O FANDOM E SEU POTENCIAL COMO COMUNIDADE … · 2016-05-11 · Associação Nacional dos Programas...

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 7 a 10 de junho de 2016 1 O FANDOM E SEU POTENCIAL 1 COMO COMUNIDADE INTERPRETATIVA: uma discussão teórico-metodológica para os Estudos de Recepção THE FANDOM AND ITS POTENTIAL AS INTERPRETATIVE COMMUNITY: a theoretical and methodological discussion for Reception Studies Regiane Regina Ribeiro 2 Resumo: O texto discute o cenário contemporâneo das pesquisas em recepção no que diz respeito à preocupação com o grau, o modo de participação e a classificação das audiências. Nesse contexto, apresenta-se não somente o seu potencial interpretativo, mas também sua capacidade de atuar ativamente, recebendo, circulando e produzindo novos sentidos. O objetivo foi articular os conceitos de comunidades interpretativas ao de fandom, apresentando os pontos convergentes e limitadores dos termos nas práticas de produção de sentido e significação. Tendo como pano de fundo os estudos culturais e a crítica literária, procurou-se apresentar um panorama dos principais autores que discutiram tais conceitos com o intuito de nortear um protocolo metodológico que auxilie a classificação desses grupos e suas mediações nas pesquisas empíricas do campo. Palavras-chave: Comunidades Interpretativas, Estudos de Recepção, Fandom, Metodologia Abstract: The paper discusses the contemporary setting of research on reception regarding concerns about the degree, the mode of participation and classification of audiences. In this context, it presents not only their interpretive potential, but also its ability to act actively, receiving, circulating and producing new meanings. The objective was to articulate the concepts of interpretive communities of fandom, with the converging and limiting points over the practice of meaning production. Having as background the cultural state and literary critics sought to present an overview of the main authors who discussed these concepts in order to guide a methodological protocol to assist the classification of these groups and their mediations in empirical research field. Keywords: Interpretatives Communities, Reception Studies, Fandom, Metodology 1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Recepção: processos de interpretação, uso e consumo midiático do XXV Encontro Anual da Compós, na Universidade Federal de Goiás, Goiânia, de 7 a 10 de junho de 2016. 2 Professora permanente da linha de pesquisa em Comunicação, Educação e Formações Socioculturais e coordenadora do Programa de Pós Graduação em Comunicação da UFPR. PARANÁ, Brasil. [email protected]

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O FANDOM E SEU POTENCIAL1 COMO COMUNIDADE INTERPRETATIVA:

uma discussão teórico-metodológica para os Estudos de Recepção

THE FANDOM AND ITS POTENTIAL AS INTERPRETATIVE COMMUNITY:

a theoretical and methodological discussion for Reception Studies

Regiane Regina Ribeiro2

Resumo: O texto discute o cenário contemporâneo das pesquisas em recepção no que diz respeito à preocupação com o grau, o modo de participação e a classificação das audiências. Nesse contexto, apresenta-se não somente o seu potencial interpretativo, mas também sua capacidade de atuar ativamente, recebendo, circulando e produzindo novos sentidos. O objetivo foi articular os conceitos de comunidades interpretativas ao de fandom, apresentando os pontos convergentes e limitadores dos termos nas práticas de produção de sentido e significação. Tendo como pano de fundo os estudos culturais e a crítica literária, procurou-se apresentar um panorama dos principais autores que discutiram tais conceitos com o intuito de nortear um protocolo metodológico que auxilie a classificação desses grupos e suas mediações nas pesquisas empíricas do campo. Palavras-chave: Comunidades Interpretativas, Estudos de Recepção, Fandom, Metodologia

Abstract: The paper discusses the contemporary setting of research on reception regarding concerns about the degree, the mode of participation and classification of audiences. In this context, it presents not only their interpretive potential, but also its ability to act actively, receiving, circulating and producing new meanings. The objective was to articulate the concepts of interpretive communities of fandom, with the converging and limiting points over the practice of meaning production. Having as background the cultural state and literary critics sought to present an overview of the main authors who discussed these concepts in order to guide a methodological protocol to assist the classification of these groups and their mediations in empirical research field.

Keywords: Interpretatives Communities, Reception Studies, Fandom, Metodology

1Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Recepção: processos de interpretação, uso e consumo midiático do XXV Encontro Anual da Compós, na Universidade Federal de Goiás, Goiânia, de 7 a 10 de junho de 2016. 2Professora permanente da linha de pesquisa em Comunicação, Educação e Formações Socioculturais e coordenadora do Programa de Pós Graduação em Comunicação da UFPR. PARANÁ, Brasil. [email protected]

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Introdução “Assim se revela o ser total da escrita: um texto é feito de escritas múltiplas, saídas de várias culturas e que entram umas com as outras em diálogo, em paródia, em contestação; mas há um lugar em que essa multiplicidade se reúne, e esse lugar não é o autor, como se tem dito até aqui, é o leitor: o leitor é o espaço exato em que se inscrevem, sem que nenhuma se perca, todas as citações de que uma escrita é feita; a unidade de um texto não está na sua origem, mas no seu destino, mas este destino já não pode ser pessoal: o leitor é um homem sem história, sem biografia, [...] Sabemos que, para devolver à escrita o seu devir, é preciso inverter o seu mito: o nascimento do leitor tem de pagar-se com a morte do Autor.”

