o noVo Partido cheGa à Galiza As interrogantes do Podemos galego · 2015. 4. 1. · montagem...

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número 145 15 de FeVereiro a 15 de março de 2015 2 € periódico galego de informaçom crítica o mito do miniFúndio 9 A pequena agricultura familiar foi atacada durante décadas como causa de atraso. Com O pequeno é grande, Xoan Carlos Carreira e Emilio Carral revisam esse mito e formulam umha revalorizaçom do minifúndio galego. as contas de corcoesto 11 A mineraçom continua a ser umha ameaça para Bergantinhos. Ante as crí- ticas, as empresas do setor nom cesam de repetir o mesmo argumento: os no- vos postos de trabalho. O economista Xabier Villares desmonta esta falácia. N ovas da G ali a “A promoçom acrítica de qualquer produto ‘em galego’ neutraliza a discrepáncia” isAAC lOuridO investigador e crítico, autor de ‘livros que nom lê ninguém’ pág. 22 e 23 oPiniom em defesA dA AssembleiA por Joám evans / 3 A CAixA de pAndOrA por teresa moure / 3 venHAm merdeirAs! venHAm merdeirOs! por Aarón l. rivas / 28 sUPlemento central a reVista O pAtrOm dA sexuAlidAde pOpulAr De todo o santoral relacionado com o amor, o sexo e a produçom, o Santo António de Lisboa era o favorito da Galiza tradicional. ObservAtóriO dO AudiOvisuAl dA GAlizA A nefasta política audiovisual da Junta levou à criaçom deste organismo independente por parte de profissionais do sector. Afectadas pola Hepatite C acusam Junta de Galiza de obstruir deliberadamente o acesso aos seus fármacos. / PÁG.15 As interrogantes do Podemos galego o noVo Partido cheGa à Galiza Podemos acaba de escolher a sua direçom autonómica, mas as interrogantes sobre as suas pro- postas para Galiza estám ainda longe de se despejar. Os bons re- sultados que lhe auguram os in- quéritos obrigam a preguntar-se como o novo partido pode mu- dar o mapa político galego ou co- mo vai encarar a questom nacio- nal. Por agora, é difícil ter algum- ha resposta sobre seguro. O poli- tólogo Xaime Subiela e o jorna- lista Anxo Lugilde dam algum- has das chaves para entender o Podemos galego / PÁG. 16-17 Pôr o estado policial no foco mediático ‘ciUtat morta’ denUncia imPUnidade Fazer pública a verdade da montagem policial do 4 de fe- vereiro de 2006 em Barcelona, expor as torturas sofridas polas pessoas detidas, e denunciar a cumplicidade de poder judicial e político na manipulaçom de provas e o encobrimento dos crimes policiais. Esta é a natu- reza do documentário ‘Ciutat Morta’, cuja emissom pola tele- visom pública catalana véu provocar um debate que irrom- peu em todas as agendas me- diáticas e atingiu todos os es- tratos da sociedade. / PÁG. 12-14 26F: GreVe estUdantil Qual é o preço dumha vida? cara Um ensino elitista diriGido Polo emPresariado Umha nova greve convocada polo estudantado pom de relevo as consequências do novo modelo educativo do ministério de Educaçom. As medidas da Lomqe exponhem um sistema educativo baseado na segre- gaçom e o controle do dia-a-dia nos centros de ensino. Por outra banda, as empresas, às que o Estado consi- dera agentes sociais indispensáveis, irám ganhando poder mesmo em órgaos de decissom de instituiçons educativas, tal como estabelece a Estrategia Universi- dade 2015. Para além, um sistema de bolsas enfra- quecido denega ajudas mesmo por carecer de “recur- sos económicos suficientes” para estudar. / PÁG. 18-19 ENRIC CATALÀ LIGA ESTUDANTIL GALEGA

Transcript of o noVo Partido cheGa à Galiza As interrogantes do Podemos galego · 2015. 4. 1. · montagem...

  • número 145 15 de FeVereiro a 15 de março de 2015 2 €

    p e r i ó d i c o g a l e g o d e i n f o r m a ç o m c r í t i c a

    o mito do miniFúndio 9A pequena agricultura familiar foiatacada durante décadas como causade atraso. Com O pequeno é grande,Xoan Carlos Carreira e Emilio Carralrevisam esse mito e formulam umharevalorizaçom do minifúndio galego.

    as contas de corcoesto 11A mineraçom continua a ser umhaameaça para Bergantinhos. Ante as crí-ticas, as empresas do setor nom cesamde repetir o mesmo argumento: os no-vos postos de trabalho. O economistaXabier Villares desmonta esta falácia.

    Novas da Gali a

    “A promoçomacrítica dequalquer produto‘em galego’neutraliza adiscrepáncia”

    isAAC lOuridOinvestigador e crítico,autor de ‘livros que nomlê ninguém’pág. 22 e 23

    oPiniom

    em defesA dA AssembleiA por Joám evans / 3

    A CAixA de pAndOrA por teresa moure / 3

    venHAm merdeirAs! venHAm merdeirOs!por Aarón l. rivas / 28

    sUPlemento central a reVista

    O pAtrOm dA sexuAlidAde pOpulArDe todo o santoral relacionado com o amor, o sexo e a produçom,o Santo António de Lisboa era o favorito da Galiza tradicional.

    ObservAtóriO dO AudiOvisuAl dA GAlizAA nefasta política audiovisual da Junta levou à criaçom desteorganismo independente por parte de profissionais do sector.

    Afectadas pola Hepatite C acusam Junta de Galiza de obstruirdeliberadamente o acesso aos seus fármacos. / PÁG.15

    As interrogantes doPodemos galego

    o noVo Partido cheGa à Galiza

    Podemos acaba de escolher asua direçom autonómica, mas asinterrogantes sobre as suas pro-postas para Galiza estám aindalonge de se despejar. Os bons re-sultados que lhe auguram os in-quéritos obrigam a preguntar-secomo o novo partido pode mu-

    dar o mapa político galego ou co-mo vai encarar a questom nacio-nal. Por agora, é difícil ter algum-ha resposta sobre seguro. O poli-tólogo Xaime Subiela e o jorna-lista Anxo Lugilde dam algum-has das chaves para entender oPodemos galego / PÁG. 16-17

    Pôr o estado policialno foco mediático

    ‘ciUtat morta’ denUncia imPUnidade

    Fazer pública a verdade damontagem policial do 4 de fe-vereiro de 2006 em Barcelona,expor as torturas sofridas polaspessoas detidas, e denunciar acumplicidade de poder judiciale político na manipulaçom deprovas e o encobrimento dos

    crimes policiais. Esta é a natu-reza do documentário ‘CiutatMorta’, cuja emissom pola tele-visom pública catalana véuprovocar um debate que irrom-peu em todas as agendas me-diáticas e atingiu todos os es-tratos da sociedade. / PÁG. 12-14

    26F: GreVe estUdantil

    Qual é o preço dumha vida?

    cara Um ensino elitistadiriGido Polo emPresariado

    Umha nova greve convocada polo estudantado pomde relevo as consequências do novo modelo educativodo ministério de Educaçom. As medidas da Lomqeexponhem um sistema educativo baseado na segre-gaçom e o controle do dia-a-dia nos centros de ensino.Por outra banda, as empresas, às que o Estado consi-

    dera agentes sociais indispensáveis, irám ganhandopoder mesmo em órgaos de decissom de instituiçonseducativas, tal como estabelece a Estrategia Universi-dade 2015. Para além, um sistema de bolsas enfra-quecido denega ajudas mesmo por carecer de “recur-sos económicos suficientes” para estudar. / PÁG. 18-19

    ENRIC CATALÀ

    LIGA ESTUDANTIL GALEGA

  • 02 oPiniom Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

    Se tés algumha crítica a fazer, algum facto a denunciar, ou desejas transmitir-nos algumha in-quietaçom ou mesmo algumha opiniom sobre qualquer artigo aparecido no NGZ, este é o teulugar. As cartas enviadas deverám ser originais e nom poderám exceder as 30 linhas digitadasa computador. É imprescindível que os textos estejam assinados. Em caso contrário, NOVAS DA

    GALIZA reserva-se o direito de publicar estas colaboraçons, como também de resumi-las ou ex-tratá-las quando se considerar oportuno. Também poderám ser descartadas aquelas cartasque ostentarem algum género de desrespeito pessoal ou promoverem condutas antisociaisintoleráveis. Endereço: [email protected]

    o PeloUrinho do noVas

    em lUita contra a mineira Yanacocha

    Longe de ser unicamente umhacausa legal, o caso Máxima con-tra Yanacocha (filial da NewmontMining) está no centro de umproblema político que sacudiuCajamarca e o Peru nas últimasdécadas: a relaçom entre os gran-des investimentos mineiros e osdireitos das famílias e comunida-des camponesas que nom dese-jam o desenvolvimento de ativi-dades extrativas na sua contorna.

    Umha vez um mineiro dixo-lhea Máxima Acuña que se estava aolado da mina ia ter o céu, mas quese se punha em contra ia remataresmagada, tal como um elefanteesmaga umha formiga

    A sua casa fica frente à LagoaAzul, umha das lagoas que seráafetada polo Projeto MineiroConga e que forma parte da cabe-ceira de conca de Celendín: estalagoa é o coraçom de muitos riosque irrigam o campo onde milha-res de camponeses semeiam ecultivam a terra. E dessa terranasce o nosso alimento.

    Máxima vive ali, acima, onde

    nasce a água e o sol, entre chuvastorrenciais e brétema turbulenta,entre ambiciosos mineiros e cor-rompidos “agentes da lei”. Aquinasceu a sua coragem.

    Como umha mulher enfrentadaao poder de umha grande empre-

    sa converteu-se num símbolo pa-ra os cajamarquinos, e para todosos que luitam por defender omeio ambiente contra a barbárie.

    O 2011 foi para Máxima Acuñao ano do início de umha batalhadesigual contra a poderosa minei-

    ra Yanacocha, que tenta tomarcontrole dos seus terrenos, des-conhecendo, alega Acuña, o certi-ficado em que consta que ela ad-quiriu a propriedade à comunida-de de Sorocucho. Estas terras,nas quais ela vive e trabalha com

    a sua família desde 1994, somcontíguas à Lagoa. A história pré-via é que a empresa quixo com-prar e Máxima nom quixo vender.

    Máxima e a sua família fôromatacados por polícias em várias oca-sions, as mais graves em maio e emagosto de 2011. Houve queimas,desfeitas; operários introduzírommaquinaria nos seus terrenos, osseus filhos fôrom golpeados. Masela nom suportou em silêncio o abu-so, denunciou umha e outra vez.

    O passado 3 de Fevereiro de2015, o advogado de Máxima Acu-ña dixo à prensa que polo menos200 polícias entraram nas suas ter-ras em Tragadero Grande (Soro-chuco, Cajamarca) e derrubároma ampliaçom da casa desta, reali-zada para reforçar a estrutura davivenda contra as chuivas.

    Máxima Acuña é um símbolona luita contra os abusos da me-gamineraçom e na defesa da suaterra perante a barbárie destruti-va do colonialismo.

    Todas e todos somos MáximaAcuña!

    Conga nom vai!!!

    Plataforma pola defesa de Corcoesto e Bergantinhos

    Cada dia doze pessoas mor-rem por Hepatite C no Es-tado espanhol. O governo

    obstrue o reparto do fármaco ca-paz de curá-la valendo-se de um-ha listagem de critérios que de-vem cumprir as doentes. Basica-mente som dous: estar na fasequatro da doença -a terminal- e terpassado por um transplante.

    A Junta da Galiza tem competên-cia avondo para flexibilizar estesrequisitos e ampliar as doentes tra-tadas assumindo essa parte do fi-

    nanciamento, tal como fai o gover-no catalám. Por contra, o governogalego opta pola postura contrária.

