O ESPAÇO ARQUITETÔNICO ENTRE O REAL E O...

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    Universidade do Vale do Rio dos Sinos Curso de Arquitetura e Urbanismo [email protected]

    O ESPAO ARQUITETNICO ENTRE O REAL E O VIRTUAL. SIMULAO OU REALIDADE?

    AbstractArchitectural space between reality and virtuality: simulation or reality?This study was carried out under the Theory, Epistemology, and Philosophy principles, and is part of the PAAVI Project: The Architectural Design Process in Interactive Virtual Environments. The study presents part of the theory reference landmark that furnishes support in methodology and process approaches to the empirical research groundwork. The study also addresses the dimensions of architectural space and its representation in cyberspace. Comparisons are made between: static space/dynamic space mathematical laws/architectural principles interaction during the infographic process and formal manipulation of software shape/form/function/space/void distances/effects/rendering. The basic hypothesis is that the decisions made while solving architectural problems demand in-depth thought and ponderation. This is necessary in the light of the project theory, using the computer tools, electronic media, and concepts that structure different software. These software operations interfere in and interact with conception, appropriation, use and the esthetics of space and architectural form.

    1. Introduo

    A arquitetura contempornea encontra-se em um perodo de transio tecnolgica e de valores culturais. Conceitos subjacentes estruturao dos programas grficos de modelagem e de render, induzem e limitam procedimentos projetuais que interferem no pensar e fazer arquitetnico, alterando a natureza do ato projetual no mbito de sua representao. Neste texto abordamos bases tericas que norteiam os procedimentos pedaggicos no processo de projeto intermediado por computador durante a etapa de concepo arquitetnica.

    2. Significado do Espao Arquitetnico e sua representao no ciberespao

    A arquitetura pode ser definida por corpos tridimensionais que ocupam um lugar no espao real ou virtual, quando em fase de projeto. A atividade projetual e construtiva do arquiteto se desenvolve no espao tridimensional, porm este espao no igual ao espao euclidiano manipulado pelos matemticos; cada um destes campos de atuao possui uma noo diferente do significado, da aplicao e das dimenses do espao. O computador trabalha com coordenadas e frmulas e o arquiteto com princpios. Os programas de modelagem que definem ou solicitam os pontos atravs de valores

    de x, y e z evidenciam a origem dos programas grficos, no se adequam modelagem tridimensional da arquitetura. O espao arquitetnico se define sempre por suas relaes com outros elementos e no por suas coordenadas absolutas. Embora seja mais fcil de conceber do que o espao matemtico, o espao arquitetnico mais difcil de entender. Sua concepo passa pela existncia de princpios arquitetnicos e de uma potica espacial intrnseca arquitetura.

    2.1. Espao esttico / espao dinmico -leis matemticas / princpios arquitetnicos

    Para , Julien Guadet, o rigor e a importncia dos princpios na arquitetura no podem ser demonstrados, e devem ser apreciados atravs das obras. A idia de concepo do espao arquitetnico estabelece relaes espaciais geradas atravs de princpios e imagens que, transcende o conceito de espao digital. A arquitetura essencialmente uma criao e um usufruto de espao: todas as opes e todas as elaboraes de linguagens arquitetnicas propostas fazem de um objeto ou conjunto de objetos um conjunto espacial de relaes espaciais. (Quaroni, 1980)As dimenses na arquitetura so as dimenses do espao observado, e as trs dimenses espaciais, se geralmente

    Isabel Amalia Medero Rocha

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    TEORIA Y PROCESO DE DISEO ARQUITECTNICO

    de grande interesse, nem sempre so as mais importantes durante o processo projetual ou na descrio de objeto arquitetnico existente. A difi culdade em explic-lo aumenta a necessidade de conhecer a especifi cidade do espao arquitetnico.Ao descrever o espao atravs de sua representao, geralmente no se desenha o espao; usa-se um sistema de referncia baseado em planos horizontais complementados por projees e cortes ortogonais.Embora se estabelea relao geomtrica atravs de um sistema de coordenadas, no espao arquitetnico as trs dimenses tradicionais - largura, comprimento e altura - no possuem o mesmo valor qualitativo. A referncia fundamental para os objetos em arquitetura do plano horizontal, a base, responsvel pelos imperativos funcionais do projeto; no entanto a terceira dimenso a garantia que as outras dimenses da arquitetura podero ser concebidas e apreciadas. Muitas vezes se descreve o espao, utilizando critrios absolutos, como por exemplo, espao grande ou pequeno; ou, vistos do exterior, designado por atributos de volume e massa: pesado, leve, transparente, massa vertical, massas articuladas, etc. (Quaroni, 1980) A descrio varia conforme os conceitos arquitetnicos de uma determinada poca e lugar, um espao pode ser grande ou pequeno, fl uido, confi nado, aberto, fechado, de transio, integrador etc. ou ainda, como descreve Ching, estabelecendo modelos formais e espaciais, a partir de relaes geomtricas e topolgicas: espao interior um ao outro, espaos conexos, contguos e vinculados. Ou ainda atravs dos conceitos mais contemporneos de idias de volatilidade, permeabilidade, mobilidade, mutao, desmaterializao, de-construo, blobs , fl uidez cujas origens transcendem a arquitetura perpassando por conceitos da fi losofi a, da comunicao e da arte.

