Plataforma Internacional do Anarquismo Revolucionário (UNIPA/OPAR)

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    2 OPAR e UNIPA Plataforma Internacional Do Anarquismo Revolucionrio

    FotosCapa: Funeral de Buenaventura Durruti. 22 de novembro de 1936, Barcelona, Espa-nha.Verso: Revolta, 1899. Quadro de Kthe Kollwitz.

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    Plataforma Internacional Do Anarquismo Revolucionrio OPAR e UNIPA 3

    Plataforma Internacional Do

    Anarquismo Revolucionrio1 de Maio de 2011

    Organizao Popular Anarquista Revolucionria e Unio PopularAnarquista

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    4 OPAR e UNIPA Plataforma Internacional Do Anarquismo Revolucionrio

    NDICE

    Apresentao 07

    Introduo 07

    1 - A luta terico-ideolgica: critica geral das concepes revolu-cionrias estatistas e do revisionismo no anarquismo

    11

    1.1 - Fundamentos histrico-universais do Bakuninismo 11

    1.2 - Posio dos anarquistas frente ao pensamento de Marx eEngels

    14

    1.3 - Diferenas e contradies entre a concepo Estatista e An-ti-estatista da Revoluo

    19

    1.4 - O revisionismo no Anarquismo 21

    2 - As grandes derrotas da revoluo social: Rssia, Espanha e A-mrica Latina

    25

    2.1 - Revoluo russa e a degenerao do marxismo 25

    2.2 - Guerra civil espanhola e a degenerao do anarco-

    sindicalismo e anarco-comunismo

    30

    2.3 - A crise do sindicalismo revolucionrio na Amrica Latina eas sucessivas capitulaes de anarco-comunistas, comunistas enacionalistas

    34

    2.4 - Sobre o fracasso histrico do comunismo/social-democracia e do anarco-comunismo/anarco-sindicalismo e suacondio atual

    40

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    3 - Teoria e Programa: os sujeitos revolucionrios e as tarefas doanarquismo no centro e na periferia

    48

    3.1 - A estrutura de classes e a diviso internacional do trabalhono Sculo XXI

    50

    3.2 - As contradies de classe e os sujeitos da revoluo 51

    4 - A Conjuntura: O Capital, O Estado e a Luta de Classes na atuali-dade

    56

    5 - luta de classes hoje: a criao de uma oposio autnoma nomovimento de massas

    64

    5.1 - O problema das crises do capitalismo, da crise de organiza-o do proletariado e da linha de massas internacional

    70

    Programa Reivindicaes Econmicas Gerais (Rurais e Urbanas) 72

    Programa de Reivindicaes Econmicas Indiretas (Educao, Sa-de, Moradia e etc.)

    73

    Programa de Reivindicaes Polticas Gerais 73

    Programa de Reivindicaes Agrrias 74

    Programa de Reivindicaes Econmico-Polticas Anti-

    discriminatrias

    74

    Programa Ambiental 75

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    Apresentao

    Ao operariado, campesinato e trabalhadores do setor de servios

    Aos desempregados e trabalhadores informais

    Aos trabalhadores migrantes em todas as regies do mundo

    Aos povos indgenas, nacionalidades, etnias e minorias oprimidas

    Juventude e as mulheres trabalhadoras

    Introduo

    Em junho de 1926, a publicao na Frana de um documento intitulado APlataforma de Organizao dos Comunistas Libertrios (assinado pelo grupode exilados russos Dielo Trouda), causou um profundo impacto e mal estarentre anarco-comunistas, anarco-sindicalistas e individualistas, especialmen-te na Europa.

    Entre os que assinavam o documento estavam o campons Nestor Makh-no, principal liderana do Exrcito Insurgente da Ucrnia, e Piotr Archinov,um operrio e guerrilheiro, ambos veteranos da revoluo e da guerra civilrussa (1917-1921). O documento convocava a reorganizao do anarquismorevolucionrio, a luta ideolgica contra o individualismo desorganizador ecriao de uma organizao anarquista internacional.

    Errico Malatesta, um dos principais anarco-comunistas da poca, se pro-nunciou de maneira clara e categrica contra os pressupostos estabelecidospela Plataforma: Ora, sendo a organizao proposta tipicamente autoritria,no s no facilitar a vitria do comunismo anarquista, como falsificar oesprito anarquista e resultar no contrrio do que esperam seus organizado-res. Vline, um anarco-comunista russo exilado na Frana escreveu o seguin-te: Concluindo, o nico ponto original na Plataforma seu revisionismo emdireo ao Bolchevismo, escondido pelos autores...

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    A Plataforma de Organizao era um documento que apontava paratrs tarefas fundamentais: o desenvolvimento de uma teoria anarquista co-mo base da organizao internacional; a maior preciso da estratgia e pro-

    grama globais para a revoluo socialista a partir da crtica da experincia dadegenerao burocrtica da revoluo russa de 1917; a crtica da funo queos anarquistas tinham desempenhado no movimento de massas e a apresen-tao de uma linha revolucionria de ao.

    Essas tarefas colocadas pelos autores da Plataforma de Organizaono foram realizadas. E nisso reside em grande parte as razes do declniohistrico do anarquismo, que assim como Makhno e Archinov apontaram,

    continuaria sendo marginal em relao s lutas das massas camponesas eoperrias caso no enfrentasse tais tarefas.

    A Plataforma tinha tambm os seus limites. A reao dos anarco-comunistas, individualistas e anarco-sindicalistas denunciava os Plataformis-tas como algo estranho ao anarquismo. Os plataformistas foram acusa-dos de desviarem-se do anarquismo, de trilharem uma perigosa fronteiracom o bolchevismo e com as ideologias autoritrias.

    Mas na realidade, os Plataformistas, ao contrrio do que seus crticos a-firmavam, no estavam rompendo com o anarquismo em geral. E simcom o revisionismo (representado pelas auto-proclamadas correntes). Osplataformistas tambm achavam que estavam criando uma proposta nova.Na realidade, eles apenas estavam recuperando, de forma parcial, a concep-o bakuninista originria da Primeira Internacional que foi renegada peloanarco-comunismo de Errico Malatesta e Piotr Kropotkin, pelo anarco-sindicalismo e seus tericos como Rudolf Rocker.

    A Plataforma de Organizao foi recusada por ela conter em seu interiorum movimento em direo aquilo que os anarco-comunistas, individualistase anarco-sindicalistas haviam negado: o bakuninismo. Mas a Plataforma ape-nas delineou as tarefas. Os seus autores no tiveram as condies histricaspara realiz-las. Eles mostraram que seria preciso construir uma organizaoanarquista internacional. Que esta deveria ter unidade terica, unidade tti-ca, responsabilidade coletiva e federalismo. Mas eles, por motivos de foramaior, deixaram esta tarefa incompleta.

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    A experincia anterior de crtica e os esforos hericos de indivduos e pe-quenos grupos que fizeram criticas parciais e reflexes que antecedem aanlise aqui apresentada devem ser reconhecidas. A crtica plataformista nos

    anos 1920 na Europa; as crticas de pequenos grupos de bakuninistas noBrasil e a defesa mesmo que confusa da Makhnovitischina no Brasil por JosOiticica; a critica e oposio do Grupo Antorcha a capitulao dos anarco-comunistas liderados por Santillan na Argentina. Tambm nos anos 1930 acritica a degenerao do anarco-sindicalismo e comunismo espanhol porMakhno e Jaime Balius e Los Amigos de Durruti. As crticas de Georges Fon-tenis nos anos 1950 e da FAU-histrica nos anos 1960 so fundamentais. Mas preciso tambm reconhecer que todas essas criticas foram incompletas e

    parciais. No conseguiram se consolidar, porque no caminharam em direoao bakuninismo.

    Esse documento visa exatamente assumir responsabilidade de executar astarefas delineadas pela Plataforma de Organizao e pelos demais camara-das. Continuar de onde pararam: avanar na nica direo possvel ao plata-formismo, o bakuninismo. Nesse sentido, ele tenta apresentar os traos es-truturais da teoria anarquista o bakuninismo e convocar a reconstruo

    da organizao internacional bakuninista e da organizao internacional dostrabalhadores. Essa tarefa hoje central.

    A degenerao das revolues socialistas e de libertao nacional, a inte-grao dos sindicatos de orientao social-democrata e anarco-sindicalistasdentro do sistema capitalista mostram que o proletariado tem sido levado asucessivas e gravssimas derrotas histricas. A capitulao dos anarco-comunistas a anarco-sindicalistas tambm um trao importante dessa his-

    tria. Foi em grande parte o resultado dos erros de teoria, do empirismo eoportunismo que marcava a formao das organizaes polticas e as organi-zaes de luta dos trabalhadores.

    Pretendemos ento aqui convocar a construo de uma Rede AnarquistaInternacional (RAI) e de uma Tendncia Classista-Internacionalista (TCI).Essas formas organizacionais visam dar incio ao processo de reconstruo daAliana e da AIT. Mas para delinear de forma mais concreta as caractersticas

    dessa organizao poltica e de massas preciso antes de tudo uma apresen-tao do contedo do bakuninismo e uma profunda crtica da teoria que foidirigente das lutas dos trabalhadores no ltimo sculo: o marxismo. E preciso

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    tambm uma crtica sria das experincias de luta dos trabalhadores e decomo os desvios de teoria foram determinantes para as derrotas dos traba-lhadores.

    A plataforma de organizao do anarquismo revolucionrio aqui apresen-tada visa ento fixar as bases tericas e programticas de tal construo in-ternacional. A primeira parte do documento uma crtica terica e histricadas diferentes teorias e experincias de organizao e luta dos trabalhadores.A segunda parte uma aplicao da concepo bakuninista de teoria e revo-luo ao atual estgio de desenvolvimento capitalista. A partir disso, apre-sentamos uma proposta de organizao dos revolucionrios e dos trabalha-

    dores para a luta pelo socialismo.Os indivduos e grupos que quiserem discutir a adeso a esta Plataforma

    de construo de Sees da RAI e TCI em seus pases devem escrever para seengajar e desenvolver o dito processo: as orientaes adicionais e detalhadassero repassadas pela Comisso de Construo.

