Papel d’Angola - Orixá do ferro, das guerras e da capoeira. 11 - Deus yorubá cultuado através...

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13 8 1 Ô 2 A 9 10 3 Q U I M B U N D O 4 5 12 6 M 11 7 R Papel d’Angola Informativo do Centro Cultural de Capoeira Angola N’Zambi No começo já havia a tradição, que falava sobre algo antes do princípio, tão maior que só mesmo a fé poderia explicar. Ela falava também da história na África e no Brasil e que a capoeira era para homens. Claro que as mulheres sempre estiveram lá, e os tradicionais corridos e ladainhas falam delas, embora muitas vezes de forma negativa, afinal, a Capoeira Angola não poderia ser imune aos machismos recorrentes na nossa sociedade. Mas toda tradição é constantemente modificada e podemos escol- her quais tradições devem ser passadas adiante. Optamos, por exemplo, em acreditar que mulheres são tão boas capoeiristas quanto homens, e podem ser tão boas mestras quanto eles. No entanto, não nos surpreende que ao pensar num rabo-de-arraia, ponteira, rasteira, chapa, bênção, a inCORPOrAÇÃO destes mov- imentos se dê num corpo másculo, masculino. O imaginário não concebe com tanta facilidade as inovações, e não raro alguém se supreende de ver uma mulher jogar bonito. Novos tempos, agora elas entraram na roda. A opressão sobre o corpo feminino age de tal forma que muitas mulheres não praticavam a capoeira com receio de ficarem musculosas, e assim, menos femininas. A capoeira reage, e na roda o que vale é a capoeira bonita, e não o corpo bonito. Não existe um corpo ideal para ser angoleir@, gord@s e magr@s são bem-vind@s! Afinal, a capoeira é muito além de corporal: está no canto de um corrido, no toque do berim- bau, e, sobretudo, no respeito ao funda- Iê! Este é o primeiro número do Papel d’Angola, um jornal que surgiu da necessidade de propor práticas e reflexões a respeito do universo da capoeira. Esse é apenas um fragmento da visão sobre o vasto universo da capoeiragem. Estaremos nos muros e nas ruas, com este veículo de informação, produzido coletivamente pelo Centro Cultural de Capoeira Angola N`Zambi, núcleo do DF. Como as diversas manifestações afrobrasileiras, a Capoeira Angola pratica a oralidade como forma de transmissão de conheci- mentos e vivências. Este jornal busca somar a este esforço. Mas sabemos que os princípios e conhecimentos da capoeiragem são adquiridos no cotidiano de sua pratica, a capoeira só pode ser compreendida quando vivenciada.Esperamos com este Papel d’Angola difundir a riqueza da capoeira, e que ela seja arma individual e coletiva na construção de uma sociedade mais livre e justa. Iê! mento. Quanto ao corpo, cada um compreende o movimento da sua maneira, e a inteligência está em buscar o movimento ideal para que seu corpo seja o que ele é em essência. As diferenças entre homens e mulheres nos remete so- bretudo à cultura, que é o que dá origem ao conceito de gêne- ro. É o fato de as meninas serem criadas para serem mais recatadas, frágeis e sensíveis, enquanto aos meninos se dá a liberdade para trabalhar o corpo na rua sem muitas restrições. “Generalizando”, os homens possuem a força física e a agi- lidade, as mulheres, a flexibilidade, a mandiga e a malícia. A revolução que a capoeira faz na mulher é em manter a base firme, e nos homens, a revolução está em dançar, em se sen- sibilizar. Em ambos, um dos grandes desafios é trocar os pés pelas mãos e juntos formarem uma roda. Ninguém melhor para saber a dor de sofrer uma repressão do que aquel@s que a sofrem. No entanto, o que a capoeira ensina é a buscar outros caminhos, e não a responder com um golpe duro e seco com a mesma repressão que tan- to condenamos. Nosso desafio é conquistar espaço sem reproduzir a lógica machista e capitalista. A dor do parto, necessária para gerar novas vidas, é a evidência da força feminina. Com essa força buscamos novas respostas, e as buscamos em diálogo com tod@s, respeitan- do as diferenças de cada ser. Na roda (da capoeira e da vida) as máscaras e os estig- mas caem, tod@ capoeirista é verdadeir@. Capoeira Angola é pra homem, menin@ e mulher... 1 - Culto africano que mantém a tradição cultural do povo yorubá 2 - País de origem de vários povos que nos brindaram com a capoeira, samba de roda, etc. 3 - Língua banto 4 - Nome dado à Terra em língua yorubá 5 - Nome do instrumento que comanda a roda de capoeira 6 - Povo africano islamizado oriundo da Africa Ocidental, grandes feiticeiros e mágicos 7 - Famoso capoeirista na década de 40 em Salvador 8 - Primeira divindade a pisar na Terra e protetora do planeta na cultura yorubá 9 - Rebelião urbana de negros escravos e libertos na Bahia 10 - Orixá do ferro, das guerras e da capoeira 11 - Deus yorubá cultuado através da gameleira-branca 12 - Canto de abertura da roda de Capoeira Angola 13 - Nome dado ao Deus supremo na língua quimbundo Cruzadinha 1-nagô;2-Angola;4-Aiyê;5-gunga;6-mandinga; 7-Traíra;8-Odudwa;9-malês;10-Ogun;11-Irokô;12-ladainha;13 As informações deste impresso podem ser reproduzidas desde que para fins não comerciais, que citem a fonte e esta nota seja inclusa. Para mais infor- mações, sugestões e contato acesse: www.nzambiangola.org, ou envie um e-mail para [email protected].

