Pato Mergulhao Pnsc

57
USO DE HÁBITAT E HISTÓRIA NATURAL DO PATO-MERGULHÃO (MERGUS OCTOSETACEUS) NO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CANASTRA E REGIÃO RELATÓRIO FINAL Autora Ivana Reis Lamas 2002 Foto: Carlos Eduardo Carvalho/TERRA BRASILIS USO DE HÁBITAT E HISTÓRIA NATURAL DO PATO-MERGULHÃO (MERGUS OCTOSETACEUS) NO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CANASTRA E REGIÃO RELATÓRIO FINAL Autora Ivana Reis Lamas 2002 Foto: Carlos Eduardo Carvalho/TERRA BRASILIS

description

pato mergulhão

Transcript of Pato Mergulhao Pnsc

Page 1: Pato Mergulhao Pnsc

USO DE HÁBITAT E HISTÓRIA NATURAL DO

PATO-MERGULHÃO (MERGUS OCTOSETACEUS) NO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA

CANASTRA E REGIÃO

RELATÓRIO FINAL

Autora Ivana Reis Lamas

2002

Foto: Carlos Eduardo Carvalho/TERRA BRASILIS

USO DE HÁBITAT E HISTÓRIA NATURAL DO

PATO-MERGULHÃO (MERGUS OCTOSETACEUS) NO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA

CANASTRA E REGIÃO

RELATÓRIO FINAL

Autora Ivana Reis Lamas

2002

Foto: Carlos Eduardo Carvalho/TERRA BRASILIS

Page 2: Pato Mergulhao Pnsc

ii

Presidente da República Fernando Henrique Cardoso

Ministro do Meio Ambiente José Carlos de Carvalho

Presidente do IBAMA

Rômulo José Fernandes Barreto Mello

Diretor de Ecossistemas Júlio Cesar Gonchorosky

Coordenador Geral de Unidades de Conservação

José Lázaro Araújo Filho

Coordenadora de Planejamento Inês de Fátima Oliveira Dias

Gerente Executivo do IBAMA em Minas Gerais

Jader Pinto de Campos Figueiredo

Chefe do Parque Nacional da Serra da Canastra Rosilene Aparecida Ferreira

Gestão do Contrato deste trabalho no IBAMA

Augusta Rosa Gonçalves José Osnil Nepomuceno

________________________________________________________

Este documento foi elaborado com recursos da Compensação Ambiental do Empreendimento UHE Igarapava, atendendo as condicionantes da Licença de Operação Nº 25/98 ________________________________________________________

Empreendedor CONSÓRCIO DA USINA HIDRELÉTRICA DE IGARAPAVA Diretor Presidente – José Maciel Duarte de Paiva Diretor de Operação - Sérgio Carvalho Mendonça Diretor Administrativo e Financeiro – Luís Mendes Carvalho Gestão do Contrato PARNACANASTRA - Gleuza Jesué ________________________________________________________

Executor deste trabalho INSTITUTO TERRA BRASILIS DE DESENVOLVIMENTO SÓCIO-AMBIENTAL Presidente - Sônia Rigueira

Page 3: Pato Mergulhao Pnsc

iii

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Sônia Elias Rigueira, Jean Pierre Santos, Carlos Eduardo

Alencar Carvalho, Lemuel Olívio Leite, Rosilene Aparecida Ferreira,

José Fernando Pacheco, Mauro Guimarães, Luiz Fábio Silveira, Wolf

Bartmann, Luiz Pedreira Gonzaga, Patrícia Lopes Carneiro, Tatiana

Maschtakow B. Paes e Roberto Murta. Aos funcionários do Parque:

Delmo Holier Alves, Amadeo Paulo dos Santos, Adaniel Donizete

Matos, Henrique Zecchi, José Franco Basílio, Wagner de Lima

Moreira e José de Lima Moreira. Aos biólogos do projeto de revisão

do Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da Canastra:

Dante Buzzetti, Lúcio Bedê, Fábio Vieira, Rogério de Paula, Rosana

Romero, Renato Feio, Roberto Antonelli Filho e Leonardo Viana.

Agradeço também a Marcos Rodrigues, Baz Hughes, Edmar Moretti,

Alexandre Godinho, Adriano Paglia, Yuri Leite, Alexandre Dinnouti,

Marco Antônio Andrade, Fabrício R. Santos, Germán Mahecha,

Rodrigo A.F. Redondo, Gisele Dantas, Paulo Henrique Fiote, e aos

vários moradores da região que forneceram valiosas informações que

muito ajudaram no desenvolvimento deste trabalho.

Page 4: Pato Mergulhao Pnsc

iv

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................... 1 PROCEDIMENTOS ............................................................................... 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................ 10 DISTRIBUIÇÃO E TAMANHO DA POPULAÇÃO ............... 10 PREFERÊNCIA DE HÁBITAT .................................................. 14 ATIVIDADES REPRODUTIVAS ............................................. 18 AMEAÇAS .................................................................................... 23 PROPOSTAS DE MANEJO E CONSERVAÇÃO ........................... 26 BIBLIOGRAFIA .................................................................................. 29 ANEXO I – TABELAS ....................................................................... 30 . ANEXO II – FOTOS ......................................................................... 39

Page 5: Pato Mergulhao Pnsc

1

INTRODUÇÃO

A intensa degradação ambiental, conseqüência do desordenado desenvolvimento humano, tem levado a um quadro de sério comprometimento da diversidade biológica mundial. Muitas espécies vegetais e animais vêm sofrendo pronunciadas reduções de suas populações, tornando-se escassas e, não raramente, ameaçadas de extinção. A erosão da biodiversidade vem sendo considerada como um dos problemas atuais mais sérios a ser enfrentado pela humanidade. A perda das espécies existentes na Terra é irreversível e causa o colapso dos ecossistemas e seus processos ecológicos.

A despeito de ser um dos países mais ricos em diversidade biológica, o Brasil também tem sido alvo de uma ocupação maciça e desordenada, estando os remanescentes de vegetação natural ilhados e sob forte ameaça. Como conseqüência, muitas das espécies brasileiras encontram-se ameaçadas de extinção. A preocupação com a perda do patrimônio biológico levou à inclusão na Constituição brasileira de diretrizes para a sua conservação, determinando, no capítulo VI, Art. 225, parágrafo 1º, inciso VII, como responsabilidade do Poder Público ‘proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam os animais à crueldade’.

O Brasil é a terceira nação mais rica em espécies de aves (1622 espécies), perdendo apenas para a Colômbia (1721 espécies) e Peru (1701 espécies) (Mittermeier et al. 1992). Em 1989, 108 das aves brasileiras foram consideradas ameaçadas de extinção e outras 24 insuficientemente conhecidas e presumivelmente ameaçadas (Portaria Ibama 1522, de 19/12/1989). A lista da fauna brasileira ameaçada de extinção encontra-se em processo de revisão e é previsível que esses números aumentem consideravelmente, tendo em vista a crescente devastação dos ambientes naturais e o incremento do conhecimento biológico sobre as espécies nativas. Entre as aves mais ameaçadas de extinção no Brasil e no mundo destaca-se o pato-mergulhão, Mergus octosetaceus. A União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) lista esta espécie como uma das 23 aves brasileiras criticamente ameaçadas globalmente (BirdLife International 2000). Sua conhecida área de distribuição abrangia o centro-sul do Brasil (Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina) e partes do Paraguai e Argentina (Pacheco & Fonseca 1999, Antas 1996). Nas últimas décadas, essa espécie foi registrada em apenas algumas localidades no Brasil, geralmente áreas protegidas como o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, o Parque Nacional das Emas, o Parque Nacional da Serra da Canastra e arredores (Silveira & Bartmann 2001, Collar et al. 1992). Recentemente foi também confirmada sua presença no oeste do estado da Bahia (Pineschi & Yamashita 1999), e na Área de Proteção Ambiental do Jalapão (V. S. Braz 2002, comunicação pessoal) ampliando assim sua distribuição original. O pato-mergulhão é uma das mais raras aves aquáticas do mundo (Bartmann 1988). Ele ocorre naturalmente em baixas densidades e sua raridade não é conseqüência exclusiva de ameaças impostas pelo homem. Em 1901 ele já era descrito como muito raro (Bertoni 1901: 10 in Partridge 1956). Segundo Yamashita & Valle (1990) seu hábitat apresenta baixa disponibilidade de alimento, comportando reduzido número de indivíduos de cada espécie; e

Page 6: Pato Mergulhao Pnsc

2

em adição a essa baixa densidade das populações locais são poucas as áreas que dispõem de grande extensão de hábitat apropriado. É considerada criticamente ameaçada nas listas oficiais de espécies ameaçadas do mundo (BirdLife International 2000) e das Américas (Collar et al. 1992). Consta também da lista de espécies brasileiras ameaçadas (Portaria Ibama 1522/89). No Paraguai foi registrado pela última vez em 1984 e parece haver pouco hábitat favorável ainda disponível. Um levantamento em mais de 300km de rios na Argentina confirmou a existência de um único indivíduo e parece, portanto, já estar praticamente extinta também neste país (Benstead et al. 1998). No estado do Paraná, embora tenha sido considerada como provavelmente extinta (Paraná 1995), a espécie foi observada em 1997 no rio Tibagi (Anjos et al. 1997). Também parece estar extinta no Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina (BirdLife International 2000). Em Minas Gerais é considerada criticamente ameaçada (Deliberação Copam 041/95), sendo que a população melhor conhecida encontra-se na região do Parque Nacional da Serra da Canastra (Silveira & Bartmann 2001, Bartmann 1995, Bartmann 1988). Sua população atual é estimada em menos de 250 indivíduos (BirdLife International 2000). Informações biológicas sobre M. octosetaceus são raras (Silveira & Bartmann 2001, Bartmann 1995, Partridge 1956). No Brasil, seus hábitos foram relatados apenas por Bartmann (1988) e Silveira & Bartmann (2001). O primeiro registrou 78 horas de observação de uma família no Parque Nacional da Serra da Canastra, entre 1981 e 1984. Silveira & Bartmann (2001) trabalharam intensamente no campo em 1996, e mais irregularmente entre 1997 e 2000. Eles registraram seis casais na área do Parque e arredores. Também apresentam dados de comportamento alimentar e reprodutivo, vocalização, seleção de hábitats e propostas para sua conservação. O pato-mergulhão habita rios e riachos limpos, com corredeiras, margeados de florestas, em regiões ermas e montanhosas, sendo arisco e de difícil observação (Silveira & Bartmann 2001, Collar et al. 1992, Bartmann 1988, Partridge 1956). Yamashita & Valle (1990) argumentam que o principal fator limitante de sua distribuição é a estrutura do rio, com águas claras e corredeiras, e não o tipo de vegetação em suas margens, embora dependam desta vegetação para nidificação. Há registro de apenas um ninho para a espécie (Partridge 1956). Ele foi descoberto em cavidade de árvore na mata ciliar (Partridge 1956). Provavelmente reside o ano inteiro na mesma área e o tamanho de seus territórios deve estar relacionado ao número de corredeiras, cachoeiras, remansos, velocidade da água e outros fatores que determinam a qualidade destes territórios. O desenvolvimento da agricultura, degradação das bacias e erosão dos solos têm afetado os cursos d'água favoráveis à ocorrência de M. octosetaceus (Collar et al. 1992, Bartmann 1988, Partridge 1956). Pequenas represas, inundando córregos, e a mineração de diamantes são ainda citadas como causas do extermínio de seus hábitats. Sendo altamente vulnerável às alterações do hábitat e à pressão humana, Bartmann (1988) sugeriu que a sobrevivência da espécie está somente garantida em áreas estritamente protegidas. Apesar disso, tem sido registrado em poucos riachos nos arredores do Parque Nacional da Serra da Canastra (Silveira & Bartmann 2001). Entre as medidas propostas pelo ‘Red Data Book’ para conservação do pato-mergulhão estão incluídos: realização de censos através de sua área de distribuição, monitoramento de populações conhecidas, e estudos biológicos abordando parâmetros tais como tamanho de

Page 7: Pato Mergulhao Pnsc

3

território e sucesso reprodutivo (Collar et al. 1992). Um plano de ação para conservação da espécie está sendo elaborado por um grupo de trabalho afiliado ao IUCN-SSC/Wetlands International Threatened Waterfowl Specialist Group, sob a coordenação do Dr. Baz Hughes. Associado ao projeto de revisão do Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da Canastra, desenvolveu-se um estudo sobre o pato-mergulhão voltado à confirmação da ocorrência da espécie em diversos locais dentro e fora do Parque. Até o início do presente estudo, havia sido registrada a presença de Mergus octosetaceus em três localidades no Parque e mais três em sua periferia (Silveira & Bartmann 2001). Sendo a região extremamente rica em recursos hídricos aparentemente favoráveis como hábitat para a espécie, julgou-se que um levantamento mais detalhado na área, procurando uma aproximação mais realista do tamanho da população local, seria uma das prioridades de estudo no momento, mesmo considerando que todos os aspectos de sua biologia e comportamento também necessitam ser pesquisados. Além do registro de ocorrência, sempre que possível, levantaram-se informações biológicas sobre a espécie. Os resultados do presente projeto serão utilizados para subsidiar a revisão do plano de manejo do Parque.