    UNIPA Brasil

    OPAR

    Mxico

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    1 - A luta terico-ideolgica: critica geral das concepesrevolucionrias estatistas e do revisionismo no anarquismo

    1.1- Fundamentos histrico-universais do BakuninismoNa segunda metade do sculo XIX o proletariado d origem primeira ex-

    presso orgnica de luta internacional por sua emancipao: a AssociaoInternacional dos Trabalhadores (AIT), fundada em 1864. Em seu seio se reu-niam diferentes correntes que tinham como fim a emancipao social doproletariado. neste contexto que surge nossa corrente, fundada pelo pen-samento e a prtica do revolucionrio russo Mikhail Bakunin.

    O pensamento de Bakunin marcado pelo mtodo materialista de anlisedo mundo natural e social, capaz de produzir uma anlise crtica da sociedadee orientar uma prtica revolucionria. Tomando todos os fatores envolvidos

    na determinao da vida social com o fim de destruir integralmente a socie-dade burguesa e emancipar a humanidade inteira em um grande processo detransformao social, se constitui como uma das principais cosmovises filo-sficas de interpretao da realidade das que o proletariado se utilizou eutiliza em sua luta por libertao.

    O materialismo predominante no pensamento dos revolucionrios do s-culo XIX est em oposio direta ao idealismo da burguesia, continuando o

    antagonismo existente nas classes sociais engendradas pelo capital no terre-no da ideologia. Enquanto a burguesia busca disfarar sua dominao declasse mediante as idias religiosas, a metafsica e o pensamento idealista emgeral, o proletariado, mediante seus intelectuais e pensadores revolucion-rios, proclama o mtodo materialista de anlise da realidade, considerandoas relaes concretas, circunscritas a determinadas condies materiais deexistncia no tempo e no espao. O proletrio proclama o fim dos sistemasabsolutos e definitivamente moldados, em oposio, proclama um sistema

    dialtico que implica no conhecimento sistemtico do mundo natural e socialna sua totalidade, perfectvel a cada momento, sempre sujeito a implacveiscrticas e correes com base na experincia coletiva da humanidade.

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    O materialismo proletrio est em oposio concepo burguesa do di-reito do valor e lucro, considerando o dito direito como um argumento hip-crita dos capitalistas para explorar o trabalho das foras coletivas da humani-

    dade. Em oposio proclama que a nica fonte de valor o trabalho coletivoda humanidade; proclama a superioridade do trabalho coletivo sobre o indi-vidual; proclama sua oposio ao pagamento individual sob a forma capitalis-ta de salrio, que unicamente permite a reproduo da linhagem proletriapara continuar com a explorao burguesa; proclama que unicamente sob asocializao dos meios de produo que os trabalhadores tero domniosobre suas prprias atividades e tero acesso aos frutos de seu trabalho.

    O Proletariado toma como sua tarefa solucionar as contradies entre a

    produo coletiva das riquezas, bens sociais, e a explorao expressa ideal-mente no direito do lucro que fundamento e obra da sociedade capitalista,mediante um processo de Revoluo Social Integral, iniciando a ao de ex-termnio e abolio no s do direito de lucro e explorao, como tambm daprpria propriedade privada e do Estado, que se constituem nos fundamen-tos materiais da diviso de classes na sociedade.

    Herdado de gerao a gerao, o direito de explorar o trabalho da maioria

    trabalhadora por uma minoria opressora, se constitui como o fundamentoideolgico das sociedades de classe que justificam a existncia da proprieda-de privada e do Estado, base material da dominao da humanidade pelahumanidade, estabelecendo com isto uma relao dialtica entre o domniomaterial e o direito ideal que engendra uma crescente misria e desigualdadepara as amplas massas trabalhadoras.

    No seio do proletariado as diferentes correntes que confluem na defesa

    da emancipao humana como fim histrico e universal, no convergemquanto aos meios e os mtodos pelos quais o proletariado se emancipar.Enquanto as diferentes correntes cometeram o equvoco de extrapolar astarefas histrico-universais da burguesia ao proletariado, Bakunin, continu-ando com as acertadas crticas de J.P. Proudhon ao estatismo, pontua que atarefa histrica do proletariado no s no imitar a burguesia na tomada doEstado para o desenvolvimento do Socialismo, como demonstra que a condi-o essencial para que a humanidade se emancipe do governo do homem

    sobre o homem precisamente a abolio, a destruio revolucionria dosEstados e sua substituio por uma grande Confederao Universal de ho-

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    mens livres e associaes internacionais de trabalhadores que coordenem aproduo.

    A principal contribuio terica e poltica do bakuninismo como fenmeno

    de organizao, foi a compreenso do lugar do estatismo na histria e a cen-tralidade do problema da explorao das foras coletivas pelo capitalismo nasociedade moderna. A raiz da concepo de Bakunin est na compreensoda inter-relao entre a evoluo do estatismo e a intensificao da subordi-nao das foras coletivas.

    A propriedade privada e o Estado so as bases sobre a qual se erguem ssociedades de classes, o proletariado, sendo a classe histrica chamada a

    sepultar a explorao, afirma que para transformar a sociedade, para avanardo reino da necessidade para o reino da liberdade equivocado valer-se deprogramas e criaes de outras transformaes sociais de grande escala e deoutras tarefas histrico-universais.

    O conceito bakuninista de estatismo designa por sua vez um processo: ode extenso do Estado e formao de uma razo do Estado e de diversasdoutrinas de sua legitimao (teoria do direito divino dos reis, contratualis-mo, nacionalismo). O conceito de estatismo supe uma anlise histrica emque o Estado Moderno antecede a formao do capitalismo, e a tomada des-te Estado pela burguesia consolida a transformao econmica capitalista dasociedade feudal. Por outro lado e dialeticamente este Estado Moderno sur-gido da Reforma Protestante, Estado emancipado da Igreja e que a subordi-nou, foi condicionado pelas mudanas econmicas e sociais, como as trans-formaes do feudalismo, expanso comercial, que antecederam a possibili-taram a reforma religiosa.

    Considerando a dialtica existente entre as relaes sociais concretas, oEstado, enquanto estrutura jurdico-poltica o produto de relaes desiguaisentre as classes, e tambm produz e reproduz relaes sociais desiguais. As-sim, o Estado possui uma importante dinmica estruturante responsvel pelaproduo e reproduo de novas relaes de explorao e opresso.

    A dialtica entre centralizao/monoplio expresso e conseqncia docarter burgus do Estado Moderno, que no um mero fenmeno do de-

    senvolvimento da produo capitalista, se no que, se constitui numa condi-o intrnseca e, inclusive, em um agente poltico e econmico fundamental

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    para o surgimento, expanso e consolidao do capitalismo por todo mundoat os nossos dias.

    Transformado pelo carter burgus, o Estado capitalista, sua economia e

    o prprio sistema internacional de Estados, se desenvolve em uma implac-vel competio pela hegemonia, pela mesma supremacia que elevar sempreo Estado mais vasto ao controle de territrios, mares, ares, espao e povos. Acentralizao de poderes no Estado levar tambm no sistema de Estados auma centralizao de maiores poderes nos maiores Estados, que ento as-sumiro a forma de Imprios, conceito no qual descansa a verdadeira nature-za dos Estados que so potncias militares e geopolticas em determinadomomento histrico. O Imprio um tipo particular de Estado que consegue a

    hegemonia de uma regio e que disputa a supremacia no sistema mundial. Odesenvolvimento do estatismo sempre leva, no sistema internacional de es-tados e pela lgica da concorrncia e conquista que lhe inerente, a forma-o de um Imprio que detenha a supremacia sobre outros Imprios e Esta-dos rivais.

    Este o erro de extrapolar as tarefas histrico-universais de uma classe aoutra precisamente quando a ltima tem como fim supremo a abolio das

    sociedades de classe. O Bakuninismo descobre e formula este princpio e oconstitui como seu elemento componente, do que se desprendem os demaisprincpios e teorias relacionadas com a emancipao do proletariado e todo oque relativo a ttica e a poltica revolucionria.

    1.2 Posio dos anarquistas frente ao pensamento de Marx e En-gels

    O proletariado porta em seu seio, vrios pensadores que se constituemcomo suas fraes intelectuais. Independente da corrente poltica que de-fenderam, todo socialista revolucionrio honesto deve reconhecer aos auto-res suas contribuies ideolgicas ao proletariado, deve cerrar fileiras contraos ataques capitalistas a ditos pensadores e assumir a crtica-correo doserros destes intelectuais como parte de nossas tarefas internas, como parte

    do movimento socialista do proletariado mundial, segundo nossos princpioscientficos e introduzindo as respectivas emendas.

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    Para os anarquistas revolucionrios, Carlos Marx e Frederico Engels pro-porcionaram ao proletariado 2 descobrimentos dignos de se reconhecer:

    a) O materialismo histrico, que permite a interpretao da histria como

    um processo dialtico de produo-reproduo da vida social com base navida material, formado por uma recproca relao entre as manifestaes davida intelectual, cultural e social e a vida econmica da sociedade humana.

    b) A teoria da mais-valia, que desvela e demonstra o processo de acumu-lao capitalista baseado na explorao e opresso das massas trabalhado-ras.

    Para os anarquistas, o materialismo um mtodo cientfico que pode seraplicado para resolver as distintas tarefas que a revoluo exige. Todo prole-trio revolucionrio deve reconhecer o correto e o vigente do materialismose considera desde suas importantes contribuies como mtodo cientficopara a observao, a anlise e a resoluo das tarefas das massas trabalhado-ras.

    Marx e Engels tiveram uma acertada aplicao do mtodo que eles mes-mos descobriram e formularam a respeito da anlise e interpretao que

    realizaram das lutas de classe do passado, a respeito da crtica revolucionriada sociedade capitalista e o apontamento da necessidade de sua destruiopelo proletariado revolucionrio. De maneira magistral ensinaram ao proleta-riado a forma correta de entender o passado e a realidade imediata, formu-lando pela primeira vez na histria uma teoria capaz de estabelecer umarealidade multiforme, com relaes de causalidade, criando assim as basespara uma acertada crtica-prtica, quer dizer, de uma militncia poltica con-creta das classes exploradas e oprimidas conscientes da necessidade de sua

    emancipao. Esta uma contribuio que ningum poder disputar comMarx e Engels e que os mantero vigentes at o triunfo total sobre a explora-o burguesa.