    Nos últimos meses impediu queas doentes recebam com normali-dade o fármaco financiado polo Mi-nistério. Por um lado, extraviam-seas petiçons do medicamento e, poroutro, as pessoas que tenhem apro-vada a solicitude do fármaco nomo estám a receber. É mais, durantetrês meses, as galegas tivérom osrequisitos mais restritivos do Esta-do para acederem ao fármaco polo

    mero facto de que a SubcomissomGeral de Farmácia da Junta da Ga-liza nom actualizara ao seu devidotempo os critérios em vigor.

    A identidade desta Subcomis-som foi revelada este mês polaPlataforma de Afetadas pola He-patite C ressaltando os cargos po-líticos que há dentro dela. Som odiretor geral de assistência sanitá-ria do Sergas, Félix Rubial; a sub-diretora geral de farmácia, Caroli-na González; José Antonio Valcár-cel, Direçom Geral de Assistência

    Sanitária; chefe do Serviço Dixes-tico do CHUAC, Juan Turnes; mé-dica especializada em enfermida-des infecciosas, Ángeles Castro;o hepatólogo Santiago Tomé Mar-tínez; Ignacio Martín e FranciscoSuárez, serviço digestivo e o far-macéutico, Luis Margusino.

    Através desta engrenagem ad-ministrativa, o medicamento ape-nas se está dispensando e, portan-to, o financiamento público domesmo é quase nulo. Este descaropor parte dos governos -espanhol

    e galego- impede-nos chamar-lhesmortes ao que som assassinatos.

    E se agora matam as enfermaspola Hepatite C, quem seremos asseguintes? Os valores e as medidasneoliberais estám a se incrustar nosistema sanitário galego piorandonotavelmente a sua qualidade. Sóhá que lembrar a imagem dos hos-pitais a começos de ano: os corre-dores do andar de urgências colap-sados, as camas instaladas nos cor-redores, pessoas sentadas no chaoe umha lista de espera que supera-va as dez horas. O governo está apôr preço à nossa vida. Que quanti-dade de dinheiro pode ser capaz delegitimar a morte de umha pessoa?

    O governo que matava o seu povoeditorial

    hUmor rUth caramés

    D. LEGAL: C-1250-02 / As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico. Os artigos som de livre reproduçom respeitando a ortografia e citando procedência.

    editOrAA.C. minHO mediA

    COnselHO de redAçOmAarón lópez rivas, rubén melide, xavier miquel, raul rios, xoán r. sampedro, Olga romasanta, beti vázquez, Alonso vidal e Ana viqueira

    COOrdenAçOm: xoán r. sampedro

    seCçOnsCronologia: iván Cuevas / economia:raul rios / mar: Afonso dieste /

    media: xoán r. sampedro e Gustavo luca / Além minho: eduardo s. maragoto / povos:José Antom ‘muros’ / dito e feito: Olga ro-masanta / A denúncia: iván García / despor-tos: Anjo rua nova e xermán viluba / Consu-mir menos, viver melhor: xan duro / A Crian-ça natural: maria Álvares rei / Agenda: ireneCancelas / A revista: rubén melide / A Gali-za natural: João Aveledo língua nacional:isabel rei samartim / Criaçom: patricia Ja-neiro / Cinema: xurxo Chirro, iván GarcíaAmbruñeiras e Julio vilariño

    mAQuetAçOm: H. Carvalho, manuel pintor

    fOtOGrAfiAArquivo nGz, sole rei, Galiza independente(Gzi-foto), zélia Garcia, borja toja

    AdministrAçOm: Carlos barros Gonçales

    AudiOvisuAl: Galiza Contrainfo

    HumOr GrÁfiCOsuso sanmartin, pestinho, xosé lois Hermo,Gonzalo, ruth Caramés, pepe Carreiro, mincinho, beto

    feCHO de ediçOm: 19/02/2015

    COrreçOm linGÜÍstiCAxiam naia, f. Corredoira, vanessa vila verde, mário Herrero, Javier Garcia, iván velho, José dias Cadaveira, Albano Coelho

    COlAbOrAm neste nÚmerOruth Caramés, Joám evans pim, teresamoure, Carlos C. varela, xabier i. villares,ramón serra, maria Álvares, víctor serri,Celso Álvarez Cáccamo, Alberte lousada eÉire García Cid.

    Polas Filhas dos nossos Filhos

  • Os calendários da políticasão cíclicos, como os daagricultura. Em vez de

    primavera, verão, outono e inver-no, os nossos tempos convulsosincluem pré-campanhas, campa-nhas, eleições, valoração das táti-cas e volta começar. Talvez por is-so, porque sabemos do ritmo roti-neiro das agendas, a política pre-cisa ser resgatada desse panora-ma institucional que a sufoca.Chega a estação das eleições eninguém tem já capacidade parase surpreender. Políticos imputa-dos, veneráveis corruptos, escân-dalos de quem acaba de chegar: o

    circo abre as suas portas. Nos mi-tos gregos, Pandora era um per-sonagem feminino desenhado pa-ra seduzir e dotado, portanto, detodas as virtudes de uma boa can-didata: sabedoria, atrativo e capa-cidade de persuasão. Mas, comoera uma criatura presta a fascinar,como os deuses a conceberam pa-ra captar o interesse alheio... tam-bém colocaram nela a semente dacuriosidade. Quando Pandora te-ve nas mãos uma caixa com a in-dicação expressa de que não deviaser aberta, a curiosidade pôdecom ela. Tirou da tapa e viu comotodos os males se dispersavam pa-ra sempre pelo mundo. Assustada,Pandora fechou a caixa rapida-mente, de modo que ficou dentro

    apenas uma virtude que, sabe láporquê, também estava na caixa:a esperança. A humanidade jánunca poderia tê-la.

    O mito, para além doutras leitu-ras –como a inevitável conexãocom a Eva bíblica e a tendência adescarregar nas mulheres toda aresponsabilidade das decisões fu-nestas– pode aplicar-se à situaçãopolítica atual na Galiza: partidos,corpúsculos, círculos, grupos esubgrupos, desavidos, reviradas,dissidentes, restos do que antesfoi, marés e assembleias prepa-ram-se para batalhar. Haverá in-sultos, desqualificações e o riscode que candidatas e candidatos,seguramente tão magníficos co-mo Pandora, abram por acaso a

    tapa e deixem escapar o que de-viam ser apenas ilusões. As orga-nizações procuram algumas carasbrancas, não desgastadas, paracolocarem nos seus cartazes. Al-guns rostos assomam de novacom plataformas cívicas que nãoconcorrem, mas pretendem ani-mar o panorama. As mensagensbatem de maneira tão repetitivaque é difícil parar-se a entenderos matizes. Porém, a ferocidadedas ruas não olha para as eleições;tenta armar-se contra os despejosou ativar-se nos escrachos às gen-tes ilustres de escassa ética. A re-sistência cultural não concorre àsurnas: só tece redes. Os relatos denovas formas de vida que seadiantam ao esgotamento do pe-

    tróleo não se apresentam a elei-ções. A maioria dos ativismos nãoolham para as instituições. Comosão minoritários, como não estãobastante organizados, como nãoressoam nos meios de in-comuni-cação ficam fora de foco. Resguar-dados. Como a esperança.

    03oPiniomNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

    oPiniom

    Com a “estética assem-blear” do após 15 de maioe o discurso oco da “radi-

    calidade democrática”, a “assem-bleia aberta” relegou o mítin nagíria política, desnaturalizandoaberrantemente a noção de as-sembleia como espaço popularpara a decisão política, e procu-rando uma confusão interessadaentre autogoverno (que nos go-vernemos nós, e não os “políti-cos”) com o discurso de uma novacaste de partidos social-democra-tas embandeirados na miragemda “participação”.

    Cumpre lembrar que as organi-zações de políticos profissionaisna Galiza não só não deram nosúltimos trinta anos qualquer pas-so firme para criar uma estruturade autogoverno assemblear des-centralizado desenvolvendo aprecária previsão estatutária dereconhecimento da personalida-de jurídica da paróquia, mas tam-pouco o fizeram a partir do âmbi-to municipal onde existem vias,mesmo que igualmente limitadas.Não o fizeram porque mesmo asversões adulteradas do espaço dedecisão assemblear representamuma concretização do antagonis-mo entre autogoverno e represen-tação, entre política profissional esoberania real exercida direta-mente no dia-a-dia.

    Do mesmo jeito que devemosdiferenciar entre comida de ver-

    dade e substâncias comestíveiscom aparência de comida, comoexplica Pollan em Defense ofFood, é necessário diferenciar au-togoverno assemblear do McDo-nald's da “radicalidade democrá-tica” e “democracia real” em con-corrência por comercializar umamiragem de opções políticas sal-víficas, reduzíveis a diversas for-mulações da estatolatria bem-es-tarista de sempre.

    O seu parlamentarismo oferecesoluções “mágicas” com decisõesexecutivas pré-cozinhadas comos grupos de interesse, processa-das polos políticos profissionais econservadas no congelador até o

    momento certo, que vem determi-nado pelos inquéritos após aconstrução social da opinião, re-duzindo os comensais infantiliza-

    dos a fantoches devoradores depropaganda que reduzem a suanatureza “política” a votar cadaquatro anos ou a dar um “gosto”nalguma rede social.

    Ao contrário, o autogoverno as-semblear requer de uma cozinhalenta, que começa com o cuidadoe cultivo da terra e continua coma ajuda mútua na colheita, fomen-tando a responsabilidade, o cui-dado e os consensos que acabam,após os trabalhos acordados nojantar coletivo do albaroque.

    Haverá quem defenda que a de-mocracia “direta” pode limitar-se àrealização de referendos ocasio-nais e a organizar assembleias in-

    formativas para poder escolher doMacMenu num orçamento partici-pativo. Mas nada há mais desmo-bilizador do que a restrição da de-liberação assemblear plena. Quan-do à assembleia se lhe subtrai o seucaráter deliberativo (deliberar édiscutir e avaliar os diferentes pon-tos de vista para tomar uma deci-são), horizontal (todas as pessoaspodem participar em igualdade decondições e com a necessária in-formação) e decisório (as decisõeslevam a fazer ou não determinadasações) fica reduzida a uma carica-tura de si própria, útil apenas parasuster a miragem “democrática”da ditadura parlamentar.

    Em defesa da assembleiaJoám evans pim

    A caixa de Pandorateresa moure

    Quando à assembleia

    se lhe subtrai o seu

    caráter deliberativo,

    horizontal e decisório

    fica reduzida a uma

    caricatura de si própria

    A ferocidade dasruas não olha paraas eleições; tenta armar-se contra osdespejos ou ativar-senos escrachos às gentes ilustres de escassa ética

  • NGZ / As declaraçons dos agentesiniciárom o juízo de faltas por de-sobediência e resistência à autori-dade contra quatro ativistas que o19 de setembro procurárom impe-dir o despejo de umha família naparóquia compostelana de Arins.Segundo o atestado, Brais Gonzá-lez -ativista de STOP DespejosCompostela e mediador da famí-lia- saltou o cordom policial, foi in-terceptado por vários agentes aosque ele lhe dá cotovelaços e, por-tanto, é arrestado. Por contra, du-rante a vista oral do juízo -celebra-do este dezoito de fevereiro- osagentes policiais que participáromna operaçom oferecérom versonscontraditórias. Por exemplo, umagente assegurou que o seu chefelhe comunicou a Brais G. que de-via sair da zona de seguridade,mais o chefe assegurou nom ter-se referido ao acusado.

    Além disso, Sandra Tarrío, ad-vogada que exerce a defesa deBrais González, apresentou vá-rias gravaçons de meios de co-municaçom como prova para de-monstrar que o seu defendido es-tava dentro do cordom policial,polo que nom puido saltá-lo, enom amossou resistência quandoos agentes o reduzírom. A advo-

    gada entende que o atestado po-licial é falso e que a detençom doseu defendido foi incausada poloque se emitiu umha denúncia noJulgado Penal contra os agentesimplicados por falsidade docu-mental e detençom ilegal.