Page 8: Pato Mergulhao Pnsc

4

PROCEDIMENTOS As atividades em campo iniciaram-se em julho de 2001 com uma viagem de reconhecimento da região e identificação da estrutura local do Ibama. A partir de agosto foram realizadas viagens mensais com duração de cerca de sete dias. Considerando que o primeiro e o último dia eram destinados ao deslocamento de Belo Horizonte para o local de trabalho, e deste para Belo Horizonte, a média de tempo para coleta de dados em campo, por mês, foi de cinco dias. Os cursos d’água amostrados foram previamente selecionados através de estudo das cartas topográficas do IBGE (1:50.000). A análise destas cartas permitiu levantar os córregos e rios que aparentemente apresentavam volume d’água significativo para ocorrência do pato-mergulhão. Para se alcançar os pontos propostos foi indispensável o uso dos mapas e de GPS, além de informações dos moradores. Em cada viagem procurava-se concentrar as amostragens em determinada região de modo a facilitar os deslocamentos e otimizar os esforços de coleta de dados. Durante os deslocamentos para se alcançar os locais selecionados, todos os cursos d’água avistados eram analisados para avaliação da probabilidade de ocorrência e viabilidade de amostragem. Também utilizaram-se informações de outros pesquisadores que trabalharam na região (Rogério C. de Paula, Lúcio C. Bedê, Luiz Fábio Silveira). Várias propriedades rurais foram visitadas, tanto para a obtenção de referências de melhores estradas e acessos, como para levantamento de indicações da presença de Mergus octosetaceus. Não foram realizadas entrevistas formais com formulários prontos, mas, invariavelmente, a conversa era direcionada para a obtenção de indicações sobre os patos-mergulhões. Algumas conversas foram muito produtivas e indicavam outros locais interessantes para amostragem que não haviam sido pré-selecionados. Durante essas conversas, quando o entrevistado era capaz de descrever com precisão as características morfológicas externas do pato-mergulhão sem nenhuma interferência ou direcionamento das respostas, esta informação foi considerada como referência segura e incluída nos resultados do presente trabalho. Para este fim, um cartão com desenhos e/ou fotos de algumas espécies limícolas ocorrentes na região, retirados de livros de ornitologia, foi elaborado (Figura 1). Muitos entrevistados que conheciam bem a espécie estudada conseguiam identificá-la facilmente entre as outras. Para a realização dos trabalhos de campo foram utilizados, além das cartas topográficas do IBGE e mapas editados pelo Ibama, binóculo Nikon Travellite III 9x25, GPS Garmin 76, máquina fotográfica Canon Rebel 2000, toca-fitas Panasonic RQ-L10 e caixa amplificada Sony SRS-A21 para uso de play-back. Também foi elaborado um formulário para levantamento de dados sobre caracterização dos hábitats, abordando informações sobre a vegetação marginal, estrutura do rio e de suas águas (Figura 2). Em cada curso d’água selecionado, a amostragem era feita caminhando-se ao longo de suas margens, o mais próximo possível da água. Por diversas vezes foi necessário fazer o transecto por dentro do rio. Outras vezes, era preciso afastar-se um pouco da margem, devido às condições físicas das encostas, procurando-se sempre voltar a visualizar o corpo d’água tão logo possível. O play-back, que consiste em reproduzir os sons da própria espécie para atraí-la, foi usado freqüentemente. Uma fita com gravações da zoofonia de Mergus octosetaceus foi

Page 9: Pato Mergulhao Pnsc

5

gentilmente cedida pelo Professor Luiz Pedreira Gonzaga, do Laboratório de Ornitologia e Bioacústica do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A freqüência de utilização do play-back aumentava na medida em que se tornava mais difícil visualizar trechos longos de rios, ou quando este apresentava muitas corredeiras ou quedas d’água que impediam que o som reproduzido atingisse longo alcance. Em condições de águas calmas e sem ventos fortes, o som reproduzido pela caixa amplificada utilizada era ouvido por uma pessoa até cerca de 150m de distância, segundo estimativas preliminares. Por meio deste método, foi possível confirmar a presença de Mergus octosetaceus em diversos locais. Aparentemente, os patos sempre respondem prontamente ao play-back quando podem ouvir os sons. Tanto o macho quanto a fêmea manifestam-se na defesa dos territórios como resposta ao play-back. A partir do início do transecto (ponto 1), a cada 1000m aproximadamente, tomava-se cerca de 50m de rio para caracterização do hábitat utilizando-se o formulário apresentado na Figura 2. O número de pontos variou com a extensão do percurso, que era limitada pelo grau de dificuldade de se caminhar nas margens. O mínimo de pontos amostrados foi três, o que correspondia a dois quilômetros percorridos, e o máximo foi seis pontos, correspondendo a cinco quilômetros de transecto. No entanto, mais comumente, foram amostrados cinco pontos, correspondendo a quatro quilômetros de rio. O GPS era usado durante todo o percurso, para marcação das curvas dos rios, de modo que fosse possível estimar intervalos de 1000m entre pontos com base no curso do rio e não na distância mínima entre pontos. A relação dos rios amostrados, de acordo com a distância percorrida e o número de pontos caracterizados, é apresentada a seguir:

- 2km (3 pontos): córregos da Fazenda Fundão, Boa Vista, Parida, Picada, Fumal (bacia do Turvo), da Cachoeira, dos Coelhos (alto), dos Coelhos (baixo), da Matinha, da Matinha (alto); ribeirões do Engano, Quebra-Anzol, da Usina, das Posses (baixo); e o rio São Francisco (alto Casca D’Anta).

- 3km (4 pontos): córregos Rolinhos (baixo), Capetinga, Rolinhos (alto), dos Pombos, Quilombo; ribeirões da Prata, das Posses (alto).

- 4km (5 pontos): córregos Grande, da Joana, Fumal, dos Cochos (Casa de Pedras), da Fazenda, das Pedras; ribeirões Grande, Bom Jesus, da Formiga, Bateias, do Turvo, Grota Feia, das Capivaras, das Lavras, do Pinheiro; rios São Francisco (baixo), São Francisco (nascente), Araguari (alto), Araguari (baixo), Araguari (médio), Samburá, Santo Antônio (Sul), do Peixe.

- 5km (6 pontos): córregos Claro, da Cabeceira; ribeirão da Babilônia; rio Santo Antônio (Norte).

Na Tabela 1 (Anexo I) são apresentadas as coordenadas de cada ponto caracterizado ao longo de todas as viagens de campo. No mês de agosto foram amostrados cinco cursos d’água para os quais havia referência segura da ocorrência recente do pato-mergulhão. No entanto, devido a problemas com o funcionamento do GPS e a adaptações na metodologia, estes mesmos cursos d’água foram repetidos em janeiro para padronização do método. Assim, o mês de setembro foi oficialmente considerado como o início da coleta de dados válidos. Como era esperado, devido às chuvas, todos os cincos rios amostrados pela segunda vez - Rolinhos, São Francisco (alto Casca D’Anta), São Francisco (parte baixa), dos Cochos, e do Peixe - estavam com volume de água bem maior quando comparado ao mês de agosto, auge

Page 10: Pato Mergulhao Pnsc

6

da estação seca. As águas estavam também comparativamente mais turvas e escuras no mês de janeiro. As chuvas constantes que caíram na região entre os meses de novembro e março prejudicaram um pouco a coleta de dados, uma vez que limitavam o uso de equipamentos que poderiam ser danificados quando molhados (binóculo, toca-fitas e caixa amplificada), além de diminuir a acuidade auditiva pelo uso do capuz da capa de chuva. Além disso, em algumas poucas vezes, a possibilidade do carro ficar atolado na estrada de terra fez com que o trabalho fosse encerrado antes de se concluir os cinco pontos ideais de amostragem. No mês de abril, organizou-se um acampamento na região de confluência do ribeirão das Posses com os córregos Matinha, dos Coelhos e dos Pombos, entre as serras do Cemitério e das Sete Voltas. É um local de difícil acesso, não sendo possível alcançá-lo utilizando-se automóveis. Assim, foi organizado um acampamento que permitisse a permanência dos pesquisadores na área durante o tempo necessário para se amostrar os principais cursos d’água da região. O deslocamento foi feito a cavalo a partir da Fazenda do Sr. José Rodrigues Nunes (conhecido como Zé Cândido). Dois animais levaram os pesquisadores e todo o material necessário para o acampamento. Durante quatro dias os pesquisadores permaneceram na região, deslocando-se a cavalo até os pontos de início dos transectos. Após a descoberta de um ninho num paredão rochoso no córrego da Matinha, um segundo acampamento foi organizado no mês de julho para acompanhamento das atividades de choco e cuidados com ninho e filhotes. As medidas do ninho foram tomadas com o uso de trena, enquanto que os ovos foram pesados e medidos por meio de balanças Pesola e paquímetro. Após a constatação de que o ninho havia sido abandonado pela fêmea, os ovos foram lá mantidos até a obtenção de autorização do Ibama para sua retirada e tomada de providências cabíveis. De posse dessa autorização (Figura 3), os ovos foram levados para a Universidade Federal de Minas Gerais onde, no Laboratório de Morfologia de Aves do Departamento de Morfologia, o Professor Germán Mahecha selecionou, com uso de ovoscópio, aqueles que possuíam embriões ainda conservados possibilitando a extração de DNA. Três ovos foram então encaminhados ao Laboratório de Biodiversidade e Evolução Molecular, do Departamento de Biologia Geral, sob a coordenação do Professor Fabrício R. Santos, para execução dos procedimentos necessários à extração do material genético. Os ovos foram quebrados e os embriões recolhidos. Após a purificação do DNA, as amostras de cada embrião receberam um número de identificação e estão armazenadas no próprio laboratório para futuros estudos. Os ovos em estado avançado de decomposição foram manipulados pelo Professor Germán Mahecha para retirada do conteúdo interno e secagem para conservação das cascas. Esses ovos serão encaminhados a museus, de acordo com orientações do Ibama. Será feito o molde de um ovo para a obtenção de modelos que deverão ser expostos no Centro de Visitantes do Parque Nacional da Serra da Canastra. Análises estatísticas foram desenvolvidas com algumas das variáveis medidas para a caracterização de hábitat. Foram avaliados somente aqueles parâmetros que, durante o processamento, mostraram-se suficientemente robustos para tal análise. Para testar se a ocorrência da espécie está relacionada com a ordem do curso d’água foi empregada a análise de regressão logística (Hosmer & Lemeshow 1989). As demais variáveis descritoras do ambiente, todas elas categóricas, foram medidas em pelo menos três pontos, geralmente tendo

Page 11: Pato Mergulhao Pnsc

7

sido amostrados cinco pontos em cada curso d’água. Estes foram classificados em duas ou três categorias de acordo com as freqüências de cada variável. Para testar se existe associação entre a ocorrência da espécie com as variáveis ambientais foi empregado o teste de qui-quadrado (Zar 1984). O mesmo teste foi empregado para testar a associação entre a ocorrência da espécie e a presença ou não de tipos diferentes de substrato no fundo do rio - lajedo, pedras, seixos, areia, silte e cascalho.

Figura 1: Cartão com ilustrações de espécies de aves limícolas encontradas na região, utilizado para

checar conhecimento da população local sobre a presença do pato-mergulhão.

Page 12: Pato Mergulhao Pnsc

8

Data: ________________________________ Rio/Córrego: _________________________________________ No Ponto: ___________________ Ordem: ________________________________________ Coordenadas: ________________ Play-back: __________________________________________ ________________ Foto: _________________________________________________ Tempo: ________________ Referências: ______________________________________________________________________ 1. Uso da terra na área de drenagem: __ mata __ campo __ industrial __ capoeira __ agricultura __ comercial __ pasto __ residencial __ outro: __________________ 2. Vegetação marginal predominante: __________________________________________________ 3. % margem com mata: ___________________________________________________________ 4. altura média mata: __ 0-5 __ 6-10 __ 11-15 __16-20 m 5. largura mata: ___ 0-10 ____ 11 - 20 ___ > 20 m 6. árvores potenciais para ninhos: __________ (freq.: aus., rara, média, abund.) 7. grau de conservação: __ baixo __ médio __ alto 8. Sub-bosque: __ ralo __ médio __ denso 9. Densidade cobertura: __ rala __ médio __densa 10. Cobertura vegetação: __ aberta __parc. aberta __ parc. sombreada __ sombreada 11. Erosão: __ não visível __ pouco erodido __ erodido __ muito erodido

12. Estrutura da vegetação: Densidade Árvores Arbustos Ervas

% 25 20 15 10 5 2-5 1-2 - Densa Pouco densa Aberta Muito aberta Rala

Curso d’água 13. Largura: ______________ mínima: ____________ máxima: _________ 14. Profundidade: mínima: ____ máxima: _____ média: _________ 15. Poluição: __ s/ evidências __ fontes potenciais __ fontes óbvias 16. Água: __ clara __ pouco turva __ turva __ opaca 17. Cor água: ______________________________________________________________________ 18. Fundo (freq.): __ lajedo __ pedras grandes __ seixos __ cascalho ___ areia ____silte 19: Detritos org.: ________________________________ (ausente, raro, médio, abundante) 20. Razão pool/riffle ou run/bend / largura: _____________________________________________________ 21. No corredeiras em 50 m: _______________________________________ 22. Potencial de ocorrência (0-5): ______________________ Obs.: - Velocidade da água: - Odor: - Outras: Figura 2: Ficha para coleta de dados utilizada para caracterização de cada ponto de amostragem.