Roland Barthes -1968

Subversivo, “A morte do Autor” é o tipo de texto que ainda hoje precisa ser

discutido pela sua importância para os estudos de recepção. E essa talvez seja a

definição de todo pensamento relevante. Barthes desenvolveu em 1968 uma tese que

nenhum escritor ou leitor deveria ignorar, ou seja: Há uma leitura ideal? Há uma

simetria perfeita entre o leitor e a obra? Segundo a perspectiva barthesiana, o

verdadeiro lugar da escrita é a leitura, o verdadeiro exercício está no leitor enquanto

espaço onde todas as palavras são escritas. Seguindo essa mesma linha analítica,

Stanley Fish é mais radical ao afirmar, em 1980, que o texto não tem mais o privilégio

de orientar interpretações possíveis porque a leitura que um determinado indivíduo

faz de um texto não depende nem do texto nem do leitor, mas exclusivamente da

comunidade na qual ele se insere e através da qual seus pensamentos são moldados.

Traçando-se um paralelo entre os processos de recepção literária e as pesquisas

em recepção midiática, percebe-se um traço comum e permanente entre ambas e por

isso, talvez, o mais importante seja a preocupação com o grau e o modo de

participação das audiências diante dos conteúdos recebidos. Nesse contexto discute-

se não somente o potencial de recepção mas também a capacidade das audiências em

atuar ativamente no processo comunicativo, recebendo, circulando e produzindo

novos sentidos. O marco temporal que potencializa esse cenário dá-se,

principalmente, a partir dos processos de transmidiação e interatividade que

proliferam nas múltiplas telas do nosso cotidiano, proporcionando o que alguns

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autores defendem como uma nova ambiência (Barbero, Sodré, Echeveria, Braga,

Fausto Neto)3. Segundo Lopes: Audiências e usuários viabilizam-se como sendo muito ativos – seletivos, autodirigidos, produtores bem como receptores de textos. São também crescentemente plurais e múltiplos, ainda que diversos, fragmentados e individualizados. Se assim é, defendemos aqui a tese de que as categorias-chave - escolha, seleção, gosto, fãs, intertextualidade, interatividade - que têm movido a pesquisa de recepção de televisão são mais, e não menos significativas no ambiente das novas mídias. O que queremos dizer é que o ambiente dos novos meios exige mais do que nunca o enfoque teórico e complexo das mediações na recepção de televisão, pautado por um protocolo multi-metodológico para sua pesquisa empírica. (2014, p.15)

Esse protocolo metodológico perpassa a importante tarefa de classificar novos

grupos plurais e múltiplos e suas mediações, ainda que diversos e fragmentados para

que a partir dessa seleção conceitual se possa avançar no entendimento dessas novas

práticas sociais. As questões que se apresentam são: Como entender as novas

audiências dentro dos limites estabelecidos pelo novo cenário da recepção? Pode o

conceito de Comunidades Interpretativas dar conta de classificar tais grupos? Como

se formam e se caracterizam tais comunidades? E por fim, que critérios podem

configurar o fandom como comunidade interpretativa? É a partir desses

questionamentos que o presente artigo se estrutura e pretende contribuir para o debate

teórico metodológico dos estudos de recepção.

O Potencial Interpretativo das Audiências

Jensen e Rosengren (1990) identificaram cinco correntes de pesquisa no estudo

das audiências dos meios de comunicação: pesquisa sobre os efeitos, usos e

gratificações, crítica literária, estudos culturais e análise de recepção. Porto (2003)

simplifica esta classificação ao desenvolver uma análise de dois paradigmas

principais: o estudo dos efeitos (que inclui a pesquisa dos efeitos e o paradigma dos

usos e gratificações) e a pesquisa de recepção (que inclui crítica literária, estudos

3 Essa ambiência tem sido designada de diversas formas, como por exemplo, entorno tecnocomunicativo (Martín-Barbero), bios midiático (Muniz Sodré), terceiro entorno (Javier Echeverría) e midiatização (Braga e Fausto Neto).

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culturais e análise de recepção). Partindo-se do segundo paradigma, mas

especificamente na perspectiva dos Estudos Culturais e da Crítica Literária, adota-se

como conceito norteador da discussão neste estudo o caráter ativo da recepção,

segundo o qual o texto produz múltiplas camadas textuais de sentido e a recepção

torna-se um processo multidimensional, pouco transparente e não-linear em que toda

mensagem é passível de inúmeras leituras, não existindo um significado fixo e único.

No desenvolvimento da tradição da pesquisa de recepção, os estudos

desenvolvidos por Stuart Hall e seus associados, no Centre for Contemporary Cultural

Studies (CCCS), da Universidade de Birmingham, têm sido um importante marco de

referência. O modelo Encoding/decoding de Stuart Hall (1980) contribuiu para essa

discussão adotando a natureza polissêmica dos textos. Hall identificou quatro

componentes de ruptura com as abordagens tradicionais do estudo da comunicação

(recepção) – ruptura que significou uma verdadeira “virada interpretativa e

etnográfica”.

O primeiro rompimento dá-se com as abordagens behavioristas, que viam a

influência dos meios de comunicação de massa nos termos de estímulo-resposta. O

segundo, na visão dos textos da mídia como suportes transparentes do significado,

não percebendo, portanto, as entrelinhas. O terceiro rompimento é com a

homogeneidade e passividade da audiência, optando por considerar que o potencial

interpretativo está inserido em um contexto cultural complexo nos quais as mensagens

são decodificadas. E, por último, mas não menos importante, o rompimento com a

ideia monolítica de cultura de massa.

Apropriando-se de Marx (1982), Stuart Hall reafirma que não há uma visão

determinista da recepção e da produção, ou seja, a produção determina o consumo,

assim como o consumo também determina a produção. Segundo Marx: “A produção

é, pois, imediatamente consumo; o consumo é, imediatamente, produção. Cada qual é

imediatamente seu contrário. Mas, ao mesmo tempo, opera-se um movimento

mediador entre ambos” (MARX, 1982, p. 08). Isso nos leva a perceber o caráter

heterogêneo da recepção, onde um mesmo grupo, num dado momento, pode fazer

determinada leitura da realidade a partir de códigos hegemônicos e, em outro dado

momento, a partir de códigos contestatórios.

