OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR ... · contribuam na questão...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
SEXUALIDADE :
uma proposta de orientação para o 8º ano do ensino fundamental
Cleonice Aparecida Ribeiro1
Dr. Carlos Eduardo Fortes Gonzalez2
Resumo: Este artigo foi o resultado de uma pesquisa-ação do PDE, aplicada no Colégio Estadual
Padre Antonio Vieira no primeiro semestre de 2014. Foram abordadas atividades escritas, lúdicas e
palestras como recursos didático-pedagógicos no ensino dos conteúdos da disciplina de Ciências,
para alunos do 8º ano do ensino fundamental: doenças sexualmente transmissíveis, gravidez e
contracepção no ensino. Teve como principal objetivo a apropriação de informações acerca de
comportamentos preventivos, quanto às DST, gravidez na adolescência e o desenvolvimento de
habilidades para lidar com situações de risco. Verificou-se que após a implementação, as relações
nos grupos de alunos foram fortalecidas através da cooperação e mobilização, para realizar as
diversas atividades propostas, como levar o aluno a repensar suas atitudes e comportamentos com
relação as DST, gravidez e contracepção.
Palavras-chave: Doenças Sexualmente Transmissíveis, Gravidez, Adolescência.
1- INTRODUÇÃO
O presente artigo é a apresentação da Implementação do Projeto
Sexualidade: uma proposta de orientação para o 8º ano do ensino fundamental e
aborda o estudo das doenças sexualmente transmissíveis, gravidez na adolescência
e contracepção no ensino fundamental. Parte de uma proposta construída no
Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, da Secretaria de Estado da
Educação do Paraná, aplicada no Colégio Estadual Padre Antonio Vieira, em São
José dos Pinhais, com estudantes do 8º ano do ensino fundamental, durante o ano
letivo de 2014.
Nas escolas de Ensino Fundamental, há a necessidade de se trabalhar com a
prevenção da gravidez precoce, doenças sexualmente transmissíveis e AIDS com a
faixa etária destes alunos, devido aos problemas enfrentados pelos adolescentes.
Essas orientações através do professor podem contribuir para que os altos índices
1 Professora PDE 2013. Contato: [email protected] Professor orientador, vinculado à UTFPR. Contato: [email protected]
desses problemas diminuam, por ele se tratar de um dos formadores de identidade e
opinião. Com atividades assim, pode-se discutir os significados culturais impostos
pela mídia que estimulam as práticas sexuais, deixando claro para os adolescentes
as responsabilidades que os mesmos devem ter diante desse comportamento.
A adolescência é um tempo de mudanças, de decisões, um período
importante para entrar na vida adulta. Essa passagem pode ser preparada segundo
a história do indivíduo e o seu contexto sociocultural.
Mesmo tendo despertado para sua sexualidade, o adolescente ainda não tem
completa maturidade sexual e responsabilidade reprodutiva. Os seus
relacionamentos sexuais realizam- se mais para satisfazer seus impulsos, e quando
surgem as consequências indesejadas, a primeira opção é fugir do problema.
Diante disso, a escola como espaço social, deve abordar a educação sexual
como momentos de mudanças de comportamentos e atitudes. Portanto, é
fundamental que as aulas que abordam a prevenção da gravidez, as DST e a AIDS
contribuam na questão da informação e formação dos jovens, permitindo-se que
eles consolidem uma visão positiva da própria sexualidade, buscando identificar as
emoções, os medos e dúvidas sobre a afetividade, relacionamentos e sexo seguro,
ou seja, fazendo com que sejam capazes de tomar decisões maduras e
responsáveis.
Neste trabalho foi feita uma abordagem dos diversos assuntos relacionados à
Educação Sexual, buscando informações através de entrevistas, pesquisas,
depoimentos, palestras, teatro, vídeos e slides, atingindo assim, os objetivos
propostos e tornando o processo de ensino aprendizagem mais atrativo e cativante.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A sexualidade, diferentemente do sexo, é construída historicamente e
relaciona-se com os aspectos políticos, econômicos, éticos, étnicos e religiosos.