    Anxo Noceda, Rafa Peña e Is-mael Da Silva também estámacusados de saltar o cordom po-licial e lançar insultos concretoscontra os polícias. Por contra,nenhumha das testemunhas po-

    liciais puido relacionar nenhumdos insultos que aparecem noatestado policial com os acusa-dos. A Fiscalia solicita multas de80 euros para os que alegamnom terem ingressos e 120 € pa-ra o resto. Este pena, estipuladacomo mínima, é qualificada porSTOP Despejos como “umhaevidência de que nom tenhemprovas contra eles e querem sal-var a papeleta de todo o circoque montárom”.

    04 acontece Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

    aconteceCifras reconhecidas pola Junta assinalamum incremento de sinistros em setores co-mo a pesca ou a construçom. Do total de23.214 acidentes laborais, 59 resultáromem morte e a maioria estám relacionadoscom afundamento de barcos pesqueiros.

    63 acidentes laborais Por dia dUrante 2014

    Concentraçons no conjunto do Estadoexigem que Interior conceda asilo políti-co ao ativista Hassana Aalia, condenadoa cadeia perpétua por um tribunal militardo Marrocos por participar num protestonum acampamento do Saara Ocidental.

    esPanha neGa asilo ao saraUí hassana aalia

    10.01.2015 / Mais de cem pes-soas participam na décimo-quinta Marcha a Teixeiro.

    12.01.2015 / Audiência Nacionalespanhola considera provadoque dous avions da CIA comprisioneiros de Bagdade paraGuantánamo figérom escalaem Vigo.

    13.01.2015 / Emigrantes retorna-dos do Salnês manifestam-seem Vila Garcia contra as multasde fazenda.

    14.01.2015 / Conselharia do Maracorda paro biológico pola caí-da do molusco na ria da Arouça.

    15.01.2015 / Umhas oitocentaspessoas reclamam numha ma-nifestaçom que a cámara de Vi-go renuncie a colocar o barco'Bernardo Alfageme' na rotun-da de Coia.

    16.01.2015 / Anulado o despedi-mento de sete educadoras daArmada de Ferrol que se nega-ram a assinar a baixa volunta-

    ria para acolher-se a um novoconvénio, mais restritivo.

    17.01.2015 / Marcha às cadeiasorganizada por Que Voltem des-loca-se aos cárceres espanhóiscom presos independentistas.

    18.01.2015 / Comuneiros deFontenla (Ponte Areias) recla-mam-lhe a graniteira Gramol-que restaure os seus terrenos.

    19.01.2015 / Audiência Nacionalcita como acusados a Julio

    Fernández Gayoso e outrosquatro ex-diretivos da NovaCaixa Galicia polas indeniza-çons milionárias.

    20.01.2015 / CGT denuncia queRenfe deixa várias povoaçonsgalegas sem trens diretos aMadri e Barcelona sábados.

    21.01.2015 / Presidente da Soga-ma, Luis Lamas, demite trás co-nhecer-se que participou na ad-judicaçom dum contrato públi-co ao seu bufete de advogados.

    22.01.2015 / Trabalhadores daRede Galega de Quiosques fe-cham-se na sede da Cogamipara reclamarem o pago dassuas nóminas.

    23.01.2015 / Direçom da Povisaanuncia um ERE extintivo quevai afetar 56 trabalhadores.

    24.01.2015 / Dúzias de pessoasreclamam em Santiago a con-cessom de asilo a Hassana Aa-lia, saariano condenado porRabat a cadeia perpétua.

    cronoloGia

    As defesas dos denunciadosno despejo de Arinsdesmontam a versom policial

    o ministério Fiscal solicita a mUlta mínima

    NGZ / A Sala do Penal do TribunalSupremo considera que nom exis-tem provas suficientes para conde-nar Carlos Calvo por integraçomem banda armada, um delito quelhe impusera a Audiência Nacionalem maio de 2014. O falho do altotribunal estima parcialmente o re-curso, já que mantém umha penade 7 anos de prisom polo delito decolaboraçom com banda armadana sua modalidade de posse etransporte de explosivos.

    Carlos Calvo encontra-se em re-

    gime de isolamento penitenciáriodesde setembro do 2011 quandofoi detido em Vigo junto com Xur-xo Rodríguez. Este último pactuoucom a fiscalia a sua rebaixa de pe-na de 18 a 6 anos de cárcere tendode incriminar Carlos Calvo no juí-zo celebrado na Audiência Nacio-nal. O passado 18 de janeiro, Calvofoi trasladado à prisom de Estre-meda, no sul de Madrid, enquantoo penal de Topas -onde se achavadeslocado- permanece em obrasnos módulos de isolamento.

    O Tribunal Superiorrebaixa 5 anos a condenado preso independentistaCarlos Calvo Varela

    excUlPa-o de 'inteGraçom’

  • NGZ / Desde que a Syriza ga-nhou as eleiçons gregas de ja-neiro, a Grécia nom deixa de sernotícia. Nas últimas semanas aatençom mediática estivo cen-trada no pulso que mantém oEurogrupo com o país heleno,que se nega a pagar umha dívidaque considera abusiva. Mas hou-vo umha notícia que apesar dasua transcendência internacio-nal nom apareceu nos grandesmanchetes da imprensa conven-cional: Grécia anuncia que nomratificará o Tratado Transatlân-tico de Comércio e Investimen-

    tos (TTIP, polas suas siglas eminglês) que os governos de Esta-dos Unidos e a Uniom Europeialevam anos preparando.

    Quem fijo o anúncio nom foi na-da menos que o novo ministro ad-junto para Reformas Administrati-vas, Georgios Katrougkalos. E porse havia dúvidas, repetiu-no antese depois de ganhar as eleiçons.

    Antes dos comícios, o que da-quela ainda era deputado do Par-lamento Europeu declarava antea agência internacional EurActivque um governo de Syriza emGrécia jamais ratificaria esse

    acordo comercial entre os EUA ea UE. Segundo indica a citadaagência, Katrougkalos chegou aafirmar que a Grécia utilizaria asua capacidade de veto para de-ter o TTIP, o que seria suficientepara botá-lo por terra.

    Umha vez Syriza chegou ao go-verno, a mesma agência voltouacudir ao já ministro adjunto Ka-trougkalos para comprovar se apromessa seguia em pé. A respos-ta nom deixa lugar a ambigüida-des: “Podo assegurar-lhes que umParlamento onde a Syriza tem amaioria nunca ratificará o acor-

    do”. “Este é um grande presentenom apenas para o povo grego,mas para toda a cidadania euro-peia”, acrescentou.

    Se bem Syriza nom goça demaioria absoluta, os seus sócios degoverno do partido conservadorGregos Independentes tambémnom se mostram favoráveis aoTTIP. Outras forças como o comu-nista KKE poderiam contribuir aaumentar essa maioria parlamen-tar contra o tratado supranacional.

    Assim, a Grécia terá até duasoportunidades para rejeitar o tra-tado. A primeira, quando o docu-

    mento seja objeto de umha vota-çom anónima no Conselho Euro-peu, onde estám representados os28 estados-membro da UE. Nestarolda, os votos poderám ir encami-nhados à modificaçom do projetoou diretamente ao seu bloqueio.

    Caso de o TTIP superar esta fa-se, deverá ser aprovado por todosos parlamentos estatais da UE, oque supom umha nova oportuni-dade para vetar o tratado. Em am-bas roldas de votaçons, é suficien-te com que um só país vote contrao tratado para que este nom che-gue a ser aprovado.

    05aconteceNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

    Grécia nom ratificará a aprovaçom do TTIPnoVo ministro qUaliFica de “Presente” Para os eUroPeUs o Veto contra o acordo comercial eUa-Ue

    Educaçom incorreu numha ilegalidade ao despedir o pro-fessorado Celga. Já vários tribunais do social o sentencia-ram e agora voltou fazê -lo o Tribunal Superior de Justiçada Galiza ao desestimar um recurso da Junta. O conflitovem de 2013, quando Inspeçom de Trabalho denunciou ascondiçons das e dos docentes, sem contrato laboral.

    edUcaçom desPediU ileGalmente o ProFessorado celGa

    A cruz do Monte do Castro, principal símbolo fascista nacidade olívica, nom será derrubada. Assim o dispom asentença em que o Tribunal Superior de Justiça da Galizadá a razom ao alcalde, Abel Caballero, e considera que omonumento, inaugurado pelo próprio Franco em 1961,nom exalta o golpe de Estado nem a ditadura.

    cÁmara mUniciPal de ViGo mantém crUz FranqUista

    Georgios Katrougkalos é o novo ministro adjunto para Reformas Administrativas da Grécia

    26.01.2015 / Concentraçom frenteao Hospital Provincial de PonteVedra solidariza-se com JavierGuerrero Carvajal, preso ingres-sado trás manter greve de famedesde o 11 de dezembro.

    28.01.2015 / Stop Depejos Com-postela entrega mais de 200auto-inculpaçons pola protestade Arins.

    29.01.2015 / Corunha, Lugo, Fer-rol e Compostela, por debaixoda média estatal no relatório de

    Transparência InternacionalEspanha sobre o grau de trans-parência nas cámaras munici-pais.

    30.01.2015 / Comunicado da RAGalerta sobre o retrocesso do ga-lego e reclama a derrogaçom do“decreto do plurilingüismo”.

    31.01.2015 / Vizinhança de Vis-ta Alegre e Pinheiro apresentaalegaçom na casa do Conce-lho contra o traçado da varian-te de Padrom.

    01.02.2015 / Vizinhança de Leres(Ponte Vedra) corta a N-550 paraexigir maior segurança na via.

    02.02.2015 / PP e PSdeG acordamreduzir o número de perguntas einiciativas parlamentarias quepodem apresentar AGE e BNG.

    03.02.2015 / Renato Núñez, se-cretário de organizaçom daCIG Compostela, condenado apagar 1.700 euros polos protes-tos na tomada de possessomde Agustín Hernández.

    04.02.2015 / Juíz instrutor doacidente de Angrois apercebeRenfe por nom entregar docu-mentaçom que se lhe requereuhá oito meses.

    05.02.2015 / Marcial Dorado,condenado a seis anos e umdia de prisom por branquea-mento de dinheiro.

    06.02.2015 / Pessoal de Lante-ro chega a um acordo com acompanhia que supom zerodespedimentos e a readmis-

    som dos trabalhadores afeta-dos polo ERE.

    07.02.2015 / M.N.A, de 72 anos,falece em Noia atropelada poloreboque do seu trator.

    08.02.2015 / Vinte e cinco mil pes-soas manifestam-se em Com-postela em defesa do galego.

    09.02.2015 / Morre um operáriono cemitério de Sam Romám(Sam Tisso) enquanto realizavatrabalhos de roça.

    cronoloGia

  • 06 acontece Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

    Junta outorgou 1.675.000€ para a imprensa em espanhole 182.000€ para os meios integralmente em galego em2014. As cabeceiras que integram a Associaçom de Meiosem Galego, entre as que se encontra o NOVAS DA GALIzA,denunciam a injeçom milionária nos grandes grupos decomunicaçom em troca "de publicidade e propaganda".

    JUnta FaVorece meios de comUnicaçom em esPanhol

    A UVigo abriu um web escrito na íntegra em espanholpara difundir pensamento e obra de Castelao. Ante asqueixas recebidas, a instituiçom argumentou a exclu-som inicial da língua própria de Castelao "porque se tra-ta de um projeto a cargo do Ministério de Educaçom".Dias depois, o espaço estava disponível em galego.

    UniVersidade de ViGo PromoVe castelao em esPanhol

    “Investigámos, começámos a falar comgente e vimos que nos enganaram”

    JesUs dominGUez, Porta-Voz da ‘PlataForma de Vitimas alVia 04155’

    A. LOPES / Ano e meio depois datragédia de Angrois e enquan-to o procedimento judicialaberto está a absolver altoscargos da administraçom pú-blica, a Plataforma de VítimasAlvia 04155 decide dar umpasso e iniciar a realizaçomde um documentário que ex-ponha à luz pública toda a in-formaçom que estám a reco-lher nestes meses de ativida-de. A sua indignaçom e a suademanda de justiça estám abater com umha série de inte-resses que dificultam o escla-recimento das responsabili-dades políticas do acidenteferroviário que deixou umhas80 pessoas mortas. Assim,desde um primeiro momentoos dous grandes partidos es-tatais, PP e PSOE, impedíroma criaçom de umha comissomde investigaçom no Congres-so dos Deputados.