    No entanto, conceberam, desenvolveram e mantiveram muitos erros quecustaram muitas derrotas ao proletariado ao longo do sculo XX, cujas con-seqncias sofremos ainda hoje. Se foram grandes pensadores que nos de-ram grandes lies na Histria e na Economia Poltica, tambm foram autores

    de pr-determinaes anti-dialticas do prprio mtodo que corretamentehaviam formulado em relao interpretao do passado e do presente,apresentando condues mecnicas e unidimensionais para as novas tarefas

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    histrico universais das massas exploradas. Fundamentadas no campo dateoria em um erro de princpio da aplicao do Materialismo Histrico sobreas tarefas proletrias referentes ao que fazer no dia seguinte da derrocada da

    sociedade burguesa, quer dizer, sobre as tarefas da poca ps-revolucionriaque se condensam na teoria da Ditadura do Proletariado, ttica mxima domarxismo revolucionrio.

    Cabe aqui apresentar a crtica s duas fontes de erro e degenerao teri-co-poltica do marxismo. A primeira delas reside num dos ncleos centraisdo materialismo histrico, um erro de teoria. O segundo reside no centrodo programa e estratgia, um erro de poltica. Ambos os erros explicam asderrotas e degeneraes dos marxistas.

    Na interpretao do materialismo histrico existe um componente fun-damental que a idia da determinao do econmico em ltima instn-cia. Esse conceito refletia uma subestimao terica tanto do papel do Esta-do quanto da prpria luta de classes, de maneira que o desenvolvimentodas foras produtivas em termos abstratos era considerado assim comocritrio fundamental. Esse primado do econmico como determinante emultima instncia rapidamente se transformou em uma pr-determinao

    mecanicista dentro da social-democracia internacional.Ao mesmo tempo em que em teoria as foras produtivas eram considera-

    das como centrais, subestimando a ao das classes e do Estado, na polticao Estado ocupava o lugar central. Exatamente porque em teoria o Estadoera somente determinado pela economia (e no dialeticamente determi-nante dela), se considerava que o Estado era neutro e que o proletariadopoderia apropriar-se dele enquanto um instrumento ( como se as tcnicas e

    ferramentas fossem neutras, e a burguesia e o proletariado pudessem usarquaisquer ferramentas) para fazer reformas progressivas e mesmo revolu-es.

    A teoria da Ditadura do Proletariado se constitui como uma extrapola-o anti-histrica e anti-dialtica do programa burgus da poca pr-capitalista ao programa proletrio da poca capitalista, como uma transposi-o das tarefas histricas da burguesia em sua luta por sua emancipao dofeudalismo s tarefas histricas do proletariado em luta pela emancipao

    integral humana e sua prpria aniquilao como classe explorada. um con-

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    trabando ttico e estratgico de uma experincia coletiva de uma classe paraa outra.

    Observando a luta da burguesia por implantar o sistema capitalista de

    produo, Marx deduziu com acerto as condies necessrias para implantarqualquer domnio de classe, o que se desenvolver ao grau de se conformarna teoria geral da Ditadura do Proletariado, ainda que depois se omitiu abordar o que este domnio implica para as classes no poder e se estas pode-riam se sustentar sem se corromper ou tergiversar. No seio mesmo da socie-dade feudal o capitalismo desenvolveu suas foras que culminaram com asupremacia da produo industrial sobre a agricultura feudal, as novas divi-ses do trabalho, a predominncia da cidade sobre o campo, e a superaode todas as formas de produo e reproduo da vida at ento conhecidas(a supremacia da produo sobre o consumo). Estas mudanas foram enten-didas e interpretadas em seu conjunto pelo mtodo do materialismo histri-co e dialtico, que impressionaram profundamente a Marx e Engels levando-os a extrapolar as tarefas histrico-universais que a classe burguesa haviarealizado a classe que esta mesma havia engendrado e que estava chamado asepultar: o proletariado; incorrendo assim, no erro de princpio que falva-

    mos mais acima.Marx extrapolou tais tarefas ao proletariado baseado em suas interpreta-

    es do curso das lutas burguesas e qual eram as condies necessrias aconcretizar para estabelecer o domnio de classe; e este s pode se efetuarmediante a tomada do Estado (a nvel histrico) por uma classe, retendo opoder em suas mos e consolidando seu regime social, de cuja mxima emais desenvolvida expresso temos, na classe burguesa, as repblicas demo-crticas inspiradas no modelo Francs, no qual, de acordo com Marx, deve se

    desenvolver a confrontao final e decisiva entre a burguesia e o proletaria-do.

    Alm disso, a Frana considerada por Marx como modelo de evoluo daburguesia representava mais uma exceo do que uma regra: na Inglaterra,na Alemanha e em outros pases, a burguesia fez uma srie de compromissoscom o Ancient Regime, se incorporando nas ou incorporando as antigas oli-garquias como fraes de classe dentro do novo modo de produo que se

    expandia.

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    E esta tomada do Estado, esta conquista-reteno do Poder nas mos deuma classe (neste caso, do proletariado) este princpio assimilado como eixoterico orientador de todas as suas aplicaes gerais e particulares a todas e

    a cada uma das reas de luta do proletariado, levaram contradies de tograndes dimenses em seu seio que, levadas at suas ultimas conseqnciasno campo terico e confrontadas com a experincia histrica (quer dizer,com sua comprovao experimental objetiva) dos ltimos sculos, no restamais que as explicar e as descartar por conter em si, os germes de sua pr-pria aniquilao como mtodo terico-prtico em relao com a luta moder-na pela emancipao social humana que demanda (e demandou desde ostempos destes pensadores alemes) novas e inovadoras realizaes.

    Na realidade concreta, no campo da ao revolucionria, qualquer teoriaconseqente leva em si implicaes poltico-prticas, implicaes que a teo-ria da Ditadura do Proletariado no deixou de ter e as quais nos opomosto firmemente no s por engendrar em seu seio o germe de sua prpriaaniquilao como teoria com uma mnima consistncia interna, se no pelasconseqncia das suas polticas concretas e os resultados to pobres que noslevaram a respeito da emancipao humana, sendo seu contedo essencial,sua composio elementar, um aburguesamento da poltica-prtica do prole-tariado revolucionrio, o reforo do estatismo e o abandono voluntrio dasinovaes prtico-experimentais das massas em ao. Se somos os primeirosa reconhecer as contribuies do pensamento marxista, somos tambm osprimeiros a demonstrar os erros e iniciar as correes ante a necessidadehistrica de seus formuladores. Opomo-nos ao aburguesamento do Materia-lismo Histrico que os mesmos Marx e Engels permitiram e sua converso emidealismo revestido.

    Assim, existem limites para apropriao do materialismo histrico deMarx e Engels e a necessidade de interpretar sua contribuio a partir dosparmetros crticos de teoria e poltica aqui estabelecidos. E a concepobakuninista do materialismo tendo vrios pontos de concordncia com omaterialismo histrico de Marx se diferencia deste ltimo em vrios aspectosimportantes.

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    1.3 - Diferenas e contradies entre a concepo Estatista e Anti-estatista da Revoluo

    Entre a concepo estatista da Revoluo de Marx e Engels e a concepoanti-estatista de Bakunin, existe um antagonismo inconcilivel. EnquantoMarx e Engels toleraram e participaram do aburguesamento do MaterialismoHistrico, Bakunin incorporou e reconheceu o mtodo materialista e suaconcepo filosfica do mundo. Enquanto Marx e Engels interpretaram demodo equivocado as tarefas histrico-universais do proletariado com base naextrapolao da experincia coletiva da burguesia ao proletariado, reconhe-

    cendo a necessidade do desenvolvimento do capitalismo e adotando tal ne-cessidade como bandeira poltica, Bakunin fundou e desenvolveu uma teoriaque fortaleceu e ampliou o campo de interpretao da histria e permitiudesenvolver amplamente a natureza das tarefas histrico-universais do pro-letariado em sua luta pela destruio das relaes de explorao, fundou edesenvolveu a teoria do estatismo.

    A partir da teoria do Estatismo no s possvel ampliar a interpretao

    da histria e esclarecer a relao existente entre o Capital e o Estado na o-presso e explorao das massas trabalhadoras na atualidade e na realidadeimediata de uma situao histrica especfica, como, alm disso, resolver aquesto relativa tarefa histrico-universal proletria, do que fazer no diaseguinte da derrocada da sociedade burguesa, quer dizer, diz respeito astarefas da poca ps-revolucionria que se condensam na teoria da Aboli-o do Estado, ttica do proletariado anarquista.

    As contradies entre o pensamento de Bakunin e o de Marx e Engels ul-trapassa o campo da ttica e se eleva a concepes gerais sobre a Revoluo.Marx e Engels fundamentam suas concepes em uma interpretao parcialda Histria, realizada s com base na anlise do Capital, caindo em mecnicoe parco determinismo econmico, desestimando o papel do Estado, reduzin-do esta maquinaria a um mero instrumento que bem pode servir a tanto auma quanto a outra classe para cumprir suas tarefas histrico-universais. Euma interpretao desta natureza tem como resultado a concepo de que

    simplesmente necessrio valer-se do domnio de classe para atacar parci-almente, por graus e etapas a sociedade burguesa, a propriedade privada, afamlia e o Capital, deixando intacta precisamente a instituio histrica na

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    importantes como a relao do proletariado com as classes, e o incio de umprocesso inteiramente novo na histria da humanidade na qual os proletriosrevolucionrios de hoje pouco ou nada tem a imitar aos jacobinos de 1789.

    Temos de inventar e criar tudo.Esta concepo da revoluo s possvel por que Bakunin v que o m-

    todo materialista no pode ser rebaixado a uma interpretao unidimensio-nal da evoluo histrica, e que sendo o fator econmico o determinante, talfator s poderia ser determinante de forma relativa, sendo em contrapartidaum processo de movimento permanente: uma relao dialtica na qual apoltica tambm determinante em relao economia.

    Estas questes prticas compem a integralizao da revoluo, que partede uma integralizao da dialtica dentro da estratgia poltica, que haviasido negada pelos erros de princpios de Marx e Engels, induzidos pelo esta-belecimento de um esquema unidimensional de evoluo em direo dodesenvolvimento do capitalismo e a extrapolao das tarefas histrico-universais da burguesia ao proletariado.

    1.4 - O revisionismo no Anarquismo

    Uma vez consolidada a necessidade do Socialismo, seu carter cientfico eemancipador e suas primeiras tentativas prticas, a burguesia teve que reco-nhec-lo e empreender uma luta de contaminao ideolgica. O Anarquismono foi uma exceo. Depois do retiro e morte de Bakunin, as derrotas doproletariado na Frana, Espanha, Itlia e Rssia produziram uma desorienta-

    o nos anarquistas revolucionrios da poca. Como conseqncia disto,muitos deles comearam um processo de reviso nas teorias de Bakunin que,junto com a deficiente difuso e sistematizao de seu pensamento, resultouno nascimento histrico do revisionismo, um desvio programtico genuina-mente burgus do Anarquismo Revolucionrio desenvolvido e defendido porBakunin.