Page 13: Pato Mergulhao Pnsc

9

Figura 3: Cópia da autorização expedida pelo Ibama para coleta dos ovos de pato-mergulhão cujo

ninho foi abandonado em julho de 2002.

Page 14: Pato Mergulhao Pnsc

10

RESULTADOS E DISCUSSÃO Distribuição e Tamanho da População Ao longo de 12 meses de coleta de dados em campo foram amostrados 49 trechos de cursos d’água, perfazendo-se cerca de 165 quilômetros de caminhada ao longo dos rios. Tal esforço equivale, aproximadamente a 165 horas de observação em campo, já que cada quilômetro de rio era amostrado, em média, em uma hora. Alguns rios foram amostrados mais de uma vez em diferentes locais devido ao fato de ser possível a localização de patos-mergulhões em trechos diferentes. Assim, os rios São Francisco e Araguari foram amostrados em três trechos. Nos córregos dos Coelhos, da Matinha, das Posses, dos Cochos e dos Rolinhos foram feitas duas amostragens em diferentes locais. Os locais de amostragem e a confirmação da presença de Mergus octosetaceus podem ser visualizados no Mapa 1 e Tabela 2 (Anexo I). Um ou mais indivíduos de M. octosetaceus foram observados em nove localidades nos trabalhos de campo, totalizando 29 indivíduos, sendo 13, provavelmente, filhotes. Somam-se a essas, mais sete localidades onde biólogos que participaram da Avaliação Ecológica Rápida para a revisão do plano de manejo do Parque Nacional da Serra da Canastra confirmaram a ocorrência da espécie, registrando 17 indivíduos, sendo seis, provavelmente, filhotes. Acrescentam-se ainda oito córregos para os quais foram obtidas informações seguras da presença do pato-mergulhão. Assim, comprova-se o uso de 24 trechos de cursos d’água pela espécie em questão na área de estudo. Das outras 25 localidades sem confirmação, julga-se que pelo menos nove sejam muito favoráveis à ocorrência de Mergus. Fotografias de vários cursos d’água trabalhados, com confirmação ou não do pato-mergulhão, são apresentadas no Anexo II (Figuras 1 a 3). Considerando os indivíduos visualizados nos trabalhos de campo, durante a Avaliação Ecológica Rápida e aqueles cujas referências precisas indicaram o número de indivíduos vistos e a data, somam-se 50 indivíduos confirmados, sendo provavelmente 31 adultos e 19 filhotes. Não é possível ter muita certeza da proporção de adultos e filhotes pois no ribeirão da Formiga, os patos foram vistos por poucos segundos e pareciam constituir-se de uma família composta por um casal e dois filhotes. Se adicionarmos pelo menos um casal em cada curso d’água indicado como referência segura, somaríamos mais 12 adultos. Entre os rios cuja presença de M. octosetaceus não foi confirmada, em pelo menos nove trechos a ocorrência da espécie é provável devido às características estruturais observadas. A relação estatística significativamente direta entre o potencial de ocorrência - medida subjetiva tomada com base na experiência da pesquisadora (Quadro 5, no item ‘Preferência de Hábitat) - e a confirmação da presença do pato fortalece a suposição de que os rios considerados como hábitat provável realmente abrigam o pato-mergulhão. Se cada um dos nove trechos mencionados abrigasse um casal, teríamos mais 18 indivíduos na região, o que totalizaria, considerando somente os cursos d’água amostrados, cerca de 80 indivíduos.

Page 15: Pato Mergulhao Pnsc

11

A riqueza hídrica, aqui expressa como o número de cursos d’água, é uma das características mais conspícuas da paisagem local. É difícil estimar quanto a amostragem realizada representa para a totalidade da drenagem da região, mas é certo que trata-se de uma amostragem restrita. Certamente vários cursos d’água não visitados abrigam outros patos-mergulhões, e a população local deve ser bem mais numerosa. Durante várias conversas, os moradores locais indicavam a presença de ‘marrecos pequenos, escuros e bravos (que não permitiam aproximação)’ que, muito provavelmente, dizia respeito ao pato-mergulhão. No entanto, não foram consideradas informações seguras no presente estudo por faltar uma caracterização mais detalhada da morfologia externa dos indivíduos. Mergus octosetaceus é reconhecido como uma espécie não migratória, que não abandona os cursos d’água onde estabelece seu território (Silveira & Bartmann 2001, Partridge 1956). De fato, todos os vôos de deslocamento do pato-mergulhão observados em campo acompanhavam fielmente a lâmina da água, às vezes rente à superfície, às vezes um pouco acima da vegetação arbustiva (cerca de 5 metros de altura). As análises aqui apresentadas baseiam-se na suposição que eles sejam realmente confinados a seus territórios. No entanto, a hipótese que eles não se deslocam entre cursos d’água não foi ainda testada e, portanto, não pode se descartada. É de extrema relevância considerar que em alguns casos era difícil distinguir se os patos observados em diferentes locais de uma mesma rede de drenagem ou sub-bacia eram os mesmos indivíduos ou não. No rio São Francisco, por exemplo, sabe-se com certeza que um casal habita a parte alta da Casca D’Anta e outro habita a parte baixa, até próximo a São José do Barreiro, pois foi visto um casal com filhotes pequenos na parte alta no mesmo mês em que se registrou um casal com seis filhotes grandes na parte baixa. Segundo Silveira & Bartman (2001), há ainda um outro casal no trecho do rio São Francisco entre São José do Barreiro e a cachoeira Casca D’Anta. O território desse casal deve se estender para o rio Cachoeirinha, onde está estabelecida a Mineração do Sul, para o qual foi obtida referência precisa da ocorrência freqüente de patos-mergulhões. Ainda no rio São Francisco foram observados três indivíduos voando nas proximidades da nascente em fevereiro de 2002. Considerando que o casal da parte alta da Casca D’Anta tinha sido visto em janeiro sem filhotes e que a extensão do rio entre a nascente e a cachoeira permite o estabelecimento de mais de um território para a espécie, admite-se que esse seja um quarto casal que ainda permanecia com o filhote. Bartmann (1995) observa que os jovens podem permanecer nos territórios dos pais até próximo à estação reprodutiva seguinte. Não se tem certeza também que o casal observado no córrego da Fazenda Fundão não é o mesmo avistado na sua parte alta, próximo à Casa de Pedra. A cachoeira do Fundão não é tão alta e parece ser fácil o deslocamento dos patos para montante ou jusante. Entretanto, sabendo que um território estende-se, em média, por nove quilômetros, também é possível tratar-se de dois casais. Já no córrego Rolinhos, admite-se que seja mais provável a existência de dois territórios, visto que o desnível entre a parte alta e baixa é muito abrupto o que dificultaria o deslocamento dos patos. O casal observado no ribeirão da Babilônia pode ser o mesmo ‘casal 5’ registrado por Silveira & Bartmann (2001) no ribeirão das Posses.

Page 16: Pato Mergulhao Pnsc

12

A região de confluência dos córregos dos Coelhos, da Matinha, das Posses e dos Pombos, juntamente com os próprios cursos d’água, apresenta abundância de água e é isolada de qualquer atividade humana, inclusive do turismo, podendo, então, potencialmente ser ocupada por diversos casais de Mergus octosetaceus. Os dados e evidências obtidos nesse estudo permitem concluir que a população de M. octosetaceus deve ser bem maior que o sugerido. Estimativas recentes apontam uma população total de menos que 250 indivíduos (BirdLife International 2000). Com um ano de estudo na região da Serra da Canastra, estima-se para a região uma população substancialmente maior que 80 indivíduos, evidenciando que a espécie é localmente menos rara do que se supunha. Entretanto, seu status de ameaçada no Brasil (Portaria Ibama 1522/89), criticamente ameaçada em Minas Gerais (Deliberação Copam 041/95), nas Américas (Collar et al. 1992) e no mundo (BirdLife International 2000) permanece e ações voltadas à conservação da espécie e de seus hábitats devem ser priorizadas.

Page 17: Pato Mergulhao Pnsc

13

Mapa 1: Trechos de rios amostrados para confirmação da presença de pato-mergulhão na região do Parque Nacional da Serra da Canastra.

Page 18: Pato Mergulhao Pnsc

14

Preferência de Hábitat Informações para caracterização do hábitat preferencial foram levantadas em todos os cursos d’água amostrados. Entre as várias características analisadas, as que apresentaram consistência para uma análise mais robusta foram as seguintes: ordem de grandeza do curso d’água, grau de conservação, nível de poluição potencial, erosão, tipo de substrato, e análise subjetiva do potencial de ocorrência com base apenas nos parâmetros citados na literatura como importantes para ocorrência do pato-mergulhão. A regressão logística foi utilizada para testar a relação entre a ocorrência da espécie e a ordem do rio. E o teste do qui-quadrado, para testar a associação entre a presença da espécie e o grau de conservação do local amostrado, o nível de poluição, o grau de erosão, o tipo de substrato, e o potencial de ocorrência. Para fins dessa análise estatística, o grau de conservação do curso d’água foi definido de acordo com a categoria de conservação mais freqüente, podendo ser alta, média ou baixa. Não existe associação entre a presença da espécie e o grau de conservação do curso d’água (χ2 = 3,06; g.l. = 2; p = 0,165) (Quadro 1).

Quadro 1: Número de registros de presença e ausência de Mergus octosetaceus por grau de conservação dos cursos d’água (porcentagem entre parênteses).

Ocorrência Grau de Conservação dos Rios Total

Baixo Médio Alto

Ausente 6 (60%) 11 (61,1%) 7 (33,1%) 24

Presente 4 (40%) 7 (38,9%) 14 (66,7%) 25

Total 10 18 22 49

A presença de fontes poluidoras de cada curso d’água foi categorizada de acordo com a freqüência de registros de poluição de cada ponto amostrado para aquele curso. Pela freqüência, um rio foi considerado de baixo, médio ou alto potencial de poluição. Não foi encontrada associação entre este parâmetro e a presença da espécie (χ2 = 3,06; g.l. = 2; p = 0,165) (Quadro 2). Não foi constatada relação entre a ocorrência da espécie e a ordem de grandeza dos cursos d’água, definida de acordo com Strahler (1957) (Final loss = 33,6; χ2 = 0,74; p = 0,38). A espécie foi registrada tanto em cursos de pequena ordem quanto em rios de grande ordem (Figura 4). Os cursos d’água foram categorizados de acordo com a frequência de registros de erosão em cada ponto de amostragem. Pela freqüência da análise em cada ponto, um rio foi considerado muito ou pouco erodido. Não existe relação entre o grau de erosão das margens de um corpo d’água e a ocorrência de Mergus octosetaceus (χ2 =1,83; g.l. = 1; p =0,17) (Quadro 3).

Page 19: Pato Mergulhao Pnsc

15

Quadro 2: Número de registros de presença e ausência de Mergus octosetaceus por nível de poluição dos cursos d’água (porcentagem entre parênteses).

Ocorrência Potencial de Poluição dos Cursos d’água

Total

Baixo Médio Alto

Ausente 6 (40%) 7 (41,2%) 11 (64,7%) 24

Presente 9 (60%) 10 (58,2%) 6 (35,3%) 25

Total 15 17 17 49

Ordem

Pro

b. d

e oc

orrê

ncia

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1 2 3 4 5 6 7

Figura 4: Probabilidade de ocorrência de Mergus octosetaceus em função da ordem de grandeza do curso d’água. Só são visíveis alguns pontos devido à sobreposição dos valores no eixo x.

Quadro 3: Número de registros de presença e ausência de Mergus octosetaceus por grau de erosão detectado nos cursos d’água (porcentagem entre parênteses).

Ocorrência Erosão Total

Pouco erodido Muito erodido

Ausente 15 (42,9%) 9 (64,3%) 24

Presente 20 (57,1%) 5 (37,7%) 25

Total 35 14 49

Page 20: Pato Mergulhao Pnsc

16

Em cada ponto amostral de um rio, sempre que a turbidez da água permitia, era indicada a ocorrência de diferentes tipos de substrato no fundo. Os substratos identificados foram lajedo, pedras, seixos, cascalho, areia e silte. Com base nas amostras o substrato foi considerado presente ou ausente para cada curso d’água. Nenhum tipo de substrato apresentou associação significativa com a ocorrência da espécie (Quadros 4a a 4f). Quadros 4a a 4f: Número de registros de presença e ausência de Mergus octosetaceus por ocorrência de sedimento no fundo do curso d’água: a - lajedo, b - pedras, c - seixos, d - cascalho, e - areia, f - silte (porcentagem entre parênteses).