Atualmente fala-se mais abertamente sobre assuntos relacionados ao sexo, mas
ainda existem rígidos mecanismos de controle, repressão e muita ignorância sobre o
assunto.
Abordar esta questão no ambiente escolar tornou-se mais frequente do que
há alguns anos atrás. É de suma importância que o indivíduo obtenha informações
sobre seu corpo, sobre a sexualidade biológica e assim, possa não tomar decisões
inconsequentes em relação ao sexo.
Para Louro (1992) a sexualidade estar presente no indivíduo:
independe da intenção manifesta ou dos discursos explícitos, da existência
ou não de uma nos regimentos escolares. A sexualidade está na escola na
disciplina de “educação sexual”, da inclusão ou não desses porque ela faz
parte dos sujeitos, ela não é algo que possa ser desligado ou algo do qual
alguém possa se “despir” (LOURO, 1992, p. 53-67).
Sendo a escola um ambiente propício a relacionamentos, neça também se
ouve e reflete-se sobre diferentes opiniões e pontos de vista, levando à capacidade
de resolver problemas. Então, acaba ficando para a escola o grande desafio de
combinar ensino metodológico acadêmico com informações trazidas pela mídia e
pelos adolescentes. Lidar com o tema sexualidade na escola parece ainda ser uma
tarefa desafiadora, já que muitos jovens estão demonstrando menos rigidez moral e
social.
A sexualidade é um tema que faz parte das prioridades entre os jovens,
provocando debates, gerando polêmicas e muito interesse entre os mesmos. Porém,
informações equivocadas sobre o assunto sexualidade contribuem para a
vulnerabilidade dos adolescentes frente as doenças sexualmente transmissíveis e a
gravidez precoce. É na educação que podemos encontrar um caminho para orientar
e prevenir as doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez na adolescência.
Reconhecer a sexualidade como construção social, assemelha-se a dizer
que as práticas e desejos são construídos culturalmente, dependendo da
diversidade dos povos, concepções do mundo, e costumes existentes;
mesmo quando integrados em um só país, como ocorre no Brasil
(FIGUEIREDO apud ABRAMOVAY, 2004, p. 33).
A família e a escola são importantes na edificação e na essência da
sexualidade dos jovens, mas segundo Belentani (2002), há falhas em como o tema é
abordado por estas instituições. Na maioria das vezes, a escola pública tenta
“inserir” valores da classe média para adolescentes de classe social menos
favorecida, o que prejudica a comunicação entre educadores e adolescentes.
Quanto à reação dos pais diante da abordagem de temas como a sexualidade
e fatores que a envolvem, verifica-se que estes são, muitas vezes, contrários a
questão e mantêm posturas rígidas contra a exposição dos filhos a temas tidos, por
eles, como pervertidos.
A escola, diante deste projeto e de acordo com o PCN, pretendeu informar,
discutir e orientar sobre a reprodução, sexualidade, gravidez, DST e contracepção,
além de discutir tabus, preconceitos, crenças e atitudes que existem na sociedade.
Procurou, na medida do possível, uma isenção e imparcialidade necessárias a
qualquer assunto que é visto e tratado no coletivo. Abordou as repercussões das
mensagens transmitidas pela mídia, pela família e pela sociedade, que são
apresentadas, mas muitas vezes não discutidas com os adolescentes.
Como consta nos PCNs,“O trabalho de orientação sexual na escola é entendido como problematizar,
levantar questionamentos e ampliar o leque de conhecimentos e de opções
para que o aluno, ele próprio, escolha o seu caminho. A orientação sexual
não-diretiva aqui proposta será circunscrita ao âmbito pedagógico e coletivo,
não tendo, portanto, caráter de aconselhamento individual de tipo
psicoterapêutico. Isso quer dizer que as diferentes temáticas da sexualidade
devem ser trabalhadas dentro do limite da ação pedagógica, sem serem
invasivas da intimidade e do comportamento de cada aluno. Apenas os
alunos que demandem atenção e intervenção individuais devem ser
atendidos separadamente do grupo pelo professor ou orientador na escola
e, dentro desse âmbito, poderá ser discutido um possível encaminhamento
para atendimento especializado”. (1997, p.121).