    2.2. Forma/funo/ espao/vazio

    Um dos fortes componentes da computao grfi ca, modelagem de objetos e imagens, toca diretamente na questo da beleza, que em arquitetura se concretiza atravs da forma, cujo signifi cado vem sendo um dos

    problemas da histria e da teoria da arquitetura.Esta polmica que se desenvolve na arquitetura desde a dcada de vinte, abrange uma discusso conceitual defi nida por axiomas como a forma segue a funo, forma gera espao ou vazio gera espao e forma.Alan Colquhoun, j afi rmava que a essncia da doutrina funcionalista do movimento moderno no estava em considerar que a beleza, a ordem e o signifi cado fossem dispensveis, e sim que no podiam ser encontrados na fi nalizao de formas. A forma era simplesmente o resultado lgico pelo qual as exigncias e as tcnicas operacionais eram agrupadas formando um todo. (Colquhoun,1975 )O funcionalismo que preconizava a relao de causa e efeito entre funo e forma, o conhecido axioma a forma segue a funo, oferecia as regras para uma arquitetura que prescindia da tipologia para chegar proposta. Esta postura de determinismo esttico da forma em relao funo, est contestada, pela preocupao plstica e espacial que se observa nas prprias obras do movimento moderno. Apesar das contradies entre os diferentes enfoques que assumia a arquitetura moderna, o abandono ao passado como forma de conhecimento da arquitetura, parecia ser o componente comum a todas as tendncias. Para Mies, na defi nio da forma do espao fsico, no interessava as funes e o material. Para ele, o conceito de espao trazia, a idia de universalidade independente do programa que fosse atender. Formado por componentes abstratos, a materializao do espao se daria atravs da arquitetura, a sua apreenso se daria atravs da construo de sua forma: a idia de que forma gera espao . A essas idias, ainda surge um conceito mais abstrato para se relacionar forma que o conceito de vazio. A idia de que a forma gera espao contraposta pela idia de vazio gera espao e forma Sendo assim pode se entender o espao como algo defi nido, gerado, que surge do enfrentamento entre vazio e forma. Sancho Osinaga, em La paradoja del vacio, refere que o vazio se converte na matriz do espao, e passa a confi gurar este espao manipulando as formas. Surge assim o

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    entendimiento do vazio como um espao apriorstico e potencial; agora o vazio um vazio que se deixa capturar, em tenso, em silencio, invadido ou excludo pelas formas y qualificado pela luz. Ao construir com esse vazio se tornam realidade os volumes, os objetos y o espao gerado por eles.(Osinaga, 1997) A valorizao do espao arquitetnico reivindica como idia matriz a concepo espacial da arquitetura, em detrimento de uma arquitetura que privilegie como prioridade a forma. A excludncia conceptual do espao ou da forma como diretriz de projeto, conduz a enfoques reducionistas. O espao arquitetnico uma inteno durante a conceituao do projeto, um resultado na concretizao do projeto e uma sensao plstica na materializao da obra. O aspecto sensorial qualifica o espao. O contedo espacial de um projeto transcende a representao grfica que se faz do mesmo, no entanto a aproximao efetuada num enfoque meramente visual de linguagem grfica e de analogia com a realidade percebida, suscetvel de refutao quando se aprofunda nas caractersticas dos programas de computador e nos diferentes conceitos e estratgias projetuais que podem ser assumidas durante a concepo do projeto/objeto e sua relao com abstrao do processo projetual em que interagem idia / imagem / espao/ forma. Os programas de modelagem buscam oportunizar a representao de novas linguagens arquitetnicas atravs de operaes booleanas, deformaes e gerao de superfcies curvas, continuas, cuja suavidade e plasticidade possa representar a fluidez espacial de continuidade visual interior/exterior. Mesmo tridimensional, o espao visto como uma abstrao matemtica, dentro de uma quadrcula cartesiana, apresenta uma estaticidade que no confere com a realidade da arquitetura; quando se projeta, est intrnseca a idia de qualidade espacial, ditada pela dinmica do espao arquitetnico, entendida do ponto de vista da pessoa que o percebe e o experimenta. Tentar caracterizar o que seja essa qualidade, no uma tarefa fcil, no entanto necessria, quando se trata da didtica arquitetnica.