    O revisionismo o produto histrico da influncia ideolgica burguesa nas

    filas das correntes socialistas proletrias que se sobrepe aos indivduos e seconstitui em uma verdadeira ofensiva burguesa em nossas prprias fileiras. Orevisionismo adquire diversos aspectos e apresenta diferentes aparncias, no

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    entanto, no fim seu carter o mesmo. O revisionismo no um simplesdesacordo de opinies de autores clssicos, no um capricho dogmticodos revolucionrios socialistas por um desacordo entre essa ou aquela opini-

    o, se trata de uma reviso, uma negao dos fundamentos histrico-universais do Socialismo, por tanto, uma luta do proletariado contra a bur-guesia em seu prprio terreno, a luta pela independncia ideolgica e polticado proletariado em sua luta de classe contra a burguesia, uma luta necess-ria, permanente e implacvel.

    O revisionismo no Anarquismo Revolucionrio assume desde o incio umcarter ecltico, isto , que busca conciliar fundamentos histrico universais,programa e tticas no s contraditrios, como tambm antagnicos, seme-

    ando a confuso e a desorganizao nas fileiras ideolgicas proletrias sendoesta caracterstica uma causa e conseqncia de sua incapacidade histricapara direcionar o proletariado em sua luta contra a explorao capitalista.Surge de um esforo para mesclar as idias de Bakunin e Marx justamente noplano em que elas so opostas, na concepo das tarefas histricas, no pro-grama, na ttica e na estratgia.

    Estes posicionamentos so os embries das formas do que se conhece

    como anarco-sindicalismo e anarco-comunismo que se desenvolveramnos primrdios do sculo XX. Estas posies revisionistas constituram, demaneira mal feita na maioria das vezes, novas teorias, hbridas por definio,que so a sustentao ideolgica de uma srie de prticas amorfas e carentesde perspectiva revolucionria.

    Por um lado, o anarco-comunismo, tendncia ecltica de carter pe-queno-burguesa, ir negar exatamente as contribuies do pensamento mar-

    xista: O Materialismo Histrico e a crtica da economia burguesa. O principalexemplo se encontra no pensamento de Enrique Malatesta, quem no sdeprecia a luta de classes no terreno da ideologia, como tambm, como umbom pensador pequeno-burgus, acredita que os pensamentos se encontramacima da luta de classes e que se podem juntar quaisquer pensamentos toantagnicos graas a obra da vontade. Foi por isso que ele rompe com obakuninismo em nome de uma conciliao do anarquismo com o comu-nismo.

    A ruptura fundamental estabelecida entre o revisionismo anarco-comunista e o Anarquismo Revolucionrio no campo da teoria tem sua m-

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    xima expresso no critrio que o primeiro tem para analisar a histria e asociedade que no o trabalho como base do socialismo, que a forma ma-terialista de abordar a questo, e sim no critrio que no s abandona esta

    base programtica como tambm a sepulta magistralmente com sua frmulapequeno-burguesa a cada um de acordo com as suas necessidades.

    Este desvio programtico implica em uma renuncia tcita, semi-consciente, da contradio entre as classes. A supremacia da necessidade aafirmao da supremacia do individuo contra a supremacia das foras coleti-vas do trabalho, que implica uma falsa contradio de natureza anti-dialticaque supe a oposio individuo/sociedade dando origem a uma falsa hostili-dade, em vez de resolver a contradio pela via socialista em que a existnciade um supe a relao e influncia do outro e vice-versa.

    Na prtica este desdm se expressa na negao de uma organizao pol-tica de revolucionrios anarquistas, e organismos sociais baseados na des-centralizao poltica e o federalismo, baseados em uma centralizao eco-nmica socialista, organizada civilmente em relao as direitos gerados pelotrabalho, criando um vazio programtico e organizacional que se manifestarnas grandes derrotas histricas onde os revisionistas pseudo-anarquistas

    tomaram parte ativa.

    Outra manifestao do revisionismo pequeno-burgus pseudo-anarquistase expressa no fenmeno conhecido como individualismo, que supe afalsa contradio hostil entre qualquer organizao e o indivduo, pondo aliberdade abstrata deste em contradio com os interesses daquele, supri-mindo a luta de classes e a dialtica sob o amparo do individualismo idealistaburgus, que teve grandes partidrios contraditrios nas expresses pseudo-

    anarquistas conhecidas como sntese, gerou fenmenos como a propagandapelo fato dos finais do sculo XIX, e que pretendia conciliar ecleticamente ascontradies derivadas do idealismo abstrato em prticas concretas que de-rivaram na negao de toda responsabilidade poltica sria. Hoje em dia pa-rece haver um ressurgimento destas prticas na chamada informalidadeviolenta e emancipadora.

    Uma corrente que se coloca acima das anteriores, o revisionismo anar-co-sindicalista, cuja mxima expresso foi a Confederao Nacional do Tra-balho (CNT) espanhola, fundada em 1910. Esta corrente superior as acimamencionadas em relao com a essncia de sua natureza, que seu incio e

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    2 - As grandes derrotas da revoluo social: Rssia, Espanhae Amrica Latina

    A crtica dos diferentes projetos, revolucionrios e reformistas, no podeser seno a crtica da experincia das lutas dos trabalhadores nos ltimosanos. As diferentes correntes tericas analisadas acima estiveram presentesnas principais experincias de luta dos trabalhadores na primeira metade dosculo XX. Todas elas levaram derrotas do processo revolucionrio. Isso emrazo das suas debilidades tericas e ideolgicas e do carter ecltico dosseus objetivos programticos e da natureza de classe das suas alianas. Almde erros tticos na conduo do processo de luta.

    Para reconstruir o sindicalismo e o movimento revolucionrio bakuninistainternacional preciso ento uma crtica severa dessas correntes. E isso obalano do seu papel na histria. Nesse sentido, devemos analisar os acon-tecimentos chave do sculo XX. A revoluo russa e a guerra civil espanhola,

    na Europa, e o processo de emergncia dos governos Ditatoriais-Militares naAmrica Latina nos anos 1930-80 explicitam as contradies e crise do movi-mento socialista internacional.

    2.1 - A revoluo russa e a degenerao do marxismo

    A revoluo russa mostra a degenerao do marxismo. Mas tambm de-nuncia pelo carter marginal ocupado pelo anarco-comunismo, suas contra-dies. Somente na Ucrnia, num dos pases subordinados pelo Imprio Rus-so, um movimento de massas significativo se desenvolveu, e graas rupturacom os postulados do anarco-comunismo e do anarco-sindicalismo.

    A composio do movimento de massas na Rssia se dava da seguintemaneira. Existiam duas grandes organizaes partidrias, o Partido Operrio

    Social-Democrata (filiado a II Internacional) e o Partido Socialista Revolucio-nrio. Os grupos anarco-comunistas eram representados por inmeros pe-quenos grupos locais. Todos os grupos eram subdivididos em correntes de

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    direita e esquerda (melhor exemplificada pela histrica diviso entre bolche-viques e mencheviques), mas os SR e anarquistas tambm.

    Podemos dizer que o processo revolucionrio russo se desenrolou em

    torno de duas questes fundamentais: a posio frente derrubada da mo-narquia e a posio ante a Primeira Guerra mundial imperialista. Na dinmicada revoluo russa podemos encontrar a experincia de aplicao da teoriada revoluo permanente ou etapista do marxismo. E como ela foi sucessi-vamente mostrando suas contradies e permitindo a integrao sistmicado marxismo. Isso fica explicito pelo desenrolar da prpria luta revoluciona-ria. O setor marxista que conseguiu se tornar dirigente da revoluo foi exa-tamente o setor que rompeu com a Internacional Social-Democrata em razo

    da sua posio diante da Guerra.

    Lnin nos textos O Oportunismo e a Falncia da Segunda Internacional(1916) e Teses de Abril (1917) deixa claro como o marxismo do perodoanterior havia degenerado. Ao mesmo tempo explicita como o marxismodesenvolvido pelos bolcheviques na situao pr-revolucionria possibilitouque depois da revoluo de 1917 ele fosse levado a cumprir um papel contra-revolucionrio.

    Em primeiro lugar, importante notar que o texto est marcando a cisodos Bolcheviques com II Internacional, com o Partido de Marx (o KPD). Omotivo foi a capitulao da II Internacional diante da poltica nacionalista eseu apoio a guerra imperialista. Os oportunistas, dizia, negavam a oposioa Guerra diante da guerra. Quer dizer, a II Internacional possua uma carac-terizao terica correta, mas na hora da deciso esqueceu sua teoria porfalta de ideologia revolucionria, vontade poltica. O carter relativamente

    pacifico do perodo de 1871 a 1914 alimentou o oportunismo primeiro co-mo estado de esprito, depois como tendncia e finalmente como grupo oucamada da burocracia operria e dos companheiros de jornada pequeno-burgueses.

    O oportunismo tenderia no plano poltico a se reduzir ao legalismo e par-lamentarismo e no plano de massas ao economicismo mais estreito e nacio-nalista.

    Se no cenrio Internacional, os Partidos Social-democratas j manifesta-vam sua capitulao, no contexto russo tal fato se daria em 1917. As teses deAbril de Lnin so escritas em 1917 depois da revoluo de fevereiro. Nesse

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    contexto, as duas alas da Social-Democracia russa, Mencheviques e Bol-cheviques, comeavam a confluir para o apoio a uma forma de revolu-o democrtico-burguesa. Lnin ao contrrio, retorna a Rssia defenden-

    do uma outra linha programtica. Seria necessrio passar das tarefasdemocrticas (derrubada da monarquia) as tarefas socialistas. Ele afirmaque o intervalo de tempo entre uma etapa e outra curto e no indefinido.Passa a defender a Supresso do Exrcito, da Policia e da Burocracia, a Equi-valncia dos salrios em um Estado Tipo-Comuna. As propostas de Lninso acusadas pelos prprios bolcheviques de bakuninismo. Lnin percebeque seria preciso romper com os pressupostos do prprio marxismo interna-cional e do prprio bolchevismo: apresentar um novo programa e uma nova

    interpretao das etapas da revoluo permanente.