O potencial de ocorrência foi uma estimativa subjetiva que levava em consideração a experiência da pesquisadora na avaliação de locais favoráveis à ocorrência do pato-mergulhão. Características estruturais do leito e das margens do rio eram consideradas e o valor obtido expressava se aquele determinado local parecia atender às especificidades de hábitat que eram julgadas importantes para a espécie. Para a análise estatística, os cursos d’água foram categorizados como de baixo, médio ou alto potencial de ocorrência, de acordo com os valores médios atribuídos. Encontrou-se associação significativa para um nível de significância de 10% (χ2 = 5,05; g.l. = 2; p = 0,079). A ocorrência do pato-mergulhão está associada com cursos d’água com alto potencial, ocorrendo em 62,5% deles; enquanto que ele não foi encontrado em 85% dos cursos d’água

a

Associação não significativa (χ2 =2,24; g.l. = 1; p =0,13). b

Ocorrência Pedras Total

Ausente Presente

Ausente 5 (62,5%) 19 (47,5%) 24

Presente 3 (37,5%) 21 (52,5%) 24

Total 8 40 48 Associação não significativa (χ2 =0,60; g.l. = 1; p =0,44). c

Ocorrência Seixos Total

Ausente Presente

Ausente 2 (100%) 22 (47,5%) 24

Presente 0 (0%) 23 (52,5%) 23

Total 2 45 47 Associação não significativa (Teste exato de Fisher: p = 0,25).

Ocorrência Lajedo Total

Ausente Presente

Ausente 12 (66,1%) 11 (40,7%) 23

Presente 7 (36,9%) 16 (59,3%) 23

Total 19 27 46

d

Ocorrência Cascalho Total

Ausente Presente

Ausente 3 (75%) 21 (48,8%) 24

Presente 1 (25%) 22 (51,2%) 23

Total 4 45 47 Associação não significativa (Teste exato de Fisher: p = 0,32).

e

Ocorrência Areia Total

Ausente Presente

Ausente 2 (33,3%) 22 (55%) 24

Presente 4 (66,7%) 18 (45%) 22

Total 6 40 46 Associação não significativa (Teste exato de Fisher: p = 0,29).

f

Ocorrência Silte Total

Ausente Presente

Ausente 2 (33,3%) 21 (55%) 23

Presente 5 (66,7%) 17 (45%) 22

Total 7 38 45 Associação não significativa (Teste exato de Fisher: p = 0,19).

Page 21: Pato Mergulhao Pnsc

17

considerados com baixo potencial (Quadro 5). Como já discutido no item acima (‘Distribuição e tamanho da população’), essa relação fortalece a suposição de que realmente existem patos-mergulhões nos locais considerados como muito prováveis.

Quadro 5: Número de registros de presença e ausência de Mergus octosetaceus de acordo com o potencial de ocorrência para cada curso d’água (porcentagem entre parênteses).

Ocorrência Potencial Total

Baixo Médio Alto

Ausente 6 (85,7%) 9 (50%) 9 (37,5%) 24

Presente 1 (14,3%) 9 (50%) 15 (62,5%) 25

Total 7 18 24 49

Segundo Yamashita & Valle (1990), o principal fator que limita a distribuição de Mergus octosetaceus ‘parece ser a estrutura dos rios, sendo seu hábitat linear aos rios de porte médio a grande de cabeceira de drenagem, com corredeiras e água oligotrófica. Esse tipo de hábitat é descontínuo, limitado e pouco comum’. Acredita-se que quando as condições ambientais tornam-se desfavoráveis como, por exemplo, quando as chuvas intensas turvam completamente as águas dos rios, os indivíduos sobem os tributários que, embora menores, mantém mais constantemente a qualidade das águas. O córrego da Fazenda, por exemplo, afluente da margem direita do rio Santo Antônio (do norte) é relativamente pequeno e um pouco degradado. Mas é possível que sirva de refúgio aos patos-mergulhões na época de chuvas, quando as cheias tornam o rio Santo Antônio mais ‘sujo’ levando ao deslocamento dos indivíduos para córregos mais altos e menos turvos da bacia. Vários outros exemplos podem ser citados de patos que podem abandonar o leito principal de rios como o São Francisco, Araguari e Santo Antônio do Sul e subir os tributários na busca de melhores qualidades de hábitat. No Chapadão da Canastra, área já consolidada do Parque da Canastra, todos os cursos d’água, incluindo suas nascentes (com exceção do ribeirão das Posses), encontram-se na área sob proteção restrita e não há interferências de atividades antrópicas sobre eles há décadas. Suas águas muito limpas, as características estruturais, intercalando corredeiras e poços de tamanhos e profundidades variados, e a presença constante de matas ciliares em bom estado de conservação são elementos que reconhecidamente conferem alto padrão de qualidade aos hábitats da espécie em estudo. No Chapadão da Babilônia, região de Delfinópolis e na zona de amortecimento do Parque, as condições ambientais variam muito e é possível encontrar córregos e riachos com alto grau de conservação bem próximos a outros já em avançado estado de degradação. Os resultados das análises acima apresentadas demonstram que, da forma como os hábitats foram avaliados, a presença de Mergus octosetaceus não mostra dependência com nenhum dos parâmetros analisados. Mas, é prematuro afirmar que a espécie não depende de algumas características específicas de hábitat, como se supunha. Por meio do presente estudo, constatou-se que a espécie pode suportar um certo grau de degradação ambiental, haja vista o

Page 22: Pato Mergulhao Pnsc

18

córrego da Formiga, onde foram observados quatro indivíduos 100 metros acima de um trecho bem degradado (Foto 4). No entanto, não é possível fazer inferências sobre o nível de degradação tolerado e de como as alterações ambientais podem estar modificando os comportamentos básicos do pato-mergulhão, e interferindo na extensão de seus territórios. O tamanho do território deve estar condicionado às características que lhe conferem qualidade como, por exemplo, abundância de recursos alimentares. Segundo Fábio Vieira (2002, comunicação pessoal) a fauna de peixes, alimento principal da espécie, é caracterizada por apresentar, em sua maioria espécies de pequeno porte, onde praticamente todas as espécies não ultrapassam 15cm quando adultos. As espécies de peixes mais abundantes foram os lambaris (Astyanax scabripinnis e A. rivularis), e o barrigudinho (Phalloceros caudimaculatus). Na área consolidada do Parque, registraram-se apenas quatro espécies: os lambaris (Astyanax rivularis e A. scabripinnis), um cascudinho (Neoplecostomus aff. paranensis) e a cambeva (Trichomycterus aff. brasiliensis) (F. Vieira 2002, comunicação pessoal). Uma pesquisa feita com outra espécie de Mergus (M. serrator), presente na costa leste dos Estados Unidos, que também vive basicamente de peixes capturados em mergulho (além de alguns crustáceos), mostra alguns resultados interessantes sobre a alimentação da espécie (Miller 1996). Foi constatado que M. serrator consome de 200 a 250g por dia, quantia que requer a captura de 15 a 20 peixes com cerca de 10-20g/peixe. Com uma taxa de sucesso de captura de 6 a 7 %, ele necessitaria de 250 a 300 mergulhos, que poderia levar 4-5 horas. Isso representaria de 30 a 50% do dia, considerando que ele não se alimenta à noite (Miller 1996). Tais dados podem indicar que a abundância de alimento deve ser também um dos fatores a serem considerados para a análise de qualidade e preferência de hábitat do pato-mergulhão. Atividades Reprodutivas Embora o presente trabalho não tenha sido planejado para o estudo da reprodução de Mergus octosetaceus, as observações feitas possibilitam tecer comentários sobre alguns aspectos reprodutivos. A estação de nidificação, de acordo com BirdLife International (2000), estende-se de junho a agosto; enquanto que no ‘Plano de Ação para Mergus octosetaceus’ este período é indicado entre junho e outubro, sendo julho o mês mais comum para incubação e agosto para eclosão. Mas, machos e fêmeas ficam constantemente juntos, como já observado por outros autores (Silveira & Bartmann 2001, Yamashita & Valle 1990, Partridge 1956). No presente trabalho foram observados adultos com filhotes de agosto a dezembro. O grande tamanho dos filhotes observados em agosto no São Francisco a jusante da Casca D’Anta demonstra que sua eclosão deu-se, no mais tardar, em meados de junho, o que levaria a crer que os ovos foram postos em meados de maio. Sendo assim, pode-se considerar que a época reprodutiva da população local estende-se por, no mínimo, seis meses. Os filhotes de tamanho médio observados com o casal no córrego Fumal, em novembro, ainda estavam com os pais em janeiro, mas já com boa capacidade de vôo. Isso indica que os jovens permanecem com os pais por mais de três meses antes de se dispersarem. Em fevereiro,

Page 23: Pato Mergulhao Pnsc

19

detectaram-se três indivíduos na nascente do rio São Francisco. Embora não tenha sido possível confirmar, é possível que se trata de um casal com um filhote. Assim, pode-se inferir que o cuidado parental estende-se até fevereiro. Silveira & Bartmann (2001) e Bartmann (1995) indicam que os jovens podem permanecer com os pais até dezembro e janeiro, após o período de muda, antes da próxima estação reprodutiva. A idade de maturação sexual parece ser de dois ou mais anos para todas as espécies da Tribo Mergini (Livezey 1995). O Quadro 6 mostra os indivíduos jovens e adultos registrados em cada mês ao longo de todo o trabalho de campo. Nenhum pato foi observado nos meses de março, abril e maio de 2002. Segundo Silveira & Bartmann (2001), o período de muda pode explicar a ausência de registros no final da estação chuvosa. Por perderem temporariamente sua capacidade de vôo, eles assumem hábitos mais reservados, tornando-se mais difíceis de serem observados. É possível que variações comportamentais tenham contribuído para a não confirmação da espécie entre março e maio. Mas somente o monitoramento em longo prazo de alguns indivíduos poderá fornecer evidências mais seguras sobre a sazonalidade de aspectos do comportamento.

Quadro 6: Indivíduos de Mergus octosetaceus, adultos (indicados com símbolos) e filhotes (algarismos indicando a quantidade), para os quais foi possível identificar o(s) mês(es) de registro. Símbolo da mesma cor, excetuando-se o preto, indica o mesmo indivíduo ou o mesmo casal observado em meses diferentes. • = Casal; • = Ninho; •= Fêmea; • = Macho; ? = sexo não identificado.

ANO / MÊS

2001 2002

AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL

Casal •

• •

••

• •

Casal c/ filhotes pequenos

•+ 2

Casal ou fêmea c/ filhotes médios

•+ 4 •+2 •+2 •+2

Casal c/ filhotes grandes

•+ 6 •+2 •+2 •+1

Casal c/ ninho • +• •+•

Indivíduo sozinho ? ?