    Recentemente lançastes umcrowdfunding e conseguistes ofinanciamento necessário para aelaboraçom de um documentá-rio. O que foi que vos levou a to-mar esta iniciativa?O nosso acidente tivo muita reper-cussom ao princípio, mas depoisas pessoas vam esquecendo. Ade-mais quase sempre se procura umque fale das vítimas, da nossa dor...Nós o que queremos é verdade ejustiça, assim que começamos a fa-lar com expertos e engenheiros pa-ra intentar averiguar o que ocor-reu. A verdade oficial só se centrano maquinista de forma interessa-da. Nom tem lógica nem sentidocomum. Investigamos, começa-mos a falar com gente e vimos quenos enganaram. Vendérom-nos al-ta velocidade com alta tecnologia ecom frenado automático, publica-do a bombo e prato polos meios em2011, e todo era mentira. O únicoque era verdade era a velocidade.Isso gera-nos mais indignaçom epor isso queremos fazer um docu-

    mentário para que a gente saiba averdade e denunciar os responsá-veis políticos que nos enganárom.Em memória dos que nom estám epara que nom volte ocorrer. Sus-tentamos que além das responsa-bilidades penais, e nom esqueça-mos que a instruçom de um juízopode levar dez anos, há responsa-bilidades políticas, assim como naRenfe e na Adif.

    A que fai referência o título'Frankenstein-04155'?Assim chamam coloquialmentena Renfe ao modelo de Alvia 730.É umha modificaçom da série an-terior, à que lhe acrescentam dousfurgons diesel por diante e portrás. Estas mudanças figérom queo acidente fosse muito mais grave.Houvo descarrilamentos similaresdo modelo original com um oudous mortos. De aí o nome que in-ternamente a própria empresa lhedá a este redesenho mau.

    A vossa associaçom exige que sedepurem responsabilidades polí-ticas. Em quais momentos con-

    cretos considerais que o Estadocometeu irregularidades?O acidente poderia ter-se evitado.Várias decisons do governo ante-rior e do atual comprometérom aseguridade dos viajantes. Teria-seevitado se nom se mudasse o pro-jeto inicial em 2010, quando eraministro José Blanco, por interes-ses comerciais, tal e como di o au-to do juiz. Todo aponta a que apoupança no tempo de viagem eadiantar a inauguraçom fôrom as

    razons principais. Os peritos con-firmam que com o projeto inicialnom teria ocorrido o acidente.

    Tampouco teria sucedido se nomse desligasse o sistema de condu-çom automática ERTMS em junhode 2012, sendo já ministra Ana Pas-tor: Depois da mudança de projetode 2010, o ERTMS estava instaladoaté o km 80, com um custo de 164milhons de euros em dinheiro pú-blico. Umha vez mais, interessescomerciais figérom que a Adif e aRenfe desconetassem o ERTMSsem nenhumha avaliaçom de riscoe sem estabelecer medidas alterna-tivas. Os peritos confirmam que deter estado ativo o ERTMS, o aciden-te evitaria-se.

    Ademais, teria-se evitado se seatendesse a advertência de perigodo chefe de maquinistas de Ou-rense, a 26 de dezembro de 2011.Os altos cargos da Renfe e a ADIFque recebérom o aviso nom tomá-rom medidas para corrigir o risco.Também nos vendérom que essalinha era de alta velocidade, assifigura no BOE, nas notas de im-prensa dos atos de inauguraçom

    da linha e o comboio, onde nos di-gérom que contava com maior se-guridade, última tecnologia e sis-temas de conduçom automática.

    Logo, as vítimas vimos como ospossíveis responsáveis políticos,começando por José Blanco, mi-nistro de Fomento durante a cons-truçom da linha, Alberto NúñezFeijóo, que assistiu à inaugura-çom, o entom Secretário de Esta-do de Infraestruturas, Transportee Vivenda, Rafael Catalá – hojeministro de Justiça-, Ana Pastorou o presidente da Renfe nem de-mitírom nem assumírom que algose fijo mal. É mais, muitos delesfôrom premiados com ascensos epromoçons. Em qualquer outropaís demitiriam.

    A Audiência Provincial da Coru-nha nom está mantendo as impu-taçons a cargos da Adif. Comovalorades o desenvolvimento dainstruçom?Nom há colaboraçom com a justi-ça por parte do ministério de Fo-mento, da Adif e da Renfe, pésie àpromesa que nos fijo pessoalmen-

    “fomento, Adif e renfe nom

    estám a colaborarcom a justiça”

    “muitos possíveisresponsáveis fôrom

    premiados com ascensos e promoçons”

  • 07aconteceNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

    A plataforma cidadá que reclama os serviços para o Hos-pital de Lugo prometidos por Feijóo em 2011 e que se-guem pendentes convocou uma manifestaçom em massapara o 21 de maio, três dias antes das eleiçons munici-pais. Figérom no após a titular de Sanidade, Rocío Mos-quera, negar a atençom 24 horas para os enfartes.

    mobilizaçom reclamarÁ serViços Para o hosPital de lUGo

    Gas Natural Fenosa renunciou ao seu projeto de arma-zenamento de energia renovável no parque eólico deCabo Vilám, incluído na Rede Natura. A Junta já tinhaautorizado a tramitaçom sem solicitar nengum relatóriode impacto ambiental, mas tal iniciativa provocou a res-posta dos movimentos sociais e da oposiçom política.

    Pressom social Paralisa ProJeto da Fenosa no cabo VilÁm

    te a ministra Ana Pastor. Isto assi-nalou-no o juiz Aláez em váriasocasions, requerindo-lhes reitera-damente documentaçom quenom entregavam. Também, assis-timos à negativa a declarar dosimputados, numha clara estraté-gia por parte da Adif.

    A fiscalia o único que fijo somdous recursos contra a imputa-çom dos altos cargos da Adif, pe-se a que nos reunimos e lhe soli-citamos que investigasse algum-has questons.

    O nosso maior problema é anom independência da comissomde acidentes, da fiscalia e do po-der judicial. É importante salien-tar que o presidente da Audiênciaé eleito polo Conselho Geral doPoder Judicial e que o fiscal de-pende hierarquicamente do fiscalgeneral do Estado, ambos elegi-dos polo poder político.

    Viu-se-vos em mobilizaçons a péde rua, umha delas durante a en-trega das Medalhas de Galiza.Surpreendeu-vos o dispositivopolicial daquele dia?Encontrámo-nos com que umhaauténtica muralha de polícias, ar-mados com pistolas e porras, im-pediu-nos a entrada a pesar deque portávamos os certificados dedefunçom dos familiares faleci-dos ou os certificados do hospital.Todo em ordem. Ante a nossa sur-presa e indignaçom, os políciasdigérom-nos que cumpriam or-dens e que acudiria um responsá-vel nuns minutos para dar-nos ex-plicaçons. Ninguém viu, nom senos deu nenhumha explicaçom.

    E a dia de hoje, com que energiascontades e que linhas de atua-çom tendes previstas para o fu-turo próximo?Seguiremos a investigar com osnossos meios e denunciando to-das as irregularidades. Tambémestamos aguardando a respostapor parte do Parlamento Europeuperante as duas denúncias queapresentamos. Continuaremos aluitar pola verdade e a justiça.

    “O maior problemaé a nom indepen-

    dência da fiscalia edo poder judicial”

    NGZ / Visto para sentença. Assimficou o julgamento contra Santia-go Mendes, vizinho do Condadoe umha das doze pessoas acusa-das pola promotoria por ter con-testado a manifestaçom que o 8de fevereiro de 2009 foi convoca-da polo grupo Galicia Bilingüecontra o uso da nossa língua. A petiçom inicial de quatro anosde prisom tivo que ser reduzidadurante a vista oral pois, tal comotinha ocorrido durante o julga-mento das outras 11 pessoas acu-sadas, nenhum dos quatro teste-munhos policiais chamados a de-clarar foi quem de individualizarem Mendes a autoria de açonsque poderiam constituir delito.

    Assim, do escrito da acusa-çom foi retirado o delito de 'de-sordens públicas'. E é que ochefe da Unidad de Interven-ción Policial destinada aquele8 de fevereiro na Alameda deCompostela, de onde partia amarcha contra a língua, decla-rou a respeito do arguido que''nom sei nem se tem estado'' eacrescentou que ''nom sei oque fijo este senhor em concre-to''. Apesar disso, e sem seacompanhar de provas que as-sim o demonstrem, o políciaespanhol facilitou a sua opi-niom a respeito de que “haviaalgo de doutrina entre eles” eque os contra-manifestantes

    “eram um grupo organizado”.A existência de umha investi-

    gaçom prévia encaminhada paraa criminalizaçom do movimentoindependentista ficou novamentede manifesto, igual que tinhaacontecido também durante oanterior julgamento por estesfactos, realizado em setembro de2014 e ao que Santiago Mendesnom pudo ir, razom pola qual foideclarado em rebeldia. O inspe-tor policial encarregado dos rela-tórios sobre os confrontos de2009, quem declarou por video-conferência, assinalou que co-nhecia o arguido “previamente,como militante” e que “faz partede um dos coletivos que prepara-

    ram a manifestaçom”. Por sua vez, a defesa de Men-

    des solicitou a livre absolviçomargumentando que contra elenom existem provas e que duran-te as cargas policiais “apanharamo primeiro que encontraram”, emreferência às e aos participantesna marcha contra Galicia Bilin-güe. À espera da sentença, cabelembrar que no julgamento de se-tembro foram condenadas 6 das11 pessoas encausadas a um totalde 11 anos e 5 meses de privaçomde liberdade. Uma das penas, de4 anos e 3 meses de cárcere im-posta a Bernardo M., implicaria oseu rendimento em prisom. Asentença está recorrida.

    Julgam independentista por contestar em2009 um protesto de ‘Galicia Bilingüe’

    retiram acUsaçom de desordens Públicas mas mantenhem a de atentado

    NGZ / Na manhá de 8 de fevereiro milha-res de pessoas manifestárom-se porCompostela numha populosa marcha,somando-se à convocatória encabeçadapola plataforma Queremos Galego baixo

    o lema 'Polas filhas dos nossos filhos'. Amobilizaçom vissava denunciar as políti-cas da Junta conducentes à desapariçomda língua. O reintegracionismo fijo atode presença, com um bloco laranja dos

    centros sociais e umha comitiva daAGAL que reclamava "um new deal parao galego". Também um bloco lilás femi-nista se fijo visível numha marcha desta-cada por umha grande assistência.

    milhares tomam compostela pola língua

  • crónica GrÁFica

    08 acontece Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

    Mais um mês celebrárom-se em várias localidades concentraçons em solidariedade com os presos e as presas independentistas. Nesta ocasiom, a convocatória parabenizou ao Antom Santos, interno na cadeia de Dueñas, em Palencia, polo seu aniversário / CEIVAR

    Um forte dispositivo policial assegurou a instalaçom do barco 'Bernardo Alfageme' na rotunda de Coia, em Vigo. Resultárom feridas várias ativistas do movimento vicinalque está a denunciar o esbanjamento de dinheiro público do Concelho / GZ FOTO

    Pessoal dos hospitais de Vigo iniciárom mobilizaçons em defesa da sanidadepública, denunciando as intençons privatizadoras da Junta / GALIZA CIG

    Os merdeiros, figura do Entroido viguês recuperada polos movimentos sociais, voltárom sair à rua para brincar com a vizinhança / ICR PHOTOGRAPHER

    Trabalhadoras e trabalhadores das empresas Lantero e Cleanet, imersas em longos conflitoslaborais, levárom até o Parlamento Europeu as suas reivindicaçons / AGE EN EUROPA

  • 09aconteceNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

    aGro

    CARLOS C. VARELA / Conta-seque durante a carreira espa-cial os astronautas demora-ram muito em inventar umacaneta que funcionasse naausência de gravidade. Oscosmonautas, pola contra,utilizaram o tradicional lá-pis. Agora a vanguarda datecnologia agrária é a “agri-cultura de precisão” –queatravés de máquinas dirigi-das por GPS adapta as se-mentes, fertilizantes e trata-mentos às necessidades es-pecíficas de cada pequenazona das grandes culturas-.Xoán Carlos Carreira Pérez eEmilio Carral Vilariño, auto-res de ‘O pequeno é grande.A agricultura familiar comoalternativa: o caso galego’(Através Editora, 2014), vêmde recordar que na Galizasempre se usou lápis.