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Outro conceito importante discutido por Hall diz respeito à fragmentação do

indivíduo moderno e a perda da sua referencialidade, antes determinada em padrões

fixos de classe, gênero, etnia, nacionalidade, sexualidade e raça. Por influência de

Foucault, afirma-se que o individuo está descentrado, tanto em relação ao mundo

social, quanto em relação a si mesmo (HALL, 2005), ou seja, não existe mais um

centro de poder, mas sim, uma pluralidade de centros. Assim, os conceitos de

diversidade e diferença tornam-se fundamentais nas sociedades modernas, sobretudo

nas formas de sujeição, uma vez que há jogos de poder, divisões e contradições

internas.

Michel de Certeau, em A invenção do cotidiano, também discute o poder

interpretativo das audiências afirmando que as operações culturais são movimentos de

práticas comuns e experiências particulares. Para o autor, nenhuma interpretação é

isolada e o campo da pesquisa dá-se em uma dada “cultura ordinária” que se organiza

a partir de espaços, correlações, cooperação e lutas. O que se deve levar em

consideração são as práticas dos usuários e sua capacidade de articular os objetos

culturais em seu cotidiano e contexto social.

Termos como “modos de operação” ou “esquemas de ação” são utilizados pelo

autor para explicar que o processo de relação social é que demanda a produção de

sentido e que é na individualidade que atua uma pluralidade incoerente e por vezes

contraditória representada através da produção dos consumidores. (CERTEAU, 1998,

p. 37-38).

Para o autor, os consumidores “produzem” a partir de três determinações,

(1998, p. 38-43): o “uso”, os modos de proceder e a formalidade das práticas. Os

“dispositivos” (ou “aparelhos”) usados em instituições sociais como a escola, o

hospital (mais especificamente, o hospício), a penitenciária, etc., aproximando-se dos

“procedimentos de vigilância” em Michel Foucault. E em terceiro, as regras das

práticas de “operações multiformes e fragmentárias que unem uma maneira de pensar

investida numa maneira de agir”. Segundo Certeau: Essas “maneiras de fazer” constituem as mil práticas pelas quais os usuários se reapropriam do espaço organizado pelas técnicas de produção sociocultural [através de uma] criatividade dispersa, tática e bricoladora dos grupos ou dos indivíduos presos agora nas redes (CERTEAU, 1998, p. 41).

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Assim, tanto em Hall como em Certeau, o poder interpretativo das audiências

deve ser pensado em sua polissemia, seus usos e desusos e na capacidade de tensão e

conflito entre os sujeitos, produtores e consumidores. Ambos os autores consideram

que as práticas de interpretação são “práticas significantes” a partir de elementos

heterogêneos. Dessa forma, tão importante quanto observar as mensagens emitidas, o

espaço da produção destaca-se no sentido de perceber o que “o consumidor cultural

fabrica” durante o seu uso, sua recepção, seu consumo, ou seja, entender as

possibilidades de circulação e releituras dos conteúdos recebidos.

Estudos Literários e o Conceito de Comunidades Interpretativas Comunidade interpretativa é um termo originário dos estudos literários. Nos

textos seminais de Stanley Fish (1980) e Janice Radway (1984), esse termo é usado

para explicar a uniformidade de leitura em uma comunidade cujas experiências

compartilhadas tendiam a interpretações igualmente compartilhadas. Para Fish

"comunidades interpretativas" são “constituídas por aqueles que compartilham

estratégias interpretativas não para a leitura mas para escrever textos, para constituir

as suas propriedades atribuindo as suas intenções". Em outras palavras, são grupos de

leitores que apresentam estratégias comuns para interpretar o texto. Assim,

argumenta, que não se pode aprender o conhecimento ou a habilidade de

interpretação, pois é algo inato ao ser um humano. Para o autor, as únicas coisas que

podem ser aprendidas são as "maneiras de interpretar" e como as estratégias

interpretativas podem resultar em contextos de significação diversos.

De um ponto de vista fenomenológico, na interação particular entre texto e

leitor, seu propósito é estudar “os sistemas subjacentes que determinam a produção de

sentido textual no qual o leitor e o texto perdem seus status independentes” (FISH,

1980 apud LINDLOF, 1988). Assim, os membros da mesma comunidade

interpretativa irão estabelecer um acordo para interpretar os conteúdos, não a partir do

próprio texto, mas a partir de estratégias comuns, a estratégia determina o significado

e a existência do texto. Portanto, o conceito “comunidade interpretativa” não se refere

a pessoas individuais, mas as normas que são características de uma determinada

comunidade e que influenciam a forma como seus membros atribuem sentido e

significação.

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Janice Radway, precursora da tradição americana dos estudos culturais, é outra

referência importante na discussão sobre comunidades interpretativas. Tendo como

pano de fundo as reivindicações das mulheres e grupos étnicos minoritários na década

de 60 nos Estados Unidos, a autora escreve Reading the Romance: women, patriarchy

and popular literature (1984) e defende que: “a leitura é um complicado processo

semiótico fundamentalmente social que varia no tempo e no espaço. (...) leitores

diferentes leem diferentemente por pertencerem ao que se conhece como

comunidades interpretativas.” (RADWAY, 1984, p. 53).

Radway estava interessada no processo de significação dos leitores em um

gênero popular, o romance, a partir de um método etnográfico. Ao concentrar-se na

comunidade interpretativa de leitura do romance e nas regras que determinaram a

leitura do gênero, seu estudo demonstrou como o conceito de comunidade

interpretativa torna possível desvendar de que forma as estruturas interpretativas são

compartilhadas.