Durante os meses de junho e julho ocorre intensificação das atividades de nidificação (Silveira & Bartmann 2001). Foi no primeiro desses meses que o único ninho de pato-mergulhão foi registrado na região. Na viagem de junho, enquanto era amostrado o córrego Matinha, no dia 28, observou-se uma fêmea pousando em paredão rochoso alguns metros acima da água. Como já suspeitava-se que esse tipo de ambiente pudesse ser usado para nidificação, algumas fendas foram checadas e logo foi possível ver a fêmea em posição de choco em uma delas (Foto 5). Ela estava sobre alguns ovos colocados numa depressão da superfície da rocha; os quais foram postos num

Page 24: Pato Mergulhao Pnsc

20

substrato com uma fina camada de areia e terra. A fêmea não saiu de cima dos ovos enquanto o observador permaneceu próximo à entrada da cavidade. Quando a fêmea saía do ninho, os ovos eram cobertos com uma penugem, aparentemente retirada de seu corpo. (Foto 6). Com as poucas horas de observação do ninho com os pais, pôde-se constatar que somente a fêmea chocava e, aparentemente, saía do ninho pelo menos uma vez por dia para se alimentar. O macho passava parte do tempo alimentando-se ou descansando próximo ao ninho, sempre em alerta. Mas algumas vezes ele voava para longe, permanecendo horas mais longe do ninho. Quando observou-se a fêmea sair do ninho e chamar pelo macho, ele apareceu imediatamente, vocalizaram por poucos minutos sempre de frente um para o outro, e o macho continuou vocalizando sozinho por vários segundos. O paredão rochoso com o ninho apresentava altura de cerca de 13m (Foto 7). A fenda usada para ninho estava a 10,5m do nível da água e a 8m do primeiro degrau de pedras. A abertura era voltada para o leste, mas o sol não chegava a entrar dentro da fenda, pelo menos naquela época do ano. As temperaturas à noite dentro da fenda foram de 13oC e 14oC em duas noites consecutivas. A temperatura máxima durante o dia chegou a 22oC. Algumas medidas da cavidade onde encontrava-se o ninho foram tomadas: - Abertura máxima na entrada: 30cm de altura. - Abertura mínima na entrada: 18cm de altura - Profundidade máxima: 2,10m. - Distância da depressão com os ovos da entrada: 1,50m. - Largura máxima da fenda (a cerca de 0,60cm para dentro da abertura): 0,70m. - Altura da fenda no ponto onde estava o ninho: ~0,50m. A região é dominada por campos limpos, sujos e rupestres. O rio forma seqüência de quedas d’água e poços de tamanhos e profundidades variados. Bem em frente ao ninho, o rio desce num estreitamento da rocha formando um pequeno cânion. Poucos metros acima há um grande poço com cerca de 20m de largura, no qual o macho ficava freqüentemente pousado ou nadando e de onde chamava a fêmea. A jusante do cânion também abrem-se outros poços menores nos quais o casal também se alimentava (Foto 8). A descoberta do ninho do pato-mergulhão é fato da maior importância para sua conservação e manejo. Existe apenas um registro de ninho, encontrado em 1954 em uma cavidade de árvore nas margens do Arroyo Urugua-i, em Misiones (Partridge 1956). Alguns autores já sugeriram que a espécie poderia nidificar em cavidades nas rochas (in BirdLife International 2000), mas tal fato ainda não havia sido confirmado. Sabe-se, portanto, agora, que a ausência de árvores de grande porte não é fator limitante à reprodução da espécie na região. E a grande disponibilidade de paredões rochosos com muitas fendas pode propiciar mais oportunidades de nidificação do que cavidades em árvores. No mês de julho, três semanas após a descoberta do ninho, foi organizada uma expedição, quando o ninho seria monitorado por alguns dias para observação do comportamento parental e seriam tiradas as medidas dos ovos. Desde o primeiro dia em que se chegou ao local, notou-se apenas a presença do macho. Durante três dias em nenhum momento a fêmea foi visualizada nas proximidades e o macho, sempre por volta das 06:50hs da manhã, aproximava-se do ninho chamando, aparentemente, por ela. Quando o ninho foi acessado para medição e pesagem dos ovos, constatou-se a existência de sete ovos (Fotos 9 e 10), e estes não estavam aquecidos, o que evidenciava o abandono do ninho.

Page 25: Pato Mergulhao Pnsc

21

Os ovos apresentavam formato oval e coloração creme bem clara, quase branca. Possuíam, em média, 61,7mm de comprimento, 42,5mm de largura, e 59,86g de peso. Os resultados das medidas dos ovos são apresentados no Quadro 7.

Quadro 7: Pesos e medidas dos ovos de Mergus octosetaceus.

Medidas dos Ovos

Ovos Comprimento (mm)

Largura máxima (mm)

Peso

(g)

Ovo 1 62,0 42,1 55

Ovo 2 60,2 42,7 57

Ovo 3 61,4 43,2 59

Ovo 4 61,7 41,3 63

Ovo 5 60,8 43,6 63

Ovo 6 62,0 42,6 61

Ovo 7 64,0 42,2 61

Embora seja uma espécie migratória, Mergus squamatus (Chinese Merganser) possui características reprodutivas muito semelhantes às de M. octosetaceus (Zhengjie et al. 1995). Eles nidificam em cavidades de árvores ao longo de córregos nas florestas do nordeste da China. Tal qual M. octosetaceus, os ovos de M. squamatus são incubados somente pela fêmea e são cobertos com penugem quando a fêmea deixa o ninho. Suas medidas são semelhantes: 63,3mm de comprimento, 45,9mm de largura e 61,9g de peso. O tempo de incubação descrito para essa espécie é de 35 dias (Zhengjie et al. 1995). Os autores ainda afirmam que Mergus serrator e Mergus merganser apresentam características reprodutivas similares às de Mergus squamatus. Ainda que o abandono de ninhos não seja raro entre as aves (Gill 1994), sugere-se que a causa mais provável da ausência da fêmea seja sua morte, pois o macho continuava a chamar por ela parecendo ignorar sua falta. Acredita-se que ela tenha sido predada. Pretende-se visitar a área na próxima estação reprodutiva para verificar se o mesmo local será novamente utilizado para nidificação. Mergus squamatus foi observado utilizando a mesma cavidade de árvore, na China, por três anos consecutivos (Zhengjie et al. 1995). Não são raros os potenciais predadores de pato-mergulhão na região. Com base em registros de mamíferos que ocorrem e permanecem em matas ciliares, que forrageiam próximo a corpos d’água e que podem predar aves, o pesquisador Rogério C. de Paula (2002, comunicação pessoal) considera que seguintes espécies de mamíferos podem potencialmente ser predadoras de adultos e filhotes de pato-mergulhão: onça-parda (Puma concolor), jaguatirica (Leopardus pardalis), gato-maracajá (Leopardus wiedii), gato-mourisco (Herpailurus yagouaroundi), lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) e irara (Eira barbara). O furão-pequeno (Galictis cuja) é provável que prede somente filhotes. Possíveis predadores de ovos seriam: gambá (Didelphis albiventris),

Page 26: Pato Mergulhao Pnsc

22

lobo-guará, cachorro-do-mato, irara, mão-pelada (Procyon cancrivorus), furão-pequeno e quati (Nasua nasua). Segundo o pesquisador Dante Buzzetti (2002, comunicação pessoal), uma das espécies mais prováveis de predar adultos de Mergus octosetaceus seria a águia-chilena (Geranoaetus melanoleucus) devido ao seu porte e hábitat preferencial que coincide com área de uso do pato-mergulhão. D. Buzzetti sugere ainda que a águia-cinzenta (Harpyhaliaetus coronatus) e o corujão-orelhudo (Bubo virginianus) poderiam eventualmente capturar adultos. Aves de rapina de médio porte, além das citadas acima, seriam capazes de capturar filhotes de pato-mergulhão. Entre elas citam-se falcão-de-coleira (Falco femoralis), gavião-de-cabeça-cinza (Leptodon cayanensis), gavião-pato (Spizastur melanoleucus), e gavião-relógio (Micrastur semitorquatus). Os tucanos Ramphastos toco e Ramphastos dicolorus são potenciais predadores de ovos. O gavião-pato também é destacado por Partridge (1956) como um dos mais perigosos inimigos de M. octosetaceus na Argentina. Bartmann (1988) presume que a lontra (Lontra longicaudis), além do gavião-pato, pode ser predadora de jovens patos-mergulhões. Os ovos podem também ser atacados por cobras e lagartos. Por sorte, os ovos abandonados estavam intactos quando obteve-se a licença para sua coleta, tendo sido possível levá-los à Universidade Federal de Minas Gerais para submetê-los a técnicas de extração de DNA e conservação da casca. No dia 30 de julho de 2002, os ovos foram examinados em ovoscópio pelo Professor Germán Mahecha e separados de acordo com o grau de decomposição do material interno. O resultado desta análise é apresentada no Quadro 8. Três ovos, que pareciam conter embriões relativamente conservados (Fotos 11 e 12) foram destinados à coleta de material genético (Fotos 13 e 14). Os outro quatro, que apresentavam-se em estágio de decomposição mais avançado (Foto 15), passaram por procedimentos de conservação da casca para depósito em museu (Fotos 16 a 18), como exposto no item ‘Procedimentos’.

Quadro 8: Estado de decomposição e destino dado aos ovos de Mergus octosetaceus encontrados abandonados no ninho.

Ovos Estado de decomposição Destino

Ovo 1 Avançado conservação da casca

Ovo 2 Inicial, embrião visível extração de DNA

Ovo 3 Avançado conservação da casca

Ovo 4 Aparentemente avançado conservação da casca

Ovo 5 Avançado conservação da casca

Ovo 6 Inicial, embrião visível extração de DNA

Ovo 7 Inicial, embrião visível extração de DNA

Page 27: Pato Mergulhao Pnsc

23

Supondo que o tempo de incubação dos ovos de M. octosetaceus seja de cerca de 28 a 30 dias, os embriões pareciam estar com cerca de 8 dias de desenvolvimento quando foram abandonados (Germán Mahecha 2002, comunicação pessoal). O material genético coletado, proveniente de três indivíduos irmãos, não é suficiente para análises de variabilidade genética da população, mas poderá no futuro, juntando com DNA de outros indivíduos, fornecer importantes informações sobre a espécie. No momento, é possível o desenvolvimento de estudos comparativos com outras espécies. O material está depositado no Laboratório de Biodiversidade e Evolução Molecular, do Departamento de Biologia Geral da UFMG, coordenado pelo Professor Fabrício R. Santos, com os seguintes números de identificação: Ovo 2 – B0478; Ovo 6 – B0479; Ovo 7 – B0480. Até onde se tem conhecimento, os ovos serão os primeiros da espécie a serem incorporados a coleções de referência. Propõem-se o encaminhamento desses ovos ao Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. Ameaças Além de ser uma espécie naturalmente rara, populações de Mergus octosetaceus sofrem pressões diversas que contribuem para seu decréscimo. Na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, as principais ameaças detectadas estão relacionadas à degradação e destruição dos hábitats preferenciais da espécie, principalmente fora do Chapadão da Canastra (área consolidada do Parque com cerca de 71.000ha), bem como à intensificação do ecoturismo em toda a região. Sendo uma espécie típica de cursos d’água com corredeiras e/ou cachoeiras entremeados por poços e remansos, a mudança do regime hidrológico dos rios, principalmente devido à implantação de usinas hidrelétricas que transformam longos trechos lóticos em reservatórios de águas lênticas, torna-se um fator de grande relevância na dinâmica populacional da espécie. As represas de Peixoto e Furnas inundaram quilômetros de cursos d’água eliminando hábitats que certamente abrigavam vários patos-mergulhões (Foto 19). No entanto, não se tem conhecimento da construção de novos empreendimentos hidrelétricos na região, e a mudança do regime hidrológico dos rios não parece ser, localmente, uma ameaça atual à espécie. Todas as atividades antrópicas que interferem na qualidade e integridade dos rios e suas margens são potencialmente impactantes para o Mergus octosetaceus. A destruição das matas ciliares, embora proibida por lei, é lamentavelmente uma prática ainda comum em muitas propriedades (Foto 20). Não raramente observaram-se, nas margens e até mesmo dentro do próprio rio, restos da vegetação retirada para limpeza dos pastos (Foto 21). A degradação das margens, com erosão e assoreamento dos cursos d’água surgem como conseqüência certa da interferência na vegetação marginal (Foto 22). A mata ciliar ajuda a resguardar o curso d’água das atividades antrópicas adjacentes, conferindo maior isolamento às famílias de patos-mergulhões. Nas fazendas onde há criação de gado e a mata ciliar persiste, é permitido ao gado avançar por dentro da mata para garantir o acesso à água (Foto 23). A presença de cerca impedindo o acesso do gado à mata ciliar ou à parte dela foi observada em raras ocasiões. Também foram

Page 28: Pato Mergulhao Pnsc

24

observadas cercas atravessando os cursos d’água (Foto 24). Embora tenham sido consideradas como possível forma de impacto, uma vez que os patos, muito comumente, voam rente à água, não foi possível verificar se elas são facilmente vistas e evitadas pelos animais. As atividades minerárias, basicamente a extração de blocos de quartzito e caulim, impactam diretamente os cursos d’água e, conseqüentemente, sua fauna associada. Muitas dessas minerações são clandestinas e não passam por nenhum tipo de controle ou fiscalização. Algumas nascentes e cabeceiras estão aparentemente comprometidas pela exploração direta. Além disso, as detonações freqüentes e a deposição de rejeitos nas encostas provocam outros graves impactos. Observou-se, próximo ao ponto 2, que cacos de pedras são acumulados até nas margens do ribeirão Quebra-Anzol (Foto 25). Sendo as pedreiras tão comuns, este fato deve repetir-se em outros rios da região. Esgotos domésticos e uso de pesticidas, nas pastagens e culturas, que são carreados para as drenagens constituem fontes de poluição permanente em algumas drenagens. As culturas, muitas vezes, avançam até próximo às margens; e os pastos comumente estendem-se até a calha do rio (Foto 26). As diversas estradas que cortam os cursos d’água também possuem potencial de modificação ambiental, principalmente por canalizarem sedimentos para os ambientes aquáticos. As atividades de turismo que ocorrem na área do Parque não parecem interferir significativamente no comportamento do pato-mergulhão, haja vista que um casal de Mergus octosetaceus vem se reproduzindo ao longo de muitos anos em um dos locais mais visitados (Silveira & Bartmann 2001, Bartmann 1988 e observações pessoais). No entanto, verifica-se um crescimento alarmante do turismo na região, tanto no Chapadão da Canastra, quanto em suas adjacências, no Chapadão da Babilônia e região de Delfinópolis. A intensificação das atividades turísticas, sempre procurando acesso aos rios e cachoeiras, seja para banhos, caminhadas, prática de ‘boiacross’ ou apenas para contemplação, pode vir a comprometer o comportamento biológico da espécie. Outro impacto que merece destaque especial é a presença de espécies exóticas de peixes na região. Nos reservatórios de Furnas e Peixoto foi introduzido, entre outras espécies alóctones, o tucunaré (Cichla sp.) que também é presença constante nos tanques de criação de peixes. Espécies desse gênero têm causado profundas modificações em ambientes onde foram introduzidas, com o agravante de não existirem processos eficazes para sua erradicação após o estabelecimento em uma determinada comunidade hospedeira (F. Vieira 2002, comunicação pessoal). Embora o tucunaré habite preferencialmente ambientes lênticos, não é raro encontrá-lo em trechos de rios. Sendo uma espécie essencialmente piscívora, seu estabelecimento pode alterar a dinâmica das comunidades aquáticas nativas. Peixes pequenos nativos constituem a base da alimentação de Mergus octosetaceus, e qualquer fator que interfira na abundância de sua principal fonte alimentar pode gerar consequências graves para a população dessa espécie. A caça não parece ser uma ameaça atual ao pato-mergulhão. Algumas informações sobre sua caça há algumas décadas passadas foram obtidas, mas sem comprovações. Certos moradores alegam que não é uma caça vantajosa, uma vez que se trata de um animal muito difícil de se aproximar e, ao mesmo tempo, pequeno e sem muita carne. No entanto, há que se considerar que o assunto ‘caça’ é evitado por todos e raramente encontra-se alguém disposto a fornecer informações confiáveis. É possível que, em tempos passados, quando era mais abundante, a espécie tenha sido alvo mais comum de caçadores, e que hoje esta seja uma atividade realmente rara.