    A pequena agricultura fami-liar, da qual o minifúndio é em-blema, foi atacada durante déca-das como causa do atraso. Dizia-se que o futuro passava pola mo-dernização, entendida esta comoconcentração, maquinização emonocultura –nomeadamente aleiteira-, e não se pode dizer queo agro galego não fizesse esfor-ços nesta direção: uma reconver-são agrária, mais ou menos silen-ciosa, expulsou do setor 400.000pessoas nos últimos anos. A pro-posta de Carreira Pérez e CarralVilariño é revisar com todo o ri-gor este mito, revalorizar a estig-matizada agricultura tradicionalgalega, invisibilizada na macroe-conomia, e pôr de destaque o seuvalor social e ecológico, imelho-rável herdança para transitar aosnovos paradigmas pós-neolibe-rais e à soberania alimentar. Isto

    é, O pequeno é grande encontrauma oportunidade para o paísonde só se via um obstáculo.

    O colapso da petroagricultura“¡Lección terrible! No es América,no son los grandes centros y em-porios de la industria los que másnos deben atraer. La tierra, elcampo, la agricultura, es siempredonde la vida descansa más segu-ra (…) El coloso parecía todo deoro, con sus aúreos fulgores fasci-naba al mundo y ahora se le vanviendo los pies de barro!”; “(é pre-cisa uma industrialização limita-da,) nunca excesiva para que lascrisis industriales que padecen lospaíses de economía artificial nonos afecten jamás en sus trastor-

    nos”. Estes dous trechos foramextractados de notícias de jornaisgalegos publicados trás a GrandeDepressão. Nos EUA o dinheiro fi-cara da noite para a manhã redu-zido ao seu valor-de-uso: papelpintado, e milhões de pessoas des-cobriram da maneira mais trau-mática que o papel pintado nãoalimenta. A explosão da bolha es-peculativa dera num êxodo maci-

    ço ao campo, e o resto do mundorecebia a advertência de uma cou-sa que ainda não tinha nome: a so-berania alimentar, “donde la vidadescansa más segura”. Um outrojornal galego até louvava o mini-fúndio no meio desta corrente deopinião: “por encima de todo Ga-licia es el país típico del policulti-vo, es decir, de la mayor variedaden las producciones, cuya prácticaconstituye, además, el mejor mo-do de luchar contra la crisis quesufre el campo”. A lição durou oque tardou o capital em entrarnum novo ciclo altista, e a agricul-tura entrou numa nova bolha mui-to mais grande.

    Na década de 1970 o modeloagroindustrial já dava sinais decolapso em termos energéticos.Os antropólogos estadounidensesavisavam de que nas granjas mo-dernas, quando se quantificavamtodos os gastos energéticos, o sal-do era negativo: cada caloria deoutput em forma de alimento pre-cisava, para ser produzida, de 8calorias de input, entre trabalho,combustível, pesticidas, etc. Estaproporção de 8:1 não deixou deagravar-se, polo que HowardOdum certificou que “o homemindustrial já não come patacas fei-tas com energia solar; agora comepatacas feitas de petróleo”. Masnão preocupou em absoluto osmultimilionários de agronegócio,pois, como dissera Henry D. Tho-reau, “os seus frutos não estãomaduros para ele(s) até que seconvertem em dólares”, e o petró-leo barato tornava mui rendívelessa agricultura de combustão. Amagia capitalista fazia do dispên-dio de 8 calorias de petróleo paraobter 1 de alimento um bom ne-gócio, e até falavam de “produ-ção”, enquanto a aldeia chinesade Luts’un, que antes do maoísmo

    produzia 50 calorias de alimentopor 1 de input, era um exemplo deatraso. Xoán Carlos Carreira eEmilio Carral recolhem múltiplasinvestigações que demonstram amaior eficiência e produtividadedas pequenas explorações, refu-tando a ideia do bigger is betterque dominou a agronomia con-vencional, e indicando que é naagricultura de pequena escala on-de está a saída à crise alimentarda agricultura petrodependente.

    ‘Soluções’ para as que não existem problemasQuando G. K. Chesterton ouviacousa como que a vida tradicionalnão se prestava à moderna vidade negócios, replicava que era tãoestúpido como dizer que “as cabe-ças não se adaptam à classe desombreiros que estão agora namoda” e, por conseguinte, se de-creta-se cortar cabeças para fazerfronte ao défice sombreireiro. Jus-tamente isso foi o que sucedeucom a maquinização do agro ga-lego: em vez de escolher um siste-ma produtivo e de maquinariaapropriados à estrutura territorialexistente, decidiu-se gastar quan-tidades ingentes de dinheiro pú-blico à reorganização da estruturaterritorial à medida de máquinase sistemas forâneos. Para Carreirae Carral o lógico “seria que o quad(ou algo parecido) se tivesse in-

    A modernização nomundo do agro expulsou

    do setor 400.000pessoas nos últimos anos

    do Valor ecolóGico e social da aGricUltUra Familiar tradicional

    O fim do mito do minifúndio?nos ‘70 o modelo

    agroindustrial já davasinais de colapso em

    termos energéticos

    ‘O pequeno é grande’, de Carreira pérez e Carral vilariño,procura revalorizar a estigmatizada agricultura tradicional

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  • 10 acontece Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

    mar

    Alerta vermelha nas rias galegasContaminaçom, epidemiasque causam altas mortan-dades em bivalvos... impa-tos diretos na produtividadee saúde duns ecosistemasúnicos no mundo.

    A.DIESTE / Há uns dias a ministrade Pesca visitou Galiza. Numhadas suas paragens, em Camba-dos, num ato programado pujobotas de água e baixou à secaacompanhada de mariscadoraspara ver que era isso de extrairameija e berberecho. Ali as mu-lheres pedirom-lhe que o gover-no atuasse para solucionar a gra-ve situaçom que atravessa a Riade Arouça, com altas mortanda-des de ameija e berberecho. Um-ha demanda feita há meses polosector -confrarias, agrupaçonsde mariscadoras, bateeiros...- àConselharia do Mar.

    Que é o que acontece nasRias? Em dezembro de 2013 aEurocámara aprovava o relató-rio sobre a contaminaçom dasrias galegas. Fijo-o com o votocontra de 2 dos 3 integrantes dadelegaçom europeia que visitouas rias e que consideravam quehavia que ser mais contundentesnas atuaçons. Cumpre lembrarque um estudo da Junta detetouem 2011 a existência nas nossasrias de 864 pontos de verquidos,metade dos quais eram qualifi-

    cados como “contaminantes”.A contaminaçom é um dos

    problemas das rias mas nom oúnico. Biólogos da Junta dete-tárom há três anos umha pa-tologia que afetava o berbere-cho e que se foi estendendodaquela, convertendo-se numandaço que causou altíssimasdoses de mortandade em ber-berecho e também ameija. Asconfrarias da Ria de Arouçacifram em 10 milhons de eu-ros as perdas em apenas dousanos para o setor do mar.

    Segundo os próprios dadosoficiais da Junta de Galiza, omar é a principal empresa deGaliza. Gerava em 2011 um to-tal de 17.499 empregos diretos,quer na pesca extrativa (12.522,marinheiros e mariscadoras)quer na aquicultura do mexi-lhom (4.947 bateeiros/as). Em-pregos diretos, aos que somarindiretos e induzidos. Laboral eeconomicamente, um alicercefundamental para Galiza, e nomsó a costeira. Um sector com-plexo, heterogéneo e fulcral pa-ra Galiza e que está a capearumha crise em que coincidemdiversas causas e fatores. Mari-nheiros, mariscadoras e bateei-ros faturárom em 2013 por voltade 46.700.000 euros menos queno exercício anterior. Umhaqueda de 128.000 euros diários.

    ventado na Galiza, mas aqui o queinventamos foi como tirar os vala-dos e as sebes para que entrassemas grandes máquinas. Basta verem Taramúndi os carros que seutilizavam para subir a erva nosprados de grandes pendentes, ouo trem que se utiliza nos socalcosda Ribeira Sacra para transportaras uvas, ou mesmo a adaptação depequenos tratores à Galiza. Mas,infelizmente, ninguém lhes dáapreço frente a um bom trator de150 cavalos ainda que tenhamosque derrubar os valados para quepossa circular”. Triste exemplodessa crítica de Jacques Ellul àtecnologia que “facilita um grandenúmero de 'soluções' para as quenão existem problemas”. Há querecordar, aliás, a grande impor-tância das sebes como refúgio defauna útil no controlo de pragasassim como no freio da erosão.Resulta paradoxal observar como,a cada incêndio florestal, se têmque reconstruir a pressa sebes‘modernas’ por ter destruído antesas tradicionais, símbolo do atrasoe o mal suposto individualismo.

    O estigma ‘proprietarista’Com a queda da URSS Cuba ex-perimentou um prematuro peak-oil que demonstrou que a grandepropriedade agroindustrial, em-bora coletivista ou estatista, éigual de improdutiva –económicae ecologicamente- que a grandepropriedade capitalista. Em aque-les momentos, as pequenas ex-plorações familiares da ilha –queocupavam apenas 20% da terra-foram as que melhor resistiram acrise, e começaram a defender-secomo o modelo mais eficiente esustentável. O mito comunista dokulak, o pequeno labrego conser-vador e contrarrevolucionário, ia-se esvaecendo. O próprio Marxinsistira em O Capital em distin-guir a pequena propriedade cam-ponesa da propriedade privadacapitalista: é o capitalismo –ad-vertia- o que remata com a peque-na propriedade, em contra do quediz a sua propaganda. Justamentea pequena propriedade, combina-da com as comunais, é a fórmulade vários socialismos indígenasque se estão a ensaiar em Latinoa-mérica, que visam superar os pro-blemas da grande propriedade es-tatal do socialismo clássico. As-sim, Félix Patzi fala em Sistema

    comunal, uma proposta alterna-tiva ao sistema liberal, da “pro-priedade coletiva dos recursos eo manejo ou usufruto privadodos mesmos”, mas excluindo aexploração ou apropriação dotrabalho alheio. Igualmente, aszapatistas reclamam a terra “pa-ra poder trabalhá-la em indivi-dual ou em coletivo, mas semprecuidando que o benefício de umnão seja polo prejuízo aos ou-tros”. Durante o agrarismo, oscomunistas galegos lutaram por-que a pequena propriedade la-brega fosse considerada apenasuma ferramenta de trabalho, enão se classificasse à par daspropriedades capitalistas. Aliás,a pequena propriedade parecesuperar os problemas de produ-tividade da agricultura da lati-fúndio –capitalista ou socialista-;a Deccan Development Societyda Índia assegura que “possuiruma propriedade pessoal podeincrementar a produção tanto oumais do que o uso de sementesgeneticamente modificadas”.

    O minifúndio como metáforaCriticam Carreira Pérez e CarralVilariño que “o minifúndio conti-nua a ser uma caraterística defi-nidora da Galiza, origem de mui-tos dos nossos problemas indivi-duais e coletivos. Assim, por si-militude, quando queremos criti-car algo falamos de minifúndiomental, minifúndio industrial,

    minifúndio das organizações so-ciais, etc”. As parcelinhas do mi-nifúndio, vistas da perspetiva aé-rea, parecem espelhar um ferozindividualismo. Mas esta meto-dologia de guerra não é a melhorpara compreender que o mini-fúndio como organização social,com os seus sistemas de ajudamútua, pode ser mais cooperati-vista do que uma grande pro-priedade estatalizada. Aliás, asmodernas focagens sobre o ruralminifundista costumam esque-cer um elemento fulcral: que es-ta pequena propriedade familiarsó se podia entender em combi-nação com o comunal.