Referindo-se à obra do antropólogo Clifford Geertz, Radway entende o romance

como uma fantasia utópica que reflete o que as mulheres sentem que lhes falta em

suas vidas cotidianas. O ato de ler é explicado como um ato de resistência, já que as

mulheres pesquisadas relacionaram a leitura do romance como possibilidade de

resistir a sua posição em uma sociedade patriarcal.

Da mesma forma que Radway interpreta o romance como resistência, outros

autores americanos têm estudado o consumo de bens populares como luta contra as

desigualdades sociais de gênero, etnia, idade ou classe. Lawrence Grossberg, com o

Rock (1983/4, 1986, 1992), John Fiske em audiências de televisão (1987, 1990),

Jacqueline Bobo sobre as mulheres negras (1995) ou Lisa Lewis em fãs de Madonna

(1987) são alguns exemplos.

Outros autores que também trabalham em uma perspectiva comum são JENSEN

1987; LINDLOF 1985 e 1988 e SCHRODER 1994, embora nem todos utilizem essa

terminologia (comunidades interpretativas). Para Jensen (1987:30), o papel dos

receptores na comunicação de massa deveria ser explicado referindo-se aos seus

repertórios social e cultural específicos: eles têm sido formados, ou formulados, no

interior de comunidades de interpretação que se definem pela localização, funções

sociais, tradições culturais, convenções e sentidos que as unem. Assim, as diferenças

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na interpretação surgem das diferenças nas suposições que estão na base das

comunidades interpretativas ao invés de nas diferenças entre indivíduos. Portanto, a

audiência pode ser abordada tanto por suas características pessoais quanto pelas suas

formas de pertencimento sociocultural sem perder o que apresenta de comum.

No que diz respeito aos conteúdos e fluxos midiáticos, Jensen (1997, p.175-196)

estabelece um parâmetro interessante entre a autonomia do receptor e a capacidade

que os discursos dos meios de comunicação têm de produzir sentido e significação.

Para o autor, o estudo dos discursos dos meios de comunicação é um elemento

constitutivo necessário na análise da recepção que inclui as “formas mediante as quais

as agendas dos meios de comunicação podem anular os aspectos marginais ou

emergentes das agendas da audiência” (1997, p.195). Dessa forma, tanto a recepção

quanto a produção são espaços fundamentais para o entendimento desse fenômeno.

Jensen discute ainda (1987, p.28) como a definição demográfica dos receptores

pode ser usada para categorizar preliminarmente o trabalho prático com as audiências,

mas adverte que as comunidades de sentidos são geradas nos interesses e experiências

acumulados e compartilhados. E ainda, que agrupamentos socioeconômicos

tradicionais apresentam-se como categorias fechadas que não podem registrar os

processos que se dão no lugar – ou nos entre-lugares – da recepção. Ainda que tais comunidades de sentido sejam elusivas e de difícil operacionalização, elas podem ter um número de consequências reais, práticas para a pesquisa sobre audiências de mídia: as identidades sociais e culturais da audiência são estabelecidas nestas comunidades, e, em termos concretos, elas são a fonte daqueles códigos de entendimento que as audiências aplicam na interpretação de códigos midiáticos (JENSEN, 1987, p.28).

Já Kim Schroder no artigo “Audiences Semiotics, Interpretatives Comunities

and Ethnographic Turn” delimita as comunidades interpretativas em dois grandes

grupos: as que se constituem independentemente de qualquer mídia e as que se

constituem pelo uso social da mídia (consumo de filmes, livros, telenovelas) e ainda

complexifica a questão quando diferencia as comunidades interpretativas dos

agrupamentos de classe, gênero, etnicidade, afirmando que os repertórios

interpretativos de um usuário de mídia individual são vistos como um produto “da

comunidade linguística como um todo, dos posicionamentos sociais que se

estabelecem no curso da história de vida do indivíduo, das interações comunicativas

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nas comunidades interpretativas e sociais da vida cotidiana, e finalmente pela reunião

única dessas influências construídas pelo indivíduo de momento a momento.” (1994:

345).

Thomas Lindlof (1985, 1988), por sua vez, define comunidade interpretativa

como “o lugar de práticas socialmente coordenadas que levanta as premissas da

interpretação dos conteúdos da mídia”. Os integrantes de uma comunidade

interpretativa compartilham certos sentidos e ideologias comuns que estruturam as

interações da comunidade e a recepção de textos midiáticos. “O horizonte de

interpretação está nas fronteiras do pertencimento à comunidade”. De acordo com

Lindlof (1988), a tarefa de uma etnografia da mídia é reconhecer as estratégias

interpretativas oriundas do pertencimento dos leitores a comunidades interpretativas.

Tais estratégias são propriedades da comunidade. Ao mesmo tempo, elas capacitam e

restringem as possibilidades de interpretação como, por exemplo, no caso de famílias

em que marido, esposa e filhos podem ter práticas de uso de mídias muito diversas,

mesmo que de vez em quando assistam à televisão juntos. No entanto a maior parte da

experiência televisiva dos seus membros é compartilhada com outras pessoas da

mesma comunidade.

Com base nestas considerações, o autor identifica dois tipos de sentido nos

estudos de comunicação: o sentido apresentado e o sentido construído. Quando se

considera que a produção de sentido é controlada por elementos do conteúdo e de seu

planejamento, temos o sentido apresentado. Por outro lado, quando a produção de

sentido é controlada por pessoas que se engajam em uma comunicação mediada,

temos o sentido construído. Nessa ótica, o sentido construído está ligado à existência

de comunidades interpretativas, em que os membros compartilham sentidos e

ideologias comuns que estruturam a recepção. No sentido apresentado, o conteúdo é

moldado intencionalmente pelos produtores. O sentido apresentado é transparente,

segundo Lindlof, porque se presume que todos saibam o que significa cada categoria.