    2.3. A manipulao formal dos programas: percursos - animao efeito - rendering

    Em arquitetura a imagem pode representar a idia criativa que gera uma forma, num primeiro momento abstrata e precedida por um conceito, e atravs de aproximaes sucessivas ao objeto passar do abstrato formal configurao geomtrica que representar e consistir na forma figurativa do projeto e da obra. Esta imagem inicial e abstrata poder representar, no conceito do projetista, uma srie de idias que privilegiem nitidamente conjuntos de relaes espaciais entre as partes da composio, sem uma definio ainda precisa de formas. A est um dos tendes de Aquiles no uso do computador, quando se conduz a arquitetura por uma linha de pensamento, que priorize a concepo do espao e no da forma. No existem dvidas que figuras geomtricas geram formas. A relao geometria e forma arquitetnica introduz como cerne da discusso a induo que pode existir na manipulao de primitivas e comandos de um programa grfico de modelagem tridimensional, em que o forte componente de subordinao e lgica destes programas induz procedimentos e estratgias que privilegiam enfoques formalistas no projeto. O conhecimento e o domnio do espao arquitetnico e sua relao com o efeito espacial importante na ao projetual. Seja em sua relao direta com a forma/volume, ou atravs de simulaes que permitam operar com elementos da percepo espacial - tempo/espao-textura/luz - inserido em contexto existente ou no, o sentido do espao virtual gerado pelo estudante dever refletir interpretaes diferenciadas, no transcorrer do tempo e luz da critica arquitetnica.As relaes entre os componentes do espao, de forma, volume, superfcies, textura e cor variam com o tempo e a dimenso humana, :A dinmica temporal do espao arquitetnico est intimamente vinculado ao conceito de percurso (walktrough): Qual o significado de percurso em arquitetura? O que representam espacialmente, formalmente e funcionalmente esses percursos? A possibilidade de se trabalhar com programas de

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    animao e rendering, simulando a dimenso temporal - movimento e o observador - ajuda a desenvolver os aspectos espaciais do projeto, mais difcil de visualizar e conceber na forma tradicional de projetar no papel ou na maqueta. A gerao de efeitos e simulaes, e recursos de iluminao natural e artifi cial proporcionados por esses programas faz com que a idia/imagem concebida no espao digital, exera transformaes na concepo da arquitetura e sua materializao.

    3. Concluso

    A grande transformao no ensino- aprendizagem de projeto est no fato do computador transformar o modo de projetar, na medida em que muda o modo de pensar e perceber as relaes espaciais na arquitetura. A estas mudanas soma-se a proliferao de mdias visuais que passam a infl uenciar diretamente a imagem da arquitetura incorporando no envolvente das fachadas os suportes e os meios que lhe so peculiares. A mdia eletrnica auxilia na representao do mundo sensorial, ao mesmo tempo em que atua, como agente da desmaterializao da arquitetura, decompondo os elementos de arquitetura em painis de cristal liquido com imagens dinmicas, transformando o espao de acordo com os eventos, interferindo na percepo do usurio. Estes conceitos acima explicitados devero estar presentes no momento em que a arquitetura proposta pelo estudante comea a ser concebida e concretizada tridimensionalmente no ambiente digital. O fato de construir e percorrer o espao virtualmente antes de sua materializao na obra, embora aproprie a dimenso temporal, enfatiza a percepo visual limitando a possibilidade de apreenso dos demais sentidos humanos importantes na apropriao espacial da arquitetura.. A produo excessiva de efeitos de impacto visual, propiciados pelos programas de animao e processamento de imagens, ao estimular em excesso o sentido da viso, atrofi a os demais sentidos do corpo. Ao aguar a viso como canalizadora das percepes odorfi cas, gustativas e principalmente tcteis, trunca a interao entre o humano e o ambiente fsico, fator que

    Figura 1. Sntese do processo de concepo de projeto assistido. Aluna: Vanessa Guerra - Unisinos.

    Figura 2.

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    alimenta a trajetoria do homem desde seu nascimentoAs possibilidades de experimentaes so apreciadas pelos arquitetos, porm, cabe algum questionamento, sobre os limites das Arquiteturas, em sua interface, com a tecnologia computacional na era da informao. E a, um ponto importante na apropriao do potencial tecnolgico parece prevalecer em todo o processo, de que, os princpios arquitetnicos que caracterizam o espao em todas suas dimenses permanecem em sua essncia, os mesmos, como base da fundamentao terica da arquitetura.

    Referncias

    Colquhoun, Alan. Tipologia y Mtodo de Diseo. In: El significado en Arquitectura. Madrid: H.Blume, 1975.

    Sancho Osinaga, Juan Carlos. La paradoja del vacio. Referncia Internet. 3/10/ 1997 http://web,arch-mag.com

    Quaroni, Ludovico, Proyectar un Edificio - ocho lecciones de arquitectura. Madrid: Xarait Ediciones, 1980.

    Rocha Medero, Isabel - A composio arquitetnica em ambiente computacional. Estratgias projetuais e o processo de ensino- aprendizagem. In Tipo na arquitetura, da teoria ao projeto. Ed. Unisinos, So Leopoldo, Brasil, 2001

    Isabel Amalia Medero Rocha, Arquiteta, ( 1972 - UFRGS) Especialista em Planejamento Urbano e Regional (1980 UFRGS), Mestre em Arquitetura ( 1998- UFRGS) Doutorado (em andamento- UFRGS)reas de Interesse: Epistemologia do Projeto Arquitetnico, .Processo de Projeto em ambiente Computacional.