    O antropólogo Enrique AlonsoPoblación, no seu estudo do con-celho de Lage, verificou como aconcentração parcelária provo-cou individualismo e soidade nasvizinhas. Antes, quando tinhamque ir trabalhar em várias leiras,encontravam-se mais, e o agroera um importante espaço de so-cialização. Quiçá o minifúndio,mais do que expressão de um in-dividualismo irremediável, fosseuma solução de equilíbrio à ten-são entre o individual e o comum.Neste sentido a esquerda galega,na sua insistência na unidade, fa-la amiúde da necessidade de “fa-zer a concentração parcelária”,com certeza ignorando a confli-tuosidade que esses processos dehomogenização sempre criaramno rural, ao serem desrespeita-dos antigos equilíbrios consuetu-dinários. (No campo da língua, J.M. Outeiro tem chamado à “abo-liçom do regime do partido únicoortográfico no campo comunalda língua”). Novos paradigmasorganizativos, provenientes so-bretudo dos indigenismos, inspi-ram-se nestas combinações pro-dutivas entre o comunal, o usu-fruto privado, e as pequenas pro-priedades de autonomia pessoal.

    Talvez haja que ir desterran-do o imaginário nocivo do mi-nifúndio. Substituir, por exem-plo, a própria expressão poruma outra noção, técnica masque pode abrir novos imaginá-rios, como é a de “paisagem emmosaico”: das fotografias aé-reas em branco e preto à terramulticor que pintava Maside,do estigma do minifúndio à rei-vindicação do sustentável e so-lidário mosaico galego.

    A pequena propriedade,combinada com as

    comunais, é a fórmula desocialismos indígenas

    O minifúndio pode sermais cooperativista do

    que uma grande propriedade estatalizada

    enrique Alonso verificoucomo a concentração

    parcelária provocouindividualismo

  • 11economiaNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

    economia

    Nestas semanas vimos deconhecer o interesse daconstrutora Sacyr (fortemen-te relacionada coma bolhaimobiliária estoupada napassada década) por deter-minados direitos mineiros dacomarca de Bergantinhos. Éeste um bom momento paralembrar as promesas de cria-çom de emprego realizadaspor Mineira de Corcoesto- fi-lial galega da transnacionalcanadiana Edgewater- tam-bém de recente atualidadepolo litígio que mantém coma Junta da Galiza à que recla-ma 20 milhons de euros.

    O principal argumento esgrimi-do polas empresas da indústriamineira para defender os seusprojetos publicamente é o dacriaçom de emprego. Poderia-mos mesmo afirmar que consti-tue a ponta de lança de todo oseu discurso. Apoiam-se na ne-gativa situaçom socio-económi-ca do território onde pretendemasentar-se, mostrando-se comoumha saída à situaçom capaz demelhorar a qualidade de vida dapopulaçom residente. Nom obs-tante, o atual carácter intensivodo capital na indústria mineirafai duvidar sobre a sua capaci-dade à hora de gerar emprego.Para contra-arrestar essa reali-dade, as empresas valem-se dacontrataçom de analistas exter-nos, encarregados de realizarinformes favoráveis do impatosobre o emprego ou a economialocal no território objetivo, jo-gando para este fim com as esta-tísticas disponíveis.

    Falseando as cifrasNo caso concreto do projeto mi-neiro de Cabana de Bergantinhosa primeira questom que devemostratar é o próprio número de pos-tos de trabalho que se previamcriar no território. Assim, pode-mos afirmar que os dados de cria-çom de emprego anunciados porMineira de Corcoesto nom seajustavam à realidade. A empresaanunciara em diversas ocasionsque se criariam até 271 postos detrabalho diretos, com um impatototal a través do emprego induzi-

    do de até 1.641 empregos. Deve-mos adiantar que o primeiro dadoé falso e o segundo é muito ques-tionável. Umha simples olhada aoplano de exploraçom apresentadopola empresa à Junta é suficientepara saber que desses supostos271 empregos diretos, só 138 po-dem ser qualificados desta manei-ra, é dizer, seriam contrataçons di-retas da empresa, cujas nóminasdependessen de Mineira de Cor-coesto. Pola contra, os 133 empre-gos restantes seriam indiretos,fruto de serviços externalizadospola empresa. Por outra banda, os1.641 empregos aos que se alude,induzidos graças ao arranque doprojeto e às rendas que este gera,estám estimados sob supostospouco críveis, considerando que ogasto das rendas do trabalho e docapital se realizariam integramen-

    te no próprio território e duranteo período subseguinte. Frente a is-to, basta com pensar na quantida-de de bens e serviços que umhafamília pode demandar e que seatopam fora dos três concelhosafetados pola mina ou da própriaComarca de Bergantinhos, repa-rando ademais na proximidade(umha hora escasa) dunha urbecomo a Corunha.

    Postos com data de caducidadeA segunda questom importante atratar é a duraçom estimada queteriam estes empregos. En primei-ro lugar devemos assinalar queesta nom seria em nengum casomaior de 9 anos, atendendo aopróprio projeto de exploraçom deMineira de Corcoesto. Em segun-do, a duraçom exata desconhece-se pois no citado plano nom apa-rece exposto de jeito explícitonem implícito a qual das diferen-tes fases da exploraçom perten-cem cada um destes postos de tra-balho. Assim, o único certo é queo grosso dos mesmos se ofertariano primeiro ano polo processo dedesmonte da zona e a criaçom denovos caminhos que comunica-riam a exploraçom mineira comas estradas principais.

    Emprego local num setor tam especializado?Umha terceira questom é a daprocedência desta força de tra-balho. Certamente, resulta pouco

    realista pensar que a maioria dascontrataçons se fariam na co-marca onde teria lugar a explo-raçom. Esses empregos diretoscriados (muitos deles em planta)precisariam dumha especializa-çom que singelamente nom exis-te numha zona com tan baixatradiçom no setor da minaria au-rífera moderna. Ademais, a ideiaanunciada pola empresa de for-mar quadros para estes postos através de cursos acelerados paraa populaçom parada da zona re-sulta pouco crível- e mesmo in-compatível com os estándares desegurança exigidos. O mais pro-vável e lógico, é a contrataçomde força de trabalho especializa-da e com experiência procedentemesmo de outros países, da qualpolo demais resultaria impossí-vel asegurar o seu asentamentono território levando em conta acitada proximidade da cidade daCorunha. Esta ideia vê-se refor-çada polo facto de que nom exis-tisse em momento nengum com-promisso escrito algum de queesses postos iam ser ocupadospola populaçom do território,com o que todo se reduzia a um-ha declaraçom verbal por parteda empresa.

    Um perigo para o emprego Num quarto ponto caberia falarda afetaçom que a abertura da ex-ploraçom poderia ter sobre o teci-do produtivo da zona, e conse-

    cuentemente sobre os empregos jáexistentes. Apesar de que Mineirade Corcoesto tem reiterado a nomafetaçom a outros setores da aber-tura da mina, sim existe um in-questionável e intrínseco perigodada a contaminaçom à que o ter-ritório se expom com esta ativida-de. Das balsas con lodos ricos emarsénico até o emprego da lixivia-çom por cianeto como método pa-ra separar os estéreis do ouro (todoprojetado no plano de explora-çom), os riscos associados a estaatividade som grandes para umhacomarca que guarda relaçom comatividades extrativas no mar (por-tos de Laje e Corme, esteiro do An-lhons...) e especializada en diver-sos produtos na terra (pataca, gre-los...). Mais de 1.500 empregos noterritório poderiam ver-se direta-mente afetados, bem pola mesmaexposiçom aos diferentes velenos(que se podem propagar pola águae polo ar), ou bem polo dano pro-vocado às diferentes marcas e de-nominaçons de origem dum pontode vista comercial.

    Em definitivo, devemos ter pre-sente que a questom da criaçomde emprego adoita ter moitasarestas, e que nom todas estám àvista. A promesa dalguns postosde trabalho pode fazer duvidarquando se joga com as necessida-des da gente, mais ainda quandoo ambiente de corruçom geraliza-da parece asulagar todo. Porém,precisa-se analisar devagar ospros e contras à hora de abrir asportas a umha indústria tam con-taminante e de vocaçom tam cur-to-prazista como a minaria de ou-ro, onde os empregos som poucos,precários e dos quais nem tam se-quer podemos ter a certeza da suafutura existência.

    As contas da leiteira de Corcoestoas emPresas mineiras Usam a criaçom de emPreGo como Ponta de lança do seU discUrso

    Os analistas de edgewater jogam com as estatísticas disponíveis para tentar contra-arrestar os argumentos contra a mineraçom

    xabier i. villares

    A estimaçom de postos de trabalhoparte de supostos

    pouco críveis

    nengum emprego duraria mais de nove

    anos, o tempo de exploraçom da mina

    O setor mineiro requere umha

    mao-de-obra muito especializada

    A contaminaçom da mina afetaria cercade 1.500 empregos

    já existentes

    SALVEMOS CABANA

  • 12 internacional Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

    a terra treme

    XOÁN R. SAMPEDRO / Cinco pes-soas acusadas e condenadasa prisom, contra todas as pro-vas, numha sucessom de pro-cessos dignos do modelo dascaças de bruxas. Concelho,meios e juízes aliados arredordum relato policial construídoà medida para amparar tortu-ras e detençons arbitrárias, epara levar adiante umha vin-gança cega. E no pano de fun-do, a construçom da 'MarcaBarcelona', com os seus con-sequentes processos de gen-trificaçom. É o que retrata Ciu-tat Morta. O fenómeno vividona Catalunha com a sua emis-som no passado janeiro polatelevisom pública dá umhanova perspetiva sobre o po-tencial ainda por explorar deumha outra comunicaçom,ativista e rigorosa, enfrentadaàs versons oficiais e o discur-so único da indústria informa-tiva. Abre, também, interro-gantes. Sobre como manteresta capacidade para abrirfendas, evitar que se conver-tam em mais um processo derecuperaçom, com debates li-mitados e convertidos emanedota. Xavier Artigas, co-di-retor com Xapo Ortega do fil-me, acha inevitável que des-bordamentos do estreito cau-ce mediático por parte da so-ciedade ativa sejam cada vezmais frequentes.

    O documentário arredor da mon-tagem policial do caso do 4F de2006 tivo a sua pré-estreia em ju-nho de 2013 numha sala okupadapor umhas oitocentas pessoas nocentro de Barcelona, batizada Ci-nema Patricia Heras. É o nomedumha das vítimas do caso que re-colhe Ciutat Morta, a que padeceua consequência mais dura.

    “A equipa que conformamos Xa-po mais eu, nasceu como coletivopoucas semanas após o suicídio dePatri. E sempre estava mui presen-te, de modo latente, o termos quefazer algum trabalho sobre isso”.Som sociólogo e arquiteto de vo-caçom, mas confluírom “na PlaçaCatalunha, no marco do 15-M. Nocontexto da Comissom Audiovi-sual, que cobria o que aconteciana praça, começamos a decidirdar voz a casos de repressom queos meios nunca recolhiam”.

    Neste processo atopárom decompanheiros ao periódico quin-zenal La Directa -“o único meioque recolhia estes testemunhos”-.Com o portal web deste meio com-partilham trabalhos em vídeo, “so-bre repressom após greves gerais,mortes baixo custódia policial -co-mo a de Yassir El Younoussi em ElVendrell ou Juan Pablo Torrijosem Girona, ou mais recentementeJuan Andrés Benítez. O caso do 4Fera de algum modo o grande temanom resolvido a nível comunicati-vo. O primeiro número de La Di-recta, de 2006, já trata como temaprincipal o caso 4F”.