A sexualidade envolve, além do nosso corpo, nossa história, nossos costumes,
nossas relações afetivas e nossa cultura, sendo construída desde o nascimento até
a morte (BRASIL, 2006).
Gandra et. al. (2002, p. 21) ainda argumentam que:
[...]os pais são os primeiros no ato de educar sexualmente seus, filhos,
apesar de não se darem conta desse papel. [...] É no ambiente familiar, que
a criança recebe com maior intensidade informações e estímulos,
permitindo a construção e a expressão sexualidade.
Segundo Freud (apud GRAVIDEZ, 2000), é normal para o adolescente se
comportar de maneira inconsciente e não previsível. Lutar contra seus impulsos e
aceitá-los, amar seus pais e odiá-los, ter vergonha de reconhecê-los perante outros
e querer conversarem com eles. Dessa forma aumentar a frequência de informações
nas escolas, por meio das aulas, é uma forma colaboradora, até que este assunto
seja incorporado definitivamente em nossa cultura, que se diz moderna, porém,
ainda é cheia de tabus e preconceitos.
O comportamento sexual do adolescente e a forma com a qual ele vai lidar com
tudo isso é resultado de fatores presentes na cultura e no ambiente que se vive, que
cada vez mais erotiza o relacionamento social. Desta forma pode-se entender
melhor o comportamento sexual do adolescente, muita vezes se comportando por
imitação e não pela modelação, o que resulta em consequências reforçadoras como
a gravidez na adolescência (LIRA; DIMENSTEIN, 2004).
A maioria dos adolescentes que iniciam a vida sexual precocemente e
engravidam, na maioria das vezes, tem o mesmo histórico dos pais, ou seja, o início
da atividade sexual está relacionado ao contexto familiar. A mudança de
comportamento, a liberdade idealizada, o hábito de encontros eventuais, a não
utilização de métodos contraceptivos – apesar destes serem distribuídos
gratuitamente pelos órgãos de saúde públicos – seja por desconhecimento ou por
tentativa de esconder dos pais a vida sexual ativa, fazem com que a cada dia a
atividade sexual entre os adolescentes, cresça e, consequentemente, haja um
aumento do número de gravidez e doenças sexualmente transmissíveis nesta faixa
etária.
Adolescência e gravidez, quando ocorrem juntas, podem acarretar sérias
consequências para todos os familiares, mas principalmente para os adolescentes
envolvidos, pois envolvem crises e conflitos. Geralmente, o que acontece nestes
casos, é que os jovens não estão preparados emocionalmente e financeiramente
para assumir tamanha responsabilidade, fazendo com que muitos adolescentes
saiam de casa, cometam abortos, deixem os estudos ou abandonem as crianças
sem saber o que fazer na tentativa de fugir da própria realidade.
Segundo Cabral (2003) um fator de risco de ser pai ou mãe na adolescência é
a imaturidade psíquica dos jovens pais, os quais se revelam pouco contingentes às
necessidades de desenvolvimento do bebê, bem como, para educar e criar uma
criança.
Diante de tantas informações, é necessário colocar em prática as orientações
recebidas, não importa se pela família, educador ou agente da saúde. Somente com
conscientização será possível ajustar o “exercer a sexualidade” de forma
responsável e saudável.
Segundo Paulo Freire, (1996, p.29): “Nas condições de verdadeira aprendizagem
os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e reconstrução
do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo”.