    Mas seria no Estado e a Revoluo que ele afirmaria que passada a rpi-da etapa da revoluo democrtico-burguesa a revoluo socialista, se inau-guraria uma etapa histrica de longa durao e transio do socialismo aocomunismo. Assim, Lnin rompe com II Internacional ao aceitar As tticasde luta clandestina e negar a reduo parlamentarista e nacionalista, masno rompe com a teoria da revoluo permanente e transposio das tarefas

    histrico-universais da burguesia ao proletariado.E nessa defesa do papel legitimo do Estado na revoluo e da longa dura-

    o da transio entre as etapas (assim como havia acontecido com a II In-ternacional) d margem para a formao de um novo tipo de oportunismo,que vai gerar uma nova classe dominante dentro do Estado revolucionrio.Mas a especificidade da perspectiva de Lnin que isso essa degenerao spoderia se manifestar na situao ps-revolucionria, porque ele modificousubstancialmente a teoria marxista da revoluo permanente.

    Mas processo de degenerao da revoluo e do bolchevismo abordadopor Trotski ao longo dos anos 1920 e 1930. E ele j consegue identificar que obolchevismo estava se transformando na teoria do socialismo num s pas,em que mais uma vez o Estado, o nacionalismo e a acomodao ao capitalis-mo estavam predominando dentro do marxismo.

    Trotski dirige sua critica direo do PCUS, que ele denomina de ve-lhos bolcheviques (Stlin, Bukharin, Zinoniev e Kamenev). O debate se dem torno de duas teorias: a teoria da revoluo permanente e depois teoriado socialismo num s pas. Em primeiro lugar, Trotski desmascara o mito

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    revolucionrio do bolchevismo ao mostrar a contradio entre a urea derevolucionrios dos chamados velhos bolcheviques e sua atuao no mo-mento decisivo, o ano de 1917. Neste perodo os velhos bolcheviques tive-

    ram um posicionamento democrtico-burgus idntico aos mencheviques(ou seja, postulavam apenas uma revoluo democrtica, que substitusse amonarquia pela democracia, e no a revoluo socialista). Somente com oretorno de Lnin que o Partido Bolchevique d uma guinada esquerda.Trotski indica que nenhum dos velhos Bolcheviques foicapaz de no momen-to histrico mais grave e mais cheio de responsabilidades, nenhum deles foicapaz de utilizar, por si, toda a experincia terica e prtica do Partido.

    Ou seja, o oportunismo que Lnin havia denunciado como estado de esp-

    rito, tendncia e camada dirigente da burocracia operria, que teria tomadoa Direo Poltica da II Internacional se desenvolveu tambm no interior dopartido bolchevique, fazendo este pender para a uma via de revoluo de-mocrtico-burguesa. A vitria da linha de Lnin e Trotski em Outubro foi oresultado da aliana da linha revolucionria minoritria na Direo do Partidocom as bases populares neste momento mais avanadas (j que, por exem-plo, a insurreio s foi aprovada numa reunio ampliada do CC dos Bolche-viques com participao das bases operrias, e ainda, tendo de ser submetidaa duas votaes, pois os dirigentes do partido votaram contra a mesma).Trotski indica que nas concepes teorias e no estado de esprito domarxismo vulgar, predominante na II Internacional (inclusive na Rssia),existia um lapso histrico enorme, de dcadas, entre o estgio Democrtico(ou seja,m entre a revoluo democrtico burguesa) e o estgio Socia-lista. Esta concepo predominava no somente entre os mencheviques,mas tambm na maioria dos dirigentes bolcheviques. Os problemas da

    revoluo socialista ainda eram o preldio obscuro de um futuro ainda lon-gnquo.

    Assim, a histria do marxismo no sculo XX foi a da ruptura com a buro-cratizao da Internacional Social-democrata e seu ressurgimento dentro daIII Internacional e de todas as variantes do marxismo que partiam da sua baseterica (o maosmo, o grasmcianismo) e mesmo o trotskismo, que no rompecom o etapismo da teoria da revoluo permanente. Assim, esse dilema domarxismo se manifestaria numa eterna oscilao entre as polticas de direita(parlamentarismo, legalismo com diferentes expresses histricas, como obernsteinanismo, o stalinismo), de esquerda (o maosmo, o trotskismo) e

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    explicada pela incapacidade do anarco-comunismo e anarco-sindicalismo seapresentarem como alternativas revolucionrias.

    2.2 - A guerra civil espanhola e a degenerao do anarco-sindicalismo e anarco-comunismo

    O anarco-sindicalismo um fenmeno do sculo XX e ele parte do de-senvolvimento das grandes centrais sindicais. A criao da CNT em 1910 to-mando por base a CGT francesa inaugura assim um processo de luta na Espa-

    nha que menos de trs dcadas depois resultaria na guerra civil. O anarco-comunismo vai se desenvolver em parte dentro e em parte a margem e/oucontra o anarco-sindicalismo. O processo de luta de classes na Espanha, as-sim como na Rssia, se desenvolveu tendo por base tambm a luta contra amonarquia, basicamente at 1923 e deste ano at 1930 contra a Ditadura,comandada pelo General Primo Rivera. Ele ento derrubado e proclama-da a Repblica com a convocao de eleies. At 1933 o Governo sercomposto pelos partidos republicanos de esquerda e socialistas, quando a

    direita comea a avanar. Em fevereiro de 1936 so convocadas eleies numcontexto de guerra civil velada, com terrorismo de direita e movimento ope-rrio em armas.

    nesse momento que as contradies do anarco-comunismo e anarco-sindicalismo espanhol, expressos ambos dentro da CNT-FAI iro se demons-trar de forma gritante. Se no caso do marxismo revolucionrio as contradi-es s apareceram de forma mais clara na situao ps-revolucionria, no

    caso do anarco-comunismo e anarco-sindicalismo (assim como da social-democracia) elas apareceriam pela sua capitulao na situao pr-revolucionria. O trecho abaixo, de uma resoluo de plenria da CNT/FAIilustra bem essas contradies tericas e seus efeitos prticos, do Informedel Comit Peninsular de la Federacin Anarquista Ibrica al MovimientoLibertario Internacional (septiembre 1937), firmado por Santilln, Ger-minal De Souza, Pedro Herrera y Federica Montseny: ramos efeti-vamente os donos da situao. Mas imediatamente, nos formulamos as se-

    guintes perguntas: o fascismo no est abatido ainda em toda a Espa-nha. Fora da Catalua no somos a fora predominante. Devemoscompartilhar as responsabilidades e os direitos com as foras anti-

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    fascistas () no h que proclamar o comunismo libertrio. Procurar man-ter a hegemonia nos comits de milcias antifascistas e afastar toda realiza-o totalitria de nossas idias.

    A estratgia stalinista da III Internacional representava a aplicao dateoria da revoluo permanente j sob a tica da nova classe dominante rus-sa, a nomenklatura. Dessa tica, as revolues deveriam se subordinar asetapas democrtico-burguesas como parte da poltica internacional da URSS,ou seja, no deveriam extrapolar a construo de repblicas burguesas. Essalinha foi aplicada na Espanha ao colocar a tarefa da luta anti-fascista (que erauma apenas adequao da prioridade da luta anti-monrquica ao novo con-texto). O centro dessa etapa seria a aliana com a burguesia democrtica.Na Frente Popular deveriam estar o movimento operrio e a burguesianacional, que fariam uma aliana contra Franco. Assim, apesar do dog-matismo anti-marxista, o anarco-sindicalismo e anarco-comunismo espa-nhol se integraram na poltica derivada da teoria marxista da revoluopermanente e objetivamente nas estruturas do Estado burgus.

    Esse processo derivava fundamentalmente das deficincias tericas e i-deolgicas do movimento, que foram percebidas e combatidas mesmo que

    tardiamente pela agrupao oposicionista da CNT-FAI Los Amigos de Durruti.Tal oposio denuncia a capitulao da direo da CNT-FAI e a degene-rao dessas organizaes, materializadas no fenmeno do ministerialis-mo. Los Amigos de Durruti atravs do jornal Amigo do Povo fizeram a opo-sio a esse processo o que verdadeiramente contribuiu, quer dizer, decidiusensivelmente a perda de uma revoluo que somente podia escapar dasmos de uns incapazes, a falta de uma diretriz que houvesse marcado deuma maneira inconfundvel o caminho a seguir. (...) As revolues sem

    uma teoria no seguem adiante. A total ausncia de uma teorizao srianos anos que antecederam a guerra civil espanhola, especialmente nosanos 1920, no era um problema exclusivo do anarco-sindicalismo espanhol.Ele era um trao estrutural do anarco-comunismo e anarco-sindicalismo in-ternacional, que ficou claramente manifesto na reao contrria ao pla-taformismo liderado por Makhno e Archinov.

    As contradies derivadas do ecletismo terico no se manifestaram ape-

    nas durante a Guerra Civil Espanhola, mas ao longo de toda a dcadade 1920 e incio de 1930. A adeso a apoltica de frente popular for-mulada pela URSS, j tinha sido ensaiada antes, com a adeso acrtica

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    das centrais anarco-sindicalista a Internacional Sindical Vermelha dirigidapelo Partido Comunista da URSS na dcada de 1920. Na prtica isso levoua toda uma poltica de colaborao de classe, que fez que figuras como

    Frederica Montseny, Diego Abad Santillan, Garcia Oliver e outros, fos-sem integrados na estrutura de Governo Espanhol, primeiro por meio doComit de Milcias Anti-Fascistas, e depois como ministros de diversos conse-lhos de estado. O ministerialismo foi a forma histrica concreta mais avan-ada e grave de degenerao do anarco (comunismo e sindicalismo).

    Essa capitulao ante o capitalismo seria assumida abertamente por San-tilln no final de sua vida. Em e estratgia e tctica. Ontem, hoje, ama-nh, Santilln apresenta as linhas finais da evoluo de seu pen-

    samento e de sua poltica: "Primeiro: [...] o capitalismo no mais uma mas-sa uniforme e petrificada, um conjunto de atitude e de categorias que nose mostra sempre solidria nem sequer frente aos adversrios comuns; Existeum capitalismo que poderamos qualificar de compreensivo e progressista,que observa a evoluo obrigada da economia atual; [...] Segundo: A granderevoluo de hoje a reforma; a barricada j cumpriu sua misso, se queteve uma misso, e nas condies atuais muito mais um caminho para acontra-revoluo do que para a realizao de um progresso efetivo e de umaautentica libertao; A propagam e recorrem a ela precisamente os que noaspiram a liberdade nem a democracia, seno a instaurao de novos despo-tismos. Terceiro: Resumindo, achamos que hoje importa muita mais a lutacontra o totalitarismo estatal que contra o sistema capitalista que j mostra fissuras suficientes para que o esprito de iniciativa e desejo criador podempraticar formas de vida econmica no-capitalista". Essas posies mostramclaramente a evoluo e degenerao final da concepo revisionista, eclti-

    ca e sintetista: Santilln elabora de forma clara e aberta aquilo que a experi-ncia histrica dos anos 1920/30 tinha praticado sob forma envergonhada: apossibilidade de coexistir e aceitar o capitalismo, e praticar o socialismo li-bertrio como experincias marginais dentro do sistema.