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1 Ô 2 A

9 103 Q U I M B U N D O

4 5 12

6 M

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7 R

1 - Culto africano que mantém a tradição cultural do povo yorubá

2 - País que se originam vários povos que nos brindaram com a capoeira, samba de roda, etc.

3 - Língua banto

4 - Nome dado à Terra em língua yorubá

5 - Nome do instrumento que comanda a roda de capoeira

6 - Povo africano islamizado oriundo da Africa Ocidental, grandes feiticeiros e mágicos

7 - Famoso capoeirista na década de 40 em Salvador.

8 - Primeira divindade a pisar na Terra e protetora do planeta na cultura yorubá

9 - Rebelião urbana de negros escravos e libertos na Bahia.

10 - Orixá do ferro, das guerras e da capoeira.

11 - Deus yorubá cultuado através da gameleira-branca.

12 - Canto de abertura da roda de Capoeira Angola.

13 - Nome dado ao Deus supremo na língua quimbundo.

1-nagô;2-Angola;4-Aiyê;5-gunga;6-mandinga;7-Traíra;8-Odudwa;9-malês;10-Ogun;11-Irokô;12-ladainha;13-nZamb

Papel d’Angola Informativo do Centro

Cultural de Capoeira Angola N’Zambi

No começo já havia a tradição, que falava sobre algo antes do princípio, tão maior que só mesmo a fé poderia explicar. Ela falava também da história na África e no Brasil e que a capoeira era para homens. Claro que as mulheres sempre estiveram lá, e os tradicionais corridos e ladainhas falam delas, embora muitas vezes de forma negativa, afinal, a Capoeira Angola não poderia ser imune aos machismos recorrentes na nossa sociedade. Mas toda tradição é constantemente modificada e podemos escol-her quais tradições devem ser passadas adiante. Optamos, por exemplo, em acreditar que mulheres são tão boas capoeiristas quanto homens, e podem ser tão boas mestras quanto eles. No entanto, não nos surpreende que ao pensar num rabo-de-arraia, ponteira, rasteira, chapa, bênção, a inCORPOrAÇÃO destes mov-imentos se dê num corpo másculo, masculino. O imaginário não concebe com tanta facilidade as inovações, e não raro alguém se supreende de ver uma mulher jogar bonito. Novos tempos, agora elas entraram na roda. A opressão sobre o corpo feminino age de tal forma que muitas mulheres não praticavam a capoeira com receio de ficarem musculosas, e assim, menos femininas. A capoeira reage, e na roda o que vale é a capoeira bonita, e não o corpo bonito. Não existe um corpo ideal para ser angoleir@, gord@s e magr@s são bem-vind@s! Afinal, a capoeira é muito além de corporal: está no canto de um corrido, no toque do berim-bau, e, sobretudo, no respeito ao funda-