O Ministério da Saúde define a adolescência como uma fase importante para o
ser humano atingir a maturidade. A sexualidade, nesta fase, manifesta-se por meio
da busca da realização de desejos desconhecidos, de relacionamentos
interpessoais e das sensações corporais ocasionadas pela puberdade. Sendo
assim, o adolescente (do ponto de vista emocional, social e profissional) pode ser
considerado imaturo, pois encontra-se em num período de transformações, onde
busca autoafirmação e autoconhecimento.
Sexualidade não é uma “parte” ou um “complemento” da condição humana.
Não se trata de uma dimensão secundária, vinculada às habilidades e
potencialidades humanas. Ao contrário, entendemos que a sexualidade é
uma marca única do homem, uma característica somente desenvolvida na
condição cultural e histórica do homem (NUNES et al, 2000, p.73).
Segundo Abreu (1996) a sexualidade está presente em nossa cultura de
forma expansiva, e sujeita a limitações, onde a mulher se torna um objeto de desejo
sexual. Nesse contexto o sexo é transformado em mercadoria, que pode ser
consumido sem qualquer critério ético e moral. Mas por outro lado há um processo
conservador, onde o sexo é encarado como algo feio, sujo e pecaminoso e somente
utilizado em relações “estáveis” e entre heterossexuais.
Quando nos valorizamos, descartamos qualquer possibilidade ou atitude de
exposição da saúde física e psicológica. Nosso corpo deve ser entendido como a
parte física do sujeito que permite expressar seu sentimento e emoções segundo a
sua cultura. O corpo não deve ser usado como objeto, pois assim perderia seu
sentido de existência.
Falar em pudor não é impor regras ridículas e puramente circunstanciais
que variam segundo os costumes admitidos por uma ou outra forma de soci-
edade. Falar em pudor é simplesmente afirmar a grandeza e a dignidade do
corpo, é exigir que se reconheça seu status de elemento integral da pessoa
(CHARBONNEAU, 1987, p.21).
É importante desconstruir esse modelo onde, somente o ato sexual é
considerado como sexualidade, para contemplar com maior amplitude tudo o que se
relaciona ao tema abordado, atendendo as necessidades das diversas dimensões
deste processo de construção do conteúdo. Tanto a liberação sexual como a
repressão, não podem ser parâmetros para construirmos uma sociedade composta
por pessoas que se respeitam, se cuidam e possuam uma autoestima capaz de
enfrentar sua sexualidade de forma responsável e prazerosa.
Segundo Rocha (2006), os processos em desenvolvimento na pesquisa
intervenção produzem permanentemente a realidade na qual cada um de nós e os
diferentes grupos são um modo de expressão. O que importa realmente são as
ações desenvolvidas, as normas produzidas e as práticas construídas em uma
realidade coletiva.
Sabendo da importância que a “sexualidade” tem na vida do ser humano,
construída desde o nascimento até sua morte, faz se necessário abordar as
questões de forma clara e reflexiva, para uma possível construção de conhecimento
e posterior mudança de comportamento, para que o exercício da liberdade possa
acontecer com responsabilidade (BRASIL, 2000 A).
Tal qual a inteligência, a sexualidade será construída a partir de possibilidades
individuais e de sua interação com o meio e a cultura (BRASIL, 2000 B). Assim,
buscando orientar de forma natural e com seriedade, o ambiente escolar é o local
propício para debater assuntos relacionados à sexualidade, a fim de despertar nos
adolescentes a responsabilidade por suas escolhas sexuais bem como a prevenção
de gravidez precoce e as DST.
3. METODOLOGIA
O Projeto de Intervenção foi uma das atividades realizadas durante o
Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, sendo que a intervenção didática
ocorreu no município de São José dos Pinhais, Estado do Paraná, no Colégio
Estadual Padre Antonio Vieira Ensino Fundamental e Médio, junto aos alunos do 8º
ano C, totalizando 35 envolvidos no período matutino, entre 13 a 16 anos. O tema
desenvolvido foi Sexualidade: uma proposta de orientação para o 8º Ano do Ensino
Fundamental, envolvendo o conteúdo “Sistema Reprodutor”.