    Essa contradio j havia sido analisada por Nestor Makhno, anos an-tes da Guerra Civil, que advertira da presena de elementos ideolgicosburgueses e contra-revolucionrios no anarquismo espanhol. Na sua car-ta aos anarquistas espanhis durante a crise de 1931, ele advertia: "Queri-dos companheiros Carb e Pestaa: Transmita a nossos amigos e companhei-ros espanhis e, atravs deles, a todos os trabalhadores, (...) O proletariado

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    espanhol (operrios, camponeses e trabalhadores intelectuais) deve unir-se eimpor a maior energia revolucionria para dar lugar a uma situao em que aburguesia no tenha oportunidade para opor-se a conquista da terra, das

    fbricas e das liberdades completas; situao que cada vez seria mais amplae irreversvel (...) Ao meu ver, a federao anarquista e a Confederao Na-cional do Trabalho devem considerar essa questo seriamente. (...) Do mesmomodo, no devem temer em assumir em suas mos a direo estratgica,organizativa e terica do movimento popular. Obviamente devem evitar unir-se com o partidos polticos em geral e com os bolcheviques em particular, jque imagino que os bolcheviques espanhis sero bons imitadores dos seuscolegas russos. Seguiro os passos do jesuta Lnin ou inclusive os de Stalin,

    (...) o silenciamento de todas as tendncias revolucionrias e o fim da inde-pendncia das organizaes dos trabalhadores".

    Na realidade podemos resumir essa concepo do reformismo li-bertrio (ou seja, um reformismo de base anarco-comunista anarco-sindicalista) em alguns traos fundamentais: A) A concepo terica e derevoluo: a idia de revoluo nunca associada guerra revolucion-ria, ao contrrio, essa negada. A revoluo vista como uma transforma-

    o moral; B) Estratgia poltica economicista e cooperativista: retoman-do elementos da antiga social-democracia e anunciando os elementos daconcepo ps-moderna de revoluo pacfica dentro do capitalismo,vislumbra-se a idia de formao de cooperativas de trabalhadores queteriam o papel de educao e gesto compartilhada das instituiescapitalistas, criando comunidades supostamente auto-isoladas dentro docapitalismo e que seriam a expresso de organismos libertrios; C) Identi-ficao com o liberalismo: A critica do Estado reduzida critica do

    excesso de governo e de fiscalizao das atividades e iniciativas individuais.Em seu texto, A Histria da Revoluo espanhola, o papel jogado pe-

    los socialistas de direita, esquerda e pelos anarquistas Maknho aprofundaainda mais suas criticas: O que impediu que os anarquistas convertesemsuas convices em prtica, transformassem uma revoluo democrtico-burguesa em revoluo social? Primeiro, a ausncia de um programaespecfico e detalhado impediu a unidade na ao, a unidade que determinaa propagao do movimento (...) Em segundo lugar, os nossos camaradasespanhis, como muitos outros camaradas de vrias localidades viam oanarquismo como uma igreja itinerante da liberdade. (...) Isso nesta ocasio,

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    ao invs de realizar a tarefa histrica de desenvolver o anarquismo emtempos de revoluo. Com todo o prestgio de que gozam aos olhos dostrabalhadores no pas, os comunistas-libertrios espanhis e anarco-

    sindicalistas falham ao no inclinar a cabea das massas para a revoluo, etitubeiam entre a Revoluo e concepo pequeno-burguesa da mesma."

    Makhno previu os grandes desvios e limitaes, tericas e organiza-cionais, do anarquismo espanhol. Makhno, que havia sido chamado de bol-chevique, advertia sobre o perigo incutido nas alianas com o partido comu-nista e com o partido socialista. Esta seria realizada na poltica da frente po-pular na qual a CNT/FAI foi incorporada anos depois. A derrota do sindicalis-mo revolucionrio do perodo entre guerras (1914-1945) permitiu o fortale-

    cimento da poltica de direita do marxismo, consubstanciada no modelo daFrente Popular, que foi adotado e exportado para diversos lugares e contex-tos, especialmente para a periferia do capitalismo, em continentes como aAmrica Latina, e permitiu que a fraqueza e a deteriorao do anarco-sindicalismo e das correntes revolucionrias do marxismo. A derrota do pro-letariado espanhol como Makhno advertiu, se constituiu em uma derrota dosetor revolucionrio em escala mundial, que seria difcil de superar. Assim,sua crtica importante. Ao mesmo tempo, a luta de classes na periferia capi-talista, particularmente na Amrica Latina, demonstraria as limitaes de taiscorrentes. Agora discutiremos estes acontecimentos:

    2.3 - A crise do sindicalismo revolucionrio na Amrica Latina eas sucessivas capitulaes de anarco-comunistas, comunistas e na-cionalistas

    A histria do movimento operrio e socialista na Amrica Latina tam-bm complexa. E ela representativa da historia das correntes socialistas nasperiferias do capitalismo. Alguns fatores foram fundamentais nessa histria:a) o primeiro entre 1870 e 1890 aquele contexto da represso contra aAIT do perodo ps-Comuna de Paris, em que os socialistas internaciona-listas tinham um espectro ecltico, derivados do processo de reviso e

    negao do bakuninismo e influenciado pela emergncia do terrorismo indi-vidual e individualismo pequeno-burgus, que chegar Amrica Latina einfluenciar o proletariado e suas primeiras formas de organizao; b) o

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    mente o campo revolucionrio popular do pas, sendo que este perdeu adisputa para o setor constitucionalista, vinculado burguesia radical. Aquinos interessa assinalar o papel revolucionrio desempenhado pelo campesi-

    nato, que se colocou como sujeito da luta revolucionria, dissolvendo assim ofetiche marxista e anarco-sindicalista da figura do operariado industrial comosujeitos revolucionrio "a priori". Isso tambm ajudar a compreender o pa-pel contra-revolucionrio e conciliador exercido pela Casa del Obrero, repre-sentante mexicano do anarco-sindicalismo e tambm do ecletismo mexicano.Dentro do movimento popular e operrio Mexicano havia a influncia doanarquismo ecletista (anarcocomunismo, anarcosindicalismo), ainda que nosculo XIX houvesse uma seo da AIT influenciada por bakuninistas e prou-

    dhonistas. O fato que o anarquismo ecletista mexicano (basicamente oanarcocomunismo) estava presente fundamentalmente na atuao de Ricar-do Flores Magon no Partido Liberal Mexicano e, anteriormente, na Casa DelObrero, fundamentalmente entre os anos de 1906 e 1910, desenvolvendoum anarcosindicalismo. Alm disso, atuar na articulao de greves e de le-vantamentos indgenas e camponeses. Por outro lado, as foras populares darevoluo mexicana estavam ligadas a Emiliano Zapata e Pancho Villa. Os doisorganizaram exrcitos que partiram ao sul e ao norte do pas, o primeiro lide-

    rava o Exercito Libertador do Sul. Tornaram-se assim, fundamentais para arealizao da Revoluo Mexicana, sendo necessrio o combate das forasburguesas, que culminou no assassinato de ambos os lderes populares. Porsua vez, a Casa Del Obrero, anarcosindicalista, apoiou os constitucionalistas eesteve ao lado da foras mais conservadores da revoluo, combateram osExrcitos Populares de Villa e Zapata, e quando estes foram assassinados,passaram a ser perseguidos pelo Novo Governo. Isso demonstra mais umavez, que o anarquismo ecletista, sem um programa e uma ideologia definida

    serve como brao da direita e de setores reformistas do movimento operrio.Assim foi na Guerra Civil Mexicana e na capitulao do anarcosindicalismoItaliano diante do governo fascista de Mussolini. A morte dos dois principaislderes revolucionrios mexicanos marcou a consolidao do poder nas mosdas foras burguesas e capitalistas. O principal legado da Revoluo foi aReforma Agrria, que permaneceu quase que intacta at a chegada ao poderdos grupos neoliberais, na dcada de 90.

    Podemos dizer que ns temos nesse perodo trs experincias distin-tas que mostram as contradies internas do movimento operrio etambm das correntes, como o anarco- sindicalismo, atuantes dentro

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    do ps- revoluo Cubana. A partir da ocorrero diversas tentativas de de-nuncia e ruptura com a poltica direitista dos PCs, mas sem que isso repre-sentasse uma ruptura com a teoria e programa marxista da revoluo per-

    manente. A principal reao a essa degenerao dos Partidos Comunistasfoi o foquismo, movimento amplo e heterogneo que tinha como algunselementos comuns, como a defesa da lutar armada, sem avanar na crticaterica. Entre 1960-1980, o foquismo deu tambm exemplos de hericaresistncia e tristes deformaes, no sendo capaz de apresentar umaalternativa de massas.

    Entre 1980 e 2000, temos o ressurgimento do movimento de massas naAmrica Latina, j no perodo ps-ditaduras. Esse movimento ser carac-

    terizado por dois processos: a negao parcial do stalinismo e a crticaferrenha da luta armada. Esse movimento representado no caso brasileiropela formao do PT e da CUT ter expresses variadas na Amrica Latina,mas apresenta a tendncia geral de que a idia genrica de democracia vaiesvaziar o programa socialista, que ser combinado com medidas defensi-vas anti-neoliberais. Nesse quadro contemporneo, um socialismo hbri-do no estilo do PT brasileiro, do MAS boliviano coexiste com remanes-centes do nacionalismo conservador e stalinismo, tendo como pontocomum a convergncia em torno da defesa do desenvolvimento capita-lista nacional e da democracia burguesa (tarefas tpicas da primeira eta-pa da teoria da revoluo permanente).