    Umha casualidade abre a viaSe há um momento pontual im-portante para a investigaçom jor-nalística do caso 4F, e que fai ar-rancar Ciutat Morta, é “quando seconheceu a coincidência de os po-licías que tinham torturado Iuri, ofilho do diplomático, terem sidotestemunhas chave no julgamentodo 4F, que decidimos fazer um tra-balho”. Refere-se Artigas a um ou-tro caso, em que dous policiaissom condenados a inabilitaçom emais de dous anos de prisom porterem torturado um moço negro,mentirem e manipularem provaspara o fazerem passar por trafi-cante de drogas. A casualidade

    quixo que o fosse filho dum em-baixador de Trinidad e Tobago. Amontagem cai, desta vez. Osagentes condenados Víctor Bayo-na e Bakari Samyang coincidemcom os que detiveram e tortura-ram três das vítimas da monta-gem do 4F. Naquela ocasiom deorigem sudamericano, nesta decor negra, e polo caminho um nú-mero inquantificável de vítimasdumha prática policial sistemáticae impune. Contou logo Iuri Jardi-ne que, estando nos calabouçosna noite da sua detençom, em es-tado de shock polo sofrido, outrosdetidos de origem maiormenteafricano nom podiam entender asua surpresa. Era o habitual. Per-gunta-se Artigas “quantos Rodri-go Lanza (um dos detidos no 4F),quantos 'sudacas' ou 'moros demierda' tenhem que passar polasmaos de torturadores antes deaparecer um caso como o de Iurique desvende essa realidade?”.

    A cooperaçom jornalística“A nível de material de investiga-çom, para dar a outra parte da his-tória, a que nom era a oficial, con-távamos quase em exclusiva com ainvestigaçom que tinha realizadoLa Directa. E foi umha simbiosemui bonita, na que eles puideromvoltar publicar sobre o tema atra-vés da filmaçom do documentário,que nós começávamos a investigarde forma autónoma enquanto dá-vamos visibilidade ao seu trabalhoprévio. Foi umha mui boa colabo-raçom entre meios livres e um gru-po de gente com vontade de mudara narrativa do vídeo político”.

    Incide aqui na vontade de con-seguir efetividade na transmis-som da mensagem. Era relevanteconseguir um público amplo, ex-ceder as fronteiras do público mi-litante. “Umha das primeirasquestons que nos formulamos foique há graves problemas na co-municaçom audiovisual ativista,por manejar sempre uns códigosfeitos para ativistas que fam muidifícil transcender cara outragente. Isto fixo com que come-çássemos a fazer vídeos que ra-chavam totalmente com este es-quema e ao tempo tinham um ri-gor jornalístico que nos dava esteapoio da Directa. Eram zero ten-denciosos, zero panfletários... Aí

    começou-se a marcar umha dife-rência com muitas cousas a nívelaudiovisual que se tinham feitoantes em Barcelona”.

    “A longamentragem do 4F foi oponto em que confluírom na má-xima expressom todas estas li-nhas em que tínhamos ido traba-lhando, e procuramos experimen-tar com a linguagem cinemato-gráfica para provocar certas cou-sas no espetador, para além dasimples denúncia explícita”.

    Atravessar até o centro da agenda mediática“Acho que nos meios livres, na co-municaçom alternativa, há comoum certo complexo, ou medo, aque o que tu fas poda chegar a con-verter-se em 'mainstream'. Nestesenso, para La Directa era mui raroque de súpeto os resultados das in-vestigaçons que vinham levando acabo foram vistos em festivais co-mo o de Donóstia com centos de

    “decidimos começara dar voz a casos de

    repressom que osmeios nom recolhiam”

    conVersa com xaVier artiGas, co-diretor do docUmentÁrio ‘ciUtat morta’ sobre o caso 4F

    ‘Nom é umha maçá, é o cesto todo’Xavier Artigas apresenta o filme no

    CSOA Escárnio e Maldizer de Compostela

    ‘Ciutat morta’ procuraumha linguagem queexceda as fronteirasdo público militante

  • pessoas no público, na mesma sec-çom que por exemplo Ocho apelli-dos vascos. Levar o trabalho a umnível deste tipo era, para eles comopara nós, novo e estranho. Chega-mos a público que nom estava alipola vontade de desvendar a reali-dade a nível de repressom, masporque se passava um filme do quese estava a falar”.

    E o falar foi sendo cada vez maisamplo, saindo dos festivais de ci-nema para alargar-se polas redessociais, até o ponto de a televisompública catalana ver-se obrigada ao emitir. Fixo-o logo de tê-lo anun-ciado, ter tentado incumplir oanúncio polas pressons políticas enom poder evitar finalmente aemissom pola pressom popular.“Penso que Ciutat Morta fixo umbom trabalho neste senso, e quequando menos durante uns diasna Catalunha criou-se umha he-gemonia a nível de discurso queaceita que os corpos de segurançacataláns torturam, e ademais deforma habitual. É inquestionávelagora mesmo, e a gente exige in-vestigaçons e cámbios”.

    Aponta que todas as informa-çons a respeito do tema apereci-das nestas semanas nom podemesquivar citar La Directa. “Sair dogueto pode dar vertigem, mas nofinal é o que procuramos. Criarhegemonia. Durante uns dias con-seguimo-lo, e é umha grande vitó-ria para os meios livres cataláns,que devem reflexionar, e estám afazê-lo, sobre o potencial que háneste tipo de alianças”.

    Esquivar a recuperaçomFica a pairar a questom de como éque se dá esse debate, em que ter-mos. De se pode ver-se canalizadopolos meios sistémicos, cara um-ha análise reducionista que instaleno imaginário do público umhasorte de infortúnio ateigado de'maçás podres': dous agentes sádi-cos, umha juíza tola... E um siste-ma que simplesmente foi incapazde detetar esses falhos e essa vio-lência que nom som para nada es-truturais nem representativos damaquinária estatal. “Por suposto,e haverá muita gente que o estea aver assim. Mas essa é a grande lui-ta agora, a grande responsabilida-de que temos. Como nom lhes fi-cou outra que falarem do tema, le-vam o debate cara aspeitos pon-tuais. Mas nom se pom em causaque os relatórios policiais e as sen-tenças mentem. Fala-se do vergo-nhoso de que os dous policiais quesom torturadores convictos te-

    nham sido pré-jubilados, reduzin-do só a eles dous. Mas está-se a fa-lar de torturas, e de jubilaçons ir-regulares. Abre-se umha fenda,coloca receptividade. A gente que-re saber mais cousas que o quelhes dim os meios 'mainstream'”.

    Artigas salienta a necessidadede nom abandonar a mobiliza-çom na rua. E comenta neste sen-tido que estám à expetativa damobilizaçom do 4F, umha sema-na após o momento da entrevis-ta, que levará justamente, como

    palavra de ordem, 'No és una po-ma. És tot el cistell' ('Nom é umhamaçá. É o cesto todo').

    E de que cada quem aproveite

    o momento para dizer o que te-nha que dizer, e “desvendar elembrar outros casos. É o que fi-gêrom três jovens da Vila de Grà-cia que foram torturados em2005, pola mesma unidade dechoque da Guàrdia Urbana daque fam parte Samyang e Bayo-na, um caso arquivado que sevolve tratar. A ideia é seguir des-bordando com informaçons pa-ralelas que obliguem aos meios alevar o debate onde queremosnós e nom onde querem eles”.

    A resposta dos mediaPara além das dúvidas sobre comose desenvolve este debate, estátambém a dúvida sobre como rea-cionarám os media e os poderes fa-ce o futuro. Se se re-armarám, sepodem fazê-lo, para evitarem novasdisrupçons deste tipo no fluxo nomconflituoso da agenda mediáticapatuada. “Há duas hipóteses”, con-sidera Artigas. “Umha é que as di-reçons se ponham duras e chamema nom permitir que isto aconteçade novo nunca, jamais. A outra éaceitarem que há umha dinámicaimparável que acontecerá cada vezmais, a de as redes desbordarem oslimites dos meios de comunicaçomconvencionais. Um periódico temum status por estar impresso, é umobjeto limitado à venda em quios-ques. Mas num entorno digital, oweb do El País ou o El Periódicotem o mesmo valor aparente que oblogue de qualquer umha pessoabem informada e rigorosa. Segui-rám a arrastar esse status acumu-lado, mas as redes sociais permi-tem informar-se a muita mais velo-cidade do que os dinossauros quesom os periódicos, som mais diná-micas, mais democráticas, e é cadavez mais difícil manipular nelas.Por isso as situaçons em que des-bordam os meios convencionais,forçando-os a falar do que se recla-ma desde a sociedade civil, vam eseguirám a medrar. E penso que, sequerem sobreviver, nom lhes vaiquedar mais que refletir e ter emconta esses temas, ou a sensaçomque já tem a gente de que os mediaocultam cousas, mentem e censu-ram, irá em aumento.”.

    O assunto nom deixa de deitaralgo de luz, ademais, sobre as ver-gonhas do sistema mediático, fa-zendo ademais saltar algumhasdas costuras que o fecham. Acon-tecu assim com El Periódico, quepublicou após a emissom do filmeumha capa com as palavras dumpolicia, num atestado ao que umjuiz nom deu validez, que acusavaumha das vítimas da montagem do4F de mofar-se e do polícia que fi-cou tetraplégico na noite do 4F.“Foi umha mostra mui evidentedos fios que se movem por trás daindústria informativa desde ins-táncias políticas. Todo o mundo oviu, que aí havia uns interesses de-terminados que tinham pouco me-nos do que comprado a portada”.Mesmo os e as trabalhadoras doemitírom um comunicado em quese distanciavam e instavam o diá-rio a pedir desculpas.

    A ‘marca Barcelona’ mataTambém alguns jornalistas dogrupo Godó, ao que pertence LaVanguardia, figérom umha espé-cia de reconhecimento público denom terem tratado o tema ajeita-damente no seu momento. ParaArtigas a ironia é tremenda: “La

    13internacionalNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

    “sair do gueto podedar vertigem, mas

    no final procuramos criar hegemonia”

    A história que recolhe CiutatMorta pode nom ser completa-mente nova para algumhas daspessoas que lem estas linhas.Sem necessidade de conheceremeste caso, nom poucas pessoastenhem vivido em primeira pes-soa, como vítimas ou como co-nhecidas destas, a imediatez comque umha mentira uniformada seconverte em verdade judicial eem condena penal. Mas a magni-tude da montagem policial ope-rada no caso 4F fai justo o quali-ficá-lo de “um dos piores casosde corrupçom policial”, comofam os creadores do filme na car-ta de apresentaçom deste.

    Conhecemos o ponto de par-tida: na noite do 4 de fevereirode 2006 arredor dum antigo tea-tro okupado, convertido já num-ha discoteca ilegal com pouco aver com o movimento okupa,umha carga policial remata comum polícia em coma. É atingido,sem portar o casco regulamen-tário, por umha maceta na cabe-ça, por palavras do alcaide deBarcelona da altura, Joan Clos.

    Três jovens som detidos na-quela rua. Na rua desde a que,como asseguram num posterior

    julgamento os peritos forenses,nom se pudo realizar nengumlançamento de objetos quecoincidisse com as lesons dopolicia. Três jovens 'com aspei-to de antisistema', três jovens'sudacas', som detidos naquelarua e brutalmente torturadasnos calabouços da esquadrapolicial, só como ponto de ar-ranque dum suplício que lhesroubará vários anos de vida emprisom preventiva, medida apli-cada de jeito imparcial pola juí-za só contra os três detidos comorigem sudamericana.

    A caçaria de vingança dosagentes policiais completa-secom duas vítimas mais aquelanoite. Um moço e umha moçacom a mala sorte de se atopa-rem na sala de espera dumhospital logo da noite de festa,na mesma sala de espera polaque passárom polícias aos queresultou suspeita a sua indu-mentária e peiteado. Suspeitae, já que logo, culpável.

    A história posterior resume-se, a traço grosso, numha ver-som oficial que muda da noitepara o dia, contradizendo pro-vas forenses e testemunhos vi-

    suais para acomodar-se comple-tamente ao relato da GuàrdiaUrbana, responsável polas de-tençons e torturas. Em julga-mentos de puro trámite, em queo tribunal se demonstra puracorreia de transmissom dessamesma versom policial, que é jápara entom a do concelho.