Existe um sentido único no conteúdo.

Schroder (1994, p.337) problematiza a discussão advertindo para os usos e

abusos sofridos pelo conceito em dez anos de pesquisa, como uma “panaceia para

explicar todos os tipos de condicionamentos sociais da recepção de mensagens

midiáticas”. O autor afirma que a multiplicidade de leituras é atribuída ao fato de as

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pessoas pertencerem a diferentes comunidades interpretativas. “Diferenças na

interpretação surgem das diferenças nas suposições que estão na base de diferentes

comunidades interpretativas, em vez de diferenças entre indivíduos” (Allen, 1987,

p.100 apud Evans, 1990, p. 156). Tem-se a partir dessa afirmação a problematização

central desse paper: podemos considerar os estudos de fãs condicionamentos sociais

(comunidades interpretativas) de recepção?

Fãs, Fandon e Comunidades de Interpretação

O estudo sobre os fãs pode ser dividido, em linhas gerais, entre a visão

tradicional e uma visão contemporânea. A primeira, Frankfurtiana, qualifica o fã

como uma vítima patológica da cultura popular. Já a segunda, relacionada aos

Estudos Culturais, rompe com a visão tradicional e procura caracterizá-lo como um

indivíduo consciente e ativo, que tem controle de sua relação com a cultura de massa

e produz sua própria cultura, ao apropriar-se dos objetos que consome em seu dia-a-

dia.

Organizados em uma espécie de sociedade alternativa, que adquire

características de uma sociedade complexa e organizada, os fãs dividem referências,

interesses e um senso comum de identidade que faz com que eles tenham a sensação

de pertencer a um grande grupo que não se define por termos tradicionais como raça,

credo, gênero, classe social ou localização geográfica, mas por indivíduos que

compartilham textos e conhecimentos. Estar nesse grupo é buscar uma aceitação que

tem mais a ver com “o que” o individuo tem a acrescentar à comunidade do que com

“quem” ele é. O fã produz através do seu consumo, cria sua identidade e seu estilo de

vida, além de usar esses novos sentidos para desenvolver produtos próprios.

John Fiske (1992), pertencente ao que alguns autores chamam de “primeira

onda de estudos dos fãs”4, procurou entender o grupo como uma instituição cultural e

comunidade interpretativa inserida sempre em um contexto de poder e resistência.

Para ele:

4Ler mais a respeito em GRAY, J.A., Sandvoss, C., and Harrington, C.L. (2007) ‘Why study Fans?’ in: J. Gray, C. Sandvoss and C.L. Harrington (eds.) Fandom: Identities and communities in a mediated world, New York University Press: New York.

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Os fãs (…) selecionam determinados artistas e narrativas de gêneros entre o repertório do entretenimento produzido e distribuído em massa, transportando-os para a cultura auto-selecionada de uma fração de pessoas. Em seguida, eles são retrabalhados em uma cultura popular intensamente prazerosa e significativa que é, ao mesmo tempo, semelhante e, contudo, extremamente diferente da cultura do público popular mais “normal” (…). Ela está (…) associada aos gostos culturais de formações subordinadas de pessoas, em particular daquelas desempoderadas por quaisquer combinações de gênero, idade, classe e raça (FISKE, 1992, p. 30).

Atrelada à ideia de práticas de empoderamento e resistência, Fiske (1992)

atribui a capacidade do fandom de construir leituras e interpretações alternativas

principalmente no que diz respeito à polissemia dos textos populares e

consequentemente à cultura popular. Para ele, é por meio dos processos de

apropriação cotidiana que os textos são constituídos, tornam-se objetos de fandom e

constroem as identidades dos fãs.

Para o autor, as práticas de produção de sentido e interpretação no fandom são

sempre subversivas e se dão nos “prazeres de produzir os seus próprios sentidos para

a experiência social e os prazeres de escapar à disciplina social do bloco do poder”.

(1992, p.44)

Sandvoss (2005) considera essa definição normativa, alegando que o problema

incide na confusão das fronteiras de descrição e interpretação propostas pelo autor,

limitada aos desempoderados que utilizarão o fandom como forma de resistência.

Assim, em oposição à definição de Fiske, Sandvoss conceitua o fã:

... como o engajamento regular e emocionalmente comprometido com uma determinada narrativa ou texto. Esses textos, por sua vez, atravessam diferentes mídias como livros, programas de televisão, filmes ou música, assim como textos populares em um sentido mais amplo, como times esportivos, ícones e estrelas populares que variam entre atletas, músicos e atores. (2013, p. 10)

Para Jenkins (1992), o fandom é, portanto, uma das manifestações mais

representativas da cultura participativa. Quando se fala em fandom o que está em

questão não é apenas o comportamento individual de um fã, mas sim uma experiência

coletiva de consumo de mídia em torno de um determinado objeto, razão pela qual o

compartilhamento é fundamental para entendê-lo.