    Nesse sentido podemos explicar a evoluo contraditria do proletariadolatino-americano e internacional e a situao de integrao sistmica na qualse encontra por alguns fatores: a) Em primeiro lugar, seja por meio dascentrais, seja por meio de sindicatos profissionais pulverizados, a evolu-

    o das organizaes sindicais foi nacional o que facilitou sua integra-o sistmica e degenerao burocrtica, uma vez que o corporativismosurgia tanto dentro de um modelo de sindicalismo revolucionrio comodo reformista.

    Os sindicatos e as organizaes de trabalhadores se adequaram no so-mente a ideologia do estatismo, mas a prpria estrutura poltica nacional que limitava suas bandeiras e formas de luta, canalizando-as diante dos

    momentos de crise para as polticas de salvao nacional; b) Mesmoquando vinculadas a organizaes internacionais, estas ou eram orga-nizaes apoiadas e criadas por Estados e atendiam aos objetivos da poltica

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    externa desses Estados. O nacionalismo assim impregnou toda a estruturae organizao do sindicalismo. Essa caracterstica reforou e foi reforadapelo corporativismo, que surge espontaneamente da diviso do trabalho

    capitalista e foi incentivado pelo capitalismo monopolista de Estado.Houve assim movimentos voluntrios de adesismo aos governos e a vincula-o ao poder central (presidencialismo e centralidade personalista do poderexecutivo).

    c) Em terceiro lugar podemos dizer que dois fatores, um de ordemobjetiva e outra de ordem subjetiva, criaram uma auto-limitao ao desen-volvimento do proletariado. De um lado, o carter contraditrio da atividadesindical que combina a resistncia ao capitalismo com a reproduo das rela-es de produo capitalistas, de outro o pragmatismo economista que per-mite freqentemente a acomodao dos trabalhadores. Essa situaoobjetiva da resistncia coloca questes fundamentais. Por outro lado, o pro-letariado experimentou ao longo de um sculo (1900-2000) as variantesdos grandes modelos de sindicalismo (o social-democrata e o revolucion-rio) e tambm um sindicalismo nacionalista-corporativista de Estado. Masesses modelos sofreram adaptaes locais e sempre degeneraram em

    formas que facilitaram a sua prpria crise; d) o sindicalismo puro e o anarco-sindicalismo no tinham os instrumentos organizacionais, tericos e ideol-gicos para confrontar o capitalismo e superar as crises do prprio prole-tariado. Foi devastado pela combinao de represso, reestruturaoeconmica, auto-isolamento e hegemonia do sindicalismo de Estado.

    As correntes socialistas e comunistas foram tambm cooptadas pelas pol-ticas de unio nacional e frente popular, e fracassaram sob as ditadurasquando ficou claro que o projeto de via pacfica ao socialismo no seria

    vivel. O desenvolvimento subjetivo do proletariado assim nunca foi assenta-do sobre teorias, estratgias e formas de organizao que garantissemseu desenvolvimento autnomo no sentido do socialismo. A recusa da pol-tica ou neutralismo e economicismo das correntes variantes do sindicalismorevolucionrio, bem como o fetichismo de Estado levaram ao mesmo lu-gar: ao adesismo aos governos nacionalistas (cardenista, peronista e var-guista) e a integrao sistmica dos sindicatos e organizaes de trabalhado-res no aparelho estado.

    A crise de 1929 levou a uma reestruturao da economia na Amri-ca Latina, o que amplamente reconhecido, mas tambm a formao

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    de um novo padro da relao do Estado com as classes trabalhadoras deseus respectivos pases, e ao desenvolvimento do estatismo como fora den-tro da classe trabalhadora (o que at ento no havia acontecido na Amrica

    Latina). Os prprios Estados criaram um novo modelo de sindicalismo,nacional-corporativista, centrado na idia de dilogo e colaborao comos Governos e no fetiche do Estado-protetor, que materializava na figu-ra de partidos ou lideranas populistas. Esse modelo permitiu a constru-o de compromissos, de durao efmera em termos da integrao dostrabalhadores na estrutura de decises governamentais, mas duradouroem termos do controle do Estado sobre os sindicatos e trabalhadores. Essecompromisso foi fundamental para o desenvolvimento econmico e a

    formao de uma semi-periferia na Amrica Latina, pois assegurou areproduo das condies necessrias super-explorao da fora de traba-lho na regio, uma vez que o problema foi transformado em questo nacio-nal, que deveria ser resolvida pela regulao do Estado.

    2.4 - Sobre o fracasso histrico do comunismo/social-democraciae do anarco-comunismo/anarco-sindicalismo e sua condio atual

    Um balano histrico dessas correntes constata que elas fracassaram.No porque no tenham tido poder ou expresso de massas. Mas por-que no cumpriram o objetivo que ela prprias anunciavam: abolir asociedade de classes e o Estado. E fracassaram exatamente pelas razesexpostas acima. Podemos dizer tambm que esse fracasso no significa queelas simplesmente deixaram de existir ou ter expresso. Elas continuam

    existindo e se apresentam como obstculo ao desenvolvimento autnomodo proletariado internacional. O marxismo se apresenta preso ao dilema dateoria da revoluo permanente e o anarco- comunismo e anarco-sindicalismo dilema da ausncia de uma teoria prpria da revoluo (que seconverteu no uso acrtico da teoria marxista e na sua fase degenerada nanegao da revoluo em si). Em seu conjunto, essas correntes se encon-tram presas a ciclos histricos de integrao Sistmica e desintegrao.

    Mas quase todas as correntes apresentam, depois de um processo de cri-se, tentativas de reorganizao Internacional. Com exceo dos revisionistas

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    do anarquismo. Uma anlise crtica s organizaes e tendncias na atualida-de por isso necessria:

    A retomada stalinista (Encontro Mundial de Partidos Comunistas e Oper-

    rios): Os PC's, ligados em seus respectivos pases s direes reformistas epara-governistas dos sindicatos, sustentam sua atuao em uma misturaecltica de regionalismo e retrica stalinista, onde se destacam por sua au-sncia de anlises e caracterizaes sociolgicas, e predominam a repetiocontinua e pouco reflexiva de consignias, muitas delas centradas em proces-so de integrao regional, como na Amrica Latina, que possuem como eixo orespaldo a Hugo Chavez na Venezuela e a outras conjunturas similares.

    Esse processo de integrao regional tem como mesma face reformista aAlternativa Bolivariana das Amricas (ALBA) no qual os PCs avaliam comoelemento mais progressivo da luta anti-imperialista, democrtica e popularno continente.

    O 11 Encontro Mundial de Partidos Comunistas e Operrios foi realizadoem Nova Delhi, ndia, expressa a tentativa de reorganizao dos stalinistas.Apresenta grandes debilidades, e longe de se constituir em partido mundial: disperso, sem unidade terica e ttica, se resumindo a resolues genera-listas de partidos reformistas, social-democratas da atualidade. Apesar depostularem a centralidade na crise sistmica capitalista (diferente da antiga2 Internacional), tais partidos em sua grande maioria acreditam na centrali-dade da atuao pelas vias institucionais. A estratgia mundial do PCs passapelos fortalecimentos legais: Conselho Mundial da Paz, a Federao Sindi-cal Mundial, a Federao Mundial das Juventudes Democrticas, a FederaoInternacional Democrtica das Mulheres, a Aliana Internacional dos Habi-

    tantes, os Fruns continentais e o Frum Social Mundial. Num certo sentido,expressa a poltica stalinista de governos populares dos diferentes pases.

    Trs faces do reformismo inato do Trotskismo (LIT-QI, FT QI e CRQI): Naatual conjuntura latino americana, detrs da presena majoritria dos PC'stradicionais, diversos agrupamentos que se reivindicam revolucionrias inter-vm na luta de classes das e dos trabalhadores. Destacamos nesta anlise, astrs expresses mais representativas entre o grande nmero de correntes etendncias do trotskismo em nosso continente. A LIT-QI (fundada em 1982)remonta ao grupo trotskista argentino criado por Nahuel Moreno em 1953,chamado GOM (Grupo Operrio Marxista). Atualmente possui cerca de 24

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    partidos filiados e sua fora majoritria est na Amrica Latina em especficono Brasil Para a LIT, este um sintoma do perodo atual de decadncia expl-cita do capitalismo. Assim, seu programa traa como meta central do mo-

    mento a Luta Anti-imperialista e a necessidade de uma Segunda Indepen-dncia dirigida pela classe operria. A LIT-QI/PSTU sustenta a viso etapistade que o principal instrumento de dominao colonial a dvida externados pases da periferia em relao aos pases do centro. Pretendendo serdiferente do stalinismo, opera com o mesmo programa de luta anti-imperialista, reduzindo o anti-imperialismo a uma luta super-estrutural. Oque fica ntido que se trabalha ainda com as categorias da III InternacionalComunista e com a perspectiva de uma teoria etapista da revoluo. A idia

    da assemblia constituinte e da poltica de unidade de ao apenas mos-tra o carter ambguo e vacilante da poltica da LIT, que se move com rudi-mentos da teoria stalinista, tentando neg-la, mas reproduzindo o principalda sua estratgia: a idia de uma luta anti-colonial, com foco principal sobrea dvida externa as polticas de colaborao com os governos de frente popu-lar da Amrica Latina.

    Tendo como maior referencia o Partido dos Trabalhadores Socialistas daArgentina, a Frao Trotskista Quarta Internacional uma internacionaltrotskista com presena em 9 pases, tanto do continente Americano, comoda Europa. Fundada a princpios dos anos 90 depois de sua sada da LIT QI,mantm certa presena em agrupaes sindicais, majoritariamente em Ar-gentina. Por sua vez, a Coordenao para a Refundao da Quarta Interna-cional fundada em 2004, e que tem como principal referencia o Partido Obre-ro da Argentina, mantm hoje em dia presena na Amrica, Europa e orientemdio. Apesar de fazer crticas contra o abandono da reivindicao da revo-

    luo proletria por parte de grupos como a ex Liga Comunista Revolucion-ria francesa e as prticas governistas da LIT-QI, a FT-QI e a CRQI de fato man-tm um discurso revolucionrio, mas se mostram incapazes de desenvolveruma poltica genuinamente revolucionria. Para estas duas correntes inter-nacionais, cujas diferenas so menores que suas similaridades, necessrioque a oposio proletria se desenvolva em torno das direes reformistas, eno abertamente contra elas. Por outra lado, sua incapacidade programtica,intrnseca da prpria origem do trotskismo, de romper com a perspectiva de

    "utilizar" o sistema representativo democrtico burgus, as obriga necessari-amente, quando consolidam uma fora de massas, a abandonar a luta diretado proletariado contra a burguesia nos locais de trabalho, para lutar pela

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    repartio de migalhas que oferecem os sistemas eleitorais dos Estados capi-talistas. A perspectiva da CRQI particularmente, se sustenta em uma srie deteses que analisam a presente conjuntura sistmica mundial como a deriva-

    o direta e quase nica da desintegrao da URSS e outros Estados Oper-rios deformados, ignorando voluntariamente o real papel econmico da URSSdepois da Segunda Guerra Mundial, e deixando de lado a prpria evoluo daproduo capitalista. Uma prtica determinada pelo sistema democrticoburgus e uma incorreta caracterizao da realidade, resumem o desenvol-vimento destas trs correntes majoritrias e representativas do trotskismo naAmrica Latina.