A orientação sexual oferecida em sala de aula abordou questões transmitidas
pela mídia, pela família e pela sociedade. Propiciou informações atualizadas do
ponto de vista científico e discutiu os diversos valores associados à sexualidade e
aos comportamentos sexuais existentes na sociedade.
O estudo de cada temática proposta iniciou-se com uma investigação sobre o
conhecimento dos educandos. As atividades foram realizadas oralmente com
perguntas ou de forma escrita. Em seguida, através de estratégias como vídeo e
cartazes, difundiu-se o conhecimento sobre DST, suas formas de contágio,
sintomas, profilaxia e sua prevenção, bem como os métodos contraceptivos.
As atividades foram desenvolvidas visando favorecer a autoconfiança, sendo
tanto formadoras como mobilizadoras dentro do processo ensino-aprendizagem,
promovendo a interação entre o sujeito com o objeto do conhecimento.
Visando promover transformações qualitativas do conteúdo foram utilizadas
atividades de sensibilização junto aos alunos, onde através do autoconhecimento,
foram desenvolvidos princípios que procuravam ajustar sentimentos relacionados à
sexualidade;
Durante a implementação do projeto que norteou esta pesquisa, foram
realizadas as seguintes atividades:
✔ Apresentação da proposta a Direção, Equipe Pedagógica e professores;
✔ Apresentação da proposta aos alunos da 8º Ano, turma C;
✔ Problematização através de leitura e discussão em grupos, de textos de
reflexão, sobre assuntos relacionados com a sexualidade;
✔ Aplicação de um questionário investigativo que permitiu definir qual o perfil
dos adolescentes envolvidos no projeto e as suas dúvidas referentes à
sexualidade;
✔ Atividade de levantamento bibliográfico sobre as DST, em forma de trabalhos
manuscritos e individuais;
✔ Perguntas e respostas básicas sobre doenças DST/ AIDS; Puberdade, órgãos
sexuais;
✔ Aula expositiva; para contextualização do tema;
✔ Atividade de levantamento bibliográfico sobre métodos anticoncepcionais;
✔ Trabalhos manuscritos em grupos e individuais;
✔ Confecção de cartazes em grupos com objetivo de prevenção das DST e
orientações sobre métodos contraceptivos;
✔ Palestras sobre sexualidade, com profissionais da Unidade de Saúde da
comunidade;
✔ Exposição dos cartazes à comunidade escolar;
✔ Aplicação de dinâmicas, proporcionando a reflexão na tomada de decisões
referente à gravidez na adolescência sem o devido planejamento;
✔ Debate sobre gravidez na adolescência, com atividades informativas como:
vídeos sobre adolescência, afetividade, sexualidade;
✔ Perguntas escritas sobre suas dúvidas, utilizando a “caixinha de dúvidas”,
sendo que nas aulas posteriores foi realizado um feedback, pois observou-se
que em muitas questões os mesmos não possuíam o conhecimento correto e
não tinham noção do funcionamento do seu próprio corpo;
✔ Atividades relacionadas à puberdade, havendo questionamentos referentes
ao assunto, como as transformações que acontecem no corpo da menina e
do menino, onde notou-se que poucos adolescentes são orientados pelos
pais sobre tais mudanças, apresentando muitas dúvidas e informações
distorcidas;
✔ Pesquisa sobre as doenças sexualmente transmissíveis e métodos
contraceptivos;
✔ Apresentação de seminário sobre os assuntos pesquisados.
✔ Finalizando a Implementação do Projeto, os alunos encenaram uma peça de
teatro, mostrando a importância da prevenção das DST e Aids, métodos
contraceptivos e gravidez na adolescência.