Page 29: Pato Mergulhao Pnsc

25

Poucas foram as espécies de aves aquáticas registradas na área de estudo, que poderiam estar competindo com Mergus octosetaceus. Martins-pescadores foram as mais comumente observadas em vários cursos d’água. Marreca-ananaí (Amazonetta brasiliensis) no ribeirão da Babilônia e o mergulhão (Podilymbus podiceps) no rio São Francisco foram as únicas espécies registradas bem próximas (a poucos metros de distância) a casais de patos-mergulhões. Outras espécies foram observadas nos mesmos rios onde ocorre M. octosetaceus, embora não se tenha constatado nenhuma interação entre elas. No córrego da Joana registrou-se um biguatinga (Anhinga anhinga); no rio Santo Antônio (norte do Parque) e no ribeirão da Formiga foram detectados casais de pato-do-mato (Cairina moschata), sendo que o último encontrava-se com um filhote. O casal observado no rio Santo Antônio sobrevoou algumas vezes o trecho do rio onde estava sendo feito o play-back para atração do pato-mergulhão. Esse comportamento parece indicar que ele conhece a zoofonia de Mergus e que, de alguma forma, a presença de uma espécie pode provocar alterações no comportamento da outra. A lontra (Lontra longicaudis) também foi constatada em alguns rios onde ocorre o pato-mergulhão. Como os peixes fazem parte de sua dieta, ela poderia também competir pelos recursos alimentares de M. octosetaceus. Além disso, é importante avaliar se a lontra seria possível predadora de filhotes de pato-mergulhão. Ainda sobre predação, algumas suposições baseadas em observações pessoais de pesquisadores que trabalharam na região são apresentadas no item acima (‘Atividades Reprodutivas’). Durante o trabalho de campo no córrego Grande, a jusante da cachoeira do Cerradão, quando dois cães da fazenda acompanharam todo o trecho amostrado junto com os pesquisadores, percebeu-se que eles ficavam um pouco excitados quando ouviam a zoofonia do pato-mergulhão reproduzida para o play-back e não raramente entravam na água em sinal de alerta. Esse comportamento pode ser interpretado como sinal de possível interação agonística entre essas espécies. Também é relatado na literatura que o dourado (Salminus maxillosus), um dos mais vorazes peixes do alto Paraná, é um perigoso inimigo para filhotes pequenos de qualquer espécie de pato (Partridge 1956). No entanto, são necessários estudos voltados à verificação das interações interespecíficas, tanto de competição quanto de predação, e suas conseqüências para as populações de Mergus octosetaceus na região.

Page 30: Pato Mergulhao Pnsc

26

Propostas de Manejo e Conservação Com um ano de trabalho em campo, embora tenham sido feitos poucos contatos diretos com a espécie, é possível traçar algumas prioridades para manejo e conservação do pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra. A escassez de informações sobre a biologia e comportamento da espécie dificulta as tomadas de decisões quando estas requerem embasamento técnico. O levantamento de dados sobre reprodução, alimentação, área de uso, interações intra e interespecíficas, interferência das atividades turísticas sobre a população, entre outros parâmetros, deve ser incentivado nas várias localidade de ocorrência do pato-mergulhão. A região do Parque Nacional da Serra da Canastra é muito favorável ao desenvolvimento desses estudos e, por meio do presente trabalho, verificou-se que abriga uma população relativamente estável, que poderia trazer respostas concretas e aplicáveis às questões de conservação da espécie. Pesquisas que envolvem marcação dos indivíduos, preferencialmente com uso de rádio-transmissores, para confirmação da área de uso e deslocamentos são essenciais para definição precisa do tamanho e da dinâmica de sua população na região. Constatou-se que, tão importante quanto a necessidade de desenvolvimento de estudos biológicos sobre a espécie, é imprescindível a implantação de um programa de divulgação e conscientização ambiental para as populações locais. Muitos moradores não conhecem o pato-mergulhão, outros indicam a presença de alguma espécie semelhante, que poderia tratar-se de M. octosetaceus, mas não conseguem descrever detalhes fisionômicos ou comportamentais. A população de São Roque de Minas e de suas proximidades são mais cientes da ocorrência dessa espécie, muito provavelmente devido ao turismo de observadores de aves que vêem no pato-mergulhão um dos maiores atrativos do Parque e à eventual presença de pesquisadores procurando pela espécie. Foi muito comum, durante as conversas com moradores, a afirmação de que este é um ‘pato muito bravo, que não deixa chegar perto’. Vale destacar que os moradores referem-se à M. octosetaceus como ‘marreco’. Para eles, ‘pato’ diz respeito ao pato-doméstico e ao pato-do-mato (Cairina moschata). Assim, um programa de divulgação associado à conscientização comunitária, ressaltando a importância da espécie e mostrando que sua presença na região é uma rara riqueza e motivo de orgulho, poderia trazer o comprometimento de todos na busca e aplicação de ações benéficas à sua conservação. Tanto o desenvolvimento de pesquisas científicas quanto a implantação de projetos de educação ambiental devem ser conduzidos por profissionais qualificados. Ressalta-se que a conservação do pato-mergulhão depende necessariamente de medidas que envolvem a recuperação e preservação dos cursos d’água, suas nascentes e margens, incluindo as matas ciliares. Então, além dos benefícios voltados à conservação da própria espécie, o programa proposto estaria direcionado ao resgate de valores básicos e fundamentais de uso da terra e preservação ambiental. Em algumas regiões, como na área noroeste fora do Parque, evidencia-se maior consciência e comprometimento dos fazendeiros com a conservação dos recursos hídricos em comparação com outras regiões. São observados longos trechos de matas formando verdadeiros corredores. Como já mencionado anteriormente, no item ‘Ameaças’, as matas ciliares conferem um certo isolamento ao corpo d’água que parece favorecer a presença de M. octosetaceus.

Page 31: Pato Mergulhao Pnsc

27

As atividades minerárias, como também discutido anteriormente, constituem um impacto relevante para algumas drenagens. É de suma importância para a conservação dos recursos hídricos locais que se proceda a uma fiscalização permanente, coibindo as atividades clandestinas, e revogando licenças concedidas para exploração dessa natureza na área do Parque e em sua zona de amortecimento. Com relação à efetivação da área do Chapadão da Babilônia como Parque Nacional e considerando que a desapropriação da área se fará em etapas, recomenda-se a aquisição prioritária das seguintes áreas:

1. área de drenagem do ribeirão das Posses e do córrego Nogueira, entre o Chapadão da Canastra e o Chapadão da Babilônia.

2. cursos d’água, incluindo suas margens, na região da Fazenda Fundão. O rio, que desce a partir da Casa de Pedra, dentro do Parque, é chamado de Santo Antônio pelos moradores locais. Diferentes denominações são dadas à cachoeira presente a jusante do limite do Parque Nacional: cachoeira do Santo Antônio, cachoeira do Fundão ou cachoeira do Picolé.

3. área de drenagem do córrego Cachoeira, conhecido localmente como córrego Cachoeirinha.

Além dessas, outras áreas não incluídas no decreto de criação do Parque, deveriam ser consideradas para incorporação à unidade de conservação, por se tratarem de locais muito importantes para manutenção de grupos familiares de pato-mergulhão:

1. a parte baixa do ribeirão da Babilônia, até sua confluência com o ribeirão das Posses, cujo rio passa a ser denominado de Santo Antônio.

2. a região de confluência do córrego Cachoeira, córrego Alto da Serra e rio São Francisco, a jusante da Portaria 4 do Parque, bem como o curso do rio São Francisco e suas margens até as proximidades de São José do Barreiro.

Na impossibilidade de inclusão das áreas citadas acima nos limites do Parque, deveria-se incentivar a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), às quais poderiam atender as necessidades de conservação, mantendo hábitats favoráveis aos patos-mergulhões. O incentivo ao estabelecimento de RPPNs deve-se estender para toda a região, mesmo além dos limites da zona de amortecimento do Parque. As reservas privadas têm sido muito importantes na complementação e integração do sistema público de áreas protegidas no Brasil. Outras medidas imediatas que devem ser tomadas em favor da conservação de Mergus octosetaceus no Parque Nacional da Serra da Canastra podem ser citadas:

1. aplicação eficaz das regras que limitam os locais de visitação pública, com maior rigor na penalização aos infratores;

2. coibição completa do acesso de motos e veículos off road em locais fora das estradas abertas para circulação dos turistas, e imposição de penalizações severas ao descumprimento dessa medida;

3. limitação da área de acesso aos turistas na região da Casca D’Anta - parte alta - e no córrego Rolinhos, de forma a permitir uma área de escape aos patos-mergulhões, isto é, garantir a manutenção de grandes áreas onde não haveria nenhuma interferência humana;

4. implantação de um local de observação dos patos-mergulhões, para turistas e/ou observadores de aves, cujo território estende-se até a Casca D’Anta - parte alta. Devem ser utilizadas barracas camufladas próprias para esta atividade (‘blind’), onde

Page 32: Pato Mergulhao Pnsc

28

podem ser instalados painéis de interpretação ambiental sobre a espécie. Este tem sido o local mais comum de observação do Mergus no Parque por turistas e funcionários do Ibama. Entre julho e outubro/novembro é provável a visualização de filhotes junto com os pais;

5. proibição da introdução de espécies de peixes não nativas da região em qualquer corpo d’água, inclusive em açudes e tanques de pesque-pague;

6. incentivo à recuperação das margens dos rios e matas ciliares com espécies nativas nas propriedades privadas, enquanto não for implantado o ‘Programa de Divulgação e Conscientização Ambiental’ voltado à conservação do pato-mergulhão.

Page 33: Pato Mergulhao Pnsc

29

BIBLIOGRAFIA

Anjos, L., K.-L.Schuchmann & R. Berndt. 1997. Avifaunal composition, species richness, and status in the Tibagi river basin, Parana state, Southern Brazil. Ornitologia Neotropical 8: 145-173.

Antas, P.T.Z. 1996. The Brazilian Merganser (Mergus octosetaceus), the most threatened duck in South America. Game Wildfl. 13: 799-800.

Bartmann, W. 1995. The Brazilian Merganser (Mergus octosetaceus) – nearly extinct? Report 5. Congres Ornithologia Neotropical. Assunción, Paraguay.

Bartmann, W. 1988. New observations on the Brazilian Merganser. Wildfowl 39: 7-14.

Benstead, P.J., C.J.S. Jeffs & R.D. Hearn. 1998. Riparian bird densities along four tributaries of the rio Parana in north-eastern Argentina. Hornero 15(1): 68-71.

BirdLife International. 2000. Threatened birds of the world. Barcelona and Cambridge, UK: Lynx Edicions and BirdLife International.

Collar, N.J., L.P. Gonzaga, N. Krabbe, A. Madroño Nieto, L.G. Naranjo, T.A. Parker III & D.C. Wege. 1992. Threatened birds of the Americas. The ICBP/IUCN Red Data Book. 3.ed., part 2. Washington: Smithsonian Institution Press and International Council for Bird Preservation.

Gill, F.B. 1994. Ornithology. 2. ed. New York: W.H. Freeman and Company.

Hosmer, D.W. & S. Lemeshow. 1989. Applied logistic regression. New York: John Wiley & Sons.