    A bancarrota do maosmo (ILPS). A Liga Internacional de Luta dos Povos(ILPS) foi fundada em 2001 e uma organizao mundial que busca agremiarpartidos e organizaes populares sob uma plataforma popular, democrti-ca e de luta anti-imperialista. Sua 3 e ltima Assemblia Internacional foirealizada em 2008. Seus quadros organizadores e dirigentes so os PartidosMaostas como o Partido Comunista da ndia (Maosta), Partido Comunista doPeru (M), Partido Comunista das Filipinas (M) etc. A anlise que sustentem que o capitalismo est em sua fase final e agonizante de vida, e que so o

    imperialismo e a crise econmica mundial expresses desse fato. Ambos osfatores vem gerando a rapina desenfreada das naes exploradas (Orientemdio, sia, Amrica Latina), na qual diagnosticam a necessidade imediatade conformar a Frente nica Antiimperialista, unindo todas as classes e se-tores sociais antiimperialistas, que na prtica a ILPS. Sua anlise tambmperpassa a necessidade da ILPS se formar enquanto uma direo revolucion-ria para a luta anti-imperialista, com a capacidade de fornecer uma linha cor-reta de combate ao oportunismo. Para realizar a revoluo nos pases semi-

    feudais os maostas da ILPS caracterizam a necessidade de desenvolver aguerra de guerrilhas no momento atual. Os exemplos atuais demonstram queesse pressuposto vem sendo colocado em prtica, como se pode ver, porexemplo: o Exrcito Guerrilheiro Popular de Libertao (EGPL) na ndia, Exr-cito Popular de Libertao no Peru, Novo Exrcito do Povo nas Filipinas etc.,dirigidos pelos respectivos partidos Maostas. Apesar de sua ttica radicaliza-da, os eventos do Nepal, colocam em xeque a poltica dos Maostas, umalonga marcha de guerra de guerrilhas, terminou com a adeso do

    PCN(Maosta) ao novo parlamento burgus do pas. A teoria etapista maisuma vez trai os trabalhadores. A perspectiva da luta anti-imperialista e darevoluo nacional-democrtica continua sendo assim a principal caracters-

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    tica dessa estratgia, com variaes no que tange a interpretao de tticasespecificas. Mas os quadros gerais da teoria da III Internacional (centralidadedo proletariado industrial, dos pases centrais) e que nos pases da periferia

    as tarefas principais seriam anti-imperialistas, dadas pelo seu carter atra-sado e/ou semi-feudal, que qualifica suas economias e sua estrutura de clas-ses.

    Luxemburguismo, marxismo de esquerda e autonomismo: da renuncia aperspectiva dialtica a renuncia da luta de classes. Em menor medida que ascorrentes anteriores, mas com crescente impacto na juventude, dado o fra-casso provado do stalinismo e a ligao governista do trotskismo, nos ltimosanos de maneira particular vem crescendo a presena de diversas expres-

    ses, algumas opostas entre si, mas que tendem a identificar-se no marxismoou comunismo de esquerda. Inspirados majoritariamente em referenciasmarxistas do incio e meio do sculo anterior que se opuseram involuocontra-revolucionria dos bolcheviques na Rssia, destacam-se a CorrenteComunista Internacional, o Grupo Comunista Internacional e o Bir Interna-cional pelo Partido Revolucionrio. Embora seja impossvel encontrar umnico eixo dos grupos que se alinham nessa tendncia, existem pontos cen-trais que marcam suas atuaes. O primeiro seria uma interpretao parcialdo pensamento e obra de Marx, que as vezes citam de maneira difusa, quan-to mais contraditria, apresentando um Marx contrario a suas prprias abor-dagens estatistas. O segundo ponto em comum seria a renncia a perspectivadialtica do processo revolucionrio em seu conjunto. Isso implica no en-tender o presente e as necessidades que impe uma etapa marcada pelaofensiva capitalista contra os trabalhadores do mundo, descartando qual-quer premissa de organizao reivindicativa permanente da classe por consi-

    der-la reformista. Nesse sentido, sem saber diferenciar programa reivindica-tivo e programa finalista, qualquer ao termina sendo estril e pouco objeti-va. O discurso se torna a estratgia central e inclusive a prpria prtica, tor-nando estas tendncias atrativas na aparncia e quanto a suas formas, mastotalmente vazias no que toca seus objetivos.

    O revisionismo anarquista e sua forma internacional atual (SIL, ACAT/AIT eetc.): O revisionismo segue sem ser capaz de realizar balanos histricos apartir de uma perspectiva de classe, separando, em ltima anlise, o contri-buiu do que prejudicou, sobre tudo o reivindicado anarquista. Hoje, aindaexistem algumas formas remanescentes, mas quase sem nenhuma expres-

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    so, do antigo anarco-comunismo e anarco-comunismo. Nesse sentido oanarcosindicalismo, em suas variantes ortodoxas (AIT) e heterodoxa (CGT,CNT-F, FAU-Alemanha etc.), possui uma orientao incorreta, j que a luta

    econmico-reivindicativa das massas, se sujeita a luta poltico-ideolgica deseus militantes, onde se assume como princpio de associao o pertenci-mento a um programa poltico pr-determinado.

    O anarco-sindicalismo e o anarco-comunismo, na sua forma de direita ho-je se apresentam como forma cooperativistas e restritas de movimentossem estrutura, estratgia ou durabilidade ou na forma de coletivos frag-mentados. So representados por correntes como a ACAT/AIT.

    Uma tentativa hoje estagnada de construo da Solidariedade Internacio-nal Libertria/SIL) foi encaminhada por organizaes ecletistas, mas que noavanou em razo da debilidade de sua orientao. Essas correntes ou negama realidade a luta de classes e/ou ignoram as condies de luta ideolgica eorganizativa dentro da classe trabalhadora. Na forma de esquerda, se apre-senta como insurrecionalismo orientadas por fragmentos equivocados deteoria primitivista que conduzem a sistemticos equvocos. O insurreciona-lismo promove enfrentamentos as vezes hericos, grandes manifestaes de

    massa, mas no consegue ser uma fora social significativa para mudar umasociedade.

    Situando as tticas ou mtodos da luta proletria como um princpio e fimem si mesmos, estes grupos, regularmente com um programa e bases eclti-cas, terminam fazendo crtica de quase qualquer forma de interveno rei-vindicativa, considerando que estas "fazem parte do sistema" como se nofossem produtos da prpria classe em si, da produo e da prpria vida social

    dos seres humanos. A Revoluo Social ser para superar o capitalismo emparticular, e a todas as formas sociais anteriores em geral, e necessariamen-te, atualmente a luta por ela ns a faremos inseridos como proletrios nosistema produtivo atual, como membros regulados pelo Estado, e de maneiraglobal no sistema mundo do capitalismo ultramonopolista. No abandona-mos estas condies para combater o capitalismo, seno que, como prolet-rios conscientes, somos parte da classe cuja misso histrica enterrar ocapitalismo e destruir o Estado. Longe de por como central as questes de

    mtodos desviando a perspectiva, ns Bakuninistas Principistas colocamoscomo central nossa classe e as exigncias que o seu desenvolvimento comba-tivo e revolucionrio impe. Frente aposta do revisionismo (sob a forma

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    anarco-sindicalista dogmtica, autonomista, insurrecionalista) de desconhe-cer as formas e mtodos de dominao da burguesia sobre o prprio movi-mento organizado dos trabalhadores, ns desenvolvemos a luta classes para

    construirmos e reapropriarmo-nos das ferramentas de defesa e ofensiva sin-dical de nossa classe. Esta mesma crtica se aplica ao insurrecionalismo, poisem seus caso centralizam sua atividade em uma ferramenta necessria, aviolncia, entendendo esta como um fim em si mesma, ou no caso menospior, como um meio em uma estratgia "insurrecional" simplista, sem susten-tao terica/programtica. Tendo como eixo de sua interveno a ao vio-lenta, estes grupos e indivduos pretendem arrastar atrs de suas aes umlevante social, como se o exemplo de seus feitos fosse capaz em si mesmo de

    romper a tenso existente entre as classes. Ou seja, anula o protagonismo daao revolucionria do proletariado e as auto atribuem egocentricamente aeles mesmos e as suas aes.

    O marxismo de direita e suas variantes diversas tem a tendncia a inte-grao sistmica no capitalismo por meio do reformismo parlamentarista edo sindicalismo economicista e nacionalista. O marxismo de esquerda (trots-kista e maosta especialmente) recorrentemente acaba se diferenciando dode direita apenas por denunci-lo, mas reproduz a mesma teoria e pro-grama, e a mesma integrao sistmica ainda antes de conseguir se tornarrevolucionrio. O marxismo de direita e esquerda ficam presos ao recorrenteciclo da degenerao burocrtica na situao pr-revolucionria. O mar-xismo de ultra-esquerda geralmente tendeu na sua forma principal, ofoquismo a se desintegrar, seja pela represso, seja pela falta de unidade econsistncia terica. Em outra forma, o comunismo de conselhos, tendeu ase desintegrar dentro do sindicalismo puro ou a ser marginal sem conseguir

    aprofundar a crtica terica. Os desvios oportunistas de direita e esquerdae os desvios voluntaristas de ultra-esquerda no marxismo produziram sem-pre os mesmos resultados e explicam a estagnao atual: integrao sistmi-ca ou desintegrao cclica.

    O anarco-sindicalismo e anarco-comunismo que desenvolveram comoformas de negao do bakuninismo tiveram uma evoluo similar. A polticade direita se expressou na formao de um reformismo libertrio, que seintegra no sistema capitalista