No primeiro semestre de 2014, nas atividades desta pesquisa, houve a
oportunidade de apresentar o Projeto e a Produção Didático Pedagógica aos
professores de ciências da Rede Estadual de Ensino, no Grupo de Trabalho em
Rede - GTR que faz parte das atividades previstas no projeto PDE, e tem como
objetivo a interação virtual entre os professores da Rede Pública Estadual,
possibilitando novas alternativas de formação continuada e reflexões sobre o tema
em estudo.
Durante as discussões, houve relatos de alguns professores, dizendo que
aplicaram algumas atividades propostas no trabalho, obtendo resultados positivos.
Os demais disseram que é de viável aplicação em suas escolas, tendo a
possibilidade do projeto fazer parte do currículo da escola. A participação dos
professores contribuiu muito para o aprimoramento deste trabalho, bem como suas
observações e sugestões, conforme podemos constatar nos excertos abaixo:
Professor 1: “Usaria com certeza o material, pois o trabalho é bem organizado,
claro e objetivo, como por exemplo, a atividade sobre DST, na unidade 4, onde se
utiliza uma folha de papel e as figuras geométricas, é uma prática simples que
expressa de forma interessante e diferente os riscos de contaminação.
Professor 2: “Lendo o material encontrei algumas semelhanças com o que eu já
faço em minha prática docente como a caixa de dúvidas (onde alunos depositam
suas dúvidas sem se identificarem); vídeos curtos sobre o assunto; algumas
atividades e a sequência de conteúdos”.
Professor 3: “Muito bom podermos utilizar o material no colégio, pois sabemos que
essa etapa da vida, gera muitas dúvidas e curiosidades e podemos aproveitar o
interesse sobre o assunto e frisar bem a prevenção seja das DST e gravidez e
também a questão da valorização do corpo, abordando o assunto presente nos
vídeos”.
De acordo com as concepções dos cursistas, o tema desenvolvido foi
considerado de extrema importância, pois trata-se da relação entre a saúde, à
sexualidade, à adolescência, à gravidez na adolescência e os métodos
contraceptivos. Desta forma, salientou-se o papel da escola, na formação de sujeitos
críticos e conscientes, onde o professor assume o papel de articulador das reflexões
e do conhecimento.
Em relação a Produção Didático-pedagógica, conclui-se que atendeu aos
objetivos que foram apresentados no Projeto de Intervenção Pedagógica, de forma
clara e objetiva, onde procurou-se esclarecer eventuais dúvidas sobre o tema
sexualidade como também adequar-se ao conteúdo, conscientizando o adolescente
sobre os meios de prevenção.
4. RESULTADOS
Sendo a escola um espaço social, ela deve abordar a educação sexual como
momentos de mudanças de comportamentos e atitudes. Portanto, nas aulas onde
foram abordadas a prevenção da gravidez, das DST e da AIDS percebeu-se que
estas contribuíram na questão da informação e formação dos alunos envolvidos,
propiciando que eles consolidassem uma visão positiva da própria sexualidade,
identificassem as emoções, medos e dúvidas sobre a afetividade, relacionamentos e
sexo seguro. Ou seja, observou-se em seus comentários que a partir dessas aulas
eles estavam capazes de tomar decisões maduras e responsáveis em relação a
própria sexualidade.
Concebendo a sexualidade como algo saudável e inerente à vida, este
projeto, contribuiu para a melhoria da qualidade de vida dos alunos e
consequentemente da escola como um todo, fortalecendo os vínculos entre
professores, alunos, equipes administrativa, pedagógica e direção.
Em cada unidade trabalhada durante a implementação do projeto que
originou este artigo, foram obtidos resultados significativos, organizados no quadro
explicativo apresentado na sequência.
Quadro 1: Demonstrativo dos resultados da Implementação do Projeto
AULA RESULTADOS OBTIDOSUNIDADE 1
Introdução à sexuali-dade
•Após apresentar a citação contida nos (PCN, 1997): “A sexualidade está presente desde o primeiro dia de vida até a morte, e em cada um desses momentos será manifestada de formas diferentes”.•Após a leitura do texto sobre Sexualidade, segundo a OMS, foram lançadas algumas questões com o objetivo de refletir sobre o tema.