Sem o apoio de autoridades e práticas institucionais, os fãs afirmam seu próprio direito a formar interpretações, a propor avaliações e a construir

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cânones culturais. Sem os limites de concepções tradicionais sobre o literário e a propriedade intelectual, os fãs invadem a cultura de massa, reivindicando seus materiais para uso próprio, trabalhando-os como a base para sua própria criação cultural e suas interações sociais (JENKINS, 1992, p. 18)

Para diferenciar o fandom de outras práticas culturais, Jenkins apresenta quatro

níveis de distinção: o primeiro diz respeito ao modo de recepção, ou seja, os fãs não

apenas interpretam os textos, mas os utilizam em outros tipos de atividades sociais e

culturais; o segundo denota o caráter classificador do termo, o fandom constitui uma

comunidade interpretativa de negociação de sentido através da circulação dos

conteúdos em reuniões, fóruns, redes sociais, fanzines e blogs; a terceira está

associada ao caráter de produção artística que o fã desenvolve e a última diz respeito

ao importante potencial de construção de comunidades, desenvolvendo laços que

constituem suas identidades a partir do grupo. (JENKINS, 1992: 209-213).

Jenkins, também discorre sobre o caráter empoderador do fã no seu processo de

produção de sentido: Eu não estou afirmando que existe nada particularmente empoderador quanto aos textos que os fãs adotam. Porém, estou afirmando que existe algo de empoderador quanto ao que os fãs fazem com esses textos no processo de assimilá-los aos aspectos particulares das suas próprias vidas. O fandom não celebra textos excepcionais, e sim leituras excepcionais (JENKINS, 1992, p. 284).

Sandvoss (2013, p.23) complementa ao afirmar que as leituras excepcionais e os

níveis de resistência demonstrados no fandom podem variar entre diferentes grupos de

fãs. Uma importante diferenciação surge ao longo das linhas demográficas e das

posições sociais, culturais e econômicas, respectivamente. Todavia, a posição de

classe em si é uma categoria insuficiente para dar conta de diferentes sentidos

construídos pelos fãs.

O autor recorre à sociologia do consumo de Bourdieu (1984) na construção de

um quadro teórico popular para os estudos dos fãs. Primeiro, para explicar os

múltiplos fatores por meio dos quais a identidade e a posição de classe são definidas

nas sociedades modernas delimitando os recursos que definem posições de classe, tais

como capital social, capital de educação e capital cultural. Sandvoss (2013, p.29)

afirma que a maior contribuição de Bourdieu aos estudos de fãs e públicos é mostrar

como as posições de classe são articuladas por meio do consumo, que também

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constitui a própria base do fandom: o princípio do gosto como o privilégio de objetos

de consumo definidos e distintos. Ou seja, o fandom é motivado por combinações

particulares de capital social, cultural e econômico dos fãs. Para além da classe,

outros fatores sociodemográficos também são considerados importantes na distinção

do fandom, entre eles o gênero, já que as pesquisas demostram um protagonismo

feminino na constituição desses grupos.

A produtividade é outra característica do fandom que merece destaque na

medida em que as narrativas criadas ou produzidas deixam o imaginário de um fã ou a

privacidade do seu quarto para se manifestarem publicamente, especialmente através

da internet. Para Jenkins, as criações das comunidades de fãs não se limitam a

constituir uma cultura popular, mas podem ser apropriadas pelas indústrias culturais

que as reutilizam, recriando o seu produto original. Nesta ‘cultura participativa’ os fãs

podem subsistir enquanto produtores. A noção de consumidor passivo torna-se cada

vez mais desatualizada. Produtores e consumidores já não representam conceitos

estanques, uma vez que as funções se misturam tornando a sua relação recíproca.

Fiske (1992 apud Sandvoss 2013) apresenta três formas de produtividade dos

fãs: a semiótica (criação de sentido no processo da leitura que ocorre no plano

intrapessoal), a enunciativa (formas de comunicação não-verbal como a reprodução

da imagem de um artista ou o uso de botons para demonstrar afeto pelo time ou

programa de televisão favorito) e a textual (descreve materiais e textos criados por fãs

que se manifestam fisicamente ao serem escritos, editados ou gravados, tal como os

fanzines, a fanfiction).

Sandvoss (2013, p.25) resgata outros autores como McKinley (1997) Bacon-

Smith (1992), Jenkins (1992) ou Cicioni (1998), para demonstrar que nem a

produtividade semiótica ou enunciativa garantem uma negociação crítica do

enquadramento ideológico dos textos dos fãs. Os fãs textualmente produtivos

reformulam seus textos de maneira que necessariamente deslocam-nos para fora do

enquadramento industrial e, assim, convidam à emancipação e à resistência contra

esses mesmos enquadramentos. Para o autor “o fandom pode ser subversivo, em

especial quando baseado na produtividade textual, porém, não há nenhum

automatismo que posicione as táticas de leitura necessariamente em oposição às

estratégias de produção (em massa). E ainda afirma algo indispensável na discussão

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desse paper: “para sustentar uma definição inclusiva e não normativa do fandom,

precisamos desenvolver uma taxonomia dos fãs que leve em consideração os graus

variáveis de produtividade e organização social”.

Já Abercrombie & Longhurst (1998) reconhecem formas variadas de

produtividade dos fãs ao localizarem o fandom no espaço transicional entre o

consumo e a produção; são elas: fãs, adoradores e entusiastas, distinguindo-os

também a partir de três eixos: o uso da mídia, potencial de participação em redes e

comunidades e a especificidade do objeto de fandom. Essa taxonomia é bem

apropriada para entender as estratégias de participação dos fãs em diferentes

contextos. Segundo Sandvoss: Os três grupos buscam formas textuais que permitam a criação de um sentido particular, experimentado quanto à sua capacidade de corresponder aos desejos, vontades e percepção do eu. Em outras palavras, o fandom e as relações de poder se baseiam na competência dos textos populares, sejam estes produzidos pela indústria midiática dos fãs, para transmitir um sentido que articule a identidade dos fãs e suas posições objetiva e subjetiva na sociedade. (2013, p.27)

Outro autor que procura conceituar os fãs enquanto agentes ativos de uma

cultura popular e das próprias indústrias culturais é Mats Hills (2002). Ele utiliza o

termo “consumo performativo” que permite assimilar não só a ideia de homenagem

prestada aos ídolos mas reforça a função criadora do fã. Em casos mais extremos de

imitação ou personificação de um ídolo, essa atitude dinâmica utiliza o próprio corpo

como instrumento de culto. O corpo performativo de um fã permite-lhe dar

continuidade ao seu interesse e reforçar a sua própria identidade, através da

autoconsciência que lhe permite assumir por momentos uma nova identidade.