Livezey, B.C. 1995. Phylogeny and evolutionary ecology of modern seaducks (Anatidae: Mergini). The Condor 97: 233-255.

Miller, J.B. 1996. Red-Breasted Merganser in an urban winter habitat. J. Field Ornithology 67(3): 477-483.

Mittermeier, R.A., P.R. Gil & C.G. Mittermeier. 1992. Megadiversity: earth’s biologically wealthiest nations. México: CEMEX.

Pacheco, J.F. & P.S.M. Fonseca. 1999. Evidência de ocorrência histórica do pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) no estado do Rio de Janeiro. Atualidades Ornitológicas 88 (mar/abr): 10.

Paraná. 1995. Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Lista vermelha de animais ameaçados de extinção no Estado do Paraná. Curitiba: SEMA/GTZ.

Partridge, W.H. 1956. Notes on the Brazilian Merganser in Argentina. The Auk 73(4): 473-488.

Pineschi, R.B. & C. Yamashita. 1999. Occurrence, census and conservation of the Brazilian Merganser (Mergus octosetaceus) in Brazil with notes about feeding behaviour and habitat preferences. Proc. Neotropical Waterfowl Symposium, VI Neotropical Ornithology Congress, 7 October 1999. Monterrey, Mexico.

Silveira, L.F. & W.D. Bartmann. 2001. Natural history and conservation of Brazilian merganser Mergus octosetaceus at Serra da Canastra National Park, Minas Gerais, Brazil. Bird Conservation International 11: 287-300.

Strahler, A.N. 1957. Quantitative analysis of watershed morphology. Trans. Am. Geophys. Union 38: 913-20.

Yamashita, C. & M.P. Valle. 1990. Ocorrência de duas aves raras no Brasil Central: Mergus octosetaceus e Tigrisoma fasciatum fasciatum. Ararajuba 1: 107-109.

Zar, J.H. 1984. Biostatistical analysis. Englewood Cliffs: Prentice-Hall.

Zhengjie, Z., X. Han, S. Zhang, J. Wu & Z. Piao. 1995. Breeding ecology of the Chinese Merganser in the Changbai Mountains, China. J. Field Ornithology 66(1): 54-59.

Page 34: Pato Mergulhao Pnsc

30

ANEXO I TABELAS

Foto: Carlos Eduardo Carvalho/TERRA BRASILIS

Page 35: Pato Mergulhao Pnsc

31

Tabela 1: Síntese dos resultados de ocorrência de Mergus octosetaceus nos cursos d’água amostrados durante as coletas de dados em campo.

DATA CURSO D’ÁGUA CONFIRMAÇÃO SOBRE OCORRÊNCIA DE MERGUS OCTOSETACEUS

20/08/2001 São Francisco (acima da Casca D’Anta)

Confirmado: 1 casal com dois filhotes pequenos (I.Lamas).

21/08/2001 Córrego Rolinhos (no Parque) Referência segura (M. Guimarães, L.F. Silveira).

22/08/2001 Córrego dos Cochos (Casa de Pedra) Confirmado: 2 indivíduos em setembro/2001 (D. Buzzetti e outros / AER).

23/08/2001 Rio do Peixe (entre Capão do Forro e São Roque)

Confirmado: 1 indivíduo (R. de Paula / AER).

24/08/2001 São Francisco (jusante Casca D’Anta) Confirmado: 1 casal com 6 filhotes grandes (I. Lamas).

23/09/2001 Córrego Grande (cachoeira Cerradão) Confirmado: 1 indivíduo (R. de Paula / AER). Referência segura: 1 casal (“João Branco”).

24/09/2001 Córrego Rolinhos (fora do Parque) Confirmado: 1 casal com 4 filhotes (Dante Buzzetti e outros / AER).

25/09/2001 Rio Santo Antônio (Norte) Não confirmado.

26/09/2001 Rio Samburá Não confirmado *.

27/09/2001 Córrego Faz. Fundão Confirmado: 1 casal (I.Lamas em 18/10/2001).

15/10/2001 Córrego Boa Vista Não confirmado.

16/10/2001 Rio Araguari Referências seguras*.

17/10/2001 Córrego da Parida Não confirmado*.

18/10/2001 Córrego da Joana Confirmado: 1 fêmea e 2 filhotes médios (I.Lamas).

12/11/2001 Ribeirão da Babilônia Confirmado: 1 casal (I.Lamas).

13/11/2001 Ribeirão do Engano Referência segura.

14/11/2001 Ribeirão Bom Jesus Referência segura (Sr. Agnaldo).

15/11/2001 Córrego Claro Não confirmado. Há possibilidades de abrigar a espécie, mas é muito visitado por turistas.

16/11/2001 Rio Santo Antônio (Sul) Confirmado: 1 indivíduo (R. Antonelli-Filho / AER) *.

06/12/2001 Ribeirão Grande Referência segura: 1 indivíduo (R. Murta).

07/12/2001 Córrego Fumal Confirmado: 4 indivíduos em novembro/2001 (L. Bedê / AER).

08/12/2001 Ribeirão da Capetinga Não confirmado.

09/12/2001 Córrego da Cabeceira Não confirmado.

10/12/2001 Ribeirão da Formiga Confirmado: 4 indivíduos (I.Lamas).

11/12/2001 Ribeirão das Bateias Não confirmado. Continua...

Page 36: Pato Mergulhao Pnsc

32

DATA CURSO D’ÁGUA CONFIRMAÇÃO SOBRE OCORRÊNCIA DE MERGUS OCTOSETACEUS

05/01/2002 Ribeirão do Turvo Não confirmado.

06/01/2002 Ribeirão Quebra Anzol Não confirmado *.

07/01/2002 Ribeirão Grota Feia Não confirmado.

08/01/2002 Córrego Rolinhos # Referência segura (M. Guimarães).

09/01/2002 Rio São Francisco (parte baixa) # Confirmado: 1 casal com 6 filhotes grandes observados em agosto de 2001 (I.Lamas).

10/01/2002 Rio São Francisco #

Confirmado: 1 casal sem os filhotes (I.Lamas). Esse casal havia sido visto com 2 filhotes pequenos em agosto e também em novembro (segundo informações de moradores locais).

11/01/2002 Córrego dos Cochos # Confirmado: 2 indivíduos vistos em setembro de 2001 (D. Buzzetti e outros / AER).

12/01/2002 Rio do Peixe # Confirmado: 1 indivíduo (R. de Paula / AER).

23/02/2002 Córrego da Picada Confirmado: 1 casal (I.Lamas).

24/02/2002 Ribeirão das Capivaras Não confirmado.

25/02/2002 Ribeirão da Prata Não confirmado *.

26/02/2002 Ribeirão Fumal (bacia do Turvo) Não confirmado.

27/02/2002 Rio São Francisco (nascente) Confirmado: 3 indivíduos (I. Lamas).

21/03/2002 Ribeirão das Lavras Não confirmado.

22/03/2002 Ribeirão das Posses (nascente) Não confirmado *.

23/03/2002 Córrego da Cachoeirinha Referência segura (funcionário da Mineração do Sul).

24/03/2002 Córrego das Pedras Não confirmado.

25/03/2002 Ribeirão da Usina Não confirmado.

20/04/2002 Ribeirão das Posses Não confirmado *.

21/04/2002 Córrego da Matinha Não confirmado *.

22/04/2002 Córrego dos Coelhos Não confirmado *.

23/04/2002 Córrego dos Pombos Não confirmado *.

25/04/2002 Córrego da Fazenda Não confirmado.

26/04/2002 Ribeirão dos Pinheiros Não confirmado *.

18/05/2002 Rio Araguari (baixo) Não confirmado.

19/05/2002 Rio Araguari (alto) Confirmado: 2 indivíduos em novembro/2001 (L. Bedê / AER).

26/06/2002 Córrego Quilombo Referência segura: casal em set/2001 (Jean P. Santos).

27/06/2002 Córrego Coelhos (alto) Referência segura (Wagner L. Moreira).

29/06/2002 Córrego da Matinha (alto) Confirmado: 1 casal, com a fêmea chocando em fenda na rocha (I.Lamas).

* Curso d’água onde considera-se altamente provável a ocorrência de Mergus octosetaceus, embora a espécie não tenha sido detectada.

# Áreas amostradas em agosto de 2001, quando os pontos de amostragem não puderam ser marcados devido a um defeito no GPS.

Page 37: Pato Mergulhao Pnsc

33

Tabela 2: Cursos d’água e pontos amostrados para confirmação da ocorrência de Mergus octosetaceus e para caracterização de hábitat. DATA CURSO D’ÁGUA PONTO LONGITUDE

(UTM) LATITUDE

(UTM)

20/08/2001* São Francisco 1 341067 7754880 São Francisco 2 341999 7755269 São Francisco 3 ? ?

21/08/2001* Córrego Rolinhos** 1 ? ? Córrego Rolinhos 2 338603 7766536

22/08/2001* Córrego da Casa de Pedra

1 ? ?

Córrego dos Cochos 2 ? ? Córrego da Casa de

Pedra 3 ? ?

23/08/2001* Rio do Peixe 1 356035 7760593 Rio do Peixe 2 ? ?

24/08/2001* Rio São Francisco 1 ? ? Rio São Francisco 2 ? ? Rio São Francisco 3 ? ?

23/09/2001 Córrego Grande 1 353598 7765492 Córrego Grande 2 354310 7765602 Córrego Grande 3 355111 7766629 Córrego Grande 4 356039 7766991 Córrego Grande 5 ? ?

24/09/2001 Córrego Rolinhos 1 337883 7771923 Córrego Rolinhos 2 338090 7771778 Córrego Rolinhos 3 338534 7772123 Córrego Rolinhos 4 337960 7770675

25/09/2001 Rio do Peixe 3 ? ? Rio Santo Antônio (N) 1 349101 7771500 Rio Santo Antônio (N) 2 348691 7771251 Rio Santo Antônio (N) 3 348072 7771885 Rio Santo Antônio (N) 4 347721 7772300 Rio Santo Antônio (N) 5 346857 7772340 Rio Santo Antônio (N) 6 345870 346857

26/09/2001 Rio Samburá 1 364241 7771087 Rio Samburá 2 363128 7771755 Rio Samburá 3 362596 7773435 Rio Samburá 4 360691 7776414 Rio Samburá 5 359905 7776826

27/09/2001 Córrego Faz. Fundão 1 332516 7768370 Córrego Faz. Fundão 2 332453 7769040 Córrego Faz. Fundão 3 331526 7769659

Continua...

Page 38: Pato Mergulhao Pnsc

34

DATA CURSO D’ÁGUA PONTO LONGITUDE (UTM)

LATITUDE (UTM)

15/10/2001 Córrego Boa Vista 1 316467 7775008 Córrego Boa Vista 2 316414 7775836 Córrego Boa Vista 3 315869 7776612

16/10/2001 Rio Araguari 1 315188 7784501 Rio Araguari 2 315923 7784571 Rio Araguari 3 316416 7784575 Rio Araguari 4 316833 7784177 Rio Araguari 5 317198 7783843

17/10/2001 Córrego da Parida 1 307465 7776799 Córrego da Parida 2 307893 7777192 Córrego da Parida 3 308327 7777680

Córrego da Joana 1 300519 7778360 Córrego da Joana 2 299900 7778296 Córrego da Joana 3 299474 7777550

18/10/2001 Córrego Faz. Fundão

19/10/2001 Córrego da Joana 4 299605 7779492 Córrego da Joana 5 300217 7779027

12/11/2001 Ribeirão da Babilônia 1 323873 7753033 Ribeirão da Babilônia 2 324549 7752649 Ribeirão da Babilônia 3 325168 7752336 Ribeirão da Babilônia 4 322925 7753242 Ribeirão da Babilônia 5 322211 7753749 Ribeirão da Babilônia 6 321670 7754046

13/11/2001 Ribeirão do Engano 1 291972 7766295 Ribeirão do Engano 2 292378 7766607 Ribeirão do Engano 3 291293 7766194

14/11/2001 Córrego Bom Jesus 1 298191 7762159 Córrego Bom Jesus 2 298461 7761877 Córrego Bom Jesus 3 298595 7761468 Córrego Bom Jesus 4 298096 7760891 Córrego Bom Jesus 5 297645 7760105

15/11/2001 Córrego Claro 1 311711 7749739 Córrego Claro 2 312111 7750024 Córrego Claro 3 312800 7749845

Córrego Claro 4 313358 7749750 Córrego Claro 5 313912 7749057 Córrego Claro 6 314790 7749450

16/11/2001 Rio Santo Antônio (S) 1 304278 7756547 Rio Santo Antônio (S) 2 304737 7757203 Rio Santo Antônio (S) 3 304974 7758057 Rio Santo Antônio (S) 4 305290 7758874 Rio Santo Antônio (S) 5 305799 7759621

Continua...