Foi muito produtivo, pois os alunos puderam entender que sexualidade não se limita apenas no ato sexual, mas faz parte da vida de todos e deve ser encarada naturalmente.
UNIDADE 2Adolescência e as
transformações que ocorrem com o
corpo
Objetivo: reconhecer e discutir mudanças físicas e psicológicas na adolescência e também diferenciar identidade pessoal e coletiva e sua importância na vida em sociedade.
*Foi ressaltado que a adolescência é um período muito conturbado e que os adolescentes preferem a companhia de amigos e parentes. Porém, mostrou-se que é dele a responsabilidade para suas atitudes e às vezes é necessário colocar-se no lugar de seus pais. Foram lançadas as seguintes questões:•O que fazer para minimizar esses conflitos?•Por que nesse período o adolescente se torna extremamente vinculado a outras pessoas da mesma idade?As respostas foram bem parecidas, pois eles dizem sentir vergonha de perguntar algo relacionado à sexualidade, outras dizem não saber o que perguntar e relatam que os pais não conversam sobre o assunto, porém muitos reclamam da ausência dos pais, dizem que o problema de não conversar, se deve à ausência dos mesmos, pois não passam muito tempo juntos. A atividade foi válida, pois houve momentos em que os alunos falaram sobre suas dúvidas e suas frustrações, também puderam verificar que é uma fase e que as mudanças ocorrem com todos.O vídeo mostrando as mudanças que ocorrem com os adolescentes foi
muito interessante e o mesmos gostaram muito. Em seguida desenharam o corpo de uma menina e outro de um menino, indicando suas partes e suas funções.
UNIDADE 3Sistema reprodutor
humano
Objetivo: descrever a organização e o funcionamento do sistema reprodutor feminino e masculino, para que conhecessem os fundamentos da reprodução humana, e dessa forma exerçam a cidadania, permitindo maior controle sobre sua própria reprodução.
Foram realizadas atividades referente ao sistema reprodutor feminino e masculino, após realizarem pesquisas bibliográficas utilizando o livro didático, mostrando o funcionamento dos sistemas reprodutor masculino e feminino, os alunos confeccionaram cartazes com a intenção de mostrar as partes dos sistemas, bem como as suas funções. Nesta atividade onde foi solicitado que pesquisassem reportagens atuais sobre o tema virgindade, que montassem um mural e fizessem um debate sobre o tema em questão a mutilação feminina que ocorre em países da África e do Oriente Médio. O debate foi muito positivo, pois foi trazido à tona questões relacionadas à cultura, muitos acharam uma forma de violência, outros já entendiam que a questão está ligada à cultura de cada país.
UNIDADE 4Doenças
Sexualmente Transmissíveis
Objetivo: desenvolver ações de prevenção das doenças sexualmente transmissíveis que hoje são reais em nosso contexto escolar, alertando sobre os sintomas das DST e orientando quanto ao uso de camisinha como forma de prevenção.Aqui foram desenvolvidas uma pesquisa bibliográfica sobre as doenças sexualmente transmissíveis, em seguida foram confeccionados cartazes, na intenção de sensibilizar e mobilizar sobre a prevenção das DST e métodos contraceptivos, que depois foram expostos à comunidade escolar.Houve a participação de todos os alunos numa dinâmica, onde utilizou figuras geométricas com o objetivo de demonstrar a prevenção das DST e AIDS.Também foram utilizados textos para realizar atividades de fixação, e, em seguida foi projetado o filme Projeção do filme “O Tempo Não Para” que mostra a trajetória do cantor Cazuza. Esta unidade foi finalizada com um Seminário sobre DST e métodos contraceptivos.