Iê! Este é o primeiro número do Papel d’Angola, um jornal que surgiu da necessidade de propor práticas e reflexões a respeito do universo da capoeira. Esse é apenas um fragmento da visão sobre o vasto universo da capoeiragem. Estaremos nos muros e nas ruas, com este veículo de informação, produzido coletivamente pelo Centro Cultural de Capoeira Angola N`Zambi, núcleo do DF. Como as diversas manifestações afrobrasileiras, a Capoeira Angola pratica a oralidade como forma de transmissão de conheci-mentos e vivências. Este jornal busca somar a este esforço. Mas sabemos que os princípios e conhecimentos da capoeiragem são adquiridos no cotidiano de sua pratica, a capoeira só pode ser compreendida quando vivenciada.Esperamos com este Papel d’Angola difundir a riqueza da capoeira, e que ela seja arma individual e coletiva na construção de uma sociedade mais livre e justa. Iê!

mento. Quanto ao corpo, cada um compreende o movimento da sua maneira, e a inteligência está em buscar o movimento ideal para que seu corpo seja o que ele é em essência. As diferenças entre homens e mulheres nos remete so-bretudo à cultura, que é o que dá origem ao conceito de gêne-ro. É o fato de as meninas serem criadas para serem mais recatadas, frágeis e sensíveis, enquanto aos meninos se dá a liberdade para trabalhar o corpo na rua sem muitas restrições. “Generalizando”, os homens possuem a força física e a agi-lidade, as mulheres, a flexibilidade, a mandiga e a malícia. A revolução que a capoeira faz na mulher é em manter a base firme, e nos homens, a revolução está em dançar, em se sen-sibilizar. Em ambos, um dos grandes desafios é trocar os pés pelas mãos e juntos formarem uma roda. Ninguém melhor para saber a dor de sofrer uma repressão do que aquel@s que a sofrem. No entanto, o que a capoeira

ensina é a buscar outros caminhos, e não a responder com um golpe duro e seco com a mesma repressão que tan-

to condenamos. Nosso desafio é conquistar espaço sem reproduzir a lógica machista e capitalista. A dor do parto, necessária para gerar novas vidas, é a evidência da força feminina. Com essa força buscamos novas respostas, e as

buscamos em diálogo com tod@s, respeitan-do as diferenças de cada ser. Na roda (da capoeira e da vida) as máscaras e os estig-mas caem, tod@ capoeirista é verdadeir@.

Capoeira Angola é pra homem, menin@ e mulher...

1 - Culto africano que mantém a tradição cultural do povo yorubá2 - País de origem de vários povos que nos brindaram com a capoeira, samba de roda, etc.3 - Língua banto4 - Nome dado à Terra em língua yorubá5 - Nome do instrumento que comanda a roda de capoeira6 - Povo africano islamizado oriundo da Africa Ocidental, grandes feiticeiros e mágicos7 - Famoso capoeirista na década de 40 em Salvador8 - Primeira divindade a pisar na Terra e protetora do planeta na cultura yorubá9 - Rebelião urbana de negros escravos e libertos na Bahia10 - Orixá do ferro, das guerras e da capoeira11 - Deus yorubá cultuado através da gameleira-branca12 - Canto de abertura da roda de Capoeira Angola13 - Nome dado ao Deus supremo na língua quimbundo

Cruzadinha

1-nagô;2-Angola;4-Aiyê;5-gunga;6-mandinga;7-Traíra;8-Odudwa;9-malês;10-Ogun;11-Irokô;12-ladainha;13

As informações deste impresso podem ser reproduzidas desde que para fins não comerciais, que citem a fonte e esta nota seja inclusa. Para mais infor-mações, sugestões e contato acesse: www.nzambiangola.org, ou envie um e-mail para [email protected].