Page 39: Pato Mergulhao Pnsc

35

DATA CURSO D’ÁGUA PONTO LONGITUDE (UTM)

LATITUDE (UTM)

06/12/2001 Ribeirão Grande 1 346173 7734354 Ribeirão Grande 2 345592 7734861 Ribeirão Grande 3 344865 7734896 Ribeirão Grande 4 344462 7734691 Ribeirão Grande 5 343631 7734407

07/12/2001 Córrego Fumal 1 354963 7728837 Córrego Fumal 2 354848 7728080 Córrego Fumal 3 354753 7727249 Córrego Fumal 4 354101 7726658 Córrego Fumal 5 354323 7725791

08/12/2001 Ribeirão da Capetinga 1 345512 7725392 Ribeirão da Capetinga 2 346000 7725894 Ribeirão da Capetinga 3 346942 7726097 Ribeirão da Capetinga 4 347531 7726472

09/12/2001 Córrego da Cabeceira 1 349952 7734331 Córrego da Cabeceira 2 350123 7734697 Córrego da Cabeceira 3 350137 7734929 Córrego da Cabeceira 4 350780 7734985 Córrego da Cabeceira 5 351272 7735280 Córrego da Cabeceira 6 351760 7735684

10/12/2001 Ribeirão da Formiga 1 330992 7734638 Ribeirão da Formiga 2 331738 7734597 Ribeirão da Formiga 3 332258 7734863 Ribeirão da Formiga 4 332282 7734401 Ribeirão da Formiga 5 332587 7733871

11/12/2001 Ribeirão das Bateias 1 324442 7740523 Ribeirão das Bateias 2 324139 7740992 Ribeirão das Bateias 3 324095 7741620 Ribeirão das Bateias 4 323367 7741552 Ribeirão das Bateias 5 323304 7742137

05/01/2002 Ribeirão do Turvo 1 371980 7721162 Ribeirão do Turvo 2 372079 7720541 Ribeirão do Turvo 3 372125 7719951 Ribeirão do Turvo 4 371924 7719026 Ribeirão do Turvo 5 371871 7718218

06/01/2002 Ribeirão Quebra-Anzol 1 362108 7719163 Ribeirão Quebra-Anzol 2 361794 7719979 Ribeirão Quebra-Anzol 3 361262 7720505

07/01/2002 Ribeirão Grota Feia 1 381335 7721066 Ribeirão Grota Feia 2 381787 7721230 Ribeirão Grota Feia 3 382669 7721164 Ribeirão Grota Feia 4 383049 7720927 Ribeirão Grota Feia 5 383631 7720594

Continua...

Page 40: Pato Mergulhao Pnsc

36

DATA CURSO D’ÁGUA PONTO LONGITUDE (UTM)

LATITUDE (UTM)

08/01/2002 Córrego Rolinhos** 1 336966 7768930 Córrego Rolinhos 2 336956 7768209 Córrego Rolinhos 3 337298 7767588 Córrego Rolinhos 4 337789 7767112

09/01/2002 Rio São Francisco 1 341181 7753521 Rio São Francisco 2 340777 7752911 Rio São Francisco 3 341473 7752627 Rio São Francisco 4 342333 7752298 Rio São Francisco 5 342895 7751994

10/01/2002 Rio São Francisco 1 341156 7754889 Rio São Francisco 2 341973 7755257 Rio São Francisco 3 342106 7756032

11/01/2002 Córrego dos Cochos 1 332704 7766835 Córrego dos Cochos 2 332662 7766112 Córrego dos Cochos 3 332956 7765517 Córrego dos Cochos 4 333279 7764898 Córrego dos Cochos 5 333462 7764053

12/01/2002 Rio do Peixe 1 353168 7759928 Rio do Peixe 2 353929 7760147 Rio do Peixe 3 354810 7760095 Rio do Peixe 4 355509 7760066 Rio do Peixe 5 356068 7760583

23/02/2002 Córrego da Picada 1 363881 7732163 Córrego da Picada 2 363736 7731562 Córrego da Picada 3 363905 7730721

24/02/2002 Ribeirão das Capivaras 1 351999 7746486 Ribeirão das Capivaras 2 352309 7746966 Ribeirão das Capivaras 3 352444 7747549 Ribeirão das Capivaras 4 352705 7748202 Ribeirão das Capivaras 5 352785 7748874

25/02/2002 Ribeirão da Prata 1 354818 7736063 Ribeirão da Prata 2 355414 7736445 Ribeirão da Prata 3 355799 7737055 Ribeirão da Prata 4 356268 7737379

26/02/2002 Ribeirão do Fumal 1 372196 7726196 Ribeirão do Fumal 2 372629 7725634 Ribeirão do Fumal 3 373189 7725188

27/02/2002 São Francisco (nascente)

1 348849 7760779

São Francisco (nasc.) 2 347968 7761207 São Francisco (nasc.) 3 347190 7761234 São Francisco (nasc.) 4 346472 7760862 São Francisco (nasc.) 5 345587 7760702

Continua...

Page 41: Pato Mergulhao Pnsc

37

DATA CURSO D’ÁGUA PONTO LONGITUDE (UTM)

LATITUDE (UTM)

21/03/2002 Ribeirão das Lavras 1 350362 7753539 Ribeirão das Lavras 2 350741 7754102 Ribeirão das Lavras 3 351001 7754856 Ribeirão das Lavras 4 350244 7755217 Ribeirão das Lavras 5 349768 7755812

22/03/2002 Ribeirão das Posses 1 330101 7759302 Ribeirão das Posses 2 330916 7758775 Ribeirão das Posses 3 331673 7758199 Ribeirão das Posses 4 332281 7757660

23/03/2002 Córr. da Cachoeirinha 1 334803 7752189 Córr. da Cachoeirinha 2 339397 7751506 Córr. da Cachoeirinha 3 338844 7750791

24/03/2002 Córrego das Pedras 1 358346 7745012 Córrego das Pedras 2 357788 7744729 Córrego das Pedras 3 357409 7744139 Córrego das Pedras 4 356656 7743685 Córrego das Pedras 5 355989 7743012

25/03/2002 Ribeirão da Usina 1 355543 7758832 Ribeirão da Usina 2 354673 7758705 Ribeirão da Usina 3 353840 7758507

20/04/2002 Ribeirão das Posses 1 319951 7762799 Ribeirão das Posses 2 319510 7762632 Ribeirão das Posses 3 318852 7762701

21/04/2002 Córrego da Matinha 1 319623 7766189 Córrego da Matinha 2 319254 7765582 Córrego da Matinha 3 319004 7764910

22/04/2002 Córrego dos Coelhos 1 317536 7764361 Córrego dos Coelhos 2 317964 7763911 Córrego dos Coelhos 3 318420 7764009

23/04/2002 Córrego dos Pombos 1 320617 7764922 Córrego dos Pombos 2 319976 7764827 Córrego dos Pombos 3 319930 7764488 Córrego dos Pombos 4 319448 7764007

25/04/2002 Córrego da Fazenda 1 351008 7773570 Córrego da Fazenda 2 350969 7772930 Córrego da Fazenda 3 350840 7772417 Córrego da Fazenda 4 350608 7771863 Córrego da Fazenda 5 350509 7771313

26/04/2002 Ribeirão Pinheiros 1 338784 7775240 Ribeirão Pinheiros 2 338666 7775767 Ribeirão Pinheiros 3 338592 7776254 Ribeirão Pinheiros 4 338129 7776621 Ribeirão Pinheiros 5 337319 7776284

Continua...

Page 42: Pato Mergulhao Pnsc

38

DATA CURSO D’ÁGUA PONTO LONGITUDE

(UTM) LATITUDE

(UTM)

18/05/2002 Rio Araguari (baixo) 1 304432 7783654 Rio Araguari (baixo) 2 303548 7783613 Rio Araguari (baixo) 3 303414 7783857 Rio Araguari (baixo) 4 302887 7783595 Rio Araguari (baixo) 5 302174 7783745

19/05/2002 Rio Araguari (alto) 1 326170 7778211 Rio Araguari (alto) 2 326074 7777714 Rio Araguari (alto) 3 325672 7777116 Rio Araguari (alto) 4 325602 7776692 Rio Araguari (alto) 5 325427 7776026

26/06/2002 Córrego Quilombo 1 343447 7767588 Córrego Quilombo 2 344338 7767365 Córrego Quilombo 3 344971 7766562 Córrego Quilombo 4 345762 7766051

27/06/2002 Córrego Coelhos (alto) 1 308015 7768251 Córrego Coelhos (alto) 2 308946 7767827 Córrego Coelhos (alto) 3 309806 7767519

28/06/2002 Córrego Matinha (alto) 1 319622 7766452 Córrego Matinha (alto) 2 319543 7767443 Córrego Matinha (alto) 3 319367 7768136

? Coordenadas não definidas devido ao mal funcionamento do GPS. * Todos os cursos d’água amostrados em agosto de 2001 foram novamente

amostrados em janeiro de 2002. ** Córrego denominado como “Córrego da Mata” nas cartas topográficas do IBGE.

Page 43: Pato Mergulhao Pnsc

39

ANEXO II FOTOS

Foto: Carlos Eduardo Carvalho/TERRA BRASILIS

Page 44: Pato Mergulhao Pnsc

40

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

b) Rio São Francisco.

a) Córrego da Picada.

d) Ribeirão da Babilônia.

c) Córrego da Joana.

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Fotos 1 (a, b, c, d): Cursos d’água com ocorrência confirmada do pato-mergulhão (Mergus octosetaceus).

Page 45: Pato Mergulhao Pnsc

41

a) Rio Araguari.

b) Córrego Cachoeira.

c) Córrego Quilombo.

d) Córrego Rolinhos.

Foto 2 (a, b, c, d): Cursos d’água para os quais foram obtidas referências seguras da ocorrência do pato-mergulhão (Mergus octosetaceus), mas sem confirmação nos trabalhos

de campo.

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Page 46: Pato Mergulhao Pnsc

42

a) Ribeirão da Prata.

b) Rio Samburá.

c) Ribeirão Quebra-Anzol.

d) Ribeirão das Posses.

Foto 3 (a, b, c, d): Exemplos de cursos d’água com alta probabilidade de ocorrência do pato-mergulhão (Mergus octosetaceus), sem confirmação nos trabalhos de campo.

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Page 47: Pato Mergulhao Pnsc

43

Foto 4: Trecho degradado do córrego da Formiga, próximo ao local onde foram observados quatro patos-

mergulhões.

Foto 5: Fêmea de pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) chocando em cavidade de paredão rochoso.

Foto 6: Penugem colocada sobre os ovos pela fêmea quando esta saía do ninho.

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto: Jean P. Santos/ TERRA BRASILIS

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Page 48: Pato Mergulhao Pnsc

44

Foto 7: Paredão rochoso onde foi descoberto o ninho do pato-mergulhão (Mergus octosetaceus).

Foto 8: Um dos locais utilizados para alimentação pelo casal de pato-mergulhão que estava nidificando.

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Page 49: Pato Mergulhao Pnsc

45

Fotos 9 e 10: Ovos de pato-mergulhão encontrados no ninho abandonado pela fêmea.

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Page 50: Pato Mergulhao Pnsc

46

Foto 11: Um dos ovos com embrião relativamente conservado, do qual foi possível extração de material para preservação de DNA. A

foto foi tirada com o ovo no ovoscópio.

Foto: Alexandre Godinho/UFMG

Foto 12: Embrião de pato-mergulhão ainda conservado, utilizado para coleta de material genético.

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Page 51: Pato Mergulhao Pnsc

47

.

Fotos 13 e 14: Rodrigo Redondo e Gisele Dantas coletando material genético dos ovos de pato-mergulhão.

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Page 52: Pato Mergulhao Pnsc

48

Foto: Alexandre Godinho/UFMG

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto 15: Ovo de pato-mergulhão, visto através do ovoscópio, onde o embrião já encontrava-se em estágio avançado de decomposição.

Foto 16: Ovo de pato-mergulhão sendo perfurado para retirada de seu conteúdo, para conservação da casca.

Page 53: Pato Mergulhao Pnsc

49

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto 17: Conteúdo do ovo de pato-mergulhão sendo retirado para conservação da casca.

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto 18: Procedimentos de conservação da casca de ovo do pato-mergulhão sendo executados pelo professor Germán Mahecha.

Page 54: Pato Mergulhao Pnsc

50

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto 20: Trecho do rio Santo Antônio (no norte do Parque) desprovido de mata ciliar.

Foto 19: Represa de Peixoto.

Page 55: Pato Mergulhao Pnsc

51

Foto 21: Material de desmate de mata ciliar sendo jogado no ribeirão das Capivaras.

Foto 22: Margem erodida do córrego Cachoeira.

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Page 56: Pato Mergulhao Pnsc

52

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto 23: Gado em pasto avançando para a mata ciliar do ribeirão da Prata.

Foto 24: Cerca de arame farpado atravessando o rio Araguari.

Page 57: Pato Mergulhao Pnsc

53

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS

Foto 25: Aparas de quartzito sendo lançadas no leito do ribeirão Quebra-anzol.

Foto 26: Formação de pastagem estendendo-se até a calha do ribeirão da Capetinga.