UNIDADE 5Gravidez na
adolescência
O trabalho foi iniciado com a projeção do filme Gravidez na Adolescência, que mostra questões relacionadas à gravidez prematura. Além de apresentar a iniciação sexual precoce, gravidez na adolescência, depoimentos de mães adolescentes e as consequências e uma campanha com a adolescente MC Perlla. A atividade teve como objetivo mostrar a importância da prevenção da gravidez na adolescência e os problemas causados pela falta de maturidade e planejamento.Outra atividade realizada foi palestras com profissionais da saúde, visando um maior esclarecimento aos alunos sobre a questão das doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez precoce. A “caixinha de dúvidas”, foi uma das atividades utilizada para a aplicação do trabalho. Utilizando questões formuladas pelos alunos, sobre o conteúdo que eventualmente ainda houvessem dúvidas sobre os assuntos sexualidade, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez precoce, foi finalizado com as respostas às questões e debate sobre o assunto, com a participação dos alunos.
Fonte: dados da pesquisadora
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização das atividades foi de grande importância, pois os alunos envolvidos
sanaram suas dúvidas em relação ao tema e mostraram- se interessados e consci-
entes da importância da temática. Dessa forma terão consciência quanto as conse-
quências que podem sofrer de acordo com as suas escolhas.
O trabalho foi dinâmico e expressivo, favorecendo a reflexão de maneira descon-
traída, com participação expressiva dos alunos e envolvimento da maioria nas dis-
cussões e debates. Nas atividades este envolvimento também foi expressivo, pois
os alunos apresentaram sugestões e colocaram os seus pontos de vista, com possi-
bilidades de tirar dúvidas ainda existentes.
Contudo, a Educação Sexual, dada a complexidade do tema e as celeumas soci-
ais que envolve, em função da histórica repressão cultural (principalmente de ordem
religiosa) ainda necessita de muito trabalho. Em âmbito escolar, isso se dará pela
abordagem do assunto de modo interdisciplinar, fomentando-se assim a transversali-
dade aludida pelas PCN que aventam a este assunto transdisciplinar. Isto é afirmado
porque percebeu-se, através das intervenções procedidas, a renitência de muitos
discentes em relação à abordagem dos temas sobre a sexualidade, muitas vezes
por vergonha de se expor sobre o assunto.
Da mesma forma, há a necessidade de formação continuada para os docentes,
pois em relação à Educação Sexual, talvez devido à repressão sofrida pela geração
anterior, demonstra que em suas práticas pedagógicas existe uma visão pautada em
crenças, valores e preconceitos, procedente de suas trajetórias singulares, inscritas
em contextos culturais e históricos determinados, como comenta Beiras et al. (2005).
Neste sentido, buscamos trabalhar os valores, crenças e preconceitos, de acordo
com o que consta nos Parâmetros Curriculares Nacionais:
[...]é necessário que o professor possa reconhecer os valores que regem
seus próprios comportamentos e orientam sua visão de mundo, assim como
reconhecer a legitimidade de valores e comportamentos diversos do seus.
Sua postura deve ser pluralista e democrática, o que cria condições mais
favoráveis para o esclarecimento e a informação sem a imposição de
valores particulares. (Brasil, 1998, p. 153).
Analisando o trabalho, ficou evidente a necessidade de trabalhar com métodos
de ensino que contemplem o sujeito de forma mais plena, a partir de seu contexto,
valores e de sua história, para que o conteúdo esteja mais próximo da sua realidade,
assim havendo uma maior identificação entre os mesmos.
Por fim, observa-se que compete à educação contribuir para criar uma visão
positiva à respeito da sexualidade, buscando dessa forma, ampliar a consciência
das responsabilidades no que diz respeito ao seu corpo e emoção como fonte de
prazer e realização, mostrando a importância do sexo seguro e de planos e projetos
saudáveis de vida. Promover a orientação sexual no ambiente escolar, gera a
oportunidade ao educando de rever seus valores pessoais e sociais, bem como
partilhar suas angústias e sentimentos.
REFERÊNCIAS
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