Lawrence Grossberg (2003) considera que os interesses de um fã são tão vitais

para a sua existência que a sua identidade torna-se dispersa em função da dispersão

face ao seu ídolo ou objeto de culto. A distinção de fã enquanto membro de uma

audiência que se destaca através do seu interesse e ação confere uma dimensão elitista

ao papel do fã. Tudo o que esteja fora do seu mapa de interesse é considerado

exógeno, daí que a diferença entre o fã e o outro esteja linearmente demarcada.

Segundo Grossberg, um fã está em constante conflito com todos os que não são fãs, a

audiência. Contrariamente à audiência, o fã não se limita a consumir, ele procura

retirar significados e relê-los à sua imagem. O mesmo texto cultural tem tantos

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significados quantos os receptores e as suas diferentes predisposições. Daí que não é

possível prever os efeitos de um produto cultural a partir do momento em que ele é

exibido e apropriado por estes consumidores-atores.

Onde os Conceitos Convergem Relacionar o Fandon como comunidade interpretativa requer considerar

aspectos convergentes no uso dos conceitos. Inicia-se a discussão com a perspectiva

de Jenkins (1992), que considera o Fandom como uma “comunidade interpretativa de

negociação de sentido” através da circulação dos conteúdos no ciberespaço. A

afirmação nos leva a refletir, de início, sobre o lugar onde essas comunidades se

estabelecem e a já demasiadamente discutida dicotomia real e virtual.

Segundo Rheigold (1993) pode-se entender a comunidade virtual como uma

agregação cultural formada pelo encontro sistemático de um grupo de pessoas no

ciberespaço. Este tipo de comunidade é caracterizada pela co-atuação de seus

participantes, os quais compartilham valores, interesses, metas e posturas de apoio

mútuo, através de interações no universo on-line.

Considera-se, nesse caso, que mesmo sendo delimitado o lugar da recepção

(ciberespaço e não interações off-line), esse lugar pré-estabelecido não exclui

necessariamente o potencial de comunidade interpretativa e não é determinante para

classificar o fandom como tal. Assim, mesmo sendo a definição demográfica dos

receptores usada para categorizar preliminarmente o trabalho prático com as

audiências é nos interesses e experiências acumulados e compartilhados que são

geradas as comunidades de sentido e que agrupamentos socioeconômicos tradicionais

apresentam-se como uma categoria fechada e não dão conta de registrar os processos

que se dão nos entre-lugares5. – da recepção.

Pretende-se mostrar que, independentemente da localização em que a recepção

se constitui, é no caráter de organização, produção e circulação de sentidos que o

verdadeiro potencial analítico deve se debruçar. Não obstante, os novos modos de 5Remetemos aqui ao que Bhabha (1998) chamou de entre-lugar: “terreno para a elaboração de estratégias de subjetivação – singular ou coletiva – que dão início a novos signos de identidade e postos inovadores de colaboração e contestação, no ato de definir a própria ideia de sociedade”. (BHABHA, 1998, p. 19-20).

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consumir os produtos midiáticos estão, em certa medida, migrando para o ciberespaço

As audiências não estão mais nas mediações da casa ou da escola e isso torna

imprescindível a reflexão sobre um processo de mediação sociocultural marcado

principalmente pela interconectividade aliada à convergência dos meios e à

trasmidialidade.

Portanto, para o fandom ser considerado comunidade interpretativa o que está

em jogo são as normas estabelecidas por esses grupos que influenciam a forma como

os membros atribuíram sentido e significação. Ou seja, é pelas combinações

particulares de capital social, cultural e econômico dos fãs através e pelo uso social da

mídia que o processo se constitui. Nesse sentido, assim como as comunidades

interpretativas off-line, o fandom adquire características de uma sociedade complexa e

organizada que divide referências, interesses e um senso comum de identidade que

não se define por termos tradicionais como raça, credo, gênero, classe social ou

localização geográfica, mas por indivíduos que compartilham textos e conhecimentos.

Nesse aspecto vale considerar não só a constituição do fandom, mas também

como ele produz e circula sentidos potencializando à perspectiva das comunidades

interpretativas no que diz respeito ao espaço que torna possível desvendar de que

forma as estruturas interpretativas são compartilhados por grupos de receptores. Isso

corrobora com a definição de Fiske (1992) que afirma ser na produção dos textos e

não na leitura que se dá o verdadeiro potencial da recepção.

O caráter produtivo do fandom e seu potencial de resistência e constituição

identitária é outra relevante característica convergente. Autores como Jensen (1997) e

Radway (1984) afirmam o poder das comunidades interpretativas em se expressar não

só em relação ao conteúdo produzido mas como resistência aos agendamentos dos

meios de comunicação e ao poder hegemônico. Fiske (1992), Jenkins (1992) e

Sandvoss (2013) também discutem essa perspectiva afirmando que o fandom é um

importante espaço polissêmico de recepção aos textos populares no qual as

identidades dos fãs são construídas a partir das próprias experiências sociais e no

desejo de escapar da disciplina social do bloco do poder.