    Anos de prisom, com entra-das e saídas, de cinco pessoasculpadas só polo seu aspeito,identificável com o inimigo pú-blico que os média construíam,o inimigo contra o que se acaba-va de aprovar umha 'ordenançade civismo'. Pessoas condena-das judicial e mediaticamente,as suas vozes e as da sua gentesilenciadas cada vez que procu-ravam denunciar o despropósitoque estavam a sofrer.

    E umha morte, que fica naconta de assassinatos da vio-lência estatal. Nom houvonengum fardado em abril de2011 a apertar um gatilho, masquando Patricia Heras salta aovazio numha saída de prisomé inevitável imaginar o pesodos dous anos de espera polojuízo, dos três anos de prisominjustificados.

    nove anos de infámia

    A grande repercussompermitiu recuperar

    mais casos ocultosde violência policial

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  • 14 internacional Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

    MARIA ÁLVARES, X. R. S. / Jesús Rodrigueztem umha dilatada carreira como jorna-lista de investigaçom. Segundo ele “oúnico jornalismo que deveria existir”. Através da Directa destapou numerososcasos de corruçom e brutalidade poli-cial. Estes dias compagina o trabalhono seu meio com dúzias de entrevistasapós a difussom na tv pública catalá dodocumentário Ciutat Morta, que sacudiumuitas consciências e destacou a ne-cessidade de contar com meios inde-pendentes para tirar à luz pública verda-des incómodas para o sistema.

    Como começa a investigaçom do 4F? Que im-pressons conservas de ir afundando no tema?Desde o início houvo muitas dúvidas sobre agente implicada, a casa nom tinha muito a vercom o movimento okupa e era umha cousa umtanto escura e completamente despolitizada, etratámos o assunto mais pola denúncia da si-tuaçom penintenciária das pessoas detidas.Comecei a fixar-me na unidade policial que asdetivo, soubem que havia mais casos de bruta-lidade policial e tiramos vários artigos.

    O momento chave é a morte da Patri, namanifestaçom de protesto e quando conheçoo Artigas e o Xapo. Eles tinham muito claroque havia que fazer algo com todo isto. Co-meçamos a ver quem está por trás da unidadepolicial, contatamos advogados, pessoas de-tidas por eles torturadas... e topamos entredez e quinze expedientes de torturas. Cruza-mos os números de placas dos agentes envol-vidos e aqui estamos conscientes de que to-dos coincidem: os dous polícias que detivê-rom a Patri, que é o Bayona, e Samyang quedetivo o Alex e o Rodri.

    Isto é o ponto chave, nom só falamos de tor-turas porque estes dous agentes detivérom trêspessoas, desconhecidas entre elas, em douspontos completamente diferentes da cidade.Falamos de falsidade documental e manipula-çom de atestados. Isto diz a sentença judicial.Apartir desta deduçom óbvia investigamospor onde se movem estas duas personagense descobrimos um submundo criado por es-tes dous polícias sem nengum tipo de contro-lo com muitos mais casos deste tipo.

    Como se translada um tema assim para umfilme projetado para audiências geralistas?O que mais custou sem dúvida, foi trabalharos códigos de linguagem. Quando trabalhasnum meio como La Directa, com o seu públi-co concreto, há cousas que nom tés que ex-plicar à hora de redigir. Moves-te num am-biente conhecido.

    Mas com o documentário a ideia foi chegarao maior número de gente possível, de qual-quer faixa de idade, condiçom social e ideolo-gia. Esta denúncia tinha que agitar muitasconsciências. E queríamos explicá-lo dum jeitomuito singelo mas ao mesmo tempo ser muitorigorosas. Explicá-lo todo nom é umha tarefafácil -a primeira montagem ficou em cinco ho-ras- mas fico satisfeito com o resultado final.

    A TV3 desprogramou em duas ocasions aemisom do documentário, finalmente emite-se no segundo canal, um sábado às 22.30. Sa-

    bes que se cozinhou por tras este vaivéns?Nom o sabemos exatamente, estamos certasque houvo pressons de altos estamentos. Oque sim sabemos é que o apresentador de 'Sa-la 33' tivo sempre muita vontade de emitir ehouvo em várias ocasions problemas com adireçom da TV3.

    O próprio diretor da tv3 foi interpelado po-lo diputado David Fernández numha compa-rencência sua no Parlament por este tema ementiu, dixo que nom tinha contato com nósquando já tiveramos várias reunioms por estetema, finalmente demonstrou-se que mentiae que houvo umha tentativa claríssima de ve-to mas tivo de retificar.

    O filme emite-se com cinco minutos censura-dos por ordem judicial. Que supom que umtrabalho rigoroso seja questionado assim?A estratégia da censura é muito arcaica, eademais hoje em dia nom tem sentido nen-gum e ademais leva ao efeito contrário: oscinco minutos censurados fôrom mais vistospola gente na Internet que o próprio docu-mentário. O que conseguiu esta tentativa decensura foi que o nosso trabalho fosse vistopor mais gente.

    Neste caso as redes convertem-se em aliadas...Bom... nom todo é rede, de feito nela há poucainformaçom e muitas jornalistas recorrem a elaconstantemente. Mas para investigar é básicomover-se polos locais onde ocorrem as novas,buscar em arquivos analógicos e pisar a rua.

    Como vives o momento em que umha inves-tigaçom de muito tempo consegue irromperna agenda mediática? Pode haver risco emque os mass-media desvirtuem a denúnciareduzindo-a a um caso pontual?

    A nossa resposta ao dia seguinte de emitir-seCiutat Morta é única e muito clara: seguir atrabalhar. Levamos seis anos trabalhando nis-to. Durante uns dias os meios fam-se eco, en-trevistam-nos, questionam-se cousas...

    Mas nós já nom estamos centrados nisto, so-mos formiguinhas e estamos trabalhando e co-zinhando o próximo caso. Frente à montanharusa informativa, temos constáncia, perseve-ráncia e vivemos no dia a dia. Para demonstrarque nom é só umha maçá podre, senom que étodo o sistema o que esta apodrecido.

    Que releváncia tem o jornalismo de investi-gaçom e quais som as limitaçons -técnicas,económicas,...- num meio independente?Nós temos a vocaçom do jornalismo intata,umha vocaçom que já nom existe nos gran-des meios, que buscando o puro negócio pro-duzem precariedade nas redaçons, desinte-resse nas e nos jornalistas e diminuiçom daqualidade informativa. E sentimo-nos partedumha comunidade, sabemos que nos deve-mos às nossas subscritoras.

    Tens sofrido ameaças ou pressom por inves-tigar e publicar abusos policiais e judiciais?Numha ocasiom dixérom-me uns subalter-nos policiais que me iam cortar o pescoço...erespostei-lhes: 'e onde o ides fazer? aqui nomeio da rua?'. Noutra ocasiom cortárom-meas rodas da bici, e a um companheiro de LaDirecta, enquanto cobria umha 'mani', berrá-rom-lhe polo nome enquanto lhe disparáromumha bola de borracha. Que sejas testemu-nha, incomoda-lhes. Mas som isso: fanfarro-nadas, bravatas... só funcionam de te deixasamedrontar. E contra elas, sempre há quecontestar da mesma maneira: denunciá-las efazê-las públicas. É o jeito de combatê-las.

    Jesús rodríGUez é redator de inVestiGaçom de ‘la directa’

    “Temos a vocaçom jornalística intata”Vanguardia som, nos primeirosanos dos 2000, os principais res-ponsáveis da construçom socialdo suposto inimigo público que éo 'antisitema', ou o 'okupa', que dealgum modo chega a Barcelonapara desestabilizar a paz social.Famosas fôrom as suas capas cri-minalizando os okupas. E somtambém os grandes impulsores da'Ordenanza de Civismo', umha leitotalmente repressiva sobre ascousas que se podem fazer no es-paço público, e que é a culmina-çom dumha campanha de anos deLa Vanguardia denunciando ativi-dades que tachavam de incívicasna cidade. Tiravam fotos de gentea mijar na rua, fotos de trabalha-doras sexuais, ... todo aquilo quesupostamente devia molestar à ci-dadania. E que provavelmentenom molestava tanto, mas o diáriocriou um ambiente de alarme so-cial. E no caso do 4F estava claroque era o inimigo perfeito que lhesconvinha para rematar de conde-nar o movimento okupa”.

    E noutra banda, situa os proces-sos de gentrificaçom que sofreuBarcelona, e nomeadamente obairro onde se desenvolvêrom osfeitos “Trata-se do caso do Forat dela Vergonya, em que a vizinhançamantinha um parque comunitáriocomo alternativa aos plans do con-celho para montar um parking eumha praça de cimento. Ao conce-lho convinha-lhe criminalizar estaluita, sinalando os okupas e con-fundindo-os com os 'alvorotadores'do teatro okupado. Este já era re-chaçado polo movimento okupa,pois se tinha convertido num ne-gócio. E, enquanto as outras oku-paçons duravam semanas, esta le-vava anos a funcionar ininterrom-pidamente nos fins de semana,sem atuaçom do concelho, causan-do ruído e moléstias à vizinhança”.

    É importante para o co-diretorde Ciutat Morta nom desligar estecontexto da montagem policial do4F: “o poder consegue que nos ob-sesionemos com os portadores domonopólio da violência, quandoem realidade isto responde a um-ha lógica muito mais complexa.No caso de Barcelona a uns inte-resses, já nom políticos senomeconómicos, mui fortes. Chamaro filme Ciutat Morta e nom 'Lapolicía tortura y asesina' tem a vercom isto, com deixar claro que is-to responde a um modelo de cida-de que permite que aconteçam es-tas cousas. Porque a cidade vemsendo concebida como umhamarca desde há umha cheia deanos, desde os jogos olímpicos doano 92, e como toda marca há quea vender. Há uns responsáveis degerir a venda dessa marca queevidentemente lucram com estecomércio. E defendem umha pazsocial determinada que exige um-ha oganizaçom e ordem que im-plicam violências contra quemnom encaixe neles”.

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  • Cumpriam todos os requisitospara receber o tratamento con-tra a hepatite C mas os seus re-querimentos nom fôrom aten-didos. Depois de dous protes-tos da Plataforma de Afetadaspola Hepatite C, a administra-çom galega dixo que os pedi-dos se extraviaram acidental-mente. Outras pessoas afeta-das nem sequer sabiam quepodiam obter o sofosvubir por-que a administraçom nom atua-lizara os critérios de admissompara se receber o fármaco. Es-tes supostos incidentes figê-rom passar os gastos médicosdo 2014 -os orçamentos pré-vios às eleiçons municipais-para o 2015. O porta-voz da Pla-taforma de Afetadas, QuiqueCostas, pergunta-se: “Qual é opreço legítimo para deixar um-ha pessoa morrer?”

    ANA VIQUEIRA /Só tinha que aguan-tar seis meses mais. Era outubrode 2013 quando o médico de ca-beceira de Quique Costas lhe co-municou que em meio ano iaaprovar-se um medicamento quelhe curaria a hepatite C. “Nessemomento deu-me um impactoemocional. Deixei de sentir sobremim umha pena de morte”.

    O sofosvubir permite tratar ahepatite C com umha percenta-gem de êxito maior - superior a90 por cento - e com menos efei-tos secundários que os tratamen-tos anteriores, como o Interfe-rom. Tam só na Galiza, a apari-çom deste novo fármaco afeta avida de 50.000 pessoas que pade-cem a hepatite C e, especialmen-te, as 3.000 que estám em fasegrave de fibrose avançada e após-transplante segundo dados daPlataforma.

    Dépois de negociaçons, o fár-maco entra em outubro no catálo-go do Sistema Nacional de Saúde.Ora bem, o governo coloca um fu-nil na distribuiçom do tratamentosob forma de requisitos que asdoentes devem cumprir. “Estescritérios deixam fora quase todaa gente”, afirma Quique Costas.Sem compreender porque um Es-tado restringe até esse ponto umfármaco, ele sentencia: “buscam

    quadrar as contas”. O pulso do ca-pitalismo farmacêutico acompa-nha este fármaco desde a sua pró-pia criaçom.

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