebida.

- nos cursos de especialização de sargentos, preparar graduados para

o exercício de um conjunto de funções afins, dotando-os dos conhecimentos, das habilidades e das atitudes necessárias à compreensão dos processos tecnológicos empregados no desempenho dessas funções.

Os cursos de graduação e pós-graduação da linha de ensino militar

científico tecnológico devem habilitar recursos humanos para a pesquisa e paro o exercício de cargos e funções que exijam capacitações, de nível superior nas áreas da engenharia civil, de materiais e nuclear, da informática e em outros setores de interesse do Exército.

Todos cursos da linha de ensino militar bélico devem, portanto,

possibilitar o desenvolvimento de conhecimentos, de atitudes, de valores e habilidades constituintes do “core” de capacitações, que caracterizam o

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militar. Essa formação, nitidamente militar, deve estar sustentada por uma formação geral profunda de natureza acadêmica.

A formação militar compreende uma base cognitiva constituída

pelos conhecimentos relacionados à doutrina, às técnicas, aos procedimentos referentes aos cargos e às funções a serem exercidas e uma base afetiva integrada pelos atributos que conformam a personalidade básica do militar, na qual ressaltam: a disciplina, o patriotismo a responsabilidade, a combatividade etc.

A formação geral, de natureza acadêmica, diz respeito as disciplinas

do conhecimento capazes de possibilitar, como já foi dito, a compreensão e o acompanhamento da evolução da ciência, da tecnologia e dos padrões de comportamentos individuais e organizacionais.

A formação geral deverá ser prevalente nos Cursos de Formação de

Oficiais e de Altos Estudos Militares. Nos Cursos de Especialização, para Oficiais e para Sargentos, deverá ser necessária para a compreensão e o acompanhamento da evolução cientifica e tecnológica no setor.

Nos cursos de Formação e Aperfeiçoamento de Sargentos, será a

mínima necessária à capacitação do militar para o exercício dos cargos e funções para os quais devem ser preparados.

Especial atenção deve ser dispensada à configuração dos currículos

da AMAN, A formação geral poderá constituir um núcleo de conhecimentos, habilidades e atitudes possibilitando uma base de capacitações não só para o desenvolvimento profissional do militar, ao longo da sua carreira, mas também, oferecendo condições iniciais para uma posterior graduação em áreas de competências não propriamente militares. Poderiam ser propiciadas, na AMAN, alternativas a serem submetidas à escolha do cadete, segundo determinados critérios, de modo que, de acordo com sua decisão, ele poderia freqüentar aulas relativas a um ou outro ramo do currículo oferecido, capacitando-se para a graduação em um tipo de competência não especificamente militar.

Implementar essa concepção exigirá o desenvolvimento de um

conjunto de providências dentre as quais se destacam:

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- reformulação curricular dos cursos na AMAN, de maneira a identificar-se qual o conteúdo dessa formação geral, que simultaneamente, deve atender a duas exigências: constitui-se em uma base de formação acadêmica ao militar e possibilitar, pela sua configuração, o cumprimento de requisitos a graduação em algum (ns ) setor ( es ) de atividades não propriamente militar;

- delimitação da formação profissional a ser obtida nesses cursos.

Essa formação não deve ser exaustiva, mas sim deve ter em vista a capacitação para os cargos e funções relativos aos primeiros postos de Oficial;

- recrutamento, seleção e atualização de um Corpo docente realmente capacitado para a orientação da aprendizagem tendo em vista a consecução dos objetivos educacionais previstos nas diferentes matérias constitutivas dos currículos elaborados de acordo com as orientações acima descritas;

- medidas no sentido de obter o reconhecimento da AMAN, como

um instituto com a competência de oferecer créditos ou mesmo graduações em determinadas áreas de atividades.

Essas concepções poderão oferecer, ao longo do tempo, possibilidades para a implantação posterior de outras iniciativas no campo da administração de recursos humanos com objetivo de:

- permitir implantar mecanismos para a seleção continuada de

Oficiais durante a maior parte da carreira ( até o posto de Major ). Esses mecanismos poderiam devolver, à vida civil, aqueles militares que não demonstrassem um nível de desempenho profissional adequado, que, no entanto estariam habilitados para exercer, na sociedade, determinados tipos de profissão;

- colocar à disposição da própria estrutura organização da Força

Terrestre pessoal capacitado e habilitado para o exercício de cargos e funções que exigissem competências particulares, não propriamente relacionados com a atividade militar, nas seguintes áreas: administração de material, orçamentação, administração de pessoal, informática, relações internacionais, educação, planejamento, comunicação social etc...

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A médio prazo, o Exército Brasileiro passaria a contar com uma estrutura de pessoal integrada de elementos com variadas competências, capazes de atender às múltiplas e diversificadas necessidades que caracterizam as atividades da Força Terrestre.

Ainda mais, a multiplicidade dessas competências estabeleceria uma

das condições básicas para enfrentar, em nível organizacional, um dos desafios da era do conhecimento: uma visão interdisciplinar para o estudo, a análise e o equacionamento de soluções de problemas.

A carreira do militar seria desenvolvida nos dois ramos da sua

habilitação: naquele referente à sua formação militar específica e naquele relativo à sua formação geral.

As questões acima abordadas conduzem a um ponto fundamental na

área de recursos humanos que consiste na adequação entre as políticas educacionais e as políticas de pessoal relacionadas à remuneração, à designação, à promoção, à movimentação e à assistência social.

Os problemas relacionados à educação dentro de uma determinada

organização, do nível de complexidade do Exército, não podem ser abordados sem a cogitação dos outros aspectos relacionados ao aproveitamento dos recursos humanos. O treinamento e a preparação de recursos humanos para atender às demandas de pessoal de uma instituição pressupõem, preliminarmente, a definição de alguns problemas tais como: os objetivos dessas atividades, as qualificações a serem desenvolvidas, os níveis de remuneração, os critérios para o preenchimento de cargos e de movimentação e outros.

Portanto, as propostas que estão sendo expostas ao longo desse

trabalho exigirão ajustamentos e adequações em variados aspectos da política de pessoal atualmente adotados pela Força Terrestre.