E, ainda que sejam elusivas e de difícil operacionalização, o fandom enquanto

comunidade interpretativa configura-se muito mais no poder interpretativo dos fãs do

que no texto em si, ou seja, na capacidade dos fãs de produzirem sentidos a partir de

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aspectos particulares do seu próprio cotidiano. Essa produção torna-se possível

mediada por dois elementos essenciais: a facilidade técnica que o meio digital

proporciona na produção dos conteúdos e o caráter psicossocial que permite aos

sujeitos se expressarem através da rede de forma particular.

Assim, considerando que o momento da circulação e produção de novos

conteúdos se constitui uma estratégia interpretativa que resulta na produção de blogs,

fanfiction, fanzines, eventos, etc, estes se tornam importantes lugares para se entender

o consumo midiático e necessitam de um protocolo metodológico para dar conta da

sua complexidade.

A classificação do fandom como comunidade interpretativa requer, tal como

acontece nas comunidades off-line, a difícil tarefa de categorizar esses grupos. Nesse

sentido, autores como Fiske (1992) categorizam três tipos de produtividade dos fãs

que podem ser relevantes para a construção de um protocolo: a semiótica, a

enunciativa e a textual. Embora a prática de consumo esteja imbuída nas três, é na

terceira, a que descreve materiais e textos criados por fãs que o processo se

concretiza.

De acordo com a classificação de Abercrombie & Longhurst (1998), já existem

fãs, adoradores e entusiastas e o que predetermina seu potencial e sua configuração

como comunidade de interpretação são: o uso da mídia, o potencial de participação

em redes e comunidades e a especificidade do objeto de fandom. No que diz respeito

ao potencial de participação, aspectos como reputação e prestígio são importantes na

constituição do fandom e na forma como se observa esses espaços porque eles

determinam a influência que um ator possui dentro da comunidade na qual se situa. É

importante destacar que esses valores ligados à atribuição de status e ao

reconhecimento do valor do outro estão articulados às ações comunicativas e à

produção de laços sociais que se desdobram a partir das afinidades e das atividades

desenvolvidas pelos fãs e no seu processo de construção identitária, já citados

anteriormente.

Por fim, vale apresentar uma importante reflexão, no que tange à dificuldade do

fandom dar acesso às biografias, história de vida e condição político-social dos

sujeitos que o compõem, aspectos bastante valorizados em comunidades

interpretativas off-line. Esse nível de reconhecimento dos sujeitos dependerá da

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plataforma utilizada, do contexto, do espaço, e das normas que estão discursivamente

em ação e, nem sempre podem acontecer devido à complexidade e multiplicidade de

sujeitos envolvidos. Assim, seria necessário regressar a perspectivas tradicionais,

como a antropologia e a etnografia em um potencial de triangulação metodológica

onde o online e off-line se inter-relacionam, ou seja, podemos concluir que a

recepção, como já discutido em diversas pesquisas do campo , sempre será mais bem

percebida em um potencial multi-metodológico. Breves Considerações

Nem sempre é fácil compreender e analisar o nosso próprio tempo. Como diz

Agamben (2009), é difícil ver entre as sombras do contemporâneo. Temos dificuldade

em reconhecer as mudanças, a rapidez e a instantaneidade do novo momento histórico

e o exercício de adaptação coloca-nos à frente de novos desafios. Imbuído desse

sentimento, o artigo buscou discutir o cenário contemporâneo das pesquisas em

recepção no que diz respeito ao grau, ao modo de participação, à classificação das

audiências e à necessidade de se propor um novo protocolo metodológico.

O objetivo foi articular os conceitos de comunidades interpretativas ao de

fandom, apresentando os pontos convergentes e limitadores dos termos nas práticas de

produção de sentido e significação. Tendo como pano de fundo os estudos culturais e

a crítica literária, no que diz respeito ao caráter ativo da recepção, sua

multidimensionalidade e seu potencial ilimitado de interpretações, procurou

apresentar um panorama dos principais autores que discutiram tais perspectivas.

Pode-se concluir que o Fandon como comunidade interpretativa está

preferencialmente relacionado ao ciberespaço e que, mesmo essa característica sendo

fundamental, ela não exclui o potencial de comunidade interpretativa e não é

determinante para classificação do fandom como tal. O que se demonstrou é que

independentemente da localização em que a recepção se constitui, é no caráter de

organização, produção e de circulação de sentidos que o verdadeiro potencial

analítico deve se debruçar.

O caráter produtivo do Fandom e seu potencial de resistência e constituição

identitária foi outra relevante relação demonstrada no artigo. O fandom é um

importante espaço polissêmico de recepção aos textos populares no qual as

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identidades dos fãs são construídas a partir das próprias experiências sociais e ao

desejo de escapar à disciplina social do bloco do poder e na capacidade dos fãs de

produzir sentidos a partir de aspectos particulares do seu próprio cotidiano. Essa

produção torna-se possível mediada por dois elementos essenciais: a facilidade

técnica que o meio digital proporciona na produção dos conteúdos e o caráter

psicossocial que permite aos sujeitos se expressarem através da rede de forma

particular.

A categorização do fandom também foi destacada no texto como relevante para

a construção de um protocolo metodológico para análise do consumo e produção.

Aspectos como uso da mídia, potencial de participação em redes e comunidades e a

especificidade do objeto de fandom e ainda reputação e prestígio aparecem como

importantes na constituição do fandom e na forma como se deve observar esses

espaços.

Por fim, o artigo apresenta algumas limitações na convergência dos conceitos,

dentre elas o caráter limitador do fandom em reconhecer a subjetividade dos sujeitos e

a necessidade de regressar a outras perspectivas na antropologia e na etnografia em

um potencial de triangulação onde o online e off-line se inter-relacionam em um

processo multi-metodológico.

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